Upload
ngotram
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
1
Saúde e as plantas medicinais sob a perspectiva da comunidade
Samarah Perszel de Freitas Universidade Estadual do Centro-Oeste, [email protected]
Bruno Moreira Soares
Universidade Estadual do Centro-Oeste, [email protected]
Eixo temático: Conhecimento Interdisciplinar
1. Introdução
O conceito de saúde é tão amplo e complexo como a própria humanidade. A saúde para
Organização Mundial de Saúde (OMS) é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não
simplesmente a ausência de doença ou enfermidade. Portanto, ao observar a saúde de uma determinada
região devem-se levar em consideração seus hábitos e cultura. Para MORIN (2003) o ser humano é
complexo, não podendo ser reduzido a um único aspecto, mas deve considerá-lo em sua
multidimensionalidade.
Desde o século XVI existem fortes movimentos no que se refere à ciência. Nos Séculos XVI e
XVII o pensamento medieval baseado na teoria aristotélica e na teologia cristã ficou para trás, devido a
grandes descobertas de Newton, Galileu e Descartes. Esta revolução científica, pautada no pensamento
analítico, consiste em dividir fenômenos complexos em propriedades menores, compreendendo o todo a
partir de suas partes. No entanto, o movimento romântico retornou à visão aristotélica ainda no século XVII.
Desde então, diversas teorias tem sido construídas tanto na direção do mecanicismo (em que o estudo das
partes é fundamental para a compreensão do todo), como o movimento inverso (a partir do estudo do todo,
pode-se compreender as partes) CAPRA (1996).
Seguindo este raciocínio CAPRA (1996) sugere um movimento crescente desde o século XX que
contempla a compreensão do todo. Este movimento vem em oposição ao modelo de sociedade ocidental que
privilegia o movimento mecânico, em que o ser humano é considerado uma máquina, que luta bravamente
de modo competitivo para sua existência, na crença do material ilimitado por meio do crescimento
econômico e tecnológico e constante busca de poder. O conceito de Ecologia profunda surgiu justamente
neste contexto. A proposta da Ecologia Profunda é de todos os fatos são interligados e interdependentes. O
paradigma ecológico propõe uma mudança de pensamentos e valores.
SOUZA SANTOS (2002) estuda os movimentos da ciência e ressalta que a idéia de homogeneidade
da ciência reduz a complexidade e desperdiça a experiência. A racionalidade é apenas um dos modelos de
ciência, que acaba sendo indolente, isto é, se torna impotente, arrogante, metonímico e proléptico. Como
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
2
alternativa propõe um novo olhar que denomina razão cosmopolita onde busca expandir o presente, contrair
o futuro e realizar o trabalho de tradução que é a possibilidade de criar uma inteligibilidade mutua entre as
experiências disponíveis e possíveis.
O pensamento complexo é maior do que a soma das partes, é observar a interação das partes. O
complexo engloba várias dimensões e diversas realidades não se constituindo como uma soma, mas uma
integração. A complexidade busca o reencontro entre o ser e suas ideias. Entender como se relacionam os
diferentes problemas, como se determinam entre si, é vital para evitar a cegueira que na época atual pode ser
muito perigosa para a humanidade MORIN, (2002).
O presente trabalho tem como objetivo a reflexão sobre o conceito de saúde e formas de tratamento
para a comunidade local e a diferença desta com o conhecimento da “comunidade científica”, os dados serão
vistos sob o prisma do pensamento complexo.
2. Procedimentos metológicos A investigação foi realizada nas cidades de Curitiba e Pitanga ambas no estado do Paraná. O intuito
em escolher cidades com características populacionais diferentes foi observar a influência da cultura na
saúde e hábitos nestas comunidades, especialmente no que tange o uso de plantas medicinais. Foram
utilizados conceitos da pesquisa qualitativa que considera o sujeito de estudo como uma pessoa, em
determinada condição social, pertencente a determinado grupo social ou classe com suas crenças, valores e
significados. Portanto, considera ainda que o seu objeto de estudo é complexo, contraditório, inacabado e em
permanente transformação (MINAYO, 2004).
Em Curitiba foram escolhidos dois postos de saúde, o primeiro com vinte e quatro horas de
funcionamento e o segundo com funcionamento de segunda a sábado. Os postos são localizados na região
norte de Curitiba com diferença de aproximadamente 09 km de distância. A escolha destes postos de saúde
foi devido à condição cultural e socioeconômica observadas pelos pesquisadores ao percorrer diversos
postos de saúde da cidade. Embora próximos estes postos apresentam características muito diferentes, tanto
da população que reside em seu entorno, como na infraestrutura oferecida aos seus usuários. O primeiro
visivelmente abrange um número maior de pessoas e estas aparentemente apresentam melhores condições
socioeconômicas do que as pessoas que utilizam ou trabalham no segundo posto de saúde. Foram
entrevistadas cinco pessoas (quadro 01), abaixo segue a descrição.
Além dos postos de saúde, em Curitiba os pesquisadores procuraram a farmácia mais antiga do
Paraná, que começou a fazer uso de plantas medicinais e remédios fitoterápicos no ano de 1933. A empresa é
familiar e está em funcionamento há mais de 80 anos. Foi realizada uma entrevista com o farmacêutico
responsável que demonstrou sua percepção sobre saúde, perfil de seus clientes, a influência da cultura e
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
3
hábitos ao longo da história dos remédios das plantas medicinais.
Quadro 01 - Descrição básica dos indivíduos entrevistados em Curitiba, Pr.
Idade Sexo Naturalidade Profissão Escolaridade
A 67 Masculino Curitiba – PR Aposentado Superior
B 19 Feminino Salvador – BA Caixa mercado Médio
C 64 Feminino Telêmaco Borba – PR Aposentado Superior
D 23 Feminino Curitiba – PR Enfermeira Superior
E 57 Masculino Curitiba – PR Farmacêutico Superior
Para conhecer os saberes e práticas sobre o uso terapêutico de plantas medicinais pela população
urbana do município de Pitanga - Paraná, teve-se como indicador espacial a área de abrangência da
Estratégia de Saúde da Família (ESF) Jardim Maristela, localizada na Região Norte da cidade, bairro Santa
Rosa.
A escolha por essa comunidade ocorreu devido a algumas peculiaridades como: ser uma área
totalmente urbana onde são desenvolvidos trabalhos de assistência em parceria com núcleo de medicina
complementar do município de Pitanga, Pr, ao qual desenvolve inúmeras ações baseadas na medicina
complementar, tais como acupuntura, reiki, massoterapia e também a fitoterapia. O total de população
assistida pela ESF Jardim Maristela é de 4.550 pessoas, sendo a maioria do sexo feminino (54,35%) da
população total. A faixa etária mais representativa vai dos 20 aos 39 anos, o equivalente a 34,15% da
população, seguida pela faixa dos 40 e 59 anos de idade (22,35%). No que se refere aos índices de
morbidade, as doenças crônicas não transmissíveis mais citadas pelos moradores são a hipertensão arterial
sistêmica, referida por 15,89% da população, seguida de cardiopatia (8,00%), diabetes (4,67%) e obesidade
com 4,50%. Quanto à oferta dos serviços públicos de saúde a população da região Administrativa Norte, do
bairro Santa Rosa (Jardim Maristela), tem como principal oferta de serviços a equipe da Estratégia de Saúde
da Família e outras instituições públicas de baixa e média complexidade presentes no município, como
pronto-socorro e pronto-atendimento e um Hospital Filantrópico. Abaixo (quadro 02) segue a descrição de
alguns dados relevantes dos indivíduos entrevistados no município de Pitanga, Paraná:
Quadro 02 - Descrição básica dos indivíduos entrevistados em Pitanga, Pr.
Idade Sexo Naturalidade Profissão Escolaridade
F 60 Feminino Roncador – Paraná Pedagoga Superior
G 45 Feminino Nova Tebas - Paraná Doméstica Fundamental
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
4
H 49 Masculino Pitanga – Paraná Pedreiro Médio
I 21 Feminino Pitanga – Paraná Estudante Médio
J 32 Masculino Manoel Ribas - Paraná Vendedor Médio
K 42 Masculino Pitanga – Paraná Fisioterapeuta Superior
L 29 Feminino Pitanga – Paraná Enfermeira Superior
No município de Pitanga, os pesquisadores também visitaram o núcleo de medicina complementar,
onde foram realizadas duas entrevistas (participantes K e L) e observações participantes no local escolhido.
A primeira entrevista foi realizada com o gestor municipal de saúde e a segunda com um profissional da
enfermagem que executa ações de saúde nesse recinto.
A escolha de pessoas com diversas faixas etárias, profissões e escolaridades distintas nas duas
comunidades teve como principal motivo aumentar as possibilidades de percepção sobre as comunidades
locais, compreender hábitos, cuidados, conceitos de saúde e a utilização das plantas medicinais. É
importante salientar que de maneira geral a coleta de dados para esta pesquisa ocorreu por meio de
entrevista semi-estruturada e observação-participante, onde, elaborou-se um roteiro de entrevista e um
roteiro de observação que serviram para informar características específicas dos participantes da pesquisa.
As abordagens investigativas nas comunidades que foram adotadas neste trabalho são do tipo
exploratório/descritivo (estudo de campo) e encontram-se estruturados a partir de uma abordagem
qualitativa e em um contexto interdisciplinar (Nutrição e Psicologia). A pesquisa qualitativa, segundo
Triviños (1994), permite que o pesquisador conheça o contexto onde o fenômeno ocorre, sem criar situações
artificiais, as quais poderão mascarar a realidade e levá-lo a interpretações equivocadas. Minayo (2010)
destaca que a metodologia qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados, das essências, das relações
humanas, das atitudes, das crenças e dos valores, explorando assim, uma realidade que não pode ser captada
pelos dados quantitativos. Portanto, justifica-se a escolha desse tipo de abordagem, por acreditar ser a mais
adequada para compreender os significados, as experiências e as percepções que as pessoas têm sobre
determinado assunto, no caso, o uso de plantas medicinais no cuidado da saúde humana.
A pesquisa iniciou com uma conversa informal, com intuito de rapport e posteriormente foi
direcionada para a entrevista semi estruturada de aproximadamente 20 minutos. Para garantir o anonimato
dos participantes, os nomes foram substituídos por letras (A a L).
Referentes ao uso de entrevistas semi-estruturadas têm se em Minayo (2007, p.191), a sua
sustentação teórica e metodológica, uma vez que, a descreve da seguinte maneira: “A entrevista semi-
estruturada deve ser construída de forma que permita flexibilidade nas conversas e que absorva novos temas
e questões trazidas pelo interlocutor como sendo de sua estrutura de relevância”. Com base nessa definição,
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
5
elaborou-se um roteiro de entrevista (Apêndice 1) composto por duas partes, a primeira, contém questões
fechadas sobre os dados pessoais dos entrevistados como: sexo, idade, profissão, entre outros, que serviram
para traçar o perfil dos dez informantes da pesquisa. A segunda é formada por sete questões abertas,
devidamente elaboradas para deixar o entrevistado mais à vontade no momento de respondê-las, com isso
tornando mais agradável e descontraído o momento das entrevistas, a fim de evitar qualquer tipo de inibição
por parte do entrevistado. Justifica-se o uso de questões abertas nesse tipo de pesquisa (qualitativa),
justamente para que o entrevistador tenha maior liberdade para perguntar ou fazer intervenções, além, é
claro, de permitir a captação mais fidedigna dos saberes e práticas sobre o uso de plantas medicinais no
cuidado à saúde humana (BLEGER, 2003).
Salienta-se que as entrevistas aplicadas foram registradas em um diário de campo e
concomitantemente gravadas em gravador de voz quando permitido pelo entrevistado, para que, em um
segundo momento, pudessem ser transcritas e seus dados aproveitados.
Destaca-se que além das entrevistas, foi utilizado também observação do tipo observador-como-
participante para coletar os dados. Conforme Minayo (2007, p. 281) “[...] ela é uma modalidade de
observação que costuma ser utilizada, freqüentemente, como estratégia complementar ao uso das entrevistas,
nas relações com os atores, em momentos considerados importantes para efeitos da pesquisa”.
A fim de ordenar as observações-como-participante, elaborou-se um roteiro de observações
(Apêndice 2), com seis importantes itens, a serem observados e anotados no diário de campo. Sobre esse
tipo de anotação Minayo (2007, p. 194), menciona ser no diário de campo “[...] que o investigador deve
anotar todas as informações que não sejam o registro das entrevistas formais, ou seja, observações sobre
conversas informais [...] expressões que digam respeito ao tema da pesquisa”. Nesse diário serão registradas
as observações realizadas nas comunidades, e em cada encontro e conversa informal com os entrevistados. É
importante ressaltar que foram utilizados vários recursos para a observação participante tais como, o diário
de campo, a gravação do discurso e fotografias (figuras são utilizadas para auxiliar visualmente na
compreensão de conceitos complexos). (YIN, 2003; GIL, 2008)
Deste modo, para a seleção dos sujeitos, depois da liberação prévia das secretarias municipais de
saúde de ambos os municípios avaliados, entrou-se em contato com os responsáveis pelas equipes da ESF
Jardim Maristela em Pitanga e das unidades básicas de saúde em Curitiba. Nesta ocasião, lhe foi solicitado
um encontro com toda equipe da ESF, para que a proposta de estudo pudesse ser apresentada e apreciada por
todos. A seguir foi realizado a entrevista semi-estruturada e a observação com sete sujeitos moradores do
município de Pitanga e cinco sujeitos residentes em Curitiba, totalizando doze indivíduos de ambos os
sexos, todos com idade maior ou igual a 18 anos de idade, com o intuito de verificar os conhecimentos e
práticas destas pessoas a cerca do uso de plantas medicinais em seus respectivos contextos comunitários e
consequentemente propor ações devolutivas de acordo com as demandas constatadas pela investigação
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
6
exploratória nestas comunidades.
Quanto à regra da representatividade, foram realizadas doze entrevistas devido a observação de
saturação das respostas dos avaliados, uma vez que, o universo analisado é bastante semelhante, ou seja,
composto por pessoas que usam plantas medicinais no cuidado da saúde e moram na mesma localidade.
Para coleta dos dados foi utilizado em todas as entrevistas o mesmo roteiro (com perguntas
idênticas), relacionadas a mesma temática (plantas medicinais), garantindo à pesquisa a exigência da
homogeneidade. Já as observações participantes servirão para complementar e, em alguns casos, para sanar
certas dúvidas que possam permear o decorrer da análise.
As interpretações acerca das práticas de cuidado à saúde envolvendo o uso de plantas medicinais
serão construídas a partir dessas informações coletadas em campo (entrevistas e observações), constituindo
assim eixos temáticos, sendo analisadas por meio da técnica de análise do discurso.
Com o intuito de efetuar uma aproximação exploratória da comunidade e por conseguinte verificar
os conhecimentos, saberes e práticas deste indivíduos a cerca do uso de plantas medicinais e sua relação com
a saúde em seus respectivos contextos comunitários, os dados foram tratados e avaliados por meio da análise
do discurso.
Esta análise é construída na relação e visa à compreensão do processo produtivo. “Considera o
texto como um monumento e sua exterioridade como parte constitutiva da historicidade inserida nele.”
(MINAYO, 2004). Os depoimentos foram analisados por meio de diversas leituras, com o intuito de
encontrar unidades de significados e consequentemente a separação por categorias de análise.
As informações foram divididas em quatro categorias (eixos temáticos):
a) Conceito sobre saúde e formas de cuidado;
b) As plantas medicinais no dia-a-dia;
c) Plantas medicinais ou remédios de farmácia;
d) Acesso aos serviços de saúde.
a) - Conceito sobre saúde e formas de cuidado;
O participante A. “para mim a saúde tem a ver com o medicamento, eu não deixo de tomar meu
remédio da diabetes, mas também uso chás. Tenho várias plantas lá no quintal de casa, que me faz sentir
melhor. Eu cuido da minha alimentação e vou à academia”. Participante C “eu tomo muitos chás, não tenho
um específico, depende do que preciso. Tomo meu remédio para pressão alta e faço caminhada, não posso
fazer mais exercícios por causa da pressão, mas não gosto de ficar parada”. Participante B “Eu não tenho
muito tempo, prefiro tomar remédio para melhorar logo. Eu sou da Bahia, lá a gente usa muitos remédios
naturais, minha avó e minha mãe fazem vários, minha mãe toma chá de boldo da Bahia ela diz que é bom
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
7
para quem tem diabetes. Só que aqui eu não tenho muito tempo para isso não”.
Estes diálogos possibilitam observar que os participantes possuem uma visão holística sobre a
saúde, considerando-a como múltiplos cuidados. Estas afirmativas vão ao encontro do que Morin (2003)
propõe sobre o conceito de complexidade.
A participante E é profissional da área de saúde, a ela foi perguntado sobre como observava a saúde
dos usuários seu posto de trabalho: “olha, nosso posto atende muita gente e eu vejo que a maioria não adere
o tratamento. Eles buscam posto apenas nas emergências e não costumam dar sequencia quando começam a
melhorar. Sobre as plantas medicinais, além do posto não oferecer, as pessoas desta região não utilizam
medicamentos alternativos”.
Pode-se observar uma diferença interessante entre o discurso da profissional do posto e dos
usuários do posto no que se refere ao conceito de saúde e da utilização de plantas como remédios
complementares.
Tais resultados vão ao encontro com Branquinho (1999) que descreveu em sua tese que o saber
científico pressupõe a separação entre a natureza e cultura enquanto que no saber popular, esta separação
não existe.
Estas diferenças podem ocorrer devido a uma educação nas ciências da saúde (médica e
psicológica) que privilegiam o conhecimento técnico, em detrimento do conhecimento humanístico. Souza e
Souza (1996) ressaltam a importância dos profissionais da saúde em voltar a estudar os pressupostos
descritos por Hipócrates. Para os autores, Hipócrates tinha um olhar antropológico, histórico e filosófico
sobre a vida e sobre as pessoas, levando em consideração seu ambiente familiar e social, pois observava
características étnicas, alimentação, costumes, idade, linguagem, silêncios, pensamentos e sono.
Seria o que Capra (1996) propôs no conceito de Ecologia profunda, onde os seres vivos exercem
papel fundamental para a existência humana, sendo os seres humanos apenas parte integrante da
denominada “teia da vida”. O paradigma ecológico propõe um pensamento integrativo é intuitivo, sintético,
holístico, não linear. Seus valores são pautados na conservação, cooperação, qualidade e parceria.
b) Como utiliza a plantas medicinais no dia-a-dia;
Todos os participantes relataram utilizar um ou mais tipos de plantas medicinais, o que reforça
como o “saber popular” da comunidade. O participante E que é o farmacêutico da empresa mais antiga de
remédios fitoterápicos de Curitiba relata “a matéria-prima de todos os nossos medicamentos são extraídas da
natureza e são aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), embora a nossa
preocupação maior seja a aprovação dos nossos consumidores”. Em outro momento da entrevista comenta:
“a doença para nós é um movimento de causa natural que abala a harmonia das forças naturais do
organismo. Enquanto o medicamento normal é feito, por exemplo, para problemas do fígado e vai tratar
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
8
apenas o fígado. Nós queremos entender o desequilíbrio corporal que se manifestou em um sintoma no
fígado. Vamos trabalhar neste mecanismo de desequilíbrio, portanto cada um dos medicamentos que
fazemos é único para aquele cliente”. A este participante foi perguntado: Qual é a população que vocês
atendem? Responde: “olha atendemos muitos idosos, estes são os que nos procuram com maior freqüência,
mas também os filhos e netos deles. É um conhecimento passado de pai para filho. Teve uma época, por
volta dos anos 80 em que as pessoas param de nos procurar e preferiram ser tratadas com alopáticos. Hoje,
as pessoas estão voltando.” “As pessoas que nos procuram hoje são aquelas que passaram por vários
acompanhamentos alopáticos, mas não obtiveram sucesso em seus tratamentos”. Em outro trecho:
“Aumentou muito o número de farmácias que trabalham com homeopatia e remédios naturais em Curitiba,
hoje tem mais de 50 farmácias neste ramo”.
Estes dados demonstram que apesar “mundo das ervas” envolver tanto a medicina popular quanto a
científica, as sociedades modernas não desenvolveram uma compreensão simétrica dessas duas formas de
conhecer e lidar com a saúde e a natureza. Restringiram, assim, a capacidade de entendimento da
circularidade de informações, valores e práticas entre ambas e camuflaram os aspectos socioculturais
envolvidos na construção desses saberes. (VASCONCELOS et al., 2002).
c) Plantas medicinais ou remédios de farmácia;
Ao requisitar que os entrevistados comparassem o uso de medicamentos industrializados com o uso
de plantas medicinais, três deles (F, G e J) mencionaram que o medicamento industrializado faz mal a saúde,
e tem contra indicações, pois são bons para uma coisa e ruins para outra como nos seguintes discursos: “... o
remédio comprado, às vezes (a pessoa), toma em vez de fazer bem, ele faz mal...” (participante
G),“...medicamentos (industrializados) geralmente fazem mal para outras partes do
organismo...”(participante F).
Em contrapartida, três participantes (I, K e L) mencionam que os medicamentos comprados têm um
efeito mais rápido e são mais fáceis de tomar, conforme pode ser visto no depoimento: “... a cura mais
rápida é com o remédio de farmácia (industrializado). O remédio de farmácia eu acho mais fácil tu pega ali
e já toma...” (entrevistado I).
Segundo alguns sujeitos da pesquisa (F, H, I e J) há também, por parte dos profissionais da
saúde,um incentivo ao uso de medicamentos industrializados em detrimento ao uso das terapias
complementares, como a utilização das plantas medicinais, os quais, geralmente, não levando em
consideração o contexto sócio-cultural da comunidade por eles assistida, estimulam o uso dos
medicamentos. Estes profissionais podem estar realizando este tipo de assistência voltada ao incentivo do
medicamento industrializado, seja pela ideologia de formação ou talvez pelo fascínio a tecnologia de ponta.
Tal comportamento pode ser percebido na seguinte fala: “... consegui fazer baixar o colesterol apenas com
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
9
uso de dente de alho, mesmo com o doutor me pedindo que fizesse dieta, mas eu não contei para ele que eu
não tinha feito nada do que ele tinha pedido, foi só tomando o remedinho (alho) que me ensinaram... eu
menti né... risos...” (participante G).
No decorrer das entrevistas, ficou evidente que a terapia complementar, para os sujeitos da
pesquisa, é mais benéfica à saúde do que os medicamentos industrializados. Além disso, observou-se em
alguns relatos a preocupação dos mais antigos quanto ao desinteresse dos mais novos pelo uso de plantas
medicinais. Isso, segundo eles, tem prejudicado a continuidade desse cuidado milenar à saúde. Esta
preocupação fica evidente neste relato: “... eu não sei o porquê, mas os mais novos não acreditam em
plantas e ervas sendo que para mim elas são bem melhor...” (participante F).
Assim, com o advento da industrialização, da urbanização e com os avanços da tecnologia,
sobretudo no que diz respeito à fabricação de fármacos sintéticos, resultaram em um aumento na utilização
desses medicamentos por grande parte da população brasileira. Em contrapartida, o conhecimento
tradicional das plantas medicinais começou a ser visto, pela comunidade científica, como sendo um atraso
tecnológico (LORENZI; MATOS, 2002).
Por outro lado, na atualidade, inúmeras substâncias químicas obtidas de plantas têm proporcionado
à indústria farmacêutica uma das mais importantes fontes de componentes para a pesquisa de novos
medicamentos, sendo que, nas últimas décadas, os estudos foram direcionados pela medicina popular com o
objetivo de identificar produtos naturais com propriedades terapêuticas (Verdi et al., 2005). Nesse sentido, a
utilização de tais plantas medicinais ou mesmo de seus compostos ativos na prevenção ou tratamento de
distintas patologias é fundamentado essencialmente na medicina tradicional de vários grupos étnicos e em
dados etnofarmacológicos (SILVA et al., 1997).
Entretanto, vale ressaltar que ao longo da história humana o uso de plantas medicinais vem sendo
amplamente empregado na medicina popular (Silva et al., 1997). Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), aproximadamente 80% da população global utiliza-se de plantas medicinais como principal forma
de ingresso às suas necessidades básicas de saúde (FARNSWORTH et al., 1985). Por meio desta utilização
empírica, foram descobertos vários compostos que são amplamente utilizados e difundidos no meio da
medicina popular, no qual propiciou subsídios importantes para a descoberta de novos fármacos de grande
importância para a terapêutica de algumas doenças (ALBUQUERQUE & ANDRADE, 2002; BUSSMANN
2009).
De acordo com dois dos participantes (F e H), independente de qualquer tipo de comparação com
os remédios industrializados, o uso de chás e demais plantas medicinais é, em alguns casos, mais acessível e
eficaz, pois a pessoa tem a saúde restabelecida, não necessitando ir ao médico e não precisando pagar nada.
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
10
Vale considerar, entretanto que o uso de plantas medicinais pela maioria dos entrevistados não se
justifica por questões financeiras, embora tenham relatado que algumas vezes já usaram chás ou outras
preparações por não disporem de dinheiro, ou mesmo por difícil acesso à farmácia.
Nesse sentido, Adeodado, Oliveira e Oliveira (1996) mencionam que se tem observado uma
crescente redescoberta do valor curativo das plantas medicinais, pois os efeitos colaterais dos medicamentos
industrializados, assim como, o seu elevado valor tem contribuído para que a população busque tratamentos
mais saudáveis e mais baratos para combater as suas enfermidades.
Vale lembrar também que o uso de ervas medicinais para tratar enfermidades, é uma prática muito
primitiva, sendo descrita ao longo da história humana praticamente em todas as civilizações globais e em
diferentes povos e épocas, sendo muito relevante levar em consideração os conhecimentos e procedimentos
que cercam essa prática milenar em diferentes comunidades e suas especificidades e peculiaridades,
legitimando dessa forma os sujeitos que ali estão inseridos. Assim, é de grande importância resgatar e
conhecer as práticas e saberes da população no que diz respeito às informações etnobotânicas e
etnofarmacológicas que foram construídas ao longo dos processos históricos e consolidados no senso
comum que permearam as mais diversas comunidades (ALBUQUERQUE & ANDRADE, 2002;
BUSSMANN, 2009).
d) Acesso aos serviços de saúde.
Quando se indagou “como era o acesso aos serviços de saúde” a grande maioria dos entrevistados
responderam não ter algum tipo de convênio privado, utilizando-se essencialmente dos serviços públicos de
saúde, tais como postos de saúde, hospitais regionais e serviços de instituições universitárias públicas, pois
alegaram não ter condições financeiras para manter um convênio privado. Apenas três participantes (F, K e
L) mencionaram possuir algum tipo de convenio privado, porém também utilizam conjuntamente o serviço
publico de saúde em algumas situações.
No que se refere à resolutibilidade e acesso aos serviços de saúde todos que possuíam convênios
privados mencionaram ter fácil acesso à resolução de seus problemas, enquanto os demais responderam ter
insatisfação com os serviços prestados pelo SUS, em função da demora e da precariedade no atendimento.
Apenas um dos entrevistados (participante J), que mencionou não ter plano de saúde particular,
disse ter fácil acesso aos serviços prestados pelo Sistema Público de Saúde, pois mora próximo à Unidade
Básica de saúde, destacando sua localização geográfica como fator determinante ao fácil acesso.
Durante as entrevistas e observações em campo ficou evidente, na maioria dos casos, a insatisfação
com os serviços de saúde pública. Tal fato pode ser em parte explicado pela carência de recursos humanos,
materiais e principalmente de medicamentos, sendo esse último a reclamação de maior freqüência entre os
entrevistados como pode ser constatado nas falas a seguir: “Uso a saúde pública, não tenho convênio de
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
11
saúde (privado), mas quando precisei tive atendimento, embora muito demorado. Antes as farmácias
públicas tinham remédio de montão agora é que não tem...” (participante G). “Ah! Estou muito indignado,
insatisfeito... acabo de sair do posto de saúde e não consegui o remédio que precisava. Está braba a nossa
saúde... falta tudo...” (participante H).
Acredita-se que essa situação seja desfavorável para uma boa assistência à saúde, pois, conforme os
relatos é grande a insatisfação dessas pessoas com os serviços públicos de saúde. No entanto, sabe-se dos
avanços ocorridos nos últimos anos, sobretudo no âmbito das políticas públicas em saúde, como a criação
dos Programas Saúde da Família, instituído no ano de 1994, cujo objetivo é de aproximar os profissionais de
saúde aos seus usuários, por meio de visitas domiciliares e atividades educativas junto à comunidade
(BRASIL, 2006).
Esse programa é importante para que ocorra uma reeducação dos usuários, sobre as concepções do
processo saúde/ doença, uma vez que, a maioria da população ainda tem em mente uma visão voltada ao uso
de medicamentos industrializados, como o constatado pelas entrevistas.
No trabalho de campo, observou-se também a pouca aproximação do saber popular com o
científico e o não incentivo por parte dos profissionais da saúde referente ao uso de práticas
complementares, nesse caso plantas medicinais, segundo a comunidade entrevistada. Talvez isso ocorra pelo
desconhecimento da equipe a respeito das práticas complementares de saúde.
Leininger (1991) enfatiza que os usuários ao receberem cuidados profissionais que falham em
serem congruentes com suas crenças, valores e modo de vida, acontecem os conflitos culturais, prejudicando
assim a relação do profissional da saúde com o usuário.
Entretanto, isso não deveria ocorrer, uma vez que existe, um instrumento de normatização
produzido para orientar as iniciativas de saúde, que é a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) no SUS. Essa política tem por objetivo ampliar as opções terapêuticas aos
usuários do SUS, com garantia de acesso a plantas medicinais, com segurança, eficácia e qualidade, na
perspectiva da integralidade da atenção à saúde (RODRIGUES; SANTOS; AMARAL, 2006).
Diante do exposto, o exame dos dados dos sujeitos avaliados nesse primeiro contato exploratório
com as comunidades investigadas, permitiu de modo geral perceber que a maior parte do conhecimento
popular dos sujeitos avaliados foi adquirido no ambiente familiar, tendo a mulher (mãe, avó, matriarca)
como a detentora e a principal difusora desse saber. Foi verificado também que o uso do chá ou infusões
caseiras, como prática utilizada para manter ou reabilitar a saúde, é bastante comum entre os participantes
que, além de utilizá-lo no seu cotidiano, mencionam ter vontade de cultivar ervas em sua própria residência
ou mesmo comprá-las em mercados ou feiras municipais.
Os entrevistados ainda demonstraram vontade de adquirir novos saberes sobre o assunto, apesar de
a maioria das plantas medicinais utilizadas por eles terem suas indicações terapêuticas populares
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
12
semelhantes às encontradas na literatura científica. Eles destacaram que os profissionais da saúde que estão
presentes nos serviços de saúde públicos observados, não transmitem muitos conhecimentos acerca das
ervas medicinais, restringindo na maioria dos casos à utilização de medicamentos sintéticos ou outros
tratamentos convencionais e em alguns casos optam por desestimular o uso de plantas medicinais em
detrimento aos medicamentos alopáticos.
Por fim, salienta-se também que a transmissão do conhecimento tradicional verificado nas próprias
comunidades, por meio dos familiares e vizinhos, demonstram uma rica herança cultural local sobre as
plantas medicinais e outras formas de tratamentos alternativos.
Justificativa do eixo escolhido - conhecimento interdisciplinar:
Esta pesquisa teve como objetivo realizar uma reflexão sobre o método atual de ensino nas áreas de
saúde, em que se privilegia o conhecimento disciplinar e técnico. A interdisciplinaridade é fundamental no
momento histórico atual, principalmente em áreas que atuam diretamente com o humano que é complexo em
sua essência. Morin (2003) descreveu: compreender como se relacionam os diferentes problemas, como se
determinam entre si, é vital para evitar a cegueira que na época atual que pode ser muito perigosa para a
humanidade.
5. Considerações Finais Neste trabalho de investigação exploratória da comunidade, buscou-se conhecer os saberes e
práticas de cuidados realizados por meio do uso de plantas medicinais na comunidade assistida pela Unidade
Básica de Saúde de duas comunidades nos municípios de Pitanga e Curitiba, ambos no estado do Paraná.
Essa investigação teve como base de análise e de estudo o conhecimento do próprio ser humano,
advindo de sua cotidianidade, experiência e vivência, pois os sujeitos da pesquisa permitiram que elementos
importantes acerca de seus conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais fossem descortinados e
decodificados. Pode-se perceber que o uso de plantas medicinais assume grande valor na vida destas
pessoas, indo muito além da relação com o processo saúde-doença, tendo outras implicações nas diversas
dimensões que compõe o ser humano e consequentemente na sua vivência comunitária.
Assim, em linhas gerais a pesquisa possibilitou realizar uma reflexão sobre o método atual de
ensino nas áreas de saúde, em que se privilegia o conhecimento disciplinar e técnico. A interdisciplinaridade
é fundamental no momento histórico atual, principalmente em áreas que atuam diretamente com o humano
que é complexo em sua essência. O presente estudo evidenciou a necessidade de observar o fenômeno saúde
e a utilização de plantas medicinais dentro da abordagem complexa. O saber popular é fundamental para o
conhecimento do humano, sua saúde e do potencial terapêutico das plantas medicinais, ignorá-lo seria um
verdadeiro desperdício da experiência proposto por Santos (2002).
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
13
Portanto, acredita- se que essa pesquisa teve grande relevância não só para os pesquisadores
envolvidos no contexto interdisciplinar (Nutrição e Psicologia), como também para a comunidade envolvida,
pois reforça a necessidade de aproximação entre o saber popular e científico, bem como para a criação de
projetos que trabalhem com essa temática dentro das comunidades, juntamente com o serviço público de
saúde. Além disso, sugere-se que os profissionais de saúde trabalhem na perspectiva da integralidade,
respeitando as diferenças e a conjuntura social das pessoas. É relevante enfatizar a necessidade de um maior
domínio dos saberes populares pelos profissionais da saúde, a fim de poder ministrar cursos sobre o uso de
plantas medicinais na saúde para as comunidades, bem como, implantar farmácias vivas e laboratórios de
produção de medicação caseira.
Para isso, sugere-se a necessidade da inclusão de educação permanente na formação dos
profissionais da saúde no que diz respeito aos conhecimentos sobre práticas complementares de cuidado
com a saúde, como o uso de plantas medicinais e outras práticas populares que legitimam os diversos
contextos comunitários e suas particularidades.
É nesse contexto de conflitos entre o saber científico e popular que as práticas de conhecimento
interdisciplinar assumem grande importância, especialmente no que tange aspectos relacionados a saúde
humana, pois ao valorizar a pluralidade das culturas o pesquisador envolvido na comunidade intermediará o
saber científico com o popular, fazendo com que não ocorra o desperdício das ricas experiências e demais
conhecimentos observados nessa troca continua por todos os atores dispostos nos contextos comunitários.
Diante disso, não se pode continuar negligenciando tipos de saberes e práticas tão utilizados pelas
pessoas e presente diariamente em seus contextos de vida, assim precisamos trabalhar com o indivíduo em
sua totalidade, respeitando suas diferenças e contextos sociais, culturais, econômicos, biológicos,
psicológicos, na perspectiva da integralidade, um dos princípios do Sistema Único de Saúde.
Deste modo, buscou-se demonstrar por meio deste trabalho a importância de conhecer e legitimar
os saberes locais em relação às plantas medicinais e por consequência propiciar informações etnobotânicas e
etnofarmacológicas como constituições futuras de possíveis ações terapêuticas adjuvantes e alternativas
frente à gravidade global de diversas enfermidades, especialmente no que diz respeito à questão
socioeconômica, cultural e de saúde publica, visando contribuir para a diminuição dos reflexos
desfavoráveis de várias doenças e/ou outros males que são observados nos mais diversos contextos
comunitários de nossa sociedade, respeitando sempre as múltiplas dimensões que compõe as práticas e
saberes populares no que tange o uso de plantas medicinais e suas inter-relações com o processo saúde-
doença.
Para isto, torna-se necessário o estímulo àqueles que por iniciativa própria já o fazem, e a
conscientização para aqueles que ainda desconhecem o valor curativo das plantas medicinais nas práticas
complementares de cuidados a saúde, sobretudo, em um país de grandes dimensões territoriais como o
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
14
Brasil, cuja diversidade de sua flora é de tamanha grandeza, assim como os grandes contrastes culturais
devido a grande miscigenação de povos e etnias em nosso país, que enriquece os conhecimentos em
medicina popular e fitoterapia.
Portanto, são vários os motivos para que a inserção de projetos futuros como esses sejam viáveis
nessas comunidades, pois, a população, certamente, ficará mais segura e confiante para pôr em prática seus
saberes provenientes do seu contexto sociocultural, uma vez que, devidamente testados seriam então
revalidados e aceitos pela equipe de profissionais da área de saúde que atuam nos serviços públicos de
saúde.
Salienta-se ainda que ao considerar o saber popular das pessoas atendidas, o profissional de saúde
atuando de forma interdisciplinar, estará valorizando outros saberes, que devem ser compreendidos e têm
significados concretos na vida de quem os pratica. Por isso, todos os profissionais da saúde devem procurar
conhecer os valores culturais e demais interfaces que compõe o contexto comunitário dos indivíduos por
eles assistidos, a fim de melhor compreender os saberes e práticas de seu autocuidado, para que assim, o
cuidado possa ser prestado de forma mais abrangente e significativa, levando a observação e atenção integral
do ser humano.
REFERÊNCIAS
ADEODADO, S.; OLIVEIRA, L.; OLIVEIRA, V. Uma farmácia no fundo do quintal. São Paulo: Globo,
1996.
ALBUQUERQUE, U.P.; ANDRADE, L.H.C. Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma
área de Caatinga no Estado do Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta Botânica Brasileira, v.16, n.3, p.273-
285, 2002.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa/Portugal:
Presses Universitaires de France, 2008.
BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevista e grupos. Tradução: Rita Maria Manso de Moraes. São Paulo:
Martins fonte, 2003.
BRANQUINHO, F. Da “química” da erva nos saberes popular e científico. 1999. Tese de Doutorado -
IFCH/UNICAMP, Campinas,1999.
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
15
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Secretaria de Atenção a Saúde. Secretaria de Ciência,
Tecnologia em Insumos Estratégicos. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (
PNPIC). Brasília, 2006.
BUSSMANN, R. W. Ethnobothany and biodiversity and conservation. Disponível em:
<www.olorien.org.br/rbussmann/academicCV.php. Aceso em: 28 Jan. 2013.
CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 6ª ed. São Paulo: Cultrix:
2001.
FARNSWORTH, N.R.; AKERELE, O.; BINGEL, A.S.; SOEJARTO, D.D.; GUO, Z. Medicinal plants in
therapy. Bulletin of the World Health Organ, v.63, n.6, p.965-981, 1985.
GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
LEININGER, M. Transcultural nursing: concepts, theories, reseach & pratices. New York: Mc Graw-Hill,
1991.
LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. São Paulo: Instituto
Plantarum, 2002.
MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. 8ª ed. São Paulo: Hucitec,
2004.
MINAYO.,M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10ª ed. São Paulo: Hucitec,
2007.
MINAYO, M.C.S. (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 29. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8ª Edição. Bertrand Brasil,
2003.
RODRIGUES, A. G.; SANTOS, M. G.; AMARAL, A. C. F. Políticas públicas em plantas medicinais e
fitoterápicos. In: A fitoterapia no SUS e o programa de pesquisas de plantas medicinais da central de
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
16
medicamentos; 2006, Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos,
Departamento de Assistência Farmacêutica, Brasília : Ministério da Saúde, 2006. 148 p.
SILVA, I.D; RODRIGUES, A.S.; GASPAR, J.; MAIA, R.; LAIRES, A.; RUEFF, J. Involvement of rat
cytochrome 1A1 in the biotransformation of kaempferol to quercetin: relevance to the genotoxicity of
kaempferol. Mutagenesis, v.12, n.5, p.383-390, 1997.
SOUZA SANTOS, B. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista crítica
de Ciências Sociais, n.63, p. 237-280, 2002.
SOUZA, P.L.R.; SOUZA, F.R. Hipócrates hoje: ensaio sobre sua vigência em medicina e psicologia.
Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência, v.4, n.3, p.30-35, 1996.
TRIVINÕS, A.N.S. Introdução á pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São
Paulo: Atlas, 1994.
VASCONCELLOS, A.G; BRANQUINHO, F.B; SÁNCHEZ, C; LAGE, C.L.S. Fitofármaco, fitoterápico,
plantas medicinais: o reducionismo e a complexidade na produção do conhecimento científico. Revista.
Brasileira de Farmacognosia, v. 12 supl., p. 103-105, 2002.
VÍCTORA, C.G.; KNAUTH, D.R.; HASSEN, M.N.A. Pesquisa qualitativa em saúde: uma introdução ao
tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000.
YIN, R.K. Estudo de Caso: Planejamento e método. Porto Alegre: Artmed, 2003
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
17
APÊNDICE 1
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Parte 1 - Dados de identificação
Codinome do entrevistado:_____________________________________
Data da coleta de dados:_____________________
1- Sexo: ( ) M ( ) F
2. Idade: _________
3. Endereço: _____________________________________________________
4.Localidade: ____________________________________________________
5. Naturalidade: _________________________________________
6.Descendência étnica:___________________________________
7.Profissão:____________________________________________
8. Grau de escolaridade: _________________________________
9. Estado Civil:_________________________________________
10. Número de pessoas que compõe a familiar: ________________
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
18
APÊNDICE 2 - Roteiro de entrevista - Continuação
Parte 2 - Saberes e Práticas em relação ao uso de plantas medicinais
1. Você utiliza alguma planta medicinal? Por que e quando começou a utilizar?
2. Obtenção das plantas: comprada, cultivada, colhida ou ganhada.
3. Comparações entre remédios de farmácia e o uso das plantas.
4. As Plantas poder ser utilizadas para controlar todos os tipos de doenças?
5. Há restrições para o uso de plantas medicinais? Quais?
6. Acesso aos serviços de saúde e o uso de plantas medicinais. Na sua comunidade qual é a situação atual?
7. Descreva a última vez que você utilizou uma planta medicinal (em que situação, com quem, qual a planta,
como foi o preparo, resultados obtidos).
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
19
APÊNDICE 3 - Roteiro de observação
ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO
Observação no campo:
1. A origem da planta ( comprada, plantio próprio ou doação).
2. Colheita, higienização , armazenamento e conservação das plantas.
3. Modo de preparo do chá (uso de água fervida ou ferver junto com a água), parte da planta utilizada
(folhas, caule, flor, fruto, semente e raiz).
4. Condições das plantas (conservação, limpeza, cor, cheiro, gosto)
5. O chá é feito na hora, é conservado aquecido ou gelado em garrafa térmica, é mantido na geladeira ou é
conservado em temperatura ambiente.
6. Local de plantio: cercado, acesso a animais doméstico, próximo a fossas sépticas, esgoto a céu aberto,
próximo a criadouro.