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7/22/2019 SENTENA - ADILSON FERREIRA DA SILVA
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Poder Judicirio
Justia do TrabalhoTribunal Regional do Trabalho da Sexta RegioVara do Trabalho de Goiana/PE
PROCESSO 0000361-64.2010.5.06.0231
Aos trinta e um dias do ms de maio, do ano de dois mil e dez, s 12h04min, estando aberta a
audincia da Vara do Trabalho de Goiana, na sala respectiva, Avenida Andr Vidal de
Negreiros, 17, Centro, Goiana PE, CEP 55900-000, com a presena do Sr. Juiz do Trabalho
Substituto, Dr. GUSTAVO HENRIQUE CISNEIROS BARBOSA, foram, por ordem do Sr. Juiz,
apregoados os litigantes, ADILSON FERREIRA DA SILVA, reclamante, e AGRO
INDUSTRIAL TABU S.A., reclamado. Ausentes as partes. Instalada a audincia e analisados
os autos, o Sr. Juiz do Trabalho props a soluo ao litgio, passando a proferir deciso.
Vistos etc.
O reclamante props ao trabalhista em desfavor do reclamado, pleiteando o corporificado na
exordial.
assentada compareceram as partes, quando, depois de superada a tentativa de acordo, o
reclamado ofertou contestao em vinte laudas, acompanhada de credencial, procurao e outros
documentos, restando fixada, de acordo com a inicial, a alada.
O demandante impugnou a documentao carreada pela parte adversa.
Na audincia seguinte, depois da produo de prova oral emprestada, foi encerrada a instruo.
Razes finais remissivas.
Derradeira proposta de conciliao frustrada.
Vara do Trabalho de Goiana/PEProcesso n 0000361-64.2010.5.06.0231Juiz: Gustavo Henrique Cisneiros Barbosa
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o Relatrio.
Passo a decidir.
FUNDAMENTAO
Concedo ao reclamante os benefcios da justia gratuita, abarcando traslados e instrumentos, nos
termos do artigo 790, 3, da CLT.
A pea atrial atende aos requisitos da legislao processual, inexistindo qualquer defeito capaz
de conduzir constatao de inpcia.
Pois bem.
A testemunha do reclamante (prova emprestada) relatou que os trabalhadores, incluindo o
demandante, apanhavam o nibus (fornecido pelo reclamado) por volta das 04h30min, chegando
ao local de trabalho duas horas depois.
A durao do trajeto, indicada pela referida testemunha, mostra-se exagerada, destoando, at
mesmo, da petio inicial.
comum o trabalhador rural exagerar no tempo de trajeto, ato oriundo, na maioria das vezes,
de reduzido discernimento. Mas o fato, mesmo abrandado no final do depoimento (a testemunha
destacou que quando o engenho era perto, o trajeto durava, em mdia, 45 minutos), termina
afetando a credibilidade da prova, atraindo um zelo ainda maior do magistrado.
Vara do Trabalho de Goiana/PEProcesso n 0000361-64.2010.5.06.0231Juiz: Gustavo Henrique Cisneiros Barbosa
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Outros fatos foram informados pela citada testemunha: intervalo intrajornada de apenas 15
minutos; trmino do efetivo labor s 16h; trajeto no servido por transporte pblico; chegada em
Itaquitinga entre 17h e 18h e trajeto parte na pista, parte em estrada de barro.
Uma informao que pode parecer irrelevante, mas no , diz respeito aos engenhos nos quais osobreiros, incluindo o reclamante, laboraram: Calugi, Cachoeirinha, Conceio, So Joo e
Pagau. Todos os engenhos esto localizados no Estado de Pernambuco, ou seja, eles no
trabalharam nos engenhos situados no Estado da Paraba. A constatao tem impacto direto na
durao do trajeto.
O reclamante no processo 341/2010 (prova emprestada), em depoimento pessoal, a exemplo da
testemunha j citada, tambm terminou exagerando, asseverando ter trabalhado nos engenhoslocalizados no Estado da Paraba, mesmo no recordando os nomes dos engenhos. O fato
inverdico.
A testemunhal Oziel, convidada pelo reclamado (processo 341/2010 prova emprestada), apesar
de ter constado na ata como testemunha do reclamante, erro material que no tem relevncia,
ante os princpios da comunho e da indivisibilidade das provas, soterrou os exageros dos
trabalhadores, inclusive quanto ao intervalo intrajornada.
A prova testemunhal produzida pelo reclamado foi de extrema importncia para o equilbrio do
decisum.
Pelo conjunto probante, tenho que apenas um pequeno trecho do trajeto se encaixa nos requisitos
insculpidos no 2 do artigo 58 da CLT, merecendo credibilidade o mapa (croqui) acostado pelo
reclamado. O mesmo bojo demonstrou a correta e regular concesso do intervalo intrajornada,
no se justificando, diante da jornada, a quebra do perodo de descanso.
Vara do Trabalho de Goiana/PEProcesso n 0000361-64.2010.5.06.0231Juiz: Gustavo Henrique Cisneiros Barbosa
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Importante destacar, ainda, o fato de a norma do artigo 58, 2, CLT, a qual prev o chamado
horrio in itinere, traduzir verdadeiro preceito excepcional, merecendo, por conseguinte,
interpretao restritiva, cautelosa.
Sobre o assunto, destaco as lies do saudoso Carlos Maximiliano, eternizadas na consagradaobra Hermenutica e Aplicao do Direito, in verbis:
O que caracteriza o verdadeiro jurisconsulto, exatamente a segurana com que
descobre a norma apropriada para cada hiptese rara, enquanto os indoutos aplicam a
regra geral a simples excees, ou fazem pior: generalizam preceitos destinados s a
estas, foram analogias, transplantam disposies para terreno que as repele, enquadram
os casos de certa categoria em artigos de lei feitos para relaes dessemelhantes na
essncia. (Carlos Maximiliano in Hermenutica e Aplicao do Direito, EditoraForense, 18 edio 1999, pgina 269).
O tempo despendido pelo empregado at o local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer
meio de transporte (incluindo aquele fornecido pelo empregador), no ser, em regra,
computado na jornada laboral. Eis a vontade do legislador consolidado artigo 58, 2, CLT.
A jurisprudncia no vem desprezando as regras de hermenutica, como se observa do julgado
infra:
Ementa: Horas in itinere. Transporte fornecido pelo empregador. A jornada in itinere
se constitui em exceo ao conceito de tempo disposio do empregador, de que trata
o Art. 4 da CLT e, portanto, deve ter interpretao restritiva. Assim, fornecendo o
empregador o transporte para o empregado, facilitando o deslocamento deste, no pode
ser penalizado por propiciar vantagem ao obreiro que, desde o momento da contratao
teve cincia do local onde seria realizado o servio. (TRT 24 Regio RO
979199902224006 MS 00979-199-022-24-00-6 Rel. Nicanor de Arajo Lima
DO/MS de 12/02/2001).
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Reluz, portanto, do artigo 58, 2, da CLT, a regra geral, consagrando que o tempo despendido
pelo empregado, no trajeto casa-trabalho e trabalho-casa, no ser computado na sua jornada,
pois no se encontra, naquele momento, disposio do seu empregador.
Interpretam-se as excees estritissimamente Exceptiones sunt strictissimce interpretationis.
A regra o ordinrio. A exceo o extraordinrio.
Assim ensinou Malatesta:
O ordinrio se presume, enquanto que o extraordinrio deve ser cabalmente provado.
Quando se fala em horrio in itinere, portanto, a presuno deriva para a inexistncia do fato, ou
seja, presuno juris tantum favorvel ao empregador.
Trata-se de um direito trabalhista excntrico, anmalo, no se inserindo nos chamados direitos
bsicos do trabalhador.
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Diante do exposto, acolho, parcialmente, a pretenso autoral, declarando que o demandante
trabalhava em sobrejornada habitual, em seis dias por semana, considerando a constatao de
concesso de uma folga semanal, prevalecendo, para o horrio de entrada e para o horrio de
sada, a mdia oriunda das provas orais, consubstanciando a seguinte jornada: das 05h40min s
15h40min, com intervalo intrajornada de 1h (uma hora). Observe-se que, na jornada, j seencontram inseridas as horas in itinere, numa mdia calculada razo do conjunto probatrio e
da interpretao restritiva (20 minutos na ida e 20 minutos na volta), inclusive a
proporcionalidade do trajeto em rodovias, atraindo a incidncia do artigo 58, 2, da CLT e da
Smula 90 do TST.
Sopesando os limites previstos na Constituio Federal, sero extras aquelas que ultrapassarem a
oitava diria ou a quadragsima quarta semanal.
Considerando o salrio por produo, a condenao fica restrita apenas ao adicional, luz
da OJ 235 da SDI-1 do TST.
Assim sendo, julgo procedente, em parte, o pedido de horas extraordinrias, ante a limitao da
pretenso apenas ao adicional de 60%, j abarcando o horrio in itinere, luz da jornada supra
descrita, com reflexos sobre o aviso prvio, as frias + 1/3, os 13 salrios, o repouso semanal
remunerado e o FGTS + 40%.
Devem ser excludos os dias comprovadamente no trabalhados e compensados os adicionais de
horas extras comprovadamente pagos ao longo do pacto, esculpidos nos holerites existentes nos
autos.
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Improcedente o pedido de horas extras pela no-concesso do intervalo intrajornada, restando
prestigiados, neste particular, os cartes de ponto, alicerados em prova testemunhal
convincente.
O saldo de salrio foi quitado na resciso contratual, assim como demonstrou, o reclamado, oregular recolhimento fundirio, documentao que no foi rechaada pela parte adversa. Assim
sendo, julgo improcedentes os pedidos correlatos.
Inexiste fato gerador para a incidncia da multa do artigo 477, 8, da CLT, porquanto as verbas
rescisrias foram quitadas tempestivamente. A controvrsia e, ainda, a prpria natureza do
adicional de horas extras, so fatores que implodem a aplicao da sano, afinal, interpretam-
se as excees estritissimamente Exceptiones sunt strictissimce interpretationis.Improcedente o pedido.
Fulminado, por fim, o pleito de aplicao da multa prevista no artigo 475-J do CPC, pois o
processo trabalhista possui autonomia, com princpios prprios e institutos e procedimentos
regulados de forma especfica e expressamente, sendo pressuposto necessrio para a aplicao
supletiva de norma do direito processual comum a omisso do texto consolidado, como bem
definem os artigos 769 e 889 da CLT. Logo, inexistindo omisso, impossvel se torna a aplicao
da regra contida no artigo 475-J do CPC.
Nesse sentido so as manifestaes de doutrinadores de peso, como MANOEL ANTNIO
TEIXEIRA FILHO (Revista LTr, vol. 70, n3, maro/2006, pg. 287), JOS AUGUSTO
RODRIGUES PINTO (Revista LTr, vol. 70, n 3, maro/2006, pg.313) e ESTEVO MALLET
(Revista LTr, vol.70, n 6, junho/2006, pg. 670).
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Na Revista LTr de Outubro de 2006, em artigo denominado PROCESSO DO TRABALHO
EMBARGOS EXECUO OU IMPUGNAO SENTENA? (A PROPSITO DO
ART.475-J DO CPC), pginas 1179/1182, MANOEL ANTNIO TEIXEIRA FILHO reitera
sua postura e afirma:
Todos sabemos que o art.769, da CLT, permite a adoo supletiva de normas do processo civil,
desde que: a) a CLT seja omissa quanto matria; b) a norma do CPC no apresente incompatibilidade
com a letra ou com o esprito do processo do trabalho.
No foi por obra do acaso que o legislador trabalhista inseriu o requisito da omisso antes do da
compatibilidade; foi, isto sim, em decorrncia de um proposital critrio lgico-axiolgico. Desta
forma, para que se possa cogitar da compatibilidade, ou no, de norma do processo civil com a do
trabalho absolutamente necessrio, ex vi legis, que, antes disso, se verifique se a DCLT se revela
omissa a respeito da matria. Inexistindo omisso, nenhum intrprete estar autorizado a perquirir
sobre a mencionada compatibilidade. Aquela constitui, portanto, pressuposto fundamental desta.
Acrescenta o doutrinador, em seu artigo, a referncia ao Projeto de Lei n 7.152/2006, em
tramitao na Cmara Federal, que acrescenta o pargrafo nico ao artigo 769 da CLT, que
autorizar a aplicao do direito processual comum no processo do trabalho, naquilo em que
permitir maior celeridade ou efetividade da jurisdio, ainda que existente norma previamente
estabelecida em sentido contrrio, quando, a sim, podero ser invocadas determinadas normas
do CPC, de aplicao no permitida, atualmente.
Improcedente o pedido de honorrios advocatcios sucumbenciais, luz das Smulas 219 e 329
do TST; OJ 305 da SDI-1 do TST e IN 27/2005 do TST.
A execuo das contribuies previdencirias restringe-se s verbas condenatrias de natureza
salarial, nos termos da Smula 368 do TST, observando-se o que dispe a OJ 363 da SDI-1 do
TST:
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DESCONTOS PREVIDENCIRIOS E FISCAIS. CONDENAO DO EMPREGADOR EM
RAZO DO INADIMPLEMENTO DE VERBAS REMUNERATRIAS. RESPONSABILIDADE
DO EMPREGADO PELO PAGAMENTO. ABRANGNCIA (DJ 20, 21 e 23.05.2008) A
responsabilidade pelo recolhimento das contribuies social e fiscal, resultante de condenao judicial
referente a verbas remuneratrias, do empregador e incide sobre o total da condenao. Contudo, a
culpa do empregador pelo inadimplemento das verbas remuneratrias no exime a responsabilidade
do empregado pelos pagamentos do imposto de renda devido e da contribuio previdenciria que
recaia sobre sua quota-parte.
QUANTUM DEBEATUR a ser apurado na fase de liquidao, com a natural incidncia de juros e
correo monetria, na forma da tabela oficial fornecida pela E. Corregedoria deste Regional
argcia da Smula 381 do C. TST.
DISPOSITIVO
ISTO POSTO, e considerando o que dos autos consta, rejeito a preliminar de inpcia, para, no
mrito, JULGAR PROCEDENTE, EM PARTE, a postulao, condenando, o reclamado,
AGRO INDUSTRIAL TABU S.A., a pagar, ao reclamante, ADILSON FERREIRA DA
SILVA, no prazo legal, as verbas descritas na fundamentao supra, a qual passa a integrar o
presente dispositivo, como se nele estivesse transcrita.
Custas processuais, a cargo do reclamado, no montante de R$ 20,00, calculadas sobre R$
1.000,00, valor arbitrado condenao.
O adicional de horas extras e suas repercusses sobre o aviso prvio e as gratificaes natalinas
serviro como base contributiva previdenciria.
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Cientes as partes Smula 197 do TST.
Encerrou-se a audincia.
E, para constar, foi lavrada a presente ata, que vai assinada, na forma da Lei.
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