Sistema Penal e Midia Luta Por Poder Simbolico

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    SISTEMA PENAL E MDIA: LUTA POR PODER SIMBLICO

    lvaro Filipe Oxley da Rocha1

    RESUMO

    O presente artigo constitui um esforo no sentido de abordar as relaes entre a mdia privada,em especial a televiso, e o sistema penal, uma interao que reflete os movimentoscontraditrios das sociedades atuais quanto a este ltimo, ou seja, por um lado, oquestionamento sobre a legitimidade do sistema penal e, por outro, os discursos por sualegitimao e expanso.

    Palavras-chave: Direito. Sistema penal. Mdia. Poder simblico.

    1 INTRODUO

    O presente artigo inicia por uma abordagem em Teoria Social, com o fim de

    instrumentalizar uma compreenso preliminar das principais caractersticas dos campos

    sociais referidos no tema, o campo jurdico, ou do sistema penal, e o campo da mdia. Em

    seguida, estabelece uma abordagem das concepes criminolgicas relacionadas ao tema, de

    modo a esclarecer a relao de concorrncia por legitimao entre o jornalismo e o sistema

    penal. Finalmente, aponta as divergncias na disputa entre os agentes desses mesmos campos

    pelo controle do discurso de poder simblico tradicionalmente monoplio do campo

    jurdicoque se cria enquanto se descreve a realidade social. Desse modo, o artigo que segue

    1Ps-Doutorado em Criminologia Crtica e Cultural na SSPSSR Kent University, UK. Doutor em Direito doEstado (UFPR), Mestre em Cincia Poltica (UFGS), professor e pesquisador no PPGCCRIM - Programa dePs-Graduao em Cincias Criminais da Faculdade de Direito da PUCRS.

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    constitui um esforo no sentido de abordar a relao entre a mdia, em especial a televiso, e o

    sistema penal, uma interao que reflete os movimentos contraditrios das sociedades atuais

    quanto a este ltimo, ou seja, por um lado, o questionamento sobre a legitimidade do sistema

    penal e, por outro, os discursos por sua legitimao e expanso. Nesse sentido, buscamos

    estabelecer o papel desempenhado pelos meios de comunicao social, ou mdia, no que se

    refere difuso de ambas as posies. Procuramos compreender os mecanismos de

    elaborao do produto notcia, levantando tambm as referncias tericas que fundamentam

    a sua argumentao. A partir disso, possvel esboar uma anlise das relaes entre esses

    campos sociais (jurdico e jornalstico), de seus respectivos agentes e das lgicas sociais que

    determinam suas aes. O texto ora apresentado a primeira parte desse esforo, a ser

    complementado em publicaes decorrentes da pesquisa subsequente.

    2 TEORIA SOCIAL, MDIA E SISTEMA PENAL

    No estudo dos aspectos criminolgicos das sociedades complexas, compreender a

    relao entre mdia e sistema penal de extrema importncia. Para uma abordagem produtiva,

    entretanto, alguns conceitos, ou instrumentos de anlise sociolgicos ou de Teoria Social, so

    de extrema utilidade para a realizao do estudo proposto inicialmente. A descrio dadinmica social na qual se d a interao entre os campos jurdico e jornalstico complexa, e

    sua apreenso facilmente levada argumentao de senso comum e, mais gravemente ainda,

    para o senso comum conduzido pelas categorias miditicas de pensamento e classificao (a

    viso de mundo miditica). Por essa razo, apresentamos, ainda que muito sucintamente, os

    principais elementos de Teoria Social que permitem situar essa interao por um prisma

    sociolgico mais produtivo. As noes de trabalho so, portanto, os conceitos de habitus, de

    campo social (BOURDIEU, 1989) e de poder simblico. Assim, a noo de habitus(BARROS FILHO; S MARTINO, 2003) nasce da necessidade de romper com o paradigma

    estruturalista2, sem recair na velha filosofia do sujeito ou da conscincia, ligada economia

    clssica e seu conceito de homo economicus. Essa noo retoma o conceito da hexis

    aristotlica, como revisto pela antiga escolstica, e ento rebatizada de habitus; procura-se,

    desse modo, reagir contra a ideia do indivduo como mero suporte da estrutura social. Assim,

    seria possvel evidenciar as caractersticas criadoras, ativas e inventivas do habitus

    2Designao genrica de diversas correntes de pensamento sociolgico que se fundam sobre o conceito tericomarxista de estrutura, e no pressuposto metodolgico de que a anlise dessas estruturas mais importante doque a descrio ou a interpretao dos fenmenos, em termos funcionais.

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    individual, as quais no so descritas pelo sentido tradicional da palavra hbito. A noo de

    habitus, ento, procura induzir no a ideia de um esprito universal, de uma natureza ou

    razo humanas, mas um conhecimento adquiridoe um bem, um capital havido pelo indivduo,

    tornado desse modo um agente em ao. desse modo que surge o primado da razo prtica,

    no sentido estabelecido por Kant (1989). O autor procura resgatar, desse modo, o lado ativo

    do conhecimento prtico, que a tradio materialista marxista tinha abandonado. A utilizao

    original do conceito de habitus aproxima-se assim da presente, pois contm a inteno

    terica de sair da filosofia da conscincia sem anular o agenteem sua realidade de operador

    prtico na construo de objetos na realidade social. Instrumentaliza-se, com esse termo, a

    dimenso corporal contida numa postura social, inserida no funcionamento sistemtico do

    agente como corpo socializado. Nesse sentido, o conceito de habitus assim descrito:

    O habitus, como diz a palavra, aquilo que se adquiriu, que se encarnou no corpo deforma durvel, sob a forma de disposies3permanentes. [...] o habitus um produtodos condicionamentos que tende a reproduzir a lgica objetiva doscondicionamentos, mas introduzindo neles uma transformao: uma espcie demquina transformadora que faz com que ns "reproduzamos" as condies sociaisde nossa prpria produo, mas de uma maneira relativamente imprevisvel, de umamaneira tal que no se pode passar simplesmente e mecanicamente do conhecimentodas condies de produo ao conhecimento dos produtos. (BOURDIEU, 1983, p.89).

    A dinmica do habitus permite a naturalizao dos comportamentos e, desse

    modo, a aceitao do convencionado como se fosse o nico comportamento e ponto de vista

    possvel. No entanto, dentro dessa dinmica, deve existir espao para alguma

    imprevisibilidade nos comportamentos dos agentes, cuja aceitao posterior possa justificar

    que esses agentes venham a ocupar espaos no campo sem produzir modificaes que possam

    comprometer a manuteno do campo, as posies ocupadas por agentes mais antigos e o

    sistema de distribuio das compensaes advindas da aceitao no campo . O habitus

    historicamente construdo, e no se mantm inativo, renovando-se pelas prticas dos agentes e

    sempre encontrando novas formas de reforo a suas convices, referidas ao grupo. Portanto,

    dispe de uma grande capacidade de adaptao, sem que seus princpios fundamentais sejam

    de fato atingidos. Entretanto, o exerccio do habitus produz resistncia, conduzindo forte

    carga de ressentimento nos agentes que so impedidos por qualquer razo de assumi-lo na

    realidade objetiva, o que pode lev-los a buscar recursos externos ao seu campo, como os

    recursos da mdia (denncias, debates etc.) que surgem como aes pensadas de modo a

    3O termo francs disposition, no original, pode tambm ser traduzido por atitude.

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    atingir o campo, ou produzir internamente efeitos que, pelos canais oficiais, no so possveis

    (ROCHA, 2002).

    A noo de campo4 complementar de habitus na anlise das interaes em

    foco. Preliminarmente, deve-se esclarecer que, ao se tratar dessa noo, necessrio separ-la

    de acepes tradicionais, como as da Fsica, segundo a qual o campo uma regio do espao

    em que se exerce uma fora determinada, ou da Psicologia Social, na qual o campo um

    conjunto de processos psquicos que constituem um sistema dinmico, para chegar noo de

    campo em Sociologia. Para esta ltima cincia, entretanto, deve-se ter presente que esse termo

    adquire um significado muito extenso e deixa assim de ser preciso; costuma ser associado aos

    sentidos de domnio e de sistema. Para a maioria dos socilogos, mantm-se uma ideia

    bsica de dinmica das foras sociais, relacionadas com um aspecto de disputa entre osagentes (TOURAINE, 1973). Apresenta sua noo de campo de historicidade como um

    conjunto formado pelo sistema de ao histrica e as relaes de classes pelas quais a

    historicidade se transforma em orientaes da atividade social, estabelecendo assim seu

    domnio sobre a produo da sociedade. Desse modo, o autor assimila, por exemplo, campo

    poltico noo de sistema poltico, o que no contribui para maior clareza. A referncia

    adotada, entretanto, elabora uma consistente teoria dos campos sociais, que busca expor os

    mecanismos que geram tais campos, descrevendo sua estrutura e suas propriedades (PINTO,2000). Evitando o tratamento residual e pouco objetivo dado a essa noo pela maioria dos

    seus antecessores, Bourdieu, autor dessa abordagem, procura explicit-la da maneira mais

    precisa como segue:

    [...] Um campo [...] se define entre outras coisas atravs da definio dos objetos dedisputas e dos interesses especficos que so irredutveis aos objetos de disputas eaos interesses prprios de outros campos (no se poderia motivar um filsofo com asquestes prprias dos gegrafos) e que no so percebidos por quem no foi

    formado para entrar nesse campo (cada categoria de interesses implica a indiferenaem relao a outros interesses, a outros investimentos, destinada assim a serempercebidos como absurdos, insensatos, ou nobres, desinteressados). Para que umcampo funcione, preciso que haja objetos de disputas, e pessoas prontas paradisputar o jogo, dotadas de habitus que impliquem no conhecimento e no

    reconhecimento das leis imanentes do jogo, dos objetos de disputas, etc.(BOURDIEU, 1983, p. 90).

    A estrutura interna de cada campo estabelece os valores e metas a serem

    considerados como objetos legtimos de disputa entre os agentes, pelos padres de

    pensamento e formao especficos desses agentes, e no h como reduzir ou cambiar os4 A noo de campo aqui utilizada,observamos, a desenvolvida por Pierre Bourdieu, a qual em nada se

    assemelha de Niklas Luhman, em sua Teoria dos Sistemas.

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    valores de um campo social pelos valores de outro campo, em funo do treinamento recebido

    pelos agentes para que possam encontrar orientao dentro do campo, conhecer e reconhecer

    os agentes acima e abaixo de si na hierarquia e dominar os mecanismos vlidos de mobilidade

    internos do campo social no qual este se insere (o habitus). Assim, em razo da necessidade

    de um longo treinamento, no apenas nas escolas formais, os principais investimentos para a

    insero em cada campo com frequncia independem do agente, sendo definidos muitas vezes

    na origem, pela famlia.

    O autor aponta a situao especfica de cada campo social, identificando-a com a

    orientao dos agentes que ocupam as posies mais altas na hierarquia do campo, que surge

    claramente ao se indicar as instituies envolvidas. Mas h que se destacar tambm as

    estratgias adotadas por esses agentes para a realizao de seus objetivos, ligados aosobjetivos oficiais do campo. A adoo de estratgias mais ou menos rgidas, ou flexveis em

    relao s demais instituies e seus agentes, relacionada identidade entre estes, em geral

    forjada em lutas anteriores, possibilita o estabelecimento ou no de novas estratgias, visando

    a manuteno do campo com o equilbrio dos interesses dos agentes, o que pode determinar

    aes e lutas abertas ou silenciosas entre os grupos de agentes.

    No caso do campo jurdico, a intromisso de presses externas, especialmente as

    do campo poltico, frequentemente veiculadas pela e com a mdia, por exemplo, tende a ser,em princpio, ignorada por seus agentes, os juristas, pois o acesso ao campo no deve estar

    disponvel, em princpio, para agentes que no disponham das condies exigidas pela lgica

    interna deste (domnio da linguagem especfica, posio interna reconhecida, etc.) para

    reconhecimento e interao, o que significaria que os agentes externos devem submeter-se aos

    interesses e avaliao dos integrantes do campo, se desejam ser reconhecidos, e mesmo

    ouvidos. Observe-se que tal no ocorre desse modo no campo poltico, diretamente submetido

    presso miditica, no qual essas presses so consideradas legtimas sem hesitao, poisrepresentariam, segundo a crena dividida por esses agentes, uma suposta opinio pblica,

    que definiria a lgica eleitoral. Desse modo, como a conservao dos agentes polticos em

    suas posies (reeleio) depende da legitimao externa (a aprovao do pblico eleitor), em

    grande medida influenciada pelo campo jornalstico (BOURDIEU, 1997), estes se submetem

    s presses legtimas ou no do campo jornalstico. Tal, porm, no ocorre no campo poltico,

    em que a seleo do agente j se d por meio externo ao campo, o processo eleitoral. Pouco

    espao existe para as manipulaes eleitorais, como a transferncia de votos de um candidato

    a outro, pois no h como garanti-la, embora no caso brasileiro essa regra tenha sido muitas

    vezes burlada. A relao com os eleitores no pode ser levada oficialmente para o campo, pois

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    a sua existncia como campo tambm depende da excluso dos representados. Nas palavras

    do autor:

    [...] O campo poltico, entendido ao mesmo tempo como campo de foras e como

    campo das lutas que tem em vista transformar a relao de foras que confere a estecampo a sua estrutura em dado momento, no um imprio: os efeitos dasnecessidades externas se fazem sentir nele por intermdio sobretudo da relao queos mandantes, em consequncia da sua distncia diferencial em relao aosinstrumentos de produo poltica, mantm com seus mandatrios e da relao queestes ltimos, em consequncia das suas atitudes, mantm com as suas organizaes.O que faz com que a vida poltica possa ser descrita na lgica da oferta e da procura a desigual distribuio dos instrumentos de produo de uma representao domundo social explicitamente formulada: o campo poltico o lugar em que segeram, na concorrncia entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos

    polticos, problemas, programas, anlises, comentrios, conceitos, acontecimentos,entre os quais os cidados comuns, reduzidos ao estatuto de consumidores, devemescolher, com probabilidades de mal-entendido tanto maiores quanto mais afastados

    esto do lugar de produo. (BOURDIEU, 1989, p. 97).

    Os agentes que integram o campo poltico se encontram, desse modo, em posio

    mais frgil, em relao aos destinatrios de seus servios, do que os agentes do Judicirio. Ao

    contrrio da crena externa de senso comum, o acesso s posies internas desse campo, e a

    obteno dos lucros sociais a elas associados, oferece dificuldades muito maiores do que as

    prprias ao campo jurdico. Por exemplo, no h como o campo poltico agir em determinado

    sentido, sem que as demandas que so encaminhadas at seus agentes sejam preliminarmente

    traduzidas para seus cdigos internos de referncia (linguagem tcnica, disputas, apoios,

    etc.), no determinados necessariamente por lei, mas, antes de tudo, por uma agenda

    ideolgica, influncias, negociaes e manobras decorrentes da proposio e objetivos de

    cada faco, alm das caractersticas e estratgias prprias de cada partido. 5 Em meio a

    proposies pouco claras e interesses bem diversificados, o eleitor-consumidor deve

    escolher, e a possibilidade de faz-lo mal, isto , sem nenhum proveito para si ou para a

    comunidade, ou mesmo com risco de eleger algum incompatvel ou mesmo nocivo

    politicamente, ou ajudar a tornar reais proposies de administrao pblica (e tambm,logicamente, de poltica criminal) sem nenhuma perspectiva de realizao, se torna muito

    provvel.

    5Nesse sentido, um exemplo muito claro o surgimento e a manuteno de movimentos nacionais, como o MST(Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). Embora a reforma agrria seja problema secular entre ns,somente com o advento do Partido dos Trabalhadores (PT) no campo poltico, o discurso do MST encontrouum canal de expresso, com base em uma agenda partidria repleta de reivindicaes de natureza assemelhada

    e, pois, passvel de incluir suas demandas; surgiu entre agentes polticos a disposio de traduzir suasdemandas para a linguagem especfica de seu campo e encaminh-las, como estratgia de identificao com aesquerda, situao que, com a conquista do Executivo nacional pelo PT e a consequente necessidade deacordos para a sua manuteno no poder, hoje se reverteu.

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    em primeira mo por este ou por aquele rgo especfico. Na linguagem interna do campo

    jornalstico, o fenmeno se chama furo. Essa caracterstica parece estar inscrita tambm na

    lgica da credibilidade jornalstica, com a qual se busca conquistar a confiana e a

    fidelidade dos receptores, mas o fato o de que ele realmente importante apenas

    internamente ao campo, permitindo reconhecimento e premiaes, embora no represente

    mais um dado importante para os destinatrios, fora do campo (BRIGGS; BURKE, 2004).

    Externamente, entretanto, destaca-se a lgica da busca do novo como fator de controle: a

    velocidade na obteno da notcia seria a preliminar para ser atualizado, para no ficar

    para trs, o que leva antes de tudo superficialidade na avaliao dos fatos e do

    conhecimento, com permanente esquecimento do fato velho, em troca da idolatria do

    desconhecido ou mesmo do chocante, pelo critrio nico de ser este novidade. Em razo

    disso, tambm surge a disputa em torno da busca de renovao, ou variedade, que contribui

    antes de tudo para que se uniformizem as opes oferecidas ao consumidor pela imitao

    mtua das frmulas de sucesso, em termos de peas de mdia (formato de programas de TV

    e rdio, assunto e destaques em jornais e revistas). No que se refere ao caso brasileiro, deve-se

    relembrar que muitas das caractersticas das relaes aqui descritas ainda no foram

    devidamente trabalhadas cientificamente, no se devendo, portanto, tom-las como

    definitivas.Para os fins desse trabalho, e por razes de espao, definiremos poder simblico

    como um poder que decorre do monoplio, ou da luta para estabelecer um monoplio, sobre

    um discurso, o que no senso comum pode ser visto como uma luta pe la verdade, e pelos

    seus efeitos. Inserido na lgica das ideologias, o poder simblico supe a ideia da palavra

    autorizada, cuja posse permite ao seu detentor(a) definir o que e ser a realidade. Esse poder

    pode estender-se inclusive ao passado pela reviso discursiva e consequente ressignificao

    do passado. Assim, o autor do conceito o descreve como segue:

    [...] o poder de constituir o dado pela enunciao, de fazer ver e fazer crer, deconfirmar ou transformar a viso de mundo, e deste modo a ao sobre o mundo,

    portanto o mundo; poder quase mgico que permite obter o equivalente daquilo que obtido pela fora (fsica ou econmica), graas ao efeito especfico demobilizao, s se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrrio.(BOURDIEU, 1989, p. 64).

    A luta entre a mdia e o sistema penal se insere, entretanto, na ampla luta

    simblica entre a grande mdia e o Estado pelo monoplio sobre o discurso da verdade, ou daverso que ser tomada como verdade (THOMPSON, 2002). Nesse sentido, aplica-se essa

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    mesma lgica ao sistema penal, no que se refere verdade sobre o crime, o criminoso e sua

    insero na dinmica social. Como se d essa disputa entre os agentes de cada um dos campos

    sociais vistos para deter o poder simblico sobre a verdade, adequada a seus fins, o que

    buscaremos expor adiante.

    3 CRIMINOLOGIA, MDIA E CRIME

    Partindo dos pressupostos citados, vemos que a criminalidade tem sido

    apresentada como construo social, ou como resultado da ao social, desde a dcada de 60,

    com base na influncia das escolas sociolgicas do interacionismo simblico e da

    etnometodologia. Desse modo, essa percepo est inserida no paradigma da reao social,em acordo com Baratta (2002). Nesse sentido, a teoria do etiquetamento, ou labeling aproach,

    buscou destacar que, uma vez que a realidade objetiva seja aceita como resultado de

    construo social, o mesmo se d com o desvio comportamental (BERGER; LUCKMAN,

    2002). Isso autoriza concluir que a definio do ato desviante s possvel depois da reao

    social a ele (BECKER, 1996). Desse modo, passam despercebidos esses atos, em sua grande

    maioria, ao largo do olhar social e do sistema penal, visto que, ainda que haja uma efetiva

    rede de controle social, formal e no formal, fica virtualmente impossvel exercer o controleconstante do comportamento da totalidade dos indivduos, havendo ainda que se levar em

    conta o aspecto cultural, o qual faz com que, variando-se o ambiente social, variem tambm

    os nveis de tolerncia ou intolerncia s aes individuais, o que, para fins de aferio de

    ndices de criminalidade, resulta em diferenas evidentes (LEMERT, 1951).

    O dado principal a destacar, entretanto, a consequncia de que se rompe o

    consenso, segundo o qual o crime teria existncia por si mesmo, ontologicamente.

    possvel,com base nessa premissa, concluir que a legitimidade das formas de controle penal bastante questionvel. Se aceitarmos que a maioria esmagadora dos crimes ocorridos no

    chega ao conhecimento do sistema penal (HULSMAN, 2000), podemos afirmar que a sua

    eficcia insignificante, pois, ao revs se houvesse plena eficincia por parte deste, chegar-

    se-ia ao paroxismo de que a totalidade dos membros dos grupos sociais teria sido alvo de

    criminalizao. H que se observar, ainda, que a reao social ao desvio gera uma rotulao

    do indivduo desviante, o que reduz substancialmente as possibilidades de o indivduo agir em

    contrrio e ressignificar-se socialmente (LEMERT, 1951).

    A Criminologia Crtica vem ampliar, na dcada seguinte, o espectro de anlise

    para os grandes grupos sociais, com o objetivo de identificar as variveis determinantes da

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    reao de cada um deles, concluindo que os grupos sociais mais expostos so tambm os mais

    pobres e os que so, pelo sistema penal, efetivamente visados. Conforme Baratta (2002), essa

    constatao rompe de imediato com o princpio de igualdade defendido, teoricamente, pelos

    adeptos do Direito Penal liberal. Essa ao seletiva semeia a perda de legitimidade do sistema

    penal, em especial por suas caractersticas indutoras de estigmas sociais e pelo uso de altos

    nveis de violncia fsica (ZAFFARONI, 1991).

    4 O JORNALISMO E O SISTEMA PENAL

    Um dos principais argumentos legitimadores da ao dos agentes do campo

    jornalstico (BOURDIEU, 1997) a ideia de objetividade jornalstica, que resultaria da

    participao de tais agentes no processo de construo social da realidade (BERGER;

    LUCKMAN, 2002). O produto veiculado pela mdia, denominado notcia, seria o resultado

    de um efeito de espelhoda realidade, que resgata a crena na noo positivista do observador

    neutro em relao ao objeto. Entretanto, tomando-se rigorosamente a ideia de construo

    social da realidade, no difcil perceber que os agentes do campo jornalstico so e tomam

    parte nesseprocesso, o que inviabiliza a objetividade jornalstica como justificativa de uma

    pretensa neutralidade na ao social destes. Temos, assim, que a notcia no espelha a

    realidade; mas ajuda a constru-la, como fenmeno social compartilhado, posto que no

    processo de descrever um acontecimento, a notcia define e d forma a esse acontecimento

    (TUCHMAN, 1983). Nesse sentido, deve-se referir que a Teoria Social, pelas correntes

    estruturalista e interacionista, corrobora a percepo do produto jornalstico notcia como

    resultado de construo social. Assim, para ambas as teorias, as notcias so o resultado de

    processos complexos de interao social entre agentes sociais: os jornalistas e as fontes de

    informao; os jornalistas e a sociedade; os membros da comunidade profissional dentro efora da organizao(TRAQUINA, 2004, p. 116).

    A notcia produz a realidade social, enquanto a descreve, por dois mecanismos

    fundamentais: a seleo dos fatos que sero divulgados e do enquadramento que ser dado a

    estes. Justifica-se o processo de seleo, em razo do nmero excessivamente alto de fatos

    que so recebidos pelos jornalistas, em relao ao espao de que dispem para veiculao.

    Desse modo, o jornalismo desenvolve uma srie de parmetros classificatrios para

    estabelecer e decidir qual fato dever ser publicado. E, pela repetio diria, esse processo se

    automatiza, deixando-se de lado a crtica adequao de tais parmetros. A forma pela qual

    os fatos sero acessados e divulgados, entretanto, decorre da noo de enquadramento. Aps a

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    seleo do fato, define-se como este ser tratado, o que permite ainda decidir sobre a

    viabilidade de sua publicao.

    De acordo com Wolf (1994, p.173), a referncia valorativa assim formada, e que

    decorre dos valores culturais que os jornalistas compartilham entre si, pode ser denominada

    valor-notcia. Esse valor permite estabelecer uma rotina de trabalho para os jornalistas e deve,

    portanto, ser dominvel com certa facilidade. Desse modo, os fatos de cunho negativo so

    altamente valorizados por esses agentes, variando-se o interesse conforme envolvam grupos

    sociais ou pessoas j em destaque pela mdia (por exemplo, terroristas ou celebridades). O

    mais alto destaque, entretanto, dado ao crime, por suas caractersticas de produo de

    culpado(s), exposto(s) execrao pblica, e/ou de uma demanda de interesse por uma

    histria que se desenvolve em captulos.Para a captao da matria-prima para esse produto, costuma haver uma rede

    estabelecida, desde a fonte, que no o fato, mas a informao sobre o fato, fornecida pelos

    agentes pblicos dele encarregados, as polcias, at as redaes das organizaes de

    comunicao social. O destaque para o aspecto de que os fatos, desse modo, so

    primeiramente selecionados pelos agentes policiais, que dessa forma operam um processo de

    seleo sobre a realidade social a ser divulgada e, portanto, construda (BUSTOS RAMREZ,

    1983). Disso resulta uma forte dependncia, por parte dos jornalistas, em relao a essasfontes de informao, especialmente no que se refere ao crime. H, portanto, um monoplio

    de controle social sobre as fontes de notcias, exercido pelos agentes, os quais tendem a

    fornecer aos jornalistas um primeiro ponto de vista definidor a respeito de como ser o fato

    compreendido e divulgado, com todas as consequncias morais e jurdicas da decorrentes. A

    caracterstica social mais importante dos agentes de controle social passa a ser a sua

    capacidade de selecionar e classificar os fatos. Esse controle ser efetivado com base nos

    esteretipos do senso comum e das referncias jurdicas de que tais agentes dispuserem, o queresulta na indiferena a qualquer fato que no possam enquadrar ou definir por esses

    padres.

    No preciso muito esforo para compreender, nesse sentido, as razes pelas

    quais a populao carcerria tem caractersticas to uniformemente aproximadas. De acordo

    com Zaffaroni (1991), O esteretipo alimenta-se das caractersticas gerais dos setores

    majoritrios mais despossudos e, embora a seleo seja preparada desde cedo na vida do

    sujeito, ela mais ou menos arbitrria. nesse sentido que os esteretipos sociais assim

    estabelecidos apontam um mecanismo de reproduo de relaes sociais (BOURDIEU;

    PASSERON, 1975), o qual permite que os agentes, eles mesmos inseridos na sociedade e,

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    portanto, compartilhando seus esteretipos, tendam a esperar determinadas condutas vindas

    de pessoas de determinados grupos sociais, e no dos integrantes de outros grupos sociais.

    Assim, na reao no institucional encontramos em ao [...] definies e teorias de todos

    os dias da criminalidade, que apoiam os processos de distribuio da criminalidade postos

    em ao pelas instncias oficiais (BARATTA, 2002).

    Desse modo, os jornalistas, ao produzirem notcias que reproduzem os discursos

    dos agentes de controle social, reproduzem a lgica dos agentes de controle social, com

    destaque para a violncia urbana, reduzida a aes de indivduos e grupos definidos, que

    definem, para o senso comum, toda a criminalidade, difundindo assim o medo na sociedade.

    Ignoram-se, portanto, especialmente pelo baixo valor como notcia, problemas sociais

    estruturais, como a injustia social (desemprego, pobreza, analfabetismo, etc.), e a violnciainstitucional, provocada pelo sistema penal (BARATTA, 2004), alm da violncia simblica

    (BOURDIEU, 1989). nesse sentido que uma lgica circular se estabelece: as notcias

    reforam o senso comum e seus pr-conceitos a respeito do crime e dos criminosos, o que

    legitima as demandas e aes sociais sobre estes indivduos, que reproduziro as mesmas

    aes, (re)produzindo-se assim novas notcias.

    5 CONCLUSO

    possvel concluir que o campo jurdico, e, portanto, o sistema penal, estabelece

    sua estratgia de manuteno do monoplio discursivo sobre a verdade7 , apoiado na

    tradio de uma legitimidade herdada ao longo da histria da formao da instituio estatal,

    que estabelece o monoplio sobre esse discurso pelo campo poltico, especialmente com base

    na massiva difuso da lgica administrativa jurdico-econmica pela burguesia dominante, a

    partir da revoluo industrial. Observe-se, entretanto, que no caso brasileiro essa legitimidadebaseada na histria no existe, originando-se a a fraqueza de nossas instituies polticas e

    econmicas e, portanto, o fraco efeito civilizatrio que resulta no descontrole social e na

    criminalidade. Esse modelo de Estado busca o bem comum, oficialmente, mas o seu exerccio

    no campo poltico brasileiro, o qual se organiza por peculiaridades muito prprias,

    7No cabe neste trabalho, nem sua proposta, a discusso da verdade, conceito discutido h sculos, com muitapropriedade, pela Filosofia. Para os fins deste trabalho, utilizamos a definio da Sociologia Poltica, pela qual,para o Estado e para o Direito, verdade o que se impe e se toma por verdadeiro, dentro da ideia de umarbitrrio cultural, quer dizer, a naturalizao de uma escolha arbitrria, pelo grupo social dominante, emdeterminado momento histrico e social, objetivada no texto legal vigente em cada poca (norma lizao =normatizao), o que torna a lei escrita, por essa mesma razo, passvel de envelhecer, ou seja, deixar derefletir a dinmica social, devendo, assim, ser alterada.

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    decorrentes de sua formao histrica entre ns, no podendo, portanto, ser visto pela lgica

    que o faz compreensvel pelos padres europeus. Esse Estado corre o risco de ser dominado

    pela lgica interna eleitoral, autor referido e autossuficiente, e ignorar a demanda externa,

    perdendo assim legitimidade, poder simblico, para o campo jornalstico, ou mdia, que o

    ataca em nome da verdade que afirma possuir e defender.

    O campo jornalstico, do mesmo modo, luta pelo monoplio discursivo sobre a

    mesma verdade, mas como forma de legitimao sobre a audincia, e, portanto, pela

    consolidao de seu poder simblico. Mas o fato de orientar suas aes pela busca de lucro

    financeiro e/ou simblico sem preocupar-se com o bem comum, faz com que a mdia perca a

    legitimidade para a obteno de efeitos sociais reais e duradouros. Arrisca-se, portanto, nesse

    processo, a deslegitimar ou enfraquecer o poder simblico estatal ou pblico, criando ascondies para a instabilidade institucional e para o agravamento da instabilidade social.

    preciso observar, entretanto, que a luta por poder simblico, por parte da mdia, se justifica

    apenas pelos lucros que ocorrem durante a dinmica da luta. Isso implica dizer que a mdia

    no pode levar sua luta s ltimas consequncias, pois isso implicaria o disparate de a mdia

    tomar o lugar do Estado, assumindo o poder poltico que decorre da posse reconhecida do

    poder simblico, devendo, a partir disso, assumir as funes do Legislativo, do Executivo e

    do Judicirio, e especialmente as funes do sistema penal, algo a que as empresas decomunicao no se propem, limitando-se busca de legitimao como ator poltico em

    posio privilegiada, j que dotado de supremacia sobre os atores tradicionais, efeito,

    contudo, ilegtimo, j que decorre da crena geral em um poder simblico criado e

    difundido pela mesma mdia, e tambm porque as empresas de comunicao esto

    abertamente orientadas para o lucro financeiro, e no para o bem de todos, como o o Estado,

    conforme a Constituio Federal Brasileira (2010). Entretanto, por essa razo que no so

    estranhos a frequente entrada de jornalistas no campo poltico e o fato de as posies nocampo jornalstico serem vistas muitas vezes como um dos meios mais eficientes para o

    ingresso no campo poltico.

    No que se refere ao sistema penal, destacado aqui como parte do campo jurdico,

    este ltimo inserido no grande campo do Estado, preciso ter presente que a interao com a

    mdia pode produzir o resultado positivo de conscientizar os cidados sobre os problemas que

    este apresenta, no que se refere, por exemplo, a falhas na legislao e na execuo penal,

    violncia urbana descontrolada, problemas objetivos e ticos dos organismos de controle

    social (Judicirio, Ministrio Pblico, Polcias, etc.). Entretanto, dessa interao tambm

    surgem, por exemplo, os aspectos negativos da banalizao, pela mdia, de temas penais de

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    extremo relevo, a difuso do medo social, a omisso da maioria dos graves problemas que

    esto na origem da criminalidade, como a misria, o analfabetismo, o desemprego, a injustia

    social, etc. Isso se deve ao fato de tais temas demandarem profundas anlises cientficas

    interdisciplinares e sua soluo, ou conduo em nveis tolerveis, necessitar da

    implementao de polticas pblicas adequadas, de mdio e longo prazo, as quais, entretanto,

    no produzem os frequentes escndalos de que necessita a mdia, em sua ansiosa busca por

    novidades atrativas ao pblico, que permitem valorizar financeiramente os espaos

    comerciais de seus canais de comunicao patrocinados pelos anunciantes e disputar o poder

    simblico com o Estado, especificamente o sistema penal. Mdia e sistema penal tm,

    portanto, objetivos muito diferentes, que se aproximam apenas no que se refere disputa pelo

    poder que decorre da afirmao da verdade. Os problemas que surgem dos atritos entre

    esses campos sociais so muitos e decorrem principalmente das caractersticas internas de

    cada campo, como linguagens ou cdigos internos muito distintos, diferentes estratgias de

    legitimao utilizadas por seus respectivos agentes, e das inteis tentativas de reduo das

    referncias lingusticas e taxionmicas concorrentes s categorias de pensamento do campo

    social oposto. Todos esses temas, entretanto, e suas implicaes sero objeto dos trabalhos

    que se seguiro ao presente.

    PENAL SYSTEM AND MEDIA: FIGHT FOR SYMBOLIC POWER

    ABSTRACT

    This article constitutes an effort to address the relationships between the private media,especially television, and the penal system, an interaction that reflects the contradictorymovements of modern societies on the criminal justice: on the one hand, the questioningabout the penal system's legitimacy and, on the other hand, the speeches by its legitimation

    and expansion.

    Keywords: Law. Pneal system. Media. Symbolic Power.

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