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Universidade do Porto Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação EU E A MINHA CASA: QUALIDADE DO ACOLHIMENTO RESIDENCIAL, AJUSTAMENTO PSICOLÓGICO E SATISFAÇÃO COM A VIDA EM ADOLESCENTES ACOLHIDOS Sónia Pires de Lima Araújo Rodrigues Outubro 2015 Dissertação apresentada no Mestrado Integrado de Psicologia, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, orientada pelo Professora Doutora Maria Barbosa-Ducharne (FPCEUP).

Sónia Pires de Lima Araújo Rodrigues · permitiram até agora conhecer as reais necessidades das crianças e jovens acolhidos e o modo como os recursos e serviços disponibilizados

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Universidade do Porto

���Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

EU E A MINHA CASA:

QUALIDADE DO ACOLHIMENTO RESIDENCIAL, AJUSTAMENTO

PSICOLÓGICO E SATISFAÇÃO COM A VIDA EM ADOLESCENTES ACOLHIDOS

Sónia Pires de Lima Araújo Rodrigues

Outubro 2015

Dissertação apresentada no Mestrado Integrado de Psicologia, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, orientada pelo Professora Doutora Maria Barbosa-Ducharne (FPCEUP).

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Avisos Legais

O conteúdo desta dissertação reflete as perspetivas, o trabalho e as

interpretações do autor no momento da sua entrega. Esta dissertação pode conter

incorreções, tanto conceptuais como metodológicas, que podem ter sido

identificadas em momento posterior ao da sua entrega. Por conseguinte, qualquer

utilização dos seus conteúdos deve ser exercida com cautela.

Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma é resultante do seu

próprio trabalho, contém contributos originais e são reconhecidas todas as fontes

utilizadas, encontrando-se tais fontes devidamente citadas no corpo do texto e

identificadas na secção de referências. O autor declara, ainda, que não divulga na

presente dissertação quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por

direitos de autor ou de propriedade industrial.

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Esta dissertação apresenta-se em formato de artigo, com vista à sua submissão,

em Inglês, a uma revista científica – Children and Youth Services Review. A

opção por esta revista resulta do facto de esta ser uma revista indexada às

principais bases de dados ISI e SCOPUS, com uma política editorial aberta a

estes temas e com considerável fator de impacto, permitindo, deste modo, uma

divulgação junto da comunidade científica internacional.

Este estudo insere-se no meu projeto de Doutoramento em Psicologia

intitulado - “A qualidade do acolhimento residencial em Portugal: Avaliação da

adequação dos serviços às necessidades das crianças e jovens

institucionalizados”- conduzido na Faculdade de Psicologia e Ciências da

Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), sob a orientação da Professora

Doutora Maria Barbosa-Ducharne e coorientação do Professor Doutor Jorge F.

Del Valle (Universidade de Oviedo). Recebeu a aprovação da Comissão de Ética

da FPCEUP em 29 de Janeiro de 2013. No âmbito deste projeto de investigação

foram assinados pela FPCEUP Protocolos de Colaboração com as diferentes

entidades tutelares (Instituto de Segurança Social [ISS, IP], Instituto de Segurança

Social da Madeira [ISS-RAM], Casa Pia de Lisboa, Santa Casa da Misericórdia de

Lisboa) bem como com as principais entidades nacionais com responsabilidades

em matéria de Acolhimento Residencial (Confederação Nacional das Instituições

de Solidariedade Social [CNIS], União das Misericórdias Portuguesas [UMP] e

Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo [CNPCJP]).

A presente dissertação contribui para o enriquecimento deste projeto mais

alargado, na medida em que permite uma primeira análise dos dados recolhidos

no estudo piloto no que diz respeito à relação entre algumas das variáveis dos

adolescentes, dos contextos e as perceções da qualidade das casas de

acolhimento dos adolescentes e dos observadores. Por essa razão, o artigo

científico, que será em breve submetido para publicação contará com a

colaboração, enquanto coautores da publicação, da orientadora e coorientador do

projeto de Doutoramento, a Professora Maria Barbosa-Ducharne da Universidade

do Porto e o Professor Jorge F. Del Valle da Universidad de Oviedo, uma vez que

o estudo aqui descrito integra este projeto de investigação mais alargado.

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Agradecimentos

Porque este é um caminho que ainda está a ser trilhado, reservo para o final da próxima

etapa os agradecimentos mais formais (e, se bem me conheço, poéticos). Não posso,

contudo, deixar de agradecer a todos os que acreditaram e acreditam em mim e neste

projeto e me têm apoiado de uma forma incrível e imprescindível:

_ À minha orientadora, Maria Adelina Barbosa-Ducharne: nenhuma repetição será

suficiente para transmitir, em dose certa, a imensa consciência da sorte que tenho;

_ Ao meu coorientador de doutoramento, Jorge F. Del Valle: meu Mestre desafiador, pela

incrível disponibilidade e porque no seu trabalho se enraíza o meu.

_ À Dra. Helena Simões porque é outra das doces vozes deste coro e porque tem um

dom especial para ajudar a que a minha própria voz não enrouqueça;

_ À Joana I., à Sónia B., à Luísa, à Mariana, à Maria Helena, à Ana Catarina, à Alexandra,

à Marlene e à Sílvia - a equipa maravilha do EQAR-, companheiras de caminhada,

sempre lá, trabalhadoras incansáveis e conscientes investigadoras do AR, por TUDO:

sem vocês este estudo nunca teria existido;

_ À Joana C. que, espero, venha a integrar a equipa muito em breve mas que já tem

colaborado de uma forma inestimável;

_ Às minhas colegas de doutoramento e às amigas de sempre (Tânia, Sofia, Rita, Joana,

Ana Cristina, Lia, Sílvia, Carla, Maria João, Eva, Marta, Emma, Rute): nada teria sido

possível sem os jantares e conversas intermináveis, abraços, ajudas, apoio, traduções,

revisões e opiniões;

_Ao Rui e à Nini: porque da história deles nasceu este bebé;

_A quem, desde a primeira hora, acreditou em mim, eterna referência de excelência que

guia de longe os meus dias e continua sempre presente na minha alma e nos meus

sonhos;

_ À minha família: pela compreensão e carinho. Sem os vossos sorrisos e mimos jamais

teria chegado até aqui;

_ Às entidades tutelares e às restantes entidades parceiras: por terem acreditado e

continuarem a colaborar neste projeto;

_ Aos cuidadores, às direções das respostas de acolhimento e técnicos de articulação

nas entidades tutelares: o mais profundo obrigada por nos receberem na sua casa e

viabilizarem, com a sua colaboração e paciência, as nossas visitas em estilo de

“espionagem” sempre compreensiva;

_ Às crianças e jovens em acolhimento residencial: porque desde do início foram elas e

eles, os seus sorrisos e lágrimas e as suas histórias, que alimentaram em mim a chama

desta missão. Prometo continuar a tentar ser um instrumento da vossa voz.

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Resumo O acolhimento residencial (AR) é, em Portugal, a principal medida de

colocação extra familiar, representando mais de 90% das crianças e jovens em

acolhimento. Os escassos estudos sobre a qualidade do AR nacional não

permitiram até agora conhecer as reais necessidades das crianças e jovens

acolhidos e o modo como os recursos e serviços disponibilizados pelas casas de

AR lhes dão resposta, tornando imperativo que a sua investigação.

Cinco casas de AR foram visitadas no âmbito de um estudo exploratório que

integra uma investigação nacional visando avaliar a qualidade do sistema de AR

português e aferir o nível de ajustamento psicológico (AP) e satisfação com a vida

(SCV) vivenciados por estes adolescentes.

Participaram neste estudo sessenta adolescentes, entre os 12 e os 20 anos.

A avaliação da qualidade do AR foi realizada com recurso ao ARQUA-P. Os

adolescentes completaram a YSR, o SDQ e a ESCV.

Os resultados revelaram que as adolescentes em acolhimento avaliaram o

contexto de AR onde vivem mais positivamente que os investigadores. Foram

encontradas correlações significativas entre a avaliação da qualidade do AR

realizada pelos adolescentes e variáveis contextuais (eg dimensão da casa) e

características individuais (eg sexo). O AP destes adolescentes é inferior ao valor

normativo e a sua SCV, ainda que positiva, é inferior aos valores de referência.

Algumas dimensões do ARQUA-P avaliadas pelos adolescentes e também pelos

observadores, mostraram correlações significativas com as medidas de AP e com

a SCV. Implicações para futuras investigações e para a intervenção em AR são

discutidas.

Palavras-Chave: Acolhimento Residencial; Avaliação da qualidade,

ajustamento psicológico de jovens acolhidos, satisfação com a vida em

acolhimento residencial, crianças e jovens em acolhimento residencial

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Abstract Residential care (RC) in Portugal accounts for over 90% of out-of-home

placements of children. The lack of studies on the quality of RC in Portugal, and

the scarce information about how far the available services meet the real

characteristics and needs of young people in care, makes it imperative to carry out

research on RC quality.

Five RC centres for children and young people were visited within an

exploratory study of a nationwide assessment on the quality of the Portuguese RC

system. Sixty-one youngsters living in those settings, aged 12 to 20, participated in

this study. Data on RC quality was collected using the ARQUA-P. Youngsters also

filled the YSR, SDQ and the SWLS.

The results showed that youngsters in care evaluated the quality of the RC

centres more positively than the external evaluation made by the researchers.

Furthermore some significant correlations were found between the evaluation of

the youngsters in care, relating to specific dimensions of the context, and the

researchers’ assessment. Significant differences in the RC quality assessment

associated to individual adolescents’ variables, such as gender, and context

variables, such as centre size, were found. Regarding the psychological

adjustment of the youngsters, results showed that the youngsters in care

presented more signs of maladjustment and less life satisfaction than their

normative counterparts. Finally, significant correlations were found between the

dimensions of the RC quality assessment and the measures of youngsters’

psychological adjustment and satisfaction with life. Implications for further

research and for RC professional practice improvement are discussed.

Keywords: Residential care; quality assessment, psychological adjustment

of youngsters in residential care, satisfaction with life in residential care, children

and youngsters in residential care

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Abreviaturas AR - Acolhimento Residencial

ARQUA-P - Sistema de Avaliação Compreensiva do Acolhimento Residencial

Português

EQAR - Estudo da Qualidade do Acolhimento Residencial Português

EQUAR - Standards de Qualidade do Acolhimento Residencial (ver referência

bibliográfica)

ISS, IP - Instituto da Segurança Social, Instituto Público

SS - Segurança Social

ONU - Organização das Nações Unidas

LEI - Localização, Infraestrutura e Equipamentos

ERA - Encaminhamento e Receção

AN - Avaliação das Necessidades

AFR - Apoio à Família para a Reunificação

SP - Segurança e Proteção

RD - Respeito pelos Direitos

NBM - Necessidades Básicas e Materiais

EF - Estudos e Formação

SEV - Saúde e Estilos de Vida

NI - Normalização e Integração

DA - Desenvolvimento e Autonomia

P - Participação

CE - Consequências Educativas

QT - Qualidade Total

ESCV - Escala de Satisfação com a Vida

SCV - Satisfação com a Vida

BES - Bem-estar Subjetivo

ASEBA - Achenbach System of Empirically Based Assessment

CBCL - Child Behavior Checklist

TRF - Teacher’s Report Form (TRF)

YSR - Youth Self-Report

AD - Ansiedade e Depressão

ID - Isolamento Depressão

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QS - Queixas Somáticas

PS - Problemas Sociais

PP - Problemas de Pensamento

PA - Problemas de Atenção

CO - Comportamento de Oposição

CA - Comportamento Agressivo

INT - Internalização

EXT - Externalização

TP - Total de Problemas

SDQ - Strengths and Difficulties Questionnaire

TD – Total de Dificuldades

SE – Sintomas Emocionais

PC – Problemas de Comportamento

H – Hiperatividade

PRC – Problemas de Relacionamento com os Colegas

CPS – Comportamento Pró-Social

CPCJ – Comissão de Proteção Crianças e Jovens em Risco

EMAT – Equipa multidisciplinar de assessoria aos Tribunais,

CAFAP – Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental

CNIS- Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

UMP – União da Misericórdias Portuguesas

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Introdução

Segundo os últimos dados disponibilizados, são 8025 as crianças e

jovens em acolhimento residencial (AR) em Portugal (ISS IP, 2015),

representando mais de 90% das medidas executadas em regime de colocação

no nosso país. Se tivermos em conta os dados demográficos mais recentes

(FFMS, 2015), este número corresponde a 0,43% das crianças e jovens

portugueses (mais de 1/250).

O futuro das crianças e jovens em AR depende da atempada identificação

dos seus problemas e necessidades, de lhes ser facultado o acesso a meios

que lhes permitam recuperar das sequelas de experiências negativas prévias à

institucionalização em tempo útil (Aldgate & Stathan, 2001), e de lhes serem

dadas condições de vida condignas, o mais normalizadas possíveis (Del Valle

& Zurita, 2000), no respeito pela sua individualidade, adequadas às suas

características (Calheiros, Lopes & Patrício, 2011), e que promovam o seu

desenvolvimento e bem estar (Del Valle & Bravo, 2013).

Tal missão cabe ao sistema de AR, constituído pelas entidades tutelares e

pelas instituições que gerem respostas/casas de AR, sob supervisão do Estado

Português e dos seus Tribunais.

A Lei portuguesa contempla estes princípios, na senda da convenção da

ONU sobre os Direitos da Criança, ratificada por Portugal em 1990. De acordo

com a Lei nacional, já com as alterações introduzidas pela recente segunda

revisão da Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (Lei nº147/99

segundo a nova redação dada pela Lei 142/15 de 8 de Setembro), no seu

artigo 49º, o AR, é uma das medidas de acolhimento extra familiar e tem como

definição e finalidade:

“1- A medida de acolhimento residencial consiste na colocação da criança ou jovem aos cuidados de uma entidade que disponha de instalações, equipamento de acolhimento e recursos humanos permanentes, devidamente dimensionados e habilitados, que lhes garantam os cuidados adequados.

2 - O acolhimento residencial tem como finalidade contribuir para a criação de condições que garantam a adequada satisfação de necessidades físicas, psíquicas, emocionais e sociais das crianças e jovens e o efetivo exercício dos seus direitos, favorecendo a sua integração em contexto sociofamiliar seguro e promovendo a sua educação, bem-estar e desenvolvimento integral.”

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Uma vez que o constructo “qualidade”, neste domínio, se constitui como

um conceito dinâmico que resulta da adequação dos recursos e serviços

prestados pelas instituições de acolhimento, às necessidades e características

das crianças e jovens acolhidos, a atual legislação portuguesa parece

contemplar a obrigatoriedade das casas de AR demonstrarem níveis

adequados de qualidade.

As ideias de qualidade e de avaliação são indissociáveis (Knorth, Harder,

Zandberg & Kendrick, 2008), pelo que a presença ou ausência de qualidade

deve ser alvo de uma verificação adequada, validada, isenta e neutra.

O AR responde a diferentes constrangimentos em diferentes países,

variando no espaço e no tempo (Courtney & Iwaniec, 2009; Van IJzendoorn et

al., 2011), e dependendo de questões culturais, históricas, políticas, financeiras

e religiosas (Colton & Hellinckx, 1993; Sellick, 1998). Importa, pois, ir para além

da mera extrapolação do que internacionalmente é considerado um AR de

qualidade (Kendrick, Steckley & McPheat, 2009) e perceber qual a realidade

nacional. Esta carência é tanto mais premente quanto nunca antes foi avaliada

(Rodrigues, Barbosa-Ducharne & Del Valle, 2013).

Por outro lado, a escassez de investigação científica em AR, sendo um

fenómeno internacional (Bravo & Del Valle, 2009a), é ainda mais acentuada em

Portugal (Mota & Matos, 2008, Rodrigues et al., 2013), pelo que a eficácia e

adequação das práticas não é geralmente suportada empiricamente e as

decisões políticas e de gestão nem sempre têm por base evidências científicas

relativas ao nosso país (Rodrigues, Del Valle & Barbosa-Ducharne, 2014).

Urge perceber que necessidades concretas percepcionam as crianças e

jovens em acolhimento, que respostas e recursos são colocados à sua

disposição e se tal é feito em tempo útil (Rodrigues, et al., 2013).

Trata-se também de uma questão de maximização de recursos, já que

serviços de AR “desenhados” com base nas reais necessidades das crianças a

que se destinam têm maio probabilidade de serem eficazes (Axford, Little,

Weyts & Morphet, 2005).

A avaliação é tão mais importante quando as entidades que gerem

casas de AR necessitam de suporte e encorajamento para melhorar as suas

respostas, criar novos serviços específicos, flexíveis e diferenciados, para

corresponder às características, necessidades e desafios desenvolvimentais

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das crianças e jovens que aí vivem (McCoy, McMillen & Spitznagel, 2008), e

para selecionar modelos e desenvolver estratégias terapêuticas que permitam

a remediação das problemáticas comportamentais ou emocionais que as

crianças e jovens trazem consigo ou desenvolvem enquanto em AR (Eglund &

Lausten, 2009; Ford, Vostanis, Meltzer & Goodman, 2007; Pecora, Jensen,

Romanelli, Jackson & Ortiz, 2009; Sainero, Bravo & Del Valle, 2014).

Uma vez que a avaliação da qualidade pressupõe não apenas a

observação dos contextos e dos seus serviços e recursos mas também a sua

adequação às necessidades constatadas nas crianças e jovens que aí vivem, a

qualidade está, assim, associada ao ajustamento e desenvolvimento

psicológico, bem-estar e satisfação com a vida, experienciados pelas crianças

e jovens institucionalizados (Anglin, 2002, 2004; Baker, Kurland, Curtis,

Alexander & Papa-Lentini, 2007; Del Valle 2009a; Del Valle & Bravo, 2013;

DeSena et al., 2005; Huntsman, 2008; Knorth, et al., 2008; Sainero, et al.,

2014; Schiff, Nebe & Gilman, 2006; Sinclair, 2008; Southwell & Fraser, 2010;

Van IJzendoorn et al., 2011; Visa, 2009).

Apesar da noção de qualidade em AR assumir diferentes perspectivas

conforme as fontes auscultadas e os métodos selecionados, a nível

internacional tem vindo a ser definidos standards de qualidade no acolhimento

residencial (Del Valle, Bravo, Hernández & Santos, 2012) os quais incorporam

as mais atuais perspetivas sobre esta matéria. Sublinhe-se que os standards

elencam condições ideais ou extremamente positivas de funcionamento que se

constituem apenas como referentes absolutos a atingir. Por essa razão, a

forma como estão enunciados não corresponde a uma gradação nem a um

questionamento que permita uma avaliação relativa. Os standards são meros

referentes e uma avaliação da qualidade do AR, dada a sua complexidade,

nunca se poderá esgotar numa correspondência simplista e reducionista a

quaisquer critérios pré-estabelecidos.

Por outro lado, os Manuais da Qualidade para CAT (ISS. IP, 2007a) e LIJ

(ISS. IP, 2007b), o Manual de Boas Práticas para o Acolhimento Residencial

(ISS. IP, 2005) e as Recomendações Técnicas para Equipamentos Sociais

CAT (ISS. IP, 2010a) e LIJ (ISS. IP, 2010b), ainda que elenquem critérios e

processos que visam constituir-se como um referencial normativo para as

instituições de acolhimento portuguesas, não são verdadeiros standards de

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qualidade. Refira-se que por vezes contrariam, até, os standards internacionais,

por exemplo ao exigirem normas de segurança e procedimentos que afastam,

obrigatoriamente, as rotinas da casa da normalização advogada pelos

standards de qualidade. Por outro lado, não se baseiam em dados da

investigação obtidos em contexto nacional.

Uma perspectiva ecológica (Bronfenbrenner, 2001; Del Valle & Zurita,

2000), que englobe os diferentes contextos de vida da criança/jovem, incluindo

a relação com a sua família (Martín, 2012; Stevens, 2006), pode permitir uma

abordagem mais abrangente e completa da realidade do AR (Colton &

Hellinckx, 1993; Del Valle, 1992; Del Valle & Bravo, 2007; Palareti & Berti,

2009).

Conhecer a qualidade de uma casa de acolhimento envolve, pois,

conhecer as práticas, rotinas, modelos e estratégias terapêuticas presentes e

sua adequação real às necessidades identificadas nas crianças e jovens em

acolhimento (Rodrigues et al., 2013).

Assim sendo a avaliação da qualidade do AR implica a auscultação de

todos os envolvidos (Van Nijnatten, 2013). Mas esta audição não se deve

restringir aos adultos com responsabilidades ou cuidadores. As crianças e

jovens também têm direito a ter voz ativa na avaliação dos contextos de AR

onde vivem (Calheiros, Lopes & Patrício, 2011; Dahlberg, Moss, & Pence,

1999; Delap, 2011; Martín & González, 2007; Montserrat, 2014; Palareti & Berti,

2009; Rodrigues et al., 2014; Taylor, 2005).

A maioria da investigação realizada que procurou ouvir as crianças e

jovens acerca do contexto de AR em que vivem é de natureza qualitativa. Os

resultados destes estudos revelam que as crianças e jovens se sentem

globalmente satisfeitos com o AR e avaliam positivamente a experiência de

acolhimento (Del Valle & Casas, 2002; Delfabbro, Barber & Bentham, 2002;

McKenzie, 1999).

Os aspetos do AR mais sublinhados como positivos pelas próprias

crianças ou jovens são: a relação com os cuidadores, sendo muito valorizado o

seu apoio, capacidade de aceitação e abertura para estabelecer relações de

vinculação (Anglin, 2004; Carvalho & Manita, 2010; Delfabbro et al., 2002;

Holden, Anglin, Nunno & Izzo, 2014; Rauktis, Fusco, Cahalane, Bennett,

Reinhart, 2011; Shealy, 1996; Stevens, 2006, 2008); o sentimento de

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segurança e proteção (Altshuler e Poertner, 2002; Carvalho & Manita, 2010;

Delfabbro et al., 2002); o assegurar do seu bem-estar (Anglin, 2004; Sinclair,

2008; Southwell & Fraser, 2010); um ambiente estimulante (Clough, Bullock &

Ward, 2006); o envolvimento das famílias (Holden et al., 2014); o acolhimento

com os irmãos (Smith, 1998); a estabilidade no acolhimento (Sinclair, 2008) e a

congruência (Anglin, 2002). As crianças quando acolhidas por maltratos

valorizam e beneficiam de consistência, segurança e estimulação (Shaffer,

Egeland & Wang, 2010). Na generalidade, as crianças e jovens auscultados

nestes estudos consideram que as casas de acolhimento respeitam o seu

direito à privacidade e à participação (Stevens, 2006, 2008), oque contribui

para o grau de satisfação e bem-estar experienciados (Anglin, 2004; Stevens,

2006). Em geral, a percepção do AR pelas crianças e jovens tem um cariz mais

negativo no momento da admissão e evolui positivamente (Bravo & Del Valle,

2001; Carvalho & Manita, 2010; Rosen, 1999; Rutter 2000), voltando a diminuir

se o acolhimento se prolonga para além do desejável (Martín, 2012).

Os aspectos que parecem afetar negativamente o sentimento de

satisfação com o AR são: o (des)respeito pela individualidade e a (falta de)

integração comunitária (Martín, 2012; Prada, William & Weber, 2007); a

dimensão da instituição, confirmando-se a preferência por grupos pequenos em

relação aos de grandes dimensões (Bravo & Del Valle, 2009a, 2009b; Carvalho

& Manita, 2010; Del Valle, 1997, 2009b; Delap, 2011); as práticas educativas,

regras e a forma como é realizada a gestão de consequências (Carvalho &

Manita, 2010; Delfabbro et al., 2002; Prada et al., 2007; Rauktis et al., 2011), a

falta de empenho no estabelecimento de uma relação positiva com as famílias

e insuficiente trabalho no sentido da reunificação familiar (Altshuler & Poertner,

2002; Bravo, 2009; Carvalho & Manita, 2010; Del Valle, 2009c; Prada et al.,

2007; Southwell & Fraser, 2010; Stevens, 2008; Zem-Mascarenhas & Dupas,

2001). São frequentemente encontradas diferenças de género, com

adolescentes do sexo feminino a avaliar menos positivamente o seu contexto

de AR (O’Neill, 2008) e a revelar distintas necessidades, nem sempre

convenientemente tidas em conta (Baker, Archer & Curtis, 2007). Em alguns

estudos sobressai alguma ambiguidade relativamente ao sentimento gerado

nos adolescentes pelo seu acolhimento em AR e à satisfação com o mesmo

(Stevens, 2008; Zem-Mascarenhas & Dupas, 2001).

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Conhecer as necessidades dos adolescentes em AR passa por avaliar o

seu ajustamento psicológico, especialmente quando o índice de prevalência de

problemas de saúde mental é reconhecidamente superior nas crianças e

jovens em acolhimento (Baker Kurland, Curtis, Alexander & Papa-Lentini, 2007;

Casey et al., 2008); Egelund & Lausten, 2009; Gearing, MacKenzie, Schwalbe,

Brewer & Ibrahim, 2013; Gearing, Schwalbe, MacKenzie, Brewer & Ibrahim,

2015; Goodman, Ford, Corbin & Meltzer, 2004; Kjelsberg & Nygren, 2004;

Pracana & Santos, 2010; Simsek, Erol, Oztop & Ozcan 2008; Wolkind &

Rushton, 1994;), podendo chegar a taxas que variam entre 34% e 86%

(Janssens & Deboutte, 2009; Schmid, Goldbeck, Nuetzel & Fegert, 2008).

Adolescentes do sexo feminino tendem a manifestar níveis mais elevados

psicopatologia e de problemas comportamentais (Baker, Archer & Curtis, 2007;

Jones, Landsverk & Roberts, 2007).

Um número significativo de casos clínicos não é atempadamente

diagnosticado, pelo que a necessidade de um apoio específico é

frequentemente negligenciada (Ford et al., 2007; Goodman et al., 2004;

Janssens & Deboutte, 2009; McCann, James, Wilson & Dunn, 1996), no

entanto algumas crianças e jovens parecem melhorar a nível desenvolvimental

e de saúde mental com algum tempo em AR (Gilman & Barry, 2003; Knorth et

al., 2008, Southwell & Fraser, 2010; Little, Kohm, & Thompson, 2005).

Merz & McCall (2010) encontraram diferenças nas percentagens de níveis

clínicos de externalização entre crianças acolhidas em casas de acolhimento

consideradas qualitativamente diferentes na natureza dos cuidados prestados.

As crianças acolhidas em contextos de AR de melhor qualidade (afetivamente

mais ricos) apresentavam menos sintomas. Van IJzendoorn e colaboradores

(2011) sublinham, por isso, a importância de estudar a interação entre a

criança e o seu contexto de acolhimento atendendo, simultaneamente, às

características temperamentais de cada criança e às várias facetas do

ambiente institucional.

A presença de problemas psicológicos em adolescentes em AR tem vindo

a ser avaliada com recurso a diversos instrumentos, sobressaindo, pela sua

relevância as várias versões do ASEBA: Achenbach System of Empirically

Based Assessment (Achenbach T. M., 1991; Dias, Ramalho, Lima, Machado &

Gonçalves, 2013) e do SDQ: Strengths and Difficulties Questionnaire

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(Goodman, 1997; Goodman, Meltzer & Bailey, 2003). Na tentativa de

compreender o grau de ajustamento psicológico dos adolescentes em AR,

muitos estudos privilegiam as medidas de heterorrelato como a CBCL (Child

Behavior Checklist) ou TRF (Teacher Report Form) ou o SDQ versão para pais

ou cuidadores (Baker, Archer & Curtis, 2007; Fernández-Molina, Del Valle,

Fuentes, Bernedo & Bravo, 2011; Hukkanen, Sourander, Bergroth & Piha,

1999; Kjelsberg & Nygren, 2004; Rahman, Daud, Jaafar, Shah, Tan & Ismail,

2013; Sainero, Del Valle & Bravo, 2015) ou comparam as perspectivas de

diferentes informantes (Egelund & Lausten, 2009; Erol, Simsek & Munir, 2010;

Fernández-Daza & Fernández-Parra, 2012; Gearing et al., 2015; Goodman, et

al. 2004; Janssens & Deboutte, 2009).

As medidas de autorrelato como o YSR (Youth Self-Report) e o SDQ

versão para adolescentes (Self report Strengths and Difficulties Questionnaire)

assumem quase sempre um papel complementar aos relatos de pais ou

cuidadores e de professores. Na esmagadora maioria dos estudos opta-se

apenas por uma destas medidas de autorrelato, uma vez que Goodman e Scott

(1999) defendem que, tendo aproximadamente o mesmo objeto de estudo,

uma pode substituir a outra na triagem de problemas psicológicos. Não são

conhecidos estudos, tendo como participantes especificamente adolescentes

em AR, nos quais tivessem sido usados simultaneamente os dois questionários

de autorrelato e comparados os seus resultados. Contudo, Janssens e

Deboutte (2009), na Bélgica, num estudo com crianças consideradas em risco

e sujeitas a diferentes medidas de proteção, compararam as diferentes versões

do SDQ com as do ASEBA, mas o reduzido número de participantes (19 para o

SDQ e 15 para o YSR), não permitiu tirar conclusões quanto à utilidade da

utilização em paralelo dos dois instrumentos.

O recurso simultâneo a estas duas medidas de auto relato junto de jovens

em AR pode, assim, contribuir para uma melhor compreensão da relação entre

as diferentes dimensões do SDQ e YSR, do modo como estes dois

questionários se complementam na triagem dos problemas psicológicos e na

forma como se relacionam com as características individuais dos adolescentes

em acolhimento.

Representando uma perspectiva mais positiva do funcionamento

psicológico (Barros, 2010), os níveis de Bem estar subjetivo (BES), na sua

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componente cognitiva - a Satisfação com a Vida (SCV), avaliada pela ESCV:

Escala de Satisfação com a Vida (Diener, Emmons, Larsem & Griffin, 1985;

Neto, 1993; Neto, Barros & Barros, 1990; Pavot & Diener, 1993), constitui, por

si só, um indicador de ajustamento psicossocial, funcionamento positivo,

qualidade de vida e saúde mental (Marques, Pais Ribeiro, & Lopez, 2011;

Suldo & Huebner, 2004a,2004b, 2006).

Diversos estudos avaliam o bem estar e o SCV neste tipo de população

(Altshuler & Poertner, 2002; Dinisman, Monserrat & Casas, 2012; Jozefiak &

Kayed, 2015; Poletto & Koller, 2011; Sastre & Ferrière, 2000), associando-o

com algumas variáveis individuais como o sexo ou a idade (Bradshaw, Keung,

Rees & Goswami, 2011; Cummins, Eckersley, Pallant, van Vugt & Misajon,

2003; Goldebeck, Schmitz, Besier, Herschbach & Henrich 2007), e procuram

relacionar os níveis de SCV dos adolescentes em acolhimento com domínios

específicos do AR em que estes vivem (Schiff, et al., 2006) ou com o tempo de

acolhimento (Brown & Orthner, 1990; Gilman & Barry; Gilman & Handwerk,

2001). Numa análise preliminar desta investigação, Rodrigues, Iglésias,

Barbosa-Ducharne e Del Valle (2014) relacionam a SCV com algumas

dimensões da qualidade do acolhimento institucional e com a sua avaliação

global.

Observar a relação entre variáveis individuais dos adolescentes em AR e

a qualidade dos contextos de acolhimento onde vivem é o objecto desta

investigação. Procurou-se analisar dados demográficos, características

pessoais, variáveis do contexto de AR, medidas de ajustamento psicológico e

nível de satisfação com a vida, de adolescentes em AR, bem como o modo

como estas variáveis se correlacionam com a avaliação da qualidade das

casas de acolhimento percepcionada pelos próprios e avaliada por

observadores externos.

A utilização da YSR e do SDQ, diretamente junto de adolescentes em AR,

para recolha de informação relativa à sua saúde mental, bem estar emocional e

dificuldades de relacionamento social proporciona a identificação do nível de

ajustamento psicológico dos adolescentes e a verificação de como este se

relaciona com a qualidade do contexto de acolhimento.

Complementarmente, atendendo ao facto da maioria dos estudos sobre

AR em Portugal se centrar nos aspectos negativos desta medida de proteção e

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  9  

não querendo prescindir de uma perspectiva mais positiva do funcionamento

psicológico destes jovens, impõe-se analisar o nível de SCV enquanto

indicador da valorização do contexto de acolhimento, ou seja, da qualidade do

AR auto-percecionada pelos adolescentes.

Pretende-se, ainda, explorar as relações entre as medidas descritas e

algumas variáveis demográficas como sexo, idade, idade no momento do

acolhimento, presença de irmãos na mesma casa de acolhimento, motivos do

acolhimento, apoios obtidos em acolhimento, tempo de acolhimento; e

variáveis relativas ao contexto de AR como número de crianças acolhidas e

rácio crianças/cuidadores.

Integrado num projeto de investigação mais abrangente que visa

caracterizar o sistema de acolhimento residencial português e aferir a sua

qualidade em função de parâmetros aceites universalmente, sem nunca perder

de vista as questões contextuais e dando voz aos seus diferentes atores –

especialmente aos principais: as crianças e jovens-, este estudo pretende dar

um passo significativo no sentido de compreender a relação entre a qualidade

do AR e o ajustamento psicológico e satisfação com a vida sentidos pelas

crianças e jovens em acolhimento.

Com a realização deste estudo espera-se responder às seguintes questões

de investigação:

a. Quais são as diferenças e relações entre a perspectiva dos

adolescentes em AR sobre a qualidade dos contextos onde vivem e

a avaliação da qualidade realizada pelos observadores externos,

por recurso às dimensões da qualidade do sistema ARQUA-P?;

b. Que variáveis demográficas do adolescente e do contexto de AR

apresentam correlações significativas com a avaliação da

qualidade?;

c. Que diferenças na avaliação da qualidade podem estar associadas

a variáveis relativas aos adolescentes e/ou ao contexto?;

d. Como se caracterizam os participantes nas escalas da YSR, do

SDQ e na ESCV?;

e. Como se correlacionam os resultados obtidos nas diferentes

medidas de ajustamento e SCV (YSR, SDQ e ESCV)?;

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f. Quais as variáveis individuais e do contexto de AR que se

relacionam com as medidas de ajustamento e SCV?;

g. Que diferenças associadas ao sexo se verificam nas medidas de

ajustamento e SCV?;

h. Que relações se verificam intra e entre as medidas de ajustamento

e SCV?;

i. Que relações existem entre as medidas de ajustamento psicológico

e de SCV com a avaliação da qualidade do contexto de AR avaliado

pelos adolescentes em acolhimento e pelos observadores?

Estudo Empírico 1. Metodologia

Os dados foram recolhidos durante um estudo exploratório integrado

numa investigação, de carácter nacional, transversal, centrado na avaliação da

qualidade do sistema de acolhimento português. Este é um estudo descritivo e

correlacional, na medida em que se baseia principalmente na estatística

descritiva e correlacional, averiguando a existência de relações entre variáveis

e diferenças entre grupos de participantes. Trata-se de uma análise

Exploratória que visava validar a metodologia de investigação e estabelecer as

hipóteses.

1.1. Participantes Participaram neste estudo 61 adolescentes, acolhidos em 5 casas, de 5

distritos diferentes das regiões Norte e Centro de Portugal, caracterizados na

tabela 1.

- Inserir tabela 1 –

1.2. Materiais O Sistema de Avaliação Compreensiva da Qualidade do Acolhimento

Residencial Português (ARQUAP-P) foi usado para avaliar a qualidade do AR;

a YSR e o SDQ para aferir o ajustamento psicológico dos adolescentes e a

ESCV/ SWLS a sua satisfação com a vida.

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1.2.1. ARQUA-P: Sistema de Avaliação Compreensiva da Qualidade do Acolhimento Residencial Português (Registo nº2650/2015)

O ARQUA-P (Rodrigues, Barbosa-Ducharne & Del Valle, 2014) é um

sistema ecológico de avaliação da qualidade dos contextos de acolhimento

residencial de adolescentes que inclui métodos mistos, diferentes estratégias,

vários instrumentos e procura ouvir diversas fontes, com o objetivo de avaliar

as necessidades e ajustamento psicológico das crianças/jovens acolhidos, os

serviços e recursos disponibilizados pelas instituições e o grau de

correspondência entre estas variáveis.

Sendo uma versão traduzida e adaptada do ARQUA espanhol, uma

metodologia desenvolvida por Del Valle (1997) e utilizada pela equipa do GIFI

há várias décadas na avaliação de casas de acolhimento em várias regiões

autónomas de Espanha, incorpora, contudo, parâmetros complementares

relacionados com a realidade específica do AR em Portugal, incluindo critérios

de qualidade descritos nos Manuais de Qualidade para CAT e LIJ (ISS. IP,

2007a; 2007b).

No processo de adaptação do ARQUA-P foram, também, revistos os

instrumentos de avaliação da qualidade, item por item, procedendo à sua

atualização de acordo com os mais recentes standards de qualidade (Del Valle

et al., 2012), de forma a garantir uma completa adequação aos critérios

internacionais mais atuais de qualidade em AR. Esta reformulação permite uma

correspondência direta e unívoca entre cada item e um sub-standard e entre

cada grupo de itens e o correspondente standard de qualidade, estando esta

correspondência devidamente codificada. Assume-se, assim, os standards

como um referente de qualidade mas é acrescentada uma visão gradativa que

permite aos participantes avaliarem a casa onde trabalham ou vivem (e aos

observadores o contexto de AR em análise), numa escala de Lyckert, em que a

pontuação máxima correspondendo ao enunciado do standard/substandard.

Foram, ainda, criadas entrevistas originais, que não existiam no ARQUA

Espanhol.

Este novo sistema foi renomeado ARQUA-P por se distinguir

nitidamente da versão original espanhola.

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O ARQUA-P é constituído por um questionário demográfico e de

levantamento de informação, uma grelha de observação, análise documental,

observação naturalista, 5 entrevistas estruturadas, uma entrevista

semiestruturada e a passagem de vários questionários de auto e hetero relato

para avaliação do ajustamento psicológico das crianças e jovens em

acolhimento. O resultado final da avaliação de cada casa de AR (20 dimensões

da qualidade e um valor total) é obtido por acordo interobservador depois de

compilados todos os elementos recolhidos durante a visita de avaliação e é

registado no ‘Semáforo’.

Neste estudo em particular, usamos apenas os seguintes instrumentos

do ARQUA-P: questionário demográfico PIP (Pedido de Informação Prévia);

Entrevista para Crianças e Adolescentes com 12 anos ou mais e o “Semáforo”,

ou seja, os valores da avaliação final da qualidade obtidos por acordo

interobservador.

No PIP (Pedido de Informação Prévia) foram compiladas informações

acerca de cada casa de acolhimento e dados demográficos dos adolescentes

aí acolhidos.

A entrevista para adolescentes estrutura-se em 12 dimensões de

qualidade (obtida pela média dos itens dessa dimensão) que permitem traduzir

a sua percepção sobre a qualidade do seu contexto de AR por dimensão e

calcular um valor total da qualidade por criança/adolescente (média das

dimensões), correspondendo à sua percepção global da qualidade da casa

onde vive.

Para esta amostra, foram avaliadas as qualidades psicométricas da

Entrevista ARQUA-P para adolescentes com 12 ou mais anos apresentando

esta valores elevados de consistência interna (α=.93); Os alphas de Cronbach

das dimensões desta entrevista podem ser consultados na tabela 2.

- Inserir tabela 2 -

Neste estudo serão apenas analisados os resultados das dimensões

que apresentam alphas de Cronbach superiores a .60.

Os observadores avaliam, por acordo interobservador, recorrendo ao

“Semáforo” para registar o resultado de acordo em cada uma destas mesmas

12 dimensões e em mais 8 dimensões adicionais, num total de 20. As restantes

dimensões são: ‘Recursos Humanos’ (R); ‘Plano Sócio Educativo

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Individualizado’ (PSEI); ‘Saída e Transição para a Vida Adulta’ (STVA); ‘Gestão

do Plano d Actividades’ (GPA); ‘Liderança e Clima Social’ (LCS); ‘Organização

Laboral’; e ‘Coordenação entre Profissionais’ (CP). O ‘Total da Qualidade’ (TQ)

avaliada pelos observadores corresponde à média das 20 dimensões,

apresentando a escala total uma consistência interna de .79.

Uma descrição detalhada da totalidade das dimensões da qualidade

consideradas no ARQUA-P pode ser consultada em anexo (anexo 1).

1.2.2. Youth Self Report (YSR) O YSR (versão de Achenbach & Rescorla, 2001), na tradução

autorizada de Dias, Ramalho, Lima, Machado e Gonçalves, (2013), versão dos

11 aos 18 anos.

Este questionário tem, pois, por objectivo descrever e avaliar as

competências sociais e os problemas de comportamento da criança/

adolescente, tal como são auto percecionados. É composto por duas partes,

sendo que neste estudo optamos pela versão reduzida correspondente aos 113

itens que descrevem características ou problemas que o adolescente pode ter

tido ou sentido nos últimos seis meses. Cada item é respondido numa escala

de 0 a 2 (0 se o comportamento “Nunca” ocorreu, 1 se o comportamento

ocorreu "Algumas vezes" e 2 se aquele comportamento for "Muito frequente").

O YSR divide-se em seis dimensões: isolamento/depressão,

queixas somáticas, ansiedade/depressão, problemas sociais, problemas de

pensamento, problemas de atenção, comportamento de oposição (delinquente),

comportamento agressivo. O agrupamento das duas primeiras dimensões

formam a escala de internalização e o agrupamento das 2 últimas dimensões

formam a escala de externalização. A soma total dos itens, exceptuando os

itens correspondentes a comportamentos socialmente desejáveis, traduz o

índice total de patologia/desadaptação psicológica (Achenbach & Rescorla,

2001).

A análise das capacidades psicométricas da YSR revela, na globalidade

índices de consistência interna, nas diferentes amostras (normativa e clínica)

usadas na aferição portuguesa, que são considerados adequados. Na amostra

deste estudo quando analisamos as propriedades psicométricas deste

instrumento constatamos valores excelentes de consistência interna, com o

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total da YSR a apresentar um valor de alpha de .97, tal como pode ser

confirmado na tabela 3.

- Inserir tabela 3 -

1.2.3. Strengths and Difficulties Questionnaire – Self Report (SDQ) A versão reduzida do SDQ (Goodman, 1997; Goodman et al. 2003) é

uma escala de auto relato com 25 itens disponível em http://ww w.sdqinfo.com.

É considerado um questionário breve de fácil aplicação que pode ser útil na

triagem de problemas de ajustamento psicológico.

O questionário contem itens positivos e negativos que são avaliados

numa escala de Lickert correspondendo a três categorias de resposta (“não é

verdade”, “é um pouco verdade”, “é muito verdade”).

A pontuação ‘Total de Dificuldades’ é obtida pela soma da pontuação de

todas as escalas, com exceção da escala Pró-Social. Deste modo, o total pode

variar entre 0 e 40 desde que as 4 primeiras subescalas estejam preenchidas.

Os pontos de corte foram estabelecidos por Goodman (1997) no Reino Unido,

de modo a abarcar aproximadamente 80% da população normativa/pontuação

normal; 10% corresponderia a casos limítrofes e 10% são considerados

clínicos (ver tabela 7). Uma pontuação alta ou limítrofe em qualquer das

escalas ou no total corresponde, pois, à presença de dificuldades (Fleitlich,

Loureiro, Fonseca & Gaspar, 2005).

As suas propriedades psicométricas e estrutura fatorial foram

satisfatoriamente replicadas em vários países (Becker Woerner, Hasselhorn,

Banaschewski & Rotherberger, 2004; Ford et al., 2007; Goodman et al., 2004;

Guglani, Rushton & Ford, 2008), atestando a validade e sensibilidade do SDQ.

Contudo, não existem normas para a versão portuguesa do questionário de

auto relato do SDQ, pelo que se usam as normas originais inglesas. Na

presente amostra o SDQ apresenta um alpha de Cronbach de .64 e valores de

consistência interna aceitáveis em todas as escalas à exceção da escala de

Problemas de Relacionamento com os Colegas (α=.57), pelo que

prescindiremos da análise dos resultados desta escala neste estudo. Nas

restantes escalas os valores de consistência externa variaram entre .60 e .70.

1.2.4. Escala de Satisfação com a Vida (ESCV)

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A ESCV (Diener, Emmons, Larsem & Griffin, 1985), tradução de Neto,

Barros e Barros (1990), versão revista por Pavot e Diener (1993) adaptada e

validada por Neto (1993), avalia a componente cognitiva do BES (Diener et al.,

1985), ou seja, a satisfação global com a própria vida. A ESCV é uma escala

unidimensional, constituída por 5 itens. O participante deve indicar o seu grau

de acordo com cada um dos itens numa escala Likert de 7 pontos, em que 1

significa “totalmente em desacordo” e 7 significa “totalmente de acordo”. Os

scores totais variam entre 5 e 35, em que pontuações mais elevadas indicam

maiores níveis de SCV.

ESCV demonstrou, numa amostra de adolescentes portugueses

(Neto,1993), valores satisfatórios de consistência interna (α=.78), e uma

homogeneidade dos itens aceitável (.41). Neste estudo os valores de

consistência interna obtidos foram ainda superiores (α=.84).

1.3. Procedimentos Uma equipa de pelo menos 4 avaliadores/observadores, devidamente

formados na aplicação dos instrumentos de avaliação e na metodologia do

ARQUA-P, deslocaram-se a cada casa de acolhimento. As visitas decorreram

entre Março e Junho de 2013. A participação na investigação foi estritamente

voluntária para todos os participantes (incluindo as casas de acolhimento). As

visitas foram previamente preparadas: a tutela deu a sua permissão para a

realização da investigação; informação sobre o estudo foi disponibilizada a

cada casa; uma declaração de consentimento informado foi assinada pelos

responsáveis de cada instituição; o Pedido de Informação Prévia (PIP) foi

remetido por email (fornecendo dados demográficos dos participantes e

elementos relativos à instituição essenciais para a planificação da visita); e

definidos códigos para cada participante, recorrendo a chaves de codificação,

permitindo a manutenção do anonimato e assegurando a confidencialidade das

fontes de informação. As visitas tiveram sempre uma duração superior a um dia

para permitir apreender as rotinas diárias normais de cada casa.

A avaliação incluiu uma visita guiada a cada casa de acolhimento que

permitiu a documentação fotográfica e o preenchimento da grelha de

observação. Foram também solicitadas cópias de documentos e consultados

alguns processos individuais das crianças e jovens selecionados

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aleatoriamente. Realizaram-se, entrevistas aos Diretores Técnicos. As

entrevistas aos Técnicos de Articulação na Entidade Tutelar foram realizadas

nas instalações da entidade tutelar. Foram ainda realizadas entrevistas a todos

os Técnicos e Cuidadores /Educadores e às Crianças e adolescentes.

Apesar da declaração de consentimento informado previamente assinada

pelo DT e pela direção de cada casa foi assegurada de forma clara e explícita a

confidencialidade e o anonimato das fontes de informação e sublinhado o

carácter voluntário da participação no estudo a todos os participantes, antes de

iniciar a respectiva entrevista. Os entrevistadores certificaram-se de que as

entrevistas decorreram em locais onde foi assegurada a confidencialidade das

informações transmitidas.

A linguagem utilizada durante a entrevista, se bem que rigorosa, foi

adaptada ao nível desenvolvimental do entrevistado. A entrevista foi

interrompida, de forma subtil e adequada, sempre que, manifestamente, o

entrevistado não conseguia perceber o que lhe estava a ser perguntado ou não

tinha conhecimentos que lhe permitissem responder às questões colocadas.

A aplicação da YSR, SDQ e ESCV foi realizada em grupo na presença de

pelo menos dois observadores e de um Técnico da Casa.

Todas as etapas da preparação da visita e do seu decorrer estão descritas

numa checklist, elaborada para ajudar a controlar integralmente o processo e

assegurar o cumprimento do protocolo, sendo preenchida uma checklist por

cada visita de avaliação.

No final de cada visita, o grupo de investigadores reuniu e, através de um

processo de negociação, tendo por base o “Semáforo”, por acordo inter

observador, atribuiu uma pontuação à casa de acolhimento visitada, na mesma

escala de Likert de 1 a 5, a cada uma das subdimensões/itens do ARQUA-P.

realizadas. A avaliação obtida por acordo inter observador traduz a avaliação

final pelo sistema ARQUA-P da qualidade da casa de acolhimento visitada.

Esta avaliação não é uma média das avaliações realizadas pelas diferentes

fontes de informação. As avaliações das crianças/jovens, cuidadores, DT e

Técnico de articulação não afectaram diretamente esta avaliação que se

pretendeu externa, isenta, distanciada, tendo por referência os standards

internacionais e cientificamente baseada.

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  17  

Os dados foram analisados recorrendo ao software estatístico IBM SPSS

(versão 21)

Uma análise exploratória de dados foi realizada para verificação dos

pressupostos de métodos estatísticos paramétricos usando os procedimentos

de Shapiro-Wilk e de Levene, revelando que algumas variáveis não respeitam

uma distribuição normal. Mesmo que na maioria dos casos se verifiquem

valores de assimetria inferiores a 3 e de curtose inferiores a 7, assegurando

que os testes t-student e correlações de Pearson ou ponto bisserial seriam

robustos o suficiente em relação à violação da normalidade (Kline, 2005),

utilizou-se a estratégia de realização tanto de testes paramétricos como dos

não paramétricos equivalentes (teste Mann-Whitney e correlações de

Spearman). São apresentados os resultados dos testes paramétricos, apenas

quando as conclusões de ambos os conjuntos de testes são convergentes,

como recomendado na literatura (Marôco, 2011; Martins, 2011). Após a análise

da fiabilidade das diferentes escalas/ dimensões através da medida da sua

consistência interna, apresentam-se apenas os resultados daquelas que

revelaram valores aceitáveis de alphas de Cronbach (α >.60). Para análise das

correlações seguiram-se as recomendações de Cohen (1988)

2. Resultados

2.1. Avaliação da qualidade do AR pelos observadores e pelos adolescentes

Tanto os Adolescentes como os Observadores avaliaram positivamente (M

> 2,5) todas as dimensões do ARQUA-P, incluindo o ‘Total de Qualidade’. No

entanto, as avaliações do contexto de AR dos adolescentes foram, na

generalidade das dimensões, em média, significativamente mais positivas, mas

também mais extremadas, que as avaliações dos observadores externos (ver

tabela 1). Apenas a dimensão ‘Normalização e Integração’ foi pior avaliada

pelos adolescentes (M = 3.70; DP = .84) do que pelos investigadores (M =

3.84; DP = .65), mas esta diferença não é significativa t (58) = -1.03, p = .309,

IC a 95% [-0.40; 0.13]. As diferenças entre a avaliações realizadas pelos

observadores e pelos adolescentes são altamente significativas para todas as

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restantes dimensões comuns do ARQUA-P, incluindo para a ‘Qualidade Total’

(ver tabela 4).

- Inserir tabela 4 -

Apesar das diferenças encontradas entre as medidas do ARQUA-P dos

adolescentes e dos observadores verifica-se uma correlação estatisticamente

significativa, e positiva, entre as avaliações do QT dos adolescentes e dos

observadores (r =. 55, p = .001) e nas dimensões SP (r = .50, p = .001), RD (r

= .41, p = .001), P (r = .45, p = .001) e CE (r = .52, p = .001). A avaliação dos

adolescentes está, ainda, positiva moderada e a fraca correlacionada com a

correspondente avaliação dos observadores nas dimensões AFR (r = .36, p

= .027) e SEV (r = .29, p = .027) e correlação fraca negativa na dimensão LIE

(r = -.27, p = .042).

2.2. Relações entre variáveis dos adolescentes e do contexto de AR com a avaliação da qualidade.

Foram encontradas diferenças altamente significativas, t (57) = 5.35, p

< .001, IC a 95% [0.51; 1.11], d = 1.47, entre os adolescentes do sexo

masculino (M = 4.25; DP = .55) e feminino (M = 3.44; DP = .55), na forma como

avaliam a QT, com as adolescentes do sexo feminino a avaliarem menos

positivamente a qualidade do seu AR, e o mesmo acontece em todas as

dimensões do ARQUA-P à exceção de EF.

Quando se analisou as relações entre as variáveis demográficas das

crianças ou do contexto com as avaliações da qualidade encontraram-se

algumas correlações significativas. A idade dos adolescentes não apresenta

correlações significativas com a avaliação da qualidade do contexto de

acolhimento (QT e dimensões) seja quando avaliada pelo próprio, seja quando

avaliada pelos observadores. A idade com que o adolescente foi acolhido

(idade no momento do acolhimento) correlaciona-se fraca negativamente, de

forma significativa, com a avaliação da QT do contexto de AR realizada pelos

próprios (r = -.29, p = .028) e pelos observadores (r = -.27, p = .033), pelo que

quanto mais tarde se dá o acolhimento, pior parece ser a avaliação da

qualidade do contexto. A idade no momento do acolhimento apresenta, ainda,

correlações significativas e negativas fraca a moderada com as dimensões do

ARQUA-P dos adolescentes LIE (r = -.27, p = .036), SP (r = -.30, p = .020) e

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CE (r = -.35, p = .005) Com a avaliação dos observadores externos, a idade de

acolhimento mostra correlações também negativas , fraca a moderada nas

dimensões SP (r = -.46, p = .000), RD (r = -.34, p = .006) e NI (r = -.26, p

= .044).

Não foram encontradas diferenças na avaliação da qualidade realizada

pelos adolescentes acolhidos há mais de um ano ou há menos de um ano.

Também não existe uma correlação significativa entre o tempo de acolhimento

e a QT avaliada pelos adolescentes e apenas se encontrou uma correlação

significativa, positiva, fraca com a sua avaliação da dimensão SP (r = .29, p

= .024). Pelo contrário, o tempo em acolhimento correlaciona-se muito

significativamente e de modo positivo, moderado com a QT avaliada pelos

observadores (r = .42, p = .001) e também com todas as outras dimensões do

ARQUA-P, à exceção de NBM.

O número de crianças acolhidas revela uma correlação negativa, fraca,

significativa com a QT avaliada pelo observador (r = -.29, p = .024) e também

quando avaliada pelas crianças (𝑟! = -.26, p = .049). A correlação mantem-se

negativa, forte a moderada, e altamente significativa entre esta variável e a

forma como os observadores externos avaliam as NBM (r = -.79, p < .001),

SEV (r = -.46, p < .001) e CE (r = -.53, p < .001) e positiva fraca com EF (r =

284, p = .026). Por sua vez, o número de crianças acolhido na casa de AR

correlaciona-se negativamente com a dimensão NBM (𝑟! = -.37, p = .004) e NI

(r = .30, p = .020) quando avaliadas pelos adolescentes.

O ‘Rácio crianças/cuidador’ apresenta correlações similares com a QT quer

quando avaliada pelos adolescentes (𝑟! = -.26, p = .049), quer quando avaliada

pelos observadores externos (𝑟! = -.28, p = .030).

Não foram encontradas diferenças significativas entre as médias das

avaliações que os adolescentes fizeram do seu contexto atual de acolhimento

ou com as dos observadores quando tomamos em conta a maioria das

variáveis (individuais ou de caracterização do contexto) de cariz nominal, tais

como: tem irmãos acolhidos na mesma casa/ não tem irmãos acolhidos na

mesma casa; têm irmãos acolhidos noutra instituição/não têm irmãos noutra

instituição; beneficia de apoio/ não beneficia de apoio; usufrui de apoio de

Psicologia/ não usufrui deste apoio.

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  20  

Não se encontraram diferenças significativas na forma como foi realizada a

avaliação da QT (quer pelos adolescentes, quer pelos observadores) em

função do motivo que determinou o acolhimento. No entanto, os adolescentes

acolhidos por absentismo escolar (M = 4.76; DP = 0.24) parecem avaliar

significativamente melhor as CE, t(57) = -4.71, p < .001, IC a 95% [-0.98; -0.38],

d = 1.65, do que aqueles adolescentes que foram acolhidos por outro motivo

(M = 4.08; DP = .53).

Refira-se, ainda, que a resposta positiva à pergunta “Preferias estar noutro

lugar?” revelou uma correlação negativa com a avaliação do adolescente da

QT (𝑟!" = -.33, p = .013) e das dimensões SP (𝑟!" = -.39, p = .003), NI (𝑟!" = -

.29, p = .032) e CE (𝑟!" = -.38, p = .004) e, também, com a dimensão

‘Segurança e Proteção’ avaliada pelos observadores (𝑟!" = -.32, p = .015). Em

função da resposta a esta pergunta encontramos diferenças significativas de

médias em relação à QT, t(54) = 3.12, p = .003, IC a 95% [0.17; 0.76], d = .79,

com os adolescentes que responderam que preferiam estar noutro lado a

avaliar pior a qualidade da casa de acolhimento (M = 3.85; DP = .72) do que

adolescentes que preferem estar na casa de AR onde vivem (M = 4.31; DP

= .39), o mesmo acontecendo em relação às dimensões SP, NI e CE.

2.3. Resultados das medidas de autorrelato do ajustamento psicológico e da satisfação com a vida.

2.3.1. Resultados da YSR e variáveis dos adolescentes e contexto de AR A análise dos scores obtidos por estes adolescentes nas diferentes escalas

de problemas da YSR, tendo por base os pontos de corte normativos para a

população em idade escolar portuguesa, demonstra que foram classificados

como casos clínicos ou borderline em percentagens elevadas. Este facto traduz

a presença de problemas psicológicos e de comportamentos desadequados

que podem indicar sintomatologia psicopatológica.

Na tabela 5 comparam-se as percentagens de cada uma das categorias,

por escala, com os valores obtidos no estudo de normalização da YSR para a

população em idade escolar portuguesa.

- Inserir tabela 5 -

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  21  

Se analisarmos em conjunto as percentagens dos scores considerados

clínicos e borderline, de acordo com o recomendado para populações de risco

por Achenbach e Rescorla (2001), constatamos que em todas as escalas de

sintomas esta soma ultrapassa os 20%, revelando uma variação entre 22% e

50,8%. A prevalência de sintomas de desajustamento psicológico dos

participantes neste estudo fica patente na escala ‘Total de Problemas’ onde o

somatório das percentagens de adolescentes com score clínico ou borderline

ascende aos 44,1%.

Constataram-se algumas correlações e diferenças de médias entre a auto

percepção do adolescente relativamente aos seus problemas e falta de

ajustamento psicológico traduzida pelas escalas da YSR e algumas variáveis

individuais dos adolescentes ou do contexto de AR onde vivem, incluindo com

a média do ‘Total de Problemas’.

Observaram-se diferenças de médias significativas entre os adolescentes

do sexo masculino e feminino tanto no TP, t(57) = -2.03, p = .048, IC a 95% [-

30.38; -0.15], como nas escalas de ‘Internalização’ t(57) = -3.12, p = .003, IC a

95% [-0.43; -0.09], ‘Queixas Somáticas’, t(57) = -3.07, p = .044, IC a 95% [-

0.54; -0.11], ‘Ansiedade e Depressão’, t(57) = -2.63, p = .012, IC a 95% [-0.47; -

0.06], e Problemas de Atenção’, t(57) = -2.64, p = .011, IC a 95% [-0.49; -0.07],

com as raparigas a revelarem mais problemas e desajustamento psicológico

em todas estas escalas.

Não foram encontradas diferenças significativas nas médias de qualquer

das escalas do YSR em função do adolescente receber ou não apoio, dos

motivos para o acolhimento, ou por existirem irmãos a viver noutra casa de

acolhimento. Contudo as escalas PP e CO apresentam diferenças significativas

quando tomamos em conta a variável dicotómica ter/não ter irmãos na mesma

casa de AR, com PP, t(57) = 4.32, p < .001, IC a 95% [0.23; 0.65], d = 1.14, a

apresentar média mais baixa quando existem irmãos a viver na mesma casa

(M = .31; DP = .19) do que os adolescentes que não têm irmãos a viver com

eles (M = .74; DP = .50). Similarmente, em CO encontramos uma (M = .33; DP

= .14) quando há irmãos e (M = .57; DP = .35) quando não há.

Não se constataram correlações significativas entre as médias das escalas

da YSR e a idade do adolescente, idade no momento do acolhimento ou tempo

em acolhimento. Contudo, como mostra a tabela 6, a escala de ‘Internalização’

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  22  

apresenta correlações negativas, moderadas, significativas com o ‘Número de

Adolescentes Acolhidos’ (r = -.36, p = .005) e com o ‘Rácio criança/cuidador’ (r

= -.42, p = .001).

- Inserir tabela 6 -

2.3.2. Resultados do SDQ e relação com variáveis dos adolescentes e do contexto de AR

Os resultados das escalas de problemas do SDQ (tabela 4) demonstram

que estes adolescentes revelam sintomas e dificuldades numa prevalência

superior aquela que se verificou na amostra normativa inglesa. As

percentagens superiores a 10% nos scores Limítrofe e Anormal (e a 20% para

além do ponto de corte) traduzem níveis de desajustamento psicológico

significativos.

- Inserir tabela 7 -

Na escala global ‘Total de Dificuldades’ 42,4% dos adolescentes desta

amostra demonstraram níveis de sintomatologia e alterações de

comportamento superiores ao considerado desejável para um ajustamento

psicológico satisfatório.

Foi possível constatar diferenças de médias significativas entre os

adolescentes do sexo masculino e feminino tanto no TD, t(57) = -2.73, p = .009,

IC a 95% [-0.33; -0.50], como na escala de H t(57) = -2.71, p = .009, IC a 95%

[-0.49; -0.07], e SE, t(57) = -3.64, p = .001, IC a 95% [-0.54; -0.16], mais uma

vez, com as raparigas a revelarem mais dificuldades em todas estas escalas.

Observou-se, ainda, uma diferença muito significativa, t(57) = -3.12, p = .003,

IC a 95% [-0.36; -0.08], entre ter (M = .77; DP = .27) e não ter (M = .55; DP

= .27) um qualquer tipo de apoio no TD apresentado.

Tal como se pode confirmar na tabela 8, encontraram-se correlações entre

o TD do SDQ e o CPS com as seguintes variáveis dos adolescentes ou do

contexto.

- Inserir tabela 8 -

2.3.3. Resultados da ESCV e relação com variáveis dos adolescentes e do contexto de AR.

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  23  

O somatório dos itens da ESCV apresenta uma média de 21.61 (DP = 8.02),

variando entre um score mínimo de 5 e máximo de 35. Foi encontrada, por

recurso a um test t para uma amostra, uma diferença estatisticamente

significativa, t(58) = -2.39, p = .020, IC a 95% [-4.58; -0.40], d = .35, entre a

média obtida por estes adolescentes e a média do estudo de Neto (1993) com

uma amostra de adolescentes portugueses (M = 24.1, DP = 5.9). Esta

diferença revela que estes adolescentes em AR estão significativamente

menos satisfeitos com as suas vidas (apresentam níveis mais reduzidos da

componente cognitiva do Bem Estar Subjetivo) por comparação aos valores

normativos.

Existem diferenças significativas, t (57) = 4.95, p < .001, IC a 95% [1.07;

2.53], d = 1.30, entre os adolescentes do sexo masculino (M = 24.97, DP =

6.21) e feminino (M = 15.95, DP = 7.62) na forma como avaliam a SCV, com os

participantes do sexo masculino a relatarem valores médios superiores de

satisfação com a vida.

O ‘tempo de acolhimento’ apresenta correlação positiva, moderada, e

significativa com a cotação da ESCV (r = .36, p = .005), com os adolescentes

acolhidos há mais tempo a demonstrarem níveis de satisfação com a vida mais

elevados. Verificou-se ainda uma ligeira diferença significativa na média da

ESCV t (57) = -2.07, p = .043, IC a 95% [-1.79; -0.03], d =.57, entre

adolescentes acolhidos há menos (M = 18.44, DP = 8.40) ou mais de 1 ano (M

= 23, DP = 7.54).

2.4. Relações entre medidas de autorrelato Se analisarmos as correlações intra escalas da YSR observamos

correlações altamente significativas entre a média de todas as escalas.

No que diz respeito ao SDQ todas as escalas se correlacionam positiva e

muito significativamente com o TD à exceção da escala de CPS com a qual o

total do SDQ não apresenta uma correlação significativa (positiva ou negativa).

A escala de CPS só se correlaciona de modo significativo do ponto de vista

estatístico com a escala SE (𝑟! = .26, p = .043).

A ESCV não apresenta qualquer correlação significativa com as outras

duas escalas nem com qualquer das suas subescalas.

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  24  

O SDQ e a YSR incluindo as escalas de INT e EXT revelam entre si fatores

de correlação muito elevados e estatisticamente significativos (ver tabela 9).

- Inserir tabela 9 -

2.4. Relações entre medidas de auto relato e avaliações ARQUA-P da qualidade do AR

2.4.1.Correlações entre a YSR e a qualidade do AR O TP da YSR não revela correlações significativas com a QT avaliada

pelos adolescentes. Apenas apresenta correlações significativas e negativas

com a avaliação da QT realizada pelos adolescentes as escalas do YSR QS (r

= -.28, p = .037) e os PA (r = -.30, p = .024).

O TP da YSR também não revela uma correlação significativa com a

avaliação da QT pelos Observadores. As diferentes correlações encontradas

entre YSR e ARQUA-P dos observadores podem ser consultadas na tabela 10.

- Inserir tabela 10 -

2.4.2. Correlações entre o SDQ e a qualidade do AR O TD da SDQ não revela correlações com a QT do ARQUA-P quando

avaliada pelos adolescentes. Apenas a escala de H do SDQ apresenta

correlações significativas com o ARQUA-P dos adolescentes, nomeadamente,

uma correlação moderada significativa e negativa com a dimensão NBM (r = -

.49, p = .000) e igualmente negativa, significativa e fraca com a QT (r = -.28, p

= .034).

Tal como pode ser observado na tabela 11, a escala do TD do SDQ

também não apresenta uma correlação significativa com a QT avaliada pelo

observador. As diferentes correlações entre SDQ e ARQUA-P dos

observadores estão também patentes na tabela 11.

- Inserir tabela 11 -

2.4.3. Correlações entre a ESCV e qualidade do AR A ESCV demonstra correlações, moderadas a fortes, com alto significado

estatístico com as todas as dimensões do ARQUA-P dos adolescentes, tal

como se pode ver na tabela 12.

- Inserir tabela 12 -

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  25  

A ESCV possui, ainda, correlações significativas, moderadas a fortes,

positivas com a maioria das dimensões do ARQUA-P avaliado pelos

observadores (tabela 13) à exceção da dimensão LIE com a qual demonstra

uma correlação também moderada, significativa mas negativa e das dimensões

NBM e EF onde a correlação com estas duas variáveis não é estatisticamente

significativa.

- Inserir tabela 13 -

3. Discussão

Tendo por base as questões de investigação subjacentes a este estudo e a

sua tradução em objetivos, procurou-se integrar os resultados encontrados com

os descritos na literatura.

Assim, nesta discussão, a partir dos resultados já analisados e em

contraste com a pesquisa bibliográfica realizada, procuraremos: clarificar as

similaridades e diferenças entre a perspectiva dos adolescentes em AR sobre a

qualidade dos contextos onde vivem e a avaliação da qualidade realizada pelos

observadores externos, por recurso às dimensões da qualidade do sistema

ARQUA-P, sublinhando as relações entre a voz dos adolescentes e a dos

investigadores; perceber que variáveis demográficas do adolescente e do

contexto de AR apresentam correlações significativas com a avaliação da

qualidade, realizada quer pelos adolescentes quer feita pelos investigadores;

examinar a relação entre os resultados obtidos pelos participantes neste estudo

na YSR, SDQ e ESCV e as suas respectivas amostras normativas; identificar

as variáveis individuais e do contexto de AR que se relacionam com resultados

totais e das escalas de cada uma das medidas de ajustamento e satisfação

com a vida; perceber quais as diferenças associadas ao sexo; explorar a

relação entre os resultados das principais escalas da YSR entre si, bem como

no SDQ; analisar as correlações observadas entre as 3 medidas e as suas

diferentes escalas; observar a relação entre as medidas de autorrelato do

ajustamento psicológico (YSR e SDQ) e de satisfação com a vida (ESCV) com

a avaliação da qualidade do contexto de AR avaliado pelos adolescentes em

acolhimento e pelos observadores/investigadores.

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  26  

Atendendo a estes objetivos, a análise dos resultados obtidos permitiu

identificar múltiplas correlações estatisticamente significativas entre as

variáveis em estudo e também diferenças de médias.

A avaliação da qualidade dos contextos de AR por recurso ao sistema

ARQUA-P revelou-se positiva tanto na perspetiva dos adolescentes como na

dos observadores externos.

Em média, os adolescentes avaliaram todas as dimensões incluindo a

‘Qualidade Total, de modo significativamente melhor que os Observadores

(exceto na dimensão NI, onde não se verificou uma diferença significativa entre

adolescentes e observadores). Estes resultados revelam-se concordantes com

o descrito em estudos realizados em diversos países e que apontam níveis de

satisfação global com o AR (Anglin, 2004; Delfabbro et al., 2002; Del Valle &

Casas, 2002; MacKenzie, 1999, Stevens, 2006) por parte das crianças e jovens

acolhidos. A avaliação menos positiva dos observadores externos é explicada

por um maior grau de exigência na avaliação das diferentes dimensões, visto

que esta se sustenta na comparação a referentes óptimos internacionalmente

reconhecidos (os standards de qualidade).

Apesar das significativas diferenças de médias, constatou-se uma

correlação moderada positiva e significativa entre as avaliações QT dos

adolescentes e as realizadas pelos investigadores.

Esta variação conjunta e no mesmo sentido das avaliações dos dois grupos

acontece igualmente em dimensões como SP, RD, P, CE e AFR. Dimensões,

estas, que, pela sua natureza, dependem da qualidade da relação estabelecida

entre adolescentes e cuidadores, do seu apoio, disponibilidade, abertura para

estabelecer relações de vinculação e capacidade para transmitir sentimentos

de segurança e proteção, forma como incentivam a participação dos

adolescentes, revelam sentido de coerência e vontade para promover o

envolvimento das famílias. Estes aspectos são apontados recorrentemente na

literatura como aqueles que mais contribuem para a satisfação dos

adolescentes com o AR (Altshuler e Poertner, 2002; Anglin, 2002, 2004;

Carvalho & Manita, 2010; Delfabbro et al., 2002; Holden et al. 2014; Rauktis et

al., 2011; Sinclair, 2008; Stevens, 2006, 2008) e , por isso, mereceram por

parte dos observadores externos uma atenção especial à voz das crianças e

jovens relativamente a estes aspetos, o que pode explicar o paralelismo nos

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  27  

resultados da avaliação destas dimensões da qualidade entre adolescentes e

investigadores.

De forma contrastante, a correlação encontrada entre as avaliações dos

participantes e a dos observadores da dimensão LIE é, também, significativa

mas negativa, indicando que quando os adolescentes avaliam positivamente a

‘Localização, Infraestruturas e Equipamentos’ da casa de acolhimento onde

vivem, os observadores avaliam essa casa nesta dimensão mais

negativamente (e viceversa). Este resultado pode ter explicação no facto de

algumas destas casas estarem integradas em bairros sociais com

características consideradas como de risco para os adolescentes acolhidos, o

que prejudicou a avaliação dos observadores nesta dimensão,

independentemente de outros parâmetros que possam, por sua vez ter sido

mais valorizados pelos adolescentes na sua apreciação da LIE.

As diferenças altamente significativas entre adolescentes do sexo

masculino e feminino encontradas na forma como avaliam a QT e todas as

outras dimensões da qualidade à exceção da EF, com as raparigas a avaliar

menos bem a sua casa de acolhimento, distinguem-se dos resultados

apresentados por Bravo e Del Valle (2001) e por Schiff et al. (2006) e parecem

ir de encontro às conclusões de estudos mais recentes (Baker, Archer & Curtis,

2007; Jones, Landsverk e Roberts (2007); O’Neill, 2008) que revelam uma

maior insatisfação dos adolescentes do sexo feminino com a sua experiência

de acolhimento e constatam que as raparigas revelam distintas necessidades,

nem sempre convenientemente tidas em conta nos contextos de AR. Este

resultado deve ser cuidadosamente ponderado dadas as suas implicações para

uma gestão orientada para a qualidade das casas de AR que acolhem

raparigas.

Não foram encontradas diferenças significativas associadas à idade na

forma como é avaliada a qualidade do AR pelos participantes, ao contrário da

diminuição com a satisfação com o AR à medida que a idade aumenta descrita

por Bravo e Del Valle (2001). Contudo, importa assinalar que no presente

estudo os participantes são todos adolescentes com mais de 12 anos, logo não

se pode descartar a possibilidade da comparação com crianças mais novas dar

origem a diferentes conclusões.

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  28  

Como foi possível observar, quanto mais tarde se dá o acolhimento pior

parece ser a avaliação da qualidade do contexto, não só ao nível da avaliação

da QT pelos adolescentes mas também da LIE e SP e, muito particularmente,

na forma como é avaliada a dimensão CE. Sendo verdade que adolescentes

mais velhos podem ter uma maior dificuldade de adaptação a um novo

contexto de vida e à necessária organização de uma casa de AR,

especialmente no que concerne à interiorização de regras (Martín, 2012),

também é verdade que uma retirada mais tardia pode significar a acumulação

de experiências adversas num contexto natural de vida desestruturado,

negligente ou maltratante (Cruz, 2011; Del Valle, 1992; Del Valle & Zurita,

2000; Rosen, 1999; Rutter, 2000), aumentando o risco de défices

desenvolvimentais e de desajustamento social, mantendo o adolescente preso

a padrões de comportamento destrutivos e prejudiciais para si (Holden et al.,

2014), e aumentando a ambiguidade sentida pelo adolescente em relação ao

seu acolhimento e à satisfação com o mesmo (Stevens, 2008; Zem-

Mascarenhas & Dupas, 2001). Por outro lado, as correlações também

negativas encontradas entre a idade de acolhimento e a SP, RD e NI avaliadas

pelos observadores podem refletir uma desadequação das casas de AR às

necessidades específicas de quem é acolhido mais tarde na sua adolescência

e juventude. Atendendo ao facto de ser cada vez mais comum a integração em

AR de adolescentes mais velhos e, desejavelmente apenas depois de serem

esgotadas outras medidas de promoção e proteção, importa investir na

adequação do sistema de AR a esta nova população de jovens que chega às

casas de acolhimento de forma a responder apropriadamente às suas

necessidades (ISS.IP, 2015).

O tempo de acolhimento não apresenta uma correlação significativa com

a avaliação que os adolescentes fazem da QT mas correlaciona-se

positivamente com a forma com estes avaliam a SP, fazendo antever que se

sentem mais seguros naquela casa de acolhimento à medida que o tempo

passa, o que encontra suporte na literatura (Carvalho & Manita, 2010).

Contudo, apesar de alguns autores relatarem uma evolução positiva da

satisfação com o acolhimento à medida que o tempo passa (Bravo & Del Valle,

2001; Carvalho & Manita, 2010; Rosen, 1999; Rutter 2000), não se

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  29  

encontraram diferenças significativas entre adolescentes acolhidos há mais e

menos de um ano, nem sequer entre os em AR há mais e menos de 3 meses.

O tempo de acolhimento naquela resposta correlaciona-se positivamente

com a avaliação da QT do AR realizada pelos observadores e também com as

restantes dimensões do ARQUA-P, excetuando as NBM. Como defende Martín

(2012), o tempo em AR deve ser o suficiente para implementar as medidas do

projeto de vida, debelando os motivos para o acolhimento ou encontrando

novas soluções e dando resposta eficaz e duradoura às necessidades

terapêuticas trazidas por cada criança ou jovem. Outra razão para este

resultado pode estar relacionada com a valorização pelos observadores de

uma política interna da instituição de, quando não existe uma solução

alternativa ao acolhimento, evitar transferências para outras casas de AR,

prejudiciais para o desenvolvimento psicológico e social do adolescente (ISS.IP,

2015; Jones, Landsverk, Roberts, 2007). Esta opção da casa, mantem a

estabilidade do acolhimento (Sinclair, 2008) e preserva, assim, a relação de

confiança, o sentimento de segurança e os laços de vinculação com os

cuidadores, tão valorizados pelos próprios adolescentes (Altshuler e Poertner,

2002; Anglin, 2004; Carvalho & Manita, 2010; Delfabbro et al., 2002; Holden et

al., 2014; Rauktis et al., 2011; Shealy, 1996; Stevens, 2006, 2008).

Indo de encontro a às conclusões de múltiplos estudos (Anglin, 2004;

Bravo & Del Valle, 2009a, 2009b; Carvalho & Manita, 2010; Clough et al., 2006;

Cruz, 2011; Del Valle, 2001; Del Valle & Zurita, 2000; Delap, 2011; Martín,

2012; 2014; Prada et al., 2007; Rodrigues et al., Simões, 2011; van IJzendoorn

et al., 2011), que sublinham que as casas mais pequenas satisfazem melhor as

necessidades das adolescentes aí acolhidos, quer a avaliação da QT dos

adolescentes como a dos observadores revelam correlações negativas e

significativas com o número de crianças acolhidas e com o rácio

criança/cuidador.

Não só as casas de acolhimento mais pequenas parecem obter melhores

avaliações da QT do que as que albergam maior número de crianças, como o

mesmo tipo de correlação (negativa e significativa) pode ser encontrado entre a

avaliação dos observadores e as dimensões SEV e CE e entre a avaliação dos

adolescentes da NI. Estas correlações expressam a possibilidade de uma

maior atenção à individualidade de cada adolescente nas instituições mais

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  30  

pequenas e com um menor rácio criança/cuidador (Martín, 2013; Prada et al.,

2007), permitindo que cada criança seja reconhecida como única e

diferenciada, as suas necessidades mais facilmente identificadas e

adequadamente correspondidas pelos cuidadores e a sua privacidade e

direitos melhor respeitados (Clough et al., 2006; Del Valle & Zurita, 2000; Prada

et al., 2007; Stevens, 2006). Um menor número de adolescentes por casa

facilita a atenção às questões de saúde e possibilita o reconhecimento e

adoção de um estilo de vida mais saudável. A participação dos adolescentes

na definição de regras e nas decisões quotidianas promove a adequação e a

aceitação das normas e das consequências pelo seu não cumprimento

(Carvalho & Manita, 2010; Delfabbro et al., 2002; Prada et al., 2007; Rauktis et

al., 2011). O acolhimento numa casa mais pequena possibilita uma vivência

diária mais próxima da de uma família, contribuindo para a normalização das

vivências (Bravo & Del Valle, 2009b; Del Valle, 2001) e para uma salutar

integração na comunidade (Martín, 2012). Um menor rácio criança/cuidador

permite uma maior proximidade entre cuidadores e adolescentes, facilitando o

estabelecimento de vínculos afetivos mais estáveis e de relações

percepcionadas como mais seguras (Anglin, 2004; Holden et al., 2014; Shealy,

1996).

A dimensão NBM também assume uma pior avaliação nos dois grupos à

medida que aumenta o número de crianças por casa, sendo estas correlações

igualmente significativas. Esta dimensão, tal como a sua designação sublinha,

é básica em acolhimento residencial e os adolescentes valorizam a forma como

veem assegurado o seu bem estar (Anglin, 2004; Sinclair, 2008; Southwell &

Fraser, 2010). Esta avaliação menos positiva ao nível da satisfação das

necessidades básicas e materiais merece, ainda, uma reflexão quanto à

relação custo/benefício que as casas de acolhimento de maior dimensão

representam, já que no atual sistema, a comparticipação financeira estatal para

cada casa é realizada em função de cada criança/jovem acolhido, o que

permite às instituições maiores receber um valor proporcionalmente superior às

casas de pequenas dimensões.

Paradoxalmente, a dimensão EF correlaciona-se positivamente com o

número de crianças acolhidas, na perspectiva dos observadores. Este

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  31  

resultado pode refletir a valorização de uma maior aposta das casas com maior

dimensão na promoção da educação e formação dos adolescentes aí acolhidos.

Ao contrário de outro estudo (Shaffer, et al. 2010) em relação ao maltrato,

não foram encontradas diferenças significativas na avaliação das dimensões da

qualidade em função desse ou de outro motivo para o acolhimento, exceto no

caso do motivo para entrada em AR ter sido o absentismo escolar onde a

dimensão CE é significativamente melhor avaliada por estes adolescentes.

Esta diferença parece espelhar uma valorização de um contexto onde as

normas e as consequências pelo seu não cumprimento são claras e estáveis

por parte de adolescentes em relação aos quais a família não estava sequer

capaz de lhes impor a obrigatoriedade de ir à escola com regularidade.

Sublinha-se, por ser um exemplo paradigmático da importância de ouvir os

adolescentes em AR face à sua satisfação relativamente ao seu acolhimento, a

correlação significativa e negativa entre a resposta à pergunta “Preferias estar

noutro lado?” e a avaliação que os adolescentes fazem da QT e das dimensões

SP, NI e CE. Foram também observadas diferenças significativas de médias na

avaliação da QT e dessas mesmas dimensões em função de os adolescentes

terem respondido de forma afirmativa ou negativa a essa questão, com os

adolescentes que verbalizam preferir estar noutro lado (independentemente de

qual seja esse lugar) a avaliarem mais negativamente a qualidade global da

casa de AR e essas 3 dimensões centrais.

Tal como na maioria dos estudos relativos a esta população (Baker et al.,

2007; Egelund & Lausten, 2009; Gearing et al., 2013; Gearing et al., 2015;

Goodman et al., 2004; Kjelsberg & Nygren, 2004; Pracana, & Santos, 2010;

Simsek et al., 2008 Wolkind & Rushton, 1994), as medidas de ajustamento

psicológico (YSR e SDQ) revelaram scores que sublinham a presença de

problemas psicológicos e dificuldades psicossociais e que podem indiciar

psicopatologia numa prevalência muito superior à normativa. Na escala ‘Total

de Problemas’ da YSR o somatório das percentagens de adolescentes com

score clínico ou borderline atinge os 44,1%, na ‘Internalização’ 44% e na

Externalização’ 50,8%. No SDQ, o somatório das percentagens acima dos

pontos de corte para os scores limítrofe e anormal no ‘Total de Dificuldades’

atinge os 42,4%. Estas percentagens enquadram-se no intervalo entre 34% e

86% descrito por Schmid et al. (2008) e Janssens e Deboutte (2009),

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  32  

compilando os valores em percentagem encontrados em diferentes estudos

com participantes em AR.

Sublinhe-se que nos estudos em que são usadas medidas de autorrelato,

como neste caso, o reconhecimento de sintomas e problemas costuma ser

inferior, pelo que as percentagens de casos identificados como tendo algum

tipo de psicopatologia são tendencialmente menores, o que suscita a hipótese

de com o recurso a medidas de heterorrelato estes números ainda se

agravarem mais. Estes resultados salientam a importância de investir esforços

na identificação/avaliação de sintomatologia psicopatológica e dos problemas

de ajustamento sociopsicológico das crianças e jovens em acolhimento o mais

precocemente possível, da sua referência para apoios especializados, da

criação de unidades especializadas em cuidados de saúde mental e

perturbações de comportamento e, principalmente, da relevância da

implementação de um modelo terapêutico nas casas de acolhimento de tipo

generalista e de priorizar a formação (de base e contínua) dos cuidadores de

modo a estarem mais capazes para lidar com adolescentes com altos índices

de psicopatologia e desajustamento psicológico.

Atendendo às diferenças associadas ao sexo, salienta-se a apresentação

pelas adolescentes de uma média significativamente superior no TP e nas

escalas de INT, QS, AD e PA da YSR e no TD e nas escalas de H e SE do

SDQ. O facto das raparigas em acolhimento revelarem mais problemas e

dificuldades nas duas escalas permite concluir que as adolescentes do sexo

feminino apresentam um maior grau de desajustamento psicológico. Esta

constatação vai de encontro ao apontado por Jones, et al. (2007) e Baker, et al.

(2007) ao afirmarem que, em AR, as raparigas tendem a manifestar níveis mais

elevados de psicopatologia e de problemas comportamentais do que os

rapazes. Este parece ser mais um indicador de que tem de ser dada uma

atenção especial às necessidades específicas das crianças e jovens do sexo

feminino em acolhimento.

Embora não tenha sido possível encontrar diferenças nas escalas da YSR

em função dos adolescentes beneficiarem ou não de apoio suplementar de

qualquer tipo, no SDQ essas diferenças são bastante significativas na escala

do TD, com os jovens que já beneficiam de algum tipo de apoio a revelar

globalmente mais dificuldades. Os adolescentes que apresentam mais

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  33  

sintomas patológicos na YSR não parecem estar a usufruir de mais apoios.

Outra interpretação plausível é que os apoios fornecidos estão a ser eficazes

no debelar dos problemas de desajustamento revelados pelos adolescentes,

pelo que estes deixam de se diferenciar, no que aos scores da YSR diz

respeito, dos restantes jovens em acolhimento. Os resultados do TD do SDQ

parecem dizer-nos exatamente o contrário: ou os adolescentes com

desajustamento psicológico estão a ser bem identificados e referenciados para

apoio, ou os apoios fornecidos não estão a conseguir ajudar os adolescentes a

superar os seus problemas comportamentais e emocionais. A ambiguidade

destes resultados parece refletir o observado na literatura já que, em qualquer

das hipóteses, um número significativo de casos não é atempadamente

diagnosticado, pelo que a necessidade de um apoio específico pode estar a ser

negligenciada (Ford et al., 2007; Goodman et al., 2004; Janssens & Deboutte,

2009; McCann et al., 1996), ou os apoios fornecidos podem não ser os mais

adequados ou não atingirem a dose ou a intensidade/duração mais ajustada às

reais necessidades das crianças.

O TD do SDQ apresenta uma correlação significativa e negativa com a

idade dos adolescentes, o que exprime a identificação de mais dificuldades nos

adolescentes mais novos. Assinale-se que esta correlação ocorre apenas

relativamente à idade e não é significativa em relação à idade de acolhimento

nem ao tempo de acolhimento, o que deve orientar a sua interpretação para

questões de índole desenvolvimental. Assim, esta correlação pode estar a

indicar que a menor maturidade dos adolescentes mais novos ou o facto de

possuírem menos competências gera mais dificuldades em lidar com as

circunstâncias adversas, necessitando, por isso, os mais novos de um apoio

suplementar. A mesma correlação não foi significativa em relação ao TP da

YSR.

Nas escalas PP e CO da YSR foram encontradas diferenças significativas

de médias entre ter/não ter irmãos a viver na mesma casa, com os

adolescentes que têm irmãos a viver na mesma casa a apresentar menos

problemas de pensamento e de oposição. Este resultado pode refletir um efeito

positivo da manutenção de irmão juntos na mesma casa de acolhimento (Smith,

1998), e constituir um argumento válido contra a não separação de fratrias.

Esta variável não apresenta diferenças nas várias escalas do SDQ.

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  34  

No que diz respeito às variáveis do contexto, o TD do SDQ e o TP e INT da

YSR apresentam correlações significativas negativas com o ‘número de

adolescentes acolhidos’ (e no caso das duas escalas da YSR também com o

rácio criança/cuidador), ou seja, à medida que diminui o número de

adolescentes por casa aumentam as dificuldades e os problemas que estes

apresentam (e adolescentes que vivem em casas com um rácio menor a

apresentarem mais desajustamento psicológico). Estas correlações não são

corroboradas pela literatura e parecem contrariar até os pressupostos teóricos

e as evidências da investigação (Bravo & Del Valle, 2009a; Del Valle, 2001; Del

Valle et al., 2012; Del Valle Del Valle & Zurita, 2000; Delap, 2011; Huntsman,

2008; James, 2011). Uma explicação plausível para este resultado é a

circunstância, neste estudo, das casas de AR de menor dimensão mostrarem

disponibilidade para acolher adolescentes que nem sempre encontram

resposta noutras instituições, dados as suas características pessoais, história

de vida e a gravidade dos problemas que vivenciaram previamente ao

acolhimento. Esse facto pode estar a contribuir para aumentar a proporção de

adolescentes com dificuldades significativas nestas casas.

As diferenças entre YSR e SDQ observadas podem introduzir algum

questionamento da posição de Goodman e Scott (1999) ao defender que uma

pode substituir a outra, uma vez que as duas escalas, em alguns casos,

demonstram sensibilidade diferente às mesmas variáveis.

A análise dos resultados obtidos pelos adolescentes da amostra na ESCV

demonstram que estes adolescentes manifestam níveis de satisfação com a

vida significativamente inferiores aos encontrados na amostra normativa. Este

resultado está em sintonia com o defendido por inúmeros autores com base

nas suas pesquisas sobre o bem estar em adolescentes e a satisfação com a

vida com este tipo de população (Altshuler & Poertner, 2002; Dinisman,

Monserrat & Casas, 2012; Poletto & Koller, 2011; Sastre & Ferrière, 2000): em

média, os adolescentes em AR revelam níveis da componente cognitiva do

BES inferiores à norma, ainda que positivos.

As diferenças constatadas entre sexos na SCV, com os rapazes a

apresentar índices significativamente superiores, é também um dado comum

nas investigações sobre o bem estar subjetivo (Bradshaw et al., 2011;

Goldbeck et al., 2007; Neto, 1993), ainda que não se tenham encontrado

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  35  

estudos com dados similares que incluíssem participantes em AR. Uma

explicação plausível para esta diferença relaciona-se com o facto das

adolescentes do género feminino demonstrarem níveis superiores de exigência

nas suas avaliações (Barros, 2010) e relatarem com mais frequência vivências

negativas do que positivas (Cummins et al., 2003).

Foi, ainda, possível verificar uma correlação positiva e altamente

significativa da ESCV com o ‘tempo de acolhimento’ que se traduz em maiores

níveis de satisfação com a vida nas crianças acolhidas há mais tempo,

reforçada por uma diferença significativa nas médias da ESCV entre os

adolescentes acolhidos há mais de uma ano e há menos de um ano, com os

primeiros a revelar uma SCV mais elevada. Estes resultados encontram apoio

em vários estudos (Brown & Orthner, 1990; Gilman & Barry, 2003; Gilman &

Handwerk, 2001) e podem ser explicados por uma adaptação gradual dos

adolescentes ao contexto de AR, passada a fase inicial em que tem que lidar

psicologicamente com os motivos do acolhimento, com a separação física da

sua família e com o confronto com um ambiente novo e distinto. A constatação

do aumento da satisfação com a vida à medida que o tempo em AR vai

passando indicia que, tal como alguns autores defendem que esta medida

pode ter efeitos positivos na qualidade de vida, estado emocional e

desenvolvimento da criança e jovem acolhido (Gilman & Barry, 2003; Knorth et

al., 2008; Little et al., 2005; Southwell & Fraser, 2010).

Na matriz de correlações entre as escalas na YSR e no SDQ, as altas

correlações constatadas entre as 11 escalas (10 mais o TP) da YSR e do TD

do SDQ com todas as escalas do mesmo instrumento (à exceção da CPS, visto

não ser uma escala de dificuldades mas de competência e ser a única que não

contribui para o cálculo do TD), permitem testemunhar a validade interna

destes instrumentos quando aplicados a esta amostra de adolescentes em AR,

tal como a fiabilidade, avaliada através dos alphas de Cronbach.

Ao contrário do observado quando se analisou a forma como a YSR e o

SDQ se comportam face às variáveis individuais e do contexto, as correlações

encontradas entre as duas medidas de ajustamento psicológico são positivas e

altamente significativas confirmando que a maioria dos participantes quando

pontua positivamente no TP da YSR também o faz no TD do SDQ e vice versa,

indo ao encontro do defendido por Goodman e Scott (1999).

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  36  

Entre estas escalas e a ESCV não se verificaram quaisquer correlações

significativas embora as observadas sejam negativas, tal como esperado.

Analisando as correlações entre a YSR e o ARQUA-P avaliado pelos

adolescentes embora não se encontrem correlações significativas entre a QT e

o TP, a QT correlaciona-se negativamente com as QS e com PA, o que se

traduz numa diminuição das queixas somáticas e dos problemas de atenção à

medida que a QT, na perspectiva dos adolescentes, sobe. Um contexto de AR

sentido como tendo menos qualidade pode despoletar sintomas físicos nos

adolescentes como um modo de pedir a ajuda e a atenção de que sentem falta

e que não estão a receber, com a intensidade e a persistência dos sintomas a

refletir o desejo intenso do adolescente em ver atendidas as suas

necessidades. No que diz respeito à relação da QT com os PA uma explicação

plausível é o adolescente ver o contexto de AR como um local onde ocorrem

situações de medo, pressão emocional ou onde lhe são exigidas tarefas que

considera difíceis, fazendo-o sentir-se ansioso, stressado ou com a sua auto

estima posta em causa, pelo que adota uma estratégia de fuga, desligando-se

do ambiente que o rodeia, manifestando, assim, dificuldades de atenção.

Ainda que não se identifiquem correlações significativas entre a QT

avaliada pelos observadores e o TP da YSR, dois padrões parecem destacar-

se nas correlações significativas entre algumas dimensões do ARQUA-P do

observador e as escalas da YSR: correlações positivas com LIE e NBM e

correlações negativas com AFR, RD e NI.

Uma boa avaliação das dimensões ‘Localização, infraestruturas e

equipamento’ e das ‘Necessidades Básicas e Materiais’ reflete antes de mais

um bom investimento e cuidado com os aspetos físicos e materiais do dia a dia,

correspondendo a uma visão importante mas reducionista do AR: dar resposta

às necessidades básicas das crianças e jovens em acolhimento. Por outro lado,

são muitas vezes estas as casas que sentem ter as condições mínimas para

acolher adolescentes com características mais problemáticas e estão abertas a

esse desafio.

Em contraposição, as dimensões ‘Apoio à família para a reunificação’,

‘Respeito pelos direitos’ e ‘Normalização e integração’ correspondem a

dimensões de ordem mais fina, exigindo um elevado grau planeamento e

intencionalidade mas também uma componente de relação e envolvimento por

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  37  

parte dos cuidadores e de aproveitamento terapêutico das rotinas (são

dimensões que, nas palavras de Whittaker (2014), incluem os ‘intangíveis’ que

importa não descurar), pelo que, quando bem cumpridas, contribuem para

transmitir ao adolescente a noção de que tem pessoas que se preocupam, o

respeitam e à sua família e lhe proporcionam uma vida o mais normalizada

possível, estimulando a sua integração social, logo, são promotoras de bem

estar psicológico e de (re)ajustamento psicológico.

Ao contrário de Merz & McCall (2010) não foram encontradas neste estudo

indícios de uma relação entre EXT e qualquer uma das dimensões da

qualidade consideradas.

O TD do SDQ não revela correlações com a QT avaliada pelos

adolescentes. No entanto, a escala de ‘Hiperatividade’ apresenta correlações

significativas e negativas com a QT e com a dimensão NBM, ou seja, nas

casas com menos QT na visão dos adolescentes e onde estes avaliam pior a

dimensão NBM parecem estar presentes maiores níveis de H. Não

encontramos na literatura uma explicação para este resultado, até porque se

sabe muito pouco sobre a hiperatividade em população acolhida. A

hiperatividade é uma perturbação bastante frequente entre os adolescentes

(3% a 7%) e ainda mais entre os jovens em acolhimento (podendo chegar aos

50%). Ao partilhar com o AR factores de risco como o alcoolismo materno, o

consumo parental de substâncias psicoativas, stress parental intenso ou

experiências traumáticas (que atuam como fatores ambientais que funcionam

como ativadores da propensão genética para hiperatividade e se constituem,

também, frequentemente como motivos ou contributos para a entrada das

crianças em AR), aumenta o grau de complexidade das interações entre estas

duas variáveis (Casey et al., 2008).

Entre as escalas do SDQ e as dimensões do ARQUA-P avaliadas pelos

observadores voltam a encontrar-se correlações significativas que

correspondem aos mesmos padrões já identificados com a YSR: LIE e NBM

correlacionam-se positivamente com as várias escalas do SDQ e AFR, RD e NI

revelam piores avaliações quando a prevalência de hiperatividade é maior.

A ESCV revela correlações positivas significativas ou altamente

significativas com todas as dimensões do ARQUA-P avaliado pelos

adolescentes e com quase todas as dimensões aferidas pelos observadores

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  38  

demonstrando que, quando os jovens se sentem satisfeitos com a vida

realizam melhores avaliações ou, alternativamente, que casas de AR com uma

melhor qualidade permitem, elicitam ou ajudam a promover níveis superiores

de bem estar subjetivo e cognitivo. No caso da avaliação da qualidade

realizada pelos observadores, apenas a dimensão LIE mostra uma correlação

significativa negativa com a ESCV.

4. Conclusão

Tratando-se de um estudo exploratório visando a preparação do projeto de

investigação já descrito. Assim sendo, apesar de seu caráter inovador, este

estudo apresenta várias limitações. Utilizamos um procedimento de

amostragem de conveniência e, consequentemente, a amostra carece de

representatividade sobre o sistema Português de AR. Logo, a generalização

dos resultados apresentados não deve ser feita.

Um maior número de participantes provenientes de um maior número de

respostas de AR e de instituições de tipologia mais variada devem ser visitados,

ouvidos e dados adicionais coletados, como já está presentemente a ocorrer.

Este estudo permitiu testar a metodologia e os instrumentos de pesquisa

bem como o treino da equipa de investigação, como preparação para uma

avaliação nacional da qualidade do sistema de AR em Portugal. Mais estudos

com uma amostra maior, aleatória e proporcional permitirão uma análise

quantitativa adicional, recorrendo a diferentes tipos de análises estatísticas de

dados, incluindo a análise multivariada, possibilitando uma melhor

compreensão dos níveis de qualidade no sistema de AR Português.

Em termos globais, este estudo aponta para uma avaliação positiva da

qualidade do AR seja traduzindo a voz dos próprios adolescentes em

acolhimento, seja na visão mais abrangente e por referência a standards

internacionais dos observadores externos. Contudo as avaliações menos

positivas realizadas pelas adolescentes do sexo feminino exigem uma reflexão

alargada sobre a adequação dos recursos e serviços disponíveis nos contextos

de AR às necessidades específicas das raparigas.

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  39  

Em Portugal, tal como acontece noutros países, a prevalência de sintomas

de saúde mental e de desajustamento psicológico é, como vimos, muito maior

nos adolescentes em AR e, por outro lado, estes adolescentes revelam índices

de bem estar (na sua dimensão cognitiva: a satisfação com a vida) inferiores à

média.

Estes factos, merecendo uma validação mais aprofundada, têm

implicações para as políticas futuras referentes ao AR e para a gestão e

práticas das casas de acolhimento. Face a estes resultados, devem ser

priorizadas medidas que assegurem a criação de mais unidades de

acolhimento especializado, a integração de um maior número de técnicos com

formação em Psicologia nas casas de acolhimento, o refinar de processos de

triagem e avaliação psicológica e a exigência de formação específica de base

ou contínua para todos os cuidadores.

As correlações positivas e altamente significativas encontradas entre YSR

e SDQ parecem legitimar que uma pode substituir a outra, mas as diferenças

observadas na sensibilidade das duas escalas às mesmas levam-nos a

questionar até que ponto não será útil optar pelo uso conjunto dos dois

instrumentos para uma melhor triagem dos problemas e dificuldades de

ajustamento psicológico e sintomas de psicopatologia nos adolescentes em AR.

A voz das crianças em acolhimento deve ser ouvida no que diz respeito à

aferição da qualidade das respostas de AR em que vivem (Calheiros et al. ,

2011; Dahlberg et al., 1999; Delap, 2011; Martín & González, 2007; Montserrat,

2014; Palareti & Berti, 2009; Rodrigues et al., 2014; Taylor, 2005) ainda mais

quando a avaliação que fazem desse contexto se relaciona de forma

significativa, como vimos, com a sua satisfação com a vida, logo, com o seu

bem estar (Jozefiak & Kayed, 2015).

Contudo, uma completa avaliação do sistema de AR Português exige que

sejam ouvidos também os restantes intervenientes - cuidadores, diretores,

técnicos de articulação na entidade tutelar, sempre tendo por referente critérios

universalmente aceites, e que o recurso ao ARQUA-P proporciona.

Tal como Van IJzendoorn e colaboradores (2011), mantemos a convicção

da importância de continuar a estudar a interação entre a criança e o seu

contexto de acolhimento atendendo, simultaneamente, às características

temperamentais de cada criança e às várias facetas do ambiente institucional.

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  40  

Nesse sentido, o projeto de investigação em que este estudo se insere tem o

objetivo explícito de conhecer a adequação dos serviços prestados no AR

português às necessidades das crianças acolhidas, lançando as bases para

uma futura intervenção cientificamente fundamentada nesta área.

Numa altura em que se discutem mudanças legislativas na promoção e

proteção de menores e, especificamente, no AR (com a referência explícita na

Lei 142/15, de 8 de Setembro, a uma futura regulamentação específica do AR),

parece ainda mais premente a fundamentação da mudança em critérios

cientificamente validados, promovendo a melhoria efetiva do AR em Portugal.

O aumento da qualidade das respostas de acolhimento teria reflexos positivos

na vida das crianças e jovens em acolhimento, bem como na vida diária das

pessoas que trabalham em AR. A utilidade e aplicabilidade do ARQUA-P não

se resume a este projeto de investigação. Este sistema pode ser uma

ferramenta que permita uma avaliação profunda da qualidade das respostas de

acolhimento residencial portuguesas, quer para fins de auto regulação interna,

quer para a sua supervisão ou fiscalização externas.

Sugestões para futuras investigações Uma amostra maior e representativa do AR português e análises

estatísticas complementares permitirão estudar melhor as interações entre a

qualidade e outras características dos crianças e jovens (eg: escolaridade,

autoestima, bem estar pessoal, afetividade), das respostas de AR (eg: tipo de

centro, segregação em função do género, formação dos cuidadores) e as

necessidades das crianças acolhidas. Será importante e complementar estudar

a perspetiva de outras vozes/fontes de informação sobre a qualidade e as

analisar as características dos diretores e dos cuidadores (nível de formação,

tempo de experiência), a visão dos técnicos com funções de articulação na

entidade tutelar e tomar em consideração outras variáveis que possam ilustrar

as necessidades das crianças e dos jovem em AR, incluindo o número de

fugas.

Importaria, também, conhecer os modelos teóricos que fundamentam os

planos educativos e a lógica de intervenção em cada casa de AR, bem como a

sua correspondência com as práticas diárias de cuidado às crianças e jovens.

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  41  

O levantamento de necessidades, a elaboração, a tradução e adaptação e

a validação de programas de intervenção adequados às necessidades das

crianças e jovens portuguesas em AR constitui outra vertente de investigação a

explorar.

A relação entre qualidade da resposta de AR e investimento na articulação

com a família da criança/jovem e com as entidades com responsabilidade em

matéria de promoção e proteção (CPCJ’s, EMAT’s, Tribunais, CAFAP’s), bem

como o papel desempenhado pelas direções das casas de acolhimento

constituem outros temas susceptíveis de investigação futura.

Apesar de nos últimos anos o AR em Portugal parecer estar a despertar

um maior interesse junto dos investigadores, é ainda uma área onde subsiste a

premência de uma maior atenção por parte da comunidade científica.

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  42  

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Anexos

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DIMENSÕES DO ARQUA-P

*Localização, Infraestrutura e Equipamento: Avaliam-se os recursos comunitários

necessários para cobrir as necessidades das crianças/jovens (saúde, educativos e de

ocupação de tempos livres) e se a localização do equipamento permite a proximidade

com o meio natural de vida; equipamentos confortáveis, acolhedores, similares a uma

residência familiar;

Recursos Humanos: reflete a formação de base e nível de qualificação das equipas

bem como a estabilidade do quadro de pessoal, a forma como são selecionadas as

equipas, o tipo de supervisão e as características dos outros colaboradores ou

voluntários;

*Encaminhamento, Receção/Admissão: Receção e integração adequadamente

preparadas, com implicação dos profissionais, crianças e suas famílias. Processo de

decisão e encaminhamento é realizado com tempo. Preparação das restantes crianças.

Existe um protocolo de acolhimento e é explicada à criança as circunstâncias do

acolhimento: motivo, duração prevista.

Avaliação das Necessidades: qual a metodologia utilizada (procedimentos e técnicas

de avaliação das necessidades definidas) e seu conteúdo (completo, rigoroso e

adequado às características da criança/jovem e sua família.

Plano Sócio Educativo Individualizado: Elaboração do PSEI e definição de um

projeto de vida, É elaborado um PSEI e definido um Projeto de Vida para cada

criança e em tempo útil. O PSEI é baseado num quadro teórico conhecido por todos

os cuidadores (incluindo o PCI). Os conteúdos são partilhados. O PSEI e Projeto de

Vida são avaliados periodicamente e revistos pelo gestor de caso e equipa. A criança é

ouvida.

Saída e Transição Para a Vida Adulta: O processo de finalização do acolhimento é

preparado e planificado. As transferências são evitadas. São trabalhadas competências

de promoção da autonomia que preparem os jovens para a vida adulta.

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*Apoio às Famílias para a Reunificação: quando o objetivo é a reunificação

familiar, as famílias devem ser apoiadas e serem trabalhadas com elas as suas

dificuldades, de forma a serem ultrapassadas, e as equipas de AR devem facilitar a

melhoria da situação familiar e a proximidade com os seus filhos, de maneira a

impulsionar a relação familiar.

*Segurança e Proteção: ambiente seguro e protetor, capaz de constituir-se num meio

de convivência tranquilo e de promover vinculações/ligações afetivas e de suporte

com os adultos e pares. Controle de situações de abuso pelos adultos e pares. A

criança tem contato de alguém com competências em matéria de promoção e proteção

fora do Centro/Lar.

*Respeito pelos Direitos: acompanhamento das crianças/jovens baseado no respeito

por todos os seus direitos e das suas famílias. Privacidade no uso de espaços e

proteção da intimidade, confidencialidade na comunicação e dos dados. Trato digno e

afetuoso. São ouvidas as reclamações e sugestões. Respeito pela identidade e

diferenças individuais, culturais, crenças.

*Necessidades Básicas Materiais: satisfação de todas as necessidades básicas e

materiais como a alimentação, dinheiro de bolso, entre outros. A criança pode

escolher a sua própria roupa. A entidade tem meios de transporte próprios e sem

identificação.

*Estudos e Formação: integração e escolar e formativa adequada à idade e

interesses, e apoio necessário ao rendimento escolar à assim superação de

dificuldades específicas. Estudo individualizado.

*Saúde e Estilos de Vida: assistência adequada à saúde e educação para estilos de

vida saudáveis. Educação para a saúde e afetivo-sexual. Deteção, avaliação e

tratamento de problemas de conduta, emocionais e de desenvolvimento. Historial de

registos de saúde.

*Normalização e Integração: critério de normalização quanto aos espaços, ritmos,

rotinas, semelhante a qualquer ambiente familiar; e quanto à integração nas atividades

Page 62: Sónia Pires de Lima Araújo Rodrigues · permitiram até agora conhecer as reais necessidades das crianças e jovens acolhidos e o modo como os recursos e serviços disponibilizados

e recursos da comunidade. Apoio social, amizades e visitas. Critério de normalização

quanto aos espaços, ritmos, rotinas, semelhante a qualquer ambiente familiar; e

quanto à integração nas atividades e recursos da comunidade. Visitas, amizades e

materiais de diversão (incluindo internet e outras tecnologias recreativas).

Flexibilidade de horários. Não segregação em função do género.

*Desenvolvimento e Autonomia: contexto educativo que potencie o

desenvolvimento e crescimento das crianças/jovens, através de atividades,

experiências, rotinas, orientadas para oportunidades de aquisição de competências

diversas, nomeadamente de autonomia, com trabalho dirigido à recuperação de

dificuldades que podem ser um obstáculo ao desenvolvimento.

*Participação: respeito pelo direito à participação e promoção da mesma em todo o

processo socioeducativo e na vida da residência.

Na elaboração das normas à tomada de decisões que lhe dizem respeito. Também na

avaliação da qualidade da resposta de AR (aferir a sua satisfação com o acolhimento).

*Consequências Educativas: modelo educativo baseado no reforço positivo de

comportamento adequados, e, quando necessário, recurso a sanções construtivas,

proporcionais, estabelecidas antecipadamente com a participação dos menores.

Uso adequado da contenção física.

Gestão do Plano de Atividades: Existe um plano de atividades, há registos que

permitem a monitorização e notificação. Os documentos de planificação da gestão são

usados para avaliar a resposta de AR (procedimentos internos de avaliação) no

sentido de corrigir e melhorar.

Liderança e Clima Social: O/a DT conhece as crianças e é respeitada por esta. A

liderança favorece o trabalho de equipa e o espírito de grupo. Os cuidadores sentem-

se reconhecidos profissionalmente.

Organização Laboral: O número e os turnos dos educadores são os mais adequados.

A equipa técnica e a diretora estão no lar nas horas em que as crianças estão em casa.

Reuniões são periódicas e incluem todos os cuidadores.

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Coordenação entre Profissionais: É feito um trabalho próximo e colaborativo com

as entidades com competência na matéria de infância e juventude. A colaboração com

as escolas, profissionais de saúde e outros serviços da comunidade é frequente.

Cada uma destas dimensões possui sub-dimensões que foram avaliadas em diversos

itens nas grelhas de observação e nas entrevistas realizadas. Algumas dimensões são

comuns a todas as entrevistas (aquelas assinaladas com *). Outras não fazem parte das

entrevistas das crianças e jovens.

A avaliação final têm em consideração os dados recolhidos através das diferentes

fontes, sendo obtida por acordo inter-observador (não representando, apenas, uma

proporcionalidade direta das pontuações médias das entrevistas realizadas).

Como forma de facilitar a aferição de resultados, a avaliação dos observadores, , é

realizada numa escala de 1 a 5, em que 1 corresponde a um fator muito negativo ou

desadequado e 5 corresponde a um aspeto muito adequado. A escala usada pelos

Observadores para o registo no ‘Semáforo’ reproduz a escala de Lickert em que são

avaliados os diversos itens/aspetos que constituem as sub-dimensões e as dimensões

da qualidade, nas entrevistas das crianças e jovens, dos cuidadores e do Técnico da

Segurança Social,

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Tabela1: Caracterização dos participantes de acordo com a idade, sexo, tipo/dimensão/rácio da casa onde vive, tempo em acolhimento, idade do acolhimento em meses e anos, acolhimentos anteriores em meses, tempo total de acolhimento, presença de irmãos em acolhimento, motivo do acolhimento e apoios usufruídos.

n % M DP Min Max

Idade (em anos) 15.74 1.92 12 20

Sexo M 39 63.9

F 22 36.1

Tipologia de Casa

Segregadas 59 96.7

Masculina 38 62.3

Feminina 21 34.4

Mista 2 3.3

Dimensão da Casa

Pequena 16 26.2

Média 23 37.7

Grande 22 36.1

Rácio Crianças/Cuidador 1.79 0.83 1.09 2.87

Tempo de Acolhimento na Casa

(em meses)

29.57 26.43 2 108 (9

anos)

Há + 1 de ano 43 70.5

Há - de 1 ano 18 29.5

Há 3 meses ou - 3 4.9

Idade de Acolhimento (em meses) 163.9 28.58 58 214

(em anos) 13.23 2.38 4

anos 17 anos

Acolhimentos noutras respostas 24 39.3

Tempo Total de Acolhimento 36.30 27.64 58 214

Irmãos

55 90.2

Em Acolhimento 17 29.5

Na mesma Casa 7 11.5

Noutra Casa 11 18.0

Motivo do Acolhimento

Negligência 29 47.5

Comportamento

Desviante 26 42.6

Maltrato 7 11.5

Absentismo Escolar 7 11.5

Baixo NSE 6 8.2

Abandono 4 6.6

Violência Doméstica 3 4.9

Abuso Sexual 2 3.3

Inadaptação Adoção 2 3.3

Outras 4 6.6

Apoio

37 60.7

25 41

12 19.7

1 1.6

Com Dificuldades de Comunicação

ou NEE 10 16.4

Com Apoio Psicopedagógico 3 4.9

Ensino Especial 0 0

PIAC 1 1.6

NOTA: Casas de pequena dimensão: com menos de 12 criança ou jovens; AR de média dimensão: entre as 13 e as 24 crianças ou jovens; centros de grande dimensão 25 ou mais crianças/jovens. Se considerarmos, em conjunto, o número global de crianças/jovens que vivem em casas com 13 crianças  

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Tabela 2: Valores de consistência interna (alphas de Cronbach) da Entrevista ARQUA-P dos Adolescentes calculados por dimensão e total da entrevista.

Dimensões

do ARQUA-P Adolescentes

LIE ERA AFR SP RD NBM EF SEV NI DA P CE QT

Alphas de Cronbach .78 .32 .76 .91 .81 .80 .76 .68 .82 .07 .68 .73 .93

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Tabela 3: Valores de consistência interna da YSR

Escalas da YSR

Aferição YSR Normativa Clínica Amostra

Ansiedade e Depressão (AD) .74 .79 .78

Isolamento e Depressão (ID) .61 .61 .72

Queixas Somáticas (QS) .71 .76 .81

Problemas Sociais(PS) .58 .72 .73

Problemas de Pensamento

(PP) .66 .75 .86

Problemas de Atenção (PA) .63 .71 .80

Comportamento de Oposição

(CO) .59 .76 .85

Comportamento Agressivo (CA) .79 .84 .87 Internalização

(INT) .84 .87 .89 Externalização

(EXT) .85 .88 .92 Total de

Problemas (TP) .93 .94 .97

 

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Tabela 4: Qualidade do contexto de AR avaliada nas dimensões ARQUA-P comuns aos adolescentes

e observadores externos: média, desvio padrão, valor mínimo, valor máximo e diferenças de médias entre adolescentes e investigadores.

ARQUA-P Dimensão

Adolescentes   Observadores    

M   DP   Min   Máx   M   DP   Min   Máx   t   df   Sig.  

Localização, Infraestruturas e Recursos (LIE) 3.87   .78   1.86   5   2.96   .60   2.29   4.29   8.94***   58   .001  

Apoio à Família para a Reunificação (AFR) 3.99   1.21   1   5   2.70   .81   1.60   3.60   7.54***   49   .001  

Segurança e Protecção (SP) 3.77   .92   1.42   5   3.40   .52   2.80   5   3.09**   58   .003  

Respeito pelos Direitos (RD) 4.20   .75   2   5   3.45   .70   2.50   4.17   7.69***   58   .001  

Necessidades Básicas (NB) 3.99   .82   1.57   5   3.60   .37   3.20   4.25   3,66**   58   .001  

Estudos e Formação (EF) 4.45   .79   1.67   5   3.55   .73   1.80   4.40   8.59***   56   .001  

Saúde e Estilos de Vida (SEV)

4,19   1.03   1   5   3.30   .51   2.80   4.20   6.55***   58   .001  

Normalização e Integração (NI)

3.70   .84   2   5   3.81   .65   3.13   4.63   -­‐1.03   58   .309  

Participação (P)

3.83   .96   1.33   5   3.03   .81   2   4.75   6.43***   58   .001  

Consequências Educativas (CE)

4.16   .80   2.20   5   2.63   .42   2.25   3.5   14.81**

*   58   .001  

Qualidade Total (QT) 3.98   .67   2.17   4.95   3.27   .28   2.98   3.81   8.19***   58   .001  

** p < .01 (2-tailed); *** p < .001 (2-tailed)

 

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Tabela 5: Scores das Escalas Sintomáticas da YSR de acordo com os pontos

de corte, em percentagem.

Escalas da YSR

Normativos Borderline Clínicos Estudo Normativ

a Estudo Normativa Estudo Normativ

a Ansiedade e

Depressão (AD) 78% 87.6% 15,3% 9.8% 6.8% 2.6% Isolamento e

Depressão (ID) 71.2% 90.4% 18.6% 7.5% 10.2% 2.1% Queixas

Somáticas (QS) 78% 91.8% 16.9% 6.6% 5.1% 1.6% Problemas Sociais(PS) 76.3% 96.9% 15.3% 2.4% 8.5% .7%

Problemas de Pensamento

(PP) 69.5% 95.5% 16.9% 3.4% 13.6% 1.1%

Problemas de Atenção (PA) 78% 93.6% 5.1% 4% 16.9% 2.3%

Comportamento de Oposição

(CO) 67.8% 96% 18.6% 3.6% 13.6% .4%

Comportamento Agressivo (CA) 74.6% 92.7% 20.3% 5.9% 5.1% 1.4% Internalização

(INT) 55.9% 72.7% 18.6% 14.4% 25.4% 12.9% Externalização

(EXT) 49.2% 87.1% 22% 6.3% 28.8% 6.6% Total de

Problemas (TP) 55.9% 83.6% 11.9% 9.1% 32.2% 7.3%

 

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Tabela 6: Correlações entre médias da YSR e

características do contexto.

Média das

Escalas

da YSR

Número de

Adolescentes

Rácio

Criança/

Cuidador

r(p) Sig. r(p) Sig.

Total de Problemas

-.28* .033 -.31* .017

Internalização -.36** .005 -.42** .001

Externalização -.16 .234 -.16 .212

* p < .05 (2-tailed); ** p < .01 (2-tailed); ∗ 𝑟! > .05 (2-tailed)

 

Page 70: Sónia Pires de Lima Araújo Rodrigues · permitiram até agora conhecer as reais necessidades das crianças e jovens acolhidos e o modo como os recursos e serviços disponibilizados

Tabela 7: Scores das Escalas de Problemas do SDQ de acordo com os pontos de corte, em percentagem.

Escalas do SDQ Ponto de corte Normal Ponto de

corte Limítrofe Ponto de corte Anormal

Total de Dificuldades (TD) 0-15 57.6% 16-19 28.8% 20-40 13.6%

Sintomas Emocionais (SE) 0-5 74.6% 6 16.9% 7-10 8.5%

Problemas de Comportamento

(PC) 0-3 72.9% 4 10.2% 5-10 16.9%

Hiperatividade (H) 0-5 61.0% 6 22.0% 7-10 16.9%

Comportamento Pró-Social (CPS) 6-10 81.4% 5 11.9% 0-4 6.8%

 

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Tabela 8: Correlações entre médias das escalas do SDQ

e variáveis individuais dos adolescentes ou características do contexto.

Média das Escalas do SDQ

Idade Número de Adolescentes

r(p) Sig. r(p) Sig.

Total de Dificuldades -.32* .014 -.35** .007

Comportamento Pró-Social .02 .870 -.01 .923

* p < .05 (2-tailed); ** p < .01 (2-tailed)

 

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Tabela 9: Correlações entre médias do SDQ, da ESCV, da YSR e subescalas de

Externalização e Internalização da YSR. SDQ

TD YSR TP

YSR E

YSR I

ESCV

SDQ Total de Dificuldades

Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N

1

59

Total de Problemas YSR

Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N

,65** ,000

59

1

59

Externalização YSR

Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N

,56** ,000

59

,92** ,000

59

1

59

Internalização YSR

Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N

,63** ,000

59

,93** ,000

59

,76** ,000

59

1

59

Satisfação com a Vida

Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N

-,22 ,097

59

-,07 ,606

59

-,01 ,938

59

-,11 ,418

59

1

59

** p = < .001 (2-tailed)

 

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 Tabela 10: Correlações entre a média das escalas da YSR e as dimensões da qualidade do

ARQUA-P dos Observadores. ARQUA-P

Observadores ID QS AD PS PP PA CO CA INT EXT TP LIE r

Sig N

,228 ,082

59

,398** ,002

59

,347** ,007

59

,088 ,506

59

,226 ,086

59

,338** ,009

59

,021 ,874

59

,274* ,036

59

,371** ,004

59

,161 ,222

59

,296* ,023

59

AFR

r Sig N

-,262* ,045

59

-,364** ,005

59

-,317* ,014

59

,025 ,851

59

-,094 ,478

59

-,322* ,013

59

-,032 ,808

59

-,176 ,183

59

-,360** ,005

59

-,113 ,394

59

-,244 ,063

59

SP

r Sig N

-,088 ,508

59

-,240 ,068

59

-,123 ,354

59

,015 ,907

59

,022 ,869

59

-,132 ,320

59

,040 ,764

59

-,016 ,906

59

-,172 ,193

59

,012 ,930

59

-,078 ,558

59

RD

r Sig N

-,203 ,123

59

-,342** ,008

59

-,262* ,045

59

,013 ,923

59

-,056 ,673

59

-,278* ,033

59

-,007 ,956

59

-,135 ,310

59

-,308* ,018

59

-,078 ,558

59

-,199 ,131

59

NBM

r Sig. N

,382** ,003

59

,292* ,025

59

,399** ,002

59

-,022 ,866

59

,298* ,022

59

,284* ,030

59

,092 ,490

59

,268* ,040

59

,409** ,001

59

,194 ,141

59

,314* ,015

59

EF

r Sig N

,113 ,394

59

-,063 ,637

59

,043 ,748

59

-,128 ,333

59

-,073 ,581

59

,069 ,605

59

,086 ,517

59

-,003 ,981

59

,036 ,789

59

,042 ,752

59

,022 ,872

59

SEV

r Sig N

-,019 ,889

59

-,170 ,198

59

-,071 ,593

59

,010 ,941

59

,108 ,417

59

-,181 ,171

59

,005 ,969

59

-,031 ,818

59

-,099 ,455

59

-,014 ,915

59

-,059 ,659

59

NI

r Sig N

-,351** ,006

59

-,415** ,001

59

-,416** ,001

59

-,022 ,869

59

-,283* ,030

59

-,320* ,013

59

-,038 ,774

59

-,266* ,042

59

-,451** ,000

59

-,166 ,209

59

-,327* ,012

59

P

r Sig N

-,052 ,694

59

-,276* ,034

59

-,163 ,216

59

-,082 ,538

59

-,046 ,728

59

-,234 ,075

59

,018 ,894

59

-,141 ,287

59

-,187 ,155

59

-,069 ,606

59

-,150 ,258

59

CE

r Sig N

,053 ,690

59

-,126 ,343

59

,001 ,993

59

-,004 ,974

59

,144 ,276

59

-,113 ,393

59

,033 ,805

59

,021 ,877

59

-,027 ,838

59

,028 ,833

59

,000 1,000

59

QT

r Sig N

,004 ,976

59

-,186 ,159

59

-,054 ,685

59

-,008 ,955

59

,098 ,459

59

-,142 ,283

59

,035 ,792

59

-,007 ,956

59

-,090 ,498

59

,014 ,917

59

-,040 ,763

59

* p = < .05 (2-tailed); ** p = < .001 (2-tailed).  

Page 74: Sónia Pires de Lima Araújo Rodrigues · permitiram até agora conhecer as reais necessidades das crianças e jovens acolhidos e o modo como os recursos e serviços disponibilizados

Tabela 11: Correlações entre a média das escalas do SDQ e as dimensões da

qualidade do ARQUA-P dos Observadores.

SDQ TD

SDQ EPS

SDQ SE

SDQ PC

SDQ H

SDQ PRC

Localização, Infraestruturas e Equipamento (LEI)

r Sig N

,379** ,003

59

-,140 ,289

59

,449** ,000

59

,198 ,133

59

,378** ,003

59

,006 ,964

59 Apoio à Família para a Reunificação (AFR)

r Sig N

-,313* ,016

59

-,141 ,287

59

-,382** ,003

59

-,151 ,254

59

-,275* ,035

59

-,046 ,727

59

Segurança e Proteção (SP)

r Sig N

-,259* ,047

59

-,207 ,115

59

-,388** ,002

59

-,030 ,823

59

-,224 ,089

59

-,067 ,612

59

Respeito pelos Direitos (RD)

r Sig N

-,307* ,018

59

-,139 ,295

59

-,390** ,002

59

-,117 ,379

59

-,292* ,025

59

-,038 ,772

59 Necessidades Básicas e Materiais (NBM)

r Sig N

,276* ,034

59

,074 ,578

59

,355** ,006

59

,228 ,083

59

,055 ,681

59

,139 ,295

59

Estudos e Formação (EF)

r Sig N

-,176* ,183

59

,156 ,238

59

-,302* ,020

59

,017 ,900

59

-,168 ,204

59

-,025 ,849

59

Saúde e Estilos de Vida (SEV)

r Sig N

-,085 ,521

59

-,024 ,858

59

-,039 ,767

59

-,017 ,896

59

-,256 ,050

59

,099 ,454

59

Normalização e Integração (NI)

r Sig N

-,437** ,001

59

-,085 ,523

59

-,596** ,000

59

-,223 ,090

59

-,242 ,064

59

-,147 ,268

59

Participação (P) r Sig N

-,239** ,069

59

,148 ,265

59

-,250 ,056

59

-,087 ,512

59

-,377** ,003

59

,081 ,540

59

Consequências Educativas (CE)

r Sig N

-,067 ,616

59

-,018 ,892

59

-,038 ,777

59

,025 ,853

59

-,250 ,056

59

,101 ,445

59

Qualidade total Observador (QT)

r Sig N

-,146 ,269

59

-,054 ,682

59

-,164* ,213

59

-,002 ,986

59

-,276* ,034

59

,059 ,658

59

* p = < .05 (2-tailed); ** p = < .001 (2-tailed); * 𝑟! < .05 (2-tailed); ** 𝑟! < .001 (2-tailed);

∗ 𝑟! > .05 (2-tailed).  

Page 75: Sónia Pires de Lima Araújo Rodrigues · permitiram até agora conhecer as reais necessidades das crianças e jovens acolhidos e o modo como os recursos e serviços disponibilizados

Tabela 12: Correlações entre a média da ESCV e as dimensões da qualidade do ARQUA-P dos

Adolescentes.

ARQUA-P Adolescentes LIE ARF SP RD NB EF SEV NI P CE QT

ESCV ,490***

,001

57

,346*

,016

48

,612***

,001

57

,453***

,001

57

,522***

,001

57

,313*

,019

56

,336*

,011

57

,569***

,001

57

,488***

,001

57

,398**

,002

57

,581***

,001

57

*p = < .05 (2-tailed); ** p = < .01 (2-tailed); *** p = < .001 (2-tailed).  

Page 76: Sónia Pires de Lima Araújo Rodrigues · permitiram até agora conhecer as reais necessidades das crianças e jovens acolhidos e o modo como os recursos e serviços disponibilizados

Tabela 13: Correlações entre a média da ESCV com as dimensões da qualidade do

ARQUA-P dos Observadores.

ARQUA-P

Observadores LIE ARF SP RD NBM EF SEV NI P CE QT

ESCV -,437**

,001

59

,605***

,000

59

,538***

,000

59

,624***

,000

59

-,073

,581

59

-,020

,879

59

,574***

,000

59

,354**

,006

59

,511***

,000

59

,542***

,000

59

,579***

,000

59

* p = < .05 (2-tailed); ** p = < .001 (2-tailed); *** p = < .001 (2-tailed).