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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Superintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programa Educacionais
PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E O MUNDO DO TRABALHO: O ESTÁGIO
CURRICULAR COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA.
GUARAPUAVA
2008
2
LUCIANA BORTONCELLO LORENZETTI ANDRADE
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E O MUNDO DO TRABALHO: O ESTÁGIO
CURRICULAR COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA.
Produção Didático-Pedagógica – Unidade Temática, elaboradopela Profa. Luciana Bortoncello Lorenzetti Andrade, como requisito previsto pelo Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE/2008.
Orientador Prof. Ms. Edélcio J. Stroparo, Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO.
GUARAPUAVA
2008
3
SUMÁRIO
1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO............................................................... 04
2 APRESENTAÇÃO................................................................................. 06
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................ 08
3.1 EDUCAÇÃO E O MUNDO DO TRABALHO....................................... 08
3.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEGISLAÇÃO DE ESTÁGIO.............. 11
3.3 O ESTÁGIO E O PROCESSO INTERDISCIPLINAR........................... 13
3.4 O PLANO DE ESTÁGIO E A AVALIAÇÃO ........................................ 17
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 21
5 REFERENCIAS..................................................................................... 22
6 BIBLIOGRAFIAS COMPLEMENTARES.............................................. 24
4
1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Luciana Bortoncello Lorenzetti Andrade
Área PDE: Disciplinas Técnicas
NRE: Guarapuava
Professor Orientador IES: Ms. Edélcio José Stroparo
IES vinculada: UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro Oeste
Escola de Implementação: CAVB - Colégio Estadual Ana Vanda Bassara –
Ensino Fundamental, Médio e Profissional.
Público objeto de intervenção: Turma do 2º. Semestre do Curso Técnico em
Segurança do Trabalho.
5
FONTE: http://www.tarsiladoamaral.com.br/images/JPG/OPERARIOS50.jpg
ESTÁGIO
6
2 APRESENTAÇÃO
Somos sempre aprendizes da profissãoe estagiários da vida.”
Alves Franco
No contexto mundial e brasileiro, a informação se tornou um dos
grandes pilares da era do conhecimento. As novas tecnologias e sua
aplicação nos mais diversos segmentos têm propiciado grandes mudanças
tanto para o mundo do trabalho quanto para as questões educacionais. O
trabalho virtual, a robótica, a busca de informações na rede mundial, a
educação à distância e o uso das novas tecnologias, acabam interferindo
também no trabalho escolar.
Essas mudanças demandam que a educação possibilite ao educando
assumir uma postura e um entendimento do mundo globalizado, da
exploração do capital, das novas tecnologias, da sua dimensão de cidadania
e dos novos significados do trabalho. Esse entendimento permite que a
educação e o ensino dêem um novo sentido ao conhecimento, integrando
conhecimentos científicos à práxis no processo de formação humana.
As transformações ocorridas exigem a compreensão do papel da
escola na busca da aquisição do conhecimento e da formação do indivíduo,
aluno e profissional em constante formação. Para Manfredi (2002, p. 12) o
desafio de hoje é educar as crianças e os jovens, propiciando-lhes um
desenvolvimento humano, cultural, científico e tecnológico, de modo que
adquiram condições para enfrentar as exigências do mundo contemporâneo.
Para Enguita (2004, p. 35),
A educação nunca teve tanta importância econômica como em nossos dias, tanto para as sociedades como para os indivíduos. Esse é o sentido das freqüentes afirmações de que estamos entrando na (era da) economia (ou na sociedade) do conhecimento (ou da informação, informática, digital, etc.).
Esse desafio demanda um grande esforço e a transformação de todos
os agentes da educação: o governo, a escola, os docentes, os discentes, a
comunidade acadêmica e científica etc, também exige o entendimento de que
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as relações existentes entre o trabalho, a escolarização e a profissionalização são o
resultado de situações que ocorrem entre as diversas esferas da sociedade sejam
elas: econômica, social, política e cultural. Ou seja, a compreensão da educação
como processo de produção da existência humana no qual alunos, professores e
comunidade escolar são sujeitos reais e sujeitos históricos.
Nesse contexto de mudanças, a unidade temática que ora se apresenta, tem
por objetivo contribuir para uma reflexão dos professores da educação profissional,
sobre o estágio curricular e a sua relação teoria e prática. O texto apresenta
fundamentação, conceitos e elementos para nortear o trabalho dos docentes quanto
ao desenvolvimento do plano de estágio curricular para as turmas do 2º. Semestre
do Curso Técnico em Segurança do Trabalho, do Colégio Estadual Ana Vanda
Bassara, de Guarapuava (Paraná) e propor novas discussões e modificações no
atual programa de estágio.
8
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 EDUCAÇÃO E O MUNDO DO TRABALHO
“A natureza humana não é dada ao homem, mas é por ele produzida sobre a base da natureza biofísica. Conseqüentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens.”
Saviani, 2005.
A educação, o mundo do trabalho e a sociedade têm passado por
constantes transformações1. Dentre as transformações ocorridas no mundo do
trabalho destaca-se o período artesanal, a produção industrial (produção em
massa) no período taylorista/fordista e o período toyotista/volvista. Todos
esses modelos de processos produtivos interferiram nas formas de condução
da educação, pois se evidencia cada vez mais, que a educação também
atende aos anseios do capital.
As atividades laborais exercidas pelo homem, ao longo da história,
sofreram diversos desdobramentos, dentre eles o período artesanal
caracterizou-se pelo trabalho do artesão, com produção em pequena escala,
ou seja, apenas para o sustento da família do trabalhador e/ou para troca
entre pequenos produtores. “Antes da revolução industrial, as atividades
industriais e agrícolas eram exercidas de forma artesanal e, na maioria dos
casos, rudimentar, com grande intensidade de mão-de-obra e pouca de
capital” (LACOMBE E HEILBORN, 2006).
A produção do período artesanal difere do modo de produção taylorista,
que teve início final do século XIX, que “surgiu para quebrar esse domínio
1Para maiores esclarecimentos sobre a temática consulte:
http://www.senac.br/BTS/311/boltec311c.htm e
http://www.unopec.com.br/revistaintellectus/_Arquivos/Jan_
Jul_04/PDF/Artigo_Marcos.pdf
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artesanal e submeter todo o processo de fabricação à autoridade indiscutível dos
patrões. O taylorismo se implantou numa guerra aberta e declarada” (KATZ, 1995, p.
14).
Esse modo de produção provocou a “estandardização forçada e a direção
minuciosa, os capatazes impuseram a nova modalidade de trabalho repetitivo e
designaram as tarefas segundo as ordens patronais” (KATZ, 1995, p. 14).
O modelo taylorista2 transferiu o conhecimento das operações e os projetos
da produção à gerência da fábrica, pois “os cronômetros se instalaram sobre os
ombros dos operários qualificados para descobrir seus tempos e movimentos. Com
estes índices, logo se elaboraram tábuas de produção sujeitas a ritmos muito mais
intensos” ( KATZ, 1995, p. 14).
Já no período toyotista/volvista é evidente o eixo da flexibilização do trabalho
e a readequação de tarefas com o objetivo de minimizar a rotina taylorista. O
surgimento dos “grupos autônomos” de trabalho, a implantação dos “CCQ -Círculos
de Controle de Qualidade”, a flexibilização do trabalho3, a informatização da
produção, a robótica e a microeletrônica produziram a anulação das funções do
sujeito responsável e competente e banalizaram o conteúdo intelectual das tarefas
(KATZ, 1995, p. 32-33).
Todos esses processos produtivos geraram mudanças nas políticas
educacionais, em especial da educação profissional, onde “o trabalho deve ser
2 O filme Tempos Modernos(1936), de Charlie Chaplin, retrata o trabalho do operário e a automação das fábricas.
3 O termo “flexibilização” deriva da palavra “flexibilidade”, que é a qualidade do que é flexível. No campo da administração pode-se reportar a mobilidade geográfica e funcional dos trabalhadores, na maleabilidade nos custos de mão-de-obra, na gestão de recursos humanos, na organização do tempo de trabalho [...] no processo de fragmentação da produção, através das parcerias chamadas “terceirizações” e subcontratações.(Adaptado do artigo intitulado “A flexibilização no Direito do Trabalho enquanto instrumento de mudanças nas relações de trabalho”, de Alcídio Soares Júnior. Disponível em http: //www.uepg.br/rj/a1v1at07.htm).
10
compreendido como princípio educativo... como fundamento unificador da educação
como prática social “(SEED, 2006, p. 11).
Na sociedade industrializada, a tecnologia e as máquinas trouxeram ao
homem muitos dos conhecimentos já produzidos e a instituição da escola passou a
agir sobre o ser humano treinando-o, preparando o trabalhador repetidor, em vez de
educá-lo para a cidadania e para o mundo do trabalho. O surgimento de novas
concepções de educação permitiu uma visão mais crítica sobre a formação total do
indivíduo, a criação de significados, a tomada de decisões e o pensamento
autônomo.
Portanto, faz-se necessária uma concepção mais ampla de educação4, que
atenda e incorpore em seu escopo as dimensões educativas que também ocorrem
no âmbito das relações sociais e que objetivam a formação humana, nas suas
dimensões sócio-políticas e produtivas, que permitam entender o trabalho como
princípio educativo, como categoria orientadora das políticas e programas da
educação profissional.
Para Ciavatta5 (2005, p. 4) existem duas formas fundamentais de trabalho:
O trabalho como relação criadora, do homem com a natureza, produzindo a existência humana, o trabalho como atividade de autodesenvolvimento físico, material, cultural, social, político, estético, o trabalho como manifestação de vida; e o trabalho nas suas formas históricas de sujeição, de servidão ou de escravidão, ou do trabalho moderno, assalariado, alienado na sociedade capitalista.
4Recomenda-se a leitura do livro “Educação e
Trabalho no Brasil: o estado da questão” de
Acácia Zeneida Kuenzer, disponível em
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me
002671.pdf
5Consulte texto na íntegra em http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins20
05/emt/index.htm
11
Isso implica em reconhecer que a sociedade, os modos de produção e os
regimes de acumulação dispõem de formas próprias de educação e que
desempenham funções na divisão social e técnica do trabalho.
Segundo Manfredi (2002, p.65),
Para resgatar a história das concepções e práticas de Educação Profissional no Brasil, é importante ir além das dimensões escolares. Faz-se necessário considerar também aquelas que se têm produzido, historicamente, em outros espaços sociais: sindicatos, empresas, associações de bairro, associações comunitárias, movimentos sociais. É importante ir além da perspectiva oficial e da orientação hegemônica.
Ao longo da história da educação e do trabalho no Brasil, desde os povos
nativos indígenas e no período colonial português, verifica-se que “ a prática
educativa e o preparo do trabalho se fundiam com as práticas cotidianas de
socialização e de convivência” (MANFREDI, 2002, p.66).
Durante todo o período colonial, na Primeira República, no Estado Novo, no
período de redemocratização e na reforma do ensino médio e profissional dos anos
90, percebe-se a tentativa governamental de atender as demandas por
escolarização provocadas pela crescente globalização econômica.
3.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEGISLAÇÃO DE ESTÁGIO
O ensino e o estágio são regulamentados pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – LDB, nº. 9394/96, de 20 de dezembro de 1996, que em seu
artigo 3º, aponta como importantes elementos de ensino a “vinculação entre
“Enfrentar os desafios de atender ao grande déficit de escolarização e
fazer frente às exigências de construção de uma nova institucionalidade, que dê
conta dos processos em curso de reestruturação produtiva, de internacionalização
da economia brasileira e de pressão pela ampliação dos direitos sociais”
(MANFREDI, 2002, p.106).
12
educação escolar, o trabalho e as práticas sociais”. A LDB também garante ao
trabalhador, ao jovem ou adulto o acesso à educação profissional e indica que este
nível de educação deve ser integrado às diversas formas de educação, também ao
trabalho, à ciência e à tecnologia, a fim de conduzir o educando ao desenvolvimento
permanente de aptidões para a vida produtiva.
A Resolução nº. 1 CNE/CEB, de 21 de janeiro de 2004 da Câmara de
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, estabelece as Diretrizes
Nacionais para a organização e a realização do estágio de alunos da Educação
Profissional e do Ensino Médio, inclusive nas modalidades de Educação Especial e
Educação de Jovens e Adultos.
O Art. 2º. da referida Resolução cita que:
O estágio, como procedimento didático-pedagógico e Ato Educativo, é essencialmente uma atividade curricular de competência da Instituição de Ensino, que deve integrar a proposta pedagógica da escola e os instrumentos de planejamento curricular do curso, devendo ser planejado, executado e avaliado em conformidade com os objetivos propostos.
Os Fundamentos Políticos e Pedagógicos da Educação Profissional do
Paraná (2006, p. 18), destacam as concepções de educação profissional para o
Estado, prevendo a articulação com a educação básica e tratando o trabalho como
princípio educativo, possibilitando assim “ao aluno dos cursos de formação
profissional em nível médio, compreender os processos de trabalho e em suas
dimensões científica, tecnológica e social, como parte das relações sociais”.
A legislação de estágio6 passou por alterações e atualmente a lei federal
que regulamenta o estágio é a Lei No. 11.788 de 25.09.2008, que em seu Art. 1º cita
que:
O estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam freqüentando o ensino regular, em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.
6 A nova legislação de estágio está disponível em
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11788.htm
13
O Art. 2º, da referida lei trata da obrigatoriedade e da não-obrigatoriedade do estágio:
O estágio poderá ser obrigatório ou não-obrigatório, conforme determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e do projeto pedagógico do curso;
§ 1º Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma.§ 2º Estágio não-obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória.§ 3º As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na educação superior, desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser equiparadas ao estágio em caso de previsão no projeto pedagógico do curso.
Desta forma verifica-se a obrigatoriedade da realização do estágio quando
este consta do projeto político-pedagógico do curso e tem carga horária específica.
A legislação também contempla em seu escopo as alterações no que tange a
jornada da atividade em estágio, sendo definida para 6 (seis) horas diárias e 30
(trinta) horas semanais a jornada de atividade em estágio para os alunos da
educação profissional de nível médio. O texto da lei evidencia que as escolas
deverão adequar a jornada de estágio do aluno estagiário a fim de que não
ultrapassem a carga horária permitida.
3.3 O ESTÁGIO E O PROCESSO INTERDISCIPLINAR
“Um olhar interdisciplinar atento recupera a magia das práticas, a essência
de seus movimentos, mas, sobretudo, induz-nos a outras superações, ou
mesmo reformulações.”
FAZENDA (1998, p. 13)
O estágio curricular, independente de sua obrigatoriedade, é uma forma do
aluno da educação profissional aprofundar conhecimentos, habilidades, atitudes e
técnicas, em sua área de interesse. Propicia ao educando a aplicação prática dos
conhecimentos adquiridos durante o curso, permitindo sua assimilação e interação
com o mundo do trabalho, oportunizando ao aluno/estagiário a oportunidade de
vivenciar situações reais de vida e de trabalho.
Compreende-se o estágio como um período de estudos práticos que
permitem ao aluno o exercício de uma atividade, adquirindo experiências para o
14
exercício de uma profissão. Entende-se que é um momento de estudos vivenciados
na prática para a aprendizagem e para a experiência, que pode trazer inúmeros
benefícios tanto para o educando (estagiário) quanto para a melhoria do ensino. A
maneira de aprender uma nova profissão pode partir da observação, da imitação, da
reprodução, da reelaboração de modelos e da elaboração de seu próprio modo de
ser e fazer.
O exercício de uma profissão é técnico e necessita da utilização de inúmeras
técnicas para a execução das operações e ações. Assim os profissionais formados
pela educação profissional necessitam desenvolver suas habilidades específicas
para operar os instrumentos próprios da sua atividade.
Mas “o processo educativo é mais amplo, complexo e inclui situações
específicas de treino, mas não pode ser reduzido a este” (PIMENTA e LIMA, 2008,
p. 38).
Para Pimenta e Gonçalves (1990) apud Pimenta e Lima (2008, p.45) “a
finalidade do estágio é propiciar ao aluno uma aproximação à realidade na qual
atuará”. Esta é uma postura diferenciada daquela que trata o estágio como a “parte
prática do curso”, pois redefine o estágio, como reflexão a partir de uma realidade.
A perspectiva técnica no estágio, em determinadas situações acaba gerando
certo distanciamento da vida e do trabalho concreto, pois muitas vezes as disciplinas
que compõem a matriz curricular dos cursos não estabelecem os nexos entre os
conteúdos que desenvolvem a realidade e as exigências de formação do aluno.
O estágio deve suscitar uma preocupação, nos eixos de todas as disciplinas
do curso, tanto nas disciplinas teóricas quanto nas disciplinas tidas como “práticas”.
O estágio necessita ser um momento de aproximação da realidade com a atividade
teórica.
Nesse sentido, o estágio curricular é atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, esta, sim, objeto da práxis. Ou seja, é no contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá (PIMENTA e LIMA, 2008, p. 45)7.
7Em seu livro “Estágio e Docência”, as autoras Pimenta e Lima (2008, p.35) citam que “o exercício de qualquer profissão é prático, no sentido de que trata de aprender a fazer “algo” ou “ação”.
15
Para Buriolla( 1999, p.10), o estágio é “o lócus onde a identidade profissional
é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação
vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativa e
sistematicamente com essa finalidade”.
Assim, além dos conhecimentos sobre a profissão, também a qualificação, a
carreira profissional, o mundo do trabalho, o emprego, a ética profissional e a
competência devem integrar os conhecimentos trabalhados no período do estágio
curricular, pois para Codo (1992, p. 135) “a vida dos homens, sem dúvida, não se
reduz ao trabalho, mas também não pode ser compreendida na sua ausência”.
Entende-se que estagiar é tarefa do aluno e supervisionar o estágio é
atividade da escola, representada pelo professor, que pode ser tanto o professor-
orientador de estágio quanto o professor coordenador de estágios. É este supervisor
e/ou coordenador que acompanha que enxerga com o aluno/estagiário todas as
situações de trabalho que possam ser orientadas e indispensáveis à sua formação.
O estágio é um elemento de aprendizagem das disciplinas desenvolvidas
durante os semestres dos cursos da educação profissional, não sendo apenas uma
experiência prática, mas também um momento para reflexão, sistematização e
avaliação dos conhecimentos teóricos e instrumentos discutidos durante o curso. As
diferentes disciplinas do curso contribuem para a organização do estágio, para a
formação de um referencial teórico-prático que leve os alunos a terem conceitos
claros, a saber, demonstrá-los, a exercerem com qualidade o papel e as funções a
que se destinam.
A figura 1 evidencia a relação entre a escola e o estágio, bem como as
demais inter-relações com as disciplinas do curso, o plano de estágio, os alunos e a
empresa, sendo o ciclo alimentado pelas mudanças ocorridas em todos os níveis e
processos.
16
FIGURA 1 – O ESTÁGIO E SUAS RELAÇÕES
FONTE: Elaborado pela autora (2008).
Quando o estágio é bem definido, com acompanhamento adequado e
executado dentro das prerrogativas legais, ele representa um importante papel na
formação do jovem e futuro profissional. O estágio não deve ser apenas algo a mais
a ser cumprido no currículo, mas deve ser considerado um elemento de
entrosamento entre a escola e o mundo do trabalho.
Para este entendimento é fundamental um currículo elaborado com o
envolvimento de todos os professores e de todas as disciplinas que fazem parte da
matriz curricular do curso. Para Fazenda (1993, p.31), a interdisciplinaridade
17
caracteriza-se pela “intensidade das trocas entre os
especialistas e pela integração das disciplinas num mesmo
projeto de pesquisa”.
Isto permite uma relação de reciprocidade, de
mutualidade, de um regime de co-propriedade, de interação,
através do diálogo entre os interessados, de mudanças de
atitude perante o problema do conhecimento, da substituição
de uma concepção fragmentária pela unitária do ser humano
(FAZENDA, 1993, p. 31).
Mas para que ocorra a aquisição conceitual
interdisciplinar é primordial a mudança de postura do
professor frente ao processo e que ocorra “o abandono das
posições acadêmicas prepotentes, unidirecionais e não
rigorosas que fatalmente são restritivas...”(FAZENDA, 1998,
p.13)
Desta forma, o trabalho escolar ordenado de forma
interdisciplinar permite a possibilidade de organizar as
diversas áreas do conhecimento em torno de um eixo
comum, que na presente pesquisa corresponde ao estágio
curricular.
3.4 O PLANO DE ESTÁGIO E A AVALIAÇÃO
O estágio curricular quando elaborado através de um
plano consistente e orientado, torna-se um processo de
aprendizagem significativa e construtiva para o educando.
Refletir, planejar as atividades do plano de estágio e
as sistemáticas de avaliação requer um trabalho coletivo e o
entendimento da percepção de todos os envolvidos no
processo de estágio sejam eles coordenadores de estágio,
professores das disciplinas, professores-orientadores e
Zabala (2002, p.33) aponta para outras definições que devem ser analisadas:
- A multidisciplinaridade é a organização de conteúdos mais tradicionais. Os conteúdos escolares apresentam-se por matérias independentes uma das outras. As cadeiras ou disciplina são propostas simultaneamente sem que se manifestem explicitamente as relações que possam existir entre elas.- A pluridisciplinaridade é a existência de relações complementares entre disciplinas mais ou menos afins. É o caso das contribuições mútuas das diferentes “histórias” (da ciência, da arte, da literatura, etc.) ou das relações entre diferentes disciplinas das ciências experimentais.- A interdisciplinaridade é a interação de duas ou mais disciplinas. Essas interações podem implicar transferências de leis de uma disciplina a outra, originando, em alguns casos, um novo corpo disciplinar, como por exemplo, a bioquímica ou a psicolingüística. Podemos encontrar essa concepção nas áreas de ciências sociais e experimentais no ensino médio e na área de conhecimento do meio do ensino fundamental.- A transdisciplinaridade é o grau máximo de relações entre disciplinas, de modo que chega a ser uma integração global dentro de um sistema totalizador. Esse sistema facilita uma unidade interpretativa, com o objetivo de constituir uma ciência que explique a realidade sem fragmentações.
18
alunos. O diálogo pedagógico que ocorre entre estas partes é que dá
“ressignificação das práticas, delineando novos caminhos para o estágio” (PIMENTA
E LIMA, 2008, p. 177).
O plano de estágio faz parte de um contexto maior onde estão inseridas as
fases de planejamento e organização do processo de trabalho do aluno em estágio.
A elaboração de um documento ou de um roteiro de orientação de estágio, conforme
demonstra a figura 2, permite ao educando ter maior segurança na condução das
atividades de estágio.
FIGURA 2 - ROTEIRO DE ESTÁGIO
FONTE: Adaptado pela autora (2008).
A elaboração de um roteiro torna-se um norteador para o aluno em estágio,
propiciando um plano de trabalho e o desenvolvimento dos conteúdos teóricos
aplicados à prática da profissão.
Nesta dinâmica, entende-se o plano de estágio como um processo de
construção e desconstrução coletiva, ele não é estático, mas dinâmico, onde
Um roteiro de orientação de estágio pode conter os seguintes elementos:
Fundamentações sobre o estágio; Objetivos; Estrutura curricular; Campo de Estágio; Atribuições do Coordenador de estágio; Atribuições do Professor orientador de estágio; Atribuições do Supervisor da empresa; Atribuições e norma do aluno em estágio; Plano de Estágio; Procedimentos de estágio:
Cadastro do Aluno Estagiário; Cadastro da Empresa Concedente de Estágio; Acordo de Cooperação de Estágio (Convênio); Termo de Compromisso de Estágio; Normas para elaboração do Relatório de Estágio; Relatório de Estágio;
Controle de Freqüência do aluno; Critérios de Avaliação do Estágio.
19
prepondera o planejamento individual e/ou coletivo das disciplinas do curso, no qual
são idealizados novos planos e decisões, através da retomada e aperfeiçoamento
constante.
Assim, o método de avaliar torna-se uma ação, tanto a avaliação do plano de
estágio em si quanto a avaliação da aprendizagem do aluno em estágio. Para que
isto ocorra se faz necessário entender os diferentes tipos de aprendizagem que faz
parte do processo: a aprendizagem cognitiva, a aprendizagem afetiva e a
aprendizagem psicomotora.
Para Moreira e Masini (1982, p. 3),
A cognição é o processo através do qual o mundo de significados tem origem. À medida que o ser se situa no mundo, estabelece relações de significação, isto é, atribui significados à realidade em que se encontra. Esses significados não são entidades estáticas, mas pontos de partida para a atribuição de outros significados.
Para Moreira e Masini (1982), sob o ponto de vista cognitivista, a
aprendizagem é um processo de armazenamento de informação, condensação em
classes mais genéricas de conhecimentos, que são incorporadas a uma estrutura no
cérebro do indivíduo, de modo que esta possa ser manipulada e utilizada no futuro.
É a habilidade de organização das informações que deve ser desenvolvida.
Stange, Santos e Santos (2006), citam que para Ausubel, em sua Teoria da
Aprendizagem Significativa (1968, 1978, 1980), esta forma de aprender significa
assimilar, de modo organizado e integrado ao que já temos guardado em nossas
mentes, os significados conceituais, a tal ponto de estes se tornarem, também de
modo organizado e interativo, futuros referentes conceituais para a aprendizagem de
novos conceitos.
Para que a aprendizagem ocorra, ela deve ser significativa, ou seja, exige a
compreensão de significados, que podem ser relacionados às experiências e
vivências dos alunos.
Isso significa compreender que o ato de aprender possui um caráter
sistêmico e dinâmico, que exige inúmeras ações de ensino voltadas ao
aprofundamento e ampliação de significados elaborados mediante a participação do
aluno nas atividades de ensino-aprendizagem.
O estágio é um dos momentos onde ocorre o processo de aprendizagem
significativa, através do aprofundamento e da ampliação dos significados, com a
20
participação efetiva do aluno nas experiências vivenciadas no estágio e no processo
ensino-aprendizagem.
Outro aspecto a considerar é a avaliação do estágio, pois a avaliação como
um processo é capaz de propiciar o re-planejamento do trabalho do professor e do
aluno.
Os instrumentos de avaliação formal utilizados com maior freqüência são o
relatório descritivo, os formulários de avaliação do supervisor na unidade
concedente, os formulários de avaliação do coordenador de estágios e os
seminários de apresentação de estágios.
A existência de outros métodos de avaliação pode contribuir para melhoria do
processo avaliativo, dentre elas destacam-se: a auto-avaliação, os relatórios
parciais, a participação e envolvimento nas etapas de planejamento,
desenvolvimento e execução das atividades de estágio.
É necessário ressaltar a importância de uma avaliação crítica, sistemática e
contínua, que propicie melhores resultados para a formação dos alunos da
educação profissional a fim de que ocorra o “repensar das práticas de avaliação e de
todo o fazer pedagógico dos professores que têm compromisso com seu próprio
trabalho e com os que dependem dele” (NEVES, 2008, p.73).
21
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Perceber as mudanças ocorridas nos modos de produção e sua inter-
relação com as transformações educacionais faz parte do entendimento de uma
concepção mais ampla de educação. Uma concepção que permita entender o
trabalho como parte do “princípio educativo”, que trate das dimensões que ocorrem
no âmbito das relações sociais e que tenham por objeto a formação humana.
O estágio, como elemento de aprendizagem, realizado nos cursos de
educação profissional, é um período que permite ao educando vivenciar a prática da
profissão, oportunizando o seu contato e sua interação com o mundo do trabalho,
tornando-se um elemento de aprendizagem e de experiência vivencial em situações
concretas.
A condução de um plano de estágio, que contemple os conteúdos e as
atividades do período tratadas de forma interdisciplinar, pode contribuir para uma
efetiva organização do estágio, permitir maior assimilação dos conteúdos
curriculares, bem como despertar o senso crítico nos alunos.
O estágio é uma situação de ensino-aprendizagem e também de
aprendizagem significativa, pois amplia e aprofunda conceitos e significados através
da sistematização de saberes e da participação efetiva do aluno em momentos reais
de vida e de trabalho.
Para que o ensino seja revertido em aprendizagem, é necessário revolver a terra, penetrar nos saberes, nos talentos, nas motivações, nos afetos, nas dúvidas e nos
medos daqueles que aprendem. Aquele que semeia sem revolver a terra consegue,no máximo, espalhar as sementes sobre a superfície sem esperança de que algum dia
criem raízes, cresçam e dêem frutos.Torres (2001, p. 306)
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5 REFERÊNCIAS
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