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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA HENRIQUE SALA BENITES SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE URBANA COMO FERRAMENTA DE APOIO AO PLANEJAMENTO, PROJETO E CONSTRUÇÃO DE CIDADES E COMUNIDADES DE BAIXO CARBONO Rio de Janeiro 2015

sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA POLITÉCNICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA

HENRIQUE SALA BENITES

SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE URBANA COMO

FERRAMENTA DE APOIO AO PLANEJAMENTO, PROJETO E CONSTRUÇÃO DE

CIDADES E COMUNIDADES DE BAIXO CARBONO

Rio de Janeiro

2015

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 2

HENRIQUE SALA BENITES

SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE URBANA COMO

FERRAMENTA DE APOIO AO PLANEJAMENTO, PROJETO E CONSTRUÇÃO DE

CIDADES E COMUNIDADES DE BAIXO CARBONO

Trabalho de Conclusão apresentado ao CURSO DE

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista

em Engenharia Urbana.

Rio de Janeiro

2015

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Ficha Catalográfica

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola Politécnica.

Curso de Especialização em Engenharia Urbana

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio

ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo

Carbono/ Henrique Sala Benites – Rio de Janeiro, 2015.

207 f. Trabalho de Conclusão – 2015

1. Cidades e Comunidades de Baixo Carbono. 2. Avaliação de

Sustentabilidade Urbana. 3. Urbanismo Sustentável. 4. Mudanças Climáticas. 5.

Gases de Efeito Estufa. I. Rossi, A. M. G. (Orient.) II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro. Escola Politécnica. III. Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana

como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e

Comunidades de Baixo Carbono

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HENRIQUE SALA BENITES

SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE URBANA COMO

FERRAMENTA DE APOIO AO PLANEJAMENTO, PROJETO E CONSTRUÇÃO DE

CIDADES E COMUNIDADES DE BAIXO CARBONO

Rio de Janeiro

2015

_____________________________________________________

Orientador, Prof.ª. Angela Maria Gabriella Rossi, D. Sc. PEU/UFRJ

_____________________________________________________

Coordenador, Prof.ª. Rosane Martins Alves, D. Sc. PEU/UFRJ

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à luta por um mundo que vá de encontro à sua

regeneração, à minha avó Olívia, minha tia Eliana, à minha mãe Sandra que sempre

colocou a educação e o respeito à natureza como prioridades em minha vida e ao

meu padrasto, João Henrique, por ter colaborado em minha educação e crescimento

pessoal e profissional.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente e com especial ênfase à minha orientadora, professora

Ângela Maria Gabriella Rossi, por todo o apoio e pelas valiosas contribuições ao longo

deste trabalho, além de todo o auxílio e incentivo acadêmico e confiança em minha

capacidade.

Agradeço à professora e coordenadora Rosane Alves, pelo apoio sempre que

necessário.

Agradeço aos meus colegas e amigos da Engenharia Urbana, pela companhia

não apenas nas manhãs de sábado, mas também nos almoços, chopes e outros

encontros que renderam experiências inesquecíveis, em especial Larissa Baran,

Suelen Farinon, Wesley Santos e Juliana Albuquerque.

Agradeço aos meus ex-colegas de trabalho, hoje amigos, Simone Unanue,

Flávio Pereira, Ilana Faria, Bernardo César e Gabriel Lima pelo dia a dia sempre

animado, mesmo durante os reveses e por toda a troca de conhecimento e

experiências. E em especial à amiga Simone Santos, com quem pude partilhar tantos

momentos profissionais e pessoais e com quem divido este ideal de um mundo

melhor. Que nossa parceria siga para a vida e para o mundo.

Agradeço a todos aqueles que me apoiaram durante minha temporada carioca

e à cidade do Rio de Janeiro por ter me acolhido durante os últimos dois anos e meio,

com suas praias e paisagens inebriantes que me fizeram repensar diversas

prioridades de vida durante minhas caminhadas pela orla, mergulhos no mar e

momentos de reflexão e contemplação sob a luz do sol ou do luar. Em minha alma

sempre permanecerá uma porção carioca de ser e encarar a vida.

Agradeço também à Sustentech, onde continuei aprimorando meus

conhecimentos sobre sustentabilidade e que me permitiu iniciar o caminho profissional

no mundo urbano a partir de diversos projetos de referência, e onde aprendi muito.

E por fim, mas não menos importante, agradeço a Deus por me incutir este

desejo de constante evolução, esta sede de aprender e de poder contribuir com o

planeta através de minha carreira no mercado profissional e no mundo acadêmico.

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Muito mais que a culpa, o medo ou a informação científica, o principal elemento capaz de fortalecer a mobilização social contra a aceleração da mudança climática é a esperança de que a vida sob uma economia de baixo carbono possa ser melhor do que a propiciada pelo conforto ligado aos atuais padrões de consumo, intensivos em combustíveis fósseis e comprometedores dos ecossistemas.

Ricardo Abramovay

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RESUMO

BENITES, Henrique S. Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono. Rio de Janeiro, 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Engenharia Urbana). Programa de Engenharia Urbana, Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

O planeta se encontra em um cenário majoritariamente e cada vez mais urbano

no qual as cidades, que respondem por mais de 70% das emissões relacionadas ao

consumo de energia, vêm sofrendo as consequências das mudanças climáticas

decorrentes do aumento exponencial das emissões antropogênicas de gases de efeito

estufa (GEE). Cientistas lutam para que as nações e cidades do mundo engajem-se

em ações para que a temperatura da Terra não ultrapasse 2°C até o fim do século

XXI, e não aumente os eventos extremos que já causam problemas e desastres.

Diante da baixa velocidade das ações e fraco comprometimento, este limite de

redução se mostra cada vez mais improvável. Iniciativas que permitem entender e

quantificar as fontes de emissão de GEE nas áreas urbanas, e que orientam na

aplicação de ações para sua mitigação são cada vez mais comuns. O surgimento de

cidades e comunidades planejadas para que sejam ambientalmente responsáveis em

direção a uma sociedade sustentável é uma realidade, ainda que rudimentar e, apesar

de alguns erros de percurso que devem ser corrigidos, elas trazem lições valiosas. O

uso dos sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana, como LEED-ND e

BREEAM Communities, é uma opção que se apresenta. Embora eles não permitam

uma quantificação exata das mitigações decorrentes das estratégias de

sustentabilidade empregadas, são ferramentas importantes que podem colaborar

positivamente no planejamento, projeto e construção de cidades e comunidades de

baixo carbono. Ajustes são necessários, mas os primeiros passos já foram dados e

ferramentas mais precisas, como eTool e PrecinX, já foram desenvolvidas – precisam

apenas ter sua aplicação ampliada ou servirem de exemplo a sistemas adaptados ao

contexto local.

Palavras-chave: Cidades e Comunidades de Baixo Carbono. Avaliação de

Sustentabilidade Urbana. Urbanismo Sustentável. Mudanças Climáticas. Gases de

Efeito Estufa.

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ABSTRACT

BENITES, Henrique S. Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono. Rio de Janeiro, 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Engenharia Urbana). Programa de Engenharia Urbana, Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

The current scenario of the planet, predominantly and increasingly urban, is one

in which cities account for over 70% of emissions related to energy consumption. Cities

are suffering the consequences of climate change resulting from the exponential

increase in anthropogenic emissions of greenhouse gases (GHG). Scientists are

struggling to engage nations and cities into actions to limit the increase of Earth's

temperature to no more than 2°C by the end of the century, and control the

intensification of extreme events that already cause problems and disasters. Limiting

the increase of temperature seems a distant and unlikely probability in spite of the

weak commitment of the parts. Initiatives that allow us to understand and quantify GHG

emission sources in urban areas, and guide the implementation of actions for

mitigation are becoming more common. The emergence of cities and communities

planned to be environmentally responsible towards a sustainable society, albeit

rudimentary, is a reality. Whereas some path errors need to be corrected, they bring

valuable lessons. The use of Neighborhood Sustainability Assessment tools such as

LEED-ND and BREEAM Communities, is a possibility. They may not currently allow

an accurate accounting of mitigation measures arising from implemented sustainability

strategies, nonetheless they are important tools that can positively boost planning,

design and construction of low-carbon cities and communities. Adjustments are yet

necessary, but the first steps have already been taken and more accurate tools such

as eTool and PrecinX were already been developed – they only need to be more

broadly implemented or serve as an example to new systems adapted to the local

context.

Keyword: Low-Carbon Cities and Communities. Neighborhood Sustainability

Assessment. Sustainable Urbanism. Climate Change. Greenhouse Gases.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 -– Estrutura Organizacional do IPCC. ............................................................................. 33

Figura 2 – Emissões globais e metas dos países para 2020, em bilhões de teqCO2. ............ 40

Figura 3 – Gráficos comparativos de emissões per capita e por área....................................... 42

Figura 4 – Produção de energia primária. ...................................................................................... 44

Figura 5 – Produção de energia primária. ...................................................................................... 45

Figura 6 – Matriz elétrica brasileira 2012-2013. ............................................................................ 46

Figura 7 – Evolução da geração eólica (em GwH). ...................................................................... 46

Figura 8 – Percentual das fontes de combustível no setor de transportes. .............................. 47

Figura 9 – Percentual das fontes de combustível no setor de transportes. .............................. 47

Figura 10 – Emissões totais (2013), em Mt CO2. .......................................................................... 48

Figura 11 – Emissões brasileiras de GEE. Período 1990-2010 em CO2eq. ............................. 49

Figura 12 – Emissões brasileiras de GEE em termos de setores. 1990-2010 em CO2eq. .... 50

Figura 13 – Emissões brasileiras de GEE – setores e gases. 1990-2010 em CO2eq. ........... 50

Figura 14 – Decreto nº 7390 e Estimativas - total. ........................................................................ 51

Figura 15 – Distribuição emissões GEE - Município de São Paulo, 2003, em Gg Co2eq. .... 55

Figura 16 – Distribuição emissões GEE - combustível fóssil, 2003, em Gg Co2eq. ................ 56

Figura 17 – Contribuição dos Setores Socioeconômicos nas emissões de do Uso de Energia

pelo Município de São Paulo, em 2003 (%). .................................................................................. 57

Figura 18 – Emissões de GEE, por setor, da Cidade do Rio de Janeiro (2005) ...................... 60

Figura 19 – Participação dos Setores nas Emissões de GEE (2005)........................................ 61

Figura 20 – População urbana e rural do mundo, 1950-2050. ................................................... 66

Figura 21 – Proporção da população urbana e rural por grandes regiões, 1950-2050. ......... 67

Figura 22 – Reconstrução gráfica da temperatura desde o ano zero. ....................................... 68

Figura 23 – Reconstrução gráfica da temperatura desde o ano 100 d.C. ................................ 68

Figura 24 – Anomalia de temperatura global média – superfícies da terra e dos oceanos. .. 69

Figura 25 – Mudança do nível global médio do mar. .................................................................... 69

Figura 26 – Concentrações globais médias de gases de efeito estufa. .................................... 69

Figura 27 – Emissões antropogênicas globais de CO2. ............................................................... 70

Figura 28 – Os 10 maiores emissores de GEE. ............................................................................ 71

Figura 29 – Fluxo mundial de emissões de GEE. ......................................................................... 73

Figura 30 – Impactos generalizados atribuídos às mudanças climáticas. ................................ 74

Figura 31 – Fatores de impacto relacionados ao clima. ............................................................... 77

Figura 32 – Elementos de Cidades Sustentáveis. ........................................................................ 82

Figura 33 – Curva de custo de abatimento de GEE global além do BAU - 2030. ................... 87

Figura 34 – Curvas de emissão de poluentes em função da velocidade .................................. 94

Figura 35 – Localização de Dongtan em relação a Shangai ....................................................... 99

Figura 36 – Área de desenvolvimento de Dongtan com destaque para a 1ª fase ................. 100

Figura 37 – Localização de Dongtan em relação a Shangai ..................................................... 101

Figura 38 – Modelo ARUP de Recursos Integrados (IRM) para Dongtan. ............................. 101

Figura 39 – Cálculo da pegada ecológica para Dongtan e outras referências ....................... 102

Figura 40 – Master plan da gestão de água e cheias................................................................. 105

Figura 41 – Estrutura subterrânea de cultivo agrícola e geração de energia fotovoltaica. .. 106

Figura 42 – Foto do Masdar Institute, projeto de Foster and Partners. ................................... 107

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Figura 43 – Localização de Masdar em relação a Abu Dhabi. ................................................. 108

Figura 44 – Master Plan de Masdar .............................................................................................. 109

Figura 45 – PRT em circulação na rede subterrânea. ................................................................ 110

Figura 46 – Rede interna de circulação dos PRTs. .................................................................... 110

Figura 47 – Temas de desempenho de sustentabilidade .......................................................... 111

Figura 48 – Portal de materiais The Future Build ........................................................................ 112

Figura 49 – Matriz de sustentabilidade do portal The Future Build .......................................... 113

Figura 50 – Emissões de GEE de Masdar ................................................................................... 113

Figura 51 – Comparação de cenários de carbono embutido em Masdar ............................... 114

Figura 52 – Master plan da Pedra Branca, com foco no loteamento da 1ª fase .................... 117

Figura 53 – Centralidade do Pedra Branca .................................................................................. 117

Figura 54 – Empreendimento Parque da Cidade ........................................................................ 119

Figura 55 – Área da Ilha Pura pré-construção ............................................................................. 120

Figura 56 – Master plan da Ilha Pura e seus condomínios ....................................................... 120

Figura 57 – Pilares de sustentabilidade da Ilha Pura ................................................................. 121

Figura 58 – Localização urbana do bairro Quartier .................................................................... 122

Figura 59 – Visão geral do bairro ................................................................................................... 123

Figura 60 – Ciclo de Vida de uma Embalagem. .......................................................................... 128

Figura 61 – Estrutura da ACV. ....................................................................................................... 129

Figura 62 – Aplicações e métodos correspondentes de pegada de carbono......................... 129

Figura 63 – Procedimentos de avaliação da pegada de carbono organizacional. ................ 131

Figura 64 – Escopos de emissões de GEE segundo GHG Protocol. ...................................... 132

Figura 65 – Cidades aderentes ao GPC. ...................................................................................... 136

Figura 66 – Fontes de emissões de GEE e Escopos. ................................................................ 138

Figura 67 – Metodologia, fases, ferramentas e recursos do GCC. .......................................... 141

Figura 68 – Participação do C40 no mundo. ................................................................................ 142

Figura 69 – Cinco passos-chave do processo do Carbon Trust. .............................................. 147

Figura 70 – Classificação das ferramentas em função de sua robustez científica. ............... 149

Figura 71 – Percentual de pontos atribuídos pelos sistemas a cada uma das categorias. .. 150

Figura 72 – Fontes chaves de emissões na escala da comunidade. ...................................... 153

Figura 73 – Fases das emissões em empreendimentos urbanos ............................................ 155

Figura 74 – Famílias de ferramentas de acordo com escala geográfica e foco temático. ... 162

Figura 75 – Resultados da avaliação do CASBEE-UD. ............................................................. 165

Figura 76 – Conceito de espaço encerrado hipotético no CASBEE-City. ............................... 166

Figura 77 – Avaliação de desempenho atual e futura no CASBEE-City. ................................ 166

Figura 78 – Tela de exemplo do eTool LCD. ............................................................................... 168

Figura 79 – Pontuação do LEED-ND. ........................................................................................... 170

Figura 80 – Estrutura do MUtopia. ................................................................................................. 172

Figura 81 – Tela do MUtopia. ......................................................................................................... 173

Figura 82 – BedZED. ....................................................................................................................... 174

Figura 83 – Estrutura do PrecinX. .................................................................................................. 175

Figura 84 – Tela do SBTool 2015. ................................................................................................. 176

Figura 85 – Tela de exemplo do SSIM. ........................................................................................ 177

Figura 86 – Indicadores relacionados ao carbono em cada ferramenta (%). ......................... 178

Figura 87 – Quantidade de critérios por setor de emissão ........................................................ 187

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 12

Figura 88 – Quantidade de pontos por setor de emissão .......................................................... 188

Figura 89 – Critérios relacionados com inventários municipais (%) ......................................... 188

Figura 90 – Pontuação relacionada com inventários municipais .............................................. 189

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Setores e Fontes Principais Geradoras de Gases de Efeito Estufa. .................... 38

Quadro 2 – Objetivos específicos do PNMC. ................................................................................ 42

Quadro 3 – Métrica de equivalência do Potencial de Aquecimento Global (GWP). ................ 49

Quadro 4 – Tecnologias e Práticas de Mitigação.......................................................................... 52

Quadro 5 – Estratégias de Mitigação e Adaptação para o Município de São Paulo. .............. 57

Quadro 6 – Estratégias de Mitigação e Adaptação para o Município do Rio de Janeiro. ...... 63

Quadro 7 – Impactos em áreas urbanas - eventos meteorológicos/climáticos extremos. ..... 75

Quadro 8 – Impactos da urbanização nos serviços dos ecossistemas. .................................... 76

Quadro 9 – Riscos globais em áreas urbanas, incluindo o potencial de redução de risco em

função de adaptações e mitigações. ............................................................................................... 77

Quadro 10 – Tipos de Desenvolvimento de Baixo-Carbono. ...................................................... 81

Quadro 11 – Teorias por trás das Eco-Cidades de Baixo-Carbono. .......................................... 83

Quadro 12 – Cidades como parte da solução e do problema. .................................................... 85

Quadro 13 – Mitigação das mudanças climáticas no projeto e desenvolvimento urbano. ..... 89

Quadro 14 – Mitigação das mudanças climáticas no ambiente construído. ............................. 90

Quadro 15 – Mitigação das mudanças climáticas na infraestrutura urbana. ............................ 92

Quadro 16 – Mitigação das mudanças climáticas transporte. ..................................................... 93

Quadro 17 – Mitigação das mudanças climáticas no sequestro de carbono. .......................... 95

Quadro 18 – Aspectos das estratégias de sustentabilidade para Dongtan. ........................... 102

Quadro 19 – Setores e Subsetores de Emissão de GEE em uma Cidade. ............................ 137

Quadro 20 – Forças e fraquezas das ferramentas de sustentabilidade urbana. ................... 151

Quadro 21 – Fontes-chave de emissões na escala da comunidade. ...................................... 154

Quadro 22 – Ferramentas para cidades. ...................................................................................... 156

Quadro 23 – Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana estudados. ...................... 163

Quadro 24 – Indicadores relacionados a carbono e energia em cada ferramenta. ............... 178

Quadro 25 – Detalhamento dos setores emissores de GEE analisados e classificação. .... 180

Quadro 26 – Classificação dos critérios LEED-ND. .................................................................... 182

Quadro 27 – Classificação dos critérios BREEAM Communities. ............................................ 185

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 14

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACV Análise ou Avaliação de Ciclo de Vida

AFOLU Agricultura, Florestas e Outros Usos do Solo

AQUA Alta Qualidade Ambiental

BAU Business as Usual, ou Negócios como Sempre

BIM Building Information Modelling

BRE Building Research Establishment

BREEAM Building Research Establishment Environmental Assessment Method

BRI British Standards Institution

CASBEE Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency

CASBEE-UD Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency for Urban Development

CBD Convenção sobre Diversidade Biológica

CCI Clinton Climate Initiative

CCS Carbon Capture and Storage

CDP Carbon Disclosure Program

CDS Comissão de Desenvolvimento Sustentável

CE Comunidade Europeia

CFC Clorofluorcarbono

CNUDM Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar

COP Conference of the Parties, ou Conferência das Partes

CQNUMC Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, o mesmo que UNFCCC

CRC LCL Cooperative Research Centre for Low Carbon Living

DGNB Deutsche Gesellschaft für Nachhaltiges Bauen

DS Desenvolvimento Sustentável

EPA Environmental Protection Agency, Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos

FCAV Fundação Carlos Alberto Vanzolini

FGVCes Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas

GBI Green Building Index

GCC Green Climate Cities

GEE Gases de Efeito Estufa

GHG Greenhouse Gases, o mesmo que GEE

GIS Geographical Information System, o mesmo que SIG

GPC Global Protocol for Community Scale Greenhouse Gas Emission Inventories

GRI Global Reporting Initiative

GSB Greenbuildingindex Sdn Bhd

GWP Global Warming Potential ou Potencial de Aquecimento Global

HEAT+ Harmonized Emissions Analysis Tool plus

HEKO Helsinki Eco-efficiency Tool for Urban Development

HQE Haute Qualité Environnementale

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística

ICLEI International Council for Local Environmental Initiatives

IEA International Energy Agency

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IEAP International Local Government Greenhouse Gas Emissions Analysis Protocol

IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change

IPPU Processos Industriais e Uso de Produtos

ISO International Organization for Standardization

ITDP Institute for Transportation and Development Policy

JIUS Joint Initiative on Urban Sustainability

kWh Quilowatt-hora

LCA Life Cycle Analysis, o mesmo que ACV

LCC Low Carbon Cities

LCS Low Carbon Society

LEED Leadership in Energy and Environmental Design

LEED-ND Leadership in Energy and Environmental Design for Neighborhood Development

LESS Local area Envisioning and Sustainability Scoring system

Mcid Ministério das Cidades

MCT Ministério de Ciência e Tecnologia

MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

MRV Medição, Relatoria e Verificação

MT Ministério dos Transportes

NBR Norma Brasileira Regulamentadora

OCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONU Organização das Nações Unidas

PAS Publicly Available Specification

PIM Precinct Information Modelling

PNMC Plano Nacional sobre Mudança do Clima

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PPPs Políticas, planos e programas

PSTM Plano Setorial de Transporte e de Mobilidade Urbana para Mitigação da Mudança do Clima

RCEs Reduções Certificadas de Emissão

RMSP Região Metropolitana de São Paulo

SBCI Sustainable Buildings and Climate Initiative

SDAPP Sustainable Design Assessment in the Planning Process

SIG Sistema de Informação Geográfica

SITES Sustainable SITES Initiative

SpeAR Sustainable Project Appraisal Routine

STARS Sustainability Tracking Assessment & Rating System

tCO2e Toneladas equivalentes de CO2

TOD Transport Oriented Development

TS Technical Specification

UCCRN The Urban Climate Change Research Network

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UN United Nations, ou Organização das Nações Unidas

UN-DESA The United Nations Department of Economic and Social Affairs

UNEP United Nations Environment Programme, o mesmo que PNUMA

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change

UN-HABITAT United Nations Human Settlements Programme

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UrbanLEDS Urban Low Emission Development Strategies

USGBC United States Green Building Council

WBCSD World Business Council for Sustainable Development

WCED World Commission on Environment and Development

WGBC World Green Building Council

WRI World Resources Institute

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E VISÃO GERAL ........................................................................................... 21

1.1. Apresentação do Tema ................................................................................................... 21

1.2. Objetivo ............................................................................................................................... 26

1.3. Justificativa ........................................................................................................................ 27

1.4. Metodologia de Pesquisa ............................................................................................... 27

1.5. Limitações da pesquisa .................................................................................................. 28

1.6. Estrutura da Monografia ................................................................................................. 28

2. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA .. 31

2.1. O Empenho Ambiental de Estocolmo ao Século XXI ............................................. 31

2.1.1. Declaração de Estocolmo ...................................................................................... 31

2.1.2. IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas ........................ 33

2.1.3. Acordos Ambientais na Década de 1980 ........................................................... 35

2.1.4. A Década de 90 e a Cúpula da Terra ................................................................... 35

2.1.5. Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima .......... 36

2.1.6. Protocolo de Quioto ................................................................................................ 37

2.1.7. MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ............................................... 38

2.1.8. O Empenho pelo Meio Ambiente no Século XXI .............................................. 39

2.2. As Mudanças Climáticas e as Políticas Públicas Brasileiras ............................... 41

2.2.1. PNMC – Plano Nacional sobre Mudança do Clima .......................................... 41

2.2.1.1. Energia renovável na matriz elétrica ............................................................... 44

2.2.1.2. Biocombustíveis na matriz de transportes ................................................... 46

2.2.1.3. Evolução global das emissões do país .......................................................... 48

2.2.1.4. Compromisso de comunicação ........................................................................ 51

2.2.1.5. Tecnologias e Práticas de Mitigação .............................................................. 52

2.2.2. Planos Setoriais de Mudança do Clima .............................................................. 52

2.2.2.1. Plano Setorial de Transporte e de Mobilidade Urbana para Mitigação da

Mudança do Clima (PSTM) ..................................................................................................... 53

2.3. Políticas e Inventários dos Municípios de São Paulo e Rio de Janeiro ............ 54

2.3.1. O Município de São Paulo ...................................................................................... 55

2.3.2. O Município do Rio de Janeiro ............................................................................. 60

3. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AS CIDADES E COMUNIDADES DE BAIXO

CARBONO .......................................................................................................................................... 66

3.1. Cidades, Comunidades e Mudanças Climáticas ...................................................... 66

Page 18: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 18

3.1.1. Impactos das Mudanças do Clima nas Cidades .............................................. 73

3.2. O Conceito de Baixo Carbono ...................................................................................... 79

3.3. Oportunidades de Mitigação ......................................................................................... 85

3.3.1. Estrutura e forma urbana ....................................................................................... 88

3.3.2. Ambiente construído ............................................................................................... 89

3.3.3. Infraestrutura urbana .............................................................................................. 91

3.3.4. Transporte .................................................................................................................. 92

3.3.5. Sequestro de carbono ............................................................................................. 94

3.4. O Surgimento de Políticas e Ferramentas ................................................................. 95

3.5. Exemplos de Cidades e Comunidades ....................................................................... 98

3.5.1. Dongtan, China ......................................................................................................... 99

3.5.2. Masdar, Abu Dhabi, Emirados Árabes .............................................................. 107

3.5.3. Experiências Brasileiras ....................................................................................... 116

3.5.3.1. Cidade Pedra Branca ......................................................................................... 116

3.5.3.2. Parque da Cidade ............................................................................................... 119

3.5.3.3. Ilha Pura ................................................................................................................ 119

3.5.3.4. Bairro Quartier .................................................................................................... 122

4. INICIATIVAS E FERRAMENTAS PARA CIDADES E COMUNIDADES DE BAIXO

CARBONO ........................................................................................................................................ 126

4.1. Entendendo e Quantificando o Padrão de Emissões ........................................... 126

4.1.1. Corporações e Produtos ...................................................................................... 127

4.1.2. Cidades e Comunidades ...................................................................................... 133

4.1.2.1. Global Protocol for Community-Scale GHG Inventories ......................... 135

4.2. Ferramentas e Iniciativas para Comunidades de Baixo Carbono ..................... 139

4.2.1. WRI – World Resources Institute ....................................................................... 139

4.2.2. ICLEI – Local Governments for Sustainability ............................................... 140

4.2.2.1. Heat+ ...................................................................................................................... 140

4.2.2.2. GCC – GreenClimateCities ............................................................................... 141

4.2.2.3. UrbanLEDS ........................................................................................................... 141

4.2.3. C40 Cities Climate Leadership Group ............................................................... 142

4.2.3.1. Climate Positive Development Programme ................................................. 143

4.2.4. CDP – Carbon Disclosure Program ................................................................... 145

4.2.5. Compact of Mayors ................................................................................................ 146

4.2.6. Low Carbon Cities – Carbon Trust .................................................................... 146

Page 19: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 19

4.3. Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana ............................................ 147

4.3.1. Integrando GEE às Ferramentas ........................................................................ 153

4.3.2. Ferramentas e Sistemas Existentes .................................................................. 155

4.3.3. Sistemas Selecionados e Analisados ............................................................... 163

4.3.3.1. BREEAM Communities ..................................................................................... 164

4.3.3.2. CASBEE-UD e CASBEE-City ........................................................................... 164

4.3.3.3. EnviroDevelopment ........................................................................................... 167

4.3.3.4. eTool LCD ............................................................................................................. 167

4.3.3.5. GBI for Township ................................................................................................ 168

4.3.3.6. Green Star Communities .................................................................................. 169

4.3.3.7. LEED ND ............................................................................................................... 169

4.3.3.8. LESS ...................................................................................................................... 171

4.3.3.9. MUtopia ................................................................................................................. 171

4.3.3.10. One Planet Living ............................................................................................... 173

4.3.3.11. PrecinX .................................................................................................................. 175

4.3.3.12. SBTool ................................................................................................................... 176

4.3.3.13. SSIM ....................................................................................................................... 176

4.3.4. Síntese dos Estudos Externos ........................................................................... 177

4.3.5. Análise Complementar Segundo GPC e Inventários Municipais .............. 179

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 192

5.1. Conclusões ...................................................................................................................... 192

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 196

Page 20: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

“Será impossível responder às mudanças climáticas e aos nossos desafios energéticos que estão por vir sem uma forma mais sustentável de urbanismo. ”

Peter Calthorpe

Page 21: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

1. Introdução e Visão Geral

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 21

1. INTRODUÇÃO E VISÃO GERAL

1.1. Apresentação do Tema

O mundo é urbano: vivemos hoje em uma sociedade mais urbana do que rural.

Conforme ressalta o relatório World Urbanization Prospects – 2014 Revision:

Highlights, preparado pelo UN-DESA (2014), o ano de 2007 ficará marcado na história

como o ano em que pela primeira vez a população vivendo em áreas urbanas

ultrapassou a das áreas rurais em um rápido processo de urbanização das últimas

seis décadas. No ano de 1950, 70% da população viviam em áreas rurais, enquanto

para 2050 espera-se que 66% das pessoas vivam nas cidades.

Esta tendência de crescimento é corroborada por Doug Saunders em “Cidade

de Chegada: A Migração Final e o Futuro do Mundo” (2013), que a relaciona a um

novo processo migratório que deve afetar a todos os seres humanos, de uma maneira

ou de outra, de uma forma que não ocorria desde o período entre fins do século XVIII

e início do século XX, intimamente ligada às revoluções Francesa e Industrial e

resultando em mudanças políticas e sociais profundas. Por outro lado, grande parte

dessas migrações se deu também pela retirada de pessoas à força de seus locais de

origem, destinando-as a novas realidades muitas vezes caracterizadas pela exclusão.

A busca pelas cidades, quando feita de forma consciente, é também a busca pela

qualidade de vida – um desejo de encontrar tudo aquilo que inexiste ou que toma

forma muito precária na vida rural: o acesso aos serviços básicos como saúde,

saneamento, energia, dentre outros.

Se por um lado as áreas urbanas, pela concentração de pessoas, são

responsáveis por uma apreciável porção das emissões de gases de efeito estufa no

planeta, por outro lado têm função decisiva no empenho necessário para a mitigação

das mudanças climáticas (STERN, 2007 apud UCCRN, 2011), e deverão enfrentar os

maiores impactos gerados pelas mudanças climáticas, com potencial para reduzir os

danos ecológicos e as emissões de carbono pelo encurtamento das distâncias

percorridas diariamente, além do incremento no uso e compartilhamento de

tecnologias. (SAUNDERS, 2013).

Page 22: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

1. Introdução e Visão Geral

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 22

O aumento das taxas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) tem sido

demonstrado por diversos estudos e cientistas em todo o planeta. O relatório síntese

do 5º Relatório de Avaliação do IPCC (2014) afirma, com 95% de certeza, que os

humanos são a principal causa do aquecimento global, sendo notáveis seus impactos

ao redor de todo o planeta em oceanos e continentes, como aquecimento do oceano

e atmosfera, redução de neve e gelo, bem como incremento do nível dos oceanos. A

análise mostra que o histórico de emissões antropogênicas de gases de efeito estufa

não tem precedentes.

Ainda no início do mês de junho de 2015, o G7, fórum informal que reúne os 07

países mais ricos e poderosos do planeta mais a Rússia, emitiu um documento “Think

Ahead, Act Together” (Pense no Futuro, Aja em Conjunto – tradução nossa) no qual

se compromete com a descarbonização de suas economias através da eliminação do

uso dos combustíveis fósseis até o fim do século XXI, redução das emissões de GEE

entre 40% a 70% sobre os níveis de 2010, e limitação do aumento da temperatura a

no máximo 2°C sobre os níveis pré-industriais (MASHABLE, 2015). Entende-se que

este documento deve influenciar fortemente as ações e decisões da Cúpula do Clima

da ONU a ser realizada em Paris no final de 2015.

Alguns dias depois, o Papa Francisco, em seu documento de 192 páginas “Carta

Encíclica sobre o Cuidado da Casa Comum” (2015), não se descuidando dos fatos e

dados científicos, enfatizou o papel do homem no aquecimento global, sua influência

sobre o ciclo do carbono e a importância de uma mudança na postura do mundo, em

especial dos países mais ricos, já que o combate à pobreza e às desigualdades sociais

está diretamente relacionado ao combate às mudanças climáticas.

“Por isso, tornou-se urgente e imperioso o desenvolvimento de políticas

capazes de fazer com que, nos próximos anos, a emissão de anidrido

carbónico e outros gases altamente poluentes se reduza drasticamente, por

exemplo, substituindo os combustíveis fósseis e desenvolvendo fontes de

energia renovável. No mundo, é exíguo o nível de acesso a energias limpas

e renováveis. Mas ainda é necessário desenvolver adequadas tecnologias de

acumulação. Entretanto, nalguns países, registaram-se avanços que

começam a ser significativos, embora estejam longe de atingir uma proporção

importante. Houve também alguns investimentos em modalidades de produ-

ção e transporte que consomem menos energia exigindo menor quantidade

de matérias-primas, bem como em modalidades de construção ou

Page 23: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

1. Introdução e Visão Geral

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 23

restruturação de edifícios para se melhorar a sua eficiência energética. Mas

estas práticas promissoras estão longe de se tornar omnipresentes.“

(FRANCISCO, 2015, p. 24)

Alguns meses depois, ainda no ano de 2015, um grupo de líderes islâmicos

preparou e emitiu a Declaração Islâmica sobre Mudanças Climáticas (ISLAMIC

RELIEF WORLDWIDE, 2015) como resultado do Simpósio Islâmico Internacional

sobre Mudanças Climáticas, no qual conclamam a ONU, nações abastadas e estados

produtores de petróleo, povos e líderes de todas as nações, corporações e setores de

negócios a agir, considerando o consenso científico que existe sobre o tema e as

responsabilidades que cada uma dessas partes têm no resultado, de forma a:

Definir metas claras e sistemas de monitoramento;

Reduzir as emissões de GEE, comprometendo-se com uso de 100% de

energias renováveis e contendo o aumento da temperatura a 2°C ou ainda

melhor, 1,5°C;

Garantir suporte técnico e financeiro para implementação das ações;

Redirecionar o mundo para uma economia circular verde e estado de ética

e bem-estar social, com redução das desigualdades sociais e do lucro

sem ética

Arcar com as consequências das atividades geradoras de lucro,

reduzindo a pegada de carbono e atentando-se às responsabilidades

sociais e ecológicas decorrentes do uso de recursos escassos.

Ainda que se tratem de documentos de cunho religioso, não se pode desprezar

a relevância do posicionamento do Chefe de Estado do Vaticano e diversos líderes

científicos. E estes posicionamentos são corroborados por diversos estudos e

pesquisas. O relatório do UN-HABITAT (2011) Cities and Climate Change: Global

Report on Human Settlements, afirma claramente que o desenvolvimento e os

impactos ambientais estão intrinsicamente ligados, e a urbanização do planeta e as

mudanças climáticas crescem lado a lado. Moldar o crescimento das áreas urbanas é

essencial para o processo de mitigação das mudanças climáticas.

A importância da consideração das emissões de GEE dos centros urbanos

reside na variedade de atividades como transporte, geração de energia, produção

industrial, todos dentro da cidade, que geram emissões diretamente. Além disso, não

Page 24: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

1. Introdução e Visão Geral

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 24

podem ser desconsideradas as emissões devido aos fluxos, consumo ou geração de

alimentos, água, resíduos, bens de consumo e serviços que resultam em emissões

também fora dos limites da cidade (UN-HABITAT, 2011). Mais de 70% das emissões

globais relacionadas ao uso de energia podem ser atribuídas às cidades segundo a

IEA – International Energy Agency (apud GHG Protocol, 2014).

Os impactos às cidades vão muito além do aumento do nível do ar e eventos

climáticos extremos, considerados riscos físicos, e podem se estender à dificuldade

em atender às necessidades básicas da população como fornecimento de água e

energia, bens e serviços, perturbando as economias locais e levando até mesmo a

novos fluxos migratórios.

Se por um lado as cidades são parte do problema, elas são também parte da

ação. As autoridades municipais devem ser encaradas como agentes primários na

luta pelas mitigações. Primeiramente pela responsabilidade em processos-chave

como planejamento do uso do solo, transporte, coleta e disposição de resíduos, e

geração e consumo de energia, mas também porque a concentração de pessoas nas

cidades pode tornar as soluções viáveis utilizando-se as cidades como laboratórios

de inovação, além de os governos municipais terem poder para interação com as

partes interessadas do setor privado e da sociedade civil (UN-HABITAT, 2011).

As ações de combate às mudanças climáticas são, conforme descrevem Barbieri

e Viana (2013), divididas em dois grupos: mitigação e adaptação. Embora

relacionadas, as medidas de mitigação buscam a redução das emissões dos gases

de efeito estufa para redução do aquecimento global, atuando diretamente nas fontes,

e embora tenham maior dificuldade de aplicação por questões políticas, técnicas ou

tecnológicas, são as mais discutidas no âmbito urbano positivos (BARBIERI e VIANA,

2013; UN-HABITAT, 2013b). São consideradas também medidas de mitigação as

“intervenções humanas para reduzir as fontes ou aumentar os sumidouros1 de gases

de efeito estufa (UNFCCC 1997 apud UN-HABITAT, 2013a).

As medidas adaptativas, por sua vez, almejam reduzir os impactos das

mudanças climáticas, além de explorar seus pontos positivos (UN-HABITAT, 2013b).

1 “Sumidouros de carbono são organismos naturais como florestas ou oceanos que são capazes de absorver carbono e assim remove-lo a atmosfera. Um dos maiores sumidouros de carbono mundial é a floresta amazônica” (UN-HABITAT, 2013a).

Page 25: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

1. Introdução e Visão Geral

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 25

Uma terceira opção (FÜSSEL, 2007 apud BARBIERI e VIANA, 2013) é a

compensação, em geral através da assistência técnica ou financeira. Brasil (2008)

define mitigação como “as mudanças e substituições tecnológicas que reduzam o uso

de recursos e as emissões por unidade de produção, bem como a implementação de

medidas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os

sumidouros de carbono”.

As áreas urbanas são o menor nível em que estes problemas podem ser

significativamente resolvidos de forma integrada, holística e sustentável (AALBORG

CHARTER 1994 apud BERARDI, 2013). São as comunidades e bairros os elementos

de construção de nossas cidades, a escala na qual o desenho urbano deve colaborar

para o desempenho da cidade enquanto local de produção e vida, ambientalmente

sustentável e socialmente inclusivo (COAG 2009 apud CRC for Low Carbon Living,

2013, p.9), a escala mais adequada para que se avalie a sustentabilidade do ambiente

construído (BERALDI, 2013) e na qual a cidade é desenvolvida (greenfields),

reconstruída (brownfields e greyfields) e operada (Newton, 2013). Souza (2004 apud

BUENO, 2013) nos lembra que, apesar de grandes partes das atividades de

planejamento e gestão urbanos serem desenvolvidas no âmbito governamental, o

espaço intraurbano tem muitas de suas ações planejadas pela ação privada. É na

escala do bairro onde “ocorre o desenvolvimento da terra, bem como novos edifícios

e instalações são propostas, debatidas e construídas” (BENFIELD, 2010, apud

SHARIFI e MURAYAMA, 2013, tradução nossa). Desta forma, uma cidade não pode

contribuir para a sustentabilidade se cada um de seus elementos formadores, como

bairros e distritos, por exemplo, não for sustentável ” (CHOGUILL, 2008, apud

SHARIFI e MURAYAMA, 2013). Calthorpe (2011) advoga a favor do urbanismo como

a ferramenta com o melhor custo-benefício na luta contra as mudanças climáticas,

sendo mais vantajoso do que muitas tecnologias renováveis, tornando-se pedra

angular para um amanhã de baixas emissões e menores custos.

Tendo em vista a busca pelas soluções de redução e mitigação das emissões,

uma série de políticas têm sido, já há algumas décadas, desenvolvidas na escala

urbana nos setores público e privado. São ferramentas não apenas de apoio às

políticas nacionais e municipais, mas também ao desenvolvimento de comunidades

planejadas. Algumas destas ferramentas permitem a quantificação, e

consequentemente comparação, das emissões dos Gases de Efeito Estufa (GEE),

Page 26: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

1. Introdução e Visão Geral

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 26

outras direcionam a preparação de leis, estratégias e políticas, e um outro grupo,

auxilia no desenvolvimento de comunidades sustentáveis e de baixo carbono – são

os chamados Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana. Este trabalho traz

uma visão geral de todos estes grupos, debruçando-se com maior atenção sobre o

terceiro, que tem ganhado destaque principalmente entre empreendedores da

iniciativa privada, mas também públicos, que os utilizam não apenas como um

instrumento orientador para o planejamento, projeto e construção destas novas áreas

urbanas, mas também como uma ferramenta de propaganda de suas ações.

Os sistemas existentes são muitos, e alguns deles ganharam visibilidade

mundial ao serem disseminados por vários países, muitas vezes sem os ajustes

necessários para que respondam de forma adequada ao contexto local. Embora os

sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana tenham seus critérios baseados no

tripé da sustentabilidade (meio ambiente, economia e sociedade), uma série de

lacunas tem sido identificada neles (CRC LCL, 2013), em especial a falta de métricas

mais claras e diretas quanto as estratégias mitigadoras de emissões de carbono. E é

sobre este tema que se debruça este trabalho ao analisar a relação entre os sistemas

de avaliação de sustentabilidade urbana e as cidades e comunidades de baixo

carbono.

1.2. Objetivo

O objetivo geral da pesquisa é identificar, qualitativamente, de que forma os

sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana podem contribuir para a mitigação

das emissões dos gases de efeito estufa no planejamento, projeto e construção, e

consequentemente, na operação, de áreas urbanas.

Este trabalho tem como objetivo específico responder às seguintes questões:

a. De que forma as cidades contribuem para o cenário de mudanças

climáticas e quais as principais fontes de emissão?

b. Quais as principais políticas nacionais e internacionais com foco nas

mudanças climáticas?

c. Quais as principais estratégias de mitigação no combate às mudanças

climáticas nas cidades?

Page 27: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

1. Introdução e Visão Geral

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 27

d. Quais as principais metodologias e ferramentas existentes para

quantificação das emissões de gases de efeito estufa e para o

planejamento, projeto e construção de cidades e comunidades

sustentáveis e de baixo carbono?

e. De que forma estas metodologias podem contribuir para as cidades e

comunidades de baixo carbono?

1.3. Justificativa

Espera-se que este trabalho possa ampliar o entendimento das metodologias e

ferramentas para cidades e comunidades sustentáveis e de baixo carbono. Tendo em

vista que sua aplicação vem crescendo nos últimos anos, faz-se necessário entender

qual sua real contribuição na redução das emissões de gases de efeito estufa e se

seus critérios norteadores se relacionam de alguma forma com a mitigação das

principais fontes de gases de efeito estufa das cidades, mesmo que não apresentem

métricas claras relacionadas às emissões.

Espera-se também que este trabalho possa ser o primeiro passo para outros

trabalhos voltados à criação de cidades e comunidades mais sustentáveis e de baixo

carbono.

1.4. Metodologia de Pesquisa

O desenvolvimento da pesquisa se baseará em revisão bibliográfica de literatura

especializada, buscando encontrar o estado da arte no planejamento de cidades e

comunidades de baixo carbono e ferramentas de sustentabilidade urbana, incluindo-

se os sistemas de avaliação ou certificação de sustentabilidade urbana, bem como a

fundamentação teórica sobre cenário das mudanças climáticas e as emissões de

gases de efeito estufa. Serão consultados, dentre outros:

- Monografias, teses e dissertações;

- Livros, guias, manuais e outras publicações relacionados ao assunto;

- Artigos de periódicos científicos e de outras publicações relacionadas à

área;

- Normas e legislações.

Page 28: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

1. Introdução e Visão Geral

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 28

Por fim, os critérios de alguns sistemas de sustentabilidade urbana serão

avaliados com base na metodologia do Global Protocol for Community-Scale

Greenhouse Gas Emission Inventories (GPC) e sua potencial relação com as

principais fontes de emissão de GEE dos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro.

1.5. Limitações da pesquisa

Embora a pesquisa faça um levantamento dos principais sistemas de avaliação

e certificação de sustentabilidade urbana, e das ferramentas para cidades e

comunidades de baixo carbono, não será feita uma análise profunda de cada um dos

sistemas apresentados – este trabalho procura o entendimento global do estado da

arte. Toda e qualquer análise realizada será quanto à contribuição qualitativa das

ferramentas, não a quantitativa.

O espaço da análise reside nas cidades, buscando o foco na escala dos bairros

e comunidades planejadas.

O foco da pesquisa está na mitigação das emissões de carbono, e embora

possam ser mencionados outros aspectos e impactos ambientais, bem como a

adaptação e resiliência das cidades e comunidades contra as mudanças do clima,

estes não são parte do objetivo da pesquisa.

Embora muitas das ferramentas sejam aplicadas nas fases de planejamento,

projeto e construção, seu objetivo é a redução das emissões durante a fase de maior

emissão, a operação.

1.6. Estrutura da Monografia

O capítulo 1 faz uma breve introdução à problemática, com um panorama geral

das mudanças climáticas e sua relação com as cidades, identificando os objetivos a

serem alcançados através da pesquisa, a justificativa e pertinência da escolha,

detalhando a metodologia e as limitações do trabalho.

O capítulo 2 se aprofunda no entendimento do cenário das mudanças climáticas

e o histórico da agenda ambiental desde a Declaração de Estocolmo até o século XXI.

Page 29: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

1. Introdução e Visão Geral

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 29

Apresenta ainda os cenários das políticas públicas brasileiras, e como os dois

principais municípios brasileiros, São Paulo e Rio de Janeiro, estão em relação às

suas emissões e como eles estabeleceram políticas para lidar com as mudanças do

clima.

A maneira como as cidades contribuem para as mudanças do clima, como elas

são afetadas e de que forma elas podem contribuir para sua mitigação é apresentada

no Capítulo 3, que apresenta ainda o conceito global de baixo carbono e como ele se

aplica a cidades e comunidades e de que forma têm surgido ferramentas que ajudam

a lidar com estas questões e como os projetos de algumas novas cidades têm tratado

a meta de redução das emissões de carbono, com os exemplos de Dongtan, na China,

e Masdar, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, além de uma breve

apresentação das experiências brasileiras, ainda embrionárias.

A partir deste entendimento, no capítulo 4 passamos ao entendimento das

metodologias de quantificação de emissões e ao estudo dos programas, iniciativas,

metodologias e ferramentas existentes para redução das emissões de gases de efeito

estufa em escala urbana, além da apresentação e compreensão geral dos sistemas

de avaliação e certificação de sustentabilidade urbana. Sobre estes, são apresentados

estudos externos sobre sua relação com as emissões de gases de efeito estufa e em

seguida, desenvolve-se uma análise qualitativa de alguns dos sistemas, e como eles

se relacionam com as estratégias para a criação de cidades e comunidades de baixo

carbono.

As considerações finais sobre os estudos realizados e sugestões de futuros

estudos concluem esta pesquisa com o capítulo 5.

Page 30: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

“Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos, e as suas raízes humanas, dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. ”

Papa Francisco

Page 31: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 31

2. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO

ESTUFA

2.1. O Empenho Ambiental de Estocolmo ao Século XXI

Foi apenas depois do fim da 2ª Guerra Mundial que as questões ambientais

ganharam maior visibilidade mundial, em um cenário de graves problemas ambientais

e poluição atmosférica, quando uma série de catástrofes como vazamentos de óleo,

o impacto de drogas como a Talidomida na má formação congênita em recém-

nascidos, e alertas publicados em livros e artigos, como Primavera Silenciosa, de

Rachel Carson (1962) surgiram.

2.1.1. Declaração de Estocolmo

A cidade de Estocolmo, na Suécia, abrigou em 1972 a Primeira Conferência

Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente. Como resultado, a Declaração sobre o

Meio Ambiente Humano, com 26 princípios (Clark e Timberlake, 1982, apud PNUMA,

2004), pelos quais os países deveriam trabalhar em prol do desenvolvimento e da

preservação ambiental:

1. Os direitos humanos devem ser defendidos; o apartheid e o colonialismo

devem ser condenados.

2. Os recursos naturais devem ser preservados.

3. A capacidade da Terra de produzir recursos renováveis deve ser mantida.

4. A fauna e a flora silvestres devem ser preservadas.

5. Os recursos não-renováveis devem ser compartilhados, não esgotados.

6. A poluição não deve exceder a capacidade do meio ambiente de neutralizá-

la.

7. A poluição danosa aos oceanos deve ser evitada.

8. O desenvolvimento é necessário à melhoria do meio ambiente.

9. Os países em desenvolvimento requerem ajuda.

10. Os países em desenvolvimento necessitam de preços justos para

suas exportações, para que realizem a gestão do meio ambiente.

Page 32: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 32

11. As políticas ambientais não devem comprometer o desenvolvimento.

12. Os países em desenvolvimento necessitam de recursos para desenvolver

medidas de proteção ambiental.

13. É necessário estabelecer um planejamento integrado para o

desenvolvimento.

14. Um planejamento racional deve resolver conflitos entre meio ambiente e

desenvolvimento.

15. Assentamentos humanos devem ser planejados de forma a eliminar

problemas ambientais.

16. Os governos devem planejar suas próprias políticas populacionais de

maneira adequada.

17. As instituições nacionais devem planejar o desenvolvimento dos recursos

naturais dos Estados.

18. A ciência e a tecnologia devem ser usadas para melhorar o meio ambiente.

19. A educação ambiental é essencial.

20. Deve-se promover pesquisas ambientais, principalmente em países em

desenvolvimento.

21. Os Estados podem explorar seus recursos como quiserem, desde que não

causem danos a outros.

22. Os Estados que sofrerem danos dessa forma devem ser indenizados.

23. Cada país deve estabelecer suas próprias normas.

24. Deve haver cooperação em questões internacionais.

25. Organizações internacionais devem ajudar a melhorar o meio ambiente.

26. Armas de destruição em massa devem ser eliminadas.

Surpreende como os países se uniram em um compromisso em um mundo

extremamente polarizado, longe do que ainda conhecemos hoje como globalização,

com a Guerra Fria em andamento, o Apartheid ainda em vigor na África do Sul e o

Muro de Berlim de pé. Os 26 princípios da Declaração de Estocolmo, em conjunto

com um Plano de Ação com 109 recomendações foram o primeiro conjunto de “soft

law”, ou seja, leis internacionais apenas intencionais, mas sem aplicação prática. Foi

quando se institui também o PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente, e desta primeira conferência surgiram ainda diversas leis e passos dados

na proteção do meio ambiente no cenário mundial (PNUMA, 2004a).

Page 33: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 33

Embora tenha sido na década de 1980 que a Comissão Mundial sobre o Meio

Ambiente, ou Comissão Brundtland, tenha publicado o Relatório Nosso Futuro

Comum (Our Common Future), na qual se define o conceito mais amplamente

divulgado de desenvolvimento sustentável, pode-se dizer que foi também uma década

que viu retrocessos nas preocupações sociais (WCED, 1987, apud PNUMA, 2004a) e

diversos desastres ambientais, como um vazamento de gases letais em Bopha, na

Índia, em 1984, resultando em 3 mil mortos e 20 mil feridos; a morte de mais de um

milhão de pessoas na Etiópia por fome no mesmo ano; o desastre Nuclear de

Chernobyl em 1986; e o derramamento pelo petroleiro Exxon Valdez de 50 milhões

de litros de petróleo no Canal Príncipe William, no Alasca, em 1989 (PNUMA, 2004a).

2.1.2. IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas

O IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, ou

Intergovernamental Panel on Climate Change, do qual resulta a sigla, foi constituído

no ano de 1988 pela WMO – Organização Meteorológica Mundial e o PNUMA (Ou

UNEP, em inglês) como um corpo científico com o objetivo de trazer uma visão

científica clara sobre o fenômeno das mudanças climáticas e seus impactos

socioambientais.

Figura 1 -– Estrutura Organizacional do IPCC. Fonte: http://www.ipcc.ch/

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2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 34

Atualmente, 195 países, todos membros da ONU – Organização das Nações

Unidas, fazem parte do IPCC, bem como milhares de cientistas, todos contribuindo de

forma voluntária com seu conhecimento, em uma estrutura que pode ser observada

na Figura 1. São três grupos de trabalho e uma força-tarefa.

Enquanto o grupo I se dedica às “Bases Científicas das Mudanças Climáticas”,

o grupo II se concentra nos “Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade às Mudanças

Climáticas” e o grupo III tem como foco a “Mitigação das Mudanças Climáticas”. Em

paralelo, o principal objetivo da “Força-Tarefa em Inventários Nacionais de Gases de

Efeito Estufa (GEE)” é o de desenvolver e depurar uma metodologia para calcular e

reportar as emissões e remoções de GEE nos países.

Desde 1990 ele iniciou a emissão de uma série de relatórios de avaliação, artigos

técnicos, relatórios especiais, relatórios metodológicos, que são divulgados e se

tornou referência quanto ao assunto das mudanças climáticas. Um dos principais

documentos é o Assessment Report (Relatório de Avaliação), cuja última edição, a 5ª,

emitida em 2014 sob o nome Climate Change 2014, é o resultado dos estudos

realizados pelos três grupos de trabalho, além de dois outros Special Reports:

The Physical Science Basis;

Impacts, Adaptation and Vunerability;

Mitigation of Climate Change;

Renewable Energy Sources and Climate Change Mitigation;

Managing the Risks of Extreme Events and Disasters to Advance Climate

Change Adaptation.

O relatório síntese buscar trazer de uma forma ampla as informações referentes

ao processo de mudanças climáticas, incluindo-se:

“A avaliação consistente de incertezas e riscos, análise integrada

econômica e de custos, aspectos regionais, mudanças, impactos e respostas

relacionados aos sistemas de água e da terra; o ciclo do carbono incluindo a

acidificação dos oceanos, aumento do nível do mar e da criosfera, bem como

tratamento das opções de adaptação e mitigação dentro do cenário do

desenvolvimento Sustentável. ” (IPCC, 2014, p.vii, tradução nossa)

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2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 35

2.1.3. Acordos Ambientais na Década de 1980

Na década de 1980 foram celebrados importantes acordos ambientais

multilaterais, sendo os principais os que se seguem (PNUMA, 2004a):

1982: Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM);

1985: Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada

de Ozônio;

1989: Convenção da Basiléia para o Controle de Movimentos

Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e sua Eliminação.

Destes, ressaltamos o Protocolo de Montreal, em vigor desde 1989, e adotado

por 197 estados (MMA, 2015a) – considerado exemplo de acordo internacional bem-

sucedido. Seu objetivo é a eliminar da fabricação e uso dos CFCs e outras substâncias

que contribuem para a depleção da camada de ozônio. No Brasil, o Protocolo foi

promulgado através do Decreto 99.280, de 06 de junho de 1990 (BRASIL).

2.1.4. A Década de 90 e a Cúpula da Terra

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento que

se realizou no ano de 1992 na cidade do Rio de Janeiro ficou conhecida como Cúpula

da Terra, ou apenas, ECO-92. Com o comparecimento de representantes de 176

governos, 100 chefes de estado (contra 2 da Conferência de Estocolmo) e mais de

10.000 delegados e 1.400 ONGs, pode-se dizer que se trata da maior reunião já

ocorrida, tendo gerado impacto em boa parte dos países participantes e que resultou

em pelo menos 07 grandes resultados (PNUMA, 2004a):

Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (contendo 27

princípios);

Agenda 21 – um plano de ação para o meio ambiente e o desenvolvimento

no século XXI;

Duas grandes convenções internacionais – a Convenção-Quadro das

Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e a Convenção sobre

Diversidade Biológica (CDB);

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Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS);

Acordo para negociar uma convenção mundial sobre a desertificação; e

Declaração de Princípios para o Manejo Sustentável de Florestas.

A Agenda 21 (MMA, 2015b), com 40 capítulos, tem suas recomendações

relacionadas ao manejo ambiental divididas em 04 áreas: questões sociais e

econômicas, conservação e manejo dos recursos, fortalecimento do papel dos

grandes grupos, meios de implementação do programa (PNUMA, 2004a). É de

extrema importância mundial, tendo resultado em diversos programas mundiais e no

desenvolvimento de Agendas 21 locais (no plano nacional e municipal). O Ministério

do Meio Ambiente a define como “um instrumento de planejamento para a construção

de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos

de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica” (CÂMARA DOS

DEPUTADOS, 1995).

2.1.5. Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC

– United Nations Framework on Climate Change Convention) foi a principal peça

resultante da ECO-92, tendo origem na 2ª Conferência Mundial sobre o Clima, em

1990, com objetivo de elaborar políticas e estabelecer um Sistema Global de

Observação do Clima. O principal objetivo é que se promova a estabilização dos gases

de efeito estufa de origem antrópica em um nível seguro que não interfira com o clima

do planeta (PNUMA, 2004a). O Brasil foi o primeiro país a assinar a Convenção, a

qual estabelece o princípio da responsabilidade comum e os seguintes compromissos

(MMA, 2015c):

Elaborar inventários nacionais de emissões de gases de efeito estufa;

Implementar programas nacionais e/ou regionais com medidas para

mitigar a mudança do clima e se adaptar a ela;

Promover o desenvolvimento, a aplicação e a difusão de tecnologias,

práticas e processos que controlem, reduzam ou previnam as emissões

antrópicas de gases de efeito estufa;

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 37

Promover e cooperar em pesquisas científicas, tecnológicas, técnicas,

socioeconômicas e outras, em observações sistemáticas e no

desenvolvimento de bancos de dados relativos ao sistema do clima;

Promover e cooperar na educação, treinamento e conscientização pública

em relação à mudança do clima.

2.1.6. Protocolo de Quioto

Foi o Protocolo de Quioto (MMA, 2015d), tratado complementar à UNFCCC, que

estabeleceu metas reais de redução das emissões de GEE para os países

desenvolvidos (ou Países do Anexo I) de pelo menos 5% abaixo dos níveis de 1992.

Os países não desenvolvidos, embora não tivessem metas quantificadas, deveriam

implementar medidas para limitar o crescimento de suas emissões contando com que

lhes fosse dado acesso à tecnologia e recursos financeiros. Os Estados Unidos,

considerados maior poluidor, tomaram a posição de não ratificar o protocolo.

Foram previstos 03 mecanismos com o fim de auxiliar os países desenvolvidos

no cumprimento de suas metas:

Comércio de emissões;

Implementação Conjunta; e

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) – este último também se

aplica aos países Não-Anexo I.

Os gases de estufa regulados pelo protocolo de Quioto (FGVCes e WRI, [20--])

são os seguintes:

Dióxido de Carbono (CO2);

Metano (CH4);

Óxido Nitroso (N2O);

Hexafluoreto de Enxofre (SF6);

Hidrofluorcarbonos (HFCs);

Perfluorcarbonos (PFCs)

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2.1.7. MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

Frondizi, em “O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: Guia de Orientação”

(2009), nos introduz ao conceito do MDL, originado a partir de proposta brasileira para

a criação de um Fundo de Desenvolvimento Limpo, que seria formado a partir de

contribuições financeiras daqueles países que não cumprissem com suas metas de

redução de emissões de GEE – tal recurso seria então destinado aos países em

desenvolvimento para aplicação em projetos. A proposta não foi aprovada, no entanto,

derivou-se no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Este consiste em que países

em desenvolvimento implementem projetos que resultem em benefícios ambientais

(redução de emissões ou remoção de CO2), que se transformam em ativos financeiros

transacionáveis, as chamadas Reduções Certificadas de Emissão (RCEs), e que

podem ser adquiridas pelos países do Anexo I como auxílio ao cumprimento de suas

metas de redução. Em valores quantificáveis, um RCE equivale a uma tonelada de

dióxido de carbono equivalente, cujo cálculo se faz conforme seu GWP (Global

Warming Potential, ou Potencial de Aquecimento Global.

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, ou MDL, é assim o único mecanismo

que permite que os países do Anexo I possam abater parte de suas metas de redução

através da aquisição RCEs.

Os projetos de MDL, que podem ser desenvolvidos por entidades públicas,

privadas e parcerias público-privadas, devem envolver um ou mais gases dentre os

previstos no Anexo A do Protocolo de Quioto, e estar relacionados aos setores/fontes

de atividades, conforme listados no Quadro 1, como completa Frondizi (2009).

Quadro 1 – Setores e Fontes Principais Geradoras de Gases de Efeito Estufa.

Setores/ Atividades Fontes Gases

Energia Queima de combustíveis Setor energético Indústrias de transformação e de construção Transporte Outros setores Emissões fugitivas de combustíveis Combustíveis sólidos Petróleo e gás natural Outros

Dióxido de carbono (CO2)

Óxido nitroso (N2O)

Metano (CH4)

Hexafluoreto de enxofre (SF6)

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Continuação Quadro 1

Setores/ Atividades Fontes Gases

Processos Industriais Produtos minerais Indústria química Produção de metais Outras produções Produção de halo carbonos e hexafluoreto de enxofre Consumo de halocarbonos e hexafluoreto de enxofre Outros

Dióxido de carbono (CO2) Metano (CH4) Óxido nitroso (N2O) Hidrofluorcarbonos (HFCs) Perfluorcarbonos (PFCs) Hexafluoreto de enxofre (SF6)

Uso de Solventes e Outros Produtos

- Hidrofluorcarbonos (HFCs) Perfluorcarbonos (PFCs) Hexafluoreto de enxofre (SF6) Dióxido de carbono (CO2) Óxido nitroso (N2O)

Agricultura Fermentação entérica Tratamento de dejetos Cultivo de arroz Solos agrícolas Queimadas prescritas de savana Queima de resíduos agrícolas Outros

Dióxido de carbono (CO2) Metano (CH4) Óxido nitroso (N2O)

Resíduos Metano (CH4) Dióxido de carbono (CO2) Óxido nitroso (N2O)

Fonte: Frondizi, pp 25-26, 2009.

2.1.8. O Empenho pelo Meio Ambiente no Século XXI

Embora ainda haja muitas incertezas sobre o futuro, a partir do século XXI a

conscientização ambiental passou a dominar o cenário ambiental e a estar mais

presente na vida do cidadão comum, que passou a ouvir com mais frequência termos

como desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, aquecimento global. Pela

primeira vez (PNUMA, 2004a), três órgãos da ONU e o setor privado trabalharam em

conjunto para o estabelecimento do Pacto Global: PNUMA, Organização Internacional

do Trabalho – OIT, e o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os

Direitos Humanos, no qual os princípios dos direitos humanos, leis justas do trabalho

e responsabilidade ambiental passaram a ser abordados em um mesmo acordo.

Infelizmente, apesar de uma série de cúpulas, encontros, conferências e

acordos, as Conferências das Partes, ou COPs, normalmente apresentam resultados

ou acordos com poucos avanços. A COP (United Nations, 2015a) é o órgão supremo

decisório no âmbito da Convenção, e sua tarefa chave é revisar os comunicados

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nacionais e os inventários de emissão de GEE submetidos pelas partes. As reuniões

acontecem anualmente, ou em outro período, se assim definido. A primeira COP

aconteceu em Berlim, em 1995. A próxima COP, de número 21, ocorrerá em Paris, no

ano de 2015, e tem como objetivo ratificar as decisões tomadas pelo G7 em junho de

2015 quanto às metas de redução das emissões até 2100, incluindo-se a mobilização

(COP21, 2015a) de 100 bilhões de dólares/ano a partir de 2020 como parte do Fundo

para o Clima Verde, criado durante a COP 16 (United Nations, 2015b), bem como o

envolvimento dos países desenvolvidos e não desenvolvidos em um protocolo,

instrumento ou acordo com força legal a fim de se alcançar a meta para que a

temperatura no planeta não suba mais do que 2°C (COP21, 2015b).

Diversas discussões e reuniões entre os países tem ocorrido líderes, chefes de

estados, ONGs e até mesmo empresários para que sejam definidas metas para

apresentação. Segundo o Observatório do Clima (2015a), o Brasil, em reunião entre

a presidente brasileira Dilma Roussef e a chanceler alemã Angela Merkel, assumiu os

compromissos de eliminar os gases de efeito estufa da economia até o fim do século

XXI e restaurar 12 milhões de hectares de florestas. Apesar disso, até o momento não

foi definido um teto para as emissões do país até 2030, como esperado de todos os

países que participarão da COP21. As metas apresentadas pelos demais países, até

o momento, segundo avaliação do Idesam (Instituto de Conservação e

Desenvolvimento Sustentável do Amazonas), ainda são incapazes de limitar o

aumento da temperatura da terra em até 2°C, como demonstra o gráfico da Figura 2

(OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2015b).

Figura 2 – Emissões globais e metas dos países para 2020, em bilhões de teqCO2. Fonte: Adaptado de Observatório do Clima, 2015b.

49

14,9017

0 10 20 30 40 50 60

Emissões globais em 2010

Emissões esperadas para 2030

Emissões globais e metas dos países para 2030 em bilhões de teqCO2

Limite global de emissões

para meta de 2°C

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2.2. As Mudanças Climáticas e as Políticas Públicas Brasileiras

Esta seção apresenta as principais políticas públicas que vem sendo

desenvolvidas no Brasil com foco nas mudanças do clima. Os instrumentos, planos,

resoluções e leis são diversos, razão pela qual selecionamos aqueles de maior

relevância e interesse ao desenvolvimento deste trabalho.

2.2.1. PNMC – Plano Nacional sobre Mudança do Clima

O Decreto 6.263, de 21 de novembro de 2007 instituiu, em caráter permanente,

a criação do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), sendo sua

responsabilidade o Plano Nacional sobre a Mudança do Clima (PNMC), bem como a

proposição de ações prioritária no curto prazo. Foi decretado, além disso, que a versão

preliminar do PNMC deveria ser elaborada até 30 de abril de 2008.

O país, segundo o PNMC (Brasil, 2008), não possui obrigações quantificadas

para a redução das emissões de GEE dentro do UNFCCC (Convenção-Quadro das

Nações Unidas para as Mudanças Climáticas) em função de seu histórico de baixas

emissões, quando comparado a outros países do mundo. No entanto, a Lei 12.187,

de 29 de dezembro de 2009 que institui a Política Nacional de Mudança do Clima, em

seu artigo 12, estabelece que:

“Para alcançar os objetivos da PNMC, o País adotará, como

compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases

de efeito estufa, com vistas em reduzir entre 36,1% (trinta e seis inteiros e um

décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove décimos por cento)

suas emissões projetadas até 2020” (Brasil, 2009).

Segundo MMA (2015e), atualmente, são nove planos setoriais sendo

implementados: Amazônia Legal, cerrado, agricultura, energia, siderurgia, indústria,

transporte e mobilidade urbana, mineração e saúde.

A Figura 3 confronta as emissões do Brasil com a de outros países

desenvolvidos ou emergentes, notadamente China, Índia, EUA e a Comunidade

Europeia (CE) apresentada de forma unificada. Quando avaliamos as emissões por

habitantes, o Brasil fica atrás apenas da índia, o que pode ser facilmente explicado

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pela alta população deste país. É notável como, à exceção dos EUA, os países com

maior população têm emissões mais baixas. No entanto, quando avaliamos as

emissões por km², o Brasil é o país com menos emissões, devido em parte às suas

dimensões continentais – o que se reflete em outros países de dimensões similares,

e que contrasta fortemente com as emissões do Japão, de dimensões bastante

reduzidas.

Figura 3 – Gráficos comparativos de emissões per capita e por área. Fonte: Brasil, p.6, 2008.

Embora não seja a existência de cooperação internacional o elemento definidor

das ações do Brasil, o PNMC ressalta que o “fortalecimento de apoio financeiro e

tecnológico em benefício dos países em desenvolvimento representa um

compromisso dos países desenvolvidos”, o que já se prevê no UNFCCC

Quadro 2 – Objetivos específicos do PNMC.

I Fomentar aumentos de eficiência no desempenho dos setores da economia na busca constante

do alcance das melhores práticas;

II Buscar manter elevada a participação de energia renovável na matriz elétrica, preservando

posição de destaque que o Brasil sempre ocupou no cenário internacional;

III Fomentar o aumento sustentável da participação de biocombustíveis na matriz de

transportes nacional e, ainda, atuar com vistas à estruturação de um mercado internacional de

biocombustíveis sustentáveis;

IV Buscar a redução sustentada das taxas de desmatamento, em sua média quadrienal, em todos

os biomas brasileiros, até que se atinja o desmatamento ilegal zero;

V Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal no Brasil, até 2015;

VI Fortalecer ações intersetoriais voltadas para redução das vulnerabilidades das populações

VII Procurar identificar os impactos ambientais decorrentes da mudança do clima e fomentar o

desenvolvimento de pesquisas científicas para que se possa traçar uma estratégia que minimize

os custos socioeconômicos de adaptação do País.

Fonte: Elaborado a partir de Brasil, 2008. Grifo nosso.

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É destacado o compromisso com a redução da desigualdade social e o

crescimento da renda nacional em uma dinâmica diferente da implementada em

outros países, incidindo em duas vertentes: a primeira delas, relacionada às

mudanças de uso da terra e suas consequentes emissões, e a segunda com o objetivo

de que os recursos naturais sejam utilizados de maneira cada vez mais eficiente.

Desta forma, são delineados sete objetivos específicos a serem perseguidos,

apresentados no Quadro 2.

Adicionalmente, o PNMC apresenta, conforme MMA (2015f) algumas metas

específicas que devem se reverter em benefícios sociais, ambientais e redução das

emissões:

Reduzir o índice de desmatamento anual da Amazônia (redução de 80%

até 2020 de acordo com o Decreto nº 7390/2010);

Ampliar em 11% ao ano nos próximos dez anos o consumo interno de

etanol;

Dobrar a área de florestas plantadas, para 11 milhões de hectares em

2020, sendo 2 milhões de ha com uso de espécies nativas;

Troca de 1 milhão de geladeiras antigas por ano, em 10 anos;

Aumento da reciclagem de resíduos sólidos urbanos em 20% até 2015;

Aumento da oferta de energia elétrica de cogeração, principalmente a

bagaço de cana-de-açúcar, para 11,4% da oferta total de eletricidade no

país, em 2030;

Redução das perdas não-técnicas na distribuição de energia elétrica à

taxa de 1.000 GWh por ano, nos próximos 10 anos.

E como o Brasil está evoluindo no atendimento aos objetivos? Selecionamos os

dois objetivos que permitem uma análise direta e quantitativa de seu desempenho, e

que podem ser diretamente relacionados com o ambiente urbano:

Participação da energia renovável na matriz elétrica (II);

Aumento da participação de biocombustíveis na matriz de transportes

nacionais (III).

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2.2.1.1. Energia renovável na matriz elétrica

O objetivo II ressalta a necessidade de que as energias renováveis possuam

participação elevada na matriz elétrica destacando o ano do documento quando 89%

da energia produzida proviam de fontes renováveis. Apesar disso, nos últimos anos,

este percentual vem se reduzindo, e as taxas de emissões do setor aumentando.

O sistema de produção e distribuição de energia elétrica no país é quase que

inteiramente integrado em um sistema único, o SIN, ou Sistema Interligado Nacional,

que é formado por empresas geradoras de energia das regiões Sul, Sudeste, Centro-

Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Segundo o ONS – Operador Nacional do

Sistema (2015), apenas 1,7% da energia gerada no país não se encontram

interligadas ao SIN.

Figura 4 – Produção de energia primária. Fonte: EPE, p.21, 2014.

Segundo dados do Ministério de Ciência e Tecnologia (2015) relativos ao SIN, o

Brasil aumentou seu fator de emissão na produção de energia de 0,0323 para 0,1355

tCO2/MWh, ou seja, 320%, entre 2006 e 2014, indo na contramão dos demais países

que trabalham na implementação de medidas para a redução das emissões e também

do objetivo do PNMC.

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Figura 5 – Produção de energia primária. Fonte: EPE, p.21, 2014.

As Figura 4 e Figura 5 mostram os dados do Balanço Energético Nacional (BEN)

2014: Ano Base 2013 (EPE, 2014), em que podemos verificar a redução da

participação das fontes renováveis na produção de energia primária entre 2004 e

2013. Enquanto na primeira tabela podemos avaliar a produção em toneladas

equivalentes de petróleo (tep), na segunda vemos os percentuais de participação.

É notável que praticamente todas as fontes tiveram um aumento absoluto de

produção, à exceção do carvão metalúrgico, urânio e lenha. Cabe destacar, no

entanto, como o percentual de participação da energia hidráulica na oferta primária do

país decresceu de 14,5% em 2004 para 13% em 2013. O relatório síntese do BEN

2014 (EPE, 2014a) aponta o cenário hidrológico não favorável como explicação para

a redução da participação desta fonte de 84,5% em 2012 para 79,3 em 2013, apesar

do crescimento de 1.724 MW.

Quando analisamos o uso da energia elétrica, destaque do objetivo aqui

analisado do PNMC, vemos que a energia elétrica hidráulica reduziu sua participação

de 76,9% em 2012 para 70,6% em 2013, como pode ser observado na Figura 6. A

energia eólica cresceu de 0,9% para 1,1%, um aumento de 30,2%, que pode ser

observado na Figura 7.

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 46

Figura 6 – Matriz elétrica brasileira 2012-2013. Fonte: EPE, p.29, 2014a.

Além disso, a participação total das energias renováveis na Matriz Elétrica

Brasileira (EPE, 2014a) decresceu de 84,5% em 2012 para 79,3% em 2013. Apesar

da queda, é um cenário ainda positivo quando comparado ao restante do mundo, no

qual o percentual de renováveis representa 20,3% do total. Por outro lado, a

participação da energia térmica teve um aumento de 11,4% no mesmo período, o que

explica o aumento da taxa de emissões de GEE.

Figura 7 – Evolução da geração eólica (em GwH). Fonte: EPE, p.33, 2014a.

2.2.1.2. Biocombustíveis na matriz de transportes

O objetivo III destaca a possibilidade de aumento médio anual do uso de etanol

de 11% através de incentivos. De fato, segundo Envolverde (2014) em 2013, foi

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2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

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determinado o aumento de 20% para 25% da proporção de etanol na mistura com a

gasolina, e mais uma vez (PORTAL BRASIL, 2015), passando em março de 2015 a

27% do total conforme determinado pela Lei nº 13.033, de 25 de setembro de 2014,

que permite que este alcance até 27,5%.

Figura 8 – Percentual das fontes de combustível no setor de transportes. Fonte: EPE, p.82, 2014.

Figura 9 – Percentual das fontes de combustível no setor de transportes. Fonte: EPE, p.82, 2014.

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2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

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O BEN 2014 mostra na Figura 8 que de 2004 para 2014, a participação dos

biocombustíveis aumento de 0% para 2,4%, enquanto do álcool etílico (ou etanol), de

12,5 para 14,3% (EPE, 2014).

A evolução do consumo dos diferentes tipos de combustíveis no setor de

transporte pode ser verificada também na Figura 9 desde 1975, na qual vemos o

crescimento, ainda que tímido, do biodiesel, e a variação do álcool, que atingiu seus

maiores picos em 1989 e 2009. Da mesma forma, vê-se a tendência invertida e

proporcional da evolução do consumo de gasolina e álcool que se estabeleceu desde

2006 aproximadamente.

2.2.1.3. Evolução global das emissões do país

As emissões totais de GEE atingiram a marca de 459 MtCO2-eq em 2013 (EPE,

2014), em sua maior parte devido ao setor de transporte, seguido de outros setores

agrupados (agropecuário, serviços, energético, elétrico e emissões fugitivas),

finalizando com a indústria e por último, residências, conforme vemos na Figura 10.

De 2012 para 2013 o aumento das emissões foi da ordem de 7%.

Figura 10 – Emissões totais (2013), em Mt CO2. Fonte: EPE, p.37, 2014a.

Os dados apresentados no documento Estimativas Anuais de Emissões de

Gases de Efeito Estufa no Brasil, publicado pelo MCT (2013) traz a evolução das

emissões no Brasil para cinco setores (energia, processos industriais, agropecuária,

mudança de uso da terra e florestas, e tratamento de resíduos), que podemos

observar no gráfico da Figura 11 e na tabela da Figura 12. O cálculo considerou a

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2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 49

métrica (Quadro 3) do Potencial de Aquecimento Global (GWP – Global Warming

Potential) de cada um dos 6 gases do Protocolo de Quioto como fator de ponderação

para se chegar à unidade comum.

Quadro 3 – Métrica de equivalência do Potencial de Aquecimento Global (GWP). Gás Símbolo GWP

Dióxido de carbono CO2 1

Metano CH4 21

Óxido nitroso N2O 310

Hidrofluorcarbonos HFC-23 11.700

HFC-125 2.800

HFC-134a 1.300

HFC-143a 3.800

HFC-152a 140

Perfluorcarbonos CF4 6.500

C2F6 9.200

Hexafluoreto de enxofre SF6 23.900

Fonte: MCT, p.10, 2013.

Percebe-se a grande variação das emissões referentes ao uso da terra e

florestas, em grande parte devido ao desmatamento, cuja variação foi de -40,1% entre

1995 e 2005 (e destacamos aqui a variação anormal de 1995, que é o ano com a mais

alta emissão deste setor), e de -76,1% entre 2005 e 2010, o que contribui

imensamente para que o Brasil possa caminhar em direção ao atendimento das metas

de redução propostas.

Figura 11 – Emissões brasileiras de GEE. Período 1990-2010 em CO2eq. Fonte: MCT, p.11, 2013.

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Por outro lado, ao analisarmos o setor de energia, o relatório em questão nos

apresenta o aumento de 41,5% no primeiro período e de 21,4% no segundo período

– e aqui cabem as razões já apresentadas na seção 2.2.1.1. O setor de tratamento de

resíduos também apresentou alta 23,9% e 16,4% em cada um dos períodos,

consecutivamente.

Figura 12 – Emissões brasileiras de GEE em termos de setores. 1990-2010 em CO2eq. Fonte: MCT, p.11, 2013.

Já a tabela apresentada na Figura 13, nos traz os valores (em Tg CO2eq) e

variação das emissões por setor e para cada um dos gases. O setor de energia, que

apresentou o maior aumento, é também o que tem as maiores emissões de CO2,

analisadas em Tg CO2eq, seguido das emissões de CH4 da Agropecuária, CO2 de

Uso da Terra e Florestas e N2O da Agropecuária.

Figura 13 – Emissões brasileiras de GEE – setores e gases. 1990-2010 em CO2eq. Fonte: MCT, p.12, 2013.

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O mesmo relatório nos informa que que o Decreto 7.390/2010 estimou a projeção

das emissões de GEE em 3.236 milhões de toneladas de CO2eq para o ano de 2010,

pelo que seria necessário reduzir as emissões entre 1.168 e 1.259 milhões de

toneladas de CO2eq para o cumprimento do compromisso nacional voluntário, o

equivalente a 36,1% a 38,9%. Embora ainda estejamos acima da meta, o gráfico da

Figura 14 nos mostra como estamos muito próximo dela, em especial devido às

reduções devido ao Uso da Terra e Florestas.

Figura 14 – Decreto nº 7390 e Estimativas - total. Fonte: MCT, p.18, 2013.

2.2.1.4. Compromisso de comunicação

Segundo Brasil (2008), como signatário da Convenção-Quadro das Nações

Unidas para Mudança do Clima (UNFCCC) o país deve periodicamente elaborar e

publicar seu inventário de gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de

Montreal. O primeiro inventário foi submetido no ano de 2004 para o ano base de

1994, incluindo ainda as estimativas para os anos de 1990 a 1993. Foram

consideradas apenas as emissões antrópicas diretas, além das estimativas de

emissão dos GEE indiretos, como os óxidos de nitrogênio (NOx), o monóxido de

carbono (CO) e outros compostos orgânicos voláteis não metânicos (NMVOCs).

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2.2.1.5. Tecnologias e Práticas de Mitigação

O PNMC (Brasil, 2008) apresenta as tecnologias e práticas de mitigação mais

relevantes para sete setores, conforme Quadro 4.

Quadro 4 – Tecnologias e Práticas de Mitigação.

Setores Tecnologias e Práticas de Mitigação

Energia Melhoria da eficiência da oferta e distribuição de energia, substituição de combustíveis

mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por combustíveis

de fontes renováveis, e captação e armazenamento de carbono.

Transportes Utilização de veículos eficientes e modernização de frota, expansão do uso de sistemas

ferroviários e aquaviários, e incentivos aos transportes coletivos em substituição aos

particulares.

Edificações Utilização de equipamentos eficientes e de energia solar, além da adoção de um

sistema de planejamento integrado que permita ganhos de eficiência no uso da energia.

Indústria Utilização de equipamentos eficientes, adoção de práticas de reciclagem e de

substituição de materiais, controle das emissões de gases, e captação e

armazenamento de carbono.

Agrícola Manejo adequado para aumentar o armazenamento de carbono no solo, recuperação

de áreas degradadas, intensificação da pecuária bovina, melhorias em cultivos e na

fertilização para reduzir emissões de CH4 e N2O, e estabelecimento de culturas

energéticas.

Silvicultura/

Florestas

Redução do desmatamento, estímulo ao manejo florestal sustentável, ao florestamento

e reflorestamento, e estímulo ao uso de produtos e subprodutos florestais, obtidos em

bases sustentáveis, para geração de energia.

Resíduos Recuperação do metano de aterros sanitários, incineração com recuperação

energética, e reciclagem.

Fonte: Preparado pelo autor a partir de Brasil, 2008, pp. 27-28.

2.2.2. Planos Setoriais de Mudança do Clima

O desenvolvimento de planos setoriais para mudança do clima foi previsto no

parágrafo único do art. 11 da Lei 12.187/2009 (Brasil) para os seguintes setores:

Indústria de Transformação e Bens de Consumo Duráveis, Indústria Química Fina,

Indústrias de Base, Papel e Celulose, Construção Civil, Serviços de Saúde, Indústria

de Mineração, Transporte Público Urbano e Sistemas Modais de Transporte

Interestadual de Cargas e Passageiros.

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Dentre estes, são de interesse para este estudo os planos do setor da

Construção Civil, ainda não elaborado, e sobre o qual não se encontrou nenhuma

informação, e o referente a Transporte e Mobilidade Urbana, o qual abordaremos

detalhadamente a seguir.

2.2.2.1. Plano Setorial de Transporte e de Mobilidade Urbana para Mitigação

da Mudança do Clima (PSTM)

O plano setorial em questão, de responsabilidade compartilhada entre o

Ministério dos Transportes e o Ministério das Cidades, apresenta duas áreas, sendo

a segunda, a que trata de mobilidade urbana, a de nosso interesse. O objetivo é

promover modificações na matriz de deslocamento dos centros urbanos, de forma que

o transporte coletivo seja representado por um maior percentual da divisão de modais,

e com isso reduzir as emissões de GEE.

Para se chegar a esta mudança nos modais, MT e MCid (2013) identificou e

dividiu as medidas em:

i. Implantação de infraestrutura para a mobilidade urbana, por meio de

projetos de transporte público coletivo, que possam promover o aumento

de sua participação no conjunto de deslocamentos da população;

ii. Ações relacionadas ao planejamento urbano associado à política de

mobilidade, por meio da descentralização das atividades essenciais pela

cidade ou do adensamento populacional e promoção de atividades de

serviço, lazer ou estudo junto aos eixos de transporte público, diminuindo

a geração de viagens motorizadas ou promovendo a substituição do

transporte individual pelo coletivo; e

iii. Implantação de instrumentos de gestão da mobilidade urbana, por meio

da adoção de instrumentos regulatórios e econômicos que promovam o

transporte público e ao mesmo tempo desestimulem o uso crescente do

transporte individual motorizado.

Cabe destacar a ênfase que o PSTM faz, na seção de ações para o

aprimoramento ao plano, ao instrumento conhecido como TOD (Transport Oriented

Development, ou Desenvolvimento Orientado pelo Transporte) no planejamento

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urbano de nossas cidades, através da promoção de oportunidades de moradia, lazer,

serviços e comércio – o que resulta em uma ocupação com uso do solo misto ao longo

dos principais eixos de transporte, aumento a acessibilidade a eles e reduzindo a

necessidades de viagens motorizadas por transporte individual. Esta possibilidade

está prevista no Estatuto das Cidades e deve ser combinada a outras medidas de

incentivo ao transporte não motorizado, como bicicletas e pedestres, além da

aplicação de medidas moderadoras de tráfego (traffic calming).

Dentre outras ações de aprimoramento, são listadas:

Adoção de instrumentos de gestão da mobilidade urbana;

Elaboração de estratégia para mudança de matriz energética do

transporte coletivo;

Elaboração e implantação dos planos de mobilidade urbana; e

Implantação de sistema cicloviária.

2.3. Políticas e Inventários dos Municípios de São Paulo e Rio de Janeiro

Para além das políticas públicas nacionais, estados e municípios brasileiros têm

desenvolvido políticas e planos específicos. Considerando a escala de foco deste

trabalho, e representatividade, apresentamos aqui os cenários das cidades de São

Paulo e Rio de Janeiro, as duas maiores capitais brasileiras.

É importante que se ressalte que o propósito dos inventários estaduais

ou mesmo de cidades, como é o caso do inventário da Cidade do Rio de

Janeiro (ano base 1999) e do Município de São Paulo (ano base 2003), não

se destina a ter um valor somado para compor um inventário nacional mesmo

que sua prática estivesse disseminada no País. Questões de ordem

metodológica e mesmo de ordem gerencial impedem que tal prática seja

adotada. A relevância desses inventários consiste no aprimoramento do

conhecimento: da dinâmica econômica que produz gases de efeito estufa,

das fontes de emissão, dos sumidouros, das oportunidades de mitigação, e

da elaboração de políticas locais. (Brasil, 2008, p.20)

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2.3.1. O Município de São Paulo

O primeiro inventário do Município de São Paulo foi emitido no ano de 2005 para

o ano de 2003 pelo CentroClima (Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente

e Mudanças Climáticas) da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo

inventariado as emissões de CO2 e CH4 as seguintes fontes:

Uso de Energia (geração de eletricidade, indústrias, transporte individual,

transporte coletivo e de carga, transporte aeroviário, residências e

comércio, outros);

Mudança de Uso do Solo e Florestas;

Setor Agropecuário;

Disposição Final de Resíduos Sólidos; e

Tratamento de Esgotos Domésticos e Comerciais e de Efluentes

Industriais

O inventário concluiu que o Uso de Energia é a principal fonte de emissões, com

76,14% do total, seguido da Disposição de Resíduos Sólidos, com 23,48%, totalizando

99,62%. Mudança de Uso do Solo representou 0,33%, enquanto Tratamento de

esgotos Domésticos e Comerciais e de Efluentes Industriais contabilizou 0,05%. A

Agropecuária respondeu por menos de 0,01% do total. A distribuição das emissões

pode ser vista no gráfico da Figura 15.

Figura 15 – Distribuição emissões GEE - Município de São Paulo, 2003, em Gg2 Co2eq. Fonte: CentroClima/Coppe/UFRJ, p. 9, 2005.

2 Gg = kt = 1.000 toneladas

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Figura 16 – Distribuição emissões GEE - combustível fóssil, 2003, em Gg3 Co2eq. Fonte: CentroClima/Coppe/UFRJ, p. 11, 2005.

Das emissões resultantes do Uso de Energia, 88,78% se devem ao uso de

combustíveis fósseis, enquanto energia elétrica refere-se a uma participação de

11,22%. Os cálculos incluem a importação de energia do Sistema Elétrico Interligado

(Escopo 2), e não apenas aquela produzida nos limites geográficos. Passando à

análise do consumo de combustíveis, temos que o uso de gasolina automotiva

corresponde a 35,7% e o óleo diesel a 32,6%. Os valores absolutos de cada

combustível são mostrados no gráfico da Figura 16.

O consumo de combustíveis deve então ser analisado em sua distribuição pelos

setores econômicos da cidade, sendo que 78,54% correspondem aos Transportes,

9,68% ao setor Residencial e 7,17% ao Industrial, conforme vemos no gráfico da

Figura 17.

Quanto às emissões devido à Mudança de Solo e Uso da Terra, a maior parte

se refere ao desmatamento de florestas naturais (55,77%) e o desmatamento de

campos corresponde a 25%. Nas emissões do setor agropecuário, a fermentação

entérica responde pela maior parte (92.31%).

3 Gg = kt = 1.000 toneladas

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Figura 17 – Contribuição dos Setores Socioeconômicos nas emissões de do Uso de Energia pelo Município de São Paulo, em 2003 (%).

Fonte: CentroClima/Coppe/UFRJ, p. 12, 2005.

Já com conhecimento do padrão de emissões do município, no ano de 2009 foi

promulgada a Lei 14.933, que instituiu a Política de Mudança do Clima, e que definiu

uma meta de redução de 30% das emissões antrópicas em relação ao ano base de

2005 quando se realizou o inventário municipal. O Quadro 5 compila as principais

estratégias de mitigação e adaptação selecionadas pelo autor para cada um dos

setores-chave.

Quadro 5 – Estratégias de Mitigação e Adaptação para o Município de São Paulo.

Setores Estratégias de Mitigação e Adaptação

Transportes Gestão e planejamento

- Sistemas inteligentes de tráfego para reduzir congestionamentos e consumo;

- Medidas estruturais e operacionais e áreas afetadas por polos geradores de

tráfego;

- Entrepostos e terminais multimodais de carga instituindo redes capilares de

distribuição;

- Regulamentação da movimentação de cargas com restrições à área central;

- Restrição de veículos ao centro, excluída a modalidade pedágio;

- Restrição de veículos.

Modais

- Ampliação do transporte público com menor emissão e ênfase em trens, metrôs,

trólebus, e outros que usem combustíveis renováveis;

- Infraestrutura e medidas operacionais para estímulo à bicicleta;

- Corredores segregados e faixas exclusivas de ônibus e trólebus.

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Continuação Quadro 5

Setores Estratégias de Mitigação e Adaptação

Transportes Tráfego

- Faixas exclusivas para veículos com 2 ou mais ocupantes;

- Incentivo a programas de carona solidária e transporte compartilhado;

- Reordenamento e escalonamento de horários de atividades públicas e privadas.

Emissões

- Critérios de sustentabilidade e mitigação de GEE para veículos da frota pública;

- Conservação e uso eficiente de energia nos sistemas de trânsito;

- Programa de manutenção e inspeção veicular para toda a frota de veículos;

- Interação com União e autoridades competentes para limitar as emissões de

transporte aéreo, com medidas operacionais, compensadoras e mitigadoras.

Energia - Incentivo à geração e energia descentralizada renovável;

- Eliminação dos subsídios a combustíveis fósseis e incentivos à geração de energia

renovável;

- Promoção e adoção de programas de eficiência energética e energias renováveis

em edificações, indústrias e transportes;

- Promoção e adoção de programas de rotulagem de produtos eficientes em energia

e clima;

- Incentivos fiscais e financeiros, por lei, para pesquisas em eficiência energética e

uso de energias renováveis em sistemas de conversão de energia;

- Eficiência energética e energias renováveis na iluminação pública.

Resíduos - Minimização de geração de resíduos urbanos, esgoto doméstico e efluentes

industriais;

- Reciclagem e reuso de resíduos urbanos (entulho de construção civil, poda, esgoto

e efluentes);

- Tratamento e disposição final de resíduos que promovam a redução de emissões

de GEE;

- Empreendimentos de grande porte e circulação de pessoas deverão instalar

equipamentos e programas de coleta seletiva como condicionante de

licenciamento;

- Redução progressiva de emissões dos sistemas de tratamento e gestão de

resíduos e esgotos sanitários;

- Desestímulo ao uso de sacolas plásticas ou não-biodegradáveis.

Saúde - Investigar e monitorar os fatores de risco à saúde e vida decorrente das mudanças

climáticas e implementar medidas de prevenção e tratamento;

- Campanhas de esclarecimento sobre doenças relacionadas à mudança do clima e

poluição veicular;

- Incentivar pesquisas que relacionem mudança do clima, poluição e saúde;

- Vigilância ambiental para detecção de sinais de efeitos biológicos do clima;

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Continuação Quadro 5

Setores Estratégias de Mitigação e Adaptação

Saúde - Programas de controle de doenças infecciosas sensíveis ao clima;

- Treinamento da defesa civil com sistemas de alerta para gerenciamento de

impactos sobre a saúde decorrentes do clima.

Construção - Novas edificações e reformas deverão obedecer a critérios de sustentabilidade,

eficiência energética, qualidade e eficiência de materiais;

- Eficiência energética e áreas verdes em edificações de habitação popular;

- Projetos e licitações de obras contratados pelo município devem conter exigência e

compromisso para uso apenas de madeira e subprodutos de origem legal;

Uso do Solo - Redução de deslocamentos através de melhor oferta de emprego e trabalho;

- Distribuição de usos e da intensidade de aproveitamento do solo de forma

equilibrada em relação à infraestrutura, aos transportes e ao meio ambiente;

- Estímulo à ocupação de área já urbanizada, dotada de serviços, infraestrutura e

equipamentos;

- Estímulo à reestruturação e requalificação urbanística e ambiental para melhor

aproveitamento de áreas dotadas de infraestrutura em processo de esvaziamento;

- Promover a requalificação de áreas habitacionais insalubres e de risco;

- Promover a recuperação de áreas de preservação permanente (como várzeas).

Uso do Solo - No licenciamento de empreendimentos, reservar área permeável sobre terreno

natural em tamanho mínimo equivalente ao estabelecido para a zona de uso;

- Programa de recuperação de áreas degradadas em áreas de proteção aos

mananciais, em áreas de preservação permanente e na Reserva da Biosfera;

- Arborização das vias públicas e a requalificação dos passeios públicos com vistas

a ampliar sua área permeável.

Disposições

finais da lei

- Publicar o segundo inventário de emissões por fontes e de remoções antrópicas

por sumidouros de gases de efeito estufa em seu território até o ano de 2010;

- Utilização de óleo diesel com teor máximo de enxofre inferior a 50 ppm (cinquenta

partes por milhão), a partir de 2009, com vistas ao alcance da meta de redução para

o nível de 10 ppm (dez partes por milhão), a partir de 2012;

- Programa obrigatório de coleta seletiva de resíduos no Município, bem como

promoverá a instalação de ecopontos, em cada um dos distritos da Cidade;

- Os programas, contratos e autorizações municipais de transportes públicos devem

considerar redução progressiva do uso de combustíveis fósseis, ficando adotada a

meta progressiva de redução de, pelo menos, 10% (dez por cento) a cada ano, a

partir de 2009 e a utilização, em 2018, de combustível renovável não-fóssil por

todos os ônibus do sistema de transporte público do Município.

Fonte: Preparado pelo autor a partir de São Paulo (cidade), 2009.

Segundo Rede Nossa São Paulo (2014), o balanço feito no ano de 2014

demonstrou, entretanto, a meta de redução de 30% das emissões, não foi alcançada,

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tendo, ao contrário, ocorrido um aumento de 4%. Adicionalmente, vários dos objetivos

específicos, estão abaixo do esperado. Entre eles, que até 2018, metade da frota de

ônibus deve estar rodando com combustível renovável não-fóssil. Em evento

promovido para discussão sobre o atendimento às metas, propôs-se a reativação do

Comitê de Mudança do Clima, paralisado, além da implementação do Plano Integrado

de Mobilidade Urbana e o incentivo às tecnologias limpas.

2.3.2. O Município do Rio de Janeiro

O Município do Rio de Janeiro publicou, no ano de 2010, seu inventário referente

às emissões de CO2, CH4 e N2O para o ano de 2005. Assim como para o município

de São Paulo, o inventário foi realizado pelo CentroClima da Coppe/UFRJ,

considerando-se as diretrizes de 2006 do IPCC, e adaptando-o às necessidades e

limites da cidade de forma que “denomina-se Inventário de Emissões dos Gases de

Efeito Estufa da Cidade do Rio de Janeiro e não, na Cidade do Rio de Janeiro, por

não incorporar as emissões que ocorrem nas fronteiras geográficas do município, mas

sim aquelas que ocorrem sob sua responsabilidade”. Os setores abrangidos pelo

inventário foram: Energia, Processos Industriais e Uso do Produto (IPPU), Agricultura,

Florestas e Outros Usos da Terra, e Resíduos.

Figura 18 – Emissões de GEE, por setor, da Cidade do Rio de Janeiro (2005) Fonte: CentroClima/Coppe/UFRJ, p. 47, 2011.

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A divisão das emissões da cidade do Rio de Janeiro, mostra a predominância do

setor de energia, com 73% do total, seguido do setor de resíduos, com 21%. IPPU e

AFOLU correspondem a 4% e 2%, respectivamente, conforme vemos no gráfico da

Figura 18.

Uma análise mais aberta e detalhada dos setores, nos permite identificar que o

Transporte Rodoviário é responsável pelas maiores emissões, com 39%, seguidos de

Resíduos Sólidos, com 14%. Esgoto Residencial, Comercial e Industrial, Transporte

Aéreo e o Residências/Comércio, respondem por 10%, 9% e 7%, respectivamente.

Figura 19 – Participação dos Setores nas Emissões de GEE (2005) Fonte: CentroClima/Coppe/UFRJ, p. 48, 2011.

Os principais resultados do inventário, apresentadas por SMAC/PREFEITURA

DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO e CENTROCLIMA/COPPE/UFRJ (2010).

• As emissões totais de gases de efeito estufa na cidade do Rio de Janeiro,

em 2005, foram de 13.269 mil t de CO2eq.

• O CO2 foi o gás de efeito estufa emitido em maior quantidade, tendo sido

responsável por 67% das emissões totais.

• As maiores parcelas das emissões líquidas de CO2 foram provenientes

dos setores Energia, 64%, e Resíduos, 31%.

• No Setor Energia, a atividade de transporte foi responsável por 65% e a

atividade industrial por 16% das emissões.

• O modal rodoviário representa 80% das emissões do setor de transporte,

refletindo a dependência do município em modais de transporte que não

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são eficientes em termos de consumo de energia nem em emissões de

GEEs, sendo claramente um ponto importante a ser trabalhado no

município.

• A gasolina foi a principal responsável (27%) por emissões de GEEs do

setor de transporte em 2005, o que reflete a grande dependência do

transporte individual no município.

• O modal ferroviário foi responsável pelo transporte de 20% dos

passageiros na cidade do RJ em 2005, mas suas emissões representaram

menos de 1% das emissões do setor.

• A eletricidade é a principal fonte de energia consumida no município (30%

do consumo energético), mas representa apenas 8% das emissões totais.

• O setor de resíduos foi responsável por 31% das emissões de GEE no

município. Destes, 77% foram referentes aos resíduos sólidos urbanos.

• No Setor Processos Industriais e Uso de Produtos (IPPU) foi responsável

por cerca de 3% das emissões do município em 2005. A produção de

alumínio, aço e metanol foram as principais emissoras de CO2, com

participações de 37%, 32% e 24% respectivamente.

• No setor Agricultura, Florestas e Outros Usos do Solo (AFOLU), a

conversão de florestas para outros usos foi responsável pela maior

parcela da emissão total de CO2, 92%, estando aí incluídas as remoções

de CO2 pela regeneração de áreas abandonadas e a mudança do estoque

de carbono nos solos.

• As emissões per capita da cidade, considerando-se a população carioca

de 6,1 milhões de habitantes foram, em 2005, de 2,17 t CO2eq por

habitante, com redução de 5,6% em relação às emissões per capta de

1998.

Foi no ano de 2011 que o Rio de Janeiro promulgou sua Política Municipal sobre

Mudança do Clima e Desenvolvimento Sustentável, que dispõe sobre o

estabelecimento de metas de redução de emissões antrópicas de gases de efeito

estufa para o Município do Rio de Janeiro (Lei 5.248, de 27 de janeiro de 2011). Foram

estabelecidas as seguintes metas tendo 2005 como ano-base:

8% de redução em 2012;

16% de redução em 2016;

20% de redução em 2020.

A política prevê ainda uma série de estratégias de mitigação, sendo que as mais

relevantes são apresentadas no Quadro 6.

Page 63: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 63

Quadro 6 – Estratégias de Mitigação e Adaptação para o Município do Rio de Janeiro.

Setores Estratégias de Mitigação e Adaptação

Resíduos - Redução da geração de resíduos urbanos, esgotos domésticos e efluentes

industriais;

- Reciclagem ou reutilização de resíduos urbanos, inclusive material de entulho, poda

de árvores, esgoto e efluentes;

- Tratamento e disposição final de resíduos com redução de GEE;

- Fomento a padrões sustentáveis de produção, comércio e consumo para o uso de

materiais com menor impacto ambiental e menor geração de resíduos;

- Geração de receitas e benefícios econômicos (e créditos de carbono), e a garantia

a adequada disposição final dos resíduos;

Resíduos - Criação de mecanismos de trabalho/renda para reciclagem e coleta de resíduos.

Transportes - Adequação da oferta de transporte coletivo e desestímulo ao transporte individual

motorizado;

- Racionalização e redistribuição da demanda de transporte pelo espaço viário,

integrando os diversos modais;

- Integração das modalidades de transporte e mobilidade urbana;

- Estímulo ao transporte não motorizado com infraestrutura e medidas operacionais

para estímulo à bicicleta;

- Melhora da fluidez do tráfego e diminuição dos picos de congestionamento;

- Substituição dos combustíveis fósseis por outros com baixo teor de carbono;

- Campanhas de incentivo ao uso racional do automóvel;

- Controle e monitoramento da frota de veículos;

- Reordenamento do espaço viário para incentivo ao transporte coletivo;

- Programa de Controle de Poluição Veicular;

- Interação com União e autoridades competentes para limitar as emissões de

transporte aéreo.

Energia - Incentivo à geração e energia descentralizada renovável;

- Eliminação dos subsídios a combustíveis fósseis e incentivos a geração de energia

renovável;

- Promoção e adoção de programas de eficiência energética e energias renováveis

em edificações, indústrias e transportes;

- Promoção e adoção de programas de rotulagem de produtos eficientes em energia

e clima;

- Incentivos fiscais e financeiros, por lei, para pesquisas em eficiência energética e

uso de energias renováveis em sistemas de conversão de energia;

- Eficiência energética e energias renováveis na iluminação pública.

Fonte: Preparado pelo autor a partir de Rio de Janeiro (cidade), 2011.

Mesmo sem uma análise detalhada, identifica-se facilmente que as políticas dos

dois municípios possuem várias estratégias idênticas ou similares.

Page 64: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

2. As Mudanças Climáticas e as Emissões de Gases de Efeito Estufa

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 64

A importância da política no município do Rio de Janeiro é visível em função da

visibilidade como sede de grandes eventos – Copa do Mundo de Futebol em 2014 e

Jogos Olímpicos de 2016, mas também por ser a cidade integrante do C40, uma rede

mundial de cidades comprometidas com a implementação de ações para o combate

às mudanças climáticas, cujo atual presidente, desde 2013 até 2016 é o prefeito do

Rio de Janeiro, Eduardo Paes (C40, 2015).

Page 65: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

“A ciência do clima, na escala planetária, rapidamente se transforma em algo extremamente complexo. Posto que o ar em eterno movimento está conectado às chuvas, nuvens, solo, oceanos, química, biologia, ecologia – tudo na verdade – a questão começa a abranger muitas e muitas disciplinas. ”

Per Espen Stoknes

Page 66: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 66

3. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AS CIDADES E COMUNIDADES DE BAIXO

CARBONO

3.1. Cidades, Comunidades e Mudanças Climáticas

Diante do atual cenário de um planeta urbano, cabe entender e visualizar de que

forma se deu a evolução da população nas áreas urbanas e rurais. Na Figura 20

podemos ver uma grande tendência de crescimento até 2050, quando se estima que

a população urbana ultrapasse os 6 bilhões, enquanto a população rural já estará

estável com pouco mais de 3 bilhões de pessoas – um mundo com mais de 9 bilhões

de seres humanos, e que, portanto, gera mais impactos ambientais se pensamos em

uma ocupação descontrolada dos espaços urbanos, bem como o atendimento às

necessidades mais básicas como alimentação, que impactam na ocupação do solo

gerando desmatamento para a obtenção de mais áreas agricultáveis, além dos

deslocamentos gerados, geração de efluentes, consumo de recursos e matérias-

primas, entre outros.

Figura 20 – População urbana e rural do mundo, 1950-2050. Fonte: UN-DESA, p.7, 2014.

Apesar de responsáveis por um consumo gigantesco de recursos naturais e

geração de resíduos de todos os tipos, as cidades ocupam apenas 2,5% da superfície

da terra (Barles, 2010; Potere, 2007; UNEP, 1996, apud Rauland, 2013), e a

concentração da população nas áreas urbanas e rurais varia, no entanto, segundo as

regiões do planeta, como se ilustra na Figura 21 (UN-DESA, 2014). América do Norte,

América Latina e Caribe, Europa e Oceania são as regiões mais urbanizadas, todas

na atualidade com mais de 70% de seus habitantes vivendo nas cidades, enquanto

Page 67: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 67

Ásia e África ficam ainda abaixo dos 50% de população urbana, cenário que se

alterará em breve.

Figura 21 – Proporção da população urbana e rural por grandes regiões, 1950-2050. Fonte: UN-DESA, p.08, 2014, editado.

Conforme denota Rauland (2013), o crescimento populacional não é, por si só,

um problema, mas sim o impacto que causa ao meio ambiente quanto ao consumo

de recursos naturais e produção de resíduos, o que foi demonstrado em uma fórmula

proposta por Paul Ehrliche, em 1970, no que ele define como IPAT. O resultado irá

variar em função da localização no mundo, o quanto pode pagar e quão eficiente são

a infraestruturas e tecnologias que os servem:

Equação 1 – Equação de IPAT. Fonte: Ehrliche, 1970, apud Rauland, 2013, p.6

Impacto = População x Afluência (ou consumo) x Tecnologia

O aumento populacional, sua maior concentração das cidades, e o incremento

das emissões antropogênicas vêm acompanhados das variações do clima e o

perceptível aquecimento global apontado por cientistas e estudos, em especial os do

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 68

IPCC. A análise dos dados apresentados no 5º Relatório de Avaliação do IPCC (2014)

mostra que o histórico de emissões antropogênicas de gases de efeito estufa, e o

aumento das temperaturas do planeta, não tem precedentes.

Cada uma das três últimas décadas tem sido sucessivamente mais

quente na superfície da Terra do que qualquer década precedente desde

1850. O período de 1983 a 2012 foi possivelmente o conjunto de três décadas

mais quente dos últimos 1400 anos no Hemisfério Norte, onde tal avaliação

é possível (confiança média4). Os dados da temperatura global média

combinada das superfícies da terra e dos oceanos tal como calculado por

uma tendência linear mostram um aquecimento de 0,85 (0,65 a 1,06) °C no

período de 1880 a 2012, quando existem múltiplos conjuntos de dados

produzidos de forma independente. (IPCC, 2014, p.2, tradução nossa)

Svante Arrhenius foi o primeiro cientista a apontar, ainda no século XIX, que a

temperatura de nosso planeta poderia subir devido à queima de combustíveis fósseis

(McKIBBEN, 2011). Ao se analisar os gráficos abaixo (Figura 22 e Figura 23) que

reconstituem a evolução da temperatura desde o ano zero e desde o ano 1000 d.C.,

identifica-se o padrão de aumento da temperatura muito superior aos anteriormente

atingidos.

Figura 22 – Reconstrução gráfica da temperatura desde o ano zero.

Figura 23 – Reconstrução gráfica da temperatura desde o ano 100 d.C.

Fonte: Global Warming Art, 2015.

Os resultados dos estudos do IPCC corroboram através das figuras abaixo a

recente tendência de aumento da temperatura do planeta desde 1850. A Figura 24

4 Os níveis de certeza do relatório do IPCC são expressos em 05 níveis de confiança qualitativa (muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto) e quando possível probabilisticamente (excepcionalmente improvável – 0-1%, muito improvável – 0-10%, improvável – 0-33%, tão provável quanto não – 33-66%, provável – 66-100%, muito provável – 90-100%, virtualmente certo – 99-100%). Outros termos, caso necessário, podem ser utilizados. (IPCC, 2014, p.2, tradução nossa)

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 69

mostra os diversos conjuntos de dados (cada uma das diferentes cores) relativos à

temperatura global média das superfícies da terra e dos oceanos.

Figura 24 – Anomalia de temperatura global média – superfícies da terra e dos oceanos. Fonte: IPCC, p.3, 2014.

A Figura 25 por sua vez, apresenta os registros de mudança do nível global

médio do mar, enquanto a Figura 26 traz as concentrações globais médias dos

principais gases de efeito estufa no planeta: CO2 em verde, CH4 em laranja e N2O em

vermelho – todos em um padrão de crescimento.

Figura 25 – Mudança do nível global médio do mar. Fonte: IPCC, p.3, 2014.

Figura 26 – Concentrações globais médias de gases de efeito estufa. Fonte: IPCC, p.3, 2014.

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 70

A Figura 27 nos permite observar a evolução das emissões antropogênicas de

gases de efeito estufa: em marrom as emissões relacionadas à silvicultura e outros

usos do solo, enquanto em cinza aquelas relacionadas aos combustíveis fósseis,

cimento e queimas. O gráfico principal nos mostra o aumento das emissões do

segundo grupo, notadamente a partir de meados da década de 1940, atingindo na

atualidade níveis maiores do que 35 GtCO2/ano. No gráfico menor, à direita, as

emissões cumulativas, em barras, bem como suas respectivas incertezas, em linhas.

Figura 27 – Emissões antropogênicas globais de CO2. Fonte: IPCC, p.3, 2014.

O IPCC (2014) destaca ainda que a combinação do acréscimo antropogênico

das concentrações de GEE e outros forças antropogênicas responde de forma muito

provável por mais da metade do aumento observado na temperatura global das

temperaturas superficiais entre 1950 e 2010. Calthorpe (2011) faz um paralelo com a

questão alimentar, ilustrando como nossas cidades estão em dietas hiper-carbônicas,

e as regiões metropolitanas, em consequência, se tornaram obesas com o petróleo

agindo como uma grande injeção de açúcar e amido nas dietas.

Na Figura 28 podemos visualizar os maiores emissores de GEE do planeta, com

destaque para os que se encontram entre os 10 primeiros, e os setores de emissão.

O gráfico foi elaborado excluindo-se as emissões de mudança de uso do solo e

florestas, o que poderia alterar alguns dados de países como o Brasil, onde o

desmatamento responde por boa parte das emissões.

Page 71: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

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Figura 28 – Os 10 maiores emissores de GEE. Fonte: WRI/CAIT Climate Data Explorer apud Treehugger, 2015.

O PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep Annual

Report 2004 apud BUENO, 2013) destaca que o risco à vida trazido pela crise

ambiental pode ser causado por seis principais problemas de escala mundial: o efeito

estufa, a chuva ácida, a extinção de ambientes naturais, a destruição do ozônio

atmosférico, a erosão e a perda de fontes de água doce. De outro lado, o relatório

“Cities and Climate Change: Global Report on Human Settlements” do UN-HABITAT

(2011), contabiliza também como seis as forças que moldam o crescimento das áreas

urbanas, sendo necessário entende-las no processo de combate e mitigação das

mudanças climáticas:

1. Rápidas taxas de crescimento da população urbana;

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 72

2. Maiores taxas de crescimento localizadas em países menos

desenvolvidos;

3. Aumento do número de cidades com mais de 1 milhão de habitantes;

4. Empreendimentos urbanos como principais fontes emissoras de GEE:

veículos e população – muitas cidades superam a média anual

recomendada de 2.2 ton de CO2eq per capita;

5. As cidades enquanto centros de inovação para redução e mitigação de

emissões, aumentando a sustentabilidade e a resiliência com mudanças

nos transportes, uso do solo, e padrões de produção e consumo;

6. Dinâmicas dos centros urbanos intimamente ligadas à sua localização,

que é determinante nos padrões de uso de energia ou sua proximidade

com ecossistemas, e como esta relação pode intensificar eventos de risco

à população devido ao uso do solo adotado.

Das emissões globais devido ao uso de energia, mais de 70% podem ser

atribuídas às cidades, conforme a IEA (apud GHG Protocol, 2014). O consumo de

combustíveis fósseis nas atividades urbanas responde pela maior quantidade de

emissões, em especial para o fornecimento de energia (geração de energia elétrica,

transporte e edifícios residenciais e comerciais), além da indústria, resíduos,

agricultura, uso do solo e a silvicultura UN-HABITAT (2011), o que pode ser observado

na Figura 29, que mostra a mescla e a diversidade dos gases de efeito estufa (GEE)

e as atividades por eles responsáveis, e como as atividades urbanas, marcadas dentro

do retângulo amarelo, apresentam grande responsabilidade nas emissões.

Ressalta-se no documento do UN-HABITAT (2011) que o padrão de emissões

pode variar enormemente entre as cidades em função de alguns fatores. A situação

geográfica determina as condições climáticas, responsáveis pelo padrão de consumo

de energia e o acesso aos recursos naturais é decisivo no consumo de combustíveis

para o transporte de mercadorias. Por outro lado, a situação e variação demográfica,

como por exemplo o crescimento da população, é um fator difícil de se relacionar com

as emissões – não necessariamente uma maior população resulta em maiores

emissões, os dados têm mostrado uma situação inversa de maiores emissões per

capita em locais com menores taxas de crescimento populacional. Por outro lado, a

densidade e forma urbana estão associadas a riscos maiores quando há maior

concentração de população em áreas fragilizadas, ou a maiores taxas de emissão em

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 73

áreas afastadas dos grandes centros, com baixas densidades de ocupação, como os

típicos subúrbios norte-americanos. Por fim, os diferentes tipos de atividades

econômicas podem definir uma maior taxa de emissões, seja devido à presença de

determinados tipos de indústria intensivas no uso de energia, seja pelas emissões

indiretas na relação entre cidades.

Figura 29 – Fluxo mundial de emissões de GEE. Fonte: WRI, 2005, LAHTI, 2012, p. 28.

3.1.1. Impactos das Mudanças do Clima nas Cidades

São diversos e já bem documentados os impactos das mudanças climáticas aos

sistemas físicos, biológicos e humanos e de gestão. Na Figura 30, são ilustrados os

impactos generalizados em cada uma das regiões do planeta. Para cada um dos três

sistemas, os símbolos representam as categorias de impactos atribuídos, indicando

se a contribuição é maior ou menor (símbolo cheio ou vazio), associados ao nível de

confiabilidade de sua atribuição às mudanças climáticas.

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Figura 30 – Impactos generalizados atribuídos às mudanças climáticas. Fonte: IPCC, p.7, 2014.

Na América do Sul, verifica-se que as maiores contribuições e com maior

confiabilidade estão relacionadas à:

a. Produção de alimentos,

b. Sustento, saúde e economia,

c. Rios, lagos, enchentes e secas e

d. Ecossistemas marinhos.

Aumento do nível do mar e maior frequência dos eventos climáticos extremos

são apenas alguns dos impactos às cidades que devem ocorrer devido às mudanças

climáticas. No Quadro 7 são apresentados os impactos projetados em áreas urbanas

devido a eventos meteorológicos e climáticos extremos:

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 75

Quadro 7 – Impactos em áreas urbanas - eventos meteorológicos/climáticos extremos.

Fenômeno

climático

Probabilidade Principais impactos projetados

Menos dias e

noites frios

Virtualmente

certo

Energia reduzida para aquecimento

Dias e noites

mais quentes

mais frequentes

Virtualmente

certo

Aumento da demanda para resfriamento

Temperaturas

maiores

Virtualmente

certo

Redução dos incômodos de transporte devido à neve;

efeitos no turismo de inverno.

Redução do pergelissolo (permafrost), danos a edifícios e

infraestrutura.

Períodos

quentes/ondas de

calor em maior

frequência

Muito provável Redução da qualidade de vida para pessoas em áreas

quentes sem ar condicionado, impactos nos idosos, crianças

novas e pobres, incluindo perdas significativas de vida

humana.

Aumento da energia para ar condicionado.

Precipitações

intensas em

maior frequência

Muito provável Perturbação de assentamentos, comércio, transporte e

sociedades devido às enchentes.

Perdas significativas de vidas humanas, ferimentos, perdas

de e danos a propriedades e infraestrutura.

Aumento do potencial para uso de energia hídrica em muitas

áreas.

Aumento de

áreas afetadas

por secas

Provável Escassez de água para residências, indústrias e serviços.

Redução do potencial de geração de energia hídrica.

Potencial de migrações populacionais.

Aumento das

atividades de

ciclones tropicais

intensos

Provável Incômodos a assentamentos por enchentes e ventos fortes.

Perturbação no fornecimento público de água.

Retirada da cobertura de risco em áreas vulneráveis por

seguradoras privadas (pelo menos em países

desenvolvidos).

Perda significativa e lesões às vidas humanas; perda e

danos a propriedades.

Potencial de migrações populacionais.

Aumento da

incidência de

níveis mais altos

do mar (excluindo

tsunamis)

Provável Aumento dos custos de proteção costeira e de relocação de

terras.

Redução da disponibilidade de água potável devido à

invasão de água salobra.

Perda significativa e lesões às vidas humanas; perda e

danos a propriedades.

Potencial de migrações populacionais.

Fonte: UN-Habitat, 2011, p.66, tradução nossa.

Listam-se ainda os impactos relacionados à infraestrutura, como as estruturas

comerciais e residenciais, sistemas de transporte, sistemas de energia, sistemas de

abastecimento e saneamento hídrico, além dos impactos econômicos na indústria e

comércio, turismo e recreação, seguros, serviços dos ecossistemas, sustento, e

também os relacionados à saúde pública e os sociais, como pobreza, gênero, idade e

minorias, como as étnicas, por exemplo. O deslocamento e a migração forçada fazem

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 76

parte também das preocupações. O Quadro 8 apresenta alguns dos exemplos dos

impactos sobre os serviços dos ecossistemas.

Quadro 8 – Impactos da urbanização nos serviços dos ecossistemas.

Impactos da urbanização Efeitos no ecossistema Efeitos nos sistemas de

ecossistemas

Permeabilidade das

superfícies reduzida.

Redução da biodiversidade

Poluição de água superficial e

subterrânea.

Alteração dos canais de água

superficial e subterrânea.

Capacidade de filtração natural

dos poluentes reduzida.

Padrões desiguais de uso do

solo que fragmentam a

paisagem e se propagam nos

ambientes naturais como

florestas.

Redução da biodiversidade

Perde de árvores e solo.

Redução na retenção de CO2 de

terras próximas

Redução do suprimento de

oxigênio local.

Emissões em excesso de

nutrientes (nitrogênio,

fósforo), sedimentos, metais e

outros resíduos em cursos

d’água.

Morte em massa de espécies

aquáticas.

Redução das fontes de alimentos

e outras atividades econômicas

(recreação, turismo, etc.).

Desenvolvimento em zonas

úmidas

Perda de área de zonas

úmidas.

Perda de biodiversidade.

Capacidade de filtração natural

dos poluentes reduzida.

Redução do suprimento de

oxigênio local.

Redução das áreas naturais de

retenção de chuvas.

Fonte: UN-Habitat, 2011, p.77, tradução nossa.

A Figura 31 e o Quadro 9 nos mostram os fatores de impacto relacionados ao

clima (tendência de aquecimento, temperaturas extremas, tendência de mortes,

precipitações extremas, ciclones prejudiciais, enchentes, tempestades, acidificação

dos oceanos e fertilização de dióxido de carbono), e como eles estão relacionados

aos riscos urbanos, selecionados do documento do IPCC (2014). É possível identificar

ainda o nível de risco a curto e médio prazo, com a situação atual e caso grandes

adaptações sejam implementadas.

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 77

Figura 31 – Fatores de impacto relacionados ao clima. Fonte: IPCC, p.71, 2014.

Quadro 9 – Riscos globais em áreas urbanas, incluindo o potencial de redução de risco em função de adaptações e mitigações.

Riscos

urbanos

associados

aos

sistemas de

energia (alta

confiança)

A maior parte dos centros urbanos fazem uso

intensivo de energia, com políticas do clima focadas

apenas em medidas de mitigação. Poucas cidades

têm iniciativas de adaptação em curso para os

sistemas críticos de energia. Há potencial para que

os sistemas de energia centralizados e não

adaptados magnifiquem impactos e levem a

consequências nacionais e fora de suas fronteiras.

Riscos

urbanos

associados

com

habitação

(alta

confiança)

Habitação de baixa qualidade e localizada de forma

inadequada é a mais vulnerável a eventos

extremos. Opções de adaptação incluem a

aplicação e melhoria das normas de edificação.

Algumas cidades apresentam potencial para

adaptar as moradias e promover metas de

mitigação, adaptação e desenvolvimento

simultaneamente. Cidades em rápido crescimento,

ou aquelas em reconstrução após um desastre,

possuem oportunidades especiais para aumento da

resiliência, o que raramente é feito. Sem adaptação,

os riscos de perdas econômicas devido a desastres

extremos são substanciais em cidades com

infraestrutura de alto valor e ativos de habitação,

com maiores efeitos econômicos possíveis.

Fonte: IPCC, p.71, 2014, tradução nossa.

Ribeiro (2008, apud BUENO 2013) nos apresenta um cenário de incerteza sobre

como as mudanças climáticas devem afetar as cidades brasileiras. Não há precisão

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 78

quanto ao aumento de temperatura, regime de chuvas torrenciais e concentradas, e

consequentemente, não se podem dimensionar os impactos socioambientais.

Contudo, ele ressalta que neste cenário de dúvida, deve-se agir para o enfrentamento

dos velhos e já conhecidos problemas das cidades e metrópoles brasileiras, derivados

dos rápidos, inadequados processos de urbanização, em geral sem planejamento ou

controle.

Tavares (2004, p.73, apud BUENO, 2013) reitera que “grandes enchentes são

previsíveis, porque nas porções planas a jusante, em vários lugares, a pluviosidade

também crescerá e a subida do nível do mar afogará, progressivamente, as

desembocaduras dos rios, constituindo um obstáculo para o escoamento das águas

pluviais”, complementado ainda por Bueno que boa parte das metrópoles brasileiras

se encontra no litoral, sujeitas aos impactos descritos.

Existe, para a RMSP (Região Metropolitana de São Paulo), uma previsão de que

os dias com chuvas intensas se dupliquem entre 2070 e 2100, e em curto e médio

prazo, também aumentem os dias e noites quentes, intensificando o efeito ilha de calor

e a dispersão dos poluentes atmosféricos, consequentemente (NOBRE et al, 2010,

apud BUENO, 2013).

Ainda que não se tratem de mudanças bruscas que ocorrerão plenamente da

noite para o dia, mas processos graduais, o cenário de caos pode estar se formando

e construindo diariamente se lembrarmos dos grandes projetos de infraestrutura e

também de empreendimentos imobiliários sendo construídos sem que se considerem

estes possíveis impactos previstos em um horizonte de 20 a 50 anos (Bueno, 2013).

São previstas repercussões como o aumento da vulnerabilidade do

espaço construído e de seus usuários, do custo de manutenção e adaptação

da infraestrutura, dos espaços urbanos e das edificações, com efeitos

socioeconômicos de diversas ordens, desde a perda de vidas humanas ao

aumento do custo dos seguros dos bens localizados em determinadas

parcelas das áreas urbanas (ROAF, 2009 apud BUENO, 2013)

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 79

3.2. O Conceito de Baixo Carbono

Diante do cenário de emissões crescentes de carbono e outros gases de efeito

estufa, e da necessidade de sua redução, faz-se necessário entender em um primeiro

momento que alcançar um estilo de vida ou uma cidade/comunidade carbono zero é

praticamente impossível. Premalatha et al (2013) discutem esta questão relacionando-

a ao conceito da 2ª Lei da Termodinâmica, pela qual não pode haver nenhuma

máquina ou processo que utilize toda a energia sem perdas ou que não gere nenhum

tipo de resíduo. Mesmo que os resíduos de um processo sejam reaproveitados em

outro processo, este seguinte também terá algum consumo de energia ou gerará

algum tipo de resíduo, ou emissão, se assim quisermos exemplificar. Por esta razão,

a não ser que não consideremos as emissões de todo o ciclo de vida e tenhamos um

escopo de análise restrito, faz mais sentido utilizar o conceito de baixo carbono.

Em “Promoting Low Carbon Transport in India”, Subash, Pathak e Shukla (2013)

descrevem como o termo baixo-carbono (a ser entendido como “dióxido de carbono

equivalente5”) tem mudado ao longo do tempo a partir da evolução do fenômeno das

mudanças climáticas. É amplamente aceito que baixo-carbono se refere a emissões

globais de GEE que podem manter estáveis as concentrações na atmosférica dentro

dos limites considerados seguros – muito embora não haja consenso ou uma única

definição do que pode ser considerado “seguro”, sendo esta definição de

responsabilidade das políticas locais com base em estudos, pesquisa e literatura

técnica relevante, como a do IPCC.

No mesmo documento, Subash, Pathak e Shukla (2013) nos apresentam o

conceito do cenário de uma sociedade de baixo carbono (Low Carbon Society – LCS)

como aquela compatível com os princípios de desenvolvimento sustentável, e na qual

o uso de tecnologias e fontes de energia adequadas permitem um drástico corte das

emissões (ou descarbonização), com altos níveis de eficiência e sem impor custos às

necessidades de desenvolvimento.

5 O dióxido de carbono equivalente é o resultado da multiplicação das toneladas emitidas de gases

de efeito estufa (GEE) pelo seu potencial de aquecimento global. Por exemplo, o potencial de aquecimento global do gás metano é 21 vezes maior do que o potencial do CO2 (IPAM, 2015).

Page 80: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 80

“O processo de descarbonização ocorre, assim, devido à redução da

intensidade energética ao longo do tempo devido às melhorias tecnológicas

e mudanças na estrutura da economia, que resultam em uma dissociação

entre crescimento econômico e consumo de energia. O declínio é mais rápido

em cenários sustentáveis, já que a demanda por bens intermediários e

serviços se reduz devido às práticas sustentáveis. ” (SUBASH, PATHAK e

SHUKLA, 2013. Tradução nossa.)

A Academy of Science of South Africa define uma cidade de baixo carbono como

aquela que “se empenha em reduzir suas emissões de GEE e aumentar seus

sumidouros de carbono, ao mesmo tempo em que se adapta de forma antecipada aos

impactos das mudanças do clima” (2011, p. 32, tradução nossa). KeTTHA, no

documento “Low Carbon Cities: Framework and Assessment System” (p.11, 2011)

define as cidades de baixo carbono como aquelas que, quando comparadas às

práticas atuais, têm implementadas práticas e tecnologias verdes com baixa emissão

de carbono e outros gases de efeito estufa que possam contribuir com as mudanças

climáticas. Este conceito se confunde com o de cidades sustentáveis, e da mesma

forma que ocorre com o conceito de desenvolvimento sustentável6, não há uma

definição universalmente aceita para cidades de baixo carbono (ou Low Carbon Cities

– LCC). O mesmo documento faz referência ainda a dois aspectos a considerar na

concepção de uma cidade de baixo carbono, de acordo com a Academia Chinesa de

Pesquisa em Ciências Ambientais:

Economia de baixo carbono: aumento da eficiência no uso de água e

energia através do uso de tecnologias sustentáveis, e consequentemente

reduzindo as emissões de carbono;

Consumo de baixo carbono: a redução das emissões de carbono em

todos os aspectos da vida de uma cidade através da reciclagem e

proteção do meio ambiente e áreas verdes naturais, aumento os

reservatórios de carbono.

Alcançar um desenvolvimento de baixo carbono (LCD, Low Carbon

Development) requer um processo de transição envolvendo questões relacionadas à

6 O conceito mais aceito e difundido de desenvolvimento sustentável é o proposto no documento “Our Common Future” (1987), como “desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades” (UN DOCUMENTS, 2015, tradução nossa).

Page 81: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 81

produção ou consumo e com diferentes graus de mudança tecnológica, setorial ou

comportamental, conforme ilustra o Quadro 10, e que deixam como mensagem que

esta transição deve ser encarada como um oportunidade de associar as opções de

baixo carbono aos imperativos de desenvolvimento econômico, e não como um fardo

para a economia (ACADEMY OF SCIENCE OF SOUTH AFRICA, 2011).

Quadro 10 – Tipos de Desenvolvimento de Baixo-Carbono.

Tipo Descrição Foco Abordagem

Economia

verde

Foco nos aspectos produtivos da

economia. Objetiva dissociar

crescimento econômico de emissões de

carbono.

Principalmente

mitigação, mas

também

adaptação.

Mudanças

tecnológicas e

setoriais

Estilo de vida

verde

Foco nos aspectos de consumo da

economia. Implica em mudanças

comportamentais e de estilo de vida.

Objetiva dissociar crescimento

econômico de emissões de carbono.

Mitigação e

adaptação.

Mudanças

comportamentais,

tecnológicas e

setoriais

Equilíbrio

econômico

Foco nos aspectos produtivos da

economia. Objetiva o desenvolvimento,

não crescimento, pelo que nenhuma

dissociação é necessária pois o

crescimento é neutro.

Principalmente

mitigação, mas

também

adaptação.

Mudanças

tecnológicas e

setoriais

Coexistência

com a

natureza

Foco nos aspectos de consumo da

economia. Objetiva o desenvolvimento,

não crescimento, pelo que nenhuma

dissociação é necessária pois o

crescimento é neutro.

Mitigação e

adaptação.

Mudanças

comportamentais,

tecnológicas e

setoriais

Fonte: Academy of Science of South Africa, p.32, 2011, tradução nossa.

Ainda segundo KeTTHA (2011), a estreita relação entre cidades sustentáveis e

cidades de baixo carbono se justifica – diversas das estratégias aplicadas nas cidades

e comunidades sustentáveis auxiliam na redução das emissões de CO2, tais como

alta eficiência, produção local de energias renováveis, redução da emissão de

poluentes, uso adequado do solo e gestão adequado dos resíduos. São cidades

seguras, inclusivas, bem planejadas, construídas e gerenciadas com igualdade de

oportunidades e serviços urbanos de qualidade – características essas que podem

ser agrupadas em oito categorias, conforme ilustrado na Figura 32: transporte e

mobilidade, ambiente construído, ambiente natural, serviços, economia, igualdade e

diversidade, bem-estar da comunidade e governança.

Page 82: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 82

Figura 32 – Elementos de Cidades Sustentáveis. Fonte: KeTTHA, p.1, 2011.

Já existe um movimento no mundo para o projeto e construção de eco-cidades,

cidades sustentáveis ou cidades de baixo carbono. Países como a China e os

Emirados Árabes já possuem exemplos a serem estudados, Dongtan e Masdar,

respectivamente, e que podem servir como inspiração para outras regiões do planeta.

Eco-cidades, cidades de baixo-carbono, cidades sustentáveis, etc. – são diversos os

nomes, e suas definições são distintas conforme as referências consultadas e as

culturas de cada país ou região.

Roseland (1997 e 2001 apud Premalatha et al 2013) designa os seguintes 10

princípios que as eco-cidades devem possuir:

1. Prioridades no uso do solo que criem comunidades de uso misto

compactas, diversificadas, verdes e seguras ao redor de equipamentos

de transporte;

2. Prioridade de transporte que desencoraje o uso do carro e enfatize o

“acesso por proximidade”;

3. Restauração de ambientes urbanos danificados;

4. Criação de habitação economicamente diversificada e acessível, segura

e conveniente;

Page 83: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 83

5. Estímulo à justiça social e criação de melhores oportunidades para os

menos privilegiados;

6. Apoio à agricultura local, aumento do verde urbano e jardins comunitários;

7. Promoção da reciclagem e conservação dos recursos reduzindo a

poluição e os resíduos perigosos;

8. Apoio às atividades econômicas ecologicamente corretas e desincentivo

às danosas e poluentes;

9. Promoção de estilos de vida simples e desestímulo ao consumo excessivo

de bens materiais;

10. Aumento da conscientização da população quanto ao ambiente e

ecossistema locais através de atividades de educação e sensibilização.

Zhou, He e Williams em “China’s Development of Low Carbon Eco-Cities and

Associated Indicator Systems” (2012), nos relembram como as tradições culturais

relacionadas ao Cosmos e à ecologia, que pregam a unidade entre o homem e os

Céus, influenciaram o desenvolvimento das cidades e dos ambientes construídos

desde a antiguidade. Nos dias de hoje esses conceitos evoluíram e foram atualizados

pela incorporação das noções de desenvolvimento sustentável, pegada de carbono,

mudanças climáticas e outros conceitos, dando assim origem a várias teorias por trás

das eco-cidades de baixo carbono, apresentadas no Quadro 11.

Quadro 11 – Teorias por trás das Eco-Cidades de Baixo-Carbono.

Conceito ou

Teoria

Antecedentes, Definição e Conteúdo Principal Aplicação às Eco-

Cidades de Baixo-

Carbono

Edificação

para unificar

o céu e a

humanidade

Os antigos chineses acreditavam que a humanidade,

sociedade e natureza formam um todo unificado, cada

parte similarmente constituída e governada pelas

mesmas leis.

Enfatiza a harmonia

entre a cidade e o

ambiente do entorno.

Cidade

sustentável

Este conceito implica na integração ao planejamento e

operação das cidades do conceito que o desenvolvimento

desta geração não deve sacrificar o desenvolvimento

potencial das gerações vindouras.

O conceito de cidade

sustentável é útil para

estabelecer metas,

mas não revela

interconexões entre os

vários subsistemas.

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 84

Continuação Quadro 11

Conceito ou

Teoria

Antecedentes, Definição e Conteúdo Principal Aplicação às Eco-

Cidades de Baixo-

Carbono

Cidade-

jardim

Iniciado em 1898 por Sir Ebenezer Howard no Reino

Unido, as cidades-jardim foram pensadas como

comunidades planejadas autônomas envoltas por

cinturões verdes (parques) e contendo áreas

proporcionais de residências, indústria e agricultura.

Apoia a construção de

cidades que otimizam

parques e espaços

verdes.

Cidade-

habitável

Reforça a qualidade de vida nas cidades. Padrão de vida

se refere ao nível de riqueza, conforto, bens materiais e

necessidades disponíveis às classes socioeconômicas na

cidade.

Foca em padrões de

vida e na qualidade do

desenvolvimento

urbano.

Eco-cidade Cidades ecológicas (eco-cidades) melhoram o bem-estar

dos cidadãos e da sociedade através do planejamento e

gestão urbanos integrados, aproveitando os benefícios

dos sistemas ecológicos e ao mesmo tempo protegendo

e nutrindo-os para as gerações vindouras.

Eco-cidades se esforçam para funcionar em harmonia

com os sistemas naturais. Elas valorizam seus próprios

ativos ecológicos, bem como os ecossistemas regionais e

globais nos quais todos dependem.

O conceito de eco-

cidade está

diretamente

incorporado ao

desenvolvimento das

eco-cidades de baixo

carbono.

Cidade de

baixo

carbono

Para enfrentar as mudanças climáticas, as cidades de

baixo carbono dissociam crescimento econômico do uso

de recursos de combustíveis fósseis através da mudança

da sociedade e economia em direção a um consumo com

foco em energias renováveis, eficiência energética e

transporte sustentável.

Este conceito agrega a

consciência das

emissões de carbono

e mudanças climáticas

ao desenvolvimento da

cidade.

Eco-cidade

de baixo

carbono

Este conceito combina a cidade de baixo carbono e a

eco-cidade na busca de cidades ambientalmente

amigáveis e que economizam energia, com ênfase no

baixo consumo de energia, poluição e emissões de

carbono.

Este conceito está

subjacente à teoria e

prática de uma eco-

cidade de baixo

carbono.

Fonte: Wan, 2004; Suzuki, Dastur et al. 2011; The Climate Group, 2010b; Chinese Society for Urban Studies, 2011 apud Zhou, He e Williams, p.2, 2012, tradução nossa.

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 85

3.3. Oportunidades de Mitigação

As oportunidades de mitigação, ligadas à redução das emissões, têm como um

de seus resultados a redução de particulados e outros poluentes na atmosférica,

muitos deles relacionados às emissões de carbono, o que resulta em um ar mais

limpo, e ainda que os maiores esforços de mitigação devam ser feitos pelos países

mais emissores e mais desenvolvidos, as ações também devem ser lideradas pelos

países em rápido desenvolvimento que irão se beneficiar quase que imediatamente

destes resultados (UN-HABITAT, 2013a).

As cidades, parte do problema, também são parte da solução, como nos mostra

o Quadro 12.

Quadro 12 – Cidades como parte da solução e do problema.

Parte do problema Parte da solução

Em 2010, metade da população mundial vivia

em cidades;

Entre 2010 e 2020, 95% do crescimento da

população (766mi) mundial será de residentes

urbanos (632mi) e a maior parte (690mi) em

países em desenvolvimento;

Entre 2000 e 2010, o número de moradores de

favelas em países em desenvolvimento

aumentou de 767 milhões para 828 milhões,

podendo alcançar 889 milhões em 2020;

As cidades representam as concentrações das

atividades econômicas e sociais que

produzem emissões de CO2;

Cidades e vilas produzem entre 40 e 70% das

emissões antropogênicas globais;

Em 2030 mais de 80% do aumento da

demanda global anual de energia acima dos

níveis de 2006 terá origem nas cidades dos

países em desenvolvimento.

Autoridades municipais têm

responsabilidade sobre muitos dos

processos que afetam as emissões de

GEE no nível local;

Municipalidades podem servir como

laboratórios para testes de abordagens

inovadoras;

Autoridades municipais podem atuar

em parceria com agentes dos setores

privado e da sociedade civil;

As cidades representam grandes

concentrações de agendas do setor

privado com crescente

comprometimento com ações contra as

mudanças climáticas;

As cidades são arenas nas quais a

sociedade civil está se mobilizando

para atuar contra as mudanças

climáticas.

Fonte: UN, 2010; UN-HABITAT, 2010 e IEA 2008, 2009 apud UN-HABITAT, 2011, 2011, p.91, tradução nossa.

Newton (2013), em Low-carbon precincts for low-carbon living, explica que há

três caminhos possíveis para a descarbonização de nossas cidades: mudanças

tecnológicas, desenho urbano sustentável e mudanças comportamentais. Embora as

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 86

mudanças tecnológicas (como as energias renováveis) sejam o caminho mais claro e

certo, a velocidade de sua implementação não corresponde às necessidades devido

à dependência de combustíveis fósseis em grande parte do planeta e os regimes,

estruturas e políticas existentes. Quanto às mudanças comportamentais, entende-se

que estas são essenciais, e podem gerar uma transformação rápida e profunda.

Infelizmente, ainda existe um abismo gigantesco entre teoria e prática nas mais

diversas sociedades, em especial naquelas de base capitalista em que o culto ao

consumismo é dominante. O terceiro caminho, através do desenho sustentável,

também incorre em muitas dificuldades, em especial quando tratamentos da

transformação dos centros urbanos existentes que foram muitas vezes construídos ou

planejados de forma ineficiente ou mesmo sem qualquer planejamento. No entanto,

ele pode operar em diversas escalas, dos produtos manufaturados a edifícios,

comunidades, bairros, cidades e regiões metropolitanas.

“Embora haja diversas maneiras de lidar com as emissões de carbono,

as ações são normalmente divididas em duas grandes áreas da economia: o

“Front-End” e o “Usuário-Final” (Newman & Ingvarson, 2012). O front-end

corresponde às emissões geradas pelas atividades diretamente dependentes

de combustíveis fósseis (geração de energia, refino e grandes práticas

industriais). As emissões são assim consideradas quando entram na

economia. As políticas direcionados ao usuário-final consideram o carbono

utilizado em residências e negócios, assim como as emissões do ambiente

construído” (RAULAND, 2013, p.10, tradução nossa)

Em termos econômicos, medidas como promoção de eficiência energética em

edifícios, eficiência na geração de eletricidade e uso de motores híbridos são

benefícios em longo prazo advindos das ações de mitigação com custos negativos

pois compensam os custos iniciais (UN-HABITAT, 2013a). O relatório produzido pela

McKinsey&Company, Impact of the financial crisis on carbon economics – Version 2.1

of the Global Greenhouse Gas Abatement Cost Curve (2010), nos traz através da

Figura 33 uma curva do potencial de redução de GEE a custo zero ou potencial

positivo (€/tCO2e), que neste caso traz resultados financeiros imediatos sendo muitas

destas medidas relacionadas ao ambiente construído (Rauland, 2013).

Page 87: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 87

Figura 33 – Curva de custo de abatimento de GEE global além do BAU7 - 2030. Fonte: McKinsey & Company, p.8, 2010.

Uma visão combinada entre mitigação e adaptação é essencial às cidades, e o

ordenamento territorial é considerado elemento central para a implementação de

medidas de adaptação e mitigação em escala local e regional ao se considerar que

as medidas de mitigação e adaptação das cidades possuem fortes trocas, sinergias e

dimensões especiais, como expõe Biesbroek (2009 apud UN-HABITAT 2013b). Os

seguintes focos devem ser considerados no processo de mitigação e adaptação das

cidades (UN-HABITAT 2007 e 2013b):

Transporte urbano;

Gestão do crescimento urbano;

Espaços verdes e agricultura urbana;

Água;

Energia;

Habitação e edifícios;

Produção industrial;

Redução da pobreza.

7 BAU, ou Business as Usual, que significa Negócios como Sempre, refere-se à lógica de continuidade nas operações. Neste trabalho, optamos por usar o termo em inglês, ou sua sigla, quando necessário.

Page 88: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 88

A Academy of Science of South Africa (2011), em seu estudo para a cidade de

Durban, nos apresenta por sua vez uma série de oportunidades de mitigação

relacionadas a:

Oportunidades de planejamento: combate ao espraiamento urbano,

compactação da forma da cidade, descentralização das oportunidades

urbanas, promoção de corredores urbanos, promoção do planejamento

de bairros sustentáveis, visão compartilhada de crescimento espacial;

Oportunidades em energia: eficiência energética em edifícios, energias

renováveis;

Oportunidades em transporte;

Oportunidades em água e saneamento: perdas de água,

gerenciamento da demanda de consumo, promoção de saneamento

seguro e local, transição para digestão anaeróbica;

Oportunidades em resíduos sólidos: redução da geração e reciclagem,

recuperação de resíduos eletrônicos, políticas de aquisição sustentável,

promoção de processos produtivos mais limpos, incorporação de resíduos

na produção de energia, sequestro de carbono, biocombustíveis,

compostagem.

Segundo UN-HABITAT (2011), os setores-chave em que se reúnem as ações de

combate às mudanças podem ser agrupados em cinco, conforme detalhamos a

seguir.

3.3.1. Estrutura e forma urbana

O espraiamento urbano e aumento de assentamentos informais nas franjas das

cidades são os principais desafios quando analisamos de que forma a cidade pode,

através de sua estrutura e forma urbana, reduzir o consumo de energia e

consequentes emissões de GEE, posto que, com o aumento das distâncias entre

casa, trabalho e lazer, aumenta a ênfase sobre o uso do transporte motorizado

individual.

Se nos subúrbios de classe média, o aumento das emissões e do consumo pode

estar associado ao uso do carro e maior área construída, que resulta em mais energia

Page 89: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 89

consumida e emissões per capita, nos assentamentos informais, além dos já

conhecidos problemas de acesso a condições de bem-estar social e qualidade de

vida, há também, em muitos lugares do mundo, problemas de acesso adequado a

fontes de energia adequada para aquecimento e/ou resfriamento (UN-HABITAT

2011). E, quando os habitantes destas áreas podem fugir do transporte público, muitas

vezes o fazem através de veículos antigos, em más condições de conservação e que,

portanto, emitem mais gases de efeito estufa, entre outros poluentes.

Zoneamento, desenvolvimento de master-plans, adensamento urbano, uso

misto e padrões de projeto urbano têm sido utilizados como estratégias neste setor-

chave, e projetos de grande escala, incluindo regenerações urbanas, projetos de

contenção da expansão, e reuso de terras abandonadas (Quadro 13) têm sido uma

resposta mais frequente do que pequenos projetos. Ainda assim, cabe destacar que

mesmo estas ações podem não ser eficientes se os cidadãos não adotarem estilos de

vida compatíveis. (UN-HABITAT 2011)

Quadro 13 – Mitigação das mudanças climáticas no projeto e desenvolvimento urbano.

Expansão urbana,

assentamentos informais

ou subúrbios

Aplicação de planejamento de uso do solo e políticas de projeto para

limitar o uso de energia em áreas de expansão das cidades

existentes.

Novos empreendimentos

urbanos

Aplicação de planejamento de uso do solo e políticas de projeto para

limitar o uso de energia em novas áreas urbanas.

Reuso de brownfields Desenvolvimento urbano em áreas industriais antigas ou

abandonadas a fim de encorajar o adensamento, uso misto e reduzir

o uso de energia.

Renovação de bairros e

pequenas escalas

urbanas

Renovação do estoque habitacional existente e redesenvolvimento

do desenho e layout urbano na escala do bairro ou da rua a fim de

se reduzir o uso de energia na cidade.

Fonte: UN-HABITAT, p.95, 2011, tradução nossa.

3.3.2. Ambiente construído

De acordo com UN-HABITAT, 2011, o ambiente construído, que contempla as

edificações de todos os tipos e responde a um terço do uso final de energia na maior

parte do mundo, tem grande responsabilidade nas emissões de carbono. As medidas

de mitigação têm se concentrado, em sua maior parte, em questões de eficiência

energética agrupadas em 3 categorias: incentivos econômicos (impostos e preço da

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 90

energia), marcos regulatórios (códigos, normas e leis) e programas informativos

(campanhas de conscientização energética e auditorias energéticas), além das

iniciativas voluntárias como os sistemas de avaliação da eficiência energética como

Energy Star (Estados Unidos), Carbon Trust (Reino Unido) e PBE Edifica (Brasil).

Estas medidas, de forma conjunta, respondem pela onda de novas tecnologias e

materiais construtivos (Quadro 14).

As ações devem ser consideradas não apenas para as novas edificações, mas

também para o amplo estoque de edificações existentes nas cidades, hoje com baixos

desempenhos em seus sistemas de energia e água, e que continuarão por muito

tempo respondendo por grande parte dos consumos. Isto poderia ser feito não apenas

através de sistemas voluntários, como tornando-os compulsórios.

No caso do Brasil, a obtenção da ENCE (Etiqueta Nacional de Conservação de

Energia) do PBE Edifica, nascido como Procel Edifica dentro do Programa Brasileiro

de Etiquetagem, foi tornada obrigatória pelo Ministério do Planejamento, Orçamento

e Gestão através da Instrução Normativa nº 2 de 4 de junho de 2014, para a

construção de edifícios novos e retrofit de edifícios existentes. Espera-se que em

pouco tempo venha também a ser referência obrigatória para edifícios comerciais e

residenciais.

Quadro 14 – Mitigação das mudanças climáticas no ambiente construído.

Materiais energeticamente

eficientes

Uso de materiais energeticamente eficientes no ambiente

construído.

Projetos energeticamente

eficientes

Uso de princípios de projeto eficiente para água e energia,

como aquecimento e resfriamento passivos.

Fornecimento de energias

alternativas integrado ao edifício

Uso de tecnologias de energias renováveis e de baixo

carbono para fornecer energia aos edifícios.

Fornecimento de água alternativa

integrado ao edifício

Uso de tecnologias de energias renováveis e de baixo

carbono para fornecer água aos edifícios.

Tecnologias de eficiência de água

e energia em novas construções

Uso de dispositivos eficientes no uso de água e energia na

construção de novos edifícios.

Tecnologias de eficiência de água

e energia em reformas

Uso de dispositivos eficientes no uso de água e energia na

reforma de edifícios.

Equipamentos eficientes de água

e energia

Uso de aparelhos eficientes no ambiente construído

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 91

Continuação Quadro 14

Medidas de redução da demanda Medidas direcionadas à redução do consumo de água e

energia no ambiente construído.

Fonte: UN-HABITAT, p.96, 2011, tradução nossa.

A disseminação de tecnologias para a geração e o uso local de energias

alternativas de baixa emissão é também um dos caminhos apontados pelo UN-

HABITAT (2011), sendo que tecnologias de menor custo, ou com mais rapidez de

retorno do investimento ganham espaço mais rapidamente, como é o caso dos

aquecedores solares de água. A geração local de energia através de sistemas

fotovoltaicos, ou mesmo eólicos, ainda tem grande custo inicial, e um retorno do

investimento mais demorado. Embora ainda haja poucos incentivos por parte do

governo brasileiro, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) emitiu a resolução

normativa nº 482, em 17 de abril de 2012, que permite a existência de micro geradores

(≤100kW) e mini geradores (entre 100 e 1000 kW) de energia. Em resumo, as

edificações podem instalar sistemas geradores de energia elétrica com base em

energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada, conectados à

rede pública. Caso a geração seja maior do que o consumo, esta diferença é

transformada em créditos para o gerador. Com isto, espera-se maior adesão à

geração local.

3.3.3. Infraestrutura urbana

Os custos elevados para renovação da infraestrutura urbana fazem com que tal

investimento seja colocado em segundo plano em benefício de outras ações de maior

visibilidade ou resultado imediato, ignorando o quanto as emissões deste setor são

críticas, em especial na geração de energia, sistemas de abastecimento e

saneamento, além dos resíduos gerados e levados a aterros onde ocorre a liberação

de metano (UN-HABITAT, 2011), cujo potencial de aquecimento (UNITED NATIONS,

2015c) é 56 vezes maior do que o do carbono em um período de 20 anos.

Conforme ressalta UN-HABITAT (2011), as ações das cidades têm sido

direcionadas principalmente a energia e energia a partir de resíduos, havendo poucas

ações para redução da demanda ou os impactos devido aos sistemas de

abastecimento, saneamento e resíduos. É possível, ao se falar em energia, reduzir a

pegada de carbono dos sistemas existentes, como por exemplo, substituir os sistemas

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

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de iluminação pública, ou trabalhar através da aquisição de energias limpas

produzidas fora dos limites da cidade, ou mesmo, focar na produção local de energia,

que garante, ao mesmo tempo, segurança de abastecimento. Programas para

captação do metano e transformação em energia são possíveis através do Mecanismo

de Desenvolvimento Limpo (abordado na seção 2.1.7).

Reduzir as perdas através de melhorias nas redes de distribuição de água e

energia, e a demanda com programas de redução ou coleta alternativa de resíduos

estão entre as medidas a serem adotadas na escala urbana, conforme o Quadro 15.

Quadro 15 – Mitigação das mudanças climáticas na infraestrutura urbana.

Fornecimento de energias

alternativas

Desenvolvimento, na escala da cidade, de sistemas de

fornecimento de energias renováveis ou de baixo carbono.

Captura de gás em aterros Uso de gás produzido em aterros para fornecimento de energia.

Fornecimento de águas

alternativas

Uso de formas alternativas, na escala da cidade, de

abastecimento, armazenamento e processamento de água para

reduzir o uso de energia.

Coleta de resíduos para

reciclagem ou reuso

Desenvolvimento de sistemas alternativos de coleta e uso de

resíduos para reduzir o metano produzido em aterros.

Conservação e eficiência

de energia e água

Aumento da eficiência nos sistemas de infraestrutura existentes ou

o desenvolvimento de novos sistemas mais eficientes.

Redução da demanda Redução da demanda de energia e água, e da coleta de resíduos.

Fonte: UN-HABITAT, p.98, 2011, tradução nossa.

3.3.4. Transporte

No município de São Paulo, 53,1% das emissões de GEE estão relacionadas ao

setor de transporte, conforme dados extraídos do inventário do município de São

Paulo (CENTROCLIMA/COPPE/UFRJ, 2005). Mundialmente, este percentual

corresponde a 23% do total, em grande parte devido ao espraiamento urbano, já

mencionado anteriormente, mas também aos combustíveis utilizados pelos veículos,

que também aumentam a poluição do ar das cidades.

As medidas a serem implementadas (UN-HABITAT, 2011), resumidas no

Quadro 16, passam pelo desincentivo e restrição no uso dos transportes motorizados,

como cobrança de pedágio para circulação em determinadas zonas ou a proibição em

determinados horários ou dias, e seguem na promoção do uso do transporte coletivo

Page 93: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 93

de alta capacidade (metrôs, VLTs, BRTs, corredores de ônibus) e dos modais

alternativos não poluentes, tais como deslocamentos a pé e bicicletas. A substituição

de frota ou o uso de combustíveis menos poluentes é outro fator a ser considerado.

Estratégias de gestão da demanda através de programas de compartilhamento de

veículos, aluguel de bicicletas, requalificação dos espaços urbanos para incentivo e

proteção ao pedestre e mesmo o incentivo ao trabalho remoto devem fazer parte do

pacote.

Quadro 16 – Mitigação das mudanças climáticas transporte.

Nova infraestrutura de

transporte de baixo carbono

Desenvolvimento de novas infraestruturas que encorajem

modais de transporte de baixo carbono.

Renovação da infraestrutura de

transporte de baixo carbono

Renovação ou melhoria da infraestrutura de transporte para

reduzir as emissões de GEE.

Substituição da frota Substituição da frota de veículos com veículos

energeticamente eficientes ou de baixa emissão;

Substituição dos combustíveis Substituir o uso de combustíveis fósseis por outros renováveis

ou de baixa emissão de carbono.

Aumento de eficiência

energética

Medidas para melhorar a eficiência dos veículos existentes e

seus usos.

Medidas de redução da

demanda

Medidas para reduzir a demanda pelo uso do transporte

motorizado individual.

Medidas de aumento da

demanda

Medidas para aumentar a demanda por formas alternativas de

deslocamento (transporte público, caminhada ou bicicleta).

Fonte: UN-HABITAT, p.101, 2011, tradução nossa.

A cidade de São Paulo, por exemplo, tem implementado nos últimos anos uma

série de medidas neste sentido, algumas delas relacionadas ao novo Plano Diretor

Estratégico, aprovado em 2014, e outras como o aumento da malha cicloviária para

atingir a meta de 400km, e algumas mais antigas como o rodízio de veículos nos

horários de pico. A redução da velocidade máxima permitida nas principais vias da

cidade, recebida com muita polêmica pela população, também causa impacto nas

emissões de GEE, ainda que as justificativas técnicas sejam a redução dos acidentes

graves. A emissão dos veículos, além de outros fatores, está diretamente relacionada

com a forma de operação do veículo (velocidade, tempo, número de viagens e

comportamento do condutor), segundo Faiz (apud JACONDINO e CYBIS, 2003). As

emissões diminuem até uma determinada velocidade, a partir da qual aumentam,

conforme podemos visualizar na Figura 34.

Page 94: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 94

Figura 34 – Curvas de emissão de poluentes em função da velocidade Fonte: Jacondino e Cybis, p.5, 2003.

3.3.5. Sequestro de carbono

A remoção de GEE da atmosfera através do sequestro de carbono faz parte do

pacote de medidas de mitigação que podem ser implementadas em uma cidade. O

uso de sumidouros, através da manutenção, conservação, restauração, aumento e

criação de áreas verdes é o principal caminho, que traz ainda outros benefícios

ambientais, como melhoria do manejo das águas pluviais, aumento da biodiversidade,

proteção e restauração dos ecossistemas locais, regulação da temperatura com

redução do efeito ilha de calor; e estéticos e sociais, como aumento das áreas de lazer

ou embelezamento da cidade. A captura de metano em aterros para geração de

energia é também um outro meio de sequestro (UN-HABITAT, 2011).

Por outro lado, as tecnologias para captura e armazenamento de carbono ainda

estão em fases iniciais de desenvolvimento, e demandam muita pesquisa. Rotterdam,

na Holanda, possui um projeto em andamento no qual o carbono é direcionado a

tubulações e utilizado pela horticultura para estimular o crescimento das plantas. Cabe

ainda avaliar se elas atendem a críticas de não serem uma solução de longo prazo

para a redução de GEE (UN-HABITAT, 2011). O conjunto das medidas pode ser visto

no Quadro 17.

Page 95: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 95

Quadro 17 – Mitigação das mudanças climáticas no sequestro de carbono.

Captura e armazenamento

de carbono urbano

Desenvolvimento de esquema para capturar emissões de CO2 de

geração de energia e armazenar a longo prazo.

Programa de plantio de

árvores

Desenvolver a capacidade de sumidouro de CO2 da cidade através

do plantio de árvores

Restauração de

sumidouros de carbono

Restaurar sumidouros naturais existentes na cidade.

Preservação e

conservação de

sumidouros de carbono

Preservar e melhorar áreas de sumidouros naturais nas cidades.

Compensação de carbono Aquisição de créditos de compensação de carbono por agentes da

cidade de esquemas localizados na cidade ou em outro local.

Fonte: UN-HABITAT, p.103, 2011, tradução nossa.

3.4. O Surgimento de Políticas e Ferramentas

A necessidade de reduzir e mitigar as emissões deu origem a diversas políticas

e ferramentas, a começar pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a

Mudança do Clima (UNFCCC) em 1992, o Protocolo de Quioto em 1997 e o Acordo

de Copenhagen em 2009 (UN-HABITAT, 2011). Ainda pelo lado institucional,

podemos destacar as ações do ICLEI – Local Governments for Sustainability, CCP –

Cities for Climate Protection Campaign, Climate Alliance and Energy – Cités Network

e o C40 – Cities Climate Initiative Group, bem como os programas voltados a cidades

e mudanças climáticas do UN-HABITAT, Banco Mundial e a OCDE – Organização

para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (UN-HABITAT, 2011; UCCRN,

2011).

Dentre as ações de cunho institucional, o ICLEI, em parceria com o WRI – World

Resources Institute e o C40 lançaram no ano de 2014, durante a Convenção do Clima

em Lima, no Peru, o “Global Protocol for Community Scale Greenhouse Gas Emission

Inventories: An Accounting and Reporting Standard for Cities” (GPC), um protocolo

padrão a ser adotado pelas cidades de forma que se possam realizar inventários

segundo uma mesma metodologia, permitindo a comparação dos padrões de

emissões entre as diferentes cidades. Os inventários são ferramentas que permitem

quantificar as emissões ou remoções de GEE da atmosfera, podendo ser utilizado

Page 96: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 96

para entender os padrões de emissão, identificar as fontes emissoras e definir

estratégias e políticas de mitigação (EPA, 2015).

E embora as medidas institucionais pelos órgãos internacionais ou aquelas

tomadas pelos órgãos governamentais locais sejam essenciais, as ações voluntárias

são extremamente importantes. Neste cenário surgiram os sistemas de avaliação

ambiental ou de sustentabilidade. Inicialmente desenvolvidas com foco nas

edificações, acabaram por ampliar a escala de suas ações para abarcar comunidades,

bairros e até mesmo cidades, tendo em vista que um conjunto de edifícios verdes não

necessariamente faz de uma cidade um ambiente mais sustentável. Rauland (2013)

aponta cinco razões chaves para nos concentrarmos na escala da comunidade na luta

pela descarbonização do ambiente construído, pois: 1. ao irmos além da escala do

edifício, elementos que contribuem às emissões podem ser decompostos em decisões

relacionadas ao carbono; 2. é a escala em que os bairros funcionam; 3. é a escala em

que incorporadores trabalham; 4. é o nível em que ocorrem as maiores interações

com o governo local; e 5. é a escala na qual tecnologias emergentes parecem

funcionar melhor.

Em “A Critical Review of Seven Selected Neighborhood Assessment Tools”,

Sharifi e Murayama (2013) destacam que ferramentas de avaliação de

sustentabilidade para bairros podem ser consideradas como a última geração das

ferramentas de avaliação de impacto.

Segundo Cole (2005 apud AULICINO, 2008), o surgimento das ferramentas e

métodos de avaliação ambiental teve por objetivo permitir que se realizassem

avaliações objetivas no aproveitamento dos recursos naturais, qualidade ambiental

interna dos espaços, bem como da carga ecológica, de forma que adicionalmente se

obtivesse uma maior conscientização ambiental no setor da construção civil. Estas

ferramentas ou sistemas de avaliação são, segundo Larsson (2004, apud AULICINO,

2008), comumente desenvolvidos como conjuntos de protocolos ou indicadores com

base na análise do ciclo de vida, e podem ser encaradas como um passo no

cumprimento dos objetivos da Agenda 21 Local de buscar a sustentabilidade na

escala local (UNITED NATIONS, 1993 apud SHARIFI e MURAYAMA, 2013). Elas

podem ser aplicadas geralmente a projetos novos, embora algumas delas também

Page 97: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 97

possam ser empregadas em projetos de renovação ou requalificação urbana, em sua

maior parte com foco na escala da quadra, comunidade ou bairro.

Cole (2005 apud RAULAND 2015) faz uma distinção entre ferramentas de

avaliação (assessment tools) e ferramentas de classificação (rating tools). As

ferramentas de avaliação adotam uma metodologia mais quantitativa e baseada em

análise de ciclo de vida (ACV), enquanto as ferramentas de classificação avançam ao

classificar os resultados de tais avaliações, de forma quantitativa e qualitativa,

compondo-se de checklists e análises multicritério. Vão também além dos critérios

ambientais, incluindo elementos do tripé da sustentabilidade ambiental, sociedade e

economia, pelo que decidimos pela adoção, ao longo deste trabalho, e de maneira

intercambiável entre sistemas de avaliação e classificação, do termo “Sistemas de

Avaliação de Sustentabilidade Urbana”.

Dentre os principais sistemas surgidos para aplicação em escala urbana

podemos citar: AQUA Bairros e Loteamentos, BREEAM Communities, CASBEE for

Urban Development, Green Star Communities, LEED for Neighborhood Development,

Living Community Challenge.

Os sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana de forma geral têm seus

critérios baseados no tripé da sustentabilidade (meio ambiente, economia e

sociedade), e o CRC LCL (2013) identificou as seguintes lacunas na maioria deles:

Avaliação do ciclo de vida embutido e operacional e métricas efetivas de

GEE;

Avaliação de resiliência em um espectro completo de previsões de

mudanças climáticas;

Falta de sofisticação em modelagem espacial, modelagem de demanda e

falta de capacidade de análises integradas entre indicadores;

Avaliação de ecoeficiência e custo de ciclo de vida em diferentes cenários;

Capacidade de repartir os custos e benefícios entre as diferentes partes

interessadas de um projeto;

Falta de consenso sobre os indicadores base para avaliação da

comunidade, bem como falta de dados facilmente acessíveis e dados de

referência (benchmarking), como por ex. CO2/ha/habitação/m2/pessoa;

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 98

Falta de avaliação pós-ocupação;

Padrões de qualidade de dados e acesso;

Equilíbrio de fatores quantitativos (custos, a maior parte das métricas

ambientais com elementos humanos de projeto, partes interessadas e

governança);

Prospectivas e sua integração em cenários futuros a serem examinados

na escala da comunidade

Como se pode notar, não há métricas claras e diretas quanto à mitigação das

emissões de carbono. O mesmo autor destaca três sistemas com foco explícito no

tema: CCAP (Kinesis), uma parte significativa do PrecinX, e o One Planet

Communities – os dois primeiros australianos em sua origem. Rauland (2013) aponta

ainda a existência do eTool, que embora voltado a edificações, também pode ser

utilizado em empreendimentos de escala urbana modesta. No entanto, isto não

significa que os demais sistemas não possuam em sua base princípios que irão servir

de base a um projeto de baixo carbono. E é sobre este tema que se debruça este

trabalho ao analisar a relação entre os sistemas de avaliação de sustentabilidade

urbana e o projeto de comunidades de baixo carbono.

3.5. Exemplos de Cidades e Comunidades

As cidades e comunidades de baixo carbono, apesar de ainda serem algo novo,

já são uma realidade que começa a despontar em alguns projetos. No entanto, como

ressalta Premalatha et al (2013), nenhuma eco-cidade será 100% realidade enquanto

seus habitantes não estiverem dispostos a mudarem seus estilos de vida no que tange

às necessidades de conforto impostas pela era consumista em que vivemos.

Selecionamos dois exemplos de cidades construídas do zero, e que são hoje

referência, não apenas naquilo que pode ser almejado, mas também do que não deve

ser replicado, ou necessita no mínimo ser repensado. Dongtan, na China e Masdar,

em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos são os exemplos apresentados.

Dongtan foi a primeira cidade apresentada ao mundo com a meta de atingir um

cenário de carbono-zero. Infelizmente, por uma série de mudanças e desencontros,

até hoje não se encontra construída.

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 99

Masdar, anunciada pouco após Dongtan, é a única eco-cidade, que embora não

totalmente realizada, já possui um núcleo construído e é, portanto, uma realidade que

permite ser analisada com base em fatos e dados concretos e não apenas em planos

(CUGURULLO, 2013).

Apesar de já existirem outros projetos que podem ser analisados, decidimos pela

apresentação destes dois por sua representatividade. Para o Brasil, que ainda dá seus

passos iniciais na busca de comunidades e cidades de baixo carbonos, apresentamos

o cenário atual e projetos que caminham nessa direção.

3.5.1. Dongtan, China

“A primeira eco-cidade carbono-zero do mundo” – assim foi apresentada

Dongtan, nome que significa “praia do leste” (BARBOSA, 2013), cujos trabalhos se

iniciaram em 9 de novembro de 2005 em uma área, como vemos na Figura 35, de

aproximadamente 8.400 hectares dentro de uma ilha a 60km do centro de Shangai,

na China (CHERRY 2007; YING 2009 apud Premalatha et al 2013; BARBOSA, 2013).

Figura 35 – Localização de Dongtan em relação a Shangai Fonte: Google Maps

O projeto, uma parceria firmada entre os governos do Reino Unido e da China,

é de responsabilidade da empresa governamental Shangai Industrial Investment

Company (SIIC), com desenvolvimento do master plan e projetos pela britânica Arup,

Page 100: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 100

uma das maiores empresas de engenharia do mundo, e calcado em nove objetivos

ambientais (HEAD e LAWRENCE 2008; YING 2009 apud PREMALATHA et al 2013):

1. Proteção ambiental;

2. Benefícios sociais e econômicos;

3. Pegada ecológica reduzida;

4. Gestão de água e enchentes;

5. Produção agrícola;

6. Redução das emissões, uso e produção de energia;

7. Cidade verde;

8. Acessibilidade a transporte;

9. Gestão de resíduos e recursos.

A Figura 36 mostra toda a zona de ocupação de Dongtan na ilha de Chongming,

com destaque para a primeira fase do empreendimento enquanto a Figura 37 mostra

um estudo do master plan desta área, chamada pela SIIC de comunidade de anciães.

Figura 36 – Área de desenvolvimento de Dongtan com destaque para a 1ª fase Fonte: Head e Lawrence, 2008, p.6

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Figura 37 – Localização de Dongtan em relação a Shangai Fonte: SIIC, 2015.

Para o desenvolvimento do projeto a Arup aplicou uma metodologia própria de

projeto chamada Modelo Integrado de Recursos (IRM – Integrated Resources Model),

trazendo ao projeto uma visão holística (Figura 38), comparando os inputs e outputs

de cada elemento e processo do projeto, e como uma um determinado processo pode

gerar resíduos que outro processo pode aproveitar (HEAD e LAWRENCE, 2008). O

IRM, que está integrado a uma plataforma SIG, considera questões relacionadas ao

uso do solo, resíduos, energia, emissão de carbono, transporte, água e materiais,

comparando um projeto de referência a alternativas, permitindo comparar o

desempenho de indicadores e mesmo itens diários como geração de resíduos medida

em número de coletores de lixo (ROBERTS, 2010).

Figura 38 – Modelo ARUP de Recursos Integrados (IRM) para Dongtan. Fonte: Premalatha et al, 2013, p.

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A pegada ecológica de Dongtan (Figura 39), que será de 2,6 contra 5,8 caso a

cidade adotasse perfil semelhante a Shangai foi determinada por um programa de

modelagem chamado REAP (Resources and Energy Analysis Program), desenvolvido

pelo SEI (Stockholm Environment Institute) e o Center for Urban and Regional Ecology

da Universidade de Manchester (HEAD e LAWRENCE, 2008).

Figura 39 – Cálculo da pegada ecológica para Dongtan e outras referências Fonte: Head e Lawrence, 2008, p.5

Outras estratégias relacionadas a energia, água, agricultura, transporte e

logística foram desenvolvidas, resultando em um ambicioso conjunto de medidas que

deveriam ser incorporadas ao projeto (Quadro 18).

Quadro 18 – Aspectos das estratégias de sustentabilidade para Dongtan.

Aspecto As estratégias

Planejamento

urbano e edifícios

- Cidade organizada para reduzir custos de infraestrutura e transporte, melhorar as

comodidades e a eficiência energética;

- Adensamento dos edifícios otimizado para permitir vizinhanças para pedestres e

sistemas eficientes de aquecimento e resfriamento sem sobrecarregar o solo macio

da ilha;

- Deverá ser construída com materiais sustentáveis e de baixo custo, como madeira

plantada, tanto quanto possível.

- Ruas e casas dispostas para melhor aproveitamento do sol e sombreamento.

Geração e

conservação de

energia

- A cidade será autossuficiente em energia, toda de fontes renováveis: solar, vento e

biomassa. Redução da demanda em 64% a partir de intervenções tecnológicas,

eliminando 350.000 toneladas de CO2eq/ano;

- Emissões remanescentes compensadas através de sequestro pelo plantio de

árvores e outros meios para alcançar emissão zero;

-

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3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 103

Continuação Quadro 18

Aspecto As estratégias

Geração e

conservação de

energia

- Uma usina de cogeração (calor e energia), abastecida por cascas de arroz, com

biogás produzido a partir do tratamento de resíduos sólidos e águas residuais será

localizada no centro da cidade com tubulações radiais distribuindo a energia para a

maior parte dos edifícios;

- Edifícios naturalmente ventilados e adequadamente isolados, com grama e

vegetação em suas coberturas;

- Materiais com baixa energia incorporada serão empregadas nas ruas e as casas

serão desenhadas para melhor aproveitamento do sol e sombra para reduzir

consumo de energia;

- Medidores irão mostrar o consumo e geração de energia em cada casa para

permitir que os moradores monitorem o uso e geração em tempo real. Até um

determinado limite a energia será barata e a partir deste limite, bem mais cara.

Gestão da água - Consumo de água será reduzido em 43% e o descarte em 88%;

- Dupla rede de tubulação na cidade distribuirá em uma água potável e na outra

água de reuso para descarga e irrigação;

- Telhados verdes possuem papel importante na gestão da água para captura e

armazenamento das águas pluviais.

Gestão de resíduos - Todos os resíduos serão coletados e processados;

- Será uma cidade resíduo-zero; com os resíduos sólidos urbanos separados e até

80% reciclados;

- Resíduos orgânicos e humanos serão digeridos e compostados; o biogás

resultante usado como energia e o composto como fertilizante para o plantio local.

Transporte - Não haverá emissões relacionadas a transporte;

- A cidade será conectada por rotas de bicicletas e corredores de transporte público,

permitindo aos moradores acessarem diferentes partes da cidade por VLT, bicicleta

ou a pé;

- As ruas serão projetadas de forma que andar ou ir de bicicleta será mais rápido do

que pegar um carro e dirigir – levará no máximo 7 minutos de caminhada até

qualquer parada de transporte;

- Caminhões de entrega compartilhados com emissão zero serão usados para o

transporte de bens na cidade;

- A cidade será conectada a Shangai por uma ponte-túnel de 19km para evitar os

movimentos pendulares Shangai-Dongtan;

- Veículos a diesel e gasolina serão banidos da cidade e todos os veículos serão à

base de bateria ou células de hidrogênio;

- Os visitantes deverão estacionar seus carros fora dos limites da cidade e utilizar o

transporte público para seus deslocamentos.

Fornecimento de

alimentos

- As necessidades alimentares deverão ser resolvidas por comunidades locais de

agricultores e pescadores;

- Sofisticadas técnicas de plantio orgânico combinadas aos sistemas de reciclagem

de esgoto deverão ser utilizadas para criar um ciclo sustentável de produção local

de alimentos;

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 104

Continuação Quadro 18

Aspecto As estratégias

Fornecimento de

alimentos

- Resíduos orgânicos compostados deverão ser devolvidos aos terrenos agrícolas

locais para manutenção da capacidade de produção e fertilidade do solo;

- Vegetais orgânicos deverão ser cultivados com técnica hidropônicas em

instalações subterrâneas iluminadas com lâmpadas LED abastecidas por energia

solar de forma a produzir seis vezes mais do que um plantio tradicional.

Gestão de

ecossistemas

- As zonas úmidas existentes serão melhoradas pela transformação de solo agrícola

em zonas úmidas a fim de se criar uma zona de transição de pelo menos 3,5km

entre a cidade e os manguezais;

- Apenas 40% das terras serão desenvolvidas em áreas urbanas – o restante será

dedicado a parques, fazendas e áreas úmidas, evitando que a poluição (luminosa,

sonora, de emissões e descargas) atinja as áreas de proteção do entorno;

- Serão 27m² de áreas verdes per capita;

- Uma variedade de plantas nativas será introduzida no alinhamento de canais e

ruas, e também coberturas, para atrair borboletas, insetos e pássaros à cidade.

Desenvolvimento

sócio econômico

- População diversificada e habitação economicamente acessível, com pelo menos

30.000 postos de trabalho, escolas e um hospital, reduzindo a dependência de

Shangai;

- Será parcialmente uma atração turística com geração de até 50.000 vagas de

trabalho em turismo e pesquisa;

- Haverá oportunidade de emprego para a maioria das pessoas que vivem na cidade

em todos os estratos demográficos;

- Haverá políticas de incentivo para a atração de companhias para Dongtan e para

encorajar que as pessoas trabalhem e vivam na cidade;

- Eco indústria (gestão de resíduos e tecnologias solar e eólica) será o principal

componente da economia de Dongtan.

Fonte: Head e Lawrence 2008; Chen e Hu 2010; e McGray 2007 apud Premalatha et al, p. 663, 2013, tradução nossa.

Apesar do conjunto de estratégias, que inclusive buscam minimizar impactos

ambientais graves, o projeto nasceu cheio de fragilidades, a começar pela sua

localização, uma planície aluvial em uma área de reserva natural protegida na ilha de

Chongming, que conta com a presença de animais selvagens, área de migração e

procriação de aves (BOURLORD et al 2012, FAN et al 2012, HUANG et al 2013 apud

PREMALATHA et al, 2013; BARBOSA, 2013).

“A ilha de Chongming é plana e pouco mais alta do que o nível

do mar. O primeiro desafio foi decidir como localizar a cidade sem

colocá-la em sério risco com aumento do nível das cheias. Inspirado

pelas antigas cidades chinesas com canais no Delta do rio Yantze, o

projeto previu canais em uma zona, bacias em outra e um grande lago

em uma terceira. Pátios e gramados drenam a água dos edifícios e

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 105

células de cheias na cidade, similar ao conceito de câmaras em um

submarino, projetado para conter a inundação do mar no caso de a

cidade ser atingida por tempestades violentas. Em vez de uma

imposição de engenharia projetada para resistir às águas da chuva, a

cidade fica sob uma colina suave que recua em uma larga bacia de

zona úmida, proporcionando um parque, um santuário de pássaros e

uma barreira natural contra tempestades. ” (HEAD e LAWRENCE,

2008, p. 4, tradução nossa)

A Figura 40 nos permite visualizar o master plan da cidade quanto as estratégias

de água, com a criação dos canais, bacias e lagoa.

Figura 40 – Master plan da gestão de água e cheias Fonte: Head, 2006, p.11

Cabe destacar também os planos para a criação de áreas de cultivo subterrâneo

(Figura 41) que serão iluminadas por lâmpadas do tipo LED abastecidas por energia

solar através de painéis fotovoltaicos, permitindo um rendimento 6 vezes maior do que

em plantações tradicionais. Em Dongtan a área dedicada a este cultivo será de 9ha,

que corresponderiam a 1000ha em uma fazenda normal (HEAD e LAWRENCE, 2008).

Os planos iniciais contavam com o desenvolvimento de uma área inicial com

uma primeira fase de 60ha para 10.000 habitantes até 2010, e 570ha adicionais para

80.000 pessoas até 2015, até que a cidade alcançasse 500.000 habitantes (HARVEY

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 106

e CHALMERS, 2006). No entanto, no ano de 2010, quando parte da cidade deveria

ter sido apresentada durante a Shangai World Expo, tudo que existiam eram as pontes

e o túnel de ligação com Shangai, além de uma usina eólica e a paralisação, sem

previsão de retorno, dos planos de construção da cidade (BARBOSA, 2013;

BRENHOUSE, 2010).

Figura 41 – Estrutura subterrânea de cultivo agrícola e geração de energia fotovoltaica. Fonte: Head, 2006, p.13

O insucesso do projeto, segundo Brenhouse (2010), está relacionado à confusão

de responsabilidades das partes envolvidas e sobre quem pagaria a construção da

cidade, se a Arup ou a SIIC – ao final, nenhuma delas quis assumir o risco.

Adicionalmente, estratégias e tecnologias ambientais ousadas, e talvez inatingíveis

nos dias de hoje, podem ter resultado em aumentos de custo fora do previsto em um

projeto ousado no uso de tecnologias ambientais, resultando em uma restrição

daqueles que poderiam comprar propriedades em Dongtan e inviabilizando o projeto.

Diversos especialistas concordam que a meta de carbono-zero é irreal. O professor

Dai Xingyi, da Universidade Fundan de Shangai diz: “uma cidade zero-emissões é

puro exagero comercial. Você não pode ter a expectativa de que uma tecnologia possa

oferecer uma vida confortável e luxuosa e ao mesmo tempo economizar energia. É

apenas um sonho” (FAXON, 2008, tradução nossa). Premalatha et al (2013) por sua

vez lembra que o projeto previa reutilizar e reciclar todos os efluentes e resíduos

sólidos, mas não contabilizaram que a cada passo adicional de purificação, o custo

não cresce linearmente, mas exponencialmente na tentativa de remover todos os

contaminantes – além de o processo de transformar água da descarga em potável

pode gerar poluição considerável devido à sua dependência de energia e materiais.

Page 107: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

3. As Mudanças Climáticas e as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 107

Se a cidade de fato não for construída, não devemos considerar como um

fracasso, mas toma-la como exemplo para futuros projetos, considerando seus

acertos e erros de planejamento e projeto, e um passo inicial na busca de cidades

mais sustentáveis.

3.5.2. Masdar, Abu Dhabi, Emirados Árabes

O anúncio de Masdar, que significa fonte ou origem em árabe, pela The Masdar

Initiative, veio apenas alguns meses após o início dos trabalhos de Dongtan, e de uma

forma mais ousada - não apenas uma cidade zero-carbono, mas também zero-

resíduos e livre de impactos ambientais adversos (CUGURULLO, 2013). Em um país

próspero pela produção de petróleo, o governo entendeu as mudanças políticas,

tecnológicas e ambientais sem volta que estão em curso, posicionando-se para se

tornar referência mundial em tecnologias de baixo carbono (NADER, 2009).

Figura 42 – Foto do Masdar Institute, projeto de Foster and Partners. Fonte: Foster and Partners, 2010.

Este objetivo já se concretizou no Masdar Institute (Figura 42). Desenvolvido em

parceria com o MIT – Massachussets Institute of Technology, e já em funcionamento

na cidade, busca ser uma instituição de referência na área de pesquisa e ensino com

foco em ciência e engenharia (PREMALATHA et al, 2013), com programas de

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mestrado e PhD que terão como maior laboratório de pesquisa o campus e a cidade

em que se insere. Esta característica, aliás, é o que tem atraído muitas empresas

como Siemens e General Electric que veem na cidade um laboratório vivo e em

tamanho real no qual podem testar se novas tecnologias funcionarão em um contexto

urbano concreto (CUGURULLO, 2013).

Figura 43 – Localização de Masdar em relação a Abu Dhabi. Fonte: Google Maps

O projeto da cidade, e também do Masdar Institute, ficou a cargo da equipe de

arquitetos do escritório britânico Foster and Partners, e se localiza em uma área de

7km² no coração de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos (Figura 43). Deve

abrigar 40.000 moradores e empresas e instituições que gerarão empregos para

50.000 trabalhadores, a um custo total de 24 bilhões de dólares distribuídos em 8 anos

de construção (NADER, 2009).

O projeto de Masdar foi anunciado como inteiramente independente de fontes

fósseis de energia (ALUSI et al, 2011; BULLIS, 2009; JANAJREH et al, 2013 apud

PREMALATHA, 2013). Apesar dos diversos avanços, em muitos casos a produção de

energia proveniente de fontes renováveis limpas pode ser cara ou mesmo ter um custo

variável que pode inviabilizar os investimentos, e tem sido aplicada em escalas

menores, muitas vezes em projetos móveis ou isolados da rede, mas não em grandes

infraestruturas. É aqui que Masdar quer se diferenciar ao integrar as variadas

tecnologias em larga escala, que permitem, ao mesmo tempo, ganhos pela economia

de escala e flexibilidade no planejamento.

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 109

Figura 44 – Master Plan de Masdar Fonte: Foster and Partners, 2007.

Os atuais projetos de energia de baixo carbono estão focados em 4 áreas:

energia solar concentrada, energia fotovoltaica, energia eólica e soluções industriais

de baixo carbono (MASDAR, 2014). Cada uma dessas fontes funciona de uma forma,

com vantagens e desvantagens que devem ser consideradas. Tomemos como

exemplo os painéis fotovoltaicos, que são leves e podem ser integrados às

edificações, porém não funcionam em dias nublados ou à noite, e o armazenamento

da energia pode ser custoso. Por outro lado, as plantas concentradoras de energia

térmica solar podem gerar eletricidade de forma imediata ou armazenar energia

térmica em soluções salinas para posterior transformação mas requerem grandes

áreas longe do centro urbano para sua instalação. Ainda assim, a energia prevista

gerada será significativamente menor do que a possível a partir de tecnologias que

utilizam fontes fósseis (NADER, 2009).

Uma visão integrada e holística se fez necessária para que as soluções de

sustentabilidade não fossem vistas como elementos isolados, mas que se

complementassem e colaborassem para o sucesso do todo, principalmente, reduzindo

a demanda de energia em aproximadamente 70% quando comparada a uma típica

cidade de Abu Dhabi (NADER, 2009). A aplicação de conceitos vernaculares de

desenho urbano para regiões desérticas como Abu Dhabi leva, como descreve Nader

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 110

(2009), ao desenho de ruas estreitas e sombreadas, aliadas a uma releitura de

tradicionais torres de ventilação que auxiliam na exaustão do ar quente, resultando

em temperaturas menores nos ambientes externos. Em conjunto com sistemas de

fachadas sombreadas e de alto desempenho nas edificações, e aliando sistemas de

ativos de monitoramento e controle às já citadas estratégias passivas, alcança-se um

menor consumo de energia para equipamentos de climatização, como ar-

condicionado.

Em relação à mobilidade, assim como em Dongtan, Masdar deve ser uma cidade

sem carros, com foco no pedestre. Foi criado um sistema de veículos autopropulsados

abastecidos por baterias elétricas chamado PRT (Personal Rapid Transit) que

circulam em túneis subterrâneos específicos (Figura 45 e Figura 46), dotados de imãs

para direcionamento dos veículos e de antenas para permitir a comunicação com a

central. Como parte do sistema, veículos FRT (Freight Rapid Transit) circulação pelas

mesmas vias, como caminhões e vans, para entrega de mercadorias e transporte de

resíduos. A cidade foi elevada em 7m para permitir a implantação do sistema

(MASDAR INSTITUTE, 2015; PREMALATHA et al, 2013).

Figura 45 – PRT em circulação na rede

subterrânea. Fonte: Foster and Partners, 2007.

Figura 46 – Rede interna de circulação dos PRTs.

Fonte: Foster and Partners, 2007.

Masdar também busca iniciativas na gestão de carbono através do Mecanismo

de Desenvolvimento Limpo (Premalatha et al, 2013) e implementar um projeto de

Captura e Armazenamento de Carbono (CCS – Carbon Capture and Storage). Esta

técnica consiste em que o CO2 proveniente da queima de combustíveis fósseis seja

capturado, transportado e armazenado em sumidouros (CENTRO CHINA-BRASIL,

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 111

2015). No caso de Masdar, pela sua proximidade com os campos de exploração de

petróleo, há maior facilidade para realização do processo, além de benefícios como a

liberação de gás natural valioso atualmente sendo injetado e tornar o petróleo menos

viscoso e, portanto, superior ao gás natural em termos de efetividade (NADER, 2009).

Esta injeção de CO2 permitiria, em paralelo, a conversão de gás natural em hidrogênio

e CO2, criando mais uma fonte de geração de energia através do hidrogênio e da

energia geotérmica (CRAMPSIE, 2008; BULLIS, 2009 e WALSH, 2011 apud

PREMALATHA, 2013).

Dados obtidos do relatório de sustentabilidade 2014 para a cidade de Masdar

(MASDAR, 2014), mostram a utilização da estrutura do GRI (Global Reporting

Initiative) e alguns quesitos como a existência de um Sistema de Gestão Integrado de

Qualidade, Saúde, Segurança e Meio Ambiente, um plano de gestão ambiental da

construção, a exigência de certificação dos edifícios através do sistema de avaliação

de sustentabilidade local chamado Estidama (uma obrigatoriedade imposta pelo

governo de Abu Dhabi a todas as novas edificações), bem como certificações

opcionais através do sistema LEED e os temas de desempenho de sustentabilidade.

O plano de gestão ambiental da construção aborda 11 pontos: treinamento e

indução, queixas ambientais, inspeção e auditoria ambiental, controle da qualidade do

ar, procedimento de controle de ruídos, gestão da água, gestão de materiais, gestão

de resíduos, incidentes ambientais e monitoramento ambiental. Quanto aos temas de

desempenho em sustentabilidade (Figura 47), são 6: força de trabalho,

desenvolvimento econômico, produtos e serviços, dados de desempenho ambiental,

gestão da cadeia de suprimentos e envolvimento da comunidade (Masdar, 2014).

Figura 47 – Temas de desempenho de sustentabilidade Fonte: Masdar, 2014, p. 53.

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Dentre as iniciativas em algumas destas áreas, o relatório cita o portal The Future

Build (Figura 48), no qual são apresentados todos os materiais e tecnologias que vêm

sendo desenvolvidos pelas empresas e empregados no projeto. Trata-se de uma base

de dados que pode ser acessada por qualquer pessoa, e na qual produtos e serviços

podem ser pesquisados a partir de categorias ou de sua relação com os sistemas de

avaliação Estidama ou LEED.

Figura 48 – Portal de materiais The Future Build Fonte: http://www.thefuturebuild.com/

As fichas técnicas de cada produto do portal apresentam dados ambientais

indicando se o produto economiza água, energia e resíduos, a quantidade de

conteúdo reciclado e compostos orgânicos voláteis, além de outros dados técnicos. A

estrutura de informações dos produtos é apresentada por Masdar (2014) em uma

matriz de avaliação de 15 critérios de sustentabilidade (Figura 49).

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Figura 49 – Matriz de sustentabilidade do portal The Future Build Fonte: Masdar, 2014, p.71

Quanto aos dados de desempenho ambiental para as emissões de GEE (Figura

50), o relatório apresenta um total de emissões de 29.122 teqCo2 para o ano de 2014,

uma redução de 17% em relação ao ano anterior. As emissões são em sua maior

parte (87,44%) relacionadas ao escopo 2, ou seja, consumo de energia.

Figura 50 – Emissões de GEE de Masdar Fonte: Masdar, 2014, p. 109.

Quanto ao carbono incorporado nos materiais, o relatório (MASDAR, 2014)

mostra que até a emissão do relatório, a quantidade de carbono embutida era de

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71.298,29 teqCO2, tendo sido evitados 51.017,20 teqCO2. A Figura 51 mostra uma

comparação entre o cenário BAU (business as usual) e o cenário de Masdar.

Figura 51 – Comparação de cenários de carbono embutido em Masdar Fonte: Masdar, 2014, p. 117.

A análise dos dados de resíduos, por outro lado, se mostra pouco positiva.

Apenas 8,5% do total de resíduos (em massa) não foi encaminhado a aterros

sanitários. Um número que mostra que as metas de uma cidade zero resíduos está

muito longe da realidade, principalmente quando se analisa a evolução entre os anos

de 2013 e 2014, nos quais a redução foi de apenas 2% (MASDAR, 2014).

Estudar uma cidade como Masdar nos permite acessar informações reais e

comparar o real com o planejado. Como conta Heathcote (2011), para se chegar a

Masdar deve-se utilizar a estrada ou o aeroporto, e apenas a partir de um determinado

ponto, a partir do qual embarca-se em um dos PRTs (apenas 10 dos 1300 inicialmente

previstos), pode-se chegar à pequena parte já construída da cidade. Embora,

diferentemente de Dogtan, ela tenha avançado e já seja uma realidade, muitos de

seus planos originais já foram alterados. A primeira fase, que incluía a sede da cidade,

o Masdar Institute, além das primeiras áreas residenciais e infraestruturas urbanas, e

estava prevista para 2016 foi postergada para 2025, ou talvez 2030 (CUGURULLO,

2013 e ABDULLAH 2012 apud PREMALATHA 2013). Com a crise econômica de

2008, muitos projetos nos Emirados Árabes receberam cortes nos investimentos, o

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mesmo ocorrendo com Masdar cujos investimentos inicialmente planejados em 22

bilhões de dólares diminuíram para 18 bilhões. Os realizadores do projeto se deram

conta de que o objetivo de buscar uma cidade inteira com zero emissões de carbono

e resíduos é algo irreal, caro e que acaba por se tornar irrelevante a outros modelos

de cidade o que também já fez com que os planos para suprimento de energia apenas

de fontes renováveis e o uso dos PRTs fossem repensados e hoje carros elétricos

podem circular pela cidade (CUGURULLO, 2013).

Entre alguns dos problemas identificados estão as enormes plantas de energia

fotovoltaica no deserto, cujos painéis com o tempo se recobrirão com uma fina camada

de areia do deserto que, em conjunto com o aumento de temperatura para

aproximadamente 80°C devido a sua cor escura e sua localização em um ambiente

tão quente como o de um deserto, reduzirão seu desempenho (BULLIS apud

PREMALATHA 2013). Existe também a impossibilidade de se conseguir zerar todas

as emissões de carbono, iniciadas desde os primeiros trabalhos em projeto e que não

se concentram apenas durante a geração de energia, mas também em seu uso, o que

leva a crer que no máximo a cidade pode zerar as emissões dentro dos limites de seu

território, mas não eliminando por completo todas as demais relacionadas, em

especial as geradas do lado de fora de suas muralhas (PREMALATHA 2013).

Ainda que não seja a abordagem deste trabalho, diversos autores reforçam como

Masdar não atende plenamente ao tripé da sustentabilidade a que se dispôs, em

especial no quesito social. Como bem descreve Cugurullo (2013), após de 18 meses

de pesquisa e diversas entrevistas com pessoas diretamente envolvidas com o projeto

e a construção, Masdar é um mostruário de novas tecnologias e estratégias, pensada

como um negócio que deve fazer dinheiro, não uma caridade. Não há a criação de

uma identidade, de um senso de apropriação emocional, o que faz com que a cidade

se torne naquilo que é descrito por Augé (2008 apud CUGURULLO 2013) como um

não-lugar.

Apesar disso, devemos aprender a partir de suas experiências. Mesmo por

detrás dos maiores interesses capitalistas das empresas que ajudam a moldar

Masdar, há tecnologias que certamente podem ser utilizadas em outros cenários para

a construção ou renovação de nossas cidades em busca de um futuro mais

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sustentável, que além de suas qualidades ambientais e econômicas não deve nunca

deixar de ser humano, ou seja, ter qualidade social.

3.5.3. Experiências Brasileiras

As experiências brasileiras no campo da criação de cidades e comunidades de

baixo carbono ainda está no começo e ocorre de forma bastante incipiente. Apesar

disso, já há iniciativas de projetos em escala urbana aplicando alguns conceitos de

sustentabilidade, sendo que em apenas dois deles encontramos claramente indícios

de envolvimento em programas de redução global das emissões de carbono: Pedra

Branca, na cidade de Palhoça, Santa Catarina e Parque da Cidade, na cidade de São

Paulo. Ambos fazem parte do Climate Positive Development Program, da Fundação

Clinton, que descrevemos na seção 4.2.3.1. Os projetos participantes do programa

devem implementar estratégias que reduzam, anualmente, as emissões operacionais

de determinadas fontes e gerar emissões de créditos para compensar e exceder o

restante, ou seja, dentro de um determinado escopo limitado, devem ser carbono-

negativos ou, como diz o nome do programa, “clima-positivo”.

Adicionalmente, outros projetos que merecem destaque pela inovação em

sustentabilidade e ações pontuais quanto à questão do carbono são:

Ilha Pura, Rio de Janeiro, RJ;

Bairro Quartier, Pelotas, RS.

3.5.3.1. Cidade Pedra Branca

O bairro Pedra Branca, localizado na cidade de Palhoça, Santa Catarina, e

bastante próximo à capital do estado, Florianópolis, começou como um loteamento

tradicional de uma fazenda, cujo master plan foi desenvolvido pela equipe liderada

pelos arquitetos Hector Vigliecca, Silvia Lenzi e Sarah Feldman, e que continha uma

centralidade que, após a primeira fase, buscou um novo rumo pela incorporação das

estratégias do Novo Urbanismo, a fim de se tornar um bairro-cidade para 40.000

moradores, possibilitando 30.000 empregos e vagas para 10.000 estudantes ao ter

como âncora do projeto a universidade UNISUL.

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Figura 52 – Master plan da Pedra Branca, com foco no loteamento da 1ª fase Fonte: Oliveira, [2014], p.114.

Nesta segunda fase, em que se desenvolveu o projeto da centralidade,

somaram-se outras empresas ao time, trazendo assim uma nova visão e o caráter da

sustentabilidade com bases técnicas.

Figura 53 – Centralidade do Pedra Branca Fonte: Oliveira, [2014], p.114.

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Dentre os princípios aplicados ao desenho urbano da segunda fase, destacam-

se, segundo Oliveira (2014, p.119):

Prioridade para o pedestre;

Uso misto e complementariedade;

Diversidade de moradores;

Senso de comunidade;

Densidade equilibrada;

Sustentabilidade e alta performance do ambiente construído;

Espaços públicos atraentes e seguros;

Harmonia entre a natureza e as amenidades urbanas;

Conectividade.

No ano de 2009, após ter participado de um evento em Londres no qual o projeto

ganhou menção honrosa, a equipe da Fundação Clinton tomou conhecimento do

projeto, e o incluiu em seu programa Climate Positive Development Program,

juntamente com outros 18 projetos. Desta forma, o projeto Pedra Branca passou a

incluir critérios ainda mais exigentes para redução das emissões de carbono, de forma

a atender às exigências do programa (OLIVEIRA, 2014).

Ao andar pela cidade-bairro, é notável a preocupação com a escala do pedestre,

com a criação de espaços urbanos voltados às pessoas e não aos carros através da

principal alameda, que possui circulação compartilhada e dos edifícios de uso misto,

cujos térreos possuem comércios e geram fachadas ativas. Os edifícios comerciais

são desenvolvidos e construídos com base em critérios de sustentabilidade, e os

edifícios residenciais possuem um trabalho em suas fachadas, denotando uma

preocupação com os critérios bioclimático, que permeiam o projeto.

Embora dados públicos não tenham sido disponibilizados, a preocupação com a

redução das emissões é constante e controlada até que todo o empreendimento tenha

sido construído e entregue, conforme os compromissos com o programa da Fundação

Clinton.

Trata-se de um projeto de referência no Brasil, e que deve ser visto como

exemplo na construção de novas áreas, não apenas pelas estratégias que reduzem

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seu impacto ambiental e as emissões de GEE, mas também pela criação de um

ambiente urbano ativo e humanizado.

3.5.3.2. Parque da Cidade

O Parque da Cidade é um empreendimento de uso misto com 10 edifícios,

predominantemente comerciais, localizado na cidade de São Paulo, cujo

desenvolvimento está a cargo da Odebrecht Realizações Imobiliárias.

Figura 54 – Empreendimento Parque da Cidade Fonte: Parque da Cidade.

Assim como O Cidade Pedra Branca, o projeto faz parte do programa Climate

Positive Development Program, da Fundação Clinton, pelo que deve zerar e

compensar suas emissões de carbono de fontes específicas, além de ter recebido a

certificação LEED-ND, nível Silver. Segundo os incorporadores, o Parque da Cidade

congrega atributos que a mobilidade urbana alternativa, prevendo espaços públicos

para o convívio da vizinhança e estratégias de redução dos impactos ambientais. Seus

edifícios buscam as certificações LEED e AQUA-HQE.

3.5.3.3. Ilha Pura

Ilha Pura é o nome comercial adotado pelo consórcio formado entre as empresas

Carvalho Hosken e Odebrecht Realizações Imobiliárias para empreendimento que

será a Vila dos Atletas durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, no Rio de

Janeiro. Após o fim dos eventos, esta área, que já está em processo de

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comercialização, será entregue aos futuros moradores, com o objetivo de se

consolidar como uma nova área urbana, dentro de uma área ainda maior com

horizonte de desenvolvimento de 15 anos.

Figura 55 – Área da Ilha Pura pré-construção Fonte: Ilha Pura, [201-], p.7.

Figura 56 – Master plan da Ilha Pura e seus condomínios Fonte: Ilha Pura, [201-], p.18.

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A área da comunidade voltada aos jogos, onde ocorreu o primeiro evento do

Rock in Rio, em 1985, possui 206.000 m², contabilizando 710.000m² de área

construída, 31 edifícios residenciais de 18 pavimentos cada, divididos entre 7

condomínios fechados, totalizando 3604 unidades habitacionais e um centro

comercial de pequeno porte, de projeto ainda indefinido, que deve abrigar lojas e

alguns escritórios. A área ainda contempla um parque aberto ao público com

64.000m². A localização é o bairro de Camorim, na região de Jacarepaguá, próximo à

Barra da Tijuca. O master plan pode ser visualizado na Figura 56.

Quanto à sustentabilidade, o projeto implementa uma série de estratégias,

distribuídas em 7 pilares ambientais (Figura 57), além de já ser certificado por alguns

sistemas de avaliação ambiental. Na escala urbana, foi certificado através do sistema

AQUA Bairros e Loteamentos, além de ter sido o primeiro a receber o selo LEED-ND

na América Latina. Os edifícios, por sua vez, são certificados através do AQUA

Habitacional e do Selo Casa Azul, da Caixa Econômica Federal, além de buscarem o

selo Qualiverde, da Prefeitura do Rio de Janeiro. (ILHA PURA, [201-] e TECHNE,

2014)

Figura 57 – Pilares de sustentabilidade da Ilha Pura Fonte: Ilha Pura, [201-], p.23.

O foco das ações de mitigação de carbono foi o canteiro de obra. Os estudos da

pegada de carbono indicaram que deveria haver uma preocupação com a origem da

madeira, o que levou à implementação de um programa para engajar a obra na

aquisição de madeiras certificadas através dos selos FSC e CERFLOR, além da

construção de duas centrais de concreto para produção local do produto, que segundo

os dados, deixaram de emitir 1200 toneladas de CO2 (ODEBRECHT INFORMA, 2013

e ODEBRECHT, 2014).

Pode-se dizer que, embora não haja dados públicos sobre uma possível

quantificação das emissões durante a fase de operação, o empreendimento poderá

emitir menos GEE devido principalmente à implementação de estratégias para maior

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eficiência energética e gerenciamento dos resíduos e sua localização frente a uma

das futuras linhas do BRT, em fase de construção, estratégias presentes sobretudo

entre os critérios dos diferentes sistemas de avaliação ambiental aplicados.

3.5.3.4. Bairro Quartier

No município de Pelotas, que possui a terceira maior população do estado do

Rio Grande do Sul, está em desenvolvimento, pelo desenvolvedor Joal Teitelbaum,

um novo bairro chamado Quartier, cujo projeto urbanístico é de autoria de Jaime

Lerner, ex-prefeito de Curitiba, e conhecido pelo seu trabalho relacionado à

mobilidade e o conceito de acupuntura urbana. O bairro será implantado em uma área

atualmente vazia em um dos eixos de crescimento da cidade: um terreno de 30

hectares e potencial construtivo de 550.000 m².

Figura 58 – Localização urbana do bairro Quartier Fonte: Bairro Quartier

O projeto do bairro, que tem como referência o novo urbanismo, calca seu

desenvolvimento em três palavras em inglês que agregam os conceitos de referência:

GREEN: Foco na eficiência energética, conservação ambiental, uso

racional da água, gestão de resíduos, permeabilidade do solo, baixa

emissão de carbono. O projeto está sendo desenvolvido para obter a

certificação ambiental LEED-ND.

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LIFESTYLE: Incentivo a um bairro com ruas vivas, com espaço para

convivência, interação, experiência agradável e segura. Um bairro para

pessoas com caminhabilidade.

SMART: um bairro inteligente seguro com sistema de monitoramento

planejado, ruas compartilhadas entre ciclistas, carros e pedestres,

mobiliário urbano, redes subterrâneas e wi-fi disponível em todo o bairro.

Figura 59 – Visão geral do bairro Fonte: Bairro Quartier

Alguns elementos a destacar do projeto:

Parque Quartier: uma ampla área verde de 10 hectares será preservada e

ganhará estrutura de decks, trilhas, ciclovias, academia ao ar livre, quadras

poliesportivas e playgrounds, formando o maior e mais inspirador parque da

cidade.

Boulevard Quartier: um amplo e arborizado boulevard pronto para ser ponto

de encontro e convívio não só do Quartier, mas de toda Pelotas, preservando

a vegetação existente. Uma grande via que vai abrigar lojas, serviços,

conveniências e escritórios e está preparada para dar prioridade às pessoas

que vão circular por ali.

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Comércio de rua: o projeto prevê lojas e serviços junto ao Boulevard Quartier

estimulando a vida a pé por esta via, o contato entre as pessoas e o espírito

de bairro.

Open Mall: toda a comodidade de um shopping center com o agradável clima

das compras em lojas de rua e do passeio pela vizinhança. Esta área

comercial inspira a vida no bairro, a praticidade e os passeios a pé.

Centralidades: está prevista a construção de um grande hotel, de um prédio

corporativo para escritórios e um hipermercado na Rua João Jacob Bainy

para levar ao bairro a comodidade de estar perto de tudo o que é essencial.

Além disso, podem-se destacar as seguintes estratégias ambientais segundo o

incorporador:

Gestão da água;

Gestão de energia;

Gestão de resíduos;

Construção sustentável;

Prioridade ás pessoas;

Caminhabilidade;

Permeabilidade do solo;

Redução de gases de efeito estufa;

Ciclovias e transporte público;

Ruas compartilhadas para pessoas, bicicletas e carros;

Instalações elétricas subterrâneas nas principais vias.

Embora haja poucos dados detalhados sobre o projeto, que ainda está em

desenvolvimento, espera-se que venha a se tornar referência na região e no pais.

Conta também, em sua equipe, com profissionais envolvidos em projetos similares

com ênfase na sustentabilidade, como o Cidade Pedra Branca e a Ilha Pura.

Page 125: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

“O crepúsculo começou a cair quanto às mudanças do clima, e assim, a coruja de Minerva pode abrir suas asas. Podemos, agora, iniciar o processo de compreender por que a tentativa global de evitar graves mudanças climáticas antropogênicas falhou e traçar nosso curso de navegação em direção a um mundo refeito pela ação humana. ”

Dale Jamieson

Page 126: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 126

4. INICIATIVAS E FERRAMENTAS PARA CIDADES E COMUNIDADES DE BAIXO

CARBONO

Neste capítulo, apresentaremos as principais iniciativas, públicas e privadas, em

escala global, que visam ao engajamento das cidades em um futuro de baixo carbono.

Algumas destas iniciativas são, adicionalmente, ferramentas utilizadas como parte do

processo de planejamento, projeto e construção de cidades e comunidades

sustentáveis. Embora nem todas elas tenham a redução das emissões de GEE como

seu foco principal, esta preocupação subjaz de forma transversal quando

implementamos estratégias sustentáveis.

4.1. Entendendo e Quantificando o Padrão de Emissões

Entender o padrão de emissões significa quantifica-las através do que se

costuma chamar análise da pegada de carbono do objeto em estudo. E embora não

exista uma definição amplamente aceita e concreta de pegada de carbono, podemos

adotar um conceito mais reconhecido e que foi proposto por Wiedman et al (apud GAO

e WANG, 2014, p.238, tradução nossa) que é a “medida da quantidade total das

emissões diretas e indiretas de dióxido de carbono causadas por uma atividade ou

acumuladas ao longo dos estágios de vida de um produto. Portanto, a pegada de

carbono é a medida das emissões de dióxido de carbono”.

Já Franchetti e Apul em Carbon Footprint Analysis – Concepts, Methods,

Implementation, and Case Studies (2013) definem a Análise da Pegada de Carbono

como a medição, incluindo-se a origem, composição e quantidades, dos processos

emissores de GEE. Ainda que, no senso comum, o termo “pegada de carbono” seja

livremente utilizado para descrever as emissões relacionadas às atividades de uma

pessoa ou empresa, pode ser usado também na estimativa das emissões de nações,

eventos, produtos ou serviços. Os autores apresentam ainda o termo “análise de

pegada de carbono” como sinônimo de inventário de “inventário de gases de efeito

estufa”.

“A análise da pegada de carbono pode ser realizada sob a perspectiva

de um produto ou sob a perspectiva das atividades de indivíduos, grupos ou

Page 127: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 127

organizações. A perspectiva do produto se alinha com a estrutura de uma

Análise de Ciclo de Vida (ACV) e reporta as emissões de GEE de todo o ciclo

de vida ou subconjunto de fases do ciclo de vida de um bem ou serviço. A

perspectiva das atividades, no entanto, deriva em um inventário anual de

emissões de GEE decorrentes das atividades dos indivíduos, grupos,

organizações, companhias ou governos. ” (FRANCHETTI e APUL, p. 39,

2013, tradução nossa).

Alvarenga (2015), por sua vez, alega que, apesar de o inventário de GEE e a

pegada de carbono serem, em uma visão superficial, a mesma coisa, já que ambas

quantificam as emissões de GEE relatando o resultando em uma unidade única, a

primeira está mais voltada às organizações, enquanto a segunda para os produtos

fornecidos por esta organização, resultando, portanto, em escopos e metodologias

diferentes. O autor ainda complementa que a pegada de carbono de produtos é uma

análise de ciclo de vida (ACV), porém, com foco apenas em mudanças climáticas e

no potencial de aquecimento global.

4.1.1. Corporações e Produtos

Segundo Encilo (s.d.), a realização das ACVs, que considera todas as etapas de

vida de um produto (extração, produção, distribuição, uso, destinação final, etc.),

podendo ultrapassar as fronteiras da organização (exemplificado na Figura 60), toma

por referência o conjunto de normas da série ISO 14.040, no Brasil trazidas pela ABNT

e acrescidas e incorporadas às normas brasileiras como NBR ISO:

NBR ISO 14.040 – Gestão Ambiental – Avaliação do Ciclo de Vida –

Princípios e Estrutura (2001);

NBR ISO 14.041 – Gestão Ambiental – Avaliação do Ciclo de Vida –

Definição de Objetivo e Escopo e Análise de Inventário (2004);

NBR ISO 14.042 – Gestão Ambiental – Avaliação do Impacto do Ciclo de

Vida (2004);

NBR ISO 14.043 – Gestão Ambiental – Avaliação do Ciclo de Vida (2004)

– Interpretação do Ciclo de Vida (2005);

Ao avaliar o impacto de ciclo de vida quantifica os impactos ambientais em

diversas categorias, sendo as mais comuns (EnCiclo, s.d.):

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 128

Consumo de recursos naturais;

Consumo de energia;

Efeito estufa;

Acidificação;

Toxicidade humana;

Ecotoxicidade;

Eutrofização;

Depleção da camada de ozônio;

Uso de terra, etc.

Figura 60 – Ciclo de Vida de uma Embalagem. Fonte: EnCiclo, s.d.

Segundo ABNT (2001), as fases a serem consideradas em uma avaliação de

ciclo de vida são: definição de objetivo e escopo, análise de inventário, avaliação de

impactos e interpretação de resultados.

Quando falamos da análise da pegada de carbono, as metodologias existentes

são diversas e foram desenvolvidas para cada tipo de produto e escala. Gao et al, no

documento A comparative study of carbon footprint and assessment standards (2014)

fazem um levantamento e análise das distintas metodologias existentes e aplicáveis

a pessoas, produtos, organizações, cidades e países (HERTWICH e PETERS, 2009;

WIEDMANN e MINX, 2007; WEIDEMA et al, 2008 apud GAO et al, 2014).

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 129

Figura 61 – Estrutura da ACV. Fonte: ABNT, 2001.

As emissões de GEE de uma organização são medidas e verificadas para todas

suas atividades, incluindo-se a energia consumida por veículos, processos e edifícios.

Por outro lado, na escala de um país ou cidade, são consideradas as emissões por

todo o consumo de materiais e energia, vegetação e outros sequestros de carbono,

bem como as emissões diretas e indiretas devido às atividades de importação e

exportação. Percebe-se, assim, como diferentes métodos, escalas e unidades

funcionais (objetos) podem ser consideradas no cálculo da pegada de carbono (GAO

et aI, 2014).

Figura 62 – Aplicações e métodos correspondentes de pegada de carbono. Fonte: GAO e WANG, p. 238, 2014.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 130

Conforme ilustra-se na Figura 62, são três os métodos de cálculo: input-output

(IO), avaliação de ciclo de vida (LCA ou ACV), e um misto dos dois anteriores (IO-

LCA) (HUANG et al, 2009; MATTHEWS et al, 2008; MINX et al, 2009; Wiedmann et

al, 2010; HAMMERSCHLAG et al, 2003; WEIDEMA et al, 2008, apud GAO et al, 2014).

Os métodos podem ser mais ou menos eficientes segundo o objeto ou escala

analisada.

Dentro de um cenário de comparações e mesmo comércio de emissões, é

necessário que se adotem metodologias padronizadas, replicáveis e amplamente

aceitas, pelo que governos e organizações internacionais como a ISO – International

Organization for Standardization, WRI – World Resources Institute, WBCSD – World

Business Council for Sustainable Development e a BRI – British Standards Institution

desenvolveram diversas metodologias (Gao et al, 2014), as que se seguem aplicáveis

à escala da organização:

NBR ISO 14.064-1 – Gases de Efeito Estufa, Parte 1: Especificação e

orientação a organizações para quantificação e elaboração de relatórios

de emissões e remoções de gases de efeito estufa (2007)

NBR ISO 14.064-1 – Gases de Efeito Estufa, Parte 2: Especificação e

orientação a projetos para quantificação, monitoramento e elaboração de

relatórios das reduções de emissões ou da melhoria das remoções de

gases de efeito estufa (2007)

NBR ISO 14.064-1 – Gases de Efeito Estufa, Parte 3: Especificação e

orientação para a validação e verificação de declarações relativas a gases

de efeito estufa (2007)

GHG Protocol

O GHG Protocol é a principal e mais utilizada ferramenta em todo o mundo para

quantificação de GEE, nascida de uma parceria entre o WRI e o WBCSD em busca

de uma nova geração de programas para o combate às mudanças climáticas. Serve

de base a quase todos os demais standards de GEE no mundo, da ISO ao Climate

Registry. Com a primeira edição lançada em 2001, revisões e uma série de

ferramentas de cálculo, foi adotado como base para o desenvolvimento da ISO

14.064-I, e um memorando de entendimento foi assinado em 2007 entre ISO, WRI e

WBCSD para a promoção de ambos os standards.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 131

Em 2008 foi então adaptado à realidade brasileira pelo GVCes e o WRI em uma

parceria do o Ministério do Meio Ambiente, CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro

de para o Desenvolvimento Sustentável), WBCSD e mais 27 empresas, em um

constante processo de aperfeiçoamento da metodologia (GVCes, 2011). Até o

momento, o programa brasileiro possui apenas a ferramenta voltada aos inventários

corporativos.

Tanto o GHG Protocol, quanto a ISO 14.001 fornecem requisitos para

quantificação das emissões de GEE e ainda que haja pequenas diferenças, ambas as

metodologias são parecidas e seu desenvolvimento buscou uma harmonia entre

ambas – da mesma forma, ambas consideram os 6 gases de efeito estufa definidos

como prioritários pelo protocolo de Quioto. Os procedimentos e passos-chave na

avaliação da pegada de carbono de uma organização (Gao et al, 2014; FGVCes, [20-

-]) estão na Figura 63.

Figura 63 – Procedimentos de avaliação da pegada de carbono organizacional. Fonte: Gao e Wang, p. 239, 2014.

I. Definição dos limites organizacionais, em que se definem quais partes

da empresa deverão ser incluídas ou excluídas do inventário, em função

das estruturas legais e organizacionais da empresa: operações de

propriedade integral, joint ventures incorporadas e não incorporadas. O

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 132

GHG Protocol as abordagens de controle operacional e participação

societária, definindo quais fontes entrarão ou não no cálculo;

II. Estabelecimento dos limites operacionais, em que se definem quais

fontes serão quantificadas. As emissões relativas ao Escopo 1 e Escopo

2 são obrigatórias, e o Escopo 3 é opcional, podendo ser apresentado

apenas parcialmente (as definições de cada escopo podem ser vistas na

Figura 64);

III. Cálculo da pegada de carbono, com levantamento de todas as fontes

emissoras. O cálculo pode ser feito especificamente para a fonte, ou

utilizando-se referências bibliográficas. É importante sempre que se deixe

clara todas as decisões tomadas no processo;

IV. Reportar e verificar, de forma que o inventário possa ser verificado por

uma terceira parte externa, sendo parte de um programa GHG ou

comunicado publicamente de alguma forma, dando credibilidade ao

processo.

Figura 64 – Escopos de emissões de GEE segundo GHG Protocol. Fonte: https://www.klabin.com.br/

Além disso, o processo de contabilização, quantificação, elaboração e

publicação dos inventários, devem atender aos cinco princípios de contabilização

definidos pelo GHG Protocol Corporate Standard e a ISO 14.064 (FGVCes e WRI,

[20--]):

I. Relevância, contendo informações úteis internas ou externas à

organização;

II. Integralidade, para que se comuniquem todas as fontes emissoras

dentro do limite do inventário, independentemente de sua significância;

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 133

III. Consistência na abordagem e cálculo para comparação dos inventários

ao longo do tempo;

IV. Transparência sobre os processos, procedimentos, pressupostos e

limitações do inventário, detalhando hipóteses, referências, exclusões;

V. Exatidão, reduzindo-se as incertezas e garantindo a maior precisão

possível.

Ao tratarmos do cálculo da pegada de carbono de produtos, podemos listar as

seguintes metodologias (GAO et al, 2014), que não serão detalhadas aqui devido à

sua escala ser bastante diferente do que se propõe este trabalho, cidades e

comunidades:

PAS 2050:2011 – Specification for the assessment of the life cycle

greenhouse gas emissions of goods and services, publicada pela British

Standards Institution, Carbon Trust e Defra;

TS Q 0010 - General Principles for the Assessment and Labeling of

Carbon Footprint of Products, publicada pelo Ministério da Economia,

Comércio e Indústria do Japão (2009);

The Product Life Cycle and Corporate Value Chain, do GHG Protocol,

produzido pelo WRI e WBCSD;

ISO 14.067 - Greenhouse gases -- Carbon footprint of products --

Requirements and guidelines for quantification and communication.

4.1.2. Cidades e Comunidades

Tal qual para produtos, e organizações, a avaliação da pegada de carbono das

cidades e comunidades deve seguir padrões metodológicos comparáveis – o que até

pouco tempo atrás não era realidade, com cada cidade aplicando metodologias

diferentes e dificultando comparação e benchmarking8. Algumas metodologias estão

disponíveis na atualidade:

2006 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories

8 “(...) benchmarking é o contínuo processo de mensuração de produtos, serviços e práticas, de modo a confrontar os resultados com os dos concorrentes mais fortes ou com os daqueles que são considerados líderes da indústria. ” Fonte: Camp, 1993.

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 134

GPC – Global Protocol for Community-Scale Greenhouse Gases

Emission Inventories (GPC), preparado pelo GHG Protocol;

ISO 37.120:2014 - Sustainable development of communities -- Indicators

for city services and quality of life

PAS 2070:2013 - Specification for the assessment of greenhouse gas

emissions of a city – Direct plus supply chain and consumption-based

methodologies, de responsabilidade do BSI – British Standards Institution

IEAP – International Local Government Greenhouse Gas Emissions

Analysis Protocol, preparado pelo ICLEI

O documento do IPCC é a referência de base para a elaboração das

metodologias de quantificação de GEE em todo o mundo. Sua base é destinada

especialmente aos inventários nacionais, muito embora seja adaptável às escalas

subnacionais, como as cidades e comunidades, aqui tratadas. Para entendermos

como funcionam as metodologias específicas para cidades e comunidades, vamos

detalhar o GPC, do GHG Protocol, que embora recente, é a metodologia mais

amplamente utilizada, tendo sido adotada por diversos programas e iniciativas (GHG

PROTOCOL, 2015):

Compact of Mayors, que é um acordo entre uma rede de cidades para

reduzir as emissões e aumentar a resiliência às mudanças climáticas;

carbonn Climate Registry, um repositório do Compact of Mayors, para que

as cidades reportem seus inventários e tenham acesso a ferramentas e

modelos;

CDP – Carbon Disclosure Project, a maior plataforma mundial para

reportar os inventários de GEE, sendo a ferramenta oficial do C40,

Compact of Mayors, e Compact of States and Regions;

PAS2070, que é a especificação do BSI para quantificação de emissões,

e que tem uma de suas metodologias com base no GPC;

ISO37120, uma norma que objetiva a certificação de cidades, e que

apresenta uma série de indicadores para a medição do desempenho de

sustentabilidade, dentre os quais, mudanças climáticas, que devem

utilizar-se do GPC;

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 135

Iniciativa Low Carbon Livable Cities, uma ferramenta do Banco Mundial

com o objetivo de auxiliar cidades dos países em desenvolvimento a

integrarem o desenvolvimento de baixo carbono, incluindo-se o

planejamento e o financiamento. Os inventários de GEE devem utilizar o

GPC;

Iniciativa Emerging and Sustainable Cities, do Banco Interamericano de

Desenvolvimento, que apoia cidades emergentes de pequeno e médio

porte da América Latina e Caribe a perseguir o desenvolvimento de baixo

carbono, incluindo o GPC em sua metodologia.

4.1.2.1. Global Protocol for Community-Scale GHG Inventories

Uma parceria entre o WRI – World Resources Institute, C40 Cities Climate

Leadership Group e o ICLEI – Local Governments for Sustainability levou à criação de

um protocolo, nos moldes do já existente GHG Protocol para organizações, mas

voltado à escala das cidades e comunidades, o Global Protocol for Community-Scale

Greenhouse Gases Emission Inventories (GPC), ou Protocolo Global para Inventários

de Emissões de Gases de Efeito Estufa na Escala da Comunidade, buscando-se a

garantia de mais consistência e credibilidade através de um esquema claro e robusto

(WRI et al, 2014). Os principais objetivos da metodologia (GHG PROTOCOL, 2015)

são:

Facilitar inventários de GEE robustos nas cidades para o planejamento

das ações referentes às mudanças climáticas;

Auxiliar as cidades na definição dos anos-base de seus inventários, metas

de redução e acompanhamento do desempenho;

Garantir medições e relatórios transparentes e consistentes entre as

cidades com base em princípios de contabilidade e relatórios

internacionais;

Permitir que os inventários municipais sejam agregados aos níveis

nacionais e subnacionais/

Demonstrar o papel das cidades no combate às mudanças climáticas,

facilitando a compreensão através do benchmarking – e agregação de

dados comparáveis.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 136

O desenvolvimento da ferramenta foi feito em diversas etapas, incluindo-se uma

fase de teste do piloto, entre maio e dezembro de 2013, e o lançamento oficial em

dezembro de 2014, durante a COP 20, em Lima, no Peru. O mapa da Figura 65 mostra

as cidades participantes do piloto, tendo Rio de Janeiro, Goiânia e Belo Horizonte

representando o Brasil. Além disso, já na fase beta, temos Florianópolis, Fortaleza,

João Pessoa, Palmas, Recife e Vitória envolvidas.

Figura 65 – Cidades aderentes ao GPC. Fonte: <http://www.ghgprotocol.org/GPC_cities_list>

Segundo WRI et al (2014), assim como nos inventários organizacionais, as

cidades9 devem definir os limites de seu inventário, identificando área geográfica,

intervalo de tempo e as fontes que serão cobertas. Os limites geográficos podem

referir-se a fronteiras ou divisões administrativas, bairros, regiões metropolitanas ou

outras entidades geograficamente identificáveis. As emissões de GEE devem ser

agrupadas em seis setores principais, que são apresentados com seus subsetores no

Quadro 19.

9 O GPC informa que “o termo cidade é usado ao longo de toda a metodologia referindo-se a quaisquer

entidades geográficas subnacionais discerníveis tais como comunidades, cidades ou províncias, cobrindo todos os níveis de jurisdição subnacional, bem como governos locais e entidades legais da administração pública”. (WRI et al, 2014, p. 3, tradução nossa)

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 137

Quadro 19 – Setores e Subsetores de Emissão de GEE em uma Cidade.

Setores Subsetores

Energia Estacionária Edifícios residenciais

Edifícios e instalações (facilidades) comerciais e institucionais

Indústrias de manufatura e construção

Indústrias de energia

Atividades de agricultura, silvicultura e pesca

Fontes não especificadas

Emissões fugitivas de mineração, processamento,

armazenamento e transporte de carvão

Emissões fugitivas de sistemas de óleo natural e gás

Transportes Estradas

Fora de estrada

Ferrovias

Hidrovias

Aviação

Resíduos Disposição de resíduos sólidos

Tratamento biológico de resíduos

Incineração e queima a céu aberto

Descarga e tratamento de águas residuais

Processos Industriais e Uso de

Produtos (IPPU)

Processos industriais

Uso do produto

Agricultura, Silvicultura e outros

Usos do Solo (AFOLU)

Pecuária

Terras

Outras agriculturas

Outras emissões Escopo 3 Outras emissões que ocorram fora dos limites geográficos

como resultado das atividades da cidade. Estas emissões não

são cobertas pelo GPC mas podem ser reportadas

separadamente.

Fonte: WRI et al, 2014, p. 10, tradução nossa.

A divisão entre três escopos de emissão, ilustrados na Figura 20, também

permanece, sendo:

Escopo 1 (limite verde): Emissões de GEE de fontes localizadas dentro

do limite geográfico;

Escopo 2 (limite azul): Emissões de GEE devido ao uso, dentro dos limites

geográficos, de energia (eletricidade da rede, calor, vapor e/ou

resfriamento);

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 138

Escopo 3 (fora dos limites verde e azul): Outras emissões que ocorram

fora dos limites geográficos como resultado das atividades da cidade.

Figura 66 – Fontes de emissões de GEE e Escopos. Fonte: WRI et al, 2014, p. 11

A emissão dos relatórios deve ser feita de duas formas distintas, embora

complementares (WRI et al, 2014):

Enquadramento de escopos: Considera e soma todas as emissões dos

escopos 1, 2 e 3, sendo que o escopo 1 permite a contabilização das

emissões que ocorrem dentro dos limites geográficos.

Enquadramento induzidos pela cidade: Totaliza as emissões de GEE

atribuíveis às atividades que ocorrem dentro dos limites geográficos e

cobre fontes específicas selecionadas e representativas na maioria das

cidades, para as quais há metodologias disponíveis.

Para os cálculos de emissões globais e setoriais, as cidades têm liberdade de

escolher as metodologias que vão de encontro aos seus objetivos, disponibilidade de

dados e consistência dos inventários nacionais e programas de que participam, de

forma que não existe obrigatoriedade, por parte do GPC, do uso de metodologias

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 139

específicas, apenas o atendimento às regras e princípios de realização dos

inventários, e que, sempre que possível, estejam alinhadas com o 2006 IPCC

Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories. (WRI et al, 2014)

A estimativa das emissões de GEE, em um determinado período de tempo, é

feita multiplicando-se os dados de uma determinada atividade pelo fator de emissão.

Os dados da atividade podem ser, por exemplo, volume de gás utilizado, quilômetros

dirigidos, toneladas de resíduos enviados a um aterro. O fator de emissão, por sua

vez, refere-se à massa de emissões de GEE relativos à unidade de atividade.

Tomando como exemplo o cálculo de emissões relativas ao uso de eletricidade, temos

a quantidade de Quilowatt-hora (kWh) utilizados, que devem ser multiplicados pelo

seu fator de emissão (kgCO2/kWh) – fator de emissão este que depende do tipo de

fonte de energia (hidrelétrica, gás, etc.). Assim, ao se reportar os resultados, devem

ser identificadas as toneladas métricas de cada GEE, bem como de CO2 equivalente.

Os dados dessas fontes podem ser advindos do governo, universidades, centros de

pesquisa, agentes do setor, etc., sendo sempre recomendado o uso de fontes

confiáveis nacionais ou locais, publicamente disponíveis e verificadas. Ressaltamos

ainda que os princípios de contabilidade e relatórios são os mesmos do GHG Protocol

para organizações: relevância, integralidade, consistência, transparência, exatidão.

(WRI et al, 2014)

4.2. Ferramentas e Iniciativas para Comunidades de Baixo Carbono

4.2.1. WRI – World Resources Institute

O WRI é uma organização de pesquisa global presente em mais de 50 países,

incluindo o Brasil, que tem por objetivo trabalhar diretamente com os líderes com foco

em seis questões críticas de meio ambiente e desenvolvimento: clima, energia,

alimentos, florestas, água, e cidades e transporte.

O WRI está envolvido em diversas iniciativas, pesquisas e documentos mundiais

relacionados às mudanças climáticas, incluindo diversos documentos consultados e

mencionados nesta pesquisa.

Page 140: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 140

4.2.2. ICLEI – Local Governments for Sustainability

O ICLEI é uma rede global, fundada em 1990, de mais de 1000 cidades

comprometidas com a construção de um futuro sustentável, e que conta com uma

série de programas para que as cidades sejam sustentáveis, resilientes, de baixo

carbono, com biodiversidade, inteligentes (smart cities), inclusivas, etc.

O ICLEI está envolvido em diversos programas, iniciativas e programas mundiais

para que as cidades enfrentem as mudanças climáticas através de ações de mitigação

e adaptação.

Dentre os tópicos abordados pelo trabalho do WRI destacamos: eficiência dos

edifícios, aquisição de energia verde, planejamento de energias limpas, rastreamento

de emissões, energia e clima, ações climáticas internacionais, resiliência urbana ao

clima, mobilidade urbana sustentável, vulnerabilidade e adaptação, avaliação de risco

d’água.

4.2.2.1. Heat+

Dentre as contribuições do ICLEI, está o HEAT+, Harmonized Emissions

Analysis Tool plus, ou Ferramenta de Análise de Emissões Harmonizada, que é uma

ferramenta online para a realização de inventários de GEE, poluentes do ar e outros

Compostos Orgânicos Voláteis (COVs). O HEAT+ permite:

- Preparar inventários e prever emissões;

- Preparar planos de ação;

- Rastrear compromissos;

- Medir progresso em relação às metas;

- Informar decisões de políticas;

- Determinar prioridades;

- Quantificar progresso; e

- Reportar resultados diferenciados de escopo.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 141

4.2.2.2. GCC – GreenClimateCities

O GreenClimateCities ou GCC (ICLEI, 2015a) é um abrangente programa de

mitigação das mudanças climáticas, desenvolvido pelo ICLEI, para governos locais,

que possui 3 fases (I. analisar, II. agir, III. acelerar) que esquematizam como as

opções de baixa emissão podem ser identificadas e integradas às políticas de

desenvolvimento urbano, planos e processos.

A metodologia do GCC incorpora um conjunto de ferramentas e recursos,

relacionados às fases, como ilustra a Figura 67.

Figura 67 – Metodologia, fases, ferramentas e recursos do GCC. Fonte: ICLEI, 2015a.

4.2.2.3. UrbanLEDS

Segundo ICLEI (2015b), outro programa que merece destaque é o UrbanLEDS

(Urban Low Emission Development Strategies), Estratégias de Desenvolvimento

Urbano de Baixo Carbono, um projeto fundado pela Comissão Europeia e

implementado pelo ICLEI e ONU Habitat, no período de 2012-2015, cujos

beneficiários são 2 cidades modelo e 5 cidades satélite em quatro países emergentes:

Brasil, África do Sul, Índia e Indonésia. O programa se relacionado a outras

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 142

ferramentas e soluções do ICLEI como o GCC e o HEAT+. Os resultados esperados

são:

Desenvolvimento e implementação de LEDS Urbanas em 8 cidades

modelo

Metodologia GreenClimateCities testada

Criação de uma rede global sobre LEDS Urbanas

Criação de um Portal de Soluções de LED

Estabelecimento de um pool de especialistas

Assegurar o estabelecimento de processos de medição, relatoria

e verificação (MRV)

Integração de ações locais ao novo regime climático global.

4.2.3. C40 Cities Climate Leadership Group

O C40 é uma rede de grandes cidades com o objetivo de dar apoio ao

enfrentamento das mudanças climáticas face ao desafio da rápida urbanização,

buscando a redução das emissões de GEE e dos riscos derivados das mudanças do

clima, e aumento a qualidade do ambiente urbano.

Entre os anos de 2013 e 2016, o presidente do C40 é Eduardo Paes, que

acumula o cargo com o de prefeito da cidade do Rio de Janeiro, cidade do comitê

diretivo, uma das 75 cidades afiliadas, que correspondem a 25% do Produto Interno

Bruto Global, com 1 em 12 pessoas do mundo e mais de oito mil iniciativas de combate

às mudanças climáticas. No Brasil temos ainda São Paulo e Salvador, na categoria

megacidades, e Curitiba, como cidade inovadora.

Figura 68 – Participação do C40 no mundo. Fonte: C40, <http://www.c40.org/>.

Page 143: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 143

O C40 tem se envolvido em diversas iniciativas juntamente com órgãos e

governos, dando suporte ao desenvolvimento de pesquisas e ferramentas:

Desenvolvimento do GPC (Global Protocol for Community Scale

Greenhouse Gas Emissions Inventories), em parceria com WRI e ICLEI,

o qual abordamos na seção 4.1.2.1;

Powering Climate Action: Cities as Global Changemakers, uma pesquisa

que avaliou o poder que as cidades têm para implementarem ações de

enfrentamento às mudanças climáticas e o papel da governança;

Open Data Portal, um portal que reúne os dados fornecidos pelas cidades

afiliadas ao C40 como inventários de emissões de GEE, metas de

redução e riscos urbanos;

Biblioteca de Estudos de Caso, que apresenta exemplos de estratégias e

iniciativas empregadas na busca por cidades mais sustentáveis. Estacam-

se os estudos da JIUS (Joint Initiative on Urban Sustainability), uma

iniciativa conjunta entre Brasil e Estados Unidos para apresentar os

esforços direcionados em infraestrutura sustentável urbana, tecnologia,

produtos e serviços através de políticas, finanças e projetos;

Parceria com o USGBC (US Green Building Council) e o WGBC (World

Green Building Council) no desenvolvimento do compêndio Green

Building City Market Briefs, que reúne dados catalogados de cidades ao

redor do mundo relacionados ao desempenho de emissões dos edifícios,

projetos que buscam certificação ambiental através do LEED (Leadership

in Energy and Environmental Design), políticas públicas implementadas e

iniciativas de construções sustentáveis.

Criação do City Climate Hazard Taxonomy, em conjunto com ARUP e

Bloomberg Philanthropies, que cria uma terminologia padrão de perigos

ambientais a ser adotada mundialmente, facilitando a compreensão e

compartilhamento da informação.

4.2.3.1. Climate Positive Development Programme

O C40 trabalha ainda em parceria com a Clinton Climate Initiative, da Fundação

Clinton, com a qual desenvolveu o Climate Positive Development Program que apoia

Page 144: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 144

o desenvolvimento de projetos que buscam uma meta de emissões “clima-positivo”

nas áreas de energia, resíduos e transporte através da redução de emissões dentro

do projeto e compensando as emissões na comunidade do entorno.

Atualmente são 17 projetos em 6 continentes, que buscam criar modelos

replicáveis em larga escala que reduzam ao máximo possível suas emissões. O Brasil

possui dois projetos participantes. O primeiro deles foi o Cidade Pedra Branca,

localizado em Palhoça, SC; e o Parque da Cidade, na Cidade de São Paulo, SP.

Conforme destaca CCI et al (2013), o programa não é rigidamente prescritivo,

pelo que os objetivos podem ser alcançados através de vários caminhos, buscando-

se uma estrutura simples e flexível.

O foco está no controle das emissões operacionais, embora as emissões das

fases de preparação do terreno e construção sejam rastreadas, mas não

contabilizadas. O programa sugere que sejam contabilizadas as emissões dos

seguintes grupos:

I. Uso local de energia elétrica e térmica (edifícios, infraestrutura e uso de

água);

II. Resíduos sólidos e águas residuais geradas no projeto,

independentemente de onde sejam tratadas;

III. Transporte, incluindo um percentual das emissões das viagens veiculares

iniciadas ou terminadas no projeto (devido às dificuldades de

contabilização deste item, sugere-se 40% sejam considerados).

As emissões relacionadas à construção não serão incluídas na contabilização,

no entanto, estratégias de redução de emissões das principais fontes devem ser

implementadas e as emissões contabilizadas.

Devem ser implementadas estratégias para reduzir, anualmente, as emissões

operacionais dos grupos I, II e III, e então gerar emissões de créditos para compensar

e exceder o restante, o que em geral se consegue através de geração de energia

limpa no local, outra forma é através da criação e preservação de parques e áreas

verdes no terreno, considerados sumidouros de carbono. Exemplificando a

compensação, caso haja geração de energia limpa no limite do projeto, ela deve

exceder o consumo do projeto e ser vendida à rede, gerando benefício à comunidade

Page 145: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 145

do entorno, ou, uma central distrital deve ser dimensionada para atender não só ao

projeto como parte do entorno, ou, a instalação de iluminação LED, mais eficiente,

deve ser feita não só no terreno, mas em áreas vizinhas. Fica claro, desta forma, que

o projeto deve ser benéfico a ele e à cidade, ao entorno, deve criar impacto positivo

(CCI et al 2013). O processo se dá em 4 estágios:

Estágio 1: Candidato: Inscrição do projeto aceita

- Carta de intenções em conjunto com apoio da cidade C40.

Estágio 2: Participante: Detalhes do plano aprovados

- Roadmap (Estratégias e táticas para atingir GEE negativo)

- Plano de medição e verificação

- Parcerias

- Marcos

Estágio 3: Evolução do site: Desenvolvimento conforme

Roadmap

- Implementação

- Evidências que estratégias e táticas são operacionais

- Medição do impacto das medições nos marcos

Estágio 4: Clima Positivo: Finalização do Projeto

- Medição e verificação que as emissões operacionais estão

abaixo de zero

4.2.4. CDP – Carbon Disclosure Program

O Carbon Disclosure Program – CDP, é uma organização internacional sem fins

lucrativos que fornece um sistema global para que as cidades e empresas possam

medir, divulgar e gerenciar seus dados relacionados ao meio ambiente: mudanças

climáticas, água, energia, florestas. Estas informações podem ser utilizadas por

empresas, investidores e governos a fim de identificar oportunidades e mitigar riscos

ambientais.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 146

Dentre suas iniciativas, possui o Programa Cities, através do qual 207

reportaram suas emissões no ano de 2014, incluindo aquelas que fazem parte do

Compact of Mayors. Funciona como uma plataforma na qual as cidades podem

acessar dados de emissões e comparar seus desempenhos e atividades relacionadas

às mudanças climáticas, entendendo onde elas podem buscar oportunidades e inovar

em novas áreas.

No Brasil, no ano de 2014, 23 cidades reportaram seus dados, entre elas Rio de

Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Florianópolis, Campinas, Fortaleza, Guarulhos,

Manaus, Recife, etc.

4.2.5. Compact of Mayors

O Compact of Mayors, lançado na Cúpula do Clima de 2014, é a maior

coalização de líderes de cidades com foco nas mudanças do clima buscando reduzir

suas emissões, rastrear seu progresso e se prepararem para os impactos das

mudanças climáticas. São, atualmente, 84 cidades, representando 288.019.306

habitantes, ou seja, 4% da população global. O programa utiliza-se de plataformas

para os relatórios, como o CDP, descrito em 4.2.4, carbonn Climate Registry e Nazca.

4.2.6. Low Carbon Cities – Carbon Trust

O Low Carbon Cities, desenvolvido pelo Carbon Trust, é um programa do Reino

Unido que apoia cidades através de uma metodologia de 5 passos que busca

iniciativas pela cidade para a redução das emissões de GEE, uma plano de retrofit de

áreas da cidade (reformas do estoque de edifícios, influência a incorporadores para

novos empreendimentos, serviços comerciais de energia), estratégia de disseminação

e comunicação das melhores práticas relacionando a cidade como marca de um local

para negócios, coordenação de atividades em andamento.

São 5 os passos:

I. Mobilizar as partes interessadas (stakeholders);

II. Auditoria do ponto da situação da cidade;

III. Identificar oportunidades na cidade;

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 147

IV. Desenvolver estratégias para a cidade;

V. Implementação e revisão.

Figura 69 – Cinco passos-chave do processo do Carbon Trust. Fonte: Low Carbon Cities, 2015.

4.3. Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana

Sustentabilidade não é um conceito universalmente aceito e diferentes acepções

têm surgido ao longo do tempo, inclusive definindo-a como indefinível, posto que cada

uma delas exclui parte das demais (ROBINSON 2004 apud BERARDI 2013). O

Sustainable Buildings and Climate Initiative (SBCI) da UNEP já declarou que todas as

definições devem ser consideradas, pois sustentabilidade é a síntese de todas elas

(UNEP-SBCI 2009 apud BERARDI 2013). O fato é que ela possui múltiplas

interpretações, variáveis ao olho do observador e condicionadas à época e condições

sociais em que se insere – e quando nos referimos às avaliações de sustentabilidade,

sua definição também será dependente do ponto de vista da avaliação (MARTENS

2006; DEMPSEY et al. 2011; TURCU 2012 apud BERARDI, 2013).

De acordo com Devuyst (2000 apud BERARDI 2013, p. 1576), os sistemas de

avaliação ambiental (ou melhor dizendo, de sustentabilidade) urbana podem ser

definidos como “o processo de identificação, mensuração e avaliação dos potenciais

impactos de alternativas para a sustentabilidade”.

Sharifi e Murayama (2013) fizeram um levantamento da evolução dos sistemas

de avaliação ambiental, sendo os Estudo de Impacto Ambiental parte da 1ª geração

de ferramentas com objetivo de avaliar as pressões humanas sobre o ambiente,

seguindo-se com as Avaliações Ambientais Estratégicas, para avaliação de políticas,

planos e programas (PPPs), e as Avaliações de Sustentabilidade para avaliação de

PPPs e projetos. A partir dos anos 1990 surgem ferramentas de avaliação de

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 148

sustentabilidade para edifícios, sendo o BREEAM (Building Research Establishment

Environmental Assessment Methodology), desenvolvido pelo BRE do Reino Unido, a

primeira delas, e seguidas de outras, como o LEED (Leadership in Energy and

Environmental Design), do USGBC, nos Estados Unidos.

Estas ferramentas na escala do edifício se mostraram insuficientes para uma

avaliação completa do ambiente construído, sendo necessário ampliar a escala da

avaliação para a comunidade e a cidade (BERARDI 2011, TURCU 2012 apud

BERARDI, 2013), o que pode ser também considerado um passo em direção ao

atendimento das Agendas 21 locais (SHARIFI e MURAYAMA, 2013). A escala da

comunidade é a ideal para que possam ocorrer processos combinados e inovações

em desenho e tecnologias urbanas e mudanças de comportamento (NEWTON, 2014)

O aumento da escala da análise implica na inclusão de diversos itens não

considerados anteriormente, como os fluxos e sinergias no ambiente construído

(BERARDI 2011 apud BERARDI 2013) e não são simples somatórias de elementos e

escalas, posto que a complexidade também aumenta, resultando em interações mais

complexas, muitas vezes diferentes daquelas encontradas na escala do edifício

(BOURDIC e SALAT 2012 apud BERARDI 2013). Akashi (2012) nos alerta que,

apesar de as atividades urbanas possuírem tantas variáveis, a criação de uma

ferramenta deste tipo deve buscar um resultado amigável, prático e de fácil aplicação

através da seleção e redução dos indicadores àqueles que são mais adequados. A

busca por uma abrangência total pode ter um resultado inútil.

Esta complexidade de avaliações e interações se reflete também na definição

dos limites da comunidade, sendo esta uma definição também vaga que pode ser

devido ao “uso do solo, infraestrutura ou densidade de pessoas” (UN-HABITAT 2006

apud BERARDI 2013), ou do interesse do agente envolvido no processo, quando

tratamos, por exemplo, de comunidades planejadas por iniciativas públicas ou

privadas. Entendemos assim que a definição dos limites de uma comunidade para fins

de aplicação de um sistema de avaliação decorrerá do contexto específico do projeto

em questão, não eximindo os envolvidos da responsabilidade, tampouco das

interações que ocorrem fora de tais limites definidos – caso da integração com a malha

de circulação e transportes, por exemplo.

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 149

Cada sistema de avaliação pode definir limites mínimos ou máximos do que

considera uma comunidade. Por exemplo, enquanto o BREEAM Communities

considera tamanhos de 10 a 6.000 unidades, projetos pequenos a grandes (Berardi

2013), o LEED for Neighborhood Development (ou LEED-ND) sugere (mas não

obriga) que áreas maiores do que 320 acres (o equivalente a 1,25 km²) sejam

fracionadas em parcelas menores por questões de praticidade de análise do material

e por entenderem que pode ser difícil atender a determinados critérios e indicadores

(USGBC, 2011), e não define áreas mínimas, podendo inclusive ser o projeto de um

edifício, desde que se justifique sua interação e impacto em escala urbana.

O formato da ferramenta também pode variar. Um estudo feito por Athamena e

Belziti (2013) identificou 44 referências de métodos, planos de ação e ferramentas de

avaliação na escala urbana. Estas referências foram classificadas em três famílias em

função de sua robustez científica: a primeira família, “cientificamente robusta” (ex.:

ADEQUA e ARIADNE); a segunda, “cientificamente simplificada” (ex.: NEST,

OptiCité); e a terceira, “listas de verificação de desenvolvimento sustentável” (ex.:

CASBEE, LEED), considerando também a abordagem dos critérios de

sustentabilidade, conforme apresenta a Figura 70.

Figura 70 – Classificação das ferramentas em função de sua robustez científica. Fonte: ATHAMENA e BELZITI, 2013, p. 4.

Enquanto as duas primeiras famílias focam na análise de critérios específicos,

em geral relacionados ao conforto dos espaços abertos e eficiência energética, a

terceira família concentra-se nos impactos do projeto, e em alguns casos, da gestão,

dos espaços urbanos (ATHAMENA e BELZITI, 2013). A maior parte das ferramentas

abordadas nesta pesquisa se encaixa neste último caso.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 150

A forma de avaliação dos sistemas, que é multicritério, pode variar, mas em

geral, são feitas de forma que os projetos devem alcançar e/ou superar desempenhos

mínimos definidos pelos referenciais técnicos – caso da eficiência energética. Em

outros casos, a avaliação está na simples verificação de presença de itens no projeto,

como por exemplo presença de infraestrutura cicloviária. Cada critério possui um

determinado peso em relação aos demais e à somatória total.

Berardi (2013), analisou 3 sistemas (BREEAM Communities, LEED-ND,

CASBEE-UD), e dividiu os critérios das certificações em sete áreas temáticas: uso

sustentável da terra (sustainable land), localização (location), transporte

(transportation), energia e recursos (energy and resources), ecologia (ecology),

oportunidades econômicas (economy opportunity) e bem-estar (well-being); e

verificou qual o peso das pontuações e a distribuição deles. Os resultados,

apresentados na Figura 71, mostram que o uso sustentável da terra, ecologia e

transporte possuem grande peso nos sistemas. Os valores médios obtidos foram: uso

sustentável da terra (33%), localização (9%), transporte (13%), energia e recursos

(16%), ecologia (21%), oportunidades econômicas (3%) e bem-estar (5%). O estudo

demonstrou que em todos os sistemas a base ambiental é a que possui maior peso,

quando consideramos o tripé meio ambiente, sociedade e economia.

Figura 71 – Percentual de pontos atribuídos pelos sistemas a cada uma das categorias. Fonte: Berardi, 2013, p.1582

Newton (2014) reforça ser extremamente importante adicionar a esses 3 pilares,

um quarto, quanto tratamos do contexto urbano, o institucional, não apenas em

relação às interações entre organizações governamentais e não-governamentais

responsáveis pelas tomadas de decisão, mas também no conjunto de normas, leis e

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 151

regulamentos que regulam essas interações. A dimensão institucional facilita a

conexão entre os demais pilares (SPANGENBERG 2002 apud NEWTON, 2014).

Athamena e Belziti (2013) resumiu no Quadro 20 as principais forças e fraquezas

das ferramentas ou listas de verificação de sustentabilidade urbana.

Quadro 20 – Forças e fraquezas das ferramentas de sustentabilidade urbana.

Número de critérios, indicadores, tempo de uso

Vantagens Inconveniências

Complexidade

- Exaustividade dos temas de desenvolvimento

sustentável (DS)

- Respeito à complexidade do DS

- Menor risco de subjetividade nas respostas

fornecidas pelos usuários (muitos indicadores

quantitativos mais acurados e detalhados.

- Um pouco difícil de manejar

- Risco de desencorajar as partes envolvidas

- Dificuldade de sistematizar

- Abordagem reservada para “agentes técnicos”

Simplicidade

- Fácil de educar, disseminar e entender como uma

ferramenta de análise

- Mais fácil de integrar e sistematizar as decisões a

montante

- Fácil utilização pelos usuários de um grupo (uso

coletivo)

- Abordagem geralmente superficial ou que deixa

abertura para interpretações diversas

- Exaustividade em alguns temas de DS como:

biodiversidade e interação social (por ex.)

Grau de uso da ferramenta

Uso sistemático

- Permite elaborar reflexões, atualizações

constantes e considerar DS em todos os seus

níveis

- Requer muita vontade coletiva (tempo e meios

financeiros)

- Risco de manipulação dos resultados pela forma

simplificada e genérica das ferramentas

Uso ocasional

- Permite olhar cada área temática no detalhe,

refinar as dúvidas e dedicar mais tempo a

processar os resultados

- Risco de abandono da ferramenta e uma

setorização dos requisitos de DS.

Fonte: Athamena e Belziti, 2013, p. 10-11, tradução nossa.

Bourdic e Salat (2012 apud BERARDI 2013), por sua vez, criticam que não há

evidências quantitativas de que uma comunidade que alcança uma maior pontuação

na avaliação emite menos carbono do que outra com uma baixa pontuação. Tomemos

como exemplo a avaliação de desempenho energético do LEED, na qual o projeto

proposto deve reduzir o consumo, em custo, em pelo menos 10% em relação a um

projeto de referência. O primeiro problema em relação à análise de custo é que ela

não representa necessariamente o consumo. A existência de cobranças diferenciadas

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 152

em períodos de pico, ou a geração de energia pelo empreendimento fora do pico,

mesmo que não reduza o consumo total em kWh, pode mascarar o resultado. O

segundo problema, apontado por Montanya (2011), é que os edifícios podem não

utilizar apenas uma única fonte de energia, mas mais de uma, como gás e eletricidade,

por exemplo, que possuirão taxas de emissões de carbono diferentes. Haveria

equivalência apenas se os custos monetários fossem proporcionais às emissões de

carbono.

A maioria dos sistemas tampouco proporciona metodologias ou referências

adequadas e completas para o cálculo das emissões (AILA, 2010; BEATTIE et al,

2012, apud RAULAND 2013), o que pode ser devido a que boa parte das ferramentas

estão focadas apenas na fase de projeto e resultando em uma listagem de pontos a

serem atendidos para alcançar um nível de classificação de sustentabilidade

(RAULAND, 2013).

Como destaca Newton (2014), em uma realidade de mercado de créditos de

carbono, impostos sobre carbono, incentivos diretos e indiretos relativos a reduções

de emissões, é preciso que existam instrumentos validados cientificamente que

permitam a quantificação e consequente reinvindicação relacionada ao desempenho

de carbono. Neste sentido, os sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana para

comunidades estão entre os menos desenvolvidos quanto tratamentos do ambiente

construído, que incluem ainda: declarações ambientais de produto, modelagem de

edifícios e modelagem de cidades.

E embora exista essa realidade do carbono, ainda faltam desafios e incentivos

governamentais para que a indústria da construção civil e outras empresas e órgãos

relacionados ao ambiente construído desenvolvam um plano de baixo carbono para

planejamento e investimentos futuros (Newton, 2014). Os sistemas de avaliação de

sustentabilidade urbana, que ainda estão no início, podem vir a ser esta ferramenta

base para o projeto de comunidades e cidades, desde que possam ser cientificamente

validados quanto às emissões de carbono, e assim, reduções em emissões podem se

tornar créditos reconhecidos pelo mercado. Seu foco deve também, ao pensar em

uma comunidade de baixo carbono, como nos apresenta Garde (2009 apud NEWTON

2014, p. 6, tradução nossa), ser em “elementos de desenho das comunidades que

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 153

contribuam para o projeto por si só, sem depender de que os usuários mudem seus

hábitos”.

4.3.1. Integrando GEE às Ferramentas

Embora já haja diversos sistemas de avaliação de sustentabilidade

desenvolvidos e disponíveis, Rauland (2013) destaca que poucos deles apresentam

foco específico nas emissões de carbono ou fornecem referência adequada para sua

mensuração.

E de que forma as ferramentas deveriam abordar as estratégias de mitigação de

emissões de GEE? Se analisarmos os padrões de emissões de cada país e região

veremos que a realidade de cada país exige uma abordagem diferenciada, pois as

fontes de emissão, embora em alguns casos similares, podem ser também bastante

diferentes.

Figura 72 – Fontes chaves de emissões na escala da comunidade. Fonte: Rauland, 2013, p.207, tradução nossa

Rauland (2013) propõe um quadro de referência a ser utilizado para a

quantificação de GEE em projetos de escala urbana, no qual ela propõe 6 fontes de

Emissões de carbono da

Comunidade

Preparação do terreno e processo de construção

Carbono embutido em

materiais

Produção e gestão de energia

Gestão da água

Gestão de resíduos

Transporte

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 154

emissões a serem consideradas nos projetos, ilustradas através Figura 72, e sobre as

quais apresentamos as principais considerações no Quadro 21.

Quadro 21 – Fontes-chave de emissões na escala da comunidade.

Fontes Considerações

Preparação

do terreno e

processo de

construção

Esta fase envolve demolição, gestão e disposição do edifício e materiais de

infraestrutura e construção presente no terreno, além de escavação,

terraplenagem e remoção de vegetação. Trata-se aqui de minimizar as emissões

ao reaproveitar, tanto quanto possível, o for existir previamente no terreno, evitando

assim as emissões embutidas em novos materiais. Envolve também a redução de

resíduos gerados na demolição e na construção (através de sistemas construtivos

eficientes, por exemplo), ou, quando não for possível, garantir reaproveitamento,

reciclagem ou outras destinações ambientalmente adequadas.

Carbono

embutido em

materiais

A metodologia proposta por Rauland enquadra nesta categoria apenas as

emissões “berço-portão”, ou seja, extração, processamento, manufatura e

transporte. Cabe aqui buscar o reaproveitamento de materiais pré-existentes no

terreno (ou fora dele), ou a busca por matérias primas e produtos de menor

impacto, e que emitam menos. Produtos com conteúdo de reciclado podem

colaborar neste aspecto.

Produção e

gestão de

energia

O consumo de energia é central em qualquer análise de emissões de carbono, pelo

que deve haver atenção especial aos projetos para redução da demanda, não só

através do uso de equipamentos mais eficientes (como a iluminação pública), mas

também a uma forma urbana que melhore o aproveitamento passivo do sol através

da orientação e compacidade dos volumes. A geração local de energias renováveis

ou sistemas de aquecimento-resfriamento, seja nos edifícios, seja através de

plantas distritais é outra estratégia que traz resultados.

Gestão da

água

O tratamento de água para consumo pode ser um fator de uso intensivo de energia,

seja das águas residuais, seja no emprego de fontes alternativas, como a água do

mar que demanda dessalinização. Assim, a busca por sistemas que reduzam o

consumo de água nas edificações, um paisagismo de baixo consumo e

manutenção, além do aproveitamento das águas pluviais e outras fontes não

potáveis para usos menos nobres pode impactar significativamente nas emissões

de carbono.

Gestão de

resíduos

O setor de resíduos é um dos principais emissores de GEE nas cidades, levando-

nos a adotar a visão do resíduo como recurso através da redução, reuso,

reciclagem e compostagem ao máximo dentro de um metabolismo circular. Isto

passa por um processo de reeducação dos cidadãos, mas também pela

implementação de políticas e provisão de infraestrutura adequada à gestão dos

resíduos, como sistemas que reduzam o uso de caminhões, que separem os

resíduos na fonte ou que façam a compostagem na própria comunidade.

Page 155: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 155

Continuação Quadro 21

Fontes Considerações

Transporte O transporte é outro setor de grande impacto nas emissões urbanas de GEE e

diversos estudos correlacionam a redução das emissões em cidades mais

compactas e densas. O incentivo ao uso de modalidades de transporte de baixo

carbono ou carbono zero, como deslocamentos a pé ou bicicletas ganham

importância, além do desestímulo ao uso do automóvel na promoção de meios de

transporte de massa que utilizem combustíveis não poluentes (combustíveis não-

fósseis, ou eletricidade de redes com menor fator de emissão ou localmente

geradas através de fontes limpas renováveis).

Fonte: Preparado a partir de Rauland, 2013, pp. 207-216

A Figura 73 ajuda a compreender como cada uma das fontes de emissão se

distribui ao longo das fases antes da construção, durante a construção e

operação/uso, propondo de que forma estas emissões deveriam ser consideradas em

uma análise de carbono (RAULAND, 2013).

Figura 73 – Fases das emissões em empreendimentos urbanos Fonte: Rauland, 2013, p.216, tradução nossa

4.3.2. Ferramentas e Sistemas Existentes

Diferentes ferramentas possuem diferentes ênfases, pois “diferentes abordagens

são necessárias para diferentes propósitos de avaliação em diferentes papéis de

usuários (AKASHI, 2012). Diversos levantamentos têm sido feitos das ferramentas

existentes ao redor do mundo. Um estudo abrangente feito por Criterion Planners

(2014) identificou 59 ferramentas em 22 países. O Quadro 22 apresenta estas

ferramentas, que incluem sistemas de avaliação e outros tipos de iniciativa acrescidas

de outras referências identificadas e pequenas correções necessárias, totalizando 76

Page 156: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 156

ferramentas. Elas se apresentam separadas em função das escala geográfica e foco

temático: cidades, comunidades planejadas, comunidades existentes, todo tipo de

comunidades, paisagens e parques, transporte e infraestrutura, e propósitos

especiais10. Nem todas as ferramentas identificadas ao longo desta pesquisa foram

incluídas devido à falta de informações suficientes que permitissem sua categorização

ou apresentação.

Quadro 22 – Ferramentas para cidades. Ferramenta Desenvolvedor Website Categorias

FERRAMENTAS PARA CIDADES

CASBEE for

Cities

Institute for Bldg

Environment &

Energy

Conservation, Japan

http://www.ibec.or.jp/

CASBEE/english/

Nature conservation, local environmental

quality, resource recycling, carbon dioxide

absorption, living environment, social services,

social vitality, industrial vitality, financial

vitality, carbon dioxide trading

Comprehensive

Plans for

Sustaining

Places

American Planning

Assn, US

https://www.planning.

org/sustainingplaces/

compplanstandards/

Livable built environment, harmony with

nature, resilient economy, interwoven equity,

healthy community, responsible regionalism

EcoCity EU research project

EU, SCR Victorian

State Government

N/D Indisponível

Eco-City Ministry of

Environmental

Protection, China

N/D Construction plan, independent environmental

agencies, energy savings, environmental

quality, ecological construction

Eco-Garden

City

Ministry of Housing

& Urban-Rural

Development, China

N/D Comprehensiveness, green space, cultural

and natural landscapes, urban living

environment, community participation,

exemplary policy implementation

EarthCraft

Communities

The

Greater Atlanta

Home Builders

Association, the

Atlanta Regional

Commission, the

Urban Land Institute,

Atlanta District

Council and

Southface

http://www.earthcraft.org/builders/programs/earthcraft-communities/

Low-impact development, site selection, land

disturbance, water quality and quantity

management, energy, transportation

infrastructure, community design, green space

preservation

HEKO - Helsinki

Eco-efficiency

Tool for Urban

Development

VTT - Technical

Research Center of

Finland

N/D Land, water, energy, transport and services,

carbon and material cycles

Low-Carbon

City

National

Development &

Reform Commission,

China

N/D Integration of climate protection, green

development, industrial GHG emissions, GHG

emission database, low-carbon lifestyles

NILIM tool National Institute for

Land and

Infrastructure

Management, Japão

N/D Housing, Transport, Infrastructure,

Communication, Crime, Disaster Mitigation,

Medical Care, Global Env., Air Pollution,

Nature, Energy Resources, Waste, Activity

Distribution, Industrial Activities, Economic

Growth, Economic Impact, Road, Welfare,

Public Transport, Education

10 À exceção dos dois sistemas nacionais (AQUA Bairros e Loteamentos, e Ferramenta de Avaliação de Inserção Urbana Minha Casa Minha Vida), optamos por não traduzir os nomes das categorias, que foram mantidos em inglês para que não se perca o significado correto dos itens.

Page 157: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 157

Continuação Quadro 22 Ferramenta Desenvolvedor Website Categorias

FERRAMENTAS PARA CIDADES

STAR

Community

STAR Communities,

US

http://www.

starcommunities.org/

Built environment, climate & energy, economy

& jobs, education arts & community, equity &

empowerment, health & safety, natural

systems, innovation & process

Sustainable

Communities

Audubon

International, US

(available

internationally, and

for Existing

Neighborhoods)

http://www.

auduboninternational.org/

sustainable-communities-

program

Agriculture, economic development & tourism,

education, environment, governance, housing,

open space & land-use, planning zoning

building & development, population, public

safety & emergency management, recreation,

resource use, volunteerism & civic

engagement, transportation

FERRAMENTAS PARA COMUNIDADES PLANEJADAS

AQUA Bairros e Loteamentos

Fundação Vanzolini http://www.aqua-hqe.com.br Territory and local context, density, mobility

and accessibility, heritage, landscape and

identity, adaptability and evolutionary potential,

water, energy and climate, supplies and

equipment urban, residues, ecosystems and

biodiversity, natural and technological risks,

health, economy, functions and plurality,

environments and public spaces, insertion and

training, attractiveness, economic dynamics

and structures of local training

BEAM Plus

Neighborhood

Hong Kong Green

Building Council

(China)

(tentativa de

lançamento 2015)

https://www.hkgbc.

org.hk/upload/9.

BEAMPlus/BEAM-Plus-

Neighbourhood_Info-

Sheet.pdf

Community, site, material, energy aspects,

water, outdoor environmental quality,

innovations

BERDE for

Clustered

Residential

Development

Philippine Green

Bldg Council

http://philgbc.net/berde/ berde-

nc/1.1.0/BERDE-NC-CRD-

v110.pdf

Management, land-use and ecology, water,

energy, transportation, indoor environmental

quality, materials, emissions, waste, heritage

conservation, innovation

BREEAM

Communities

BRE Trust, Austria,

Germany, The

Netherlands,

Norway, Spain,

Sweden, United

Kingdom

http://www.breeam.org/

page.jsp?id=372

Governance, social & economic, well-being,

resources & energy, land-use & ecology,

transport & movement, innovation

CASBEE for

Urban Area +

Bldgs

Institute for Bldg

Environment &

Energy

Conservation, Japan

http://www.ibec.or.jp/

CASBEE/english/

Natural environment, area service functions,

contribution to community, microclimate

impact, social infrastructure, environmental

management

CASBEE for

Urban

Development

Institute for Bldg

Environment &

Energy

Conservation, Japan

http://www.ibec.or.jp/

CASBEE/english/

Natural environment, area service functions,

contribution to community, microclimate

impact, social infrastructure, environmental

management

Climate Positive

Development

C40 Cities, US

http://www.c40.org/

networks/climate_

positive_development

Thermal & electrical energy use, waste,

transportation

DGNB for

Business

Districts

German Sustainable

Building Council

http://www.dgnb-system.

de/en/schemes/scheme-

overview

Only available in German

DGNB for

Industrial

Locations

German Sustainable

Building Council

http://www.dgnb-system.

de/en/schemes/scheme-

overview

Only available in German

DGNB for Urban

Districts

German Sustainable

Building Council

http://www.dgnb-system.

de/en/schemes/scheme-

overview/neubau_

stadtquartiere.php

Land-use, life-cycle-costs, social & commercial

infrastructure, quality of public-transport

infrastructure, participation

Enterprise

Green

Communities

Enterprise Green

Communities

http://www.

enterprisecommunity.

com/solutions-and-

innovation/enterprise-green-

communities

Integrative design, location & neighborhood

fabric, site improvements, water conservation,

energy efficiency, materials beneficial to the

environment, healthy living environment,

operations & maintenance

Page 158: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 158

Continuação Quadro 22 Ferramenta Desenvolvedor Website Categorias

FERRAMENTAS PARA COMUNIDADES PLANEJADAS

EnviroDevelopm

ent

Urban Development

Institute of Australia

http://www.

envirodevelopment.com/

default.asp

Ecosystems, waste, energy, materials, water,

community

Ferramenta de

Avaliação de

Inserção Urbana

(Empreendiment

os Faixa 1

Minha Casa

Minha Vida)

ITDP Brasil,

LabCidade,

FordFoundation

http://itdpbrasil.org.br/ferramen

ta-de-avaliacao-de-insercao-

urbana/

Transporte; Oferta de Equipamentos,

Comércio e Serviços; Desenho e Integração

Urbana

HQE for Urban

Planning &

Development

HQE Association,

France

(Cerway outside

France)

http://assohqe.org.hqe/

spip.php?rubrique11

http://www.certivea.

fr/nos-certifications/

certifications-pour-

territoires-durables

Territory and local context, density, mobility

and accessibility, heritage landscape and

identity, adaptability and evolutionary potential,

water, energy and climate, supplies and

equipment urban, residues, ecosystems and

biodiversity, natural and technological risks,

health, economy, funtions and plurality,

environments and public spaces, insertion and

training, attractiveness, economic dynamics

and structures of local training

GBI Township

Tool

Green Bldg Index,

Malaysia

http://.

greenbuildingindex.org/

Resources/GBI%20Tools/

GBI%20Township%20

Tool%20V1.0%20

Pilot%20Final.pdf

Climate, energy, water, environment &

ecology, community planning & development,

transportation & development, buildings &

resources, business & innovation

Global

Sustainability

Assessment

System for

Districts

Gulf Organization for

Research & Dev,

Qatar

Districts criteria are

proprietary; general guidance

at http://www.

gord.qa/uploads/pdf/

GSAS%20Technical%20

Guide%20V2.1.pdf

Urban connectivity, site, energy, water,

materials, outdoor environment, cultural and

economic value, management and operations

Green Land

Development

Home Innovation

Research Labs, US

http://www.

homeinnovation.com/

services/certification/

green_homes/land_

development_certification

Site design and development, lot selection,

project team and mission, innovative practices

Green Mark for

Districts

Bldg & Construction

Authority, Singapore

http://www.bca.gov.sg/

GreenMark/others/GM_

District_V2.pdf

Energy efficiency, water management,

materials & waste management,

environmental planning, green buildings &

transport, community & innovation

Green Star

Communities

Green Bldg Council

of

Australia (also South

Africa

GBC)

http://www.gbca.org.au/

green-star/green-

starcommunities/

Livability, economic prosperity, environment,

design, governance, innovation

Green

Townships

India GBC, India http://igbc.in/site/

igbc/testigbc.

jsp?desc=267002

&event=267001

Site selection & planning, land-use planning,

transportation planning, infrastructure

resource management, innovation in design &

technology

LEED for

Neighborhood

Development

US Green Bldg

Council, US

(available

internationally)

http://www.usgbc.

org/resources/

leed-

neighborhooddevelopment-

v2009-current-version

Smart location & linkage, neighborhood

pattern & design, green infrastructure &

buildings, innovation & design process

LEED for

Neighborhood

Development -

Canada

Canada Green Bldg

Council

http://www.cagbc.org/

AM/Template.cfm?

Section=Home&template

=/CM/HTMLDisplay.

cfm&ContentID=8789

Smart location & linkage, neighborhood

pattern & design, green infrastructure &

buildings, innovation & design process

Page 159: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 159

Continuação Quadro 22 Ferramenta Desenvolvedor Website Categorias

FERRAMENTAS PARA COMUNIDADES PLANEJADAS

One Planet

Communities

BioRegional, UK

(also Canada)

http://www.

oneplanetcommunities. org/

Zero carbon, zero waste, sustainable

transport, sustainable materials, local &

sustainable food, sustainable water, land-use

& wildlife, culture & heritage, equity & local

economy, health & happiness

Pearl

Community for

Estidama

Abu Dhabi Urban

Planning Council,

United Arab

Emirates

http://estidama.upc.

gov.ae/pearl-rating-system-

v10/pearl-community-rating-

system.aspx?lang=en-US

Integrated design process, natural systems,

livable communities, precious water,

resourceful energy, stewarding materials,

innovating practice

SDAPP -

Sustainable

Design

Assessment in

the Planning

Process

Municipal

Association of

Victoria, Australia

http://www.portphillip.vic.gov.a

u/sdapp.htm

Indoor environment quality, Energy efficiency,

Water resources, Storm water management,

Building materials, Transport, Waste,

Management, Urban Ecology, Innovation,

Ongoing building and site management

Signature Audubon

International, US

(available

internationally)

http://www.

auduboninternational.org/

signature

Siting, planning & design, construction, long-

term management

FERRAMENTAS PARA COMUNIDADES EXISTENTES

2030 Districts Architecture 2030,

US

http://www.2030districts. org/ Energy, water, transportation, emissions

AQUA Bairros e

Loteamentos

Fundação Vanzolini http://www.aqua-hqe.com.br Territory and local context, density, mobility

and accessibility, heritage, landscape and

identity, adaptability and evolutionary potential,

water, energy and climate, supplies and

equipment urban, residues, ecosystems and

biodiversity, natural and technological risks,

health, economy, functions and plurality,

environments and public spaces, insertion and

training, attractiveness, economic dynamics

and structures of local training + ISO 14.001

HQE2R CSTB, European

Commision

http://www.suden.org/en/european-projects/the-hqe2r-project/

Preserve and enhance heritage and conserve

resources, improve the quality of the local

environment, ensure diversity, improve

integration, reinforce social life

Livability Index American Assn of

Retired Persons, US

http://www.aarp.org/

content/dam/aarp/

research/public_policy_

institute/liv_com/2014/

livability-index-project- AARP-

ppi-liv-com.pdf

Housing, environment, neighborhood,

transportation, health, civic engagement,

equity & opportunity, recreation & culture

Thriving

Neighbourhoods

ICLEI, Oceania http://oceania.iclei.org/local-

action/programs/thriving-

neighbourhoods.html

Health, Culture, Jobs, Business, Resource

Management, Natural Systems

FERRAMENTAS PARA TODO TIPO DE COMUNIDADES

CCAP Kinesis http://www.kinesis.org/ccap-

precinct/

Energy, Water, Embodied CO2, Transport,

Livability, Affordability, Infrastructure, Return

on Investment

EcoDistricts

Framework

EcoDistricts

(Portland

Sustainability

Institute)

http://ecodistricts.org/ Equitable development, health and wellbeing,

community identity, access and mobility,

energy, water, habitat and ecosystem function,

materials management

IRM – Integrated

Resource

Management

ARUP https://www.newpartners.org/2

010/docs/presentations/thursd

ay/np10_roberts.pdf

Land use, Waste, Energy, Carbon,

Transportation, Water, Material

Neighborhood

Sustainability

Framework

Beacon Pathway,

NZ

http://www.

beaconpathway.co.nz/

neighbourhoods/article/

the_neighbourhood_

sustainability_framework

Neighborhood satisfaction, minimized costs,

maximized biophysical health, appropriate

resource use & climate protection, effective

governance & civic life, functional flexibility

Page 160: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 160

Continuação Quadro 22 Ferramenta Desenvolvedor Website Categorias

FERRAMENTAS PARA TODO TIPO DE COMUNIDADES

LESS – Local

area Envisioning

and

Sustainability

Scoring system

Hassel, Australia http://www.hassellstudio.com/

en/cms-news/hassell-

envisioning-and-sustainability-

system-recognised-with-

national-aila-award

Environment, Governance, Social, Economic,

Infrastructure. Os indicadores são

customizáveis para cada projeto.

Living

Community

Challenge

International Living

Future Institute, US

http://living-future.org/lcc Limits to growth, urban agriculture, habitat

exchange, human powered living, net positive

water, net positive energy, civilized

environment, healthy neighborhood design,

biophilic environment, resilient community

connections, living materials plan, embodied

carbon footprint, net positive waste, human

scale + humane places, universal access to

nature & place, universal access to community

services, equitable investment, just

organizations, beauty + spirit, inspiration +

education

MUtopia University of

Melbourne, Australia

http://mutopia.unimelb.edu.au/ Transport, Waste, Energy, Water, Economics,

Livability, Resilience, Financial.

Os indicadores são customizáveis para cada

projeto.

PrecinX New South Wales,

Australia

http://www.landcom.com.au/ne

ws/fact-sheets/precinx-

tm.aspx

Transport, Embodied Greenhouse Gas,

Operational Energy, Water, Housing.

SpeAR -

Sustainable

Project

Appraisal

Routine

ARUP http://www.arup.com/Projects/

spear.aspx

Community Facilities, Culture, Form and

Space, Health and Wellbeing, Transport,

Stakeholder Engagement, Soil and Land,

Biodiversity, Waste, Materials, Water Use,

Wastewater, Energy, Climate Change, Air

Quality, Economic Effect, Facilities

Management, Site Selection, Employment and

Skills, Equality, Governance and Reporting,

Risk, Procurement

SSIM AECOM http://www.aecom.com/News/I

nnovation/_projectsList/Sustai

nable+Systems+Integration+M

odel

Livability, Environmental Responsibility,

Economic Prosperity, Design Excellence,

Government and Engagement

FERRAMENTAS PARA PAISAGENS E PARQUES

Cooperative

Sanctuary

Audubon

International, US

(available

internationally)

http://www.

auduboninternational.org/

acsp

Outreach & education, resource management,

water quality and conservation, wildlife &

habitat management

Global

Sustainability

Assessment

System for

Parks

Gulf Organization for

Research & Dev,

Qatar

http://www.gord.qa/

uploads/pdf/GSAS%20

Technical%20Guide%20

V2.1.pdf (general guidance)

Indisponível

Green Mark for

Existing Parks;

for New Parks

Bldg & Construction

Authority, Singapore

http://www.bca.gov.

sg/GreenMark/others/

GM_NewParks_v1.pdf ;

http://www.bca.gov.sg/

GreenMark/others/GM_

ExistingParks_v1.pdf

Waste & material minimization, water

efficiency, energy efficiency, park

management, conservation & heritage,

innovation

SITES

(Sustainable

SITES Initiative)

Univ of Texas at

Austin/US Botanic

GardeN/DSLA, US

http://www.

sustainablesites.org/

Site selection, pre-design assessment &

planning, site design - water, site design - soil

& vegetation, site design - materials selection,

site design - human health & well-being,

construction, operations & maintenance

Page 161: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 161

Continuação Quadro 22 Ferramenta Desenvolvedor Website Categorias

FERRAMENTAS PARA TRANSPORTE E INFRAESTRUTURA

BE2ST-in-

Highways

University of

Wisconsin, US

http://rmrc.wisc.edu/ be2st-in-

highways/

Life cycle cost, energy, recycling, hazardous

waste, water, noise, social carbon cost

BRT Standard Institute for

Transportation &

Development Policy,

US

https://go.itdp. org/display/live/

The+BRT+Standard

Service planning, infrastructure, stations,

communications, access and integration

CEEQUAL Institution of Civil

Engineers, UK

(available

internationally)

http://www.ceequal.com/

methodology.html

Contract strategy & management, people &

communities, land-use & landscape, historic

environment, ecology & biodiversity, water,

physical resource use & management,

transportation, effects on neighbors, relations

with local community & stakeholders

Density-VMT

Calculator

ICLEI Local

Governments for

Sustainability, US

http://www.icleiusa.org/

library/documents/8- Density-

VMT%20

Calculator%20(2).xls/view

Building density, vehicle miles traveled

Envision Institute for

Sustainable

Infrastructure, US

http://www.

sustainableinfrastructure.

org/rating/index.cfm

Project pathway contribution, project strategy

and management, communities and

efficiencies, land-use and restoration,

landscapes, ecology and biodiversity, water

resources and environment, energy and

carbon, resource management, transportation

Global

Sustainability

Assessment

System for

Railways

Gulf Organization for

Research & Dev,

Qatar

http://www.gord.qa/

uploads/pdf/GSAS%20

Technical%20Guide%20

V2.1.pdf (general guidance)

Indisponível

Green Mark for

Infrastructure

Bldg & Construction

Authority, Singapore

http://www.bca.gov.sg/

GreenMark/others/GM_

Infra_V1.pdf

Landscape ecology & land efficiency, energy,

renewable energy, water, project

management, waste management &

environmental protection, innovation

Greenroads Greenroads

Foundation, US

https://www.greenroads. org/ Project requirements, environment & water,

access & equity, construction activities,

materials & resources, pavement technologies

INVEST U.S. Dept of

Transportation,

Federal Hwy

Administration, US

https://www.

sustainablehighways.org/

Integrated planning, economic development

and land-use, linking asset management and

planning, stormwater, recycle materials,

construction waste management, pavement

management system, road weather

management program

IS Rating Tool Infrastructure

Sustainability

Council of Australia

http://www.isca.org. au/is-

rating-scheme/is-overview/is-

rating-tool

Transport, water, communications, energy

PEER Perfect Power

Institute, US

http://

perfectpowerinstitute.org/

apply-peer

Enabling customer action; operational

efficiency; reliability, power quality, and safety;

energy efficiency & environment

TOD Standard Institute for

Transportation &

Development Policy,

US

https://go.itdp.org/ display/live/

About+

the+TOD+Standard

Walk, cycle, connect, transit, mix, densify,

compact, shift

Walk Score Walk Score, US http://www.walkscore. com/ Walk, bike, transit

FERRAMENTAS PARA PROPÓSITOS ESPECIAIS

CASBEE for

Heat Islands

Institute for Bldg

Environment &

Energy

Conservation, Japan

http://www.ibec.or.jp/

CASBEE/english/

Disponível apenas em japonês

Coastal

Resilience Index

Southern Climate

Impacts Planning

Program, NOAA,

and Sea Grant, US

http://www.

southernclimate.org/

documents/resources/

Coastal_Resilience_

Index_Sea_Grant.pdf

Critical infrastructure & facilities,

transportation, community plans, mitigations,

business plans, social systems

Page 162: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 162

Continuação Quadro 22 Ferramenta Desenvolvedor Website Categorias

FERRAMENTAS PARA PROPÓSITOS ESPECIAIS

Global

Reporting

Initiative -

Construction &

Real Estate

Sector

Global Reporting

Initiative,

international (The

Netherlands)

https://www.

globalreporting.org/

resourcelibrary/GRI-G4-

Construction-and- Real-

Estate-Sector- Disclosures.pdf

Economy, environment, labor practices,

human rights, society, product responsibility

H+T Affordability

Index

Center for

Neighborhood

Technology, US

http://htaindex.cnt.org/ Economy, environment, labor practices,

human rights, society, product responsibility

Local Energy

Efficiency Self-

Scoring Tool

American Council for

an Energy Efficient

Economy, US

http://www.aceee.org/ local-

policy/scoring-tool

Local government operations, community-wide

initiatives, building policies, energy & water

utilities, transportation

SEED Design Corps, US http:///www.seednetwork.

org/certification

Social, economic, environmental

STARS -

Sustainability

Tracking

Assessment &

Rating System

Assn for

Advancement of

Sustainability in

Higher Education,

US

https://stars.aashe.org/ Academics, engagement, operations, planning

and administration, innovation

Triple Bottom

Line Tool

US Economic

Development

Administration

http://www.tbltool.org/

Quality jobs, sound investment, industry eco-

efficiency, green design & construction, green

operations, place-making & accessibility,

environmental health, governance

Fonte: Criterion Planners, 2014, p. 11, Sharifi e Murayama (2013), France GBC (2015), CRC for Low Carbon Living (2013), Akashi (2012), Lahti (2012), e notas do autor.

O gráfico da Figura 74 mostra a distribuição dos sistemas de acordo com a

escala geográfica e o foco temático, pelo qual vemos uma predominância das

ferramentas voltadas a comunidades planejadas, em segundo para transporte e

infraestrutura e terceiro as dedicadas à escala da cidade.

Figura 74 – Famílias de ferramentas de acordo com escala geográfica e foco temático. Fonte: Criterion Planners, 2014, p.3

812

410

526

11

0 5 10 15 20 25 30

1

Famílias de ferramentas de acordo com escala geográfica e foco temático

Cidades Comunidades Planejadas

Comunidades Existentes Todas Comunidades

Paisagens e Parques Transporte e Infraestrutura

Propósitos Especiais

Page 163: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 163

4.3.3. Sistemas Selecionados e Analisados

Ao longo desta pesquisa, foram identificados estudos desenvolvidos com o

objetivo de relacionar os sistemas de avaliação de sustentabilidade às emissões de

carbono. Cada um dos três estudos considerados relevantes a esta pesquisa analisou

algumas ferramentas, em alguns casos havendo coincidências nas escolhas, que são

apresentadas no Quadro 23, no qual também se identificam quais das ferramentas

são classificadas como PIM. As ferramentas que mais se repetem são, em geral,

aquelas de maior destaque no cenário internacional, ou local, considerando que dois

dos estudos foram feitos na Austrália. Consideramos os seguintes estudos:

I. Decarbonising cities: certifying carbon reduction in urban development

(Rauland, 2013); e

II. Performance Assessment of Urban Precinct Design – A Scoping Study

(CRC LCL, 2013);

III. Environmental sustainability assessment tools for low carbon and climate

resilient low income housing settlements (Charoenkit e Kumar, 2014).

Quadro 23 – Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana estudados.

Rauland

(2013)

CRC LCL

(2013)

Charoenkit e

Kumar (2014)

PIM

BREEAM Communities X X X

CASBEE-UD X X

EnviroDevelopment X

eTool X

GBI for Township X

Green Star Communities X X

LEED ND X X X

LESS X X

MUtopia X X

One Planet Living X

PrecinX X X X

SBTool 2012 X

SSIm - Stage 1 X X

Fonte: CRC for Low Carbon Living, 2013; Rauland, 2013; e Charoenkit e Kumar, 2014.

Page 164: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 164

A seguir, apresentamos uma descrição sucinta de cada uma das ferramentas

acima. Algumas destas ferramentas se classificam como PIM – Precinct Information

Modelling (Modelagem de Informação da Comunidade), que se configura como uma

nova tecnologia que faz a ligação entre edifícios e dados geoespaciais através do BIM

– Building Information Modelling e do SIG – Sistema de Informação Geográfica, e

permitindo que ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento de projeto as informações

sejam disponibilizadas e conectadas de forma transparente, com acesso consistente,

preciso e confiável aos dados (CRC LCL, 2013).

4.3.3.1. BREEAM Communities

O BREEAM, primeiro sistema de certificação para edifícios, lançado

mundialmente em 1990 pelo BRE – Building Research Establishment do Reino Unido,

e ainda hoje o mais utilizado do mundo, desenvolveu em 2008 um referencial

específico para projeto de escala urbana, o BREEAM Communities.

O sistema abrange apenas a fase de projeto, com três fases de certificação (1.

Estabelecendo os princípios do empreendimento; 2. Determinando o layout do

empreendimento; 3. Detalhamento), não avançando à fase de obra. A classificação

final se dá em um sistema de pontos e classificação final: ‘Pass’ (>25%), ‘Good’

(>40%), ‘Excellent’ (>70%) e ‘Outstanding’ (>80%), com seis áreas temáticas:

governança, bem-estar social e econômico, recursos e energia, uso do solo e

ecologia, transporte e deslocamento, inovação.

4.3.3.2. CASBEE-UD e CASBEE-City

O sistema japonês CASBEE – Comprehensive Assessment System for Building

Environmental Efficiency, iniciado em 2004, lançou em 2006 o primeiro sistema

específico para projetos de escala urbana, o CASBEE-UD – Urban Development. Na

aplicação deste sistema os interiores dos edifícios não são avaliados, embora isto

possa ocorrer através da aplicação do sistema de forma conjunta com as ferramentas

para edifícios (SHARIFI e MURAYAMA, 2013).

Page 165: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 165

Como vemos na Figura 75, diferentemente de outros sistemas baseados em

pontos, o cálculo do BEE (Building Environmental Efficiency) do CASBEE é feito com

base em razões e medições qualitativas e quantitativas (Rauland, 2013), mas com

resultado dependente do número de pontos: <0.5 = ‘Poor’, 0.5-1.0 = ‘Fairly Poor’, up

to 1.5-3.0 = ‘Very good’ e > 3.0 ‘Excellent’. As categorias avaliadas são:

QUD: Environmental quality in urban development

QUD1 Natural Environment (microclimates and ecosystems)

QUD2 Service Functions for the Designated Area

QUD3 Contribution to the Local Community (history, culture, scenery

and revitalization)

LRUD: Load Reduction in Urban Development

o LRUD1 Environmental Impact on Microclimates, Façade and

Landscape

o LRUD2 Social Infrastructure

o LRUD3 Management of the Local Environment

Embora o sistema tenha introduzido medidas relativas às emissões de GEE e

mudanças climáticas no item LRUD3, estas são apenas qualitativas e não quantitativas

(IBEC, 2007).

Figura 75 – Resultados da avaliação do CASBEE-UD. Fonte IBEC, 2007, p. 28.

Page 166: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 166

Existe, ainda, um referencial específico para avaliar o desempenho ambiental de

cidades, definindo um limite hipotético (Figura 76), dentro do qual avalia (Figura 77) o

cenário atual e estima o desempenho ambiental futuro a partir das políticas ambientais

previstas. A estratégia adotada pela cidade pode adotar um caminho com desvio pelo

BAU – Business as Usual, ou seguir diretamente a um futuro de menor impacto e

maior qualidade ambiental (JSBC, 2012).

Figura 76 – Conceito de espaço encerrado hipotético no CASBEE-City. Fonte: JSBC, 2012, p.4.

Figura 77 – Avaliação de desempenho atual e futura no CASBEE-City. Fonte: JSBC, 2012, p.24.

Page 167: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 167

4.3.3.3. EnviroDevelopment

De origem australiana e desenvolvido pelo Urban Development Institute of

Australia (UDIA) em 2006, o EnviroDevelopment pode ser aplicado para uma

variedade de tipologias de edifícios e projetos em escala urbana. Nesta última se

encaixam sistemas específicos para empreendimentos residenciais (com até 1500

unidades) e comunidades planejadas (com mais de 1500 unidades)11.

O sistema se divide em seis categorias, não baseadas em pontos, mas em

requisitos a serem atendidos, alguns deles estabelecendo metas de redução de GEE,

cuja comprovação é simplificada e não demanda uma avaliação de emissões,

podendo ser uma simples comprovação que, por exemplo, o sistema de geração de

energia emite menos GEE do que os tradicionais (Rauland, 2013).

As seis categorias são: Ecossistemas, Resíduos, Energia, Materiais, Água e

Comunidade.

4.3.3.4. eTool LCD

A ferramenta eTool LCD12 é um software, de origem australiana, concebida em

2009, e que atualmente possui acesso e uso disponível pela internet. Tem por objetivo

realizar a análise de ciclo de vida (ACV), com base nas normas ISO 14.044 e EN

15.978. Embora tenha inicialmente sido concebida para análises de edifícios

(Rauland, 2013), hoje sua aplicação é ampla, indo desde casas unifamiliares,

passando por edifícios multifamiliares ou corporativos, até grandes complexos de

escala urbana, nos quais a análise pode incluir até mesmo a infraestrutura pública,

como ruas, calçadas, sistema de tratamento de água e esgoto, e iluminação pública

(Mendonça, 2015). Beattie et al (2012) ressalta a flexibilidade da ferramenta para

pequenos agrupamentos habitacionais, pequenas comunidades e sistemas de água

e energia fora da rede, o que o tornam adequado para assentamentos de pequena

escala de campos de mineração e comunidades nativas.

11 <http://www.envirodevelopment.com.au/01_cms/details.asp?ID=200>. Acesso em 04 de agosto de 2015. 12 <http://etoolglobal.com/>. Acesso em 04 de agosto de 2015.

Page 168: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 168

Os estudos realizados pela ferramenta apresentam resultados dos potenciais

impactos ambientais relacionados a CO2eq, custo, energia, água, uso do solo,

depleção de ozônio, toxicidade humana, etc. A ferramenta permite não só avaliar o

carbono embutido em materiais e as emissões durante a fase de construção, mas

também aquelas resultantes da fase de operação, como energia operacional,

tratamento de água e resíduos sólidos. Emissões por transporte na fase de operação

não são avaliados (BEATTIE et al, 2012). A Figura 78 mostra uma tela de exemplo da

ferramenta.

Figura 78 – Tela de exemplo do eTool LCD. Fonte: http://etoolglobal.com/.

4.3.3.5. GBI for Township

Desenvolvido na Malásia pelo GSB – Greenbuildingindex Sdn Bhd., o GBI for

Township é uma ferramenta avaliação ainda na fase de projeto (CHAROENKIT e

KUMAR, 2014) para empreendimentos de escala urbana com foco em

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 169

sustentabilidade. Township é definido como um “empreendimento de tamanho

substancial que contenha uma comunidade ou pequeno bairro” (GSB, 2011, p.4).

A ferramenta se divide em seis categorias: Clima, Energia & Água, Ecologia &

Meio Ambiente, Planejamento & Projeto da Comunidade, Transporte & Conectividade,

Edifícios & Recursos e Negócios & Inovação.

4.3.3.6. Green Star Communities

Desenvolvido pelo Green Building Council of Australia (GBCA) a partir de 2009,

com lançamento em 2012, o Green Star Communities é uma ferramenta para

aplicação na escala da comunidade, líder na Austrália (CRC LCL, 2013) e influenciada

pelas ferramentas LEED-NC, BREEAM Communities e Estidama Pearl Communities

(GBCA, 2012; Rauland, 2013).

Se divide em seis categorias: governança, projeto, habitabilidade, prosperidade

econômica, meio ambiente e inovação (GBCA, 2012).

4.3.3.7. LEED ND

O LEED for Neighborhood Development, ou simplesmente LEED-ND surge em

2007 após o estabelecimento de uma série de sistemas voltados a edifícios, todos

desenvolvidos pelo USGBC. Neste, são parceiros do USGBC para o desenvolvimento

o NRDC – Natural Resources Defense Council e o CNU – Congress for New

Urbanism, cada um dos três desenvolvedores envolvidos com uma das três áreas

temáticas: Bobagem.

Localização e Conexões Inteligentes, pelo NRDC, com foco em

crescimento inteligente (smart growth);

Padrão e Projeto de Comunidade, pelo CNU, com foco em novo

urbanismo; e

Infraestrutura e Edifícios Verdes, pelo USGBC, com foco em edifícios

sustentáveis.

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 170

Além destas três categorias, o sistema, que se divide em pré-requisitos (itens

obrigatórios que não pontuam) e créditos (itens opcionais que pontuam) permite

pontuação por inovação e processos de projeto e atendimento a critérios regionais.

Neste último caso, para regiões dos EUA, e para alguns países do mundo foram

definidas áreas temáticas entendidas como prioridade. O atendimento aos critérios

definidos dentro destas áreas permite o ganho de pontos extras. A XXX mostra a

divisão das categorias e pontos entre elas.

Figura 79 – Pontuação do LEED-ND. Fonte: USGBC

A certificação se dá em três estágios, que ocorrem após o registro e uma fase

opcional de revisão:

Registro, obrigatório, no qual o projeto é inserido na base do USGBC;

SLL Prerequisite Review, fase opcional na qual os pré-requisitos

relacionados à categoria Localização e Conexões Inteligentes são

avaliados;

Estágio 01 – Conditionally Approved Plan, fase opcional que pode ser feita

apenas antes de as licenças de projeto serem emitidas e resultam em

uma carta que pode ser utilizada para auxiliar em processos

administrativos com a municipalidade e a busca por investidores;

Estágio 02 – Pre-Certified Plan, fase opcional na qual o projeto é avaliado

antes da conclusão de todas as obras, mas com os projetos avançados;

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 171

Estágio 03 – Certified Neighborhood Development, fase obrigatória e que

ocorre apenas após a entrega de todos os edifícios e áreas comuns da

comunidade planejada.

O resultado final da certificação depende da pontuação, a partir de 40, sendo o

projeto classificado como: Certified, Silver, Gold e Platinum. Esta classificação

dependente em pontos pode resultar no mascaramento das ações voltadas à redução

de carbono (Rauland, 2013).

4.3.3.8. LESS

O LESS (Local area Envisioning and Sustainability Scoring system), uma

ferramenta PIM, se apropria dos conceitos e bases tecnológicas dos Sistemas de

Informação Geográfica (SIG), e a modelagem considera regiões geográficas, edifícios

e pontos de interesse, e sistemas como vias de tráfego e cursos d’água aos quais são

associados nomes e características (CRC LCL, 2013).

A ferramenta permite o monitoramento, mapeamento e medição de indicadores

de quatro áreas de relevância aos governos locais (meio ambiente, socioeconômico,

infraestrutura e governança), considerando-se as prioridades e aspirações do governo

local, e de forma que seja um método simples, customizável e flexível. Baseia-se no

conceito DPSIR13, cuja premissa básica é que as mudanças ambientais são

provocadas por indutores e causadas por pressões (VARSHNEY, 2009).

4.3.3.9. MUtopia

A ferramenta, do tipo PIM, MUtopia (UNIVERSITY OF MELBOURNE, 2015),

desenvolvida pelo Departamento de Engenharia de Infraestrutura da Escola de

Engenharia da Universidade de Melbourne, com apoio do Melbourne Sustainable

Society Institute, é baseada na web e utiliza as plataformas Google Earth e WebGL

13 Driving forces (forças motrizes ou forças motoras), Pressures (pressões), States (estados), Impacts

(impactos), Responses (respostas).

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 172

para renderização 3D, sendo capaz de importar entidades de desenho geolocalizadas

utilizadas para representar uma comunidade (CRC LCL, 2013). Tem por objetivo

realizar uma avaliação integrada de sustentabilidade em seis áreas temáticas

(energia, água, resíduos, transporte, social e economia) em diferentes escalas, de

forma que os projetistas possam verificar a viabilidade de aplicação de medidas de

sustentabilidade. A Figura 80 apresenta a estrutura da ferramenta e permite visualizar

a relação com alguns sistemas de avaliação como Green Star Communities e One

Planet Communities, bem como a ferramenta de contabilização de carbono.

Figura 80 – Estrutura do MUtopia. Fonte: Arora, 2014, p.10.

Algumas características da ferramenta (Arora, 2014) são:

Baseada na nuvem, aberta, escalável e adaptável;

Integração entre SIG e BIM, utilizando PIM;

Capacidades de visualização avançadas;

Capacidades de modelagem preditivas, simulações de cenários “what-if”;

Arquitetura multi-usuário, projeto colaborativo e plataforma de simulação;

Capacidade de engajamento público através de um portal web para

consulta à comunidade.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 173

A Figura 81 permite visualizar a tela da ferramenta, que nos mostra o exemplo

de um projeto modelado em 3D ao centro. À esquerda temos uma árvore de acesso

às informações, e à direita os dados de energia do projeto, visualizados de forma

numérica e gráfica.

Figura 81 – Tela do MUtopia. Fonte: Arora, 2014, p.17.

4.3.3.10. One Planet Living

O One Planet Living, criado em 2003 pela Bioregional, é um sistema voltado ao

desenvolvimento de empreendimentos e comunidades que demonstrem

comprometimento com o atendimento de 10 princípios internacionais de

sustentabilidade e que foi aplicado pela primeira vez na ecovila BedZED, localizada

ao sul de Londres.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 174

Figura 82 – BedZED. Fonte: One Planet Living, 2015.

Os 10 princípios, representados através das pétalas de uma flor, são

apresentados abaixo:

10 PRINCÍPIOS DO ONE PLANET LIVING

1. Saúde e felicidade

6. Alimento local e

sustentável

2. Equidade e economia

local

7. Materiais sustentáveis

3. Cultura e comunidade

8. Transporte sustentável

4. Uso do solo e vida

selvagem

9. Resíduo zero

5. Água sustentável

10. Carbono zero

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 175

O conceito da ferramenta é baseado no modelo da Pegada Ecológica (REES e

WACKERNAGLE, 1996, apud RAULAND, 2013), com metas rigorosas relacionadas

a carbono, resíduos, transporte, materiais e água, almejando que o projeto seja

carbono-zero em sua fase de operação, e que reduza 95% dos resíduos gerados

(RAULAND, 2013).

4.3.3.11. PrecinX

O PrecinX é uma ferramenta matemática de projeto e planejamento que tem por

objetivo avaliar a sustentabilidade de um bairro ou empreendimento urbano

analisando aspectos chaves do desempenho social, ambiental e econômico de um

projeto.

Seu desenvolvimento é de responsabilidade da Landcom, com aporte financeiro

do Departamento de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas de New South Wales, na

Austrália, e comporta seis módulos independentes: energia local, CO2 incorporado,

água potável, transporte, diversidade de moradia, e água pluvial. As análises resultam

em indicadores chaves de desempenho, relacionados a questões chave. A Figura 83

ilustra a estrutura do sistema.

Figura 83 – Estrutura do PrecinX. Fonte: Landcom, 2015.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 176

Diferente de outras ferramentas que geram uma mera classificação, o PrecinX

ajuda a modelar e comparar o desempenho de diferentes cenários em indicadores-

chave quanto a emissões de CO2 (tCO2eq/ano), consumo de água (kL H2O/ano),

deslocamento em veículos (h/semana), facilidade de acesso à moradia ($/semana),

de forma que os empreendedores possam fazer melhores escolhas com base em

números reais (Perinotto, 2009 apud Rauland, 2013).

4.3.3.12. SBTool

O SBTool foi desenvolvido pela iiSBE – International Initiative for Sustainable

Built Environment, inicialmente focado em edifícios e mais tarde adaptado para

atender a empreendimentos de grande escala através do módulo “Site Assessment”,

com 36 critérios específicos, o qual é separado do módulo primário para edifícios, que

conta com 115 critérios (LARSSON, 2015). A ferramenta, disponível através de

arquivo em formato Excel, possui funções específicas relacionadas ao cálculo de

emissões de GEE.

Figura 84 – Tela do SBTool 2015. Fonte: iiSBE, 2015.

4.3.3.13. SSIM

O SSIM – Sustainable Systems Integration Model, desenvolvido pela AECOM

(2015), que assim como o LESS, tem por base os SIG, busca facilitar o atendimento

pelos empreendedores dos objetivos de sustentabilidade exigidos pelo governo

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 177

considerando diferentes e variadas opções de desenvolvimento. A ferramenta,

aplicável desde o edifício único até grandes comunidades, avalia o melhor grupo de

alternativas para atender aos requisitos de água e energia em conjunto com distância

percorrida por veículos, consumo de combustível e emissões de GEE.

Figura 85 – Tela de exemplo do SSIM. Fonte: <http://www.exemplaryenvironments.com/volumeII_issue7/article1.aspx>.

4.3.4. Síntese dos Estudos Externos

Das oito ferramentas (BREEAM Communities, CASBEE-UD,

EnviroDevelopment, eTool, Green Star Communities, LEED ND, One Planet Living e

PrecinX) analisadas por Rauland (2013), concluiu-se que apenas eTool e PrecinX

aplicam rigorosamente a contabilidade de carbono.

A pesquisa realizada pelo CRC LCL (2015) fez uma comparação entre os

sistemas LEED-ND, BREEAM-Communities e Green Star Communities, (Figura 86 e

Quadro 24) na qual separou os indicadores entre diretos e indiretos, tendo sido

considerados diretos aqueles relacionados especificamente a energia, GEE,

mitigação dos efeitos de ilha de calor e edifícios sustentáveis, e indiretos os

relacionados a transporte, desenvolvimento compacto, adaptação às mudanças do

clima, materiais sustentáveis e planejamento urbano. O LEED é o sistema que possui

a maior quantidade de indicadores diretamente relacionados a carbono e energia

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 178

(13,63%), num total de 28,18%, enquanto o sistema BREEAM o que possui maior

quantidade total (35,29%) e a maior indireta (25,21%). Os indicadores de carbono e

energia do Green Star, diretos e indiretos, correspondem a 22,73% do total.

Figura 86 – Indicadores relacionados ao carbono em cada ferramenta (%). Fonte: CRC for Low Carbon Living, 2015, p. 52.

Quadro 24 – Indicadores relacionados a carbono e energia em cada ferramenta.

LEED ND BREEAM Communities Green Star Communities

Direto Building energy efficiency (2)

Heat island reduction (1)

On-site renewable energy

source (3)

District heating/cooling (2)

Infrastructure energy efficiency

(1)

Certified Green Building (5)

Solar orientation (1)

Energy strategy (11)

Transport carbon emission (1)

Heat island effect (1)

GHG emission (6)

Green building (4)

Indiretos Reduced automobile

dependence (7)

Bicycle network and storage

(1)

Compact development (6)

Local food production (1)

Existing building use (1)

Green infrastructure (4)

Adapting to climate change (3)

Existing building and

infrastructure (2)

Sustainable building (6)

Low impact materials (6)

Resource efficiency (4)

Cycling network (1)

Access to public transport (4)

Environmental management

(2)

Site planning and layout (3)

Urban design (4)

Materials (2)

Transport (3)

Access to amenities (1)

Local food production (1)

Pontos 31 pontos de 110

15 diretos e 16 indiretos

42 pontos de 119

12 diretos e 30 indiretos

25 pontos de 110

11 diretos e 16 indiretos

Fonte: CRC for Low Carbon Living, 2013, p.53.

Além destas, o estudo de CRC LCL (2013) fez um levantamento específico de

ferramentas de PIM – Precinct Information Modelling: LESS, MUtopia, PrecinX e

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 179

SSIM. Todas elas possuem a quantificação de carbono como um de seus elementos

chave no desenvolvimento de cidades e comunidades de baixo carbono.

A pesquisa feita por Charoenkit e Kumar (2014) teve como objetivo analisar

como 5 ferramentas (BREEAM Communities, LEED-ND, CASBEE-UD, SBTool2012 e

GBI for Township) distribuem seus critérios quanto a ações para redução das

emissões de GEE e ações de resiliência ao desastre, ambos conectados com a

questão das mudanças climáticas, o primeiro na categoria mitigação e o segundo em

adaptação.

O estudo conclui que todas as ferramentas analisadas dão grande ênfase às

duas áreas de abordagem, sendo que o LEED ND se destaca com 87% dos pontos

aderentes às mudanças climáticas, seguido do SBTool, com 80,6%. BREEAM

Communities, CASBEE-UD e GBI for Township têm entre 52% e 69% de sua

pontuação relacionada ao tema. Em todos os casos prevalecem os indicadores

voltados à mitigação, em detrimento da adaptação, com infraestrutura-edifícios e

transporte como as áreas mais importantes dos cinco sistemas. O LEED-ND

apresenta maior foco em transporte, BREEAM e GBI trazem uma distribuição

equilibrada, e CASBEE e SBTool enfatizam infraestrutura-edifícios. Em todas as

ferramentas o tema resíduos aparece em seguida entre os temas de maior relevância.

4.3.5. Análise Complementar Segundo GPC e Inventários Municipais

De forma a complementar as análises encontradas na bibliografia de referência,

procede-se nesta seção com a análise dos sistemas BREEAM Communities e LEED-

ND quanto às estratégias para mitigação das mudanças do clima – estratégias

relacionadas às adaptações e resiliência ao clima não serão abordadas. O critério de

seleção das duas ferramentas está relacionado a sua presença em todos os três

estudos anteriormente analisados aliado à sua presença e expansão no cenário

internacional – a disponibilidade de informações simplificadas que permitam este

estudo, bem como a similaridade dos dois sistemas também contou pontos na

seleção. Existe, no entanto, uma diferença no escopo das fases abrangidas durante o

processo de certificação por um e outro: o BREEAM abrange apenas a fase de

planejamento e projeto e o LEED se estende até a conclusão da fase de obra.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 180

Para realizar a análise, utilizaremos a ferramenta GPC (Global Protocol for

Community-Scale Greenhouse Gas Emission Inventories), apresentada na seção

4.1.2.1 e que divide as emissões em 5 setores, os quais detalhamos no Quadro 25,

que divide as fontes de emissão para cada setor entre os 3 escopos, e descreve sob

o nome “classificação” o que será considerado na análise.

Adicionalmente, consideraremos os setores que mais emitem GEE nos

municípios de São Paulo e Rio de Janeiro (INV), conforme apontamos na seção 2.3 a

partir dos inventários realizados por ambos: uso de energia (que inclui

geração/consumo de eletricidade e transporte em todos os modais) e

disposição/tratamento de resíduos sólidos e líquidos.

Quadro 25 – Detalhamento dos setores emissores de GEE analisados e classificação.

Setores Descrição

Energia

Estacionária

(ENE)

Escopo 1: emissões de combustíveis em edifícios, indústrias e da conversão de

fontes primárias de energia em refinarias e plantas de energia, assim como

geradores.

Escopo 2: emissões do consumo de energia da rede (eletricidade, vapor,

aquecimento e resfriamento)

Escopo 3: emissões por perdas na distribuição e transmissão de energia da rede,

e uso de energia fora dos limites devido a atividades que ocorrem dentro dos

limites.

Classificação: Toda e qualquer medida que melhore a eficiência energética,

reduzindo o consumo de forma direta ou indireta se enquadra neste setor.

Transportes

(TRA)

Escopo 1: emissões de pessoas e cargas dentro dos limites.

Escopo 2: emissões de energia da rede utilizada em veículos elétricos.

Escopo 3: emissões ocorridas fora dos limites devido a transportes que transpõem

os limites

Classificação: Toda e qualquer medida que incentive o uso de transportes de

massa ou individuais de baixa emissão, como também as estratégias que busquem

reduzir o deslocamento pela concentração de usos, desenvolvimento compacto e

incentivo à economia e presença de atividades locais essenciais.

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4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 181

Continuação Quadro 25

Setores Descrição

Resíduos

(RES)

Escopo 1: emissões de resíduos tratados dentro dos limites.

Escopo 2: não aplicável.

Escopo 3 emissões de resíduos gerados dentro dos limites, mas tratados fora dos

limites.

Classificação: Toda e qualquer medida que reduza a geração, incentive a gestão e

melhore a eficiência de tratamento de resíduos sólidos e águas residuais. Resíduos

utilizados como fonte de energia por queima direta ou aproveitamento do metano,

são considerados no setor “energia estacionária”.

Processos

Industriais e

Uso de

Produtos

(IPPU)

Escopo 1: emissões de processos industriais e usos de produto dentro dos limites.

Escopo 2: não aplicável.

Escopo 3: outras emissões fora dos limites.

Classificação: as emissões por processos industriais não são consideradas nos

sistemas avaliados. No caso de uso do produto, consideraremos as medidas que

reduzam as emissões causadas por fluidos refrigerantes, espumas e aerossóis.

Agricultura,

Silvicultura

e outros

Usos do

Solo

(AFOLU)

Escopo 1: emissões de atividades agrícolas e mudança de uso do solo dentro dos

limites.

Escopo 2: não aplicável.

Escopo 3: não aplicável.

Classificação: estímulo à ocupação de áreas previamente desenvolvidas, não

ocupação de áreas agricultáveis, criação, preservação e recuperação de ambientes

naturais, mudanças de uso do solo natural>construído ou o inverso e estímulo à

produção agrícola local e ações de reflorestamento.

Outras

emissões

Escopo 3

Não serão avaliadas as emissões de escopo 3.

Fonte: Preparado a partir de WRI et al, 2014, p. 10, 54-134, tradução nossa.

Para realizar a análise, que apresentamos nos Quadro 26 Quadro 27, adotaremos

a seguinte metodologia:

1. Os critérios de cada um dos dois sistemas serão avaliados quanto a sua

aderência ou não entre os cinco setores definidos pelo GPC (ENE, TRA,

RES, IPPU, AFOLU) e as principais fontes de emissão dos inventários

(INV);

2. Os critérios não serão classificados segundo os escopos 1, 2 e 3;

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Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 182

3. Não haverá diferenciação entre a contribuição direta e indireta dos

critérios, ou a determinação de seu real potencial de contribuição à

mitigação climática;

4. Consideraremos aqui como “limites” os da cidade e não da comunidade

planejada;

5. Os critérios podem atender a nenhuma ou a mais de uma categoria em

função das exigências apresentadas, pelo que a soma pode não resultar

em 100%. Para efeito de simplificação, os pontos de um mesmo critério

não serão divididos ou contabilizados parcialmente;

6. No caso do sistema LEED-ND, não foram incluídos os pontos por

inovação em projeto, tampouco os créditos de prioridade regional, posto

que não são fixos e dependem de cada projeto. Adicionalmente, os

critérios obrigatórios, chamados pré-requisitos (em vermelho na tabela),

são independentes e separados dos critérios opcionais e que pontuam.

7. No caso do sistema BREEM Communities, os pré-requisitos (também na

cor vermelha) estão incorporados aos critérios, mas serão mostrados de

forma separada na avaliação, embora não gerem pontuação. Não foram

incluídos os pontos relacionados a inovação.

8. Avaliaremos a aderência dos critérios aos setores e inventários de forma

simplificada pela quantidade de critérios e pela pontuação, na qual entram

os pesos dados a cada critério.

Quadro 26 – Classificação dos critérios LEED-ND. CRITÉRIOS

Po

nto

s

ENE

TRA

RES

IPP

U

AFO

LU

TOT-

SIM

O

INV

ENT

LOCALIZAÇÃO E CONEXÕES INTELIGENTES 27

SLLp1 Localização inteligente PR X 1 X

SLLp2 Espécies em risco em comunidades ecológicas PR X 1

SLLp3 Conservação de várzeas e corpos d'água PR X 1

SLLp4 Conservação de terras agricultáveis PR X 1

SLLp5 Afastamento da cota de inundação PR 0 X

SLLc1 Localizações preferenciais 10 10 10 10

SLLc2 Redesenvolvimento de áreas contaminadas 2 0 2

SLLc3 Localização com redução da dependência de automóveis

7 7 7 7

Page 183: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 183

Continuação Quadro 26 CRITÉRIOS

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ENT

LOCALIZAÇÃO E CONEXÕES INTELIGENTES 27

SLLc4 Rede e infraestrutura cicloviária 1 1 1 1

SLLc5 Proximidade a habitação e trabalho 3 3 3 3

SLLc6 Proteção de encostas 1 1 1

SLLc7 Concepção de projeto para conservação de habitats ou várzeas e corpos d'água

1 1 1

SLLc8 Restauração de habitats ou várzeas e corpos d'água

1 1 1

SLLc9 Gestão da conservação de habitats ou várzeas e corpos d'água

1 0 1

PROJETO E PADRÃO DO BAIRRO 44

NPDp1 Ruas caminháveis PR 0 X

NPDp2 Desenvolvimento compacto PR X 1 X

NPDp3 Comunidade aberta e comunicada PR X 1 X

NPDc1 Ruas caminháveis 12 0 12

NPDc2 Desenvolvimento compacto 6 6 6 12 6

NPDc3 Comunidade com uso misto 4 4 4 4

NPDc4 Comunidade com diversidade de rendas 7 0 7

NPDc5 Áreas reduzidas para estacionamento 1 1 1 1

NPDc6 Sistema Viário 2 2 2 2

NPDc7 Equipamentos de transporte 1 0 1 1

NPDc8 Gestão da demanda de transporte 2 2 2 2

NPDc9 Acesso a espaços públicos e cívicos 1 0 1

NPDc10 Acesso a instalações recreativas 1 0 1

NPDc11 Acessibilidade universal 1 0 1

NPDc12 Alcance e envolvimento da comunidade 2 0 2

NPDc13 Produção local de alimentos 1 1 1 2 1

NPDc14 Ruas sombreadas e arborizadas 2 0 2

NPDc15 Escolas abertas à comunidade 1 0 1

INFRAESTRUTURA E EDIFÍCIOS VERDES 29

GIBp1 Edifício com certificação ambiental PR X X 2 X

GIBp2 Eficiência energética mínima do edifício PR X 1 X

Page 184: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 184

Continuação Quadro 26 CRITÉRIOS

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TRA

RES

IPP

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LU

TOT-

SIM

O

INV

ENT

INFRAESTRUTURA E EDIFÍCIOS VERDES 29

GIBp3 Eficiência mínima no uso da água no edifício PR 0 X

GIBp4 Prevenção da poluição nas atividades de construção

PR 0 X

GIBc1 Edifícios com certificação ambiental 5 5 5 10 5

GIBc2 Eficiência energética dos edifícios 2 2 2 2

GIBc3 Eficiência no uso da água nos edifícios 1 0 1

GIBc4 Paisagismo com uso eficiente da água 1 0 1

GIBc5 Uso de edifícios existentes 1 1 1 1

GIBc6 Preservação de recursos históricos e adaptação de usos

1 1 1 1

GIBc7 Minimização dos impactos do projeto e uso do terreno

1 1 1

GIBc8 Gerenciamento de águas pluviais 4 0 4

GIBc9 Redução do efeito ilha de calor 1 0 1

GIBc10 Orientação solar 1 1 1 1

GIBc11 Fontes locais de energias renováveis 3 3 3 3

GIBc12 Resfriamento e aquecimento distrital 2 2 2 2

GIBc13 Eficiência energética da infraestrutura 1 1 1 1

GIBc14 Gerenciamento das águas residuais 2 2 2 2

GIBc15 Conteúdo de reciclado na infraestrutura 1 1 1 1

GIBc16 Infraestrutura para gerenciamento de resíduos sólidos

1 1 1 1

GIBc17 Redução da poluição luminosa 1 0 1

QUANTIFICAÇÃO TOTAL

Total de critérios 53 8 13 7 0 9 53 20 27

% do total de critérios 15,1% 24,5% 13,2% 0,0% 17,0% 100,0% 37,7% 50,9%

Total de pontos 100 14 37 11 0 11 78 39 58

% do total de pontos 14,0% 37,0% 11,0% 0,0% 11,0% 78,0% 39,0% 58,0%

Fonte: Preparado pelo autor.

Page 185: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 185

Quadro 27 – Classificação dos critérios BREEAM Communities. CRITÉRIOS

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IPP

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AFO

LU

TOT-

SIM

O

INV

ENT

GOVERNANÇA 8

GO 01

Plano de consulta PR 0 X

GO 02

Consulta e engajamento PR 0 X

GO 01

Plano de consulta 1 0 1

GO 02

Consulta e engajamento 2 0 2

GO 03

Revisão de projeto 2 0 2

GO 04

Gestão comunitária das instalações 3 0 3

BEM ESTAR SOCIAL E ECONÔMICO 46

SE 01

Impacto econômico PR 0 X

SE 02

Necessidades e prioridades demográficas PR 0 X

SE 03

Avaliação de riscos de inundação PR 0 X

SE 04

Poluição sonora PR 0 X

SE 01

Impacto econômico 1 0 1

SE 02

Necessidades e prioridades demográficas 1 0 1

SE 03

Avaliação de riscos de inundação 2 0 2

SE 04

Poluição sonora 3 0 3

SE 05

Provisão habitacional 2 0 X

SE 06

Provisão de serviços, instalações e infraestrutura

7 7 7 7

SE 07

Espaço público 2 0 X

SE 08

Microclima 3 0 3

SE 09

Utilidades 3 0 3

SE 10

Adaptação às mudanças climáticas (resiliência)

3 3 3 3 3

SE 11

Infraestrutura verde 4 0 4

SE 12

Estacionamento local 1 1 1 2 1

SE 13

Gestão dos riscos e inundação 3 0 3

SE 14

Vernacular 2 0 2

SE 15

Projeto inclusivo 3 0 3

SE 16

Poluição luminosa 3 0 3

SE 17

Treinamento e habilidades 3 0 3

Page 186: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 186

Continuação Quadro 27 CRITÉRIOS

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RES

IPP

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LU

TOT-

SIM

O

INV

ENT

RECURSOS E ENERGIA 31

RE 01

Estratégia energética PR X 1 X

RE 02

Edifícios existentes e infraestrutura PR X X 2 X

RE 03

Estratégia de água PR 0 X

RE 01

Estratégia energética 11 11 11 11

RE 02

Edifícios existentes e infraestrutura 2 2 2 2

RE 03

Estratégia de água 1 0 X

RE 04

Edifícios sustentáveis 6 6 6 12 6

RE 05

Materiais de baixo impacto 6 6 6 12 6

RE 06

Eficiência de recursos 4 6 6

RE 07

Emissão de carbono de transportes 1 1 1

USO DA TERRA E ECOLOGIA 18

LE 01

Estratégia de ecologia PR 0 X

LE 02

Uso da terra PR X 1

LE 01

Estratégia de ecologia 1 0 X

LE 02

Uso da terra 3 3 3

LE 03

Poluição da água 3 0 3

LE 04

Valorização do valor ecológico 3 3 3 3

LE 05

Paisagem 5 5 5 5

LE 06

Coleta de água pluvial 3 0 3

TRANSPORTE E DESLOCAMENTO 15

TM 01

Avaliação de transporte PR X 1 X

TM 01

Avaliação de transporte 2 2 2 2

TM 02

Ruas seguras e atraentes 4 4 4 4

TM 03

Rede de ciclovias 1 1 1 1

TM 04

Acesso ao transporte público 4 4 4 4

TM 05

Instalações de ciclistas 2 2 2 2

TM 06

Instalações de transporte público 2 0 2

Page 187: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 187

Continuação Quadro 27 CRITÉRIOS

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RES

IPP

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LU

TOT-

SIM

O

INV

ENT

QUANTIFICAÇÃO TOTAL

Total de critérios 52 5 10 5 0 5 21 34 15

% do total de critérios - 9,6% 19,2% 9,6% 0,0% 9,6% 40,4% 65,4% 28,8%

Total de pontos 118 20 28 20 0 12 85 58 49

% do total de pontos - 16,9% 23,7% 16,9% 0,0% 10,2% 72,0% 49,2% 41,5%

Fonte: Preparado pelo autor.

Dos 53 critérios do LEED-ND, 33 (62%) estão relacionados às mudanças

climáticas, com AFOLU correspondendo a 20 critérios, 13 para Transporte, 8 para

Energia e 7 para resíduos. Na análise de pontos, de um total de 100, a maioria está

relacionada a transporte (37%), seguido de energia com 14%. Resíduos e AFOLU

correspondem a 11% cada. Em nenhum dos casos IPPU aparece.

No caso do BREEAM Communities, dos 52 critérios totais, 18 (35%) se

relacionam com algum critério de mitigação das mudanças climáticas, 10 deles com o

setor Transporte, enquanto os setores Energia, Resíduos e AFOLU (Agricultura,

Silvicultura e Mudanças de Uso do Solo) correspondem a 5 cada. Avaliando sua

correspondência em pontuação, de um total de 118 pontos, 60 (51%) colaboram com

a mitigação de alguma forma, sendo 28 pontos relacionados a transporte, e os setores

de energia e resíduos com 20 pontos casa, e 12 pontos para AFOLU. Aqui, mais uma

vez, IPPU não pontua.

Figura 87 – Quantidade de critérios por setor de emissão Fonte: Preparado pelo autor

8

5

13

10

7

5

0

0

20

5

20

34

0 10 20 30 40 50 60 70 80

LEED-ND

BREEAM Communities

Quantidade de critérios por setor de emissão

ENE TRA RES IPPU AFOLU NÃO

Page 188: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 188

Quanto tratamos da pontuação, que é o que reflete o peso dado a cada temática

pelos sistemas, fica claro o destaque para o setor de Transportes em ambos os

sistemas, com Energia em segundo lugar.

Figura 88 – Quantidade de pontos por setor de emissão Fonte: Preparado pelo autor

Figura 89 – Critérios relacionados com inventários municipais (%) Fonte: Preparado pelo autor

Ao analisar a aderência dos dois sistemas aos setores de maior emissão nos

inventários de São Paulo e Rio de Janeiro (Energia, Transportes e Resíduos Sólidos

e Líquidos), a pontuação do LEED-ND ganha destaque com 50,9% de aderência

contra 28,8% do BREEAM Communities. A análise pela quantidade de critérios se

14

20

37

28

11

20

0

0

11

12

39

58

0 20 40 60 80 100 120 140 160

LEED-ND

BREEAM Communities

Quantidade de pontos por setor de emissão

ENE TRA RES IPPU AFOLU NÃO

50,9%

28,8%

49,1%

71,2%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

LEED-ND

BREEAM Communities

Critérios relacionados com inventários municipais (%)

Sim Não

Page 189: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 189

mostra mais equilibrada – 49 (42%) critérios aderentes e 69 (58%) não aderentes no

BREEAM e 58 (58%) aderentes contra 42 (42%) não aderentes no LEED.

Figura 90 – Pontuação relacionada com inventários municipais Fonte: Preparado pelo autor

Da análise realizada, podemos afirmar que, sob uma análise qualitativa quanto

ao número de critérios e de pontos, o LEED-ND é mais aderente aos GPC do que o

BREEAM Communities. O mesmo ocorrendo quanto a sua aderência aos inventários

municipais, com o LEED-ND na vantagem.

Embora não estejamos comentando de forma detalhada os critérios dos dois

sistemas, cabe a ressalva que nenhum dos dois sistemas contempla o cálculo de

emissões ou análise de ciclo de vida (que inclui emissões de GEE). O BREEAM

Communities possui um critério chamado Adapting to Climate Change (Adaptação às

Mudanças Climáticas), que está em sua maior parte relacionado a estratégias de

adaptação para redução dos riscos – pode, no entanto, pontuar na aplicação de

medidas de mitigação (razão pela qual pontuou em Energia, exemplo mostrado no

critério).

O LEED (USGBC, 2015) possui nas versões mais recentes do sistema para

edifícios um critério chamado Building life-cycle impact reduction (Redução do impacto

do ciclo de vida do edifício), que apresenta como opção de atendimento a realização

de uma avaliação de ciclo de vida (ACV) da estrutura e envoltória da edificação. A

pontuação ocorre caso o impacto seja reduzido em pelo menos 10% (comparado a

58

49

42

69

0 20 40 60 80 100 120 140

LEED-ND

BREEAM Communities

Pontuação relacionada com inventários municipais

Sim Não

Page 190: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

4. Iniciativas e Ferramentas para as Cidades e Comunidades de Baixo Carbono

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 190

um edifício de referência) em pelo menos 3 de um total de 6 categorias de impacto

relacionadas:

Potencial de aquecimento global (GEE), em CO2eq;

Depleção da camada de ozônio estratosférico, em kg CFC-11;

Acidificação de solo e fontes de água, em moles H+ ou kg SO2;

Eutrofização, em kg de nitrogênio ou fosfato;

Formação de ozônio troposférico, em kg NOx, kg O3 ou kg Eteno; e/ou

Depleção de fontes de energia não renováveis, em MJ.

Adicionalmente, o referencial do LEED para edifícios possui entre seus critérios

a proibição do uso de fluidos refrigerantes que contenham CFC e atribui pontos

adicionais pelo uso de refrigerantes com baixo potencial de aquecimento global (GWP

– Global Warming Potential).

O BREEAM, por sua vez, em seu referencial internacional para edifícios (BRE,

2014) possui alguns critérios que podem ser relacionados com a mitigação de

emissões de GEE. O primeiro deles é o Low and Zero Carbon Technologies, dentro

da categoria Energia, que contempla a realização de um estudo e viabilidade para

instalação de sistemas de fontes de energias renováveis de baixo carbono. O estudo

pontuará mais no sistema caso inclua um ACV do impacto de carbono (conforme a

ISO 14.044:2006), incluindo as emissões embutidas, bem como as reduções e

emissões na fase de operação em um período de 60 anos. O critério Life cycle impact,

por sua vez, solicita a realização de uma análise de ciclo de vida dos elementos do

edifício, com pontuação variando em função dos resultados da calculadora do próprio

sistema. Outros dois critérios tratam da redução de emissões nos sistemas do edifício.

Um deles quanto ao uso de refrigerantes, cuja pontuação é garantida pelo seu não

uso ou pela redução do GWP, e o seguinte que demanda a redução das emissões de

NOx dos sistemas de aquecimento.

Page 191: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

“Você vê aquele pálido ponto azul? Somos nós. Tudo o que já aconteceu na história da humanidade aconteceu naquele pixel. Todos os triunfos e todas as tragédias, todas as guerras e todas as fomes, todos os grandes avanços... é nossa única casa. E é isso que está em jogo, nossa capacidade de viver no planeta Terra, de ter um futuro enquanto civilização. Eu acredito que esta é uma questão moral, é a sua vez de aproveitar esta questão, é o nosso momento de nos levantarmos novamente para garantir o nosso futuro. ”

Al Gore

Page 192: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

5. Considerações Finais

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 192

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1. Conclusões

A presente pesquisa buscou entender de que forma as cidades e comunidades

contribuem para o cenário das mudanças climáticas e de que forma elas podem

cooperar para sua mitigação, seja através da implementação de ações específicas,

iniciativas e políticas públicas, seja através do uso de ferramentas de quantificação ou

orientação.

Teve também, como objetivo principal, identificar, qualitativamente, de que forma

os sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana podem contribuir para a

mitigação das emissões dos gases de efeito estufa no planejamento, projeto e

construção, e consequentemente, na operação, de áreas urbanas.

Os dados globais mostram que as cidades são responsáveis por mais de 70%

das emissões relacionadas ao consumo de energia. Os dados dos inventários

municipais revelam que São Paulo e Rio de Janeiro estão acima da média mundial

nas emissões relacionadas à energia, com 76,14% e 73%, respectivamente (uso de

energia para geração/consumo de eletricidade e transportes, em todos os tipos de

modais). Mostram ainda que estas emissões, associadas às ações de disposição e

tratamento de resíduos sólidos e efluentes líquidos correspondem a 99,62% de todas

as emissões em São Paulo e a 94% no Rio de Janeiro.

Os impactos às cidades vão muito além do aumento do nível do ar e eventos

climáticos extremos, considerados riscos físicos, e podem se estender à dificuldade

em atender às necessidades básicas da população como fornecimento de água e

energia, bens e serviços, perturbando as economias locais e levando até mesmo a

novos fluxos migratórios.

Já existem diversas iniciativas globais, muitas delas nascidas a partir das ações

do IPCC, e que vêm sendo adotadas pelas cidades e comunidades planejadas de

todo o mundo. Programas como o GHG-Protocol e entidades como ICLEI e WRI têm

engajado diversas cidades pelo mundo no desenvolvimento de seus inventários de

emissões locais e na adoção de ações de mitigação. Outros programas, como o

Page 193: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

5. Considerações Finais

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 193

Climate Positive Development, têm trazido projetos em menor escala para a ação em

busca de um cenário de desenvolvimento de baixo carbono. É o caso dos projetos

Cidade Pedra Branca e Parque da Cidade, ambos no Brasil. Ao redor do mundo,

cidades inteiras de baixo carbono também começam a ser planejadas, algumas delas,

como Dongtan, talvez não saiam do papel, e outras como Masdar. De qualquer forma,

precisarão passar por ajustes para se adaptarem as restrições do mercado, mas já

sinalizam caminhos a serem trilhados e lições a serem aprendidas.

Afinal, não devemos encarar as cidades apenas como a principal fonte dos

problemas, mas como uma solução em si para as ações de mitigação que devem ser

trabalhadas de forma conjunta com as estratégias para adaptação e aumento da

resiliência das cidades. As ações na escala municipal podem ser mais rápidas e

eficientes do que aquelas em escala nacional posto que as cidades podem servir de

laboratórios para testes e contam com a colaboração direta de diversas entidades civis

e cidadãos engajados. Elas podem ser de cunho tecnológico, desenho urbano ou

mudanças comportamentais, e quando tratamos do ambiente construído, devemos

focar nossas ações de mitigação e adaptação para melhorias em transporte urbano,

gestão do crescimento urbano, espaços verdes e agricultura urbana, gestão da água

e energia, edificações, produção industrial e redução da pobreza.

Já dispomos de ferramentas que nos permitem entender de forma precisa e

quantificada quais as principais fontes de emissão, resultando em inventários das

cidades, ou mesmo das comunidades, que quando desenvolvidos a partir de uma

mesma metodologia, permitem a comparação entre e a definição de metas de

redução. A partir destas metas, podem ser desenvolvidos planos de ação para a

melhoria das áreas e sistemas urbanos existentes ou planejados, ou mesmo para o

desenvolvimento de novas áreas.

Os sistemas avaliação de sustentabilidade urbana, como BREEAM Communities

e LEED-ND, por exemplo, podem ser um instrumento importante neste processo.

Apesar de eles não permitirem quantificar sua real contribuição para a mitigação dos

gases de efeito estufa (GEE), tampouco esclarecerem quais critérios contribuem mais

ou menos para tal mitigação, os estudos identificados e as análises realizadas nesta

pesquisa mostram que sua aplicação pode trazer benefícios diretos e indiretos.

Page 194: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

5. Considerações Finais

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 194

As análises aqui realizadas permitiram verificar também que os critérios dos

sistemas BREEAM Communites e LEED-ND podem contribuir para a mitigação das

emissões das principais fontes das cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro.

Embora o trabalho focado apenas em comunidade planejadas seja uma pequena

parte do todo de uma cidade, as ações pontuais, como que em um processo de

acupuntura urbana, contribuem para o resultado total e devem ser estimuladas. Fica

a ressalva para que as equipes que façam seu uso, busquem entender o contexto em

que se inserem, e adaptar, na medida do possível as estratégias para responder a

este contexto. No caso dos transportes, por exemplo, a escolha entre sistemas de alta

capacidade, modalidades de compartilhamento de veículos individuais, ou outras

modalidades, depende muito da situação em que se insere o projeto.

Entende-se, hoje, não ser possível alcançar uma existência zero-carbono, ainda

assim, podemos trabalhar em prol de uma vida de baixo carbono – o que não requer

a construção de novas cidades ou comunidades do zero, mas principalmente focar

em nossas cidades e áreas urbanas já existentes, que possuem um estoque de

edifícios que demanda adaptações e melhoria de sua eficiência. Além do mais, seguir

adiante meramente criando novas cidades e comunidades com um pensamento

sustentável não fará com que as grandes áreas construídas passem também a ser

sustentáveis e reduzam seu impacto sobre o planeta. As novas áreas devem seguir

esta lógica, mas faz-se necessário começar um grande trabalho de retrofit urbano, e

de mudanças comportamentais para que toda nossa existência seja de baixo carbono

e que seus impactos sobre o planeta possam ser absorvidos.

Um passo adiante para melhorar os atuais processos e ferramentas seria

trabalhar de forma paralela com os sistemas de avaliação de sustentabilidade e as

ferramentas de inventários de GEE, ou mesmo desenvolver novas metodologias

integradas que permitissem quantificar o real desempenho das estratégias

planejadas. Este é o caso de algumas ferramentas identificadas como eTool e

PrecinX, ainda restritas em sua escala ou local de aplicação, mas que podem servir

de exemplo para o desenvolvimento de futuros trabalhos, aliadas a Sistemas de

Informação Geográfica e Precinct Information Modelling (PIM), um grande passo

adiante do BIM.

Page 195: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta
Page 196: sistemas de avaliação de sustentabilidade urbana como ferramenta

Sistemas de Avaliação de Sustentabilidade Urbana como Ferramenta de Apoio ao Planejamento, Projeto e Construção de Cidades e Comunidades de Baixo Carbono 196

REFERÊNCIAS

ABNT. NBR ISO 14040 – Gestão Ambiental - Avaliação do Ciclo de Vida – Princípios e Estrutura. Rio de Janeiro, 2001.

ACADEMY OF SCIENCE OF SOUTH AFRICA. Towards a Low Carbon City: Focus on Durban. ASSaF: South Africa, 2011.

AECOM. Sustainable Systems Integration Model. Disponível em <http://www.aecom.com/News/Innovation/_projectsList/Sustainable+Systems+Integration+Model>. Acesso em 02 de setembro de 2015.

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