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Filosofia e revelação no Tractatus theologicus-politicus

Diego Tatián

(Tradução: Mariana de Gainza)

A grande operação espinosista no Tratado teológico-político foi concebida por algunsintérpretes como a de liberar o con!ecimento da sua submissão " #scritura produzindo umcon!ecimento não religioso da #scritura$ (Tosel %& p')* produzir um con!ecimento da+,blia -ue se.a obtido unicamente da pr/pria +,blia' 0eu ob.eti1o principal 2segundoafirma 3eo 0trauss2 é refutar as afirmaç4es sustentadas no correr dos séculos em nome dare1elação$ (cf' 0trauss 5)' 6ara isto prop4e um método de leitura dos li1ros sagrados 2 e7posto no cap,tulo 8992 segundo o -ual sua interpretação não é diferente do método deinterpretar a natureza$ (TT6 899* cf' 0pinoza & p'%)' #ste método en1ol1e uma dimensão prática e pol,tica& na medida em -ue denuncia os pre.u,zos da turba e os del,rios doste/logos& -ue fizeram do te7to b,blico o maior ob.eto de disputa e de conflito* segundo#spinosa& a interpretação da #scritura pelo 1ulgo e os te/logos fa1orece o /dio ( odiumtheologicum)& as disc/rdias& a perseguição& e o Te7to 0agrado& em 1ez de promo1er aamizade& difunde a disc/rdia e propaga s/ inimizade entre os !omens (TT6 899* cf' 0pinoza& p'%)' A necessidade de um no1o$ método de leitura 2 de caráter !ist/rico e filol/gico 2& orienta;se para produzir um efeito pacificador 2 não obstante o estran!o parado7o de tersido o TT6& pro1a1elmente& o li1ro mais conflituoso e odiado na !ist/ria da filosofia'< estudo da +,blia -ue #spinosa prop4e sustenta a necessidade de uma pacientein1estigação sobre a deri1a dos diferentes li1ros e autores -ue a comp4em& além de umcon!ecimento ade-uado da l,ngua !ebraica 2-ue apresenta& pela sua parte& dificuldadesrelati1as " impossibilidade de traçar uma !ist/ria pr/pria& dado -ue os antigos .udeus nãodei7aram documentos (nem dicionário& nem gramática& nem ret/rica$)& pelo -ue nemsempre é poss,1el acessar ao uso da l,ngua 1eterotestamentária (TT6 899* cf' 0pinoza & pp'=>;=?)' @uanto ao estudo do #1angel!o& #spinosa dedica;l!e s/ um cap,tulo 2o 92 doTT6 aduzindo& precisamente& um descon!ecimento do grego'< método espinosista considera a +,blia e7clusi1amente como um documento !ist/ricoentre outrosB < fato de -ue de1amos estudá;la e lC;la com os cuidados filol/gicos e o rigor!ist/rico com -ue ler,amos -ual-uer outro te7to 2o Poema de Gilgamesh& o Popol Vuh ouas Crônicas dos Caldeus 2& significa -ue temos -ue considerá;la tão s/ como um documentotransmitido cu.o e7ame nos permite con!ecer mel!or a cultura -ue o produziu e somenteissoB< -ue conta 2escre1e 3e1inas a prop/sito de #spinosa2 não é a alternati1a crentes E nãocrentesF& é a distinção entre a-ueles -ue consideram as #scrituras como um te7to entreoutros& e a-ueles -ue as consideram& não obstante a marca do de1ir -ue comportam& comouma forma essencial do esp,rito& irredut,1el " percepção& " filosofia& " literatura& " arte& "

ciCncia& " !ist/ria e& no entanto& compat,1el com a liberdade pol,tica e cient,fica$ (3e1inas& p' H)' @ue de1emos entender a-ui por forma essencial do esp,rito$B @ue um te7toe7presse uma forma essencial do esp,rito$ impede -ue possa ser considerado um te7toentre outros$& obriga a atribuir;l!e algum tipo de singularidadeB#spinosa responderia -ue& como tantos outros& a +,blia é um te7to -ue e7pressa um ensino essencial' Io final do cap,tulo do TT6& considera;se ao Livro de Daniel; como a maior parte dos seus cap,tulos foram escritos em caldaico& podemos suspeitar -ue foram tomadosdas Crônicas dos Caldeus' 0e isso esti1esse perfeitamente demonstrado 2 diz #spinosa 2&

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seria uma esplCndida pro1a de -ue a #scritura s/ é sagrada en-uanto por seu meioentendemos as coisas por ela e7pressadas& e não por entendermos as pala1ras ou a l,ngua eas oraç4es -ue as significam* e -ue& além disso& os li1ros -ue ensinam e narram as coisasmel!ores são igualmente sagrados& sem -ue importe em -ue l,ngua ou por -ual nação foramescritos$J (TT6 * cf' 0pinoza &  pp' >;?)' Kontra os -ue adoram supersticiosamente a

letra$& trata;se s/ de apreender o -ue permaneceu ao resguardo das adulteraç4es e asmutilaç4es -ue sobre1ieram com o passo do tempo& -uer dizer& uma lei& uma lei di1ina cu.aconser1ação não e-ui1ale " conser1ação de os mesmos pontos& as mesmas letras e& enfim&as mesmas pala1ras$' < Te7to é& en-uanto tal& contingente& uma coisa entre as coisas da Iatureza -ue de1e ser compreendido e estudado desse modo& -ue te1e um percursoacidentado e foi submetido a todas as 1iolCncias& e7posto a inLmeras disputas -ue dei7arama sua marca nele* o -ue não diminui sua di1indade dado -ue 2insiste;se no cap,tulo 992&a #scrituraF seria igualmente di1ina& ainda -ue ten!a sido escrita com outras pala1ras ounuma outra l,ngua$ (TT6 99* cf' 0pinoza & p' %)'#spinosa& portanto& não diz -ue a +,blia não se.a um li1ro sagrado* s/ desmonta suae7clusi1idade 2segundo uma operação análoga ao procedimento pelo -ual& no cap,tulo 999&tampouco nega -ue o !ebreu se.a um po1o eleito$& mas diz unicamente -ue todos o são &-ue a eleição$ não é outra coisa senão a e7istCncia mesma' #spinosa& em 1erdade& nuncanega (sua filosofia não poderia por isto ser considerada um a;te,smo)* pelo contrário&estende sempre a tudo e a todos o aspecto afirmati1o (por isso sim& pan;te,smo)& libera;o de-ual-uer prerrogati1a& desmantela a l/gica da e7clusão e a substitui por uma agregação euma inclusi1idade -ue não é s/ teol/gica& mas também filos/fica e pol,tica' #m sentidoestrito& o pante,smo não é an;ár-uico (pelas mesmas raz4es pelas -uais não é a;teu) nem!ier;ár-uico* é 2se consentimos o termo2 uma omni;ar-uia& e sua mel!or metáfora é aesfera cu.o centro está em todas as partes e sua circunferCncia em nen!uma'

< estudo das 0agradas #scrituras por #spinosa 2e antes por obbes2 apresenta um sentido!ist/rico bem preciso' #feti1amente& ainda -ue considerado uma coisa entre as coisas&0pinoza concede a esse li1ro mais atenção e dedicação do -ue a nen!um outro& se.a antigoou moderno' #sta eleição significa o recon!ecimento de uma intr,nseca 1erdade ou de umamaior di1indade do seu conteLdoB Kampo de infinitas batal!as& trata;se ao contrário de umaincursão -ue procura con1erter esse te7to numa outra coisa& desati1ar as pretens4esespeculati1as -ue l!e foram ad.udicadas& 1oltá;lo inofensi1o e dei7ar o terreno li1re para a

J 6ara manter a correlação entre os termos utilizados pelo autor& preferiu;se fazer uma tradução li1re dasediç4es espan!olas das obras de #spinosa' (I' do T')

 ''' podemos c!amar au7,lio interno de Deus a tudo -uanto a natureza !umana pode fazer& pelo seu pr/prio poder& para conser1ar o seu pr/prio ser* e au7,lio e7terno de Deus a toda utilidade -ue pro1en!a& por sua 1ez&do poder das causas e7ternas' Do anterior segue;se facilmente o -ue temos -ue entender por eleição di1ina'Komo efeti1amente ninguém pode fazer nada& senão em 1irtude de uma ordem predeterminada da natureza&

-uer dizer& pelo go1erno e decreto eterno de Deus& segue;se -ue ninguém escol!e para si uma forma de 1ida&nem faz nada& senão é por uma singular 1ocação de Deus -ue o escol!eu& e não a outros& para esta obra ou

 para esta forma de 1ida'$ (TT6 999* cf' 0pinoza & p' %)' #m La esfera de Pascal & +orges traça a !ist/ria desta imagem& nela inscre1endo os nomes de #mpédocles&ermes Trimegisto& Alain de 3ille& Iicolás de Kusa& Giordano +runo e 6ascal& mas não o de #spinosa(associado em outros te7tos " metáfora do labirinto)& nem& surpreendentemente& o de August +lan-ui(in1ocado sim por +orges na istória da eternidade) -uem& na primeira página de L!eternit" par lhes astres&cita a passagem de 6ascal emendando;a assim: < uni1erso é uma esfera cu.o centro está em todas partes& esua superf,cie em nen!uma$'

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filosofia' A istoria #cripturae afasta;se do paradigma de uma  Les$ar%eit der &elt $ 2ondeo mundo é concebido como con.unto de signos a ser decifrados& escritura não produzida por !omens& criptografia carente de intencionalidade& vestigia Dei'''2& em fa1or de umanaturalização dos te7tos& -ue de1em ser submetidos a uma e7plicação genética'  < método de leitura com -ue #spinosa realiza esta operação não sempre é conse-Nente' A

e7igCncia de con!ecer as 1icissitudes da 1ida dos autores para o entendimento do Te7to 2eas 1icissitudes dos pr/prios li1ros -ue o comp4em2 pressup4e uma fonte e7terna& o -ue nãocondiz ao princ,pio fundamental de não aceitar nen!um con!ecimento da +,blia -ue nãoderi1e da +,blia mesma (-uer dizer& em termos de 0trauss& -ue por tratar;se de um li1ro!ierogl,fico$ re-uer;se não s/ uma interpretação$ dele& mas também sua e7plicação$ pela!ist/ria)' Além disso& e especialmente ao discutir a -uestão dos milagres& esse princ,piotambém se cancela -uando afirma -ue -ual-uer passagem do te7to sagrado -ue contrastecom o ensino filos/fico (e7terior& naturalmente& ao ensino +,blico) de1e ser re.eitado comoum acréscimo sacr,lego (cf' 0trauss 5)' Di1ersamente dos li1ros intelig,1eis e auto;e7plicati1os& como os 'lementos de #uclides ou a (tica& para cu.a compreensão nada sere-uer con!ecer em relação ao autor& as circunstOncias !ist/ricas& nem se-uer a l,ngua em-ue foram escritos> (isto é& não se re-uer nada além do pr/prio li1ro)& a +,blia re-uer ummétodo de leitura por ser em si mesma inintelig,1el'Komo de1e considerar;se o pr/prio Tratado teológico-político " luz desta distinçãostraussana entre li1ros auto;e7plicati1os e li1ros !ierogl,ficosB Temos -ue ler o TT6 comolemos a (tica& ou como 2segundo o mesmo Tratado 2 !a de ler;se a +,bliaB 6areceria -ueestamos neste caso frente a um te7to -ue desestabiliza a distinção intelig,1el E inintelig,1el&ou mel!or& a matiza'? P claro -ue #spinosa não escre1eria nada inintelig,1el* contudo& a

 6ropositalmente& #spinosa não se inscre1e na 1ia -ue constituirá a no1a !ermenCutica& e -ue no mundomoderno& logo de 0c!leiermac!er e Dilt!eQ& op4e ciCncia da natureza e ciCncia do esp,rito& e7plicação f,sica ecompreensão do sentido''' #spinosa coloca em paralelo +,blia e Iatureza& mas esta analogia não se presta aoperaç4es de tipo espiritualista' Ião é a Iatureza -ue se torna te7to ou li1ro& mas são os te7tos e a +,blia -uese tornam Iatureza& isto é& ob.etos naturais suscet,1eis de receber uma e7plicação natural$ (Tosel %& pp' ?%;

)' Ainda -ue& pro1a1elmente& em algumas passagens isto possa 1oltar;se re1ers,1el: em particular onde#spinosa& sob inspiração paulina (cf' )omanos& 99& ?)& antep4e "s tabelas da lei a lei escrita por Deus nasmentes e nos coraç4es (a leitura dos coraç4es mais do -ue a de -ual-uer li1ro era .á& num outro sentido&recomendada por obbes na 9ntrodução do 3e1iatã)& não pass,1el 2a diferença das leis estabelecidas nalinguagem escrita2 de adulteraç4es nem de corrupç4es* uma lei& portanto& não escrita com tinta& mas com oesp,rito de Deus& e não sobre tabelas de pedra& mas nas tabelas de carne do coração& entãoF -ue dei7em deadorar a letra e de in-uietar;se tanto por ela$ (TT6 99* cf' 0pinoza & p' %)' Também: P imposs,1el nãoficarmos espantados -uando pretendem submeter a razão''' "s letras mortas& -ue a mal,cia !umana pode tercorrompido* e -uando não se tem por um crime falar indignamente da mente& autCntico aut/grafo da pala1rade Deus'''$ (TT6 8* cf' 0pinoza & p' )'> #uclides& -ue s/ escre1eu coisas simples e altamente intelig,1eis& pode facilmente ser e7plicado por-ual-uer pessoa e em -ual-uer l,ngua' 6ois para apreendermos o seu pensamento e estarmos certos de seu1erdadeiro sentido& não é necessário ter um con!ecimento completo da l,ngua em -ue ele escre1eu& mas basta

um con!ecimento 1ulgar e no n,1el -uase de uma criança* não é necessário con!ecer a 1ida do autor& nemsuas afeiç4es e costumes& nem em -ue l,ngua escre1eu& para -uem e -uando* nem a deri1a do li1ro& nem suasdi1ersas leituras& nem como e -uem foram as pessoas -ue aconsel!aram aceitá;lo' # o -ue se diz de #uclides&diz;se também de -uantos escre1eram sobre coisas -ue são percept,1eis por natureza'$ (TT6 899* cf' 0pinoza& p' )'? Também 2segundo obser1a o pr/prio 0trauss; *l Principe de Mac!ia1elli é considerado por #spinosa comoum li1ro sem dL1ida intelig,1el& não !ieroglifico& mas tampouco auto;e7plicati1o& pelo -ual na suacompreensão se toma em conta -ue seu autor é um !omem sábio$& prudent,ssimo$ e fa1orá1el " liberdade$(T6* cf' 0pinoza >& p' )'

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compreensão deste te7to coloca -uest4es para cu.a solução não é suficiente umainterpretação$& sendo necessária uma e7plicação”. < ob.eto de estudo elegido ao longodos -uinze primeiros cap,tulos não é auto;e7plicati1o& mas obedece a raz4es !ist/ricas&inclusi1e pol,ticas& das -ue a pr/pria obra não dá conta' #spinosa não teria escrito o TT6 sea +,blia não fosse 2e poderia não ter sido; a maior determinante da imaginação popular em

sua época& nem teria escrito em fa1or da Li$ertas philosophandi& se esta não for uma dasgrandes urgCncias do seu tempo'6or -ue& com -ue prop/sito& para -uem& contra -uem escre1eu #spinosa o Tratadoteológico-políticoB 6or -ue o escre1eu precisamente no momento em -ue o fez& no meio daredação da (tica (se presume -ue em H= esta1am .á redigidas as trCs primeiras partes)&trabal!o -ue #spinosa considera1a capital e -ue não entanto decidiu interromper durante osanos da redação do TT6B #stas perguntas submetem ao li1ro a uma !ist/ria precisa& e nãoteria muito sentido aplicá;las " (tica& fato -ue marca uma clara diferença de estatuto'6ro1a1elmente ten!a sido 0Ql1ain Rac (cf' Rac ) -uem mais radicalizou esta diferença&afirmando -ue a aplicação deste método de interpretação da +,bliaF sup4e -ue o mesmo#spinosa coloca entre parCntesis sua pr/pria filosofia$& de maneira tal -ue estar,amos frentea um método independente do espinosismo e de toda filosofia em geral' < TT6 nãoapresentaria& por tanto& nen!uma filosofia& nem seria uma introdução a ela& mas sim procuraestabelecer as condiç4es sociopol,ticas para sua li1re manifestação'#m sentido contrário& outros intérpretes afirmam 2na tril!a aberta por 0trauss2 -ue as duasobras e7pressam um mesmo pensamento: de maneira esotérica (ou se.a& 1erdadeira) a (tica&de maneira esotérica (adaptada " imaginação) o TT6' < mesmo Tratado& em opinião de0trauss& Tosel e outros& teria um aspecto esotérico formulado segundo uma escritura cifrada&reticente$& -ue e7ige uma leitura entre lin!as e está destinada a leitores sagazes ou ainda por 1ir& e outro aspecto esotérico& mais ou menos ortodo7o& ao mesmo tempo umaadaptação e um mascaramento'< problema -ue encontro nesta tese de #spinosa como escritor p/stumo& como fil/sofo -ueescre1e deliberadamente para um tempo -ue não é o seu&  é -ue& de ser assim& não !a1eriatido necessidade de cifrar suas idéias com uma escritura dupla& nem se-uer de ter escrito oTT6* se a -uestão fosse a posteridade& nada mel!or do -ue a  (tica'Kom efeito& ainda -ue sem nome de autor e e7posto a todos os perigos& #spinosa publicou oTT6 ;-ue foi;l!e ad.udicado& como ele pr/prio não podia ter descon!ecido& -uase deimediato' A consideração dos seus dois moti1os mais e1identes o ancoram de c!eio no

 < -ue le1a a 3eo 0trauss a afirmar& muito discuti1elmente segundo a min!a opinião& -ue& tratando;se de umescritor para a posteridade& não de1emos conceder grande importOncia " KorrespondCncia de #spinosa& poissuas cartas estariam dirigidas a contemporOneos mais bem med,ocres& ou -ue nem sempre tin!am uminteresse filos/fico autCntico' 6or uma parte& segundo meu ponto de 1ista& o interesse filos/fico daKorrespondCncia resulta e1idente na sua mera leitura& -ue re1ela inclusi1e uma abertura e uma falta de

reticCncia de #spinosa& -uando formulam;l!e perguntas ou prop4em;l!e uma discussão& as 1ezes contrária aseu pr/prio preceito de prudCncia' 0em dL1ida de1eria fazer;se uma discriminação fina entre os di1ersosinterlocutores de #spinosa& mas pareceria -ue sua disposição original 2e en-uanto não este.a obrigado aocontrário pelo surgimento de preconceitos ou modos impr/prios& como no caso de +li.nberg; é sempre a

 presunção de !onestidade e atitude filos/fica para o intercOmbio franco e aberto' Além disso& a ins,gnia com a pala1ra caute no lacre das cartas permitia a seus destinatários saber -ue ali dentro não se encontrariam precisamente banalidades (sobre o emblema com -ue #spinosa sela1a as cartas& 1e.a;se o precioso artigo deSilippo Mignini& 9l sigillo di 0pinoza$& em La cultura+%& %5& pp' ?;5* e também o clássico estudo deKarl Geb!ardt Das 0iegel KAT#$& em Chronicum #pino,anum& 98& %>;)' 

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fragor do seu tempo: a substituição da superstição pela vera religio nos -uinze primeiroscap,tulos* a substituição do imperium violentum pela li$era respu$lica 2isto é& umafundamentação da democracia como liberdade para pensar o -ue se -ueira e dizer o -ue se pensa2 nos cinco Lltimos cap,tulos'A tese central de 3eo 0trauss é -ue no TT6 #spinosa não se dirige nem para o 1ulgo (ao

-ual desaconsel!a a leitura da obra no mesmo prefácio) nem para os fil/sofos (aos -ue preferentemente está dirigida a (tica)& mas para todos a-ueles -ue tCm uma disposição paraa filosofia& para fil/sofos potenciais capazes de ler o suficientemente bem para transcendero n,1el mais superficial do te7to e conseguir aceder " 1erdade& formulada em cla1e com aconsciCncia de -ue o li1ro ati1aria todos os mecanismos de perseguição latentes no coraçãoda e7istCncia supersticiosa* leitores -ue soubessem despo.ar a mensagem b,blica de todo o-ue não for sua simples dimensão prática ;-ue resume;se em amar ao pr/7imo e amar aDeus' A leitura& segundo o caso& induzirá um amor intelectual de Deus ou& pelo menos& umamor passional não incompat,1el com outras crenças& com a democracia pol,tica e com afilosofia' #m soma& acomodar a 1erdade " imaginação& falar de acordo com a capacidade (afalta de capacidade) dos não;fil/sofos -ue serão seus leitores'H #ste drama da relação entrefilosofia e não;filosofia& entre fil/sofos e não;fil/sofos& -ue 0trauss nos ensinou a 1erinscrito no coração de algumas obras de filosofia& permitiria compreender as contradiç4es eas escurid4es& não como descuidos ou negligCncias dos autores 2especialmente no caso de#spinosa& onde !á uma 1ontade de clareza indubitá1el;& mas como uma reticCncianecessária para dizer o -ue não se pode dizer' < interrogante -ue então surge é: -ual é olimite 2se este e7iste2 das técnicas de adaptação para a e7pressão pLblica de um pensamentoB '''< fil/sofo 2escre1e 0trauss2 de1e sobretudo adaptar a e7pressão do pr/prio pensamento "s opini4es comuns& professando estas mesmas opini4es na medida do poss,1el ou necessário& inclusive se as considera-se falsas ou a$surdas$ o sublin!ado émeuF'Mas& pode um fil/sofo afirmar o -ue .ulga falsoB De1emos partir da base de -ue #spinosanão mente em nen!um caso* de -ue a mentira é o limite -ue se imp4e um fil/sofo !onesto pressionado pelas circunstOncias para assumir uma reticCncia na escritura' A escrituracifrada de1e ser tal -ue& no má7imo& permaneça indecifrada& sem ocasionar com isso danoalgum' A mentira como estratégia de mascaramento& mesmo sendo pro1is/ria& não podee1itar o engano nos leitores literais -ue indefect,1elmente percorrerão as páginas do li1ro'# de fato& não encontro tais contradiç4es no te7to -ue& para sua solução& de1amos recorrer "!ip/tese de uma mentira' < -ue #spinosa faz o tempo todo é resignificar os termos datradição religiosa& conferir;l!es& sem ab.urar deles& um sentido -ue se autonomiza dosobrenatural e se inscre1e plenamente no Ombito da razão'ma das discuss4es recentes mais significati1as sobre o sentido do TT6 é a-uela -ue AndréTosel e enri 3au7 sintetizaram na re1ista #tudia #pino,ana de %%? (Tosel = e 3au7 &em #tudia #pino,ana v..+ pp' ?;%%)'5 < problema é o seguinte: #spinosa considera -uetoda religião é superstição* -ue& além de -ual-uer desmitologização& todas as religi4es

H #spinosa utiliza uma série de e7press4es similares como ad captum vulgi lo/ui& ad captum ple$is& adcaptum alicuius+ ad hominem+ ad captum ae$raorum lo/ui+ etc'& -ue 3eo 0trauss remete " moral pro1is/riade Descartes ( Discours de la 0"thode 999& 98) e a +acon& ainda -ue seguramente também e7ista a-ui umaraiz est/ica'5 Também cf' Tosel& A'& #pino,a et le cr"puscule de la servitude (Tosel %)& e 3au7& '& *magination et raisonche, #pino,a La potentia dans l!histoire' 6aris& 8rin& %%' 

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 positi1as 2tanto o .uda,smo como o islã e o cristianismo2 redundam em ser1idãoB P o prop/sito de #spinosa& portanto& uma superação da religião e uma conse-Nente introduçãodos !omens na filosofiaB <u bem& como prop4em outras leituras& o sentido do TT6 é umareforma$ do imaginário religioso& irredut,1el e insuperá1el como talB 0egundo estasegunda interpretação& -ue lC ao TT6 como um organon de purificação da fé e como uma

fundamentação da 1erdadeira religião$& o trOnsito -ue tenta #spinosa a-ui não é daimaginação para a razão& mas intra;imaginati1o* uma emenda da imaginação submissa&dominada pela ser1idão e o preconceito& em fa1or de uma imaginação tolerante edemocrática' Ainda mais& poderia pensar;se -ue esta depuração imaginati1a supostamente promo1ida por #spinosa tem a forma de uma substituição do .uda,smo pelo cristianismo* uma substituiçãoda religião da 3ei 2essencialmente teol/gico;pol,tica2 por uma religião uni1ersal -ue liberada 3ei%* uma substituição da religião do temor pela religião do amor'A-ueles -ue& pelo contrário& defendem 2como em meu caso2 a primeira alternati1a&concebem ao espinosismo como uma filosofia radical -ue se recon!ece pertencendo "cr,tica anti;religiosa da tradição epicurista& e ao TT6 como a possibilidade de umacon1ersão " filosofia dos cristãos 2e crentes2 sem igre.a$' 0egundo esta leitura& paradigmaticamente desen1ol1ida por Tosel dentro da tril!a aberta por 3eo 0trauss& o TT6seria um li1ro de passagem& percurso por uma  (tica subterrOnea$ -ue corr/i desde suagCnese todas as formas do imaginário religioso' 6or isso& o TT6 não tem a-ui a Lltima pala1ra* -uando acaba& começa a (tica'Kom respeito " relação entre o no1o e o antigo testamento& mais uma 1ez 3eo 0trauss dizalgo decisi1o' #spinosa procura1a con1erter " filosofia ao maior nLmero de pessoas$ (cf'T9# >& 0pinoza ?& p' 5=* e # 8 prop'=& 0pinoza & pp' H e ss')' 0endo os cristãos& nomundo& mais numerosos do -ue os .udeus& #spinosa teria se dirigido especialmente a eles&teria sido um cristão com os cristãos$ da mesma forma em -ue& desde seu ponto de 1ista&6aulo foi um grego entre os gregos e um .udeu entre os .udeus$' Mas sobretudo de1emosrecon!ecer a-ui& no1amente& uma razão para a cautela: o poder pol,tico e social docristianismo& e não sua intr,nseca 1erdade& e7plica por -ue a substOncia cr,tica do TT6 estáconstitu,da pelos moti1os .udeus mais do -ue pelos cristãos& pois era infinitamente menos perigoso atacar ao .uda,smo do -ue ao cristianismo& e era claramente menos arriscadoatacar ao antigo testamento do -ue ao no1o' 0ua relati1a reticCncia em relação com ostemas especificamente cristãos não se de1e nem a um descon!ecimento do grego& nem doe1angel!o& mas a uma precaução -ue o protegia da perseguição da entente$ 1ulgo;te/logos& ao mesmo tempo -ue os leitores mais prudentes$ podiam compreender semdificuldade -ue a sua cr,tica ao antigo testamento e ao .uda,smo era 1álida igualmente parao cristianismo' #m soma& -uando #spinosa fala do .uda,smo& está também falando docristianismo e de toda religião'= Ieste sentido& de1emos dar uma re1ira1olta na presunção

% 6aulo conclui& por fim& dizendo -ue''' Deus en1iou a seu Kristo a todas as naç4es& para -ue as libertasse daser1idão da lei& para -ue fizessem o bem& não .á por mandato da lei& mas por uma constante decisão interior'6aulo ensina& pois& e7atamente a-uilo -ue n/s tentamos pro1ar$ (TT6 999* cf' 0pinoza & p' =)' 0obre opaulinismo de #spinosa$& cf' o estudo de 0!lomo 6inUs& Iote sur la conception spinoziste de la liberté!umaine& du bien et du mal$& em La li$ert" de philosopher De 0a1monide 2 #pino,a' 6aris& Desclée de+rouVer& %%H& pp' >5;>H'

= Ainda -ue não se.a citada por 0trauss& não pode dei7ar de lembrar;se a-ui a e7traordinária carta a Albert+urg!& -uem não s/ se fez membro da 9gre.a Womana'''& mas também seu acérrimo defensor& e -ue .áaprendeu a amaldiçoar e a enfurecer;se com petulOncia contra seus ad1ersários$' A-ui #spinosa diz

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de -ue #spinosa seria um fil/sofo cristão* o certo é o contrário: Kristo e 6aulo de Tarso&mas também 0alomão entre os .udeus& são fil/sofos espinosistas -ue adaptaram seusensinos " imaginação de a-ueles -ue os escuta1am' A interpretação do espinosismo como um programa poss,1el -ue prop4e a filosofia para a!umanidade& como maneira de compreender o mundo e como forma de 1ida& sob a

 premissa de -ue nunca poderá afirmar;se de maneira terminante -ue& por natureza& e7istam!omens incapazes de aceder a ela& encontra seu obstáculo maior numa passagem docap,tulo 8 do TT6 (na 1erdade& duas& mas -ue dizem o mesmo)' A compreensão do -uediz esse te7to& ademais& de1e ater;se ao princ,pio de -ue #spinosa não diz nada -ue .ulguese.a falso& princ,pio -ue ;segundo eu ac!o& mas não na opinião de 0trauss;& de1e 1aler comorestrição " teoria da escritura reticente$' Iessa passagem lC;se o seguinte: n/s não podemos demonstrar pela razão se é 1erdadeiroou falso o fundamento da teologia& a saber& -ue os !omens se sal1am pela s/ obediCncia'''eu defendo& sem restrição alguma& -ue o dogma fundamental da teologia não pode serdescoberto pela luz natural ou -ue& no m,nimo& não e7istiu ninguém -ue ten!a;odemonstrado& e -ue& por isso& a re1elação foi sumamente necessária$ 2certeza -ue&acrescenta #spinosa& não é matemática& mas moral$ (TT6 8* cf' 0pinoza & pp' ?;)' Ia Lltima página do cap,tulo se repete a mesma idéia: é imensa a utilidade e a necessidadeda 0agrada #scritura ou re1elação' 6ois& como não podemos perceber pela luz natural -ue asimples obediCncia é o camin!o para a sal1ação ( 3am+ /uando/uidem non possumuslumine naturali percipere+ /uod simple4 o$edientia via ad salutem sit )& e s/ a re1elaçãoensina -ue isso se consegue por uma singular graça de Deus -ue não podemos atingir pelarazão& segue;se -ue a escritura trou7e aos mortais um imenso consolo* por-ue todos& seme7ceção& podem obedecer* mas são muito poucos''' os -ue conseguem o !ábito da 1irtudes/ sob a guia da razão' 6or isso& se não contássemos com esta testemun!a da #scritura&du1idar,amos da sal1ação de -uase todos$ (TT6 8* cf' 0pinoza & p'=)' 6areceria -ue estamos frente a uma afirmação 2-ue postula a e7istCncia de uma 1erdadealém da razão& re1elada2 contradit/ria com o espinosismo no -ue este tem de mais pr/prio&e -ue ameaça con1erter ao TT6 num li1ro inintelig,1el' 6orém& não s/ resultariainintelig,1el e anti espinosista a afirmação de uma 1erdade inacess,1el para a luz natural 2 isto é& re1elada2& mas também seria contradit/rio com um importante nLmero de passagenstanto da (tica como do TT6 afirmar uma sal1ação por uma 1ia diferente do amorintelectual& inclusi1e da razão em sentido amplo'

e7atamente o -ue pensa: o -ue distingue " 9gre.a Womana das outras é totalmente supérfluo e& portanto& produto e7clusi1o da superstição$' < -ue 1ocC adiciona sobre o consentimento unOnime de mir,ades de!omens e sobre a ininterrupta sucessão da 9gre.a& etc'& é a mesma cantiga dos fariseus'''& eles se manti1eramconstantes durante 1ários mil!ares de anos& não por-ue algum império os forçasse& mas s/ pela eficácia da

superstição$' A ordem da 9gre.a Womana& -ue 1ocC tanto elogia& confesso -ue é pol,tica e lucrati1a paramuit,ssimos& e eu não creio -ue e7ista outro mais ade-uado para enganar ao 1ulgo e para sub.ugar aosesp,ritos !umanos& de não e7istir a ordem da 9gre.a Maometana& -ue a supera grandemente' 6ois& desde aépoca em -ue começou esta superstição& não surgiu nen!um cisma em sua igre.a$ (#p' H* cf' 0pinoza H& pp'%?;>=)' Kf' o e7traordinário li1ro de A' Mat!eron Le Christ et le salut des ignorants& 6aris& Aubier Montaigne&%H& em particular pp' %;%& 5;>' #& em uma Adnotatio$ -ue corresponde a este te7to: -ue para a sal1ação ou felicidade se.a necessárioaceitar os decretos di1inos como direitos ou mandatos& e não é necessário concebC;los como 1erdades eternas&não pode;o ensinar a razão mas a re1elação'''$ (TT6 8& idem)'

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6or obediCncia #spinosa entende .ustiça& caridade e amor ao pr/7imo'   Ia passagem -ueestamos tratando& o amor ao pr/7imo não procede de um amor intelectual de Deus& mas deum decreto di1ino>& e seria suficiente para a sal1ação'6or sal1ação #spinosa entende felicidade$& liberdade$& contentamento interior$(ac/uiescentia)& e7periCncia da eternidade$' 0egundo a (tica& esta felicidade se consegue

s/ pelo terceiro gCnero de con!ecimento

?

& en-uanto o ignorante''' não possui .amais(un/uam) o 1erdadeiro contentamento de Onimo (ver5 animi ac/uiescenti5)'''$ (# 8& prop'>& esc')' Io TT6 lemos -ue esta era também a opinião de 0alomão& -uem faz consistir oinfortLnio e7clusi1amente na ignorOncia$ e portanto& segundo seus Prov"r$ios&unicamente os sábios ( soli igitur sapientes) 1i1em com Onimo calmo e firme'''$ 'Agora& -ue entende #spinosa por re1elação$B Ium sentido estritamente espinosista& não poderia tratar;se de uma re1elação em sentido !ist/rico& mas de uma re1elação da idéia deDeus nos esp,ritos e do amor de Deus nos coraç4es& de maneira -ue re1elação e amorintelectual coincidem' 9sto significa -ue teologia e filosofia também coincidemB Ião era& pelo contrário& a separação das duas o prop/sito primário do TT6B 0em dL1ida& s/ -ue é damá teologia -ue a filosofia de1e se resguardar' 0e do Deus de #spinosa é -ue se trata&teologia 2como entendimento de Deus& discurso sobre Deus; e filosofia sãonecessariamente a mesma coisa'6orém& a passagem do cap,tulo 8 -ue a-ui procuramos compreender não fala dere1elação em sentido espinosista& mas da re1elação de algo inacess,1el para a razão' Mas#spinosa& precisamente& não diz -ue a-uilo re1elado pela #scritura se.a uma 1erdade& nem-ue se.a 1erdade& senão -ue é imensa a utilidade$ e a necessidade$ -ue temos dela(utilitatem+ 6 necessitatem #acrae #cripturae+ sive revelationis+ /uod ipsam permagnam statuo)& por-ue trou7e aos mortais um imenso consolo$ (magnum admodum)' 0e estedogma fundamental da teologia é 1erdadeiro ou falso& não podemos demonstrá;lo pela s/razão nem descobri;lo por ela' 6orém tampouco a pr/pria teologia& nem a testemun!a da#scritura ensina -ue se.a 1erdadeiro& mas unicamente -ue foi e é necessário 2na medida&

 A obediCncia a Deus consiste e7clusi1amente no amor ao pr/7imo$ (TT6 999* Kf' 0pinoza & p' =)'> Xá pro1amos -ue os direitos di1inos s/ se nos apresentam como direitos ou decretos en-uanto ignoramossua causa* pois& con!ecida esta& dei7am ipso facto de ser direitos e os aceitamos& não como direitos mas como1erdades eternas* -ue dizer -ue a obediCncia se transforma imediatamente em amor''' 6ela razão& pois&

 podemos amar a Deus& mas não obedecer;l!e* por-ue não podemos abraçar os direitos di1inos como di1inos&en-uanto descon!ecemos sua causa& nem podemos com a razão conceber Deus como um pr,ncipe -ueestabelece direitos$ (TT6 89* cf' 0pinoza & p' >)'? A felicidade consiste no amor a Deus'''& e este amor surge do terceiro gCnero de con!ecimento'''* por isso&tal amor de1e referir;se " alma en-uanto -ue atua'''$ (# 8 prop' >& dem')' P assim -ue compreendemosclaramente em -ue consiste nossa sal1ação ou felicidade& -uer dizer& nossa liberdade (nostra salus+ seu$eatitudo+ seu Li$ertas)* a saber: num constante e eterno amor a Deus& ou se.a& no amor de Deus para os!omens' #ste amor ou felicidade é c!amado Gl/ria nos li1ros sagrados& e não sem moti1o& pois este amor&refira;se a Deus ou ao alma& pode se c!amar corretamente contentamento do Onimo (ac/uiescentia)'''$ (# 8

 prop' >& esc')' Kom efeito& este fato de -ue Deus se re1elou de maneira imediata a Kristo ou " sua mente& e não& como aos profetas& atra1és de pala1ras e imagens& s/ podemos entendC;lo no sentido de -ue Kristo percebeu ouentendeu e7atamente as coisas re1eladas* por isso& se alguma 1ez as prescre1eu como leis& foi por causa daignorOncia e da obstinação do po1o''' 6ois não cabe dL1ida de -ue "-ueles aos -ue tin!a sido concedidoentender os mistérios celestiais& ensinou;l!es as coisas como 1erdades eternas e não as prescre1eu como leis*e neste sentido& os libertou da ser1idão da lei' Atuando assim& porém& confirmou e estabeleceu ainda mais a leie a imprimiu profundamente em seus coraç4es' 9sto mesmo parece indicar 6ablo em algumas passagens''' Masnem mesmo ele -uer falar abertamente& senão''' ao modo !umano (humano more lo/uitur )'$ (TT6 98* cf'0pinoza & pp' >?;>)'

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 poder,amos agregar& em -ue os !omens não acedam a sua pr/pria potCncia de 1i1er e4ductu rationis* no -ual caso a re1elação& necessária mas não 1erdadeira& de -ue os !omenssal1am;se pela s/ obediCncia& perde sua utilidade' Ião está descartado -ue a cidadeespinosista possa cumprir;se na !ist/ria'Além da sua pro1is/ria necessidade& a religião não sal1a (em nen!um caso nos permite

aceder a nossa pr/pria eternidade& a nossa felicidade nem " liberdade) e também não sal1a aobediCncia' 0al1a a filosofia& e sal1am as obras& se elas tCm sua origem numa inteligCnciaamante das coisas e de n/s mesmos'

Referências Bibliográficas:

' 3A& '& Weligion et p!ilosop!ie dans le Trait" Th"ologico-politi/ue' Débat a1ecAndré Tosel$& in #tudia #pino,ana+ 1ol'& %%?'' 3#89IA0& #'& A1ez;1ous relu +aruc!B$& in Difficile li$ert"& 6aris& Albin Mic!el& %%='' 069I<RA& Tratado teológico-político& traducci/n& introducci/n& notas e ,ndices deAtilano Dom,nguez' Madrid& Alianza& %5'>' ;;;;;;;;;;;;;Tratado político& traducci/n& introducci/n& notas e ,ndices de AtilanoDom,nguez' Madrid& Alianza& %5'?' -------------Tratado de la reforma del entendimiento& traducci/n& introducci/n& notas e,ndices de Atilano Dom,nguez' Madrid& Alianza& %55'  ' ;;;;;;;;;;;;;;;; (tica+ traducci/n& introducci/n& notas e ,ndices de 8idal 6eYa' Madrid& #ditora Iacional& %5>'H' ;;;;;;;;;;;;;;Correspondencia+ traducci/n& introducci/n& notas e ,ndices de AtilanoDom,nguez' Madrid& Alianza& %%='5' 0TWA00& 3'& oV to 0tudQ 0pinozaZs T!eologico;political Treatise$& in Persecutionand the art of 7riting ' IeV [or\& T!e Sree 6ress& %?'%' T<0#3& A'& #pino,a ou le crepuscule de la servitude' 6aris& Aubier& %5>'=' ;;;;;;;;;;;;;; @ue faire a1ec le Trait" Th"ologico-politi/ueB Wéforme de lZimaginairereligieu7 etEou introduction " la p!ilosop!ieB$& in #tudia #pino,ana+ 1ol'& %%?'' RAK& 0'& #pino,a et l!interpr"tation de l!'criture& 6aris& 6''S'& %?'