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Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes
pobres da capital
A acça o da Miserico rdia de Lisboa (1907-1912)
Luísa Colen
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
Resumo Este estudo pretende abordar o tema da assistência médica e farmacêutica,
prestada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa nos primeiros cinco anos
da sua actividade após a reforma dos Serviços Médicos da Misericórdia,
ocorrida em 1907. Esta assistência dirigia-se não apenas aos utentes
tutelados e apoiados pela Santa Casa - expostos, pensionistas, asilados e
órfãs do Recolhimento, mas também a qualquer pessoa pobre que
necessitasse de socorro médico ou cirúrgico urgente.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
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1. Assistência médica prestada pela Misericórdia de Lisboa: antecedentes
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa desde longa data assegurava a
assistência médica a uma população específica – aos doentes pobres incluídos no “rol”
dos visitados, os expostos e amas residentes no Hospital dos Expostos e na cidade de
Lisboa, as órfãs do Recolhimento, os asilados dos Hospitais do Amparo e Sant’Ana,
além de a todos os empregados residentes nestes estabelecimentos e na sede da
Misericórdia.
Em 1854, com a fusão dos serviços clínicos dos expostos com o das visitadas, a
Misericórdia contrata, especificamente para a assistência clínica domiciliária, seis
médicos e seis cirurgiões, dividindo a cidade em seis Distritos, servidos cada um por
um médico e um cirurgião. Os doentes de maior gravidade eram encaminhados para o
Hospital de São José ou para o Hospital dos Expostos, no caso das crianças1.
Com a aprovação de novo Regulamento para este serviço, em 18632, a Santa
Casa divide a cidade em 12 Distritos, cada um servido por um facultativo, que podia ser
médico ou cirurgião, dando assim execução ao decreto de 23 de Setembro3 daquele
ano, que atribuía à Misericórdia de Lisboa acrescidas responsabilidades na assistência
médica aos pobres da capital. Com este Decreto as antigas visitadas mantinham os
seus privilégios e esmolas, mas os novos diplomas clínicos concedidos a partir daquela
data eram atribuídos a doentes pobres temporariamente, dando direito a consulta
médica, tratamento e medicamentos gratuitamente, mas apenas enquanto durasse a
enfermidade.
Para conseguir examinar um maior número de doentes, que este novo serviço
implicava, é estabelecido em cada Distrito, um local fixo destinado às consultas e
tratamentos dos doentes pobres residentes nas freguesias respectivas. Este local era
escolhido pelo facultativo ou indicado pela Santa Casa, na área da sua circunscrição,
1 Decreto de 10 de Outubro de 1854, AHSCML, Constituição e Regulamentação, Registo de Portarias e
mais Diplomas, Livro 4 (1850-1858), fls. 92-93, que aprova o Regulamento do novo serviço clínico dos expostos e visitadas da Misericórdia de Lisboa. 2 SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA – Serviço das Visitas. Regulamento para execução do
decreto de 23 de Setembro de 1863. Lisboa: Imp. na Typographia do Futuro, 1863, 26, [4] pp. 3 Decreto de 23 de Setembro de 1863, AHSCML, Constituição e Regulamentação, Registo de Portarias e
mais Diplomas, Livro 5 (1859-1889), fls. 80v.-82v.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
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onde o médico também tinha obrigatoriamente que residir. Os medicamentos eram
receitados pelos facultativos e aviados pelos doentes nas boticas designadas pela
Santa Casa, que deviam ter uma localização o mais central possível, para facilitar o
acesso à maioria dos doentes, mas tinha-se sempre em consideração o factor
económico, escolhendo-se aquelas farmácias que menores custos apresentassem.
A partir de 1870, com o fim das exposições anónimas e a reorganização do
serviço da roda da Misericórdia de Lisboa, assiste-se a uma diminuição progressiva d o
número de expostos entrados na Casa, mas não do número de crianças assistidas. Aos
expostos substituem-se os pensionistas, ou sejam, aquelas crianças cujas mães
recebiam uma pensão ou subsídio, atribuído geralmente apenas durante o primeiro
ano de vida, e que se destinava especificamente a evitar as exposições das crianças.
2. Criação dos Serviços Médicos e Farmacêuticos da Misericórdia em 1907
Por iniciativa do então Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o
Conselheiro António Augusto de Miranda, instala-se, em 1907, um posto permanente
de socorros médicos e um laboratório farmacêutico privativo da Misericórdia. O Posto
era destinado a prestar socorro médico urgente aos cerca de 300 residentes nas casas
de São Roque – asilados, expostos e funcionários - e às órfãs do Recolhimento de São
Pedro de Alcântara.
As razões apontadas à época para esta reorganização do serviço clínico,
constituíam já preocupações expressas pelas administrações anteriores: por um lado, a
Santa Casa despendia anualmente mais de dez contos de réis em medicamentos
fornecidos gratuitamente aos seus tutelados, valor que constituía um enorme encargo
financeiro para a Instituição e, por outro lado, as farmácias, que em cada distrito da
cidade forneciam os medicamentos aos protegidos, ficavam por vezes afastadas das
casas de consulta, obrigando os doentes ou seus familiares a deslocações a grandes
distâncias, desnecessariamente.
Da organização do serviço médico e farmacêutico ficou encarregue o Doutor
Caetano Beirão, que escolheu o local para instalação dos serviços médicos centrais: um
amplo espaço anteriormente ocupado pelos asilados do Hospital do Amparo, em
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forma de L, com o lado mais comprido voltado para a Calçada da Glória e porta de
entrada para o exterior no cimo deste edifício, na esquina para a rua de São Pedro de
Alcântara.
Nestas instalações localizavam-se a sala de espera para os doentes, as salas de
consulta, a farmácia, sala de vacina, pesagem e exames de crianças, sala de operações,
gabinete com autoclave para esterilizações de instrumentos médicos e de cirurgia,
gabinete de exames por raio X, instalações sanitárias para os doentes, secretaria dos
serviços médicos, arrecadações para os produtos farmacêuticos e outros e, ainda, os
quartos para enfermeiros e criados.
Tendo em conta que as casas de consulta então existentes não possuíam as
condições necessárias para o fim a que se destinavam, resolveu ainda o Doutor Beirão,
que se estabelecessem três consultórios ou dispensários em locais distantes do centro
da cidade, mas onde a população carenciada fosse mais densa, escolhendo as zonas de
Alcântara, Campo de Santa Clara e Santa Marta. Os futuros Dispensários clínicos
possuiriam um ou dois gabinetes médicos, sala de espera e instalações sanitárias
destinadas aos doentes e ainda uma sucursal da farmácia central, encarregue
igualmente de distribuir os medicamentos receitados em consulta no dispensário ou
em visita domiciliária da respectiva zona4.
2.1 Serviços Médicos Internos
A Farmácia Central começou a funcionar no final do mês de Dezembro de 1906,
de forma a estar em plena laboração quando o Posto Permanente fosse inaugurado. O
Posto abriu ao público em 4 de Fevereiro de 1907, após realojamento dos asilados do
Hospital do Amparo, que ocupavam aquela parte do edifício na sede da Misericórdia, e
as obras de adaptação e reparações indispensáveis.
Já depois da abertura do Posto, a Administração da Santa Casa resolveu que,
podendo suceder que após alguma operação cirúrgica o doente tivesse que
permanecer no Posto durante alguns dias para recobro e acompanhamento do
4 Relatorios dos Serviços Medicos e Pharmaceuticos da Santa Casa da Misericordia de Lisboa relativos ao
anno economico de 1907-1908. Lisboa: Imp. na Typographia da Loteria da Santa Casa da Misericordia, 1909, pp. 5-6.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
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tratamento, se instalasse uma pequena enfermaria com quatro camas, escolhendo
para o efeito a sala que servia de refeitório ao Hospital do Amparo e autorizando as
necessárias obras de adaptação.
Os funcionários do Posto de Socorros Médicos tinham como principal função
prestar socorro médico ou cirúrgico a todos os indivíduos internados nos edifícios da
Misericórdia e do Recolhimento de São Pedro de Alcântara. Deveriam ainda examinar,
tratar e conceder os medicamentos necessários a todos os protegidos5 que ali se
apresentassem providos do respectivo diploma que, por qualquer razão, não tivessem
podido ser atendidos pelo facultativo do serviço externo da sua área de residência, ou
por motivos urgentes, expressamente por indicação escrita e justificada do facultativo
da zona. Para além dos tutelados e outros protegidos da Misericórdia, no Posto seriam
ainda atendidas com consulta médica, pensos ou curativos, todas as pessoas pobres
que requeressem ser atendidas, mas sem direito ao fornecimento gratuito de
medicamentos. O Posto servia ainda para socorro urgente de qualquer vítima de
desastre ou acidente.
Era também no Posto que se deveria proceder à vacinação de todas as crianças
expostas e pensionistas6 da Misericórdia e das crianças pobres que o solicitassem,
passando os respectivos atestados. Estavam ainda incumbidos os médicos do Posto de
examinar as mulheres candidatas a amas dos expostos e tutelados da Misericórdia e
ainda de pesar e examinar as crianças candidatas a pensionistas, acompanhando o seu
desenvolvimento físico e estado de saúde, tratamento e asseio, através de consultas e
pesagens regulares, até à cessação da pensão7.
5
Os Protegidos eram os expostos, crianças pensionistas, suas mães e amas, órfãs do Recolhimento, asilados do Hospital do Amparo e todos os portadores de diplomas pelos quais a Misericórdia concedia o benefício de médico e remédios.
6 Os Pensionistas eram as crianças que recebiam pensão ou subsídio durante o primeiro ano de vida,
para ajuda financeira às mães durante o período de aleitação.
7 Relatorios dos Serviços Medicos…1907-1908, p. 6; SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA –
Regulamento provisorio dos Serviços Medicos Externos da Santa Casa da Misericordia de Lisboa. Lisboa: Imp. na Typ. da Lot.ª da Santa Casa da Misericordia, 1909.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
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2.2 Serviços Médicos Externos
Para a instalação dos dispensários, e tendo em conta a necessidade de escolher
boas localizações, estas fizeram-se preferencialmente em prédios da Santa Casa ou,
não sendo possível, em casas alugadas para o efeito, procedendo-se às obras
necessárias de adaptação a esta finalidade.
Assim, para o Dispensário n.º 1, arrendou a Misericórdia umas casas na Rua
Direita de Alcântara n.º 41, pelo período de cinco anos; o Dispensário n.º 2, em Santa
Marta, ficaria instalado num edifício localizado na cerca do antigo Convento de Santa
Joana, instalações que seriam ampliadas e o terreno cedido à Santa Casa pelo
Ministério da Fazenda; o Dispensário n.º 3 ficou instalado no prédio do Campo de
Santa Clara, n.º 165-167, propriedade da Misericórdia. Nestes dois últimos edifícios
funcionavam já postos de distribuição da Sopa da Caridade da Misericórdia de Lisboa.
Quanto às casas de consulta, funcionavam todas em casas alugadas,
localizando-se a do Beato na Rua António Maria Tavares, no Poço do Bispo; a de
Benfica na Estrada de Benfica n.º 390 e a do Campo Grande na Rua Ocidental ao
Campo Grande n.º 224.
O Serviço Médico Externo destinava-se exclusivamente a prestar assistência
médica a expostos, pensionistas e suas mães e amas e aos indivíduos pobres, doentes
e munidos do respectivo diploma clínico. As consultas e tratamentos podiam ser
prestados nos dispensários e nos consultórios médicos ou através de visita
domiciliária, mas apenas em casos excepcionais de imposssibilidade do doente se
deslocar ao local de consulta.
Para este serviço, a cidade de Lisboa foi dividida em duas circunscrições,
correspondendo a primeira à antiga área da cidade e a segunda à nova. Cada uma das
circunscrições foi dividida em diversas zonas e estas sub-divididas em Distritos, cada
um abrangendo uma ou mais freguesias. As quatro zonas da 1.ª circunscrição seriam
servidas cada uma por um Dispensário. A 2.ª circunscrição dividiu-se em duas zonas, a
primeira servida pela casa de consulta do Beato e a segunda pelas casas de consulta de
Benfica e do Campo Grande.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
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Ao longo dos cinco anos analizados neste estudo, dão-se algumas alterações a
nível das freguesias incluídas em cada Distrito, de forma a melhorar o serviço prestado
e distribui-lo de forma mais equilibrada pelos vários facultativos. Apresentamos aqui,
apesar disso, um mapa com a distribuição geográfica inicial, definida em 1907, com a
indicação das freguesias servidas pelos vários Dispensários e Casas de Consulta.
Mapa 1: Freguesias servidas pelos Dispensários e Casas de Consulta dos Serviços Médicos Externos da
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em 1907.
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos…, 1907-1908, p. 30.
3. Movimento da assistência clínica (1907-1912)
A fonte principal para esta parte do trabalho foram as estatísticas impressas e
publicadas pelos Serviços Médicos e Farmacêuticos da Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa, anexas aos Relatórios destes serviços, dos anos económicos de 1907 a 1912.
Salientamos que, além desta fonte impressa, existem outras manuscritas, que serviram
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
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para completar ou rectificar algumas imprecisões encontradas nos dados estatísticos8
como sejam as séries documentais do Movimento diário e mensal no Posto, o Registo
de agressões, desastres e suicídios, o Registo de entradas de doentes no Posto e o
Registo do exame das crianças pensionistas.
3.1 Movimento Clínico do Posto Permanente
O movimento estatístico do Posto inclui as consultas gerais e tratamentos,
pensos e curativos, operações cirúrgicas e internamento, exames por Raio X, passagem
de certidões e atestados, redacção de informações clínicas e o movimento da consulta
especial de dentes e boca.
No final do primeiro ano e meio após a reorganização dos Serviços Médicos, ou
seja, no final do ano económico de 1907-1908, constatava-se já que mais de metade
dos indivíduos admitidos no Posto de Socorros para Consultas e tratamentos e Pensos
e Curativos eram pessoas estranhas à Misericórdia, tendo sido atendidos, no ano de
1907-1908, 22888 estranhos e apenas 20934 protegidos.
8 Salientamos que alguns quadros apresentavam pequenas disparidades em relação aos números
referidos nos relatórios e mesmo entre si, encontrando-se por vezes algumas pequenos erros nos somatórios parciais ou totais.
Consultas Gerais e tratamentos
Pensos e curativos
Exames radiográficos
Atestados e certidões
Informações
Gráfico 1: Número de consultas gerais e tratamentos no Posto de Socorros Médicos (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
1907-1908 1908-1909 1909-1910 1910-1911 1911-1912
N.º
de
co
nsu
ltas
e t
rata
me
nto
s
Anos
Consultas gerais e tratamentos no Posto (1907-1912)
Protegidos
Estranhos
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
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Como podemos constatar da análise separada dos dois gráficos representando a
evolução destes serviços, enquanto nos Pensos e curativos o número de estranhos é
nitidamente superior ao mesmo serviço prestado aos protegidos, nas Consultas e
tratamentos os protegidos são em número superior nos três primeiros anos,
apresentam valores inferiores aos estranhos entre 1910 e 1912.
Este tendência, que já se iniciara no ano anterior de 1909-1910, foi
deliberadamente provocada pela Direcção dos Serviços Médicos, fazendo recorrer os
protegidos a consultas no Posto de Socorros apenas em situações comprovadamente
urgentes, remetendo as consultas de rotina para os Dispensários e Casas de Consulta
das suas áreas de residência, como aliás ficara definido no Regulamento. Conseguiu-se
assim diminuir as consultas de cerca de 1200 por mês de crianças e 600 de adultos,
para uma média de 500 de crianças e 300 de adultos.
Assim, não deixando de serem atendidos os casos urgentes dos protegidos,
conseguiu-se ampliar o acesso dos protegidos e estranhos a pensos e curativos (que,
respectivamente, passaram de 6535 para 7322 e de 17821 para 26823) e, ainda, das
consultas de pessoas estranhas à Misericórdia, que aumentaram de 11900 para 12376.
Gráfico 2: Número de pensos e curativos efectuados no Posto de Socorros Médicos (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
0
2500
5000
7500
10000
12500
15000
17500
20000
22500
25000
27500
30000
32500
1907-1908 1908-1909 1909-1910 1910-1911 1911-1912
N.º
de
pe
nso
s e
cu
rati
vos
Anos
Pensos e curativos efectuados no Posto (1907-1912)
Protegidos
Estranhos
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
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Esta tendência continuou nos anos seguintes, registando sempre uma
diminuição do número de protegidos admitidos às consultas no Posto – menos 2037
no ano de 1910-1911 e menos 303 no ano de 1911-1912, e um aumento do número de
pensos e curativos em indivíduos estranhos à Misericórdia – mais 2964 no ano de
1910-1911 e 1506 no ano de 1911-1912.
O maior número de estranhos beneficiados com Pensos e curativos é explicado
pelo facto de o Posto receber os feridos vítimas de desastres e acidentes, que incluíam
necessariamente um grande número de pessoas que não possuíam diploma e que nem
sequer eram necessariamente pobres.
Operações cirúrgicas e internamento
No Posto Permanente de Socorros Médicos da Misericórdia de Lisboa,
efectuaram-se, no período de 1907 a 1912, 360 operações classificadas como de
grande cirurgia. Além destas muitas pequenas cirurgias estão mencionadas e
contabilizadas nos relatórios anuais dos Serviços Médicos, como as punções lombares,
injecções de soros, extracção de corpos estranhos e as vacinações, entre muitas
outras9.
9 Relatorios dos Serviços Medicos e Pharmaceuticos da Santa Casa da Misericordia de Lisboa relativos ao
anno economico de 1908-1909. Lisboa: Imp. na Typographia da Loteria da Santa Casa da Misericordia, 1910, p. 15.
Curados ou
melhoradosFalecidos
1907-1908 68 53 47 3 3
1908-1909 92 81 78 2 3
1909-1910 85 87 75 8 4
1910-1911 72 130 120 10
1911-1912 43 95 83 8 4
TOTAL 360 446 403 31 4
Quadro 1: Número de operações cirúrgicas e internamentos no Posto de Socorros Médicos (1907-
1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
Anos
Operações cirúrgicas e internamentos no Posto (1907-1912)
SaíramN.º de
Operações
Internados nas
EnfermariasFicaram
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
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O movimento das grandes cirurgias ao longo destes cinco anos, está
representado neste quadro, que inclui ainda os internados na Enfermaria do Posto e,
destes, os que saíram curados ou “melhorados”, os que faleceram e os que ficaram
ainda internados para o ano seguinte.
Das 68 operações realizadas no Posto em 1907-1908, observa-se maior
incidência na extracção de pólipos e quistos (26), amigdalotomias (10), extracção de
adenites tuberculosas (9), desbridamentos de fístulas e outros (8)10. Em 1908-1909,
das 92 operações realizadas, tiveram maior peso as amigdalotomias duplas (14),
extracção de adenites (9), extracção de quistos (6) e de lipomas (5) e trepanação da
apófise mastóidea (6)11. No ano de 1909-1910, das 85 operações de grande cirurgia
apontam-se com maior número a trepanação da apófise mastóidea (10), extracção de
adenites (8), amputação e desarticulação de dedos (5), amigdalotomias duplas (5) e
desbridamentos profundos e esvaziamentos (5)12. No ano seguinte salienta-se da
análise estatística do Posto um menor número de operações (72), mas com um volume
anormal de doentes internados (126). Este número de internamentos foi resultante do
facto do Posto de Socorros da Misericórdia se ter tornado, durante a revolução e 4 e 5
de Outubro de 1910, num hospital de sangue, para onde foram enviados muitos
feridos durante os confrontos, alguns com bastante gravidade. Nesse ano foram em
maior número as ressecções ósseas (10), a extracção de balas (9) e a extracção de
quistos (5)13. No ano seguinte, de 1911-1912 registaram-se 43 operações, que
incluíram em maior número amigdalotomias (4), trepanação do crânio (3) e cura de
fístulas (3)14.
10
Relatorios dos Serviços Medicos…1907-1908, p. 10. 11
Relatorios dos Serviços Medicos…1908-1909, p. 13. 12
Relatorios dos Serviços Medicos e Pharmaceuticos da Santa Casa da Misericordia de Lisboa relativos ao anno economico de 1909-1910. Lisboa: Imp. na Typographia da Loteria da Santa Casa da Misericordia, 1911, p. 12. 13
Relatorios dos Serviços Medicos e Pharmaceuticos da Santa Casa da Misericordia de Lisboa relativos ao anno economico de 1910-1911. Lisboa: Imp. na Typographia da Loteria da Santa Casa da Misericordia, 1912, p. 12. 14
Relatorios dos Serviços Medicos e Farmaceuticos da Santa Casa da Misericordia de Lisboa relativos ao ano economico de 1911-1912. Lisboa: Imp. na Tipografia da Loteria da Santa Casa da Misericordia, 1913, p. 9.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
12
Nos gráficos seguintes mostra-se, com mais pormenor, o movimento das
enfermarias do Posto de socorros permanente.
Foram internados nas Enfermarias, ao longo destes cinco anos, um total de 434
indivíduos. Dos 126 internados no ano de 1910-1911, apenas 72 tinham sido sujeitos a
operações de grande cirurgia. Dos internados não operados salientam-se 31 vítimas de
feridas diversas por arma de fogo e 11 com ferimentos diversos resultantes dos
confrontos durante a Revolução15.
Refira-se que a Enfermaria do Posto propriamente dita servia unicamente para
o internamento temporário de adultos do sexo masculino, sendo as mulheres e
crianças internadas nas enfermarias internas da Misericórdia, distribuídas em duas
secções diferentes: uma, a das mulheres asiladas e expostas inválidas e doentes, e a
outra das crianças expostas menores de sete anos. Nestes gráficos mostram-se apenas
as mulheres e crianças que davam entrada pelo Posto e que ficavam depois nas
enfermarias internas.
Clínica especial de dentes e boca
Existindo nos hospitais de Lisboa consultas gratuitas de diferentes
especialidades para doentes pobres, não havia, no entanto, nenhuma para doenças da
boca e dentes, pelo que a Santa Casa resolveu incluir no Posto uma consulta desta
especialidade, que contou, ao longo destes cinco anos em análise, com grande afluxo
de doentes.
15
Relatorios dos Serviços Medicos…1910-1911, pp. 12-15.
Gráficos 3 e 4: Número de doentes internados nas Enfermarias do Posto de Socorros Médicos - sexo masculino e sexo feminino (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
do
en
tes
en
trad
os
Anos
Movimento de doentes na enfermaria do posto - sexo masculino (1907-1912)
Existentes em30 de Junho
Falecidos
Curados oumelhorados
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20
30
40
50
60
70
80
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1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
do
en
tes
en
trad
os
Anos
Movimento de doentes na enfermaria do posto - sexo feminino (1907-1912)
Existentes em30 de Junho
Falecidos
Curados oumelhorados
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
13
O serviço odontológico iniciou-se igualmente em Fevereiro de 1907, contando-
se, no ano de 1907-1908, 1842 consultas e tratamentos e 1876 extracções de dentes16.
No ano seguinte deu-se um aumento significativo na afluência, abrangendo mais de
3500 consultas e de 3600 extracções17. No ano de 1909-1910 teve de ser limitado o
número de admissões a esta consulta, por não ser possível, apenas com dois médicos,
atender tantas pessoas, diminuindo os números das consultas para 2911 e das
extracções para 310918, valores que se mantiveram mais ou menos constantes até
1911-191219.
3.2 Movimento Clínico dos Dispensários e Casas de Consulta
Movimento das consultas em Dispensários e Casas de Consulta
A Misericórdia de Lisboa atribuiu, entre 1907 e 1912, a totalidade de 17097
novos diplomas clínicos, cuja evolução está bem patente no gráfico abaixo
16
Relatorios dos Serviços Medicos…1907-1908, p. 13. 17
Relatorios dos Serviços Medicos…1908-1909, p. 16. 18
Relatorios dos Serviços Medicos…1909-1910, p. 16. 19
Relatorios dos Serviços Medicos…1910-1911, p. 16; Relatorio dos Serviços Medicos…1911-1912, p. 10.
Gráfico 5: Número de consultas, tratamentos e extração de dentes no Posto de Socorros Médicos (1907-
1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
do
en
tes
Anos
Doentes da consulta de odontologia (1907-1912)
N.º consultas etratamentos
N.º de extracçãode dentes
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
14
apresentado, onde fica também demonstrada a disparidade entre os dois sexos: no
total destes novos diplomas, 12739 foram atribuídos a indivíduos do sexo feminino
(74,5%) e apenas 4358 do sexo masculino (25,5%)20.
A estes números teremos de juntar os dos diplomas ainda em vigor na
passagem de cada ano económico, os diplomas cancelados por alta ou desistência dos
doentes, os revogados e aqueles que faleceram ao longo do ano, que resumimos no
quadro abaixo.
20
Relatorios dos Serviços Medicos…, de 1907-1908 a 1911-1912.
Gráfico 6: Número de novos Diplomas Clínicos atribuídos a doentes pobres (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
dip
lom
as a
trib
uíd
os
Anos
Novos diplomas atribuídos (1907-1912)
Varões
Fêmeas
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
15
Movimento dos diplomas clínicos concedidos a doentes pobres por distrito
No Relatório de 1907-1908 anotavam-se as disparidades em termos de
frequência de diplomas atribuídos: alguns dos Distritos tinham consultas pouco
frequentadas, como o 3.º e 4.º Distritos e outros muito sobrecarregados de doentes,
como os 5.º, 7.º, 8.º e 9.º Distritos, justificando-se esta situação pelo facto de que as
freguesias que compunham os 3.º e 4.º Distritos – São Paulo, Santos-o-Velho, Coração
de Jesus e Mercês, tinham consultas a horas mais cómodas e mais prolongadas e se
encontravam geograficamente mais perto do Posto da Santa Casa, a ele recorrendo os
doentes com mais facilidade do que aos dispensários respectivos. As freguesias com
maior número de doentes que recorriam aos serviços da Misericórdia eram as de
Santa Engrácia e Santa Isabel21.
No ano seguinte continuam as mesmas tendências, aumentando a frequência
da consulta das Mercês, provavelmente pelo facto de se ter mudado a consulta desta
21
Relatorios dos Serviços Medicos…1907-1908, p. 27.
Anos Existiam Entraram Saíram Faleceram Ficaram
1907-1908 325 1284 1289 69 251
1908-1909 251 1909 1791 76 293
1909-1910 293 2650 2180 85 678
1910-1911 678 3565 2827 90 1326
1911-1912 1326 7689 5958 97 2960
TOTAL 2873 17097 14045 417 5508
Quadro 3: Movimento dos Diplomas Clínicos (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
Movimento de diplomas clínicos (1907-1912)
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
16
freguesia do Dispensário n.º 2, de Santa Marta, para o Dispensário n.º 4, no Largo de
São Roque22. Em 1909-1910 a freguesia de Alcântara (1.º Distrito) é a mais concorrida,
seguindo-se as freguesias de Santa Engrácia e Santa Isabel (dos Distritos n.º 2 e 3), e
Santo Estevão (Distritos n.º 3). Também as consultas das freguesias das Mercês e São
Paulo se mostraram mais frequentadas do que em anos anteriores, por se
encontrarem agora mais perto geograficamente dos dispensários respectivos: a
consulta de São Paulo tinha passado do Dispensário n.º 1, em Alcântara, para o n.º 4,
em São Roque23.
22
Relatorios dos Serviços Medicos…1908-1909, p. 32. 23
Relatorios dos Serviços Medicos…1909-1910, p. 32.
Gráfico 7: Número de Diplomas Clínicos atribuídos por Distrito (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
No anel exterior apresentam-se os totais dos cinco anos para cada Distrito. O anel interior corresponde ao primeiro
ano, de 1907-1908 e seguidamento os outros anos, até ao mais afastado do centro, que corresponde ao ano de 1911-
1912.
1907-1908
1911-1912166210%
280516%
9295%
11807%
322819%
9906%
15709%
167510%
15199%
15319%
Diplomas clínicos atribuídos por Distrito (1907-1912)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Distritos
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
17
Em 1910-1911 foram as Freguesias de Santa Isabel e Santa Engrácia as duas
com mais movimento, seguindo-se a das Mercês e São Vicente. O Director dos Serviços
Médicos Externos, o Doutor Caetano Beirão, aponta a necessidade de contratação de
maior número de médicos efectivos, dado que um médico atendia, apenas num dia,
entre 80 e 100 doentes, situação que punha em causa a qualidade do serviço clínico
prestado à população mais carenciada da cidade24. No ano de 1911-1912, época de
grande aumento do número de diplomas concedidos, registam-se freguesias que
duplicam e triplicam os diplomas concedidos, sendo as mais concorridas as de Santa
Isabel (1402 novos diplomas), Alcântara (com 1004), Santa Engrácia (624), Anjos (417)
e Mercês (412)25.
Em termos de totais apurados para estes cinco anos, apontam-se como as de
maior frequência, as freguesias de Santa Isabel, Alcântara e Santa Engrácia, seguidas
das freguesias dos Anjos e Mercês. Em termos de diplomas distribuídos por
dispensários existe nítida predominância dos Dispensários 2 e 1, que incluíam,
respectivamente, os Distritos com maior número de freguesias e aqueles com as
freguesias mais concorridas26.
Mas como cada doente portador de diploma tinha direito a tantas consultas
quantas as necessárias até à cura ou à finalização do tratamento prescrito, nada avalia
melhor a amplitude do serviço dos Dispensários Clínicos e Casas de consulta do que a
evolução numérica destas consultas.
Logo no primeiro ano de 1907-1908 atingiu-se um total de 17185 consultas
clínicas prestadas nos Dispensários e Casas de Consulta, aumentando no ano seguinte
para 21518 consultas, ou seja mais de 4000 consultas em relação ao ano anterior. No
ano de 1909-1910 quase mais 8000 consultas, atingindo um total de 29485 consultas.
Nos anos seguintes maior aumento ainda foi registado, chegando às 38564 consultas
em 1910-1911 e às 59024 consultas em 1911-191227.
24
Relatorios dos Serviços Medicos…1910-1911, p. 27. 25
Relatorios dos Serviços Medicos…1911-1912, pp. 27-28. 26
Relatorios dos Serviços Medicos…, de 1907-1908 a 1911-1912. 27
Relatorios dos Serviços Medicos…, de 1907-1908 a 1911-1912.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
18
A esta estatística já impressionante vem ainda juntar-se o número das visitas
domiciliárias prestadas pelos médicos dos quatro Dispensários: um total de 773 visitas
em 1907-190828, 824 em 1908-1909, 1002 em 1909-1910, 1018 em 1910-1911 e 1752
no último ano29.
28
Relatorios dos Serviços Medicos…1907-1908, p. 28. Referem-se no Relatório 765 visitas, mas a soma dos valores parciais (mensais e por Distrito) no “Mapa dos Serviços Clínicos Externos”, n.º 3, p. 31 do mesmo Relatório, é de 773. 29
Relatorios dos Serviços Medicos…, “Mapa dos Serviços Clínicos Externos”, de 1908-1909 a 1911-1912.
Gráfico 8: Número de consultas clínicas nso Dispensários e Casas de Consulta (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
Co
nsu
ltas
Anos
Consultas clínicas nos dispensários e casas de consulta (1907-1912)
Dispensário N.º 1
Dispensário N.º 2
Dispensário N.º 3
Dispensário N.º 4
Casa de Consulta CampoGrande
Casa de Consulta Beato
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
Gráfico 9: Número de visitas domiciliárias por Dispensário (1907-1912)
0
100
200
300
400
500
600
700
1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
vis
itas
Anos
Visitas domiciliárias por Dispensário (1907-1912)
Dispensário N.º 1
Dispensário N.º 2
Dispensário N.º 3
Dispensário N.º 4
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
19
3.3 Movimento do Serviço Farmacêutico
Como vimos mais atrás neste estudo, uma das principais razões para a criação
deste Serviço Médico Interno e Farmacêutico, foi a instalação de uma Farmácia Central
onde se produzissem as fórmulas de medicamentos concedidas gratuitamente aos
protegidos da Misericórdia, de forma a diminuir a enorme despesa que a instituição
tinha com a distribuição deste benefício, quando recorria a farmácias externas30.
O número crescente de diplomas concedidos a doentes pobres e o
desmesurado número de consultas efectuadas que anotámos atrás, tanto no Posto
como nos vários Dispensários, Casas de consulta e visitas domiciliárias, ao longo destes
cinco anos, implicou, como se pode ver nos gráficos abaixo, também um colossal
aumento do número de receitas e das fórmulas de medicamentos incluídas nas
mesmas receitas.
30
Relatorios dos Serviços Medicos…1907-1908, p. 15.
Gráfico 10: Número de receitas fornecidas e aviadas na Farmácia Central e Dispensários (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
re
ceit
as
Anos
Receitas fornecidas e aviadas (1907-1912)
Dispensário 4
Dispensário 3
Dispensário 2
Dispensário 1
Farmácia Central -Vários
Farmácia Central -Enfermaria
Farmácia Central -Posto
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
20
Do ano económico de 1907-1908 para o ano seguinte houve um excesso de
mais de 8000 receitas e mais de 44000 fórmulas de medicamentos receitadas e
aviadas nos diversos locais de distribuição, repetindo-se os valores deste aumento,
mais ou menos, no ano de 1909/1910. Desse ano para o de 1910-1911 registou-se um
aumento de mais de 7500 receitas passadas e de 27000 fórmulas fornecidas31. Para o
ano seguinte novo aumento em relação ao ano anterior, sobretudo no número de
receitas fornecidas e aviadas com um acréscimo de mais de 23600 receitas e de 35000
fórmulas de medicamentos.
Mesmo assim, asseguravam os médicos nos seus relatórios anuais, este
aumento desmedido de receitas e fórmulas de medicamentos não trouxera um
acréscimo orçamental para a Santa Casa, se comparado com os anos anteriores a
1907. A Farmácia Central conseguira, fabricando as suas fórmulas de medicamentos,
31
Relatorios dos Serviços Medicos…1910-1911, pp. 21-22.
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
Gráfico 11: Número de fórmulas de medicamentos incluídas nas receitas fornecidas e aviadas na Farmácia
Central e Dispensários (1907-1912)
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
fó
rmu
las
Anos
Fórmulas de medicamentos incluídas nas receitas (1907-1912)
Dispensário 4
Dispensário 3
Dispensário 2
Dispensário 1
Farmácia Central -Vários
Farmácia Central -Enfermaria
Farmácia Central -Posto
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
21
uma poupança extraordinária logo no ano de 1907, que continuou nos anos seguintes,
assistindo-se mesmo a uma diminuição do custo das fórmulas ao longo dos anos32.
3.4 Movimento do Balneário da Esperança
Anexado aos Serviços Médicos Internos e Farmacêuticos da Misericórdia de
Lisboa, o Balneário popular da Rua da Esperança é inaugurado a 29 de Junho de 1911,
começando a funcionar no início do mês de Julho, fornecendo a indivíduos pobres que
solicitassem o respectivo diploma, tutelados e aos protegidos da Santa casa, banhos
simples de lavagem (quentes e frios), ou medicinais, sulfurosos e alcalinos. A
Misericórdia facultava os funcionários de apoio e limpeza, as roupas e o sabão e a
Câmara Municipal de Lisboa fornecia graciosamente a água destinada ao Balneário33.
O Balneário possuía 21 quartos, cada um com uma tina de mármore com as
respectivas canalizações e torneiras para a água fria e para o vapor que aquecia a água,
equipada com um dispositivo especial para a sua desinfecção, que utilizava o mesmo
vapor.
32
Relatorios dos Serviços Medicos…, de 1907-1908 a 1911-1912. 33
Relatorios dos Serviços Medicos…1910-1911, p. 8.
Gráfico 12: Número de pessoas e tipo de banhos tomados no Balneário (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1911-1912.
0
50
100
150
200
250
Simples Sufúreos Alcalinos
N.º
de
pe
sso
as
Tipo de banho
Movimento do Balneário (1911-1912)
Crianças Sexo fem.
Crianças Sexo masc.
Adultos Sexo fem.
Adultos Sexo masc.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
22
No primeiro ano de actividade foram concedidos diplomas a 518 pessoas,
sendo que cada diploma dava direito a 12 banhos. Destes 518, 166 esgotaram as
senhas e solicitaram a renovação do seu diploma, enquanto 342 não chegaram a
atingir o número de banhos a que tinham direito. Forneceram-se ao longo do ano 5513
banhos, e destes 2531 sulfurosos, 992 alcalinos e 1990 banhos simples34.
Do movimento mensal, mostrado no Relatório dos Serviços Médicos Internos,
podemos perceber que os banhos eram mais frequentes nos meses quentes, de Maio
a Setembro e que, nos meses frios, se notava uma baixa significativa na frequência do
Balneário. Entre os sexos dos beneficiários assinala-se maior diferença nos banhos
sulfuroso e alcalinos, sendo as mulheres as mais frequentadoras, mas, nos banhos
simples, sejam crianças ou adultos, existe um equilíbrio entre os sexos, isto tendo em
conta apenas os dados incluídos neste ano económico.
34
Relatorios dos Serviços Medicos…1911-1912, pp. 19-22.
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1911-1912.
Gráfico 13: Número e tipo de banhos tomados no Balneário (1907-1912)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
Simples Sufúreos Alcalinos
N.º
de
ban
ho
s
Tipo de banho
Banhos tomados no Balneário (1911-1912)
Crianças Sexo fem.
Crianças Sexo masc.
Adultos Sexo fem.
Adultos Sexo masc.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
23
3.5 Assistência materno-infantil: as crianças pensionistas e expostos
Além dos tratamentos propriamente clínicos, os Serviços Médicos tinham
especial atenção na área da puericultura, realizando periodicamente exames e
pesagens das crianças tuteladas, expostos e pensionistas. Saliente-se que, nesta época,
em Lisboa, apenas o Lactário da Associação Protectora da Primeira Infância realizava
este tipo de estudos, mas que, devido à escassez de recursos, apenas abrangia cerca
de 300 crianças por ano. A Santa Casa, com este serviço, só no primeiro ano e meio de
actividade do Posto, realizou o mesmo estudo em cerca de 8000 crianças e efectuou
cerca de 14500 pesagens. Procedia ainda à vacinação dos expostos e das crianças
pensionistas. As pesagens e exames das crianças pensionistas e expostos eram
registados em livro próprio, assim como as vacinações e o seu resultado.
Pesagens e exames médicos
A pesagem das crianças pensionistas era realizada unicamente como medida
preventiva, para avaliar do estado de robustez e bom tratamento das crianças, sempre
acompanhada de conselhos às mães e amas acerca dos cuidados a ter com a higiene e
alimentação dos bebés35. As pesagens eram também efectuadas nas consultas clínicas
resultantes de doenças dos pensionistas. No gráfico abaixo podemos observar a
quantidade de pesagens efectuadas, ao longo dos cinco anos em análise, pelo Posto
Permanente, notando-se uma subida de mais de 3000 pesagens e exames entre os
anos 1907/1908 e 1908/1909, ultrapassando as 15000 em 1910/1911 e atingindo
quase as 17000 em 1911/191236.
35
Relatorios dos Serviços Medicos…1907-1908, pp. 13-14. 36
Relatorios dos Serviços Medicos…, de 1907-1908 a 1911-1912.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
24
Dos Relatórios anuais dos Serviços Médicos e dos extensos quadros com os
valores destas pesagens pudemos referir que os dados obtidos são, com poucas
oscilações, sempre os mesmos: se cerca de dois terços das crianças tuteladas nascem
com peso igual ou superior à média normal37, estes vão diminuindo progressivamente
até que, nos últimos dois meses do primeiro ano de vida, mais de 80% apresenta peso
inferior ao normal. Apontavam os médicos, como causa principal desta situação, a má
alimentação das crianças, às quais eram fornecidos, prematuramente, alimentos
sólidos e/ou impróprios para a idade, como sopas e farinhas. Desta atitude resultava
igualmente o enorme número de crianças que se apresentavam com doenças do
aparelho digestivo e que tantas vezes lhes causava a morte, estimando os médicos que
cerca de ¼ das mortes dos pensionistas da Misericórdia se deviam a este tipo de
doenças38.
37
Os Serviços Médicos da Santa Casa usavam a Tabela de Comby, que estabelecia os pesos normais das crianças, do 1.º ao 12.º mês de vida (Cf. Relatorios dos Serviços Medicos…, de 1907-1908 a 1911-1912). 38
Relatorios dos Serviços Medicos…1907-1908, pp. 13-14.
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
Gráfico 14: Número de pesagens e exames de crianças expostas e pensionistas (1907-1912)
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
pe
sage
ns
e e
xam
es
Anos
Pesagens e exames de crianças (1907-1912)
Expostos
Pensionistas
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
25
Vacinações
A Santa Casa da Misericórdia administrava a vacina antivariólica às crianças
residentes no Hospital dos Expostos já desde finais do século XVIII39, tornando-se
prática corrente já no início do século XIX a vacinação das crianças expostas. Às
crianças que eram entregues muito cedo a amas externas, havia especial cuidado em
certificar-se de que eram vacinadas mais tarde, mesmo as que residiam fora da Cidade
de Lisboa. Na época do nosso estudo já se havia estendido este benefício a todas as
crianças tuteladas pela Santa Casa – expostas, órfãs do Recolhimento e pensionistas.
Em 1908-1909 nota-se uma diminuição do número de vacinações, devido, em
grande parte, ao facto de a linfa vacínica utilizada ser mais vigorosa, evitando as
muitas repetições da inoculação que eram necessárias anteriormente40. Nos dois anos
sequentes observa-se uma ligeira diminuição no número de vacinações a protegidos e
39
Inoculações contra a varíola foram experimentadas em expostos da Misericórdia de Lisboa, por Ordem da Rainha em 1796 (Cf. AHSCML, Constituição e Regulamentação, Registo de Decretos, Avisos e Ordens, Livro 2 (1784-1828), fls. 134-134v., Aviso de 24 de Maio de 1796). 40
Relatorio dos Serviços Medicos…1908-1909, p. 13.
Gráfico 15: Número de vacinações em crianças protegidas da Misericórdia e "estranhas" (1907-
1912)Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
1907-08 1908-09 1909-10 1910-11 1911-12
N.º
de
vac
inaç
õe
s
Anos
Vacinações de crianças (1907-1912)
Estranhas
Protegidas daMisericórdia
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
26
aumento das crianças “estranhas” vacinadas41. No ano de 1911-1912 continuam a
diminuir as vacinações dos protegidos e diminui também as dos “estranhos”42.
Prémios de robustez e bom tratamento
A partir de 1907, com a abertura do Posto Permanente e dos Dispensários, a
atribuição e o pagamento de pensões, destinadas às mães das crianças durante o
período de aleitamento, ficaram dependentes do exame e pesagem periódica das
crianças. Segundo o regulamento, as crianças deviam ser examinadas antes da
atribuição do subsídio, no quinto mês e no último. Nestas consultas de puericultura,
médicos e enfermeiros, deveriam aconselhar as mães ou amas sobre a conveniente e
correta alimentação e a higiene das crianças a seu cargo. Decidiu-se ainda atribuir
prémios pecuniários anuais àquelas mães ou amas que apresentassem as crianças mais
robustas e bem tratadas.
Inicialmente eram atribuídas três classes de prémios: prémios de 1.ª classe, no
valor de 20$000 réis, às crianças mais robustas; de 2.ª classe, de 10$000 réis, por bom
tratamento e de 3.ª classe, de 5$000 réis, por assiduidade no tratamento. A partir do
ano de 1909/1910 institui-se ainda uma 4.ª classe, um prémio de consolação no valor
de 5$000 réis, aumentando-se os da 1.ª classe para 12$000 réis e os da 3.ª para 8$000
réis.
41
Relatorio dos Serviços Medicos…1909-1910, pp. 16-17; Relatorio dos Serviços Medicos…1910-1911, pp. 16-18. 42
Relatorio dos Serviços Medicos…1911-1912, p. 13.
N.º de
prémiosValor (réis)
N.º de
prémiosValor (réis)
N.º de
prémiosValor (réis)
N.º de
prémiosValor (réis)
1907-08 9 20$000 5 10$000 4 5$000 18
1908-09 8 20$000 7 10$000 3 5$000 18
1909-10 6 12$000 9 10$000 6 8$000 2 5$000 23
1910-11 6 12$000 9 10$000 6 8$000 2 5$000 23
1911-12 10 12$000 16 10$000 7 8$000 33
TOTAL 39 46 26 4 115
Quadro 4: Número e tipo de prémios atribuídos às mães das crianças pensionistas (1907-1912)
Fonte: Relatorios dos Serviços Medicos … , 1907-1908 a 1911-1912.
Prémios de robustez e bom tratamento (1907-1912)
N.º de
prémios
anuais
Anos
1.ª Classe 2.ª Classe 3.ª Classe 4.ª Classe
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
27
Os prémios distribuídos, nos anos de 1907 a 1909, foram em número de 18 em
cada um dos anos43. No ano de 1909-1910, com a introdução do prémio de consolação
são atribuídos 23 prémios, sendo seis da 1.ª e da 3.ª classe, nove da 2.ª classe e dois de
consolação44, assim como em 1910-1911, com igual distribuição45. No ano de 1911-
1912 são atribuídos 33 prémios, sendo dez da 1.ª classe, 16 da 2.ª e sete da 3.ª, não
tendo sido atribuídos neste ano prémios de consolação46.
Folheto “Ás Mães (Conselhos) ”
Por iniciativa da Direcção dos Serviços Médicos Externos, foi publicado pela
Misericórdia de Lisboa um pequeno folheto – “Ás Mães”, dedicado sobretudo às mães
das crianças subsidiadas pela Santa Casa, o qual, com uma tiragem de 10.000
exemplares esgotou rapidamente. A edição do folheto teve enorme visibilidade e
aceitação, tendo a Misericórdia recebido inúmeros pedidos de exemplares por parte
de instituições e associações de protecção de crianças, câmaras municipais,
misericórdias e escolas. O texto do folheto foi ainda objecto de publicação em jornais
na época, facilitando a sua divulgação generalizada47.
Foto 1: Capa do folheto “Às Mães (Conselhos)”, editado pela Santa Casa em 1912
43
Relatorios dos Serviços Medicos…1907-1908, pp. 14-15; Relatorios dos Serviços Medicos…1908-1909, pp. 21-22. 44
Relatorios dos Serviços Medicos…1909-1910, p. 20. 45
Relatorios dos Serviços Medicos…1910-1911, p. 20. 46
Relatorios dos Serviços Medicos…1911-1912, pp. 17-18. 47
Relatorios dos Serviços Medicos…1912-1913, pp. 27-28.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
28
Iniciando-se com uma breve explicação relativa a micróbios e infecções,
transmitem-se logo alguns conselhos sobre a higiene das mães grávidas, de preparação
para o parto e sobre a roupa das crianças. Seguem-se conselhos específicos sobre o
banho, o vestuário, o sono, a alimentação – aleitamento natural, artificial ou misto e a
introdução da alimentação sólida. Continua-se com recomendações relativas à
vigilância da saúde das crianças, as medições de peso e altura e, por fim, sobre a
vacinação contra a varíola que era, aliás obrigatória.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
29
Conclusões
A instalação de um laboratório de preparação de fórmulas farmacêuticas pela
Misericórdia resultou numa economia de mais de 50%, relativamente aos custos dos
medicamentos fornecidos anteriormente a 1907, registando-se ainda uma maior
celeridade na confecção das fórmulas e maior cuidado na sua preparação. Além da
poupança para a Santa Casa, também os pensionistas e os doentes beneficiaram com a
instalação de uma Farmácia privativa pela Misericórdia, com as suas sucursais junto
dos Dispensários Clínicos, permitindo-lhes levantar os medicamentos no mesmo local
da consulta. Cumpria-se assim uma das razões invocadas para a reorganização dos
Serviços Médicos em 1907. A poupança permitiu à Santa Casa estender este benefício
da assistência médica e medicamentosa gratuita a maior número de pessoas,
concedendo anualmente um número sempre crescente de diplomas clínicos.
A criação do Posto de Socorros, dos Dispensários e das Casas de Consulta
distribuídos estrategicamente pela Cidade de Lisboa, com o cuidado da sua instalação
em zonas de maior concentração de população carenciada, permitiu o acesso de maior
número de indivíduos à assistência clínica gratuita. A sua instalação privilegiou as
zonas mais populosas do centro da cidade e as zonas industriais, rodeadas pelas
habitações dos operários fabris, os bairros, as “vilas” ou “correntezas”, habitados pela
população com mais baixos rendimentos. Os Dispensários ficaram ainda localizados
junto de Cozinhas Económicas, como o Dispensário de Alcântara, ou anexos aos Postos
de distribuição da Sopa da Caridade da Misericórdia de Lisboa, como o Dispensário de
Santa Marta e do Campo de Santa Clara.
Para além desta riquíssima fonte estatística preferencialmente utilizada neste
estudo, que merece ser explorada mais aprofundadamente, existem inúmeras fontes
manuscritas, ainda mais ricas, no Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa, como as já referidas atrás: Movimento diário e mensal no Posto, o Registo de
agressões, desastres e suicídios, o Registo de entradas de doentes no Posto e Registo
do exame das crianças pensionistas.
Socorros médicos e farmacêuticos aos doentes pobres da capital: a acção da Misericórdia de Lisboa
(1907-1912)
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Seria ainda muito interessante o cruzamento dos dados estatísticos com os
Livros de Matrículas de Pensões de Varões e de Fêmeas, de forma a obter outro tipo de
informações relativamente às crianças pensionistas e suas famílias, que não é possível
apenas com os dados utilizados nos relatórios dos serviços clínicos, assim como com os
Assentos das antigas visitadas.