239
EMENTA - Certidão de antecedentes criminais apócrifa. Ausência de validade jurídica. A certidão de antecedentes criminais apócrifa não possui qualquer valor jurídico e, em respeito ao princípio constitucional de presunção de não-culpabilidade o réu deverá ser considerado primário e de bons antecedentes. Provimento parcial. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 401.833- 1 da Comarca de MONTES CLAROS, sendo Apelante (s): ALEXANDRE MENDES DA SILVA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 12 de agosto de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O

TAMG

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: TAMG

EMENTA - Certidão de antecedentes criminais apócrifa. Ausência de validade jurídica. A certidão de antecedentes criminais apócrifa não possui qualquer valor jurídico e, em respeito ao princípio constitucional de presunção de não-culpabilidade o réu deverá ser considerado primário e de bons antecedentes. Provimento parcial. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 401.833-1 da Comarca de MONTES CLAROS, sendo Apelante (s): ALEXANDRE MENDES DA SILVA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 12 de agosto de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O

Page 2: TAMG

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Montes Claros, Alexandre Mendes da Silva como incurso nas sanções do art. 155, caput, c/c art. 14, II, ambos do CP, por ter, em 19 de abril de 2002, por volta das 12h30, tentado subtrair um aparelho de som CD instalado no veículo de propriedade da vítima Karem Dayana Rodrigues Silva. A sentença monocrática às f. 60 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 3 (três) anos, 7 (sete) meses e 10 (dez) dias de reclusão em regime fechado e ao pagamento de 107 (cento e sete) dias-multa com valor unitário mínimo. Não lhe foi concedida a substituição da pena corporal por restritiva de direitos. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.68 e seg., nas quais pugna pela absolvição ou, alternativamente, pela aplicação da pena no mínimo legal. As contra-razões ministeriais às f.75 e seg. são pelo provimento parcial do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.81 e seg., manifestou-se pelo provimento parcial do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. A materialidade e a autoria delitiva estão sobejamente comprovadas nos autos, inclusive pela confissão do acusado. Não obstante o magnífico trabalho de defesa apresentado pela Dra. Maíza Rodrigues Silva em suas alegações finais às f. 52 e seg., não há falar em aplicação analógica do art. 34 da Lei 9.249/95, nos termos julgados em casos semelhantes pelo brilhante Des. Amílton Bueno de Carvalho do TJRS. No presente caso, a vítima sofreu um efetivo prejuízo, pois o vidro dianteiro direito de seu automóvel foi quebrado para que o aparelho de som pudesse ser subtraído. Assim, não há falar em aplicação analógica in bonam partem do art. 34 da Lei 9.249/95, como quer a defesa, pois para tanto seria necessária a

Page 3: TAMG

comprovação de que o agente restituiu todo o prejuízo causado à vítima. Por outro lado, assiste inteira razão ao nobre Defensor Público Wellison Carlos Fonseca Cambuí, subscritor das razões do apelo, ao afirmar que a pena foi excessivamente fixada. É que as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP são todas comuns aos crimes da espécie e, portanto, elementos constitutivos do próprio tipo penal, em nada demonstrando uma maior reprovação da conduta. Assim, fixo-lhe a pena-base no mínimo legal de 1 (um) ano de reclusão. A certidão de antecedentes criminais às f. 24 e seg. não está assinada, razão pela qual não tem qualquer valor jurídico. Não se pode considerar informação computadorizada apócrifa como documento hábil para se comprovar antecedentes criminais. Assim, não levarei em conta a reincidência na fixação da reprimenda. Em razão de a pena-base ter sido fixada no mínimo legal, deixo de considerar em favor do réu a atenuante da confissão espontânea, aplicando ao caso a súmula 231 do STJ. Reduzo-lhe a pena pela tentativa em apenas 1/3 (um terço) tendo em vista que o iter criminis foi percorrido em quase sua totalidade. Fixo-lhe a pena definitiva em 8 (oito) meses de reclusão em regime aberto, em face da ausência da comprovação por documento legal da reincidência. Fixo-lhe a pena pecuniária em 10 (dez) dias-multa com valor unitário mínimo. Ainda pela ausência da prova de reincidência e em respeito ao princípio constitucional da presunção de não-culpabilidade, substituo a pena corporal fixada por uma restritiva de direitos, a ser designada pelo juízo da execução e na prestação pecuniária de 1 (um) salário mínimo à vítima como forma de reparar-lhe o dano causado. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA

Page 4: TAMG

guicap APELAÇÃO CRIMINAL Nº 401.833-1 - 12/8/2003 MONTES CLAROS -6- APELAÇÃO CRIMINAL Nº 401.833-1 - 12/8/2003 MONTES CLAROS APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -7-

Page 5: TAMG

EMENTA - Apelação. Recolhimento à prisão. Princípio da ampla defesa. Conhecimento. Ainda que o réu não tenha se recolhido à prisão, seu recurso deve ser conhecido e apreciado, pois a Constituição Federal de 1988 consagrou os princípios da ampla defesa e do duplo grau de jurisdição que não podem ser condicionados ao recolhimento do réu ao cárcere para apelar. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 397.764-0 da Comarca de VARGINHA, sendo Apelante (s): 1º) GENIVALDO FRANCISCO; 2º) JOSÉ MARIA BRUNO FILHO e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, CONHECER DOS RECURSOS. DAR PROVIMENTO PARCIAL AOS RECURSOS, E, DE OFÍCIO, JULGAR EXTINTA A PUNIBILIDADE DE GENIVALDO FRANCISCO. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 1º de julho de 2003.

Page 6: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Varginha, José Maria Bruno Filho e Genivaldo Francisco, como incursos nas sanções do art. 155, § 4º, IV, do CP, por terem, em 28 de novembro de 1995, por volta das 21h00, subtraído cinco caixas de azulejos pertencentes à vítima Alessandro Martins. A sentença monocrática às f. 57 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou José Maria Bruno Filho a 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 30 (trinta) dias-multa com valor unitário mínimo. Genivaldo Francisco foi condenado a 2 (dois) anos de reclusão em regime aberto e ao pagamento de 30 (trinta) dias-multa com valor unitário mínimo. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 69 e seg., nas quais pugna pela absolvição pelo princípio da insignificância ou, alternativamente, pela conversão da pena em restritiva de direitos. As contra-razões ministeriais às f.72 e seg. são pelo provimento parcial do recurso. A decisão à f. 88 negou seguimento à apelação interposta por José Maria Bruno Filho, tendo em vista que o réu não se recolheu à prisão para recorrer. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 93 e seg., manifestou-se pelo provimento parcial do recurso, substituindo-se a pena de Genivaldo Francisco por restritiva de direitos. Em síntese, é o relatório. Preliminar de conhecimento do recurso de José Maria Bruno Filho: Rogata maxima venia, entendo que o recolhimento do réu à prisão não pode ser conditio sine qua non para o conhecimento de seu recurso de apelação.

Page 7: TAMG

Isto porque a Constituição de 1988 consagrou os princípios da ampla defesa e da presunção de não-culpabilidade, que só pode ser desfeita por condenação transitada em julgado contra o acusado. Ora, como impedir que um réu, que a Constituição Federal presume inocente, possa recorrer, exercendo assim sua ampla defesa, e provar sua inocência constitucionalmente presumida? O art. 594 do CPP não foi, pois, recepcionado em sua totalidade pela Carta Magna de 1988. A este respeito aliás, temos importantes precedentes jurisprudenciais: "A CF estabeleceu, no art. 5º, LVII, que 'ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória'. Perdeu, pois, força jurídica e conseqüência axiomática das condenação, como previsto no art. 594 do CPP. A prisão do réu antes do trânsito em julgado da condenação penal só pode ocorrer em razão de determinação fundamentada (art.5º, LXI, da CF). Assim, não pode a sentença condenatória negar ao réu o direito de recorrer em liberdade com fundamento tão-só no fato de ser reincidente, sendo necessário invocar o quadro dos requisitos previstos para a prisão preventiva, dada a norma constitucional referida" (TACRSP - RT643/303) Pelo exposto, em respeito ao princípio constitucional da ampla defesa, conheço dos recursos de ambos os réus, pois presentes seus pressupostos de admissibilidade. Mérito: No mérito, a materialidade e a autoria delitiva estão sobejamente comprovadas. A aplicação do princípio da insignificância, requerida pela defesa, não é possível no presente caso. Isto porque a res furtiva foi avaliada à f. 13 em R$ 75,00 (setenta e cinco reais), valor que, apesar de pequeno, não pode ser considerado insignificante, mormente em um país cujo salário mínimo vigente é de R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais). Vale lembrar que os fatos se deram em 1995, época em que o salário-mínimo era ainda menor e, portanto, jamais poder-se-ia considerar o valor de R$ 75,00 (setenta e cinco reais) insignificante.

Page 8: TAMG

Mantenho, pois a condenação. A certidão à f. 46 comprova anteriores condenações criminais contra o réu José Maria Bruno Filho, nenhuma delas porém, por infração do art. 155 do CP, razão pela qual substituo-lhe a pena por duas restritivas de direitos, consistentes na prestação de serviços à comunidade em entidade a ser designada pelo juízo da execução e na prestação pecuniária de 1 (um) salário mínimo à vítima. Contra o réu Genivaldo Francisco, porém, não há qualquer condenação anterior certificada nos autos, razão pela qual entendo ser perfeitamente aplicável a ele o disposto no art. 155, § 2º, do CP, que entendo em nada ser incompatível com a forma qualificada do delito. Assim, reduzo-lhe a pena em 2/3 (dois terços), fixando-a em definitivo em 8 (oito) meses de reclusão a serem cumpridos em regime aberto. Tendo em vista o disposto no art. 109, VI, do CP, de ofício, declaro extinta a punibilidade do agente com base na prescrição intercorrente da pena, pois entre a data da publicação da sentença - 24 de agosto de 1999 (f. 62) - e a data deste julgamento já se passaram mais de 2 (dois) anos. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA SAP APELAÇÃO CRIMINAL Nº 397.764-0 - 1/7/2003 VARGINHA

Page 9: TAMG

-7- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -1-

Page 10: TAMG

EMENTA - CERTIDÃO DE ANTECEDENTES CONTRADITÓRIAS. AUSÊNCIA DE VALOR JURÍDICO. A certidão de antecedentes é documento importantíssimo em um processo criminal e não pode conter qualquer tipo de contradição sob pena de se tornar imprestável e ter que ser desconsiderada. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 393.166-8 da Comarca de BARBACENA, sendo Apelante (s): ANTÔNIO SÉRGIO GOMES DE OLIVEIRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 27 de maio de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O

Page 11: TAMG

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Barbacena, Antônio Sérgio Gomes de Oliveira como incurso nas sanções do art. 155, § 4º, I, do CP, por ter, em 17 de janeiro de 1998, subtraído uma televisão 14 polegadas de propriedade da vítima Damião Bernardo Dias. A sentença monocrática às f. 73 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão em regime aberto e ao pagamento de 30 (trinta) dias-multa com valor unitário mínimo. Não lhe foi concedida a substituição da pena corporal por restritiva de direitos. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.85 e seg., nas quais pugna pela desclassificação do delito para aquele previsto no art. 345 do CP ou, alternativamente, pela substituição da pena. As contra-razões ministeriais às f.92 e seg. são pelo desprovimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.100 e seg., manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Não há falar no presente caso em exercício arbitrário das próprias razões tendo em vista que o réu alienou a res para terceiro. Ficou claro que o dolo do réu não era de obter o pagamento de uma dívida, mas sim de apoderar-se de coisa alheia. Por outro lado, entendo ser possível a substituição da pena em relação ao réu. É que a certidão de antecedentes criminais às f. 56-57 possui vícios que não me permitem nela confiar. Em relação ao processo 05695003940-6 em que o réu foi condenado por furto, consta uma pena de 15 (anos), 5 (cinco) meses e 6 (seis) dias em regime semi-aberto!? Não bastasse, a data de início de execução é 27/3/1986, sendo que a sentença transitou em julgado em 19/8/1997!?

Page 12: TAMG

Diante de tamanhas contradições, não posso negar a substituição da pena ao acusado com base em um documento como este. Pelo exposto, em respeito ao princípio constitucional de presunção de não-culpabilidade, substituo a pena corporal do apelante por uma prestação pecuniária de um salário mínimo em favor da vítima e pela prestação de serviços à comunidade em entidade a ser designada pelo juiz da execução. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA guicap APELAÇÃO CRIMINAL Nº 393.166-8 - 27/5/2003 BARBACENA -5-

Page 13: TAMG

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 393.166-8 - 27/5/2003 BARBACENA APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -6-

Page 14: TAMG

EMENTA - DESPACHO DE RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA. A ausência do despacho de recebimento da denúncia não anula o feito, devendo-se contar o prazo prescricional a partir da data do despacho que designou a citação e o interrogatório do réu. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 395.615-4 apensada à Apelação Criminal Nº 395.613-0 da Comarca de OLIVEIRA, sendo Apelante (s): ÂNGELA MARIA ARISTIDES e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR. NO MÉRITO, DAR PROVIMENTO E, DE OFÍCIO, JULGAR EXTINTA A PUNIBILIDADE. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 27 de maio de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O

Page 15: TAMG

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Oliveira, Ângela Maria Aristides como incursa nas sanções do art. 155, caput, do CP, por ter, em 21 de dezembro de 1996, por volta das 12h30, subtraído para si os objetos descritos à f. 5, de propriedade da vítima Silvânia Maria do Carmo Augusto. A sentença monocrática às f. 52 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou a ré a 1 (um) ano e 10 (dez) meses de reclusão em regime fechado e ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa com valor unitário mínimo. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.58 e seg., nas quais pugna em preliminar pela nulidade do feito pela ausência de despacho de recebimento da denúncia e, no mérito pelo reconhecimento do furto privilegiado. As contra-razões ministeriais às f.62 e seg. são pelo improvimento do apelo. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.71 e seg., manifestou-se pelo parcial provimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Preliminar de nulidade: Não há falar em nulidade do feito simplesmente pela ausência de despacho expresso quanto ao recebimento da denúncia. A este respeito leia-se a seguinte decisão: "O Código de Processo Penal não reclama explicitude ao ato de recebimento judicial da peça acusatória. O ordenamento processual penal brasileiro não repele, em conseqüência, a formulação, pela autoridade judiciária, de um juízo implícito de admissibilidade da denúncia. O mero ato processual do juiz - que designa desde logo, data para o interrogatório do denunciado e ordena-lhe a citação - supõe o recebimento tácito da denúncia" (STF - RT 692/343-4) Pelo exposto, rejeito a preliminar.

Page 16: TAMG

Mérito: Quanto ao mérito, a materialidade e autoria delitiva estão sobejamente comprovadas. Quanto à fixação da pena, de fato, procedeu com excesso de rigor o magistrado monocrático. Não há nos presentes autos qualquer certidão de maus antecedentes em desfavor da apelante, razão por que, como bem lembrou o douto Procurador de Justiça, ela deve ser tida como primária e de bons antecedentes. Destarte, reconheço em favor da ré o furto privilegiado e passo a dosar-lhe nova reprimenda: As circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, são comuns aos crimes da espécie não merecendo um maior rigor em sua reprovação. Deixo de reconhecer em seu favor a atenuante da confissão espontânea em virtude de a pena-base já ter sido fixada no mínimo legal. Reduzo-lhe a reprimenda em apenas 1/3 (um terço) tendo em vista que o valor da res furtiva não foi tão pequeno assim. Fixo-lhe a pena definitiva em 8 (oito) meses de reclusão em regime aberto. A pena pecuniária será de 10 (dez) dias-multa com valor unitário mínimo. Substituo a pena corporal por prestação de serviços à comunidade em entidade a ser designada pelo juiz da execução. Tendo em vista que a sentença monocrática foi publicada em 30 de maio de 2002 e que a denúncia foi recebida tacitamente em 1º de outubro de 1997 (f. 25), de ofício, julgo extinta a punibilidade da ré pela prescrição retroativa da pena. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA

Page 17: TAMG

guicap APELAÇÃO CRIMINAL Nº 395.615-4 APENSADA À APELAÇÃO CRIMINAL Nº 395.613-0 - 27/5/2003 OLIVEIRA -5- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -6-

Page 18: TAMG

EMENTA - Agravo. Comutação. Processo em andamento. Em respeito ao princípio constitucional da presunção de não-culpabilidade, processos em andamento não podem ser obstáculos para a concessão de benefícios no curso da execução penal. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Nº 399.152-8 da Comarca de UNAÍ, sendo Agravante (s): FABRÍCIO JOSÉ DE OLIVEIRA e Agravado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 6 de maio de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA :

Page 19: TAMG

Trata-se de Agravo interposto por Fabrício José de Oliveira contra a decisão às f. 36 e seg. que lhe indeferiu a comutação de 1/4 de sua pena e a concessão do livramento condicional. Em suas razões às f. 40 e seg., pugna o agravante pela concessão da comutação e do livramento condicional. As contra-razões ministeriais às f. 45 e seg. são pelo conhecimento e desprovimento do agravo. A decisão agravada foi mantida pelo M.M. Juiz a quo à f. 52. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.70 e seg., manifestou-se pelo conhecimento e improvimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. A decisão agravada indeferiu os pedidos com base em um processo em andamento contra o agravante por crime de tentativa de homicídio. Não obstante o art. 3º, II, do Decreto 4.011/2001 vedar a concessão de indulto e de comutação a condenado que esteja sendo processado por outro crime praticado com violência ou grave ameaça à pessoa, tal dispositivo não pode ser levado em conta, pois é visivelmente inconstitucional. O art. 5º, LVII, da Constituição Federal é expresso ao dispor que: "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória." A Constituição presume, pois, a inocência dos acusados em processo criminal, inocência esta que só poderá ser descaracterizada por sentença penal condenatória transitada em julgado. Ora, se a Constituição Federal presume que o agravante será absolvido da acusação que lhe fazem de tentativa de homicídio, não pode um decreto do poder executivo vedar-lhe qualquer direito em razão deste processo em andamento, pois o acusado - presumido pela Constituição inocente - é tão inocente quanto aquele que nunca teve uma acusação criminal contra sua pessoa. As garantias constitucionais são o fundamento do Estado Democrático de Direito e não podem ser olvidadas em nenhuma hipótese, sob pena de

Page 20: TAMG

arbítrio. Por outro lado, não cabe a este tribunal a análise dos requisitos subjetivos para a progressão de regime, sob pena de supressão de instância. Destarte, dou provimento ao recurso, tão-somente para afastar o óbice do processo em andamento contra o agravante para a concessão dos benefícios, determinando ao M.M. Juiz de primeira instância que analise as demais circunstâncias para a concessão dos benefícios. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA guicap AGRAVO Nº 399.152-8 - 5/6/2003 UNAÍ -2- AGRAVO Nº «agravo_num» - «data» «comarca» -5-

Page 21: TAMG
Page 22: TAMG

EMENTA - Furto. Dano. Concurso material. Impossibilidade. Não há falar em concurso material entre o delito de furto e o crime de dano se, após subtraída a coisa, o agente a destrói, pois o bem jurídico tutelado pelos dois delitos é o mesmo: o patrimônio. Assim, impossível é a punição por dano, mantendo-se tão-somente a condenação pelo crime de furto. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 390.282-5 da Comarca de BAMBUÍ, sendo Apelante (s): JOÃO PAULO GERALDO DOS SANTOS e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL E FAZER RECOMENDAÇÃO. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 29 de abril de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O

Page 23: TAMG

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Bambuí, João Paulo Geraldo dos Santos como incurso nas sanções dos art. 155, § 4º, IV, e 163, parágrafo único, II, todos do CP, por ter, em 13 de dezembro de 1999, por volta de 1h00, na companhia de um menor, subtraído o automóvel, placa WN-7649, de propriedade de Heitel Ferreira de Carvalho e em seguida o destruindo, ateando-lhe fogo. A sentença monocrática às f. 194 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 2 (dois)anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa pelo delito de furto e 6 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa pelo delito de dano. O valor do dia-multa foi fixado no mínimo legal e o regime inicial de cumprimento de pena foi fixado no aberto. A pena corporal não foi substituída por restritiva de direitos. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 202(?) e seg., nas quais pugna pela absolvição. As contra-razões às f. 205(?) e seg. são pelo desprovimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 213(?) e seg., manifestou-se pelo provimento parcial do recurso, para desclassificar-se o delito e condenar-se o recorrente por dano simples. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Ab initio verifico que a partir de f. 73 a numeração das páginas do processo saltou misteriosamente para a f. 174. Determino, pois, à Secretaria que proceda à correção do equívoco ocorrido na Secretaria do Juízo de Bambuí. Mérito: A alegação de que faltou aos agentes o animus rem sibi habendi não encontra qualquer fundamento na prova dos autos. Na verdade, quando realizaram a subtração, não sabiam ao certo o que fazer com o veículo e, ao perceberem que não conseguiriam fazê-lo funcionar, decidiram incendiá-lo.

Page 24: TAMG

Douglas assim narra o desenrolar dos fatos em suas declarações à f. 14: "(...) lá tentaram fazer novamente a ligação direta, não conseguindo, João Paulo deu a idéia de colocarem fogo no veículo, como portava um isqueiro, colocou fogo nos plástico (sic) que serviam de janelas no veículo e logo em seguida o veículo todo incendiara (...)" Ora, o simples fato de desistirem de ter a coisa já furtada para si, não desfaz o animus rem sibi habendi do momento da subtração. Por outro lado, a vontade do cooperar no concurso de agentes, não necessita ser prévia, bastando que surja no momento de execução da subtração. Evidentemente que, ao prestar ajuda aos menores, o apelante aderiu ao dolo dos demais que aceitaram sua ajuda de bom grado. Irrelevante, por outro lado, não saberem ao certo quem era a vítima, pois tinham plena consciência de tratar-se de coisa alheia móvel e, portanto, não agiram em erro de tipo. Mantenho, pois, a condenação proferida pelo delito de furto. Quanto ao crime de dano, penso não ser punível no caso. É que tanto o delito de furto quanto o delito de dano visam a proteger o mesmo bem jurídico: o patrimônio. Não haveria sentido em se punir a subtração do bem (quando o agente tem a perda patrimonial) e a destruição do bem, pois a perda patrimonial já se consumara no momento da subtração. Após subtraído o bem, é irrelevante se os agentes guardam-no para si, vendem-no ou mesmo se o destroem, pois a vítima já não mais o detém. Assim, absolvo o acusado pelas imputações do crime de dano, mantendo na íntegra a condenação a 2 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa pelo crime de furto. Penso, porém, que a substituição da pena corporal seja aplicável ao caso. Substituo, pois, a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, sendo a primeira delas de prestação de serviços à comunidade em entidade a ser designada no juízo da execução e a segunda, de prestação pecuniária de 1 (um) salário mínimo à vítima.

Page 25: TAMG

É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA APELAÇÃO CRIMINAL Nº 390.282-5 - 29/4/2003 BAMBUÍ -6- APELAÇÃO CRIMINAL Nº 390.282-5 - 29/4/2003 BAMBUÍ APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -1-

Page 26: TAMG

EMENTA - Sentença suicida. Nulidade. Nula é a sentença cuja fundamentação encontra-se em flagrante divergência com sua conclusão. Se em seus argumentos o magistrado reconheceu que a participação do agente consistiu tão-somente no auxílio da venda da res furtiva, não é possível a condenação por furto. Sentença anulada. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 368.697-9 da Comarca de ITUIUTABA, sendo Apelante (s): 1º) MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, 2º) ÍGOR SILVA DE OLIVEIRA e 3º) EZEQUIEL APARECIDO DE OLIVEIRA e Apelado (a) (os) (as): EZEQUIEL APARECIDO DE OLIVEIRA e MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, ACOLHER PRELIMINAR DO TERCEIRO APELANTE E ANULAR A SENTENÇA, JULGANDO PREJUDICADOS OS DEMAIS RECURSOS. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 29 de abril de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 27: TAMG

V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Ituiutaba, Ezequiel Aparecido de Oliveira e Igor Silva de Oliveira como incursos nas sanções do art. 155, § 4º, IV, do CP, por terem, em 25 de maio de 1999, por volta das 20h00, subtraído um toca-fitas e uma fita cassete que se encontravam no interior do veículo, placa GLR 9800, de propriedade das vítimas José Jacob Yunes. A sentença monocrática às f. 86 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou Ezequiel a 2 (dois) anos e 3 (três) meses de reclusão em regime inicial semi-aberto e ao pagamento de 13 (treze) dias-multa. A pena corporal foi substituída por uma restritiva de direitos. Igor foi condenado a 2 (dois) anos e 4 (quatro) meses de reclusão em regime inicial semi-aberto e ao pagamento de 14 (quatorze) dias-multa. Não lhe foi concedida a substituição da pena corporal por restritiva de direitos. Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões às f. 96 e seg., nas quais pugna tão-somente pela substituição da pena corporal de Ezequiel por duas restritivas de direitos. Os acusados Igor e Ezequiel apelaram às f. 99 e 100 respectivamente. A defesa de Igor apresentou suas razões às f. 107 e seg., pugnando pela absolvição com fulcro no art. 386, IV, do CPP. As contra-razões ministeriais às f. 111 e seg. são pelo provimento parcial para minorar a pena privativa de liberdade fixada ao apelante Igor. As contra-razões de Ezequiel às f. 120 e seg., em preliminar, argúem a nulidade da sentença, e, no mérito, são pelo desprovimento do recurso ministerial. As razões ao apelo de Ezequiel foram apresentadas às f. 142 e seg., nas quais, em preliminar argúem a nulidade da sentença, e, no mérito, são pela absolvição. As contra-razões ministeriais às f. 148 e seg. são pela rejeição das preliminares e pelo não-provimento do recurso.

Page 28: TAMG

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.134 e seg., manifestou-se pelo desprovimento dos recursos das defesas e pelo provimento do apelo ministerial. Em síntese, é o relatório. Conheço dos recursos, pois presentes seus pressupostos de admissibilidade. Preliminar de nulidade da sentença argüida no recurso de Ezequiel: Penso que assiste inteira razão à culta Defensora Pública Míriam Luce Alves de Araújo. O M.M. Juiz a quo foi contraditório ao proferir sua decisão. À f. 89 lê-se: "Através das referidas declarações percebemos que há uma relação de amizade entre os acusados, portanto, o acusado certamente sabia (face aos antecedentes de Igor), que o aparelho na posse dele, Igor, poderia ser produto de furto. Não obstante, o acusado nem procurou esclarecer sobre isso, apenas ajudou Igor a se desfazer do referido aparelho (aliás, por um preço ínfimo R$10,00) recebendo em troca doses de bebidas alcoólicas." Ora, este parágrafo demonstra que a sentença, em sua fundamentação, reconhece a existência de uma receptação - seja ela culposa ou dolosa - mas jamais de um furto que consiste em "subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel". No final da fundamentação da sentença, às f. 93, lê-se: "Assim não é essencial para a caracterização do delito que os dois tenham juntos praticados a subtração do aparelho. É evidente que Igor foi quem praticou a subtração, não restando porém, devidamente esclarecido se Ezequiel também participou da subtração. Contudo, mesmo que não tenha ele participado efetivamente da subtração, vimos que houve a manifesta vontade e consciência por parte deste em concorrer na ação criminosa do outro, ao ajudar na negociação da res furtiva, dando causa ao concurso." É bem verdade que para haver participação, ou mesmo co-autoria, não é necessário que o agente participe diretamente do núcleo da conduta típica. É verdade também que não há necessidade de um prévio acordo de vontades, pois o que importa é que haja vontade e consciência de estar concorrendo na ação criminosa de outrem.

Page 29: TAMG

No entanto, é bom lembrar que o acordo de vontades tem que surgir pelo menos simultaneamente com a prática do delito, jamais podendo nascer após o fato consumado. Pela leitura dos trechos da sentença citados, está claro que o M.M. Juiz admite a hipótese do acordo de vontades só ter surgido no bar, isto é, posteriormente à consumação do delito. Assim, o magistrado monocrático admite ter o acusado Ezequiel praticado o crime de receptação (art. 180 do CP), mas jamais furto (art. 155 do CP), pois a subtração da coisa alheia móvel é anterior ao acordo de vontades. O simples auxílio na negociação da venda da res furtiva não constitui furto, razão por que está clara a incoerência entre a fundamentação e a parte conclusiva da sentença. A sentença é, de fato suicida, pois contém fundamento divergente de sua conclusão. Assim, solução outra não há, senão acolher a preliminar para anular a sentença e determinar que nova decisão seja proferida. Prejudicados os recursos dos apelantes Ígor Silva de Oliveira e do Ministério Público. JUIZ ERONY DA SILVA guicap APELAÇÃO CRIMINAL Nº 368.697-9 - 29/4/2003

Page 30: TAMG

ITUIUTABA -7- APELAÇÃO CRIMINAL Nº 368.697-9 - 29/4/2003 ITUIUTABA APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -8-

Page 31: TAMG

EMENTA - Receptação. Dolo do agente. Inúmeras adulterações em veículo são provas cabais de sua origem ilícita sendo absolutamente irrelevante para caracterizar a receptação saber a espécie do crime antecedente ou sua autoria. Negado provimento ao recurso da defesa. Provimento ao recurso ministerial. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 378.991-5 da Comarca de CARMO DO RIO CLARO, sendo Apelante (s): 1º) MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e 2º) VALDELI FERREIRA TORRES e Apelado (a) (os) (as): OS MESMOS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO AO RECURSO MINISTERIAL E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DA DEFESA. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 25 de março de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Page 32: TAMG

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Carmo do Rio Claro, Valdeli Ferreira Torres como incurso nas sanções do art. 180, caput, do CP, por ter, em agosto de 1993, adquirido em proveito próprio um caminhão Mercedes, modelo L 1113/1980, sabendo tratar-se de produto de crime. A sentença monocrática às f. 325 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 2 (dois) anos de reclusão em regime aberto e ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa com valor unitário de 1 (um) salário mínimo. Não lhe foi concedida a substituição da pena por restritiva de direitos. Inconformados, apelaram o Ministério Público às f. 337 e a defesa às f. 344. Em suas razões ministeriais às f. 334 e seg., pugna o douto Promotor de Justiça pela majoração da reprimenda e pela fixação de regime inicial de cumprimento de pena mais severo. As razões da defesa às f. 355 e seg. são pela absolvição . As contra-razões da defesa às f. 350 e seg. são pelo desprovimento do apelo ministerial. As contra-razões ministeriais às f. 374 e seg. são pelo conhecimento do apelo e por seu desprovimento. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 386 e seg., manifestou-se pelo improvimento de ambos os apelos. Em síntese, é o relatório. Conheço dos recursos, pois presentes seus pressupostos de sua admissibilidade. Do recurso da defesa: Nenhuma razão assiste à defesa. A sentença monocrática muito bem analisou as provas de materialidade e autoria delitiva. O dolo do agente está sobejamente comprovado nos autos, pois não é minimamente crível que um comerciante de caminhões não tenha o cuidado de verificar a origem do veículo.

Page 33: TAMG

As inúmeras adulterações do veículo são provas cabais de sua origem ilícita sendo absolutamente irrelevante para caracterizar a receptação saber a espécie do crime antecedente ou sua autoria. Impossível cogitar-se no presente caso de receptação culposa, pois, um veículo com tamanhas fraudes não passaria despercebido nem para um desavisado, quanto mais para um comerciante experiente. Impossível também o reconhecimento da atenuante da menoridade relativa, porque não está provada nos autos por documento hábil e é flagrantemente contraditória com sua declaração na polícia. Quanto ao recurso ministerial: Razão assiste ao culto Promotor de Justiça. A culpabilidade do agente é grande, tendo em vista a sofisticação dos estratagemas usados para camuflar o objeto do crime, como desmanche e adulteração de sinais. A certidão às f. 299 comprova os péssimos antecedentes do réu. Em 8/12/93 transitou em julgado condenação contra ele pela contravenção do art. 34 da LCP. Também encontra-se cumprindo pena pelo delito do art. 180 do CP. Há ainda um registro de condenação nas iras do art. 12 da Lei 6.368/76. As circunstâncias do crime também não lhe são nada favoráveis, pois envolveram diversas práticas em vários estados da federação. Quanto à conduta social e personalidade nada se pode afirmar por falta de elementos. As conseqüências do crime são comuns à espécie. Em virtude da grande culpabilidade do agente, de seus péssimos antecedentes e das circunstâncias do crime, fixo-lhe a pena-base em 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão, tornando-a definitiva neste patamar ante a ausência de agravantes, atenuantes, causas de aumento e diminuição de pena. Elevo sua pena pecuniária para 25 (vinte e cinco) dias-multa com valor unitário mantido em 1 (um) salário mínimo tendo em vista o fato de o réu ter se declarado comerciante e, portanto, ter condições financeiras bem

Page 34: TAMG

acima da média da grande maioria dos réus de nosso país. O regime inicial de cumprimento da pena será o semi-aberto em razão principalmente de sua elevada culpabilidade e de seus maus antecedentes. Impossível a substituição da pena corporal por restritiva de direitos também em razão das circunstâncias judiciais não lhe serem favoráveis. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA APELAÇÃO CRIMINAL Nº 378.991-5 - 25/3/2003 CARMO DO RIO CLARO -5- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -1-

Page 35: TAMG

EMENTA - Habeas corpus de ofício. Penas fixadas manifestamente acima do patamar recomendado. Havendo manifesto erro da sentença na fixação da pena e sendo o recurso do réu intempestivo, é perfeitamente cabível a concessão de ordem de habeas corpus, de ofício, para ajustar a pena ao patamar recomendado. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 390.216-1 da Comarca de IPATINGA, sendo Apelante (s): EDVALDO MACIEIRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NÃO CONHECER DO RECURSO E, EM HABEAS CORPUS, DE OFÍCIO, REDUZIR AS PENAS DO APELANTE E DO CO-RÉU NÃO-APELANTE, MARCOS PAULO LÚCIO RODRIGUES. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 25 de março de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O

Page 36: TAMG

O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Ipatinga, Marcos Paulo Lúcio Rodrigues e Edvaldo Macieira como incursos nas sanções do art. 155, §4º, III e IV, do CP, por terem, em 2 de janeiro de 2001, por volta das 21h00, subtraído de dentro do veículo Fiat Uno Eletronic, placa GLO 9045, de propriedade de Meirivone da Silva, dois alto-falantes, um super-tuíter, um macaco, um rádio/cd e um macacão feminino. O acórdão às f. 239 e seg. anulou a sentença monocrática às f. 176 e seg. por inobservância do princípio constitucional da individualização das penas. Nova sentença foi proferida às f. 247 e seg. na qual Marcos Paulo foi condenado a 5 (cinco) anos, 1 (um) mês e 18 (dezoito) dias de reclusão em regime fechado e ao pagamento de 28 (vinte e oito) dias-multa com valor unitário mínimo. Edvaldo Macieira foi condenado a 4 (quatro) anos e 1 (um) mês de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 21 (vinte e um) dias-multa com valor unitário mínimo. Inconformada, apelou a defesa de Edvaldo Macieira, apresentando suas razões às f.258 e seg., nas quais pugna pela absolvição ou, alternativamente, pela fixação da pena no mínimo legal, com sua conversão por restritiva de direitos. As contra razões às f.269 e seg. são pelo não-conhecimento do recurso por intempestivo e, no mérito, por seu improvimento. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer à f.281, ratificou o parecer às f. 231 e seg. no qual pugna pelo desprovimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Não conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Preliminar de intempestividade: Conforme certificado à f. 254v. o apelante Edvaldo Macieira e seu defensor foram intimados da sentença em 24 de junho de 2002. A apelação de Edvaldo à f. 257 foi interposta em 5 de julho de 2002, isto é, 11 (onze) dias após a intimação.

Page 37: TAMG

Segundo dispõe o art. 593 do CPP, o prazo para apelar é de 5 (cinco) dias. O recurso é, pois, absolutamente intempestivo, razão pela qual dele não conheço. Habeas corpus de ofício: Por outro lado, de ofício, concedo ordem de habeas corpus por entender que há erro manifesto no quantum das penas fixadas. A este respeito o STF já se pronunciou: "O habeas corpus presta-se para corrigir erro manifesto da sentença na fixação da pena" (RHC 1712-MG-DJU de 9-3-92, p. 2.589) Quanto ao apelante Edvaldo Macieira: Conforme certificado à f. 79, o apelante é primário e as informações prestadas às f. 185-186 não são suficientes para acarretarem maus antecedentes, pois em razão do princípio constitucional da presunção de não- culpabilidade o réu presume-se inocente até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória contra ele. A obtenção de vantagem "fácil", por outro lado é comum a todo e qualquer crime patrimonial e não justifica qualquer incremento de pena. Também é regra nos crimes de furto o agente aproveitar-se da falta de vigilância permanente da vítima que, também em geral, tem danos e transtornos com o crime. Se as razões acima justificassem o incremento da pena-base do acusado, a regra seria que as penas de furto fossem de cerca de 4 anos, o equivalente à pena mínima do roubo e, portanto, em flagrante desrespeito ao princípio constitucional da proporcionalidade. Por todo o exposto, entendo que o presente delito em nada se afastou da média dos crimes de furto que são praticados no dia-a-dia e, portanto, não merece qualquer plus de reprovação, razão pela qual fixo a pena-base de Edvaldo Macieira no mínimo legal de 2 (dois) anos. Na ausência de circunstâncias agravantes ou atenuantes e causas de aumento ou diminuição de pena, torno-a definitiva em 2 (dois) anos de reclusão em regime aberto. Frise-se que no ordenamento jurídico brasileiro é impossível qualquer

Page 38: TAMG

incremento de pena em razão da segunda qualificadora. A pena pecuniária fica reduzida para 15 (quinze) dias-multa com valor unitário mínimo. Substituo a pena corporal por duas restritivas de direitos, sendo a primeira de prestação pecuniária de 1(um) salário mínimo à vítima e a segunda de prestação de serviços à comunidade em entidade a ser designada no juízo da execução. Quanto ao co-réu não-apelante Marcos Paulo Lúcio Rodrigues: Pelos mesmos motivos expostos anteriormente, entendo que as circunstâncias judiciais de sua conduta em nada se afastaram da média dos crimes de furto que são cotidianamente praticados e, portanto, não merece qualquer plus de reprovação. Fixo-lhe a pena-base no mínimo legal de 2 (dois) anos. Em razão da certidão à f. 81 em que consta condenação anterior por crime de furto transitada em julgado em 24/11/98, reconheço contra o réu a agravante da reincidência, majorando-lhe a pena em 6 (seis) meses. Ausentes outras circunstâncias agravantes e atenuantes, causas de aumento ou diminuição de pena, torno sua reprimenda definitiva em 2 (dois) anos e 6 (seis) meses em regime semi-aberto. Fixo-lhe a pena pecuniária em 20 (vinte) dias-multa com valor unitário mínimo. Impossível a substituição de sua pena em razão da reincidência específica. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA APELAÇÃO CRIMINAL Nº 390.216-1 - 25/3/2003 IPATINGA -6-

Page 39: TAMG

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -1-

Page 40: TAMG

EMENTA - Receptação. Coisa achada. Impossibilidade. Não há falar em delito de receptação se a coisa foi achada, pois o verbo típico adquirir tem o significado de uma aquisição contratual. Irrelevante tratar-se de contrato escrito ou verbal, lícito ou ilícito, formal ou informal, mas imprescindível o acordo de vontades. Em respeito ao princípio constitucional da legalidade, a apropriação de coisa achada, produto ou não de crime, só poderá ser punida nos termos do art. 169,II, do CP. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 389.281-1 da Comarca de PASSOS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as): VICENTE GUSTAVO AMARAL DE OLIVEIRA e BENEDITO ANTÔNIO GONÇALVES, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 25 de fevereiro de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 41: TAMG

V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Passos, Vicente Gustavo Amaral de Oliveira e Benedito Antônio Gonçalves como incursos nas sanções do art. 180 do CP. Narra a denúncia que Vicente adquiriu 5 (cinco) folhas de cheque em branco do segundo denunciado que, por sua vez, teria recebido tais folhas, em uma praça, de menores não-identificados. A sentença monocrática às f. 52 e seg. julgou improcedente a denúncia e absolveu ambos os acusados das imputações da denúncia. Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões às f. 59 e seg., nas quais pugna pela condenação nos termos da denúncia. As contra-razões da defesa às f. 64 e seg. são pelo desprovimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 71 e seg., manifestou-se pelo provimento do recurso ministerial. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. A prova dos autos é demasiadamente frágil para fundamentar uma condenação por delito de receptação. É perfeitamente possível que Vicente tenha encontrado as folhas de cheque o que, por si só, já descaracterizaria a existência da receptação. O verbo "adquirir" decididamente não tem o mesmo significado do verbo "apropriar". Vejamos as definições do verbo típico adquirir segundo os principais dicionaristas da atualidade (ambos em sua versão eletrônica): Aurélio: "V. t. d. (...) 2. Obter por compra; comprar: Adquiriu a casa que alugara. (...)"

Page 42: TAMG

Houaiss: "1 t.d.bit. entrar na posse de algum bem, através de contrato legal ou não; tornar-se proprietário, dono de 2 t.d.bit. obter, conseguir (bem material) através de compra " Ambos admitem que o verbo adquirir tem o significado de "obter por compra". Houaiss aceita também o significado de "entrar na posse de algum bem por contrato legal ou não. Nesta hipótese, porém, há a necessidade de um contrato - lícito ou ilícito - mas de um contrato. Ora, contrato é acordo de vontades entre duas partes. Não há como se cogitar em contrato se a coisa foi encontrada, pois falta neste caso um dos sujeitos do contrato. A "apropriação", por outro lado, independe de um acordo de vontades, tanto que é o verbo típico utilizado nos arts. 168 e 169 do CP, nos quais é evidente a impossibilidade de um contrato. Assim, na ausência de provas de que os cheques foram realmente "adquiridos" - seja por um contrato escrito ou verbal, lícito ou ilícito, formal ou informal - solução outra não há senão a absolvição. Pelo exposto, mantenho na íntegra a sentença guerreada por seus próprios fundamentos. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA guicap APELAÇÃO CRIMINAL Nº 389.281-1 - 25/2/2003 PASSOS -5- APELAÇÃO CRIMINAL Nº 389.281-1 - 25/2/2003

Page 43: TAMG

PASSOS APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -6-

Page 44: TAMG

EMENTA: Suspensão condicional do processo. Momento oportuno para a revogação. Transcorrido o prazo da suspensão condicional do processo, impossível é sua revogação posterior, mesmo que se verifique o não- cumprimento das condições durante esse lapso de tempo. É que a extinção da punibilidade ocorre imediatamente após o cumprimento do prazo e a natureza jurídica da sentença que a reconhece é meramente declaratória. O art. 89, §5º, da Lei 9.099/95 tem caráter penal e, como tal, deve ser interpretado literalmente em respeito ao princípio constitucional da legalidade. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 387.752-7 da Comarca de TRÊS PONTAS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as): JOSÉ GALVÃO CLARO, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 11 de fevereiro de 2003.

Page 45: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Três Pontas, José Galvão Claro como incurso nas sanções dos art 306 do CTB c/c art. 330 do CP, por ter, em 8 de agosto de 1998, por volta das 13h00, conduzido o veículo placa GUW-7206, visivelmente embriagado. Consta ainda que, ao ser surpreendido por policiais militares, desobedeceu a ordem legal, não querendo sair do veículo. A sentença monocrática às f. 56 e seg. declarou extinta a punibilidade do réu com fulcro no art. 89, § 5º, da Lei 9.099/95. Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões às f. 62 e seg., nas quais pugna pela reforma da sentença, a fim de que se possa investigar se o apelado, ao longo e dentro do período de provas da suspensão condicional do processo, deu causa à revogação do benefício. As contra-razões da defesa às f. 79v-80 e seg. são pela manutenção da sentença guerreada. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 85 e seg., manifestou-se pelo provimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Rogata maxima venia, entendo que não assiste qualquer razão ao Ministério Público. Dispõe o art. 89, § 5º, da Lei 9.099/95: "expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade" A interpretação literal da norma é cristalina: 1. SE expirado o prazo sem revogação 2. ENTÃO declarar extinta a punibilidade. Ora, no presente caso, o prazo expirou-se sem revogação e, quanto a isto

Page 46: TAMG

não pairam dúvidas. Então não há outra solução possível, senão declarar extinta a punibilidade. Qualquer outra interpretação do dispositivo fere flagrantemente o princípio da legalidade, pois é princípio básico de hermenêutica que as normas penais devem ser interpretadas restritivamente. Não pode o réu ficar esperando indefinidamente que o Estado cumpra uma série de diligências para certificar-se de que cumpriu a suspensão, até porque a Constituição Federal presume sua não- culpabilidade. Assim como na prescrição a denúncia deve ser oferecida (e recebida) antes do término do prazo prescricional, também nesta outra forma de extinção da punibilidade, deve o Ministério Público tomar suas providências antes de expirado o prazo. Vale frisar ainda que a própria lei usa o termo "declarar", o que demonstra inequivocamente o caráter de sentença declaratória da decisão que julga extinta a punibilidade. A punibilidade extingue-se no último dia do prazo, independentemente do dia em que a sentença a declarar. Assim, não haveria qualquer sentido em realizar as diligências, pois a punibilidade já havia sido extinta, ainda que não declarada pela M.Mª. Juíza a quo. Por todo o exposto, mantenho a decisão monocrática por seus próprios fundamentos. JUIZ ERONY DA SILVA guicap APELAÇÃO CRIMINAL Nº 387.752- 7 - 11/2/2003 TRÊS PONTAS -5-

Page 47: TAMG

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 387.752-7 - 11/2/2003 TRÊS PONTAS APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -6-

Page 48: TAMG

EMENTA - Inépcia da denúncia. Nulidade. É inepta a denúncia que mistura fatos em que já ocorreu a decadência com fatos em que foi oferecida a representação em prazo hábil. A não-individualização da acusação gera perplexidade na defesa que fica sem saber o real conteúdo da incriminação, impedindo-a, assim, de articular sua defesa satisfatoriamente. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 385.635-3 da Comarca de VISCONDE DO RIO BRANCO, sendo Apelante (s): SILDO BRAGA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINARES, DE OFÍCIO, ANULAR O PROCESSO A PARTIR DA DENÚNCIA E DECRETAR A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). Belo Horizonte, 11 de fevereiro de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 49: TAMG

JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO 1º Vogal V O T O S O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Visconde do Rio Branco, Sildo Braga, como incurso nas sanções dos art. 138 c/c art. 141, II, do CP, por ter, através de cartas endereçadas a autoridades locais e ao Secretário Nacional de Direitos Humanos, imputado falsamente ao Cb. da Polícia Militar, João Carlos Alves Palmeiras a prática de crimes de tortura, lesão corporal e ameaça de morte, no exercício da função pública. Consta ainda que nas mesmas cartas o acusado atribuiu ao Capitão da PM José de Anchieta Machado a prática do crime de condescendência criminosa, insinuando estar este conivente com as práticas delitivas atribuídas à primeira vítima. A sentença monocrática às f.127 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 9 (nove) meses e 10 (dez) dias em regime aberto. A pena corporal foi substituída pela prestação pecuniária de 5 (cinco) salários mínimos em prol do Sítio da Esperança. A decisão à f. 136 acolheu os Embargos Declaratórios do Ministério Público e fixou nova pena em 3 (três) anos e 4 (quatro) meses de detenção em regime aberto e ao pagamento de 50 (cinqüenta) dias-multa. A pena corporal mais uma vez foi substituída pela prestação pecuniária de 5 (cinco) salários mínimos em prol do Sítio da Esperança. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.141 e seg., nas quais pugna pela absolvição, com fulcro nas alegações de defesa acostadas à f. 125, TA. As contra-razões ministeriais às f.143 e seg. são pelo conhecimento e improvimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.152 e segs., manifestou-se pela rejeição da preliminar e, no mérito, pelo desprovimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Page 50: TAMG

Preliminar de prescrição: A denúncia foi recebida à f. 73 em 23 de agosto de 1999. Assim, não há falar em prescrição nem com base na pena em abstrato, nem com base na pena fixada em concreto em 3 (três) anos e 4 (quatro) meses. Rejeito esta preliminar. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: De acordo. A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: De acordo. O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: Preliminar de decadência: A representação à f. 7, TA, está datada de 17 de novembro de 1997. Da imensa série de documentos juntados aos autos, somente são objeto da representação aqueles constantes à f.10, TA e f. 12, TA, que estão datados de 9 de abril de 1997 e 2 de abril de 1997. A defesa alega que só tomou conhecimento do conteúdo das referidas correspondências em setembro de 1997. Como é pacífico na jurisprudência: "A decadência, como causa extintiva da punibilidade, não se supõe. Assim, se não se sabe o seu termo inicial, deve-se estabelecê-lo mediante prova, pois não cabe extrair da dúvida, em plano liminar, interdição para juízo de mérito, meio que consagra a res justa penal" (TACRSP - RT 768/599). Rejeito, pois esta preliminar. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: De acordo.

Page 51: TAMG

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: De acordo. O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: Preliminar, de ofício, de inépcia da denúncia: Dispõe expressamente o art. 41 do CPP: "A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas sa suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas." Ora, a denúncia à f. 2, TA não traz a qualificação do acusado, ainda que remeta à f. 40v. Tal vício, no entanto, por si só não ensejaria a sua inépcia. A denúncia, porém, não individualiza qualquer das acusações, não específica a quais cartas se refere e, muito menos, a(s) data(s) em que o(s) fato(s) ocorreu(eram). A inicial narra os fatos em que já ocorreu a decadência simultaneamente com aqueles em relação aos quais a vítima representou, sem individualizar qualquer um deles. Por outro lado, nos Embargos Declaratórios à f. 132 o douto Promotor de Justiça requer no item 3 do seu pedido a majoração da pena pelo crime continuado alegando que "o réu praticou diversos atos ofensivos à honra do ofendido", o que à f. 136v foi aceito pelo juiz que aumentou a pena no máximo legal de 2/3 (dois terços) em razão da continuidade delitiva. Ora, diante de tamanha confusão, me pergunto: afinal, de quais fatos o réu está sendo acusado e foi condenado em primeira instância? Da carta enviada em 9 de abril de 1997 ao Secretário Nacional de Direitos Humanos ou de todas as outras anteriormente enviadas nas quais, segundo a própria representação da vítima, já ocorreu a decadência? A confusão da denúncia entre fatos em que ocorreu a decadência e outros em que ela não ocorreu, foi tão decisiva no processo que a pena do réu foi majorada em 2/3 (dois terços) pela continuidade delitiva quando, na verdade, nos termos da representação, a acusação se refere tão-somente à

Page 52: TAMG

carta endereçada ao Secretário de Direitos Humanos. Oportuna é a seguinte lição jurisprudencial: "A denúncia obscura, omissa e confusa, é reconhecidamente inepta, pois faz com que o acusado fique sem saber o real conteúdo da incriminação, impedindo-o de articular sua defesa satisfatoriamente" (TACRSP - RJTACRIM 25/106) Pelo exposto, de ofício, anulo o processo a partir da denúncia por inépcia da preambular acusatória. Tendo em vista que a pena não poderá ser superior a 3 (três) anos e 4 (quatro) meses sob pena de reformatio in peius indireta; que o prazo prescricional no caso passa a ser de 4 (quatro) anos em virtude da idade de o réu ser de 80 (oitenta) anos; que os fatos se deram em abril de 1997, julgo extinta a punibilidade do agente com base na prescrição da pretensão punitiva estatal. É como voto. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: Salvo maior juízo, a preliminar de ofício argüida pelo Relator deve ser acatada. Conforme bem anotou o nobre Relator, a denúncia não individualizou os fatos criminosos, havendo uma grande confusão no processo de documentos onde supostamente teria havido a configuração do crime imputado ao acusado. Além disso, existe na denúncia referência a crimes que já teriam sido alcançados pela decadência. Enfim, da forma como foi articulada a peça inaugural, ocorreu flagrante prejuízo ao exercício da ampla defesa pela parte, que ao final, nem sabia mais de quais fatos estava sendo processada. Tanto isso é verdade, que até o juiz se confundiu quando aplicou uma pena inicial de 9 meses e 10 dias ao acusado que depois, por força de embargos de declaração, alterou para 3 anos e 4 meses de detenção, reconhecendo uma suposta continuidade delitiva entre 3 crimes, que não se sabe ao certo quais foram dentre os narrados na inicial. Por todos esses motivos, é que me coloco de acordo com o douto juiz relator em reconhecer a inépcia da inicial, anular o processo a partir da denúncia e, por conseqüência, extiguir a punibilidade do acusado em face da prescrição.

Page 53: TAMG

A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: De acordo. APELAÇÃO CRIMINAL Nº 385.635-3 - 11/2/2003 VISCONDE DO RIO BRANCO -9- APELAÇÃO CRIMINAL Nº 385.635-3 - 11/2/2003 VISCONDE DO RIO BRANCO APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -1-

Page 54: TAMG

EMENTA - Laudo pericial. Ausência de comentários que justifiquem a conclusão obtida. O laudo pericial cujas conclusões não estão amparadas em comentários técnicos que as justifiquem é imprestável como prova para fundamentar uma condenação criminal. Recurso provido. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 386.252-8 da Comarca de PIUMHI, sendo Apelante (s): ANTÔNIO LOPES MOURÃO e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Mista do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 11 de fevereiro de 2003. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Piumhi, Antônio Lopes Mourão como incurso nas sanções do art. 302,

Page 55: TAMG

parágrafo único, I e III, do Código de Trânsito Brasileiro, por ter, em 23 de julho de 1998, por volta das 21h20, dado causa a um acidente automobilístico que resultou na morte de Ismar Francisco Rabelo e de José Aílton Moreira. A sentença monocrática às f. 96 e seg. julgou parcialmente procedente a denúncia e condenou o réu, nos termos do art. 302, parágrafo único, I, do Código de Trânsito Brasileiro, a 3 (três) anos, 1 (um) mês e 10 (dez) dias de detenção em regime aberto e proibiu-lhe de obter permissão ou habilitação para dirigir veículos automotores. A pena corporal foi substituída por duas restritivas de direitos. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 106 e seg., nas quais pugna pela absolvição. As contra-razões ministeriais às f. 117 e seg. são pela manutenção da sentença guerreada. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 128 e seg., manifestou-se pelo provimento parcial do recurso, tão-somente para modificar-se a pena de prestação pecuniária pela limitação de final de semana. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Li e reli os presentes autos e sinceramente não encontrei nele provas seguras da culpa do acusado. É bem verdade que o Laudo Pericial às f. 52 e seg. afirma categoricamente em suas conclusões que: "a causa determinante, principal e de origem foi a presença do veículo 2 (trator) na via, uma vez que, não dispunha de equipamento obrigatório (sistema luminoso traseiro), para trafegar no período noturno na rodovia" Tal laudo, porém, não me convenceu, mormente devido ao tamanho dos estragos no veículo do acusado, conforme visualmente constatado à f. 59. Como é possível afirmar com certeza que o veículo não dispunha de iluminação adequada? O art. 160 do Código de Processo Penal estabelece que:

Page 56: TAMG

"os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados" O laudo destes autos, porém, não tem qualquer descrição de como os peritos chegaram a conclusão de que o veículo não dispunha de iluminação adequada e - principalmente - de como isto veio a ser a causa determinante do acidente. Não posso fundamentar uma condenação criminal tão-somente nas conclusões de um Laudo Pericial sem os devidos comentários técnicos que demonstrem os elementos que levaram os peritos a uma constatação tão importante como esta. A jurisprudência já se pronunciou a este respeito: "O laudo pericial destina-se ao conhecimento do juiz, que não é obrigado a aceitá-lo se se apresenta carente de motivação." (TACRSP - RT 556/334-5) Destarte, rejeito o presente laudo como prova nos termos do art. 182 do Código de Processo Penal e passo à análise dos demais elementos do conjunto probatório. Não há testemunhas presenciais. A ausência de habilitação é mera infração administrativa que, por si só não gera a presunção de que o acusado deu causa ao acidente. Do contrário, estaríamos admitindo uma verdadeira responsabilidade penal objetiva, absolutamente incompatível com o princípio do nullum crimen sine culpa. Assim, diante da fragilidade das provas apresentadas, prefiro aplicar ao presente caso o princípio do in dubio pro reo para absolver o acusado das imputações da denúncia. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA

Page 57: TAMG

guicap APELAÇÃO CRIMINAL Nº 386.252-8 - 11/2/2003 PIUMHI -5- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -6-

Page 58: TAMG

EMENTA - Circunstâncias judiciais. Personalidade do agente. Aumento da pena-base. Inconstitucionalidade. A personalidade do agente não pode ser usada para aumentar a pena-base, sob pena de ofensa aos princípios constitucionais da legalidade e do devido processo legal. Se os fatos considerados pelo juiz para julgar a personalidade desfavorável são atípicos, a ofensa ao princípio da legalidade é evidente pois não há pena sem prévia cominação legal. Se os fatos são típicos, deverá o Ministério Público oferecer denúncia em relação a eles, obedecendo ao devido processo legal, pois o réu defende-se dos fatos narrados na denúncia e não de toda e qualquer acusação que as testemunhas resolvam fazer contra ele. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 359.279-2 da Comarca de PRATÁPOLIS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as): ALAN SILVA VASCONCELOS e PETER ANDERSON MAIA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 26 de novembro de 2002.

Page 59: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Pratápolis, Alan Silva Vasconcelos e Peter Anderson Maia como incursos nas sanções do art. 155, §4º, IV, do Código Penal, por terem, na madrugada de 14 de agosto de 1999, subtraído uma caixa registradora contendo R$18,64 (dezoito reais e sessenta e quatro centavos) e uma carteira contendo diversos cheques pré-datados da Farmácia Santa Alice. A sentença monocrática às f. 146 e seg. condenou os réus a 2 (dois) anos de detenção em regime aberto e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa com valor unitário mínimo. A pena corporal de ambos foi substituída por duas restritivas de direitos. Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões às f. 180 e seg., nas quais pugna pela majoração da pena. As contra-razões das defesas às f. 194-199 e 201-206 são pela manutenção da sentença guerreada. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer à f. 211 e seg., opinou pelo conhecimento e provimento do recurso. O acórdão às f. 218 e seg. determinou o retorno dos autos à comarca de origem para intimação pessoal do réu Alan Silva Vasconcelos. A diligência foi devidamente cumprida conforme certificado à f. 228. Em síntese, é o relatório. A sentença de primeira instância está perfeita e não merece qualquer reparo. A construção jurisprudencial de que o valor do salário mínimo é o parâmetro para o reconhecimento do furto privilegiado deve ser aplicada de acordo com o caso concreto, sob pena de instaurarmos uma verdadeira ditadura do precedente. A referência legal é à coisa furtada de "pequeno valor". Se em 1984,

Page 60: TAMG

quando da promulgação da nova parte geral, o pequeno valor confundia-se com aquele pago a título de salário mínimo, hoje, quase 20 anos depois, é certo que o valor do salário-mínimo está muitíssimo defasado e já não é mais de pequeno valor: é quase insignificante. Destarte, o pobre é atingido duas vezes pela política econômica do Estado: se por um lado seu poder aquisitivo diminui e ele pode comprar cada vez menos, por outro lado quando - muitas vezes em razão de sua miséria - comete um furto, pode furtar cada vez menos também. Não se trata aqui de valor insignificante - este sim, cada dia mais próximo do salário mínimo - mas do pequeno valor que se atualizado monetariamente em relação à 1984 é bem superior a um salário mínimo. Por outro lado, cheques rasgados não podem ser considerados res furtiva, pois é evidente que falta o elemento subjetivo do injusto que é a intenção de subtrair a coisa para si ou para outrem. Além do mais, não se aplica ao Direito Penal o princípio da cartulariedade consagrado no Direito Comercial. Isso porque, em Direito Penal é absolutamente vedado o uso da analogia e, considerar um cheque de R$100,00 (cem reais) como se fosse exatamente a mesma coisa que uma nota de mesmo valor é indiscutivelmente uma analogia, pois a nota não está sujeita a ser sustada. Mantenho, pois, o privilégio concedido corretamente em primeira instância, mesmo porque o juiz o utilizou tão-somente para substituir a pena de reclusão por detenção. Quanto à análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, mais uma vez não assiste razão ao parquet. O douto Promotor de Justiça pugna pela majoração da pena em razão da personalidade dos agentes ao argumento que: "A testemunha Marcos de Faria Morato, às f. 105/106, disse que no dia em que foi efetuada busca na residência de Alan foi encontrado um relógio, porém objeto de outro furto. No que se refere a Peter, afirmou que a mãe deste já o havia procurado pedindo ajuda, pois Peter estava fazendo uso de drogas e andando em más companhias. Segundo a testemunha, Peter esteve preso há pouco tempo e se envolveu em um furto de cheques há três ou quatro meses. Disse que ouviu comentários de que Peter ainda é viciado

Page 61: TAMG

em drogas." A pretensão ministerial é completamente absurda, pois o aumento da pena por este argumento equivaleria a um flagrante desrespeito aos princípios constitucionais da legalidade, presunção de não-culpabilidade e devido processo legal. "Andar em más companhias" não é fato típico, antijurídico e culpável e, portanto, nenhuma pena poderá a ele ser imputada por este motivo. Furto e porte de drogas são crimes, mas a Constituição Federal presume a não-culpabilidade dos acusados e, ainda que de fato houvesse provas de que os acusados haviam praticado as condutas descritas pela testemunha, caberia ao Ministério Público, rogata maxima venia, oferecer a denúncia pelos crimes que supostamente cometeu, respeitando assim o devido processo legal. Impossível, no entanto, é aproveitar-se de um processo em andamento para - sob o pretexto de puni-lo por sua personalidade - impor-lhe um incremento de pena sem qualquer respeito ao devido processo legal e à ampla defesa. O que se está julgando nestes autos é o delito praticado em 14 de agosto de 1999. Nada mais! As conseqüências do crime já foram consideradas desfavoráveis ao réu pelo magistrado monocrático que, por considerar o conjunto das circunstâncias judiciais preponderantemente favoráveis ao réu, fixou-lhe a pena no mínimo legal. Nada há, portanto, a se reparar na referida sentença, pois tecnicamente muito bem fixada e, em termos de política criminal perfeita. Frise-se que os réus são primários e de bons antecedentes e a pena privativa de liberdade se aplicada com o rigor desejado pelo Ministério Público em nada contribuiria para uma ressocialização dos agentes. Não se pode admitir a banalização das penas privativas de liberdade a ponto de considerarmos pequena uma pena de 2 (dois) anos - longos 24 (vinte e quatro) meses - de privação de liberdade para um crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa. Se o tamanho das penas e o rigor da punição fossem, de fato, elementos ressocializadores, não teríamos que conviver com números alarmantes

Page 62: TAMG

como os que nos dão conta de que, só no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos da América - país indiscutivelmente severo na aplicação de suas penas - 1 (um) em cada 147 (cento e quarenta e sete) norte-americanos estão presos. Melhor não seria criar mais escolas e hospitais que presídios? É por essas razões que nego provimento ao recurso. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 359.279-2 - 26/11/2002 PRATÁPOLIS -8- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -2-

Page 63: TAMG
Page 64: TAMG

EMENTA - Requisição de réu preso. Ausência de citação. Cerceamento de defesa. Nulidade. A simples requisição de réu preso não supre a citação, pois não se coaduna com os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. O réu tem o direito a ter ciência prévia da acusação contra ele formulada para que possa preparar com antecedência e com auxílio de advogado a versão a ser apresentada no momento do interrogatório. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 363.403-7 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): ADILSON ANTÔNIO DE ARAÚJO e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, ACOLHER PRELIMINAR DA DEFESA E ANULAR O PROCESSO POR AUSÊNCIA DA CITAÇÃO, A PARTIR DA REQUISIÇÃO, INCLUSIVE. Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 1º de outubro de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 65: TAMG

V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta Capital, Adilson Antônio de Araújo como incurso nas sanções do art. 155, §4º, I do Código Penal, por ter, em 21 de agosto de 2001, por volta das 9h40, subtraído para si, mediante rompimento de obstáculo à subtração da coisa, um aparelho de CD para veículos e um porta CD contendo doze discos diversos, todos de propriedade de Kátia Meyer Paixão. A sentença monocrática às f. 130 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 3 (três) anos e 3 (três) meses de reclusão em regime fechado e ao pagamento de 23 (vinte e três) dias-multa como valor unitário mínimo. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 154 e seg., nas quais pugna, em preliminar, pela nulidade do feito por irregularidade na citação do apelante. No mérito, requer a desclassificação do delito para a forma simples do furto. As contra-razões ministeriais às f. 163 e seg. são pelo recebimento e não-provimento do recurso, confirmando-se a sentença recorrida. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 179 e seg., opinou pela improcedência do apelo quer em preliminar, quer no mérito, mantendo-se a decisão recorrida. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Preliminar de nulidade por vício na citação: Entendo que a citação é um direito do réu e sua ausência é causa de

Page 66: TAMG

nulidade absoluta que pode ser argüida a qualquer momento. Não se trata de mera formalidade processual, mas de um direito do réu que deve ter ciência prévia e pormenorizada da acusação formulada e de tempo para procurar a orientação de um advogado e preparar sua defesa. A este respeito temos exemplar decisão jurisprudencial: "Citação e requisição não se confundem. Coexistem em sucessão, indicando a hierarquia da primeira, única que possibilita ao réu o direito de defesa, a ser coordenado no tempo e no espaço, apesar de poderem surgir integradas numa só peça. A surpresa não se coaduna com a moralidade exigida pelo processo penal, e ela surge quando se requisita sem citação" (TACRSP- RT 609/345). A leitura do interrogatório às f. 83-84 é a prova mais cabal de que o réu foi tomado de surpresa. Sua confissão é antes de tudo fruto da falta de orientação técnica de um advogado e de uma defesa previamente arquitetada. Não se pode fazer letra morta da Constituição Federal de 1988 que garante a todos os cidadãos o direito ao contraditório e à ampla defesa. O criminoso rico pode contratar excelentes advogados, preparar sua defesa com antecedência, planejar sua versão dos fatos. O pobre, a que o ordenamento jurídico considera igual ao rico, tem que se contentar com uma mera requisição à polícia, ficar sabendo da acusação na hora de seu interrogatório e contar com a assistência de uma Defensoria Pública a quem o Estado não fornece pessoal e recursos suficientes para garantir uma assistência digna e personalizada para seus clientes. Adilson é um entre tantos outros cidadãos a quem o Estado finge garantir a ampla defesa, mas que na prática, muito pouco ou quase nada difere seu processo judicial de um procedimento inquisitorial. Impossível, pois desconsiderar as muito bem lançadas razões de apelação do culto Defensor Público Giovanny Morgan e de sua estagiária Deborah

Page 67: TAMG

Costa Lage. Requisição de réu preso não é citação e decididamente não se coaduna com o princípio constitucional da ampla defesa. É por essas razões que acolho a preliminar e anulo o processo por ausência de citação fazendo minhas as palavras dos ilustres professores de Direito Processual Ada Pellegrini Grinover, Antônio Scarance Fernandes e Antônio Magalhães Gomes Filho em sua obra já clássica "As Nulidades no Processo Penal": "A melhor exegese do texto recomenda que o réu preso seja pessoalmente citado no presídio em que se encontrar recolhido, segundo o modelo legal e com antecedência necessária à preparação da defesa, pois em todas as demais soluções alvitradas há sempre o risco de prejuízo à correta e tempestiva informação, com irreparável dano ao contraditório pleno e efetivo" Assim, anulo o processo por ausência da citação, determinando o seu retorno à comarca de origem. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 363.403-7 - 1º/10/2002 BELO HORIZONTE -7-

Page 68: TAMG

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -2-

Page 69: TAMG

EMENTA - Homicídio culposo no trânsito. O excesso de velocidade, por si só, não implica em culpa do agente, pois não existe responsabilidade penal objetiva no Direito Penal Brasileiro. Somente se amparado por outros elementos de convicção, o excesso de velocidade torna-se prova capaz de amparar uma condenação criminal. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 372.770-2 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as): HELVÉCIO GONÇALVES CERDEIRA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 24 de setembro de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta Capital, Helvécio Gonçalves Cerdeira como incurso nas sanções do art. 121, § 3º,

Page 70: TAMG

do CP, por ter, em 21 de agosto de 1997, por volta das 16h45, atropelado a vítima Claudionor José Maria, causando-lhe sua morte. A sentença monocrática às f. 108 e seg. julgou improcedente a denúncia com base no art. 386, VI, do CPP. Inconformado, apelou o douto Promotor de Justiça, apresentando suas razões às f. 115 e seg., nas quais pugna pela condenação. As contra-razões da defesa às f. 122 e seg. são pela manutenção da sentença guerreada. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.131 e seg., manifestou-se pelo provimento do apelo. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Rogata maxima venia, nenhuma razão assiste ao Ministério Público. A acusação deseja provar a culpa do réu tão-somente com base na constatação de que desenvolvia velocidade de 60km/h e de que o réu não usava suas lentes corretivas. Ora, quem já trafegou pela Av. Nossa Senhora do Carmo sabe perfeitamente que dificilmente se vê algum motorista respeitando este limite de velocidade. Não se pode condenar alguém com base numa presunção abstrata, absolutamente fora da realidade fenomênica, de que a melhor velocidade para a pista é de 40 km/h se a grande maioria dos motoristas trafega em velocidade bem superior. O fato de o motorista ter excedido a velocidade máxima de 40km/h, por si só, não revela culpa do acusado, pois se trata de mera infração administrativa que serve apenas como indício de culpa. Por outro lado, é fato notório que, em uma quinta-feira às 16h45, o trânsito no local do fato é absolutamente caótico e, por si só, exige uma atenção muito grande dos pedestres. Pelo princípio da confiança é natural que o motorista creia que os pedestres não atravessarão sem certificarem-se antes da segurança da pista. O simples excesso de velocidade não implica em culpa do agente, pois não

Page 71: TAMG

há falar no Direito Penal brasileiro em responsabilidade objetiva. Por fim, a alegação de que o acusado não usava lentes corretivas é completamente irrelevante, pois não se argüiu em momento algum que o acusado não viu a vítima. Tanto viu que freou e buzinou, só não obtendo êxito em evitar o acidente em razão do inesperado da situação. Pelo exposto, mantenho na íntegra a bem lançada sentença monocrática que absolveu o réu das imputações da denúncia. JUIZ ERONY DA SILVA WAS. APELAÇÃO CRIMINAL Nº 372.770-2 - 24/9/2002 BELO HORIZONTE -5- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -5-

Page 72: TAMG
Page 73: TAMG

A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos Infringentes na Apelação Criminal Nº 348.495-9/01 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Embargante (s): CINÉSIO DOS SANTOS e Embargado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais ACOLHER OS EMBARGOS, DETERMINANDO A EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA, SE POR AL NÃO ESTIVER PRESO, VENCIDOS OS JUÍZES PRIMEIRA E SEGUNDO VOGAIS. Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator), MARIA CELESTE PORTO (1ª Vogal vencida), SIDNEY ALVES AFFONSO (2º Vogal vencido) e ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS (3º Vogal). Belo Horizonte, 27 de agosto de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator (continuam as assinaturas...) JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO Revisor

Page 74: TAMG

JUÍZA MARIA CELESTE PORTO 1ª Vogal vencida JUIZ SIDNEY ALVES AFFONSO 2º Vogal vencido JUIZ ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS 3º Vogal V O T O S O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: Trata-se de Embargos Infringentes interpostos por Cinésio dos Santos com fundamento no voto vencido do Juiz Alexandre Victor de Carvalho no acórdão a f. 183 e seg. Requer o douto Defensor Público a absolvição do embargante pelo princípio da insignificância penal. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer à f. 212, opinou pelo não-provimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Antes de passarmos à análise da questão sub judice penso serem necessários alguns prolegômenos. A pena privativa de liberdade conforme a concebemos hoje - como sanção

Page 75: TAMG

- surge com a Revolução Industrial e tem evidente inspiração contratualista. ZAFFARONI e PIERANGELI narram com muita propriedade: "Se a própria sociedade é estabelecida mediante um contrato, o homem que pretende alcançar a riqueza por via não autorizada por aquele que viola aquilo que o contrato preceitua. Qual é a sanção para quem viola o contrato? Uma reparação, uma indenização. Quando um cidadão não paga uma indenização devida como resultado da violação de um contrato, é forçado a fazê-lo (dele é expropriado algo de valor), mas os homens da massa criminalizada por esse controle social nada possuíam. O que deles se expropriava? A única coisa que podiam oferecer no mercado: sua capacidade de trabalho, sua liberdade. Daí surge a ideologia que faz da privação da liberdade uma pena, que até então havia sido apenas uma medida preventiva (o que hoje chamamos 'prisão preventiva') durante o processo, pois as penas eram corporais. (...) Qual podia ser a medida da pena? O talião, isto é, aquela necessária para reparar o mal causado com o delito. Essa era a ideologia que se impunha e que conduzia à limitação do poder estatal quanto ao montante da pena" (ZAFFARONI, Eugenio Raúl, PIERANGELI, José Henrique, Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 2 ed. rev. atual. São Paulo: RT, 1999. p. 263) Assim, mesmo nas teorias absolutas da pena, esta era entendida como devolução da mesma quantidade de dor injustamente causada à vítima. Modernamente, as teorias relativas da pena, priorizam o caráter preventivo da sanção penal, concluindo que um dos fins do Direito Penal é garantir aos cidadãos a chamada "segurança jurídica". ZAFFARONI e PIERANGELI afirmam que: "A pena, necessariamente, implica uma afetação de bens jurídicos do autor do delito (de sua liberdade, na prisão ou reclusão; de seu patrimônio, na multa; de seus direitos, nas penas restritivas). Esta privação de bens jurídicos do autor deve ter por objeto garantir os bens jurídicos do resto dos integrantes da comunidade jurídica. (..) A ingerência nos bens jurídicos do infrator se faria necessária para motivar-se conforme as normas e reforçar assim o sentimento de segurança jurídica, neutralizando o alarme social do delito, mas não pode exceder deste grau de tolerância socioculturalmente determinado e, por conseguinte, historicamente condicio-nado, sob pena de que esta mesma ingerência cause alarme social,

Page 76: TAMG

isto é, afete o próprio sentimento de segurança jurídica. Isto é o que aconteceria se o batedor de carteiras fosse penalizado com a amputação da mão ou o falsificador com a morte. A coerção penal deve reforçar a segurança jurídica, mas, quando ultrapassa o limite de tolerância na ingerência aos bens jurídicos do infrator, causa mais alarme social do que o próprio delito. Não se trata de que a pena 'retribua' nenhum mal como outro mal, e sim de garanta os bens jurídicos sem lesar o sentimento de segurança jurídica da comunidade" (ZAFFARONI, Eugenio Raúl, PIERANGELI, José Henrique, Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 2 ed. rev. atual. São Paulo: RT, 1999. p. 94-95). Assim, seja qual for a teoria da pena adotada, necessário se faz que se estabeleçam critérios de proporcionalidade para alcançar a pena justa. Pergunto-me então: Dois aparelhos de barbear podem valer oito meses da vida de um ser humano? Tomando por bases as teorias absolutas da pena, forçosa se torna a resposta negativa. Ainda que ganhasse um salário mínimo por mês trabalhado, certamente, durante estes oito meses poderia indenizar por várias vezes o prejuízo causado à vítima. Se adotarmos qualquer das teorias relativas da pena, chegaremos à conclusão de que tamanha pena para uma conduta de resultado tão insignificante só gera alarde social e revolta no apenado. Assim, falta um fim a esta pena. Uma verdadeira "pena perdida" para usar a expressão de Louk Hulsman. Destarte, o princípio da insignificância surge na feliz expressão de Claus Roxin como: "auxílio de interpretação para restringir formulações literais que também abranjam comportamentos suportá-veis" (ROXIN, Claus. Política Criminal e sistema jurídico-penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 47). Assim, entendo que a conduta narrada na denúncia é atípica tendo em vista que não houve uma significativa afetação ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Lado outro, não fosse o caso de aplicação do princípio da insignificância, aplicar-se-ia perfeitamente o disposto no art. 17 do Código Penal.

Page 77: TAMG

Os supermercados, hoje em dia, são dotados de circuito interno de TV que fazem os consumidores se sentirem participando de um verdadeiro reality show como aqueles tão em moda nas redes de TV de todo o mundo. Ora, admitir a possibilidade de um furto em supermercado dotado de circuito interno de TV é o mesmo que admitir a improvável hipótese de um furto em um reality show. A constante vigilância das mercadorias torna impossível a subtração através do meio escolhido. O furto caracteriza-se pela subtração sem violência ou grave ameaça e, só poderia ser praticado em um supermercado protegido por inúmeros seguranças, se ninguém pudesse assistir à subtração. Mas como praticar a subtração às escondidas se a vigilância é constante? Jamais alguém nestas circunstâncias obteria êxito na sua conduta. Trata-se, pois, de um crime impossível pela absoluta ineficácia dos meios empregados. Pelo exposto, seja em razão da aplicação do princípio da insignificância ou do reconhecimento do crime impossível, acompanho o voto do relator da apelação para absolver o ora embargante das imputações da denúncia. Expeça-se imediato alvará de soltura se por al não estiver preso. Custas pelo Estado. É como voto. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: De acordo com o voto do eminente Juiz Relator e também, nos termos do voto que proferi quando do julgamento da apelação. A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: Com a devida vênia do magistério do douto Relator Dr. Erony da Silva, no brilhante voto que acaba de proferir, no qual foi secundado pelo culto

Page 78: TAMG

Revisor Dr. Alexandre Victor de Carvalho, ouso divergir de ambos, pois mantenho o posicionamento exposto no voto divergente que proferi como revisora no julgamento da Apelação nº 348.495-9, o qual prevaleceu como voto médio. Não obstante, peço vênia ao ilustre colega para também discordar de seu entendimento acerca da impossibilidade de concretização do furto por absoluta impropriedade dos meios em se tratando de estabelecimento comercial dotado de sistema de vigilância eletrônica e câmeras de vídeo. Tenho que o fato de o sistema de segurança pública estatal apresentar-se frágil e impotente diante da crescente criminalidade - o que nos obriga, contrariados, a recorrer à segurança privada - não pode ser instrumento de impunidade... Uma vez que se recorre à segurança privada - de elevado custo, porém dotada de sofisticada tecnologia - considerar-se como crime impossível a prática de subtração em estabelecimentos por tais meios vigiados é ser excessivamente tolerante com o criminoso e com o crime, aos quais, definitivamente, não podemos nos curvar... Assim sendo, pedindo vênia aos cultos Juízes Relator e Revisor, na esteira do douto parecer do órgão ministerial de cúpula, mantenho meu entendimento e REJEITO OS PRESENTES EMBARGOS INFRINGENTES. É como voto. Custas ex lege. O SR. JUIZ SIDNEY ALVES AFFONSO: Acompanho o voto da Dr.ª Maria Celeste Porto. O SR. JUIZ ANTÔNIO ARMANDO DOS ANJOS: Estou acompanhando o eminente Juiz Relator, no que tange à absolvição pelo princípio da insignificância e desacolhendo a parte final do voto, quando se refere ao crime impossível.

Page 79: TAMG

afc EMBARGOS INFRINGENTES NA APELAÇÃO CRIMINAL Nº 348.495-9/01 BELO HORIZONTE 27/8/2002 -11- EMBARGOS INFRINGENTES NA APELAÇÃO CRIMINAL Nº «embargos_num» «comarca» «data» -2-

Page 80: TAMG

EMENTA - Perdão judicial. Namorada. Concessão. A dor que o acusado sentiu com a morte de sua companheira não pode ser mensurada por um registro em cartório ou por uma cerimônia religiosa de casamento. Se autor e vítima namoravam e tinham uma filha em comum, tudo leva a crer que possuíam afeto um pelo outro e que a morte da vítima em conseqüência de acidente automobilístico causado pelo réu será sempre uma dura lembrança em sua mente. A concessão de perdão judicial em casos como este é, pois, inevitável, pois a pena perdeu completamente os fins de prevenção geral e especial a que se destina. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 373.284-5 da Comarca de BARBACENA, sendo Apelante (s): CARLOS MOREIRA AUGUSTO e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 6 de agosto de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 81: TAMG

V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Barbacena, Carlos Moreira Augusto, como incurso nas sanções do art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro, por ter, em 13 de dezembro de 1998, por volta das 17h50, dado causa a um acidente automobilístico que causou a morte da vítima Márcia Helena da Glória. A sentença monocrática às f. 75 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de detenção e suspendeu sua habilitação para dirigir veículos automotores por 6 (seis) meses. A pena corporal foi substituída por prestação pecuniária e prestação de serviços à comunidade. Inconformada, apelou a defesa às f. 93 e seg., pugnando pela concessão do perdão judicial. As contra-razões ministeriais às f. 101 e seg. são pelo provimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 118 e seg., opinou pelo não-provimento do apelo. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Assiste inteira razão à defesa e à douta Promotora de Justiça Soraya da Silva Guedes quanto à possibilidade de aplicação do perdão judicial. O fato de a vítima ser ou não casada com o réu é completamente irrelevante para a aplicação do perdão judicial. Um casamento - seja ele um registro em cartório ou uma cerimônia religiosa - é tão-somente um reconhecimento público perante a sociedade de que o casal tem um forte laço afetivo e, portanto, pretendem viver juntos. Afeto, carinho e amor - requisitos estes necessários para a concessão do perdão judicial - não podem ser condicionados a este reconhecimento social, pois, muita vez, há casais que se amam profundamente e sequer podem realizar este reconhecimento público por uma infinidade de motivos.

Page 82: TAMG

Também a convivência na mesma residência não é requisito indispensável para a concessão do perdão judicial, pois, assim como há casais que moram na mesma residência e muita vez sequer conversam, há também aqueles que moram em cidades distintas e se amam. No caso dos autos, impossível é saber o tamanho do afeto que o acusado sentia pela vítima, mas, se eram namorados, tinham uma filhinha de sete meses em comum e viajavam a passeio juntos, é certo que havia uma relação afetiva entre eles. A dor que o acusado sentiu pela morte de sua companheira, no entanto, não pode ser mensurada por suas lágrimas, por suas expressões e, muito menos, pelo seu interrogatório, pois, como bem lembrou a defesa, ainda não inventaram um "dormetro". É possível até que a dor do processo penal, que por si só é uma pena estigmatizante, seja até mesmo maior que a dor de ter perdido sua companheira. A dor do acusado parece, no entanto, não ter sido suficiente e a ele se ameaça com uma pena. Pena esta que, em um Estado Democrático de Direito, não poderia ser retribuição da dor causada à vítima como até hoje é aplicada entre os sistemas jurídico-penais que adotam a máxima do "olho por olho, dente por dente". A condenação do acusado carece de racionalidade, pois se o fim da pena atualmente é a prevenção, não há como se cogitar em aplicá-la no presente caso. Do ponto de vista da prevenção geral, é improvável que as pessoas pratiquem mais ou menos homicídios culposos contra seus companheiros se houver ou não pena a eles cominada. Do ponto de vista da prevenção especial, a pena também seria inócua, pois certamente o acusado passará a dirigir com enorme atenção a partir de agora, mormente se acompanhado de um ente querido. E, por falar em ente querido, é impossível olvidar da filha do acusado com a vítima. Melhor seria para sua formação como pessoa saber que sua mãe faleceu quando era recém-nascida em virtude de um trágico acidente em que seu pai dirigia o veículo ou que seu pai matou sua mãe em acidente em razão

Page 83: TAMG

de sua imprudência? Por fim, pergunto-me se a própria vítima gostaria de ver o pai de sua filha com o qual namorava e - talvez - pretendesse casar, sendo condenado por sua morte. Penso que não. Por todo o exposto, dou provimento ao recurso da defesa e concedo ao apelante o perdão judicial nos precisos termos do art. 121, § 5º, do Código Penal. Custas pelo Estado. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 373.284-5 - 6/8/2002 BARBACENA -5- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -7-

Page 84: TAMG
Page 85: TAMG

EMENTA - Regressão de regime. Fuga. Descumprimento de condição fixada para trabalho externo. Princípio da reserva legal. A analogia não pode ser aplicada em desfavor do réu. Destarte, a conduta de quem não retorna ao presídio após o trabalho externo não pode ser considerada como fuga e, portanto, não justifica a regressão de regime, por absoluta ausência de previsão legal. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Nº 368.858-2 da Comarca de PASSOS, sendo Agravante (s): EDSON ANTÔNIO LOPES e Agravado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 6 de agosto de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: Trata-se de agravo interposto por Edson Antônio Lopes contra a decisão do

Page 86: TAMG

M.M. Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de Passos que determinou sua regressão de regime prisional em virtude de não ter retornado ao presídio em data fixada para tanto, o que foi considerado pelo magistrado monocrático como falta grave equivalente à fuga. Em suas razões às f. 18 e seg., a defesa argumenta que não pode ser considerado fuga o mero descumprimento de condições, pois do contrário estar-se-ia ferindo o princípio da reserva legal. A contraminuta ministerial às f. 24 e seg. é pela manutenção da decisão guerreada. O magistrado monocrático manteve a decisão recorrida à f. 26v. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 267 e seg., opinou pelo desprovimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Com razão a defesa. O agravante encontrava-se em regime semi-aberto e a ele foi concedida autorização para trabalho externo. Em 16 de maio de 2001, o sentenciado não mais se recolheu ao presídio conforme determinado pelo juiz das execuções, razão pela qual foi expedido mandado de prisão em seu desfavor que foi cumprido em 3 de agosto de 2001. Ora, deixar de voltar ao presídio não pode ser considerada a mesma conduta que fugir do presídio. Raciocinar de outra forma é admitir que os delitos de furto e apropriação indébita são a mesma conduta. Não se pode admitir em Direito Penal a analogia prejudicial ao réu, pois é princípio basilar de Direito que as normas que restringem os direitos e garantias individuais devem ser interpretadas restritivamente. Assim, não cometeu o acusado nenhuma das condutas previstas no art. 50 da Lei de Execuções Penais, razão pela qual é impossível a sua regressão de regime nos termos do art. 118 da referida lei.

Page 87: TAMG

Evidentemente fica revogado o direito ao trabalho externo concedido ao acusado, conforme disposto no art. 125 da Lei de Execuções Penais. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc AGRAVO Nº 368.858-2 - 6/8/2002 PASSOS -4- AGRAVO Nº «agravo_num» - «data» «comarca»

Page 88: TAMG

-1-

Page 89: TAMG

EMENTA - Furto de cheque. Desclassificação. Estelionato. O cheque ainda que devidamente preenchido e assinado por seu legítimo titular, não é objeto material válido para o crime de furto. Ao contrário do Direito Comercial que, por uma ficção jurídica identifica o título com o valor que ele representa, o Direito Penal o considera em seu sentido ôntico, isto é, como uma folha de papel de valor patrimonial insignificante. A subtração do cheque, por si só, não lesa qualquer bem jurídico. O patrimônio, como bem jurídico tutelado, só será efetivamente ameaçado se houver uma tentativa fraudulenta de se descontar ou trocar o cheque, quando configurará delito de estelionato. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 353.969-7 da Comarca de MONTE CARMELO, sendo Apelante (s): ELSON DOS REIS BOAVENTURA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). Belo Horizonte, 25 de junho de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 90: TAMG

JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO Revisor V O T O S O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Monte Carmelo, Elson dos Reis Boaventura como incurso nas sanções do art. 155 do CP, por ter, em 6 de outubro de 2000, subtraído para si vários cheques da vítima Ademir Inácio da Silva, sendo um deles no valor de R$109,00 (cento e nove reais). Consta ainda da inicial que o réu tentou efetuar uma compra de mercadorias no Supermercado Riachão com o cheque furtado, não obtendo êxito, pois a atendente conferiu a procedência do título, descobrindo tratar-se de cheque furtado. A sentença monocrática às f. 53 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 2 (dois) anos de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa com valor unitário mínimo. Não lhe foi concedido o benefício da substituição da pena nem do sursis. Inconformada, apelou a defesa às f. 57 e seg., pugnando pela absolvição. As contra-razões ministeriais às f. 61 e seg. são pelo conhecimento e improvimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 67 e seg. manifestou-se pelo não-provimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Rogata venia, entendo que no presente caso não há falar em crime de furto, mas sim em crime de tentativa de estelionato. É que a subtração de cheque nominal é crime-meio para a prática do crime-fim de estelionato. Se no Direito Comercial, pelo princípio da cartulariedade, o cheque se confunde com o próprio valor que representa, tal ficção jurídica não pode

Page 91: TAMG

ser admitida em Direito Penal. O fato é que a subtração foi de uma folha de papel preenchida e assinada que, por si só, tem valor patrimonial completamente insignificante sendo, no entanto, instrumento valiosíssimo para a prática do delito de estelionato. Um cheque sustado ou um cheque sem fundos não pode ser ontologicamente considerado dinheiro, ainda que o Direito Comercial, por uma ficção jurídica, assim o considere. Em Direito Penal o cheque é uma folha de papel e, como tal, sem valor patrimonial. Seu uso fraudulento, porém, poderá constituir o crime de estelionato ou sua tentativa. É o que ocorreu no presente caso. Se houve ou não a subtração, isto é completamente irrelevante, pois uma folha de cheque tem valor patrimonial insignificante e a sua simples subtração não afeta qualquer bem jurídico. No momento, porém, que o agente pretende descontar ou trocar o cheque, há um efetivo perigo de lesão patrimonial ou ao titular do cheque - se não sustou ainda o título - ou ao comerciante - caso o cheque esteja sustado. E é esse perigo de lesão ao patrimônio das vítimas que será punido pelo Direito Penal como tentativa de estelionato. Note-se que, ainda que o cheque tenha sido "achado", o crime de estelionato persiste, uma vez que, não sendo o legítimo possuidor do cheque, a sua troca por dinheiro seria uma obtenção de vantagem ilícita através de meio fraudulento. Vale frisar que a denúncia narra corretamente os fatos e que a capitulação equivocada do crime como furto em nada prejudica a defesa, pois o réu defende-se dos fatos narrados na preambular e não da capitulação que lhes é dada pelo Promotor de Justiça. Assim, não há qualquer óbice à aplicação da emendatio libelli, ainda que em segunda instância, pois o STF já entendeu que: "A Súmula 453 não inibe que, no juízo de apelação, independentemente de recurso da acusação, se dê nova definição jurídica ao fato, desde que não se aplique pena mais grave, atendidos os art. 383 e 617 do CPP" (STF - RT

Page 92: TAMG

601/418). Pelo exposto, nos exatos termos do art. 383 do CPP, desclassifico o delito para tentativa de estelionato, passando a fixar-lhe nova reprimenda: As circunstâncias judiciais do art. 59 do CP são comuns aos crimes da espécie, razão pela qual fixo-lhe a pena-base no mínimo legal de 1 (um) ano de reclusão. O réu é reincidente conforme certificado às f. 30-31, razão pela qual lhe majoro a pena em 6 (seis) meses. O iter criminis já estava em estágio avançado, razão por que lhe reduzo a pena em apenas 1/3 (um terço) pela tentativa, concretizando-a em 1 (um) ano de reclusão. A pena será cumprida inicialmente em regime semi-aberto em razão da reincidência. Fixo-lhe a pena pecuniária de 10 (dez) dias-multa com valor unitário mínimo. Por não ser reincidente específico, substituo-lhe a pena corporal por uma restritiva de direitos consistente na prestação de serviços a entidade a ser designada no juízo da execução. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: Coloco-me de acordo com V.Exª, mas quero ressalvar que, a meu sentir, a folha de cheque pode ter valor patrimonial por si só, gerando lesão ao bem jurídico patrimônio, na medida em que ela tem mercado, não apenas para o agente como também teria para a vítima. Nesse sentido, penso que o furto do talonário de cheques por si só caracteriza o crime do artigo 155 do CP. Todavia, como o furto se prestou a uma tentativa de estelionato, pelo princípio da consunção, o crime-fim absorve o crime-meio. Assim, coloco-me inteiramente de acordo com o voto do eminente Juiz Relator, frisando que os efeitos do delito de furto se exauriram no delito de estelionato tentado. A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO:

Page 93: TAMG

De acordo. WAS. APELAÇÃO CRIMINAL Nº 353.969-7 - 25/6/2002 MONTE CARMELO -8-

Page 94: TAMG

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -9-

Page 95: TAMG

EMENTA - Furto. Sistema de vídeo em hipermercado. Crime impossível. O furto em hipermercado dotado de sistema de segurança com monitoramento de vídeo é impossível de ser concretizado se, antes de o agente sair do supermercado, os agentes de segurança percebem a intenção do autor. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 360.104-7 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as): SORAIA ÁLVARES SILVA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). Belo Horizonte, 25 de junho de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator JUÍZA MARIA CELESTE PORTO Vogal V O T O S O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta capital, Soraia Álvares Silva como incursa nas sanções do art. 155 c/c 14 do CP, por ter, em 31 de março de 2000, por volta das 22h00, tentado subtrair

Page 96: TAMG

alguns produtos de higiene pessoal do Supermercado Via Brasil. A sentença monocrática às f. 69 e seg. absolveu a acusada por insuficiência de provas. O Ministério Público apelou às f. 71 e seg., pugnando pela condenação nos termos da denúncia. As contra-razões ministeriais às f. 78 e seg. são pela manutenção da sentença monocrática por seus próprios fundamentos. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 93 e seg., opinou pelo provimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Sem qualquer razão o Ministério Público. A vigilância dos consumidores por câmeras em supermercados torna o furto impossível de ser concretizado por absoluta ineficácia dos meios. Os piores pesadelos do escritor George Orwell parecem se concretizar não pelos olhos de um Big Brother estatal, mas sim pela eterna vigilância das empresas privadas. Os hipermercados, hoje em dia, assemelham-se em muito aos reality shows que alcançam inacreditáveis índices de audiência no mundo todo expondo a privacidade alheia. Todos os atos dos consumidores são vigiados e gravados em fitas de vídeos, tornando qualquer atitude suspeita facilmente perceptível pelos agentes de segurança. Um furto nestas condições só seria possível de ser concretizado por um mágico ilusionista capaz de, com sua destreza, despistar o "Grande Irmão" privado. Além do mais, o valor da res furtiva se comparado ao imenso potencial econômico do estabelecimento comercial certamente é insignificante demais para justificar uma condenação criminal. Pelo exposto, mantenho a absolvição, não com fundamento no inciso VI do art. 386 do CPP, mas em seu inciso III.

Page 97: TAMG

Custas pelo Estado. É como voto. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: De acordo. A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: Estou de pleno acordo com o ilustre Relator quanto à manutenção da absolvição da recorrida. No entanto, peço vênia ao ilustre colega para discordar de seu entendimento acerca da impossibilidade de concretização do furto por absoluta impropriedade dos meios em se tratando de estabelecimento comercial dotado de sistema de vigilância eletrônica e câmeras de vídeo - no caso, o Hipermercado Via Brasil. Tenho que o fato de o sistema de segurança pública estatal apresentar-se frágil e impotente diante da crescente criminalidade - o que nos obriga, contrariados, a recorrer à segurança privada - não pode ser instrumento de impunidade... Uma vez que se recorre à segurança privada - de elevado custo, porém dotada de sofisticada tecnologia - considerar-se como crime impossível a prática de subtração em estabelecimentos por tais meios vigiados é ser excessivamente tolerante com o criminoso e com o crime, aos quais, definitivamente, não podemos nos curvar... Assim sendo, acompanho o voto condutor e igualmente nego provimento ao recurso ministerial e o faço com fundamento também no inciso lll do art. 386 do Código de Processo Penal, porém, dado o diminuto valor da res furtiva, em caráter excepcional, tenho como melhor solução para a hipótese dos autos a aplicação do princípio da insignificância.

Page 98: TAMG

WAS. APELAÇÃO CRIMINAL Nº 360.104-7 - 25/6/2002 BELO HORIZONTE -5- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -6-

Page 99: TAMG
Page 100: TAMG

EMENTA - Falsa identidade. Réu que declara identidade falsa após ser preso. Ausência de tipicidade. Se o réu atribuiu-se identidade falsa para minorar os efeitos de sua prisão, não há dolo específico de obter vantagem em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem, razão pela qual sua conduta é atípica. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 357.597-7 da Comarca de BETIM, sendo Apelante (s): ANILSON LOPES DOS SANTOS e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 28 de maio de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Betim, Anilson Lopes dos Santos como incurso nas sanções do 157, §2º,

Page 101: TAMG

I e II e art. 307 do CP, por ter, em 24 de outubro de 1999, por volta das 16h00, em concurso de agentes, subtraído para si, mediante violência e grave ameaça com emprego de arma de fogo, a quantia de R$115,00 (cento e quinze reais) das vítimas Felipe Eduardo de Paula e Gilmar Oliveira de Souza. Consta ainda da exordial que o apelante atribuiu-se, no momento em que foi preso, falsa identidade, alegando chamar-se Fernando Barcelos de Farias. A sentença monocrática às f. 81 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou Anilson a 9 (nove) anos, 9 (nove) meses e 18 (dezoito) dias de reclusão pelo roubo e a 7 (sete) meses de detenção pelo crime do art. 307 do CP. Anilson foi condenado ainda ao pagamento de 98 (noventa e oito) dias-multa com valor unitário fixado no mínimo legal. Inconformada, apelou a defesa de Anilson às f. 92 e seg., porém o douto magistrado monocrático, à f. 123, deixou de receber o recurso em razão da fuga do réu da penitenciária. O acórdão desta Câmara às f. 160 e seg., em preliminar de ofício, cassou a referida decisão, determinando o recebimento do recurso da defesa de Anilson. As razões da defesa técnica foram apresentadas às f. 176 e seg., nas quais pugna pela absolvição pelo delito do art. 307 do CP e pela minoração da pena em relação à condenação pelo roubo. As contra-razões ministeriais às f. 179 e seg. são pelo improvimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 188 e seg., manifestou-se pela confirmação da sentença. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Com razão a defesa. O apelante não praticou a conduta prevista no art. 307 do CP, pois não havia o dolo específico de obter vantagem ou causar dano. Ao atribuir-se falsa identidade o apelante tentou minorar os efeitos de sua prisão, isto é, tentou evitar um prejuízo maior contra sua pessoa.

Page 102: TAMG

Tal conduta, no entanto, não traria nenhum benefício, lucro, ganho, em suma, vantagem ao apelante. Apenas evitar-se-ia um prejuízo maior. As normas penais são interpretadas restritivamente e não se pode entender como vantagem a tentativa de se evitar um prejuízo. Absolvo-o, pois, das imputações do art. 307 do CP. Por outro lado, entendo que procedeu com excesso de rigor o magistrado monocrático quando da fixação da pena do apelante, razão pela qual fixo-lhe nova reprimenda: Culpabilidade: comum aos crimes da espécie; Antecedentes: serão analisados quando da apreciação da agravante da reincidência; Conduta social e personalidade: sem elementos de convicção nos autos, razão pela qual entendo-as favoráveis; Motivos, circunstâncias, conseqüências e comportamento da vítima: também comuns aos crimes da espécie. Entendo que nenhuma das circunstâncias judiciais indicam merecer o apelante uma reprovação maior do que a média, razão pela qual fixo-lhe a pena-base em 4 (quatro) anos de reclusão. Presente a agravante da reincidência e a atenuante da confissão espontânea, compenso-as entre si e mantenho a pena fixada na primeira fase. Em razão do disposto no art. 157, §2º, do CP, majoro-lhe a pena em 1/3 (um terço), concretizando-a em 5 (cinco) anos e 4 (quatro) meses em regime inicialmente fechado em face da reincidência. Fixo-lhe a pena pecuniária em 50 (cinqüenta) dias-multa com valor unitário mínimo. Impossível a substituição da pena, em razão de ter sido o crime praticado com violência e grave ameaça. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA

Page 103: TAMG

afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 357.597-7 - 28/5/2002 BETIM -5- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -6-

Page 104: TAMG

EMENTA - Dano. Fuga de preso. Dolo específico. Necessidade. Não há falar em crime de dano se o agente não visa com sua conduta causar um prejuízo ao Estado, mas tão-somente evadir-se da prisão. O dano só existe como um fim em si mesmo e não enquanto meio para a prática de outro fato criminoso. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 354.520-4 da Comarca de MALACACHETA, sendo Apelante (s): MURILO TEIXEIRA MOREIRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 21 de maio de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Malacacheta, Murilo Teixeira Moreira como incurso nas sanções do art.

Page 105: TAMG

163, parágrafo único, III, do Código Penal, por ter, em maio de 1999, danificado a cela nº 2, da cadeia pública de Malacacheta, escavando sua parede com uma chave de fenda e pedaços de arame. A sentença monocrática às f. 76 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 1 (um) ano e 6 (seis) meses de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 12 (doze) dias-multa com valor unitário mínimo. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 89 e seg., nas quais pugna pela absolvição. As contra-razões ministeriais às f. 93 e seg. são pelo conhecimento e improvimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 102 e seg. opinou pelo improvimento do apelo. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. A materialidade e autoria delitiva estão sobejamente provadas. Discute-se tão-somente aqui se para caracterizar o delito de dano é ou não necessário que haja o dolo específico do agente de causar prejuízo. A questão é controversa tanto na doutrina como na jurisprudência e há inúmeras decisões jurisprudenciais que consagram ambas as teses. Entendo, porém, que o melhor entendimento é aquele que considera estar implícito no tipo do art. 163 do Código Penal, a expressão "para prejudicar a vítima". Se o dano foi cometido como crime-meio para a prática da fuga, não se pode puni-lo, pois não houve a intenção de causar prejuízo ao Estado, mas tão-somente o desejo de alcançar a liberdade. Neste sentido temos exemplar ensinamento jurisprudencial: "A conduta física desenvolvida pelo preso para ganhar a liberdade não está acompanhada do dado anímico exigido pela figura criminosa do dano. E se a evasão não é punível desde que o agente, ao realizá-la, não usa de violência contra a pessoa, não se compreende como a violência contra a coisa possa traduzir-se em infração penal autônoma. O dano só existe

Page 106: TAMG

quando for um fim em si mesmo, não enquanto meio para a prática de outro fato criminoso" (TACRSP - RT 63/181). Pelo exposto, dou provimento ao recurso e absolvo o réu das imputações da denúncia por atipicidade de sua conduta, uma vez que não há falar em dano quando ausente o animus nocendi. Custas pelo Estado. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 354.520-4 - 21/5/2002 MALACACHETA -4- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -1-

Page 107: TAMG
Page 108: TAMG

EMENTA -Furto. Erro de tipo. Elementos subjetivos do tipo. À acusação cabe demonstrar não só os elementos objetivos do tipo, mas também seus elementos subjetivos. Assim, se os réus confessam a subtração, porém alegam ter julgado tratar-se de coisa abandonada, caberia à acusação demonstrar o aspecto congnoscitivo do dolo dos agentes. Na ausência de provas, a absolvição se impõe por erro de tipo. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 354.811-0 da Comarca de NOVA LIMA, sendo Apelante (s): WELLINGTON BARBOSA e HEDIÊNIO FERREIRA DE ALMEIDA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 14 de maio de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 109: TAMG

V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Nova Lima, Wellington Barbosa e Hediênio Ferreira de Almeida como incursos nas sanções do art. 155, § 4º, do CP, por terem, em março de 1998, subtraído uma placa de propaganda do tipo "outdoor". A sentença monocrática às f. 88 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou ambos a 2 (dois) anos de reclusão e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa com valor unitário mínimo. A pena corporal foi substituída por prestação pecuniária de 1 (um) salário-mínimo à vítima. Inconformada, apelou a defesa de ambos às f. 93 e seg., pugnando pela absolvição. As contra-razões ministeriais às f. 97 e seg. são pela manutenção da sentença guerreada. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 113 e seg., opinou pelo conhecimento e improvimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Para que haja uma condenação criminal, a acusação deve provar nos autos os elementos objetivos e subjetivos da conduta típica. No caso dos presentes autos, os elementos objetivos do tipo ficaram devidamente provados, mas em nenhum momento o Ministério Público demonstrou que os acusados sabiam que a coisa era "alheia". O dolo é composto de um aspecto cognoscitivo - o agente conhece a tipicidade da conduta - e de um aspecto volitivo - o agente deseja praticar a conduta ilícita. No presente caso, tudo indica que faltou o aspecto cognoscitivo do dolo, pois os agentes alegam que acreditavam que a coisa era abandonada e não alheia como a prevista no tipo do art. 155 do CP. Wellington afirmou à f. 19:

Page 110: TAMG

"foram até as proximidades da rodovia MG 030 onde sabiam da existência de três tubos fixados no chão, os quais serviam de sustentação de placa de publicidade, cuja placa já havia sido retirada dali há muito tempo e como referidos tubos estivessem cheios de água e abandonados, resolveram levá-los (...)" No mesmo sentido as declarações prestadas por Hediênio à f. 20. Ora, é perfeitamente crível que os apelantes tenham julgado que os tubos encontravam-se abandonados e, portanto, agido em erro de tipo, o que exclui o dolo, nos termos do art. 20 do CP. Foi esta a versão apresentada pelos réus tanto em seus interrogatórios no inquérito quanto em juízo, ainda que por não serem versados em dogmática penal não tenham se referido à expressão "erro de tipo" ou ao art. 20 do CP. Entendo que o interrogatório é não só meio de prova, mas também meio de defesa, devendo, pois as teses da autodefesa serem levadas em conta. De fato, o Ministério Público não conseguiu demonstrar a consciência que os réus deveriam ter de a coisa ser alheia. É bem possível que tenham acreditado tratar-se de res nullius e realizado a subtração sem dolo de furto. Nunca é demais lembrar, ainda, que na dúvida, em respeito ao princípio constitucional da presunção de não-culpabilidade, a absolvição se impõe. Pelo exposto, absolvo os réus das imputações da denúncia, nos termos do art. 386, VI, do Digesto Processual Penal, visto não terem restado provados os elementos subjetivos do tipo. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA

Page 111: TAMG

WAS. APELAÇÃO CRIMINAL Nº 354.811-0 - 14/5/2002 NOVA LIMA -6- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -7-

Page 112: TAMG

EMENTA - Furto. Estelionato. Talonário de cheques. Concurso de crimes. Absorção. Para que haja concurso material de crimes é necessário que exista uma individualidade tanto dos elementos objetivos do tipo, quanto dos subjetivos. Se o agente furta talonário de cheques em branco para posterior emissão fraudulenta, ainda que haja uma individualidade em cada uma das tipicidades objetivas o mesmo não se pode dizer dos elementos subjetivos do tipo, pois seu dolo é único. Assim, aplica-se nos presentes casos o princípio da consunção pelo qual o crime-meio menos grave é absorvido pelo crime-fim mais grave, punindo-se o réu somente por este último. Privação de liberdade aplicada à pena inferior ou igual a 6 (seis) meses, substituída por restritiva de direitos. Recurso provido parcialmente. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 349.614-8 da Comarca de ALFENAS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as): APARECIDA RABÊLO DE CARVALHO, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 30 de abril de 2002.

Page 113: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Alfenas, Aparecida Rabêlo de Carvalho por ter, em 11 de novembro de 1998, furtado uma bolsa de propriedade de Geane Cleide Rocha Muniz, que se encontrava no guarda-volumes da biblioteca da Universidade de Alfenas. Consta ainda da exordial acusatória que, de posse da bolsa, a acusada emitiu várias folhas de cheques no comércio local, preenchidos e assinados por ela própria. A sentença monocrática às f. 84 e seg. julgou parcialmente procedente a denúncia e condenou a ré a 4 (quatro) meses de reclusão em regime aberto e ao pagamento de 3 (três) dias-multa com valor unitário mínimo. A pena corporal foi substituída pela prestação de serviços à comunidade. Inconformado, apelou o douto Promotor de Justiça, apresentando suas razões às f. 91 e seg., nas quais pugna pela reforma da sentença para condenar a ré como incursa nas sanções dos art. 155, § 2º e 171, caput, todos do CP. As contra-razões da defesa às f. 98 e seg. são pela manutenção da sentença monocrática. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 106 e seg., opinou pelo desprovimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Trata-se de hipótese interessante de concurso de delitos. Luís Regis Prado ensina que: "Dentre os sistemas propostos para a aplicação da pena nas diferentes espécies de concurso de delitos destacam-se:

Page 114: TAMG

a)cúmulo material: determina a soma das penas aplicadas para cada um dos crimes (tot poena quot delicta). b)cúmulo jurídico: por esse sistema a pena aplicada deve ser superior às cominadas a cada um dos crimes. c)absorção: considera que a pena aplicada ao delito mais grave absorve a pena do delito menos grave (poena maior absorvet minorem). d)exasperação: prevê a aplicação da pena mais grave, aumentada de um determinado quantum (poena maior cum exasperatione)." Cabe então indagar qual sistema deve ser aplicado no caso de furto de talonário de cheques em branco para posterior prática de estelionato. Sabe-se que a tipicidade é composta de elementos objetivos e subjetivos. Para que possa se cogitar em concurso material de delitos é necessário que haja uma individualidade típica tanto objetiva quanto subjetiva. Assim, no furto do talonário de cheques para a posterior prática do estelionato, ainda que haja uma individualidade objetiva de condutas, o mesmo não se pode dizer quanto à individualidade subjetiva. Isto porque, ao furtar o talonário de cheques e ao realizar a emissão fraudulenta das cártulas, o dolo do agente é uno, pois visa tão-somente à obtenção do dinheiro da vítima que se encontra depositado no banco. A hipótese do art. 69 encontra-se, pois, descartada. Obviamente, também descartada fica a hipótese do art. 70 do CP, pois esta trata de pluralidade de elementos subjetivos e unidade de elementos objetivos, situação oposta à tratada nos presentes autos. A hipótese do art. 71 do CP também está afastada, pois em tais casos há pluralidade de elementos tanto objetivos quanto subjetivos que a lei, por razões de política criminal, trata fictamente de forma diferenciada. Resta-nos, então, a aplicação do princípio da absorção. Trata-se de hipótese não prevista expressamente na lei, mas de construção doutrinária e jurisprudencial consolidada. Por este princípio, havendo unidade de desígnios, não se pune o crime menos grave quando usado como meio para a consecução de outro delito.

Page 115: TAMG

Trata-se claramente da hipótese dos autos, na qual o furto - que tem pena mínima igual a do estelionato, mas pena máxima inferior à deste - não é punido por ser crime-meio usado pela ré para lograr êxito em praticar o estelionato. O bem jurídico penalmente protegido - patrimônio - não foi lesionado com a consumação do furto dos cheques, que não assinados têm insignificante valor econômico. Somente com a prática do estelionato a ré obteve seu enriquecimento ilícito e é por esta conduta que deverá ser ela punida. O M.M. juiz monocrático, no entanto, entendeu, ao contrário, ser o estelionato post factum impunível, o que na prática não acarretou em nenhum prejuízo à ré ou mesmo à acusação. Isto porque a pena-base foi fixada no mínimo legal, isto é, em 1 (um) ano de reclusão - a mesma do estelionato. A causa de diminuição de pena aplicada com base no art. 155, § 2º, em razão do furto privilegiado é exatamente a mesma prevista no art. 171, §1º, do CP. Todavia, a sentença monocrática, fixada a pena em 4 (quatro) meses de reclusão, regime aberto, multa de 3 (três) dias-multa com valor unitário mínimo, cometeu um pequeno deslize quando foi substituída por prestação de serviços à comunidade, ofendendo, assim, o princípio da legalidade à luz do art. 46 do Código Penal, com a redação dada pela Lei nº 9.714/98 que só permite a prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas em condenações superiores a 6 (seis) meses de privação de liberdade. Nesse sentido, mantenho a condenação de 4 (quatro) meses de reclusão imposta à apelada quanto à privação de sua liberdade, porém, a substituo por limitação de fim de semana que deve ser estabelecida pelo juízo da execução, mantida o quanto mais a r. sentença de primeiro grau. Custas pelo Estado. JUIZ ERONY DA SILVA

Page 116: TAMG

was. APELAÇÃO CRIMINAL Nº 349.614-8 - 30/4/2002 ALFENAS -8- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -9-

Page 117: TAMG
Page 118: TAMG

EMENTA - Reincidência. Regime aberto. Possibilidade. A Constituição Federal de 1988 garante ao réu a individualização de sua pena. Assim, se a norma prevê para todos os réus reincidentes o regime inicialmente fechado, tratando igualmente situações concretas desiguais, ela é inconstitucional. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 352.003-0 da Comarca de PASSOS, sendo Apelante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Apelado (a) (os) (as): JULIANO EVANGELISTA LARA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 23 de abril de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Passos, Juliano Evangelista Lara como incurso nas sanções do art. 155

Page 119: TAMG

do CP, por ter, em 8 de janeiro de 1999, por volta das 18h35, subtraído um toca-fitas e um rádio televisor do veículo da vítima José Darci Pereira. A sentença monocrática às f. 75 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 1 (um) ano de reclusão e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa com valor unitário mínimo. Apesar da reincidência, o douto juiz a quo fixou-lhe o regime aberto como inicial para o cumprimento da pena. Inconformado, apelou o douto Promotor de Jusitça, apresentando suas razões às f. 82 e seg., nas quais pugna tão-somente pela alteração quanto ao regime inicial de cumprimento de pena para semi-aberto. As contra-razões da defesa às f. 86 e seg. são pela manutenção da sentença guerreada. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 94 e seg., opinou pelo conhecimento e não- provimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Em princípio vale frisar que a Constituição Federal garante ao réu a individualização de sua pena. Se a norma é abstrata e não permite ao julgador que trate desigualmente casos desiguais, sem dúvida, haverá uma nítida inconstitucionalidade da lei. Se a lei impede que em todo e qualquer caso o réu reincidente inicie o cumprimento de sua pena em regime aberto, há uma clara ofensa ao princípio da individualização da pena, pois a lei ordinária está determinando que se trate igualmente casos desiguais. Assim, a parte do art. 33, §2º, que trata da reincidência não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, por ofensa direta ao princípio de individualização da pena. Cada caso é um caso. Não se pode dar tratamento idêntico a situações concretas diferentes sob pena de clara violação não só à garantia da individualização das penas, mas também ao próprio princípio da eqüidade.

Page 120: TAMG

Pelo exposto, não vejo qualquer problema técnico na fixação do regime inicialmente aberto no presente caso. Mantenho a sentença guerreada por seus próprios fundamentos. Custas pelo Estado. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 352.003-0 - 23/4/2002 PASSOS -4- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -5-

Page 121: TAMG
Page 122: TAMG

Ementa - Furto. Erro de tipo. Aspecto cognoscitivo do dolo ausente. Atipicidade da conduta. A consciência de estarem praticando uma conduta "errada" demonstra a culpabilidade dos agentes, mas não exclui a possibilidade de estarem agindo em erro de tipo. Uma condenação criminal deve fundamentar-se em provas não só do tipo objetivo, mas também do tipo subjetivo. Se não se provou que os acusados conheciam o fato da res ser de propriedade alheia, não há falar em dolo e, como não há previsão de furto culposo, a absolvição se impõe. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 335.931-5 da Comarca de PRATÁPOLIS, sendo Apelante (s): JOSÉ ROBERTO MARTINS e EMERSON DE PÁDUA PEREIRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 23 de abril de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA

Page 123: TAMG

Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Pratápolis, José Roberto Martins e Emerson de Pádua Pereira como incursos nas sanções do art. 155, §1º e §4º , IV, do Código Penal, por terem, em 18 de dezembro de 1998, por volta das 20h00, subtraído 100 kg (cem quilos) de peixe da criação de propriedade de Edilson Ribeiro de Oliveira e João Batista de Pádua. A sentença monocrática às f. 83 e seg. julgou procedente em parte a denúncia e condenou Emerson de Pádua Pereira a 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de detenção e José Roberto Martins a 1 (um) ano e 6 (seis) meses de detenção. Ao réu Emerson foi concedida a substituição da pena corporal, o mesmo não sendo deferido ao réu José Roberto por ser este reincidente em crime doloso. Inconformados, apelaram ambos, apresen-tando suas razões às f. 97 e seg., nas quais pugnam pela absolvição com base na tese do erro de tipo. As contra-razões ministeriais às f. 99 e seg. são pelo improvimento do apelo. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 108 e seg., opinou pelo conhecimento e desprovimento dos recursos. Em síntese, é o relatório. Conheço dos recursos, pois presentes seus pressupostos de admissibilidade. Trata a hipótese dos autos de erro de tipo e não de erro de proibição. Enquanto no erro de tipo o agente desconhece que pratica uma conduta típica, no erro de proibição o agente desconhece a antijuridicidade de sua conduta. Os acusados agiram em erro de tipo, pois desconheciam elemento essencial do tipo objetivo do delito de furto, isto é, ser o bem coisa alheia. Para que haja dolo, não basta uma mera possibilidade de conhecer, sendo

Page 124: TAMG

imprescindível que haja um efetivo conhecimento dos elementos objetivos do tipo. Ainda que soubessem que era "errado" pescar ali, como os advertiu Hamilton Braz Martins, irmão do acusado José Roberto, isto não impede que tenham agido em erro de tipo, pois isto provaria tão-somente que agiram com culpabilidade. Não se discute aqui o erro de proibição - se achavam que era "certo" ou "errado" pescarem ali. O que se discute aqui é o erro de tipo: se sabiam ou não serem os peixes coisas alheias. Essa consciência do elemento normativo do tipo "alheia" é que não foi provada. Aliás, como não havia qualquer placa indicativa no local, não se podia exigir dos acusados que adivinhassem que os peixes tinham "dono". Saber que uma conduta é "errada" não é o mesmo que saber que a conduta é crime, isso porque nem toda conduta antijurídica é típica. Deixar de pagar o aluguel é antijurídico - "errado" - mas não é conduta típica e, portanto, não é crime. Não há sequer indícios de que os agentes tenham agido com animus furandi, isto é, com o dolo de furto. Se os acusados acreditavam que os peixes eram res nullius, não havia dolo em sua conduta e, portanto, não há falar em crime, mas em mero ilícito civil. O mais provável é que julgavam tratar-se de mera violação de propriedade privada. Ausente o aspecto cognoscitivo do dolo, solução outra não resta, senão a absolvição por atipicidade da conduta, uma vez que não há a previsão de furto culposo. Pelo exposto, dou provimento ao recurso e absolvo os acusados das imputações da denúncia. Custas pelo Estado. É como voto.

Page 125: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 335.931-5 - 23/4/2002 PRATÁPOLIS -6- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -1-

Page 126: TAMG
Page 127: TAMG

EMENTA - Furto de veículo equipado com mecanismo de segurança. Crime impossível. Dispositivo antifurto, que impede o acionamento do motor, torna a tentativa de furto do veículo, com o uso de chave mixa, crime impossível por absoluta ineficácia do meio. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 351.291-6 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): PAULO EDUARDO RIBEIRO DE SOUZA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO AO RECURSO DA DEFESA E, DE OFÍCIO, ABSOLVER O APELANTE PELO DELITO DO ART. 155 DO CÓDIGO PENAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 16 de abril de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta Capital,

Page 128: TAMG

Paulo Eduardo Ribeiro de Souza como incurso nas sanções do art. 155, § 4º, III e art. 307 do CP, por ter, em 10 de dezembro de 1998, por volta das 20h00, tentado subtrair para si o aparelho de som do veículo de placa GPW-9163. A sentença monocrática às f. 113 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de reclusão e a 4 (quatro) meses de detenção a ser cumprida em regime semi-aberto. A pena pecuniária foi fixada em 30 (trinta) dias-multa com valor unitário mínimo. A substituição da pena corporal não foi concedida. Inconformada, recorreu a defesa, apresentando suas razões às f. 135 e seg., pugnando pela concessão do regime aberto e pela absolvição do crime de falsidade ideológica. As contra-razões ministeriais às f. 141 e seg., são pelo improvimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 164 e seg., manifestou-se pelo provimento do apelo. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos para sua admissibilidade. Quanto ao furto, entendo que, no presente caso, é crime impossível por absoluta ineficácia do meio. O veículo estava protegido por um sistema antifurto que tornaria completamente impossível sua subtração com o uso da chave mixa. Para que se possa cogitar em tentativa possível é necessário que haja a potencialidade de consumação do delito, que no caso não ocorreu, pois o sistema de proteção do veículo impossibilitaria qualquer tentativa de furto com o uso da chave mixa. A ineficácia absoluta do meio torna a tentativa não punível nos termos do art. 17 do CP, razão pela qual absolvo o acusado da imputação de tentativa de furto. Em relação ao delito do art. 307 do CP, a absolvição também se impõe. É que a autodefesa exclui a tipicidade da conduta, uma vez que o dolo específico exigido para a configuração do crime é a intenção de obter

Page 129: TAMG

vantagem ou causar dano a outrem. Ora, vantagem é lucro, ganho, proveito. No caso da autodefesa não há falar em lucro, mas tão-somente em evitar-se um prejuízo, perda ou infortúnio. Como não é possível a analogia em Direito Penal para se criar condutas típicas, impossível é a condenação do réu nas iras do art. 307 CP, por atipicidade da conduta uma vez que não estão presentes todos os elementos subjetivos do injusto. Destarte, dou provimento ao recurso da defesa e também absolvo-o das imputações do art. 307 do CP. Custas pelo Estado. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 351.291-6 - 16/4/2002 BELO HORIZONTE -4- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -5-

Page 130: TAMG
Page 131: TAMG

EMENTA - Homicídio - Trânsito - Culpa - Excesso de velocidade. O excesso de velocidade na direção de veículo automotor é infração administrativa para a qual é prevista pena de multa e, ainda que seja indício de imprudência, não gera tal presunção. A culpa não se presume, pois é o nexo subjetivo da conduta do agente com o resultado lesivo e não mero conceito normativo que pode ser mensurado objetivamente por um tacógrafo. Recurso provido. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 350.640-5 da Comarca de CONTAGEM, sendo Apelante (s): CRISTIANO EUSTÁQUIO DE PAULA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR E DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2° Vogal). Assistiu ao julgamento, pelo apelante, as Drªs. Beatriz Meireles Brandão e Renata Christianne Araújo. Belo Horizonte, 9 de abril de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 132: TAMG

JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO 1º Vogal JUÍZA MARIA CELESTE PORTO 2ª Vogal V O T O S O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Contagem, Cristiano Eustáquio de Paula, como incurso nas sanções do art. 121, §3º, por ter, em 19 de setembro de 1996, por volta das 22h20m, atropelado a vítima Nilson Ferreira da Cruz, causando-lhe ferimentos que foram causa de sua morte. A sentença monocrática às f. 120 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 2 (dois) anos de detenção em regime aberto. A pena corporal foi substituída por uma restritiva de direitos de prestação de serviços à comunidade e por uma prestação pecuniária de 30 (trinta) dias-multa com valor unitário de 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 139 e seg., nas quais pugna, em preliminar, pela nulidade do processo em razão da insuficiência da defesa técnica. No mérito, requer a absolvição ou, alternativamente, a minoração da reprimenda. As contra-razões ministeriais às f. 156 e seg. são pela manutenção da sentença guerreada. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 164 e seg., opinou pelo desprovimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Preliminar de nulidade do processo:

Page 133: TAMG

Não há falar em nulidade no presente caso, pois a todo momento foi observada a garantia do contraditório. Se o apelante não desejou valer-se da suspensão condicional do processo é porque preferiu enfrentar o processo criminal e provar sua inocência. Pode até não ter sido a melhor escolha, mas certamente foi concedida ao apelante tal oportunidade e o fato de ter sido mal orientado por seu advogado não pode servir de argumento para a nulidade do processo no presente ponto. Rejeito, pois, a preliminar. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: Senhor Presidente, estou de acordo com a rejeição da preliminar, uma vez que se verificou, no curso do processo, a efetivação da defesa técnica exigida pela legislação processual penal, como necessário ao exercício da ampla defesa. O fato de haver sido o acusado aconselhado pelo causídico que patrocinava sua demanda, à época em que foi proposta a suspensão condicional do processo, de não aceitar tal benefício, não pode ter o condão de anular todo o processado, conforme pleiteia a defesa em preliminar. Ademais, mesmo se do contrário entendêssemos, seria o caso de rejeição da prefacial soerguida, em face de ser mais benéfica ao réu a solução consagrada no mérito recursal. Portanto, acompanho o voto do eminente Relator. A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: Também rejeito a preliminar. O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: Mérito: No mérito, procedem as muito bem fundamentadas razões recursais das

Page 134: TAMG

Dras. Beatriz Brandão e Renata Araújo que analisaram o caso com bastante precisão. De fato, o autor poderia até estar trafegando em velocidade superior à permitida para a pista, mas tal fato é mera infração administrativa, para a qual é prevista uma multa de trânsito. Em Direito Penal não pode haver presunções absolutas, pois cada caso é um caso. O excesso de velocidade, por si só, não é sinônimo de imprudência ou imperícia. Admitir-se tal interpretação seria consagrar a responsabilidade penal objetiva, pois estar-se-ia abandonando o elemento subjetivo do tipo - culpa - em prol de um critério meramente normativo. O excesso de velocidade é um indício de imprudência, mas em cada caso, se deve perquirir a real culpa do agente. É natural que em uma ultrapassagem o motorista aumente a velocidade. Ora, todas as provas dos autos são extremamente convincentes de que a carreta que estava sendo ultrapassada pelo réu dificultou-lhe a visibilidade da vítima que inadvertidamente tentou atravessar correndo a via. Vale notar que havia uma passarela nas proximidades do local o que, por si só, já demonstra ser a travessia perigosa a ponto de ter chamado a atenção do poder público para a construção da obra. Se a vítima não tomou o cuidado devido ao atravessar a via, a culpa do fato não pode ser imputada ao apelante. Se no local não havia semáforo com faixa de pedestre, mas uma passarela, pelo princípio da confiança, é natural que o motorista julgue que os pedestres atravessarão pela passarela e não se arriscando em uma via de grande fluxo de veículos. Por outro lado, é certo que, se o apelante não estivesse ultrapassando uma carreta, conseguiria visualizar a vítima com antecedência e evitar o trágico acidente. Por todo exposto, dou provimento ao recurso da defesa e absolvo o apelante das imputações da denúncia. Custas pelo Estado. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: Senhor Presidente, examinei com atenção a fundamentação contida no voto

Page 135: TAMG

proferido por Vossa Excelência e considero que se amolda perfeitamente às provas colhidas na ação penal. A circunstância de estar o apelante trafegando com excesso de velocidade não tem o condão de presumir de forma absoluta a sua culpa pela ocorrência do homicídio. Restou absolutamente provado que o réu, no momento em que ultrapassava a carreta, teve sua visibilidade comprometida, não havendo possibilidade de prever a repentina conduta da vítima e evitar o acidente. Ademais, há poucos metros do sinistro, ficou registrado que havia uma passarela de pedestres para travessia da via. O ofendido não tomou a cautela que deveria. Não se trata, na hipótese, de compensação de culpas, que pelo Direito Penal tradicional, é vedada, mas poderia ser admitida no âmbito da denominada teoria da imputação objetiva. Mas, no caso, o único culpado pelo evento foi a vítima, na medida em que, atravessando na via, sem utilizar da passarela, como era seu dever, lançou-se à própria sorte com sua audaciosa e não precavida conduta. Nesse sentido, concordo plenamente com o voto de mérito do eminente Juiz Relator e também absolvo o apelante das imputações contidas na prefacial acusatória. A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: Sr. Presidente, também dou provimento ao recurso, acompanhando os votos de Vossa Excelência, absolvendo o apelante das imputações contidas na denúncia. afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 350.640-5 - 9/4/2002 CONTAGEM -8- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca»

Page 136: TAMG

-9-

Page 137: TAMG

Ementa - Crime de trânsito. Homicídio culposo. Transporte de torcedores após partida de futebol. Co-culpabilidade do Estado. Não se pode exigir de motorista de ônibus que transporta torcedores em algazarra após grande partida de futebol que se mantenha completamente concentrado, pois o barulho provocado pelos passageiros, certamente, lhe desvia em muito a atenção. Se há um culpado por acidente fatal, em tais circunstâncias, certamente é a Prefeitura e as empresas de transporte coletivo que não realizam o transporte dos torcedores, notoriamente barulhentos, em ônibus dotados de divisória entre a cabine do motorista e o espaço destinado aos passageiros de forma a impedir que o excesso de barulho desvie a atenção do motorista. A absolvição, no caso, se impõe em razão da inexigibilidade de conduta diversa pelo motorista. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 357.615-0 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): JOSÉ TITO DE OLIVEIRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2° Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 2 de abril de 2002.

Page 138: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta capital, José Tito de Oliveira como incurso nas sanções do art. 302, parágrafo único, IV c/c art. 303 ambos do CTB por ter, em 1º de março de 1998, por volta das 0h15, dado causa a um acidente em ônibus com torcedores que voltavam de uma partida de futebol e que acabou por vitimar fatalmente Edney Morais Gomes. A sentença monocrática às f. 173 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 3 (três) anos, 1(um) mês e 10 (dez) dias de detenção em regime aberto e a 4 (quatro) meses e 20 (vinte) dias de suspensão para dirigir veículo automotor. A pena corporal foi substituída por duas restritivas de direitos, sendo uma de prestação de serviços à comunidade e outra de limitação de final de semana. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 201 e seg., pugnando pela absolvição ou pela concessão do perdão judicial. As contra-razões ministeriais às f. 212 e seg. são pelo improvimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 226 e seg., opinou pelo conhecimento e improvimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Assiste inteira razão à defesa. Não é o réu que tem o ônus de provar que não agiu com culpa. Cabe à acusação a prova de ter ele agido com imprudência, negligência ou imperícia.

Page 139: TAMG

E isso, decididamente, não ficou demonstrado nos autos. É notório que os torcedores, após a vitória de seus times, voltam para casa comemorando nos ônibus e, muitas vezes, acabam excedendo os limites da civilidade. Não são raros os casos de danos aos coletivos causados por torcedores e está provado pelos depoimentos testemunhais que, no caso dos autos, os passageiros faziam uma verdadeira algazarra. Querer imputar a culpa de uma fatalidade como esta tão-somente ao motorista do ônibus é desprezar completamente o fato de que toda a gritaria realizada pelos torcedores, certamente, desviou a atenção do motorista o que acabou por causar tal infortúnio. Por outro lado, há provas contundentes nos autos de que a vítima fatal manteve a porta traseira aberta o que sem dúvida concorreu em muito para a sua morte. Se a porta do ônibus estivesse realmente fechada é pouco provável que o acidente tivesse ocasionado vítimas fatais. É notório, ainda, que são raros os motoristas que trafegam a 40 km/h no local e horário do acidente. Não se pode condenar o réu tão-somente por ter ele excedido a velocidade de 40 km/h recomendadas para a via, pois tratar-se-ia de uma presunção de culpabilidade completamente inadmissível em um Estado Democrático de Direito. O excesso de velocidade seria razão para uma multa de trânsito. Aqui, no entanto, tratamos da responsabilidade penal pelo acidente. Em Processo Penal não se admitem presunções para condenar o réu, pois elas em muito se assemelham à hedionda responsabilidade penal objetiva. Não há um indivíduo culpado pelo acidente, mas sim, uma série de fatores conjugados que culminaram na morte do jovem Edney. Se há culpa aqui, é da Prefeitura e das empresas de ônibus que realizam o transporte de torcedores em péssimas condições, em ônibus muita vez lotados e completamente inapropriados, pois não há qualquer divisão entre a cabine do motorista e o espaço dos passageiros. A direção de um veículo de transporte coletivo merece atenção acima da média e exigir-se do profissional encarregado da condução do ônibus que mantenha a concentração com torcedores histéricos gritando em seus

Page 140: TAMG

ouvidos é fator que certamente desencadeará novos acidentes como este. Motorista de ônibus, por outro lado não é disciplinário, nem policial e, portanto, não está entre suas funções manter o silêncio no ônibus. Se há culpa no presente caso, é ela da BHtrans e das empresas de ônibus que ainda não encontraram a melhor forma de realizarem o transporte destes jovens que retornam do Mineirão. Pelo exposto, dou provimento ao recurso, para absolver o apelante das imputações da denúncia (art. 386, inciso VI, do CPP). Custas pelo Estado. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 357.615-0 - 2/4/2002 BELO HORIZONTE -6- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -7-

Page 141: TAMG
Page 142: TAMG

EMENTA - Provas ilícitas. Violação de domicílio. "Frutos da árvore envenenada". Nulidade. Somente o flagrante próprio autoriza a penetração em domicílio sem o consentimento do morador. A entrada de policiais na residência de suspeito, logo após a prática do delito, para a colheita de provas, constitui arbitrariedade vedada pela Constituição, que torna inválidas as provas colhidas. Ilícitas ainda serão todas as demais provas originárias destas, pois, do contrário, haveria um incentivo a futuras arbitrariedades a serem cometidas por autoridades mal preparadas. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 353.834-9 da Comarca de IBIÁ, sendo Apelante (s): PAULO CÉSAR DA SILVA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DE OFÍCIO, ANULAR O PROCESSO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 12 de março de 2002. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 143: TAMG

V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Ibiá, Paulo César da Silva como incurso nas sanções do art. 155, § 4º, IV do CP, por ter, em 15 de fevereiro de 2001, por volta das 20h00, subtraído, em concurso de agentes, R$320,00(trezentos e vinte reais) em cédulas e R$45 (quarenta e cinco reais) em moedas do bar de propriedade de José Wanderley Rodrigues. A sentença monocrática às f. 106 e seg. julgou parcialmente procedente a denúncia e condenou o réu nas reprimendas do art. 155, caput, do CP, a 2 (dois) anos de reclusão e ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa com valor unitário fixado no mínimo legal. Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f. 119 e seg., nas quais pugna pela absolvição ou, alternativamente, pela redução do quantum da pena. As contra-razões ministeriais às f. 130 e seg., são pelo conhecimento e desprovimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 177 e seg., opinou pelo conhecimento e não-provimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Tenho preliminar de nulidade do processo que, de ofício, submeto à apreciação da Câmara: É que todas as provas obtidas tanto no inquérito quanto em juízo são, em última análise, derivadas de uma violação de domicílio perpetrada pelas autoridades policiais em companhia da vítima. O acusado assim narrou os fatos no auto de prisão em flagrante às f. 7-8: "Que ontem à noite a polícia esteve em seu barraco e não o encontrou, mas eles pegaram as moedas;"

Page 144: TAMG

A testemunha Júlio Antônio Silva afirmou em juízo à f. 76: "Que esteve na companhia da vítima e da PM na residência do primeiro acusado, onde ali foi encontrada uma vasilha de plástico contendo grande quantidade de moedas de R$0,25, não sabendo o valor total; que o acusado não estava em casa; que na casa haviam (sic) duas crianças;" No auto de prisão em flagrante a mesma testemunha afirmou: "que no dia de ontem por volta das 22h, acompanhou José Wanderley juntamente com a viatura da polícia militar até a residência de Paulo César, onde encontraram debaixo do tanque de lavar roupas uma vasilha plástica contendo grande quantidade de moedas de vinte e cinco centavos." A Constituição Federal é expressa em seu art. 5º, XI: "a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;" No presente caso, a violação se deu durante a noite e não há nos autos qualquer referência a mandado judicial. Por outro lado, o flagrante só autoriza a entrada no domicílio quando o delito estiver sendo praticado dentro do imóvel naquele momento. Somente o flagrante próprio autoriza a penetração no domicílio, pois a intentio legis é justamente evitar que o delito se consuma. A simples produção de provas não justifica a entrada no que a Carta Magna chama de "asilo inviolável do indivíduo". Se no flagrante próprio, a polícia age em verdadeiro estado de necessidade de terceiros ao invadir a residência, o mesmo não se pode dizer quando penetra na casa tão-somente para produzir provas. Estritamente se interpretam as disposições que restringem os direitos da pessoa humana. A referência da Constituição Federal a "flagrante delito", deve pois ser limitada aos casos de flagrante próprio, pois, do contrário, estar-se-ia admitindo que lei ordinária fixasse analogicamente conceito de natureza

Page 145: TAMG

constitucional. No presente caso, portanto, o mandado judicial era imprescindível para a colheita da prova. Por outro lado, vê-se que as provas ilicitamente encontradas no domicílio do acusado foram a origem de todas as demais provas dos autos. Se hipoteticamente suprimíssemos as provas ilícitas da seqüência causal, certamente, nenhuma prova restaria contra o réu. Assim, aplica-se ao caso a doutrina norte-americana do fruits of the poisonous tree, segundo a qual são nulas todas as provas subseqüentes obtidas com fundamento em prova ilícita. Isso porque a admissão de valor jurídico a tais provas seria um incentivo a futuras violações dos direitos fundamentais da pessoa humana por autoridades mal preparadas. Assim, solução outra não vislumbro, no presente caso, senão a anulação de todo o processo, por absoluta ilicitude de suas provas, incapazes de sustentar sequer uma acusação criminal. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 353.834-9 - 12/3/2002 IBIÁ -7- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data»

Page 146: TAMG

«comarca» -1-

Page 147: TAMG

EMENTA - Princípio da insignificância. Natureza jurídica. Atipicidade da conduta. Pelo princípio da insignificância exclui-se a tipicidade da conduta, sendo completamente prescindível a análise dos antecedentes do agente. Uma conduta atípica não é crime tanto para o réu primário quanto para aquele com extensa folha criminal. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos Declaratórios na Apelação Criminal Nº 333.116-0/01 da Comarca de RIO NOVO, sendo Embargante (s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS e Embargado (a) (os) (as): PAULO CÉSAR DA SILVA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, REJEITAR OS EMBARGOS. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). Belo Horizonte, 18 de dezembro de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO 1º Vogal V O T O S O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: Trata-se de Embargos Declaratórios interpostos pela douta Procuradoria-

Page 148: TAMG

Geral de Justiça contra o acórdão às f. 194 e seg. que absolveu o réu Paulo César da Silva com base no princípio da insignificância. Alega a douta Procuradora de Justiça Elba Rondino que: "do voto proferido restou omissa a questão da reincidência específica e dos maus antecedentes criminais registrados pelo réu" Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. A doutrina ensina que a aplicação do princípio da insignificância torna a conduta atípica. Não havendo significativa lesão ao bem jurídico penalmente tutelado, o tipo perde seu fundamento, sua razão de ser. O Direito Penal moderno, fundamentado nos princípios constitucionais, nos leva à leitura das entrelinhas do art. 155 do CP: "Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel (de valor significante)" Se o valor da res não é significante, não há a tipicidade da conduta, pois o Direito Penal não se ocupa de lesões mínimas a bens jurídicos. A este respeito, exemplar lição jurisprudencial: "Princípio da insignificância e Direito Penal de intervenção mínima - A tendência generalizada da política criminal moderna é reduzir ao máximo a área de incidência do Direito Penal. O fato penalmente insignificante deve ser excluído da tipicidade penal e receber tratamento adequado (como ilícito civil, administrativo, fiscal, etc). O Estado só deve intervir até onde seja necessário para a proteção do bem jurídico" (TRF - 1ª Região, 4ª Turma - AC 93.01.12840-3/MG - Rel. Mário César Ribeiro). Se a conduta é atípica, torna-se completamente desnecessário perquirir-se sobre os antecedentes do réu. A reincidência ou os maus antecedentes do réu não tornarão típica a

Page 149: TAMG

conduta. Não vislumbro, pois, qualquer omissão no acórdão embargado que mereça ser suprida, razão pela qual, rejeito os embargos. É como voto. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: Estou de pleno acordo com o voto proferido por V. Exª. e quero registrar que o princípio da insignificância torna, como bem disse V. Exª., o fato atípico, pois incide como excludente do elemento estrutural da tipicidade. E nesse diapasão, faço minhas as palavras do Juiz de Direito de São Paulo e membro da Associação Internacional de Direito Penal, Vinícius de Toledo Piza Peluzo, nos seguintes termos: "atuando dessa maneira, ou seja, considerando o fato atípico, não pode o juiz utilizar-se de conteúdos específicos dos outros dois elementos estruturais do conceito de crime (antijuridicidade e culpabilidade), pois não estaria, portanto, obedecendo à ordenação sistemática, o caráter seqüencial do sistema, à própria ordem estrutural do método analítico e do conceito, à lógica da anteposição e da subordinação, subvertendo assim todo o esforço garantístico da construção da teoria geral do delito, implicando na insegurança jurídica. A consideração pelo juiz dos elementos do desvalor da culpabilidade do agente, tais como a culpabilidade, a primariedade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos do crime, conseqüências, circunstâncias, etc., nos termos do art. 59 do CP, no momento da análise da aplicação do princípio da insignificância, nada mais é do que a subversão da ordenação sistemática e do caráter seqüencial da teoria geral do delito, eis que o conteúdo da culpabilidade está sendo valorado em momento e local inadequados, qual seja a tipicidade. Portanto, pergunta-se como analisar o conteúdo da culpabilidade do agente se a conduta sequer foi considerada típica? Diante de todo o exposto, chega-se à fácil conclusão de que o princípio da insignificância tem a natureza meramente objetiva, sendo erro procedimental grave a análise de elementos subjetivos pertencentes à culpabilidade do agente - especificamente a primariedade -, no momento da valoração do referido princípio.

Page 150: TAMG

Portanto, determinado que o fato é penalmente irrelevante (atípico) pouco importa para o deslinde da questão a personalidade do réu, inclusive porque, no momento da tipicidade, o direito penal é um direito do fato e não do autor, sendo assim indevida qualquer análise da personalidade do acusado." Com essas considerações e entendendo que o princípio da insignificância é objetivo, prescindindo da análise de elementos subjetivos, referentes à reincidência e aos maus antecedentes, coloco-me inteiramente de acordo com o voto proferido pelo eminente Juiz Relator. A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: De acordo. afc EMBARGOS DECLARATÓRIOS NA APELAÇÃO CRIMINAL Nº 333.116-0/01 RIO NOVO 18/12/2001 -7-

Page 151: TAMG

EMBARGOS DECLARATÓRIOS NA APELAÇÃO CRIMINAL Nº «embargos_num» «comarca» «data» -1-

Page 152: TAMG

EMENTA - Princípio da Insignificância. Furto de 4 (quatro) barras de chocolate. A condenação a 8 (oito) meses de reclusão pelo furto de 4 (quatro) barras de chocolate é excessiva levando-se em conta até a abominável Lei de Talião na qual paga-se "olho por olho e dente por dente". Há uma nítida desproporção em se punir a subtração de cada barra de chocolate com dois meses da vida do réu. Para evitar situações jurídicas absurdas como estas, aplica-se ao caso o princípio da insignificância. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 350.065-2 da Comarca de SÃO JOÃO DEL-REI, sendo Apelante (s): REGINALDO SANTOS DE PAULA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 18 de dezembro de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 153: TAMG

V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de São João Del-Rei, Reginaldo Santos de Paula como incurso nas sanções do art. 155 do CP, por ter, em 3 de fevereiro de 2000, por volta das 19h00, subtraído para si quatro barras de chocolate branco, avaliadas em R$ 8,40 (oito reais e quarenta centavos). A sentença monocrática às f. 64 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 8 (oito) meses de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 5 (cinco) dias-multa com valor unitário mínimo. Em face da reincidência do acusado não lhe foi concedida a substituição da pena corporal por restritiva de direitos. Inconformado, apelou o réu às f. 70 e seg., pugnando pela absolvição em face da deficiência probatória e, alternativamente, ao princípio da insignificância penal. As contra-razões ministeriais às f. 77 e seg., são pelo improvimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 90 e seg., opinou pelo conhecimento e não provimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Antes de analisar a condenação do réu a 8 (oito) meses de reclusão pelo furto de 4 (quatro) barras de chocolate, impossível é deixar de tecer alguns prolegômenos. A res furtiva foi avaliada em R$8,40 (oito reais e quarenta centavos), ou seja, mantendo-se a condenação o réu pagará por cada real furtado com um mês de sua vida. Não vou mencionar aqui o custo de um processo como este para os sofridos cofres públicos de nosso país. Prefiro ater-me aos efeitos da pena em si. Qual a finalidade de uma pena como essa?

Page 154: TAMG

Tomando-se por base as Teorias das Penas não vejo em nenhuma delas uma justificativa plausível para a manutenção da condenação. Se a pena tem caráter retributivo e ainda vige a Lei de Talião na qual pune-se "olho por olho e dente por dente", certamente há aqui um excesso, pois um mês de vida não pode valer apenas a insignificante quantia de R$1,00 (um real). Se a pena tem caráter de prevenção especial e visa a impedir que o condenado volte a delinqüir, penso que lhe mandar ao cárcere por tão insignificante furto só gerará no acusado revolta, mas nunca ressocialização. A este respeito Alessandro Baratta ensina que: "O cárcere é contrário a todo moderno ideal educativo, porque este promove a individualidade, o auto-respeito do indivíduo, alimentado pelo respeito que o educador tem dele. As cerimônias de degradação no início da detenção, com as quais o encarcerado é despojado até dos símbolos exteriores da própria autonomia (vestuários e objetos pessoais), são o oposto de tudo isso. A educação promove o sentimento de liberdade e de espontaneidade do indivíduo: a vida no cárcere, como universo disciplinar, tem um caráter repressivo e uniformizante." O que poderia aprender o condenado no cárcere? A deixar de ser um reincidente em pequenos furtos e passar a ladrão de bancos? Resta-nos ainda a análise da prevenção geral como justificativa para esta condenação. Não vejo, no entanto, como prevenir pequenos furtos como estes com canhões e, inegavelmente, o Direito Penal é aqui um canhão. A aplicação da lei penal deve ser moderada, proporcional e limitar-se aos casos em que não reste ao Estado outra forma de coibir o comportamento social indesejável. O certo é que penas como estas são socialmente inócuas e processos como este só servem para assoberbar ainda mais a máquina estatal tão carente de recursos. A jurisprudência tem entendido que:

Page 155: TAMG

"Furto tentado. Bagatela. Rejeição da denúncia. Tentativa de subtração de lata de leite condensado e de lanterna em supermercado. Fato penalmente irrelevante pela insignificância do valor da res furtiva insuscetível de lesionar o interesse protegido, aliado à ausência de perigosidade social da conduta incriminada, não justifica o reconhecimento do crime nem a imposição de pena" (JUTAERGS - 79/25). Assim, a absolvição em casos como este não se traduz em impunidade, mas sim numa interpretação teleológica da lei, que tem como fim último a solução de conflitos e não a exacerbação destes. Por todo o exposto, dou provimento ao recurso para absolver o réu com base no princípio da insignificância, julgando atípica sua conduta. Custas pelo Estado. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 350.065-2 - 18/12/2001 SÃO JOÃO DEL-REI -7-

Page 156: TAMG

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -1-

Page 157: TAMG

EMENTA - Nulidade. Direito ao silêncio não assegurado no interrogatório policial. O silêncio é garantia constitucional assegurada ao acusado e sua efetividade não pode ser presumida, devendo constar expressamente no termo de declarações do acusado. Nula é a sentença que se fundamenta exclusivamente em delação do co-réu na polícia, produzida em interrogatório no qual não lhe foi informado o direito constitucional ao silêncio. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 338.501-9 da Comarca de JUIZ DE FORA, sendo Apelante (s): WESLEY MARQUES COIMBRA e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, ACOLHER PRELIMINAR, ANULAR A SENTENÇA E DETERMINAR A EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA EM FAVOR DO APELANTE E DO CO-RÉU RICHARD FERREIRA FERNANDES E ESTENDER OS EFEITOS DO JULGADO AO CO-RÉU SALVADOR SAMUEL VITRAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 27 de novembro de 2001.

Page 158: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Juiz de Fora, Wesley Marques Coimbra como incurso nas sanções do art. 155, § 4º, III e IV, do CP, por ter, em 17 de agosto de 1995, por volta das 15h00, subtraído para si, na companhia de outros dois agentes, uma motocicleta Yamaha, modelo DT 200, placa GTU 0516, da vítima Luiz José Vieira. A sentença monocrática às f. 200 e seg. condenou o apelante a 2 (dois) anos e 10 (dez) meses de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 15 (quinze) dias-multa com valor unitário fixado no mínimo legal. O juiz monocrático deixou de conceder-lhe a substituição da pena corporal por restritiva de direitos ao argumento de que os agentes "possuem péssimos antecedentes e não são reincidentes específicos na prática de crimes dessa natureza (sic)" (grifo nosso). Inconformado, apelou Wesley às f. 217 e seg., argumentando em preliminar que a garantia constitucional do "silêncio do acusado" não foi assegurada nem ao apelante nem aos demais réus no inquérito, razão pela qual a delação feita pelo réu Richard na polícia e posteriormente retratada em juízo, jamais poderia ser tomada como fundamento da sentença condenatória. No mérito, pede a absolvição por insuficiência de provas de sua participação na empreitada criminosa. As contra-razões ministeriais às f. 269 e seg., são pela rejeição da preliminar e, no mérito, pelo provimento parcial do apelo tão-somente no que diz respeito à dosimetria da pena. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer da lavra do culto Dr. Antônio de Pádova Marchi Júnior, opinou pelo rejeição da preliminar e, no mérito, pelo provimento parcial do recurso para decotar da condenação o aumento de pena derivado do concurso de pessoas. Em síntese, é o relatório.

Page 159: TAMG

Conheço do recurso, presentes que estão os pressupostos para sua admissibilidade. Preliminar de nulidade da sentença. Assiste razão à defesa. A sentença monocrática baseou-se tão-somente nas declarações do co-réu Richard Ferreira Fernandes prestadas à polícia (f. 49) e, posteriormente, retratadas em juízo (f. 77). No termo de declarações de Richard não há qualquer menção à expressa informação pela autoridade competente ao acusado de seu direito constitucional ao silêncio. Ao contrário do apelante, que foi assistido em seu interrogatório no inquérito (f. 35) por advogado, o co-réu Richard foi assistido tão-somente por curador, o que por si só não é garantia de que tivesse ciência do seu sagrado direito ao silêncio. A garantia constitucional ao silêncio é expressa: "Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado". Uma garantia constitucional expressa e de tamanha relevância não pode ser presumida. Pode até ser que a autoridade competente tenha de fato informado ao acusado sobre seus direitos esquecendo-se tão-somente de constar esta informação no termo de declarações. As garantias constitucionais em Direito Processual Penal, porém, não podem ser presumidas. A formalidade aqui é necessária, principalmente quando a sentença fundamenta-se numa prova como essa. O prejuízo, por outro lado, é visível. Se tivesse o co-réu Richard silenciado, certamente o destino dos autos seria outro. A simples leitura da sentença monocrática evidencia tal fato, já que as referidas declarações foram a principal, senão única, prova a fundamentar a condenação. É possível até que, mesmo sabendo de seu direito ao silêncio, o co-réu prestasse aquelas mesmas declarações na polícia.

Page 160: TAMG

Trata-se, no entanto, de mera probabilidade e o Direito Processual Penal não se fundamenta em suposições, mas em certeza. Uma declaração como esta só poderia fundamentar a condenação se houvesse plena certeza da ciência do réu de seu direito ao silêncio. Somente a assinatura do réu num termo em que constasse a expressa menção à garantia constitucional ao silêncio poderia dar ao magistrado a certeza de que o réu estava ciente de seus direitos. No presente caso, ainda que não provada a omissão da autoridade em informar ao réu sobre seu direito ao silêncio, esta deve ser presumida em respeito ao princípio do in dubio pro reo. A prova é pois ilícita e a nulidade da sentença argüida pelo operoso e culto Defensor Público deve ser decretada. Pelo exposto, acolho a preliminar da defesa e anulo a sentença para que outra seja proferida, desconsiderando-se as declarações prestadas em juízo em que não há expressa menção ao direito dos acusados ao silêncio. Acolho preliminar da defesa e anulo a sentença. Expeça-se alvará de soltura ao apelante e ao co-réu Richard Ferreira Fernandes, se por al não estiverem presos ou recolha-se o mandado de prisão, se para tanto foi expedido, estendendo-se os efeitos dessa decisão ao co-réu Salvador Samuel Vitral. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 338.501-9 - 27/11/2001 JUIZ DE FORA

Page 161: TAMG

-7- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -8-

Page 162: TAMG

EMENTA - Roubo. Princípio da insignificância. Desclassificação. Constrangimento ilegal. A tipicidade do delito de roubo está condicionada a lesões a bens jurídicos distintos: o patrimônio e a liberdade individual. Não sendo a lesão patrimonial significativa, aplica-se o Princípio da Insignificância tão-somente em relação ao bem jurídico patrimônio, mantendo-se a reprovabilidade da norma em relação à ofensa contra a liberdade individual. A desclassificação do crime de roubo para constrangimento ilegal com base no Princípio da Insignificância é, pois, corolário natural de um Direito Penal Democrático no qual só se admite pena quando há significativa lesão a bem jurídico penalmente tutelado. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 329.981-8 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): BRÁULIO PINHEIRO e Apelado (a) (os) (as): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 27 de novembro de 2001.

Page 163: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta Capital, Bráulio Pinheiro como incurso nas sanções do art. 157 do CP, por ter, na madrugada de 1º de agosto de 2000, subtraído mediante grave ameaça a quantia de R$ 7,00 (sete reais) da vítima José Esteves dos Santos e R$ 12,00 (doze) reais da vítima João Bosco José, ambos no exercício das funções de trocador de ônibus. A sentença monocrática, às f. 145 e seg., condenou o réu à pena de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 56 (cinqüenta e seis) dias-multa com valor unitário fixado no mínimo legal. Inconformada, recorre a defesa, apresentando suas razões às f. 171 e seg., nas quais pugna pela desclassificação para o delito de furto simples. As contra-razões ministeriais, às f. 176 e seg., são pelo conhecimento e não-provimento do recurso. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 183 e seg., opinou pelo improvimento do apelo. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade. A materialidade e autoria do delito estão sobejamente demonstradas pela prova dos autos. O fato de o agente não estar armado, por si só, não descaracteriza a existência da ameaça. As vítimas João Bosco e José Esteves afirmaram que foram abordadas pelo agente com o clássico "é um assalto", o que, por si só já caracteriza a grave ameaça. Não se pode exigir da vítima que peça ao agente uma demonstração da efetividade da ameaça. O simples anúncio de assalto é, nos dias atuais,

Page 164: TAMG

mais do que suficiente para caracterizar a grave ameaça, prevista na lei. Por outro lado, a condenação por crime de roubo, quando a lesão patrimonial é insignificante, acaba, muita vez, se revelando, na aplicação concreta da norma, não só inconstitucional, por ferir o princípio da individualização das penas, mas também injusta. Hegel via uma nítida semelhança entre as naturezas jurídicas da pena e da legítima defesa. Ambas, segundo ele, são negações do delito. O delito, por sua vez, é negação do direito. Conclui-se que, como a negação da negação é afirmação, tanto a pena quanto a legítima defesa são afirmações do direito. Pena e legítima defesa são, pois, meios dos quais o ordenamento jurídico se vale para a garantia da ordem social. Não é de hoje que a doutrina ensina que a legítima defesa só se configura quando os meios usados forem necessários e moderados. Tomemos as sempre atuais lições do mestre FRAGOSO: "Empregar moderadamente os meios necessários significa usar os meios disponíveis, na medida em que são necessários para repelir a agressão. (...) Embora em princípio não se cogite, na legítima defesa, da proporcionalidade entre o bem agredido e o sacrifício, não pode ser legítima a morte do agressor para salvar, por exemplo, bem material de ínfima importância (o dono de um pomar que mata o menino que lhe furta laranjas)" (In Lições de direito penal: parte geral. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1985. p.193). A condenação de um cidadão pela prática de crime de roubo quando a lesão patrimonial à vítima é insignificante certamente é necessária ao Estado para reprovar o delito. Não podemos olvidar, no entanto, o requisito da moderação. Penso que haja uma evidente desproporção entre a pena e a conduta que se deseja reprovar. Se pensarmos no Estado como um ente orgânico, chegaremos à conclusão de que os efeitos colaterais do remédio social imposto (pena) certamente são muito mais graves do que a própria doença (crime). O magistrado não pode ser escravo da norma, devendo tomá-la como fiel instrumento na busca da justiça. O limite de ambos, norma e magistrado, é

Page 165: TAMG

a Constituição Federal. A releitura do art. 5º, XLVI, da Carta Magna convenceu-me da inconstitucionalidade da condenação por roubo quando o valor do objeto do crime é insignificante. A exigência da individualização da pena traz implícita consigo a necessidade de uma proporcionalidade entre a reprovação e a conduta que se reprova. Não se trata de uma tese moderna, ou mesmo inovadora. O Marquês de Beccaria, já no século XVIII, dedicou um capítulo de seu opúsculo Dos Delitos e das Penas à análise da proporção entre os delitos e as penas: "Não somente é interesse de todos que não se cometam delitos, como também que estes sejam mais raros proporcionalmente ao mal que causam à sociedade. Portanto, mais fortes devem ser os obstáculos que afastam os homens dos crimes, quando são contrários ao bem público e na medida dos impulsos que os levam a delinqüir. Deve haver, pois, proporção entre os delitos e as penas" (In Dos Delitos e das Penas. 2ª ed. rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999. p. 37). A ofensa ao princípio constitucional da individualização da pena é evidente se compararmos o caso dos autos com as seguintes situações hipotéticas: 1. Se um indivíduo aborda um motorista e o obriga mediante violência ou grave ameaça a transportá-lo até determinado local o crime será de constrangimento ilegal e será punido com uma pena de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa, nos termos do art. 146 do CP. 2. Se um indivíduo, também mediante violência ou grave ameaça obriga um caixa de banco a passar-lhe todo o dinheiro ali depositado estará cometendo roubo e será punido com uma reprimenda que varia de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, conforme o disposto no art. 157 do CP. Certamente, o grau de reprovabilidade da conduta do réu, ora em análise, assemelha-se muito mais à primeira hipótese do que à segunda e seria um contra-senso apená-lo como no segundo exemplo. A violência exercida tanto no caso dos autos, quanto nos exemplos citados é exatamente a mesma. A única diferença que justifica uma maior apenação no caso do segundo exemplo é a relevante ofensa ao patrimônio da vítima, o que não ocorreu nem no primeiro exemplo, nem no caso ora em análise.

Page 166: TAMG

A doutrina tradicionalmente classifica o roubo como crime complexo, por ofender a dois bens jurídicos penalmente tutelados: o patrimônio e a liberdade individual. Impossível então haver roubo se não houve ofensa ao patrimônio da vítima. Na interpretação das normas penais nunca se pode esquecer que todo tipo penal para ser materialmente válido deve fundamentar-se na proteção de um bem jurídico socialmente relevante. O Direito Penal é remédio extremo, que a sociedade reconhece ter conseqüências colaterais extremamente gravosas não só para o condenado, mas também para ela própria sociedade. Não é de hoje tal concepção. No Direito Romano já se afirmava que minima non cura praeter. A insignificância da afetação ao bem jurídico foi retomada, modernamente, por vários autores, destacando-se dentre eles Claus Roxin que, em sua célebre obra Política Criminal e Sistema Jurídico Penal publicada na Alemanha em 1970, tomou-o como: "auxílio de interpretação para restringir formulações literais que também abranjam comportamentos suportáveis" (In Política Criminal e Sistema Jurídico-Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p.47). A palavra-chave para a correta compreensão do princípio da insignificância é suportável. Não se trata de uma conduta elogiável, nem mesmo neutra, mas que o Estado se vê obrigado a suportar em razão da evidente desproporção entre a conseqüência legal prevista (pena) e o comportamento indesejado. Se assim é nos delitos que ofendem a um único bem jurídico, naturalmente o mesmo raciocínio deverá ser empregado na análise dos crimes complexos. O agente só deverá ser punido por ofensas relevantes a bens jurídicos. A desclassificação do delito de roubo para furto com base na insignificância da violência ou da ameaça já vem sendo há muito tempo aplicada pela jurisprudência. "De modo geral a 'trombada' caracteriza o furto e não roubo, pois a violência empregada não impede a resistência da vítima, limitando-se

Page 167: TAMG

apenas a dificultá-la" (TACRIM-SP - RT 571/358). "A ameaça, para servir como elemento caracterizador do roubo há de ser séria, efetiva, aquela capaz de intimidar, causar temor de um mal sério" (TACRIM-SP - JUTACRIM 69/489). Ora, se é possível a desclassificação do roubo para furto quando insignificantes violência e ameaça, certamente é perfeitamente admissível também a desclassificação do roubo para constrangimento ilegal quando a lesão patrimonial for insignificante. O caso é de desclassificação para o crime de constrangimento ilegal e não para o delito de ameaça. É que, se assim admitirmos, estaremos considerando que o crime de roubo poderia ser tipificado com a seguinte redação: "Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave, se não lhe for entregue coisa alheia móvel." Muito mais lógico seria admitirmos a seguinte tipificação alternativa para o crime de roubo: "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a deixar que lhe subtraia coisa alheia móvel." Pela leitura de tais dispositivos, evidencia-se a sutil distinção entre os crimes de ameaça e constrangimento ilegal. O dolo do agente, no delito de constrangimento ilegal, é no sentido da realização de uma conduta por parte da vítima, valendo-se para tanto, de uma intimidação. No crime de ameaça, o dolo do agente visa à própria intimidação, sendo qualquer ocorrência de resultado material mera conseqüência subsidiária não essencial ao agente. Daí porque o delito subsidiário imediato dos crimes dos art. 157, 158, 213 e 214 do CP é o constrangimento ilegal e não a ameaça que, por sua vez, é crime subsidiário imediato em relação a este (art. 146 do CP) e mediato em

Page 168: TAMG

relação àqueles. A distinção está, pois, intrinsecamente relacionada à ocorrência do resultado visado pelo agente, que é a própria conduta da vítima. A opção do legislador foi claramente nesse sentido, tanto que o constrangimento ilegal é crime material, prevendo a lei a ocorrência de um resultado específico no mundo fenomênico (a conduta da vítima) para que ocorra a tipicidade, enquanto a ameaça é crime formal, sendo irrelevante para a tipificação do delito a ocorrência ou não do resultado fático. A maior reprovabilidade do constrangimento está justamente na instrumentalização da ameaça pelo agente como meio para a obtenção de um resultado ilícito. Abrange, assim, o delito de ameaça, devendo ser aplicado ao caso o princípio da especialidade. No presente caso, certo é que o agente visou com sua ameaça à realização de uma conduta por parte da vítima que a lei não a obrigava. Também está claro que tal conduta da vítima não causou significativa ofensa a seu patrimônio, razão pela qual forçoso é admitir-se que não houve crime de roubo, já que este é um delito contra o patrimônio, não se podendo configurar, pois, com a subtração de bens e valores tão insignificantes. Entendo que a melhor tipificação do delito no presente caso seria na hipótese do art. 146 do CP, razão pela qual aplico a emendatio libelli, nos termos do art. 383 do Digesto Processual Penal, para desclassificar a condenação do agente para o crime de constrangimento ilegal, passando a fixar-lhe a pena: Ainda que não tenha, de fato, lesado o patrimônio da vítima, sem dúvida, é bastante reprovável o comportamento de quem busca o lucro fácil à custa do trabalho alheio. Sua culpabilidade é, pois bastante acentuada. Não há elementos nos autos para avaliar sua conduta social e personalidade. As conseqüências do crime não foram graves para a vítima. A motivação do crime na busca de ganhos econômicos em prejuízo da vítima que em nada contribuiu para a prática do delito também é desfavorável ao réu. Fixo a pena-base em 8 (oito) meses de detenção. Não há agravantes ou atenuantes. Aumento a pena em 1/6 (um sexto) em razão da continuidade delitiva, concretizando-a em 9 (nove) meses e 10 (dez) dias de detenção em

Page 169: TAMG

regime aberto. Impossível a substituição da pena privativa de liberdade em razão da vedação expressa do art. 44, I, do CP, uma vez que o crime foi praticado com grave ameaça à pessoa. Custas pro rata. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 329.981-8 - 27/11/2001 BELO HORIZONTE -14-

Page 170: TAMG

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -1-

Page 171: TAMG

EMENTA - Art. 10 da Lei 9.437/97. Armas. Crime de perigo concreto. O crime do art. 10 da Lei 9.437/97 é de perigo concreto e não de perigo abstrato. A presunção absoluta do perigo, que caracteriza os delitos de perigo abstrato, é completamente incompatível com o Estado Democrático de Direito, pois não admite prova em contrário. O caso é, pois, de perigo concreto, no qual, ocorre tão-somente uma inversão do ônus da prova. Supõe-se em princípio que a conduta do agente gera um perigo de lesão a bem jurídico protegido, mas admite-se prova em contrário, em respeito ao princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos. V.v.: PORTE DE ARMA - ART. 10 DA LEI 9.437/97 - REVÓLVER - GUARDA -GAVETA DE ARMÁRIO - AUSÊNCIA DE RISCO À INCOLUMIDADE PÚBLICA - IRRELEVÂNCIA - CONDENAÇÃO MANTIDA A conduta de manter sob guarda arma de fogo, sem autorização e em desacordo com a legislação pertinente, ainda que em gaveta de armário, sem que haja risco para a incolumidade pública constitui crime e como tal deve ser apenada. Condenação mantida. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 349.626-8 da Comarca de CORONEL FABRICIANO, sendo Apelante (s): ELI RODRIGUES MARTINS DE LIMA e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO, VENCIDA A JUÍZA SEGUNDA VOGAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal vencida).

Page 172: TAMG

Belo Horizonte, 6 de novembro de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator JUÍZA MARIA CELESTE PORTO 2ª Vogal vencida V O T O S O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Coronel Fabriciano, Eli Rodrigues Martins de Lima como incurso nas sanções do art. 10 da Lei 9.437/97. Narra a denúncia que, em 27 de dezembro de 2000, foram encontrados pela polícia, em uma gaveta de armário do bar Oito Irmãos, um revólver e três cartuchos calibre 38 de propriedade do réu. A sentença monocrática às f. 56 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 1 (um) ano e 2 (dois) meses de detenção e ao pagamento de 15 (quinze) dias-multa, com valor unitário fixado no mínimo legal. A pena corporal foi substituída por duas restritivas de direito. Inconformado, apelou o réu às f. 71 e seg., pedindo a absolvição. As contra-razões ministeriais às f. 77 e seg. são pela ratificação da sentença. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 85 e seg., opinou pelo desprovimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos para sua

Page 173: TAMG

admissibilidade. Em princípio, necessário se faz alguns prolegômenos sobre a natureza jurídica do delito do art. 10 da Lei 9.437/97. A doutrina classifica os diversos tipos de delitos em relação a seu resultado fenomênico em: a) delitos materiais, em que há resultado material; b) delitos formais, em que há resultado material, porém sua ocorrência é irrelevante para a configuração do delito; c) delitos de mera conduta, em que não há resultado material. Assim, em relação à existência do resultado fenomênico, podemos classificar o delito ora em estudo como crime de mera conduta, pois não gera qualquer alteração concreta no mundo físico. Uma segunda classificação doutrinária relevante é quanto ao resultado jurídico do delito. Classifica a doutrina os crimes em: a) de resultado, em que há uma ofensa efetiva a um bem jurídico penalmente tutelado; b) de perigo, em que não há uma ofensa efetiva, mas tão-somente potencial, daí por que dizer-se que há um perigo de lesão. Os crimes de perigo abstrato, por sua vez, podem ser tanto de perigo concreto como de perigo abstrato. Em ambos há uma presunção jurídica do perigo de lesão ao bem jurídico. Nos crimes de perigo abstrato esta presunção é iuris et de iure, isto é, não admite prova em contrário. Nos crimes de perigo concreto esta presunção é iuris tantum, isto é, admite prova em contrário. Evidentemente que presunções jurídicas que não admitem prova em contrário são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, pois ofendem frontalmente o princípio do nullum crimen sine injuria e aproximam-se de um direito penal de autor, fundado numa subjetividade completamente incompatível com a Constituição Federal de 1988. Note-se que há uma gradação entre a objetividade/subjetividade do delito que se inicia no delito consumado (objetividade máxima), passa pela tentativa e crime de perigo concreto e culmina no crime de perigo abstrato (subjetividade máxima). Esta "subjetivação" do Direito Penal deve ser sempre analisada com extrema cautela, pois acaba por distanciar-nos de um desejável direito penal de ato e nos aproximarmos de um nefando direito penal de autor. Não se pode olvidar que todo delito tem como fim principal a proteção de um bem jurídico.

Page 174: TAMG

Assim, o crime de perigo existe tão-somente enquanto instrumento de proteção de um bem jurídico que, dada a sua importância, não se deseja colocar sequer em perigo. Não havendo perigo, não pode haver crime, pois caso contrário estar-se-ia punindo sem uma ofensa a um bem jurídico, ou seja, arbitrariamente. Por outro lado, necessária se faz a comprovação da existência do perigo, ainda que o ônus da prova caiba ao réu, por uma presunção de periculosidade legal. O art. 10 da Lei 9.437/97 visa à proteção do bem jurídico vida e integridade física da coletividade. Por um lado, trata-se de delito de mera conduta, pois não exige resultado fenômenico, por outro trata-se de delito de perigo concreto, pois exige como resultado jurídico a exposição a perigo do bem jurídico vida e integridade física da coletividade. A conduta, portanto, só será típica se houver um perigo real ao bem jurídico protegido. Este perigo é presumido pela lei, mas admite prova em contrário, como não poderia ser diferente em um Estado Democrático de Direito. A este respeito, exemplar ensinamento jurisprudencial: "A infração penal não é só conduta. Impõe-se ainda, o resultado no sentido normativo do termo, ou seja, dano ou perigo ao bem jurídico tutelado. A doutrina vem, reiterada, insistentemente, renegando os delitos de perigo abstrato. Com efeito, não faz sentido punir pela simples conduta, se ela não trouxer, pelo menos, probabilidade (não possibilidade) de risco ao objeto jurídico" (STJ - Resp´ 34.322-0-RS, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro). No caso dos presentes autos, ficou provado que não houve qualquer exposição a perigo de lesão à vida ou à integridade física coletiva. O agente não portava a arma que, na verdade, estava na gaveta de um armário, sem expor quem quer que seja a perigo de lesão. Desta forma, entendo que a conduta é atípica, pois ficou perfeitamente demonstrada nos autos a inexistência do perigo concreto à integridade coletiva, necessário para que haja a tipicidade delitiva.

Page 175: TAMG

Por todo o exposto, dou provimento ao recurso para absolver o réu das imputações da denúncia. Custas ex vi legis. É como voto. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: De acordo com o Relator. A SRª JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: Trata-se de apelação interposta por Eli Rodrigues Martins de Lima, inconformado com a sentença que o condenou a 1 (um) ano e 2 (dois) meses de detenção, e a 15 (quinze) dias-multa, arbitrados unitariamente no mínimo legal, nas penas do art. 10 da Lei 9.437/97, porque em 27 de dezembro de 2000, foram encontradas pela polícia, em uma gaveta de armário do bar de sua propriedade, um revólver e três cartuchos que lhe pertenciam. A pena corporal foi substituída por duas restritivas de direitos. No voto que acaba de proferir, o eminente Relator, atendendo ao pleito recursal, reformou a sentença vergastada absolvendo o apelante da imputação, por entender que a conduta do mesmo é atípica porque inexistente nos autos prova de existência do perigo concreto à integridade coletiva. Peço vênia ao ilustre Relator para divergir de seu entendimento, vez que tenho como incabível a absolvição do apelante, em que pese o brilhante esforço da douta defesa. Em tema de crime das armas, o art. 10 da Lei nº 9.437/97 contém em seu caput condutas múltiplas e por uma delas, ou seja, manter sob guarda arma de fogo de uso permitido, sem autorização regulamentar, foi o apelante denunciado e condenado. Com efeito, sendo o porte ilegal de arma delito multifário, a conduta do apelante de manter um revólver e cartuchos calibre 38, sem que possuísse autorização para tal, ainda que não exponha a risco a incolumidade pública, porque guardados em gaveta de armário, circunscreve-se na ação típica,

Page 176: TAMG

não se exigindo que o faça com a deliberada intenção de praticar o crime previsto no art. 10 da Lei nº 9.437/97, que se consubstancia tanto com a inexistência do registro, quanto com a falta de autorização específica válida e concedida pela autoridade competente. Embora a lei que instituiu o Sistema Nacional de Armas, ao fiscalizar o porte ilegal, se apresente contrária à moderna tendência do Direito Penal, porque eleva à condição de crime simples infração de perigo abstrato, ensejadora tão-somente de pena de multa e não de reprimenda privativa da liberdade, não poderia mesmo o magistrado deixar de considerar o novo tratamento legal conferido ao comportamento criminalizado, devendo a decisão judicial vincular-se à legislação vigente no País. Assim sendo, rogando vênia ao ilustre Relator, entendo que a sentença condenatória hostilizada está bem dosada e ostenta boa motivação, razão pela qual, merece ser confirmada integralmente. À luz do exposto, na esteira do parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça, hei por bem NEGAR PROVIMENTO ao recurso. Custas ex lege. É como voto. afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 349.626-8 - 6/11/2001 CORONEL FABRICIANO -10-

Page 177: TAMG

APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -3-

Page 178: TAMG

EMENTA - Roubo impróprio. Não-configuração. Tendo o furto já se consumado no momento em que o agente emprega violência contra a pessoa a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa, a hipótese não é de roubo impróprio, mas sim de furto seguido de lesão corporal. Estado de necessidade. Inexigibilidade de conduta diversa. Réu que vive em estado de penúria. Não se pode exigir comportamento diverso de quem, vivendo em estado de penúria, furta pequeno valor em dinheiro como forma de satisfazer suas necessidades vitais constitucionalmente garantidas. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 344.146-5 da Comarca de LEOPOLDINA, sendo Apelante (s): 1ª) A JUSTIÇA PÚBLICA e 2º) ANTÔNIO PINHEIRO CRISTINO DA SILVA e Apelado (a) (os) (as): OS MESMOS, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR E DAR PROVIMENTO AO RECURSO DO RÉU, PREJUDICADO O RECURSO MINISTERIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 30 de outubro de 2001.

Page 179: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Leopoldina, Antônio Pinheiro Cristino da Silva, como incurso nas sanções do art. 157, § 1º, do CP, por ter, em 12 de dezembro de 1998, por volta das 22h50, subtraído uma carteira contendo a quantia de R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) da residência localizada na Rua Coronel Olivier Fajardo, 270 - Leopoldina. Consta ainda da exordial acusatória que, em seguida, a vítima Ângela Maria Ramos Coutinho abordara o réu e este, a fim de assegurar o êxito do crime, agrediu-a, produzindo-lhe as lesões descritas à f. 18, TA. A sentença monocrática, constante às f. 95 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 4 (quatro) anos de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 30 (trinta) dias-multa com valor unitário fixado no mínimo legal. A substituição da pena prevista no art. 44 do CP não foi concedida, por ter sido o crime praticado mediante violência. Inconformados, recorreram o representante ministerial e o réu. A defesa apresentou suas razões às f. 107 e seg., nas quais pede a absolvição com fundamento na tese da excludente de antijuridicidade (estado de necessidade) e, alternativamente, a desclassificação do delito para sua forma privilegiada. As razões do inconformismo ministerial foram apresentadas às f. 117 e seg., em que requer a majoração da pena e a fixação do regime prisional fechado para o réu. As contra-razões ao recurso da defesa foram apresentadas pelo parquet às f. 122 e seg. e são pelo não-conhecimento do recurso da defesa em face da sua intempestividade e, no mérito, pela improcedência do recurso. A defesa apresenta suas contra-razões ao recurso ministerial às f. 129 e

Page 180: TAMG

seg. nas quais pugna pelo improvimento do recurso ministerial. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 143 e seg., opinou pelo improvimento do recurso da defesa e pelo provimento do recurso ministerial. Em síntese, é o relatório. A preliminar de intempestividade do recurso da defesa levantada pelo Ministério Público de primeira instância não procede. Como bem lembrou a operosa defesa à f. 128 e o culto Procurador de Justiça à f. 144, o prazo para apelar inicia-se a partir da última intimação, feita ao acusado ou a seu Defensor. Como bem frisou o douto Procurador de Justiça: "Tendo o réu sido pessoalmente intimado da sentença em 29 de maio de 2001 (f. 138v.), o prazo para recorrer iniciou-se a partir da juntada do mandado respectivo (que se deu nessa mesma data - f. 137v). Interposta a apelação em 29 de janeiro de 2001 (f. 107), quatro meses ANTES da referida intimação, forçoso concluir-se por sua tempestividade." Rejeito, pois, a preliminar de intempestividade. MÉRITO No mérito, a hipótese dos autos, rogata venia, nem de longe assemelha-se a roubo impróprio. Está claro que o furto já havia se consumado e o agente já possuía a posse tranqüila da res furtiva quando foi abordado pela vítima. As declarações da vítima no auto de prisão em flagrante são claras neste sentido: "já retornando para sua casa deparou com um elemento estranho dando a entender que estava vindo de sua casa; que, lá chegando não viu sua carteira e assim suspeitou do elemento estranho que acabara de ver, saindo assim atrás do mesmo; que próximo ao parque de exposição, disse-lhe a vítima, que encontrou com referido elemento e pode ver que com ele estava a carteira da citada vítima; que a vítima então se atracou com ele, tendo referido elemento jogado a carteira fora e conseguido fugir" (f. 5,

Page 181: TAMG

TA). Quando o agente foi abordado pela vítima, o furto já estava plenamente consumado. Após consumado o crime de furto, não pode vir ele a se transmudar em roubo impróprio. A este respeito leia-se o trato pretoriano: "A expressão 'logo depois de subtraída a coisa', do § 1º do art. 157 do CP, não significa logo depois de obter a posse invigiada da coisa, caso em que o furto será consumado e não pode trasmudar-se em outro crime pelo superveniente emprego da violência ou grave ameaça. A expressão significa - isto sim - logo depois de apoderar-se da coisa e ter sua posse precária, tão precária que o agente necessita usar de violência ou grave ameaça para assegurá-la" (TACRSP - RT 618/314-5). Assim, ao contrário do que poder-se-ia supor em uma primeira leitura, a vítima Ângela Maria Ramos Coutinho, ao abordar o agente, não estava agindo em legítima defesa de seu patrimônio, pois a agressão sofrida não era mais atual, já que o furto estava consumado. A atualidade ou iminência da agressão é requisito essencial à caracterização da legítima defesa. Não se pode falar de uma defesa legítima quando a agressão for pretérita, pois já consumada. FRAGOSO ensina que para a caracterização da legítima defesa: "A agressão deve ser atual ou iminente. É atual a que está se desenvolvendo; é iminente a que está em via de efetivação imediata. Não é atual a agressão que já terminou, com a consumação do ataque ao bem jurídico, salvo se esta se protai (como nos crimes permanentes)" (FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal: parte geral. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1985. p.192). Por outro lado, a violência exercida pelo agente contra a vítima, esta sim, se deu em razão de uma legítima defesa. Ao atracar-se com o réu a vítima estava, em tese, cometendo o delito de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP) e o réu, nada mais fez do que se defender legitimamente da agressão sofrida usando

Page 182: TAMG

moderadamente dos meios de que dispunha para afastar a agressão e empreender fuga. Trata-se, pois, de conduta lícita e por ela o agente não poderá ser punido. Quanto ao furto praticado, as provas de materialidade e autoria são insofismáveis e a combativa defesa sustenta a tese da excludente de ilicitude do estado de necessidade. Argumenta o culto defensor que o acusado agira por justificado desespero, por faltar-lhe em sua casa algo básico à subsistência, sem que ele tivesse como suprir as próprias necessidades. A Procuradoria-Geral de Justiça argumenta que: "O alegado estado de necessidade não passa de falácia já que, a par de não comprovado nos autos, é desmentido pelas próprias declarações do apelante em Juízo ao dizer que, à época do fato, trabalhava como 'bóia-fria', o que lhe garantia a renda de trinta e seis reais por semana, quantia que, apesar de pouca, basta para garantir a subsistência humana e, ainda, na companhia de sua irmã que é aposentada e aufere cento e trinta reais mensais (f. 29)."(grifos nossos) Impossível concordar com esta afirmação do douto Procurador de Justiça em um país onde a Carta Magna estabelece expressamente em seu art. 7º, IV: "São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) IV- salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;" Entendo que o conceito de subsistência humana não pode se distanciar daquilo que a Constituição denomina "necessidades vitais básicas" e não vejo como R$36,00 (trinta e seis reais) semanais possam garantir a um ser humano esta tão almejada subsistência. Como então exigir-se um comportamento diverso de quem, vivendo em penúria vê-se na possibilidade de aliviar o sofrimento pessoal e de sua

Page 183: TAMG

família? A este respeito já se pronunciaram os Tribunais: "O estado de necessidade não é conceito absoluto: deve ser reconhecido desde que ao indivíduo era extraordinariamente difícil um procedimento diverso do que teve" (TACRSP - RT 535/303-4) Segundo a lição de JESCHECK o estado de necessidade pode ser conceituado como: "um estado de perigo atual, para legítimos interesses, que só pode ser afastado mediante a lesão de interesses de outrem, também legítimos." (apud PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral. 2ªed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p. 245) O Estado se vê então diante de um conflito: proteger incondicionalmente o bem jurídico patrimônio ou suportar a lesão a este bem jurídico como única solução possível naquele momento para a preservação da garantia constitucional às necessidades vitais básicas. Penso que, no presente caso, não há como exigir-se um comportamento diverso de quem furta como forma de suprir suas necessidades vitais. Nunca é demais lembrar as lições de Nilo Batista: "Podemos, assim, dizer que a missão do direito penal é a proteção de bens jurídicos, através da cominação, aplicação e execução da pena. Numa sociedade dividida em classes, o direito penal estará protegendo relações sociais (ou "interesses", ou "estados sociais", ou "valores") escolhidos pela classe dominante, ainda que aparentem certa universalidade, e contribuindo para a reprodução dessas relações. Efeitos sociais não declarados da pena também configuram, nessas sociedades, uma espécie de "missão secreta" do direito penal." (BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001. p.116) Forçoso, pois, é reconhecer-se a excludente de antijuridicidade da conduta pelo estado de necessidade no presente caso, sob pena de admitir-se tais "efeitos sociais não declarados da pena", totalmente incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, em que a vida humana certamente deve ser priorizada ainda que em detrimento de qualquer outro bem jurídico. Por todo o exposto, dou provimento ao recurso da combativa e culta defesa

Page 184: TAMG

e absolvo o acusado das imputações que lhe foram feitas, reconhecendo o estado de necessidade como causa excludente da ilicitude do fato. Custas ex lege. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 344.146-5 - 30/10/2001 LEOPOLDINA -12- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -13-

Page 185: TAMG

EMENTA - Nulidade da sentença. Vício na fundamentação da fixação da pena. Falta de individualização das penas. Na condenação em concurso de agentes, não pode o juiz fixar a pena em conjunto para todos os co-réus, pois assim fazendo estaria violando o princípio constitucional da individualização das penas. O prejuízo é evidente, pois tem o réu o direito de saber não só as razões de sua condenação, mas também o porquê do quantum da pena fixada. Nulidade decretada. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 344.403-5 da Comarca de IPATINGA, sendo Apelante (s): 1º) WALDEIR ANDRADE DE OLIVEIRA e 2º) EDNALDO APARECIDO LIMA e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DE OFÍCIO, ANULAR A SENTENÇA. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 23 de outubro de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 186: TAMG

V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Ipatinga, Waldeir Andrade de Oliveira e Ednaldo Aparecido Lima como incurso nas sanções do art. 157, § 2º, I e II do CP. Narra a preambular acusatória que, em 23 de dezembro de 1999, por volta das 19h40, os réus, agindo em concurso de agentes e mediante violência exercida com o emprego de arma de fogo, subtraíram pouco mais de R$1.000,00 (um mil reais) em dinheiro e um aparelho de telefone da "Casa de Carnes Costa". A sentença monocrática constante às f. 106 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou ambos a 10 (dez) anos e 6 (seis) meses de reclusão e ao pagamento de 45 (quarenta e cinco) dias-multa no valor unitário de 1/30 (um trinta avos) do salário mínimo. Inconformados, recorreram ambos. Waldeir apresenta suas razões às f. 148 e seg., nas quais argumenta pela nulidade processual em face da não-assistência de advogado na fase do inquérito e pela completa insuficiência da defesa técnica. Ednaldo, às f. 201 e seg., pugna pela absolvição. As contra-razões ministeriais às f. 205 e seg. são pelo improvimento de ambos os recursos. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 216 e seg., opinou pelo não-conhecimento do recurso de Waldeir por ser intempestivo e pelo improvimento do recurso de Ednaldo Aparecido Lima. Em síntese, é o relatório. Tenho preliminar de ofício que submeto ab initio à apreciação da Câmara. O M.M. Juiz a quo, ao justificar a fixação das penas-bases dos agentes, não analisou isoladamente a culpabilidade de cada um dos co-réus, acarretando inequívoco prejuízo às partes, que têm o direito constitucional de saberem não só o porquê de sua condenação, mas também o porquê de sua apenação não ter se limitado ao mínimo legal. Trata-se de nulidade absoluta, impossível de ser sanada em segunda

Page 187: TAMG

instância, por flagrante desobediência ao princípio constitucional de individualização das penas. "A individualização da pena precisa ser fundamentada. O réu tem o direito de saber por que foi condenado e conhecer os fatores que definiram a sanção, qualitativa e quantitativamente" (TACRSP - RT 687/369). A Constituição Federal consagrou o princípio da individualização das penas em seu art. 5º, XLVI, não podendo, pois, o magistrado ao fixar a pena fazê-lo de forma genérica para todos os co-réus. É imprescindível a análise isolada da culpabilidade de cada agente, mesmo porque, muitas das circunstâncias a serem levadas em conta são subjetivas e variam completamente de acordo com o condenado. Não se trata de mero formalismo, mas de um direito que cada réu tem de uma aplicação personalizada de sua reprimenda, mesmo porque precisa compreender as razões de sua condenação e, mais, o porquê da quantidade de pena fixada. Por outro lado, o magistrado monocrático afirma em sua fundamentação que os réus não possuem bons antecedentes (f. 109) com base em meras informações computadorizadas do Sistema de Informações Policiais, documento que não contém sequer uma assinatura da autoridade competente. Impossível desfazer a presunção constitucional de inocência, direito fundamental do ser humano, simplesmente com base em tais informações policiais. Somente certidão passada por autoridade competente em que conste condenação transitada em julgado é documento hábil para comprovar maus antecedentes ou reincidência que jamais podem ser presumidas em um Estado Democrático de Direito. Diante de todo o exposto, solução outra não nos resta senão anular a sentença por vício na fundamentação da fixação das penas, determinando o retorno dos autos à comarca de origem para que outra seja proferida. Custas "ex lege" É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA

Page 188: TAMG

afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 344.403-5 - 23/10/2001 IPATINGA -6- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -7-

Page 189: TAMG
Page 190: TAMG

EMENTA - Furto. Coisa abandonada. Res nullius. Atipicidade da conduta. O tipo penal de furto protege o bem jurídico patrimônio e, não havendo afetação de tal bem jurídico, é impossível cogitar-se em tipicidade da conduta. Assim, é atípica a conduta de quem subtrai bens que foram enterrados com sal para que se deteriorassem mais rapidamente, uma vez que está evidenciado não haver mais qualquer interesse na tutela patrimonial daqueles bens. Irrelevante a existência de obstáculo físico para se alcançar o bem abandonado, pois a intenção de quem se desfez da coisa de mantê-la inacessível a outrem não tem o dom de tornar inapropriável a res, pois, se assim fosse, haveria uma clara ofensa ao princípio da função social da propriedade, consagrado constitucionalmente. Se ilícita a posse da coisa, responderá o réu tão-somente nas sanções previstas pela sua posse, nunca por furto. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 328.096-0 da Comarca de PIRANGA, sendo Apelante (s): 1º) EDSON ASSIS ROSA e 2ºs) HÉLIO GONÇALVES MACIEL, HÉRCULES REZENDE MILAGRES e MAURÍCIO REZENDE MILAGRES e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO AOS RECURSOS. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 23 de outubro de 2001.

Page 191: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Piranga, Hélio Gonçalves Maciel, Edson Assis Rosa, Hércules Rezende Milagres e Maurício Rezende Milagres como incursos nas sanções do art. 155 § 4º, I e IV do CP, por terem, na noite de 10 de março de 1999, por volta das 23h00, subtraído para si as ferramentas, armas e demais objetos descritos no auto de apreensão à f. 23, que haviam sido enterrados em um buraco de, aproximadamente, 2 (dois) metros de diâmetro, por 2 (dois) metros de profundidade, localizado no terreno do Ginásio Poliesportivo Hélio de Araújo Dias. Consta ainda da exordial acusatória que tais bens pertenciam ao Estado de Minas Gerais, e por tratar-se de instrumentos de crimes foram enterrados por determinação das autoridades locais para não se correr o risco de caírem em mãos criminosas, diante da pouca segurança do fórum da comarca. A sentença monocrática às f. 238 e seg. julgou procedente os pedidos articulados na denúncia e condenou os réus a 2 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa com valor fixado no mínimo legal. Aos quatro foi concedido o benefício do sursis. Inconformado, apelou Edson à f. 250, pugnando pela absolvição ao argumento de que o fato é atípico, uma vez que a res estava abandonada. Hélio Gonçalves Maciel, Hércules Rezende Milagres e Maurício Rezende Milagres apelaram à f. 255 apresentando suas razões nos termos do art. 600, § 4º, do CPP à f. 268 também argumentando pela atipicidade da conduta. As contra-razões ministeriais ao primeiro apelo podem ser encontradas às f. 258 e seg. e ao segundo recurso às f. 272 e seg., sendo ambas pelo improvimento do recurso.

Page 192: TAMG

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 278 e seg., opinou pela improcedência dos apelos. Em suma, é o relatório. Estando presentes os pressupostos de admissibilidade dos recursos, deles conheço. O douto Promotor de Justiça da comarca assim descreve o fato: "Trata-se de fato delituoso com grande repercussão na comarca de Piranga, eis que os agentes nele envolvidos, desafiando a autoridade do Poder Judiciário local, subtraíram armas, moto-serras (sic), foices, e vários outros objetos, coisas estas utilizadas por terceiras pessoas para a prática de vários crimes anteriores (todos com sentenças transitada em julgado), que foram mandadas soterrar pela autoridade judiciária, exatamente para não se correr o risco das mesmas caírem em mãos criminosas, diante da pouca segurança do fórum local" (o destaque consta no original). Tal descrição me faz lembrar das lições de Miguel Reale aos alunos de Introdução à Ciência do Direito: "Na Idade Média era freqüente o caso de se processar um animal, ou de se apurar a responsabilidade das coisas, o que pareceria absurdo ou aberrante a qualquer homem do povo, em nossos dias. Os processos de feiticeiras muitas vezes envolviam as vassouras, às quais se atribuíam qualidades ou aptidões que somente poderiam ser purificadas através de um julgamento especial" (In Lições Preliminares de Direito 11ª ed. rev. São Paulo: Saraiva, 1984. p. 226-227.). Impossível deixar de contrastar com a situação dos autos. Certamente, estivéssemos na Idade Média a denúncia seria nas iras do art. 351 do CP, com pena prevista de seis meses a dois anos de detenção, mas como estamos no 3º milênio, respondem os réus pelo crime do art. 155, § 4º, I e IV, como pena de dois a oito anos de reclusão. Difícil é acreditar... ZAFFARONI e PIERANGELI explicam o porquê das penas medievais a coisas e animais:

Page 193: TAMG

"As sanções a coisas e animais têm por objeto fortalecer a ética social até o limite de convencer a população de que ninguém, nem sequer as coisas e os animais, nem tampouco os mortos, escapa à sanção penal, todos respondendo à mesma lei penal que a tudo governa" (In Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999. p. 187.). Nem se diga que tais objetos não foram vítimas de qualquer tipo de pena. Qual outro motivo justificaria o enterro de uma motosserra avaliada em R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais)? Se se presumir que uma motosserra causa risco à população tão-somente por ter sido instrumento de um crime e, por tal razão deva ser enterrada, certamente não sobrarão facas de cozinha e automóveis nesta comarca. Impressionou-me o ritual descrito pela testemunha Carlos de Araújo Silva: "foram cavados aproximadamente um metro e meio a dois metros; a largura do buraco foi de aproximadamente quatro metros quadrados; para enterrar os objetos, foi utilizado areia, cimento e sal." Incrível, havia até um relógio Orient dourado sem pulseira avaliado em R$ 5,00 (cinco reais) lá enterrado... É até justificável o sepultamento da espingarda e das munições, mas de machados, foices, cutelos, canivetes, chuchos e, em especial, motosserras, realmente é lamentável. Esses últimos, pela mais simples presunção de boa-fé, são meras ferramentas que, ainda que bastante velhas ou mesmo estragadas, poderiam ser reaproveitadas por pessoas que não tivessem condições de adquirir utensílios novos. Rogata maxima venia, enterrá-las para não permitir seu uso sobre o singelo argumento de que já foram utilizadas na prática de crimes e, por isso, são perigosas é retornar ao Direito Penal Medieval. As mais de trezentas laudas deste processo certamente poderiam ter sido evitadas se as autoridades locais tivessem se dado ao trabalho de perguntar aos "coveiros" se algum deles se interessaria em ficar com qualquer das ferramentas, em especial com a motosserra.

Page 194: TAMG

Edson Assis Rosa afirmou à f. 79 que: "o que mais interessou aos companheiros do depoente foi a motosserra". Hélio Gonçalves Maciel declarou à f. 82 que: "o depoente ajudou a cavar e procurar a motosserra; somente achou a motosserra velha". É bom frisar que todos os acusados são primários e é muito mais plausível que se interessassem pelas ferramentas do que pelas armas e munições. Ora, se não interessava mais ao Estado a posse de tais produtos, certamente aos acusados havia profundo interesse, tanto é que foram ao local à noite e "exumaram" as velhas ferramentas e a cobiçada motosserra. Se alguma reprovação há que se cogitar aqui, certamente é quanto às lamentáveis condições econômicas em que vive grande parte da população brasileira que obriga muitas pessoas a procurarem nos bens abandonados - conhecidos por lixo, por quem os abandona - algum utensílio capaz de ser recuperado e aproveitado. Evidentemente não pode a lei proibir que alguém se apodere do lixo alheio, ainda que, por qualquer motivo, quem o abandonou não deseje que outrem dele se apodere. O Código Civil Brasileiro estabelece em seu art. 592: "Quem se assenhorear de coisa abandonada, ou ainda não apropriada, pra logo que lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei. Parágrafo único. Volvem a não ter dono as coisas móveis, quando o seu as abandona, com intenção de renunciá-las." A defesa está repleta de razão. Não vejo como querer tipificar tal conduta como crime de furto. Nunca é demais lembrar que a existência de todo e qualquer crime fundamenta-se na proteção de um bem jurídico que a sociedade elege como de fundamental importância. O furto baseia-se na proteção do bem jurídico patrimônio e é óbvio que, se

Page 195: TAMG

alguém tem interesse na proteção deste patrimônio, não o enterrra e manda salgá-lo. A questão é patente. Se não houve qualquer prejuízo patrimonial, impossível cogitar-se na existência de furto, pois não houve a necessária afetação do bem jurídico patrimônio para a ocorrência da tipicidade da conduta. O fato não é típico, pois falta-lhe o elemento normativo. Os bens não eram coisa alheia, mas sim, res nullius. Completamente irrelevante estarem soterrados em local cercado de arames e porteiras ou a utilização de concreto para a criação de obstáculo a subtrações. A objetividade dos fatos é que o Estado não tinha qualquer interesse naquele patrimônio, tanto é que mandou salgá-lo para que se aniquilasse mais rapidamente. Veja-se o trato pretoriano: "Para efeitos penais, constitui res derelicta o objeto abandonado pelo dono e por ele expressamente afirmado sem valor, ainda que possa ser valioso para terceiros e ainda que deixados, por comodidade, no próprio imóvel" (TACRIMSP - JUTACRIM 82/253). Por fim, vale lembrar sempre o texto da nossa Carta Magna que em seu art. 5º, XXIII, afirma que: "a propriedade atenderá a sua função social" Não havendo mais qualquer interesse patrimonial de alguém em relação a determinada coisa e estando isso claro e sem sombra de dúvidas é perfeitamente legítimo que outrem se apodere daquele bem. Desnecessário se faz perquirir a intenção de quem abandona a coisa. Ainda que desejasse impedir que outra pessoa se apossasse do bem abandonado, tal vontade não tornaria intangível a coisa, pois seria incompatível com a função social da propriedade que um bem, potencialmente útil, pudesse permanecer abandonado e ao mesmo tempo impedido de uma nova apropriação. Evidentemente que tais argumentos não são válidos quando o objeto é

Page 196: TAMG

ilícito, como seria em tese, o caso de entorpecentes, ou mesmo de armas. Assim, poderiam em tese os agentes serem condenados por porte ilegal de armas, mas nunca por furto. Por todo exposto, absolvo os quatro apelantes das imputações que lhes foram feitas, determinando ainda a devolução dos bens a seus legítimos achadores, excetuando-se as armas e munições, salvo se comprovarem a devida habilitação legal. Custas pelo Estado. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 328.096-0 - 23/10/2001 PIRANGA -6- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca»

Page 197: TAMG

-3-

Page 198: TAMG

EMENTA - Crime contra velho. Agravante senilidade. Impossibilidade de presunção. Não havendo nos autos prova de que o agente se valeu da fragilidade da vítima devido à sua idade avançada, não se pode reconhecer a agravante do art. 61, II, "h", do CP, mormente se a vítima for menor de 70 anos, sob pena de inadmissível responsabilidade penal objetiva, incompatível com o Estado Democrático de Direito. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 333.708-8 da Comarca de TRÊS PONTAS, sendo Apelante (s): UEMERSON VÍTOR PIRES e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 23 de outubro de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator

Page 199: TAMG

V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Três Pontas, Uemerson Vitor Pires, como incurso nas sanções do art. 157, caput, do CP, por ter, em 23 de setembro de 1999, por volta de 0h30, subtraído para si, mediante violência, um chapéu e a importância de R$ 50,00 (cinqüenta reais) da vítima Joaquim Perciliano Corrêa. A sentença monocrática constante às f. 77 e seg. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 4 (quatro) anos e 2 (dois) meses de reclusão em regime semi-aberto. Inconformado, apelou o réu apresentando suas razões à f. 85, nas quais pede a absolvição pela inexistência da materialidade delitiva. Alega a defesa que o réu é um jovem trabalhador e honesto e, havendo dúvidas quanto à existência do roubo, deve prevalecer o princípio do in dubio pro reo. As contra-razões recursais às f. 90 e seg. são pela manutenção da sentença guerreada. A douta Procuradoria-Geral de Justiça manifestou-se em parecer às f. 97 e seg., opinando pelo não-provimento do recurso. Em síntese, é o relatório. Presentes os pressupostos para a admissibilidade do recurso, dele conheço. A materialidade do delito, ao contrário do que quer fazer crer a defesa, está plenamente demonstrada e provada inclusive pelo depoimento do réu em seu interrogatório na polícia, constante à f. 13, TA, em que afirma: "que, quando passavam pela Rua Minas Gerais, o declarante resolveu roubar Joaquim; que, esclarece que jogou Joaquim no chão, subtraindo do mesmo a quantia de R$ 47,00 que portava no bolso da calça." É bem verdade que o réu negou tais afirmações em juízo, mas não provou qualquer tipo de coação que justificasse o depoimento policial. Assim, seu interrogatório no inquérito é prova plenamente capaz de validar

Page 200: TAMG

uma condenação, mormente porque amparada nas declarações da vítima, que nos crimes patrimoniais reveste-se de especial importância. Mantenho a condenação por seus próprios fundamentos. Quanto à imposição da pena, o reconhecimento da agravante do art. 61, II, "h", do CP deve ser decotado, pois não ficou demonstrado nos autos que a vítima era, devido à sua idade, frágil e indefesa, circunstância que não pode ser presumida, sob pena de inadmissível responsabilidade penal objetiva, incompatível com o Estado Democrático de Direito. A este respeito têm decidido nossos Tribunais: "Consoante o sistema do Código Penal, há a presunção iuris et de iure de que é velho aquele que atinge os 70 anos, sendo que, com relação aos de idade inferior a essa, não há limite certo para a fixação de quando começa a velhice, razão porque o saber se alguém, menor de 70 anos, é, ou não, velho depende de circunstâncias de fato aferíveis caso por caso" (STJ - RTJ 80/625). "Presumem-se velhos, conforme preceitos do Código Penal, os maiores de 70 anos de idade. Abaixo desse limite, o reconhecimento da agravante da ancianidade depende de cada caso concreto, atendidas as condições físicas e a resistência da vítima" (TJSC - RT 474/372). Não havendo nos autos qualquer prova de que o agente valeu-se da fragilidade da vítima para praticar o crime, não há como prevalecer a agravante. Decoto, pois, a agravante da senilidade e fixo a pena do réu em 4 (quatro) anos de reclusão a ser cumprida em regime aberto. Impossível a substituição da pena por restritiva de direitos, uma vez que o crime foi cometido com violência à pessoa. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA

Page 201: TAMG

afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 333.708-8 - 23/10/2001 TRÊS PONTAS -3- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -7-

Page 202: TAMG

EMENTA - Acidente de trânsito. Motorista profissional. Suspensão da habilitação para dirigir. Inconstitucionalidade. A suspensão da habilitação para dirigir não pode ser aplicada a motorista profissional, pois, estar-se-ia negando ao condenado o direito à livre escolha do trabalho, garantido no art. 5º, XIII, da Carta Magna. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 331.737-1 da Comarca de MANHUAÇU, sendo Apelante (s): DERLY XAVIER DE SOUZA e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1° Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 11 de setembro de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Manhuaçu, Derly Xavier de Souza como incurso nas sanções do art. 121, § 3º e 129, § 6º do CP, por ter, em 3 de fevereiro de 1995, por volta de

Page 203: TAMG

1h30, dado causa a um acidente com o ônibus que dirigia que resultou na morte de Geiza Cristine Mercês, Antônia Rodrigues Araújo, Pedro Silva de Oliveira e Luisa Ramalho da Silva e em lesões corporais a vários outros passageiros. A sentença monocrática às f. 571 e seg. foi anulada pelo acórdão à f. 620 por inobservância do critério trifásico de fixação da pena. Nova sentença foi proferida às f. 634 e seg., condenando o réu a 4 (quatro) anos e 5 (cinco) meses de detenção em regime semi-aberto. A pena foi substituída por duas restritivas de direitos, sendo a primeira a suspensão da habilitação para dirigir veículo pelo período da pena e a segunda o pagamento de prestação pecuniária no valor de 2 (dois) salários mínimos aos dependentes das vítimas. Inconformado, recorreu o réu apresentando suas razões à f. 643, nas quais requer a minoração da pena aplicada e a substituição da pena de suspensão de sua habilitação por outra restritiva de direitos prevista na lei. Contra-razões ministeriais às f. 648 e seg., nas quais requer o Ministério Público de primeiro grau que seja conhecido o recurso e, no mérito, seja-lhe negado provimento. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às f. 657 e seg., opinou pelo parcial provimento do recurso, substituindo-se a suspensão da habilitação para dirigir por outra restritiva de direitos. Em síntese, é o relatório. Conheço do recurso por estarem presentes os pressupostos objetivos e subjetivos para sua admissibilidade. Materialidade e autoria cristalinas, não foram objetos de recurso da defesa. A culpa do réu também ficou plenamente demonstrada, não só pelo laudo pericial, mas também pelas declarações das vítimas, que afirmaram o excesso de velocidade. O próprio réu em suas declarações em juízo (f. 509, TA) afirmou que trafegava a 80 Km/h, sendo que a velocidade máxima adequada pelas condições do movimento era de 60 Km/h, conforme o laudo à f. 41, TA. Quanto à fixação da pena, procedeu com excesso de rigor o magistrado monocrático. É que a pena-base foi fixada no máximo legal previsto no art. 121, § 3º, isto é, em 3 (três) anos.

Page 204: TAMG

Dentre as circunstâncias do art. 59 do CP somente a culpabilidade e as conseqüências do crime são desfavoráveis ao réu, razão pela qual não se justifica a fixação da pena no máximo legal. A culpabilidade do réu foi excessiva, pois o fato de ser motorista profissional, acarreta ao réu uma maior responsabilidade na condução dos passageiros. Sua conduta é, pois profundamente reprovável, uma vez que colocou em risco a vida de todos que viajavam no ônibus. As conseqüências do crime também foram graves, resultando na morte de quatro passageiros e em lesões corporais na maioria dos demais. A passageira Raquel Amador do Porto teve seu pé direito amputado em virtude do fato (f. 44, TA). Fixo, pois a pena-base em 2 (dois) anos de detenção. Não há agravantes ou atenuantes a serem levadas em conta. Aumento a pena em virtude do concurso formal (art. 70 do CP) em 1/3 (um terço), em virtude do número de vítimas, totalizando em uma reprimenda de 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de detenção a ser cumprida em regime aberto. Substituo a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, sendo a primeira de prestação pecuniária no valor de 2 (dois) salários-mínimos aos dependentes das vítimas falecidas e às vítimas sobreviventes. Fixo a segunda pena restritiva de direitos em prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas a serem definidas pelo juiz da execução, sendo preferencialmente designada para hospital com atendimento de pronto-socorro. Frise-se por fim que, de fato, não haveria lógica em aplicar-se a suspensão da habilitação para dirigir ao réu, pois se assim fosse feito estar-se-ia negando a este o direito constitucionalmente garantido no art. 5º, XIII, da Carta Magna ao trabalho: "é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer." Uma pena como essa seria não só inconstitucional, mas também excludente, completamente incompatível, pois, com o Estado Democrático de Direito. Custas pro rata.

Page 205: TAMG

É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 331.737-1 - 11/9/2001 MANHUAÇU -5- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -6-

Page 206: TAMG

EMENTA - Indulto. Comutação. Natureza Jurídica. Não havendo vedação expressa à concessão da comutação de pena aos condenados por crimes hediondos, não pode o intérprete baseando-se tão somente na doutrina, impor restrições que a interpretação literal da lei não obriga, já que as normas penais devem ser sempre interpretadas estritamente. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Nº 331.148-4 da Comarca de UNAÍ, sendo Agravante (s): MARCOS ANTÔNIO GABRIEL DA SILVA e Agravado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (1º Vogal) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e MARIA CELESTE PORTO (2ª Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 14 de agosto de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA:

Page 207: TAMG

Trata-se de agravo interposto por Marcos Antônio Gabriel da Silva contra decisão do M.M. Juiz de Direito da Comarca de Unaí, que indeferiu seu pedido de comutação de pena baseado no Decreto nº 3.226/99. Sustenta o agravante às f. 46 e seg. não estar a comutação de pena incluída na vedação do art. 7º do referido decreto, que impede tão-somente a concessão do indulto aos condenados por crimes hediondos. Contra-minuta ministerial às f. 48 e seg., na qual pugna o Promotor de Justiça pelo conhecimento e desprovimento do agravo. A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 58 e seg., opinou pelo improvimento do agravo. Em suma, é o relatório. Conheço do recurso, presentes os pressupostos de sua admissibilidade. É princípio básico de hermenêutica jurídica que as normas penais devem ser interpretadas estritamente. Tomemos os ensinamentos do mestre Carlos Maximiliano: "Estritamente se interpretam as disposições que restringem a liberdade humana, ou afetam a propriedade; conseqüentemente, com igual reserva se aplicam os preceitos tendentes a agravar qualquer penalidade. O contrário observa relativamente às normas escritas concernentes às causas que justificam os fatos delituosos e dirimem ou atenuam a criminalidade: devem ter aplicação extensiva desde que os motivos da lei vão além dos termos da mesma; em tais circunstâncias, até a analogia é invocável" (In Hermenêutica e aplicação do direito 16ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 322-323) Evidentemente que indulto não é sinônimo de comutação. Pela própria origem etimológica das duas palavras está clara a diferença entre os institutos: A palavra indulto tem origem latina no verbo indulgere, que significava ser complacente, ceder, permitir, conceder (FERREIRA, Antônio Gomes. Dicionário de Latim-Português Porto Editora: Porto, s/d. p. 593). Já o vocábulo comutação, também de origem latina, provém do verbo

Page 208: TAMG

commutare cuja idéia era de mudar completamente, alterar inteiramente, trocar uma coisa por outra, modificar-se, transformar-se (Op. cit. p. 258). Vê-se, pois, a clara distinção existente entre as naturezas jurídicas do indulto e da comutação. O primeiro é um verdadeiro perdão estatal da pena. O segundo, a substituição de uma pena mais grave por outra mais benigna e não um perdão parcial como quer parte da doutrina. Ora, é evidente, que o legislador pode optar por não conceder o indulto para os condenados por crime hediondo, já que é benefício amplo, e ao mesmo tempo permitir a comutação, que é um benefício mais restrito. Não se pode cogitar, no entanto, de vedar a concessão da comutação com base numa concepção doutrinária de que a comutação nada mais é do que uma espécie de indulto. Não se nega à doutrina o valor de fonte do Direito que efetivamente ela tem, mas não se pode olvidar que a principal fonte do Direito Penal Brasileiro ainda é a norma escrita. Assim, não havendo qualquer óbice legal para a aplicação da comutação, não pode o juiz, baseando-se em concepções doutrinárias, negar ao condenado o benefício, pois, nunca é demais repetir, as normas penais se interpretam estritamente e, não havendo vedação legal expressa, motivo algum há para se negar a concessão da comutação. Ressalte-se ainda que, no art. 3º do Decreto nº 3.226/99, há nítida diferenciação entre indulto e comutação. Se comutação fosse espécie do gênero indulto o decreto estaria sendo tautológico, o que é impossível de se pensar baseando-se também no princípio elementar de hermenêutica jurídica que afirma que a lei não possui palavras vãs. Se no art. 7º do referido decreto há menção apenas ao indulto, certamente é porque só a ele queria referir-se o legislador. Não pode o intérprete, baseado tão-somente em ensinamentos doutrinários, impor restrições ao réu que a interpretação literal da norma não tornasse obrigatória. Por todo exposto, dou provimento ao agravo, determinando o retorno à comarca de origem para que o juiz analise os demais pressupostos necessários para a concessão da comutação, não sendo óbice para a sua decisão o fato de ter sido o réu condenado por crime hediondo. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc

Page 209: TAMG

AGRAVO Nº 331.148-4 - 14/8/2001 UNAÍ -5- AGRAVO Nº «agravo_num» - «data» «comarca» -6-

Page 210: TAMG

EMENTA - Nulidade na fixação da pena. Garantia do duplo grau de jurisdição. Princípio da instrumentalidade das formas. Princípio da pessoalidade das penas. Antecipação do pronunciamento de mérito pelo Tribunal. Possibilidade, se fixada a pena no mínimo legal. A nulidade da sentença em face da errônea fixação da pena na primeira instância, não deve ser pronunciada quando o Tribunal verifica desde logo que a reprimenda deveria ter sido fixada no mínimo legal. Em tais casos, em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas, só resta ao Tribunal antecipar seu pronunciamento de mérito, reduzindo a pena para o mínimo legal, ficando prejudicada ao Ministério Público a garantia ao duplo grau de jurisdição. Trata-se de um ônus processual a ser suportado pelo Estado diante da ineficiência do órgão judiciário, não podendo, em tais casos, exigir-se do réu que sofra um retardamento da prestação jurisdicional causada por uma nulidade para a qual ele em nada contribuiu e que não acarretou prejuízo algum na aferição da verdade real. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 325.495-1 da Comarca de GUAXUPÉ, sendo Apelante (s): DANIEL DOS PASSOS INÁCIO e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e dele participaram os Juízes ERONY DA SILVA (Relator) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 14 de agosto de 2001.

Page 211: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Guaxupé, Daniel dos Passos Inácio como incurso nas sanções do art. 157, caput, do CP, por ter, em 14 de março de 2000, por volta das 21h30, subtraído uma bicicleta de 18 marchas e um boné da vítima Elzio Militão. A sentença monocrática às f. 68 e seg. julgou a denúncia procedente, porém desclassificou o crime para aquele previsto no art. 155, caput, do CP condenando o réu a 1 (um) ano, 2 (dois) meses e 15 (quinze) dias de reclusão e ao pagamento de 15 (quinze) dias-multa, com valor unitário no mínimo legal. Não lhe foi concedida a substituição de pena, por ser reincidente específico em crime doloso. Inconformada, recorre a defesa, apresentando suas razões às f. 78 e seg. nas quais pugna pela absolvição ou, alternativamente, a redução da pena aplicada em face da menoridade relativa do sentenciado à época dos fatos. Contra-razões ministeriais às f. 81 e seg., pelo conhecimento e manutenção da sentença hostilizada por seus próprios e jurídicos fundamentos. Parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça às f. 89 e seg., também pelo conhecimento e desprovimento do apelo. É o relatório no que interessa. Presentes os pressupostos recursais objetivos e subjetivos, conheço do apelo. A materialidade e a autoria do delito estão comprovadas pelas declarações da vítima que encontram total respaldo nos depoimentos testemunhais. O valor probatório da palavra da vítima nos crimes patrimoniais é pacífico na jurisprudência: "A palavra da vítima, em crime de natureza patrimonial, avulta em

Page 212: TAMG

importância, máxime quando em tudo ajustada às demais evidências dos autos" (TACRSP - RJDTACRIM 25/139). A versão dada pelo réu de que teria levado a bicicleta para sua casa, pretendendo, no entanto, devolvê-la no dia seguinte não é minimamente crível, pois como ficou sobejamente comprovado pelos depoimentos testemunhais, este havia se desentendido com a vítima momentos antes em um bar. Assim, a condenação era de rigor, razão pela qual a mantenho. Quanto à fixação da pena, verifico, em tese, a presença de uma nulidade a ser declarada, vez que o juiz levou em conta os maus antecedentes do réu na fixação da pena-base, tendo também agravado a pena do réu em função da reincidência, acarretando inadmissível bis in idem. Nula seria também a sentença por não ter levado em conta a atenuante da menoridade relativa do réu à época dos fatos, pois: "A consideração da circunstância atenuante é indeclinável na individualização da pena, sendo causa nulificante da sentença a sua desconsideração" (STF - RT 610/419). As constantes nulidades causadas pelos erros na fixação da pena em primeira instância têm me preocupado profundamente. É que, em sua grande maioria, acabam se tornando uma formalidade totalmente sem sentido, obrigando o trabalhoso e demorado retorno dos autos à comarca de origem, adiando a satisfação a ser dada à sociedade sobre o delito ocorrido e, pior, o sofrimento do réu e de seus familiares que aguardam ansiosos o pronunciamento definitivo do Judiciário. Até hoje, tinha sempre decidido pela decretação da nulidade nestes casos, visto que a presença do prejuízo para o réu é incontestável e a simples alteração do quantum da pena pelo Tribunal feriria diretamente a garantia ao duplo grau de jurisdição, ainda que fosse ela fixada no mínimo legal, pois o Ministério Público ficaria impossibilitado de recorrer, caso não concordasse com a nova pena, por ser esta a última instância ordinária. Meditei profundamente sobre o assunto e cheguei à conclusão de que a declaração de nulidades como esta, além de ser totalmente ineficiente do ponto de vista prático, mesmo em teoria jamais poderia ser admitida. A garantia ao duplo grau de jurisdição tem como fundamentos a

Page 213: TAMG

falibilidade humana do magistrado, o combate ao arbítrio e, também à necessidade psicológica do vencido. Não obstante nos órgãos de decisões colegiadas, como é o caso deste Tribunal, a falibilidade humana e a arbitrariedade humana ficarem bastante reduzidas já que passam pelo crivo de três magistrados, sem dúvida, elas ainda persistem. Por outro lado, em relação ao Ministério Público não há como se cogitar em necessidade psicológica de recorrer, já que Promotores e Procuradores de Justiça podem até tê-la, mas a instituição em si, jamais a terá. Assim, se em casos como este ora em análise, a garantia ao duplo grau de jurisdição encontra-se em conflito direto com o princípio da instrumentalidade das formas, tenho por bem que a falibilidade da decisão do Tribunal, bem como a possibilidade de uma decisão arbitrária desta Corte deve ser considerada um "risco suportado" em contraposição a inexorabilidade dos prejuízos que seriam causados se decretada a nulidade. O Processo Penal não é um fim em si mesmo, mas um instrumento utilizado pelo Estado para alcançar determinada finalidade, qual seja, a verdade real de cada caso. Assim, estabelece o art. 566 do Digesto Processual Penal que: "não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa". Uma interpretação teleológica da norma deixa claro que a intentio legis é impedir uma análise deturpada que leve a uma equivocada condenação ou absolvição. Não parece, definitivamente, cuidar aqui de uma incorreta aplicação da pena. Os Tribunais entendem, no entanto, que deve ser declarada a nulidade quando a sentença não obedecer ao previsto no art. 387 do CPP. Ouso afirmar que nem sempre esta é a solução processualmente mais adequada. No caso ora em análise, verifica-se isto com clareza. Este feito teve andamento relativamente célere até o presente momento, sendo que a anulação da sentença para que outra fosse proferida em virtude tão-somente de tal erro na fixação da pena-base, acarretaria claramente um prejuízo substancial para o réu que teria a definição de sua situação jurídica adiada por um erro para o qual em nada contribuiu. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, XLV, garante que "nenhuma pena passará da pessoa do condenado". Ora, se se declara a

Page 214: TAMG

nulidade da sentença no presente caso e se adia a solução deste caso por mais alguns meses, certamente estar-se-ia causando um prejuízo processual significativo ao réu para o qual, vale frisar, ele em nada contribuiu. O professor Aroldo Plínio Gonçalves, catedrático da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, ensina que: "Nulidade é conseqüência jurídica prevista para o ato praticado em desconformidade com a lei que o rege, que consiste na supressão dos efeitos jurídicos que ele se destinava a produzir. Como conseqüência jurídica, a nulidade se integra na categoria das sanções" (In Nulidades no Processo, Rio de Janeiro: Aide Ed, 1993. p. 12). "Na verdade, a nulidade, no processo, não pode ser considerada rigorosamente como penalidade, mas é conveniente que se recorde que a sanção, no sentido amplo do termo, também não tem sempre esse caráter" (op. cit., p. 13). Ora, se o Estado, através do juiz sentenciante deu causa à nulidade, não pode o réu sofrer as conseqüências do erro estatal, caso contrário estar-se-ia violando o princípio constitucional da pessoalidade da pena. Assim, em casos tais, entendo ser perfeitamente possível ao Tribunal, considerando que a pena-base deva ser fixada no mínimo legal, antecipar seu pronunciamento de mérito e deixar de declarar a nulidade, ficando prejudicada a garantia do duplo grau de jurisdição, neste aspecto, em relação ao Ministério Público. Se nulidade é sanção processual por desrespeito a uma forma legalmente estabelecida, sentido não haveria desta "pena" ser suportada pelo réu, que dentre todas as partes processuais, sem dúvida alguma, seria a que mais se veria prejudicada. A antecipação do pronunciamento de mérito pelo Tribunal tem, repita-se, o inconveniente de impedir recurso da acusação, mas este é um ônus processual a ser suportado pelo Estado em razão da própria ineficiência de um de seus órgãos. O que não se pode admitir é que, em casos como este, o réu suporte as nefastas conseqüências de uma nulidade para a qual em nada contribuiu. Vale ressaltar que ao próprio Estado não interessa a decretação de tal nulidade, pois a mínima divergência em relação ao quantum da pena não justificaria a postergação do feito que só serviria para contribuir ainda mais

Page 215: TAMG

para a superlotação do Poder Judiciário, o que, certamente, não interessa a ninguém. Assim, entendo que a nulidade existe, mas não é o caso de se declará-la em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas, pois antecipando meu julgamento de mérito, entendo que nenhuma das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP distanciou-se daquelas próprias do crime de furto, razão pela qual a pena-base deva ser fixada no mínimo legal. Assiste razão à defesa quanto à existência da atenuante em face da menoridade relativa do réu. É que na data dos fatos, 14 de março de 2000, restava ainda 1 (um) mês e meio para que o réu completasse 21 anos, pois nasceu em 30 de maio de 1979. Desnecessário se faz prova documental para seu reconhecimento, pois tanto na qualificação do réu na denúncia, quanto no interrogatório judicial à f. 38, em que lhe foi dado inclusive curador, há o reconhecimento de sua menoridade. Assim tem-se manifestado a jurisprudência: "Tendo o réu, na qualificação, indicado sua idade, data e local de nascimento, cabe à acusação formular objetiva contestação. Inexistindo esta, dispensa-se a prova documental de menoridade para efeito de reconhecimento da atenuante" (TACRSP - RJDTACRIM 2/118). Por outro lado, a atenuante de ser o réu menor de 21 anos é preponderante em relação à reincidência, conforme bem tem entendido a jurisprudência: "A atenuante da menoridade prepondera sobre toda e qualquer agravante, pois diz respeito à própria personalidade do acusado em formação" (TJSP - JTJ 183/280). Assim, concretizo a pena em seu mínimo legal, ou seja, 1 (um) ano de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa, no valor fixado em primeira instância. Impossível a substituição da pena em face da reincidência específica perfeitamente comprovada pela Certidão de Antecedentes Criminais constante à f. 66. Também inaplicável o sursis por vedação prevista no art. 77, I do CP. É como voto.

Page 216: TAMG

JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 325.495-1 - 14/8/2001 GUAXUPÉ -11- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -12-

Page 217: TAMG

EMENTA - Custas processuais. Isenção. Réu pobre. Inaplicabilidade do art. 804 do CPP. A Constituição Federal de 1988 não recepcionou em sua plenitude o art. 804 do CPP. Assim, o réu que se declarou pobre e foi assistido por Defensor Público é isento das custas processuais, em obediência ao art. 5º, LXXIV da Carta Magna. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 332.643-8 da Comarca de NOVO CRUZEIRO, sendo Apelante (s): VANDERLEI PEREIRA DE SOUZA e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR E DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 19 de junho de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Novo Cruzeiro, Vanderlei Pereira de Souza como incurso nas sanções

Page 218: TAMG

do art. 157 do CP por ter, em 19 de agosto de 2000, por volta das 7h00, subtraído, mediante violência, a quantia de R$82,00 (oitenta e dois reais) da vítima Antônio Gonçalves dos Santos. A sentença monocrática, às f. 56 e segs., condenou o réu, nos termos da denúncia a 5 (cinco) anos e 6 (seis) meses de reclusão e a 17 (dezessete) dias-multa, valendo o dia-multa 1/30 (um trinta avos) do salário mínimo vigente na época do delito. Inconformado, apelou o Defensor Público, apresentando suas razões às f. 64 e segs.. Preliminarmente, requer a decotação do pagamento das custas processuais e da pena de 17 (dezessete) dias-multa. No mérito, pugna pela absolvição por falta de prova, por entender que a confissão perante autoridade policial não é o suficiente para suportar uma condenação. Alternativamente requer que a pena seja fixada no mínimo legal. O Ministério Público de primeiro grau, em suas contra-razões recursais às f. 67 e segs., levantou preliminar de intempestividade da apelação. No mérito, manifestou-se pelo improvimento. A Procuradoria-Geral de Justiça em seu parecer às f. 83 e segs. opinou pelo não-conhecimento do recurso, por ser este intempestivo, e, no mérito, pela confirmação da sentença. É o breve relatório. Não procede a preliminar de intempestividade. Apesar da intimação pessoal do réu ter se dado em 28 de novembro de 2000, conforme certidão à f. 60v., a intimação de seu defensor só se deu em 11 de dezembro de 2000, pelo que se vê à f. 61v. É bem verdade que o art. 392 do Digesto Processual Penal não prevê expressamente a intimação do advogado nos casos em que o réu estiver preso. Não se pode olvidar, no entanto, que o art. 5º, LV, garante a ampla defesa do acusado e para que esta se efetive, evidentemente, é necessária a intimação da defesa técnica. Assim, o prazo para a interposição do recurso, no presente caso, deve ser contado a partir da data da intimação do advogado, no caso Defensor Público, o que lhe garante prazo em dobro para recorrer, isto é, 10 (dez) dias. Veja-se o trato pretoriano:

Page 219: TAMG

STF: "Necessidade de ser intimado da sentença condenatória o advogado constituído, daí fluindo o prazo para a interposição do recurso, ainda que seja indeclinável a intimação do réu, pessoalmente, se estiver preso, conforme o art. 392, I, do CPP. Precedentes do STF" (RT 558/425). TAPR: "A intimação válida da sentença condenatória só ocorre com a formal e dupla cientificação ao réu e seu defensor" (RT 703/338). Do exposto está claro que o recurso ora em análise é perfeitamente tempestivo. Intimado em 11 de dezembro, o Defensor Público protocolizou a apelação em 18 de dezembro, ou seja, com uma boa margem de antecedência que lhe garante seus 10 dias para apelar. Rejeito, pois, a preliminar de intempestividade do recurso. Sendo ainda recurso próprio e interposto por parte legítima e interessada, dele conheço. A preliminar da defesa se confunde com o mérito, razão pela qual será analisada oportunamente. A materialidade e autoria estão sobejamente comprovadas. A alegação fantasiosa do réu em seu interrogatório judicial às f. 35-36 de que teria vendido uma bicicleta à vítima, sem ter recebido a correspondente prestação pecuniária não se coaduna com as demais provas dos autos. Pelo contrário, tudo está a indicar a tipicidade de sua conduta no art. 157 do CP. O próprio réu confessou o fato na fase policial, retratando-se em juízo, ao argumento de ter sido vítima de torturas policiais. Porém, não há sequer indícios nos autos que indiquem a veracidade da alegação de constrangimento para que confessasse. Ademais, o próprio pai do réu em suas declarações à polícia às f. 16-16v afirmou que: "Vanderlei sem mais nem menos avançou contra o Senhor; que Vanderlei deu uma rasteira no indivíduo, arrancou a bolsa dele e correu para dentro do mato." A vítima, tanto na polícia (f. 14-14v.) quanto em juízo (f. 46) foi plenamente coerente em suas declarações. Não há como não dar-lhe

Page 220: TAMG

credibilidade, pois nos crimes patrimoniais as declarações da vítima revestem-se de especial importância. A condenação deve, pois, ser mantida. Quanto à fixação da pena, entendo, rogata venia, que procedeu com excesso de rigor o magistrado monocrático. O exame das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP deve ser realizado tomando-se por base um comportamento padrão dos agentes da conduta típica em questão. Se não há nos autos elementos capazes de comprovar que o réu merece maior reprovação que o criminoso típico daquela espécie de crime, não se pode puni-lo com maior rigor. Assim, está claro que sua culpabilidade é grande, mas não se pode afirmar que seja maior do que a da média dos agentes da conduta do art. 157 do CP. Da mesma forma, os motivos do crime, a obtenção fácil de dinheiro, é comum nos crimes da espécie. No mesmo raciocínio, não vejo como qualquer outra circunstância do crime prevista no art. 59 do CP possa ensejar um maior rigor na aplicação da pena-base, por não se afastarem do comportamento do "criminoso médio" dos crimes da espécie, razão pela qual reduzo-a para 4 (anos) de reclusão e 10 (dez) dias-multa. Quanto à agravante da reincidência prevista no art. 61 do CP, não há como ser mantida. É que a certidão à f. 55v. não comprova o trânsito em julgado da sentença condenatória, mas, pelo contrário, induz a crer que houve apelação para o egrégio Tribunal de Justiça, já que os autos foram remetidos àquele sodalício em 28 de junho de 2000. O princípio constitucional da presunção de inocência, bem como o art. 63 do CP, impedem, pois, a sua utilização sem que haja a comprovação do trânsito em julgado. Assim, a pena fica concretizada em 4 (anos) de reclusão e 10 (dez) dias-multa. Deixo de aplicar a substituição da pena, por ter o crime sido praticado com violência à pessoa. Quanto às custas processuais, assiste razão à defesa. A Constituição de 1988 é expressa, quanto à questão, em seu art. 5º, LXXIV: "o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos."

Page 221: TAMG

Ora, se o réu é pobre, conforme declarou no interrogatório às f. 35-36, tendo inclusive lhe sido nomeado defensor público, razão não há para lhe serem impostas custas processuais. O argumento de que é na execução que a miserabilidade do réu deve ser examinada a fim de se conceder a isenção não procede. É que o exame já foi feito pelo juiz a quo tanto que lhe foi nomeado Defensor Público. Impossível, pois em sede de execução realizar-se o mesmo exame por uma segunda vez. A interpretação do art. 804 do CPP deve, pois, ajustar-se à nova ordem constitucional advinda com a Constituição de 1988, sendo absolutamente inaplicável a réus pobres no sentido legal. Veja-se as seguintes decisões neste sentido: "RECURSO EXTRAORDINÁRIO - MATÉRIA CRIMINAL - Acórdão que manteve a condenação do réu por crime de latrocínio, provendo, entretanto, o recurso da defesa para isentar o condenado do pagamento das custas processuais, com base no art. 5º, LXXIV, da Constituição, deixando de aplicar o art. 804 do Código de Processo Penal. Alegação do MP, no recurso extraordinário, de ofensa aos art. 97 e 5º, LXXIV, da Constituição. O art. 5º, LXXIV, da Constituição, foi bem aplicado pelo acórdão, visto tratar-se de réu pobre, a quem devida assistência judiciária, a teor do art. 1.060, arts. 2º, 3º, II, 4º e § 1º. Não há ver ofensa ao art. 97 da Lei Maior, por não se fazer mister a declaração de inconstitucionalidade incidenter tantum do art. 804 do Código de Processo Penal, como pretende o apelo extremo, a fim de isentar o réu pobre, condenado, do pagamento de custas, diante da norma do art. 5º, LXXIV, da Constituição. Recurso extraordinário não conhecido" (STF - RE 207.963-4 - DF - 2ª T. - Rel. Min. Néri da Silveira - DJU 18/6/1999 - p. 25). APELAÇÃO CRIMINAL - ISENÇÃO DE PAGAMENTO DAS CUSTAS - PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO - Tratando-se de pessoa comprovadamente pobre, tanto que defendida pela assistência judiciária, resulta clara a impossibilidade do réu de arcar com as despesas processuais, pelo que deve ser contemplado com a respectiva isenção. (TJMT - ACr 1.629/93 - Classe I - 14 - Cuiabá - 2ª C.Crim. - Rel. Des. Leônidas Duarte Monteiro - J. 2/3/1994) Pelo exposto, mantenho a condenação de primeira instância, reduzindo a pena para 4 (quatro) anos de reclusão em regime fechado e ao pagamento

Page 222: TAMG

de 10 (dez) dias multa, com o valor já fixado em primeiro grau. Sem custas, por ser o réu pobre no sentido legal. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 332.643-8 - 19/6/2001 NOVO CRUZEIRO -9- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -10-

Page 223: TAMG
Page 224: TAMG

EMENTA - Roubo. Arma falsa. Inexistência de causa de aumento de pena. Interpretação analógica. Impossibilidade. A causa de aumento de pena do art. 157, § 2º, I, do CP, não pode ser aplicada se o agente ameaçou a vítima com uma gaita, induzindo nesta o falso temor de se tratar de um canivete. As normas penais são interpretadas estritamente, não podendo o magistrado considerar arma qualquer instrumento capaz de intimidar a vítima, por faltar ao caso circunstância de ordem objetiva. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 325.346-3 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): CRISTIAN ALEXANDRE DO COUTO e Apelado (a) (os) (as): A JUSTIÇA PÚBLICA, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO PARCIAL. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Assistiu ao julgamento, pelo apelante, a Drª. Maira de Melo Teixeira.

Page 225: TAMG

Belo Horizonte, 5 de junho de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator V O T O O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na Comarca de Belo Horizonte, Cristian Alexandre do Couto como incurso nas sanções do art. 157, § 2º, I do CP, por ter no dia 8 de março de 1999, por volta das 2h30, na esquina da Rua da Bahia com Av. Augusto de Lima, nesta cidade, subtraído para si coisa alheia móvel, mediante grave ameaça à vítima Daniel Álvaro da Fonseca (f. 2-3). Narra a preambular acusatória que o denunciado aproximou-se da vítima e, simulando estar armado com um canivete, obrigou-a a entregar-lhe seu relógio e todo o dinheiro que tinha. O auto de prisão em flagrante, às f. 5 e seguintes, e as declarações do ofendido, às f. 33-34, esclarecem que, na verdade, o crime foi praticado na esquina das Ruas Rio de Janeiro e Tupis, sendo que o endereço constante da denúncia refere-se ao local onde o acusado foi detido. A r. sentença, às f. 136 e seguintes, julgou procedente a denúncia e condenou o réu nas iras do art. 157, § 2º, I, c/c art. 61, I todos do CP, à pena privativa de liberdade de 5 (cinco) anos e 8 (oito) meses de reclusão, em regime fechado, e ao pagamento de 16 (dezesseis) dias-multa. Inconformado, apelou o réu, às f. 145 e seguintes, pleiteando sua absolvição e, alternativamente, a decotação da causa especial de aumento de pena por emprego de arma e a diminuição da pena com alteração do regime inicial para seu cumprimento. Alega o acusado em suas razões que não há testemunhas presenciais do fato e que há que se aplicar ao caso o princípio do in dubio pro reo. Aduz, ainda, que o condenado é primário, pois, dos processos desta Capital (um por uso de maconha e outros dois por furto), somente existe a

Page 226: TAMG

condenação ora guerreada e, nos processos de Betim (por direção de motocicleta sem habilitação) não houve condenação, mas sim um acordo com o Ministério Público para pagamento de multa, que foi cumprido. O Ministério Público, em suas contra-razões, às f. 168 e seguintes, pugna pela manutenção da sentença. Sustenta que estão comprovadas materialidade e autoria, que o apelante é réu confesso e que a causa de aumento de pena deve ser mantida, por ser a simulação da posse de uma arma uma violência patente. No parecer ministerial, às f. 180 e seguintes, opinou o douto Procurador de Justiça pelo conhecimento e desprovimento do recurso, por estarem provadas a violência contra a pessoa e a presença da causa de aumento de pena, pois o fato de o acusado ter simulado estar armado já foi suficiente para intimidar a vítima. É o relatório. Por ser o apelante parte legítima e interessada e seu recurso próprio e tempestivo, dele conheço. Inicialmente, necessário se faz deixar claro que o simples erro da denúncia quanto ao local exato onde se deram os fatos, no caso em exame, não gera qualquer prejuízo. Assim, plenamente válida é a peça vestibular. Quanto ao mérito, a materialidade e a autoria do delito estão sobejamente demonstradas nos autos. As declarações da vítima em inquérito (f. 33-34) e em juízo (f. 96) são firmes e encontram respaldo nos demais elementos de prova constantes nos autos. A versão do acusado em seu interrogatório policial é totalmente contraditória e, em juízo (f. 68), afirmou "que a vítima, ao ser abordada pelo interrogando, negou ter sido autora do assalto mas, acabou lhe entregando o relógio." Tudo isso só vem reafirmar a convicção de autoria. Contudo, não se pode aplicar ao caso a causa de aumento de pena prevista no art. 157, § 2º, do CP. Isso porque uma simples gaita jamais poderá ser considerada como arma, salvo por inadmissível interpretação analógica. O referido dispositivo legal estabelece que a pena será aumentada:

Page 227: TAMG

"se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma". Se a intentio legis fosse punir, não a circunstância objetiva de o agente usar instrumento capaz de ferir a integridade física de outrem, mas o uso de objeto capaz de causar intimidação na vítima, teria estabelecido isto expressamente e o dispositivo seria: "se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma ou outro meio capaz de causar intimidação ou temor na vítima". Rogata venia de entendimentos em contrário, não é o estabelecido pela norma. Não é demais lembrar os sempre atuais ensinamentos do mestre Carlos Maximiliano: "Estritamente se interpretam as disposições que restringem a liberdade humana, ou afetam a propriedade; conseqüentemente, com igual reserva se aplicam os preceitos tendentes a agravar qualquer penalidade" (MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1997). Não pode o intérprete considerar analogicamente uma singela gaita arma, simplesmente por faltar ao fato elemento de ordem objetiva. Se a vítima acreditou tratar-se de arma e o agente usou-a com o fim intimidador, assim como faria com uma arma real, isto é mera circunstância subjetiva. Por outro lado, a defesa demonstrou nos autos pelos documentos (f. 152- 166) que anexou às suas razões recursais que, de fato, o réu é primário. A confusa certidão, à f. 113, evidencia que o réu não possui qualquer sentença condenatória transitada em julgado, mas deixa dúvidas quanto ao fim do Processo nº 027.96.003.469-5 da Comarca de Betim. A questão é sanada, no entanto, pela cópia da sentença do referido processo, às f. 164 e seguintes, na qual está clara que a multa fora aplicada por proposta do Ministério Público nos termos da Lei nº 9.099/95, não tendo, pois, o efeito de gerar reincidência. Assim, mantenho a pena-base fixada na sentença monocrática em 4 (quatro) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa e, afastando a agravante da

Page 228: TAMG

reincidência e a causa de aumento de pena por emprego de arma, torno-a definitiva, estabelecendo o regime aberto com inicial para seu cumprimento. É como voto. JUIZ ERONY DA SILVA afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 325.346-3 - 5/6/2001 BELO HORIZONTE -7- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca» -8-

Page 229: TAMG
Page 230: TAMG

EMENTA: Reformatio in pejus indireta. Prescrição retroativa. O trânsito em julgado da sentença para a acusação tem o efeito de limitar para sempre a pretensão punitiva estatal, não sendo a anulação da sentença, em razão de provimento de recurso exclusivo da acusação, capaz de desconstituir tal limite. Assim, é perfeitamente aplicável a prescrição retroativa da ação com base na pena fixada na sentença nula. Prescrição da pretensão punitiva do Estado. Recurso do Assistente da acusação objetivando a declaração da condenação, ainda que impossível seja a aplicação de pena. O processo penal, entendido como instrumento de efetivação do Direito Penal, não pode servir de palco a discussões morais, sociais ou reparatórias da vítima, pois sua finalidade precípua é a condenação penal do agente. Estando prescrita a pretensão punitiva estatal, não há mais qualquer interesse processual-penal na discussão da causa, restando à vítima, tão somente, a possibilidade de uma ação na esfera cível, para buscar a reparação moral pelo dano sofrido. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal Nº 324.370-5 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): ANTÔNIO CARLOS MARTINS - ASSISTENTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO e Apelado (a) (os) (as): MARTINE GINETTE GARCIA RIBEIRO, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ERONY DA SILVA (Relator) e dele participaram os Juízes ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (Revisor) e MARIA CELESTE PORTO (Vogal). Produziu sustentação oral, pelo apelante, o Dr. Luís Carlos Parreiras Abritta.

Page 231: TAMG

Belo Horizonte, 5 de junho de 2001. JUIZ ERONY DA SILVA Relator JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO Revisor JUÍZA MARIA CELESTE PORTO Vogal V O T O S O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: Na Comarca de Belo Horizonte, Martine Ginette Garcia Ribeiro, devidamente qualificada dantes, foi regularmente processada nas iras do art. 168 § 1º, III, CPB, porque, conforme narra a denúncia, em 27 de março de 1995, a senhora Eliani Ferretti Martins entregou, a pedido de seu cônjuge Antônio Carlos Martins, a quantia de R$39.200,00 (trinta e nove mil e duzentos reais) em dinheiro, à denunciada, à época gerente de um banco estabelecido na Av. João Pinheiro, nº 214, local onde ocorreu a entrega do numerário, a fim de que a denunciada depositasse aquele valor na conta corrente do casal para posterior aplicação financeira em fundo de commodities. A denunciada explicou que em virtude da vigência de um "teto" de depósitos faria a transação em quatro parcelas, três de R$11.000,00 (onze mil reais) e uma final no valor de R$6.200,00 (seis mil e duzentos reais), enviando a seguir o recibo a Antônio Carlos. Conferindo o extrato bancário de março de 1995, Antônio Carlos percebeu que os três depósitos de onze mil reais foram efetuados (dias 28, 29 e 30 de março de 1995) tendo simplesmente "evaporado" os seis mil e duzentos reais restantes.

Page 232: TAMG

Inquirida pela vítima sobre o destino da quantia faltante afirmou a princípio que aplicara o dinheiro que, posteriormente, poderia ter cometido um engano, depositando o valor em conta corrente de outro cliente. Ainda segundo a narrativa da denúncia, realizou-se um demorado processo de apuração de toda atividade financeira da agência, abrangendo os cinco dias anteriores e os cinco dias posteriores a provável data do depósito, sendo que ao final do levantamento não foi acusada nenhuma entrada no valor de seis mil e duzentos reais em qualquer conta-corrente ou fundo de investimentos. No final de junho de 1995 a denunciada afastou-se voluntariamente do banco onde trabalhava. Ex vi sentença de f. 272-275 restou apenada em 1(um) ano, 4 (quatro) meses de reclusão, regime inicial aberto, e 25 (vinte e cinco) dias-multa à razão unitária mínima, sendo-lhe concedido o "sursis". Inconformada, a tempo e modo recorre a sentenciada agitando preliminar de nulidade a partir de f. 60, uma vez que realizada a audiência, antes de vencido o prazo para constituição de novo procurador em substituição ao anterior que havia renunciado ao mandato. No mérito a absolvição por negativa de autoria e, alternativamente, perdão judicial. O Ministério Público de primeiro e segundo graus aquiesceu com a preliminar de nulidade. Ex vi acórdão de f. 336-340 foi o processo anulado a partir de f. 60, inclusive. Renovou-se validamente a instrução. Consoante a sentença de f. 452, reconheceu a extinção da punibilidade pela prescrição. Inconformado, a tempo e modo recorre o Assistente do Ministério Público (f. 454), acostando as suas razões de inconformismo às f. 456-461 requerendo o afastamento da prescrição e a devolução do processo ao magistrado monocrático para que possa se manifestar quanto ao meritum causae. Contra-razões do Ministério Público são encontradas às f. 462-467 espancando as teses de seu assistente e pugnando pela integral manutenção do decisum. Contra-razões de defesa às f. 473-475 pela manutenção do decisum que decretou a extinção da punibilidade.

Page 233: TAMG

Parecer da nobre Procuradoria de Justiça da lavra da culta Armênia de Oliveira e Souza Rocha é encontrado às f. 483-485,TA, pelo conhecimento e improvimento do recurso. Em sustentação oral produzida na sessão passada, o Dr. Luís Carlos Parreiras Abritta, advogado do assistente da acusação, reafirmou suas razões recursais e pugnou ainda pela necessidade do pronunciamento de mérito pelo juiz monocrático ainda que reconhecida seja a prescrição da ação. Argumentou, naquela ocasião, que, embora não possa ser executada, a sentença tem seu efeito moral e social, devendo, pois, o Estado se pronunciar necessariamente, ainda que não tenha como executar a sanção aplicada. Em suma, é o relatório. O recurso é próprio e tempestivo. A parte é legítima e tem interesse processual-penal no provimento do presente recurso, limitado, porém, como veremos adiante, à discussão da ocorrência ou não da prescrição retroativa. Conheço do recurso. A vedação da reformatio in pejus indireta é questão já pacífica na jurisprudência e baseia-se em um raciocínio bastante lógico. Se, prolatada a sentença viciada, não recorreram o Ministério Público ou o assistente da acusação, está claro que conformaram-se com a decisão. Há uma evidente renúncia tácita de qualquer pretensão punitiva superior àquela fixada na sentença. O trânsito em julgado da sentença para a acusação tem o efeito de limitar para sempre a pretensão punitiva estatal, sendo impossível à acusação, em qualquer momento processual posterior, postular qualquer aumento de pena, pois, ao conformar-se com a pena fixada, renunciou completamente o plus potencial da pretensão punitiva. A anulação da sentença em face de recurso exclusivo da defesa não é capaz de desconstituir tal renúncia. Se assim fosse, certamente muitos defensores veriam-se no difícil dilema entre recorrer pedindo a anulação da sentença, ou silenciar-se, com medo de uma nova decisão mais gravosa ao réu. Haveria, pois, claramente, uma ofensa ao sagrado princípio constitucional da ampla defesa. Este é o entendimento jurisprudencial pacífico:

Page 234: TAMG

"Se a sentença condenatória é anulada em virtude de recurso do réu, a nova sentença não lhe pode impor pena superior àquela anteriormente fixada" (STF - RT 607/416). Assim, a prescrição retroativa, de fato, ocorreu, pois a sentença anulada (f. 272 e segs.) fixou a pena em 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de reclusão e transitou em julgado para a acusação. A partir de então, o prazo prescricional passou a ser de 4 (quatro) anos, baseado na pena fixada em concreto pela sentença condenatória. A denúncia foi recebida à f. 40 em 12 de março de 1996 e a sentença que declarou a prescrição à f. 452 foi prolatada em 2 de agosto de 2000. Correta, pois, a decisão do M.M. juiz a quo, visto que a prescrição retroativa, de fato, ocorreu. Quanto à questão levantada da tribuna pelo nobre advogado de que o juiz teria o dever de analisar o mérito da causa, ainda que já prescrita, melhor sorte não assiste à acusação. Falta ao assistente da acusação interesse processual-penal de agir. Tal argumento, por si só, não justificaria sequer o conhecimento do recurso. Fernando Capez ensina que o interesse de agir: "Desdobra-se no trinômio necessidade e utilidade do uso das vias jurisdicionais para a defesa do interesse material pretendido, e adequação à causa, do procedimento e do provimento, de forma a possibilitar a atuação da vontade concreta da lei segundo os parâmetros do devido processo legal" (In Curso de Processo Penal. 5ª ed. rev., São Paulo: Saraiva, 2000. p.98). Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes, por outro lado, lecionam que: "Com relação aos recursos, o interesse-adequação se confunde com o cabimento." "A necessidade de tutela jurisdicional indica a impossibilidade de se obter a satisfação do direito material sem a intervenção do Estado-juiz: e isto se aplica tanto ao exercício do direito de ação, como ao exercício do direito

Page 235: TAMG

de recorrer." "A utilidade significa a possibilidade, por intermédio do direito de ação ou do direito de recorrer, de se conseguir situação mais vantajosa, do ponto de vista prático, do que a existente antes do exercício da ação ou, no caso de recurso, da emergente da decisão recorrida." (In Recurso no Processo Penal. 2ª ed. rev., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997. p.83) A necessidade está, pois, diretamente relacionada à impossibilidade de se obter o mesmo resultado sem se recorrer ao processo penal. A utilidade, por outro lado, está ligada à possibilidade de se obter situação jurídico-penal mais vantajosa para alguma das partes. É importante frisar que tratamos aqui de Direito Processual Penal e, assim sendo, a utilidade do processo está profundamente relacionada à aplicação de pena e não a questões morais ou reparatórias. Qual seria a utilidade de se declarar culpado um réu, se não resta ao Estado sua pretensão punitiva? Certamente nenhuma utilidade jurídico-penal. É bem verdade que há um desejo moral do ofendido de ver reconhecida a culpa do agente, mas tal anseio não pode ser objeto do processo penal, pois este visa única e exclusivamente à aplicação de pena. Retornamos aqui à questão da necessidade do processo penal. Para um reconhecimento moral não haveria necessidade de uma ação penal, pois uma ação civil de indenização por danos morais resolveria perfeitamente o problema. De fato, a condenação do réu no presente caso, mesmo com a pena prescrita, facilitaria em muito a reparação cível pelo dano causado, mas o processo penal não se presta a tal fim, por ser instrumento de efetividade do Direito Penal, ultima ratio do Estado. A fragmentariedade do Direito Penal afeta também seu direito adjetivo, que não pode nem deve ser usado quando o Estado disponibilizar formas alternativas para que o cidadão alcance determinado provimento jurisdicional. O reconhecimento moral, ou mesmo reparatório, do crime em tese praticado deve, diante da ocorrência da prescrição, ser buscado no âmbito cível. A única justificativa para um processo penal é a existência da pretensão punitiva estatal. Não mais existindo tal pretensão, falece qualquer interesse

Page 236: TAMG

no processamento e julgamento da ação penal. Se assim não fosse, seríamos obrigados a admitir que o Ministério Público poderia oferecer denúncia válida por um crime já prescrito, para obter do Estado um pronunciamento moral contra o réu, o que seria um grande absurdo. Não há, pois, utilidade no julgamento da causa, pois estando prescrito o crime, não há mais como se impor pena ao agente, que é o único fim do processo penal. Por outro lado, não há qualquer necessidade da presente ação, pois, se o desejo do réu é uma satisfação moral, que interponha então na esfera cível uma ação indenizatória por dano moral. Ressalte-se, por fim, que como lembram ZAFFARONI e PIERANGELI, a prescrição da pretensão punitiva: "Acarreta a perda, pelo Estado, da pretensão de obter uma decisão acerca do crime que imputa a alguém. Por tal motivo, não implica responsabilidade ou culpabilidade para o acusado, não reflete nos seus antecedentes e nem marca futura reincidência" (In Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral. 2ª ed. rev. atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999. p. 755) Impossível, pois, seria a condenação do acusado, já que tal sentença implicaria na afirmação pelo Estado da culpabilidade do agente, isto para não falar dos efeitos estigmatizantes de uma condenação penal, o que não se coaduna com a intentio legis da norma da prescrição. Por outro lado, a declaração da absolvição do acusado seria até possível, porém não é direito subjetivo do réu, cabendo ao juiz declará-la, se assim julgar prudente. Trata-se de faculdade do sentenciante, não de obrigação, pois não há mais qualquer interesse processual-penal na discussão da culpabilidade do agente. Além do mais, se o réu tivesse o direito subjetivo da declaração da sua absolvição, quando prescrita a pena, a não-declaração da absolvição equivaleria a uma condenação indireta, o que, obviamente, seria também impossível. Não há, pois, qualquer razão que obrigue o juiz a manifestar-se sobre a autoria e materialidade do delito, quando prescrita a pretensão punitiva estatal, podendo fazê-lo exclusivamente nos casos de absolvição se, e somente se, julgar necessário.

Page 237: TAMG

Por todo o exposto, nego provimento ao recurso. Custas pelo assistente da acusação. É como voto. O SR. JUIZ ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO: Sr. Presidente, queria registrar que, na sessão passada, ouvi com muita atenção a sustentação oral brilhante, levada a efeito pelo Dr. Luís Carlos Parreiras Abritta que, como sempre abrilhantou a tribuna desta sessão de julgamento com o fulgor de sua inteligência, já reconhecida hoje nos meios do Direito Penal, em nosso Estado. A tese levantada pelo Dr. Luís Carlos Parreiras Abritta leva em conta, muito, hoje, a chamada tendência da vitimologia no processo penal, só que, até em discussão na sessão que tivemos do encontro dos juízes do Tribunal de Alçada, na terça-feira passada, nós, juízes aqui do Tribunal, presentes àquele encontro, colocamo-nos absolutamente contrários a essa inserção da vitimologia dentro do Processo Penal. Nós entendemos que o Direito Penal tem uma função que é a proteção de bens jurídicos selecionados pelo legislador Penal. E o Processo Penal tem a função de levar a cabo uma resposta ou de condenação, ou de absolvição. Nada mais do que isso, e que, se o legislador quiser, ele introduz na legislação alguns dispositivos que nos permitam atender esse aspecto da vítima. Por exemplo, introduziu a prestação pecuniária, no art. 45, § 1º, que é um dispositivo que leva em conta, evidentemente, a situação da vítima no processo penal, porque o agente é condenado a pagar à vítima, ou a seus dependentes um valor que pode ser de um a trezentos e sessenta salários mínimos. Agora, em relação a essa questão, coloco-me inteiramente de acordo com o Relator, é meu posicionamento. É que, tendo havido anulação da sentença por, inclusive, recurso da defesa, ela só pode se dar em benefício do acusado. Quer dizer, nunca a sentença pode ter uma pena acima daquela com a qual o Ministério Público tinha concordado e, por isso, evidentemente, se nós acolhêssemos a tese de Vossa Excelência, haveria reformatio in pejus indireta, porque nós permitiríamos ao Juiz de Direito que, dando uma nova sentença, revalorando as provas, pudesse, inclusive, aumentar a pena. Se houve a prescrição retroativa porque o marco interruptivo que é o da publicação da sentença condenatória recorrível, em cartório, acabou e, sem pretensão punitiva não pode ter ação penal, é por

Page 238: TAMG

isso que estou completamente de acordo com o nobre Relator, cujo voto é uma pérola a nível de Direito Penal e Processo Penal e recomenda sua publicação. O SR. JUIZ ERONY DA SILVA: Pela ordem. Quero dizer ao ilustre advogado que, no exame do mérito e como, aqui, nós também temos entendido, aliás essa proposta foi feita pelo Professor Alexandre, se eu vislumbrasse absolvição, partiria para a absolvição. A matéria de absolvição é matéria de ordem pública, mas é que, evidentemente, com a absolvição ele sairia daqui com uma carta de alforria, dizendo que foi absolvido daquele fato, que foi imputado pelo Ministério Público, mas não é o caso. Estou dando essa explicação porque o meu voto aponta, também, nessa direção. A SRª. JUÍZA MARIA CELESTE PORTO: Sr. Presidente, Dr. Erony. Quero subscrever as palavras do doutor Alexandre, com relação à alta qualidade de seu voto e o estou acompanhando. afc APELAÇÃO CRIMINAL Nº 324.370-5 - 5/6/2001 BELO HORIZONTE -15- APELAÇÃO CRIMINAL Nº «apelacao_num» - «data» «comarca»

Page 239: TAMG

-16-