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46 www.backstage.com.br 46 Setup dos Músicos Setup dos Músicos Karyne Lins [email protected] ma coisa é unânime entre os músicos entrevista- dos: o setup deve atender ao profissional em todas as suas atividades. Seja na gravação, no arranjo, no estudo ou na composição. Porém, é no show que o setup terá grande importância, pois é o momento em que o músico terá uma identificação com seu próprio som. Escolher e extrair recursos do setup para atender às propostas específicas de trabalho não é uma tarefa das mais fáceis, pois exige profundo conhecimento, experiência, gosto e muita pesquisa. Entre tantas pos- sibilidades de escolha, graças à tecnologia disponível e a facilidade e diversidade de equipamentos vendi- dos no mercado, o que manda nessa hora é o gosto pessoal e o grau de técnica e feeling do músico, que, independentemente da área de atuação, vai fazer toda a diferença. Escolhendo o tipo de setup “A escolha do que usar é muito pessoal e depende do estilo e sonoridade que cada um quer tirar. Acho muito importante pesquisar e estar atualizado com as novida- des”, diz o baixista Adriano Giffoni, que toca com Roberto Menescal, Carlos Lyra, João Donato, e é tam- bém músico de estúdio. Para ele, o músico hoje em dia U Como aliar qualidade, versatilidade e personalizar o seu timbre Timbres e setups são muito pessoais e têm as suas diferentes configurações. Nesta matéria, procuramos um ponto em comum entre os bateristas, baixistas, guitarristas e tecladistas. Fotos: Divulgação

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Karyne [email protected]

ma coisa é unânime entre os músicos entrevista-dos: o setup deve atender ao profissional em todasas suas atividades. Seja na gravação, no arranjo,

no estudo ou na composição. Porém, é no show que osetup terá grande importância, pois é o momento em queo músico terá uma identificação com seu próprio som.

Escolher e extrair recursos do setup para atenderàs propostas específicas de trabalho não é uma tarefadas mais fáceis, pois exige profundo conhecimento,experiência, gosto e muita pesquisa. Entre tantas pos-sibilidades de escolha, graças à tecnologia disponívele a facilidade e diversidade de equipamentos vendi-

dos no mercado, o que manda nessa hora é o gostopessoal e o grau de técnica e feeling do músico, que,independentemente da área de atuação, vai fazertoda a diferença.

Escolhendo o tipo de setup“A escolha do que usar é muito pessoal e depende do

estilo e sonoridade que cada um quer tirar. Acho muitoimportante pesquisar e estar atualizado com as novida-des”, diz o baixista Adriano Giffoni, que toca comRoberto Menescal, Carlos Lyra, João Donato, e é tam-bém músico de estúdio. Para ele, o músico hoje em dia

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Como aliar qualidade, versatilidade epersonalizar o seu timbreTimbres e setups são muito pessoais e têm as suas diferentesconfigurações. Nesta matéria, procuramos um ponto em comumentre os bateristas, baixistas, guitarristas e tecladistas.

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deve conhecer e usar a informática no dia-a-dia, poisfacilita a vida de quem quer ser profissional.

Foram as referências musicais de Adriano Giffonique o influenciaram na construção de seu setup e nasua sonoridade. Ele citou como maior exemplo a sonori-dade de baixo de Luizão Maia, baixista que tocava comElis Regina, e do baixista dinamarquês Niels-HenningOrsted-Pedersen. Eles ajudaram Giffoni a achar umcaminho para definir seu som em shows e estúdio.

Adriano acredita que é fundamental ter instrumen-tos bem regulados e conhecer todos os tipos de baixo.“Assim, é possível para o músico entrar no mercado detrabalho e ter possibilidade de tocar todos os estilos mu-sicais”, disse Giffoni, que gravou o CD Gal Costa Live inBlue Note, em maio de 2006, e acompanhou o guitarris-ta Andy Summers (ex-The Police) em São Paulo.

Essa relação de intimidade com os equipamentostambém tem outro defensor. O guitarrista FernandoVidal, que acompanha a cantora Marina Lima, acreditaque o setup deve atender ao músico em todas assituações “a partir do momento que você estivertotalmente íntimo e à vontade com o que você possui”.Apoiado em sua vasta experiência de sideman para ar-

tistas como Ed Motta, Zélia Duncan, GuilhermeArantes e Cássia Eller, Fernando aconselha a usar ape-nas o que o músico tenha conhecimento. “Não fiquecomprando e tentando usar uma coisa para cada situa-ção, mas sim usar em várias situações o que você tem esabe muito bem utilizar”, opinou.

Em contrapartida, no caso de instrumentos percus-sivos, quanto mais acessórios, mais possibilidades de seexplorar timbres. É o que defende Simone Soul, bateris-ta e percussionista que já tocou com Chico César,Robertinho Silva e a nova formação da banda OsMutantes. Ela possui vários acessórios: tambores tradici-onais de diferentes regiões do Brasil e do mundo,sampler, objetos sonoros que encontra em ferro velho,efeitos e outras curiosidades, com os quais ela procuraconceber seus sets misturando esses elementos que te-rão a função da condução (agudos), do chão rítmico(graves) e variações (médios).

O setup de Jean Carllos, tecladista da banda OficinaG3, foi criado a partir de seu conhecimento comsoftwares e hoje utiliza principalmente o Nuendo. Osvst’s (teclados virtuais) mais usados por Jean são os daNative Instruments: pro-53, fm7, b4II e Akoustic Piano,além do V-Station da Novation, o discovery daDiscoDSP e o A1 da Steinberg.

Durante os shows, o sistema de Jean fica ‘slave’ ao ProTools utilizado pela banda Oficina G3 que, quando acio-nado, dispara sua seção no Nuendo junto às automaçõesdos vst’s sync via MIDI timecode. “Já uso a configuraçãoadequada à minha proposta de trabalho, porque nessaárea tudo é muito caro e não há lugar para escolhas erra-das. Sugiro que não procure o mais barato, e sim o maiseficiente, que una preço a qualidade, sem prejudicar a

Já uso a configuração adequada à minha proposta

de trabalho, porque nessa área tudo é muito caro e

não há lugar para escolhas erradas. Sugiro que não

procure o mais barato, e sim o mais eficiente, que una

preço a qualidade, sem prejudicar a eficiência

Adriano Giffoni diz que o músico deve conhecer e usar a informática Fernando Vidal aconselha a usar apenas o que o músico conheça

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Gosto de ter um bom piano acústico, um Rhodes,

órgão, cordas, isso tudo pode ser encontrado em um

Roland JV 90, num Korg M1 ou num Tokai TX5.

Como arranjador, é bom um computador no qual

pode-se ter qualquer sequencer

eficiência”, opinou Jean, que citou John Lord e RickWakeman como referências em sua sonoridade.

Esse tipo de setup o ajudou a ter mais liberdade no pal-co: placa M-Audio Firewire 410, Midiport 4x4 Midiman,Kurzweill K2600 RS, Behringer DI4000, teclado SP88XKurzweill, teclado controlador M-Audio estilizado porJean, notebook Apple Macbook duo core 2.0 e sistemapara a banda: sincronizador Motu MIDI Timepiece AVUSB, placa M-Audio Firewire 1814, notebook ApplePowerbook G4 rodando mac com Pro Tools.

A área de atuação do tecladista e arranjadorRicardo Drummond, o Magôo, além de suas bandasOzimoraes e Beatlle Street, é a propaganda: trilhas so-noras, jingles e spots para rádio, cinema e televisão. Seusetup é formado por um Roland JV 90 (Multi-timbral),Korg M1, Tokai TX5, amplificador Fender e uma mesade oito canais Ross Systems. Para ele, o importante noequipamento é a questão de timbres, que devem estaratualizados com o estilo musical de cada um.

Segundo Ricardo, qualidade sonora é seu principalcritério quando vai escolher um teclado. “Gosto de terum bom piano acústico, um Rhodes, órgão, cordas, issotudo pode ser encontrado em um Roland JV 90, numKorg M1 ou num Tokai TX5. Como arranjador, é bom

um computador no qual pode-se ter qualquer sequencere assim ter todos os instrumentos que quiser e fazer osarranjos mais variados”, disse Ricardo, que já gravoucom Erasmo Carlos, Peter Mad Cat, Greg Wilson (Blues

Ricardo diz que qualidade sonora é importante na escolha do teclado Jean Carlos, do Oficina G3, se inspira em John Lord, ex-Deep Purple

O setup do tecladista Jean Carlos foi criado a partir de seu conhecimento e pesquisa. As configurações atuais lhe dão mais liberdade no palco

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Etílicos), Flávio Guimarães (gaitista do Blues Etílicos) eMárvio Fernandes (Erva Doce).

Pesquisa sonorapara escolher o setupPara realizar esse tipo de pesquisa, Adriano estuda

em média quatro horas por dia e durante esses estudosgrava diferentes timbres em vários estilos. No baixoacústico, o estudo é mais detalhado e inclui a sonorida-de de arco e a afinação que devem ser trabalhadas comcarinho e determinação. Adriano também procura to-car vários estilos como jazz, funk, música latina e músi-ca brasileira com timbres diferentes.

Albino Infantozzih iniciou sua pesquisa a partir dobaterista Ringo Star (The Beatles) e, por este ser suamaior referência, procurou imitá-lo, principalmente nouso do hi-hat de 15”, que possibilita uma sonoridademuito rica em freqüências e fácil controle na abertura.Outra referência é Jeff Porcaro (Toto), principalmentena profundidade dos tons e na afinação das caixas.Albino utiliza hoje três setups (veja Box).

Como cada banda tem uma sonoridade, SimoneSoul gosta de descobrir como suprir as necessidades rít-

micas de cada uma. Um exemplo é o seu Projeto CRU,onde utiliza bateria completa, djembê, darbuka, per-cussões de mão (pandeiro, caxixis, carcabous), samplerse voz. No último DVD de Chico César e Quinteto daParaíba, Simone montou um set de percuteria mais de-licado por conta das dinâmicas das cordas, mas tambémcom um certo ‘punch’ para os momentos mais intensos.

Na turnê com Os Mutantes, Simone utiliza um setde percussão mais padrão com congas, timbales, bongô,djembê, caixa de 10”, uma zabumba de 18” e acessórioscomo o tanque de ferro e outros ‘brinquedos’ para efei-tos e ruídos, etc. “No caso dos Mutantes, foi um trabalhomuito peculiar que fiz, no sentido de ‘entrar’ em umsom mais do que solidificado em arranjos e proposta

musical. Coloquei a percussão de uma maneira incisiva,para somar com a bateria e dar o colorido timbrísticonecessário”, explicou Simone.

Ricardo aconselha o músico a procurar marcas que te-nham uma tradição no meio musical para pesquisar tim-bres e sonoridades. “Acredito também no gosto de quemestá pesquisando, por isso, o tecladista pode usar tecladosmedianos com outros cérebros que tenham uma boa res-posta para o som que ele quer executar”, opinou Ricardo.

Necessidade ou gosto pessoalQuando André Christovam começou a tocar como

sideman, adequou seu equipamento às necessidadesdo trabalho. Foi assim com a banda Heróis do Brasil, deKid Vinil, e principalmente para interagir com Robertode Carvalho durante sua breve passagem pela banda deRita Lee. Já na gravação do disco de Raul Seixas e Mar-celo Nova, Panela do Diabo, e no subseqüente discoacústico de Marcelo Nova, Blackout, André usou oque tinha à disposição em seu setup: Fender Strato-caster 1962, Fender Silvertone 1961 para uso debottleneck, um violão Martin D28, uma Triolian (gui-tarra de linha econômica da National que teve um pa-pel importante para muitos músicos de blues), uma Fen-der Lap Steel 1953 e um amplificador Vox Cambridge.

Para Simone, o bom gosto do instrumentista está aci-ma de tudo. É ele que vai ajudar o músico a ter um setuppara atender a shows, gravações e situações diversas. Emrelação à necessidade de se adquirir um equipamento amais para um determinado trabalho, é dever do profissio-nal buscar e complementar com o que for preciso paraatender ao artista da melhor forma. Já Albino diz quesuas opções são intuitivas, sem o menor esforço ou estra-

Albino Infantozzih utiliza três setups de acordo com o tipo de trabalho

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Acredito também no gosto de quem está

pesquisando, por isso, o tecladista pode usar

teclados medianos com outros cérebros que tenham

uma boa resposta para o som que ele quer executar

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tégia, e as decisões são naturalmente do gosto pessoal.“Nunca penso em artistas, imagino sempre canções emelodias. O artista é apenas uma conseqüência de uma‘idéia’ musical”, opinou.

Custo-benefícioGeralmente, o músico iniciante se influencia muito

pelas marcas dos equipamentos dos seus ídolos e se en-gana ao comprar um equipamento caro. Segundo obaixista Felipe Andreoli, hoje na banda Angra, poucossaberão utilizar os recursos do equipamento, pois a mai-oria ainda não definiu qual direção vai seguir no merca-do da música.

No início de sua carreira, Felipe conta que não tinhaopção, a não ser ter um setup dentro da relação custo-benefício. “O garoto que está começando a ter contatocom equipamento não sabe quais as aplicações de de-terminados baixos. Foi assim comigo. Quando decidime profissionalizar, passei a ter uma visão de mercado ehoje consigo escolher o equipamento certo para cadaocasião”, explicou.

O pastor e baixista da banda Quatro Por Um, MarcusSalles, iniciou a carreira como sideman há 12 anos e dis-

se que esse período foi essencial para testar equipamen-tos e encontrar um identidade sonora para seu própriotrabalho. Marcus começou com equipamentos de baixocusto e depois que deixou a atividade de sideman mon-tou seu setup básico para estrada com uma linha profis-sional. “Acho que nem sempre uma marca top de linhacorresponde ao que você quer. Por isso, antes de com-prar tem que testar. Aqui no Brasil é difícil conseguirque um lojista deixe você testar equipamentos, masmúsico tem que ser cara de pau e insistir. O que nãoconvém é levar um instrumento sem saber como ele vai‘funcionar’ para sua proposta de trabalho”, disse Salles.

Albino observa que a indústria nacional melhorou mui-to e hoje há marcas de amplificadores competitivas, instru-mentos de boa qualidade e cordas com um bom som e issotornou mais fácil a vida do músico brasileiro. Ele lembroutambém que as marcas importadas fornecem produtos in-termediários com sonoridade profissional para gravação.“Estamos vivendo uma época pós-globalização, internet,pirataria e novos patamares de preço. Nessa relação, o bra-sileiro é criativo e a indústria nacional muito ágil. Acreditoque com os chineses melhorando seus produtos a preçoscada vez melhores enfrentaremos uma fase de adaptaçãonessa relação artista-músico-fabricante. Agora, quando arelação envolve o artista, não devemos esquecer que emum mercado competitivo musical, a qualidade do equipa-mento refletirá em melhores oportunidades de trabalho”,opinou o baterista.

André Christovam concorda com Felipe quando dizque o músico acaba fazendo um investimento na mar-ca. “O fetiche por equipamento é muito grande. Achoque um instrumento clássico não se mede apenas pelaidade da sua construção. Toquei muitas Stratocasters

André Christovam acha que o músico investe muito na marca Marcus Salles começou a pesquisar com equipamentos de baixo custo

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O fetiche por equipamento é muito grande. Toquei

muitas Stratocasters da década de 50 que eram uma

porcaria. Gastar US$ 70 mil numa guitarra? Aponte

um músico brasileiro que tenha guardado US$ 70 mil

ao final de uma turnê

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da década de 50 que eram uma porcaria. Gastar US$ 70mil numa guitarra? O que é isso, gente? Aponte ummúsico brasileiro que tenha guardado US$ 70 mil ao fi-nal de uma turnê”, reclamou.

Como a tecnologia afetoua composição do setupEm relação à bateria, Albino Infantozzih lembrou que a

tecnologia na gravação digital alterou totalmente seucomportamento musical e seu setup. Ele explicou que issoaconteceu porque a era digital democratizou a gravaçãono sentido de possibilitar equipamento a preços mais aces-síveis e estimular o aumento do número de estúdios.

Adriano Giffoni passou a simplificar mais a parte elé-trica de seus instrumentos e a usar a qualidade dos présdos estúdios. “Um acessório que melhorou muito emqualidade foram os captadores e hoje uso meus instru-mentos apenas com os volumes e um potenciômetro detonalidade. A tecnologia também me ajudou muitopara as aulas e hoje uso os programas Band in a Box,Finale, Encore e Cubase para preparar playbacks e par-tituras das levadas e músicas”, explicou Giffoni.

André Christovam diz ser um “viciado” nos anos 60,principalmente a segunda metade dessa década, e sentefalta do som da fita de duas polegadas. Porém, admite quecomputadores e simuladores de amplificadores, pré-ampli-ficadores e efeitos facilitam muito na edição e composição.“Tempo é dinheiro. Temos que conviver com as duas op-ções (analógica e digital) sem preconceitos e fazer comque a música saia lucrando”, opinou o guitarrista.

Jean explicou que quando o tecladista faz uso detecnologia com a música é essencial um bom notebooke bons periféricos. Isso significa segurança no palco.

Outra dica é ter uma latência baixa (a menor possível).Bons controladores são fundamentais para não prejudi-car a performance do músico e para evitar que a energiado palco desestabilize todo o sistema, pensar em umnobreak ou um bom estabilizador. “A principal mudan-ça em termos de tecnologia foi a facilidade de edição.Hoje, não precisa ser um bom músico para gravar um dis-co, na época das gravações de fita, os músicos eram obri-gados a tocar de verdade, estar muito bem preparados eas produções eram mais demoradas. Acho que isso trou-xe uma comodidade negativa para o músico moderno. Amaioria não tem mais a preocupação de fazer uma grava-ção perfeita porque depois vai consertar e inserir muitacoisa através de um software”, reclamou Felipe.

Tirando o máximo do setupFelipe Andreoli não montou um setup específico,

mas por possuir vários equipamentos, pode mudar asconfigurações de acordo com a situação nas viagenscom o Angra. Os setups fixos são para atender a um gru-po instrumental e à banda de rock progressivo Karma,que são os outros dois projetos musicais do baixista.Felipe diz ser da escola moderna - enquanto muitos têmcomo referência a sonoridade dos anos 70 e 80, ele co-

A principal mudança em termos de tecnologia foi a

facilidade de edição. Hoje, não precisa ser um bom

músico para gravar um disco. Acho que isso trouxe

uma comodidade negativa para o músico moderno.

Felipe Andreoli tem equipamentos que atendem todos os seus projetos musicais: Angra, Karma e Banda Instrumental

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Conheça os setups mais famosos

Wilson Sideral

• Amplificadores: Marshall JCM2000 com três ca-nais TSL, Fender Twin 1975, Marshall MK2 JMP(reedição).

Guitarras: duas Fender Jazz Máster 1964, umaFender Stratocaster 1963, Grestch 1950, GrestchCountry Gentleman 1964, três Gibson (Les Paul 335,SG doubleneck e uma viola Gibson), Fender PlusParkle 1962 e violões Crafter (endorsement).

Adriano Giffoni

• Contrabaixos: Nhureson ¾ acústico, YamahaNatan East de cinco cordas, Vertical Bass D’Lara,Fretless M. Laghus de quatro cordas e um Jazz BassD’Lara com captadores EMG.

Cordas para baixo elétrico Giannini 0,45 e paraacústico Thomastick solo.

Fernando Vidal

• Pedaleira: Wah wah Cry Baby, VoodooVibe(tremolo, vibrato) RogerMayer, Compressor CS3Boss, Tube Screamer Ibanez, Blues DriverBoss,Oitavador OC2 Boss, Digital Delay DD2, TC Chorus,Digital Delay DD5 com Tap Tempo Guitartech e AutoQ MXR.

Set para shows grandes: amplificador Fender TheTwin, a pedaleira, o Mesa Boogie Mark 1 e o RagnaPurple Haze.

• Estudo: Tascam CD-GT1 para transcrições eKorg Pandora para headphone.

• Gravações: Fender Princeton Reverb II, PODLine 6 e Wah wah Vox.

• Pequenas apresentações: Marshall JTM30, MesaBoogie Dual Caliber DC-5 e Ragna Rock da Warm Music.

• Endorseement: Guitarras Crafter, cordas Groove,amplificadores Warm Music, cabos Santo Ângelo.

André Christovam

• 1o setupPara estudo, aulas e Gigs em espaços pequenos

com um bom sistema de monitor: AmplificadorRoland Cube 60 (simulador de vários amplificadoresclássicos) com a regulagem Black Face e uma guitar-ra Zaganin Telecaster semi-acústica com umcaptador Seymour Duncan P90 modelo vintage. Cor-

meçou a tocar sendo influenciado por bandas do iníciodos anos 90, e por isso opta sempre por ‘baixos moder-nos’, como ele mesmo define. São instrumentos de mar-cas diferentes, porém, com características comuns: bai-xos com espaçamento de corda um pouco menor, todacaptação humbucking e sistema pré-ativo (com umshape mais moderno que possui uma sonoridade maisdefinida, controle da equalização evitando ruídos e umvolume de saída equilibrada e balanceada, que consigagerar um timbre com peso e médio cortante). Na atualturnê com o Angra, Felipe está com todo o setup debaixos Yamaha (ver setup completo no Box).

Requisitado para gravar diversos estilos que vão desdeMPB, rock, pop, sertanejo até o fuzz, Albino Infantozzihprocura adequar técnica a esses diversos estilos, mudan-do constantemente de baquetas para melhorar o equilí-brio nas superfícies dos pratos e Hi-Hats. Para cada estilomusical, usa peles, pratos, caixas, vassouras e baquetasdiferentes. Nas gravações usa peles monofilme ou filmesimples, porosas para caixa e transparentes para os tons.Peles de filme duplo transparente com anel de abafar nobumbo e na resposta do bumbo pele monofilme leitoso(sem porosidade). O furo varia conforme o estilo. Parasalas com acústica mais ‘viva’ usa pratos com decay me-nor e caixas de madeira. Em salas com característica‘seca’ gosta dos pratos com decay longo e prefere as cai-xas de metal com harmônicos bem abertos.

A escolha do setup para shows funciona basicamen-te assim: shows onde o repertório possui mais músicasromânticas usa o primeiro setup com o bumbo 24”. Situ-ações onde o repertório só contém músicas dançantes,ele troca o bumbo para 22”. Quando o repertório é maisfusion, costuma utilizar o bumbo de 20”.

Setup para todas as ocasiõesMarcus Salles encontrou nestes cinco contrabaixos a

possibilidade de trabalhar em todas as aplicações quenecessitar: Music Man de cinco cordas, Fender JazzBass, Fender Precision Bass, Fretless de cinco cordasLuthier (tipo de baixo em que sua escala é totalmentelisa) e um baixo acústico Strinberg BA-350C. Ele mes-mo montou uma pedaleira com um Master Bass Drive

Para Simone Soul, o gosto do instrumentista está acima de tudo

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Conheça os setups mais famosos

das flatwound (13/52) com a corda G encapada nessaguitarra e palhetas de madeira Cerne.

• 2o setupSom de rock e blues para shows: Amplificador MG

Double DeLuxe e Telecaster Zaganin com doiscaptadores Seymour Duncan Seth Lover. As cordas sãode nickel 10/46 da Ernie Ball.

• 3o setupGuitarra Blend Zaganin de 12 cordas, captadores TV

Jones e o tampo de Curly Maple num corpo semi-acús-tico dão um ar vintage a uma guitarra moderna. É ligadaa um amplificador Fender Twin reedição 1965.

• 4o setupViolão de aço Novaes feito de madeira Gabiroba

para as laterais e o fundo em três partes unidas porfiletes de “flamed maple”, o Granadillo na escala, o mog-no no braço e o tampo de sitka spruce, o acabamentono “soundhole” feito com um “herringbone” (germanstyle) e o “binding” de “flamed maple”. O braço sejuntando ao corpo no 12º traste e um “FlorentineCutaway” para facilitar o acesso à região mais aguda daescala. Cordas Ernie Ball 13/52 Bronze.

Albino Infantozzih

• 1º setupTama modelo Star Classic MapleCor: green sparkle; Casco sem anel de reforço; Tam-

bores: 8x8, 10 x 9, 12 x 10, 13 x 11, suspensos; Tamboresde chão: 14 x 14 e 16 x 16; Bumbo 24 x 18

• 2º setupTama modelo Star Classic MapleCor: green sparkle ; Casco com anel de reforço

(Focus Ring); Tambores: 10 x 8, 12 x 9, 14 x 11, 16 x 13todos suspensos; 1º Bumbo: 20 x 18; 2º Bumbo: 22 x 18sem anel de reforço

• 3º setupTama Star Classic PerformerMadeira: Birch; Cor: Sun Burst; Tambores: 10 x 8, 12 x

9, 14 x 12, 16 x 14, todos suspensos; Bumbo: 22 x 18;Caixas: 14 x 6 ½ Sistema Air – Ride Maple; 14 x 5,5 Maple;14 x 5,5 Birch; 14 x 5,5 Bronze; 14 x 5,5 Cobre; 12 x 5Maple; 12 x 5 Aço; Pratos Sabian Rides: 22: Power BellRide 22” H.H.; 22: Liquid Ride Chester Thompson; 21:Lunar Ride Willian Calhoun; 21: Salcero Ride RitchieGarcia; 21: Raw – Dry H.H.

• Crashes17” Extreme Chad Smith; 19” Extreme Chad Smith;

16” H. H. Mediun Thin; 18” H. H. Mediun Thin; 15”Studio Crash H.Hx;

17” Studio Crash H.Hx; 16” Stage Crash H.Hx; 18”Stage Crash H.Hx; 15” Studio Crash AAx; 17” StudioCrash AAx; 19” Fierce Crash H.H.

• Chynas:18” Radia Terry Bozzio; 18” H.Hx; 20” H.Hx• Splash10” Paragon; 12” Splash AAx; 10” H.Hx; 8” Splash

AAx; Hi Hats; 15”: Groove Hats H.Hx; 13” Groove H.Hx;13” Fusion Hats H.H; 13” David Garibaldi H.H; 14: ElSabor H.Hx

Peles e caixas de roxinho RMV para gravações eshows, baquetas de Hickory Vater 5-B e 5-A e mo-delos Fusion, Rock e Chad Smith, kit de microfo-nes: Neumann e Sennheiser para gravações eSuperLux para shows. Bateria eletrônica RolandTD-20 e um RMP-5.

Felipe Andreoli

Contrabaixos Yamaha TRB6P-II, BBNE-2 (modeloNathan East, de 5 cordas), BBNE-2 (5 cordas,fretless), SVB-200 “Silent Bass” (4 cordas, upright, es-cala 41"), BEX-4C (4 cordas, semi-acústico, comcaptadores magnético e piezo), TRB1005 (5cordas) eRBXJM2 (6 cordas).

Amplificador Mesa Engineering M-Pulse 600, ampli-ficador Meteoro B52 (spare), caixa Meteoro 810BS.Multi-efeitos Zoom GFX 2200, pré-amplificador Meteo-ro MPX 500, pedais chorus Danelectro Cool Cat,equalizer Danelectro Fish & Chips, overdrive ZoomPowerdrive PD-01, afinador Boss TU-2.

• Shows: amplificador Mesa Engineering M-Pulse600, caixa Meteoro B52, pré-amplificador MeteoroMPX 500, pedais chorus Danelectro Cool Cat,afinador Boss TU-2, sistema sem fio Audio-TechnicaAEW série 4000, cordas Elixir Nanoweb 0.45 e cabosMonster Bass.

• Setup banda instrumentalAmplificador Mesa Engineering M-Pulse 600, pe-

dal Zoom B2.1u, sistema sem fio Audio-Technica AEWsérie 4000, cordas Elixir Nanoweb 0.45 e cabosMonster Bass.

MPX500 Meteoro para distorção, um Electro-Harmo-nix Micro Synthesizer Pedal (que reproduz vários sonsvintage análogos), um Bass Chorus da Boss, um PedalDrive da Boss e um afinador Fender. Um sistema de in-ear Sennheiser EW 300 e microfone AKG com fio tam-bém fazem parte do setup, além de um violão Taka-mine, viola Yamaha de 12 cordas e o software Mboxpara composição e para pré-produção.

Nas gravações de baixo elétrico, Giffoni usa oYamaha Natan East, que é um instrumento versátil ecombina com todos os estilos musicais. Ele grava o baixoacústico com microfones e o captador Wilson em canaisseparados e depois mixa os timbres. Para arranjo, utilizaos programas Finale, Encore e, depois de tudo pronto,passa para o Cubase e grava uma parte do arranjo emáudio e o restante em MIDI.

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Aproveitandoo final da turnê doDeep Purple noBrasil, no final doano passado, oguitarrista SteveMorse ministrouum workshop ex-clusivo realizadopelo IG&T (Insti-

tuto de Guitarra e Tecnologia) no Auditório da UNIP (SãoPaulo). A Backstage foi até lá saber mais sobre as mudan-ças recentes no setup que o atende nos workshops eturnês com o Deep Purple e a Steve Morse Band.

Faz um ano que Morse trocou os velhos Marshallpor um setup de amplificadores ENGL modeloSpecial Edition E670 com válvulas EL34. São amplifi-cadores fabricados com tecnologia alemã e, segun-do o guitarrista, equipamentos ainda pouco conheci-dos pela maioria das pessoas. A principal diferençadesses amplificadores em relação ao set de Marshallutilizados anteriormente e até mesmo dos Peavey,também utilizados por ele, é por terem um poucomais de brilho no som. “Consigo, de uma forma maisagradável, aquelas freqüências que dão presençano som. Outra razão pela qual estou gostando deusar estes amps é porque eles me dão um som deguitarra encorpado”, explicou.

Steve Morse usa em sua pedaleira três pedais devolume Ernie Ball, um TU-12 Chromatic Tuner da Bosse um BF1 Buffer. Também utiliza um ENGL Z-9footswitch para mudar presets via MIDI. Em relaçãoàs guitarras, o músico esclareceu que ainda estátestando os novos modelos de guitarras Music Man

Steve Morse

Steve Morse Signature, que possuem algumas dife-renças peculiares, principalmente nas pontes, quepermitem ação na corda grave mais baixa. Com es-ses testes, ele pretende saber até onde essas dife-renças afetam a sonoridade do instrumento. Segun-do Morse, uma das vantagens é que essas guitarrastendem a ter um som um pouco melhor para tocarrock´n´roll. O músico mostra, com esse setup bemcompacto e versátil, que é possível dar continuidadeà sonoridade que o consagrou, buscando em novossetups e configurações seus timbres particulares.Este é um bom exemplo de como experimentar paraencontrar novas propostas de sons.

Após a saída de Blackmore, o Purple se viu maislivre para novos caminhos e talvez a opção por SteveMorse foi pelo fato de ele ser totalmente oposto aRichie Blackmore. A musicalidade de Morse é resulta-do da mistura entre o country sulista, o erudito, o fol-clore Celta, o rock setentista, o progressivo e o jazzrock que consagrou seu estilo peculiar no Dixie Dregs.Morse segue um processo de pesquisa cujo foco éaprender coisas novas usando a imaginação. Ele ima-gina frases meramente através de um som e depoiscoloca isso em prática no âmbito da composição e

criação, porém,as técnicas e es-tilo dos solos nãomudam. Pode-seperceber dessaforma porque Ste-ve Morse é um dosguitarristas maisadmirados pelosmúsicos.

Seu setup para shows é simples, pois Adriano não usaefeitos ao vivo. Leva o baixo indicado para cada traba-lho e em alguns casos uso dois baixos e um pedal daPower Click para separar os instrumentos. “O meu setupatual funciona bem para todas as ocasiões. Muitos dosmeus temas apareceram quando eu estava estudandobaixo acústico ou elétrico e quando isso acontece pro-curo gravar imediatamente e depois trabalho com cal-ma em cada música”, completa Giffoni.

Em estúdio, André usa tudo o que puder. Quandoestá na estrada, utiliza o que tem disponível e se o lugarfor compatível leva um dos seus amplificadores. Se não,o guitarrista pede no rider um Fender Twin reedição1965. “Para evitar as surpresas nem sempre agradáveisem relação a amplificador e estar sempre com um tim-bre legal debaixo dos dedos, carrego sempre os seguintes

pedais: Crunsh e Creamy da MG Music muito bonspara ‘arredondarem’ esses Marshalls JCM 900 que ro-dam por aí desregulados e falantes com os dias conta-dos. Eles te devolvem o ‘corpo e a alma’ que os Marshallsdeveriam sempre ter! Tenho também um Fulldrive 2 daFulltone, bem velhinho, que uso com a compressão des-ligada”, conta André.

Diminuindo para modernizarHá alguns anos, Jean está aprimorando seu setup e

ao invés de aumentá-lo vai simplificar. O novo equipa-mento é chamado Muse Receptor. Ele já existe há pelomenos alguns anos e Jean está finalizando os testes e aconfiguração do mesmo. O tecladista disse que esse sis-tema vai substituir seu notebook, placa de áudio e todasas ligações feitas via cabo, afinal, ele vai estar ligado so-

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mente ao notebook da banda via cabo de redecrossover, usando a tecnologia Uniwire, junto com o ProTools. Dessa forma, Jean deixará de ter dois notebooksem sync via MIDI timecode. “Não terei mais problemascom a ligação Windows XP e placa de áudio, e casoaconteça algum problema durante o show, o Musereinicia em 10 segundos, contra o mínimo de 1 minutopara se iniciar o Windows, logo após o Nuendo e a seçãoem questão”, explicou.

Tecnologia atualpara conseguir o vintageA proposta de trabalho do guitarrista Wilson Side-

ral é trazer referências de rock, pop, soul e blackmusic dos anos 70 para a música pop brasileira con-temporânea e recentemente fez algumas mudançasem seu setup. O real motivo da mudança foi evitarproblemas com equipamentos antigos, por isso, dei-xou no estúdio os equipamentos vintage que anteseram levados para a estrada e passou a usar simulado-res. Sideral atualizou seu setup para a turnê de seuúltimo disco e esse processo consistiu em montar umpedal board (pedaleira), fazer backup de todo o siste-ma para os shows e levar os simuladores de timbres. Omúsico deixou claro que não leva a pedaleira para oestúdio e utiliza os equipamentos originais para a gra-vação de seus discos.

O guitarrista utiliza o DL4 Delay da Line 6, que si-mula todos os timbres vintage que gosta de tocar e corremenos risco de dar problema. “Com bom gosto e fazen-do as regulagens corretas, esses pedais simulam os sons aque se propõem. Não tinha mais condição de levar rari-dades para todo lugar”, disse Wilson Sideral.

No Line 6, o músico pode ter três tipos de delaydigital para solos: tape eco para canções soul music(uma simulação delay de fita antiga), um delay re-gulado com um chorus que já vem com uma simula-ção de chorus para rock, quatro timbres com préssets, um rotary (simulador de caixa Leslie), tremoloe flanger.

Diego Soares, técnico de guitarra de Sideral, pro-jetou a pedaleira baseado em pesquisas e em seu co-nhecimento em montagem de sistemas para pedaisjunto a Maecelo Coelho da Guitartech que cons-truiu e desenvolveu soluções para a pedaleira comcabos de melhor qualidade, fonte master estabilizadapara todos os pedais e isso diminuiu a perda de sinal.Sideral passou a usar os efeitos em loop e Diego acres-centou um micro amp MXR para dar um ‘boost’ nosinal ediminuir ainda mais a perda entre o “send /return” deste mesmo. Nestas ligações, há um patchque pode fazer várias conexões em loop e stereo euma ventoinha acoplada nas fontes que não deixaacontecer um super aquecimento nem mesmo emocasiões de energia 220, pois ela é bi-volt. “O Sideralé um cara bem resolvido em relação a som. Ele chegae diz o que quer e eu soluciono ajudando nas monta-gens e viabilizações”, disse Diego, que morou trêsanos em New York e teve acesso a cursos de luthier eregulagem de equipamentos.

Enfim, depois de conhecer alguns dos setups que fi-zeram história na mão desses músicos e nos ouvidos dopúblico, consideramos que para se ter um setup ‘quase’perfeito é necessário anos de testes e pesquisa. Experi-mente sempre, pois sempre haverá uma oportunidadepara novas sonoridades.

Wilson Sideral investiu em equipamentos simuladores de vintages O setup de pedaleira de Sideral foi feito pelo técnico Diego Soares

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Karyne Lins

[email protected]

Michel LemeO guitarrista Michel Leme faz parte dos grupos Michel Leme & A Firma, AlexBuck & Michel Leme Quarteto e de um trio com Alexandre Mihanovich e AlexBuck. Também toca em outros trabalhos com Zerró Santos e Arismar doEspírito Santo, além de lecionar na EM&T e no Souza Lima.

Iniciou a carreira de músico pro-fissional no início dos anos 90 to-cando na banda de baile Santo

Angellus e foi sideman da banda OsIncríveis, do cantor Fábio Junior, edepois prosseguiu gravando seus pró-prios discos. Em relação a timbres,Michel teve como referência GeorgeBenson, Jim Hall e Barney Kessel.Ele não fecha o tone da guitarra egosta de um timbre mais aberto ecom as freqüências equilibradas.Michel consegue isso com a ajuda deamplificadores valvulados.

O que é mais importante na esco-

lha do set up?

Michel Leme - Testar ao vivo,porque em casa é uma coisa, ao vivoé completamente outra. Isso se apli-ca a pedais e a amplificadores. Emrelação a guitarras, acho que sedeve ter poucas. O legal seria teruma ou duas, no máximo, como es-tou fazendo hoje em dia. Criar umareal intimidade com o instrumentoé muito bom.

Sem esquecer que o fundamentalna escolha de um setup é qualidade,preço e a pergunta: eu realmentepreciso disso?

Geralmente, a pessoa investe em

equipamentos que visam a atender seu

gosto pessoal, mas o que acontece quando

essa pessoa precisa definir em que segmen-

to do mercado ela vai trabalhar (sideman,

estúdio, solo, estilos musicais)? Como isso

vai afetar a montagem do setup?

Michel - Eu nunca pensei em ‘seg-mento de mercado’. Sempre procuro to-car com o equipamento que chegue o

mais próximo do som que imagino.Acho que o lance é cuidar da músicaprimeiro. O que vier depois será umaconseqüência natural e o melhor é queas pessoas chamem pelo que você é to-cando, e não pelas necessidades mo-mentâneas que ela tem, como, porexemplo, “quero um cara que toque noestilo do fulano de tal”. Isso é nocivo,antimusical, e quero estar cada vez maislonge dessas pessoas.

Como o músico deve estar prepa-

rado para não mudar completamente

seu setup em função do estilo do ar-

tista com quem vai trabalhar?

Michel - É possível ter uma sonori-dade própria e não abrir mão do seusetup. Se você é chamado para tocar,deve ser chamado pelo seu som.

Tudo que vier depois disso será maisdigno. Quando as pessoas começam aexigir coisas em que o músico nãoacredita, acho que o mais sensato épular fora.

Em que estágio do aprendizado e con-

vivência com a música o instrumentista

define como vai trabalhar?

Michel - Acho que a experiência éouro! Você aprende a se valorizar eaprende a não se violentar. Se for parasair de casa para tocar, por exemplo,que seja para evoluir! Se for só para terdor de cabeça, então é melhor nemsair de casa. Acho que o músico temque ter consciência do que lhe fazbem, do que o faz tocar melhor. NoBrasil, as ‘roubadas’ não param de ro-lar, mas a gente vai aprendendo a nãose prejudicar tanto.

Como organizar quanto e como

gastar para montar um setup?

Isso depende do momento. Músicono Brasil não tem essa de programar.

Em relação a guitarras,

acho que se deve ter

poucas. O legal seria ter

uma ou duas, no

máximo. Criar uma real

intimidade com o

instrumento é muito

bom.

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Ele vai fazendo rolos, juntando uns tro-cos aqui e ali até chegar no que quer. Eisso é bem demorado às vezes.

Quais os danos para o músico se

este faz um investimento na marca

e não na música?

Michel - Já soube de várias gui-tarras de nome que deram ‘paus’ vio-lentos. O lance é testar com toda pa-ciência e, se possível, levar um caraque conheça bem a parte mecânicado instrumento.

Como a questão do dinheiro atra-

palha a pesquisa do músico?

Michel - Bem, não é só a grana.Às vezes, o cara vai numa loja e oatendimento é péssimo. O lojistanão conhece o cara e já vai logo tra-tando mal e dizendo que tal coisanão pode testar, enfim, ainda exis-tem esses absurdos por aí. A questãocultural é a base de tudo. Se a cul-tura melhora, as pessoas dão maisvalor ao músico, passam a compre-ender que música não é só o lixoque as emissoras de TV e a mídiavendida despencam na cabeça daspessoas o tempo todo. Assim, todomundo que faz um trabalho musicaldecente teria mais oportunidades e,conseqüentemente, mais trabalho.Mas, já que não é assim ainda, te-mos que lutar para inverter essequadro fazendo música honesta.Não adianta reclamar, o lance é terconsciência e tocar muito!

Como a referência de outros instru-

mentistas pode ajudar a montar o setup?

Michel - Eu não escuto guitarristasna maioria do tempo em que ouço mú-sica. Então, o leque se abre e isso, claro,afeta até a parte do timbre. Acho mui-to saudável um guitarrista ouvir um

concerto para violino de Beethoven eimaginar que está tocando aquilo. Issoabre a mente. Agora, o cara que sóouve Pat Metheny, por exemplo, estáfadado a ser um imitador de seu timbree das frases. Isso é muito chato. As pes-soas se ligam, embora o músico iludidoache que não.

Como saber se está recebendo ori-

entação de um bom profissional?

Michel - Essa pergunta abrangemuita coisa. Acho que você ter calmae não se iludir com a lábia das pessoas jáé um bom começo. O discernimento éuma coisa que vem com a prática damúsica, vem com a vivência. No come-ço, as pessoas até caem nas armações,mas isso acaba um dia. A música é umabênção que faz com que a pessoa evoluaem todos os aspectos e essa evoluçãolevará o indivíduo a se associar com osque estão na mesma freqüência.

Setup

Guitarras: Gibson ES-175 do ano de1979, Tagima T-One com captadoresDiMarzio, que Michel usa para timbresdiferentes da acústica, violão DelVecchio da década de 40, viola de 10cordas Del Vecchio 1977.

Efeitos: Pedais Onerr (um ReverbDigital, um Delay Digital, ambos de 24bits, um wah wah e um flanger). Michelcostuma utilizar mais a guitarra ligadasó no reverb e raramente usa estes ou-tros efeitos.

Amplificadores: Os amplificadoresvalvulados sempre responderam melhoràs dinâmicas e timbres de Michel Lemee atualmente o músico está utilizando osda marca Rotstage (um cabeçote de100W ligado numa caixa com 2x12’),que são valvulados e fabricados em SãoPaulo. Este é o setup para todas as ocasi-ões, seja em shows ou em estúdio.