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Linguistica

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  • - Origens do portugus brasileiro

    meira posio nos seguintes casos: em ttulos e anncios, como em (5),- em

    coordenao totalizante, como em (6); depois da preposio de, como em(7), bem como em outros contextos especficos:

    1) W/es proviesses 'belas promessas',- bons piam pour dos vacanccs 'bons planos

    para suas frias',-

    2) garons et filies s'entenent bien 'meninos e meninas se entendem bem',-3) je ooudrais un livre de boimes receites de cuisine 'eu gostaria de um livrode boas

    receitas de cozinha'.

    De fato, um texto corrido em francs, especialmente de um jornal, pode

    apresentar um bom nmero de ocorrncias sem determinantes na primeira

    posio. Estes casos so fundamentais para se discutir a argumentao de Guy

    (1989), porque a idia da crioulizao clssica implica reestruturao de for

    mas no plano da morfologia e da sintaxe, ou seja, ruptura lingstica e conse

    qente criao de novas estruturas lingsticas, fato que, para ele, no teria

    ocorrido em francs. Em verdade, o que se v no francs falado a localizaoda marca de plural, quando existe, na primeira posio, seja esta ocupada por

    um artigo ou por qualquer outro elemento que admita tal marca.

    Os fatos acima arrolados permitem levantar a hiptese de que o proces

    so da queda do -s final no portugus do Brasil tenha tido seu incio noportugus dialetal da Europa, que, por sua vez, estava apenas dando conti

    nuidade a uma deriva pr-romnica. Conseqentemente, plausvel supor

    que o impulso inicial do processo de perda da concordncia nominal se

    situe tambm em fenmenos fonolgicos trazidos da Europa, semelhanada concordncia verbo/sujeito.

    4. SOBRE O PAPEL DA POSIO NA CONCORDNCIA NOMINAL

    A posio linear que o elemento ocupa no SN foi considerada a varivel

    lingstica mais importante nos primeiros trabalhos variacionistas que anali

    saram a concordncia nominal de nmero no portugus falado no Brasil

    (Braga & Scherre, I976; Braga, 1977,- Scherre, 1978,- Ponte, 1979,- Nina,1980,- Guy, 1981). Todos estes trabalhos (alguns detalhes das amostras so

    36

    Sobre as origens do portugus popular do Brasil

    apresentados no item 5 deste captulo) apresentam uma concluso unifor

    me: a primeira posio do SN favorece variavelmente a presena da marcaexplcitade plural e as demais desfavorecem-na, tambm variavelmente, como

    se pode ver pelos percentuais da tabela 1.

    A influncia da posio linear tem sido considerada como um dos argumen

    tos decisivos a favor da hiptese que enfatiza a contribuio da morfossintaxe

    africana ao portugus populardo Brasil, especialmenteno trabalho de Guy (1989:

    232-234). Segundo Guy (1989: 233), "os protocrioulos falados pelos africanos

    no reino espanhol e portugus na origem no apresentavam flexo de plural, e

    expressavam a pluralidade, quando houvesse necessidade, por meio de algum

    elemento no incio do SN {some NP-inilial element). Este padro [no Brasil] de colocar

    a marca de plural no incio do SN bem poderia ter sido baseado em um padro

    africano". Dando mais nfase a sua posio, Guy (1989: 232) afirma que "no

    existe precedente histrico para este tipo de padro sinttico em portugus,

    nem mesmo, [...], em seus parentes prximos, como o espanhol".

    1POSIO ~| 2a POSIO ! DEMAIS POSIESBraga &Scherre(1976: 472)

    Braga(1977: 52)

    Scherre

    (19:

    Pon

    (19:

    Nina

    (1990: 105)

    Guy

    (1989: 242)

    98% 18%

    99% 18%

    (1978: 83) 97% 30%

    Ponte

    (1979: 190) 93% 36%

    95% 22%

    95% 28%

    15%

    15%

    18%

    17%

    12%

    29%

    Tabela I Licito da posio linear na presena de plural em elementos do SN no portugus brasileiro tom base em seispesquisas: dados de lalanies com at Sanos de escolarizaro

    Scherre (1988)* em sua tese de doutorado, retoma a anlise da concor

    dncia nominal e demonstra que uma anlise da concordncia nominal que

    8. Os dados analisados por Scherre (1988) so provenientes do banco de dados do Programa

    37

  • Oricens do portugus brasileiro

    leve em conta apenas a varivel posio linear encobre rcgularidades lingsticas importantes e prope uma anlise alternativa que considera uma novavarivel, advinda do cruzamento entre as variveis

    (1) posio linear,(2) classe nuclear e no-nuclear e

    (3) relao entre classe nuclear e no-nuclear.

    Aqui neste captulo, assumimos a anlise proposta por Scherre (1988)acrescida de testes estatsticos complementares, utilizando a verso dos programas VARBRUL de 1988 (Pintzuk, 1988).

    Nesta anlise alternativa, cujo objetivo central verificar at que pontoa posio linear a principal restrio no processo de concordncia entreos elementos do SN, so levadas em conta duas variveis concorrentes:

    (t) posio linear e(2) posio/classe/relao.

    Avarivel posio linear, subdividida cm trs categorias, encontra-se exemplificada a seguir, com o elemento sob anlise em negrito":

    1) primeira posio:

    umas casinha bonitinha/todos os anos/suas tias/novas escolas/coisaslindas e/es todos/as boas aes.

    2) Segunda posio:umas casinha bonitinha/Wos os anos

    suas tias/novas escolas/coisas lindas /eles todos/as boas aes.3) Demais posies:

    umas casinha bomtinha/todos os anos/as boas aes/aquelas cruzinhatoda/uns colega meu/trs risco verde/as conta quase toda/ os meusquatro filhos/as trs coisa mais importanteas mulheres ainda muito mais antiga

    de Estudos do Uso da Lngua (PEUL). programa de pesquisa desenvolvido desde 1982 por umaequipe de pesquisadores da UFRJ, UFRRI/CNPq e UFF, atravs do Departamento de Lingstica eFilologia da Faculdade de Letras da UFRJ.

    9. Avarivel posio limar comumente subdividida em quatro categorias. Neste caso. optamospor trs porque os dados da quarta, quinta esexta posies so poucos eficariam muito fragmentadosquando do cruzamento entre posio, classe e relao. Alm disso, essas posies tm comportamento bastante semelhante.

    - 38 -

    - S( )BRE AS ORIGENS DO PORTUCUS Pr PULAR DO BRASIL -

    A varivel posio/classe/relao, por sua vez, ficou com

  • Origens do portugus brasileiro

    7) Classe no-nuclear posposta nas demais posies (constituda pelos adjetivos, possessivos, quantificadores, identificadores e indefinidos queocorrem pospostos na terceira, quarta, quinta e sexta posies do SN):

    umas casinha bonitinha/

    as mulheres ainda muito mais antigauns colega meu/aquelas cruzinha toda/as conta quase toda/uns negcio qualquer/uns vinhos tais.

    Feita a anlise quantitativa dos dados assim codificados, os instrumentos

    estatsticos utilizados revelaram que a varivel posio linear no tem relevncia estatstica quando se considera, ao mesmo tempo, a varivel posio/classe/relao. Enquanto, de um conjunto de nove variveis, a varivel posio/classe/relao selecionada como a mais significativa, a varivel posio linear, alm deno ser selecionada, na parte step up do programa VARBRUL, tambm eliminada na parte step doam"'.

    Portanto, no apenas a posio linear do elemento do SN que determina a quantidade de marcas formais de plural. Os condicionamentos so bem

    mais complexos do que se pensava anteriormente, conforme nos eviden

    ciam os resultados da varivel posio/classe/relao apresentados na tabela 2.

    FATORES

    Classe no-nuclear na Ia posio do SN

    Classe no-nuclear anteposta na 2a posio do SN

    Classe nuclear na Ia posio do SN

    Classe nuclearna 2a posio do SN

    Classe nuclear nas demais posies do SN

    Classe no-nuclear posposta na 2a posio do SN

    Classe no-nuclear posposta nas demais posies do SN

    Total

    Tabela 2. Efeito davarivel relaSo/poslSo/classe napresena deplural emeide -18 falantes adultosdo Rio de janeiro[partedo CorfiU! Ouso da dcadadeLngua(PEUL)]"

    FREQNCIA

    j.4.065/4.167=98% 0,87

    305/ 317=96% 0,86

    165/ 173 =95%"_ 0,702.864/5.320=54% 0,21

    333/3573^=62% 0,2595/ 139=68% 0,26

    \5\l 430=35% 0,13

    7.978/11.083 =72%

    ementos do SNno portugus brasileiro dados80. do Programa de Estudos sobre o Uso da

    PESO

    RELATIVO

    10. Na parte denominada sttp up, o programa trabalha de forma progressiva buscando as variveis mais importantes do ponto de vistaestatstico, ou seja, as que maisdo conta da variao dos

    Sobre as origens do portugus popular do Brasil

    Os resultados da tabela 2 podem ser olhados sob trs perspectivas: a daposio, a da classe nuclear/no-nuclear e a da relao entre a classe nuclear/

    no-nuclear. Olhando sob a perspectiva da posio, verificamos que sua influ

    ncia no uniforme. A evidncia mais forte dessa no-uniformidade pode ser

    encontrada na diferena existente entre o efeito da segunda posio nas classes no-nucleares antepostas (0,86), nos ncleos (0,21) e nas classes no-nucleares pospostas (0,26). Alm disso, o efeito das demais posies terceira, quarta, quinta e sexta diminui nas classes nucleares pospostas (0,13),

    mas aumenta nos ncleos (0,25). Conseqentemente, afirmaes generalizantes

    a respeito do portugus popular do Brasil com relao ao papel da posiolinear que o elemento ocupa no SN carecem de fundamento. Testamos todas

    as diferenas nos pesos relativos acima e todas elas, exceto a de 0,01, se mostraram significativas, com o nvel de significncia de 0,05 ou melhor.

    Alm do que foi dito acima, cumpre observar que a varivel cruzada mais forte do que a varivel posio linear isolada. Em anlises separadas, avarivel posio/classe/relao selecionada em primeiro lugar, dentre um conjunto de nove variveis, enquanto a varivel posio linear o em nono.

    Embora tenhamos descartado a influncia da posio linear como uma influncia uniforme, ela ainda se verifica, especialmente nos ncleos da primeira posio. Todavia esta influncia deve ser interpretada como uma ex

    tenso da influncia dos elementos no-nucleares antepostos da primeiraposio. Como a primeira posio predominantemente ocupada por clas

    ses no-nucleares antepostas e como essas classes so muito marcadas (quer

    dados que esto sendo analisados. Nesse caso, o teste comea com asvariveis isoladas e, atravs decomparaes sucessivas, vai adicionando hanalise cadauma dasvariveis selecionadas, parando quando no mais restarem variveis significativas,- na parte denominada slr/> ioum, o programa faz exatamenteo inverso: pane do conjunto total das variveis, verificando que varivel torna a anlise pior,eliminando tambm de forma progressiva tais variveis (cf. Sankoff, 1988: 991-992). Em rodadasseparadas, ora com a varivel posio/classe/relao, ora com a varivel posio linear, as duas variveisconcorrentes so selecionadas, mas a rodada coma varivel posio/classc/relao superior do pontode vista estatstico o contrrio que seria inesperado.

    11. A soma dos dados das classes no-nucleares da primeira e da segunda posio no perlazo mesmo total que a soma dos dados das classes nucleares da primeira, segunda e demais posiesporque hmuitos sintagmas que tm um numerai naprimeira ounasegunda posio que, embora faaparte do SN, no constitui dado de nossa anlise porno serflexionvel. S na primeira posio dosn h 1.695 numerais (cf. Scherre, 1988: 236).

    - II

  • - Origens do portugus brasileiro -

    na primeira quer na segunda posio), licito levantar a hiptese de que seu

    peso, na primeira posio, seja transferido para qualquer classe que a ocupar.

    Inclusive, h dialetos do portugus (interior de Minas Gerais) que apresentam estruturas do tipo (Jues menino levado, em que se verifica a flcxo do elemento (fue, no flexionvel no portugus padro.

    Se o efeito da posio linear fosse mais forte que o da posio relativa(anteposio/posposio em relao ao ncleo), seria de esperar que a classeno-nuclear anteposta na segunda posio fosse pouco marcada, uma vez queos elementos nucleares que ocorrem nesta posio, os mais freqentes (5.320casos de um total de 11.083), exercem relativamente pouca influncia na

    presena de marcas de plural explcitas (peso relativo de 0,21 para este fator).A influncia da posio linear no se d, e o que vemos a permanncia dainfluncia da anteposio em relao ao ncleo, relativamente alta e compeso semelhante (0,86) ao efeito do fator da primeira posio (0,87)12.

    Alm disso, anlises da classe gramatical para o espanhol permitem vis

    lumbrar a similaridade dos resultados para ambas as lnguas com respeito posio relativa: Cedergren (1973) e Poplack (1980) afirmam que determi

    nantes favorecem variante explcita de plural e substantivos e adjetivos fa

    vorecem variante zero. Poplack (1980: 65) chega a afirmar que os nomes

    tendem a manter a variante explcita na primeira posio do SN; em verdade,na posio mais esquerda.

    Com relao ao francs, importante salientar que a inlluncia da posiorelativa tambm se verifica nos fenmenos de ligao nas construes nominais. A ligao tende a ser obrigatria nas fronteiras esquerda do ncleo,

    mas no ocorre entre o substantivo e o verbo seguinte, mesmo se iniciado por

    vogai. Segundo a professora Claire Blanche-Benveniste (em comunicaopessoal, em outubro de 1998), nas frases les autres livres anciens os outros livros

    antigos',- les autres anciens amis 'os outros antigos amigos',- les autres amis anflais 'osoutros amigos ingleses', tem-se a produo do -s final em todos os elementos

    12.Os dados analisados na tabela2 loramextrados de amostras de laiade pessoas de 15a maisde 50 anos, com I a I I anos de escolarizao. Fizemostambm outras etapas de anlise incluindo mais16 falantes de 7 a 14anos, tambm subdivididos por anosde escolarizao: de I a 4; de 5 a 8; e de 9ali, cujos resultados, extremamente similares em termos de tendncias, podem ser encontrados emScherre &Naro (1997: 105) e Scherre (2005: 52) e sero apresentados na tabela 3 deste captulo

    - -12 -

    ' S( iliRL AS

  • ORICENS DO PORTUGUS BRASILEIRO ~

    com base nos dados dos 64 falantes da Amostra Censo, subdivididos por anos

    de estudos, em que se evidencia, pela ordenao das percentagens e dos

    pesos relativos por coluna, a absoluta regularidade de comportamento da

    varivel sob foco, nos termos j descritos nas pginas anteriores deste cap

    tulo. Portanto, temerrio utilizar o argumento da posio, nos termos deGuy (1989), como um trao de crioulizao advindo de influncia da estrutura de lnguas africanas, e que, caso no se aceite a hiptese da crioulizaopara o portugus popular brasileiro, sua situao "teria de ser vista como

    nica e arbitrria", sem nenhuma motivao natural (Guy, 1989: 232)13.

    5. DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Um conjunto expressivo de estudos dialetolgicos realizados at 1950e um conjunto igualmente expressivo de estudos sob a perspectiva da teoria

    da variao lingstica realizados nas dcadas de 1970, 1980 e 1990 indicam que a variao na concordncia nominal em portugus um fenmenogeral, independente de localizao geogrfica.

    Com relao aos dialetlogos que abordam esses fenmenos, temos sseguintes trabalhos:

    1) sobre o dialeto caipira (Amaral, 1920),-

    2) sobre o portugus popular do Nordeste (Monteiro, 1933,- Marro-

    quim, 1945);

    3) sobre o linguajar carioca (Nascentes, 1953) e

    4) sobre o portugus de forma geral (Melo, 1946).

    13. Capellari & Zilles (2002: 214), em trabalho intitulado"A marcao de plural na linguageminfantil: estudolongitudinal", sobre concordncia nominal, publicado naRevisla da ABRAUN, vol. 1,n1, consideram que a anlise de Scherre (1996) para as variveis posio lineare classe gramatical "(...) um tanto quanto genrica, poiscaracterizar a aplicao da regra para o que est antesou depoisdo ncleo parece maisesconderde que revelar". No concordamoscom aafirmao dasautoras no quediz respeito generalizao de Scherre para aconcordncia de nmero. Trata-se de umavarivel quecaptura comportamento semelhantepara adjetivos, possessivos e quantificadores esquerdae direitado substantivo, do pronome ou de categoria substantivada. Captura tambm o fato de que "ncleos"maisesquerda favorecem mais marcas explcitas de plural do que ncleosmaisdireita (verresultadosna tabela 3, nestemesmo captulo). Convidamos tambm o leitor interessado aacompanhar os detalhesda anlise de Scherre em Scherre (I988; 1996,- 1998a,- 2001) e fazer seu prprio julgamento.

    44

    Sobre as oricens do portugus popular do Brasil

    Com relao aos estudos realizados sob a perspectiva da teoria da variao lingstica, temos as seguintes pesquisas:

    1) sobre o portugus falado na cidade do Rio de Janeiro, regio Sudes

    te, por pessoas de procedncia geogrfica diversa, de classe mdia,

    alta e baixa (Braga & Scherre, 1976: 646-477);

    2) sobre o portugus do Tringulo Mineiro, Minas Gerais, regio Sudeste, falado por pessoas de classe mdia e baixa (Braga, 1977: 28);

    3) sobre o portugus da cidade do Rio de Janeiro, regio Sudeste, fala

    do por pessoas escolarizadas (com 2o grau e universitrios) e semi-

    escolarizadas (em fase de alfabetizao) (Scherre, 1978: 53-57); s

    por pessoas semi-escolarizadas (Guy, 1981: 12-23),- e por falantes

    de I a 11 anos de escolarizao (Scherre, 1988: 21-27),-

    4) sobre o portugus de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, regio Sul,

    falado por pessoas consideradas alfabetizadas ou com curso primrioincompleto (Ponte, 1979: 60-69);

    5) sobre o portugus da micro-regio Bragantina, Par, regio Norte,falado por pessoas analfabetas (Nina, 1980: 49-57);

    6) sobre o portugus da cidade de Sobradinho e da comunidade rural de

    Boa Vista, Distrito Federal, regio Centro-Oeste, ralado por pessoas de

    1 a 8 anos de escolarizao (Dias, 1993: 32-36,- Malvar, 1992: 11-13),-

    7) sobre o portugus da rea urbana do Estado de Santa Catarina (Floria

    npolis e Chapec), do Rio Grande do Sul (Panambi) e do Paran (Irati)

    regio Sul , falado por pessoas de etnia aoriana, italiana, alem e

    eslava, com 1 a II anos de escolarizao (Fernandes, 1996: 15-18),

    8) sobre o portugus da cidade de Joo Pessoa, regio Nordeste, falado

    por pessoas analfabetas e de 1 a 15 anos de escolarizao (Carvalho,1997a: 40-43; 1997b);

    9) sobre o portugus da rea rural do Estado do Rio de Janeiro, regioSudeste, falado por homens analfabetos e com 1 a 4 anos de

    escolarizao (Brando, 1994; Almeida, 1997: 50-52);10) sobre o portugus da rea urbana da regio de cidade de Salvador,

    regio Nordeste), falado porpessoas de 1a 15 anos de estudos (Lopes,2001: 113-117).

    45

  • RK ,IiNS I)' I P< JRTLK .Ui:S BRASILEIRO ~

    Da leitura dos diversos trabalhos relacionados acima, pode-se inferir

    que as variveis sociais mais importantes para o entendimento das dife

    renas do comportamento da concordncia nominal so o grau de

    escolarizao e/ou o contraste rural-urbano, e no a procedncia geo

    grfica por cidade, estado ou regio1'. Se a origem do portugus do

    Brasil se devesse existncia de um pidgin ou de um crioulo de base

    lexical portuguesa e gramtica africana, seria de se esperar que as reas

    geogrficas que apresentavam maior concentrao de escravos cm mea

    dos do sculo XIX evidenciassem diferena de comportamento no que

    toca concordncia nominal e verbal, fato no constatado pelos diver

    sos trabalhos existentes.

    A hiptese do papel central da crioulizao africana sob foco ainda

    facilmente refutada pelo prprio trabalho de Jeroslow (1974,- 1975),

    que deu impulso discusso quanto s origens crioulas do portugus

    popular do Brasil. Em 1974, Jeroslow fez um estudo sobre o portugus

    cearense rural e em 1975 escreveu um artigo sob o ttulo de "Creole

    Characteristics in Rural Brazilian Portuguese". E, todavia, fato conheci

    do na histria do Brasil que no houve concentrao de escravos de

    origem africana no Cear. Em verdade, o Cear praticamente no teve

    populao negra na poca relevante para sustentar a hiptese da

    africanizao do portugus, seja diretamente das lnguas africanas ou,

    indiretamente, atravs de um pidgin/crioulo formado pelos escravos afri

    canos. O rastreamento das comunidades remanescentes de quilombos

    no Brasil feito por Anjos (1999: 92) indica que o Cear o segundo

    Estado da regio Nordeste com menor nmero de comunidades

    quilombolas (com 10), atrs apenas do Piau (com 7). Os Estados que

    apresentam maior nmero de comunidades remanescentes de quilombos

    so Bahia (com 244) e Maranho (162).

    CO

    I

    oX

    COtu

    oCOCOaiu.

    1-1. Vendo ( 1982) desenvolve uma pesquisa com dados da laia rural mineira, sem quantificao t Ty- ' 'dos dados, e observa que a concordncia nominal tende a ocorrer nos elementos esquerda do I [jj

  • Origens do portugus brasileiro

    lngua por populaes europias e asiticas, oriundas de terras onde o portugus era desconhecido.

    Atravs de todas essas fases, segundo nossa viso, o impulso motor dodesenvolvimento do portugus do Brasil veio j embutido na deriva secular

    da lngua de Portugal. Se as sementes trazidas de l germinaram mais rpidoe cresceram mais fortes, que as condies, aqui, mostraram-se mais prop

    cias devido a uma CONFLUNCIA DE MOTIVOS.

    I.S

    CAPTULO 2

    CONCORDNCIAVARIVEL EM PORTGU

    A SITUAO NOBRASIL E EM PORTUGAL*

    AnthonyJuuus Naro

    Maria Marta Pereira Scherre

    1

    l. INTRODUO'

    Dialetos no-padro do portugus do Brasil apresentam-

    de forma generalizada, fenmenos de concordncia varivel, cuja origem suscita controvrsia. So exemplos a

    concordncia varivel de nmero verbo/sujeito, a con

    cordncia varivel de nmero entre os elementos do sintagma nominal e aconcordncia varivel de nmero no sintagma predicativo (Naro, 1981,-

    Scherre & Naro, 1991):

    * Queremos expressar nossa gratido a nossos auxiliares de pesquisa, Ricardo loseh Lima,Viviane Conceio Antunes e Elane Barreto dos Santos, sem cujo trabalho no teria sido possvellevara cabo a pesquisa maciacom os textos medievais portugueses aqui apresentados.

    1. Este captulo a traduo um pouco modificada do texto de Naro &Scherre (2000),publicado pelaeditoraJohn Benjamins, no livroLwguage Omnijeand Lmguage Conlact iPidijins and Creolcs,organizado por John McWhorter.

    49