125
Faculdade de Engenharia de Alimentos Universidade Estadual de Campinas Sorvetes com diferentes produtos de soro de leite bovino: avaliações sensoriais, físico-químicas e ultra-estruturais Karla Silva Engenheira Química Prof a . Dr a . Helena Maria André Bolini Cardello Orientadora Dissertação apresentada à Faculda- de de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campi- nas para a obtenção do título de Mestre em Alimentos e Nutrição. Campinas, 2004. i

Sorvetes com diferentes produtos de soro de leite bovino ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/254264/1/Silva...Duvidando da dúvida, e duvidando com fé e da própria fé, verás

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  • FaculdadedeEngenhariadeAlimentos

    UniversidadeEstadualdeCampinas

    Sorvetescomdiferentesprodutosdesoro de leite bovino:

    avaliaçõessensoriais,físico-químicaseultra-estruturais

    Karla Silva

    EngenheiraQuímica

    Profa. Dra. HelenaMaria André Bolini Cardello

    Orientadora

    Dissertaçãoapresentadaà Faculda-

    de de Engenhariade Alimentosda

    UniversidadeEstadualde Campi-

    nas para a obtençãodo título de

    MestreemAlimentoseNutrição.

    Campinas,2004.

    i

  • ii

  • BANCA EXAMIN ADORA

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    HelenaMariaAndréBolini Cardello

    FEA-UNICAMP

    Presidente

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Mirna LúciaGigante

    FEA-UNICAMP

    Membro

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    PauloPintoJoazeiro

    IB-UNICAMP

    Membro

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    FláviaMariaNetto

    FEA-UNICAMP

    Suplente

    Campinas,2004.

    iii

  • AGRADECIMENT OS

    Ao CNPqeaFAEPpeloauxílio financeiro.

    Aosprofessoresdoutores:HelenaM.B. Cardellopelaoportunaeseguraorientação;Mir-

    na L. Gigante,Paulo P. Joazeiro,Aloísio J. Antunese Flávia M. Netto pelasimportantes

    correçõesquepossibilitaramo enriquecimentodestaobrae solidificaçãodosmeusconhe-

    cimentos;Kitajima (USP),Débora(DEPAN), Telma(FEQ)e Helena(DCA) pelaspreciosas

    dicase/ouapoiocolaborandoparao desenvolvimentodapresentedissertação.

    Às empresas:NestléBrasil Ltda. pelo apoioe fornecimentode insumos;DuasRoda

    Brasil Ltda. pelo fornecimentoda misturaestabilizante/emulsificante;Tovani Benzaquen

    Ltda. eSweetMix Ltda. pelofornecimentodossorosconcentradoedesmineralizado.

    Ao DepartamentodeMicroscopiaEletrônicadoInstitutodeBiologiadaUNICAMP, pela

    parcerianodesenvolvimentodatécnicadecrio-substituiçãoaquiempregada.

    Ao Chico,Fátima,Suzana,Cidinha,Graça,Nice,Lia, Souely, IaraeMariaHelena,meus

    queridose alegrescompanheirosdeDEPAN, por todoauxílio técnico. À Ana Kon (DTA),

    Bete(DTA), Adriane(IB), Loló (IB). Especialmente,à Eliana(DEPAN) e à Antônia (IB),

    técnicaseamigas,admiravelmentecomprometidascomaexcelênciaintelectual.

    À SilvanaeaoBarthopelapaciênciaesupersuporteparaconfecçãodestaobra.

    À Kity eAdrianepelaamizade,apoioe luz parao desenvolvimentodestetrabalho!

    À Ingrid, Verena,Julianee Fernando,meusmaisnovosamigos,quedemonstraramque

    apoioirrestritoedesinteressadoépossível e faztodaadiferença!

    À Cáritas,Marli, José,Sr. Antônio e Fernando:pelaamizade,apoioe, principalmente,

    pelaslongasepreciosasconversas"psicológicas"e"revolucionárias"!

    Rogerio,Luci, Hilda, Hermínia,Sergio, Walter, Bia e Chico pela amizadecom tanta

    atenção,preocupação,carinho,enfim,porsempreamenizaremaspedrasdemeucaminho!

    Larissae Alessandra:expressãomáximadeamizadesempretão"conectadas"emminha

    vida. Obrigadapormeouviremepermaneceremacreditandotantoemmim!

    A todaminhafamília,emespecialaosmeusirmãosKeila,Kelber, KeleneKelenson!

    AosmeusPaiseaDeus, aosquaisnãoapenasagradeçomasdevo ededicoestetrabalho!

    iv

  • "Não duvidesdadúvidaeduvides.

    Porémduvidescomfé,eaindaduvidesda fé.

    Poisnãoéa dúvida,inertenapendênciada féatéa obscuridade,

    e forçano impulsopara alcançara compreensão?

    Nãoduvideseaomesmotempoduvides

    detudoquantoacreditesserverdadeiro

    por quea dúvidatambéméverdadeira emsi epor si.

    Duvidandodadúvida,eduvidandocomféedaprópria fé,

    veráso ilusório dadúvidaea féderrubar-sea teuspés

    ... eelevar-semajestosaanteteusolhos,a dúvidafeitaemVerdade."

    (O vôodaserpenteemplumada,ArmandoCosani)

  • Sumário

    ResumoGeral 1

    Abstract 2

    Intr odução 3

    Objetivos 6

    1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 7

    1.1 Sorvete . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    1.1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    1.1.2 Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    1.1.3 Nutrientesdosorvete . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    1.1.4 Ingredientesbásicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    1.1.5 Processodemanufatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    1.1.6 Propriedadesdamistura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    1.1.7 Característicasdeum sorveteideal . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    1.2 Proteínasdosorodeleitebovino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    1.2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    1.2.2 Composiçãodosorodeleite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

    1.2.3 Processosderecuperaçãodasproteínasdosorodeleite . . . . . . . 27

    1.2.4 Produtosdesorodeleite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    vi

  • 1.2.5 Propriedadesfuncionaisdasproteínasdosoro . . . . . . . . . . . . 29

    1.3 Aplicaçãodeprodutosdesorodeleiteemsorvete . . . . . . . . . . . . . . 30

    1.3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

    1.3.2 Desenvolvimentodaaplicaçãodasproteínasdosoro . . . . . . . . 32

    Referências 35

    44

    2 INTRODUÇÃO DE PRODUTO DE SORO ÁCIDO DE LEITE NA FORMU-

    LAÇÃO DE SORVETE 45

    46

    Resumo 47

    Abstract 48

    2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

    2.2 MateriaiseMétodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

    2.2.1 Definiçãodametodologiadeprocessamentodosprodutos . . . . . 50

    2.2.2 Formulaçõesdasmisturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

    2.2.3 Preparodosprodutos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

    2.2.4 Avaliaçãosensorialdosprodutos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

    2.3 ResultadoseDiscussão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

    2.3.1 Caracterizaçãodosingredientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

    2.3.2 Avaliaçãosensorialdosprodutos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

    2.4 Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    Referências 62

    66

    vii

  • 3 ESTUDOCOMPARATIV O DE SORVETES FORMULADOS COM DIFEREN-

    TES PRODUTOS DE SORO DE LEITE BOVINO 67

    68

    Resumo 69

    Abstract 70

    3.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

    3.2 MateriaiseMétodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

    3.2.1 Definiçãodametodologiadeprocessamentodosprodutos . . . . . 72

    3.2.2 Formulaçõesdasmisturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

    3.2.3 Caracterizaçãodosingredientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

    3.2.4 Dosagemdoscomponentesdasmisturas. . . . . . . . . . . . . . . 76

    3.2.5 Preparodasmisturasedossorvetes . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

    3.2.6 Caracterizaçãodasmisturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

    3.2.7 Avaliaçãofísicadossorvetes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

    3.2.8 Avaliaçãoultra-estruturaldosprodutos . . . . . . . . . . . . . . . 82

    3.2.9 Avaliaçãosensorialdosprodutos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

    3.2.10 Análisesestatísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

    3.3 ResultadoseDiscussão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

    3.3.1 Caracterizaçãodosingredientesedasmisturas . . . . . . . . . . . 86

    3.3.2 Avaliaçãofísicadosprodutos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

    3.3.3 Avaliaçãoultra-estruturaldosprodutos . . . . . . . . . . . . . . . 96

    3.3.4 Avaliaçãosensorialdosprodutos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

    3.4 Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

    Referências 106

    ConclusãoGeral 113

    viii

  • Lista deTabelas

    1.1 ComposiçãoquímicaaproximadadesorvetescomerciaisnoBrasil eEUA. . 8

    1.2 Regulamentaçõesparacomposiçãoquímicadesorvetes . . . . . . . . . . . 12

    1.3 Tamanhosmédiosdeelementosestruturaisemsorvetea -5oC�

    . . . . . . . 21

    1.4 Composiçãotípicadesorosácidoedocedeleitebovino. . . . . . . . . . . 25

    1.5 Composiçãoquímicaaproximadadediferentesprodutosdesorodeleitebo-

    vino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    1.6 Pesquisascomdiferentessubstituintesdo leiteempódesnatadoemsorvete. 32

    2.1 Dosagemdosingredientesdasmisturascomleiteempóe/ouSAP. . . . . . 55

    2.2 Composiçãoaproximadados ingredientesutilizadosnossorvetesformula-

    doscomleiteempóe/ouSAP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

    2.3 Diferençaentretotaisdeordenação-doçuradossorvetesformuladoscomlei-

    teempóe/ouSAP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

    2.4 Observaçõesdeprovadores,notestedeordenação-doçura,parasorvetescom

    leiteempóe/ouSAP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    3.1 Dosagemdosingredientesutilizadosnossorvetesformuladoscomdiferentes

    produtosprotéicoslácteos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

    3.2 Composiçãoaproximadados ingredientesutilizadosnossorvetesformula-

    doscomdiferentesprodutosprotéicoslácteos.. . . . . . . . . . . . . . . . 86

    3.3 Caracterizaçãodasmisturasdesorvetesformuladoscomdiferentesprodutos

    protéicoslácteos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

    ix

  • 3.4 Ordenaçãodascaracterísticasdasmisturasdesorvetesformuladoscom di-

    ferentesprodutosprotéicoslácteos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

    3.5 Overrunefirmezadesorvetesformuladoscomdiferentesprodutosprotéicos

    lácteos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

    3.6 ResultadosparaTPG�

    e RRM� dos sorvetesformuladoscom diferentesprodutosprotéicoslácteos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

    3.7 Diferençaentretotais de Ordenação-preferênciaparasorvetesformulados

    comdiferentesprodutosprotéicoslácteos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

    3.8 Observaçõesde provadoresno testeOrdenação-preferênciapara sorvetes

    formuladoscomdiferentesprodutosprotéicoslácteos.. . . . . . . . . . . . 102

    3.9 Diferençaentretotaisdeordenaçãoquantoaogostodoceparasorvetesfor-

    muladoscomdiferentesprodutosprotéicoslácteos. . . . . . . . . . . . . . 102

    3.10 Observaçõesdeprovadores,notestedeOrdenação-doçura,parasorvetesfor-

    muladoscomdiferentesprodutosprotéicoslácteos. . . . . . . . . . . . . . 103

    x

  • Lista deFiguras

    1.1 Representaçãoesquemáticadosorvete[CAMPBELL ePELAN,1998;WALS-

    TRA eJONKMAN, 1998;GOFFetal, 1999]. . . . . . . . . . . . . . . . . 10

    1.2 Representaçãoesquemáticada coalescênciaparcialde glóbulos de gordura

    [WALSTRA eJONKMAN, 1998]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

    1.3 Processosdeproduçãodediferentesprodutosdesorodeleitebovino. . . . 27

    2.1 Fluxogramadeprocessamentodossorvetes. . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

    2.2 Apresentaçãodasamostrasparatestesensorial. . . . . . . . . . . . . . . . 58

    2.3 Fichaparatestesensorialdeordenação-doçura.. . . . . . . . . . . . . . . 58

    3.1 Materiaisutilizadosno testederesistênciaaoderretimento.. . . . . . . . . 81

    3.2 FichaparaTestedeOrdenação-preferênciaparasorvetescomdiferentespro-

    dutosprotéicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

    3.3 Perfil eletroforéticodasmisturasdesorvetecomdiferentesprodutosprotéi-

    coslácteos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

    3.4 Variaçãodafirmezacomo tempodeestocagem.. . . . . . . . . . . . . . . 92

    3.5 Testedederretimento:visualizaçãodaretençãodeforma. . . . . . . . . . . 94

    3.6 Curvasdederretimentodossorvetescomdiferentesprodutosprotéicoslácteos.95

    3.7 Retençãorelativaa10%demassadescongelada. . . . . . . . . . . . . . . 96

    xi

  • 3.8 Microscopiaeletrônicade transmissão(ampliação9700x) P= Sorvete Pa-

    drão;A= SorvetecomSAP;D= Sorvetecomsorodesmineralizado;T= Sor-

    vetecomCPSAs ondulaçõesdevem-seproblemasdurantecortesultrafinosdaamostra

    (devido adiferençasdedurezadaamostraresinada). . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

    3.9 Microscopiaeletrônicade transmissão(ampliação16200x)P= SorvetePa-

    drão;A= SorvetecomSAP;D= Sorvetecomsorodesmineralizado;T= Sor-

    vetecomCPS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

    3.10 Microscopiaeletrônicadetransmissão(ampliação23000x)A= Sorvetecom

    SAP;D= Sorvetecomsorodesmineralizado.. . . . . . . . . . . . . . . . . 99

    xii

  • ResumoGeral

    O sorode leite bovino é um subprodutoda manufaturade queijo ou caseínacaracterizado

    por suafuncionalidadee valor biológico. O soroácido,obtidodacoagulaçãoácidado lei-

    te, apesardo seuvalor funcionalaindaé consideradoum rejeito industrial. Nestecontexto,

    foi propostaa adiçãode produtodo soroácidode leite (SAP), em cinco diferentesníveis

    de substituiçãodo leite em pó, na formulaçãode sorvete. A avaliaçãodo efeito provoca-

    do, pelaintroduçãodo SAPno sorvete,foi feita por testesensorial.Considerandoaindaos

    fabricantesde sorveteque,reconhecendoa importânciafuncionale nutricionaldosprodu-

    tosdesorode leite, gostariamdeaumentarosníveisdesubstituiçãopor estesprodutosem

    suasformulações,efetuou-seaplicaçãode leite em pó desnatadoe diferentessubstituintes

    deste(SAP, sorodesmineralizadoe concentradoprotéicode soro35%),comparando-seos

    resultados.A primeiraetapado trabalhoidentificouumaboaaceitaçãodosprovadorespara

    o produtocontendo30%deSAP, sendoestenível selecionadoparacontinuidadedo traba-

    lho. Nasegundaetapaasmisturasforamcaracterizadas(proteína,gordura,minerais,açúcar,

    sólidostotais,pH, acideztitulável, viscosidade,temperaturadecongelamentoe fraçõespro-

    téicas)e os produtosaeradose congeladossubmetidosa avaliaçõesfísicas(potencialde

    aeração,firmezae resistênciaaoderretimento),aspectosultra-estruturaise testessensoriais.

    Os resultadosdemonstraramquea introduçãodo SAPaumentoua viscosidadedamistura,

    manteve o potencialdeaeração,estabilizoua firmezae melhoroua estruturamicroscópica

    do sorvetecomparativamentecoma formulaçãopadrão(semsubstituiçãodo leite). Houve

    boaaceitaçãodosprovadoresparaasformulaçõescom substituiçãodo leite desnatadopor

    30%deSAP, 100%dedesmineralizadoe100%deconcentradoprotéicodesoro.

    1

  • Abstract

    Whey protein is a by productof cheeseor caseinproduction,which is characterizedby a

    high functionality andbiological value. Acid whey protein is obtainedby acid coagulati-

    on of milk, hasbeenviewed asdairy wastesso representa critical environmentalpolluti-

    on. In this context, we proposedthe acid whey addition in ice creamformulations,as a

    dry skim milk total or parcialsubstitute,ascertainingby sensoryevaluationthe panellists

    acceptancefor five differentsubstitutionslevels. Ice creammanufacturersinterestingin in-

    creasingthe percentualof this productin ice creamformulationsshowed the importance

    of the comparative applicationof dry skim milk andothersdifferent replacers(acid whey

    product,demineralizedwhey andwhey proteinconcentrate)in ice creamformulations.At

    thefirst stageof this work a goodpanellistsacceptancefor 30%acidwhey productcontent

    productwasobtainedthenthis level wasselectedto thefollowedexperiments.In thesecond

    level mixtureswerecharacterized(protein, fat, minerals,sugar, total solids,pH, titratable

    acidity, viscosity, freezingtemperatureandproteinsfractions)andwhippenedandfreezing

    productsweresubmittedto physical evaluations(whippingpotential,firmnessandmelting

    resistance),structuralelectronmicroscopy aspectsandsensoryevaluations.Resultsshowed

    thatacidwhey additionin icecreamformulationsincreasedtheviscosityof mix, maintained

    thewhippingability, stabilizedthefirmnessandimprovedthemicroscopicstructure,asthe

    standardproductcomparison(formulationwithoutmilk substitutions).Therewasgoodsen-

    sorypanelacceptancefor all milk substitutedformulations(30%acidwhey product,100%

    demineralizedwhey and100%whey proteinconcentrate).

    2

  • Intr odução

    O soro líquido, subprodutoda manufaturade queijo, tem estimativa de geraçãoglobal de

    145 bilhõesde kilogramas/ano[VOORBERGENeZWANENBERG,2002] que, uma vez

    descartadosdiretamentenosmananciaisdeágua,representao maisproblemáticorejeitodos

    laticínios(100Kg desorotempotênciadepoluiçãoequivalenteaosdespejosproduzidospor

    45 pessoas/dia)[JELEN,1979]. Emboraexistaa possibilidadedetratamentodesteresíduo,

    evitandoo custodo tratamentoesemfiscalizaçãoefetivadasautoridades,muitosprodutores

    optampelautilizaçãoparcialdestesubprodutocomoalimentaçãoanimal,descartandoo ex-

    cedentediretamentenosrios. A questãoé transformarestesubprodutodeum problemaem

    umaoportunidade[VOORBERGENeZWANENBERG,2002]. Representandoaproxima-

    damente20%dasproteínastotaisdo leite [ANTUNES, 2003],o sorotemsidoaproveitado,

    porprocessosdeconcentraçãodasproteínasemváriospaíses,sendoEstadosUnidos,União

    Européia,Austrália,Canadáe Nova Zelândiaseusprincipaisexportadores.Constituídode

    água,minerais,açúcarese proteína,a concentraçãodo soro geraprodutosprotéicosque,

    além de seremutilizadoscomo ingredientesmelhorandoas propriedadesfuncionais(vis-

    cosidade,solubilidade,gelificação,emulsificação,formaçãode espuma,estabilidade)dos

    alimentos,tambémforamrecentementerelacionadoscomaprevençãodocâncerdepróstata

    [BOMSERetal, 2003]. Estaalternativa de concentração,emborasejarealidadelucrativa

    emdiversospaíseseo Brasil figureentreosmaioresimportadoresmundiaisdosprodutosde

    soro1, envolvealtocustodeproduçãosendoconsideradoinviável pelasindústriasnacionais.

    1O Brasil, já em 2000, ocupava o 7o lugar na lista de maiores importadoresde produtosde soro[VOORBERGENeZWANENBERG,2002].

    3

  • 4

    Paralelamente,o custorelativamentealto do leite desnatadoempó temaumentadoo in-

    teressenabuscadefontesalternativasparao suprimentodesólidosnãogordurososdo leite

    na formulaçãodo sorvete. Os fabricantesamericanosde sorvete,quejá utilizam produtos

    de soroem suasformulações,têm solicitadoo aumentodo nível, de até25% de substitui-

    çãodossólidosnãogordurososdo leite por produtosde sorode leite, argumentandoque

    comissoteriammaiorflexibilidadenadiversificaçãodeprodutose satisfaçãodosconsumi-

    dores[HEREMANSetal, 1997]. Emboraexistamvários trabalhossobrea introduçãode

    produtosdesorodeleite emformulaçõesdeprodutosalimentícios,nãoexistemreferências

    quantoa aplicaçãocomparativa de tais produtos,especialmentecom o usodo soroácido,

    comosubstituintesemsorvetes.Comrelaçãoaosníveisdesubstituintesutilizados,existem

    citaçõesdeocorrênciadecaracterísticasindesejáveisdo produtocongelado,comoarenosi-

    dade[LEE eWHITE, 1991] e gostosalgado[MARSHALL eARBUCKLE, 1996], quando

    dousoexcessivo desubstituintesdossólidosdo leitedesnatado.

    Nestecenário,o presentetrabalhoapresentaapropostadeutilizaçãodosoroácidocomo

    ingredientedesubstituiçãonafabricaçãodesorvete,objetivandoverificaro nível desubsti-

    tuiçãoparaaceitaçãosensorialdeconsumidoresempotencial.Apresenta-seaindaa introdu-

    çãocomparativadediferentesprodutosprotéicosnaformulaçãodestasobremesacongelada,

    objetivandoverificara aceitaçãosensorialdeconsumidorespotenciaise compararascarac-

    terísticasfísico-químicaseultra-estruturaisavaliadas.

    O capítulo2 traz os experimentosrealizadosutilizando o soro ácido, provenienteda

    fabricaçãodo queijo tipo quark e fornecidopela divisão de refrigeradosda NestléBrasil

    Ltda., para preparaçãodo sorvete. A inexistênciade pesquisasde aplicaçãodestetipo

    de subprodutoe a existênciade hipóteseslevantadasquantoao gostosalgado provocado

    pelo mesmo,acarretoua necessidadede verificar possíveis níveis de substituição.Cinco

    diferentesformulaçõesforam preparadascom diferentessubstituições(100, 80, 60, 30 e

    0%)do leiteempódesnatadoporsoroácidoempó(SAP).Osprodutosforamsubmetidosa

    análisesensorialparaverificaçãodapercepçãodosprovadoresaosdiferentesprodutos.No

    capítulo3, apresenta-seosexperimentosrealizadosdeintroduçãocomparativa dediferentes

    4

  • 5

    produtosprotéicos(leite em pó desnatado,produtode soroácido,sorodesmineralizadoe

    concentradoprotéicode soro) na formulaçãodo sorvete. Quatrodiferentesformulações

    foram preparadas:amostrapadrão(P) com 100% de sólidosdo leite desnatado,amostra

    A ��� com substituiçãoparcial dos sólidos do leite por soro ácido em pó, e duasoutrascom substituiçãodossólidosdo leite por sorodesmineralizadoe por CPS35%, amostras

    D e T respectivamente. Todasas misturasforam submetidasa análisesfísico-químicas

    (composição,pH, acidez,viscosidade,pontodecongelamento).Ossorvetesprontosforam

    submetidosa testesfísicos,ultra-estruturaisesensoriais.

    Referências

    ANTUNES, A.J. Funcionalidadedeproteínasdo soro de leite bovino. EditoraManole

    Ltda.,2003.

    BOMSER,J.; KENT, K. e HARPER,J. Effect of whey proteinisolateon intracellular

    glutathioneand oxidant-inducedcell deathin humanprostateepithelial cells. Toxicol In

    Vitro, v.17,n.1,p.27-33,2003.

    GALE GROUP. Ice-creamfirms want to use more whey.The Food Institute Report.

    Washington,2003. Disponível em:.Acesso

    em: 23dejunhode2003.

    JELEN,P. Industrialwhey processingtechnology:An overview. Journal of Agriculture

    andFoodChemistry, v.27,n.4,p.658-661,1979.

    LEE, F.Y. eWHITE, C.H.Effectof ultrafiltrationretentatesandwhey proteinconcentra-

    teson ice creamquality during storage.Journal of Dairy Science, v.74, n.4, p.1171-1180,

    1991.

    MARSHALL, R.T. e ARBUCKLE, W.S. Ice cream. InternationalThomsonPublishing,

    5a ed.1996,349p.

    VOORBERGEN,M. e ZWANENBERG,A. Whey-ing the future. Dairy IndustriesIn-

    ternational, 2002.Disponível em: Acessoem23dejunhode2003.

    5

  • Objetivos

    � Substituiro leite empó desnatado,na formulaçãodesorvetes,por diferentespercen-tuaisdeprodutodesoroácidodeleitebovino, everificarapercepçãosensorialquanto

    aogostodoce.

    � Formularsorvetescomdiferentesingredientesprotéicoslácteos(leite empó desnata-do,produtodesoroácidodeleitebovino, sorodesmineralizadoeconcentradoprotéico

    desoro)ecompará-losatravésde:

    – Análisesfísico-químicas;

    – Avaliaçõesultra-estruturais;

    – Testessensoriais.

    6

  • Capítulo 1

    REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    1.1 Sorvete

    1.1.1 Intr odução

    Sorveteestáinseridonachamada"famíliadesobremesascongeladas"eestádefinidonaPor-

    tariano379(RegulamentoTécnicoparaFixaçãodeIdentidadee QualidadedeGeladosCo-

    mestíveis, Preparados,Pósparao Preparoe BasesparaGeladosComestíveis) do Diário

    Oficial daUniãode29 deabril de1999. Cadacategoriadeprodutopodediferir quantoao

    sabor, composiçãodeingredienteslácteosedeoutrossólidos[BODYFELT etal, 1988].

    O sorvete é um alimentoaeradoe congeladoelaboradoa partir de uma misturapas-

    teurizadaqueconsistede produtoslácteoscom outrosingredientesnãolácteosde forma a

    obter-seo percentualdesejadodegorduralácteae sólidosnãogordurososdo leite (SNGL)

    [ANDREASSENeNIELSEN,1992]. Entre os produtoslácteosutilizadospodemoscitar

    cremede leite, manteiga, leite, sorode leite, caseínae caseinato.Os produtosnãolácteos

    maisutilizadossãocarboidratos,estabilizantes,emulsificantes,essênciase corantes,entre-

    tanto,outrosingredientestais comoamidos,ovos ou derivadostambémpodemseradicio-

    nados[MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. O termo"mistura"éempregadoparadefinir o

    conjuntodetodososingredientesdosorvetecomexceçãodoar.

    7

  • 1.1. Sorvete 8

    A composiçãodo sorvetetambémvariaemdiferenteslocalidadese emdiferentesmer-

    cadosde acordonãoapenascom a opiniãodosfabricantesmastambémcom ascondições

    sobasquaisesteopera. A composiçãoaproximadageralmenteestáentre0-20%gordura,

    8-15%SNGL, 13-20%açúcar, 0-1.0%estabilizante/emulsificantee 32-45%sólidostotais

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. A Tabela1.1 exibe composiçõescomerciaistípicas

    desorvetesnoBrasil eEUA.

    Tabela1.1: ComposiçãoquímicaaproximadadesorvetescomerciaisnoBrasil eEUA.

    Característica Brasil�

    EstadosUnidos�

    Proteínabruta(%Nx 6.25) 3.8 2.6- 4.8Carboidrato(%) 24.8 15.0- 20.0Gordura(%) 7.3 18.0- 22.0pH - 6.3Acideztitulável (%) - 0.2�

    Fonte:NestléBrasil Ltda. � Fonte:[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    1.1.2 Histórico

    Algunslivrostrazemmitossobrea históriado sorvete[TURNBOW et al, 1947;SAWYER,

    1969;MARSHALL e ARBUCKLE, 1996]provavelmenterelacionadocombebidasconge-

    ladase gelo que foram popularesna Europadurantetemposmedievais. Não existe uma

    descriçãodefinitiva,excetoqueneve e geloeramusadospararesfriare possibilitarcongela-

    mentodesobremesas.

    1.1.3 Nutrientes do sorvete

    O sorveteé umaexcelentefontedeenergia ondeosconstituintessãoquasecompletamente

    assimilados[MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Principalmenteconstituídodecarboidra-

    tosegordura,o sorvetetambémcontemproteína,mineraisevitaminas.

    8

  • 1.1. Sorvete 9

    Proteínas

    O sorvetetem umaalta concentraçãode SNGL, querepresentam34-36%em proteínasdo

    leite [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. As proteínascontribuemmuito parao desenvol-

    vimentodaestruturadosorvete,inclusiveparaemulsificação,aeraçãoepromovendocorpo1

    e textura2 suaves ao produto. A capacidadede retençãode águadasproteínasconduzà

    melhoriadaviscosidadedamistura[KINSELLA, 1984]. As proteínastambémpodemcon-

    tribuir parao aumentodo tempodederretimentodo sorvetee parareduçãodeformaçãode

    gelo[GOFFetal, 1989].A adsorçãodasproteínasaosglóbulosdegorduraduranteahomo-

    genizaçãodamisturaconferempropriedadesemulsificantes[GOFFeJORDAN, 1989].

    Gordura

    O tipo e a quantidadedegordurainfluenciaascaracterísticasdo sorveteresultante,influen-

    ciandosuaspropriedades[ADAPA, 2000]. A gorduracontribui paraa estruturado sorvete

    duranteo congelamentoe aeraçãoformandoumaredetridimensionalparcialmentecoales-

    cidadeglóbuloshomogêneosque,junto comasbolhasdear e cristaisdegelo(Figura1.1),

    é responsável pelarigidez, bemcomopelaresistênciaao derretimentoe textura maciado

    produtocongelado[BOLLINGER etal, 2000].

    Com o aumentoda gordurano sorvete, os SNGL devem ser diminuídosafim de se

    evitar a arenosidade,quesedeve a cristalizaçãoda lactoseno sorvetefinal. Aumentando

    o conteúdogordurosodo sorvete diminui o tamanhodos cristaisde gelo devido a inter-

    rupçãodo espaçodisponível paraa formaçãodestes[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    Um alto conteúdo em gordura pode limitar o consumo, aumentaro valor calórico

    e tornar maior o custo tornando-seportanto interessanteuma diminuição deste teor

    [AIME etal, 2001]. Estudosmostramque glóbulos de gorduraconcentradosna superfí-

    cie dascélulasde ar duranteo congelamentodo sorvete, principalmentede fonte láctea,

    1Corpo é a sensaçãode preenchimentobucal [AKOH, 1998], a riqueza de sabor e/ou consistência[ABNT, 1993].

    2Textura: Todasaspropriedadesreológicase estruturais(geométricae desuperfície)deum alimento,per-ceptíveispelosreceptoresmecânicos,táteiseeventualmentepelosreceptoresvisuaiseauditivos.[ABNT, 1993]

    9

  • 1.1. Sorvete 10

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    %'&�(*)�+-,�. /�)0214365�04798 :�;�:< :'=9>?8

  • 1.1. Sorvete 11

    Minerais

    Os sais minerais,além dos inerentesaos ingredientesutilizados na formulaçãodo sor-

    vete, sãogeralmenteutilizadosem quantidadeslimitadas(aproximadamente0,1%). Es-

    te incrementovisa alteraras propriedadesde manipulação,aparênciado produto. Exis-

    te aindaa crençade queumapequenaquantidadede sal conferemelhorsaborao sorvete

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    Vitaminas

    O sorveteé umaimportantefonte de váriasvitaminascujo conteúdodependeráprimaria-

    mentedaquantidadedesólidosdo leite [MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    1.1.4 Ingr edientesbásicos

    Um sorvete de alto padrãorequeruma mistura com matériasprimas de boa qualidade,

    ou seja, a seleçãodos ingredientesdeve considerara disponibilidadede produtoslác-

    teos, a perecibilidadedos produtos,a disponibilidadede equipamentos,efeitos do ba-

    timento sobre a mistura, efeitos do processamentosobre o sabor, custosdos sólidos,

    entre outros [TURNBOW etal, 1947]. Os ingredientesbásicosde sobremesascongela-

    dassãogorduraláctea,SNGL, adoçantes,estabilizantes/emulsificantes,essênciase água

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. A formulaçãoé definidacom basenasregulamen-

    taçõesnacionais(Tabela1.2), no tipo deprodutosde leite e equipamentosdisponíveis,nas

    exigênciascontratuais,notipo deconcorrênciaqueo produtoirá enfrentar, noefeitodacom-

    binaçãopropostade sólidossobrea qualidadee operaçõesde congelamentoe, finalmente,

    noscustos[TURNBOW etal, 1947].

    Os ingredientespodemseragrupadosem produtoslácteose produtosnãolácteos. Os

    produtoslácteosformamos ingredientesbásicosquefornecemgordurae SNGL. Entreos

    produtosnãolácteosencontram-seadoçantes,estabilizantes/emulsificantes,ovos,frutas,no-

    zes,essências,produtosespeciaiseágua[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    11

  • 1.1. Sorvete 12

    Tabela1.2: Regulamentaçõesparacomposiçãoquímicadesorvetes

    Componete Brasil�

    EstadosUnidos�

    Sólidostotail 28 19Sólidosdeleite - 20Gorduraláctea 2.5 10Proteínasdeleite 2.5 -Estabilizante - 0.5�

    RegulamentaçãoBrasileira:Portariano379doDiário Oficial daUniãode29deabril de1999.

    � PadrãoFederalAmericano:Codeof FederalRegulations,Title 21,Part 135(21CRF135).

    A quantidadede sólidos na mistura (gorduras,carboidratos,proteínase conteúdos

    minerais), em baseseca,formam os sólidos totais (ST) do sorvete. Um aumentoem

    ST, dentro de certos limites, implica no aumentodo valor nutritivo, da viscosidadee

    da resistênciaassociadasao corpo e textura do sorvete [TURNBOW etal, 1947]. Es-

    te aumentopode tambémprovocar a diminuição do percentualem água congeladae

    freqüentementepermite-seum overrun4 mais alto [MARSHALL eARBUCKLE, 1996],

    uma textura macia, melhor corpo, e melhor estabilidadeda qualidadedo produto final

    [STOGO,1997]. Mas um elevadoconteúdode ST (acimade 42%) acarretaráem produ-

    to pesado[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    Produtoslácteos

    O leite é composto de água, gordura, e sólidos não gordurosos do leite

    [VARNAN eSUTHERLAND,1994]. A parcelade SNGL contem lactose,micelas de

    caseína5 (presentesem quatroprincipaisformas: s1, s2, e com pesosmoleculares23551,25238,24028e 19038daltonsrespectivamente[DALGLEISH]), proteínasdo soro,

    minerais(cinzas),vitaminas,ácidos,enzimase gasesprovenientesdo leite ou dosprodutos

    lácteosdafontedeorigem[GOFF, 1997a].Tantoagorduracomoossólidosnãogordurosos

    4Overruné o aumentoem volumedo sorveteacimado volumeda misturadevido a incorporaçãode ar[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    5Micelasde caseínasãopartículascoloidaisporosasformadaspelo sistemabovino mamárioa partir desubmicelasesféricas,equepossuemestruturaúnicadepolifosfatodecálcio[MORR eFOEGEDING,1975].

    12

  • 1.1. Sorvete 13

    do leite contribuem significativamenteparao sabordo sorvete sendoque os SNGL têm

    apenasum efeitoindireto[STOGO,1997].

    Gordura láctea é o ingrediente de maior importância em sorvete e pode va-

    riar de 0-24%, dependendode fatores como padrões legais, qualidade e preço

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Esteingredienteforneceenergia, ácidosgraxoses-

    senciais,esteróise interagecom outros ingredientesdesenvolvendo o sabor (transpor-

    ta os saboressolúveis em gorduras,lubrifica a boca, conferecremosidade)e a estrutu-

    ra [AKOH, 1998; WALSTRA e JONKMAN, 1998]. A melhor fonte de gorduraláctea

    é o cremede leite fresco mas outrasfontes podemser cremede leite congelado,man-

    teiga, gordura lácteaanidra, gordura láctea fracionadae misturasde leite concentrado

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    Sólidosnão gordurososdo leite (SNGL) sãoossólidosdo leite desnatado,queconsis-

    tem de 37% proteína,55% de açúcardo leite (lactose),8% mineraise quetêm alto valor

    alimentar, apresentandobaixocustoe a característicademelhorara palatabilidade6 do sor-

    vete [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. A quantidadeadequadade SNGL, nãoapenas

    confereo corponecessárioou a quantidadenecessáriaa umafórmula específicamastam-

    bémprevineo sorvetedosaborrançoso[TURNBOW etal, 1947].

    Além do leite e do cremedeleite,outrasfonteslácteascomoleite desnatadoou integral

    empó, leitecondensadointegraloudesnatadoesólidosdosorosãousadascomoalternativa

    parareduçãodecustos[STOGO,1997] oumelhoriadaspropriedadesfuncionais.

    Agentesadoçantes

    Os açúcaresconferemcorpoe textura ao sorvete,aumentandoa viscosidadee os sólidos

    totaise representamcercade um quartodossólidostotais. Geralmentesãoasprincipais

    fontesde sólidostotais tendoum dosmaisbaixoscustos. Suaprincipal finalidadeé con-

    ferir saborda misturade sorveteaumentandoa aceitabilidadepor partedosconsumidores

    6Palatabilidadeé a combinaçãodaspropriedadesdeum produto,percebidasnacavidadeoral, queo tornaagradável aoconsumo[ABNT, 1993].

    13

  • 1.1. Sorvete 14

    [MARSHALL e ARBUCKLE, 1996; STOGO, 1997]. O açúcarpodeserusadona forma

    líquidaouseca.A sacarose(açúcardecanaoudebeterraba)éafontedeaçúcarmaisampla-

    menteaceitaentreasutilizadasna fabricaçãodamisturadesorvete. A lactosecomgosto7

    ligeiramentedocee osmineraiscomgostoligeiramentesalgadoirão contribuir parao sabor

    do produtofinal [TURNBOW et al, 1947; MARSHALL e ARBUCKLE, 1996; STOGO,

    1997].

    O açúcaré usadoprincipalmenteparaconferir doçuraao produtofinal, mastambém

    diminui o pontode congelamentoda mistura,ou seja,uma temperaturamaisbaixaé ne-

    cessáriaparaquandoseaumentaa quantidadede açúcar. Sorvetesquecontemmenosde

    12% de sacarosesãoconsideradoscomocríticosem baixadoçuraenquanto[TURNBOW

    et al, 1947;MARSHALL e ARBUCKLE, 1996]. Emborao percentualusualnosEstados

    Unidosestejaentre14-16%,as formulaçõesno Brasil chegam a conter25% em sacarose

    [PASSMORE,1995].

    Estabilizantes

    Estabilizantessãoingredientes(usualmentepolissacarídeoscomogomaguar, xantana,car-

    ragenas,gelatina,alginatode sódio, carboximetilcelulose,entreoutros. [GOFF, 1997a],

    usadosempequenasquantidades(0.1-0.5% ) namisturadesorvete,queconferemuniformi-

    dadeemaciezaocorpodoproduto,atravésdareduçãodacristalizaçãodogeloedalactose,

    diminuindoo derretimentoe sendoaindaaditivosqueapresentaminfluênciadesprezível no

    valor nutricionalou no saborTURNBOW et al, 1947;MARSHALL e ARBUCKLE, 1996;

    STOGO,1997]. SegundoMILLER-LIVNEY et al (1997)e FLORESe GOFF(1999),os

    estabilizantesaindaaumentama viscosidade,e, com poucasexceções,tendema limitar a

    capacidadede aeração[MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Os produtoscomercialmente

    disponíveis sãomisturasde váriosmateriaisestabilizantesnasproporçõesnecessárias.O

    usoexcessivo deestabilizantepodeacarretaremcaracterísticasindesejáveisdederretimen-

    7Gostoé a sensaçãopercebidapelosórgãosgustativos,quandoestimuladospor determinadassubstânciassolúveis. O termo"gosto"nãodeve serusadoparadesignara combinaçãodesensaçõesgustativas,olfativasetáteisquesãodesignadaspelotermo"sabor"[ABNT, 1993].

    14

  • 1.1. Sorvete 15

    to ou aindaem produtofinal com corpopesado[TURNBOW et al, 1947;MARSHALL e

    ARBUCKLE, 1996]

    Emulsificantes

    Os emulsificantes auxiliam substânciasincompatíveis, como água e manteiga, a

    combinarem-sede forma a produzir um produtode estruturauniforme e macia,reduzin-

    do o tempo de batimento[STOGO,1997]. O uso de emulsificantesresultaem células

    de ar que são menorese com distribuição mais regular através da estruturainterna no

    sorvete [GOFFeJORDAN, 1989] mas um uso excessivo de emulsificantepode resultar

    em derretimentomuito lento e alteraçõesnascaracterísticasdesejáveis de corpoe textura

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Osemulsificantesmaiscomunsutilizadosnaprodu-

    çãodemisturasdesorvetessãodedois tiposprincipais:monoe di-glicerídeose osesteres

    comoo Polisorbato80[GOFF, 1997a]. Comercialmentesãofornecidasmuitascombinações

    deestabilizanteseemulsificantesparaaplicaçõesespecíficas[STOGO,1997].

    Essência

    As essências têm duas características importantes: tipo e intensidade

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Geralmenteessênciasde saborespouco inten-

    sossãomais facilmentemisturadase tendema nãoser rejeitadasem altasconcentrações

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. A baunilhaé a essênciamaisimportanteutilizadana

    misturadesorvetes[BODYFELT etal, 1988].

    Outr osingredientes

    Gemade ovo é utilizada principalmenteparaconferir sabor, corpo e capacidadede ae-

    ração(ao menos0.3% de sólidosde gemade ovo sãonecessáriosparaestaspropostas)

    [TURNBOW etal, 1947]. Ossólidosdegemadeovo sãodealto valor alimentício,aumen-

    tamaviscosidade,conferemcorpoetextura,quasenãoinfluenciamo pontodecongelamento

    masusualmenteaumentamo custodosorvete[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    15

  • 1.1. Sorvete 16

    Ingredientescomofrutas,castanhas,mel,diferentesfontesfornecedorasousubstituintes

    de gordura(gorduravegetalhidrogenada,sorode leite), saisminerais,entreoutrospodem

    seraindautilizados.

    Um dosobjetivos em modificarasformulaçõesdo sorveteé produzirum produtocom

    texturadesejável e,atravésdamelhoriadaestruturafísicadosorvete,ocorreráaobtençãoda

    melhortextura[STANLEY etal, 1996].

    Água ear

    Água, a fasecontínua,estápresentecomoum líquido, um sólido e umamisturadosdois

    estadosfísicos[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    O ar encontra-sedispersoatravésdaemulsãogordura-matriz(Figura1.1). A quantidade

    de ar no sorveteé importantedevido suainfluênciana qualidade,conferindoum produto

    macio,e deveráobedeceros padrõesregulamentadosna legislaçãonacional. A manuten-

    çãodaquantidadeuniformedear e suaqualidadeé essencialno controledaboaqualidade

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    A interface entre ar e material dispersona fase aquosaé estabilizadapor um fil-

    me fino de material não congeladoe glóbulos de gordura parcialmentemisturados

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    1.1.5 Processodemanufatura

    Umavezqueosrequisitosdecomposiçãorelacionadoscomqualidadeequantidadeestejam

    definidos,amisturaestaprontaparao processamento[MARSHALL eARBUCKLE, 1996],

    quecomeçacoma combinaçãodosingredientesemumasuspensão/soluçãohomogêneaan-

    tesdecolocá-lano tanquedemistura[STOGO,1997].

    A mistura é pasteurizadae homogenizada. Pasteurizaçãoé o processode aqueci-

    mentoem tempoe temperaturadefinidos8 paraeliminaçãode microorganismosindese-

    8A Portariano379 do Diário Oficial da União de 29 de abril de 1999estabelece70oC por no mínimo 30minutosparaGeladosComestíveis.

    16

  • 1.1. Sorvete 17

    jados. A pasteurizaçãoe a homogenizaçãomudamas formasfísicasdossólidossuspen-

    sos da mistura de sorvete dispersandoe solubilizandoos componentese gerandouma

    suspensãouniforme e estável. Durantea pasteurizaçãotodasas gordurassãoderretidas

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. O tratamentotérmico,de 75o por 30 minutos,éde grandeimportânciano processamentodo sorveteumavez quepromove a desnaturação

    de proteínaslácteas,com conseqüenteinteraçõesdasmesmasauxiliandona formaçãoda

    redeestrutural[MORR, 1989]. Na homogenizaçãoreduz-seos diâmetrosdosglóbulos de

    gorduraprevinindo-seportantoa separaçãodagordura,promove corpoe texturaaoproduto

    final e evita a dispersãodagorduraduranteo processodecongelamento[STOGO,1997].A

    homogenização,responsável pelaformaçãodaemulsãodagordura,é realizadaforçando-se

    apassagemdamisturaaquecidaatravésdeumpequenoorifício sobcondiçõesmoderadasde

    pressão(porexemplo200-3000psi) [GOFF, 1997a].

    Após finalizadaa homogenização,a misturadeve serresfriadaimediatamentea 0-4oC

    objetivandopreservaraqualidadebacterianaeo gostofresco[STOGO,1997]. Esteprocedi-

    mentofazcomqueinicieacristalizaçãodagordura,entretanto,amisturaaindanãoestápron-

    ta parao congelamentoaté esteponto do processo[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    Nestaetapaé introduzidaa essência.A maturação(0-4oC por 12-24h)é recomendadapara

    melhorhidrataçãodasproteínasdoleiteedoestabilizanteeaindaparamelhorarasqualidade

    deaeraçãodamistura[GOFF, 1997a], entretantomuitasindústriasnãorealizamestaetapa

    [STOGO,1997]. A misturaéentãosubmetidaaocongelamento.

    O congelamentoenvolve rápido resfriamento(abaixo de -5oC) e vigorosa agita-

    ção para incorporaçãode ar [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Nesta etapa, vári-

    os processosocorrem simultaneamente,sendoesta uma das operaçõesmais importan-

    tes da manufatura do sorvete, da qual dependeráa qualidadee sabor do produto fi-

    nal [WALSTRA eJONKMAN, 1998]. Esta operaçãoconsistede duas partes: (1) a

    mistura é congeladarapidamente,sendo agitada para incorporaçãode ar e para li-

    mitar o tamanhodos cristais de gelo formados; (2) o produto parcialmentecongela-

    do é mantido sem agitaçãoem um ambientede temperaturabaixa para remoçãorá-

    17

  • 1.1. Sorvete 18

    pida de calor [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Duranteo congelamentoa compo-

    sição permaneceinalterada,mas a estruturafísica torna-sealtamenteintrincada (Figu-

    ra 1.1): glóbulos de gordurae amontoadosde glóbulos de gorduracobremquasecom-

    pletamenteas bolhasde ar e tambémformam uma redecontínuaatravés da faseaquo-

    sa [WALSTRA eJONKMAN, 1998]. A açãode batimentoe cristalizaçãodo gelo de-

    sestabilizaa emulsãoda gordurana mistura, formandoaglomeradosde glóbulos de gor-

    dura. A gordura desestabilizadaatua como um agentecompactantee fornece supor-

    te paraas bolhasde ar primariamentelineadaspor proteínas. A combinaçãode proteí-

    nasde leite e gordura,parcialmentecoalescida,forneceforça e estruturaparao sorvete

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. As bolhasdearsechocamequebram-seemmenores;

    ocorretambéma coalescênciade bolhas,atéquesealcanceum estadoestacionário,resul-

    tandoemumadistribuiçãodetamanhosmaisuniformes[WALSTRA eJONKMAN, 1998].

    As bolhasde ar sãoos elementosqueapresentamos maiorestamanhos,tendotambéma

    maiorproporçãoemvolume9 [WALSTRA eJONKMAN, 1998]. Comquedadatemperatu-

    ra oscristaisdegeloaumentamemtamanhoe algumasvezescristaisde lactoseseformam

    duranteaestocagem[GOFF, 1997a].

    A misturavaria muito em composição,logo, o pontode congelamentotambémirá va-

    riar. Além disso,a composiçãoafetaa capacidadetérmicaou o calor específicoem calo-

    rias 10 e estasvariáveis determinama quantidadedegeloqueseráformadoparaumadada

    quantidadedeenergia térmicaremovida [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. O pontode

    congelamentodeumamisturadesorvetediminui comlactose,açúcares,saise outrassubs-

    tânciasem solução[MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Gordurase proteínasnãoexer-

    cemefeitodiretosobreo pontodecongelamento(gorduraé imiscível coma faseaquosa,e

    proteínassãomoléculasmuito grandes)entretanto,quandoestasestãoem altasconcentra-

    ções,há menoságuaondeo solutopossadissolver, logo o pontode congelamentoirá cair

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. As variaçõesno pontodecongelamentodasmisturas

    9Bolhasdearemsorvetesãomuitopequenasparapercepçãoaolhonu. [WALSTRA eJONKMAN, 1998]10Uma caloriaé a quantidadede calor necessáriaparaaumentara temperaturade 1g de águade 1oC para

    15oC (kcal=calornecessárioparaaumentara temperaturade1Kg deáguaa1oC).

    18

  • 1.1. Sorvete 19

    podemalterarataxaderecristalizaçãoaumatemperaturaespecíficadeestocagemdosorvete

    [HAGIWARA eHARTEL, 1996].

    1.1.6 Propriedadesda mistura

    Algumasdascaracterísticasdamisturaquemerecemconsideraçãosãocusto,propriedades

    demanipulação(incluindoviscosidadedamistura,pontodecongelamentoetaxadeaeração

    damistura),sabor, corpo,textura,valor nutritivo, cor, e palatibilidadegeraldo produtofinal

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    A misturadesorveterepresentaum complexo sistemacoloidal,ondealgumassubstân-

    ciasocorrememsolução(osaçúcarese ossais),outrasemsuspensõescoloidais(caseínas,

    estabilizantese algunsfosfatosde cálcio e magnésio),e os glóbulos de gordurasãouma

    dispersãodepartículasmaiores[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    1.1.7 Característicasdeum sorveteideal

    Um sorvete ideal deverá obedecerlimites de confiançaquantoaosseguintesatributos de

    qualidade:sabor, corpo,textura,característicasdederretimento,cor, embalagem,conteúdo

    microbiológicoecomposição[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    Propriedadessensoriais

    A avaliaçãosensorialparaverificaçãoda aceitaçãodosconsumidoresé crítica parao de-

    senvolvimentodeprodutos.O sorveteofereceumacombinaçãodepropriedadessensoriais

    altamentedesejáveissendoestasclassificadasemcategoriasdeaparência(cor, maciez,regu-

    laridade),aroma11, sabore textura/preenchimentobucal (dureza,viscosidade,cremosidade)

    [GUINARD, 1998].

    Testessensoriaisanalíticos,comotestesde diferençae análisesdescritivaspodemser

    usadosparaobtençãode informaçõesqualitativase quantitativassobrepropriedadessenso-

    11Aromaéasensaçãopercebidaatravésdoolfato[GUINARD, 1998].

    19

  • 1.1. Sorvete 20

    riais da sobremesacongelada.As mediçõesinstrumentaisde propriedadessensoriaissão

    geralmenteusadascomo um complementoparaos testesanalíticossensoriais,particular-

    mentecomrelaçãoacor, texturaepreenchimentobucal.Ostestesafetivosoudepreferência,

    aplicadosemconsumidoresempotencial,sãoindicadosparaavaliaraaceitaçãodoproduto.

    A alta palatabilidadedo sorvete é um fator importanteem suaescolhaenquantoali-

    mento.A texturasuave e aveludadaamaciao palato[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    A digestibilidadedo sorvete é geralmentealta, exceto parapessoasintolerantesa lactose

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Uma importantecaracterísticado sorveteé a defini-

    da como"secura",relacionadacom a aparênciado produto(nemmacionempegajosoem

    excesso)eo preenchimentobucal(nãomuitoviscoso)[WALSTRA eJONKMAN, 1998].

    Estrutura física

    Vários passosno processode fabricaçãodo sorvete, incluindo pasteurização,homogeni-

    zação,maturação,congelamentoe armazenamentocontribuemparao desenvolvimentoda

    estruturadosorvete[GOFF, 1997b].

    O sorvetetemumaestruturacomplexa, tratando-setantodeumaemulsãoóleo-em-água

    (muito destaáguae desteóleo encontrando-seem estadocristalino) como de uma espu-

    macomgrandequantidadedegordura[CALDWELL etal, 1992a]. Assim,a qualidadedo

    sorvete dependerábastantede suaestrutura,que podeser dividida em aspectoscoloidais

    (gordurae ar) e aspectosde cristalizaçãodo gelo, e tambémdo efeito do maior congela-

    mentodesolutose macromoléculasdispersas[GOFF, 2001]. A estruturafísicado sorveteé

    um sistemafísico-químicocomplicadocompostopor 50%debolhasdear, 25%decristais

    de gelo, 5% de glóbulos de gordurae o restantede 20% de matriz compostade açúcares,

    proteínase estabilizantes[GOFF, 1997b]. Os cristaisde gelo e bolhasde ar formamuma

    dispersãomaisgrosseiraqueosglóbulosdegordura[CALDWELL etal, 1992a]. O produto

    portantoécaracterizadofisicamentepelotamanhoefraçãovolumétricadosvárioselementos

    estruturais[WALSTRA eJONKMAN, 1998] (Tabela1.3).

    A fasemaisfluidadosorvete,chamadamatriz,circundaoscristaisdegeloeasbolhasde

    20

  • 1.1. Sorvete 21

    Tabela1.3: Tamanhosmédiosdeelementosestruturaisemsorvetea -5oC�

    Elementoestrutural Tamanhomédio( m) FraçãovolumétricaCristaisdegelo 50 0.3Bolhasdear 100 0.5Espessuradalamela 15 -Glóbulosdegordura 0.6 0.06Gorduraaglomerados 3 0.06Cristaisdelactose

    �15 0.005

    � Fonte:[WALSTRA eJONKMAN, 1998].�Cristaisdelactoseestãoausentesemmuitoscasos.

    ar e resultadeum processodeconcentraçãopor congelamento[BERGER,1997]. A matriz

    contemmuitasdasproteínaspresentesnaformulaçãoeestasseadsorvemnassuperfíciesdas

    gotasdeóleoecélulasdearcontribuindoassimmaisparaaspropriedadesdestasdoquepara

    aspropriedadesdamatriz(porexemploparaviscosidade)[CAMPBELL ePELAN, 1998].

    A estruturadeterminaaaparência,viscosidadeeconsistência,incluindoo preenchimento

    bucal [WALSTRA eJONKMAN, 1998]. Osaspectosestruturaisassociadoscoma aglome-

    raçãodagorduratêmgrandeinfluênciasobreo comportamentoreológicoe dederretimen-

    to, ou seja,um aumentono graude aglomeraçãoda gordurareduza taxade derretimento

    e aumentaa viscosidade[THARP, 1998]. A aglomeraçãodosglóbulos de gorduraocorre

    principalmentedurantea agitação,eé resultadodo processochamadode coalescênciapar-

    cial (ocorridocomglóbulosdegorduracontendoumaredesólidadecristaisdegordura):a

    redede cristaisno glóbulo previne a coalescênciacompletaem bolhasmaiores,formando

    apenasamontoadosdeformasirregulares(Figura1.2) [WALSTRA eJONKMAN, 1998].

    q �qF 

    Figura 1.2: Representaçãoesquemáticada coalescênciaparcial de glóbulos de gordura[WALSTRA eJONKMAN, 1998].

    21

  • 1.1. Sorvete 22

    Do pontodevistadareologiaaestruturadosorveteconsisteemumabolhasólidadentro

    daqualproteínase emulsificantesformamumarígidamembranaquecircundaosglóbulos

    degordura[KOKUBO etal, 1998].

    O exame da microestruturado sorvete é complicado devido ao seu alto conteú-

    do de água e gordura, e a alta dependênciade sua estrutura com a temperatura

    [CALDWELL etal, 1992a]. A informaçãosobretamanhosde cristais de gelo e bolhas

    de ar e suasdistribuições,obtidasda observaçãodasamostrasintactas,é importantepa-

    ra a compreensãodas propriedadessensoriaisdo sorvete [CALDWELL etal, 1992a], e

    esteestudopode ser possível por microscopiaóptica de luz ou microscopiaeletrônica

    [CALDWELL etal, 1992b]. As principaisvantagensdamicroscopiade luz sãoa conveni-

    ênciae relativa simplicidadedepreparaçãodasamosras,entretanto,temresoluçãolimitada

    (teoricamentelimite de 0.2 m) e a preparaçãoda amostrageralmentedestróiasoutrases-truturaspresentes[CHANG eHARTEL, 2002]. A microscopiaeletrônicatemsidobastante

    usada[KALAB, 1985; GOFFet al, 1989; CALDWELL et al, 1992a,CALDWELL et al

    1992b;STANLEY et al, 1996;GOFF, 1997a;GOFFet al, 1999;BOLLIGER et al, 2000;

    CHANG e HARTEL, 2002] paraestudarmicroestruturade sistemasalimentaresformados

    por espuma.Apenaspor microscopiaeletrônicatem-seresoluçãoconsideravelmentemaior

    queo microscópioóptico(limite teóricode0,2 m [CHANG eHARTEL, 2002]), possibili-tandoa visualizaçãodeestruturastãopequenasquantomicelasdecaseína[KALAB, 1985],

    semasperdasestruturaisdecorrentesdaalteraçõesdetemperatura.

    Propriedadesdederretimento

    As propriedadesde derretimentodo sorveteconstituemum parâmetrode comportamento

    críticoparao produto[THARP, 1998].

    Um sorvetedealtaqualidadedeve mostrarresistêncialimitadaaoderretimentoquando

    expostoa temperaturaambientepor tempolimitado. Estedefeitoestárelacionadocomuso

    excessivo deestabilizantes/emulsificantes,overrunmuito alto ou aindaprocessamentosse-

    verose interaçõesentreoscomponentesquepromovemformaçãodegel altamenteestável

    22

  • 1.1. Sorvete 23

    [BODYFELT etal, 1988].

    Uma certa consistência do derretimento com a forma também deve ser

    mantida quando os cristais de gelo derretem de forma a ocorrer "retenção de

    forma"[WALSTRA eJONKMAN, 1998]. Os aspectosestruturais associadoscom a

    aglomeraçãoda gordura têm uma regra central em influenciar o comportamentode

    derretimento[THARP, 1998].

    O produtodo derretimentodeve serumamassalíquida,homogêneae uniforme. A não

    homogeneidadepodeseridentificadapelapresençade coágulos,escumas,bolhasde ar de

    tamanhosgrandese/ouvariados,ouaindapelaseparaçãodefaseslíquidas.Sorvetesconten-

    do altaconcentraçãodeproteínaemáguasãogeralmentemenosestáveisquesimilarescom

    menorconcentraçãoprotéica[BODYFELT etal, 1988].

    Defeitosequalidade

    Os defeitossãoresultantesda carênciaem sabor, corpo,textura, característicasde derreti-

    mento,cor, embalagem,conteúdomicrobianoe/oucomposição[BODYFELT etal, 1988].

    O produtoidealdeve possuirum sabortípico, fresco,agradável e delicado;ter texturadefi-

    nidae macia;possuirresistênciamoderada;derreterlentamenteemformadelíquido coma

    aparênciadamisturaoriginal (semseparaçõesdefase);ter umacor natural;possuirpartícu-

    lasregularmentedistribuídas;e ter contagembacterianabaixa.Ainda,o produtodeve ter as

    especificaçõesdecomposiçãocoerentescomo nomeeosingredientesevaloresnutricionais

    identificadosno rótulo.

    Textura áspera é o defeito mais freqüentemente citado em sorvetes

    [MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Quandoeste defeito torna-sepronunciado,uma

    sensaçãobucal de arenosidadeou gelo é seguidapelasensaçãorelativa de geladocausada

    peloscristaisdegeloexcessivamentegrandes[RUGERetal, 2002].

    Defeitoscomosaborrançosoou coloraçãodesigualnãopodemsercorrigidospelamu-

    dançanasconcentraçõesdosconstituintes[BODYFELT etal, 1988]. Entretanto,outrosde-

    feitoscomofaltadesabor(concentraçãoinsuficientedeessência),faltamaciez(insuficiência

    23

  • 1.2. Proteínasdosorodeleitebovino 24

    degordura),arenosidade(concentraçãomuito altadelactose),ou produtopoucoencorpado

    (baixo conteúdode sólidostotaisou poucoestabilizante),podemsercorrigidosatravésda

    alteraçãodacomposiçãodamistura[MARSHALL eARBUCKLE, 1996].

    O usoexcessivo deSNGL ou desólidosdesorode leite, comentadono próximo item,

    resultaráem problemasde saborusualmentedescritoscomo"cozido"ou"empoado",e po-

    de tambémlevar a umacondiçãode arenosidadedo sorvetefinal devido a cristalizaçãoda

    lactose[BODYFELT etal, 1988].

    Umacorrelaçãoadequadaentrea instabilidadedaemulsãoe"secura"doprodutofornece

    um sorvetecomboaresistênciaparaumasensaçãopalatalcremosa[KOKUBO, 1996].

    A qualidadedosorveteédeterminadapelotamanhoedistribuiçãodosglóbulosdegordu-

    ranãoemulsificados,cristaisdegelo,célulasdeareporçõesnãocongeladasqueocorremna

    misturadesorvete[KOKUBO, 1996]. Um certonível deviscosidadeénecessárioparaaae-

    raçãoeretençãodeardesejáveisnosorvetecongelado[MARSHALL eARBUCKLE, 1996],

    masparaatingir a viscosidadedesejadaa misturadeve ser propriamentebalanceadaem

    composição,concentraçãoe qualidadedosingredientesentãoadequadamenteprocessados

    [RUGERetal, 2002].

    1.2 Proteínasdo soro de leite bovino

    1.2.1 Intr odução

    Soro de leite é o fluido obtido da separaçãodo coágulodo leite integral, cremeou leite

    desnatado[ZALL, 1984].O leitecontemaproximadamente3.5%deproteína[MULVIHILL,

    1997;ANTUNES,2003]quepodeserprecipitadaformandodoistiposdesoro:

    � sorodoce: provenienteda coagulaçãoenzimáticado leite, em pH 6.2-6.4,com reni-na (manufaturadosqueijosminasfrescal,Cheddar[ANTUNES, 2003] e Emmental

    [CAYOT eLORIENT, 1997], porexemplo);

    � soro ácido: obtido da produçãodo queijo fresco (Petit suisse,Camembert)após

    24

  • 1.2. Proteínasdosorodeleitebovino 25

    coagulaçãoácida do leite, e, no queijo Cottage,seguindo aquecimentodo coalho

    [CAYOT eLORIENT, 1997]. O leite desnatadoinicialmentetem pH ajustadopara

    4.6,sejapelaadiçãodeácido,gluconadeltalactonaou pelaadiçãodeculturadebac-

    térialática,levandoàcoagulaçãodacaseína,aqualapóscortee aquecimentoseguido

    dedrenagem,dáorigemaosoroácido[ANTUNES, 2003].

    Sendoobtido da separaçãodascaseínasdo leite, muitasvezessãoreferidascomopro-

    teínasdo sorode queijo,entretanto,sãopropriamentechamadasproteínasdo sorode leite

    bovino umavez queseoriginamdo leite e nãodo queijo [ANTUNES, 2003]. As caracte-

    rísticasdossorosdocee ácidoencontram-sena Tabela1.4. No ponto isoelétrico80% do

    nitrogêniototal do leite precipita-se(estafraçãoé conhecidacomocaseína),enquanto20%

    permanecesolúvel no soro(15% sãoproteínasdo sorocom o restantesendocomponentes

    nãoprotéicos)[HARPER,1984;MULVIHILL, 1997]

    Tabela1.4: Composiçãotípicadesorosácidoedocedeleitebovino.

    Componente Sorodoce�¢¡ £

    Soroácido�¢¡ £

    Lactose(%) 4.9 4.3Proteínabruta(%Nx 6.25) 0.9 0.9Gordura(%) 1.03 0.48Cinza(%) 0.5 0.8Sólidostotais(%) 6.7 6.4pH 6.2 4.6�

    Queijooucaseínarenina.� Queijocottage,quaq,oucaseínaácida.¤ [EVANS, 1982].

    A fabricaçãode queijo ou caseínaresultana produçãode cercade 9 Kg de soro lí-

    quido paracadaquilogramado produtofinal [ORCHARD,1972], dependendodo tipo de

    queijo. A quantidadede 0.1 Kg de soro correspondeao poderpoluentede uma pessoa

    e, portanto,1 toneladadesseproduto teria o poluenteequivalenteao de 10 mil indiví-

    duos [ANTUNES, 2003]. Se estesoro for despejadodiretamenteno esgotoisto consti-

    tuirá a mais potentede todasas águasresiduaisda indústria láctea[ORCHARD,1972].

    Entretanto, na maioria dos paíseso soro das indústrias de queijo tem sido utiliza-

    do como alimentaçãoanimal ou como uma fonte de proteína para nutrição humana

    25

  • 1.2. Proteínasdosorodeleitebovino 26

    [JAYAPRAKASHA eBRUECKENER,1999].

    As proteínasdo soro têm interessadoa indústria lácteauma vez que representauma

    proteínade alta qualidadenutricional com propriedadesfuncionaisúnicasem seuestado

    nativo [HARPER,1984]. A manufaturadasproteínasdo soroenvolve váriasetapasentrea

    fonteoriginal (leitedevaca)eo ingredientealimentarfinal [HUFFMAN, 1996].

    1.2.2 Composiçãodo soro de leite

    O soro contêmas proteínassolúveis do leite, lactose,gordurasais e caseínasresiduais

    [EVANS, 1982]. Contemaproximadamente20% dasproteínasdo leite, quasetodo açú-

    car do leite, e um total de cercade 50% de todosos nutrientespresentesnormalmenteno

    leite [JELEN,1979]. Formadoporumamisturadeproteínascomnumerosasediversaspro-

    priedadesfuncionais,o soro tem um potencialconsiderável de utilizações. As principais

    proteínassão -lactoglobulina (55-65%), -lactalbumina(15-25%),proteose-peptona(10-20%), imunoglobulinas(10-15%),albuminado sorobovino (5-6%), caseínassolúveis (1-

    2%),eproteínasemmenoresquantidades(

  • 1.2. Proteínasdosorodeleitebovino 27

    1.2.3 Processosde recuperaçãodasproteínasdo soro de leite

    A recuperaçãodosnutrientesdo soroparao consumohumanodependedadisponibilidade

    de técnicasapropriadase processosatraenteseconomicamente,tornandoosprodutoscom-

    petitivos [JELEN,1979]. O objetivo aindadeve serdeixaro produtocom a composiçãoe

    funcionalidadeapropriadasaoalimentofinal [HUFFMAN, 1996].

    Com baseno conhecimentodo comportamentodoscomponentesdo sorode leite sob

    condiçõesdefinidas,HARPER, 1984 e MATTHEWS, 1984 sugeremdiferentesmétodos

    paraa manufaturade suasproteínas. Entre técnicasmais conhecidapode-secitar: inso-

    lubilidadeda proteína(precipitaçãoquímica,precipitaçãoácidaseguidade aquecimento),

    mudançasdecaracterísticas(desmineralização,trocaiônica),diferençasdepesomolecular

    (processoscommembranacomoeletrodiálises,filtraçãocomgel,ultrafiltração/diafiltração),

    agregaçãopor polifosfatos,e cristalizaçãoda lactose. As característicasquímicas,físicas

    e funcionaisdo produtofinal irão variar de acordocom o métodode produçãoempregado

    [MATTHEWS,1984]. A Figura1.3 apresentaa obtençãodedealgunsprodutosdesorode

    leitebovino.

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    Figura1.3: Processosdeproduçãodediferentesprodutosdesorodeleitebovino.

    27

  • 1.2. Proteínasdosorodeleitebovino 28

    1.2.4 Produtosdesoro de leite

    O soro,sub-produtodaproduçãodequeijoou dacaseína,contemasproteínassolúveisdo

    leite, lactose,saismineraise residuaisdecaseínase gordura,conformecomposiçõestípicas

    apresentadasnaTabela1.4.

    Os produtosprotéicosdo soro podem ser classificadoscom baseem sua compo-

    sição [HUFFMAN, 1996]. Um dos maiores problemaspara desenvolvimento de no-

    vos produtosé sua alta quantidadede águae sais combinadacom característicaácida

    [JELEN,1979]. Os soroscomercialmentedisponíveis podemvir na forma líquida ou em

    pó [CAYOT eLORIENT, 1997], e nãosãosimplesmentemisturasdeproteínasmasinvaria-

    velmentecontemmuitosoutrosconstituintesdo leite [EVANS, 1982](Tabela1.5).

    Tabela1.5: Composiçãoquímicaaproximadadediferentesprodutosdesorodeleitebovino.

    SorodoceempóA

    SoroácidoempóA

    DemineralisadoB

    CPSC�D E CPSFHG I CPSJ�G ESólidostotais(%) 96.3 95.4 96.8 95.2 99.0 96.5Proteínabruta(%Nx 6.25) 13.0 11.7 14.0 25.1 34-35 43.5Lactose(%) 69.4 63.2 82.0 53.6 53.0 42.8Gordura(%) 0.2 0.1 - 1.4 4.0 4.5Cinza(%) 8.3 10.6 0.8 15.0 8.0 5.6pH 5.88 4.57 - - - -�

    [EVANS, 1982]. � [JELEN,1979]. ¤ CPS= ConcentradoProtéicodeSoro[JAYAPRAKASHA eBRUECKENER,1999].KCPS= ConcentradoProtéicodeSoro[HUFFMAN, 1996].

    O soro,obtidodacoagulaçãodo leite,épasteurizadoeconcentradopara50%deconteú-

    dosólidomantidoemrepousoparacristalizaçãodalactoseseguindoentãoparasecagemem

    "spray-drying"[KINSELLA,1984]. O alto conteúdodesaisdo sorosecoo tornainadequa-

    do paramuitasaplicaçõesemalimentos,e então,visandotorná-loum ingredientefuncional

    empotencial,é necessárioa eliminaçãodosmineraise/ouda lactosetantoquantopossível

    [KINSELLA, 1984], concentrandoassimo teor em proteína.O produtode sorocom teor

    reduzidoemmineraisé reconhecidocomosorodesmineralizado[EVANS, 1982]. Processos

    dereduçãodossaispodemserefetuadospor eletrodiálisesou trocaiônica. A ultrafiltração

    ouosmosereversapodemserutilizadastantoparareduçãodesaiscomodelactose.

    28

  • 1.2. Proteínasdosorodeleitebovino 29

    Os concentradosprotéicosde soro (CPSs)sãoprodutosde soro contendo25 a 90%

    de proteína,massuascomposiçõesvariam muito, dependendodo métodode manufatu-

    ra. Os processosmais citadosparaobtençãodo CPSsãoultrafiltração,filtração em gel,

    precipitaçãocompolifosfato [KINSELLA, 1984]. OsCPSssãoreconhecidamenteseguros

    paraaplicaçõesem produtosalimentarese nãoexistempadrõesde restriçãode identidade

    [MORR eFOEGEDING,1990]. Devido assuasexcelentespropriedadesfuncionaise nutri-

    cionaiseaoseuconsiderável potencialparamisturacomváriosprodutosalimentícios,o CPS

    possuidiversasaplicaçõesnasindústriaslácteas,comopor exemplo,emsorvetes,iogurtes,

    bebidaslácteas,cremese queijos[KINSELLA, 1987;LEE e WHITE, 1991;HUFFMAN,

    1996; JAYAPRAKASHA e BRUECKENER,1999; VOORBERGENe ZWANENBERG,

    2002].

    1.2.5 Propriedadesfuncionaisdasproteínasdo soro

    Kinsella,1987definepropriedadesfuncionaiscomo"aspropriedadesfísicase químicasde

    um componentealimentarqueinfluenciama manipulação,processamento,estocagem,pre-

    paração,embalagem,estabilidade,eprincipalmente,osatributosdequalidadepadrãodeum

    produtoalimentar(cor, odor, sabor, textura)".

    A desnaturaçãotérmicadasproteínasleite podemalterarsuaspropriedadesfuncionais

    [EVANS, 1982] umavez quepromova interaçõesdasproteínasdo sorodesnaturadascom

    micelasdecaseína[MORR, 1989].

    As propriedadesfuncionaisgeralmentereconhecidascomoimportantessãosolubilidade,

    gelatinização,viscosidade,aeração,capacidadeemulsificante,absorçãode águae gordu-

    ra e capacidadesde retençãoou ligação[SCHMIDT etal, 1984]. A formulaçãoe o pro-

    cessamentopodeminfluenciara seleçãoe comportamentoda proteína,entretantoa sele-

    çãodaproteínatambémpoderáimplicar naotimizaçãoda formulaçãoe do processamento

    [HARPER,1984]. As propriedadesfuncionaispodemvariarcompH, temperatura,concen-

    tração,troca iônica, constantedielétricado meio, interaçõescom outrasmoléculas,trata-

    mentosdeprocessamentoemodificações[KINSELLA, 1987].

    29

  • 1.3. Aplicaçãodeprodutosdesorodeleiteemsorvete 30

    Os atributosdesejáveis de alimentospodemestardiretaou indiretamenterelacionados

    à funcionalidadedeseuscomponentesprotéicos[MANGINO, 1984]. As propriedadesfun-

    cionaisdasproteínasemalimentosestãorelacionadascomsuascaracterísticasestruturaise

    físico-químicas[DAMODARAN, 1997] assim,umapropriedadefuncionalespecíficapode

    seravaliadaatravésda mediçãode umapropriedadefísica12. A maneiracom queaspro-

    teínasinteragemcom outroscomponentesalimentíciosassimcomoentresi determinasua

    funcionalidade[MANGINO, 1984].

    Modificaçõesdeprocessamentotaiscomotratamentotérmicoseletivo, desmineralização

    seletivaou trocaiônica,hidróliseenzimáticaproteolíticapodemserusadosparaalterarestas

    propriedadesfuncionaisparaumaaplicaçãodesejada[SCHMIDT etal, 1984].

    Os ingredientespodem interagir, mudando a funcionalidade efetiva da proteína

    [HARPER,1984]. Assim a seleçãodo ingredientee ordemde adiçãoinfluenciaráasca-

    racterísticado produtofinal [HARPER,1984]. Similarmenteo processamentodo produto

    tambémpodemodificara funcionalidadedaproteína[HARPER,1984]. Podemosenfatizar

    quesimplestestesfuncionaisgeralmentenãopredizemascaracterísticasdasproteínasem

    sistemasalimentícios[HARPER,1984].

    1.3 Aplicaçãodeprodutosdesoro de leite emsorvete

    Osprodutosprotéicosdesorodeleite têmsidoincluídosnasformulaçõesdesorvetesdevido

    a suacontribuiçãofavorável paraqualidadessensoriaise detexturado produto[PARSONS

    et al, 1985;TIRUMALESHA E JAYAPRAKASHA, 1998],e aindafontealternativa deSN-

    GL demaisbaixocusto[HEREMANSetal, 1997]. Osprodutosdesoropodemapresentar

    capacidadedeemulsificação,aeraçãoesolubilidadequesãodesejáveisparasorvetes.

    12Propriedadesfísicassãopropriedadesquepodemserquantificadasoumedidasedescritaspormétodosdafísicaclássica[KINSELLA, 1987].

    30

  • 1.3. Aplicaçãodeprodutosdesorodeleiteemsorvete 31

    1.3.1 Intr odução

    As proteínasalimentaressãoutilizadascomo ingredientesalimentaresdevido a seuvalor

    nutritivo, propriedadesfísico-químicase funcionais[MULVIHILL], emboraa seleçãofinal

    sejafeita com basenasmelhorespropriedadesquea proteínapromoveráno produtofinal

    dentrodomenorcusto[HARPER,1984].A compreensãodocomportamentofísico-químico

    e funcional destesingredientese a alteraçãodestaspropriedadessob certascondiçõesde

    processamentoé essencialparautilizaçãodesuascapacidadesdentrodo processamentode

    novosprodutos[DAMODARAN, 1997;JAYAPRAKASHA eBRUECKENER,1999]

    OssólidosdosorotemsidoutilizadosparasubstituiratéumquartodosSNGLnosorve-

    te13 e,sendodebaixocusto,sãofreqüentementeutilizadoscomosubstituintesdossólidosdo

    leite desnatado[MARSHALL eARBUCKLE, 1996]. Um excessodesólidosdo sorodeve

    serevitadoumavezqueestepodeencobriro sabordagorduraconferindogostosalgadoao

    produtofinal [TURNBOW etal, 1947].

    A formulaçãoeo processamentoinfluenciamo comportamentodeumaproteínaemuma

    aplicaçãoalimentíciaespecífica,destaformanãoháumprocedimentosimplesparaotimizar

    aseleçãodealgumingredienteprotéico[HARPER,1984].

    As proteínasdo sorode leite sãoincorporadasem produtosmanufaturadosou por sua

    funcionalidadeou parafortificaçãoe nãoseesperageralmentequecontribuamparao sabor

    [EVANS, 1982].

    Na produçãode sorveteasproteínaslácteasatuamcomoemulsificantee estabilizante,

    prevenindoa aglomeraçãodosglóbulos de gordurae permitindoa estabilidadeda aeração

    duranteo congelamento[EVANS, 1982].

    Osefeitosdaconcentraçãodeumaproteínaemsolução,e do calor (temperaturae des-

    naturaçãotérmica),pH e concentraçõesiônicas,sobreasprincipaispropriedadesfuncionais

    do produtopodeserpossível por comparaçãocom outrasproteínasna aplicaçãopotencial

    [EVANS, 1982].

    13PadrãodalegislaçãonosEstadosUnidos.No ReinoUnidoépermitidoasubstituiçãomáximade7.5%dosSNGL

    31

  • 1.3. Aplicaçãodeprodutosdesorodeleiteemsorvete 32

    1.3.2 Desenvolvimento da aplicaçãodasproteínasdo soro

    As propriedadesfuncionais dos produtosprotéicosde soro de leite bovino, como so-

    lubilidade em água, emulsificação,formaçãode espumasão importantespara sorvetes

    [RUGERetal, 2002]. A capacidadedesolubilizaremáguaé umapropriedadedo CPSque

    podeserutilizadaemsobremesascongeladaspararetardaro desenvolvimentodecristaisde

    gelo [MORR, 1989]. As proteínasinteragemna interfaceóleo/águadurantea homogeni-

    zaçãoparaestabilizara emulsão.As proteínas,duranteo congelamento,têm a funçãode

    controlara desestabilizaçãodagordura[GOFFetal, 1989,GOFF, 1997b]. Assim,aumen-

    tandoaquantidadedeproteínasdosoronainterfaceóleo/águadiminui a tensãosuperficiale

    aumentaligeiramenteaviscosidadedamisturao quemelhoraacoalescênciaparcialno free-

    zer[GOFFetal, 1989]. As interaçõesentreproteínas-lipídiossãodegrandeimportâncianos

    processostecnológicos[CHOBERT eHAERTLÉ, 1997]. Váriosestudosforamconduzidos

    visandoavaliaro efeitodaintrodução,emsorvetes,dediferentesprodutosprotéicosdesoro

    deleite,comosubstituintesdo leitedesnatadoempó(Tabela1.6).

    Tabela1.6: Pesquisascomdiferentessubstituintesdo leiteempódesnatadoemsorvete.

    Referência Substituinte % SubstituiçãoL FormulaçãoPercentualSNGL Gordura Açúcar Amido Est./Emul.

    [CODERePARSONS,1979] CPS 50e100 22.0 10.5 13.0 3.0 0.30

    [YOUNGetal, 1980] soroM

    53 11.0 10.0 9.7 6.2 0.35

    [GUY, 1980] sorodoceN 0 a11 13.6 12.0 8.3 - 0.28[THOMPSONetal, 1983] CPS 10,20,30 12.0 10.0 12.0 5.0 0.50

    [PARSONSetal, 1985] sorodoce 50e100 22.0 10.5 13.0 3.0 0.30

    [NAIDU etal, 1986] sorolíquido 10,20,30 11.0 10.0 15.0 - 0.30

    [ADESSOeKLEY, 1986] s. des.O

    15,25,50,75,100 10.5 10.0 15.0 - 0.25

    [ADESSOeKLEY, 1986] s. des.con.P 15,25,50,75,100 10.5 10.0 15.0 - 0.25[LEE eWHITE, 1991] retentado

    Q20,50e75 9.7 12.0 12.0 4.0 0.30

    [LEE eWHITE, 1991] CPS 20,50,75,100 9.7 12.0 12.0 4.0 0.30

    [GELIN etal , 1996] etal CPS 100 38.0 8.0 6.0 - 0.18

    [RUGERetal, 2002] CPS 1.0 10.0 11.0 13.0 3.0 0.10RRefere-seaopercentualrealizadodesubstituiçãodo leiteempódesnatado.S Sorolactosehidrolizadoeneutralizado.TSorodocelactosehidrolizado. U Sorodesmineralizado.V Sorodesmineralizadoconcentrado.W Resultantedoprocessodeultrafiltração.

    32

  • 1.3. Aplicaçãodeprodutosdesorodeleiteemsorvete 33

    CODERe PARSONS(1979)propuserama substituiçãode 50 e 100%do leite em pó

    desnatadopor concentradoprotéicode soro, em sorvetede baunilha. A comparaçãodos

    produtossubstituídoscomo padrão(semsubstituintesdo leite empó) foi realizadapor tes-

    te sensorial(testede aceitaçãodosconsumidores)indicandonãoter ocorridodiferençana

    aceitaçãoentreasamostras.

    O sorolíquido,neutralizadoe lactose-hidrolisado,obtidodoqueijocottage,foi utilizado

    por YOUNG et al (1980)parasubstituir53%dossólidosdo sorvete. A avaliaçãodo efeito

    foi feita por comparação,com o padrão(59% de leite desnatado),atravésde análisesquí-

    micas,físicase sensorial(escalahedônicade9 pontoscomextremosgosteie desgostei).O

    estudodemonstrouquequeo soroneutralizado,lactose-hidrolisadopodeserutilizadocomo

    ingredienteemsorveteparafornecimentodecorpo.

    GUY (1980)tambémavaliou a substituiçãodossólidosnãogordurososdo leite por só-

    lidos desorodocelactose-hidrolisado,emsorvetesaborbaunilha.Além do testesensorial

    (sabore textura)aplicado,osprodutosforamavaliadosquantoa viscosidade,tempoe tem-

    peraturade congelamento,resistênciaao derretimento,overrun, firmezae comportamento

    emchoquetérmico. Níveisdesubstituiçãoacimade2.75%acarretounaprogressiva perda

    dequalidadedosprodutosestocados.

    O usodeconcentradoprotéicodesoroemsorvete,segundoTHOMPSONet al (1980),

    acarretouemaumentodeviscosidade,maiorresistênciaaoderretimentoereduçãodotempo

    decongelamentoediminuiçãodooverrun.

    PARSONSet al (1985)utilizaramprovadorestreinadosparatestaro efeitosensorialde

    50e10%desubstituiçãodoleiteempódesnatadoporsorodoceempó,concentradoprotéico

    e caseinatodesódio,emsorvetedebaunilha.Osresultadosmostraramnãohaver diferença

    estatisticamentesignificativa quantoao sabor, corpo,textura e aceitaçãoentreasamostras

    testadas.

    NAIDU etal (1986)concluiram,atravésdetestessensoriaise físico-químicos(acidezti-

    tulável,pH eviscosidade),queo sorolíquidodoqueijopodesersatisfatorioamenteutilizado,

    naformulaçãodesorvetes,emníveisdeaté20%desubstituiçãodossólidosnãogordurosos

    33

  • 1.3. Aplicaçãodeprodutosdesorodeleiteemsorvete 34

    do leite. O produtopreparadocomsubstituiçãode20%do leite por sorofoi o maisaceito

    sensorialmente.

    ADESSOe KLEY (1986) testarama substituiçãodo leite em pó desnatadopor soro

    desmineralizadoe sorodesmineralizadoconcentrado,emníveis15, 25, 50, 75 e 100%,na

    formulaçãodesorvete.Osresultadosindicaramaboaaceitaçãosensorial(aparência,textura

    esabor)dosprodutoscomsubstituintes,comparativamenteaopadrãosemsubstituição.

    Em 1991,LEE e WHITE publicaramresultadosde estudoda substituiçãodossólidos

    nãogordurososdo leite por 25, 50, 75 e 100%deconcentradoprotéicodesoro,emsorve-

    te saborbaunilha.misturasforamavaliadasquantoaopH, viscosidade,overrun, tempode

    derretimento,qualidademicrobiológicae propriedadessensoriaisa 1, 30 e 90 diasdeesto-

    cagem.A substituiçãoacarretouemdiminuiçãodosvaloresdo pH e daviscosidade,como

    aumentopercentualdo concentradoprotéicona mistura. A avaliaçãosensorial,entretanto,

    demonstrouboaaceitaçãodosprovadores.GELIN etal (1996)encontraramqueasubstitui-

    çãodo leite empó desnatadopor concentradoprotéicodesorode leite bovino aumentoua

    eficiênciacontraacoalescência.

    Outrosestudosforamaindarealizadosrelacionandoa introduçãodeprodutosdesorode

    leite bovino com condiçõesde processamento,comopor exemploo apresentadopor RU-

    GER et al (2002),ondeverificou-seo efeito da duplahomogenizaçãoe dosconcentrados

    protéicossobrea texturado sorvete.Entretanto,nãoexistemestudossobrea aplicação,nas

    formulaçõesdesorvete,dosoroácidodeleitebovino .

    34

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