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o UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – ICS BRENO MATIAS DE ALBUQUERQUE SHOPPING CENTER: O TEMPLO DA MERCADORIA E DO LAZER SOB A RACIONALIDADE DO CAPITAL 1

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oUNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOASINSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – ICS

BRENO MATIAS DE ALBUQUERQUE

SHOPPING CENTER: O TEMPLO DA MERCADORIA E DO

LAZER SOB A RACIONALIDADE DO CAPITAL

Maceió

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2010

BRENO MATIAS DE ALBUQUERQUE

SHOPPING CENTER: O TEMPLO DA MERCADORIA E DO

LAZER SOB A RACIONALIDADE DO CAPITAL

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de Bacharel/Licenciado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas.

Orientadora: Profa. Dra. Alice Anabuki Plancherel.

MACEIÓ 2

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2010

Breno Matias de AlbuquerqueShopping Center: O Templo da Mercadoria e do Lazer Sob a Racionalidade do Capital

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de Bacharel/Licenciado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas.

Aprovada em:

Orientador

Profa. Dra. Alice Anabuki Plancherel.

Instituição : UFAL __ASSINATURA:__________________________

Banca Examinadora

Prof. Ms. Sérgio Ricardo

Instituição :___________ ASSINATURA:________________________

Prof. Ms. Cícero Albuquerque

Instituição:____________ASSINATURA:________________________

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AGRADECIMENTOS

A professora Dra. Alice Anabuki Plancherel por estar sempre prestativa em todos os momentos e em sintonia com meus anseios teóricos. Aos colegas do Curso de Ciências Sociais, em especial ao Leandro Alexandre, e a todos os professores do departamento que nas aulas me fizeram ter inspirações críticas sobre todos os principais temas das Ciências Sociais discutidos na atualidade.

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DEDICATÓRIA

Aos familiares e amigos, pelo incentivo em todas as horas e especialmente a minha mãe Elivonete, minha irmã Taiara, meu pai Geraldo pela força e estímulo que sempre nos ofereceram, dedicamos-lhes esta conquista como gratidão.

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“A mente é mesmo a segunda África do mundo”

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Edgar Morin

RESUMO

O Shopping Center é um excelente indicador social, na medida em que reflete as

contradições sociais, os conflitos de classe, o nível de desenvolvimento socioeconômico de

um município, estado ou pais onde ele está implantado. O Brasil atualmente passa por um

profundo desenvolvimento econômico e social, realizando um resgate das camadas menos

favorecidas, preparando-as para o consumo de supérfluos que antes nunca havíamos visto. O

Shopping Center está a cada dia preparado para absorver as massas consumidoras emergentes.

O S.C é um lugar privado que se disfarça de público, onde indivíduos confraternizam-se

mediados por objetos de consumo. O capital para manter seu sociometabolismo produz

aceleradamente novas formas de subjetividades no sentido mercadológico que se cristalizada

na mercadoria propriamente dita. Neste sentido valores, hábitos, crenças vão sendo ao longo

do tempo substituídos pela hegemonia cultural de países que produzem novas ideologias

através da indústria cultural, recentemente acrescentando o lazer como objeto mercadológico,

como objeto fetichizado. O lazer então entra neste roll de mercadorias mais consumidas no

mall dos grandes Shopping Centers do mundo no século XXI. A indústria do enterteinment

cresce em todos os setores, cinema, games, turismo etc. Um exemplo é o parque temático

Walt Disney Wold, o mundo da mercadoria, encantos e sonhos; em resumo um mundo de

subjetividade estranhada. O lazer afirma-se na modernidade como um prolongamento do

trabalho assalariado, por ser pago, contribui para exploração das classes menos privilegiadas,

com isso o capital acumula mais riqueza fortalecendo o sociometabolismo do capital tornado

os países hegemônicos mais forte economicamente consequentimente com maior poder de

influenciar os demais países que ficaram sob seu domínio e influência. A idéia econômica

central deste empreendimento comercial é o monopólio de espaço, oferecendo ao consumidor

o maior número de lojas, variedade de produtos e serviços.

Palavra-Chave: Shopping Center; Capitalismo; Fetiche da Mercadoria; Subjetividade;

Lazer

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ABSTRACT

The Shopping Center is an excellent social indicator, as it reflects social contradictions,

conflicts of class, the level of socioeconomic development of a city state or country where it is

deployed. Brazil is currently going through a profound economic and social development,

performing a rescue of disadvantaged sections, preparing them for consumption of

superfluous that had never before seen. The Shopping Center is every day prepared to absorb

the masses of consumers emerging parents. The SC is a private place that masquerades as

public, where individuals fraternize mediated by objects of consumption, ie the goods concept

as discussed by analyzing the various followers of Marxism and in particular by Karl Marx

himself. The capital to maintain its sociometabolismo rapidly produces new forms of

subjectivity in the sense that marketing is crystallized in the commodity itself Diat. In this

sense values, habits, beliefs are being replaced over time by the cultural hegemony of

countries that produce new ideologies through the culture industry, recently adding the object

as leisure marketing, as fetishized object. Leisure then enters this roll of more goods

consumed in the great mall of the world's Shipping Center in the XXI century. The industry

enterteinment grows in all sectors, movies, games, tourism, etc.. An example is Paque themed

Walt Disney Wold a world of merchandise, charms and dreams in a world of abstract

subjectivity. Leisure states in modernity as an extension of employment, be paid for,

contributes to the exploitation of less privileged classes, with that capital accumulates more

wealth by strengthening the capital sociometabolismo egemônicos the countries become

economically stronger consequentimente more power influence over other countries that were

under their rule and influence. The first model of shopping center similar to what we know

Atul was created from the mid-twentieth century in America. In Brazil, this type of

commercial venture emerged in São Paulo in the sixties. Initially Malls Brazilians were

intended for persons materially privileged. Currently the shopping center concept became

popular, being used for any grouping of small business: sales of handbags and shoes imported.

The central idea of economic development is the monopoly of commercial space, offering

consumers the greatest number of shops, variety of products and services.

Keywords: Shopping Center; Capitalism; Merchandise Fetish; Subjectivity; leisure

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Praça de Alimentação do Shopping Center Pátio Maceió (AL).....................78

FIGURA 2 Loja de jogos virtuais localizado no Shopping Sul Valparaíso (GO)..............78

FIGURA 3 Praça de Alimentação do Shopping Center Pátio Maceió (AL).....................79

FIGURA 4 Cartaz do Cinema 3 dimensões do Shopping Pátio Maceió (AL)...................79

FIGURA 5 Aspecto do Cinema Maceió Shopping Maceió (AL).........................................80

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LISTAS DE TABELAS

GRÁFICO 1 Número de Shopping Centers no Brasil...............................................28

GRÁFICO 2 Área Bruta Locável................................................................................29

GRÁFICO 3 Distribuição Geográfica de Shoppings.................................................30

GRÁFICO 4 Faturamento Anual da Indústria de Shopping Center.......................32

GRÁFICO 5 Renda......................................................................................................69

GRÁFICO 6 Bairro onde Mora..................................................................................70

GRÁFICO 7 Escolaridade...........................................................................................70

GRÁFICO 8 Profissão.................................................................................................71

GRÁFICO 9 Tempo Livre...........................................................................................71

GRÁFICO 10 O que acham das Praças Públicas?...................................................72

GRÁFICO 11 Shopping Lugar de Lazer ou de Compras?......................................73

GRÁFICO 12 Você considera o Shopping é um lugar seguro ou existem crimes?74

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Sumário

1 Introdução...................................................................................................................12

2 A Personificação da Mercadoria

2.1 – Valor-de-uso e Valor-de-troca: Atributos para a Desnaturalização do Efeito Fetiche da

Mercadoria em Marx..................................................................................................... 16

2.2 – História do Surgimento do Shopping Center.........................................................22

2.3 – Surgimento do Shopping Center nos Estados Unidos...........................................25

2.4 – Surgimento do Shopping Center no Brasil.............................................................27

2.5 – Shopping Center na Contemporaneidade ............................................................. 30

3 O Lazer como Mercadoria

3.1 – Shopping Center: A submissão do Lazer ao Comércio.........................................34

3.2 – Shopping Center e a Crise do Capital...................................................................45

3.3 – Trabalho e Tempo Livre sob o domínio do Capital...............................................52

3.4 – Subjetividade e Alienação no contexto do Sistema Capitalista de Produção...... 57

3.5 – Violência e Shopping Center………….................................................................62

4 Shopping Center em Maceió

4.1–Características da Indústria de Shopping Center na Cidade de Maceió..................65

Conclusão……………………………………………….……………………,,,,,,,,,,….75

Referências......................................................................................................................76

Anexos............................................................................................................................83

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como proposta analisar o processo de massificação do S.C em

Maceió, ou seja, de seu crescente acesso por camadas da população dele, inicial e socialmente

excluídas. Em suas origens idealizado e especialmente localizado para consumidores de

elevado padrão aquisitivo, os S.C’s atualmente expande-se para áreas urbanas ocupadas por

uma população majoritariamente assalariada e com limitado poder aquisitivo. Esta última,

expulsa pela violência urbana e pela deterioração dos tradicionais espaços públicos de lazer,

transforma-se, a um só tempo e num mesmo lugar- nos S.C’s – em duplo consumidores: de

objetos - mercadorias e de lazer – mercadoria (que massivamente se privatiza e se

mercantiliza sob o grande capital comercial), nos S.C’s, os objetos e o lazer enquanto

mercadorias se, de uma parte, operam e se reproduzem subjetivamente como símbolos de

integração e ascensão social de determinadas camadas da população, por outra parte, expõem

as contradições das políticas sociais estatais que, em princípio, deveriam prover e garantir o

lazer como um dos direitos universais. Para isso seguiremos estudando o fenômeno Shopping

Center do ponto de vista da teoria Marxista.

Acreditamos que este tipo de empreendimento comercial é um importante objeto de

estudo para a sociologia por ser resultado das transformações econômicas e contradições

sociais como por exemplo: a violência e exclusão social, decadência dos espaços públicos etc.

O Shopping Center é considerado um dos lugares mais “seguros” para realizar compras, mas

na realidade crimes acontecem a todo momento no país: assassinatos, assaltos, brigas

familiares, furtos e etc. Neste sentido concluímos que se existe segurança em ambientes

privados e pagos, logo pressupomos que os lugares públicos estão abandonados e violentos.

O ambiente do Shoppings Center está sempre cercado de seguranças, representando

claramente o que comunga a sociedade. A cada dia valores morais, éticos, estéticos estão em

profunda transformação, estão alienando por fatores que explicaremos ao longo deste

trabalho. No templo do capital transitam pessoas de todas as classes sociais, etnias. Todos

estes indivíduos celebram uma sociabilidade mediada por objetos de consumo, ou seja, a

mercadoria, que falaremos mais adiante como conceito mais puro pelo qual tão bem Marx nos

desvendou seu fetiche.

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Os S.C’s1 são indicadores socioeconômicos: de um município, estado, país, pois ele é

implantando somente em lugares onde existam um grande contingente de pessoas, mais

especificamente, uma grande massa potencialmente consumidora. Eles representa na

contemporaneidade um dos principais lugares de sociabilidade. Ao oferecer o lazer como

mercadoria, transforma o consumo em uma atividade de lazer, extrapolando o conceito de

necessidade, levando ao consumo exacerbado como finalidade e via para a felicidade.

A maior atratividade deste tipo de empreendimento comercial é reunir, sobretudo,

lazer e comércio em um mesmo lugar, ou seja, monopolizar os espaços de comércio

concentrando vários produtos e serviços no mesmo lugar, como também a ofertar “pseudo”

sensações de segurança e felicidade oferecendo mercadorias que muitas vezes são

“supérfluas”2.

O S.C tenta suprir a carência de lazer nos espaços públicos, motivada pela falta de

opção, que hoje estão sucateados, marginalizados, consolidando a idéia liberal do capital onde

“tudo” deve ser administrado pela iniciativa privada, qualquer produto deve ser pago, sem

nada intervir na lei “natural” do comércio.

O Shopping Center é um lugar preferido para momentos de lazer de grupos de jovens

e toda família. É considerado também o principal destino turístico nas grandes metrópoles e

cidades do interior. O maior problema está dentro dos Shopping Centers, onde consumo se

transforma em uma atividade “prazerosa”3 de lazer.

Lazer este que é mais uma mercadoria diante da vasta opção de seu mall variado. Em

contraposição, os espaços públicos com decadência, motivada pelo abandono por parte dos

gestores públicos, servindo, muitas vezes de ponto de comercialização de entorpecentes e

prostituição.

_____________________1 As letras S e C serão utilizadas como sigla S.C para abreviar a palavra Shopping Center.2 Em uma mesma residência podem existir vários objetos com a mesma função do DVD: Notebook.3 A revista Isto é menciona que os atores sociais fazem “Shopping terapia” palavra esta usada para conceituar os hábitos de consumidores que sentem prazer e alívio das tensões e stress cotidiano quando compram mercadoria. A relações públicas Ana Paula Mestieri, 34 anos, de São Paulo, é aquelas consumidoras vorazes. Tem coleção de óculos de sol, roupas, bolsas,sapatos. Comenta Ana Paula - “A sensação de recompensa é imediata.”. “Uso tudo que compro”. A revista comenta ainda que segundo pesquisadores (Neuroeconomistas) o consumidor ao tocar no objeto mercadoria com a mão durante trinta segundos cria um vínculo emocional, levando a consumar a compra no ato. Existe uma falsa sensação de estar participando do sistema capitalista via consumo de bens industrializados.

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O S.C é direcionado estrategicamente para classes sociais4 escolhidas da população.

Podemos observar também que a reprodução social torna-se cada vez mais condicionada por

um modelo de consumo descartável e gerador de supérfluos; pois o Sistema visa o desperdício

por parte do consumidor, levando o consumo a ser uma atividade que extrapola muito o

âmbito da necessidade primária de sobrevivência. Dentro da lógica capitalista, os indivíduos

devem ser cada vez mais convencidos, através das campanhas midiáticas, que de forma

constante divulga seus produtos; único objetivo é conquistar o maior número de consumidores

possíveis, conseqüentemente aumentar seu lucro e acumulação de capital para o

sociometabolismo.

O Shopping Center se caracteriza duplamente como um lugar de comércio e de lazer.

É o templo do capital onde indivíduos rendem culto e adoração a mercadoria. Neste lugar o

capital sente-se à vontade para cooptar cada vez mais pessoas, consumando o fenômeno do

fetichismo clássico da mercadoria explicado por Karl Marx no Capitulo 1 “A mercadoria"

(MARX, 1975. pg.41).

O Shopping Center é este templo de consumo e de lazer, este último submetido à

ditadura do capital. O capital consegue explorar duplamente os indivíduos. a) Primeiramente

consegue extrair da classe trabalhadora a mais-valia, fonte primária de seu lucro b) explora o

tempo livre das pessoas ofertando atividades de lazer pago como mais uma opção de

mercadoria.

No Shopping Center são lançadas as novas ideologias e tendências da moda mundial.

Nele são apresentados os produtos ou criações do capital. A sociabilidade dentro do shopping

é sempre mediada pela contemplação do consumo exacerbado e hedonista, onde os sonhos,

sentimentos e os desejos, ou seja, a felicidade propriamente dita são mensurados pelo maior

número de bens proporcionalmente acumulados; a felicidade parece aumentar na mesma

proporção que se acumula o maior número de bens de consumo.

Até pouco tempo o Shopping Center esteve associado às classes dominantes, onde

produtos de luxo eram vendidos a privilegiados, excluindo um vasto segmento da população

brasileira.

_____________4 Os proprietários de simples força de trabalho, os proprietários de capital e os proprietários de terras, cujas respectivas fontes de receitas são o salário, o lucro e a renda do solo, ou seja, os proprietários assalariados, os capitalistas e os latifundiários, formam as três grandes classes da sociedade moderna, baseada no sistema capitalista de produção. (MARX apud IANNI, 1982, p.99)

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Atualmente com o crescimento da economia via sistema de financiamento de cartão de

crédito, o comércio interno se fortalece principalmente motivado por programas sociais, o

aumento da oferta de crédito para pessoa física, aumento do salário mínimo.

Neste sentido a indústria investe pesado em segmentos sociais até então impensados

no país. Com o segmento de Shopping Centers não é diferente; segue a mesma tendência de

vultuosos investimentos, principalmente nas áreas de periferia, ou suburbanas das cidades,

mas com denso crescimento populacional valorizando a área.

A construção deste tipo de empreendimento alavanca uma onda de investimento do

setor de construção civil, ampliando a oferta de apartamentos e casas destinados a

seguimentos de renda baixa e média justamente no seu entorno. Para a realização deste

trabalho foram feitas pesquisas bibliográficas, revistas, jornais, artigos, dissertações de

mestrado e teses de doutorado. Também foram aplicados questionários aos freqüentadores de

shoppings. Os autores selecionados trabalham com a temática sobre shopping, lazer,

marxismo de forma direta e indiretamente, entre os quais estão Padilha (2006), Mesquita

(2002), Fontenelle (2002), Mészáros (2002), Marx (1975), Lucácks, entre outros.

O trabalho esta dividido em três partes. A primeira, A História do Surgimento do

Shopping Center, faz a trajetória do comércio que se confunde com os modos de produção

feudal, mercantilismo, absolutismo e iluminismo, Revolução Industrial. O segundo capítulo

trata da submissão do lazer ao comércio do tipo Shopping Center e o terceiro trata sobre como

está se revelando a implantação do Shopping Center na cidade de Maceió - Al.

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2 A PERSONIFICAÇÃO DA MERCADORIA

2.1 Valor-de-uso e valor-de-troca: atributo desnaturalizante do efeito fetiche da

mercadoria

A mercadoria para Marx é um objeto externo ao indivíduo e serve para satisfazer as

necessidades humanas, mas para capital essas mesmas necessidades são elevadas a potência

máxima, ou seja, novas necessidades artificiais são criadas. O valor – de - uso de uma

mercadoria somente se realiza com a utilização ou consumo. Os valores-de-uso constituem o

conteúdo material da riqueza, qualquer que seja sua forma social. (Marx, 1975, p.42)

Os valôes-de-uso, casaco, linho, etc, enfim as mercadorias, são conjunções de dois fatores, matéria fornecida pela natureza e trabalho. Extraindo-se a totalidade dos diferentes tabalhos úteis incorporados ao casaco ao linho etc., resta sempre um substrato material, que a natureza, sem interferência do homem, oferece, O homem, ao produzir só pode atuar como a própria natureza, isto é, mudando as formas matéria. E mais. Nesse trabalho de transformação, é constantemente ajudado pelas forças naturais, o trabalho não é, por conseguinte, a única fonte de valores-de-uso que produz, da riqueza material. Conforme William Petty, o trabalho é o pai, mas a mãe é a terra.(Marx,1975, p.50)

Segundo Marx (1975), se o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de

trabalho social a sua produção, poderia parecer que quanto mais preguiçoso ou inábil um ser

humano, tanto maior o valor de sua mercadoria, pois ele precisa de mais tempo para terminá-

la. Todavia o trabalho que constitui a substância dos valores é o trabalho humano homogêneo,

dispêndio de idêntica força de trabalho (Marx, 1975, p. 45)

O que determina a grandeza do valor, portanto, é a quantidade de trabalho socialmente

necessário, ou tempo de trabalho socialmente necessário para a produção. O produto, para se

tornar mercadoria, tem que ser transferido ao consumidor como valor-de-uso por meio de

troca. Nenhuma coisa pode ser valor se não é objeto útil, tampouco o será o trabalho nela

contido, o qual não conta como trabalho e, por isso não cria nenhum valor. (Marx,1975, p.48)

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Marx explica que para determinar a grandeza do valor de uma determinada mercadoria,

este valor ou mensuração de valor é dado pela quantidade de trabalho socialmente exigida na

produção de uma determinada mercadoria. Cada mercadoria individual é considerada um

exemplar médio de sua espécie mercadoria que contém iguais quantidades de trabalho, ou que

podem ser produzidas no mesmo tempo de trabalho; possui conseqüentemente, valor de

mesma magnitude. O valor de uma mercadoria está para o valor de qualquer outra.

Karl Marx em O Capital, mais especificamente no capítulo “A Mercadoria”, nos

explica que a mercadoria, em um primeiro olhar, nos parece como realmente o é: um objeto

qualquer, inanimado, mas a grande questão que ele menciona neste estado é que para produzir

tal objeto inanimado são empregadas energias vitais humanas seja na sua forma braçal, seja

intelectual, para a confecção do produto final que é a mercadoria. A questão central é não

mostrar a relação social por trás de uma aparência inanimada de tal objeto, escondendo a

usurpação de força humana como também da mais-valia, dos recursos naturais, para

cristalizam tal objeto mercadológico.

O valor de uso da força de trabalho é o trabalho, e uma vez que o trabalhador tenha sido empregado, o capitalista coloca-o para trabalhar. Mas o trabalho é a fonte de valor, e, além disso, o trabalhador criará durante um dia de trabalho mais valor do que o capitalista paga por seus dias de trabalho. Mas o decisivo [para o capitalista foi o valor de uso específico desta mercadoria ser fonte de valor, e de mais valor do que ela mesma tem. (Marx, 1975, p.49)

O produto final, a mercadoria, é apresentada e oferecida à sociedade escondendo todos

os recursos energéticos e vitais agregados e sua identidade planejada. O objeto mercadológico

é naturalizado, “ganha vida”, status, “personalidade” e é tratado como um ser que merece

cuidados essenciais, ou seja, um ser que tem “vida”. A mercadoria é apresentada à sociedade

como se houvesse brotado na face da terra por geração espontânea, como se não houvesse

sido construída por pessoas que deram o "sangue" debruçados em máquinas e componentes

elétricos. Em sociedade, a mercadoria ganha nome, vida e personalidade, status social e é

sempre manipulada para classificar e indicar indivíduos que vivem nos diversos estratos

sociais. Ianni (1982) comenta que Marx, analisando a mercadoria em sua essência

fenomênica, pode vê-la como algo muito estranha, “cheias de sutileza metafísicas e argúcias

teológicas”.

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logo que se revela a mercadoria, transforma-se em algo ao mesmo tempo perceptível e impalpável. Além de estar com os pés no chão, firma sua posição perante as outras mercadorias e expandem as idéias fixas de sua cabeça de madeira, fenômeno mais fantástico do que se dançasse por iniciativa própria. (Marx apud Ianni , 1982, p.159)

Marx (1982) nos explica que o mistério que a mercadoria nos apresenta em sua

constituição é motivada por omitir o acréscimo de material humano que vai desde o dispêndio

de nervos, músculos, sentidos e quantidade de tempo para sua cristalização, quanto na

exploração do trabalho.

A igualdade dos trabalhos humanos fica disfarçada sob a forma de igualdade dos produtos do trabalho como valores; a medida, por meio da duração, do dispêndio de força humana de trabalho toma a forma de quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as relações entre os produtores, nas quais se afirma o caráter social dos seus trabalhos, assumem a forma de relação social entre os produtos do trabalho. (Marx apud Ianni, 1982, p.160)

A mercadoria pronta no sentido valor-de-uso esconde em sua essência como já o

dissemos trabalho humano, pelo menos em sua quantidade de tempo empregado para produzi-

la, mas este simples fato, apesar de não significar nada para a consciência do capitalista,

representa, para o trabalhador suas cadeias existenciais, o fator exploração.

A mercadoria neste sentido ganha vida como se tivesse nascido espontaneamente,

brotado da terra como um ser biológico, uma planta, um produto natural. Assim naturaliza-se

a mercadoria,a extração da mais-valia e seu efeito danoso ao meio ambiente e a toda classe

trabalhadora. O efeito causado pela ação de tamanha contradição e falta escrúpulos é:

exploração, favelização, miséria e sofrimento de modo geral. Um grande contingente de

pessoas vive sem emprego, passa necessidades. Para o capital a diferenciação social que é

refletida sobre a variedade de produtos é vital agregando valor a mercadoria, fazendo um

trocadilho da Lei de Lavoisier para o capital nada se perde tudo se cria, tudo se transforma em

capital, tudo pode virar capital.

As mercadorias ganham vida, torna-se social através da criatividade do pensamento

humano, ganhando utilidade via exploração do trabalho. A mercadoria que antes não era coisa

sensível e sim produto da imaginação do homem ganha “vida” cristaliza-se em valor-de-troca,

ao mesmo tempo, a relação de exploração, ou a relação social, segundo Marx ,torna-se

estranhada, fantasmagórica, abstrata, por que enquanto o objeto ganha complexidade e

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refinamento, o homem brutaliza-se, ou seja, torna-se mero objeto, como se cancelasse a

classificação cientifica homo sapiens sapiens e colocasse no lugar o Homo-ferus, levando-o a

decadência humana, impedindo-o, sabotando-o, aniquilando-o toda possibilidade de sua real

emancipação.

A libertação plena é desintegrada, fragmentada em ideologias e falta consenso da

população enganadas por ideologias alienantes, impossibilitando o homem de ter consciência

de si, gozar em sua plenitude uma vida minimamente organizada, ou seja, que as

necessidades básicas sejam, supridas: moradia, saúde, educação, alimentação, impedindo-o

finalmente, segundo Marx, de alcançar a consciência de si, retomar o que é justo, que o poder

político retorne para as mão do povo por direito universal, o mundo é de todos,não existe

privilégios na natureza, as diferenciações de classe é uma forma primitiva de viver, é

primariamente cultural.

Todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força de trabalho do homem no sentido fisiológico, e nessa qualidade de trabalho humano igual ou trabalho humano abstrato gera o valor da mercadoria. Todo trabalho é, por outro lado, dispêndio de força de trabalho do homem sob forma especificamente adequada a um fim, e nessa qualidade de trabalho humano concreto útil produz valores de uso. (Marx, 1975, p.53)

Ainda segundo Marx (1982) o produto do cérebro humano parece ganhar vida

própria ao se transformar em mercadoria, ao ganhar autonomia. Este fetichismo está sempre

colado na mercadoria que é base de arrecadação e convencimento. Cada sociedade humana é

o processo de trabalho, seres humanos cooperando entre si para fazer uso das forças da

natureza e, portanto, para satisfazer suas necessidades. O produto do trabalho deve, antes de

tudo, responder a algumas necessidades humanas. Deve, em outras palavras, ser útil. Marx

chama valor- de - uso. Seu valor se assenta primeiro e principalmente em ser útil para alguém.

o valor de uso só se realiza com a utilização ou consumo. Os valores-de-uso constituem o conteúdo material da riqueza. Qualquer que seja a forma social. Na forma de sociedade que vamos estudar, os valores-de-uso são, ao mesmo tempo, os veículos materiais do valor-de-troca. ( MARX, 1975, p.42)

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Marx esclarece que um valor-de-uso só possui valor-de-troca quando a ele é

incorporado, materializado, trabalho humano abstrato. O trabalho segundo ele pode ser

também quantificado pelo tempo, dia empregado para criar um bem (Marx, 1975, p.44).

Como valor-de-uso as mercadorias podem ser distinguidas pela qualidade, a utilidade em si,

enquanto valor-de-troca mede-se pela quantidade ignorando o valor-de-uso. “Como valores-

de-uso, as mercadorias são, antes de qualquer coisa, de qualidades diferentes; como valores-

de-troca, só podem diferir na quantidade, não contendo, portanto nenhum átomo de valor-de-

uso”. (Marx, 1975, p.44)

Em uma crítica bem fundamentada Marx nos esclarece que, ao anular da mercadoria

o valor-de-uso, anulam-se as formas e os elementos materiais que fazem dela o valor-de-troca,

a mercadoria não é mais produto advindo do trabalhador, não é sua criação, este beneficio é

negado e também anulado, desaparece o caráter útil dos produtos do trabalho neles agregados,

desaparece as diferentes formas de trabalho concreto tornando-se trabalho abstrato. Então

para produzir, portanto, uma mercadoria deverá ser feita no intuito de que ela possua em sua

essência um valor-de-uso social. (Marx.1975, p.48)

O valor-de-uso de uma mercadoria está nela embutido o trabalho que possui uma

finalidade. Na mercadoria está agregada trabalhos úteis de qualidades diferentes. Para

Marx o trabalho nas sociedades mais desenvolvidas, onde a mercadoria assume suas

características plena de fantasmagoria, as diversas formas de trabalhos úteis e

independentes fazem com que surja motivada pela variação que é a divisão social do

trabalho (Marx, 1975, p.49).

Os caráter misteriosos da mercadoria não provem do seu valor-de-uso, nem tampouco dos fatores determinantes do valor. E, para isso, há motivos. Primeiro, por mais que difira os trabalhos úteis ou as atividades produtivas, a verdade fisiológica é que são funções do organismo humano, e cada uma dessas funções do organismo humano, e cada uma dessas funções, não importa a forma ou o conteúdo, é essencial dispêndio do cérebro, dos nervos, músculos, sentidos etc. (MARX apud IANNI, 1982, p.159)

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O homem, Segundo, quanto ao fator que determina a magnitude do valor, isto é a

duração daquele dispêndio ou a quantidade do trabalho, é possível distinguir claramente a

quantidade da qualidade do trabalho. O tempo de trabalho que custa produzir os meios de

subsistência interessou, necessariamente, aos homens, em todas as épocas, embora em grau

variável com o estágio do desenvolvimento. Por fim, desde que os homens, não importam o

modo como trabalhem uns para os outros, o trabalho adquire uma forma social. ( Marx, 1975,

p.80)

O mistério advém:

A igualdade dos trabalhos humanos fica disfarçada sob a forma da igualdade dos produtos do trabalho como valores; a medida, por meio da duração, do dispêndio da força humana de trabalho toma a forma de quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as relações entre os produtores, nas quais se afirma o caráter social dos seus trabalhos, assumem a forma de relação social entre os produtos do trabalho. ( MARX, 1975, pg. 80)

A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do

próprio trabalho dos homens, apresentado-as como características materiais e propriedades

sociais inerentes aos produtos do trabalho; por ocultar, portanto, a relação social entre os

trabalhos individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la como relação social

existente, a margem deles, entre os produtos do seu próprio trabalho. Através dessa

dissimulação, os produtos do trabalho se tornam mercadorias, coisas sociais, com

propriedades perceptíveis e imperceptíveis aos sentidos. Uma relação social definida,

estabelecida entre homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Para

encontrar um símile, temos de recorrer a região nebulosa da crença. Aí, os produtos do

cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas que mantém relações

entre si e com os seres humanos. É o que ocorre com os produtos da mão humana, no mundo

das mercadorias. Chamo isto de fetichismo, que está sempre grudado aos produtos do

trabalho, quando são gerados como mercadorias. É inseparável da produção de mercadorias.

21

Page 22: TCC-atual 2.docx

2.2 História do Surgimento do Shopping Center

Segundo Padilha (2006), os mercados da Europa desenvolveram-se aproximadamente

a partir do século XII, seguido do progresso da agricultura, do desenvolvimento econômico e

do crescimento urbano. Na França medieval, os reis a partir de 1137 não mais permitiam o

comércio dentro da cidade feudal. Os comerciantes tiveram que comercializar seus produtos

fora dos muros das cidades. Camponeses e artesãos passaram a comercializavam suas

mercadorias em grandes galpões cobertos chamados de halles. Assim os mercados

desenvolveram-se ganhando cada vez mais importância econômica, social e cultural.

Os mercados dentre outras coisas: 1) serviam de ponto de encontro de cavaleiros e

agricultores, mercadores e religiosos, 2) chegavam a substituir as igrejas quando estas

passavam por momentos de reforma, 3) serviam de espaços para festas e bailes populares. Os

mercados ou as feiras foram os grandes responsáveis pelo crescimento urbano

(metropolização) e populacional na história das grandes cidades da Europa e do mundo.

Orgulhosos de suas liberdades, os habitantes das cidades medievais tinham o halles como sua propriedade coletiva. Esta localização central é, com efeito, o lugar privilegiado das assembléias públicas, conselhos e eleições, das festas, o teatro natural dos atos da vida municipal. Um sino no alto da torre determina a abertura e o fechamento dos mercados, ritmo da vida da comunidade. Ele marca o “tempo civil” em oposição ao “tempo religioso” ditado pelos sinos das igrejas (PADILHA et al. 2006, p.41).

Foram os mercados que motivaram as construções de estradas, portos e canais, bem

como a invenção do automóvel, trens e aviões. As populações da Europa medieval escolheram

os mercados como principal centro de compras. Toda população passou a circular nestes

lugares como principal centro de consumo. Nos mercados, podia-se encontrar uma grande

variedade de mercadorias a preços baixos. A partir do estabelecimento dos mercados e dos

halles, as cidades cresciam rapidamente a partir de seu centro. Mais tarde no século XVIII

com o Iluminismo e a revolução industrial, o comércio neste período passou a ser mais

sofisticado e racionalizado. A Revolução Francesa garantiu a liberdade de comércio e livre

circulação de grãos, deslanchando o capitalismo industrial (PADILHA, 2006, p. 42).

22

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A partir de tal processo, poderemos entender e observar como funciona, nos moldes

atuais, o modelo de Shopping Center que conhecemos. É no século XIX que surge a cultura

do consumo, que está associada ao remodelamento do espaço urbano e o declínio dos espaços

públicos, motivado pelo desenvolvimento do capitalismo.

Dentro deste contexto, as modificações do espaço urbano a partir do século XIX, que

foram alavancadas pelo desenvolvimento do sistema capitalista, Padilha (2006) nos explica

que existe uma dimensão simbólica e cultural que está por trás do consumo e que as práticas e

os hábitos das culturas causam efeitos objetivos dentro do contexto sócio-urbano, refletindo

valores e crenças de uma determinada sociedade em uma determinada época da história.

É todo conjunto de imagens e símbolos que vão sendo criados e recriados, associados a esses bens, além de novas formas de comportamento efetivo e no modo de pensar e sentir de segmentos cada vez mais amplos da população da chamada sociedade ocidental. (TASCHNER apud PADILHA apud. 2006 p.43).

O modelo embrionário de S.C que conhecemos teve seu início na Europa com os

grandes armazéns e lojas de departamentos. Paris e Londres foram as cidades pioneiras da

Europa e merecem destaque no que diz respeito ao desenvolvimento deste tipo de

empreendimento comercial. A partir de 1850, os administradores da cidade de Paris passaram

a reorganizar o espaço urbano.

Houve uma reorganização estética da cidade, como o embelezamento de avenidas e

bairros inteiros que foram demolidos e reconstruídos para melhor acomodar a nova fase do

capital. O objetivo era dar um ar de modernidade para que os especuladores e empresários

pudessem distinguir ricos e pobres da cidade. Com isso houve uma valorização das áreas e

imóveis, que passaram a ter seus alugueis reajustados, forçando os operários a se retirarem do

local, motivando-os a se deslocarem para áreas periféricas de Paris.

As exposições universais transfiguraram o valor-de-troca das mercadorias. Criam uma moldura em que o valor-de-uso da mercadoria passa para segundo plano. Inauguram uma fantasmagoria a que o homem se entrega para se distrair. A indústria de diversões facilita isso, elevando-o ao nível da mercadoria. O sujeito se entrega as suas manipulações, desfrutando a sua própria alienação e a dos outros. [...] A fantasmagoria da cultura capitalista alcança o seu desdobramento mais brilhante na Exposição Universal de 1867. O império está no apogeu do seu poder. Paris se afirma como a capital do luxo e da moda. ( BENJAMIN apud PADILHA, 2006, p.46).

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Paris então se torna moderna. Começa a ganhar o status de centro da moda e de

metrópole. Grandes obras arquitetônicas foram construídas a partir de 1889 como, por

exemplo, hotéis suntuosos, restaurantes que passaram a ganhar prestígio por seu luxo e

requinte. Surge neste mesmo período um dos cartões postais mais conhecidos do mundo: a

Torre Eiffel. Aos poucos foram surgindo as grandes lojas de departamentos que entraram em

concorrência direta com os pequenos artesões e pequenos burgueses, sufocando seus

comércios. Paris então desabrocha dentro da lógica do capital sendo uma cidade a formatar-

se sob a lógica burguesa racional da indústria e do comércio.

Os pequenos comércios foram abalados pelo crescimento das lojas de departamentos e, em defesa própria, começaram a diversificar suas vendas. Cada loja de venda e varejo procurava torna-se uma loja de variedades. As pequenas lojas continuavam a merecer o crédito dos consumidores, sobretudo pelo atendimento mais personalizado e pela melhor qualidade de seus produtos, o que, numa verdadeira guerra de mercado, forçou as lojas de departamentos a defender-se. Assim, elas instalaram serviços mais especializados, como salões, restaurante, agencia de viagens, agencias de correios e auditórios (PADILHA, 2006, p.56).

Nos anos de 1822 e 1832, surgiram as primeiras galerias e lojas de departamento de

grande porte; elas possuíam vários andares, oferecidas aos ricos burgueses e para a pequena

burguesia classe média; camponeses e operários não podiam freqüentar tais locais destinados

ao público que buscava o luxo. Nesta mesma época foi implantada a primeira central elétrica

do mundo, estações e estrada de ferro foram construídas, motivadas pelo crescente comércio

da indústria têxtil que estava em pleno vapor.

Neste contexto histórico da revolução industrial a Europa passa a se inserir na cultura

do consumo, revitalizada pela racionalidade do sistema capitalista e da mercadoria;

paralelamente passa a introjetar novos valores na sociedade, os produtos não mais possuem

apenas valor-de-uso. Surge a cultura da reificação do consumo, a mercadoria passa a ter um

caráter misterioso. Pois nela está disfarçada a exploração do trabalho vital humano; também

as relações sociais passam a ser coisificada e permeada por tais mercadorias.

Na Europa os primeiros modelos de Shopping Centers, tal como atualmente se conhece,

surgiram primeiramente na Grã-Bretanha, França e na Alemanha a partir de 1950 e 1960. A

Grã-Bretanha se destacava pelo tamanho das instalações comerciais gerada pela grande

capacidade de investimento e da ausência de leis específicas para o urbanismo.

24

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Na Alemanha desenvolveu-se este tipo de empreendimento comercial mais direcionado

para os setores como eletrônica, bricolagem, alta costura, jardinagem, antiquários;

equipamentos pessoais. No caso da Itália e da Alemanha, ao contrário, existiam leis que

priorizavam os pequenos comércios, provocando uma retração para este tipo de comércio de

grande porte.

Na França, os S.C's do século XX possuíam tamanho de 22 mil metros quadrados,

como o Haute-Marne em Sait-Dizier. Em 1958 surge o primeiro Shopping Center semelhante

ao dos Estados Unidos, com ambiente fechado, o Enclosed Mall Air Conditioned (Emac),

onde as pessoas não tinham qualquer contato com o ambiente externo, estratégia para o

cliente não poder ver o tempo passar, desorientando-se na contagem do tempo e

conseqüentemente do dinheiro que dispendia no consumo. Em 1963 surgiram os modelos de

grande porte com áreas superiores a 50 a 89 mil metros quadrados de área como o famoso

Parly 2 em Versailles.

Portanto é na Europa medieval, em meado do século XII e alguns séculos depois com

a revolução industrial, que surge o esboço do modelo infra-estrutural de Shopping Center que

conhecemos atualmente, mas é nos Estados Unidos do século XX que se configura este

empreendimento, com todas suas ferramentas disponíveis de embelezamento e padrão

definitivo de conforto, segurança e lazer e toda aglomeração de produtos e serviços em um

mesmo lugar.

2.3 Surgimentos do Shopping Center nos Estados Unidos

É nos Estados Unidos que se concentra hoje o maior numero de S.C do mundo; o seu

surgimento em solo americano está associado ao modelo de lojas de departamentos e

armazéns europeus. Após a crise de 1929 e a segunda guerra mundial (1941-1945), o país

passa por um processo de metropolização tendo como estopim o crescimento da economia.

A proliferação deste empreendimento passou pelo processo de desenvolvimento do

comércio americano. Surgem então os armazéns conhecidos como secos e molhado em

meados do século XIX. As maiores loja de departamentos dos EUA no inicio do século foram

as Carson, Pirie, Scott na cidade de Chicago, possuindo moderna infra-estrutura, cujos

produtos industriais mais vendidos eram: bens secos e molhados, roupas prêt-à-porter.

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O Shopping Mall, como é conhecido pelos americanos e canadenses, foi uma criação

do arquiteto de Viena, Victor Gruen. Sua receita para construir um bom shopping e ter lucro é

a seguinte:

Pegue 400 mil metros quadrados de terra plana, cerque com uns 500 mil consumidores que não tenham acesso a nenhuma outra facilidade de compras, prepare a terra e construa 100 mil metros quadrados na parte central, espalhe excelentes comerciantes que irão vender produtos de qualidade superior a preços baixos, utilize todo o espaço de fora com 10 mil vagas de estacionamento e certifique-se de fazer acessos para diversas estradas de pouco tráfego e para várias direções. Decore com alguns vasos de plantas, canteiros de flores variadas e uma pequena escultura. Finalmente, sirva ao consumidor. (HERMAN apud PADILHA 2006, p. 57-58).

Em 1950 surge o primeiro shopping norte americano, chamado de Nothgate localizado

em Seattle. Em 1954 foi inaugurado o Nortland ao redor de Detroit, o Southdale próximo a

Minneapolis em (1956) e o South Coast Plaza, próximo a Los Angeles em (1967). A

construção deste tipo de estabelecimento está associada ao advento do automóvel e

diretamente ligado ao remodelamento do espaço urbano como, por exemplo, o declínio dos

centros urbanos, porque a construção destes tipos de comércio não se adequava aos centros

urbanos tradicionais, pela proporção da área solicitada, tendo que ser construídos em áreas

periféricas das cidades.

Os grandes supermercados, a geladeira, o freezer e o automóvel possibilitaram que

grandes quantidades de mercadorias fossem estocadas e transportadas por longas distancias

pelos consumidores, facilitando o acesso às áreas mais periféricas das cidades. Para se ter uma

idéia, nos EUA da década de 50, havia pelo menos 1.000 S.C’s e mais 2.000 mil estavam

sendo construídos. Já em 1970 a 1990 foram construídos mais 25.000 novos estabelecimentos

neste país, superando a todos os países do planeta em quantidade.

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2.4 Surgimento do Shopping Center no Brasil

No Brasil, o primeiro Shopping Center foi construído na cidade de São Paulo em 1966. E

o maior grupo do setor na atualidade é a empresa de shoppings pertencente ao grupo Jereissati

(Iguatemi Empresa de Shopping Centers S.A). Foi seguido o padrão norte-americano nas

construções. A partir da década de 70 houve construções de outros novos empreendimentos

neste segmento, mas foi no final dos anos 80 e ao longo dos anos 90 que houve um grande

número de construções de Shopping Centers no Brasil.

O seu crescimento esteve também associado ao crescimento populacional a partir da

década de 60 (Padilha, 2006). Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers -

Abrasce, de 1966 até 2009, foram construídos mais de 378 unidades no país, conforme mostra

o gráfico abaixo.

Gráfico 1: Número de Shopping Centers no Brasil

Fonte1: ABRASCE. Disponível em

<http://www.portaldoshopping.com.br/sobreosetor.asp?codAreaMae=10&codArea=49&codConteudo=3>

Acesso em 26 de janeiro de 20

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Segundo a Abrace (2009), com o surgimento do primeiro shopping em 1966 até os dias

atuais, este segmento possui um crescimento constante tanto em faturamento quanto em

criação de empregos. Em números reais atualmente existem 408 shoppings filiados e neste

ano de 2010 serão construídos mais 14. No que diz respeito à qualidade dos serviços e sua

infra-estrutura, os Shoppings Centers do Brasil possui um nível semelhante aos estrangeiros.

O que impressiona na construção destes empreendimentos são as grandes áreas de terras

construídas nas cidades; observemos no gráfico abaixo a extensão de área construída pela

indústria de Shopping Center no Brasil.

Gráfico 2: Área Bruta Locável

Fonte 2:ABRASCE. Disponível em

<http://www.portaldoshopping.com.br/sobreosetor.asp?codAreaMae=10&codArea=49&codConteudo=3>

Acesso em 26 de janeiro de 2009.

Sua área bruta para locável está em torno de 8,7 milhões de m2, com 63.470 lojas-

satélites, 2.030 lojas ancora e 2.200 salas de cinema. Tomando os dados acima como

referência, observamos que O Shopping Center é um fenômeno concreto e crescente. A opção

das classes de melhor poder aquisitivo está diminuindo inversamente proporcional ao

crescimento das camadas de menor poder aquisitivo; esta migração do setor está sendo

deslocada para as camadas de baixa renda, uma estratégia em tempos de crise do capital, com

o aumento crédito aos pequenos consumidores e aumento da renda destes segmentos que até

pouco tempo eram “excluídos”. Procurar o Shopping Center significa realizar as mais

variadas atividades como, por exemplo, o lazer, as compras, consultas médicas. Alguns 28

Page 29: TCC-atual 2.docx

possuem ainda cartórios, teatro, pista de patinação no gelo, agências de viagens, bancos

internacionais e até faculdades particulares com diversos cursos. Observemos a distribuição

por região.

Gráfico 3: Distribuição Geográfica de Shoppings

Fonte 3 :ABRASCE. Disponível em:

<http://www.portaldoshopping.com.br/sobreosetor.asp?codAreaMae=10&codArea=49&codConteudo=3. Acesso

em 26 de janeiro de 2009.

No que diz respeito à distribuição destes estabelecimentos no país: o sudeste possui

maior quantidade de S.C’s, num total de 55%, Nordeste 13%, Sul 20%, Norte 2%, Centro-

Oeste 9%. A maior parte deles está localizada nas grandes capitais, mas aos poucos,

espalham-se em direção às cidades do interior do país.

29

Page 30: TCC-atual 2.docx

Segundo a Abrasce, o perfil do consumidor brasileiro que freqüenta Shopping Center,

em seis capitais, é o seguinte: A grande maioria dos clientes (71%) pertence às classes altas e

médias. A cidade com presença maior dessas classes é Porto Alegre (79%) e a menor é

Salvador com 54%. Como hábito de consumo, a pesquisa encomendada pela Abrasce revela

que o consumidor que vai ao shopping e concretiza uma compra gasta, em média, R$ 95,00

por visita. A cidade com o maior valor médio de compra é Belo Horizonte (R$ 138,00) e a

menor é o Rio de Janeiro (R$ 71,00).

2.5 Shopping Center na Contemporaneidade

Um ambiente artificial programado para eliminarem-se contratempos iguais aos que

acontece freqüentemente nas ruas ou nos centros das cidades, crescentemente repleta de

mendigos, pedintes e assaltantes. O S.C foi criado para o consumo de massa e do lazer

reificado.

É uma opção moderna criada inicialmente para as camadas sociais materialmente

privilegiadas e agora também, em função do plano de reestruturação do capital gerado pela

crise econômica do mercado norte americano; torna-se também uma opção as camadas de

baixo poder aquisitivo no Brasil, motivada pelo aumento da renda e do consumo interno

estrategicamente como principal foco de especulação, oferta de produtos e serviços. O S.C é

este lugar “seguro” em tempos onde a violência e as contradições sociais do lado de fora,

unidas à decadência dos espaços públicos, não mais nos propiciam opções “seguras” para o

lazer pago de toda a família.

O S.C representa atualmente uma das principais opções de lazer (parques, jogos

eletrônicos, compras, turismo e de sociabilidade). Lugar este programado para a reprodução

de capital, com suas mais variadas opções de entretenimento, cadeia de lojas de grife, unida a

todo um aparato de seguranças e câmeras que observam atentamente: é um reality show do

consumo alienado. O shopping possui uma concentração de variadas lojas como seu maior

atrativo principalmente pelas lojas âncoras como a empresa holandesa C&A, Lojas

Americanas, Riachuelo e também restaurantes famosos em sua praça de alimentação como:

Mcdonalds, Bobs, etc. Ele possui como uma de suas principais características uma vasta área

para estacionamento de veículo; alguns possuem até heliporto.

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Page 31: TCC-atual 2.docx

É nos S.C. que são disseminadas os estilos de vida e tendências da moda mundial,

como também são apresentadas e vendidas as marcas das grandes empresas multinacionais

mundialmente mais conhecidas como Nike, Phillips, Sony, LG, Toyota, Forun, M Officer,

Hugo Boss etc.

Então nos questionamos: como em metrópoles com um grande contingente de

desempregados estruturais ( trabalhadores temporários , informais), ou em outro lugar onde

existam índices de desenvolvimento econômico, muito abaixo da média nacional, podem

existir estas mesmas empresas (S.C)? E como eles conseguem obter lucro e possuir taxas de

crescimento muito acima da média nacional? Como este tipo de estabelecimento funciona nos

grande centro urbano e recentemente nas pequenas cidades do interior? Para qual parcela de

nossa população ele é oferecido? Quais os mecanismos utilizados pelos gestores dessas

grandes empresas para obtenção do lucro? E, por fim como o sistema capitalista em busca do

monopólio do espaço consegue produzir novas formas de subjetividade e subjetivação

reativando o sócio-metabolismo do capital?.

O Shopping Center foi idealizado inicialmente para a camada de alto poder aquisitivo, e

são elas que ainda mais consomem, mas atualmente o direcionamento deste tipo de negócio

está migrando também para as classes de baixo poder aquisitivo. Os S.C possuem algumas

características do comércio varejista tradicional, cuja diferença é o monopólio de espaço. Este

tipo de negocio é conhecido como economia de aglomeração, permitindo o contínuo

aperfeiçoamento dos custos e proporcionando uma crescente diminuição de gastos e a

maximização dos lucros.

Gráfico 4: Faturamento Anual da Industria de Shopping Center

Fonte 4: ABRASCE. Disponível em http://www.portaldoshopping.com.br/sobreosetor.asp?codAreaMae=10&codArea=51&codConteudo=1 Acesso em 11 de Nov 2010.

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Page 32: TCC-atual 2.docx

Segundo o gráfico disponibilizado pela Associação Brasileira de Shopping Center, em

2005 o faturamento das empresas de S.C chegaram a 45,5 bilhões de reais, enquanto em 2010,

o faturamento chegou a um montante de 87,0 bilhões de reais ao ano.

O grande capital precisava obter mais lucro, tendo como idéia aglomerar em um

mesmo lugar as melhores empresas varejistas possíveis, cujo objetivo e fonte de lucro são a

locação das salas comerciais com seus contratos padronizados. Outro objetivo é oferecer os

melhores produtos a preços competitivos, onde o cliente não precisaria se deslocar para

grandes distâncias, tendo de tudo um pouco do que há no resto da cidade ou nos centros

tradicionais. O monopólio de espaço foi uma estratégia das empresas para se livrar da

concorrência entre unidades comerciais menores e obter com isso o maior lucro possível.

Com a mundialização do capital, os gostos e hábitos de parcela significativa da

população mundial seguiram uma lógica cosmopolita; todos passam a consumir os produtos

das marcas mundiais, se sentindo, com isso, pertencentes e incluídos na aldeia global.

O S.C é direcionado para este tipo de público sensível as novas tecnologias, a moda e

do tempo curto; sob tais critérios, os S.C conseguiram concentrar um grande número de

atividades de lazer, serviços e de pessoas no mesmo lugar.

O surgimento dos primeiros Shopping Centers, mais especificamente nos EUA, está

relacionado diretamente ao advento do automóvel; daí estes empreendimentos serem

construídos em amplas vias com grandes fluxos de veículos. Ele surge no momento onde a

crescente industrialização da pós-segunda guerra e o ritmo de vida agitado das grandes

cidades, impulsionaram as pessoas a economizar o maior tempo possível, levando-as a

procurarem as opções de serviços rápidos e eficientes (surge daí a comida do tipo fast-food e

os drive ins, como os da marca Mcdonalds). Nos EUA a expansão dos subúrbios, o

crescimento da população e da renda, fez com que o comércio varejista tradicional se

adaptasse e oferecesse bens e serviços especializados para as novas formas da vida urbana que

se iniciava a sociedade do Time is Money.

Nesse contexto o S.C, enquanto um empreendimento centralizado de comercialização

e consumo planejado vem crescendo em todo mundo, executado e administrado por grandes

empresas privadas, que procura oferecer produtos e serviços, de forma a realizar tanto a mais

valia dos trabalhadores como também se apropriar do tempo livre das pessoas transformando

o consumo em um ato prazeroso de lazer, lazer este reificado e caro, ficando assim o tempo

livre das pessoas sob o controle e poder da racionalidade do capital.

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Page 33: TCC-atual 2.docx

Restanos agora pagar caro para acessar os benefícios do lazer; não há muita opção

dentro da cidade, exceto a praia que por ela não se paga como uma mercadoria qualquer.

Lazer como mercadoria é mais uma estratégia de dominação do capital. Quem quer lazer que

pague então por ele, quem não tem como paga-lo, será excluído. Não temos mais opções.

Nossas praças públicas viraram pontos de prostituição e venda de drogas, um absurdo que se

repete em quase todas as capitais do nosso país.

Os Shopping Centers vem crescendo em importância para o grande capital e atraindo

amplos e diversificados setores e atores sociais em todo o mundo, atores estes que manifestam

em relação a ele, interesses distintos. O Shopping vem realizando importantes alterações no

espaço urbano, deslocando especialmente novas formas de sociabilidade (encontro com

amigos, namorar, passeio com a família, consultas médicas) tentando não reproduzir e evitar a

realidade contraditória do lado de fora.

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Page 34: TCC-atual 2.docx

3 O LAZER COMO MERCADORIA

3.1 Shopping center: a submissão do lazer ao comércio

O Shopping Center é na atualidade um ícone moderno de consumo e lazer, onde o

capital expõe suas criações mercadológicas. Nele são divulgados os novos estilos de vida e as

tendências da moda internacional. A sociabilidade dentro destes empreendimentos é mediada

por objetos de consumo, que ditado pela nova ordem econômica e pela internacionalização da

economia que, aos poucos, vai aculturando o cotidiano da cultura local homogeneizando e

padronizando comportamentos sob a ótima Norte Americana e Européia .

O Shopping Center local é um meio onde uma sensação de tranqüilidade e segurança é cultivada pelo acabamento dos prédios e pelo planejamento cuidadoso dos lugares públicos. Contudo, todos que fazem suas compras nesses lugares estão cônscios de que a maioria das lojas pertencem a cadeias de lojas, que podem ser encontradas em qualquer cidade, e que na verdade inumeráveis shopping centers de projeto semelhante existem por toda parte. (GIDDENS, 1991, p.141)

Para Padilha (2006), os S.C’s não passam de um lugar onde a formação do ser social

é incompleta. Relações estas artificializadas, fomentada por estímulos da moda e da mídia,

financiadas por empresas multinacionais que precisam produzir novas formas de necessidades

para o aumento da demanda de seus produtos. Para a autora, o capital, ao oferecer o lazer

como mercadoria, nos remete a pensar que o âmbito cultural e social não mais podem ser

pensados separadamente do fator econômico, fazendo com que o despertar das consciências

tornem-se obscurecidos e alienados.

Padilha (2006) defende que os Shoppings Centers são um lugar não só de consumo,

mas também de lazer destinado a privilegiados. Ela o caracteriza como um lugar onde os

indivíduos procuram identidades em meio às mercadorias. A mesma autora também acredita

que os S.C’s são um local de distinção social, raça e etnia, ou seja, é um lugar de segregação

social, mais especificamente no Brasil.(PADILHA, 2006, p.15)

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O Shopping Center é um lugar onde “tudo” pode ser vendido. Ele é considerado um

lugar de referência para realização de compras e passeios turísticos nas grandes cidades e está

associado à ideologia sobre a qualidade de vida e bem estar social via consumo de

mercadorias. Em seu Mall são comercializados artigos simples e de luxo, sauvenirs, demais

produtos reconhecidos simbolicamente e universalmente, como as marcas multinacionais,

legitimados como signos das classes dominantes ou status social.

Neste contexto, o Shopping Center sobe um degrau além da mera categoria de espaço; ele é, na verdade, a perfeita metáfora cultural atual, cujos traços formais emergentes coincidem com o surgimento de um novo tipo de vida social e de uma nova ordem econômica, esta última caracterizada pelo neocolonialismo e pela internacionalização do capital e a primeira impregnada de elementos novos e marcantes como o crescimento da informática, da mídia eletrônica e, a reboque desta, o crescimento do consumo. (MESQUISTA, 2002, p.11)

Nos S.C’s adolescentes e crianças passam o dias envolvidos no mundo da

mercadoria, em meio às lojas de grife, aos parques temáticos, jogos eletrônicos e do fast-food.

O passar das horas nos corredores refrigerados dos S.C’s com os amigos significa muitas

vezes ter dinheiro para gastar, por que tudo é pago. A Praça de Alimentação dos S.C's é um

dos lugares de sociabilidade mais freqüentados por toda a família; casais e amigos costumam

confraternizar os laços de amizade e familiares mediados por objetos de consumo, enquanto

as empresas faturam alto manipulando sentimentos em comemorações de dias “especiais” dia

dos namorados, das mães, do pai, da criança, natal, páscoa etc. Ao falar de lazer nas grandes

metrópoles, os S.C’s estão em primeiro lugar na preferência da população e são o destino

predileto de toda família, conforme comenta a autora:

A ocupação do "tempo livre" em shopping centers sinaliza um fenômeno de

submissão do lazer ao mercado, o que também pode ser observado em

viagens feitas em forma de pacotes turísticos ou em clubes de férias, cujos

hotéis oferecem uma enorme quantidade de atividades de lazer previamente

programadas. Ou ainda, em parques temáticos de diversão, como a

Disneylândia, verdadeiros "supermercados de lazer". Dito de outra forma, o

lazer se confunde com uma mercadoria e o "tempo livre", sob a lógica do capital

por não ser de fato livre. Tudo isso, é claro, pensando naqueles membros de

uma camada social que podem pagar o preço por serem relativamente

"incluídos", pelo menos do ponto de vista do emprego e do salário

(consequentemente do poder aquisitivo). (PADILHA, 2006, p.27)

35

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Padilha (2006) faz a seguinte reflexão: “O que esta catedral das mercadorias pretende

é criar um espaço urbano ideal, concentrando várias opções de consumo e consagrando-se

como ‘ponto de encontro’ para uma população seleta de seres ‘semiformados’ sendo segundo

ela um lugar de representação e disseminação ou reprodução da ideologia dominante”.

(PADILHA, 2006, p.15).

Henry Ford (1863-1947) idealizador da fábrica de automóvel Ford Motors Company,

pai do modelo de produção Fordismo para aperfeiçoar a produção de carros em massa,

procurou “domesticar” os operários que trabalhavam em suas fábricas, intensificando o

controle da vida pessoal e do cotidiano de seus funcionários. Ele queria criar um “novo

homem” cuja a idéia era incluir no pensamento dos indivíduos americanos que a felicidade

estaria na obtenção de bens materiais, ou seja, quanto mais mercadorias fossem consumidas,

maior o nível de satisfação pessoal, de bem-estar, qualidade de vida, com uma vida

permeada pela abundancia com o consumo hedonista. (Padilha, 2006, p.24)

Para Mesquita (2002), o lazer nada mais é do que um prolongamento do trabalho. As

Classes que vivem do trabalho, ao usufruir o tempo livre nas cidades em eventos de lazer,

mais especificamente, em lugares como os S.C’s, deparam-se com uma forma pronta,

artificial e pré-determinada, repetitiva, do lazer pago. Para ela, o capital consegue extrair do

trabalhador não só a mais valia na exploração do trabalho assalariado conforme nos mostrou

Marx, como também, com atividades de lazer pago, portanto sendo um prolongamento a

atividade laborativa. As atividades de lazer oferecidas atualmente são monopolizadas pelo

capital, pois os espaços públicos encontram-se sucateados e esquecidos pelos gestores

públicos. A autora faz a seguinte reflexão sobre o lazer e o trabalho na apropriação do

segundo e, portanto duplicada pelo capital:

O consumo confunde-se com o lazer. “O lazer como oposição ao trabalho nada mais é que a sua continuidade: trabalha-se pensando no lazer e dedica-se ao lazer pensando-se no momento seguinte de voltar a trabalhar”. (MESQUITA, 2002, p.50)

36

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Mesquita (2002) concorda com Padilha (2006) no sentido de que os indivíduos, ao

preferirem um lugar privado e com lazer pago na cidade, não percebem, ou não querem

perceber que existem contradições sociais fora destes espaços programados e artificiais a fim

de isolar-se dos problemas do lado de fora dos Shopping Centers, como a violência de modo

geral. Neste sentido as autoras concluem que na atualidade, a prevalência do ter sufoca a do

ser, sendo estes um fator degenerativo de grande parte das relações sociais na sociedade.

Entre as mercadorias presentes no shopping center está o lazer: as salas de cinema, os jogos eletrônicos, a praça de alimentação, os ocasionais e padronizados eventos artísticos, os brinquedos etc. Os diversos equipamentos de lazer disponíveis em shopping centers levam as pessoas a encontrar diversão em torno da celebração do objeto, de modo que, mesmo no lazer, o SER permanece subjugado ao TER. O lazer oferecido em shopping centers é alienado porque leva ao distanciamento dos sujeitos consigo próprios, ao mesmo tempo em que os "empobrece". Esse empobrecimento deve ser entendido em relação ao que Marx considerava a verdadeira riqueza, ou seja, "[H'] o homem (na) plena riqueza de seu ser, (é) o homem rico e profundamente dotado de todos os seus sentidos [H']" (Marx apud Silveira, 1989, p. 48, grifos do autor). O homem rico, para Marx, não tem a riqueza na sua conotação burguesa, mas é o homem emancipado que realiza plenamente seus sentidos. A perversa lógica na qual está inserido o shopping center não possibilita que o homem desenvolva essa dimensão da riqueza (PADILHA, 2006, p. 181).

Para Padilha (2006) o lazer “é um fenômeno social importante” para o entendimento

da sociedade e deve ser abalizada pelas ciências sociais; ela procurou refletir sobre o

empreendimento S.C como um espaço que vai muito além do que ele aparenta ser, não sendo

somente um espaço de consumo de mercadorias, mas sim um espaço que oferece serviços,

alimentação e lazer, e principalmente identidades, que geralmente são criadas pela Indústria

Cultural. (PADILHA, 2006, p.179)

No plano do lazer, é importante destacar a aceleração do tempo de descartabilidade dos produtos culturais e de reprodução da mesmice, fenômenos da indústria cultural identificado por Theodor Adorno e Max Horkheimer (1992). A fluidificação da cultura e do lazer é um dos traços da “modernidade liquida”, conceito utilizado por Zygmut Baumann (2001). (ALVES, 2006, p.36).

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Para Padilha o S.C é um lugar onde as relações estabelecidas do lado de dentro são

coisificadas e mediadas por objetos de consumo. Esta mediação tem como base a posse de

objetos materiais, ou seja, baseada no consumo: ‘A sociabilidade dos freqüentadores de S.C’s

é, portanto, estranhada e reificada, na medida em que ‘o vínculo social entre os indivíduos

assume, então, a forma de coisa’ (Silveira, 1989, p. 55, grifos do autor). Os ‘sujeitos

coisificados’ são determinados e limitados pelas coisas que se apropriaram do que era próprio

do sujeito. “Assim, a coisa, o capital, a mercadoria, o dinheiro dependem dos sujeitos para

reproduzirem-se como tais” (PADILHA apud SILVEIRA, p.180).

Ainda segundo Padilha (2006) o capital viciado na racionalidade econômica,

miniaturiza os espaços públicos das cidades dentro do shopping, ou seja, ele é uma espécie de

“cidade” artificial, agregando à sua estrutura, serviços que estariam dispersos por toda cidade

e que exigiria das pessoas muito tempo e trabalho para se deslocarem de uma loja a outra.

Nos S.C podemos encontrar praças e jardins artificiais, dando harmonia ao local, transmitindo

a sensação de limpeza e modernidade e organização, coisa que não vemos muitas vezes do

lado de fora nas ruas das cidades.

Com base nessa lógica, o lazer incorporou-se aos shoppings centers de forma tão significativa que hoje confundimos centro de compras com centro de lazer. Os consumidores foram, nesse processo, sendo levados (de diversas formas e por diversas razões) a procurar lugares de compras que ofereçam opções de divertimento. Assim, os bens materiais de consumo, para uma circulação mais rápida e garantida no mercado, passam a ser quase dependentes das atividades de lazer e dos serviços, que de apêndices tornaram-se atrações principais (PADILHA, 2006, p.26).

Para Mesquita (2002) a cultura é mercadoria. Ela é vendida como mais um acessório

das vitrines das lojas. A cultura hoje mais do que nunca passa a ser um acessório na

programação de eventos de lazer, servindo como atrativo na complementação de atividades do

lazer pago para as massas consumidoras. Os bens culturais que são comercializados hoje são

mais uma opção de mercadoria de dentre a grande variedade disposta nas vitrines. Elas são

vendidas e ressignificadas como um produto fabril seriado, reelaborado pela Indústria

cultural.

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Os Shopping Centers que conhecemos hoje funciona como um catalisador que

adiciona e absorve à sua imagem bens culturais da sociedade pela qual ele está implantado, a

fim de conquistar a simpatia e o gosto dos freqüentadores. Ele é mutante no sentido de

agregar em seu interior parte do que a sociedade tem como valor identitário, ou seja, a cultura,

a arte, de modo geral. Os bens culturais, ao serem incorporado neste tipo de negócio passam a

ser resignificados e transformados em mercadoria, sendo expostos e vendidos como um

produto qualquer da vitrine das lojas.

Este consumo coloca-se como um negócio altamente lucrativo. Se a alma deste negócio é a propaganda, o seu corpo assume as elaboradas formas de seus produtos culturalizados. Simplista demais seria nossa análise se admitíssemos que os bens culturais têm sido democrática e irrestritamente comercializados. A realidade mercadológica reflete o movimento exatamente oposto – os bens de consumo, face às flutuações e exigências de mercado, culturalizam-se– surge aí um consumo elegante e renovado. (MESQUISTA, 2002, p.11)

Mesquita (2002) utiliza pensamento de Guy Debord e acrescenta que os atores

sociais preferem um perfil identitário já pronto e que não custe muito tempo e trabalho para

obtê-lo, ficando assim os mesmos na inércia em permanecer meros espectadores diante de

uma realidade desumana e desigual. Ela argumenta que nas sociedades moderna e capitalista o

ter se sobrepõe ao ser, e ainda, os homens, segundo ela, são reduzidos a condição de meros

trabalhadores - consumidores, servindo de base para o ciclo de dominação do capital,

perpetuando com isso o sociometabolismo deste tipo de modelo econômico.

De acordo com Guy Debord, a imagem tornou-se a forma final da reificação – de fato, o homem perdeu a noção de si mesmo – de um eu verdadeiro, encontrando-se numa identidade já pronta e menos trabalhosa. Nesta sociedade do espetáculo há muito deixamos de encarnar o papel de atores para nos conformarmos com um lugar na platéia dos grandes movimentos e decisões dos verdadeiros atores deste enredo social: os detentores do poder sobre os mecanismos mais intrínsecos de controle. (MESQUITA, 2002, p.42)

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E continuando:

Numa sociedade em que os homens são reduzidos à condição de consumidores, torna-se evidente a necessidade de trabalhar para consumir, para gastar, para readquirir – um ciclo que, para ser mantido, deve exigir dos mecanismos de organização social uma eficaz identificação e consequente agrupamento dos homens não pelo que são, mas sim pelo que têm. (MESQUITA, 2002, p.49)

O capital consegue implantar nas consciências individuais a idéia de que, ao

consumir bens industrializados, ter facilidade ao crédito em qual escala for, a sensação de

estar participando da falsa democracia consumista, faz com que os indivíduos acreditem que

realmente estão em uma sociedade do bem-estar social. Aparelhar a casa com produtos

ultramodernos é inclusão social? ou uma forma de sufocar ainda mais as contas no fim do

mês? Aparelhar a casa com produtos industriais é uma forma de desviar o foco do que

realmente falta nas sociedades ainda em desenvolvimento, um bom exemplo seria a

otimização da saúde pública, educação e moradia (minha casa minha vida). Consumir bens

que muitas vezes são “supérfluos” propagandeados pela mídia é estar participando da moda e

significa estar atualizado como comenta Mesquita (2002).

[...] deter o poder de compra; podendo consumir, o indivíduo tem acesso à produção com a marca do sistema; vítima de um engodo, os ingênuos consumidores se supõem participantes, de alguma forma, dos mecanismos de produção e, a reboque deste, do próprio núcleo de poder. Todavia, seu papel nunca é o de ator, mas sim o de espectador – as falas são consumidas e absorvidas sem choque e todo produto vindo da indústria cultural já se encontra pronto, não aceitando qualquer tipo de retoque ou mesmo de diálogo. Os espectadores têm, portanto, a falsa impressão de estarem atuando, quando, na verdade, os possíveis conflitos e choques de opinião são bem gerenciados pelo poder e acabam, paradoxalmente, por fortalecê-lo. (MESQUITA, 2002, p.50)

Ao falar de democracia via consumo temos como exemplo inimaginável o fato de

que uma empresa privada ser considerada um símbolo de paz e de democracia. A democracia,

em países subdesenvolvidos, é sinônimo de trabalho “semi-escravo” por serem pagos baixos

salários como na China.

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Do ponto de vista político, o Mcdonalds chega a ser considerado, hoje um símbolo de democracia; está associado à paz mundial, segundo a tese de que nenhum país que tenha um Mcdonalds - até hoje entrou em guerra com outro pais que também tenha um Mcdonald's. É a teoria da prevenção de conflitos dos Arcos dourados, primeiramente concebida por Thomas Fridman, no New York Times, depois acompanhado por pesquisadores da Universidade do Hambúrguer do McDonald's quando eles tiveram obtido um nível suficiente de prosperidade econômica e estabilidade política (FONTENELLE, 2002, p.31).

O luxo, sendo um padrão de vida a ser seguido por todos ideologicamente, é

discutido no livro Para Além do Capital de Ístavan Mészáros. Mészáros (2002) com a teoria

da taxa de utilização decrescente, nos remete a reflexão de que para o capital é conveniente

que existam em escala a nível mundial um giro acelerado da circulação de mercadorias com o

consumo. Para isso é criado um efeito artificial e ao mesmo tempo objetivo, onde a todo o

momento surgem novas mercadorias e ao mesmo tempo novas ideologias são criadas e

agregadas ao objeto criado, ou seja, como nos ensina Marx a mercadoria é encantada,

fetichezada, para seduzir o comprador.

A obsolência planejada é esta estratégia criada pelo capital para não perecer. Objetos

que até então poderiam durar mais, como carro que são descartados ainda mesmo em plenas

condições de funcionamento. Novos modelos são lançados e os antigos logo saem de moda,

são descobertas novas tecnologias. A descartabilidade de mercadorias “velhas” é a mola que

impulsiona o sócio-metabolismo do capital.

Fontenelle (2002) concordando com Mészáros (2002), nos explica que o capital na

busca obsessiva pelo lucro procura produzir mercadorias que em pouco tempo estarão

obsoletas levando as pessoas à lógica da aceleração da descartabilidade. Segundo ela, há um

processo de aceleração do tempo na modernidade motivada pelas transformações advindas da

ciência patrocinada pelo capitalismo; ela nos explica que esta revolução tecnológica se deu a

partir da metade do século XX. A lógica do sistema capitalista é simples: descartar o mais

rápido possível todas as restrições que possam impedir o desenvolvimento, segundo a autora,

de ser continuo.

Como causa deste modelo “a velocidade e a descartabilidade de tudo passar a ser

ministrado na lógica da concorrência de empresas que tem como fim oferecer produtos

sempre “melhores” do que o concorrente. Para ela a forma da aceleração e descartabilidade

levam a cultura contemporânea a se reduzir a valores de eficiência econômica a todos os

setores da sociedade. O luxo é esta condição, que estimula os indivíduos a sempre buscarem

as “melhores” mercadorias, para que possam gozar de um bem estar, e ter uma existência

“feliz” focada no consumo hedonista.

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Os artigos ficam velhos pela deterioração propriamente dita ou pelo desgaste de suas partes; por melhorias na maneira de construir; ou por modificações na forma e no estilo, exigida pelo gosto variável da época. Nos dois últimos casos, sua utilidade quase não é diminuída; e, sendo menos procurados por aqueles que até então os haviam empregado, são vendidos a preço reduzido para uma classe da sociedade um tanto abaixo de seus antigos possuidores. Muitos artigos de mobiliário, como mesas e cadeiras bem construídas, são desse modo, nas salas daqueles que teriam sido absolutamente incapazes de comprá-los quando novos: ...Assim o gosto pelo luxo se propaga de cima a baixo na sociedade, e, depois de um curto período, a quantidade daqueles que adquiriram novos desejos se torna suficiente para incitar o engenho do fabricante a reduzir o custo de satisfazê-los, pois ele mesmo se beneficia da maior escala da demanda (MÉSZÁROS apud OLIVEIRA. 2002 p.637)

Neste sentido o autor nos esclarece que a tendência da produção de mercadoria é ser

direcionada para a produção em larga escala, facilitada com o advento de novas máquinas,

mais rápidas, mais eficientes, mas de forma não compensatória perde-se em qualidade e

conseqüentemente de durabilidade das mercadorias.

As sociedades capitalistas que agregaram em seu cotidiano as diversas formas da

descartabilidade geral e difusa dos bens duráveis e não duráveis caminha para o abismo da

barbárie, onde o novo, a juventude de corpos despidos nas propagandas, estimula os

consumidores a encontrar uma identidade alienada. O latão reluzente e cromado, a sociedade

do lustro, luxo e da reluzência são signos a serem seguidos por todos como se a riqueza

monetária fosse uma opção acessível a qualquer pessoa advinda de qualquer classe social. A

descartabilidade chega, segundo Mészáros, a bens duráveis como automóveis, que nos

Estados Unidos são lançados e destruídos no cemitério de automóveis (Mészáros, 2002,

p.640); Padilha (2006) concorda com Mészáros (2002):

Partido do principio do capital em tratar útil e utilidade em termos de vendabilidade, quanto menos dada mercadoria é realmente usada, aumentando, assim o seu tempo de vida útil, melhor é do ponto de vista do capital, uma vez que a subutilização das mercadorias aumenta a vendabilidade ou a troca de uma mercadoria por outra. Para haver reprodução do capital, a produção deve visar a um consumo descartável, do desperdício. A única coisa realmente que importa ao capital é que as mercadorias produzidas possibilitem a realização do seu valor-de-troca, independente do seu valor-de-uso (PADILHA, 2006, p.89)

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Para a autora, o capitalismo precisa a todo custo aumentar a produção de mercadorias

em quantidade e variedade, mas a qualidade muitas vezes é solapada junto à durabilidade.

Para ela, o sistema capitalista não está mais preocupado em atender as necessidades humanas,

e sim interessado em atender suas próprias “necessidades da produção” que está diretamente

ligado a universalização do capital. As necessidades humanas, portanto, passam a ser

alienadas na medida em que são produzidas novas mercadorias para atender necessidades

“artificiais”. (PADILHA, 2006, p.90).

Padilha (2006) enfatiza que, apesar da descartabilidade de bens gerarem aumento na

produtividade, é interessante para o capital que o círculo do consumo em um mercado estável

e consolidado seja acelerado, ao invés de expandir os investimentos para novos centros

consumidores ainda em condição de instabilidade, evitando com isso prejuízos. Com a taxa de

utilização decrescente, não há razão para se ampliar mais o mercado, sendo feita uma

restrição artificial do círculo do consumo, excluindo uma grande quantidade de pessoas não

só em países em desenvolvimento como também em países desenvolvidos. (PADILHA, 2006,

p.90). Karl Marx inicia o capítulo sobre a mercadoria com as seguintes palavras:

A riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se com uma “imensa acumulação de mercadorias”, e a mercadoria, isoladamente considerada, é a forma elementar dessa riqueza. (MARX, 1975, p.41)

Marx nos esclarece que, de um lado, se é no consumo que um objeto produzido

realiza efetivamente a sua finalidade, portanto, seu valor-de-uso ao satisfazer uma

necessidade, por outra parte, é na produção que tal necessidade foi criada objetiva e

subjetivamente(isto é: “.. a produção não cria somente um objeto para o sujeito

consumidor, mas também um sujeito para o objeto”(Marx, 1978, p.110)

Padilha (2006) faz um breve resumo de Marx, demosntrando como o consumo e a

produção são equivalentes no processo de satisfação das necessidades humanas. Ela comenta

que segundo Marx nos Manuscritos econômicos e Filosóficos - grundrisse “a produção é

imediatamente consumo e o consumo é imediatamente produção”. Sem a produção não

haveria consumo, mas sem consumo também não há produção (PADILHA, 2006, p.87).

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O consumo produz a produção em dois sentidos: (a) porque é no consumo

que o produto converte-se em produto real, e (b) porque o consumo cria a

necessidade de nova produção. É o consumo que cria o impulso para uma

nova produção, pois ele estabelece idealmente o objeto da produção, como

imagem interna, como necessidade, como impulso e como fim. Sem

necessidade não existe produção. E o consumo reproduz a necessidade

(Marx, 1985, p. 8). A identidade entre produção e consumo manifesta-se de

três maneiras, segundo o autor: 1) a produção é consumo e o consumo é

produção; 2) a produção cria o material como objeto externo para o consumo,

o consumo cria a necessidade como objeto interno, como fim para a

produção; 3) a produção é meio para o consumo e o consumo é fim da

produção. A produção produz o consumo, criando o incentivo ao consumo

como uma necessidade. Nessas passagens, Marx nos dá pistas de que há uma

diferença e uma relação entre objetos e necessidades, entre necessidades

naturais e necessidades criadas pela sociedade, quando entendemos que o

consumo - como satisfação de necessidades - é criado pelo próprio sistema de

produção. (PADILHA, 2006, p.87)

Canovacci, antropólogo Italiano, nos esclarece que a diferenças mais importantes da

transição da era industrial para os moldes atuais esta focada especificamente no consumo.

Para ele o consumo hoje não é somente como no pensamento clássico-modernista de objetos

mercadológicos. Segundo ele o consumo nas últimas décadas tornou-se um produto de valor

econômico e de estilo de vida (LIMA, 2007, Folha de São Paulo, p.d-23).

O consumidor contemporâneo é protagonista do consumo. Uma pessoa não vai ao

Shopping Center somente para comprar coisas, mas para consumir comunicação,

para se mostrar, para encontrar outras pessoas. Daí surge à idéia do consumo

performático e, neste sentido, o Shopping Center assume o papel de fábrica da

contemporaneidade. o fetiche está presente e em quase toda a publicidade,

principalmente na marcas de luxo. ( CANEVACCI apud LIMA , 2007, Folha de São

Paulo, d.23)

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3.2 Shopping center e a crise do capital

Em tempo de crise econômica há uma modificação estratégica do capital. No caso dos

S.C 's estão se popularizando. Até pouco tempo desfilar nos corredores destas empresas era de

exclusividade das classes de alto poder aquisitivo. Os S.C's perdem cada vez mais seu status

de nicho exclusivo das classes mais abastadas, motivado pelo aumento da renda, levando as

classes mais ricas a se deslocarem para galerias de luxo em bairros elitizados. Há um

crescimento de galerias de luxo e lojas de grife em bairros de classe alta na cidade de Maceió.

Como podemos observar em Maceió na orla de Jatiúca e Ponta Verde (Passeio Estela Maris,

Zump e Forum, Ellus) tem tido um significativo crescimento.

O S.C. não é mais um lócus de privilegiados de consumo e de lazer da classe

dominante como defende Padilha (2006) em sua tese de doutorado Shopping Center a

Catedral das Mercadorias, mas continua sendo um lugar de exploração tanto do trabalho

assalariado como também da apropriação do tempo livre dos trabalhadores, ou seja, da

apropriação do lazer reificado com atividades lucrativas oferecidas as classe trabalhadoras. Os

S.C continuam tendo sua base fundamental que é a busca do lucro. Ele apenas se adapta como

forma de sobrevivência em momentos de crise ou de transição econômica nas sociedades pela

qual estão inseridos não importando a forma ou o público em que o lucro possa ser extraído.

Padilha (2006) acrescenta ainda:

Procuro, então, analisar criticamente o Shopping Center e o que ele significa hoje para as sociedades capitalistas. Como um espaço privado que se traveste de público para dar a ilusão aos consumidores de que se trata de uma "nova cidade", mais bonita, mais limpa e mais segura que a "cidade real", que pertence ao mundo de fora, o Shopping Center é tomado aqui como um importante complexo comercial que pretende fabricar um novo homem a fim de adaptá-lo à obsessão capitalista pelo lucro. E essa pretensão custa muito caro à cultura, à cidadania, à urbanidade, ao lazer e à subjetividade humana (PADILHA, 2006, p.23).

Para Padilha (2006) o S.C é um lugar de segregação Social na medida em que reflete

as contradições e problemas do lado de fora da cidade. Para ela o shopping Center representa

um lócus privilegiado da classe alta segregando e excluindo um vasto segmento da população

brasileira como também é um dos lugares preferidos atualmente em momentos de lazer,

motivado pela decadência dos espaços públicos e o aumento da criminalidade nas grandes e

pequenas cidades.

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O que Padilha não percebeu é que com a crise do capital o S.C perde o caráter de ser

um lócus para privilegiados, mas não deixando de lado suas propriedades essenciais e

tradicional de exploração e do lucro, pois os lucros é o que realmente importa. Assim o capital

junto aos S.C's modela os espaços urbanos, oferecendo uma gama de símbolos, gerando o

espetáculo do consumo de bens materiais e de lazer-mercadoria de forma supérflua fluida ou

alienada. Daí são “modeladas” identidades, deturpados os valores com a chamada “cultura do

consumo”.

Para que os indivíduos possam ter acesso aos benefícios do lazer, deverão

desembolsar certa quantia em dinheiro, caso contrário, serão excluídos. Sabemos que o lazer é

um direito e não necessariamente precisar-se-ia gastar para poder usufruir destas atividades.

Neste sentido a autora faz duras críticas à inércia por parte da sociedade civil, no que diz

respeito à luta pelos direitos fundamentais. Para ela, quanto menos se reflete sob a realidade

do mundo, maior é a sensação de diversão.

A cultura como diversão descarta por completo a idéia – quanto menos se pensa maior é a diversão; a arte perde em originalidade para tornar-se um mero modelo repetitivo, um simples prolongamento do trabalho. Diriam Adorno e Horkheimer: “A diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio. Ela é procurada por quem quer escapar do processo de trabalho mecanizado, para se pôr de novo em condições de enfrentá-lo.” (MESQUITA, 2002, p.40)

O bombardeio das campanhas midiáticas é intenso. As grandes marcas compram

várias horas em forma de comercial. Suas marcas são divulgadas e vendidas a cada minuto.

Como a distribuição das lojas de marca que estão espalhadas pelos quatro cantos do mundo, e

suas marcas são reconhecidas como referencia de estilo e moda, reforça o imperialismo norte

americano e europeu, tentando projetar rapidamente tais valores, hábitos alimentares, em

países com costumes extremamente diferentes, mostrando novas formas de se viver vestir e

comer, relacionar.

Podemos citar como exemplo: a rede de restaurantes da marca multinacional como

Mcdonald’s, que segundo Fontenelle (2002), embasada em sua pesquisa de Doutorado sob

título (O Nome da Marca) ela argumenta que estamos diante do império das marcas. O

Mcdonald’s se expande também na Ásia, a cultura do fast-food por países fechados

culturalmente como Japão e China. Para Brune (1981), a publicidade tem uma atuação

ideológica a partir das seguintes manobras:

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1) Reduzir: a publicidade tem a função de fazer com que os indivíduos acreditem

que o consumo será suficiente para sua vida sociocultural, o que causa uma

desilusão crônica nos consumidores, uma vez que nenhum objeto pode cumprir a

promessa dos signos. Na verdade, isso faz parte da estratégia publicitária, pois é

preciso frustrar continuamente as pessoas para relançar novos desejos de compra.

2) Frustrar: a oferta da plenitude pelo consumo aviva no consumidor o

sentimento de suas faltas, de seu vazio.

3) Erotizar: a erotização dos produtos é algo feito intencionalmente, de forma a

implantar a ideologia de que as coisas do amor são antes de tudo o amor das

coisas, ou seja, que a pulsão sexual deve ser reduzida ao desejo de compra. Ao

sexualizar o produto faz-se crer que a sexualidade humana é também objeto de

consumo.

(4) Alienar: por meio da publicidade, as pessoas não perdem somente sua própria

personalidade, mas também vêem apenas a elas mês

Mas pelo olhar do outro.

(5) Recuperar: a publicidade recupera, tenta trazer de volta tudo e todos que lhe

oferecem uma certa resistência ou que a contrariam. A recuperação política é a

mais comum, pois a publicidade faz toda uma "comédia do poder", a fim de

confundir deliberadamente as pessoas: "ela desacredita o mundo político para

melhor acreditar a 'ordem' comercial. Assim, a divertida 'despolitização'

publicitária desempenha um papel político de 'conservação'" (ibidem, p. 50). 6)

(6)Condicionar: a tese do complexo de castração!3, explicada por Freud, atingiu

a publicidade. Assim, o consumo de mercadorias ajudaria, sobretudo as

mulheres, a preencher o que lhes falta por natureza. "É assim que numerosas

publicidades prometem às mulheres, sem lhes dizer, o falo salvador com o qual

elas sonham sem saber" (ibidem, p. 56).

(7) Infantilizar: a criança moderna, que adora publicidade como gosta: de açúcar,

sente-se segura no universo dos objetos. Com a televisão, a criança cresce

buscando reconhecer-se na criança feliz que só vive do consumo de brinquedos e

comidas (normalmente guloseimas). PADILHA apud BRUNE, 2006, p.104)

Mesquita (2002) argumenta que quanto mais os mecanismos de comunicação e a

arte se desenvolvem, maior é o seu poder e controle sobre as ações individuais, que de forma

cada vez mais didática, vai disciplinando pessoas para o consumo de supérfluos e

descartáveis. Sabe-se que grupos de empresas beneficiam-se com a degeneração social tipo

empresas de segurança privada. A maioria do povo padece, mergulhados no mundo dos signos

mágicos, dos filmes e estrelas de Hollywood, dos shows mega e ultra fantásticos.

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Em suma, quanto mais solidifica-se a indústria cultural através de seus mecanismos de produção e difusão, maiores são o seu poder de controle e sua influência sobre os indivíduos; ao consumir os produtos desta cultura estamos, de forma consciente ou não, compactuando com o sistema produtivo. O shopping é o espaço planejado perfeito para a implantação da disciplina de consumo e da possibilidade de diversão. .”(MESQUITA, 2002, p.41).

A influência do capital sobre as decisões de compra dos indivíduos é um fato

indubitável. Apesar da grande variedade de produtos oferecidos no mercado, existem diversos

mecanismos de divulgação utilizados pelo capital como uma quantidade excessiva das

propagandas pelas marcas através da mídia. Além disso, acordos são feitos entre indústria e

distribuidores, limitando opções e a adesão de novas marcas pelos consumidores, com isso

tais produtos ficariam mais baratos, beneficiando o consumidor sendo que objetivo não é este

e sim gerar mais capital a qualquer custo inclusive à destruição do meio ambiente.

O capital em busca do lucro realiza inúmeros estudos para descobrir os gostos e

hábitos dos consumidores, que vão desde o som que certas embalagens emitem aos aromas e

sabores etc. A divulgação é feita através da internet, tv aberta nacional e internacional,

outdoors, cinema, etc. Especificamente as indústrias alimentícias se utilizam de propaganda

com artistas famosos, atletas, para aumentar as vendas. A todo o momento são alteradas as

fórmulas dos produtos sendo acrescidas substâncias químicas, que muitas vezes causam

câncer e outras deficiências orgânicas ao longo do tempo de consumo.

Na verdade, os profissionais da publicidade e do marketing procuram

descobrir os desejos mais inconscientes dos seres humanos, aquilo que é uma

necessidade no plano subjetivo, não no plano da objetivada de. Foi por esse

caminho que as agências de publicidade descobriram que é quase sempre

muito vantajoso estabelecer uma correlação entre desejo sexual e desejo de

compra. Então, os consumidores telespectadores se vêem cotidianamente

rodeados de corpos jovens, belos e nus, bem como de imagens apelativas do

ponto de vista erótico, o que acaba trazendo outra conseqüência social

importante:- a banalização do sexo, do amor e do corpo humano. E mais: a

publicidade alimenta a ideologia consumista que exalta o novo e o belo

enquanto nega o envelhecimento, processo natural da existência humana. E

isso de várias maneiras: tanto no terreno do corpo, que aparece sempre jovem

e saudável, como também na mensagem constante - implícito ou explicitado

"troque o seu velho por um novo''-. (PADILHA, 2006, p.108-109)

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São investidos milhões de reais na elaboração de novos produtos como, por exemplo,

o embelezamento das embalagens com estilo Hi-tech. O aspecto estético é primordial, cujo

designes e moldes são extraídos de filmes de ficção científica. São investidas somas incríveis

em campanhas publicitárias de forma a criar novas formas de subjetividades. Novas

necessidades surgem a cada momento. Fabricando também o público consumidor para cada

produto novo.

Os indivíduos consomem os produtos industriais que são propagandeados como

objetos exclusivos e de luxo acessíveis. Ao mesmo tempo as empresas disputam cada cliente,

que para elas não passam de fonte lucro. Os indivíduos são muitas vezes influenciados e

condicionados a produtos que muitas vezes são supérfluos, tornando-os depósitos temporários

de produtos “descartáveis”. Uma grande empresa possuem metas de vendas e os números

estatísticos deverão estar na data, lugar e hora certa em alguma sala de reunião de uma grande

multinacional. Ao reduzir humanos a números estatísticos transmuta-os em “objetos” e os

objetos tomam-lhes seu lugar tornado-se sujeitos.

Produtos cada vez mais artificiais são consumidos pela população local ou mundial,

explicitamente adicionados aditivos químicos cancerígenos desconhecidos geralmente pelos

consumidores. Sabores artificiais, essências similares ao natural, para mover uma sociedade

cada vez mais rápida em suas relações reais que requere uma alimentação equilibrada, natural

e nutritiva, saudável e não produtos manipulados artificialmente ou modificados

geneticamente.

A saúde está em crise na modernidade, a economia, a política e principalmente a

subjetividade. Não há controle efetivamente sério para contornar tal situação socialmente

degenerativa. Tal “degeneração” é um exemplo de como está o rumo de nossa sociedade que a

cada momento se generaliza, inclusive em direção a nossas bocas. Hoje pensar em Shopping

Centers não nos remete mais a um ambiente de exclusão como afirma a autora Valquíria

Padilha e sim a um lugar popular onde todas as classes se cruzam em passeios nos corredores.

O capital, com seu plano de reestruturação mais especificamente no Brasil, esta

procurando agora explorar as classes emergentes com renda em ascensão, investindo em

segmentos de classe que até então eram menosprezados. A nova classe média brasileira que

tanto os meios de comunicação divulgam. Padilha (2006) acredita que os Shopping Centers

são um lugar de exclusão social conforme segue o citação logo abaixo:

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Os shoppings centers são, então, símbolos de uma sociedade que valoriza o espetáculo do consumo de bens materiais e de lazer-mercadoria, de uma sociedade que oferece a uma pequena parcela da população o direito a esse consumo e a esse lazer, enquanto exclui a maioria dessa mesma população. Assim, esses centros comerciais configuram-se como espaços de lazer alienado, influenciando de forma decisiva a construção da identidade social de cada um, tanto dos que frequentam esses espaços como também dos que não os frequentam, mas que, enfeitiçados pela publicidade e pela "cultura de consumo", desejam freqüentá-Io. (PADILHA, 2006, p.178).

Ainda segundo Fontenelle (2002):

E como essas sociedades fizeram com que o Mcdonalds se adaptasse as suas culturas? Para os autores, enquanto nos Estados Unidos comida rápida implica, de fato, consumo rápido, este não é o caso em Beijing, Seul e taipei, localidades nas quais o Mcdonalds é tratado como centro de lazer, onde as pessoas podem se refazer do stress da vida urbana. Em Hong Kong, os restaurantes Mcdonalds são equivalentes a clubes de jovens, que levam aos estudantes, frequentemente, a ficar durante horas nas suas lanchonetes. (FONTENELLE, 2002, p.44)

Em momentos de crise o capital tenta se recuperar não podemos esquecer que a

conhecida nação mais poderosa do mundo em 2009 passou por mais uma profunda recessão

econômica. Falências de bancos privados, indústrias automobilísticas tradicionais como

General Motors e Chrysler em dificuldades financeiras, bilhões de dólares subsidiados pelo

governo federal norte-americano que até então pregava o não intervencionismo em negócios

de empresas privadas.

Empresas asiáticas vinculadas a negócios americanos e a todos os países afetados pela

crise mundial recorrem ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A nação mais “rica” e

“poderosa” do mundo entra novamente em crise, esta gerada pelo próprio processo

contraditório do sócio- metabolismo do capital, levando à ruína os diversos negócios em

países associados em uma reação em cadeia motivada pela globalização da economia.

Em meio a todo este conturbado processo, o capital precisa recuperar-se; para isso

necessita aumentar a velocidade da circulação das mercadorias através do consumo,

aquecendo cada vez mais a economia e a arrecadação de impostos. A velocidade da circulação

de mercadorias e conseqüentemente do consumo, faz com que a roda da economia gire

imunizando o setor financeiro de crises que por ventura possam acorrer.

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Atualmente existe uma migração de investimentos de capital sendo direcionada

principalmente para países emergentes como Brasil, China e Índia, ou seja, pela mão de obra

barata. A um aumento e facilitação dos governos para implantação das indústrias e empresas

estrangeiras a custos mais baixos, como a isenção de impostos tal qual o IPI, para o aumento

do consumo interno.

A mega rede de lojas de departamentos norte americana Wal-Mart é um bom exemplo.

Nos últimos, os mercados varejistas ou lojas de departamentos no Brasil têm obtido um

crescimento acima da média da economia. A Wall-Mart no Brasil está tendo um crescimento

significativo diferentemente de suas concorrentes norte americanos, que seguem uma

tendência continua de retração de lucros. Em países emergentes como o Brasil, o Wall-Mart

está conseguindo compensar as perdas, obtendo um crescimento acima da média do que em

seu país de origem.

Alves (2006) esclarece que a hipermodernidade motivada pela crise do capital, influi

nos afetos e nas relações sociais de forma negativa; a fluidificação de afetos e das relações

sociais torna-se cada vez mais desprendida no sentido de possessividade, mostrando de outra

maneira a lógica da descartabilidade de uma sociedade mediada por mercadorias, levando a

um consumo alienado e destrutivo minando com isso as formas de sociabilidade.

Ora o impacto desta “hipermodernidade”, ou da modernização exacerbada, em virtude da crise estrutural do capital sobre afetos e relações sociais é flagrante. Se, por um lado, a fluidificação de afetos e relações pessoais possui uma dimensão de positividade, pois significa ir além da possessividade própria do mundo das mercadorias, por outro representa a lógica da descartabilidade, intrínseca e esta mesma sociedade produtora de mercadorias, disseminando insegurança e medo e ampliando formas de despossesividade destrutiva que negam aos laços de sociabilidade (ALVES. 2006 p.36).

O modelo de Shopping Center que conhecemos hoje surge em tempos de crise

econômica mais especificamente nos Estados Unidos da América após a primeira guerra

mundial. Como todos nos sabemos, os EUA passaram pela crise de 1929 ou a grande

depressão econômica sofrida pelos EUA principalmente por falta de empregos, quebra da

bolsa de valores e inflação. Surge então o consumo de massa, os restaurantes de fast-food.

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Já se sabe que os anos 30 também foram marcados pela dramática experiência da quebra da bolsa de Nova York em 29 de outubro de 1929, levando ao período da grande depressão que assolou o mundo e surpreendeu a Segunda Guerra Mundial. Mas a América dos anos 30 tem muito mais coisa para contar. No tempo que emergia o consumo de massa, começava a se plasmar uma nova sociedade da qual somos hoje personagens. (FONTENELLE, 2002, p.49-59)

O consumo de massa surge em tempos que Henry Ford lança o modelo T,

disseminando o Drive in virando moda comer a bordo de um possante carro símbolo de poder

americano fazendo deslanchar restaurantes como Mcdonalds, É na década de 30 que o

consumo de massa começa a deslanchar, em uma época denominada revolução técnica

levando ao desenvolvimento da grande indústria, tendo como um dos principais objetivos do

governo desenvolver estes setores.

Essas românticas palavras de Ray Kroc definem bem o tempo e o lugar específicos em que nasceu o Mcdonalds: Uma época em que a produção em massa começava a aflorar a partir de Henry Ford e seu modelo T, e o cinema se industrializava. Foi na junção desses dois movimentos que surgiu o drive-in, efeito de uma era na qual o automóvel tornava-se o grande ícone americano, fazendo do negócio de atendimento a consumidores dentro dos carros um ramo promissor. (FONTENELLE, 2002, p.49)

A era de prosperidade nos EUA se deu com a produção em massa iniciada por Henry

Ford e seu modelo T, onde o automóvel deu inicio da todo processo e a criação do Drive-in e

Os Shopping Centers, o desenvolvimento da periferia e o crescimento da renda fizeram com

que surgissem estes novos serviços como a comida do tipo Fast Food nas zonas urbanas

periféricas dos EUA.

3.3 Trabalho e tempo livre sob o domínio do capital

Vivemos em época de crise econômica, um grande contingente de desempregados

seguido de um grande numero de demissões em massa. Os que vivem do trabalho sofrem com

a sobrecarga e a flexibilização do próprio trabalho unido à usurpação das horas extras que é

apropriada pelo capitalista.

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Segundo Navarro (2006) com o advento do modelo de produção capitalista houve

profundas transformações na estrutura produtiva de países desenvolvidos e em países com

industrialização tardia que passou a incorporar novas tecnologias como a microeletrônica,

informática, a robótica. Com isso houve um processo de reorganização das forças produtivas

e da classe trabalhadora, que se tornou cada vez mais flexibilizada, empobrecida e

fragmentada, motivada sobretudo pela crise do capital a partir da década de 70. (NAVARRO,

2006, p.51)

Na década de 80 a produção capitalista passa por um processo de reestruturação

baseada no neoliberalismo tendo como conseqüência imediata na classe trabalhadora, nas

organizações das empresas, na produção, sindicatos, indústria e na organização na gestão dos

gastos do governo.( Os modelos de produção que predominou no século XX mais

especificamente até a década de 70 foi o taylorismo e o fordismo que ao longo do tempo e a

experiência que as crises trouxeram, foi seguido pelo modelo taylorismo. (NAVARRO,

2006,p.52).

De forma sintética, podemos dizer que o taylorismo/fordismo é um modelo de regulação da produção e do processo de trabalho desenvolvido originalmente nos Estados Unidos que se propagou e se tornou predominante na grande indústria capitalista do século XX. Com esse modelo a fragmentação e a simplificação de tarefas, a separação entre concepção e execução, o controle rígido dos tempos e movimentos, a existência de grandes unidades fabris concentradas e verticalizadas, uma classe operária numerosa e em certa medida homogênea e a produção e o consumo em massa (NAVARRO, 2006, p.54).

A flexibilização do trabalho levou à precarização das relações do próprio trabalhador

com contratos da prestação do serviço que não garantem nenhum beneficio ao trabalhador, em

termos de garantias garantias fundamentais; outra consequência é a subcontratação, a

terceirização e do aumento da exploração do trabalho infantil. O prolongamento da jornada de

trabalho e a faltas de condições adequadas refletem, comprovadamente pela ciência, na saúde

do trabalhador: depressões, síndrome do pânico, estresse, hipertensão arterial, doenças

cardiovasculares e o alcoolismo (NAVARRO, 2006, p.56).

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A análise da equação trabalho/saúde/tempo livre nos dias atuais passa, pois, pela compreensão da lógica que rege a intensificação do trabalho na sociedade capitalista contemporânea. Lógica esta que desemprega, extingue empregos formais e cria toda sorte de trabalhos precária; lógica que produz tecnologias altamente sofisticadas que permitem aumento nos ganhos de produtividade, diminuição do tempo necessário para a produção e, ao mesmo tempo, amplia a jornada de trabalho e intensifica a utilização de horas extras em prejuízo da saúde e do tempo livre das pessoas (NAVARRO, 2006, p56).

O objetivo principal do sistema capitalista de produção é ampliar sua escala de

produção e do lucro. O grande exército de reserva incorpora-se a produção, pois o capital.

Com tudo para o capital o que realmente interessa é a usurpação do tempo de trabalho que não

é pago ao trabalhador, segundo o conceito elaborado por Marx que é a mais valia. As

contradições que o capital apresenta é o reflexo da cristalização do lucro com a extração da

mais valia e do fetiche da mercadoria, que são a causa primeira de toda a alienação.

A mais valia e a mercadoria são a condição e o produto da relações de dependência, alienação e antagonismo do operário e do capitalista, um em face do outro. A forma mercadoria cristaliza tanto o produto do trabalho necessária a produção do produto (não pago) e apropriado pelo capitalista no processo de compra e venda de força de trabalho. A mais valia e a mercadoria, pois não podem ser compreendidas em si, mas como produto das relações de produção que produzem o capitalismo. Na analise dialética, elas surgem como realmente são, isto é, como sistemas de ralações antagônicas. Nisto se funda o caráter essencial do regime: os seus componentes mais característicos, seja a mais valia e a mercadoria, seja o operário e o capitalista produz-se, desde o princípio, antagonicamente (IANNI, 1982, p.15)

Segundo Ianni (1982) Marx utilizava a análise dialética tornando transparentes as

relações, os processos e as estruturas capitalistas. Ela opera como uma técnica de

desmascaramento, pois exige a critica das idéias, conceitos ou representações, sob os quais as

pessoas, as classes sociais e as coisas aparecem na consciência e na ciência. Não seria

possível explicar a mercadoria como um sistema de relações (dos homens com a natureza e

entre si, na produção e reprodução de si mesmos) sem desvendar o seu “caráter místico”

depois de mostrar como o valor-de-uso esconde o valor-de-troca e ambos escondem o valor

do trabalho social cristalizado e alienado daí Marx se dedicara examinar o fetichismo isto é,

depois de ver a mercadoria, na perspectiva do seu produtor, o operário, ele se dedica a

examinar como a mercadoria é vista e apresentada pelo capitalista ou a sua ciência, a

Economia Política. Na consciência e na ciência burguesa, a mercadoria aparece como ela não

é, apresenta-se coisificada como se tivesse propriedades exclusivas, independentes.

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A análise da equação trabalho/saúde/tempo livre nos dias atuais passa, pois, pela compreensão da lógica que rege a intensificação do trabalho na sociedade capitalista contemporânea. Lógica esta que desemprega, extingue empregos formais e cria toda sorte de trabalhos precários; lógica que produz tecnologias altamente sofisticadas que permitem o aumento nos ganhos de produtividade, diminuição do tempo necessário para a produção e ao mesmo tempo, amplia a jornada de trabalho e intensifica a utilização de horas externas em prejuízo da saúde e do tempo livre das pessoas (NAVARRO, 2006, p.56).

Com o advento da indústria moderna mais especificamente na Inglaterra houve um

crescimento desmedido da jornada de trabalho, como também a implantação do trabalho com

crianças e mulheres que foram incorporadas à produção. Para o capital, o operário somente

serve como força de trabalho, tendo que se dedicar único e exclusivamente 24 horas do seu

tempo, usurpando desta classe atividade sociais ou humanas fundamentais como: a educação,

responsável pelo desenvolvimento intelectual e social do individuo, sociabilidade, falta de

tempo para usufruir de atividades de livre escolha, ou seja, usurpava-se e destruía não só a

mente do homem, mas seus corpos, pois não permitia a manutenção natural de sua energia

vital com o descanso regenerador de suas células, com isso encurtando o tempo de vida.

(NAVARRO, 2006, p-61)

Embates entre capital e a classe trabalhadora sempre existiram, os trabalhadores

lutavam pela redução da jornada de trabalhado e melhores condições e direitos e garantias.

Ainda no século XIX, houve a primeira regulamentação da lei referente a jornada de trabalho

(Lei Fabril de 1833), onde a jornada de trabalho estabelecida de 15 horas das 5h 30 minutos

as 20h e 30 minutos, onde adolescentes com faixas de idade entre os 13 aos 18 anos

(NAVARRO, 2006 apud MARX).

Navarro (2006) explica que Marx informou que na historia entre o capital e o trabalho

a luta pela regulamentação e a diminuição da jornada de trabalho foi resultado da guerra civil

que teve o estopim na Inglaterra seguidamente nos estados unidos. Foi nos EUA que se

definiu a jornada de trabalho para 8 horas diárias. Na Europa na cidade de Genebra também

ficou definida em 8 horas. (NAVARRO, 2006, p.62)

Neste embate entre o capital e a classe trabalhadora pela redução da jornada de

trabalho foi compensada em beneficio do capitalismo pela apropriação do tempo livre do

trabalhador, onde o capital estrategicamente direciona para o consumo de mercadorias.

(NAVARRO, 2006, p.64)

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A jornada de trabalho para 8 horas, o salário mínimo, o direito a férias e a aposentadoria, o seguro-desemprego, foram conquistados pelos trabalhadores e depois tiveram quer ser garantidos pela burguesia, a essa garantia chamou-se de Estado de Bem estar. A burguesia, porem, soube perfeitamente como transformar em ganho para si o que lhe aparecera inicialmente como uma perda, inventando o consumo de massa de produtos de baixa qualidade e descartáveis, inventando necessidades fictícias de consumo por meio da indústria da moda, controlando o tempo livre dos trabalhadores com a indústria cultural, a do esporte e a do turismo. Ela nada perdeu e muito ganhou, pois tornou invisível a dominação de classe e a exploração (NAVARRO, 2206 apud CHAUI, 1999:48: 49)

As transformações ocorridas no mundo do trabalho a partir da década de 80 trouxeram

graves conseqüências para a classe trabalhadora. E neste período que os índices de

desemprego e assustador, há um significativo aumento do subemprego motivado pela nova

postura política com o neoliberalismo com sua cartilha de reestruturação econômica com

destaque as privatizações. Com o projeto de reestruturação do capital as empresas passaram a

implantar novas tecnologias, otimizando a produção, reduzindo os custos na produção

conseguintemente oferecendo produtos com custos mais baixos e de melhor “qualidade.

(NAVARRO, 2006, p.65)

A evolução dos aparatos tecnológico, bem como as mudanças na gestão do trabalho,

resultaram em intensificação do ritmo de trabalho, no trabalho polivalente, no trabalho em

equipe e na expansão do trabalho subcontratado/terceirizado que acarretaram em um quadro

de precarização das condições e das relações de trabalho e aumento do desemprego, o que

representa um retrocesso.

São provas desse retrocesso as diferentes modalidades de trabalho terceirizado, o

recurso do trabalho em domicilio, a recorrência ao trabalho infantil e o prolongamento da

jornada de trabalho; Esse quadro complexo de mudanças compromete o “tempo livre” do

trabalhador , seja quando há uma extensão compulsória desde tempo por causa do

desemprego, seja por causa da intensificação do trabalho para aqueles que ainda permanecem

empregados. Para Ricardo Antunes é na necessidade do trabalho como mantenedor das

necessidades vitais que o homem interage com a natureza, mas o trabalho no sistema

capitalista torna-se alienado.(NAVARRO,2006, p.66)

Para o capital, o trabalhador ideal deve ser “polivalente”, “flexível”

(NAVARRO, 2006) como, por exemplo, levando trabalho para casa. Nesta lógica o idéia

disseminada é que, com a possibilidade do trabalhador levar o trabalho excedente para própria

casa, possibilita administrar melhor o tempo de forma como quiser.

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É ilusório pensar que este tipo de trabalho, como é apregoado, possibilita maior liberdade para o trabalhador. O que ocorre, em realidade, é um novo tipo de controle sobre o trabalho, mas a saúde dos trabalhadores quando não há separação entre espaço de trabalho e espaço de não trabalho, ou seja , quando invasão ainda maior do tempo de trabalho sobre o chamado “tempo livre”, que se torna cada vez mais poluído pelo tempo de trabalho e por sua racionalidade capitalista (NAVARRO, 2006, p.72).

Considerando que o trabalho está na base das relações humanas e é atividade que

determina e condiciona as nossas vidas e que é por meio do trabalho que nos relacionamos

com a natureza e com outros de nossa espécie, é necessário reafirmarmos sua centralidade

não apenas para compreender e explicar a sociedade, mas também para modificá - la

(NAVARRO, 2006, p. 72).

3.4 Subjetividade e alienação no contexto do sistema capitalista

A produção da riqueza nas sociedades capitalistas está sempre associada à

concentração de renda na mão de poucas pessoas, à pobreza em si, à exploração do trabalho,

da destruição do meio ambiente e às guerras. Neste contexto, as relações sociais passam ser

mediadas tendo os objetos materiais como um fator de sociabilidade e convertendo pessoas a

terem valores e identidades alienados.

Para o senso comum, a riqueza está sempre associada à satisfação das necessidades. É

através das necessidades humanas, que o capital manipula e instrumentaliza essas

características humanas e que, em sociedade, o capital a produz no sentido de nunca ter um

fim ou saciamento, canalizando as novas necessidades a serem “satisfeitas”, mesmo que

temporariamente, no repetitivo ato do consumo alienado, ou seja, na consumação da compra

da mercadoria pelo consumidor.

A objetividade foi introduzida no mundo e nas relações sociais pela modernidade. A

todo o momento, mais mercadorias são produzidas no sentido mais amplo do termo. Tudo

hoje pode ser mercantilizado como valor-de-troca, a vida social está sendo reificada. A

questão do consumo, no pensamento ocidental da modernidade, foi muito discutida pelos

filósofos como: Marx, Weber, Simmel, Lukács, Escola de Frankfurt, onde as relações sujeito-

objeto e a questão da subjetividade estão diretamente ligadas à produção da riqueza através da

mercadoria.

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Para que possamos realizar uma crítica sobre o cotidiano e o lazer nas sociedades

capitalistas, faz-se necessário a utilização de algumas categorias que são fundamentais para tal

estudo, portanto temos: a teoria da subjetividade, sob uma abordagem dialético-materialista, a

questão do estranhamento, do fetichismo e da reificação.

Segundo Alves (2006), a teoria da subjetividade considera o sujeito como possuidor de

plena autonomia. Esta autonomia seria formada a partir dos acontecimentos históricos

realizados nas sociedades capitalistas. Diante das contradições e fantasmagorias do capital, ela

é sabotada em favor do lucro e da destruição da consciência do trabalhador, na produção

material, este trabalhador torna-se uma peça qualquer na engrenagem das máquinas da

fábrica. Esse modelo de homem converte-se em uma ficção criada pela burguesia, ele é uma

promessa enganadora de emancipação, sufocada pelo capital. O próprio sistema é

contraditório, ele defende e ao mesmo tempo abandona as suas próprias idéias na luta pela

verdadeira e definitiva autonomia humana.

O sócio-metabolismo do capital, ampliado pela produção mercantil, interverteu a pessoa em indivíduo abstrato; separou o bourgeois da sociedade civil-burguesa do citoyen, singularidade política e membro do estado político como representação universal estranhada. O homem burguês é um homem estranhado. (ALVES apud KONDER. 2006 p.20).

Alves (2006)categoria da subjetividade é problemática dentro do contexto da crítica

marxista, motivada pela “crise ideológica” que este homem sofre nas sociedades capitalistas.

O homem é, e ao mesmo tempo não é. Ele afirma-se verdadeiramente como pressuposto

negado, com representação universal estranhada (ALVES, 2006, p.21). Dentro das condições

sócio-históricas do capital, a subjetividade do sujeito autônomo moderno tende a anular-se.

Na proporção que o capital se desenvolve seguido de sua produção de mercadorias, da

propriedade privada e da divisão do trabalho, a atividade vital do trabalhador, torna-se

atividade de morte, de desefetivação, na medida em que produz mais riqueza seu próprio ser

tenda anular-se, desumanizando-se. Esta realidade estranhada na produção da mercadoria e da

riqueza é a perda de si ou desefetivação, precarização da atividade vital deste mesmo homem,

que dentro da produção social e do processo de trabalho, torna-se trabalho estranhado. Nesta

lógica de estranhamento e contradições sócio-metabólica do capital, a subjetividade também

se torna alienada.

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Na ótica dialético-materialista é impossível abstrair subjetividade de objetividade social. Em síntese, não existe sujeito sem objeto social. O que se coloca, como destacamos, é a espectralidade ou quase impossibilidade desta mesma subjetividade na ordem do capital despir-se do processo de estranhamento, tendo em vista que no capitalismo “o produto do trabalho é trabalho que se fez objeto, se fez coisal” (Marx, 1985b, p.149). Ora, se o objeto se fez coisal, o sujeito se interverti noutra coisa. Nesta passagem do jovem Marx, vislumbramos elementos do conceito de fetichismo da mercadoria, ou seja, a subjetividade torna-se outra, é “subjetividade” (com aspas). Ela não desaparece propriamente, mas é afetada de negação, pois a mercadoria se põe diante do sujeito, que se torna, ou (tende a tornar-se) mero predicado. (ALVES, 2006, p.23).

A subjetividade dentro da lógica do capital aparece em sua forma alienada e

virtualizada. Nesta concepção ela é instrumentalizada no sistema metabólico do capital. A

subjetividade é manipulada e reproduzida para obtenção do lucro na compra da mercadoria. A

partir do momento em que o capital amplia os espaços da subjetividade e das formas de

subjetivação, a subjetividade é invertida pelas relações sociais do capital. A subjetividade

então passa a acompanhar a crise estrutural do capital, seria a crise da superprodução de

subjetividades. Fruto de suas próprias entranhas. Estaríamos entrando no auge do estagio de

barbárie, motivada pela demasiada produção das subjetividades humanas. Alves (2006) nos

ajuda a esclarecer esta problemática:

O ‘estado de barbárie’ tomou-se crônico, instituindo o sócio-metabolismo da barbárie. Dizem eles, no bojo da crise de 1848: ‘Subitamente, a sociedade vê-se reconduzida a um estado de barbárie momentânea, dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio cortaram-lhe todos os meios de subsistência. A indústria e o comércio parecem aniquilados. E por quê?’. Eis o ponto que queremos ressaltar dizem eles: ‘Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio’. (o grifo é nosso) (Marx e Engels, 1988: 24) E nós diremos: demasiada subjetividade - o que poderíamos denominar de subjetividade complexa, é expressão desta epidemia de superprodução, base fundamental da crise orgânica do capital. (ALVES, 2006, p.28).

Já quanto ao estranhamento, Luckács, em seu livro a Ontologia do ser social, elaborou

uma metafísica da subjetividade. Ele fez a distinção teórica entre a existência do homem e sua

consciência: O gênero humano em si, e o gênero humano para si, representam a aspiração por

uma “personalidade não mais particular”; o crescimento das forças produtivas provocaria

diretamente um crescimento da capacidade humana, mas ao mesmo tempo poderia eliminar

classes inteiras.

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Na perspectiva de Marx, o desenvolvimento das forças produtivas deveria acompanhar

o desenvolvimento das capacidades humanas. Para Luckács, o problema do estranhamento

está na condição de que, mesmo havendo o desenvolvimento das capacidades humano

intelectivas, não necessariamente produz-se o desenvolvimento da personalidade humana.

Nesta condição o homem, enquanto gênero humano em si, não consegue chegar ao

desenvolvimento do gênero humano para si.

Para Luckács, ao se desenvolver as capacidades singulares da personalidade humana,

surge a subjetividade complexa como subjetividade exagerada. O gênero em si não se

desenvolve no plano do ser social, fazendo com que haja uma tendência à reduzi-lo a sua

própria “particularidade” (ALVES, 2006, p.33).

A subjetividade complexa está mergulhada e contaminada na cultura do narcisismo,

havendo uma exaustão deste tipo de subjetividade. A subjetividade complexa dentro do

processo de estranhamento e reificação e presente nos sistemas de objetos e sistemas de ações,

dilaceram a personalidade e os valores humanos. Implantam um mal-estar moral nas

saciedades, influenciando os comportamentos humanos, na produção social, como também na

reprodução do consumo e do lazer.

A subjetividade complexa está coberta de contradições. E é a partir do século XX com

o deslanchar do mercado mundial nas sociedades urbano industriais, que ela é mais afetada. É

na metrópole que são produzidas os novos objetos técnicos, é também na metrópole que

ocorre a produção da objetividade e subjetividade pelo capital. (Alves, 2006, p.340). Esta

subjetividade produzida na metrópole é uma subjetividade imagética, onde é sempre

permeada por espetáculos em todos os campos, onde os mesmo objetos técnicos são

produzidos junto aos seus sistemas de ações que surgem na reprodução social. (ALVES, 2006,

p.34)

o fetiche está alucinado. Ele não é meramente uma coisa, mas se interverteu na própria subjetividade. Estamos diante de uma espectralidade regressiva, que é a base social. É apenas uma tendência irrealizada pelo capital, sob pena de negar a si mesmo (como o cálculo infinitesimal que tende a zero) (ALVES, 2006, p.34).

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O capital imprime sua marca particular no modo de subjetividade. Com o

desenvolvimento do capitalismo e sua financeirização, o trabalho e a vida social tornam-se

precarizados. A financeirização impulsiona a hipermodernidade (Alves, 2006)p-35. Esta

precarização influencia os afetos e relações sociais diversas: trabalho, laser, sentimentos. A

questão da compra de bens supérfluos é cada vez mais naturalizada, todas as demais

virtualidades criadas nos campos dos objetos e valores na sociedade é a principal fonte de

riqueza usurpada pela indústria cultural. (ALVES, 2006, p.35)

Na hipermodernidade ou modernidade exacerbada dentro do turbilhão das

contradições do capital, altera o sentido dos afetos e das relações sociais. Os sentimentos

humanos estão adentrando na lógica da descartabilidade. No que diz respeito ao lazer, ele

destaca-se na aceleração do tempo e da descartabilidade dos produtos culturais, que também

entram na mesma lógica da fluidificação da cultura e do lazer.

De Bauman a Lipovetsky, são muitas as mudança que atinge o tempo e o espaço do lazer capitalista. Suas principais características, de acordo com a estrutura sócio-metabólica do capital financeiro seriam: a privatização do espaço público e a descartabilidade de produtos e pessoas, resultando do que Mészáros (2002) vai indicar como sendo a taxa de utilização decrescente dos valores de uso no capitalismo e a produção generalizada do desperdício com implicação na estrutura espaço temporal da subjetividade das pessoas (ALVES, 2006, p.36-37).

A crise desmedida (ALVES, 2006) que é mencionada no Manifesto do partido

comunista por Marx e Engels, o sistema criado pela burguesia transformou-se muito

complexo e complicado de conter suas próprias riquezas. A sociedade possui um excesso de

civilização. É ai onde entra a contradição das sociedades do capital industrial, onde se

apresenta a subjetividade complexa. A luta de classe da modernidade é a luta pelas novas

formas de subjetivação; como afirmara Edgar Morin- “a mente é a segunda áfrica do Mundo”

(MORIN apud MESQUITA, 2002, p.12).

O problema da crise do capital está na crise da exarcebação da subjetividade que

destrói o imaginário ocidental. O capital consegue perverter a subjetividade com seus

irracionalismos culturais. Estamos diante da fetichezação e da reificação da subjetividade. E é

ai onde entra o lazer como um campo de inversão desta subjetividade.

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A metrópole é um espaço de produção da objetividade e subjetividade do capital. É

um espaço imagético. A subjetividade complexa é uma subjetividade imagética, pois é através

do espetáculo do trabalho e do lazer, proporcionado por novos objetos técnicos e sistemas de

ações, que ocorre a reprodução social das novas formas estranhadas. Tais novas e múltiplas

determinações.

3.5 Shopping center e a violência

Os Shopping Centers são conhecidos pela “segurança” e praticidade, questão vital para

um bom desempenho das vendas de mercadorias. Os Shopping Centers são bem providos de

câmeras de segurança, que são distribuídas geralmente desde os estacionamentos bem como

em seu interior; seguranças treinados circulam a todo instante com rádios transmissores, mas

não é suficiente para evitar crimes que vão desde pequenos furtos, assalto a bolsas e

mercadorias, joalherias, brigas familiares e assassinatos, etc. Observemos o comentário de um

entrevistado na cidade de Maceió ao perguntarmos sobre o item segurança: como ele

considera o Shopping Center?

Entrevistado:

- Não, não basta meia dúzia de seguranças, detector de metais e câmeras constantemente para evitar crimes.

Ele continua:

O que eu não gosto são pessoas tipo maloqueiros, os malas de boné,

assaltando no shopping. Um cara tentou roubar o celular de um menino dentro do

shopping. Outra coisa que não gosto é o estacionamento pago que não oferece segurança

suficiente.

A violência de modo geral é uma questão seria e que deve ser tratada com a devida

atenção na atualidade. A naturalização a violência está generalizada, pois é hoje fonte de lucro

de empresas de cinema, prestadora de serviços de segurança e equipamentos de modo geral.

Um dos fatores que tanto tem assombrado nossa rotina e que se insere desde realidade local

como também a nível global na contemporaneidade. Sabemos que a violência está presente no

caminhar humano desde sua origem no planeta. Ontem e hoje a violência foi utilizada das

mais variadas formas, seja como forma de sobrevivência, ascensão social e poder, ideais

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totalitários de regimes perversos com motivações geradas pelas diversas contradições dos

regimes capitalistas.

Questionamo-nos: Onde estão as causas para tantos casos da ação violenta em todos os

cantos onde existam relações entre pessoas? Seria a violência uma questão cultural ou traumas

que estão guardados em nossos subconscientes, prontos a serem aflorados em uma reação,

seja ela física, seja ela através da linguagem ou dos diversos tipos de culturas unidas a seus

valores? À medida que nossa ciência desenvolve em sentido ascendente, parece-nos também

que a barbárie segue paralelamente neste sentido e passa a “assombrar” mais violentamente as

sociedades humanas que, com o passar dos tempos e proporção de seu alcance, atinge nações

inteiras, como nos conflitos étnicos ou religiosos na Ásia.

A violência sempre existiu na humanidade, mas não se justifica nos dias atuais onde o

homem já alcançou o ápice do desenvolvimento técnico - científico, e seus mecanismos

sociais de regulação social, ou seja, suas instituições, como podem ser explicadas o aumento

do índice de violência localmente e globalmente? Não se trata mais de instinto de

sobrevivência, o mesmo evoluiu para instinto de destruição desmedida e sem um sentido, a

racionalidade instrumental perdeu sua essência no sentido de beneficiar o sujeito do

conhecimento como uma reação em cadeia de uma arma letal que saiu do controle de seus

criadores; parece que todos hoje podem ser a próxima vítima: os genocídios, atrocidades

contra negros e índios, pedofilia, escravidão em fazendas brasileiras em pleno século XXI,

injustiças de modo geral e, por fim, as grandes guerras com poder de destruição em massa.

O Brasil é um pais miscigenado, tendo sua base cultural e econômica nos moldes

liberais entra na fase de consumo hedonista exacerbado. A indústria nacional esta vibrando

com a nova classe média que a todos instante ascende da lama da miséria para mergulhar

agora no mundo da mercadoria, do fetichismo, do luxo, ou seria melhor dizer, do lixo que o

mundo do capital geralmente oferece. Na lógica capitalista pessoas não são mais valorizadas

por seu caráter, e valores e sim pela cifras que está em sua conta bancária, o aglomerado de

títulos e posições de classe associadas à quantificação de bens que se possui em sociedade.

Estamos então caminhando para uma sociedade onde a barbárie é o lema a ser seguido, assim

naturaliza-se a barbárie.

63

Page 64: TCC-atual 2.docx

em suma, no Brasil e no mundo, o projeto civilizatório da modernidade entrou em colapso. Não se trata de uma transgressão na prática de princípios aceitos em teoria, pois nesse caso não haveria crise de civilização. Trata-se de uma rejeição dos próprios princípios, de uma recusa dos valores civilizatórios proposto pela modernidade. Como a civilização que tínhamos perdeu sua vigência e como nenhum outro projeto de civilização aponta no horizonte, estamos vivendo, literalmente, num vácuo civilizatório. Há um nome para isso: barbárie. Pois o bárbaro, sem nenhum juízo de valor, no sentido mais neutro e mais rigoroso, é aquele que vive fora da civilização. .(ROUANET, 1998, p.09).

Falar em barbárie nos dias atuais não assusta mais (e será que algum dia assustou?) já

está implantada no cotidiano, naturalizada já é um fato que virou rotina que da lucro

principalmente para empresas de segurança, cinema, televisiva de modo geral. É lançada nas

massas filmes de guerra, observamos as mídias em geral com programações que

supervalorizam a violência como se fosse um espetáculo digno de muita audiência. O perigo

está na falta de consciência cidadã, apatia política, na falsa sensação de não pertencimento ao

todo. Deve-se dar um basta na projeção da felicidade fictícia e idealizada no objeto de

consumo a mercadoria, passando a construir um projeto de emancipação humana total despida

de interesse de classes. Algumas partes do todo se emancipando, o todo tende padecer é uma

fórmula simples e obvia a exploração.

64

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4 SHOPPING CENTER EM MACEIÓ

4.1 Características da indústria de shopping center na cidade de Maceió Alagoas

A cidade de Maceió sempre esteve em último lugar no contexto do desenvolvimento

socioeconômico. Atualmente, a capital alagoana está recebendo empresas que estão se

instalando de forma concentrada no Tabuleiro dos Martins, onde o desenvolvimento

urbano está em ritmo acelerado. O desenvolvimento de regiões periféricas antes

desvalorizadas segue uma tendência nacional de expansão urbana, motivada pelo aumento

do número investimentos por parte do Governo Federal, que visa suprir o déficit da casa

própria com o Programa “Minha Casa, Minha Vida”, iniciativa esta destinadas para

indivíduos de baixa renda alavancando alavancando a expansão do setor da construção

civil, comércio e serviços.

O crescimento de bairros de bairro de classe massivamente assalariada não é o

fenômeno isolado no Brasil e Maceió, tal acontecimento é similar no âmbito da expansão

suburbana, mas que se diferencia no contexto histórico por que nos EUA este fenômeno

ocorreu no após a segunda grande guerra.

A economia Norte Americana no pós - guerra se fortaleceu novamente. A produção de

bens e serviços destinados as massas estavam em um ritmo acelerado; automóveis, casas e

lojas prestadoras de serviços observavam a expansão de áreas suburbanas como

oportunidade de altos lucros. Entre 1947 e 1951 um novo bairro surgiu de forma rápida,

foram construídas 17.447 novas casas no bairro de Levittown, Nova York

conseqüentemente tornando-se um novo espaço de oportunidades de negócios.

Até a década de 50 o progresso americano é notório levando ao um novo modo de

viver, consumir se relacionar com o mundo do trabalho e da sociedade de modo geral. A

sociedade começa a se voltar para o consumo hedonista, para o consumo de massa. A

sociedade do Times Money se consolida, e o lazer passa a ser também produzido larga

escala com os filmes de indústria do cinema.

65

Page 66: TCC-atual 2.docx

[...] É certo que os anos 50 foram do crescimento americano e do desenvolvimento de uma sociedade afluente, orientada casa vez mais para o consumo. A produção em massa, não mais apenas na grande indústria, mas também nos serviços e no lazer, fez dos Estados Unidos um modelo de sociabilidade industrial capitalista para o resto do mundo nessa nova era de prosperidade. Começara a haver de fato, a realização de um sonho americano, com o acesso, em massa, a bens de consumo: casa, carro, rádio, geladeira e demais eletrodomésticos, culminando com a chegada da televisão comercial, que provocou uma revolução nos costumes e nos valores. (FONTENELLE, 2002, p.107)

A nova classe média brasileira não é a mesma que a America da década de 50, mas

existe um indicativo econômico no Brasil que esta nova classe recentemente emergente,

aponta em direção do alto padrão de consumo de massa batendo recordes de consumo em

vários seguimentos do comércio aumentando o consumo interno, gerando receito aumentando

a produção da indústria nacional e serviços, como no caso do numero de domicílios com

computadores e acesso a internet.

E foi, de fato, na América, que a nova classe média emergiu mais cedo e teve seus contornos mais bem definidos. Por isso, foi o entendimento desse “tipo americano” – seu modo de vida, suas aspirações e seus valores – que permitiu uma melhor compreensão de para onde caminhava a sociedade moderna na passagem da sociedade de produção para a de consumo. Mesmo que Mills tenha focado sua análise no contexto da sociedade americana, ele deixou claro que o surgimento dessa nova classe se daria em todos os lugares marcados pela modernização: pela revolução industrial, pela padronização das inovações técnicas, pelo nivelamento da vida urbana e pelo acesso aos meios de comunicação de massa. (FONTENELLE, 2002, p.109)

A expansão dos subúrbios de Maceió segue em ritmo acelerado, Várias empresas do

comércio varejista chegaram a capital alagoana instalando-se na área do Tabuleiro dos

Martins; dentre as empresas estão, Wal-Mart, G Barbosa, Pão de Açúcar, Carajás, Tupan e

Pátio Maceió, Distac e etc. Para se ter uma idéia da rentabilidade da implantação do Shopping

Center Pátio Maceió circulam em média em um fim de semana 25 mil pessoas, no mês

circulam aproximadamente 500 mil pessoas, alavancando também a super valorização de

imóveis e terrenos da região. Para de ter uma idéia o m2 custava em média R$ 40 reais, hoje

após a construção do novo S.C m2 está custando R$ 350 reais.

66

Page 67: TCC-atual 2.docx

O primeiro shopping Center na capital Maceió foi o Iguatemi (Atual Maceió

Shopping), construído em abril de 1989. O Maceió Shopping fica localizado em área nobre da

capital alagoana, mais especificamente no bairro da Jatiúca. Existem mais dois Shoppings

Centers de pequeno porte ao longo da Avenida Fernandes Lima no bairro do Farol que são o

Shopping Cidade e o Shopping Farol, cujo tamanho é similar às chamadas galerias, por ser de

menor tamanho, quantidade de lojas e serviços.

O Shopping Pátio Maceió foi inaugurado em 25 de novembro de 2009 um

empreendimento de grande porte com área locável de 33.788,32 m² mais especificamente

Maceió localizado Av. Menino Marcelo – Tabuleiro dos Martins zona Leste da capital com

investimento de R$ 114 milhões de reais. O Pátio Maceió possui em seu mall a Faculdade

Pitágoras com capacidade para 5 mil alunos com sede em São Paulo; possui também 22 lojas,

dentre as quais; Marisa, Riachuelo, Ricardo Eletro, C&A, Casa Vieira, Centauro e Magic

Games; Hi-Happy, Canal Jens, Vivara, Polishop, Opção, Aby's e M. Officer; Cinco salas de

cinema stadium da CenterPlex (3D). A região do Tabuleiro dos Martins é uma das mais

populosas da capital. Somente o bairro do Benedito Bentes possui cerca de 200 mil habitantes

e a previsão é para 600 mil consumidores em toda região.

O shopping Pátio Maceió concorre diretamente com o Maceió Shopping, antigo

Iguatemi, cujo último a marca atualmente foi substituída por ser franquia do Grupo Iguatemi

S.A. O Maceió Shopping presta serviços equivalentes ao da rede Pátio Maceió, cuja diferença

é o publico, o primeiro serve para camadas sociais majoritariamente assalariadas; o segundo

presta serviços paras as classe assalariadas e ricas. O Maceió Shopping está localizado no

bairro nobre Jatiúca. O Pátio Maceió foi criado para atender a demanda das populações dos

bairros de periferia como Benedito Bentes I e II, Graciliano Ramos, Salvador Lyra e demais

áreas na região que a cada ano cresce em ritmo acelerado.

Ainda este ano serão construídos mais 5 grandes lojas de varejo pertencentes à rede

Wal-Mart chamadas de Maxxi nestas mesmas imediações. Logo após a instalação do segundo

maior shopping na capital alagoana, houve uma intensa valorização da área. O Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostra a taxa de crescimento anual de

Maceió está entorno de 2,7% sendo maior do que em outras capitais, e o comércio varejista

registrado está em 19,2%.

67

Page 68: TCC-atual 2.docx

O Shopping Center Pátio Maceió foi construído pela gestora de fundos imobiliários

Prosperitas. Esta mesma financiadora administra US$ 2 bilhões em ativos administrativos,

realizou a construção a construção do Shopping Pátio Maceió e mais outros três shoppings:

um no Rio Branco (AC), Outro em Guadalupe (RJ), e o terceiro em Campinas (SP). O

Shopping Pátio Maceió está diretamente ligado ao grupo Iguatemi. Construído em uma área

de 120 mil m², gerou cerca de três mil novos empregos diretos e indiretos. A praça de

alimentação possui dois restaurantes e 18 lojas de fast-food instaladas. No piso superior, um

centro médico, lazer infantil e salas de cinema com som e imagem digitais, incluindo uma

novidade 3D, possuindo vagas estacionamento para 1500 veículos.

Além dos dois maiores Shoppings de Maceió, empresários confirmam a construção de

mais um empreendimento deste porte. Executivos da Multiplan acompanham o andamento

das instalações do novo Shopping Center em Maceió. Foram realizadas reuniões na Secretaria

de Desenvolvimento Econômico. A expectativa é que sejam gerados mais de 3000 empregos

diretos. Segundo o diretor de Desenvolvimento Imobiliário da Multiplan, Flávio Gulden, este

é um projeto de conceito multiuso que vai ocupar uma área de 200 mil m2 no bairro

Mangabeiras, onde será instalado não só o shopping, mas outros empreendimentos, como

edifícios residenciais, comerciais e hotéis. Os empreendimentos se completamentam e geram

um efeito dinâmico entre comércio e serviços. O shopping terá Área Bruta Locável (ABL) de

30 mil metros, cerca de 200 lojas, incluindo âncoras e extensa área de lazer com cinemas de

última geração, recreação para toda a família e praça de alimentação completa.

O Shopping Center é um empreendimento mutante no sentido que ele se adapta as

condições econômicas, culturais onde estão sendo implantados, cada empresa é destinada a

classes sociais específicas. A classe trabalhadora recebeu então o Shopping Pátio Maceió,

oferecendo-lhes produtos baseados no seu poder de compra. Podemos observar no gráfico

logo abaixo o perfil dos usuários que freqüentam os Shopping Center na cidade de Maceió.

68

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Gráfico 5: Renda

33%

33%

33% Um salárioDois salários mínimosTrês salários mínimosQuatro salários mínimosCinco salários mínimosMais de cinco salários mín-imos

Fonte: Questionário elaborado pelo autor

Podemos observar que 34% dos entrevistados afirmaram possuir renda de um salário

mínimo, 33% de dois salários mínimos e outros 33% afirmaram possuir renda de cinco

salários mínimos. Neste sentido concluímos que os freqüentadores são em sua grande maioria

de assalariados, ou seja, membros da classe trabalhadora, da classe média baixa e média.Na

região do Tabuleiro dos Martins está concentrado um grande contingente populacional pelo

qual foram extraídos os seguintes dados logo abaixo.

Gráfico 6: Bairro onde Mora

33%

17%17%

17%

17%

CentroBenedito BentesJoão SampaioSalvador LyraJatiúca

Fonte: Questionário elaborado pelo autor

69

Page 70: TCC-atual 2.docx

O gráfico acima refere-se ao local de moradia dos entrevistados que em sua grande

maioria reside bairro de periferia de Maceió-Al. Dentre os entrevistados 33% residem no

centro, 16% no bairro do Benedito Bentes, 17% no João Sampaio, 17% no Salvador Lyra e

outros 17% residem em área nobre que é o bairro da Jatiúca.

Gráfico 7: Escolaridade

17%

33%

17%

33%

Curso superior completoCurso superior incompletoEnsino fundamental incompletoEnsino médio completo

Fonte: Questionário elaborado pelo autor

No que diz respeito a escolaridade os entrevistados 17% afirmaram possuir superior

completo, 33% superior incompleto, 17% o fundamental incompleto e 33% possuem o ensino

médio completo.

Gráfico 8: Profissão

17%

17%

17%17%

17%

17%

Promotor de vendasPolicialVendedor de calçadosMúsicoPensionista do inssSegurança1

Fonte: Questionário elaborado pelo autor

70

Page 71: TCC-atual 2.docx

O gráfico logo acima mostra que 16% dos entrevistados trabalham como promotor de

vendas, 16% são policiais, 17% vendedor de calçados, 17% são músicos, 17% são

pensionistas do INSS e 17% trabalham como segurança.

Nas grades capitais do litoral brasileiro, como também nas cidades do interior, o

Shopping Center também é um fenômeno de sucesso como opção de lazer, seu concorrente

direto é a praia, pelo menos na cidade de alagoas é um fato, conforme mostra o gráfico a

seguir.

Gráfico 9: Tempo Livre

33%

17%

33%

17%

Praiaviajarshopping CenterVisitar amigos

Fonte: Questionário elaborado pelo autor

No gráfico supracitado mostra que em momentos de tempo livre 33% afirmaram que

vão a praia, 17% gostam de viajar, 33% vão ao shopping Center e por último 17% afirmaram

que gostam de visitar amigos.

Gráfico 10: O que acham das Praças Públicas

33%

33%

33%SujasAbandonada por parte do poder públicoMuitos sem teto

Fonte: Questionário elaborado pelo autor71

Page 72: TCC-atual 2.docx

O gráfico acima mostra que 34% dos entrevistados consideram as praças sujas, 33%

abandonadas pelo poder público e outros 33% que vivem muitos sem teto no local.

Segundo Padilha (2006) o lazer passa a ser reificado dentro do ambiente de um

Shopping Center onde se efetiva a lógica capitalista com a sua subordinação. Ainda segundo a

autora a subordinação do lazer ao capital é a forma de mercantilizar a diversão, que é

divulgada pelos diversos meios de comunicação. O lazer-mercadoria podem ser bens materiais

ou simbólicos como produtos industriais, jogos eletrônicos, alimentação, cinema que estão no

mall planejado dos Shopping Centers.(PADILHA, 2006, p.130)

Neste sentido podemos observar que o lazer-mercadoria é um produto do capital que a

cada dia cresce em todo mundo o simples ato de comprar torna-se uma atividade de lazer, ou

seja, comprar significa fugir dos problemas do cotidiano, não frustrar-se. O lazar-mercadoria é

uma recompensa oportunista que o capital oferece por não existir mais lugares públicos de

lazer saudáveis gratuitos, limpos e sem criminosos atuando como ponto de negócios ilícitos.

O gráfico a seguir mostra como está consolidada a idéia de que um lugar comercial

tornou-se no imaginário da população um lugar de lazer tradicional nas cidades.

Gráfico 11: Shopping Center lugar de Lazer ou de Compras

67%

33%

LazerLazer e compras

Fonte: Questionário elaborado pelo autor

72

Page 73: TCC-atual 2.docx

O gráfico nos mostra que os 67% dos entrevistados consideram o Shopping Center

como um lugar de lazer, e 33% consideram que o Shopping é um lugar de lazer e de compras.

A violência não está do lado de fora dos Shopping Centers onde é um fato comum em

todo o pais, ocorrem com freqüência assaltos, assassinatos, discussões familiares etc. No dia

da inauguração do Shopping Pátio Maceió houve um crime pelo qual a bolsa da promotora

Marluce Falcão foi roubada em plena praça de alimentação. Observe-mos o discurso da

promotora após o ocorrido e logo após o gráfico que mostra as opiniões dos entrevistados:

- "Eu estava com a bolsa no colo e acho que em um descuido ela caiu. O meliante passou e

levou. Não tinha muito dinheiro. Eu já fiz o bloqueio dos cartões, do chip e agora quero ter

acesso às imagens que o shopping disse que tem para ver se identificamos o autor"- disse a

promotora.

Gráfico 12: Você considera o Shopping um lugar seguro ou existem crimes?

50%50%SeguroTem crimes

Fonte: Questionário elaborado pelo autor

73

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Ao perguntamos se o Shopping Center é um lugar seguro 50% afirmam que existem

crimes dentro do shopping e outros 50% acreditam que o Shopping Center é um lugar seguro

para se freqüentar. A região do Tabuleiro dos Martins é o centro das atenções motivado pelo

lançamento do programa do Governo Federal Minha Casa, Minha Vida que pode chegar em

torno de R$ 160 milhões, e a construção do segundo Shopping já mencionado anteriormente.

Segundo os gestores a situação ainda ira melhorar quando forem construídas pela prefeitura de

Maceió as duas novas pistas ligando a região à AL101 Norte, ao litoral. Serão duas uma: que

vai do bairro Serraria e a outra no Benedito Bentes. Todo este investimento atrai outros

pequenos negócios como escolas, farmácias, novos supermercados, hospitais e clínicas.

74

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5 CONCLUSÃO

Constatou-se na presente pesquisa, a ausência por parte do poder públicos como

programas de incentivo a cultura e ao lazer na cidade de Maceió Alagoas. O lazer vem ao

longo do tempo sendo apropriado por empresas oportunistas como as do tipo Shopping

Center onde torna mais um tipo de mercadoria consumida. O consumo passa também a ser

uma atividade de lazer na modernidade.

O shopping Center na atualidade deixa de ser um ícone exclusivo de consumidores de

elevado padrão aquisitivo, tornando-se também um lugar popular, freqüentado cada vez

mais por camadas sociais de menor poder aquisitivo. O Shopping Sentir segue a tendência

pela modificação do perfil dos consumidores, mas não deixa suas características de

explorador de mão de obra, como também a apropriação do lazer que é pago sendo um

prolongamento no nosso entendimento da jornada de trabalho realizando uma exploração

dupla da classe que vive do trabalho.

No Shopping Center a subjetividade humana se reproduz como símbolo de integração e

ascensão social, por outro lado observamos às contradições das políticas sociais unidas as

contradições do sociometabolismo capitalista impedindo que o lazer se firme como direito

universal em benefício aos menos favorecidos.

Sendo assim faz-se necessário nossos gestores públicos cumpra com seu dever

garantido a aplicabilidade dos recursos públicos de forma consciente e precisa, pois o

emprego dos mesmos de forma errônea causa danos irreparáveis às populações que os

colocaram no poder lhes dando a oportunidade de melhorar o bem-estar e a qualidade de

vida de todos.

75

Page 76: TCC-atual 2.docx

Referências :

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<http://www.ojornalweb.com/2010/04/07/funcionarios-da-casa-vieira-sao-presos-tentando-furtar-produtos/>. Acesso em: 10 abr.2010

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HAGUETTE, Tereza Maria Frota. Metodologia qualitativa na sociologia. Petrópolis: Vozes,

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MARX, Karl. (1982). "Fundamentos da história". In: Karl Marx: Sociologia. Octávio Ianni (org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo, Ática.

76

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MARX, K. e ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo: Centauro, 2002.

Melo, Dulce. Bolsa de promotora, furtada em shopping, foi deixada na OAM. Disponível em: <http://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=190296>. Acesso em: 11 nov. 2010

MESQUITA, Dilma. Shopping center; a cultura sob controle. Rio de Janeiro: Editora

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MÉZAROS, Istiván. Para Além do capital. Rumo à teoria da transição, Editora da

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MONTEIRO. Patrycia. Expansão imobiliária de Maceió chega ao Tabuleiro do Martins.Disponível em: <http://www.ojornalweb.com/2009/11/29/expansao-imobiliaria-de-maceio-chega-ao-tabuleiro-do-martins/>. Acesso em: 29 nov. 2009

NAVARRO, V. L. . Trabalho, saúde e tempo livre sob os domínios do capital. In: PADILHA,

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PADILHA, Valquíria.; Shopping center a catedral das mercadorias. São Paulo: Editora

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ZAMPIERI, Aline Cury. Fundo imobiliário investe em centro de logística. Disponível em: <http://economia.ig.com.br/mercados/capitais/fundo+imobiliario+investe+em+centro+de+logistica/n1237669388035.html>. Acesso em: 17 jun. 2010

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77

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ANEXO – I

Data: 25 de novembro de 2009

Fotos dos Shoppings Center Pátio MaceióFigura 1 – Praça de Alimentação

Fonte: Acervo próprio

Data: 25 de Janeiro de 2010

Figura 2 – Loja de Games Shopping Sul– Valparaíso – GO

Fonte: Acervo próprio

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Data: 25 de novembro de 2009

Figura 3- Praça de Alimentação Pátio Maceió

Fonte: Acervo próprio

25 de novembro de 2009Figura 4 –Cartaz do Cinema 3 dimensões Pátio Maceió

Fonte: Acervo próprio

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Data: 25 de novembro de 2009

Figura 5 –Cinema do Maceió Shopping

Fonte: Acervo próprio

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ANEXO II

QUESTIONÁRIOS

1. ENTREVISTA AO FREQUENTADORES DO SHOPPING CENTER

01.Nome: Solange Valentim

02.Idade: 37

03. Sexo: Feminino

04. Escolaridade: Fundamental incompleto

05.bairro. centro

06.profissão.pensionista do Inss

07. Renda Familiar

A.( ) meio salário mínimo

B.(x) um salário mínimo

C.() de um a um e meio

D.() dois salários mínimos

E. ()três salários mínimos

F.() quatro salários mínimos

G.() cinco salários mínimos

H.() de cinco a vinte salários mínimos

8. Em momentos de tempo livre quais os lugares que você gosta de visitar ou freqüentar em Maceió?

R=Eu gosto de ir à praia,

9. Diga Um ou mais lugar para fazer compras?

R=Geralmente vou ao Bompreço no mercado da produção, feiras.

10. Ao falar em lazer qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R=Praia e Sesc Guaxuma.

11. Ao falar a palavra comprar qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R=Praia, Centro com convenções, artesanato.

12. O que você acha dos parques ou praças de Maceió?

R= falta de governo.abandonada

13. Ao falar a palavra shopping Center qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R=Um lugar de fazer compras, passeio e lazer.

14. Você gosta de shopping Center? Se sim por quê? Se não por quê?

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R=Sim, mas quase tudo lá é muito caro.

15. Quais as lojas que você freqüenta no shopping?

R=No Vídeo Game com minhas filhas e lanchonete.

16. Você gosta de fazer compras no centro ou no Shopping?

R=Somente gosto de comprar no shopping quando tem promoções

17. Quantas vezes você freqüenta o shopping no ano?

R=Duas vezes por ano

18.Como você se sente ao ir ao ambiente do shopping?

R= Sim, me sinto a vontade

19. Você freqüenta praças públicas em momentos de tempo livre?

R= Não, sempre estão sujas e com cheira-cola, bandidos e sem luz

20. No item segurança como você considera o shopping Center?

R= Eu acho seguro, tem muitos seguranças, mas já roubaram a coisas dentro da bolsa de uma amiga na fila da C&A, depois um segurança achou dentro do banheiro os documentos.assalto

21. Qual o meio de transporte que você utiliza para ir ao shopping center?

R=Ônibus

22. Qual seu maior sonho?

R= Reformar toda minha casa e comprar móveis novos.

23. Para você o shopping Center é um lugar de lazer ou e compras?

R= Os dois, vou mais para passear, mas compro também

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2. QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA REALIZADO COM FREQUENTADORES DE SHOPPING CENTER.

01. Nome: Moises Valmir

02. Sexo: Masculino

03. Escolaridade: Ensino médio completo

04.Bairro: centro

05. Profissão: segurança

06. Renda Familiar

A.( ) meio salário mínimo

B.(x) um salário mínimo

D. ( ) dois salários mínimos

E. ( ) três salários mínimos

F. ( ) quatro salários mínimos

G.( )cinco salários mínimos

H.( )de cinco a vinte salários mínimos

07. Em momentos de tempo livre (férias e folga)quais os lugares que você gosta de visitar ou freqüentar em Maceió?

R=Eu gosto de ir a praia

08. Diga Um ou mais lugar para fazer compras?

R= Bompreço

09. Ao falar em lazer qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Cinema, mas não vou ao do Shopping Maceió

10. Ao falar a palavra comprar qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Centro de Maceió lá tem tudo, Alem de ser mais barato.

11. O que você acha dos parques ou praças de Maceió?

R=Uma bagunça, cheia de cheira cola e moradores de rua morador

12. Ao falar a palavra shopping Center qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R=E um lugar de se divertir e fazer compras,

13. Você gosta de shopping Center? Se sim por quê? Se não por quê?

R=Sim, porque e um lugar onde tem tudo também e sempre me encontros com amigos.

14. Quais as lojas que você freqüenta no shopping?

R= praça de alimentação

15. Você gosta de fazer compras no centro ou no Shopping?

R= Nas Lojas Americanas

16. Quantas vezes você freqüenta o shopping em um ano?

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R= Umas três vezes por mês.

17. Como você se sente ao ir ao ambiente do shopping?

R= Sim, mais tem muita gente metida filhinho de papai.

18. Você freqüenta praças públicas em momentos de tempo livre?

R= Não, as praças estão sempre abandonadas e sujas

19. No item segurança como você considera o shopping center?

R= Acho muito seguro. Tem muitos seguranças

20. Qual o meio de transporte que você utiliza para ir ao shopping Center?

R=Ônibus

21. Qual seu maior sonho?

R= Me formar e ter minha casa e um carro

22.Para você o shopping Center é um lugar de lazer ou e compras?

R= Para mim ele e os dois você tanto pode fazer compras e se divertir

3. QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA REALIZADO COM FREQUENTADORES DE SHOPPING CENTER.

01.Nome: Thiago Matheus

02. Sexo: Masculino

03. Escolaridade: Superior Incompleto

04. Bairro: Jatiúca

05.Profissão: Músico

06. Renda Familiar

A.() meio salário mínimo

B.() um salário mínimo

C.() de um a um e meio

d.() dois salários mínimos

E. ( )três salários mínimos

F.( ) quatro salários mínimos

G.( x )cinco salários mínimos

H.( )de cinco a vinte salários mínimos

07. Em momentos de tempo livre (férias e folga)quais os lugares que você gosta de visitar ou freqüentar em Maceió?

R= Viajar

08. Diga Um ou mais lugar para fazer compras?

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R= Bompreço

09. Ao falar em lazer qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Orla, praias, shoppings

10. Ao falar a palavra comprar qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R=

11. O que você acha dos parques ou praças de Maceió?

R= Estão abandonados e muito sujos abandonadas

12. Ao falar a palavra shopping Center qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Lazer

13. Você gosta de shopping Center? Se sim, por quê? se não, por quê?

R= O que mais gosto é a variedade de coisas, o conforto, comodidade para as pessoas que tem crianças, a praça de alimentação e as lojas que vendem produtos tecnológicos. O que eu não gosto são pessoas tipo maloqueiros, os malas de boné, assaltando no shopping. Um cara tentou roubar o celular de um menino dentro do shopping Iguatemi. Outra coisa que não gosto é o estacionamento pago que não oferece segurança suficiente.

14. Quais as lojas que você freqüenta no shopping?

R= As da praça de alimentação, eletrônicos, C&A

15. Você gosta de fazer compras no centro ou no Shopping?

R= Eu Gosto mais de ir ao shopping, apesar de que no centro tem produtos mais baratos.

16. Quantas vezes você freqüenta o shopping no ano?

R= três vezes por mês

17.Como você se senti ao ir ao ambiente do shopping?

R= depende de vários fatores, não gosto de ir quando está lotado.

18. Você freqüenta praças públicas em momentos de tempo livre?

R= Não somente transito por ela quando vou ao trabalho. É a casa dos mendigos

19. No item segurança como você considera o shopping Center?

R= Não, não basta meia dúzia de seguranças, detector de metais e câmeras constantemente para evitar crimes.

20. Qual o meio de transporte que você utiliza para ir ao shopping Center?

R= meu carro

21. Qual seu maior sonho?

R= ser um super, mega, empresário e ao mesmo tempo desembargador federal.

22.Para você o shopping Center é um lugar de lazer ou e compras?

R= Ambos.

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4. QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA REALIZADO COM FREQUENTADORES DE SHOPPING CENTER

01. Nome: Ricardo Lima

02. Sexo: Masculino

03. Escolaridade: Ensino Médio completo

04.Bairro: Benedito Bentes

05. Profissão: Vendedor

06. Renda Familiar

A.( ) meio salário mínimo

B.( ) um salário mínimo

d. ( x) dois salários mínimos

E. ( ) três salários mínimos

F. ( ) quatro salários mínimos

G.( )cinco salários mínimos

H.( )de cinco a vinte salários mínimos

07. Em momentos de tempo livre (férias e folga)quais os lugares que você gosta de visitar ou freqüentar em Maceió?

R= Shopping

08. Fale um ou mais lugares para fazer compras?

R= Mercado, Shopping, Bompreço

09. Ao falar em lazer qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Praia

10. Ao falar a palavra comprar qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Bompreço

11. O que você acha dos parques ou praças de Maceió?

R= muito sujas.

12. Ao falar a palavra shopping Center qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= passeio.

13. Você gosta de shopping Center? Se sim por quê? Se não por quê?

R= Sim, por que lá tem de tudo e tem muitas promoções.

14. Quais as lojas que você freqüenta no shopping?

R= Riachuelo, C&A, Casa Vieira

15. Você gosta de fazer compras no centro ou no Shopping?

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R= Nos dois, tem as mesmas coisas.

16. Quantas vezes você freqüenta o shopping em um ano?

R= sempre vou no fim de semana, umas 4 vezes por ai

17. Como você se sente ao ir ao ambiente do shopping?

R= Me sinto bem

18. Você freqüenta praças públicas em momentos de tempo livre?

R= Não so de passagem

19. No item segurança como você considera o shopping center?

R= Muito seguro

20. Qual o meio de transporte que você utiliza para ir ao shopping Center?

R= Ônibus

21. Qual seu maior sonho?

R= Fazer faculdade, tem minha casa e carro

22.Para você o shopping Center é um lugar de lazer ou e compras?

R= os dois.

5. QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA REALIZADO COM FREQUENTADORES DE SHOPPING CENTER

01. Nome: Adalberto Silva Filho

02. Sexo: Masculino

03. Escolaridade: Curso Superior incompleto

04.Bairro: João Sampaio/Região Tabuleiro dos Martins

05. Profissão: Policial

06. Renda Familiar

A.( ) meio salário mínimo

B.( ) um salário mínimo

D. ( ) dois salários mínimos

E. ( ) três salários mínimos

F. ( ) quatro salários mínimos

G.( x )cinco salários mínimos

H.( )de cinco a vinte salários mínimos

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07. Em momentos de tempo livre (férias e folga)quais os lugares que você gosta de visitar ou freqüentar em Maceió?

R= Shopping

08. Diga Um ou mais lugares para fazer compras?

R=Centro

09. Ao falar em lazer qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Praia, Cinema, Retiro da Igreja que eu freqüento

10. Ao falar a palavra comprar qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R=Cartão de crédito, lojas

11. O que você acha dos parques ou praças de Maceió?

R= Sempre sujas e com odores de fezes e urina de moradores de rua.

12. Ao falar a palavra shopping Center qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= lazer e diversão

13. Você gosta de shopping Center? Se sim por quê? Se não por quê?

R= Claro que sim, por que lá tem de tudo. É tranqüilo andar lá. Gosto de ir com minha esposa e meu filho.

14. Quais as lojas que você freqüenta no shopping?

R= Sempre vou na praça de alimentação, C&A, Lojas Abys.

15. Você gosta de fazer compras no centro ou no Shopping?

R=Sim, sempre vou ao centro comprar coisas lá tem de tudo um pouco.

16. Quantas vezes você freqüenta o shopping no mês?

R= quatro vezes

17. Como você se sente ao ir ao ambiente do shopping?

R= Me sinto bem, tem pessoas de todos os tipos, geralmente bem vestidas e com boa aparência.

18. Você freqüenta praças públicas em momentos de tempo livre?

R= Não aqui em Maceió não tem uma praça que preste.

19. No item segurança como você considera o shopping center?

R= É bem seguro mas de vez enquando tem crimes sim, roubo de carros, joalheria, pequenos furtos.

20. Qual o meio de transporte que você utiliza para ir ao shopping Center?

R= Carro

21. Qual seu maior sonho?

R= Ser Juiz de Direito

22 .Para você o shopping Center é um lugar de lazer ou e compras?

R= Os dois podemos ir somente para passear e para fazer compras.

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6. QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA REALIZADO COM FREQUENTADORES DE SHOPPING CENTER

01. Nome: Neyla Cristina

02. Sexo: Feminino

03. Escolaridade:Curso Superior Tecnológico completo

04.Bairro: Salvador Lyra

05. Profissão: Promotora da Vivo Telecomunicações

06. Renda Familiar

A.( ) meio salário mínimo

B.() um salário mínimo

D. ( x ) dois salários mínimos

E. ( ) três salários mínimos

F. ( ) quatro salários mínimos

G.( )cinco salários mínimos

H.( )de cinco a vinte salários mínimos

07. Em momentos de tempo livre (férias e folga)quais os lugares que você gosta de visitar ou freqüentar em Maceió?

R= Casa de amigos

08. Diga Um ou mais lugar para fazer compras?

R= Bompreço

09. Ao falar em lazer qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Praia

10. Ao falar a palavra comprar qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Bompreço

11. O que você acha dos parques ou praças de Maceió?

R= Tem Muito morador de rua.Estão suja.

12. Ao falar a palavra shopping Center qual a primeira coisa que vem em sua mente?

R= Diversão, relaxar.

13. Você gosta de shopping Center? Se sim por quê? Se não por quê?

R=Sim, é um lugar bem agradável para passear

14. Quais as lojas que você freqüenta no shopping?

R= Eu vou sempre para praça de alimentação, Riachuelo, Sapatos, Casa vieira

15. Você gosta de fazer compras no centro ou no Shopping?

R= Sim, mas agora sempre vou ao Shopping novo o Pátio Maceió que é mais perto da minha casa

16. Quantas vezes você freqüenta o shopping em um mês?

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R= seis vezes as vezes mais, sempre pago minhas contas lá

17. Como você se sente ao ir ao ambiente do shopping?

R= Bem

18. Você freqüenta praças públicas em momentos de tempo livre?

R= Não para ser assaltada e os mendigos cheira cola fica incomodando o tempo todo.

19. No item segurança como você considera o shopping center?

R= É bem seguro eles ficam andando o tempo todo.

20. Qual o meio de transporte que você utiliza para ir ao shopping Center?

R=Carro

21. Qual seu maior sonho?

R=Passa em um concurso público.

22.Para você o shopping Center é um lugar de lazer ou e compras?

R= Os dois

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