104
Revista Cearense de Cardiologia Uma publicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia | ISSN 1678 – 040x | Volume 13 – Nº 1 AGO-12 III Simpósio Internacional de Eletrocardiografia e Arritmias Cardíacas Simpósio de Enfermagem | Simpósio de Fisioterapia Simpósio de Educação Física | Simpósio de Nutrição Simpósio de Terapia Ocupacional Os 40anos da Sociedade Cearense de Cardiologia

Sociedade Cearense

Embed Size (px)

Citation preview

  • Revista Cearense de

    CardiologiaUma publicao da Sociedade Brasileira de Cardiologia | ISSN 1678 040x | Volume 13 N 1 AGO-12

    III Simpsio Internacionalde Eletrocardiografiae Arritmias Cardacas

    Simpsio de Enfermagem | Simpsio de FisioterapiaSimpsio de Educao Fsica | Simpsio de Nutrio

    Simpsio de Terapia Ocupacional

    Os 40anos daSociedade

    Cearensede Cardiologia

  • Revista Cearense de Cardiologia 3

    Revista Cearense de CardiologiaISSN 1678 040x Volume 13 N 1 AGOSTO 2012

    EditorCarlos Bellini Gondim Gomes

    Sociedade Brasileira de Cardiologia / Cear Diretoria Binio 2012/ 2013Presidente - Eduardo Arrais RochaVice-presidente - Ana Lcia S Leito RamosDiretor Administrativo - Fernando Pinheiro RamosDiretor Cientfico - Carlos Roberto Martins Rodrigues SobrinhoDiretor FUNCOR - Sandro Salgueiro RodriguesDiretor de Comunicao - Carlos Bellini Gondim GomesDiretor Financeiro e Qualidade Assistencial - Jos Ronaldo MontAlverne Filho

    Conselho FiscalTitulares :Joo Lus de Alencar Araripe FalcoLcia de Sousa BelmJos Sebastio de Abreu

    Suplentes:Francisco Deoclcio PinheiroJos Gerardo MontAlverne Parentengelo Roncalli Ramalho Sampaio

    Delegados Titulares:Cezrio Antnio Martins Gomes | Antnio Petrola Jnior

    Delegados Suplentes:Marcos Antnio Freitas da Frota | Stela Maria Vitorino Sampaio

    Sociedade Brasileira de Cardiologia / Cear Rua Tomaz Acioly, 840 sala 703 Fortaleza Cear CEP: 60.135 180 Fone/Fax: (85) 3246. 7709E-mail: [email protected]

    Periodicidade: Anual

  • Revista Cearense de Cardiologia4

    Os manuscritos para publicao devero ser encaminhados ao Conselho Editorial da revista da Sociedade Brasileira de Cardiologia Cear e obedecer s instrues do International Commitee of Medical Journal Editors N Engl J Med 1997; 336:309-315, como se segue:

    Os artigos aceitos para a publicao podero sofrer nova reviso editorial para maior conciso, clareza e compreenso, sem interferncias nos significado e contedo dos textos. Os originais e CDs somente sero devolvidos por solicitao antecipada do autor principal.

    Todos os trabalhos, artigos de atualizao e matrias publicadas pela Revista Cearense de Cardiologia so de responsabilidade exclusiva de seus autores, assim como os conceitos neles emitidos.

    A Revista Cearense de Cardiologia abreviada para a Rev.SCC como indicador bibliogrfico.

    Todos os originais devem ser enviados Revista Cearense de Cardiologia, uma publicao da Sociedade Brasileira de Cardiologia - CE, Rua Tomas Acioly, 840- sala 703, Fortaleza CE. CEP: 60135-180. Fone/fax: (85) 3246.7709. E-mail: [email protected]

    1- Duas vias digitadas, com pginas numeradas em algarismo arbico. A pgina do rosto o nmero 1, a do resumo a 2, e assim por diante. Os trabalhos devem ser digitados em Word for Windows (inclusive tabelas), na fonte Arial, corpo 12, espao duplo, respeitando as formao da pgina A4 ou Letter, gravados em cd que devero ser encaminhados junto com a carta de apresentao e duas cpias impressas com respectivas ilustraes (Figuras, Grficos, Fotografias). O cd dever ser identificado com etiqueta, contendo nome do trabalho, nome do autor e nome do arquivo com no mximo 08 caracteres.

    2- Redao em portugus, de acordo com a ortografia vigente.

    3- Carta anexa contendo: a) nome, endereo, telefone, fax e e-mail do autor que ficar responsvel pela correspondncia; b) Consentimento por escrito no caso de pacientes submetidos a

    investigaes experimentais; Categoria de seo qual o manuscrito ser includo (Caso Clnico, Comunicaes Breves, Opinio Pessoal, Aspectos Histricos da Medicina e Cardiologia); d) Declarao, assinada pelo autor, responsabilizando-se pelo Trabalho, em seu nome e dos co-autores.

    4- As contribuies espontaneamente encaminhadas revista devero enquadrar-se em uma das seguintes sees: Caso Clnico, Comunicaes Breves, Opinio Pessoal, Aspectos Histricos da Medicina e da Cardiologia.

    5- Os artigos originais devero submeter-se aos requisitos recomendados para publicao em revista Biomdica ttulos em portugus e ingls, nomes completos de autores, trs key words (palavras-chaves), nome da instituio onde foi elaborado, resumo, com limite de 250 palavras, Abstract (verso em ingls do resumo, em pgina separada), referncias etc.

    NORMAS DE PUBLICAO

  • Revista Cearense de Cardiologia 5

    Dentro das metas da atual diretoria da SBC-CE est o interesse em transformar a nossa revista em um importante instrumento de divulgao do conhecimento cientfico e dos trabalhos atualmente desenvolvidos pelos diversos grupos de cardiologia no nosso estado. Seguindo essa linha, algumas modificaes foram feitas para tentar adequar essa publicao, com a incluso de teses, dissertaes, artigos de reviso e relatos de casos, alm de incluir os trabalhos realizados pelas diversas reas interligadas, propiciando crescimento e maior abrangncia dos temas de maior interesse em Cardiologia.

    O ano de 2012 representa muito para a Cardiologia cearense e a nossa sociedade. Afinal, so 40 anos de muito trabalho, abnegao e dedicao, fazendo da nossa especialidade uma das mais reconhecidas e respeitadas em todo Norte e Nordeste do pas. Essa histria est muito bem descrita nas prximas pginas, com momentos marcantes vivenciados pelos cardiologistas cearenses, desde os relatos histricos do Hospital de Messejana e toda sua importncia, passando pelos corredores do Hospital das Clnicas com seus eternos mestres.

    Vrios assuntos so abordados nessa edio, incluindo-se temas bsicos, como a doena coronria e a angioplastia primria no Hospital de Messejana, e temas mais especficos, com destaque para a avaliao do sistema nervoso autnomo e sua participao na fibrilao atrial. Aproveitando a realizao do nosso Congresso Cearense de Cardiologia e o Simpsio Internacional de Eletrocardiografia e Arritmias, vrios temas em arritmias so apresentados nesta edio.

    O nosso Congresso j um sucesso. O nmero de pr-inscritos j ultrapassa a mdia dos ltimos anos, e o nmero de temas livres tambm est superando as expectativas, inclusive sendo divulgados nesse volume. A participao de todos os cardiologistas ser fundamental para a realizao de um evento de alto nvel. Convidamos todos os scios a participarem do nosso Jornal da Sociedade, enviando seu artigo, trabalho ou relato de caso para [email protected]. Abrao a todos e bom congresso!

    Carlos Bellini Gondim Gomes

    EDITORIAL

  • Revista Cearense de Cardiologia6

    SUMRIOArtigos histricos

    40 anos da Sociedade Brasileira de Cardiologia/Cear Primrdios e Histria ........................................................ 07

    Cirurgia cardaca no Cear - Breves consideraes histricas ............................................................................... 10

    Transplante cardaco no Cear - Uma realidade e um exemplo para o Brasil ........................................................ 13

    Passos Iniciais da Cardiologia Moderna no Cear ................................................................................................. 14

    Uma breve histria da hemodinmica do Cear ................................................................................................... 15

    Essa Estrada da Cardiologia e alguns dos seus caminhantes. ............................................................................... 17

    A Evoluo da Cardiologia Peditrica no mundo e no Estado do Cear ............................................................... 19

    Artigos cientficos

    Avaliao das coronrias de adultos pela ecocardiografia transtorcica e sua importncia na prtica clinica ...... 21

    Anticoagulao oral na fibrilao atrial ................................................................................................................ 24

    Tratamento neuromenngeo para alvio da dor no ps-operatrio cardaco ......................................................... 26

    Anlise anatomopatolgica do sistema nervoso autnomo cardaco intrnseco na fibrilao atrial permanente . 30

    Viabilidade Miocrdica ......................................................................................................................................... 34

    Preditores da mortalidade hospitalar dos pacientes com infarto agudo do miocrdio tratados com angioplastia

    primria no Hospital de Messejana ...................................................................................................................... 40

    Artigo de reviso

    Sndrome da Onda J - A Repolarizao Precoce pode no ser to benigna quanto parece ................................... 44

    Relato de Caso

    Implante de valva artica transcateter: relato do primeiro caso realizado no estado do Cear. ........................... 48

    Os Desfibriladores e as Tempestades Arrtmicas (Electrical Storms ) na Sndrome de Jervell e Lange-Nielsen .... 52

    Videocirurgia Cardaca no Cear .......................................................................................................................... 55

    Cisto hidtico no ventrculo direito: relato de caso .............................................................................................. 56

    Viso da Ex-presidente .......................................................................................................................................... 58

    Mensagem da Presidncia do Congresso ................................................................................................................ 60

    Mensagem da Presidncia da Comisso Cientfica................................................................................................... 61

    Mensagem da Coordenao da Comisso Julgadora dos Temas Livres .................................................................... 61

    Mensagem de Enfermagem ................................................................................................................................... 62

    Mensagem de Nutrio ........................................................................................................................................... 62

    Mensagem de Terapia Ocupacional ......................................................................................................................... 62

    Comisses ............................................................................................................................................................... 64

    Convidados ............................................................................................................................................................. 65

    Informaes Gerais ................................................................................................................................................. 66

    Relao dos Expositores .......................................................................................................................................... 68

    Agradecimentos Especiais ....................................................................................................................................... 68

    Mapa dos Expositores ............................................................................................................................................. 69

    Simpsios Satlite e Curso de Cardiometabolismo .................................................................................................. 71

    Programao Cientfica ........................................................................................................................................... 72

    Temas Livres Orais (Tabela) ...................................................................................................................................... 77

    Temas Livres Orais ................................................................................................................................................... 78

    Temas Livres Psteres (Tabela) ................................................................................................................................. 80

    Temas Livres Psteres .............................................................................................................................................. 86

    Anotaes ............................................................................................................................................................... 101

  • Revista Cearense de Cardiologia 7

    Artigos histricos

    A histria da Cardiologia no Cear comea com o Dr. Antonio Jorge de Queiroz Juc, o famoso Dr. Juc, nosso Professor. Ele foi discpulo de Paul Dudley White, M. D., Professor de medicina da Harvard Medical School, autor do livro Enfermidades do Corao, onde no quadro sobre Freqncia relativa dos diversos tipos etiolgicos de cardiopatias orgnicas em certas partes do mundo, cita Brasil (Juc), Cear, 1948, 438 casos e na bibliografia sobre Enfermidade Cardaca Reumtica refere o trabalho publicado pelo Dr. Antnio Juc, intitulado The Cause of Rheumatic Heart Disease in Adults. J.A.M.A., 1944. Representava ele, na Sociedade Brasileira de Cardiologia SBC , a Regional do Cear. Trouxe para Fortaleza a 8 Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Cardiologia, (de 8 a 14 de julho de 1951) como assim eram chamadas os nossos Congressos, desde a primeira reunio em 1944 at a dcima em 1954. Em 1955 passaram a ser denominadas de Congresso. O fundador da Cardiologia no Cear, Prof. Antnio Juc, presidiu a SBC, de julho de 1951 a julho de 1952. A histria da Sociedade Cearense de Cardiologia confunde-se com a minha passagem pela SBC. Fui graduada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cear-UFC, em 1958 e permaneci trs anos em So Paulo (1959 a 1961), fazendo Curso de Especializao em Cardiologia Clnica e Hemodinmica. Associei-me a SBC nesta poca. Atravs das Sesses Clnicas de Cardiologia, Cursos e outros eventos que eu freqentava e na prpria sede da SBC de So Paulo, travei conhecimentos com as cpulas da SBC de So Paulo e do Rio de Janeiro, aonde ia freqentemente. Em dezembro de 1961 regressei a Fortaleza e em 12 de julho de 1962, meu nome foi indicado e aprovado em Assemblia Geral por unanimidade, no Congresso de Belo Horizonte, para Representante Regional da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) no Cear, por um perodo de dois anos. Era eu a primeira mulher Cardiologista do Cear. Eram poucos os scios no Estado do Cear quando assumi. Comuniquei a minha escolha visitando pessoalmente cada scio. De imediato providenciei o recadastramento e a cobrana das anuidades em atraso. Havia recebido da SBC a relao do Quadro Social da Regional do Cear, com os seguintes nomes:

    I - Em Fortaleza, Capital do Estado do Cear:

    1- Antonio Jorge de Queiroz Juc Cardiologista;2- Clio Brasil Giro Cardiologista, que posteriormente se desligou (por tornar-se Nefrologista);3- Francisco Edgardo Saraiva Leo Cardiologista;4- Francisco de Paiva Freitas Cardiologista;5- Francisco Edson dos Santos Monteiro Clnico Geral;6- Geraldo Wilson Gonalves Cardiologista, que posteriormente se desligou (por tornar-se

    Reumatologista);7- Glaura de Holanda Frrer (nome de solteira)- Cardiologista;8- Heldio Feitosa de Castro Cardiologista;9- Haroldo Gondim Juaaba - Cirurgio Geral e Torcico - Fez a 1 comissurotomia mitral, juntamente com Dr. Newton Gonalves e Dr. Paulo Machado, no final da dcada de 40;10- Heli Vieira de Souza Cardiologista, que posteriormente se desligou (por tornar-se Anestesista);11- Jos Murilo de Carvalho Martins Cardiologista, que posteriormente se desligou (por tornar-se Hematologista);12- Jos Edsio da Silva Tavares Cardiologista, que posteriormente se desligou (por tornar-se Nefrologista);13- Jurandir Picano- Clnico Geral, Psiquiatra, idealizador e fundador da nossa Faculdade de Medicina da UFC;14- Jos Carlos Ribeiro Obstetra- Anestesista Mdico Legista e um dos fundadores da Faculdade de Medicina do Cear, fundador da Academia Cearense de Medicina e do Instituto Mdico Legal; 15- Luiz Carlos Fontenele Cardiologista;16- Newton Tefilo Gonalves Cirurgio Geral e Torcico;17- Raimundo Hlio Cirino Bessa Cardiologista;

    II - Em Sobral Cear18- Afonso Walter M. Pinto Cardiologista.

    Resumindo, ficamos com apenas 14 scios, aps o recadastramento e regularizao das anuidades, cujos nomes destaquei acima em negrito. Procuramos dinamizar a nossa Regional da SBC, organizando Simpsio sobre Exames Complementares nas Doenas Orovalvulares, no Centro Mdico Cearense, Palestras no Instituto Dr. Jos Frota, da Prefeitura Municipal de Fortaleza, sobre Urgncia em Cardiologia e Cardiopatias de Urgncia, realizao e participao em Reunies Cientficas, Sesses Clnicas, Conferncias e tantas outras atividades como Curso de Eletrocardiografia Vetorial em 1963, durante o III Congresso da Associao Mdica Brasileira-AMB em Fortaleza; organizamos e coordenamos os Cursos de Fisiologia Respiratria (seis horas-aula) e de Fisiologia Pulmonar (oito horas-aula) ministrados pelo Dr. Mario Rigatto, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, em junho de 1972, que alcanou grande sucesso, pela excelncia do professor e grande nmero de inscritos. A Cardiologia de Fortaleza, nessa poca (anos 60), ficava praticamente reduzida Faculdade de Medicina e ao Instituto de Clnicas, situado na Avenida do Imperador, 1190, entidade particular, fundado em 1964, que congregava vrios professores universitrios das diversas especialidades, sendo que semanalmente, s sextas-feiras noite, havia reunies cientficas prestigiadas por muitos colegas, inclusive Cardiologistas e acadmicos. Era ali e na

    40 anos da Sociedade Brasileira de Cardiologia/CearPrimrdios e Histria

    Glaura Frrer Dias Martins

  • Revista Cearense de Cardiologia8

    Faculdade de Medicina da UFC que vivamos o ambiente da SBC. Comeamos a crescer, novos especialistas iam se formando, ampliando e enriquecendo assim o quadro de scios. Porm, havia os scios no cardiologistas desde o incio e admitamos como Paulo Marcelo Martins Rodrigues (Clnico Geral), Elias Boutala Salomo (Clnico Geral), Osvaldo Gutierrez (Nefrologista), Wander Mendes Biasoli (Patologista), Otho Nogueira (Clnico Geral) e outros, porm todos de reconhecido valor e que tinham interesse em Cardiologia. Em 9 de julho de 1964, de acordo com deciso da Assemblia Geral da SBC, foi ratificada a escolha do meu nome para continuar a representar a SBC, no Estado do Cear. Assim, aconteceu sucessivamente, tendo eu permanecido como Representante Regional da SBC at dia 27 de junho de 1972, quando nos reunimos no Centro Mdico Cearense, (hoje Associao Mdica Cearense) para informarmos aos scios da provvel homologao no Congresso de Curitiba, que se realizaria de 9 a 15 de julho de 1972, que a sede do XXIX Congresso Brasileiro de Cardiologia seria Fortaleza, cuja idia eu j havia comentado nas Assemblias anteriores da SBC e inscrito e candidatado Fortaleza na seqncia da escolha da sede nacional dos congressos. Falei nessa reunio do dia 27 de junho de 1972 o que significava em termos de responsabilidade a realizao de to importante evento em virtude das exigncias para a perfeita organizao, tendo em vista especialmente a infra-estrutura implantada na cidade naquela poca. Pedi o integral apoio de todos os scios da Regional, sem o qual seria impossvel o xito de um Congresso. O ponto culminante da reunio foi a fundao da Sociedade Cearense de Cardiologia-SCC, por determinao de todos os membros da SBC presentes referida Assemblia, na HISTRICA DATA DE 27 JUNHO DE 1972 - e minha eleio, Glaura Frrer Dias Martins, para primeira Presidente da SCC, no perodo de 1972 e 1973. Estavam presentes na Assemblia: Francisco Edgardo Saraiva Leo, Glaura Frrer Dias Martins, Eduardo Regis Juc, Francisco de Paiva Freitas, Raimundo Hlio Cirino Bessa, Raimundo Csar Gondim, Waldeney Rolim, Francisco Martins Ferreira Filho, Augusto Marques da Silveira, Petrola de Melo Jorge, Jos Praxedes Bastos, Haroldo Juaaba, Luiz Carlos Fontenele e Mauricio Mota Aquino. Estvamos caminhando para atingir nosso objetivo, ou seja, trazermos o Congresso Brasileiro de Cardiologia para Fortaleza e para isso seria imprescindvel a fundao da SCC. No dia 1 de julho de 1972 nos reunimos em Assemblia Geral, na Faculdade de Medicina da UFC, para eleio dos demais membros da SCC, sendo eleitos: Vice-presidente Eduardo Regis Juc1 Secretrio - Francisco Edgardo Saraiva Leo;2 Secretrio Francisco Waldeney Rolim;1 Tesoureiro Raimundo Hlio Cirino Bessa;2 Tesoureiro Francisco Martins Ferreira Filho;Diretor de Publicaes e Assuntos Cientficos Jos Nogueira Paes Junior. J fundada a SCC, tudo em ordem, partimos esperanosos para o XXVIII Congresso Brasileiro de Cardiologia, de 9 a 15 de julho de 1972, em Curitiba-PR, onde fui eleita simultaneamente Vice-presidente da

    Sociedade Brasileira de Cardiologia-SBC e Presidente do XXIX Congresso Brasileiro da SBC, a realizar-se no ano seguinte, precisamente de 8 a 14 de julho de 1973, em Fortaleza, e por coincidncia, nos mesmos dias da 8 Reunio Anual da SBC, (de 8 a 14 de julho de 1951), h 22 anos, sob a Presidncia do saudoso Dr. Antnio Juc. Esclarecemos que o Congresso foi organizado sem auxlio de firmas especializadas, por no existirem poca em Fortaleza. Orgulhosamente, afirmamos ter sido um sucesso o nosso XXIX Congresso Brasileiro de Cardiologia e falar sobre ele seria assunto para outro artigo, que prometo descrever, noutra oportunidade. Na Assemblia Geral do referido Congresso em Fortaleza, fui eleita Presidenta da Sociedade Brasileira de Cardiologia SBC, para o perodo de julho de 1973 a julho de 1974, tendo sido a segunda mulher a ocupar a Presidncia da SBC, de 1943 a 2012, portanto no perodo de 69 anos de existncia da SBC. A primeira Cardiologista Presidenta foi a Dra. Betina Ferro de Souza, do Par, de 1970 a 1971, j falecida. Felizmente, a Sociedade Cearense de Cardiologia e a Cardiologia Cearense consolidaram-se e continuaram crescendo, contando atualmente com 300 scios Cardiologistas, contrapondo-se aos 30 scios Cardiologistas de 1972, na data de sua criao, quais sejam: Luiz Carlos Fontenele, Francisco de Paiva Freitas, Francisco Edgardo Saraiva Leo, Raimundo Hlio Cirino Bessa, Francisco Martins Ferreira Filho, Jos Nogueira Paes Junior, Eduardo Regis Juc, Joo Petrola de Melo Jorge, Fernando Freire Maia, Jos Ronaldo MontAlverne, Jos Ribeiro de Souza, Jos Millad Siqueira Karbage, Mauricio Mota de Aquino, Raimundo Csar Barbosa Gondim, Elias Boutala Salomo, Augusto Marques da Silveira, Haroldo Juaaba, Newton Tefilo Gonalves, Jos Willian Albuquerque, Osvaldo Augusto Gutirrez Adrianzn, Heldio Feitosa e Castro, Wander Mendes Biasoli, Myrla Sales de Vasconcelos, Francisco Waldeney Rolim, Jos Otho Leal Nogueira, Francisco Alves Noronha Filho, Jos Praxedes Bastos, Hugo Gabriele, Paulo Marcelo Martins Rodrigues e Glaura Frrer Dias Martins.Na gesto do Dr. Pedro Jos Negreiros de Andrade (1987-1988), foi adquirida a sede prpria da SCC. Portanto, a SCC continuou progredindo e aprofundando-se cientificamente. Foi presidida desde a sua criao, em junho de 1972, at o incio do sculo XXI:

    1 mandato: 27/7/1972 a 13/7/1974- Glaura Frrer Dias Martins-2 anos Simultaneamente: de 15/7/1972 a 14/7/1973-Vice-Presidenta da Sociedade Brasileira de Cardiologia-(SBC);15/7/1972 eleita Presidenta do XXX Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado em Fortaleza de 8 a 14 de julho de 1973;14/7/1973 a 13/7/1974-Presidenta da Sociedade Brasileira de Cardiologia-(SBC).

    2 mandato14/7/1974 a 8/6/1976 - Francisco Edgardo Bezerra Saraiva Leo-2 anos

  • Revista Cearense de Cardiologia 9

    3 mandato-8/6/1976 a 13/6/1978 - Raimundo Hlio Cirino Bessa-2 anos4 mandato13/6/1978 a 11/6/1979 - Jos Nogueira Paes Jnior-1 ano 5 mandato-11/6/1979 a 23/6/1980 - Eduardo Rgis Monte Juc-1 ano6 mandato23/6/1980 a 20/8/1981 - Jos Ronaldo MontAlverne-1 ano20/8/1981 a 18/8/1982 - Jos Ribeiro de Souza-1 ano8 mandato18/8/1982 a 13/9/1983 Fernando Antonio Frota Bezerra-1 ano9 mandato13/9/1983 a 9/9/1985 - Frederico Augusto de Lima e Silva 2 anos10 mandato9/9/1985 a 17/9/1987 - Jos Augusto Rocha Arajo-2 anos11 mandato17/9/1987 a 28/9/1989 Pedro Jos Negreiros de Andrade- 2 anos12 mandato28/9/1989 a 27/8/1991 Antonio Prudncio de Almeida- 2 anos13 mandato27/8/1991 a-2/8/1993 Jos Maria Bonfim de Morais- 2 anos14 mandato2/8/1993 a 10/8/1995 Marilena Gondim Rocha- 2 anos15 mandato10/8/1995 a 28/1/1997 Antnio Augusto Guimares Lima- 1 ano e 5 mesesObs: renunciou para fazer Curso de Especializao em Hemodinmica em So Paulo, por um perodo de 2 anos. Assumiu o Vice-Presidente Joo David de Souza Neto 16 mandato28/1/1997 a 25/6/1997 Joo David de Souza Neto-5 meses17 mandatoAgosto de 1997 a Outubro de 1999 Jos Eloy da Costa Filho-2 anos

    18 mandatoOutubro de 1999 a Janeiro de 2002 Clia Maria Felix Cirino-2 anos19 mandato01/01/2002 a 31/12/2003 Mrcia Pereira de Holanda Roque Pires-2 anos20 mandato01/01/2004 a 31/12/2005 Marcos Antnio Freitas da Frota-2 anos21 mandato01/01/2006 a 31/12/2007 Antnio Petrola Jnior-2 anos22 mandato01/01/2008 a 31/12/2009 Cezrio Antnio Martins Gomes-2 anos23 mandato01/01/2010 a 31/12/2011 Jos Sebastio de Abreu-2 anos24 mandatoDe janeiro de 2012 a dezembro de 2013, a Sociedade Brasileira de Cardiologia/Cear, ficar presidida por nosso ilustre e querido colega Eduardo Arrais Rocha.

    Obs: Estas datas acima mencionadas foram provenientes de exaustiva pesquisa por mim feita nos livros de atas da sociedade. Menciono sempre a data da eleio, como incio do mandato. Necessitamos trazer o Congresso Brasileiro de Cardiologia novamente para Fortaleza.

    Conclumos que a Sociedade Brasileira de Cardiologia/Cear SBC/CE foi marcada desde o seu incio pela unio de esforos, a troca de experincias, a busca de novos conhecimentos e tecnologias, o desejo de salvar e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, o esforo e sacrifcio individual do Cardiologista do Cear, fazendo com que tenhamos hoje, em nosso Estado, uma Cardiologia comparvel a dos grandes centros, ficando a histria de sua evoluo nos demais mandatos a cargos dos ilustres colegas que me sucederam.

  • Revista Cearense de Cardiologia10

    Artigos histricos

    Cirurgia cardaca no CearBreves consideraes histricas

    Joo Martins de Souza Torres

    A histria da Cirurgia Cardaca aparentemente paradoxal e, por isto, envolvente. Os cirurgies levaram aproximadamente trs mil anos para alcanar o pericrdio, enquanto a trepanao craniana j fora praticada cinco mil anos antes de Cristo. Somente aps a 2 Guerra Mundial ocorreram os primeiros registros cirrgicos, bem esparsos, no 1 mundo. Em 1945, Charles Bubost (Frana) o primeiro a operar aneurisma da aorta abdominal, enquanto Arthur Vineberg (Canad) implantou a artria mamria no miocrdio. Bem no comeo da dcada de 50 (sculo passado), tanto na Europa como na Amrica do Norte se registram operaes a cu fechado para alvio da estenose mitral reumtica. Crawford faz a correo cirrgica da coarctao da aorta e a ligadura de canal arterial se torna mais frequente. O grande marco da Cirurgia Cardaca se deve ao aparecimento, nos Estados Unidos, da circulao extracorprea (1953 Gibbon e Lilehei). Tal fabuloso recurso viabilizou corrigir os defeitos cardacos com o corao parado e aberto. O Brasil no perdeu tempo. J em 1954 o Dr. Filipozzi (So Paulo) realiza a primeira cirurgia cardaca com circulao extracorprea. Logo a seguir, o Prof. Zerbini e o seu mais destacado assistente, o Prof. Adib Jatene, deram enormes contribuies Cirurgia Cardaca brasileira.

    Cirurgia Cardaca no Cear Vale salientar que a Cirurgia Cardaca uma opo teraputica para tratamento de grande nmero de cardiopatias congnitas e adquiridas. Na dcada de 50, a Faculdade de Medicina (ento particular), fundada em 1948, como era de se esperar, promoveu muito o nvel mdico da regio. A Cardiologia local contava com o jovem e talentoso mdico, o Prof. Antnio Juc, que fizera especializao em Harvard (Estados Unidos). Este, de grande prestgio nacional, foi Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia e, em 1951, trouxe o Congresso Brasileiro de Cardiologia, sendo seu Presidente e Vice-Presidente da SBC. Em harmonia com o alto nvel da Cardiologia Cearense, trs grandes cirurgies gerais, professores da Faculdade de Medicina, comearam, em janeiro de 1954, um curso, de natureza terico-prtica, com o jovem e talentoso cirurgio do Rio, o Prof. Jos Hilrio. Aps algumas operaes praticadas pelo Prof. Hilrio, este entregou o bisturi ao Prof. Newton Gonalves que, a cu fechado, realizou a desobstruo da valva mitral estenosada. Foi ento, cronologicamente, o primeiro cirurgio cearense a operar corao sem circulao extracorprea, auxiliado pelos colegas locais Haroldo Gondim Juaaba e Paulo de Melo Machado. Os trs lendrios cirurgies, em revezamento, continuaram, nos anos seguintes, operando diversos pacientes de estenose mitral reumtica. Na mesma dcada, no compondo este trio, o tambm Professor da Faculdade, Dr. Wilson Juc, irmo de Antnio Juc, operou trs a

    quatro casos de pacientes com estenose mitral na Casa de Sade Csar Cals e tambm na Assistncia Municipal (hoje IJF), auxiliado pelo jovem estudante de Medicina Csar Gondim. O curso terico-prtico do Prof. Jos Hilrio aconteceu na Csar Cals, contando com o valoroso apoio do Prof. Jos Carlos Ribeiro, um dos cinco fundadores da Faculdade de Medicina (Jurandir Picano, Walter Cantdio, Waldemar de Alcntara, Jos Carlos Ribeiro e Newton Gonalves). Este ltimo recebeu uma carta (January 30, 1956) do mundialmente famoso Dr. Robert Gross, agradecendo ao Dr. Newton por este ter feito pela primeira vez em Fortaleza a ligadura de um canal arterial persistente (Boston Estados Unidos). Dr. Gross foi quem, primeiro no mundo, ligou um canal (1939). O Prof. Haroldo Juaaba, um dos trs componentes da primeira gerao de cirurgies gerais que iniciaram no Cear a Cirurgia Cardaca, teve grande mrito e destaque nesta nova rea. Montou em 1959, na Faculdade de Medicina, um Laboratrio Experimental de Cirurgia Cardaca, fazendo as primeiras circulaes extracorpreas em animais. Nesta poca contava com a cooperao valiosa do estudante de Medicina Eduardo Rgis Monte Juc (3 ano). Em 1967, os cirurgies Austiclnio e Csar Gondim realizaram cirurgia de estenose mitral, sem CEC (a cu fechado), no Hospital Batista. Com a brilhante orientao e decisivo apoio do Prof. de Obstetrcia, Diretor da Csar Cals, Dr. Jos Carlos Ribeiro, os jovens doutores Maurcio Mota de Aquino e Joo Petrola de Melo Jorge fizeram residncia em Cirurgia Cardaca com o Prof. Adib Jatene no ICESP (Instituto do Corao do Estado de So Paulo), hoje Dante Pazzanese. O Professor da Faculdade, Dr. Joo Evangelista Bezerra Filho, talentoso e jovem cirurgio geral, foi fazer um curso de perfuso na mesma instituio, que mantinha parceria com o Hospital Beneficncia Portuguesa, de excelente nvel. Em 1967 acontece, tambm na Csar Cals, a primeira cirurgia cardaca com circulao extracorprea. A paciente, portadora de estenose mitral, foi operada pelo Prof. Adib Jatene, auxiliado por seus dois ex-residentes Maurcio e Petrola. A perfuso foi feita pelo Dr. Joo Evangelista (a primeira do Cear). Era tambm participante do grupo o habilidoso cirurgio vascular Dr. Pricles Maia Chaves, Prof. de Cirurgia da Faculdade de Medicina. O grupo prosseguiu operando com grande entusiasmo e bons resultados. Em agosto de 1968, Dr. Rgis Juc voltou, aps treinamento em grandes centros de Cirurgia Cardaca desde 1966 nos Estados Unidos (Harvard, Universidade de Wisconsin, Texas Heart Institute, onde trabalhou respectivamente com grandes celebridades, tais como: Dr. Paul Austen, Dr. Young e Dr. Kooley). Logo ao chegar em Fortaleza, aliou-se equipe de Cirurgia Cardaca da Csar Cals. Seria injusto no registrar a grande contribuio dada ao Servio de

  • Revista Cearense de Cardiologia 11

    Cirurgia Cardaca pelas incansveis enfermeiras Madalena Joca e Irm Zeferina. A dcada de 70 foi muito profcua, graas competncia desta, por mim identificada, segunda gerao de cirurgies. O Professor Rgis Juc fundou, em 12 de maio de 1970, o Servio de Cirurgia Cardaca da Faculdade de Medicina da UFC, onde realizou ento a primeira cirurgia cardaca. A equipe, liderada pelo mesmo, era composta pelo Prof. Joo Evangelista, pelos estudantes de Medicina Hugo Lopes e Incio Xavier; depois, por Waldemiro Carvalho Junior, Jos Dario Frota Filho e Jos Glauco Lobo Filho. Jamais se pode deixar de registrar a fundamental participao do grande cardiologista Dr. Ronaldo MontAlverne, como tambm da competente anestesista Maria Leni Monte. Posteriormente, aps ingressar como Professor no Departamento de Cirurgia, o Dr. Joo Martins de Souza Torres passou a pertencer Equipe de Cirurgia Cardaca. Em agosto de 1970 feita a primeira cirurgia cardaca com circulao extracorprea no Hospital de Messejana, ex-sanatrio (1933), ento pertencente ao INPS, depois INAMPS e atualmente SESA-SUS. A equipe era composta pelos cirurgies Rgis Juc, Maurcio Mota, Csar Gondim e Joo Petrola de Melo Jorge. Por critrio de sorteio, Dr. Maurcio foi o cirurgio principal no caso. O Dr. Onofre Sampaio era o exmio anestesista da equipe. Dr. Rgis Juc, aps seu estgio em Paris, no Hospital Broussais, passou a ser o Chefe do Servio de Cirurgia Torcica e Cardiovascular, cargo at ento ocupado pelo Dr. Trajano de Almeida, experiente cirurgio torcico. A terceira gerao de cirurgies cardiovasculares do Hospital de Messejana aparece a partir da segunda metade de 1970. So eles: Waldemiro Carvalho Jr., Emanuel de Carvalho Melo, Joo Martins de Souza Torres, Jos Roclio Lima, Jos Glauco Lobo Filho e Francisco Martins de Oliveira. Joo Martins e Waldemiro j ocuparam a Chefia do Servio. Seguem os componentes da 4 gerao: Fernando Mesquita, Antero Gomes, Fernando Pimenta (Cirurgia Geral), Jos Maria Furtado Memria Jr., Carlos C. Roque, Marco Aurlio Aguiar (atual chefe), Rubens Jacob de Carvalho, Haroldo Brasil Barroso, Francisco Carlos Costa Sousa, Arnbio Holanda Lavor e Ana Maria Martins. 5 gerao: Alosio Sales Barbosa Gondim, Acrsio Sales Valente, Gotardo Duarte Dumaresq, Roberto Lobo Filho, Bernardo Juc, Jos Accio Feitosa, Fabiano Juc, Paulo Csar Rodrigues, Valdester Cavalcante Pinto Jr., Carlo tila Holanda Lopes, Juan Alberto C. Mejia, Adriano Lima Sousa e Joo Marcelo A. Albuquerque. No decorrer dos anos, a Cirurgia Cardaca do HM vem sempre crescendo, com grande abrangncia em todas as reas, como cirurgia cardiopeditrica, transplante cardaco, inclusive infantil, cirurgia da aorta torcica, plastia da valva mitral, RM com CEC e sem CEC. Outro destaque importante a existncia da Residncia em Cirurgia Cardiovascular e Torcica, reconhecida pelo MEC. Ressalte-se que as publicaes cientficas na rea de Cirurgia Cardaca esto ocorrendo em nvel crescente de quantidade e qualidade, deixando o Cear em destaque nacional.

    Outros Servios e Equipes O espao destinado a este trabalho histrico no suficiente para tantas informaes, merecendo at mesmo um futuro livro para tanto. Ser feita uma sinopse dos Servios com registro de suas respectivas chefias. Hospital So Raimundo: fundado o Servio pelo Prof. Rgis Juc, aos 14 de maio de 1974. Chefia atual: Dr. Marco Aurlio Aguiar. Prontocrdio: fundado pelo Dr. Glauco Lobo Filho, que o chefiou por muitos anos. O Prof. Dr. Glauco Lobo opera com sua equipe em diversos hospitais abertos tambm a outras equipes, como So Carlos, Monte Klinikum, So Raimundo, HRU. Atualmente a equipe do Prontocrdio composta pelos Drs. Accio Feitosa, Ciro Ciarlini e outros. Hospital Batista: a chefia desempenhada pelo Dr. Emanuel. Hospital Antnio Prudente: Equipe CORDIS, chefiada pelo Dr. Adriano Lima Sousa. Hospital Lus de Frana: Servio de Cardiopediatria chefiado pelo Dr. Valdester. Hospital Infantil Dr. Albert Sabin, chefiado pelo Dr. Gotardo Dumaresq. O Servio foi credenciado em 2003 e j realizou mais de 930 cirurgias cardacas. Tem futuro promissor e presta uma grande tarefa ao atendimento infantil do nosso Estado. HGF: O Prof. Dr. Josu de Castro Neto est lotado nesta instituio com o intuito de formar um Servio de Cirurgia Cardaca neste hospital pblico (SESA-CE). Hospital Universitrio Walter Cantdio (UFC): Servio de Cirurgia Cardaca chefiado pelo Prof. Dr. Jos Glauco Lobo Filho (Professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFC). Hospital Regional da Unimed: uma instituio hospitalar de grande porte, bem estruturada tecnologicamente e tambm de recursos humanos. Est aberta a todos os cirurgies cooperados da Unimed Fortaleza. Coopcardio: trata-se de uma cooperativa que alberga cirurgies cardiovasculares, vasculares e torcicos. At o momento tem sido bastante eficaz como cooperativa, viabilizando o acesso de cirurgies cardacos, vasculares e torcicos ao Hospital de Messejana e HIAS. Hospital do Corao SOBRAL: chefiado pelo Dr. Fabiano Juc. Presta grande servio toda aquela regio e cidades circunvizinhas. Hospital de Barbalha: chefiado o Servio de Cirurgia Cardaca por um excelente ex-residente do HM, Dr. Samuel Soares Eduardo.

    Transplante Cardaco Em dezembro de 1967, na Cidade do Cabo (frica do Sul), como valioso presente de Natal humanidade, o Dr. Christian Barnard realizou o primeiro transplante cardaco do mundo. J em maio de 1968, o Prof. Euclides de Jesus Zerbini, em So Paulo, fez o primeiro transplante cardaco da Amrica Latina, sendo o paciente um nordestino, cognominado Joo Boiadeiro. No Cear, o primeiro transplante cardaco ocorreu no Hospital Antnio Prudente, aos 20 de fevereiro de 1993.

  • Revista Cearense de Cardiologia12

    A equipe era formada pelos cirurgies Jos Glauco Lobo Filho, Joo Martins de Souza Torres, Francisco Martins de Oliveira, Jos Maria Furtado Memria Junior, Haroldo Brasil Barroso e Ricardo Lagreca (Natal-RN). Joo David de Souza Neto foi o cardiologista clnico; Dra. Ftima Sales e Miguel Arraes, os anestesistas. Naquela poca existia a entidade TRANSPLANTE NORDESTE, que prestava apoio enviando colaboradores j com alguma experincia na rea, da a valiosa participao do Prof. Lagreca, de Natal. O segundo transplante, realizado na mesma instituio, ocorreu aos 13 de maio de 1993. Seguiu-se uma indesejada e prolongada pausa. Em 1997, tambm no Hospital Antnio Prudente, uma equipe composta pelos cirurgies Juan, Waldemiro, Valdester, Fernando Mesquita e Haroldo Brasil, e pelo anestesista Rogean Nunes, alm dos cardiologistas Joo David de Souza Neto e Patrcia Lopes de Sousa, deu prosseguimento ao programa, efetuando sete transplantes cardacos. A partir de janeiro de 1999, os transplantes cardacos passaram a ser feitos to somente no Hospital de Messejana. Houve uma melhor estruturao de todo o Servio, que passou a ter uma composio multidisciplinar ampliada, abrangendo Cirurgia, Anestesia, Cardiologia Clnica, Servio Social, Enfermagem, Patologia, Psicologia, Psiquiatria. A coordenao clnica coube ao Dr. Joo David de Souza Neto e a cirrgica ao Dr. Juan Mejia. O programa vem se mantendo desde ento muito eficaz e crescente, inclusive efetuando transplantes cardacos em crianas. At o momento figura como o terceiro maior Servio do pas, com resultados satisfatrios e semelhantes aos demais. Em relao proposta cirrgica do Dr. Randas Batista para tratamento paliativo da miocardiopatia dilatada, foi realizada a primeira cirurgia de Batista em maro de 1994, no Hospital So Mateus, pela equipe constituda pelos cirurgies Jos Dario Frota Filho (Porto Alegre-RS), Joo Martins de Souza Torres, Memria Junior e Carlos Cavalcante Roque. O cardiologista foi o Dr. Joo David de Souza Neto. O prprio Dr. Randas, a convite do ento chefe do Servio de Cirurgia Cardaca do Hospital de Messejana, Dr. Joo Martins, realizou nesta instituio cinco ventriculectomias, demonstrando sua tcnica para os cirurgies cearenses. At 1998 foram realizados 23 cirurgias no Hospital de Messejana com resultados pouco satisfatrios a longo prazo. Por tais razes, este procedimento no mais se realiza, contudo permanece a inquietao da ideia.

    Consideraes finais Na verdade apenas subimos sobre os ombros de nossos antecessores. Esta sbia assertiva uma das contidas no Caderno de Cirurgia Cardaca do Prof. Newton Gonalves, pioneiro da Cirurgia Cardaca sem CEC. Lembra que uma obra o resultante do trabalho de todos, com destaque para alguns, como, a meu ver: Prof. Haroldo Juaaba, por ser de fato o grande iniciador da Cirurgia Cardaca, inclusive mantendo um laboratrio experimental (1959). Prof. Dr. Eduardo Rgis Monte Juc, mdico de grande

    valor, cirurgio talentoso. Soube com grandes virtudes dar destaque Cirurgia Cardaca Cearense e fazer escola. So muitos os seus discpulos, a quem muito devem pelo legado que deixou, entre os quais me incluo com muita honra e reconhecimento. Dr. Onofre Sampaio e Dra. Maria Leni Monte, pela competncia, persistncia e abnegao como anestesistas dedicados e incansveis. Prof. Csar Gondim, pelo exemplo de grande capacidade de trabalho, honestidade profissional e persistncia no que faz. o mais longevo dos cirurgies cardiotorcicos. Prof. Dr. Jos Glauco Lobo Filho, por suas contribuies, especialmente nas reas da plastia mitral, pioneirismo no transplante cardaco no Cear e avano na cirurgia de revascularizao miocrdica sem CEC. Dr. Jos Maria F. Memria Jr., por seu grande esprito de luta, que culminou com a criao do importantssimo Centro de Pesquisa do HM (CENPEX). Prof. Dr. Josu de Castro Neto, por seu empenho acadmico e pelo destaque no seu projeto da Cirurgia Minimamente Invasiva. Dr. Adriano Lima Sousa, por seu valioso trabalho dedicado ao tratamento cirrgico dos aneurismas da aorta torcica, que se constitui em um dos maiores desafios da cirurgia cardiovascular. Dr. Juan A. C. Mejia, por sua persistente e incansvel luta em prol do transplante cardaco. Ressalte-se a projeo que tem dado ao Hospital de Messejana em termos nacionais. Dr. Valdester Cavalcante Pinto Jr., que por sua notvel competncia modificou o perfil da Cirurgia Cardiopeditrica no Cear, culminando com a criao do Instituto do Corao da Criana e do Adolescente (fundado aos 12 de outubro de 2003). Por fim e acima de tudo, os doutores Jos Carlos Ribeiro e Carlos Alberto Studart Gomes, pelo gigantesco apoio que deram para implantar e desenvolver a Cirurgia Cardaca no Cear. Fostes vitoriosos!

    Fortaleza, julho de 2012.

  • Revista Cearense de Cardiologia 13

    Artigos histricos

    Transplante cardaco no Cear Uma realidade e um exemplo para o Brasil

    Joo David de Souza Neto

    At meados dos anos noventa os pacientes que eram portadores de insuficincia cardaca em estgio avanado e refratria ao tratamento clnico aqui no Cear s tinham um destino: serem encaminhados para realizar transplante cardaco em So Paulo. Embora tivessem todo o amparo do governo do estado atravs do tratamento fora de domiclio,o processo era lento e difcil diante da gravidade da doena e das condies socioeconmicas. No Nordeste, isso comeou a mudar quando foi criado em 1986 o Nordeste transplante (Ne-Tx) com centros nos estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e Cear. O pioneirismo do 1o transplante coube aos Dr. Jos Teles de Mendona e Jos Wanderley Neto em 1986, em Aracaju-SE. A partir da houve interesse dos outros estados do Nordeste em realizar transplante cardaco atravs do Ne-Tx. Vale salientar que na mesma poca outro grupo em Recife j realizava tambm esta cirurgia. O 1o transplante cardaco no Cear aconteceu em pleno carnaval de 1993, no Hospital Antnio Prudente no paciente J B O, proveniente de Recife preparado que foi pelo Ne-Tx do Hospital Portugus. A proeza deveu-se ao grupo de cirurgies liderado pelo Drs. Glauco Lobo,Joo Martins,Francisco Martins e Memria Jnior,tendo vindo de Recife Dr. Ricardo Lagreca. O paciente teve boa evoluo e retornou a sua cidade natal aps 30 dias de ps-operatrio sendo acompanhado pelo clnico da equipe dr. Joo David. Trinta dias depois foi realizado o 2o transplante no paciente A C A, proveniente do Hospital de Messejana , que sobreviveu por 9 anos. Depois, os transplantes pararam, como tambm houve uma diminuio na sua realizao nas outras cidades do Nordeste por dificuldades no Ne-Tx. Em 1997, um novo grupo foi formado pelos cirurgies Juan Mejia, Waldemiro Carvalho, Fernando Mesquita e Haroldo Brasil, e os clnicos Joo David, Marcos Gadelha e Patrcia Lopes, com grande apoio do Dr. Ricardo Manrique do Instituto Dante Pazzanese de So Paulo. O 1o transplante foi realizado em 20 de outubro de 1997 no paciente M F N, proveniente tambm do Hospital de Messejana. Depois mais 5 transplantes foram realizados tambm no Hospital Antnio Prudente, e novamente problemas fizeram o grupo se organizar e formar toda a estrutura no Hospital de Messejana. A partir do 1o transplante realizado no paciente A P M, em 4 de janeiro de 1999, o Hospital de Messejana entrou verdadeiramente na era dos transplantes cardacos no Cear. Com a complexidade do processo, muita luta foi desenvolvida por todos que compem a equipe. Passamos por vrias etapas e tivemos a ajuda de

    todos os diretores que por l passaram, desde o Dr. Frederico Lima e Silva, Ernani Ximenes, Petrnio Leito e agora Socorro Martins. A Secretaria da Sade e o Governo do Estado do Cear sempre estiveram ao lado do grupo transplantador e da direo da instituio, contribuindo no apoio a um grupo predestinado para um grande objetivo: tornar o Hospital de Messejana um grande centro transplantador brasileiro. At o ms de julho de 2012, a unidade de transplante j tinha realizado 252 transplantes cardacos (19 somente este ano), com uma mdia de 25 por ano, o que o coloca entre os 3 maiores hospitais transplantadores do Brasil.Desses, 25 foram realizados em crianas, sendo o HM o 2o hospital transplantador infantil. Vale salientar que o pioneirismo no parou por a. Em 2008, sua equipe implantou o primeiro dispositivo de assistncia circulatria mecnica (corao artificial) como ponte para transplante, tornando-se tambm pioneiro em todo Norte-Nordeste, realizando posteriormente 6 outros procedimentos com total sucesso tendo frente o cirurgio Juan Mejia. Hoje o hospital tambm referncia em assistncia circulatria mecnica, sendo um centro multiplicador e que promove treinamento para vrios servios de cirurgia cardaca do Brasil. Tambm tornou-se um centro formador em transplante, j tendo recebido equipes de todo Nordeste como tambm tem sido convidado para mostrar sua experincia em vrios centros do Brasil. O sucesso deste servio no seria possvel se no fosse o empenho, a dedicao e o trabalho rduo de toda uma equipe multiprofissional que se encontra unida e que a cada dia cresce desde 1997. Os nomes de todos os profissionais que passaram ou que atualmente trabalham no transplante do Hospital de Messejana merecem receber todos os destaques e certamente estaro em livro a ser escrito. A equipe constituda por cirurgies, cardiologistas, patologista, imunonologista, farmacuticos, enfermeiros, psiclogos, ecocardiografistas, anestesistas, fisioterapeutas, assistentes sociais, odontlogos, intensivistas, infectologista, terapeuta ocupacional, nutricionista e outros profissionais que se agregam desde o tratamento do paciente com insuficincia cardaca, ao preparo para o transplante e no seguimento tardio do transplantado. Pelos excelentes resultados de sobrevida e excelncia dos seus servios, o Hospital de Messejana referncia no Brasil, tendo transplantado receptores de todo Norte-Nordeste e Centro-Oeste, necessitando agora ter uma unidade somente para transplante cardaco e pulmonar.

  • Revista Cearense de Cardiologia14

    Passos Iniciais da Cardiologia Moderna no Cear Em 1965, quando voltei ao Cear, a Cardiologia resumia-se ao exame clnico, eletrocardiograma e Raio-X. Algumas cirurgias de comissurotomia mitral com o dedo tinham sido realizadas pelo Drs. Haroldo Juaaba e Newton Gonalves. Fui nomeado Prof. Assistente na cadeira do Dr. Alber Vasconcelos, e designado para substituir o Prof. Paulo Marcelo Martins Rodrigues na superviso do internato de Clnica Mdica. Ex-residente da 20 Enfermaria da Santa Casa do Rio de Janeiro, servio do Prof. Clementino Fraga Filho, estava preparado para o cargo. Foi perodo profcuo e prazeroso em contato com os formandos. Em 1966 o professor Jos Murilo Martins voltou de Kansas City, onde fora visitar a Universidade onde fizera sua ps-graduao nos EUA, e trouxe o oferecimento de uma vaga no servio de Cardiologia do Kansas University Medical Center. A Cardiologia sempre me encantara, era clnico que visitava os pacientes levando um eletrocardigrafo porttil e sabia eletrocardiografia. Assim em 1967 fui para o Kansas University Medical Center recebido como fellow em Cardiologia, o equivalente residncia em Cardiologia, no servio do Prof. Marvin Dunn. O fellow recebia 3 a 5 pacientes por dia e os acompanhava em todos os exames: ECG, fonomecanocardiografia, vectocardiografia, cateterismo e fazia a discusso diagnstica final. Assim, a formao envolvia a realizao de todos estes mtodos invasivos e no invasivos, e a integrao destes dados para decidir a conduta clnica de cada caso. No eram ainda realizados estudos das coronrias na Universidade de Kansas e tive a sorte de realizar a primeira coronariografia naquele hospital. Consegui tambm a oportunidade de trabalhar no Bethany Hospital onde foi instalado pelo Prof. Hugh Day a primeira Unidade Coronariana nos EUA. Trouxe para Fortaleza estes novos conhecimentos e ideias quando voltei em 1969 e reintegrei-me ao Hospital das Clnicas. Encontrei encostado no Hospital Universitrio um aparelho de Vetocardiografia e outro de Fonomecanocardiografia de dois canais o que possibilitou que estes mtodos fossem introduzidos de imediato, muito auxiliando na indicao das cirurgias valvares principalmente. Iniciamos ento a luta para montar a Hemodinmica e a Unidade Coronariana. Nos EUA adquiri com minhas economias os monitores, desfibrilador, marcapasso externo e central de leitos, para montar uma UTI de quatro leitos. Procurei Hospitais em Fortaleza onde instalar a UTI, mas nenhum ficou interessado. Era servio no tabelado, desconhecido dos convnios. O INAMPS (Instituto Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia Social) era o grande comprador de servios e no havia como remunerar tal servio. Episdio interessante ocorreu no Hospital S.O.S. que era servio de atendimento de Emergncia localizado na praa Corao de Jesus. Eu possua Aes do Hospital e reuni a diretoria para expor as vantagens de tratar os infartados na UTI, a queda da mortalidade por arritmia, e as possibilidades que trariam a um hospital de emergncia. Enquanto descrevia

    a fisiopatologia do IAM, com o fenmeno da trombose coronariana, fui ento interrompido pelo Proctologista do S.O.S. que afirmou ser a trombose problema grave em sua rea, e se o hospital cedesse rea para Cardiologia, ele exigiria tambm rea especfica para tratar as tromboses da sua especialidade. Desisti do S.O.S.! Acabei conseguindo a muito custo o espao de antiga lavanderia na Policlnica Fortaleza, onde com os doutores Ronaldo Mont Alverne, Fernando Freire Maia e Otho Leal Nogueira, depois de exaustivamente treinarmos as enfermeiras por seis meses, inauguramos a UTI em janeiro de 1970. Em dois anos vrios Hospitais comprovaram sua necessidade e providenciaram suas instalaes. Dez anos depois todos os hospitais de Fortaleza tinham UTIs. Outra luta foi o incio da hemodinmica. Havia no almoxarifado do Hospital das Clnicas um equipamento radiolgico encostado, e convencemos a Diretoria a emprestar-nos uma sala, remontamos o Equipamento que tinha tela para fluoroscopia, e usando o fonomecanocardigrafo como registrador obtivemos dois canais, um de ECG e outro de presso, e nos preparamos para os primeiros cateterismos. No quisemos nos arriscar a usar pacientes e com colaborao do Professor Manasss Fonteles, ento sextanista e j pesquisador, que nos preparou ces com veia e artria dissecados que nos possibilitou medirmos presses intracardacas e fazermos injees intravasculares com bomba manual, obtendo angiografias com uma nica chapa. O Dr. Jos Ribeiro de Souza era interno e foi nosso auxiliar nestes primeiros casos. Aps vrios ces, colocamos o primeiro paciente, portador de insuficincia mitral, em quem medimos presses e fizemos injeo de contraste no ventrculo esquerdo obtendo uma nica chapa com a insuficincia mitral documentada. Realizamos neste sistema cerca de 10 procedimentos em pacientes, mas logo verificamos que a carga de raio X que tomvamos estava excessiva; tivemos que suspender os cateterismos na Faculdade, que s recomearam cinco anos depois. Nesta ocasio, em 1971, o Dr. Carlos Alberto Studart Gomes nos convidou para organizar o servio de Cardiologia do ento Sanatrio de Messejana. L, com equipamento de registro mais adequado e com troca Chapa iniciamos realmente os cateterismos sem intensificador. Obtnhamos at quatro chapas por segundo. Fizemos lindas angiografias em portadores de cardiopatias congnitas. Em 1972, com a chegada do intensificador de imagem com cinema, realizamos em Agosto a primeira cinecoronariografia no Cear. Assim, com o desenvolvimento simultneo da cirurgia cardaca pelo Dr. Rgis Monte Juc, estabeleceu-se no incio da dcada de setenta a moderna Cardiologia no nosso Estado. Ainda em 1972, coroando estes avanos realizamos aqui um Congresso Brasileiro de Cardiologia, presidido pela Professora Glaura Frrer Dias Martins em que o Dr. Rgis Juc e eu fomos diretores cientficos. Neste mesmo ano fundou-se a Sociedade Cearense de Cardiologia, que completa agora 40 anos.

    Jos Nogueira Paes Jnior

    Artigos histricos

  • Revista Cearense de Cardiologia 15

    Uma breve histria da hemodinmica do CearJos Augusto Rocha Arajo

    No inicio de 1975, treinado no Hospital servidores do Estado, aqui chegou Dr. Frederico Augusto de Lima e Silva, que se incorporou a equipe citada anteriormente. Ao termino da minha residncia no Hospital de Messejana, ao final do mesmo ano, juntei-me tambm ao grupo. Dr. Fred e eu formaramos a 2 gerao de hemodinamicistas do estado. O Cear aquela poca, assumia a vanguarda da modernidade cardiolgica do norte e nordeste, at porque no potentoso estado baiano a primeira coronariografia realizou-se no correr do ano de 1974. A dcada de setenta foi de crescimento profissional para a cardiologia. O Hospital de Messejana iniciou o seu programa de residncia em cardiologia, pneumologia e cirurgia cardaca, em 1973, tornando-se uma instituio reconhecida nacionalmente pelos seus feitos na cardiologia. No inicio da dcada de oitenta, mais precisamente em 1982, a sala de hemodinmica da Clinica Procardaco foi vendida para So Luis do Maranho, ao mesmo tempo em que o Dr. Nogueira Paes ento Diretor do Hospital Walter Cantidio, inaugurava o servio de hemodinmica da Faculdade de Medicina. Ao Dr. Nogueira no Hospital das Clinicas juntou-se Dr. Porfirio Enrique Cabrera e este autor, para compormos a equipe do servio. Posteriormente o prof Pedro Jos N Andrade. Permanecia o Cear ento com dois servios de hemodinmica, todos pblicos. Na dcada de oitenta com a mudana do regime poltico e o aparecimento do SUS, com a universalizao da sade, a sade dita complementar comeou a se organizar e o seu crescimento foi chave para o aparecimento de novos servios no nosso estado. Em 1987, a convite Dr. Candido Pinheiro, instalamos o servio de hemodinmica da Clinica Antonio Prudente e comeamos a atender a clientela dita conveniada. Hoje, ampliado e modernizado, continua atendendo sua extensa rede de segurados. Em novembro de 1993, Dr. Nogueira Paes scio-proprietrio do Prontocardio inaugura o seu servio de hemodinamica que passou a ser o quarto do estado e o segundo a atender os ditos planos de sade. Com uma cirurgia punjante e com o crescimento da cardiologia intervencionista, teve crescimento exponencial. Sob o comando do Dr. Nogueira Paes, continua em pleno funcionamento. No ano de 1996, convite do Dr. Adriano Diogo, desejoso de ter novamente um servio de hemodinmica na Casa de Sade So Raimundo, onde Dr. Regis Juc mantinha seu grupo cirrgico em grande atividade, fundamos o ICARCE e fizemos o nosso primeiro exame em 10/08/1996. Pelo crescimento e diversidade das intervenes teraputicos vasculares, no s a cardiologia, mas os vasculares perifricos, eletrofisiologistas e neurointervencionistas participam ativamente da utilizao do equipamento de hemodinmica, engrandecendo e qualificando o nosso servio.

    Em julho de 2012 completou 40 anos da primeira coronariografia realizado no Cear, no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart, pelo Dr. Jos Nogueira Paes Jr, em um paciente de 43 anos portador de estenose mitral leve e insuficincia artica severa, que iria se submeter a troca valvar artica. Estudante de medicina aquela poca, participei como observador privilegiado deste fato histrico. Iniciava-se naquela data uma nova cardiologia no Cear, com o surgimento concomitante da cirurgia de revascularizao do miocrdio. A equipe de hemodinmica aquela poca era composta pelos Dr. Jos Nogueira Paes Jr que chefiava o servio e os Drs. Jos Ribeiro de Souza e Fernando Freire Maia. O equipamento de cineangio era rudimentar se comparado aos atuais. As imagens eram gravadas em filme de 135mm que depois de obtidos, eram processados em uma cmara escura, processo semelhante ao das fotografias de ento. No havia vdeo - tape. A mesa do equipamento de cineangio bem como o tubo de RX e intensificador eram fixos. Para se obter posies anguladas, tnhamos que movimentar o paciente e cal-lo com travesseiros. Os cateteres eram mais rgidos e os contrastes alem de uma maior osmolaridade, eram bem mais nefrotxicos. Este foi o cenrio que os pioneiros tiveram que enfrentar para acreditarem a coronariografia no estado do Cear. Iniciado em julho de 1972, em julho do ano seguinte, quando da realizao do Congresso Brasileiro de Cardiologia em Fortaleza, Dr. Nogueira Paes apresentou os resultados das primeiras 72 coronariografias realizadas no Messejana, trabalho este que participei como co-autor. Aquela poca, o Hospital de Messejana pertencia ao INAMPS e s atendia aos seus segurados. No havia ainda a universalizao da sade. Dois anos depois, em 1974, a Clnica Procardaco de Fortaleza, composta pela maioria dos cardiologistas da cidade inclusive Dr. Nogueira Paes, Dr. Jos Ribeiro e Dr. Fernando Maia, inaugurava a segunda sala de hemodinmica do Cear, na Casa de Sade e Maternidade So Raimundo (fig.1).

    Fig.1: Dr. Jos Augusto, Dr. Jos Ribeiro e Dr. Nogueira Paes em evento cientifico da hemodinmica

    Artigos histricos

  • Revista Cearense de Cardiologia16

    Um pouco antes em Sobral (28/06/1996), o Dr. Klauber Roger inaugurava a sua primeira sala. Com o Hospital do Corao em Sobral dotado de hemodinmica, toda a zona norte do estado passou a contar com este servio de forma efetiva, principalmente pelo fator distancia. Em 23/07/1997, o Hospital So Mateus comandado pelo Dr. Claudio Falco, inaugurava o seu servio de hemodinmica (fig.2).

    Fig. 2: Dr. Fernando Maia, Dr. Frederico, Dr. Jos Augusto e Dr. Claudio Falco, trs geraes da hemodinmica cearense.

    Ainda em 1997, quando da ampliao do servio e inaugurao de uma nova sala, Dr. Frederico Augusto esto diretor do Hospital de Messejana homenageou o Dr. Siguemituzo Ari, dando o seu nome ao servio de hemodinmica (fig.3).

    Fig. 3: Dr. Frederico Augusto, Dr. Ari e Dr. Jos Augusto quando da inaugurao em Messejana do Servio que hoje leva o nome do Dr. Ari.

    Em 01/11/1999 o Hospital MontKlinikum, sob a chefia do Professor Augusto Guimares realizava o seu primeiro cateterismo, somando-se assim aos demais j existentes.Em 2001, a UNIMED Cear em consorcio com a UNIMED Fortaleza, convidaram-me para instalar o servio de hemodinmica do seu Hospital Regional. De crescimento rpido, hoje comandado pelo Dr. Erirtonio Faanha, que aps a inaugurao da sua segunda sala, permanece como um grande prestador de servios no s na rea cardiolgica, mas tambm nas diversas especialidades correlacionados. Em 2005 foi vez do Hospital So Carlos, o caula dos hospitais do Cear inaugurou o seu servio de Hemodinmica, sob o comando do Dr. Nilson Moura F. Ao mesmo em que a capital aumentava o seu numero

    de servios, Barbalha e Crato tambm inauguravam os seus e assim, a regio sul do estado mais populosa e mais robusta economicamente supria esta lacuna dos seus atendimentos. Coube ao Hospital de Messejana como pioneiro, tambm o papel de treinar profissionais para o exerccio da hemodinmica, dado o seu grande volume e a diversidade das tcnicas ali praticadas. Assim que, mais de dez profissionais em atuao no s no Cear, mas em outros estados, por l treinaram e saram aptos para os seus exerccios profissionais. Dispe hoje o Cear de oito servios de hemodinmica na capital (Messejana, Hospital das Clinicas, Antonio Prudente, Prontocardio, ICARCE, So Mateus, Mont Klinikum e So Carlos) e trs servios no interior (Sobral, Barbalha e Crato), o que perfaz um total de onze. Todos em pleno funcionamento e dirigidos por membros titulares da SBHCI. Talvez poucas especialidades mdicas tenha experimentado no estado do Cear, um crescimento to significativo dos ltimos quarenta anos.

  • Revista Cearense de Cardiologia 17

    Sones constatou que brotavam micro-vasos a partir da extremidade da artria mamria implantada no miocrdio. Em 1966, Eduardo Souza iniciou aquele procedimento no Brasil e a primeira coronariografia em Fortaleza, em 1972, foi efetuada por Nogueira Paes. Com a visualizao angiogrfica precisa das artrias coronrias, em 1967 surgiu a cirurgia de bypass. Ren Favaloro, argentino que trabalhava na Cleveland Clinic, realizou uma ponte de safena para a coronria direita e a revascularizao miocrdica tornou-se a cirurgia cardaca mais freqente. No Brasil, Jatene iniciou esse procedimento e Rgis Juc fez no Hospital de Messejana, em 1972, a primeira coronary artery bypass grafting do Nordeste. Ainda em 1967, Barnard, na frica do Sul, realizou o transplante de corao. Cinco meses depois, Dr. Zerbini, no Hospital das Clnicas de So Paulo, fez o primeiro da Amrica Latina e em 1992 Glauco Lobo iniciou o transplante cardaco em nosso estado. E o Professor prosseguia, didtico e informal: Porm uma contraposio enorme cirurgia de revascularizao surgiu quando Andras Gruentzig realizou a primeira angioplastia coronria em 1977. Alemo que trabalhava em Zurich, na Sua, Gruentzig era um grande admirador do Dr. Charles Dotter, criador da radiologia intervencionista e entusiasta da dilatao percutnea de ocluses arteriais perifricas em pacientes diabticos, evitando cirurgia e amputao. Aps aprimorar-se nessa tcnica, Gruentzig construiu, de modo artesanal, um cateter-balo capaz de dilatar obstruo aterosclertica coronria. Dizem que ao apresentar seu trabalho em novembro daquele ano no encontro da American Heart Association, o impacto foi tamanho que, ao final, o Dr. Mason Sones o cumprimentou calorosamente e foi s lagrimas. A angioplastia logo se disseminou nos Estados Unidos. Geoffrey Hartzler passou a aplic-la em multiarteriais e tambm na fase aguda do IAM. Naquela poca, ele ao afirmar que a nica indicao para a cirurgia de bypass seria uma angioplastia mal sucedida, despertou ressentimento nos cirurgies. Por sua vez, ao invs do reconhecimento, a hostilidade, o cime e a inveja tambm foram dirigidos a Gruentizg no Hospital Universitrio de Zurich. Desapontado, ele mudou-se para Atlanta, na Gergia, onde foi recebido com todas as honras pelo Dr. Willis Hurst, chefe de Medicina da Emory University, mdico do ex-Presidente Lyndon Johnson e autor do The Heart. No Brasil, a angioplastia foi iniciada por Constantino Constantini, em Curitiba, em 1979. No entanto, em todos os lugares essa tcnica era limitada ora pela ocluso aguda, ora pela reestenose, at que, em So Paulo, em 2004, no Dante Pazzanese, Eduardo de Sousa passou a implantar o stent de Palmaz-Schatz e em 1999 ele

    Essa Estrada da Cardiologia e Alguns dos Seus Caminhantes. Demstenes Ribeiro, Ricardo Pereira Silva,

    Faculdade de Medicina da UFC

    Muito tempo depois eu ainda me recordaria do professor e daquela aula inaugural: Na verdade, em termos cientficos, a cardiologia comeou com a descoberta da circulao sangunea por William Harvey. Uma semana aps a morte de Shakespeare, em 1616, ele provou que o sangue era distribudo pelo corpo em um fluxo contnuo e em um sentido nico. No entanto, por vrios sculos, o corao permaneceria inacessvel, cheio de mistrios, as cirurgias eram somente ao seu redor e o cirurgio que desejasse preservar o respeito dos colegas, jamais atuaria sobre esse rgo. At que em 1953, aps vinte anos de pesquisa sobre a circulao extra-corprea, John Gibbon corrigiu uma comunicao interatrial (CIA). Antes, em 1929, Forssman, na Alemanha, cateterizou a si mesmo e nos anos trinta, Cournand e Richards, em Nova York, foram adiante nessa investigao. Assim, deu-se incio hemodinmica e ao cateterismo cardaco humano, e, por esse feito, os trs em 1956 foram laureados com o Nobel de Fisiologia e Medicina. A partir dessa poca, a cirurgia cardaca procedeu a passos largos, notadamente nos Estados Unidos, graas ao trabalho de DeBakey, Cooley, Shumway, Lillehei e outros mais. Michael DeBakey foi o pioneiro da endarterectomia de cartida, dos enxertos vasculares com dacron na cirurgia de aneurismas e do dispositivo de assistncia ventricular. Contam que ele era um workaholic surgeon, realizava at doze cirurgias por dia e que, certa vez, aps operar das 7 da manh at 1:30 do dia seguinte, abriu a porta do centro cirrgico e gritou: algum mais deseja ser operado? Denton Cooley era dotado de incrvel destreza manual e esteve presente na primeira cirurgia de Blalock-Taussig. Ele fundou o Texas Heart Institute e foi primeiro a implantar no homem, um corao artificial. Assim, progressivamente, as leses valvares e as cardiopatias congnitas tornaram-se operveis de rotina, mas para a doena coronria restava apenas a cirurgia de Vineberg e um tratamento clnico rudimentar. Vejam vocs, que em 1955, quando o presidente Eisenhower sofreu um infarto do miocrdio, o Dr. Paul White, considerado o pai da cardiologia americana, o tratou apenas com repouso prolongado, oxignio, anticoagulante e nitrato. Ainda no existiam as UTIs e ningum tinha idia do tipo de obstruo das coronrias. Contudo, trs anos depois, na Cleveland Clinic, por uma serendipity, o Dr. Mason Sones cateterizou a coronria direita de um valvopata artico e deu incio a visualizao angiogrfica das artrias coronrias. Desde ento, a cinecoronariografia tornou-se rotineira. Adveio a tcnica de Judkins e em alguns pacientes submetidos revascularizao pela cirurgia de Vineberg,

    Artigos histricos

  • Revista Cearense de Cardiologia18

    tambm foi o pioneiro mundial na utilizao do stent farmacolgico, reduzindo significativamente a incidncia daquelas complicaes. E o Mestre terminou, como que conversando: ...mas a Medicina, inevitavelmente, est atrelada condio humana: Charles Dotter era um tipo excntrico e viciado em anfetaminas; DeBakey, operado de disseco da aorta aos 97 anos, tornou-se o paciente mais idoso a ter sucesso com o tratamento de uma doena da qual ele foi pioneiro na classificao e teraputica; Sones, tabagista inveterado, morreu de cncer do pulmo; Lillehei que, entre outras coisas, inventou a prtese de St. Jude, teve problemas com o imposto de renda e inmeras desavenas conjugais; Barnard, aposentado pela artrite reumatide, faleceu durante uma crise de asma; Favaloro voltou Argentina e, atormentado por problemas financeiros, deu um tiro no corao. E por fim, Andras Gruentzig, era difcil de explicar: bem sucedido profissionalmente, desejado pelas mulheres, admirado pela tcnica, pela didtica e pela dedicao aos pacientes, sempre ostentou no dia a dia um comportamento de risco, celebrou a vida perigosamente e morreu pilotando um avio. Assim a vida, assim a Medicina e milhes de doentes continuaro se beneficiando da contribuio dessas pessoas, sem saber quem elas foram ou que elas fizeram. The long and winding road...

    Fontes Consultadas:1 - Monogan, D. Journey into the Heart: a tale of pioneering doctors and their race to transform cardiovascular medicine. 1st ed. New York: Gotham Books, 2007.

    2 - Messerli, FH, Messerli AW, Lscher TF. Eisenhowers Billion-Dollar Heart Attack 50 Years Later. NEJM 2005;353: 1205-1207.

    3 - Sousa JEMR, Medina LFJ & Fontes VF. Cinecoronariografia seletiva. Arq Bras Cardiol 1968;21:25.

    4 - Constantini CR, Garcia LC, Garcia DP et al. Angioplastia Coronariana Transluminar. Aspectos Cineangiogrficos e Metablicos. Relato de um Caso. Arq Bras Cardiol 1980; 34/4 307-310.

    5 - Sousa JE, Costa MA, Sousa AGMR, Abizaid AC, Seixas AC, Abizaid AS, Feres F, Mattos LA, Falotico R, Jaeger J, Popma JJ, Serruys PW. Two-year angiographic and intravascular ultrasound follow-up after implantation of sirolimus-eluting stents in human coronary arteries. Circulation 2003;107:381-3.

    6 - Sousa JE. First Palmaz-Chatz stent implanted in humans: 13-year angiography and intravascular ultrasound follow-up. In: Rothman, MT. Case Studies in Interventional Cardiology, 2004, p. 291-294.

    7 - Sociedade Cearense de Cardiologia. Memria de Uma Sociedade. Jos Eloy da Costa Filho. Pgina no Google.

    8 - Lennon & McCartney: The long and winding road 1970.

  • Revista Cearense de Cardiologia 19

    A Evoluo da Cardiologia Peditrica no mundo e no Estado do Cear:consideraes de uma cardiologista que estudou por 15 anos asCardiopatias Congnitas

    A Cardiologia Peditrica uma subespecialidade da Cardiologia que vem, cada vez mais, despertando interesses por parte de cardiologistas, pediatras, cirurgies, intensivistas, intervencionistas, fisiologistas, patologistas e geneticistas do mundo inteiro. E esse interesse vem, possivelmente, desde o sculo XVII, quando em 1628, William Harvey, um anatomista, publicou no livro Motu Cordis que as duas circulaes, a pulmonar e a sistmica, trabalhavam concomitantemente (1). Em 1671, Neils Stenson de Copenhague (2), tambm anatomista, relatou a patologia cardaca de um feto natimorto, com mltiplas anomalias congnitas, incluindo a leso cardaca. Edward Sandifort (3), em 1777, pela primeira vez, narrou os sintomas clnicos de uma criana que ele chamou de criana azul. Posteriormente em 1888, Etienne-Louis Fallot (4), declarou que 75% das crianas cianticas eram portadoras de quatro defeitos cardacos: comunicao interventricular, estenose pulmonar, hipertrofia ventricular direita e cavalgamento da aorta. Esses defeitos compreendem a Tetralogia de Fallot que obviamente foi assim chamada para homenagear aquele que a descreveu. Em 1819, aps o desenvolvimento do estetoscpio por Laennec (5), os mdicos interessados em desenvolver estudos sobre as cardiopatias congnitas passaram a diagnostic-las atravs da ausculta cardaca e dos resultados das autpsias. Pressupe-se que da surgiu a cardiologia peditrica como especialidade. Em 1896, Rontgen (6) havia desenvolvido o raio X, e, no mesmo ano, Williams FH(7), descreveu o uso do fluoroscpio. Einthoven, em 1902 (8), desenvolveu o eletrocardiograma. Com esses trs instrumentos, a Dra. Helen Taussig foi capaz de correlacionar os achados fsicos das cardiopatias com os achados patolgicos vistos nas autpsias. No poderia deixar de mencionar, um pouco da histria da Dra. Helen Taussig, mdica pioneira no estudo das cardiopatias congnitas que at hoje chamada nos Estados Unidos de a me da cardiologia peditrica. Em 26 de agosto de 1938, Robert Gross (9) ligou o PCA de uma criana de sete anos de idade, com sucesso no Hospital de crianas em Boston, e em outras ocasies j havia sido reconhecido que lactentes com Tetralogia de Fallot ficavam cianticos quando o canal arterial fechava. A Dra. Helen Taussig (10) ento raciocinou que se um canal arterial poderia ser fechado, por que no criar um canal? Alfred Blalock, que j havia realizado anastomose entre artria subclvia esquerda e artria pulmonar, com objetivo de estudar hipertenso arterial pulmonar, foi convidado a realiz-la, e em novembro de 1944 (11), Blalock fez a cirurgia, o que trouxe significativa melhora para a vida das crianas cianticas portadoras de Tetralogia de Fallot. Essa cirurgia foi denominada de

    Blalock -Taussig e logo foi reconhecida mundialmente. Desde 1988, a Academia Americana de Pediatria tem reconhecido as contribuies importantes para a cardiologia peditrica com o Prmio Founders Award. Helen Taussig morreu em 1986, antes de esse prmio ter sido estabelecido, mas ela considerada a fundadora da cardiologia peditrica nos Estados Unidos. Mustard, de Toronto (12) e Senning, da Sucia (13) desenvolveram procedimentos cirrgicos que incluram a criao de um baffle intra-atrial para redirecionar o retorno venoso para o corao e ento, corrigir a transposio completa dos grandes vasos do ponto de vista fisiolgico. Em 1966, William Rashkind, da Filadlfia (14), introduziu um importante procedimento paliativo: a septostomia atrial por balo. Essa interveno permitiu que neonatos com transposio completa das grandes artrias pudessem realizar a cirurgia paliativa em uma condio mais estvel. Por conta disso, o Dr. Rashkind pode ser chamado o pai da cardiologia peditrica intervencionista. Fontan, de Paris (15) desenvolveu uma cirurgia de bypass do lado direito do corao que se tornou um procedimento paliativo com sucesso para atresia tricspide. Essa mesma cirurgia pde ser utilizada tambm em crianas com corao univentricular, e o transplante cardaco tornou-se um tratamento alternativo para crianas com patologias inoperveis. Em 1976, Dr. Adib Jatene, no Brasil (16) realizou a primeira cirurgia com sucesso para correo da transposio das grandes artrias (switch arterial). Esse defeito congnito deixou de ser uma doena letal e tornou-se uma cardiopatia tratvel. Mesmo a Sndrome do Corao Esquerdo Hipoplsico, uma patologia fatal, nos dias de hoje opervel. William Norwood (17) desenvolveu um procedimento paliativo que permitiu que muitas dessas crianas sobrevivessem. Na dcada de 80, quando ingressei na cardiologia peditrica do Hospital de Messejana (HM), o diagnstico das cardiopatias congnitas era dado depois de ouvida a histria do (a) paciente, o exame clnico, a radiografia do trax e o eletrocardiograma. Para ns clnicos, era um grande desafio e ao mesmo tempo, nos dava enorme prazer, ao acertarmos os diagnsticos. Ao longo de muitos anos trabalhando na pediatria do referido hospital pude concluir que a verdadeira incidncia das cardiopatias congnitas difcil de ser determinada acuradamente, mas cerca de 0,8% das crianas nascidas vivas apresenta alguma m formao cardiovascular. Naquela poca, no Hospital de Messejana, a cirurgia era feita em pacientes com determinadas patologias para a correo definitiva das cardiopatias, tais como: persistncia do canal arterial (PCA), estenose pulmonar valvar (EPV), coarctao da aorta (CoAo), comunicao

    Clia Cirino

    Artigos histricos

  • Revista Cearense de Cardiologia20

    interatrial (CIA) e comunicao interventricular (CIV). As cardiopatias com hipofluxo pulmonar eram encaminhadas para a cirurgia de Blalock-Taussig (anastomose entre artria subclvia esquerda e artria pulmonar) e as que cursavam com hiperfluxo pulmonar, eram encaminhadas para a realizao da bandagem da artria pulmonar (cerclagem da artria pulmonar) para diminuir o fluxo e consequentemente a presso na artria pulmonar, sendo uma alternativa paliativa, protegendo o leito vascular, at que a cirurgia corretiva fosse realizada em uma idade mais avanada. Nessa mesma poca, a transposio completa das grandes artrias era a cardiopatia de maior letalidade em neonatos e lactentes. No HM, durante muitos anos, aps um provvel diagnstico feito pelos clnicos da Instituio, a maioria das crianas era encaminhada para o laboratrio de hemodinmica, a fim de que realizassem um cateterismo cardaco para um diagnstico ou para que fosse feito o procedimento de Rashkind, se conveniente. Em 1970, com o advento do Ecocardiograma Modo M, j podamos acompanhar cardiopatias tais como PCA, avaliar o tamanho das cmaras cardacas esquerdas, diagnosticar estenose mitral e medir gradientes valvares. Depois, com o advento do Eco bidimensional com color Doppler foi possvel diagnosticar as cardiopatias congnitas e as leses associadas detalhadamente. Com o desenvolvimento do ultrassom fetal, foi possvel tambm diagnosticar as cardiopatias no tero. Com isso, a necessidade do cateterismo para diagnstico diminuiu consideravelmente, passando a ser usado como interveno teraputica. A primeira cardiopatia congnita tratada com o cateterismo cardaco foi a estenose pulmonar valvar atravs de valvuloplastia por balo. Esse procedimento realizado no HM desde a dcada de 80. Hoje algumas cardiopatias so corrigidas atravs do cateterismo intervencionista, tais como PCA, CoAo, CIA e alguns tipos de CIV. Em meados de 90, a mortalidade cirrgica ainda era muito alta, talvez devido ao desconhecimento do leito vascular pulmonar. Estudos posteriores demonstraram que a doena obstrutiva vascular pulmonar era uma complicao da hipertenso pulmonar e que levava ao aumento da mortalidade no ps- operatrio. Outra complicao ps- operatria era o aparecimento de bloqueio trio-ventricular total (BAVT), por leso do sistema de conduo. Estudos de Lev (18) foram de grande valor para os cirurgies cardacos e resultou na diminuio da incidncia de BAVT. No HM, durante alguns anos, a Tetralogia de Fallot era a nica cardiopatia ciantica corrigida em crianas maiores. Nas cardiopatias complexas, eram realizadas apenas cirurgias paliativas. Com o tempo, cirurgies cardacos desenvolveram procedimentos para tratamento de quase todos os defeitos cardacos. Desde 1993, as cirurgias para o tratamento das cardiopatias complexas e de outras cardiopatias em crianas menores passaram a ser realizadas, e, hoje, a mortalidade cirrgica tem diminudo bastante. Muito desse sucesso tambm pode ser atribudo aos pediatras intensivistas, moderna

    aparelhagem das Unidades de Terapia Intensiva, melhora do suporte ventilatrio e ao uso da prostaglandina, no caso de cardiopatias que necessitem da patncia do canal arterial e do xido ntrico para controle da hipertenso pulmonar. Quanto s arritmias, Tim Garson e Paul Gillette (19) desenvolveram uma abordagem sistemtica para o diagnstico e tratamento dessas arritmias peditricas. O uso de novas drogas e do cardiodesfibrilador implantvel (CDI) tambm tem melhorado o controle das arritmias. Os eletrofisiologistas ainda aprimoraram o diagnstico e o tratamento das arritmias atravs da eletrofisiologia e da ablao. No setor de cardiologia peditrica do HM, ns tratvamos tambm crianas portadoras de febre reumtica, nas suas fases aguda e crnica e com suas leses orovalvulares. Apesar da diminuio da incidncia da doena com o uso da penicilina, a febre reumtica continua at hoje sendo um problema de sade pblica. Hoje, geneticistas, biologistas moleculares e outros cientistas esto juntos para assegurar um futuro melhor para a cardiologia peditrica. O Hospital de Messejana ainda continua sendo um dos melhores servios no tratamento das diversas cardiopatias que acometem crianas, e isso se deve competncia do seu corpo clnico: pediatras, cardiologistas, cirurgies cardacos, hemodinamicistas, enfermeiras, auxiliares, enfim, todos que compe a equipe competente desse hospital. Os quinze anos que trabalhei na pediatria do HM foram de significativa importncia para a minha vida profissional. Dessa poca, pude adquirir conhecimentos que at hoje so embasadores de toda minha conduta diante dos pacientes que apresentam algum tipo de cardiopatia congnita.

    Referncias bibliogrficas1. Harvey W 1978 Exercitatio Anatomica de Motue Cordis et Sanguinis in Animalibus, with the G. Keynes English translation. The Classics of Medicine Library, Birmingham2. Stenson N 1665 Embroy monstro affinis Parisiis disscties. Acta Med Phielos Hafneinsis 1: 200-3043. Sandifort E 1777 Observations Anatomo-pathologicae. Leyden PVD Eyk, Y gh DV4. Fallot A 1888 Contribution a Lnatomie Pathologique de la Maladie Bleue(Cyanose Cardiaque). Medcale, Marseile5. Laennec RTH 1826 Traitede Luscultation Mediate. 2 vols. Js Chaude, Paris6. Rontgen WC 1896 ona new kind of rap. Nature 53:274-2767. Williams FH 1896 A method for more fully determining the outlines of the heart by means of a fluoroscope. Boston Med Surg 135:335-3378. Einthoven W 1906 Le telecardiogramme. Arch Inst Physiol 4:132-1649. Gross RE, Hubbard JP 1939 Surgical ligation of a patent ductus arteriosus: report of first successul case JAMA 112:729-73110. Taussig H 1978 A conversation with Helen Taussig. Interview by Dr W Proctor Harvey. Med Times 106:28-44 11. Blalock A, Taussig HB 1945 Surgical treatment of malformations of bthe heart; in wich there is pulmonar stenosis or pulmonare atresia. JAMA 128: 189-20212. Mustard WT 1964 Successul two-stage correction of transposition of the great vessels. Surgery 55:460-47213. Senning A 1959 Surgical correction for transposition of the great vessels. Surgery 45:966-98014. Rashkind WJ, Miller WW 1966 Creation of an atrail septal defect. Without thoracotomy. A palliative approach to complete transposition of the arteries. JAMA 196: 991-99215. Fontan F. Baudet E 1971 Surgical repair of tricuspid atresia . Thorax 26:240-248 16. Jatene AD, Fontes VF. Paulista PP, Souza LC, Neger F, Galantier M, Sousa JE 1976 Anatomic correction of transposition of the great vessels. J Thorac Vardiovasc Surg 72:364-37017. Norwood Wi, Lang P, Hansen DD 1983 Physiologic repair oh aortic atresia-hypoplastic left heart syndrome. N Engl J Med 308:23-2618. Lev M 1958 The architecture of the conduction system in congenital heart disease. I. Common atrioventricular orifice. AMA Arch Pathol 65: 174-19119. Garson AJr, Gillette PC 1979 Junctional ectopic tachicardias in chilfren, electrocardiography, electrophysiology ans pharmacologic responses. Am J Cardiol 44: 298-302

  • Revista Cearense de Cardiologia 21

    Artigos cientficos

    Avaliao das coronrias de adultos pela ecocardiografia transtorcica e sua importncia na prtica clinica

    Pico de Velocidade Diastlica (PVD) em ADA Normais ao Cateterismo

    Pacientes com contrao segmentar normal. A Ausncia de hipertrofia ou estenose valvar ( PVD =0,27 m/s ). B Severa Estenose artica (gradiente = 110mmHg); A maior velocidade de repouso na ADA (PVD=0,47m/s) pode

    favorecer a um menor ndice de reserva coronariano.

    Introduo: H 35 anos, Weyman et al (1) demonstraram que atravs da ecocardiografia transtorcica podia ser visualizada anatomia coronariana. Passou a ser aplicada com frequncia para a avaliao de anormalidades coronrias em crianas, mas a utilizao da ecocardiografia para avaliao das coronrias em adultos na prtica clinica era dificultada pela qualidade dos equipamentos e pela tcnica de obteno do registro ecocardiogrfico. A partir do desenvolvimento das imagens em segunda harmnica e da melhora da tecnologia dos transdutores, a avaliao das coronrias tornou-se factvel para a prtica diria, todavia permanece com uma curva de aprendizado laboriosa(2-4).Coronria Descendente Anterior: Percentual do Sucesso de Registro atravs do Eco transtorcico.

    Autores NPAC % de Registro Contraste Sem ComShapiro, 1992 56 34% Hozumi, 1998 36 94% Caiati, 1999 56 - 98%Okayama, 2002 68 70% 97%Lowenstein, 2003 752 95% Hirata, 2004 302 72% 98%Rigo, 2005 637 98%

    *Contraste de microbolhas Desta forma, o sucesso de registro para diferentes autores bem varivel com ou sem o uso de microbolhas, a depender da expertise do examinador(5-11).

    De grande importncia foi validar esta velha e nova ferramenta, o que j foi efetuado para a anlise das artrias do sistema coronariano esquerdo e direito (6, 7, 14-16) .Avaliao Funcional das Coronrias A maioria dos estudos reporta-se a avaliao da artria coronariana descendente anterior (ADA), por meio de sua visualizao em nvel proximal, mdio ou distal. Efetua-se a medida da velocidade dos espectros das curvas obtidas atravs do Doppler pulstil, devendo ser verificada em local com fluxo normal e, quando possvel, em nvel de fluxo turbulento, o qual est quase sempre relacionado a aumento de velocidade. Quando estes registros so obtidos, um grande aumento de velocidade ou a razo anormal entre as velocidades mxima e mnima podem refletir com elevada acurcia a severidade de uma estenose coronariana (8, 9, 17). Outro aspecto relevante e tecnicamente mais difcil de obter a verificao da direo do fluxo, a qual, quando oposta ao esperado, indica circulao colateral para a coronria ocluda (12) . Deve-se estar atento para uma situao infrequente que o achado de coronrias penetrantes, que podem estar relacionadas a microfstulas coronrio-cavitaria. Esta patologia incomum pode determinar alteraes significativas na repolarizao ventricular, mas, nesta situao especifica, o fluxo reverso est relacionado direo dos vasos, e no a ocluso da coronria. A maioria dos estudos que avaliam o estado funcional das coronrias so relacionados a estmulos hipermicos na ADA, por meio de frmacos como dipiridamol, adenosina ou dobutamina.

    Jos Sebastio de Abreu

  • Revista Cearense de Cardiologia22

    Pico de velocidade diastlica(PVD) em descendente anterior estentica

    Coronrias Penetrantes

    Estenose > 80%. A Severo comprometimento contrtil do ventrculo esquerdo com baixo PVD ( 0,17 m/s ) . B Contrao de repouso normal com elevado PVD ( 1,02 m/s ).

    Fluxo coronariano reverso (Ver texto para detalhes)

    A relao obtida entre o pico de velocidade diastlica (PVD) na hiperemia dividido pelo PVD basal resulta no ndice de reserva coronariano (IRC). Os valores de IRC para avaliao direta e no invasiva das coronrias so considerados normais quando maior do que 2, mas deve-se ter em mente que muitos fatores podem afetar a reserva coronariana.

    Componentes que Influenciam na medida da Reserva de Fluxo Coronariano

    Vascular Grandes e pequenas artriasExtravascular Resistncia miocrdicaRheolgico Fatores que afetam a Composio do sangue

    Desta forma, IRC prximos de 2 indicam melhor sensibilidade na evidncia de um bom estado funcional e IRC prximos de 1,5 indicam uma maior especificidade para o diagnstico de estado funcional comprometido da coronria. Se o PVD j est mais elevado em repouso o IRC tender a ser menor e isto deve ser considerado na interpretao do resultado. O sucesso no nmero de registro da ADA muito

    elevado para alguns autores, sendo as dificuldade mais evidentes na avaliao das coronrias direita e circunflexa.Na avaliao funcional obteve-se maior nmero de registros com os vasodilatadores (dipiridamol e adenosina) do que com droga com ao predominantemente inotrpica (dobutamina), devido ao grande twist determinado por este frmaco .

    Aplicaes Clnicas e Limitaes Atravs da ecocardiografia e Doppler podemos avaliar o estado funcional da coronria em pacientes com doena arterial coronariana (DAC) conhecida ou provvel, possibilitando a determinao do diagnstico e do prognstico ( 18-20) .O primeiro aspecto positivo reside na possibilidade de agregar as informaes decorrentes das modificaes na contratilidade e da verificao da reserva de fluxo, visto que as duas se complementam (10,21). Quando na anlise de repouso encontramos fluxo em plat com baixa velocidade, fluxo diastlico com rpida desacelerao e reverso, ou elevaes acentuadas das velocidades, usualmente relacionam-se a coronria com comprometimento significativo do estado funcional.

  • Revista Cearense de Cardiologia 23

    Eco Sob Estresse com Dobutamina Negativo para Isquemia

    Ausncia de hipertrofia ventricular esquerda IRC=3,28.

    Referncias bibliogrficas:1. Weyman AE, Feigenbaum H, Dillon JC, et al. Noninvasive visualization of the left main coronary artery by cross- sectional echocardiography. Circulation. 1976;54:169-174.2. Vered Z, Katz M, Roth S: Two-dimensional echocardiographic analysis of proximal left main coronary artery in humans. Am Heart J 1986;112:972-977.3. Fusejima K. Noninvasive measurement of coronary artery blood flow using combined two-dimensional and Doppler echocardiography. J Am Coll Cardiol 1987;10:1024-31.4. Kenny A, Shapiro LM. Transthoracic high-frequency two-dimensional echocardiography, Doppler and color flow mapping to determine anatomy and blood flow patterns in the distal left anterior descending coronary artery. Am.J.Cardiol. 1992, 69:1265-1268.5. Hozumi T, Yoshida K, Ogata Y, et al. Noninvasive assessment of significant left anterior descending coronary artery stenosis by coronary flow velocity reserve with transthoracic color Doppler echocardiography. Circulation 1998;97:1557-1562.6. Hozumi T, Yoshida K, Akasaka T, et al. Noninvasive assessment of coronary flow velocity and coronary flow velocity reserve in the left anterior descending coronary artery by Doppler echocardiography: comparison with invasive technique. J Am Coll Cardiol 1998;32:12511259.7. Caiati C, Montaldo C, Zedda N, et al. New noninvasive method for coronary flow reserve assessment: contrast-enhanced transthoracic second harmonic echo Doppler. Circulation. 1999;99(6):771-8.8. Hozumi T, Yoshida K, Akasaka T et al. Value of acceleration flow and the prestenotic to stenotic coronary flow velocity ratio by transthoracic color Doppler echocardiography in noninvasive diagnosis of restenosis after percutaneous transluminal coronary angioplas