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SENSEMYMOOD: UMA APLICAÇÃO MÓVEL PARA IDENTIFICAÇÃO DOS ESTADOS EMOCIONAIS NA CIDADE João Rodrigues 1 , Vitor Ribeiro 1 , Ana Aguiar 1,2 & Cristina Queirós 3,4 1. Enquadramento Teórico 2. Metodologia 4. Conclusões A Psicologia Ambiental demonstrou já que cada local tem um impacto emocional (Canter et al., 1988; Clayton, 2012) em que lá passa ou o visita, seja em vinculação ou em sentimento de insegurança (Brantingham & Brantingham, 1981). Atualmente a tecnologia invadiu o nosso dia-a-dia (Rosen et al.,2015), existindo aplicações para telemóveis capazes de medir o comportamento. Descreve-se a aplicação e resultados preliminares do projeto SenseMyMood, que mede estados emocionais através de curtos questionários esporádicos apresentados em telemóveis. Participantes: Foram testados 19 voluntários (estudantes e profissionais variados), que voluntariamente aceitaram participar no projeto, recrutados na FPCEUP e FEUP por contacto direto. O grupo foi constituído 58% por elementos do sexo feminino, com idades entre 16 e 51 anos (M=21,9) e participou de Abril a Julho 2015. Instrumentos: Foi utilizada uma aplicação desenvolvida para Android (Rodrigues et al.,2014) na qual se apresentaram as 6 emoções primárias de Ekman (1969, 2003) e uma questão geral sobre o grau de felicidade, todas medidas numa escala de 1 a 6 (respetivamente, de nada a muito). Inquiriu-se também o motivo de presença no local (lazer, trabalho/estudo, espera de transporte, de passagem, outro) e recolheu-se a localização geográfica (não analisada neste estudo). Procedimento: Após fazer o download do Google Play para o telemóvel, preencher os dados sociodemográficos e aceitar o consentimento informado, cada participante recebia por dia 3 alertas para lembrar de preencher o questionário, podendo também preencher quantas vezes pretendesse (Figura 1). Podia optar pela questão geral ou pelas 6 emoções, em versão português ou inglês. Análise dados: Utilizou-se o SPSS 21 para análise descritiva e comparativa. 1 Instituto de Telecomunicações, Porto, Portugal 2 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal 3 Laboratório de Reabilitação Psicossocial (FPCEUP/ESTSPIPP), Porto, Portugal 4 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto, Portugal [email protected] [email protected] A aplicação considerada fácil e intuitiva, tendo capacidade discriminativa na medição das emoções e permitindo criar mapas de emoções na cidade. Assistindo-se ao revalorizar das emoções no comportamento humano (Tugade et al., 2014), esta aplicação permitirá a nível individual o autoconhecimento das emoções, bem como estudos longitudinais de monitorização e perceber por exemplo se existe ruminação ou um padrão de emoções negativas constante, qualquer que seja o local e o motivo de presença aí. Também permitirá estudos do impacto emocional do local (Figura 2) que possibilitarão a reconstrução emocional dos espaços (Tmka et al., 2011) e a valorização de emoções positivas, que a longo prazo melhoram a resiliência do individuo e a sua capacidade de enfrentar o stress. O estudo insere-se no projeto SenseMyCiy e continua em curso. 5. Bibliografia - Brantingham, P. & Brantingham, P. (1981). Environmental criminology. London: Sage. - Canter, D., Correia Jesuíno, J, Soczka, L. & Stephenson, G. (1988). Environmental Social Psychology. NATO ASI serie D, Vol. 45. New York: Springer. - Clayton, S. (2012). The Oxford handbook of environmental and conservation psychology . New York: Oxford University Press. - Ekman, P. (1969). Pan-cultural elements in facial display of emotions. Science, 164, 86-88. - Ekman, P. (2003). Emotions revealed: Recognizing faces and feelings to improve communication and emotional life. New York: Times Books. - Rodrigues, J. G., Aguiar, A., & Barros, J. (2014). SenseMyCity: Crowdsourcing an Urban Sensor . In arXiv preprint arXiv:1412.2070. - Rosen, L.D., Cheever, N. & Carrier, L.M. (2015). The Wiley Blackwell Handbook of Psychology, Technology and Society . Chichester, UK: John Wiley & Sons. - Trnka, R., Balcar, K. & Kuška, M. (2011). Re-constructing Emotional Spaces: From Experience to Regulation. Prague: Prague College of Psychosocial Studies Press. - Tugade, M.M., Shiota, M.N. & Kirby, L.D. (2014). Handbook of Positive Emotions. New York: Guilford Press. 3. Resultados No total dos participantes foram recolhidas 685 respostas, predominando o lazer ou o trabalho/estudo (Gráfico 1). A emoção alegria e grau de felicidade foram mais intensa (Gráfico 2) e também o foram significativamente durante atividades de lazer, enquanto o medo foi mais forte em situações “de passagem(Gráfico 3). O sexo feminino sentiu significativamente mais tristeza, medo, cólera e grau de felicidade (Gráfico 4). A idade correlaciona-se positivamente com alegria, tristeza, cólera e grau de felicidade, e as emoções negativas corelacionam-se entre si (Tabela 1). Figura 1. Exemplo de visualização Figura 2. Exemplo de mapa de intensidade da Alegria na cidade http://futurecities.up.pt/site/sensemymood-app/ Espera de transporte 2% De passagem no local 10% Lazer 28% Trabalho ou estudo 41% Outro (casa, consulta) 19% 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 Alegria Tristeza Medo Surpresa Nojo Cólera Grau de felicidade 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 Alegria Tristeza Medo Surpresa Nojo Cólera Grau de felicidade Espera de transporte De passagem Lazer Trabalho ou estudo Outro 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 Alegria Tristeza Medo Surpresa Nojo Cólera Grau de felicidade Masculino Feminino Gráfico 1. Percentagem por motivo no local Gráfico 2. Média por emoção Gráfico 4. Média de emoção por sexo Gráfico 3. Média de emoção por motivo no local

SENSEMYMOOD: UMA APLICAÇÃO MÓVEL PARA

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SENSEMYMOOD: UMA APLICAÇÃO MÓVEL PARA

IDENTIFICAÇÃO DOS ESTADOS EMOCIONAIS NA CIDADE

João Rodrigues1, Vitor Ribeiro1, Ana Aguiar1,2 & Cristina Queirós3,4

1. Enquadramento Teórico

2. Metodologia

4. Conclusões

A Psicologia Ambiental demonstrou já que cada local tem um impacto emocional (Canter et al., 1988; Clayton, 2012) em que lá passa ou o visita, seja em

vinculação ou em sentimento de insegurança (Brantingham & Brantingham, 1981). Atualmente a tecnologia invadiu o nosso dia-a-dia (Rosen et al.,2015),

existindo aplicações para telemóveis capazes de medir o comportamento. Descreve-se a aplicação e resultados preliminares do projeto SenseMyMood, que

mede estados emocionais através de curtos questionários esporádicos apresentados em telemóveis.

Participantes: Foram testados 19 voluntários (estudantes e profissionais variados), que voluntariamente aceitaram

participar no projeto, recrutados na FPCEUP e FEUP por contacto direto. O grupo foi constituído 58% por elementos do

sexo feminino, com idades entre 16 e 51 anos (M=21,9) e participou de Abril a Julho 2015.

Instrumentos: Foi utilizada uma aplicação desenvolvida para Android (Rodrigues et al.,2014) na qual se apresentaram

as 6 emoções primárias de Ekman (1969, 2003) e uma questão geral sobre o grau de felicidade, todas medidas numa

escala de 1 a 6 (respetivamente, de nada a muito). Inquiriu-se também o motivo de presença no local (lazer,

trabalho/estudo, espera de transporte, de passagem, outro) e recolheu-se a localização geográfica (não analisada

neste estudo).

Procedimento: Após fazer o download do Google Play para o telemóvel, preencher os dados sociodemográficos e

aceitar o consentimento informado, cada participante recebia por dia 3 alertas para lembrar de preencher o

questionário, podendo também preencher quantas vezes pretendesse (Figura 1). Podia optar pela questão geral ou

pelas 6 emoções, em versão português ou inglês.

Análise dados: Utilizou-se o SPSS 21 para análise descritiva e comparativa.

1 Instituto de Telecomunicações, Porto, Portugal 2 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal

3 Laboratório de Reabilitação Psicossocial (FPCEUP/ESTSPIPP), Porto, Portugal 4 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto, Portugal

[email protected] [email protected]

A aplicação considerada fácil e intuitiva, tendo capacidade discriminativa na medição das emoções e

permitindo criar mapas de emoções na cidade. Assistindo-se ao revalorizar das emoções no

comportamento humano (Tugade et al., 2014), esta aplicação permitirá a nível individual o

autoconhecimento das emoções, bem como estudos longitudinais de monitorização e perceber por

exemplo se existe ruminação ou um padrão de emoções negativas constante, qualquer que seja o

local e o motivo de presença aí. Também permitirá estudos do impacto emocional do local (Figura 2)

que possibilitarão a reconstrução emocional dos espaços (Tmka et al., 2011) e a valorização de

emoções positivas, que a longo prazo melhoram a resiliência do individuo e a sua capacidade de

enfrentar o stress. O estudo insere-se no projeto SenseMyCiy e continua em curso.

5. Bibliografia - Brantingham, P. & Brantingham, P. (1981). Environmental criminology. London: Sage.

- Canter, D., Correia Jesuíno, J, Soczka, L. & Stephenson, G. (1988). Environmental Social Psychology. NATO ASI serie D, Vol. 45. New York: Springer.

- Clayton, S. (2012). The Oxford handbook of environmental and conservation psychology. New York: Oxford University Press.

- Ekman, P. (1969). Pan-cultural elements in facial display of emotions. Science, 164, 86-88.

- Ekman, P. (2003). Emotions revealed: Recognizing faces and feelings to improve communication and emotional life. New York: Times Books.

- Rodrigues, J. G., Aguiar, A., & Barros, J. (2014). SenseMyCity: Crowdsourcing an Urban Sensor. In arXiv preprint arXiv:1412.2070.

- Rosen, L.D., Cheever, N. & Carrier, L.M. (2015). The Wiley Blackwell Handbook of Psychology, Technology and Society. Chichester, UK: John Wiley & Sons.

- Trnka, R., Balcar, K. & Kuška, M. (2011). Re-constructing Emotional Spaces: From Experience to Regulation. Prague: Prague College of Psychosocial Studies Press.

- Tugade, M.M., Shiota, M.N. & Kirby, L.D. (2014). Handbook of Positive Emotions. New York: Guilford Press.

3. Resultados

No total dos participantes foram recolhidas 685 respostas, predominando o lazer ou o trabalho/estudo (Gráfico 1). A

emoção alegria e grau de felicidade foram mais intensa (Gráfico 2) e também o foram significativamente durante

atividades de lazer, enquanto o medo foi mais forte em situações “de passagem” (Gráfico 3). O sexo feminino sentiu

significativamente mais tristeza, medo, cólera e grau de felicidade (Gráfico 4). A idade correlaciona-se positivamente

com alegria, tristeza, cólera e grau de felicidade, e as emoções negativas corelacionam-se entre si (Tabela 1).

Figura 1. Exemplo de visualização

Figura 2. Exemplo de mapa de intensidade da Alegria na cidade

http://futurecities.up.pt/site/sensemymood-app/

Espera de transporte

2%

De passagem no local

10%

Lazer 28%

Trabalho ou estudo

41%

Outro (casa, consulta)

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Alegria Tristeza Medo Surpresa Nojo Cólera Grau defelicidade

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Alegria Tristeza Medo Surpresa Nojo Cólera Grau defelicidade

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Alegria Tristeza Medo Surpresa Nojo Cólera Grau de felicidade

Masculino

Feminino

Gráfico 1. Percentagem por motivo no local

Gráfico 2. Média por emoção

Gráfico 4. Média de emoção por sexo

Gráfico 3. Média de emoção por motivo no local