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SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO DA MESA DIRETORA ........................................................... 3
2 APRESENTAÇÃO DO TEMA .............................................................................. 6
2.1 A Carta Olímpica, o Movimento Olímpico e a Trégua Olímpica ................ 7
2.2 A história das Olimpíadas ............................................................................ 8
2.2.1 A Era Clássica e a extinção dos Jogos Olímpicos ............................. 8
2.2.2 O renascimento olímpico e as Olimpíadas da Era Moderna .............. 9
2.3 A Guerra Fria no cenário olímpico ............................................................ 16
2.4 O boicote de Moscou ................................................................................. 21
2.5 As Olimpíadas de Los Angeles .............................................................. 24
3 APRESENTAÇÃO DO COMITÊ ........................................................................ 25
3.1 O Comitê Olímpico Internacional (COI) e sua organização ................. 25
4 POSIÇÃO DOS PRINCIPAIS ATORES ............................................................. 27
4.1 Comitê Olímpico dos Estados Unidos da América .............................. 27
4.2 Comitê Olímpico da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ........ 27
4.3 Comitê Olímpico da Alemanha Ocidental ................................................... 28
4.4 Comitê Olímpico da Alemanha Oriental ................................................ 28
4.5 Associação Olímpica Britânica, Comitê Nacional Olímpico e Esportivo Francês e Comitê Olímpico Italiano .............................................. 29
5 QUESTÕES RELEVANTES PARA O DEBATE ................................................ 29
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 30
TABELA DE REPRESENTAÇÕES ......................................................................... 33
3
1 APRESENTAÇÃO DA MESA DIRETORA
Excelentíssimos (as),
É com imensa satisfação que o Comitê Olímpico Internacional (COI) dá as
boas-vindas às delegações participantes da histórica Edição do MINIONU 20 anos
e do XI Congresso Olímpico, realizado em Baden-Baden, na Alemanha, entre os
dias 12 e 15 de outubro de 1981. O embate entre nações capitalistas e socialistas,
que se prolonga ao longo dos anos, atingiu o esporte: um ano após o boicote aos
Jogos de Moscou (União Soviética) e com as Olimpíadas de Los Angeles (Estados
Unidos da América) se aproximando, não é exagero dizer que a credibilidade do
Movimento Olímpico está em jogo e que novas medidas são extremamente
necessárias para seguirmos o caminho da paz nas Olimpíadas e no mundo.
Pedro Bello – Diretor
Olá! Me chamo Pedro Bello e serei o responsável por representar o
Presidente do COI neste Congresso. Nasci aqui mesmo, em Belo Horizonte, e
estou cursando o quinto período de Relações Internacionais, na PUC Minas.
Tenho 21 anos e essa é a minha terceira experiência no MINIONU. Infelizmente,
não participei como delegado, pois na escola onde estudei não havia
oportunidades para colaborarmos com esse evento incrível, que envolve tantas
pessoas. Portanto, aproveitem esse momento!
Foi no primeiro período de curso que tive a chance de me tornar voluntário
do comitê CDH (2017) – “Práticas tradicionais que ferem os direitos das crianças”,
pela 18ª edição. Logo, me encantei pelas simulações e decidi seguir carreira no
MINIONU, atuando como diretor-assistente do FIFA (2015) – “Futebol feminino”,
no ano seguinte. Ao fim de 2018, me candidatei para ser diretor do MINIONU 20
ANOS e tive a honra e a felicidade de ser aprovado pela coordenação do projeto.
Sou apaixonado por história, política, direitos humanos e tudo que envolva esporte.
Creio que já entenderam o porquê da escolha pelo COI (1981) – ‘As tensões da
Guerra Fria nas Olímpiadas’, não é?
Ao longo de toda a minha experiência com o MINIONU, conheci pessoas
maravilhosas e criei uma conexão inexplicável com tudo o que está ligado ao
4
projeto. A troca de informações, os debates, o respeito pelas diferenças e toda a
paixão envolvida com os mais diversos assuntos tratados pelas centenas de
países e representações me encantam. É um momento único, e eu estarei sempre
presente e disposto a ajudá-los com qualquer coisa relacionada ao MINIONU 20
ANOS e o COI (1981).
Luíza Monteiro – Diretora Assistente
Caros delegados e delegadas, eu me chamo Luíza Monteiro e é um prazer
ser diretora assistente do COI (1981) nesta 20° edição do MINIONU. Estou no 5°
período de Relações Internacionais e participo deste projeto desde o meu 2°
período, já fui voluntária interna nas duas últimas edições e estou ansiosa para
essa nova experiência com muitas responsabilidades. Fico muito feliz em fazer
parte deste comitê com vocês e espero que todos aprendam, cresçam e se
divirtam durante o feriado de outubro. Nos vemos em breve, sejam bem-vindos ao
MINIONU 20 ANOS!
Paulo Monteiro – Diretor Assistente
Caros delegados e delegadas, meu nome é Paulo Monteiro e é com um
prazer enorme que venho me apresentar como diretor assistente do COI (1981).
Tive minha primeira experiência com o MINIONU no ano de 2018, como voluntário,
e logo me apaixonei pelo projeto e sua luta por um aprendizado mais dinâmico e
divertido para os alunos do ensino médio. Sejam muito bem-vindos ao MINIONU 20
ANOS e espero que a nossa experiência seja memorável. Um grande abraço!
Yan Szuecs – Diretor Assistente
Queridos delegados e delegadas, me chamo Yan Rocha Szuecs e terei a
honra de ser diretor assistente do COI (1981) neste ano. Estou muito motivado em
participar deste comitê, visto que tenho uma longa jornada na carreira esportiva e
espero aprender muito com todo o evento. Em complemento, no ano passado
participei pela primeira vez como voluntário da 19ª edição do MINIONU. Uma
experiência extremamente enriquecedora, na qual me fez acreditar ainda mais no
5
curso que estou fazendo, Relações Internacionais. Espero que todos tenham um
excelente preparo e participação em todo o evento, se divirtam e aprendam. Sejam
bem-vindos ao MINIONU!
O COI (1981) se coloca à disposição dos senhores para ajudar com toda e
qualquer dúvida relacionada ao Comitê e ao MINIONU. Também fazemos um
convite a todos para acompanharem nossos trabalhos, postagens, fotos e dicas
importantes sobre o andamento do comitê no MINIONU 20 Anos no blog, nas
nossas páginas no Facebook e Instagram, e pelo email1. Estamos ansiosos para
conhecê-los!
6
2 APRESENTAÇÃO DO TEMA
Inicialmente, faz-se necessário apresentar, para maior compreensão do tema
deste comitê, uma passagem pela história das Olimpíadas até o presente ano de
1981, às vésperas do XI Congresso Olímpico de Baden-Baden. Com isso, podemos
observar que, desde o nascimento dos Jogos Olímpicos, na Grécia Antiga, o esporte,
a política e as guerras já se relacionavam direta ou indiretamente. Ao longo de toda a
sua trajetória, muitos conflitos ideológicos acabaram impactando na realização dos
Jogos, que passaram a ser disputados de maneira cada vez mais intensa (COLLI,
2004).
Como consequência dessas divergências no ambiente olímpico, tornou-se
fundamental a criação de regras mais rigorosas e eficazes para uma realização sadia
e harmoniosa dos Jogos Olímpicos. A imposição da Trégua Olímpica, que é usada
para proteger a integridade dos atletas e do esporte em geral, além de encorajar a
busca por soluções pacíficas e diplomáticas para os conflitos pelo mundo, já era um
exemplo de regra que servia para proteger os participantes contra guerras durante os
Jogos e permitir que os mesmos pudessem ser realizados na Era Clássica. Este
princípio, de certo modo, se mantém atualmente por meio do Olimpismo, ou seja,
alinhando o esporte com a amizade, a compreensão, a igualdade, a solidariedade e o
jogo limpo, de modo que isso influencie a vida de todos para além das arenas
esportivas. Com o renascimento das Olimpíadas, na chamada Era Moderna, fundou-
se o Comitê Internacional Olímpico (COI). Para reestruturar os Jogos e formar as
bases institucionais da entidade, foi criada a Carta Olímpica. O documento contém os
princípios fundamentais do Movimento Olímpico, além de todas as informações
necessárias para a execução do maior evento esportivo da história (INTERNATIONAL
OLYMPIC COMMITTEE, 2019).
Após uma explicação completa do desenvolvimento das Olimpíadas e o seu
histórico em relação às guerras, ameaças e ataques terroristas, o presente guia
também busca expor a conexão entre a Guerra Fria e os Jogos Olímpicos. É de suma
importância que se compreenda como e quando o conflito começou, quem são os
principais aliados de Estados Unidos e União Soviética e quais são os seus
7
interesses. Do mesmo modo, é extremamente relevante destacar o impacto causado
pelo boicote de Moscou, em 1980. Este acontecimento foi considerado o ápice para a
formação de um enorme mal-estar no cenário esportivo e político mundial atualmente.
Em sequência, se dará seguimento à apresentação detalhada do Comitê
Olímpico Internacional (COI), sua estrutura e os atores deste comitê. Como
autoridade máxima das Olimpíadas, o COI se tornou responsável pela organização
geral dos eventos e pela divulgação mundial do Movimento Olímpico. A entidade é
composta por Comitês Nacionais Olímpicos (CONs), que promovem o olimpismo
nacionalmente e representam os seus países nos Jogos, reuniões e congressos.
Desta forma, se faz também necessário um detalhamento do XI Congresso Olímpico
de Baden-Baden e como funcionarão todos os procedimentos durante as discussões.
É esperado que, através do diálogo, as delegações de cada país contribuam com
propostas e soluções pertinentes para que a paz seja garantida no ambiente olímpico
(INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE, 2019).
2.1 A Carta Olímpica, o Movimento Olímpico e a Trégua Olímpica
Publicada pela primeira vez em 1908, a Carta Olímpica é o documento mais
importante das Olimpíadas da Era Moderna. Em suma, ela contém os princípios
fundamentais do Movimento Olímpico, no qual se explica os objetivos gerais, a
organização das Olimpíadas de inverno e verão, a duração destas, a composição da
bandeira do COI, o significado e o manejo da chama olímpica e outras informações
importantes. Além disso, nela estão publicadas as regras oficiais e todo o mecanismo
utilizado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e pelos Comitês Olímpicos
Nacionais (CONs) para que os Jogos tenham condições de ser realizados (OLYMPIC
CHARTER, 1980).
Uma das principais missões do COI é promover o Movimento Olímpico. Por
meio dessa filosofia, além de incentivar o desenvolvimento físico e moral dos atletas,
busca- se educar os jovens, promovendo a amizade e a paz mundial por meio do
olimpismo. A prática amistosa do esporte, o respeito pelas diferenças universais, a
união dos povos e a garantia de que não exista qualquer tipo de discriminação ou
descumprimento das regras oficiais do COI serão sempre celebradas pelo Movimento
8
(OLYMPIC CHARTER, 1980).
Conhecida como Ekecheiria na Grécia Antiga, a Trégua Olímpica serve para
proteger todos os participantes das Olimpíadas em períodos de guerra e busca
estabelecer boas relações entre grupos em conflito. No seu auge, os Jogos Olímpicos
da Era Clássica eram tão valorizados, que as Tréguas cessavam por três meses as
batalhas para que esportistas, comerciantes e espectadores de todos os cantos
pudessem viajar de forma segura em direção aos festivais de Olímpia. Ademais, elas
criavam possibilidades de diálogo e acordos entre países em guerra. Graças às
grandes mudanças realizadas por Pierre de Coubertin, as Olimpíadas modernas
sempre buscaram ser palcos neutros, onde propagandas políticas e imposições
ideológicas não são acatadas. Entretanto, os últimos acontecimentos fazem tornar
necessária a retomada dos princípios da Trégua (OLYMPIC TRUCE, 2018).
2.2 A história das Olimpíadas
O presente tópico apresentará um breve histórico das Olimpíadas, da Era
Clássica até a Moderna, de onde surge o problema central do comitê: a interferência
da Guerra Fria no contexto olímpico.
2.2.1 A Era Clássica e a extinção dos Jogos Olímpicos
As Olimpíadas surgiram em 776 a.C, na Grécia Antiga. Porém, existem
inúmeras versões sobre a sua origem, algumas das quais situam o início dos Jogos
em tempos ainda mais remotos (INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE, 2019).
Os registros oficiais encontrados mostram que o evento nasceu como um festival
exclusivo apenas para homens livres, de nacionalidade grega e respeitados pela
justiça. Vale lembrar que as Olimpíadas eram, em grande parte, caracterizadas como
cerimônias religiosas respeitadas por todo o povo grego. Nas primeiras edições, as
principais modalidades esportivas eram corridas livres, diferentes tipos de luta,
lançamento de disco, salto em distância, lançamento de dardo e esportes equestres.
Mesmo naquela época, as regras dos Jogos Olímpicos já continham elementos a
9
favor da prática pacífica dos esportes. Dentre elas, pode-se destacar que:
Era proibido matar ou provocar voluntária ou involuntariamente a morte do
adversário; era proibido perseguir fora dos limites, empurrar o adversário ou
praticar um comportamento desleal; era proibido amedrontar; a corrupção de
árbitro ou participante era punida com chicotadas; era proibido rebelar-se
publicamente contra as decisões dos juízes (COLLI, 2004, p. 8).
Nessa época, conhecida como a Era Clássica das Olimpíadas, foi definido o
período de intervalo de quatro em quatro anos para as realizações dos festivais, o
qual permanece até os dias de hoje. É importante ressaltar que durante toda essa
Era, as guerras eram constantes entre os povos gregos. Assim, para assegurar a
realização dos Jogos, declarava-se a Trégua Olímpica, que se referia a um período
de suspensão nos conflitos durante a realização do evento (YOUNG, 2004). Nem
sempre era de interesse dos países acatar a Trégua.
O aumento do revanchismo contribuiu para o enfraquecimento das Olimpíadas.
Consequentemente, a Grécia também se viu enfraquecida, visto que a ganância pelo
status e o lucro trouxeram a corrupção e o doping para este grande festival esportivo
(COLLI, 2004). A desvalorização das Olimpíadas cresceu com a tomada da Grécia
pelos romanos, em 146 a.C. Nesse momento, os Jogos já não tinham mais o sentido
pacífico e amistoso: haviam se tornado um evento comum e envolviam apenas as
elites e seus interesses financeiros e egocêntricos. Por volta de 392 d.C., o imperador
romano Teodósio I, cristão convertido pelo então bispo de Milão, Dom Ambrósio,
decidiu proibir e fechar todos cultos e templos pagãos da Grécia. Foi nesse contexto
que, após os Jogos Olímpicos de 394 d.C., o imperador rotulou o festival de pagão e
decidiu extingui-lo. Em 426 d.C, foi a vez de Teodósio II atacar a história olímpica. O
Imperador determinou que todos os templos e santuários pagãos de Olímpia fossem
totalmente destruídos (LICHT, 2009).
2.2.2 O renascimento olímpico e as Olimpíadas da Era Moderna
10
Passados cerca de 1.500 anos, as Olimpíadas retornam oficialmente a serem
realizadas graças ao francês Pierre de Frédy, mais conhecido como Barão de
Coubertin. Nascido em Paris, em 1863, Coubertin se especializou no sistema de
educação física inglês e foi o responsável por implantá-lo na França. Mas, mesmo
após essa mudança, o esporte ainda não era levado ao nível de competições oficiais
no país. Foram anos de persistência até que Pierre conseguisse conquistar o apoio de
chefes de Estado da Inglaterra, Rússia e Grécia, além de outras personalidades
políticas importantes para a restauração dos Jogos Olímpicos – agora como uma
grande competição esportiva internacional. Dessa forma, em 1896, foram realizadas
as primeiras Olimpíadas da Era Moderna, em Atenas, na Grécia (COLLI, 2004).
Os novos Jogos contavam com muitas mudanças, mas alguns ideais positivos
do tempo clássico permaneceram. As características mais importantes das novas
Olimpíadas eram: a manutenção do intervalo de quatro anos entre os festivais, a
modernização dos esportes praticados, a rotatividade do evento entre as cidades
mais importantes do mundo e a criação do Comitê Olímpico Internacional (COI). A
escolha de Coubertin por Atenas, cidade considerada berço olímpico, como local
sede da reestreia dos Jogos fez parte de uma estratégia para atrair o apoio de toda a
comunidade internacional, assim como a nomeação do grego Demetrius Vikelas como
primeiro presidente do COI (COLLI, 2004).
Com o enorme apoio financeiro de patrocinadores, os organizadores
conseguiram erguer um novo estádio Olímpico, construíram um velódromo e o
pavilhão de tiro esportivo, além de um píer para a realização de provas como natação
e remo. As Olimpíadas de 1896 contaram com a participação de 14 países e 88 atletas
estrangeiros, além de 123 esportistas gregos e mais de 70.000 espectadores (COLLI,
2004). Apesar das muitas dificuldades enfrentadas ao longo do planejamento e
execução do evento, a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Clássica foi um
sucesso.
Mesmo depois desse reinício memorável em Atenas, o projeto das Olimpíadas
ainda foi recebido com muita desconfiança ao redor do mundo. Em 1900, Coubertin
tornou-se presidente do COI e estava decidido a organizar uma Olimpíadas histórica
11
em Paris, sua cidade natal. No entanto, o governo francês decidiu não apoiar o
evento, o que gerou um impacto negativo principalmente nas questões de
infraestrutura, resultando na avaliação geral dos Jogos como abaixo das expectativas
do público geral (YOUNG, 2004).
Quatro anos depois, em Saint Louis, nos Estados Unidos, os Jogos Olímpicos
da Era Moderna tiveram os primeiros incômodos causados por conflitos entre nações
participantes. Era o auge da guerra Russo-Japonesa, e, por medo de uma expansão
do combate para outros cantos do mundo, muitos países deixaram de participar da
primeira Olimpíada estadunidense. Além disso, outros fatores que atrapalhavam
fortemente a presença de muitas nações eram a distância e o tempo de duração do
evento – cerca de 4 meses (AUGUSTYN, 2018). Apesar da grande ausência, 12
países e 651 atletas compareceram ao festival, no qual houve a presença histórica de
seis mulheres (INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE, 2019). Os Jogos de Saint
Louis também ficaram marcados positivamente pelo aumento do número de
modalidades, passando a integrar o grupo de modalidades olímpicas o boxe, o
levantamento de peso, a luta, o beisebol, o lacrosse, e o basquete, dentre outras.
Também houve a criação do sistema clássico de medalhas – utilizado até os dias de
hoje –, que as configura em ouro, prata e bronze (COLLI, 2004).
A partir daí, as Olimpíadas passaram por uma constante evolução técnica,
edição após edição, com a inserção de novos países, o aumento do número de
modalidades e a busca por compartilhar o espírito olímpico. Para exemplificar as
inovações, afirma-se que a Olimpíada de 1912, em Estocolmo, na Suécia, é
considerada a mais bem organizada até os dias de hoje devido ao alto investimento
nas estruturas e a inserção de novas tecnologias, como a cronometragem eletrônica
extraoficial. Por outro lado, naquele mesmo ano, a tensão política internacional
ameaçava fortemente a estabilidade dos Jogos. Não fosse pelas negociações entre o
COI, representado por Coubertin, e os russos e austro-húngaros para a liberação de
equipes próprias da Boêmia e da Finlândia, talvez o festival nem acontecesse
(COLLI, 2004).
Em 1916, a Primeira Guerra Mundial impediu a realização das Olimpíadas de
Berlim, na Alemanha. As tensões de um dos maiores conflitos da história não deram
12
chances para que o clima do festival pudesse se instalar. Em 1920, após o fim da I
Grande Guerra, foram realizados os Jogos Olímpicos da Antuérpia, na Bélgica. Além
de ser marcada pelo retorno do evento após o término das batalhas, a Olimpíada
desse ano contou com a estreia da bandeira olímpica e com a exclusão temporária
dos países derrotados na guerra: Alemanha, Áustria, Bulgária, Hungria, Polônia,
Romênia e Turquia. Devido à divisão causada pela guerra civil, a Rússia também não
foi convidada a participar (COLLI, 2004).
Rival da França na Primeira Guerra, a Alemanha não foi convidada para as
Olimpíadas de 1924, em Paris, mas voltou a participar do evento nos Jogos de
Amsterdã, na Holanda, em 1928, e conquistou a segunda posição no ranking de
medalhas. A edição holandesa é lembrada por receber a primeira delegação asiática
dos Jogos Olímpicos, o Japão. Além disso, também foi marcante a participação de
mais mulheres nas competições: totalizando, nesse ano, 290 atletas (COLLI, 2004).
Após os Jogos de Los Angeles, em 1932, as Olimpíadas vivenciaram um dos
momentos mais marcantes de sua história. Devido aos problemas da guerra civil na
Espanha, a candidatura de Barcelona para sede da Olimpíada seguinte foi invalidada.
Logo, a capital alemã, Berlim, foi a escolhida para acolher o festival de 1936. Havia se
passado apenas dois anos da decisão do COI pela nova cidade sede, quando o líder
do Partido Nazista, Adolf Hitler, foi eleito Chanceler da Alemanha. Com a intenção de
expandir a imagem positiva do nazismo para o mundo, Hitler viu com bons olhos a
chegada dos Jogos Olímpicos e garantiu perfeitas condições democráticas para a
realização do evento em seu país. Tais medidas, como a promessa de não fazer
discursos políticos no decorrer das Olimpíadas, também serviram como resposta às
ameaças de diversos países de boicotarem os Jogos daquele ano. O líder alemão
havia também decidido que suas leis racistas, homofóbicas e antissemitas não seriam
aplicadas aos turistas durante o festival, buscando camuflar todos os horrores da
ditadura nazista no país, além de querer mostrar uma Alemanha pacífica e
acolhedora para quem vinha de fora (COLLI, 2004).
Junto aos altos investimentos destinados às guerras, o regime nazista também
despendeu enormes quantias de dinheiro (cerca de trinta milhões de dólares) para a
realização das Olimpíadas. Assim, apesar dos conflitos e polêmicas, como uma
13
cerimônia de abertura que se assemelhou fortemente a uma parada militar, os Jogos
de 1936 pode ser considerado de muito sucesso. Isso porque, além do investimento
milionário, o evento contou com diversas quebras de recordes e outros feitos
históricos (COLLI, 2004).
Devido à chegada da Segunda Guerra Mundial, que perdurou de 1939 a 1945,
as Olimpíadas de Tóquio (1940) e Londres (1944) acabaram por ser canceladas. A II
Guerra é considerada um dos mais sangrentos conflitos de toda a história, tendo
impactado diretamente na vida de milhares de atletas e ex-atletas olímpicos graças
ao alistamento obrigatório imposto pelos seus países. Após o fim da guerra, o então
presidente do COI, Johannes Edströem, definiu a cidade de Londres como sede das
Olimpíadas de 1948. A decisão foi questionada por muitos, visto que a capital da
Inglaterra estava devastada pelas bombas alemãs e precisaria passar por um grande
processo de reestruturação. Ainda assim, os Jogos de Londres foram concluídos com
êxito e tiveram os Estados Unidos como líder disparado do quadro de medalhas
(COLLI, 2004).
Os Jogos de Helsinque, em 1952, foram marcados pela estreia da União
Soviética nas Olimpíadas em um momento de extrema instabilidade no sistema
político mundial, causada pela Guerra Fria. Cautelosos com qualquer tipo de ameaça
contra a sua delegação, os soviéticos decidiram ficar afastados do alojamento da Vila
Olímpica. Apesar dos resquícios de um cenário conflituoso entre nações, o COI
decidiu acatar o retorno da Alemanha, desta vez unida, às Olimpíadas. No entanto,
somente membros da República Federal da Alemanha, parte que representava o lado
ocidental do país, optaram por participar dos Jogos. Naquele ano, os Estados Unidos
conquistaram o destaque no quadro de medalhas e a URSS garantiu a segunda
posição, mostrando que a rivalidade entre as duas nações era grande também para
além dos aspectos políticos e econômicos (BRITANNICA, 2018).
Em Melbourne, nos Jogos Olímpicos de 1956, a União Soviética se sagrava
líder geral no quadro de medalhas pela primeira vez. A alta tensão entre os EUA e
seus aliados e a URSS, motivada pelo abafamento do movimento de democratização
húngaro, provocou apelos pela retirada dos soviéticos da competição. No entanto, o
então presidente do COI, Avery Brundage, optou por manter a delegação na
14
Olimpíada, com a justificativa de que deveria se partir do preceito de que os Jogos
são realizados entre indivíduos e não entre nações. Contrárias à situação política
instalada, China, Espanha, Holanda e Suíça decidiram não participar das Olimpíadas
de 56. Do mesmo modo, faz- se importante também destacar a ausência de Egito,
Iraque e Líbano, como forma de denunciar a invasão militar de Israel no Canal de
Suez (COLLI, 2004).
Um importante passo estrutural foi dado durante as Olimpíadas de Roma, em
1960. Os altos investimentos dos italianos fizeram jus à grande campanha para sediar
os Jogos daquele ano. O festival foi marcado por belíssimas celebrações, além de
estádios, arenas, piscinas e ginásios modernos que contribuíram para o seu sucesso.
Outro aspecto considerado positivo e marcante, graças a uma determinação do COI,
foi a reunificação do comitê alemão, que passaria a contar com atletas da Alemanha
Oriental e Ocidental. Em 1964, não foi diferente. Mesmo o Japão sendo um dos
países mais atingidos pela 2ª Guerra, as Olimpíadas de Tóquio foram destaque em
tecnologia e estrutura. Os bilhões de dólares investidos pelos japoneses surtiram
efeito, e cerca de 93 países e 5.140 atletas participaram dos Jogos. Com uma
organização impecável, o evento também se destacou pela transmissão universal da
competição pela TV (COLLI, 2004).
À sombra de ameaças de cancelamento em consequência da repressão
soviética contra o movimento pró-democracia da Checoslováquia, conhecido como
“Primavera de Praga”, e sob a violenta repressão do exército mexicano aos protestos
estudantis no país, as Olimpíadas da Cidade do México, em 1968, geraram um
contraste negativo em relação às de Roma e Tóquio. No entanto, o presidente do COI
decidiu manter o festival, afirmando que os problemas enfrentados no México não
impediriam os Jogos de acontecerem. Ainda que diversas estruturas olímpicas tenham
sido erguidas em cima da hora, a organização do festival não deixou de chamar a
atenção por sua modernidade e dimensão (COLLI, 2004).
Em 1972, cerca de 36 anos após a sombria “Olimpíada Nazista”, a Alemanha
(Ocidental) recebeu novamente os Jogos Olímpicos. Com o intuito de realizar um
festival de característica pacífica e amigável, a cidade escolhida para sediar o evento
foi Munique, contando com diversas construções impecáveis para a prática e exibição
15
das modalidades. Afirma-se que o conjunto arquitetônico olímpico daquela edição é
considerado um dos mais bonitos e bem feitos até hoje. Porém, no dia 5 de setembro
de 1972, todos os belos detalhes preparados para os Jogos de Munique foram
ofuscados pelo maior desastre da história das Olimpíadas (COLLI, 2004).
Durante a madrugada do dia cinco, o grupo terrorista palestino “Setembro
Negro” infiltrou-se nas comodidades da Vila Olímpica de Munique. Disfarçados com
uniformes de atletas, os oito jovens que compunham a organização extremista
conseguiram confundir a segurança do local e alcançaram os quartos da equipe
israelense. Ao tentar render os atletas, os terroristas mataram dois judeus que
reagiram e fizeram outros nove de refém. Felizmente, alguns membros da delegação
conseguiram escapar. Em negociação com a polícia alemã, o grupo avisou que só
libertaria os reféns caso houvesse uma troca: a soltura de 234 árabes presos em
Israel. Com a recusa do governo israelense, os jovens solicitaram então um avião
para retornar de forma segura para o Egito. Sem a certeza sobre a liberação dos 9
judeus, as autoridades alemãs planejaram uma emboscada fornecendo helicópteros
para levar o grupo extremista até a base militar de Fürstenfeldbruck, de onde sairia o
avião solicitado. O plano era que, ao chegarem na área determinada, os terroristas
fossem reprimidos pelas forças alemãs. Ao chegar no aeroporto, os palestinos
perceberam a armadilha que os esperava. Começa então uma intensa troca de tiros
entre eles e a polícia alemã. Antes de ser alvejado, um dos criminosos lança uma
granada sobre o helicóptero em que os reféns se encontravam, culminando na morte
de todos eles. Ao fim, também foram mortos cinco terroristas e dois policiais. Três
membros da organização terrorista sobreviveram e foram presos imediatamente
(OSSE, 2011).
Chamado de “Massacre de Munique”, o atentado impactou todo o ambiente
olímpico, causando também uma enorme comoção popular ao redor do mundo. A
maioria das nações apoiava o cancelamento dos Jogos de 1972, mas o então
presidente do COI, Avery Brundage, decidiu encarar os terroristas palestinos
ordenando a retomada das competições após 34 horas de intervalo
(INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE, 2019).
Quatro anos depois, em 1976, os Jogos Olímpicos de Montreal aconteceram
16
normalmente. Com a segurança redobrada, o evento contou com o retorno da
delegação chinesa e a saída de grande parte dos países africanos, além do Iraque,
por desacordos
e outros problemas. Apenas Costa do Marfim e Senegal não se retiraram da disputa
(COLLI, 2004). No ano de 1980, o conflito envolvendo União Soviética e Estados
Unidos no cenário político mundial protagonizou um dos momentos mais tensos da
história olímpica: o Boicote de Moscou. Dessa forma, a Guerra Fria segue
assombrando a autoridade da Carta Olímpica, ameaçando a tradição da Trégua
Olímpica e violando os princípios do Movimento Olímpico; seus entraves indiretos
acontecem a todo momento e representam um impacto cada vez maior e mais direto
nos Jogos. Para entender melhor o fato, faz-se necessário que expliquemos todo o
contexto da Guerra Fria em relação às Olimpíadas.
2.3 A Guerra Fria no cenário olímpico
Em 1945, a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim com a vitória dos países
aliados (França, Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética) sobre os do eixo
(Alemanha, Itália e Japão). A URSS saiu firmemente estabelecida na Europa Oriental,
tendo como objetivo a instalação de governos leais às forças soviéticas, além de
buscar expandir a sua zona de segurança para a Coréia do Norte, Ásia Central e
Oriente Médio. Do outro lado, os EUA, também firmes no pós-guerra, buscaram uma
zona de segurança própria, incluindo a Europa Ocidental, a América Latina, o
Sudeste Asiático, a Austrália, a Nova Zelândia e o Japão (GADDIS, 2000).
Os objetivos do então líder soviético Stalin, no pós-guerra, eram a segurança
para o seu regime, seu país e sua ideologia. Ele procurou assegurar que nenhuma
ameaça externa pudesse confrontar a URSS. Do mesmo modo, os Estados Unidos
buscavam se proteger e defender os seus interesses. Porém, ao contrário da União
Soviética, eles não tinham que se preocupar com ameaças vizinhas, pois a sua
posição geográfica contribuía para diminuir a questão das ameaças de países que
estivessem próximos. Ou seja, os EUA desfrutavam do luxo de manter uma grande
esfera de influência sem o risco de, com isso, provocar os interesses de outras
17
potências próximas (GADDIS, 2005).
Mesmo buscando evitar uma nova ameaça de conflito, EUA e URSS queriam
ter o máximo de influência no mundo de pós-guerra. Eles até buscaram conciliar
objetivos políticos divergentes, mas em grande parte fracassaram. Tais fracassos,
como a falta de consenso entre americanos, ingleses e soviéticos, originaram a
Guerra Fria. Como exemplo, o aumento da influência da União Soviética e o seu
avanço geográfico em toda a Europa Oriental preocupavam os países do ocidente.
Outro fator importante a ser destacado foi a divisão da derrotada Alemanha por
Estados Unidos, França, Inglaterra e União Soviética. A Alemanha Oriental, em poder
de Stalin, passou a ser utilizada como um imã, que empregaria o ideal marxista-
leninista para despertar o desejo dos alemães ocidentais a escolherem líderes que
optassem por se unir ao lado soviético (GADDIS, 2005).
Para consolidar de vez a desconfiança entre as potências ocidentais e a União
Soviética, a movimentação durante a criação das bombas atômicas americanas
gerava enorme ação de espionagem por parte do governo de Stalin. Houveram ao
menos três tentativas bem-sucedidas para espionar a área de Los Alamos, onde os
EUA estavam fabricando a bomba que arrasou Hiroshima, no Japão. O líder soviético
encarou a ação americana como uma afronta ao mundo inteiro e, principalmente,
uma forma de chantagem para a União Soviética com o objetivo de extrair
concessões da mesma. Em resposta, Stalin adotou uma linha ainda mais dura ao
impor os objetivos soviéticos, deixando claro que não seria intimidado (GADDIS,
2005).
Em junho de 1947, foi lançado o Plano Marshall, um programa de recuperação
da Europa criado sob a administração do então presidente americano Harry S.
Truman. O plano se baseava em ajudar qualquer país do continente na recuperação
de sua economia. No entanto, a União soviética não aceitou essa ajuda e não
permitiu que outros países do bloco oriental aceitassem. Em decorrência da
repressão soviética, apenas os países da Europa Ocidental foram beneficiados pelo
plano (GADDIS, 2005).
No ano seguinte, em 1948, Stalin se viu ameaçado com a formação da
Alemanha Ocidental, unida por França, Estados Unidos e Inglaterra. Em resposta, o
18
líder decretou o “bloqueio de Berlim”, justificando como uma medida defensiva. Com
isso, todas as conexões rodoviárias e ferroviárias entre o ocidente e o oriente alemão
foram interrompidas, causando a falta de acesso das pessoas em Berlim ocidental à
alimentos e outros suprimentos (GADDIS, 2005). Enquanto as tensões políticas
cresciam, uma notícia animava os fãs do esporte ao redor do planeta: após 12 anos
interrompidos pela Segunda Guerra Mundial, as Olimpíadas estavam de volta. Dessa
vez, em Londres, capital da Inglaterra. Dos países considerados derrotados na
Segunda Guerra, apenas a Itália pôde participar. A União Soviética foi convidada,
mas não aceitou o convite, impondo o mesmo à Estônia, Letônia e Lituânia, que a
anexavam (COLLI, 2004).
Em 1949, a URSS acabou com o bloqueio de Berlim e viu, em 4 de abril,
Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega,
Portugal, Reino Unido e Estados Unidos formarem a Organização do Tratado do
Atlântico, a OTAN. O tratado era uma resposta ao poderio militar soviético, e se
baseava na premissa de que um ataque contra um ou mais países membros seria
considerado uma agressão contra todos eles (NORTH ATLANTIC TREATY
ORGANIZATION, 2017).
O primeiro conflito significativo da Guerra Fria entre Estados Unidos e União
Soviética ocorre no início dos anos 50, na chamada Guerra da Coreia. Em 48, o
reconhecimento da ONU apenas para o governo da Coreia do Sul, que era apoiada
pelos americanos, impactou negativamente nas suas relações com a parte Norte, que
era unida aos soviéticos. Assim, iniciou-se um fortalecimento militar em ambos os
lados. O lado norte, mais poderoso e apoiado por URSS e China, traçava planos para
a tomada do sul, dando início aos ataques em julho de 1950. Os conflitos faziam os
EUA ter a certeza de que conquistar o lado norte era um grande erro, pois a Coreia
do Norte tinha fortes aliados e a conquista do território poderia gerar uma guerra com
a China ou com a União Soviética. Com isso, o objetivo da Coreia do Sul, em grande
parte, era atuar de forma defensiva. A guerra, que já durava três anos e colecionava
milhares de mortes, chegou ao seu fim em julho de 1953 através de um acordo entre
as duas partes (DOS SANTOS; DOS PASSOS, s.d).
Enquanto a Ásia presenciava um de seus maiores conflitos na história, em
19
1952, os Jogos Olímpicos de Helsinque davam as boas-vindas a um estreante: a
União Soviética. No então considerado “auge da Guerra Fria”, os soviéticos foram
cautelosos em sua participação nas Olimpíadas ao perceber o grande poder de
propaganda que o evento fornecia. Por exemplo, os membros do Comitê Olímpico da
URSS não aceitaram o alojamento da Vila Olímpica, escolhendo uma estadia distante
da cidade, em um local isolado. Os Jogos de 52 também foram marcados pela
inserção de atletas da Bielorrússia e da Ucrânia no elenco soviético e a volta do
Japão e da República Federal da Alemanha – parte ocidental da Alemanha – após a
Segunda Guerra Mundial. No placar de medalhas, a concorrência também dava as
caras: os americanos venceram os soviéticos com 76 (37 ouros, 29 pratas e 32
bronzes) no total, contra 74 (32 ouros, 25 pratas e 17 bronzes) (COLLI, 2004).
Em 1955, um fato importante a ser destacado foi o Pacto de Varsóvia, que se
tratava de um acordo de cooperação militar e defesa coletiva formado pela União
Soviética, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental, Hungria, Polônia e
Romênia. Todos Estados comunistas da Europa Central e Oriental. OTAN e o Pacto
de Varsóvia se opunham ideologicamente, ajudando no crescimento da corrida
armamentista (NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION, s.d). No ano seguinte,
em 56, outro marco importante envolvia a URSS: a Revolução Húngara. O movimento
surgiu através de manifestações pacíficas do povo húngaro contra o totalitarismo
stalinista. Ao ganhar força, o protesto contra o regime comunista foi fortemente
repreendido pelos soviéticos, que sentiram uma ameaça em seu sistema inabalável.
A revolução foi um exemplo de movimento que desafiou o sistema totalitário e
derrubou governantes pró-soviéticos no país, onde o povo procurava recuperar os
seus direitos essenciais e a liberdade oprimida pelo regime soviético. No entanto, a
revolução durou até meados de novembro daquele mesmo ano, quando as forças
soviéticas retomaram o controle sobre os húngaros (RABÓCZKAY, 2006). Tal
momento implicou no questionamento de algumas nações sobre a participação da
URSS nas Olimpíadas de Melbourne, no mesmo ano. Porém, o então presidente do
COI, Avery Brundage, negou os pedidos e manteve os soviéticos nos Jogos. Além
disso, o placar de medalhas foi de vitória comunista, tendo 98 (37 ouros, 29 pratas e
32 bronzes) medalhas contra 74 (32 ouros, 25 pratas e 17 bronzes) dos americanos
20
(COLLI, 2004).
Com o passar dos anos, cresceram o número de conflitos envolvendo
indiretamente Estados Unidos e União Soviética. Quase todas as ações dos dois
países tinham objetivos voltados para a disputa hegemônica, que travavam
competições curiosas, como a primeira ida do homem à lua e ao espaço durante o fim
dos anos 50 e na década de 60, nomeada de “Corrida Espacial” (FILHO, 2005). Os
Jogos de Roma, em 1960, que tiveram a URSS em primeiro lugar no pódio de
medalhas, destacam a histórica reunificação esportiva da Alemanha, que apenas
ocorreu devido à uma determinação do COI (COLLI, 2004).
Ademais, pode-se destacar mais dois fatores importantes para o aumento das
tensões entre URSS e EUA: a criação do muro de Berlim, em 1961, e a Crise dos
Mísseis, em 62. Criado pela República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) o
muro selou de vez a separação entre eles e a República Federal da Alemanha
(Alemanha Ocidental), além de marcar a história de muitos alemães que perdem suas
vidas ao tentar escapar para o lado capitalista do país (DA SILVA, 2010). A Crise dos
Mísseis, que aconteceu no ano seguinte, marcou um dos momentos mais delicados
em relação a um conflito direto entre soviéticos e americanos. Isso porque a União
Soviética iniciou a construção de uma base de mísseis nucleares em Cuba, devido à
localização estratégica do país e seus ideais semelhantes. Ao tomar conhecimento
das ações entre os dois países, o governo dos Estados Unidos tomou medidas
imediatas para evitar um possível ataque dos soviéticos, que concordaram em
remover os mísseis após os americanos decidirem não invadir Cuba (AVILA, 2012).
Em 1964, no ano dos Jogos Olímpicos de Tóquio, os Estados Unidos tomam a
decisão de intervir diretamente na guerra do Vietnã, enviando um grande número de
soldados e armamentos para apoiar os sul-vietnamitas. Por outro lado, o Vietnã do
Norte recebia suporte soviético, mas indiretamente. Os EUA acabaram iniciando uma
guerra violenta e custosa no território vietnamita, que implicava de forma negativa na
sua política e economia (GADDIS, 2000).
Quatro anos depois, em 1968, a União Soviética e outros países do Pacto de
Varsóvia agiam para reprimir as tentativas de mudanças políticas na
Tchecoslováquia, na chamada “Primavera de Praga”. As repressões aconteceram
21
quando o então chefe de Estado do país, Alexander Dubček, tomou medidas liberais
em seu governo socialista. O líder havia instaurado uma reforma que garantiria mais
direitos e liberdades civis, fazendo valer a democracia durante a sua administração.
Porém, as forças soviéticas invadiram o país e o ocuparam rapidamente. Dubček foi
deposto do seu cargo e suas medidas extintas (DVORAK, 2016). A atuação soviética
na Tchecoslováquia surtiu efeitos negativos nos Jogos da Cidade do México, em
outubro do mesmo ano. Mesmo assim, o país seguiu confirmado no evento, que
chegou ao fim com uma vitória dos americanos no quadro de medalhas e a segunda
colocação para a URSS (COLLI, 2004).
Em 1972, as Olimpíadas ficaram marcadas pelo “Massacre de Munique”, onde
terroristas invadiram a Vila Olímpica, sequestraram e mataram membros do comitê
israelense. Na mesma década, a guerra do Vietnã chegou ao seu fim em 1975, com a
tomada por completo do país por parte do Vietnã do Norte, que representava o lado
comunista. Antes disso, os Estados Unidos, que sofria pressões políticas e populares
para sair do conflito, assinou o Acordo de Paris, retirando suas tropas das terras
vietnamitas em 1973 (GADDIS, 2005).
Desde o início dessa relação conflituosa, Estados Unidos e União Soviética
disputam as medalhas como se disputassem batalhas de uma guerra. Devido à
influência olímpica no cenário político mundial, cada vitória, seja do lado capitalista ou
socialista, significa uma superioridade ideológica sobre o outro. Em decorrência
dessa rixa, os dois países foram acusados de adulteração de recordes de medalhas,
atrapalhando o desempenho de outras delegações nas competições. No fim dos anos
70, as invasões soviéticas no Afeganistão fizeram com que EUA e URSS chegassem ao ápice
das desavenças no contexto olímpico, comprometendo as Olimpíadas com o boicote
de Moscou (1980) e representando um enorme risco à paz e segurança nos futuros
Jogos de Los Angeles (1984), as quais deveriam ser garantidas pela Carta Olímpica
(GUTTMANN, 1988).
2.4 O boicote de Moscou
No final de dezembro de 1979, a União Soviética enviou suas tropas para o
22
Afeganistão com o objetivo de dar suporte ao governo marxista do Partido
Democrático Popular do Afeganistão (PDPA) e interromper uma tentativa de golpe
por grupos anticomunistas apoiados pelos Estados Unidos e seus aliados, que
ameaçavam a segurança dos parceiros soviéticos. Entre os membros das forças da
URSS estavam soldados, agentes do Comitê de Segurança do Estado (KGB) e
outros oficiais vestidos com uniformes afegãos. Além disso, tanques de guerra,
aviões e veículos blindados também foram utilizados para o domínio completo de
Cabul. A ocupação soviética de prédios e instalações na capital e em outros lugares
do país foi imediata (GADDIS, 2005).
A reação dos Estados Unidos e seus aliados europeus à essa movimentação
foi instantânea. Em tom de surpresa, mesmo que já soubessem do fortalecimento da
URSS no Afeganistão, as potências exigiram explicações e determinaram a retirada
da União Soviética do país, que optou por ignorar completamente as determinações.
Os interesses americanos pelas fontes de renda no Oriente Médio fizeram com que o
presidente dos EUA, Jimmy Carter, ligasse o sinal de alerta em relação à
aproximação dos comunistas às fontes de petróleo. Além disso, o presidente
considerou o ato soviético uma ameaça séria à paz desde a Segunda Guerra
Mundial. Em consequência desse sentimento de ameaça, foi dada a largada para uma
imensa campanha norte-americana e de Estados aliados contra a União Soviética,
impondo sanções e embargos comerciais e tecnológicos para tentar reduzir as forças
rivais (DEPARTMENT OF STATE UNITED STATES OF AMERICA, 2017).
Carter não aceitava assistir os soviéticos, considerados os maiores rivais de
seu Estado, tomarem o controle de regiões importantes e estratégicas
geograficamente ao redor do mundo. Sendo assim, uma das várias tentativas dos
Estados Unidos e suas nações parceiras para confrontar a URSS em cenário global
foi por meio da ameaça de realização de um boicote às Olimpíadas de Moscou.
Dessa forma, o presidente americano viu a ausência de seu país nos Jogos de 1980
como uma arma política para o seu país. No início de janeiro, alguns meses antes do
evento, ele então exigiu a saída imediata das forças da União Soviética do
Afeganistão. Caso contrário, o comitê estadunidense e outros comitês olímpicos
aliados cumpririam a promessa de não participar do evento (GUTTMANN, 1988).
23
O presidente do Comitê Olímpico dos Estados Unidos (em inglês, USOC),
Robert Kane, não se mostrou animado com a ideia de Carter. Para ele e todos os que
iam contra a possível decisão, a mistura dos Jogos com os julgamentos políticos era
desnecessária, visto que o próprio USOC e o Relatório Final da Comissão
Presidencial do Esporte Olímpico de 1977 aboliam as ações de governos que
proibissem os atletas de participarem de competições internacionais. Além disso, a
possível saída do festival resultaria em uma enorme frustração entre os esportistas que
haviam treinado durante quatro anos em preparação para as Olimpíadas de Moscou.
No entanto, o apelo de Kane foi em vão, sendo completamente ignorado pelo chefe
de Estado americano (THE FINAL REPORT OF THE PRESIDENT’S COMMISSION
ON OLYMPIC SPORTS, 1977).
Diante disso, no dia 20 de janeiro, o presidente Jimmy Carter decidiu manter a
sua posição e declarou o boicote oficial do Comitê Olímpico dos Estados Unidos na
Olimpíada de Moscou. Segundo Carter (1982, p. 124, apud GUTTMANN, 1988, p.
560), “se os soviéticos não se retirassem completamente das terras afegãs, Moscou se
tornaria um local inadequado para um festival que celebra a paz e a boa vontade”. A
ação do presidente dos Estados Unidos tornou-se uma grave violação à Trégua
Olímpica e à autoridade da Carta Olímpica, visto que boicotes e ameaças vão de
contramão aos princípios do Movimento Olímpico. Para tentar diminuir a decepção
dos atletas que tanto se sacrificaram, o USOC informou aos seus membros que a
decisão havia sido tomada por motivo de questões de segurança nacional.
Em 19 de julho de 1980, na cidade de Moscou, foi realizada a cerimônia de
abertura das Olimpíadas. Críticos de todo o mundo consideraram o espetáculo, que
envolvia balé, ginástica, pirâmides e mosaicos o mais bonito da história olímpica. Por
consequência do boicote, a primeira Olimpíada realizada em um Estado socialista
contou com a presença de apenas 80 países e 5.179 atletas, os menores números
desde 1956. Influenciados pelos EUA, cerca de 66 países optaram por não participar
do festival. No entanto, Grã-Bretanha e Austrália, que também aderiram ao boicote,
permitiram seus atletas, que assim desejassem, fossem a Moscou. Os esportistas
que compareceram
sem os comitês de suas nações foram realocados à uma delegação específica do
24
COI. Do lado americano, os atletas recebiam intimidações do governo, que prometia
cassar os passaportes de esportistas que se atrevessem a comparecer. Nenhuma
liberdade de escolha foi concedida. No dia 3 de agosto, diante das lágrimas do ursinho
Misha, mascote dos Jogos na URSS, foi declarado o encerramento de uma das mais
marcantes e polêmicas Olimpíadas da história (INTERNATIONAL OLYMPIC
COMMITTEE, s.d).
2.5 As Olimpíadas de Los Angeles
Devido ao boicote de Moscou, as tensões entre URSS e EUA fizeram com que
o COI e a comunidade olímpica ao redor do mundo temessem pelo pior nos Jogos de
Los Angeles, a serem realizados em 1984, nos Estados Unidos. O que se teme, no
momento, é o fato de que a ação americana serviu de motivo para que haja o
aumento das chances de um possível revanchismo soviético. Há também a
expectativa negativa pela falta de segurança das delegações em relação aos
possíveis ataques de grupos extremistas, às espionagens e as eventuais
propagandas políticas e de guerra durante as próximas Olimpíadas, que estão
prometendo afastar o evento de suas características pacíficas e ameaçando o
Movimento Olímpico e a Carta Olímpica. Diante dessa situação, o COI reprime todos
os tipos de interferências políticas dentro das Olimpíadas, considerando um novo
boicote algo inadmissível (GUTTMANN, 1988).
Dessa maneira, o Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional
convida as Confederações Olímpicas Nacionais (CONs) e demais representações ao
debate sobre as tensões causadas pela Guerra Fria nas Olimpíadas, em âmbito do XI
Congresso Olímpico, a ser realizado no ano de 1981, entre os dias 12 e 15 de
outubro, na cidade de Baden-Baden, Alemanha. As conversas deverão ser norteadas
de forma que a discussão gere possíveis cursos de ação a serem tomados dentro do
escopo do COI, de modo a não só resguardar o Movimento Olímpico e os princípios
do olimpismo, como prevenir o risco representado por conflitos que ameacem as
futuras edições dos Jogos Olímpicos.
25
3 APRESENTAÇÃO DO COMITÊ
Neste tópico, os senhores conferem como será estabelecido o funcionamento
do comitê, seus debates, votações e outros procedimentos.
3.1 O Comitê Olímpico Internacional (COI) e sua organização
Fundado em 23 de junho de 1894, por Pierre de Coubertin, o Comitê Olímpico
Internacional é uma organização não governamental, sem fins lucrativos,
encarregada de coordenar os Jogos Olímpicos e propagar nacional e
internacionalmente o Movimento Olímpico. Autoridade máxima das Olimpíadas, o COI
é uma organização não-governamental, que tem como objetivos primordiais:
incentivar a prática de competições esportivas, fortalecer o ideal do Movimento
Olímpico, promover a amizade entre nações através do esporte e garantir a
regularidade das Olimpíadas (OLYMPIC CHARTER, 1980).
O Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional é formado pelo
Presidente, três Vice-Presidentes e cinco membros adicionais. É de responsabilidade
do Conselho administrar quase todos os assuntos do COI. Por exemplo: remover ou
adicionar cláusulas na Carta Olímpica, fiscalizar o cumprimento de regras, preparar
agendas para as Sessões e Congressos do COI, supervisionar os Comitês Olímpicos
Nacionais (CONs) e as Federações Esportivas Internacionais (FEIs), administrar as
finanças e manter os registros de atividades do comitê (OLYMPIC CHARTER, 1980).
O COI não trabalha com representações estatais, é ele que se faz representado
dentro dos Estados. Os membros do COI de cada comitê atuam como
“embaixadores” do Comitê Olímpico Internacional no país que se encontram. Diante
disso, os Comitês Olímpicos Nacionais (CONs) são as representações do COI nos
Estados. Os CONs são os responsáveis por disseminar o Movimento Olímpico em
seus Estados, organizar os Jogos Olímpicos caso ocorram em seu país e garantir que
os atletas participem das Olimpíadas (INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE,
2019).
As Federações Esportivas Internacionais são as responsáveis pela
26
administração das modalidades olímpicas pelo mundo. Cada FEI comanda um esporte
em nível global. Elas buscam garantir que os estatutos, as práticas e as atividades
estejam alinhadas aos regulamentos da Carta Olímpica. Assim como as FEIs, os
Comitês Olímpicos Nacionais (CONs) também servem para expandir o Movimento
Olímpico internacionalmente. Eles atuam diretamente dentro dos países, organizando
e protegendo o Movimento Olímpico na sociedade. Além do mais, possuem o objetivo
de garantir o desenvolvimento do esporte em uma nação. São esses os comitês que
cuidam das participações dos países nos Jogos. Quando uma Olimpíada acontece
em seu próprio país, o CON se torna o responsável pela organização do mesmo
(OLYMPIC CHARTER, 1980).
As reuniões do Conselho Executivo ocorrem quando o presidente achar
conveniente. Normalmente, esses encontros devem acontecer pelo menos de dois
em dois anos. É imprescindível a presença de CONs e FEIs, pois são eles que
repassam informações importantes, sugestões, problemas e estatísticas sobre o
Movimento Olímpico dentro de cada país.
As sessões do COI são o órgão supremo do mesmo, que acontecem pelo
menos uma vez ao ano num período de dois a três dias. Compara-se a sessão a um
parlamento, pois os membros são como os parlamentares que devem fiscalizar os
CONs de acordo com a lei suprema que está documentada, chamada de Carta
Olímpica. Além de aprovarem e desaprovarem “leis” que devem ser retiradas ou
acrescidas na Carta, também votam em seus presidentes por meio de eleições com
votos secretos. Durante as sessões é possível solicitar e fazer alterações na Carta
Olímpica. Geralmente, essas alterações são leis, princípios ou regras dos Jogos que
podem ser adicionadas, emendadas ou excluídas da própria Carta por meio de
votação dos membros e pareceres das FEIs. São nas sessões onde acontecem as
eleições da cidade sede, eleição do Conselho executivo e do presidente, e são nas
sessões que ocorrem também a admissão de novos CONs e FEIs. Os membros
possuem um voto, as decisões são tomadas por maioria qualificada (dois terços)
presente nas sessões (OLYMPIC CHARTER, 2015).
Assim, entre os dias 12 e 15 de outubro deste ano, será realizado pelo Comitê
Olímpico Internacional, o XI Congresso Olímpico, na cidade de Baden-Baden,
27
Alemanha. No total, 80 delegações irão compor o quórum total do comitê, onde
debaterão o problema proposto. A reunião tratará das violações causadas pela
Guerra Fria à Carta Olímpica, ao Movimento Olímpico e à Trégua nos Jogos de
Moscou e das ameaças dessa à segurança da futura Olimpíada de Los Angeles. É
extremamente necessário relembrar que: a credibilidade e segurança do Movimento
Olímpico está em jogo. Por isso, a finalidade do Congresso é alcançar resoluções que
garantam a realização amigável dos próximos Jogos Olímpicos, respeitando os
princípios fundamentais do olimpismo, dispostos na Carta de 1980.
4 POSIÇÃO DOS PRINCIPAIS ATORES
4.1 Comitê Olímpico dos Estados Unidos da América
Mesmo não possuindo funções estatais, o comitê americano (USOC), dotado
de princípios antissocialistas, sabe que as consequências da Guerra Fria podem
afetar diretamente o contexto que estão vivendo. Porém, na época do boicote, o
presidente do comitê, Robert Kane, criticou o envolvimento dos Jogos com problemas
políticos. Documentos oficiais do USOC condenavam as ações de governos que
proibissem os atletas de participar em competições internacionais, mas foram
completamente ignorados pelo presidente Carter. Vale lembrar que os Estados
Unidos justificaram o boicote de 1980 por meio da falta de segurança devido à
invasão soviética no Afeganistão. Ademais, os EUA foram uma das nações que mais
se envolveram em ataques políticos e ideológicos nos anos que antecederam a
realização desta sessão do COI. Sendo assim, o USOC deve se posicionar contrário
a qualquer proposta que ameace o Movimento Olímpico, a Trégua e as cláusulas da
Carta Olímpica. Escolhido
como país sede da edição de 1984, o órgão repudia qualquer resolução que impeça a
realização dos Jogos em seu território (ROGERS, 2013).
4.2 Comitê Olímpico da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
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O Comitê Olímpico da URSS (COURSS) possui um papel central nas
discussões do COI. Oposição máxima ao capitalismo americano, a União Soviética
acusa os EUA de não aceitarem o sucesso soviético nos Jogos de Moscou. O
COURSS teme que, em 1984, os atletas e comissões de países do bloco socialista
sofram com o chauvinismo2 e os ataques antissoviéticos. O comitê soviético, desse
modo, declara rejeição a toda e qualquer ação violenta e de aversão relacionadas aos
seus ideais políticos-ideológicos. De forma geral, o COURSS posiciona-se a favor da
Carta Olímpica e da propagação do olimpismo, criticando as atitudes dos Estados
Unidos e seus países aliados e buscando sanções aos Estados envolvidos no boicote
de Moscou (GUTTMANN, 1988).
4.3 Comitê Olímpico da Alemanha Ocidental
O comitê da Alemanha Ocidental é aliado dos Estados Unidos e também
aderiu ao boicote de 1980 (COLLI, 2004). Em 1972, o país passou por momentos de
terror com o ataque do grupo Setembro Negro, durante as Olimpíadas de Munique.
Naquela ocasião, a Alemanha foi criticada pelo fraco policiamento do evento
(BOWCOTT, 2003). Nas discussões, este Estado tenderá a proteger o ideal capitalista
e reforçará os pedidos por mais segurança para que não ocorram outros incidentes
como o de Munique.
4.4 Comitê Olímpico da Alemanha Oriental
O Comitê Olímpico da Alemanha Oriental (RDA) compartilha dos mesmos
princípios da URSS. Mesmo menor, o país se destaca nos Jogos Olímpicos e
desperta a curiosidade das outras nações, que suspeitam do uso de doping (DINGLE,
2016). Como um forte aliado socialista, a Alemanha Oriental tende a argumentar
de maneira alinhada aos ideais da União Soviética, prezando pela segurança dos
membros do bloco socialista acima de tudo.
2 Atitudes extremistas realizadas em prol de seu país; ultranacionalismo.
29
4.5 Associação Olímpica Britânica, Comitê Nacional Olímpico e Esportivo Francês
e Comitê Olímpico Italiano
A Associação Olímpica Britânica (BOA, na sigla em inglês) e os comitês
olímpicos da França e da Itália decidiram aderir ao boicote de Moscou juntamente ao
comitê americano. Porém, tal escolha não refletia o verdadeiro desejo das
organizações e dos atletas, visto que o interesse maior da não participação das
Olimpíadas de 1980 vinha dos governos desses países. Esse fato pode pesar em
algumas decisões a serem tomadas no Congresso, uma vez que França, Itália e Grã-
Bretanha liberaram a ida de seus atletas para os Jogos de Moscou, mesmo os
boicotando. Ainda assim, como comitês de Estados aliados aos EUA, eles possuem
uma forte tendência em apoiar as decisões do lado capitalista.
5 QUESTÕES RELEVANTES PARA O DEBATE
Qual é o propósito do Movimento Olímpico e como a Guerra Fria o afeta?
O que se entende por respeito no âmbito político-ideológico?
Como a Trégua Olímpica pode gerar acordos entre Estados em guerra?
Como os princípios fundamentais da Carta Olímpica são violados a partir de
ameaças de guerra?
Como boicotes olímpicos devem ser julgados pelo COI?
Como garantir a segurança durante as Olimpíadas de Los Angeles?
De que forma a busca pela hegemonia mundial interfere nas competições
olímpicas?
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REFERÊNCIAS
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33
TABELA DE REPRESENTAÇÕES
Comitê Olímpico
Nacional da República
Islâmica do Afeganistão
Comitê Olímpico
Nacional Albanês
Comitê Olímpico da
Alemanha Ocidental
Comitê Olímpico da
Alemanha Oriental
Comitê Olímpico da
Arábia Saudita
Comitê Olímpico
Argelino
Comitê Olímpico
Argentino
Comitê Olímpico
Australiano
Comitê Olímpico
Austríaco
Comitê Olímpico das
Bahamas
Comitê Olímpico
Interfederal Belga
Associação Olímpica
das Bermudas
Comitê Olímpico
Boliviano
Comitê Olímpico do
Brasil
Comitê Olímpico
Búlgaro
Comitê Olímpico
Nacional dos Camarões
Comitê Olímpico
Nacional do Camboja
Comitê Olímpico
Canadense
Comitê Olímpico do
Chile
Comitê Olímpico Chinês Comitê Olímpico
Colombiano
Comitê Olímpico da
República Popular
Democrática da Coreia
Comitê Esportivo e
Olímpico da Coreia
Comitê Olímpico
Nacional da Costa do
Marfim
Comitê Olímpico
Nacional da Costa Rica
Comitê Olímpico
Cubano
Comitê Olímpico
Nacional e
Confederação Esportiva
da Dinamarca
Comitê Olímpico Egípcio Comitê Olímpico de El
Salvador
Comitê Olímpico do
Equador
Comitê Olímpico
Espanhol
Comitê Olímpico do
Estados Unidos
Comitê Olímpico Etíope
Comitê Olímpico Filipino Comitê Olímpico
Finlandês
Comitê Nacional
Olímpico e Esportivo
Francês
34
Comitê Olímpico de
Gana
Comitê Olímpico
Helênico
Comitê Olímpico da
Guatemala
Comitê Nacional
Olímpico e Esportivo da
Guiné
Comitê Olímpico
Haitiano
Comitê Olímpico
Holandês
Comitê Olímpico
Húngaro
Associação Olímpica
Indiana
Comitê Olímpico da
Indonésia
Associação Olímpica
Britânica
Comitê Olímpico
Nacional da República
Islâmica do Irã
Conselho Olímpico da
Irlanda
Associação Nacional
Olímpica e Esportiva da
Islândia
Comitê Olímpico de
Israel
Comitê Olímpico Italiano
Comitê Olímpico da
Iugoslávia
Associação Olímpica da
Jamaica
Comitê Olímpico
Japonês
Comitê Olímpico da
Líbia
Comitê Olímpico de
Liechtenstein
Conselho Olímpico da
Malásia
Comitê Olímpico
Nacional Marroquino
Comitê Olímpico
Mexicano
Comitê Olímpico da
Nicarágua
Comitê Olímpico da
Nigéria
Comitê Olímpico e
Paralímpico Norueguês
e Confederação de
Esportes
Comitê Olímpico da
Nova Zelândia
Associação Olímpica do
Paquistão
Comitê Olímpico de
Porto Rico
Comitê Olímpico de
Portugal
Comitê Olímpico
Nacional do Quênia
Comitê Olímpico da
Tchecoslováquia
Comitê Olímpico
Dominicano
Conselho Olímpico e
Esportivo da Romênia
Comitê Olímpico da
União Soviética
Comitê Olímpico
Nacional do Senegal
Comitê Olímpico Comitê Olímpico Sírio Comitê Olímpico do
35
Nacional da Singapura Sudão
Comitê Olímpico Sueco Associação Olímpica
Suíça
Comitê Olímpico
Nacional da Tailândia
Comitê Olímpico da
Tunísia
Comitê Olímpico Turco Comitê Olímpico
Uruguaio
Comitê Olímpico
Venezuelano
Comitê Olímpico do
Vietnã
Comitê Olímpico do
Zimbábue