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MUNDO Stephen Hawking e a superação da mente humana www.apaebrasil.org.br A APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcio- nais, tem como principal mis- são prevenir a deficiência, assim como, facilitar o bem estar e a inclusão social da pessoa deficiente mental. meio se passaram, dez anos se passa- ram, vinte anos se passaram, trinta anos se passaram e ele continua vivo. Durante vários anos foi capaz de comu- nicar suas idéias abstratas através de um pequeno computador acoplado a sua cadeira de rodas, que possuía apenas quinhentas palavras diferentes. A doen- ça, em vez de conduzí-lo à invalidez total, forçou-o, graças a toda sua perse- verança e obstinação, a descobrir uma nova maneira de raciocínio. O dono desta história de vida impres- sionante é o físico inglês, Stephen Wil- liam Hawking. Nascido em Oxford, em 8 de Janeiro de 1942, ele entrou na University College, uma das mais renomadas instituições de ensino da Inglaterra, situada em Oxford, onde pretendia estudar matemática, no entanto, acabou optando por física, for- mando-se três anos mais tarde. Obteve a graduação de doutorado na Trinity Hall, em Cambridge. Depois de obter doutorado passou a ser investiga- dor e mais tarde, professor nos Colégios Maiores de Gonville e Caius. Após abandonar o Instituto de Astrono- mia em 1973, entrou para o Departa- mento de Matemática Aplicada, Física Teórica e desde 1979, ocupa o posto de professor de Matemática. Hawking, mesmo com sua rara doença degenerativa detectada quando tinha 21 anos, continuou combinando a vida em família (com sua esposa, seus três filhos e um neto) às suas investigações em física teórica junto com um extenso programa de viagens e conferências. São várias as passagens marcantes des- sa história de superação. Uma delas ocorreu em 1985, em Genebra, quando Hawking teve uma severa pneumonia e após todos os procedimentos de emer- gência serem realizados, os médicos locais aconselharam a desligar a máqui- na que o mantinha vivo, porém, sua esposa, na época, não acatou a sugestão em hipótese alguma, removendo-o para a Inglaterra. Ao submetê-lo a uma tra- queotomia de emergência, perdeu com- pletamente suas cordas vocais e por definitivo sua voz. Com esta e diversas outras passagens de sua obstinação, o mundo ganhava defi- Imaginem um homem de grande capaci- dade intelectual e que, em meados de 1970, quando estava prestes a comple- tar seu doutorado em física, descobriu que era portador de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença dege- nerativa, que paralisaria todos os seus movimentos e escutou do médico que teria apenas mais dois anos de vida. Sua primeira reação foi dizer, “então posso tentar entender o universo, por- que não vou mais precisar pensar em coisas como aposentadoria e contas a pagar”, ironizando a situação. Sua segunda reação foi arregaçar as mangas e como sabia que a doença pro- grediria rapidamente, foi obrigado a criar fórmulas simples para explicar – no menor espaço de tempo possível – tudo aquilo que pensava. Dois anos e 52 Superação Divulgação Stephen Hawking, corpo em degeneração e mente em complexo estágio de evolução.

Stephen Hawking e a superação da mente humana

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Matéria da revista “Meu sonho não tem fim” sobre o “grande sonhador” Stephen Hawking.

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Page 1: Stephen Hawking e a superação da mente humana

MUNDO

Stephen Hawking e a superação da mente humana

www.apaebrasil.org.br

A APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcio-nais, tem como principal mis-são prevenir a deficiência, assim como, facilitar o bem estar e a inclusão social da pessoa deficiente mental.

meio se passaram, dez anos se passa-ram, vinte anos se passaram, trinta anos se passaram e ele continua vivo.

Durante vários anos foi capaz de comu-nicar suas idéias abstratas através de um pequeno computador acoplado a sua cadeira de rodas, que possuía apenas quinhentas palavras diferentes. A doen-ça, em vez de conduzí-lo à invalidez total, forçou-o, graças a toda sua perse-verança e obstinação, a descobrir uma nova maneira de raciocínio.

O dono desta história de vida impres-sionante é o físico inglês, Stephen Wil-liam Hawking.

Nascido em Oxford, em 8 de Janeiro de 1942, ele entrou na University College, uma das mais renomadas instituições de ensino da Inglaterra, situada em Oxford, onde pretendia estudar matemática, no entanto, acabou optando por física, for-mando-se três anos mais tarde.

Obteve a graduação de doutorado na Trinity Hall, em Cambridge. Depois de obter doutorado passou a ser investiga-dor e mais tarde, professor nos Colégios Maiores de Gonville e Caius.

Após abandonar o Instituto de Astrono-mia em 1973, entrou para o Departa-mento de Matemática Aplicada, Física Teórica e desde 1979, ocupa o posto de professor de Matemática.

Hawking, mesmo com sua rara doença degenerativa detectada quando tinha 21 anos, continuou combinando a vida em família (com sua esposa, seus três filhos e um neto) às suas investigações em física teórica junto com um extenso programa de viagens e conferências.

São várias as passagens marcantes des-sa história de superação. Uma delas ocorreu em 1985, em Genebra, quando Hawking teve uma severa pneumonia e após todos os procedimentos de emer-gência serem realizados, os médicos locais aconselharam a desligar a máqui-na que o mantinha vivo, porém, sua esposa, na época, não acatou a sugestão em hipótese alguma, removendo-o para a Inglaterra. Ao submetê-lo a uma tra-queotomia de emergência, perdeu com-pletamente suas cordas vocais e por definitivo sua voz.

Com esta e diversas outras passagens de sua obstinação, o mundo ganhava defi-

Imaginem um homem de grande capaci-dade intelectual e que, em meados de 1970, quando estava prestes a comple-tar seu doutorado em física, descobriu que era portador de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença dege-nerativa, que paralisaria todos os seus movimentos e escutou do médico que teria apenas mais dois anos de vida.

Sua primeira reação foi dizer, “então posso tentar entender o universo, por-que não vou mais precisar pensar em coisas como aposentadoria e contas a pagar”, ironizando a situação.

Sua segunda reação foi arregaçar as mangas e como sabia que a doença pro-grediria rapidamente, foi obrigado a criar fórmulas simples para explicar – no menor espaço de tempo possível – tudo aquilo que pensava. Dois anos e

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Superação D

ivulgação

Stephen Hawking, corpo em degeneração e mente em complexo estágio de evolução.

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Mundo virtual

Entrei apressado e com fome no restaurante. Escolhi uma mesa afastada do movimento, pois, queria aproveitar os minutos que dispunha para comer e consertar alguns problemas de programação de um sistema. Pedi um filé de salmão e um suco, afinal de contas, fome é fome, mas regime é regime. Abri meu laptop e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim.

- Tio, dá um trocado?

- Não tenho, menino.

- Só uma moedinha para comprar um pão.

- Está bem, compro um para você.

Para variar, minha caixa de entrada está lotada de e-mails. Fico distraído vendo as poesias, dando risadas com as piadas.

- Tio, pede para colocar margarina e queijo também.

Percebo que o menino tinha ficado ali.

- Ok. Vou pedir, mas depois me deixa trabalhar, estou muito ocupado, tá?

Chega minha refeição. Faço o pedido do menino e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir “a luta”. Digo que está tudo bem. Que traga não o pão, mas uma refeição decente para ele. Então ele sentou à minha frente e me perguntou:

- Tio, o que você tá fazendo?

- Estou lendo uns e-mails.

- O que são e-mails?

- São mensagens eletrônicas enviadas via Internet. É como se fosse uma carta, só que vem pela Internet.

- Tio, você tem Internet?

- Tenho sim, é essencial ao mundo de hoje.

- O que é Internet?

- É um local onde podemos conhecer pessoas, ler, escrever, trabalhar, aprender, tem de tudo no mundo virtual.

- E o que é virtual?

Resolvo dar uma explicação simplificada, na certeza que ele pouco vai entender e me liberar para comer minha refeição.

- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaría-mos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em como queríamos que ele fosse.

- Legal isso. Adoro! Também vivo neste mundo virtual.

- Mocinho, você por acaso tem computador?

- Não, mas meu mundo também é desse jeito... virtual. Minha mãe trabalha, fica o dia todo fora, quase não a vejo, eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome e eu dou água para ele pensar que é sopa, minha irmã sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, pois ela sempre volta com o corpo, meu pai está na cadeia há muito tem-po, mas sempre imagino nossa família junta, com muita comida, brinquedos e eu indo ao colégio para virar médico um dia.

- Isso é virtual, não é tio?

Fechei meu laptop, não antes que lágrimas caíssem sobre o teclado. Esperei que o menino terminasse de “devorar” o prato dele, paguei a conta e o troco dei para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que já recebi na vida e com um “brigado tio você é legal!”. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos, todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e fazemos de conta que não percebemos!

“A causa real da maioria dos nossos grandes problemas está entre a ignorância e a negligência”. - Goethe

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“Diz muito sobre a natureza humana que a única forma de vida criada por nós, o vírus de computador,

seja puramente destrutiva. Criamos vida à nossa imagem”.

Stephen Hawking

nitivamente um de seus maiores exem-plos vivos, de onde podemos chegar com nosso poder de superação e perse-verança, aliados a nossa capacidade humana e intelectual.

Porém, mesmo com a vitória em tantas batalhas o grau de degeneração de seu corpo evoluía e, gradualmente, ele foi perdendo o movimento dos braços e pernas, assim como do resto da muscu-latura voluntária, incluindo a força para manter a cabeça erguida, deixando-o com uma mobilidade praticamente nula.

Suas mãos retorcidas e fracas já não conseguiam mais segurar uma caneta.

Por algum tempo, ele viveu totalmente isolado do mundo. Foi quando uma empresa do Vale do Silício, no Estado

norte-americano da Califórnia, sensibi-lizada com o isolamento de um gênio como Hawking, o socorreu. Engenhei-ros da empresa criaram softwares feitos sob medida para ele, muito fáceis de usar, além de um teclado especial.

Ele retornava, com ânimo redobrado, à sua brilhante carreira, destrinchando os pontos básicos da física dos buracos negros, incluindo, mais notavelmente, sua previsão, segundo a qual, os bura-cos negros não são inteiramente negros. Em lugar disso, se possuirem massa equivalente à de uma montanha, vão irradiar partículas de todo tipo.

O enorme sucesso de seu livro “Uma Breve História do Tempo”, lançado em 1988, com mais de dez milhões de có-pias vendidas em todo o mundo, trans-formou-o numa espécie curiosa de íco-ne cultural. Ele se perguntava, quantos dos roqueiros e das estrelas de cinema menores, que já mencionaram o livro em talk shows, realmente o leram.

Posteriormente a esta obra, lançou outro grande best-seller “Uma Nova História do Tempo”, que de certa forma, trata-se de uma continuação da obra lançada em 1988.

Tornou-se uma das vozes mais vorazes e ativas na luta por maiores investimen-tos em pesquisas com células-tronco embrionárias, fazendo duras críticas aos Estados Unidos e a União Européia, por tentarem proibir estas pesquisas. Haw-king considera que elas poderão permi-

tir o tratamento de males, atualmente, considerados incuráveis. As pesquisas são a chave para se chegar ao tratamen-to de doenças degenerativas e, de acor-do com ele, impedir estes estudos, é como se opor ao uso de órgãos doados de pessoas mortas.

Mesmo com a continuidade do quadro evolutivo de sua degeneração, graças as novas tecnologias, sua independência, principalmente, de comunicação, foi mantida.

Iniciou-se então, um projeto audacioso, que substituiu seu computador, operado manualmente através de seus dedos e instalado em sua cadeira de rodas por um par de óculos que emite raios infra-vermelhos.

Lamentavelmente, devido ao avanço da doença, seus dedos perderam totalmente a habilidade de digitar e a comunicação através do seu antigo teclado começou a tornar-se ineficiente. Seu novo disposi-tivo, utiliza raios infra-vermelhos e está acoplado na armação de seu óculos. Através da movimentação dos músculos da face, ele pode desviar a direção dos raios e, assim, controlar quais letras aparecerão na tela de seu computador.

Este novo método, tornou sua comuni-cação mais rápida e eficiente, mesmo se comparada com a introdução do método anterior, no final da década de 80.

Stephen Hawking, sempre soube aliar como poucos, seja em seus grandes obstáculos na luta pela vida, seja nas descobertas da física cosmológica, o espanto de uma criança à um intelecto genial. Um cérebro extraordinário, que além das enormes lições de vida com que nos brindou, explicou-nos as com-plexidades da física com uma clareza e simplicidade, até então, inimagináveis para um assunto tão complexo.

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Independentemente de todas as limitações físicas, Stephen Hawking sempre foi definido como o gênio de sorriso fácil.

Div

ulga

ção

A essência do perdão

Um dos soldados de Napoleão cometeu um crime e foi condenado a morte.

Na véspera do fuzilamento, a mãe do soldado foi até a presença do grande gene-ral, implorar que a vida de seu filho fosse poupada.

– Minha senhora, o que seu filho fez, não merece clemência.

– Eu sei, disse a mãe. Se merecesse, não seria verdadeiramente um perdão. Perdoar é a capacidade de ir além da vingança ou da justiça.

Ao ouvir estas palavras, Napoleão comutou a pena de morte em exílio.

“Aquele que não pode perdoar, destrói a ponte sobre a qual, ele mesmo deve passar”. - George Herbert