sentença

Embed Size (px)

DESCRIPTION

modelo de sentença

Citation preview

Supremo Tribunal Federal

Rua Dr. Lauro Pinto, 315, 6 Andar, Lagoa Nova - CEP 59064-250, Fone: 1, Natal-RN - E-mail: [email protected]

Sec. 13 Vara CvelFl. ___________________

PODER JUDICIRIO DO RIO GRANDE DO NORTEJUZO DE DIREITO DA 13 VARA CVEL DA COMARCA DE NATAL

Processo n: 0138123-89.2013.8.20.0001Ao: Procedimento OrdinrioRequerente: Maria de Lourdes Medeiros AzevedoRequerido: Banco do Brasil S. A

S E N T E N A

Vistos etc.

Maria de Lourdes Medeiros Azevedo, qualificado(a) exordial, por intermdio de procurador judicial, promoveu, sob o beneplcito da gratuidade da justia (Lei n 1.060/1950), a presente AO DE OBRIGAO DE FAZER C/C DANOS MATERIAIS E MORAIS COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, em desfavor do(a) Banco do Brasil S. A, igualmente qualificado (a) nos autos, aduzindo, em sntese, que cliente do banco ru h mais de trinta anos, possuindo conta corrente, por meio da qual recebe seus proventos mensais. Alega ter a instituio financeira suprimido seu limite do cheque especial sem a sua autorizao, alm de movimentar indevidamente a sua conta bancria, remanejando saldo para contas poupanas sem qualquer solicitao prvia.Em virtude de encontrar-se impossibilitada de movimentar sua conta bancria, ter seu cheque especial suprimido e seu salrio indevidamente bloqueado e movimentado exclusivamente pela instituio bancria, requereu liminarmente, que a r se abstivesse de movimentar indevidamente a sua conta corrente, para deixar de apreender valores, e, assim, movimentar seu salrio, bem como restabelecer seu limite do cheque especial, tudo sob pena de multa diria.Alm disso, pugnou pela procedncia dos pedidos, para que seja condenada a instituio financeira r restituio em dobro do valor apreendido indevidamente, perfazendo a quantia de R$ 10.987,52 (dez mil, novecentos e oitenta e sete reais e cinquenta e dois centavos), como tambm indenizao no importe de R$ 6.300,00 (seis mil e trezentos reais ), ante a retirada arbitrria do cheque especial, alm de indenizao por danos morais, no valor no inferior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais).Com a inicial, veio a documentao de fls. 12-64.s fls. 65-67, proferi deciso, deferindo a gratuidade judiciria e concedendo parcialmente o pleito de antecipao dos efeitos da tutela, no sentido do ru se abster de movimentar a conta corrente da autora, sob pena de multa diria no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).Devidamente citada (fls. 70-70v), a instituio financeira r deixou transcorrer in albis o prazo para apresentao de defesa.Dessa forma, vieram-me os autos conclusos.Eis o relatrio. DECIDO.Verificando a inexistncia da defesa da instituio financeira demandada, aplico os efeitos da revelia (art. 319 do C.P.C.), e o julgo antecipadamente a lide (art. 330, inciso II, do C.P.C.).Contudo, frise-se que "a presuno de veracidade dos fatos alegados pelo autor em face revelia do ru relativa, podendo ceder a outras circunstncias constantes dos autos, de acordo com o princpio do livre convencimento do juiz" (cf. RSTJ 20/252). Ao caso, entendo serem plenamente aplicveis as regras do Cdigo de Defesa ddo Consumidor, trazendo inteligncia dos arts. 17 e 29, da Lei n 8.078/90.Comentando o art. 17 do CDC, o jurista Zelmo Dalari esclarece:

"Com bastante freqncia, os danos causados por vcios de qualidade dos bens ou dos servios no afetam somente o consumidor, mas terceiros, estranhos relao jurdica de consumo... Em todos esses casos, o Cdigo assegura o ressarcimento dos danos causados a terceiros, que para todos os efeitos legais, se equiparam a consumidores." (Cdigo Brasileiro de Defesa do Consumidor, 6 edio, p. 166)

Ainda, o Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei n 8.078/90), consagra em seu art. 14 a responsabilidade objetiva do fornecedor de servio, no interessando investigar a sua conduta, mas, to somente, se foi responsvel pela colocao do servio no mercado de consumo.Prescreve o art. 14 da Lei n 8.078/90 (C.D.C.), verbis:"Art. 14. O fornecedor de servios responde, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos prestao dos servios, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua fruio e riscos." Por sua vez, o 3, e seus incisos, do aludido dispositivo legal, prev as causas de no-responsabilizao do fornecedor, quais sejam: a) que, tendo prestado o servio, o defeito inexiste; b) a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.Mais uma vez, valendo-me da lio de Zelmo Denari, vlido salientar que "a investigao da conduta culposa do consumidor ou de terceiro somente admissvel para demonstrar a exclusividade da culpa. Em decorrncia do princpio da inverso do nus da prova cabe ao fornecedor demonstrar a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro" (Cdigo Brasileiro de Defesa do Consumidor, 6 edio, p. 166).Importante considerar que os negcios jurdicos devem ser interpretados conforme a boa-f e os usos do lugar de sua celebrao, ou seja, os contratos devem obedecer sua funo social. No podem estes trazer onerosidades excessivas, despropores, ou injustia social, tampouco podem violar interesses metaindividuais ou individuais relacionados com a proteo da dignidade humana. ( ex vi do art. 113, do Cdigo Civil). No se podendo olvidar que, paralelamente funo social dos contratos, temos a boa-f, cujo fim valorizar a conduta de lealdade dos contratantes em todas as fases contratuais, conforme dispe o art. 422 do Cdigo Civil: Os contratantes so obrigados a guardar, assim na concluso do contrato, como em sua execuo, os princpios de probidade e boa-f. Pois bem, boa-f objetiva impe comportamentos socialmente recomendados: fidelidade, honestidade, lealdade, cuidado, cooperao, etc. Ademais, segundo a regra estatuda no art. 47 do CDC, as clusulas contratuais sero interpretadas de maneira mais favorvel ao consumidor, no incluindo apenas as clusulas obscuras ou ambguas.Na hiptese dos autos, a autora afirma que a instituio financeira suprimiu seu limite de cheque especial sem a sua autorizao, alm de movimentar indevidamente a sua conta bancria, remanejando saldo para contas poupanas sem qualquer solicitao prvia. Acrescenta que por tais motivos sofrera danos materiais e morais.No tocante reparao dos danos materiais, indispensvel a demonstrao do prejuzo decorrente do ato ilcito, o que no ficou comprovado nos autos. A propsito, colhe-se da jurisprudncia:[...] "O dano material devido quando comprovado estreme de dvidas o seu dispndio; inexistente prova ou sendo ela insuficiente em delimitar o quantum, a indenizao vedada" (TJSC, Ap. Cv. n. 2006.046708-8, de Campos Novos, Rel. Des. Fernando Carioni, DJ de 2-5-2007) (AC. n. 2010.043273-4, de Lages, Primeira Cmara Comercial, rel. Des. Ricardo Fontes, DJe de 26-8-2010).No caso concreto, a demandante afirma que houve o prejuzo material da reteno de R$ 5.493,76 (cinco mil, quatrocentos e noventa e trs reais e setenta e seis centavos), porm no comprova tal reteno, limitando-se, to-somente, a juntar extratos bancrios com demonstraes de movimentaes em sua conta corrente, os quais so insuficientes para comprovar os prejuzos materiais suportados.No sendo cabvel pelas mesmas razes prosperar o pleito de restituio em dobro de tal valor (requerido no item 5 fl. 10).Sem embargo, no resta dvida que a demandante suportou dano moral.Nesse contexto, tenho que o dano em debate in re ipsa, isto , prescinde da produo de provas. A materializao do dano moral ocorre quando se d leso do patrimnio abstrato ou imaterial de algum, que consiste num bem tico-jurdico-social que pode ser a liberdade, a honra, a dignidade, ou a simples paz ou tranquilidade do esprito. Esses elementos so impassveis de prova material. Assim, nessas hipteses, onde a leso no gera uma materialidade concreta, porm abstrata, de se admitir o dano in re ipsa, sendo dispensada a prova concreta para sua caracterizao.A parte autora, conforme acima referido, alm de ter sua conta corrente movimentada indevidamente pela instituio financeira demandada, a qual remanejou saldo para contas poupanas sem qualquer solicitao prvia, tambm teve seu limite de crdito cancelado sem qualquer notificao. Ou seja, no lhe foi garantido qualquer prazo para que regularizasse seus negcios em virtude da indisponibilidade do montante cancelado.Sabe-se que praxe a renovao automtica do contrato de cheque especial, o que conduz, em razo do princpio da boa-f contratual, necessidade de comunicao prvia, pelo banco, do seu desinteresse em renov-lo.No adotando o banco tal medida, frustrando a expectativa da cliente de que poderia contar com aquele crdito para administrar suas finanas, pois com este fito contratou, resta configurada a falha na prestao do servio ao qual se props.Neste sentido:"APELAO CVEL. NEGCIOS JURDICOS BANCRIOS. AO DE REPETIO DE INDBITO CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAO. CANCELAMENTO DO LIMITE DE CRDITO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. EXISTNCIA NO CASO. Cabvel a reparao por dano moral quando demonstrado ter a parte r praticado ato ilcito. Caso em que restou comprovado que o banco demandado cancelou o limite de cheque especial sem a prvia comunicao do correntista. Dano moral puro configurado. Na mensurao do dano, no havendo no sistema brasileiro critrios fixos e objetivos para tanto, mister que o juiz considere aspectos subjetivos dos envolvidos. Assim, caractersticas como a condio social, a cultural, a condio financeira, bem como o abalo psquico suportado, ho de ser ponderadas para a adequada e justa quantificao da cifra reparatrio-pedaggica. PROVERAM O RECURSO DA PARTE AUTORA E DESPROVERAM O RECURSO DA PARTE R". (Apelao Cvel N 70038838249, Dcima Sexta Cmara Cvel, Tribunal de Justia do RS, Relator: Paulo Srgio Scarparo, Julgado em 16/12/2010) Contudo, no que tange renovao compulsria do contrato de cheque especial, razo no assiste requerente, porquanto a instituio financeira no obrigada a renovar contratos de concesso de crdito, por se tratar de mera liberalidade do contratante, sujeita a critrios internos, decorrentes de sua discricionariedade. Registre-se, por oportuno, que encontra-se solidificado na doutrina e jurisprudncia que, ainda que expressamente acordada entre o correntista e a instituio financeira a possibilidade de utilizao de valores depositados em conta-corrente para saldar o pagamento de dbito contrado, a reteno integral do provento pelo banco para esse fim ilcito e acarreta dano moral.Ainda de acordo com esse posicionamento, a conduta aqui repudiada tambm se afigura ilegtima, porquanto poderia, a instituio financeira, perceber os valores a ela devidos, mediante ao judicial prpria para esse fim, no havendo necessidade de apropriar-se dos proventos da autora ou mesmo de parte deles para pagamento do saldo devedor da sua conta corrente.Assim, o caso ultrapassa o mero dissabor ou aborrecimento, configurando-se inequvoco o dano moral, a ensejar reparao pela via pecuniria.Entendo que a indenizao por danos morais representa uma compensao financeira pelo sofrimento resultante do ilcito, nem de longe, significando um acrscimo patrimonial para a vtima. Nesse sentido, pontifica o festejado CAIO MRIO DA SILVA PEREIRA: "...a indenizao no pede ter o objetivo de provocar o enriquecimento ou proporcionar ao ofendido um avantajamento; por mais forte razo deve ser equitativa a reparao do dano moral para que se no converta o sofrimento em mvel de captao de lucro (de lucro capiendo)". Atualmente, para ser quantificada a compensao pela ofensa moral, adota-se a teoria do valor do desestmulo, levando-se em conta, para ser fixada a indenizao, a extenso do dano, a necessidade de satisfazer a dor da vtima, tomando-se como referncia o seu padro scio-econmico, inclusive se a mesma contribuiu para o evento, e, em contrapartida, inibir que o ofensor pratique novas condutas lesivas. Considerando esses critrios, fixo a indenizao por danos morais na quantia de R$ 7.000,00 (sete mil reais), por entender ser adequada ao caso concreto. POSTO ISTO, com base nos fundamentos jurdicos e por tudo o mais que dos autos consta, julgo por sentena, para que surta seus legais efeitos, PROCEDENTES EM PARTE os pedidos formulados na exordial, para condenar a instituio financeira r a pagar, em favor da autora, a ttulo de compensao por danos morais, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com a incidncia de juros de mora, a partir da citao, no patamar de 1% (um por cento) ao ms, e correo monetria, com base no INPC-IBGE, incidente a partir desta data, confirmando a deciso de fls. 65-67.Em face do resultado do julgamento, as partes arcaro com o nus de sucumbncia pela metade, notadamente custas, despesas e taxa processual. Honorrios em favor dos patronos da autora, a ser pago somente pela demandada, que fixo em 10% (dez por cento) sobre a indenizao por danos morais arbitrada, haja vista que no houve advogado contratado pelo ru.Aps o trnsito em julgado, a Secretaria expea ato ordinatrio para a parte vencida (ora r) cumprir a obrigao do julgado, no prazo de 15 dias, pelo que dispe o art.475-J, do CPC. Decorrido o prazo supra e no havendo pagamento, os presentes autos fsicos devero ser arquivados, cabendo a vencedora apresentar memria de clculos e promover a execuo de sentena, atravs do sistema virtual do PJE ( conforme Portaria n 392/2014 - TJRN).Publique-se. Registre-se. Intimem-se.Natal/RN, 19 de agosto de 2015.

Rossana Alzir Digenes MacedoJuza de Direito