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Trabalho de Conclusão de Curso de Danielle Maxeniuc Silva Coura - Pós-Graduação em Saúde Mental para Equipes Multiprofissionais - UNIP - São Paulo - Paraíso - Vida Mental Saúde Mental e Nutricional.
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UNIVERSIDADE PAULISTA
DANIELLE MAXENIUC SILVA COURA
SUICÍDIO INFANTIL: ESTUDO DOS MULTIFATORES DE RISCO SUICIDA.
SÃO PAULO
2013
DANIELLE MAXENIUC SILVA COURA
SUICÍDIO INFANTIL: ESTUDO DOS MULTIFATORES DE RISCO SUICIDA.
Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do
título de especialista em Saúde Mental para
Equipes Multiprofissionais apresentado à
Universidade Paulista – UNIP.
Prof. Coordenador do Curso: Hewdy Lobo Ribeiro.
Orientadora: Ana Carolina Schmidt de Oliveira.
SÃO PAULO
2013
DANIELLE MAXENIUC SILVA COURA
SUICÍDIO INFANTIL: ESTUDO DOS MULTIFATORES DE RISCO SUICIDA.
Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do
título de especialista em Saúde Mental para
Equipes Multiprofissionais apresentado à
Universidade Paulista – UNIP.
Prof. Coordenador do Curso: Hewdy Lobo Ribeiro.
Orientadora: Ana Carolina Schmidt de Oliveira.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________/_______/__________
Prof. Hewdy Lobo
_____________________________________/_______/__________
Profª . Ana Carolina Schmidt de Oliveira
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus que possibilitou mais uma conquista em minha vida.
A minha querida família por dar forças e apoio em todos os momentos.
Ao meu marido Fernando Falcochio Coura, por investir em mim e sempre acreditar
em minha capacidade. Pelo amor e compreensão sempre demostrados.
Aos colegas, que mesmo poucos, juntos acreditamos que era possível. Por toda a
amizade, pelas valiosas discussões, bate-papos e novos aprendizados.
À Professora Ana Carolina Schmidt pela paciência e imprescindível orientação
acadêmica. É um grande prazer tê-la como integrante da banca examinadora.
Ao Professor Dr. Hewdy Lobo, pelo aprendizado constante, por abrir meus olhos ao
mundo da Saúde Mental e por mostrar que podemos fazer a diferença como
profissionais da área. Agradeço a oportunidade de conhecê-lo, todos os
ensinamentos fizeram de mim uma melhor profissional e pessoa.
E a todos que de alguma maneira direta ou indiretamente fizeram parte da
elaboração e execução deste trabalho.
“[...] não se pode esquecer que o suicídionão é nada mais que uma saída, uma ação,
um término de conflitos psíquicos.”Freud (1910).
RESUMO
O suicídio na infância ainda hoje é um tema considerado tabu pela sociedade,
famílias e acadêmicos. Sabe-se que em todo o mundo o número de crianças
suicidas vem gradativamente aumento. Poucos são os trabalhos científicos que
buscam saber quais os fatores de risco que podem ser desencadeadores da ideação
suicida na infância. Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar e
discutir os multifatores na tentativa de auxiliar na prevenção, educação psicossocial
e tratamento das crianças suicidas. Com o desenvolvimento deste trabalho
constatou-se que o suicídio pode ocorrer de forma direta ou indireta, mas que ambas
segue o caminho da busca pela morte, ampliando ainda mais a problemática do
suicídio. Os resultados buscam contribuir para a literatura científica da área de
Saúde Mental e têm a intenção de através dos dados coletados intensificar os
estudos Brasileiros nessa área.
Palavras Chaves: suicídio, infância, multifatores, ideação suicida.
ABSTRACT
Suicide in childhood is still a topic considered taboo by society, families and
academics. It is known that around the world the number of child suicide is gradually
increased. Few scientific studies seeking to know what the risk factors that can be
triggers of suicidal ideation in childhood. This work was developed with the objective
to identify and discuss the multifactor attempting to assist in the prevention,
education and psycho-social treatment of child suicide. With the development of this
work it was found that suicide may occur directly or indirectly, but both follow the path
of seeking the death, further magnifying the problem of suicide. The results seek to
contribute to the scientific literature in the area of Mental Health and intend to step
through the data collected Brazilian studies in this area.
Key worlds: suicide, childhood, multifactor, suicidal ideation.
LISTA DE ABREVIAÇÕES
WISC – Escala de inteligência Wechsler.
CDS – Escala infantil de depressão.
CDS – Escala infantil de depressão.
ATQ – Escala de pensamentos automáticos negativos.
HSC – Escala de Desesperança de Beck.
SSI – Escala de ideação suicida.
SIS - Escala de intenção suicida.
SUMÁRIO
1 INDRODUÇÃO.....................................................................................................10
2 OBJETIVO............................................................................................................14
3 METODOLOGIA...................................................................................................15
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES.........................................................................16
5 CONCLUSÕES.....................................................................................................22
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................24
10
1. INTRODUÇÃO
O suicídio permanece um tema tabu em nossa cultura, ainda mais quando o
assunto é o suicídio infantil. Famílias, profissionais e a sociedade muitas vezes
recusam-se a pensar na criança suicida, que abdica da própria vida em uma atitude
tão agressiva contra si mesma e por isso, pouco se conhece e é escrito sobre esse
tema tão polêmico e atual (CAPITÃO, 2007).
De acordo com Capitão (2007) o suicídio propriamente dito tem como gatilho
a ideação, que pode ser considerada um primeiro passo rumo à consumação do ato.
Além de contribuir para o resultado letal, a ideação suicida na infância pode ter como
fruto consequências negativas que ainda podem desencadear na possibilidade de
transtorno psiquiátrico futuro.
Pesquisas realizadas pelos autores Tishler, Reiss e Rhodes (2007) na
Universidade de Ohio (EUA) comprovam que o suicídio de fato é uma das causa de
morte em crianças com idade inferior a 12 anos. Os pesquisadores afirmam que o
assunto em questão não recebe a devida de importância, ainda mais quando
assunto é o suicídio na infância o qual deve ser tratado com um manejo
diferenciado.
De acordo com os dados estatístico da Organização Mundial de Saúde (OMS)
(2000) revelou-se que de 1980 à 2006, a taxa total de suicídio no Brasil cresceu de
4,4 para 5,7 mortes por 100.000 habitantes. Observou-se no grupo com idades entre
10-14 e 15-19, um crescimento de 20% e 30%, respectivamente. Desta maneira,
observamos quantitativamente que em nossa população de 10-14 anos o suicídio
começa a ser considerado um fator relevante de morte.
Dados publicados pela Revista Brasileira de Psiquiatria (SANTOS et al, 2005)
no ano de 2005 comprovavam que o suicídio entre os indivíduos na faixa etária 5-14
era pouco frequente, porém houve um aumento considerável. Neste período de 20
anos, a taxa de suicídio mundial aumentou 10 vezes. O maior aumento foi
observado em homens, aproximadamente 20 vezes. No ano de 2000, a proporção
de suicídio foi de 3 homens para cada mulher. Em 2004 foi publicado pela OMS
(2009) que o suicídio foi a quinta causa de óbito entre jovens com idade entre 10 e
19 anos.
11
De um modo geral, dados da Revista Cubana Medicina General Integral
(2002) (REYES, 2002) revelam que em todo o mundo a importância do suicídio
aumentou entre as causas externas de mortalidade. Assim, em 1990, no mundo
morreram por suicídio aproximadamente 818.000 pessoas, a maioria deles
(267.000) entre as idades de 12-29 anos, ou seja, crianças, adolescentes e adultos
jovens.
A OMS estima que, até 2020, a incidência mundial de suicídio atinga cerca de
1,53 milhão de pessoas. Esta projeção global indica, portanto, que embora as
maiores taxas ainda pertençam ao público idoso, os membros da população mais
jovem estão cometendo suicídio com frequência cada vez maior.
De acordo com o exposto, tendo em vista o aumento do número de suicídio
como causa de morte entre crianças, justifica-se o estudo dos multifatores de risco
suicida nesta população com uma tentativa de prevenção.
1.1 CONCEPÇÕES SOBRE O SUICÍDIO
Sabemos que no mundo a cada ano o número de suicidas aumenta
consideravelmente independentemente de sua idade, condições sociais, raças, sexo
(CAPITÃO, 2007); somente sabemos que o ato suicida consumado deve receber a
devida importância, afinal conforme informado pela OMS (2000) o suicídio é um
problema de saúde pública que exige atenção, visando à prevenção e o controle.
A palavra suicídio então pode ser definida conforme palavras da autora abaixo:
"Chama-se suicídio todo caso de morte que resulte direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo, praticado pela própria vítima, sabedora de que devia produzir esse resultado. A tentativa é o ato assim definido, mas interrompido antes de resultar em morte." (Durkheim, 2000, p 11).
De acordo com Freud (1910) “Não se pode esquecer que o suicídio não é
nada mais que uma saída, uma ação, um término de conflitos psíquicos.”. Por essa
definição podemos entender que nem todo suicídio pode ter sua forma consciente,
12
ou seja, o suicídio pode ocorrer por uma ação ou série de ações que levam a morte
do sujeito.
Nos textos de FREUD (1910, 1909, 1976) intitulados “Contribuições para uma
discussão acerca do suicídio” percebemos que o autor considera fortemente a
influencia da realidade sobre o sujeito e este por sua vez sobre seus atos. Nos
textos quando o autor comenta sobre o suicídio dos jovens estudantes Freud
saliente a importante do papel da escola na vida desses jovens no sentido de
conseguir mais do que não impelir seus alunos ao suicídio. Freud reforça que a
escola deve oferecer a sustentação em uma época em que os vínculos paternos
devem ser afrouxados dando força aos outros vínculos que serão estabelecidos na
escola.
Já no texto de FREUD (1917, 1987) “Luto e Melancolia”, o autor fala da
pulsão de morte e em suas implicações como perda do objeto amoroso
possibilitando o suicídio. No texto em questão Freud considera o estado melancólico
como um estado de perda objetal totalmente inconsciente, onde o próprio sujeito não
consegue localizar o que de si foi perdido, ou seja, existe uma ambivalência entre o
amor e ódio acrescida da identificação a esse objeto perdido, uma regressão da
libido para si e, ao mesmo tempo, uma busca por reparação. Nesse caso sobre o
olhar psicanalítico, o suicídio é considerado um homicídio, visando que o sujeito
tenta matar um outro dentro de si.
Para Durkheim (2000) o suicídio pode ocorrer como ações conscientes, como
um enforcamento, mas também de maneira inconsciente como, por exemplo:
negação de comer, que acarretará ao longo do tempo na morte.
De acordo com COSTA (2010) o suicídio derivado do latim sui (si mesmo) +
caederes (ação de matar), conotação usada para a morte intencional, provocada e
dirigida pelo próprio agente. O suicídio, portanto, de acordo com a autora é um ato
de autoagressão por morte causada voluntariamente, envolvido em três estágios
sucessivos chamado processo suicida: o desejo suicida, a ideia suicídio e suicídio
próprio ato.
Por outro lado afirma a autora é entendido como "comportamento suicida"
qualquer ação através do qual o indivíduo provoca lesão independente letalidade, o
método utilizado e o conhecimento real de sua intenção ocorre ou não a morte do
indivíduo.
13
De acordo com DURKHEIM (2000) as causas do suicídio podem ser
classificadas em dois grupos: gerais e específicas. A autora continua afirmando
que o indivíduo entende o suicídio como uma tentativa de fuga de uma situação de
vida que parece incontrolável. Muitos que tentam cometer suicídio estão buscando
alívio de: pensamentos ou sentimentos negativos, sentimentos de vergonha, culpa
ou sensação de um fardo para os seus familiares, sentimento de vítima, sentimentos
de rejeição, perda ou solidão.
Ainda de acordo com a autora o comportamento suicida pode ser
desencadeado por uma situação geral ou fato inerente a sua vontade, tais como:
envelhecimento, morte de um familiar querido, vícios, crise emocional, doença física
grave, desemprego e problemas financeiros.
Como causas específicas para DURKHEIM (2000) temos como
desencadeantes do ato suicida: fatores sociodemográficas, clínicos, neurobiológicas
e genéticos. Atualmente complementa a autora, sabe-se que é o suicídio pode ser
uma expressão de uma falha do mecanismos de adaptação do sujeito ao seu meio
ambiente, causada pela atual situação de conflito ou permanente, que gera um
estado de tensão emocional insuportável a esse indivíduo.
Muitas das tentativas de suicídio são executadas de um modo que seja
possível o resgate, essas tentativas representam um grito de ajuda, afinal de acordo
com a OMS (2000) sabe-se que as tentativas de suicídios são um número mais
significativo do que o número de suicídios consumados.
14
2. OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo identificar e discutir os multifatores que
levam ao crescimento significativo do suicídio infantil, tendo em vista contribuir para
uma melhor demarcação das características de risco, contribuindo assim, para
melhores abordagens preventivas e terapêuticas.
15
3. METODOLOGIA
Para discutir a problemática do suicídio na infância foi realizada uma revisão
bibliográfica sistemática, na base de dados PUBMED e LILACS, para tal utilizaremos
uma busca com as palavras chaves “criança”, “suicídio”, “fator de risco” e “coorte”.
Os filtros utilizados foram: textos completos; idioma português, espanhol ou inglês;
ano de publicação de 1990 à 2013; limite “criança”, “pré-escolar”. Para a seleção dos
artigos encontrados, foram analisados títulos inicialmente, e em uma segunda etapa
os resumos. Foram excluídos estudo que abordavam apenas validação de
instrumentos e não contemplavam os fatores da causa do suicídio.
Por razão de falta de literatura brasileira, para a riqueza dos dados coletados
utilizaremos também artigos internacionais que possibilitam uma análise global do
suicídio e de seus multifatores.
16
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 5 estudos na base PUBMED utilizando as palavras
chaves e os filtros descritos na metodologia. Na base de dados LILACS foram
encontrados 4 artigos.
Dos 9 artigos, 4 atenderam ao critério de exclusão por falta de conteúdo
relativo com a pesquisa. Após a análise dos artigos foram selecionados 5, que
seguem resumidos na tabela 01:
Tabela 1 Sumário dos estudos incluídos na pesquisa.
Autores
AnoTítulo Metodologia Resultados Conclusão
Nok, K. M;
Kazdin E. A.
2002
Examination of
affective,
cognitive and
behavioral factors
and suicide-
related outcomes
in children and
young
adolescents.
Estudo coorte Humor deprimido,
pensamentos
automáticos
negativos,
desesperança sobre
o futuro, e anedonia
foram
significativamente
associados com as
crianças que
tentaram suicídio. Os
resultados foram
gerados atraves da
aplicação das
escalas WISC, CDS,
ATQ, HSC, SSI e
SIS.
Fatores afetivos,
cognitivos e
comportamentais
influenciam
diretamente na
ocorrência de
ideação suicida e
nas tentativas de
suicídio na infância.
Pelkonen. M;
Marttunen M.
2003
Child and
adoslescent
suicide.
Epidemiology,
risk factors and
approaches to
prevention.
Revisão da
literatura
Tratamentos
psicossociais
provaram ser úteis e
eficazes nos casos
de suicídio.
É de grande
importancia para
iniciar os tratamentos
As taxas de suicídio
no público infantil e
adolescente vêm
crescendo
rapidamente.
Entende-se que os
níveis de atenção
primária, secundária
17
a definição dos reais
fatores de risco para
cada criança ou
adolescente.
e terciária devem
estar devidamente
preparados para
atuar no
reconhecimento dos
fatores de risco,
assim podendo
atuar mais
efetivamente no
tratamento e
prevenção dos
casos de suicídio.
Bella E. M;
Fernández A.
R.; Willington,
M. F.
2010
Identificación de
factores de riesgo
en intentos de
suicidio en niños
y adolescentes.
Estudo de caso-
controle
56% das crianças
que com inteção
suicida pertencem ao
sexo feminino. Os
fatores de risco
identificados para o
suicídio infantil
foram: transtornos de
conduta, problemas
familiares de
diversas naturezas.
Tentativas de
suicidio anteriores,
somadas à
transtornos mentais
e problemas
familiares são
fatores de risco em
crianças com
intenção suicida.
Buitrago. C.
S. C.
2011
Factores de
riesgo asociados
a conductas
suicidas en ninos
y adolescentes.
Revisão
Bibliográfica
A conduta suicida
infantil tem como
principais fatores de
risco: depressão,
abuso sexual e
problemas familiares.
Após identificar os
fatores de risco é de
grande importância
psicoeducar a
sociedade para que
consigam identificar
e prevenir o suicídio
na infância.
Fresia. U.C.
1993
Tentativas y
consumación de
suicidio en niños
y adolescentes.
Revisão
Bibliográfica
Estudar os
significados de
morte, da conduta
suicida, das
características das
crianças suicidas,
das circunstancias
familiares, das
tentativas de
Identificando que
depressão, violência
social, instabilidade
familiar e uso de
substâncias são
fatores de risco para
o suicídio infantil
são propostas
algumas medidas
18
reincidência do
suicídio significa
entender os fatores
de risco para uma
melhor atuação na
prevenção do
suicídio na infância.
terapêuticas tais
como: tratamento
com psico-fármacos
e terapia individual e
familiar como
prevenção na
reincidência de
tentativas de
suicídio.
Nok e Kazdin (2002) examinaram o papel dos fatores afetivos, cognitivos e
comportamentais nas ocorrências de ideação suicida e tentativas de suicídio em 175
crianças e jovens adolescentes pacientes psiquiátricos internados. A amostra foi
composta de 122 meninos e 53 meninas, todos com idades entre 6 a 13 anos. Para
ser incluído na pesquisa, as crianças deveriam ter pelo menos 6 anos de idade e
não ter nenhuma evidência de comprometimento neurológico, convulsões e quadros
de demência.
O método da pequisa constituiu na aplicação de algumas escalas tais como: WISC,
CDS, CDS, ATQ, HSC, SSI e SIS que ajudaram os pesquisadores na obtenção dos
resultados. Todos os pacientes foram submetidos a testes de inteligência e variadas
escalas de avaliação de multifatores da intenção e ideação suicida. Quando foram
analisados os resultados percebeu-se que as meninas tinham duas vezes mais
probabilidade que os meninos de tentativa de suicídio.
Sabe-se que grande parte dos multifatores para a idealização suicida na
infância estão ligados a problemas diversos no desenvolvimento infantil. De acordo
com a Associação Brasileira de Psiquiatria (2009), os fatores de riscos são: as
alterações do desenvolvimento infantil, atrasos no desenvolvimento, problemas de
comportamentais, doenças crônicas ou deficiências, além das vulnerabilidades
relacionadas à família e à sociedade.
Nok e Kazdin (2002) relatam também que em suas pesquisas o suicídio tem
sua maior predominancia no sexo feminino onde de 53 meninas, 36 possuem
ideação ou já tentaram suicidio. Já no sexo masculino a proporção é melhor de 122
meninos somente 52 já têm ideação ou já tentaram suicidio. Percebeu-se também
que de 58 crianças negras, 30 delas tinham ideação suicida ou já tentaram suicídio.
19
Foi perceptivel pelos autores que as crianças que tiveram maiores escores
nas escalas de ATQ e HSC relataram ter um número maior de tentativas prévias de
suicídio, assim fica claro que os fatores emocionais como humor deprimido,
pensamentos automáticos negativos, desesperança sobre o futuro e anedonia
estavam significativamente associadas com a ideação suicida e a presença de uma
nova tentativa de suicídio.
Os autores prosseguem justificando que os estado psicológico de anedonia
pode ser considerado fator de proteção ao suicídio infantil quando comparado a
crianças que apresentam depressão, onde o prejuizo psíquico em alguns casos
pode ser irreparável.
Pelkonen e Marttunen (2003) afirmam que relação entre transtornos
psiquiátricos e suicídio na infância é intensa. Os transtornos de humor, abuso de
drogas e tentativas de suicídio anteriores estão fortemente relacionados com
suicídios no publico infantil e adolescente. Fatores relacionados à adversidade
família e alienação social também contribuem para o risco de suicídio.
Os autores acima ressaltam a importancia das relações familiares e do fator
psicossocial como estimulantes no suicídio na infância. Pais divorciados e o histórico
familiar de suicídio podem ser agravantes. Sabe-se que 30% dos suicídios na
infância e adolescencia possue histórico familiar de suicídio, além disso, de acordo
com os autores são também fatores de risco abuso de drogas e problemas mentais
nos pais.
Os autores Bella, Fernández, Willington (2010) realizaram um estudo com um
grupo de crianças e adolescentes hospitalizados por tentativa de suicídio e um grupo
controle de crianças sem tentativas no período de 2006-2007. Os estudos foram
realizados com base em entrevistas clínicas semiestruturadas, aplicação do teste
“Como é sua família” e estudo dos registros clínicos anteriores.
Seguem afirmando os autores que por falta de estudos científicos, as crianças
e adolescentes com comportamento suicída, eram associadas somente as
problemáticas familiares e até então somente os problemas familiares eram
suficientes para explicar as tentativas de suicídio. Esse entendimento levou a uma
tardia compreensão dos diversos multifatores envolvidos na conduta suicida. De
fato, uma das descobertas dos estudos feitos pelos autores é a alta freqüência de
20
fundo psicopatológico e transtornos mentais no grupo de crianças com tentativa de
suicídio.
Como resultados obtidos os autores Bella, Fernández, Willington (2010)
mostram que nas crianças a maior prevalência de suicídio é no sexo feminino,
porém, crianças do sexo masculino iniciam suas intenções suicidas com menor
idade. Foi observado também que psicoses, transtornos bipolares, depressão,
transtornos de conduta social, transtornos de personalidades e disfunções familiares
são diagnosticados em grande parte das crianças e adolescentes do grupo.
A autora Buitrago (2011) em sua revisão bibliográfica entende que o processo
suicida começa no momento em que os pensamentos de morte chegam até a
realização das primeiras tentativas de suicídio, com um aumento gradual na
letalidade da tentativa de alcançar o suicídio. Para a autora as manifestações
suicidas têm grande fundo emocional na maioria dos casos, e podem ser
consideradas como: atitudes de escape, vingança a si próprio, altruísmo, tendência
a ser percebido como um perdedor, baixa tolerância à frustração, dificuldade em
resolver conflito, desesperança e abandono.
Para a autora os principais fatores de risco para o suicído nas crianças e
adolescentes do sexo masculino são: depressão, uso de drogas, a perda de um
membro da família ou amigo por suicídio, fácil acesso a armas de fogo. Já para o
sexo feminino, os fatores podem ser diferenciados tais como: famílias
monoparentais (especialmente a ausência do pai), traços de personalidade
narcisista ou anti-social, pobreza, problemas de relacionamento, abuso físico ou
sexual, transtornos alimentares, conflito interno geral e funções executivas
neuropsicológicas deficientes.
Percebe-se que as autoras Fresia (1993) e Buitrago (2011) caminham no
mesmo sentido quando apontam os fatores de risco do suicídio em criança e em
adolescente. Fresia (1993) cita que os fatores precipitantes para o suicídio são:
problemas de rendimento e conduta escolar, problemas amorosos, abuso físico ou
sexual, conduta suicida de familiares ou amigos e problemas familiares de diversas
naturezas. A autora continua afirmando que o suicídio pode ter como significado
fuga de situaçãos problemáticas, busca por atenção ou até mesmo uma forma de
autopunição.
21
Para a autora existem características psicológicas definidas para as crianças
e adolescentes suicidas dentre elas: comportamento ou sintomas de depressão,
imaturidade, instabilidade afetiva e impulsividade. Existem também características
no funcionamento familiar que ajudam na ideação suicida, tais como: separação dos
pais, ausência do pai ou da alguma figura parental, violência familiar, abuso físico ou
sexual e a falta de comunicação entre os pais e filhos.
Fresia (1993) afirma também que o individuo que já tenha realizado um
tentativa de suicídio tem cerca de 30 à 50% de probabilidade de repetir o ato, o risco
de reincidência é maior nos 3 meses seguintes à tentativa inicial. Sabe-se também
através do estudo que primeiras tentativas de suicídio letais são características de
sujeitos com algum tipo de desordem psicopatológicas, antecedentes de grandes
dificuldades de adaptação e rendimento escolar, familiar numerosas (mais de 4
filhos) e abuso de substâncias.
22
5. CONCLUSÕES
O presente estudo teve como objetivo identificar e discutir os multifatores que
levam ao crescimento significativo da ideação suicida em crianças. Percebe-se que
ainda faltam estudos científicos publicados no Brasil que abordem o tema e
sinalizem que este é um problema crescente de saúde pública que exige atenção,
prevenção e controle das ocorrências.
Constatou-se com este estudo de revisão bibliográfica, que o suicídio é um
fenômeno complexo que atinge o indivíduo em seus aspectos biopsiossociais. O
suicídio seria toda morte induzida, de forma direta ou indireta, tendo no final como
resultado a morte provocada pelo próprio sujeito.
De acordo com os referencias teóricos utilizados na discussão podemos
destacar os principais fatores de risco do suicídio na infância, conforme tabela 02
abaixo:
Tabela 2 Principais fatores de risco do suicídio na infância.
Principais fatores:
1 – Crianças do sexo feminino.
2 – Abusos físicos e sexuais.
3 – Problemas psicológicos (Instabilidade afetiva, impulsividade, problemas escolares,
abandono, culpa, entre outros)
4 – Problemas familiares (relacionamento ou financeiros)
5 – Abuso de substâncias (álcool ou drogas ilícitas)
6 – Transtornos psicopatológicos (Depressão, transtorno de humos bipolar, psicoses,
transtornos de personalidade, dentre outros).
7 – Problemas sociais
Como falado anteriormente o suicídio é um fator amplo que atinge o sujeito
em todas as áreas da sua vida. Na criança o agravante é maior, pois sabe-se que o
psicológico infantil está em formação, ou seja, além de problemas psicopatológicos
que atuam como fatores desencadeantes dos suicídios grande parte dos fatores de
risco conforme tabela acima estão na dimensão social do sujeito.
De acordo com Freud (1910) em seu texto intitulado “Contribuições para uma
discussão acerca do suicídio” percebe-se a importância do social como fator protetor
23
para a ideação suicida. Freud (1910) considerava a influencia da realidade sobre o
sujeito e também sobre seu ato. Quando o autor comenta o suicídio dos estudantes
em seu texto, aponta o papel da escola na vida dos jovens, no sentido de conseguir
mais do que não impelir seus alunos ao suicídio.
Sendo assim, pode-se definir que fatores sociais, mais fatores
psicopatológicos quando agregados em crianças do sexo feminino em sua maioria
podem atuar como fatores desencadeantes da ideação suicida e para isso é de
suma importância o diagnóstico antecipado e, o trabalho de psicoeducação nas
famílias e na sociedade na qual essa criança está inserida. Sabe-se que o trabalho
de prevenção de acordo com a OMS (2000) vem sendo feito em diversos países,
porém, no Brasil este trabalho ainda é tímido e de certa forma é deixado de lado por
parte de familiares e profissionais por falta de informação e interesse sobre o
assunto.
Destaca-se a importância de se produzir pesquisas com ensaios clínicos de
intervenções para ideação suicida infantil, sendo de grande valia verificar a eficácia
dos estudos sobre a prevenção do suicídio infantil, preocupando-se com o contexto
do tema no Brasil.
Acredita-se que a identificação dos multifatores para a ideação suicida é um
início de um tema abrangente que necessita de empenho por parte da sociedade
científica. Entender os multifatores é apenas uma pequena parte de uma atmosfera
que carece de um trabalho assertivo de prevenção e de controle.
24
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPITÃO, Cláudio Garcia. Depressão e Suicídio na Infância e Adolescência.Disponível em: http://www.adolescenza.org/capitao.pdf. Acesso em: 10 de fev. de 2013, às 20h.
COSTA, D. S. S. Ato Suicida na Infância: do acidental ao ato. Disponível em: http://www1.pucminas.br/documentos/dissertacao_daniela_scarpa.pdf. Acesso em 20 de mar. de 2013, as 20h15.
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes,2000.
FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia. (1917) In: A história do movimento psicanalítico Vol XIV. Rio de Janeiro: Ed.Imago, 1976.
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