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Secretaria Nacional de Formação Sindical Relatório CURSO ATUALIZAÇÃO POLÍTICA PARA A ATUAÇÃO SINDICAL

Secretaria Nacional de Formação Sindical · 2017-07-13 · Trabalhadores de Cuba enviou-nos convite para que participássemos do curso de Atualização Política para a Atuação

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Secretaria Nacional de Formação Sindical

Relatório

CURSO ATUALIZAÇÃO POLÍTICA PARA A ATUAÇÃO SINDICAL

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Havana / Cuba

Novembro de 2016

Elaboração:

Carlos Mani

Assessor Técnico e Facilitador

Secretaria Nacional de Formação Sindical

Força Sindical

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Sumário

Sumário ........................................................................................................................................................ 4

Apresentação ............................................................................................................................................... 5

O curso ......................................................................................................................................................... 9

Participantes ............................................................................................................................................... 13

Conteúdos .................................................................................................................................................. 14

Semana 1 ................................................................................................................................................ 15

Primeiro dia – 14 novembro – Tema 1: A crise do capitalismo e seu impacto na sustentabilidade do

planeta nas atuais condições. ............................................................................................................ 15

Segundo dia – 15 novembro – Tema 2: O contexto latino americano e caribenho atual.................. 19

Terceiro dia – 16 de novembro – Tema 3: As lutas de classe, o poder e a alternativa anticapitalista

para o empoderamento dos trabalhadores nas circunstâncias atuais da América Latina e Caribe. . 29

Quarto dia – 17 de novembro – Tema 4: Processos de integração na América Latina e Caribe ....... 49

Quinto dia – 18 de novembro – Tema 5: Movimento sindical internacional da América Latina e

Caribe ................................................................................................................................................. 54

Semana 2 .................................................................................................................................................... 65

Sexto dia – 21 de novembro – Tema 6: Os EUA, seus interesses geopolíticos na região. As relações

conflituosas com Cuba. ...................................................................................................................... 65

Sétimo dia – 22 de novembro – Tema 7: A atualização do modelo econômico e social cubano de

desenvolvimento socialista. Participação popular dos trabalhadores e sindicatos. .......................... 73

Oitavo dia – 23 de novembro – Tema: A unidade sindical frente ao processo de desestabilização

capitalista e imperialista na região. .................................................................................................... 81

Nono dia – 24 de novembro – Tema: O dirigente sindical como educador político. ......................... 91

Décimo dia – 25 de novembro – Tema 10: Trabalho final: O dirigente sindical latino-americano por

uma liderança eficaz na consolidação da unidade das massas trabalhadoras. ............................... 104

Conclusão ............................................................................................................................................. 110

Secretaria Nacional de Formação Sindical ............................................................................................... 112

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Apresentação

A Secretaria Nacional de Formação tem desempenhado um importante papel na difusão de conhecimentos nos cursos de formação de lideranças e, dessa maneira, atuado como um importante elo na aproximação entre os dirigentes dos sindicatos em todo o território nacional e a Força Sindical. Além dos cursos de formação coordenados e ministrados por nossa equipe, também temos buscado nos preparar e adquirir novos conhecimentos e ampliar nossa visão de mundo na troca de informações, impressões e conhecimentos com outros parceiros. Pensando nisso, o Secretário Nacional de Formação, José Pereira dos Santos, incentiva e busca alternativas para que esse processo se efetive. Dessa maneira, promoveu uma parceria com a CTC Central de Trabalhadores de Cuba para que pudéssemos fomentar a discussão e ampliar os conhecimentos sobre realidades da área sindical, notadamente em um país que tem uma abordagem muito diferente da nossa sobre as questões trabalhistas e nas relações existentes entre o capital / trabalho e, por isso mesmo, com imensa possibilidade de trazer novos olhares sobre o tema. Em 2015 participamos de uma primeira ação no curso de Formação de Formadores em Cuba, quando 16 dirigentes sindicais, mais o Pereira e o Mani da secretaria nacional de formação sindical, integraram uma comitiva da Força Sindical para receber essa capacitação (vide relatório deste curso, que pode ser solicitado na secretaria nacional de formação).

Dando continuidade a essa parceria, em meados de 2016, a CTC Central de Trabalhadores de Cuba enviou-nos convite para que participássemos do curso de Atualização Política para a Atuação Sindical, entre os dias 13 e 26 de novembro do corrente ano, a ser realizado em Havana, capital de Cuba. O Secretário Nacional de Formação, José Pereira dos Santos, em reunião com o Presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, propôs que eu, Assessor Técnico e Facilitador da Secretaria, Carlos Mani, fosse o representante da Força Sindical nesse encontro. Dessa forma, entre os dias 13 e 26 participei das atividades descritas adiante.

Convocatória da CTC para divulgação do curso:

C O N V O C A T O R I A

La Central de Trabajadores de Cuba (CTC) y La Federación Sindical Mundial en América Latina y El Caribe convocan a las organizaciones sindicales de la Región a participar en el Curso de Actualización Política para la Acción Sindical, del 13 al 26 de Noviembre de 2016, en la Escuela

Superior Ñico López, en La Habana, Cuba.

El contenido del curso estará esencialmente referido a las causas de la crisis del sistema

capitalista y su impacto en los trabajadores y en el desarrollo sostenible, así como a la situación actual de las relaciones laborales y del movimiento sindical.

Talleres, Conferencias y Clases Magistrales, serán las vías para promover la asimilación de valiosos conocimientos que se intentará constituyan herramientas para contribuir al quehacer cotidiano de los participantes en las luchas sindicales que despliegan en sus respectivos países.

Este curso será impartido por profesores y conferencistas de alta calificación. El egresado tendrá la posibilidad de obtener Diploma y Certificado de aprovechamiento.

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Los aspirantes aprobados a matricular en el presente curso, deberán cumplir la disciplina y demás exigencias académicas establecidas.

El alojamiento y desarrollo del programa docente se realizará en las instalaciones de la Escuela Superior “Ñico López”.

El costo de la matrícula es de $450.00 EUROS la que debe cancelarse a la llegada al Alojamiento

de la Escuela Superior “Ñico López”, incluye: la docencia; el transporte desde y hacia el aeropuerto de La Habana y a las actividades incluidas en el programa oficial del curso; el hospedaje con desayunos, almuerzos y cenas.

Deben traer actualizado su seguro de salud.

La Escuela Superior “Ñico López”, se encuentra ubicado en 5ta. Avenida y Calle 246, Santa Fé, Municipio Playa, La Habana, (frente a la Marina Hemingway), Teléfonos: (537) 209 7961, 209 7962, 209 7006.

Se solicita que en el proceso de selección de los compañeros (as) a participar en el curso, se tenga en cuenta las condiciones de salud que le permitan cumplimentar el programa previsto.

Es importante que los alumnos participantes porten copia de esta convocatoria al realizar el viaje a

la Habana. Deben enviar antes del 25 de Octubre la solicitud con los datos que a continuación se relacionan

y se confirmará la matricula por nuestra parte el día 30 de Octubre. Sin esta confirmación no es posible acceder al curso.

Nombres y apellidos.

Organización sindical a la que pertenece.

Responsabilidad que ostenta en ella.

País.

Ciudadanía.

Número de pasaporte.

Fecha, hora y número de vuelo de su llegada a La Habana. El arribo a la Habana está previsto sea a partir del 12 de Noviembre y el regreso a sus

respectivos países, hasta el 27 de Noviembre, de arribar antes y permanecer más tiempo después,

deberán abonar los días excedidos por los precios que normalmente oferta sus servicios esta instalación.

Las solicitudes deberán ser enviadas a:

Secretaría Regional América Central de Trabajadores de Cuba Federación Sindical Mundial Teléfono: 53 78775312 Teléfono: 53 72714345 Email: [email protected] Email: [email protected] [email protected]

Fraternalmente,

Ramón Cardona Nuevo Raymundo Navarro Fernández Secretario Región América Latina y El Caribe Miembro Secretariado Nacional Federación Sindical Mundial Central de Trabajadores de Cuba

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Tradução da Convocatória para o curso em Cuba

Convocação

A União Central Dos Trabalhadores de Cuba (CTC) e da Federação Sindical Mundial na América Latina e no Caribe convocam as organizações sindicais da região para participar do Curso de Atualização Política para a ação sindical, de 14 a 25 de novembro de 2016, na Escola Superior Nico Lopez, em Havana, Cuba.

O conteúdo do curso estará essencialmente referido às causas das crises do sistema capitalista e seu impacto na vida dos trabalhadores e no desenvolvimento sustentável, assim como a situação atual das relações trabalhistas e do movimento sindical.

Oficinas, conferências e aulas serão as vias para promover a assimilação de valiosos conhecimentos que pretendemos constituam ferramentas para contribuir para as ações cotidianas dos participantes nas lutas sindicais que se desenvolvem em seus respectivos países.

O curso será ministrado por professores e conferencistas de alta qualificação.

O participante terá a possibilidade de obter um diploma e certificado de aproveitamento.

Os aprovados para participar do presente curso, deverão cumprir as disciplinas e demais exigências acadêmicas estabelecidas.

O alojamento e desenvolvimento do programa de ensino serão nas instalações da Escola Superior Ñico López.

O custo da matrícula é de 450 euros, que deve se pago na chegada ao alojamento da Escola Superior Ñico López, e inclui: as aulas; o transporte do aeroporto de Havana e as atividades incluídas no programa oficial do curso; a hospedagem com café da manhã, almoço e jantar.

Devem trazer atualizados seu seguro de saúde.

A Escola Superior Ñico López situa-se à 5ta. Avenida y Calle 246, Santa Fé, Municipio Playa, La Habana, (frente a la Marina Hemingway), Telefones: (537) 209 7961, 209 7962, 209 7006.

Se solicita que no processo de seleção dos companheiros(as) a participar do curso, se leve em conta as condições de saúde que permitam-lhe cumprir o programa previsto.

É importante que os alunos participantes portem cópia desta convocatória na realização da viagem a Havana.

Devem enviar antes do dia 25 de outubro na solicitação da vaga, os dados abaixo e confirmar o registro de sua vaga por nós em 30 de outubro.

Sem essa confirmação não será possível participar do curso.

Nome e sobrenome

Organização sindical ao qual pertence

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Cargo na organização sindical

País

Cidade

Número do passaporte

Data, horário e número do voo de sua chegada a Havana

A chegada a Havana está programada a para 12 de novembro e o retorno para seus respectivos países até 27 de novembro, para chegar mais cedo e ficar mais tempo, deverão pagar os dias ultrapassados pelos preços que normalmente oferecemos quanto aos serviços prestados nesta instalação.

Os dados deverão ser enviados para:

Secretaría Regional América Central de Trabajadores de Cuba Federación Sindical Mundial Teléfono: 53 78775312 Teléfono: 53 72714345 Email: [email protected] Email: [email protected] [email protected]

Fraternalmente,

Ramón Cardona Nuevo Raymundo Navarro Fernández Secretario Región América Latina y El Caribe Miembro Secretariado Nacional Federación Sindical Mundial Central de Trabajadores de Cuba

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O curso

O curso foi organizado pela FSM Federação Sindical Mundial e a CTC Central de Trabalhadores de Cuba e realizado na Escola Superior do Partido Ñico López, em Havana/Cuba. As atividades de formação propriamente ditas aconteceram entre os dias 14 e 25 de novembro. Sendo que os dias 13 e 26 foram para as viagens de ida e volta São Paulo/Havana.

Todas as atividades, as acomodações e as refeições foram realizadas no mesmo espaço. A Escola Superior do Partido Ñico López fica no Município Playa, bairro da capital Havana, em frente à Marina Hemingway, local com alguns restaurantes e lojas de conveniência.

O espaço onde fica a escola conta com uma ótima área arborizada, possui dois prédios de hospedagem, várias salas de aula, teatro, biblioteca e restaurantes (para cada um dos grupos há um espaço reservado para as refeições e ações). A escola funciona regularmente para a formação de novos quadros para o partido e para cursos de curta duração, como o nosso. Abaixo, algumas imagens do local.

Quarto duplo – neste ficamos eu e o Emerson, o outro brasileiro

Corredor que liga a hospedagem aos outros ambientes

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Sala de aula, onde houve a capacitação

Entrada do prédio para a sala de aula

Biblioteca, onde houve um encontro entre os alunos regulares e o nosso grupo

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Área externa do local

Entradas do restaurante

Área interna do restaurante

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Uma das refeições

Área externa da moradia dos estudantes

Área externa da nossa hospedagem, ficamos no primeiro pavimento

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Participantes

Participaram do curso 41 lideranças sindicais de 7 países:

país participantes áreas de atuação

México 11 Agropecuária; Campesinos; Agrícola

Panamá 9 Indústria de bebidas; Servidores Públicos; Central Sindical

Colômbia 7 Químicos; Bancários; Energia Elétrica; Educação

Chile 5 Refinaria; Manutenção Turnos

Argentina 4 Indústria de couro

Costa Rica 3 Ciências Médicas; Educação

Brasil 2 Força Sindical; Unidade Classista/Fortaleza

O país com menos representantes foi o Brasil, eu e o Emerson, da Unidade Classista, ligada à CTB, e que presta serviços ao Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Fortaleza e região metropolitana, dividimos o mesmo quarto. A organização do curso buscou colocar os participantes de cada país juntos.

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Conteúdos

Nos 10 dias de atividades formativas tivemos um amplo panorama político sobre temas da atualidade e apanhados históricos sobre a relação dos EUA com Cuba, bem como pudemos trocar informações e impressões com os colegas dos outros países sobre a realidade vivida hoje pelos sindicalistas nestes locais.

Nas transcrições das aulas foram alocados alguns textos pesquisados posteriormente, com o intuito de complementar e alimentar as informações, alocados em notas do rodapé e colocados em destaque, dentro de.um quadro. Esses temas foram abordados em sala de aula, mas não houve tempo para um aprofundamento, por isso as notas são sobre os assuntos que considerei mais pertinentes para complementar as informações.

Abaixo, o cronograma das aulas:

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Semana 1

Primeiro dia – 14 novembro – Tema 1: A crise do capitalismo e seu impacto na sustentabilidade do planeta nas atuais condições.

O primeiro dia foi coordenado pelas Profªs Bertha e Delia. Houve uma apresentação geral rápida de cada um dos participantes e a distribuição das “tarjetas” identificando cada um pelo primeiro nome e o país de origem.

Iniciaram falando sobre a realidade dos países do terceiro mundo e a dívida “eterna”, um neologismo com a palavra “externa”, já que é impagável pela maioria dos países e os coloca sob a tutela das organizações econômicas mundiais, basicamente,

americanas. Esses agentes econômicos são parasitários, pois retiram dos países as condições para que mudem esse padrão, precarizam as relações de trabalho e estimulam a má distribuição de renda.

Os países da América Latina são muito ricos de maneira absoluta, mas, contraditoriamente, mais pobres na redistribuição dessa riqueza. Hoje em dia as economias estão interconectadas e os países com grandes riquezas naturais estão sofrendo ataques especulativos, há uma mercantilização da sociedade de forma generalizada.

O setor especulativo tem mais valor que o setor produtivo nos dias atuais. Há um processo de rentização na América Latina, a crise é sistêmica, ideológica e pontual.

Assim como no Brasil, há um movimento de retorno da direita, os direitos humanos e as relações de trabalho vem sofrendo inúmeras perdas e perseguições.

Essa crise é gerada pelo neoliberalismo, um projeto permanente de ajustes destrutivos e restritivos para a grande massa e de escassez de investimentos sociais, como na saúde e educação. O estado torna-se refém e está a serviço das grandes empresas transnacionais. É considerado fraco, ineficiente, inapto, deficiente e, assim, quem presta os ‘melhores serviços’ é o mercado, este sim, segundo essa linha de pensamento, apto e eficiente. Dessa maneira, através das concessões e privatizações, o mercado vai assumindo posições econômicas que ditam as regras da economia dos países aonde os governantes se rendem a essa “tirania econômica”.

Há grandes desproporções que se produzem na economia como resultado do agravamento ao máximo das contradições do capitalismo e as soluções costumam ser violentas e pontuais.

A maioria absoluta dos trabalhadores e a capacidade produtiva de seu trabalho são um exército industrial de reserva, a serviço de e quando os rentistas precisarem.

Crescem o desemprego e a pobreza de forma geral. Há um distanciamento desproporcional entre as diferentes áreas econômicas, de produção e de consumo. Cresce a riqueza social, mas diminui a proporcionalidade na distribuição dessa riqueza.

Profªs Bertha e Delia

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As principais consequências da atual crise tem dois aspectos:

Global: a crise se manifesta a nível mundial, afeta a todos os países, fundamentalmente os países subdesenvolvidos. Como as economias estão interconectadas se produz um efeito dominó. O desenvolvimento científico-técnico está em função da economia financeira especulativa em detrimento da economia real, que é a que cria riqueza.

Estrutural: se manifesta como um processo de desajuste prolongado do sistema capitalista, em suas relações de produção, distribuição, troca, consumo, forças produtivas, divisão social do trabalho e a revolução científico-técnico.

O caráter sistêmico da crise se materializa no conjunto de inter-relações complexas, que se manifestam ente os diferentes tipos de crises, entre elas a econômica, financeira especulativa, energética, ambiental, alimentícia, migratória, social, ideológica, moral entre outras. Contempla a possibilidade de que seja revertida a curto ou médio prazo.

O padrão de acumulação neoliberal que lidera a economia global tem uma forte incidência predadora na economia mundial. Hoje há pouco mais de 140 empresas no mundo que dominam mais de 50% da economia mundial.

O neoliberalismo é um processo de reconvenção ideológica e econômica que visa modificar os modelos de atuação entre o estado e o capital. O mercado é o senhor que dita as regras e que conduz a economia.

Prega a máxima privatização, concentração, centralização, apropriação capitalista e internacionalização.

Isto tem provocado nas economias onde é implantado um ritmo menor de crescimento econômico e um maior crescimento especulativo. Esse modelo visa a máxima desregulamentação que provoca uma anarquia no mercado. Exigem a maior liberdade para o movimento de capital gerando uma grande especulação financeira.

Abaixo, algumas informações acerca das escolas econômicas que norteiam o pensamento atual.

1Liberalismo econômico: surgiu por volta do século XVIII, tendo como o principal teórico e pai da teoria do liberalismo econômico Adam Smith. Afirmou em seu livro “A Riqueza das Nações” as principais ideias do liberalismo econômico, onde a prosperidade econômica e a acumulação de riquezas são concebidas através do trabalho livre, sem nenhum agente regulador ou interventor. Para Smith, não eram necessárias intervenções na economia, visto que o próprio mercado dispunha de mecanismos próprios de regulação da mesma, a chamada “mão invisível”, que seria responsável por trazer benefícios para toda a sociedade, além de promover a evolução generalizada. Os liberalistas defendem a livre concorrência e a lei da oferta e da procura. Estes teóricos foram os primeiros a tratar a economia como ciência.

2Teoria Keynesiana: Conjunto de ideias que propunham a intervenção estatal na vida econômica com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego. As teorias de John Maynard Keynes tiveram enorme influência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre mercado. Acreditava que a economia seguiria o caminho do

1 http://brasilescola.uol.com.br/economia/liberalismo-economico.htm 2 http://www.economiabr.net/teoria_escolas/teoria_keynesiana.html

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pleno emprego, sendo o desemprego uma situação temporária que desapareceria graças às forças do mercado. O objetivo do keynesianismo era manter o crescimento da demanda em paridade com o aumento da capacidade produtiva da economia, de forma suficiente para garantir o pleno emprego, mas sem excesso, pois isto provocaria um aumento da inflação. Na década de 1970 o keynesianismo sofreu severas críticas por parte de uma nova doutrina econômica: o monetarismo. Em quase todos os países industrializados o pleno emprego e o nível de vida crescente alcançados nos 25 anos posteriores à II Guerra Mundial foram seguidos pela inflação. Os keynesianos admitiram que seria difícil conciliar o pleno emprego e o controle da inflação, considerando, sobretudo, as negociações dos sindicatos com os empresários por aumentos salariais. Por esta razão, foram tomadas medidas que evitassem o crescimento dos salários e preços, mas a partir da década de 1960 os índices de inflação foram acelerados de forma alarmante. A partir do final da década de 1970, os economistas têm adotado argumentos monetaristas em detrimento daqueles propostos pela doutrina keynesiana; mas as recessões, em escala mundial, das décadas de 1980 e 1990 refletem os postulados da política econômica de John Maynard Keynes.

3Neoliberalismo: Podemos definir o neoliberalismo como um conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país. Surgiu na década de 1970, através da Escola Monetarista do economista Milton Friedman, como uma solução para a crise que atingiu a economia mundial em 1973, provocada pelo aumento excessivo no preço do petróleo.

Características do Neoliberalismo (princípios básicos): - mínima participação estatal nos rumos da economia de um país;

pouca intervenção do governo no mercado de trabalho; - política de privatização de empresas estatais; - livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização; - abertura da economia para a entrada de multinacionais; - adoção de medidas contra o protecionismo econômico; - desburocratização do estado: leis e regras econômicas mais simplificadas para facilitar

o funcionamento das atividades econômicas; - diminuição do tamanho do estado, tornando-o mais eficiente; - posição contrária aos impostos e tributos excessivos; - aumento da produção, como objetivo básico para atingir o desenvolvimento

econômico; - contra o controle de preços dos produtos e serviços por parte do estado, ou seja, a lei

da oferta e demanda é suficiente para regular os preços; - a base da economia deve ser formada por empresas privadas; - defesa dos princípios econômicos do capitalismo.

Críticas ao neoliberalismo: Os críticos ao sistema afirmam que a economia neoliberal só beneficia as grandes potências econômicas e as empresas multinacionais. Os países pobres ou em processo de desenvolvimento (Brasil, por exemplo) sofrem com os resultados de uma política neoliberal. Nestes países, são apontadas como causas do neoliberalismo: desemprego, baixos salários, aumento das diferenças sociais e dependência do capital internacional.

3 http://www.suapesquisa.com/geografia/neoliberalismo.htm

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Pontos positivos Os defensores do neoliberalismo acreditam que este sistema é capaz de proporcionar o

desenvolvimento econômico e social de um país. Defendem que o neoliberalismo deixa a economia mais competitiva, proporciona o desenvolvimento tecnológico e, através da livre concorrência, faz os preços e a inflação caírem.

Exemplos de governos que adotaram políticas econômicas neoliberais nos últimos anos:

- No Brasil: Fernando Collor de Melo (1990 - 1992) e Fernando Henrique Cardoso (1995 - 2003)

- No Chile: Eduardo Frei (1994 - 2000), Ricardo Lagos (2000 - 2006) e Michelle Bachelet (2006 - 2010)

- Nos Estados Unidos: Ronald Reagan (1981 - 1989), George Bush (1989 - 1993) e George W. Bush (2001- 2009)

- No México: Vicente Fox Quesada (2000 - 2006) - No Reino Unido: Margaret Thatcher (1979 - 1990)

A Profª Bertha também indicou o documentário 4A Corporação, que fala sobre a criação das grandes corporações ao redor do mundo, seu funcionamento, objetivos, causas e efeitos, cujo link segue na nota de rodapé, a que interessar assisti-lo.

Profª Bertha

Anotações no quadro

.

4 https://www.youtube.com/watch?v=H8wwyIpvOtM

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Segundo dia – 15 novembro – Tema 2: O contexto latino americano e caribenho atual

Nesse dia tivemos três professores: Roberto Moreno, Elia e Leydis.

O Prof. Roberto ministrou conteúdo do período da manhã.

Iniciou a aula falando sobre o mundo atual: em conflito, contraditório, dinâmico e interdependente.

Na época, a eleição dos EUA já estava definida, confirmando a preocupação com a possível vitória de Donald Trump, como de fato se deu. Havia muitas dúvidas sobre o pensamento deste possível governo e que poderia haver um impacto global se fossem colocadas em prática algumas das ideias colocadas por ele durante e eleição.

Há um boom da ideologia neoliberal ao redor do mundo e, particularmente, na América Latina. Para a implantação do neoliberalismo, estão sendo implementadas ações econômicas, políticas, culturais, educacionais e sociais tendo os agentes públicos (governos) como fiadores dessa mentalidade.

Há um profundo processo de transnacionalização, com o mundo sendo “repartido” territorial e economicamente entre as grandes corporações e pelos interesses governamentais das grandes potencias mundiais.

Também citou o conflito sírio, que há atores internos e regionais que ameaçam a paz, como os interesses de Israel, Arábia Saudita e Irã; assim como os interesses das grandes potencias, Rússia e EUA, que estão em lados opostos e podem dirimir ou ampliar os conflitos na região, cada um defendendo visões políticas diferentes. Mais de 5 milhões de pessoas fugiram da Síria ou foram expulsas pelos conflitos. É um problema interno que afetou a vários outros países (a maioria fugindo para a Europa). Hoje, tudo está interconectado, para o bem e para o mal.

Da década de 90 para cá houve uma mudança nas maneiras de enxergar o mundo, há uma visão “multipolar”, ou seja, a organização geopolítica mudou, há distintos centros de poder exercendo influências no campo político, econômico e militar. Houve um período, durante a guerra fria, que a visão era “bipolar”, já que havia uma divisão ‘clara’ ao redor do mundo capitaneada pelos EUA e a Rússia, entre o capitalismo e o comunismo, sendo que a vitória do primeiro sobre o segundo se deu em escala global. Já a visão dos EUA é unipolar, pois enseja uma hegemonia mundial.

Há a formação e consolidação de centros de poder, através de guerras, poder econômico e político, como nos conflitos da região dos Balcãs, entre Rússia e a Ucrânia, por exemplo.

Nas relações internacionais há uma multilateralidade, ou seja, os países tem se unido para definir questões de interesse comum. Nesse sentido há a necessidade da ONU redefinir e confirmar o seu papel no mundo.

Prof. Roberto Moreno

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Hoje, os EUA são a única potência com capacidade de modelar o mundo de acordo com os seus interesses e objetivos.

A crise que tem se estabelecido ao redor do globo trouxe uma supremacia da direita sobre a esquerda. Em toda a crise sempre há ganhadores. Assim como há um importante papel dos meios de comunicação que alimentam e “fabricam” inimigos em comum que servem de alvos para a massa, ofuscando os reais interesses por trás desse movimento.

Nas palavras do presidente cubano Raul Castro: “...injusta e insustentável ordem

internacional, a crise econômica global, a política agressiva da Organização do Tratado do

Atlântico Norte, ameaças e consequências de guerras não convencionais e a tentativa de uma

nova partilha do mundo.”

O sistema capitalista saiu-se vitorioso sobre o regime socialista depois do fim da guerra

fria, há um domínio da direita sobre as ideologias de esquerda; a doutrina neoliberal não está

preocupada com as questões sociais. Assim como há um capitalismo periférico, onde o papel

do estado se debilita e há um caráter repressivo sobre a população. Há uma demonização do

socialismo e dos partidos de esquerda, que nem sempre simpatizam totalmente com os ideais

socialistas, e levantamento de muros (reais e simbólicos), colocando no mesmo plano a vitória

sobre o fascismo e o comunismo, como se fossem a mesma coisa.

O braço do poder capitalista é a grande mídia, que defende os interesses comuns de

dominação. Há uma concepção de mundo totalizadora, de acordo com a ideologia do

“vencedor”, cujo objetivo é subverter todo progresso de acordo com a visão política, cultural e

social deste, de acordo com os interesses do grande capital: o lucro.

Na década de 1990 os EUA começam impor a política neoliberal em todo o continente, iniciado com o Consenso de Washington. 5O Consenso de Washington foi a forma como ficou popularmente reconhecido um encontro ocorrido em 1989, na capital dos Estados Unidos. Nesse encontro, realizou-se uma série de recomendações visando ao desenvolvimento e à ampliação do neoliberalismo nos países da América Latina. Essa reunião foi convocada pelo Institute for International Economics, sob o nome de “Latin Americ Adjustment: Howe Much has Happened?”, e envolveu instituições e economistas de perfil neoliberal, além de alguns pensadores e administradores de países latino-americanos. Em linhas gerais, não foi preconizada nenhuma medida “inédita” durante o Consenso de Washington, que recebeu esse nome do economista John Willianson em função de sua ampla aceitação pelos países da América Latina, exceto, até então, Brasil e Peru. As ideias desse encontro – tidas como um “receituário”, e não como uma imposição – já eram proclamadas pelos governos dos países desenvolvidos, principalmente EUA e Reino Unido, desde as décadas de 1970 e 1980, quando o Neoliberalismo começou a avançar pelo mundo. Além disso, instituições como o FMI e o Banco Mundial já colocavam a cartilha neoliberal como pré-

5 http://brasilescola.uol.com.br/geografia/consenso-washington.htm

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requisito necessário para a concessão de novos empréstimos e cooperação econômica. O objetivo dos pontos dessa reunião, segundo o próprio John Willianson, era o de “acelerar o desenvolvimento sem piorar a distribuição de renda”. Dessa forma, as recomendações apresentadas giraram em torno de três ideias principais: abertura econômica e comercial, aplicação da economia de mercado e controle fiscal macroeconômico.

Dentre as premissas básicas colocadas no Consenso de Washington, podemos destacar: a) Disciplina fiscal, em que o Estado deveria cortar gastos e eliminar ou diminuir as suas dívidas, reduzindo custos e funcionários. b) Reforma fiscal e tributária, em que o governo deveria reformular seus sistemas de arrecadação de impostos a fim de que as empresas pagassem menos tributos. c) Privatização de empresas estatais, tanto em áreas comerciais quanto nas áreas de infraestrutura, para garantir o predomínio da iniciativa privada em todos os setores. d) Abertura comercial e econômica dos países, diminuindo o protecionismo e proporcionando uma maior abertura das economias para o investimento estrangeiro. e) Desregulamentação progressiva do controle econômico e das leis trabalhistas. Apesar de o Brasil ter sido um dos poucos países que não aceitaram de imediato essas medidas, foi um dos que mais rapidamente as aplicou, em um processo que conheceu o seu ápice ao longo da década de 1990. A principal ação do governo brasileiro nesse sentido foi a implantação da política de privatizações, em que empresas estatais dos ramos de energia, telecomunicações, da mineração e outros foram transferidas para a iniciativa privada. O Consenso de Washington tornou-se, dessa forma, uma verdadeira “receita de bolo” para a execução das premissas neoliberais em toda a região latino-americana, que acatou as suas ideias principalmente pela pressão e influência exercidas pelo governo dos Estados Unidos e por instituições como o FMI, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD). Grupos e movimentos de esquerda direcionam frequentes críticas ao consenso, sobretudo por considerarem que as suas ideias teriam sido direcionadas para atender aos interesses norte-americanos em toda América Latina, além de beneficiar as elites locais, favorecendo a concentração de renda nos países da região.

Mas, qual a importância da América Latina (AL) para os EUA?

Há vários motivos, como a apropriação econômica, através de tratados econômicos

vantajosos para “eles” - como processo de dominação -, e a apropriação dos recursos naturais,

que são imensos em toda a região e tem um valor intrínseco incalculável. A aproximação com a

AL faz parte do projeto de dominação global, que se passa também através da dominação

cultural, os filmes de Hollywood são um exemplo, pois vendem o “estilo de vida americano”.

Os EUA tem interesses geopolíticos com relação à AL e Caribe:

Buscam uma recomposição de sua hegemonia regional no contexto mundial;

Querem ter maior influência e ser o principal interlocutor na região;

Desejam revitalizar a Organização dos Estados Americanos (OEA);

Procuram debilitar os processos de integração e conciliação na AL e Caribe;

Corroem a autonomia regional;

Tem fomentado alianças com forças da direita;

Priorizam as relações com governos afins ideologicamente;

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Fortalecem alianças estratégicas regionais tuteladas;

Continuam o processo de ingerência nos assuntos internos dos países da região;

Os interesses dos EUA na região são pelo controle das fontes de energia, dos recursos naturais, dos minerais estratégicos, da biodiversidade, das rotas comerciais, do espaço aéreo e marítimo;

Dessa maneira podem minimizar os efeitos negativos da crise econômica e financeira internacional sobre a nação americana;

Competir a nível global em melhores condições com amigos, aliados, sócios, competidores e inimigos;

Incorporar a região à sua estratégia de controle global;

Continuar predominando como Estado-centro do sistema imperialista mundial.

Os EUA tem intervido em os todos os países da América Latina e Caribe, no

sentido de fazer prevalecer os seus interesses hegemônicos (ao lado, os nomes de todos

os 33 países da AL e Caribe). A América Latina serve para limitar e demonstrar a

vulnerabilidade dos EUA. Cuba é um exemplo desse enclave, que não se dobrou à

vontade deles e, apesar de todo o embargo sofrido nos últimos 50 anos, continuou fiel

aos seus ideais e conseguiu ganhos imensos em áreas como saúde e educação, mesmo

com esse embate constante. A aproximação que se dá agora é vista com cautela pelo

governo cubano, que não se ilude com as possibilidades de sucesso... ainda mais agora,

com Trump no poder.

No período da tarde tivemos aula com a Profª Elia Conceição com o apoio da Prof

Leydis.

Há muita diversidade entre os

países da AL e Caribe, mas há também

muita unidade e motivos para

interação e solidariedade. Quase

todos os países falam a língua

espanhola, com exceção do Brasil.

Passamos de colônia de Portugal

(Brasil) e Espanha (os outros países)

para colônia dos “EUA”... como somos

vistos por eles.

O caráter colonizador americano vem ‘camuflado em boas intenções’. Foi assim

com a Doutrina Monroe:

Profª Elia (em pé) e Profª Leydis (sentada)

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6Em 1823, quando o presidente dos EUA na época, James Monroe, realizou um

discurso oficial no senado estadunidense, dizendo que pretendia postar a posição dos

EUA enquanto liderança continental capaz de garantir a soberania das nações latino-

americanas frente às potências europeias. Entre outros princípios, essa doutrina

defendia que nenhuma nação americana poderia ser recolonizada. Além disso, pautava

a autonomia econômica dessas mesmas nações, assinalando que a Europa não poderia

interferir nos negócios estabelecidos pelas nações da América. Um dos primeiros

episódios que indicaram essa prática política aconteceu quando os EUA declararam

guerra à Espanha alegando ser contrários à colonização de Cuba e Porto Rico. Em

fevereiro de 1898, uma embarcação norte-americana explodiu no porto de Havana,

capital de Cuba. A imprensa dos EUA logo se mobilizou em torno de uma campanha

que atribuiu o fato às autoridades espanholas. Valendo-se de tais suspeitas, os EUA

enviaram tropas militares para uma guerra que se deflagrou entre 1899 e 1901. Além

de garantir a independência de Cuba, a vitória estadunidense sobre os espanhóis ainda

rendeu a conquista sobre as Filipinas, a ilha de Guam, e da região de porto Rico. A

recém independente nação cubana ainda teve que aceitar a incisão de um artigo em

sua constituição conhecido como Emenda Platt. Nela, os EUA teriam o direito de

preservar uma base militar na região de Guantânamo e o direito de intervir nos

assuntos políticos cubanos. Ao longo do século XX, o nada coerente princípio de

autonomia da Doutrina Monroe fora manchado com mais uma ação imperiosa dos

EUA. Em 1903, os EUA ajudaram militarmente o Panamá a conquistar sua

independência em relação à Colômbia. Em troca, barganharam o direito de construir

um canal que ligaria os oceanos Atlântico e Pacífico. O canal, que renderia grandes

quantias por sua importância econômica e geográfica, ficou durante décadas sendo

exclusivamente administrado pelos EUA. Dessa maneira, o discurso de James Monroe

(onde defendia a “América para os americanos”) parecia reafirmar uma perspectiva

que olhava positivamente para a ação dos EUA. Ao longo do século XX, o

intervencionismo ganhou novas interpretações como o Corolário Roosevelt ou o

princípio de guerra preventiva, defendido por George W. Bush.

Panorama da América Latina e Caribe.

A América Latina é composta hoje por 33 países; possui uma superfície territorial

de 21.069.501 km² e quase 7625 milhões de habitantes (um gigantesco mercado

consumidor).

O território é rico em recursos naturais, como o petróleo, gás e minerais de todo

o tipo.

Possui cerca de 20% das reservas mundiais de petróleo e gás.

6 http://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/doutrinamonroe.htm

7 https://nacoesunidas.org/numero-de-habitantes-na-america-latina-deve-chegar-a-625-milhoes-em-meados-de-2016-

segundo-cepal/

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Na região estão localizados 7 dos 10 principais produtores de minerais

estratégicos do mundo.

Produz alimentos para saciar a fome de mais de um milhão e seiscentas mil

pessoas.

Conta com cerca de metade da água doce do mundo.

Possui 40% da biodiversidade global, 46% das florestas tropicais; 24% de

florestas e savanas e 29% de áreas protegidas.

Os processos eleitorais hoje na AL são condicionados à precariedade da democracia representativa que, no fundo, representam os interesses do capital em detrimento da sociedade.

Há uma predominância do capital financeiro transnacional, um esgotamento dos recursos naturais e uma economia reprimida; bem como a desarticulação dos trabalhadores num sistema que não resolve a contradição entre capital e trabalho.

Dessa maneira, há uma dificuldade para pensar um processo de integração entre os países da AL, com tantos problemas internos vividos pelas nações latino-americanas no momento.

Foi colocado que está em curso um novo modelo de “ocupação” que não necessita de declarações de guerra, nem de armamentos ou derramamento de sangue. É o chamado “golpe suave”.

Etapas do golpe suave:

1. Primeira fase: se realizam ações para gerar um clima de mal estar interno. 2. Segunda fase: campanhas em defesa da liberdade de imprensa e dos direitos

humanos. Além das ações em cursos contra o governo. 3. Terceira e quarta fases: se concentram em promover manifestações violentas e

protestos nas ruas, com a consequente ignorância e ameaça para as instituições. Tudo isso visando uma operação de guerra psicológica e a desestabilização do governo para criar um clima de ingovernabilidade.

4. Fase final: focada em forçar a renúncia do presidente através de uma intensificação dos tumultos nas ruas para controlar as instituições e preparar o terreno para uma intervenção militar (ou não, já que os interventores podem ser outras forças, como no caso do Brasil), enquanto se desenvolve uma guerra civil prolongada e se atinge o isolamento internacional do país (aqui não chegamos a esse ponto).

Imediatamente os participantes do curso remeteram ao que aconteceu no Brasil para ilustrar o exposto acima. Independente da visão de cada um dos lados dentro da crise que se instaurou em nosso país (golpe ou não golpe), é inegável que as etapas colocadas acima se encaixam dentro dessa premissa.

O importante dessa questão é salientar que as armas utilizadas para se chegar ao poder

hoje são bem diferentes das usadas no passado e mais sofisticadas, tanto técnica quanto

ideologicamente. O golpe militar hoje é de um novo tipo. Pode-se colocar um civil no poder e

dar-lhe um verniz democrático. Estamos em tempos da guerra da quarta geração.

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Para entender melhor o que significa isso, anexei a matéria abaixo falando sobre o

tema, pois tem muito a ver com a discussão promovida no curso em Cuba.

8O termo guerra de quarta geração vem sendo empregado para designar o conflito

multidimensional, envolvendo ações em terra, no mar, no ar, no espaço exterior, no espectro

eletromagnético e no ciberespaço. Nesse novo contexto estratégico, o "inimigo" pode não ser

um Estado organizado, mas um grupo terrorista ou outra organização criminosa qualquer. Mas

o que significa exatamente guerra de quarta geração, e quais foram (ou são) as três primeiras

gerações da guerra? Em última análise, a guerra de quarta geração (G4G) significa a perda,

pelo Estado, do monopólio dos conflitos armados. Este monopólio resultou do Tratado de

Westfália de 1648, que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos. A partir daquele tratado, que

também marcou o fim das guerras privadas e o declínio das tropas de mercenários,

desenvolveram-se os modernos Estados nacionais soberanos - com seus Exércitos e suas

Marinhas permanentes - e as várias gerações de conflitos interestatais, assim como as relações

internacionais na forma que conhecemos.

A guerra de primeira geração (G1G), que perdurou da segunda metade do século XVII

até meados do século XIX, caracterizou-se pela rigidez das táticas e formações lineares, em

terra ou no mar.

A Revolução Industrial tornaria tais métodos de combate obsoletos, dando origem à

guerra de segunda geração (G2G), a qual incorporou o poder de fogo dos novos armamentos,

produzidos em massa pelas indústrias.

A evolução da G2G culminou com a Primeira Guerra Mundial. Durante aquele conflito,

foram empregados os instrumentos que permitiriam o desenvolvimento da guerra de terceira

geração (G3G), como o carro de combate, o submarino e a aviação. A G3G mudaria a

orientação das táticas militares, do poder de fogo para a combinação de movimento e fogo -

isto é, do atrito para a manobra.

Desde a Segunda Guerra Mundial, as táticas e doutrinas da G2G e da G3G coexistem

nas Forças Armadas de quase todos os países do mundo. O Brasil também assimilou tais

ensinamentos, por influência estrangeira (inicialmente francesa e posteriormente norte-

americana) e pela experiência de combate das Forças Armadas brasileiras durante aquele

conflito.

Os conflitos periféricos do período da Guerra Fria levariam ao desenvolvimento da

guerra de quarta geração (G4G). O surgimento das armas nucleares em 1945 contribuiu para

tornar a guerra entre grandes potências demasiadamente perigosa. Desde então, os conflitos

locais ou regionais (envolvendo inclusive atores não estatais) vêm proliferando e tendem a ser

8 http://www.reservaer.com.br/est-militares/guerra-de-quatro-geracoes.html (Eduardo Italo Pesce é Especialista em Relações

Internacionais e professor no Centro de Produção da UERJ. Iberê Mariano da Silva é General-de-Brigada Engenheiro Militar do

Exército Brasileiro, na reserva)

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cada vez mais comuns.

O terrorismo dito "fundamentalista" é uma das manifestações de tal fenômeno. Os

ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001, constituem um

ponto de virada fundamental, na trajetória dos conflitos de quarta geração. Desde então, o

mundo tem vivido uma espécie de "conflito de baixa intensidade permanente", sujeito a surtos

periódicos de média ou alta intensidade.

O terrorismo internacional é uma ameaça a ser combatida pelos órgãos de inteligência

e segurança dos Estados, e não pelo emprego de força militar convencional. As invasões do

Afeganistão e do Iraque, por coalizões lideradas pelos Estados Unidos, são dois exemplos de

emprego mal sucedido das Forças Armadas contra ameaças terroristas (reais ou não), que

resultaram num agravamento do problema.

Ao invadir países periféricos e destruir seu Estado, eliminando o precário equilíbrio de

forças interno, a superpotência hegemônica e seus aliados estabelecem o caos no território

desses países e criam condições propícias à proliferação de grupos insurgentes de quarta

geração. O Estado, ainda que em condições precárias de funcionamento, deve ser preservado -

pois é uma barreira entre a civilização e a barbárie.

A destruição de um Estado pode ser conseguida - intencionalmente ou não - por outros

meios que não os militares. A fim de "conquistar" um país, é possível destruir sua economia e

seu sistema político, assim como sua coesão interna e sua identidade cultural, sem

necessidade de empregar força militar.

No contexto da G4G, os ataques à segurança de um Estado podem partir de outros

Estados, mas também de conglomerados multinacionais, organizações terroristas ou cartéis de

narcotraficantes. Desse modo, uma coalizão de facções ideológicas ou criminosas - com

ramificações internas e externas - poderia "declarar guerra" ao Estado brasileiro. Será que o

Brasil estaria preparado para tal possibilidade?

Este tipo de conflito é uma guerra sem escrúpulos - na qual o alvo pode ser qualquer

um, não importando as consequências. Consequentemente, é uma guerra sem ética e sem

honra, baseada frequentemente na covardia. É também uma guerra sem "critério de parada" -

pois nela não existe convicção de derrota, nem há ninguém para capitular.

Finalmente, a G4G é uma guerra sem limites - na qual perdem validade prática as

Convenções de Genebra e as normas da Organização das Nações Unidas (ONU), e não há

ninguém (leia-se, nenhum Estado) para assumir a responsabilidade pelos excessos cometidos.

Como diria Hobbes, é a "guerra de todos contra todos".

Pela conversa que tivemos em sala de aula, a maioria dos países da América Latina não

estão preparados para este tipo de guerra. Outro ponto colocado pelo grupo é que faz parte

desse conflito a guerra de informações, onde são ‘marteladas’ notícias que abordam somente o

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lado que interessa aos ‘dominadores’, fazendo com que a população, de forma geral, compre a

ideia que está sendo veiculada e vendida como “verdade”.

Num segundo momento, falamos sobre os desafios do movimento sindical latino-

americano, tendo esse contexto visto até aqui:

O primeiro desafio para o sindicalismo latino-americano é renovar-se

ideologicamente para enfrentar a nova realidade latino-americana;

O sindicalismo sub-regional, sem abandonar suas posições ideológicas

diferentes, deve praticar a unidade de ação e acentuar a unidade latino-

americana;

O sindicalismo latino-americano deve deixar de considerar os assuntos

internacionais como patrimônio dos estados e governos e participar no diálogo

norte-sul a partir de uma perspectiva de união;

Aumentar a sindicalização dos trabalhadores, pois uma baixa taxa de

sindicalização é o principal obstáculo para que o movimento sindical possa

desempenhar um papel decisivo como instrumento de incorporação dos

trabalhadores para a luta política e democrática;

A incorporação da mulher trabalhadora para a atividade sindical é, além de uma

necessidade política laboral, também nacional-cultural;

O movimento sindical latino-americano não poderá desempenhar um papel

centralizador nas mobilizações populares, se não desenvolver e implementar

políticas de organização nos setores informais da economia, que tendem a

crescer em épocas de recessão como agora;

Deve reafirmar seu caráter de classe, mas deixar de ser “reivindicativo” e passar

a ser socialmente 9“concertativo” e participativo na gestão de negócios para

conquistar novas posições de força (sindicalismo social);

O movimento sindical deve guiar sua prática diária inserindo estratégias globais

de desenvolvimento econômico, mas forçando o capital a reconhecer que o

trabalho assalariado gera o direito de participar na gestão dos negócios,

resguardando o papel histórico dos sindicatos como organizador da luta dos

trabalhadores contra a exploração capitalista e por uma sociedade sem

explorados nem exploradores.

Conclusões:

A grande lição e o grande desafio para as alternativas de luta para deslocar o neoliberalismo está em conseguir mudanças estruturais que permitam uma real inclusão social e equidade para nossos povos, que se alcancem processos verdadeiramente democráticos.

9Ato ou efeito de concertar ou conciliar.Concertação social: Diálogo ou discussão entre o governo, as organizações sindicais e as

organizações empresariais sobre assuntos sociais e laborais, com o .objetivo de estabelecer acordos ou consensos. "concertação", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/concerta%C3%A7%C3%A3o

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Nesse sentido temos o grande desafio de defender os governos populares e democráticos que levaram a cabo processos de mudança revolucionários.

O grande desafio é construir e reconstruir os sujeitos e atores revolucionários para conseguir a emancipação social e política na realidade do século XXI.

Encontro com estudantes.

Após a aula, tivemos um encontro com os alunos regulares da Escola Superior Ñico

Lopez, onde são formados os jovens quadros do partido.

Nessa, nós fizemos perguntas sobre o cotidiano deles e eles nos perguntaram sobre a

realidade em nossos países.

Todos defendem o regime socialista implantado em Cuba, tem um profundo respeito e

admiração por Fidel e pretendem servir ao país. Para isso estão sendo preparados. São jovens

que tem por volta de 20 anos. Há uma paridade entre homens e mulheres. O curso é voltado

para a formação cidadã e política para os quadros do partido.

De nossa parte, alguns membros do grupo falaram rapidamente sobre a realidade de

seus países hoje. Pelo Brasil o Emerson explanou rapidamente sobre o momento político e o

processo de impeachment, no qual eles demonstraram grande curiosidade. Foi uma boa troca

de experiências.

Encontro entre os participantes do curso e os alunos regulares da Escola Ñico Lopez

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Terceiro dia – 16 de novembro – Tema 3: As lutas de classe, o poder e a alternativa anticapitalista para o empoderamento dos trabalhadores nas circunstâncias atuais da América Latina e Caribe.

A aula foi ministrada pelas Profªs Kenia (período da manhã) e Leydis (período da tarde).

A Profª Kenia iniciou a aula com um exercício muito interessante.

Distribuiu um pedaço papel para cada um com o desenho de uma “escada” (‘anexado’

abaixo), e solicitou que cada um colocasse um X no local onde se sente na sociedade; qual seu

lugar?

Eu coloquei o X no degrau do meio.

Depois ela perguntou quantos

haviam colocado o X na parte de baixo da

escada. Poucos levantaram as mãos.

Perguntou quantos haviam

colocado na parte do meio. Todos os

outros levantaram as mãos, já que

ninguém havia marcado a parte superior

da escada.

Dessa forma, ela dividiu a turma

em dois grupos e cada um discutiu entre

seus membros sobre as razões pelas quais

colocou a marca nesses pontos.

Depois, representantes de cada grupo apresentaram os seus resultados, abaixo um

resumo:

Profª Kenia

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Equilíbrio

Ser parte

Processo

Caminho

Mudança mirando para cima

Representação na mediação entre trabalhadores e patronal

Pronto para a vida

Classe média com acesso aos bens necessários para a subsistência

Parte da esperança

Interlocução entre as várias instâncias

Rumo ao topo (ascensão)

Após as apresentações, houve o processamento por parte da Professora e o

compartilhamento entre o grupo.

As condições econômicas, políticas e sociais são características gerais que determinam a

noção de classe social. Ao nos colocarmos nos degraus em um determinado ponto, estamos

apontando em qual posição nos sentimos socialmente. O fato de a grande maioria ter anotado

nesse lugar demonstra que há uma consciência de classe, no sentido de nos colocarmos no

meio, como intermediários entre quem está nos degraus de cima e os de baixo.

Há várias formas de luta de classes e a sua evolução depende de uma consciência

político-social. Nesse sentido, a missão histórica dos trabalhadores é lutar para conquistar

melhores condições sociais. Uma das vias é assumindo poderes políticos.

As classes sociais são grandes grupos humanos que se diferenciam por alguns fatores:

O lugar que ocupam em um sistema de produção social historicamente

determinado;

Por relações que são relativos aos meios de produção, na maioria das vezes

referendados pelas leis;

Pelo papel na organização social do trabalho e, portanto, pelo modo e proporção

como percebem a parte da riqueza de que dispõem;

São grupos de homens e mulheres nos quais alguns podem atribuir-se o trabalho

de outros, graças à diferença do lugar que ocupam em um determinado sistema

da economia social.

As formas históricas e gerais da luta de classes tem um caráter econômico, político e

ideológico.

Não há uma teoria ‘acabada’ sobre as classes sociais, mas a luta da humanidade é a luta

das classes sociais, a partir do momento em que passou a haver “juízo de valor” sobre as coisas,

assim como a propriedade e a separação entre o coletivo e o individual.

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Quando nos vemos como grupo, todos nos vemos em grupos sociais. Os temas a que

nos atemos são relacionados à economia, consciência política, direção e representação que são

inerentes a todos os atores sociais da AL. Somos representantes e parte desse processo de

representação.

Há uma premente necessidade de empoderamento da classe trabalhadora, que não se

vê como “classe”, não há unidade.

Somos diferentes e devemos viver com as diferenças e focar naquilo que nos une.

O capitalismo sem os trabalhadores não é nada. Há uma constante contradição entre os

meios de propriedade privada e os meios de produção. Um depende do outro, mas os

trabalhadores não reconhecem o seu poder e são intimidados e rechaçados nas lutas por

melhores condições de vida. É preciso construir uma nova ordem frente ao capitalismo, afinal,

todos os trabalhadores tem uma condição comum que nos une: a exploração da força trabalho

pelo capital.

Origem das classes, quando surge o conceito?

Há duas tendências, uma diz que esse conceito sempre existiu e outra que tem uma

origem histórica, em determinado momento da sociedade. A Profª fez um rápido apanhado

sobre os pensadores que tiveram como tema essa questão.

Abaixo, um breve estudo sobre cada um deles: Max Weber, Karl Marx, Friedrich Engels e

Émile Durkheim.

10Encontrar uma definição de classe social não é tarefa nada fácil, ainda mais quando o

tema não gera uma definição consensual entre estudiosos das mais diferentes tradições

políticas e intelectuais. Porém, uma coisa é certa! Todos estão de acordo com o fato de as

classes sociais serem grupos amplos, em que a exploração econômica, opressão política e

dominação cultural resultam da desigualdade econômica, do privilégio político e da

discriminação cultural, respectivamente.

Os principais conceitos de classe na tradição do pensamento social são: classe social e

luta de classes de Karl Marx e estratificação social de Max Weber. De modo geral, no cotidiano,

o cidadão comum tende a confundir as definições de classe social.

A concepção de organização social de Karl Marx e Friedrich Engels se baseia nas

relações de produção. Nesse sentido, em toda sociedade, seja pré-capitalista ou capitalista,

haverá sempre uma classe dominante, que direta ou indiretamente controla ou influencia o

controle do Estado; e uma classe dominada, que reproduz a estrutura social ordenada pela

classe dominante e assim perpetua a exploração.

Numa sociedade organizada, não basta a constatação da consciência social para a

10

http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/classe-social.htm

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manutenção da ordem, pois a existência social é que determina a consciência. Em outras

palavras, os valores, o modo de pensar e de agir em uma sociedade são reflexos das relações

entre os homens para conseguir meios para sobreviver. Assim, as relações de produção entre

os homens dependem de suas relações com os meios de produção e que, de acordo com essas

relações, podem ser de proprietário/não proprietário, capitalista/operário, patrão/empregado.

Os homens são diferenciados em classes sociais. Aqueles homens que detêm a posse dos

meios de produção apropriam-se do trabalho daqueles homens que não possuem esses meios,

sendo que os últimos vendem a força de trabalho para conseguir sobreviver. A luta de classes

nada mais é do que o confronto dessas classes antagônicas. Essa é a concepção marxista de

classe social.

Com o desenvolvimento do capitalismo industrial e na modernidade, a linguagem

comum confunde com frequência o uso do termo classe social com estrato social. Para Weber,

a estratificação das classes sociais é estabelecida conforme a distribuição de determinados

valores sociais (riqueza, prestígio, educação, etc.) numa sociedade, como: castas, 11estamentos

e classes.

Em Weber, as classes constituem uma forma de estratificação social, em que a

diferenciação é feita a partir do agrupamento de indivíduos que apresentam características

similares, como por exemplo: negros, brancos, católicos, protestantes, homem, mulher,

pobres, ricos, etc.

Em se tratando de dominação de classe, estabelecer estratos sociais conforme o grau

de distribuição de poder numa sociedade é tarefa bastante árdua, porque o poder sendo

exercido sobre os homens, em que uns são os que o detêm enquanto outros o suportam,

torna difícil considerar que esse seja um recurso distribuído, mesmo que de forma desigual,

para todos os cidadãos. Assim, as relações de classe são relações de poder, e o conceito de

poder representa, de modo simples e sintético, a estruturação das desigualdades sociais. Para

Weber, o juízo de valor que as pessoas fazem umas das outras e como se posicionam nas

respectivas classes, depende de três fatores: poder, riqueza e prestígio; que nada mais são que

elementos fundamentais para constituir a desigualdade social.

Sobre Émile Durkheim: 12”Nascido na região de Lorraine, na França, o sociólogo Émile

Durkheim (1858-1917) é considerado um dos autores fundadores da sociologia moderna.

Ministrou o primeiro curso de sociologia, criado em 1887, em Bordeaux, França. Suas

contribuições para a área ajudaram a moldar a forma da abordagem sociológica e ainda hoje

seus métodos de pesquisa são usados como referência de abordagem científica no campo das

ciências sociais. Embora fosse predecessor às ideias de Augusto Comte, Durkheim seria um dos

responsáveis pela sistematização dessa nova área de conhecimento, delimitando o campo de

11

Constitui uma forma de estratificação social com camadas sociais mais fechadas do que as classes sociais, e mais abertas do que as castas (tipo de sociedades ainda presentes na Índia, no qual o indivíduo desde o nascimento está obrigado a seguir um estilo de vida pré-determinado) - http://www.dicionarioinformal.com.br/estamento/ 12

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/emile-durkheim.htm

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trabalho e as formas pelas quais a sociologia abordaria seus objetos de estudo.

Caberia à sociologia, segundo Durkheim, a apreensão e o estudo sistemático das

realidades sociais dos indivíduos. Para tanto, o sociólogo deveria utilizar das mesmas

ferramentas utilizadas pelas ciências anteriores: o método científico e a observação empírica.

Essa era uma das principais preocupações de Durkheim: estabelecer as fundações e as formas

de estudo da sociologia. Outras questões que Emile Durkheim propunha eram acerca do

avanço da individualização do sujeito social e o estudo dos fenômenos que compunham a

formação de uma nova ordem social.

No entanto, Durkheim acreditava que a principal função da sociologia era o estudo

dos fatos sociais. A sociologia deveria se abster de estudar as individualidades dos sujeitos e se

debruçar sobre estudos generalistas acerca dos fatos sociais, que são definidos por Durkheim

como os aspectos de nossa sociedade que moldam as nossas ações em sociedade, tais como

nossa língua, o Estado e a moral.

Segundo Durkheim, os fatos sociais possuem três características principais:

São externos ao indivíduo, ou seja, os fatos sociais existem independentemente de

nossas vontades individuais,

São de natureza coercitiva, o que quer dizer que eles possuem força para nos “obrigar”

a agir de determinada maneira sob a ameaça de punições como o isolamento social,

por exemplo, no caso de um comportamento socialmente inaceitável,

São também generalistas, ou seja, atingem a todos sem exceções.

Para que possamos compreender melhor, peguemos como exemplo a língua que

falamos. Ela se constitui um fato social na medida em que nos é externa, existindo

independentemente de nossa vontade; é coercitiva, uma vez que a não utilização de uma

língua compreensível em um meio social pode acarretar no isolamento social; e é generalista,

uma vez que todos os que nascem em um determinado local, acabam por aprender a se

comunicar com uma mesma língua ou linguagem.”

Através dessas abordagens, conversamos sobre o entendimento do que é a sociedade?

Qual a sua forma?

É um organismo social vivo, sendo assim, está cheio de contradições.

A sociedade não é linear, se move em espiral, avança e retrocede em vários momentos.

Dessa maneira, as relações sociais e laborais sofreram e vem sofrendo transformações

ao longo do tempo.

Segue abaixo um pequeno estudo sobre o tema.

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34

13“O trabalho nas sociedades primitivas

Nas sociedades primitivas, o homem está em fase de adaptação ao meio ambiente que

o circunda. Precisa assegurar sua sobrevivência num mundo hostil e perigoso. Seus esforços

são despendidos para manter-se vivo, e sua ação é voltada a proteger-se, buscar alimento e

explorar o mundo em que vive. Seu intento é atender a necessidades vitais básicas.

Para as sociedades primitivas, o trabalho consiste em assegurar a própria

sobrevivência, através da caça, da pesca, da coleta de alimentos, da busca de abrigo, de

vestimenta e da defesa diante de situações perigosas.

Quando o homem começa a explorar a terra, a ter domínio sobre os animais que

utilizará para corte ou tração, a caçar e a pescar, já vivendo em pequenas tribos, o trabalho

passa a exigir a participação de todos, e o seu produto, a ser visto como um bem comum.

O trabalho passa então a organizar a vida da tribo, que precisa sistematizar as forças

produtivas, utilizar sua energia e tempos livres na criação de novos instrumentos e no

planejamento da produção. Note que neste período não havia uma divisão entre o tempo

destinado ao trabalho e ao lazer. A necessidade de sobrevivência ditava o ritmo do trabalho.

Com a fixação do homem na terra e com a organização da vida tribal, surgem as

questões relacionadas à produção, aos excedentes e à distribuição da riqueza produzida.

O trabalho na antiguidade

Na antiguidade existe um sistema de castas estabelecido, que dita a organização do

trabalho e impede a mobilidade social. Na sociedade grega, a concepção de trabalho está

ligada à atividade manual e é considerada indigna do homem livre, o qual se destinava à

meditação e à fruição dos prazeres da vida. Data desta época a distinção entre o esforço

mental e manual. Desta forma, o trabalho intelectual dos sábios é altamente valorizado e o

trabalho manual, dos escravos, desprezado.

Para os gregos, a prática material produtiva ocupava um lugar secundário.

Observe que o trabalho escravo era realizado por prisioneiros de guerra e por sujeição

em função de dívidas. Acreditava-se que era indigno um homem que se entregava ao inimigo

sem lutar até a morte. Em épocas de colheita, era comum a contratação de trabalhadores

rurais, que recebiam remuneração em gêneros.

Os escravos eram utilizados para livrar os cidadãos das tarefas servis, permitindo à elite

grega consagrar-se melhor à cidade, aos prazeres do corpo ou à investigação e à contemplação

das coisas eternas do espírito (CARMO, 1997, p. 17).

Neste período surgem também as atividades artesanais, realizadas principalmente por

13

http://www.pedagogia.com.br/artigos/torganizacao/index.php?pagina=0

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mulheres e escravos, para atender a necessidades locais específicas.

Na Roma Antiga, existe uma clara divisão entre o patriciado, donos da terra, distribuída

pelo Estado segundo a unidade de parentesco, e a plebe, a qual realiza atividade agrária em

pequenos lotes de cultivo. Os patrícios, donos de grandes extensões de terra, dedicavam-se

mais à pecuária. As atividades artesanais domésticas também ocupam um espaço importante

neste cenário. Na antiguidade, aos filósofos e homens livres cabia o exercício intelectual.

O trabalho na idade média

Na idade média o trabalho tem uma estreita vinculação com a religiosidade e sua

organização vincula-se fortemente às diretrizes da igreja. É sabido que a igreja tinha forte

influência na manutenção da estratificação social. A concepção predominante é de que o

trabalho exige sacrifício e desprendimento e que a docilidade para enfrentar as dificuldades

físicas e materiais enobrece o espírito.

Assim, o trabalho é procurado como penitência para os pecados da carne. Deveria

proporcionar cansaço para o corpo e distração para o espírito, afastando-o de tentações

demoníacas.

Na idade média, a ênfase do trabalho recai na expiação dos pecados e no combate à

fraqueza da carne, prestando-se à manutenção da estratificação social.

A sociedade medieval, marcada pelas diferenças sociais, mantinha um modo de produção

característico da divisão entre senhores e servos.

A idade média se organiza segundo o modelo de produção feudal. Nesse modelo as

relações sociais caracterizam-se por rígida hierarquia entre os senhores, proprietários das

terras, e os servos, aqueles que as cultivavam. A esses últimos cabia, em troca do trabalho,

apenas a parte da produção necessária à subsistência familiar. Os servos deviam obediência

aos senhores, mas, diferentemente dos escravos, possuíam direito à vida e proteção dos

senhores em caso de guerra. À igreja, detentora do saber competia à manutenção dos

princípios de obediência que regulavam essas relações (GONÇALVES; WISE, 1997, p. 22).

A vida nos mosteiros sugeria uma rígida disciplina de orações e introspecção. Parece ter

surgido aí, segundo Carmo (1997) a obrigatoriedade moral do trabalho, independente da sua

necessidade material, para ocupação da mente, de vez que a desocupação é inimiga da alma.

Assim, os monges dedicavam algumas horas dos seus dias aos ofícios manuais.

Nas sociedades medievais, o ócio (ótium) aparece como um termo associado ao não

trabalho, ao estar desocupado ou livre de uma obrigação. Neste sentido, estar ocupado

significa negar o ócio, daí o termo negócio - nec-otium - conhecido até os dias do hoje.

Com a reforma protestante, o trabalho aparece como a base e a chave da vida. "Há

uma ênfase de que a fé deve ser reforçada pelo trabalho" (CARMO, 1992, p. 27).

Neste sentido, passa a ser exaltado o esforço pessoal e a dedicação ao trabalho,

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estimulando-se a poupança ou investimento do capital excedente obtido, condenando-se o

desfrute de bens. Na idade média o trabalho servia para expiar os pecados da carne.

O trabalho na revolução industrial

Com o advento da revolução industrial o trabalho assume um sentido mais pragmático,

sua importância se acentua e sua operacionalização modifica todo o sistema de produção e de

acumulação de riquezas, bem como altera a vida das pessoas de uma forma profunda.

Frente à necessidade de que os operários operem as máquinas, aptas a produzirem em

maior escala produtos industrializados, as relações assumem um novo formato e provocam

modificações na vida do cidadão comum.

Um dos primeiros aspectos imediatamente observados é a aniquilação do artesanato e

das manufaturas. Com as máquinas produzindo em larga escala, a produção manual fica

destituída de sentido. O deslocamento dos operários, por sua vez, caracteriza um outro

movimento, pois o trabalho artesanal era feito em casa ou na própria comunidade. Para

trabalhar nas indústrias, os operários enfrentam longos percursos em transportes coletivos

para chegarem até os locais de trabalho. Este aspecto afeta também a vida familiar e afasta os

integrantes do convívio íntimo diário. O trabalho passa a ter um ritmo e um tempo pré-

estabelecidos que determinem a vida do indivíduo.

No mundo industrial falta o vínculo entre o trabalho e o resto da vida. Para agir

livremente deixa-se o tempo que sobra do trabalho. Assim se separa totalmente trabalho de

lazer, de prazer, de cultura, de renovação das forças anímicas, que deverão ser buscadas no

tempo que sobrar do trabalho (ALBORNOZ, 2000, p. 39-40).

No período da revolução industrial, há o aniquilamento das manufaturas e um

deslocamento dos operários para as grandes indústrias, onde desempenham tarefas rotineiras

e mecânicas.

A produção em larga escala, por sua vez, provoca a alienação do operário do sentido do

seu trabalho. Sendo ele uma "peça da engrenagem", tendo sua participação restrita a uma

limitada etapa do processo produtivo, o operário não reconhece no conjunto da produção o

seu trabalho, não sabe quem é o consumidor do seu produto, bem como não participa das

decisões referentes ao processo de produção. Na revolução industrial o operário é uma "peça

da engrenagem". Exemplo: O filme - Tempos Modernos. Charlie Chaplin.

Os maiores problemas enfrentados nesta época referem-se às condições de trabalho,

extremamente precárias e desfavoráveis. Acidentes de trabalho, ambientes insalubres,

trabalho infantil, jornadas de trabalho extensas e ausência de férias ou outros direitos

trabalhistas são exemplos das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores das indústrias

neste período. Os movimentos operários, após exaustivas iniciativas, conseguiram importantes

conquistas nestes aspectos ao longo dos séculos XIX e XX.

A revolução industrial permitiu também um maior acesso a bens e produtos por parte

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de uma parcela maior da população. A produção em larga escala possibilitou a popularização

de muitos produtos, que puderam ser adquiridos pelo cidadão comum. Por outro lado,

multiplicou-se a oferta de novos produtos, criando novas necessidades de consumo, levando

as pessoas a cada vez mais se sentirem obrigadas a ter um trabalho, como forma de acessar os

produtos ofertados. Como afirma Albornoz (2000, p. 81), "as pessoas trabalham antes para

poder consumir do que propriamente para produzir alguma coisa". Esta nova ótica de

verdadeira obsessão pelo consumo passa a influenciar as relações do indivíduo com o trabalho

nos dias de hoje.

O trabalho na atualidade

Na atualidade o trabalho tem assumido inúmeras facetas: pode ser fonte de

sobrevivência para o indivíduo e sua família; pode ser fonte de ocupação do tempo livre; fator

de mobilidade social; fonte de realização; de autoconhecimento; de prestígio; de realização

social; de enfrentamento de desafios etc.

A grande característica do trabalho na atualidade é a sua inquestionável necessidade e

importância, a ponto de identificar o homem. "Para Marx a essência do ser humano está no

trabalho. O que os homens produzem é o que eles são. O homem é o que ele faz" (apud

ALBORNOZ, 2000, p. 69). O homem se vê humano enquanto ser produtivo, enquanto vinculado

a um ofício e possuidor de uma identidade profissional. O trabalho lhe confere dignidade,

estabilidade, status e vínculo.

O que se observa nos dias de hoje é um crescente endeusamento do trabalho e uma

negação mais acirrada do ócio. A sociedade moderna ocupou-se de tal forma com o trabalho

que por vezes os indivíduos sentem-se culpados em seus raros momentos de lazer, por não

estarem produzindo. O ideal de produtividade imposto pelo modelo capitalista faz com que

bens e serviços estejam sempre à disposição dos consumidores, criando novos turnos de

trabalho e extinguindo os dias de descanso em comum (fins de semana e feriados). Por outro

lado, num modelo de exaltação à produção, quem não trabalha ou está desempregado sente-

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se à margem da sociedade, por estar numa situação de dependência e de improdutividade.

Como a regra é consumir, está também incapaz de prover necessidades diversas, criadas pelo

modelo.

Através do trabalho o homem provê o sustento de si e de sua família, possível através

da remuneração.

O trabalho possibilita ao homem sentir-se útil à sociedade, pois ajuda na produção de

riquezas.

Pelo trabalho o homem pode conquistar estabilidade e constituir sua vida e sua família

com certa previsibilidade.

Por intermédio do trabalho o homem pode externar seu poder criativo e sua

capacidade de realizar coisas, desenvolvendo suas potencialidades.

Por meio do trabalho o homem se relaciona com seus semelhantes, conhece pessoas,

exercita a convivência e cria vínculos.

Pelo trabalho, o homem desenvolve sua autoestima, seu autoconhecimento e forma

uma autoimagem imagem positiva.

O ritmo acelerado das tecnologias de informação e comunicação, das novas

descobertas, da disponibilidade de produtos e serviços em qualquer tempo e lugar criou novas

formas de organização do trabalho, e novas relações foram surgindo.

Hoje são comuns termos desconhecidos na história do trabalho, como workaholic e worklover.

O primeiro, designa uma relação de dependência do trabalho, na qual o indivíduo vive em

função de sua vida profissional, não deixando espaço a ser ocupado pelo lazer ou por outros

tipos de atividades. No segundo caso, há uma relação de completude com o trabalho, o

indivíduo dedicasse às suas atividades com prazer e retira do trabalho a satisfação pessoal que

o auxilia inclusive nos demais âmbitos de sua vida. No entanto, talvez a atitude mais comum

frente ao trabalho seja a da indiferença, onde o estímulo é a remuneração, indicando que o

trabalho ainda signifique essencialmente sobrevivência.

O conceito de classe social não existiu sempre, as circunstâncias históricas fizeram surgir

as diferenças sociais e a estratificação.

O aparato que organiza os interesses das classes sociais é o estado. A ‘essência’ do

estado é manter a supremacia de uma classe social sobre a outra - como vemos neste

momento histórico, onde a determinação econômica comanda os interesses de uma pequena

categoria de “privilegiados”.

O estado cria as regras morais, éticas, científicas, políticas, religiosas, econômicas que

servem como elementos de dominação, alimentado a subjetividade e os anseios da população.

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Elementos históricos e culturais também diferenciam a questão de classes, como o

gênero, território, orientação sexual, religião... são assuntos que marcam uma sociedade e as

particularidades de cada região, pois cada país lida de maneiras diferentes com relação a esses

temas.

O que nos une é a nossa condição de trabalhadores, pois perdemos a condição de

“classe”, não estamos empoderados. As histórias de lutas na América Latina são feitas de

sangue.

Atualmente, as lutas dos sindicatos têm sido por causas financeiras e não sociais. Esse

é um dos motivos do afastamento dos trabalhadores, uma vez resolvidas - ou não - as questões

econômicas não se sentem mais ligados às atividades sindicais que não lhes dizem respeito.

Nesse sentido, um dos participantes, da Colômbia, apontou que as Centrais Sindicais teriam a

obrigação de organizar as ações dos sindicatos, que possuem menos estruturas e “lideranças”.

Essa colocação foi controversa, pois outros defendem que, justamente, os sindicatos, por

estarem próximos dos trabalhadores, é que tem a obrigação de se organizar e atuar de forma

mais eficaz. Ou seja, é um problema de todos nós e que não será resolvido por somente uma ou

outra organização, mas sim através de uma luta coletiva, organizada, compartilhada e com

unidade de intenções e ações.

Os colegas do México apontaram que no país há uma reforma que prejudica os

servidores e professores especificamente, onde foram propostas mudanças na grade curricular,

tirando temas de interesse humano, como sociologia e artes, por exemplo... como no Brasil e,

pelos relatos, isso está acontecendo em outros países. Dessa forma, vimos que há um

movimento global no sentido de retirar do ensino questões que promovam a reflexão e,

consequentemente, a visão crítica da sociedade e da realidade de forma geral!

Fechando o tema, foi concluído que o capitalismo valoriza o individualismo em

detrimento do compartilhamento e do progresso social. A “meritocracia” é uma falácia vendida

como verdade, sendo que os “merecedores” vem das classes mais favorecidas e em condições

de lutar por espaços muito mais vantajosas, sobre aqueles que não tiveram o acesso a uma

educação e meios de vida melhor.

No período da tarde a Profª Leydis conduziu

os trabalhos.

Ela começou a explanação retomando a

questão do “consenso de Washington”, já abordado

anteriormente, que traz recomendações visando ao

desenvolvimento e à ampliação do neoliberalismo

nos países da América Latina, durante o governo

Bush, em 1989. Depois abordou os conteúdos do livro

“La Gran Estrategia EUA X América Latina”, de Abel

Enrique Gonzalez Santamaria, que traz elementos Profª Leydis

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para a discussão na aula. Abaixo, uma resenha sobre o livro.

14Nesse livro o autor expõe de forma abrangente e documentada o estabelecimento e

evolução desta relação; a adequação da política norte-americana às circunstâncias históricas e

o desenvolvimento estratégico da sua expansão territorial e criação de zonas deliberadamente

escondidas ou intervenções sob a sua influência. Ele aborda as causas que levaram à

independência das treze colônias britânicas; os princípios constituintes da nação americana

‘agressiva’; a natureza do seu processo expansionista; construção de suas doutrinas

hegemônicos; táticas e manobras de dominação para executar sua grande estratégia imperial

para manter a sua potência e o dispêndio de recursos naturais no planeta. A guerra civil

americana estabelece a bipartidarismo e começa a construção do imperialismo em 1865, após

a sangrenta guerra entre norte e sul e em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial; nunca,

o mundo tinha mudado tanto nestes 80 anos e neste cenário complexo nasceram monopólios

na indústria e comércio nos EUA, como uma expressão do desenvolvimento da sua economia.

Os EUA deu uma demonstração de força com a guerra Hispano-Cubana – Guerra Americana de

1898, que varreu o império ultramarino espanhol na batalha naval de Santiago de Cuba, como

parte sistemática da expansão imperialista dos EUA, que continuou na América Latina e no

Caribe sob outras formas. Sucessivos governos dos Estados Unidos se utilizaram de diferentes

doutrinas de dominação para cada situação apresentada - "big stick", "diplomacia do dólar",

"diplomacia missionária","new deal","bom vizinho"... e revoluções, crises e guerras.

Com base nestas experiências e lá pelo o fim da II Guerra Mundial, a grande estratégia

americana de dominação não esperou, porque era a grande oportunidade do império do norte

para emergir mais forte depois do desastre em muitos países em função da guerra.

O Capítulo III investiga e explora as novas doutrinas e o nascimento do "sistema de

segurança hemisférica" e a Guerra Fria. Com Truman e o Marcarthismo foi implementada a

doutrina da "contenção do comunismo", o desenvolvimento do complexo militar Industrial e

sistema de Segurança Nacional; foram os momentos em que a Agência Central de Inteligência

juntou-se ao serviço do grande capital. Também é explicado neste capítulo o início da perda da

hegemonia dos EUA na região, após a vitória do Revolução Cubana de 1959, apesar da Aliança

para o Progresso implantado nos primeiros anos da década de 60, que foi uma doutrina

projetada para consolidar o sistema de dominação na América Latina para deter o impulso

revolucionário cubano. Este capítulo revela a pouco conhecida construção de alianças entre

potências e doutrinas de neoglobalismo e outras destinadas a desacreditar e derrubar a

Revolução Cubana.

O capítulo final é o mais ousado, com base em fontes primárias, recentemente desclassificados

e não raro oculto. Os riscos de autores no desenvolvimento de suas considerações e a

importância da análise são estudados "em pleno andamento" dos eventos depois de 11 de

setembro de 2001.

14http://revistakavilando.weebly.com/uploads/1/3/6/3/13632409/una_gua_necesaria_para_comprender_la_gran_estrategia.pdf

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Ela cita que havia elementos de ligação e integração na AL até os anos 2000, como ações

da OEA, Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Junta Interamericana de Defesa e

Banco Interamericano.

Abaixo, uma pequena descrição de cada uma dessas organizações, pesquisados

posteriormente para complementar as informações.

15OEA - Organização dos Estados Americanos

A Organização dos Estados Americanos é o mais antigo organismo regional do mundo.

A sua origem remonta à Primeira Conferência Internacional Americana, realizada em

Washington, D.C., de outubro de 1889 a abril de 1890. Esta reunião resultou na criação da

União Internacional das Repúblicas Americanas, e começou a se tecer uma rede de disposições

e instituições, dando início ao que ficará conhecido como “Sistema Interamericano”, o mais

antigo sistema institucional internacional.

A OEA foi fundada em 1948 com a assinatura, em Bogotá, Colômbia, da Carta da

OEA que entrou em vigor em dezembro de 1951. Posteriormente, a Carta foi emendada

pelo Protocolo de Buenos Aires, assinado em 1967 e que entrou em vigor em fevereiro de

1970; pelo Protocolo de Cartagena das Índias, assinado em 1985 e que entrou em vigor em

1988; pelo Protocolo de Manágua, assinado em 1993 e que entrou em vigor em janeiro de

1996; e pelo Protocolo de Washington, assinado em 1992 e que entrou em vigor em setembro

de 1997.

A Organização foi criada para alcançar nos Estados membros, como estipula o Artigo 1º

da Carta, “uma ordem de paz e de justiça, para promover sua solidariedade, intensificar sua

colaboração e defender sua soberania, sua integridade territorial e sua independência”.

Hoje, a OEA congrega os 35 Estados independentes das Américas e constitui o principal

fórum governamental político, jurídico e social do Hemisfério. Além disso, a Organização

concedeu o estatuto de observador permanente a 69 Estados e à União Europeia (EU).”

16Aliança Para o Progresso

“Programa de assistência ao desenvolvimento socioeconômico da América Latina

formalizado quando os Estados Unidos e 22 outras nações do hemisfério, entre elas o Brasil,

assinaram a Carta de Punta del Este em agosto de 1961. De acordo com o documento, os

países latino-americanos deveriam traçar planos de desenvolvimento e garantir a maior parte

dos custos dos programas, cabendo aos EUA o restante. A administração dos fundos norte-

americanos competia em sua maior parte à United States Agency for International

Development (USAID — Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).

15

http://www.oas.org/pt/sobre/quem_somos.asp

16 http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/alianca-para-o-progresso-1

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A ideia de uma cooperação interamericana já havia sido proposta em 1958 pelo

presidente Juscelino Kubitschek com o lançamento da Operação Pan-Americana (OPA). Quase

ao mesmo tempo, a vitória da revolução socialista em Cuba (janeiro de 1959) foi evidenciando

aos olhos dos formuladores da política hemisférica de Washington a necessidade de se

mostrarem mais sensíveis às crescentes reivindicações de desenvolvimento econômico,

progresso social e democracia, levantadas pela América Latina.

Como destacou Federico G. Gil, as metas da Aliança para o Progresso eram, portanto,

de dois tipos:

1) as que afetavam diretamente a vida diária das massas mal alojadas, mal vestidas,

mal alimentadas e analfabetas da América Latina;

2) as metas a longo prazo, de reforma e desenvolvimento socioeconômico, destinadas a

elevar o nível de vida em cada um dos países, mediante programas de desenvolvimento

nacional, integração econômica, estabilização dos preços das matérias-primas e saneamento

financeiro.

Ao longo de quase dez anos de funcionamento, a Aliança para o Progresso recebeu

inúmeras críticas tanto de especialistas, que atacavam as deficiências de sua estrutura e a

irrealidade de suas metas, como de setores liberais e de esquerda da opinião pública latino-

americana, que a encaravam como instrumento a serviço dos interesses econômicos e

estratégicos dos EUA no hemisfério.

A partir de 1970, a análise e coordenação de seus programas passaram à

responsabilidade da OEA.”

17Comissão Interamericana de Direitos Humanos

A CIDH é um órgão principal e autônomo da Organização dos Estados Americanos

(OEA) encarregado da promoção e proteção dos direitos humanos no continente americano. É

integrada por sete membros independentes que atuam de forma pessoal e tem sua sede em

Washington, D.C. Foi criada pela OEA em 1959 e, juntamente com a Corte Interamericana de

Direitos Humanos (Corte IDH), instalada em 1979, é uma instituição do Sistema Interamericano

de proteção dos direitos humanos (SIDH).

Em abril de 1948, a OEA aprovou a Declaração Americana de Direitos e Deveres do

Homem, em Bogotá, Colômbia, o primeiro documento internacional de direitos humanos de

caráter geral. A CIDH foi criada em 1959, reunindo-se pela primeira vez em 1960.

Já em 1961 a CIDH começou a realizar visitas in loco para observar a situação geral dos

direitos humanos nos países, ou para investigar uma situação particular. Desde então realizou

92 visitas a 23 países membros. A respeito de suas observações de tipo geral sobre a situação

17

http://www.oas.org/pt/cidh/mandato/que.asp

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de um país, a CIDH publica informes especiais, tendo publicado até agora 60 destes.

Desde 1965 a CIDH foi autorizada expressamente a receber e processar denúncias ou

petições sobre casos individuais nos quais se alegavam violações dos direitos humanos. Até

dezembro de 2011, tem recebido varias dezenas de milhares de petições, que se

concretizaram em 19.423 casos processados ou em processamento. Os informes finais,

publicados com relação a estes casos, podem ser encontrados nos informes anuais da

Comissão ou por país.

Em 1969 foi aprovada a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que entrou em

vigor em 1978 e que foi ratificada, até Janeiro de 2012, por 24 países: Argentina, Barbados,

Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, República Dominicana, Equador, El

Salvador, Granada, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá,

Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. A Convenção define os direitos humanos que

os Estados ratificantes se comprometem internacionalmente a respeitar e a dar garantias para

que sejam respeitados. Ela cria, também, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, e

define atribuições e procedimentos tanto da Corte como da CIDH. A CIDH mantém, além disso,

atribuições adicionais e anteriores à Convenção e que não derivam diretamente dela, sendo

estes, entre outros, de processar petições individuais relativas a Estados que ainda não são

parte da Convenção.

18Junta Interamericana de Defesa

Criada em 30 de março de 1942, a Junta Interamericana de Defesa (JID) é a organização

regional de defesa mais antiga do mundo.

Seu principal propósito é prestar à Organização dos Estados Americanos (OEA) e a seus

Estados membros serviços de assessoramento técnico, consultivo e educativo em assuntos

relacionados a temas militares e de defesa no Hemisfério, a fim de contribuir para o

cumprimento da Carta da OEA.

A JID goza de autonomia técnica para cumprir o propósito e atribuições constantes de

seu Estatuto, levando em conta os mandatos da Assembleia Geral da OEA, da Reunião de

Consulta dos Ministros das Relações Exteriores da OEA e do Conselho Permanente da OEA.

Atualmente, possui 28 Estados Membros e sua estrutura é composta pelo Conselho de

Delegados, pela Secretaria e pelo Colégio Interamericano de Defesa (CID), reunindo

representantes civis e militares dos diversos países americanos.

19Banco Interamericano de Desenvolvimento

“O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é a instituição financeira

internacional que apoia iniciativas em países latino-americanos para reduzir a pobreza e

18 http://iadb-pt.jid.org/ 19 http://ois.sebrae.com.br/comunidades/bid-banco-interamericano-para-o-desenvolvimento/

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promover a equidade de modo a fomentar a integração regional e o desenvolvimento

sustentável.

Criado em 1959, além de empréstimos e financiamentos, o BIB também oferece

doações, presta assistência técnica, bem como realiza projetos e pesquisas junto a governos,

empresas privadas e organizações não governamentais.

O Banco é constituído por 48 países, entre eles 26 membros mutuários latino-

americanos que têm participação majoritária na organização.

Com sede em Washington, nos Estados Unidos, o BID possui representações em todos

os países mutuários, além de um escritório regional em Tókio e outro em Paris.

Para atingir seus objetivos, o Banco concentra os seus esforços em programas sociais,

modernização do Estado, competitividade empresarial, integração regional e liberalização do

comércio.

Dentre esses mecanismos há também divergências de interesses.

Para ilustrar, falou sobre a ALBA e a ALCA.

Segue breve pesquisa sobre as mesmas.

20ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) foi proposto em 1994 e assinado por 34

países da América. A formação de um bloco econômico de livre comércio nas Américas tinha

por objetivo eliminar, paulatinamente, as barreiras alfandegárias entre os países. Em função

do bloqueio econômico, imposto pelos Estados Unidos, Cuba não fez parte deste acordo. O

projeto de formação da ALCA está parado desde novembro de 2005, quando ocorreu a última

Cúpula das Américas. Os Estados Unidos estão na liderança da implementação da ALCA, por se

tratar da maior economia da América. Interessados na abertura total dos mercados,

encontram resistências de países em desenvolvimento, temerosos da implantação da ALCA.

Este medo vem justamente de fraquezas econômicas e pouco desenvolvimento em áreas

industriais. Uma abertura geral poderia provocar a ruína de parques industriais nestes países.

O Brasil tem defendido a ideia de uma abertura gradual e de negociações feitas em blocos.

Desta forma, o Brasil ganharia mais força para negociar com os Estados Unidos.

21ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas)

Nos dias 28 e 29 de abril do ano de 2006, houve uma reunião na cidade cubana de

Havana para discutir a implantação da ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas) que

20

http://www.suapesquisa.com/alca/

21 http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/alba-alternativa-bolivariana-para-as-americas.htm

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contou com a presença de líderes de países como Venezuela, Bolívia e Cuba.

A Alternativa Bolivariana para as Américas tem como principal objetivo integrar

diversos países da América Latina e também do Caribe, que tem como base a ideologia de

Simón Bolívar, esse tem a intenção de ser uma alternativa em relação à ALCA (Área de Livre

Comércio das Américas).

Essa divergência é proveniente das ideias impostas principalmente pelos Estados

Unidos que visa implantar a ALCA para abrir totalmente as fronteiras comerciais entre todos os

países americanos, desse modo se limitam somente nas relações econômicas.

Já a ALBA quer tornar equivalentes a realidade de cada país, além disso, visa focalizar

os esforços no combate à pobreza, desigualdade social e toda forma de exclusão social. Dentre

outros objetivos da ALBA está ainda o de dar preferência às empresas pequenas e médias,

além de considerar que os países desenvolvidos deveriam financiar todo o processo e, por fim,

estabelecer os fundamentos no princípio da solidariedade.

Atualmente a ALBA é formada pela Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua e República

Dominica, além do interesse de países como Equador e São Vicente e Granadinas de ingressar

nesse bloco.

Em suma, os objetivos de ALBA e ALCA são conduzidos para rumos diferentes.

De um lado os interesses norte-americanos de implantar a ALCA, que nesse caso

favorece o mesmo, pois sua economia e setor produtivo é extremamente superior ao dos

outros países dispersos no continente, assim nenhum país subdesenvolvido será capaz de

competir com os produtos oriundos dos Estados Unidos, esse quer também regular sua

balança comercial que se encontra com déficit.

No outro lado, os representantes dos países que enfrentam problemas sociais e que muitas

vezes fazem parte de muitas das nações das Américas, por isso não quer somente uma

integração comercial-econômica e sim uma integração social que busque alternativas coletivas

entre os países subdesenvolvidos para solucionar ou, pelo menos, amenizar as dificuldades

socioeconômicas que são comuns em países em desenvolvimento e subdesenvolvidos.

Operação Peter Pan

Várias ações dos EUA para tentar desestabilizar o governo cubano foram tentadas ao

longo dos tempos, dentre essas está a Operação Peter Pan, que retirou de Cuba cerca de

14.000 crianças e adolescentes no início dos anos 1960. Elas foram distribuídas por 36 Estados

norte americanos, adotados por cubanos exilados, por casais americanos, ou simplesmente

viveram em abrigos e orfanatos até que pudessem levar uma “vida independente”. Foi um

programa dos EUA, da Igreja Católica e da Cia para tirar as crianças de Cuba e levá-las para solo

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americano. O discurso era que, assim, essas crianças estariam sendo “libertadas” do regime

comunista.

22Um dos capítulos mais miseráveis na incessante campanha de enganos, calúnias e

malfeitos contra a Revolução Cubana foi a Operação Peter Pan, uma das ações de subversão

mais cruéis desenvolvidas pela CIA, o Departamento de Estado e instituições religiosas dos

Estados Unidos, com o apoio de organizações contrarrevolucionárias dentro de Cuba, onde as

principais vítimas seriam as indefesas crianças e pais enganados ou confundidos por rumores

ilusórios, com propósitos desestabilizadores.

Em 26 de dezembro de 1960 chegaram a Miami as primeiras crianças que viajaram pela

Operação Peter Pan, executada pelo sacerdote de origem irlandesa Bryan O. Walsh e

financiada pelo governo dos EUA. A mesma estendeu-se ao longo de 22 meses e finalizou

teoricamente em 22 de outubro de 1962 com a Crise de Outubro, ainda que na realidade

tenha se estendido até o início da década de 1970, com novas variantes, como a dos voos de

menores de idade a Madrid. Segundo escreve Ricado Alarcón de Quesada, presidente do

parlamento de Cuba, na introdução ao livro “Operação Peter Pan, um caso de guerra

psicológica contra Cuba”, dos autores Ramón Torreiro e José Buajasán: "O argumento tosco,

segundo o qual o governo iria tirar os filhos de seus pais, privando-lhes do poder sobre eles, foi

circulada pela CIA e a contrarrevolução depois que as autoridades revolucionárias levou vários

meses fazendo, precisamente, o contrário: a Lei 797 de 20 de maio de 1960 havia facultado ao

Ministério da Justiça que, de forma totalmente gratuita, realizasse inscrições e transcrições de

nascimentos celebrasse matrimônios que antes não foram efetuados legalmente.”

Essa lei serviu de base ao que se denominou “Operação Família” que beneficiou 400 mil

uniões extra-matrimoniais e 500 mil crianças. Jamais na história de Cuba fez-se tanto e em tão

breve tempo para estender e consolidar o poder dos pais e fortalecer a instituição da

família. Muitas daquelas crianças tiradas de Cuba na “Operação Peter Pan” foram enviadas

para casas de adoção, orfanatos, e inclusive para estabelecimentos penitenciários para

delinquentes juvenis. A vida se apresentou muito dura para estas crianças devido à

alimentação que receberam, a existência de bandos nos centros de recepção e

acampamentos, o uso de castigos corporais, a obrigação de fazer tarefas domésticas

humilhantes e ser explorados por seus tutores e mestres.

Se houver interesse, há um documentário (23link no rodapé) feito com esses meninos e

meninas, já adultos, que foram levados para longe de suas famílias. Vale a pena ver e conhecer

um pouco mais sobre essa página obscura da conturbada relação entre os EUA e Cuba.

Também abordou a questão da “aculturação”. Sabemos que a cultura é a identidade de

um povo, a partir do momento em que essa identidade é transmudada nossos valores

enquanto sociedade também sofrem uma transformação, e as consequências só serão sentidas

22 http://boilerdo.blogspot.com.br/2012/10/50-anos-da-operacao-peter-pan-em-cuba-o.html

23 http://sobrenuestramerica.blogspot.com.br/2012/10/operacao-peter-pan-vaticano-e-cia.html

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tempos depois. Também é uma forma de dominação, através da implantação de uma ‘norma’

cultural não naturalizada, ou seja, é imposta paulatinamente. Por exemplo, as roupas

“calorentas” do Papai Noel para o nosso clima tropical, os algodões imitando neve sobre as

árvores... isso não faz parte de nossa cultura, foi importado por interesses econômicos e, hoje

em dia, percebemos como algo natural... só que não.

Quanto às intervenções diretas dos EUA na região, citou que foram mais 200 ao longo

do tempo, isso só contando a AL e o Caribe. No Chile houve um ensaio da implantação de um

modelo neoliberal, liderado pelos EUA. Os dirigentes chilenos citaram que a água em seu país é

propriedade privada, o estado vendeu o direito à exploração dos recursos hídricos por 30 anos.

Sobre esse tema, há um artigo interessante, cujo link segue no rodapé, de onde foi

retirado o texto abaixo.

24A água também pode ser comprada por meio dos “land and water grabs” (ou

“‘abocanhados’ de terra e água”). Nos acordos desse tipo, uma empresa ou um governo rico

compra grandes quantidades de terra em um país mais pobre e reivindica o direito à posse da

água dentro daquele terreno. Segundo Maude, na África, há um território equivalente a três

Grã Bretanhas que foi comprado por países ricos, investidores internacionais, fundos de

cobertura, planos públicos de aposentadoria, dentre outros. “É uma nova forma de

colonialismo”.

Em Cuba há um ditado: “unidade na adversidade”. Desta maneira, através da unidade

de ações e intenções conseguem olhar e caminhar para uma mesma direção.

Essa unidade, comentário de alguns dirigentes do grupo, é que devemos buscar nas

ações dos sindicatos na AL e Caribe, pois os problemas de um são os problemas de todos.

Pelo que vimos e ouvimos dos relatos sobre a realidade dos países vizinhos, há mais

problemas em comum do que poderíamos imaginar.

No sentido de unir os interesses dos países da AL e Caribe, em 2008 teve início um

acordo, chamado CELAC Comunidade de Estados Latino Americanos e Caribenhos, cujo

objetivo era manter um espaço comum que garantisse a unidade e a integração dos países da

região.

A 25CELAC tornou-se ferramenta valiosa para o diálogo da América Latina com o resto do

mundo e tem proporcionado à região coordenar posições nas relações com outros blocos

regionais e países emergentes. Hoje, a CELAC mantém mecanismos de diálogo político e

cooperação com a União Europeia, China, Rússia e Índia, entre outros. Dessa forma, a CELAC

está facilitando a conformação de uma identidade regional própria. As consultas políticas são

24

http://super.abril.com.br/crise-agua/aguapropriedadeprivada.shtml 25

www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/integracao-regional/689-comunidade-de-estados-latino-americanos-e-caribenhos

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feitas, em geral, à margem do debate geral da Assembleia Geral das Nações Unidas e

permitem o intercâmbio de informações sobre temas de interesse global e a cooperação

desenvolvida entre a América Latina e o Caribe e atores relevantes do sistema internacional.

A CELAC assumiu a interlocução regional no mecanismo de diálogo e cooperação entre a

América Latina e Caribe e a União Europeia (UE), criado em 1999. A cooperação CELAC-UE

inclui temas como ciência e tecnologia, migrações, investimentos, gênero e problema mundial

das drogas, entre outros. Desde 2012, o mecanismo conta com o apoio da Fundação EU-LAC,

com sede em Hamburgo, que tem por missão estimular a reflexão sobre temas de interesses

das duas regiões, apoiar a execução dos objetivos acordados e promover diálogos com a

sociedade civil, academia e setor privado. Apesar da grande diversidade de perspectivas,

natural em um foro que reúne 61 países, o diálogo entre as duas regiões possui base de

sustentação sólida nos estreitos laços culturais, históricos e migratórios existentes entre as

duas regiões, bem como em valores comuns, como a democracia e a promoção dos direitos

humanos.

A CELAC funciona com base em reuniões políticas, reuniões ministeriais especializadas e

grupos de trabalho setoriais. Na definição da ordem de países que ocuparão a Presidência pro

tempore do mecanismo, atenta-se para uma distribuição equitativa entre as sub-regiões da

América Latina e do Caribe. O Equador ocupou a Presidência em 2015, que passou à República

Dominicana em janeiro de 2016, por ocasião da IV Cúpula da CELAC, em Quito.

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Quarto dia – 17 de novembro – Tema 4: Processos de integração na América Latina e Caribe

A aula foi conduzida pela Profª Elia Ruiz.

Nesse dia também foi comemorado o dia

internacional de estudantes do mundo. No início de nossas

atividades, a Profª Bertha já havia comentado sobre o

mesmo e solicitado que nós nos organizássemos para

apresentar algo para os estudantes, ao final desse dia, já

que haveria uma confraternização e os estudantes também

iriam apresentar algumas manifestações culturais, como

poesias, música, esquetes...

Resumindo, como em nosso grupo as

pessoas mal se conheciam, não quiseram se expor,

dessa maneira, eu e o Emerson, os dois brasileiros,

representamos a nossa turma. Como dividimos o

quarto, ficou mais fácil para ensaiarmos. O

Emerson toca violão (emprestamos do filho da

bibliotecária) e canta e eu fiz um chocalho com

uma lata de refrigerante e areia e também canto

um pouco. Dessa forma, ensaiamos três músicas

(Asa Branca de Luis Gonzaga; Anunciação de Alceu Valença e Kid Cavaquinho de João Bosco) e

apresentamos. Foi divertido, isso aproximou o grupo e nos aproximou no convívio com os

estudantes e com a direção da escola.

Quanto à aula, foram abordadas as relações comerciais e políticas das décadas de 70 e

80, falando da internacionalização do livre mercado, que fracassou porque não atendeu aos

interesses de uma minoria com alto poder econômico. Dessa forma, a maioria das populações

estaria exclusa desse processo. Os países da AL exportavam matéria prima e importavam os

produtos finalizados... com o lucro ficando fora dos países de origem.

Já nos dias de hoje, há mais uma concertação política do que uma interação econômica

entre os países da região. Há uma trava para o processo de interação e integração.

No México, citaram nossos companheiros do país, o governo está tirando e mexendo

nos programas sociais para investir na infraestrutura. Ganha-se de um lado, mas perde-se de

outro, já que nesse processo há também muita corrupção e desvios de dinheiro para outras

finalidades. Relato esse que coincidiu com o de outros países.

As mudanças que tem havido são para integrar mercados e não incorpora a sociedade

civil de forma geral, que fica à parte nesse processo de integração, quando há.

Tem havido uma simetria entre os movimentos políticos, econômicos e sociais na AL e

Caribe, onde há inúmeros recursos naturais e pouco desenvolvimento social. Esse movimento é

Profª Elia Ruiz

Mani e Emerson - apresentação

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capitaneado por interesses em implantar cada vez mais rápido o modelo de globalização

neoliberal. Tanto é que, o que vemos hoje, são os governos protegendo o “livre mercado” em

detrimento dos interesses da população e da nação.

Nesse sentido, ela fez uma defesa do modelo socialista implantado em Cuba,

capitaneado por Fidel Castro, nos indicando que lêssemos o livro “26A história me Absolverá”,

do líder cubano. No rodapé segue o link para o livro, em espanhol, não encontrei traduzido.

Quanto à possibilidade de integração entre os países da AL e Caribe, foram apontados:

Quais temas nos unem e quais nos desunem?

Nos unem:

o respeito ao direito internacional;

a igualdade soberana dos estados;

a democracia;

o respeito aos direitos humanos;

a cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável;

o diálogo permanente para a manutenção da paz na região;

São alguns dos elementos singulares aos países da região.

Nos desunem:

interesses particulares políticos e econômicos que norteiam algumas ações na

região;

a circulação das drogas e a pouca vigilância sobre as fronteiras;

barreiras políticas e econômicas para a livre circulação de mercadorias, bens,

serviços e pessoas entre os países da região.

Há um “darwinismo” social, onde os mais fortes (ricos) sobrevivem e expropriam os

mais fracos.

Há ainda o fenômeno da “transnacionalização”. Esse surgiu por volta da década de

sessenta, é caracterizado pela desterritorialização e pela forte expansão capitalista. É preciso

unir as forças e lutas contra as transnacionais, empresas gigantes que detém o monopólio

sobre determinados produtos e serviços. O fato de fatiarem a produção em várias partes do

mundo dificultam as lutas locais. Como no caso das fabricantes de veículos; produtoras de

bebidas; fabricantes de roupas etc.

27Transnacionalização: O capital se reorganizou no plano internacional, visando à perpetuação

da sua reprodução. O fordismo possuía, como essência, o caráter nacional. Ele foi um regime

de acumulação onde o desenvolvimento autocentrado e a oferta nacional constituíam a base

26

http://www.cubadebate.cu/wp-content/uploads/2009/05/la-historia-me-absolvera-fidel-castro.pdf 27

https://portaltrabalho.wordpress.com/producao-cientifica/video-aulas-e-textos/aula-a-transnacionalizacao-do-capital/

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do regime. Porém, o segundo choque do petróleo, aplicado pelos grandes produtores no final

da Década de 1970, transformou esse cenário. Entre as principais transformações, observam-

se as políticas de austeridade competitiva. As mesmas visam escapar da superprodução

relativa e do estrangulamento dos lucros, por meio da conquista de mercados externos. Elas

implicam a compressão máxima de todos os custos de produção, tendo início pelos custos

salariais.

Com relação à economia mundial, Bihr (1998) afirma que a mesma não é mais uma economia

internacional, "(…) mas uma economia transnacional em sentido duplo: seus movimentos

constitutivos ao mesmo tempo atravessam as diferentes economias nacionais, prejudicando

sua coerência e autonomia, e ultrapassam-nas, ao procurarem emancipar-se dos limites do

Estado-Nação, sem entretanto consegui-lo totalmente. Daí o caráter contraditório do espaço

mundial atual, feito ao mesmo tempo de homogeneização, através dos fluxos de mercadorias,

de capitais, de mão-de-obra, de tecnologias, de informações, etc., e de fragmentação, devido à

persistência dos Estados-Nação, e de hierarquização, imposta pelos desenvolvimentos

desiguais sobre os quais repousa a DIT (Divisão Internacional do Trabalho - Bihr, 1998: p. 109).”

Para Chesnais (1997: p. 13), a partir de 1978, a burguesia mundial, conduzida pelos Estados

Unidos e pela Inglaterra, começa a desmantelar as instituições e estatutos que materializavam

o estado anterior das relações. As políticas de liberação, desregulamentação e privatização

surgiram como alternativa para que o capital reconquistasse a liberdade que havia perdido a

partir de 1914.

Houve o surgimento de novos atores regionais e sub-regionais a partir de 2004 (ALBA

2004, Unasul 2008, CELAC 2011, Pacific Alliance 2012).

Sobre a ALBA já foi falado no conteúdo anterior. Vale a pena abordar, portanto, os

outros três.

28UNASUL União de Nações Sul-Americanas

A criação da UNASUL faz parte de processo recente de superação da desconfiança que havia

entre os países sul-americanos desde os movimentos de independência, no século XIX. Até

2008, a América do Sul se relacionava com o resto do mundo por meio de um modelo do tipo

"arquipélago": cada país atuava de maneira isolada e desintegrada, dialogando

primordialmente com os países desenvolvidos de fora da região. Quando do estabelecimento

da UNASUL, os países da região passaram a articular-se em torno de áreas estruturantes, como

energia e infraestrutura, e a coordenar posições políticas. A UNASUL privilegia um modelo de

"desenvolvimento para dentro" na América do Sul – complementando, dessa forma, o antigo

28

http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/integracao-regional/688-uniao-de-nacoes-sul-

almericanas#compromisso

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modelo de "desenvolvimento para fora".

A UNASUL tem como objetivo construir um espaço de integração dos povos sul-americanos. A

região passa por um importante momento de estabilidade democrática e avanços sociais –

consequência, dentre outros fatores, dos benefícios decorrentes da coordenação política entre

os países. A organização tem demonstrado que é possível fortalecer a integração e identificar

consensos, respeitando a pluralidade.

Tem-se discutido, na UNASUL, o desenvolvimento de uma estratégia sul-americana de

aproveitamento dos recursos naturais – uma das principais vantagens comparativas da

América do Sul. No continente está a maior reserva de petróleo do mundo e cerca de um terço

de todos os recursos hídricos do planeta. A América do Sul concentra quase 40% da reserva

biogenética mundial e é a 3º maior produtora mundial das principais culturas agrícolas (trigo,

milho, soja, açúcar e arroz). Projeta-se que, até 2050, a América do Sul será responsável por

30% da produção agrícola do mundo.

29CELAC Comunidade dos Estados Latino americanos e Caribenhos

Foi criada em fevereiro de 2010, durante a Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe,

realizada na Riviera Maya (México). Na mesma ocasião foram realizadas a II Cúpula da América

Latina e o Caribe sobre Integração e Desenvolvimento – Calc e a XXI Cúpula do Grupo do Rio.

A Celac é um novo mecanismo de organização política e integração que abriga os 33 países da

América do Sul, América Central e Caribe. O organismo contribui para a ampliação do diálogo

político e dos projetos de cooperação na América Latina e Caribe, facilitando a definição de

uma identidade própria regional e de posições latino-americanas e caribenhas comuns sobre

integração e desenvolvimento.

30ALIANÇA DO PACÍFICO

A Aliança do Pacífico é um (bloco comercial) mecanismo de integração criado formalmente em

2012, mas com negociações diplomáticas prévias iniciadas em 2011, que propicia o livre fluxo

de bens, investimentos e pessoas na busca conjunta de mercados, especialmente na região da

Ásia-Pacífico. Os membros são: Chile, Colômbia, México e Peru. Enquadra-se, portanto, como

uma organização de nível plurilateral. Esses países representam 36% do PIB da América Latina.

Livre comércio, integração e articulação política orientados claramente à Ásia são seus

principais objetivos. A anulação das tarifas de exportação entre suas fronteiras, englobando todos os

produtos será alcançada em etapas e o resultado será a promoção dos objetivos citados acima. Os

aspectos da negociação para implementação do bloco envolveram aspectos legais, políticos,

econômicos e culturais. Os maiores trunfos do bloco são as vantagens competitivas em: minério,

recursos florestais, energia, agricultura, pesca, setor automotivo e manufaturados.

Apesar de apenas um ano de atividade o bloco parece ganhar força na região, observa-se isso

29

http://www.brasil.gov.br/governo/conteudos-excedentes/celac/brasil-e-america-do-sul-1/celac 30

https://onial.wordpress.com/2013/05/27/a-alianca-do-pacifico-e-um-bloco-comercial/

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pelo fato de outros países desejaram se integrar ao bloco. Atualmente estão como membros

observadores: Canadá, Costa Rica, Panamá, Uruguai, Japão, Guatemala, Espanha e Nova

Zelândia, Equador, El Salvador, França, Portugal, Paraguai e República Dominicana.

Para consolidar a integração é necessário o desenvolvimento de estratégias nos

âmbitos:

Político: garantir a continuidade das ações e conjugar os interesses nacionais

com os regionais.

Econômico: assegurar a inserção no mercado mundial em condições ótimas de

eficiência, sustentabilidade e complementariedade.

Social: promover a equidade, coesão social, diminuição da pobreza,

marginalização e exclusão social.

Cultural: proteger a identidade cultural nacional individual, dentro de uma

unidade mais ampla.

Finalizando a aula, conversamos sobre como as relações humanas hoje são ditadas pelo

ter e não para ser. Falamos tanto em integração entre nações e, muitas vezes, estamos

separados de nós mesmos, de nossas vontades, de nossos ideais.

A disputa está centrada hoje basicamente na dualidade existente entre o capitalismo e o

humanismo. O capitalismo prega o individualismo e desumaniza as pessoas. Dessa forma, a

educação não é voltada para desenvolver o pensamento, mas sim para produzir simplesmente,

para formar mão de obra para servir ao Senhor Mercado.

A tecnologia e os meios de produção tem nos afetado bastante, inclusive em termos

“subjetivos”. As coisas já vem prontas, não temos a ideia do todo, mas das partes. Dessa

maneira, não desenvolvemos a ideia da heterogeneidade, da interdependência, já que as coisas

são catalogadas, embaladas e vendidas de forma estanque. Subjetivamente isso afeta nossa

relação interpessoal, já que também nos tornamos estanques em nossos pensamentos e

modos de olhar.

Já não estamos mais abertos para o diferente e para a heterogeneidade, as coisas vem

empacotadas de forma homogênea e asséptica. Daí os guetos, a separação entre as raças, os

gêneros... a falta de completude. A não integração.

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Quinto dia – 18 de novembro – Tema 5: Movimento sindical internacional da América Latina e Caribe

Esse tema foi ministrado pela Profª Bertha.

Como se caracteriza o movimento sindical

internacional hoje?

Até agora caracterizamos o contexto, a partir

daqui vamos determinar os elementos que regem

esse movimento atualmente, para elaborar as

estratégias e táticas de atuação.

Começou abordando que o MSI – Movimento

Sindical Internacional é um agrupamento dos

movimentos sindicais de vários países, que existe para o compartilhamento de informações e

gestão de propostas para a luta a favor dos trabalhadores.

Abaixo, um rápido relato sobre essas organizações internacionais.

31Desde suas origens, o movimento sindical foi marcado por contínuas divisões. Correntes

socialistas, comunistas, cristãs, e uma diversidade de outras tendências do movimento sindical

buscaram estabelecer raízes nas fileiras da classe trabalhadora. O mesmo ocorreu quando dos

esforços de aglutinação dos diversos sindicatos e centrais em confederações de caráter

internacional, como é o caso da formação, ao longo do século XX, da Confederação

Internacional dos Sindicatos Livres (CISL), da Confederação Mundial do Trabalho (CMT), da

Federação Sindical Mundial (FSM) e da Confederação Europeia de Sindicatos (CES), para

citarmos apenas algumas. Com o final do grande ciclo de crescimento das economias

capitalistas, a partir dos anos 1970, as divisões conduzindo à fragmentação não cessaram,

embora tenham diminuído de intensidade. Ao mesmo tempo, desenvolveram-se, ao nível de

organizações locais, tendências no sentido inverso, que apontavam para a fusão de estruturas

sindicais, ainda que, em determinados países, como o Brasil, a pulverização continue a ser a

tendência dominante. Colocando-se como objetivo imediato do processo de fusão situa-se a

necessidade de limitar os custos administrativos, a adaptação ao declínio das adesões por

parte dos trabalhadores a uma organização sindical e o imperativo de reforçar a negociação

sindical face aos empregadores. Cite-se como exemplo dos processos de fusão, nas últimas

décadas, o nascimento em 1974, da confederação SACO-SR, reunindo os assalariados do setor

público e a formação, no Japão, em 1987, da Rengo. É dentro deste contexto de expansão das

economias e seus impactos negativos para o conjunto da classe trabalhadora que se

estabeleceu, no final de 2006, o processo de fusão de duas grandes e tradicionais

confederações sindicais internacionais, isto é, a unificação da CISL, inicialmente anti-comunista

31

http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt4/sessao4/Ariovaldo_Santos.pdf

Profª Bertha

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55

e, nos últimos anos, se posicionando como de inspiração social-democrata, e da CMT, de

origem cristã, criada pelo Vaticano após a Primeira Guerra Mundial, às quais se auto

dissolveram para dar origem à Confederação Sindical Internacional (CSI).

Constatou-se, na conversa com o grupo, que há uma precarização nas relações de

trabalho em todo o continente. Mais um motivo para tentarmos alavancar uma unidade

sindical para solidarizar e defender os interesses dos trabalhadores da região.

Na sequencia, a Profª Bertha falou sobre a divisão do mundo entre os regimes

capitalista e socialista, abordando alguns fatos, como a revolução Russa, em 1917 e outras

ações referentes ao movimento sindical mundial:

1917 – Revolução de outubro (Revolução Russa)

1919 – Conferência Internacional do Trabalho - CIT

1945 – Federação Sindical Mundial – FSM

Abaixo, um pequeno resumo sobre cada um desses fatos.

32A Revolução Russa de 1917 foi uma série de eventos políticos na Rússia que, após a eliminação

da autocracia russa e depois do Governo Provisório (Duma), resultou no estabelecimento do poder

soviético sob o controle do partido bolchevique. O resultado desse processo foi a criação da União

Soviética, que durou até 1991.

No começo do século XX, a Rússia era um país de economia atrasada e dependente da

agricultura, pois 80% de sua economia estava concentrada no campo (produção de gêneros

agrícolas). Os trabalhadores rurais viviam em extrema miséria e pobreza, pagando altos

impostos para manter a base do sistema czarista de Nicolau II. O czar governava a Rússia de

forma absolutista, ou seja, concentrava poderes em suas mãos não abrindo espaço para a

democracia. Mesmo os trabalhadores urbanos, que desfrutavam os poucos empregos da fraca

indústria russa, viviam descontentes com o governo do czar.

No ano de 1905, Nicolau II mostra a cara violenta e repressiva de seu governo. No conhecido

Domingo Sangrento, manda seu exército fuzilar milhares de manifestantes. Marinheiros do

encouraçado Potenkim também foram reprimidos pelo czar.

Começava então a formação dos sovietes (organização de trabalhadores russos) sob a

liderança de Lênin. Os bolcheviques começavam a preparar a revolução socialista na Rússia e a

queda da monarquia.

A Revolução compreendeu duas fases distintas:

32

http://www.sohistoria.com.br/ef2/revolucaorussa/

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A Revolução de Fevereiro de 1917(março de 1917, pelo calendário ocidental), que

derrubou a autocracia do Czar Nicolau II da Rússia, o último Czar a governar, e

procurou estabelecer em seu lugar uma república de cunho liberal.

A Revolução de Outubro (novembro de 1917, pelo calendário ocidental), na qual o Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin, derrubou o governo provisório e impôs o governo socialista soviético.

O Governo Provisório iniciou de imediato diversas reformas liberalizantes, inclusive a abolição

da corporação policial e sua substituição por uma milícia popular. Mas os líderes bolcheviques,

entre os quais estava Lenin, formaram os Sovietes (Conselhos) em Petrogrado e outras

cidades, estabelecendo o que a historiografia, posteriormente, registraria como ‘duplo poder’:

o Governo Provisório e os Sovietes.

Lenin foi o primeiro dirigente da URRS. Liderou os bolcheviques quando estes tomaram o

poder do governo provisório russo, após a Revolução de Outubro de 1917 (esta sublevação

ocorreu em 6 e 7 de novembro, segundo o calendário adotado em 1918; em conformidade

com o calendário juliano, adotado na Rússia naquela época, a revolução eclodiu em outubro).

Lenin acreditava que a revolução provocaria rebeliões socialistas em outros países do

Ocidente.

Ao expor as chamadas Teses de abril, Lenin declarou que os bolcheviques não apoiariam o

Governo Provisório, e pediu a união dos soldados numa frente que viesse pôr fim à guerra

imperialista (I Guerra Mundial) e iniciasse a revolução proletária, em escala internacional, ideia

que seria fortalecida com a propaganda de Leon Trotski.

No Congresso de Sovietes de toda a Rússia, realizado em 16 de junho, foi criado um órgão

central para a organização dos Sovietes: o Comitê Executivo Central dos Sovietes, que

organizou em Petrogrado uma enorme manifestação, como demonstração de força.

33Conferência Internacional do Trabalho - CIT

Na primeira Conferência Internacional do Trabalho, realizada em 1919, a OIT adotou seis

convenções.

A primeira delas respondia a uma das principais reivindicações do movimento sindical e

operário do final do século XIX e começo do século XX: a limitação da jornada de trabalho a 8

diárias e 48 semanais. As outras convenções adotadas nessa ocasião referem-se à proteção à

maternidade, à luta contra o desemprego, à definição da idade mínima de 14 anos para o

trabalho na indústria e à proibição do trabalho noturno de mulheres e menores de 18 anos.

34Federação Sindical Mundial – FSM

33

http://www.oit.org.br/content/hist%C3%B3ria

34 http://www.wftucentral.org/historia-2/?lang=pt-br

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A Federação Sindical Mundial (FSM) foi fundada em Paris em 3 de Outubro de 1945. No

Primeiro Congresso da FSM (Paris, 03-08 outubro 1945), a fundação da FSM e foi assistido por

delegados votaram, representando 67 milhões de trabalhadores, membros de 56 organizações

nacionais de 55 países e 20 organizações internacionais. O Primeiro Congresso da FSM foi

precedida pela Conferência das Uniões Federação Mundial de Comércio, realizada em Londres,

de 06 a 17 de fevereiro de 1945, e que foi realizada a maior parte do trabalho de preparação.

Na Conferência de Londres teve a participação de 204 delegados de 53 organizações nacionais

e internacionais, representando 60 milhões de trabalhadores em todo o mundo.

Entre os anos de 1960 e 1970 houve um movimento em toda a AL de tomada do poder por militares.

Ao mesmo tempo, houve a derrota no campo socialista:

Avanço da direita

Desfavorecimento dos trabalhadores

Retrocesso de conquistas

Privatizações

Avanço neoliberal

Se rompe o mito de governos liderados por trabalhadores

Perseguição e estigmatização dos líderes sindicais

Flexibilização laboral

Desorganização

Ofensiva antissindical

Algo bem parecido com o momento pelo qual estamos passando de forma geral na AL hoje.

Depois a Profª dividiu a turma em seis grupos. Cada dois grupos se ocupou de um mesmo tema, para ser apresentado posteriormente. O tema dos trabalhos era sobre as ofensivas antissindicais em vigor, em cada uma das seguintes dimensões:

1. Ideológica (Grupos 1 e 4) 2. Patronal/empresarial (Grupos 2 e 5) 3. Estatal/governamental (Grupos 3 e 6)

Para balizar os trabalhos, distribuiu uma folha abordando cada uma das dimensões, conforme segue abaixo, em cada uma delas.

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Dimensão 1 – Ideológica – Grupos 1 e 4

Grupo 1 – Países representados: Panamá, Colômbia, México, Argentina e Chile

Ofensiva Antissindical Ideológica Os meios de comunicação a serviço do modelo econômico; - Se aliena a sociedade (consumismo,

individualismo). - Se estigmatiza o movimento social e

sindical - Se oculta e se muda a realidade. - Se observa e há perseguição contra os

lideres sociais e sindicais. A educação como instrumento ideológico - Se educa para fazer e não para ser (o ser

humano para a produção). - Se criam outros valores (falta de

solidariedade, egoísmo). - Não se incentiva a leitura. - Há perda de identidade local. Mudança de linguagem: - Nos dizem que a luta de classe terminou. - Não é trabalhador, é colaborador e sócio - Descriminação social do dirigente

sindical, promovida desde sua ideologia. - Dimensões da Ofensiva Antissindical Ideológico.

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Grupo 4 – Países representados: Brasil (meu grupo), México, Colômbia, Panamá e Costa Rica.

Dimensão 2 – Patronal/empresarial – Grupos 2 e 5

Dimensão da Ofensiva Antissindical Ideológica

- A ofensiva antissindical, como afeta a forma

de pensar das sociedades, para nós como

grupos sindicais/nós mesmos.

- Nos padronizam (somos problemáticos,

ladrões, guerrilheiros, terroristas etc.)

- Precarizam a educação dos jovens para

fazer com que sejam mais individualistas

- Criam falsos rumores em nossos locais de

trabalho

- Ameaças de morte

- Morte de dirigentes sindicais

- Pegam pequenos fatos dos sindicatos e os

maximizam e transformam as grandes

lutas e suas conquistas em pouco

- Não querem dividir

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Grupo 2 – Países participantes: Argentina, Colômbia, México, Panamá

Grupo 5 – Países participantes: Argentina, Chile, Costa Rica, México, Panamá

Patronal - Empresarial

Panamá: Pacto entre empresas para

blindar a zona livre dos sindicatos

Colômbia: Pactos coletivos (individuais)

Sindicatos Patronais

Contratação sindical

Compra de líderes (corrupção)

Criação de sindicatos paralelos

Terceirização (out sourcing),

subcontratação

Perseguição de ativistas

Precarização das condições de trabalho

Patronal - Empresarial Desvantagens:

Argentina: desprestígio (sutil - direto);

em viagens para capacitação cortam

pagamentos e benefícios.

Chile: desprestígio; criação de vários

sindicatos (divide e vencerás)

Costa Rica: desprestígio; negociação

por debaixo (às escondidas)

México: desprestígio; existem estigmas

em ser sindicalista

Panamá: sindicato amarelo (similar ao

pelego no Brasil) contra o sindicato;

individualismo

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Dimensão 3 – Estatal/governamental – Grupos 3 e 6

Grupo 3 – Países representados: Costa Rica, México, Colômbia, Panamá

Dimensão da Ofensiva Antissindical

Perspectiva Estatal Governamental

- Legislação antitrabalhista, antissindical

- Desproteção ao trabalhador (eliminação

de horas extras)

- Reformas das leis trabalhistas

- Direito a folga/criminalização

- Terceirização do emprego e menores

salários

- Burocracia para o reconhecimento

jurídico das organizações sindicais

- Patrocínio e promoção de campanhas

antissindicais e antitrabalhistas

- Ignorar normas e falhas internacionais

(OIT)

Para promover mudanças nesse estado de

coisas se recomenda tomarmos o poder!

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Grupo 6 – Países representados: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México

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Modificações da ofensiva antissindical partindo do estado (1990 a 2016)

Âmbito Argentina Brasil Chile Colômbia México

Modificações no marco legal

*Legislativo

-Impõem uma prática de atenção aos conflitos fora do marco legal

.agiliza conflitos apresentados pelas empresas

.arquivam as demandas sindicais

-ataque ao imposto sindical

-ataque ao direito de greve dos servidores públicos

-privatização das empresas estatais

-privatização de empresas estratégicas

-ley 115

-decreto 1850

-2277

-1278

-1075

(todas leis precarizando as condições de trabalho)

-reformas na constituição

-reformas estruturais

-novo modelo de concentração de poderes, que trocam as juntas de conciliação e arbitragem por tribunais (judicialização)

Relação Estado - Classe trabalhadora

-dispensa massiva e injustificadas (trabalhadores do estado ou privados)

-diminuição da aceitação de propostas dos sindicatos para a indenização dos trabalhadores

-terceirizações

-ataque à seguridade social e pensionistas

Pensões

Pensionistas

Garantias

Produtividade

Salários

-sem garantia de estabilidade no trabalho

-terceirização

-dispensa de trabalhadores

-saúde

-educação

-anos de previdência

-privatização de 33 empresas estatais

-pemex (plano do governo) mais uma estratégia desempregando os trabalhadores

-apoio e privilégios ao setor privado

Execução judicial

utilização da força pública contra as greves e pagamentos (sem autorizar)

-ataque à CLT (leis trabalhistas)

-aumento da repressão e das práticas antissindicais

-multas aos sindicatos

-dificulta a representação de sindicatos pequenos

-deslocamento forçado

-morte de sindicalistas

-repressão com a polícia

-movimento rompe greve

- perseguição de lideranças sindicais e professores

-ameaça constante da força pública nas manifestações

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Como o visto, as realidades pelas quais os sindicatos estão passando atualmente tem um padrão que se repete por toda a AL. Há países em que a situação está pior do que em outros, como na Colômbia e México, onde tem havido assassinatos de lideranças sindicais sistematicamente.

Os ataques e achaques contra o movimento dos trabalhadores é uma realidade escancarada e que merece um olhar mais atento, além de uma estratégia de atuação mais global contra os desvios e desmandos que tem ocorrido na região.

Há uma dimensão subjetiva e ideológica na demonização dos sindicalistas e da atuação sindical, visando desestimular a sindicalização e a mobilização dos trabalhadores.

Mesmo o sindicalista com posições mais à direita é chamado de comunista, como se fosse um “insulto”. No Brasil ouvimos muito o “vai pra Cuba!”. Há uma satanização dos movimentos sociais de forma geral, assim como com relação à questão dos direitos humanos, que, novamente no Brasil, virou “o direito dos manos”, como se este só existisse para defender os direitos dos “bandidos”... novamente a banalização e a desinformação.

Da mesma forma que há um ataque “legalizado” aos movimentos sindicais através da judicialização em escala global (ou, ao menos, regional), uma vez que em todos os países representados no curso relataram problemas com a “justiça”, que só enxerga um lado da questão, geralmente contra os sindicatos.

Tem havido uma imposição pelo medo. Há o ataque às leis trabalhistas no congresso; da polícia nas manifestações; do poder público e jurídico nas questões legais indo sempre contra os sindicatos. No caso dos trabalhadores o medo é de perder o emprego, fazendo com que se sujeitem a perdas de seus direitos nas negociações e na imposição das empresas para que não se filiem aos sindicatos se quiserem continuar trabalhando.

Esse cenário se repete em toda a região e, quiçá, de forma global. Isso gera instabilidade e favorece quem detém o poder político e econômico. Por isso se mostra urgente que haja empoderamento da classe trabalhadora e unidade nas ações das lideranças sindicais, para fortalecer, engrandecer e demonstrar o poder dos trabalhadores unidos.

Participantes dos 7 países no curso em Cuba

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Semana 2

Sexto dia – 21 de novembro – Tema 6: Os EUA, seus interesses geopolíticos na região. As relações conflituosas com Cuba.

O Prof. Tito conduziu a aula nesse dia.

A imagem utilizada por ele para ilustrar a relação entre Cuba e EUA é a do enfrentamento entre um elefante e uma formiga... sendo Cuba a formiga.

Também como imagem, utilizou uma frase do livro de Zun Tzu, a Arte da Guerra: “conheça o seu inimigo como a si mesmo e não precisa se preocupar com o resultado de cem batalhas”. Todos os nossos professores demonstraram conhecer aspectos dos EUA tanto quanto sabem sobre os de Cuba.

Hoje, os EUA tem ¼ (um quarto) da economia do mundo. Das empresas transnacionais, das 10 mais importantes, 8 são americanas.

Após a 2ª guerra mundial, dominava quase 50% da economia global, sendo que a Europa detinha 37%, o Japão de 8% a 10% e a Alemanha de 4% a 5%.

Como comparação, a economia de cada um dos 50 estados americanos equivale a economias de diversos países. Se os EUA “caírem”, cairão vários países ao redor do mundo, tal a interdependência e simbiose que existe hoje entre as economias globalizadas. É o emissor da principal moeda do mundo, que serve como referência para as relações comerciais em todas as esferas: o dólar.

Os EUA foram fundados por católicos protestantes fugidos das invasões na Europa, que se instalaram nas terras norte-americanas. Nessa época, o México perdeu mais de metade de toda a sua área para os norte-americanos.

Comprou o Alaska da Rússia pelo equivalente a US$5.000 (cinco mil dólares).

Abaixo, uma matéria sobre a expansão territorial dos EUA.

35Entende-se como a expansão territorial dos EUA aquele período que se estende praticamente durante todo o século XIX, onde o país aumenta de modo extraordinário as suas fronteiras, chegando ao fim do mesmo período com praticamente as dimensões continentais que hoje possui.

35

http://www.infoescola.com/historia/expansao-territorial-dos-eua/

Prof. Tito

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Inicialmente constituído por treze estados alinhados ao longo da costa leste da América do Norte, a jovem nação constituía um pequeno país, estendendo-se do Maine à Flórida e horizontalmente entre a costa do Atlântico e o rio Mississipi. Esta pequena nação, porém, logo desenvolve uma filosofia em torno do expansionismo. Tal filosofia concentrava-se na crença de que os habitantes das ex-colônias britânicas haviam sido escolhidos por Deus para exercer uma liderança mundial, sendo que nada, nem ninguém poderia impedir este destino. E é assim que ficou conhecida esta filosofia, denominada “Doutrina do Destino Manifesto”, que serviu de impulso para que os norte-americanos saíssem de suas fronteiras, indo ocupar o vasto e quase inexplorado oeste.

A expansão territorial se deu basicamente de quatro formas:

1 - Compra de territórios - foi por este formato de expansão territorial que se deu os primeiros importantes avanços na linha fronteiriça norte-americana, com a compra da Luisiana à França de Napoleão Bonaparte em 1804 e a compra da Flórida em 1819 aos espanhóis. Importante lembrar que os 15 milhões de dólares gastos pelos EUA na compra do território denominado Luisiana à época fazia referência a uma faixa territorial muito maior que o atual estado da Luisiana, que se estendia do Golfo do México às fronteiras com o Canadá britânico.

2 - Diplomacia - é exemplo deste formato de expansão a anexação do Óregon aos ingleses, em 1846, a partir de compensações de natureza diversas pelo direito de soberania ao território.

3 - Guerra - nesta categoria, o México foi a maior vítima do expansionismo norte-americano, pois perdeu parte considerável de seu território original. Inicialmente, os colonos norte-americanos estabelecidos no Texas declararam a independência deste, logo depois aceitando sua incorporação aos Estados Unidos. Os conflitos iniciados com a ocupação de colonos dos EUA em várias partes de território pertencente ao México chegaria ao fim somente em 1845, através do tratado de Guadalupe-Hidalgo, que estabelecia a fronteira entre

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México e Texas, além de ceder aos norte-americanos as atuais Califórnia, Arizona, Novo México, Nevada, Utah e parte do Colorado por meio de uma indenização de 15 milhões de dólares.

4 - Guerra contra as nações indígenas - em sua marcha para o Oeste, expandindo o território dos EUA, era imprescindível aos colonos que "pacificassem" os povos indígenas estabelecidos ao longo de todos os novos territórios, ocupando suas terras efetivamente. Provavelmente foram os povos indígenas aqueles que mais perderam com a filosofia do Destino Manifesto, sendo muitos deles exterminados, outros depararam-se com uma quase extinção, outros acabaram assimilados aos dominadores.

Os Estados Unidos continuariam sua expansão durante o século XX, mas agora adquirindo territórios ultramarinos, espécie de "neocolônias", como por exemplo Cuba, Porto Rico, Filipinas, a Samoa Americana ou as ilhas Marianas.

Um dado interessante demonstrado pela matéria acima, é sobre a “doutrina do Destino Manifesto”, segundo a qual a missão dos EUA é a de dominar o mundo...

36A doutrina do "Destino Manifesto" é uma filosofia que expressa a crença de que o povo dos Estados Unidos foi eleito por Deus para comandar o mundo, sendo o expansionismo geopolítico norte-americano apenas uma expressão desta vontade divina.

Em meio a esta ideia de predomínio mundial norte-americano estava também a ideia do destino norte-americano de predominar sobre os povos da América Latina, pois estes estão localizados no mesmo continente e não desenvolveram a capacidade de exercer domínio sobre outros povos, o que era sintetizado em "Be strong while having slaves", frase de propaganda política do século XIX que tinha como principal objetivo demonstrar o quanto a cultura dos EUA era atraente e digna de apreço, fazendo uma imagem de que o país seria o melhor do mundo, com os melhores e mais preparados indivíduos, e, em última instância, fazer com que os cidadãos de outros países passassem a desprezar suas próprias pátrias, adorando o ideal americano de progresso e superioridade.

A frase é creditada ao jornalista nova iorquino John L. O'Sullivan na sua publicação de julho/agosto de 1845, United States Magazine and Democratic Review, em um ensaio entitulado "Annexation", tratando da questão do Texas, e sua iminente adesão à União.

O termo seria perpetuado através do tempo, justamente pelas ações político-militares norte-americanas, que pareciam seguir à risca tal orientação, tornando-se bastante apropriado para descrever a expansão territorial deste país, que se deu, primeiramente, na segunda metade do século XIX, em meio à anexação do norte do México aos EUA, e depois, no fim do mesmo século com a guerra contra a Espanha. A própria imprensa do país iria se utilizar fartamente deste conceito, utilizando-o para defender as atitudes muitas vezes arbitrárias de seu governo.

O uso desta doutrina seria oficialmente abandonado em 1850, apenas para ser revivida em 1880, passando então a ser amplamente utilizada pelos políticos da época, em meio à corrida colonial promovida pelas potências europeias. Após a realização de suas ambições,

36

http://www.infoescola.com/filosofia/destino-manifesto/

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tanto o meio político como a mídia norte-americana em geral irá mais uma vez "enterrar" a doutrina, embora muitos especialistas acreditem que certas ideias do Destino Manifesto façam parte do ideário político-militar estadunidense até hoje, estando presente em muitas das ações unilaterais controversas realizadas pelo seu governo através das décadas. Como prova de tal persistência dos ideais do Destino Manifesto dentro da esfera de poder máxima do país, é flagrante observar os conceitos postos em discursos de líderes norte-americanos através do tempo, com destaque para as palavras de James Buchanan, em seu discurso de posse como presidente norte-americano, em 1857, e as de Colin Powell, secretário de estado do governo George W. Bush, em 2004:

"A expansão dos Estados Unidos sobre o continente americano, desde o Ártico até a América do Sul, é o destino de nossa raça (...) e nada pode detê-la". - Buchanan.

"O nosso objetivo com a Alca é garantir para as empresas norte-americanas o controle de um território que vai do Pólo Ártico até a Antártida". - Powell.

Com a vitória do norte na guerra da secessão, também inicia o crescimento do capitalismo e da economia americana.

Entre 1860 e 1890 aumenta em 30 vezes o total de empresas nos EUA, saltando de 25.000 para 335.000.

Com relação a Cuba, houve várias tentativas dos EUA em anexar definitivamente a ilha aos seus territórios. Em 1898 houve a primeira guerra imperialista, além do componente militar, também os econômicos, políticos e sociais na tentativa dessa anexação. A revolução cubana teve como pano de fundo a necessidade de dar um basta à colonização americana e às péssimas condições de vida e abusos que havia contra a população. Indicou o livro 37“EL APOCALIPSIS según San George” de Eliades Acosta Matos que clarifica o poder dos EUA e as inter-relações deste com o fascismo alemão e austríaco e tenta desvendar a essência oculta do movimento neoconservador americano desde suas origens.

Após a 2ª guerra mundial, os EUA apoiou a aprovou a independência de vários países colonizados pelos europeus, expandindo suas fronteiras econômicas e políticas sendo, assim, tido como aliado e amigo de vários países ao redor do mundo. Uma das estratégias foi desenvolvida através do Plano Marshall.

38O Plano Marshall, desenvolvido pelo general estadunidense George C. Marshall, consistiu na aplicação de medidas de política econômica para reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – o que passou a ser feito a partir de 1947. O nome oficial do plano era European Recovery Program (Programa de Recuperação Europeia). De 1948 a 1952, os Estados Unidos aplicaram cerca de 12,6 bilhões de dólares nos países europeus, sobretudo na Grã-Bretanha, França e Holanda.

A ideia original do general Marshall era incluir todos os países da Europa no programa, incluindo aqueles pertencentes à União Soviética. Mas, em 1947, Josef Stalin, que, durante os anos finais da guerra, havia lutado ao lado dos aliados (comandados por Inglaterra e Estados Unidos) contra a Alemanha, Itália e Japão, negou-se a aceitar a ajuda dos EUA. A recusa se deu 37

http://www.cubadebate.cu/wp-content/uploads/2009/05/apocalipsis-segun-san-george-eliades-acosta-matos.pdf 38

http://brasilescola.uol.com.br/historiag/plano-marshall.htm

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por motivos ideológicos e estratégicos e acabou por desencadear o início da Guerra Fria. Como forma de rivalizar com o Plano Marshall, a URSS criou seu próprio plano de reconstrução econômica dos países do Leste Europeu que estavam sob a sua influência: o Comecon (Conselho mútuo para assistência econômica).

Dado esse acirramento político-ideológico, o então presidente dos EUA, Harry Truman, e o diplomata George F. Kennan perceberam que o programa do general Marshall não poderia tornar-se efetivo sem um outro programa de contenção de um possível avanço do comunismo nos países arrasados pela guerra. A ameaça desse avanço era real e poderia ser promovida tanto diretamente pela URSS, quanto pelos próprios partidos comunistas desses países. A saída encontrada ficou conhecida como “Doutrina Truman”: a diplomacia americana passou a se articular com políticos europeus de orientação social-democrata, contrários ao comunismo, mas com grande aceitação popular. Como dizem os pesquisadores Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa, no livro “O leviatã desafiado”:

Na contenção do Plano Marshall, os estrategistas americanos não tinham preferência por parcerias com governos conservadores. Na verdade, os mais argutos visualizavam nos social-democratas os melhores parceiros. Eles eram ideologicamente receptivos aos conceitos de planejamento e cooperação. Mais importante ainda, representavam a esquerda democrática e dividiam com os comunistas a influência sobre os sindicatos. Nos anos 1950, além de Attlee e Bevin, líderes social-democratas como o belga Paul-Henri Spaak, o francês Guy Mollet, o holandês Willem Drees e o norueguês Einar Gerhardsen cimentaram a ponte transatlântica entre a Europa e os Estados Unidos. A articulação da reconstrução econômica com a politica social-democrata seguiu em grande parte também as orientações do keynesianismo, pensamento econômico desenvolvido pelo economista britânico John Maynard Keynes.

Desdobramentos: OECE e OTAN

Alguns desdobramentos importantes do Plano Marshall foram a criação da OECE (Organização para Cooperação Econômica Europeia) e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A primeira entrou em vigor em 16 de abril de 1948, e teve o objetivo de coordenar a distribuição dos fundos empregados pelos EUA e integrar os países europeus diretamente envolvidos com os investimentos. Em 1957, com o Tratado de Roma, a estrutura da cooperação econômica europeia evoluiria para o Mercado Comum Europeu e, depois, para a União Europeia.

Já a OTAN, criada em 4 de abril de 1949, era uma aliança militar que tinha por objetivo integrar militarmente e consolidar a estrutura dos Estados-Nação europeus financiados pelo Plano Marshall. Quando sobreveio a Guerra da Coreias a consequente Guerra Fria, com o acirramento da disputa entre soviéticos e americanos, os países-membros da OTAN reservaram-se do pacto que definia a agressão a uma das nações como sendo agressão a todas.

Os EUA são o 4º maior país do mundo territorialmente e o 3º onde mais se fala espanhol (55 milhões de latinos). Um componente sobre essa questão é que há uma extrema aculturação sobre todos aqueles que se naturalizam norte-americanos, tendo estes que renegar sua antiga história. As ascendências não são assimiladas, mas sim a cultura americana. Se houver uma

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guerra contra o país de origem dos imigrantes, esses terão que pegar em armas contra seus próprios países de origem. Mais de 64% da população é branca; 16% são hispânicos; 12,4% afro-americanos e outras etnias são 6,5%.

Com relação à questão cultural, em países como Cuba e Brasil, por exemplo, há uma transculturação, ou seja, uma assimilação das características de várias procedências (negros, índios, asiáticos etc.), o que nos torna mais receptivos e maleáveis.

Mas, assim como há as potencialidades, há também vulnerabilidades no modo de vida americano. Indicou o filme de Michel Moore 39“Fahrenheit 9/11”, vencedor da Palma de Ouro, em Cannes, como melhor filme de 2004, para entendermos um pouco sobre os desmandos perpetrados pelo império estadunidense para alcançar seus objetivos de supremacia... e feito por um americano. No rodapé segue o link para o documentário.

Vulnerabilidades dos EUA:

Déficit fiscal de mais de 1,65 bilhões USD; Dívida pública de mais de 17,067 bilhões/USD; Mais de 320 milhões de habitantes, com ‘fúria’ consumidora; Maior produtividade, mas com grande desemprego (aproximadamente 13 milhões); Quase 50 milhões de habitantes são considerados pobres (27,6% de hispânicos e

23,4% da população negra); A coluna vertebral de sua economia é o petróleo, tendo que importar a maior parte,

já que de um consumo de 20 milhões de BPD (barris – petróleo - dia) produz somente 5 milhões;

É o responsável pela emissão de mais de 30% das emissões de gases na atmosfera; Os serviços de saúde estão entre os mais caros do mundo (e com o fim do

Obamacare, a situação vai piorar); A educação pública tem altos custos e as escolas pagas são extremamente caras; Há elevados índices de violência e drogadição; Existem por volta de 7 milhões de analfabetos absolutos (3,1% da população total); Atualmente há mais de 310 milhões de armas de fogo nas mãos da população (o

que não tem garantido a segurança); Desde 1968, declarou o ex-presidente Obama, mais de um milhão e trezentos mil

estadunidenses morreu no país por arma de fogo, essa cifra “é mais alta do que todas as guerras da história americana juntas”;

Houve mais de 200 tiroteios em escolas nos últimos 15 anos; Por volta de 3.000 crianças morrem anualmente por feridas provocadas por armas

de fogo; As crianças negras tem 5 vezes mais possibilidades de morrer baleado do que uma

criança branca; A crise racial é uma realidade inconveniente; 23,4% da população (74,8 milhões) são imigrantes; Entre 2009 e 2015 o governo Obama deportou mais de dois milhões e oitocentas

mil pessoas; País mais individualista do mundo; Obama não cumpriu suas promessas (fechamento Guantánamo, reforma

educacional e do sistema de saúde – que, aliás, foi desmantelado por Trump);

39 https://www.youtube.com/watch?v=rxiNYUFIiJ4

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Sistema político (os eleitores estão mais preocupados com as suas necessidades em menor escala e votam de acordo com os seus interesses, a visão macro tem como base a sua visão micro... vê-se como Trump é celebrado pelo discurso populista e caseiro);

Os norte-americanos não elegem os presidentes, a eleição é 40indireta (o colégio eleitoral (congressistas) é que determina quem será o presidente. Hilary Clinton foi a mais votada pelos eleitores, mas Donald Trump foi o escolhido pelos delegados e eleito);

Há um processo de “direitização” nos EUA e na AL.

Há uma enorme incerteza quanto à relação Cuba-EUA com a entrada de Trump no cenário político. Os cubanos sempre estiveram com um pé atrás na aproximação promovida por Obama na presidência, já que a história demonstra que essa nunca foi favorável a Cuba. Agora, com Trump, há uma total incógnita.

Como o visto anteriormente, há uma constante tentativa dos EUA ao longo dos tempos para desestabilizar o governo cubano. Embora tenha havido uma aproximação com Obama, são muitos os obstáculos a serem suplantados, além da desconfiança do governo cubano com relação às reais intenções dessa aproximação. Ainda hoje, há mais de 80 blogs e sites orientados para gerar campanhas contra o regime cubano.

Atualmente, Cuba mantém relações comerciais com mais de 140 países, em vários níveis, apesar do bloqueio norte-americano.

Mais de 70% da população cubana está nas cidades, há poucas pessoas trabalhando no campo. Há uma política de governo para incentivar a agricultura familiar.

Sobre o que move o poder, nos disse o Prof. Tito: “O real não é o que vemos, mas o que está por baixo, que move a massa de interesses variados e difusos.”

No período da tarde, o Sr. Ramón Cardona Nuevo - Secretario da Federação Sindical Mundial da América Latina e Heriberto Gonzáles Del Valle, Assessor da da FSM na AL, fizeram uma explanação sobre a organização.

Abaixo, a transcrição do folder da organização.

40 http://super.abril.com.br/comportamento/como-funcionam-as-eleicoes-americanas/

Ramón Cardona e Heriberto Gonzáles

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Sétimo dia – 22 de novembro – Tema 7: A atualização do modelo econômico e social cubano de desenvolvimento socialista. Participação popular dos trabalhadores e sindicatos.

O Prof. Sanamé Martinez comandou as atividades nesse dia. O tema foi a própria sociedade cubana.

Segundo ele, a principal conquista da revolução cubana foi a revolução social.

Os dois elementos principais da revolução foram o poder político dos trabalhadores e a propriedade social de todo o povo.

A revolução social é entendida como necessária para realizar as transformações na economia e na sociedade em conjunto.

Sem o poder político não se pode transformar a economia e a sociedade.

Antes da revolução o país era basicamente campesino e as melhores terras estavam nas mãos dos estrangeiros.

Sobre a conturbada relação com os EUA e o sistema eleitoral em Cuba, segue abaixo uma matéria sobre o tema.

41A política dos Estados Unidos para Cuba se caracteriza por grandes conflitos de interesses que remontam ao governo de Thomas Jefferson, na primeira década do século XIX. As relações conflituosas se aprofundam com a Revolução Cubana de 1959, na qual os revolucionários encabeçados por Fidel Castro Ruz promoveram reformas estatais de cunho socialista que desagradavam os EUA naquele contexto da Guerra Fria. Sobre este ponto, Moniz Bandeira (1998, p. 14) coloca que:

(…)da mesma forma que Thomas Jefferson, John Quincy Adams pretendia também a anexação de Cuba, por considerá-la parte integrante do continente, a ‘fronteira natural’ dos EUA e fronteira indispensável para sua segurança no Golfo do México. A ideia de anexação contava também com ampla receptividade dentro daquela colônia espanhola, e o movimento para concretiza-la começara na verdade por volta de 1810, quando representantes de hacendados (fazendeiros) e proprietários de escravos cubanos entraram em negociações secretas com o cônsul norte-americano em Havana.

Os Estados Unidos, que desde 1898 vinha apoiando o povo cubano na sua luta pela independência da Espanha, instalou um governo militar na ilha em substituição ao espanhol, tornando a ilha um protetorado americano até 20 de maio de 1902, data em que retirou-se da ilha entregando o poder ao presidente da recém fundada republica cubana.

“Eu tinha a maior vontade de entender-me com os Estados Unidos. Até fui lá, falei, expliquei nossos objetivos. (…) Mas os bombardeios, por aviões americanos, de nossas

41

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_de_Cuba

Prof. Sanamé, em pé

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fazendas açucareiras, das nossas cidades, as ameaças de invasão por tropas mercenárias e a ameaça de sanções econômicas constituem agressões à nossa soberania nacional, ao nosso povo”. Disse Fidel Castro a Louis Wiznitzer, enviado especial do GLOBO a Havana, em entrevista publicada em 24 de março de 1960.

Quanto ao sistema político, Cuba é dividida em 15 províncias e 168 municípios. Cada província e cada município têm, simultaneamente, uma Assembleia do Poder Popular eleita, e um sistema de cortes judiciais. As cortes municipais são a justiça de primeira instância, enquanto as cortes provinciais cuidam do julgamento de pequenas contravenções penais e causas cíveis de conflito, como divórcios, além de servirem como corte de apelação para as sentenças das cortes municipais.

Além dessas organizações formais, o sistema político de Cuba incorpora, em seu processo decisório, um conjunto de organizações populares, tais como o Partido Comunista de Cuba, a Federação Cubana de Mulheres e a Associação Nacional de Pequenos Fazendeiros.

O Prof. Sanamé relatou que em Cuba não há analfabetos e todos tem moradia, mesmo que precárias, e lembrou uma das célebres frases de Fidel Castro: “Esta noite milhões de crianças dormirão nas ruas, nenhuma delas é cubana.”

Outro ponto que todos os professores sempre apontavam é sobre a questão da unidade, necessária para alcançar a vitória. A unidade consiste em manter um olhar atento para os mesmos objetivos, que devem ser comungados por todos.

Ao longo dos anos, houve várias atualizações no modelo de governo nos Congressos do Partido. O primeiro congresso foi realizado em 1975, abaixo, transcrição de parte da convocatória.

“El Congreso analizará en su Orden del Día, la actividad desarrollada por el Partido y el pueblo durante todos estos años de incesante lucha por defender la Revolución y por sentar las bases para la construcción del socialismo, elaborará la plataforma de nuestra futura actividad en la política interior y exterior, aprobará los Estatutos del Partido, examinará el proyecto de la Constitución Socialista, determinará el sistema de dirección de la economía, trazará la línea de acción de los órganos de Poder Popular, adoptará las directivas principales para los próximos años en las fundamentales actividades políticas, económicas y sociales, y procederá a elegir al Comité Central del Partido que, como órgano superior del Partido entre los Congresos, estará encargado de velar por la aplicación de la línea política trazada por el Congreso y de sus demás acuerdos y decisiones.”

Tradução: “O Congresso analisará na sua Ordem do Dia, a atividade desenvolvido pelo Partido e o povo durante todos estes anos de incessante luta para defender a Revolução e para assentar as bases para a construção do socialismo, elaborará a plataforma de nossa futura atividade na política interna e externa, aprovará os Estatutos do Partido, examinará o projeto da Constituição Socialista, determinará o sistema de direção da economia, traçará a linha de ação dos órgãos do Poder Popular, adotará as diretivas principais para os próximos anos nas atividades fundamentais nas áreas política, economia e social, e procederá a eleger o Comitê Central do Partido que, como órgão superior do Partido nos Congressos, estará encarregado de zelar pela aplicação da linha traçada pelo Congresso e de seus demais acordos e decisões.”

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No rodapé, segue link para site do PCC Partido Comunista Cubano com as decisões dos 6 últimos 42Congressos.

Entre os anos 60 e 70 não houve congresso do partido.

Dentre as principais medidas que caracterizaram a revolução em sua primeira etapa, foram citados três como as principais:

42

http://www.pcc.cu/cong_asamb.php

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1. Nacionalização das terras de capital estrangeiro; 2. Os proprietários de terras nacionais foram deixados com até 402 hectares (cada

ha tem 10.000 m²); 3. Foram entregues títulos de propriedade a uns 100 mil campesinos que

trabalhavam nas terras.

Relatou que entre os anos 90 e 94 houve uma grande crise no socialismo, com a queda do muro de Berlim e a Perestroika.

43Glasnost e Perestroika

A Glasnost (transparência, em russo) e a Perestroika

(reestruturação, em russo) foram medidas políticas e econômicas

adotadas na ex-União Soviética, em meados da década de 1980,

durante o governo de Mikhail Gorbachev. Tinham como principais

objetivos modernizar e abrir a economia soviética, além de

garantir maior abertura política. Estas medidas foram as

principais responsáveis pelo fim da União Soviética e do seu sistema político econômico, que

vigorava desde a Revolução Russa de 1917. Foram também de fundamental importância para

o fim da Guerra Fria.

Principais medidas e objetivos:

Glasnost

Medidas voltadas para reestruturação política, visando à implantação da democracia e a

abertura política. A população obteve maior liberdade de expressão e manifestação.

- Adoção de política externa mais desmilitarizada. Busca de entendimentos com as potências

ocidentais (principalmente EUA), para por fim à Guerra Fria e diminuição de arsenais

nucleares. Discussão de propostas de paz.

- Tratamento de problemas políticos e éticos dentro do governo. Estas medidas visaram à

identificação de atos de corrupção no governo.

- Ações voltadas para a discussão e resolução de conflitos étnicos na URSS.

Perestroika

Conjunto de medidas voltadas para a modernização da economia da URSS.

- Medidas para diminuir a burocracia na economia.

- Abertura econômica e aumento do contato com instituições financeiras internacionais.

- Estímulos à abertura de empresas privadas (familiares ou individuais).

43

http://www.suapesquisa.com/historia/glasnost_perestroika.htm

Gorbachev: responsável pela Glasnost e

Perestroika

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- Aumento da liberdade de empresas para fazer comércio exterior com outras empresas de

países capitalistas.

- Estímulos ao surgimento de grupos científicos e técnicos com presença de pesquisadores e

engenheiros de países capitalistas. Esta medida visava modernizar as indústrias soviéticas, que

se encontravam em defasagem em relação as do ocidente capitalista.

De 1959 a 2010, houve realizações, dificuldades e obstáculos para a consolidação da Revolução Cubana:

Realizações:

Cumprimento do programa de Moncada (Lei da Reforma Urbana)

A independência nacional;

A libertação social (eliminação da exploração do homem pelo homem).

Dificuldades:

País subdesenvolvido, sem pessoas preparadas, sem experiência para a direção da economia.

Obstáculos:

A política hostil, de ameaças e agressões dos governos dos EUA;

O saque dos recursos humanos;

O bloqueio econômico, comercial e financeiro, principal obstáculo para o desenvolvimento.

Lembrou que, em função do bloqueio, houve vários apagões ao longo dos anos 90 principalmente, sendo que o apagão de 1993 foi o mais crítico desse período.

Depois falou sobre as moedas utilizadas em Cuba, conforme segue abaixo.

44Em Cuba há a utilização de duas moedas: o CUC e o Peso Cubano, também chamado de Moeda Nacional. A primeira tem paridade cambial em relação ao euro. Um CUC vale o equivalente a 25 Pesos Cubanos; é a moeda que os turistas usam em hotéis, restaurantes, táxis etc. Já a Moeda Nacional é a usada pelos cubanos e, geralmente, não é aceita em locais voltados para o turismo. É justamente o turismo o grande divisor de águas que faz com que a “doble moneda”, que um dia já foi vista como a solução para a economia do país, hoje seja um de seus maiores problemas. Ocorre que os cubanos recebem seus salários em moeda nacional, algo entre 300 e 400 Pesos Cubanos por mês, mas, quem trabalha com o turismo tem acesso ao CUC, uma moeda muito mais valorizada e que a maioria dos cubanos não acessa. Uma pessoa que alugue um quarto de sua casa para turistas por 25 CUCs por dia, que é a média em Havana, e que mantenha esse quarto ocupado por 20 dias no mês, vai receber, em moeda nacional, 12000 Pesos Cubanos, o equivalente 40 meses de salário de

44

https://memoriascubanas.wordpress.com/2013/03/05/cuba-a-economia-das-duas-moedas/

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um cubano que ganhe o salário mínimo. Uma das recentes mudanças econômicas do país foi a permissão do trabalho por conta própria. A partir disso, os chamados “cuentapropistas” podem abrir restaurantes, ter um táxi particular, ou alugar quartos para turistas, por exemplo.

Com relação à agricultura, ao longo dos anos foram sendo implementadas várias ações para incrementar a produção agrícola.

45UBPC Unidade Básica de Produção Cooperativa. Quando vários agricultores se unem, formam uma cooperativa, e solicitam terrenos e empréstimos como um grupo, eles estabelecem uma UBPC. O Estado lhes dá um terreno (maior do que seria oferecido a pessoas isoladamente) e proporciona a infraestrutura como cercas, posto de venda, abrigo para ferramentas, sistema de irrigação e empréstimos iniciais para a produção, que a cooperativa irá pagando pouco a pouco. As taxas de juros são baixas e a terra é grátis, desde que paguem seus empréstimos antes do seu vencimento.

46CCS -Cooperativa de Crédito e Serviços. São organizações primárias de natureza coletiva e podem adquirir, arrendar e operar coletivamente equipamentos agrícolas e transportes; podem construir as instalações necessárias para melhorar a eficiência na produção agrícola e comercializar, de acordo com o seu objeto social.

47Os produtores camponeses, com áreas de 24 hectares em média, foram afirmados como individuais ou familiares por meio da Primeira Reforma Agrária. Eles evoluíram diminuindo em número nos anos 1960 e 1970, se estabilizaram e aumentaram em número durante o processo de cooperativismo impulsionado ao longo dos anos 1970 e 1980, e continuaram crescendo como novos usufrutuários nos anos 1990 e 2000. De fato, atualmente há registros da existência de mais 300 mil camponeses.

Diversas formas de cooperativas foram surgindo, desde os anos 1960 até nossos dias. As cooperativas de origem camponesa atualmente existentes são: a) Cooperativas de Produção Agropecuária (CPA), de propriedade coletiva, surgidas ao longo dos anos 1970 e 1980, até abranger 40% do campesinato, as quais diminuíram por diversas causas ao longo dos anos 1980 e 1990; e b) Cooperativas de Crédito e Serviços (CCS), forma de cooperação simples nas quais um número de produtores individuais se agrupa para certos fins comuns. Esta última forma de cooperação, a mais bem-sucedida nos anos 1990 e a mais escolhida entre os camponeses, tende a aumentar com o acesso dos novos produtores usufrutuários.

Um caso particular é o das cooperativas originadas entre os trabalhadores agrícolas, como efeitos da desestatização dos anos 1990, conhecidas como Unidades Básicas de Produção Cooperativa (UBPC). Essas cooperativas agruparam a maior parte dos trabalhadores agrícolas estatais da agricultura. Trata-se de uma forma cooperativa híbrida que ainda deve evoluir para uma cooperação plena.

Por sua vez, temos as formas de produção com as quais a gestão agropecuária se organizou no setor estatal, durante cinco décadas, que foram: as Granjas do Povo nos primeiros anos da década de 1960; as Granjas e Agrupações, os Planos Especiais, nos anos 1960 e 1970; as Empresas Estatais Agropecuárias, desde meados dos anos 1970 e

45

http://agriculturaurbana.org.br/RAU/AU01/AU1havana.html 46

https://www.ecured.cu/CCS 47

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142011000200007

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até final dos anos 1980; e as Granjas estatais do setor estatal subsistente, dos anos 1990 em diante. O traço principal das organizações estatais da agricultura é a grande escala e a altíssima concentração de recursos, assim como a proliferação de organizações de segundo grau como uniões, grupos empresariais, corporações, complexos agroindustriais etc.

Como resultado das evoluções particulares descritas acima, hoje temos um panorama organizativo da produção agropecuária dominado por empresas autoadministradas, com um maior peso das formas cooperativas em terras e número de produtores. Essa situação supõe novos desenhos organizativos para as atividades de garantia de produção (abastecimentos, serviços mecanizados e transporte etc.) e de serviços técnico-científicos, assim como da comercialização da produção.

A alimentação é subsidiada para toda a população. Todos tem uma carteirinha por núcleo familiar e através deste recebem alimentos que suprem as necessidades básicas das famílias.

Saúde e educação são totalmente gratuitos em todas as fases da vida.

Há uma dificuldade para atrair a população para o serviço público, em função dos baixos salários oferecidos; assim como há dificuldades para desenvolver um negócio próprio em função da baixa capitalização. A área de turismo tem movimentado mais prestações de serviços com o incremento da atividade e a abertura de diálogo com os EUA.

Segundo os nossos professores, há 1986 empresas estatais; 2361 unidades de produção (fábricas) e 165 mil aposentados.

O índice de sindicalização é por volta de 95%, há por volta de três milhões de trabalhadores sindicalizados. As quotas de 1% dos salários são recolhidas diretamente no local de trabalho, com seus representantes. Há 17 sindicatos nacionais, por ramos de atividades, e uma central sindical, a CTC – Central de Trabalhadores de Cuba que, inclusive, é anterior à revolução cubana, foi fundada em 1939.

Como principais causas pra a ineficiência econômica cubana, foram apontadas basicamente duas causas.

Problemas estruturais:

Determinam o equilíbrio ou o desequilíbrio da economia e da sociedade em seu conjunto;

Propriedade estatal e não estatal (distintas formas de propriedade);

Setor produtivo e não produtivo, com alto emprego nas esferas não produtivas;

Desproporções setoriais (há setores mais desenvolvidos do que outros).

Problemas funcionais:

Relacionados com a planificação e excessiva centralização;

A não separação de funções de estado das empresariais;

Correlação entre o planejamento e o mercado;

A propriedade de todo o povo e as formas de gestão.

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Quanto às principais transformações e participação dos trabalhadores, as transformações principais do modelo de governo estão relacionadas com:

Consolidação do papel primordial da propriedade social sobre os fundamentos dos meios de produção;

Reconhecimento e diversificação de diferentes formas de propriedade;

Papel do planejamento para o desenvolvimento tendo em conta a existência objetiva do mercado;

Aperfeiçoamento do Estado socialista, seu sistema e órgãos de direção.

A participação popular é a mola propulsora da revolução cubana. Há normas legais que avalizam a participação dos trabalhadores.

Artigo 16 da Constituição: na elaboração e execução dos programas de desenvolvimento (...) os trabalhadores de todas as áreas da economia e das demais esferas da vida social.

Artigo 14 do Código de Trabalho (Ley 116): as organizações sindicais – Participam na elaboração, execução e controle dos planos de desenvolvimento econômico e social, do orçamento do Estado, assim como propões medidas para o aperfeiçoamento da gestão da entidade.

Artigo 18 do Código de Trabalho: os trabalhadores participam da direção das entidades onde trabalham (...) de forma individual e direta na assembleias gerais de afiliados e de forma coletiva através de seus representantes.

Os trabalhadores participam em seus sindicatos no processo de planejamento da organização; na elaboração do plano de atuação e do orçamento de sua organização, bem como da execução e plano de controle.

“As orientações da Política Econômica

e Social são a expressão da vontade do

povo, contida na política do partido,

Estado e Governo da República de

Cuba, de atualizar o modelo econômico

cubano com o objetivo de garantir a

continuidade e irreversibilidade do

socialismo, o desenvolvimento

econômico do país e a elevação do

nível de vida da população, conjugado

com a necessária formação de valores

éticos e políticos de nossos cidadãos.”

Raul Castro Ruz. Informe Central ao VI Congresso do Partido Comunista de Cuba.

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Oitavo dia – 23 de novembro – Tema: A unidade sindical frente ao processo de desestabilização capitalista e imperialista na região.

Os instrutores nesse dia foram as Profªs Maria Eugênia e Bertha de manhã e o Prof. Félix à tarde.

A unidade tem elementos positivos que podem transformar a realidade da região.

É, ao mesmo tempo, um desafio para o movimento sindical latino americano e caribenho.

Para abordar o tema realizaram uma dinâmica.

A turma foi separada em 3 grupos e cada um ficou com um tema:

Grupo 1: O que entendem por unidade, nas condições de luta do movimento sindical latino americano e caribenho?

Grupo 2: O sindicalismo sociopolítico é possível sem o desenvolvimento de uma consciência?

Grupo 3: Quais são as fraquezas e fortalezas da unidade sindical na atualidade?

Para balizar as discussões, usou como referência o texto abaixo:

“Marx e Engels: A classe trabalhadora tem um

elemento de triunfo: o número. Mas o número

não pesa na balança se ele não está vinculado

pela associação e guiada pelo conhecimento. O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito

imediato, mas a união cada vez maior de trabalhadores.”

Questões originais

Profª Maria Eugenia e Bertha Prof. Felix

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Grupo 1

O que entendem por unidade nas condições de luta do movimento sindical latino americano e caribenho?

R:

Unidade: unificação de critérios, desenvolvimento de estratégias conjuntas para enfrentar o modelo econômico neoliberal que se desenvolve em nossos países.

Para conseguir essa unidade devemos gerar maior consciência social, criar meios de comunicação alternativos, não esquecer a história do movimento sindical e social.

Integração do movimento sindical e social.

Formação ideológica para os trabalhadores e dirigentes.

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Grupo 2

O sindicalismo sociopolítico é possível sem o desenvolvimento de uma consciência crítica?

NÃO.

Por que não nos unimos e nos completamos.

Por que não há trabalho nas bases, formativo, educativo e conceitual.

Não há união política sindical (intersindical) e social.

Não há planejamento.

Não há exercício de influência educativa na sociedade.

Polarização política dos sindicatos.

Não há capacitação de lideres e representantes.

Há que ter autonomia entre sindicatos, estado e empresários.

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Grupo 3

Fraquezas:

1. Diversidade de interesses políticos

2. Falta de consciência de classe

3. Individualismo

4. Falta de credibilidade da população

5. Os conflitos de interesses econômicos

6. A perseguição sobre os líderes

7. A corrupção dentro dos sindicatos

8. Falta de informação, formação e ideologia

sindical

9. Os meios de comunicação

10. A fragmentação do sindicalismo

11. Mudança geracional

12. As políticas públicas (opressivas)

13. Fatores culturais

Fortalezas:

- O crescimento da luta social, política e econômica

- Unidade por um objetivo comum

- A mobilização organizada

- As redes sociais

- Impacto midiático

- Autonomia sindical

- Formação em assuntos sindicais e ideológicos

- A luta permanente e persistente

- Mesmo idioma, na maior parte

- Existem leis que propiciam a unidade sindical

- Disponibilidade de aprender

- Negociações

- Diagnosticar com base em um objetivo comum

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Após a explanação de cada grupo houve um compartilhamento de informações e opiniões.

Vimos que a base da unidade está na história (ideológica, política e organizacional).

Que é necessário o estudo e a atenção constantes com relação às circunstâncias existentes ao nosso redor e que, justamente, a falta de unidade é uma unidade. A falta desta se dá com base na nossa falta de organização no nível micro e macro social.

Há a necessidade de preparação de nossos quadros, novos e antigos.

A unidade é a junção de partes que se aproximam em função de um objetivo em comum.

A organização é a base para todo o trabalho, pois já temos uma base orgânica no meio sindical, composta pelos sindicatos, federações, confederações e centrais; fazemos parte da sociedade civil organizada e como tal temos o direito e o dever de atuarmos em consonância com os interesses e anseios da população e dos trabalhadores.

Sobre a questão da sociedade civil organizada, segue uma pequena explanação abaixo.

48Sociedade Civil é uma expressão que indica o conjunto de organizações e instituições cívicas voluntárias que constituem os alicerces de uma sociedade em funcionamento, em oposição com estruturas que são ajudadas pelo Estado.

Existem várias definições de sociedade civil. A primeira surgiu com Adam Ferguson, filósofo escocês, que escreveu a primeira obra a respeito da sociedade civil em 1767, obra intitulada "Ensaio Sobre a História da Sociedade Civil". De acordo com Ferguson, sociedade civil é o oposto de um indivíduo isolado, mais concretamente, alguém que vive numa comunidade. Posteriormente, o conceito de Sociedade Civil foi desenvolvido por Immanuel Kant, sendo que para ele a sociedade era baseada no direito.

Um conceito muito usado é o de sociedade civil organizada, descrita pelo autor Nildo Viana como uma "uma mediação burocrática entre sociedade civil e estado".

Estes são alguns exemplos de entidades da sociedade civil:

Associações profissionais;

Clubes cívicos;

Clubes sociais e esportivos;

Cooperativas;

Corporações;

Grupos ambientalistas;

Grupos por gênero, culturais e religiosos;

Instituições de benemerência;

Instituições políticas;

Órgãos de defesa do consumidor.

Sociedade Civil e Estado - De acordo com o filósofo e político italiano Antonio Gramsci, o

48

https://www.significados.com.br/sociedade-civil/

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Estado não deveria ser visto apenas como Governo. Gramsci faz a divisão de Estado em sociedade política e a sociedade civil. Segundo Gramsci, a sociedade política é referente às instituições políticas e o controle legal e constitucional que exercem. Já a sociedade civil é vista como um organismo não-estatal ou privado, que pode incluir a economia, por exemplo. A sociedade política é conotada com a força e a sociedade civil com o consentimento. Gramsci contribuiu grandemente para a análise do conceito de sociedade civil e também da dicotomia Sociedade Civil / Estado.

(...) 49apesar de modernamente o conceito de sociedade civil ser vislumbrado em antagonismo ao conceito estatal, esta separação já não se apresenta com a mesma nitidez existente ao tempo dos escritos marxistas. De acordo com Campilongo50, "Enquanto no século XIX, na perspectiva do liberalismo clássico, havia uma nítida separação entre o Estado e a sociedade civil, no século XX esta linha divisória deixou de ser tão nítida". É importante destacar, como ponto comum a estes dois institutos, a tentativa recíproca de permeação de um pelo outro. Conforme, ainda, Bobbio51 "Sob este aspecto, sociedade e Estado atuam como dois momentos necessários, separados mas contíguos, distintos mas interdependentes, do sistema social em sua complexidade e em sua articulação interna".

Com relação à questão da unidade:

- A unidade de luta se dá em um contexto sociopolítico em que os atores que participam devem estar organizados e unidos por objetivos comuns.

- A unidade política é um processo que se conquista com a elevação da

consciência política e de classe, com base em critérios comuns para alcançar os

objetivos, táticas e estratégias para a realização da transformação da sociedade.

- Para haver unidade sindical é necessário a classe trabalhadora junto para

enfrentar os desafios (premisa para alcançar e manter os ganhos da classe).

- A classe trabalhadora deve chegar conscientemente, sem que prevaleça o

interesse particular de um grupo ante a necessidade coletiva.

- A Unidade não esconde as diferenças, ao contrário, se baseia nelas para abolí-

las.

- A unidade tem um caráter objetivo, parte da necessidade de garantir e defender

as reivindicações trabalhistas, demandas sociais, políticas e econômicas dos

trabalhadores e para continuar a lutar para os outros que estão por vir.

49

https://jus.com.br/artigos/8257/sociedade-civil-e-sociedade-civil-organizada 50

CAMPILONGO, Celso Fernandes, Representação Política, pág. 46 51

BOBBIO, Norberto, Estado Governo Sociedade, Para uma teoria geral da política pág. 52.

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- É subjetiva na forma que assume; como processo precisa amadurecer na

consciência dos homens, converter-se em uma convicção, manifestar-se em

forma de ações concretas, pode ser considerada a mãe dos princípios.

- Uma das características da unidade sindical é que há unidade na adversidade;

reconhece e interage com as diferenças, que não podem ser consideradas

barreiras intransponíveis, o importante é a capacidade para determinar as

prioridades.

- A unidade sindical evolui e pode passar da unidade de ação para a orgânica e

vice-versa.

- A unidade orgânica se expressa no trabalho de uma organização com estatutos e

plataformas de luta única.

- A unidade de ação conjuntural é quando diferentes organizações chegam a um

acordo quanto a uma linha de estratégia de ação, fazendo coincidir suas

plataformas de luta com um mesmo objetivo, mas cada um mantendo sua

autonomia.

- A unidade estrutural é quando diferentes organizações chegam a um acordo

quanto a uma linha de estratégia de ação, há correspondência entre suas

plataformas de luta com um mesmo objetivo, mantendo cada um sua

autonomia, mas criam uma estrutura não permanente, que funciona como um

órgão de coordenação.

- Para tanto, é preciso formar “alianças”, que nada mais é do um termo que faz

referência à ação realizada por duas ou mais pessoas, é um acordo ou pacto

entre pessoas, organizações, nações, ou uma convenção conforme cada caso

para atingir um objetivo.

- Já a “política de alianças” é aquela pelo qual o movimento sindical e associativo

determina o bloco fundamental de sua atuação, estabelece compromissos

quanto a linha a seguir, formas e métodos de lutas políticas em correspondência

com as condições históricas específicas do momento.

- Quanto às políticas de alianças na AL e Caribe, o movimento operário e sindical,

partidos políticos de esquerda e outras organizações têm uma ampla gama de

alianças para estabelecer políticas de alianças, sobre questões como: promover

uma verdadeira integração e união regional; defesa da soberania e

independência nacional; respeito pela autodeterminação das nações; a oposição

à guerra e a luta pela paz; a batalha contra o capitalismo neoliberal e acordos de

livre comércio com os Estados Unidos e outros países; o reforço da unidade das

forças de esquerda.

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- Carl Marx: A única força social dos trabalhadores está em seu número. Mas a

força numérica se reduz a nada em razão da desunião. A desunião dos

trabalhadores nasce e se perpetua devido à inevitável concorrência entre si

mesmos.

- Fidel Castro, 1998: “Unidade significa compartilhar na luta os riscos, os objetivos,

ideias, conceitos e estratégias, às quais se chega mediante debates e análises.

Unidade significa a luta comum contra anexionistas, traidores e corruptos que

não têm nada a ver com um militante revolucionário."

- Lázaro Peña (líder sindical cubano): “A unidade não consiste somente em formar

uma candidatura única, senão em adotar realmente um programa de ação

comum e, em seguida, defende-lo legalmente. A unidade exige que se respeitem

as normas de disciplina que regem o desenvolvimento das organizações de

trabalhadores, a unidade afirma que as diferenças que possam surgir dentro do

espírito de se encontrar formas de levar as lutas dos trabalhadores adiante.”

- Concluindo: a unidade é uma arma estratégica fundamental de luta política antissistêmica no complexo processo histórico que assistimos; o movimento sindical latino-americano e caribenho, assim como os movimentos sociais, devem articular suas estratégias de unidade de ação e políticas de alianças para lutar contra o livre comércio das transnacionais.

Percebemos que em todos os países, ao menos dos dirigentes participantes neste curso, há mais condições e situações em comum do que poderíamos imaginar, tanto favoráveis quanto desfavoráveis.

Vimos que entre o ideal e o desejo há a realidade, e que devemos atuar com base nesses três sentidos: almejar o ideal, desejar o melhor e realizar o que for possível – da melhor forma ao nosso alcance.

Como última ação do dia, acerca da questão da unidade, leu o texto abaixo e depois fizemos algumas reflexões sobre o mesmo.

Seguem abaixo o texto original e a tradução.

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“... porque uma revolução é isso: é como uma guerra. É difícil conceber uma batalha quando se está no meio dela, com dez comandos diferentes, dez critérios diferentes, dez doutrinas militares diferentes e dez táticas. O ideal é a unidade. Agora, isso é o ideal. Outra coisa é o real. E creio que cada país tem que acostumar-se a ir lutando as suas batalhas nas condições em que se encontra. Não pode haver uma unidade total? Bem, vamos buscar a unidade com esse critério, nesse outro e nesse outro. Há que buscar a unidade de objetivos, unidade em determinadas questões. Posto que não se pode conseguir o ideal de uma unidade absoluta em tudo, colocar-se de acordo em uma série de objetivos. O único controle – se quiser – a única equipe, é o ideal, mas não é o real. E, portanto, temos que nos adaptar à necessidade de trabalhar com o que há, com o real.”

O Prof. Félix terminou a aula do dia com as seguintes colocações:

É nos momentos de luta, que aparecem as pessoas de mais talento, de mais preparação, de mais capacidade.

Para ter unidade é preciso ter confiança, mas também certeza quanto aos objetivos que se traçam.

É preciso “escutar” para não sacrificar os objetivos pelos quais se luta.

A unidade exige compromissos que devem ser assimilados por todos.

Há vários tipos de compromissos, há que focar naqueles que tenham a ver com as causas defendidas.

A revolução não admite concessões.

Depois da aula tivemos uma confraternização esportiva com os hermanos cubanos (turma do curso X alunos regulares da escola), em disputas de jogos de vôlei e futebol, perdemos no primeiro e ganhamos no segundo.

Fizemos turmas mistas e foi um bom momento de relaxamento e aproximação entre todos... com unidade e integração.

Seguem abaixo algumas fotos da “disputa”.

Prof. Félix

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Nono dia – 24 de novembro – Tema: O dirigente sindical como educador político.

No período da manhã tivemos aula novamente com o Prof. Félix e no período da tarde uma palestra sobre a OIT, com o secretário da FSM Sr. Heriberto Gonzáles.

O Prof. Félix Iniciou falando sobre os objetivos do tema:

- Valorizar a importância que possui a função

educadora do dirigente na sociedade;

- Identificar as tarefas que correspondem ao

exercício de seu trabalho educador.

Para tanto é preciso que haja uma direção.

Direção é um sistema de influências políticas, ideológicas e organizativas que os indivíduos executam; que exercem a liderança para educar, instruir, orientar e mobilizar as massas coordenando e orientando as suas

atividades, a fim de cumprir as metas previamente definidas para garantir a transformação revolucionária da sociedade em uma base científica.

Já o processo é um sistema de relações expressas de maneira ativa nas conexões entre os indivíduos a partir da vontade de alcançar objetivos comuns. O processo ocorre entre as pessoas que tem uma tarefa comum que a todos importa e interessa. É uma interação dinâmica de ações que criam e modificam o meio circundante.

Característica das conduções de processo:

- Caráter anti-entrópico (*ver entropia, abaixo) que é necessário saber prever a sua marcha, conhecer seus possíveis resultados e efeitos sobre as pessoas;

- A direção de qualquer processo envolve compreender a execução, compreender e compartilhar os métodos adequados;

- Conhecer as limitações e, especialmente, definir com precisão um conjunto de metas a serem alcançadas.

*Entropia52 é um conceito da termodinâmica que mede a desordem das partículas de um sistema físico. A entropia é uma grandeza na termodinâmica, representada nas formulações da física pela letra S. De acordo com a Lei da Termodinâmica, quanto maior for a desordem de um sistema, maior será a sua entropia.

Por exemplo, quando alguém entra na cozinha encontra todos os utensílios e ingredientes organizados, conforme vai cozinhando, as coisas começam a se desorganizar.

Da mesma forma seria o sistema da entropia, ou seja, quanto maior o processo de alteração

52

https://www.significados.com.br/entropia/

Prof. Félix

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de um estado, maior será a sua desordem.

As entropias são espontâneas, isso quer dizer que seguem princípios da natureza, sendo irreversíveis.

Por exemplo, quando um copo com água cai no chão, o resultado da bagunça gerada é a entropia deste ato, no entanto, seria impossível fazer a água voltar para o copo, sendo impossível retroceder a entropia.

Etimologicamente, o termo entropia se originou a partir do grego entropêe, que significa “em mudança”.

Entropia negativa

A entropia negativa, no âmbito da organização administrativa, é a definição dada a empresa,

companhia ou sistema que está se restabelecendo, ou seja, se recuperando da desordem e falência.

O conceito da entropia negativa consiste em reverter a entropia, o estágio de “bagunça” e “caos”.

A entropia negativa também é chamada de “informação”, pois de acordo com o princípio da entropia,

quanto maior a informação, menor a desordem.

Entropia e Entalpia

Entalpia (representada pela letra “H”) é o nome atribuído à energia que fica armazenada nas

substâncias (energia interna), a espera que sofra alguma transformação para que seja alterada ou

liberada.

Já a entropia é a grandeza que mede a energia que não é capaz de ser transformada em trabalho.

Esse processo se dá através de um sistema educativo, do qual cada um aprende enquanto ensina e ensina enquanto aprende, numa simbiose “freiriana”.

Educação é um sistema de interinfluências que contribuem para o desenvolvimento dos conhecimentos, habilidades e valores (atitudes) com a finalidade de criar uma posição consciente, competente e ativa para o cumprimento dos objetivos da organização.

O trabalho educativo é um processo interativo e permanente entre dirigentes e dirigidos a fim de fortalecer a fidelidade aos princípios da organização, no sentido de pertencimento e da participação consciente e ativa dos processos.

Exigências do trabalho educativo:

- Considerar o “homem” (no sentido de humanidade) como o centro da atividade; - Conhecer a personalidade e as necessidades de desenvolvimento de cada um; - Trabalhar com cada um de maneira personalizada e diferenciada; - Garantir a clareza no aspecto da formação da ação educadora; - Buscar, através da interação entre lideranças e liderados, a busca por melhores

métodos para elevar a qualidade das ações; - Educar a partir do estilo de liderança do dirigente.

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O que é um líder?

- É a pessoa, com qualidades “humanas”, políticas e morais superiores, que intenta desenvolver uma influência decisiva sobre as pessoas que integram uma organização, a fim de que todos compartilhem as responsabilidades.

- É aquele que está à frente de uma organização, a dirige, aglutina e guia. - Possui energia, magnetismo e poder de ação para impulsionar, mobilizar e

transformar.

Quais são as qualidades desejáveis de um líder?

- Deve possuir uma grande dose de convicção e paixão pelo que está fazendo. - Deve ter uma grande confiança no povo (ou liderados). - É necessário ter tenacidade e serenidade. - Possui um grande sentido de responsabilidade. - Precisa de preparação, de ideias claras. - Ter um sentido grande de solidariedade humana. - Possuir grande respeito por seu povo (liderados) e não vê-lo como instrumento.

As condições de um líder e sua eficácia na liderança definirão seu “estilo”.

Mas é preciso que tenha um conhecimento rigoroso e amplo; qualidades humanas, políticas e morais superiores; que desenvolva e motive iniciativas criativas de seus subordinados na tomada de decisões.

E quais são as características indispensáveis para uma boa liderança?

- Ter uma visão ilimitada e estar comprometido com a excelência. - Ter a atenção fixa nos resultados/objetivos. - Privilegiar o trabalho em equipe. - Buscar a proatividade de forma permanente. - Garantir a aprendizagem sistemática da equipe. - Não desviar da busca das metas. - Promover e exigir compromisso. - Escutar e facilitar.

O dirigente deve ser modelo por sua capacidade educadora:

- Saber unir o trabalho político, ideológico e educativo. - Ter conhecimentos amplos e profundos da atividade que desenvolve. - Ser portador do “novo”. - Precisa ter tato “psicológico” para tratar cada um. - Saber intuir e prever, ser hábil na forma de decisões. - Ser entusiasta. - Ser capaz de propiciar um clima favorável. - Ser facilitador de ações conjuntas. - Firmeza política e ideológica.

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53“Para ser útil, há que ser exato. Para ser forte, há que comprometer-se com a verdade. Para ser invencível há que fazer-se inexpugnável.”

54“Para ser líder há que ser primeiro líder de si mesmo, mesmo no calor da ira justa.”

As frases acima, de José Martí, um dos líderes históricos em Cuba, foram citadas pelo Professor para ilustrar a importância do autocontrole que o líder precisa ter, mesmo nos momentos mais difíceis da luta.

Depois dessa explanação, dividiu novamente a turma em três grupos e cada um ficou responsável por desenvolver um tema:

Grupo 1: que ensinamentos são trazidos pelo texto para desenvolver a educação política nas lideranças e nas organizações? (o grupo recebeu um livro com um texto marcado que serviu como mote para a discussão do grupo).

Grupo 2: como alcançar a educação política em e a partir da organização sindical?

Grupo 3: como o dirigente político deve atuar como educador político?

Grupo 1

Que ensinamentos se extraem do livro para desenvolver a educação política em mim e na minha organização sindical?

Nossas debilidades são as fortalezas do sistema capitalista.

Círculo menor: luta econômica

Círculo do meio: denúncias e luta política

Círculo maior: consciência social

O dirigente sindical deve ser integral:

- Educador - Agitador - Propagandista - Organizador - Visionário - Memória histórica

“A revolução é algo que se leva na alma para morrer por ela, não na boca para se viver dela.” Ernesto Che Guevara.

53

José Martí. Educación Popular T.19. p. 375 54

Invencível; que não se pode vencer ou conquistar através da força - https://www.dicio.com.br/inexpugnavel/

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Grupo 2

Como alcançar a educação política em e a partir da organização sindical?

Através de um trabalho pedagógico que busque uma consciência social e sistêmica, fundamentado em sua parte histórica, epistemológica55 e didática, para defender seus princípios e para que, a partir daí, surjam seus representantes e para a mudança geracional, fundamentado na unidade.

.Objetivo geral: entregar a educação necessária para as pessoas para que estas possam mobilizar-se em virtude de um fim (objetivo) comum.

Unidade de luta:

- Planos, programas, conteúdos - Identificação de lideranças - Capacitação contínua e permanente - Utilizar estruturar midiáticas dos sindicatos

e as disponíveis - Presença sindical em todas as lutas

populares

A melhor forma é o exemplo

55

Epistemologia significa ciência, conhecimento, é o estudo científico que trata dos problemas relacionados com a crença e o

conhecimento, sua natureza e limitações. É uma palavra que vem do grego e pode ser traduzido como “estudo do

conhecimento” ou “teoria do conhecimento”. https://www.significados.com.br/epistemologia/

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Grupo 3

Como o dirigente político deve atuar como educador político?

Escutar e ser escutado

Poder de convencimento e militância política sindical

Criar consciência

Educar e formar quadros políticos

Boas práticas em suas ações

Ser congruente (coerente), resistente e perseverante

Capacitação contínua

Identificar e potencializar as características e qualidades do quadro político

Ser consciente da responsabilidade formativa

Delegar e respeitar

Liderar

Seguir bons exemplos como forma de crescer

Currículo oculto (sic!)

Preparar-se integralmente

Educação popular

Ser coletivo e somador

Ser visionário

Ser objetivo

Pregar com seu exemplo

Princípios morais e valores éticos

Ser coerente e projetar segurança

Ser solidário

Sentido de pertencimento

Valorizar as contribuições

Saber transmitir seus conhecimentos e experiências

Bases para o fortalecimento da luta sindical

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Depois das apresentações houve uma troca de impressões sobre o tema entre os participantes e o Professor, abaixo algumas frases pinçadas.

Há a necessidade de desenvolver a consciência política da classe trabalhadora.

É preciso ter consciência das relações econômicas que cercam as relações trabalhistas.

Há muitas injustiças nas leis.

A importância de conhecer as lutas históricas do movimento libertário do proletariado.

É preciso interar-se do que ocorre na sociedade e saber expressar, compartilhar sobre essas

questões que abrangem os vários setores da vida em sociedade, nos aspectos sociais,

políticos e econômicos.

Geralmente, as lideranças sindicais só falam sobre os aspectos econômicos com os

trabalhadores, há a necessidade de ampliar essa abordagem.

Ampliar as lutas pelas atividades sociais (sindicalismo social).

Dirigentes não aprofundam nas questões, de forma geral.

Os dirigentes tem atuado como bombeiros, apagando incêndios, precisamos ser mais

proativos ao invés de reativos.

A maioria das organizações carecem de processo histórico (os amigos colombianos

lembraram de uma história, que é abordada no livro de Gabriel Garcia Marques, 100 anos

de solidão, na qual mais de 5.000 trabalhadores foram assassinados pelo exército do país

por reivindicarem melhorias nas condições de trabalho nas plantações de bananas

pertencentes a uma indústria norte-americana56).

Os sindicatos são muito focados no seu umbigo, é preciso ir à sociedade.

É preciso manter sempre a indignação.

Há que ter consciência política.

É preciso partir das questões locais para a geral, começar arrumando a própria casa.

É preciso ter consciência do papel social do líder sindical.

E para fechar, o Prof. Félix citou três critérios para que haja a revolução (em qualquer nível e

qual seja ela):

Sentido do momento histórico (estar focado na realidade).

Mudar o que precisa ser mudado (a partir das condições históricas).

Emancipar-se por suas próprias forças.

56

http://anncol-brasil.blogspot.com.br/2010/12/colombia-1928-o-massacre-das-bananeiras.html

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No período da tarde tivemos aula com o Prof. Heriberto, falando sobre a OIT.

As origens da 57OIT Organização Internacional do

Trabalho:

Resultado do tratado de Versalhes, ao final da

primeira guerra mundial, em 1919.

Depois da 2ª guerra mundial adotou a declaração da

Filadélfia, que reafirmava com vigor seus princípios

fundamentais.

Em 1946 se converteu na primeira organização associada às Nações Unidas.

Em 1969 a OIT ganhou o prêmio Nobel da Paz.

Estrutura e funcionamento

Estrutura tripartite.

Empregadores e representantes dos trabalhadores (sindicatos) participam em pé

de igualdade com os governos na formulação de políticas e dos programas, são

os interlocutores sociais.

Desenvolve o tripartidarismo a nível de países, promovendo o diálogo social em

que as organizações sindicais e de empregadores participam na formulação e,

quando necessário, na aplicação das políticas nacionais nos âmbitos social e

econômico, assim como com respeito a outras questões.

A Conferência Internacional do Trabalho (CIT) se reúne uma vez por ano,

estabelece as normas internacionais mínimas do trabalho e define as políticas

gerais da organização.

Constitui um foro internacional onde se discutem problemas laborais e sociais de

alcance mundial.

Cada dois anos adota um programa de trabalho bienal da OIT, assim como seu

orçamento financiado pelos Estados membros.

Cada estado membro tem o direito de enviar 4 delegados para a Conferência,

sendo 2 delegados governamentais, 1 delegado dos empregadores e 1 dos

57

http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/constitucao.pdf

Prof. Heriberto Gonzáles

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trabalhadores. Cada um destes delegados pode intervir e votar da maneira

independente.

Entre duas sessões da conferência da OIT são dirigidas pelo Conselho de

Administração, órgão composto por 28 membros governamentais, 14 membros

dos empregadores e 14 membros dos trabalhadores.

A OIT tem sede em Genebra, na Suíça, e funciona como centro operativo, de

investigação e de publicações.

A administração e gestão estão descentralizadas em oficinas regionais, em mais

de 40 países.

O Conselho de Administração e a OIT são assistidos em seus trabalhos por

comissões tripartites que se ocupam dos principais setores econômicos e por

comitês de especialistas sobre a formação profissional, desenvolvimento de

gestão, saúde e segurança no trabalho, relações de trabalho e educação dos

trabalhadores.

Objetivos estratégicos principais:

Promover e realizar as normas de trabalho, assim como os princípios e direitos

fundamentais no trabalho.

Criar maiores oportunidades para mulheres e homens para garantir um emprego

decente.

Aumentar a cobertura e a eficácia da proteção social para todos.

Reforçar o tripartidarismo e o diálogo social.

Políticas e programas:

Declaração da Filadélfia, em 1944.

O trabalho não é mercadoria.

A liberdade sindical.

A pobreza em qualquer lugar constitui um perigo para a prosperidade de todos.

Todos os seres humanos, sem distinção de raça, credo ou sexo tem direito a

buscar seu bem estar material e seus desenvolvimento espiritual em condições

de liberdade, dignidade, segurança econômica e igualdade de oportunidades.

Declaração relativa aos princípios e direitos fundamentais no trabalho, em 1998.

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Reafirma o compromisso da comunidade internacional de respeitar, promover e

realizar, de boa fé, a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do

direito à negociação coletiva para os trabalhadores e empregadores.

Os membros comprometeram-se a cooperar na eliminação de todas as formas

de trabalho infantil e a eliminação da discriminação em matéria de emprego e de

respeitar estes direitos, mesmo que não tenham ratificado esses direitos.

A declaração relativa aos princípios e direitos fundamentais no trabalho, em 1998, se

resume nos seguintes convênios:

Nº 29 – trabalho forçado (1930).

Nº 87 – liberdade sindical e proteção do direito de sindicalização (1948).

Nº 98 – direito de sindicalização e negociação coletiva (1951).

Nº 100 – igualdade de remuneração (1951).

Nº 105 – abolição do trabalho forçado (1957).

Nº 111 – discriminação no emprego e ocupação (1958).

Nº 138 – idade mínima (1973).

Nº 182 – piores formas de trabalho infantil (1999)

Declaração da OIT sobre a justiça social:

Adotada em junho de 2008 na Conferência Internacional do Trabalho.

Aspectos negativos da globalização: desigualdades; desemprego e pobreza;

vulnerabilidade das economias antes as crises externas; aumento do trabalho

não protegido e da economia informal.

As responsabilidades do estado incluem, entre outras coisas, a adoção de

medidas urgentes para garantir que o crescimento econômico seja distribuído de

forma mais equitativa, para responder às necessidades de pleno emprego.

A agenda Hemisférica 2006-2015 de Trabalho Decente para as Américas:

Estratégia de geração de trabalho decente em torno de 4 objetivos:

Promover o emprego. Aumento de oportunidades para homens e mulheres para

que disponham de uma renda e um trabalho decente.

Cumprir as normas, princípios e direitos fundamentais no trabalho.

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Possibilitar o equilíbrio e proteção social para todos.

Fortalecer o diálogo social.

Princípios contidos nos convênios e procedimentos da OIT relacionados à liberdade

sindical e negociação coletiva.

A liberdade sindical reconhece:

O direito de todos os trabalhadores a constituir organizações e de filiar-se a elas,

as únicas exceções são a polícia e as forças armadas, ao estabelecer que a

legislação nacional é que deve determinar sua inclusão.

Não se necessita de autorização prévia para a constituição de organizações

sindicais. As condições que se estabelecem na legislação, se são consideradas

formalidades normais, não devem constituir obstáculos, nem ser equivalentes a

uma autorização prévia.

A única condição estabelecida pela Convenção para constituir as organizações e

filiar-se a elas é observar seus estatutos, o que equivale a reconhecer a liberdade

dos trabalhadores para elaborar e colocar nos estatutos a estrutura e composição

da organização; as regras relativas à eleição de seus representantes, reeleição e

destituição; organizar a gestão financeira da organização sem interferência das

autoridades públicas; organizar atividades e um programa de ação.

A Convenção estabelece que as organizações e seus filiados, estão obrigados a

respeitar a lei. Também estabelece que a legislação não será aplicada de modo a

prejudicar o exercício dos direitos sindicais.

Que as federações e confederações correspondem os mesmos direitos que as

organizações sindicais e a estas, por sua vez, se reconhece o direito de filiar-se às

federações e confederações.

Quanto ao direito de sindicalização e negociação coletiva reconhece:

Que os trabalhadores deverão gozar de uma proteção adequada contra todo ato de discriminação destinado a suprimir a liberdade de associação em relação ao seu emprego. Devem ser criados organismos adequados para garantir o respeito ao direito de sindicalização.

Não é suficiente que exista na legislação a proibição geral contra atos de discriminação antissindical.

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As medidas adequadas devem incluir procedimentos ágeis, perante os tribunais trabalhistas e por intermédio de inspeção do trabalho, adaptados às condições e práticas nacionais, incluindo a compensação pelos danos causados, mediante indenizações, a substituição ou reintegração do trabalhador despedido, ou transferido por causa de sua atividade sindical.

As organizações de trabalhadores e empregadores devem gozar de proteção adequada contra atos de interferência com relação à sua constituição, funcionamento e administração.

Estabelece os atos de discriminação antissindical proibidos pela Convenção: negar a contratação de um trabalhador por pertencer a um sindicato; ou, uma vez já contratado, proceder a mudanças de local de trabalho, rebaixamento ou restringindo quanto à remuneração com o propósito de impedir ou dificultar suas atividades sindicais; também quando às demissões invocadas por razões econômicas, sem que isso seja demonstrado pelo empregador.

A proteção da Convenção abrange tanto as atividades fora do horário de trabalho quanto durante o horário de trabalho, se houver o consentimento do empregador.

O conteúdo das convenções coletivas:

Regulamentar as condições de trabalho e emprego, as relações entre empregadores e trabalhadores e entre suas organizações.

A legislação nacional deve determinar se ela se aplica às forças armadas e à polícia o direito à negociação coletiva.

As medidas consideradas adequadas para promover a negociação coletiva abarcam os procedimentos para designar o sindicato mais representativo como agente negociador; o reconhecimento legal por parte dos empregadores; o funcionamento de organismos de conciliação e comissões mistas para efeito de negociação coletiva.

Níveis onde ocorre a negociação coletiva, categoria do estabelecimento, de empresa, ramo de atividade, da indústria, se é regional ou nacional. Também as federações e confederações tem direito à negociação coletiva.

Órgãos e procedimentos da OIT para a proteção dos direitos sindicais:

Em casos de não conformidade com esses princípios e direitos, existem na OIT órgãos que controlam a execução dos acordos, tanto na lei quanto na prática das relações laborais em cada país.

Os procedimentos utilizados para proteger os direitos sindicais variam em relação a cada um dos órgãos, e são parte de um conjunto de obrigações firmadas pelos estados membros, que foram consagrados na Constituição da OIT.

A fim de destacar as possibilidades de participação das organizações sindicais em procedimentos de controle da implementação das convenções e recomendações, e contribuir para a sua efetiva utilização, expomos brevemente os aspectos essenciais do funcionamento dos órgãos e dos procedimentos de cada um desses, apresentados em 5 sessões separadas, como segue adiante.

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Sistema de controle da OIT

Órgãos e procedimentos regulares:

Sessão A: Comissão de peritos sobre a aplicação de Convenções e Recomendações (tem a função de avaliar se os convênios ratificados pelos estados membros são aplicados de acordo com a lei e de forma prática em cada país, de acordo com as obrigações assumidas no âmbito da Constituição da OIT).

Sessão B: Comissão para a aplicação de Normas da Conferência Internacional do

Trabalho (tripartite: constituída por representantes do governo, empregadores e

trabalhadores que integram as delegações creditadas na Conferência

Internacional do Trabalho. Sua tarefa é examinar o relatório apresentado

anualmente ao Comité de Peritos em cada Conferência Internacional do

Trabalho, com relação ao cumprimento das Convenções e outras obrigações dos

membros e, mais importante, as observações que são feitas a cada país,

relacionadas com a aplicação das convenções ratificadas).

Órgãos e procedimentos especiais:

Sessão C: Comissões nomeadas pelo Conselho de Administração.

Sessão D: Comissão de Liberdade Sindical.

Sessão E: Comissão de Investigação e Conciliação.

Conclusões:

A OIT é um espaço conquistado pelos trabalhadores por suas lutas, mas não substitui o movimento sindical.

Não resolverá por si só os problemas sociais, esta é tarefa exclusiva dos trabalhadores e suas organizações.

Com ou sem a OIT os trabalhadores sabem defender seus direitos. Mas, estarão em melhores condições de fazê-lo com uma OIT eficiente e

democrática, orientada a conquistar a justiça social segundo os princípios expressos na 58Declaração de Filadélfia.

Um movimento sindical unido e com ideias claras sobre o que pode esperar da OIT, será a base para alcançar os objetivos.

A OIT é uma importante tribuna para os trabalhadores, mas é uma organização membro do Sistema das Nações Unidas, se a ONU tem problemas, nós também temos.

58

http://www.dgert.msess.pt/declaracao-de-filadelfia

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Décimo dia – 25 de novembro – Tema 10: Trabalho final: O dirigente sindical latino-americano por uma liderança eficaz na consolidação da unidade das massas trabalhadoras.

O último dia de aula foi comandado pelo Prof. Félix e a Profª Mariscal.

A atividade foi um “rescaldo" dos temas vistos até aqui e a aferição de nossa compreensão acerca destes.

Separam a turma em 4 grupos.

Grupo 1: Quais são os desafios fundamentais que tem o trabalho sindical nas condições atuais?

Grupo 2: Elaborar uma proposta de objetivos para o trabalho sindical a fim de enfrentar os desafios do momento atual.

Grupo 3: Como assegurar o papel de protagonista do dirigente sindical para enfrentar os desafios do momento atual?

Grupo 4: “dramatizar” uma reunião sindical.

Grupo 1

Quais são os desafios fundamentais que tem o trabalho sindical nas condições atuais?

Três eixos:

Ideológico: educação, valores, meios de comunicação, modelo de estado.

Organizacional: unidade sindical, formação de lideres, escola sindical.

Político: consciência social e política.

A mobilização é um elemento central para integrar os eixos e deve ser buscado tanto no nível micro (regional) quanto macro (integração da América Latina)

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Grupo 2

Objetivos:

Trabalho sindical:

Ser organismos representativos, autônomos e autossustentáveis, defensores dos interesses da classe trabalhadora.

Alcançar a unidade: - Evitar automatização - Aumentar a base sindical

Desenvolver lideranças integrais: - Capacitação político-ideológica - Congruência (conformidade)

... frente aos Desafios do Mundo Atual:

Modelo neoliberal

Falta de unidade dos trabalhadores

Alcançar o poder do povo trabalhador para o povo trabalhador.

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Grupo 3

Papel protagonista – dirigente sindical na atualidade (A partir do personagem central (sindicalista), elaboraram 6 tópicos)

Legitimidade: - trajetória honesta - princípios, valores, convicções - credibilidade - eleição popular

Conhecimento: - político - histórico - social

Prestação de contas: - transparência

- realimentação

Capacidade de comunicação: - falar - escutar - escrever - ler Decisões: - coletivo - escolher o caminho correto Chefia (liderança): - proatividade - empatia - objetivos conscientes - constante superação - autorrenovação - sinergia

- serviço

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Grupo 4

Dramatização: cada um dos 7 componentes do grupo assumiu um personagem:

Felipe foi o antagonista, aquele que só reclama das ações do sindicato.

Emerson foi o secretário geral e o condutor da reunião.

Ivete foi a secretária da mulher e defendia as causas feministas.

Conceición foi o fotógrafo oficial do sindicato, a todo momento pedia fotos e os outros personagens paravam tudo e posavam para as fotos.

Solange foi a conciliadora do grupo, a personagem mais ponderada.

Mani foi o diretor financeiro e para tudo dizia não, pois nunca havia dinheiro em caixa.

Rubem representava o trabalhador indeciso, o “Maria vai com as outras”.

Dessa maneira, a dramatização girou em torno da dificuldade de conciliar interesses difusos e particulares com a necessidade de decidir sobre temas importantes e de interesse do trabalhador, pois não havia consenso e os interesses de cada um prevaleciam sobre os do coletivo. O fotógrafo representava a futilidade de algumas ações, pois era só pedir uma foto que todos se alinhavam, sorriam e faziam que tudo estava bem, era só terminar o “clique” e o caos reinava novamente. No processamento com o grupo, os dirigentes disseram que essa é uma face da realidade no meio sindical. Muitas vezes não conseguem alinhar as questões realmente importantes por questões de vaidades e interesses pessoais. Não havia unidade entre as personagens em nossa pequena dramatização e, sem essa, não havia como chegar a um consenso ou tratar de maneira produtiva de qualquer assunto. Quantas vezes não nos perdemos com questões como essas em nosso dia a dia e que só nos causam desgastes e a sensação de impotência?

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Não existe uma fórmula, mas há a necessidade de trazer as bases para junto dos sindicatos. A unidade é um processo. Há inúmeros desafios, um deles diz respeito às relações de poder dentro dos próprios sindicatos. Se não houver unidade interna, dificilmente se alcançará unidade entre as categorias. Há que cuidar da correlação de forças internas nas organizações sindicais para que possamos realizar de fato um trabalho consistente, correto e que seja um diferencial. Para tanto, os líderes tem um papel fundamental para alicerçar as bases de uma nova abordagem em seu meio e fazer com que os outros queiram participar e partilhar das lutas e conquistas.

O Prof. Félix nos indicou a leitura de “A sociedade líquida”, de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, que faz uma reflexão acerca da sociedade atual e a sua “fluidez”. Abaixo, a explicação de Bauman para a utilização dessa terminologia.

59Tudo é temporário. É por isso que sugeri a metáfora da "liquidez" para caracterizar o estado da sociedade moderna, que, como os líquidos, se caracteriza por uma incapacidade de manter a forma. Nossas instituições, quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades "autoevidentes". É verdade que a vida moderna foi desde o início "desenraizadora" e "derretia os sólidos e profanava os sagrados", como os jovens Marx e Engels notaram. Mas, enquanto no passado isso se fazia para ser novamente "reenraizado", agora as coisas todas - empregos, relacionamentos, know-hows etc.- tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desreguladas, flexíveis. Como um exemplo dessa perspectiva, li, num dia desses, que um famoso arquiteto de Los Angeles estava se propondo a construir casas que permanecessem lindas "para sempre". Ao ser questionado sobre o que queria dizer com isso, ele teria respondido: até daqui a 20 anos! Isso é hoje "para sempre", grande duração. O que me interessa é, portanto, tentar compreender quais as consequências dessa situação para a lógica do indivíduo, para seu cotidiano. Virtualmente todos os aspectos da vida humana são afetados quando se vive a cada momento sem que a perspectiva de longo prazo tenha mais sentido. Jean-Paul Sartre aconselhou seus discípulos em todo o mundo a terem um projeto de vida, a decidir o que queriam ser e, a partir daí, implementar esse programa consistentemente, passo a passo, hora a hora. Ora, ter uma identidade fixa, como Sartre aconselhava, é hoje, nesse mundo fluido, uma decisão de certo modo suicida. Se se pensa, por exemplo, nos dados levantados por Richard Sennett [sociólogo] -o tempo médio de emprego no vale do Silício [localizado na Califórnia, EUA, concentra um grande número de empresas de tecnologia e internet], por exemplo, é de oito meses-, quem pode pensar num projeto de vida nessas circunstâncias? Na época da modernidade sólida, quem entrasse como aprendiz nas fábricas da Renault ou Ford iria com toda probabilidade ter ali um longa carreira e se aposentar após 40 ou 45 anos. Hoje em dia, quem trabalha para Bill Gates por um salário talvez cem vezes maior não tem ideia do que poderá lhe acontecer dali a meio ano! E isso faz uma diferença incrível em todos os aspectos da vida humana. Em Liquid Love [Amor Líquido], eu exploro o impacto dessa situação nas relações humanas, quando o indivíduo se vê diante de um dilema terrível: de um lado, ele precisa dos outros como do ar que respira, mas, ao mesmo tempo, ele tem medo de desenvolver relacionamentos mais profundos, que o imobilizem num mundo em permanente movimento.

59

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/4_Encontro_Entrevista_A_Sociedade_Liquida_126322

4949.pdf

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No período da tarde tivemos o encerramento e a cerimônia de entrega dos certificados para os 41 participantes, com a participação do corpo docente, direção da Escola, da FSM e da CTC.

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Conclusão

Foi extremamente gratificante ter tido a oportunidade de conviver com dirigentes sindicais de outros países. Dessa forma pudemos ver que há mais coisas em comum do que poderíamos imaginar. O movimento sindical vem sofrendo pressões e retaliações de forma metódica em todo o continente e, pelo que vemos, ouvimos e compartilhamos, no mundo todo há violações contra os trabalhadores e trabalhadoras em vários níveis. Os companheiros colombianos e mexicanos relataram os assassinatos sistemáticos de sindicalistas em seus países. Ser sindicalista é profissão de risco. Todos os dirigentes foram unânimes em apontar as dificuldades nas negociações com o patronato; o aprofundamento das crises políticas e sociais; o alto índice de desemprego; a precarização das relações e condições de trabalho; a perseguição e judicialização do movimento sindical; o distanciamento que há entre as bases e os sindicatos; a falta de apoio e de credibilidade do movimento sindical; o ataque da mídia ao movimento; a má atuação de dirigentes que denigrem e ajudam com isso a ofuscar ainda mais a valorização da atividade; a dificuldade em trazer para dentro dos sindicatos os jovens e as mulheres...

Tudo o que foi dito reverbera em nosso dia a dia. São descrições e restrições com as quais nos deparamos cotidianamente. Dessa forma, percebemos que aquilo que nos separa internamente é o que no une globalmente. O distanciamento do movimento sindical dos trabalhadores e da sociedade, de forma generalizante, é provocado de forma sistemática pelos nossos detratores e por nós mesmos quando deixamos de cumprir com o nosso papel social e nos acomodamos na posição de dirigentes, sem saber apontar a direção a ser seguida.

Nessas duas semanas vimos como a ideologia neoliberal vem ganhando corpo em toda a América Latina. A visão de “livre mercado” é falsa, uma vez que este é dominado por grandes corporações que ditam as regras na economia de mercado, principalmente nos países “emergentes”, que só veem emergir a má distribuição de renda, as altas taxas de desemprego, a precarização nas relações de trabalho, a falta de perspectiva...

Não perdemos de vista que o curso foi idealizado e realizado em um dos poucos países socialistas do mundo, que tem um histórico de embates com os representantes máximos do capitalismo global, os EUA. Mas, está em curso em Cuba uma abertura gradual, ainda não política, mas social e econômica, não dá para dizer que será uma abertura para uma ‘economia de mercado’, nos moldes como temos em outros países; no entanto, há um estímulo para iniciativas que fomentem o mercado, principalmente na área do turismo, que é o grande chamariz cubano para atrair reservas ao país. Cuba ainda vai nos mostrar um outro caminho praticável entre o capitalismo voraz e o socialismo possível. O futuro dirá. A conferir.

Uma particularidade que vale destacar é que a maioria de nossos instrutores eram mulheres. Diferentemente do que acontece na maioria dos países, em Cuba as mulheres tem um grande destaque no meio sindical. É claro que isso também tem a ver com a singularidade do país, onde por volta de 95% da população economicamente ativa é sindicalizada, há somente 17 sindicatos e uma única central sindical. Dessa forma, as mulheres tem tanta participação quanto os homens, uma vez que todos estão inseridos dentro de um mesmo contexto. Mas, a realidade vivida por nós no Brasil quanto a essa questão é parecida com a dos outros países... infelizmente.

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Finalizando, a morte de Fidel Castro ocorreu em nosso penúltimo dia em solo cubano. Estávamos comemorando o final do curso na Marina Hemingway quando veio a notícia, por volta das dez e meia da noite, através das rádios. Imediatamente todos os bares fecharam e as pessoas se retiraram para suas casas. Nós voltamos para a escola. Cuba parou e calou... e chorou.

Na manhã seguinte houve várias manifestações em todo o país em homenagem a Fidel. A direção da Escola Superior Ñico Lopez também realizou um evento em homenagem ao líder cubano. Para nós, de outros países, ficou a sensação de estarmos presenciando um momento histórico. Podem falar o que quiserem de Fidel, há admiradores e detratores, não é o caso aqui de analisar o que ele representa para um grupo ou outro, mas o que vimos nas ruas e percebemos com quem falamos foi uma grande reverência e profundo respeito pela imagem de um líder que fez tudo por Cuba e pelo povo cubano. A história e, principalmente, o povo cubano é que irão julgar qual será o lugar dele na memória. Em nossa, fica a imagem de um povo que reverencia seus líderes, toma para si o rumo de seu destino e luta por aquilo que quer, com propriedade, conhecimento, destemor e paixão. Sentimos na pele o que as nossas instrutoras e instrutores quiseram dizer quando falavam em unidade. Presenciamos o sentido desse conceito ao participarmos desse momento único na vida do povo cubano, um momento de extrema fragilidade e sentimentalismo, mas vivido com profundo orgulho e consciência do que almejam alcançar enquanto nação... com unidade.

Obrigado.

Carlos Mani

Assessor Técnico e Facilitador

Secretaria Nacional de Formação Sindical

Força Sindical

São Paulo, 07 de fevereiro de 2017.

Evento em homenagem a Fidel Castro

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FORÇA SINDICAL

Secretaria Nacional de Formação Sindical

José Pereira dos Santos – Secretário Nacional de Formação

Carlos Mani – Assessor Técnico e Facilitador

Cristina Lima – Assistente Técnica

F: 11 3348-9022/9044

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