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OLIBERAL BELÉM, DOMINGO, 7 DE SETEMBRO DE 2014 MAGAZINE 11 sim D ois autores, estudiosos dos mitos relacionados ao sa- grado feminino e do xama- nismo através dos séculos – Robert Graves e Mircea Eliade – vão nos guiar através desta página Sim. E por que precisaremos deles como guias ? Porque vamos entrar por um portal inesperado em um assunto sério, que diz respeito a todos nós – mas receio que a página irá acabar sem sabermos exatamente se o que lemos era para rir ou para nos ajoelharmos e rezar. Em seu substancial livro O Xama- nismo e as Técnicas Arcaicas do Êxta- se/Le Chamanisme et les Techniques Archaiques de l’Extase, o romeno Mir- cea Eliade nos introduz no mundo das Mulheres-espíritos protetoras dos xa- mãs e nos fala das relações dos xamãs com suas esposas celestes e nos diz que não são elas propriamente que consagram o xamã, mas o ajudam, tanto em sua instrução como durante sua experiência extática. Em seu também substancial livro A Deusa Branca/The White Goddess, o poeta inglês Robert Graves nos faz um inventário exaustivo das várias formas como a Deusa tem se apre- sentado, nas mais diversas culturas e desde remotos tempos ao longo da pré e da própria história, no que ele chamou de – Uma gramática histórica do mito poético. Graves, também autor de O Grande Livro dos Mitos Gregos, mergulha fun- do no significado iniciático da Deusa Branca e sua relação com os homens – que podemos associar ao que Eliade nos revelou sobre as relações das es- posas celestes com os xamãs. O que essas coisas têm a ver com as eleições brasileiras deste ano onde - além de termos duas mulheres como candidatas liderando as pesquisas de intenção de votos – algo ainda é mais intrigante: - A súbita ascensão de Ma- rina após a queda do avião de Eduardo Campos? Oh, estaríamos de volta aos tempos herméticos da Tábua de Esmeralda em que Hermes Trimegisto nos assegura que – o que está embaixo é como o que está no alto? Bem, façamos um breve desvio para saber o que deu origem a esta página, sim? Conto: Meu muito estranho amigo Jesus Sombra, que conheço dos anos que morou em Belém antes de voltar pa- ra os Andes peruanos onde nasceu e novamente vive, quis ter comigo um ainda mais estranho diálogo sobre as eleições deste ano no Brasil - país pelo qual ele se interessa muito, sobretudo por ser um feroz defensor da intocabi- lidade da Natureza Amazônica. Devo chamar a sua atenção, leitor, para o fato do meu amigo Sombra ser alguém que mantém íntimas e equi- libradas relações com o Imanente e com o Transcendentes. E se interessa pelo mundo além-do-humano tanto quanto não perde de vista, com gran- de perspicácia, também este nosso humano mundo. Política & Mística? Esses são os elementos que com- põem o portal de que falei acima. Pois não foi esse insólito encontro que o Sombra promoveu em nossa conversa sobre as eleições brasileiras - não apenas para a sua surpresa, leitor - mas também para a minha? Confes- so: nunca vi nada igual - nem na Áfri- ca, continente essencialmente místico bastante pelas labutas e pelo perigo. Antes de mais nada, Robert Graves nos esclarece sobre as cores da Deusa e sua identificação com a Lua. Diz ele: - Escrevo sobre ela como a Deusa Branca porque o branco é sua cor principal, a cor do primeiro elemento da trindade lunar. Mas Suídas, de Bizâncio, regis- trou que (...) a lua nova é a Deusa Bran- ca do nascimento e do crescimento, a lua cheia a Deusa Vermelha do amor e das batalhas, a lua velha a Deusa Ne- gra da morte e da adivinhação. E sobre o ponto a que Jesus Sombra quer nos fazer chegar, e dele nos con- vencer, eis o que o poeta Graves nos diz: - O mais abrangente e inspirado testemunho da Deusa em toda a lite- ratura antiga está em O Asno de Ouro, do escritor romano Apuleio, quando Lúcio - homem transformado em as- no por um poderoso encantamento - a evoca das profundezas e da degrada- ção espiritual e ela aparece em respos- ta a seu pedido. A evocação da Deusa é feita dirigi- da à Lua, quando Lúcio acorda no meio da noite e a vê, poderosa, no Céu. Ele inicia sua evocação assim: - Ó Rainha Bendita dos Céus. E conclui sua evocação a Deusa as- sim: Ó tu, que amadureces todas as se- mentes do mundo em teu calor úmido, dando-lhe a luz que tu modificas se- gundo tuas viagens para longe ou per- to do sol. (...) Confere-me, se for do teu agrado, a paz e o repouso em minha adversidade, pois já penei bastante pe- las labutas e pelo perigo. Foi assim que a forma divina, exalando os perfumes da fértil Ará- bia, destinguiu-me com as seguintes palavras: - Note, Lúcio, estou aqui: seu chorar e preces moveram-me a te socorrer. Eu sou ela que é a mãe de todas as coisas, senhora e governante de todos os elementos, a criação inicial, chefe dos divinos poderes, rainha de tudo que existe no submundo, o principio de tudo que há nos céus, manifestada sozinha e na forma de todos os Deu- ses. Sob minha vontade os planetas nos céus, os ventos integrais do mar, e os silêncios do submundo serão dis- postos. Meu nome e minha divindade são adorados pelo mundo afora, de muitas maneiras e formas, em vários costumes e por muitos nomes. Para os Phrygians que foram os primeiros a chamarem-me de Mãe dos Deuses em Penssinus. Os Athenienses, que me ti- raram do seu próprio solo, Cecropian, Minerva. Os Cyprians, que estão pelos mares, Paphian Venus. Os Cretenses com suas flechas, Dictynnian Diana. Os Sicilianos que falam três línguas, Proserpina infernal. Os Eleuseanos, sua Deusa ancestral Ceres. Alguns me chamam Juno, outros Bellona, outros Hecate, outros Rhamnusia e principal- mente ambos Ethiopians que vivem no oriente e são iluminados pelos raios do Sol da manhã, e os Egypcios, que são muito bons em todas as doutrinas, com suas próprias cerimônias, eles me cultuam, e me chamam pelo meu ver- dadeiro nome, Rainha Isis. Veja bem, Eu venho para ter pieda- de dos acontecimentos e das tribula- ções. Veja bem, Eu estou aqui ao seu lado para lhe ajudar. Pare de chorar, e de se lamentar, deixe para lá toda tristeza, contemple os dias cheios de saúde que lhe proporcionarei. Bem, a página acabou. Vai rir ou ajoelhar para rezar? [email protected] VICENTE CECIM - onde atuei para a ONU no trabalho de democratização do país e na criação da primeira campanha presidencial de Jo- sé Eduardo dos Santos, em Angola, nos anos 90. Realmente a primeira e até então única, após 500 anos de tiranias - antes a colonial portuguesa e depois as tribais e ideológicas. Se você quiser entender como Polí- tica & Mistificação esse encontro entre coisas aparentemente tão diferentes, promovido pelo Sombra, entenda. Eu também disse a ele que estávamos atravessando fronteiras perigosas. Mas ele me respondeu – do mesmo que responderia a você - citando como exemplo da fusão, ou confusão des- sas fronteiras, a história da subida de Moisés à montanha - enquanto o povo judeu se lançava em baixo à adoração do Bezerro de Ouro e em um carnaval de todos os pecados – isto é: de tudo aquilo que ainda não era proibido mas Moisés traria, na sua volta, descendo da montanha, inscrito na Tábua da Lei como pecado. - Vicente, hermanito – me disse meu sombrio amigo – política & mís- tica estão tão unidos, ou pelo menos tão próximos, que nem um judeu con- victo frequentador diário do Muro das lamentações poderia distinguir uma coisa da outra. O certo é que, segun- do consta, Moisés acabou com a festa e pôs todo mundo na linha fina e su- til em que é preciso andar com todo cuidado – para não escorregar e cair em pecado. O que, na verdade, é um duplo risco, e chega a dar um frio na espinha quando a gente lembra o pro- vérbio hassídico, que diz: - A vida é um fio de navalha: de um lado o inferno, do outro lado, o inferno. Resposta nada surpreendente, vin- da do meu amigo Jesus Sombra – sem- pre ousado e fulminante. E Jesus Sombra foi também fulmi- nante em sua visão mística-política, quando se referiu às atuais diferenças que a queda do avião de Campos cra- vou entre a presidente Dilma e a can- didata Marina. Ele disse: - Vicente, observa o que mudou subterraneamente. Agora, Dilma só tem em comum com Marina o fato de ambas serem mulheres – e embora já seja a presidente, quer dizer: a maior autoridade do país, continua irremediavelmente sendo apenas mais um político entre os outros que teu po- vo já foi às ruas renegar. - E a Marina, o que ela é, agora, mais do que a Dilma? Perguntei. - Mas isso apareceu tão espontânea e subitamente nas pesquisas – ora, Vi- cente, não acredito que tu não perce- bas o que os mais simples eleitores já perceberam: - Marina, agora, mais do que uma mulher como Dilma e já não mais um político como Dilma e tam- bém Aécio - que tem desvantagem de ser homem - penetrou no Sobrenatural. Foi além. Ela se tornou a única interlo- cutora de Eduardo Campos, que, por sua vez, transpôs os limites do huma- no e imergiu no Sagrado – como todos os mortos, considerados sagrados por todos os povos e o povo brasileiro não será exceção. Começas a ver as diferen- ças? Se reelegendo, Dilma irá governar só com as forças da Terra, da política, da economia – em um mundo global ca- ótico em todos os sentidos – de guerras de matanças pelas armas, guerras de matanças pela fome, guerra de matan- ças pela mentira, coisas contra as quais nada, ou quase nada ela poderá fazer. - E a Marina? - Ah, a Marina? Segundo já enten- deu – ou quer crer - o teu povo, se elei- ta, além de também governar com os mesmos poderes e instrumentos limi- tados de Dilma, Marina terá o Sobrena- tural a seu favor. Entendes? Assim como Moisés, ela também subiu a montanha enquanto o avião de Eduardo Campos caía em chamas – ela também viu a Sarça Ardente – ela agora como que está ungida, como ele, Moisés, por um Poder mais alto que a ela foi conferido pelo Além do Homem - para guiar os homens para uma espé- cie de Terra Prometida brasileira. - Mas - Mas o que, Vicente? Não conheces bem as entranhas místicas & míticas do teu povo? Ou esqueceste? Os pri- meiros brasileiros ao ouvirem o dis- paro do bacamarte não se prostraram aos pés do colonizador português clamando – Caramuru, Caramuru? Os que vieram depois não subiram o Monte Santo guiados por um messias e tiveram forças suficientes para, do fundo da mais negra e crua miséria, combater por 10 anos as forças arma- das equipadas e treinadas da Repúbli- ca brasileira? E aí mesmo, na tua ter- ra, em Belém, eu mesmo não vi, com meus próprios olhos quando aí vivi, um milhão de pessoas caminhando atrás de uma imagem talhada em ma- deira com a mais singela, comovente e singular fé? - Sim, mas - Mais nada, hermano. Acaso o po- vo brasileiro, ainda hoje, tantos anos depois, não faria tudo para anular o acidente que matou Airton Sena e tra- zer ele de volta à vida? E não faria, se pudesse, a História regressar, como o Super Homem girando a Terra ao contrário, para impedir o suicídio e devolver a vida a Getúlio? Pois, acre- dita: para esse mesmo povo – Marina pode representar a ressurreição de Eduardo Campos. Então, na dimensão simbólica - nenhum avião jamais caiu. Basta que ela fale e haja em nome de Eduardo. - Ah, acho que entendi: - Assim na Terra como no Céu. E assim terminou a minha conver- sa com o Sombra. O Asno de Ouro Mas voltemos a Deusa Branca – após esse desvio para ouvir Jesus Sombra jorrar dos altos cumes de Ma- chu Pichu suas teses andinas sobre nós, assim como de lá jorram as águas do rio Amazonas. O que, queiramos ou não, nos faz evocar, o mito do El Dorado sobre mulheres guerreiras. Há, em especial, um trecho no li- vro de Graves que ele, o Sombra, me apontou para evidenciar a relação da potencial sobrenaturalidade atual e provisória da candidata Marina e a sobrenaturalidade ancestral perma- nente da Deusa - e como isso pode – ou, de fato, já está afetando a po- pulação, e aparecendo nas pesquisas eleitorais. Nesse trecho podemos, querendo, associar as carências do povo brasileiro às do asno de Apu- leio recorrendo a Deusa para se ver livre da adversidade, pois já penei Como eleger xamanicamente Marina presidente? Embora ela ame apenas para destruir, a Deusa destrói apenas para ressuscitar ROBERT GRAVES

Sim 66 Como eleger xamanicamente Marina presidente?

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Sobre Política & Mística

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Page 1: Sim 66 Como eleger xamanicamente Marina presidente?

O LIBERALBELÉM, DOMINGO, 7 DE SETEMBRO DE 2014 MAGAZINE 11

sim

Dois autores, estudiosos dos mitos relacionados ao sa-grado feminino e do xama-nismo através dos séculos

– Robert Graves e Mircea Eliade – vão nos guiar através desta página Sim.

E por que precisaremos deles como guias?

Porque vamos entrar por um portal inesperado em um assunto sério, que diz respeito a todos nós – mas receio que a página irá acabar sem sabermos exatamente se o que lemos era para rir ou para nos ajoelharmos e rezar.

Em seu substancial livro O Xama-nismo e as Técnicas Arcaicas do Êxta-se/Le Chamanisme et les Techniques Archaiques de l’Extase, o romeno Mir-cea Eliade nos introduz no mundo das Mulheres-espíritos protetoras dos xa-mãs e nos fala das relações dos xamãs com suas esposas celestes e nos diz que não são elas propriamente que consagram o xamã, mas o ajudam, tanto em sua instrução como durante sua experiência extática.

Em seu também substancial livro A Deusa Branca/The White Goddess, o poeta inglês Robert Graves nos faz um inventário exaustivo das várias formas como a Deusa tem se apre-sentado, nas mais diversas culturas e desde remotos tempos ao longo da pré e da própria história, no que ele chamou de – Uma gramática histórica do mito poético.

Graves, também autor de O Grande Livro dos Mitos Gregos, mergulha fun-do no significado iniciático da Deusa Branca e sua relação com os homens – que podemos associar ao que Eliade nos revelou sobre as relações das es-posas celestes com os xamãs.

O que essas coisas têm a ver com as eleições brasileiras deste ano onde - além de termos duas mulheres como candidatas liderando as pesquisas de intenção de votos – algo ainda é mais intrigante: - A súbita ascensão de Ma-rina após a queda do avião de Eduardo Campos?

Oh, estaríamos de volta aos tempos herméticos da Tábua de Esmeralda em que Hermes Trimegisto nos assegura que – o que está embaixo é como o que está no alto?

Bem, façamos um breve desvio para saber o que deu origem a esta página, sim?

Conto:Meu muito estranho amigo Jesus

Sombra, que conheço dos anos que morou em Belém antes de voltar pa-ra os Andes peruanos onde nasceu e novamente vive, quis ter comigo um ainda mais estranho diálogo sobre as eleições deste ano no Brasil - país pelo qual ele se interessa muito, sobretudo por ser um feroz defensor da intocabi-lidade da Natureza Amazônica.

Devo chamar a sua atenção, leitor, para o fato do meu amigo Sombra ser alguém que mantém íntimas e equi-libradas relações com o Imanente e com o Transcendentes. E se interessa pelo mundo além-do-humano tanto quanto não perde de vista, com gran-de perspicácia, também este nosso humano mundo.

Política & Mística?

Esses são os elementos que com-põem o portal de que falei acima.

Pois não foi esse insólito encontro que o Sombra promoveu em nossa conversa sobre as eleições brasileiras - não apenas para a sua surpresa, leitor - mas também para a minha? Confes-so: nunca vi nada igual - nem na Áfri-ca, continente essencialmente místico

bastante pelas labutas e pelo perigo. Antes de mais nada, Robert Graves

nos esclarece sobre as cores da Deusa e sua identificação com a Lua. Diz ele: - Escrevo sobre ela como a Deusa Branca porque o branco é sua cor principal, a cor do primeiro elemento da trindade lunar. Mas Suídas, de Bizâncio, regis-trou que (...) a lua nova é a Deusa Bran-ca do nascimento e do crescimento, a lua cheia a Deusa Vermelha do amor e das batalhas, a lua velha a Deusa Ne-gra da morte e da adivinhação.

E sobre o ponto a que Jesus Sombra quer nos fazer chegar, e dele nos con-vencer, eis o que o poeta Graves nos diz: - O mais abrangente e inspirado testemunho da Deusa em toda a lite-ratura antiga está em O Asno de Ouro, do escritor romano Apuleio, quando Lúcio - homem transformado em as-no por um poderoso encantamento - a evoca das profundezas e da degrada-ção espiritual e ela aparece em respos-ta a seu pedido.

A evocação da Deusa é feita dirigi-da à Lua, quando Lúcio acorda no meio da noite e a vê, poderosa, no Céu. Ele inicia sua evocação assim:

- Ó Rainha Bendita dos Céus.E conclui sua evocação a Deusa as-

sim:– Ó tu, que amadureces todas as se-

mentes do mundo em teu calor úmido, dando-lhe a luz que tu modificas se-gundo tuas viagens para longe ou per-to do sol. (...) Confere-me, se for do teu agrado, a paz e o repouso em minha adversidade, pois já penei bastante pe-las labutas e pelo perigo.

Foi assim que a forma divina, exalando os perfumes da fértil Ará-bia, destinguiu-me com as seguintes palavras:

- Note, Lúcio, estou aqui: seu chorar e preces moveram-me a te socorrer. Eu sou ela que é a mãe de todas as coisas, senhora e governante de todos os elementos, a criação inicial, chefe dos divinos poderes, rainha de tudo que existe no submundo, o principio de tudo que há nos céus, manifestada sozinha e na forma de todos os Deu-ses. Sob minha vontade os planetas nos céus, os ventos integrais do mar, e os silêncios do submundo serão dis-postos. Meu nome e minha divindade são adorados pelo mundo afora, de muitas maneiras e formas, em vários costumes e por muitos nomes. Para os Phrygians que foram os primeiros a chamarem-me de Mãe dos Deuses em Penssinus. Os Athenienses, que me ti-raram do seu próprio solo, Cecropian, Minerva. Os Cyprians, que estão pelos mares, Paphian Venus. Os Cretenses com suas flechas, Dictynnian Diana. Os Sicilianos que falam três línguas, Proserpina infernal. Os Eleuseanos, sua Deusa ancestral Ceres. Alguns me chamam Juno, outros Bellona, outros Hecate, outros Rhamnusia e principal-mente ambos Ethiopians que vivem no oriente e são iluminados pelos raios do Sol da manhã, e os Egypcios, que são muito bons em todas as doutrinas, com suas próprias cerimônias, eles me cultuam, e me chamam pelo meu ver-dadeiro nome, Rainha Isis.

Veja bem, Eu venho para ter pieda-de dos acontecimentos e das tribula-ções. Veja bem, Eu estou aqui ao seu lado para lhe ajudar. Pare de chorar, e de se lamentar, deixe para lá toda tristeza, contemple os dias cheios de saúde que lhe proporcionarei.

Bem, a página acabou. Vai rir ou ajoelhar para rezar?

[email protected] CECIM

- onde atuei para a ONU no trabalho de democratização do país e na criação da primeira campanha presidencial de Jo-sé Eduardo dos Santos, em Angola, nos anos 90. Realmente a primeira e até então única, após 500 anos de tiranias - antes a colonial portuguesa e depois as tribais e ideológicas.

Se você quiser entender como Polí-tica & Mistificação esse encontro entre coisas aparentemente tão diferentes, promovido pelo Sombra, entenda.

Eu também disse a ele que estávamos atravessando fronteiras perigosas.

Mas ele me respondeu – do mesmo que responderia a você - citando como exemplo da fusão, ou confusão des-sas fronteiras, a história da subida de Moisés à montanha - enquanto o povo judeu se lançava em baixo à adoração do Bezerro de Ouro e em um carnaval de todos os pecados – isto é: de tudo aquilo que ainda não era proibido mas Moisés traria, na sua volta, descendo da montanha, inscrito na Tábua da Lei como pecado.

- Vicente, hermanito – me disse meu sombrio amigo – política & mís-tica estão tão unidos, ou pelo menos tão próximos, que nem um judeu con-victo frequentador diário do Muro das lamentações poderia distinguir uma coisa da outra. O certo é que, segun-do consta, Moisés acabou com a festa e pôs todo mundo na linha fina e su-til em que é preciso andar com todo cuidado – para não escorregar e cair em pecado. O que, na verdade, é um duplo risco, e chega a dar um frio na espinha quando a gente lembra o pro-vérbio hassídico, que diz: - A vida é um fio de navalha: de um lado o inferno, do outro lado, o inferno.

Resposta nada surpreendente, vin-da do meu amigo Jesus Sombra – sem-pre ousado e fulminante.

E Jesus Sombra foi também fulmi-nante em sua visão mística-política, quando se referiu às atuais diferenças que a queda do avião de Campos cra-vou entre a presidente Dilma e a can-didata Marina.

Ele disse: - Vicente, observa o que mudou subterraneamente. Agora, Dilma só tem em comum com Marina o fato de ambas serem mulheres – e embora já seja a presidente, quer dizer: a maior autoridade do país, continua irremediavelmente sendo apenas mais um político entre os outros que teu po-vo já foi às ruas renegar.

- E a Marina, o que ela é, agora, mais do que a Dilma? Perguntei.

- Mas isso apareceu tão espontânea e subitamente nas pesquisas – ora, Vi-cente, não acredito que tu não perce-bas o que os mais simples eleitores já perceberam: - Marina, agora, mais do que uma mulher como Dilma e já não mais um político como Dilma e tam-

bém Aécio - que tem desvantagem de ser homem - penetrou no Sobrenatural. Foi além. Ela se tornou a única interlo-cutora de Eduardo Campos, que, por sua vez, transpôs os limites do huma-no e imergiu no Sagrado – como todos os mortos, considerados sagrados por todos os povos e o povo brasileiro não será exceção. Começas a ver as diferen-ças? Se reelegendo, Dilma irá governar só com as forças da Terra, da política, da economia – em um mundo global ca-ótico em todos os sentidos – de guerras de matanças pelas armas, guerras de matanças pela fome, guerra de matan-ças pela mentira, coisas contra as quais nada, ou quase nada ela poderá fazer.

- E a Marina?- Ah, a Marina? Segundo já enten-

deu – ou quer crer - o teu povo, se elei-ta, além de também governar com os mesmos poderes e instrumentos limi-tados de Dilma, Marina terá o Sobrena-tural a seu favor. Entendes?

Assim como Moisés, ela também subiu a montanha enquanto o avião de Eduardo Campos caía em chamas – ela também viu a Sarça Ardente – ela agora como que está ungida, como ele, Moisés, por um Poder mais alto que a ela foi conferido pelo Além do Homem - para guiar os homens para uma espé-cie de Terra Prometida brasileira.

- Mas- Mas o que, Vicente? Não conheces

bem as entranhas místicas & míticas do teu povo? Ou esqueceste? Os pri-meiros brasileiros ao ouvirem o dis-paro do bacamarte não se prostraram aos pés do colonizador português clamando – Caramuru, Caramuru? Os que vieram depois não subiram o Monte Santo guiados por um messias e tiveram forças suficientes para, do fundo da mais negra e crua miséria, combater por 10 anos as forças arma-das equipadas e treinadas da Repúbli-ca brasileira? E aí mesmo, na tua ter-ra, em Belém, eu mesmo não vi, com meus próprios olhos quando aí vivi,

um milhão de pessoas caminhando atrás de uma imagem talhada em ma-deira com a mais singela, comovente e singular fé?

- Sim, mas- Mais nada, hermano. Acaso o po-

vo brasileiro, ainda hoje, tantos anos depois, não faria tudo para anular o acidente que matou Airton Sena e tra-zer ele de volta à vida? E não faria, se pudesse, a História regressar, como o Super Homem girando a Terra ao contrário, para impedir o suicídio e devolver a vida a Getúlio? Pois, acre-dita: para esse mesmo povo – Marina pode representar a ressurreição de Eduardo Campos. Então, na dimensão simbólica - nenhum avião jamais caiu. Basta que ela fale e haja em nome de Eduardo.

- Ah, acho que entendi: - Assim na Terra como no Céu.

E assim terminou a minha conver-sa com o Sombra.

O Asno de Ouro

Mas voltemos a Deusa Branca – após esse desvio para ouvir Jesus Sombra jorrar dos altos cumes de Ma-chu Pichu suas teses andinas sobre nós, assim como de lá jorram as águas do rio Amazonas. O que, queiramos ou não, nos faz evocar, o mito do El Dorado sobre mulheres guerreiras.

Há, em especial, um trecho no li-vro de Graves que ele, o Sombra, me apontou para evidenciar a relação da potencial sobrenaturalidade atual e provisória da candidata Marina e a sobrenaturalidade ancestral perma-nente da Deusa - e como isso pode – ou, de fato, já está afetando a po-pulação, e aparecendo nas pesquisas eleitorais. Nesse trecho podemos, querendo, associar as carências do povo brasileiro às do asno de Apu-leio recorrendo a Deusa para se ver livre da adversidade, pois já penei

Como eleger xamanicamente

Marina presidente?Embora ela ame apenas para destruir,a Deusa destrói apenas para ressuscitarROBERT GRAVES