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SERMÃO AOS MORTOS PRIMEIRO SERMÃO Os mortos retornaram de Jerusalém, onde não encontraram o que buscavam. Eles pediram para ser admitidos à minha presença e exigiram ser por mim instruídos. Assim eu os instruí: Ouvi: eu começo com nada. Nada é o mesmo que plenitude. No estado de infinito, plenitude é o mesmo que vazio. O Nada é ao mesmo tempo vazio e pleno. Pode-se também afirmar alguma outra coisa a respeito do Nada, ou seja, que é branco ou negro, existente ou inexistente. Aquilo que é infinito e eterno não possui qualidades porque contém todas as qualidades. O Nada ou plenitude é por nós chamado de o PLEROMA. Nele, pensamento e existência cessam, porque o eterno é desprovido de qualidades. Nele, não existe ninguém, porque se existisse alguém, este então se diferenciaria do Pleroma e possuiria qualidades que o distinguiriam do Pleroma. No Pleroma não existe nada e existe tudo: não é bom pensar sobre o Pleroma, pois fazê-lo significaria dissolução.

Sermão Aos Mortos

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Sermão aos mortos - trecho

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SERMO AOS MORTOS

PRIMEIRO SERMO

Os mortos retornaram de Jerusalm, onde no encontraram o que buscavam. Eles pediram para ser admitidos minha presena e exigiram ser por mim instrudos. Assim eu os instru:Ouvi: eu comeo com nada. Nada o mesmo que plenitude. No estado de infinito, plenitude o mesmo que vazio. O Nada ao mesmo tempo vazio e pleno. Pode-se tambm afirmar alguma outra coisa a respeito do Nada, ou seja, que branco ou negro, existente ou inexistente. Aquilo que infinito e eterno no possui qualidades porque contm todas as qualidades.

O Nada ou plenitude por ns chamado de o PLEROMA. Nele, pensamento e existncia cessam, porque o eterno desprovido de qualidades. Nele, no existe ningum, porque se existisse algum, este ento se diferenciaria do Pleroma e possuiria qualidades que o distinguiriam do Pleroma.

No Pleroma no existe nada e existe tudo: no bom pensar sobre o Pleroma, pois faz-lo significaria dissoluo.

O MUNDO CRIADO no est no Pleroma, mas em si mesmo. O Pleroma o princpio e o fim do mundo criado. O Pleroma penetra o mundo criado como a luz solar penetra toda a atmosfera. Embora o Pleroma penetre-o por completo, o mundo criado no participa dele, da mesma forma que um corpo sumamente transparente no se torna escuro ou colorido como resultado da passagem da luz por ele. Ns mesmos, no entanto, somos o Pleroma e assim sendo, o Pleroma est presente em ns. Mesmo no ponto mais minsculo, o Pleroma est presente sem limite algum, eterna e completamente, porque pequeno e grande so qualidades estranhas ao Pleroma. Ele o nada onipresente, completo e infinito. Eis porque vos falo do mundo criado como uma poro do Pleroma, mas unicamente em sentido alegrico; pois o Pleroma no se divide em partes, por ser o nada. Somos tambm o Pleroma como um todo; visto que num aspecto figurativo o Pleroma um ponto excessivamente pequeno, hipottico, quase inexistente em ns, sendo igualmente o firmamento ilimitado do cosmo nossa volta. Por que ento discorremos sobre o Pleroma, se ele o todo e tambm o nada?

Eu vos falo como ponto de partida, e tambm para eliminar de vs a iluso de que em algum lugar, dentro ou fora, existe algo absolutamente slido e definido. Tudo o que chamam de definido e slido no mais do que relativo, porque somente o que est sujeito a mudana apresenta-se definido e slido.

O mundo criado est sujeito a mudar. Trata-se da nica coisa slida e definida, uma vez que possui qualidades. Em verdade, o prprio mundo criado nada mais que uma qualidade.

Indagamos: como se originou a criao? As criaturas de fato tm origem, mas no o mundo criado, porque este uma qualidade do Pleroma, da mesma forma que o incriado; a morte eterna tambm representa uma qualidade do Pleroma. A criao eterna e onipesente. O Pleroma possui tudo: diferenciao e indiferenciao.