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Universidade do Minho Escola de Psicologia Setembro de 2012 Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira Tempo de ensino, tempo de empenhamento e resultados académicos Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira Tempo de ensino, tempo de empenhamento e resultados académicos UMinho|2012

Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

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Universidade do MinhoEscola de Psicologia

Setembro de 2012

Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira

Tempo de ensino, tempo de empenhamento e resultados académicos

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Tese de Doutoramento em PsicologiaEspecialidade de Psicologia da Educação

Trabalho efetuado sob a orientação doProfessor Doutor João Arménio Lamego Lopes

Universidade do MinhoEscola de Psicologia

Setembro de 2012

Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira

Tempo de ensino, tempo de empenhamento e resultados académicos

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Assinatura: ________________________________________________

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Agradecimentos

Professor Doutor João Lopes, o Orientador, porque me obrigou a conhecer, e a

aceder ao conhecimento num tempo anacrónico que julgava não ser o meu. O

apoio sistemático, objetivo e perseverante que me proporcionou converteu-se em

responsabilização, consideração e respeito.

Prof. Isaura J. M. Cunha Vieito, irmã de vida e de sangue.

Amiga Susana Cerqueira, heterónima nos enredos da vida.

Firmino Viana da Cunha e Aurelina Rodrigues Moreira, meus pais: em vossa

memória.

Obrigada.

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Tempo de ensino, tempo de empenhamento e resultados académicos

Resumo

O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil

operacionalização. O impacto do tempo na estruturação das relações entre professores e

alunos, e até na organização de uma parcela importante das trajetórias de vida de alunos

e professores (a escolarização tende a ser cada vez mais longa e a ocupar cada vez mais

horas diárias), não é de todo despicienda.

A relação dos diversos aspetos do tempo em sala de aula com os resultados

académicos dos alunos não é completamente clara e alguns autores consideram-na

mesmo espúria. Outros porém consideram-na da maior importância e salientam o facto

de o tempo poder ser medido numa métrica clara e comparável entre estudos bem como

a relativa facilidade de manipulação de certos aspectos do tempo. O mesmo já não se

poderá dizer seguramente dos aspetos relativos à qualidade do tempo, uma vez que quer

a relevância da qualidade do tempo quer a dificuldade do seu registo parecem ser

consensualmente reconhecidos.

O tempo de ensino, para ser eficaz, implica um equilíbrio entre quantidade e

qualidade do tempo académico, sem que qualquer um destes aspectos se sobreponha

claramente ao outro. Desta relação e da forma como o professor conseguir gerir este

equilíbrio no tempo de que dispõe para ensinar, depende em larga medida a quantidade

e a qualidade de outros tempos em sala de aula, nomeadamente o tempo de

empenhamento dos alunos.

Neste estudo, pretendeu-se compreender a relação entre tempo de ensino, tempo

de empenhamento e os resultados académicos dos alunos (decorrentes da avaliação

interna (3º período) e da avaliação externa (Prova de Aferição)) nas disciplinas de

Português e de Matemática, em alunos do 6º ano de escolaridade. Foram observadas

seis turmas do 6º ano de escolaridade do ensino básico, com um total de 118 alunos, nas

disciplinas de Português e de Matemática (correspondendo portanto a 12 professores),

sendo o tempo total de observação de 2160 minutos. Para a recolha de dados do tempo

de ensino e do tempo de empenhamento (observado e estimado) foram construídos de

raiz diversos instrumentos de registo.

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Os resultados encontrados permitem constatar: (1) a existência de uma

associação significativa entre o tempo de empenhamento observado à disciplina de

Matemática e os resultados da avaliação externa e interna; (2) a Português, o tempo de

empenhamento observado não apresenta uma relação significativa com os resultados

académicos; (3) o tempo de empenhamento estimado a Matemática não prediz os

resultados académicos nem da avaliação interna nem externa; (4) o tempo de ensino não

se correlaciona com os resultados académicos dos alunos às duas disciplinas nem com o

tempo de empenhamento; (5) o tempo de ensino estimado constitui-se como o preditor

mais significativo da avaliação externa a Português.

Genericamente os resultados sugerem que o tempo de empenhamento constitui

um melhor preditor dos resultados académicos dos alunos do que o tempo de ensino e

que os tempos estimados parecem apresentar uma relação mais evidente com os

resultados académicos do que os tempos observados. As diversas facetas do tempo

poderão pois ter impactos significativamente diferentes nos resultados académicos, o

que não poderá deixar de ter implicações em termos teóricos e em termos práticos.

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Teaching time, engagement time and students’ academic performance

Abstract

Classroom time is a multidimensional construct which oftentimes becomes

difficult to manage. The impact of time in relation to teachers and students, and even on

part of students’ and teachers’ lifelong goals is critical particularly as school hours

become longer and longer.

The relationship between different classroom time activities with students'

academic performance is not obvious and some authors even state that it is a spurious

concept. Others, however, perceive time as a worthy consideration or even a crucial

concept. It is believed that time can be measured in an obvious and comparable unit of

measure across studies. Additionally, the relative usefulness of most time features has

been emphasized by such believers. The same cannot be said about the quality of time,

since the relevance of the amount of time as well as the difficulties of its measurement

are widely recognized.

To be effective, teaching time requires a balance between the amount and the

quality of classroom time without any overlapping. The effective use of classroom time,

namely students’ engagement time, largely depends on the balance between the amount

of time and the quality of that time.

The main purpose of our study was to understand the relation between teaching

time, engagement time and academic performance in Language Arts and Mathematics.

A total of one-hundred and eighteen 6th graders from six classrooms students

participated in the study. In each classroom, both the Language Arts and the

Mathematics, teachers were also observed. The total time of observation was about

2160 minutes. Several instruments were specifically developed to register classroom

teaching time and classroom engagement time.

Results show that: (1) there is a significant association between observed

Mathematics engagement time and internal and external academic performance; (2);

there is no significant relation between observed Language Arts engagement time and

academic performance; (3) Mathematics engaged time does not predict the results of

neither external nor internal assessment; (4) teaching time does not relate to students’

performance in either subject nor does it relate to students’ engagement time (5)

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perceived teaching time is the most significant predictor of students’ external academic

performance.

Overall the results suggest that engagement time best predicts students' academic

performance than teaching time. Furthermore, perceived time strongly affects students’

academic performance more so than observed time. Therefore specific classroom time

features may have significantly different impact in academic performance which could

be of theoretical and practical relevance.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS………………………………………………….. iii

RESUMO……………………………………………………………....... v

ABSTRACT……………………………………………………………… vii

ÍNDICE…………………………………………………………………... ix

ABREVIATURAS E SIGLAS …………………………………………. xii

ÍNDICE DE FIGURAS…………………………………………………. xii

ÍNDICE DE GRÁFICOS……………………………………………….. xiii

ÍNDICE DE QUADROS ……………………………………………….. xiii

I – Tempo, ensino, aprendizagem e resultados académicos…………. 15

1. O tempo no ensino………………………………………………. 15

2. Tempos de ensino e de aprendizagem…………………………… 22

2.1 Tempo como oportunidade de aprender ……………………. 23

2.2.Tempo alocado ……………………………………………… 25

2.3 Tempo de ensino ……………………………………………. 28

2.4 Tempo de empenhamento e tempo na tarefa ………………. 31

2.4.1 Tempo de empenhamento ……………………………. 31

2.4.2 Tempo na tarefa ………………………………………. 36

2.5 Tempo de transição ………………………………………….. 40

2.6 Tempo académico de aprendizagem ………………………... 41

2.7 Tempo morto ………………………………………………... 45

2.8 Interrupções. ………………………………………………… 46

2.9 Tempo de espera …………………………………………….. 46

2.10 Ritmo de ensino ……………………………………………. 49

3. Tempo e ensino ………………………………………………….. 50

4. Tempo e resultados académicos ………………………………… 54

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5. A gestão do tempo na sala de aula………………………………. 56

6. Qualidade na utilização do tempo………………………………... 60

7. Eficácia do ensino e resultados académicos……………………... 65

8. Tempo e sucesso académico……………………………………... 68

9. Observação do tempo na sala de aula……………………………. 71

Conclusão………………………………………………………………… 73

II - Tempo de ensino (observado e estimado), tempo de

empenhamento (observado e estimado) e resultados

académicos …..............................................................................

75

1. Objetivos do estudo ……………………………………………..... 75

2. Método ………………………………………………………….... 75

2.1 Participantes ………………………………………………….. 75

2.2 Medidas e procedimentos ……………………………………. 76

3. Resultados ………………………………………………………... 80

3.1 Tempo de ensino e resultados académicos …………………... 84

3.1.1 Tempo de ensino observado à disciplina de Matemática e

resultados académicos da avaliação interna e externa…..

84

3.1.2 Tempo de ensino observado à disciplina de Português e

resultados académicos da avaliação interna e externa …

85

3.2 Tempo de empenhamento e resultados académicos …………. 85

3.2.1 Tempo de empenhamento observado às disciplinas de

Matemática e de Português e resultados académicos da

avaliação interna e externa…………………………….

85

3.2.2 Tempo de empenhamento estimado às disciplinas de

Matemática e de Português e resultados académicos da

avaliação interna e externa …………………………….

86

3.3 Tempo de ensino e tempo de empenhamento………………... 87

3.3.1 Tempo de ensino (observado e estimado) e tempo de

empenhamento (observado e estimado) a Matemática e

a Português …………………………………………….

87

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3.3.2 Tempo de ensino, tempo de empenhamento e resultados

académicos ………………………………..

89

Discussão ………………………………………………………………... 93

Limitações e implicações para futuros estudos ……………………….

Conclusão ………………………………………………………………..

Referências bibliográficas ……………………………………………...

108

111

113

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Abreviaturas e siglas

Índice de figuras

Figura 1. Efeito de um aumento moderado de tempo alocado (TA) com produção

de um efeito significativo no tempo académico de aprendizagem (TAA)

27

Figura 2. Dimensões do empenhamento durante uma atividade de aprendizagem

33

Figura 3. Tempo académico de aprendizagem (43mn) ……………………………

44

Figura 4. Fatores que afetam a qualidade do tempo no processo de ensino e de

aprendizagem ……………………………………………………………

60

Figura 5. Tempo de ensino planeado com retração do tempo de oportunidade de

aprender ………………………………………………………………….

68

Figura 6. Organização dos diferentes níveis de tempo de ensino ………………….

69

TA Tempo alocado

TxE Taxa de empenhamento

TAA Tempo académico de aprendizagem

TEn Tempo de ensino

TT Tempo na tarefa

TE Tempo de empenhamento

I Interrupções

ICC Interrupções com consequência

TRT Transições entre e intratarefas

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Índice de gráficos

Gráfico 1. Tempo de ensino observado e estimado a Matemática e a Português..... 81

Gráfico 2. Comparação do tempo de ensino observado a Matemática e a Português

84

Gráfico 3. Comparação do tempo de empenhamento observado a Matemática e a

Português………………………………………………………………

85

Gráfico 4. Comparação do tempo de empenhamento estimado a Matemática e a

Português ……………………………………………………………….

86

Gráfico 5. Comparação do tempo de ensino e do tempo de empenhamento

observados a Matemática ………………………………………………

88

Gráfico 6. Comparação do tempo de ensino e do tempo de empenhamento

observados a Português…………………………………………………

89

Índice de quadros

Quadro 1. Composição do tempo académico de aprendizagem …………………… 42

Quadro 2. Tempo de um ano letivo (1950h) com perdas sucessivas de tempo

atingindo-se o TAA de 484h……………………………………………

70

Quadro 3. Tempo de ensino observado e estimado a Matemática e a Português de

todos os alunos (n= 118) ………………………………………………

82

Quadro 4. Média (M), desvio-padrão (SD) e erro padrão (SE) dos resultados dos

académicos (avaliações interna e externa) a Matemática e a Português de

todos os alunos (n= 118) ……………………………………………………

82

Quadro 5.Tempo de empenhamento observado e estimado a Matemática e a

Português dos alunos observados (n= 60) ………………………………

83

Quadro 6. Média (M), desvio-padrão (SD) e erro padrão (SE) dos resultados dos

académicos (avaliações interna e externa) a Matemática e a Português e a

dos alunos observados (n= 60) ……………………………………………

83

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Quadro 7. Correlações entre as variáveis tempo de empenhamento observado a

Matemática e a avaliação interna (final do 3º Período) e externa (Prova

de aferição) …………………………………………………………….

86

Quadro 8. Correlações entre as variáveis média do tempo de empenhamento

estimado pelos alunos a Português e a avaliação interna (final do 3º

Período) e externa (Prova de aferição) ………………………………...

87

Quadro 9. Correlações entre as variáveis tempo de ensino (observado e estimado)

e tempo de empenhamento (observado e estimado) à disciplina de

Matemática ………………………………………………………………………….

88

Quadro 10. Correlações entre as variáveis tempo de ensino (observado e estimado)

e tempo de empenhamento (observado e estimado) à disciplina de

Português …………………........................................................................................

89

Quadro 11. Regressão hierárquica múltipla: tempo de empenhamento como

melhor preditor da avaliação do 3º período à disciplina de Português

90

Quadro 12. Regressão hierárquica múltipla: tempo de ensino estimado como

melhor preditor da avaliação externa à disciplina de Português………..

90

Quadro 13. Regressão hierárquica múltipla sendo usados como preditores da

avaliação do 3º período a Matemática o tempo de ensino e o tempo de

empenhamento (observado e estimado)………………………………...

91

Quadro 14. Regressão hierárquica múltipla sendo usados como preditores da

avaliação externa a Matemática o tempo de ensino e o tempo de

empenhamento (observado e estimado)………………………………...

91

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I - Tempo, ensino, aprendizagem e resultados académicos

1. O tempo no ensino

A evolução científico-tecnológica tem apressado as transformações sociais em

que o ritmo e o tempo adquirem novos sentidos. O ser humano vive imerso numa

dimensão temporal e toda a sua vida é perpassada por esta grandeza cronológica (Jones,

1990; MacGrath, 1988; Shanahan, Valsiner, & Gottlieb, 1996): um tempo anacrónico,

onde os acontecimentos e o conhecimento ocorrem num devir sincrónico, num tempo de

instantaneidade, pleno de paradoxos e de contradições - “[…] the future is in the present

and the past starts right along with their present future […]”1 (Heath, 2004, p. 48).

Independentemente da perspetiva que a investigação adote e das diferenças

culturais que existam quando se aborda o tempo, a variável tempo é percecionada como

um recurso que tem de ser rentabilizado, porque sendo intrinsecamente infinito e

permanente, o tempo, numa possível abordagem filosófica e sociológica, é finito,

estando circunscrito pela sua duração. O tempo é assim um bem escasso (Goodman,

1990; Jones, 1990; Yacobs & Gerson, 2004).

A atividade docente não fica à margem desta realidade ainda que por vezes seja

difícil compreender e estruturar o constructo tempo no quadro desta atividade: o sistema

educativo assenta numa métrica temporal (e.g., fixação do tempo de aprendizagem

formal em anos, meses, semanas, períodos, semestres, dias por semana, horas por dia,

minutos por aula ou, atualmente, durante toda a vida), mas esta métrica só na aparência

é igual para todos: nem todos os alunos chegam pontualmente à sala de aula (os que

chegam sistematicamente atrasados podem, no final de um ano letivo, acumular muitas

horas de perda relativamente aos colegas), nem com a mesma vontade de aprender, nem

com os mesmos ritmos de aprendizagem. Os professores, por seu turno, tendo em conta

a rotatividade entre escolas, necessitam de tempo para se ajustarem a novas realidades e

para adotarem diferentes perspetivas organizacionais acerca da forma de gerir o tempo.

A educação em geral e a escolarização em particular parecem exigir cada vez mais

tempo, no pressuposto que isso aumentará o potencial de uma nação, sem que seja certo,

ainda assim, que este aumento resulte necessariamente em mais aprendizagem (District

Performance Auditor, 2007; Leong & Chick, 2011; National Commission on Time and

Learning, 1994; U.S. Department of Education Website (ED.gov), 2001).

1 “[…] o futuro está no presente e o passado começa justamente ao lado do presente futuro […]”.

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Constata-se também que a aprendizagem que os alunos fazem na escola está

fundamentalmente sujeita a fronteiras temporais e não necessariamente a padrões de

aprendizagem projetados para necessidades futuras: “Learning […] is a prisoner of time.

[…]. The boundaries of student growth are defined by schedules for bells, buses and

vacations instead of standards for student and learning”2 (National Commission on

Time and Learning, 1994, p. 5).

A reivindicação de mais tempo para o ensino e para as escolas é algo que surge

como reflexo de uma necessidade expressa por vários quadrantes sociais, económicos e

políticos, e com diferentes objetivos. A literatura também salienta que,

independentemente dos custos económicos dos programas que preveem o aumento do

tempo, aumentar o tempo para o ensino é uma medida de adoção simples ainda que de

resultados complexos (Silva, 2012).

Aumentar o tempo de escola, o calendário escolar ou o ano escolar tem

implicações diversas e constrangimentos difíceis de resolver e superar (e.g., horários das

famílias, transportes, relações com o poder local, necessidade de mais professores e de

auxiliares de ação educativa, remunerações, arquitetura dos horários das escolas,

flexibilização da abertura e do encerramento das escolas, ocupação dos espaços,

nomeadamente de salas de aula, práticas pedagógicas, curricula) (Farbman & Kaplan,

2005). A literatura salienta que as repercussões do tempo escolar sobre os resultados

académicos dos alunos são complexas e indiretas, sendo necessário explicitar que se

trata de uma variável relevante, mas não a mais relevante para o sucesso dos alunos para

o que poderá mesmo ser necessário colocar outras medidas em prática, que poderão ter

repercussões positivas sobre a aprendizagem e sobre os resultados académicos dos

alunos (Berliner, 2007). “Like money, time is only a resource; whether it will help

children learn depends on how it is used”3 (Silva, 2012, p. 4).

A literatura sugere que dotar a escola com mais tempo aumentará

qualitativamente e quantitativamente os níveis de aprendizagem, pois permitirá (1)

maior tempo nas tarefas, (2) aprofundamento das matérias, (3) utilização de materiais

variados, (4) planificações mais ajustadas do trabalho a realizar, (5) recurso ao trabalho

cooperativo entre professores, (6) trabalho experimental e oficinal que sedimentará as

2 “A aprendizagem […] é prisioneira do tempo […]. As fronteiras para o crescimento dos alunos encontram-se definidas pelos

horários dos toques, pelos transportes e pelas férias, em vez de estar definida em termos de padrões para os alunos e para as

aprendizagens”. 3 “como o dinheiro, o tempo é apenas um recurso; se ajuda ou não as crianças depende do modo como é utilizado”.

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aprendizagens, e (7) estabelecimento de interações consistentes, duradouras e tranquilas

que favorecem as aprendizagens (Farbman & Kaplan, 2005).

As escolas, ainda que obedecendo aos normativos institucionais, divergem

relativamente ao modo como tomam opções em relação ao tempo de escola,

nomeadamente quanto ao absentismo dos alunos, dos professores e dos auxiliares de

ação educativa, bem como quanto às saídas da escola motivadas pelas mais diversas

atividades. Os professores diferem também no tempo gasto na resolução de problemas

inerentes à gestão da sala de aula (e.g., distribuição de tempo para os diferentes

conteúdos, atrasos dos alunos, interrupções motivadas por fatores externos e internos ao

decurso da aula, planificação das atividades, adequação e funcionamento dos materiais

audiovisuais). Também alguns alunos aproveitam melhor o tempo de ensino disponível

e aprendem mais do que outros (Connor, Jakobsons, Crowe, & Meadows, 2009). A

quantidade de ensino que cada aluno assimila varia de criança para criança, o que

poderá significar que crianças cujo aproveitamento do tempo se aproxima daquele que é

imposto administrativamente, poderão obter maior rendimento académico do que

aquelas que aproveitam menos (Connor et al., 2009; Marcotte, 2007; Marcotte &

Hansen, 2010). Os primeiros tendem a permanecer mais tempo nas tarefas académicas,

o que em geral se reflete nos resultados académicos (Ramsey, Jolivette, Patterson, &

Kennedy, 2010).

É comummente aceite que um aluno que se aplique mais tempo terá melhores

resultados académicos, e que os alunos que estudarem durante mais tempo farão um

maior número de aprendizagens (District Performance Auditor, 2007). Contudo, tal

relação não é linear (ainda que genericamente possa ser verdadeira) uma vez que é

necessário considerar diversos fatores moderadores do efeito tempo, nomeadamente a

idade do aluno ou o seu grau de preparação anterior, entre outros (Gettinger, 1985;

Lopes, 2009). Mais tempo nem sempre significa melhor desempenho, tal como o facto

de o professor fornecer o mesmo tempo de ensino a um grupo de alunos não significa

que todos os alunos tenham o mesmo tempo académico de aprendizagem (Marzano,

2003).

Independentemente de outras considerações teóricas sobre o enquadramento da

relação entre tempo e aprendizagem, os alunos aprendem quando há tempo adequado

para uma tarefa, quando estão empenhados na realização da mesma e quando obtêm

uma elevada taxa de sucesso (Fisher, Berliner, Filby, Marliave, & Cahen, 1978).

Quando o ensino motiva, levando os alunos a um alto nível de empenhamento,

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orientando-os para os objetivos a atingir, é mais provável que realizem as aprendizagens

exigidas, o que se repercutirá nos resultados académicos (Berliner, 2007).

Aprender não é algo que aconteça espontaneamente. Entre outras exigências,

aprender requer esforço, perseverança, maturação, qualidades intrínsecas ao próprio

indivíduo que se desenvolvem ao longo do tempo, e presença de agentes externos que

orientem. Aprender implica a assimilação de determinados conteúdos, num determinado

“continuum” temporal, num processo sistemático. “Learning is a process that takes

place in time”4 (Denham & Lieberman, 1980, p. 73).

Considerar a aprendizagem um processo implica assumir que aprender demora

tempo. O sujeito apreende determinada realidade, realiza e interioriza as aprendizagens

decorrentes dessa realidade, num dado tempo, incorporando-as ao seu conhecimento

ativo ou passivo. Quando oportuno, o conhecimento atualiza-se através de

comportamentos, num determinado momento e em determinadas circunstâncias (Gage,

& Berliner, 1992).

Os alunos não assimilam sempre a mesma quantidade de informação veiculada

pelo professor. Para se perceber que quantidade de aprendizagem foi apreendida, é

necessário comparar o modo como o sujeito se comporta no tempo 1 (linha de base)

com o modo como se comporta no tempo 2 (momento final), em circunstâncias

similares. Se houver alteração no comportamento poder-se-á inferir que ocorreu

aprendizagem (Gage & Berliner, 1992).

Caracteristicamente os alunos mais lentos na aprendizagem necessitam de mais

repetições do que os restantes. Block (citado em Gettinger, 1985) constata que 10% dos

alunos com um baixo ritmo de aprendizagem necessitam de cinco ou seis vezes mais

tempo para aprender do que os 10% de alunos mais rápidos nas aprendizagens. Por

outro lado, quando o tempo destinado à aprendizagem é inferior a 50% do que o aluno

necessita, a aprendizagem inicial decai (15,50%) e a retenção das aprendizagens

também baixa (18,50%) (Gettinger, 1985). Assim, se ao longo de anos, dias, ou meses,

se mantiver uma grande disparidade entre o tempo que é atribuído para a lecionação de

uma disciplina, o tempo em que o aluno está empenhado e a quantidade de tempo de

que o aluno realmente necessita, o decréscimo de aprendizagem acabará por ter efeitos

negativos nos resultados académicos (Gettinger, 1985). Compreender de quanto tempo

necessita cada aluno para fazer as suas aprendizagens é fundamental para que a

4 “A aprender é um processo que decorre no tempo”.

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alocação de tempo seja feita, considerando a sua aptidão, a sua habilidade, e o

empenhamento nas tarefas.

Na sala de aula, registam-se sucessivas perdas relativamente ao tempo

distribuído para a lecionação das diferentes disciplinas, do mesmo modo que se

registam perdas no tempo de empenhamento dos alunos (Abadzi, 2007, 2009; Berliner,

2007). O professor é obrigado a desdobrar-se em múltiplas tarefas não diretamente

relacionadas com o ensino, vendo-se na contingência (indispensável em todo o caso) de

alocar tempo a outras tarefas que não a principal: ensinar (McPake, Harlen, Powney, &

Davidson, 1999).

Tal como o professor, também os alunos têm que dividir a atenção por múltiplas

atividades. Estima-se que, em média, os alunos passem cerca de 60% do tempo da aula

em tarefas académicas, 11% do tempo em rotinas de gestão das tarefas (e.g., a recolher

materiais, a afiar lápis, a ouvir as instruções do professor sobre uma tarefa, a preencher

registos, quando terminada a tarefa, a tirar dúvidas sobre o trabalho desenvolvido), 8%

do tempo em espera para serem atendidos ou ouvidos, 21% do tempo distraídos e 1% do

tempo de diferentes modos que não os mencionados (McPake et al., 1999).

Relativamente às interações dos professores com os alunos, estima-se que, em média,

37% das interações se relacionam com a tarefa, 20% com monitorização, 27% com

rotinas de gestão, 10% com disciplina e 6% com outras atividades que não as supra

mencionadas (McPake et al., 1999).

Decidir o que fazer em 90 ou 45 minutos de aula é pois um processo de gestão

do tempo que implica tomadas de decisão para que o tempo seja otimizado,

nomeadamente para que haja ordem e ensino (Berliner & Fisher, 1985; Lopes & Santos,

2008). Ainda que existam fatores sobre os quais o docente não tem qualquer ação direta

(e.g., meio sociofamiliar, etnia, sexo, economia, inteligência) o professor pode agir

diretamente sobre a fração temporal que lhe é atribuída para lecionar a sua disciplina

(Karweit & Slavin, 1980). Especificamente, o professor pode agir sobre o tempo que o

aluno permanece na tarefa, adequando-a ao discente, ou pode rentabilizar o tempo

durante o qual ensina, tentando rentabilizá-lo sem que ocorram perdas e para que o

aluno esteja ativamente empenhado na realização das tarefas (Gage & Berliner, 1992).

O acumular das perdas do tempo de ensino e do tempo de empenhamento dos

alunos reflete-se nas aprendizagens, especificamente nos resultados académicos

(Berliner, 1987; Brophy & Good, 1986; Greenwood, 1991; Hollowood, Salisbury,

Rainforth, & Palombaro, 1994; Latham, 1989; Martella, Nelson, & Marchand-Martella,

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20

2003; Martinez & Brock, 2010). Estas perdas podem ir desde um calendário escolar

(nível macrossistémico) que reflita uma conceção e organização pouco focalizadas no

ensino, até interrupções provocadas pelos alunos, pelo professor ou por elementos

estranhos à aula (nível microssistémico) (OECD, 2009a). As perdas podem pois ter

origens múltiplas e variadas, pelo que alguns autores sustentam que a ação dos

professores deve ter como objetivo principal proteger o vetor primário da aula – a lição

– das perdas de tempo e da desfocalização das tarefas (algumas porventura inevitáveis,

muitas certamente evitáveis) (e.g., Doyle, 1980, 1986; Evertson, Emmer, & Worsham,

2000).

A variável tempo de ensino é de tal forma relevante que é colocada ao nível de

outros conceitos das ciências, pois o tempo pode ser compreendido, medido e revela

potencial preditor quanto aos resultados académicos (Berliner, 2007). As diferentes

variáveis associadas à aprendizagem (e.g., perseverança, aptidão, empenhamento)

podem ser submetidas a uma métrica temporal, permitindo estabelecer comparações,

relacionar planificações/estratégias do uso do tempo ou compreender quanto tempo de

intervenção individualizada foi efetuada, podendo ser deduzida a eficácia do professor.

Se alocar tempo às atividades educativas constitui um fator primordial para que

as aprendizagens sejam feitas, interessa compreender de que modo é o tempo usado, isto

é, coloca-se a questão da qualidade de tempo versus quantidade de tempo utilizado,

traduzida na eficiência e na eficácia da sua utilização. Ao lecionar um tema no mínimo

de tempo possível, o professor pode ter sido eficiente. Porém, se os alunos não

apreenderam os conteúdos e não atingiram os objetivos propostos, o professor não terá

sido eficaz. Deste modo, a quantidade específica de tempo gasta numa matéria, em

combinação com o uso eficaz desse tempo, maximizará a aprendizagem dos alunos

(Casey, Robertson, Williamson, Serio, & Elswick, 2011).

Um professor eficaz será aquele que utiliza racionalmente o tempo e os recursos,

conseguindo gerir e coordenar o ambiente de aprendizagem, de modo a potenciar

elevados níveis de aproveitamento nos seus alunos (Goodman, 1990; Hairrell et al.,

2011; Richards, 2006). O tempo destinado a uma disciplina pode pois ter utilizações

muito diversas, devendo a eficácia da sua gestão ser plasmada no aproveitamento

académico dos alunos (Berliner, 1990; Leinhardt, 1984). Eficiência sem eficácia na

gestão do tempo disponível não é interessante para os alunos, para o professor nem, em

última análise, para a sociedade que investe recursos na formação dos seus cidadãos.

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21

A literatura sustenta que existem formas de aumentar a eficácia do tempo de

ensino, potenciando efetivas aprendizagens, nomeadamente através da expansão do dia

ou ano escolar, criação de programas de férias de verão, alocação de mais tempo às

atividades ou rendibilização do tempo atribuído a determinadas disciplinas, diminuição

do absentismo, aumento do tempo de ensino, estabelecimento de prioridades em relação

a conteúdos disciplinares, minimização das interrupções no tempo de ensino, aumento

da eficácia da gestão da sala de aula, agilização dos métodos de ensino, identificação e

implementação de estratégias para aumentar a motivação5, e utilização de estratégias de

ensino individualizado, para desenvolver o conhecimento e as habilidades naturais dos

alunos (European Commission, 1995; Silva, 2012; Suarez, Torlone, McGrath, & Clark,

1991). Na verdade, uma panóplia de possibilidades, umas de cariz quantitativo, outras

de cariz qualitativo, que poderão ser utilizadas em conjunto ou de forma alternada

conforme as circunstâncias.

O tempo em sala de aula pode ser conceptualizado e medido de formas diversas

(e.g., tempo de ensino, tempo de empenhamento), apresentando a significativa

vantagem de poder ser medido numa métrica clara e de apresentar correlações positivas

com as aprendizagens académicas (Berliner, 2007; Connor, Morrison et al., 2009). Há

contudo autores (e.g., Karweit, 1983; Levin, Glass, & Meister, 1984; Levin & Tsang,

1987; McNamara, 1981; Peterson & Swing, 1982; Peterson, Swing, Braverman, &

Buss, 1982) que levantam objeções quanto à relevância do tempo de ensino para a

aprendizagem, sublinhando que se trata basicamente de uma ideologia, e que as

variáveis associadas ao tempo são pouco preditivas, pouco consistentes, e relegam para

segundo plano os mecanismos mentais que permitem que o aluno faça aprendizagens.

Outros autores defendem que, pelo contrário, o tempo na sala de aula (concretamente, as

variáveis tempo de ensino do professor e tempo de empenhamento do aluno) constitui

um importante preditor dos resultados académicos (Berliner, 2007; Brophy & Good,

1986; Emmer, Evertson, & Anderson, 1980; Greenwood, 1991; Levin & Nolan, 1996).

Alguns destes autores salientam que o tempo como medida, em horas, minutos e

segundos, permite não só quantificar a permanência dos alunos nas diferentes atividades

da sala de aula, o que pode implicar diferentes resultados académicos, mas também

mensurar o modo como é feita a gestão do tempo na sala de aula pelo professor. Deste

5 Gage e Berliner (1992, p. 138) definem motivação como “[…] what moves us from boredom to interest. It is what energizes us and

directs our activity […]”, podendo ser intrínseca (força condutora interna ao sujeito) ou extrínseca (fatores externos positivos ou

negativos), podendo relacionar-se com a gestão do tempo em geral, com a procrastinação e com aspectos afetivos, cognitivos e comportamentais (Chu & Choi, 2005).

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modo será possível aferir da eficácia do professor no aproveitamento da fração temporal

dedicada à atividade de ensino (Berliner, 1990; Fisher et al., 1980).

A literatura aponta três áreas fundamentais em que o tempo pode ser manipulado

no sentido de maximizar as probabilidades de ocorrência de aprendizagens: aumentar a

carga horária formal, aumentar o tempo de aprendizagem para além do horário formal e

modificar a forma como o tempo é utilizado ao longo do dia escolar (Silva, 2012). Para

um professor individual, uma conceptualização clara do tempo em sala de aula

aumentará as probabilidades de uma mais eficaz gestão do tempo em função das

variações interindividuais dos alunos e das suas próprias possibilidades. Permitir-lhe-á

ainda ter consciência da fração temporal que é por si manipulável e da fração que lhe é

imposta e que não pode por isso ser alterada. Tendo consciência dos seus limites e das

suas possibilidades, é mais provável que o professor seja mais eficaz na gestão do

tempo, inclusivamente através da compreensão de que a quantidade de tempo tem que

ser articulada com a qualidade da sua utilização (Carroll, 1963). A compreensão da

utilização do tempo na sala de aula pode pois mudar o modo como este é gerido, e

otimizar quer os resultados académicos dos alunos quer a perceção de eficácia do

professor, outra variável relevante para o desempenho dos alunos (Berliner, 1990,

Goodman, 1990).

2. Tempos de ensino e de aprendizagem

As sucessivas reformas educativas têm vindo progressivamente a aumentar o

tempo de permanência dos alunos na escola, apoiando-se em avaliações, em análises

internacionais e na investigação sobre o constructo tempo (European Commission,

1995, Suarez et al., 1991). A literatura aponta, como se disse anteriormente, para a

otimização do tempo na sala de aula através de múltiplas ações: diminuir o absentismo,

aumentar o tempo de ensino, estabelecer prioridades em relação a conteúdos

disciplinares, minimizar as interrupções no decurso das atividades de lecionação,

desenvolver estratégias que promovam a eficácia da gestão da sala de aula, agilizar

métodos de ensino, identificar e implementar estratégias para aumentar o nível

motivacional dos alunos, e usar estratégias de ensino individualizado para desenvolver o

conhecimento e as potencialidades dos alunos (Suarez et al., 1991).

Na sala de aula, o tempo constitui um bem escasso que é necessário gerir bem.

Para que tal aconteça porém, é necessário que seja percecionado pelos professores como

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uma variável importante para os resultados académicos, ainda que não seja

evidentemente a única variável relevante nem sequer que seja necessariamente a mais

relevante (Brophy & Good, 1986; Emmer et al., 1980; Greenwood, 1991). Seja como

for, a qualidade do tempo de ensino, associada à quantidade de tempo de ensino, é

importante para as aprendizagens de todos os alunos e em particular para aqueles que

têm dificuldades e que dificilmente obterão em ambiente extraescolar os apoios ou

compensações necessárias às suas aprendizagens (Silva, 2007).

São múltiplas as conceções ou aspetos do tempo de ensino e de aprendizagem na

sala de aula que têm sido referenciados na literatura: tempo como oportunidade de

aprender (District Performance Auditor, 2007; Good & Brophy, 1990; Jennings &

Angelo, 2006a), tempo académico de resposta, tempo de espera do professor em relação

à resposta do aluno (Echevarria, Vogt, & Short, 2004; Lowery, 2003), tempo como

possibilidade de apropriação da tarefa, tempo associado ao ritmo de ensino (“pacing”)

(Echevarria et al., 2004), tempo alocado (Eggen & Kauchack, 1994; Gage & Berliner,

1992; Phye, 1996), tempo de ensino (Eggen & Kauchack, 1994), tempo de

empenhamento ou tempo na tarefa (Gage & Berliner, 1992; High School Survey of

Student Engagement, 2005; Patall, Cooper, & Allen, 2010), tempo produtivo de

aprendizagem ou tempo académico de aprendizagem (Elliot, Kratochwill, Littlefield, &

Travers, 1996; Gettinger & Seibert, 2002; Henao, 2011), intervenção fora do tempo

(Gage & Berliner, 1992), tempo de transição, tempo morto (Cotton, 2000), tempo de

esquecimento6, entre outros. Nesta revisão teórica serão abordados apenas os aspetos do

tempo relevantes para o nosso trabalho, a saber: tempo como oportunidade para

aprender, tempo alocado, tempo de ensino, tempo de empenhamento e tempo na tarefa,

tempo de transição, tempo académico de aprendizagem, tempo morto, interrupções,

tempo de espera, ritmo de ensino.

2.1 Tempo como oportunidade de aprender

O tempo como oportunidade surge como uma categoria análoga ao tempo alocado

ou ao tempo na tarefa. Contudo, tal como a própria literatura aconselha, o tempo como

6 A perda ou esquecimento de conhecimentos e competências durante o verão (“summer slide”), pode afetar as aprendizagens

anteriormente adquiridas e gerar problemas na aquisição de aprendizagens posteriores (White, 1906). O encerramento das escolas no

verão dá consistência à “faucet theory” (Miller, 2007, p. 7) - quando as férias de verão ocorrem e as escolas fecham, o tempo de oportunidade para aprender termina (McCombs et al., 2011).

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oportunidade para aprender, o tempo alocado, o tempo na tarefa, e o tempo de

empenhamento deverão ser consideradas categorias diferentes (Brophy & Good, 1986).

O tempo como oportunidade de aprender pode ser entendido como um fio

condutor que perpassa a vida escolar, subjazendo à atividade académica. “Some experts

suggest that the „opportunity to learn‟ may be one of the most significant school-level

factors that influence improved student achievement”7 (District Performance Auditor,

2007, p. 3). Contudo, existem situações em que o tempo como oportunidade de aprender

se perde, nomeadamente quando o aluno falta às aulas: “The opportunity to learn is lost

when students do not attend class. This loss of „seat time‟ is viewed by researchers as

one factor influencing student achievement”8 (District Performance Auditor, 2007, p.

30). A presença do aluno na sala de aula é a condição essencial para que este realize as

aprendizagens. Sem este mínimo não haverá possibilidades de aproveitamento de

qualquer tipo dos aspetos do tempo em sala de aula. Do mesmo modo, quando um aluno

é colocado fora da sala de aula, independentemente da pertinência da ordem de saída,

fica-lhe vedada a oportunidade de aprender, pois o tempo específico para o

desenvolvimento e realização das aprendizagens fica de imediato diminuído. Colocar o

aluno fora da sala de aula representa uma perda de oportunidade para o aluno, ainda que

se verifique ser uma condição necessária para a manutenção do vetor primário da aula

(Skiba & Rausch, 2006).

A má gestão do tempo comporta um custo: a perda de oportunidade de aprender e

de ser ensinado nesse tempo. No entanto, a oportunidade para aprender pode ser

aumentada através do estabelecimento de regras que impeçam qualquer comportamento

disruptivo, aumentando o tempo de ensino, e desenvolvendo atividades motivadoras de

acordo com a idade e com as competências dos sujeitos (Metzker, 2003). O início das

aulas no tempo estipulado, isto é, a pontualidade de professores e alunos, sem demoras

na entrada na sala de aula, permite o começo atempado das atividades, e predispõe

professor e alunos para o trabalho, responsabilizando o aluno, e não desperdiçando o

tempo de oportunidade que lhe é dado para aprender (Elliot et al., 1996). A sociedade

poderá também levar a que a oportunidade para aprender seja interiorizada, se valorizar

a escola enquanto instituição (U.S. Department of Education Website (ED.gov.), 2001;

Xia & Glennie, 2005).

7 “Alguns experts sugerem que a „oportunidade de aprender‟ pode ser um dos níveis dos fatores [organizativos] da escola mais

significativo que influencia o aumento do aproveitamento dos alunos”. 8 “A oportunidade de aprender é desperdiçada quando o aluno falta às aulas. Esta perda de „tempo sentado‟ é vista pelos investigadores como um fator que influencia o aproveitamento do aluno”.

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2.2 Tempo alocado

O tempo alocado é a fração temporal atribuída a um objetivo pré-determinado.

Esta categoria temporal relaciona-se com os valores instituídos de uma determinada

época, com as opções políticas e sociais, com as diretrizes institucionais e com as

motivações dos professores (Cotton, 2000).

O tempo alocado pode designar o tempo que se destina a uma atividade, a um

evento, ao tempo de escola, ao tempo da sala de aula, ao tempo de ensino, ao tempo de

empenhamento, ao tempo académico de aprendizagem e ao tempo morto (Cotton,

2000). O tempo de escola indica o tempo que é alocado em número de dias, em anos

letivos, o número de horas de um dia escolar ou o tempo destinado ao desenvolvimento

de uma disciplina.

Grande parte do tempo alocado a uma disciplina é preenchido com transições,

períodos de lazer e de almoço e atividades pouco ou nada relacionadas com o

conhecimento académico (e.g., assembleias de alunos, interrupções inesperadas que

podem advir da leitura de comunicados ou de simulações de exercícios de emergência,

problemas disciplinares) (Gilman & Knoll, 1984; Ranallo, 1997).

O tempo da sala de aula diz respeito à quantidade de tempo passado na escola,

excluindo o tempo de almoço, o tempo de recreio, o tempo de mudança de salas de aula

e outros similares (Cotton, 2000). Cada professor poderá gerir esse tempo alocado da

forma que considerar mais adequada para perseguir os objetivos desenhados para os

conteúdos da sua disciplina, mas existem discrepâncias no uso do tempo afeto ao

desenvolvimento dos mesmos conteúdos, de ano para ano de escolaridade, ou até

mesmo dentro do mesmo ano, de professor para professor, na mesma instituição de

ensino. Tal situação poderá ocorrer porque o professor, em relação a determinada

disciplina, privilegia certo tipo de conteúdos em detrimento de outros, eventualmente

porque se sente mais confortável a ensinar tais conteúdos ou porque sente que esses

conteúdos são importantes para a avaliação dos alunos (e indiretamente, para a sua

própria avaliação) (Berliner, 1987; Hamacheck, 1994).

O tempo que um aluno permanece na escola representa o seu tempo de

escolarização, podendo determinar o grau que um aluno pode atingir no percurso

escolar, ainda que a literatura, neste particular, não seja consensual (Wiley &

Harnischfeger, 1974). Na sala de aula, o professor poderá fazer diversas opções

relativamente ao modo como gere o tempo alocado, influenciando toda a aprendizagem

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e, consequentemente, a perspetiva do aluno sobre a escola, o ensino, a assiduidade e o

empenhamento (Reynolds & Gutkin, 1985).

A relação entre quantidade de tempo alocado, aprendizagem e resultados

académicos parece “autoevidente”. Contudo, como referimos anteriormente, a

quantidade de tempo, em si mesma, não é suficiente para garantir boas aprendizagens.

Como sublinha Silva (2007, p.1) “improving the quality of instructional time is at least

as important as increasing the quantity of time in school. […] the addition of high-

quality teaching time is of particular benefit”9.

Por outro lado, alocar mais tempo às aprendizagens (horas de ensino nas férias de

verão, início da escola às 7.30h ou 8h, aulas aos sábados) apresenta custos elevados,

podendo não ser a melhor opção em termos económicos (Berliner, 2007). Constata-se

também que o tempo alocado é muitas vezes subaproveitado e que a quantidade de

tempo que os alunos estão empenhados na aprendizagem pode não ultrapassar os 40%

do dia escolar (Martella et al., 2003; Wiley, 1976). Os comportamentos fora da tarefa

também são responsáveis por perdas consideráveis no tempo alocado (Good & Brophy,

1995).

Para que o tempo alocado seja otimizado é necessário que o tempo de ensino seja

elevado, que haja um elevado nível de empenhamento na realização da tarefa e que esta

seja adequada, quer quanto ao conteúdo, quer quanto ao grau de dificuldade,

considerando as competências do aluno (Berliner, 2007; Fisher et al., 1978; Fisher et al.,

1981; Gettinger, 1985; Liu, Alonzo, & Tindal, 2011)10

.

Alocar uma grande quantidade de tempo às tarefas escolares ou retirar tempo aos

momentos destinados à socialização (e.g., lazer, almoço) não é condição suficiente para

que o tempo académico de aprendizagem sofra alterações, podendo também não ser

uma medida eficaz para a promoção do sucesso académico dos alunos. Inclusivamente,

a literatura sugere que diminuir o tempo de recreio em favor de tempo de ensino para a

leitura, por exemplo, pode não ser a melhor opção (Dagli, 2012). É necessário, em

qualquer caso que haja o tempo adequado para que os alunos façam as aprendizagens,

com elevadas taxas de empenhamento e de aprendizagem bem sucedida (Berliner,

2007).

Duplicar o tempo alocado, conforme Berliner (2007) demonstra, pode não

produzir efeitos no tempo académico de aprendizagem, podendo mesmo baixar o nível

9 “melhorar a qualidade do tempo de ensino é pelo menos tão importante quanto aumentar a quantidade de tempo na escola. […] o

acréscimo de tempo de ensino de elevada qualidade é particularmente benéfico”. 10 Analisar o tempo alocado, implica a conexão com o tempo académico de aprendizagem o qual será abordado posteriormente.

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de empenhamento do aluno e o nível de aprendizagem. Contudo, um aumento adequado

do tempo alocado favorece a taxa de empenhamento e, consequentemente, a

aprendizagem, refletindo-se no tempo académico de aprendizagem dos alunos.

Figura 1 – Efeito de um aumento moderado de tempo alocado (TA) com produção de um efeito

significativo no tempo académico de aprendizagem (TAA)

Fonte: Adaptado de Berliner (2007)

Quando o tempo alocado não é bem utilizado, é apenas redundância sem

aprendizagem, o que implica que o aluno não vai aprender, não se empenhando na

realização da tarefa (Berliner, 2007; Hamacheck, 1994). O tempo alocado deixa assim

de ser a mais-valia que se repercutiria na aprendizagem. Contudo, existem situações,

nomeadamente de precariedade social ou de défice cognitivo, em que aumentar o tempo

alocado para a aprendizagem, em conjugação com ações e meios adequados,

possibilitará uma intervenção eficaz em escolas com baixo rendimento (Pennington,

2007).

No limite, não sendo feita qualquer alocação de tempo, não haverá ensino nem

aprendizagens formais. Com o alargamento progressivo da escolaridade obrigatória o

tempo alocado tem vindo a aumentar significativamente, mas nem sempre esse tempo se

tem traduzido em melhores aprendizagens. Muitos sistemas educativos têm por isso

ensaiado soluções que passam pela manipulação da variável tempo (com o objetivo de

colmatar deficiências de conhecimentos dos alunos) através, nomeadamente, do

alargamento do ano escolar (o que significa alocar mais tempo, concretamente, tempo

de oportunidade para aprender), da determinação de horas letivas presenciais por ano ou

do prolongamento do dia escolar (Carroll, 2008; McIIrath & Huitt, 1995). Muitas vezes,

são os próprios professores que procuram aumentar o tempo alocado, exigindo aos

100 minutos de tempo alocado (TA) 80% de taxa de empenhamento (TxE) 60% de aprendizagem bem sucedida (c/ sucesso) 48 minutos de tempo académico de aprendizagem (TAA)

200 minutos de tempo alocado (TA) 60% de taxa de empenhamento (TxE) 40% de aprendizagem bem sucedida (c/ sucesso) 48 minutos de tempo académico de aprendizagem (TAA)

150 minutos de tempo alocado (TA) 80% de taxa de empenhamento (TxE) 80% de aprendizagem bem sucedida (c/ sucesso) 96 minutos de tempo académico de aprendizagem (TAA)

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alunos a realização de trabalhos de casa como complemento do trabalho realizado na

sala de aula. Isto permite que os alunos pratiquem a matéria ensinada e por outro

sedimentem e consolidem o conhecimento, sem reajustamentos dos horários escolares

nem incremento de custos (Virginia State Department of Education, 1992).

Contudo, expandir o tempo alocado obriga: (1) a uma verdadeira reconfiguração

do modo como o tempo é utilizado, pois mais tempo alocado não deverá significar a

utilização do tempo com a repetição das mesmas atividades de aprendizagem; (2) a um

envolvimento direto ou indireto das diferentes partes no processo de ensino e de

aprendizagem (e.g., professores, diretores, associação de pais e encarregados de

educação, funcionários e administração local), de modo a participarem no “design” da

alocação de tempo, com o objetivo de encontrar novas iniciativas, novas ideias,

apontando necessidades e formas de colmatar objetivos previamente definidos, através

de uma operacionalização inovadora; (3) a um investimento económico quando

necessário, e à procura de novos parceiros sociais; (4) a um envolvimento dos

intervenientes no processo de ensino e de aprendizagem, numa perspetiva

macroeducativa, tornando-se uma mais-valia, quando se pretende o desenvolvimento

integral dos alunos; (5) à procura de atividades inovadoras, enquadradas nos objetivos

definidos que se pretendem atingir, para responder às necessidades da escola,

considerando o local da sua implementação; (6) à divulgação das iniciativas para que

melhores práticas possam ser adotadas; (7) à avaliação do trabalho desenvolvido,

considerando necessidades, tempo alocado, tipo de atividades e intervenientes,

resultados em termos de ensino/aprendizagem e impacto positivo nos alunos

(Pennington, 2007). A alocação de mais tempo, para ser eficaz, não poderá ser uma

mera repetição sistemática de atividades na sala de aula, com redundância exaustiva de

conteúdos, de estratégias e métodos de ensino (Bernstein, 2010; Pennington, 2007).

2.3 Tempo de ensino

Frequentemente o ensino aparece associado à instrução. O ensino é mais

abrangente, enquanto ao conceito de tempo de instrução subjaz a noção de ensino

explícito e direto (Lopes & Santos, 2008). O tempo de ensino é a quantidade de tempo

que o professor gasta a ensinar conceitos ou conteúdos e a desenvolver competências

relacionadas com os conteúdos académicos, excluindo aspetos de procedimentos de

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rotinas, transições e questões disciplinares, ou todas e quaisquer atividades ou tarefas

que não se relacionem com o ensino (Cotton, 2000).

De modo extremado, poder-se-á definir o tempo de ensino como o número de

horas que os alunos passam sentados (“seat time”), englobando apenas horas de ensino

e excluindo todas as outras, nomeadamente, recreio ou lazer (District Performance

Auditor, 2007). O tempo de ensino tem de ser entendido como um verdadeiro recurso

que não pode ser apenas para preencher, gastar ou passar tempo. A literatura tem

referido que a má gestão do tempo de ensino por parte das direções das escolas, e a má

gestão do tempo na sala de aula por parte dos professores são importantes fontes de

perda relativamente ao tempo alocado para o ensino e que não são da responsabilidade

dos alunos (Eggen & Kauchack, 1994; Wiley & Harnischfeger, 1974)11

.

O tempo de ensino disponível para uma determinada disciplina obedece a

parâmetros exógenos e endógenos à vontade do professor e à gestão da sala de aula.

Constata-se que o tempo de escola é imposto pela administração central, nomeadamente

o tempo alocado a uma disciplina. As perdas podem atingir um total de 60% de um dia

escolar, diminuindo o tempo de ensino e as possibilidades de sucesso dos alunos

(Gilman & Knoll, 1984; Leonard, 1999). Contudo, a gestão do tempo na sala de aula é,

quase em absoluto, da responsabilidade do professor, e a eficácia dessa gestão também

lhe está acometida (Berliner, 2007).

Um dos meios ao alcance do professor para diminuir a perda de tempo na sala de

aula é a preparação e a planificação das atividades em todos os níveis de ensino.

Contudo, como afirmam Brown e Saks (1985, p. 129) “prescheduling every minute of

the day is not only repugnant, it is also inefficient”12

.

De acordo com a literatura, na sala de aula, os professores poderão utilizar

diferentemente o tempo na realização de múltiplas atividades. McPake et al. (1999)

estimam que 32% do tempo dos professores é dedicado ao ensino, 27% é ocupado na

gestão de diferentes tarefas (e.g., realização de atividades, ensino/instrução sobre o

modo de realização das mesmas, manutenção dos alunos na tarefa, monitorização de

comportamentos e atividades, averiguação de que os alunos não estão apenas a passar

tempo na tarefa ou a acabar exercícios sem objetivo definido, verificação da

compreensão e da conclusão da tarefa e avaliação), 23% é usado na gestão de tarefas e

11 É de notar que, à medida que o nível de ensino aumenta, as perdas de tempo alocado para o ensino parecem ser maiores, pois os alunos, com maior autonomia, gastam o tempo em diversas atividades que não se relacionam diretamente com os conteúdos das

aprendizagens: assembleias de alunos, saídas da sala de aula e da escola, comemorações de datas, e outras similares (Lysiak, 1980;

Pianta & Hamre, 2009). 12 “pré-planificar cada minuto do dia não só é repugnante como também é ineficiente”.

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no ensino, e 18% é utilizado noutras atividades, incluindo tarefas administrativas,

controlo da sala de aula, trabalho de integração/socialização (e.g., problemas familiares,

conflitos entre alunos) ou, inclusivamente, a deixar passar alunos e professores de uma

sala para a outra, devido ao tipo de arquitetura condicionada por determinadas filosofias

educativas.

McPake et al. (1999) sugerem ainda que professor pode despender até 82% do

tempo em ensino e atividades correlacionadas e 18% em atividades não curriculares, e

consideram que entre 20% a 25% do tempo de uma escola é passado em idas à casa de

banho, almoço, lazer e outras atividades similares. Tal situação obriga a que o programa

escolar instituído tenha de ser inserido no tempo remanescente do dia escolar, o qual

abrange igualmente múltiplas atividades. Assim, do total do tempo escolar apenas uma

fração relativamente modesta pode ser dedicada ao ensino. Esta possibilidade pode além

disso ser reduzida pelos múltiplos fatores anteriormente mencionados, provocando uma

importante contração do tempo de ensino e do tempo académico de aprendizagem, com

reflexos nos resultados escolares dos alunos (Berliner, 2007).

Diferentes estudos estimam perdas médias diversas no tempo de ensino. Assim

enquanto alguns assinalam por exemplo aproveitamento médio de 77%, com perdas de

23%, outros fornecem intervalos de 21% a 69% para o tempo de ensino e perdas entre

79% e 31% (District Performance Auditor, 2007; Metzker, 2003).

A gestão do tempo de ensino aparece inevitavelmente associada à eficácia do

professor (Spiggle, 2003). Quando o tempo de ensino é eficazmente utilizado pelo

professor, torna-se numa variável com um impacto acentuado sobre os resultados

académicos, nomeadamente para os alunos com performances pouco positivas e, muitas

vezes, de meios socioeconómicos desfavorecidos (Leonard, 2001). Ainda que a

literatura sustente a relevância do tempo de ensino nos resultados académicos, existem

nuances que convém assinalar como, por exemplo: um aumento do tempo de ensino em

Matemática e Língua Materna promove os resultados na leitura e nos testes de

Matemática, mas aumentar o tempo de ensino a Estudos Sociais não aumenta os níveis

académicos dos alunos a Matemática, e aumentar o tempo de ensino a Ciências não

melhora os níveis de nenhuma outra área (Prendergast, Spradlin, & Palozzi, 2007).

Acresce ainda que o efeito positivo do tempo de ensino diminui à medida que aumenta

o número de alunos por turma (Bosker, 1998; Pedder, 2006).

O tempo de ensino, o ensino explícito e a eficácia do professor, nomeadamente na

gestão do tempo, coocorrem para uma otimização do sucesso académico. O tempo de

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31

ensino, se utilizado de forma produtiva revela-se um recurso fundamental para a prática

letiva (Carleen, 1990), constituindo o ensino explícito um dos métodos mais eficazes

para otimizar os resultados académicos, pois diminui significativamente as perdas de

tempo de ensino (Archer & Hughes, 2011).

2.4 Tempo de empenhamento e tempo na tarefa

Comummente fala-se em empenhamento quando alguém apresenta um

investimento psicológico, emocional, intelectual e físico numa atividade, podendo ser

utilizado diversamente, em diferentes contextos, tais como a gestão das sinergias do

indivíduo com o sociopolítico, com as instituições, com o conhecimento e com

comunidade (Jameson, Clayton, & Jaeger, 2010).

Na educação, o empenhamento aparece como constructo precursor e mediador,

surgindo como força centrífuga promotora do sucesso académico e de necessidades

psicológicas do sujeito: aumentando o empenhamento, aumenta a motivação para

atingir melhores resultados, o que origina mudanças comportamentais, emocionais e

cognitivas que consolidam necessidades psicológicas do próprio sujeito (Christenson et

al., 2008; Gettinger & Walter, 2012). A literatura aponta o empenhamento como um

constructo relevante para a compreensão dos alunos que manifestam desinteresse pelas

atividades escolares, dentro ou fora da sala de aula, ou que abandonam o sistema escolar

(Schussler, 2009).

O tempo de empenhamento tem sido entendido de diversas maneiras, podendo

ser encontradas na literatura diversas formulações (e.g., empenhamento do aluno,

empenhamento escolar, empenhamento no trabalho escolar, empenhamento académico),

e uma associação sistemática ao tempo na tarefa (Gettinger & Walter, 2012).

2.4.1 Tempo de empenhamento

O empenhamento constitui um constructo pluridimensional que envolve três

dimensões essenciais que se interinfluenciam: envolvimento, cognição e estado

emocional (VanDeWeghe, 2006)13

.

13 O empenhamento do aluno poderá ser definido como: (1) um comportamento positivo, sendo o aluno assíduo, concentrado e

participativo na sala de aula, havendo um sentimento de pertença e de respeito pela instituição que frequenta (Anderson,

Christenson, Sinclair, & Lehr, 2004), ou (2) um envolvimento psicológico em relação ao aproveitamento académico e a todo o ambiente de estudo, em que o aluno estabelece relações de cordialidade e de respeito entre os diferentes membros da comunidade

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O envolvimento encontra-se ligado ao comportamento, dizendo não só respeito

ao modo como o aluno se comporta na sala de aula e nos restantes espaços escolares,

respeitando as regras existentes, como também se refere ao modo como o aluno

participa, como e de que modo se envolve nas atividades curriculares e

extracurriculares. O envolvimento do aluno pode ser avaliado através de diferentes

itens: concentração, energia, criatividade, postura/expressão facial, persistência,

precisão, tempo de reação, respostas/perguntas verbais, satisfação (Laevers, 2000;

Laevers & Heylen, 2003; Laevers, Vandenbussche, Kog, & Depondt, 1997).

O envolvimento do aluno pressupõe duas dimensões: a afetiva e a cognitiva. A

dimensão cognitiva refere-se ao investimento/esforço intelectual que o aluno está

disposto a fazer para a compreensão dos conteúdos académicos relacionados com as

diversas disciplinas e com as atividades extracurriculares, permitindo-lhe adquirir as

competências pré-definidas.

A dimensão cognitiva poderá implicar três níveis: conhecimento metacognitivo

(capacidade para encontrar estratégias alternativas de aprendizagem além das que estão

disponíveis), regulação metacognitiva (capacidade para diversificar a monitorização do

seu próprio processo de aprendizagem), e dimensão epistémica (consciência do seu

conhecimento e capacidade para colocar conhecimentos em rede, fazendo novas

aprendizagens) (Bruner, 1957, 1991; Goldspink, Winter, & Foster 2008;).

A dimensão afetiva diz respeito às inter-relações que o aluno estabelece com a

comunidade educativa, principalmente com os seus pares e com os professores,

podendo haver um bem-estar que se traduz em satisfação/felicidade, com a consciência

de uma função social, havendo predisposição para a aprendizagem (Faria, Freire,

Galvão, Reis, & Baptista, 2012; Fredricks, Blumenfeld, Friedel, & Paris, 2005;

Fredricks, Blumenfeld, & Paris, 2004; Goldspink et al., 2008).

Reeve (2012) apresenta um modelo bastante elaborado do empenhamento que

reflete a natureza multidimensional do constructo (Figura 2).

educativa, adotando comportamentos proativos nomeadamente em relação às suas atitudes e formas de estar (Furlong &

Christenson, 2008). Contrariamente, o aluno desempenhado apresenta comportamentos que revelam um fraco sentido de pertença, um afastamento ou negação das atividades letivas e um distanciamento em relação ao processo de ensino e de aprendizagem

(Christenson & Thurlow, 2004).

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33

Figura 2 – Dimensões do empenhamento durante uma atividade de aprendizagem

Fonte: Adaptado de Reeve (2012)

O empenhamento dos alunos manifesta-se de diversos modos, oscilando entre

um “re-empenhar-se” e um “des-empenhar-se”, em que o tempo de empenhamento diz

respeito ao modo como o aluno responde às solicitações feitas em relação à tarefa.

Eventualmente, também existe um outro tipo de empenhamento não na tarefa, mas em

contraponto ao empenhamento que os alunos deveriam evidenciar, que se transforma

não só em indiferença, com ausência de empenhamento, mas numa aversão latente às

tarefas escolares, podendo originar baixas performances escolares (Cairns & Dyson,

2005; Natriello, 1984; Roderick & Engel, 2001; Willms, Friesen, & Milton, 2009).

De acordo com Appleton, Christenson e Furlong (2008), a investigação sustenta

a relação entre empenhamento, realização académica e comportamento escolar,

permitindo:

(1) compreender o abandono escolar ou o sucesso dos alunos (e.g., níveis de

escolarização superiores ou ingresso no mundo do trabalho);

(2) constatar comportamentos de empenhamento (e.g., assiduidade, cumprimento

regular das obrigações escolares, esforço, persistência, autorregulação do trabalho e do

desempenho, gosto em aprender, envolvimento em atividades desafiadoras);

(3) associar resultados académicos à promoção social;

(4) considerar o meio ambiente de aprendizagem (e.g., expectativas e relações

familiares e sociais dos pais, dos professores e dos pares) e comportamentos proativos

(e.g., assiduidade, esforço, participação, colaboração, comportamentos de ajuste social)

como resposta do sujeito às suas necessidades intrínsecas;

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(5) percecionar o sujeito como possuidor de qualidades, mutáveis, influenciado

pela escola, pela família e pelos pares

(6) explicitar, explicar, o sucesso académico a partir de um ensino adequado,

considerando os conteúdos dos programas escolares;

(7) projetar tomadas de decisão nas instituições de ensino.

Para alguns autores (e.g., Atweh, Bland, Carrington, & Cavanagh, 2007; Gettinger

& Walter, 2012; Reeve, 2012) o empenhamento é apresentado como um processo que

permite atingir determinados resultados, para outros é um resultado, sendo também

perspetivado como processo e resultado, encontrando-se associado à motivação ou

sendo um constructo independente. Consequentemente, a literatura aconselha a que,

sendo o empenhamento um “metaconstructo”, seja explicitada claramente a

conceptualização utilizada, de acordo com os objetivos dos estudos (Gettinger &

Walter, 2012).

Geralmente, são encontrados dois vetores de força que estruturam este constructo,

quando se pondera o sucesso escolar: (1) empenhamento substantivo, associado aos

desempenhos escolares, às aprendizagens, ao envolvimento na comunidade escolar, às

atividades na sala de aula e à ligação emocional que se estabelece com as atividades e

com as aprendizagens, o que implica o envolvimento sustentado das aprendizagens

académicas; e (2) empenhamento procedimental associado às regras de funcionamento

da sala de aula (Nystrand & Gamoran, 1992).

O empenhamento agrega também, numa outra perspetiva, um imergir absoluto

numa atividade pelo prazer intrínseco que proporciona e pelas aprendizagens daí

decorrentes, sendo este o conceito de fluxo de Csíkszentmihályi (1997)14

. A teoria de

“flow” de Csíkszentmihályi (1991; 1997) aponta para uma forte imersão do sujeito

numa tarefa que este avalia como intrinsecamente interessante, estabelecendo quatro

relações possíveis entre as competências do sujeito e a tarefa: elevada

competência/tarefa pouco motivadora; elevada competência/tarefa muito motivadora;

baixa competência/tarefa pouco motivadora e baixa competência/tarefa muito

motivadora (Willms et al., 2009). O conceito de “flow” pode indicar ao professor

quando deve transitar para outra atividade, mantendo uma relação de sequencialidade,

como se de uma atividade decorresse uma outra a ela intrinsecamente ligada,

continuando o aluno imerso na atividade a realizar e mantendo o tempo de

empenhamento necessário para obter sucesso (Arlin, 1979).

14 Para Laevers e Heylen (2003) o estado de “flow” é o envolvimento que o sujeito mantém com a tarefa/atividade.

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A literatura refere que o tempo de empenhamento poderá variar, em média, entre

50% e 90% (Hamacheck, 1994). Contudo, um professor eficaz tende a manter o nível de

empenhamento dos alunos entre 75% a 90%, verificando-se nestes casos uma clara

relação entre tempo alocado, tempo de empenhamento e eficácia do professor

(Hamacheck, 1994; Henao, 2011). A percentagem de tempo de empenhamento dos

alunos decorre da habilidade do professor em gerir o tempo alocado à disciplina, do

ambiente da sala de aula e da sequencialidade das atividades, sem grandes precipitações,

com “momentum”, com suavidade nas transições, sendo de esperar que nestes casos os

alunos se comportem adequadamente (Echevarria et al., 2004). Saliente-se que, além do

tempo de empenhamento, podem ser encontrados na literatura outros preditores

associados aos resultados escolares (e.g., autoeficácia dos alunos, características

pessoais, estruturas escolares, equipamentos tecnológicos, performance do professor),

devendo ser ponderados aquando da análise dos resultados académicos (Yazzie-Mintz,

2009).

Schlechty (1994, 2002, 2005) aponta dez categorias que devem ser equacionadas,

quando o professor pretende que os alunos permaneçam mais tempo empenhados nas

atividades escolares: (1) conteúdo e substância, (2) organização do conhecimento, (3)

focalização no produto/assunto, (4) regras claras e convincentes dos trabalhos, (5) meio

ambiente seguro, (6) afirmação e performance, (7) afiliação, (8) novidade e variedade,

(9) escolha, e (10) autenticidade. Por seu turno, o aluno deverá ser persistente,

empenhado, retirando satisfação das tarefas em que se empenha, pela possibilidade que

a escola lhe dá de aprender, cumprindo a sua função.

Ao rendibilizar as suas aprendizagens, o aluno retira um lucro cognitivo, tal como

uma empresa retira lucro das suas transações comerciais (Schlechty, 1994, 2002, 2005).

Consequentemente, desse lucro cognitivo deverá advir todo o empenhamento e orgulho

do aluno em progredir, acumulando conhecimento, aumentando o empenhamento,

fazendo com que se sinta recompensado e orgulhoso pela persistência no trabalho

desenvolvido, e pela consecução do mesmo, promovendo a sua autorrealização, através

do seu capital cognitivo. Para tal, torna-se relevante a importância da veracidade no

relacionamento entre alunos e professor, de modo que as expectativas não sejam

defraudadas, sendo essencial o estabelecimento de objetivos e de expectativas, a

monitorização/acompanhamento do trabalho, com respeito pelo ritmo dos alunos (Thijs

& Verkuyten 2009; Reeve & Halusic, 2009; Assor, Kaplan, Kanat-Maymon, & Roth,

2005).

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Numa perspetiva de mensuração, o empenhamento pode ser medido segundo

diferentes categorias: (1) envolvimento abrangente nas diversas atividades escolares, na

aprendizagem e nas tarefas escolares; (2) nível emocional, o que implica um sentido de

pertença; (3) nível cognitivo, em que há um empenhamento focalizado nas

aprendizagens académicas e nas atividades escolares (Connor et al., 2009; Fredricks et

al., 2004; Willms et al., 2009).

A variável tempo de empenhamento é considerada pela literatura uma forte

preditora dos resultados académicos, e como modelo principal para explicar o abandono

escolar e o completamento dos estudos (Fisher et al., 1978; Gettinger & Seibert, 2002;

Gettinger & Walter, 2012; Marcotte & Hansen, 2010). Infelizmente, a sua relativamente

curta história (não mais do que 25 anos) produziu uma miríade de definições que

dificultam a sua compreensão e operacionalização (Appleton et al., 2008; Jimerson,

Campos, & Greif, 2003). Em todo o caso o seu valor heurístico parece inegável, bem

como a sua (ainda que equívoca) relação com os resultados académicos dos alunos, e

com a própria frequência ou abandono escolar, pelo que é de prever que continuará a ser

um constructo alvo de particular atenção pelos investigadores (Libby, 2004; Reschly &

Christenson, 2006a, 2006b).

2.4.2 Tempo na tarefa

O tempo de empenhamento surge muitas vezes como sinónimo de tempo na

tarefa, pois esta categoria é mais facilmente mensurável. Geralmente, são considerados

diversos comportamentos como refletindo este constructo: o tempo que o aluno

permanece na tarefa, a assiduidade ou a ausência às aulas, o número de castigos ou de

admoestações que o aluno sofreu, o seu comportamento aquando da realização de uma

determinada tarefa na sala de aula.

Para mensurar o tempo na tarefa podem ser utilizadas diferentes técnicas e

formas de registo, nomeadamente a frequência dos comportamentos, a sua duração, a

observação por intervalos de tempo, etc.. A frequência diz respeito ao número de vezes

que um comportamento ocorre, enquanto a duração informa o tempo que determinado

comportamento demora, desde que começa até que termina. A observação por

intervalos de tempo implica o registo de determinado comportamento em cada intervalo

de tempo, previamente estabelecido (Martinez & Brock, 2010).

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Munns (2004) apresenta diferenças intrínsecas quanto ao modo como o sujeito

está na tarefa. O estar na tarefa pode ser “in-task” ou “on-task”, em que a primeira

conceção implica um imbricamento do sujeito com a tarefa e a segunda apenas um estar

na tarefa. O sujeito pode ainda encontrar-se ―off-task”, isto é, com comportamentos

desadequados da tarefa (e.g., falar sem ser na sua vez, sair do lugar sem tarefa

específica, perturbar o trabalho dos colegas, “sonhar acordado”) (Fisher et al., 1981;

Good & Brophy, 1995).

Quando o aluno está “on-task” ou “off-task”, o tempo de permanência na tarefa

poderá ser ilimitado, mas a utilização eficaz do tempo pelo aluno para a realização da

tarefa é nula. Apenas o tempo de ensino associado ao tempo de empenhamento, ao

tempo da tarefa ―in-task”, potencia os resultados académicos. A matriz emocional é

relevante, levando a que o sujeito se comporte de modo específico, embrenhando-se na

realização da tarefa (Connor et al., 2009; Kilian, Hofer, Fries, & Kuhnle, 2010; Yazzie-

Mintze, 2009, 2010).

Objetivamente, o tempo na tarefa é o tempo em que o aluno está envolvido

diretamente na aprendizagem das atividades (Jonhs, Beverly, Crowley, & Guetzloe,

2008). Engloba a quantidade de tempo que os alunos dedicam às atividades de

aprendizagem e às tarefas na sala de aula, excluindo os comportamentos de

socialização, o “sonhar acordado” ou os comportamentos inadequados à sala de aula, ou

disruptivos (Cotton, 2000).

O tempo na tarefa pode ser entendido como mero ocupar dos alunos para serem

mantidos calmos e sossegados (Bowen, Zahner, Starnes, Rohacek, & Brazeal, 2003).

Porém, o tempo de empenhamento implica o desenvolvimento de mecanismos

intrínsecos ao sujeito, advindos da realização de uma tarefa que em si mesma gratifica o

sujeito, não sendo necessárias recompensas externas. Ocupar não é empenhar (Bowen et

al., 2003).

A insistência externa, sistemática, por parte do professor, para que o aluno

permaneça na tarefa a qualquer preço, pode ter um efeito detrimental, pois pode levar o

aluno ao simular da participação, afetando assim a taxa de empenhamento cognitivo e

emocional, com repercussão nos resultados académicos (Slavin, 2003).

O tempo na tarefa e a respetiva taxa de empenhamento podem ser uma medida

insuficiente para determinar o nível de empenhamento, pois os resultados académicos

poderão não refletir o expectável, embora a literatura considere o tempo na tarefa e a

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taxa de empenhamento como preditores dos resultados académicos (Connor et al., 2009;

Karweit & Slavin, 1980; Cairns & Dyson, 2005; Munns, 2004; Yazzie-Mintz, 2009):

1) o aluno pode estar na tarefa e não estar empenhado;

2) o aluno pode estar na tarefa por ter determinadas expectativas, por uma

recompensa, pelo cumprimento da mesma, pela dificuldade na tarefa ser

motivo de inquietação;

3) o aluno pode permanecer muito tempo na tarefa e não estar empenhado,

enquanto outro está pouco tempo com elevado nível de empenhamento;

4) o aluno não permanece na tarefa por desajuste da mesma;

5) o aluno permanece na tarefa por modelagem;

6) o aluno pode não possuir as competências necessárias para a execução

da tarefa e permanece pouco tempo na mesma, não significando o

cumprimento da tarefa;

7) o aluno pode não ter a capacidade de autorregular os seus

comportamentos sistematicamente, conduzindo o observador a registar o

aluno fora da tarefa;

8) o aluno não está na tarefa, devido ao modelo de gestão utilizado na sala

de aula.

Para que o tempo na tarefa aconteça de modo persistente e continuado, é

relevante que sejam observadas as seguintes condições, segundo Cairns e Dyson (2005):

(1) oportunidade – implica espaço e equipamento adequados e a perceção de que aquela

é a situação e a circunstância propícia para o sujeito se empenhar; (2) necessidade –

interiorização de que há necessidade de realizar a tarefa por causas intrínsecas ao

próprio indivíduo ou por motivações externas; (3) propinquidade – consciência de que à

sua volta os pares estão envolvidos nas tarefas, provocando uma modelação de

comportamentos; (4) equilíbrio emocional – não é um castigo ou uma violência fazer a

tarefa, mas algo importante, devendo ser-lhe devotados tempo e energia; (5) sagacidade

– perceção da atividade como algo que é um possível desafio que estimula as

capacidades e projeta para necessidades futuras; (6) praticabilidade – a tarefa a realizar

não é apenas mais uma tarefa, mas uma tarefa com aplicações futuras; (7) segurança –

confiança nas capacidades próprias, com a convicção da possibilidade de realização da

tarefa, ainda que com consciência das dificuldades inerentes; (8) prazer – a tarefa é

agradável para os alunos e não necessariamente para o professor, não podendo ser uma

tarefa para ocupar o tempo.

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As categorias “aluno na tarefa” ou “aluno fora da tarefa” estão diretamente

associadas ao tempo de empenhamento, podendo ser percecionadas através de

exteriorizações comportamentais do aluno: empenhado na tarefa (e.g., ler, escrever),

gerindo a tarefa (e.g., recolher material, afiar lápis, começar determinada rotina, porque

acabou o trabalho, ouvir o professor sobre o que fazer a seguir), em situação de

avaliação formal (e.g., realização de trabalhos para avaliação), distraído (e.g., “sonhar

acordado”, falar sem um objetivo, cantarolar) à espera (e.g., à espera para falar ou para

que seja atendido pelo professor ou para que lhe seja dada uma outra atividade), a passar

tempo (fazer um trabalho sugerido pelo professor ou pelo aluno, mas sem um objetivo

bem esclarecido, o que é diferente de “à espera” ou de “empenhado na tarefa”), fora da

sala (é sugerido ao aluno que saia da aula com um objetivo específico ou por um motivo

imperioso) (McPake et al., 1999). Saliente-se que muitas vezes a identificação das

categorias “aluno na tarefa” e “aluno fora da tarefa” poderá ser ambígua (Karweit &

Slavin, 1980).

De acordo com a literatura, os comportamentos “fora da tarefa” podem incluir:

não acabar o trabalho da aula, adormecer/dormir, não estar preparado para responder,

não seguir as instruções ou adotar comportamentos disruptivos (e.g., falar alto, distrair

os outros alunos, levantar-se do lugar, falar inapropriadamente). São apontados ainda

outros tipos de comportamento que não se encontram tipificados numa categoria

específica: olhar para a janela para ver o que se passa fora da sala de aula, não prestar

atenção, etc. (Allday & Pakurar, 2007; Greenwood, Horton, & Utley, 2002).

Os comportamentos do “aluno na tarefa” aparecem também elencados na

literatura: olhar na direção da atividade do professor, ouvir atentamente as instruções do

professor com vista à prossecução da tarefa, respondendo verbalmente (respostas orais

ou por escrito), colocando questões sobre as instruções, anuindo ou negando (respostas

motoras), seguindo as instruções, orientando-se adequadamente para a tarefa ou

professor, solicitando ajuda, levantando a mão e ainda ler, escrever, falar, ouvir,

desenhar, usar equipamento/materiais ou usar computador (Allday & Pakurar, 2007;

Gettinger, 1985; Jonhs et al., 2008; McPake et al., 1999).

De acordo com a literatura, a definição da categoria “comportamento adequado

para a tarefa” depende da tarefa que está a ser realizada, das regras pré-estabelecidas,

dos objetivos a atingir e da dinâmica que se estabelece na sala de aula. A categoria

“outra resposta” poderá incluir comportamentos que não se relacionam diretamente com

a tarefa, mas que também não se enquadram na categoria “aluno na tarefa”, podendo

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aproximar-se da categoria “gerir a tarefa” (e.g., afiar um lápis, ir buscar materiais a

outro lado da sala, ou fazer outro trabalho para colmatar falhas decorrentes da

aprendizagem). A literatura considera poder ser ambígua a tipificação dos

comportamentos “na tarefa” ou “fora da tarefa”, não só pelo número de

comportamentos que podem coocorrer, mas também quanto à forma e substância do

modo de se manifestarem (Karweit & Slavin, 1980).

As diferentes categorias associadas ao tempo na tarefa (e.g., aluno “na tarefa”,

“fora da tarefa”, “a gerir a tarefa”), sendo temporalmente mensuráveis, estão

diretamente relacionadas com o tempo de empenhamento. Deste modo, o tempo na

tarefa pode tornar-se num recurso para os professores e instituições de ensino: permite

inferir o envolvimento de cada aluno com o estudo/aprendizagem na sala de aula,

constitui uma medida indireta de generalização dos resultados académicos, e uma

medida direta do envolvimento no processo de aprendizagem, permite deduzir a

qualidade das aprendizagens, e avalia as relações significativas que os alunos têm com

as instituições (Jennings & Angelo, 2006b).

2.5 Tempo de transição

O tempo de transição é um segmento temporal, curto ou longo, que ocorre

quando determinado contexto presente se altera (Doyle, 1986). As transições podem

ocorrer inter e intratarefas, quando se muda de tarefa (e.g., passar do trabalho de

Matemática para a Língua Materna) ou quando dentro da mesma tarefa existe uma

atividade diferente (e.g., distribuição de folhas de exercícios durante a leitura em

silêncio ou quando os alunos trabalham numa determinada matéria) (Martella et al.,

2003).

O tempo de transição é um ponto crítico quando ocorre a passagem de uma

atividade para outra ou quando há uma mudança dentro da própria atividade. Para evitar

perdas de tempo aquando das transições entre e intratarefas, o professor deverá manter o

“momentum” - ausência de toda e qualquer forma de interrupção ou abrandamento que

quebre o desenvolvimento da atividade, desde que esta se inicia (Arlin, 1979; Lee,

2006; Slavin, 2003).

A gestão da sala de aula, potenciadora de bons resultados académicos, implica a

organização de todo o trabalho e o desenvolvimento de competências dos alunos para

que permaneçam empenhados o mais tempo possível em todas as atividades. Uma

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gestão ineficaz do tempo de transição pode colocar em causa a manutenção do

envolvimento dos alunos nas tarefas que devem realizar. A passagem de uma atividade

para outra pode ser feita sinuosamente como se de uma atividade decorresse

inevitavelmente outra, abruptamente, ou de modo descontínuo/ intermitente, podendo

criar o caos na sala de aula, despoletando comportamentos disruptivos, colocando o(s)

aluno(s) fora da tarefa, sendo necessária a intervenção do professor (Doyle, 1980).

Quando o tempo de transição é usado ineficazmente, pode alterar o

“momentum” e o estado de “flow”, quebrando o empenhamento do aluno na tarefa,

alterando o tempo na tarefa. Quando o tempo de transição é usado eficientemente, seja

entre seja intratarefas, o tempo académico de aprendizagem poderá melhorar

significativamente (Lee, 2006).

2.6 Tempo académico de aprendizagem

O tempo académico de aprendizagem pode ser sintetizado do seguinte modo: (1)

tempo em que os alunos estão empenhados em tarefas académicas, (2) rigorosamente

alinhadas com o currículo e adequadas aos objetivos que se pretende que os alunos

atinjam, (3) alcançando uma elevada taxa de sucesso: ponto máximo de apropriação de

determinado conteúdo pelo aluno, onde o erro surge devido ao acaso (Berliner, 2007;

Fisher et al, 1981; Gage & Berliner, 1992; Goodman, 1990; Reynolds & Gutkin, 1985;

Stallings, Johnson, & Goodman, 1986). Saliente-se que o conceito “elevada taxa de

sucesso”, subjacente ao nível de apropriação de um conteúdo por um aluno, implica que

o aluno realize a tarefa sem erros, excetuando erros por mera distração que não

ocorreriam numa segunda vez, aquando da repetição da tarefa. A taxa de sucesso pouco

elevada será sempre perniciosa para a aprendizagem (Denham & Lieberman, 1980).

A literatura estabelece relações entre o tempo de ensino e a aprendizagem dos

alunos com vista ao sucesso académico, identificando vários fatores que se inter-

relacionam (Quadro 1): (1) a quantidade de tempo alocado para o ensino; (2) a

qualidade do tempo de ensino onde este pode ter lugar (escola ou mesmo a casa do

aluno); (3) o tempo de empenhamento; e (4) o tempo necessário (e.g., atitude face à

aprendizagem, desenvolvimento intelectual e etário). A maximização da interação

destes fatores promove o tempo académico de aprendizagem, também denominado

tempo produtivo de aprendizagem.

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Quadro 1 – Composição do tempo académico de aprendizagem

Fonte: Adaptado de Virginia State Department of Education (1992)

O conceito de tempo académico de aprendizagem (academic learning time),

emergiu da investigação realizada nos anos 70 pela “Commission for Teacher

Preparation and Licensing”, com o intuito de “identify teaching activity and classroom

conditions that foster learning an elementary schools”15

(Fisher et al., 1980, p. 7). Este

conceito associa o comportamento do aluno na sala de aula ao seu empenhamento e à

aprendizagem realizada. Fisher et al. (citado em Goodman, 1990, p. 31) define tempo

académico de aprendizagem como “the amount of time a student spends engaged in an

academic task that […] can perform with high success”16

.

Esta investigação, realizada pela “Commission for Teacher Preparation and

Licensing”, denominada “Beginning Teacher Evaluations Study” (BTES), desenvolveu-

se por um período de 6 anos, em 3 fases, constatando-se que: (1) a quantidade de tempo

alocado pelo professor ao ensino encontra-se positivamente associada à aprendizagem

desses conteúdos; (2) a quantidade de tempo em que os alunos estão empenhados na

tarefa relaciona-se diretamente com a aprendizagem; (3) a quantidade de tempo para a

leitura e para a Matemática está diretamente relacionada com a aprendizagem nas outras

áreas (Denham & Lieberman, 1980; Fisher et al., 1978). A investigação realizada no

âmbito do BTES demonstra que, por dia, de 50 minutos de ensino de leitura, apenas

cerca de 4 minutos (8%) constituem tempo de empenhamento com um elevado nível de

sucesso (Silva, 2007).

15 “identificar o tipo de ensino do professor e as condições da sala de aula que promovem a aprendizagem nas escolas do 1º Ciclo”. 16 “a quantidade de tempo que um aluno está empenhado numa tarefa escolar […] a qual pode ser realizada com um elevado nível de sucesso”. Saliente-se, no entanto, que o conceito sofre algumas subtilezas de interpretação, podendo ser encontradas definições

semelhantes, apenas com diferente projeção relativamente ao sucesso: “Academic Learning Time (ALT) was defined as the amount

of time a student spends engaged in an academic task that s/he can perform with medium to high success.” (National Center on Time & Learning, 2010, p. 3).

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Berliner (1990) perfilha a ideia de tempo académico de aprendizagem que

emergiu no âmbito do BTES, considerando o tempo académico de aprendizagem um

nível temporal complexo, visto englobar o tempo alocado e o tempo de empenhamento

numa tarefa de nível adequado, devendo o alinhamento da tarefa estar de acordo com o

currículo que é avaliado e possibilitando ao aluno a obtenção de uma elevada taxa de

sucesso. O aluno atinge uma elevada taxa de sucesso, quando responde corretamente,

qualquer que seja a atividade proposta, entre 70% a 90% da atividade; a taxa de sucesso

é considerada baixa se o aluno apenas responde corretamente entre 20% a 30% da

atividade.

A conceptualização do tempo académico de aprendizagem apresenta

características que lhe conferem credibilidade e adequabilidade à problemática do

ensino, da aprendizagem e do sucesso académico, pois é um conceito preciso, objetivo,

mas abrangente e passível de ser medido: (1) é um conceito rigoroso, com explicitação

do seu conteúdo; (2) permite que seja utilizado em competências mais restritas (e.g.,

multiplicação com dois dígitos, descodificação de palavras multissilábicas; e (3) ao

incluir a “elevada taxa de sucesso” permite que a “habilidade” e a “qualidade”, variáveis

do modelo de Carroll (1963, 1985, 1989) não quantificáveis por via do tempo, possam

agora ser sujeitas a uma métrica temporal (National Center on Time & Learning, 2010).

O tempo académico de aprendizagem está diretamente associado à gestão eficaz

da sala de aula, englobando tempo alocado, qualidade do tempo de ensino, tempo de

empenhamento e tempo necessário, sendo possível identificar sinais vitais de uma

gestão maximizadora do TAA: (1) tempo despendido qualitativa e quantitativamente de

modo eficaz no ensino para se atingir determinado objetivo, ocorrendo posterior

avaliação do que foi ensinado. O professor avalia a realização do que foi ensinado, de

acordo com os objetivos pré-estabelecidos; caso contrário, em vez de ser avaliado o que

foi realmente ensinado, é eventualmente avaliada a inteligência do aluno; (2)

envolvimento do aluno na tarefa, sendo disponibilizado o tempo necessário para o aluno

fazer as aprendizagens; (3) percentagem de sucesso que o aluno atinge nas atividades

realizadas na sala de aula, ao longo do ano escolar, a qual é preditora do sucesso no

final do ano letivo (MacIIrath & Huitt, 1995).

Quando o aluno está empenhado na tarefa, experienciando um elevado sucesso,

quando dispõe do tempo necessário para aprender, quando existe uma adequação do

estilo do professor ao aluno, concomitantemente com uma eficaz estruturação das

atividades, é expectável que o tempo académico de aprendizagem seja maximizado

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(Echevarria et al., 2004; Henao, 2011; Virginia State Department of Education, 1992).

O trabalho de casa pode ser uma medida para aumentar o tempo académico de

aprendizagem, pois o aluno tem a possibilidade de trabalhar individualmente, após ter

feito as aprendizagens necessárias, e ter tido “feedback” sobre a realização das

atividades na sala de aula (Wiley & Harnischfeger, 1974).

De acordo com a literatura, o tempo académico de aprendizagem pode não ir além

de 60% do tempo total alocado para uma aula (Berliner, 2007). Supondo que um aluno

apresenta uma taxa de empenhamento de 80% na realização de uma tarefa escolar, o

que é já considerado pela literatura uma taxa de empenhamento elevada, o tempo

académico de aprendizagem ver-se-á restringido a 60% do tempo de empenhamento

(Berliner, 2007)17

.

Deste modo, será possível afirmar que, da realização de uma aula de 90 minutos,

com a ocorrência de perdas de tempo em situações diversas (e.g., tarefas

administrativas, passagem de alunos de umas salas para as outras, ineficiência dos

meios audiovisuais), ocorreria um tempo académico de aprendizagem de 43 minutos

(47%), o que implica perdas de tempo de 53% (Figura 3).

Figura 3 - Tempo académico de aprendizagem (43mn)

Saliente-se que, assumindo a influência de outras variáveis sobre o

aproveitamento dos alunos (e.g., autoeficácia, as estruturas escolares, os equipamentos

tecnológicos), o tipo de instrução realizada pelo professor também afeta o ensino e

17 A investigação demonstra que há uma relação direta entre a eficácia do professor na gestão da sala de aula (qualidade do tempo de

ensino), o tempo alocado à realização de uma tarefa e o tempo de empenhamento do aluno (Hamacheck, 1994). Ainda que o tempo de empenhamento varie de aluno para aluno, há estudos que apontam para um tempo de empenhamento dos alunos na sala de aula

entre os 50% e os 90% (Gettinger, 1985). Os professores com uma otimização da gestão da sala de aula atingem níveis de

empenhamento dos alunos entre os 75% e os 90%, sendo considerado um elevado nível de empenhamento (Hamacheck, 1994). Henao (2011) refere níveis de empenhamento acima dos 90%.

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reflete-se no tempo académico de aprendizagem, o qual por sua vez influencia

resultados escolares (Gage & Berliner, 1992; Yazzie-Mintz, 2009).

A monitorização do trabalho individual, o acesso rápido à informação por parte

dos alunos para a realização das tarefas, a diversidade de material de trabalho, e a sua

adequação aos objetivos de ensino, e a minimização de comportamentos disruptivos,

operacionalizados em consonância com as características dos alunos, e os objetivos a

atingir, potenciarão o tempo académico de aprendizagem (Gage & Berliner, 1992).

O objetivo essencial do ensino é, na perspetiva que aqui se desenvolve, a

maximização do tempo académico de aprendizagem. Quando existe um tempo

académico de aprendizagem consistente, aumentar a quantidade de tempo não origina

por si só melhores resultados académicos. Adequar o tempo, porém, maximizando o seu

aproveitamento em qualidade, potencia melhores resultados académicos (Aronson,

Zimmerman, & Carlos, 1998; Berliner, 2007). A ocorrência permanente de perdas

sucessivas de tempo poderá reduzir significativamente, quer em quantidade, quer em

qualidade, o tempo académico de aprendizagem, o que terá repercussão no

aproveitamento dos alunos.

2.7 Tempo morto

O tempo morto refere-se aos períodos em que não existe a expectativa de ser

realizada aprendizagem, pois, de algum modo, o professor falhou na gestão do tempo, o

que poderá frustrar as expectativas de aprendizagem do aluno (Cotton, 2000). Acresce

ainda que o tempo morto impede o “continuum” inter ou intra-atividades, pois aquele

lapso temporal, sendo tempo inerte, pode desenvolver comportamentos desadequados,

obrigando o professor a agir precipitadamente.

Quando o tempo morto ocorre, o aluno poder-se-á encontrar na tarefa, mas à

realização da mesma não subjazem princípios que motivem e o aluno não compreenderá

qual o objetivo da realização da tarefa. Deste modo, a resposta comportamental que o

aluno manifesta, quando a tarefa lhe é proposta, é um estar na tarefa de forma

desinteressada ou uma ausência total da tarefa, sem qualquer envolvimento. O tempo

morto frustra as expectativas dos alunos, impedindo o “continuum” da atividade,

diminuindo ou aniquilando o estado de “flow”.

Quando o tempo morto acontece é pertinente a distinção entre “in-task” (o aluno

encontra-se imerso na tarefa), e “on-task”: o aluno está na tarefa, mas com ausência de

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envolvimento, não sendo expectável a concretização de aprendizagem. Em ambas as

situações o aluno está na tarefa, mas quando o aluno se encontra “on-task” de algum

modo a gestão do tempo está a ser inoperacional, tempo morto, pois o aluno não

persegue os objetivos que deveria para a concretização da tarefa.

2.8 Interrupções

A interrupção implica a cessação, relativamente inesperada no tempo da

continuidade do curso da atividade realizada na sala de aula. As interrupções podem ter

causalidade interna por vontade dos atores educativos (professor e alunos) ou externa

por fatores alheios à gestão da sala de aula. Estima-se que as interrupções internas no

decurso de uma aula representem 90% do total das interrupções, ainda que sejam

relativamente curtas, enquanto as externas atingirão os 10% do total das interrupções,

podendo ser significativamente mais longas (Doyle, 1986; Lopes, 2009). As

interrupções inferiores a 15 segundos parecem não interferir diretamente com o decurso

da aula, sobretudo quando se relacionam com frases curtas cujo objetivo é dar

seguimento a uma atividade (Connor, Morrison et al., 2009).

Um caso específico de interrupção ao decurso normal de determinada atividade

na sala de aula é a intervenção a destempo. A intervenção a destempo é aquela que

acontece fora do tempo adequado à prossecução dos objetivos de determinada atividade,

prejudicando o tempo académico de aprendizagem.

A intervenção a destempo pode ser analisada, considerando os dois agentes

fundamentais na sala de aula – professor e aluno(s). O professor intervém a destempo

(1) quando a situação (e.g., conflituosa, de incompreensão da matéria) já foi sanada ou

(2) quando antecipa conclusões ou soluções que o próprio aluno deveria inferir (Gage &

Berliner, 1992). A intervenção a destempo, relativamente ao aluno, ocorre quando este

intervém num momento desadequado, tornando-se numa interrupção extemporânea,

relativamente à situação/matéria em questão.

2.9 Tempo de espera

O tempo de espera é um compasso temporal em que o silêncio (ou o ruído) se

instala, permitindo a reflexão do aluno ou a solicitação de esclarecimento(s) de modo a

interiorizar/ajustar o seu pensamento à realização da tarefa a concretizar. A partir do seu

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conhecimento ativo/passivo, o aluno adequa a sua reflexão, ou espera indicações do

professor a fim de responder corretamente (Riley, 1986; Tobin, 1987).

A sala de aula implica espaços de liberdade onde os atos elocutórios prevalecem,

favorecendo também espaços de silêncio, em que o tempo se torna silêncio, e a espera

acontece como tempo de espera de resposta - “wait-time”: é a duração das pausas que

ocorrem entre as interações verbais quando os alunos e professor interagem, esperando

o professor a resposta do aluno (Berliner, 1990).

Este tempo de breves instantes para respostas simples (até 3 segundos, ou,

eventualmente, um pouco mais de tempo), permite que o aluno reflita, pense (“think-

time”) e responda no seu tempo, que não é igual para todos os alunos, ainda que, neste

particular, a literatura seja contraditória. O professor usará da sua habilidade para

ponderar a necessidade da reformulação da questão, quando o aluno demora a

responder, podendo mesmo substituir a questão por outra que explicite a primeira. Na

eventualidade do aluno responder incorretamente poderá o professor responder de forma

impessoal. O aluno terá tempo para pensar, refletir, sem receio de se expor perante os

pares. Consequentemente, o “momentum” da aula manter-se-á, sem que ocorram perdas

de tempo (Schweinle, Reisetter, & Stokes, 2009).

O recurso por parte do professor ao tempo de espera de resposta depende dos

objetivos a atingir (e.g., automatismo, interpretação) e das características do aluno (e.g.,

ansioso, inseguro, nervoso, instável, calmo, seguro).

Verifica-se que na maior parte das salas de aula, o tempo antes e depois da

resposta do aluno é inferior a um segundo, não permitindo reflexão nem adequação dos

conhecimentos ao solicitado. A literatura refere que tal acontece por variados motivos e

constrangimentos: (1) intensidade das mensagens orais no quotidiano, sendo difícil

encontrar espaços de vazio cujo silêncio seja fecundo; deste modo, o silêncio causa

embaraço ao professor e ao aluno, pois se o primeiro espera ver a sua competência

reforçada pela resposta dada, o segundo, o aluno, confronta-se com a necessidade de

uma rápida performance, para que o silêncio não cause ruído na comunicação; (2)

mesmo os professores conscientes da utilidade e da necessidade do tempo de espera

subestimam a sua utilização, percecionando-o como tempo improdutivo; (3) ainda que

seja dado ao aluno este compasso de espera para refletir, o professor não tem a certeza

de que o aluno esteja a elaborar e a proceder ao raciocínio correto, ou se não percebeu,

ou se não estudou a matéria, ou se demora apenas para que o professor questione outro

aluno; e (4) um compasso de espera mais longo poderá levar à quebra do ―momentum”

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da aula, abrindo espaço à desatenção e à indisciplina (Tobin, 1986; Tobin, 1987; Tobin

& Capie, 1983).

Sendo importante o tempo de espera, este deverá ser utilizado com parcimónia e

adequabilidade, indo de um a três segundos ou além deste tempo. Um tempo de espera

demasiado longo para questões com um menor grau de dificuldade poderá diminuir a

intensidade e a qualidade das prestações dos alunos. Um tempo de espera mais longo

poderá ser adequado, aumentando a qualidade das respostas, para questões de

complexidade média ou elevada, ou para uma mistura dos dois tipos de questões

(Hamacheck, 1994; Rowe, 1986; Tobin & Capie, 1983).

Saliente-se que o tempo de espera em que os alunos têm de esperar para

poderem receber “feedback” ou indicações para prosseguir as atividades (Berliner,

1990; Eggen & Kauchack, 1994; Hamacheck, 1994) pode originar ineficácia da gestão

da sala de aula, caso o professor não possua as estratégias para dar resposta às

necessidades de ensino dos alunos.

Um método muito utilizado pelos professores na sala de aula é o questionamento

dos alunos, individualmente ou para o grupo turma, antes mesmo de ser colocada a

questão, com a possibilidade de haver voluntários para responder, levantando a mão.

Olvera e Walkup (2012) consideram que estas práticas não permitem o tempo

necessário de espera, provocando o desinteresse. Quando o professor coloca uma

questão para toda a turma, todos os alunos deverão estar preparados para responder e

não apenas os voluntários: o aluno terá de saber que, aleatoriamente, poderá ser ele a

responder, devendo ser dado o tempo necessário para reflexão; quando coloca a questão

apenas a um aluno, deverá ponderar o seu objetivo, o aluno em causa, e o tempo

necessário para a resposta como resultado da reflexão, pois será mais fácil declinar

refletir do que o contrário. Como referem Olvera e Walkup (2012, p. 3), “Three or more

seconds of wait time allows student responses to reflect an increased correctness while

the typical „I don‟t know‟ responses decrease”18

.

A literatura considera que a utilização eficaz do tempo de espera de resposta

poderá permitir tornar as aulas mais tranquilas, aumentar a interação voluntária dos

alunos, mesmo daqueles que habitualmente não respondem ou não participam, diminuir

o fosso entre os alunos mais participativos e ativos e os menos participativos e menos

ativos, melhorar a qualidade das respostas, estimular a iniciativa do aluno para

18 “Três ou mais segundos de tempo de espera permite que as respostas dos alunos projetem um aumento da correção das mesmas, enquanto a típica resposta „não sei‟ diminui”

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questionar oralmente, promover a capacidade de inferir a partir de evidências, aumentar

a qualidade da participação, e possibilitar a participação dos alunos com baixo

rendimento académico (Berliner, 1990; Hamacheck, 1994; Tobin, 1987).

2.10 Ritmo de ensino

O ritmo de ensino diz respeito à cadência, ou à rapidez, maior ou menor, com

que um determinado conteúdo ou atividade de aprendizagem é apresentado aos alunos

(Anderson, 1985; Echevarria et al., 2004; Fuller, 2010). O ritmo de ensino (lento,

moderado ou rápido) parece ter relevância na atenção dos alunos à lição e,

consequentemente, na sua aprendizagem (Deed, 2008).

Se, por um lado, a literatura demonstra que um ritmo de ensino moderado a

rápido pode fomentar mais a atenção dos alunos do que um baixo ritmo, por outro,

também revela que quando é fixado aos alunos um tempo limite para a resolução de

determinada atividade com o objetivo de impor um determinado ritmo, a qualidade das

respostas pode diminuir (Grobe & Pettibone, 1975).

De acordo com a literatura, para atingir uma elevada taxa de sucesso, o professor

deverá imprimir o ritmo que lhe parecer mais adequado nas diversas circunstâncias do

dia a dia e do ano escolar, pois o nível de sucesso na apropriação de um determinado

conteúdo poderá exigir um ritmo de ensino mais ou menos rápido, dependendo da

complexidade da tarefa e do nível provável de resposta dos alunos (Marliave & Filby,

1985).

Contudo, para certos autores (e.g., Heward, 1994; Skinner, Fletcher, &

Henington, 1996), o tempo que o aluno demora a realizar uma tarefa é menos

importante do que a quantidade de respostas corretas, ainda que a manutenção de uma

atenção sustentada possa decrescer com o passar do tempo, o que poderá acarretar a

diminuição do número de respostas corretas (Fuller, 2010; Warm, 1984). Segundo a

literatura, quando o indivíduo tem a possibilidade de autocontrolar a realização de uma

determinada tarefa, impondo o seu próprio ritmo, o desempenho tende a ser melhor,

estando menos sujeito a perdas de tempo por efeito da falta de atenção (Fuller, 2010).

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3. Tempo e ensino

Tempo e ensino são indissociáveis, porquanto o ensino se realiza num

determinado tempo (plataforma transversal de qualquer atividade), embora esta

associação nem sempre seja refletida no quotidiano das salas de aula (Berliner, 1990)19

.

A partir do momento em que se institucionalizou a sala de aula como o espaço

destinado à aprendizagem escolar formal, ao serviço de uma comunidade, houve

necessidade de organizar a escola e o tempo, institucionalizando-o e organizando-o para

ser otimizado (District Performance Auditor, 2007).

A investigação apresenta diferentes posicionamentos sobre a importância da

escola e, consequentemente, do tempo de ensino na vida dos alunos, sendo afirmado

mesmo que a “quantity of schooling did not seem to have a substantial impact on

academic achievement of students”20

(Kolby, Partridge, & O‟Reilly, 2010, p. 16).

Coleman et al. (1966) consideram que as horas de escolaridade, o número de dias ou o

absentismo escolar não constituem um indicador relevante do aproveitamento dos

alunos. Contudo, estudos como os de Coleman não foram analisados nem interpretados

com o objetivo de quantificar o efeito do tempo, nomeadamente, o efeito da quantidade

de tempo passado na escola. Consequentemente, não foi possível retirar deste tipo de

estudos conclusões sobre a importância do tempo como uma variável preditora dos

resultados académicos (Wiley, 1976; Wiley & Harnischfeger, 1974).

Nas últimas décadas, o tempo de ensino, anteriormente concebido apenas como

uma mera distribuição administrativa de dias, horas e meses, passou a ser percecionado

como uma possível variável preditora dos resultados académicos dos alunos,

principalmente devido ao trabalho de Carroll (1963).

Segundo Carroll, não existe um tempo fixo para fazer as aprendizagens. O

tempo é flexível, imanente às características do sujeito, sendo favorável à

aprendizagem, quando é disponibilizado o tempo necessário para que o aluno interiorize

determinado conteúdo. Carroll perceciona o aluno como pessoa que é capaz de

aprender, mediante um ensino adequado, desde que se verifique uma conjugação de

fatores extrínsecos e intrínsecos, especificamente oportunidade para aprender e

capacidade volitiva, força de vontade, aptidão e habilidade (Goodman, 1990).

19 A investigação da relação entre tempo e aprendizagem decorre dos anos 50, no ramo industrial e militar, mas principalmente neste

último. O setor militar estava interessado em perceber quais as competências que não eram esquecidas depois de um período de

ausência de treino, e quanto tempo de treino seria necessário para readquirir as competências necessárias (McCombs et al., 2011). 20 “os anos de escolarização parecem não ter um impacto substancial no aproveitamento académico dos estudantes”.

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Realçando a diversidade dos indivíduos, Carroll faz sobressair o tempo de

aprendizagem e não a incapacidade dos indivíduos como fator determinante para a

aprendizagem dos conteúdos (Berliner, 1990).

O modelo de Carroll (1963, 1985, 1989) assume que o grau de aprendizagem

dos alunos é função de um rácio (Berliner, 1990; Carroll, 1963; Fisher et al., 1978) em

que o numerador é o tempo gasto na aprendizagem, englobando:

(1) oportunidade que é dada ao sujeito para aprender, ou seja, a quantidade de

tempo alocado de que o aluno dispõe, podendo ou não aproveitar esse tempo;

(2) perseverança, anteriormente muitas vezes percecionada como motivação. É

concebida como sendo a quantidade de tempo que o aluno pretende dedicar ativamente

a uma determinada aprendizagem, ou seja, o tempo que o aluno está disposto a

empenhar-se na realização da tarefa. Esta variável comportamental passível de ser

medida, permite quantificar o tempo que um aluno está disposto a despender na

aprendizagem, na realização de uma tarefa ou nos objetivos a atingir. A perseverança

depende da autonomia da vontade do aluno e não é algo que lhe é exterior e imposto

(Berliner, 1990).

Quando um aluno está disposto a ser perseverante em relação às suas

aprendizagens, aumentar o tempo de empenhamento (isto é, o tempo na tarefa) não irá

aumentar a taxa de aprendizagem nem as aprendizagens que poderá fazer (Millman,

Bieger, Klag, & Pine, 1983).

No denominador do rácio do modelo de aprendizagem de Carroll encontra-se o

tempo necessário para realizar a aprendizagem, em função de:

(1) aptidão que o sujeito possui, isto é, a quantidade de tempo, o tempo para

aprender de que um indivíduo necessita para fazer determinada aprendizagem até um

determinado nível, sendo utilizado um ensino eficaz (Berliner, 1990; Fisher, &

Berliner, 1985). Os alunos que realizam as atividades dentro do tempo estipulado

poderão necessitar de tarefas que estimulem e preencham a sua necessidade de

conhecimento. Assim, as tarefas deverão ser adequadas aos alunos e aos conteúdos a

trabalhar. A literatura considera que poderá mesmo haver necessidade de tempo

adicional para determinadas disciplinas (e.g., Matemática) (Elliot et al., 1996);

(2) habilidade para aprender que, por vezes, é identificada com inteligência

(Garsadal & Ydesen, 2009; Goodman, 1990)

A competência linguística e a capacidade de verbalização poderão influenciar a

necessidade de uma maior ou menor quantidade de tempo para a concretização da

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aprendizagem. A comunicação que se estabelece dentro de um mesmo quadro

conceptual com recurso a um código linguístico compreensível para professor e aluno

poderá diminuir o tempo necessário para a aprendizagem e quanto maior flexibilidade o

aluno possuir em se adaptar a estratégias e métodos de ensino e quantas mais

competências de aprendizagem tiver, mais facilmente acede ao conhecimento, fazendo

novas aprendizagens e, consequentemente, demorando menos tempo;

(3) qualidade do ensino – grau e modo como o ensino é ministrado, não sendo

nem a mais nem a menos do que aquele que a habilidade dos alunos exige: “Carroll

emphasizes structural aspects of instruction such as knowledge of objectives, access to

content, and carefully planned and clearly specified instructional events”21

(Reeves,

1997, p. 2).

O modelo de Carroll é geralmente apresentado na literatura do seguinte modo:

Os cinco elementos, que fazem parte das duas categorias sugeridas por Carroll,

podem ser considerados características: (1) imanentes ao sujeito (sobre as quais o

professor tem pouca influência, concretamente, aptidão e habilidade para compreender o

que é ensinado); (2) externas ao sujeito (tempo como oportunidade para aprender/tempo

alocado e qualidade do ensino), dependentes do professor, da instituição de ensino, do

sistema educativo e da “policy sandbox” (Crawford, 2008, p. 253), isto é, da conjuntura

sociopolítica predominante e (3) de interface (perseverança), pois resultam da interação

entre as características imanentes e as características externas ao sujeito (Elliot et al.,

1996).

Saliente-se que o modelo de Carroll (1963) quando relacionado com a gestão do

tempo da sala de aula, permite inferir associações entre o tempo, a organização e a

21

“Carroll enfatiza aspetos estruturantes da instrução tais como o conhecimento dos objetivos, o acesso ao conteúdo e a

planificação cuidada e clara dos conteúdos específicos a ensinar”.

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qualidade do ensino, potenciadoras da aprendizagem. A aprendizagem está associada à

ordem, pois numa sala de aula desordenada e sem regras de funcionamento dificilmente

ocorrerá aprendizagem. Prevalecendo um ambiente difuso, aumentam as probabilidades

de perdas de tempo de ensino, porquanto os agentes educativos desconhecem as funções

que devem desempenhar, bem como as tarefas que devem ser cumpridas.

Cumulativamente, a qualidade do ensino interfere nas aprendizagens, encontrando-se

intimamente ligada à gestão eficiente da sala de aula (Elliot et al., 1996). O tempo

(gasto e necessário) torna-se a mais-valia que deve ser otimizada para a realização de

aprendizagens sólidas e consistentes.

A quantidade de tempo que um aluno gasta na aprendizagem ou a quantidade de

tempo que deve ser alocada para a aprendizagem, depende do tempo de que o aluno

necessita para atingir o objetivo previamente estabelecido, sendo possível ajustar as

categorias de tempo de aprendizagem (Gettinger, 1985). Não alocar o tempo necessário,

implica subtrair tempo de oportunidade para o aluno fazer as aprendizagens.

Conjugando a qualidade do ensino com a aptidão, a habilidade, a perseverança e a

oportunidade para aprender fornecida pelo sistema educativo, será possível deduzir

quanto tempo o aluno irá gastar, para fazer determinada aprendizagem. Bloom (1974a,

1974b) considera mesmo que 95% dos alunos poderão atingir elevados níveis de

aprendizagem se houver tempo como oportunidade para aprender e qualidade do ensino,

isto é, plasticidade/diversidade no modo como o tempo é utilizado, associado a um

ensino de qualidade22

(National Center on Time & Learning, 2010).

A possibilidade de utilizar o tempo como uma medida universal, permite

determinar se um aluno precisará porventura de três repetições ou de apenas uma para

fazer as aprendizagens, ou estabelecer comparações entre as oportunidades que são

dadas aos alunos para aprender (Anderson, 1985; Berliner, 2007).

O tempo subjaz a qualquer atividade humana, não sendo o processo de ensino e

de aprendizagem exceção. Como sublinha District Performance Auditor (2007, p. 3)

“research stronggly affirms that students that spend more time studying a subject

generally have higher achievement than students who spend less time”23

. A atitude do

aluno face à aprendizagem, a qualidade do ensino e a convicção de que o aluno atingiu

22 Bloom (1974a), partindo do modelo de Carroll, realçou as diferenças entre tempo alocado e tempo utilizado. Mesmo quando os

alunos têm o mesmo tempo alocado e a mesma qualidade de ensino, existirão alunos que aprendem e outros que ficam aquém do

esperado. A aptidão revela quanto tempo o aluno necessita para fazer determinada aprendizagem, mas não indica a capacidade do aluno para aprender, sendo possível estabelecer patamares de concretização/performance para determinado aluno (National Center

on time & Learning, 2010). 23 “a investigação afirma com segurança que os alunos que gastam mais tempo a estudar um conteúdo têm geralmente melhores resultados do que os alunos que gastam menos tempo”.

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os objetivos, são premissas que fundam a mestria, possibilitando a aprendizagem e o

ensino (Bloom, 1974a; 1974b; Warren, n. d.).

4. Tempo e resultados académicos

O tempo, muitas vezes apresentado como uma variável menor na literatura, é

encarado por alguns investigadores e instituições governamentais como fulcral no

processo de ensino (e.g., District Performance Auditor, 2007; Goodman, 1990; Kolby et

al., 2010; Liu et al., 2011; Ministério da Educação, 1993; Philipps, 1985; U.S.

Department of Education Website (ED. gov), 2001).

Nos trabalhos em que esta variável é considerada, verifica-se que aparece

sistematicamente associada aos resultados académicos dos alunos (e.g., Alfieri, Brooks,

Aldrich, & Tenenbaum, 2011; American Association of School Librarians et al., 2007;

Crawford, 2008; Lavy, 2010; Marcotte & Hansen, 2010; National Education

Commission on Time and Learning, 2005; Pennington, 2007; Berliner, 2007; Vannest

& Hagan-Burke, 2010; Vannest, Soares, Harrison, Brown, & Parker, 2009).

Alguns autores procederam à revisão exaustiva da literatura sobre a relação do

tempo de ensino e resultados académicos, incluindo investigações que suportavam,

negavam, que eram inconclusivas ou que verificaram ser a associação irrelevante.

Diversos estudos correlacionais constatam que a quantidade de tempo disponível

para o ensino está diretamente conectada com o rendimento dos alunos e com o

aproveitamento académico, verificando-se existir uma correlação positiva entre o tempo

alocado e os resultados académicos dos alunos. Nem todos os estudos, porém,

encontram tais correlações (Cotton & Savard, 1981). Em alguns estudos, por exemplo,

recomendava-se o aumento da quantidade de tempo de ensino, através da expansão do

dia escolar, do ano escolar e do trabalho de casa, como forma de melhorar os resultados

académicos. Porém, alguns autores referem que aumentos, entre 10% a 15%, podem não

produzir significativos desempenhos escolares (Wiley & Harnischfeger, 1974). Outros

estudos referem baixas correlações entre tempo alocado para a aprendizagem e o

aproveitamento do tempo dedicado ao ensino, sustentando que o tempo é apenas um

modesto preditor do aproveitamento académico dos alunos (Fredrick & Walberg, 1980;

Goodman, 1990; Zimmerman, 2001). Inclusivamente, alguma literatura refere que

existe pouca ou nenhuma relação entre o tempo alocado e os resultados académicos

(Aronson et al., 1998).

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55

Já o tempo na tarefa parece ser uma variável relevante para os resultados

académicos dos alunos (Caldwell, Huitt, & Graeber, 1982; Cotton, 2000; Cotton &

Savard, 1981; Haynes & Jenkins, 1986; Leinhardt, Zigmond, & Cooley, 1981; Wiley &

Harnischfeger, 1974). Esta relação deverá contudo ser cuidadosamente interpretada,

pois o tempo na tarefa poderá ser moderado pelas características do estudante, as

estratégias de ensino e o conteúdo que tem de ser ensinado/apreendido (Cotton, 2000).

O tempo na tarefa não é utilizado por todos os alunos do mesmo modo e a qualidade do

tempo na tarefa é relevante, dependendo de múltiplos fatores (e.g., interação do

professor com o aluno, trabalho individual do aluno (“seatwork‖), tarefa a realizar)

(Cotton, 2000).

De acordo com a literatura, o tempo na tarefa e o aproveitamento do aluno

apresentam uma relação consistente, parecendo ser o tempo na tarefa a variável com

maior impacto na aprendizagem (Cotton, 2000). No entanto, alguns investigadores

constataram a existência de problemas metodológicos em diversos estudos,

prejudicando a compreensão desta relação, nomeadamente no que diz respeito: (1) à

quantificação/mensuração das variáveis, (2) ao número e extensão das variáveis a

observar, (3) à atenção que o observador dispensa para a observação da interação dos

alunos e do tempo na tarefa, (4) à duração das variáveis, (5) ao número de dias e de

horas das observações, (6) às amostras dos alunos para as observações e (7) à própria

conceptualização do tempo na tarefa (Caldwell et al., 1982; Fredrick & Walberg, 1980;

Goodman, 1990; Karweit & Slavin, 1980, 1981, 1982).

Para obviar alguns dos problemas metodológicos encontrados, alguns autores

sugerem que se faça um maior número de observações e com maior extensão de tempo,

pois um estudo sobre a relação entre o tempo e o rendimento escolar poderá chegar a

conclusões de fiabilidade precária se houver escassez em quantidade de observações e

em quantidade de tempo (Karweit & Slavin, 1982). Inclusivamente, constata-se que não

há consistência de resultados relativamente ao tempo na tarefa nos diferentes estudos,

quer quanto aos anos de escolaridade em que são feitas as observações, quer quanto aos

conteúdos das aulas observadas (Karweit & Slavin, 1980). Todavia, a correlação

verificada entre tempo na tarefa, tempo de empenhamento, e resultados académicos é

ainda assim mais significativa do que a verificada entre tempo alocado e aproveitamento

dos alunos (Eggen & Kauchack, 1994; Cotton & Savard, 1981).

A variável tempo académico de aprendizagem (tempo em que o aluno está

empenhado numa tarefa adequada, realizando-a com elevado nível de sucesso) é a que

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56

evidencia uma relação estatisticamente significativa com os resultados académicos

(Aronson et al., 1998; Cotton, 2000).

5. A gestão do tempo na sala de aula

A utilização do tempo na sala de aula depende, em parte, tal como anteriormente

referenciado, da preparação do professor, da sua sensibilidade, da especificidade dos

conteúdos, do tipo de atividades, do saber-estar dos alunos24

, das suas vivências

familiares25

, do modelo de gestão que a escola pratica, das especificidades do espaço

físico, inclusivamente da preparação dos funcionários, e do meio social envolvente

(Blackmore, Bateman, Loughlin, O‟Mara, & Aranda, 2011; Brophy, 1986; Huitt, 2000;

Malmberg, Hagger, Burn, Mutton, & Collis, 2010; Sweller, Ayres, & Kalyuga, 2011;

Winn, Menlove, Rudd, & Zsiray, 1997).

Cotton (2003) considera que a gestão da sala de aula pelo professor está

intimamente ligada ao tipo de liderança do diretor da escola, influenciando os resultados

académicos. O tipo de liderança do diretor influencia a gestão da sala de aula do

professor, dando-lhe maior ou menor autonomia. Acresce ainda que cabe ao diretor

maximizar o tempo de ensino, diminuindo ao mínimo possível todo o tipo de

interrupções, com o máximo aproveitamento do tempo para o ensino, tendo como

objetivo prioritário o sucesso académico dos alunos (Darling-Hammond & Rothman,

2011; Leonard, 2001).

A gestão da sala de aula pode ser definida como “the use of rules and procedures

to maintain order […]. In this light, organizing classroom is the first step in effective

classroom management”26

(Elliot et al., 1996, p. 434). A ordem na sala de aula não

significa que os alunos não tenham uma participação ativa ou proativa, ou que esteja

estabelecida uma absoluta inflexibilidade relativamente aos assuntos ou estratégias a

adotar, ou a existência de um silêncio absoluto. Por vezes, confunde-se ordem com

disciplina versus indisciplina (Lopes & Santos, 2008; Lopes, 2009).

A existência de ordem na sala de aula poderá implicar disciplina, mas com vista

à organização do trabalho na sala de aula. Um ambiente de sala de aula organizado e

24 Lopes (2009, pp. 189-192) considera a sala de aula um “local público” com características de “multidimensionalidade”,

“simultaneidade”, “imediaticidade”, e “ imprevisibilidade”. 25 Os alunos chegam à escola cada vez mais menos desenvolvidos e predispostos para aprender, com menos regras trazidas de casa e

mais dispersos, com menos horas de sono, passando por dificuldades em acordar e manter o estado de vigília (Gibson et al., 2006). 26 “o uso de regras e de procedimentos para manter a ordem […]. No seguimento desta conceptualização, a organização da sala de aula é o primeiro passo para a gestão eficaz da sala de aula”.

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57

ordeiro implica que os professores e os alunos tenham intuído o que se pretende com a

atividade que se desenrola num determinado tempo e com determinado objetivo. Muitas

vezes, o estabelecimento de rotinas (e.g., chegar a tempo à sala de aula, entrar na sala

ordeiramente, pendurar casacos, distribuir ou colocar o material de trabalho em cima da

mesa) poderá evitar a desorganização, e comportamentos disruptivos que poderão

colocar em causa o ambiente tranquilo em que as aprendizagens deverão ocorrer

(Lopes, 2009).

A eficaz gestão do tempo de ensino visa a otimização da relação entre o aluno, a

tarefa a desenvolver pelo aluno e o ensino feito pelo professor. Para que tal aconteça,

será necessária a manutenção da ordem com a eficiente utilização de procedimentos

(e.g., tempo de transição entre tarefas minimizado, utilização de material relevante para

as aprendizagens, trabalhos de pares e de grupo, com possibilidade de correção

imediata) que podem minimizar comportamentos disruptivos (Oliver & Reschly, 2007).

Gerir o tempo na sala de aula implica que o professor seja eficaz na aplicação

das medidas necessárias e na utilização de estratégias adequadas que promovam e

otimizem as aprendizagens (Attenborough, 1993; Horne, 1980; Lopes & Santos, 2008).

Para tal, o professor pode optar por vários modelos de gestão de sala de aula, uns mais

centrados no professor, outros com maior enfoque no aluno, sendo que, qualquer que

seja o modelo assumido, a ineficaz gestão do tempo da sala de aula pode originar

problemas que prejudicam a aprendizagem dos alunos (Lopes & Santos, 2008).

Independentemente do modelo adotado para a operacionalização das atividades

na sala de aula, considerando o grupo turma ou as características dos alunos, o professor

dispõe de um tempo alocado, institucionalmente atribuído. Gerir este tempo (e.g., 90

minutos) é uma tarefa que exige polivalência do professor, bem como o conhecimento

do meio ambiente em que a sala de aula se enquadra e das idiossincrasias dos alunos,

sem esquecer o tipo de dinâmica que se objetiva utilizar para que o ensino aconteça e os

alunos aprendam (Doyle, 1986; Emmer & Stough, 2001; Good & Brophy, 2000;

Goodman, 1990; Wang, 1985).

Quando o tempo alocado é usado como tempo de ensino, ficam excluídas todas

as atividades que não se relacionam diretamente com o ensino, embora tal nem sempre

aconteça, pois ensinar implica gerir pessoas, estruturas organizacionais e conteúdos

programáticos, não podendo ser percecionado como uma mera “mechanization of time

Page 60: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

58

management in classrooms”27

(Brown & Saks, 1985, p. 128), registando-se diferenças

acentuadas no modo de gerir o tempo na sala de aula.

A literatura sugere uma relativa dispersão no modo como é utilizado o tempo

alocado ao ensino (McPake et al., 1999; Berliner, 2007).

Estima-se que o tempo de ensino, dependendo do tipo de organização dos

alunos, seja de cerca de 57% quando o professor trabalha com um aluno

individualmente, atinja os 78% quando trabalha em pequeno grupo, e diminua quando

trabalha com o grupo turma, atingindo, aproximadamente, 62%. O tempo remanescente

é ocupado com atividades diversas e com a gestão de comportamentos, sendo o grupo

turma o que obriga o professor a uma maior ocupação de tempo alocado com problemas

de gestão de comportamentos (aproximadamente 20%).

Por outro lado, no tempo alocado que é institucionalmente atribuído a uma

disciplina, o professor depara também com alunos com diferentes ritmos de

aprendizagem. Constata-se pois uma grande variabilidade entre o tempo gasto e o tempo

necessário, não sendo as turmas homogéneas no que diz respeito aos padrões de

aprendizagem (Brown & Saks, 1985; Carroll, 1963).

No sentido de otimizar o tempo de ensino, os professores tendem a adotar uma

considerável variedade de estratégias sobretudo relativamente aos alunos com

problemas (e.g., aproximação dos alunos relativamente ao professor, para uma fácil e

rápida monitorização; manutenção de contacto visual durante o período em que o

professor explica conteúdos relevantes para a aprendizagem; insistência na

comunicação e na verbalização dos conteúdos expostos; manifestação de apreço pelos

desempenhos positivos do aluno, premiando-o com sincero regozijo; recapitulação dos

assuntos e “feedback” atempado; exigência quer em relação à qualidade do trabalho,

quer em relação à quantidade; manutenção do “momentum”, evitando as interrupções

constantes; apreciação construtiva das falhas, sem deixar de as apontar; aceitação do

erro e da falha do aluno (“time error”) mesmo que pareça inaceitável, (Good, 1981). A

gestão eficaz do tempo na sala de aula não constrange os alunos, e possibilita-lhes

mesmo um tempo de erro. Através do erro, os alunos constatam deficiências e

constrangimentos, aprendem processos de autocorreção e experienciam a construção do

saber (Cotton & Savard, 1981).

27

“mecanização da gestão do tempo nas salas de aula”.

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59

A gestão do tempo na sala de aula não é apenas importante no que se refere ao

ensino, pois existem outras atividades que concorrem para o processo de aprendizagem,

obrigando a que o tempo não seja, na sua totalidade, dedicado ao ensino de conteúdos

específicos. Para além do ensino de conteúdos, o professor tem ainda que alocar tempo

à planificação/organização do trabalho com os alunos, à resolução de conflitos e à troca

de impressões com os alunos, sobre assuntos nem sempre diretamente relacionados com

os conteúdos a trabalhar/ensinar.

Ao otimizar a gestão do tempo na sala de aula, o professor potencia o tempo

académico de aprendizagem, isto é, o tempo despendido em tarefas académicas de

aprendizagem (ou seja, tarefas nas quais os alunos evidenciam um elevado nível de

empenhamento e nas quais atingem um elevado nível de sucesso) (Berliner, 2007;

ECONorthwest, 2008; Gage & Berliner, 1992; Goodman, 1990; Reynolds & Gutkin,

1985; Stallings et al., 1986).

Rendibilizar o tempo académico de aprendizagem, pressupõe: (1) aumentar o

tempo de ensino (e.g., através da pontualidade, da diminuição das interrupções e dos

tempos mortos, das transições modeladas entre e intratarefas); (2) promover o tempo de

empenhamento (e.g., por meio de exposições claras, focadas nos objetivos dos

conteúdos a aprender, de um ritmo adequado ao desenvolvimento das atividades, de

uma interação frequente com os alunos, no sentido de percecionar dificuldades, da

organização do espaço que permita atender todos os alunos); (3) maximizar o tempo

produtivo de aprendizagem (e.g., com recurso ao trabalho individual, ao “feedback”

imediato, à diagnose, à prescrição, à monitorização e à realização das atividades com

sucesso) (Cotton, 2000; Elliot et al., 1996).

Aparentemente, na sala de aula, existe apenas uma constante que é o tempo, o

qual é utilizado pelo professor para o ensino, tendo em vista o aumento do tempo

académico de aprendizagem. Contudo, o modo como o professor gere o tempo, implica

que se considere a variabilidade em relação ao tempo gasto e ao tempo necessário de

cada aluno, o tipo de tarefa a desenvolver, a matéria a ser ensinada, as condições de

trabalho, o meio envolvente e até mesmo o estilo do professor (Lopes, 2009).

A qualidade da gestão da sala de aula, considerando o tempo alocado e as

subcategorias do tempo de ensino/aprendizagem poderão proporcionar uma intervenção

mais eficaz junto dos alunos, diminuindo a quantidade do tempo necessário e do tempo

gasto para aprender, com otimização da qualidade do ensino e dos resultados

académicos.

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6. Qualidade na utilização do tempo

O tempo alocado institucionalmente à sala de aula levanta a questão da sua

otimização, isto é, da qualidade do tempo de ensino, não sendo a quantidade e a

qualidade categorias dissociáveis (Karweit, 1983, 1985). Do mesmo modo que os

estudos sobre os estilos educativos parentais têm salientado que a qualidade do tempo

que os pais passam com os filhos é em geral mais importante que a quantidade de tempo

(e.g., Sousa et al., 2011; Suchman, McMahon, & Luthar, 2004), também no que diz

respeito à utilização do tempo nas salas de aula a questão do balanço entre quantidade e

qualidade assume uma particular relevância para a compreensão do aproveitamento do

tempo alocado às disciplinas ou matérias escolares (Casey et al., 2011; Wang, 2011).

A qualidade da gestão do tempo está sujeita a múltiplas influências e pode

refletir-se (positiva ou negativamente) nos resultados académicos (Paechter, 2004).

Huitt (2000) especifica algumas dessas múltiplas influências, deixando claro que

algumas delas são proximais e mais evidentes (e.g., a atuação do professor) e outras

mais distantes e menos evidentes (e.g., condições internacionais/globalização) (Figura

4). Em todo o caso, mesmo algumas das variáveis aparentemente mais distantes do

contexto da sala de aula, como é o caso da religião, poderão ter um efeito de emulação

não desprezível no comportamento do professor e dos alunos.

Figura 4 – Fatores que afetam a qualidade do tempo no processo de ensino e de aprendizagem

Fonte: Adaptado de Huitt (2000)

De acordo com este modelo, a maximização da utilização com qualidade do

tempo na sala de aula depende essencialmente (1) da interação entre professor e alunos

(contexto da sala de aula), (2) de fatores externos (contexto social em que ocorre o

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ensino e a aprendizagem), e (3) de características do aluno e do professor (“input”), que

se refletem nos resultados académicos (“output”). A utilização adequada do tempo no

processo de ensino e de aprendizagem surgirá como reflexo da articulação das

diferentes variáveis.

Sendo o tempo o recurso económico que está sempre disponível, ainda que se

possa fazer uso de outros (ECONorthwest, 2008), o modo como o tempo é utilizado na

escola, nomeadamente na sala de aula, espelha uma identidade, revelando quais os

objetivos e valores que as escolas perseguem: “Business use the term „follow the

money‟, but schools have a different economy: time. If you want to get a window into a

school's core values and identify competing goals, look at how schools allocate and use

time”28

(Crawford, 2008, p. 252). Para a utilização do tempo com qualidade é

importante uma liderança forte, professores excelentes, uma fiável monitorização das

aprendizagens e um meio ambiente escolar facilitador das aprendizagens, suportativo e

acolhedor em relação às necessidades dos alunos (Farbman & Kaplan, 2005; Honig,

2012). Em escolas com uma gestão ineficaz, com professores pouco experientes, com

conhecimentos pouco consistentes e com inúmeros desafios sociais relativamente a

alunos económica e socialmente carenciados, o aumento do tempo pode revelar-se

afinal uma perda de tempo. Segundo Bernstein (2010, p. 3) “to avoid „more of the

same‟ additional time must be implemented in tandem with innovative uses of time.

Using existing and additional time in innovative ways has the potential to disrupt the

status quo of our obsolete classroom”29

.

Eventualmente, poder-se-á considerar a possibilidade de maior alocação de

tempo nas escolas, nas aulas ou no tempo de exposição do aluno às matérias. Contudo,

tendo em conta as diferenças interindividuais, adicionar tempo poderá não trazer

resultados idênticos para todos os alunos (Brown & Saks, 1985). A adição de tempo em

relação aos alunos com melhores resultados poderá levar a uma diminuição do

empenhamento e dos resultados ou, pelo menos, poderão não se verificar acréscimos

significativos nos resultados académicos, nomeadamente em relação aos alunos com

expectativas mais elevadas. No entanto, a adição de tempo poderá ser importante para

os alunos com dificuldades de aprendizagem (Elliot et al., 1996). Os alunos, quando

28 “Nos negócios é utilizada a expressão „seguir o dinheiro‟, mas as escolas têm uma economia diferente: o tempo. Se queremos ter

uma perspetiva sobre os principais valores e identificar os objetivos que as escolas perseguem, devemos olhar para o modo como as escolas utilizam o tempo alocado”. 29 “para se evitar „mais do mesmo‟, o tempo adicional deve ser implementado em conjugação com a utilização inovadora de novos

modos de utilizar o tempo. Utilizando o tempo existente e o adicional de modo inovador, pode desmontar-se o status quo da sala de aula obsoleta”.

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submetidos a um ensino num tempo adequado, e com métodos eficientes parecem

alcançar as aprendizagens com sucesso. Inversamente, quando sujeitos a um tempo

insuficiente, associado a métodos de ensino desadequados, terão dificuldade em

alcançar sucesso académico (Bloom, 1974a, 1974b; National Center on Time &

Learning, 2010)30

. Depreende-se então que a utilização do tempo, nomeadamente em

qualidade, está condicionada por fatores que podem mitigar a variável tempo (ainda que

nunca em absoluto. Hipoteticamente, com tempo zero seria virtualmente impossível a

aprendizagem de matérias escolares) como única variável relevante para o sucesso

académico dos alunos.

Independentemente do modelo que o professor adote, da teoria que suporte a sua

atuação na sala de aula ou da pedagogia mais ou menos centrada no aluno, o tempo

constitui um bem escasso alocado ao ensino e à aprendizagem, cuja otimização é

indispensável (Lopes & Santos, 2008). Na perspetiva de Slavin (1995), concorrem

diferentes vetores de força para a eficácia do ensino na sala de aula: (1)

qualidade/exigência na apresentação da matéria, (2) adequação do grau de dificuldade

dos conteúdos, considerando os níveis de conhecimento dos alunos, (3) incentivo que é

dado pelo professor ao(s) aluno(s), e (4) tempo adequado para a aprendizagem, em

função do tempo gasto, e do tempo necessário (Huitt, 2000; Carroll, 1963, 1985).

A valorização de apenas um destes vetores poderá concorrer para a menor

eficácia do ensino, sendo relevante que todos estejam presentes no ato de ensinar,

concorrendo para a maximização da qualidade do tempo. O modo como a informação é

apresentada aos alunos, para que compreendam e apreendam os diferentes conteúdos,

implica uma gestão adequada e flexível destes diferentes vetores, sob pena de prejuízo

para a promoção do ensino e da aprendizagem (Slavin, 1995). A estes vetores pode

ainda acrescentar-se a qualidade da organização e gestão da sala de aula, a qual é um

elemento fulcral relativo à ordem (e não à didática) e um alicerce fundamental do ensino

(Lopes & Santos, 2008).

A utilização do tempo com qualidade na sala de aula pressupõe a adequação do

tempo necessário em função do tempo de que cada aluno necessita para as

aprendizagens académicas (Carroll, 1963; Slavin, 1995). Contudo, mesmo o tempo

gasto é considerado pela investigação um indicador apenas moderado do sucesso

académico dos alunos. Deste modo, a qualidade na utilização do tempo implica a

30

Bloom “[…] extended Carroll‟s model by making a distinction between allocated time and utilized time […]” (National Center

on Time and Learning, 2010, p. 2). O tempo alocado deverá ser utilizado com qualidade para o ensino.

Page 65: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

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maximização do tempo de ensino e do tempo de empenhamento, com consequente

aumento das probabilidades de realização das aprendizagens com sucesso (Aronson et

al., 1998; Bloom, 1974a, 1974b).

De acordo com a investigação, a qualidade do tempo está também relacionada

com a capacidade do professor de clarificar os objetivos da aula, permitindo aos alunos

percecionar a finalidade do trabalho a realizar, e antever com maior clareza o que se

espera do trabalho desenvolvido, tendo a possibilidade de articular conhecimentos

passivos, com novos conteúdos, consolidando conhecimentos, e fazendo o alargamento

das aprendizagens (Evrim, Gökçe, & Enisa, 2009; Kayikçi, 2009; Tauber, 2007).

O(s) conteúdo(s) da aula, se bem (1) definidos, hierarquizados, com critérios de

desempenho e com adequado organigrama das atividades para a concretização dos

conteúdos a operacionalizar em determinado período letivo, (2) ajustados e planificados

de acordo com os objetivos que se pretendem atingir, pressupondo tempos adequados e

concretos, ainda que flexíveis para a realização dos diferentes segmentos de aula, com

transições bem articuladas e suaves entre e intra tarefas, e (3) com avaliação centrada no

que foi ensinado e supostamente apreendido, de preferência com “feedback” imediato

(e.g., atividades de remediação, de consolidação, ou de alargamento), evitam o

desperdício tempo de ensino, sendo feita uma utilização com qualidade do tempo de

ensino e do tempo académico de aprendizagem (Block, 1971; Block & Anderson,

1975). Nestas condições, o tempo de empenhamento dos alunos será aumentado, pois o

trabalho a desenvolver será adequado e perseguirá os objetivos que se pretendem

atingir, possibilitando aos alunos sucesso na realização das atividades. Por outro lado, a

gestão eficaz da sala de aula, com implementação de rotinas que diminuam tempos

mortos e agilizem processos de trabalho, permitirá rentabilizar a qualidade do tempo de

ensino a favor das aprendizagens dos alunos, ainda que o professor não aja diretamente

sobre os processos mentais dos alunos, mas sobre as atividades que permitem a

assimilação dos conteúdos trabalhados, desencadeando aprendizagens (Lopes & Santos,

2008).

Se a maximização da utilização do tempo de ensino e do tempo de

empenhamento em qualidade na sala de aula constitui uma variável relevante é

igualmente necessário que o tempo seja utilizado com qualidade, antes de a aula se

iniciar e depois de terminar (Berliner, 2007; Cotton, 2000; District Performance

Auditor, 2007; ECONorthwest, 2008; Silva, 2007). Especificamente, a preparação das

atividades e dos conteúdos a desenvolver na aula pelo professor, e o tempo de estudo

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por parte dos alunos para consolidação das aprendizagens constituem elementos

fundamentais da otimização do tempo despendido na sala de aula (Witt,

VanDerHeyden, & Gilbertson, 2004). A preparação das atividades requer tempo,

obrigando a que o professor ajuste conteúdos a trabalhar com alunos, de acordo com o

currículo institucionalmente estabelecido. Por outro lado, o tempo de estudo do aluno

podendo ser uma forma de aumentar o tempo alocado à aprendizagem, possibilita a

consolidação da matéria trabalhada (Anderson, 1986; Hawkins & Axelrod, 2008;

Walberg, Paschal, & Weinstein, 1985).

De acordo com literatura, a utilização eficaz do tempo de ensino, isto é, com

qualidade, permite a sustentabilidade do tempo de empenhamento, e maximiza o tempo

académico de aprendizagem, o qual reverterá a favor do sucesso académico dos alunos

(Cotton, 2000). Saliente-se que a qualidade na utilização do tempo, independentemente

de existirem vetores de força que possam ser considerados mais relevantes que outros,

depende da articulação de múltiplos fatores (e.g., preparação do professor, estilo do

professor, caraterísticas dos alunos, qualidade dos curricula, ajuste e adequada

utilização dos diferentes níveis de tempo, preparação dos diferentes segmentos de aula),

pelo que será relevante a preparação científica e pedagógico-didática do professor, pois

é ele quem, mais do que ninguém, sustenta e é diretamente responsável pela qualidade

do tempo na sala de aula (Lopes & Santos, in press; Thanasoulas, 2010). Contudo, e

apesar da significativa relevância do contributo do professor para a qualidade do tempo

na sala de aula, esta está muito dependente da articulação entre a qualidade do ensino

(da responsabilidade direta do professor) e as idiossincrasias individuais de alunos e

turmas (grupos de alunos), sendo que, em qualquer dos casos, o impacto desta

articulação nos resultados académicos dos alunos pode ser significativa (Evertson et al.,

2000; Martin, Yin, & Baldwin, 1995; Slavin, 1995).

Em resumo, a maximização da qualidade do tempo deverá ser entendida como

um objetivo fundamental a perseguir em sala de aula, uma vez que é referenciada na

literatura como um fator mitigador e potenciador do tempo alocado e uma variável

implicada nos resultados académicos dos alunos (Guillaume & Khachikian, 2011; Kurt

& Parsons, 2009; Maroni, 2011; Wang, 2011. Por outro lado, independentemente da

influência de outras variáveis (e.g., organização curricular, família dos alunos, tipo de

escola) a literatura evidencia que o professor constitui o elemento fundamental da

maximização da qualidade do tempo na sala de aula, pelo que deste depende,

maioritariamente (mas não exclusivamente) a configuração do tempo na sala de aula e,

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em última análise os resultados do tempo despendido na sala de aula (Abadzi, 2009;

Wang, 2011).

7. Eficácia do ensino e resultados académicos

Desde há muito que a literatura se debruça sobre a importância do ensino formal

nas escolas. As aprendizagens realizadas nas escolas que influenciam os resultados

académicos ocorrem de diferente modo, dependendo de múltiplos fatores (e.g., tipos de

gestão e de enquadramento, ensino, variedade de curriculum, qualidade do ensino,

experiência e preparação dos professores, tempo alocado, recursos). A gestão do tempo,

que temos vindo a considerar nesta revisão teórica, pode ser enquadrada de forma útil

no âmbito mais vasto da eficácia do ensino (Lopes, 2009).

A eficácia do ensino, que em última análise só pode ser medida em função dos

resultados dos alunos (escolares, sociais, etc.), abarca todos os aspetos da ação do

professor, em particular a forma como este gere o tempo disponível para o ensino. Nesta

medida, gestão do tempo, gestão dos comportamentos, organização e gestão da sala de

aula e eficácia do ensino, constituem conceitos intimamente relacionados e que

permitem explicar em larga medida o empenhamento dos alunos e os seus resultados

académicos (Marzano, 2003). A noção de eficácia do ensino (medida nos resultados dos

alunos) permite mesmo afirmar que dar mais ou menos tempo, fornecer tempo de maior

ou menor qualidade, é algo que terá quer ser validado pelos resultados dos alunos e não

por uma métrica ou pela suposta qualidade do tempo escolar (Lopes, 2001).

Afirmar que se forneceu muito tempo e tempo de elevada qualidade só fará

sentido se os resultados dos alunos corresponderem a esse esforço de escolas e

professores. Caso contrário, poder-se-á quando muito afirmar que escolas e professores

foram eficientes, mas ineficazes.

Os professores, no trabalho diário na sala de aula, são os principais

impulsionadores das aprendizagens dos alunos visto que são eles que os ensinam, e que

pela sua atuação transmitem comportamentos e mensagens que permitem aprendizagens

e alteram comportamentos (Hill, Rowe, Holmes-Smith, & Russel, 1996). Ainda que

múltiplas variáveis influenciem os resultados académicos dos alunos, a atividade do

professor, isto é, a sua eficácia31

no desenvolvimento da aula, é considerada

31

A eficácia do ensino pode ser definida em termos de “inputs”, “process”, “outputs” e “outcomes” (Scheerens, 2000, p. 20). Eggen

e Kauchack (1994, p. 588) haviam definido “teacher effectiveness […] as the set of teachers behaviors that is associated with high (compared to less effective teaching) student achievement “.

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66

fundamental para que as aprendizagens ocorram (Brophy & Good, 1986; Evertson,

Poole, & IRIS Center, 2003; Hill et al., 1996, Reynolds & Gutkin, 1985; Rowe, 2002;

Rowe, 2004; Rowe, 2007; Tymms & Merrel, 2007.

Definir o professor eficaz32

é uma tarefa complexa, pois os resultados que se

pretendem atingir com o processo de ensino e de aprendizagem estão sujeitos a

flutuações das necessidades de cada sociedade, das políticas educativas que se alteram,

e da investigação que vai sendo feita nas diferentes áreas (Cruickshank & Haefele,

2001; ECONorthwest, 2008; U.S. Department of Education Website (ED. Gov.), 2001;

Rocha, 1996; Wang, 1998).

Comummente, a eficácia do professor é conceptualizada a partir de diferentes

ângulos de análise: especificidades intrínsecas destes professores, métodos de ensino

utilizados, e comportamentos do professor (Lopes, 2009). O professor competente

parece apresentar um conjunto de valores e de conhecimentos que perpassam toda a sua

ação, evidenciando características que o individualizam e diferenciam (Lopes, 2009;

Medley, 1982).

A eficácia do professor deve ser inferida a partir dos resultados académicos dos

alunos, não podendo ser confundida com a realização do professor (Lopes, 2009). Este

pode ter uma realização excecional, mas desadequada a determinado contexto

educativo, não permitindo que os alunos alcancem os resultados académicos

expectáveis (Lopes, 2009; Medley, 1982)33

. A qualidade do professor, a sua

competência, a sua preparação para o ensino e as suas qualificações académicas e

profissionais influenciam as performances dos alunos, ainda que as qualificações,

consideradas isoladamente, não permitam constatar a qualidade do ensino do professor,

apesar de serem reflexo do seu conhecimento (Darling-Hammond, 2000; Hoadley &

Ensor, 2009; MacBeath, 2001).

Darling-Hammond (1997) sustenta que as qualificações do professor podem

explicar mais de 90% da variância dos resultados em leitura e matemática em todos os

níveis de ensino, o que é certamente muito relevante. Sublinhe-se contudo que os

resultados apresentados na literatura acerca da importância da qualidade dos professores

32

A literatura sugere diferentes modos de gerir a aula, possibilitando definir o estilo do professor (e.g., eficaz, indulgente,

autoritário, persuasivo e indiferente) (Good & Brophy, 2000; Lopes, 2009). Numa outra perspetiva, podem ser elencadas diferentes tipologias de professores “ideal”, “analityc”, effective”, “competent”, “expert”, reflective”, “satisfying”, “diversity-responsive”,

“respected” (Cruickshank & Haefele, 2001, pp. 26-29). Jónsdóttir e Macdonald (2011, p. 9) alicerçando-se em Bernstein, assumem

modelos pedagógicos que poderão corresponder a quatro estilos diferentes de professor “transmissive”, “controlled”, “progressive” e “emancipatory”. 33

Será importante que o professor desenvolva estratégias no sentido de obter melhores resultados académicos por parte de todos os

alunos, sobremaneira dos alunos que não conseguiram atingir os níveis de proficiência desejados. Os meios e estratégias a utilizar devem ser adequados às suas necessidades (U.S. Department of Education Website (ED.gov), 2001).

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67

para os resultados dos alunos apresentam variações enormes e de difícil interpretação,

ainda que seja consensual que essa importância é significativa. Por exemplo, Scheerens,

Vermeulen e Pelgrum (citados em Rowe, 2002) consideram que a qualidade do

professor pode explicar de 16% a 40% da variância dos resultados dos alunos à

disciplina de Matemática. Outros estudos sugerem que a qualidade do ensino explica

entre 38% e 45% da variância dos resultados na Língua Materna e entre 53% e 55% dos

resultados na Matemática (Hill et al., 1996). Acresce que a variação dos resultados

académicos intraturma é em alguns estudos superior à variação entre escolas. Tais

resultados permitem inferir que o ensino que o professor desenvolve na sala de aula tem

impacto sobre os resultados dos alunos (Rowe, 2002, 2003).

Elliot et al. (1996, p. 442) consideram que nas “higher-achieving schools

[teachers] spent more time on instruction and had more academic interactions with their

students than those in the low-achieving schools”34

. Assim, as caraterísticas dos alunos

poderão não ser o único preditor do aproveitamento escolar; o professor poderá ser

quem esbate constrangimentos externos (e.g., diferença de género, estatuto

socioeconómico, etnia), eventualmente impeditivos da realização das aprendizagens em

sala de aula. Sublinhe-se contudo, que nem toda a literatura aponta exatamente no

mesmo sentido e que os ecos do Relatório Coleman (Coleman et al., 1966) ainda hoje se

fazem sentir. Neste relatório sustenta-se que os efeitos da escola e dos professores são

reduzidos e que o financiamento das escolas tem também um efeito reduzido nos

resultados dos alunos. Igualmente se sustenta que o nível socioeconómico dos alunos e

o seu “background” são mais importantes que o nível de financiamento das escolas.

Contudo, em linha com estudos que temos vindo a citar, no Relatório Coleman

considera-se que as diferenças entre escolas e em particular entre professores têm um

impacto muito significativo nos resultados dos alunos.

Genericamente, os professores que promovem o sucesso académico dos alunos

apresentam dinâmicas que favorecem a ordem e a aprendizagem na sala de aula, sendo

mais organizados e eficientes: expõem claramente os objetivos das aprendizagens, as

aulas são bem estruturadas, consideram os diferentes ritmos de aprendizagem dos

alunos, as características da turma e dos alunos individualmente, e aproveitam

significativamente mais e melhor o tempo de que dispõem para ensinar (Rowe, 2003;

Scheerens & Creemers, 1989).

34 “[os professores] nas escolas de sucesso utilizam mais tempo a ensinar e têm mais interações académicas com os alunos do que os das escolas com baixo rendimento académico”.

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8. Tempo e sucesso académico

A relação entre tempo e sucesso académico, como foi anteriormente sugerido, é

equívoca, entre outras razões porque há diversos tempos que podem ser considerados no

que diz respeito ao processo de ensino/aprendizagem. Os estudos que tivemos

oportunidade de rever adotam tantas definições e tantos aspetos diferenciados do tempo

que dificultam as comparações e aconselham as maiores reservas nas conclusões a

extrair e sobretudo nas generalizações. De certa forma a revisão da literatura sugere que

cada estudo adota uma perspetiva particular do tempo, metodologias específicas de

recolha de dados para a situação em estudo, amostras diferenciadas, níveis de ensino

variados e tarefas diferenciadas (em função das disciplinas em que professores e alunos

são observados). Embora isto não signifique que se torna impossível retirar ilações dos

diversos estudos, significa em todo o caso que as generalizações a partir de situações

específicas terão que ser evitadas (Guillaume & Khachikian, 2011; Kurt & Parsons,

2009).

A forma como o tempo em sala de aula tem sido conceptualizado sugere que, a

partir do tempo alocado para a lecionação de um determinado conteúdo ou disciplina,

sucedem-se perdas que atingem os outros aspetos do tempo, o que justifica porventura

que os aspetos do tempo menos passíveis de perdas (e.g., tempo académico de

aprendizagem) apresentem em geral correlações mais elevadas com o desempenho

académico do que os aspetos passíveis de maiores perdas (e.g., tempo alocado) (Figuras

5 e 6). Para além disso, o tempo alocado para uma determinada aula não constitui uma

variável, sendo igual para todos os alunos (varia apenas interturmas e entre aulas). Já o

tempo académico de aprendizagem é diferente para cada um dos alunos.

Figura 5 – Tempo de ensino planeado com retração do tempo de oportunidade de aprender

Fonte: Adaptado de District Performance Auditor (2007)

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A administração central pretende, por exigências múltiplas, uma escolarização

alargada, com a permanência dos jovens na escola, aumentando o tempo de

permanência no sistema educativo, almejando assim atingir objetivos enquadrados em

princípios que refletem exigências económicas e sociopolíticas flutuantes (Alexander,

Entwisle, & Olson, 2001; Crawford, 2008; Farbman, 2010; Pennington, 2007; Silva,

2007).

As direções das escolas, por seu turno, gerem da forma que consideram mais

eficiente, ainda que nem sempre eficaz, o tempo que lhes é concedido. O professor na

sala de aula, subsumindo-se às diretrizes da administração central e local, e das

instituições de ensino, utiliza o tempo alocado à sua disciplina para o ensino,

pretendendo cumprir os objetivos que são impostos para a sua disciplina, maximizando

as aprendizagens dos alunos, não obstante o tempo de ensino poder ser utilizado em

atividades diversas (Goodman, 1990; Myers, 1990). O aluno tem um tempo para

realizar as suas aprendizagens, tempo como oportunidade de aprender, podendo (ou

não) empenhar-se na concretização das diferentes atividades, utilizando eficazmente o

tempo alocado.

Se ao longo da conjugação das diferentes estruturas organizacionais, o tempo se

esvair pelas diferentes categorias temporais, havendo perdas em cada nível, o objetivo

da maximização do sucesso académico do aluno será reduzido. Independente disso é

importante realçar que a eficiência do ensino (não necessariamente a eficácia) será tanto

maior quanto o tempo académico de aprendizagem se aproximar do tempo alocado para

o ensino (Figura 6). E quanto maior for esta aproximação, maior a probabilidade de os

alunos apresentarem melhor desempenho académico.

Figura 6 – Organização dos diferentes níveis de tempo de ensino

Fonte: Adaptado de Eggen & Kauchak (1994)

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Berliner (2007) fornece dados interessantes relativamente às possibilidades de

perdas de tempo ao longo de um ano letivo, que permitem perceber melhor as relações

entre os diversos tipos de tempo e os resultados dos alunos. Assim, de acordo com

Berliner (2007) se um ano letivo tiver 10 meses, com 30 dias de trabalho, com 6.5h de

trabalho diário na escola, o tempo institucionalmente alocado será de 1950h (porventura

seria mais realista considerar 20 dias de trabalho mensais). Considerando as possíveis

ausências dos alunos às aulas por diferentes motivos, o tempo despendido para almoço,

lazer, as atividades administrativas, a resolução de problemas disciplinares (20% a

25%), o tempo alocado destinado ao ensino será de 1076h (Berliner, 2007). Tendo em

conta que a literatura sugere que o nível de empenhamento dos alunos pode oscilar em

média entre os 75% e os 90% (Hamacheck, 1994) (havendo naturalmente significativas

variações interindividuais, podendo alguns alunos apresentar níveis de empenhamento

próximos dos 0%), poderemos calcular que em média os alunos estejam fora das tarefas,

o que poderá implicar estar fora da tarefa 25% do tempo, isto é, 269h. Este será um

tempo desperdiçado, aproveitando-se para o ensino 807h. Tendo ainda em conta que a

literatura evidencia que o tempo académico de aprendizagem poderá ser em média de

cerca 60% do tempo de empenhamento, o tempo académico médio de aprendizagem

será de 484h (Quadro 2).

Quadro 2 - Tempo de um ano letivo (1950h) com perdas sucessivas de tempo, atingindo-se o TAA de 484h

Fonte: Adaptado de Education Resources, Inc. (2005)

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71

Estes dados, fornecidos numa métrica quantitativa temporal, permitem perceber

que o tempo alocado constitui uma estimativa grosseira do tempo académico de

aprendizagem e, por maioria de razão, dos resultados académicos dos alunos. Se

quisermos perceber melhor a relação do tempo e do seu aproveitamento com os

resultados académicos dos alunos, é necessário considerar, para além desta métrica, os

aspetos qualitativos do tempo em sala de aula, ou seja, a forma como este tempo é

aproveitado, bem como uma multiplicidade de fatores relativos ao professor, aos alunos,

às escolas, às famílias, aos sistemas educativos, aos contextos, etc.

Seja como for, e seja qual for a perspetiva que se adote, tudo parece indicar que

o tempo académico de aprendizagem e o tempo de empenhamento constituem

indicadores a ter em conta para a compreensão dos resultados dos alunos. O mesmo

poderá suceder com os outros aspetos do tempo, mas de uma forma progressivamente

menos clara (Aronson et al., 1998).

Esclarecer estas relações continua a ser um desafio para a investigação nesta área

e para os decisores políticos e educacionais que dispõem de determinados instrumentos

para manipular certos aspetos do tempo nas escolas (e que ciclicamente o fazem), mas

que eventualmente não têm ao seu alcance a manipulação dos aspetos do tempo que se

relacionam mais significativamente com os resultados académicos.

9. A observação do tempo na sala de aula

Atualmente, o aluno tem acesso ao conhecimento num tempo instantâneo, num

tempo real, tornando o conhecimento formal na sala de aula, por vezes pouco apelativo

e interessante. Contudo, é na sala de aula que o aluno adquire conhecimentos e

competências que lhe permitem tornar-se cidadão do mundo, autónomo e responsável

(Säljö, 2004).

A sala de aula é o espaço fundamental onde acontece aprendizagem numa

relação de proximidade/distanciamento entre aluno e professor. A observação

presencial, direta, da sala de aula revela-se por isso um meio eficaz de avaliar o

processo de ensino e de aprendizagem (Estrela, 1994; Greenwood, Carta, Kamps, Terry,

& Delquadry, 1994; Hintze, 2005; Hintze & Matthews, 2004; Reitman, Murphy, Hupp,

& O‟Callaghan, 2004; Weiss, Pasley, Smith, Banilower, & Heck, 2003).

Observar a sala de aula permite constar e compreender comportamentos numa

perspetiva ecológica, fornecendo informações pertinentes sobre as relações que se

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estabelecem entre os diferentes atores do processo de ensino e de aprendizagem,

permitindo corrigir ou implementar novas estratégias de modo a responder aos

indivíduos em formação (McAuley, 1993; Merrill et al., 2004). Observar a sala de aula é

entrar num universo de múltiplas dinâmicas intrincadas, mas cuja compreensão é

fundamental para percebermos o impacto do tempo sobre a aprendizagem dos alunos

(Connor, Morrison et al., 2009; Reynolds & Gutkin, 1985).

Para se proceder à observação das diferentes dinâmicas na sala de aula, podem

ser utilizados diferentes métodos os quais são geralmente desenvolvidos

especificamente para o estudo em causa (Achenbach, 1986; Reynolds & Kamphaus,

2004; Rosenchine & Furst, 1973; Saudargas, 1997; Shapiro & Heick, 2004; Stanley &

Greenwood, 1981; Volpe, DiPerna, Hintze, & Shapiro, 2005; Walker & Severson,

1990). A adoção de determinado instrumento pressupõe a definição de critérios

rigorosos, pois podem ser usadas medidas que não são fiáveis, considerando as questões

metodológicas e os objetivos do estudo. Inversamente, poder-se-á avaliar algo que surja

como descontextualizado, produzindo resultados eventualmente equívocos. As questões

dos métodos de observação afiguram-se nesta área como mais problemáticas do que as

questões teóricas havendo sistematicamente o risco de o modo de operacionalizar a

observação, a perspetiva do observador ou o instrumento utilizado, conduzirem a

métodos de observação que não se ajustam à realidade a observar (Karweit & Slavin,

1980; Silverman & Zotos, 1987).

A observação direta (participante ou não participante), sistemática, naturalista

ocorre in loco e in vivo. Permite obter, na especificidade de determinado meio, uma

realidade única e irrepetível, relativamente a comportamentos previamente definidos

(Estrela, 1994). Contudo, têm sido colocadas certas reservas à observação naturalista,

quer no campo metodológico, quer no âmbito conceptual, porque: (1) o que é observado

depende da subjetividade do(s) observador(es) – efeito de halo; (2) o espaço e a

privacidade da sala de aula são ocupados pelo observador(es), havendo um entrave

ético, podendo colidir com a esfera profissional, privada, do observado; (3) o observado

é um meio para levar a cabo determinado estudo, sendo o observado considerado um

objeto de estudo; (4) não há grupo de controlo; (5) o observador, pelo

(des)conhecimento do facto a observar poderá privilegiar uma observação

antropomórfica (Cohen, Manion, & Morrison, 2007; Gay, 1986).

À observação direta sistemática são também apontados certos constrangimentos

nomeadamente: (1) fraca definição das categorias comportamentais, (2) baixa

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fiabilidade do acordo interobservadores, (3) reatividade dos observadores, (4)

demasiada ou diminuta especificidade dos comportamentos a ser observados, (5)

seleção inapropriada de código e (5) viés do observador. Há autores que consideram que

para aumentar a fiabilidade, deve ser utilizado um instrumento anteriormente validado,

e os observadores deverão ser submetidos a treinos consistentes de observação (Volpe et

al., 2005).

A observação da sala de aula é relevante para a compreensão de todo o processo

de ensino e de aprendizagem. Contudo, na observação do trabalho que o professor

desenvolve na sala de aula, existem múltiplos aspetos relacionados com a atividade

docente como um todo (e.g., planificação, estruturação e tipologia das atividades,

periodicidade e diversidade da avaliação, materiais e qualidade dos mesmos) e com as

caraterísticas do professor que concorrem para o sucesso académico dos alunos que

podem ser diretamente observáveis.

Deste modo, a literatura sustenta que, existindo múltiplos aspetos que poderão

ser observados e outros que só poderão ser inferidos, o objeto de estudo deverá ser

claramente definido, podendo ser utilizados diversos instrumentos para recolha de dados

(portfolios, inquéritos aos alunos, questionários de autoavaliação, observação de aulas,

relatórios) e os métodos de observação utilizados deverão ser previamente refletidos e

testados (Karweit & Slavin, 1980; Silverman & Zotos, 1987).

Conclusão

A revisão da literatura sobre tempo e resultados académicos permite perceber

que o interesse por esta área de investigação tem sofrido oscilações ao longo do tempo.

Para além das oscilações gerais de interesse, tem havido momentos em que o interesse

sobre a gestão/manipulação do tempo alocado é significativo, outros em que os estudos

incidem mais sobre o tempo e qualidade do ensino, outros em que o tempo na tarefa tem

sido a variável mais estudada. Mais recentemente, o tempo de empenhamento tem

ganho relevo e renovado interesse na investigação, provavelmente porque os estudos

sobre a motivação, área afim do empenhamento, têm revelado nas últimas décadas uma

pujança invulgar (e.g., Deci, Koestner, & Ryan, 2001; Jang, 2008; Harris, 2011; Ladd &

Dinella, 2009; Linnenbrink & Printrich, 2002; Schweinle et al., 2009).

O tempo na sala de aula ou em contexto escolar é genericamente

conceptualizado como uma variável multidimensional que, tal como a atenção, parece

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mais fácil de perceber, definir e operacionalizar através dos seus múltiplos aspetos

(tempo alocado, tempo na tarefa, tempo académico de aprendizagem, etc.) do que

através de uma conceção unitária. Qualquer estudo nesta área será muito provavelmente

e por isso mesmo, um estudo sobre um ou vários aspetos do tempo e não sobre o tempo

em geral.

Um outro aspeto que emerge da literatura é que há níveis de tempo que, sendo

apresentados como melhores preditores dos resultados académicos dos alunos, são de

muito difícil mensuração. É esse o caso do tempo académico de aprendizagem, variável

relevante, mas cuja mensuração é extraordinariamente complexa e de validade e

fiabilidade duvidosa. Por isso mesmo, muitos estudos utilizam outros aspetos do tempo

que, mesmo que dificilmente mensuráveis, são bastante mais fiáveis que o tempo

académico de aprendizagem.

A literatura nesta área é ainda dispersa, alguns conceitos não estão claramente

definidos e existe até uma miríade de termos que se referem ao mesmo conceito, como é

o caso do empenhamento (Appleton et al., 2008). Talvez por esta razão os estudos

tendem a ser muito específicos e com problemas ao nível da generalização. Seja como

for, apesar dos problemas e das dúvidas que subsistem relativamente à

conceptualização, definição e operacionalização do tempo em sala de aula, e da sua

relação com os resultados académicos, o tempo e a forma como é aproveitado estão e

continuarão a estar no âmago da ação do professor. O objetivo deste é aproveitar ao

máximo o tempo no sentido de potencializar os resultados dos alunos. Dado que o

professor constitui a variável mais relevante para a aprendizagem, seria estranho que a

investigação sobre a forma como o professor aproveita e organiza o tempo em sala de

aula deixasse de ser relevante para a investigação educacional. Isto apesar de os

modelos intrínsecos da aprendizagem pretenderem que existe uma genética da

aprendizagem e que a ação do professor é pouco mais que irrelevante para alterar a

situação (Lopes, 2012).

O estudo que apresentaremos no ponto seguinte deste trabalho incide sobre o

tempo de ensino e sobre o tempo de empenhamento em sala de aula e as suas relações

com os resultados académicos dos alunos. É um estudo que se inscreve na linha dos

clássicos estudos observacionais (e correlacionais) e que não pretende por isso afirmar

qualquer tipo de causalidade entre as variáveis em estudo. Pretende-se isso sim,

perceber se o tempo de ensino (variável do professor) explica de alguma forma os

resultados académicos dos alunos das turmas observadas e se o tempo de

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empenhamento (variável que diz respeito aos alunos) tem igualmente algum poder

explicativo da variação dos resultados.

II - Tempo de ensino (observado e estimado), tempo de empenhamento (observado

e estimado) e resultados académicos: estudo empírico

1. Objetivos do estudo

Partindo dos pressupostos enunciados no capítulo anterior este estudo tem por

objetivo principal analisar:

(a) a relação entre tempo de ensino e resultados académicos

(b) a relação entre tempo de empenhamento e resultados académicos

(c) a relação entre tempo de ensino e tempo de empenhamento

2. Método

2.1 Participantes

No presente estudo, os participantes constituem uma amostra intencional, de

conveniência (Cohen et al., 2007; Patton, 2002). As observações decorreram em seis

turmas do 6º ano de escolaridade, pertencentes a estabelecimentos de ensino públicos do

norte do país. A escolha de turmas do 6º ano de escolaridade tem a ver com o facto de

que este ano de escolaridade (1) corresponde à conclusão de um ciclo de estudos, (2)

constitui um ano de transição para um novo ciclo, e (3) os alunos são sujeitos a

avaliação externa, através de Provas de Aferição às disciplinas de Português e de

Matemática, o que permite obter duas avaliações independentes do rendimento

académico dos alunos.

Os participantes integram seis turmas do 6º Ano de escolaridade, o que

corresponde a 12 professores (6 professores de Português e 6 de Matemática) e a 118

alunos.

Os professores observados nas disciplinas de Português e de Matemática (6º

Ano) apresentam idades compreendidas entre 31-61 anos e são todos do sexo feminino

com exceção de um que é do sexo masculino. Todos os professores são licenciados e

um possui mestrado. A experiência profissional oscila entre os 5-35 anos de serviço,

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76

sendo que o professor que tem 5 anos de serviço possui um mestrado e leciona a

disciplina de Português.

Em cada turma e para efeitos de avaliação do tempo de empenhamento foram

observados dez alunos em cada uma das seis turmas (n = 60), sendo todos de

nacionalidade portuguesa. O critério usado para a seleção dos alunos prende-se com o

seu posicionamento na sala de aula.

Os alunos apresentam idades compreendidas entre os 10-14 anos, sendo a média

das idades de 11,1 anos (SD = .857). Os alunos observados foram sempre os mesmos,

quer em Português, quer em Matemática, tendo sido sempre observados pela mesma

ordem.

Os professores (n = 12) e os alunos (n = 60) foram observados, relativamente ao

tempo de ensino e ao tempo de empenhamento, 1080 minutos na disciplina de

Português e 1080 na de Matemática, num total de 2160 minutos.

2.2 Medidas e procedimentos

Para se efetuar a recolha de dados para este estudo, os Diretores de duas escolas

públicas foram contactados, com o objetivo de ser obtida autorização para se proceder à

observação das atividades de ensino em sala de aula. A proposta foi submetida ao

Conselho Pedagógico, tendo o pedido sido deferido. Foi formalmente solicitada

colaboração aos docentes, os quais receberam um organograma das observações a

realizar nas salas de aula.

Antes de se iniciarem as observações, foi elaborado um protocolo de observação.

As observações nas salas de aula incluíram uma fase preparatória de treino das

observadoras, num total de 3195 minutos, em diversas disciplinas, do 5º ao 7º ano de

escolaridade. Após a observação das aulas, as observadoras trocaram experiências sobre

as dificuldades sentidas relativamente à observação, nomeadamente quanto aos

seguintes aspetos: localização na sala, uso do cronómetro, adequação das escalas de

observação, segmentos das aulas, identificação do que é o comportamento na tarefa ou

fora da tarefa, interrupções com consequências negativas e interrupções sem

consequência negativa para o decurso normal da aula, e visualização adequada dos

alunos.

A recolha de dados realizou-se em dois momentos distintos, em duas aulas de 90

minutos num total de 180 minutos, nas disciplinas de Português e de Matemática, tendo

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sido estabelecidas médias no final das observações, relativamente ao tempo de ensino

(observado e estimado) e de empenhamento (observado e estimado), para cada turma do

6º ano.

Para a observação direta da sala de aula, as observadoras posicionaram-se em

frente da turma, lateralmente, de modo a não perturbarem a aula, mas tendo um campo

de visão alargado. As observadoras utilizaram dispositivos de identificação para os

alunos e duas plantas da sala de aula, visto que os alunos mudavam de sala para sala,

sentando-se em diferentes lugares, o que dificultava a observação dos mesmos alunos

(n= 10) a Português e a Matemática.

O tempo gasto nas transições e nas interrupções com ou sem consequência

negativa para o decurso normal da aula foi quantificado pelas observadoras com recurso

a cronómetros.

A avaliação do tempo de ensino do professor observado foi realizada com

recurso a uma grelha de registo com duas partes. Na primeira parte, constam os

elementos identificativos referentes à disciplina lecionada, à hora da aula, à data, ao

observador (nº1 ou nº 2) e à identificação das abreviaturas (I – Interrupções diversas,

motivadas por fatores alheios à lecionação, ICC – Interrupções com consequência

negativa para o decurso normal da aula e TRT – Transições entre e intratarefas).

A segunda parte do registo divide-se em 4 colunas: (1) Tempo, (2) Segmento de

aula/Tema/Assunto, (3) Interrupções/Transições e (4) Atitudes e Comportamentos. A

coluna Tempo permite o registo do tempo cronológico do decorrer das atividades da

coluna 2, de modo sintético. Em Segmento de aula/Tema/Assunto era identificado o tipo

de trabalho que era desenvolvido pelo professor. A coluna relativa às

Interrupções/Transições subdividiu-se em 3 colunas, concretamente, ICC, I e TRT.

Cada coluna permite o registo da duração das Interrupções ou das Transições. A última

coluna facilita o registo sintético de comportamentos/atitudes relevantes da performance

do professor e do aluno para a explicitação/compreensão do tempo de ensino.

A recolha de dados do tempo de ensino observado concretizou-se através da

observação da frequência de forma sistemática: (1) do tempo gasto nas transições inter e

intratarefas (TRT), (2) do tempo gasto nas interrupções com sequência negativa para o

decurso normal do funcionamento da sala de aula (ICC), e (3) do tempo gasto com as

interrupções (I), que ocorreram ao longo da aula, independentemente de terem

perturbado ou não o decurso do seu funcionamento. Ainda que alguns autores optem

por não registar as interrupções inferiores a 15 segundos ou mesmo inferiores a um

Page 80: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

78

minuto (Connor, Morrison et al., 2009; Fisher et al., 1978), neste estudo, foram

consideradas todas as interrupções e transições superiores a um segundo.

O tempo em que os diferentes segmentos/assuntos/temáticas de aula ocorriam

era assinalado na grelha de registo de dados sobre o tempo de ensino observado,

resultando um registo cronológico. Simultaneamente, as observadoras cronometravam e

registavam o tempo gasto (1) nas interrupções com consequência negativa para o

decurso normal da aula, (2) nas restantes interrupções, e (3) nas transições. Na última

coluna da grelha, eram sinteticamente registados os comportamentos do professor que

ajudassem a compreender a organização do tempo de ensino. No final de cada aula, as

observadoras comparavam os registos, resultando um acerto único entre ambas.

Ao total de tempo alocado para cada aula (90 minutos) foi deduzido o tempo

gasto nas transições e o tempo gasto nas interrupções, obtendo-se o tempo de ensino

observado. No final das observações, foi calculado o acordo interobservadores.

O tempo de ensino estimado pelos professores foi avaliado através de um

questionário direto, com uma única questão: “Do tempo total de aula observado, quanto

lhe parece que a turma terá aproveitado?”.

Para o registo do tempo de ensino percecionado pelos professores foi utilizada

uma régua graduada, com 5 intervalos, os quais perfaziam os 100%, correspondendo

cada intervalo a 20% de tempo de ensino aproveitado pela turma. Cada um destes

intervalos de 20% encontrava-se seccionado ao meio, correspondendo a 10% de tempo

de ensino aproveitado. Os professores deveriam posicionar-se no friso percentual da

régua graduada, relativamente ao tempo de ensino estimado que consideravam que a

turma aproveitara. O tempo mínimo de ensino estimado era de 20% e o máximo de

100%. O tempo mínimo de 20% corresponde a 18 minutos de tempo de ensino

estimado, visto o tempo alocado para ensino ser 90 minutos (100%). O valor mais

elevado corresponde a um maior tempo de ensino estimado pelo professor.

No limite, quando não ocorreu nenhum tempo de ensino por diferentes

imprevisibilidades (e.g., assembleias de alunos de última hora, simulacros de

incêndios), a recolha de dados concretizou-se num outro momento, em concordância

com o professor da turma.

Para a observação do tempo de empenhamento dos alunos foi utilizada uma

grelha de registo de observação, estando assinalado o início e o final de cada sessão de

90 minutos.

Page 81: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

79

O registo do tempo de empenhamento foi concretizado com recurso a uma tabela

de duas entradas. Na entrada vertical, encontra-se a contagem crescente com intervalos

de 5 minutos até serem atingidos os 90 – tempo de duração de cada aula. Na entrada

horizontal, encontram-se os alunos numerados de 1 a 10.

Os dados relativos ao registo do tempo de empenhamento observado foram

recolhidos através de amostras periódicas, com intervalos de 5 minutos. Os alunos

foram observados 16 vezes, durante cada aula de 90 minutos de Português e de

Matemática.

As observadoras focalizavam a atenção nos 10 alunos previamente selecionados

para observação, seguindo sempre a mesma ordem. Cada observadora assinalava apenas

a ausência do comportamento “aluno na tarefa”.

As observadoras subsumiram-se a padrões conceptuais estandardizados e

previamente estabelecidos e interpretados, relativamente à escala dicotómica pré-

definida “aluno na tarefa/aluno fora da tarefa”. Com recurso à utilização do teste

estatístico do Kappa ponderado de Cohen, foi obtido um Kappa = 0.857. Connor,

Morrison et al. (2009), citando Landis e Koch (1977), sugerem que as codificações

atinjam pelo menos o coeficiente do Kappa de Cohen de .70. O tempo de

empenhamento estimado por cada aluno foi avaliado através de um questionário direto

aos alunos, com uma única questão: “Quanto aproveitaste desta aula?”. O aluno

assinalaria a resposta que configurasse a sua perceção, podendo optar entre 4

possibilidades de uma escala de 4 pontos: “muito”; “pouco”, “alguma coisa” e “nada”.

Nesta escala, valores mais elevados indicam mais elevado tempo de empenhamento

estimado. O recurso a uma escala ordinal deveu-se ao facto de, numa abordagem

experimental, se ter verificado que muitos alunos consideravam não conseguir estimar o

tempo numa escala percentílica.

Para a recolha de dados sobre o tempo de empenhamento estimado pelos alunos,

no final de cada aula de Português ou de Matemática, com a autorização dos

professores, foi distribuído um questionário aos alunos. Todos os alunos respondiam,

embora apenas fossem considerados para este estudo os 10 alunos observados. Os

questionários distribuídos, com uma notação no verso (e.g., A-P-1, correspondendo o A

à turma, o P à disciplina e o algarismo 1 ao primeiro aluno a ser observado), permitia

que os 10 alunos observados fossem sempre os mesmos, quer em Português, quer em

Matemática, obviando indecisões na identificação.

Page 82: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

80

Os 5 minutos iniciais de aula não foram contabilizados em nenhuma observação,

porque os alunos mudavam frequentemente de lugar de sala para sala, verificando-se

padrões comportamentais repetitivos, aquando da entrada na sala de aula.

O aproveitamento académico dos 10 alunos observados foi avaliado com recurso

à avaliação quantitativa final do 3º Período (avaliação interna), realizada pelos docentes,

e à avaliação externa, qualitativa, referente às Provas de Aferição de Português e de

Matemática.

A avaliação interna utiliza uma escala com 5 intervalos, correspondendo a 5

níveis. O nível 1 corresponde a um fraco aproveitamento e o 5 a um aproveitamento de

excelência.

A avaliação resultante da Prova de Aferição a Português e a Matemática é

qualitativa. Cada nível atribuído à Prova de Aferição de cada aluno corresponde a um

dos 5 intervalos em que a escala se encontra dividida: A – Muito bom, B – Bom; C –

Satisfaz; D – Não Satisfaz e E – Não Satisfaz.

Para se proceder à análise quantitativa dos dados, as avaliações qualitativas das

Provas de Aferição dos alunos observados foram transformadas em níveis quantitativos,

correspondendo a avaliação qualitativa de A ao nível 5, o B ao 4, o C ao 3, o D ao 2 e o

E ao nível 1 da escala usada na avaliação interna. Este procedimento é utilizado pelos

professores nas escolas, quando, por escassez de tempo, se substitui um elemento de

avaliação formal pela Prova de Aferição.

3. Resultados

A apresentação dos resultados decorre dos objetivos anteriormente enunciados,

numa sequência que corresponde às questões de investigação a que nos propusemos

responder.

Os resultados mostram que os tempos de ensino observados nas diversas turmas

são muito elevados (Quadro 3) e que estes tempos são superiores ao tempo de ensino

estimado pelos professores, embora o diferencial seja muito mais acentuado na

disciplina de Matemática do que na disciplina de Português (Gráfico 1).

Page 83: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

81

Gráfico 1 - Tempo de ensino observado e estimado a Matemática e a Português

Por outro lado verifica-se que as notas da avaliação interna a Matemática são

mais altas que as da avaliação externa, o mesmo não se verificando na disciplina de

Português (Quadro 4).

Considerando apenas os alunos cujo empenhamento foi observado (n = 10 em

cada turma) constata-se que o tempo de empenhamento observado a Português é em

geral (com exceção de uma turma) mais elevado do que o tempo de empenhamento em

Matemática (Quadro 5). O mesmo se verifica no que diz respeito ao tempo de

empenhamento estimado pelos alunos, ainda que de forma menos nítida.

Page 84: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

82

Quadro 3 – Tempo de ensino observado e estimado a Matemática e a Português de todos os alunos (n= 118)

Quadro 4 – Média (M), desvio-padrão (SD) e erro padrão (SE) dos resultados académicos (avaliações interna e externa) a Matemática e a Português de todos os alunos

(n= 118)

Turmas %Tempo de

ensino

observado a Matemática

%Tempo de

ensino

estimado a Matemática

%Tempo de

ensino

observado a Português

%Tempo de

ensino

estimado a Português

A 96.20 82.50 95.50 95.00

B 95.00 80.00 93.70 97.50

C 98.50 65.00 96.50 77.50

D 97.30 70.00 73.50 85.00

E 98.00 60.00 97.00 80.00

F 61.50 45.00 93.00 65.00

Turmas A B C D E F

M SD SE M SD SE M SD SE M SD SE M SD SE M SD SE

Avaliação interna a Matemática

(3ºperíodo)

3.79 .97 .19 3.80 1.05 .23 3.50 1.10 .24 3.61 .98 .23 3.56 .72 .18 2.90 .91 .20

Avaliação externa a Matemática

(Prova de Aferição)

3.75 .94 .19 3.50 1.10 .24 3.00 1.07 .24 3.27 .89 .21 3.25 .85 . 21 2.60 .94 .21

Avaliação interna a Português

(3º Período)

3.54 .93 .19 3.30 .57 .12 3.25 .91 .20 3.72 .95 .22 3.31 .79 .19 3.10 .96 .21

Avaliação externa a Português

(Prova de Aferição)

3.83 .81 .16 3.45 .60 .13 3.25 .85 .19 3.44 .78 .18 3.68 .70 .17 2.95 .94 .21

Page 85: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

83

Quadro 5 – Tempo de empenhamento observado e estimado a Matemática e a Português dos alunos observados (n= 60)

Quadro 6 – Média (M), desvio-padrão (SD) e erro padrão (SE) dos resultados académicos (avaliações interna e externa) a Matemática e a Português dos alunos observados (n= 60)

Turmas %Tempo de empenhamento

observado a Matemática

Média do tempo de

empenhamento

estimado a Matemática

%Tempo de empenhamento

observado a Português

Média do tempo de

empenhamento

estimado a Português

A 70.93 3.90 86.90 4.00

B 76.26 3.60 83.77 3.50

C 55.00 3.25 79.08 3.40

D 56.76 3.60 81.90 3.80

E 83.76 3.50 74.70 3.70

F 39.08 3.40 46.58 3.15

Turmas A B C D E F

M SD SE M SD SE M SD SE M SD SE M SD SE M SD SE

Avaliação interna a Matemática

(3ºperíodo)

3.90 .73 .23 3.90 .74 .23 3.20 0.97 .30 3.60 .84 .27 3.60 .70 .22 2.80 1.03 .32

Avaliação externa a Matemática

(Prova de Aferição)

3.90 .73 .23 4.00 .67 .21 2.90 1.10 .35 3.20 .63 .20 3.30 .82 . 26 2.50 .97 .31

Avaliação interna a Português

(3º Período)

3.70 .67 .21 3.60 .97 .31 3.10 .99 .31 3.20 . 42 .13

3.40 .70 .22 3.10 1.10 .35

Avaliação externa a Português)

(Prova de Aferição)

4.00 .81 .26 4.00 .67 .21 3.30 .67 .21 3.50 .53 .17 3.60 .52 .16 2.80 1.03 .33

Page 86: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

84

3.1 Tempo de ensino e resultados académicos

Genericamente os tempos de ensino a Português e Matemática são praticamente

idênticos em quatro turmas e diferentes em duas turmas e, nestas duas, com sentidos

opostos (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Comparação do tempo de ensino observado a Matemática e a Português

3.1.1 Tempo de ensino observado à disciplina de Matemática e resultados

académicos da avaliação interna e externa

Os resultados académicos dos alunos nas avaliações interna e externa a

Matemática, foram analisados com recurso ao teste de Shapiro-Wilk (W) porque n < 30

em cada turma, tendo-se verificado ausência de normalidade dos dados. Acresce ainda

que a assimetria e a curtose se afastam significativamente do zero.

Os resultados indicam que o tempo de ensino observado não influencia

significativamente os resultados académicos da avaliação interna dos alunos, não

havendo diferenças entre os grupos (H (5) = 10.64, n.s.).

Contudo, verificam-se diferenças entre os grupos no que diz respeito aos

resultados académicos da avaliação externa (H (5) = 14.89, p < .05), especificamente

quando se compara a turma F com a A (U = 100, r = - 0.51), com a B (U = 108, r = -

0.40), com a C (U = 155, r = - 0.20), com a D (U = 112, r = - 0.33), com a E (U = 100, r

= - 0.33). Não se verificam diferenças entre quaisquer das outras turmas.

Page 87: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

85

3.1.2 Tempo de ensino observado à disciplina de Português e resultados

académicos da avaliação interna e externa

Os resultados académicos dos alunos nas avaliações interna e externa a

Português, foram analisados com recurso ao teste de Shapiro-Wilk (W), porque o

número de alunos é inferior a 30 em cada turma, tendo-se verificado ausência de

normalidade dos dados. Acresce ainda que a assimetria e a curtose se afastam

significativamente do zero.

O tempo de ensino observado influencia significativamente os resultados

académicos da avaliação externa dos alunos, (H (5) = 13.854, p < .05), mas não os

resultados da avaliação interna (3º Período), (H (5) = 7.153, p > .05).

As diferenças relativamente à avaliação externa verificam-se na comparação da

turma F com as turmas A (U = 118.500, r = -0.45); B (U = 132.000, r = -0.31), D (U =

124.000, r = - 0.28) e com a E (U = 85.000, r = - 0.42). Não se verificam diferenças

quando a turma F é comparada com a C, pois (U = 163.500, p = .296, p > .1).

3.2 Tempo de empenhamento e resultados académicos

3.2.1 Tempo de empenhamento observado às disciplinas de Matemática e de

Português e resultados académicos da avaliação interna e externa

Os resultados evidenciam que o tempo de empenhamento dos alunos observados

é mais elevado a Português do que a Matemática em todas as turmas, com exceção da

Turma E (Gráfico 3).

Gráfico 3 – Comparação do tempo de empenhamento observado a Matemática e a Português

Page 88: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

86

As correlações entre a percentagem de empenhamento observado a Português e

(1) a avaliação interna do 3º Período (t = .034, n.s.), e (2) a avaliação externa a esta

disciplina (t = .050, n.s.) não são significativas ao contrário do que sucede entre o tempo

de empenhamento observado em Matemática e a nota interna da avaliação do 3º Período

(t = .201, p < .05), e entre a percentagem de tempo de empenhamento observado e a

nota externa à disciplina de Matemática (t = .245, p < .05) (cf. Quadro 7).

Quadro 7 - Correlações entre as variáveis tempo de empenhamento observado a Matemática e a

avaliação interna (final do 3º Período) e externa (Prova de aferição)

1 2 3

Tempo de empenhamento observado a Matemática - -

Avaliação interna a Matemática (3ºPeriodo) .201* -

Avaliação externa Matemática (Prova de Aferição) .245* .792** -

Nota: *p < .05; ** p <.01

3.2.2 Tempo de empenhamento estimado às disciplinas de Matemática e de

Português e resultados académicos da avaliação interna e externa

O tempo de empenhamento estimado pelos alunos é aproximadamente o mesmo

a Matemática e a Português, ainda que com ligeiras oscilações entre as turmas (Gráfico

4).

Gráfico 4 – Comparação do tempo de empenhamento estimado a Matemática e a Português

Page 89: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

87

A correlação entre o tempo de empenhamento estimado à disciplina de

Português e a nota interna da avaliação do 3º Período é estatisticamente significativa (t

= .308, p < . 01) (cf. Quadro 8). A média do tempo que os alunos estimam estar

empenhados não se correlaciona com a nota externa à disciplina de Português (t = .196,

p = .09).

Quadro 8 - Correlações entre as variáveis média do tempo de empenhamento estimado pelos alunos a

Português e a avaliação interna (final do 3º Período) e externa (Prova de aferição).

1 2 3

Tempo de empenhamento estimado a Português - -

Avaliação interna a Português (3ºPeriodo) .308* -

Avaliação externa Português (Prova de Aferição) .196 .708** -

Nota: *p < .05; ** p < .01

Por outro lado, as correlações (1) entre o tempo de empenhamento estimado à

disciplina de Matemática e a avaliação interna no final do 3º período (t = .208, n.s.), e

(2) entre o tempo que os alunos estimam estar empenhados e a avaliação externa a esta

mesma disciplina não são significativas (t = .100, n.s.).

3.3 Tempo de ensino e tempo de empenhamento

3.3.1 Tempo de ensino (observado e estimado) e tempo de empenhamento

(observado e estimado) a Matemática e a Português

O gráfico 5 ilustra a diferença entre o tempo de ensino e o tempo de

empenhamento observados em Matemática. O tempo de empenhamento dos alunos à

disciplina de Matemática é sempre inferior ao tempo de ensino, verificando-se níveis

baixos de tempo de empenhamento nas turmas C e D (por comparação com o tempo de

ensino), e de tempo de ensino e de tempo de empenhamento na Turma F.

Page 90: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

88

Gráfico 5 – Comparação do tempo de ensino e do tempo de empenhamento observados a Matemática

Os resultados mostram que existe uma correlação estatisticamente significativa

entre o tempo de ensino estimado pelos professores e o tempo de empenhamento

observado dos alunos a Matemática (t = .233, p < .05) (cf. Quadro 9).

Quadro 9 - Correlações entre as variáveis tempo de ensino (observado e estimado) e tempo de

empenhamento (observado e estimado) à disciplina de Matemática

A Português constata-se também uma correlação estatisticamente significativa

(cf. Quadro 10) entre (1) o tempo de ensino estimado e o tempo de empenhamento

observado (t = .387, p < .01), (2) o tempo de ensino e o tempo de empenhamento

estimados (t = .267, p < .05), e (3) o tempo de empenhamento observado e o tempo de

empenhamento estimado a esta mesma disciplina (t = .319, p < .01).

1 2 3 4

Tempo de ensino observado a Matemática -

Tempo de ensino estimado a Matemática -.067 -

Tempo de empenhamento observado a Matemática .148 .233* -

Tempo de empenhamento estimado a Matemática -.183 .208 .067 -

Nota: *p < .05; ** p < .01

Page 91: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

89

Quadro 10 - Correlações entre as variáveis tempo de ensino (observado e estimado) e tempo de

empenhamento (observado e estimado) à disciplina de Português

1 2 3 4

Tempo de ensino observado a Português -

Tempo de ensino estimado a Português -.067 -

Tempo de empenhamento observado a Português -.004 .387** -

Tempo de empenhamento estimado a Português .049 .267* .319** -

Nota: *p < .05; ** p < .01

O gráfico 6 permite constatar que o tempo de ensino observado a Português é

superior ao tempo de empenhamento observado, com exceção da turma D.

Verifica-se ainda que na Turma F há uma diferença significativa entre tempo de

ensino e tempo de empenhamento, muito superior ao verificado nas outras turmas.

Gráfico 6 – Comparação do tempo de ensino e do tempo de empenhamento observados a Português

3.3.2 Tempo de ensino, tempo de empenhamento e resultados académicos

No sentido de perceber o valor preditivo do tempo de ensino e do tempo de

empenhamento relativamente aos resultados académicos, considerando os 10 alunos

observados, foram conduzidas diversas análises de regressão hierárquica múltipla, cujos

resultados são apresentados a seguir.

Page 92: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

90

Quadro 11 – Regressão hierárquica múltipla: tempo de empenhamento como melhor preditor da

avaliação do 3º período à disciplina de Português

Quadro 12 – Regressão hierárquica múltipla: tempo de ensino estimado como melhor preditor da

avaliação externa à disciplina de Português

Português

Avaliação do 3º Período – avaliação interna

Preditores

Modelo 1

B SE B β

Constant

Tempo de empenhamento estimado

1.78

.44

.568

.16

.35*

Modelo 2

Constant 2.01 1.59

Tempo de empenhamento estimado .51 .18 .40*

Tempo de ensino estimado .01 .01 .13

Tempo de empenhamento observado -.01 .01 -.20

Tempo de ensino observado -.01 .01 -.08

Nota: R2 .15 (p > .05). *p < .05

Português

Prova de Aferição – avaliação externa

Preditores

Modelo 1

B SE B β

Constant

Tempo de ensino estimado

1.20

.03

.753

.01

.37*

Modelo 2

Constant -.248 1.44

Tempo de ensino estimado .03 .01 .41*

Tempo de empenhamento estimado .26 .16 .22

Tempo de ensino observado .01 .01 .09

Tempo de empenhamento observado -.01 .01 -.20

Nota: R2 .18 (p < .05). *p < .05

Page 93: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

91

Quadro 13 – Regressão hierárquica múltipla sendo usados como preditores da avaliação do 3º

Período a Matemática o tempo de ensino e o tempo de empenhamento (observado e

estimado)

Quadro 14 – Regressão hierárquica múltipla sendo usados como preditores da avaliação externa a

Matemática o tempo de ensino e o tempo de empenhamento (observado e estimado)

Matemática

Avaliação do 3º Período – avaliação interna

Preditores B SE B β

Constant .444 1.06

Tempo de empenhamento estimado .34 .20 .21

Tempo de ensino estimado .02 .02 .21

Tempo de empenhamento observado .01 .01 .16

Tempo de ensino observado .00 .01 .04

Nota: R2 .19 (p < .05)

Matemática

Prova de Aferição – avaliação externa

Preditores B SE B β

Constant .349 1.06

Tempo de ensino estimado .02 .02 .30

Tempo de empenhamento estimado .23 .20 .15

Tempo de empenhamento observado .01 .01 .15

Tempo de ensino observado .00 .01 .03

Nota: R2 .19 (p < .05)

Page 94: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

92

Os dados foram analisados através de uma regressão múltipla com recurso ao

método enter (utilizando como preditores o tempo de empenhamento estimado, o tempo

de ensino estimado, o tempo de empenhamento observado e o tempo de ensino

observado).

O modelo utilizado explica 19% da variância dos resultados da avaliação interna

(R2aj = .129, p < .05) (F (4, 55) = 3.18, p < .05) e da avaliação externa (R

2aj = .126, p <

.05) (F (4, 55) = 3.13, p < .05) à disciplina de Matemática.

Verifica-se ainda que os vários preditores (tempo de empenhamento estimado,

tempo de ensino estimado, tempo de empenhamento observado e tempo de ensino

observado), quando considerados individualmente, não predizem nem a avaliação

interna, nem a avaliação externa a Matemática.

Estes mesmos preditores explicam 18% da variância dos resultados da avaliação

externa à disciplina de Português (R2aj = .122, p < .05) (F (4, 55) = 3.05, p < .05), mas

são negligenciáveis no que diz respeito à avaliação interna (R2aj = .09, p = .056) (F (4,

55) = 2.45, p = n. s.).

Considerando todos os preditores, relativamente à avaliação interna e externa,

verifica-se que o tempo de ensino estimado pelo professor constitui o melhor preditor a

Português e a Matemática (t = 2.87, p = .006). As análises de regressão linear simples

conduzidas subsequentemente especificam o impacto do tempo de ensino estimado pelo

professor nos resultados académicos dos alunos (quadros 11, 12, 13 e 14).

O tempo de ensino estimado pelo professor explica 12% da variância dos

resultados decorrentes da avaliação interna (R2 aj = .103, p < . 05) (F (1, 58) = 7,802, p

< .05), e 14% da variância de resultados da avaliação externa a Matemática (R2 aj =

.129, p < . 05) (F (1, 58) = 9.725, p < .05).

O tempo que os professores estimam aproveitar na disciplina de Português não

prediz os resultados académicos da avaliação interna dos alunos (R2 aj = .004, n. s.) (F

(1, 58) = 1.225, n. s.), mas prediz os resultados da avaliação externa (Prova de Aferição)

(R2 aj = .119, p < . 05) (F (1, 58) = 8.965, p < .05). O modelo explica 13% da variância

dos resultados da avaliação externa a esta mesma disciplina.

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93

Discussão

A discussão dos resultados procura respeitar a ordem das questões de

investigação, considerando o objetivo principal: a compreensão da relação entre o

tempo de ensino ministrado pelo professor, o tempo de empenhamento dos alunos e os

resultados académicos obtidos no final do 6º ano de escolaridade.

A primeira questão de investigação à qual nos propusemos responder quando

iniciamos este trabalho prende-se com a relação entre tempo de ensino e resultados

académicos.

Os resultados evidenciam que o tempo de ensino observado não se correlaciona

com os resultados académicos internos e externos (prova de aferição) nas disciplinas de

Português e Matemática. Contudo numa das turmas (Turma F), cujo tempo de ensino

observado é significativamente mais baixo a Matemática que o das restantes turmas, os

resultados académicos dos alunos também são significativamente mais baixos que os de

quase todas as outras turmas. Nesta mesma turma, embora o tempo de ensino observado

a Português esteja na média das outras turmas, os resultados da avaliação externa são

mais baixos do que os das outras turmas.

As análises de regressão hierárquica evidenciam que o tempo de ensino

observado não aduz uma percentagem de variância significativa a modelos em que se

toma o tempo de empenhamento estimado ou o tempo de ensino estimado como

preditores isolados. Porém, estas mesmas análises revelam que o tempo de ensino

estimado se constitui como um preditor significativo dos resultados na prova de aferição

(avaliação externa) a Português e que constitui uma das variáveis que mais contribui

para os coeficientes de determinação dos preditores em Português e Matemática. Em

todo o caso, o tempo de ensino, na forma como é mais usualmente conceptualizado e

mensurado – o tempo de ensino observado – não se correlaciona com os resultados

académicos nem os prediz, embora a turma com tempo de ensino mais baixo a

Matemática (a turma F), como foi referido anteriormente, apresente resultados mais

baixos que as restantes turmas na avaliação externa (prova de aferição), mas não na

avaliação interna. Convém ainda notar que o tempo de ensino estimado pelos

professores é, no geral, significativamente inferior ao tempo de ensino observado quer

no Português, quer na Matemática, podendo indiciar problemas na mensuração de um

ou ambos os tempos de ensino ou uma perceção pessimista dos professores

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relativamente ao aproveitamento do tempo de aula e à sua ligação ao desempenho dos

alunos.

Estes resultados levantam três questões relevantes: uma diz respeito aos

resultados do tempo de ensino observado nas turmas que constituem a nossa amostra,

outra diz respeito às diferenças entre resultados internos e externos e uma terceira diz

respeito à importância teórico-prática da variável “tempo de ensino”.

No que diz respeito à primeira destas questões, é fundamental salientar que, o

tempo de ensino observado em Matemática, em cinco turmas (todas da mesma escola),

é extremamente elevado e a amplitude do tempo de ensino é muito baixa (de apenas

2%). Só a sexta turma, que é de uma escola diferente, apresenta um tempo de ensino

muito inferior a qualquer das outras. Com grande probabilidade verificar-se-á aqui um

efeito de escola não-negligenciável. Um estudo multinível com um número maior de

turmas agrupadas por escola poderia especificar se uma variável de segundo ou de

terceiro nível como a escola modela significativamente os tempos de ensino em sala de

aula.

A questão mais importante que aqui se coloca parece-nos ser a de que o

invulgarmente elevado tempo de ensino verificado nestas cinco turmas pode levantar

algumas reservas relativamente à forma de registo e medição do tempo de ensino, o qual

no entanto obedeceu, sublinhe-se, aos critérios tradicionais de cálculo desta variável

(tempo de ensino = tempo alocado – transições – interrupções), com um grau elevado de

concordância interobservadores. Seja como for, é evidente que a baixa variabilidade dos

tempos de ensino levanta alguns problemas no que diz respeito à interpretação dos

resultados, o mesmo podendo dizer-se do pequeno número de turmas observadas

(embora se deva igualmente acentuar que este tipo de estudos implica um número muito

elevado de horas de permanência nas salas de aula, sendo por isso tipicamente realizado

com um pequeno número de turmas).

O que se verifica com a disciplina de Matemática não é exatamente idêntico ao

que se verifica com o Português, uma vez que, como dissemos atrás, a Turma F (que

pertence a outra escola) apresenta resultados externos significativamente inferiores às

restantes turmas, com exceção da Turma C na avaliação externa (média de 2.80 contra

3.30) apesar de ainda aqui a diferença não ser propriamente negligenciável. O mais

relevante é que isto sucede apesar de o tempo de ensino observado na turma F ser

idêntico ao das outras turmas e ser mesmo significativamente superior ao da Turma D (a

qual alcança apesar disso resultados académicos superiores). Uma vez que esta turma

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95

pertence a outra escola, é possível, como também já referimos, que haja fatores

específicos (e.g., escola, preparação anterior dos alunos) que estão a modelar os

resultados académicos dos alunos.

Uma segunda questão relevante na análise da relação entre tempo de ensino e

resultados académicos é que as diferenças só se verificam na avaliação externa (com a

exceção referida), mas não na avaliação interna. Com grande probabilidade isto fica a

dever-se às diferenças de objetivos entre a avaliação interna e a avaliação na prova de

aferição. Na avaliação interna a nota parece representar bastante mais do que o

desempenho do aluno numa prova específica. Na verdade, pode incluir critérios como o

desempenho nos testes, em fichas, em trabalhos individuais e de grupo, para além do

esforço percecionado pelo professor, do empenho, da motivação, etc. (Lopes, 2009,

2010). Ou seja, a nota reflete um trabalho de meses (neste caso do 3º período letivo)

bem como um processo longo. A prova de aferição, que tem como objetivo perceber em

que ponto se encontram os alunos de um determinado ano de escolaridade, e que avalia

um produto e não um processo, reflete naturalmente competências não completamente

sobreponíveis às que se pretende evidenciar na nota do final de um período letivo. Uma

das consequências mais usuais destes diferentes propósitos é uma menor amplitude nas

notas internas, o que se verifica precisamente nas turmas por nós observadas: a

amplitude nas notas internas é de .60 a Português e de 1.10 a Matemática e a amplitude

das notas externas é de 1.20 a Português (o dobro) e de 1.50 a Matemática.

Consequentemente, a relação entre tempo de ensino e resultados académicos conduz no

nosso estudo a conclusões algo díspares, consoante estejamos a considerar como

resultados académicos a nota interna ou a nota externa. No primeiro caso diríamos que o

tempo de ensino não se relaciona com os resultados académicos e no segundo caso

diríamos que sim.

Sublinhe-se que a investigação sobre o tempo de ensino evidencia que quer as

medidas do tempo de instrução quer as medidas de realização académica influenciam a

magnitude das relações (Denham & Lieberman, 1980). Por exemplo, em geral a relação

entre o tempo alocado e a realização é menor do que a relação entre tempo de

empenhamento e realização (Gettinger, 1985), situação que também encontramos no

nosso estudo. As relações do rendimento académico com medidas de autorrelato, com

perceções, ou com medidas de empenhamento na tarefa tendem a ser ainda mais

evidentes (Peterson et al., 1982), o que também verificamos de forma bastante evidente

com os nossos participantes.

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96

Devemos pois acentuar que, apesar das limitações referidas, nomeadamente os

problemas de conceptualização, metodológicos e de mensuração, as diferenças

encontradas entre a Turma F e as restantes turmas evidenciam que o tempo de ensino

não é irrelevante para os resultados académicos, mas os seus efeitos são equívocos, uma

vez que nesta mesma turma (a turma F) o tempo de ensino a Português é muito elevado,

mas os resultados externos dos alunos são mais baixos do que nas restantes turmas.

Neste particular, o problema que se nos coloca é que estas conclusões são retiradas do

contraste entre cinco turmas e uma única turma (devido à pouca variabilidade do tempo

de ensino entre as cinco turmas) e haver limitações no controlo de covariantes que

poderão contaminar os resultados (e.g., efeito escola).

Estas duas primeiras questões prendem-se muito diretamente com a questão de

fundo que é necessário considerar, a saber, a conceptualização da variável “tempo de

ensino” (ou “tempo de instrução”) e a sua relação com os resultados académicos.

Deixando de parte a questão da forma de avaliar os resultados académicos, importa

sublinhar que o tempo de ensino tem sido alvo de interesse variável ao longo do tempo,

havendo autores que a consideram relevante para compreender os resultados

académicos dos alunos (e.g., Wang, 2011; Wang & Walberg, 1983; Wanzek & Vaughn,

2008), outros que consideram que se trata apenas de um lugar-comum que não permite

mais do que conclusões triviais ou meros truísmos (e.g., alunos que estudam mais

aprendem mais) (e.g., Jackson, 1985; Phillips, 1985), outros ainda que veem no

conceito pura ideologia (McNamara, 1981). Há ainda autores que consideram que

quando o conceito tempo de instrução é consubstanciado numa variável para efeitos de

investigação, levantam-se questões de mensuração muito mais complexas do que a

simplicidade do conceito faria supor (e.g., Karweit, 1983, 1985; Karweit & Slavin,

1982). Estes mesmo autores consideram por outro lado que, mesmo se adequadamente

medido, o tempo de ensino constitui um fraco preditor dos resultados académicos. Há

ainda autores que sustentam que o tempo de ensino constitui uma débil aproximação das

cognições dos alunos, variável na qual consideram que a investigação sobre o tempo de

instrução se deveria focalizar (Peterson et al., 1982). Berliner (1990, 2007), contudo,

afirma que o tempo de instrução merece o mesmo estatuto científico que a homeostase

na biologia ou o reforço na psicologia, uma vez que permite a compreensão do que se

passa nas salas de aula e constitui um bom preditor dos resultados académicos dos

alunos, pelo que deveria receber muita mais atenção do que aquela que tem recebido ao

longo do tempo em educação e psicologia.

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97

As diferentes perspetivas relativamente à conceptualização e à relevância do

tempo de ensino na aprendizagem dos alunos justificam em larga medida as

dificuldades que neste trabalho (e em todos os do género) se levantaram quanto à

operacionalização do tempo de ensino e à sua mensuração. Berliner (1990) explicita de

forma muito clara estas dificuldades ao sugerir que o tempo de ensino deve ser

concebido como um conceito de ordem superior que integra em si diversas outros

conceitos de ordem e natureza diversa e que, por isso, a investigação continua com

dificuldades em definir claramente o conceito e em acordar quanto à forma de o medir

de forma válida e fiel. Daí que os diversos estudos apresentem conceitos de tempo de

ensino aparentemente não-consonantes entre si ou representados por outros constructos,

o que dificulta por vezes as comparações. Como explicamos na primeira parte deste

trabalho, o tempo de ensino pode ser representado na literatura especializada por

subconceitos como o tempo alocado, o tempo de empenhamento (ou de empenho), o

tempo na tarefa, o tempo académico de aprendizagem, as transições, o tempo de espera,

a aptidão (tempo de que o aluno necessita para aprender uma tarefa ou competência), a

perseverança ou o ritmo, entre outros.

Refutando estas críticas, Berliner (2007) sustenta que, pelo contrário, o tempo de

instrução apresenta a grande vantagem de, para além de apresentar correlações

consistentemente positivas com os resultados académicos, poder ser medido numa

métrica clara (segundos, minutos, horas, etc.) e ser comparável. Já Thorndike (1913),

cujos trabalhos sob as “leis da aprendizagem” são fundamentalmente recordados pela

“lei do efeito”, vincou claramente a importância da “lei do exercício”, deixando claro

que a duração do exercício constitui uma variável de primeira importância para a

aprendizagem. Isto significa que, na ausência de um tempo mínimo de ensino, será

difícil que os alunos possam realizar aprendizagens significativas. O tempo de ensino

poderá pois não ser condição suficiente para produzir aprendizagem, mas constitui-se

certamente como condição necessária.

Os nossos resultados, como quaisquer outros nesta área, levantam o clássico

problema da quantidade versus qualidade até porque, no nosso caso, se verificam de

facto resultados algo equívocos quando se considera apenas o tempo de ensino

observado (e não o tempo de ensino estimado). O relatório Coleman (Coleman et al.,

1966) que nos EUA levantou a hipótese de o número de dias de escola, as faltas, as

horas de escola, etc. serem pouco relevantes para a aprendizagem, originou um debate

que ainda não se extinguiu e que nos leva a refletir sobre os nossos resultados e sobre se

Page 100: Susana de Jesus Moreira da Cunha da Cruz Cerqueira€¦ · O tempo em sala de aula constitui um constructo multidimensional e de difícil operacionalização. O impacto do tempo na

98

a investigação nesta área pode em alguma circunstância sustentar uma política

relativamente à organização dos tempos escolares.

Embora os modelos que testamos (e que incluíam medidas de tempo de ensino

observado e percecionado e de tempo de empenhamento observado e percecionado)

expliquem percentagens relativamente baixas de variância dos resultados académicos,

os coeficientes de determinação aproximam-se dos .20. Já há muito anos atrás Gage

(1978) e Berliner (1987) chamavam a atenção para o facto de resultados da investigação

médica na área do tabagismo/longevidade terem sido utilizados como justificativo de

políticas antitabágicas apesar de não explicarem mais do que 2% da variância na

longevidade. O modelo que testamos e os dados da investigação nesta área têm

encontrado percentagens sistematicamente superiores, o que eventualmente justificaria

que fosse fornecida outra atenção ao assunto, até porque se trata de uma variável

facilmente manipulável, mas que de qualquer forma requer bastante ponderação. Note-

se que para o legislador é fácil manipular a variável tempo alocado, mas não a variável

tempo de empenhamento, já que sobre esta não tem qualquer controlo (Casey et al.,

2011). O problema é que a primeira constitui um preditor muito mais fraco da

realização do que a segunda.

É ainda interessante sublinhar que no nosso estudo os “tempos percecionados ou

estimados” (tempo de ensino estimado e tempo de empenhamento estimado) se revelam

em geral melhores preditores que os tempos observados (tempo de ensino observado e

tempo de empenhamento observado). Esta constatação poderá traduzir alguma limitação

nas formas de observação e registo dos diversos tempos e/ou numa apurada perceção do

tempo aproveitado por parte dos participantes, até porque estas perceções se baseiam

numa prolongada interação professor/alunos. As observações de tempo de

empenhamento e do tempo de ensino representam naturalmente amostras limitadas no

tempo dessas interações podendo captar menos do que aquilo que professores e alunos

são capazes de intuir (Maroni, 2011). Em todo caso, levanta-se-nos a questão de saber

se a estimativa dos tempos (de ensino e de empenhamento) não poderá constituir uma

forma bastante mais económica e ainda assim mais fiável de avaliar o tempo de ensino e

o tempo de empenhamento. O custo das investigações observacionais é de facto tão

elevado em termos de recursos humanos e de consumo de tempo que quaisquer

alternativas que não conduzam a uma perda de validade e fiabilidade poderão ser

ponderadas, tal como a utilização de uma metodologia mista em que os tempos de

observação sejam encurtados.

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99

A revisão da literatura evidencia que os estudos sobre a relação entre tempo de

ensino e realização académica são atualmente menos atraentes do que os estudos que

abordam variáveis relacionadas com os alunos e, em particular, variáveis cognitivas de

operacionalização e mensuração difícil (e.g., autorregulação, desânimo aprendido,

motivação para o sucesso, pensamento crítico). Contudo, a centração em variáveis

relacionadas com o aluno pode, se em excesso, diminuir ou relegar para plano

secundário o papel do ensino na aprendizagem, e hipervalorizar as condições do aluno,

nomeadamente as suas capacidades (Lopes, 2010). O insucesso académico, em

particular, é usualmente estudado a partir das condições do aluno ou da sua família com

manifesta desvalorização do papel do ensino na aprendizagem (Marzano, 2003;

Wadlington & Wadlington, 2005; Walsh, Glaser, & Dunne-Wilcox, 2006).

Embora se deva reconhecer que os constructos relacionados com o tempo em

sala de aula necessitam de clarificação, de uma melhor operacionalização e de formas

de mensuração mais viáveis, deve igualmente sublinhar-se que muitos dos constructos

relativos aos alunos, hoje em dia bastante atrativos para os investigadores (e.g., a

consciência fonológica), apresentam ainda maiores problemas. Na verdade, dado que os

estudos sobre o tempo são apresentados numa mesma métrica, apresentam a vantagem

de poderem ser comparados entre países, regiões e salas de aula, o que constitui uma

importante vantagem (Abadzi, 2009; Cunningham, Zibulski, Stanovich, & Stanovich,

2009).

Por vezes argumenta-se que os estudos sobre o tempo na sala de aula são

incapazes de alcançar aspetos importantes da instrução, nomeadamente a qualidade do

ensino ou as suas opções. Porém, se observarmos o comportamento de um professor que

considera que deve proteger sistematicamente o vetor primário da aula (a lição) (Doyle,

1985, 1986), esperar-se-á que o tempo que este professor perde com questões de gestão

de sala de aula seja menor do que o tempo que despende na lição. Ou seja, o tempo

gasto nas diversas fases e processos da aula constitui um indicador das crenças do

professor relativamente à forma de atingir os resultados que se propõe. Não se trata do

único indicador, mas é um indicador relevante (Casey et al., 2011; Guillaume &

Khachikian, 2011).

Berliner (1990) assinala enfaticamente que poderá não existir melhor indicador

da qualidade do ensino do que o conceito de “tempo académico de aprendizagem”

(academic learning time), uma vez que este indica se o professor consegue que todos ou

quase todos os alunos estejam empenhados em tarefas relacionadas com os objetivos da

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100

disciplina, a um nível considerado de sucesso, uma vez fornecido pelo professor o

tempo suficiente para que tal seja conseguido. Nesta perspetiva, o tempo académico de

aprendizagem é, no entender de Berliner, uma medida fiável do relativamente vago

conceito de “qualidade de ensino”.

A segunda questão de investigação neste estudo diz respeito à relação entre o

tempo de empenhamento dos alunos e os resultados académicos às disciplinas de

Português e de Matemática.

Os resultados deste estudo situam o intervalo médio para o tempo de

empenhamento entre os 50 e os 90% (Hamacheck, 1994). De facto a média do tempo de

empenhamento observado foi sempre superior a 50%, quer à disciplina de Português,

quer à disciplina de Matemática, com exceção da turma F, cuja média do tempo de

empenhamento observado a Português foi de 46.58 e a Matemática de 39.08 (cf. Quadro

5). Acresce ainda que os resultados permitem verificar que a média do tempo de

empenhamento dos alunos observados (n = 10) à disciplina de Português, é,

globalmente, mais elevada do que a média do tempo de empenhamento dos alunos a

Matemática, com exceção da Turma E (83.76 a Matemática vs. 74.70 a Português).

Karweit (1983) aponta para correlações entre tempo de empenhamento e resultados

académicos na leitura da ordem dos .73 a .75 e resultados da ordem dos .70 a .73 no

caso da Matemática, e Rossmiller (1986) considerando diferentes variáveis temporais

aponta para uma variância dos resultados académicos de .56, .27, e .73 à Língua

Materna e, para os mesmos anos de escolaridade, uma variância de .30, .18, e .12 a

Matemática.

O facto de a média do tempo de empenhamento dos alunos ser mais elevada a

Português do que a Matemática pode dever-se a múltiplos fatores, nomeadamente: (1) o

conhecimento pragmático (ativo ou passivo) que o aluno possui da Língua Materna

pode permitir-lhe uma certa perceção de competência (real ou imaginária); (2) a

Matemática é geralmente tida como uma matéria mais difícil do que a Língua Materna,

o que pode gerar um menor empenhamento por parte dos alunos; (3) socialmente parece

ser mais fácil afirmar o fracasso e baixo empenho na Matemática do que no Português;

(4) a Matemática pode ser de facto mais difícil do que o Português, sobretudo devido

aos múltiplos conhecimentos hierarquizados e mutuamente dependentes nela

implicados.

Neste estudo (cf. Quadro 7), os resultados permitem também verificar a

existência de uma associação que, embora baixa, é estatisticamente significativa, entre o

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101

tempo de empenhamento observado à disciplina de Matemática e os resultados da

avaliação interna (.20) e externa (.24). Tal facto poderá indiciar que os alunos, podendo

estar “on-task” ou “off-task”, apresentaram comportamentos médios que refletem um

comportamento “in-task”, o que terá potenciado os resultados académicos. Embora o

estado de “flow”35

pareça não ser constante (o tempo médio de empenhamento

observado a Matemática, com exceção da turma F que regista 39.08, oscila entre 55.00 e

83.76), pode considerar-se que os alunos estiveram envolvidos na tarefa, uma vez que o

tempo de empenhamento observado se encontra acima dos 50% (Jang, 2008; Kilian et

al., 2010; Munns, 2004; Yazzie-Mintz, 2009, 2010).

Atendendo a que se trata de uma disciplina usualmente considerada difícil e em

que os resultados dos estudos internacionais (e.g., OECD, 2009a, 2009b) revelam que

os alunos portugueses apresentam desempenhos normalmente baixos, os tempos de

empenhamento encontrados são elevados, o que provavelmente se deverá a uma ação

eficaz dos professores das turmas observadas (Harris, 2011). Por outro lado, o

desfasamento entre as avaliações interna e externa a Matemática poderá refletir algumas

dificuldades de adequação dos critérios dos professores relativamente às exigências

curriculares. Trata-se contudo, de um padrão relativamente vulgar no sistema educativo

Português (Lopes, 2010).

A turma F, cujas médias da avaliação interna e externa se situam,

respetivamente, entre 2.80 e 2.50 a Matemática, e entre 3.10 e 2.80 a Português,

apresenta níveis de tempo de empenhamento observado significativamente mais baixos

do que as restantes turmas, quer na disciplina de Matemática (39.08), quer na disciplina

de Português (46.58).

Tendo em conta a literatura especializada, isto poderá traduzir algum problema

ao nível da gestão de sala de aula, visto que um professor eficaz36

tende a manter um

nível de empenhamento médio acima dos 75%, muito superior portanto ao que ocorre

nesta turma (Hamacheck, 1994). É possível que nesta turma quer a ordem, enquanto

conjunto de regras dirigido ao grupo, quer o ensino/aprendizagem, não estejam a ser

conduzidos de forma a possibilitar o empenhamento dos alunos, requisito mínimo para

35 Imersão de uma pessoa numa actividade com grande envolvimento e significativo nível de sucesso (Csíkszentmihályi, 1996). Trata-se de um conceito que está bastante próximo do conceito de empenhamento. 36

A literatura sugere que o nível de empenhamento dos alunos poderá permitir deduzir a eficácia dos professores, possibilitando

o seu agrupamento em três níveis diferentes: 90% dos alunos com 90% do nível de empenhamento; 50% dos alunos com 50% do nível de empenhamento; e menos de 50% dos alunos com níveis de empenhamento inferiores a 50% (Raphael, Pressley, & Mohan, 2008)

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obtenção de resultados académicos satisfatórios (Kayikçi, 2009; Tauber, 2007:

Zigmond, 1996).

A ordem na sala de aula, além da orientação e da liderança do professor, implica

uma co-ordenação do trabalho a realizar, num ambiente de trabalho proativo. O modelo

de gestão do professor, com uma maior ou menor focalização no aluno, poderá ter

consequências sobre a aprendizagem. Contudo, relevante parece ser mesmo a

necessidade de otimização do tempo alocado para o ensino, com a menor incidência

possível de comportamentos disruptivos. O professor eficaz na gestão da sala de aula

tende a estabelecer dinâmicas que diminuem as transições inter e intratarefas, mantendo

o “momentum”, num ritmo de ensino adequado, considerando os conteúdos

disciplinares e as características dos alunos (Doyle, 1980; Kounin, 1977).

A gestão eficaz da sala de aula possibilita a maximização do tempo alocado e do

tempo como oportunidade para aprender, permitindo o acompanhamento dos alunos nas

aprendizagens dos conteúdos e a maximização do tempo de ensino (“feedback”

atempado, aceitação do “tempo de erro”, utilização do “tempo de espera” e do “tempo

para pensar”) (Brophy & Good, 1986; Csíkszentmihályi, 1997; Gettinger, 1985).

Acresce ainda que o tempo em que o aluno está profundamente envolvido, em

estado de “flow”, parece sugerir a otimização do sucesso escolar, o que, eventualmente,

poderá não ter acontecido na turma F. Convém ainda assim salientar que as variáveis do

professor não são as únicas que explicam o empenhamento dos alunos e que, embora

neste estudo estas sejam as variáveis fundamentais em análise, variáveis como o meio

familiar, o estatuto socioeconómico, as expectativas dos alunos, dos encarregados de

educação, a motivação dos alunos, etc., terão que ser consideradas num modelo

compreensivo dos resultados académicos, na sua relação com o tempo de

empenhamento (Gettinger & Seibert, 2002; Bryson & Hand, 2007; Connor et al., 2009).

Já no que diz respeito à disciplina de Português, o tempo de empenhamento

(observado) não apresenta uma relação significativa com os resultados académicos. Por

outro lado, em todas as turmas, com exceção da turma F, os resultados da avaliação

externa são superiores aos da avaliação interna. Saliente-se ainda que os alunos da

turma F são os que estimam aproveitar menos da aula de Português (3.15).

Aparentemente, neste caso, os professores adotam o padrão pouco usual de

deflacionar as notas internas por comparação com as notas na avaliação externa. É de

realçar que é sempre difícil ajuizar sobre estas questões dado o facto de as provas

nacionais apresentarem significativas variações anuais de dificuldade. Assim, é possível

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103

que as provas de Português variem anualmente de dificuldade tornando difíceis as

comparações, tal como é possível que as provas externas de Matemática sejam em geral

mais complexas para os alunos do que as de Português devido a um eventual

desfasamento do tipo de problemas e/ou da linguagem utilizada. Powell, Fuchs, Fuchs,

Cirino e Fletcher (2009) notam que a formulação dos problemas pode ser muito variada,

levantando inclusivamente problemas aos alunos no reconhecimento do que se trata e do

que se pede. Consequentemente a familiaridade da linguagem matemática das salas de

aula pode dar origem a uma sensação de estranheza ou de “nunca antes visto” no

contexto de um exame, no qual a própria ansiedade coloca problemas de realização

(Grills-Taquechel, Fletcher, Vaughn, & Stuebing, 2011; Fuchs et al., 2009). Os

resultados evidenciam que o tempo de empenhamento estimado a Matemática não

prediz os resultados académicos dos alunos, quer sejam resultantes da avaliação interna,

quer sejam da avaliação externa. Deve salientar-se que o tempo de empenhamento

estimado a Matemática oscila entre 3.25 e 3.90 (para um máximo de 4.00) (cf. Quadro

5). Tal facto poderá indiciar que os alunos sabem que tipo de comportamento se espera,

podendo ter respondido segundo padrões expectáveis e não considerando a realidade.

Poderá também ser questionado o modo como foi solicitado ao aluno que se

manifestasse sobre o tempo de empenhamento que julgou ter aproveitado, e até mesmo

o tipo de medida utilizada, já que, sendo apenas uma perceção, poderá conter (ou não)

juízos valorativos, já que não ficou claramente definido o que se entendia por

“aproveitar da aula”.

Globalmente, parece haver uma clivagem entre as turmas A, B, C, D, E e a

turma F no que diz respeito: (1) ao tempo de empenhamento estimado, já que a média

de tempo de empenhamento estimado pelos alunos da turma F se afasta da média de

estimativa de empenhamento das restantes turmas, mais em relação a umas turmas (A,

D, E) do que outras (B, C); (2) aos resultados académicos dos alunos da turma F, que

são inferiores nas duas disciplinas; (3) à média de tempo de empenhamento observado,

que é também a mais baixa de todas as turmas, e a que correspondem resultados

académicos inferiores.

Independentemente do posicionamento que se adote, visto a literatura considerar

o empenhamento um “metaconstructo”, existem dois vetores que lhe subjazem, quando

se analisa o sucesso escolar: o empenhamento substantivo e o empenhamento

procedimental. Deste modo, por um lado, seria importante averiguar, na turma F, qual o

grau de envolvimento dos alunos com as aprendizagens escolares e com a comunidade

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104

escolar em que a turma se encontra inserida e, por outro, contextualizar a gestão da sala

de aula e o tipo de estrutura organizacional conducente ao empenhamento dos alunos.

Contudo, ainda que o tempo de empenhamento possa ser considerado um

preditor dos resultados académicos, associar o tempo de empenhamento a uma taxa de

empenhamento comporta riscos. De facto, os alunos poderão estar numa tarefa e não

estar realmente empenhados ou podem até permanecer muito tempo na tarefa e o seu

nível de empenhamento ser baixo; o aluno pode mesmo estar na tarefa por modelagem,

ou pode estar pouco empenhado porque a tarefa está desadequada ao seu perfil de

competência (Connor et al., 2009; Karweit, 1983, 1984; Cairns & Dyson, 2005; Munns,

2004; Yazzie-Mintz, 2010). A perceção que os alunos da turma F poderão ter sobre o

tempo de empenhamento (3.40 a Matemática e 3.15 a Português) poderá ser o que

efetivamente desejam, ou o que lhe proporcionam, mas os resultados obtidos nas provas

de aferição e na avaliação interna evidenciam que tal perceção sobre o tempo na tarefa

não se ajusta às necessidades de aprendizagem. Contudo, a perceção dos alunos das

restantes turmas parece ser mais realista, sendo mesmo comprovada pelos resultados

académicos da avaliação interna.

Possivelmente, tal como sugere Yazzie-Mintz (2010), será necessário ponderar e

analisar outras variáveis (e.g., autoeficácia dos alunos, as suas características, a

performance do professor, a qualidade do ensino, a gestão da sala de aula, a adequação

dos materiais), para que se possa perceber melhor o desfasamento entre a perceção do

tempo de empenhamento dos alunos e os resultados académicos.

A terceira questão de investigação neste estudo diz respeito à relação entre o

tempo de ensino e o tempo de empenhamento.

Existe algum consenso na literatura quanto ao poder preditivo do tempo de

ensino e do tempo de empenhamento37

relativamente aos resultados académicos dos

alunos (Gettinger & Walter, 2012; Marcotte & Hansen, 2010). Contudo, a relação entre

estas duas variáveis é menos clara sendo que, na ausência de aproveitamento de tempo

de ensino, não poderá existir empenhamento por parte dos alunos. No entanto, o

desfasamento entre tempo de ensino e tempo de empenhamento pode ser muito

significativo. Assim, se o segundo não dispensa o primeiro, este não assegura

necessariamente aquele (Evertson et al., 2000; Ladd & Dinella, 2009). Há ainda a

possibilidade, em casos excecionais, de o tempo de empenhamento ser superior ao

37 A literatura, atualmente, amplia o sentido de empenhamento dos alunos: “the rationale for student participation and engagement extends well beyond good educational practice and into social policy, social development, health, and well-being” (Willms et al., 2009, p. 7)

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tempo de ensino (Martin & Baldwin, 1996). É este o caso da Turma D por nós

observada. Neste caso específico verifica-se que o tempo de ensino é elevado (perto dos

80%) e a este tempo de ensino elevado respondem os alunos com um empenhamento

muitíssimo elevado, o que sugere que o tipo de ensino fornecido pelo professor é muito

estimulante para os alunos.

Deve ainda realçar-se que persistem problemas que se prendem com a

imprecisão dos conceitos de tempo de ensino e de tempo de aprendizagem e com a

forma de os avaliar. No que diz respeito ao empenhamento, Appleton et al. (2008)

sustentam que continua a ser necessário: (a) desenvolver uma denominação consensual

para o constructo; (b) identificar medidas fiáveis das dimensões do constructo; (3)

completar os indispensáveis estudos de validade de constructo para o avanço da

investigação e da prática. Os autores sublinham que existe uma miríade de definições de

empenhamento, o que motiva operacionalizações e formas de medição completamente

díspares. Os nossos resultados devem neste particular ser interpretados com cautela uma

vez que refletem apenas duas das formas possíveis de conceber e medir o

empenhamento (empenhamento observado e empenhamento estimado pelos

professores).

Tendo presente as ressalvas referidas, deve sublinhar-se que os nossos resultados

evidenciam que tendencialmente a tempos de ensino mais elevados correspondem

tempos de empenhamento mais elevados, embora haja exceções (casos das turmas C e

D a Matemática). Ainda assim, nas aulas de Matemática, só se encontra uma correlação

significativa entre tempo de ensino estimado e tempo de empenhamento observado o

que significa que o tempo de ensino e o tempo de empenhamento observados não se

correlacionam. Verifica-se um padrão semelhante para a disciplina de Português,

embora aqui a correlação entre tempo estimado e tempo observado seja superior ao que

se verifica na Matemática e as correlações do tempo de empenhamento estimado com o

tempo de ensino estimado e com o tempo de empenhamento observado sejam

significativas.

Uma das constatações mais relevantes destes resultados é o facto de tanto a

Português como a Matemática o tempo de ensino observado não se correlacionar com o

tempo de empenhamento como aliás não se correlaciona com os resultados académicos.

Há certamente que ter em conta que se trata de um número limitado de turmas e que o

tempo de ensino observado apresenta pouca variabilidade, com exceção de uma das

turmas. Ainda assim esta constatação parece sugerir que poderá existir, como é sugerido

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106

por alguns autores, um desfasamento entre objetivos e realizações dos professores e

objetivos e realizações dos alunos (e.g., Boekaerts, De koning, & Vedder, 2006; Lemos,

1996; McCaslin & Good, 1993). Assim, enquanto os professores tentam otimizar o

tempo de ensino, evitando perdas de tempo nomeadamente na gestão de

comportamentos, os alunos poderão (em média) valorizar menos os objetivos de

realização de aprendizagem e embrenhar-se, pelo menos esporadicamente, em

comportamentos competitivos com os objetivos comportamentais e de realização do

professor (Malka & Covington, 2005). Isto não significa que o tempo de ensino possa

ser considerado uma variável irrelevante para os resultados académicos uma vez que,

como se disse atrás, na sua ausência seria difícil conceber a existência de

empenhamento ou de resultados escolares. Pode significar, isso sim, que sendo uma

variável necessária não é ainda assim suficiente para produzir empenhamento e/ou

resultados escolares.

Porventura os resultados encontrados contendem com uma das crenças mais

comuns entre os professores, a saber, a de que, desde que o professor ensine, os alunos

deverão estar empenhados e aprenderão (isto é, obterão resultados) (Lopes & Santos, in

press). A razão pela qual esta crença só parcialmente terá sustentação na realidade

poderá relacionar-se com o facto de o empenhamento dos alunos se relacionar com

outras variáveis que não apenas o tempo que o professor aproveita da aula. De entre

estas destacam-se a qualidade do ensino (o que é que o professor faz no tempo

disponível para a aula) (Cunningham et al., 2009), o nível de preparação anterior dos

alunos (Meisels & Liaw, 1993; Harris, 2011), as expectativas dos alunos (Lowman &

Elliot, 2010; Moru, Persens, & Breiteig, 2010) ou as próprias expectativas dos

professores (Lane, Pierson, Stang, & Carter, 2010; Rowser, 1994; Torff, 2011), entre

outras. Há ainda autores que destacam a importância, para o professor, de manter esta

crença como forma de proteger a estima própria, a perceção de eficácia pessoal e a

congruência entre o que perceciona e o que deseja (Covington, 1984, 1992; Klassen &

Chiu, 2010; Lopes, Monteiro, Sil, Rutherford, & Quinn, 2004; Neuberg, Judice, Virdin,

& Carrillo, 1993).

O tempo de ensino estimado é a variável que apresenta uma associação mais

significativa com as outras variáveis, quer a Português quer a Matemática, o que sugere

que aquilo que foi observado em termos do aproveitamento da aula (tempo de ensino

observado) explica menos o empenhamento do que a estimativa do tempo de ensino.

Este facto, para além de reforçar a ideia que a qualidade do tempo utilizado é tanto ou

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107

mais importante que a quantidade de tempo aproveitado, evidencia que a perceção que

os professores têm acerca do tempo de ensino pode ter uma relação significativa com o

empenhamento dos alunos.

Alguns autores referem que a nossa obsessão pelo tempo nos impede por vezes

de observar de que forma ele é aproveitado (Cunningham et al., 2009; Wanzek &

Vaughn, 2008). Assim, aumentar o ano escolar ou o tempo disponível para uma

determinada matéria, por exemplo, não garante só por si maior empenhamento dos

alunos (podendo até diminui-lo). Significa isto que a relação entre tempo de ensino e

tempo de empenhamento é complexa e joga com múltiplos fatores, alguns dos quais

poderão ser controlados pelo professor (e.g., centrar-se nas tarefas académicas e evitar

perdas de tempo em transições, interrupções ou tarefas disciplinares), mas outros

estarão fora do seu controlo (e.g., formação das turmas, conhecimentos anteriores dos

alunos caso estes não tenham sido seus alunos em anos anteriores) (Tauber, 2007;

Thanasoulas, 2010). Os nossos resultados sugerem de facto uma certa independência

entre tempo de ensino e tempo de empenhamento o que aponta para a necessidade de

considerar cuidadosamente as dimensões quantitativas (quanto tempo) e qualitativas (o

que fazer com o tempo disponível) do tempo de ensino e as suas relações com o tempo

de empenhamento e, naturalmente, com os resultados académicos (Witt et al., 2004). A

multiplicidade e complexidade de interações entre os diversos tempos em contextos de

aprendizagem, para além de interações com outros fatores respeitantes ao professor, aos

alunos, às escolas, etc., permitem supor que, independentemente de alguns enunciados

relativamente gerais sobre estes tempos e interações (e.g., “é necessário aproveitar o

mais e o melhor possível o tempo alocado para o ensino”; “é necessário que o tempo de

ensino tenha correspondência no tempo de empenhamento dos alunos”), existe um

delicado equilíbrio entre estas variáveis que implica que nem sempre mais significa

melhor e que enunciados gerais podem não se aplicar ou não se traduzir em ganhos reais

em contextos específicos.

Saliente-se que algumas medidas de política educativa que se baseiam

(necessariamente) em enunciados gerais (ex. aumento dos tempos letivos de 50 para 90

minutos, alargamento do ano escolar) não revelam na prática a eficácia que a teoria

sugeria. Não decorre daqui que não se possa ou não se deva adotar medidas baseadas

em certos pressupostos teóricos relativos à organização do tempo escolar. Deve contudo

ter-se em consideração que, nesta área, medidas aplicadas a um universo extremamente

diversificado e extremamente complexo podem revelar-se muito eficazes num contexto

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108

e totalmente ineficazes num outro. Não porque os pressupostos teóricos relativos à

organização do tempo sejam falsos, mas porque, eventualmente, variáveis do contexto

não controladas moderam ou anulam o seu efeito.

Limitações e implicações para estudos futuros

O nosso estudo, como qualquer outro nesta ou noutras áreas de investigação,

apresenta limitações que importa salientar.

Embora tenham sido acautelados os procedimentos aquando da observação da

sala de aula, e o acordo interobservadores, o certo é que alguns resultados, sobretudo os

que dizem respeito aos elevados tempos de ensino observados levantam dúvidas sobre a

validade das observações. A validade pode ter sido afetada (não é certo que o tenha

sido) por dificuldades das observadoras ou por problemas na operacionalização dos

constructos em observação.

A observação do tempo na tarefa dos alunos, de 5 em 5 minutos, poderá ter

contribuído para uma codificação do tempo de empenhamento que poderá precipitar

codificações pouco fiáveis, sendo preferível diminuir o tempo entre cada observação.

Deste modo, uma observação com menor tempo de intervalo poderá permitir constatar

com maior fiabilidade a permanência do aluno na tarefa.

Uma outra questão que nos parece relevante é que a observação do tempo de

ensino e do tempo na tarefa foi feita simultaneamente, o que implicou uma atenção e um

esforço redobrados por parte das observadoras, com eventual perda de elementos de

observação. Será talvez preferível fazer a observação das variáveis em momentos

diferentes, ainda que possam existir constrangimentos para a observação na sala de aula.

Contudo, tal procedimento, para além de ser muito oneroso em termos da observação,

levanta problemas de acesso às salas de aula, uma vez que implica um muito maior

incómodo para professores e alunos. Os primeiros, em particular, são significativamente

afetados pela presença de duas pessoas estranhas na sala de aula por períodos de tempo

consideráveis. Por um lado, se bem que a observação concomitante do tempo de ensino

e do tempo de empenhamento possa apresentar fragilidades, pois obriga a uma atenção

redobrada, por outro, a observação em dois momentos diferentes conduz a uma

dissonância entre os tempos de ensino e os de empenhamento, pois o objeto de trabalho

pode ser diferente nas aulas a observar.

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109

Uma outra limitação do estudo prende-se com o pequeno número de turmas

observadas e até, no nosso caso, com a (surpreendentemente) baixa variabilidade do

tempo de ensino dos professores observados. Deve contudo dizer-se que os estudos

observacionais não apresentam em média um número de turmas nem montantes de

observação superiores aos que utilizamos. É por isso de crer que a maior limitação é a

pequena variabilidade dos tempos de ensino e não tanto o número de turmas

observadas, até porque este tipo de estudos não tem em geral intuitos de generalização

dos resultados à população que supostamente a amostra representa. Aliás, as

dificuldades de constituição de amostras representativas são neste tipo de estudos quase

inultrapassáveis. Por outro lado, atualmente as dificuldades de acesso às salas de aula

são enormes, em parte porque há uma política muito restritiva no que diz respeito à

proteção de dados, já que os pais dos alunos também têm que autorizar as observações e

também porque os professores vivem de forma muito desconfiada o seu próprio

processo de avaliação para progressão na carreira e muitas vezes reagem

compreensivelmente mal a pedidos deste tipo. Dir-se-ia que este tipo de estudos, na

atualidade, só em circunstâncias muito especiais poderá efetivar-se.

Os instrumentos de registo de observação do “comportamento na tarefa” e do

“tempo de ensino”, se têm o mérito de ter sido criados de raiz, poderão conduzir a

situações de precária fiabilidade, uma vez mais pelos resultados encontrados e não

porque os instrumentos sejam significativamente diferentes dos que se encontram na

literatura. Aliás, como referimos anteriormente, é usual em estudos deste tipo os

instrumentos serem construídos para o fim específico em vista. Contudo, haverá

certamente que afinar os instrumentos e procurar produzir instrumentos de maior

qualidade e que deixem menos dúvidas quanto à sua validade e fiabilidade.

Relativamente às implicações para futuros estudos, parece relevante a

necessidade de alargar o trabalho de investigação a mais escolas, sobretudo para obter

uma maior variabilidade de tempos de tempo (nomeadamente de ensino e de

empenhamento), e até de resultados académicos. Observar o que se passa nas salas de

aula ainda constitui um procedimento insubstituível para mapear os comportamentos e

interações de professores e alunos.

É também necessário enquadrar novamente a variável tempo de ensino num

mundo onde as exigências do séc. XXI são diferentes da temporalidade marcada pelo

mundo agrário e rural. Mesmo em Portugal, as transformações sociais ocorridas nas

últimas quatro décadas introduziram profundas transformações, sendo o sistema de

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110

ensino influenciado por uma sociedade globalizante, (a)gregária e digital numa

dimensão de volatilização e de instantaneidade temporal que busca novos paradigmas.

O tempo na sala de aula não fica à margem de influências exteriores, denotando-se

sérias dificuldades em gerir um tempo alocado a uma disciplina, respeitando as

necessidades dos alunos, e as exigências tuteladas pelo Ministério da Educação e da

Ciência, que são o reflexo de exigências sociais internas e externas ao país.

Será importante analisar de que modo o diretor de cada escola operacionaliza a

gestão do tempo. Se é evidente que a gestão do tempo de ensino e de empenhamento é

da responsabilidade do professor, é também responsabilidade do diretor da escola

operacionalizar uma gestão eficaz do tempo, que seja promotora de um certo equilíbrio

educativo proativo, estando os objetivos concretamente definidos, minimizando as

interferências relativas ao tempo de ensino na sala de aula.

Verifica-se que, em algumas escolas, a segmentação dos tempos no turno da

manhã obedece a uma orientação bem definida, com tempo concreto de paragem;

contudo, no turno da tarde, existe uma ambiguidade de polivalências na utilização do

tempo de escola, que promove uma utilização difusa do mesmo. Perceber até que ponto

o tempo utilizado nos turnos da manhã e da tarde se encontram organizados e

promovem o tempo académico de aprendizagem, potenciando o sucesso académico dos

alunos seria algo que poderia projetar novo tipo de orientações para as escolas.

Relativamente ao professor, parece ser urgente perspetivar a formação de

professores numa dimensão que contemple a pragmaticidade da gestão do tempo,

dotando o docente de técnicas que possibilitem a gestão da sala de aula num tempo real,

em que as decisões têm de ser tomadas em nanossegundos, não só em termos de

procedimentos inter-relacionais, mas de estratégias para colmatar dificuldades de

aprendizagem.

Acresce ainda que a observação da sala de aula poderia ser uma prática mais

efetiva, levada a bom termo pelos diretores da escola ou por outros com delegação de

competências e formação adequada. Tal exercício, não como medida sancionatória, mas

como prática de “empoderamento” do professor, poderá permitir a compreensão de

alguns problemas existentes (e.g., comportamentais, de aprendizagem, de metodologia e

de didática), capacitando o professor de elementos/conhecimentos que possibilitem a

implementação de estratégias adequadas para colmatar deficiências ou prosseguir com

práticas que revelem ter efeito positivo e se adequem ao seu perfil. Por outro lado, o

possível trabalho de parceria poderia enquadrar o professor numa determinada

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111

realidade, não promovendo um ostracismo que dilui e esbate o professor, excluindo

qualquer sentido identificativo e de pertença em relação à comunidade educativa.

Conclusão

Do nosso estudo poder-se-á concluir genericamente que o tempo em sala de aula

constitui um constructo multidimensional e complexo, cuja influência sobre os

resultados académicos dos alunos é relativamente equívoca. Não se trata de uma

variável irrelevante, longe disso, mas não é claro qual o aspeto do tempo que mais

influencia esses resultados e em que circunstâncias tal acontece.

De qualquer forma, sendo claro que o professor não tem a possibilidade imediata

de modificar os condicionalismos temporais que lhe são impostos (nomeadamente

alargando ou diminuindo o tempo alocado à sua disciplina), nem as idiossincrasias dos

alunos, ele dispõe ainda assim de um significativo grau de autonomia de gestão do

tempo que é colocado à sua disposição para o ensino das matérias curricularmente

determinadas.

Um dos aspetos mais evidentes no que diz respeito à variável tempo em sala de

aula é que o aproveitamento do tempo disponível (qualidade do tempo) é possivelmente

mais importante do que a quantidade de tempo disponível (quer se trate do tempo de

ensino quer se trate do tempo de empenhamento dos alunos). Por outro lado, os

resultados do nosso estudo sugerem que o tempo de empenhamento constitui um

preditor mais eficaz dos resultados académicos dos alunos do que o tempo de ensino.

Não se deve inferir daqui, porém, que o tempo de ensino não é de todo relevante, uma

vez que não parece provável que a um escasso e ineficaz tempo de ensino possam

corresponder tempos de empenhamento elevados. Ou seja, existem relações entre tempo

de ensino e tempo de empenhamento que sugerem que o primeiro não assegura

necessariamente o segundo, mas que é pelo menos condição indispensável para que este

possa atingir um determinado patamar.

Quer do ponto de vista conceptual quer do ponto de vista empírico, o tempo de

ensino constitui apenas um meio de assegurar que, em média, os alunos mantêm tempos

de empenhamento elevados. Daí que se considere que o ensino tem que ser eficiente,

mas tem sobretudo que ser eficaz e que, em última análise, os resultados da ação do

professor só são verdadeiramente percetíveis nos resultados dos próprios alunos. É

também isto que justifica que o tempo de empenhamento dos alunos se configure afinal

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112

como o melhor preditor (temporal) dos seus resultados académicos. A importância de

cuidar e salvaguardar o tempo de ensino só fará pois pleno sentido quando orientada

para a maximização do empenhamento quantitativo e qualitativo dos alunos, aspeto do

tempo que mais provavelmente assegura a maximização dos resultados académicos dos

alunos e que acaba afinal por depender tanto do aluno como do professor.

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