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A importância da prevenção/ intervenção na Síndrome de Burnout em médicos Faculdade de Ciências da Saúde Universidade da Beira Interior Albuquerque - 30594 Inês Filipa da Costa Farinha – 30814 João Carlos Aguiar Sobral de Oliveira - 30758 Abril 2015

Síndrome de Burnout

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Síndrome de Burnout

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Page 1: Síndrome de Burnout

Módulo Medicina Preventiva2014/2015

Faculdade de Ciências da SaúdeUniversidade da Beira Interior

João Carlos Aguiar Sobral de Oliveira - 30758

Abril 2015

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“Sermos capazes de prestar atenção a nós próprios é uma exigência prévia da capacidade de prestarmos atenção aos restantes; sentirmo-nos à

vontade connosco próprios é condição necessária para nos relacionarmos com os outros.”

Erich Fromm

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Índice

1-Declaração de Ética......................................................................................................4

2-Introdução....................................................................................................................5

3-Prevenção / Intervenção..............................................................................................7

4-Conclusão.....................................................................................................................9

5-Bibliografia..................................................................................................................10

6-Anexos........................................................................................................................11

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1-Declaração de Ética

Declaramos, para os devidos efeitos e sob compromisso de honra, que os textos produzidos na elaboração deste trabalho são inéditos e fruto da contribuição activa de todos os elementos do grupo. Acresce dizer que a utilização de material alheio respeita, sempre que necessário, os direitos de autor, encontrando-se devidamente referenciada.

Os discentes,

(Daniel Marques Bernardino)

_________________________________

(Fernando Miguel Pina de Albuquerque)

_________________________________

(Inês Filipa da Costa Farinha)

_________________________________

(João Carlos Aguiar Sobral de Oliveira)

_________________________________

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2-Introdução

A sociedade actual caracteriza-se por uma multiplicidade de vivências, personalidades e exigências, que se reflectem quer na vida pessoal quer na vida profissional, tornando-se uma necessidade constante conciliar a vida pessoal com a vida profissional. A falta de equilíbrio é de extrema importância para a vida dos indivíduos e para o seu desempenho profissional, podendo levar a sentimentos de insatisfação, frustração e culpa. Os profissionais de saúde não são excepção.

A Síndrome de Burnout apresenta-se, hoje, como um dos grandes problemas psicossociais que estão a afectar profissionais de diversas áreas sendo definida como uma síndrome, que é causada principalmente por stress, especialmente entre as profissões com contribuição humanitária e social, pode ter um efeito adverso sobre as relações interpessoais e familiares e pode levar a uma atitude negativa em relação à profissão e vida em geral.1

Esta realidade tem gerado grande interesse e preocupação devido à severidade das consequências, tanto individuais quanto organizacionais, apresentadas pela Síndrome, especialmente como factor de interferência nas relações interpessoais, que incide especialmente na actividade do profissional de saúde. “O volume e a complexidade daquilo que sabemos ultrapassaram a nossa capacidade individual para pôr em prática os seus benefícios de maneira correcta, com segurança ou com confiança. O conhecimento salvou-nos e sobrecarregou-nos ao mesmo tempo.” 2

Neste contexto, o risco de um profissional de saúde contrair doenças relacionadas com o trabalho é cerca de 1,5 vezes maior do que o risco de todos os demais trabalhadores (Tavares, 2010)3

O trabalho dos profissionais de saúde e todas as consequências que dele advêm são responsáveis pelo aparecimento de uma multiplicidade de alterações ao nível dos seus sistemas orgânicos resultando por vezes no surgimento de doenças, desajustes familiares e sociais que geralmente levam ao abandono do emprego.

Os médicos têm um nível superior de hormonas de stress, apresentam aumento na incidência de enfarte de miocárdio e angina e morrem mais precocemente do que as restantes profissões. Apresentam maior prevalência de doença psiquiátrica e também a taxa de suicídio é mais elevada nos médicos do que na população geral (representando 38% das mortes prematuras), sendo esta última quatro vezes superior nas mulheres. Os médicos têm frequente conflitualidade familiar e divorciam-se vinte vezes mais do que a população em geral. Por outro lado recorrem frequentemente aos tóxicos para aliviarem o sofrimento emocional. 4

Num estudo realizado em Portugal, em 1998, Pinto Leal concluiu que 52,4% dos médicos de família estavam em burnout. Nos médicos a problemática é mais prevalente nos médicos de família, depois nos médicos hospitalares e sem significado nos que têm funções exclusivas de administração. 4

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O conceito Burnout foi introduzido pelo psicólogo Freudemberguer em 1974, conceito com destaque para profissões relacionadas com contacto interpessoal exigente, como os médicos e outros profissionais de saúde, professores, entre outros; isto porque estão especialmente sujeitos a vastas pressões no dia-a-dia profissional, submetidos às mais altas exigências por produtividade, qualidade, diminuição de custos, com horários de trabalho desgastantes e apresentam-se como alvos de constante avaliação.

Burnout não é um conceito simples, podendo ser descrito com base nas suas três dimensões4,5:

Exaustão Emocional – expressada através da perda de entusiasmo pelo trabalho, sentindo-se impotente, preso e derrotado, fase de desgaste e fadiga;

Despersonalização – ocorre quando os médicos tratam pacientes com indiferença, insensibilidade e desenvolvem uma atitude negativa para com os seus colegas e a própria profissão;

Reduzida realização profissional – caracterizada pelo distanciamento do trabalho, sensação de insatisfação, desenvolvendo sentimentos de incompetência, baixa auto-estima e recriminações pessoais.

Uma investigação relativa à síndrome de burnout em médicos portugueses “revelou que 8,2% e 16,5% tinham um nível elevado de despersonalização (tendência a tratar as pessoas como objectos) e de exaustão emocional, respectivamente. A maioria destes profissionais referia baixos níveis de realização pessoal (Ordem dos Médicos, 2005)”. Referência DGS

Além disso, outro estudo efectuado pela Ordem dos Médicos sobre a análise que os médicos de família fazem da sua própria saúde concluiu que “45,7% destes profissionais a classificavam em razoável ou fraca e apenas 4,3% em óptima. Os médicos que sentiam maior pressão no trabalho, menor interesse, que consideravam ter um pior ambiente de trabalho e que se sentiam menos satisfeitos profissionalmente apreciavam a sua saúde de forma mais negativa (Ordem dos Médicos, 2004).” Referência DGS

Torna-se assim, urgente a implementação de programas preventivos e curativos neste âmbito de forma a proteger não só o profissional mas também o doente, uma vez que podem ocorrer alterações nos níveis de atenção e de concentração ao longo do dia, o que se pode revelar preocupante visto que os médicos desempenham actividades de elevada responsabilidade e que requerem um estado de alerta suficiente e permanente.

Burnout entre os médicos afirma-se como um tema de importância extrema face ao impacto negativo que este pode provocar, uma vez que pode aumentar o risco de erros médicos e diminuir a satisfação profissional, provocando reforma antecipada.5

Assim, podemos concluir que a qualidade dos cuidados prestados depende, em grande medida, da satisfação e bem-estar do cuidador.

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3-Prevenção / Intervenção

As doenças do foro mental encontram-se associadas a grandes gastos económicos, estimando-se que, em 2002, atingiram cerca de 20 milhões de euros na União Europeia. (referencia?) No clima de crise económica em que nos encontramos, a prevenção assume assim um papel fundamental, não só na promoção da saúde, mas também como forma de reduzir os gastos económicos associados às doenças do foro mental. Deste modo, a prevenção da Síndrome de Burnout constitui uma mais valia tanto para as instituições como para os profissionais, tendo vindo a ser praticada por algumas instituições com vários graus de sucesso.

O impacto do Síndrome de Burnout na classe médica é particularmente importante devido à forma como as suas acções influenciam a morbilidade e mortalidade dos doentes. A classe médica tem vindo a desenvolver algumas intervenções de modo a prevenir quer os factores predisponentes à síndrome quer as consequências desta, ainda assim muitos esforços tem de ser feitos no sentido de se consciencializar esta classe acerca desta problemática. Infelizmente, a medicina apresenta uma tendência para a interpretação do burnout apenas numa perspectiva patogénica, o que levou ao desenvolvimento de soluções que pretendem tratá-lo, seja através de modificações no ambiente de trabalho ou através do aumento das capacidades do indivíduo, ou uma combinação de ambos. Ainda que nesta síndrome muitas das medidas de prevenção sejam também medidas aplicadas ao longo do tratamento, sabemos que o investimento na prevenção é crucial. Como se diz na gíria popular, “prevenir é melhor que remediar” e não poderia ser mais verdade, prevenir afirma-se como a forma mais eficiente de promover e preservar a saúde e a integridade física dos trabalhadores.

O burnout pode ser visto com uma consequência previsível dos sistemas desenvolvidos nas escolas de medicina e promovidos ao longo de toda a formação e carreira médica. Desta forma, as intervenções para a prevenção necessitam de adereçar as consequências envolvidas no desenvolvimento e manutenção da Síndrome de Burnout a longo prazo. Neste sentido torna-se clara a importância da implementação de bons hábitos durante a sua formação, visto que estes se fixam na mente do indivíduo aquando desta e durante toda a vida.

A ausência de uma prevenção eficaz em sinergia com a presença de factores de risco resulta numa elevada probabilidade de desenvolvimento da Síndrome de Burnout. Quando o indivíduo sofre, por períodos de tempo prolongados, de ansiedade, receio, depressão, stress, fadiga e desgaste emocional característico da profissão, estes representam factores de risco para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout.

Os programas de intervenção para a redução do burnout nos profissionais de saúde e, por conseguinte, para a redução dos erros médicos, têm uma tendência para ser centralizadas no médico, desvalorizando o contexto social e organizacional em que o médico actua. Contudo, estes podem ser centrados no indivíduo ou num grupo de pessoas, centrados na instituição ou uma combinação de ambos. Os programas de intervenção centrados no indivíduo assentam essencialmente nos pressupostos da terapia cognitivo-comportamental, com o intuito de melhorar as competências

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profissionais, a capacidade pessoal de lidar com situações de stress e alguns exercícios de relaxamento. Por outro lado, os programas de intervenção centrados na instituição assentam em alterações nos procedimentos, como a reestruturação de tarefas, a avaliação e a supervisão de procedimentos, de modo a diminuir o desgaste causado pela profissão, e a aumentar o nível de participação na tomada de decisões. Estas medidas representam uma descentralização dos poderes e reduzem os factores causadores de stress associados à profissão.

As causas de Burnout são multifactoriais. De uma forma simplista, os factores de risco podem estar associados à organização, ao indivíduo, ao trabalho ou à sociedade. Fica, deste modo, claro que no sentido de diminuir quer a incidência quer a prevalência desta síndrome é indispensável uma abordagem, não só em termos individuais, mas também em termos colectivos e organizacionais.

Neste sentido, procurou-se criar formas de ajudar o profissional de saúde a ultrapassar os seus problemas através de programas cujo principal objectivo será o desenvolvimento de melhores estratégias de coping, principalmente através de consultas individuais onde se pretende que se trabalhem os factores mais stressantes da vida do médico. Porém, alguns aspectos aparentam ser melhor trabalhados em encontros de grupo, onde a organização é fulcral para a efectividade dos mesmos. 4

Uma outra vertente das intervenções pode passar pela introdução de comportamentos saudáveis, no entanto estes só serão possíveis com o desenvolvimento de, por exemplo, emoções positivas e com apoio de amigos e familiares.

Apesar desta síndrome ter efeitos nocivos para os médicos, estes só procuram ajuda numa fase mais avançada da doença, quando as intervenções já referidas não se mostram tão eficazes. 4

Neste contexto, um diagnóstico precoce consegue-se através da aplicação de instrumentos de avaliação psicológica que permitem avaliar e quantificar esta Síndrome, sendo o Questionário “Maslach Burnout Inventory” (MBI) o mais utilizado por todos os artigos e publicações diversas que focam o tema. O MBI, que se encontra em anexo, é um instrumento de auto-registo subdividido em 3 escalas em que cada uma delas se subdivide em vários itens: Exaustão Emocional (9 itens), Despersonalização (5 itens) e Realização Pessoal (8 itens). Cada um dos diversos itens é avaliado segundo a frequência com que cada sentimento ocorre, indo desde o 0 (Nunca) até ao 6 (Todos os dias).Deste modo, classifica a síndrome de burnout em três níveis: baixo, médio e alto, consoante os resultados dos inquéritos. (REFERENCIA)

Em Portugal, surgiu o Programa de Ajuda Integral ao Médico (PAIM) que tem como objectivo o tratamento de todos os problemas de saúde, entre os quais os da saúde mental dos médicos de modo a garantir a prestação de cuidados de saúde de qualidade. Para isso, conta-se com a ajuda de uma equipa de especialistas multidisciplinares cujas funções passam por efectuar uma primeira avaliação, definir prioridades e necessidades para a elaboração de um plano estruturado e de apoio passando por tratamento, acompanhamento e monitorização da reabilitação. Infelizmente, este programa foi, no entanto, suspenso por falta de apoios estruturais.4!

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4-Conclusão

Face aos poucos estudos existentes, a prevalência da síndrome nos médicos permanece incerta mas tudo indica que esta tenha uma importância significativa manifestando preocupantes impactos físicos, psicossociais e económicos, a nível individual mas também colectivo. Assim, consideramos imperativo a realização de mais estudos relativos a esta tão importante patologia mas ainda muito desvalorizada pela comunidade médica e comissões organizacionais.

A Síndrome de Burnout provavelmente estará sub-diagnosticada e pode causar efeitos prejudiciais para a saúde e satisfação profissional. Importa realçar que com a consciencialização das limitações, o desenvolvimento de mecanismos de coping, bem como a adopção de uma forte rede de apoio social e profissional, a Síndrome de Burnout pode ser controlada.

Urge assim alertar os médicos para reconhecer os seus próprios limites para que a sua fronteira não seja ultrapassada com graves consequências para o próprio e para os que usufruem dos seus serviços de maneira que não se quebre o elo de confiança medico-paciente, fazendo pequenas pausas de recuperação e relaxamento, bem como adoptando estratégias de vida saudável. Neste contexto, consideramos fundamental que esta problemática seja abordada no percurso académico de todos os futuros médicos, bem como o desenvolvimento de todas as técnicas adequadas para lidar com as exigências e situações stressantes do dia a dia, quer agora enquanto estudantes quer enquanto futuros profissionais de saúde.

Julgamos relevante referir que ao realizar a presente monografia deparámo-nos com alguns obstáculos, nomeadamente a pouca relevância que esta Síndrome ainda apresenta, que se reflectiu na dificuldade em arranjar dados epidemiológicos, sobretudo prevalência da síndrome entre os médicos e riscos relativos de sofrer as diversas consequências, isto é, forças da associação entre síndrome de burnout e os seus possíveis efeitos já referidos ao longo desta monografia.

Por fim, reconhecemos que deve ser promovido auxílio especializado aos diversos grupos profissionais, com recurso a reuniões específicas periódicas e também através de apoio psicológico, sempre que necessário, no sentido de prevenir esta que se tem apresentado na actualidade como uma epidemia silenciosa. Consideramos que este assunto ainda pouco debatido nos dias de hoje deve começar a ganhar outra relevância uma vez que cada vez mais a tendência é para o contínuo aumento de novos casos, visto que menores recursos e orçamentos estão disponíveis reflectindo-se na criação de maiores exigências ao profissional e também numa maior pressão.

“Na “arte de viver”, o homem é ao mesmo tempo o artista e o objecto da sua arte, é o escultor e o mármore, o médico e o paciente.”

Erich Fromm

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5-Bibliografia

1. Papathanasiou V. I.: Work-related Mental Consequences: Implications of Burnout on Mental Health Status Among Health Care Providers. AIM, 2015

2. Gawande, A., O Efeito Checklist – Como aumentar a eficácia, Lua de Papel, 2010, p.20

3. Gestão dos riscos profissionais em estabelecimentos de saúde, orientação técnica nº1, DSP, 2010; disponível em: http://www.dgs.pt/saude-ocupacional/documentos-diversos/gestao-dos-riscos-profissionais-nos-estabelecimentos-de-saude-pdf.aspx acedido em 18/04/2015

4. FRASQUILHO M.A.: Medicina, uma jornada de 24 horas? Stress e burnout em médicos: prevenção e tratamento. Revista Portuguesa de Saúde Pública 2005; 23:89-98

5. Romani, M., Ashkar, K.: Burnout among physicians. Libyan Journal of Medicine ,2014

6. World Health Organization. - Guidelines for the primary prevention of mental, neurological and psychosocial disorders: Staff Burnout. In: Geneva Division of Mental Health World Health Organization, pp.8-19, 1998, disponível em http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/60992/1/WHO_MNH_MND_94.21.pdf?ua=1, acedido 15/04/2015

7. http://www.dgs.pt/ficheiros-de-upload-1/dms2006-intervencao-paulo- ferrinho-pdf.aspx

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6-Anexos

MASLACH BURNOUT INVENTORY REFERÊNCIA

(Maslach & Jackson,1996)

Para os seguintes itens, leia atentamente cada afirmação e decida se alguma vez se sentiu deste modo acerca do seu emprego. Se nunca teve assinale “0” (nunca) nas células depois da afirmação. Se tem tido estes sentimentos, indique a sua frequência assina1ando o número (de 1 a 6) que me1hor descreva a frequência do que sente: 0= nunca, 1= algumas vezes por ano, 2= uma vez por mês ou menos, 3= algumas vezes por mês, 4= uma vez por semana, 5= algumas vezes por semana, 6= todos os dias.

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