Swedenborg - O Mundo dos Espíritos33

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    Swedenborg

    O Mundo dos Espritos

    Segundo o que l foi ouvido e visto

    Monet

    SUMRIO

    - O estado do homem aps a morte (O que o mundo dos espritos)- A essncia do homem o esprito- A ressurreio do homem e sua entrada na vida eterna- A forma humana do esprito- Depois da morte, o homem usufrui de todos os sentidos, da memria, do

    pensamento e do sentimento. despojado apenas de seu corpo- A vida aps a monte no difere da vida na Terra- Os prazeres espirituais na vida aps a morte- O primeiro estado do homem aps a morte- O segundo estado do homem aps a morte- O terceiro estado do homem aps a morte (A preparao para a vida celeste)- A misericrdia imediata no conduz ao Cu- No rdua a vida que conduz ao Cu

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    O ESTADO DO HOMEM APS A MORTE (O QUE O MUNDO DOS ESPIRITOS)

    O mundo dos espritos no nem o Cu nem o Inferno, mas um lugar e um estado intermedirioentre um e outro; para l o homem enviado aps a morte. Em seguida, depois de l passar algum tempo,

    ele elevado ao Cu ou conduzido ao Inferno, conforme a vida que levou na Terra.Portanto, o mundo dos espritos no apenas um lugar, mas tambm o estado intermedirio dohomem aps a morte. Porque o homem que a se encontra no esta nem no Cu nem no Inferno. O estadoceleste de um homem a unio do bem c da verdade, c o estado infernal, a unio da maldade e dafalsidade. Quando o bem est unido verdade, o esprito conduzida ao Cu, pois essa unio o Cu.Quando a maldade est unida falsidade, o esprito rebaixado ao Inferno, porque essa unio o Inferno.

    A unio ocorre no mundo dos espritos porque o homem, ao ser para a conduzido, est num estadointermedirio.

    A unio do entendimento e da vontade a mesma coisa que a unio da verdade e do bem. precisoexplicar o que a unio do entendimento e da vontade, e por que ela idntica unio do bem e daverdade.

    O homem possui entendimento e vontade. O entendimento recebe a verdade e se constitui a partirdela; a vontade recebe o bem e se constitui atravs deste. Tudo o que o homem compreende e pensa

    segundo entendimento chama-se verdade; tudo o que ele quer e pensa segundo a vontade chama-seberra. Pelo entendimento, um homem pode pensar e perceber se alguma coisa verdadeira e boa,enquanto pela vontade ele decide se cr na verdade e se far o bem.

    Quando o homem quer, segundo sua vontade, ele faz o bem. O bem e a verdade esto tanto noentendimento como na vontade, pois o homem no apertas entendimento ou vontade, mas as duascoisas reunidas. Logo, o que est no entendimento e na vontade a essncia do homem, e lhe apropriado.

    O que est apenas no entendimento no lhe pertence inteiramente. uma aquisio da memria,um conhecimento que o homem pode expor e discutir quando se encontra rodeado por outras pessoas, umconhecimento, enfim, que ele pode traduzir em afetos e gestos, mas que no ele mesmo.

    Essa capacidade de pensar segundo o entendimento, independentemente da vontade, foi dada aohomem para este pudesse aprimorar-se. E por meio da verdade que corrigimos nossos defeitos, e averdade, como disse, pertence ao entendimento. De fato, no a vontade que modifica o homem, pois es

    te nasce no mal e s deseja o bem - si mesmo, alegrando-se com as desgraas que sucedem aos outros.O homem deseja apropriar-se dos bens alheios, das honras, das riquezas; quanto mais possui,

    maior sua alegria.Para que essa vontade possa ser corrigida e aprimorada, foi dada ao homem a compreenso da

    verdade e, a partir dela, a possibilidade de dominar as ms inclinaes. Pelo entendimento, o homem podeconceber, discutir e praticar a verdade, mas no chegar a ela, pela vontade, se no souber am-la

    Quando pelo entendimento o homem aprende as coisas que pertencem a sua f e, pela vontade,aquelas que pertencem ao seu amor, ento a sua f e o seu amor se unem como o entendimento e avontade.

    Quando a verdade e o bem se unem, quando o homem deseja a verdade e a seguir a realiza, entoele est no Cu, porque o Cu a unio do bem e da verdade. Ao contrrio, quando a falsidade se une maldade, o homem est no Inferno, porque o Inferno a unio da falsidade e da maldade.

    No entanto, enquanto a verdade e o bem no se unirem, o homem permanecer num estado

    intermedirio, que o mundo dos espritos.Descontadas as poucas excees, todo homem possui algum conhecimento da verdade e, de

    acordo com esse conhecimento, pode agir ou imobilizar-se ou, ainda, ir contra a verdade em razo de seuamor pela maldade e de sua f nas coisas falsas. Para que receba o Cu ou o Inferno, o homem conduzido logo aps a morte ao mundo dos espritos, onde o bem se unir com a verdade se o Cu lheestiver reservado, ou o mal se unir falsidade se merecer o Inferno.

    Ningum entra no Cu ou sentenciado ao Inferno, se tiver mente dividida, isto , secompreender de uma maneira c desejar de outra, pois no se pode querer seno aquilo que se com-preende e no s pode compreender seno aquilo que se deseja.

    No Cu, aquele que desejar o bem compreender a verdade; no Inferno, aquele que desejar o malcompreender a falsidade. No mundo dos espritos, entre os bons, a falsidade desaparece e lhes dada verdade, que se harmoniza com seu bem; entre os maus, a verdade que desaparece e lhes dada, emtroca, a falsidade, que se harmoniza com sua maldade. O que acabo de dizer um retrato fiel do mundo

    dos espritos. No mundo dos espritos podem-se ver multides de homens; porque todos primeiro vo paral, onde so examinados e preparados. O tempo que a permanecerem no fixo; alguns, logo apschegarem, so elevados ao Cu ou rebaixados ao Inferno; outros esperam algumas semanas, ou mesmovrios anos, porm no mais de trinta anos. A durao de sua estada depende da correspondncia, ouno-correspondncia, cio interior do homem com seu exterior.

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    Quando os homens entram no mundo dos espritos, so separados em grupos pelo Senhor: os mausso imediatamente introduzidos na sociedade infernal, da qual alis j eram membros em razo das msinclinaes que desenvolveram na Terra; os bons, por outro lado, so imediatamente introduzidos nasociedade celeste, da qual tambm j eram membros em razo do amor, da caridade e da f quepossuam na Terra.

    Apesar disso, todos aqueles que eram amigos ou se conheciam na Terra, novamente se encontram

    e conversam entre si, o quanto queiram, principalmente esposas e maridos, e tambm irmos e irms. Vium pai conversando com seus seis filhos aps hav-los reconhecido, e muitos outros tratavam comparentes e amigos; porm, como possussem mentalidades diferentes em razo da experincia quetraziam da Terra, eles se separaram algum tempo depois.

    Aqueles que, aps sua estada no mundo dos espritos, so elevados ao Cu ou rebaixados aoInferno, no mais se vem ou se reconhecem, exceto quando possuem a mesma mentalidade, que provmcio idntico amor que os domina. Se os homens falam no mundo dos espritos, porm no no Cu ou noInferno, porque durante sua estada nesse lugar, seu estado muito semelhante ao terreno, portantoinstvel, enquanto que, logo depois, seu estado torna-se constante e semelhante ao amor que os domina,a partir do qual, alis, eles se reconhecem. A semelhana aproxima, a diferena separa.

    O mundo dos espritos, enquanto estado intermedirio entre o Cu e o Inferno, tambm, como sepode inferir, um lugar intermedirio, tendo abaixo o Inferno e acima o Cu. O Inferno est fechado aomundo dos espritos; contudo, buracos e fendas lhe servem ele abertura e tambm enormes abismos, que

    so guardados para que ningum saia sem permisso, o que apenas acontece em caso de extremanecessidade.O Cu tambm est fechado ao mundo dos espritos, mas um caminho estreito permite que se

    ascenda at uma pequena entrada constantemente guardada. Essas so as sadas e as entradas que aPalavra Sagrada denomina portas do Inferno e do Cu.

    O mundo dos espritos tem o aspecto de um vale entre montanhas e rochas, onde se percebemalguns declives e elevaes. As portas que conduzem s sociedades celestes so visveis apenas aos queesto preparados para o Cu, ficando invisveis para os demais. Existe uma s entrada c um s caminhoque conduz ao Cu, mas medida que o esprito ascende, multiplicam as veredas e as portas. As portasque conduzem ao Inferno, por outro lado, so apenas visveis queles que devem passar por elas; quandoelas se abrem, aparecem antros sombrios, como que cobertos de fuligem, que mergulham obliquamentenum abismo provido de numerosas portas. Desses antros exalam vapores nauseabundos e ftidos, dosquais os bons espritos fogem com averso, enquanto os maus espritos buscam-nos e aspiram-nos com

    prazer.Todo aquele que, na Terra, sentiu prazer na maldade, depois da morte sentir prazer aspirando o

    fedor que corresponde a esse mal. Pode-se comparar os maus espritos aos pssaros e aos animaiscarnvoros, tais como corvo, o lobo e os porcos, que, ao perceberem algum fedor, correm em busca damatria putrefata ou do excremento que o produziu. Eu ouvi um desses espritos emitir gritos lancinantes,como se torturado interiormente, quando foi atingido por um sopro que emanava cio Cu, mas quedepende permaneceu tranqilo e feliz ao aspirar uma exalao que provinha do Inferno.

    Tambm em cada homem existem duas portas: uma se abre para o Inferno e deixa entrar a maldadee a falsidade; a outra se abre para o Cu e deixa entrar o bem e a verdade. A porta do Inferno permaneceaberta nos espritos que so malignos e falsos. Estes recebem a luz do Cu atravs de minsculas fendas,pois sem esse influxo no poderiam pensar, raciocinar e falar. A porta do Cu, por outro lado, permanecesempre aberta naqueles que s desejam o bem e a verdade.

    Conseqentemente, so dois os caminhos que conduzem compreenso racional: o caminho

    superior ou interno, atravs do qual passam o bem e a verdade que emanam do Senhor; e o caminhoinferior ou externo, atravs do qual passam o mal e a falsidade gerados no Inferno. A compreensoracional o centro aonde ambos os caminhos vo dar.

    Quanto mais luz celeste penetra no homem, maior a sua compreenso. Na ausncia dessa luz, ohomem apenas aparenta ser racional, sem o ser verdadeiramente. Estas coisas esto sendo ditas parademonstrar qual a correspondncia do homem com o Cu e com o Inferno.

    A compreenso racional, em seu perodo de formao, corresponde ao mundo dos espritos. O queest acima desse nvel de compreenso corresponde ao Cu, o que est abaixo corresponde ao Inferno.Aqueles que esto sendo preparados para o Cu olham nessa direo, continuamente, enquanto osdemais olham para baixo, na direo do Inferno que lhes est destinado.

    Quem olha para cima v o Senhor, porque Ele o centro para onde se voltam todas as coisas doCu. Quem olha para baixo, vira as costas ao Senhor e olha o centro oposto, que atrai todas as coisas doInferno.

    Gostaria de esclarecer que, neste Captulo e nos seguintes, sempre que eu empregar a palavraesprito, estarei me referindo aos habitantes do mundo dos espritos, e no aos anjos, que so oshabitantes do Cu.

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    A ESSNCIA DO HOMEM E O ESPRITO

    Quem refletir com cuidado concordar comigo que a capacidade de pensar no reside no corpo,mas na alma, que a nossa substncia espiritual. A alma, sobre cuja imortalidade muito j se escreveu, o esprito do homem. Esse esprito, com efeito, imortal, e est dotado da capacidade de pensar, pois sua

    substncia abriga influxos espirituais e perdura espiritualmente - o que significa que possui razo evontade.Toda a nossa vida racional concentra-se, portanto, no esprito; o corpo apenas matria e foi

    acrescentado ao esprito para que este pudesse; entrar em atividade no mundo natural. No mundo naturaltodas as coisas so materiais e, em si mesmas, desprovidas de vida. Ora, se a substncia vital no material, mas espiritual, logo se conclui que, no homem, o que est vivo seu esprito - o corpo apenasserve ao esprito, tal como um instrumento serve fora motriz que o anima. Diz-se comumente, dequalquer instrumento, que ele atua, trabalha ou se move, mas uma iluso, porque existe algo atrs doinstrumento que o comanda.

    A sensao e o sentimento - enfim, a vida do corpo - pertencem unicamente ao esprito; segue-seque o homem se define por seu esprito, ou, para dizer com outras palavras, que o homem essencialmente o esprito. Tudo o que no homem vive e sente, pertence a seu esprito. Em conseqncia,quando o corpo se separa do esprito, na morte, o homem permanece igual a si mesmo. Contaram-me no

    Cu que, antes de serem ressuscitados, alguns homens permanecem conscientes em seu leito de morte,embora j no possam mover seus membros, que esto rgidos e gelados. Isso prova o que afirmei acima.O homem no teria desejos nem pensamentos se no possusse uma substncia que conformasse

    seus pensamentos e desejos. fcil demonstrar isso pelo fato de que o homem precisa, para poder ver ououvir, de um rgo que a razo substancial de sua viso ou audio. Sem tais rgos, nem a viso nema audio funcionariam ou seriam possveis.

    O mesmo sucede com o pensamento, que a viso interna, e com a percepo, que a audiointerna - ambos no existiriam absolutamente sem alguma substncia que atuasse como o rgocorrespondente.

    Disso resulta que o esprito do homem no apenas possui uma forma humana como est providodos sentidos,, mesmo ao se separar do corpo. Tudo o que o homem possui - a vida, os olhos, as orelhas,em uma palavra, os sentidos - no pertence ao corpo, mas ao esprito que o anima.

    Aps separar-se do corpo, os espritos vem, ouvem e sentem como os homens, entretanto no no

    mundo natural, mas no mundo espiritual. Enquanto habitava o corpo, o esprito era capaz de sentirmaterialmente atravs da substncia natural que lhe fora acrescentada, mas ao mesmo tempo tambmpodia sentir espiritualmente, atravs do pensamento e da vontade.

    Digo essas coisas para que o homem racional se convena de que o homem, considerado em suaessncia, um esprito. A matria corporal que lhe foi acrescentada, para que pudesse atuar no mundonatural, no o homem, mas apenas um instrumento de sua substncia imortal.

    Sem dvida, ao tratarmos desse assunto, as confirmaes que podemos retirar da experincia sopreferveis, pois existem pessoas - e no so poucas - que se mostram incapazes de apreender as coisasracionalmente; outras, que defendem opinio contrria, transformam nossas dedues em dvidas pormeio de argumentos elaborados a partir das iluses dos sentidos. Afirmam que os animais vivem e sentemcomo os homens, ou que possuem um esprito semelhante ao nosso, embora este desaparea com amorte no corpo.

    A substncia espiritual dos animais no semelhante do homem, pois este recebe, em seu

    recesso mais ntimo, influxo do Divino, elevando-se at Ele e unindo-se a Ele. Ora, quem se une ao Divinono pode, ao fim, dissipar-se, mas aquele que jamais se une a Ele, sim.

    Em outro lugar j tratei desse assunto, mas vale a pena recordar aqui o que disse antes, pois necessrio destruir as iluses defendidas por um grande nmero de pessoas a quem talvez falteconhecimento ou entendimento para apreender racionalmente a verdade.

    Os anjos permitiram-me que revelasse este arcano, segundo o qual, em cada anjo e em cadahomem, existe um recesso ntimo ou supremo, onde o Divino incide primeiro e de mais perto. Esse recessontimo pode ser denominado a entrada do Senhor, ou seu domiclio. E porque possui esse recesso, ohomem pode ser declarado humano e se distinguir dos animais; contrariamente aos irracionais, ele capazde, atravs da razo, elevar-se at o Senhor, crer nele, am-lo e por fim v-Lo. Pode tambm receber ainteligncia e a sabedoria, falar segundo a razo, e ainda viver eternamente.

    Entretanto, o que quer que exista nesse recesso ntimo, nem os anjos podem apreender, porqueest acima de sua compreenso e sabedoria.

    Foi-me demonstrado, atravs de numerosas experincias, que o homem esprito, interiormente,mas se quisesse agora relat-las, preencheria vrios volumes. Falei com os espritos como esprito etambm lhes falei como homem. Quando eu tratava com eles como esprito, consideravam-me como igual,pois meu corpo material no era percebido, ainda que minha forma humana se conservasse como tal.Como disse anteriormente, a forma do esprito a forma humana.

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    O homem, interiormente, esprito: isso confirmado pelo fato de que, aps a morte, ou aps aseparao do corpo, ele esteja to vivo como antes. A fim de que me convencesse disso, permitiram que,na outra vida, conversasse com todos aqueles que conhecera na Terra. Com alguns falei durante horas,com outros durante semanas e meses, c com uns durante anos. Tudo isso para que eu pudessetestemunh-lo depois.

    Ainda poderia acrescentar que, durante a vida terrena, todo homem membro de uma sociedade de

    espritos, embora no o sabia. O homem que bom pertence a uma sociedade angelical, e o homemmalvolo a uma sociedade infernal. Aps a morte, cada esprito acolhido no seio de sua respectivasociedade.

    Durante sua permanncia na Terra, verdade que nenhum homem pode estar nessas sociedadesna condio de esprito, a no ser quando pensa abstratamente: ento ele capaz de, nelas, aparecer emesprito, e, quando isso sucede, facilmente identificado. Caminha pensativo, silencioso, sem elevar osolhos do cho, como se no percebesse ningum. Quando algum esprito lhe dirige a palavra, eleimediatamente desaparece.

    Para provar que o homem, em sua essncia, esprito, gostaria de relatar a seguinte experinciaque vivenciei: ser desligado do corpo e conduzido em esprito a outro lugar. Eis o que se passa quando oesprito desligado do corpo: o homem permanece num certo estado que se situa entre o sono e a viglia.No entanto, todo tempo ele est convicto de que continua inteiramente desperto.

    Os seus sentidos esto ativos e, o que mais extraordinrio, o tato adquire uma finura inesperada,

    nunca antes experimentada. Foi ao encontrar-me nesse estado que vi os espritos e os anjos. Pudetambm ouvi-los e, o que mais desconcertante, toc-los, aparentemente sem o recurso de nenhum rgodo corpo, embora no compreendesse onde me encontrava, se no corpo ou fora dele.

    Em duas ou trs ocasies me foi permitido repetir essa mesma experincia, para que me certificassedefinitivamente de que os espritos e os anjos usufruem todos os sentidos, e que o homem tambm delesest dotado ao separar-se do corpo.

    Foi-me ainda mostrado, atravs de duas ou trs experincias, o que significa "ser conduzido pelosespritos a um outro lugar". Contarei uma dessas experincias: certa vez, enquanto caminhava pelas ruasde uma cidade e depois pelo campo, mantive uma longa conversa com os espritos, mas sentia que estavaperfeitamente desperto e observava as coisas ao meu redor. Assim, podia caminhar sem receio de perder-me enquanto cruzava bosques, riachos, palcios, casas, homens... Mas, depois de algumas horas, dei-meconta de que estava num lugar completamente diferente; bastante surpreso, conclu que essa experinciacorrespondia de certos caminhantes "que foram conduzidos por espritos a um outro lugar".

    Durante o tempo que dura esse estado, o caminhante no percebe a estrada, e pode percorrerquilmetros; tampouco est consciente do tempo, e ainda que o passeio dure duas dias, no sentirnenhuma fadiga. O caminhante assim conduzido sempre frente, e sem erro, por caminhos que elemesmo ignora.

    Tais estados so extraordinrios, mas foi-me permitido vivenci-los porque so conhecidos da Igreja.H vrios anos converso com espritos e posso estar entre eles como um igual, ainda que meu corpopermanea inteiramente desperto.

    A RESSURREIAO DO HOMEM E SUA ENTRADA NA VIDA ETERNA

    Quando o corpo deixa de cumprir as funes que possibilitam ao esprito ter pensamentos e

    sentimentos no inundo natural, ento o corpo morre. Isso acontece ao cessaram os movimentos dospulmes e os do corao.

    Contudo, na verdade, o homem no morre, ele apenas se separa da matria corporal que lhe serviaterra. Ele vive, pois sua essncia no est no corpo, mas no esprito. o esprito que pensa, e opensamento unido ao sentimento constitui o homem. Portanto, evidente que o homem, ao morrer, apenasse transporta de um mundo para outro. Por essa razo, a Palavra Sagrada afirma que a morte significa aressurreio e a continuao da vida.

    O esprito est em comunicao ntima com a respirao c os batimentos cardacos. O pensamentoest relacionado respirao, e o sentimento ao corao. Em conseqncia, quando esses doismovimentos cessam, quebram-se os laos que uniam o esprito ao corpo. Este, ao ser privado de vidaespiritual; torna-se frio e sc decompe. Os movimentos vitais todo e em parte, derivam da comunicaontima do esprito com a respirao e o corao.

    Aps a separao, o esprito ainda permanece algum tempo no corpo, at que os movimentos do

    corao cessem por completo. Em alguns, o movimento do corao perdura por muito tempo, em outros,pelo contrrio, cessa rapidamente. Ento, o homem ressuscitado, por obra exclusiva do Senhor. Aressurreio a libertao do esprito e sua entrada no mundo dos espritos.

    O esprito no pode ser retirado do corpo se o corao no estiver cessado inteiramente, porque ocorao est vinculado ao sentimento do amor, e esse sentimento a prpria vida do homem: seu calor

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    vital provm do amor. Portanto, enquanto persiste a correspondncia entre corao e sentimento, existevida espiritual no homem.

    Foi-me permitido assistir ao processo de ressurreio; alis, eu prprio fui ressuscitado, para queadquirisse pleno conhecimento do assunto.

    Vi-me reduzido a um estado de completa insensibilidade fsica, bastante semelhante ao de umagonizante, mas preservei a conscincia e assim pude perceber e guardar na memria todo o processo da

    ressurreio dos mortos.A essa altura, a respirao do corpo quase cessara. Contudo, a respirao do esprito continuavaunida a esse fraco e tcito alento. Ento se estabeleceu a primeira comunicao entre o movimento domeu corao e o Reino Celeste, pois esse reino corresponde ao corao humano. Vi os anjos desse reino.Alguns se encontravam muito afastados de mim, mas dois se sentaram a minha cabeceira. Emboradesprovido de emoes, eu continuava consciente e tudo percebia ao meu redor; permaneci nesse estadodurante vrias horas. Alguns espritos, que tambm se haviam concentrado ao meu redor, retiraram-se,crendo-me morto. Um aroma, que imediatamente identifiquei como o odor que emana de cadveresembalsamados, espalhou-se no ar, pois quando os anjos celestes se apresentam, a matria sem vidaexala um perfume agradvel. Quando os espritos percebem esse aroma, eles no se aproximam, demaneira que os maus dentre eles no podem interferir no momento em que o homem ressuscita para avida eterna.

    Os anjos que estavam sentados minha cabeceira guardavam silncio, mas me comunicavam seus

    pensamentos. Quando essa comunicao de pensamentos se estabelece, o esprito do homem est prontopara ser retirado do corpo. Os anjos mantinham os olhos voltados para a minha face, pois tambm no cua comunicao de pensamentos se faz dessa maneira.

    Todavia, como eu continuasse consciente e de posse de minhas faculdades mentais, compreendique os anjos examinavam meu pensamento, a fim de se certificarem de que o mesmo correspondia aopensamento de um morto. O homem, quando expira, carrega consigo apenas o seu ltimo pensamento,mas depois recupera a memria de sua vida anterior.

    A seguir me senti como que estimulado a abandonar meu corpo; imediatamente meu espritocomeou a desligar-se dele e finalmente viu-se livre. Esclareceram-me, mais tarde, que essa operao sera realizada pelo prprio Senhor, a quem cabia ressuscitar os mortos.

    Os anjos no abandonam o ressuscitado, mas continuam a seu lado, porque eles amam a todos oshomens. Contudo, quando o esprito tal que no pode permanecer na sua companhia e deseja separar-se, ento novos anjos aparecem. Estes lhe trazem a luz, pois at esse momento o esprito nada podia ver,

    apenas pensava. Foi-me mostrado como isso era feito: os anjos como que retiram uma bandagem do meuolho direito, estirando-a at o nariz, devolvendo-me a capacidade de ver. Trata-se de um gesto ilusrio,mas que ao esprito se apresenta como real.

    Primeiramente, o esprito distingue uma luz nebulosa, como ocorre ao homem que ao despertarmantm as plpebras semi cerradas. Segundo me recordo, essa luz era azul-celeste, mas depois medisseram que seu matiz costuma variar. Foi ento que senti no rosto o roar de alguma coisa suave, aps oque pensamentos espirituais inundaram-me a mente. Os anjos ainda estavam a meu lado, pois seu papel impedir que ao ressuscitado ocorram idias que no procedam do seu amor.

    Depois de devolverem-lhe a luz, os anjos prestam ao esprito todo tipo de servio que no seu estadopossa ser necessrio, e instruem-no nas coisas da outra vida, mas nunca dizem mais do que ele capazde apreender.

    Quando o ressuscitado no deseja ser instrudo, ele se separa dos anjos, que de outro modo no oabandonariam. Os anjos amam a todos os homens e seu maior prazer servi-los, instru-los e conduzi-los

    ao Cu. Mas o ressuscitado que deles se afasta logo encontra bons espritos: estes o recebem em suasociedade c lhe prestam muitos servios.

    Todavia, se em sua passagem pela Terra o esprito no viveu na sociedade dos bons, ento eletambm se separa desses espritos. A partir da ele conhecer novas sociedades, at encontrar aquela quemelhor lhe convenha, por estar de acordo com sua experincia de vida terrena. Ao reunir-se finalmente auma sociedade de espritos, ele levar uma vida semelhante quela da Terra.

    Mas esse estado do homem aps a morte dura apenas alguns dias. Comentarei mais adiante comoo homem conduzido de um estado a outro e finalmente ao Cu ou ao Inferno. Tive vrias experinciasque me autorizam a falar sobre o assunto.

    Conversei com alguns ressuscitados no terceiro dia aps sua morte e todos eles confirmavam essaexperincia que relatei. Trs desses espritos eram meus conhecidos da Terra e lhes disse que seusepultamento j havia sido providenciado. Ficaram como que paralisados meno da palavra "sepultura",depois responderam que ainda estavam vivos e que na Terra restara apenas a matria que lhes havia

    servido.Admiravam-se de que, durante sua estada na Terra, no tivessem acreditado que existia vida aps a

    morte, contudo lhes pareceu mais extraordinrio o fato de que os homens da Igreja fossem to ignorantesquanto eles sobre esse assunto.

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    Pode-se imaginar o quanto ficam confusos, ao entrarem no mundo dos espritos, aqueles que naTerra no acreditaram na vida aps a morte. Alguns continuam negando essa possibilidade, de maneiraque so separados dos espritos que tm f e conduzidos a outra sociedade, mais freqentemente a umasociedade infernal, constituda. por espritos que negam o Divino e desprezam as verdades da Igreja. Acada vez que reafirmam essa postura, mais se afastam do Cu.

    A FORMA HUMANA DO ESPRITO

    A forma dos espritos a forma humana. A matria adicionada ao esprito e assume a forma deste,porque segundo sua forma que o esprito se reveste de matria. O esprito do homem est ativo em cadaparte do corpo, mesmo na menor delas quando esprito no mais atua, as partes do corpo deixam deviver. O pensamento e a vontade so propriedades do esprito e no do corpo-ora, o pensamento e avontade que comandam as partes do nosso corpo, fazendo-as agir, ou rejeitando-as, quando elas deixamde obedecer-lhes.

    Se o esprito, aps separar-se do corpo, no pode ser percebido como uma forma humana, porqueo rgo de viso do homem - o olho - pertence ao seu corpo e s pode apreender as coisas materiais, damesma forma como o esprito s pode apreender as coisas espirituais. Quando o olho do corpo est velado

    e no exerce influncia sobre o olho do esprito, ento os espritos podem ser vistos na sua forma humana,tanto aqueles que habitam o mundo dos esprito como os que, no mundo natural, vivem num corpomaterial.

    A forma do esprito uma forma humana porque o homem, enquanto esprito, foi criado segundo aforma do Cu. A mente humana possui configurao que reproduz a ordem das coisas do Cu. por issoque o homem possui inteligncia e sabedoria; e quem assim est dotado, pode afirmar que recebeu o Cu.Mostrei que o Cu, no seu todo ou em parte, representa um homem. Pois o Cu e sua forma derivam daHumanidade Divina do Senhor.

    O homem racional pode compreender essas verdades, mas o homem que no racional disso incapaz, e por diversas razes, a principal que ele est cego por falsas verdades. O homem que no vnem compreende fechou o caminho celeste sua razo. Contudo, ele pode reabri-lo, se sua vontade nooferece resistncia.

    Foi-me mostrado, atravs de vrias experincias, que qualquer homem pode compreender a

    verdade e voltar a usufruir a razo, se esse for seu desejo. No raro que algum mau esprito,transformado em ser irracional, porque na Terra negara o Divino e as verdades da Igreja, de repente sevolte, guiado por uma fora divina, na direo daqueles que esto na luz da verdade. Ento elecompreende a verdade como os prprios anjos, e logo a seguir o declaram. Mas, quando ele volta a ser oque era antes e se deixa novamente dominar pela falsa verdade, j que no compreende mais nada e osentido das coisas que ento diz muito diverso.

    Ouvi alguns espritos infernais afirmar que estavam conscientes de que faziam o mal e de que aquiloem que pensavam era falso, mas que lhes era impossvel resistir a esse prazer, porque possuam umavontade maligna, que os induzia a ver o mal como bem e o bem como mal. Da se infere que aqueles queesto na falsidade poderiam compreendera verdade, e, em conseqncia, ser racionais, se assim odesejassem. Se eles no conseguem mudar, porque amam a falsidade em detrimento da verdade, eessa falsidade se harmoniza com a maldade em que esto mergulhados. Amare querer a mesma coisa,pois aquilo que o homem quer ele ama, e aquilo que ele ama ele quer. Portanto, o homem compreender a

    verdade, se o desejar.Quis demonstrar, atravs argumenteis racionais, as verdades espirituais que pertencem Igreja e

    ao Cu, a fim de que a falsidade, que cm muitos embotou a razo, pudesse ser dissipada e com isso suaviso estreita se abrisse. Todos aqueles que possuem a verdade podem confirm-la, como eu o fiz, atravsde argumentos racionais.

    Quem compreender a Palavra Sagrada, se no se servir da razo para apreender a verdade queela anuncia? Foi porque adotaram outro procedimento que os homens retiraram tantas heresias daPalavra.

    Foi-me provado, atravs de experincia que tive alguns anos atrs, que o esprito do homem possuiuma forma humana aps a morte. Vi milhares de espritos, ao mesmo tempo em que podia ouvi-los edirigir-lhes a palavra. Disse-lhes que os homens no acreditam na forma humana dos espritos, e quandoalgum afirma acreditar, chamado de simplrio pelos eruditos. Ao tomarem conhecimento de que uma talignorncia ainda existia no mundo, e particularmente na Igreja, os anjos ficaram aflitos.

    Essa ignorncia, acreditam os espritos, estimulada principalmente pelos eruditos, cuja maneira depensar concebe a alma a partir de argumentos de fundo sensual e corporal, definindo-a como um simplespensamento. Quando a alma considerada sem uma razo na qual e a partir da qual ela exista, torna-sevoltil, puro ter, que acabar por dissipar-se aps a morte do corpo. A Igreja, por sua vez, seguindo aPalavra Sagrada, acredita na imortalidade da alma, mas apenas reconhece na alma uma vitalidade

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    semelhante do pensamento, recusando-se a atribuir-lhe o uso dos sentidos, a menos que a alma estejaunida a um corpo. Sobre essa opinio desenvolveu-se a doutrina da ressurreio e da unio da alma com ocorpo no Juzo Final. Quem concebe a alma a partir dessa doutrina ou hiptese no consegueabsolutamente aceitar que a alma seja um esprito e que esse esprito tenha a forma humana.

    Pouqussimos homens atualmente sabem o que a substncia espiritual, e uma parcela aindamenor reconhece que ela est dotada de forma humana e que essa forma a de todos os espritos e de

    todos os anjos.Disso resulta que, ao chegarem na outra vida, os homens so tomados por grande assombroquando constatam que foram ressuscitados e que ainda so homens, que podem ver, ouvir, falar e que seucorpo tambm goza do sentido do tato - em poucas palavras-, que continuam de posse de tudo o quetinham na Terra.

    No nos assombra apenas esse estado, pois igualmente se mostram surpresos ao se darem contade que, na Igreja, ningum sabe nada a respeito da vida aps a morte, nem a respeito do Cu e do Inferno.Ento se perguntam por que essa verdade no se manifesta ao homem atravs de vises. pois ela umponto essencial da f da Igreja. Foi-lhes dito que assim poderia ter sido feito, pois para o Senhor tudo possvel, mas que aqueles que esto convencidos da falsidade e negam a verdade ;amais acreditariam,ainda que vissem por si mesmos.

    Quando um homem entra no mundo dos espritos, aps a ressurreio, ele possui a mesma face, amesma voz, porque seu estado exterior, e seu interior ainda no foi descoberto; tal o primeiro estado do

    homem aps a morte. Mas logo depois sua face muda e torna-se outra. Ela se torna semelhante ao amorque reina em seu interior, a esse mesmo amor no qual seu esprito estava imerso quando residia no corpo.A face do esprito difere muitssimo da face do corpo, pois a face do corpo herdada dos pais, enquanto ado esprito corresponde ao sentimento constituindo em sua imagem. Tal a face que o esprito adquirequando se separa de seu exterior e seu interior deixa-se revelar. Esse estado o terceiro estado dohomem, de que falarei mais adiante.

    Vi alguns homens que acabavam de chegar da Terra. Pude imediatamente reconhec-los por causade sua face e do som de suas vozes, porm, mais tarde, quando eles novamente se apresentaram a mim,j no os reconheci. Os que possuam bons sentimentos adquiriram um belo rosto, mas os que possuamsentimentos torpes adquiriram uma face disforme.

    O esprito do homem o prprio sentimento, e a face do esprito a forma externa do sentimento. Asfaces se transformam, quando os homens chegam na outra vida, porque a ningum permitido simularsentimentos nem assumir uma face que no corresponda ao amor que o domina. Todos, nesse estado, so

    obrigados a falar o que realmente pensam, e a mostrar, atravs do rosto e dos gestos, sua verdadeiravontade. Resulta da que a face de cada esprito a face terrena, mas a forma e a efgie de seusentimento, de maneira que, embora os espritos sejam reconhecidos no mundo dos espritos, no o seromais no Cu e no Inferno.

    A face dos hipcritas se altera mais lentamente do que a face dos demais, porque eles adquiriram ohbito de compor seu interior segundo a imagem cios bons sentimentos. Durante algum tempo, eles seapresentam sem deformidades. Mas como so sucessivamente despojados de suas simulaes, seuinterior finalmente adquire a forma do seu sentimento dominante, tornando se mais disforme do que os dosoutros espritos.

    Os espritos que falam corno os anjos, embora interiormente s reconheam o reino natural,negando o Divino e as coisas que pertencem Igreja e ao Cu, so os hipcritas.

    A forma humana de cada homem torna-se mais bela, quando ele amou as Verdades Divinas eprocurou viver segundo elas. O interior de cada homem expem na outra vida e adquire a forma de seu

    amor e de sua vida. O sentimento profundo, mais ele se harmoniza com o Cu e, por conseguinte, maisbela se torna face do esprito.

    Desse modo, justamente porque adquiriram as formas do amor celeste, os anjos do Cu, quantomais prximos esto do Divino, mais belos se tornam.

    Os homens que amaram e viveram apenas superficialmente as Verdades Divinas so espritos demenor beleza: somente sua face brilha, uma vez que o amor interior celeste no resplandece na formaexterior, e esta no adquire, em conseqncia, todo o esplendor da forma do Cu. Em sua face persistealgo relativamente obscuro que nunca revivificado pela irradiao da vida interior. Em uma palavra: aperfeio aumenta na medida em que mais profunda e diminui na medida em que se torna mais exterior;o mesmo sucede beleza.

    Vi a face mais interior dos anjos do Cu: era tal que jamais artista algum poder, com toda sua arte,reproduzir dando s cores um brilho que corresponda milionsima parte cia luz e da vida que nelaresplandece; mas a face dos anjos do Cu mais exterior pode, at certo ponto, ser reproduzida pela

    pintura.Concluindo, mencionarei um arcano que at o momento a ningum ainda foi revelado: todo bem e

    toda verdade que constituem o Cu apresenta-se numa forma humana, quer se considere seu conjunto,quer cada uma de suas partes, mesmo a mais nfima. Essa forma afeta a todos que recebem do Senhor obem e a verdade, de maneira que, no Cu, cada ser adquire sua forma humana atravs da recepo do

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    Divino. Em conseqncia, o Cu semelhante a si mesmo, quer se considere o comum ou o particular, e aforma humana a forma do Cu, ou seja, de cada sociedade angelical e de cada anjo. A isso necessrioacrescentar que a forma humana tambm configura os pensamentos que procedem do amor celeste entreos anjos. Para os homens, esse arcano de difcil compreenso, mas acessvel aos anjos, que possuema luz celeste.

    DEPOIS DA MORTE, O HOMEM USUFRUI DE TODOS OS SENTIDOS, DA MEMRIA, DOPENSAMENTO E DO SENTIMENTO. DESPOJADO APENAS DE SEU CORPO

    Vrias experincias mostraram-me que o homem, ao entrar no mundo dos espritos aps a morte,leva consigo tudo o que lhe pertencia na Terra, exceto seu corpo. Quando o homem entra no mundoespiritual, ele possui um corpo igual quele que lhe servira na Terra, sem qualquer diferena aparente.Entretanto, esse corpo espiritual, e, por isso, est separado e purificado das coisas terrestres. O espritopode ver e tocar a substncia espiritual, como o homem natural faz em relao s coisas naturais. Disso

    resulta que o homem, ao tornar-se esprito, imagina que ainda est no corpo que possua na Terra e, emconseqncia, no sabe que morreu. O esprito goza de todos os sentidos internos e externos que possuana Terra: v, escuta e fala, como fazia antes. Tambm possui paladar e olfato, e sente pelo tato. Possuiinclinaes, formula desejos, pensa, raciocina, ama e v tal como antes.

    Aqueles que apreciam os estudos, lem e escrevem, pois o homem, quando passa de uma vida paraoutra, apenas desloca-se de um lugar para outro. No se pode afirmar que, aps a morte, o homem destitudo das coisas que lhe pertenciam na Terra. Tambm carrega consigo a memria, isto , tudo aquiloque no mundo ele ouviu, viu, leu, aprendeu, pensou, desde a primeira infncia at seu ltimo momento devida. Todavia, certos objetos naturais que esto na sua memria no podem ser reproduzidos no mundoespiritual: esses objetos permanecem em repouso, como acontece quando no se pensa neles; no entanto,eles podero ser reproduzidos se isso agradar ao Senhor.

    A seguir, falarei sobre a vantagens de se possuir a memria na outra vida. O homem que confiaapenas nos sentidos no acredita no estado exterior do esprito. Ele pensa as coisas espirituais como se

    lidasse com coisas materiais e no espirituais. O que ele no pode sentir, ver ou tocar no existe para ele;o seu comportamento parecido com o de Tom, conforme se l em Joo, XX, 25, 26, 27, 28, 29.

    Existe uma grande diferena entre a vida espiritual c a vida natural no que concerne aos sentidosinternos e externos e aos sentimentos que lhes correspondem. Os espritos que se encontram no Cu,sentem, vem c ouvem de maneira muito mais precisa e pensam igualmente de maneira muito mais sbiado que quando residiam na Terra. Eles vem atravs da luz do cu, que ultrapassa infinitamente a luz domundo. Ouvem numa atmosfera espiritual que igualmente ultrapassa a atmosfera terrestre. A diferenaentre esses sentidos internos c externos comparvel que existe entre a claridade de um cu sereno e aobscuridade de um cu tempestuoso, ou entre a luz do meio-dia e a escurido noturna. A luz do Cu, comefeito, na medida em que a Verdade Divina, confere viso dos anjos a faculdade de perceber edistinguir objetos minsculos, que ,'b viso natural passariam despercebidos.

    Entre os anjos, a viso externa corresponde viso interna, que o seu entendimento, pois nelesuma viso influi na outra c constitui um todo, conferindo-lhes grande penetrao. Sucede o mesmo quanto

    audio, que corresponde percepo que pertence tanto ao entendimento como vontade. E por issoque os anjos podem distinguir, no som de uma voz, ou nas palavras proferidas, os sentimentos c ospensamentos do falante. No som, distinguem o que pertence ao sentimento, e, na palavra, o que pertenceao pensamento.

    Entretanto, entre os anjos, os outros sentidos no so precisos como a viso e a audio, porqueapenas estes ltimos servem inteligncia e sabedoria. Se tivessem o mesmo grau de finura, os outrossentidos anulariam a luz e o prazer da sabedoria angelical, pois revelariam aos anjos o encanto dosprazeres do corpo, enfraquecendo-lhes o entendimento medida que sua influncia aumentasse. Aconteceo mesmo na Terra, onde os homens se mostram incapazes de admitir a verdade espiritual quando seentregam inteiramente aos prazeres do paladar e s sedues do tato.

    Os sentidos interiores dos anjos - que so a sede do pensamento e do sentimento - apresentam-semuito mais refinados e perfeitos do que os sentidos correspondentes nos homens.

    Grande tambm a diferena entre o estado daquele que est no Inferno c seu estado anterior na

    Terra, pois, contrariamente ao que sucede com os espritos que se elevaram a anjos, seus sentidosadquiriram o mximo de imperfeio.

    Foi-me mostrado, atravs de numerosas experincias, que o homem est de posse de sua memriaao chegar ao mundo dos espritos. A esse respeito, ouvi coisas dignas de serem relatadas, das quaisexporei algumas a seguir. Certos espritos negavam as infmias e os crimes que haviam cometido na

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    Terra; a fim de que no fossem considerados inocentes, todas as suas aes foram exibidas erecenseadas a partir de sua memria, em ordem cronolgica, desde a infncia at a morte; revelou-se queeram adlteros e libertinos. Outros espritos, servindo-se de prfidas artimanhas, haviam enganado eroubado, e essas artimanhas foram finalmente enumeradas, junto com os correspondentes furtos, emboraningum mais tivesse conhecimento disso na Terra, seno os prprios espritos. Eles foram obrigados aconfessar as aes medida que elas iam sendo trazidas luz, juntamente com os pensamentos, as

    intenes, os prazeres e os temores com que estavam relacionadas.Outros espritos haviam recebido presentes e transformado a justia num negcio; eles foramdevidamente examinados segundo sua memria, e, por esse meio, todas as suas aes acabaram sendorecenseadas, desde a primeira at a ltima; a natureza e a importncia de cada m ao, a ocasio emque foi cometida, o estado mental que a determinou, a inteno que estava por trs dela, tudo isso foitrazido lembrana dos espritos e exibido. Essas aes eram numerosas e - coisa surpreendente,algumas haviam sido registradas em seu tempo: dirios foram abertos na frente dos espritos e procedeu-se leitura, pgina por pgina.

    Alguns espritos que haviam seduzido e violado moas solteiras tiveram julgamento semelhante, poissuas aes foram retiradas da memria e relatadas publicamente. Os rostos de suas vtimas tornaram-sevisveis, como se aquelas moas realmente estivessem presentes, ao mesmo tempo em que eram trazidas tona lugares, discursas, disposies de esprito, do sedutor e da seduzida, e tudo isso to subitamentecomo quando uma coisa real surge vista. Essas manifestaes podem, s vezes, durar muitas horas. Um

    certo esprito havia considerado que caluniar os outros era coisa sem importncia; eu ouvi a enumeraode suas crticas e difamaes nos prprios termos cm que as expressara, juntamente com a indicao daspessoas difamadas e do lugar em que tal coisa acorreu. Tudo isso foi reproduzido de maneira muito viva,embora o esprita tivesse, na Terra, se aplicado em manter secreta cada difamao.

    Um outra esprita, servindo-se de um pretexto fraudulento, privou alguns membros de sua prpriafamlia a herana que lhe pertencia: quando ele finalmente foi julgado, todas as cartas e bilhetes queescrevera na ocasio foram lidos em minha presena, sem se omitir nenhuma palavra. Esse mesmoesprito, poucos dias antes de sua morte, havia secretamente envenenada um vizinho; esse crime foirevelada da seguinte maneira: mostrou-se o esprito abrindo uma fossa, da qual saiu um homem, quegritou: "O que voc me fez?!" Depois foram reveladas todas as circunstncias do crime: o envenenadorhavia conversado amigavelmente com sua prpria vtima e lhe passara o copo com o veneno; mostrou-setambm quais tinham sido seus pensamentos c o que aconteceu aps a consumao do crime. Quandotudo foi descoberto, enviaram.o criminoso ao Inferno.

    Todas as ms aes, todos os crimes, roubos, artimanhas, trapaas que esto nas memrias doesprito malvolo so exibidos publicamente, de modo que o culpado se v obrigado a reconhecer suasfaltas, impossibilitado de negar qualquer uma delas, uma vez que todas as circunstncias vm luz.

    Em certa ocasio, quando os anjos examinavam a memria de tini esprito, tive acesso a todos ospensamentos que ele tivera durante um ms inteiro, dia aps dia. Recuperou-se seu passado na ntegra.Atravs desses exemplos, fcil verificar que o homem no se desfaz de sua memria na morte, e quetampouco existe algo to oculto no mundo que no se manifeste na outra vida. A Palavra Sagradatestemunha: "Nada h de encoberto que no venha a ser revelado e oculto que no venha a serreconhecido parque tudo o que disseste s escuras ser ouvido em plena luz do dia; e o que dissestes aosouvidos no interior cia casa ser proclamado telhados." (Lucas XII, 2, 3)

    Os anjos encarregados de levantar o vu das aes humanas examinam o esprito diretamente naface. Essa inspeo depois se prolonga por todo o carpa, comeando pelas dedos das mos e continuandopor outras partes do corpo. Cama eu demonstrasse espanto ante esse gnero de inspeo, foi-me

    esclarecida o seguinte: o pensamento e a vontade no esto apenas inscritos no crebro, que contm osprincpios de pensar e do querer, mas tambm por toda o corpo, pois tudo o que pertence ao pensamentoe vontade se estende, desde seus princpios, por toda o carpa, inclusive as extremidades. Assim, todasas coisas que foram inscritas na memria, segunda vontade, esto no crebro e tambm em todo ohomem, e se apresentam ordenadamente, de acordo com ordens das partes do corpo. Portanto, evidenteque o homem, no seu todo, identifica-se ao que ele na vontade e no pensamento que procede dessavontade. O homem malvolo o seu prprio mal, o homem bondoso o seu prprio bem.

    Isso permite compreender a expresso "livro da vida" usada na Palavra Sagrada. Todas as aes dohomem e todos os pensamentos esto inscritos no seu corpo inteiro e so como letras e palavras de umlivro, quando finalmente se deixam ver durante a inspeo dos anjos. Ao incidir sobre o esprito da luz doCu, suas aes e pensamentos podem ser apreendidos como uma imagem.

    Aos exemplos anteriores sobre a funo da memria aps a morte poderia ainda acrescentar umfato memorvel, que comprova que nada se perde, seja algo comum ou bastante particular, depois de

    inscrito na memria. Foram-me mostrados alguns livros que haviam sido recriados a partir da memria deseus autores; eles coincidiram, letra por letra, com os livros impressos na Terra, de modo que nenhumapalavra tora esquecida ou adulterada. Assim, da memria de um esprito tudo pode ser retirado, mesmofatos h muito esquecidos. A razo disso que o homem possui uma memria externa e uma memriainterna. A externa a propriedade do homem natural c a interna, propriedade elo homem espiritual. Tudo o

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    que um homem pensou, desejou, pronunciou, fez, ouviu e viu est inscrito em sua memria interna ouespiritual. E as coisas que ficaram a registradas no se apagam jamais, porque foram escritassimultaneamente no esprito do homem e nos membros ele seu corpo, como j expliquei; assim, o espritose compe de tudo o que o homem pensou, desejou e transformou em atos.

    Sei perfeitamente que tais proposies parecem paradoxais e que, por isso mesmo, dificilmentesero consideradas dignas de f, mas s posso acrescentar que so verdadeiras. Que o homem no

    acredite que guardar algum pensamento que tenha tido num lugar secreto, pois tudo est registrado emsua memoriaA memria externa ou natural permanece com o homem aps a morte. Entretanto, as coisas

    puramente naturais que ela contm no so reproduzidas na outra vida. Isso s sucede s coisasespirituais, que, por correspondncia, haviam sido acrescentadas s coisas naturais. Entretanto, quando ascoisas espirituais se expem, elas aparecem numa forma idntica das coisas naturais que lhescorrespondem; pois tudo o que existe no Cu possui a mesma aparncia das coisas terrenas, ainda que seoponham na essncia.

    A memria externa ou natural, no que concerne s coisas da matria, do tempo ou do espao, ououtras propriedades materiais, no serve ao esprito da mesma maneira que lhe serviu na Terra.

    Na Terra, quando o homem pensava com o auxilio dos sentidos externos, desconsiderando ossentidos internos ou intelectuais, ele pensava de um modo natural, oposto ao modo espiritual. Mas, naoutra vida, quando o esprito entra no mundo espiritual, o homem pode pensar espiritualmente, o que equi-

    vale a dizer que se servir do intelecto a da razo e no dos sentidos externos. Por essa razo, o contedoda memria externa ou natural permanece em repouso; o esprito faz uso apenas daquilo que eletransformou em razo, a partir da matria. A matria externa est em repouso porque as coisas que elacontm no devem ser reproduzidas, uma vez que os espritos e os anjos se comunicam apenas pelossentimentos e pelo pensamento. As coisas que no esto de acordo com seus sentimentos ou pensa-mentos no podem aparecer.

    Aps a morte, o homem se mostra racional na medida em que j o era na Terra por meio de idiomase cincias, mas no pelo fato de ter sido muito instrudo em idiomas e cincias. Conversei com vriosespritos que, na Terra, eram considerados grandes eruditos, porque conheciam idiomas antigos comohebraico, grego e latim, mas que no haviam cultivado a razo a partir de coisas escritas nessas lnguas.Alguns deles apareceram-me to simplrios como os que no dominavam nenhum desses idiomas, eoutros eram francamente estpidos. Entretanto, orgulhosamente, todos ainda se consideravam comograndes sbios.

    Conversei tambm com alguns espritos que, na Terra, haviam acreditado que o homem mais sbio aquele que mais coisas retm na memria, de maneira que esses espritos acabaram adquirindo vastosconhecimentos. Quando falavam, reproduziam o que constava da sua memria, isto , as opinies deoutrem; como jamais emitiam opinio prpria, no tinham aperfeioado a razo por meio das coisas damemria. Alguns espritos eram idiotas, outros insensatos: no sabiam discernir uma coisa verdadeira ouno acatavam as opinies falsas daqueles que a seus olhos passavam por sbios. Espritos como essespor si mesmos nunca decidem se alguma coisa isto ou aquilo e sequer possuem qualquer compreensoracional do que lhes transmitido.

    Tambm conversei com espritos que, na Terra, muito haviam escrito sobre vrios assuntoscientficos, de maneira que desfrutavam de grande reputao. Alguns mostravam-se capazes de raciocinarsobre coisas verdadeiras e examinavam se elas o eram de fato. Outras, aps voltarem para aquelesespritos que estavam na luz da verdade, viam em que consistiam a verdade, mas no queriamcompreend-la e finalmente a negavam. Outros pareciam no saber mais do que um iletrado. Esses

    espritos haviam cultivado a razo de diferentes maneiras, graas aos conhecimentos que compilaram edescobriram. Os eruditos que tinham se oposto s verdades da Igreja, mas que em conseqnciaacatavam aqueles conhecimentos que pudessem confirmar a falsidade em que se encontravam, nohaviam de fato cultivado a razo, mas apenas a faculdade de raciocinar.

    Na Terra se confunde essa faculdade com a razo, mas coisa distinta. Trata-se de uma faculdadeque alguns homens usam para confirmar tudo o que lhes agradvel e que mostra, a partir de princpiospreconcebidos e ilusrios e falsos e no verdadeiro. Tais "eruditos" no podem jamais ser leva, reconhecera verdade, porque no se pode chegar verdade a partir da falsidade.

    A razo do homem como um jardim, ou como uma terra recentemente cultivada. A memria essaterra, as verdades cientficas e os.conhecimentos correspondem s sementes. A luz e o calor do Cu soas foras produtivas, sem elas nada germina. Sem a luz do Cu, que a Verdade Divina, e sem o seucalor, que o Divino Amor, no existiria a razo, pois dessa luz e desse calor que ela sobrevive.

    Os anjos deploram particularmente o fato de que grande nmero de eruditos atribua tudo natureza,

    e termine por ser incapaz de ver a verdade segundo a luz do Cu. Na outra vida eles so privados dafaculdade de raciocinar, pois teme-se que espalhem falsidade entre os espritos bons e simples, e osseduzam. Por isso so enviados a lugares desertos.

    Um esprito se mostrou indignado porque era incapaz de recordar-se de vrias coisas que haviacultivado na vida terrestre, lamentando a perda de um prazer que lhe fora to grande. Explicaram-lhe,

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    ento, que ele no perdera absolutamente nada, porque as coisas que antes sabia permaneciam com ele.Porm, no mundo em que agora se encontrava, no era permitido que tais conhecimentos fossem retiradosda memria, porque lhe era suficiente capacidade mais refinada de pensar e falar que havia adquirido.Portanto, no precisava, como anteriormente, mergulhar sua razo em espessas obscuridades, materiais ecorporais, que no tm nenhuma utilidade no mundo dos espritos. Tudo o que lhe pudesse servir para avida eterna, ele j o possua - no seria de outro modo que obteria a beatitude e a felicidade. Foi-lhe ainda

    explicado que era um erro grave supor que, no mundo dos espritos, a inteligncia estava afetada, porqueas coisas materiais permanecem afastadas e em repouso na memria. Pelo contrrio, quando a razo separada das coisas sensuais que pertencem ao homem exterior ou ao corpo, mais ela se eleva emdireo s coisas espirituais e celestes.

    s vezes, na outra vida, a qualidade da memria se faz visvel atravs de formas que aparecemapenas l; as coisas que na outra vida tornam-se visveis, na Terra pertencem ao domnio das idias. Nooutro mundo, a memria exterior adquire a aparncia de um corpo caloso, e a memria interior tem aaparncia de uma substncia medular, tal como a que existe no crebro; fcil, pois, distinguir umamemria da outra.

    A calosidade da memria exterior apresenta-se dura e possui estrias que lembram tendes,sobretudo nos espritos que, na vida terrestre, desenvolveram a memria, mas no a razo. Entre os queencheram de falsidade sua memria, esta se apresenta coberta por plos eriados, devido ao amontoadode coisas que ela contm. Nos espritos que cultivaram por vaidade a memria, esta adquire uma

    aparncia ossificada, composta de fragmentos agregados. Entre os espritos que tentaram penetrar nosarcanos divinos atravs de pesquisas cientficas, e sobretudo filosficas, pois de outro modo noacreditariam na verdade, sua memria um corpo obscuro, que absorve os raios de luz e os transformaem trevas. Entre os dissimuladores e os hipcritas, a substncia da memria to ssea como o bano epode refletir a luz.

    Um tal corpo caloso, entretanto, no aparece entre os espritos que viveram no bem do amor e nasverdades da f, porque sua memria interior transmite raios de luz na memria exterior, iluminando osobjetivos e as idias; a memria exterior o ltimo reduto das coisas espirituais e celestes, quando encerrao bem e a verdade.

    Os homens que amam o Senhor e praticam a caridade possuem, durante a vida terrestre, ainteligncia e a sabedoria angelicais que, todavia, permanecem ocultas nos limites de sua memria interior.Tal sabedoria e inteligncia s se revelam aps a morte, quando a memria natural entra num estado detorpor.

    Explico, a seguir, em poucas palavras, como a razo pode ser cultivada. A verdadeira razoconstitudas de verdades e no de falsidade. As verdades so de trs gneros: verdades civis, morais eespirituais. s verdades civis referem-se justia, ao governo de um pas, ao justo e ao eqitativo. Asverdades morais referem-se vida de cada homem, s relaes que ele estabelece com a sociedade, sua sinceridade e correo e, em particular, aos vrios tipos de virtudes que possui. As verdadesespirituais relacionam vida do Cu e da Igreja, ao bem que procede do amor e verdade que procede daf. A vida de cada homem possui trs diferentes graus. A razo abre-se ao primeiro grau atravs dasverdades civis, ao segundo grau atravs das verdades morais e ao terceiro grau atravs das verdadesespirituais. Todavia, necessrio esclarecer que a razo no se constitui a partir dessas verdades, nem semanifesta atravs delas ou de seu mero conhecimento, mas pela prtica efetiva de tais verdades.

    Viver de acordo com essas verdades o mesmo que am-las com um afeto espiritual; e am-lascom um afeto espiritual amar a justia e a retido, a sinceridade e a correo, o bem e a verdade.Contrariamente, viver de acordo com tais verdades, mas am-las segundo a afeio corporal, servir-se

    delas tendo em vista apenas o proveito prprio, a reputao e a honra. Por isso, quanto mais o homemama essas verdades com uma afeio corporal, menos ele se torna racional, pois verdadeiramente s amaa si prprio. As verdades lhe servem como os empregados servem ao patro. Quando as verdades sorebaixadas a esse nvel, elas no penetram no homem nem abrem grau algum de sua vida, nem mesmo oprimeiro. As verdades permanecem apenas na sua memria, misturadas com a vaidade que um amorcorporal.

    Do que foi dito anteriormente, pode-se deduzir o seguinte: um homem se torna racional no terceirograu de sua vida pelo amor espiritual que devota ao bem e verdade, coisas que pertencem ao Cu e Igreja; no segundo grau de sua vida, pelo amor que devota sinceridade e correo; no primeiro grau desua vida, pelo amor que devota justia e retido. Esses dois ltimos tipos de amor tambm se tornamespirituais atravs do amor dedicado ao bem e verdade, pois este amor influi naqueles, e se conjuga comeles, imprimindo-lhes sua fisionomia.

    Os anjos tambm possuem memria. Com efeito, tudo o que eles ouvem, vem, pensam, desejam e

    fazem, fica com eles. Os anjos cultivam incessantemente a razo durante a eternidade, e aprimoram ainteligncia e a sabedoria pelo conhecimento da verdade e do bem, tal como os homens.

    Atravs de vrias experincias, pude comprovar que os anjos e os espritos realmente possuemmemria. Vi, por exemplo, no que diz respeito aos espritos, que tudo o que eles pensavam e faziamprovinha de suas memrias, tanto em pblico como em particular. Vi igualmente que os espritos que

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    possuam alguma verdade proveniente do bem estavam dotados de conhecimentos e, em conseqncia,de inteligncia. Eles foram logo depois conduzidos ao Cu.

    Entretanto, necessrio esclarecer que um esprito est dotado de conhecimento e, emconseqncia, de inteligncia, at o grau de seu sentimento pelo bem e pela verdade, desenvolvido naTerra, mas nunca alm desse grau. Com efeito, cada esprito ou anjo possui a mesma quantidade desentimento que possua na Terra, e a qualidade desse sentimento tambm se conservar sempre a

    mesma. Contudo, esse sentimento enriquecido atravs de um aprofundamento contnuo, que se prolongapela eternidade, pois nada existe que no possa ser aperfeioado infinitamente. Tudo pode variar infinitasvezes e enriquecer-se de diversos modos, por conseguinte multiplicar-se e frutificar. As coisas boas nopossuem um estado final, porque elas provm do infinito. Mas j tratei desse assunto, de modo que no odesenvolverei aqui.

    A VIDA APS A MORTE NO DIFERE DA VIDA NA TERRA

    Todo cristo sabe, atravs da Palavra Sagrada, que a vida do homem preservada aps a morte.

    Est dito em numerosas passagens que o homem ser julgado por suas aes e obras, recebendo aretribuio correspondente. O homem que pensa segundo o bem e a verdade, v claramente que precisoviver no bem para merecer o Cu, e que perseverar no mal o mesmo que abraar o Inferno. Os homensque vivem no mal no querem acreditar que seu estado aps a morte depende da vida que levaram naTerra. Tais homens pensam, principalmente quando se encontram enfermos, que o Cu dado a cada umpor pura misericrdia, independentemente da maneira como tenham vivido, ou seja, de acordo com sua f,que eles separam da experincia de vida terrena.

    Est dito em numerosas passagens da Palavra Sagrada que o homem ser julgado conforme suasaes e obras, recebendo a retribuio que merece: "Porque o Filho do homem h de vir na glria de seuPai com seus anjos, e ento retribuir a cada um conforme as suas obras" (Mateus, XVI, 27). Ento ouviuma voz do Cu, dizendo: "Escreve - Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor."Sim", diz o Esprito, "para que descansem das suas fadigas, pois suas obras os acompanham".(Apocalipse, Ap., XIV, 13). "Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecero que eu sou aquele que

    sonda a mente e coraes, e vos darei a cada um, segundo as vossas obras" (Ap., II, 23). "Vi um grandetrono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presena fugiram a Terra e o Cu, e no se achoulugar para eles. Vi tambm os mortos, os grandes e os pequenos, postos de p diante do trono. Ento seabriram livros. Ainda outro livro, o livro da vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suasobras, conforme o que se achava escrito nos livros." (Ap. XX, II, 12). "E eis que venho sem demora, ecomigo est o galardo que tenho para retribuir a cada um, segundo as suas obras," (Ap. XXII, 12).

    "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, ser comparado a um homemprudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e todo aquele que ouve estas minhas palavras e no aspratica, ser comparado a um homem insensato, que edificou sua casa sobre a areia" (Mateus, VII, 24, 26)."Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrar no Reino dos Cus, mas aquele que faz a vontade demeu Pai que est nos Cus. Muitos, naquele dia, ho de dizer-me: Senhor, Senhor! por ventura no temosns profetizado em teu nome, e em teu nome no fizemos muitos milagres?'Ento lhes direi explicitamente:`Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, o que praticais iniqidade (Mateus, VII, 21, 22, 23). "Quando o

    dono da casa se tiver levantado e fechado porta, e vs; do lado de fora, comeardes a bater, dizendo:`Senhor, abre-nos a porta. Ele vos responder: `No sei donde sois'. Ento direis: 'Comamos e bebamosna tua presena, e ensinavas em nossas ruas.' Mas ele vos dir: 'No sei donde vs sois, apartai-vos demim, vs todos os que praticais iniqidades."' (Lucas, XIII, 25, 26, 27).

    "Porque tambm eles sero escravos de muitas naes e grandes reis, assim lhes retribuireisegundo os seus feitos, e segundo as obras das suas mos." (Jeremias, XXV, 14). "Porque os teus olhosesto abertos sobre todos os caminhos dos filhos dos homens, para dar a cada um segundo o proceder,segundo o fruto das suas obras." (Jeremias, XXX, 19). "Por isso, como o povo, assim o sacerdote; ecastig-lo-ei pelo seu procedimento; e lhe darei o pago de suas obras" (Osias, IV, 9). "Segundo os nossoscaminhos, e segundo as nossas obras, assim ele nos fez" (Zacarias, 6).

    Nessas declaraes acerca do Juzo Final, o Senhor apenas menciona as obras realizadas dizendoque entraro na vida eterna aqueles que fizeram boas obras e, na danao, os demais (Mateus, XXV, 32-46). Ele repete essas declaraes em vrias outras passagens, onde trata da salvao e da condenao

    do homem. evidente que as obras e as aes so a vida externa do homem, mas trazem a marca de suavida interna.

    Entre as aes e as obras incluem-se no apenas aquilo que possui uma forma externa, mas aindatudo o que se apresenta na forma interna. Todos sabemos, com efeito, que ao e obra procedam davontade e do pensamento; se assim no fossem, seriam apenas um movimento como aquele que podem

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    realizar os autmatos e as mquinas. Em conseqncia, a ao e a obra, considerada em si mesma, apenas um efeito que procede da vontade e do pensamento, alm do que estes deixam sua marca tambmna forma exterior. A vontade e o pensamento confundem-se assim com as aes e as obras. Quando ospensamentos e a vontade so bons, as aes e as obras tambm o so; quando os pensamentos e avontade so malignos, as aes e as obras o so igualmente, embora no revelem isso em sua formaexterior. Milhares de homens podem realizar uma ao idntica quanto forma exterior, mas a ao de

    cada um, considerada em si mesma, diferente porque procede de uma vontade diferente.Por exemplo, com relao ao prximo, podemos agir com sinceridade e justia, mas algum o farcom o objetivo de exibir sua sinceridade e justia, porque assim lhe impe a vaidade e a honra, ou entoum desejo de lucro. Um terceiro pensar na remunerao e no mrito; um quarto, na amizade; um quinto,na lei, porque teme perder a reputao ou alguma funo; um sexto, um aliciar algum por esse meio; umstimo, em enganar; enfim, poderei relacionar as mais diferentes razes.

    Ainda que todas as aes na aparncia sejam boas, algumas na verdade so malvolas porque noforam realizadas por amor sinceridade e justia, mas por amor reputao e ao mundo, pois asinceridade e a justia, neste caso, servem vaidade como certos empregados servem ao seu patro, oqual, alis, pouco os estima e os despede quando se tornam inteis.

    Dentre aqueles que no se prendem nem vaidade nem ao amor pelo mundo, alguns agem emrelao ao prximo segundo a verdade da f e a obedincia, tal como est prescrito na Palavra Sagrada;outros, segundo o bem da f e a conscincia, tal como sua religio lhes recomenda; outros, segundo o bem

    da caridade, porque necessrio prover o bem ao prximo; outros, enfim, segundo o bem do amor quededicam ao Senhor, porque necessrio fazer o bem pelo bem, e ser sincero e justo em nome dasinceridade e da justia - estas so as coisas que emanam do Senhor e contm o Divino que procede d'Elee, considerados em sua essncia, so tambm Divinas. fcil verificar que as aes e as obras doshomens que tm f so interiormente boas porque, como expliquei, as aes e as obras so idnticas aopensamento e vontade que as motivaram; sem o pensamento e a vontade, elas se transformariam emmovimentos inanimados.

    Se as aes boas pertencem vontade e ao pensamento, pertencem igualmente ao amor e f, eem conseqncia so idnticas ao amor e f. O amor do homem a mesma coisa que sua vontade, e opensamento a mesma coisa que sua f. Aquilo que o homem ama ele deseja, e pensa naquilo em queele cr.

    Se o homem ama o que ele cr, ento tambm ele deseja praticar esse amor e realiz-lo na medidado possvel. fcil constatar que o amor e a f esto, de fato, na vontade e no pensamento, e no alhures,

    pois a vontade se deixa inflamar pelo amor, enquanto o pensamento v melhor a partir da f. Aqueles quepensam sabiamente pensam e amam a verdade, e amam a verdade porque crem nela.

    A vontade faz o homem, e tambm o pensamento, quanto este procede da vontade. As aes e asobras devem originar-se de ambos. Em outras palavras, o amor que faz o homem, e tambm a sua f, seesta procede do amor. O homem, portanto, idntico sua vontade e ao seu amor, pois as coisas queprovm de ambos lhe pertencem. Quando a f se separa do amor, no mais f, mas apenas uma cinciaque est destituda de vida espiritual.

    O mesmo sucede com a ao ou com a obra que realizada sem amor nenhuma das duas possuivida; embora o amor ao mal e a f na falsidade lhes dem certa aparncia de vida. o que chamo demorte espiritual.

    O homem est todo inteiro em suas aes e obras. Sabemos que o homem feito de vontade epensamento, ou de amor e f; mas esse amor e essa f no estaro completos enquanto no seexteriorizarem em aes e obras. O mesmo ocorre com sua vontade e pensamento.

    O homem que pensa e deseja, mas no realiza a ao correspondente quando as condies sofavorveis, equivale a uma chama que, fechada numa redoma, finalmente se extingue; ou semente que,atirada na areia, jamais brotar. Mas o homem que pensa, deseja e a seguir realiza semelhante a urnachama que espalha luz e calor em torno de si; ou uma semente que foi atirada em terra boa e desenvolveu-se em rvore ou flor. Aquele que deseja mas no faz, na verdade nada deseja; aquele que ama mas norealiza o bem, na verdade j no ama; aquele que apenas se contenta com o pensamento de que ama ede que deseja, dissipa e anula o prprio pensamento. O amor (ou a vontade) a prpria alma da obra,alma que ganha corpo atravs das aes sinceras e justas que o homem realiza.

    O corpo espiritual elo homem provm das coisas que o homem realiza atravs de seu amor ou davontade. Em outras palavras, tudo o que pertence ao homem e a seu esprito est tambm nas suas aese obras.

    A exposio anterior nos permite ver que, aps a morte, a vida do homem a soma de seu amor ef, no apenas em potncia, mas tambm em ato, assim como a soma de suas aes e obras, pois estas

    encerram tudo o que pertence ao amor e f do homem.O amor que predomina no homem se conserva nele aps a morte, e no mudar durante a

    eternidade. Existe em cada homem vrias espcies de amor, mas esto em harmonia com seu amordominante e compem uma unidade com ele. Tudo o que provm da vontade e est relacionado com o

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    amor dominante tambm denominado amor, porque amado; alguns desses amores so interiores,outros so exteriores.

    Alguns so imediatamente unidos ao amor dominante, outros algum tempo depois, outros esto maisprximos e outros mais distantes; mas todos esto a servio desse amor, de diversas maneiras. Elesconstituem um conjunto, uma espcie de reino, pois esto dispostos em ordem, ainda que o homemdesconhea essas coisas. Contudo, na outra vida, algum aspecto dessa ordem se lhe manifesta, pois o

    conjunto dos amores que determina o alcance de seu pensamento e sentimento, ou sua entrada nasociedade angelical, se o amor dominante compe-se de amores celestes, ou na sociedade infernal, se oamor dominante compese de amores infernais.

    As afirmaes que fiz at aqui dirigem-se ao homem racional. Portanto, ser preciso ilustr-las comexemplos retirados da experincia, a fim de que tambm possam ser apreendidas pelos sentidos. Amatria ser dividida em cinco partes:

    Primeira Parte: aps a morte, o homem idntico ao amor ou sua vontade.Segunda Parte: o homem se conserva eternamente o que , quanto ao amor que o domina e quanto

    sua vontade.Terceira Parte: o homem cujo amor celeste e espiritual elevar ao Cu; mas aquele cujo amor

    corporal e mundano e est destitudo do amor celeste e espiritual, rebaixar-se- ao Inferno.Quarta Parte: quando a f no provm do amor celeste, a f no permanece com o homem.Quinta Parte: o amor realizado, eis o que fica da vida de um homem.

    PRIMEIRA PARTE

    Aps a morte o homem o seu amor ou sua vontade; isso me foi provado por numerosasexperincias. O Cu est constitudo de sociedades, conforme as diferenas do bem do amor. Cadaesprito que elevado ao Cu e se torna anjo colocado na sociedade onde est o seu amor. Quando ele recebido ali, sente-se como se estivessem em casa ou no lugar onde nasceu. Esse anjo tudocompreende e depois busca aqueles com quem possui afinidades, pois no se associa a outros. Quandoele se afasta ou dirige-se a outro lugar, algo dentro dele resiste: o desejo de retornar para junto de seussemelhantes, ou para junto do amor dominante. dessa maneira que se constituem as sociedadescelestes; existem sociedades semelhantes no Inferno, que se constituem a partir de amores opostos aos

    amores celestes.Afirmei anteriormente que o homem, aps a morte, o seu amor. Podemos comprovar isso pelo fato

    de que lhe retiram tudo o que no compe uma unidade com seu amor dominante, se ele bom, porqueessas coisas esto em desacordo com o que ele . Dessa maneira o homem introduzido no seu amor.Sucede o mesmo com o homem malvolo, com a diferena de que no lhe retiram as coisas falsas, mas asverdadeiras; at que ele se assemelha lhe ao amor que o domina. Isso acontece quando o esprito dohomem entra no terceiro estado, do qual falarei mais adiante.

    Os espritos permanecem com a face constantemente voltada na direo do seu amor, que estsempre diante dos olhos, no importando para que lado se voltem. Eles podem ser conduzidos a todos oslugares que desejam visitar, contanto que se conservem no amor dominante, ao qual, alis, no podemresistir. Embora saibam disso, eles pensam que resistiro, se quiserem. Em vrias ocasies foramincitados a fazer alguma coisa que contrariasse esse amor, mas no conseguiram. Seu amor como umliame que os enlaa, e por meio do qual podem ser conduzidos, sem conseguirem desembaraar-se

    nunca. Sucede o mesmo na Terra: ele tambm conduzido pelo amor, ao mesmo tempo em que conduzido por outros por meio desse amor. Isso ainda mais evidente quando ele se torna esprito porqueento no lhe permitido manifestar ou fingir um amor que no lhe seja prprio.

    Quando dois espritos esto reunidos, se um deles age ou fala em harmonia com o amor do outro, orosto do interlocutor exibe franqueza, alegria e animao; mas se fala ou age contra esse amor, ento ooutro esprito comea a mudar: face se obscurece, at desaparecer junto com o resto do corpo, como seningum estivesse presente. Sempre me surpreendi com isso, porque tal coisa nunca acontece na Terra.No entanto, na outra vida, como me foi explicado, fato corriqueiro; quando um homem mostra aversopor algum, seu esprito imediatamente deixa de estar presente, desaparecendo aos olhos da outro.

    Pude comprovar claramente que o esprito do homem seu amor dominante a partir do fato de quecada esprito se apropria de tudo o que convm ao seu amor, e rejeita ou afasta o que inconveniente. Oamor de cada esprito semelhante madeira esponjosa e porosa que absorve os lquidos que lhe sonecessrios e rejeita os outros; ou ainda como os animais que buscam com avidez os alimentos que

    convm sua natureza e se desviam daqueles que no convm.De fato, cada amor quer nutrir-se apenas daquilo que lhe conveniente; assim, o amor malvolo

    deseja a mentira; o amor bondoso, a verdade unicamente. Vi algumas vezes os bons espritos instruremos maus espritos na verdade e no bem, mas estes logo fugiam para longe, e quando voltavam a seuscompanheiros retomavam com bastante prazer as falsidades que convinham ao seu amor. Vi tambm os

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    bons espritos conversarem entre si a respeito da verdade, e todos aqueles que os rodeavam escutavamcom interesse, exceto os maus espritos, que, embora presentes, pareciam nada ouvir.

    No mundo dos espritos, vem-se vrios caminhos, sendo que alguns conduzem ao Cu e outros aoInferno. Cada caminho tambm conduz a determinada sociedade. Os bons espritos avanam apenaspelos caminhos do Cu, que levam sociedade que encerra o bem do amor, mas no percebem oscaminhos que conduzem a qualquer outra direo. Ao contrrio, os maus espritos avanam

    exclusivamente pelos caminhos do Inferno, em busca da sociedade que encerra o mal do seu amor;tampouco vem os caminhos que levam a outro lugar, mas se acaso os percebem, no querem desviardaquele em que esto. Tais caminhos espirituais so aparncias que correspondem verdade ou falsidade; e, por essa razo, na Palavra Sagrada, eles significam verdade e falsidade. Essesensinamentos, retirados da experincia, confirmam que o homem, aps a morte, seu amor e suavontade; a vontade o amor de cada um.

    SEGUNDA PARTE

    Aps a morte, durante a eternidade, o homem se mantm exatamente idntico sua vontade e aseu amor dominante - isso me foi mostrado atravs de numerosas experincias. Conversei com espritos

    que haviam vivido na Terra cerca de dois mil anos atrs e cujas vidas eram conhecidas c estavamdescritas nos livros histricos. Esses espritos permaneciam idnticos a si mesmos, e o retrato que delespossuamos continuava vlido, porque correspondia ao seu amor que os dominava. Tambm converseicom espritos que haviam vivido dezessete sculos atrs, ou quatro sculos atrs, ou trs sculos atrs, etodos eram figuras histricas conhecidas. Conservavam os sentimentos que os dominara outrora, semqualquer diferena exceto que o prazer do seu amor tinha se transformado.

    Os anjos ensinaram-me que, durante a eternidade, o amor dominante de um homem jamais sealtera, porque cada um o seu prprio amor. Se o amor de um esprito se alterasse, ele seria privado devida, extinguir-se-ia; pois o homem, aps a morte, no pode mais, como acontecia durante sua estada naTerra, ser reconstitudo pela instruo de seus conhecimentos e sentimentos naturais esto em repouso cservem de apoio, tal como o fundamento de urna casa, ao contedo da sua mente ou do seu esprito.

    Portanto, durante a eternidade, o homem se conserva idntico ao que ele era na Terra. Os anjosmostraram-se surpresos com a notcia de que os homens ignoram que cada ser idntico ao seu amor

    dominante; e mais surpresos ficaram com a notcia de que havia uma crena generalizada na salvaopela misericrdia e pela f, independente do tipo de vida do homem. Os anjos confirmaram que a DivinaMisericrdia uma misericrdia mediata, conduzindo apenas o homem bom durante esta vida e durante aeternidade. Por eles explicaram que uma f um sentimento devotado verdade, sentimento esse queprocede do amor celeste que emana do Senhor.

    TERCEIRA PARTE

    O homem que possui um amor celeste e espiritual conduzido ao Cu, enquanto aquele cujo amor corporal e mundano, nada possui do amor celeste e espiritual, exila-se no Inferno. Tenho a prova dissoporque assisti ascenso de numerosos espritos ao Cu, e a descida ao Inferno de vrios outros.

    A vida dos que se elevavam procedia de um amor celeste e espiritual, mas a daqueles que desciamprovinha de um amor corporal e mundano.

    O amor celeste consiste em amar o bem, a sinceridade e a justia e em realiz-los. Quem possuiessas trs coisas tem a vida celeste. Aquele que ama essas trs coisas por elas mesmas, e as pratica,ama o Senhor acima de tudo, pois elas procedem d'Ele. Ama tambm o prximo porque elas so o prximoque se deve amar. (O Senhor, num sentido espiritual, o prximo, pois o Senhor deve ser amado acima detodas as coisas; mas amar o Senhor amar o que procede d'Ele, porque Ele Ele mesmo em tudo o queprocede d'Ele.)

    Ao contrrio, aquele que ama o bem, a sinceridade c a justia por interesse, pensando na reputao,na honra e no proveito que disso tirar, possui apenas um amor corporal, pois no considera nem aoSenhor nem ao prximo, mas unicamente a si mesmo. 0 seu prazer reside cm fazer trapaa. Ora, quando obem, a sinceridade e a justia provm da trapaa, equivalem ao mal, mentira e injustia, que so oobjeto do amor do esprito.

    O amor determina a vida de cada homem: quando este entra no mundo dos espritos, examinado edepois conduzido a uma sociedade constituda por espritos que possuem um amor igual ao seu. Os quepossuem um amor celeste associam-se aos anjos do Cu, os demais, em razo do seu amor corporal,buscam os espritos do Inferno.

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    Ademais, depois que o primeiro e o segundo estados se concluem, os espritos se separam e, apartir da, no mais se vem ou se reconhecem. Cada esprito idntico ao seu amor dominante, tanto nointerior como no exterior. Os que possuem um amor corporal adquirem urna aparncia pesada, sombria,negra disforme; mas os que possuem o amor celeste aparecem geis, luminosos, belos e de umabrancura cintilante. Eles tambm diferem pelo carter e pelo pensamento: os que esto no amor celesteso inteligentes e sbios, mas os que esto no amor corporal so estpidos e quase insensveis.

    Quando se permite o exame cio interior e do exterior do pensamento e do sentimento dos espritos, ointerior daqueles que esto no amor celeste aparece como luz, enquanto seu exterior assume coresvariadas, como o arco-ris. O interior daqueles que esto no amor corporal aparece negro, s vezes comuma obscura ardncia, como entre os que interiormente so trapaceiros, malignos, enquanto seu exteriorassume uma cor fosca e um aspecto triste. O interior e o exterior da mente e do esprito manifestam-se viso, no mundo espiritual, quando isso do agrado do Senhor, e em nenhuma outra ocasio.

    Aqueles que esto num amor corporal nada vem na luz do Cu, que para eles apenas trevas.Nessa luz, sua viso interior cobre-se de escurido, ao ponto de tornar-se insensatos. por isso que elesfogem e escondem-se em antros e cavernas cuja profundidade trazem cm si. Mas a luz do Inferno, queequivale luminosidade de um braseiro, parece-lhes uma luz muito clara. Ao contrrio, para aqueles quenum amor celeste, a luz do Cu confere a todas as coisas beleza e nitidez, ao mesmo tempo em que dotaos espritos de uma percepo mais acurada, pois ento apreendem a verdade com mais inteligncia emais sabedoria.

    Os espritos que esto imersos num amor corporal no podem viver sob o calor cio Cu, que oamor celeste, mas sentem-se bem no calor do Inferno, que um amor intolerante, que trata com rigor aquem no lhe favorvel. O desprezo pelos outros, as inimizades, os dios, as vinganas, tais soprazeres desse amor infernal. Quando usufruem (lesses prazeres, os espritos perversos esquecem o que fazer o bem ao prximo em nome do prprio bem, pois ao praticarem o bem o fazem tendo em vistaexclusivamente o mal. Esses espritos no conseguem respirar no Cu -quando um esprito perverso aliintroduzido, sua respirao semelhante de algum na agonia. Ao contrrio, os espritos que estoimersos num amor celeste, respiram livremente no Cu, e com mais plenitude medida que mais oadentram.

    A partir do que foi referido acima, pode-se ver que o amor celeste e espiritual o Cu no interior dohomem, porque tudo o que pertence ao Cu est tambm escrito nesse amor. Pelo contrrio, o amorcorporal c mundano, sem o amor celeste e espiritual, o Inferno no interior do homem, porque tudo o quepertence ao Inferno esta tambm inscrito nesse amor. evidente, portanto, que o homem cujo amor

    celeste e espiritual realmente ascende ao Cu, e que aquele apenas dotado de amor corporal e mundanocondena-se ao Inferno

    QUARTA PARTE

    A f no permanece com o homem, se ela no provm de um amor celeste. Constatei isso atravsde numerosas experincias e, se fosse o caso relat-las, encheria vrios livros descrevendo tudo o que vi eouvi sobre esse assunto.

    Posso atestar que quem est num amor corporal e mundano no possui f alguma, em virtude daausncia de qualquer amor celeste ou espiritual em seu interior- possui, isto sim. uma cincia ou dom depersuaso que os convence de que isto e no aquilo verdadeiro, quando se trata de algo que convm ao

    seu amor. Vrios espritos que imaginavam ter f foram conduzidos de alguns bons espritos e, quando acomunicao se estabeleceu entre eles, perceberam que estavam destitudos de f. Compreendem maistarde que no basta acreditar na verdade e na Palavra Sagrada, pois a f consiste em amar a verdade comum amor celeste, bem como em desej-la e pratic-la segundo um sentimento interior. Foi-lhes tambmmostrado que a persuaso, que denominado f, era coma uma luz infernal que, no contendo calor algum,faz com que sobre a Terra tudo enlanguesa ao acumular-se gerida e neve. Quando a fria luz dapersuaso deixa-se penetrar pelos raios da luz celeste, ela se extingue, sendo substituda por um nevoeiroespesso, atravs do qual nada se v. Ao mesmo tempo, o interior do esprito enche-se de trevas, e elenada mais compreende e torna-se por fim insano.

    A verdade que esses espritos apreenderam da Palavra Sagrada e das doutrinas da Igreja,confundindo-a com a verdadeira f, lhes finalmente retirada, sendo substituda pela falsidade queconcorda com o mal que trazem em si. Esses espritos, logo depois, so devolvidos do seu amordominante e falsidade que concorda com esse amor. Como a verdade celeste se ope a essa falsidade,

    os espritos derretem-lhe dio e averso, rejeitando-a por fim.A partir de minha prpria experincia com as coisas do Cu e do Inferno, posso assegurar que os

    espritos que professaram a f somente segundo a doutrina e praticaram o mal na Terra, so enviados aoInferno, aps serem julgados. Vi milhares deles descerem para Ira. o assunto do meu opsculo O JuzoFinal e a Babilnia Destruda.

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    QUINTA PARTE

    Para concluir, devo dizer homem a sua prpria vida.E necessrio esclarecer que as obras c as aes pertencem vida moral e social, de maneira queimplicam tudo o que sincero e correto, tudo o que Justo e eqitativo: o que sincero e correto pertence vida moral, e o que justo e eqitativo, vida social. O amor que anima um homem pode ser celeste ouinfernal. As obras e as .aes da vida moral e social sero celestes quando forem realizadas segundo umamor celeste, pois neste caso sero feitas segundo o Senhor c absorvero o bem que d'Ele emana. Mas asaes e as obras da vida moral e social tornaro infernais, se forem realizadas por vaidade em proveitoprprio porque neste caso sero feitas segundo o homem e absorvero o mal que dele emana. O homem,considerado em si mesmo, apenas o mal.

    OS PRAZERES ESPIRITUAIS NA VIDA APS A MORTE

    No Captulo anterior, mostrei que o sentimento ou o amor dominante permanece com o homem portoda a eternidade. Mostrei, em seguida, que os prazeres naturais associados ao sentimento ou amor sotransformados em prazeres espirituais, na outra vida. evidente que assim, pois, ao entrar no mundodos espritos, o homem abandona o corpo material e deixa-se revestir por um corpo espiritual. Como jfalei, tanto os anjos como os espritos possuem uma forma humana.

    Os prazeres do homem pertencem ao amor dominante, pois o homem s sente prazerem relao aoque ama, e principalmente em relao ao que ama acima de todas as coisas. Esses prazeres so variados;correspondem a vrios tipos de amor dominante que podemos encontrar nos homens, nos espritos e nosanjos. Um amor dominante nunca semelhante a outro. Por isso, a face de um anjo ou de um espritonunca igual a nenhuma outra, pois cada face uma imagem exclusiva do esprito do homem, ou seja, do

    amor dominante.Os prazeres de cada esprito so de uma variedade infinita c em ningum ocorre de um prazer ser

    igual a qualquer outro. Os prazeres se sucedem um ao outro ou existem simultaneamente, porm nunca seconfundem entre si. Entretanto, em cada homem, esses prazeres dizem respeito a um s amor, ecompem uma unidade com ele. Da mesma forma, todos os prazeres, de todos os homens, relacionam-sea um s amor que reina universalmente; no Cu, o amor devotado ao Senhor, e no Inferno, o amordevotado a si mesmo.

    Somente a cincia das correspondncias pode nos ensinar o que so os prazeres espirituais erevelar algo de sua qualidade. O que ela ensina, grosso modo, que o mundo material est emcorrespondncia com o mundo espiritual Em particular, tambm ensina qual a qualidade do elementonatural que est cm correspondncia com seu anlogo espiritual. O homem que possui essa cincia podeantecipadamente prever qual ser seu estado aptas a morte, desde que conhea o amor dominante esaiba a que amor universalmente reinante ele se relaciona. Nem todos, porm, conhecem seu amor

    reinante; h o caso daqueles que esto mergulhados no amor a si mesmo: amam o que possuem vem amaldade como bem e a falsidade como verdade. Entretanto, se quisessem, poderiam conhecer esse amorreinante por intermdio daqueles homens que so sbios e que podem ver o que eles ignoram. Masaqueles que esto possudos pelo amor a si mesmo geralmente rejeitam com desprezo o ensinamento dossbios. Ao contrrio, os espritos que esto num amor celeste recebem de bom grado essa instruo epodem ver o mal no qual todo homem nasce, pois a verdade sempre pe mostra o mal ao ser aceita pelohomem.

    Um homem pode ver o mal e a falsidade do mal atravs da verdade que provm do bem, pormningum jamais ver o bem ou a verdade atravs do mal, porque a falsidade do mal so trevas, segundo alei das correspondncias. Os espritos que esto na falsidade, segundo o mal, so como cegos que novem os objetos iluminados que tm diante de si; e so tambm como as corujas que fogem deles.

    A verdade que provm do bem uma luz, segundo a lei das correspondncias. Aqueles quepossuem a verdade, segundo o bem, vem claramente e mantm os olhos sempre abertos, de ma