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Resenha de texto homônimo.
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SOBRE O SUICÍDIO¹
ANA PAULA MARTINS²
Neste ensaio, Marx aborda o suicídio e suas causas, e nos propõe uma possível
solução. Logo no início, elogia a crítica francesa, afirma ser esta suprema, pois não apenas os
escritores “socialistas” abordam a condição social de forma crítica, mas todos os estilos
literários franceses fazem isso. Destaca uma ideia fundamental contida na crítica francesa, a
qual afirma que para os filantropos o mundo está ruim apenas para a classe proletária, quando
na verdade todas as classes sociais são afetadas pela configuração caótica mundial.
Exemplifica com as memórias de Peuchet focalizando o suicídio, que chegou a acometer a
França de forma até epidêmica no final do século XIX.
A taxa de suicídios considerada normal não o deveria ser, pois ela é um reflexo da
deficiência da organização vigente, prova disso é que quando há um descontrole de um
problema como o aumento incontrolável de falências, do desemprego etc. há um aumento
diretamente proporcional de suicídios, é nesses casos que este se torna uma epidemia. É
evidente que a miséria é a principal causa do suicídio, mas não é a única; pelo contrário, o
suicídio é um fato diverso, suas causas são muitas e as mais diversas, como traição, rejeição
social, incriminação e até o próprio amor à vida, pois quem o suicida crê ser indigno viver sob
a condição humana etc. visto essa diversidade de causas, torna-se evidente que ele afeta a
todas as esferas sociais.
A opinião da maior parte da sociedade é a de que o suicídio é um ato de covardia,
pois é muito mais fácil desistir da vida do que lutar contra o desespero por ela (MARX, 2006),
mas Marx critica essa opinião afirmando que o suicídio é um ato natural, pois, se fosse
antinatural não ocorreria, e na sociedade parisiense daquela época o suicídio era cada vez
mais frequente, logo, estava na natureza desta sociedade gerar suicídio. Então, a raiz do
problema estava na configuração social, tanto que outras sociedades naquela mesma época
tinham o suicídio como antinatural de fato. Sua proposta foi a de uma reforma na
configuração da sociedade.
¹ Resenha apresentada à disciplina de Interfaces com a Antropologia, relativa ao texto MARX, K. Sobre o suicídio. São Paulo: Boitempo, 2006.² Acadêmica do curso de bacharelado em Psicologia, da Universidade Federal do Pará. Matrícula 12712000401. [email protected]
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Devemos considerar que cada ser humano é único e diferente de todos, mesmo
possuindo semelhanças com a sociedade na qual convive, mas é inviável padronizarmos os
¹ Resenha apresentada à disciplina de Interfaces com a Antropologia, relativa ao texto MARX, K. Sobre o suicídio. São Paulo: Boitempo, 2006.² Acadêmica do curso de bacharelado em Psicologia, da Universidade Federal do Pará. Matrícula 12712000401. [email protected]
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sentimentos. Então devemos olhar para o suicídio a partir da ótica do suicida, pois, com
certeza, a partir da nossa ótica, não vai fazer sentido algum, já que não passamos pelas
mesmas coisas que o suicida e não vemos o mundo da mesma maneira que ele. É justamente
por olharmos para o suicídio a partir da nossa ótica que a sociedade vê este ato como um
crime, como covardia, como fuga e critica o cadáver. Só há uma maneira de conseguirmos
enxergar pelo olhar do outro: é conhecendo o homem. Pois “o homem parece um mistério
para o homem; sabe-se apenas censurá-lo, mas não se o conhece.” (MARX, 2006, p. 26).
Marx critica o evangelho por este não deixar nossos direitos tão claros como deixa
nossos deveres, afirma que o evangelho critica profundamente os suicidas, pois estes, ao
realizarem o ato, estão declarando não crer no que as escrituras sagradas propõem. Culpa
aqueles que não tornaram as escrituras sagradas inteligíveis. Na verdade o problema não está
no que as escrituras nos dizem, e sim na interpretação destas, que, infelizmente, até na
atualidade, século XXI, não é plenamente livre, pois geralmente os indivíduos leem-nas
baseados na interpretação dos líderes da doutrina que seguem.
Outro equívoco nesta opinião marxista é que o que está escrito no evangelho
concerne a moral e não ao campo legislativo, não é um tratado entre homens, e sim entre cada
homem e Deus. A moral não concede direitos diante de pessoas, pois, se assim fosse a
sociedade jamais seria livre de religião, como tanto almejava Marx, e recairíamos num Estado
teocrático, como são muitos do Oriente Médio, por exemplo. Marx recaiu numa contradição
neste aspecto. A bíblia não se refere diretamente ao suicídio em nenhum momento e, sim, em
qualquer forma de destruição do corpo, podendo ser esta a automutilação, o descaso com a
saúde física etc. E este, segundo as escrituras, não constitui um pecado imperdoável – sendo
este, de acordo com elas, unicamente a blasfêmia contra o Espírito Santo.
A questão não é encontrar o culpado, pois não há apenas um culpado pela ocorrência
do suicídio, as próprias pessoas com as quais o suicida convive antes de executar o ato são
culpadas, de certa forma, pois o tratam de maneira preconceituosa, escorraçam-no, castigam-
no, discriminam-no pelo seu modo de ser e agir. Tratam-no de maneira excludente e fria, estes
fatores contribuem para alguém exterminar a própria vida, pois se o suicida estiver inserido
numa sociedade compreensiva e harmoniosa a sua tendência para o suicídio com certeza será
inibida. Então há um conjunto de culpados, não cabendo apenas ao suicida esta posição.
A idéia acima é restrita e, devido a isso, facilmente contestada em vários exemplos.
Entre eles, está um fato recente: o episódio ocorrido em Realengo, no Rio de Janeiro. O ex-
aluno Wellington Menezes cometeu suicídio após assassinar vários alunos da escola em que
estudou na infância. Estas crianças não o hostilizaram, até porque nem sequer o conheciam, já
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que este crime foi realizado depois de nove anos que ele havia saído da instituição, então este
suicídio após os homicídios foi um ato de covardia, pois o medo da punição pelo crime
cometido fez com que a solução para ele fosse exterminar a própria vida.
Para fundamentar que um passo importante para a diminuição na frequência de
suicídios é uma revolução da ordem social, o autor cita casos nos quais as regras de uma
instituição social, o casamento, foram de extrema relevância para a ocorrência dos suicídios.
Um deles foi o caso no qual a moça desposou antes do matrimônio, quando isto foi descoberto
pela sociedade esta julgou, injuriou, constrangeu a moça. Os próprios pais desta moça fizeram
isso, até que chegou um ponto crítico no qual ela preferiu acabar com a própria vida. Uma
contradição nisto é que com certeza entre as pessoas que julgaram a moça, havia mulheres
que um dia transgrediram a mesma regra.
Outro problema é que as pessoas julgam por qualquer coisa, até mesmo por uma
mera suposição, isto causa uma convivência desarmônica entre os homens, fazendo com que
estes sobrevivam e não vivam de fato, tornando a vida um fardo a carregar. A natureza social é
o espaço no qual a natureza humana mais expressiva encontra pra se manifestar, e o bem-estar
individual é pré-condição para o bem-estar de todos. A consciência coletiva, a preocupação
com o "todo" é, de fato, importante, mas problemas como o suicídio exigem um despertar da
consciência individual, de valorizar o outro não só em suas virtudes, mas também em suas
diferenças, ajudando-o na superação delas.