28
Sardoal Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista Gestão Autárquica do Património Cultural Instituto Politécnico de Tomar Mestrado de Desenvolvimento em Produtos de Turismo Cultural Discente: João Pedro Simões Docente: Prof. Doutor Luís Mota Figueira 05-07-2010

Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

Embed Size (px)

DESCRIPTION

É nosso intento neste artigo, divulgar e analisar, recursos artísticos e culturais, apensos a uma Rota em Sardoal.Trataremos de esclarecer vários aspectos, contributivos para a sua elaboração, desde a caracterização geográfica da Vila, aos acessos, passando pelo ambiente humano, cultural e claro, artístico. É necessário e importante, que para além de conhecer o percurso e os corpos que o compõe, o leitor, visitante ou turista, compreenda a origem tanto dos artefactos que vai observar, como do sítio que os “alberga”.As “grandes” obras que o Sardoal ostenta, foram criadas pelo “Mestre do Sardoal”, ou pela sua escola Coimbrã. Esta personagem, ainda sem identidade atestada é o expoente máximo da Vila, fazendo a transição entre dois estilos: Tardo-Gótico e o novo estilo emergente, o Renascimento.

Citation preview

Page 1: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

Sardoal

Subsídios possíveis para um roteiro turístico

Renascentista

Gestão Autárquica do Património Cultural

Instituto Politécnico de Tomar

Mestrado de Desenvolvimento em Produtos de Turismo Cultural

Discente: João Pedro Simões Docente: Prof. Doutor Luís Mota Figueira 05-07-2010

Page 2: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

Sardoal

Subsídios Possíveis para um roteiro turístico

renascentista

Gestão Autárquica do Património Cultural

Instituto Politécnico de Tomar

Mestrado de Desenvolvimento em Produtos de Turismo Cultural

Este trabalho foi elaborado no âmbito da cadeira

de Gestão Autárquica do Património Cultural, sob a

coordenação do Prof. Doutor Luís Mota Figueira.

Page 3: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

Índice

Introdução .................................................................................................... 2

1ª Parte - Sardoal .......................................................................................... 3

Breve Caracterização .................................................................................... 4

Localização Geográfica: ................................................................................ 5

Ambiente Humano, Cultural e religioso: ...................................................... 6

Património .................................................................................................... 7

Património Natural, cultural, artistico e religioso (sinopse) ........................ 7

2ª Parte – Subsídios Renascentistas ............................................................ 9

Advento renascentista do Sardoal .............................................................. 10

Matriz do Sardoal ........................................................................................ 11

Busto de Cristo ........................................................................................... 12

Busto do Apóstolo S. Pedro ........................................................................ 13

Busto do Apóstolo S. Paulo ......................................................................... 14

Arcanjo S. Gabriel / Anjo da Anunciação ................................................... 15

Virgem da Assunção ................................................................................... 16

S. João Baptista .......................................................................................... 17

S. Mateus .................................................................................................... 18

Igreja da Misericórdia ................................................................................ 19

Convento de Santa Maria da Caridade ....................................................... 22

Conclusão ................................................................................................... 25

Bibliografia ................................................................................................. 26

Webgrafia ................................................................................................... 26

Page 4: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

2 João Pedro Tomás Simões

INTRODUÇÃO

Dotada de uma multiplicidade singular de peças e obras renascentista, a vila de Sardoal

ostenta uma qualidade de artigos, aptos a promoverem a deslocação de Turistas/Visitantes afectos à

arte, nomeadamente ao estilo Renascentista.

É nosso intento neste artigo, divulgar, bem como analisar, estes subsídios artísticos e

culturais, apensos a uma Rota.

Trataremos de esclarecer vários aspectos, contributivos para a sua criação (da rota), desde a

caracterização geográfica da Vila, aos acessos, passando pelo ambiente humano, cultural e claro,

artístico. É necessário e importante, que para além de conhecer o percurso e os corpos que o

compõe, o leitor, visitante ou turista, compreenda a origem tanto dos artefactos que vai observar,

como do sítio que os “alberga”.

As “grandes” obras que o Sardoal ostenta, foram criadas pelo “Mestre do Sardoal”, ou pela

sua escola Coimbrã. Esta personagem, ainda sem identidade atestada é o expoente máximo da Vila,

fazendo a transição entre dois estilos: Tardo-Gótico e o novo estilo emergente, o Renascimento.

Devido ao cariz técnico da rota, na medida em que será composta essencialmente por

produções artísticas e visitas a Igrejas, esta impõe o que consideramos ser, um turismo de elites.

Não obstante dos demais pormenores técnicos, deixamos ao critério de quem desejar, a sua

consulta através de brochuras, guias ou sites na Internet, onde a sua informação esta bem difundida

e ser veraz.

Iremos apenas reflectir os elementos basilares do património expostos neste artigo, de modo

a torná-lo acessível a todos que o lerem.

Page 5: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

3 João Pedro Tomás Simões

1ª PARTE - SARDOAL

Page 6: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

4 João Pedro Tomás Simões

BREVE CARACTERIZAÇÃO

Sardoal localiza-se no distrito de Santarém, diocese de Portalegre, Castelo

Branco e comarca de Abrantes, e segundo os dados conhecidos, de 1981, possui

2.368 habitantes.

Sede de concelho, está situada a 11Km de Abrantes, à altitude máxima de

247m, na margem direita da ribeira homónima.

Terá recebido foral em 1313 e é vila desde 1532. Constituído por 4 freguesias,

o concelho tem 4.759 habitantes (dados de 1981). Possui indústrias alimentares, de

cerâmica e fabrico de malas.1

Não existem documentos oficiais

que possam informar sobre a origem do

Sardoal.

O documento mais antigo existente

no Arquivo Municipal é uma Carta de

Privilégio da Rainha Santa Isabel, em que

obrigava a todos os que se deslocassem da

Beira, para Constância, a passar pelo Sardoal. Além do pagamento tributário, poderia

também já nesse tempo, divulgar as terras de que era Senhora e Soberana. Em 1313,

o Sardoal teve o seu primeiro foral, dado por esta Monarca.

Em 22 de Setembro de 1531, D. João III, elevou a povoação de Sardoal à

categoria de Vila e demarcou, por carta de 10 de Agosto de 1532, os seus limites

territoriais de então.)2

1 in Lexicoteca (1987) Moderna Enciclopédia Universal,. Edição Círculo dos Leitores, Lisboa

Figura 1: Sardoal, Vista Panorâmica; Fonte própria

Page 7: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

5 João Pedro Tomás Simões

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA:

O Concelho do Sardoal situa-se no extremo Norte do Distrito de Santarém, confinante a Sul

e a Poente com o Concelho de Abrantes, a Norte com o de Vila de Rei e a Nascente com o de

Mação.

Localizando-se no centro do País, fica apenas a 160 km (Nordeste) de Lisboa e a 230 km

(Sudoeste) do Porto.

O melhor acesso rodoviário vindo de Lisboa, do

Porto ou do Litoral é pela A1 saindo em Torres Novas

pela IP6 em direcção a Abrantes / Sardoal.

Complementarmente poder-se-á optar pelo nó viário IC3

que passa na Sertã e em Tomar a respectivamente 40 e

34 km do Sardoal.

O terminal rodoviário de Abrantes, encontra-se a

11km.

Nos caminhos-de-ferro, as estações que melhor servem o

concelho de Sardoal são: Abrantes (a 11 km) e Alferrarede (a 8 km), ambas na linha da Beira

Baixa.3

É portanto uma Vila favorecida pela sua excepcional localização.

A qualidade das vias é também um factor de grande importância, devido ao extraordinário

bom estado em que estas se encontram. As viagens são realizadas de modo mais rápido e seguro,

transmitindo assim confiança a quem nelas circula.

Em termos turísticos, seria de louvar que todas as vilas do país condissessem com o mesmo

cuidado, pois a Europa em termos de vias de circulação, encontra-se muito bem equipada, logo,

para nos mantermos competitivos, não devemos descurar este ponto.

2 GONÇALVES, Luís Manuel, 1997, Roteiro – para uma visita ao Concelho de Sardoal, Câmara Municipal de Sardoal, p.8 3 http://www.ribatejo.com/ecos/sardoal/sdgeografia.html Consultado a 28/06/2010

*Figura 2, Fonte: http://lh5.ggpht.com/_F7nQfnoJ-CU/SH0k4_FsMAI/AAAAAAAABGY/zkDUVI7BdvA/s800/96438174_aC4OlJRy_mapa_Sardoal.jpg

Consultado em 05-07-2010

Figura 2: Mapa Sardoal*

Page 8: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

6 João Pedro Tomás Simões

AMBIENTE HUMANO, CULTURAL E RELIGIOSO:

O pico das suas festividades religiosas destaca-se em Setembro, com as

celebrações da Semana Santa, de seguida, realizam-se: a festa de S. Sebastião, a Festa

de N. Srª da Graça, a Festa do Sagrado Coração de Jesus, a Festa do Sr. dos

Remédios. Ao longo de todo o ano, verificam-se várias peregrinações e procissões,

em todo o concelho;

As Festas do Concelho incluem uma mostra Inter-Concelhia de Artesanato, a

festa da Flor que coincide com a feira da Primavera, a feira de S. Simão ou feira da

Fossa e as comemorações do 25 de Abril.

Page 9: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

7 João Pedro Tomás Simões

PATRIMÓNIO

“Destruir ou deixar destruir o património histórico-artístico, despersonalizar e desfigurar

o meio urbano e o meio rural concorrem poderosamente para degradar a qualidade de vida dos

habitantes. Equivalem a privar a memória colectiva dos homens dos testemunhos materiais que

documentam a experiência adquirida pela comunidade durante séculos. E essa memória colectiva

não deve ser entendida como um instrumento fundamental do progresso humano?”4 (SILVA, 1984)

PATRIMÓNIO NATURAL, CULTURAL, ARTISTICO E RELIGIOSO (SINOPSE)

Património Natural:

Sardoal, possui o cognome de VILA JARDIM DO RIBATEJO, pois apresenta um

património natural onde o ar fresco é saudável, e a beleza da sua paisagem primaveril dada pelas

flores que pendem das varandas, muros e esacadas das casas, proporcionam um espectáculo único

de cor e encanto.

Dos Miradouros do adro da Igreja Matriz, do Convento de Santa Mª da Caridade e dos

moinhos de Entrevinhas dão-se a conhecer os limites do concelho, onde a Serra de Alcaravela

guarda as mais belas espécies de vegetação típica que cobrem de vida a região.

Destaca-se também a Lagoa de Espelho de Água pelas suas águas límpidas e frescas, e as não

menos interessantes quedas de Água do açude da Lapa, que nesta bagagem de recursos naturais

proporcionam um espaço de lazer de reconhecido valor.5

Património Cultural e Artístico:

Em termos gerais, iremos enunciar o património cultural e artístico mais relevante, deixando

a análise dos itens renascentistas mais para a frente neste artigo.

Evidenciam-se então, os painéis quinhentistas (pintura a óleo) do políptico da Igreja Matriz,

uma peça de Arte, considerada como a melhor de sempre da pintura Portuguesa.

Mas a inesgotável riqueza da Vila exprime-se também na decoração única de painéis de

azulejos da Igreja Matriz, no retábulo em talha dourada da sua Capela-Mor da mesma Igreja, famosa

também pelos seus quatro altares de pedra da Batalha; no portal renascentista e azulejaria da Igreja

4 SILVA, Jorge Henrique Pais, 1984 “Pretérito Presente”, Centro Cultural da Beira Interior, pp. 19-23

5 http://www.ribatejo.com/ecos/sardoal/sdpatrimonio.html Consultado a 28/06/2010

Page 10: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

8 João Pedro Tomás Simões

da Misericórdia; no retábulo do séc. XVI da Capela do Espírito Santo e no retábulo da Igreja de

Santa Maria da Caridade.

É ainda de importante relevo artístico o artesanato típico que inclui artigos de barro e barro

envernizado, mantas, cestos, leques de palha, faianças e azulejos, rocas, almofadas, rodilhas,

bonecos de lã, arraiolos, trabalhos à base de linho e machados de Andreus.

O Convento de Santa Mª da Caridade, os Solares dos Almeidas, do Adro e dos Arcos, e o

centro histórico do Sardoal, estão classificados como Património de Interesse Nacional.

Os jardins públicos da Tapada da Torre e da Praça Nova, a Fonte da Preta, o edifício da

Cadeia Velha, a Ponte Romana e os vários moinhos, são também um importante património desta

Vila.6

6 Idem Ibidem

Page 11: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

9 João Pedro Tomás Simões

2ª PARTE – SUBSÍDIOS RENASCENTISTAS

Page 12: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

10 João Pedro Tomás Simões

ADVENTO RENASCENTISTA DO SARDOAL

Não é possível dissociar o Mestre do Sardoal às obras renascentistas da Vila. É portanto a

personagem mais marcada e importante em termos artísticos desta região.

Segundo Manuel Batoréo, as obras da oficina coimbrã do Mestre do Sardoal são anteriores

ao gosto pelos grandes espaços arquitectónicos manuelinos, Onde a espacialidade renascentista se

preparava para dar os primeiros passos entre nós, quer a Italiana, quer a Flamenga.7

A pintura no Sardoal aproxima-se de um desenvolvimento quase autóctone de uma estética

bizantinizante, mais próxima da ourivesaria, das iluminuras, ou até mesmo de algumas esculturas

«pré-renascentistas»8

Segundo o historiador Malkiel-Jirmounsky, o Mestre do Sardoal representa o nascimento da

concepção renascentista do espaço pictórico, apesar das obras de Sardoal serem ainda muito

arcaizantes, mas será a partir daqui que irá nascer a Renascença na pintura portuguesa. Em muitos

aspectos, a pintura do Sardoal é «anterior» à galeria de retratos dos Painéis de Nuno Gonçalves.9

7 BATORÉO; Manuel, (2001) «Gravuras de Incunábulos em Pintura Portuguesa do Renascimento» in Uma Vida em

História: Estudos em Homenagem a António Borges Coelho, Caminho, Lisboa, pp.287-314 8 ROMEIRO, Susana, «Mestre do Sardoal – Um retábulo perdido», Câmara Municipal do Sardoal, p. 61 9 Idem Ibidem

Page 13: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

11 João Pedro Tomás Simões

MATRIZ DO SARDOAL

Fundada em meados do séc. XV, terá sofrido alterações ao

longo dos tempos devido a influências de estilos subsequentes.

Encontram-se então características Góticas,

Renascentistas e Barrocas neste edifício.

Em termos decorativos o interior apresenta uma

concepção geral tipicamente quinhentista, visível nas janelas das

naves laterais e sobretudo nos altares colaterais, típicos do

período de passagem do Renascimento para o Maneirismo.

Deste período ficaram ainda uma pia baptismal e duas esculturas

em pedra, representando a “Virgem e o Menino” e a Piedade.

Como já referido atrás, não é possível dissociar as obras

representativas deste movimento, com o Mestre do Sardoal,

sendo as mais distintas obras de transição, da sua autoria.

Apelidadas de “primitivas”, referimo-nos às pinturas

que se encontram no interior desta Igreja, são elas:

Busto de Cristo;

Busto do Apóstolo S. Pedro

Busto do Apóstolo S. Paulo

Arcanjo S. Gabriel / Anjo da Anunciação

Virgem da Anunciação

S. João Baptista

S. Mateus

Figura 5: I greja Matriz, (Local onde se encontram os quadros do mestre de Sardoal

Foto Paulo Sousa/2=003

Figura 3: Igreja Matriz Foto Paulo Sousa/2004

Figura 4: Altar da Igreja Matriz Foto Paulo Sousa/2004

Page 14: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

12 João Pedro Tomás Simões

BUSTO DE CRISTO

Esta obra, transmite uma grande audácia no

emprego das cores e embarga um desenho

primoroso de grande perfeição.

Ao contrário dos dois bustos seguintes, o

Busto de Cristo não foi tratado do mesmo modo

simplista e descurado.

A figura de Jesus Cristo é o centro de toda a

vivência cristã, tudo gira à Sua volta, a Sua vida

terrena é exaustivamente focada, tal como a celestial.

O Seu exemplo de amor pelos homens foi

para além de tudo aquilo que se podia imaginar,

sacrificando-se pelos pecados do Homem.

Nos primeiros séculos surgem dois estilos

iconográficos para a representação de Jesus Cristo, o

barbado e o imberbe10.

A imagem reflecte a narração do Apocalipse, Cristo Ressuscitado, com sangue ainda a brotar

das feridas, provocadas pela coroa de espinhos e pelos cravos, comprovando que a Ressurreição foi

real, ergueu-se dos mortos. Ao Ressuscitar todos aqueles que acreditam também ressuscitarão. Aqui

estão representados as várias manifestações requeridas para autentificar as Ressurreição: a coroa de

espinhos, as feridas e a corda.

O causa de não corresponder a um retracto fiel, será a cor da pele e dos cabelos.

Os homens da palestina têm tez morena e cabelo escuro, e não como nós nos habituámos a

ver, um Jesus Cristo loiro, de olhos azuis; esse é um cânon flamengo, nórdico, trazido pelos artistas

nórdicos que circulavam em Portugal, transportando os seus cânones de beleza.

As vestes estão imaculadas, brancas, símbolo de Cristo Ressuscitado, sem quaisquer vestígios

de sangue, que escorre pela face, pescoço e braços.

Será esta a mensagem da obra, para que os fiéis tivessem em mente que Jesus Cristo

derramou o Seu sangue para salvar os Homens, sangue que continua a escorrer, pois todos os

Homens continuam a beneficiar.

Ao olharmos para a imagem de Cristo, ela dá-nos paz, tranquilidade, e serenidade. Os olhos

estão quase a semicerrar-se, olhando-nos fixamente; mas ao mesmo tempo o seu olhar é longínquo.

A boca entreaberta, parece que nos vai dizer algo, as palavras são surdas, nunca as iremos

ouvir, apenas sentir.

10 CULEBRAS, Ramon Rodriguez, 1978, El Rosto de Cristo en elArte Espahol, Ediciones Urbión, , p. 16

Figura 6: Busto de Cristo; Fonte própria - 2010

Page 15: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

13 João Pedro Tomás Simões

BUSTO DO APÓSTOLO S. PEDRO

A imagem transpira serenidade, quase melancólica, um rosto piedoso; olhar distante, como

se olhasse para Cristo, (que se encontra à sua esquerda no tríptico). As mãos cruzam-se sobre o

peito, gesto humilde e devocional, pelo seu extremo amor a Cristo.

A mão direita segura a chave do Paraíso, que forma uma cruz no interior, não aquela que é

chamada de a "cruz de São Pedro", uma cruz invertida, invocando o seu martírio, mas sim um cruz

latina.

Mãos escamadas, com imperfeições anatómicas, principalmente o dedo mindinho da mão

esquerda, numa posição impossível, quase parece fracturado.

A figura representa um homem avançado na idade, calvo, barbado, com barba bifurca, não

muito longa, ligeiramente mais curta do lado esquerdo e já grisalha.

Tal como acontece nos ícones bizantinos, a barba de São Pedro é mais curta do que a de

São Paulo, invocando mais uma vez a possibilidade do artista ter tido contacto com obras bizantinas.

A boca ligeiramente entreaberta, transmite a sensação de que irá dizer algo.

As vestes são sóbrias na decoração, com um pequeno debruado na túnica a dourado, tal

como a auréola dourada, também singela, mas que não deixa de transparecer a sua santidade.11

11 ROMEIRO, Susana Afonso, (2004), Mestre do Sardoal, Um Retábulo Perdido, Câmara Municipal de Sardoal, (editado brevemente), pp. 85 - 86

Figura 7: Busto do Apóstolo São Pedro; Fonte própria - 2010

Page 16: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

14 João Pedro Tomás Simões

BUSTO DO APÓSTOLO S. PAULO

A tábua que iconograficamente representa São Paulo encontra-se à esquerda da tábua de

Cristo.Tal como São Pedro, São Paulo tem uma expressão melancólica e piedosa, olha ligeiramente

para baixo, como se estivesse em oração. Barba longa e bifurca, cabelos longos, ruivos, cor que

contradiz o rosto, o qual demonstra uma idade avançada.

Sobre o ombro esquerdo tem a espada do seu martírio. Tal como o cabelo não parece vir

tão de cima como agora o vemos, mas sim, da zona imediatamente depois da sobrancelha direita.

As vestes são sóbrias e pouco decoradas, com excepção para alguns debruados dourados.

Tem vestígios de dourado, que salpicam a túnica. Auréola simples e dourada.

O desenho subjacente de S. Paulo apresenta um esboço das mãos muito preciso, o qual na

fase pictural é modificado ligeiramente com um aumento dos contornos.

Tal como os outros bustos, apresenta uma linha grossa e curva muito sucinta para definir os

lábios e pequenas linhas muito suaves para a disposição do nariz e olhos.

As sobrancelhas são executadas através da mancha, tal como no contorno das vestes.

Apresenta pequenas correcções no contorna das mãos.12

12 ROMEIRO, Susana Afonso, (2004), Mestre do Sardoal, Um Retábulo Perdido, Câmara Municipal de Sardoal, (editado brevemente), pp. 86 - 87

Figura 8: Busto do Apóstolo São Paulo; Fonte própria - 2010

Page 17: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

15 João Pedro Tomás Simões

ARCANJO S. GABRIEL / ANJO DA ANUNCIAÇÃO

O Arcanjo São Gabriel foi o mensageiro de uma Boa

Nova, o Anunciador da vinda de Jesus, gerado no ventre

puro de Maria. Missão das mais importantes na História da

Igreja, aquele que Anuncia a vinda do Messias, Aquele que

iria libertar o Povo Cristão dos pecados.

Na oficina de Coimbra é evidente a sua componente

hispânica à qual associam elementos italianizantes claramente

expressos no Anjo da Anunciação da Matriz do Sardoal.

Na tábua de São Gabriel, a direcção que segue o

braço e a mão do Arcanjo é paralela à inclinação da parte

superior do corpo; o joelho esquerdo curvado em veneração,

evidenciando o carácter de adoração expresso pela figura.

O ceptro que segura na mão esquerda, onde se enrola

uma filactera com a saudação evangélica, aparece finamente cinzelado, lembrando as obras de

ourivesaria de Gil Vicente.

A cena onde se apresenta o Arcanjo São Gabriel é de interior, tal como a da Virgem da

Anunciação.

A sua indumentária é ricamente decorada, com um manto de tecido rico, bordado a ouro e

pérolas.

Olhar inexpressivo, mas de onde quase se vislumbra um esbatido sorriso; direccionado para

cima, como que a olhar para a pomba do Espírito Santo, que está na cena ao lado. Um momento

solene, onde o Arcanjo anuncia à Virgem Maria que irá conceber Jesus.13

Em posição de genuflexão, segura com a mão esquerda o ceptro com uma filactera enrolada

que diz: "Ave Maria Gracia Plena Dominus Tecum".

O tratamento dos panejamentos é bastante pronunciado, com um pregueado vincado,

dando mais veracidade à cena e movimento.

O chão é ladrilhado, num profuso amontoado, em tons pastéis, faltando-lhe a simetria

própria da época. Pelo arqueamento do manto no lado esquerdo é-nos dada a sensação de

movimento da figura.

13 ALMEIDA, C. A. Ferreira de, A Anunciação na Arte Medieval em Portugal, Estudos Iconográficos, Instituto de

História de Arte, Faculdade de Letras do Porto, 1983, pp. n/d

Figura 9: Arcanjo São Gabriel; Fonte própria - 2010

Page 18: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

16 João Pedro Tomás Simões

VIRGEM DA ASSUNÇÃO

A composição da Virgem da Anunciação é baseada

em gestos simbólicos, com igual determinação geométrica.

A inclinação da cabeça revela a submissão à vontade

do Senhor, sublinhada pela posição da mão direita, cujos

dedos sobre o peito têm o carácter hierático no gesto triplo

da saudação, usada no Próximo Oriente.

Os dedos que tocam a fronte, simbolizam a devoção

pelo pensamento, os dedos tocando a boca, revelam a

devoção pela palavra e os dedos tocando o peito, neste caso,

a devoção pelo sentimento.

A perna está em posição de genuflexão, seguindo a

inclinação da figura, o que exprime a humildade da

genuflexão; e os gestos da mão e do braço esquerdo, que

atestam a ideia de veneração.

Segundo Dagolberto Markl o véu que se vê ao fundo, atrás da Virgem, remonta a uma

simbologia inspirada em temas orientais. Trata-se de um véu que, segundo as tradições ortodoxas, a

Virgem tecia para o templo no momento da Anunciação.

Podem ser retiradas duas ilações deste elemento: o retábulo do Sardoal foi executado pelo

mais antigo dos mestres da oficina de Coimbra, ou este núcleo pictórico reflecte a ingenuidade de

um pintor popular, denotado a elevada qualidade do seu autor.

Mas vemos outros objectos que podem identificar o momento, como o livro sobre o

genuflexório, onde a Virgem estaria a ler textos sagrados, num momento de oração.

O pano poderia ser adamascado, sendo um pequeno retábulo privado onde a Virgem estaria

em oração.

Apresenta uma extrema serenidade, uma calma celeste.

Apresenta uma auréola diferente, com a devida excepção para o Busto de Cristo, um

resplendor simples, radiante, dando um brilho diferente à Virgem.14

14 MARKL, Dagolberto, História da Arte em Portugal, O Renascimento, Volume 6, Publicações Alfa, s/d, p. 113

Fonte: João Simões - 2008

Figura 10: Virgem da Assunção; Fonte própria - 2010

Page 19: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

17 João Pedro Tomás Simões

S. JOÃO BAPTISTA

Ao compararmos com uma imagem mais antiga, a

cabeça do cordeiro parece mais arredondada do que a

actual.

O cordeiro está sobre uma espécie de gruta, aberta

na rocha, como se estivesse num tímpano. Confirmando

mais uma vez as semelhanças deste cordeiro com os

Cordeiros Místicos das igrejas românicas.

Sem dúvida, o Mestre de Sardoal terá tido contacto com alguma igreja desse período,

transportando para a obra essa influência.

O desenho na tábua de S. João Baptista apresenta grande riqueza, revelando a elaboração da

figura humana, da paisagem em perspectiva, das árvores e da gruta do plano inferior.

As árvores mais distantes são troncos e ramos principais com pinceladas curvas que

correspondem com a pintura. As do lado direito da imagem do santo apresentam maior elaboração,

mediante um pincel mais carregado. A gruta aparece definida com muito pormenor nos contornos

e um sombreado intenso.

As vestes são contornadas por linhas muito delicadas, com um modelado da sombra por

mancha e acentuado pontualmente por um riscado heterogéneo.

As mãos não apresentam correcções, sendo na fase pictural ligeiramente alteradas. O rosto é

semelhante às restantes pinturas, com uma mancha de linhas muito suaves, apresentando na frente,

três ou quatro traços largos paralelos que partem das sobrancelhas para indicar uma zona de

sombra. Sobre a sobrancelha esquerda, há um ligeiro tracejado a pincel. O mato foi trabalhado a

grafite e pincel, com ponta e aguada.15

15 Carlos Nodal Monar, Relatório Universidade Católica.

Local onde se encontram os quadros do mestre de Sardoal

Foto Paulo Sousa/2003

Fonte: João Simões - 2008

Figura 11: S. João Baptista; Fonte própria - 2010

Page 20: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

18 João Pedro Tomás Simões

S. MATEUS

A composição da imagem de São Mateus contém

um gesto importante da mão direita e do braço direito,

que é paralelo à inclinação do corpo. A mão direita

encontra-se no ponto de fixação para escrever o

Evangelho, enquanto que a mão esquerda segura o Livro

Sagrado, próximo do coração, de onde provém os mais

profundos sentimentos.

O livro não é exuberante, mas tem alguma decoração, com dois motivos fitomórficos na

capa e fólios decorados geometricamente a dourado.

Dependurado no braço direito tem um corno, que guarda a tinta e um contrapeso.

Segura o cálamo na mão esquerda, com a ponta fendida.

A cabeça inclinada, num gesto de obediência a uma vontade Superior, o Evangelista não

passa de um instrumento. Tal como as outras personagens, São Mateus também emana humildade

e piedade perante os desígnios de Deus.

O contrate da policromia é quase gritante, entre o quente do laranja com o fundo escuro da

paisagem. Os panejamentos são também eles quase esculturais, bastante pronunciados.

Sobre a túnica usa um pequeno manto preto, debruado a ouro; sobre ele tem uma espécie

de gola preta.16

16 «Boletim do Museu Nacional de Arte Antiga», Fascículo 1-2, Janeiro a Dezembro de 1944, Volume I, N.°l, 2ª Edição, Lisboa,

1950, p. 13

Fonte: João Simões - 2008

Figura 12; São Mateus; Fonte própria - 2010

Page 21: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

19 João Pedro Tomás Simões

IGREJA DA MISERICÓRDIA

Descendo a escadaria da Igreja da Igreja Matriz, encontramos um pouco mais abaixo, a

Igreja da Misericórdia.

As suas primitivas origens remontam ao ano de 1370, altura em que o Rei D. Fernando

acompanhado pela rainha D. Leonor se

refugiaram em Abrantes, devido à

peste que assolava a cidade de

Lisboa.

D. Leonor terá sido

convidada para vir até ao Sardoal,

por existirem diversas fontes para

vários tipos de maleitas. Apreciou

tanto este lugar que mandou

erguer uma pequena ermida.

A Confraria entretanto

criada, foi recebendo dádivas dos

fiéis, superando as despesas,

dando auxílio aos mais

desfavorecidos, principalmente na

hora da morte.

A pequena capela foi

entretanto ampliada, sendo

substituída pela actual igreja, que

data de 1551.17

A imagem da Virgem da Misericórdia recua até ao século XV, altura de grandes maleitas, da

peste, ao horror das doenças, foram muitos os factores que empurraram os cristãos para a

necessidade de protecção divina, será assim que aparecem as primeiras imagem de Nossa Senhora

que protege sobre o seu manto das “flechas” da peste.18

O portal da Igreja é marcadamente um portal de estilo renascentista. Feito de pedra, a sua

autoria tem sido atribuída ao mestre Nicolau de Chanterenne, embora aparente possuir traços de

João de Ruão, ou da sua oficina.

17 http://www.cm-sardoal.pt/pt/conteudos/concelho/Patrim%C3%B3nio/f37a8cae-cee8-4a36-823b-949aae72fe4b.htm Consultado em 29-06-2010 18 http://www.cm-sardoal.pt/pt/conteudos/concelho/Patrim%C3%B3nio/f37a8cae-cee8-4a36-823b-949aae72fe4b.htm Consultado em 29-06-2010

Figura 13; Igreja da Misericórdia – Fonte Própria

2010

Page 22: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

20 João Pedro Tomás Simões

A pedra apresenta uma cor dourada, e está guarnecida de medalhões entre a curva e o arco

da arquitrave, com lavores no friso.

Sob o portal, amparando dois anjos, realça-se um edifica-se um coração com o painel da

misericórdia.

A porta lateral, de arco de volta redonda, tem o último módulo acerilado de seis lóbulos

ornamentais.

No exterior do templo vê-se, também um painel de azulejos modernos (1934), da autoria de

Gabriel Costant, representando a rainha D. Leonor, fundadora das misericórdias.

O interior é constituído por uma única nave, coberta de tecto de madeira, sendo o arco

principal lavrado em estilo renascentista e apoiado em capitéis com figuras.

Na edícula sob a empena, encontramos o grupo da Misericórdia. O manto é seguro por dois

anjos, e sob ele, encontramos do lado esquerdo, uma personagem do clero, podendo ser em

primeiro plano a figura de um Papa, talvez Alexandre VI, e mais duas personagens religiosas.

O grupo é ladeado por dois anjos orantes e rematado superiormente por uma edícula com a

pomba do Santíssimo Sacramento, sobre esta, encontra-se um menino que segura nas mãos uma

caveira.

O pórtico de volta perfeita decorado com volutas, apresenta ao centro uma caveira com uma

inscrição: MEME TORO, sendo ladeado por pilastras.

O friso superior é decorado por fénix e outros animais fantásticos.

A pilastra é decorada por Fénix, com as patas atadas, de cabeça para baixo, segurando frutos

com a língua (talvez peras). Ao meio, encontramos um medalhão com uma cabeça barbada de

alguém que olha para quem entra.

Ao cimo, um anjo toca flauta recta. Capitel compósito e entablamento com friso embutido,

sobre o qual se encontram anjos orantes, nas enjuntas dois medalhões com bustos em relevo, sendo

o do lado direito um homem barbado e o da esquerda uma mulher.

A fachada lateral tem cimalha corrida, rasgando-se um portal com arco de volta perfeita,

com decoração tipicamente manuelina.

Na parede exterior que corresponde à capela-mor encontra-se uma fresta constituída por

colunas adoçadas compósitas, decoradas por ornatos vegetalistas, encimada por vasos.

Mais recente, é o painel de azulejos de 1931, de autoria de Gabriel Constante, representado

a Rainha D. Leonor.

O interior da igreja é de nave única, decorada a azulejo azul e branco, com motivos de

albarradas.19

A entrada da capela-mor é feita por um arco triunfal de volta perfeita com aduelas

esculpidas, bem como os capitéis e os pilares.

19 http://www.cm-sardoal.pt/pt/conteudos/concelho/Patrim%c3%b3nio/f37a8cae-cee8-4a36-823b-949aae72fe4b.htm Consultado em 29-06-2010

Page 23: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

21 João Pedro Tomás Simões

O alçado do arco triunfal é revestido a azulejos de padronagem, com a cruz do calvário em

roxo manganés, sobre o fecho do arco.

A parede lateral direita da capela-mor é decorada com um painel de azulejo com a Cena do

Lava-pés enquadrada num pórtico, a zona inferior é preenchida por uma cartela onde encontramos

uma bandeja e um vaso de água.

A ladear toda a cena encontram-se duas portas em trompe l’oeil, bem como uma janela

decorada com uma volumosa albarrada. Na parede oposta encontra-se um oratório embutido,

decorado com elementos do período Rococó,

onde se encontra um Crucifixo.

O altar-mor é em talha dourada, de

estilo Joanino, com trono, encontra-se

actualmente decorado com uma escultura de S.

José da Sacola.20

Ainda no altar-mor está um Cristo, uma

escultura em madeira datada do século XVII,

sobre o qual recaia a crença de que quando era

retirado para participar em cerimónias, seguia-se

um período de chuva, sendo posteriormente

esta crença transferida para uma outra imagem:

o Senhor dos Remédios.

Esta imagem tem a particularidade de ter

uma inscrição tripla, em hebraico, latim e grego.

Adossado ao alçado lateral esquerdo encontramos uma tribuna, sobre cachorros em

cantaria, serviria para a fidalguia poder assistir às cerimónias, separada da restante assembleia.

No lado direito um púlpito em forma de cálice, construção em madeira, exibe uma

decoração idêntica à tribuna. Sobre a portal principal encontra-se o cor-alto de madeira.

O pavimento é preenchido com lajes tumulares.

Esta igreja albergava os originais painéis da Misericórdia, dos finais do século XVI, de autor

desconhecido, actualmente são cópias das obras que substituíram as autênticas, evitando assim a sua

degradação.

20 http://www.cm-sardoal.pt/pt/conteudos/concelho/Patrim%C3%B3nio/f37a8cae-cee8-4a36-823b-949aae72fe4b.htm Consultado em 30-06-2010

Figura 14; Altar – Mor; Fonte: C.M. Sardoal

Page 24: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

22 João Pedro Tomás Simões

CONVENTO DE SANTA MARIA DA CARIDADE

Após o encerramento do Convento próximo de Abraçalha, o Convento de Santa Maria da

Caridade passou a encerrar uma grande devoção por parte da população.

Devido aos muitos devotos que tinha, um grupo de habitantes achou por bem fazer uma

exposição ao Ministro Provincial da Ordem, pedindo-lhe a criação de um Convento no Sardoal.

No ano de 1571, sendo Ministro da Ordem Frei Maceu de Elvas, iniciou-se então a

construção junto a uma primitiva Ermida dedicada a Nossa Senhora da Caridade.

Vários foram os beneméritos, entre os quais D.

Duarte de Almeida, filho de D. Lopo de Almeida,

terceiro Conde de Abrantes, aqui sepultado em campa

rasa na capela-mor e D. Gaspar de Barata de Mendonça,

Primeiro Arcebispo da Baía e Primaz do Brasil.21

Segundo consta de uma lápide embutida numa

parede do lado do evangelho, na capela-mor, foi este

convento reedificado em 1676, lançando a primeira pedra

o Arcebispo da Baía, D. Gaspar Barata de Mendonça,

natural de Sardoal, com a assistência Provincial da

Ordem, convento assistido por piedosos franciscanos da

Província de Soledade.22

Igreja de nave única, tendo na abóbada da capela-

mor o brasão de D. Gaspar Barata de Mendonça, com as

armas esquarteladas dos Mendonças, Vasconcelos,

Mouras e Baratas.

No lado da Epístola encontra-se o seu mausoléu,

sob um arcosólio que abriga a urna, assente em leões.23

O retábulo da capela-mor atravessa épocas diferentes, inicialmente a Maneirista, terminando

na Neoclássica, sendo o trono e a base desta época.

No trono foi colocada a imagem de Nossa Senhora da Assunção, obra da Escola de

Coimbra, acompanhada pela imagem primitiva de Nossa Senhora da Caridade, obra lindíssima em

pedra, provavelmente do século XIV.

21 ROMEIRO, Susana Afonso, (2004), Mestre do Sardoal, Um Retábulo Perdido, Câmara Municipal de Sardoal, (editado brevemente), p. n/d 22 Idem Ibidem 23 http://www.guitec.pt/concelho/mod,tb/281/658/page_3/ Consultado em 29-06-2010

Figura 15; Escadinhas do Convento - Foto Paulo Sousa- Ano- 2000

Page 25: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

23 João Pedro Tomás Simões

O remate do retábulo é feito por um frontão ondulado, ladeado por colunas salomónicas e

duas pinturas sobre tábuas com santos franciscanos, tudo ornado com diversos elementos

vegetalistas, frutos, volutas e enrolamento, a tonalidade de fundo é o azul.

O remate inferior do retábulo é feito com um sacrário cofre, sendo a sua porta decorada

com a cena da «Última Ceia».

Sob o arco cruzeiro, encontra-se uma cripta selada, túmulo de dois cavaleiros, tal como

acontece em diversos locais da igreja, sobre os altares laterais, na capela-mor, no corredor central e

na galilé, onde se encontram sepultados elementos da fidalguia de Sardoal.

Do lado da Epístola encontra-se o altar dedicado a São José, onde se destacam três pinturas

sobre tábua do século XVII: a Aparição da Virgem e de Cristo a São Francisco; Santa Clara e a

Rainha Santa Isabel.

A Capela apresenta diversos pequenos nichos onde se encontrariam relíquias, hoje perdidas.

O altar do lado do Evangelho é dedicado

a Nossa Senhora da Esperança, por baixo do

qual se encontrava o belíssimo oratório de Arte

Nambam, doado por D. Jerónima de Parada,

em Setembro de 1670, sobre o qual se pode ler:

Esta Santa da Esperança com seu oratório

mandou Gaspar de Souza de Lacerda por neste

altar por estar sepultado ao pé delle e a pos sua

mulher D. Hyeronima de Parada.24

Este retábulo é ainda decorado com

pinturas sobre cobre do século XVII, do lado

direito de baixo para cima: a Visitação, a

Anunciação; à esquerda, de cima para baixo: o

Presépio, a Adoração dos Reis Magos; na zona

superior do retábulo duas placas com anjos, encimados pela imagem da Assunção a Ascensão da

Senhor e da Senhora.

A decoração da talha é feita com douramento e policromia, colunas salomónicas, decoradas

com parras e pássaros, enrolamentos, frutos e ornatos vegetalistas.

Tal como o outro altar, tem diversos pequenos nichos para relíquias.

24 http://www.freguesias.pt/portal/patrimonio.php?cod=141703 Consultado em 29-06-2010

Figura 16; Altar – Mor do Convento Stª. Mª. Da Caridade; Fonte: Wikipédia

Page 26: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

24 João Pedro Tomás Simões

Do lado esquerdo do altar, encontramos uma parede com a imagem de Cristo Crucificado,

anteriormente em exposição no Calvário, situado na parede exterior da Capela do Senhor dos

Remédios. Esta parede é decorada por um silhar de azulejos semelhantes aos da capela.

Adossado à parede lateral da nave, no lado do Evangelho encontra-se um púlpito de

madeira, sobre uma mísula de pedra policroma; decorado com cartela ladeada por palmas,

lateralmente tem volutas e concheados com palmas, decoração que parece formar a letra “f”, de

“franciscano”.

Actualmente encontram-se nas paredes laterais da nave duas pinturas românticas, no lado do

Evangelho, a Aparição de Nossa Senhora com o Menino a S. Francisco, e no lado da Epístola, S.

Joaquim, Santa Ana e a Virgem.

Sobre a entrada encontra-se o coro-alto, com uma decoração mais simples; na parede do

lado do Evangelho encontram-se quatro confessionários rasgados na parede, que terão o seu acesso

pelo claustro.

O claustro é simples, com arcos de volta perfeita, sem decoração, pintados de azul e branco.

Num dos remates do telhado, encontra-se um relógio de sol.

O piso superior foi fechado no século XX, quando começou a ser usado como um Hospital.

No piso térreo, o pavimento é feito com tijolos, muitos numerados, onde seriam sepultados

os franciscanos.

A sacristia do século XVIII, magnificamente decorada, em chinoiserie, com nítidas

influências orientais, fruto da Expansão acompanhada por muitos sardoalenses.

Tecto de caixotões policromados com ornatos vegetalistas, onde se pode ler no caixotão

central, no interior de uma cartela: “DOUROUSE E PINTOUSE ESTA SANCRISTIA QUE PARA ISSO

DEIXOU HUMA ESMOLLA, MANUEL DELGADO DESTA VILLA ANNO 1720”.

Numa das paredes da sacristia, encontra-se embutido na parede, um contador.

O arcaz é decorado no seu espaldar por pinturas sobre madeira, atribuídas a Diogo

Contreiras, sendo da esquerda para a direita: João Baptistas, a Assunção da Virgem; dois

franciscanos desconhecidos, um bispo e outro cardeal; Nascimento do Menino Jesus e S. Jerónimo.

No centro encontra-se um oratório decorado com um Cristo Crucificado em marfim flamengo.

Na fachada da igreja, sobre uma varanda, encontra-se um nicho com uma imagem de pedra

de S. Pedro, ladeado por dois medalhões em relevo, sendo o do lado esquerdo, o de um cavaleiro e

o do lado direito o de um fidalgo.

À direita da igreja, vê-se o oratório, cuja imagem que se encontra no interior da igreja, é uma

pequena capela mortuária, onde os franciscanos eram velados, e um cruzeiro.

O chão da galilé tem sepulturas de fidalgos e sacerdotes, do século XVIII e XIX.

Page 27: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

25 João Pedro Tomás Simões

CONCLUSÃO

Chegamos ao final deste artigo com o sentimento de contribuição para o desenvolvimento e

divulgação dos capitais renascentistas essenciais, existentes na Vila de Sardoal.

Não só são os artigos, fonte de visitação, com uma capacidade atractiva de valor maior,

como toda a sua mística e história, encerram um magnetismo capaz de garantir a satisfação de todos

aqueles que procuram a estirpe e o legado da nossa cultura e identidade como povo.

Desde navegadores ao serviço de Dom Afonso Henriques, a Gil Vicente, a história desta vila

é composta por momentos marcantes, que acabaram por moldar a cultura contemporânea e

actualmente presente no Sardoal.

Cabe de resto aos respectivos agentes autárquicos, zelar pela conservação, divulgação e

promoção deste (e de todo o resto) património.

Podem-se reunir formas, de ao divulgar este legado, reunir subsídios monetários, de modo a

criar oportunidades de reestruturação e até infra-estruturas dotadas de condições superiores às

actuais.

Sem sombra de dúvidas, que o Sardoal apresenta em termos turísticos uma capacidade

atractiva fora do vulgar em comparação com a maioria das Vilas em Portugal. Infelizmente os

estabelecimentos de suporte ao turismo não têm acompanhado este situação.

Pensamos que seja através de artigos como o presente, elaboração de guias, e criação de

blogs e noticias nos meios de comunicação, que se irá atrair visitantes, elevando assim a notoriedade

do destino, a um patamar superior.

Fonte: João Simões - 2008

Page 28: Subsídios possíveis para um roteiro turístico Renascentista

26 João Pedro Tomás Simões

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, C. A. Ferreira de, (1983), A Anunciação na Arte Medieval em Portugal, Estudos Iconográficos, Instituto de

História de Arte, Faculdade de Letras do Porto

BATORÉO; Manuel, (2001) «Gravuras de Incunábulos em Pintura Portuguesa do Renascimento» in Uma Vida em

História: Estudos em Homenagem a António Borges Coelho, Caminho, Lisboa

CULEBRAS, Ramon Rodriguez, (1978), El Rosto de Cristo en el Arte Espahol, Ediciones Urbión

MARKL, Dagolberto (s/d), História da Arte em Portugal, O Renascimento, Volume 6, Publicações Alfa

GONÇALVES, Luís Manuel, (1997), Roteiro – para uma visita ao Concelho de Sardoal, Câmara Municipal de Sardoal

Lexicoteca (1987) Moderna Enciclopédia Universal,. Edição Círculo dos Leitores, Lisboa

MALKIEL-JIRMOUNSKY, Myron, (1971) «A Influência Bizantina na Antiga Pintura Portuguesa», in Panorama, Revista

Portuguesa de Arte e Turismo, N.° 40, IV Série, Dezembro de 1971, Edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo

Pinturas dos Mestres do Sardoal e de Abrantes, (1971), Catálogo das Obras Atribuídas e Roteiro da Exposição, Abrantes

ROMEIRO, Susana, «Mestre do Sardoal – Um retábulo perdido», Câmara Municipal do Sardoal

SILVA, Jorge Henrique Pais, (1984) “Pretérito Presente”, Centro Cultural da Beira Interior

WEBGRAFIA

http://www.ribatejo.com/ecos/sardoal/sdgeografia.html Consultado em 28/06/2010

http://www.ribatejo.com/ecos/sardoal/sdpatrimonio.html Consultado a 28/06/2010

www.cm-sardoal.pt

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Altar_mor_da_Igreja_do_Convento_de_Santa_Maria_da_Caridade.jpg - Consultado em 04 – 07 - 2010