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Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola 1961 1975 Estudo do Sistema de Informação Maria Beatriz Oliveira de Almeida Dissertação de Mestrado em Ciências da Documentação e Informação Variante Arquivística 2015

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

Serviços de Centralização e Coordenação de

Informação de Angola

1961 – 1975

Estudo do Sistema de Informação

Maria Beatriz Oliveira de Almeida

Dissertação de Mestrado em Ciências da Documentação e Informação

Variante Arquivística

2015

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

3

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO

Serviços de Centralização e Coordenação de

Informação de Angola

1961 – 1975

Estudo do Sistema de Informação

Mestrado em Ciências da Documentação e Informação – Variante Arquivística,

orientada pelo Prof. Doutor Carlos Guardado da Silva

2015

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

4

Agradecimentos

Gostaria de agradecer toda a atenção e o incentivo dados pelo meu orientador,

Prof. Doutor Carlos Guardado, bem como ao Prof. Doutor Carlos Alves pela

disponibilidade da bibliografia da história de Angola, e um agradecimento muito

especial para a minha família.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

5

Resumo:

Este trabalho tem como objeto de estudo o sistema de Informação dos Serviços

de Centralização e Coordenação da Informação de Angola. A primeira parte do trabalho

refere-se ao conceito de informação e à complexidade que envolve o processo de

construção e de compreensão da informação e do conhecimento. A seguir aborda o

pensamento sistémico, uma nova forma de encarar o conhecimento científico, partindo

do princípio de que as organizações fazem parte de um todo.

Na sequência do desenvolvimento destas matérias, analisa-se a informação

acumulada dos Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola,

bem como os fatores que estiveram subjacentes à emergência desta organização. A

abordagem sistémica ajuda-nos a compreender a organização como um todo e a

identificar as dinâmicas que se encaixam nos padrões de comportamento, nas trocas de

influência inseridas no ambiente e nas decisões tomadas. Fazendo uma ligação ao objeto

do nosso estudo, registamos a posição de Portugal como agente da política internacional

indo ao arrepio das novas exigências da agenda internacional e, na sequência dessas

decisões, observamos como os desequilíbrios ou os conflitos internos afetaram todo o

sistema colonial português com o surgimento dos movimentos pró independência e o

desenlace da guerra da independência.

O surgimento dos SCCIA fez parte de uma estratégia concebida pelo governo

português ao produzir informações de uma forma organizada. Essa informação,

manipulada e nutrida por uma componente ideológica, transformava-se num recurso

vital que condicionava o modus operandi, num ambiente instável e complexo com

repercussões na opinião pública. O estudo separa algumas peças do funcionamento

desta organização, começando por entender a sua estrutura orgânica e funcional, as

atribuições e competências, assim como se organizava, classificava e recolhia a

informação.

A informação acumulada dos SCCIA encontra-se sob custódia do Arquivo

Nacional da Torre do Tombo, a razão por que a última parte deste trabalho incide sobre

a importância do património cultural português, a evolução do seu conceito inscrito dos

distintos normativos e por último, a importância dos Arquivos, a comunicabilidade dos

documentos e a sua identificação arquivística.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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Palavras-chave: Sistemas de informação, Arquivística, Tipologia

Documental, Serviços de Centralização e Coordenação da Informação em Angola,

História de Angola.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

7

Abstrat:

This work has as object of study the information system centralization of services and

Coordination of Information Angola. The first part of the work refers to the concept of

information and the complexity involved in the process of construction and

understanding of information and knowledge. The following discusses systems

thinking, a new way of looking at scientific knowledge, assuming that organizations are

part of a whole.

Following the development of these materials, analyzes the accumulated information of

the centralization of services and Angola Information Coordination, as well as the

factors that were behind the emergence of this organization. The systems approach

helps us to understand the organization as a whole and to identify the dynamics that fit

the patterns of behavior in trade of influence placed on the environment and decisions

made. Making a connection to the object of our study, we note the position of Portugal

as an agent of international politics going counter to the new requirements of the

international agenda and, as a result of these decisions, we observe how the imbalances

or internal conflicts affected all the Portuguese colonial system, the emergence of pro

independence movements and the outcome of the War of Independence.

The emergence of SCCIA was part of a strategy designed by the Portuguese

government to produce information in an organized way. This information, manipulated

and nurtured by an ideological component, transformed into a vital resource that

conditioned the modus operandi, a means unstable and complex environment with

repercussions on public opinion. The study separates some parts of the functioning of

the organization, starting with understanding their organizational and functional

structure, powers and tasks, as well as organized, classified and gathered information.

The accumulated information from SCCIA is in custody of the National Archives of

Torre do Tombo, the reason why the last part of this work focuses on the importance of

the Portuguese cultural heritage, the evolution of its concept entered the normative

distinct and lastly, the importance of the Archives, the communicability of archival

documents and their identification.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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Key-words: Information System, Archives Management, Serviços de Centralização e

Coordenação da Informação de Angola, History of Angola.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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Sumário

Introdução 12

Capitulo 1 - O sistema de informação 15

1.1 A informação 15

1.2 Os sistemas 27

1.2.1 A Teoria Geral dos Sistemas 29

1.2.2 O sistema de informações e a Teoria Geral dos Sistemas 37

Capitulo 2 - O Contexto Internacional 39

2.1 A envolvente externa: a política internacional após a II Guerra Mundial 39

2.2 Colonialismo 43

2.3 Anticolonialismo 45

Capitulo 3 - O contexto Interno angolano 50

3.1 A envolvente interna: movimentos pró independência de Angola 51

3.2 O início da guerra da independência 54

Capitulo 4 - A Emergência dos Serviços de Centralização e Coordenação de

Informação de Angola (SCCIA)

63

4.1 A reorganização dos serviços de informação em Angola 64

4.2 Descrição Sumária do Sistema de Informações em Angola 65

Capitulo 5 - A estrutura orgânico-funcional dos Serviços de Centralização e

Coordenação de Informação de Angola (SCCIA)

68

5.1 Atribuições e competências da entidade produtora/acumuladora 71

5.1.1 Serviço Central 72

5.1.2 Seções Distritais 73

5.1.3 Comissão Provincial e Secções Distritais - Órgãos de Consulta 73

5.2. Delimitação dos SCCIA 74

5.3 Os Serviços de Informação - Órgãos de Execução 75

5.4 As Atividades de Informação e Contrainformação dos SCCIA 76

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

10

5.5 Gabinete de Contrapropaganda 78

Capitulo 6 - O tratamento da informação: classificação, processamento, códigos

e arquivo

80

6.1 O processamento da correspondência 80

6.2 O processamento dos documentos de difusão periódica 83

6.3 As matérias Classificadas 84

6.4 Relatórios e Pedidos de Informação 85

Capitulo 7 - A organização da Informação 89

7.1 A importância do património cultural 89

7.2 Os Arquivos 92

7.3 A comunicabilidade dos arquivos 93

7.4 A identificação arquivística e a gestão dos documentos 97

Conclusão 106

Fontes e Bibliografia 109

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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Lista de Acrónimos e Siglas

ALIAZO - Aliança dos Emigrantes do Zombo

ANTT - Arquivo Nacional da Torre do Tombo

AOS – Arquivo de Oliveira Salazar

BO - Boletim Oficial

CCFAA - Comando Chefe das Forças Armadas de Angola

CEI - Casa dos Estudantes do Império

CDMA – Conselho de Defesa Militar de Angola

CIA – Central Intelligence Agency

CITA - Centro de Informação e Turismo de Angola

CNA- Comandante Naval de Angola

COTONANG – Companhia Geral dos Algodões de Angola

CRP – Constituição da República Portuguesa

ELA - Exército de Libertação Nacional

EUA - Estados Unidos da América

FA - Forças Armadas

FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola

EPLA – Exército Popular de Libertação de Angola

GF - Guarda Fiscal

GM – Gabinete Militar

GMCCFA – Gabinete Militar do Comando Chefe das Forças Armadas

IN – Inimigo

ISAD (G) - International Standard for archival description.

INTERPOL – International Criminal Police Organization

LNA - Liga Nacional Africana

MLA - Movimento de Libertação de Angola

MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola

NATO - Organização do Tratado do Atlântico Norte

NEP – Normas de Execução Permanente

MIA - Movimento pela Independência de Angola

MLN - Movimento de Libertação Nacional

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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MPLC- Movimento Popular de Libertação de Cabinda

ONU - Organização das Nações Unidas

OPCVDC - Organização Provincial de Corpos de Voluntários de Defesa Civil

QG/RMA- Quartel-general/Região Militar de Angola

QG/CCFAA - Quartel-general do Comando Chefe das Forças Armadas de Angola

PCA - Partido Comunista Angolano

PDA - Partido Democrático Angolano

PIDE - Polícia Internacional de Defesa do Estado

PIM - Polícia de Informação Militar

PLUAA - Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola

PSP- Polícia de Segurança Pública

RA - Região Aérea

RMA- Região Militar de Angola

SCCIA - Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Angola

SDlg – Subdelegação

SI - Serviço de Informações

SIC – Serviço de Informações Civil

SIM - Serviços de Informações Militares

SR - Série

SWAPO - Organização do Povo do Sudoeste Africano

UNITA - União Nacional para a Independência de Angola

UPA - União das Populações de Angola

UPNA - União das Populações do Norte de Angola

URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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Introdução

O presente trabalho tem como objeto de estudo os Serviços de Centralização e

Coordenação de Informação de Angola (SCCIA), que foram criados - em 1961 e

extintos em 1975. A sua atividade surgiu da necessidade de coordenar e uniformizar o

processamento da informação, assim como orientar os recursos de pesquisa de uma

forma racional.

Na verdade, a documentação dos SCCIA, composta por informação que interessava

aos vários sectores da vida pública, política e administrativa da ex-colónia de Angola,

foi produzida e organizada por funcionários e informadores que estiveram ao seu

serviço e que contribuíram para a centralização da informação. Toda a sua atividade

informacional era proveniente dos vários órgãos, nomeadamente do Ministério do

Ultramar, da Defesa Nacional, das Províncias Ultramarinas, da Delegação da Polícia

Internacional de Defesa do Estado (PIDE), e de outras entidades coletivas e particulares.

Por sua vez, as instituições governamentais, os serviços públicos e as Forças

Armadas remetiam pedidos de informação aos serviços centrais ou às secções distritais

dos SCCIA, ficando estes obrigados a facultar a informação solicitada. O Governador-

Geral da Província de Angola e o Comando-Chefe das Forças Armadas eram

responsáveis pela política de informação, dispondo para o efeito de um órgão

consultivo, conhecido por Comissão Provincial/Distrital de Informação, de órgãos de

execução e dos SCCIA que era um órgão decisório.

A emergência destes Serviços insere-se pois, num contexto de profunda crise

internacional que teve a sua origem no fenómeno descolonizador, iniciado pela Carta

das Nações Unidas. O princípio jurídico que estava institucionalizado na Carta

condicionava mormente as políticas coloniais. Com o novo enquadramento jurídico

houve uma ascensão de líderes na comunidade internacional que passaram a legitimar

os seus ideais nos discursos independentistas, exortando as massas a uma tomada de

consciência para a independência dos povos. Foi neste contexto, que surgiram as

grandes inquietações socais e políticas que, de uma certa forma, contribuíram para uma

gradual desfragmentação dos antigos impérios.

Ao nível interno, Portugal confrontava-se com a grande ofensiva anticolonial.

Nas décadas de 50 e 60 tomaram-se medidas para a soberania portuguesa em Angola,

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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incluindo a reorganização da PIDE no território nacional e nas províncias ultramarinas

com a criação de delegações e postos em Angola1. Tratava-se de uma polícia com

funções repressivas no combate a crimes políticos e na conduta de cidadãos que não se

enquadravam no conceito de ordem, definido pelo Estado2. Aos crimes contra a

segurança do Estado o governo passou a aplicar medidas de fixação de residência ou a

expulsão do país, tendo sido extensível ao ultramar3.

Os focos de violência que surgiram no Norte de Angola em 1961 revelaram ser

um perigo eminente para a segurança interna do país. Perante tais ocorrências,

verificou-se que a falta de meios para uma reação eficaz implicava uma mudança na

política de defesa, nas infraestruturas de meios militares e na produção de informações

que exigia um elevado grau de tecnicismo. Para colmatar esta lacuna na malha do

sistema, o Governo estruturou o sistema de informações através de um novo serviço

coordenador dos vários organismos com responsabilidades de informação, com o

propósito de centralizar a informação em tempo real.

Assim nasceram os SCCIA. As pesquisas efetuadas no fundo documental dos

SCCIA ajudaram a iniciar este projeto. Contudo, outros documentos, fontes e

bibliografia foram tidos também em linha de conta. A contribuição da historiografia

moderna sobre o colonialismo português é rica em obras e testemunhos e é dentro dessa

multiplicidade que registamos alguns trabalhos que foram importantes e que se

distinguiram pelo seu rigor na investigação e que muito contribuíram para o

desempenho deste trabalho.

A metodologia aplicada para a realização deste trabalho obedeceu a uma

pesquisa nas fontes primárias e a uma revisão da literatura referente aos factos

históricos em causa, permitindo fazer uma análise do sistema de informações e dos

SCCIA, como órgão centralizador e coordenador de toda a atividade de informação em

Angola.

Para entender a complexidade das organizações de que os SCCIA são parte

integrante do nosso estudo, foi preciso referir alguns pontos sobre a informação, o

estudo dos sistemas e a organização arquivística onde atualmente este fundo se

encontra. A partir do acervo reunido no Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT),

este estudo arquivístico tem por objetivo caracterizar os SCCIA, efetuar o seu estudo

1 Decreto-lei nº 39 749, de 9 de Agosto de 1954.

2 PIMENTEL, Irene Flunser - A História da PIDE. Lisboa: Circulo dos leitores. 2007. p.32-33.

3 Decreto-lei n.º 36 387, de 1 de Julho de 1960; Portaria 43 568, de 28 de Março de 1961.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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orgânico-funcional de modo a compreender o contexto da produção de informação que

os Serviços reuniram desde a sua fundação até à sua extinção.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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Capitulo 1. O sistema de informação

1.1 A informação

A informação enquanto fenómeno social é algo que o homem produz e usa desde

sempre. À primeira vista parece ser um conceito de fácil apreensão, porque está patente

em todo o lado. Mas na verdade, o seu conceito é bastante complexo e o seu

entendimento e utilização têm obedecido a um processo extremamente longo e difícil. A

informação gerada ao longo dos tempos deve-se essencialmente à aptidão mítica dos

seres humanos, enquanto criadores de significados. Como parte inalienável do

pensamento, a linguagem constitui um sistema de signos que percorreu gerações a fio,

num processo quase inconsciente de transmissão.

A origem da palavra informação deriva do latim informare, que significa - dar

forma4. Refere-se essencialmente a um conjunto de dados ou simples factos organizados

que passam a ter um sentido ou uma utilidade para alguém, transformando-se neste caso

em informação5. Porém, essa mesma informação não é o fim de um processo de

construção e de compreensão, mas junta-se a um conjunto de elementos que se ligam às

várias experiências anteriores que conduzem a ideias, atitudes ou práticas que, depois de

internalizadas6, agregam-se num vasto sistema de referenciação, convertendo-se em

conhecimento7. Mas a informação, não só faz parte da comunicação entre os seres

humanos, como também está implícita no nosso mundo físico. Sendo parte fundamental

do nosso universo, o seu entendimento multidimensional projeta-se a partir de um vazio

4 Etimologicamente a palavra informação deriva do latim informare significa (dar forma, modelar) de in

mais formare, formar uma ideia de algo. Disponível em: http://www.dicionarioetimologico.com.br/informacao/ 10/4/2015. 5 CHIAVENNATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7ª ed. Rio de Janeiro: Campus,

2004. Cf. Para Freitas, a informação é um dado processado de uma forma que é significativa para o usuário e que tem valor real ou percebido para decisões correntes ou posteriores. FREITAS, Henrique; BECKER, João L.; KLADIS, Constantin M.; Hoppen, Norberto. Informação e Decisão: Sistemas de Apoio e seu Impacto. Porto Alegre: Ortiz, 1997. p. 214. 6 VIGOTSKY, Leve Semenvich - A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 63. Define a internalização como a reconstrução interna de uma operação externa. 7 O conhecimento tácito em latim significa não expresso por palavras) e explícito quando for divulgado

através da fala ou da escrita. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conhecimento_t%C3%A1cito. Consultado em 2/3/2015.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

18

que se preenche com uma contínua teia de significados, tornando a mais ínfima

realidade numa descrição complexa.

Em tempos remotos, o ser humano comunicava com os seus semelhantes apenas

através dos sons da fala, auxiliado por gestos ou por uma linguagem mímica. Como

verificamos a linguagem8 é o principal meio para comunicar o pensamento humano e,

só muito mais tarde, através dos símbolos escritos9.

Porém, a fala também revelou os limites da mente humana. Todas as grandes

civilizações do mundo depararam-se, mais tarde ou mais cedo, com uma carga de

informação que se tornou demasiado pesada para ser guardada na memória. Era preciso

encontrar novas formas de registar a evidência do pensamento simbólico. Foi através da

escrita. Tendo surgido como um espaço exterior à memória, a escrita surgiu como uma

forma de armazenar a informação.

Entendido como a tecnologia da linguagem com o maior poder de

transformação, de criatividade ou de destruição que a humanidade criou, muito

contribuiu para o aumento do conhecimento através das gerações. Deste modo, a escrita

marcou o caminho da vida da humanidade e foi o sustentáculo da linguagem no tempo e

no espaço. O homem sentiu necessidade de recorrer a desenhos ou gravuras para se

exprimir, o que representou um passo de extraordinária importância na sua evolução.

Trata-se, pois, de marcas que a atividade do homem ao longo do tempo deixou nos

vários suportes materiais através de uma inscrição, a fim de conservar a memória de

grandes acontecimentos. Sem ela, (…) a cultura definida como uma inteligência

transmissível não existiria, como a lei, a religião, o comércio, a poesia, a filosofia, ou a

história, que são atividades que dependem de um certo grau de permanência e de

transmissão10

.

Vejamos como esses conhecimentos se transmitiram nas sociedades humanas. O

Homem quando nasce não escolhe o lugar, porém é a partir desse ponto de referência

que inicia a sua construção identitária. Importa, portanto, mencionar que o primeiro

encontro do indivíduo é com a comunidade que o acolhe, que é detentora de uma matriz

identitária, portanto portadora de um património cultural. De seguida passa a reconhecer

8 Cf. A linguagem é um sistema de signos. FIGUEREDO, Cândido. Grande Dicionário de Língua Portuguesa. Lisboa: Bertrand, 1991. 9 Cf. Símbolo – é um sinal que tem uma relação analógica com a realidade, isto é, existe uma relação imediatamente percetível entre o significante e o significado. O símbolo é de interpretação mais universal que o signo porque o significante é descodificado por um universo de sujeito mais lato. FACHADA, M. Odete. Psicologia das relações interpessoais. Lisboa: Edições Rumo. p. 49. 10 DIRINGER, David. A escrita. Lisboa: Verbo, 1962. p.15.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

19

e a integrar esse indivíduo no grupo de referência. Este processo de socialização

compreende uma aprendizagem gradual de um conjunto de valores que são o produto de

uma herança ancestral, transmissível e que se complementa numa interação com o

ambiente social e cultural11

. Tal como a estrutura de um labirinto que limita os tipos de

resposta do indivíduo, também o conhecimento veiculado numa determinada

comunidade molda o sujeito para uma melhor integração no círculo de representação do

grupo. Na verdade, a construção gradual e subtil do conhecimento obedece a um

processo cognitivo12

realizado gradativamente pela dimensão variável do pensamento

humano. Trata-se, pois, de um procedimento complexo que tem como objeto a

apreensão inteligente da informação gerada pelo meio. A informação é interpretada

através de códigos reconhecidos pelo indivíduo, por meio de mecanismos como a

perceção, a memória, o pensamento, as soluções dos problemas, a imaginação e a

criatividade que são as ferramentas essenciais para o processamento da informação. Este

facto deve-se ao desenvolvimento da estrutura cognitiva do homem que permite a

integração de uma elevada extensão de conhecimentos, interligados entre si, e

estruturados de forma ordenada, o que permite estabelecer uma certa unidade nas ações,

nos pensamentos e nas relações com os outros13

. Para Malheiro da Siva, a informação é

como um fenómeno humano e social, que deriva de um sujeito que conhece, pensa se

emociona e interage com o mundo sensível à sua volta e a comunidade de sujeitos que

comunicam entre si. Situa-se pois entre o conhecimento e a comunicação tendo como

pano de fundo, a montante a totalidade psicossomática do ser humano14

.

Sob o ponto de vista conceptual a informação é veiculada através da

comunicação. Num mundo em que a comunicação é instantânea e que todos têm voz, a

sua divulgação ajuda a desenvolver o conceito. É exatamente porque damos significados

às coisas que podemos comunicar e organizar de forma seletiva e descriminada os

múltiplos sinais, e orientar-nos no meio, de modo a satisfazermos as nossas

necessidades.

11 Cf. KLENDLER, H. - Introdução à Psicologia. 5ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, II Vol, p.1135. 12 Cf. Cognitivo – Processo de aquisição de conhecimentos. SILVA, Armando Malheiro. A Informação: da compreensão do fenómeno e construção do objeto científico. Lisboa: Afrontamento, 2006. p. 24. 13

FACHADA, M. Odete - Psicologia das Relações Interpessoais. 2ª ed. Lisboa: Rumo, 1998. p.102. 14

Cf. SILVA, Armando Malheiro - A Informação: da compreensão do fenómeno e construção do objecto científico. Lisboa: Afrontamento, 2006. p. 24.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

20

Foquemos o nosso olhar de uma forma breve para algumas paragens onde a

evolução dos arquivos e a divulgação da informação foi significativa.

O nosso ponto de partida começa no contexto da evolução da própria escrita

onde naturalmente se deu a valorização do documento. Os primeiros arquivos surgiram

por volta de 3200 a.C., algures na região da Mesopotâmia, quando um escriba descobriu

o verdadeiro poder dos símbolos e usou a escrita para traduzir o código da fala em

imagens. Tinha descoberto que os sons podiam ser representados por símbolos e que

estes podiam ser mudados facilmente de uma forma para outra. Portanto, simples ideias

de há 4 000 anos atrás ainda subsistem através de diálogos, ideias, pensamentos,

esperanças humanas, literaturas ou orações fixadas com um estilete na argila. Cerca de

meados do quarto milénio a.C., foram realizadas escavações na Mesopotâmia que

revelaram a existência de verdadeiros arquivos com documentos em tábuas de barro.

Estes arquivos estavam ao serviço da classe dirigente15

e continham documentos

oficiais, códigos de leis, tratados, compêndios religiosos, obras de ciência, história e

literatura, ações judiciais, contratos, promissórias e outros documentos. Os seus acervos

documentais estavam organizados em depósitos e mantinham uma estrutura sistemática

própria. Obedeciam a uma praxis norteada por princípios intuitivos que mais tarde se

tornaram universais16

, como a elaboração de léxicos e catálogos descritivos que

obedeciam a uma certa estrutura funcional. Também acumulavam a função de

bibliotecas privativas17

.

Na Grécia Antiga, a partir de 350 a.C. o destaque para o Metroon, um edifício

que tinha a guarda dos documentos oficiais da cidade e que também funcionava como

arquivo do Estado Ateniense. Em 300 a.C. a descoberta de chreophylax de Dura-

Europos, um edifício que dispunha de uma organização peculiar que, de entre as várias

salas, havia um aposento forrado a tijolo em forma de casulo e com uma inclinação de

45º em filas horizontais, reunindo cem unidades. Nesse local guardavam os rolos de

papiro de uma forma ordenada, sendo que o conteúdo funcional estava assinalado por

15 SILVA, Armando Malheiro da, RIBEIRO, Fernanda - Recursos da Informação - Serviços e Utilizadores. Lisboa: Universidade Aberta, 2010. p. 13. 16

SILVA, Armando Malheiro da, et al. - Arquivística – Teoria e prática de uma ciência da Informação. Porto: Afrontamento, 1999. p. 52. 17 McMURTRIE, Douglas C. - O Livro. 2ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 1965. p. 63.

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21

um monograma, datado e arquivado em cada divisão. No plano técnico a organização e

a ordenação dos documentos atingiu um elevado grau de conhecimento 18

.

Na cidade de Roma, a administração era muito descentralizada, a razão pela qual

havia uma grande dispersão de documentos. Existiam arquivos a funcionar em templos,

designadamente no Templo de Saturno que mais tarde passou a chamar-se Tabularium,

considerado o primeiro e o mais importante repositório de registos de Roma Antiga. A

arquivística no mundo romano era considerada uma disciplina com regras bem definidas

e seguida por profissionais. Com a queda do Império Romano a organização do sistema

público de arquivo não foi descontinuada, porém também não sofreu avanços.

Na Idade Média, uma população em número muito restrito vivia em pequenas

cidades encerradas em muralhas, com uma actividade limitada às necessidades locais e

quotidianas. Subsistiram, no entanto, alguns testemunhos representativos da tradição

arquivística. Os fundamentos do direito e da justiça na Idade Média foram exercidos

pelo Direito Romano, pelo que era hábito fazerem-se registos validados pelas

chancelarias da Cúria Romana ou por outras instituições. Os Scriptoria dos mosteiros na

sua atividade com as comunidades religiosas apuraram o conceito de arquivo. Nesta

época, os arquivos oficiais e eclesiásticos eram privados e a sua comunicabilidade era

condicionada pelos seus detentores19

, embora o acesso às bibliotecas fosse mais fácil

que nos arquivos20

. Um outro facto que importa referir foram os scriptoria itenerantes e

os respectivos arquivos. O carácter nomadizante dos cartórios e a prática de depósitos

em instalações alheias levou a uma maior generalização de uso de arcas ou cofres para

guardar os documentos21

e, mais tarde, passaram a ser colocados em armários ou em

salas reservadas para o efeito. Os livros eram considerados objectos preciosos, embora

estivessem essencialmente ao alcance do clero e dos ricos. A sua feitura morosa tornava

as obras muito caras. A Bíblia podia demorar até três anos a ser feita. Era um livro

especial, guardava em si uma fórmula secreta e poderosa. Adquiri-la era apenas um

delírio que pairava na mente do homem medieval comum, mesmo não sabendo ler.

No século XIII as populações que viviam alienadas do resto do mundo

começavam a despertar para as novas realidades. Havia uma transformação na difusão

18 SILVA, Armando Malheiro da, RIBEIRO, Fernanda - Recursos da Informação: Recursos e Utilizadores. Lisboa: Universidade Aberta, 2010. p.15. 19 SILVA, Armando Malheiro, et al. - Arquivística: Teoria e Prática de uma Ciência da Informação. Vol I. Porto: Afrontamento, 1999. p.93. 20

IDEM- Ibidem. p.72. 21 IDEM - Ibidem.

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22

do livro e também no seu fabrico. Os mosteiros deixaram de ser os únicos centros da

vida intelectual a produzir obras. A vida intelectual voltou às cidades com o ensino e as

universidades estabelecendo um comércio livre. Uma nova concepção do mundo foi

redesenhada pelo incremento das grandes navegações na Europa. A curiosidade do

homem medieval era muita e o desejo de conhecer de perto os relatos das viagens

épicas narradas pelos viajantes, as expedições descritas pelos mercadores, os

missionários e cavaleiros andantes que vinham de outras partes do mundo estavam na

ordem do dia. Precisava-se de livros, fossem eles especializados, de passatempo ou

religiosos. As populações queriam saber o que se passava à sua volta. Era preciso forjar

outras ligações para além daquela que se conhecia, conhecer o que havia do outro lado

do mundo. Não tardou muito.

Em 1450, Mainz na Alemanha, Gutemberg, um inventor e ourives que sabia

como esculpir as letras, viu uma oportunidade de poder realizar aquilo que as pessoas

tanto desejavam. A ideia de posicionar blocos de madeira de forma a produzir imagens

tinha vindo da China, mas nunca ninguém tinha conseguido transformar numa

manufactura. A grande diferença residia nesse ponto. Passaram-se a fazer livros em

série, rápida e eficazmente. A sua imprensa tipológica imprimia a um ritmo de 180

exemplares de Bíblias por dia. Os custos de produção diminuíram e o conhecimento

floresceu. A capacidade de aceder ao mundo do conhecimento foi uma grande

transformação para a Europa. Houve um enorme incremento da literacia. O

conhecimento adquirido através da existência de livros veio aguçar mais a curiosidade

do que se passava no mundo.Começa-se a ver o fim da era artesanal e o princípio da

era industrial. A ideia de Gutemberg foi tão revolucionária e continua a ser uma das

grandes eventos da história da humanidade22

.

Foquemo-nos agora nos primeiros arquivos de cariz público. Surgiram com a

Revolução Francesa quando passou a haver uma grande concentração de arquivos do

Estado em grandes depósitos23

. A Revolução francesa foi um movimento político e

social que emergiu em França nos finais do século XVIII. Fruto de uma sociedade

profundamente desigual, alimentada por um sistema feudal anacrónico e penoso para as

populações, não conseguiu resistir às pressões racionalistas do iluminismo. A razão e a

Ciência uniram-se para desafiar a tradição arcaica, arrastando consigo uma corrente de

22 McMURTRIE, Douglas C. - O Livro. 2ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1965. p.77. 23

SILVA, Armando Malheiro, et al. - Arquivística Teoria e Prática de uma Ciência da Informação. Porto:

Afrontamento, 1999. p. 100.

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inovações literárias de vanguarda. Tinham sido lançadas as sementes do iluminismo

para a sociedade civil e aguardava-se a qualquer momento que elas germinassem.

Depressa desabrocharam em massa. As vozes emergiam do isolamento, apregoando o

refrão da liberdade, igualdade e fraternidade, ideias que eram permeáveis

transversalmente a todos os níveis sociais. Despontava a era do Iluminismo que elevava

a vontade do individuo ao nível de fonte de todos os direitos e obrigações em todos os

aspetos da vida social24

. A antiga estrutura absolutista da sociedade francesa depressa

entrava em rota de colisão. As palavras eram as armas da revolução e a retórica

inflamada impulsionava o povo a rebelar-se. Porém, foi no epicentro desta revolução

que o pulsar de uma forte energia se materializou numa valiosa herança de todos os

tempos - a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, publicada em 26 de

Agosto de 1789. Muito inspirada nos textos de John Lock e Jean-Jacques Rousseau25

, o

documento afirmava que todos os homens nascem livres e com os mesmos direitos e que

o dever do governo era preservar esses mesmos direitos naturais e invioláveis, como a

liberdade, propriedade, segurança e resistência à opressão, por meio de uma

constituição à luz da lei26

. O seu legado impôs uma clara rotura com o passado. A

sociedade queria libertar-se de tudo o que era insuportável do antigo regime e

obviamente os arquivos também faziam parte dessa memória.

Com a emergência do Estado-nação, a tentativa de opor e alterar o quadro

político e social da sociedade francesa e eliminar qualquer vestígio que sobreviesse do

antigo regime, era imperativo. Vivia-se num clima opressivo, com execuções sumárias a

todos os resistentes e que não simpatizassem com a causa revolucionária. A sociedade

francesa conforme estava estabelecida tinha chegado ao fim, estava arruinada. A

revolução tinha arrancado o véu do rosto ao antigo regime, que finalmente se esfumava

24MARTINEZ, Soares. Economia Política. Lisboa: Almedina, 1991. P. 185. 25

Jean Jacques Rousseau na sua obra O Contrato Social, publicada em 1762, inicia com a célebre frase: L’homme est né libre, et partout il est dans les fers. Com esta frase Rousseau iniciava a sua pretensão de superar as desigualdades. Reconhecia que o Estado só podia fundar-se com base na conformidade, ou seja, de acordo com todos. Este acordo era o contrato social que se estabelecia segundo a vontade do povo expressa nas votações. Por isso, todos os cidadãos dão igualmente o seu consentimento a futuras decisões do Estado que em determinadas ocasiões podiam ir contra os seus interesses particulares. Esta ideia constituiu o principal ponto de partida de crítica à teoria do estado de Rousseau, contra o qual se objetou não oferecer garantias contra o abuso do poder derivada das maiorias. Enfim, com a Revolução Francesa, o governo trouxe uma conceção completamente nova sobre o papel do indivíduo na sociedade. Cf. p.137. Cf. MONCADA, L. Cabral - Filosofia do Direito e do Estado. Coimbra: Editora, Vol.1.º, 2006. p. 223-248. 26DAVIS-HART, Adam et al. Grande Enciclopédia da História. Porto: Civilização Editores, 2007. p. 303.

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à vista do povo, dando lugar à construção de uma nova figura – o cidadão, que já não

cedia os seus direitos a um senhor, mas sim a uma lei.

A ideia de reconstruir uma sociedade a partir do zero esteve sempre presente, as

políticas, as instituições e até a própria natureza humana obrigava ao estabelecimento de

uma nova ordem na sociedade e ao edifício de novas estruturas administrativas, de

governação e de um Estado. Pelas mesmas razões ideológicas, a hegemonia espiritual da

Igreja também tinha sido destruída e colocada sob a tutela do Estado. As suas terras

foram confiscadas através de um processo de nacionalização de bens, contemplado na

Constituição Civil do Clero27

. Consequentemente a extinção das Ordens religiosas e o

ataque à jurisdição espiritual da Igreja Católica colocaram na posse direta do Estado

revolucionário, um acervo de bens materiais que incluía milhares de livros e de

documentos 28

, além das bibliotecas conventuais e dos cartórios que possuíam o registo

de títulos de posse, documentação de prova contra terceiros importante para reaver as

propriedades confiscadas. Desfeitas as instituições e as organizações, impunha-se

urgentemente a alocação de um espaço para depositar o acervo de milhares de

documentos, que outrora tinham constituído sistemas de informações arquivísticos,

pertencentes a entidades orgânicas, entretanto extintas. Mas os documentos mais

recentes também eram preciosidades, eram relíquias elevadas pelo fervor do imaginário

popular que espelhavam as glórias de uma nação e que serviam de inspiração para o

mundo. Na verdade, para escrever a história era preciso reconstruir as ideias com base

em fontes documentais preservadas. A 12 de Setembro de 1790 a Assembleia

Constituinte denominou os arquivos do Estado de Archives Nationales, que passaram a

ter a seu cargo a custódia destes acervos e o tratamento e disponibilização da

informação. O Estado atribuiu funções a um órgão que passou a ter a seu cargo a gestão

de todos os documentos públicos e a criação de uma rede nacional de arquivo em cada

região, através da Lei de 5 de Brumário Ano V, em 179629

. Com a Lei de 7 de Messidor

27

A Constituição Civil do Clero foi uma Lei assinada pelo Rei Luís XVI, no dia 26 de Dezembro de 1790, em que transforma os clérigos em funcionários públicos eclesiástico, integrando a Igreja Católica no novo sistema político da Revolução de 1789. Bispos e padres passaram a ser eleitos pelo povo e pagos pelo Estado. http://www.dw.de/1790-lu%C3%ADs-16-assina-constitui%C3%A7%C3%A3o-civil-do-clero/a-3768010. Acedido em 26/12/2014. 28 SILVA, Armando Malheiro, RIBEIRO, Fernanda. Recursos da Informação: Serviços e Utilizadores. Lisboa: Universidade Aberta, 2010. p. 17. 29

Os arquivos Nacionais em França, disponível em www.archives-nationales.culture.gouv.fr/ - acedido em 26/12/2014.

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25

a 25 de Junho de 179430

ficou expresso nos art.º 37 e 38 o direito dos cidadãos ao

acesso à informação31

- uma primazia ideológica que contrapunha o antigo regime. Mas

as novas realidades decorrentes apresentavam também novas questões. Quando os

Arquivos Públicos abriram as portas ao cidadão, os funcionários que estavam

incumbidos da sua custódia não estavam preparados para lidar com a entrada de tanta

documentação. Dada a contingência das nacionalizações, a entrada abrupta de grandes

volumes documentais nos arquivos sem que tivessem sido previamente sujeitas a um

tratamento técnico adequado, criou problemas quase insolúveis. Muitos dos arquivos

incorporados tinham uma certa organização de origem, mas foram separados e

misturados com outros fundos documentais, aquando da integração nos depósitos do

Estado, tornando a complicada tarefa de recuperar a ordem original no meio da

desordem.

As políticas de incorporação em massa baseadas em conceções ideológicas

funcionaram como um balão de ensaio. Essas experiências deram lugar a tentativas

frustradas de reclassificação, conduzindo os arquivos à beira do caos32

. Face ao então

estado crítico dos arquivos, o governo francês publicou em 1841, uma circular33

orientada pelo arquivista e historiador Natais de Valli. Ficou conhecido um dos

fundamentos da arquivística, como o princípio do respeito pelos fundos34

, ou princípio

da proveniência. O seu efeito não foi imediatamente absorvido pelos arquivistas, porque

embora considerando o fundo como uma entidade indivisível, a sua ordem interna

30 Os princípios mais importantes da Lei de 7 de Messidor: a centralização dos arquivos da nação; o acesso gratuito para os cidadãos; a necessidade de uma rede nacional de arquivo - A Lei de 5 de Brumário veio a completar o sistema através da criação de um arquivo em cada capital. Disponível em < www.archives-nationales.culture.gouv.fr/> Acedido em 8/12/2014. 31 SILVA, Armando Malheiro, RIBEIRO, Fernanda - Recursos de Informação: Serviços e Utilizadores. Lisboa: Universidade Aberta, 2010. p. 16. A possibilidade concedida a todos os cidadãos de consultarem e de requerem sem custos, certidões dos documentos, essencialmente patrimoniais, que lhes permitiria reivindicar a posse de terras ou reivindicar direitos sonegados durante o “Ancien Regime” (…) vinculava o Estado ao dever de resposta (…). p. 17-18. 32

IDEM - Ibidem. p. 107. 33

Circular emitida pelo Ministério do Interior: Instructions pour la mise en ordre et le classement des archives départementables et communales, que foi apresentada pelo historiador e arquivista Natalis de Vally. 34

Cf. Este princípio designava que os arquivos de uma mesma proveniência deviam conservar a organização estabelecida pela entidade produtora, a fim de se preservar as relações entre os documentos como testemunho do funcionamento daquela entidade. ALVES, Ivone, et al. Dicionário de Terminologia Arquivístico. Lisboa: Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. 1993. p. 77. Cf. Antónia Heredia Herrera afirma que o conceito de fundo não era propriamente novo e que Espanha já aplicava o respeito pela origem e ordem natural. Refere também que tanto na Holanda como em Itália usavam o princípio anterior a 1841 e já se dava atenção ao respeito pela proveniência. Cf. SILVA, Armando Malheiro da, et al. Arquivística: Teoria e prática de uma ciência da Informação. Porto: Afrontamento, 1999. p. 107.

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26

ficava alheia à sua organicidade35

. Ora, o documento entendido como uma unidade em

si mesmo, o seu significado só podia ser compreendido num contexto de produção. Na

verdade, mais tarde considerou-se como um princípio basilar da arquivística, o respeito

pela ordem original, ou seja o respeito pela organização criada pela entidade produtora.

Só desta forma o valor testemunhal do documento podia confirmar o funcionamento do

fundo a que pertencia36

. No seu seguimento e da prática empírica nasceu um corpus de

regra e de procedimentos fundadores da Arquivística37

.

No século XIX, a arquivística surgiu como uma disciplina que ficou ligada à

Ciência Histórica. A documentação com valor histórico foi instalada num espaço

diferente, com um serviço especial e pessoal exclusivo para tratar e disponibilizar a

documentação, desde a recolha de fontes à produção de instrumentos de pesquisa, mas

orientados à luz das conceções historiográficas. Em 1898, a edição do Manual Holandês

da autoria de S. Muller, J. H. Feith e R. Fruin marcou o início da vertente técnica,

libertando gradativamente a teoria e a prática da arquivística que viviam reféns da

metodologia do conhecimento histórico38

. A necessidade de delimitar o campo

específico da arquivística, adotando uma área do saber puramente técnico, não deixando

porém de valorizar a custódia dos documentos, nas fases corrente, intermédia e

definitiva39

. Nos finais deste século, com a organização dos arquivos públicos, a figura

do arquivista sofreu uma deriva. O documento passou a ser trabalhado em fases

distintas: por um lado, o funcionário que trabalhava nos arquivos correntes com a

documentação administrativa e técnica, produzida e recebida no decurso do

funcionamento das instituições ou organizações e, por outro lado, o arquivista que

trabalhava numa parte dessa documentação com interesse histórico, remetido para um

35 Cf. A arquivística como disciplina aplicada no campo da Ciência da Informação. Perspetivas em Gestão & Conhecimento. Artigo de Ribeiro, Fernanda. p. 60. Disponível em:>file:///C:/Users/balmeida/Downloads/Persp__em_Gest%C3%A3o_e_Conhec,_Jo%C3%A3o_Pessoa-1(1)2011-a_arquivistica_como_disciplina_aplicada_no_campo_da_ciencia_da_informacao%20(2).pdf< Cf. A organicidade é uma qualidade segundo o qual os arquivos refletem as estruturam, funções e actividades da entidade acumuladora nas suas relações internas e externas. Disponível em:> http://www.arqsp.org.br/arquivos/oficinas_colecao_como_fazer/cf8.pdf> Acedido em 20/12/2014. 36

ROUSSEAU, Jean-Yves; COUTURE, Carol - Os Fundamentos da Disciplina Arquivística. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1998. p.83. 37 SILVA, Armando Malheiro, RIBEIRO, Fernanda - Recursos de Informação: Serviços e Utilizadores. Lisboa: Universidade Aberta, 2010. p.18. 38 IDEM – Ibidem. p. 59-73. 39 Os documentos de arquivo compreendem três idades: o arquivo corrente ou administrativo em que há uma utilização intensiva dos documentos. Segue-se a fase intermédia que é guardada como elemento de prova de informação e depois é a fase em que é preservado a título definitivo ou permanente com valor histórico.

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local distinto. Na realidade representavam as duas faces da mesma moeda. O documento

era o mesmo, apenas representava um testemunho sujeito a vários olhares críticos e

sensibilidades deixando que a sua leitura o transformasse em facto histórico ou o

remetesse para o esquecimento. Os documentos de arquivo têm inscrito informações

com valor histórico ou científico, independentemente do seu suporte. Na verdade,

arrastam no tempo a sombra da sua organicidade que é a prova da sua atividade,

estrutura e funções da entidade produtora/acumuladora.

A viragem para o século XX deu uma nova luz no campo da arquivística que

veio a ser clarificada desde a Revolução Francesa. Não deixando completamente de

parte as ligações anteriores, como os princípios fundamentais da arquivística que

mantém ainda hoje a sua aplicabilidade e que foi o resultado de um conhecimento

empírico comprovado pela utilização de técnicas no tratamento dos arquivos, novos

conceitos abriram fronteiras para uma abordagem mais unificadora da relação do

cidadão com o mundo, que reverteu no aumento da documentação, na acessibilidade e

na sua valorização. O grande objetivo proposto era o de conduzir a origem a produção

de documentos para uma melhor organização administrativa. A definição dos

documentos que constituem a memória de uma instituição ou dos que são

definitivamente eliminados, assentam no ciclo de vida dos documentos desenvolvido na

teoria das três idades por Schellemberg40

. Porém, as associações profissionais

começaram a ter uma atividade intensa no campo da formação, desenvolveram uma

série de instrumentos de carácter normativo aplicados ao tratamento da informação e em

conformidade com uma nova organização dos serviços. Com a atividade dos serviços da

informação criaram-se manuais, guias, catálogos, índices, obras de síntese numa

tentativa de aperfeiçoar o trabalho na perspetiva de atender melhor o utilizador. A

referência a alguns instrumentos de normalização da descrição de arquivo: Normas

internacionais ISAD (G), ISAAR (CPF), ISDF; ISDIAH, normas nacionais ODA I, II,

III, um conjunto de normas de aplicação das normas ISAD (G) e ISAAR (CPF) 41

. Estas

40

Todos os documentos de arquivo passam por um ciclo de vida, designado as três idades do documento: Arquivo Corrente que serve a Administração; Arquivo Intermédio, os documentos são conservados por razões administrativas, legais ou financeiras; Arquivo Permanente, documentos produzidos há mais de 25 anos pela entidade produtora, pública ou privada. 41 ISAD (G): Norma Geral Internacional de Descrição em Arquivo; ISAAR (CPF): Norma Internacional sobre o Registo de Autoridade Arquivístico de Instituições, Pessoas Singulares e Famílias; ISDF: Norma Internacional para a Descrição de Funções; ISDIAH: Norma Internacional para a Descrição de Instituições com Acervo Arquivístico; ODA: Orientações para a Descrição Arquivística. Disponível em: http://antt.dglab.gov.pt/informacoes-uteis/arquivo-de-documentos/. Acedido em 2/12/2014.

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normas devem também articular com a Norma Internacional para a padronização (ISO)

e a Norma Portuguesa (NP).

As Normas ISO devem articular com outras normas. Por exemplo a ISO 3166 refere-se ao código de representação de nomes e países; Por exemplo a NP 405 -1: referências Bibliográficas. Disponível em:<http://www.culturadigital.pt/docs/dgarq_lruna.pdf> Acedido em 3/12/2014.

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1.2 Os sistemas

Este capítulo define o conceito de sistemas, a sua génese e evolução. Ludwig

Von Bertalanffy, biólogo e filósofo austríaco, apresentou o seu trabalho de investigação,

entre 1948 a 1968, sobre a Teoria Geral dos Sistemas. Tendo-se dedicado ao estudo da

biologia e às leis que sustentavam os sistemas biológicos, entendeu que a ciência devia

ser entendida de uma forma sistémica, interdisciplinar, com princípios que eram comuns

a todas as entidades complexas.

Foi no início do século XX que despontou um novo paradigma do conhecimento

científico, quando o alvorecer de uma nova ordem transcendia as fundações da ciência

do século XIX. A antiga ordem investida pelo determinismo da ciência tradicional ruía à

medida que a verdadeira natureza estava presa por um processo aleatório e irreversível.

Em 1827, o cientista Robert Brown, depois de observar ao microscópio que pequenas

partículas suspensas num líquido aquoso mantinham um movimento caótico e

constante. Ficou conhecido por movimento browniano. Porém, não existia uma resposta

científica sobre a causa deste movimento. Einstein conseguiu provar matematicamente a

existência do átomo através do atrito constante das partículas com as moléculas de água.

O segundo trabalho conseguiu provar que a luz apresentava uma dualidade

comportamental, onda-partícula42

. A luz propagava-se sob a forma de onda, mas na

interação com a matéria apresentava-se como partícula. Também redefiniu a velocidade

e a massa que passaram a ser medidas relativas43

, exceto a velocidade da luz que era

constante. Criou a Teoria da Relatividade restrita que veio provar que o tempo e o

espaço não eram medidas absolutas, mas sim relativas, pois verificou que nos extremos

de um determinado espaço interestelar e num espaço contraído de partículas

subatómicas, as leis de Newton, um dos alicerces da física clássica, não eram

compatíveis. Não havia simultaneidade universal entre o tempo e o espaço ocorridos em

sistemas diferentes. Com a sua reflexão e cálculos chegou à conclusão de que não

existia na terra nem no universo um sistema de referência absoluto e que a energia e a

42

Cf. SANTOS, Boaventura de Sousa - Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento 2002. p. 18. 43 Cf. Segundo Einstein, a perspetiva do observador, não era um dado absoluto. O pássaro move-se por cima da terra ou a terra move-se por baixo do pássaro? Partindo desta relatividade do movimento, Einstein explicou que as leis de Newton não eram válidas quando vários campos de gravitação influíam reciprocamente entre si nem quando grandes velocidades, como a velocidade da luz entravam em ação. Neste caso, o espaço, o tempo e a luz perdiam a sua retilinidade, transformavam-se. HESSE, Helge - A História do Mundo em 50 frases. Trad. Maria Helena Bigotte de Carvalho. Alfragide: Casa das Letras, 2011. p. 189.

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matéria eram a mesma realidade44.

As suas teorias alteraram radicalmente o modo como

se via o mundo e o universo, embora não tivesse excluído no seu todo as leis de

Newton, apenas entendia que havia outras formas para explicar a realidade. Muitos

cientistas foram de opinião que a primeira grande mudança do pensamento do século

XX ocorreu em 1905 com as publicações das teorias da relatividade de Albert Einstein.

Na Alemanha e na Dinamarca alguns cientistas contribuíram para o

aparecimento de uma nova física ou mecânica quântica45

. Estes cientistas chegaram à

conclusão que no interior de um átomo aconteciam processos não previsíveis e que de

certo modo, eram submetidos ao princípio da incerteza46

, embora estas partículas

pudessem expressar-se sob a forma de probabilidade. Esta nova interpretação refreou o

poder do cálculo na interpretação de todos os fenómenos. Nesta altura, a natureza

afigurava-se de uma forma menos coerente, com menos padrões de simplicidade, mas

aleatória. O mundo já não era encarado como uma máquina a partir das leis de Newton,

sobre a ideia de uma ordem estável. O conceito de “homem-máquina” era um

paradigma que se esbatia, perante a incerteza e a desordem que emergiam como

fundamentos que se destacavam de uma nova visão ainda mais complexa do mundo.

44 Cf. Fórmula de equivalência entre a massa e a energia –E=mc² (c é a velocidade da luz). Disponível em< https://pt.wikipedia.org/wiki/Equival%C3%AAncia_massa-energia< acedido em 1/12/2014. 45 A mecânica quântica trata do estudo de sistemas físicos cujas dimensões estão próximas ou abaixo da escala atómica. Disponível em: >http://pt.wikipedia.org/wiki/Mec%C3%A2nica_qu%C3%A2ntica> Acedido em 3/1/2015. 46 Os pensadores mais importantes foram – Werner Heisenberg (1901-1976), Niels Bohr (1885-1962) e Max Born (1882-1970).O princípio da incerteza tinha sido formulado em 1927 por Werner Heinserberg e veio provar a incapacidade do ser humano em medir com precisão os atributos físicos dos átomos. Segundo Heisenberg a existência de percurso da física clássica (como a órbita de um eletrão à volta de um átomo) só passava a existir quando observamos. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_incerteza_de_Heisenberg> 30/12/2014 Cf. O princípio da incerteza em:http://www.mundoeducacao.com/quimica/principio-incerteza-heisenberg.htm> Acedido em 9/2/2015. Cf. Heisenberg propôs uma experiência no momento em que o fotão colidia com o eletrão. Podia medir a posição original deste, mas não o seu momento linear, o qual mudava logo quando a luz incidia. Se o momento linear do eletrão é medido no instante em que a luz colide, a sua posição é incerta. GLANVILLE, Allan, R. - Científica: o guia completo do mundo da ciência. Trad. Ana Luísa Cruz, et al. Austrália: Elanora Heights, 2008. p. 79. Cf. Uma outra questão relacionada com o princípio da incerteza no sistema económico, Adam Smith, base do pensamento liberal abordou algumas questões relacionadas com o princípio da incerteza e a necessidade do sistema económico se regular. A abordagem de Adam Smith na sua publicação Riqueza das Nações (1776) foi o exemplo de uma análise económica de reconhecido mérito, que admitiu que o mecanismo de mercado era dotado de uma ordem natural que se autorregulava, conhecida por mão invisível de Adam Smith. Até 1940 ninguém sabia como provar a essência da sua doutrina acerca da eficiência dos mercados concorrenciais. SAMUELSON, Paul, A., NORDHAUS, William D. - Economia. Trad. Elsa Nobre Fontana. Lisboa: McGraw, 1993. p. 437.

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31

1.2.1 A Teoria Geral dos Sistemas

Ludwig Von Bertalanffy, biólogo e filósofo austríaco, apresentou o seu trabalho

de investigação, entre 1948 a 1968, intitulado Teoria Geral dos Sistemas. O pensamento

sistémico foi pioneiro na Biologia e assumiu uma abordagem conceptual partindo do

princípio de que todo o organismo era maior que a soma das suas partes47

. Tendo-se

dedicado ao estudo da biologia e às leis que sustentavam os sistemas biológicos,

Bertalanffy entendeu que a ciência devia ser encarada como um todo, inscrita numa

relação sistémica e hierárquica48

. Porém, a sua teoria talhava caminhos difíceis. Viera a

sofrer uma verdadeira oposição nos circuitos onde as elites intelectuais, representadas

pela voz da ortodoxia, defendiam os princípios dos limites do reducionismo

mecanicista49

. Tratava-se, pois, de um nicho ideológico que se ancorava nas premissas

da certeza, da estabilidade e da permanência, radicado pela ciência do dogma, onde a

dúvida ou o aleatório não tinham cabimento. A simples ordem das coisas era traduzida

por leis universais que justificavam comportamentos complexos, numa exata

correspondência entre causa e efeito, assente num raciocínio lógico e abstrato da

realidade.

Para Bertalanffy, o novo conceito da ciência continha as estirpes da

imprevisibilidade e da probabilidade que coexistiam em todos os sistemas, em todas as

realidades complexas. Por isso essa ordem do equilíbrio e da estabilidade traduzia-se

simplesmente como um pronúncio do fim e não da vida. Bertalanffy juntou-se a um

grupo de cientistas internacionalmente conhecidos por Grupo de Viena50

. Vários

biólogos e cientistas acreditavam que para compreender a biologia era necessário um

método científico inovador, diferente do tradicional e deduziu que as leis dos sistemas

Biológicos tinham princípios que podiam ser aplicados por analogia à Psicologia, à

Sociologia ou a qualquer outra realidade organizacional. O próprio desenvolvimento das

ciências devia envolver uma abordagem interativa dentro do próprio saber, não

47

Um dos princípios fundamentais da Teoria Geral dos Sistemas de Bertalanffy. 48

BERTALANFFY, L. V.- Teoria Geral dos Sistemas: Petrópolis: Vozes, 1977. p. 351. 49 Cf. A visão mecanicista é uma teoria filosófica que concebia a ciência como uma máquina. Contribuíram para essas teorias, Descartes e Newton. Disponível em: >pt.wikipedia.org/wiki/Mecanicismo_ (filosofia)> acedido em 27/12/2014. 50 Cf. Veja Circulo de Viena, disponível em:>http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADrculo_de_Viena > Acedido em 1/3/2015. Cf .Veja também Circulo de Viena em: http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADrculo_de_Viena> Acedido em 1/3/2015.

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32

deixando contudo de articular com outras áreas do conhecimento. Para isso era

necessário lançar a semente do entendimento, de que tudo o que acontecia no universo

se interligava e funcionava numa hierarquia de contextos. Bertalanffy baseou-se num

corpus intelectual das ciências exatas com as ciências naturais, entendido não de uma

forma unitária, mas de uma forma sistemática. A necessidade de adaptar canais de

comunicação para um entendimento interdisciplinar era importante para a compreensão

de um fenómeno que era tangível e universal a todas as ciências. Portanto, a sua

interpretação holística51

configurava certas propriedades que eram transversais a todos

os sistemas organizados em geral52

, de acordo com uma visão de largo espectro de um

mundo integrado como um todo e não em partes desagregadas. O seu objeto baseava-se

numa análise mais profunda dos fenómenos, sendo que a grande diferença do seu

pensamento residia na tensão que ocorria entre a parte, entendida como mecanicista e

reducionista, e o todo abordado de uma forma holística e sistémica. Mas a compreensão

intelectual destes fenómenos estava vinculada pela tradição epistemológica e

disciplinar, comprometendo uma visão de amplo espectro. Portanto, o pensamento

sistémico surgiu de uma convergência teórica entre a biologia, a psicologia de Gestalt, a

física Quântica e a Geologia53

. Influenciado por estes estudos, Bertalanffy baseou-se em

conceitos e princípios epistemológicos que harmoniosamente podiam ser aplicados aos

vários campos do conhecimento. Propunha uma visão interdisciplinar e os seus

princípios penetravam na oculta rigidez disciplinar com a maleabilidade de uma fórmula

que, simplesmente, apreendia a complexidade do todo.

Bertalanffy descreveu a Teoria Geral dos Sistemas assente em princípios sólidos

da biologia, no entanto para melhor sustentar a sua teoria, levantou uma querela

existente no meio científico desde o século XIX. Os princípios fundamentais dos

sistemas físicos assentes nas leis de Newton consubstanciavam-se na premissa de um

regular e ordenado funcionamento do universo, que se opunha à ideia de progresso da

51

A palavra holística vem do grego “holos” e significa todo ou inteiro. Aristóteles enunciou na sua metafísica que o todo é maior que a simples soma das partes>http://pt.wikipedia.org/wiki/Holismo A palavra foi criada por Jam Smuts, primeiro ministro da África do Sul, na sua obra Holism and Evolution. Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Holismo <Acedido em 10/1/2015. 52 Cf. Para Araújo, confirma-se que há uma concordância ampla de que sistema é um modelo de natureza geral, isto é um análogo conceptual de alguns traços razoavelmente universais de entidades observadas ARAÚJO, Vânia M.R. Hermes - Sistemas de recuperação de informação: nova abordagem teórico-conceptual. Rio de Janeiro: 1994. Tese (Doutorado em Ciência da Informação). Faculdade de comunicação, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 53

CF. CAPRA, F. A. - Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos seres vivos. São Paulo, SP: Culturix, 1996.

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33

teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin, ligado à Biologia. As duas teorias,

rivais e incompatíveis, numa demanda extraordinária para desvendar o que estava para

lá do sensível, tentavam paradoxalmente abrir as portas do misterioso labirinto da

verdade. Para Bertalanffy estava patente a oportunidade de iluminar esse angulo escuro

da ciência e encontrar possíveis pontos de convergência para criar uma teoria unânime

que descrevesse o mundo.

Em 1824 Nicolas Leonard Sadi Carnot escreveu o lendário caderno de reflexões

sobre potência motriz do fogo54

. Entendeu, pois, que o calor era uma substancia como a

água. Fluía do estado quente para o estado frio, e que o seu fluxo podia ser aproveitado

para realizar um trabalho. Carnot revelou que os motores a calor não eram apenas uma

invenção inteligente, mas utilizavam uma das propriedades fundamentais da natureza –

o fluxo de energia do calor. Trabalho e a mecânica, apesar de muito diferentes

provinham de uma mesma realidade que se interligava – a energia, entendida mais como

uma forma de movimento do que uma substância. De acordo com este princípio foi

elaborada a primeira Lei da termodinâmica, anunciando que a energia nunca era criada

nem destruída, apenas mudava de uma forma para a outra55

.

Rudolf Clausius, um físico que entre 1850 e 1860 revitalizou as ideias de Carnot.

Verificou que um objeto quente em repouso tendia a ficar frio e que o processo era

irreversível56

. O sistema inteiro progredia de um estado ordenado para um estado

desordenado. A quantidade de energia que se dissipava era distribuída por muitos mais

átomos fazendo diminuir a energia térmica no interior do sistema. Com essa observação

Clausius fez uma análise matemática completa e coerente da entropia57

e concluiu com

a 2.ª Lei da Termodinâmica que o processo de dispersão e de entropia aumentava.

54

GLANVILLE, Allan R. Científica: O guia completo do mundo da ciência. Austrália: H.F.Ullmann, 2008. p. 42. 55

Cf. Primeira Lei da Termodinâmica. Disponível em >http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_lei_da_termodin%C3%A2mica< Acedido em 1/12/2014. 56

O calor flui espontaneamente de um corpo mais quente para um corpo frio. O contrário só quando ocorrem mudanças associadas para que as transformações termodinâmicas possam acontecer. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_lei_da_termodin%C3%A2mica> Acedido em 15/2/2015. 57 Cf. A entropia é uma medida de desordem de partículas de um sistema físico. A grandeza da termodinâmica entropia é representado pela letra S. Disponível em >http://www.infoescola.com/quimica/entropia/ < Acedido em 15/2/2015; Cf. 2ª Lei da Termodinâmica, disponível em> http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_lei_da_termodin%C3%A2mica< Acedido em 15/2/2015.

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34

Qualquer sistema isolado ia da ordem para a desordem muito facilmente impulsionado

por uma entropia crescente, que inevitavelmente conduzia a um processo irreversível58

.

Bertalanffy, na Teoria Geral dos Sistemas, apercebeu-se que os organismos

vivos, considerados sistemas abertos, não eram compagináveis com a termodinâmica

clássica dos processos irreversíveis. Bertalanffy identificou a autorregulação de um

sistema aberto num estado quase estacionado e considerou ser um princípio importante

na sua teoria, todo o organismo não era um sistema estático fechado ao mundo exterior

que continha sempre os componentes idênticos; era um sistema aberto num estado

quase estacionado (…) onde materiais ingressavam continuamente vindos do meio

ambiente exterior, e neste eram deixados materiais pelo organismo. Cada sistema era

compreendido por um conjunto de unidades reciprocamente relacionadas59

, com

objetivos comuns para formarem um todo, que por sua vez faziam parte de um todo

ainda maior, um supersistema. Para Anderson e Johnson o sistema é um grupo de

componentes interligados, interrelacionados ou interdependentes, que formam um todo

complexo e unificado60

, podendo no entanto subdividir-se em vários subsistemas de

acordo com o nível de detalhe ou de complexidade, mas tendo sempre em linha de conta

o todo. Para Chiavenato um sistema é um conjunto de elementos dinamicamente

interrelacionados, que desenvolvem uma atividade ou função para atingir um ou mais

objetivos ou propósitos61

.

A noção de sistema podia ser comparada à estrutura hierárquica de um

organismo vivo que continha um conjunto complexo de sistemas composto por órgãos,

tecidos e células. As células combinadas formavam os tecidos, que por sua vez

formavam órgãos para constituírem o organismo, envolvendo claramente milhares de

reações químicas num esforço sinérgico para manter o ambiente interno estável em

resposta a um ambiente externo variável. A sua organização autopoiética62

marcada por

uma barreira vulnerável que separava a unidade do sistema do meio ambiente reunia

58

A conceção de entropia e a formulação da segunda lei, a termodinâmica introduziu a ideia de processos irreversíveis de uma “seta do tempo”, em ciência. (…). CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo, SP: Cultrix, 1998. p. 43 59 Cf. BERTALANFFY, Ludwig Von - Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes. 1975. 60 ANDERSON, V.; JOHNSON, L. Systems Thinking Basics: from to concept to casual loops. Cambridge, MA: Pegasus, Communications, 1997. p.2. 61 CHIAVENATO, Idalberto - Administração: Teoria, Processo e Prática. São Paulo: Macron Books, 1994. 62

Cf. Termo usado na década de 70 pelos filósofos chilenos, Francisco Varela e Humberto Maturana, para designar a capacidade dos seres vivos se produzirem a si próprios. Disponível em:>http://pt.wikipedia.org/wiki/Autopoiese> Consultado em 3/3/2015.

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35

condições favoráveis (homeostasia) para manter os processos fisiológicos63

. Quanto à

forma dos sistemas, podemos imaginar hipoteticamente a ideia de dois espelhos frente a

frente, mostrando um sem fim de imagens decrescentes de objetos refletidos, sendo que

cada imagem era vista como um sistema mais complexo que o anterior (subsistema),

encadeado numa hierarquia infinita.

A Teoria Geral dos Sistemas apresenta as seguintes características: a diferença

entre total e todo, em que o total representa a soma das partes; o todo supera a adição

das partes, acumulando propriedades próprias que não se encontravam em nenhuma das

partes, portanto adquirindo um valor superior; e a intercomunicação entre as partes. Para

Edgar Morin o real complexo é mais que o todo das partes, porque o sistema, entendido

como uma unidade complexa dispunha de elementos dissociados mas fundamentais

para o sistema, que depois de reunidos faziam emergir potencialmente o todo, não sendo

cabalmente divisível. Numa intrincada conexão entre os componentes, as partes

constituintes, formadas por massa ou por energia64

, alinhavam numa necessidade

emergente, em algo maciço, mas invisível – a organização. Delimitado por uma

fronteira, como uma porta giratória colocada entre o sistema e o meio ambiente, a

organização sobrevive através das interações sinérgicas de informações, matéria ou

energia que, depois de processadas eram transformadas em resultados. Neste ciclo

gravitacional (feedback) do sistema, a relação com o meio exterior surge eminentemente

instável, pairando a ameaça da incerteza que é fonte de perturbações, de desequilíbrios

ou de flutuações, como também pode gerar uma fonte de oportunidades.

Na década de 70, Ilya Prigogine65

desenvolveu um estudo sobre a autorregulação

das estruturas dissipativas, uma nova fórmula da termodinâmica que veio esclarecer

algumas dúvidas acerca da noção de ordem, desordem e organização adaptados aos

sistemas complexos. Ilya Prigogine desenvolveu um estudo científico que ia para além

do conceito de sistema aberto, para explicar a razão pela qual os sistemas mudavam as

suas estruturas quando estavam em desequilíbrio, desencadeando uma nova fonte de

ordem. O seu trabalho científico baseou-se a partir da termodinâmica de processos

irreversíveis que estava relacionado com perdas de energia. Para Prigogine o estudo da

63 GLANVILLE, Allan R. Científica: O guia completo do mundo da ciência. Austrália: H.F.Ullmann, 2008, p 294. 64 Teoria da Relatividade de Einsten: E=mc² 65 Ilya Prigogine, químico e filósofo russo de nacionalidade belga, recebeu o prémio Nobel da química em 1977. É autor de vários livros: As Leis do Caos; Entre o Tempo e a Eternidade; O Fim das Certezas: Tempo, Caos e as Leis da Natureza; A nova aliança: metamorfose de ciência. Disponível em: >http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilya_Prigogine>

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36

2ª Lei da termodinâmica não conduzia necessariamente ao aumento da entropia. Com a

fórmula da teoria da autorregulação das estruturas dissipativas, Prigogine provou que os

sistemas abertos em desequilíbrio estavam ligados a flutuações no interior do seu

sistema. As próprias violações ao seu equilíbrio acabavam por produzir uma nova

ordem, resultado de fenómenos irreversíveis ocorridos numa probabilidade crescente e

orientados por uma seta do tempo. Prigogine referiu no seu livro66

que não há mais

situações estáveis ou de permanência que nos interessem, mas sim evoluções, crises e

instabilidades. Observou que o grande desordenamento do universo tinha a sua

complexidade, porque existiam mecanismos de compensação que levavam a um

processo de adaptação, a um aproveitamento do fluxo natural da ordem para a

desordem, para gerar algo novo, uma nova estrutura. As estruturas dissipativas geravam

uma nova fonte de ordem através de processos irreversíveis, para formar uma nova

estrutura organizativa e complexa, originando e mantendo um estado de equilíbrio mas

que inevitavelmente era mutável67

. Qualquer sistema podia ser levado ao limite, à beira

do caos, fixando-se num ponto indeterminado, chamado ponto de bifurcação, que por

meio de perturbações aleatórias podiam desencadear uma rutura na sua estrutura. Mas

na verdade, o colapso da desordem podia ser construtivo e coerente. Através da

homeostasia o sistema tendia a reconstruir através de um conjunto de normas, de

elementos ou de componentes que aproveitavam a energia desintegrante para se

equilibrar – a teoria das estruturas dissipativas ou auto organizadas. Inicialmente este

conceito foi paradoxal, mas veio colmatar a ambiguidade existente do conceito de

ordem natural. Nos seus estudos Prigogine fez uma relação entre as ciências naturais e

as ciências sociais e humanas, entendendo estas áreas como sistemas complexos e

dinâmicos, onde a incerteza, a instabilidade, a auto-organização e a homeostasia faziam

com que os seres vivos estivessem numa contínua adaptação, obrigando a uma

constante plasticidade criativa e instintiva (homeostasia) face à entropia. Para Prigogine

os sistemas não podiam evoluir em estados de equilíbrio ou próximos do equilíbrio68

. A

natureza era uma harmonia no caos, embora entendida como um tipo de ordem.

Para Chiavenato havia duas propriedades que eram essenciais para o

funcionamento do sistema: a entropia vista como uma tendência de qualquer sistema em

66 PRIGOGINE, Ilya; STENGERS, Isabelle. La nouvelle aliance. Paris: Gallimard, 1979, p. 15. 67 CAPRA, Fritjof - A teia da Vida: A nova compreensão científica dos sistemas vivos. Trad. Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Culturix, 1996. p. 71. 68

PRIGOGINE, Ilya - The end of certainty: time, chaos, and the news laws of nature. New -York: Free Press, 1997.

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37

caminhar para o desgaste, para a desintegração, devido ao aumento da aleatoriedade ou

da imprevisibilidade69

e a homeostasia entendida como a capacidade do sistema se

adaptar e reequilibrar as partes internas, face às perturbações do meio ambiente.

A contínua pesquisa do conhecimento social e científico abriu novos caminhos e

desafios. Embora a mudança não tivesse sido de uma forma uniforme nos diversos

campos científicos, a verdade é que a diferença entre o caracter fixo das leis da natureza

e a mutabilidade constante do mundo levaram a grandes reflexões. A existência de uma

interdependência e reciprocidade que ocorria em fenómenos, quer no meio social, nos

comportamentos individuais, no meio ambiente ou nas dinâmicas globais70

, obedeciam

a realidades, que ao invés de serem interpretadas a partir de uma componente isolada,

passaram a ser estudadas de acordo com a complexidade do contexto, que deriva do

grego complexus, que significa tecido em conjunto. Na teoria da complexidade há uma

convergência de teorias71

que no seu conjunto formam várias dimensões agregadas. Para

Morin72

, a essência de toda a conduta evolutiva dos sistemas complexos reside nas

palavras-chave, interação, comunicação, interdependência e interconexão. A partir da

noção de complexidade, a teoria do caos foi estudada pelo americano Edward Lorenz do

Massachusetts Institute, sobre as previsões do tempo, na década de 60. Considerado

como um sistema dinâmico não linear, o estudo foi feito a partir de três variáveis: a

temperatura, a pressão atmosférica e a velocidade dos ventos. A ideia central era a de

que sob uma aparente imprevisibilidade de comportamentos, pequenas alterações nas

condições iniciais de um sistema podiam provocar grandes efeitos em tempos e espaço

diferentes, ou vice-versa. Segundo esta teoria, uma pequena alteração nos dias de hoje

podia ter consequências a longo prazo e provocar um efeito daqui a 40 anos - metáfora

da borboleta73

. Um dos princípios mais importantes da Teoria do Caos referia que numa

aparente desordem no sistema resistia uma ordem, um padrão complexo e organizado,

69

Cf. Chiavenato, I. - A Introdução à Teoria geral dos sistemas. 3.ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1993, p. 32. 70

Cf. A visão ecológica profunda, definido por CAPRA, Fritjof. - A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Culturix, 1996. 71

Cf. A teoria da complexidade compreende várias teorias: A Teoria do Caos, Teoria dos Fractais, Teoria da Catástrofe, Lógica Fuzzi e outras. 72

MORIN, Edgar. A. - Da necessidade de um pensamento complexo. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2003. p.69-78. 73 A metáfora da Borboleta foi uma analogia feita por Edward Lorenz quando estudava os efeitos climáticos. Disse que o bater de asas de uma borboleta no Brasil podia causar um tornado no Texas. No início da década de 60 Edward Lorenz fez um estudo com 3 equações não lineares e com 3 variáveis, Concluiu que pequenas alterações repetidas nas condições iniciais de um sistema podiam alterar os resultados a longo prazo. Disponível em > http://www.famerp.br/projis/grp04/borboleta.html< Acedido a 12/12/2014.

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38

que permitia observar o tipo de estrutura que existia no mundo. Através do chamado

caos determinístico era possível determinar através de fórmulas matemáticas uma

definição do comportamento do sistema, onde a priori uma aparente imprevisibilidade

passava a ser previsível, ou determinadas oscilações que se repetiam, mas encobertas de

aleatoriedade originavam um novo sistema. Era nesse limiar do caos que a Teoria do

Caos interagia através do estudo e das leis que regulavam os movimentos aleatórios e

imprevisíveis dos sistemas complexos. Para Waldrop a complexidade era um fenómeno

intermediário entre o estádio da ordem e o caos74

.

Os sistemas complexos tinham uma capacidade adaptativa e criavam tanto ao

nível interno como externo condições para sobreviver, mas a sua vulnerabilidade latente

podia gerar instabilidade levando à morte do sistema. Para Edgar Morin75

existia uma

ordem dentro da desordem. Fora desta linha imaginária o sistema desintegrava-se. Uma

característica sistémica que garantia o equilíbrio da própria organização era a

capacidade de resiliência. Perante a vulnerabilidade manifesta do caos, que era

representado sob a forma de impacto negativo no sistema, a organização para se

equilibrar lidava com essas perturbações sob a forma de resistência ou inovação. Assim,

a resiliência e a vulnerabilidade concorrem juntos às mudanças, defrontando-se numa

agilidade e competitividade em prole de um ajustamento, condicionando a vida do

sistema. Uma mudança mínima numa qualquer parte dos seus componentes poderia

acarretar mudanças radicais no comportamento do sistema. Essas perturbações podiam

provocar um efeito catastrófico no imediato ou até o próprio sistema vir a sofrer mais

tarde uma clivagem no seu interior devido a um efeito boomerang. Da mesma maneira

os processos e interações que ocorrem na natureza podem demorar milhões de anos a

transformar, por exemplo a grafite76

em diamante77

. Os dois minerais são constituídos

por átomos de carbono puro mas a sua organização é no entanto mutável, adquirindo

propriedades diferentes que resultam da interação entre os átomos de carbono. No caso

do diamante cristaliza-se devido a uma reorganização na sua estrutura. Cada átomo de

carbono passa a estar rodeado de mais 4 átomos de carbono, numa coordenação

tetraédrica, aumentando a densidade do mineral e tornando o mineral mais cristalino e o

74 Cf. WALDROP, M.M. - Complexity: The emerging science at the edge of order and caos. New York, NY: Touchstone, 1992. 75 Cf. MORIN, Edgar, Le MOIGNE, Jean Louis - A inteligência da Complexidade. São Paulo: Petrópolis, 2000. Disponível em:>http://www.caosmose.net/candido/unisinos/textos/morin.pdf>Acedido em 11/2/2015. 76

Cf. A grafite é um mineral muito escuro e pouco duro. 77 Cf. O diamante é um mineral claro de dureza máxima.

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39

mais duro da escala de Mohs. O que mudou foi a complexidade dos átomos78

. Para

Fritjof Capra a visão ecológica profunda reconhece a interdependência de todos os

fenómenos e (…) enquanto indivíduos e sociedade estamos todos encadeados nos

processos cíclico da natureza, (…) e os seres humanos são apenas um fio particular da

teia da vida79

. É aqui que reside a chave do pensamento complexo, onde tudo liga a

tudo como uma rede.

1.2.2 O sistema de informações e a Teoria Geral dos Sistemas

O sistema de informações tem como princípio a produção de informações. De

acordo com a Teoria Geral dos Sistemas as organizações inserem-se num sistema

aberto, em constante permeabilidade com a sua envolvente externa, no qual interagem

ao trocar informações80

. A sua materialização decorre da emergência das várias partes

constituintes que coalescem e integram-se como um todo, tornando o objetivo do

sistema o ponto de atração dos seus elementos, o que gera uma interdependência entre

as várias partes. Assim, os componentes inerentes ao próprio sistema esculpem os

limites de uma estrutura tridimensional, que embora oculta, se destaca do meio

ambiente. Dotado de uma organização unitária e autónoma com uma matriz identitária

única, o sistema capta a informação atribuindo um código, tornando-a poderosa quando

partilhada. Os subsistemas, por analogia replicam em cadeia o mesmo padrão

comportamental do sistema que, de acordo com uma determinada ordem, modelam a

informação por via de um processamento interno próprio, embora numa escala menor.

À volta da unidade do sistema esbate-se uma tensão sob o seu perímetro, que

resulta de um processo desencadeado pelas próprias dinâmicas ocorridas entre o sistema

e o ambiente, o que torna os seus limites vulneráveis a qualquer ajustamento. No seu

interior, por baixo do invólucro, o aglomerado de componentes descreve entre si

dinâmicas gravitacionais, quando descarregam fluxos de informação ao nível da coleta

para gerar o processamento81

de dados. Depois sinergicamente82

convertem a

78

Cf. FULLER, Sue - Rocks & Minerals. London: Great Britain. 1995. p. 60-61. Cf. O diamante tem a classificação de 10 na escala de Mohs e a grafite 1 ou 2. 79 Cf. CAPRA, Fritjof. - A teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos seres vivos. Trad. Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Culturix, 1996. p. 16-17. 80 Na Teoria Geral dos Sistemas, o sistema aberto sofre influências do ambiente onde se encontra inserido. 81

O processamento é a função que permite a transformação ou manipulação da entrada de energia ou de informação num produto final. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Sistemas, Organização e Método: uma abordagem gerencial. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

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40

informação num produto final83

, influenciando o ambiente. Todavia, os seus resultados

dependem de várias propriedades, uma delas a responsável pelo equilíbrio dinâmico do

sistema - a homeostasia84

. Para contrariar a tendência entrópica85

dos sistemas, essa

propriedade é controlada por mecanismos de retroação ou feedback, a fim de restaurar o

equilíbrio perturbado por estímulos internos ou externos, repondo os critérios ou

padrões pré-estabelecidos86

.

Todos estes elementos são como veículos de um sistema, cujo trânsito faz parte

de uma equação complexa, para no final obter um resultado superior à soma do produto

dos seus elementos. Portanto a consciência da parte em beneficiar o todo que

corresponde ao princípio fundamental da Teoria Geral dos Sistemas.

O mesmo princípio se adequa aos serviços de centralização e coordenação da

informação de Angola que é um sistema com competências exclusivas de informação.

De acordo com o pensamento sistémico e atendendo à natureza organizacional e

hierárquica dos serviços insere-se num sistema aberto. Como entidade, a sua

materialização decorreu da procedência das várias partes constituintes que se inter-

relacionavam numa constante interdependência com o ambiente interno e externo,

influenciando-se reciprocamente. No seu interior o sistema detinha um conjunto de

propriedades exclusivamente suas, no entanto ao confluírem fluxos informacionais

provindos de outros subsistemas, o conjunto de sinergias ajudavam a maximizar os

resultados pretendidos.

82 Chiavenato definiu sinergia como uma propriedade complexa dos sistemas, que funcionavam numa conjugação de esforços das várias partes envolvidas do sistema, para atingir o objectivo final. CHIAVENATO, I. - Introdução à Teoria Geral da Administração. 3.ª ed. São Paulo: Mc-Grow Hill do Brasil, 1993. 83

O produto final são as saídas do sistema ou output. 84

Cf. O termo homeostasia deriva do grego. Homeo significa (o mesmo) e stasis significa (ficar). É uma propriedade autorreguladora de um sistema ou organismo que consegue resistir às mudanças e permanecer num estado de equilíbrio.

A retroalimentação ou feedback é a capacidade do sistema em

regular a sua conduta em função do seu desempenho. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homeostase. Acedido em 10/272015. 85

A entropia nos sistemas é a tendência para a desorganização, que se for levado ao máximo gera a morte do sistema. 86 O feedback é um procedimento que procura soluções inteligentes através da uma análise crítica e de estratégias para manter a organização estável. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de - Sistemas, Organização e Método: uma abordagem gerencial. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2002. Para Chiavenato, o feedback é um instrumento retroativo de controlo e que verifica se as respostas do sistema obedecem aos parâmetros pré-estabelecidos. CHIAVENATO, I - Introdução à Teoria Geral da Administração. 3.ª ed. São Paulo: Mc-Grow Hill do Brasil, 1993.

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41

Capítulo 2. O contexto internacional

Este capítulo vai tratar da política internacional, destacar o colonialismo, o

anticolonialismo e o início da guerra da independência de Angola. Na verdade, a Guerra

Fria situou-se entre o final da II Grande Guerra Mundial e a extinção da URSS.

Traduziu-se num confronto dialético, entre os EUA e a URSS, pelo controle do mundo.

Os EUA defenderam um regime político democrático-liberal e uma economia baseada

no modelo capitalista, e a URSS apoiava um regime socialista de centralismo

democrático e uma economia baseada na propriedade coletiva dos meios de produção.

Neste contexto, numa tentativa de eliminar o recurso à força na competição entre os

grandes poderes do mundo, ocorreram grandes conflitos de ordem militar, política,

tecnológica, económica e social. Não tendo sido uma guerra tradicional, com armas,

porém obrigou a um esforço constante, de ambas as partes, com vista a atingirem a

supremacia política internacional. Com formas agressivas de propaganda ideológica,

intervinham em conflitos regionais, transformando-os em controvérsias internacionais,

gerando grande tensão e desconfiança. Nesta conjuntura surgiu o grupo dos países que

pertenciam ao Movimento dos Países Não Alinhados, que não apoiavam o conflito das

duas potências, e mantinham uma posição neutral com uma forte militância, contra a

corrida ao armamento nuclear. Formaram um “Terceiro Bloco” constituído por países

em via de desenvolvimento, com preocupações distintas, como o tema da

independência, ou das políticas contra o colonialismo.

2.1– A envolvente externa: Política Internacional após a II Guerra

Mundial

Portugal resistiu aos ventos de mudança do movimento descolonizador, quando

novos países asiáticos e africanos passaram a fazer parte da ONU. Tendo ultrapassado

em número os países ocidentais, a sua presença constituiu uma voz determinante para o

incremento das políticas independentistas. A crescente hostilidade da ONU face à

resistência portuguesa em manter o status quo colonial, resvalaram para uma nebulosa

de conflitos políticos, ao nível internacional.

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42

O fim da II Guerra Mundial trouxe uma nova Ordem Internacional, corporizada

na Organização das Nações Unidas (ONU) e na Declaração Universal dos Direitos do

Homem. Estas mudanças trouxeram grandes alterações no quadro de valores instituídos,

e traduziram-se em medidas que respeitavam os princípios de justiça e de direito

internacional, refletindo deste modo, uma nova forma de pensamento democrático.

A guerra trouxe o declínio dos grandes impérios coloniais europeus e o velho

continente deparou-se com um cenário constrangedor de destruição, o desmoronar das

estruturas económicas das grandes cidades e das suas indústrias, a enorme perda de

vidas humanas, o endividamento dos países e as volumosas indeminizações de guerra

por parte da Alemanha reduziram a Europa à impotência absoluta.

A Europa procurou fazer das fraquezas forças e tirar lições das causas da guerra.

Tinha-se ultrapassado um limite irrepetível e era necessário lançar as pontes para uma

nova ordem política, económica e social, tanto ao nível interno, no âmbito das várias

constituições nacionais, como na relação entre os Estados europeus. As potências

europeias dos antigos impérios colonizadores enfraquecidos pela guerra foram forçadas

a enveredar pelo processo de descolonização87

.

Em 1945 foi fundada a ONU, com o propósito de pôr fim a um futuro conflito

internacional e de preservar as gerações futuras. Tratava-se essencialmente de um

instrumento ao serviço da paz e da segurança internacionais. Para atingir estes objetivos

foi necessário que os Estados tivessem consciência da importância da cooperação no

sector económico, social, cultural e humanitário, tornando, assim, mais fácil a sua

vinculação nos diversos assuntos88

. Este tratado-constituição teve por base o respeito

das obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes de direito internacional que

vincularam os estados membros.

Após a Guerra, grande parte da Europa foi politicamente alterada, e a leste as

suas fronteiras foram reestruturadas. Convalescente do mais mortífero conflito da

história, a Europa ocidental enfrentava uma nova ameaça – a do expansionismo

soviético. De facto, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) tinha

anexado territórios da Alemanha e muitos dos países de leste designadamente a Polónia,

a Checoslováquia, a Bulgária, a Hungria, a Roménia e a Jugoslávia – tornaram-se

87 ROCHA, Edmundo Vicente de Melo - Angola: Contribuição ao estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano – (período de 1950 a 1964): Testemunho e Estudo Documental; 2ª ed. Lisboa: Dinalivro, 2009. p. 9. 88

PEREIRA, André; QUADROS, Fausto - Manual de Direito Internacional Público. 3ª Ed., Coimbra: Almedina, 1993. p. 414- 419.

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43

satélites da URSS no pós-guerra. Estes territórios passaram a ser controlados por meios

político-militares e ideológicos, passando a constituir uma zona a que Churchill chamou

de cortina de ferro.

Em Março de 1946, Winston Churchill, ex primeiro-ministro britânico,

notabilizou-se com uma expressão que se tornou emblemática da perceção ocidental da

Guerra Fria. Num discurso em Fulton, Missouri, Churchill falou de uma “cortina de

ferro” que se abatia sobre a Europa de Leste onde se tinham instalado Estados

totalitários controlados por Moscovo. O discurso provocador de Churchill foi

inicialmente encarado como perigoso e belicista – acabava-se de pôr fim a um terrível

conflito e não se desejava ter outro tão cedo. Contudo, à medida que as relações de leste

e o ocidente se deterioraram começou a aceitar-se que Churchill tinha feito um

prognóstico certo89

.

O governo dos Estados Unidos da América (EUA) começou a temer que os

escombros da Europa Ocidental pudessem ser terreno fértil para a propagação do

comunismo. Nas palavras de George Marshall, então secretário de Estado, a Europa

devia ser ajudada de forma substancial para enfrentar a grande crise económica. Nesse

sentido, os EUA ofereceram um vasto programa de auxílio financeiro e material – o

Programa de Recuperação da Europa, ou Plano Marshall, em 1947 90

.

A criação da Organização Europeia de Cooperação Económica, (OECE), em

1948, e da Organização do Tratado de Atlântico Norte (NATO), em 1949, visava, nos

planos económico e político, fazer face a esta situação e institucionalizar a participação

americana no apoio militar. A reconstrução da Europa beneficiou de um impulso

imediato.

Tendo em conta a rápida recuperação, os dirigentes ocidentais passaram a temer

um possível ataque da União Soviética. Para reforçar a ameaça, formaram em Abril de

1949 a NATO, uma aliança militar que garantiu a assistência mútua em caso de

agressão soviética. Por outras palavras, a NATO colocou os países da Europa Ocidental

sob a proteção nuclear dos EUA.

89 H.P. WILLMOTT, H.P; MESSANGER, Charles; CROSS, Robin - II Guerra Mundial. Porto: Civilização Editora, 2009. p. 304- 305. 90 “O auxílio norte-americano do Plano Marchall, orientado no sentido de uma reconstituição económica dos países europeus, reclamou a criação da Organização Europeia de Cooperação Económica (OECE), destinada a repartir os fundos daquele auxílio e a promover o desenvolvimento da economia europeia.” MARTINEZ, Soares. Economia Política. 5ª ed. Coimbra: Almedina, 1991. p. 848.

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44

Em resposta às iniciativas ocidentais, a URSS e os seus aliados criaram

inicialmente o Conselho de Assistência Económica Mutua (COMECOM), em 1949,

seguindo-se o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar, em 1955. A Europa estava agora

dividida em dois blocos fortemente antagónicos dominados por uma Guerra Fria.

Rumando em duas frentes opostas, os EUA e a URSS competiam ao nível internacional

com filosofias diametralmente opostas, criando grandes clivagens entre os Estados,

nomeadamente através do Tratado de Potsdam, em que as duas potências, EUA e URSS

dividiram o mundo em duas áreas de influência política.

Porém, havia um denominador que era comum ao entendimento das duas

superpotências - a condenação do colonialismo, dada a sua incompatibilidade na nova

ordem crescente. Deste modo, as grandes potências influenciaram política, económica e

militarmente os outros Estados que, nascidos do movimento da descolonização,

tentavam agrupar-se nas suas áreas de influência.

A opinião pública internacional foi protagonista essencial na emergência do

processo descolonizador. No plano internacional era muito difícil os Estados ficarem

imunes ao tsunami histórico da descolonização. A grande utopia dos impérios começava

a desmoronar-se. Portugal, no período do Pós-Guerra, permaneceu ideologicamente

alienado às novas mudanças sociais, económicas e políticas da Europa. Contudo, apesar

da incapacidade de alimentar as novas correntes do pensamento moderno, o regime

autoritário do Estado Novo foi aceite por algumas democracias ocidentais, como a

França, a Inglaterra e os EUA. Na verdade, esta aceitação foi possível devido a uma

série de requisitos vantajosos para Portugal: a partilha da base aérea dos Açores; o

acolhimento aos judeus fugidos da guerra; ser membro fundador da NATO, bem como

o facto de ter assumido uma posição repressiva anticomunista militante. 91

Porém, no plano internacional, a diplomacia portuguesa também enfrentou

grandes problemas, tendo sido objeto de duras críticas na forma como conduziu a sua

política colonial, (…) não só da parte dos países do Terceiro Mundo, mas também dos

países do Bloco socialista e mesmo pelos sectores mais progressistas nos países

ocidental.92

91

ROCHA, Edmundo Vicente de Melo. Angola: Contribuição ao estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano – (período de 1950 a 1964): Testemunho e Estudo Documental; 2ª ed. Lisboa: Dinalivro, 2009. p.59. 92 IDEM, Ibidem.

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45

2.2 – Colonialismo

O colonialismo representa a supremacia de um Estado, que exerce a autoridade

sobre outro território, administrando do ponto de vista económico, político e social, com

a imposição de um modelo ideológico. Segundo Adriano Moreira o colonialismo

traduz-se na imposição de um poder superior alienígena sobre um povo e o seu

território, com sistema cultural diferente, em regra etnia diferente, e projeto político

diferente93

. A ideologia colonial do Estado Novo pretendeu criar uma dimensão de

maior impacto, subordinando a economia das colónias aos interesses de Portugal. Este

desenvolvimento compreendeu um enorme investimento financeiro, direcionado para a

exploração da matéria-prima, na obtenção de um mercado consumidor e no recurso à

mão-de-obra barata.

O recurso ao trabalho forçado estava codificado no Regulamento de Trabalho

Indígena, desde 1899, considerado como um instrumento legal para a aplicação de

penas de trabalho. O Regulamento de Trabalho Indígena (1899) dizia que os indígenas

das Províncias do Ultramar estão sujeitas à obrigação moral e legal de obter os meios

de subsistência e de melhorar a sua condição social pelo trabalho, no entanto as

autoridades públicas podem obriga-los a cumprir essa obrigação quando eles não o

façam (art.1º). No texto da lei, nas alíneas 31º e 32º estipula que o indígena que recuse

trabalhar pode ser condenado ao trabalho penal. Algumas categorias estavam isentas

dessa obrigação: os proprietários de capitais e bens; os detentores de terras; os que

trabalham voluntariamente como assalariados; os cipaios, os regedores e os chefes, que

mais tarde passaram a fazer parte da lista dos assalariados94

. Entretanto, em 1926, surgiu

outra legislação, que legitimou o Estado português nas colónias, como o Estatuto

Político Civil e Criminal dos Indígenas de Angola e Moçambique e as Bases Orgânicas

da Administração Colonial. Contudo foi o Ato Colonial95

, a Carta Orgânica do Império

Colonial Português e a Constituição Política da República Portuguesa de 1933 que

simbolizaram a política do Estado Novo, materializado sob a égide ideológica do

império colonial português.

93 MOREIRA, Adriano - Teoria das Relações Internacionais. Coimbra: Almedina 2002. p. 574. 94 ROCHA, Edmundo Vicente de Melo - Angola: Contribuição ao estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano – (período de 1950 a 1964): Testemunho e Estudo Documental; 2ª ed. Lisboa: Dinalivro. op.cit., p.67. 95

O Ato Colonial foi aprovado em 1930 através do decreto-lei nº 18570 de 8 de Julho. Mais tarde foi incorporado na Constituição de 1933 e revogado em 1951. Disponível em: http://www.legislacao.org/diario-primeira-serie/1930-07-08. Acedido a 12 de Fevereiro de 2014.

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46

Com o Ato Colonial (que definiu a política colonial portuguesa entre a metrópole e as

colónias, no período da ditadura do Estado Novo) criaram-se em Angola categorias

diferentes – os cidadãos e os indígenas96

. A Carta Orgânica de Angola de 1917,

consideravam-se indígenas a todos os indivíduos de cor, naturais da Província, que não

tenham alcançado ainda, nos termos fixados no artigo 259.º, o uso pleno dos direitos

civis e políticos conferidos aos cidadãos portugueses (…). Nesse artigo nº 259 referia

que todos os indivíduos de cor naturais da Província de Angola e de maior de idade,

poderão entrar no pleno uso dos direitos civis e políticos inerentes aos cidadãos

portugueses, quando satisfaçam às seguintes condições: 1º - Saber ler e escrever a

língua portuguesa; 2.º - Possuir os meios necessários à sua subsistência e à das suas

famílias; 3.º - Ter bom comportamento atestado pela autoridade administrativa da área

em que reside; 4.º - Diferenciar-se pelos usos e costumes do usual da sua raça.

Basicamente, havia uma escala hierárquica, que oscilava de acordo com o grau

de assimilação da cultura autóctone, relativamente aos valores culturais portugueses.

Paralelamente a esta diferenciação, surgiram também os assimilados cujo processo de

assimilação à cultura, língua e religião portuguesa, traduziu-se numa percentagem muito

baixa, cujo número evoluiu muito lentamente. Os assimilados dificilmente passavam a

cidadãos de 1ª classe, exercendo-se sobre eles uma autêntica discriminação, tanto

económica como social.97

A ascensão a esta categoria implicava o pagamento de

contribuições muito elevadas. A crença na superioridade da raça branca e da cultura

portuguesa foi um marco na arquitetura colonial.

Em síntese, o grupo dos assimilados ocupou na administração do Estado ou no

sector privado, lugares de relevo nas últimas décadas do colonialismo. Foi deste grupo

que surgiu grande parte dos líderes dos movimentos independentistas, ou dirigentes

políticos da atualidade.

96 ALVES, Carlos Alberto “Política, Religião e Colonialismo em Angola” disponível em http://www.ispsn.org/sites/default/files/magazine/articles/N8_carlosalves.pdf Acedido em: 18 de Agosto de 2015. 97

MARQUES, Oliveira A.H - História de Portugal: das revoluções aos nossos dias. 3ª ed. Lisboa: Palas Editora, 1986. p. 525.

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47

2.3 – Anticolonialismo

A descolonização ocorreu essencialmente na Ásia, África e parte da América

Latina entre 1959 e 1961.98

Foi um período marcado pela intensificação da luta pela

libertação dos povos colonizados. Em África, alguns países já tinham adquirido

recentemente a independência, mas a maioria dos países que se encontravam sob tutela

dos países colonizadores estavam em processo de luta pela independência e

autodeterminação dos povos. Em Angola, os movimentos de libertação reivindicavam a

independência nacional, enveredando uma luta contra o regime colonial, com

repercussões internacionais para Portugal.

Em 1955, a conferência de Bandung, na Indonésia, reuniu 29 países

independentes, dos quais 23 eram asiáticos e 6 africanos. Esta conferência proporcionou

uma ordem de trabalhos diferente, no plano internacional, da já inscrita lógica bipolar

das duas superpotências. Assente numa ideologia anticolonialista, as novas soberanias

nacionais marcaram a diferença em relação às forças poderosas da Guerra Fria, que

tentaram convencer os novos atores políticos a aderir às suas ideologias.

Os novos Estados afro-asiáticos representavam uma nova moral internacional99

e exprimiam o poder de uma nova consciência etno-identitária, diferente daquela que

tinha sido absorvida pelos antigos colonizadores. Deste modo, o novo nacionalismo

procurava a assunção gradual da historicidade e o resgate da autenticidade dos valores

autóctones, legitimando uma nova mitologia nacionalista, que integrava um novo

sentimento de identidade nacional. Portanto, a conferência de Bandung inscreveu um

cunho identitário através dos seus atores políticos que, apesar da sua heterogeneidade

nas questões políticas, económicas, culturais e ideológicas, assumiram uma agenda

complexa contribuindo com soluções para o desenvolvimento económico e social dos

países africanos e asiáticos que alcançaram a independência, tendo preconizado a

independência das restantes colónias, na luta contra o colonialismo.

Nessa altura, a sociedade internacional transformou-se num extenso aglomerado

de Estados que, na sua maioria, eram antigas dependências em situação colonial. Passou

a constituir um grupo de pressão, que deu voz a novos interesses que se sobrepunham

aos antigos ideais colonialistas. Neste contexto, a Conferência de Bandung marcou o

98 MEDINA, Maria do Carmo - Angola: Processos políticos de luta pela independência. 3ª ed., Coimbra: Almedina, 2013. p. 62. 99

“O nacionalismo afro-asiático” de Jamus 2010, anuário das relações exteriores <www.janusonline.pt/popups2010/2010_3_1_4.pdf>.

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48

nascimento político do então designado Terceiro Mundo, assumindo uma terceira força

em relação aos blocos da Guerra Fria 100

.

Depois da II Guerra Mundial, o despertar do continente africano e a

generalização dos movimentos de independência exerceram o seu impacto nas colónias.

A questão colonial portuguesa tornou-se no centro da agenda internacional e determinou

o destino das províncias ultramarinas. O anticolonialismo caracterizado como um ato de

consciência e de libertação da opressão, face ao regime colonial, contribuiu, tanto nas

colónias, como na metrópole, para o aparecimento de vários grupos clandestinos de

unidade africana. A recusa às propostas de negociação, apresentadas ao governo

português pelos movimentos nacionalistas, levou à luta pelo direito à autodeterminação

dos povos.

O princípio à autodeterminação dos povos e a descolonização ocorrida após a II

Guerra Mundial teve como agente impulsionador a Carta da ONU. Este instrumento foi

orientado sobre o corolário de pôr fim às políticas coloniais em todo o mundo101

,

estando subjacente no texto do tratado o princípio inalienável à autodeterminação dos

povos, defendido essencialmente pelos países vencedores da guerra e, portanto, pelas

superpotências – EUA e a URSS.

O direito dos povos à autodeterminação está expresso na Carta da ONU, sendo

uma das medidas destinadas a favorecer a paz. De acordo com Adriano Moreira (…)

embora a Carta (…) ainda falasse em conduzir os povos para a capacidade da

independência, rapidamente foi entendida no sentido de que todos os povos estavam em

condições de se autodeterminarem, e toda a relação colonial devia ser extinta 102

.

As potências europeias dos antigos impérios colonizadores enfraquecidos pela

guerra foram forçadas a enveredar pelo processo de descolonização103

. De entre as

várias atividades realizadas pela ONU, importa salientar as medidas produzidas para a

descolonização nos territórios dependentes. Portugal registou a sua posição como agente

da política internacional, ao arrepio dos interesses das políticas vigentes. De acordo com

a Carta das Nações Unidas, o princípio à autodeterminação dos povos foi reconhecido

100

ROCHA, Edmundo Vicente de Melo - Angola: Contribuição ao estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano – (período de 1950 a 1964): Testemunho e Estudo Documental; 2ª ed. Lisboa: Dinalivro, 2009. p.55. 101Artigo 2 da Carta das Nações Unidas. Disponível em http://www.fd.uc.pt/CI/CEE/OI/ONU/ONU-Carta-I-1- 102 MOREIRA, Adriano - Teoria das Relações Internacionais. Coimbra: Almedina, 2002. p. 576. 103

ROCHA, Edmundo Vicente de Melo - Angola: Contribuição ao estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano – (período de 1950 a 1964): Testemunho e Estudo Documental; 2ª ed. Lisboa: Dinalivro, 2009. p. 54.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

49

aos territórios “não autónomos”, de acordo com o artigo 73º, do capítulo XI da Carta.

Este preceito viria a ser desenvolvido por várias Resoluções da Assembleia Geral, e

votado por larga maioria104

. O artigo 73 da Carta determinou que os países membros

tinham o dever de promover o progressivo desenvolvimento de instituições livres e de

encaminhar as suas colónias para a independência, promovendo o desenvolvimento das

suas populações indígenas (nativas). Mas Portugal recusou-se a dar qualquer

informação sobre o desenvolvimento das suas populações, argumentando que as suas

Províncias ultramarinas não eram colónias105

.

Para contornar a exigência internacional de autodeterminação dos povos

colonizados, Portugal fez uma revisão Constitucional em 1951, que introduziu

alterações substituindo o termo colónias por províncias. Esta alteração constitucional

reconfigurou toda a arquitetura legislativa das instituições, tanto em Portugal, como nas

colónias. A Carta Orgânica do Império Colonial foi substituída em 1953, pela Lei n.º

2066 de 27 de Junho, pela Lei Orgânica do Ultramar Português, tendo em conta as

mudanças constitucionais realizadas, em 1951, com a Lei n.º 2048 de 11 de Junho.

Convicto das suas opções políticas, Portugal reiterava a sua posição imperialista,

contrariando as diretrizes da maioria dos estados signatários da ONU, para espanto e

indignação da comunidade internacional. Lembrou às diversas instâncias que as suas

províncias ultramarinas estavam consignadas na Constituição, a mesma com que

Portugal tinha entrado na ONU, em dezembro de 1955. Por outro lado, invocou o

princípio da não ingerência na Ordem interna do Estado, de que nenhuma nação poderia

(…) intervir nos assuntos que dependessem essencialmente da jurisdição interna dos

Estados106

. Este princípio geral do Direito Internacional fazia parte do domínio

reservado dos Estados, tenho entrado na Ordem Internacional como princípio geral

limitativo da Carta das Nações Unidas 107

. A Carta consagrava a existência de um

domínio reservado dos Estados, onde certos assuntos eram da sua exclusiva

competência, como garante da sua soberania. Na verdade, este princípio foi muito

controverso nos debates relativos ao problema da colonização108

.

104

PEREIRA, André; QUADROS, Fausto. Manual de Direito Internacional Público. 3ª Ed., Coimbra: Almedina, 1993. p. 386-387. 105 Capítulo XI, artigo 73, Carta das Nações Unidas: Declaração relativa a territórios não autónomos. 106 Carta das Nações Unidas, Capítulo I, artº2, nº 7. 107 Portugal contraria os termos do capítulo XI da Carta da ONU. Vide capítulo I, artigo 2, nº 7 – Nenhuma disposição da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervir em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição interna de qualquer Estado (…). 108 PEREIRA, André Gonçalves, op. cit. p. 477-478.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

50

A 20 de Setembro de 1960, a ONU iniciou a discussão de um relatório sobre os

territórios “não autónomos”. Esta resolução nasceu essencialmente pela recusa da parte

de Portugal em fornecer informações sobre as condições de vida das populações dos

seus territórios “não autónomos”, de que estava vinculado109

. A 14 de Dezembro de

1960 foi aprovada a Resolução 1514 (XV), na 15.ª sessão da Assembleia Geral da

ONU, por larga maioria, sem votos contra, embora com algumas abstenções. A

resolução proclamava a necessidade de pôr termo, rápido e incondicional, ao

colonialismo, sob todas as formas e em todas as manifestações 110

. A obtenção da

independência deixava de ser um princípio, para passar a ser um direito de facto. Os

povos dos territórios “não autónomos” passavam a ser sujeitos de Direito internacional,

materializando-se no direito à descolonização. Tal exercício não podia ser

condicionado.

A 15 de Dezembro de 1960 a Resolução 1541 (XV) da Assembleia Geral da

ONU, determinava a obrigação dos membros das Nações Unidas em comunicar à

Organização as informações referidas na alínea e) do artigo 73 da Carta. Nesse mesmo

dia, a Resolução 1542 confirmou a aplicabilidade das duas resoluções a Portugal,

passando a referir expressamente como territórios “não autónomos” sob administração

de Portugal, todas as suas colónias, nos termos da Carta.

Portanto, à luz da comunidade internacional, Angola era um Estado sob

administração de outro Estado, tendo o direito de ascender à sua independência111

.

Em 1961, após um forte ativismo político, a ex- Província ultramarina de Angola

continuava na agenda internacional da ONU, sendo exigido a Portugal o término da

ofensiva colonial. A 21 de Abril de 1961, foi aprovada nova resolução da Assembleia-

Geral para que o governo português introduzisse reformas em Angola e uma comissão

de inquérito para observar a situação no território. Uma resolução do Comité de

Informação, a 19 de Maio, comunicava o facto de Portugal não fazer intenção de

mostrar quaisquer elementos respeitantes às suas colónias.

Salazar insistia na sua política imperialista, indo contra a nova ideologia

dominante, e defendia o império ultramarino como sendo a essência da nação e

109 ROCHA, Edmundo Vicente de Melo - Angola: Contribuição ao estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano – (período de 1950 a 1964): Testemunho e Estudo Documental; 2ª ed. Lisboa: Dinalivro, 2009. p. 29. 110MATEUS, Dalila Cabrita; MATEUS, Álvaro - Angola 61 – Guerra Colonial: Causas e Consequências. 3ª ed. Alfragide: Texto Editora, 2013. p. 20. 111

MEDINA, Maria do Carmo - Angola: Processos políticos de luta pela independência. 3ª ed. Coimbra: Almedina, 2013. p. 63.

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considerando as partes do império como um todo inalienável e indissociável entre si

112. Portugal imbuído no seu nacionalismo, assente numa identidade e pátria

extraordinária, não queria perceber que as outras nações também tinham o mesmo

sentimento, por isso, voltar ao seu espaço onírico era uma realidade impensável.

Portugal enfrentava grandes convulsões políticas e sociais. Vários movimentos de

contestação proliferavam por toda a Província Ultramarina. Uma brisa ideológica

disseminava a semente da liberdade, e movimentos clandestinos emergiam de vários

lados, imbuídos num sentimento único - a inequívoca vontade de libertação. Adquirir

sem dilações a independência nacional. Este recrudescimento de consciência nacional

tinha uma energia que teimava em subir de tom, era um facto político que não podia ser

subestimado.

Nesta altura, o processo da descolonização tornou-se irreversível. Em finais dos

anos 60, muitos países africanos tinham assento na Assembleia das Nações Unidas.

Como refere Dalila Mateus, em 1960, por muitos considerado o ano de África, 17 novos

países acederam à independência 113

.

112 ROCHA, Edmundo - Génese do Nacionalismo Moderno Angola. 2009, p. 59, apud Fernando Rosas “A CEI no contexto da política colonial Portuguesa” in Mensagem, nº especial Ed. Associação da Casa do Império. p. 13-22. 113

MATEUS, Dalila Cabrita; MATEUS, Álvaro - Angola 61 – Guerra Colonial: Causas e Consequências. 3ª ed. Alfragide: Texto Editora, 2013. p. 127.

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53

Capítulo 3 – O ambiente interno

Este capítulo irá estudar a ação dos movimentos de libertação de Angola que

surgiram para a luta a favor da independência política. Atendendo a este propósito,

destacamos algumas obras que referem as diferentes perspetivas e abordagens

metodológicas deste período da história do colonialismo português.

Na realidade, durante a sua duração os naturais de Angola constituíam a mão-de-

obra barata não qualificada, tinham uma incidência no pagamento de impostos, sem

contrapartidas, viviam expostos à humilhação quase que instituída à simples condição

de ser negro, ou remetidos à condição subalterna de indígena114

cujo regime do

indigenato consagrava de jure a discriminação racial das colónias já que qualquer

branco podia adquirir o Bilhete de Identidade português, e os negros e mestiços só em

certas condições comprovadas.

Alcançar a independência era um sonho que não podia ser adiado, nem apagado

da memória, era algo intrínseco à condição humana – ter o direito natural de poder ser

livre. A consciência dessa alternativa pôs em marcha a exaltação de um nacionalismo

ancestral, que se tentou libertar das amarras coloniais. Porém, essa utopia tinha um

preço – a luta pela libertação.

No contexto colonial, foram criadas várias associações, como a Liga Nacional

Africana, a Casa dos Estudantes do Império (CEI), o Clube Marítimo Africano e a

Anangola, que constituíam espaços de tertúlia onde as trocas de experiências e de

conhecimento deram origem às primeiras formas de contestação, assumindo todos a

mesma família nacionalista marxista, ainda que com diferentes matrizes115

. A atividade

de grupos clandestinos no estrangeiro veio a ter maior visibilidade junto da opinião

pública internacional, dada a forte pressão exercida pelo regime colonialista em

114

MEDINA, Maria do Carmo - Angola: Processos Políticos de luta pela independência. 3ª ed. Coimbra: Almedina, 2013. p. 42-43. “O problema da determinação do Povo de um Estado (…) quando se expande a partir do território em que inicialmente se constituiu e vai povoar novos territórios onde residem populações de diferentes culturas e estados de civilização, muitas vezes, mesmo primitivas, estas populações continuam a reger-se pelos seus usos e costumes tradicionais e os seus indivíduos não se tornam cidadãos do Estado que os domina e os educa senão quando alcançarem o mesmo grau de civilização dos colonos assemelhando-se a eles (assimilação).” CAETANO, Marcelo - Manual de Ciência Política e Direito Constitucional – Tomo I. 6ª ed. Coimbra: Almedina, 1993. p. 125. 115

ROCHA, Edmundo. Contribuição ao estudo da génese do nacionalismo moderno angolano. (período de 1950 a 1964): Testemunho e Estudo Documental; 2ª ed. Lisboa: Dinalivro, 2009. p.75.

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Angola116

. Um pequeno sector dessas minorias brancas nascidas em Angola (euro-

africanos) ou seja angolanos de jus solis, fizeram implodir pequenos surtos ligados ao

fenómeno do nacionalismo, cujo sentimento separatista tinha na sua origem tensões

políticas relativas ao governo de Lisboa.117

3.1 – A envolvente interna: Movimentos pró independência de Angola

Com a chegada da Polícia Política de Defesa do Estado (PIDE) a Angola, foi

instaurado um serviço de repressão policial de cariz político, através do Decreto-Lei nº

39749, de 9 de Agosto de 1954. A sua orgânica interna, relativamente a poderes e

funções foram as mesmas atribuídas à Polícia Judiciária. Seguiu-se, assim, o sistema

similar ao adotado em Inglaterra onde idênticas funções foram desempenhadas por um

ramo especial com autonomia do Departamento de Investigação Criminal, conhecido

por Scotland Yeard.

A sua organização operava como uma Polícia internacional e de intelligence em

Portugal. Tinha como base uma estrutura funcional, onde a recolha de informação

estava relacionada com possíveis ameaças à segurança do Estado118

. Centralizava no seu

seio, todos os organismos com funções preventivas, repressivas, instrução preparatória

dos processos e prisão preventiva. A PIDE cruzou informação com os serviços secretos

dos vários países da NATO, de que Portugal fazia parte e, com diversas agências

secretas de informação do mundo ocidental, nomeadamente a CIA, a Interpol e outras

organizações internacionais de cooperação de polícia internacional.

Durante os anos 50, do século XX, formaram-se as primeiras organizações

clandestinas em Luanda. O Partido Comunista Angolano (PCA), criado a 12 de

Novembro de 1955, em Luanda foi fundado por Viriato da Cruz, Ilídio Machado, Mário

António de Oliveira e António Jacinto. A sua matriz fundadora marxista-leninista teve

pouca aceitação na comunidade angolana.

O Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA) fundado no ano de

1956, por Viriato da Cruz, foi a nova versão do PCA. Nesse mesmo ano foi elaborado o

Manifesto, com data de dezembro de 1956, que continha uma mensagem da corrente

116 FARIA, António - Linha Estreita da Liberdade: A Casa de Estudantes do Império. Lisboa: Edições Colibri, 1997. 117

PIMENTA, Fernando Tavares - Angola: Os Brancos e a Independência. Porto: Afrontamento, 2010. p. 26-89. 118PIMENTEL, Irene - A História da PIDE. Rio de Mouro: Círculo dos Leitores, 2007. p. 524.

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55

nacionalista marxista, multirracial, de um grupo de patriotas que apelava aos angolanos

para formarem um “amplo movimento popular para a libertação de Angola” 119

. Este

Manifesto, que ficou conhecido por ser tratar de um apelo à contestação, que exortava a

constituição de movimentos, partidos ou grupos que objetivassem a luta contra a

opressão colonial, em todo o território de Angola, foi considerado o documento

fundador do MPLA. Nesta altura, deu-se início à fase panfletária, imprimida pela

génese do nacionalismo angolano e materializado em movimentos marxistas e católico.

Em 1954, surgiu a União das Populações do Norte de Angola (UPNA),

associação etno-regional, constituída pelos angolanos emigrados no Congo. Mais tarde

veio dar origem à União das Populações de Angola (UPA), fundado por Holden

Roberto em 1950. Tratava-se de um movimento ligado aos emigrantes angolanos, a sua

maioria de etnia baconga, sediados no ex Congo Belga. Surgiram outros grupos

nacionalistas radicados em Luanda, como o Exército de Libertação Nacional (ELA) e o

Movimento pela Independência de Angola (MIA), que mantinham contactos secretos

com a UPA, sediada em Leopoldville (Kinshasa). A Aliança dos Originários do Zombo

(ALIAZO), que inicialmente não passava de um agrupamento de carácter tribal, evoluiu

e obteve uma dimensão política mais abrangente tendo adquirido a veste de Partido

Democrático Angolano (PDA). Mais tarde, este partido, uniu-se à UPA, tendo

constituído uma Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), liderado por Holden

Roberto120

.

De entre as várias prisões em Angola, resultaram dois processos que foram

conhecidos pelas personalidades envolvidas: O Processo dos 50 e o Grupo dos 36 121

. O

processo dos 50 era composto por 3 processos que incluíam angolanos e portugueses.

Estava relacionado com as atividades clandestinas do Movimento de Libertação de

Angola (MLA), do Movimento para a Independência de Angola (MIA) e do Movimento

de Libertação Nacional (MLN). A principal atividade política clandestina destes

movimentos era a de difusão de documentos e panfletos, bem como, elaboração de

relatórios e cartas dirigidas às autoridades. Foram aplicadas penas que variaram entre os

119 PACHECO, Carlos - MPLA: Um Nascimento Polémico. Lisboa: Vega, 1997. p. 30. 120 ROCHA, Edmundo - Angola: Contribuição ao Estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano. Lisboa: Dinalivro, 2003. p. 138-145. 121

MATEUS, Dalila, MATEUS, Álvaro - Angola 61 – Guerra Colonial: Causas e Consequências. 3ª Ed., Alfragide: Texto Editora, 2013- p. 59. Refere-se a um título dado pelo dirigente político angolano Mário Pinto de Andrade a um livrinho sobre luta nacionalista e as prisões feitas, em Angola, pela PIDE.

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3 e os 10 anos e, cumulativamente, perdas de diretos políticos que podiam ir até aos 15

anos.

O MPLA foi um movimento que agrupou diversos elementos com várias tendências

político-ideológicas. O seu percurso sofreu várias mutações, resultado da atividade das

diferentes fações. Na verdade, assumiu diversas designações no seu percurso e a sigla

MPLA só surgiu em 1960122

, altura em que houve um processo contra a organização do

MPLA, conhecido por - Grupo dos 36. O processo era composto por vários presos,

destacando-se o médico António Agostinho Neto e o sacerdote Joaquim Pinto de

Andrade.

O regime ditatorial do Estado Novo português baniu direitos, liberdades e garantias

pessoais, como a formação de partidos políticos ou de sindicatos livres. Deste modo, era

de esperar uma atitude repressiva face à existência de quaisquer outros partidos

políticos, que não fosse o partido único - União Nacional. Em Angola, a PIDE

desencadeou uma catadupa de prisões a partir de 1959 por atividades subversivas contra

o regime do Estado.

Em 1969, deu-se a transição da PIDE, criada pelo Decreto-lei nº 35046, de 22 de

Outubro de 1945, para da Direção Geral de Segurança (DGS), facto que se caracterizou

pela sua continuidade funcional. Os seus serviços funcionaram até 1974, tendo sido

extinta pelo Decreto-lei nº 171 de 25 de Abril de 1974. No entanto, em Angola, estes

serviços continuaram a funcionar até à sua independência – 1975, sob a designação de

Polícia de Informação Militar (PIM) e Gabinete Especial de Informações Militares do

Comande Chefe das Forças Armadas em Angola, embora com outras atribuições123

.

122 MATEUS, Dalila Cabrita; MATEUS, Álvaro - Angola 61 – Guerra Colonial: Causas e Consequências. 3ª ed., Alfragide: Texto Editora, 2013, p. 62; ROCHA, Edmundo. Contribuição ao estudo da génese do nacionalismo moderno angolano. (período de 1950 a 1964): Testemunho e Estudo Documental; 2ª ed. Lisboa: Dinalivro, 2009. p.79. 123

CARVALHO, José Victor de Brito Nogueira - Era tempo de morrer em África: Angola, Guerra e Descolonização, 1961-1975. Lisboa: Prefácio, 2004.

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57

3.2 – O Início da guerra da independência

Em Angola, o colonialismo português continuava a ser contestado. A revolta de

4 de Fevereiro de 1961 constituiu uma rotura entre as populações rurais e as autoridades

da administração portuguesa. Os agricultores eram obrigados a trabalhar no cultivo do

algodão e, no final de cada estação, tinham de vender a produção a baixos preços à

Companhia COTONANG. Cansados de tanta exploração e forçados a deslocarem-se

constantemente das suas aldeias devido à saturação das terras, os cultivadores

recusaram-se a trabalhar o algodão, a pagar o imposto de capitação e a obedecer às

autoridades124

.

Esta sublevação teve um efeito multiplicador na luta contra a opressão. Pouco tempo

depois, teve lugar um outro fenómeno insurrecional de grande envergadura, perpetrado

por forças políticas externas, tendo atacado principalmente os distritos do Uíge, Zaire e

Cuanza Norte. Saquearam plantações e casas, destruíram vias e meios de comunicação,

assassinaram povoações, autoridades administrativas e agentes da ordem. Instalou-se

um clima de suspeita de ódio entre raças. Mais tarde, esse ataque foi reivindicado pela

UPA. Foi na base destes pressupostos que se deu início à Guerra Colonial125

.

Dos incidentes de 1961 resultaram dois acontecimentos relevantes, o

levantamento das populações contra o colonialismo português, a 4 de Fevereiro, devido

essencialmente à violência e aos abusos laborais praticados pelas autoridades coloniais,

e a sublevação do 15 de Março da responsabilidade da UPA126

. Contudo, outros fatores

também contribuíram para o desenlace da guerra, como a recusa do colonialismo, as

independências em África, o descontentamento das populações que professavam um

sentimento separatista exigindo a independência, a rejeição de uma via reformista e

negocial e o sentimento de medo generalizado face ao cenário político existente. Na

sequência destes acontecimentos, houve um reforço das posições do regime na

Metrópole, dando inicio à Guerra Colonial que se estendeu em três grandes frentes de

guerra: Angola, Guiné e Moçambique.

Um dos aspetos relevantes da luta armada em África foi a sua manutenção e o

fornecimento de armas. No Conselho de Segurança e nas instancias internacionais, os

Estados Unidos votavam a favor ou contra, de acordo com os seus interesses

estratégicos. Nesta dicotomia de interesses (…) os Estados Unidos contribuíam para o

124

IDEM – Ibidem. p. 44. 125

IDEM – Ibidem. p. 142. 126 PIMENTEL, Irene Flunser - A História da PIDE. Lisboa: Temas e Debates. 2011, p. 143.

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58

esforço de guerra português fornecendo aviões, armas, munições e desfolhantes (…)127

,

embora financiassem também os movimentos independentistas. Quase todo o material

e ajuda financeira dados à UPA/FNLA vieram dos Estados Unidos.

Outros países contribuíram para a manutenção da Guerra Colonial, como

Inglaterra, França e Alemanha, embora de uma forma encapotada, evitando

comprometer-se abertamente. A política externa portuguesa foi muitas vezes envolta

num processo nebuloso. Contudo, a defesa dos princípios ideológicos assentes na

preservação do império colonial, concorriam como testemunho do seu anacronismo,

face à realidade politico-cultural do mundo ocidental.

Em 1966, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA),

liderada por Jonas Savimbi foi constituída maioritariamente por dissidentes políticos do

MPLA e da FNLA128

. Em Abril de 1966, a UNITA, desencadeou as primeiras ações no

Leste de Angola, mais precisamente no Cuando-Cubango, convertendo esta parte do

território numa base de apoio à guerrilha. O grande objetivo da UNITA era o combate

ao MPLA e o controlo das populações que estavam sob o seu domínio129

.

O processo da racialização e a ideia de lutas de classes estava anexo ao princípio

da nacionalidade, facto que iria conduzir a um pensamento maniqueísta que foi

transversal a todos os movimentos que se envolveram em guerrilhas. Na verdade, o

debate intelectual do nacionalismo angolano foi quase sempre enviesado pelas lutas

político ideológicas, entre as guerrilhas e o colonialismo. Fernando Tavares Pimenta faz

uma análise crítica da principal bibliografia sobre o nacionalismo angolano. O longo

processo da colonização obrigou a um grande êxodo da população branca para as

colónias. Mais tarde, um pequeno sector dessas minorias brancas nascidas em Angola

(euro-africanos) ou angolanos de jus soli, fizeram implodir pequenos surtos ligados ao

fenómeno do nacionalismo, cujo sentimento separatista tinha na sua origem tensões

políticas relativas ao governo de Lisboa. O estudo do nacionalismo branco foi ignorado

durante muito tempo pela historiografia moderna, integrando apenas as tipologias de

cariz negro. A obra de Fernando Tavares Pimenta, Angola, os Brancos e a

Independência introduz novos elementos sobre esta problemática que, paradoxalmente

127 IDEM – Ibidem. p. 196. 128 MEDINA, Maria do Carmo - Angola: Processos Políticos de luta pela independência. 3ª ed. Coimbra: Almedina, 2013. P. 49. 129

MATEUS, Dalila Cabrita - A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961-1974. Lisboa: Terramar. 2ª ed.. 2011. p. 271 e 324.

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59

integra a construção de uma forma de nacionalismo, com características próprias e

diferente do europeu.

Começamos por elencar a obra de Dalila Cabrita Mateus em A PIDE/DGS na

Guerra Colonial, que reproduz a sua tese de doutoramento em História Moderna e

Contemporânea. Trata-se de um estudo completo sobre as atividades da Polícia

Internacional de Defesa do Estado/Direção Geral de Segurança (PIDE/DGS) durante a

guerra colonial nas antigas colónias portuguesas entre 1961 e 1974.

O seu estudo encaminha o leitor numa primeira fase para o enquadramento

histórico-jurídico de uma organização que operava como uma polícia internacional e de

intelligence em Portugal seguindo um sistema adotado em Inglaterra, onde idênticas

funções eram desempenhadas pela Scotland Yard. Tinha como base uma estrutura

funcional, onde a recolha de informação estava relacionada com possíveis ameaças à

segurança do Estado. As competências da PIDE foram transferidas para as ex-colónias

portuguesas em África a partir de 1954, abarcando um número escasso de efetivos que

compunham o quadro da polícia. Fiscalizavam as fronteiras, controlavam a propaganda

comunista e os opositores políticos. A autora faz o levantamento organizacional da

PIDE/DGS, descreve a evolução legislativa, a criação das delegações e subdelegações

na metrópole e nas colónias e as atribuições, funções e poderes da PIDE/DGS. Refere as

relações desta polícia com as polícias da África Austral, com os serviços secretos de

países da NATO e com os principais organismos portugueses.

A guerra colonial revelou ser de uma violência atroz contra as populações

africanas, com os atos de brutalidades perpetrados pelas Forças Armadas, embora o

grosso das ações de obtenção de informação, infiltração entre os guerrilheiros, atentados

contra os seus líderes, tortura de prisioneiros, gestão de prisões e de campos de

concentração fossem cometidos pela PIDE/DGS. A repressão e a recolha de

informações foram contributos da ação da PIDE durante a guerra colonial. Na maior

parte dos casos as Forças Armadas passavam para a PIDE a maior parte do trabalho

sujo no que diz respeito a militantes e simpatizantes de causas nacionalistas. As duas

organizações apoiavam-se uma à outra e neste sentido havia uma coresponsabilidade

absoluta. A polícia política portuguesa investigou crimes contra a segurança interna e

externa do Estado. Para o efeito, procedia à instrução preparatória dos processos,

assegurava a informação nos teatros de guerra, procedia à (…) recolha, pesquisa,

centralização, coordenação e estudo das informações úteis à segurança. As entidades

que recolhiam a informação processavam para posteriormente fornecerem aos militares

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60

e aos políticos. Na verdade, essa informação destinava-se a ser distribuída por algumas

entidades ou dependências da polícia a quem o relatório pudesse interessar. Dalila

pormenoriza as várias ações de controlo dos informadores da PIDE nas colónias e nos

países vizinhos, incluindo a criação dos Flechas, uma força de elevada operacionalidade

no interior das matas.

Uma outra questão que se colocou após o 25 de Abril foi a resistência para

extinguir a PIDE/DGS nas ex-colónias portuguesas em África, sobretudo em Angola,

uma vez que a polícia política trabalhou de uma forma integrada na Policia de

Informação Militar. Para as altas patentes o fim da guerra não era o fim da

descolonização. Era importante acabar com a guerra devido às alterações internacionais

que assim o exigiam. Contudo, não houve qualquer plano de descolonização, mas sim

outros planos de trabalho que continuaram, dizia o Professor Adriano Moreira, citado

no seu livro A espuma dos tempos: Memórias do tempo de vésperas, onde que faz uma

reflexão sobre a descolonização130

.

A publicação da obra de Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, em Angola 61-

Guerra Colonial: Causas e Consequências. Trata-se de uma trabalho de cariz científico

que tenta reproduzir o início da guerra em Angola, tendo como base essencialmente a

investigação de documentos dos arquivos da PIDE e do Arquivo de Oliveira Salazar

(AOS). Os autores referem a importância do continente africano no ano de 1960,

atendendo ao elevado número de representes africanos na Assembleia-Geral da ONU e

à consequente contribuição no avolumar das reivindicações da independência das

colónias. Refere o complicado e difícil processo de independência do antigo Congo

Belga e a repercussão que teve no norte de Angola. Os autores descrevem as

características do colonialismo em nome de uma doutrina assente na superioridade

racial dos colonizadores, para quem a expansão colonial seria um direito das raças

superiores, destinadas a serem dominadores. A forma como era justificado o seu

domínio através dos investimentos na economia, afetando para a sua produção a mão-

de-obra barata, a política da assimilação, a violência, a descriminação e a humilhação a

que estavam sujeitos os africanos, não deixando, porém, de referir a revolta da Baixa de

Cassanje, determinada pela miséria dos cultivadores do algodão.

Contudo, esta obra chama a atenção para dois acontecimentos que levaram ao

desenlace da Guerra Colonial: o 4 de Fevereiro, marcado pelo assalto aos

130

MOREIRA, Adriano - A Espuma dos Tempos: Memórias do Tempo de Vésperas. Lisboa: Almedina. 2009.

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61

estabelecimentos prisionais e militares em Luanda, e o 15 de Março, uma sublevação

reivindicada pela UPA, no Norte de Angola. Os autores seguem o trilho da história,

imergindo na densa e intrincada informação dos arquivos históricos, nas entrevistas e

nos depoimentos, enfim enveredando numa perspetiva intelectual para configurar a

verdade dos factos. Num outro instante, a regressão ao passado confronta-os com outras

realidades. A emoção da primeira consulta aos textos empoeirados pelo tempo e a

apreensão do poder das palavras mudas, tácitas, que ecoam nos sentidos, constituem

peças reveladoras do grande puzzle da história.

O destaque deste tema configura o cerne do trabalho de pesquisa dos autores,

que olhando para os dois lados da barricada, justapondo o caminho da luta armada na

tentativa da conquista da independência em resposta à opressão, à exploração e à

repressão brutal, ao mesmo tempo, que desmontam a armadilha que constituiu a ameaça

ao regime, apresentando detalhes que constam de relatórios e informações comprovadas

das razões que levaram ao endurecimento das políticas coloniais, tendo como solução

para o problema (…) a guerra, a única resposta de um regime autoritário que se

incompatibilizava com qualquer espírito crítico. O início da guerra em Angola exigiu

mudanças ao nível do aparelho governamental, assim como a introdução de novas

reformas numa altura em que o professor Adriano Moreira assumiu a pasta do

Ministério do Ultramar e o General Venâncio Deslandes foi nomeado Governador-geral

e Comandante-chefe das Forças Armadas de Angola num período particularmente

difícil entre 1961 e 1962. Ora, o destaque dos autores para a personalidade do General

Deslandes, um visionário pragmático com preocupações em entender as grandes

dinâmicas de fundo do país e apontar prioridades. Para Deslandes a realidade andava de

mãos dadas com o pragmatismo. Contudo, a sua idiossincrasia aliada a uma imaginação

progressista fê-lo resvalar para uma realidade desconfortável e controversa, quando

propôs a necessidade da existência de um governo e de órgãos nacionais de soberania

em que as três Províncias estejam representadas em pé de igualdade e tenham as

mesmas responsabilidades de decisão, e também sugeriu um largo plano de evolução

social para os negros, e uma plataforma de entendimento com os líderes pretos e

mestiços. Sem se dar conta, a sua visão tinha abalado os pilares da propaganda do

regime, o que conduzira ao seu afastamento ao fim de um ano. O General Deslandes

exerceu o cargo de comandante-chefe em Angola, e conduziu ao mais alto nível as

políticas dos Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola na sua

fase inicial.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

62

Na sequência deste trabalho referimos a investigação da professora e jurista,

Maria do Carmo Medina na obra Angola: Processos Políticos da Luta pela

Independência131

. Este livro surgiu na sequência da apresentação de uma palestra em

Luanda, sobre o Processo dos 50, conhecido pelas primeiras vagas de prisões de

nacionalistas angolanos, cometidos pela PIDE em 1959. Após o levantamento de

algumas questões suscitadas relativamente ao tema, houve a necessidade de repor essa

memória, reconstituindo todo um património que ocorreu há quase meio século. Um

tempo suficientemente longo para que o esquecimento se instalasse e obscurecesse nas

gerações recentes. Retomar a memória dessas vivências do passado para reconstruir a

experiência coletiva, implicava a consulta e análise cuidada da documentação arquivada

nos diversos arquivos históricos, tanto em Angola como em Portugal, designadamente

no arquivo Nacional da Torre do Tombo e no 1.º Tribunal Militar Territorial de Lisboa.

A autora refere o seu longo percurso de vida profissional, não deixando de

referir no entanto um conjunto de princípios éticos e morais que nortearam o exercício

da sua profissão e o sentido de militância que adquiriu no convívio das várias

associações académicas que contestavam o antigo regime. Em 1950 foi viver para

Angola e iniciou a sua atividade profissional como advogada, calcorreou os diversos

tribunais na defesa do direito de propriedade das famílias esbulhadas pelo poder

colonial e a partir de 1959 defendeu os presos políticos e os que voltavam dos campos

de concentração. Medina tinha a perfeita noção da pesada batalha que estava confinada,

mas o que a moveu na luta pela defesa dos oprimidos foi a crença na valorização do ser

humano e na própria condição humana que andavam a par com a sua vocação militante.

A este propósito, convirá referir que a Dr.ª Medina se revestiu das suas convicções, que

de uma forma consistente a impulsionaram para as verdadeiras batalhas legais nas

barras dos tribunais.

Os acontecimentos que a autora traz para a luz do dia pertencem a um passado

não muito longínquo do processo revolucionário. Ao fim de uma marcha arrastada de

quatro décadas Maria do Carmo faz um itinerário panorâmico das experiências vividas

que de uma forma retroativa se unem ao seu presente. Ao revisitar a história, a autora

vasculha nas camadas do tempo e desenterra algo ensombrado, que foi a trama legal da

máquina do regime. Com um olhar circunspecto, a autora analisa leis, decretos e velhos

131

MEDINA, Maria do Carmo - Angola: Processos Políticos da Luta pela Independência. 3.ed. Coimbra: Almedina, 2013.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

63

códigos há muito sepultados, mas que constituíram o edifício jurídico da ditadura

fascista e o complexo sistema repressivo.

Dentro dos limites que tornaram possível a sua abordagem, Maria do Carmo

completa a sua narrativa recorrendo à informação de testemunhas, a análise de

documentos e ao estudo do enquadramento sociopolítico, económico e jurídico da

época. A descrição dos acontecimentos no plano internacional que culminaram com as

tensões diplomáticas da ONU com Portugal e o registo no plano interno das crises

económicas, políticas e sociais que marcaram a década de 50 do século XX. Estes

acontecimentos vieram a confluir no período de 1961, marco que foi decisivo para a

história de Angola.

Esta obra é um instrumento de análise bem documentado que nos permite aferir

conceptualmente o carácter legal da estrutura fascista, incluindo da PIDE e do seu modo

de atuação, que foi considerada uma organização tentacular poderosa que intimidava as

próprias estruturas judiciais e administrativas que eram obrigadas a colaborar. O

exercício de funções repressivas obedecia a uma rigorosa hierarquia que emanava da

cúpula do regime todo um procedimento concertado entre o governo central por via do

Ministro do Ultramar e o Governo da colónia por via do Governador-geral e os seus

secretários.

Maria do Carmo Medina foi uma advogada, entre outros, que assumiu a defesa

de muitos nacionalistas que constituíram o Processo dos 50. Este processo judicial foi

encaminhado do Tribunal Comum para o Tribunal Militar Territorial, caracterizado pelo

pendor fortemente repressivo. A batalha jurídica através de reclamações e recursos por

parte da Dr.ª Medina na defesa da manutenção da jurisdição comum para a defesa dos

réus foi intensa. A dificuldade em desenredar o emaranhado de diplomas que se

cruzavam com decretos-leis, portarias, códigos que vigoravam parcialmente, alterações

das leis e decretos-leis que vigoravam de forma diferente nas colónias, colocavam sem

embargo numa situação desvantajosa. A sua luta tratou-se numa verdadeira

encruzilhada de normas que, com perspicácia, conseguia deslindar o melhor meio de

defesa útil. A autora serviu-se de todas as instituições jurídicas presentes no Estado

português, à época opressor (…) referindo os princípios conquistados pela humanidade

e definidos como Sistema jurídico pelas nações ocidentais. Contudo, o regime tentou

escamotear a dignidade dos princípios com medidas de exceção que tornavam legais as

práticas de ações arbitrárias contra a liberdade dos cidadãos. Nas entrelinhas a autora

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

64

entrelaça o jurídico com o narrativo, numa enumeração de factos defendidos como

advogada e na intervenção da defesa dos vários processos políticos.

Maria do Carmo de aparência frágil contrastava com a sua força interior.

Resiliente às pressões vencia medos e intimidações que estavam subjacentes a todos

estes processos políticos, que na altura representavam ameaças à segurança do Estado.

A sua obra tem um anexo documental que contém a reprodução de cópias de inúmeros

documentos, desde atas dos julgamentos, relatórios dos agentes da PIDE, contestações

(truncadas) dos advogados, panfletos, etc.

Uma obra, não menos importante, que foi citada neste trabalho intitula-se

Angola: contribuição ao estudo da génese do nacionalismo moderno angolano do

período entre 1950 a 1964 de Edmundo Rocha, médico e militante do MPLA. Trata-se

de um estudo documental, onde o autor movido pela sua militância e sentido

revolucionário acompanha o trajeto político dos principais intelectuais do movimento

nacionalista angolano. Para melhor compreender o percurso histórico sobre a génese do

nacionalismo angolano, o autor, com a distância segura de um ciclo de história e de uma

forma retrospetiva, deixa-se guiar pela linha do tempo até ao local dos factos. Numa

atitude reflexiva transfere para a narrativa os acontecimentos vividos que modelam e

dão corpo a uma análise genealógica do nacionalismo angolano.

O estudo destes movimentos, do tipo moderno e visto numa perspetiva nacional,

teve em conta as diferentes formas de atuação do colonialismo português, a sua

evolução assimétrica nas relações com os povos angolanos e o baixo índice de

miscigenação entre as etnias dominantes. Estes fatores explicam a variação da

desestruturação ou de preservação das características dos povos-nação e das

experiências diferentes, não só entre si, mas também com o colonizador. Após a 2ª

Guerra Mundial o sentimento nacionalista foi impulsionado por todas as

movimentações europeias que se alastraram até África e as grandes potências

vencedoras da guerra sustentavam ideológica e materialmente a formação de grupos de

resistência nacionalista. O autor é testemunho e protagonista da história anticolonialista

dos anos 50 e 60 e refere a luta nas várias associações legais africanas, tanto em Angola

como no estrangeiro e a ação de grupos clandestinos, dentro e fora de Angola.

Dessa consciência de libertação formaram-se duas correntes nacionalistas com

matrizes conceptualmente diferentes. Importa distinguir, a partir desta noção a

existência de dois tipos de nacionalismos: o nacionalismo étnico, composto por

elementos agregadores que fundamentavam a identidade e a pureza do grupo étnico; e a

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65

presença de um outro tipo de nacionalismo, de componente ideológica, que funcionava

como elemento político agregador da comunidade. Inevitavelmente o percurso enredado

destes dois movimentos nacionalistas teve pontos de contacto que conduziram a um

processo de transformação. Mas as resistências a essa mutabilidade, no seio das duas

correntes nacionalistas, transformaram-se em ameaças, fruto de pulsões radicais.

Desencadearam-se ódios e guerras, vazando qualquer hipótese de uma plataforma de

entendimento.

Edmundo Rocha faz um levantamento das razões de fundo que levaram a um

não entendimento destes dois movimentos na construção de uma frente unitária. O seu

estudo envolve a origem matricial das duas grandes correntes nacionalistas,

designadamente, o eixo Luanda-Lisboa com ramificações em cidades europeias que

viriam a convergir no MPLA e o eixo Leoplodville-Luanda que viria a gerar a

UPA/FNLA, uma rede batista de missões protestantes, apoiada em solidariedades etno-

regionais. A chave do desentendimento residia nesta diferença de identidades. As

culturas endógenas dos militantes da UPA estavam restringidas ao espartilho etno-

regional original, aliás que o próprio líder não fugia a essa condição.

Como tal, não conseguiram apreender os anseios das outras grandes etnias

angolanas, reduzindo-se ao seu reducionismo. Um exemplo ilustrativo foram os

massacres da UPA em 1961, onde brancos, mestiços e negros assimilados, não foram

poupados, porque não tinham como condição endémica a pertença da mesma

identidade, não correspondiam à matriz original ou a algo mítico de uma ancestralidade

comum. Mas houve outras causas que condicionaram a possibilidade de um projeto

libertador, tais como, as diferenças conceptuais sobre o tipo de sociedade a instaurar, as

diferenças de cultura, de pensamento, da praxis política, e das alianças com as grandes

potências. Para analisar o estudo do nacionalismo angolano, Edmundo Rocha remete-

nos para uma viagem do conhecimento, às profundezas culturais e às raízes históricas de

cada uma das grandes etnias angolanas, apostando num grande desafio que é a

construção de um Estado-nação pela via de um caleidoscópio de etnias.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

66

Capitulo 4 - A Emergência dos Serviços de Centralização e

Coordenação de Informação de Angola

Após termos definido no capítulo 1 o conceito de sistemas e a sua génese

seguindo a análise do ambiente internacional face às políticas coloniais portuguesas e as

consequências para o ambiente interno angolano, este capítulo irá estudar a emergência

dos Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola, também

conhecido pela sigla SCCIA, a razão da sua criação em 1961, a sua estrutura orgânica

funcional, as suas atribuições e competências, como organizava, classificava e recolhia

a informação.

O sistema de informação em Angola tinha como premissa a produção de

informações no apoio à tomada de decisões dentro da organização. Foi considerado um

instrumento de recolha e de manipulação de dados que serviu de base para a prevenção

das ameaças, face à constante mutabilidade de um novo tipo de conflito que emergiu em

Angola em 1961 – a guerra subversiva132

. Representou, portanto, a primeira linha de

defesa e de segurança da nação, perante a complexidade de um meio instável, com uma

guerra de informações, sob ponto de vista da metrópole, travada por um inimigo fugaz,

fluido e pouco conhecido133

. Perante este cenário, a informação tornou-se num recurso

vital pelo valor que passou a assumir ao produzir um determinado efeito a montante e a

jusante.

132 A guerra subversiva caracterizava-se por não ter uma linha definida sobre o inimigo. A sua principal estratégia era a ocultação e a extrema mobilidade dos combatentes, portanto não se tratava de um teatro de operações, não era linear. Disponível em: Biblioteca.exercito.pt/download.asp?/associa/...infantaria/emprego%20t.. Consultado em 31/5/2015. Cf. Guerra subversiva. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra. Consultado em 31/5/2015. 133

ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv.207. p.5; na documentação dos SCCIA, a palavra inimigo aparece muitas vezes com a designação de IN. Cf. Os inimigos eram grupos armados que pertenciam aos movimentos de libertação que eram contrários ao governo do Estado, considerados grupos beligerantes. Tinham uma capacidade jurídica internacional necessária ao exercício do direito à autodeterminação dos povos, tal como se encontrava consagrado no Carta das Nações Unidas e que foi sendo interpretado pela Assembleia geral, em cooperação com as Organizações regionais, como a Liga Árabe e a Organização da Unidade Africana. PEREIRA, André Gonçalves; QUADROS, Fausto. Manual de Direito Internacional Público. 3.ª ed. Coimbra: Almedina; 1993. p. 321.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

67

4.1 A reorganização dos serviços de informação em Angola

A ausência de organização informativa em Angola antes de 1961 levou ao

desconhecimento generalizado no campo da subversão. As autoridades elaboravam uns

quantos relatórios onde se anotavam alguns assuntos mais relevantes, mas a falta de

elementos para comparar e concluir sobre os acontecimentos importantes era

insuficiente, tornando a leitura dos factos confusa, sobretudo para as entidades a quem

era dirigida a informação e que não conseguiam avaliar, comparar e concluir factos

importantes que se encontravam dispersos no meio de notícias irrelevantes134

.

Obedeciam a um modus faciendi que por ser demasiado lato e indisciplinado não era

eficaz. Os vários serviços de informação também não tinham a noção exata do valor da

informação, trabalhavam em compartimentos estanques, sem coordenação, chegando

as notícias ou informações aos organismos (…) sem qualquer processamento, como um

amontoado confuso de papéis (…) não podendo cabalmente originar a exploração e

orientação de pesquisa135

.

Com a instabilidade política e social na Província de Angola a organização da

informação era uma questão premente. A reorganização de um sistema de informações

revestia-se de uma importância estratégica no âmbito da política nacional e, nesse

contexto, era imperativo que todos os organismos com responsabilidades de informação

fizessem um esforço para contrariar a dispersão da informação desordenada e muitas

vezes inconveniente136

. Efetivamente pretendia-se um alargamento normativo para

modelar um novo sistema de informações, e adaptá-lo a uma nova realidade, pois não se

conheciam modelos nem guias para a resolução do conflito.

A nova estrutura era constituída pela agregação dos vários serviços com

responsabilidade de informação, que se ligavam por uma rede interna e se sujeitavam a

uma filtragem e condução do seu trabalho, no âmbito de um órgão governamental,

centralizador e coordenador da atividade informativa. Este órgão estava munido de

estratégias claras e precisas, de acordo com as atribuições institucionais dos respetivos

serviços. O seu êxito dependia da uniformização da doutrina e do empenho e

colaboração de todos os fornecedores de informações que atuavam em conformidade

134

ANTT - Arquivo dos SCCIA, P Inf n.º 20, 2-A1, Cx. 233, p.103. 135

ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 206, p. 12. 136 IDEM - ibidem. p. 157.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

68

com os Serviços de Informações que representavam. Na verdade, a eficácia deste

organismo era espelhada pela eficiência dos serviços de informações137

.

4.2 Descrição Sumária do Sistema de Informações em Angola

Em 1961 o sistema de informações em Angola passou a funcionar com a

colaboração de duas grandes estruturas hierárquicas: o Ministério do Ultramar/Gabinete

do Ministro e a estrutura da Presidência do Concelho de Ministros/Ministro da Defesa

Nacional138

. Abaixo desta orgânica encontrava-se o Conselho de Defesa Militar de

Angola139

(CDMA) que controlava e definia a política de informações. O Governador-

geral e o Comandante-chefe das Forças Armadas140

davam execução à política de

informação definida pelo CDMA. Por sua vez, este órgão tinha à sua disposição vários

serviços de informação (SI) com quem colaborava na permuta de notícias e informações

por intermédio dos Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

(SCCIA), um órgão regulador e dominante, que foi concebido para centralizar e

coordenar toda a informação dos vários campos de ação. As informações geradas nos SI

dos vários organismos com responsabilidade de informação eram encaminhadas para

esta unidade de processamento. A partir deste ponto, a informação era considerada um

ativo estratégico para o Estado, depois de nutrida por uma variável ideológica,

transformava-se num vetor determinante de atuação.

137 ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 204, p. 3. 138 Na década de 1930 houve uma proposta de unificar o Ministério da Guerra e o Ministério da Marinha num Ministério de Defesa unificado, mas teve a oposição do ministério do Exército e da Marinha que pretendiam ter os seus próprios ministérios. Portanto, o Ministro de Defesa Nacional (…) não tinha um ministério próprio. Fazia parte da estrutura da Presidência do Conselho de Ministros que tutelava diretamente o Chefe de Estado- Maior General das Forças Armadas, o Secretariado- Geral da Defesa Nacional e o subsecretariado de Estado da Aeronáutica, exercendo uma ação de coordenação em relação aos ministros do Exército e da Marinha. Constituíam o Departamento de Defesa Nacional. Basicamente foi esta a organização que dirigiu a Guerra do Ultramar. António de Oliveira Salazar foi o Ministro de Defesa Nacional entre 13 de Abril de 1961 a 4 de Dezembro de 1962 e Adriano José Alves Moreira o Ministro do Ultramar entre 13 de Abril de 1961 a 4 de Dezembro de 1962. https://pt.wikipedia.org/wiki/Minist%C3%A9rio_da_Defesa_Nacional; https://pt.wikipedia.org/wiki/10.%C2%BA_governo_da_ditadura_(Portugal). Consultado em 12/7/2015. 139

O Conselho Superior de Defesa Nacional de Angola foi criado pela Lei de Bases n.º 2 051 de 15 de Janeiro de 1952. No preâmbulo, a Lei fixa que o Governo define a política militar da nação e orienta superiormente a preparação da defesa nacional; fixa a finalidade geral da guerra e aprova as diretrizes gerais para a elaboração dos respetivos planos; em caso de guerra porá à disposição dos comandantes das forças armadas os meios de ação necessários ou disponíveis para a sua execução e desenvolvimento. 140

Em 1961 o General Venâncio Augusto Deslandes foi Governador-geral de Angola e Comandante-chefe das Forças Armadas em Angola, entre 23 de Junho de 1961 e 26 de Setembro de 1962. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ven%C3%A2ncio_Augusto_Deslandes. Consultado a 12/7/2015.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

69

Fig. 1: Organograma funcional sintético da atividade de informação em Angola dos SCCIA em 1961.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

70

Fig. 2: Organograma alargado da atividade de informação em Angola dos SCCIA em 1962.

Min

isté

rio

do

Ult

ram

ar

CDMA

Governador-geral

SCCIA

Gabinete Civil

Gabinete de Estudos

Gabinete Militar

Gabinete Atividades Especiais

Repartição Administrativa

Centro Mensagens

Gabinete de Contrapropaganda

CITA

PIDE

OPVDC

Guarda Fiscal

Serviços Públicos

Comissão Provincial/Distrital

Min

isté

rio

da

Def

esa

Comandante-chefe

RMA

CNA

2.ª RA Gabinete Militar

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71

Capitulo 5. A estrutura orgânico-funcional dos Serviços de

Centralização e Coordenação de Informação de Angola

Em 1961 foi criada a estrutura legal dos Serviços de Centralização e

Coordenação de informação em Angola141

cuja finalidade era a de reunir, estudar e

difundir as informações que (…) interessavam à política, à administração e à defesa da

Província de Angola. A informação era encaminhada para os serviços de uma forma

permanente e em tempo útil, para depois ser desencadeada a difusão da informação às

diferentes entidades com responsabilidades governativas, aos serviços públicos e às

Forças Armadas (FA). Por sua vez, as instituições governamentais, os serviços públicos

e as FA remetiam pedidos de informação aos Serviços Centrais ou às Secções Distritais,

ficando estes serviços obrigados a facultar de forma coerente, a informação que fosse

conveniente divulgar. Deste modo ao assegurar a coordenação e a centralização de todas

as informações era possível, a estes serviços, constituir o todo a partir das parcelas142

.

Os SCCIA iniciaram o seu funcionamento a 4 de Dezembro de 1961143

. De

acordo com o decreto fundacional era necessário habilitar os governadores das

províncias ultramarinas a darem estrutura legal aos SCCIA. Inicialmente a sua

atividade esteve confinada a uma estrutura minimalista, assegurada apenas pelo

Gabinete do Governador da Província, junto do qual funcionava uma Comissão de

Serviço apoiada por uma chefia de serviço144

. A sua atuação estava fortemente

condicionada às diretivas do Governo-geral de Angola, conforme o Art.º 2 do Decreto-

lei 43 761 dizia que os serviços de centralização e coordenação de informações ficam

hierárquica e administrativamente dependentes dos governos provinciais e poderão ser

integrados pelos governadores em outros serviços quando as circunstâncias locais o

aconselharem. O Quadro de pessoal era constituído por funcionários civis ou militares,

nomeados pelo governador em comissão de serviço145

.

Porém, a falta de meios obrigava o governo a fazer um aproveitamento racional

dos recursos, admitindo integrar estes serviços noutros já existentes. Mas o crescente

141 Decreto-Lei n.º 43 761 de 29 de Junho de 1961. 142 ANTT- Arquivo dos SCCIA, Lv. 204, p. 2. Cf. Art.º 8 do Decreto-Lei n.º 43 761 de 29 de Junho de 1961. 143

ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 206, p. 12. 144

Art.º 3, Decreto-lei n.º 43 761 de 29 de Junho de 1963. 145 Art.º Decreto-lei n.º 43 761 de 29 de Junho de 1961.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

72

volume de trabalho com a orgânica estabelecida, não foi suficiente para expandir a sua

missão. Sem os recursos disponíveis, o risco tornava-se mais elevado e a estabilidade

do conflito exigia da parte do governo uma iniciativa política para um alargamento da

orgânica dos serviços, com mais recursos humanos e técnicos. Este facto acarretava

uma dilatação forçada das atribuições regulamentares.

Posto o assunto a consideração superior, foi criado em 1962146

uma Direção de

Serviços dotada de cinco Gabinetes, uma Repartição Administrativa, um Centro de

Mensagens e quinze Secções Distritais. Os serviços passaram a ser dirigidos por um

funcionário civil ou militar e foi fixada a entrada de pessoal do Quadro Comum. No

mesmo ano o Diploma Legislativo Provincial147

nomeou o pessoal do quadro privativo

destes serviços148

. As atribuições que foram dadas a estes serviços passaram a ser

exercidas por intermédio de um Serviço Central constituído por 8 Unidades Orgânicas:

1) Gabinete de Estudos

2) Gabinete Militar

3) Gabinete Civil

4) Gabinete Político

5) Gabinete de Atividades Especiais

6) Repartição Administrativa

7) Centro de Mensagens

8) Secções Distritais149

Os órgãos tinham a seguinte distribuição geográfica:

Uma direção provincial em Luanda (junto ao Palácio do Governador-geral).

Uma secção junto de cada Governo de Distrito.

O Governador-geral e Comandante-chefe das Forças Armadas eram responsáveis pela

política de informações a seguir na Província150

.

146

Decreto-lei 44 327, de 5 de Maio de 1962. 147

Diploma Legislativo Provincial 3 265 de 27 de Junho de 1962. 148 Estes serviços agrupavam vários funcionários encarregados de várias tarefas: controladores, agentes, informadores, processadores; arquivistas; dactilógrafos; tradutores, intérpretes. ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 206, p. 219. 149 As Secções distritais dos SCCIA eram quinze: Benguela, Bié, Cabinda, Cuando Cubango, Cuanza Norte, Cuanza Sul, Cunene, Huambo, Luanda, Lunda, Malange, Moçâmedes, Moxico, Uíge e Zaire. 150

O General Venâncio Augusto Deslandes criou os SCCIA. Foi Governador-geral e Comandante- chefe das forças armadas de Angola em 1961.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

73

A estrutura legal dos SCCIA compreendia:

1) Órgãos consultivos: a Comissão Provincial e a Comissão Distrital de informação;

2) Órgão centralizador e coordenador: os SCCIA;

3) Órgãos de execução do Serviço de Informação: os órgãos de execução eram

compreendidos por todos os serviços públicos, Forças Armadas e Militarizadas, Corpos

Administrativos, Organismos Corporativos e de Coordenação Económica, Entidades

Públicas e Privadas, coletivas e individuais, organismos de uma forma geral e

indivíduos151

.

O decreto-lei que fundou os SCCIA era de âmbito genérico, apenas fixou os

princípios gerais da organização com a missão de reunir, estudar e difundir as

informações que interessavam à política, à administração e à defesa da Província. A

forma genérica como tal missão foi enunciada, obrigou a concretizar as atribuições e os

detalhes da sua atividade. Em 1962 foram publicadas as Normas para o Funcionamento

do Serviço de Informações na Província de Angola152

com a finalidade de aplicar as

normas sobre as atividades de informação e de contrainformação na Província, e a

organização e atribuições das Comissões de Informações e dos SCCIA153

.

Foram prescritas formas de relação e procedimento entre os diferentes SI civis e

militares, que lhes era cometia a obrigatoriedade de serem remetidas todas as notícias

que obtivessem para efeitos de centralização154

. Estas normas contemplavam algumas

definições e conceitos básicos necessários para uma mais fácil interpretação,

designadamente o conceito de Notícias155

, Informação156

, Contrainformação, Produção

de Informações, Segurança da Informação (…). Portanto a sua finalidade era a de

Cf. Dependência hierárquica e administrativa do Governador-geral de Angola: Decreto-lei n.º 43 761 de 29 de Junho de 1961. 151 Cf. Portaria n.º 12 233 de 30 de Maio de 1962. Normas para o funcionamento do Serviço de Informação na Província de Angola; 152

Portaria n.º 12 233, de 30 de Maio de 1962, ao abrigo do art.º 9, do Decreto-lei n.º 43 761 foi regulamentado o SCCIA através das Normas para o Funcionamento do Serviço de Informações na Província de Angola. 153

Normas para o Funcionamento do Serviço de Informações na Província de Angola. Portaria n.º 12 233 de 30 de Maio de 1962. B.O. nº 22 – I série. ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 205, p. 4. 154

ANTT - Arquivo dos SCCIA, Processo de Informação, nº. 20, Cx. 233, p. 104. 155 Notícias- denominam-se todos os documentos, factos, materiais, fotografias, diagramas, cartas, relatórios e observações de qualquer espécie que possam servir para lançar luz sobre o inimigo atual ou provável e sobre qualquer zona onde atua ou pode vir a atuar. 156 Informação- denomina-se o conhecimento do inimigo adquirido através da pesquisa, estudo ou interpretação de todos os elementos relativos ao inimigo atual ou provável e da zona onde atua ou pode vir a atuar, especialmente no que se refere às características do terreno, condições climáticas e meteorológicas e situação política, económica e social.

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74

estabelecer as ligações das dependências dos diversos SI com os serviços e entidades

relevantes para que o processamento fosse de mais fácil interpretação.

5.1 Atribuições e competências da entidade produtora/acumuladora

Compete aos SCCIA reunir, estudar, interpretar todas as notícias e informações

sobre o inimigo interno e externo atual e provável, bem como os elementos que possam

influir nas suas possibilidades, e difundi-los às entidades responsáveis pelo

planeamento e execução das medidas políticas, administrativas e militares, por forma a

garantir-lhes que possam atuar com um melhor e mais igual conhecimento do inimigo

do que trabalhando apenas com base nas informações e dados obtidos através dos seus

órgãos de informação157

.

Para tal tinha os seguintes objetivos: 1) Centralizar as notícias e informações

obtidas pelos órgãos de informação da Província e de outras origens de que possa

dispor; 2) Coordenar e orientar as atividades dos vários serviços de informação da

Província por forma a garantir unidade de doutrina e o aproveitamento racional dos

órgãos de pesquisa; 3) Impulsionar a atividade de pesquisa, através dos vários serviços

da Província ou de outros de que possa dispor; 4) Estudar e interpretar as notícias e

informações que obtiver difundi-las às entidades públicas e privadas que delas tenham

necessidade; 5) Fornecer às entidades públicas e privadas as informações por elas

solicitadas dentro do princípio da necessidade de o saber e sem prejuízo da segurança

das informações; 6) Reunir os elementos e dados estatísticos que possam ter influência

nas possibilidades do inimigo, em especial os que se referem às características do

terreno, condições climáticas e meteorológicas e situação política, económica e social

das zonas onde acuta ou possa vir a atuar, e difundi-los às entidades que delas tenham

necessidade; 7) Manter o Governador-geral e Comandante-chefe permanente ao par das

informações recebidas; 8) Assegurar o intercâmbio de informações com os respetivos

órgãos dos Ministérios do Ultramar e da Defesa Nacional, com os similares de outras

Províncias Ultramarinas e com a Delegação da PIDE em Angola; 9) Assegurar o

expediente e arquivo da Comissão Provincial de Informações.

157

Portaria Provincial nº 12 233 de 30 de Maio de 1962 - Normas para o funcionamento do serviço de informações na Província de Angola. CF. ANTT - Arquivo dos SCCIA, LV. 206, p. 199.

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75

5.1.1 Atribuições do Serviço Central

São atribuídas funções ao Gabinete de Estudos e Atividades Especiais, aos

Gabinetes Político, Civil e Militar, Repartição Administrativa e Centro de Mensagens.

Gabinete de Atividades Especiais:1) Estudar e planificar a atividade de informação

na Província e aconselhar, no aspeto técnico e de forma, o processamento e difusão de

informações; 2) Promover a coordenação das atividades dos SI dos Serviços Públicos e

de empresas privadas, de acordo com as diretivas do Governador-Geral e as resoluções

da Comissão Provincial; 3) Manter o intercâmbio de informações com os respetivos

órgãos dos Ministérios do Ultramar e da Defesa Nacional, com os similares das outras

Províncias Ultramarinas, com a Delegação da Polícia Internacional e de Defesa do

Estado em Angola e com as entidades particulares, coletivas e individuais; 4) Promover

a difusão de informações aos diversos Serviços Públicos, Forças Armadas e Órgãos

Policiais; 5) Fornecer ao C.I.T.A. as informações que apresentem interesse para aquele

organismo, em especial no campo da informação pública, propaganda e ação

psicológica; 6) Elaborar as respostas às consultas feitas aos SCCIA relacionadas com as

suas atividades; 7) Promover a expansão da rede de pesquisa das notícias; 8)

Superintender em todos os assuntos; 9) Processar todos os assuntos tratados pela

Comissão Provincial de Informações; 10) Promover a expansão da rede de pesquisa de

notícias; 11) Superintender em todos os assuntos especiais que não estejam

expressamente atribuídos aos outros gabinetes ou à Repartição Administrativa; 12)

Propor a criação, extinção ou alteração das Secções Distritais do serviço; 13)

Administrar o fundo especial, bem como proceder às operações de contabilidade e

tesouraria, à elaboração de propostas e de reforço e à abertura de créditos especiais.

Aos restantes Gabinetes Militar, Civil e Político: 1) Promover a reunião e estudo das

informações processadas pelos SI dos organismos correspondentes ao corpo de ação; 2)

Promover a reunião e estudo dos elementos e dados estatísticos que possam influir nas

possibilidades do inimigo processado pelos Organismos correspondentes ao campo de

ação; 3) Manter estreita ligação com os SI correspondentes ao seu campo de ação e

fomentar o intercâmbio de informações entre eles.

Repartição Administrativa: 1) Receber toda a documentação dirigida aos SCCIA,

registá-la e distribui-la; 2) Dar andamento a todo o expediente dos SCCIA e da

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76

Comissão Provincial de Informações; 3) Elaborar o inventário dos bens móveis e

imóveis dos SCCIA e promover a sua conservação; 4) Administrar o depósito de

publicações e a biblioteca; 5) Elaboraras propostas de aquisição e fornecimento dos

artigos necessários ao funcionamento dos SCCIA e executar o respetivo expediente,

incluindo propostas de abertura de concurso, de dispensa dos mesmos e de contratos; 6)

Propor a antecipação de duodécimos e utilização da percentagem cativa das dotações

orçamentais, quando tal seja necessário; 7) Propor os reforços de verbas, transferência e

aberturas de créditos especiais; 8) Dar cabimento de verba aos diplomas, contratos ou

outros atos cujos encargos sejam satisfeitos pelas verbas orçamentais dos SCCIA; 9)

Elaborar anualmente as propostas orçamentais dos SCCIA, da Comissão Provincial de

Informações e do Fundo Especial e promover a sua remessa nos termos e prazos legais

aos Serviços de Fazenda e Contabilidade; 10) Promover o processamento das despesas

próprias dos SCCIA; 11) Promover o processamento das despesas próprias dos SCCIA;

12) Elaborar as demais escriturações e serviços de contabilidade, administração

financeira e de secretaria dos SCCIA e da Comissão provincial de Informações.

A Repartição Administrativa estava dividida em duas secções: a) A Secção de

Contabilidade e Pessoal relativo a todos os assuntos respeitantes à vida administrativa,

que incluíam a administração das verbas e a sua contabilidade, e ainda os assuntos

relativos ao pessoal; b) A Secção do Sub-registo e Material Classificado competia

registar, distribuir e arquivar a correspondência, com classificação de segurança,

recebida ou endereçada pelos SCCIA.

Centro de Mensagens: a) Ao centro de mensagens, compete assegurar as

comunicações de rádio entre os serviços centrais dos SCCIA e as secções distritais; b)

Manipular a Central telefónica do Governador-geral; 3) Assegurar o Serviço de

Gravação.

5.1.2 Secções Distritais

Compete-lhes, no âmbito distrital e de acordo com as diretivas técnicas do Serviço

Central, as seguintes atribuições fixadas: 1) Enviar ao Serviço Central todas as notícias

e informações que obtiverem; 2) Manter o Governador de Distrito e o Comandante

Militar da área correspondente ao Distrito permanente a par das informações recebidas;

3) Assegurar o expediente da Comissão Distrital de Informações.

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77

5.1.3 Comissão Provincial e Secções Distritais - Órgãos de Consulta

A Comissão Provincial de Informações era um órgão de estudo constituída por

entidades e indivíduos designados pelos governadores, à qual, em sessões periódicas,

coordenavam as informações que estavam sujeitas à sua apreciação158

.

Competia à Comissão Provincial: Proceder a estudos e proferir pareceres ou

opiniões, reunindo periodicamente para se pronunciar sobre política de informação,

normas gerais, medidas de segurança militar e civil, de informação, etc. O expediente

das Comissões era assegurado pelos SCCIA159

. Ao nível distrital, de acordo com as

necessidades, as Comissões Distritais de Informação eram criadas pelo CDM160

. A

constituição das Secções distritais dependia do volume de trabalho que incidia em cada

distrito. Dispunham de um Quadro Permanente constituído por funcionários civis. Os

seus representantes eram nomeados pelos SI distritais161

.

5.2 Delimitação dos SCCIA

A instabilidade do momento político levou à necessidade de habilitar os

Comandantes-chefes das Forças Armadas e os respetivos gabinetes militares de um

Serviço de Informações. Na verdade, os gabinetes confrontavam-se com um reduzido

quadro de pessoal, o que tornava inviável a sua estruturação.

Em 1963162

o Despacho Conjunto dos Ministros da Defesa Nacional e do Ministro

do Ultramar proferiu a delimitação da missão conferida aos SCCIA. Mantinham a

dependência hierárquica e administrativa dos governadores das províncias, mas

passaram a funcionar em relação aos comandantes-chefes das Forças Armadas como

Serviço de Informações dos Comandantes Chefes. Assim, o Governador-Geral e o

Comandante-chefe das Forças Armadas eram responsáveis pela política de informação a

158

Art.º 3.º, Decreto-lei n.º 43 761 de 29 de Junho de 1961. Diário do Governo, I série A; A Comissão Provincial era constituída pelo Presidente: Governador-geral e Comandante-chefe das FA. Pelos Vogais: Comandante da Região Militar de Angola; Comandante da 2ª Região Aérea; Comandante Naval de Angola; Secretário- Geral; Diretor da Delegação da PIDE em Angola; Diretor do CITA; Diretor do SCCIA. 159 As informações apreciadas pelas Comissões de Informações eram reunidas e classificadas nos SCCI. 160 Art.º 4.º, Decreto-lei, n.º 43 761 de 29 de Junho de 1961. Diário do Governo, I série A. 161

Os representantes dos Serviços de Informações Distritais eram o Comandante Militar local, o representante da PIDE e as Forças Militarizadas quando necessário. 162 Despacho Ministerial de 18 de Fevereiro de 1963.

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78

seguir na Província dentro dos seus sectores de competência163

e dispunham dos

seguintes órgãos:

Órgão consultivo - as Comissões provinciais e distritais de informações164

.

Órgão executivo da política de informações - os SCCIA165

.

No final de 1962, os SCCIA deparou-se com algumas dificuldades de meios e na

interpretação da sua missão. Em 1963 as Normas para o Funcionamento do Serviço de

Informações na Província de Angola foram objeto de revisão. Surgiu a Portaria

Provincial que pôs em execução as Normas Gerais para a Atividade da Informação na

Província de Angola166

às quais se estabeleceu os princípios de relação e de

independência dos diferentes SI. Foram entretanto publicadas as Instruções para a

Atividade e Processamento das Informações nos Organismos Civis dependentes do

Governo-Geral de Angola (IAPIC I)167

afim de esquematizar formas de procedimento,

orientados e coordenados pelos SCCIA com as Forças Militarizadas, Serviços,

Entidades Civis e as relações com os Serviços SIM, PIDE e órgãos de execução de

informação civil. As Instruções referiam alguns elementos gerais de doutrina, assim

como, técnicas de informação considerados necessários para uma melhor compreensão

do que nelas havia sido fixado.

163

Art.º 2 do Despacho Ministerial Conjunto de 18 de Fevereiro de 1963; Normas para o funcionamento do serviço de informações na Província de Angola. Portaria n.º 12 233 de 30 de Maio de 1962. B.O. nº 22 – I série. ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 205, p. 4. 164

As informações apreciadas pelas Comissões de Informações eram reunidas e classificadas nos SCCI. 165

Art.º 5 do Decreto-lei n.º 43 761 de 29 de Junho de 1961. Cf. Os SCCIA eram o órgão executivo da política de informações definida pelo Conselho de Defesa Militar de Angola (Despacho Ministerial 41 de 18 de Fevereiro de 1963). 166 Portaria Provincial 12 873 de 31 de Agosto de 1963. B.O. I série, n.º 35, de 31 de Agosto de 1963. Cf. A competência genérica do SCCIA era a de reunir, estudar e interpretar todas as notícias e informações que interessem à política, à administração e à defesa da Província. Na verdade, o termo “reunir” levantou algumas dificuldades de interpretação. Ficou definido que reunir significaria pesquisar. ANTT- Arquivo do SCCIA, Cx.233, 1-A1, Proc. Inf. 20, p. 8. 167 ANTT - Arquivo dos SCCIA, lv. 210, p. 61.

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79

5.3 Os Serviços de Informação - Órgãos de Execução

Eram considerados Órgãos de Execução do Serviço de Informações de Angola,

todos os Serviços Públicos, FA, Forças Militarizadas, Corpos Administrativos, Serviços

e organismos individualizados168

. Estas entidades enviavam as notícias e informações

aos SCCIA, acionando os seus serviços.

Atribuições dos órgãos de execução: a) Fornecer aos SCCIA, por sua iniciativa ou

em resposta a pedidos formulados por aquele serviço, todas as notícias ou informações

com interesse para a execução das suas atribuições; b) Fornecer igualmente aos SCCIA

todos os elementos e dados estatísticos que possam ter influência nas possibilidades do

inimigo, em especial os referentes às características do terreno, condições

meteorológicas e situação económica e social das zonas onde atua ou possa vir a atuar;

c) Fornecer diretamente aos outros Comandos, Governos de Distrito e Direções de

Serviço as notícias para os seus serviços de informação; d) Observar as normas de

segurança, exceto os Comandos Militares que deverão seguir as instruções da Segurança

Militar e bem assim quaisquer outras normas ou instruções fixadas.

5.4 As Atividades de Informação e Contrainformação

As atividades de informação e contrainformação em Angola eram exercidas por três

serviços distintos com personalidade distinta169

: a) Serviço de Informações Militar

(SIM)170

; b) Serviço de Informações Civil (SIC)171

; c) Serviço de Informações da

PIDE172

.

168 Portaria Provincial nº 12 233 de 30 de Maio de 1962 - Normas para o funcionamento do serviço de informações na Província de Angola. 169

ANTT - Arquivo dos SCCIA, lv. 207- A informação em Angola - A informação nas Forças terrestres: Normas de execução permanente -1963. P. 7. 170

Compete a coordenação da ação do SIM ao Comandante-chefe das Forças Armadas de Angola que é acionada por intermédio do seu Gabinete Militar; os SIM dos três ramos das Forças Armadas regem-se, no entanto, pelos regulamentos e instruções próprias dos três ramos das FAA; os SCCIA e a PIDE serão utilizados pelo Comandante-chefe das FAA nos assuntos específicos com interesse militar. 171

O SIC é constituído e tem por órgão de execução, todas as autoridades civis e serviços públicos na exclusiva dependência do governador-geral, as forças militarizadas, os corpos e corporações administrativas, os organismos corporativos e de coordenação económica e, potencialmente, todas as entidades civis com atividade na Província, pública ou privada, coletivas e individuais; depende exclusivamente do Governador-geral de Angola que o orienta, coordena e aciona, exercendo, tal competência ao nível provincial, do seguinte modo: através dos SCCIA, para todos os assuntos que interessem à política, à administração e à defesa da Província, exceto no campo da informação de carácter político-subversivo em que a coordenação acionamento é da competência da PIDE; a qualquer

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80

1- O SIM tem como órgão de coordenação, o Gabinete militar do Comando Chefe

das Forças Armadas de Angola (CCFAA) e os seguintes órgãos de execução: O

SI/Região Militar de Angola (RMA); O SI/2.º Região Aérea (RA); O SI/Comandante

Naval de Angola (CNA)173

. O SIM/RMA além das informações estratégicas e táticas de

interesse imediato para o Exército, todas as informações de natureza económica,

etnográfica, religiosa e política com interesse para o estudo da sublevação em

Angola174

; 2) O SIC tem por órgãos de execução todas as autoridades civis, serviços

públicos, corpos e corporações administrativas, Forças Militarizadas (PSP, OPVDCA) e

todas as entidades civis, pública ou privada, coletivas ou individuais. Dependia

exclusivamente do Governo-Geral de Angola que o orientava, coordenava e acionava

através dos SCCIA e do SI da PIDE, e ainda na atribuição direta de missões, a qualquer

dos órgãos de execução do SIC; 3) O serviço de informação da PIDE depende do

Governador-Geral de Angola e da Direção Geral da PIDE, sendo acionado somente na

atribuição de missões, podendo ser utilizado pelo comandante-chefe da FA em assuntos

exclusivamente militares. Estas ligações eram asseguradas, nos respetivos sectores de

competência, pelo Governador-geral e pelo Comandante-chefe das FA e executavam-se

através dos seguintes órgãos:

Ao nível provincial: CDM; Grupo de trabalho de Informações; Estado-Maior dos

três ramos das FA; Direção distrital dos SCCIA; Direção provincial da PIDE.

Nível distrital: Comissões distritais de Informações; Secções Distritais dos SCCIA;

Subdelegação da PIDE; Comandos de zonas.

Nível local: Através dos Centros de Informações.

nível da administração, a autoridade administrativa dará simultaneamente conhecimento de todas as notícias e informações ao seu superior hierárquico e ao representante qualificado da PIDE no escalão mais baixo que existir, o qual deverá informar essa mesma autoridade do interesse que tal notícia ou informações tenha para a sua atividade, momento a partir do qual competirá com a PIDE conduzir a ação requerida; quando qualquer autoridade administrativa for acionada pela PIDE, de tal facto deve dar conhecimento aos SCCIA através da sua cadeia hierárquica. ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 210, p. 19-20. 172

A PIDE é constituída e tem por órgãos de execução que lhe são conferidos pela legislação aplicável, nomeadamente pelo Decreto-lei n.º 39 749 de 9 de Agosto de 1954; depende do Governador-geral de Angola e da Direção Geral da PIDE (Decreto-Lei n.º 39 749 de 9 de Agosto de 1954); é acionado pelo Governador- Geral de Angola, pela direta atribuição de missões de informação; é utilizado pelo Comandante-chefe faz Forças Armadas de Angola, em assuntos específicos com interesse militar; a sua atividade é exercida de acordo com as normas e instruções fixadas pela Direção-geral da PIDE. 173

Esta informação foi aprovada a 5 de Fevereiro de 1966. Substituiu o constante no N.º 1/b das NEP/SIM-RMA, aprovado em 29 de Abril de 1963. 174 ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 207, p. 5.

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81

5.5 Gabinete de Contrapropaganda

Em 1962 foi criado o Gabinete de Contrapropaganda175

com o propósito

de captar, no aspeto psicológico, a população europeia e africana. Para tal, era

necessário ser capaz de contestar as diversas opiniões e influências, nos aspetos que

mais preocupavam a consciência das gentes de Angola. A tarefa era urgente e passava

por definir um plano inteligente, não padronizado, para atender às diferentes raças,

classes e tipos sociais.

O Gabinete de Contrapropaganda dependia diretamente do Governador-geral de

Angola. Abaixo da sua hierarquia mantinha elos de dependência com os seguintes

órgãos: SCCIA, particularmente para efeitos de informação; CITA para execução de

trabalhos e efeitos de difusão, determinando materialmente qual o modo mais adequado

(rádio, imprensa, panfleto, livro, conferência, filme, palestra, contato pessoal, etc.).

Também podiam ser órgãos de informação e de execução do Gabinete outras entidades

civis e militares. Para efeitos de orientação, este Gabinete dependia do Governador-

geral, Serviços de Censura e SCCIA.

O conceito de propaganda é definido como um conjunto de procedimentos

destinados a obter a adesão a um sistema ideológico de natureza política176

e a

contrapropaganda como um conjunto de procedimentos destinados a obstar que o

adversário obtenha a adesão a um sistema ideológico de natureza política177

. A missão

do Gabinete de Contrapropaganda era a de analisar, esquematizar, estudar e salientar na

documentação os pontos suscetíveis de serem utilizados na difusão junto das massas.

Foi constituído um Grupo de Trabalho para efeitos de estudo e acionamento de

contrapropaganda. Este órgão colegial era constituído pelo Chefe do Gabinete Militar e

os diretores do CITA, SCCIA e PIDE, a quem competia apresentar semanalmente

sugestões, trabalhos e tópicos de contrapropaganda para apreciação e aprovação do

Governador-geral. O Grupo de Trabalho dispunha de uma Seção Permanente de

Contrapropaganda178

para a recolha de elementos, estudo e elaboração de propostas para

serem presentes ao Grupo de Trabalho. Os elementos úteis de recolha para a função de

propaganda encontravam-se nas pastas de cada um dos serviços tributários (SCCIA,

175 Despacho n.º 6 de 17 de Dezembro de 1962. 176 ANTT – Arquivo dos SCCIA, Lv. 221, p. 18. Informação n.º 22 de 2 de Abril de 1963 – Criação do órgão de Contrapropaganda. 177 ANTT- Arquivo dos SCCIA, Lv. 221, p. 18. 178

A seção Permanente era constituída por elementos do SCCIA e do CITA. Estava encarregada de estudar, elaborar e apresentar as propostas da c/Propaganda, reservando-se ao “Grupo de Trabalho” a função crítica dessas mesmas propostas.

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CITA, PIDE, Gabinete Militar), previamente autorizadas pelo Diretor dos SCCIA, para

serem estudados ou arquivados. Deste modo, este Gabinete mantinha uma relação

funcional com os SCCIA.

A finalidade da contrapropaganda dirigia-se sobretudo à prevenção, captação,

orientação e pacificação dos espíritos das populações sublevadas e aos setores que

mais inquietavam as populações, percorrendo os vários setores de natureza política

angolana, africana, nacional e internacional, factos de natureza económico-financeira,

administrativa e civil e factos de natureza policial e militar. Na verdade, a ideia

fundamental assentava no facto que se impunha irrefutável e irreversível, ou seja só era

possível ganhar a guerra se ganharmos os espíritos e só ganharemos os espíritos se

tivermos propaganda e contrapropaganda para a Guerra de Angola.

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Capitulo 6 - O tratamento da Informação: classificação,

processamento, códigos e arquivo

A entrada de dados ou de notícias nos SCCIA chegavam através das seguintes

espécies documentais: notas, ofícios, telegramas, relatórios, informações, folheto de

propaganda, panfletos e outros documentos. Chegavam também jornais, revistas e

publicações diversas, impressos, fotografias, fitas gravadas, filmes, discos, objetos,

notícias ou informações verbais ou telefónicas179

.

O sistema convertia as entradas da informação através dos seus subsistemas. O

processamento envolvia várias tarefas manuais, desde o registo da documentação num

livro de entradas, a classificação por assuntos, a atribuição de uma ficha de processo e o

arquivamento da informação para futura reutilização. Esta atividade implicava o envio

de dados dos vários serviços do sistema para serem analisados e distribuídos.

A saída ou difusão da informação normalmente revestia a forma de relatórios técnicos e

imediatos, pedidos de informação de carácter militar, político, administrativo ou outros

documentos.

6.1 O processamento da correspondência

A documentação dava entrada na Repartição Administrativa até às 16h e o

Chefe de Repartição Administrativa levava a despacho do Diretor dos Serviços toda a

documentação que a classificava de acordo com a urgência da matéria ou assunto a

tratar, distribuindo posteriormente aos respetivos gabinetes a tratar a informação:

Gabinete de Estudos, Gabinetes Militar, Gabinete Civil, Gabinete Político, Gabinete de

Atividades Especiais e a própria Repartição Administrativa180

. A documentação de

caráter urgente requeria andamento ou difusão imediata.

179 Portaria 12 233 de 30 de Maio de 1962. Normas para o Funcionamento do Serviço de Informações na Província de Angola. ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 204, p. 59. 180 A documentação relativa à Repartição Administrativa dizia respeito a todos os assuntos de pessoal e de material, verbas, aquisições, expedientes de rotina que não corra pelos gabinetes, etc.; ao Gabinete de Estudos, todos os assuntos informativos de carater geral, normas técnicas, assuntos relacionados com a segurança do pessoal, das instalações e dos documentos, escuta de rádio, documentos em línguas estrangeiras ou dialetos nativos, documentos cifrados, assuntos relacionados com documentos de difusão de informações, etc.; ao Gabinete Militar, Político e Civil todos os assuntos relacionados com o seu âmbito de trabalho; Gabinete de Atividades Especiais, assuntos relacionados com agentes especiais, assuntos respeitantes a planos de pesquisa e orientação do esforço de pesquisa, relações com

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Assim destinada a documentação, a Repartição Administrativa dava entrada à

documentação recebida que dispunha e organizava com o seguinte sistema de

escrituração: O Livro de entradas, com o n.º de entrada, data de entrada, origem do

documento, data, assunto, classificação (nº do classificador) e n.º de processo (do

numerador de arquivo); no Classificador de Assuntos os responsáveis pelos gabinetes

atribuíam diferentes graus de classificação que passava a definitivo depois de a

autoridade responsável dar o consentimento. O Chefe da Administração mantinha

atualizado os exemplares do classificador e o Numerador de Arquivo que era designado

pelos vários processos abertos para efeito de arquivo e numeração181

.

Após o preenchimento dos livros de entrada e atribuído o número de processo

era lançada nos documentos a data de entrada, o número recebido no livro de entradas e

o número de processo recebido no numerador de arquivo. No livro de entradas indicava-

se a lápis a quem tinha sido distribuído o documento (Gabinete Militar, Gabinete de

Estudos, etc.). No Numerador de Arquivo182

designavam-se os vários processos abertos

e a sua numeração e seguia-se a elaboração de uma “ficha de processo” onde constava o

n.º de processo, título e a identificação do documento que ficava contido no processo.

Estas fichas eram arrumadas num ficheiro pela ordem constante do Numerador de

Arquivo (ficheiro de processos) e encaminhados para os gabinetes respetivos para serem

trabalhados. Os gabinetes tinham de classificar os vários assuntos constantes de cada

documento, de acordo com o classificador (indicando à margem do documento os seus

números de acordo com o classificador), depois lançavam nas folhas do diário um

resumo de cada assunto tratado no documento e a reação adotada (por ex. baseada na

carta de situação, na exposição na reunião diária ou na comunicação). De seguida eram

preenchidas três fichas de resumo de assunto183

que eram destinadas ao ficheiro de

origens e destinos, ao ficheiro por assuntos e ao Gabinete de Estudos, onde elaboravam

logo de seguida um Sumário de Informações Diário, para efeitos de difusão. Esta ficha

ficava arquivada com a indicação do Sumário de Informações em que foi publicada e o

número que lhe coube. Todas as semanas este gabinete enviava para os outros gabinetes

entidades estrangeiras ou portuguesas no estrangeiro, missões especiais, controle técnico das Secções Distritais, etc. Portaria 12 233, de 30 de Maio de 1962, Normas para o Funcionamento do Serviço de Informações na Província de Angola. Arquivo ANTT - arquivo dos SCCIA, Lv. 204, p. 59-60. 181 IDEM - Ibidem. 182 O Numerador de Arquivo dividia-se em três partes: Os processos respeitantes à organização e funcionamento do SCCIA; processos por origens; processos por assuntos. ANTT, Arquivo do SCCIA, Lv. 204. Normas para o Funcionamento do Serviço de Informações na Província de Angola, Parte VI. 183

As fichas de resumo de assunto registavam-se os acontecimentos, declarações, evolução política, resumindo em poucas linhas o documento entrado. ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 206, p. 63.

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86

um Relatório da Situação (nos aspetos civil, político e militar) na Província. Uma vez

analisados os documentos, cada chefe de Gabinete endereçava-o à Repartição

Administrativa ou a outro gabinete que o processava no seu âmbito. Os chefes do

Gabinete Militar, Civil e Político elaboravam semanalmente um Relatório da Situação

de Assuntos do seu sector para apresentarem na reunião semanal dos Chefes dos

Serviços de Informações na Província184

.

Toda a documentação tratada, depois de obtida a assinatura dos chefes dos

respetivos Gabinetes, era devolvida à Repartição Administrativa para despacho. A

seguir era lançada num livro de entradas, com a indicação do documento em arquivo.

Sempre que, de novo, fosse solicitado, deveria ser anotada no livro a nova situação.

As publicações que davam entrada, uma vez presentes e apreciadas pelo Diretor dos

Serviços, eram encaminhadas para conhecimento do chefe de Repartição Administrativa

e de todos os chefes de Gabinetes, a fim de serem tratados (numeradas, carimbadas e

registadas num registo de publicações). As publicações podiam constituir peças de um

processo ou serem apenas extraídos algumas passagens e, neste caso, tinham de ser

processadas como um documento normal.

Os assuntos de carácter secreto ou informações especiais deviam ser registados

no Gabinete de Atividades Especiais e, extraído-se sumários de telefonemas ou

relatório verbais de notícia preenchidos pelo Chefe de Gabinete que eram entregues ao

Chefe da Repartição Administrativa.

A Repartição Administrativa lançava nos documentos e nas cópias o número de saída, a

data e o número de arquivo. O tratamento a dar à documentação expedida era de acordo

com uma classificação de segurança atribuída por quem elaborava cada documento.

A distribuição dos documentos elaborados no Serviço e produzidos em mais que

um exemplar para distribuição eram indicados os números dos exemplares que se

encontravam, no final de uma lista de distribuição, atribuídos a cada uma das entidades

na mesma mencionada. Cada exemplar devia conter, no canto superior direito da

primeira página, ou folha de rosto, a indicação “Exemplar n.º….”. As informações

prestadas por informadores que se deslocavam ao Serviço para prestar declarações eram

184 Os gabinetes tinham vários ficheiros especiais atualizados, como o ficheiro por assuntos e origens (Gabinete Militar e Civil); ficheiro de localidades (Gabinete Militar); ficheiro de identificação de suspeitos e de entidades ou individualidades de interesse (Gabinete político); Ficheiro de Seitas e Organizações de caráter político-social e místico-social (Gabinete Político); Ficheiro de associações ou grupos políticos suspeitos de carácter subversivo estrangeiros (Gabinete Político); Ficheiro de associações e outras organizações regionais (Gabinete Político). ANTT - Arquivo SCCIA, Lv. 204, p. 66.

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87

registadas em impressos próprios ou as suas declarações podiam ser gravadas de acordo

com a sua importância sendo presentes ao Diretor dos Serviços e depois, seguiam o

processamento normal de entrada.

A documentação de saída elaborada pelos Chefes de Gabinete e chefe de

Repartição ia a despacho do Diretor de Serviços sendo, depois de assinada, entregue na

Repartição Administrativa com duas cópias, uma para o processo e outra para o

copiador.

A documentação classificada de “confidencial” ou “superior”, quando saída do

serviço era acompanhada de um certificado de remessa em duplicado feito pelos

respetivos gabinetes. Uma ficava para o arquivo e o outro seguia com a

correspondência.

A Seção do Sub-registo e Material Classificado da Repartição Administrativa

era onde se organizava o Arquivo Geral, para onde convergiam todos os documentos,

depois de processados pelos respetivos gabinetes, ficando estes com as referências e

resumos das notícias, transcritas em fichas apropriadas, que eram depois arquivadas

para consulta nos mesmos gabinetes.

Toda a documentação era endereçada aos SCCIA, exceto a correspondência

relativa a informações de caráter privado ou de interesse exclusivo do Governo-geral,

em que o seu processamento era determinado pelo Governador. Os relatórios ou notícias

de caráter militar que exijam reação imediata eram enviados ao Gabinete Militar do

Comandante-chefe, com ou sem prévio visto do Governador-geral, sendo encaminhados

seguidamente para os SCCIA, assim como, os documentos que deviam ser estudados

pelos Secretários Provinciais.

6. 2 O processamento dos documentos de difusão periódica

O processamento da informação servia de base para o desenvolvimento ou

modificação de planos ou de política. Um relatório com informação não processada, por

si só, não era suficiente para desencadear tal alteração.

O processamento da informação compunha-se de três fases principais: Aquisição

de notícias, produção de informação e sua difusão. As três partes estavam intimamente

relacionadas umas com as outras, pois o processo informativo correspondia a uma

integração sucessiva de dados. Na verdade a informação nunca é completa ou envelhece

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88

se não for constantemente revista ou atualizada à medida que novos elementos são

recebidos185

.

A informação era transmitida dos escalões inferiores aos superiores e implicava

uma adequada seleção quando transmitida dos escalões superiores. O processamento da

informação dava início quando a documentação entrava nos Gabinetes e era elaborado o

Sumário de Informações diário. Após a publicação do Sumário eram atualizadas as

Cartas da Situação pelos respetivos Gabinetes. Em cada dia, por volta das 9h havia

lugar uma reunião dos Chefes de Serviço para a exposição do Sumário de Informações

do dia anterior. Uma vez por semana, à quinta-feira pelas 15h, era apresentado ao

Diretor de Serviço o projeto do Relatório da Situação semanal, por cada Chefe de

Gabinete da parte respeitante. Às sextas-feiras, pelas 10h, havia uma reunião entre o

Diretor do Serviço dos SCCIA e o Chefe do SI das Forças Armadas, o delegado da

PIDE e do CITA para a troca de informações relacionado com o Relatório Semanal. Ao

fim da tarde, até às 18h, era elaborado o Relatório da Situação definitivo para apresentar

ao Governador-Geral e difundir às entidades autorizadas186

.

6.3 As matérias Classificadas

As matérias eram classificadas na origem de acordo com o seu conteúdo, por

pessoas autorizadas a classificar. A marca de classificação era aposta a cor vermelha no

topo e na base de todas as páginas, contendo informações classificadas. De acordo com

a Portaria 12 233, de 30 de Maio de 1962, a norma passou a regular graus de

classificação. A classificação de “MUITO SECRETO” era limitada a informações,

documentos e materiais que necessitam do mais elevado grau de proteção. Devia,

portanto, ser aplicada apenas a matéria cujo interesse para a política, administração e

defesa nacional fosse de importância excecional e cuja cedência, extravio ou

conhecimento por pessoas não autorizadas, pudesse causar sério risco para a segurança

e defesa do País.

Os métodos usados para transmissão de matérias classificadas obedeciam a

alguns requisitos: a) Contacto direto das pessoas a cuja guarda estiver confiado; b) Por

agentes especialmente nomeados; c) Por correio especial; d) Quando cifrados por meios

185 ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 208, P. 35 186 ANTT - Arquivo do SCCIA, Lv.204. p. 145. As entidades interessadas (Governador-geral, secretários geral e provincial, gabinete militar, forças armadas, governos de distrito, PIDE, PSP, Guarda Fiscal, Corpo de Voluntários, Ministério do ultramar, embaixadas de países vizinhos, etc.)

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89

elétricos de transmissão, pelos serviços dos CTT ou por agentes de transmissão. As

matérias classificadas eram guardadas em arquivos, Casas Fortes dotados de segredo ou

nas caves aprovadas para o efeito.

A classificação de “SECRETO” inclui unicamente as informações, documentos

e materiais cuja divulgação ou conhecimento por pessoa não autorizada poderá ter

consequências graves para a Nação. Exemplo: a) Pôr em perigo a realização de

empreendimentos vitais para a política, administração e defesa nacional (…).

A classificação de “CONFIDENCIAL” deve limitar-se a matérias cujo

conhecimento não autorizado pode prejudicar os interesses da nação. Exemplo: a)

Inquéritos de segurança sobre pessoal e outros inquéritos que necessitem de proteção

contra conhecimento não autorizado (…).

A classificação de “RESERVADO” consiste em preservar a segurança de

informações e matérias limitadas a uso oficial, e que pela sua importância não exigem

qualquer um dos graus de classificação mais elevados. Dizendo respeito ao interesse

geral ou a interesses particulares, exigem que não sejam do conhecimento de pessoas

estranhas ao assunto. Certas informações oficiais, não necessitando de um grau de

proteção rigoroso, precisam contudo de ser defendidas de conhecimento por pessoas não

autorizadas ou, não necessário, no interesse das instituições ou de indivíduos em

particular. A título de exemplo: a) Informações referentes a pessoal, fazendo parte de

processos individuais ou ficheiros médicos; (…) 187

.

6.4 Relatórios e Pedidos de Informação

Os documentos apresentam determinadas características, formas, designações e

têm uma finalidade. Os principais documentos elaborados pelas entidades

governamentais, serviços públicos e forças militarizadas são os seguintes: a) Relatórios

periódicos de informação e contrainformação ou PERINTREL, constituem o processo

normal pelo qual o órgão de informação dá a conhecer a situação política,

administrativa e de defesa, de que no seu âmbito tenha conhecimento. Estes documentos

enumeram por forma resumida e ordenada as notícias e informações recebidas e

estudadas durante o período a que o relatório diz respeito. Contém um número de

código adotado pelo remetente, uma combinação de duas letras e dois números para

187

ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 205, p. 13-31. Portaria 12 233, de 30 de Maio de 1962. Normas para o Funcionamento do Serviço de Informações na Província de Angola, Anexo I.

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90

referenciar o documento e a data188

; b) Relatórios técnicos periódicos ou TEPEREL,

especialmente no âmbito da administração pública (organismos de coordenação

económica e outros) contém elementos de caracter técnico; c) Relatórios suplementares

de informações SUPINTREL não têm periodicidade nem assuntos fixados, revestem o

aspeto de esclarecimento, apreciação ou interpretação de determinado assunto

específico; d) Relatórios Imediatos destinam-se a dar a conhecer qualquer notícias ou

informações de carater urgente ou de interesse imediato e podem ser elaborados por

iniciativa própria ou a pedido (são sinónimos de mensagem, telegrama, ofício ou nota

no campo informativo); e) Pedidos de Informação são elaborados por todas as entidades

governamentais. Os Serviços Públicos e Forças Militarizadas podem endereçar pedidos

de informação aos Serviços Centrais ou às suas Secções Distritais189

.

A referência de um documento por correspondência normal, telegráfica ou por

telefone era feita por meio de um código, a fim de evitar mencionar a sua verdadeira

designação:

Exemplo de código: XT – 21;

Exemplo de data: 161035Fev67 - dia 16 de Fevereiro às 10h35m de 1967.

Referia o dia do mês em dois algarismos, seguidos da hora em quatro algarismos.

188 ANTT - Arquivo do SCCIA, Lv 205, p. 41. 189 ANTT - Arquivo do SCCIA, Lv. 205, p. 2-5. Portaria 12 233, de 30 de Maio de 1962. Normas para o Funcionamento do Serviço de Informações na Província de Angola.

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91

Exemplar com instruções de preenchimento de um Relatório

Entidade que envia Relatório Imediato Indicações de Entrada

no Serviço Destinatário

Data da receção da

notícia

Classificação de

segurança

Grau de Confiança

Entidade informadora Origem da notícia

N.º Assunto

Resumo

Nome e Posto/Cargo

Anexos:

Distribuição pelo

serviço de

Centralização e

Coordenação de

Informação

Distribuição pela

entidade informadora

Fig. 2. Exemplar com instruções sobre Relatórios190

190 ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 205, p. 63.

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92

Classificação de Notícias quanto à confiança

Quanto ao grau

de confiança da

origem

Quanto à verosimilhança da

notícia

A Absolutamente Seguro 1 Notícias confirmadas por outras

origens e órgãos

B Normalmente Seguro 2 Notícia provavelmente

verdadeira

C Razoavelmente Seguro 3 Notícia possivelmente

verdadeira

D

Normalmente não seguro 4 Notícia duvidosa

E Não seguro 5 Notícia improvável de

verosimilhança

F Não pode ser apreciado 6 Não pode ser determinada a

verosimilhança

Tabela 1. Normas de Execução Permanente da Região Militar de Angola191

191 ANTT - Arquivo dos SCCIA, Lv. 207, p. 10.

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94

Capitulo 7. A organização da informação

Neste capítulo referimos a importância do Património Cultural e as ações

promovidas pelo Estado ao abrigo dos tratados e convenções e da nossa Constituição

para proteger e valorizar o património cultural (…). A organização da informação é

fundamental para que seja possível o acesso à mesma, ainda que alguns documentos

tenham restrições de comunicabilidade. Para uma melhor compreensão do acervo a

tipologia documental atende à relação do documento inserido num contexto orgânico de

produção.

7.1 A importância do património cultural

O quadro jurídico do património cultural português não se circunscreve apenas

ao direito interno, abarca também as normas de direito internacional e do direito

comunitário por se tratar de matérias de interesse global. Como tal, transpõem-se para

uma ordem jurídica superior ao ordenamento jurídico interno.

A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados no art.º 53, assinada em 23

de Maio de 1969, reconhece a existência de normas internacionais que sejam aceites

pelos Estados no seu todo. Assim, o direito internacional depende da vontade dos

Estados, emana dessa vontade e depende de uma ordem que está acima de todos os

Estados. O acervo de normas e princípios de Direito Internacional têm uma base

consuetudinária ou de Direito Natural, onde o Costume192

se transforma em Lei.

Continua a ser a mais importante fonte de Direito Internacional, onde a prática

continuada de determinadas condutas vão sendo consideradas juridicamente

obrigatórias193

. Assim, as fontes do direito internacional público são as convenções

internacionais, o costume internacional, os princípios gerais de direito, a doutrina, a

192 O Costume continua a ser a mais importante fonte de Direito Internacional. É uma prova de uma prática geral aceite como sendo de direito. Art.º 38, alínea b) do n.º 1 do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça. 193 Direito consuetudinário. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_consuetudin%C3%A1rio> Acedido em 15/8/2014. Cf. PEREIRA, André Gonçalves; QUADROS, Fausto - Manual de Direito Internacional Público. Coimbra: Almedina. p. 156.

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95

jurisprudência e a equidade, contempladas no art.º 38 do Estatuto do Tribunal

Internacional de Justiça (ETIJ) são parte integrante da Carta das Nações Unidas194

.

No nosso ordenamento jurídico interno, as normas e os princípios de Direito

Internacional geral ou comum, as normas constantes de convenções internacionais

regularmente ratificadas ou aprovadas as normas emanadas dos órgãos competentes

das organizações internacionais de que Portugal seja parte (…) desde que tal se

encontre nos tratados constitutivos as disposições dos tratados que regem a União

Europeia e as normas emanadas das suas instituições no exercício das respetivas

competências entram através da cláusula de receção plena, no art.º 8 da CRP. Não

precisam de ser ratificadas ou aprovadas internamente, entram diretamente no nosso

ordenamento jurídico. A Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos

do Homem e os Pactos Internacionais sobre os Direitos do Homem aprovadas pelas

Nações Unidas são normas de Ius cogens, ou seja são normas imperativas do direito

internacional, inderrogáveis, que regulam e asseguram direitos fundamentais dos

indivíduos.

Considera-se o direito do património cultural como um conjunto de normas de

direito público – isto é, de normas de direito constitucional, normas de direito

comunitário, normas de direito internacional e normas de direito administrativo – que

estabelecem um regime de direito público, relativamente a um objetivo específico,

constituído pelos bens culturais. Na sequência dos graves danos ao património cultural

produzidos sobretudo pelas I e II Guerras Mundiais, e a fim de evitar futuras catástrofes,

a UNESCO tentou sensibilizar os vários países membros da organização a tomar

compromissos que fossem vinculativos para a preservação e salvaguarda do património

cultural mundial. Começamos por referir a Organização das Nações Unidas (ONU)

criada em 26 de Junho de 1945 pela Carta das Nações Unidas com o objetivo de

promover a paz mundial, a cooperação internacional no plano económico, social,

cultural assim como a proteção internacional dos direitos humanos, conforme refere o

preambulo da Carta das Nações Unidas195

. A UNESCO para a Educação, Ciência e

194 Disponível em: www.gddc.pt/direitos-humanos/textos...dh/.../tij-estatuto.html 195 Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

96

Cultura, é uma organização subsidiária da ONU que se preocupa de uma forma

constante com os bens culturais considerados património da humanidade. Segundo a sua

Constituição, o objetivo da Organização é contribuir para a paz e segurança,

promovendo a colaboração entre nações através da educação, ciência e cultura, a fim

do respeito universal pela justiça, pelo Estado de direito e os direitos humanos e

liberdades fundamentais que são confirmados pelos povos do mundo, sem distinção de

raça, sexo, língua ou religião que a Carta das Nações Unidas reconhece a todos os

povos196

. Estes compromissos foram materializados em vários tratados, como foi o caso

da Convenção sobre a proteção de bens culturais em caso de conflito armado,

estabelecido nas Convenções de Haia, por ser uma convenção que inclui no seu

articulado, entre os bens merecedores de proteção, os arquivos e os seus edifícios,

embora a sua referência aos arquivos fosse limitada. Mais tarde foi sujeito a um

processo de revisão entre 1993 e 1999197

.

O conceito de património cultural está contemplado nos termos da alínea c) do

Art.º 9 da CRP que incumbe ao Estado proteger e valorizar o património cultural do

povo português. Com isto não significa que seja só um direito unilateral do Estado, mas

trata-se de verdadeiros direitos e deveres dos cidadãos, como o direito à fruição do

património e o dever de o defender 198

. Refere ainda no n.º 2 do mesmo artigo, que o

Estado deve assegurar o acesso de todos os cidadãos (…) e aos meios de ação cultural,

bem como, a uma maior circulação de obras e bens culturais de qualidade, além de

desenvolver as relações culturais com todos os povos 199

. O Estado promove a

democratização da cultura, incentivando e assegurando o acesso de todos os cidadãos

à fruição e criação cultural, em colaboração com […] as associações de defesa do

património cultural200

. A CRP adota uma conceção dinâmica, promovendo a

valorização do património cultural, assegurando o acesso de todos os cidadãos, à fruição

dentro de uma liberdade ampla. Carta das Nações Unidas. Disponível em www.fd.uc.pt/CI/CEE/pm/Tratados/carta-onu.htm.

Sobre os fins e princípios gerais das Nações Unidas, veja-se Fausto Quadros e André Gonçalves Pereira, Manual de Direito Internacional Público, 3ª ed,. Coimbra, Edições Almedina, 1993. p. 466 – 468. 196

UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação a ciência e a cultura). Disponível em < www.unesco.org.> Consultado em 5 de Janeiro de 2013. 197 FUGUERAS, Ramon Alberch - Archivos e derechos humanos. Asturias, ed. Trea, 2008. p. 20-21. 198 Art.º 78 da Constituição da República Portuguesa. 199 Cf. O art.º 3 da Lei 107 de 8 de Setembro de 2001 estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do património cultural. Refere que através da salvaguarda e valorização do património cultural, deve o Estado assegurar a transmissão de uma herança nacional cuja continuidade e enriquecimento unirá as gerações num percurso civilizacional singular. 200 Art.º 73, n.º 3 da Constituição da República Portuguesa.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

97

e a criação cultural e no apoio a uma maior circulação de obras e bens culturais para

criar laços culturais com todos os povos. É importante referir que o património cultural

constitui também um dever fundamental de todos.

O decreto-lei nº 16/93 de 23 de Janeiro, no título II, art.º 4 nº 1, intitulado

Arquivo e património arquivístico português, refere que o Arquivo é um conjunto de

documentos, qualquer que seja a sua data ou suporte material, reunidos no exercício da

sua atividade por uma entidade, pública ou privada, e conservados, respeitando a

organização original, tendo em vista objetivos de gestão administrativa, de prova ou de

informação, ao serviço das entidades que os detêm, dos investigadores e dos cidadãos

em geral201

. No n.º 2 do Art.º 4 refere que o Arquivo é também uma instituição cultural

ou unidade administrativa onde se recolhe, conserva, trata e difunde a documentação

arquivística. Ao guardar e divulgar o património arquivístico nacional, o arquivo

cumpre o estipulado pela Constituição da República Portuguesa, no art.º 37º

mencionando que todos têm (…) o direito de se informar, sem impedimentos nem

discriminações. Por outro lado reflete e testemunha uma parte substancial da memória

de um povo ou de um país. Nessa ótica apresenta-se como um pilar fundamental para a

consolidação da cidadania e preservação da identidade nacional. Em Portugal, a Lei 107

de 8 de Setembro de 2001 estabelece as bases da política e do regime de proteção e

valorização do património cultural, como uma realidade da maior relevância para a

compreensão, permanência e construção da identidade nacional e para a democratização

da cultura202

. Assim, ao abrigo e nos termos do n.º 1 do Art.º 3, aquele estabelece que

através da salvaguarda e valorização do património cultural, deve o Estado assegurar

a transmissão de uma herança nacional cuja continuidade e enriquecimento unirá as

gerações num percurso civilizacional singular.

7.2 Os Arquivos

A importância dos arquivos para a sociedade e o direito ao acesso à

documentação foi recentemente reconhecido pela UNESCO, com a aprovação oficial da

Declaração Universal sobre os Arquivos, em 10 de Novembro de 2011, refere que os

201 Art.º1, Decreto-lei n.º 16 de 23 de Janeiro de 1993. Estabelece o regime geral de arquivos e património arquivístico. p. 264-270. 202

Lei 107 de 8 de Setembro de 2001. Diário da República, n.º 209 – I série A. Assembleia da República.

Disponível em: https://dre.pt/application/dir/pdf1sdip/2001/09/209A00/58085829.pdf>.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

98

Arquivos registam decisões, ações e memórias. Os Arquivos constituem um património

único e insubstituível transmitido de geração em geração. Os documentos de arquivo

são geridos desde a sua criação para preservar o seu valor e significado. Os Arquivos

são fontes fiáveis de informação para uma governação responsável e transparente.

Desempenham um papel essencial no desenvolvimento das sociedades ao contribuir

para a constituição e salvaguarda da memória individual e coletiva. O livre acesso aos

arquivos enriquece o conhecimento sobre a sociedade humana, promove a democracia,

protege os direitos dos cidadãos e melhora a qualidade de vida203

. Esta Declaração

reconhece a necessidade de aplicar os princípios e valores éticos fundados na

Declaração Universal dos Direitos do Homem, assim como, outros valores considerados

fundamentais. Os arquivos são instituições com carácter depositário da informação,

vocacionadas para a custódia, conservação e comunicação e estão associados aos

conceitos de património, identidade e memória. O património é um elemento

fundamental na construção da identidade social e cultural e, simultaneamente, é a

própria materialização da identidade da sociedade. Arquivo e memória são uma relação

indissociável Segundo Pierre Nora apud Fugueras (…) a memória está sempre em

constante evolução, aberta à dialética das memórias e da amnésia, enquanto a história

é a reconstrução sempre problemática e incompleta daquilo que já não existe204

.

7.3 A comunicabilidade do arquivo

A documentação dos SCCIA faz parte do fundo documental do Arquivo

Nacional da Torre do Tombo. A Revolução do 25 de Abril de 1974 extinguiu algumas

instituições contemporâneas, como por exemplo a PIDE/DGS e a Legião Portuguesa,

apesar de estes serviços continuarem a funcionar até 1975 em Angola, sob a designação

de Polícia de Informação Militar/Gabinete Especial de Informação Militares. Os SCCIA

estiveram em funcionamento em Angola sob a tutela do Ministério da Informação do

Governo de Transição até 1975. À medida que se foram extinguindo os vários

organismos, alguns arquivos foram sendo transferidos para o arquivo da Direção-Geral

da Administração Pública e outros para o Arquivo Nacional Torre do Tombo205

.

203 Declaração Universal sobre os Arquivos. Disponível em:http://www.bad.pt/noticia/2011/11/11/declaracao-universal-sobre-arquivos-aprovada-na-assembleia-geral-da-unesco/. 204

FUGUERAS, Ramon Alberch I. Archivos y derechos humanos. Gijón: Trea, 2008. p. 14. 205 Cf. Decreto-Lei 387 de 10 de Outubro de 1991. O decreto também regulamenta a consulta pública.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

99

O património documental das polícias políticas e de outras instituições do Estado Novo

passaram a estar sob custódia das Forças Armadas. A 7 de Junho de 1974 por Despacho

do Comandante do Estado Maior General das Forças Armadas, regulamentado a 28 de

Julho do mesmo ano, foi criado o Serviço de Coordenação da Extinção da PIDE/DGS e

Legião Portuguesa, que manteve a custódia desta documentação então instalada no

reduto sul do Forte de Caxias, onde permaneceria até 17 de Janeiro de 1991. A partir

dos anos noventa, os arquivos da extinta PIDE foram transferidos e incorporados no

então Instituto dos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo, ne sequência da publicação

da Lei 4 de 17 de Janeiro de 1991, no mesmo ano em que foi extinto o Serviço de

Extinção de Coordenação da PIDE/DGS e LP206

.

O n.º 1 do art.º 3 da Lei 4/91 refere que a consulta pública dos arquivos das

extintas PIDE/DGS e LP só poderá realiza-se a partir de 25 de Abril de 1994; o n.º 2

do mesmo artigo refere ainda que o disposto no número anterior não prejudica as

disposições constitucionais e gerais do direito, respeitantes à proteção do direito ao

bom nome e privacidade pessoal e familiar dos cidadãos. Este número articula-se com

o art.º 26 da Lei Constitucional, cujo capítulo diz respeito aos direitos, liberdades e

garantias pessoais. De acordo com o estabelecido no nº 2 do art.º 26 da Constituição da

República Portuguesa somos obrigados a articular com a Lei Geral dos Arquivos e do

Património arquivístico, materializado no Decreto-Lei 16/93 de 23 de Janeiro, que veio

regulamentar o acesso à informação de cariz sensível, em virtude de poderem interferir

com o bom nome e a segurança da pessoa, por esta corresponder a um período temporal

recente e poder existir a possibilidade de se encontrar ainda vivas algumas pessoas

envolvidas nos processos.

Na qualidade de arquivo público foram salvaguardadas as limitações decorrentes

dos imperativos da conservação das espécies e as respetivas condições de

comunicabilidade, sem prejuízo das restrições impostas pelo Decreto-Lei nº 16/93 de 23

de Janeiro.

206

O Serviço de Extinção de Coordenação da PIDE/DGS e LP foi criado pelo despacho do CEMGFA, de 7

de Junho de 1974. Foi transferido para a tutela da Assembleia da República através da Resolução 202 de

12 de Novembro 1982. A Lei 4 de 17 de Janeiro de 1991 extinguiu o serviço de Coordenação da Extinção

da PIDE/DGS e LP e integrou a sua documentação no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, os Arquivos

das extintas PIDE/DGS e LP, assim como todos os núcleos documentais, que a eles pertencem, e se

encontrassem ao cuidado de outras entidades.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

100

No seu artigo 17.º, intitulado “Comunicação do património arquivístico”, é

referido no ponto 1 que é garantida a comunicação da documentação, conservada em

arquivos públicos salvas as limitações decorrentes dos imperativos da conservação das

espécies e sem prejuízo das restrições impostas pela lei. Estão contemplados no mesmo

artigo, as restrições que se colocam à comunicabilidade e acessibilidade da

documentação, cuja ordem pode ser física ou intelectual. Quanto às restrições da ordem

física, a lei diz no ponto 1, que é garantida a comunicação da documentação

conservada em arquivos públicos, salvas as limitações decorrentes dos imperativos de

conservação das espécies e sem prejuízo das restrições impostas pela lei. Quando a lei

ressalta que (…) salvas as limitações decorrentes dos imperativos de conservação das

espécies (…), o bom senso leva-nos a pensar que se os documentos estão em mau

estado de conservação, o seu manuseamento poderá pôr em risco a sua integridade física

e, neste caso, deverão sempre que possível estar sujeitos a intervenções de restauro e

posteriormente submetidos a operações de transferência de suporte, o que ficará

temporariamente inacessível ao público. Todavia, face à lei, em documentos sobre os

quais não existe qualquer restrição de comunicabilidade poderão existir graves

restrições de acessibilidade. O n.º 2 do art.º 17 do decreto supracitado, diz-nos que não

são comunicáveis os documentos que contenham dados pessoais de carácter judicial,

policial ou clínico, bem como os que contenham dados pessoais que não sejam

públicos, ou de qualquer índole que possa afetar a segurança das pessoas, a sua honra

ou a intimidade da sua vida privada e familiar e a sua própria imagem, salvo se os

dados pessoais puderem ser expurgados do documento que os contém sem perigo de

fácil identificação, se houver consentimento unânime dos titulares dos interesses

legítimos a salvaguardar ou desde que decorridos 50 anos sobre a data da morte da

pessoa a que respeitam os documentos ou, não sendo esta data conhecida, decorridos

75 anos sobre a data dos documentos. Os dados sensíveis respeitantes a pessoas

coletivas, como tal definidos por lei, gozam de proteção prevista no número anterior,

sendo comunicáveis decorridos 50 anos sobre a data da extinção da pessoa coletiva,

caso a lei não determine prazo mais curto. O n.º 3 do mesmo artigo refere que os dados

sensíveis respeitantes a pessoas coletivas gozam de proteção prevista no número

anterior, sendo comunicáveis decorridos 50 anos sobre a data da extinção da pessoa

coletiva, caso a lei não determine prazo mais curto.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

101

Portanto toda a documentação dos arquivos extintos207

, incluindo os processos

nominativos em nome individual ou coletivo, poderá ser consultada por investigadores,

desde que os dados pessoais tenham sido parcial ou totalmente expurgados, nos termos

da legislação em vigor. Em virtude das circunstâncias especiais de comunicabilidade

deste arquivo, o seu acesso não é imediato pois existe um tempo que medeia entre o

pedido do utilizador e a sua consulta, uma vez que estão sujeitos a tratamento físico e

intelectual.

Sob o ponto de vista físico, terão de ser numerados, carimbados e devidamente

acondicionados. Sob o ponto de vista intelectual terão que ser cuidadosamente

analisados, e caso contenham dados pessoais que não sejam públicos208

ou outros que

se enquadrem nos parâmetros definidos pela Lei, serão expurgados da informação

relativo à matéria reservada, que poderá ser total ou parcial. O expurgo será total no

caso de se retirarem dos processos documentos completos, como por ex.

correspondência pessoal. O expurgo será parcial quando apenas alguns dados forem

subtraídos aos documentos. De acordo com a proteção de dados, o n.º 2 da Lei geral

4/91 de 17 de Janeiro, atende às disposições constitucionais e gerais do direito,

respeitantes à proteção do direito ao bom nome e privacidade pessoal e familiar dos

cidadãos. A Lei é geral e abstrata, necessita de ser regulamentada. Neste caso a própria

instituição está dotada de um poder discricionário conferido por lei, e os funcionários

que estão debaixo dessa hierarquia, ao desempenhar funções, devem tomar a decisão

mais adequada de forma a satisfazer o interesse público. Aos arquivistas, compete-lhes

colocarem-se à disposição do cidadão, independentemente do seu estatuto social ou grau

académico, no sentido de facilitar o acesso à documentação, em igualdade de

circunstâncias, no respeito pela lei e pelas normas em vigor. Estas são aliás as normas

207

Os arquivos extintos da PIDE/DGS e Legião Portuguesa, Polícia de Segurança do Estado, Policia de Informações, Polícia Internacional Portuguesa, Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, Conselho da Revolução Mocidade Portuguesa, União Nacional, e o próprio serviço de Extinção da PIDE e Legião Portuguesa. Os processos individuais dos funcionários do Estado e agentes da extinta Administração Ultramarina e do extinto Ministério do Ultramar que foram incorporados no ANTT através do Decreto-Lei 387/91 de 10 de Outubro. HENRIQUES, Maria de Lurdes - A dimensão legal do acesso à informação arquivística no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. In: Seminário Internacional de Arquivos de Tradição Ibérica, Rio de Janeiro, 2000. Disponível em: <http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=74> Acedido 28/3/2015. 208 Decreto-lei n.º 16 de 23 de Janeiro de 1993, art.º 17 nº 2

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102

expressas, no Código de Ética Profissional do Arquivista209

, que garante a expressão de

liberdade de pensamento.

7.4 Identificação Arquivística e Gestão de Documentos

A análise diplomática e a análise tipológica fazem parte dos estudos teóricos e

metodológicos da Diplomática e da Tipologia Documental210

. O nosso estudo incide

essencialmente na tipologia documental que tem por objeto entender qual o tipo de

informação que a entidade produtora/acumuladora gera ou a identificação da tipologia

documental é uma tarefa intelectual que incide na análise do documento de arquivo, na

entidade que o produziu e nas relações do documento inserido num contexto orgânico

de produção. Entende-se, pois, por tipo documental, a unidade produzida por um

organismo no desenvolvimento de uma competência concreta, regulamentada por uma

norma de procedimento e cujo formato, conteúdo informativo e suporte são

homogêneos211

. A série documental é o conjunto de documentos produzidos por um

mesmo sujeito produtor no desenvolvimento da mesma função e cuja atuação

administrativa foi plasmada num mesmo tipo documental212

. A fase de identificação

tipológica pressupõe o reconhecimento de elementos que caracterizam os documentos

na fase de produção ou de acumulação nos arquivos. Portanto a tipologia documental

tem por objeto o tipo documental que assenta na lógica orgânica dos conjuntos

documentais, ou seja na configuração que assume a espécie documental de acordo com

a atividade que a gerou213

. A atividade de um arquivo constitui-se através de um

processo de acumulação natural de documentos, resultado de um procedimento

administrativo e rotinas de produção da documentação que naturalmente regista a

209 Código de Ética dos Profissionais da Informação. Disponível em:<http://www.apbad.pt/Downloads/codigo_etica.pdf> 210O estudo da Diplomática incide no sentido formal do documento, na legitimidade do ato jurídico/administrativo e na sua autenticidade. O seu objeto é a espécie documental cujos aspetos formais definem a natureza jurídica dos atos nela contida. Na Diplomática o documento reveste a forma de ato administrativo ou jurídico que é consequência do facto administrativo ou jurídico. Um ato da Administração

210 Pública é juridicamente relevante e produz efeitos jurídicos que é a consequências

desse facto. Os Atos Administrativos são (…) as decisões dos órgãos da Administração que ao abrigo de normas de direito público visem produzir efeitos jurídicos numa situação individual ou concreta. SOUSA, António Francisco de - Legislação Administrativa. Lisboa: i editores, 1995. p.492. 211 RODRIGUES, Ana Célia. Tipologia Documental como Parâmetro de Gestão de Documentos de Arquivo, 2008, p 74. 212

IDEM – Ibidem. p. 19. 213

BELLOTTO, Heloísa - Como fazer análise diplomática e análise tipológica de documento de arquivo. São Paulo: Arquivo do Estado, Imprensa oficial, 2002. p. 19.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

103

atividade e a tramitação ocorrida da entidade produtora. Os documentos que emanam

dessa atividade refletem a sua organicidade através do elemento funcional que abrange

as competências, funções, atividades e tarefas.

O tipo documental identifica-se pela análise das características internas do

documento e do enquadrando no fundo arquivístico a que pertence. Assim, o estudo

começa pela identificação do órgão produtor que é formado pelo elemento orgânico e

funcional que abarca as funções, atividades e tarefas. Ao analisar a estrutura orgânica e

funcional estabelece-se uma conjugação entre as competências, funções e atividades

dessa organização, com as normas e procedimentos administrativos, seguindo-se os

trâmites de cada tipo documental desde a sua origem.

Para o estudo da tipologia documental é preciso identificar os seguintes elementos:

1) Denominação da espécie: nome que o documento recebe na criação;

2) Titular: pessoa física ou jurídica que possui a custódia do documento;

3) Entidade produtora: entidade responsável pela produção/criação do documento;

4) Função: objetivo pelo qual o documento foi criado;

5) Descrição: resumo síntese dos elementos essenciais do documento;

6) Tramite: caminho que o documento percorre para atingir a sua função.

Os princípios fundamentais da arquivística acompanham o estudo tipológico. Os

arquivos devem conservar a organização estabelecida pela entidade produtora a fim de

preservar as relações entre os documentos como testemunho do funcionamento daquela

entidade214

. O documento tem um valor probatório por ser testemunho de um facto

jurídico, que consequentemente produz efeitos jurídicos. O conceito de fundo (ou

núcleo) define-se por um conjunto orgânico de documentos de uma única proveniência,

produzidos ou recebidos por uma pessoa, família, organismo público ou privado no

decurso da sua atividade. Os documentos surgem de uma forma natural e orgânica ao

longo do exercício das funções e atividades dessa entidade. Desde logo, a importância

do princípio da proveniência e do respeito pela ordem original que consiste em manter o

fundo ou núcleo na sua forma original, não o sujeitando a quaisquer alterações ou

eliminações não autorizadas, a fim de conservar o seu valor probatório ou

214

Princípio do Respeito pela Ordem Original. ALVES, Ivone et al. - Dicionário de Terminologia Arquivística. Lisboa: Instituto da Biblioteca e do Livro, 1993. p. 77.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

104

informativo215

, o que define a unicidade216

e a indivisibilidade do ponto de vista

funcional. O Princípio da Proveniência217

é fundamental no domínio da Arquivística. Os

documentos não têm sentido se tomados isoladamente. A importância deste princípio

determina que os arquivos produzidos por uma entidade não devem ser confundidos

com outros documentos de outra proveniência. O respeito pela proveniência assegura

deste modo, o contexto de produção dos documentos, portanto é um princípio

orientador das ações de tratamento de fundos de arquivo e é através da análise dos

documentos, nas suas caraterísticas internas e externas, que se definem as séries218

. A

organicidade nos documentos de arquivo está patente quando o fluxo nas relações

administrativas refletem a estrutura hierárquica, as funções e as atividades da entidade

produtora/acumuladora ao seguir essa ordem natural, que é inerente ao funcionamento

do próprio organismo. O documento ao ser produzido ou recebido na organização

representa o exercício das suas funções e atividades.

Segue-se um exemplo, no que se refere à tipologia documental, de um processo

de informação relativo à UPA – Ações do In. SCCIA, Cx. 236, n.º 53. Apresenta os

seguintes elementos:1 Relatório de Informações, 3 Pedidos de Pesquisa, 4 Relatórios

Imediatos, 11 Mensagens recebidas, 1 Ofício e 1 cópia de folha manuscrita de bloco de

notas.

Apresentação detalhada do exemplar da p.11 do mesmo documento:

Cota original: 67.11.02

Âmbito cronológico: 1967-1974

Denominação da espécie: Relatório

Denominação da Tipologia documental: Relatório Imediato

215

ALVES, Ivone et al - Dicionário de Terminologia Arquivística. Lisboa: Instituto Nacional da Biblioteca e do Livro, 1993. p. 59-60. 216 Existem determinados atributos de um documento para se poder considerar único: número de registo, data, autor, destinatário, assunto, código de classificação, formulário e suporte. DURANTI, Luciana - Ciências Arquivística. Córdova [s.n.]. 1995. 217

O Princípio da Proveniência define-se como o princípio fundamental segundo o qual os arquivos de uma mesma proveniência não devem ser misturados com os de outra proveniência e devem ser conservados segundo a sua ordem primitiva caso exista, ou o princípio segundo o qual cada documento deve ser colocado no fundo donde provém e, nesse fundo, no seu lugar de origem. ROUSSEAU, Jean-Yves; COUTURE, Carol - Os Fundamentos da Disciplina Arquivística. Lisboa: Publicações Don Quixote, 1994. p.83. 218 A característica interna do documento refere-se ao seu sentido material ao conteúdo propriamente dito, ligado à proveniência e função do documento. A caraterística externa do documento caracteriza-se pelo espaço, volume, quantidade, suporte, formato, forma, género (textual, sonoro, etc.). BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Como fazer análise diplomática e análise tipológica de documento de arquivo. Disponível em: http://www.arqsp.org.br/arquivos/oficinas_colecao_como_fazer/cf8.pdf. Consultado em 4 de Agosto de 2015.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

105

Classificação: Confidencial

Entidade Produtora: DGS da Subdelegação de Silva Porto

Destinatário: Direção dos SCCIA

Assunto: Atividades do IN

Tramitação: A informação foi centralizada e processada pelos vários serviços. Trata-se

de um exemplar de Relatório Imediato que foi elaborado pela entidade informadora da

DGS, Subdelegação de Silva Porto, distrito do Bié dirigida aos SCCIA; a data de

receção da notícia na origem foi do dia 1/10/1970 sobre o assunto “Atividades do IN”; o

documento na origem tinha o n.º 2273/70 pertencendo à 2ª Divisão da Informação da

DGS; deu entrada na Direção dos SCCIA no dia 2/10/1970; no dia 7/10/70 às 10h04m

deu entrada na Repartição Administrativa com o n.º de entrada 7156; foi distribuído e

processado pelo Gabinete Político no dia 8/10/70; voltou à Repartição Administrativa

no dia 9/10/70 para ser arquivado.

A entidade informadora distribuiu exemplares: Subdelegação da DGS de Malange e à

Subdelegação da DGS de Henrique de Carvalho.

Os SCCIA distribuíram exemplares pelas seguintes entidades: DGERAL,

CCFAA, QG/RMA-2ª, CNA, COMRA2, PSPA, SCCIA, SDlg. - Luso, Posto de

Andulo, DInf – 1ª, Arquivo, Arquivo.

Para ter acesso à informação do fundo documental do Serviço de Coordenação e

Centralização de Informação de Angola, foi elaborado o inventário do fundo

documental até ao nível da série (SR). Para uma melhor difusão do acervo e acesso à

informação existem instrumentos de descrição documental para a recuperação da

informação, como os Guias, Inventários, Catálogos e Roteiros219

. A descrição do fundo

documental obedeceu às normas internacionais ISAD (G)220

, assim como as ODA221

.

219 PORTUGAL. Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo. Direção de Serviços de Arquivística - Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Angola. in Guia Geral dos Fundos da Torre do Tombo: Instituições Contemporâneas. Coord. Maria do Carmo Jasmins Dias Farinha [et al.]; elab. Maria Margarida Crespo Goes Pinheiro de Oliveira; fot. José António Silva. Lisboa: IAN/TT, 2004. vol. V. (Instrumentos de Descrição Documental). ISBN 972-8107-83-8. p. 284-289. Acessível no ANTT, IDD (L602/5). Cf. Inventários: OLIVEIRA, Maria Margarida Crespo Goes Pinheiro - Serviços de Centralização e

Coordenação de Informações de Angola: inventário [Impresso]. 2003. Acessível na Torre do Tombo,

Lisboa, Portugal. (L 679). 220

ISAD (G): Norma geral Internacional de descrição arquivística desenvolvida pelo Conselho Internacional de Arquivos. Adotada pelo Comité de Normas de Descrição, Estocolmo: Suécia, 19-22 de Setembro de 1999. Traduzido pelo Grupo de trabalho para a normalização da descrição em arquivo, 2ª

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

106

Encontra-se descrito do geral para o particular, conforme as normas e constam na

descrição do fundo os seguintes campos preenchidos: história administrativa do

produtor; a história custodial e arquivística; âmbito e conteúdo de diversas séries; os

sistemas de organização dos documentos; as condições de acesso; condições de

reprodução dos documentos; instrumentos de pesquisa, unidades de descrição

relacionadas; notas de publicação. No fundo, os campos mínimos “obrigatórios” para a

sua descrição.

ed. Disponível em: http://arquivos.dglab.gov.pt/wp-content/uploads/sites/16/2013/10/isadg.pdf. Acedido em24 de Julho de 2015. 221

ODA: Orientações para a Descrição Arquivística, conforme as normas ISAAD (G) e ISAAR (CPF) - Norma Internacional para o Registo de Autoridade.

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107

Tabela 2 - Inventário – Síntese do fundo dos SCCIA

Nível de

Descrição/ Código

Designação Datas de

Acumulação

Dimensão e Suporte

Fundo SCCIA- Serviços de

Centralização e

Coordenação de Informação de Angola

1961-1975 202 lv., 69 cx. (299 proc., 1227

doc. Fotográficos); papel

SR 001 Registo de entrada de

correspondência das

principais entidades remetentes e recetivos

assuntos.

1961-05-10 a

1974-12-21

92 lv.; papel

SR 002 Registo de entrada e saída de

correspondência

confidencial.

1961-09-21 a

1961-12-30

2 liv. ; papel

SR 003 Relatórios da Situação 1962-01-01 a 12-

10-1974

47 liv. (53 relatórios); papel

SR 004 Resenhas Diárias de

Notícias 1963-08-19 a

1969-02-07

971 doc.; papel

SR 005 Sumários de

Informações 1961-12-04 a

1962-05-15

5 cx. (137 doc.); papel

SR 006 Relatórios dos Governos

Distritais 1963-06-01 a

1970-07-08

1 cx. ; 4 liv.: papel

SR 007 Relatórios Especiais de

Informação 1970-06-30 a

1973-12-04

14 liv.; papel

SR 008 Estudos vários sobre problemas distritais e

análise da aplicação das

conclusões de uma reunião de governadores

1965-11-02 a

1966-01-07

5 liv.; papel

SR 009 Regedorias e

autoridades

administrativas locais do Governo- geral de

Angola

1965-01-25 a ? 4 liv.; papel

SR 010 Documentos relativos à criação, organização e

atividades dos serviços

de informação de

Angola

1961-06-19 a

1965-04-03

8 liv.; papel

SR 011 Estudos de Carácter

Militar, Administrativo

e Documentação de

Apoio

1961? A 1965? 17 liv. ; papel

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

108

Tabela 3 - Atribuições e competências dos SCCIA: o contexto de produção da

informação

MINISTÉRIO DO ULTRAMAR

Gabinete do Ministro

Fundo: Serviço de Centralização e Coordenação de Informações de Angola

SCCIA Objetivos Órgãos Competência

Séries

Serviço

Central

Reunir,

estudar e

difundir as

informações

que

interessem à

política, à

administração

e à defesa das

referidas

províncias.

Gabinete de

Estudos

a) Estudar e planificar a atividade de

informação na Província. Aconselhar,

no aspeto técnico de forma, ao

processamento e difusão de

informações.

b) Promover a coordenação das

atividades dos SI dos Serviços Públicos

e de empresas privadas, de acordo com

as diretivas do Governador-Geral e as

resoluções da Comissão Provincial.

c) Manter o intercâmbio de

informações com os respetivos órgãos

dos Ministérios do Ultramar e da

Defesa Nacional, com os similares das

outras Províncias Ultramarinas, com a

Delegação da Polícia Internacional e de

Defesa do Estado em Angola e com as

entidades particulares, coletivas e

individuais.

d) Promover a difusão de informações

aos diversos Serviços Públicos, Forças

Armadas e Órgãos Policiais.

e) Fornecer ao C.I.T.A. as informações

que apresentem interesse para aquele

organismo, em especial no campo da

informação pública, propaganda e ação

psicológica.

f) Elaborar as respostas às consultas

feitas aos SCCIA relacionadas com as

suas atividades.

g) Processar todos os assuntos tratados

pela Comissão Provincial de

Informações.

Relatórios da

Situação

Sumários de

Informação

Relatórios

Especiais de

Informação

Estudos vários

sobre problemas

distritais e análise

da aplicação das

conclusões de

uma reunião de

governadores

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

109

Gabinete

Militar

a) Promover a reunião e estudo das

informações processadas pelos SI dos

organismos correspondentes ao corpo

de ação militar.

b) Promover a reunião e estudo dos

elementos e dados estatísticos que

possam influir nas possibilidades do

IN, processadas pelos Organismos

correspondentes ao campo de ação

militar.

c) Manter estreita ligação com os SI

correspondentes ao campo de ação

militar e fomentar o intercâmbio de

informações entre eles.

Estudos de

carácter militar e

administrativo

Sumários de

Informação

Gabinete

Civil

a) Promover a reunião e estudo das

informações processadas pelos SI dos

organismos de carácter administrativo,

económico e financeiro,

b) Promover a reunião e estudo dos

elementos e dados estatísticos que

possam influir nas possibilidades do

inimigo, processados pelos organismos

de carácter administrativo, económico

e financeiro.

c) Manter estreita ligação com os SI

dos organismos de carácter

administrativo, económico e financeiro,

e manter o intercâmbio de informações

entre eles.

Sumários de

Informação

Gabinete

Político

a) Promover a reunião e estudo dos

elementos das informações processadas

pelos SI dos organismos

correspondentes ao seu campo de ação.

b) Promover a reunião e estudo dos

elementos e dados estatísticos que

possam influir nas possibilidades do

inimigo, processados pelos organismos

correspondentes ao seu campo de ação.

c ) Manter estreita ligação com os SI,

Relatórios de

situação

Briefings

Pedidos de

Informação

Sumários de

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

110

dos organismos correspondentes ao seu

campo de ação e fomentar o

intercâmbio de informações entre eles.

Informação

Gabinete de

Atividades

Especiais

Estudar e planificar a atividade de

pesquisa e informação na Província.

-Promover a expansão da rede de

pesquisa de notícias.

-Superintender em todos os assuntos

especiais que não estejam

expressamente atribuídos aos outros

Gabinetes ou à Repartição

Administrativa.

-Propor a criação, extinção ou alteração

das Secções Distritais dos SCCIA.

-Administrar o fundo especial, bem

como proceder às operações de

contabilidade e tesouraria, à elaboração

de propostas de reforço e à abertura de

créditos especiais.

Documentos

relativos à

criação,

organização e

atividades dos

serviços de

informações em

Angola

Sumários de

Informação

Repartição

Administrati

va

- Receber toda a documentação dirigida

aos SCCIA, registá-la e distribui-la.

- Dar andamento a todo o expediente

dos SCCIA e da Comissão Provincial

de Informações.

- Elaborar o inventário dos bens

móveis e imóveis dos SCCIA e

promover a sua conservação.

- Administrar o depósito de

publicações e a biblioteca.

- Elaboraras propostas de aquisição e

fornecimento dos artigos necessários

ao funcionamento dos SCCIA e

executar o respetivo expediente,

incluindo propostas de abertura de

concurso, de dispensa dos mesmos e de

contratos.

- Propor a antecipação de duodécimos

e utilização da percentagem cativa das

dotações orçamentais, quando tal seja

Registo de

entrada de

correspondência

das principais

entidades

remetentes e

respetivos

assuntos.

Regedorias e

autoridades

administrativas

locais do

governo-geral de

Angola.

Sumários de

Informação

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

111

necessário.

- Propor os reforços de verbas,

transferência e aberturas de créditos

especiais.

- Dar cabimento de verba aos diplomas,

contratos ou outros atos cujos encargos

sejam satisfeitos pelas verbas

orçamentais dos SCCIA.

- Elaborar anualmente as propostas

orçamentais dos SCCIA, da Comissão

Provincial de Informações e do Fundo

Especial e promover a sua remessa nos

termos e prazos legais aos Serviços de

Fazenda e Contabilidade.

- Promover o processamento das

despesas próprias dos SCCIA.

- Promover o processamento das

despesas próprias dos SCCIA.

- Elaborar as demais escriturações e

serviços de contabilidade,

administração financeira e de secretaria

dos SCCIA e da Comissão provincial

de Informações.

Centro de

Mensagens

- Compete assegurar as comunicações

de rádio entre os Serviços Centrais e as

Secções Distritais dos SCCIA.

Secções

Distritais

- Enviar ao Serviço Central todas as

notícias e informações que obtiverem.

- Manter o Governador do Distrito e o

Comandante Militar da área

correspondente ao Distrito

permanentemente a par das

informações recebidas.

- Assegurar o expediente da Comissão

Distrital de Informações.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

112

Conclusão

O estudo que esteve na base deste trabalho incidiu sobre os Serviços de

Centralização e Coordenação de Informação de Angola, desde a sua criação, em 1961,

percorrendo a sua estrutura orgânica e funcional, as suas atribuições e competências,

assim como se organizava, se classificava e se recolhia a informação.

Partimos no início do trabalho do conceito de informação e da complexidade do

processo de construção e de compreensão da informação até se converter em

conhecimento. A tomada de consciência das limitações físicas e intelectuais humanas de

forma a assegurar a troca de informação entre indivíduos ou entre organizações levou à

criação de novas formas de armazenamento e processamento de dados. Como que

capturada em pequenas cápsulas, a escrita emergiu por entre os silêncios e marcou o

caminho da vida da humanidade. Foi o sustentáculo da linguagem no tempo e no espaço

e percorreu gerações a fio, num processo quase inconsciente de transmissão.

O século XX trouxe um novo paradigma do conhecimento científico e

influenciou a opinião de muitos cientistas. A primeira grande mudança do pensamento

ocorreu com as publicações das teorias da relatividade de Einsten. A conceção de uma

ordem estável foi contestada por Bertalanffy que entendeu que o novo conceito da

ciência continha as estirpes da imprevisibilidade e da probabilidade que coexistiam em

todos os sistemas e em todas as realidades complexas. A ideia de ordem do equilíbrio e

da estabilidade traduzia-se simplesmente como um pronúncio do fim e não da vida.

Bertalanffy dedicou-se ao estudo da Biologia e às leis que sustentavam os sistemas

biológicos. Entendeu que a ciência devia ser encarada como um todo e que era

importante adaptar canais de comunicação para um entendimento interdisciplinar para a

compreensão de um fenómeno que era tangível e universal a todas as ciências. O seu

objeto baseava-se numa análise mais profunda dos fenómenos, sendo que a grande

diferença do seu pensamento residia na tensão que ocorria entre a parte, entendida como

mecanicista e reducionista, e o todo, abordado de uma forma holística e sistémica. Tal

como um organismo vivo, também uma organização estava inserida num sistema

aberto, ficando exposto à entropia. O sistema vive em constante permeabilidade com o

meio ambiente, com quem interage ao trocar informações, por isso não fica imune às

reações do meio. O seu equilíbrio provém das relações funcionais que os subsistemas

ativam no seu conjunto através da homeostasia.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

113

Também a organização dos SCCIA estava inserida num meio ambiente com

quem permutava notícias e informações com o exterior. Por outro lado, um outro

sistema que era composto por Estados ou subsistemas, com quem se interligava e

condicionava as políticas internas de Portugal. Perante os desafios internacionais,

observa-se como os desequilíbrios e os conflitos internos afetaram todo o sistema

colonial português com o aparecimento dos movimentos pró independência seguindo-se

a guerra da independência.

Em 1961 foram criados os Serviços de Centralização e Coordenação de

Informação de Angola para fazer frente à escalada de violência que surgiu no território

angolano. Foi necessário proceder à reorganização de um serviço com responsabilidades

de informação, com uma missão bem definida. Por outro lado, a captação psicológica

das massas implicava a definição de tópicos de orientação propagandística. Por isso

sujeitava as várias fontes de informação a uma filtragem e condução do trabalho, no

sentido de centralizar a informação. Um dos objetivos destes Serviços era prever as

ameaças e identificar as oportunidades, face à constante mutabilidade da guerra

subversiva, e influenciar através da sua doutrina as diversas tendências. As notícias ou

informações quando entravam no sistema eram processadas e sujeitas a um estudo de

enquadramento, tendo em conta a importância política, sendo determinada a sua

difusão, para depois, a montante como a jusante, voltarem a ser analisados os resultados

da sua difusão, quais os efeitos que provocou, o que influenciou ou adulterou,

condicionando a estratégia na sequente difusão.

O tratamento da informação obedecia a normas. O sistema convertia os dados ou

notícias, em informação. O processamento da informação envolvia a aquisição de

notícias, a produção de informação e a sua difusão. Envolvia várias tarefas manuais,

desde o registo da documentação num livro de entradas, a classificação por assuntos, a

atribuição de uma ficha de processo e o arquivamento da informação para futura

reutilização. As matérias eram classificadas na origem de acordo com o seu conteúdo e

atribuído um grau de classificação. Esta atividade implicava o envio de dados dos vários

serviços ou subsistemas para serem analisados e distribuídos.

Uma referência ainda ao Gabinete de Contrapropaganda, criado com o propósito

de atuar no plano psicológico das populações, através da doutrina espiritual. Na

verdade, este período de conflitos e tensões políticas tornou extremamente vulnerável a

estrutura social, o que permitiu uma certa permeabilidade para poder influenciar através

da contrapropaganda. Para lá de uma fachada, a pesquisa incidia no modo de manipular

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

114

as massas e atingir determinados objetivos, através da ideia de criar, transfigurar ou

confirmar certas opiniões para obter mudanças de comportamentos, atitudes, opiniões e

produzir efeitos na opinião pública. A contrapropaganda era insofismável, tendo sido

considerado o único processo ativo capaz de parar e demolir dardos da propaganda

inimiga. Para as entidades governativas, a conquista do elemento espiritual era

fundamental para ganhar a guerra.

A última parte deste trabalho alude à importância do património cultural, as

ações promovidas pelo Estado ao abrigo dos tratados e convenções e da nossa

Constituição para proteger e valorizar o nosso património. Refere a evolução do

conceito de património cultural acolhida em vários normativos, e a importância das

Instituições de Memória como instituições com carácter depositário da informação,

vocacionadas para a custódia, conservação e comunicação e que estão associados à

identidade e memória de um povo.

A organização da informação é fundamental para que seja possível o acesso à

documentação, no entanto a sua acessibilidade não pode colidir com direitos, liberdades

e garantias pessoais. Atende, portanto a algumas restrições de comunicabilidade.

Para uma melhor compreensão do acervo documental, a tipologia documental é

uma ferramenta que considera a relação do documento inserido num contexto orgânico

de produção. O capítulo 5 desenvolve o estudo orgânico-funcional dos SCCIA. Permite

observar a organicidade do arquivo através da sua estrutura, funções e serviços. Nesta

perspetiva foi importante observar os mecanismos do sistema de informação de arquivo

e os respetivos fluxos de informação que naturalmente se fundem com a orgânica dos

serviços. Como tal, foi do maior interesse analisar a informação acumulada dos SCCIA

e olhar por uma perspetiva orgânica complementando o estudo com o cruzamento das

políticas colonias portuguesas. Sem o conhecimento destas, não teria sido possível

compreender os SCCIA.

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Serviços de Centralização e Coordenação de Informação de Angola

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http://www.legislacao.org/diario-primeira-serie/1963-02-18> Acedido em 12/4/2014.

Determina que os serviços de centralização e coordenação de informações das

províncias ultramarinas sirvam simultaneamente os governadores-gerais e os

comandantes-chefes das forças armadas.

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Promulga as bases da organização da defesa nacional

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Estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do

património cultural

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Extinção do Serviço de Coordenação da Extinção da PIDE/DGS e LP

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Lei 107 de 8 de Setembro de 2001. Diário da República. I série. Lisboa. 209.

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Determina que os serviços de centralização e coordenação de informações das

províncias ultramarinas sirvam simultaneamente os governadores-gerais e os

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