25

Sem título-2 1 19/9/2014, 20:13 - pedrojnunes.com.brpedrojnunes.com.br/pdf_livro_do_secri.pdf · O SECRI deseja agradecer a todas as pessoas, empresas e entidades da sociedade civil

  • Upload
    vodien

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Sem título-2 19/9/2014, 20:131

SECRIServiço de Engajamento Comunitário

Sem título-2 19/9/2014, 20:132

SECRIServiço de Engajamento Comunitário

Pedro J. NunesPesquisa e texto

Giovanna FaustiniFotografia

Sem título-2 19/9/2014, 20:133

Nunes, Pedro J.

SECRI - Serviço de Engajamento Comunitário / Pedro J.Nunes; fotografia de Giovanna Faustini. - Vitória: Cultu-ral & Edições Tertúlia, 2012.88 p.; 21 cm.

ISBN: 978-85-99380-20-8

1. Vitória. 2. Espírito Santo. 3. História. 4. Ocupação dosmorros. 5. Serviço de Engajamento Comunitário. I. Título.

© 2012 SECRI – Serviço de Engajamento ComunitárioImpressão: 1.000 exemplares

SECRI - Serviço de Engajamento Comunitário

PRESIDENTE: Charles Jorge RiskVICE-PRESIDENTE: Iolanda de Oliveira BotelhoCONSELHO FISCAL: Sônia Machado Teixeira, Fernando Antônio Coutode Barros, José Linhares AyresPROCURADORIA GERAL: José Alexandre Cid Pinto FilhoDIRETORIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA: Antonio Luis de Mo-rais Barreto de ChavesDIRETORIA TÉCNICA: Gilberto Vieira da Rosa JúniorCOORDENAÇÃO GERAL: Felipe Dall’Orto, Márcio de AguiarASSESSORIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA: Erli Telles RibeiroASSESSORIA TÉCNICA: Jean Fabricio Sales Gomes (Programa deEstruturação Familiar), Amabile Selvatici Marchesi (Programa Crer comas Mãos), Maria Ângela V. Cabral (Programa Juventude), Carlos AlbertoAbaurre Cabral (Setor de Comunicação)

Cultural e Edições Tertúliawww.tertuliacapixaba.com.br

[email protected]

Rua Fortunato Ramos, 345Praia do Canto, Vitória-ES

(Anexo à Igreja S. Rita de Cássia)Tel.: (27) 3215-0942

Web: www.secri.org.br

Sem título-2 19/9/2014, 20:134

O SECRI deseja agradecer a todas as pessoas,empresas e entidades da sociedade civil quecontribuíram para a evolução de suas ações. Emboravários nomes não apareçam neste livro, o nosso desejoé que se sintam retratadas nestas páginas, poisseguramente a instituição não seria a mesma sem suavaliosa contribuição.

Sem título-2 19/9/2014, 20:135

Sem título-2 19/9/2014, 20:136

Apresentação

Fé é crer no que não vemos... E a recompensadesta fé é ver aquilo em que cremos.

Santo Agostinho

Esta é uma pequena história do SECRI – Serviço deEngajamento Comunitário, cujas atividades centrais estãono São Benedito, um bairro localizado em Vitória, capitaldo Estado do Espírito Santo. É também o relato das açõesque vem desenvolvendo naquela comunidade e comunida-des vizinhas desde a sua criação, tendo como principalextensão de seu trabalho a crença na capacidade que temo amor de transformar, promover, frutificar e multiplicar.

O SECRI – Serviço de Engajamento Comunitário nasceucomo Serviço de Engajamento Cristão em 13 de setembrode 1988, quando um grupo de voluntários escolheu desen-volver um trabalho social com famílias economicamentedesfavorecidas das atuais comunidades que hoje formama Região Poligonal 1 do município de Vitória, cujo epicentroé o bairro São Benedito, dando amplitude a um projeto de

7

Crianças acolhidas pelo SECRIem pausa de apresentação.

Sem título-2 19/9/2014, 20:137

ação social que funcionava desde 1954. OSECRI é uma entidade civil, filantrópica, dedireito privado, sem fins econômicos, com afinalidade de contribuir para a promoção so-cial das famílias, com especial atenção àscrianças e jovens de quatro a vinte e quatroanos, despertando nelas a consciência críti-ca cidadã. Suas ações abrangem os bairrosSão Benedito, Bairro da Penha, Itararé,Bonfim, Consolação, Floresta e Engenharia

Os trabalhos vêm sendo ininterruptamentedesenvolvidos ao longo dos últimos vinte etrês anos, em constante evolução, adaptadosàs novas demandas e realidades. Educado-res e voluntários do SECRI têm testemunha-do a modificação de vidas por meio do cres-cimento de talentos latentes e evoluçãosocioeconômica de pessoas que, hoje adul-tas, por lá passaram quando crianças. Passatambém pela constante evolução do Serviçode Engajamento Comunitário a história de vá-

Nesta página: detalhe de trabalhofeito por alunos do SECRI.

Na página seguinte: menina observapainel no São Benedito.(Arquivo SECRI)

8

Sem título-2 19/9/2014, 20:138

rias outras iniciativas de ação social, que dele surgiram apartir de apoio e sustento incondicionais.

Além de contar um pouco de sua história, pretende-se nes-te livro demonstrar a metodologia do SECRI na consecu-ção de seus objetivos por meio dos princípios de seu Proje-to Político Pedagógico. E, claro, reunir aqui a história realde pessoas que tiveram suas vidas modificadas pelas açõesdo projeto e que nos falam com o brilho dos olhos de quemagradece.

Esta não é apenas a história do SECRI – Serviço deEngajamento Comunitário. É, acima e antes de tudo, o en-trelaçamento de sua história com a história das pessoasque com as próprias mãos estabeleceram suas raízes noSão Benedito e bairros adjacentes.

Uma história não existe sem a outra.

Sem título-2 19/9/2014, 20:139

Acima, vista do Morro doMestre Álvaro. Abaixo, vistado Penedo. Essas são paisa-gens comuns a moradores

do São Benedito.

Sem título-2 19/9/2014, 20:1310

O morro São Benedito

A paisagem é deslumbrante. Os olhos de quem chega aoalto do morro onde se situa o São Benedito se perdem empaisagens distantes que, apesar disso, parecem pertencerao bairro. Tomando por base a avenida Leitão da Silva, nosentido de Bento Ferreira e Praia do Suá, adiante se veemos bairros de Santa Lúcia, Praia do Suá e Enseada se en-contrarem com a baía de Vitória e terminarem no Conven-to da Penha. À direita a visão tem como centro o Penedo,visão maciça, apenas perturbada pelos ferros entrelaça-dos dos guindastes do Porto de Vitória e pelos telhadosdos edifícios. À esquerda, quase atrás, o Mestre Álvaro, lálonge, faz sombra sobre os bairros do norte de Vitória. Oshabitantes do São Benedito têm uma das vistas mais pri-vilegiadas de Vitória.

O bairro é cheio de vida. O grande centro social do lugar éuma pequena praça que fica num dos pontos mais altosdo bairro. Dali se veem mulheres que passam carregandobolsas de compras ou, fazendo pausa entre seus inúmerosafazeres, chegam à janela para trocar cordialidades comquem passa, trabalhadores e trabalhadoras parecem sair,parecem retornar, algumas jovens mães brincam com osfilhos na praça como se estivessem em sua própria sala,

11

Sem título-2 19/9/2014, 20:1311

os comerciantes esperam. Não fosse o grande tráfego deveículos, que, além de veículos utilitários, inclui caminhõese vários ônibus, já que a comunidade conta com linhasregulares de transporte público desde 1999, poderíamossupor estar numa tranquila cidade do interior.

A atmosfera do bairro é tranquila, há cumprimentos cor-teses, não raro seguidos de sorrisos acolhedores, mesmo aestranhos ao bairro os habitantes respondem aos bons-dias, aos boas-tardes com grande cordialidade. Entre elesparece ser extremamente forte a sensação de irmandade,transmitida espontaneamente mesmo ao menos atento dosobservadores. O forte elo existente entre os habitantes im-pressiona.

Os visitantes do bairro, aparentemente muito bem recebi-dos, podem concluir facilmente que o São Benedito nãoparece ser merecedor da fama de lugar violento que atri-buem a ele.

Vista da Enseada do Suá, baía de Vitória, Convento da Penhae, ao fundo, a Praia da Costa, a partir do São Benedito.

Sem título-2 19/9/2014, 20:1312

É um relativamente jovem bairro de Vitória, capi-tal do Estado do Espírito Santo. Dos bairros quecompõem a região administrativa que a PrefeituraMunicipal de Vitória convencionou chamar RegiãoPoligonal 1, é o de mais recente ocupação. É talvezo bairro mais alto da cidade. O pico do morro ocu-pado por ele tem 194 metros de altitude: é um ma-ciço de grandes pedras cercado de árvores cente-nárias, de difícil acesso, e uma das grandes bele-zas do lugar. A julgar por suas ruas e becos íngre-mes, a fundação do São Benedito deverá ter apre-sentado sérias dificuldades.

Muitos caminhos levam ao São Benedito. O acessoà Região Poligonal 1 é feito por várias avenidas mo-vimentadas da cidade: ao norte a avenida Maruípe,ao sul a avenida Vitória, a oeste a avenida Mare-chal Campos e a leste a avenida Leitão da Silva.Ressalte-se que essas avenidas são importantesvias de movimentação e escoamento de Vitória. OSão Benedito fica no centro da região ocupada peloBonfim, Bairro da Penha, Itararé, Jaburu e Con-solação.

Assim como permite ver a mais extensa paisagemde Vitória, o São Benedito também se deixa ver devários pontos da cidade: Ponte da Passagem, praiade Camburi e avenida Leitão da Silva são apenasalguns deles. Quem olhar detidamente, a partir daavenida Leitão da Silva, verá um grande prédioentre as demais construções: é a sede do SECRI.

13

Vista da região onde estão obairro São Benedito e Bairro da

Penha a partir de Camburie da Ponte da Passagem.

Sem título-2 19/9/2014, 20:1313

Sem título-2 19/9/2014, 20:1314

Sem título-2 19/9/2014, 20:1315

Região Poligonal 1

A região que a Prefeitura Municipal de Vitória convencionou chamaradministrativamente Região Poligonal 1 se localiza do centro para noroeste da cidadede Vitória. É composta pelos bairros Bonfim, Bairro da Penha, Consolação, Itararé eSão Benedito e pelas comunidades do Jaburu, do Constantino, da Floresta e daEngenharia.

(Imagem aérea cedida pela Secretaria de Desenvolvimento da Cidade da Prefeitura Municipal de Vitória, ES)

SÃO BENEDITO

CONSOLAÇÃO

BONFIM

B. DA PENHA ITARARÉ

GURIJICA

Sem título-2 19/9/2014, 20:1316

Um pouco de história

Já no início da década de 1950, Vitória, até entãouma cidade com características coloniais, começoua adquirir uma feição mais cosmopolita. Era comose tirasse a roupagem do século XIX e começasse avestir a do século XX.

Amadeu Sodré, cearense de 86 anos que reside noSão Benedito, relata que naquela época Vitóriacrescia tanto que não faltava serviço, fosse nosinúmeros aterros em andamento, fosse na construçãocivil. Ele, que vira uma cidade com pouquíssimasruas pavimentadas e raras casas de telhado, étestemunha viva dessa evolução.

De fato, na década de 1950 Vitória mudou bastante.O centro da cidade já não era o mesmo, com grandeparte do mar aterrada, bairros inteiros surgiam deaterramento, a cidade que já invadira o mar seestendia brejo adentro. Com o avanço dos anos,surgia a Companhia Siderúrgica de Tubarão – CST –e a Universidade Federal do Espírito Santo, o portose modernizava, a construção civil recrutava grandecontingente de mão de obra.

Evolução da cidade tomando-se por baseo Penedo e a Baía de Vitória fotografadosem três épocas distintas.(Imagens cedidas pelo Arquivo PúblicoMunicipal da Prefeitura Municipal deVitória, ES)

17

Sem título-2 19/9/2014, 20:1317

Sem título-2 19/9/2014, 20:1318

Nos anos 1960, houve grande movimento migratório paraVitória. Não só gente do interior, sem perspectivas com aerradicação dos cafezais no Estado no início da década,mas originária de outros estados, vinha atrás dasperspectivas que a cidade oferecia. Além disso, por forçade circunstâncias diversas, pequenos proprietários do nortedo Estado se viram sem as terras que venderam ou foramobrigados a vender, o que forçou a migração de muitosdeles. Foi então que, não tendo para onde se expandir naparte plana, a cidade subiu os morros existentes.

É aí que começa a história do São Benedito.

A região em volta do São Benedito era, no final da décadade 1950, início da década de 1960, ocupada por inúmerasplantações de café, cana, banana e diversos pomares. Oacesso era difícil, a ocupação desordenada. Segundoconsta, o terreno era de propriedade do Estado, que tentoureprimir os ocupantes. Foi então que surgiu uma figuracatalisadora, capaz de organizar a invasão emergente, ummisterioso militar conhecido como Sargento Carioca.Empunhando uma imagem de São Benedito, de quem eradevoto, Sargento Carioca organizou a ocupação da regiãoe a tornou possível, uma vez que a repressão contra omovimento organizado se tornava praticamente impossível.

Essa fotografia da década de 1920 é uma das mais antigas fotografias doHorto Municipal de Maruípe de que se tem notícia. Ao fundo vê-se ocume do morro que seria ocupado, anos depois, pelo São Benedito eoutros bairros atendidos pelo SECRI.(Imagem cedida pelo Arquivo Público Municipal da Prefeitura Municipalde Vitória, ES)

19

Sem título-2 19/9/2014, 20:1319

O Sargento Carioca não teria sido responsável apenas pelaocupação da região do morro onde se situa o São Benedito.Antes de comandar essa última ocupação, ele já haviacomandado a invasão do Itararé, na parte mais baixa domorro, e em seguida a ocupação do Bairro da Penha e doBonfim. De todos os bairros situados naquela região, oSão Benedito é o mais jovem, talvez devido às dificuldadesque o lugar apresentava à ocupação.

“Às vezes a polícia vinha aqui no São Benedito, derrubavaum barraco”, relata Maria da Conceição Ferreira dosSantos, baiana de 78 anos, uma das moradoras maisantigas do bairro. “No outro dia tinha dez barracos emvolta”, diz com triunfo.

Oto Rodrigues, natural de Nova Almeida, 79 anos, há 40anos reside no São Benedito. Seu relato é impressionante.“Nós começamos este bairro à noite e foi à noite que oconstruímos quase que totalmente. Todo mundo trabalhavade dia, só tinha tempo à noite para construir ruas e marcarlote. Era uma escuridão muito grande, a gente tinha deacender lampiões para trabalhar. Os homens iam cavando

Vista do morro ocupadona década de 1970.

A fotografia foi tiradaa partir do

Cemitério de Maruípe.(Imagem cedida pelo

Arquivo PúblicoMunicipal

da Prefeitura Municipalde Vitória, ES)

Sem título-2 19/9/2014, 20:1320

as ruas, as mulheres traziam broa, pão, café, água. OSargento Carioca ia gritando na frente, dando ordens, elefoi o grande responsável pela criação do São Benedito. Eleordenava que os barracos amanhecessem construídos,então a gente construiu muito barraco numa única noite”.

“Ele não vendia lote, não veio para o morro venderlote, ele dava o terreno e dizia para construir,construir logo, senão ele tomava e dava o lote paraoutro. O Sargento Carioca era uma pessoa muitoenérgica, tinha muita autoridade na voz, masera uma pessoa excelente”, assegura AmadeuSodré. “A gente pegava sobra de construçãolá embaixo (referindo-se à região da Praiado Canto, principalmente), restos demadeira, caixotes, trazia morro acima e faziaum barraco. Subia isso tudo aí carregandode pouco a pouco as coisas necessárias, às vezes

Ao que tudo indica, o São Benedito tomou seunome do santo homônimo de devoção do SargentoCarioca – que era branco. Ninguém sabe direitoa origem dessa devoção nem como surgiu aimagem, mas não é raro, entre os mais antigoscatólicos do lugar, ouvir a versão de que a imagemsurgiu milagrosamente num canavial no alto domorro, o que teria motivado ainda mais a devoçãodo Sargento Carioca. A imagem se encontrapreservada no altar da igreja católica no SãoBenedito.

21

Sem título-2 19/9/2014, 20:1321

no prazo de um dia, uma noite, carregava todo o materialdo barraco. Ficava morando ali, quando chovia ou faziafrio era muito difícil. Água e luz? Nem pensar. Durantemuitos anos o São Benedito só teve barraco de madeira esapé, quando o telhado ou as paredes não eram feitos depapelão”.

“Isso aqui não tinha água, não tinha luz, não tinha nada,era uma escuridão. Durante muito tempo foi assim. Casade tijolo? Nem pensar, demorou muito. Não havia comotrazer material senão nas costas, aqui não vinha carro”,acrescenta Maria da Conceição Ferreira dos Santos.

A distribuição de lotes no São Benedito perdurou pormuitos anos. Orci Raimunda Ferreira, 69 anos, diz terrecebido a doação de um lote em meados da década de1970, quando, oriunda de Pancas, no interior do Estado,veio morar no São Benedito.

Foi na década de 1970 que começaram a ocorrer melhorias,com a implantação do abastecimento de água e de energiaelétrica. Ainda que muito deficitários, esses serviçosrepresentaram uma grande evolução. Mas ainda hoje,segundo Marlene Souza Deoclécio, residente no morrodesde 1979, o pessoal da parte de trás ainda enfrentamuitos problemas com falta de água. E é bastante comumjovens hoje na faixa dos vinte e cinco anos também fazeremreferência às dificuldades de abastecimento queenfrentaram na infância. Vários deles relatam que,juntamente com os demais membros de suas famílias, seviram obrigados, praticamente todos os dias, a descer o

22

Sem título-2 19/9/2014, 20:1322

morro para pegar água em bicas instaladas na parte baixa,trazendo-a como podia morro acima para o uso domésticogeral. Falam disso como de uma triste lembrança.

Os moradores fazem questão de dizer que a administraçãose viu, em dado momento, sensibilizada pela mobilizaçãoorganizada da gente do São Benedito no rumo de conquistarmelhores condições de vida. A mobilização popular, aliás,parece ser motivo de orgulho dessa gente, comportamentoincorporado desde a invasão organizada do morro.

“Para quem conheceu isso aqui no tempo antigo, hoje é oparaíso”, diz Amadeu Sodré. “Hoje tem tudo aqui: comércio,condução, o material de construção sobe aqui (numareferência aos caminhões de transporte desse material), ogás – a gente em outra época tinha de descer e trazer umbotijão de gás nas costas até aqui em cima. Hoje o pessoalmais novo nem consegue imaginar isso: era muito, muitodifícil”.

Reconhecidamente houve evolução nos serviços essenciaisexistentes no morro, mas ainda se pode notar bastantedeficiência em todos os níveis na parte mais alta: falta deurbanização, desabastecimento, inacessibilidade. Não éincomum que se encontrem nessa região mais afastadabarracos de madeira em condições precárias ouconstruções improvisadas que insistem em fazer lembraros primeiros tempos: os velhos barracos de papelão.

Sem dúvida, o bairro São Benedito chegou ao século XXIgozando de inegáveis melhorias, mas as condições de vida

Cotidiano numa dasescadarias do São Benedito

na década de 1980.(Imagem cedida pelo

Arquivo Público Municipalda Prefeitura Municipal

de Vitória, ES)

23

Sem título-2 19/9/2014, 20:1323

de sua população ainda estão longe daideal. Em 2000 o São Benedito eraconsiderado um dos bairros mais pobresde Vitória. O rendimento mensal médio deseus moradores fica um pouco abaixo dedois salários mínimos, cerca de metade dapopulação tem escolaridade precária(menos de quatro anos de estudo) e aqualidade de vida ainda é consideradaruim segundo levantamentos da PrefeituraMunicipal de Vitória.

Não se espere, todavia, que essa bravagente esteja afeita a um destino ingrato. Apar de sua incrível capacidade demobilização social, todos os dias parecemser de valiosas conquistas profundamentereverenciadas. E é certo que a essa genteo futuro não assombra.

Três fotografias da década de1970 mostram as precáriascondições de acesso à região domorro São Benedito.(Imagens cedidas peloArquivo Público Municipalda Prefeitura Municipalde Vitória, ES)

24

Sem título-2 19/9/2014, 20:1324

Fim da amostra do livro.

Sem título-2 19/9/2014, 20:1325