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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA
Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva
DOENÇAS E AGRAVOS NÃO TRANSMISSÍVEIS
(DANT`s) E SEUS DETERMINANTES: UM ESTUDO DE
NOVOS PADRÕES DE MORTALIDADE EM
POPULAÇÕES INDÍGENAS DE PERNAMBUCO.
RECIFE 2007
Tatiane Fernandes Portal de Lima
TATIANE FERNANDES PORTAL DE LIMA
DOENÇAS E AGRAVOS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DANT´s) E SEU S
DETERMINANTES: UM ESTUDO DE NOVOS PADRÕES DE
MORTALIDADE EM POPULAÇÕES INDÍGENAS DE PERNAMBUCO.
Monografia apresentada como pré-requisito parcial a obtenção do título de especialista no Curso de Pós-Graduação latu Sensu do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Pública do Departamento em Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.
Orientador:
ANDRÉ MONTEIRO COSTA
Recife 2007
Tatiane Fernandes Portal de Lima
DOENÇAS E AGRAVOS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DANT´s) E SEU S
DETERMINANTES: UM ESTUDO DE NOVOS PADRÕES DE
MORTALIDADE EM POPULAÇÕES INDÍGENAS DE PERNAMBUCO.
Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação latu sensu de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz para a obtenção do título de especialista em Saúde Pública
Aprovado em: 23 de março de 2007
BANCA EXAMINADORA
_____________________________ Prof. Dr. André Monteiro Costa –
CPqAM/ Fiocruz
____________________________ Prof. Dr. Carlos Pontes
UFRPE / Unidade Acadêmica de Garanhuns
Para os povos indígenas do Nordeste
Os “primeiros brasileiros”
Povo sofrido, batalhador, guerreiro!
Que ao longo de 500 anos foram dizimados de forma violenta
Através do preconceito, do homicídio, do roubo de suas terras.
Para os índios do presente, todas as etnias do Brasil, com suas diversidades e
manifestações culturais.
A estes brasileiros, diante das iniqüidades sociais que vivenciam, a eles dedico este
trabalho, como parte da minha militância social por um País mais justo e mais
equânime.
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo dom da vida, por demonstrar o Seu tão grande amor
oferecendo Jesus, Seu único filho, na cruz em meu lugar; por me ensinar que todos
os meus atos devem ser feitos com amor, e que é doando que se recebe; por me
dirigir os passos, derramando Sua sabedoria para tomar decisões e escolher o
caminho a seguir.
Aos meus pais, José Maria e Lúcia, e minhas irmãs, Luciana e Cristiane,
que me ensinaram que por meio de todo bom trabalho há proveito, me enchendo de
amor e esperança frente às vicissitudes desta vida, sempre fazendo da “queda um
passo de dança”.
Aos meus amigos do NESC: Glaciene Mary, com sabedoria, simplicidade
e conhecimento, você me ensinou e ensina muito; Quézia Lima, Amanda Cabral e
Ângela Marcondes, grandes amigas que encontrei, agradeço a vocês por aprender
tanto com nossas preciosas diferenças, que sempre se somavam com respeito e
amor.
Aos professores Carlos Pontes, Abel Menezes, Eduarda Cesse e Carlos
Luna, com quem aprendi tanto, no ser e no fazer. Ao Professor Edson Silva da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por transmitir o seu amor pelos povos
indígenas de Pernambuco e seu compromisso ético.
Ao meu orientador André Monteiro, também meu professor, que tem
acompanhado meu caminhar e partilhado comigo vários desafios e várias conquistas
ao longo desta residência, por me dar a liberdade suficiente para crescer e aprender
sempre mais.
Aos meus amigos do município de Olinda, local onde realizei meu estágio
da residência, em especial a Márcia Marcondes e Petra Duarte, por sempre confiar e
acreditar no meu trabalho e contribuições.
A Vanessa Lima e Wanessa Tenório: amigas de longas datas, desde a
graduação em Fonoaudiologia na UFPE, estágios, pesquisas, congressos, enfim
compartilhamos sonhos e projetos de vida, vários deles alcançados e outros ainda
por alcançar.
A tia Lucir, tia Lenir e tio Marcos, aos casais Felipe e Beth, Luiz Cláudio,
Rose e Léo, Duduzinho, Rosana, Isabel, Viviane, minha avó Zezé, obrigada por me
ensinar com o exemplo de vida de cada um de vocês.
A Diego Rafael Cadena da Matta pela sua amizade, companheirismo,
carinho, amor, exemplo e cuidado.
A todos meu muito obrigada!
Coloco a disposição de cada um de vocês a minha amizade, minha
história de vida, aquilo que aprendi e reaprendo a cada dia, meu amor, carinho, meu
sorriso...
“É graça divina começar bem.
Graça maior é persistir na caminhada certa.
Mas a graça das graças é não desistir nunca.”
(D. Hélder Câmara)
RESUMO
O objetivo deste trabalho é analisar a situação do novo padrão de morbimortalidade
bem como apontar possíveis determinantes relacionados às Doenças e Agravos não
Transmissíveis (DANT´s) entre as populações indígenas de Pernambuco. Trata-se
de um estudo quantitativo, descritivo e observacional. Os óbitos foram estudados
para toda a população indígena de Pernambuco (PE), utilizando-se as seguintes
variáveis: faixa etária, sexo, grandes grupos e tipo de causas segundo CID-10. A
descrição do padrão de mortalidade será feito a partir do Siasi/ PE (dados de 2003 a
2005) e do Sistema de informação sobre Mortalidade (SIM), referentes aos anos de
1997 a 2004. Foi elaborado um diagnóstico sistemático dos possíveis determinantes
relacionados com as DANT´s relacionados com as características sócio-culturais e
históricas. Os possíveis determinantes para este estudo foram aspectos
demográficos e envelhecimento, contato com não – índios, restrição territorial,
atividades de subsistência, organização da atenção à saúde, hábito alimentar e
conflitos sociais nas demarcações. Observou-se envelhecimento populacional,
aumento da mortalidade por causas externas, doenças do aparelho circulatório,
neoplasias e diabetes. Os Pankararu apresentaram o maior percentual de óbitos por
causas externas, os Kambiwá foram os que apresentaram os maiores percentuais
para as neoplasias e por fim os Atikum apresentaram os maiores percentuais para
os óbitos por doenças do aparelho circulatório. Tais achados podem estar
relacionados com o maior tempo de contato com não-índios, envelhecimento
populacional e restrição territorial. Observa-se a emergência das DANT´s entre os
índios de Pernambuco, Há indícios claros de uma transição epidemiológica em
curso. Sendo recente a política de atenção aos povos indígenas no Brasil e
vivenciando um perfil epidemiológico dicotômico e de superposição, as políticas de
saúde para estes povos devem ir além das Doenças infecto-Parasitárias (DIP). Por
fim, apesar de recente, o uso do Siasi em estudos e análises deve ser incentivado
uma vez que este sistema permite enfocar as etnias separadamente.
Palavras chaves: Índios Sul Americanos, Causa Externa, Doença crônica.
ABSTRACT
The objective of this work is to analyze the situation of the new standard of
morbimortality as well as pointing possible determinative related to the Non-
Transmitted Diseases and Agravations General Coordination (DANT) among
indigenous populations of Pernambuco (PE), Brazil. One is about a quantitative,
descriptive and observacional study. The deaths had been studied for all the
indigenous populations of PE as well as for each ethnia separately, using the
following variable: age, sex, great groups and type of causes according to CID-10.
The description of the mortality standard will be made from System of Information of
Attention of the indigenous populations health (Siasi/PE) (given of 2003 the 2005)
and of the System of Information on Mortality (SIM), referring to the years of 1997 the
2004. A systematic diagnosis of possible the determinative ones related with the
DANTs related with the partner-cultural and historical characteristics was elaborated.
Possible the determinative ones for this study had been demographic aspects and
aging, contact with not - indians, territorial restriction, activities of subsistence,
organization of the attention to the health, alimentary habit and social conflicts in the
landmarks. One observed a population aging, an increase of mortality for external
disease, diseases of the circulatory system, neoplasms and diabetes. The Pankararu
had presented the percentile greater of deaths for external disease, the Kambiwá
had been the ones that had presented the percentile greaters for the neoplasms and
finally the Atikum had presented the percentile greaters for the deaths for diseases of
the circulatory system. Such findings can be related with the biggest time of contact
with not-indians, population aging and territorial restriction. It is observed emergency
of DANT enters the indians of PE, Has clear indications of a transistion
epidemiologist in course. Being recent the politics of attention to the aboriginal
peoples in Brazil and living deeply the opposite profile epidemiologist and of
overlapping, the politics of health for these peoples must go beyond infectious
disease. Finally, although recent, the use of the Siasi in studies and analyses must
be stimulated a time that this system allows to focus the ethnias separately.
Key words: American Indians South, External Cause, Chronic Disease.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Produção de artigos científicos sobre epidemiologia e determinantes
das DCNT´s em populações indígenas no Brasil, 2001-
2006..............................................................................................................................
28
Quadro 2 – Produção de artigos científicos sobre epidemiologia e determinantes
das mortes por causas externas em populações indígenas no Brasil, 2001-
2007.............................................................................................................................. 31
Quadro 3 – Tipos de violência relacionados aos índios de Pernambuco (CIMI, 1994
- 1995).......................................................................................................................... 32
Quadro 4 – Tipos de violência relacionados aos índios de Pernambuco (CIMI, 2003
- 2005).......................................................................................................................... 33
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Pirâmide etária dos índios de PE (Dsei-PE, 2005)................................. 49
Figura 2 - Pirâmide etária dos índios Pankararu (Pernambuco, 2005)................... 50
Figura 3 - Pirâmide etária dos índios Pipipan (Pernambuco, 2005)........................ 50
Figura 4 - Pirâmide etária dos índios Atikum (Pernambuco, 2005)......................... 50
Figura 5 - Pirâmide etária dos índios Truká (Pernambuco, 2005)........................... 50
Figura 6 - Pirâmide etária dos índios Fulni-ô (Pernambuco, 2005)......................... 50
Figura 7 - Pirâmide etária dos índios Xukuru (Pernambuco, 2005)........................ 50
Figura 8 - Pirâmide etária dos índios Kambiwá (Pernambuco, 2005)..................... 50
Figura 9 - Pirâmide etária dos índios Kapinawá (Pernambuco, 2005).................... 50
Figura 10 - Pirâmide etária dos índios Pankará (Pernambuco, 2005).................... 50
Figura 11 - Pirâmide etária dos índios Tuxá (Pernambuco, 2005).......................... 50
Figura 12 - Pirâmide etária dos índios Yanomani (Amazonas e Roraima, 2005)... 51
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. População indígena de Pernambuco, por etnia, 2005......................... 40
Tabela 2. População indígena de Pernambuco, por etnia (2000 –
2005).................................................................................................................... 47
Tabela 3. Comparativo do número de óbitos em índios segundo os sistemas
de informação (Pernambuco, 2001 a 2005)........................................................ 52
Tabela 4. Proporção de óbitos por doenças do aparelho circulatório no grupo
das Doenças do aparelho Circulatório em populações indígenas de
Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005)................................................................. 65
Tabela 5. Proporção de óbitos por neoplasias no grupo das neoplasias em
populações indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005)........................ 65
Tabela 6. Proporção de óbitos por doenças endócrinas nutricionais e
metabólicas no grupo das doenças endócrinas nutricionais e metabólicas em
populações indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005)........................ 65
Tabela 7. Proporção de óbitos por causas externas no grupo das causas
externas entre as populações indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 –
2005).................................................................................................................... 71
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Evolução da população desaldeiada e a população indígena que
vivem nas aldeias de Pernambuco. (Dsei-PE, 2000 a 2005).................................
48
Gráfico 2. Curva de Nelson Moraes da população indígena e não-indígena de
Pernambuco, 1997-2005.......................................................................................
53
Gráfico 3. Mortalidade Proporcional para a população indígena de
Pernambuco, segundo CID-10, 1997-2004...........................................................
54
Gráfico 4. Mortalidade proporcional por causas relacionadas as doenças
endócrinas, nutricionais e metabólicas ara a população indígena de
Pernambuco, (1997 e 2004) ..................................................................................
56
Gráfico 5. Mortalidade Proporcional para a população indígena jovem (15 a 29
anos) segundo CID-10 (Pernambuco, 1997-2004)...............................................
56
Gráfico 6. Mortalidade Proporcional para a população indígena idosa (60 anos
e mais) segundo CID-10 (Pernambuco, 1997-2004)............................................
57
Gráfico 7. Mortalidade Proporcional para a população indígena de Pernambuco
(Dsei/PE), segundo CID-10, 2003-2005.................................................................
58
Gráfico 8. Mortalidade por causas mal-definidas segundo faixa etária e sexo
para os povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005)......................
58
Gráfico 9. Mortalidade por causas mal-definidas segundo etnias de
Pernambuco (Dsei-PE, 2003 – 2005)....................................................................
59
Gráfico 10. Percentual de mortalidade por DCNT e causas externas em relação
as causas totais de óbitos relacionadas aos povos indígenas de Pernambuco
(Dsei-PE, 2001-2005).............................................................................................
60
Gráfico 11. Mortalidade proporcional por tipo de DCNT para a população
indígena de Pernambuco (Dsei-PE), por faixa etária, 2003 a 2005.......................
61
Gráfico 12. Mortalidade proporcional por tipo de DCNT e causas mal definidas
para a população indígena de Pernambuco (Dsei-PE), sexo, 2003 a 2005..........
62
Gráfico 13. Mortalidade por Diabetes segundo faixa etária e sexo para os povos
indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005)..............................................
63
Gráfico 14. Mortalidade por Doenças do aparelho circulatório segundo faixa
etária e sexo para os povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 –
2005).....................................................................................................................
63
Gráfico 15. Mortalidade por Neoplasias segundo faixa etária e sexo para os
povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005)..................................
64
Gráfico 16. Mortalidade proporcional por DCNT segundo etnias indígenas de
Pernambuco (Dsei/PE, 2003-2005)......................................................................
66
Gráfico 17. Mortalidade proporcional por doenças do aparelho circulatório
segundo etnias indígenas de Pernambuco (Dsei/PE, 2003-2005)........................
67
Gráfico 18. Mortalidade proporcional por Neoplasias segundo etnias indígenas
de Pernambuco (Dsei/PE, 2003-2005)..................................................................
68
Gráfico 19. Distribuição da mortalidade por causas externas para a população
indígena de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005)................................................
70
Gráfico 20. Mortalidade por Causas Externas segundo faixa etária para os
povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005)...................................
71
Gráfico 21. Mortalidade proporcional por causas externas segundo sexo para a
população indígena de Pernambuco (Dsei-PE, 2003 a 2005)...............................
72
Gráfico 22. Mortalidade por Causas Externas segundo faixa etária e sexo para
os povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005)..............................
72
Gráfico 23. Mortalidade proporcional por causas externas segundo Etnia (Dsei-
PE, 2003 – 2005)...................................................................................................
73
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Http – Hypertext Transfer of Protocol
www – world wide web
Nesc – Departamento de saúde Coletiva
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
CPqAM – Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães
DANT´s – Doenças e Agravos Não Transmissíveis
DCNT – Doenças Crônicas Não Transmissíveis
Siasi – Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena
PE – Pernambuco
CIMI – Conselho Indigenista Missionário
CID -10 – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (Décima Revisão)
DIP – Doenças infecciosas e parasitárias
Scielo – Scientific Electronic Library Online
Lilacs – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
Medline – Literatura Internacional em Ciências da Saúde
IBASP – Instituto Brasileiro de Amizade e Solidariedade aos Povos
Dsei – Distrito Sanitário Especial Indígena
PCCU – Programa de Controle do Câncer de Útero
Funasa – Fundação Nacional de Saúde
SIM – Sistema de Informação sobre Mortalidade
SIASIWEB – Sistema de Informação sobre Mortalidade disponível da internet
Datasus – Departamento de Informática do Sistema único de Saúde (SUS)
CEP – Comitê de Ética em Pesquisa
Corepe – Coordenação Regional de Pernambuco
MS – Ministério da Saúde
DO – Declaração de óbito
SSMD – Sinais e sintomas mal definidos
RJ – Rio de Janeiro
Funai – Fundação Nacional do Índio
ha – hectares
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 17
CAPÍTULO 1 DOENÇAS E AGRAVOS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DA NTS)
E SEUS DETERMINANTES EM POPULAÇÕES INDÍGENAS NO BRA SIL . 23
CAPÍTULO 2 ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS E CULTURAIS E A
ATENÇÃO A SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS DE PERNAMBUCO ......... 35
2.1 Aspectos sócio-econômicos e culturais dos povos indígenas de
Pernambuco .................................................................................................... 35
2.2 Atenção a Saúde dos povos indígenas ................................................. 38
CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................ 40
3.1 Tipo de Estudo .......................................................................................... 40
3.2 População do estudo ............................................................................... 40
3.3 Área de estudo .......................................................................................... 41
3.4 Fontes de dados e instrumentos de coleta ............................................ 41
3.5 Período do estudo .................................................................................... 42
3.6 Unidade de análise ................................................................................... 42
3.7 Categorias de análise ............................................................................... 43
3.8 Plano de análise ........................................................................................ 45
3.9 Limitações metodológicas ....................................................................... 45
3.10 Aspectos éticos ...................................................................................... 46
CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................... 47
4.1 Aspectos do padrão demográfico ........................................................... 47
4.2 Mudanças específicas no padrão de mortalidade e ntre os povos
indígenas de Pernambuco – Análise a partir do SIM .................................. 52
4.3 O padrão de mortalidade segundo etnias indígena s de Pernambuco
– Análise a partir do Siasi/PE ........................................................................ 57
4.4 Padrão de mortalidade por DANT´s e seus possíve is determinantes
em populações indígenas de Pernambuco .................................................. 60
4.4.1HMortalidade por DCNT´s e seus possíveis
determinantes................................................................................................... 61
4.4.2HMortalidade por causas externas e seus possíveis
determinantes................................................................................................... 69
CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... 76
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 79
ANEXOS........................................................................................................... 88
17
INTRODUÇÃO
Eu tive um sonho. O Criador do Mundo apareceu e me disse que os animais estão desaparecendo, morrendo ou fugindo. Nós precisamos arrumar um jeito de aumentar os animais, proteger o lugar onde vivem. Porque, se o povo indígena deixar de comer carne de caça, vai deixar de sonhar. E são os sonhos de poder que mostram o caminho que devemos seguir...
Esta epígrafe, da etnia Xavante, que se encontra no livro A Terra dos Mil
Povos – História Indígena do Brasil Contada por Um Índio (JECUPERÊ, 1998),
aponta para mudanças no lugar onde vivem os índios. Tais mudanças resultam em
novos padrões sociais, de subsistência, políticos e culturais, e estas, na fala do autor
índio, precisam ser combatidas. Na verdade, o que o índio busca é “comer carne de
caça”, viver sua cultura, ser respeitado e garantir sua identidade, de modo que assim
possa ter livre a sua capacidade de sonhar. Sonhar com sua existência perpetuada
em outras gerações vindouras.
O “lugar que deve ser protegido”, conforme coloca o autor índio, carrega
consigo o conceito de espaço proposto por Milton Santos (1996 apud CZERESNIA;
RIBEIRO, 2000) de ser “um conjunto indissociável de sistemas de objetos e
sistemas de ações, um conjunto de fixos e fluxos que interagem”. Interpretando este
autor, Czeresnia e Ribeiro (2000) colocam que o espaço decorre da relação entre a
materialidade das coisas e a vida que as animam e transformam. E estes sistemas
de ações, provêm de necessidades humanas materiais, espirituais, econômicas,
sociais, morais, afetivas e culturais.
Para os povos indígenas, a garantia da posse da terra extrapola a
subsistência propriamente dita, representando elo fundamental na continuidade
sócio-cultural (SANTOS; COIMBRA JR., 2003). Ademais Confalonieri (2005) relata a
quase inexistência de estudos abrangentes que relacionem, de forma integrada, as
dinâmicas sócio-ambientais características em um dado espaço com os respectivos
quadros de saúde.
18
As transformações sócio-econômicas e culturais pelas quais as
comunidades indígenas brasileiras têm passado têm impactado a sua situação de
saúde, sobretudo pelo contato com a população não-indígena (SANTOS; COIMBRA
JR., 2003).
Enquanto sociedades culturalmente diferenciadas e em graus variáveis de
aprofundamento das relações com a sociedade nacional brasileira, os povos
indígenas apresentam-se em fases distintas do processo de transformação de suas
tradições, costumes, economia, dinâmica demográfica, contexto ambiental e ainda
acesso aos serviços de saúde. Tais aspectos têm impactos significativos nos perfis
de saúde destes povos (CONFALONIERI; GARNELO, 1998). O mesmo autor afirma
que o quadro de saúde de sociedades isoladas difere quando comparadas com
aquelas que apresentam contatos continuados com os não-índios.
Os povos indígenas do Brasil apresentam um complexo e dinâmico quadro
de saúde, diretamente relacionado a processos históricos de mudanças sociais,
econômicas e ambientais atreladas à expansão e à consolidação de frentes
demográficas e econômicas da sociedade nacional nas diversas regiões do país. Ao
longo dos séculos, tais frentes exerceram importante influência sobre os
determinantes dos perfis da saúde indígena, quer por meio da introdução de novos
patógenos (ocasionando graves epidemias), usurpação de territórios (dificultando ou
inviabilizando a subsistência) e/ou a perseguição e morte de indivíduos ou mesmo
de comunidades inteiras (SANTOS; COIMBRA JR., 2003).
Os quadros de saúde para os povos indígenas são muito pouco estudados e
isto se dá porque não há produção sistemática acerca da dimensão étnico-racial na
expressão diferenciada dos agravos à saúde. Os mesmos autores relatam as
informações para as populações indígenas nas bases de dados oficiais são pouco
confiáveis (COIMBRA, JR.; SANTOS, 2000).
Este trabalho surgiu da vivência da autora como aluna do Programa de
Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva no Centro de Pesquisas Aggeu
Magalhães (CPqAM) a princípio quando se aproximava da problemática indígena
por meio da disciplina de Saúde Ambiental e posteriormente, enquanto aprendiz, na
19
construção de um projeto a ser submetido ao CNPq e posteriormente aprovado
entitulado “Proposição de modelo de manejo ambiental integrado e participativo
para lidar com impactos das mudanças ambientais sobre as condições sócio-
sanitárias das áreas indígenas de Pernambuco”.
Nesta trajetória, o interesse em trabalhar as Doenças e Agravos Não
Transmissíveis (DANT’s) surgiu a partir da exploração do Sistema de Informação de
Atenção à Saúde Indígena (Siasi), no intuito de abordar as Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT) e seus determinantes para a construção de um capítulo do
livro “Epidemiologia, Políticas e determinantes das Doenças Crônicas Não
Transmissíveis no Brasil” (COSTA et al., 2006).
O grupo das DANT’s é formado pelo conjunto das DCNT representadas
pelas doenças cardíacas e cerebrovasculares, as neoplasias, o diabetes, a
hipertensão, as doenças auto-imunes, dentre outras, somadas as causas externas
(acidentes e violências) (SILVA JÚNIOR et al., 2003).
A mortalidade proporcional por causas na população indígena do Brasil para
o ano de 2003 observa-se que, excluindo os óbitos por causas mal-definidas
(20,4%), os óbitos por causas externas encontram-se em primeiro lugar (13,3%),
seguido dos óbitos por doenças do aparelho circulatório (13,2%), aparelho
respiratório (11%) e do grupo das infecciosas e parasitárias (10,9%). Já na região
nordeste encontram-se as doenças do aparelho circulatório como a primeira causa
de óbitos (16%), exceto as mal-definidas (37,5%), seguido dos óbitos por doenças
do aparelho respiratório (10%), infecciosas e parasitárias (6,9%) e endócrinas
(6,5%), respectivamente (BRASIL, 2005).
Em 1994, entre os Xukuru de Ororubá (PE), observa-se 06 casos
diagnosticados de câncer (CENTRO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, 1996). Segundo
este mesmo documento, estes casos são justificados a partir da utilização de
agrotóxicos em grande quantidade, sem prevenção ou proteção no manuseio, aliada
ainda às péssimas condições de vida.
20
Entre os principais fatores determinantes para as DANT’s identificados entre
os povos indígenas de Pernambuco observam-se tabagismo, alcoolismo, violências
e condições sócio-econômicas precárias. Ademais, devido ao processo de
aculturação, conflitos nas demarcações de terra e introdução de produtos
industrializados, houve o deslocamento de interesses do índio acarretando a
desvalorização de seus costumes, crenças e hábitos alimentares, levando-o ao ócio
e conseqüentemente gerando violências e o uso de bebidas alcoólicas. Estes dados
são reforçados com o registro dos maiores percentuais de óbitos (exceto os sem-
assistência) decorrentes de doenças cardiovasculares, câncer, homicídios e
acidentes (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2005).
São escassos os trabalhos abordando as etnias de Pernambuco e mais
ainda estudos abordando os grupos das DANT’s em populações indígenas.
Assim, diante de tais constatações, pretende-se com esta pesquisa
responder a seguinte pergunta norteadora: Qual é o padrão atual de mortalidade por
DANT’s e os seus possíveis determinantes entre as populações indígenas de
Pernambuco?
Para a análise deste padrão serão descritos inicialmente o perfil demográfico
e mudanças específicas no padrão de mortalidade por alguns grupos de causas
entre os povos indígenas de Pernambuco ocorridas no período de 1997 a 2004.
Será descrita também a mortalidade por DANT’s segundo faixa etária, sexo, grupos
de doenças segundo CID-10 e etnia para o período de 2003 a 2005.
Concomitantemente serão apresentados alguns determinantes sociais relacionados
a aspectos culturais e sócio-econômicos para as etnias de Pernambuco
estabelecendo a partir daí possíveis relações entre tais determinantes e a situação
das DANT’s encontrada.
A análise da mortalidade é fundamental para a compreensão da dinâmica
populacional (BARRETO et. al., 1993). Considerando que nas últimas décadas
aconteceu a “revolução demográfica” indígena no Brasil, conforme coloca Santos e
Pereira (2005), torna-se relevante analisar o panorama desse grupo de doenças
enfocando a realidade das etnias de Pernambuco.
21
Sendo recente a política de atenção aos povos indígenas no Brasil e
vivenciando um perfil epidemiológico dicotômico e de superposição, acredita-se que
os achados a que se propõe esta pesquisa possam nortear as políticas de promoção
à saúde e contribua para implementar a vigilância em saúde destes povos.
Por fim, parafraseando Leite (2005), espera-se com este trabalho, que cada
etnia com sua particularidade epidemiológica, não como padrão, mas como um
processo histórico em construção, seja esmiuçada de modo analítico, crítico,
operacional e resolutivo, por cada gestor do Subsistema de Atenção a Saúde
Indígena.
Nesta monografia será inicialmente abordado no capítulo I as DANT’s e seus
determinantes em populações indígenas do Brasil e estado de Pernambuco. No
capítulo II serão descritos os aspectos culturais e sócio-econômicos das etnias de
Pernambuco, abordando o conceito de transformação cultural e apresentando
brevemente a Política de Atenção à Saúde Indígena em Pernambuco. Nos capítulos
III, IV e V serão apresentados respectivamente os procedimentos metodológicos, os
resultados e discussões e as conclusões.
22
OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Analisar o padrão atual de mortalidade por DANT’s e os seus possíveis
determinantes entre as populações indígenas de Pernambuco.
Objetivos específicos:
• Descrever aspectos do padrão demográfico e mudanças específicas no
padrão de mortalidade por alguns grupos de causas entre os povos indígenas de
Pernambuco ocorridas no período de 1997 a 2004;
• Descrever a mortalidade das DANT´s segundo faixa etária, sexo, por
grupos de doenças segundo CID-10 e etnia entre as populações indígenas de
Pernambuco para o período de 2003 a 2005;
• Apresentar alguns determinantes relacionados a aspectos culturais e
sócio-econômicos para as etnias de Pernambuco, estabelecendo possíveis relações
entre tais determinantes e a situação de DANT´s encontrada.
23
CAPÍTULO 1 DOENÇAS E AGRAVOS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DA NTS) E SEUS
DETERMINANTES EM POPULAÇÕES INDÍGENAS NO BRASIL
O Brasil, quando comparado ao contexto internacional, apresenta um perfil
de “Desigualdades” (FREESE; FONTBONNE, 2006). A população não-indígena
brasileira é caracterizada por um complexo e heterogêneo perfil epidemiológico,
observando-se, concomitantemente, doenças arcaicas, como as doenças
infecciosas e parasitárias, e as doenças da modernidade (POSSAS, 1989),
representadas, dentre outras, pelas DANT’s.
Este atual padrão de morbidade e mortalidade brasileiro está relacionado à
redução das doenças infecciosas e parasitárias, ao aumento da expectativa de vida
ao nascer (com o conseqüente incremento da população idosa, e da prevalência das
causas de adoecimento e morte peculiar a este grupo etário) e ao processo
acelerado de urbanização e de mudanças socioculturais que fizeram emergir, em
grande parte, os acidentes e as violências (SILVA JÚNIOR et al., 2003).
As DCNT’s emergiram de forma relevante no Brasil no período entre 1930 a
1970, concomitantemente ao contexto de urbanização, migração, industrialização e
penetração do capital internacional. Estas, só vieram a predominar no perfil
epidemiológico a partir da década de 1970 (PAIM, 1994). Devido a mudanças de
diferentes ordens, como as demográficas, epidemiológicas e sócio-econômicas
ocorridas em âmbito nacional e mundial, as DCNT’s se configuram como um grave
problema de saúde pública.
As causas externas a partir da década de 1980 ocupam o segundo lugar no
quadro de mortalidade geral em todas as regiões do País, exceto a Região Sul, onde
ocupa o terceiro lugar (REICHENNHIM; WERNECH, 1994). Neste grupo de causas,
os acidentes de trânsito e homicídios representam mais da metade das mortes
(BRASIL, 2005).
O crescimento de tais grupos de causas de óbito está relacionado, segundo
alguns autores, com os processos já supracitados – urbanização, migração e
24
industrialização – bem como àqueles processos advindos destes ou emergindo junto
a eles como a intensificação das desigualdades sócio-econômicas, pobreza, tráfico
de drogas, conflitos armados, dentre outros fatores (REICHENNHIM; WERNECH,
1994; SOUZA, 1994). Há ainda a justificativa de associação de altas taxas de
violência, em especial o homicídio, com o enfrentamento de conflitos raciais e
étnicos e mudanças na estrutura familiar (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE
SAÚDE, 1990, 1994). Já Minayo (1994) destaca a marginalidade e o desemprego,
que dentro da estrutura social, contribuem para explicar o desenvolvimento da
violência.
À semelhança do quadro epidemiológico da população não-indígena, os
achados na literatura demonstram que os índios brasileiros vivenciam atualmente
uma transição na forma de adoecer e morrer. E essa transição ocorre, sobretudo,
em decorrência das mudanças sócio-econômicas, demográficas, culturais e
ambientais (COIMBRA JR.; SANTOS, 2001).
Verifica-se uma crescente ocorrência de transtornos psiquiátricos como
depressão e alcoolismo e ainda aumento das mortes por causas externas, quer seja
decorrentes de suicídios (ERTHAL, 2001), de acidentes automobilísticos e de uso de
maquinário agrícola, quer por violência, por assassinatos e mesmo por massacres
impulsionados por madeireiros, garimpeiros e outros invasores de terras indígenas
(CENTRO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, 1996, 2005).
Há indícios claros dessa transição epidemiológica em curso. No entanto,
diferentemente da população indígena do Canadá e dos Estados Unidos, o perfil
epidemiológico dessa parcela da população brasileira ainda se encontra em um
estágio em que as DANT’s ainda não predominam sobre as doenças infecciosas e
parasitárias (DIP) (SANTOS; COIMBRA JR., 2003).
Apesar desta constatação, é importante localizar a relevância que as DANTs
têm atualmente no perfil epidemiológico das populações indígenas brasileiras
exatamente pela tendência de incremento dessas doenças. Nesse sentido, realizou-
se um levantamento e análise sistematizada sobre a produção científica das DCNT’s
e causas externas separadamente em populações indígenas brasileiras.
25
Para a revisão sistemática da literatura sobre o tema no Brasil, foram
pesquisados artigos científicos das bases indexadas (Scielo, Lilacs e Medline),
disponíveis on-line, referentes ao ano de 2001 a 2006, semelhante ao trabalho de
Costa et al. (2006).
Os artigos científicos foram capturados dos bancos supracitados a partir da
utilização dos seguintes Descritores em Ciências da Saúde da Bireme/ Biblioteca
Virtual em Saúde: Doenças Crônicas, Doenças Crônicas Não Transmissíveis,
Doenças Cardiovasculares, Doenças Cerebrovasculares, Infarto Agudo do
Miocárdio, Acidente Vascular Cerebral, Hipertensão, Neoplasia, Câncer de Mama,
Câncer de Útero, Câncer de Pulmão, Câncer de Próstata, Doença Endócrina,
Diabetes, Obesidade, Sobrepeso, Dieta, Sedentarismo, Tabagismo, Alcoolismo,
Índios Sul-americanos, Causas Externas, Violência, Homicídio, Suicídio, Acidentes,
Acidentes de Trânsito, Agressão e Acidentes por Queda. As categorias para a
análise dos artigos serão: autores, ano de publicação, etnia estudada, tipo de
DANT’s e fatores determinantes encontrados nos artigos.
Abordando as DCNT’s, a busca resultou na identificação de 17 (dezessete)
artigos. Destes, 47% foram publicados em 2001 e nos anos seguintes (o máximo de
dois por ano) revelando uma baixa produção científica nesse campo para o período
estudado. A distribuição regional aponta uma concentração de estudos nas regiões
Norte e Centro-Oeste (8 e 6 artigos, respectivamente). Não houve nenhum artigo
envolvendo populações indígenas do Nordeste (quadro 1).
Quanto à distribuição das publicações por grupos de doenças, analisando o
quadro 1, 07 (sete) se referem a pesquisas sobre doenças endócrinas, nutricionais e
metabólicas na população indígena brasileira (CAPELLI; KOIFMAN, 2001;
GUGELMIN; SANTOS, 2001; RIBAS et al., 2001; VIEIRA FILHO et al., 2001;
GABBAY et al., 2005; LEITE et al., 2006; MENEGOLLA et al., 2006) e 05 (cinco)
abordam as doenças do aparelho circulatório (CARDOSO; MATOS; KOIFMAN,
2001; COIMBRA et al., 2001; SANTOS FILHO; MARTINEZ, 2002; MANCILHA-
CARVALHO; SILVA, 2003; TAVARES et al., 2004). As neoplasias foram relatadas
em 04 (quatro) dos artigos revisados (LIMA et al., 2001; BRITO; MARTINS;
26
MENEZES, 2002; ARRUDA et al., 2003; MENDES, 2004) seguida dos transtornos
mentais e do comportamento (ERTHAL, 2001).
Os estudos relacionados à saúde de diversos grupos populacionais
indígenas do Brasil demonstram, de forma cada vez mais freqüente, a detecção de
casos das DCNT’s atribuídos a novos estilos de vida (CARDOSO; MATOS;
KOIFMAN, 2001; BLOCH, 1993; COIMBRA JR.; SANTOS, 1991). Na atualidade,
além da emergência das DCNT’s, os povos indígenas do Brasil enfrentam, dentre
outros desafios, a degradação ambiental e as dificuldades que tornam insustentável
o acesso aos alimentos (SANTOS; COIMBRA JR., 2003).
O processo de crise de identidade cultural que envolveu as populações
indígenas, associado à adoção de novos estilos de vida, foi fator importante para a
modificação de seus hábitos alimentares. Vários grupos indígenas se tornaram mais
ociosos no que se refere à busca por alimentos naturais e, conseqüentemente, esse
aspecto repercutiu no aumento das DCNT’s (ARRUDA et al., 2003).
Dentre os artigos analisados observou-se que o consumo de alimentos
industrializados é um fator determinante para o grupo das doenças endócrinas
nutricionais e metabólicas (CAPELLI; KOIFMAN, 2001; GUGELMIN; SANTOS, 2001,
RIBAS; SGANZERLA; ZORZATTO, 2001; LEITE; SANTOS; GUGELMIN, 2006;
MENEGOLLA; DRACHLER; RODRIGUES, 2006). Casos de diabetes mellitus foram
encontrados entre os Xavante-Jê de Sangradouro, Mato Grosso (VIEIRA FILHO;
MOISÉS; SÁ, 2001) e os Yanomami da Amazônia (GABBAY; BUSSAD; PERSOLLI,
2005), apresentando como determinantes a obesidade e o contato com não índios,
respectivamente. A obesidade apresenta maior prevalência para o sexo feminino
(CAPELLI; KOIFMAN, 2001; RIBAS; SGANZERLA; ZORZATTO, 2001; LEITE,
SANTOS; GUGELMIN, 2006; CARDOSO; MATOS; KOIFMAN, 2001).
Entre os Xavante de Mato Grosso, o grupo que dispendia mais tempo em
atividades ligadas a horticultura, pesca, caça e coleta de alimentos silvestres
apresentou uma prevalência menor de obesidade, quando comparado ao que
exercia predominantemente funções remuneradas fora da aldeia. E, ainda, os
27
diferentes perfis nutricionais provavelmente resultaram das diferentes formas dessas
comunidades se relacionarem nos âmbitos social, político, e econômico
(GUGELMIN; SANTOS, 2001).
Dois casos de carências nutricionais específicas do tipo polineuropatia por
deficiência de tiamina (vitamina B1) foram detectados entre os Xavante de
Sangradouro-Volta Grande, sugerindo-se que tenham ocorrido em conseqüência
das modificações na dieta dessa comunidade com a substituição de alimentos ricos
em tiamina como a carne, feijão e grãos integrais, por arroz e mandioca (LIMA,
2004). A anemia é uma carência nutricional que afetava 73% das mulheres em idade
reprodutiva e 29% das crianças Xavante menores de dez anos (SOUZA; OLIVEIRA;
KOHATSU, 2003).
Nos adultos indígenas Terra Preta do Amazonas, verificou-se índices de
sobrepeso, cuja distribuição se mostrou homogênea entre os sexos, enquanto que,
nas crianças menores de 10 anos, encontrou-se uma elevada prevalência de déficit
de estatura por idade (45,4%), mas, essas, mantiveram a proporção do peso com a
estatura (FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE, 2002).
O aculturamento aparece como determinante potencial para o
desenvolvimento de doenças cerebrovasculares na população indígena brasileira e
a presença de altas prevalências de obesidade central (SANTOS FILHO;
MARTINEZ, 2002). No entanto, estudo realizado com os Yanomami da Amazônia
relata a ausência de casos de hipertensão arterial e obesidade, assim como o
reduzido consumo de álcool (MANCILHA-CARVALHO; SILVA, 2003).
28
Autor (es) Ano Etnia Tipo de DCNT Determinantes
Capelli; Koifman
2001 Parkatêjê, Bom Jesus do Tocantins, Pará
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
Consumo de alimentos industrializados, sobrepeso em menores de 10 anos e obesidade maior em mulheres
Cardoso; Matos; Koifman
2001 Guarani-Mbyá, Rio de Janeiro
Doenças cardiovasculares
Mudanças no padrão alimentar e de atividade física e sedentarismo com predominância nas mulheres, hipertensão arterial, sobrepeso, obesidade e dieta (dislipidemias) superiores em mulheres de maior idade.
Coimbra et al.
2001 Xavante, Mato Grosso
Doenças do aparelho circulatório
Mudanças econômicas e no comportamento social e hipertensão crescente entre os de maior idade
Erthal 2001 Tikúna no Alto Solimões, Amazonas
Transtornos mentais e comportamentais
Alcoolismo e aculturação
Gugelmin; Santos
2001 Xavánte, Mato Grosso
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
Sedentarismo, restrição territorial, trabalho remunerado, consumo de alimentos industrializados, mudanças na subsistência, obesidade e elevado índice de massa corporal (IMC).
Lima et al. 2001 Teréna, Mato Grosso do Sul
Neoplasias mamárias Sedentarismo, elevado consumo de carboidratos, sobrepeso e obesidade
Ribas et al. 2001 Teréna, Mato Grosso do Sul
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
Atividades que demandam pouco gasto energético; consumo de alimentos industrializados e obesidade em crianças e mulheres
Vieira Filho et al.
2001. Xavante-Jê, Sangradouro, Mato Grosso
Diabetes mellitus Obesidade
Brito; Martins; Menezes
2002 Pop. Indígena da Amazônia Brasileira
Neoplasia de colo de útero
Presença do HPV humano em mulheres de uma tribo da Amazônia brasileira
Santos Filho et al.
2002 Pop. Indígena Brasileira
Doenças cerebrovasculares
Aculturação e alta prevalência de obesidade central
Arruda et al. 2003 Parkatejê e Kikatêjê, Timbira, Pará
Neoplasias prostáticas Mudanças nutricionais com dieta gordurosa, menor atividade física (substituição da caça) e sobrepeso
Mancilha-Carvalho; Souza; Silva
2003 Yanomami, Amazônia
Doenças do aparelho circulatório
Não foram encontrados casos de hipertensão, obesidade e consumo de álcool
Mendes 2004 Pop. indígena do Pará
Neoplasia de colo de útero
Mudanças culturais, coitarca/ paridade precoces, múltiplos parceiros e condições de vida precária
Tavares et al.
2004 Pop. indígenas da Amazônia Brasileira
Doenças cerebrovasculares
Hipertensão, dislipidemia, fumo e obesidade
Gabbay et al.
2005 Yanomami, Amazônia
Diabetes mellitus Contato com não-índios
Leite et al. 2006 Xavánte, Mato Grosso
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
Trabalho remunerado, consumo de alimentos industrializados, sedentarismo, desnutrição na infância, sobrepeso maior entre adolescentes mulheres e obesidade maior em mulheres adultas
Menegolla et al.
2006 Guarita, Rio Grande do Sul
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
Consumo de produtos industrializados e mecanismos fisiológicos compensatórios em populações sujeitas à desnutrição e sobrepeso
Quadro 1 – Produção de artigos científicos sobre epidemiologia e determinantes das DCNT’s em populações indígenas no Brasil, 2001-2006*. Fonte: COSTA et. al. (2006) * Pesquisa realizada nas bases de dados Scielo, Lilacs e Medline até dezembro de 2006.
Estudo sobre a prevalência dos fatores de risco para as doenças
cardiovasculares, como a mudança no estilo de vida, hipertensão arterial,
29
sobrepeso, obesidade e sedentarismo, foi realizado na etnia Guarani-Mbyá (RJ), no
qual todas as prevalências foram superiores no sexo feminino e nas idades mais
avançadas (CARDOSO; MATOS; KOIFMAN, 2001). Outro estudo, nos Xavante de
Mato Grosso, aponta como determinantes dessas doenças as mudanças
econômicas e sociais decorrentes das interações com a população não-indígena.
Semelhante ao encontrado nos Guarani-Mbyá, houve um predomínio da hipertensão
arterial entre os de maior idade (COIMBRA; CHOR; SANTOS, 2001).
O sedentarismo e o sobrepeso foram os principais fatores de risco
encontrados paras as neoplasias mamárias (LIMA et al., 2001) e prostáticas
(ARRUDA; VIEIRA FILHO; ORTIZ, 2003) encontradas entre os indígenas brasileiros.
No que se refere às neoplasias de colo de útero, os principais fatores de risco
encontrados em populações indígenas do Pará foram as mudanças culturais,
coitarca e paridade precoces, assim como a existência de múltiplos parceiros. Em
um grupo de mulheres indígenas pertencentes a diversas etnias do Pará
observaram-se prevalências elevadas para o câncer de colo uterino em níveis
superiores às referidas na literatura nacional (MENDES, 2004).
A tendência ao aparecimento de níveis séricos elevados de Antígeno
Prostático Específico (PSA) foi observada nas comunidades indígenas Parkatejê e
Kikatêjê no Pará. As mudanças nutricionais, secundárias ao contato com a
comunidade não indígena, influenciaram de maneira importante no que se refere à
substituição da caça e das fibras vegetais por alimentos mais calóricos. Esses
estudos demonstram ainda existir associação entre incidência de câncer de próstata,
dieta gordurosa e menor atividade física (ARRUDA; VIEIRA FILHO; ORTIZ, 2003).
O alcoolismo é um fenômeno presente na maioria das populações indígenas
(SOUZA; OLIVEIRA; KOHATSU, 2003). Avaliações realizadas ainda na década de
1970, referentes ao uso de bebidas alcoólicas em populações culturalmente
diferentes, já demonstravam que as maiores taxas de alcoolismo ocorriam entre os
indígenas e que fatores relacionados à desorganização social e cultural estavam
associados a esses índices (FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE, 2002).
30
Em relação às causas externas, o levantamento bibliográfico resultou na
identificação de apenas 02 (dois) artigos. Nestes, observou-se uma publicação para
cada um dos seguintes anos, 2001 e 2003. Semelhante e num movimento inferior às
DCNT’s, constata-se uma baixa produção científica relacionada com causas
externas, em populações indígenas do Brasil. Todos os dois artigos eram sobre
suicídio em etnias da Amazônia (quadro 2).
Considerando que Kilsztajn et al. (2005) observaram a influência da
categoria raça/ cor sobre a elevação das taxas de homicídio e que outros autores
(HENRIQUES; 2001; BATISTA; ESCUDER; PEREIRA, 2004; BRASIL, 2005)
estudaram aspectos epidemiológicos abordando a variável raça/ cor, destaca-se que
a análise em todos só se restringe para a raça de negros e não-negros, exceto um
trabalho (BRASIL, 2005), que traz uma análise específica relacionada a populações
indígenas do Brasil.
Dos artigos encontrados, Erthal (2001) menciona no caso dos índios de
Ticuna, do Alto Solimões (AM), que o possível aumento de suicídios represente uma
evidência de perda de padrões culturais e uma desestruturante integração com a
sociedade nacional. A concentração de casos de suicídio acontece na faixa etária
de 16 a 18 anos (47,2%) e 19 a 25 anos (27,3%), principalmente entre homens. Tais
aspectos indicam alto grau de instabilidade vivido por estes jovens adultos, dentro
de uma sociedade altamente marcada por divisões faccionais e pela importância das
relações familiares (ERTHAL, 2001).
Casos de óbito por suicídios em faixa etária semelhante foram encontrados
nos trabalhos de Oliveira e Lotufo Neto (2003) ao estudar o grupo indígena de
Sorowahá, localizada na Bacia Hidrográfica Amazônica. Os autores afirmam que
desde os primeiros contatos com não-índios, em 1980, este grupo apresentou
tentativas freqüentes de suicídio, através do envenenamento pela ingestão de uma
leguminosa.
Considerando os poucos artigos relacionados a morbimortalidade por
causas externas em populações indígenas do Brasil e no intuito de caracterizar a
ocorrência deste grupo de agravo especificamente em Pernambuco, foram
31
sistematizados os registros relacionados com a violência para os períodos de 1994 a
1995 e 2003 a 2005 apresentados pelo Centro Indigenista Missionário (1996) e
Centro Indigenista Missionário (2005). Foram destacadas as causas e as
circunstâncias em que aconteceram os episódios de violência bem como a etnia
envolvida (quadro 3).
Autor (es) Ano Etnia Tipo de Causa externa Determinantes
Erthal 2001 Tikúna do Alto Solimöes (Amazonas
Suicídio Alta instabilidade dentro de uma sociedade marcada por divisões faccionais pela importância das relações familiares.
Perdas de padrões culturais e integração desestruturante com não-índios
Oliveira; Lotufo Neto
2003 Sorowahá (AM) e outras etnias da Amazônia e a etnia Guarani
Suicídio Aspectos psicopatológicos, além daqueles ligados aos aspectos socioeconômicos e culturais. Também decorrentes dos primeiros contatos com não – índios.
Quadro 2 – Produção de artigos científicos sobre epidemiologia e determinantes das mortes por causas externas em populações indígenas no Brasil, 2001-2007*. * Pesquisa realizada nas bases de dados Scielo, Lilacs e Medline até dezembro de 2006.
Analisando os quadros 3 e 4, percebe-se que, diferente das etnias
estudadas na literatura, os povos indígenas não morrem por suicídio. Os Kambiwá
apresentam violências decorrentes de conflitos relativos a direitos territoriais, há
registro de assassinatos indígenas e ameaças de morte entre 1994 e 1995 e alguns
Kambiwá são violentados em 2005. Esta última constatação vai de encontro com a
afirmação do Centro Indigenista Missionário (2005) que menciona haver uma relação
inversamente proporcional entre demarcação e violência. Isto é, quanto menos se
demarca terras, mais casos de violência são registrados. Um agravante para os
povos indígenas de Pernambuco é que eles permanecem “confinados” em pequenas
terras (RICARDO; RICARDO, 2006).
32
Tipo de violência 1994 1995
1) Violências decorrentes de conflitos relativos a direitos territoriais 0 2
Invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio. 0 2a
Danos ambientais e biológicos em terras indígenas 0 0
2) Violência contra a pessoa por particulares e age ntes do Poder Público 220 1340
Assassinatos de indígenas 2b 4c
Tentativas de assassinato de indígenas 3d 3e
Homicídios culposos 4f 3g
Ameaças de morte (número de vítimas) 200h 1256i
Agressões à pessoa 1j 2j
Lesões corporais 9l 1m
Violências sexuais praticadas contra indígenas no Brasil 1a 1n
3) Violências provocadas por omissões do poder públ ico 2 0
Suicídios 0 0
Tentativas de suicídio 0 0
Desassistência na área da saúde 0 0
Mortes por desassistência à saúde 2n 0
Quadro 3 – Tipos de violência relacionados aos índios de Pernambuco (CENTRO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, 1994 - 1995) Fonte: Centro Indigenista Missionário, 1996. Elaborado pela autora. a kambiwá b Atikum e Kambiwá c Atikum, Xukuru, Fulni-ô e Pankararu d Fulni-ô, Pankararu e Kapinawá e Um Xukuru e dois Truká f Três mortes de índios Pankararu por acidente automobilístico provocado pelo funcionário da Prefeitura municipal de Tacaratu
e uma morte acidental com índio de Truká. g Há o registro de um homicídio por atropelamento de uma criança de 8 anos Fulni-ô e duas mortes acidentais de índios
Atikum. h Aproximadamente 200 índios Pankararu da Comunidade indígena Entre-Serras/ Cana Brava foram ameaçadas por posseiros
cujo motivo da agressão foi a recuperação das terras. i O cacique Chicão da etnia de Xukuru do Ororubá foi ameaçado por fazendeiros e aproximadamente 1255 indígenas de
Kambiwá da comunidade de baixa da índia, Alexandra, Pereiro, Periquito e Faveleira foram ameaçados. j Pankararu l Neste mesmo ano 4 índios Pankararu ficaram feridos a partir de um capotamento executado por um outro funcionário da
mesma prefeitura. Quatro índios Truká foram espancados por policiais militares de PE. E um registro de tentativa de
assassinato de um índio da etnia de Kapinawá. m Um índio de 36 anos e idade da etnia Tuxá foi preso ilegalmente, com espancamento e tortura cujos agressores foram dois
policiais militares. n Xukuru
33
Tipo de violência 2003 2004 2005
1) Violências decorrentes de conflitos relativos a direitos territoriais 0 0 2
Conflitos relativos a direitos territoriais 0 0 1a
Invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio 0 0 0
Danos ambientais e biológicos em terras indígenas 0 0 1b
Violências contra o patrimônio – Descumprimento de prazos de demarcação de terras indígenas 0 0 0
2) Violência contra a pessoa por particulares e age ntes do Poder Público 58 0 18
Assassinatos de indígenas 5c 0 4d
Tentativas de assassinato de indígenas 1a 0 0
Homicídios culposos 0 0 0
Ameaças de morte (número de vítimas) 50a e 1e 0 0
Lesões corporais 1a 0 14f
Racismo e discriminações étnico-culturais 0 0 0
Violências sexuais praticadas contra indígenas no Brasil 0 0 0
Apropriações indébitas – retenção de cartões bancários 0 0 0
3) Violências provocadas por omissões do poder públ ico 0 18 0
Suicídios 0 0 0
Tentativas de suicídio 0 0 0
Desassistência na área da saúde 0 18e 0
Mortes por desassistência à saúde 0 0 0
Disseminação de bebida alcoólica 0 0 0
Quadro 4 –Tipos de violência relacionados aos índios de Pernambuco (CENTRO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, 2003 - 2005). Fonte: Centro Indigenista Missionário, 2005. Elaborado pela autora. a Xukuru b Pankararu, Truká, Xukuru, Kambiwá, Pankara, Pipipã, Kapinawá e demais povos indígenas da Bahia, Paraíba e Alagoas que
vivem as margens do Rio São Francisco. Segundo eles, com a Transposição do Rio a sua sobrevivência econômica e cultural
ficará ameaçada. “a transposição vai matar o que resta do rio, secando nossos territórios, extinguindo o que resta de peixes,
matando nossos povos de fome, prejudicando nossa cultura de vazante, prática tradicional que não prejudica o solo e não
carece de produtos químicos. A fome nos obrigaria a abandonar nossas terras”. c Dois jovens, de 19 e 24 anos, das etnias de Xukuru e Atikum morrem em Pesqueira para defender o cacique Xukuru. Dois
irmãos de 37 e 32 anos, da etnia de Truká foram executados com vários tiros de fuzil por narcotraficantes que visavam a terra
indígena para o plantio de plantas usadas na produção de narcóticos. Morto jovem de 27 anos da etnia de Truká, o crime pode
ter sido motivado por vingança, pois ele estaria supostamente envolvido na morte dos dois Truká. d Assassinados 1 índio Atikum, 2 Truká e 1 Xukuru. e Truká f Vítimas das etnias Pipipã e Kambiwá foram violentados por conta de conflitos de terra.
34
Destacam-se as mortes por atropelamento nas etnias de Pankararu, Fulni-ô
e Atikum, sendo cometidos ainda lesões por atropelamentos. Nestes períodos
estudados, as etnias Pankararu, Truká, Xukuru e kapinawa receberam 1507
ameaças e a etnia que sofreu o maior número de violências foi a Truká (quadros 3 e
4).
35
CAPÍTULO 2. ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS E CULTURAIS E A ATENÇÃO
A SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS DE PERNAMBUCO
2.1 Aspectos sócio-econômicos e culturais dos povos indígenas de
Pernambuco
O processo colonizador instalado no Brasil a partir de 1500, no intuito de
homogeneização cultural, visou o desaparecimento, enfraquecimento e
desvalorização da cultura dos povos indígenas/colonizados. Assim a ação, quer
seja da Igreja Católica Romana, quer seja dos Estados português e brasileiro,
dependendo do período histórico, visava a incorporação e assimilação dos índios ao
padrão de cultura da sociedade nacional .
O território nordestino foi invadido nos séculos XVII e XVIII gerando muitos
conflitos dos indígenas com os colonizadores que queriam a terra para expansão
pastoril (RIBEIRO, 1977 apud ALMEIDA, 2001). Assim, os índios do Sertão foram
expulsos de suas terras, dizimados e aldeados pelos missionários, mas
desenvolveram várias formas de resistência.
No século XIX, os índios, destituídos de suas terras, desprovidos de seus
patrimônios culturais, são “confundidos com a massa da população”, considerados
“resíduos de populações indígenas”, “uma raça em degeneração” (SILVA, 1996
apud ALMEIDA, 2001; RIBEIRO, 1970 apud OLIVEIRA, 2004). Galvão (1979 apud
OLIVEIRA, 2004) refere-se aos índios do nordeste, afirmando que “a maior parte
vive integrada no meio regional, registrando-se considerável mesclagem e perda dos
elementos tradicionais, inclusive a língua”.
Assim, no século XIX, os índios do nordeste não eram mais conhecidos
como coletividades, mas sim tratados de forma individualizada, como indivíduos
remanescentes ou descendentes, os índios misturados (OLIVEIRA, 1999 apud
ALMEIDA, 2001):
36
A concepção do desaparecimento da população indígena enquanto coletividade diferenciada, fruto da assimilação dos indígenas num processo de miscigenação racial e integração cultural, que influenciou as reflexões históricas e os primeiros estudos antropológicos regionais, resultou na elaboração da idéia de “caboclização” da população indígena. São conceitualizações construídas ideologicamente pelos brancos no século XIX, e que foram implodidas pelo “ressurgimento”, na região nordeste, de vários grupos étnicos nas primeiras décadas do século XX, explicado pela reflexão antropológica como etnogênese (SILVA, 2000 apud ALMEIDA, 2001).
No século XX, contrariando as previsões trágicas de um possível
desaparecimento, os índios ressurgem através da elaboração de diferentes
estratégias de resistência/ sobrevivência, das alianças, das acomodações e das
simulações (SILVA, 2000 apud ALMEIDA, 2001; SANTOS; PEREIRA, 2005).
Observa-se ainda, nos últimos anos, o crescimento populacional que varia de 3% a
5% ao ano dos povos indígenas no Brasil, valor acima da média da população
brasileira (PAGLIARO; AZEVEDO; SANTOS, 2005).
Os índios vêm recriando seus modos de vida, suas visões de mundo através
da reelaboração da cultura do colonizador.
Os Pankararu fazem parte dos grupos indígenas do Nordeste que durante
quatro séculos estão em contato com a sociedade nacional. A primeira vista podem
ser confundidos com qualquer habitante do Sertão (ATHIAS, 2002); no entanto,
considerando o conceito atual de que cultura é algo mutável e dinâmico, e da
etnogênese vivenciada ao longo deles anos, estes índios serão índios, mas com
outras características de definição, uma vez que o contexto histórico político atual é
também outro.
Enquanto sociedades culturalmente diferenciadas e em graus variáveis de
aprofundamento das relações com a sociedade nacional brasileira, os povos
indígenas apresentam-se em fases distintas do processo de transformação de suas
tradições, costumes, economia, dinâmica demográfica, contexto ambiental e ainda
acesso aos serviços de saúde. Tais aspectos têm impactos significativos nos perfis
de saúde destes povos (CONFALONIERI; GARNELO, 1998). O mesmo autor afirma
37
que o quadro de saúde de sociedades isoladas diferem quando comparadas com
aquelas que apresentam contatos continuados com os não-índios.
Pernambuco é o terceiro estado, depois do Amazonas e do Mato grosso, de
maior população indígena. Um dos fortes elementos de identificação étnica entre os
povos indígenas é a língua materna. Em Pernambuco apenas os Fulni-ô preservam
sua língua original, os demais povos guardam apenas alguns vocábulos, usados,
geralmente por ocasião em rituais tradicionais (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE,
2005; INSTITUTO BRASILEIRO DE AMIZADE E SOLIDARIEDADE AOS POVOS,
1991).
Devido às constantes perseguições sofridas ao longo de cinco séculos de
colonização, muitos indígenas foram obrigados a ocultar a identidade étnica bem
como a língua. Outros fatores como a catequese forçada e a dispersão também
contribuíram para que os indígenas deixassem de se comunicar através de suas
línguas originais (INSTITUTO BRASILEIRO DE AMIZADE E SOLIDARIEDADE AOS
POVOS, 1991).
Em relação aos aspectos sócio-econômicos, todos os povos indígenas em
Pernambuco vivem basicamente da agricultura. Os cultivos mais comuns são o
milho, feijão e a mandioca. Na região do Rio São Francisco planta-se também arroz
e, em algumas áreas, frutas e verduras. As técnicas de preparo do solo e plantio são
rudimentares e raros são os incentivos financeiros para tornar a agricultura indígena
eficiente, lucrativa e variada (INSTITUTO BRASILEIRO DE AMIZADE E
SOLIDARIEDADE AOS POVOS, 1991; FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2005).
Um dos maiores obstáculos para um melhor desempenho da agricultura e pecuária é
a falta de terras férteis, pois estas frequentemente estão ocupadas por invasores,
em geral grandes fazendeiros (INSTITUTO BRASILEIRO DE AMIZADE E
SOLIDARIEDADE AOS POVOS, 1991).
38
2.2 Atenção à Saúde dos povos indígenas
O Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas foi criado, no Brasil
a partir da Lei Nº. 9.836/1999, que responsabiliza a Funasa pela promoção,
proteção, e recuperação da saúde dessa população, bem como a organização e
funcionamento dos serviços, devendo ter uma abordagem de natureza integral, que
contemple os determinantes das condições de saúde (FUNDAÇÃO NACIONAL DA
SAÚDE, 2004). A territorialização da organização da atenção se dá por meio de 34
(trinta e quatro) Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei), situados em 24 (vinte
e quatro) estados brasileiros. O processo de planejamento das ações deve ocorrer
de forma participativa e o fortalecimento do controle social indígena deve ser
estimulado pelos DSEI (FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE, 2005).
Em relação à população indígena de Pernambuco, terceira maior do país,
com cerca de 35 mil indígenas, distribuídos em 10 (dez) povos, a atenção à saúde
em Pernambuco é realizada por meio de 10 (dez) pólos-base distribuídos nos
municípios referências do Estado e 27 postos de saúde instalados, que funcionam
como referências administrativas locais para os povos indígenas (FUNDAÇÃO
NACIONAL DA SAÚDE, 2005). O processo de implementação dessa política é
recente no âmbito da Funasa, advindo daí todos os aspectos inerentes à condição
incipiente em que se encontra a organização desses serviços. Além disso, há
críticas à inadequação da estrutura organizacional da Funasa para atender a essas
populações (COSTA et al., 2006).
Como nos demais programas da atenção à saúde, no Dsei/PE, os
programas relacionados às DCNT’s, como os de nutrição, saúde da mulher,
gestante, mama, Programa de Controle do Câncer de Útero (PCCU), hipertensão e
diabetes, são acompanhados através de mapas diários com orientações para
educação em saúde, busca ativa, controle de medicamentos e visitas domiciliares.
Esses procedimentos alimentam o Sistema de Informação de Saúde Indígena
(Siasi), que foi implantado no âmbito nacional no ano de 1999. Seu funcionamento
se dá a partir de uma base local instalada nos pólos-base ou na sede da
39
coordenação, sendo gerado um lote de informação que alimenta o banco nacional
(FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE, 2005).
Sendo de implantação recente, não foram encontrados estudos utilizando
este sistema, ademais, este vem recebendo críticas por parte de alguns autores.
Segundo Santos e Coimbra Jr. (2003), o Siasi não disponibiliza dados demográficos
e epidemiológicos de forma ampla e, para Viana (2005), este sistema apresenta-se
precário no Dsei do Maranhão.
Com relação à qualidade/consistência das informações, como o sistema é
de implantação recente (1999), observa-se que os dados dos módulos de morbidade
e mortalidade só vêm melhorar a partir de 2003 (COSTA et al., 2006). No entanto, a
base de dados demográficos do Siasi é referência para todas as áreas de
intervenção e para outros sistemas informatizados da Funasa (BRASIL, 2005).
40
CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 Tipo de Estudo:
Estudo descritivo, ecológico, quantitativo, descritivo e observacional. Os
estudos descritivos têm uma capacidade de retratar e apreender, com suas
especificidades, situações sanitárias diferentes e complexas. Estes estudos, em se
tratando de mudanças de morbi-mortalidade em um grupo populacional, tendem a
procura explorar os possíveis determinantes para estas mudanças (BARRETO et al.,
1993).
3.2 População do Estudo
Comunidades indígenas de Pernambuco que perfazem um total de cerca de
36 mil pessoas, conforme pode ser observado na tabela 1.
Tabela 1. População indígena de Pernambuco, por etnia, 2005.
Pólo Base Municípios Etnia Aldeias
Águas Belas Águas Belas/Mirandiba Fulni-ô 02
Buique/Ibimirim Buíque/Ibimirim/Tupanatinga Kapinawa 17 Cabrobó Cabrobó Truká 29
Carnaubeira da Penha
Carnaubeira da Penha/Mirandiba Atikum 42
Floresta Floresta Pipipan 08 Ibimirim Ibimirim/Inajá Kambiwá 12 Ibimirim Ibimirim/Inajá Tuxá 02
Jatobá Jatobá/Tacaratu/Petrolândia Pankarar
u 17
Pesqueira Pesqueira Xucuru 28 Carnaubeira da
Penha Carnaubeira da Penha Pankará *
Desaldeiados Total 157*
Fonte: MS/Funasa/Core-PE/DSEI-PE (2005). * A etnia Pankará está em fase de cadastramento, não havendo informações sobre as aldeias.
41
ETNIA MUNICÍPIO DISTÂNCIA- RECIFE CONSELHO LOCAL TRANSPORTE
TRUKA CABROBÓ 586 Km Formado Terrestr eATIKUM CARNAUBEIRA DA PENHA 505 Km Formado TerrestrePANKARARU JATOBÁ/ PETROLÂNDIA/ TACARATU 417 Km Formado TerrestrePIPIPAN FLORESTA 439 Km Formado TerrestreKAPINAWA BUIQUE / TUPANATINGA 285 Km Formado Terrest reKAMBIWA IBIMIRIM / INAJA 312 Km Formado TerrestreTUXA INAJA 395 Km Formado TerrestreXUKURU PESQUEIRA 215 Km Formado TerrestreFULNI-O AGUAS BELAS 314 Km Formado TerrestrePANKARA CARNAUBEIRA DA PENHA 505 Km Formado Terrestre
ALAGOAS
BAHIA
PARAÍBA
PIAUÍ
RIO SÃO FRANCISCO
ESTRADA ASFALTADA
ESTRADA DE BARRO
LEGENDA
3.3 Área de Estudo:
O estudo refere-se ao Distrito Sanitário Especial Indígena de Pernambuco
(DSEI-PE), situado na região nordeste do Brasil. Ele está localizado na Coordenação
Regional de Pernambuco em Recife que compreende um total de 10 Etnias que são:
Atikum, Fulni-ô, Kambiwá, Kapinawá, Pankararu, Pankará, Pipipan, Truká, Tuxá de
Inajá e Xukuru que habitam a região do Agreste e do Sertão do estado (FUNDAÇÃO
NACIONAL DA SAÚDE, 2005).
Fonte: Plano Distrital de Saúde Indígena - Pernambuco, 2005-2007.
3.4 Fonte de dados e instrumentos de coleta
Os dados foram secundários, provenientes dos seguintes sistemas de
informação:
• Sistema de informação sobre Mortalidade (SIM) – Disponível on-line
pelo Ministério da Saúde/ Datasus.
42
• Sistema de Informação de Atenção a Saúde Indígena (Siasi/PE) –
Disponibilizado pela Funasa no Dsei de Pernambuco. Foi utilizado ainda para
a construção da pirâmide etária dos Yanomami o SIASI/ WEB.
Embora o Siasi e SIM se refiram às populações indígenas, as informações
são diferentes. A diferença fundamental é que o Siasi considera apenas os índios
aldeados, enquanto que os SIM, todos aqueles que se intitulam como índios
(COSTA et al., 2006).
Na elaboração do diagnóstico sistemático dos possíveis determinantes
relacionados com as DANT’s foram utilizados como fontes de dados documentos por
etnia disponibilizados pelo Dsei/Funasa e CIMI (Conselho Indigenista Missionário),
relacionados com as características sócio-culturais, históricas, dentre outros.
3.5 Período do Estudo
Os dados secundários do SIM foram relativos aos anos de 1997 a 2004,
uma vez que somente estes anos encontravam-se disponíveis no site do Datasus
(www.datasus.gov.br). Os dados provenientes do Siasi/ PE foram relativos aos anos
de 2003 a 2005.
3.6 Unidade de Análise:
A unidade de análise foram etnias no número de 10 (dez), conforme pode
ser visto na tabela 1. No entanto, alguns critérios de exclusão da análise precisam
ser elucidados. No estudo da mortalidade por etnia, foi excluída a etnia Tuxá por
apresentar uma população bastante pequena, não tendo sido registrados óbitos e
encontrado somente um documento. Assim, foram estudadas 9 (nove) etnias
indígenas das 10 (dez) existentes.
43
3.7 Categorias de análise:
Os óbitos foram estudados para toda a população indígena de Pernambuco
como também para cada etnia separadamente, utilizando-se as seguintes variáveis:
• Faixa etária – Com o intuito de obter um melhor detalhamento, foram
consideradas as faixas etárias de menores de 1 ano, 1 a 4, 5 a 9, 10 a 14, 15 a 10,
20 a 29, 30 a 39, 40 a 49, 50 a 59 e 60 e mais. Os ignorados foram considerados na
análise;
• Sexo – Foram considerados os sexos masculino e feminino;
• Grandes grupos e tipo de causas segundo CID-10 – Para a análise por
tipo de causa foram agrupados os capítulos referentes às causas externas (V01-
Y98), doenças do aparelho circulatório (I00 – I99), neoplasias (C00 – D48) e
doenças endócrinas nutricionais e metabólicas (E00 – E90).
Em relação à investigação dos possíveis determinantes da saúde
relacionados com as DANT’s identificados nas comunidades indígenas de
Pernambuco, esta pesquisa parte do pressuposto da possível existência das
seguintes categorias:
1) Aspectos demográficos e envelhecimento – Sabe-se que o aumento da
expectativa de vida ao nascer, com o conseqüente incremento da população idosa e
das causas de adoecimento e morte mais prevalentes nesse grupo etário, contribui
para a mudança no padrão de morbimortalidade (SILVA JÚNIOR et al., 2003).
Assim, para cada etnia estudada foram construídas as pirâmides etárias a partir dos
dados disponibilizados no Siasi/PE.
2) Contato com não - índios – Caracteriza-se por etnias com contato recente
e contatos não-recentes. Para esta categoria, podem ser analisados, além de
documentos existentes relacionado às etnias, as pirâmides etárias (CONFALONIERI;
GARNELO, 1998). O mesmo autor menciona que a estrutura demográfica das
populações indígenas é variável e esta depende dos impactos relativos à natalidade
e mortalidade resultantes da história particular de contato com a sociedade nacional.
44
Leite et al. (2006) menciona que os determinantes das condições de saúde
resultantes da interação dos índios com a sociedade nacional envolvem aspectos
como a restrição territorial, mudanças nas relações econômicas, acesso diferenciado
a serviços de saúde, dentre outros.
3) Restrição territorial – Representa uma categoria relacionada ao ambiente
e foi incluída uma vez que atualmente, com as sucessivas demarcações, os índios
tiveram seus hábitos de caça, pesca e manipulação do ambiente modificados.
Acredita-se que isto levou a mudanças culturais e ao pouco desenvolvimento de
atividades calóricas como correr, caçar e pescar, por exemplo. Ademais estas
restrições resultaram em conflitos de terra entre índios, fazendeiros e posseiros que
perdura até hoje.
4) Atividades de subsistência – Com as sucessivas mudanças no ambiente
em que vivem os índios, eles necessitaram modificar suas atividades de
subsistência.
5) Organização da atenção à saúde – Para Silva Júnior et al. (2003), esta
categoria envolve a disponibilidade, a quantidade e a qualidade dos recursos
destinados aos cuidados com a saúde. Para esta pesquisa será considerado o
número de Equipes Multiprofissionais de Saúde (EMS) bem como a acessibilidade a
tais serviços. A falta de acesso será apresentada através do percentual de óbitos
sem assistência médica (ROMERO; CUNHA, 2006).
6) Hábito alimentar – Representa uma característica relacionada com o estilo
de vida, podendo ser observadas neste item possíveis mudanças no padrão
alimentar decorrentes de diversos fatores.
7) Conflitos sociais nas demarcações – Tais conflitos, como por exemplo,
pela posse da terra, resultam em violência e choques culturais.
45
3.8 Plano de análise
Para o estudo da mortalidade foi utilizado o coeficiente de mortalidade
proporcional apenas. Considerando que a unidade de análise foram as etnias, ao
distribuir os óbitos para a construção de coeficientes de mortalidade específica,
percebeu-se que o número de eventos do numerador era na maioria inferior a cinco,
obtendo-se, segundo Washington State Departament of Health (2000 apud
GUIMARÃES et al., 2003) taxas instáveis. Assim, optou-se por trabalhar somente
com o coeficiente de mortalidade proporcional.
Para a caracterização das etnias em relação ao tempo de contato com não –
índios será utilizada a classificação proposta por Confalonieri e Garnelo (1998). Esta
propõe que, ao construir as pirâmides etárias, serão consideradas populações
estabilizadas com pouco ou nenhum tempo de contato aquelas representadas por
pirâmides populacionais de base larga. Por outro lado, os povos com contato
recente apresentam composições de populações altamente assimétricas,
representadas sob a forma de pirâmides altamente irregulares.
Com o intuito de estabelecer possíveis relações entre os determinantes
elegidos e o padrão de mortalidade relacionado com as DANTs para os povos
indígenas de Pernambuco, foram confrontados os achados com as revisões
documentais em livros e trabalhos encontrados por etnias. Tal procedimento
fudamentou-se na proposta por Confalonieri (2006) que inclui em estudos
epidemiológicos características do elemento humano e suas interações com o
ambiente sendo assim, partes dos determinantes das dinâmicas epidemiológicas.
3.9 Limitações metodológicas
O Siasi, por ser recente, ainda não conseguiu obter uma alimentação
adequada do sistema, o que produz um alto grau de sub-notificação (BRASIL, 2005)
46
e entre as classificações de óbitos, o percentual de causas mal-definidas é alto
quando comparado com a população de não-índios.
Uma dificuldade observada refere-se ao fato de trabalhar com valores
pequenos de óbitos e populações pequenas por etnia.
3.10 Aspectos éticos:
Este estudo foi realizado segundo a Resolução do Conselho Nacional de
Saúde/ CNS número 196/96 (2002), a qual estabelece diretrizes e normas
reguladoras de pesquisas envolvendo seres humanos, e a Resolução número
304/00, no que se refere a pesquisas com populações indígenas. A proposta de
estudo foi submetida à apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição
Executora (CEP-CPqAM/Fiocruz).
Como prováveis benefícios para a população objeto deste estudo foram
previsto, além da produção de conhecimento, a contribuição junto a Funasa/PE de
uma pesquisa que possibilite posteriormente a tomada de decisões. Outras
populações também poderão ser beneficiadas a partir da divulgação de seus
resultados.
Representou uma pesquisa que utilizou dados secundários do Siasi/PE. Este
sistema não é de livre acesso e contém o nome de identificação do sujeito indígena,
no entanto os dados foram agregados por etnia e estas informações só foram
utilizadas para fins de pesquisa, não causando assim danos aos sujeitos.
Seguem em anexo a carta de anuência da Coordenação Estadual da
Funasa/PE, referente ao projeto principal, na qual formaliza a colaboração com
documentos e dados disponíveis, bem como a carta do Comitê de Ética do CPqAM/
Fiocruz, aprovando a pesquisa.
47
Capítulo 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Aspectos do padrão demográfico
O Estado de Pernambuco apresenta a terceira maior população indígena do
País, com cerca de 35 mil indígenas, distribuídos em 10 (dez) povos (BRASIL,
2005b). No período de 1995 a 2005, esta população cresceu 186,76%, havendo
uma expansão de 40% nos últimos 05 anos (tabela 2).
Tabela 2. População indígena de Pernambuco, por etnia (2000 – 2005). ETNIA 1995 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Kapinawá 956 1035 1218 1216 1496 2297 2556 Truká 1333 2166 2218 2387 2742 3462 3665 Atikum 2743 3393 3419 3713 3891 3885 3914 Pipipan 0 591 606 652 1033 1033 1419
Kambiwá 1378 1400 1401 1401 2575 2574 2499 Tuxa 41 47 47 47 141 141 21
Pankararu 4146 4062 4062 4821 4912 5217 5858 Xukuru 6363 7213 7248 7234 7220 6823 7114 Fulni-ô 2170 2518 2.529 2553 2670 2689 3035
Pankará 0 0 0 0 0 0 2451 Desaldeiado 0* 3341 3341 4477 3654 2844 3196
Total 19130 25766 26089 28501 30334 30965 35728 Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007. * Não consta o número de desaldeados entre os dados fornecidos pela Funasa.
Detalhando esses dados por etnia, observa-se um crescimento populacional
para a maioria das etnias (tabela 2). Sugere-se ser tal fato decorrente de um real
aumento populacional, de uma melhor cobertura do sistema e/ou retorno dos
indígenas às suas aldeias de origem (COSTA et al., 2006). A redução da população
desaldeiada no período de estudo pode confirmar esta suposição (gráfico 1).
Contrariando as estimativas de um possível desaparecimento das
populações indígenas no Brasil, aconteceu nas últimas décadas a “revolução
demográfica indígena” com um crescimento demográfico bastante acelerado
(PAGLIARO; AZEVEDO; SANTOS, 2005; SANTOS; PEREIRA, 2005). Segundo
48
25766 2608928501
30334 30965
35728
3341 3341 4477 3654 2844 31960
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
.2000. .2001. .2002. .2003. .2004. .2005.
População Desaldeiado
informações do IBGE (2005), no período de 1991 a 2000 a população indígena
apresentou um expressivo crescimento demográfico. Assim, o crescimento
populacional dos povos indígenas de Pernambuco acompanha esta tendência.
Gráfico 1. Evolução da população desaldeiada e a população indígena que vivem nas aldeias de Pernambuco. (Dsei-PE, 2000 a 2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007.
O retorno dos indígenas às suas aldeias de origem, conforme pode ser
sugerido ao analisar o gráfico 1, pode ser uma das justificativas para o aumento
populacional em Pernambuco. Ademais, tal fato retrata, conforme menciona Silva
(2007), uma maior valorização e afirmação das identidades étnicas, sendo vistos
como sujeitos ativos num contexto de acomodação, reformulação e reinvenção dos
ritos e expressões culturais.
Tal cenário contraria a fala de Darcy Ribeiro (1970 apud OLIVEIRA, 2004)
ao mencionar “resíduos da população indígena do Nordeste” e referir que “toda sua
terra já é pacificamente possuída pela sociedade nacional”.
Além do crescimento demográfico, observa-se entre a população indígena
de Pernambuco mudanças importantes como pode ser percebido na pirâmide etária
de 2005 com o estreitamento da base e ampliação do ápice (Figura 1). Tais
aspectos parecem estar relacionados a um aumento na expectativa de vida e maior
envelhecimento populacional. No ápice da pirâmide observa-se um maior número de
49
mulheres em relação aos homens, especialmente na faixa etária de 75 anos ou mais
(Figura 1).
Tal fenômeno de “feminização do envelhecimento” é observado em
populações não-indígenas do mundo todo, sendo conseqüência do excesso de
mortalidade entre os homens ao longo de toda a vida (LIMA-COSTA, 2003).
Estes achados estão de acordo Brasil (2005), Costa et al. (2006) e IBGE
(2005).
Figura 1. Pirâmide etária dos índios de Pernambuco (Dsei-PE, 2005) Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasiweb, 2007.
Ao comparar o traçado da pirâmide etária das etnias de Pernambuco com a
etnia Yanomani do Amazonas e Roraina referente ao ano de 2005, segundo a
classificação de Confalonieri e Garnelo (1998), percebe-se que as etnias de
Pernambuco por apresentarem-se bem mais assimétricas e com uma base
encurtada em relação a do Yanomani (figura 12), apresentam um maior tempo de
contato com não-índios (figuras 1 a 11).
Esta etnia utilizada para comparação é bastante diferente das etnias de
Pernambuco. Diferem aspectos relacionados ao tempo de contato, restrição
territorial e características demográficas. Estas questões representam alguns
determinantes estudados no presente trabalho.
50
Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasiweb, 2007
Oliveira (1994 apud OLIVEIRA, 2004), comparando os povos indígenas do
Nordeste com aqueles da Amazônia, percebeu que estes povos indígenas detêm
51
uma parte significativa de seus territórios, com uma área que ultrapassa 50.000 ha
representando de 10 a 40% das terras dos estados, enquanto no Nordeste tais
áreas foram incorporadas ao longo dos anos por colonizadores com extensões de
terras pequenas (em geral inferiores a 2.000 ha.) representando cerca de 0,7% das
terras dos estados. A proporção de terra por homem na Amazônia é de mais de mil
ha por índio enquanto que no Nordeste, com uma população bem numerosa, esta
relação corresponde a 7,2 ha para cada índio.
Os Yanomami além de terem um tempo de contato com não-índios menor
que os índios de Pernambuco, não foram encontrados, segundo a pesquisa de
Mancilha-Carvalho, Souza e Silva (2003) casos de hipertensão, obesidade e
consumo de álcool, todos estes determinantes relacionados às Doenças Crônicas
Não Transmissíveis.
Figura 12. Pirâmide etária dos índios Yanomani (Amazonas e Roraima, 2005) Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasiweb, 2007
Tais achados levam a crer que os povos indígenas de Pernambuco
apresentam como determinantes para a ocorrência das DANTs estudadas neste
trabalho o envelhecimento populacional, maior tempo de contato com não - índios e
a restrição territorial, sendo estes em maior grau quando comparado com os
Yanomani.
52
4.2 Mudanças específicas no padrão de mortalidade e ntre os povos indígenas
de Pernambuco – Análise a partir do SIM
Considerando que a variável raça/cor foi introduzida na declaração de
óbito (DO) e, por conseguinte, no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) a
partir de 1997, e que o Siasi foi implantado a partir de 1999 (BRASIL, 2005), tentou-
se comparar o número de óbitos presentes nestes sistemas de informação antes de
proceder qualquer análise. A partir da tabela 3 percebe-se que nos anos de 2001 e
2002 o número de óbitos do SIM foi superior ao Siasi-PE e somente a partir de 2003
ele apresenta um maior número de DO´s. Por esta razão a análise utilizou somente
os anos de 2003 a 2005 do Siasi-PE.
Tabela 3. Comparativo do número de óbitos em índios segundo os sistemas de informação (Pernambuco, 2001 a 2005).
Ano Sistema de informação 2001 2002 2003 2004 2005
SIM/ datasus* 140 136 129 132
Não disponível
Siasi-PE 86 134 130 136 161
Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007 * BRASIL, 2006
A partir de uma análise da mortalidade proporcional utilizando a curva de
Nelson Moraes, percebe-se, entre os anos de 1997 a 2005, um aumento da
mortalidade para os menores de 1 ano para a população indígena e o movimento
oposto para a população não-indígena (gráfico 4).
Este movimento oposto entre não-índios e índios de Pernambuco evidencia
desigualdade na forma de adoecer e morrer e confirma os achados de Coimbra
Júnior e Santos (2000) ao mencionar que os coeficientes de morbi-mortalidade entre
os índios são mais altos do que os registrados em nível nacional ou regional.
Percebe-se que mesmo com as ações de saneamento desenvolvidas pela
Funasa e com a criação do subsistema de Atenção à Saúde dos povos indígenas a
partir de 1999 e a implantação do Distrito Sanitário especial indígena em
53
Pernambuco (Dsei-PE), tais aspectos não conseguiram melhorar a assistência
perinatal.
Estes achados corroboram com Athias e Machado (2001) que afirmam que
o processo de distritalização em Pernambuco não aponta a melhora dos serviços de
saúde para as populações indígenas e contraria a curva de Nelson Moraes
construída por Costa et al. (2006) referente aos anos de 2001 e 2005 para a
população indígena de Pernambuco.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
<1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 50 e +
%
1997 (Índios)
2004 (Índios)
1997 (Não-Índios)
2004 (Não-Índios)
2005* (Índios)
Gráfico 2. Curva de Nelson Moraes da população indígena e não-indígena de Pernambuco, 1997-2005. Fonte: BRASIL, 2007; MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
No entanto o aumento na proporção de óbitos em todas as faixas etárias
podem estar relacionados a uma melhor qualidade e cobertura do Siasi/PE.
Observa-se incremento proporcional da mortalidade no grupo de 5 a 19 anos
apresentando uma menor proporção em 1997 e a maior em 2005 quando
comparada com os não-índios (gráfico 2). O aumento da mortalidade entre jovens,
pode estar relacionado a homicídios decorrentes dos conflitos nas demarcações de
terra, uso de álcool e dentre outros (COSTA et al., 2006).
54
Considerando que muitas das aldeias indígenas de Pernambuco estão
localizadas no Sertão e na Mesorregião do São Francisco, percebe-se o predomínio
da mortalidade por causas externas, muito provavelmente associadas à elevada
mortalidade proporcional entre os jovens na curva de Nelson Moraes também
observada nesta mesorregião (CARVALHO et al., 1998). Este padrão parece ser
semelhante às populações indígenas de Pernambuco.
Para o ano de 2004, referente à população não-indígena de Pernambuco, a
curva de mortalidade é mais elevada na faixa etária com mais de cinqüenta anos
(gráfico 2). Para as populações indígenas do estado, independente do ano, a curva
é mais alta quando se refere às primeiras faixas etárias. Estes aspectos apontam um
retardo na transição epidemiológica dessa população em relação à não-indígena.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
.1997. .1998. .1999. .2000. .2001. .2002. .2003. .2004.
Outras causas
Causas externas
Causas mal definidas
Doenças do aparelho respiratório
Doenças do aparelho circulatório
Doenças endócrinas nutricionaise metabólicas
Neoplasias
Doenças infecciosas eparasitárias
Gráfico 3. Mortalidade Proporcional para a população indígena de Pernambuco, segundo CID-10, 1997-2004. Fonte: BRASIL, 2007.
Analisando-se a mortalidade por grupos de causas, observa-se que, no
período compreendido entre 1997-2004, as causas mal definidas foram as primeiras
causa de morte, o que sugere problemas relacionados à qualidade dos serviços de
saúde (gráfico 3).
55
Essas situações de altas proporções de óbitos por causas mal definidas
ocupam o primeiro lugar durante o período analisado. Devido à pobreza e à
precariedade dos serviços, subentende-se que haja uma alta subnotificação das DIP
entre as populações indígenas (COSTA et al., 2006).
A participação relativa da mortalidade por Sinais e Sintomas Mal Definidos
(SSMD) é elevada, apesar de ter diminuído consideravelmente em muitas regiões do
Brasil e está sugestivamente associada a um padrão de mortalidade ligado à
pobreza e à baixa qualidade de assistência (ANDRADE; LISBOA, 2001 apud LEITE,
2005).
No entanto, as elevadas proporções também podem significar subnotificação
de causas de óbitos por doenças do aparelho circulatório (TEIXEIRA et al., 2006;
OLIVEIRA; KLEIN; SILVA, 2006). Portal et al., (2006) observou em estudo de
tendência em Pernambuco que, à medida em que houve um declínio entre os óbitos
por causas mal definidas, houve um acréscimo entre as causas por aparelhos
circulatórios.
As doenças do aparelho circulatório configuram-se como a segunda causa
de óbito no período, seguidas pelas causas externas e estas, pelas neoplasias. As
doenças infecciosas e parasitárias (DIP) apresentam-se em último lugar dentre as
causas analisadas e percebe-se um nítido aumento da mortalidade por neoplasias e
doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas entre os anos de 1997 a 2004
(gráfico 3). Destaca-se no grupo de doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
as causas de desnutrição e diabetes mellitus, sendo esta a que apresenta os
maiores percentuais (gráfico 4).
No intuito de diferenciar o padrão de mortalidade entre jovens e idosos, os
óbitos por causas externas representaram a primeira causa de óbito na população
de 15 a 29 anos de idade, seguido por causas mal definidas e doenças do aparelho
respiratório (gráfico 5). Percebe-se que as causas externas representaram, durante
todos os anos analisados, 50% ou mais dos óbitos nesta faixa etária, exceto no ano
de 2000.
56
75 71,43 70
54,55
90,91
77,78
55,56 57,14
0
28,57
1018,18
9,09
22,22
33,33
42,86
25
0,00
2027,27
0,00 0,00
11,11
0,000
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
.1997. .1998. .1999. .2000. .2001. .2002. .2003. .2004.
Diabetes mellitus Desnutrição Rest doenças endócr, nutricion e metabólicas
Gráfico 4. Mortalidade proporcional por causas relacionadas as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas ara a população indígena de Pernambuco, (1997 e 2004) Fonte: BRASIL, 2007.
Os óbitos por doenças do aparelho circulatório e neoplasias, em segundo e
terceiro lugar, respectivamente, demonstraram uma maior concentração entre a
população de 60 anos e mais (gráfico 6). Corroborando com esta descrição, os
Guarani-Mbyá e os Xavante apresentaram maior prevalência das DAC e as
neoplasias em população de maior idade (CARDOSO, MATOS; KOIFMAN, 2001;
COIMBRA et al., 2001). A primeira causa de óbitos para esta faixa etária são as
causas mal-definidas.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
.1997. .1998. .1999. .2000. .2001. .2002. .2003. .2004.
Doenças infecciosas e parasitárias Neoplasias Doenças do aparelho circulatório
Doenças do aparelho respiratório Doenças do aparelho digestivo Causas mal definidas
Causas externas Outras causas
Gráfico 5. Mortalidade Proporcional para a população indígena jovem (15 a 29 anos) segundo CID-10 (Pernambuco, 1997-2004). Fonte: BRASIL, 2007
57
0
10
20
30
40
50
60
70
.1997. .1998. .1999. .2000. .2001. .2002. .2003. .2004.
Doenças infecciosas e parasitárias Neoplasias
Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas Doenças do aparelho circulatório
Doenças do aparelho respiratório Causas mal definidas
Causas externas Outras causas
Gráfico 6. Mortalidade Proporcional para a população indígena idosa (60 anos e mais) segundo CID-10 (Pernambuco, 1997-2004). Fonte: BRASIL, 2007.
4.3 O padrão de mortalidade segundo etnias indígena s de Pernambuco –
Análise a partir do Siasi-PE.
Antes de analisar a mortalidade por DANT´s segundo etnias, optou-se por
descrever a magnitude deste grupo de causas junto às demais causas de óbito.
Assim, percebe-se que a mortalidade por causas mal-definidas, seguida por doenças
no aparelho circulatório e causas externas, ocupa respectivamente a primeira,
segunda e terceira causa de óbito em 2003 e 2004. Já em 2005 os óbitos por
causas externas ocupam o segundo lugar (gráfico 7).
Este padrão de mortalidade indica o oposto ao de morbidade. Segundo
Costa et al. (2006), as doenças do aparelho, e infecciosas e parasitárias ocupam
nesta ordem a primeira e segunda causa de morbidade. O padrão de morbidade
encontrado entre os povos indígenas de Pernambuco demonstra que, conforme
menciona Riley (1990 apud BARRETO et al,. 1993), nem sempre este segue em
paralelo com as tendências de mortalidade.
58
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
.2003. .2004. .2005.
Doenças infecciosas eparasitárias
Neoplasias
Doenças endócrinas, nutric. emetabólicas
Doenças do aparelhocirculatório
Doenças do aparelhorespiratório
Algumas afecções do períodoperinatal
Sintomas, sinais e achadosanormais
Causas externas de morbidade
Outras causas
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
Faixa etária
%
Masculino Feminino
Masculino 11,43 2,86 1,43 0,00 0,00 4,29 4,29 2,86 4,29 67,14 1,43
Feminino 12,37 3,09 4,12 0,00 1,03 2,06 2,06 7,22 4,12 63,92 0,00
<1 ano
1a4 5a9 10a14 15a19 20a29 30a39 40a49 50a59>60an
osIgnora
do
Gráfico 7. Mortalidade Proporcional para a população indígena de Pernambuco (Dsei/PE), segundo CID-10, 2003-2005. Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Percebe-se que a concentração de óbitos por causas mal-definidas,
segundo faixa etária e sexo, é maior para os extremos de idade, isto é, para as
faixas etárias de menores de 1 ano e 60 anos ou mais (gráfico 8). Tal aspecto
aponta para uma falta de acesso aos serviços de saúde, como menciona Romero e
Cunha (2006) e apresenta-se semelhante aos achados de Pereira (2005).
Gráfico 8. Mortalidade por causas mal-definidas segundo faixa etária e sexo para os povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
59
Analisando a mortalidade proporcional por causas mal-definidas segundo
etnias, percebe-se que as etnias de Fulni-ô, Pipipan e Pankararu foram as que
apresentaram valores acima de 50% em pelo menos um dos anos estudados, com
destaque feito aos Fulni-ô por apresentarem para todos os anos de 2003 a 2005
percentuais superiores a 50% (gráfico 9).
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
%
.2003. .2004. .2005.
.2003. 57,89 50,00 38,89 31,82 40,00 12,50 41,18 13,33 0,00 35,38
.2004. 75,00 20,00 29,41 33,33 50,00 33,33 65,38 16,67 0,00 30,88
.2005. 72,73 77,78 19,05 48,78 28,57 33,33 35,00 28,57 31,25 39,75
Fulni-ô Pipipan Atikum Xucuru Kambiwá Kapinawá Pankararu Truká Pankará Total
Gráfico 9. Mortalidade por causas mal-definidas segundo etnias de Pernambuco (Dsei-PE, 2003 – 2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Este aspecto pode estar relacionado à organização da atenção à saúde, pois
os Fulni-ô apresentam o maior número de índios por Equipe Multidisciplinar de
Saúde (3578/equipe) entre as etnias de Pernambuco, seguido dos índios Xukuru
(2622/ equipe) e Pankararu (1961/ equipe) (FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE,
2005). Considerando que os Fulni-ô sejam, dentre as etnias de Pernambuco, àquela
que mais conserva as características culturais como a prática do Ouricuri (uma
dedicação a rituais sagrados em que somente os índios podem ingressar e realizam
orações e penitências) e que esta prática dificulta o acesso aos serviços de saúde
conforme pode ser visto no Plano Distrital de Saúde indígena de Pernambuco
(2005), os elevados percentuais de óbitos por causas mal definidas podem estar
relacionados a tais aspectos no período de estudo.
60
4.4 Padrão de mortalidade por DANT´s e seus possíve is determinantes em
populações indígenas de Pernambuco
A mortalidade proporcional por DANT´s entre as populações indígenas de
Pernambuco variou de 48,37% em 2001 a 43,18% em 2005 (gráfico 10). Estes
percentuais para um padrão de mortalidade com elevada proporção de causas mal-
definidas é bastante significativa. Quando comparamos este percentual entre os
grandes grupos de DCNT e Causas externas, percebe-se que aquela tem
apresentado maior magnitude em relação a esta. Esta característica é semelhante
aos não-índios de Pernambuco segundo Carvalho et al. (1998).
Este aspecto sugere que os determinantes do envelhecimento populacional
já observados, contato com não-índios não recente (que permitiu a assimilação de
alguns dos valores da cultura dominante com reflexo nas moradias, hábitos
alimentares, forma de trabalho agrícola, etc.) e restrição territorial sobressaem em
relação aos possíveis determinantes relacionados com conflitos sociais na
demarcação de terras e outras violências em geral.
38,37
10
26,87
8,09
33,06
11,54
39,42
6,43
21,89
21,29
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
50,00
.2001. .2002. .2003. .2004. .2005.
DCNT Causas externas
Gráfico 10. Percentual de mortalidade por DCNT e causas externas em relação as causas totais de óbitos relacionadas aos povos indígenas de Pernambuco (Dsei/PE, 2001-2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
61
Em relação ao tempo de contato com não-índios e as interações econômicas
e sociais delas decorrentes, alguns autores apontam tais aspectos como sendo
determinantes para as DCNT´s em populações indígenas do Brasil (GUGELMIN;
SANTOS, 2001; COIMBRA et al., 2001; SANTOS FILHO; MARTINEZ, 2002).
Em relação à mortalidade por causas externas, sua participação no total de
óbitos sofreu um aumento significativo no período de 2001 a 2005, passando de
10% para 21,29%, semelhante ao crescimento observado para a população total de
Pernambuco (PEREIRA, 2005).
4.4.1 Mortalidade por DCNT´s e seus possíveis determinantes
A mortalidade por DCNT (doenças do aparelho circulatório, neoplasias e
diabetes) predomina entre a faixa etária de 60 anos ou mais com destaque para o
elevado percentual de óbitos por diabetes para a faixa etária de 20 a 29 anos de
idade (gráfico 11). Segundo Mello Jorge e Gotlieb (2001 apud COSTA, 2005), a
diabetes mellitus pode acontecer em qualquer idade, no entanto esta é mais comum
após os 40 anos.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
D ap circulatório Neoplasias Diabetes DCNT
Menor 1 ano 1 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos > 60 anos
Gráfico 11. Mortalidade proporcional por tipo de DCNT para a população indígena de Pernambuco (Dsei-PE), por faixa etária, 2003 a 2005. Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
62
Apesar deste grupo de doenças estar relacionado ao envelhecimento
(SILVA JUNIOR et al., 2003), tais doenças não representam uma conseqüência
inevitável deste processo (PRATA, 1992). Afirma-se isto uma vez que alguns
autores mencionam a redução da mortalidade por algumas doenças crônicas,
particularmente as cardiovasculares em países desenvolvidos (CESSE; FREESE,
2006; STALLONES, 1980 apud PRATA, 1992).
Quando se analisa segundo sexo, observa-se que há um predomínio entre
os homens, diminuindo a proporção para as causas relacionadas ao aparelho
circulatório (gráfico 12).
Estes dados sugerem a predominância de alguns determinantes
relacionados ao estilo de vida, sobrepeso, sedentarismo em mulheres indígenas de
Pernambuco e corroboram com os achados de Cardoso, Matos e Koifman (2001),
que ao estudar a etnia Guarani-Mbyá (RJ), encontrou uma maior prevalência destes
determinantes no sexo feminino e nas idades mais avançadas.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Diabetes D. ap. circulatório Neoplasias Sintomas, sinais eachados anormais
F M
Gráfico 12. Mortalidade proporcional por tipo de DCNT e causas mal definidas para a população indígena de Pernambuco (Dsei-PE), sexo, 2003 a 2005. Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Considerando que os grupos de diabetes mellitus, doenças do aparelho
circulatório e neoplasias representam o maior percentual das DCNT no presente
63
estudo, semelhante aos estudos de Cesse e Freese (2006), serão apresentados a
partir daqui uma discussão sobre estas principais causas segundo sexo, faixa etária
e etnia.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
Faixa etária
%
Masculino Feminino
Masculino 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 33,33 66,67
Feminino 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 33,33 0,00 0,00 0,00 66,67
<1 ano 1a4 5a9 10a14 15a19 20a29 30a39 40a49 50a59>60ano
s
Gráfico 13. Mortalidade por Diabetes segundo faixa etária e sexo para os povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
Faixa etária
%
Masculino Feminino
Masculino 5,26 0,00 0,00 2,63 0,00 0,00 2,63 7,89 0,00 81,58
Feminino 3,13 0,00 0,00 0,00 0,00 6,25 0,00 6,25 12,50 71,88
<1 ano 1a4 5a9 10a14 15a19 20a29 30a39 40a49 50a59 >60anos
Gráfico 14. Mortalidade por Doenças do aparelho circulatório segundo faixa etária e sexo para os povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
A diabetes mellitus apresenta um maior percentual de mortalidade em
ambos os sexos na faixa etária acima de 60 anos. Os óbitos por doenças do
64
aparelho circulatório é maior em mulheres na faixa etária de 50 a 59 anos
invertendo a partir de 60 anos e mais. Já em relação às neoplasias, há um
crescimento contínuo para ambos os sexos a partir da faixa etária de 30 a 39 anos,
apresentando o sexo feminino ligeiramente o maior percentual de óbitos a partir da
faixa etária de 40 a 49 anos (gráfico 13, 14 e 15).
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
Faixa etária
%
Masculino Feminino
Masculino 0,00 0,00 4,76 4,76 0,00 0,00 4,76 4,76 14,29 66,67
Feminino 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 10,00 20,00 70,00
<1 ano 1a4 5a9 10a14 15a19 20a29 30a39 40a49 50a59 >60anos
Gráfico 15. Mortalidade por Neoplasias segundo faixa etária e sexo para os povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Analisando o grupo das doenças do aparelho circulatório para os três anos
estudados, observa-se que os óbitos por doenças cerebrovasculares totalizaram
34,78% seguido de doenças hipertensivas (23,19%) e doenças isquêmicas do
coração (20,29%). Percebe-se ainda um incremento ano a ano na mortalidade
relacionada a doenças hipertensivas e doenças isquêmicas do coração (tabela 4).
Dentro do grupo de neoplasias observa-se, entre os anos de 2003 e 2005,
elevado percentual de neoplasias malignas não especificadas (68,75%). Entre as
especificadas percebe-se que a mortalidade por neoplasias relacionadas às
precárias condições de higiene, como as neoplasias maligna de mama (9,37%) e
próstata (6,25%) faz-se presente. A neoplasia digestiva representa no total 6,25%
entre o total de neoplasias (tabela 5).
Costa et al. (2006) não evidenciaram estudos sobre neoplasias digestivas
entre populações indígenas do Brasil. Lima et. al. (2001) observou sedentarismo,
65
elevado consumo de carboidratos e obesidade como determinantes para o
aparecimento de neoplasias mamárias entre os indígenas de Teréna no Mato
Grosso do Sul.
Tabela 4. Proporção de óbitos por doenças do aparelho circulatório no grupo das Doenças do aparelho Circulatório em populações indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005).
2003 2004 2005 Total Doenças ap.circulatório (I00-I99) N % N % N % N %
Doenças hipertensivas 4 17,39 8 25,81 4 26,66 16 23,19 Doenças isquêmicas do coração 2 8,70 6 19,35 6 40 14 20,29 Embolia Pulmonar 1 4,35 0 0,00 0 0 1 1,45 Insuficiência Cardíaca 6 26,09 6 19,35 2 13,33 14 20,29 Doenças cerebrovasculares 10 43,48 11 35,48 3 20 24 34,78 Total 23 100 31 100 15 100 69 100 Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Tabela 5. Proporção de óbitos por neoplasias no grupo das neoplasias em populações indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005).
2003 2004 2005 Total Neoplasias malignas N % N % N % N %
Neoplasias [tumores] malignas(os) 7 70,00 4 50,00 11 78,57 22 68,75 Neoplasia maligna da mama 2 20,00 1 12,50 0 0,00 3 9,37 Neoplasia maligna do útero 0 0,00 0 0,00 1 7,14 1 3,125 Neoplasia maligna da próstata 0 0,00 2 25,00 0 0,00 2 6,25 Leucemias/Sangue hematop 0 0,00 0 0,00 1 7,14 1 3,12 Digestivo 1 10,00 1 12,50 0 0,00 2 6,25 Neoplasia de comportam.incerto /desconh e de localiz não especif. 0 0,00 0 0,00 1 7,14 1 3,125 Total 10 100,00 8 100,00 14 100,00 32 100 Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Tabela 6. Proporção de óbitos por doenças endócrinas nutricionais e metabólicas no grupo das doenças endócrinas nutricionais e metabólicas em populações indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005).
2003 2004 2005 Total Doenças endóc., nutric. e
metabólicas (E00-E90) N % N % N % N %
Diabetes mellitus 2 40 2 33,33 3 42,86 7 38,89 Desnutrição 2 40 3 50,00 4 57,14 9 50,00 Outras deficiências nutricionais
0 0 1 16,67 0 0,00 1 5,56 Distúrbios metabólicos 1 20 0 0,00 0 0,00 1 5,56 Total 5 100 6 100,00 7 100,00 18 100,00 Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
66
A proporção de óbitos por doenças endócrinas nutricionais e metabólicas
demonstra um crescimento da desnutrição ao longo do período estudado e que esta
apresenta um maior percentual quando comparado com a diabetes mellitus (tabela
6). Comparando estes dados do Siasi-PE com os dados do SIM, observa-se o
mesmo crescimento na proporção de óbitos por desnutrição, no entanto difere, que
durante todos os anos estudados, (1997 a 2004) a diabetes apresenta as maiores
proporções.
Analisando a mortalidade por DCNT´s segundo etnias de Pernambuco,
percebe-se que entre os anos de 2003 e 2005 as etnias Atikum, Xukuru e Kambiwá
apresentaram mortalidades proporcionais em relação ao total das causas de óbitos
maiores que 50% em pelo menos um ano. Os menores valores de óbitos por DCNT
pertencem aos Fulni-ô e Pankararu (gráfico 16).
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
.2003. .2004. .2005
.2003. 29,41 33,33 15,79 35,00 60,00 44,44 29,41 42,86 0,00 33,06
.2004. 18,75 40,00 66,67 63,27 25,00 14,29 3,70 33,33 50,00 39,42
.2005 27,27 10,00 36,36 30,43 57,14 28,57 4,76 37,50 0,00 21,89
Fulni-ô Pipipan Atikum Xucuru Kambiwá Kapinawá Pankararu Truká Pankará Total
Gráfico 16. Mortalidade proporcional por DCNT segundo etnias indígenas de Pernambuco (Dsei/PE, 2003-2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Analisando exclusivamente a mortalidade por doenças do aparelho
circulatório, a etnia Kambiwá é a que se destaca por apresentar 60% de seus óbitos
relacionados com este grupo de causas no ano de 2003 (gráfico 17). Em relação às
67
neoplasias, esta mesma etnia se destaca no ano de 2005 com um percentual de
57,14% do total de óbitos (gráfico 18).
Considerando que alguns autores apontam como determinantes para o
surgimento das DCNT em populações indígenas mudanças no padrão alimentar
(CARDOSO, MATOS; KOIFMAN, 2001; CAPELLI; KOIFMAN, 2001; GUGELMIN;
SANTOS, 2001; RIBAS et. al., 2001; ARRUDA et al., 2003; LEITE et al., 2006;
MENEGOLLA et al., 2006), verificou-se que mesmo os Kambiwá alimentando-se de
plantas, verduras e legumes produzidas nas aldeias, há o registro de mudanças no
padrão alimentar desta etnia (PERNAMBUCO, 2000). Tais mudanças alimentares
também acarretaram um respectivo padrão de adoecimento e morte para este povo.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
%
.2003 .2004. .2005.
.2003 15,79 0,00 11,11 18,18 60,00 12,50 17,65 20,00 0,00 17,69
.2004. 12,50 20,00 17,65 31,25 25,00 16,67 3,85 33,33 50,00 21,32
.2005. 18,18 0,00 23,81 17,07 0,00 22,22 2,50 14,29 0,00 11,18
Fulni-ô Pipipan Atikum Xukuru Kambiwá Kapinawá Pankararu Truká Pankará Total
Gráfico 17. Mortalidade proporcional por doenças do aparelho circulatório segundo etnias indígenas de Pernambuco (Dsei/PE, 2003-2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Segue abaixo o trecho do livro “Nosso povo, nossa terra”: Contando e escrevendo
suas histórias” a partir de professores indígenas de Pernambuco (2000):
Antigamente, nossos índios viviam mais de 90 anos. Com o passar do tempo, veio a mistura com a civilização; o nosso povo ficou fraco, vulnerável a muitas doenças e por tomar remédio das farmácias. Por esse motivo hoje vivemos menos, comemos muitas coisas que não devemos comer; por isso hoje temos mais índios doentes do que antigamente. Nossos antepassados só tomavam remédios do mato, viviam mais e eram sadios (PERNAMBUCO, 2000).
68
Por outro lado, os baixos percentuais de mortalidade por DCNT entre os
Fulni-ô podem estar relacionados ao fato desta etnia ser aquela que melhor mantém
suas características sócio-culturais.
Os índios Fulni-ô são os únicos que preservam a língua materna Yaathê.
Realizam o Ouricuri nos meses de setembro, outubro e novembro, que é uma
dedicação a rituais sagrados em que somente os índios podem ingressar e realizam
orações e penitências. Esta característica de migração periódica, em que mudam
suas residências e se isolam para o ritual sagrado do Ouricuri, acredita-se que seja o
motivo pelo qual esta comunidade tenha conservado suas características sócio-
culturais (FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE, 2005).
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
%
.2003. .2004. .2005.
.2003. 5,26 25,00 0,00 9,09 0,00 25,00 5,88 6,67 0,00 7,69
.2004. 0,00 40,00 11,76 6,25 0,00 0,00 3,85 0,00 0,00 5,88
.2005. 0,00 11,11 4,76 7,32 57,14 0,00 0,00 28,57 6,25 7,45
Fulni-ô Pipipan Atikum Xukuru Kambiwá Kapinawá Pankararu Truká Pankará Total
Gráfico 18. Mortalidade proporcional por Neoplasias segundo etnias indígenas de Pernambuco (Dsei/PE, 2003-2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Os hábitos alimentares dos Fulni-ô são semelhantes aos trabalhadores
rurais da região. Alimentam-se de feijão, cuscuz, farinha, peixe, carne, leite, café,
frutas de época, frango, ovos, sardinha e legumes. O consumo ainda de carne de
caça é bem presente (FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO, 1996).
Retratando o contato de crianças com os não-índios de Águas Belas, segue
abaixo um trecho do livro “Caderno do Tempo (2002)”:
69
Na nossa aldeia, o tempo das crianças apesar de ser curto, é satisfatório, pois elas vivem livres. Saem para caçar na caatinga, pescar e tomar banho nos barreiros. Ao mesmo tempo, descobrem as plantas medicinais da nossa realidade. Em conseqüência da convivência integrada à sociedade, se divertem-se também com brincadeiras iguais as do branco, como por exemplo: chimbre (bola de gude), bacia (tampa de garrafa), pião, batunguê (esconde-esconde), bonecas, bandeirinha, gato, passará, jogo (amarelinha), rodas, pula corda, estrelinha, nova série, panelada (comidinha) etc. Apesar dessa integração, não perdem sua autenticidade e quando se trata da religião e cultura, todas as crianças participam com seriedade, dançam toré, cafurna, samba de côco etc. “Não esquecendo também que faz parte do tempo das crianças Fulni-ô, a confecção do artesanato (CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE, 2002, p. 50).
Referindo-se aos Xukuru, Ribeiro (1970 apud OLIVEIRA, 2004) observa que
estão altamente mestiçados com a população sertaneja local, tendo perdido o
“idioma e suas práticas tribais”.
Comparando tais aspectos, percebe-se que mesmo que as etnias de
Pernambuco tenham um grande tempo de contato com não-índios, a diferença de
manutenção e reafirmação de suas crenças e cultura como forma de reafirmação
étnica ao mesmo tempo em que determina a identidade indígena, interfere nos
aspectos que compõem a saúde e estilo de vida desta população.
4.4.2 Mortalidade por Causas Externas e seus possíveis determinantes
Analisando a mortalidade por causas externas em Pernambuco, percebe-
se que os subgrupos concentram-se em mortes por acidentes de trânsito e
homicídios (Gráfico 19).
Mesmo que entre os registros do Centro Indigenista Missionário (1996) e
Centro Indigenista Missionário (2005) não tenham sido identificados casos de
suicídios em Pernambuco, observa-se o registro deste agravo nos dados do Siasi-
PE (gráfico 19). Considerando que todos os artigos bibliográficos encontrados estão
70
relacionados a etnias do Amazonas (tendo estas tempo de contato com não – índios
bastante recente) quando comparados com os povos de Pernambuco, percebe-se
que talvez este aspecto seja um dos possíveis determinantes para o aparecimento
de suicídios em grupos indígenas. Os primeiros contatos com não-índios para o
grupo de Sorowahá (AM) se deu em 1980 (OLIVEIRA; LOTUFO NETO, 2003),
apresentando tentativas de suicídio bem freqüentes, enquanto que os primeiros
contatos entre as etnias de Pernambuco datam por volta dos anos 1722 e 1749
(INSTITUTO BRASILEIRO DE AMIZADE E SOLIDARIEDADE AOS POVOS, 1991;
FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE, 2005).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
%
Acidente detrânsito
Acidente detrabalho
Acidentedoméstico
Outrosacidentes
Homicídio Suicídio
Tipo de causas externas
Gráfico 19. Distribuição da mortalidade por causas externas para a população indígena de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
No entanto, o registro de mortes por suicídios (tabela 7) em Pernambuco,
conforme coloca Erthal (2001) em estudo com os índios de Ticuna do Alto Solimões
(AM), pode estar relacionado a uma desestruturante integração com a sociedade
nacional evidente até os dias de hoje.
Analisando a mortalidade por causas externas entre os anos de estudo,
observa-se um aumento na proporção de óbitos por acidentes de trânsito e os
registros dos dois óbitos por suicídios aconteceram no ano de 2005 (tabela 7).
71
Tabela 7. Proporção de óbitos por causas externas no grupo das causas externas entre as populações indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005).
2003 2004 2005 Total Causas externas (V01 – Y98)
N % N % N % N % Mordedura provocada por cão ou outros animais mamíferos
0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00
Contato com animais e plantas venenosos
0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00
Acidente de trânsito 1 6,67 1 11,11 19 54,29 21 35,59 Acidente de trabalho 0 0,00 1 11,11 0 0,00 1 1,69 Acidente doméstico 0 0,00 0 0,00 1 2,86 1 1,69 Outros acidentes 5 33,33 1 11,11 5 14,29 11 18,64 Homicídio 9 60,00 6 66,67 8 22,86 23 38,98 Infanticídio 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Suicídio 0 0,00 0 0,00 2 5,71 2 3,39 Total 15 100 9 100 35 100 59 100
Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Considerando os principais grupos de causas externas segundo faixa etária
no período de 2003 a 2005, percebe-se que a mortalidade por causas externas
concentra-se nas faixas mais jovens, apresentando um pico de 32,20% entre os
jovens de 20 a 29 anos (gráfico 20). Os acidentes de trânsito aumentam com o
aumento da idade, os homicídios concentram 56,52% na faixa etária de 20 a 29
anos e o suicídio concentrou 100% dos casos entre as faixas etárias de 40 a 49
anos e 50 e 59 anos de idade (gráfico 20).
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
Acidente de trânsito Outros acidentes Homicídio Suicídio Causas Externas
Acidente de trânsito 0,00 0,00 9,52 19,05 4,76 19,05 9,52 4,76 19,05 14,29
Outros acidentes 9,09 9,09 18,18 27,27 18,18 18,18 0,00 0,00 0,00 0,00
Homicídio 0,00 0,00 0,00 0,00 8,70 56,52 21,74 8,70 4,35 0,00
Suicídio 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 50,00 50,00 0,00
Causas Externas 1,69 1,69 6,78 11,86 10,17 32,20 13,56 6,78 10,17 5,08
Menor 1 1 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 > 60
Gráfico 20. Mortalidade por Causas Externas segundo faixa etária para os povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005) Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
72
As faixas etárias encontradas para suicídios em Pernambuco não
correspondem com o caso dos índios de Ticuna de Erthal (2001).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Acidente detrânsito
Acidente detrabalho
Acidentedoméstico
Outrosacidentes
Homicídio Suicídio CausasExternas
Feminino Masculino
Gráfico 21. Mortalidade proporcional por causas externas segundo sexo para a população indígena de Pernambuco (Dsei-PE, 2003 a 2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
Faixa etária
%
Masculino Feminino
Masculino 2,22 0,00 6,67 13,33 13,33 35,56 13,33 6,67 6,67 2,22
Feminino 0,00 7,14 7,14 7,14 0,00 21,43 14,29 7,14 21,43 14,29
<1 ano 1a4 5a9 10a14 15a19 20a29 30a39 40a49 50a59 >60anos
Gráfico 22. Mortalidade por Causas Externas segundo faixa etária e sexo para os povos indígenas de Pernambuco. (Dsei-PE, 2003 – 2005). Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Considerando por sexo, percebe-se que em geral os homens morrem mais
por causas externas quando comparado com as mulheres (gráfico 21). E o aumento
73
desta mortalidade em mulheres aumenta com a idade, enquanto que para os
homens se concentra entre as faixas etárias mais jovens, principalmente entre 20 e
29 anos de idade (gráfico 22).
Os dados relacionados ao grupo das causas externas, por sexo e faixa
etária, corroboram os achados de Lima e Ximenes (1998).
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
%
.2003. .2004. .2005
.2003. 0,00 0,00 11,11 11,36 0,00 25,00 11,76 26,67 0,00 11,54
.2004. 6,25 0,00 11,76 0,00 12,50 33,33 7,69 16,67 0,00 6,62
.2005 0,00 0,00 23,81 12,20 0,00 11,11 47,50 14,29 25,00 21,74
Fulni-ô Pipipan Atikum Xukuru Kambiwá Kapinawá Pankararu Truká Pankará Total
Gráfico 23. Mortalidade proporcional por causas externas segundo Etnia (Dsei-PE, 2003 – 2005) Fonte: MS/Funasa/Corepe/Dsei-PE/Siasi, 2007
Analisando a mortalidade proporcional relacionadas às causas externas por
etnias, percebe-se que os Pankararu, Pankará e Atikum apresentam
respectivamente, 47,50%, 25% e 23, 81% em 2005. Percebe-se uma diminuição da
mortalidade entre os Truká e aumento entre os Atikum (gráfico 23).
A identidade Pankararu é resultado de uma contínua elaboração de sua
presença na região em confronto com os representantes da sociedade nacional
(ATHIAS, 2002).
A principal fonte geradora de violência contra os indígenas é a questão da
terra. Quanto mais definida e demarcada a terra indígena, menor é a violência
registrada (INSTITUTO BRASILEIRO DE AMIZADE E SOLIDARIEDADE AOS
POVOS, 1991).
74
A área Pankararu foi inicialmente demarcada em 1940. Mas como este
processo de demarcação foi considerado extremamente danoso para os índios por
reduzir em mais de 6.000 ha. a área doada, foi então corrigida em 1984 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE AMIZADE E SOLIDARIEDADE AOS POVOS, 1991). Em 1989 foi
homologada com uma superfície de 8337 ha., dos 14.294 ha. pertencentes aos
Pankararu. Há conflitos com não-índios por ainda não terem sido indenizados e há
conflito interno com representações políticas individuais (FUNDAÇÃO NACIONAL
DA SAÚDE, 2005).
Corroborando com o observado na etnia Pankararu, o Centro Indigenista
Missionário (1996) registrou cinco óbitos relacionados a violência e a ameaça de 200
índios. Registrou ainda três mortes por acidente automobilístico provocado por um
veículo da Prefeitura Municipal de Tacaratu e quatro lesões decorrentes de um
capotamento por veículo da mesma prefeitura (CENTRO INDIGENISTA
MISSIONÁRIO, 1996).
Dos 47,50% de óbitos por causa externa em 2005 relacionados à etnia
Pankararu, 17 (dezessete) óbitos foram por acidente de trânsito (gráfico 23). Parece
que a mortalidade por esta causa não aconteça de forma aleatória, uma vez que se
evidenciam outras mortes por esta mesma causa nos anos de 1994, 1995 e 2005
(CENTRO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, 1996), aspecto não evidenciado entre as
demais etnias, sendo necessário uma melhor investigação em relação a estas
questões.
Mesmo com esta situação de mortalidade por causas externas entre os
Pankararu, Fontbonne et al. (2001) demonstram elevados níveis de parasitismo
intestinais e poliparasitismo nesta etnia e aponta as precárias condições de
saneamento como determinantes.
A etnia Kapinawá registrou nos anos de 2003, 2004 e 2005, 25%, 33,33% e
11% de mortes por causas externas respectivamente (gráfico 23). Em 1991, o
relatório do IBASP diagnosticou graves conflitos pela posse de terra e que os
grandes fazendeiros da região estavam ocupando as terras mais férteis da área
indígena (INSTITUTO BRASILEIRO DE AMIZADE E SOLIDARIEDADE AOS
75
POVOS, 1991). As terras dos Kapinawá foram demarcadas em 1997 e já se
encontram homologadas. No entanto, esta etnia reivindica um reestudo do território
junto a Funai (FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE, 2005).
Em relação aos Pankará, o território ainda não foi identificado pela Funai. Os
Atikum tiveram sua área de 16.290 ha homologadas em 1996, no entanto,
atualmente os índios reivindicam junto a Funai o reestudo do seu território, alegando
erro na demarcação. Esta situação envolve conflitos com os Quilombolas de
Conceição das Crioulas, em Carnaubeira da Penha (PE), cujo território já titulado é
limite com a terra indígena Atikum (FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE, 2005).
Mesmo observando-se nos anos de 2003 a 2005 uma diminuição da
mortalidade por causa externa entre os Truká, anteriormente àquele período
evidencia-se assassinatos de indígenas, conflitos, perseguições e ameaças de
morte. Tudo isto fruto da expropriação de suas terras às margens do Rio São
Francisco, situado no município de Cabrobó (PE), desde o período da colonização.
Também, como um potencializador da violência, é o fato de as terras indígenas
Truká estarem localizadas em uma região do Sertão de Pernambuco denominada
“Polígono da Maconha” (CENTRO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, 1992). No relatório
do Centro Indigenista Missionário (2005), foram registrados três assassinatos de
indígenas Truká por narcotraficantes que visavam suas terras para o plantio de
maconha.
76
CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o processo saúde-doença em uma dada população, os
achados reforçam a importância de se estudar as mudanças de padrões
epidemiológicos de forma integrada com os perfis demográficos e sócio-culturais.
Também que a incorporação da categoria de etnicidade, como coloca Breilh (2006),
nos permitiu aperfeiçoar a investigação do perfil epidemiológico em Pernambuco, a
medida que focou o subgrupo indígena desta população. Tal enfoque revelou
contrastes substanciais e vulnerabilidade certamente marcada pelo processo
histórico.
Observou-se um crescimento populacional em Pernambuco fortemente
marcado pelo movimento de valorização e afirmação em coletividade de suas
identidades étnicas.
Após a comparação das etnias de Pernambuco com a Yanomami (AM), tais
achados levam a crer que os povos indígenas de Pernambuco apresentam como
possíveis determinantes para a ocorrência das DANT´s o envelhecimento
populacional, maior tempo de contato com não – índios e a restrição territorial.
Mesmo considerando as limitações deste estudo, observa-se que a
mortalidade por DANT´s representa a primeira causa de óbito após a mortalidade
por sinais e sintomais mal definidas (SSMD), com um aumento da mortalidade por
diabetes mellitus entre as populações indígenas de Pernambuco.
Quando comparamos a mortalidade por DANT´s entre os seus grandes
grupo de DCNT´s e causas externas, percebe-se que aquela tem apresentado maior
magnitude em relação a esta. Este aspecto sugere que os determinantes do
envelhecimento populacional, contato com não – índios não recentes (com a
assimilação de alguns valores da cultura dominante) e a restrição territorial
sobressaem em relação aos possíveis determinantes relacionados com conflitos
sociais na demarcação de terras e outras violências em geral.
77
A mortalidade por causas externas na população indígena jovem representa
a primeira causa de morte em todo o período estudado, e mesmo considerando o
grupo por causas mal definidas.
Enquanto que a mortalidade por DCNT´s prevalece entre a faixa etária com
mais de 60 anos com equilíbrio entre os sexos, a mortalidade por causas externas
predomina entre jovens homens principalmente entre a faixa etária de 20 a 29 anos.
Analisando a mortalidade por DCNT segundo etnia percebeu-se que os
Atikum, Xukuru e Kambiwá apresentaram percentuais acima de 50% em pelo menos
um dos anos estudados de óbitos por estas doenças. Na análise dos possíveis
determinantes estas etnias foram aquelas que apresentaram mudanças no padrão
alimentar, e fortes relações de miscigenação com os não - indígenas.
Por outro lado os baixos percentuais de mortalidade por DCNT entre os
Fulni-ô podem estar relacionados ao fato de esta etnia ser aquela que melhor
mantém suas características sócio-culturais. Ademais é importante destacar que
este baixo percentual pode está relacionado ao elevado percentual de mortalidade
por sinais, sintomais mal definidas.
Analisando a mortalidade por causas externas segundo etnia, percebeu-se
que as etnias Pankararu, Pankará, kapinawá e Atikum se destacaram. Para cada
etnia foram encontrados relatos de conflitos de terra ora com fazendeiros, posseiros
e com a Funai na demarcação. No entanto, é necessário estudos mais aprofundados
em torno desta questão territorial. Entre as etnias destaca-se a elevada mortalidade
por acidentes de trânsito entre os Pankararu, aspecto este não evidenciado entre as
demais etnias, sendo necessário uma melhor investigação.
Percebe-se que estudar a mortalidade em populações indígenas implica em
enfrentar o problema da disponibilidade (cobertura) e da qualidade das informações
básicas. No entanto, a utilização do Siasi deve ser incentivada uma vez que este
sistema permite enfocar as etnias separadamente. Acredita-se que estudos como
este permita contribuir para a melhora do próprio sistema e ainda produzir
informações mesmo que gerenciais para a tomada de decisão.
78
Mesmo que não seja possível identificar o período de inversão do perfil
epidemiológico entre os povos indígenas de Pernambuco, uma vez que a variável
raça/cor só fez parte da Declaração de óbito a partir de 1996, as DCNT seguidas das
Causas Externas passam a liderar as estatísticas de mortalidade, mesmo que ainda
é relevante a morbidade por DIP e doenças do aparelho respiratório.
A Curva de Nelson Moraes demonstrou uma menor e maior proporção de
mortalidade respectivamente em crianças menores de 1 ano e idosos entre os não-
índios quando comparado com os índios.
Mesmo que o perfil epidemiológico dos índios de Pernambuco apresente um
predomínio das doenças arcaicas, ou estando em um processo de transição com
aumento dos óbitos por DANT´s, uma característica em comum pode ser observada
ao longo destas transformações ao comparar esta Curva de Nelson Moraes: parece
existir uma distância da situação de saúde entre esses grupos étnicos.
Por fim, evidencia-se uma situação de iniqüidade social entre os povos
indígenas de Pernambuco. Isto é, desigualdades injustas e evitáveis que podem ser
revertidas a partir de uma política pública de saúde adequada aos aspectos culturais
desses povos, democrática e que esteja em sintonia com o nível de descentralização
e maturidade vivenciada hoje pelo SUS.
79
REFERÊNCIAS
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