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Resumo Ao longo dos anos, a Tecnologia da Informação (TI) vem de maneira crescente apoiando as atividades mais diretamente ligadas à produção. Sendo inicialmente suporte de tarefas mais simples, a TI passa a estar presente em todas as etapas do processo produtivo, abrangendo o desenvolvimento de produtos e processos. O Planejamento e Controle da Produção (PCP) desponta como uma área na qual a TI pode trazer significativo impacto nos resultados obtidos, possibilitando novas alternativas de estratégias de operações e mesmo de negócios. Os sistemas MRP, MRP II e ERP são exemplos de como a TI pode apoiar o PCP. Por outro lado, persistem as dúvidas quanto aos resultados obtidos com os investimentos em TI. Para avaliar os impactos de tais aplicações nas operações, é necessário abordar os resultados obtidos em relação aos objetivos, metas e requisitos da área de produção e da empresa como um todo, isto é, considerando a eficácia destas aplicações de TI. Este estudo apresenta um processo de seleção de alternativas de fornecimento de uma nova aplicação de TI voltada ao PCP de uma indústria. A pesquisa foi desenvolvida por meio de um estudo de caso em uma indústria de grande porte, no qual são discutidos os impactos da TI na gestão da operação e do negócio da empresa, bem como o uso do AHP (Analytic Hierarchy Process) como ferramenta de apoio à decisão. Palavras-chave: Tecnologia da Informação, sistemas de informação, planejamento e controle da produção, eficácia. SELECIONANDO UMA APLICAÇÃO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO COM ENFOQUE NA EFICÁCIA: UM ESTUDO DE CASO DE UM SISTEMA PARA PCP Fernando José Barbin Laurindo Marly Monteiro de Carvalho Marcelo Schneck de Paula Pessôa Tamio Shimizu Departamento de Engenharia de Produção, Escola Politécnica da USP, Av. Prof. Almeida Prado, 128, Tr. 2 Biênio 2 o andar, CEP 05508-900, São Paulo, SP, e-mails: [email protected], [email protected], [email protected] e [email protected] v.9, n.3, p.377-396, dez. 2002

SELECIONANDO UMA APLICAÇÃO DE TECNOLOGIA DA … · Hierarchy Process) como ferramenta de apoio à decisão. Palavras-chave: Tecnologia da Informação, sistemas de informação,

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Resumo

Ao longo dos anos, a Tecnologia da Informação (TI) vem de maneira crescente apoiando as atividadesmais diretamente ligadas à produção. Sendo inicialmente suporte de tarefas mais simples, a TI passa aestar presente em todas as etapas do processo produtivo, abrangendo o desenvolvimento de produtos eprocessos. O Planejamento e Controle da Produção (PCP) desponta como uma área na qual a TI podetrazer significativo impacto nos resultados obtidos, possibilitando novas alternativas de estratégias deoperações e mesmo de negócios. Os sistemas MRP, MRP II e ERP são exemplos de como a TI podeapoiar o PCP. Por outro lado, persistem as dúvidas quanto aos resultados obtidos com os investimentosem TI. Para avaliar os impactos de tais aplicações nas operações, é necessário abordar os resultadosobtidos em relação aos objetivos, metas e requisitos da área de produção e da empresa como um todo,isto é, considerando a eficácia destas aplicações de TI. Este estudo apresenta um processo de seleção dealternativas de fornecimento de uma nova aplicação de TI voltada ao PCP de uma indústria. A pesquisafoi desenvolvida por meio de um estudo de caso em uma indústria de grande porte, no qual são discutidosos impactos da TI na gestão da operação e do negócio da empresa, bem como o uso do AHP (AnalyticHierarchy Process) como ferramenta de apoio à decisão.

Palavras-chave: Tecnologia da Informação, sistemas de informação, planejamento e controle daprodução, eficácia.

SELECIONANDO UMA APLICAÇÃO DETECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO COMENFOQUE NA EFICÁCIA: UM ESTUDODE CASO DE UM SISTEMA PARA PCP

Fernando José Barbin LaurindoMarly Monteiro de Carvalho

Marcelo Schneck de Paula PessôaTamio Shimizu

Departamento de Engenharia de Produção,Escola Politécnica da USP,

Av. Prof. Almeida Prado, 128, Tr. 2 Biênio 2o andar,CEP 05508-900, São Paulo, SP,

e-mails: [email protected], [email protected],[email protected] e [email protected]

v.9, n.3, p.377-396, dez. 2002

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Laurindo et al. – Selecionando uma Aplicação de Tecnologia da Informação com Enfoque na Eficácia378

1. Introdução

As decisões acerca do uso da Tecnologia daInformação (TI) para apoiar o sistema de

Planejamento e Controle da Produção (PCP) daempresa tornaram-se progressivamente maisimportantes, pois podem ter grande impactoestratégico, em especial no cenário de compe-tição globalizada, na qual a operação just-in-time passa a ser fator de obtenção e de manuten-ção de vantagens competitivas. Essa maneira deoperar exige respostas rápidas, flexibilidade demix de volume de produção, bem como oatendimento às necessidades específicas dosclientes, que representa importantes fatores dediferenciação (Heizer & Render, 1999; Slack,1993). O desempenho das empresas passa a seravaliado de maneira mais abrangente, não serestringindo mais a indicadores unicamentefinanceiros (Kaplan & Norton, 1992).

Por outro lado, a TI tem, cada vez mais,apoiado as atividades ligadas à produção, desdeos antigos sistemas de controle até os modernossistemas ERP (Enterprise Resources Planning).O intensivo aporte de recursos para a imple-mentação desses sistemas suscitou dúvidasacerca do retorno dos investimentos.

Embora esta discussão possa ser inserida emum contexto mais amplo, a busca de evidênciasde ganhos de produtividade em razão dautilização de TI, chamada de “paradoxo daprodutividade da TI” ou de “paradoxo doscomputadores” (Willcocks & Lester, 1997;Strassman, 1990; Brynjolfsson, 1993; Henderson& Venkatraman, 1993), e o questionamento acer-ca dos sistemas ERP foram particularmenteintensos no contexto internacional e no Brasil.

De acordo com Henderson & Venkatraman(1993), uma das soluções para a obtenção deretornos consideráveis dos investimentos em TIseria a coordenação e o alinhamento entre asestratégias de negócio e de TI, obtidos em umprocesso dinâmico e contínuo ao longo do tempo.Essa perspectiva estratégica para a seleção deaplicações de TI permite maior retorno emtermos de resultados do negócio. Somente acapacidade da empresa em explorar a eficácia no

uso da TI de forma contínua possibilita amanutenção de vantagens competitivas. Cabelembrar que a eficácia está associada à satisfaçãode metas, objetivos e requisitos de caráter maisamplo do negócio da empresa, enquantoeficiência está associada ao uso dos recursos(Laurindo, 2002; Maggiolini, 1981).

O presente artigo pretende analisar o processode seleção de um sistema para PCP, analisandoaspectos organizacionais e estratégicos, utili-zando a abordagem metodológica de estudo decaso. O modelo teórico para análise baseia-se emLaurindo (2002) e no método da AnalyticHierarchy Process (AHP), proposto por Saaty(1991).

2. Aplicações da TI na produção

Merecem destaque as aplicações de TIvoltadas à produção, as quais operacionalizamdiferentes modelos usados no PCP. Nestesentido, o aparecimento dos sistemas MRP(Materials Requirements Planning), ainda nosanos 70, permitiu equacionar o problema docálculo de necessidades de materiais paraprodução de mix de produtos cujas estruturascontenham um grande número de componentes.Os sistemas MRP evoluíram para sistemas MRPII (Manufacturing Resources Planning), quepassaram a ter maior abrangência, permitindoincluir no planejamento outros aspectos, comoplanejamento da capacidade (CRP – CapacityRequirements Planning), e permitindo a gestãode outros recursos (equipamentos, mão-de-obraetc.), além dos materiais.

Os sistemas MRP II foram, por algum tempo,o estado da arte em termos de instrumento deplanejamento da produção, principalmente emsistemas de produção intermitente. A partir dosanos 80, passam a rivalizar com o modelo just-in-time (JIT), introduzido pelos japoneses paracontrole de estoques na produção automobilística(produção em massa). O próximo passo foi ainclusão, além do módulo industrial (MRP II), devários outros aspectos, como, por exemplo,contabilidade, finanças, comercial, recursoshumanos, engenharia, entre outros. Esta nova

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geração de sistemas foi denominada de “SistemasERP”, chamados genericamente de Sistemas deGestão Empresarial (Laurindo & Mesquita,2000). A próxima evolução consiste na TIintegrando as diversas etapas da cadeia desuprimentos, inicialmente pelo EDI e atualmentevia e-commerce B2B – business to business(Medeiros, 2002).

Porter et al. (1999) consideram a área de PCPchave para empresas industriais, e as classi-ficações dos tipos de manufatura devem estarrelacionadas à escolha dos sistemas de infor-mação para PCP a serem adotados.

Embora os sistemas ERP sejam passíveis deimplantação em empresas de prestação deserviços, são as indústrias as que mais procuramesse tipo de sistema (Huang & Palvia, 2001).Nessas empresas, há a preocupação crescente deque haja um ambiente integrado de sistemas deinformação que dêem suporte aos objetivos daprodução (Stuber, 1998).

Uma alternativa recente para a integração desistemas é a estratégia chamada best of breed(BoB), na qual as melhores soluções sãoadquiridas (de diferentes fornecedores) paracada parte da empresa e posteriormente inte-

gradas (Light et al., 2001). Na mesma linha,cabe citar a integração de aplicações APS(Advanced Planning and Scheduling) comsistemas ERP, no intuito de buscar soluçõesmais elaboradas para o PCP (Wiers, 2002).

Uma questão básica para entender o papel daTI é a obtenção de vantagens competitivas aolongo da cadeia de valor, que seria o conjuntodas atividades tecnológica e economicamentedistintas que a empresa utiliza para realizar seusnegócios (Porter & Millar, 1985). Cada umadessas atividades seria uma atividade de valor.Agregar valor nessa cadeia de maneira maissignificativa que seus concorrentes torna aempresa mais competitiva.

A cadeia de valor compõe-se de uma série deatividades independentes conectadas pelas liga-ções, que haverá sempre que uma atividade afe-tar o custo ou a eficiência de outras atividades.Cada atividade, para ser realizada, tem umcomponente físico e outro de processamento deinformações. Os autores identificaram noveatividades genéricas, as quais podem ser classi-ficadas em dois grupos: atividades-meio (ou desuporte) e atividades-fim (ou primárias), confor-me a Figura 1.

Figura 1 – A cadeia de valor (Porter & Millar, 1985).

Atividades-meio

Infra-estrutura

empresarialModelos de planejamento

Gerencia-mento derecursoshumanos

Alocação de pessoal automatizada

Desenvolvi-mento de

tecnologias

Projeto auxiliado por computadorPesquisa eletrônica de marketing

Aquisiçãode insumos Pesquisa para aquisição de componenteson-line

Depósitosautomatizados

Fabricaçãoflexível

Processamentoautomatizadode pedidos

Tele-marketingTerminaisremotospara os

vendedores

Assistênciatécnicaremota

Cronogramaçãoe roteamento

dos caminhõesde assistência

técnica

Logísticainterna

Operações Logísticaexterna

Marketing evendas

Prestaçãode serviços

Atividades-fim Margem

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Laurindo et al. – Selecionando uma Aplicação de Tecnologia da Informação com Enfoque na Eficácia380

Ampliando o conceito, o sistema de valorcontempla as cadeias de valor de uma indústriadesde os fornecedores até o consumidor final, enovamente as ligações conectam as atividadesdentro desse sistema de valor.

A TI permeia as cadeias de valor, mudandoa forma de executar as atividades de valor etambém a natureza das ligações entre elas. Aofazer isto, a TI pode afetar a competição de trêsmaneiras: (i) muda a estrutura do setor, pois temcapacidade de influenciar cada uma das cincoforças competitivas (Porter, 1979); (ii) cria novasvantagens competitivas, reduzindo custos,aumentando diferenciação e alterando o escopocompetitivo; e (iii) dá origem a negócios com-pletamente novos.

A disseminação dos sistemas ERP provocouuma série de discussões sobre a viabilidade, ajustificativa e os resultados obtidos, diante dosgrandes investimentos efetuados com suasimplantações, o que remete a uma discussão acercado alinhamento estratégico da TI (Laurindo &Pessôa, 2001; Bingi et al., 1999; Davenport, 1998).

3. Um quadro teórico para aanálise e avaliação do papel daTI nas organizações

De acordo como Earl (1989) e Willcocks &Lester (1997), a avaliação da TI deve ser feitade maneira abrangente, envolvendo diversosaspectos. Para isso, podem ser usados modelosintegrativos de avaliação (Laurindo et al.,2001), que são aqueles que agregam várioselementos de diferentes abordagens para aavaliação da TI, formando uma estrutura maisampla de análise. Neste trabalho será utilizadoo modelo proposto por Laurindo (2002), peloqual se deve analisar o impacto da TI, bemcomo sua eficácia, diante da estratégiacorporativa, partindo-se de uma análise dealinhamento estratégico até a estruturação dafunção da TI na empresa. Esse processo deanálise e avaliação compõe-se de três etapas:

� Etapa I: Diagnóstico, abrangendo a análi-se do papel e dos impactos da TI na orga-

nização, bem como a análise dos ativos edos imperativos da TI e também aclassificação da aplicação de TI a seravaliada.

� Etapa II: Estruturação (modelagem) daavaliação da TI.

� Etapa III: Análise dos resultados da avalia-ção, decisões e planejamento das ações.

O modelo para análise da TI (Laurindo,1995, 2000) está baseado em dois grupos defatores: fatores relacionados à estrutura daempresa e fatores referentes à organização da TIpropriamente dita. Compõe-se de uma série deitens, nos quais são utilizados, de forma integradae complementar, diversos outros modelos deanálise da TI. Cada passo contribui para a análisedos passos subseqüentes, e a seqüência dessespassos exprime uma visão crescente do conhe-cimento de aspectos da estratégia e da operaçãoda empresa e da possível contribuição da TI aonegócio, bem como uma visão de como a área ea função da TI estão organizadas para forneceressas contribuições.

Ao término desses passos da análise, tem-seuma visão das características da empresa e desuas estratégias, qual a posição da TI diantedessa visão e como a TI está estruturada pararealizar seu papel dentro da organização.

Na Etapa I é analisado o impacto da TI naempresa, contemplando a análise de dois gruposde fatores: fatores estruturais da empresa efatores referentes à organização da TI.

Os tópicos referentes à análise dos fatoresestruturais da empresa são:

I. Fatores Críticos de Sucesso (FCS)(Rockart, 1979; Torres, 1989).

II. Grid Estratégico (McFarlan, 1984) eMatriz de Intensidade da Informação(Porter & Millar, 1985).

III. Verificação da perspectiva adotada doModelo do Alinhamento Estratégico(Henderson & Venkatraman, 1993).

IV. Análise sobre a existência de razões paradescentralização na empresa (Buchanan& Linowes, 1980a).

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Tópicos referentes à análise dos fatoresreferentes à organização da TI:

V. Avaliação do grau de descentralização(Buchanan & Linowes, 1980a, 1980b).

VI. Verificação do estágio de informatização(Nolan, 1979).

VII. Verificação do estágio de descentralização(Donovan, 1988).

VIII. Configuração da função e operação da TI(Grajew & Oliveira, 1987).

IX. Nível de participação dos usuários (Dias,1985).

X. Análise da organização da área de TI.

Analisados esses itens, devem ser contem-plados os ativos da TI (Ross et al., 1996) e osimperativos da organização da TI (Rockart etal., 1996), que permitem uma comparação dasituação existente na empresa com recomen-dações de melhores práticas para a utilizaçãoeficaz da TI. Em seguida, enquadra-se aaplicação de TI a ser avaliada na “escada deavaliação de benefícios”, de Farbey et al.(1995). Neste modelo, são classificados oitotipos de aplicações, que correspondem aosdegraus da “escada de benefícios”. Para cadaum, há a indicação de quais seriam os fatores aserem considerados para avaliar a TI, quepodem ser mais objetivos, mais focados naeficiência (nos degraus mais baixos) ou maissubjetivos, mais focados na eficácia (à medidaque se sobe a escada).

A Etapa II engloba a escolha dos fatores aserem avaliados, bem como a montagem daestrutura da decisão a ser tomada (projeção deação futura) ou da avaliação a ser realizada(avaliação do presente ou do passado). A decisãopode ser apoiada pela aplicação de um modelo deavaliação de sistemas pouco estruturados (como,por exemplo, o método AHP).

Finalmente, a Etapa III consiste na análisedos resultados obtidos, comparando com odiagnóstico das Etapas I e II, na definição deações a serem tomadas e na implementação dasdecisões, com base em uma abordagem deacompanhamento contínuo e de alinhamento

constante com a estratégia de negócios daempresa.

Nos itens a seguir serão apresentados breve-mente os modelos e ferramentas empregadospelo modelo integrativo utilizado em cada umade suas etapas e passos (resumidos na Tabela 1).

4. Aspectos metodológicos

Este artigo pretende analisar um processo deseleção de um sistema para PCP, buscandoidentificar o impacto estratégico dessa decisão.O foco da seleção está na questão desenvol-vimento interno ou outsourcing, sem discussãodas funcionalidades do sistema. Para este fim,optou-se pela abordagem de estudo de caso quepermitiria analisar esses fatores (Yin, 1991;Claver et al., 2000). O modelo teórico paraanálise baseia-se em Laurindo (2002), que propôsuma abordagem integrativa para diagnóstico eavaliação da eficácia da TI. O AnalyticHierarchy Process (AHP) foi utilizado comoferramenta para apoio à decisão.

Para atender aos objetivos do presente estudo,os critérios para a escolha do caso a ser analisadoforam: a existência de uma operação complexa,que demandasse um sistema de PCP elaborado ecom grande demanda por informações, e, por-tanto, complexidade de estrutura organizacionale/ou de aplicações de TI, e unidades em locaisdiferentes, de forma que fossem suscitadasquestões relativas à centralização ou descen-tralização de atividades e decisões de TI.

Com base nesses critérios, foi selecionado ocaso de uma empresa de capital nacional (queserá denominada de empresa “A”) do ramoindustrial, com diferentes áreas de atuação,englobando agroindústria, bens de consumoduráveis e insumos para indústria. O objeto deestudo deste texto é uma das áreas de negóciosprodutoras de bens de consumo duráveis, quedoravante será denominada AN1; eventualmente,a empresa como um todo (corporação) seráanalisada quando for necessário para melhorcompreensão. Foram realizadas entrevistas comdiversos atores de diferentes níveis hierárquicos,da área de negócios e da corporação.

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Tabela 1 – Modelo de avaliação da eficácia da TI (MAVE/TI): etapas e passos.

Etapa da avaliação Passos da avaliação Resultados esperados Ferramentas utilizadas

1 – Aplicação do MAN/TI (modelo de análise do

impacto da TI na administração e estruturação das

empresas)

Diagnóstico do papel desempenhado pela TI na

organização em estudo, com ênfase no alinhamento

estratégico

• Fatores Críticos de Sucesso (FCS)

• Grid Estratégico e Matriz de Intensidade da Informação .

• Modelo do Alinhamento Estratégico

• Razões para descentralização

• Grau de descentralização

• Estágio de informatização

• Estágio de descentralização

• Função e operação da TI

• Nível de participação dos usuários

• Organização da área de TI

I – Análise (diagnóstico) do

papel da TI na organização

2 – Análise dos ativos da TI e dos imperativos para

a organização da TI

Diagnóstico ampliado, levando em conta a situação

da empresa com as tendências observadas

• Avaliação dos ativos da TI

• Imperativos para a organização da TI

3 – Enquadramento da aplicação de TI a ser

avaliada na "escada de avaliação de benefícios"

Classificação da aplicação (ou conjunto de aplicações)

de TI em um dos degraus da "Escada", visando à definição

do que deve ser avaliado

• "Escada de avaliação de benefícios"

4 – Definição dos fatores a serem avaliados

Conjunto de fatores a serem avaliados, bem como os

critérios da avaliação

• "Escada de avaliação de benefícios"

• Conjunto das ferramentas usadas nos passos 1 e 2

5 – Definição da estrutura da avaliação

Avaliação estruturada com base nos fatores e critérios

selecionados

• "Escada de avaliação de benefícios"

• Conjunto das ferramentas usadas nos passos 1 e 2

• Modelos de decisão

II – Estruturação (modelagem) e execução da avaliação

6 – Aplicação de modelo de avaliação de sistemas

pouco estruturados

Avaliação executada de acordo com os resultados dos

passos anteriores

• Modelos de decisão voltados a situações complexas e pouco estruturadas

7 – Análise dos resultados da avaliação

Análise dos resultados da avaliação, levando em conta

o diagnóstico da TI na organização em estudo

• Diagnóstico executado na etapa I

III – Análise e implantação

dos resultados da avaliação 8 – Definição de ações a

serem tomadas

Decisões voltadas para a ação no que se refere às aplicações da TI avaliadas. Processo de avaliação dessas aplicações

ao longo do tempo

• Abordagem de avaliação de ciclo de vida dos sistemas

• Diagnóstico executado na etapa I

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5. Apresentação do caso

A empresa, nos anos 90, passou por umprocesso de centralização, fruto da mudança dediretrizes ocorrida com a substituição da altadireção. A área de TI corporativa sofreu profundaredução em seus quadros (de 200 funcionários em1990 para 40 em 2000), devido à política deredução de custos na parte administrativa. Oespectro de atribuições dos núcleos de TI dasáreas de negócio foi bastante reduzido, limitando-se ao fornecimento de suporte, seguindo padrões,procedimentos e prioridades definidos pela áreade TI corporativa.

É interessante notar a evolução de certosdados relativos ao crescimento da AN1 ao longoda última década, com expressivo aumento donúmero de produtos fabricados por mês (70%) edo número de lançamento de produtos novos porano (mais de 150%), obtidos ao mesmo tempoem que houve redução de 33% no número totalde funcionários. Ressalte-se que, atualmente, aAN1 é responsável por 60% do faturamento daempresa. A Tabela 2 resume as características daempresa analisada.

A empresa apresenta uma cultura que, deforma crescente, favorece a centralização de

atividades e controles, embora haja diversifi-cação no ramo de atividades e no de tipo deestrutura produtiva. Todavia, durante quase todaa década de 80 e começo da de 90, houve umprocesso de descentralização da TI na empresa(outras áreas da empresa, como Suprimentos,também eram descentralizadas), chegando a umápice no início dos anos 90, até virtualmentedesaparecer nos dias de hoje. No períodoestudado e no âmbito da corporação, a área deTI está subordinada a uma das diretoriasexecutivas corporativas. O núcleo de TI daAN1, que anteriormente era subordinado aodiretor responsável pela AN1, passou a sersubordinado à área de planejamento da AN1.

A cultura da empresa também privilegia odesenvolvimento interno, com poucos casos deaquisição de “pacotes” ou de contratação deserviços externos para desenvolvimento. Estatendência tem sido revertida, embora de maneiralocalizada e com muita parcimônia. A equipe deTI corporativa, ao longo dos anos, tem adotadonos quesitos planejamento, controle de recursose de desempenho das aplicações uma aborda-gem não sistemática. Contudo, verifica-se abusca ad hoc de controles, em especial privi-legiando o aspecto custo.

Tabela 2 – Características da empresa analisada.

Análise da TI Empresa “A”

Ramo Indústria

Áreas de atuação Agroindústria; bens de consumo duráveis

Faturamento (em milhões de US$) 400

No de funcionários 6.000

Mais de um tipo de negócio? Sim

Dispersão geográfica? Sim

Processo produtivo Manufatura + linha de montagem; processo intermitente repetitivo

Centralização da informática? Sim

Estrutura da informática Por tipo de sistemas

Equipamentos de TI Descentralizados

Desenvolvimento de sistemas Centralizado; interno

Decisões de TI Centralizada

Modelos para eficiência Sem modelo formal

Controle de projetos de TI Ad hoc

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Laurindo et al. – Selecionando uma Aplicação de Tecnologia da Informação com Enfoque na Eficácia384

Na AN1 existe uma estrutura do tipomanufatura em junção com uma linha demontagem, com processo intermitente repetitivo,gerando grande necessidade de informações.Assim, a demanda por sistemas de informaçãosempre tem sido elevada. As outras áreas denegócio da empresa apresentam processoprodutivo do tipo produção contínua, com, emcomparação, menor demanda por informações.

A partir do início dos anos 90, a AN1 passoua adotar, progressivamente, os modelos de “mini-fábricas” para algumas linhas de produtos e desubconjuntos, bem como “células de manufa-tura”, destinadas à produção de famílias decomponentes. Essas novas formas de administrara produção passaram a conviver com os arranjosfuncionais previamente existentes. Outro concei-to adotado de forma progressiva foi o just-in-time, notadamente no que diz respeito ao uso dekanbans como mecanismo de programação e deliberação de ordens de produção. Com isto, oprincipal sistema informatizado que fazia asfunções de PCP foi desativado (exceto na mon-tagem, que permaneceu sendo programada deforma centralizada pela área de planejamento eusando um sistema informatizado), passando afunção PCP a ser desempenhada pelo sistema dekanbans, por controles manuais e algumasaplicações de TI localizadas, principalmente emplanilhas eletrônicas ou relatórios de “pacotes” demainframe voltados a usuários finais, a partir dediretrizes fixadas pela área de planejamento.

Recentemente, a inexistência de um sistemainformatizado para o PCP tem sido intensa-mente questionada. O questionamento justifica-se diante da grande variedade de produtos (ecomponentes) existentes (4.000 produtos e2.000 itens de reposição no período analisado),fator que dificulta a adoção de um just-in-timepuro, conforme destaca a literatura a respeito(Correa & Gianesi, 1996). Além disso, oprocesso produtivo envolve, como jámencionado, áreas organizadas funcionalmente,células de manufatura, minifábricas e linha demontagem. Há, portanto, problemas complexos

de coordenação a serem resolvidos. Dentrodesse contexto, surgiu a necessidade de umanova aplicação de TI que proporcionasse umsalto qualitativo à função PCP.

Ficou claro para a AN1 a necessidade de umaaplicação de TI que realizasse a programação efornecesse suporte às decisões de capacidade ecomerciais. Um processo de discussão e denegociação com a TI corporativa resultou naanálise de três alternativas básicas de “linha deconduta” para a busca de uma solução adequadapara o problema:

A1 Aquisição de software de manufaturaespecializado (aquisição de “pacote”dedicado a este módulo ou desenvol-vimento de solução específica por terceiro),mantendo a base de sistemas desenvolvidosinternamente.

A2 Complementação de desenvolvimento deERP interno (desenvolvimento internopela corporação).

A3 Aquisição de ERP de mercado (para todaa empresa).

Interessante notar que na bibliografia aalternativa A1 não é comumente citada comosolução mais adequada, já que usualmente asempresas adquirem um sistema ERP (ou outros“pacotes” menos abrangentes) para suprir a infra-estrutura básica de sistemas transacionais, comocontas a pagar e receber, RH, contabilidade,estoques, etc.

As peculiaridades da operação das empresassão atendidas por desenvolvimento interno oupela contratação de desenvolvimento externo“sob medida” (Laurindo & Pessôa, 2001; Bingiet al., 1999; Davenport, 1998). A empresa “A”adotou solução inversa: desenvolveu interna-mente toda a sua infra-estrutura de sistemastransacionais corporativos e discute a compra desoluções externas para atender aos problemasespecíficos da operação. O processo decisóriopara a seleção de uma dessas três alternativas serádescrito a seguir, usando o modelo integrativoapresentado no item 3.

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6. Aplicação do modelo

6.1 Etapa I: Diagnóstico da TI naempresa “A”

Apresentaremos as etapas da análise do papelda TI na empresa estudada, de acordo com oapresentado no item 3. Daremos maior ênfaseaos aspectos relativos aos fatores estruturais.

I – Fatores Críticos de SucessoPrimeiramente, determinam-se os Fatores

Críticos de Sucesso (FCS) da empresa (no caso,da AN1), a fim de verificar os impactos da TI naempresa. Representam em seu conjunto o que éfundamental para a AN1, resultando no con-senso dos profissionais entrevistados, ou seja,profissionais de TI, de planejamento, de pro-

dução, de desenvolvimento de produtos e dequalidade. Os FCS são: qualidade dos produtos;design dos produtos; assistência técnica; ra-pidez no lançamento de produtos; custo dosprodutos fabricados; disponibilidade de mixvariado de produtos; e prazo de entrega.

II – Grid EstratégicoNa empresa “A”, que trabalha com manu-

fatura tradicional, a TI tem papel de suporte enão há perspectivas de mudança desse papel emfuturo próximo.

As aplicações de TI existentes, bem comoaquelas que se planeja implantar no curto prazo,não apresentam impactos estratégicos. Assim,estaria classificada no quadrante “Suporte” doGrid Estratégico (Figura 2).

Tabela 3 – FCS e sistemas para os FCS na empresa “A”.

FCS Sugestões de sistemas para os FCS

1. Qualidade dos produtos • Controle de índices da qualidade • Apoio ao TQM

2. Design dos produtos • CAD • Banco de dados de projetos

3. Assistência técnica • Controle assistência técnica • Acionamento assistência técnica via Internet

4. Rapidez no lançamento de produtos • CAD/CAM • Controle de projetos • Sistema de PCP aperfeiçoado

5. Custo dos produtos fabricados • Sistema de custos aperfeiçoado

6. Disponibilidade de mix variado de produtos • Sistema de PCP aperfeiçoado

7. Prazo de entrega • Sistema de PCP aperfeiçoado

IMPACTO FUTURO

Baixo AltoAlto

IMPACTO

PRESENTE

Fábrica Estratégico

Baixo

SuporteEmpresa “A”

Transição

Figura 2 – “Grid Estratégico”: impacto estratégico de aplicações de TI(adaptado de McFarlan, 1984).

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Laurindo et al. – Selecionando uma Aplicação de Tecnologia da Informação com Enfoque na Eficácia386

III – Alinhamento EstratégicoNa empresa “A”, a visão da corporação e da

AN1 é que a TI deve prover a infra-estrutura de TInecessária para que a estrutura organizacionalviabilize a estratégia do negócio. Portanto, aperspectiva de alinhamento estratégico adotada(Henderson & Venkatraman, 1993) é da “Execu-ção de estratégia” (Figura 4). Contudo, pode-sedizer que o alinhamento entre negócio e TI estámais bem executado no âmbito da corporação doque na AN1. A TI corporativa, que detém os recur-sos para atender tanto à corporação como às áreasde negócio, debate suas prioridades com a direçãoda corporação, compreendendo e atendendo me-lhor a suas necessidades do que aquelas das áreasde negócio. As questões sobre aquisição dohardware e do software dessas aplicações ficam acargo da área de TI corporativa. Além disso, asdecisões de implantar, desativar ou melhoraraplicações ficaram quase totalmente com a áreacorporativa de TI, sem a participação dos núcleosde TI das áreas de negócio. O contato entre a áreade TI corporativa e a AN1 não é regular, ocorren-do esporadicamente.

IV – Razões para descentralizaçãoNo tocante à análise da existência de razões

para a descentralização (Buchanan & Linowes,1980a), pode-se visualizar o seguinte para aempresa “A”:

� Dispersão geográfica: a empresa apresentaunidades industriais em diferentes pontos doPaís. Mesmo a AN1 analisada apresentainstalações fabris em locais diferentes, comfluxo de produção complementar.

� Diferentes áreas de negócio, com distintasnaturezas de operação e diferentes necessi-dades de informação: há diferentes áreas denegócio e os ramos das áreas de atuaçãosão distintos. Além disso, enquanto a AN1apresenta um processo de produção do tipointermitente repetitivo (combinando arran-jo funcional, células de manufatura, mini-fábricas e linha de montagem), outras áreasde negócio apresentam processos contínuosde produção. De maneira geral, o volumee a diversidade de informações a serem tra-tadas são significativamente maiores naAN1.

� Desejo de controle sobre o desenvol-vimento de sistemas, diante da disputapelos recursos da área de informáticacentralizada: a disputa pelos recursos deTI corporativa (equipamentos, software,horas de analistas dedicadas) intensi-ficou-se com a tendência crescente decentralização, com o enfoque de reduçãode custos cada vez mais presente nasdecisões de quais aplicações de TI im-plantar e com as necessidades de infor-mação diferenciada entre as áreas denegócio.

V – Análise do grau de descentralizaçãoPara a análise do grau de descentralização

da informática, foram utilizados os seguintesinstrumentos: o espectro de atividades, o padrãode descentralização e a tabela de distribuição deprocessamento de dados, conforme a propostade Buchanan & Linowes (1980b).

INFORMAÇÃO CONTIDA NO PRODUTO

Baixa AltaAlta

INTENSIDADE DA

INFORMAÇÃO NA

CADEIA DE VALOR

(PROCESSO)

Baixa

Empresa “A”

Figura 3 – Matriz de intensidade da informação (adaptado de Porter & Millar, 1985).

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GESTÃO & PRODUÇÃO, v.9, n.3, p.377-396, dez. 2002 387

O resultado mostra que na Execução (uso) daTI há descentralização na operação, sendomenor a descentralização no que se refere aodesenvolvimento. No aspecto Controle da TI, hácentralização na operação, que é menos signi-ficativa no desenvolvimento.

VI – Estágios de informatização ou deevolução da TI

De acordo com o estágio de evolução da TI,a situação da empresa “A” é analisada separa-damente para a corporação e para a AN1. Nacorporação, o estágio é o de “controle” e naAN1, “ponto de transição”, que é o momento apartir do qual a empresa passa a administrar emtermos de dados em vez do equipamento (há, nomomento, uma preocupação em formar umbanco de dados integrado das informaçõesindustriais e comerciais).

Usualmente, nas empresas nas quais o papelda TI está mais vinculado ao negócio da em-presa notam-se estágios de TI mais evoluídos.Na AN1, embora a TI não tenha seu papel consi-derado estratégico, sua importância é maior doque nas demais áreas da empresa.

VII – Estágios da TI descentralizadaDe acordo com o modelo dos “estágios da TI

descentralizada”, podemos observar que ocorre,já há um bom tempo, descentralização de equipa-mentos. O desenvolvimento de sistemas, hoje, écentralizado, exceto pela manutenção de aplica-ções anteriormente desenvolvidas pelo núcleo deTI. Igualmente são centralizadas as decisões acer-ca de quais aplicações serão desenvolvidas ouimplantadas. Nesta configuração, a classificaçãodo estágio da TI descentralizada atualmenteexistente é a de “Big brother” (Figura 5).

Figura 4 – Perspectivas do Alinhamento Estratégico (adaptado deHenderson & Venkatraman, 1993).

EXECUÇÃO DE ESTRATÉGIA

Infra-estruturaorganizacional

Estratégia denegócios

Infra-estruturade TI

Estratégiade TI

Infra-estruturaorganizacional

Estratégia denegócios

Empresa “A”

Estratégiade TI

Estratégiade TI

Infra-estruturaorganizacional

Estratégia denegócios

Infra-estruturade TI

Infra-estruturaorganizacional

Estratégia denegócios

Infra-estruturade TI

Infra-estruturade TI

Estratégiade TI

TRANSFORMAÇÃO TECNOLÓGICA

POTENCIAL COMPETITIVO NÍVEL DE SERVIÇO

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VIII – Função e operação da TIDe acordo com os conceitos de “função e

operação” da TI, observa-se que a função estáclaramente centralizada, enquanto a operaçãopermanece descentralizada (exceto pela operaçãodo mainframe). Isto caracterizaria uma situaçãode ênfase na “coordenação” na gestão da TI.

IX – Nível de participação dos usuáriosAnalisando a situação da empresa “A”, nota-

se que o usuário participa mais nos raros casosem que o núcleo de TI da AN1 ainda coordena oprojeto de implantação do sistema de informação,sendo sua participação usualmente por consenso.Nos casos muito mais freqüentes em que a TIcoorporativa exerce a coordenação, a partici-pação do usuário é, em geral, meramente consul-tiva. Em alguns casos, a participação é um mistoentre consultiva e representativa. Portanto, demaneira geral, a participação dos usuários temsido menor do que se poderia esperar.

X – Aspectos organizacionaisO posicionamento da TI corporativa, subor-

dinado a uma diretoria corporativa, está emacordo com o papel de suporte que a TI apresentana empresa, já que não há vínculo direto da TIcom a estratégia de negócios da empresa. Oenfoque é principalmente de eficiência técnica, oque pode ser percebido pelo perfil dos pro-fissionais que nela atuam, em todos níveishierárquicos. Não há mais profissionais especia-

lizados em áreas de negócio específicas. Dentroda AN1, o posicionamento do pequeno núcleo deTI remanescente segue um histórico, pois sempreesteve subordinado ao Planejamento. Além disso,o Planejamento trabalha com grande volume deinformações de todas as áreas do negócio. Atual-mente, os profissionais de TI na AN1 tambémtêm perfil mais técnico, compatível para aprestação adequada de suporte aos usuários. Poroutro lado, há um bom conhecimento das opera-ções locais, pois os funcionários têm muitos anosde casa.

Análise dos imperativos de TIAnalisando a empresa “A”, corporação e

AN1, perante os imperativos para a organi-zação da TI, obtém-se situação da Tabela 4, naqual estão resumidas as análises da empresadiante dos “imperativos para a organização daTI”. A análise geral indica que a situação geralda empresa “A”, tanto no que diz respeito à AN1como à corporação, pode ser considerada fraca.

Análise dos ativos de TIA análise da situação da AN1 da empresa

“A”, de acordo com a “gestão da competitividadedos ativos de TI”, está resumida na Tabela 5, quefoi construída com base nas opiniões obtidas porconsenso nas entrevistas com gerentes de PCP ede TI. Como parâmetro para essa avaliação, énecessário considerar as ameaças que cadaempresa enfrenta em seus mercados.

Figura 5 – Estágios da informática descentralizada, segundo Donovan, com os equipamentossupostos descentralizados em todos os casos (adaptado de Donovan, 1988).

DESCENTRALIZAÇÃO DA TOMADA DE DECISÃOBaixa Alta

Alta

DESCENTRALIZAÇÃO

DO DESENVOLVIMENTO

Baixa

Cão de guarda Rede

“Big brother”Empresa “A”

Auxílio

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A AN1 enfrenta uma situação relativamentetranqüila, no curto prazo, em termos de ameaçasem seu mercado, no qual é líder há longo tempo.Há ameaça latente (mas não iminente) deentrada de fabricantes internacionais, o quepoderia alterar essa situação, já que osconcorrentes nacionais são consideradosameaças menores.

Caracterização da aplicação de TI na“escada” de Farbey et al. (1995)

A implantação do módulo de PCP, nesteprimeiro momento, reveste-se do caráter de umsistema de valor adicionado direto, pois fornecerá

uma base transacional (a execução e o controle daprogramação), além de fornecer informações adi-cionais antes não disponíveis, tornando possíveisanálises mais aprofundadas e mais rápidas dequestões relativas ao mix de produtos e ao uso dacapacidade e de atendimento ao mercado. Oenquadramento como DSS ou como MIS foidiscutido, mas não foi considerado o maisadequado, pois há um problema operacional a serresolvido (a programação) antes de ser melhoradoo processo decisório. Contudo, superada essadificuldade, o aspecto de sistema de apoio àdecisão tende a ser de maior importância. A Tabela6 resume a análise da TI na empresa.

Tabela 4 – Análise dos imperativos da TI na empresa “A”.

Imperativos TI Empresa "A"

Alinhamento estratégico entre TI e o negócio Fraco para AN1; razoável para corporação

Relacionamento adequado de TI e gerências Fraco para AN1; bom para corporação

Implantação de novos sistemas (fontes) Predomina o interno

Infra-estrutura Bom: recursos físicos; fraco: banco de dados

Recapacitação da organização da TI Apenas na parte técnica

Parcerias e outsourcing Incipientes

Desempenho interno de TI Eficiência, sem uso de modelos ou de avaliações formais

TI federativa Forte centralização

Avaliação geral dos imperativos de TI Fracos

Ativos TI AN1 da Empresa "A"

Staff da TI Fraco

Base tecnológica Fraco

Parceria de TI e negócio Fraco

Avaliação geral dos ativos de TI Fraco

Ameaças Sem ameaça iminente

Ação recomendada "Traçar um curso" – Construção de relacionamento

Tabela 5 – Comparação entre ativos da TI.

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6.2 Etapa II: Estruturação e execuçãoda avaliação

Realizado o diagnóstico da situação da TI naempresa, os passos seguintes visam à estru-turação e à modelagem da avaliação, com oobjetivo de selecionar a melhor aplicação de TIpara o PCP da AN1 na empresa “A”.

Definição de critérios para avaliação

Dois conjuntos de critérios de avaliaçãoforam discutidos. No primeiro são utilizados osFCS da AN1, visto que a decisão a ser tomadaconsidera a situação específica dessa área denegócios. O segundo considera fatores queabrangem a realidade de toda a corporação.

O primeiro conjunto de critérios para avalia-ção adota os fatores críticos de sucesso da AN1.Desta forma, os critérios para selecionar amelhor estrutura para a TI passam a ser os FCS

já apresentados no item 6.1: qualidade dosprodutos; design dos produtos; assistênciatécnica; rapidez no lançamento de produtos;custo dos produtos fabricados; disponibilidadede mix variado de produtos; e prazo de entrega.

No segundo conjunto de critérios de ava-liação, são considerados os seguintes fatores,obtidos por consenso entre os entrevistados, quecom freqüência aparecem na literatura comofatores para avaliação de aplicações de TI erepresentam práticas e critérios comumente usa-dos pela TI corporativa ou pelos núcleos de TIna empresa “A”:

� Grau de satisfação do usuário.

� Grau de padronização, de coordenação ede garantia de não existência de aplica-ções redundantes (pode-se considerar estefator como influenciando os custos decoordenação).

Tabela 6 – Resumo da análise da TI na empresa analisada.

Análise da TI Empresa “A”

Fatores Críticos de Sucesso Qualidade dos produtos; design dos produtos; assistência técnica; rapidez no lançamento de produtos; custo dos produtos fabricados;

disponibilidade de mix variado de produtos; prazo de entrega

Grid Estratégico Suporte

Matriz intensidade de informação Muita informação no processo; pouca a média informação no produto

Alinhamento Estratégico Execução de estratégia

Razões para descentralização Dispersão geográfica; diferentes áreas de negócio; desejo de controle

Grau de descentralização Operação da execução descentralizada; desenvolvimento da execução e do controle medianamente descentralizados; controle centralizado

Estágio de informatização Ponto de transição

Estágio de descentralização Big brother

Função da TI Centralizada

Operação da TI Descentralizada

Participação dos usuários Geralmente consultiva; em alguns casos representativa; raramente por consenso. Características dos sistemas indicaria maior participação

Aspectos organizacionais Área de TI corporativa subordinada a uma diretoria corporativa; na AN1, o núcleo de suporte a TI aos usuários é subordinado ao planejamento

Imperativos da TI Fraco

Ativos da TI Fraco

Enquadramento da decisão na escada de avaliação de benefícios

Sistema de valor adicionado direto; algumas características de sistema de apoio à decisão

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� Alinhamento estratégico com a corporação.

� Alinhamento estratégico com a AN1.

� Custos de operação da TI na empresa.

Os critérios “padronização” e “custos” são osmais importantes para a área de TI corporativae são freqüentemente a justificativa para odesenvolvimento ou implantação de sistemas deinformação corporativos. Note-se que o aspectopadronização afeta também os custos, princi-palmente no que se refere à coordenação (sempadronização torna-se mais onerosa a integraçãoentre aplicações). Por outro lado, os núcleos deTI descentralizados usualmente consideram a“satisfação dos usuários” (avaliada em termosqualitativos e abrangendo aspectos comoatendimento das solicitações de desenvol-vimento ou implantação de projetos de TI, bemcomo presteza de prestação de suporte e dedisponibilização de recursos de hardware e desoftware) como o critério mais importante paraselecionar, priorizar e implantar sistemas deinformação.

Os critérios “alinhamento estratégico com acorporação” e “alinhamento estratégico com aAN1” foram considerados de acordo com o quejá foi amplamente exposto em termos de impor-tância de as estratégias de TI e do negócio esta-rem em sintonia.

Definição da estrutura de avaliação eexecução da avaliação

Uma das possibilidades de modelo paraavaliação de problemas pouco estruturados é o“Método da Análise Hierárquica” (AHP –Analytic Hierarchy Process), método multi-objetivo de apoio à decisão criado por Saaty nadécada de 70 (Saaty, 1991).

Este método tem sido empregado parasituações de: definição de prioridades, avaliaçãode custos e benefícios, alocação de recursos,mensuração de desempenho, avaliação oupesquisa de mercado, determinação derequisitos, decisões estratégicas, etc. (Morita et

al., 1999). O modelo usa julgamentos compa-rativos de pares de fatores, estudando suaconsistência e sua validade, de forma a nãodeixar de levar em consideração a ambigüidadedecorrente da associação de números ajulgamentos.

Apesar de seu amplo e crescente espectro deaplicações, o AHP apresenta alguns problemas elimitações que precisam ser levados em conta.Um dos problemas apontados no AHP é a quan-tidade de comparações paritárias necessárias quecresce muito rapidamente com o tamanho damatriz dessas comparações. Existem técnicas quepermitem reduzir o número de comparaçõesparitárias.

Dentre as críticas ao AHP, a reversão deordem (a alteração das alternativas dominantesem função da inclusão ou exclusão de alternativasirrelevantes) tem sido a mais citada e a maispolêmica (Morita et al., 1999).

Neste texto, usaremos a forma de cálculoaproximado para o AHP, conforme apresentadapor Cook & Russel (1993). As entrevistas paraa obtenção das notas nas comparações paritáriasforam feitas com os profissionais da AN1, tantode TI como do negócio em si (áreas de plane-jamento, desenvolvimento de produtos, quali-dade e produção).

Inicialmente, realiza-se a avaliação tendo osFCS da AN1 como critério; a hierarquia dessadecisão está na Figura 6. O resultado apontou aalternativa A1 (aquisição de software especia-lizado) como a de maior nota (0,487), vindo emseguida a alternativa A3 (aquisição de ERP),com nota 0,380, e, finalmente, a alternativa A2(complementação de desenvolvimento interno),com nota 0,128.

Em seguida, repetiu-se o processo utilizandoo conjunto de fatores que envolvem também acorporação; essa decisão é apresentada na Fi-gura 7. Novamente venceu a alternativa A1,embora com nota menor (0,359), seguida de A3(nota 0,335) e de A2 (nota 0,305).

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SELECIONAR APLICAÇÃO

DE TI PARA PCP

Qualidadedos

produtos

Design dosprodutos

Assistênciatécnica

Rapidez nolançamentode produtos

novos

CustosMix de

produtosPrazo deentrega

Alt.“A1”

Alt.“A2”

Alt.“A3”

SELECIONAR APLICAÇÃO

DE TI PARA PCP

Alt.“A1”

Alt.“A2”

Alt.“A3”

Padronização CustosAlinhamento

estratégico coma corporação

Alinhamentoestratégico com aárea de negócio

Satisfaçãodo usuário

Figura 6 – Hierarquia para seleção da aplicação de TI paraPCP, com FCS da AN1 como critério.

Figura 7 – Hierarquia para seleção da aplicação de TI para PCP, com fatorescorporativos e locais como critérios.

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6.3 Etapa III: Análise dos resultados

Aplicando o método de cálculo aproximado,obtém-se que a alternativa A1 (aquisição desoftware especializado ou contratação de desen-volvimento sob encomenda) é a que melhor atendeaos critérios, com razoável margem sobre a alter-nativa de adquirir um ERP para toda a empresa. Ofato de essas duas alternativas serem as preferidasmostra a insatisfação dos usuários com o desenvol-vimento interno, bem como a expectativa de que,partindo para soluções de mercado, se obtenhamresultados mais rapidamente.

A insatisfação com o desenvolvimento inter-no acentuou-se com os problemas ocorridos namanutenção dos sistemas visando à adequaçãoao chamado “bug do milênio”.

Como o sistema de PCP diz respeito basi-camente à AN1, a avaliação tendo por critériosos FCS mostra-se mais adequada na visão dosusuários. Contudo, a decisão final deve con-templar outros fatores, como a disputa de poderentre a visão centralizada e a visão descentra-lizada para a empresa.

7. Conclusões

O caso analisado ilustra a necessidade deanálise mais abrangente, envolvendo aspectosrelacionados aos impactos na eficácia da seleçãode aplicações de TI e da fonte de seu forneci-mento. Não basta se restringir aos aspectostécnicos de informática, nem tampouco aaspectos unicamente de funcionalidade daaplicação. É preciso avaliar os eventuais resul-tados na operação e na estratégia do negócio.Ter uma clara visão estratégica tanto do negóciocomo da TI é o ponto de partida para que sejapossível identificar a extensão dos impactos nosresultados obtidos pela empresa, bem comoconsiderar os ganhos de produtividade ecompetitividade do negócio como medidas deeficácia da TI. A TI precisa ser vista como ummeio de a empresa obter vantagens competitivasno mercado em que atua, em alinhamento coma operação e a estratégia da empresa. Nãoobstante, permanece também a necessidade de

eficiência na operação da TI, bem como umaalta capacitação técnica (Carvalho et al., 2002;Laurindo et al., 2002).

Um ponto crítico no caso analisado reside naausência de alinhamento entre TI e estratégiasdas áreas de negócio. Provavelmente, ela devamanter a TI no quadrante “Suporte”, mas issonão implica que ela possa negligenciar umagestão mais integrada entre TI e negócios,incluindo a corporação e as áreas de negócio.

A Empresa “A” apresenta problemas rela-tivos à distância entre a TI corporativa e as áreasde negócio. Cabe ainda ressaltar que seriainteressante que houvesse um processo agressi-vo de terceirização da TI, adotando, desta forma,a perspectiva de “nível de serviço” comoalinhamento estratégico, compatível com opapel que a TI representa para o negócio. Comoa TI tem papel de apoio à operação, era de seesperar que os procedimentos de avaliação deeficácia fossem pouco elaborados.

A decisão relativa ao PCP tem grandesimplicações na estratégia competitiva daempresa, em especial no momento em que acompetição se torna mais acirrada. Este pano defundo está presente em todas as decisõesrecentes da AN1.

Por outro lado, não se pode negligenciar oimpacto negativo causado pelo descontentamentodos usuários com a condução dos projetos pela TIcorporativa. Dessa forma, as respostas dadas nodecorrer das entrevistas apresentavam um viés decrítica ao trabalho da TI corporativa, dandopreferência a soluções adquiridas com terceiros eenfatizando que o processo de aquisição fosseconduzido pela equipe da própria área de negócios.O uso do AHP evidenciou esse conflito na classi-ficação de prioridades das alternativas, o quedemonstrou a utilidade dessa ferramenta nacaptação das visões dos tomadores de decisão.

Um ponto que afeta a a maneira de asempresas selecionarem suas aplicações de PCPé a imposição de implantação de sistemas ERPpelas empresas, com governança na cadeia, quedesejam padronizar os sistemas de informaçãocom seus clientes e fornecedores. No caso daempresa em questão, este fato ainda não ocorre.

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Porém, há cadeias nas quais esse fato já érealidade. Um ponto a ser observado é a utilizaçãode modelos teóricos como framework pararealização das análises, o que permitiu a visuali-zação e o entendimento por todos os envolvidos,além de possibilitar a comparação com outroscasos. Por sua vez, o estudo de casos em ambientesreais é uma opção metodológica que fornecemelhor compreensão desses modelos teóricos,permitindo seu aperfeiçoamento ou até, eventual-

mente, evidenciando a necessidade de elaboraçãode novos modelos específicos.

Finalmente, algumas questões despontamcomo interessantes para uma agenda futura deestudos: a análise e avaliação ex-post daimplantação de sistemas (em contraponto aanálise ex-ante realizada neste texto) e o im-pacto da utilização de comércio eletrônico e dossistemas ERP ao longo do sistema e da cadeiade valor.

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SELECTING AN INFORMATION TECHNOLOGY APPLICATIONTHROUGH AN EFFECTIVENESS APPROACH: A PRODUCTION

PLANNING SYSTEM CASE STUDY

Abstract

Along the years, Information Technology (IT) is growing its support role to production activities. Atfirst, the activities performed by IT were very simple, but nowadays, it supports almost all the productionactivities, including processes and products development. Production Planning and Control is a specificarea where IT can effectively bring significant impacts, opening horizons for new operating strategiesand even business strategies. Examples of how IT can help the operational environment are the use ofMRP, MRP II and ERP systems. On the other hand, it still remains the doubts about the results obtainedwith the IT investments. In order to evaluate IT impacts on the organization operations, it is necessaryan approach comparing the results of the IT applications related to the objectives, goals and requirementsof production and of the entire organization, in other words, considering the effectiveness of ITapplications. This paper reports a case study related to the selection of a new IT application in productionplanning in an industry. This research was developed in a large manufacturing company and it is discussedIT impacts in the operations management and in the organization business. AHP (Analytic HierarchyProcess) was the tool used for the decision-making process.

Key words: Information Technology, information systems, production planning and control, effectiveness.

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