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Serviço Público Federal Universidade Federal do Pará Centro Tecnológico PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL Henrique Nazareno Santos Lima ESTUDO DA CONCEITUAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE VIAS SANITÁRIAS EM BELÉM: O CASO DA BACIA DE DRENAGEM ESTRADA NOVA Belém (PA) 2004.

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Servio Pblico Federal

Universidade Federal do Par Centro Tecnolgico

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

Henrique Nazareno Santos Lima

ESTUDO DA CONCEITUAO E IMPLEMENTAO DE VIAS SANITRIAS EM BELM: O CASO DA BACIA DE DRENAGEM ESTRADA NOVA

Belm (PA)

2004.

Henrique Nazareno Santos Lima

ESTUDO DA CONCEITUAO E IMPLEMENTAO DE VIAS SANITRIAS EM BELM: O CASO DA BACIA DE DRENAGEM ESTRADA NOVA

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal do Par, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Civil. rea de concentrao: Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Jos Jlio Ferreira Lima. Universidade Federal do Par

Belm (PA),

Universidade Federal do Par

2004

Lima, Henrique Nazareno Santos

Estudo da conceituao e implementao de vias sanitrias em Belm: o caso da Bacia de drenagem Estrada Nova . Henrique Nazareno Santos Lima. Belm, 2004.

Dissertao Mestrado Centro Tecnolgico - Universidade Federal do Par.

1. Drenagem urbana 2. Urbanismo

Encarte: 1 CD com 8(oito) mapas.

Sumrio

Lista de Figuras.....................................................................................................................13

Lista de Tabelas.....................................................................................................................14

Lista de Grficos.................................................................................................................. 15

Lista de Abreviaturas........................................................................................................... 16

Lista de Mapas..................................................................................................................... 17

Resumo..................................................................................................................................18

Abstract.................................................................................................................................19

Captulo I Introduo ........................................................................................................20

Captulo II - Comportamento hidrolgico das bacias urbanas............................................. 26

2.1 - Aspectos gerais da hidrologia e sua relao com a drenagem urbana......................... 33

2.2 - Bacia hidrogrfica ........................................................................................................34

2.2.1 Aspectos gerais.........................................................................................................34

2.3 Definio de bacia em rea urbana..............................................................................37

2.3.1 Mtodo racional........................................................................................................37

2.3.1.1 Tempo de recorrncia.............................................................................................38

2.3.1.2 Tempo de concentrao.........................................................................................39

2.3.1.3 Elementos que compem o clculo de vazo Q.................................................40

2.3.1.4 Equaes para o clculo de vazo Q .................................................................42

2.4 Mtodo de hidrograma unitrio...................................................................................44

2.5 Influncia da drenagem urbana nas bacias hidrogrficas............................................45

2.6 Drenagem urbana.........................................................................................................49

2.6.1 Instrumentos de gesto da drenagem urbana............................................................49

2.6.2 - Sistema de saneamento e os elementos constituintes do sistema de

drenagem...............................................................................................................................50

2.6.2.1 - Sistemas de drenagem de guas pluviais conceitos e definies.........................51

2.6.2.2 - Dinmica da microdrenagem: elementos e singularidades ................................... 51

2.6.2..3 - Dinmica da macrodrenagem elementos e singularidades.................................52

2.6.2.4 - Planejamento e dimensionamento..........................................................................52

2.6.2.5 - Elementos do projeto.............................................................................................53

Captulo III - Planejamento urbano e polticas de infra-estrutura........................................55

3.1 - A ocupao urbana .......................................................................................................55

3.2 - Planos urbanos e infra-estrutura de saneamento em Belm ........................................58

Captulo IV - A Bacia da Estrada Nova ...............................................................................67

4.1 - Localizao e estrutura da Bacia da Estrada Nova ......................................................67

4.2 - Situao hidrolgica antes de 1998 e o dique estrada Bernardo Sayo........................69

4.2.1 Caractersticas fsicas da Bacia.................................................................................72

4.2.1.1 Comprimento, largura e rea..................................................................................72

4.2.1.2 Impermeabilidade da Bacia....................................................................................74

4.3 Situao atual da Bacia................................................................................................75

4.3.1 Comprimento, largura e rea.....................................................................................75

4.3.2 Configurao a partir da cartografia de 1998 e pesquisa de campo..........................76

4.4 Situao urbanstica.....................................................................................................77

4.4 O Canal da Bernardo Sayo.........................................................................................78

4.5 As leis de uso do solo...................................................................................................79

4.5.1 Lei de Desenvolvimento Urbano do Municpio de Belm........................................79

4.5.2 Lei complementar de Controle Urbanstico.............................................................81

4.6 Intervenes recentes na Bacia da Estrada Nova........................................................82

4.7 Concluses sobre a pesquisa nos projetos e em campo...............................................89

Captulo V - Via sanitria: o conceito reconsiderado...........................................................93

5.1. Concepes de intervenes pblicas............................................................................93

5.1.1 A primeira fase..........................................................................................................93

5.1.2 A segunda fase..........................................................................................................94

5.1.3 A terceira fase...........................................................................................................96

5.2 - O conceito de via sanitria na Bacia da Estrada Nova .................................................97

5.2.1 Bases para a estruturao do conceito.......................................................................97

5.2.2 Aspectos funcionais..................................................................................................99

5.2.3 Aspectos hidrolgicos.............................................................................................101

5.3 Eixos fundamentais para o reconceito do termo na Bacia.........................................101

5.3.1 Uma outra forma de conceituar via na Bacia da Estrada Nova..............................102

Captulo VI - Consideraes finais.....................................................................................103

6.1 Objetivos alcanados.................................................................................................103

6.2 Concluses sobre a Bacia da Estrada Nova...............................................................103

6.3 Revendo pressupostos................................................................................................106

Referncias bibliogrficas...................................................................................................109

Anexos

Lista de Figuras

Figura 1 Bacia hidrogrfica................................................................................................25

Figura 2 Demonstrao de um ciclo hidrolgico...............................................................26

Figura 3 Aumento das vazes em relao s mudanas do solo........................................35

Figura 4 Comparao entre hidrogramas de reas urbanizadas e reas no-

urbanizadas....................................................................................................37

Figura 5 Diviso das bacias hidrogrficas de Belm.........................................................60

Figura 6 Vala da Passagem Joo de Deus..........................................................................68

Lista de Tabelas

Tabela 1 Perodo de retorno para diferentes ocupaes da rea.......................................29

Tabela 2 Valores de coeficientes do escoamento superficial direto C...........................32

Tabela 3 Bacias e suas respectivas reas de drenagem......................................................59

Tabela 4 Compostas do dique-estrada da Bacia da Estrada Nova, em 1942.....................63

Tabela 5 Sub-bacias, canais principais e respectivas reas de contribuio.....................64

Tabela 6 Caractersticas de largura, comprimento, sub-bacia e rea de contribuio da

Bacia da Estrada Nova, na dcada de 1970..................................................66

Tabela 7 Extenso, rea e largura mdia atual dos principais canais da Bacia da Estrada

Nova.................................................................................................................69

Tabela 8 Distribuio das vias da bacia, baseada na LCCU de 1988................................72

Tabela 9 Distribuio hierrquica das vias da bacia, implementada pela LCCU de

1999...............................................................................................................72

Tabela 10 Quadro de projetos na Bacia da Estrada Nova..................................................74

Tabela 11 Principais vias da bacia, enquadrando as leis urbansticas de 1988 e 1999......78

Tabela 12 Vias sanitrias envolvendo as sub-bacias..........................................................92

Lista de Grficos

Grfico 1 Vias com maior comprimento linear de galeria.................................................76

Grfico 2 Vias com maior nmero de poos de visita.......................................................76

Grfico 3 Ruas com maior nmero de bocas-de-lobo........................................................77

Grfico 4 Ruas mais importantes, condicionando a Lei de 1988.......................................79

Grfico 5 Ruas mais importantes, condicionando a Lei de 1999.......................................80

Grfico 6 Extenso da drenagem nas ruas principais da Bacia..........................................81

Lista de Abreviaturas

ZH = zona habitacional

ZPRN = zona de proteo de recursos naturais

ZSC = zonas de comrcio e servio

ZUM = zona de uso misto

ZFE = zona de funo especial

CT = corredor de trfego

CC = corredor de comrcio

CCS = corredor de comrcio e servio

C/D = (zona) coletora e distribuidora simultaneamente

AS = arterial secundria

mont/jus = montante e jusante

bl = boca-de-lobo

pv = poo de visita

Lista de Mapas (Anexos)

Mapa 01 Localizao dos braos do Rio Guam que cortavam a Avenida

Bernardo Sayo.

Mapa 02 Bacia de 1970.

Mapa 03 Bacia e sub-bacias de 1998.

Mapa 04 Grau de impermeabilidade.

Mapa 05 Lei de Uso do Solo de 1998, na Bacia da Estrada Nova.

Mapa 06 Lei de Uso do Solo de 1999.

Mapa 07 Drenagem atual.

Mapa 08 Via sanitria.

Agradecimentos

A realizao deste trabalho s foi possvel graas colaborao de

algumas pessoas. Manifesto minha gratido a todas elas e, em particular: aos

topgrafos Eli Salvador e Vital Lins, ao engenheiro Eduirbe Castro, colega

Romana, professora Andra, ao professor Lus Otvio, minha irm Ftima,

minha cunhada Malu e minha companheira Marlcia, que me ajudou na reviso

e na redao final deste trabalho.

Resumo

O presente trabalho busca aperfeioar um conceito utilizado na engenharia

sanitria aplicado a princpios de projetos de vias marginais de canais, pequenas

vielas de difcil acesso e vias que conduzem coletores troncais do sistema de

esgoto sanitrio chamado de via sanitria. O estudo utiliza um estudo de caso na

cidade de Belm: a bacia da Estrada Nova, caracterizando seu funcionamento e

relacionando-os com a situao urbanstica dos bairros contidos no territrio da

bacia, a partir da legislao de uso e controle da ocupao urbana. Como

resultado, o trabalho apresenta elementos para uma reconceituao de via

sanitria que incorpora a situao urbanstica e cuidados necessrios para que

projetos de drenagem se tornem integrados ao funcionamento urbanstico da

cidade.

Abstract

This dissertation aims at giving a more specific account of the term sanitary

road utilised in sanitary enginnering. It applies principles used in the projects of

canal marginal roads, narrow short streets and trunk roads. The study is based on

the case of Estrada Nova basin located in the city of Belem. After a

characterisation of its fuctioning, its relationships with the urbanistc control is

explored in order to be more compatible with land use control. The result of the

study presents elements for the a reconsideration fo the definition wihch

incorporates the urbanistic situation and needs for drainage projects to be more

integrated with the urbanistic functioning of the city.

20

Captulo I - Introduo

Para que se torne possvel o controle e a efetivao das normas e procedimentos no

planejamento das cidades, necessrio pensar o sistema urbano em sua globalidade,

considerando a relao entre o desenho da cidade e outros aspectos que fazem parte da

estruturao do stio urbano.

Um perfeito ajustamento entre planos urbansticos e projetos de infra-estrutura,

sobretudo referentes ao sistema hidrolgico da cidade, torna a implementao da gesto do

plano urbanstico possvel de ser alcanada, ajustando pelo menos esse elemento ao futuro

do uso do solo da cidade.

Em se tratando, principalmente, do escoamento pluvial, o planejamento urbano

necessitaria conter em seu bojo um outro plano, considerando especificamente a drenagem

urbana. A delimitao das reas mais baixas e potencialmente inundveis diagnosticaria a

viabilidade ou no da ocupao dessas reas, do ponto de vista da expanso da ocupao

urbana e a proviso de servios pblicos.

A eficcia da drenagem urbana depende de uma integrao de cada parte do sistema

projetado com a hidrologia da bacia urbana. A identificao dos componentes urbansticos

e hidrolgicos associada em projetos que, por sua vez, devem estar articulados com os

planos urbansticos, para considerar o resgate do aspecto natural da drenagem, impingindo

uma viso de sistema nico e articulado na bacia hidrogrfica urbana (Silveira, 2000).

Tal articulao est voltada para a forma de ocupao da fisiografia da bacia urbana,

bem como para o exerccio dos instrumentos dos planos urbansticos. Dessa articulao

dependem aes de adaptao, mudanas, reconceituaes, etc., visando ao uso para a

manuteno da funcionalidade do solo e do escoamento de drenagem, inclusive a garantia

do controle, em caso de aes modificadoras, da drenagem superficial ou profunda, por

exemplo, vazo, coeficiente de impermeabilidade, velocidade de escoamento, etc. (opus

cit.).

O planejamento urbano no Brasil deveria ser consciente dos efeitos dessas

modificaes na ocupao urbana, ao longo da vigncia do perodo de alcance dos planos

21

urbansticos, vinculados preocupao com o acmulo de guas circundantes, provenientes

das precipitaes mximas.

Por isso, importante destacar que o bom funcionamento do sistema urbano de

drenagem no poderia se basear estritamente em projetos e obras, mas em aes no-

estruturais, ligadas ao planejamento e gesto urbanstica, como: cdigos, leis e

regulamentos sobre edificaes, zoneamento, etc. (DAEE, 1980).

1.1 - Ocupao informal e drenagem

Em termos da dinmica de crescimento da ocupao urbana em Belm, assim como

de outras cidades, merece destaque a forma de ocupao em ambientes de vrzea. Pelas

caractersticas da distribuio dos grupos sociais no desenho natural da cidade, houve o

favorecimento desse tipo de ocupao urbana nos ambientes de vrzea ou urbano,

sobretudo devido s condies topogrficas originais, que significavam 40% do stio e que

hoje, representam a parte mais adensada da cidade (Trindade Jnior, 1997).

Em Belm, grandes partes da aglomerao urbana, em espaos ditos subnormais,

constituem reas de risco ou de vrzea (CONGRESSO MUNICIPAL DE SANEAMENTO

AMBIENTAL, 2003). So reas localizadas em fundo de vale, na primeira ou segunda

margem de alagamento (Tucci, 1995). As ocupaes so marcadas por uma trama viria,

desconsiderando uma organizao hidrolgica daquele espao.

O processo de ocupao naquelas reas, pela populao mais pobre, deveu-se aos

seguintes fatores: total falta de alternativa nas pores de terra firme em cotas acima da de

alagamento; pouca valorizao do espao alagado, de um lado; proximidade das

oportunidades de emprego advindas do comrcio, de outro, consorciada pelo dficit

habitacional profundo que permeia a cidade at os dias de hoje. Todos esses elementos

proporcionaram assentamentos ilegais naquele espao da cidade, sem nenhum critrio

urbanstico (Trindade Jnior, 1997).

A questo do uso do solo nos aglomerados urbanos alimenta um dos problemas

sociais mais complexos: a ocupao informal. O crescimento demogrfico nas cidades,

causado por estratgias polticas de consolidao do modelo de desenvolvimento

econmico brasileiro, alavancou o problema a nveis assustadores.

22

Nessa conjuntura, a ocupao informal em terras pblicas e privadas, implementada

pelo movimento organizado ou no dos sem-teto, que no tm acesso moradia, se

consolida como forma de permanecer na cidade de oportunidades, trabalho e infra-

estrutura, combatendo a no-incluso em polticas de habitao emanadas pelo poder

poltico dominante.

H evidncias de que existe uma ligao entre perspectiva de vida e relaes scio-

espaciais para combater a pobreza atravs de mobilizao social, produzindo com o tempo,

proviso de infra-estrutura, observando que o espao produzido informalmente sofre

influncia da confirmao, tanto quanto da localizao na cidade, no que diz respeito sua

assimilao local formal, modificando a vida dos pobres daquele ambiente (Cardoso, no

prelo).

A caracterizao de que o espao pode modelar maneiras de viver, ampliando

perspectivas de vida, demonstra que com todos os problemas para cidade, com destaque

para a questo hidrolgica, o assentamento informal em espao alagado ou alagvel no

sinnimo de marginalidade e, sim, de resistncia de um modelo econmico que leva

pessoas a ocuparem ilegalmente reas ambientalmente frgeis.

O poder pblico props polticas de habitao nas cidades brasileiras, sem procurar

entender a dimenso que a moradia podia trazer para a perspectiva de vida dos mais pobres.

A ocupao informal em stios frgeis, de baixadas, remete anlise de que tal ao pode

ser vista de, no mnimo, mais de um ngulo.

O primeiro ngulo diz respeito populao pobre trabalhadora, que em funo do

fortalecimento do princpio de assimilar o espao urbano como mercadoria pela classe

dominante, no obteve resposta conseqente para a questo da moradia. O segundo o despreparo da gesto pblica em lidar com o fenmeno causado por

ela mesma, que se consagra pela falta de eqidade no lidar com a implantao dos servios

de infra-estrutura (Lima, 2000). Esse fator tem como conseqncia o acrscimo do preo do

solo urbano, criando, assim, um mercado slido e cumulativo de dividendos, o que dificulta

o acesso massa de trabalhadores formal e informal e at mesmo de parcelas da classe

mdia (Cardoso, no prelo).

23

O terceiro elemento a ausncia de viso holstica ou ambiental quanto

importncia de instrumentos para organizar as ocupaes do sistema de drenagem, objeto

fundamental desta pesquisa. Nesse processo, foram se cristalizando vrios obstculos para a hidrologia, advindas

das ocupaes informais, onde existem desde simples moradias das classes mais

desfavorecidas, at complexas edificaes coletivas (edifcios, galpes, empresas), devido

ao processo de consolidao.

Os aspectos fundamentais da relao entre a ocupao urbana, as ruas e o sistema de

drenagem so a despreocupao, pelo poder pblico, com o stio; a conseqente elaborao

de planos distantes da realidade fsica local e, mais precisamente, os problemas na gesto

do espao alagvel. Esses aspectos se referem necessidade de acessibilidade, de promoo

do saneamento, tendo em vista o alto ndice de precipitaes em um espao de pobreza,

forte migrao, ao crescimento populacional e ocupao informal.

O reflexo na cidade da incompatibilidade entre o urbanstico e a hidrologia est em

reas que acumulam as guas provenientes das precipitaes, causando enchentes. Em

Belm, os principais fatores relacionados a esses problemas so a forma como se processou

a ocupao urbana e o grande ndice de pluviometria. Os pontos de fundos de vale foram

intensamente aterrados pelos loteamentos aleatrios. Conseqentemente, do ponto de vista

de diretrizes urbansticas, essas reas perderam suas caractersticas naturais.

Os assentamentos criaram impactos no sistema de drenagem natural, sobretudo

porque foram ocupadas no prprio fundo do vale, causando problemas de escoamento.

Mesmo que pontuais, as intervenes esto ligadas ao estgio de ocupao, consolidao e

distribuio e uso do solo nas bacias hidrogrficas de meio urbano. Um fator preponderante que contribui para o agravamento de problemas nessas

reas a chuva intensa por longos perodos, que traz conseqncias para a acessibilidade e

o saneamento desses ambientes. Entre os problemas mais comuns, podemos citar a falta de

escoamento das guas, provocando acumulao nos pontos mais baixos, que outrora foram

braos de rios e igaraps e at maior acumulao, como o extinto brao de Rio do Baltazar,

na Bacia da Estrada Nova (Sesan, 2004).

Em cidades como Belm e, mais precisamente, na bacia Estrada Nova, objeto de

estudo desta dissertao, as caractersticas mais importantes, alm da reconhecida baixa

24

altitude, so a baixa latitude, o clima quente e mido e a presena de muitos furos e

igaraps naturais, canalizados ou aterrados, como o caso do Baltazar. O ndice

pluviomtrico determina, tambm, a fisiografia da regio (Bastos et al., 2002).

necessrio, portanto, ao definir o sistema virio, seja seu traado, sejam obras de

escoamento pluvial, identificar readequaes para o sistema de drenagem em reas urbanas,

condizentes com medidas de controle hidrolgico da bacia, articulado com a utilizao de

ferramentas de planejamento urbano, visando redefinir um conceito alternativo de via que

identifique impactos na bacia hidrogrfica urbana.

Com o objetivo de encontrar elementos que possam, efetivamente, proporcionar tal

articulao, h de se buscar nos planos de drenagem formas para viabilizar solues

adequadas ocupao urbana, na perspectiva da implementao de um coerente

ordenamento do espao, imbricado com a dinmica hdrica natural e modificada.

A ocupao urbana de Belm, nas reas de cota baixa, provoca a discusso

pertinente de como implementar desenhos urbansticos e infra-estruturais de drenagem, de

forma a garantir coerncia do saneamento ambiental em meio ocupao urbana especfica

de baixada.

A anlise dessas concepes tenta comprovar, atravs de pesquisa, a necessidade de

uma viso mais abrangente. As estruturas de drenagem tornam-se prioritrias e assumem

integralmente o papel de um sistema de saneamento. Nessas condies, prope-se a

utilizao do conceito de via sanitria como contribuio para a articulao entre

urbanstico e saneamento.

Tal conceito, revisto ao longo desta dissertao, alicerado no significado da

funo hidrolgica do fundo de vale, atravs das estruturas de drenagem e viria, criando

uma abordagem emprica. motivado pela possibilidade de identificar a funo da via de

maior receptor de drenagem, buscando uma referncia estrutural viria, caracterstica de

situaes de vias construdas em fundo de vale, as quais absorvem, montante, grande

parte do escoamento das reas do entorno, ao mesmo tempo em que assegurada a funo

urbanstica de acessibilidade de via.

Botelho (1998) elege a rua como base para definir o tipo de escoamento superficial,

tendo suas caractersticas geomtricas longitudinais e transversais utilizadas no projeto para

a possvel liberao dos espaos de fundos de vales e alteraes para a definio de lotes,

25

visto que a dinmica de ocupao impossibilita que um plano urbanstico possa imprimir o

carter global das intervenes. H uma preocupao, pelo autor, quanto forma da

interveno, vinculando-a urbanisticamente ao conhecimento dos fluxos naturais da rea e

sua relao com os outros eventos naturais, tanto em si, como do seu entorno.

Observando o ritmo das ocupaes em reas de fragilidade ambiental em Belm e o

grau de envolvimento das condies naturais nas estratgias espaciais, constatamos a

desigualdade em relao implantao de infra-estrutura e a necessidade de estratgias de

acessibilidade. Tal articulao, atravs da viabilizao de planos especficos relevantes e

apoderados pela sociedade, tenta equilibrar a ocupao intra-urbana (Lima, 2003).

Dessa forma, constri-se o problema de pesquisa, assim colocado: na etapa de

concepo de projetos de infra-estrutura de drenagem como introduzir um conceito de via

em reas ambientalmente frgeis ou de vrzea densificada, na perspectiva de viabilizar, por

um lado, a recuperao da hidrologia do stio tomado do espao urbano, e no outro, que

possa contribuir enquanto vetor de acessibilidade?

A pertinncia da articulao entre o plano urbanstico e o projeto de saneamento

remete percepo das caractersticas naturais do stio e busca do conceito de via

sanitria, levando em considerao o regime pluviomtrico e, ao mesmo tempo, as

condies de acessibilidade, em decorrncia ao arranjo morfolgico urbano. A necessidade

dessa articulao se deve preocupao com os efeitos sanitrios e ambientais.

1.2 - Objetivos

A introduo de uma dimenso conceitual de via sanitria tem a preocupao de

caracterizar a drenagem em espaos densificados, onde se procura, atravs da implantao

de projetos de infra-estrutura, viabilizar uma hidrologia suficiente, reconhecendo a estrutura

viria como parte de um sistema urbanstico ambientalmente equilibrado.

Tem-se, assim, como objetivo geral desta pesquisa, investigar parmetros de

planejamento para a drenagem das bacias hidrogrficas urbanas, em consonncia com o

ordenamento territorial, visando qualidade ambiental dos sistemas urbanos.

Os objetivos especficos so: a) investigar vnculos entre o planejamento urbano e a

hidrologia, de modo a identificar as relaes entre variveis utilizadas para descrever o

26

comportamento ambiental de uma bacia urbanizada e as medidas de controle urbanstico; b)

avaliar a implantao e o funcionamento de vias sanitrias, bem como o funcionamento das

mesmas como componentes do sistema de drenagem, do ponto de vista urbanstico na bacia

da Estrada Nova, em Belm; c) criar, a partir da identificao de interfaces entre

planejamento urbano (mais especificamente, da acessibilidade e a gesto do saneamento),

os critrios para a efetivao de sistemas de saneamento mais eficientes.

Os objetivos da pesquisa procuram demonstrar a importncia da relao entre a

noo urbanstica de via e questes estruturais de saneamento, fundamentadas em

ambientes tpicos de pluviometria elevada, caracterizando grandes caudais que escoam

pelas vias da cidade de Belm.

1.2 - Justificativa

Em Belm, existem aspectos fundamentais no ambiente urbano que permitem

refletir a importncia de associar os ndices urbansticos aos infra-estruturais. A relao

entre esses elementos estabelecida partir de um vis histrico da forma como foram

implantados os sistemas virios e urbansticos e as obras infra-estruturais. Geralmente, o

virio se sobrepe drenagem, o que possibilitou historicamente a implantao de vias sem

drenagem adequada e abrangente ou profunda preocupao com a drenagem da via,

definida como drenagem longitudinal (Pereira, 2004).

Um aspecto relevante, na abordagem de modificao do espao urbano, a questo

dos fatores naturais do ambiente, configurados na bacia por fatores hidrolgicos. A cidade

entrecortada por furos e igaraps, que hoje esto se modificando em grande parte devido

dinmica de crescimento urbano e, sobretudo, em funo da integrao e acesso para o

centro e subcentros urbanos (Lima, 2003).

O outro fator o meteorolgico, cuja significncia no cenrio urbano de Belm e da

bacia elevada, em funo do alto ndice pluviomtrico, caracterizando um regime de

chuvas intensas constantes, alterado apenas em perodos de menor intensidade, com uma

constncia de grandes precipitaes (Bastos et al., 2002). Significa dizer que em Belm, h

uma vazo elevada, geralmente atravs de drenagem profunda em direo aos fundos de

vales, impermeabilizados devido ao uso virio.

27

Durante anos, os aterramentos, sobretudo de miolo de quadra (somatria dos fundos

dos quintais), serviram como tentativa de evitar alagamentos nos lotes, sendo feitos com

pouca orientao do poder pblico.

Nessa linha de anlise, a questo da drenagem urbana caracterizada na bacia da

Estrada Nova, em Belm, por obras improvisadas, principalmente de microdrenagem.

Diante da tentativa de resolver problemas de alagamentos jusante dos canais de

macrodrenagem, os aterramentos so configurados gradativamente nas reas de cota

alagada ou de alagamento.

Assim, os grandes aterramentos foram impulsionados cada vez mais pela

necessidade de projetos comprometidos com a possibilidade de relacionar ndices

urbansticos que busquem introduzir elementos compatveis com a realidade de uma bacia

urbanizada, na qual o vetor urbano estruturou-se, em contraponto com as condies

naturais, tanto pela densidade como pela forma como foi implantada a infra-estrutura dos

sistemas virios e de drenagem.

A possvel gerao de mecanismos de integrao no planejamento urbano caminha

ao encontro do controle urbanstico ambiental, nos grandes aglomerados urbanos

brasileiros. No entanto, o processo lento e gradual: pouqussimas cidades possuem planos

diretores de drenagem urbana, um instrumento orientador das guas superficiais de um

municpio (Tucci, 2000).

Uma das causas da ausncia de planejamento o custo de operao e manuteno

do sistema de drenagem urbana, pois so raras as cidades que possuem sequer cadastro da

rede de drenagem implantada, dificultando o controle e, principalmente, um efetivo

planejamento contra inundaes, eroses, etc. Uma das principais causas desses problemas

, supostamente, a falta de complementaridade entre os fatores hidrolgicos naturais e as

leis urbansticas de uso e ocupao do solo (ABRH, 2000).

Como parte da pesquisa, buscar-se- uma anlise espacial na bacia, a qual possui

uma ampla relao com a hidrologia urbana da cidade, propondo elementos para uma

mudana de concepo, objetivando uma relao mais prxima entre plano urbanstico e

infra-estrutura, sobretudo em reas de ocupao informal, onde os problemas advindos do

crescimento espacial desordenado apresentam disfunes entre a implementao do Plano

Diretor Urbano, os projetos de infra-estrutura e a natureza das ocupaes.

28

Uma das principais causas desses problemas , supostamente, a falta de articulao

entre aes de saneamento e gesto urbanstica. At ento, pouca ou nenhuma a

coordenao entre aes urbansticas e obras de drenagem local, sobretudo nas bacias

urbanas de Belm.

O uso do espao pblico rua, ao ser confrontado com a concepo hidrolgica,

impe uma reviso dos princpios de planejamento virio e de infra-estrutura, uma vez que

o espao pblico tambm reconhecido como local de circulao, socializao e troca. Da,

a necessidade de relacionar projetos de drenagem com determinaes urbansticas contidas

em planos diretores e projetos.

1.4 - Metodologia da pesquisa

A metodologia utilizada na pesquisa aborda a necessidade de relacionar aspectos

urbansticos com sistema de drenagem natural e implantada, atravs da reviso de um

conceito estabelecido para vias pblicas. Os mtodos de pesquisa abrangem trs aspectos

bsicos, a saber:

a) A antiga formao natural do stio, onde prevalecia a formao de crregos, rios e

igaraps;

b) A forma e a intensidade como foram organizadas as pores ocupadas na bacia da

Estrada Nova;

c) As caractersticas fsicas naturais e o resultado das intervenes por meio de

projetos de sistema virio.

1.4.1 - rea objeto da pesquisa de campo

A pesquisa utiliza um estudo de caso. A rea escolhida foi a bacia hidrogrfica

urbana Estrada Nova, por apresentar condies histricas que levam ao enquadramento

para a pesquisa. Primeiramente, sua formao advm da criao de um grande dique

chamado dique da Estrada Nova, criando uma nova dinmica hidrolgica. O segundo ponto

diz respeito aos 13 significativos igaraps que a bacia possua, incluindo o Baltazar, maior

igarap da bacia, e inmeros e pequenos crregos. A terceira condio a pluviometria

elevada, caracterstica de todas as bacias da cidade. O quarto aspecto relaciona a

29

movimentao urbanstica, ou seja, a criao e consolidao das ruas, praas, etc.

modificando, com o passar do tempo, a hidrografia natural do stio, criando endmicos

problemas.

A concepo que orienta a pesquisa pressupe relacionar o sistema de drenagem

de guas pluviais, implantado como um sistema de saneamento, portanto relevante na

tentativa do planejamento das cidades e no equilbrio de reas frgeis de vrzea. A outra

concepo permite observar a viso j consagrada de rua enquanto espao de socializao e

corredor de infra-estrutura (Cardoso, no prelo) e que d suporte para o estudo da

reconceituao de via sanitria, objeto geral da pesquisa.

1.4.2 - Pesquisa bibliogrfica

O trabalho resultado de uma pesquisa bibliogrfica, documental e de campo. A

anlise da bibliografia deteve-se no estudo de sistema de drenagem, comportamento

hidrulico, hidrolgico e meteorolgico de uma bacia urbanizada, alm dos aspectos

urbansticos, atravs de autores que abordam temas como estudo da conceituao de

urbanismo, da densidade urbana e o histrico dos planos diretores no Brasil.

1.4.3 - Pesquisa documental

A pesquisa documental constituiu-se de levantamento em documentos de Leis

Municipais de Uso do Solo, mapas aerofotogramtricos dos anos de 1942, 1973, 1977 e

1998, Plano Diretor Urbano, teses de doutorado em Arquitetura e Urbanismo, alm de

seleo de 15 projetos de drenagem e pavimentao das principais ruas da bacia.

Os mapas de 1942, 1973, 1977 e 1998 possibilitaram a observao das modificaes

da bacia, a qual definiu, com o tempo, novos formatos em decorrncia do processo de uso

do solo atravs da dinmica forma e informal. Essas alteraes ocorreram notadamente nas

reas consagradas pela legislao como no-edificantes como, por exemplo, as reas de

vrzea, rios e igaraps.

Outro elemento que orienta a fundamentao da pesquisa a seleo de 15 projetos

de drenagem e pavimentao das principais vias da bacia, que serviu de base para analisar,

30

a partir da observao em campo, a concordncia com o projeto e as condies de

funcionamento do sistema hidrolgico.

A anlise das leis permitiu conhecer o planejamento virio do Municpio de Belm

atravs das leis e, sobretudo entender as diferenas entre zonas de uso do solo e

hierarquizao viria. O Plano Diretor Urbano - PDU serviu de suporte para a leitura das

normas legais, pois a Lei de Uso de 1999 apresenta, por exemplo, esse plano.

1.4.4 - Pesquisa de campo

A pesquisa de campo, a partir da pesquisa bibliogrfica, foi realizada considerando

dois aspectos. O primeiro, atravs dos 15 projetos citados na pesquisa documental, se

constituiu de levantamentos topogrficos e visitas nas reas que efetivamente sofreram as

intervenes baseadas nos projetos. Esse levantamento baseou-se na medio de

comprimento e largura de vias e dados hidrolgicos, como dimetros da tubulao

implantada a partir dos projetos, as cotas altimtricas obtidas atravs dos levantamentos

altimtricos e singularidades (poos de visitas e bocas de lobo).

O segundo aspecto da pesquisa de campo se consistiu de entrevistas a trs gestores

municipais de saneamento e dois projetistas. Eles foram os principais autores de todos os

projetos implantados na Bacia da Estrada Nova, somando-se mais de 10 km de rede

implantada, executados na bacia durante cerca de 30 anos de gesto pblica na bacia

hidrogrfica urbana Estrada Nova.

Um tringulo compreendido pelas Avenidas Roberto Camelier, Fernando Guilhon e

Bernardo Sayo tornou possvel a observao de algumas mudanas e a comparao das

pocas de 1942 a 1973 com a de 1998.

A pesquisa de campo foi baseada na cartografia existente e permitiu avaliar

caractersticas fsicas como: mudanas das reas de alagamento dos canais contribuintes na

bacia e tamanho dos talvegues, alm da influncia em funo dos rearranjos urbansticos. O

enquadramento, atravs de suas dimenses e configuraes, do tipo de bacia hidrogrfica

urbana definida na literatura brasileira, foi outro parmetro utilizado na pesquisa.

Foram realizadas entrevistas com os ex-secretrios da Sesan/PMB: os engenheiros

Luiz Otvio Mota Pereira, Wadir Honcy e Cndido Arajo Filho, e com os tcnicos: o

31

engenheiro Eduirbe Castro de Arajo e o topgrafo Vital Lins. Essas entrevistas tiveram a

finalidade de avaliar a compatibilidade entre estruturao urbanstica e planos de infra-

estrutura de drenagem.

Preocupaes quanto integrao dos sistemas de drenagem em funo dos

problemas de alagamentos montante das intervenes, forma como o poder pblico

lidava com as remoes na rea de implantao dos projetos e o que significava o termo via

sanitria para os ex-gestores da secretaria de saneamento, que participaram de

significativas modificaes na bacia, foram pontos fundamentais nas entrevistas realizadas,

cujos roteiros seguem anexos dissertao.

1.4.5 - Anlise

O estudo da reconceituao do termo via sanitria foi baseado a partir dos

elementos citados no trabalho como pluviometria elevada e, conseqentemente, a conduo

de grandes caudais jusante; histrico da hidrografia (configurao dos crregos e igaraps

a partir de 1942); aspectos urbansticos como comprimento, largura e hierarquia viria das

vias selecionadas na mapoteca do municpio. Esses aspectos foram considerados a partir

dos mapas e leis municipais. O sistema de drenagem, colocado em cada rua, avaliando as

cotas e pontos de alagamentos, foi outro aspecto observado na pesquisa.

Para avanar ao ponto importante de viabilizar a anlise para, enfim, relacionar

esses aspectos, os mapas aerofotogramtricos citados foram cotejados, verificando as

mudanas no que se refere ocupao, s cotas altimtricas e hidrografia. A partir do

aerofotogramtrico de 1998, foram organizados mapas da rede de drenagem da bacia,

conjugando todas as intervenes e informaes como: grau de impermeabilizao da

bacia, toda a rede projetada e implantada nos ltimos 30 anos, alm do dimetro e da

declividade de cada trecho estudado, pontos de alagamentos e a estruturao das sub-bacias

de drenagem, considerando as modificaes ocorridas na bacia.

As hierarquizaes virias das leis municipais de 1988 e 1999 serviram de base para

relacionar as funes capacidade hidrulica das vias. Pressupe-se uma vinculao dessas

hierarquizaes a um reconceito das vias a partir de uma anlise da hidrografia e da

32

intensidade pluviomtrica de uma bacia urbana, buscando uma concepo mais atualizada

de bacia hidrogrfica urbana.

1.5 - Estrutura da dissertao

Este trabalho apresenta cinco Captulos e se inicia com a discusso do comportamento hidrolgico das bacias urbanas. Aborda, entre outros aspectos, o conceito e

as caractersticas de uma bacia hidrogrfica urbana, as medidas de precipitao, o balano

hdrico da bacia hidrogrfica urbana e o sistema de drenagem urbana.

O segundo Captulo apresenta uma reviso bibliogrfica sobre as bacias urbanas,

incluindo escoamento superficial, implantao de redes de drenagem, precipitao mxima,

entre outros aspectos.

O terceiro Captulo aborda a relao histrica dos planos de cidades e as polticas de

infra-estrutura. Traz um levantamento das concepes que determinaram historicamente a

organizao espacial, o sistema virio e o desenvolvimento econmico das cidades

brasileiras, em especial, do Municpio de Belm.

O quarto Captulo apresenta a localizao, a caracterizao e a estrutura da Bacia da

Estrada Nova. Aborda a situao hidrolgica da bacia nos anos 1940 a 1973 e atualmente,

relacionando os indicadores sociais, as situaes urbansticas e as intervenes nelas

realizadas. Finaliza, apresentando um quadro das vias estudadas.

Na Concluso, este trabalho apresenta o conceito reconsiderado de via sanitria na

Bacia da Estrada Nova, a partir da anlise histrica das intervenes pblicas.

33

Captulo II - Comportamento hidrolgico das bacias urbanas 2.1 - Aspectos gerais da hidrologia e sua relao com a drenagem urbana

O aumento da concentrao humana nas cidades criou o desafio de solucionar

satisfatoriamente os problemas do uso desordenado do solo urbano, cristalizados nas

ocupaes em reas frgeis, sobretudo em ambientes hdricos como bacias urbanas, onde

predominam interferncias no movimento natural das guas provenientes das chuvas intensas.

Esse fenmeno demogrfico traz incmodos, tanto ao poder pblico, enquanto agente

de planejamento urbano, ao ambiente de vrzea, pela sua natureza crtica ambiental, e ao

prprio muncipe, devido relao natural de causa e efeito.

Por se tratarem de reas urbanas, o desafio para a gesto do municpio articular o

controle dos problemas decorrentes do acmulo de gua ao ordenamento do espao da cidade,

para controlar seu uso e ocupao, isso tudo vinculado densidade adequada para as funes

urbanas.

Esses problemas de ocupaes levaram estudiosos de vrios pases da Europa e dos

Estados Unidos a rever a definio dos termos hidrologia e drenagem urbana nas cidades,

aperfeioando conceitos em funo da relao com o crescimento das cidades. Os conceitos

criados naqueles pases apresentavam uma abordagem cientfica e, sobretudo ambiental,

incentivando uma viso de carter holstico de uma bacia hidrogrfica. Tal processo se

desenvolveu a partir da evoluo da tecnologia, na qual as observaes atravs de satlites e

modelos simulando eventos hidrolgicos naturais so smbolos mais latentes e as respostas

passaram a ter leituras multidisciplinares (Silveira, 2000).

Do ponto de vista semntico, segundo o dicionrio Larousse (2004), hidrologia

cincia que trata das propriedades mecnicas, fsicas e qumicas das guas martimas e

continentais. Drenagem, por sua vez, denomina-se a sada natural ou auxiliada por drenos,

da gua existente em um solo; conjunto de procedimentos e operaes realizadas para facilitar

a sada dessa gua.

Essas definies apresentam um carter complementar em funo da necessidade de

entender o fenmeno a partir, tambm, da drenagem natural de uma bacia. Entretanto, para

introduzir uma nova abordagem, o termo drenagem foi visto por aqueles pases como aes

34

estruturais em que no havia preocupaes com a bacia na sua totalidade. A dimenso da

interveno era limitada e geralmente movimentava um alto volume de recursos ao errio.

Como conseqncia, os problemas de alagamentos nos trechos crticos (baixos) jusante da

obra de drenagem transferiram o alagamento de um ponto para outro na bacia (Tucci, 1995).

No fim dos anos de 1960, foi percebida a importncia do entendimento dos

fenmenos climticos e meteorolgicos, em funo dos efeitos sobre a cidade, principalmente

em relao a seus processos de ocupao no solo ou hidrologia urbana (Silveira, 2000).

A partir de ento, nos E.U.A. e inmeros pases da Europa, drenagem urbana passou a

ser definida a partir de um planejamento da bacia, existindo, assim, uma relao entre as

aes estruturais (construes de galerias, poos de visita, etc.) e no-estruturais (leis,

zoneamentos, mudanas de traado virio, etc.). Com um amplo conhecimento histrico da

hidrologia da bacia, h diminuio sensvel dos problemas originados das chuvas mximas,

sobretudo os financeiros (Tucci, 1995).

Essa situao levou a concepo de drenagem urbana, desenvolvida no Brasil at os

anos de 1980, a ser vista criticamente pela nova gerao de hidrlogos, gegrafos e

sanitaristas como solues pontuais (Silveira, 2000). A crtica corroborava a nova viso dos

pases desenvolvidos e se embasava em uma viso reducionista de interveno espacial no

que se refere ao controle das guas na bacia urbana, limitando-se apenas construo de

equipamentos de drenagem para dar suporte s obras virias.

2.2 - Bacia hidrogrfica

2.2.1 Aspectos gerais

A bacia hidrogrfica pode ser definida como um sistema hdrico no qual a drenagem

feita a partir da converso, por diferena de cota, de toda a massa lquida para um nico

ponto, chamado enxutrio, seguindo para um rio, mar ou oceano, como ponto final de

desge (ABRH, 2000).

Bacia hidrogrfica pode ser definida tambm como um conjunto de reas que, em

funo da relao entre nveis ou cotas, drenam seus afluentes para um ponto de nvel mais

baixo entre elas. Tambm pode ser definida por uma rea fechada topograficamente em um

ponto cuja vazo dimensionada atravs desse mesmo ponto (Garcez & Alvarez, 1999).

A Figura 1 exemplifica uma bacia hidrogrfica, na qual observa-se o sistema e sua

tendncia a um nico ponto por diferena de cota.

35

Figura 1 - Bacia hidrogrfica.

Fonte: Agncia Nacional de guas ANA, 2004.

As caractersticas topogrficas definem cada bacia, criando seu carter nico. Alguns

aspectos extrados so relevantes para o estudo do comportamento de uma bacia hidrogrfica

rural ou urbana. Esses aspectos tm relao direta com a diferena de nvel na malha

hidrolgica ou sua altimetria, proporcionando elementos que permitem calcular a distribuio

da bacia por nveis de altitude, da distribuio do escoamento superficial e subterrneo.

Agregada fisiografia, a bacia hidrogrfica ajuda a traduzir algumas informaes

importantes, como o volume em funo do tempo ou vazo, a velocidade, etc.

As bacias urbanas brasileiras, devido aos problemas de gesto da sua malha hdrica

natural, esto alterando suas caractersticas. A questo natural da cobertura vegetal, relevo,

aspectos caractersticos de geologia, geomorfologia, topografia, topologia, etc. esto em

processo de modificaes, devido s necessidades do uso e ocupao desses espaos para

outras atividades (Silveira, 2000).

As bacias hidrogrficas apresentam caractersticas diversas, tanto do ponto de vista

quantitativo como qualitativo. A relao dos eventos precipitao e escoamento, em funo

do tempo, caracterizam as bacias em relao aos efeitos de mudanas em sua dinmica.

Existe uma combinao de toda a hidrografia da bacia com o ciclo hidrolgico, quando se

relaciona a precipitao.

O ciclo hidrolgico pode ser definido como um balano de massa de gua nos estados

lquido e gasoso, que atravs das mudanas de temperatura, interagem com a hidrografia da

36

bacia no decurso da evaporao, transpirao das plantas, precipitao, infiltrao e

escoamento superficial. Assim, a precipitao ou a chuva e o escoamento superficial, ou seja,

a relao entre a quantidade total precipitada e escoada pela seo considerada ou enxutrio

da bacia (Garcez & Alvarez, 1999), so fundamentais para a definio da hidrografia da bacia.

A Figura 2 representa esquematicamente o processo do balano hdrico, em funo do

ciclo hidrolgico em bacias hidrogrficas.

Figura 2 Demonstrao de um ciclo hidrolgico. Fonte: . Acessado em 15 de janeiro de 2004.

No que se refere influencia de precipitaes intensas nas bacias, as precipitaes, de

modo geral, podem ser descritas como um fenmeno no qual, devido concentrao de gua

na atmosfera em forma de vapor, ao receber influncia de temperatura, condensa-se para

outros estados. Este estudo trata do estado lquido que, em certas condies, precipita-se

sobre uma determinada rea, em forma de chuva.

Existem trs tipos de chuvas, em funo da maneira com que a temperatura se

expressa na atmosfera: frontais, orogrficas e convectivas (Zahed & Marcellini, 2000). As

frontais e orogrficas, pelas suas caractersticas, fogem do escopo deste trabalho em funo de

a primeira estar relacionada com bacias de grandes reas de contribuies e a segunda receber

precipitaes de grande durao, respectivamente.

As chuvas convectivas ou de conveco trmica podem ser definidas como a ascenso

brusca de uma quantidade de massa de ar aquecido, devido a sua proximidade com o solo, que

recebeu incidncia de raios solares, o que resulta uma rpida subida do vapor dgua

aquecido. Esse movimento promove um forte resfriamento das massas de ar, que se

condensam, originando nuvens e precipitaes intensas.

http://ge%C3%B3logo.com.br.htm/

37

A chuva convectiva, para os especialistas (engenheiros, hidrlogos, etc.), o evento

mais importante e corroborada por muitos estudiosos em hidrologia, porque apresenta

grande intensidade, pouca durao e picos de altura pluviomtrica elevada, caracterizando

chuvas intensas (Garcez & Alvarez, 1999). Atravs dela e do escoamento superficial

originado, projetam-se solues de drenagem para a convivncia e controle de suas

conseqncias em pequenas bacias hidrogrficas urbanas.

2.3 - Definio de bacia em rea urbana 2.3.1 - Mtodo racional

Para pesquisar o desempenho da drenagem de uma bacia hidrogrfica urbana, a partir

de uma precipitao intensa, avaliando a chuva efetiva e escoamento superficial direto,

necessrio distinguir uma pequena, mdia e grande bacia hidrogrfica. A definio est

relacionada ao mtodo de obteno dessas variveis.

Existem duas consagradas abordagens na literatura tcnica, quando se trata de

hidrologia urbana: o mtodo racional e o hidrograma unitrio (Porto, 1995). Sua

aplicabilidade est vinculada rea de drenagem da bacia e s hipteses de situaes

adequadas para um determinado fim.

O mtodo da teoria do hidrograma unitrio est relacionado ao clculo de parmetros,

como chuva efetiva, vazo, rea de contribuio, etc., de mdias e grandes bacias

hidrogrficas.

O mtodo racional adequado para bacias pequenas e observa-se que no h muita

clareza sobre seu uso adequado. A definio do tamanho da superfcie de uma bacia

hidrogrfica , via de regra, imprecisa, em funo dos dados naturais do seu comportamento

(Tucci, 2000).

O DAEE/Cetesb (1980) afirma que no possvel utilizar o mtodo para bacias acima

de 1 km2. J Azevedo Neto (1991) valida o mtodo at 1,5 km2. Diferentemente, Bastos

(1999) prope um dimensionamento de rede de drenagem pelo mtodo racional de bacias

hidrogrficas de at 5 km2. Porto et al. (2000) prope, para a validade desse mtodo inferior a

2,5 km2.

No entanto, entre os autores supracitados, o consenso sobre o que pode ser uma

pequena bacia de drenagem o tempo de concentrao do caudal na bacia, que deve ser de,

no mximo, 1 hora.

38

Os critrios que possibilitam o uso do mtodo racional para o clculo da vazo de pico

de uma bacia urbana, e que levam a crer que ela encontra-se nessa faixa de superfcie, variam

de 1 a 5 km2. Eles podem, definitivamente, caracterizar uma bacia pequena. O DAEE/Cetesb

(1980) e Porto (1995) apontam caractersticas para a definio do uso do mtodo racional em

bacias hidrogrficas urbanas:

a) A chuva efetiva considerada uniformemente distribuda no tempo e no espao;

b) O escoamento superficial exclusivo de superfcies e no privilegia interfaces com outras

estratificaes;

c) O armazenamento ou amortecimento de vazes no processo desprezvel;

d) O tempo de concentrao do caudal na bacia igual ao tempo de permanncia da chuva na

bacia.

2.3.1.1 - Tempo de recorrncia

A hidrologia urbana, quando se refere a pequenas bacias cuja base de anlise

realizada atravs do mtodo racional, associa o tempo de retorno ou de recorrncia a projeto

de drenagem urbana. Independente da proposta de implantao de drenagem artificial, o

tempo de retorno traduz a probabilidade de uma determinada precipitao, que ser igualada

ou superada. O perodo de recorrncia definido em anos nos quais, provavelmente, um

determinado fenmeno pluvial se repetir ou ser superado pelo menos uma vez, nessa faixa

temporal, determinada pelo tipo de escoamento.

Em se tratando de obra de drenagem, tal fator assume aspectos que vo alm das

anlises de fenmenos naturais. A escolha do perodo de recorrncia tem relao direta com

aspectos econmicos e sociais, que se traduzem em custos de intervenes e tamanho do

empreendimento.

Essa varivel responsvel, em parte, por vrios problemas enfrentados nas bacias

urbanas, pois como o grau de interferncia est diretamente ligado ao tempo de retorno ou

recorrncia, por vezes, se sub-dimensiona uma ao estrutural para no onerar os cofres

pblicos. Esse fator tambm causa o agravamento de problemas, sobretudo do ponto de vista

hidrolgico, como por exemplo, a ocupao em reas de importncia para o escoamento de

uma sub-bacia de contribuio ou ocupao nos canais receptores da drenagem urbana

(Botelho, 1998).

39

No Brasil, a comunidade tcnico-cientfica, atravs de muitas entidades ligadas ao

setor de drenagem urbana, fixa perodos de retorno que orientam grande parte dos projetos,

conforme Tabela 1 (Porto, 1995):

Tabela 1 - Perodos de retorno para diferentes ocupaes da rea.

Tipo de obra Tipo de ocupao da rea T (anos)

Microdrenagem Residencial 2

Microdrenagem Comercial 5

Microdrenagem reas com edifcios de servios ao pblico 5

Microdrenagem Aeroportos 2-5

Microdrenagem reas comerciais e artrias de trfego 5-10

Macrodrenagem reas comerciais e residenciais 50-100

Macrodrenagem rea de importncia especfica 500 Fonte: Associao Brasileira de Recursos Hdricos ABRH, 1995.

2.3.1.2 - Tempo de concentrao

Alguns elementos so significativos para definir os pressupostos de uso do mtodo

racional, ou seja, a afirmao de que o tempo de concentrao na bacia igual ao tempo de

durao da chuva efetiva, pois ele essencial para conferir pequena bacia de drenagem as

condies para o clculo dos parmetros (vazo, velocidade, etc.) que permitam elaborar

planos de drenagem com relativa eficincia.

O tempo de concentrao em uma bacia hidrogrfica urbana pode ser definido,

juntamente com o coeficiente de escoamento superficial C, como os mais importantes para

a caracterizao do mtodo de avaliao do desempenho de uma bacia urbana (Porto,

1995).Como a intensidade inversamente proporcional durao da chuva efetiva, o seu

valor mximo corresponde menor durao, para a qual a contribuio mxima (Bastos,

1999).

H diversas maneiras de calcular o tempo de concentrao, desde as frmulas

empricas,em funo das caractersticas da bacia (rea, declividade, comprimento do talvegue,

rugosidade das superfcies, etc.), at a mxima aproximao das condies que as geraram

(Porto et al. 2000). Outros clculos so as equaes da hidrulica, com um certo carter de

40

legalidade mais geral, como da onda cinemtica (Azevedo Neto, 1991). Essa equao pode

ser descrita:

Tc = L/V;

Tc = tempo de concentrao

L = comprimento do trecho homogneo em m

V = velocidade de escoamento do trecho em m/s.

O tempo de concentrao na bacia necessrio para que toda a contribuio para a seo

seja considerada. Ela formada por tempo inicial (ti) ou tempo percorrido de um ponto mais

desfavorvel da bacia at a primeira referncia considerada, e o tempo (tt), chamado de

translao ou tempo de percurso na prpria rede de drenagem (bueiros, galerias e canais).

2.3.1.3 - Elementos que compem o clculo da vazo Q

A descrio das variveis na frmula do mtodo racional, defendida por Porto et al.

(2000), Azevedo Neto (1991), Bastos (1999), Botelho (1998) e DAEE/Cetesb (1980), no

apresentam divergncias entre os elementos que compem a frmula, por isso sero descritos

abaixo, como um compndio consensual, baseado nos estudiosos citados anteriormente.

Intensidade pluviomtrica I

A intensidade pluviomtrica "i" representa a chuva efetiva sobre uma determinada rea

na unidade de tempo, relacionada leitura pluviomtrica medida por sua altura, o que conduz,

para a expresso do mtodo racional, adoo desse valor em mm/h.b

Esse parmetro de clculo, segundo Bastos (1999), possui importncia fundamental

para a quantificao do escoamento a partir da chuva que lhe deu origem, pois traduz a

variao da altura da precipitao em funo da durao do tempo e do perodo de retorno,

cuja vinculao ao tipo de rea drenada pode ser encontrada na dimenso da micro ou da

macrodrenagem.

Sobre esse fato, Bastos (1999) tambm afirma: Qualquer que seja a expresso da chuva de uma regio, a intensidade pluviomtrica leva

sempre em considerao dois princpios fundamentais: a) a chuva ser mais intensa quanto menor seja sua durao; b) quanto mais rara for a chuva, maior ser sua intensidade. Esses dois princpios refletem os mais fortes condicionantes que interferem nas relaes intensidade pluviomtrica/durao/perodo de recorrncia, demonstrando ser aquela intensidade inversamente proporcional durao e diretamente proporcional ao perodo de recorrncia.

41

Dessa forma, a chuva mxima de projeto a ser utilizada na definio da descarga ser

aquela para a qual se determinou uma durao "t", que corresponda a um perodo de

recorrncia T. Usualmente, considera-se, nos sistemas urbanos de microdrenagem, a chuva de

freqncia de 2 anos na Tabela 1, ou seja, aquela determinada para o perodo de recorrncia

de 2 anos. No caso de canais de macrodrenagem, comum a adoo do perodo de 50 anos,

sendo, entretanto, bastante variados os valores adotados.

Coeficiente de escoamento superficial C

O coeficiente de escoamento superficial "C" , sem dvida, o parmetro de clculo de

mais completa definio entre todos os outros envolvidos pela determinao da vazo de pico,

atravs do mtodo racional. Na definio de bacia pequena, em que se adequam todos os

princpios, tempo de concentrao igual da chuva efetiva e armazenamento desprezvel,

o coeficiente C exprime a parcela da chuva total que se transformou em escoamento

superficial (Bastos, 1999).

Considerando uma diversidade de tipos de solos no clculo da vazo, nas diversas

reas de contribuio, necessrio um coeficiente de escoamento superficial mdio (Porto,

1995), que pode ser representado por:

C = 1 C i . A i , onde

A

C = coeficiente de escoamento superficial mdio;

Ci = coeficientes de escoamentos superficiais caractersticos para cada uma das reas

de contribuio envolvidas;

Ai = rea de cada superfcie individualizada pelos coeficientes de escoamento Ci.

A = rea total da bacia.

Os valores usualmente adotados para C esto apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - Valores dos coeficientes de escoamento superficial direto "C".

OCUPAO DO SOLO

VALORES "C"

DE EDIFICAO MUITO DENSA: partes centrais, densamente construdas de uma cidade com rua e caladas pavimentadas.

0,70 A 0,95

DE EDIFICAO NO MUITO DENSA: Partes adjacentes ao centro, de menor densidade de habitaes, mas com ruas e caladas pavimentadas.

0,60 - 0,70

42

DE EDIFICAO E COM POUCAS SUPERFCIES LIVRES: partes residenciais com construes cerradas, ruas pavimentadas.

0,50 - 0,60

DE EDIFICAO COM MUITAS SUPERFCIES LIVRES: partes residenciais com ruas pavimentadas, mas com muitas reas verdes.

0,25 a 0,50

DE SUBRBIOS COM ALGUMA EDIFICAO: parte de arrabaldes e subrbios com pequena densidade de construes.

0,10 a 0,25

DE MATAS, PARQUES E CAMPOS DE ESPORTES: partes rurais, reas verdes, superfcies arborizadas, parques ajardinados e campos de esporte sem pavimentao.

0,05 a 0,20

Fonte: Porto (2000). 2.3.1.4 Equaes para o clculo da vazo Q

A descrio das tcnicas e fundamentos de clculos de pequenas bacias urbanas,

atravs dos mtodos racionais para dimensionamento da vazo, seguem a mesma orientao

do item anterior (2.3.1.3) e sero, assim, apresentados consensualmente.

Para o dimensionamento hidrulico, surge como primeiro parmetro a ser definido, a

descarga da bacia, denominada pela vazo afluente, cuja avaliao se faz quase sempre por

via indireta.

A razo, para que sejam adotados procedimentos indiretos na definio da vazo

afluente, decorre do fato de ela ser o resultado do escoamento das precipitaes referidas das

pequenas bacias contribuintes que, por suas dimenses e durao, no permitem leituras

diretas de descarga.

Com a finalidade de se quantificar o escoamento, definido atravs da descarga de

projeto, adota-se o modelo de clculo que permite estabelecer a relao de causa e efeito entre

a descarga e a precipitao que lhe deu origem.

Segundo Azevedo Neto (1991), a frmula matemtica que expressa o mtodo racional

descrita da seguinte maneira:

Q = C.I. A.

Sendo Q a vazo de pico em m3/s; C = coeficiente adimensional relacionado com a

parcela da chuva total que se transforma em chuva efetiva; I = intensidade mdia da chuva em

mm/hora, que no mtodo racional considerada constante e A = rea da bacia em km2.

43

Equao da chuva

As equaes de chuva so sistematizaes de sries histricas da relao entre

intensidade, durao e freqncia das precipitaes, as quais permitem sua representao na

forma de equaes. Basicamente, so duas as expresses que definem a chuva de projeto,

comumente utilizada em projetos (Azevedo Neto, 1991).

Equaes com a forma geral:

i = a . Tn , onde (t + b )m i = intensidade pluviomtrica em mm/h;

a, b, m e n = parmetros locais;

t = durao de precipitao em minutos;

T = perodo de recorrncia em anos.

A equao possui parmetros peculiares relacionados a cada posto pluviomtrico,

correspondente srie histrica de cada local medido. Os parmetros locais a, b, m e n

diferenciam as equaes, impossibilitando o uso em outra rea. Algumas expresses so

exemplificadas abaixo, incluindo a do Municpio de Belm:

a) Para Curitiba, do engenheiro Pedro Viriato Parigot de Souza: i = 5950 . T 0,217 (t + 26) 1,15 b) Para So Paulo, do engenheiro Paulo Sampaio Wilken:

i = 3468,7 . T 0,172 ( t + 22) 1,025

c) Para o Rio de Janeiro, do engenheiro Ulisses Alcntara; i = 1239 . T 0,15

(t + 20) 0,74

d) Para Belm, a Prefeitura Municipal estabeleceu a seguinte expresso: i = 2300 . T 0,20 (t + 20) 0,91

44

Entretanto, por terem sido desenvolvidas para uma quantidade maior de postos

pluviogrficos, desde 1960, essas equaes foram preferencialmente utilizadas pelo extinto

DNOS (DAEE/Cetesb, 1980), o qual apresenta a frmula geral:

i = K ( a.t + b .log (1+ c.t)), onde t

i = intensidade pluviomtrica em mm/h;

t = durao em h;

a, b, c = parmetros definidos para cada um postos pluviogrficos;

K = fator de probabilidade, dado por:

K = T +

T

T = perodo de recorrncia em anos;

= parmetro dependente da durao t;

= parmetro varivel com t e oposto considerado;

= 0,25

2.4 - Mtodo do hidrograma unitrio

O mtodo aplicado em bacias mdias e grandes, nas quais os fundamentos que se

baseiam na teoria do mtodo racional no podem ser usados, pois suas solues tornam-se

incuas. Porto (1995) demonstra abaixo as fragilidades do mtodo racional, quando se trata de

bacias consideradas mdias ou grandes:

a) No possvel admitir a hiptese de intensidade constante da chuva, ao longo de sua

durao, pois, medida que a durao da precipitao de projeto aumenta, essa

hiptese torna-se menos vivel, em funo da variabilidade da intensidade da

precipitao na prpria bacia;

b) A hiptese de inexistncia de armazenamento na bacia admitida no mtodo racional

passa a ser pouco realista.

45

2.5 Influncia da densidade urbana nas bacias hidrogrficas

As bacias urbanas ou bacias com grandes aglomerados urbanos apresentam

caractersticas que comprometem uma simples avaliao das relaes meteorolgicas entre

chuva, escoamento superficial e acumulao dos caudais (Silveira, 2000).

No interior das bacias hidrogrficas urbanas, em funo dos problemas sociais de

moradia, houve necessidade de espao para o uso do solo nas cidades, o que levou ocupao

de terras ngremes e reas de vrzea. A Figura 3 relaciona o aumento das vazes, quando h

influncia das mudanas no solo pelo processo de impermeabilizao, tanto pblico, quanto

privado na bacia do Arroio Dilvio na cidade de Porto Alegre no Estado do Rio Grande do

Sul..

Figura 3 Aumento das vazes em relao s mudanas no solo.

Fonte: Tucci, 1995.

As conseqncias desse aumento das vazes so os problemas decorrentes do

crescimento de construes que modificaram o microclima e, ao expandir as reas

impermeveis que, consorciadas s precipitaes intensas, levam ao aumento dos picos de

46

vazes e causam extravasamentos dos canais receptores, devido reduo do tempo de

concentrao (Porto, 1995), resultando em problemas de alagamentos.

Quando os projetos de drenagem executados at os anos 1980, no Brasil, so

submetidos avaliao, percebe-se o baixo nvel de evoluo dos estudos entre os efeitos dos

processos de urbanizao (Tucci, 2000). O reconhecimento de anlises a partir da dinmica de

uso e ocupao relacionada com os efeitos de uma precipitao intensa, com todos os

parmetros envolvidos, vai desde o coeficiente de impermeabilizao, que a relao entre a

rea total da bacia e a rea impermeabilizada (pblica e privada), a avaliao da chuva de

projeto dentro da dinmica de uso da rede de drenagem, a relao entre durao, intensidade e

freqncia, a vazo, a rea de contribuio, etc.

2.5.1 - Hietograma e hidrograma

O hietograma o grfico quantitativo da chuva efetiva ou excedente em relao ao

tempo. O hietograma ou chuva efetiva ou hexc , pode ser analisado luz de duas abordagens

para o seu clculo, evidenciadas por Porto (1995). Uma, calculada atravs de relaes com

determinadas funes que levam em conta o total precipitado, por exemplo, o tipo de solo,

ocupao do solo, umidade antes da precipitao, etc.

hexc= F(P, TS, OS, UA....) hexc = chuva excedente; P = total precipitado (mm); TS = tipo de solo; UA= umidade

antecedente.

Esses parmetros esto relacionados precipitao total e sua interao d origem

resultante denominada de chuva efetiva. Eles so determinados de forma emprica e,

conseqentemente, necessitam de condies adequadas para seu resultado. Os mtodos de

clculos dos parmetros mais utilizados so do nmero da curva do Soil Conservation Service

SCS e o mtodo do coeficiente de escoamento superficial C, utilizado para o clculo das

vazes de pico do mtodo racional (Porto, 1995).

A outra abordagem do hietograma est relacionada com o clculo das perdas por

infiltrao, interceptao, reteno e outras. Esse mtodo pode ser representado da seguinte

forma:

hexc = P - hperdas

hperdas = perdas totais provenientes dos processos relacionados com infiltrao,

interceptao e outras.

47

Hidrograma a transformao do escoamento em superfcie do hietograma ou

precipitao efetiva, dando origem a uma vazo que, em funo do tempo, formata um outro

grfico que caracteriza tal vazo.

A Figura 4 caracteriza dois escoamentos superficiais que demonstram a diferena

quantitativa entre uma bacia rural e uma urbanizada. A bacia urbanizada apresenta um maior

pico de vazes em funo do aumento do escoamento proveniente do aumento de reas

impermeabilizadas na bacia, conforme demonstra a Figura 4.

Figura 4 - Comparao entre hidrogramas de reas urbanizadas e reas no-urbanizadas.

Fonte: Tucci, 1995.

Porto (1995) relaciona trs aspectos fundamentais que fazem parte do hidrograma: o

primeiro chamado de ascenso, relacionado com a intensidade da precipitao; a regio de

pico, rea prxima ao valor mximo, na qual, a partir desta, o hidrograma comea a mudar de

inflexo, influenciado pela falta de alimentao proveniente da diminuio da chuva ou

atravs do amortecimento, devido intermediao da bacia de acumulao; por ltimo, temos

a recesso, quando ultrapassado o pico, significando o fim da precipitao e do escoamento,

quando permanece apenas o escoamento subterrneo.

2.5.2 - Escoamento superficial

A importncia do escoamento superficial em contexto de bacia hidrogrfica urbana

requer maiores atenes em funo das mudanas nos desenhos das cidades que sofreram o

processo de urbanizao. Essas modificaes podem ser refletidas nas preocupaes da forma

48

mais conseqente de elaborar projetos de drenagem urbana condizentes com uma conjuntura

na qual o espao pblico torna-se mais exguo e as reas privadas cada vez mais densas.

Alguns parmetros de projetos como chuva de projeto, vazo de pico, rea de

contribuio, nvel de impermeabilizao, tempo de retorno, tempo de concentrao,

hidrologia geral da bacia e escoamento superficial merecem cuidados quanto influncia dos

aspectos de densidade e uso descontrolado de reas pblicas.

O escoamento superficial canaliza as maiores anlises por ser um dos aspectos

fundamentais no comportamento hidrolgico e que, atravs dele, aspectos dos outros

parmetros so avaliados, principalmente em relao ao balano hdrico em bacias

urbanizadas e as mudanas, em funo do aumento de reas impermeveis.

2.5.2.1 - Metodologia de anlise de um escoamento superficial

No balano hdrico de uma determinada precipitao em uma bacia hidrogrfica, a

chuva excedente ou efetiva o resultante das perdas por evaporao, retenes em depresses

e infiltrao. Ela a parcela que d origem ao escoamento superficial (Porto, 1995).

Assim, a partir da precipitao chuva excedente, define-se o escoamento superficial

direto, que nada mais do que a parcela da precipitao total, que escoa pelo solo e que

torna-se mais densa rumo s partes mais baixas da bacia, finalizando nos rios e mares. Esse

tipo de dinmica o maior responsvel pelas vazes de cheia, sobretudo em pequenas bacias

(Porto, 1995).

Em bacias altamente urbanizadas, esse processo est bastante modificado devido s

variaes com o tempo da superfcie, que em dinmica ascendente, impermeabiliza-se em

funo do processo de ocupao. Essas variaes ocasionam o aumento da chuva efetiva na

ordem de 300% a 400% e conseqentes problemas de enchentes e alagamentos devido aos

obstculos impostos ao escoamento de montante e mudanas no comportamento dos canais

receptores pela abreviao de picos de vazo, causando os mais diversos problemas sociais e

econmicos.

49

2.6 - Drenagem urbana

No Brasil, a dinmica das populaes preocupa gestores e planejadores urbanos, pois a

concentrao migratria se apresenta nas reas metropolitanas, principalmente nas cidades

circunvizinhas das capitais brasileiras.

O crescimento acelerado dos aglomerados urbanos desencadeia vetores de ocupaes

prejudiciais drenagem natural da cidade. Do ponto de vista geral, numa primeira ordem, os

assentamentos acontecem em locais com baixo valor imobilirio ou em reas proibidas pela

municipalidade, como: marginais de canais, crregos, rios, reas de fundo de vale, rea de

caminhamentos de drenagem e edificaes. Esses assentamentos impedem o escoamento

natural das guas.

As inundaes e alagamentos so, via de regra, as principais conseqncias desses

fenmenos urbanos. Existe, a partir da situao levantada, um grande nmero de efeitos

nocivos ao ambiente urbano, que atinge desde a desestruturao do solo, causando eroso, at

a sade pblica, com o aparecimento de macro e microvetores (ratos, mosquitos, etc.),

favorecendo a reproduo constante de doenas endmicas.

O manejo das guas pluviais ou do escoamento superficial das reas urbanas, por meio

de sua drenagem, um empreendimento dispendioso, o qual envolve dificuldades

relacionadas com a quantidade e a variabilidade da gua a ser drenada.

As precipitaes ocorrem em qualquer rea de drenagem e dependem de

caractersticas fsicas e climticas locais. Entre os fatores interferentes no escoamento

superficial, encontram-se o tipo de precipitao, a intensidade, a durao e a distribuio das

chuvas, as condies iniciais de umidade, a evaporao e a transpirao do solo, alm de

caractersticas referentes ao tamanho, forma, declive, orientao do escoamento e uso das

reas de drenagem.

A tcnica de avaliao da grandeza das chuvas compreende mtodos empricos,

probabilsticos e estatsticos ou outros que se inter-relacionam entre chuva e o escoamento

superficial.

50

2.6.1 - Instrumentos de gesto da drenagem urbana

Segundo Tucci (2000), o crescimento urbano tem sido caracterizado por expanso

irregular da periferia, com pouca obedincia regulamentao urbana, relacionada com o

Plano Diretor e com as normas especficas de loteamento, alm da ocupao irregular de reas

pblicas pelas populaes de baixa renda. Esse vetor de crescimento problematiza, de forma

profunda, qualquer tentativa de planejamento conseqente, colaborando decisivamente para a

efetivao de aes inadequadas de estruturao.

O resultado desse tipo de ciclo vicioso configura-se em aes de ampliao da rede

e manuteno, de forma incipiente e ineficaz, dilapidando o errio.

Algumas prticas reconhecidas no Brasil evidenciam esse tipo de efetividade: 1)

aterramentos indevidos (aes da comunidade); 2) aumento da impermeabilizao do solo

(aes do poder pblico); 3) influncia de outros fatores, incluindo o esgoto na rede de

drenagem.

Nesse contexto, observa-se o papel do planejamento, o qual trata-se de um processo

tcnico, instrumentalizado para transformar a realidade existente, no sentido de alcanar

objetivos previamente estabelecidos. O planejamento urbano visa promover a interao da

cidade com seus moradores, buscando a qualidade de vida e a viabilidade das necessidades de

seus cidados.

Os instrumentos a seguir tm rebatimento direto com a viso integrada, servindo de

referncia para gesto ambiental: 1) Plano Diretor de Drenagem; 2) Planejamento Urbano no

Controle de Inundao e Eroso; 3) Estatuto da Cidade; 4) Controle e Manuteno do Sistema

Virio; 5) Lei Complementar de Controle Urbanstico; 6) Leis Ambientais Federal, Estadual e

Municipal; 7) Plano Diretor Urbano; 8) Planos Diretores: gua, Esgoto, Lixo, Transporte, etc.

2.6.2 - Sistema de saneamento e os elementos constituintes do sistema de drenagem

Os sistemas de drenagem pluvial urbana ocupam um lugar de destaque entre as obras

hidrulicas e sanitrias e so fundamentais no planejamento das cidades e no saneamento das

mesmas.

importante considerar, numa rea, a prioridade de um projeto de ocupao urbana: a

topografia da rea; a urbanizao de reas excessivamente escarpadas; as reas com trechos

em declividade superior a 30%, as quais devem ser deixadas como rea livre, com vegetao

protetora. Caso contrrio, a sua urbanizao exige um minucioso estudo. Outros fatores

51

podem, ainda, ser citados, como o conhecimento geotcnico da rea, pois este orientar as

obras, diminuindo, com isso, as eroses e fornecer critrios para os cortes e aterros na rea.

O traado das ruas ser o grande elemento definidor do sistema de esgotamento

pluvial, pois ele que definir as larguras das ruas, suas declividades longitudinais e

transversais, as caractersticas dos lotes resultantes e a liberao ou no de pontos baixos.

O sistema pluvial abrange a calha das ruas, galerias, escadarias, rampas, at a chegada

das guas aos crregos, riachos e rios. Esse sistema apresenta os seguintes objetivos: a) evitar

eroses do terreno; b) evitar eroses do pavimento; c) eliminar pontos baixos sem

escoamento; d) ordenar a chegada das guas aos cursos de gua da regio.

2.6.2.1 - Sistemas de drenagem de guas pluviais conceitos e definies

Denomina-se de sistema de drenagem de guas pluviais o conjunto de obras e

instalaes destinadas a dar escoamento s guas provenientes das precipitaes

pluviomtricas, as quais escorrem superficialmente numa determinada rea. Esse sistema

apresenta como partes constituintes os sistemas de microdrenagem e macrodrenagem.

Microdrenagem a parte do sistema de guas pluviais que trata do escoamento das

vias e que inclui pequenos coletores, tratados em conjunto com os dispositivos de captao,

como ramais de transferncia e pequenas galerias.

Macrodrenagem a parte do sistema que se refere aos grandes emissrios, ou seja,

os cursos de gua (canais) que recolhem as contribuies das canalizaes secundrias.

formada, basicamente, por canais naturais ou artificiais, galerias de grandes dimenses e

estruturas auxiliares.

No muito ntido o limite entre micro e macrodrenagem, o que convm um

tratamento nico ao assunto. Entretanto, pode-se considerar como macrodrenagem o conjunto

de canais fechados ou a cu aberto, cuja vazo de projeto seja igual ou superior a 6 m3/s.

2.6.2.2 - Dinmica da microdrenagem: elementos e singularidades

Os elementos encontrados na dinmica da microdrenagem so:

a) Calha viria das ruas O primeiro condutor das guas pluviais. Recebe o caudal e

o direciona para as guias e sarjetas;

52

b) Guia Sua funo definir os limites do passeio e do leito carrovel;

c) Sarjetas So elementos de drenagem das vias pblicas, usados para fixar as guias

e para formar o piso de escoamento de gua;

d) Bocas-de-lobo a mais comum e a principal captao da gua da sarjeta;

e) Poos de visita - So dispositivos localizados em pontos convenientes do sistema

coletor, com a finalidade de permitir a inspeo e limpeza das canalizaes,

mudana de greide de direo e de dimetro das mesmas, assim como a conexo

deste com tubos de ligao;

f) Tubos de ligao - Destinados a conduzir as guas captadas pelas bocas-de-lobo

para os coletores (galerias) ou para os poos de visita.

g) Condutos - Obras que se destinam conduo das guas superficiais coletadas.

h) Caixas de passagem ou de ligao - So caixas de alvenaria ou de concreto feitas

com o objetivo de permitir a conexo de galerias com os tubos de ligao ou

destinadas a inserir um rebaixo no greide da galeria.

2.6.2.3 - Dinmica da macrodrenagem elementos e singularidades

a) Sistema de galerias de grandes dimenses - Destinado a conduzir as guas pluviais

para pontos convenientemente determinados;

b) Canais naturais ou artificiais - Receptores finais do sistema de drenagem;

c) Estruturas auxiliares - Destinam-se proteo contra eroses e assoreamento,

travessias (obras de arte) e estaes de bombeamento.

2.6.2.4 - Planejamento e dimensionamento

O dimensionamento consiste no clculo e determinao adequados das dimenses de

canalizaes, atendendo aos parmetros hidrulicos e caractersticos de cada segmento que, ao

serem implementados, atendam s descargas afluentes.

O dimensionamento das galerias ser baseado no Mtodo Racional, utilizando-se o

critrio de clculo de galeria em marcha, muito aplicado nos sistemas de drenagem urbana, no

qual calcula-se a descarga afluente em cada segmento do projeto e supe-se o escoamento,

processando-se em movimento uniforme.

53

Assim, considera-se, em cada trecho, que a descarga a somatria da contribuio

local com a contribuio conduzida pelo segmento imediatamente montante.

2.6.2.5 - Elementos do projeto

Na elaborao do projeto de drenagem pluvial de uma cidade, utilizam-se os seguintes

elementos:

a) Plantas topogrficas da rea da cidade em estudo e da bacia que a compreende, na

escala 1:2000, com curvas de nvel de 1,00 em 1,00 metro, fornecidas pela prefeitura ou outro

rgo local, para o lanamento das galerias, bem como as divises das bacias e sub-bacias de

contribuio. Nas plantas de escala 1:4000, so definidos os cursos de gua receptores e as

zonas alagadias;

b) Nivelamento geomtrico, o qual no tendo sido elaborado das vias pblicas, os

elementos necessrios ao projeto, como as cotas dos pontos de cruzamentos, de mudana de

direo e da grade de vias pblicas, so retirados das plantas disponveis nos rgos da

localidade;

c) A indicao de ocupao e recobrimento do solo das reas no-urbanizadas, bem

como os elementos relativos urbanizao, podero ser coletados e definidos atravs de visita

e reconhecimento na prpria cidade;

d) Na Regio Amaznica, extremamente importante a definio do comportamento

hidrolgico dos cursos de gua receptores, j que a variao da cota dos nveis mximo e

mnimo bastante grande. A definio da cota mxima enchente s ser possvel com a

observao das marcas deixadas pelo evento em alguns pontos da cidade;

e) Diviso da cidade em bacias. Com base em verificaes locais, possvel

estabelecer a impermeabilidade superficial das bacias de contribuio, definida em funo dos

percentuais relativos a cada tipo de superfcie de escoamento.

Na planta geral de urbanizao e locao, as galerias e os sentidos de escoamento

natural superficial das guas pluviais nas sarjetas das vias pblicas so indicados por

pequenas setas.

Na concepo geral das obras do projeto de drenagem urbana, devem ser fixados/

obedecidos os seguintes parmetros: a) chuva crtica a ser considerada; b) tempo de

recorrncia a ser adotado; c) critrios para determinao da intensidade mdia de precipitao;

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d) ndices de impermeabilizao da bacia; e) critrios para avaliao do coeficiente de

escoamento superficial; f) mtodo a ser utilizado na avaliao das vazes de

dimensionamento; g) frmulas e processos a serem utilizados no dimensionamento do

sistema; h) cursos de gua receptora do efluente do sistema coletor.

Tais modificaes na drenagem podem ser estruturais e no-estruturais (Tucci, 1995),

pois a diferena entre elas reside na construo de obras fsicas nas chamadas estruturais. As

modificaes no-estruturais esto relacionadas, em certos aspectos de gesto urbana e da

evoluo do desenho da cidade, na perspectiva de controle do escoamento superficial.

44

Captulo III - Planejamento urbano e polticas de infra-estrutura 3.1 - A ocupao urbana

A partir dos fenmenos de concentrao e desconcentrao da massa populacional

nas cidades de mdio e grande porte no Brasil, causados principalmente pelo processo de

industrializao, em menor importncia pela expulso dos trabalhadores do campo em

funo da modernizao das tcnicas de cultivo e pelo histrico problema das secas da

regio nordestina (IPEA, 1997), o espao das cidades sofreu grandes modificaes, com

efeitos sentidos principalmente no descompasso entre obras de infra-estrutura urbana e

assentamentos humanos.

Aumentam, por vrios fatores ambientais, os problemas de hidrologia urbana,

causados ora por conter o fluxo pluvial em funo do congestionamento do caminho natural

das guas, ora por aumento do pico das vazes, causado por intensa impermeabilizao