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SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO NO
PLANEJAMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO SORO DO LEITE: UMA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO
Área temática: Gestão da Saúde e Segurança Ocupacional & Ergonomia
Luane Alcântara Nunes
Juliano Zaffalon Gerber
Tiago Nicola Lavoura
Flávio Pietrobon Costa
Resumo: Este artigo apresenta uma proposta de integração do planejamento da Saúde e Segurança do Trabalho –
SST no planejamento estratégico da cadeia produtiva do soro do leite por meio da ferramenta de gerenciamento de
riscos: Análise Preliminar de Riscos – APR. Esta proposta de integração torna-se uma alternativa de gestão do
negócio em vista a problemática envolvida no reaproveitamento e valorização do soro do leite bem como das pressões
legislativas em torno da proteção à integridade física e de saúde do trabalhador e ao meio ambiente.
Palavras-chaves: Saúde e Segurança do Trabalho, Cadeia Produtiva, Soro do Leite, APR
ISSN 1984-9354
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
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1. INTRODUÇÃO
Ao analisar atividades produtivas de desenvolvimento industrial passadas, torna-se evidente
que as consequências ecológicas, sociológicas ou de saúde dessas superaram de modo negativo,
quaisquer lucros econômicos (SACHS, 2007) e o setor de laticínios também está inserido neste
contexto.
Laticínios, em geral, produzem uma considerável quantidade de resíduos durante a produção
dos derivados lácteos, em especial o soro de leite, sendo considerado 100 vezes mais poluente que o
esgoto doméstico (PRAZERES, 2012).
Por cerca de 80% do soro do leite ser proveniente de empresas de pequeno e médio porte, que
ainda não realizam o seu total reaproveitamento, estudos vêm sendo desenvolvidos para dar novos
destinos a este material, planejando sua valorização e aproveitando assim suas propriedades funcionais
e nutritivas (TONI et al., 2012; COSTA, 2011; GUIMARÃES et al., 2010).
Nunes et al., (2014) apresenta um método de planejamento da cadeia produtiva do soro do leite,
por meio da logística reversa, de forma que funcione como uma alternativa para seu reaproveitamento
e valorização. Martins et al. (2013) por sua vez, salienta que o soro do leite serve como matéria prima
para uma gama de outros produtos com elevado valor agregado, como por exemplo: rações animais,
queijos especiais, suplementos proteicos, bebidas lácteas e até medicamentos.
Se por um lado tem-se a possibilidade de planejamento e execução de uma cadeia de produtiva
que faz uso do soro do leite, por outro, observa-se que o mercado juntamente com os órgãos
normativos e fiscalizadores, passaram a impor que os produtos e serviços tragam consigo a
responsabilidade das organizações em atender aos padrões internacionais de qualidade,
sustentabilidade ambiental, além de proteção à integridade física e de saúde de seus trabalhadores
(SGS, 2014).
Surge assim, a oportunidade de integração das questões concernentes à Saúde e Segurança do
Trabalho - SST às diversas áreas de negócio, incluindo o Planejamento da Cadeia Produtiva, como
pode ser observado nos estudos listados a seguir.
Saurin et al (2002) apresenta um modelo integrado para o planejamento da produção e da
segurança dos trabalhadores em um canteiro de obras de construção civil. Maciel (2001) associa a
gestão da segurança à gestão da qualidade total no setor metal mecânico. Bobsin e Lima (2006)
desenvolveram um sistema de avaliação de desempenho com a integração da segurança, meio
ambiente e saúde no setor petroquímico. Além de Benite (2004) que propôs um sistema de gestão da
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SST em empresas da construção civil; Kosiba (2011) que indicou a integração de políticas públicas de
SST na educação e Chaib (2005) que indicou uma proposta de implementação de SST em empresas de
pequeno porte.
No âmbito do Planejamento, tem-se Saurin et al. (2002) que menciona que os processos de
Saúde e Segurança do Trabalho - SST e o Planejamento e Controle da Produção - PCP, podem ser
considerados da mesma natureza porque diversos requisitos do processo de PCP, tais como: a
hierarquização da tomada de decisões, a continuidade e a visão sistêmica são também requisitos
necessários ao processo de SST, em consequência, podem ser integrados com base em princípios
comuns.
No entanto, cabe a ressalva que a integração da SST ao Planejamento deve ser desenvolvida
sob um enfoque mais amplo, independente de técnicas específicas. Neste sentido, Suraji e Duff (2001)
apontam que a integração das questões relativas à SST na fase de planejamento de longo prazo em um
empreendimento, evitam deficiências de controle em 45,4% dos casos.
Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo propor um modelo de integração da gestão
de SST ao planejamento de longo prazo da cadeia produtiva do soro de leite, de forma a colaborar com
um método integrado de planejamento de gestão do negócio. Para tal propósito, foi realizado um
levantamento teórico a cerca da Saúde e Segurança do Trabalho nas Empresas, do Planejamento e
Gestão de Cadeias Produtivas e em especial, do soro do leite. Em seguida foram listadas as etapas de
um planejamento da cadeia produtiva do soro do leite para então relacionar as atividades necessárias
de SST às funções existentes no processo, em consonância com as exigências legislativas para o setor
produtivo.
2 Referencial Teórico
Este tópico aborda questões sobre a Saúde e Segurança do Trabalho nas empresas, Análise
Preliminar de Riscos – APR e Planejamento e Gestão de Cadeias Produtivas, que se subdivide no
Planejamento da Cadeia Produtiva do Soro do Leite.
2.1 A Saúde e Segurança do Trabalho nas Empresas
A política competitiva a qual vive as empresas brasileiras acaba refletindo nas condições de
trabalho e saúde de seus colaboradores, que muitas das vezes acabam sofrendo os impactos das novas
regras e processos produtivos em suas atividades e ambientes ocupacionais (PADOVANI, 2007).
Segundo o Portal Brasil (2015) o Brasil, país que ocupa a quarta posição no ranking mundial de
acidentes e doenças associadas ao meio de trabalho, possui em suas maiores causas as inadequações do
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trabalhador aos procedimentos de segurança em legislação vigente, a falta de oferecimento ou de uso
dos Equipamentos de Proteção Individual – EPI e coletiva – EPC, o descuido, a imprudência, a
negligência e jornadas de trabalho intensivas.
As consequências apresentadas pelos acidentes e doenças do trabalho afetam aos trabalhadores,
o governo e a sociedade como um todo. Como objeto de efeito, resultante da inadimplência da
segurança nos processos produtivos, a Organização Mundial da Saúde – OMS, estabeleceu a ordem
que os estados deveriam adotar políticas capazes de oferecer ambientes de trabalho saudáveis que
protegessem a saúde do trabalhador de maneira compatível ao desejo de desenvolvimento econômico
(OMS, 2002 apud VASCONCELLOS, 2007).
Logo, no Brasil existem atualmente trinta e seis Normas Regulamentadoras – NR que são
citadas no capitulo V, título II da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e fornecem orientações
sobre os demais procedimentos obrigatórios relacionados à segurança e saúde do trabalho. (BRASIL,
2014).
Metodologias de SST foram então estabelecidas pelas Normas como obrigatórias para organizações
privadas e públicas, pelos órgãos públicos que obtenham funcionários regidos pela Consolidação das Leis
do Trabalho – CLT, bem como aos trabalhadores avulsos e aos sindicatos representativos das respectivas
categorias profissionais (BRASIL, 2014b).
Porém, os esforços de gerenciamento para as questões de saúde e segurança no trabalho devem
ser iguais a outros aspectos de gestão em uma empresa e necessita de uma abordagem estruturada que
pode ser fornecida também pela norma OHSAS 18000 que age sobre o aperfeiçoamento contínuo das
implementações de ações e operações com verificações e ações corretivas relacionadas ao tema
(CORRÊA; CORRÊA, 2012).
Segundo Rodrigues e Santana (2010), a avaliação dos riscos em uma empresa ou projetos pode
ser realizada em diferentes graus de profundidade e usando um ou muitos métodos que vão do simples
ao complexo. A seguir, expõe-se uma ferramenta de avaliação e gerenciamento de riscos indicada pela
norma ISO 31010 (IEC, 2009).
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2.1.1 Análise Preliminar de Riscos – APR
A Análise Preliminar de Riscos – APR consiste em um método simples e indutivo de análise,
cujo objetivo é identificar os perigos, situações de risco e eventos que podem causar danos para uma
atividade, instalação ou sistema (IEC, 2009).
É mais comumente realizada no início do desenvolvimento de um projeto, podendo ser um
precursor para mais estudos ou para fornecer informações para a especificação do planejamento de um
sistema (RODRIGUES e SANTANA, 2010).
Caracteriza-se por meio da elaboração de uma tabela que considera as seguintes entradas:
informações sobre o sistema a ser avaliado; lista de perigos; situações de risco genéricas para cada
informação relatada; materiais e equipamentos utilizados; ambiente operacional; interfaces entre os
componentes do sistema e medidas preventivas ou de controle (IEC, 2009).
Aconselha-se a atualização da APR durante as fases de projeto, construção e testes, com o
objetivo de identificar novos perigos e fazer as correções, caso seja necessário.
2.2 Planejamento e Gestão de Cadeias Produtivas
Uma cadeia produtiva corresponde ao conjunto de processos requeridos para obter materiais,
agregar-lhes valor e distribui-los aos clientes, correspondendo assim, na movimentação de matérias
primas e equipamentos desde o ponto de origem, passando pela produção e processamento, até a
entrega ao consumidor final (FERNANDES e GODINHO, 2010; TUBINO, 2009).
Ballou (2010) caracteriza a Cadeia Produtiva no Supply Chain Management, Gerenciamento da
Cadeia de Suprimentos, que corresponde a gestão unificada da logística de suprimentos, logística de
produção e logística de distribuição.
A gestão unificada de vários setores de uma organização pode ser alcançada por intermédio de
diversas práticas gerenciais, técnicas, ferramentas e por sistemas de gestão integrados, também
chamados de SGI – Sistema de Gestão Integrado ou ERP - Enterprise Resource Planning (CAIÇARA
Jr, 2008).
Neste contexto, têm-se o planejamento da cadeia produtiva do soro do leite, objeto deste estudo
que será apresentado com mais detalhes a seguir.
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2.2.1 Planejamento da Cadeia Produtiva do Soro do Leite
O beneficiamento do soro do leite pode ser feito por meio de seu processamento para a geração
de novos produtos, tais como: Whey Protein; Bebidas lácteas; Ricota; Rações; Lactose; Biogás; Soro
do leite em pó, Concentrado e Desmineralizado.
Entretanto, a carência de conhecimento dos pequenos e médios produtores bem como a prática
ainda falha de fiscalizações ambientais nessas empresas, favorece o descarte inadequado do soro do
leite na natureza, o que contribui para um grande impacto ambiental negativo nas regiões em que isso
acontece (COSTA, 2011; BIEGER e LIMA, 2008; GUIMARÃES et al., 2010; TONI et al., 2012).
Devido a essa problemática, Nunes et al. (2014) identificaram a necessidade de expor um plano
de longo prazo de reaproveitamento para esse resíduo, por meio de sua integração a uma nova cadeia
produtiva.
Uma sugestão das etapas básicas das cadeias produtivas do queijo e do soro do leite é
apresentada na Figura 1, que destaca a produção do soro do leite oriunda da prática da logística reversa
e do canal de reciclagem.
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Figura 1 – Cadeias Produtivas do Queijo e do Soro do Leite
Fonte: Adaptado de Ballou (2010) e Nunes et al. (2014)
A Logística Reversa, prática relacionada à administração da movimentação e controle dos
materiais envolvidos nos processos de reciclagem, reuso, descarte e gerenciamento de resíduos, visa
recapturar o valor ou destinar à eliminação adequada, cuidando do impacto dos custos envolvidos
(Leite, 2009), proposição esta que se encaixa plenamente a resolução do problema do soro do leite
versus meio ambiente.
Neste contexto, a Tabela 1 apresenta as fases do planejamento da cadeia produtiva do soro do
leite, as principais ações necessárias para efetiva-las e a base teórica que as sustentam.
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Tabela 1: Planejamento de longo prazo para uma cadeia produtiva do soro do leite.
ETAPAS AÇÕES TEORIA
1 - OS
PRODUTORES
Definir a área da
região de interesse
Definir a localização e
quantidade de produtores de
soro do leite.
Calcular a quantidade de
produção do resíduo soro de
leite na região.
Corrêa e
Corrêa 2012
2 - O
MERCADO
Realizar a pesquisa
de mercado.
Escolher o produto oriundo
da reciclagem (whey protein
, ração, bebida láctea, etc.)
Estimar o público-alvo
(mercados,escolas,etc) através
de uma previsão de demanda.
Fernandes e
Godinho
2010
3 - A
LOGÍSTICA DE
SUPRIMENTOS
Definir a política de
gerenciamento de
coleta entre os
fornecedores de soro.
Estabelecer o sistema de
armazenagem, transporte e
embalagem do soro.
Estimar a roteirização de
transporte do soro ao ponto de
armazenagem.
Ballou 2010
4 - A
LOGÍSTICA DE
PRODUÇÃO
Desenvolver um
Plano de Produção-
Nível Estratégico
Desenvolver as decisões
estruturais.
Desenvolver as decisões
infra-estruturais.
Tubino 2009
5 - A
LOGÍSTICA DE
DISTRIBUIÇÃO
Definir a política de
gerenciamento de
distribuição aos
clientes
Determinar o sistema de
armazenagem, transporte e
embalagem do produto
reciclado acabado.
Estimar a roteirização e
transporte para distribuição
do produto reciclado.
Ballou 2010
Fonte: Nunes et al. (2014)
Segundo Nunes et al. (2014), a aplicação deste plano colabora com uma perspectiva sustentável
para a preservação do meio ambiente, para o prolongamento da vida útil do leite e para otimizar os
lucros produtivos.
A seguir é abordado o método da pesquisa para no momento seguinte ser apresentada a
proposta integradora da SST ao planejamento da cadeia produtiva do soro do leite e seus resultados.
3 Método da Pesquisa
Esta pesquisa, segundo Gil (2002), caracteriza-se como descritiva e de natureza aplicada.
Primeiramente utilizou-se de pesquisa bibliográfica e legislações, que permitiu estabelecer o
referencial teórico de SST a qual foi associada ao modelo de planejamento da cadeia produtiva do soro
do leite. Em seguida, os resultados apresentam o planejamento da segurança no nível de longo prazo
da cadeia produtiva do soro, que considerou as principais etapas do processo: a logística de
suprimentos, de produção e de distribuição do soro do leite.
Para pontuar o planejamento da SST foi utilizada a ferramenta de Análise Preliminar de Riscos
– APR orientada pelas Normas Regulamentadoras – NRs de SST, que estão dispostas na lei nº 6.514
(Brasil, 2014).
Por meio desta ferramenta, foram elaboradas tabelas, por meio da qual às medidas de controle
foram indicadas conforme os riscos identificados nas principais etapas do processo mencionadas.
Após, foi elaborada as considerações finais do trabalho, onde foram indicadas sugestões de
melhoria e procedimentos que podem dar continuidade à aplicação dos cuidados para à SST no setor
empresarial em questão.
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4 Integração da SST ao Planejamento da Cadeia Produtiva do Soro do Leite:
Resultados
Ao seguir o planejamento de reaproveitamento em rede da cadeia produtiva do soro do leite de
Nunes et al. (2014) tem-se o desenvolvimento das cinco etapas subsequentes, a saber: os produtores, o
mercado, a logística de suprimentos, a logística de produção e a logística de distribuição.
Para o planejamento da segurança no nível de longo prazo na cadeia produtiva do soro
considerou-se as principais etapas do processo (Logística de Suprimentos, Logística de Produção e
Logística de Distribuição) e foi utilizada a ferramenta APR para pontuar as ações de segurança, técnica
indicada pela norma ISO 31010 (IEC, 2009), que abrange as principais etapas do ciclo de
gerenciamento de riscos.
Os procedimentos adotados para a elaboração das Análises Preliminares de Riscos - APRs
foram:
Reconhecer que a Política de SST é parte integrante do desempenho do negócio.
Obter Princípios de Prevenção e Controle de riscos em máquinas, ferramentas, equipamentos e
instalações.
Efetuar análise e cuidados no transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais.
Realizar sinalização de segurança.
Fazer uso de EPI e EPC.
Realizar Programa de prevenção de Riscos Ambientais com análise de ruído, calor, radiações
ionizantes e não ionizantes.
Verificar a existência de agentes químicos, físicos e biológicos.
Identificar os limites de tolerância e de Exposição.
Obter Ficha de Informação de Segurança para produtos químicos.
Identificar atividades e operações insalubres e perigosas.
Obter princípio de análise, avaliação e gerenciamento de riscos.
Fazer inspeção de segurança periodicamente.
As Tabelas 2, 3 e 4 expõem a APR das fases do planejamento da Logística de Suprimentos, da
Logística de Produção e da Logística de Distribuição, respectivamente, juntamente com as medidas de
controle aconselhadas pelas Normas Regulamentadoras de SST disponíveis no Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE, 2015).
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A Tabela 2, apresentada a seguir, refere-se a APR da Logística de Suprimentos, nela tem-se a
descrição das atividades referentes ao abastecimento dos recursos necessários para o início de uma
atividade produtiva com a matéria prima soro do leite, a identificação de possíveis riscos para cada
etapa e a sugestão de medidas de controle ou de prevenção para os riscos identificados.
Tabela 2: APR da Logística de Suprimentos
Descrição da Atividade Riscos Medidas de Controle
Gerenciamento de coleta
entre os fornecedores de soro
do leite
Ausência de medidas preventivas de
acidentes no gerenciamento
Elaborar o detalhamento da atividade e as
medidas de proteção ao trabalhador.
Armazenagem e embalagem
do soro do leite
Desperdício de líquidos Providenciar e verificar o lacre nas
Embalagens
Contaminação do soro do leite por
armazenagem e embalagem
inadequadas
Adotar o regulamento de inspeção sanitária e
industrial para Leite e derivados (SEAB,
2005).
Peso excessivo
- Centralizar a carga em relação às pernas
- Utilizar equipamento de transporte
mecânico, conforme às instruções da NR 11.
Postura inadequada no transporte Não torcer o corpo para pegar ou movimentar
cargas, atentar para a ergonomia na NR – 17.
Repetitividade Observar os EPI necessários para a execução
da atividade, NR - 17.
Transporte do soro do leite ao
local de produção
Acidentes - Inspeção de peças e condições do veículo
- Treinamento para o condutor do veículo
Excesso de carga - Obedecer aos requisitos da NR 11.
Fonte: Elaborado pelos autores
A tabela 3, refere-se a APR da Logística de Produção, nela tem-se a descrição das atividades
de um plano de produção de nível estratégico que contém uma abordagem de decisões estruturais, tais
como: capacidade de produção, estrutura das instalações, tecnologias, integração vertical, etc., e as
decisões infraestruturais como o número de trabalhadores, a qualidade total, medidas de desempenho,
planejamento e controle da produção, níveis de estoque, transporte de cargas e recursos (TUBINO,
2009). Após, tem-se a identificação de possíveis riscos para cada etapa e a sugestão de medidas de
controle ou de prevenção para os riscos identificados.
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Tabela 3: APR da Logística de Produção – parte 1
Descrição da Atividade Riscos Medidas de Controle
Estrutura organizacional e
produtiva para produtos
provenientes do soro do
leite
Arranjo físico inadequado Estabelecer Programas de Prevenção de Riscos Ambientais -
NR – 9.
Ambientes Insalubres Planejar ambientes arejados para circulação humana conforme
NR – 15 – Atividades e operações insalubres.
Danos Ambientais Considerar instruções de gestão ambiental da ISO 14000.
Calor Estabelecer condições de trabalho conforme NR – 15.
Ruído Estabelecer condições de trabalho conforme NR – 15.
Vibrações Estabelecer condições de trabalho conforme NR – 15.
Processo produtivo:
Whey Protein; Bebidas
lácteas; Ricota; Rações;
Lactose; Soro do leite em
pó, Concentrado e
Desmineralizado
Máquinas e equipamentos
sem proteção
Estabelecer condições de trabalho conforme NR – 12 –
segurança em máquinas e equipamentos.
Produtos contaminados
Atentar para as condições sanitárias da NR – 24 e estabelecer
os Procedimentos padrões de Higiene Operacional – PPHO
(BRASIL, 2003).
Probabilidade de incêndio
e explosão
Cumprir requisitos da NR – 23 e Formar uma brigada de
incêndio na organização conforme NBR 14726.
Ritmo excessivo de
trabalho
Considerar Pausas periódicas para descanso ou troca de
atividades.
Repetitividade Treinar execução da atividade conforme NR - 17.
Postura inadequada de
trabalho Treinar execução da atividade conforme NR - 17.
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Tabela 3: APR da Logística de Produção – parte 2
Descrição da Atividade Riscos Medidas de Controle
Previsão de Demanda para
cada tipo de produto
Sobras ou faltas de
materiais Rever técnicas de previsão de demanda e simular processo
Balanceamento da
produção com a demanda
Ritmo excessivo de
trabalho
Avaliar a jornada de trabalho para atender a demanda.
Recursos produtivos e suas
cargas
Recursos sem instrução
de uso Avaliar formas de uso e oferecer treinamento aos trabalhadores
Transporte de cargas sem
treinamento
Dispor de equipamentos de transporte de cargas conforme NR
– 12.
Número de trabalhadores Ausência de controle de
EPI e EPC Verificar requisitos dos EPIs na NR – 6.
Planejamento da
capacidade
Excesso ou mínimos da
capacidade real Revisar e controlar os níveis de capacidade dos processos.
Níveis de estoque de
segurança
Armazenamento
inadequado Utilizar técnicas de PCP e cumprir requisitos da NR - 11.
Qualidade
Ausência de sinalizações Estabelecer procedimentos da NR – 26.
Ausência de treinamentos Estabelecer uma Comissão interna de Prevenção de acidentes –
NR 5.
Ausência de controle da
qualidade na organização
Efetuar a qualidade total nos processos conforme a ISO 9000.
Medidas de Desempenho Ausência de medidas de
desempenho
Estabelecer indicadores de desempenho em planos de curto
prazo.
Análise e Diagnóstico das
Informações obtidas
Ausência de revisão dos
procedimentos
estipulados
Estabelecer reuniões semanais para revisão dos diagnósticos
obtidos no processo.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A tabela 4, apresentada a seguir, refere-se a APR da Logística de Distribuição, que, devido a
descrição das atividades do processo ser igual às etapas da logística de suprimentos, foram alterados
apenas o tipo de produto envolvido, as partes interessadas do processo, os fornecedores e os clientes.
Possuindo, em sua maioria, as mesmas identificações de riscos envolvidos e, por relevância, as
mesmas medidas de controle e prevenção.
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Tabela 4: APR da Logística de Distribuição
Descrição da Atividade Riscos Medidas de Controle
Gerenciamento da
distribuição aos clientes.
Ausência de medidas preventivas
de acidentes no gerenciamento.
Elaborar o detalhamento da atividade e as medidas de
proteção ao trabalhador.
Armazenagem e
embalagem do produto
acabado.
Produtos danificados Elaborar um procedimento padrão para armazenagem
e embalagem do produto
Peso excessivo
- Centralizar a carga em relação às pernas
- Utilizar equipamento de transporte mecânico,
conforme às instruções da NR 11.
Postura inadequada no transporte Não torcer o corpo para pegar ou movimentar cargas,
atentar para a ergonomia na NR – 17.
Repetitividade Observar os EPI necessários para a execução da
atividade, NR - 17.
Transporte do produto
acabado aos clientes.
Acidentes - Inspeção de peças e condições do veículo
- Treinamento para o condutor do veículo
Excesso de carga - Obedecer aos requisitos da NR 11.
Fonte: Elaborado pelos autores
A partir da visualização e dimensionamento das fases deste plano de cadeia produtiva do soro
do leite, estima-se os possíveis riscos provenientes da execução futura das atividades associadas a cada
etapa.
Por ser um plano estratégico de cadeia produtiva é caracterizado em uma estimativa de longo
prazo, e logo, as medidas de controle para os riscos identificados funcionam como um planejamento
integrado de longo prazo para a SST do setor avaliado, segundo as normas vigentes.
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5 Considerações Finais
Pode-se afirmar que o método de integração do planejamento de longo prazo da SST na fase de
planejamento de uma cadeia produtiva, que no caso, foi a do soro do leite, apresenta-se positivo, visto
que considera os principais intervenientes encontrado na literatura e assegura o reconhecimento da
SST como parte importante para um desempenho eficaz do negócio.
Vale ressaltar, que o planejamento da SST nesta fase não impede, nem exclui o
desenvolvimento de planos de médio e curto prazo, e que este serve apenas para delinear o caminho a
ser tomado e as exigências legislativas impostas para cada fase de processo. Visto que as fases do
processo não foram estratificadas, com o detalhamento de cada atividade do trabalhador, recomenda-se
aplicações de APR periódicas durante a execução do trabalho, de forma que possa assegurar as
medidas de controle indicadas no plano de longo prazo.
A aplicação de técnicas e ferramentas de gerenciamento de riscos em um empreendimento tem
objetivo apenas de controle, pois riscos residuais sempre permanecem em uma empresa.
Dessa forma, sugere-se manter os riscos residuais dentro de um nível tolerável, sendo dado aos
planejadores de médio e curto prazo a missão de definir o que é tolerável ou não por meio de medidas
de desempenho do processo. Medidas como número de operações preventivas não executadas, número
de acidentes e quase acidentes ocorridos, número de paradas de produção por ausência de segurança
entre outras servem para controlar os níveis desejados de segurança nos processos.
Considera-se, portanto, que o método de integração de SST ao planejamento estratégico de uma
cadeia produtiva do soro do leite pode ser padronizado e alterado somente em relação às medidas de
controle determinadas em função da particularidade de cada processo.
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6 Referências Bibliográficas
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