Saude e Renda No Brasil

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  • SituaoSocialBrasileiramonitoramento das condies de vida 1

  • Governo Federal

    Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica Ministro Wellington Moreira Franco

    PresidenteMarcio Pochmann

    Diretor de Desenvolvimento InstitucionalFernando Ferreira

    Diretor de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas InternacionaisMrio Lisboa Theodoro

    Diretor de Estudos e Polticas do Estado, das Instituies e da DemocraciaJos Celso Pereira Cardoso Jnior

    Diretor de Estudos e Polticas Macroeconmicas Joo Sics

    Diretora de Estudos e Polticas Regionais, Urbanas e AmbientaisLiana Maria da Frota Carleial

    Diretor de Estudos e Polticas Setoriais, de Inovao, Regulao e InfraestruturaMrcio Wohlers de Almeida

    Diretor de Estudos e Polticas SociaisJorge Abraho de Castro

    Chefe de GabinetePersio Marco Antonio Davison

    Assessor-chefe de Imprensa e ComunicaoDaniel Castro

    URL: http://www.ipea.gov.br Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria

    Fundao pbl ica v inculada Secretar ia de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeras polticas pblicas e programas de desenvolvimento brasi leiro e disponibi l iza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus tcnicos.

  • Braslia, 2011

    Organizadores

    Jorge Abraho de Castro

    Fbio Monteiro Vaz

    SituaoSocialBrasileiramonitoramento das condies de vida 1

  • Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ipea 2011

    As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e de inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ou da Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica.

    permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para fins comerciais so proibidas.

    Situao social brasileira : monitoramento das condies de vida 1/ organizadores: Jorge Abraho de Castro, Fbio Monteiro Vaz. Braslia : Ipea, 2011. 283 p. : grfs., tabs.

    Inclui bibliografia.ISBN 978-85-7811-086-4

    1. Poltica Social. 2. Desigualdade Social. 3. Mudana Social. 3. Pesquisas de Domiclio. 4. Mercado de Trabalho. 5. Brasil. I. Castro, Jorge Abraho de. II. Vaz, Fbio Monteiro. III. Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada.

    CDD 361.610981

  • sumrio

    APrEsENTAo......................................................................................................................7

    CAPTulo.1

    TENDNCIAS DEMOGRFICAS MOSTRADAS PELA PNAD 2008 .........................................................11Ana Amlia Camarano e Solange Kanso

    CAPTulo.2

    MIGRAES INTERESTADUAIS: PRINCIPAIS TENDNCIAS ..................................................................33Frederico A. Barbosa da Silva e Herton Arajo

    CAPTulo.3

    SOBRE A EVOLUO RECENTE DA POBREZA E DA DESIGUALDADE NO BRASIL .................................41Ricardo Paes de Barros, Mirela de Carvalho, Samuel Franco, Rosane Mendona e Andrezza Rosalm

    CAPTulo.4

    DESIGUALDADE DE RENDA ...............................................................................................................65Sergei Soares

    CAPTulo.5

    O EFEITO DA DESIGUALDADE REGIONAL NA DESIGUALDADE RACIAL ...............................................75Rafael Guerreiro Osorio e Pedro Herculano Guimares Ferreira de Souza

    CAPTulo.6

    MUDANA SOCIAL RECENTE NO BRASIL ..........................................................................................91Marcio Pochmann

    CAPTulo.7

    O RURAL NA PNAD 2008 ................................................................................................................113Alexandre Arbex Valadares, Antonio Teixeira Lima Junior, Brancolina Ferreira e Fbio Alves

    CAPTulo.8

    EVOLUO E DESIGUALDADE NA EDUCAO BRASILEIRA .............................................................139Jorge Abraho de Castro

    CAPTulo.9

    SITUAO DOS JOVENS BRASILEIROS: UMA ANLISE SOBRE OS DADOS DE EDUCAO

    E TRABALHO DA PNAD 2008 ..........................................................................................................159Joana Mostafa e Carla Coelho de Andrade

    CAPTulo.10

    PREVIDNCIA: O QUE NOS MOSTRAM OS DADOS DA PNAD 2008 ..................................................179Leonardo Alves Rangel, Maria Paula Gomes dos Santos e Jhonatan Ferreira

    CAPTulo.11

    SADE E RENDA NO BRASIL: ANLISE DA DIMENSO ECONMICA DAS DESIGUALDADES

    EM SADE A PARTIR DE DADOS DO SUPLEMENTO SADE DA PNAD 2008 ......................................191Leila Posenato Garcia, Matheus Stivali e Lcia Rolim Santana

  • CAPTulo.12.

    MERCADO DE TRABALHO ..............................................................................................................213Carlos Henrique Leite Corseuil, Lauro Ramos, Luana Furtado e Marina Aguas

    CAPTulo.13

    EVOLUO DO MERCADO DE TRABALHO CULTURAL: 2002-2008 ...................................................229Frederico A. Barbosa da Silva

    CAPTulo.14

    TRABALHO DOMSTICO REMUNERADO E AS DESIGUALDADES DE GNERO E RAA

    NO BRASIL CONTEMPORNEO .......................................................................................................245Natlia Fontoura e Alinne Bonetti

    CAPTulo.15.

    CONDIES DE VIDA: QUALIDADE DOS DOMICLIOS E ACESSO A BENS 1998-2008 .....................263Rafael Guerreiro Osorio e Pedro Herculano Guimares Ferreira de Souza

    NoTAs.BioGrFiCAs..........................................................................................................277

  • APrEsENTAo

    A Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) uma das maiores e mais importantes pesquisas de abrangncia nacional realizadas no pas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Tem grande relevncia para o desenvolvimento de estudos e polticas pblicas na rea social devido, principalmente, vastido de temas que aborda, que vo desde os dados da situao demogrfica, cultural, educacional e do mercado de trabalho at as condies de vida da populao.

    No decorrer dos anos, o Ipea, assim como diversas outras instituies de pes-quisa e ensino, tem utilizado vastamente esse poderoso material. Em nosso caso, essa pesquisa um elemento fundamental para nos auxiliar a desenvolver nossa misso de Produzir, articular e disseminar conhecimento para aperfeioar as pol-ticas pblicas e contribuir para o planejamento do desenvolvimento brasileiro.

    Este livro d continuidade ao esforo dos tcnicos da casa, que desde os primeiros momentos da publicao dos dados produziram anlises que foram apresentadas em documentos com a grife Comunicados do Ipea e amplamente divulgadas para toda a populao como j foi feito na PNAD 2007. Logica-mente, os comunicados cumpriram o papel de informar rapidamente os achados que pudemos perceber nas anlises realizadas. No entanto, entendemos que seria importante registrar esses trabalhos fazendo uma publicao com textos mais apurados e mais detalhes analticos sobre os temas apresentados, bem como com a apresentao de outros temas que haviam ficado de fora dos comunicados.

    Entretanto, importante salientar que, devido grande possibilidade que a PNAD permite, alguns temas relevantes no foram abordados nesta edio, como o saneamento bsico este tema constou da publicao anterior, Situao social brasileira 2007 , entre outros. Estas faltas so devidas muitas vezes no disponibilidade de suporte analtico e tambm falta de tempo de nossos tcnicos para sua realizao. Esperamos no deixar de inclu-los em uma prxima edio.

    Esta publicao ser composta de 15 captulos, detalhados a seguir.

    Os dados e as informaes produzidas a partir da PNAD 2008 confirmam a desacelerao no ritmo do crescimento da populao desde a dcada de 1970. Mudanas significativas na estrutura etria da populao, como seu envelheci-mento, e tambm as tendncias da dinmica demogrfica brasileira sero tratadas no captulo 1, Tendncias demogrficas mostradas pela PNAD 2008.

    O captulo 2, Migraes interestaduais: principais tendncias, tem como obje-tivo apresentar dados recentes que caracterizam os fenmenos migratrios no

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.18

    Brasil. O pressuposto que os processos migratrios tm profundos impactos nas qualidades dos aglomerados urbanos, que sofrem presses em termos habitacio-nais, de transportes e de servios pblicos, tais quais sade e educao. Um dos fatos estilizados que chama ateno que o contingente de migrantes interestadu-ais, que desde 2001 girava em torno de 4,6 milhes de pessoas, passou em 2007 a um patamar de 3,3 milhes, e a PNAD 2008 mantm esse patamar.

    No captulo 3, Sobre a evoluo recente da pobreza e da desigualdade no Brasil, so abordadas as questes fundamentais da pobreza no pas e sua evo-luo recente, com o declnio dos nveis de pobreza e de extrema pobreza. Utilizando-se de sries histricas dos principais indicadores de desigualdade de renda, mostra-se que a queda na desigualdade ocorrida nos ltimos anos bastante acentuada.

    Os dados da PNAD 2008 trouxeram boas notcias no que se refere dis-tribuio de renda no pas, o que mostra o captulo 4, Desigualdade de renda, apesar de o Brasil ainda continuar sendo um dos pases mais desiguais do mundo. O ndice de Gini continua caindo e est havendo aumento da renda de todos os centsimos, mas a renda mdia dos mais pobres ainda muita baixa. Alm disso, os resultados apresentados confirmam a importncia das transferncias governa-mentais e do salrio mnimo.

    O captulo 5, O efeito da desigualdade regional na desigualdade racial, tem como objetivo avaliar a contribuio da desigualdade regional para a desigualdade racial. Um dos resultados mais importantes do trabalho que a desigualdade entre os nveis de desenvolvimento econmico das regies, conjugada s variaes de composio racial, responsvel por cerca de um tero da diferena entre as rendas mdias nacionais de negros e brancos.

    O captulo 6, Mudana social recente no Brasil, destaca as principais altera-es na estrutura social do pas. O texto associa as mudanas recentes com a reto-mada expansionista da produo e, consequentemente, do emprego, combinadas com a reorientao das polticas pblicas. Conclui que houve mobilidade social ascendente, no entanto esta no ocorreu de forma homognea entre faixas etrias, sexo, ocupao, condio de moradia, cor/raa e regio.

    No captulo 7, O rural na PNAD 2008, procura-se compreender as condi-es de vida e trabalho no campo; alm disso, busca-se estabelecer comparaes entre as realidades sociais do campo e da cidade. Os dados permitiram constatar a baixa escolaridade, as precrias condies de moradia e os reduzidos nveis de renda e remunerao do trabalho das famlias residentes no meio rural.

    O captulo 8, Evoluo e desigualdade na educao brasileira, traa um quadro da educao que pode ajudar a formulao e a implementao de

  • Apresentao 9

    polticas pblicas. Por exemplo, constata-se que prossegue a queda na taxa de analfabetismo, mas que esta ainda persiste elevada entre adultos e idosos, salientando os problemas atuais de insuficiente cobertura dos programas de alfabetizao de adultos.

    Um breve panorama das questes vividas de forma diversificada e desigual entre os jovens brasileiros, segundo origem social, sexo, raa e nveis de pobreza, nas regies do pas, apresentado no captulo 9, Situao dos jovens brasileiros: uma anlise sobre os dados de educao e trabalho da PNAD 2008.

    O captulo 10, Previdncia: o que nos mostram os dados da PNAD 2008, busca entender as variaes dos dados e das informaes previdencirios, visando cola-borar com o debate pblico sobre o papel da Previdncia Social, principalmente no que diz respeito s questes relativas cobertura e ao papel desta na reduo da pobreza e seu efeito distributivo. Conclui-se que as polticas previdencirias tm impacto importante na queda da pobreza e da desigualdade.

    O captulo 11, Sade e renda no Brasil: anlise da dimenso econmica das desigualdades em sade a partir de dados do Suplemento Sade da PNAD 2008, mensura e discute as correlaes entre a desigualdade de renda e as desigualdades em sade. O estudo confirma a existncia de distncias consi-derveis entre os estratos mais ricos e mais pobres da populao, no que diz respeito utilizao de determinados servios de sade e ao desenvolvimento de diversas doenas.

    No captulo 12, Mercado de trabalho, foi analisado o comportamento do mercado de trabalho brasileiro, em 2008, conforme dados da PNAD, refe-renciando-o no contexto ao longo desta dcada. Os dados e as informaes obtidas mostraram que o mercado de trabalho teve comportamento positivo, com crescimento do emprego e da renda, dando sequncia tendncia dos anos mais recentes.

    O comportamento do mercado de trabalho cultural tratado no captulo 13, Evoluo do mercado de trabalho cultural: 2002-2008. Os resultados obtidos mostram que este segmento seguiu o comportamento do mercado de trabalho em geral, mas mostra, tambm, a importncia deste segmento no dinamismo do mercado de trabalho.

    Alm disso, no captulo 14, Trabalho domstico remunerado e as desigualdades de gnero e raa no Brasil contemporneo, mostra-se que essa ocupao agrega o maior contingente de trabalhadoras brasileiras e confirma que a grande maioria formada por mulheres negras. Conclui-se que a reconfigurao do trabalho domstico representaria um grande passo em direo a mais igualdade de gnero e racial e justia social.

  • Situao Social Brasileira: monitoramento das condies de vida 110

    Por ltimo, tomando como base os dados da PNAD, foi desenvolvida uma anlise no captulo 15, Condies de vida: qualidade dos domiclios e acesso a bens 1998-2008, em que foram analisados alguns aspectos das condies de vida das famlias brasileiras, tais como o acesso a saneamento bsico, domiclios de boa qualidade e bens de consumo durveis. Concluiu-se que o acesso ao conjunto de bens intermedirios, de bens de consumo, foi o que mais se expandiu e des-concentrou, enquanto o conjunto completo de bens de consumo durveis ainda atinge um pblico restrito e apresenta nveis altos de concentrao.

    Marcio PochmannPresidente do Ipea

    Diretoria ColegiadaFernando Ferreira

    Joo SicsJorge Abraho de Castro

    Jos Celso Pereira Cardoso JniorLiana Maria da Frota CarleialMrcio Wohlers de Almeida

    Mrio Lisboa Theodoro

  • CAPTULO 1

    TENDNCiAs.DEmoGrFiCAs.mosTrADAs.PElA.PNAD.2008Ana Amlia Camarano*

    Solange Kanso**

    1.iNTroDuo

    Os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclio (PNAD) 2008 confirmam a tendncia demogrfica em curso no pas desde os anos 1970: desa-celerao no ritmo de crescimento da populao e mudanas expressivas em sua estrutura etria como o seu envelhecimento, por exemplo.

    A populao brasileira registrou as mais elevadas taxas de crescimento no perodo 1950-1970: em torno de 3% ao ano.1 A partir da, estas taxas passaram a experimentar forte declnio, como resultado de uma reduo acentuada nos nveis de fecundidade, iniciada na segunda metade dos anos 1960. Tal reduo mais do que compensou a queda da mortalidade em curso, verificada no pas desde o fim da Segunda Guerra. Estima-se para esta dcada uma taxa mdia de 1% ao ano um tero da observada para o perodo 1950-1970.

    O envelhecimento populacional significa uma alterao na proporo dos diversos grupos etrios no total da populao. Por exemplo, em 1940, a popula-o idosa representava 4,1% da populao total brasileira, e passou a representar 11,1% em 2008. O contingente, em valores absolutos, aumentou de 1,7 milho para aproximadamente 20 milhes no mesmo perodo. Por outro lado, diminuiu a proporo da populao jovem. A populao menor de 20 anos passou a apre-sentar uma diminuio no seu contingente em termos absolutos e percentuais. Esta tendncia acentuar-se- nas prximas dcadas.

    O presente trabalho incorpora os dados coletados pela PNAD 2008 nas an-lises previamente feitas no que diz respeito s tendncias da dinmica demogrfica brasileira, especificamente da fecundidade, e aponta algumas perspectivas futuras

    * Tcnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea e coordenadora de populao e cidadania da Diretoria de Estudos e Polticas Sociais (Disoc) do Ipea.** Pesquisadora do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD).1. Isto , considerando-se o perodo para o qual existem dados. Ver, por exemplo, Camarano e Kanso (2009) e Ipea (2006, captulo 2).

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.112

    para a populao brasileira.2 O texto est organizado em seis sees, sendo a seo 1 esta introduo. A seo 2 apresenta o comportamento recente da dinmica populacional e uma projeo populacional para o perodo 2000-2040 e a seo 3 descreve as tendncias recentes da fecundidade. A seo 4 apresenta as mudanas nos arranjos familiares e o papel da mulher, a seo 5 aponta algumas consequn-cias do envelhecimento populacional e, por fim, algumas consideraes sobre os resultados so tecidas na seo 6.

    2.TENDNCiAs.DA.PoPulAo.BrAsilEirA

    Os resultados da PNAD 2008 mostram a continuao da diminuio da taxa de fecundidade total para nveis abaixo dos de reposio: 1,8 filhos por mulher (grfico 1). Essa queda iniciou-se na segunda metade dos anos 1960 e est resul-tando em uma desacelerao do ritmo de crescimento da populao brasileira e provocando importantes mudanas na estrutura etria desta populao. Esta poder diminuir a partir de 2030 e apresentar uma populao super envelhecida, reproduzindo a experincia de vrios pases da Europa Ocidental, da Rssia, do Japo etc. (grfico 2).

    GRFICO 1Taxa.de.fecundidade.total..Brasil,.1992-2008

    2,8

    1,8

    1,0

    2,0

    3,0

    1992

    1993

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    TFT TFT reposio 2 por mdia mvel (TFT)

    Fontes: PNADs/Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).Obs.: A PNAD no foi realizada no ano de 1994 devido problemas oramentrios e em 2000, por ser ano censitrio.

    2. Ver, por exemplo, Camarano e Kanso (2009).

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 13

    GRFICO 2Taxa.de.crescimento.da.populao.brasileira...1940-2040

    -0,5

    0,0

    0,5

    1,0

    1,5

    2,0

    2,5

    3,0

    3,5 19

    40 -19

    50

    1950

    -19

    60

    1960

    -19

    70

    1970

    -19

    80

    1980

    -19

    91

    1991

    -20

    00

    2000

    -20

    10

    2010

    -20

    20

    2020

    -20

    30

    2030

    -20

    35

    2035

    -20

    40

    Fontes: Censos demogrficos/IBGE e Sistema de Informaes de Mortalidade (SIM)/Ministrio da Sade (MS).Elaborao das autoras.

    Com os resultados da fecundidade apontados pela PNAD, projetou-se que a populao brasileira poder atingir o seu mximo em 2030, com um contingente de, aproximadamente, 206,8 milhes.3 Espera-se para 2040 um contingente menor, 204,7 milhes (grfico 3). Este contingente resultado, principalmente, da dinmica da fecundidade e da mortalidade, em curso ao longo do sculo XX e incio do XXI. Ou seja, a diminuio da mortalidade acompanhada pela queda na fecundidade. Comparado experincia europeia, o movimento de passagem de um estgio de taxas de mortalidade e de fecun-didade elevadas a um de mortalidade e fecundidade baixas estaria acontecendo no Brasil em velocidade acelerada.

    3. Para detalhes sobre a projeo mencionada, consulte Camarano e Kanso (2009).

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.114

    GRFICO 3Populao.total.e.populao.em.idade.ativa.projetada..Brasil,.2000-2040

    0

    30.000

    60.000

    90.000

    120.000

    150.000

    180.000

    210.000

    PIA1 Total

    Em m

    il hab

    itan

    tes

    2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2040 2035

    Fontes: Censos Demogrficos 1980, 1991 e 2000/IBGE e SIM/MS.Elaborao das autoras.Nota: 1 Populao em idade ativa (PIA).

    A alta velocidade da queda da fecundidade e da mortalidade acarreta mudanas rpidas no ritmo de crescimento da populao e, tambm, na dis-tribuio etria e na oferta de fora de trabalho, entre outras. A mudana mais importante ocorrida nos ltimos anos foi o envelhecimento populacional, ou seja, uma mudana nos pesos dos diversos grupos etrios no total da populao. Pode se observar no grfico 4 que a populao menor de 15 anos que fra respon-svel por 33,8% da populao total, em 1992, passou a constituir 24,5% desta populao, em 2008. Por outro lado, a populao idosa que respondia por 7,9% da populao brasileira passou a responder por 11,1%.4 A populao em idade ativa tambm aumentou sua participao, tendo passado de 58,3% para 64,3%. Mas, tambm, envelheceu.

    4. Por populao idosa considerou-se a populao de 60 anos e mais, como estabelecido pelo Estatuto do Idoso.

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 15

    GRFICO 4Distribuio.etria.da.populao..Brasil,.1992.e.2008

    6 4 2 0 2 4 6

    0-4 5-9

    10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-79 80+

    Mulheres 2008 Homens 2008

    Mulheres 1992 Homens 1992

    Fontes: PNAD 1992 e 2008/IBGE.

    Sob o ponto de vista demogrfico, o envelhecimento populacional o resultado da manuteno por um perodo de tempo razoavelmente longo de taxas de crescimento da populao idosa superiores s da populao mais jovem. Isto implica em uma mudana nos pesos dos diversos grupos etrios no total da populao. Alm do envelhecimento da populao total, a propor-o da populao mais idosa, de 80 anos e mais, est aumentando tambm, alterando a composio etria no prprio grupo, ou seja, a populao idosa tambm envelheceu (CAMARANO; KANSO; MELLO, 2004). A sua par-ticipao na populao brasileira passou de 0,9% para 1,5%, entre 1992 e 2008. Embora o percentual seja baixo, fala-se de 2,8 milhes de pessoas com 80 anos e mais. Isto leva a uma heterogeneidade do segmento idoso; aumenta a demanda por cuidados de longa durao e por servios de sade; e requer pagamentos de benefcios previdencirios e assistenciais por um perodo de tempo mais longo.

    As perspectivas vislumbradas nas projees mencionadas so de acelerado envelhecimento populacional, como mostrado no grfico 5. Alguns grupos popu-lacionais j esto experimentando taxas negativas de crescimento, aqueles com idade abaixo de 30 anos, e continuaro a experimentar, e outros passaro a expe-rimentar ao longo do perodo da projeo. A partir de 2030, os nicos grupos populacionais que devero apresentar crescimento positivo sero os com idade superior a 45 anos (grfico 6).

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.116

    GRFICO 5Taxa.de.crescimento.por.grupo.etrio..Brasil,.2000-2040

    -8

    -6

    -4

    -2

    0

    2

    4

    6

    8 200

    0-20

    05

    200

    5-20

    10

    201

    0-20

    15

    201

    5-20

    20

    202

    0-20

    25

    202

    5-20

    30

    203

    0-20

    35

    203

    5-20

    40

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 17

    Com relao populao em idade ativa, considerada como a de 15 anos e mais, como mostrado no grfico 3, esta tambm crescer at 2030 e, a partir da, dever diminuir. A participao do grupo jovem (15-29 anos) atingiu o seu mximo em 2000 e espera-se que decline substancialmente, a partir de 2010. Espera-se que a participao relativa da PIA adulta (30-44 anos) permanea apro-ximadamente estvel at 2040, mas com acrscimo em valores absolutos. J a PIA madura e idosa dever experimentar um aumento tanto em valores absolutos quanto em sua participao no total da populao. Isto colocar presses diferen-ciadas no mercado de trabalho. Os novos empregos a serem gerados devero se concentrar na populao maior de 45 anos. Esta populao dever ser responsvel por aproximadamente 56,3% da futura populao em idade ativa.

    3.DEsiGuAlDADEs.NA.FECuNDiDADE

    Embora a fecundidade tenha cado em todas as regies do pas, em todos os grupos sociais, isto ocorreu de forma diferenciada. O primeiro diferencial consi-derado foi o por regies, como mostra o grfico 7. Este compara a taxa de fecun-didade total das cinco regies brasileiras em 1992 e 2008. Em 1992, a mais alta taxa foi verificada na regio Nordeste e, em 2008, na Norte. No entanto, embora esta taxa seja a mais alta, j atingiu o nvel de reposio. Em ambos os anos, a taxa mais baixa foi observada na regio Sudeste, sendo que no ltimo ano o valor alcanado foi de 1,6 filhos, muito prximo ao valor observado para a regio Sul. Os diferenciais regionais tambm diminuiram no perodo. Em 1992, uma mulher nordestina tinha 1,2 filhos a mais que uma residente na regio Sudeste. Este diferencial caiu para 0,5 filho em 2008. J o diferencial entre as mulheres nortistas e as do Sudeste foi de 0,6. Sumarizando, a fecundidade de todas as regies brasileiras j atingiu os nveis de reposio.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.118

    GRFICO 7Taxa.de.fecundidade.total.por.regies..Brasil,.1992.e.2008

    0

    1

    2

    3

    4

    Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

    1992 2008

    Fontes: PNADs 1992 e 2008/IBGE.

    O segundo diferencial considerado foi o por nvel de renda familiar, o que est mostrado no grfico 8. Como esperado, a fecundidade mais elevada nas camadas de renda mais baixa, mas estes diferenciais tambm esto diminuindo ao longo do tempo. Em 1992, era de 3,4 a diferena no nmero de filhos tidos entre as mulheres de renda mais baixa e as de renda mais alta. Este diferencial reduziu-se para 2,2 em 2008. Salienta-se que as mulheres de renda mais alta esto experimentando taxas de fecundidade extremamente baixas, mais baixas que as de pases como Itlia, Espanha e Japo (1 e 1,3 filhos por mulher).

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 19

    GRFICO 8Taxa.de.fecundidade.total.por.quintil.de.renda..Brasil,.1992.e.2008.

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    1 quintil 2 quintil 3 quintil 4 quintil 5 quintil

    1992 2008

    Fontes: PNAD 1992 e 2008/IBGE.

    O ltimo diferencial considerado foi por anos de estudo. Como no caso da renda, maior escolaridade leva a uma taxa de fecundidade muito baixa, o que est mostrado no grfico 9. A fecundidade tambm diminuiu em todos os grupos considerados. Em 1992, uma mulher com o nvel de educao mais baixo tinha 1,8 filhos a mais que as com escolaridade mais alta. Em 2008, esse diferencial se reduziu para 1,4. A maior reduo foi observada entre as mulheres com a maior e a menor escolaridade. A fecundidade destas atingiu valores muito semelhantes das de renda mais alta, 1,1 filhos por mulher.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.120

    GRFICO 9Taxa.de.fecundidade.total.por.grupos.de.anos.de.estudo..Brasil,.1992.e.2008

    0

    1

    2

    3

    4

    0-4 anos 5-8 anos 9-11 anos 12 anos e mais

    1992 2008

    Fontes: PNADs 1992 e 2008/IBGE.

    3.1.A.fecundidade.na.adolescncia

    A queda mencionada da fecundidade ocorreu em todos os grupos de idade, inclusive entre as mulheres de 15 a 19 anos. Na verdade, a tendncia foi de aumento at o final da dcada passada. Desde 2000, esse processo foi revertido. Em 1992, para cada 1 mil adolescentes, observou-se 91 filhos nascidos vivos. Em 2008, esta taxa se reduziu a 68 filhos nascidos vivos por 1 mil (grfico 10). O aumento da fecundidade na adolescncia uma das consequncias das mudanas na famlia, que sero discutidas posteriormente: a dissociao da sexualidade do casamento.

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 21

    GRFICO 10Taxa.de.fecundidade.das.mulheres.de.15.a.19.anos..Brasil,.1992-2008

    20

    40

    60

    80

    100

    1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

    Por mil

    15-19 Mdia mvel 15-19 anos

    Fontes: PNADs 1992-2008/IBGE.Obs.: A PNAD no foi realizada no ano de 1994 devido problemas oramentrios e em 2000, por ser ano censitrio.

    A fecundidade das adolescentes declinou em todas as regies do pas, como se pode ver no grfico 11, que compara 1992 com 2008. Os maiores decrsci-mos foram observados nas regies Sul e Nordeste. Nos dois anos considerados, a fecundidade mais elevada foi observada na regio Norte e a mais baixa na Sul. O diferencial entre as regies diminuiu no perodo considerado.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.122

    GRFICO 11Taxas.de.fecundidade.das.mulheres.de.15.a.19.anos,.segundo.as.regies..Brasil,.1992.e.2008

    0,00

    0,02

    0,04

    0,06

    0,08

    0,10

    0,12

    0,14

    Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

    1992 2008

    Fontes: PNADs 1992 e 2008/IBGE.

    Com relao aos diferenciais por renda nesse indicador, em 2008, as taxas mais elevadas foram observadas para as jovens do quintil de renda mais baixo. O inverso se verificou para as taxas do quintil de renda mais alto. A fecundidade declinou em todos os grupos de mulheres no perodo considerado, com exceo das do primeiro quintil, e os diferenciais por renda se ampliaram no tempo (grfico 12).

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 23

    GRFICO 12Taxa.de.fecundidade.das.mulheres.de.15.a.19.anos.por.quintil.de.renda..Brasil,.1992.e.2008

    0,02

    0,04

    0,06

    0,08

    0,10

    0,12

    0,14

    0,16

    1 quintil 2 quintil 3 quintil 4 quintil 5 quintil

    1992 2008

    Fontes: PNAD 1992 e 2008/IBGE.

    Entre as adolescentes que tiveram filhos predominaram as cnjuges, ou seja, pode-se dizer que a fecundidade ocorreu em uma unio, seja como resultado ou como consequncia desta. Isto significa mulheres que j tinham constitudo o seu domiclio e viviam com um companheiro. No entanto, a proporo de mes cnjuges decresceu no perodo, passou de 55,8% para 38,8%. Por outro lado, aumentou a proporo de mes adolescentes que estavam na condio de filhas e outros parentes netos. Nestas duas posies, estavam 53,8% das mes adolescentes. Ou seja, 485,5 mil mulheres de 15 a 19 anos j tinham tido filhos e viviam na casa dos pais ou avs. Na verdade, a proporo de filhas praticamente se igualou a de cnjuges em 2008. Cresceu a proporo de mes adolescentes que chefiavam famlias; atingiu 6,1% em 2008, ou seja, 55,3 mil adolescentes eram mes e chefiavam famlias (grfico 13).

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.124

    GRFICO 13Proporo.de.mulheres.de.15.a.19.anos.que.tiveram.filhos.por.condio.no.domiclio..Brasil,.1992-2008(Em %)

    Chefe Cnjuge Filha Outra parente

    1,9 6,1

    55,8

    38,0

    38,8

    28,4

    12,4 16,0

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

    Fontes: PNADs/IBGE.Obs.: A PNAD no foi realizada no ano de 1994 devido problemas oramentrios e em 2000, por ser ano censitrio.

    4.EsTruTurAs.FAmiliArEs.E.o.Novo.PAPEl.soCiAl.DA.mulhEr

    Segundo Lesthaegue (1995), esto em curso trs revolues que afetam, profun-damente, as estruturas familiares e, consequentemente, a social:

    Revoluo contraceptiva: dissociao da sexualidade da reproduo.

    Revoluo sexual, principalmente, para as mulheres: separao entre sexualidade e casamento.

    Revoluo no papel social da mulher e nas relaes de gneros tradicio-nais: homem provedor versus mulher cuidadora.

    Essas revolues esto em curso em quase todo o mundo desenvolvido e, tambm, no Brasil. Discute-se a seguir, brevemente, a segunda e a terceira revolu-es antes mencionadas luz dos resultados da PNAD 2008.

    O arranjo familiar predominante no Brasil o do tipo casal com filhos, mas esta predominncia vem decrescendo ao longo do tempo. Constituam 62,8% do total de arranjos em 1992 e passaram a constituir 50,5% em 2008, conforme mostra o grfico 14. Esse tipo de arranjo se caracteriza pela predominncia de chefes homens. Observou-se, no entanto, nos ltimos dez anos, um aumento expressivo de chefia feminina nesse tipo de arranjo, ou seja, no formado por casais.

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 25

    A proporo de arranjos do tipo casal com e sem filhos chefiados por mulher pas-sou de 4,5% em 1992 para 31,2% em 2008. Neste ano, 4,3 milhes de famlias brasileiras encontravam-se nessa categoria.

    GRFICO 14Distribuio.percentual.dos.arranjos.familiares.brasileiros.pelo.tipo.de.arranjo

    11,7

    62,8

    6,2

    12,3

    5,4 1,6

    15,7

    50,5

    8,9

    15,4

    7,5

    1,9 0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    Casal sem filhos

    Casal com filhos

    Mulher sozinha

    Me com filhos

    Homem sozinho

    Pai com filhos

    1992 2008

    Fontes: PNAD 1992 e 2008/IBGE.

    A reduo na proporo de casais com filhos tem sido compensada pelo aumento das famlias constitudas por casais sem filhos, das monoparentais, principalmente, as chefiadas por mulheres e de homens morando sozinhos. No segundo tipo de arranjo, o mais frequente era o do tipo me com filhos. No total de arranjos brasileiros, a proporo de homens sozinhos cresceu de 5,4% para 7,5%. Ou seja, 4,3 milhes de homens brasileiros viviam sozinhos. No entanto, os domiclios formados por mulheres sozinhas so os mais expressivos. A sua proporo passou de 6,2% em 1992 para 8,9% em 2008 e significa 5,1 milhes de mulheres vivendo sozinhas.

    O aumento da proporo de domiclios chefiados por mulher guarda estreita relao com o aumento da participao feminina no mercado de trabalho. Esses fatores provocaram algumas mudanas nas caractersticas dos domiclios brasileiros, alterando as relaes tradicionais de gnero: mulher cuidadora e homem provedor. Um dos indicadores dessas mudanas dado pelo aumento da contribuio da renda das mulheres na renda das famlias brasileiras. Esta passou de 30,1% para 40,6% (grfico 15). Mais expressivo foi o aumento da proporo de mulheres cnjuges que contribuem para a renda das suas famlias, que passou de 39,1% para 64,3%.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.126

    GRFICO 15Contribuio.do.rendimento.das.mulheres.na.renda.da.famlia..Brasil,.1992.e.2008

    30,1

    40,6

    0

    15

    30

    45

    1992 2008

    Fontes: PNAD 1992 e 2008/IBGE.

    Apesar de a mulher brasileira estar assumindo o papel de provedora, ela con-tinua sendo a principal responsvel pelo cuidado domstico, mesmo na condio de ocupada, o que no apresentou variaes expressivas no perodo. A proporo de mulheres ocupadas que se dedicavam a afazeres domsticos em 2008 foi de 87,9% e a de homens, 46,1%. Mais expressiva foi a diferena no nmero mdio de horas trabalhadas em afazeres domsticos. As mulheres ocupadas dispendiam, em mdia, 20,9 horas semanais e os homens, 9,2.

    Sintetizando, a famlia brasileira est mudando e a mulher uma das gran-des responsveis por isto. Ela, hoje, est assumindo novos papis sociais, como o de provedora, dada a sua participao ativa do mercado, mas ainda mantm os tradicionais, como o de responsvel pelas tarefas domsticas e cuidados com os membros dependentes.

    5.AlGumAs.CoNsEquNCiAs.Do.ENvElhECimENTo.DA.PoPulAo.BrAsilEirA

    O envelhecimento populacional , hoje, um fenmeno mundial. Este resultado das taxas elevadas de crescimento, dada a alta fecundidade prevalecente no pas-sado, comparativamente atual, e reduo da mortalidade nas idades avanadas. Isto se traduz no aumento do nmero absoluto e relativo de idosos, no tempo vivido por eles, no envelhecimento de certos segmentos populacionais, como a populao economicamente ativa (PEA), no envelhecimento das famlias cres-cimento do nmero de famlias nas quais existe pelo menos um idoso e em mudanas nos arranjos familiares.

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 27

    O processo do envelhecimento muito mais amplo do que uma modifica-o de pesos de uma determinada populao, dado que altera a vida dos indiv-duos, as estruturas familiares, a sociedade etc. Altera, tambm, a demanda por polticas pblicas e a presso pela distribuio de recursos na sociedade. Por isso, suas consequncias tm sido, em geral, vistas com preocupaes por acarretarem presses para transferncia de recursos na sociedade, colocando desafios para o Estado, o mercado e as famlias.

    Reconhece que o envelhecimento um processo de perdas fsicas, men-tais, cognitivas e sociais, o que traz vulnerabilidades. Estas so diferenciadas por gnero, idade, grupo social, raas e regies geogrficas etc. diferenciado, tam-bm, o momento a idade em que elas se iniciam. Assume-se que polticas pblicas podem ter um papel fundamental na reduo do seu impacto sobre o indivduo e a sociedade.

    Quatro so as polticas mais importantes para a populao idosa: renda para compensar a perda da capacidade laborativa previdncia e assistncia social , sade, cuidados de longa durao e a criao de um entorno favorvel habita-o, infraestrutura, acessibilidade, reduo de preconceitos etc. O caso brasileiro ilustra bem como as polticas de renda tm reduzido a associao apontada pela literatura entre envelhecimento e pobreza.

    Os benefcios da seguridade social previdncia urbana, previdncia rural, assistncia social e as penses por morte cobriam aproximadamente 77% da populao idosa em 2008, ou seja, aproximadamente 16 milhes de idosos.5 Este percentual era aproximadamente igual entre homens e mulheres, 78,6% e 75,6%, respectivamente. Pode se observar, no grfico 16, entre 1992 e 2008, um cresci-mento da proporo de aposentados que ocorreu, principalmente, entre os idosos mais jovens, 60 a 70 anos.

    5. Aqui esto considerados apenas os beneficirios com idade igual ou superior a 60 anos.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.128

    GRFICO 16Proporo.de.idosos.que.recebem.benefcios.da.seguridade.social.por.idade.e.sexo..Brasil,.1992.e.2008

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    60-64 65-69 70-74 75-79 80 +

    1992 Homens 1992 Mulheres 2008 Homens 2008 Mulheres

    Fontes: PNAD 1992 e 2008/IBGE.

    Como o piso para o benefcio social estabelecido pela Constituio Federal de 1988 (CF/88) de um salrio mnimo, uma das consequncias da amplia-o da cobertura da seguridade social uma proporo menor de pobres6 entre os idosos comparativamente aos no idosos. O percentual de idosos pobres do sexo masculino experimentou uma forte reduo; passou de 24,7% em 1992 para 12,4% em 2008. A proporo comparvel para as mulheres foi reduzida em aproximadamente 10 pontos percentuais, ou seja, passou de 20,8% para 10,8%. No entanto, entre os idosos as mulheres so menos pobres que os homens, ao contrrio do que se verifica para os no idosos (grfico 17).

    6. Foi definido como pobreza as pessoas que residiam em domiclios com renda domiciliar per capita menor ou igual a meio salrio mnimo.

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 29

    GRFICO 17Proporo.de.idosos.e.no.idosos.por.sexo.que.reside.em.domiclios.com.renda.per.capita.menor.ou.igual.a.meio.salrio.mnimo..Brasil,.1992.e.2008

    0

    15

    30

    45

    1992 2008 1992 2008

    Homens Mulheres

    No idosos Idosos

    Fontes: PNAD 1992 e 2008/IBGE.

    Embora a parcela mais importante da renda dos idosos seja originria da seguridade social, cuja contribuio tem aumentado ao longo do perodo con-siderado, o trabalho aporta tambm uma parcela expressiva na sua renda, em especial dos homens, 34,6%. Para as mulheres a contribuio foi de 12,1%.

    O trabalho para os idosos importante no s pela renda que aporta, mas , tambm, um indicador de autonomia e de integrao social. Em 2008, entre os homens, 43,2% trabalhavam e entre as mulheres, 20,2%. A baixa participao femi-nina no mercado de trabalho reflete sua baixa participao quando mais jovens. Isto torna as mulheres idosas mais dependentes da renda de outros membros da famlia.

    As perspectivas que se colocam para o mdio prazo so a de um aumento na participao da populao idosa nas atividades econmicas. Isto ocorrer, em grande parte, devido ao ingresso macio das mulheres no mercado de trabalho, ocorrido a partir dos anos 1970. Por outro lado, o envelhecimento da populao em idade ativa aliado s presses no sistema previdencirio levam a necessidade de se manter o trabalhador na ativa o maior nmero de anos possvel. Salienta-se que isto requer uma poltica de sade ocupacional para diminuir as sadas do mercado de trabalho via aposentadoria por invalidez e a reduo de preconceitos com relao ao trabalho do idoso.

    A melhora na situao da renda dos idosos bem como na de sua sade acar-retou mudanas na sua posio na famlia. O aumento na proporo de idosos e, principalmente, de mulheres idosas chefes de famlia ou cnjuges e a reduo na

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.130

    proporo de idosos vivendo na casa de filhos, genros, noras, irmos ou outros parentes foi uma das mudanas importantes verificada no perodo 1992-2008. Isto aponta para uma reduo da dependncia dos idosos sobre as famlias. Essa mudana foi mais acentuada entre as mulheres, pois eram elas que apresentaram em 1992 a mais elevada proporo de residentes em casa de parentes e a mais baixa proporo de chefes de famlia. A chefia da famlia passou a ser o status predominante, tambm, das mulheres idosas (grfico 18).

    GRFICO 18Proporo.de.idosos.brasileiros.por.condio.no.domiclio.e.sexo

    0

    25

    50

    75

    100

    1992 2008 1992 2008

    Homens Mulheres

    Chefe Cnjuge Outro parente Outros

    Fontes: PNAD 1992 e 2008/IBGE.

    Em 2008, aproximadamente 13,3 milhes de idosos brasileiros chefiavam famlias. Destes, 57,4% eram homens. Dos 23,7% de idosos que estavam na condio de cnjuges, 83,9% eram mulheres. Em aproximadamente 6,0 milhes de famlias em que o idoso era chefe ou cnjuge, encontravam-se filhos adultos7 residindo. E em 2,2 milhes netos.8 Nas famlias em que o idoso era chefe ou cnjuge com filhos adultos, os idosos contribuam com 54,1% da renda familiar. Ou seja, os idosos brasileiros de hoje esto invertendo a tradicional relao de dependncia apontada pela literatura. A grande maioria deles tem assumido o papel de provedor, mesmo dependendo de cuidados.

    Por outro lado, 1,9 milho de idosos brasileiros moravam na casa de filhos, genros ou outros parentes. Estas so pessoas que na falta de autono-mia para lidar com as atividades do cotidiano e/ou de renda buscam ajuda

    7. Foi definido como filhos adultos aqueles com 21 anos ou mais.8. Foi definido como neto, crianas na posio no domiclio de outros parentes que tivessem at 14 anos de idade.

  • Tendncias.Demogrficas.mostradas.pela.PNAD.2008 31

    com parentes. Entre esses, predominam as mulheres, 75,3%, dado, provavel-mente, ao fato de viverem mais, ficarem, portanto, vivas e experimentarem um perodo maior de vulnerabilidade fsica e/ou mental. Nas famlias com idosas morando na casa de filhos, genros ou outros parentes elas contribuem com aproximadamente 26% na renda familiar. So as pessoas mais vulnerveis, potenciais vtimas de violncia familiar e potenciais demandantes de uma pol-tica de cuidados instituies de longa permanncia, centros dia, hospitais dia e cuidado profissional domiciliar.

    6.CoNsiDErAEs.FiNAis

    Em resumo, parece claro que, para a primeira metade deste sculo, o movimento da populao brasileira ser de rpida contrao e de superenvelhecimento. Ela dever atingir o seu ponto mximo nos prximos 20 anos, a despeito de se espe-rar, tambm, uma continuao da queda nos nveis de mortalidade. Isto s no ocorrer se a fecundidade voltar a crescer. Esta mostrou ser uma varivel muito importante na dinmica de crescimento da populao brasileira.

    Por sua vez, dado que projees populacionais so consideradas insumos importantes para fundamentar estudos que dimensionem demandas de servios pblicos e privados, de grande importncia que haja a contnua atualizao destas projees, que sempre podero se beneficiar com os dados das PNADs.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.132

    rEFErNCiAs.

    CAMARANO, A. A.; KANSO, S. Perspectivas de crescimento para a populao brasileira: velhos e novos resultados. Rio de Janeiro: Ipea, 2009 (Texto para Discusso, n. 1426).

    CAMARANO, A. A.; KANSO, S.; MELLO, J. L. Como vive o idoso brasileiro? In: CAMARANO, A. A. (Org.). Os novos idosos brasileiros muito alm dos 60? Rio de Janeiro: Ipea, 2004, p. 25-73.

    IPEA. A oferta de fora de trabalho brasileira: tendncias e perspectivas. In: TAFNER, P. (Ed.). Brasil: o estado de uma nao mercado de trabalho, emprego e informalidade. Rio de Janeiro: Ipea, 2006, p. 69-118.

    LESTHAEGUE, R. The second demographic transition in western countries. In: MASON, K. O.; JENSEN, A-M. (Ed.). Gender and family change in industrialized countries. Oxford: Clarendon Press, 1995.

  • CAPTULO 2

    miGrAEs.iNTErEsTADuAis:.PriNCiPAis.TENDNCiAsFrederico A. Barbosa da Silva*

    Herton Arajo*

    1.iNTroDuo

    Este trabalho tem como objetivo apresentar dados recentes que caracterizam os fen-menos migratrios no Brasil. O olhar ser lanado a partir da demografia. Os proces-sos migratrios tm profundos impactos nas qualidades dos aglomerados urbanos, que sofrem presses em termos habitacionais, transportes, servios pblicos tais quais, sade e educao. Os indivduos migram, mas possvel dizer que os grupos e as famlias migram com eles, tecendo redes de apoio que se estendem dos polos repulsores aos polos atratores de populaes. Portanto, os fluxos migratrios dei-xam marcas importantes nas relaes sociais e nos processos econmicos e nesse enquadramento analtico que implicam em impactos variados nas solidariedades sociais e nas polticas pblicas que os fenmenos demogrficos devem ser percebidos.

    Em primeiro lugar, deve-se lembrar que as questes migratrias no se restrin-gem mais ao tradicional fenmeno do deslocamento rural urbano. As migraes entre regies nas regies , os movimentos pendulares e sazonais tambm fazem parte dos movimentos migratrios e so percebidos como aspectos do fenmeno decorrendo de mudanas na economia, nos processos sociais e polticos. Dessa maneira importante atentar para o fato de que a migrao um fato social total e que as explicaes para o fenmeno no se restringem a motivaes e causalidades econmicas, sendo a traduo de suas expresses espaciais e histricas complexas.

    Muitos aspectos da migrao no podem ser analisados a partir da Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares (PNAD), a exemplo de movimentos sazo-nais e intermunicipais, das redes sociais que amparam as decises de desloca-mento e das estratgias que as condicionam. Faremos nossas anlises com base na pergunta de data fixa, que foi introduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) a partir da PNAD 1992. A pergunta refere-se moradia h exatamente cinco anos atrs. Ento a srie construda a partir desta questo funciona como uma mdia mvel dos movimentos a cada cinco anos.

    * Tcnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Polticas Sociais (Disoc) do Ipea.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.134

    Dessa forma este trabalho se concentrar em aspectos dos fluxos migrat-rios interestaduais registrados na PNAD. Os fluxos migratrios computados na PNAD 2008 mostram algumas novidades com relao aos apresentados nos anos anteriores que sero registrados na seo 2. Na seo 3, enfocam-se os fenmenos migratrios centrados no poder de atrao de So Paulo.

    2..FluXos.miGrATrios:.FATos.EsTiliZADos.mAis.imPorTANTEs..NA.PNAD.2008.

    Um primeiro fato a chamar ateno que o contingente de migrantes interesta-duais que desde 2001 girava em torno de 4,6 milhes de pessoas, passou em 2007 para um patamar de 3,3 milhes. A PNAD de 2008 mantm este patamar.

    Outros fatos podem ilustrar as mudanas que vm ocorrendo nos fluxos migratrios desde a dcada passada:

    1. O Par, que passava por forte poder de atrao desde 2004, perdeu esse poder de atrao, e seu saldo migratrio ficou prximo de zero. Esta situ-ao resultado tanto da diminuio das entradas (imigrao), queda de 10,5% com relao a 2007, como do aumento das sadas (emigrao), aumento de 20,5% com relao ao ano anterior. O maior fluxo de mi-grao interestadual do Par continua sendo com o vizinho Maranho.

    GRFICO 1saldos.migratrios.dos.estados.da.regio.Norte.

    150.000

    100.000

    50.000

    -

    50.000

    100.000

    1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Rondnia Acre Amazonas Roraima Par Amap Tocantins

    Fontes: PNAD 1992-2008/IBGE. Elaborao: Ninsoc/Ipea.

  • migraes.interestaduais:.principais.tendncias 35

    2. O Rio Grande do Norte, estado do Nordeste, que com o Cear tem mais consistentemente atrado populao, sofreu forte perda de atrati-vidade: as sadas aumentaram 60,4% em relao a 2007, enquanto as entradas diminuram 15,6%. O maior fluxo com a vizinha Paraba, em 2007, quando apresentou seu maior saldo positivo na dcada, o es-tado de So Paulo foi responsvel pelo maior fluxo de entrada. Esta mi-grao entre So Paulo e Rio Grande do Norte vem caindo fortemente.

    3. A Bahia, depois de trs anos com saldos positivos inditos, volta a ex-pulsar fortemente seus moradores. Como no Par, o fenmeno resultou tanto da diminuio das entradas (imigrao), com a queda de 13,1% com relao a 2007, como do aumento das sadas (emigrao), com aumento de 22,5% com relao ao ano anterior. O principal destino dos migrantes da Bahia continua sendo So Paulo, com 46,0% do total de pessoas indo para So Paulo.

    GRFICO 2saldos.migratrios.dos.estados.da.regio.Nordeste.

    350.000

    300.000

    250.000

    200.000

    150.000

    100.000

    50.000

    -

    50.000

    100.000

    1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Maranho Piau Cear Rio Grande do Norte

    Paraba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia

    Fontes: PNAD 1992-2008/IBGE.Elaborao: Ninsoc/Ipea.

    4. O Rio de Janeiro apresentou o primeiro saldo positivo desde quando o IBGE inseriu essa questo na PNAD de 1992. Este resultado deveu-se principalmente ao aumento da entrada (imigrao), 43,2%, mas, tam-bm, pela diminuio da sada (emigrao), 5,4%.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.136

    GRFICO 3saldos.migratrios.dos.estados.da.regio.sudeste.

    400.000

    300.000

    200.000

    100.000

    100.000

    200.000

    300.000

    400.000

    500.000

    600.000

    1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Minas Gerais Esprito Santo Rio de Janeiro So Paulo

    -

    Fontes: PNAD 1992-2008/IBGE.Elaborao: Ninsoc/Ipea.

    5. O Paran apresentou saldo positivo pela primeira vez na dcada, mas, ao contrrio de So Paulo, esta mudana de comportamento foi enseja-da pela maior reteno de sua populao. A emigrao diminuiu 8,3% e, pelo aumento da imigrao, a entrada aumentou 7,0%.

    GRFICO 4saldos.migratrios.dos.estados.da.regio.sul.

    150.000

    100.000

    50.000

    50.000

    100.000

    150.000

    1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Paran Santa Catarina Rio Grande do Sul

    -

    Fontes: PNAD 1992-2008/IBGE.Elaborao: Ninsoc/Ipea.

  • migraes.interestaduais:.principais.tendncias 37

    6. Na regio Centro-Oeste houve dois fatos bem destacados: os dois esta-dos de Mato Grosso apresentaram saldos negativos. Mato Grosso pela primeira vez, desde 1992, fazendo o caminho inverso ao do Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, que j havia apresentado saldos negativos em outras ocasies, passou de um significativo saldo positivo, em 2007, para um pequeno saldo negativo, em 2008. Ambos os casos foram for-temente influenciados pelo aumento expressivo das sadas (emigrao), 44,4% e 61,1%, respectivamente. As entradas tambm diminuram, mas em menor intensidade, 17,0% e 7,1%, respectivamente. O prin-cipal destino dos que saram de Mato Grosso foi So Paulo e de Mato Grosso do Sul, Paran.

    GRFICO 5saldos.migratrios.dos.estados.da.regio.Centro-oeste.

    100.000

    50.000

    50.000

    100.000

    150.000

    200.000

    1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Mato Grosso do Sul Mato Grosso Gois Distrito Federal

    -

    Fontes: PNAD 1992-2008/IBGE.Elaborao: Ninsoc/Ipea.

    3.A.ATrAo.DE.so.PAulo

    Um fenmeno histrico no Brasil o poder atrativo do centro mais dinmico da economia brasileira. So Paulo um espao de intensas entradas e sadas popula-cionais, em que est presente a incapacidade das regies de origem na reteno da populao e de So Paulo como centro dos destinos migratrios.

    Na dcada de 1990 o saldo entre So Paulo e as regies brasileiras era quase sempre positivo para So Paulo, chegando a atingir uma entrada lquida de 500 mil pessoas, em 1992, como mostra o grfico 6. A regio Nordeste era a maior responsvel pelos saldos positivos de So Paulo.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.138

    GRFICO 6saldos.migratrios.entre.so.Paulo.e.as.regies.brasileiras.

    400.000

    300.000

    200.000

    100.000

    100.000

    200.000

    300.000

    400.000

    500.000

    600.000

    1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

    -

    Fontes: PNAD 1992-2008/IBGE.Elaborao: Ninsoc/Ipea.

    Na dcada de 2000, esse fluxo inverteu-se chegando ao seu ponto mais alto em 2005, com sada lquida de 269 mil pessoas. A explicao para este fenmeno pode ser dada pelos efeitos da desconcentrao econmica, do desenvolvimento de novas economias regionais e pelo avano de polticas sociais voltadas para popula-o mais carente. Estes elementos compuseram o movimento populacional carac-terizado pela reduo da imigrao e pelo aumento da emigrao de So Paulo.

    Em 2008 esse saldo, apesar de continuar negativo, mostra um arrefecimento do processo de perda de populao por So Paulo. Assim, So Paulo parece conti-nuar sendo um centro atrator da migrao, ficando no imaginrio dos migrantes das regies menos desenvolvidas como um local de oportunidades. Tambm deve-se considerar a histria dos fluxos migratrios anteriores, com formao de redes sociais que facilitam a migrao ou fazem dela ponto de apoio para outros deslocamentos.

    Os estados que apresentam os maiores saldos migratrios com So Paulo e, portanto responsveis pelo movimento observado em So Paulo, so os estados da Bahia e de Pernambuco, no Nordeste, e do Paran no Sul. O grfico 7 mostra os saldos desses estados com So Paulo para toda a srie considerada.

  • migraes.interestaduais:.principais.tendncias 39

    GRFICO 7saldos.migratrios.entre.so.Paulo.e.estados.selecionados.

    100.000

    50.000

    50.000

    100.000

    150.000

    200.000

    250.000

    1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Pernambuco Bahia Paran

    -

    Fontes: PNAD 1992-2008/IBGE.Elaborao: Ninsoc/Ipea.

    O saldo migratrio entre Bahia e So Paulo mostra uma tendncia muito parecida ao saldo de So Paulo com o resto do pas, mas vale chamar ateno para a volta da atratividade de So Paulo em relao Bahia, em 2008. J Pernambuco, que fornecia grandes contingentes de pessoas para So Paulo no comeo dos anos 1990, vem perdendo essa caracterstica monotonamente pelo decorrer da srie. O estado do Paran tem comportamento muito similar ao de Pernambuco, quando se trata de So Paulo. Ambos esto, se continuar essa trajetria, voltando a forne-cer populao para So Paulo.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.140

    rEFErNCiAs

    BAENINGER, R. Migraes internas no Brasil: balano s vsperas do censo 2000. Braslia: CNPD, 2000.

    IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios 1992 a 2008. (Microdados).

    RAVENSTEIN, E. G. As leis da migrao. In: MOURA, H. A. (Coord.). Migraes internas: textos escolhidos. Fortaleza: BNB/Etene, 1980.

    SJAASTAD, L.; Os custos e os retornos da migrao. In: MOURA, H. A. (Coord.). Migraes internas: textos escolhidos. Fortaleza: BNB/Etene, 1980.

  • CAPTULO 3

    soBrE.A.Evoluo.rECENTE.DA.PoBrEZA.E.DA.DEsiGuAlDADE.No.BrAsil

    Ricardo Paes de Barros*Mirela de Carvalho**

    Samuel Franco***Rosane Mendona****Andrezza Rosalm*****

    1.iNTroDuo

    At o fim do sculo XX, o Brasil se caracterizou como um pas com elevada desigualdade de renda, sem nenhuma tendncia queda. Essa falta de habilidade crnica em combater a desigualdade, no entanto, no impediu que a pobreza declinasse de forma significativa, tal como ocorreu na dcada de 1970 ou durante o Plano Real, para citar apenas dois episdios. Mas, na ausncia de redues na desigualdade, a pobreza cai devido exclusivamente ao crescimento econmico e, por este motivo, cai sempre menos do que se poderia esperar de episdios que combinam crescimento com reduo na desigualdade.

    A partir do incio do novo milnio o cenrio se alterou. A despeito de flutu-aes na taxa de crescimento do pas, o grau de desigualdade de renda vem decli-nando de forma acelerada e sistemtica. Desde 2003, a pobreza tambm vem sendo reduzida significativamente. Dessa vez, entretanto, a reduo na desigualdade responsvel por metade da queda na pobreza, o que significa que sem a reduo na desigualdade, metade da acentuada queda na pobreza no teria ocorrido.

    O fato da desigualdade de renda cair continuamente desde o incio do novo milnio torna natural algo que antes era percebido como difcil de ser alcanado. Aps sete anos consecutivos de acentuada reduo na desigual-dade, as expectativas mudaram. A discusso saiu do terreno de se ou no

    * Tcnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos Sociais (Disoc) do Ipea.** Pesquisadora do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD). *** Pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS).**** Professora do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora associada do Centro de Estudos sobre Desigualdade e Desenvolvimento (Cede) da UFF.***** Pesquisadora do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS).

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.142

    possvel reduzir a desigualdade no pas para como dar continuidade a esse processo. As atenes agora se voltam para qual ser a magnitude da reduo nos prximos anos e quais polticas poderiam acelerar esse processo. A fim de apoiar esse novo debate, investigamos neste estudo os determinantes ime-diatos da melhora na distribuio de renda brasileira.1

    Veremos que, para alm da acelerada reduo na desigualdade de renda e consequente reduo no grau de pobreza entendida como insuficincia de renda, nessa ltima dcada assistimos no Brasil uma excepcional expanso do acesso da populao a uma ampla variedade de oportunidades. Fenmeno este particularmente mais acentuado entre os grupos mais vulnerveis. Por-tanto, no s a desigualdade de renda que vem melhorando, mas tambm a desigualdade em diversos tipos de oportunidades.

    Este estudo foi organizado em mais cinco sees, alm dessa introdu-o. Na seo 2, apresentam-se os grandes nmeros que retratam a melhora na distribuio de renda brasileira. Na seo 3, argumenta-se que a recente queda na desigualdade de renda muito significativa, o que pode ser com-provado pelo papel que desempenhou no combate pobreza. Na seo 4, volta-se para os determinantes por trs da melhora da distribuio de renda: Que fatores foram responsveis por tal progresso? Na seo 5, apresentam-se evidncias de melhoria na desigualdade de acesso a diversas outras oportuni-dades, alm da renda. E por fim, na seo 6, tm-se as consideraes finais.

    .2..A.CoNTNuA.E.ACENTuADA.mElhorA.NA.DisTriBuio..DE.rENDA.BrAsilEirA

    O progresso brasileiro em distribuio de renda, alcanado entre 2001 e 2008, inegvel. A renda per capita de todos os grupos cresceu e, entre os mais pobres o crescimento foi mais acelerado (grfico1). Como consequncia, houve reduo na desigualdade de renda e na pobreza.2

    1. Barros, Foguel e Ulyssea (2007) renem, em dois volumes, diversos estudos cujo principal objetivo identificar os fatores determinantes da queda recente na desigualdade de renda.2. A distribuio utilizada a de indivduos segundo a renda domiciliar total per capita.

  • sobre.a.Evoluo.recente.da.Pobreza.e.da.Desigualdade.no.Brasil 43

    GRFICO 1Taxa.de.crescimento.mdio.da.renda.domiciliar.per.capita.por.dcimos.da.distribuio..Brasil,.2001-2008

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto Sexto Stimo Oitavo Nono Dcimo

    Taxa de crescimen

    to no perodo 200

    1-20

    08

    (%)

    10% mais pobres

    10% mais ricos Mdia nacional

    Fontes: PNADs 2001-2008/IBGE.

    Em 2008 as mudanas foram ainda mais intensas e equalizantes (grfico 2). Enquanto a renda familiar per capita da populao como um todo cresceu 5,1% ao ano (a.a.), entre os 10% mais pobres cresceu trs vezes mais rpido (15,4% a.a.), e entre os 10% mais ricos cresceu 1,4 ponto percentual (p.p.) abaixo (3,7% a.a.). A taxa de crescimento na renda dos 10% mais pobres foi mais de quatro vezes maior que a dos 10% mais ricos.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.144

    GRFICO 2Taxa.de.crescimento.mdio.da.renda.domiciliar.per.capita.por.dcimos.da.distribuio..Brasil,.2008

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto Sexto Stimo Oitavo Nono Dcimo

    Taxa de crescimen

    to no ltim

    o ano

    (%)

    10% mais pobres

    10% mais ricos

    Mdia nacional

    Fontes: PNADs 2007 e 2008/IBGE.

    Com vista a ilustrar o crescimento diferenciado na renda per capita expe-rimentado pelos diversos dcimos da distribuio de renda brasileira, com-paramos as respectivas taxas de crescimento com o progresso ocorrido entre 1990 e 2005 dos pases do mundo em termos de produto interno bruto (PIB) per capita. O grfico 3A revela que, enquanto a renda per capita dos 10% mais pobres no Brasil cresceu a um ritmo chins, a dos 10% mais ricos cresceu de forma lenta, comparvel mais ao ritmo alemo. A diferena entre a taxa de crescimento dos 10% mais pobres e a dos 10% mais ricos to elevada que cerca de 60% dos pases do mundo cresceram entre esses dois nveis.

  • sobre.a.Evoluo.recente.da.Pobreza.e.da.Desigualdade.no.Brasil 45

    GRFICO 3ADistribuio.dos.pases.no.mundo.segundo.a.taxa.de.crescimento.anual.do.PiB.per.capita.entre.1990.e.2005

    -5

    -3

    -1

    1

    3

    5

    7

    9

    11

    13

    15

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100

    Distribuio dos pases2 (%)

    Taxa de crescimento dos 10% mais pobres no Brasil1

    nos ltimos 7 anos

    Taxa de crescimento dos 10% mais ricos no Brasil1

    nos ltimos 7 anos

    Taxa de crescimen

    to anual do PIB p

    er cap

    ita

    Haiti

    Alemanha

    China

    Fontes: Human Development Report 2007 e 2008 do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).Notas: 1 Esto sendo considerados 171 pases para os quais existem a informao.

    2 Estimativas produzidas com base nas PNADs 2001 e 2008/IBGE.

    Em 2008 o progresso foi igualmente equalizador e bem mais acelerado. De fato, a taxa de crescimento na renda dos mais pobres foi mais elevada que a de todos os pases do mundo no perodo 1990-2005. Simultaneamente, a taxa de crescimento na renda dos 10% mais ricos, embora menor que a de todos os demais dcimos, foi similar ao crescimento do PIB chileno e superior, ao que se observou, em 85% dos pases do mundo (grfico 3B).

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.146

    GRFICO 3BDistribuio.dos.pases.no.mundo.segundo.a.taxa.de.crescimento.anual.do.PiB.per.capita.entre.1990.e.2005

    -5

    -3

    -1

    1

    3

    5

    7

    9

    11

    13

    15

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 Distribuio dos pases2 (%)

    Haiti

    Taxa de crescimento dos 10% mais pobres no Brasil1 em 2008

    China

    Taxa de crescimento dos 10% mais ricos no Brasil1

    em 2008

    Chile

    Taxa

    de crescimen

    to anual do PIB p

    er cap

    ita

    Fontes: Human Development Report 2007 e 2008 do PNUD.Notas: 1 Esto sendo considerados 171 pases para os quais existem a informao.

    2 Estimativas produzidas com base nas PNADs 2007 e 2008/IBGE.

    Em decorrncia do crescimento, em nvel chins, na renda per capita dos mais pobres, o pas foi capaz de reduzir a pobreza e, em particular, a extrema pobreza de forma espetacular.3 Em 2008, esta foi reduzida metade de seu valor em 2003 e, portanto, fizemos em cinco anos o que o primeiro Objetivo de Desen-volvimento do Milnio (ODM) estabelece que seja feito em 25 anos (tabela 1A).4 Progresso similar vem ocorrendo quando a extrema pobreza dimensionada por medidas mais sensveis renda dos mais pobres, tal como o hiato de pobreza ou a severidade da pobreza.5

    3. Para medir pobreza e extrema pobreza, foram utilizadas linhas regionalizadas, considerando R$ 187,50, a m-dia nacional, para a pobreza e, a extrema pobreza, R$ 93,75. So consideradas pobres e extremamente pobres to-das as pessoas que vivem em domiclios com renda per capita inferior s linhas de pobreza e de extrema pobre-za, respectivamente.4. Informaes sobre os ODMs, metas estabelecidas e evoluo dos indicadores podem ser encontradas em: .5. Por hiato de pobreza, entendemos a proporo de pobres multiplicada pela distncia mdia da renda dos pobres linha de pobreza, medida em mltiplos da linha de pobreza. Esta medida, portanto, leva em considerao no apenas a porcentagem de pobres, mas tambm a profundidade da pobreza. A severidade da pobreza dada pelo produto da porcentagem de pobres pela distncia quadrtica mdia linha de pobreza, tambm medida em mltiplos da linha de pobreza. Por conseguinte, no apenas considera o nmero de pobres e a profundidade da pobreza, como tambm d maior peso para os mais pobres. Por exemplo, um pobre que tenha uma renda igual metade da linha de pobreza tem um peso quatro vezes menor que o de um pobre que no tem qualquer renda.

  • sobre.a.Evoluo.recente.da.Pobreza.e.da.Desigualdade.no.Brasil 47

    TABELA 1AEvoluo.da.pobreza.e.da.extrema.pobreza..Brasil,.2003.e.2008(Em %)

    Indicadores 2003 2008Pobreza em 25 anos como porcen-tagem do nvel atual se a velocidade

    do perodo fosse mantidaVelocidade do progresso

    Pobreza

    Porcentagem de pobres

    39,4 25,3 0,11 Extremamente acelerado

    Hiato de pobreza 18,2 10,4 0,06 Extremamente acelerado

    Severidade da pobreza

    11,1 6,0 0,05 Extremamente acelerado

    Extrema pobreza

    Porcentagem de extre-mamente pobres

    17,5 8,8 0,03 Extremamente acelerado

    Hiato de extrema pobreza

    7,3 3,7 0,04 Extremamente acelerado

    Severidade da extre-ma pobreza

    4,4 2,4 0,05 Extremamente acelerado

    Fontes: PNADs 2003 e 2008/IBGE.Notas: 1 O hiato de pobreza e a severidade da pobreza esto expressos em mltiplos da linha de pobreza.

    2 Esto sendo utilizadas as linhas de pobreza regionalizadas considerando a mdia nacional para a pobreza de R$ 187,50 e para extrema pobreza de R$ 93,75.

    Embora a velocidade de reduo na pobreza seja um pouco mais lenta em 2008 ela j era um tero de seu valor em 2003. Assim, mantido este ritmo de queda, em oito anos a pobreza no pas ser a metade da observada em 2003, o que significa um progresso trs vezes mais rpido que o preconizado pelo primeiro ODM (tabela 1A). Vale notar que ao longo de 2008, graas ao crescimento e queda na desigualdade, tanto a pobreza como a extrema pobreza declinaram ainda mais que a tendncia do ltimo quinqunio, 2003-2008 (tabela 1B).

    TABELA 1BEvoluo.da.pobreza.e.da.extrema.pobreza..Brasil,.2007.e.2008(Em %)

    Indicadores 2007 2008Pobreza em 25 anos como porcenta-gem do nvel atual se a velocidade do

    perodo fosse mantidaVelocidade do progresso

    Pobreza

    Porcentagem de pobres

    28,1 25,3 0,07 Extremamente acelerado

    Hiato de pobreza 11,9 10,4 0,03 Extremamente acelerado

    Severidade da pobreza

    7,1 6,0 0,02 Extremamente acelerado

    (Continua)

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.148

    Indicadores 2007 2008Pobreza em 25 anos como porcenta-gem do nvel atual se a velocidade do

    perodo fosse mantidaVelocidade do progresso

    Extrema pobreza

    Porcentagem de extremamente pobres

    10,3 8,8 0,02 Extremamente acelerado

    Hiato de extrema pobreza

    4,5 3,7 0,01 Extremamente acelerado

    Severidade da extrema pobreza

    3,0 2,4 0,01 Extremamente acelerado

    Fontes: PNAD 2007 e 2008/IBGE.Notas: 1 O hiato de pobreza e a severidade da pobreza esto expressos em mltiplos da linha de pobreza.

    2 Esto sendo utilizadas as linhas de pobreza regionalizadas considerando a mdia nacional para a pobreza de R$ 187,50 e para a extrema pobreza de R$ 93,75.

    Quando a taxa de crescimento da renda dos mais pobres mais alta que a dos mais ricos, h reduo no grau de desigualdade. Desde 2001, o grau de desigualdade de renda brasileiro vem declinando sem precedentes. A mdia das diferenas de renda entre os brasileiros expressa como frao da renda mdia total uma medida de desigualdade conhecida como Coeficiente de Gini. Este indica-dor declinou de 0,59 para 0,54 (grfico 4), o que equivale dizer que a diferena de renda entre brasileiros reduziu de R$ 350 para R$ 320 por ms, uma queda de 8% em sete anos.

    GRFICO 4Evoluo.da.desigualdade.na.renda.domiciliar.per.capita.segundo.o.Coeficiente.de.Gini..Brasil,.1995-2008

    0,599

    0,600

    0,600

    0,598

    0,592

    0,594

    0,587

    0,581

    0,569 0,566

    0,560

    0,552

    0,544 0,540

    0,550

    0,560

    0,570

    0,580

    0,590

    0,600

    0,610

    1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Coeficiente de Gini

    Fontes: PNADs 1995-2008/IBGE.

    (Continuao)

  • sobre.a.Evoluo.recente.da.Pobreza.e.da.Desigualdade.no.Brasil 49

    Uma forma alternativa de visualizar a queda na desigualdade observar o crescimento acumulado na renda dos 20% mais pobres vis--vis o dos 20% mais ricos. Os 20% mais pobres tiveram um crescimento na renda per capita de 47 p.p. mais elevado. Assim, enquanto em 2001 a renda mdia dos 20% mais ricos era 27 vezes a dos 20% mais pobres, em 2008 passou a ser 19 vezes, uma reduo de 30% na desigualdade em sete anos (grfico 5).

    GRFICO 5Evoluo.da.desigualdade.na.renda.domiciliar.per.capita.segundo.a.razo.da.renda.dos.20%.mais.ricos.e.dos.20%.mais.pobres..Brasil,.1995-2008

    27,4

    29,3

    28,7 27,5

    26,2

    26,9

    24,7

    24,3

    22,0 21,3

    20,4 20,2

    18,9

    15

    17

    19

    21

    23

    25

    27

    29

    31

    33

    1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Razo

    entre a renda ap

    ropriad

    a pelos 20

    % m

    ais ricos

    e pelos 20

    % m

    ais pobres

    Fontes: PNADs 1995-2008/IBGE.

    Apesar da espetacular melhora, o nvel de desigualdade brasileiro conti-nua muito elevado. Enquanto os 40% mais pobres vivem com 10% da renda nacional, os 10% mais ricos vivem com mais de 40%. Embora a situao uma dcada atrs fosse certamente pior, ainda hoje, a fatia da renda apropriada pelo 1% mais rico da mesma magnitude daquela apropriada pelos 45% mais pobres. O que um brasileiro pertencente ao 1% mais rico isto , que vive em uma famlia com renda per capita acima de R$ 4.400 por ms pode gastar em trs dias equivale ao que um brasileiro nos 10% mais pobres teria para gastar em um ano.

    Em funo da elevada desigualdade que ainda prevalece, a pobreza e, em particular, a extrema pobreza ainda est acima do que se poderia esperar de

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.150

    um pas com a nossa renda per capita. Se um tero da renda nacional fosse perfeitamente distribuda, seria possvel garantir a todas as famlias brasileiras a satisfao de todas as suas necessidades mais bsicas. Contudo, quase 50 milhes de pessoas ainda vivem em famlias com renda abaixo desse nvel (R$ 190/ms). A insuficincia de renda dos mais pobres, isto , o volume de recursos necessrios para que todas as famlias pobres superem a linha de pobreza, representa apenas 3% da renda nacional ou menos de 5% da renda dos 25% mais ricos. J para aliviar a extrema pobreza seria necessrio contar apenas com 1% da renda dos 25% mais ricos do pas.

    3..A.CoNTriBuio.DA.quEDA.NA.DEsiGuAlDADE.PArA.A..rEDuo.NA.PoBrEZA

    A velocidade com que a pobreza declina depende da taxa de crescimento da renda dos mais pobres. Esta, por sua vez, depende do crescimento econmico do pas e da reduo no grau de desigualdade. Assim, parte da acentuada queda na pobreza dos ltimos anos deve-se ao crescimento econmico e outra parte no teria ocor-rido se no fosse a reduo na desigualdade.

    Em princpio, sempre possvel decompor a queda na pobreza em quanto veio do crescimento e da reduo na desigualdade. Nesta seo avaliamos ambas as contribuies para a reduo da pobreza e extrema pobreza entre 2001 e 2008, e tambm, especificamente, em 2008.

    Considerando o mesmo perodo anterior, cerca da metade da queda na pobreza veio do crescimento econmico e a outra metade da reduo no grau de desigualdade. Tais contribuies, entretanto, dependem de como a pobreza mensurada. Quanto maior o peso atribudo renda dos mais pobres maior ser a contribuio da desigualdade. Assim, temos que a desigualdade explica 49% da reduo na proporo de pobres e 59% da queda na severidade da extrema pobreza (tabela 2). Desses resultados segue no apenas que a reduo na desigualdade foi fundamental para a queda na pobreza, mas tambm que sua importncia foi relativamente maior para elevar a renda dos mais carentes entre os pobres.

    Como a reduo na desigualdade levou a 51% da queda na proporo de pessoas em famlias extremamente pobres, mesmo que o pas no tivesse experimentado qualquer crescimento econmico, ainda assim a extrema pobreza teria declinado 4,5 p.p. Portanto, muito mais que o necessrio para atingir resultados compatveis com o que preconiza o primeiro ODM reduo metade em 25 anos , que exigiria do perodo 2001-2008 uma queda na extrema pobreza de apenas 3 p.p.

  • sobre.a.Evoluo.recente.da.Pobreza.e.da.Desigualdade.no.Brasil 51

    TABELA 2Estimativas.da.contribuio.da.queda.na.desigualdade.de.renda.per.capita.para.a.reduo.na.pobreza.e.na.extrema.pobreza1..Brasil,.2001.e.2008(Em %)

    Indicadores

    Pobreza Extrema pobreza

    Porcentagem de pobres

    Hiato de pobreza

    Severidade da pobreza

    Porcentagem de extrema-mente pobres

    Hiato de extrema pobreza

    Severidade da extrema pobreza

    Distribuio de 2001 38,7 18,0 11,1 17,4 7,4 4,7

    Distribuio de 2008 caso a desigualdade fosse a mesma de 2001

    31,8 14,3 8,7 13,2 5,7 3,7

    Distribuio de 2008 25,3 10,4 6,0 8,8 3,7 2,4

    Reduo na pobreza (em pontos percentuais)

    Total 13,4 7,6 5,1 8,7 3,7 2,3

    Devida ao crescimento 6,9 3,7 2,4 4,2 1,7 0,9

    Devida a reduo na desigualdade

    6,5 3,9 2,7 4,5 2,0 1,3

    Contribuio para a reduo na pobreza

    Contribuio do cres-cimento

    51,4 49,1 47,2 48,6 46,0 41,4

    Contribuio da reduo da desigualdade

    48,6 50,9 52,8 51,4 54,0 58,6

    Relao entre as contribuies

    0,94 1,04 1,12 1,06 1,17 1,42

    Importncia da reduo na desigualdade

    Crescimento observado na renda per capita

    21,6 21,6 21,6 21,6 21,6 21,6

    Crescimento necessrio para garantir a mesma queda na pobreza caso a desigualdade fosse a mesma de 2001

    44,1 50,1 55,6 54,6 64,6 86,6

    Crescimento equivalente reduo na desigualdade (em pontos percentuais)

    22,5 28,5 34,0 33,0 43,0 65,0

    Fontes: PNADs 2001 e 2008/IBGE.Nota: 1 Esto sendo utilizadas as linhas de pobreza regionalizadas considerando a mdia nacional para a pobreza de R$ 187,50

    e para a extrema pobreza de R$ 93,75.

    Mas a reduo da extrema pobreza dos ltimos anos poderia tambm ter sido alcanada apenas com base no crescimento econmico. Para que isso fosse possvel, a taxa de crescimento na renda per capita, que foi de 2,8% a.a., deveria ter sido mais que duas vezes maior (6,4% a.a.). Do ponto de vista dos extrema-mente pobres, a reduo no grau de desigualdade foi to importante quanto a que teria sido gerada por um crescimento anual adicional de 3,6 p.p.

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.152

    Uma vez que a importncia da queda na desigualdade maior quando so utilizadas medidas mais sensveis renda dos mais pobres, para que a severidade da extrema pobreza tivesse cado ao mesmo nvel, apenas com o crescimento econmico, este precisaria ter sido trs vezes mais acentuado (9,3% a.a.).

    Ao longo do perodo 2001-2008, a reduo no grau de desigualdade foi estvel e, portanto, sua contribuio absoluta para a queda na pobreza foi tambm relativamente estvel, variando de 0,4 p.p. a 1,5 p.p. ao ano. J a contribuio do crescimento flutuou muito mais de -2,3 a 3,0 p.p. , seguindo a instabilidade da taxa anual de crescimento da renda per capita. Tais oscilaes fizeram a contri-buio relativa da reduo na desigualdade flutuar: em certos momentos explicou toda a queda na pobreza e em outros, chegou a menos de 15% de contribuio.

    O ltimo ano do perodo analisado combinou crescimento acelerado e substancial reduo no grau de desigualdade, e as contribuies foram tpicas do perodo. A reduo na desigualdade explica 42% da queda na proporo de pobres, metade da queda na proporo de extremamente pobres e quase 75% da severidade da extrema pobreza (tabela 3). Igual ao que se viu para o perodo como um todo, sem reduo na desigualdade, o crescimento deveria ter sido o dobro para gerar o mesmo efeito sobre a proporo de extremamente pobres, e quatro vezes maior para gerar o mesmo resultado na severidade da extrema pobreza.

    TABELA 3Estimativas.da.contribuio.da.queda.na.desigualdade.de.renda.per.capita.para.a.reduo.na.pobreza.e.na.extrema.pobreza.1..Brasil,.2007.e.2008(Em %)

    Indicadores

    Pobreza Extrema pobreza

    Porcentagem de pobres

    Hiato de pobreza

    Severidade da pobreza

    Porcentagem de extrema-mente pobres

    Hiato de extrema pobreza

    Severidade da extrema pobreza

    Distribuio de 2007 28,1 11,9 7,1 10,3 4,5 3,0

    Distribuio de 2008 caso a desigualdade fosse a mesma de 2007

    26,5 11,1 6,6 9,5 4,2 2,8

    Distribuio de 2008 25,3 10,46,0

    8,8 3,7 2,4

    Reduo na pobreza (em pontos percentuais)

    Total 2,8 1,5 1,0 1,5 0,8 0,6

    Devida ao crescimento 1,6 0,8 0,5 0,8 0,3 0,1

    Devida a reduo na desi-gualdade

    1,2 0,7 0,6 0,8 0,5 0,4

    (continua)

  • sobre.a.Evoluo.recente.da.Pobreza.e.da.Desigualdade.no.Brasil 53

    Indicadores

    Pobreza Extrema pobreza

    Porcentagem de pobres

    Hiato de pobreza

    Severidade da pobreza

    Porcentagem de extrema-mente pobres

    Hiato de extrema pobreza

    Severidade da extrema pobreza

    Contribuio para a reduo na pobreza

    Contribuio do crescimento 57,7 51,4 44,4 50,4 35,2 25,7

    Contribuio da reduo da desigualdade

    42,3 48,6 55,6 49,6 64,8 74,3

    Relao entre as contribuies 0,73 0,94 1,25 0,99 1,84 2,89

    Importncia da reduo na desigualdade

    Crescimento observado na renda per capita

    5,1 5,1 5,1 5,1 5,1 5,1

    Crescimento necessrio para garantir a mesma queda na pobreza caso a desigualdade fosse a mesma de 2007

    9,1 10,6 12,1 10,6 16,6 24,1

    Crescimento equivalente reduo na desigualdade (em pontos percentuais)

    4,0 5,5 7,0 5,5 11,5 19,0

    Fontes: PNADs 2007 e 2008/IBGE.Nota: 1 Esto sendo utilizadas as linhas de pobreza regionalizadas considerando a mdia nacional para a pobreza de

    R$ 187,50 e para a extrema pobreza de R$ 93,75.

    4.DETErmiNANTEs.imEDiATos.DA.quEDA.NA.PoBrEZA.E.NA.DEsiGuAlDADE

    Embora a renda per capita de uma famlia tenha um complexo sistema de deter-minantes ltimos, existem poucos canais imediatos pelos quais ela pode ser modi-ficada. Como consequncia, so esses mesmos poucos canais que podem afetar o nvel total de pobreza e desigualdade da sociedade.

    De fato, a renda per capita de uma famlia, y, dada pelo produto da propor-o de adultos na famlia,6 a, e a renda mdia dos adultos na famlia, r.7

    ray .=

    Por sua vez, a renda por adulto, r, pode ser decomposta em um componente no derivado do trabalho formada pelas transferncias governamentais e priva-das , o, e outro proveniente do trabalho, t.8

    tor +=

    6. Para uma anlise mais aprofundada do papel das transformaes demogrficas, ver Wajnman, Turra e Agostinho (2006).7. Para uma descrio completa da metodologia utilizada, ver Barros et al. (2006a).8. Nas transferncias esto includas as aposentadorias e as penses pblicas e privadas que, em parte ou em sua totalidade, resultam de contribuies prvias. Para uma anlise da contribuio das mudanas na distribuio da renda no derivada do trabalho, ver Barros, Carvalho e Franco (2007) e Barros et al. (2006a), e para uma anlise do papel das mudanas na estrutura salarial, ver Barros, Franco e Mendona (2007a, 2007b).

    (continua)

    (continuao)

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.154

    Por fim, a renda do trabalho por adulto, t, pode ser expressa como o produto da proporo de adultos ocupados, u, e a renda do trabalho por adulto ocupado na famlia, w.

    wut .=

    Em suma, a renda per capita, y, pode ser expressa via:

    Essa expresso permite identificar os determinantes imediatos da queda na pobreza e na desigualdade, uma vez selecionadas medidas especficas para men-surar esses fenmenos. Uma alternativa medir a reduo na pobreza por meio do crescimento da renda dos 10% mais pobres e a reduo na desigualdade pela reduo na razo entre a renda dos 10% mais ricos e dos 10% mais pobres.

    J vimos que entre 2001 e 2008 enquanto a renda dos 10% mais pobres crescia a 8% a.a., a dos 10% mais ricos crescia a apenas 1,5% a.a., levando a razo entre a renda dos mais ricos e dos mais pobres declinao de 68 para 44. Mais recentemente, entre 2007 e 2008, enquanto a renda dos 10% mais pobres cresceu 15%, a dos 10% mais ricos cresceu a 4%, e a mesma razo declinou de 49 para 44.

    Embora esse crescimento acelerado na renda dos mais pobres pudesse ser o resultado de um progresso balanceado entre os diversos fatores determinantes, veremos que ele vem de apenas alguns. Entre 2001 e 2008, no grupo dos 10% mais pobres, a proporo de adultos pouco se alterou, enquanto que a renda por adulto cresceu bastante: 7% em 7 anos proporo de adultos e 7% por ano renda por adulto. O componente demogrfico contribuiu, portanto, com apenas um dcimo do crescimento na renda do grupo ocorrido no perodo, e a renda por adulto com nove dcimos. No ltimo ano, tambm o crescimento na proporo de adultos (1,5%) foi prxima a um dcimo do crescimento na renda por adulto (14%), levando com que o componente demogrfico tambm tenha contribudo com apenas um dcimo da queda na pobreza (tabela 4).

    Esse crescimento acelerado na renda por adulto das famlias pobres veio tanto do crescimento na renda no derivada do trabalho como na prove-niente dele. No perodo 2001-2008, a taxa de crescimento da renda no derivada do trabalho foi bem mais elevada (12% contra 5% a.a.), entretanto como trs quartos da renda dos mais pobres decorre da renda do trabalho, a contribuio das duas fontes acabou similar 42% para a renda no derivada e 47% para a renda proveniente (tabela 4).

    No ltimo ano, entretanto, a contribuio da renda do trabalho foi maior. A renda no derivada do trabalho e a proveniente do trabalho cresceram pari-passo (13% e 14%, respectivamente). Como resultado, a contribuio de cada uma uma

  • sobre.a.Evoluo.recente.da.Pobreza.e.da.Desigualdade.no.Brasil 55

    funo direta da participao na renda familiar. Por conseguinte, enquanto nesse ltimo ano quase dois teros (63%) do crescimento na renda per capita dos mais pobres resultam do crescimento na renda proveniente do trabalho, a contribuio da renda no derivada do trabalho foi de apenas pouco mais de um quarto (27%).

    Embora o progresso na renda do trabalho pudesse decorrer de expanses balanceadas na taxa de ocupao e na remunerao por trabalhador, tanto o progresso desde 2001 como o do ltimo ano decorreram fundamentalmente do crescimento na remunerao por trabalhador ocupado. De todos os determinan-tes imediatos, o crescimento na renda dos trabalhadores ocupados foi o mais importante, tendo contribudo com 43% do crescimento da renda dos 10% mais pobres desde 2001 e 57% no ltimo ano.

    Assim, se a renda dos ocupados tivesse permanecido constante entre 2001 e 2008, em vez de a renda per capita dos mais pobres ter crescido 8% a.a., ela teria crescido apenas 5% a.a. Tanto no perodo analisado como no ltimo ano ocor-reram progressos na taxa de ocupao, mas esses foram limitados e responderam por apenas 5% do crescimento na renda per capita do grupo.

    A importncia de cada um desses fatores para a reduo na desigualdade pode ser avaliada a partir do contraste de seu papel no aumento da renda dos mais pobres e na dos mais ricos. As mudanas demogrficas foram mais intensas entre os pobres, levando a proporo de adultos nas famlias pobres a um aumento duas vezes maior que a alcanada pelos mais ricos tanto para o perodo como para o ltimo ano. Esta transformao demogrfica mais acelerada entre os mais pobres foi responsvel por apenas 10% da queda na razo entre a renda mdia dos mais ricos e mais pobres (tabela 4).

    A renda no derivada do trabalho, no entanto, cresceu mais entre os mais pobres. De fato, enquanto de 2001 a 2008 ela dobrou entre os 10% mais pobres, entre os mais ricos ela aumentou em apenas 10%. Dessa grande diferena na expanso da renda no derivada do trabalho entre pobres e ricos decorre metade da queda na desigualdade. No ltimo ano, o crescimento foi mais balanceado entre pobres e ricos, levando a renda no derivada do trabalho responsvel por apenas 20% da queda na desigualdade.

    O acesso ao trabalho foi o nico fator para o qual a taxa de expanso ao longo de todo o perodo foi mais acentuada entre os ricos. Tanto entre as famlias mais pobres como entre as mais ricas a taxa de ocupao cresceu, mas foi entre as mais ricas que ela se expandiu mais. Este fator, portanto, em nada contribuiu com a reduo na desigualdade no perodo. No ltimo ano, entretanto, o progresso foi mais intenso entre os mais pobres, levando a que tenha passado a contribuir para a reduo na desigualdade, embora de forma relativamente modesta (6%).

  • situao.social.Brasileira:.monitoramento.das.condies.de.vida.156

    O avano na remunerao do trabalho entre os ocupados tambm foi bem mais intenso entre os mais pobres. Esse diferencial na taxa de crescimento explica quase 40% da queda na desigualdade no perodo. No ltimo ano, as diferenas entre pobres e ricos no progresso desse fator foram acentuadas. Como tambm as diferenas em acesso a renda no derivada do trabalho foram limitadas, a impor-tncia do maior crescimento da renda do trabalho entre os mais pobres aumentou no ltimo ano, chegando a responder por dois teros da queda na desigualdade.

    TABELA 4Determinantes.imediatos.da.queda.na.pobreza.e.na.desigualdade..Brasil,.2001,.2007.e.2008

    Factuais e contrafactuais

    Renda per capita dos 10%

    mais pobres (R$/ms)

    Renda per capita dos 10% mais ricos (R$/ms)

    Razao entre a renda dos 10% mais ricos e 10% mais pobres

    Contribuio para a variaao (%)

    DeterminanteRenda per capita dos 10% mais pobres

    Renda per capita dos 10% mais

    ricos

    Razao entre a renda dos 10% mais ricos e 10%

    mais pobres

    2001 34 2316 68

    2001 com a proporo de adultos de 2008

    36 2398 66 11 33 11Proporao de adultos

    2001 com a proporo de adultos e a renda no trabalho de 2008

    47 2456 53 42 23 54Rend