Upload
nepadusp
View
31
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 1
SENTENÇA
Processo nº: 0019326-64.2012.8.26.0053
Classe - Assunto Ação Civil Pública - Unidade de Conservação da Natureza
Requerente: Defensora Pública do Estado de São Paulo/SP
Requerido: Fazenda Pública do Município de São Paulo
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Luiza Barros Rozas
Autos n° 1939/2012
Vistos.
A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ajuizou a
presente ação civil pública em face da PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO,
alegando, em síntese, que a deliberação tomada pelo Conselho Gestor da ZEIS 3 C 016 ("Projeto
Nova Luz") não observou o princípio da gestão democrática da cidade em razão dos seguintes
motivos: a) não participação de fato ao longo do processo de discussão do Conselho Gestor; b)
ofensa ao regimento interno do Conselho Gestor no momento da votação; c) não atendimento aos
requisitos legais para aprovação do Plano Urbanístico da Zona de Especial Interesse Social. Pediu,
então, a procedência do pedido para anulação do procedimento administrativo de participação
popular do plano de urbanização referente a ZEIS 3 C 016 do Plano Regional Estratégico da
Subprefeitura da Sé, bem como para condenar a ré a retomar o processo administrativo de
participação popular da ZEIS 3 C 016 a partir da última reunião válida. Juntou os documentos de
fls. 24/444.
A liminar foi deferida (fls. 463/468).
Devidamente citada, a ré ofertou contestação a fls. 605/635, arguindo,
preliminarmente, a falta de legitimidade ativa da Defensoria Pùblica e, no mérito, refutou os
argumentos aduzidos na petição inicial, pugnando pela improcedência dos pedidos. Acostou os
documentos de fls. 636/639.
Réplica a fls. 643/651.
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 1
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 2
A Municipalidade e o Ministério Público requereram o julgamento antecipado da
lide (fls. 639 e 661).
É O RELATÓRIO.
D E C I D O.
Julgo o feito nesta oportunidade, nos termos do art. 330, inciso I, do Código de
Processo Civil, porque desnecessária a produção de outras provas.
Primeiramente, rejeito a preliminar arguida. A inclusão da Defensoria Pública no
rol de legitimados para ajuizar ação civil pública foi expressamente determinada pela Lei n.°
11.448/2007.
Outrossim, as normas infraconstitucionais de legitimação ativa da Defensoria
Pública devem ser interpretadas levando em consideração as funções institucionais estabelecidas
na Constituição. Nos termos do art. 134 da CF, "A Defensoria Pública é instituição essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os
graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV".
Considerado o princípio da máxima efetividade da Constituição e, especialmente,
dos instrumentos de tutela dos direitos por ela criados, não há dúvida de que o dispositivo
transcrito confere à Defensoria Pública legitimação ativa ampla no plano jurisdicional, tanto sob o
aspecto material, quanto no instrumental. Não há razão para, no plano material, excluir as relações
de direitos coletivos e difusos ou de, no âmbito processual, limitar seu acesso ao mero plano das
ações individuais.
No mérito, o pedido é procedente.
O art. 182, par. 1º., da Constituição Federal prevê a necessidade do Plano Diretor e
com a edição do Estatuto da Cidade, elementos importantes foram adicionados à sua definição
jurídica, surgindo um novo texto e um novo contexto.
Esta nova atmosfera jurídica deu uma nova feição ao direito de propriedade que
passou a abranger a relação entre um sujeito ativo determinado e uma infinita gama de sujeitos
passivos potenciais. Isso ocorre por conta do reconhecimento da propriedade como direito
fundamental (natural positivado) do direito do titular.
Previsto em essência no artigo 5°, caput e inciso XXII, CR, e disciplinado no
título III, desde o artigo 1.228 do Código Civil pátrio, é assegurado a todo indivíduo a faculdade
de uso, gozo e disposição da coisa.
Isso, todavia, não é novidade, já que desde a época em que não havia Estados,
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 2
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 3
onde apenas se formavam agrupamentos humanos, a sociedade primitiva já detinha respeito pela
ligação entre o homem e a coisa, oponíveis a todos os demais, estabelecendo a fruição sem
limitações ou interferências.
Enquanto direito fundamental, o direito à propriedade faz parte dos direitos de
primeira geração. Entretanto, com a evolução do Direito, verificou-se que nenhum direito, nem
mesmo os fundamentais, seriam de todo absolutos, e por conta disso, do caráter absoluto da
fruição, restaram as restrições, para as exclusividades as servidões, e para a perpetuidade vieram
as desapropriações.
A noção do direito de propriedade, então, está redesenhada pelas imposições que o
Plano Diretor estabelece para o seu exercício, através da limitação administrativa e aos meios com
que se pretende interagir com os bens que são por direito da coletividade.
Dito de outro modo: o direito de propriedade, nas Cidades onde o Plano Diretor é
exigido, só transparece nas formas permitidas pelo ordenamento local, e somente é exercitável
através das vias técnico-jurídicas ali permitidas.
Graças a esse peculiar interesse regionalmente considerado, o direito de
propriedade é único em cada Cidade do Estado, pois o exercício do bônus da propriedade se dá nas
formas em que cada grupo comunitário considera ideal.
Nesse contexto, fica cristalina a importância para cada indivíduo da coletividade
paulistana de que a criação do plano diretor se dê somente com a sua verdadeira participação, uma
vez que a propriedade, na Municipalidade de São Paulo, somente será exercitável dentro dos
limites constitucionais, e do jeito que seus próprios cidadãos considerarem necessário.
E isso ocorre justamente porque cada plexo comunitário possui necessidades
específicas e somente através do Plano Diretor é que se busca dar instrumentos à Municipalidade
para satisfazer até o menor dos anseios sociais.
Pelo exposto é que se impõe a participação direta com a máxima efetividade e isso
não se trata de mero capricho ou letra sem sentido. O significado vai muito além. O Direito de
Propriedade brasileiro inserido pelo constituinte originário no inciso XXIII, do art. 5º, da CR,
constitui-se numa forma de fazer com que toda a proteção jurídica à propriedade, louvada e
consagrada pelo mundo democrático padeça pelo seu desvirtuamento.
Ocorre que a participação democrática na gestão da Cidade, inscrita nos artigos 2º,
II e 43 do Estatuto da Cidade requer mais do que tão somente a convocação da sociedade para os
atos públicos que tem a participação popular como pressuposto necessário.
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 3
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 4
Bem pelo contrário, a gestão democrática impõe à Municipalidade que, do início
até o término dos trabalhos do plano diretor, realize campanhas massivas de conscientização e
convocação dos munícipes, não só para audiências públicas, mas sim para promover a sua devida
participação no processo administrativo como um todo.
Campanha não é convocação para audiência, mas sim um trabalho de mobilização
popular, que incuta nos cidadãos a vontade de participar e o entendimento sobre a importância dos
assuntos debatidos, tal como dos reflexos que o anteprojeto terá na cidade.
Mas não só. A campanha, de início, deve ser também aprofundada o suficiente
para permitir aos cidadãos o entendimento material das idéias que a Municipalidade pretende ver
presente no novo anteprojeto, o que viabiliza, de antemão, que a comunidade formule críticas,
sugestões ou reclamações em relação às pretensões governamentais.
Ainda mais, também é necessário clarear, já no início, quais são os mecanismos
programados para intervenção popular. É fundamental que exista uma campanha capaz de
informar os cidadãos sobre o local em que podem encontrar representantes das comissões do
projeto, como exercer o direito de petição junto a Administração Pública, particularmente quanto à
como participar das comissões.
Não basta a existência da possibilidade, uma vez que desta possibilidade só
usufruem os já informados e interessados, ou seja, aqueles mínimos indivíduos para os quais não
era necessária qualquer campanha. É necessário cativar e instruir, facilitar e promover o acesso de
todos, e não de poucos.A população não é mera legitimadora. É contribuinte para o plano, e isso
deve ser revigorado. O conhecimento gratuito que resta existente em cidadãos ávidos por
participar, ou, se não ávidos, que poderiam assim estar quando tocados pelas campanhas de
conscientização, deve ser levado em importância em nossa sociedade, afinal, este contexto faz
parte do nosso texto jurídico.
Nesse sentido, note-se que as aspirações jurídicas quando do nascimento do
Estatuto da Cidade eram justamente a de que a população teria, de fato, uma participação ativa na
elaboração dos futuros planos e revisões.Volta-se a salientar que a gestão democrática permite ao
munícipe a interferência em todos os momentos do processo, de modo que este possa criticar e ver
suas críticas rebatidas pelo Poder Executivo.
Assim, a gestão democrática da cidade implica a efetiva participação de pessoas e
associações, representativas dos diversos segmentos da sociedade civil, no processo de
organização, planejamento, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 4
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 5
políticas públicas para a modificação do ambiente urbano da cidade.
A concreta participação dos cidadãos na deliberação e fiscalização dos atos
administrativos que tenham por objeto a intervenção urbanística é salutar manifestação da
democracia direta, forma de auto-governo prevista na Constituição: Art. 1º. Parágrafo único. Todo
o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição.
A Constituição definiu os objetivos e a competência para a execução do Plano de
Desenvolvimento Urbano no art. 182 da Carta:
“O art. 21, XX, da CF de 1988 declara competir à União instituir diretrizes para o
desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; enquanto
seu art. 182 estabelece que a política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.”
AFONSO DA SILVA, José. Direito Urbanístico Brasileiro. 5ª edição. Pg. 59.
Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
A regulamentação deste artigo foi promovida pela Lei Federal n. 10.257/01,
chamada de Estatuto da Cidade. Nela, o legislador expressou em diversos pontos a necessidade da
participação social efetiva para a adequada execução do processo de desenvolvimento urbano,
uma vez que a consecução de suas finalidades só é possível com a promoção de canais de
comunicação para que os habitantes da cidade se manifestem, adicionando aos trabalhos
administrativos informações e opiniões, seja de caráter técnico ou prático.
Alguns trechos representativos da garantia à gestão democrática da cidade no
Estatuto:
Art. 2º. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
II gestão democrática por meio da participação da população e de associações
representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e
acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;
XIII audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos
processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 5
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 6
negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população;
(...)
Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados,
entre outros, os seguintes instrumentos:
I órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e
municipal;
II debates, audiências e consultas públicas;
III conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional,
estadual e municipal;
IV iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de
desenvolvimento urbano;
V (VETADO)
Art. 44. No âmbito municipal, a gestão orçamentária participativa de que trata a
alínea f do inciso III do art. 4o desta Lei incluirá a realização de debates, audiências e consultas
públicas sobre as propostas do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e do
orçamento anual, como condição obrigatória para sua aprovação pela Câmara Municipal.
Art. 45. Os organismos gestores das regiões metropolitanas e aglomerações
urbanas incluirão obrigatória e significativa participação da população e de associações
representativas dos vários segmentos da comunidade, de modo a garantir o controle direto de
suas atividades e o pleno exercício da cidadania.
Como corretamente lembrado pelo Ministério Público em seu parecer, a situação
atual é de constante desrespeito da Prefeitura Municipal para com a exigência constitucional e
infraconstitucional de necessidade de participação popular nos processos deliberativos relativos às
políticas públicas de habitação.
No caso em tela, em relação à não participação de fato ao longo do processo de
discussão do Conselho Gestor, é fato que o Plano de Urbanização da ZEIS não levou em
consideração, exceto do ponto de vista formal, a participação popular, e este fato se verifica em
especial a partir da leitura da ata da reunião do dia 4 de abril (fls. 361/444), em que está registrado
que diversos representantes da sociedade civil não estavam entendendo o que estava se passando,
formulando questionamentos que não foram respondidos, essenciais para apresentação de
propostas objetivas.
Não apenas nesta ata, mas também da leitura da ata da reunião de 07/03/2012,
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 6
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 7
verifica-se que a participação popular foi apenas deferida para se autorizar que os representantes
populares falassem, mas suas ponderações foram todas indeferidas, formando-se um verdadeiro
muro diante das suas reivindicações. Os esclarecimentos foram dados de forma genérica,
passando-se na reunião seguinte à votação, numa reunião em que, segundo consta na ata (fls.
365/367), o número de lugares para o público foi bem reduzido em relação a reuniões anteriores, e
com limitações de filmagem.
A formação tardia do Conselho Gestor, o verdadeiro "paredão" formado quanto às
propostas populares, é um sério indício de que a aprovação do plano veio sem a participação
popular, com inobservância do disposto no artigo 175 do Plano Diretor e do artigo 19 do Decreto
Municipal nº 44.667/2004.
Não há notícia, também, nas cópias do projeto juntadas aos autos, de que o
cadastro dos moradores do perímetro objeto de intervenção a fim de se perquirir o número de
pessoas que moram na região, em especial de pessoas de baixa renda, tenha sido realizado.
Todos estes fatos demonstram, que não foram observados os incisos I, II, VI, VII e
IX do artigo 175 do Plano Diretor do Município.
É bem verdade que não pode o Judiciário, a pretexto de exercer a guarda dos
direitos constitucionais, adentrar no mérito, na conveniência e na oportunidade das atividades da
Administração Pública.
Contudo, há que se levar em conta que a margem de discricionariedade da
Administração no cumprimento da ordem constitucional social é limitada, uma vez que pautada
pelo atendimento ao interesse público e pelo princípio da razoabilidade administrativa.
Ainda nesta direção, em brilhante artigo, lembra a ilustre representante do
Ministério Público Federal, Luiza Cristina Frischeisen, que:
"A margem de discricionariedade da Administração no cumprimento da ordem
constitucional social é bastante limitada, o que ocasiona a possibilidade de maior judicialização
dos conflitos, pois que as políticas públicas podem ser questionadas judicialmente. Isso implica
em que a atuação do Ministério Público não é somente de atuar para corrigir os atos comissivos
da administração que porventura desrespeitem os direitos constitucionais do cidadão, mas
também deve atuar na correção dos atos omissivos, ou seja, para a implantação efetiva de
políticas públicas visando a efetividade da ordem social prevista na Constituição Federal de
1988."
O clássico princípio da separação de poderes, ao seu turno, não deve ser entendido
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 7
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 8
de forma absoluta, mas adaptado aos ditames de nossa Constituição e à nova realidade social.
Segundo EROS GRAU, “a conclusão assim firmada é, de resto, a que guarda
compatibilidade com a ideologia consagrada no vigente texto constitucional, que reclama e exige,
de modo intenso, uma aproximação cada vez maior entre política e direito, ao contrário do que
sucedia no Estado liberal”.1
No mesmo sentido, J. EDUARDO FARIA ensina que “a magistratura brasileira
tem desprezado o desafio de preencher o fosso entre o sistema jurídico vigente e as condições reais
da sociedade, em nome da 'segurança jurídica' e de uma visão por vezes ingênua do equilíbrio
entre os poderes autônomos”.2
Outrossim, convém ressaltar que o Estado Democrático de Direito se caracteriza
pela efetivação dos direitos sociais. Esta exigibilidade em juízo, neste diapasão, quando exercida
de forma coletiva, representa a participação democrática da sociedade no Poder Púbico e a
conseqüente intervenção direta no processo político-decisório. A democracia representativa,
portanto, cada vez mais cede espaço à democracia participativa, onde a existência dos
representantes eleitos não exclui a participação dos cidadãos em geral.
Assim, não há que se falar em violação à autonomia municipal ou à separação de
poderes, pois a efetivação de direitos sociais não representa indevida intromissão do Poder
Judiciário nas políticas públicas elaboradas pelo Executivo, mas sim a concretização de ditames
constitucionais.
Até porque a justiciabilidade das políticas públicas tem guarida constitucional em
face do art. 5º, XXXV, da Constituição de 1988, segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. O art. 3º, por sua vez, constitui fundamento à
reivindicação, pela sociedade, do direito à realização de políticas públicas.
Vale mencionar, ainda, que o art. 1º, inciso VI, da Lei n. º 7.347/85, prevê que a
ação civil pública pode voltar-se à tutela da ordem urbanística, entendida esta como um estado de
equilíbrio que o conjunto de agentes envolvidos é obrigado a buscar e preservar.
O papel a ser desempenhado pela ação civil pública voltada à proteção da ordem
urbanística é o de dar efetivo cumprimento às diversas normas de conteúdo material previstas no
Estatuto da Cidade e, evidentemente, em outros diplomas legislativos federais, estaduais, distritais
ou municipais que digam respeito à 'ordem urbanística'.
Outrossim, não há mais como negar que a Administração, na consecução dos
1 O Direito Posto e o Direito Pressuposto, 4ª ed, São Paulo, Malheiros, 2002, p. 2512 Os Desafios do Judiciário, in Revista da Universidade de São Paulo 21 (1994), p. 56
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 8
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 9
objetivos do bem comum, tem deveres e obrigações, assim como se investe de faculdades e
direitos. Ao implementar os atos que lhe competem, espelhados na condução dos serviços e obras
públicas, sempre tem em mira determinados fatos, traduzidos como realidade social, em que deve
ser sopesados como imperativos a executar ou carências a suprir.
Nesse desiderato, o agente público precisa avaliar essas realidades, dando azo,
então ao seu discrimen. Ao fazê-lo, por vezes, o administrador avalia equivocadamente o contexto
divorciando-se do bem comum, ou mantendo-se culposa ou deliberadamente na contemplação
distorcida da verdade social, omite-se, negligencia, prevarica.
É, então, que surge a possibilidade de correção do desvio ou da omissão praticada
por via dos mecanismos de controle da atividade administrativa, entre os quais, avulta em
importância o Poder Judiciário, pela eficácia vinculativa plena de sua atuação. A tutela
jurisdicional da espécie não representa uma interferência indébita que contrarie a regra da divisão
de Poderes, pois é sabido que a harmonia dos Poderes exige uma interdependência recíproca.
Dentro dessa consideração, verifica-se que o Judiciário, quando interfere na
avaliação de determinados interesses públicos e sociais, o faz na sua condição legítima de órgão
revisor da violação de direitos subjetivos e coletivos que deles derivam. Participa assim, como
Poder, da persecução ao objetivo do bem comum, impedindo qualquer desvio administrativo nesse
caminho.
Demonstrados os limites da discricionariedade, não pode o Judiciário, a pretexto
de garantir o equilíbrio do Estado, furtar-se de sua junção de órgão revisor da violação de direitos.
Toda vez que provocado a pronunciar-se, cumpre-lhe o dever de exaurir sua função pronunciando
o Direito.
Aliás, a Carta Federal confere a todos os cidadãos o direito e a garantia de não ter
excluída de sua apreciação lesão ou ameaça a direito (art. 5°, XXXV). O princípio da proteção
judiciária, também chamado princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, constitui, em
verdade, a principal garantia dos direitos subjetivos.
Destarte, mostra-se de rigor a procedência da ação para que se garanta a efetiva
participação popular na formulação de políticas públicas urbanísticas de seu interesse.
Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE a presente ação civil pública para:
a) anular o procedimento administrativo de participação popular do plano de
urbanização referente a ZEIS 3 C 016 do Plano Regional Estratégico da Subprefeitura da Sé, a
partir da última reunião do Conselho Gestor, realizada aos 04/04/2012;
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 9
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 6º andar - sala 615 - CentroCEP: 01501-020 - São Paulo - SPTelefone: 3242-2333r2115 - E-mail: [email protected]
0019326-64.2012.8.26.0053 - lauda 10
b) condenar a requerida ao cumprimento de obrigação de fazer, consistente na
retomada do processo administrativo de participação popular da ZEIS 3 C 016 do Plano Regional
Estratégico da Subprefeitura da Sé, a partir da última reunião válida, garantindo-se paridade do
Conselho e incluindo-se as propostas de revisões da minuta do Plano de Urbanização da ZEIS 3 C
016 formuladas pelos conselheiros da sociedade civil, devendo ser observados o artigo 175 do
Plano Diretor Estratégico do Município e o artigo 19 do Decreto Municipal n° 44.667/2004, sob
pena de multa diária de R$ 1.000,00.
Desta forma, julgo extinto o feito, com julgamento de mérito, nos termos do artigo
269, I, do Código de Processo Civil.
Em razão da sucumbência, arcará a requerida com o pagamento das custas e
despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios, que fixo, por equidade, em R$
2.000,00.
Com o trânsito em julgado, arquivem-se os autos.
P.R.I.C.
São Paulo, 16 de janeiro de 2013.
DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA
Se
impr
esso
, par
a co
nfer
ênci
a ac
esse
o s
ite h
ttps:
//esa
j.tjs
p.ju
s.br
/esa
j, in
form
e o
proc
esso
001
9326
-64.
2012
.8.2
6.00
53 e
o c
ódig
o 1H
0000
002E
AJF
.E
ste
docu
men
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or L
UIZ
A B
AR
RO
S R
OZ
AS
.
fls. 10