TCC- CRISTIANE SANTANA CHAGAS - UEL Portal SANTANA CHA… · 2 cristiane santana chagas arte e educaÇÃo: a contribuiÇÃo da arte para a educaÇÃo infantil e para os anos iniciais

Embed Size (px)

Citation preview

  • 0

    CRISTIANE SANTANA CHAGAS

    ARTE E EDUCAO: A CONTRIBUIO DA ARTE PARA A EDUCAO INFANTIL E

    PARA OS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

    LONDRINA 2009

  • 1

    CRISTIANE SANTANA CHAGAS

    ARTE E EDUCAO: A CONTRIBUIO DA ARTE PARA A EDUCAO INFANTIL E

    PARA OS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Orientador(a): Prof. Ms. Gilmara Lupion Moreno

    LONDRINA 2009

  • 2

    CRISTIANE SANTANA CHAGAS

    ARTE E EDUCAO: A CONTRIBUIO DA ARTE PARA A EDUCAO INFANTIL E

    PARA OS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina.

    COMISSO EXAMINADORA __________________________________ Prof. Orientadora: Ms. Gilmara Lupion Moreno Universidade Estadual de Londrina __________________________________ Prof. Ms. Andria Maria Cavaminami Lugle Universidade Estadual de Londrina __________________________________ Prof. Ms. Cristina Nogueira de Mendona Universidade Estadual de Londrina

    Londrina, _____de ________________de ______.

  • 3

    s crianas... autnticos arteiros, seres

    infinitamente capazes de criar, expressar-

    se e enfeitar o mundo com a sua arte.

  • 4

    AGRADECIMENTOS A Deus, que me concedeu vida e nela me conduziu com o seu amor infinito para que encontrasse a fora necessria para superar todos os desafios.

    minha famlia, aos amigos e ao meu namorado pelo carinho e compreenso nos momentos mais difceis destes anos de formao.

    A todos os professores que durante a graduao contribuiram para minha formao acadmica, de modo muito especial a minha orientadora neste trabalho, a professora Ms. Gilmara Lupion Moreno pela sua dedicao e preciosa ateno e cuidado.

    A todos que direta ou indiretamente ajudaram para que a realizao deste rduo e valoroso trabalho se concretizasse.

  • 5

    CHAGAS, Cristiane Santana. Arte e Educao: A contribuio da arte para a Educao Infantil e para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. 2009. 57f. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao em Pedagogia) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2009.

    RESUMO Considerando-se que as artes em suas diversas formas, entre elas a msica, a dana, o teatro, as artes visuais e a poesia so elementos da cultura de uma sociedade e esto muito presentes na vida das pessoas, e que a escola deve atentar-se para a arte como meio de aprendizagem e como rea de conhecimento, esta proposta de pesquisa apresenta a questo-problema: Qual a contribuio da arte para o ensino na Educao Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental? O trabalho em questo justifica-se uma vez que as artes constituem elementos que despertam e expressam sentimentos, sentidos, imaginao e criao, porm, a sociedade, assim com a escola, est acostumada a encar-las somente como lazer e entretenimento. Este estudo tem por objetivo: pesquisar o papel que a arte desempenha na educao de crianas de 0 a 10 anos; e averiguar se a arte pode contribuir para um aprendizado menos pautado na transmisso de informaes e que considere a expresso e a autonomia do aluno, nesses nveis de ensino. Em relao metodologia de pesquisa, o estudo consiste em uma pesquisa bibliogrfica do tipo qualitativa. Em sntese, conclui-se que a arte conhecimento e elemento de suma importncia para o processo de educao de crianas de 0 a 10 anos, pois possibilita a construo de conhecimentos embasados na sensibilidade, na criatividade e na expressividade, e indica um caminho de superao do aprendizado baseado na codificao e cpia de informaes. Palavras chaves: Arte. Crianas. Educao. Escola.

  • 6

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Os Retirantes ......................................................................................... 35

    Figura 2 Garatujas (Guilherme Riquito 1 ano) ....................................................... 38

    Figura 3 Garatujas (Marta Riquito 2 anos) ............................................................ 38

    Figura 4 Garatujas com formas reconhecveis (Beatriz Riquito 3 anos) ................ 39

    Figura 5 Fase pr-esquemtica (Beatriz Riquito 4 anos) ...................................... 40

    Figura 6 Fase pr-esquemtica (Sebastio Machado 5 anos) .............................. 40

    Figura 7 Fase esquemtica (Helena 2 ano) ......................................................... 41

    Figura 8 Fase esquemtica (Filipa 3 ano) ............................................................ 41

    Figura 9 Fase esquemtica (Mnica 4 ano) ......................................................... 41

  • 7

    SUMRIO

    INTRODUO ......................................................................................................... 8

    1. A ARTE NA EDUCAO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................... 12 1.1 A arte e os precursores da escola infantil ......................................................... 12 1.2 A arte e o referencial curricular nacional para a educao infantil .................... 14 1.3 A arte e os parmetros curriculares nacionais .................................................. 18

    2. A ARTE E A CONSTRUO DO CONHECIMENTO ......................................... 21 2.1 A superao da mera transmisso de conhecimento ........................................ 22 2.2 A contribuio da arte para a educao humana ............................................ 25

    3. A ARTE NA FORMAO DE PROFESSORES DE EDUCAO INFANTIL E DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL .......................................... 29 3.1 A arte e o trabalho do professor na educao infantil e nos anos iniciais ......... 32 3.1.1 Leitura e Releitura de Obras de Arte .............................................................. 33 3.1.2 Artes com a Natureza ..................................................................................... 36 3.1.3 Desenho ......................................................................................................... 37 3.1.4 Ateli .............................................................................................................. 43 3.1.5 Teatro ............................................................................................................. 44 3.1.6 Msica e Dana .............................................................................................. 46 3.1.7 Poesia ............................................................................................................. 49

    CONSIDERAES FINAIS .................................................................................... 52

    REFERNCIAS ........................................................................................................ 54

  • 8

    INTRODUO

    A arte configura-se como um conceito difcil de definir, pois existem vrias

    formas de enxerg-la e de explic-la, porm, possvel selecionar algumas

    consideraes sobre o assunto.

    Duarte Jr. (1985) afirma que a arte sempre uma criao de formas, as

    quais podem ser classificadas como estticas ou dinmicas. Entre as formas

    estticas h, por exemplo, o desenho, a escultura e a pintura e como exemplo de

    formas dinmicas, pode-se citar a dana, o teatro, o cinema, a msica etc.

    O autor ressalta, ainda, que a arte adquire significados tambm no mbito

    sentimental, pois tem o poder de instigar sentimentos no espectador. Assim, a arte

    pode manifestar-se por meio de um grito, de um gesto, ou do choro, estabelecidos

    de forma harmnica, porm, no com a pretenso de oferecer conceitos, mas de

    incitar sentimentos.

    Desvelando-se um pouco de seu significado, pode-se entender que a arte

    um importante elemento cultural na vida das pessoas e, desse modo, necessrio

    que a escola atenda a esta demanda, pois uma instituio co-responsvel pela

    formao intelectual e humana das pessoas.

    Assim, este trabalho aborda a arte no processo na educao da criana de

    zero a dez anos de idade. Nesta pesquisa procurou-se responder questo-

    problema: Qual a contribuio da arte para a Educao Infantil e para os Anos

    Iniciais do Ensino Fundamental? Conseqentemente, perguntou-se: A arte pode

    contribuir para a superao da simples transmisso de conhecimentos ou

    informaes, de forma mecanizada, na escola? E pode contribuir para a formao

    humana das crianas, se inserida no processo educacional?

    O trabalho em questo justifica-se, devido difcil tarefa de se conceituar a

    arte, para a qual se encontram vrias explicaes de diferentes reas, o que torna

    instigante uma pesquisa sobre seus significados, sua essncia, seu contedo, sobre

    sua funo.

    A arte est presente na vida do homem, diariamente, nas suas mais

    variadas formas, seja na dana, na msica, na pintura, na literatura, na arquitetura,

    no teatro, no hip hop dos garotos, ou no grafite dos muros, entre outras

  • 9

    representaes. Assim, de alguma forma, a arte se faz presente no cotidiano,

    mesmo que no se perceba.

    A sociedade est acostumada a encarar e a vivenciar a arte somente como

    lazer e entretenimento, e, muitas vezes, como algo intil. Pode-se observar atravs

    dos currculos das escolas, onde a educao artstica menosprezada, apesar de

    se encontrar, na arte, muito mais do que aparenta em sua forma de representao.

    H a necessidade de se incorporar, na educao das crianas de hoje,

    sentidos, sonhos, expresso prpria e criao, que justamente o que se constri

    com a arte, seja como artista ou espectador. No possvel que a audio de uma

    msica, a leitura de um romance ou de uma histria qualquer no cause um minuto

    sequer de contemplao, de pensamento profundo, pois instiga os sentidos, a

    imaginao e os desejos e causa inquietao.

    A sociedade contempornea, com suas caractersticas de homogeneizao

    e de transformao constante em todos os setores das atividades humanas, no

    leva os indivduos a refletir sobre os acontecimentos ou sobre si mesmos. A arte

    tem a funo, dentre tantas outras, de superar os limites do tempo.

    nesse sentido que se defende a introduo da arte no mbito

    educacional, especificamente na educao infantil e nos anos iniciais do ensino

    fundamental, fase em que se inicia a construo do saber, do fazer, do inventar, do

    apreciar, alicerce para a construo da vida.

    Diante de tais consideraes, buscou-se levantar, neste estudo, a

    importncia da arte vinculada ao ensinar e ao aprender, na educao infantil e nos

    anos iniciais do ensino fundamental, as contribuies das artes para a vida, para o

    aprendizado e para a socializao do aluno, assim como, a influncia da arte na

    formao intelectual e humana da criana. Conforme Freire:

    Mulheres e homens somos os nicos seres que social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Por isso somos os nicos em quem aprender uma aventura criadora, algo por isso mesmo muito mais rico que meramente repetir a lio dada. Aprender para ns construir, reconstruir, constatar para mudar, o que no se faz sem abertura ao risco e aventura do esprito (FREIRE, 1996, p.69).

  • 10

    Assim, o objetivo deste estudo refletir sobre a importncia da arte para o

    ensino e para a formao humana, num mundo marcado pela tecnologia e pela

    massificao, de modo a se buscar uma sociedade mais reflexiva, sensvel e crtica.

    Quanto aos objetivos, almejou-se: pesquisar sobre o papel que a arte

    desempenha na educao da criana, bem como, a sua contribuio na educao

    infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; averiguar se a arte pode contribuir

    para a superao da simples transmisso de conhecimentos ou informaes de

    forma mecanizada na escola; contribuir para a formao dos professores a fim

    auxili-los no desenvolvimento de projetos voltados para a utilizao da arte na

    educao infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental.

    No que diz respeito metodologia, este estudo trata-se de uma pesquisa

    qualitativa do tipo bibliogrfica. Ludke e Andr (1986) explicam que a pesquisa

    qualitativa tem como caractersticas bsicas o ambiente natural como fonte de

    dados, sendo o pesquisador seu principal instrumento. Em uma pesquisa qualitativa

    predominam os dados descritivos. A ateno volta-se muito mais para o processo do

    que para o resultado.

    Pela pesquisa qualitativa pode-se levantar as perspectivas dos participantes,

    ou seja, pode-se conhecer as suas crenas e os seus pontos de vista, para,

    posteriormente, analis-los, discuti-los e confront-los. A pesquisa qualitativa no

    tem a preocupao de buscar evidncias ou provas para hipteses definidas.

    De acordo com Macedo (1994), pode-se definir pesquisa bibliogrfica como

    a busca por informaes ou como uma seleo de documentos que condizem ou se

    relacionam com o problema do trabalho de pesquisa. Segundo Alves (2003), a

    pesquisa bibliogrfica caracterizada pelo desenvolvimento a partir de livros,

    peridicos, artigos, entre outros, ou seja, a partir de fontes j elaboradas ou de

    papel, no exigindo que o pesquisador contemple, de forma direta, o seu objeto de

    pesquisa, porm, necessrio que os materiais utilizados sejam de fontes seguras e

    condizentes com o assunto tratado no trabalho de pesquisa.

    O trabalho compreende trs captulos, sendo que o Captulo I A arte na

    educao infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental apresenta ideias de

    precursores da educao infantil, que contaram com a arte em seus trabalhos com

    crianas no incio do sc. XIX, quando surgiram as primeiras instituies de

    Educao Infantil. O captulo tambm analisa o que prope o Referencial Curricular

  • 11

    Nacional para a Educao Infantil e os Parmetros Curriculares Nacionais sobre a

    arte na educao de crianas.

    O Captulo II A arte e a construo do conhecimento elenca dois tpicos,

    sendo que o primeiro busca, atravs de ideias de alguns autores, explicar a arte

    como meio de superao da transmisso mecnica de informaes na escola. O

    segundo tpico busca subsdios para fundamentar, na arte, o processo de ensino,

    de modo a priorizar uma formao mais humanizada para crianas de 0 a 10 anos.

    E por fim, o Captulo III A arte e a formao de professores apresenta a

    necessidade de preparao e formao contnua para o professor de educao

    infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, bem como, a importncia da

    vivncia e do estudo da arte em seu processo de formao e atuao profissional,

    como rea de conhecimento e enriquecimento cultural. No mesmo captulo, foram

    selecionadas algumas sugestes de atividades e encaminhamentos de como

    possibilitar que as crianas aprendam e vivenciem a arte em seu processo de

    educao.

    O presente estudo pretende contribuir para a formao do profissional de

    educao, auxiliando-o na sua atuao junto s crianas. Espera-se que os temas

    aqui discutidos possam desencadear reflexes e atitudes que se traduzam como

    melhoria da qualidade do ensino de crianas desde a sua mais tenra idade.

  • 12

    1 A ARTE NA EDUCAO INFANTIL E NOS ANOS INCIAIS DO ENSINO

    FUNDAMENTAL

    Entre tantas linguagens, experincias humanas, saberes adquiridos no decorrer da histria, a arte quatro letras: a lngua do mundo a linguagem de um idioma

    que desconhece fronteiras, etnias, credos, poca. (Carolina de Souza Matos)

    A criana revela, atravs do seu modo de pensar, agir e interagir com os

    outros, a sua capacidade imensa de buscar, de explorar, de criar e aprender. A

    criana um ser curioso e apto a explorar sempre. Neste sentido, no contexto

    escolar, ela precisa vivenciar situaes que estimulem e despertem ainda mais a

    sua curiosidade, para que possa revelar as suas caractersticas, externar as suas

    dificuldades, os seus sentimentos e os seus talentos e expresses prprias.

    A arte tem um papel importante no processo de educao da criana por

    incorporar sentidos, valores, expresso, movimento, linguagem e conhecimento de

    mundo, em seu aprendizado. A arte uma linguagem que se manifesta de vrias

    formas, ou seja, pela dana, msica, pinturas, esculturas, teatro, entre outras; em

    todas as suas formas, sejam elas dinmicas ou estticas, a arte sempre expressa

    ideias e sentimentos, isto , sempre tem algo a dizer.

    Para Gullar (2006), o mundo que o artista cria parte das suas experincias,

    daquilo que ele consegue enxergar no mundo, na sua cultura. Sendo assim, a arte

    parte sempre de dentro do indivduo, trazendo uma bagagem de sentimentos,

    interesses, valores e conhecimentos. Como no considerar importante, para o

    desenvolvimento educacional e social de crianas, este resgate do interior do ser

    humano viabilizado pela arte?

    1.1 A arte e os precursores da escola infantil

    A importncia, bem como, a relevncia da arte na infncia encontra-se

    presente desde as propostas para as primeiras instituies de educao infantil,

    elaboradas por seus precursores.

    Froebel (1782-1852), educador alemo, influenciado por um ideal poltico de

    liberdade, criou um jardim de infncia, em 1837, considerado, por ele, como um

    espao onde as crianas e os adolescentes estariam livres para aprender sobre si e

  • 13

    sobre o mundo. Em seu mtodo pedaggico, utilizou-se da msica para educar as

    sensaes e as emoes; enfatizava a participao em atividades de livre expresso

    atravs da msica, dos gestos e montagens com papis e argila. Para Froebel, tais

    atividades possibilitavam que a criana expressasse seu mundo interno, como forma

    de conseguir ver-se e, assim, modificar-se, atravs da auto-observao (OLIVEIRA,

    2007).

    Tais atividades eram chamadas, por Froebel, de ocupaes; o manuseio

    de papel, em atividades como cortar, dobrar, costurar, desenhar, pintar, e a

    modelagem em argila permitiam que as crianas se expressassem artisticamente.

    Outro precursor foi Pestalozzi (1746-1827), educador que sustentava, em

    sua pedagogia, uma educao preocupada com a afetividade da criana. Segundo

    ele, assim como na famlia, a bondade e o amor so essenciais no ato de educar.

    Utilizou-se de atividades musicais e de outras formas de artes para adaptar seu

    mtodo aos diferentes nveis de desenvolvimento dos alunos (OLIVEIRA, 2007).

    Clestin Freinet, professor francs que iniciou seus trabalhos em 1520, foi

    um dos primeiros importantes precursores da educao para as crianas e um dos

    grandes entusiastas da incluso da arte nos currculos escolares.

    Sampaio (1994) relata que Freinet observava muito as crianas e percebia

    que elas estavam interessadas no que acontecia l fora e no no imobilismo

    existente dentro da sala de aula. Era preciso, ento, trabalhar a espontaneidade da

    criana, e foi o que Freinet fez por meio das aulas-passeios. Aps os passeios os

    alunos faziam relatrios sobre o que haviam observado nos mesmos. Assim, ele

    desenvolveu uma nova tcnica, que abolia a monotonia das leituras dos manuais

    obrigatrios e criava o texto livre, que preservava a livre expresso da criana, seus

    interesses, sentimentos e opinies.

    Logo aps, o texto livre ganha a forma de texto impresso; alm das trocas de

    experincias entre alunos e professores, com relatos de passeios e da vida cotidiana

    na sala de aula, surge uma outra tcnica criada por ele, a correspondncia escolar.

    Em visitas realizadas na aldeia em que se instalava a escola, as crianas

    conheciam alguns artfices e seus trabalhos. Aps as visitas, as crianas

    compunham poemas sobre aquelas pessoas. Aos poucos, o texto livre, ligado s

    experincias vivenciadas, oportunizava que as crianas se desenvolvessem, ao

    expressarem o que sentiram e aprenderam atravs tambm de uma arte, a poesia.

  • 14

    Freinet preocupava-se tambm, com as atividades artsticas em sua classe,

    pois realizava reunies artsticas e recreativas, nas quais desenvolvia atividades

    musicais com as crianas; com uma mquina de cinema da poca ele exibia filmes

    educativos e recreativos, alm de criar peas infantis. Estas reunies eram

    consideradas por Freinet to essenciais quanto os estudos de Histria, Geografia,

    Matemtica, Cincias, trabalhos na horta e marcenaria e o desenho livre, tratavam-

    se de um indispensvel complemento em seu mtodo. Para Freinet:

    A livre expresso facilita a criatividade da criana, no desenho, na msica, no teatro, extenses naturais da atividade infantil, progressivamente responsvel por seus comportamentos afetivos, intelectuais e culturais. Eis a um comeo seguro para a conquista de uma vida adulta (FREINET apud SAMPAIO, 1994, p. 30).

    Freinet enfatizava a atividade, a vivncia na prtica, a observao e a livre

    expresso como princpios norteadores de sua tcnica como professor, para uma

    educao significativa e interessante para a criana. Juntamente a estes princpios,

    considerava, como essenciais, as vivncias artsticas em sala de aula,

    considerando-as extenses naturais da vida infantil, portanto, ligadas ao seu

    desenvolvimento integral.

    Desse modo, foi inegvel a contribuio desses pedagogos para que se

    despertasse na sociedade, a conscientizao da necessidade de uma educao

    formal, sistematizada, para crianas pequenas, e de que essa educao deve se

    embasar em atividades e experincias que propiciem a reflexo e a autonomia do

    aluno, por tratar-se de uma aprendizagem significativa.

    1.2 A arte e o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil

    Os Referenciais Curriculares Nacionais para a educao Infantil se

    compem-se de trs volumes. De acordo com Filho (2001), o referido documento

    no possui carter mandatrio, mas se constitui de sugestes para professores que

    atuam em instituies de educao infantil. Desse modo, cabe s equipes

    pedaggicas das instituies de educao infantil a deciso de incorporar ou no as

    proposies apresentadas.

    Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil (1998),

    a educao das crianas deve se dar em um contexto capaz de propiciar s crianas

  • 15

    o acesso a elementos culturais que contribuem para o desenvolvimento e para a

    interao das mesmas na sociedade. Somente um processo educacional embasado

    na interao social poder contribuir para a construo da identidade do indivduo,

    pois fundamenta-se no desenvolvimento afetivo, emocional e cognitivo.

    O terceiro volume do documento, denominando Conhecimento de Mundo,

    est organizado por eixos de trabalho, sendo estes: Linguagem Oral e Escrita,

    Movimento, Natureza e Sociedade, Matemtica, Msica e Artes Visuais.

    Considerando-se que apresenta, como foco de estudo, a arte, nas suas diferentes

    linguagens, sero explorados, aqui, os eixos de trabalho Msica e Artes Visuais.

    J na Grcia Antiga, a msica era considerada essencial para a formao do

    cidado. Por ter o poder de integrar aspectos sensveis, afetivos, estticos,

    cognitivos e de comunicao social. A linguagem musical um excelente meio para

    o desenvolvimento da expresso, do equilbrio, da auto-estima e autoconhecimento,

    alm de um poderoso meio de integrao social (RCNEI, 1998, p. 49).

    Ao se trabalhar variados repertrios musicais, possibilita-se s crianas a

    apropriao de novos conceitos. Assim, ao se identificarem ou no com determinada

    msica, estaro desenvolvendo o autoconhecimento que lhes propicia a expresso

    de sentimentos, anseios, medos e interesses prprios.

    Ao discorrer sobre a msica na educao infantil, vila e Silva (2003)

    ressaltam que a msica inerente natureza do homem. Desde recm-nascido, o

    indivduo comea a emitir sons e a organiz-los como pequenas melodias. Tambm

    o RCNEI (1998) aponta que, precocemente, a criana estabelece contato com a

    msica, por meio das canes de ninar, cantaroladas por membros da famlia, por

    exemplo. Sendo assim, j na mais tenra idade, em seu cotidiano, a criana

    internaliza noes de linguagem musical, as quais passam a fazer parte da sua

    bagagem de conhecimentos. Neste sentido, vila e Silva lembram que:

    A msica no um fator externo em relao ao homem - provm do seu interior, inerente sua natureza. Ela est presente em todo universo, inspirando a expresso musical humana. Trata-se de uma segunda linguagem materna. Por esse motivo, toda criana tem direito a uma educao musical que lhe possibilite desenvolver o potencial de comunicao e expresso embutido nessa linguagem (VILA e SILVA, 2003, p. 76).

  • 16

    At o terceiro ano de vida, as crianas exploram qualquer tipo de som, e,

    para produzi-los, em suas primeiras tentativas, batem ou sacodem objetos; ao ouvir

    os diferentes rudos que acaba por produzir comea a conhec-los e a identific-los.

    Nesta fase, elas conseguem integrar gestos, som e movimentos, momento em que

    se pode trabalhar atividades que exijam o envolvimento do canto, com a dana ou

    com gestos, por exemplo, o que favorece a expresso e o desenvolvimento motor e

    cognitivo.

    Conforme o RCNEI, as atividades musicais direcionadas s crianas de 0 a

    3 anos devem objetivar a audio de diferentes tipos musicais, visando ao

    desenvolvimento da percepo, da discriminao dos sons, da imitao e

    reproduo de sons e da inveno e criao de enredos musicais. J em relao s

    crianas de 4 a 6 anos, pretende-se que explorem e identifiquem elementos da

    msica para que se expressem, interajam e ampliem seu conhecimento de mundo,

    atravs da improvisao, interpretao e at composio de enredos musicais. Os

    contedos dentro da educao infantil em relao msica devem respeitar os

    nveis de percepo e desenvolvimento das crianas.

    Para vila e Silva (2003), as atividades com msica favorecem o trabalho de

    socializao, pois as crianas tero que cantar, de forma coletiva, interagindo com o

    outro nas de cantigas de roda. Elas estaro exercitando textos e ordenando

    pensamentos com as letras das msicas. Essa interao possibilitada pela

    expresso musical coletiva facilita e estimula relaes de amizade.

    Outro eixo do RCNEI fundamental o que trata das Artes Visuais. As artes

    visuais compreendem a pintura, a escultura, o desenho, a fotografia etc. Atualmente,

    elas so muito presentes na educao infantil, porm, muitas vezes, no so

    exploradas as verdadeiras contribuies que elas podem trazer para o

    desenvolvimento da criana nesta fase.

    Os trabalhos realizados com recursos das artes visuais, nas instituies de

    educao infantil, geralmente, enfatizam apenas as datas comemorativas, com a

    produo de lembranas paras as mes e para os pais, cartes de Natal, Pscoa,

    entre outras, sendo considerados muitas vezes para passar o tempo, ou ento,

    como um momento de lazer para as crianas, devido ao conceito criado pela

    sociedade de que a arte no importante, mas somente uma forma de distrao e

    lazer para as pessoas. Neste sentido, a RCNEI lembra que:

  • 17

    A presena das artes visuais na educao infantil, ao longo da histria, tem demonstrado um descompasso entre os caminhos apontados pela produo terica e prtica pedaggica existente. Em muitas propostas as prticas de artes so entendidas apenas como meros passatempos. Em que atividades de desenhar, colar, pintar e modelar com argila ou massinha so destitudas de significados. Outra prtica corrente considera que o trabalho deve ter uma conotao decorativa, servindo para ilustrar temas de datas comemorativas, enfeitar as paredes com motivos para os pais, etc. Nessa situao comum que os adultos faam grande parte do trabalho, uma vez que no consideram que a criana tem competncia para elaborar um produto adequado (RCNEI, 1998, p. 87).

    Com essa viso errnea da arte na educao infantil, desvaloriza-se o fazer

    da criana, no dando importncia capacidade que ela tem de criar. Desse modo,

    para que as artes visuais propiciem suas reais contribuies, necessrio que as

    atividades sejam espontneas, ativem a criatividade e valorizem a auto-expresso.

    Um trabalho assim ir integrar o pensamento, o sensibilidade, a imaginao, a

    percepo, a intuio e a cognio favorecendo o desenvolvimento de criatividade

    na criana.

    A construo da capacidade de criao na infncia uma forma da criana manifestar a sua compreenso da realidade que o cerca, de exercitar sua inteligncia ao criar, alterar, organizar e reorganizar elementos plsticos, uma construo do ser humano. Na sua interao com o mundo, ela vivencia inmeros contatos com experincias estticas que envolvem idias, valores e sentimentos, experincias estas que envolvem o sentir e tambm o pensar e o interpretar. Portanto a linguagem visual faz parte da formao integral do indivduo e no pode ser desconsiderada no contexto da educao infantil (MORENO, 2007, p.44).

    No processo de criao, a criana faz escolhas, envolvendo suas

    experincias pessoais, ou seja, ao criar, ela relaciona o que aprendeu, em sua

    interao com as pessoas, com a natureza e com o mundo. Neste processo,

    segundo Duarte Jr. (1985), o educando elabora os seus prprios sentidos em

    relao ao mundo. Luna e Bisca, ao comentar a utilizao de atividades artsticas

    no mbito escolar, ressaltam que:

  • 18

    Valorizada como rea de conhecimento, tambm na arte que encontramos a liberdade para sentir e pensar criativamente nossa histria, nossos laos afetivos e cognitivos, concretizando em formas e cores os sentimentos, as emoes e as conquistas (LUNA e BISCA, 2003, p. 129).

    Em sntese, de acordo com o RCNEI, a aprendizagem com base em

    atividades artsticas, na educao infantil, deve garantir oportunidades para que as

    crianas de 0 a 3 anos ampliem seus conhecimentos na manipulao de diversos

    objetos e materiais, de forma que explorem suas caractersticas e propriedades,

    integrando, neste processo ativo, a comunicao e a expresso da criana.

    J na fase de 4 a 6 anos, as atividades artsticas devem: contribuir para a

    ampliao do conhecimento por meio da oportunidade de contato com obras de arte,

    o que propicia o interesse pelas mesmas; conhecer-se a si mesmo por meio de

    produes prprias; desenvolver o gosto, o cuidado e o respeito pelo processo de

    criao prpria e pelo de outras pessoas.

    1.3 A Arte e os Parmetros Curriculares Nacionais

    Os Parmetros Curriculares Nacionais em Arte (1997) para as Sries Iniciais

    do Ensino Fundamental descrevem, em sua apresentao, que a educao em arte

    propicia a ampliao da sensibilidade, da percepo, da reflexo e da imaginao.

    Para o documento, ao conhecer as artes, o aluno poder se envolver de forma mais

    criativa com as outras disciplinas.

    Como a arte patrimnio da humanidade, e se manifesta nas diversas

    culturas, o aluno desenvolver, atravs do contato com a mesma, a compreenso

    das diferentes culturas existentes, valorizando o que prprio de sua cultura.

    Os PCNs concebem a arte como objeto de conhecimento e como um

    conjunto de manifestaes simblicas de uma cultura, e fazem uma ligao entre a

    cincia e a arte, ao descrever que para um cientista uma frmula pode ser bela,

    para um artista plstico, as relaes entre a luz e as formas so problemas a serem

    resolvidos plasticamente (PCN - Arte, 1997, p.27). Neste documento, aborda-se,

    entre as vrias manifestaes artsticas existentes, a msica, a dana, as artes

    visuais e o teatro.

    A dana uma manifestao artstica muito presente na cultura dos povos.

    Ela integra o pensamento, o sentimento e o corpo. Atravs da dana, a criana

  • 19

    estar desenvolvendo a ateno, a percepo e a cooperao e conhecer seu o

    corpo e as suas possibilidades, numa atividade que lhe propicia o uso da criatividade

    e da espontaneidade.

    A dana pode acontecer de forma individual ou coletiva. Individualmente, a

    dana ser de valia para o conhecimento do corpo, para o desenvolvimento motor e

    para construo da autonomia, quando o aluno toma conscincia da sua capacidade

    de movimento e de suas qualidades individuais. De forma coletiva, a criana poder

    desenvolver a interao social, aprendendo a reconhecer semelhanas e diferenas

    entre pessoas e a respeitar as diversidades. A dana traz, em si, aspectos culturais

    prprios de um povo. Ela parte de uma cultura e ao ser devidamente explorada na

    escola, possibilitar o conhecimento da cultura regional, nacional e de outros povos.

    As artes visuais compreendem as criaes prprias dos alunos, alm da

    apreciao de outras obras. A criao abrange pinturas, modelagens, desenhos,

    esculturas, fotografias, produes informatizadas, alm de construes

    bidimensionais e tridimensionais. A apreciao deve ser significativa, de forma que

    propicie: a convivncia com produes visuais; reconhecimento de pocas histricas

    e do contexto em que uma obra foi produzida; a vida dos artistas e sua ligao as

    obras; e a mensagem que a obra revela ao aluno, de forma subjetiva, provocando o

    reconhecimento da importncia das artes visuais na sociedade e na vida dos

    indivduos. Segundo Moreno:

    Propostas desta natureza tm como objetivo que a criana construa conhecimento na rea de artes visuais, desenvolva a criatividade, apresente uma postura de pesquisa, demonstre senso crtico e faa a atualizao de informaes visuais com seu prprio trabalho (MORENO, 2007, p.40).

    As artes visuais favorecem compreenses mais amplas para que o aluno

    desenvolva sua sensibilidade e afetividade, construa conceitos e se posicione

    criticamente. Sendo a manifestao artstica bastante presente na humanidade e

    considerando-se a msica como uma segunda lngua materna, v-se a importncia

    dos seus elementos no processo de desenvolvimento educacional e social da

    criana.

    Composio, improvisao e interpretao so produtos da msica (PCN -

    Arte, 1997, p.53). Envolver as crianas num processo que objetive tais construes

    coloc-las frente a um desafio, num primeiro momento, talvez, difcil, mas

  • 20

    supervel, que possibilitar a colheita de frutos valiosos. No contato com a msica, a

    criana poder criar e expressar-se, por anlise, atravs da apreciao, do canto, da

    composio e manuseio de instrumentos musicais.

    O teatro exige do homem a sua presena de forma completa: seu corpo,

    sua fala, seu gesto, manifestando a necessidade de expresso e comunicao.

    (PCN - Arte, 1997, p. 57). No desenvolvimento da dramatizao na escola, preciso

    que se leve em conta os nveis de envolvimento que uma criana estabelece com a

    atividade. A atividade teatral evolui, gradativamente, da espontaneidade para o

    cumprimento de regras, e do plano individual para uma viso coletiva.

    Fundamentado em ideias, experincias e sentimentos, o trabalho teatral envolve os

    alunos na compreenso de si mesmos e dos outros, e no compartilhamento de

    emoes e valores, pois cada um se expressa atravs dos personagens

    vivenciados.

    Pelo que foi at aqui levantado sobre a arte na Educao Infantil e nos Anos

    Iniciais do Ensino Fundamental, sobre a contribuio dos precursores da escola

    infantil, sobre os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educao Infantil e

    sobre os Parmetros Curriculares Nacionais em Arte, pode-se avaliar a importncia

    da vivncia das artes no ensino de crianas de 0 a 10 anos.

    Porm, a realidade observada nas escolas a supervalorizao de

    disciplinas relacionadas aos aspectos lgicos e escrita, assim como,

    memorizao de informaes, e a negligncia em relao aos aspectos intuitivos e

    criativos que as artes proporcionam. Por esta razo, evidente a necessidade de se

    promover mais atividades artsticas na escola, de se desenvolver projetos que

    envolvam a capacidade das crianas e de se realizar exposies que possibilitem a

    apreciao dos prprios alunos e da comunidade escolar, valorizando o criar e

    favorecendo a auto-estima dos alunos.

    As artes incorporam um grande acervo de conhecimentos necessrios

    formao do indivduo, contribuem para desenvolvimento expressivo, comunicativo,

    criativo e cognitivo e favorecem a interao social, fatores indispensveis para o

    processo de educao na infncia.

  • 21

    2 A ARTE E A CONSTRUO DO CONHECIMENTO

    Diga-me e eu esquecerei.

    Ensina-me e eu lembrarei. Envolva-me e eu aprenderei.

    (Benjamim Franklin)

    Para se compreender como as artes, em suas diversas formas, contribuem

    para a construo do conhecimento humano, necessrio investigar o que e como

    se d a construo do conhecimento.

    Segundo Moreno (2001), para se compreender o que o conhecimento,

    possvel apoiar-se em variadas perspectivas, entre elas: a filosfica, a psicolgica e

    a histrica. Conforme Sousa apud Moreno (2001), a perspectiva filosfica entende

    que o conhecimento o resultado da apropriao, pelo homem, de dados empricos

    e de ideias, na busca de entendimento da realidade.

    Na perspectiva de Piaget (1980), o conhecimento configura-se como uma

    construo contnua de mediao entre o sujeito e o objeto, ou seja, entre o meio

    fsico e o social. Nessa ao, o indivduo constri novas estruturas mentais,

    estabelecendo condies e capacidades prprias de conhecer.

    Sendo assim, o indivduo no aprende como se ele fosse um depsito de

    informaes. No processo de construo de conhecimento, o indivduo sujeito

    ativo, s vai aprender significativamente se houver uma interao com o objeto.

    Com base na teoria piagetiana, o indivduo sujeito do processo de

    construo do seu conhecimento e esse processo s possvel mediante a sua

    ao. importante ressaltar que um trabalho artstico sempre carrega a marca do

    seu criador, ou seja, traz embutida, em si, a ao do sujeito que a criou, que fruto

    de sua interao com o meio e com o prprio objeto criado. Nesse processo, o

    indivduo capaz de construir o entendimento de novos conceitos referentes a

    materiais e a tcnicas utilizadas, o que se d nas artes plsticas, na dana, no

    teatro, na msica, e na produo de poesias. As Artes constituem atividades pelas

    quais o indivduo despertado para a criatividade, a qual se acentua com a prtica.

    Para Mitjns Martinez (2000, p. 54), criatividade o processo de descoberta

    ou produo de algo novo, que cumpre exigncias de uma determinada situao

  • 22

    social, processo que, alm disso, tem um carter personolgico, ou seja, carrega

    aspectos da personalidade.

    O ato criativo um processo que sempre traz algo da pessoa que o executa.

    Uma pintura, por exemplo, por mais que uma pessoa tente faz-la igual a uma outra,

    nunca o ser, sempre apresentar algo diferente. Como processo de criao do

    novo, a arte favorece a superao, do que igual, da reproduo, favorece o

    desenvolvimento de uma aprendizagem mais significativa e criativa.

    2.1 A superao da mera transmisso de conhecimento

    A transmisso de conhecimentos ou informaes permite que se conhea o

    que ainda no se conhecia. No se pode negar que parte dos conhecimentos

    aprendidos e que um dia foram construdos, so transmitidos por pais, professores e

    amigos, conhecimentos estes que so alvo de indagaes e de dvidas, mas que,

    muitas vezes, so repassados, erroneamente, como verdades absolutas.

    A transmisso uma das formas de se propiciar a aquisio de

    conhecimento, mas no a nica e nem a melhor maneira de efetivar um processo

    de ensino/aprendizagem. Transmitir por transmitir, sem esperar que o aluno indague

    sobre o que ouviu ou leu, mera transmisso de informao. No refletir sobre o

    que se l ou ouve uma forma mecanizada de aprender. Por muito tempo, e ainda

    hoje, infelizmente, esta situao de ensino realidade.

    Incluir a arte no processo de ensino de crianas um recurso eficiente para

    que o aluno desenvolva suas capacidades criativas. Entretanto, embora os

    precursores da educao de crianas tenham propagado, h muito tempo, ideias

    inovadoras de educao, que incentivam a criatividade e a espontaneidade, e muitas

    propostas de insero da arte na educao tenham sido apresentadas, tais questes

    tm sido discutidas, h bem pouco tempo, no Brasil.

    A educao artstica s foi includa no currculo, com obrigatoriedade, em

    1971, pela lei 5.692, e ainda assim, o professor no estava preparado para isso.

    notvel a resistncia e/ou o menosprezo ao objetivo de formar um aluno mais

    reflexivo e crtico de si e do mundo, por parte at mesmo de professores.

    (SANTORO, s/d).

    O sistema educacional, de forma geral, volta-se para a reproduo do

    conhecimento, sendo assim, submete e limita o aluno, levando-o a no precisar

  • 23

    pensar. Deste modo, o conhecimento que se recebe somente assimilado e

    reproduzido, pouco tempo e espao se reserva para que o aluno desenvolva a

    criao e libere a imaginao.

    Porm, sabe-se que existe uma razo para que isso acontea,

    principalmente na escola pblica, que encontra mltiplas dificuldades para

    desenvolver os contedos ditos bsicos do ensino, por falta de estrutura fsica e pela

    escassez de recursos materiais e humanos, os maiores dificultadores de um

    trabalho diferenciado. O espao e o tempo disponveis para as escolas e para os

    professores, em muitos casos, no so adequados para a realizao de um ensino

    totalmente voltado para os alunos (ALENCAR, 1990).

    Para a autora, no sistema educacional brasileiro, o que se enfatiza, de modo

    exagerado, a memorizao, que se reflete negativamente na aprendizagem, no

    estimulando o aluno ao ato de pensar. Outro obstculo a extenso do tempo, que

    curto em relao ao contedo exigido, com isso, no se tem oportunidade de

    desenvolver atividades que exploram o potencial criador da criana.

    Talvez, um dos motivos que tm levado as escolas a conduzir o ensino de

    acordo com tais moldes, tenha sido o modo como a cincia foi construda ao longo

    dos anos, cuja nfase est na racionalizao em detrimento do que subjetivo no

    homem: o sentimento e a intuio. Porm, sabe-se que a educao uma

    instituio humana, portanto, carregada de subjetividade, que s se pode sentir e

    no medir.

    De acordo com Tozetto (2005), a sociedade vive um conflito entre o til e o

    agradvel, o que leva o homem a fazer separaes entre sentimentos/emoes e

    raciocnio/conhecimento intelectual, e a refletir que as emoes podem atrapalhar o

    desenvolvimento intelectual do homem. A escola, assim como a sociedade de modo

    geral, trabalha a favor dessa ideia, reservando pouco espao, tempo e oportunidade

    para fluncia de sentimentos e emoes, prejudicando, desse modo, o

    desenvolvimento integral do homem.

    Mitjns Martinez (2000, p. 57) entende que a atividade criativa aquela de

    um sujeito que precisamente no ato criativo, expressa suas potencialidades de

    carter cognitivo e afetivo em uma unidade indissolvel... condio indispensvel

    para o processo criativo.

    Como j foi discutido, a valorizao da lgica e da razo, em detrimento do

    sentimento e da intuio, funciona como barreira cultural ao potencial criador do

  • 24

    indivduo (Alencar, 1990). A sociedade atual se revela cada vez mais racional, o que

    obstaliza o desenvolvimento da imaginao, pois o sentimento, a intuio e a

    sensibilidade so considerados como empecilhos para a aprendizagem do que

    realmente interessa no contexto da contemporaneidade. Porm, usando a

    imaginao, o homem constri sonhos e trabalha em favor de mudanas na sua

    realidade. Para Duarte:

    A arte se constitui num estmulo permanente para que nossa imaginao flutue e crie mundos possveis, novas possibilidades de ser e sentir-se. Pela arte a imaginao convidada a atuar, rompendo o estreito espao que o cotidiano lhe reservava. (DUARTE JR, 1985, p.67)

    Assim, a incluso da arte no currculo escolar se justifica pela sua

    capacidade de conscientizar os alunos de suas potencialidades e habilidades

    criativas. As artes contribuem, tambm, para o desenvolvimento da personalidade e

    do esprito crtico de si e do mundo, conforme ressalta Santoro (s/d) em seu artigo

    Uma luta por um ensino menos mecanizado.

    Liberar as potencialidades criadoras do indivduo condio fundamental

    para uma verdadeira educao. O ato de criar pressupe um ato de autonomia, pois

    no h como criar sem autonomia. As atividades artsticas provocam o pensar com

    autonomia, portanto, as artes desempenham um papel importante para o

    desenvolvimento autnomo da criana.

    Segundo Mosquera (1976, p. 121), o objetivo maior do ensino, por meio da

    arte, para as crianas, a compreenso e o valor da criana como ser criador.

    Sendo a criao um ato espontneo, de livre expresso, partir sempre da

    autonomia do indivduo. Portanto, propiciar o ato criativo desenvolver a autonomia.

    Em seu significado, autonomia pressupe uma libertao, uma independncia, ou

    seja, ser autnomo no mais estar preso ao que do outros, cpia, repetio;

    para ser autnomo, o indivduo necessita muito mais do que simplesmente

    memorizar ou copiar.

    Por esta razo, a arte tende a desencadear, na educao de crianas, um

    processo de fazer prprio, de almejar o que est dentro de si, a partir do que se

    vivencia socialmente, de buscar no somente a memorizao e repetio do que se

    ouviu ou leu, mas a criao.

  • 25

    Para Mosquera (1976, p.122), o fazer artstico configura-se sempre como

    uma atitude criativa, a estagnao significa sua pobreza e morte. Assim, o fazer

    arte sempre traz ao indivduo o sentido de criar, criar gerar algo novo, mesmo que

    este parta de alguma outra referncia j criada, ela sempre ser recriada, portanto

    assim como a arte, o conhecimento no pode nunca estagnar-se.

    Se o processo educacional se estagna no que diz respeito ideias e

    propostas de aprendizado, isso implica em pobreza, sua morte, ou seja, ele no ter

    sentido de existir em uma sociedade que est em constante mudana, mudana

    esta gerida pelo prprio homem. Tendo a educao a funo de possibilitar ao

    homem o viver e o transformar a sua sociedade, deve-se, ento, caminhar para a

    transformao e no para a estagnao. Reproduzir o que se construiu at hoje,

    sem proposies de novas criaes, acabaria por gerar estagnao social, o que

    pode traduzir-se como morte.

    2.2 A contribuio da arte na educao humana

    O homem constri suas concepes, seus valores e suas crenas, a partir

    de suas experincias, de suas aes. O seu modo de ver o mundo e agir nele vai se

    formulando ao longo de sua vida, a partir daquilo que o indivduo vivencia no dia-a-

    dia, no meio em que est inserido. Conforme Severino:

    Est definitivamente superada a idia metafsica de que o nosso modo de ser se definiria por uma essncia, entendida esta como um conjunto de caractersticas fixas e permanentes, ideia consagrada pelos filsofos antigos e medievais quando afirmavam que o agir decorre do ser... Mas justamente aqueles aspectos pelos quais somos especificamente humanos so aspectos que no esto dados a priori, eles so construdos graas a nossa prtica (SEVERINO, 2006).

    A educao exerce um papel primordial no desenvolvimento da

    personalidade dos indivduos. Por essa afirmao, fcil perceber que o futuro de

    um aluno que instigado, que desenvolve a criatividade e o pensamento crtico, tem

    perspectivas melhores de insero na sociedade, pela possibilidade de

    conscientizar-se do seu lugar de cidado.

    A realidade atual apresenta-se, muitas vezes, violenta e hostil, carregada de

    desumanidade e destruio, e todos, crianas e adultos, tornam-se vulnerveis

  • 26

    neste contexto. Kramer (2003) reflete sobre essa realidade, entendendo-a como

    uma barbrie e defende que, para a superao da mesma, a educao deve se dar

    numa perspectiva que conduza os educandos para uma humanizao, de modo que

    se estabeleam experincias de socializao, de trabalho coletivo e de valorizao

    de si e do outro. preciso formar o homem para que ele seja capaz de ler e

    escrever o mundo em que vive, isto , para que ele tenha condies de analisar a

    realidade e, assim, criar estratgias para modific-la no que for preciso, de modo

    que o mundo se torne um espao de partilhamento de cultura e de construo da

    paz.

    Segundo Kramer (2003), a cultura uma juno de tradies, costumes,

    valores, histria e experincias que se manifestam por meio das danas, das

    roupas, da msica, das festas etc. A autora entende que a criana precisa conhecer

    e vivenciar a cultura na qual est inserida, para, a partir da, poder fazer parte da

    construo cultural, que dinmica e, assim, est em constante transformao. As

    artes partem das manifestaes culturais, desse modo, importante que as crianas

    as vivenciem e produzam, pois, assim, podem reconhecer-se como tambm

    produtoras dessa cultura.

    Porm, para tanto, necessrio que a criana tenha oportunidades de

    desenvolver a criatividade e a expresso livre, e que, neste processo, ela possa se

    conhecer e conhecer os outros, formando-se integralmente. As artes, em todas as

    suas modalidades, exploram, inevitavelmente, a expresso, a criatividade, a

    imaginao, a intuio e a sensibilidade de uma pessoa.

    As artes plsticas assumem um papel de grande relevncia para o processo

    de aprendizagem e socializao da criana. Nesse sentido, Bessa ressalta que:

    Quando a criana pinta, desenha, modela ou constri regularmente, a evoluo se acelera. Ela pode atingir um grau de maturidade de expresso que ultrapassa a medida comum. Por outro lado, a criao artstica traz a marca de uma individualidade, provoca libertao de tenses e energias, instaura uma disciplina formativa, interna de pensamento e de ao que favorece a manuteno do equilbrio to necessrio para que a aprendizagem se processe sem entraves, e a integrao social sem dificuldades (BESSA, 1972, p. 13).

    A livre expresso um meio pelo qual se revela a essncia da

    personalidade, pois subentende exteriorizao e representao. Apesar da

    espontaneidade quase sempre presente na criana, a realidade social e material no

  • 27

    possibilitam que a mesma expresse as suas realidades subjetivas. Atravs da

    pintura, desenho, esculturas e outras formas de artes plsticas realizam-se desejos,

    satisfazem-se necessidades e se afirma o Eu, ou seja, a pessoa se revela para si

    mesma. Assim, ao exercitar a expresso livre, a criana libera sua subjetividade e se

    conhece cada vez mais.

    Para Alencar (1990), existem fatores que funcionam como represso ao

    potencial criador, fatores estes que contribuem para a construo de uma viso

    limitada dos prprios talentos e potencialidades, dentre as quais, o medo da crtica e

    a ideia de que o talento est presente em poucos indivduos. Segundo a autora, a

    sociedade que inculca esses medos, atravs das crenas e valores estabelecidos,

    que so repassados, muitas vezes, e que, de forma gradual, atingem as crianas,

    por meio das proibies e repreenses exercidas pelos adultos.

    So estas barreiras emocionais e culturais que inviabilizam a viso da arte

    como criao e no reproduo. Dentre as barreiras emocionais, a apatia, a

    insegurana, o medo, sentimentos de inferioridade e o autoconceito negativo, inibem

    uma forma de pensar mais inovadora e criadora.

    Alencar (1990) define o autoconceito como a imagem subjetiva que cada um

    possui de si mesmo. O autoconceito constitui fator determinante daquilo que se e

    caracteriza-se por facetas que podem ser mais positivas ou mais negativas, como

    exemplo: Eu sou uma pessoa habilidosa, mas sou uma pessoa muito tmida. Este

    exemplo apresenta caractersticas positivas e negativas da personalidade de uma

    pessoa, porm, existem pessoas que possuem um autoconceito totalmente

    negativo.

    Em relao a essas barreiras emocionais, possvel efetuar mudanas, e o

    professor tem um papel importante no sentido de propiciar as condies favorveis

    para o desenvolvimento de habilidades e talentos dos alunos. No desconsiderando

    as diversas atividades pelas quais se pode realizar tal estmulo, importante

    salientar que as artes possibilitam o reforo de estmulos positivos para a construo

    de um autoconceito que valorize muito mais as habilidades do que as dificuldades,

    contribuindo, desse modo, para a elevao da auto-estima dos alunos.

    A educao no se limita estruturao e apropriao de conhecimentos

    tcnicos, histricos, matemticos, geogrficos, entre muitos outros to necessrios

    para a formao humana, mas compreende tambm o objetivo de humanizar, de

    favorecer o crescimento intelectual, emocional/afetivo e cultural da criana, no

  • 28

    sentido de que esta possa incorporar valores como solidariedade, inquietude e

    desejo de mudana, sensibilidade, sentido e vida.

  • 29

    3 A ARTE NA FORMAO DO PROFESSOR DE EDUCAO INFANTIL E ANOS

    INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

    Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma existncia para aprender a desenhar como as crianas. (Picasso)

    Ao dissertar sobre a importncia da arte na educao de crianas, tambm

    necessrio abordar sobre a atuao do professor neste contexto, sobre sua

    importncia no aprendizado e desenvolvimento dos alunos, assim como, sobre sua

    formao nesse processo.

    Para exercer qualquer profisso ou funo necessrio que se tenha

    preparo para o cargo. Na docncia no diferente. Para que possam realizar um

    trabalho de qualidade com as crianas, os professores de educao infantil e dos

    anos iniciais precisam estar em constante reciclagem terica e metodolgica, numa

    busca pelo aprimoramento da prtica pedaggica.

    A cultura construda e transmitida por meio das relaes que se

    estabelecem socialmente, inclusive em sala de aula, assim, professores e alunos

    tambm so produtores e assimiladores de cultura (Lopes, 1999), e de acordo com

    Ketzer:

    Ter cultura independe de ter erudio, trata-se de uma condio inerente a todo ser vivo que, com suas experincias, produz significados individual e coletivamente no conjunto de atores sociais de seu tempo (KETZER, 2003, p. 12).

    Conforme Martins Filho (2005), a criana, com suas brincadeiras, sua forma

    de compreender o mundo, seu modo mgico de pensar e sua construo individual

    como pessoa tambm produz cultura. Neste sentido, considera-se:

    [...] suas manifestaes como provenientes de uma cultura prpria da infncia, seja sob a forma como as interpretam e interagem, seja nos efeitos que nelas produzem, a partir de suas prprias prticas... formas de ao social prprias deste grupo, ou seja, maneiras especficas de ser criana (MARTINS FILHO, 2005, p. 19).

    O professor no somente o produto, o resultado de um curso de

    licenciatura. A formao do professor no se constri de uma s vez, mas um

  • 30

    processo constante, contnuo, que se d ao longo da sua formao e da sua

    atuao como professor, da sua vivncia na prtica, assim como, nas relaes e

    desafios que encontra em seu trabalho com as crianas, nas necessidades visveis e

    no-visveis que elas apresentam ou deixam transparecer em seus comportamentos,

    e na conscientizao progressiva sobre o que realmente importante que as

    crianas vivenciem, aprendam e construam como sujeitos da histria e da cultura.

    Assim, parece inconcebvel que os professores favoream a construo de

    conhecimento se no so desafiados a construir o seu (Lopes, 1999, p. 117).

    importante que o professor tenha conhecimento da relevncia de se trabalhar as

    diversas artes com as crianas da educao infantil e dos anos iniciais do ensino

    fundamental, porm, fundamental que tenha preparo para desenvolver atividades

    de forma adequada, de modo que as artes sejam trabalhadas nos seus diversos

    aspectos: afetivo, cognitivo, sensvel, intuitivo e social (RCNEI, 1998).

    Para tanto, necessrio que o professor busque conhecer obras de arte, a

    vida dos artistas, o contexto em que essas obras foram criadas, suas caractersticas

    mais marcantes, assim como, preciso conhecer as diversas tcnicas utilizadas em

    pintura, desenho, escultura e, da mesma forma, na msica, na dana e no teatro.

    Envolver a arte no processo educacional de crianas para buscar uma

    educao significativa para elas, no se limita apenas em inclu-la em um currculo.

    Para Iavelberg (2003), a arte no pode ser encarada como mgica. Portanto, para

    provocar um desenvolvimento educacional mais rico e significativo entre as crianas,

    necessrio que se reconhea a importncia do envolvimento do educador e da

    instituio escolar.

    Segundo Guimares, Nunes e Leite (1999), experincias com artes

    plsticas, teatro, dana, msica, fotografia, cinema, literatura, entre outras, no

    podem estar desvinculadas da formao do professor, pois, assim como todo

    cidado, ele tem direito de vivenciar conhecimentos mltiplos da sua e de outras

    culturas. Conforme os autores, preciso enfatizar que muito mais necessrio se

    torna o contato com experincias desta natureza para o profissional que estar

    envolvido diretamente com cidados que esto em processo inicial de construo

    cognitiva, afetiva, social, fsica e cultural.

    comum muitas pessoas relatarem que no sabem ou no gostam de

    desenhar, que no sabem produzir trabalhos artsticos. Muitas vezes, o que

    produziram quando ainda eram crianas, parecia no agradar os outros. Ao se

  • 31

    analisar as razes possveis para isso, pode-se chegar concluso de que no se

    trata o desenho e as pinturas como atividades que podem ser aprendidas atravs da

    cultura, mas de atividades construdas essencialmente por dons inatos

    (GUIMARES; NUNES e LEITE, 1999).

    A escola tem a sua parcela de responsabilidade na formao humana, na

    construo sensvel do olhar sobre o pensar e do olhar sobre o mundo. A escola no

    somente espao para se aprender a ler, escrever e fazer contas e deve ir alm do

    que imediatamente utilizvel. Assim, preciso que a escola se comprometa com a

    sensibilizao das crianas, ou seja, que oportunize experincias novas de

    descobertas e que possibilite a expressividade do aluno, permitindo que ele conhea

    a si mesmo e olhe para aquilo que o cerca com curiosidade e sentimento.

    No entanto, isso s ser possvel no espao escolar, se os seus educadores

    tambm passarem por esse processo, pois o caminho da maturidade parece afast-

    los do ser potico precisam ser sensibilizados para que possam resgatar em si, o

    ser da poesia, o olhar sensvel, a expressividade, o potencial criador. (DIAS, 1999,

    p. 178).

    Esse processo de enriquecimento esttico deveria se dar tambm na

    formao inicial do professor, porm, os vrios saberes que compem os currculos

    de formao do docente acabam por impedir a incluso de conhecimentos

    relacionados s artes, entretanto, nada justifica esta ausncia. Para preencher essa

    lacuna em sua formao, o professor pode buscar tais conhecimentos de forma

    independente ou coletivamente. Dias (1999, p. 179) comenta que essa busca pode

    ser pessoal ou em grupos de professores e que os encontros devem ser realizados

    na prpria instituio, sendo previstos tambm, visitas a museus, galerias de arte,

    atelis e passeios pela cidade.

    Dessa forma, o professor estar ampliando seu entendimento sobre as

    diversas formas de arte, sensibilizando assim o seu olhar esttico, permitindo-se

    novas experincias e potencializando a sua criao. Dias ressalta ainda que:

    preciso criar em nossos educadores o gosto pelo belo, pela arte, estimulando-os a frequentar museus, galerias de arte, centros culturais, espetculos de msica e dana. Dessa maneira estaremos contribuindo para a democratizao do conhecimento e para a formao pessoal do educador que consequentemente, repercutir na relao estabelecida por ele com seus alunos na qualidade do trabalho pedaggico por ele desenvolvido (DIAS, 1999, p. 188, 189).

  • 32

    Ao desenvolver o gosto pela arte, alm de apurar a sua sensibilidade, o

    professor entrar em contato com diferentes obras e conhecer o material utilizado

    para a criao das mesmas, o contexto histrico, poltico e social no qual foram

    produzidas e a vida dos artistas que as produziram. Assim, possvel que o

    professor se forme e se construa culturalmente para uma atuao que integre, no

    seu cotidiano com os alunos, um envolvimento maior com o patrimnio cultural, com

    a criao, com a expresso, com o olhar curioso e sensvel, enfim com a liberdade.

    3.1 A arte e o trabalho do professor na educao infantil e nos anos iniciais

    A arte constitui-se como experincia esttica e humana, como rea de

    conhecimentos que tem seus contedos prprios (Borba e Goulart, 2007, p. 48).

    Nesse sentido, preciso que o professor tenha como foco a dimenso cultural e

    esttica e apresente, para os alunos, a vida dos artistas, o contexto em que as obras

    foram criadas, as tcnicas utilizadas e os sentimentos expressos nessas obras, que

    carregam em si, a viso de mundo de seu criador.

    Entre as atividades que possibilitam o conhecimento e a vivncia da arte

    como rea de conhecimento necessria formao humana, Borba e Goulart (2007)

    sugerem a participao em exposies culturais e artsticas, de vrios gneros e

    tipos, como visita a museus, a cinemas ou locais onde so apresentadas danas,

    peas teatrais ou msicas de vrios compositores, de diversas pocas e gneros.

    Pode-se propiciar o acesso a livros de arte, de literatura e biografias de artistas,

    entre muitas outras possibilidades de explorao cultural.

    importante considerar o que propem documentos como o Referencial

    Curricular Nacional para a Educao Infantil (1998) e os Parmetros Curriculares

    Nacionais (1997) para o trabalho com artes na Educao Infantil e Anos Iniciais do

    Ensino Fundamental.

    O RCNEI (1998) apresenta, como eixos de trabalho, a Msica e as Artes

    Plsticas; para o mesmo, a msica deve possibilitar s crianas a audio, a

    percepo, a imitao e a reproduo de sons, para que possam explorar e

    identificar os elementos da mesma e, assim, desenvolver a expresso, interao e a

    ampliao do conhecimento de mundo. O trabalho com artes plsticas, segundo o

    documento, deve considerar a competncia da criana. As atividades devem

    possibilitar a espontaneidade. Sendo um elemento de suma importncia para o

  • 33

    desenvolvimento do indivduo, a linguagem visual possibilita momentos de

    construo que envolvem ideias, valores e sentimentos. As artes visuais devem

    envolver atividades como a pintura, a escultura, o desenho, a fotografia entre outras

    formas de artes plsticas.

    Os PCNs Arte (1997) propem, como elementos de trabalho, a msica, a

    dana, as artes visuais e o teatro, considerando-os como objetos de conhecimento e

    de manifestaes culturais. Sugerem tambm que a dana pode ser vivenciada de

    forma coletiva e individual, sendo os dois modos importantes para o

    desenvolvimento social e da autonomia. O trabalho com as artes visuais deve

    propiciar uma apreciao significativa, ou seja, o desenvolvimento da percepo, a

    decodificao das mensagens e reconhecimento da importncia da arte para a

    sociedade e para a histria da humanidade. Na msica, deve-se desenvolver a

    apreciao, o canto, a composio e o manuseio de instrumentos musicais. Para o

    teatro, preciso que se considere o nvel de desenvolvimento da criana, iniciando-

    se com trabalhos que valorizem a espontaneidade, evoluam at o cumprimento de

    regras e que partam do individual para o trabalho coletivo, considerando-se este, um

    processo gradativo.

    Assim, com base nas contribuies dos autores lidos para a realizao deste

    trabalho e nas pesquisas sobre as diferentes atividades possveis de se realizar com

    crianas de zero a dez anos de idade, foram desenvolvidas algumas orientaes e

    sugestes para o trabalho artstico na Educao infantil e nos Anos Iniciais do

    Ensino Fundamental.

    3.1.1 Leitura e releitura de obras de arte

    Segundo Borba e Goulart (2007), as obras de arte podem representar muitas

    realidades, por isso, so formas artsticas que permitem a leitura do mundo. Elas

    carregam assuntos sociais, passveis de anlises e debates entre os alunos, o que

    possibilita o desenvolvimento do olhar e do pensamento crtico. Nesse sentido, as

    autoras propem trabalhos com obras de arte, como os que foram desenvolvidos em

    uma escola em Niteri/RJ, com crianas de 3 a 5 anos. Porm, para que esse

    trabalho se torne possvel, necessrio que o(s) professor(es) busque(m) inteirar-se

    do assunto e levar, para as crianas, obras de vrios artistas (pinturas e/ou

    esculturas). O professor deve selecionar as obras que considere mais significativas

  • 34

    para o que tem em mente e pesquisar sobre a vida dos artistas selecionados,

    levando materiais sobre os mesmos (como catlogos, livros, CDs) para a sala de

    aula.

    importante, inicialmente, que as crianas ouam as histrias de vida dos

    artistas e conheam algumas de suas obras. Nesse processo, fundamental que se

    busque identificar, nas obras, tendo como base a vida dos artistas, o que os artistas

    pretendiam representar e expressar, levando as crianas a observar os materiais

    utilizados, as cores, as texturas, e a forma como estes foram aplicados em seus

    trabalhos, e a comparar vrias obras para o desenvolvimento da percepo das

    diferentes tcnicas e expresses. Outra etapa importante deste trabalho a releitura

    das obras atravs da elaborao, por parte das crianas, de suas prprias obras,

    alm da elaborao de textos coletivos sobre os artistas e suas obras.

    Segundo Moreno (2007), um trabalho dentro desta perspectiva foi realizado

    no Centro de Educao Infantil da Universidade Estadual de Londrina, atravs do

    Projeto Mestre das Artes: aprendendo Arte com Artistas Famosos. O projeto foi

    realizado com o objetivo: de favorecer a comunicao entre a criana e a arte;

    estimular a investigao, a experimentao, o desenvolvimento de habilidades, e a

    apreenso de conceitos das artes visuais para uma ampliao do conhecimento de

    mundo; despertar a observao e a leitura das expresses artsticas; criar condies

    para o desenvolvimento da livre expresso e da autenticidade, por meio de

    desenhos, pintura, modelagem e colagem, despertando, assim, o gosto e o cuidado

    pela produo artstica.

    Inicialmente, por meio de fotos e filmes, foi possvel que as crianas

    conhecessem um pouco da famlia, da infncia, dos amigos e das obras mais

    importantes dos artistas que foram selecionados pelas professoras para o projeto.

    Entre os artistas que as crianas puderam conhecer, estavam Van Gogh, Picasso e

    Alfredo Volpi. Alm da leitura e apreciao de obras de arte atravs da observao,

    props-se a narrao e a interpretao de imagens e objetos com a utilizao de

    livros, revistas e da internet.

    Aps o primeiro processo de apreciao, as crianas puderam manipular

    diversos materiais (tintas, terra, gua, argila, entre outros), em variados suportes

    (cho, parede, papel, papelo e caixas). Alm disso, realizaram uma visita ao Museu

    de Arte de Londrina, a exposies de artistas plsticos e a um ateli com direito a

    entrevista com o artista.

  • 35

    Parte muito significativa do projeto foi a mostra Criana & Arte, com a

    apresentao das telas produzidas pelas crianas. A partir da observao e

    contemplao, as crianas realizaram uma releitura de obras de artistas como

    Tarsila do Amaral, Van Gogh, Volpi, Michelangelo, Almeida Junior, entre outros, e

    elaboraram produes coletivas. Ao comentar a performance do projeto, Moreno

    salientou:

    Acreditamos que o projeto tem alcanado seus objetivos, uma vez que os educadores e as crianas esto se comunicando e se expressando pela linguagem visual, bem como lendo o mundo que os cerca por meio de leituras e releituras de reprodues de obras famosas, nas visitas a exposies e atelis (MORENO, 2007, p. 43).

    Kherwald (2007) sugere possibilidades de leituras de imagem, no ensino

    fundamental, a partir dos quatro estgios propostos por Feldman, e como exemplo

    de trabalho, apresenta a Leitura da obra Os Retirantes de Portinari.

    Figura 1 Os retirantes Fonte: Site: http://www.google.com.br

    O primeiro estgio a descrio, fase em que o professor pode estimular a

    percepo dos alunos em relao cor, s linhas, ao ttulo, tcnica, ao estilo e

    poca em que foi produzida, questionando, por exemplo: Quantas pessoas voc v

  • 36

    na imagem? Existem outros elementos? Que cores pode-se ver? So claras ou

    escuras? Quais efeitos o artista conseguiu produzir?

    O segundo estgio o da anlise, que consiste numa observao mais

    apurada da obra, com objetivo de se identificar as relaes, os contrastes e os

    efeitos produzidos pelas cores e formas. Neste sentido, pode-se indagar: possvel

    identificar algum movimento na pintura? As cores se contrastam?

    O terceiro estgio a interpretao, nesta fase, procura-se identificar as

    sensaes e os sentimentos experimentados na leitura da obra. Assim, pode-se

    indagar: O que voc sentiu ao observar a obra de Portinari? Que realidade est

    sendo expressa na imagem?

    O quarto estgio o do julgamento. nesta fase que se deve estabelecer

    um dilogo sobre a importncia da obra para as pessoas e para a sociedade e sobre

    a razo da obra ter sido produzida pelo artista. Pode-se questionar: Esta obra

    importante? Por qu? Por que Portinari a pintou?

    Kherwald (2007) prope, tambm, a releitura de obras, ou seja, aps a

    apreciao de algumas obras, os alunos podem expressar-se em relao s

    mesmas atravs do desenho, da pintura, do teatro ou da criao de personagens

    que dialogam entre si sobre problemas levantados pelo professor em sala de aula,

    como a migrao, a posse de terras, a pobreza, a realidade de outros povos, como

    os da frica, ou sobre a realidade brasileira. As questes no devem se limitar a

    estas, o professor pode compor questes diferenciadas, dependendo das obras

    selecionadas para as leituras e releituras.

    Para o autor, um trabalho nesse sentido tende a propiciar criana a

    produo, a leitura e o entendimento das obras, assim como, a reflexo e o repensar

    sobre a sua realidade histrica e social.

    3.1.2 Artes com a natureza

    As artes possibilitam o contato da criana com o mundo e as conduzem a

    um caminho de conscientizao e, consequentemente, a posturas e atitudes

    conscientes sobre ele. Luna e Bisca (2003), no texto Fazendo artes com a

    natureza, apresentam uma experincia de unio entre arte e meio ambiente, na

    qual se retira elementos da natureza para utiliz-los em construes artsticas. Com

  • 37

    pigmentos de folhas, flores, sementes, cascas de rvores, terra e alimentos em p

    possvel fabricar tintas.

    Folhas, sementes e cascas podem ser complementadas a lquidos naturais,

    tais como lcool de cereais, vinagre de ma ou at mesmo gua fervente.

    Elementos em p (terras, ou alimentos em p) podem ser adicionados cola caseira

    (farinha e gua), cola branca e clara de ovo. Para Luna e Bisca:

    Manipular e descobrir novas formas de fazer tinta remete a criana s origens, fonte, essncia, sendo estimulada a questionar o incio de tudo, o incio das cores, o nascimento das tintas. Esse conhecimento, tambm fonte de surpresa, alicera-a culturalmente. (LUNA e BISCA, 2003, p. 135).

    Depois de produzidas, as tintas podem ser aplicadas em papis, tecidos e

    madeira e ainda podem ser agregadas a sementes, gros, folhas, areias, frutos e

    cascas atravs de colagem. O envolvimento com a natureza, por meio da arte, faz

    com que a criana aprenda a dialogar com a realidade que a cerca e construir um

    olhar de respeito para com a mesma.

    O desenho, o trabalho com a modelagem, a colagem, a msica, a dana,

    entre outras atividades artsticas, esto sempre presentes na educao de crianas

    de 0 a 6 anos. Tais atividades so essenciais para o desenvolvimento cognitivo,

    fsico e social da criana e o professor tem uma funo importantssima nesse

    processo, a funo de mediar, conduzir e oferecer os estmulos necessrios e

    adequados para que a mesma vivencie essas experincias de modo significativo.

    A criana precisa ser entendida e respeitada em cada fase que vivencia,

    assim, de modo gradativo, a criana evoluir em todos os aspectos; no aspecto

    motor, atravs dos gestos, movimentos e da fala, quando as palavras comeam a

    sair, por exemplo. Nas expresses artsticas no diferente, a comear pelas

    expresses grficas.

    3.1.3 Desenho

    Segundo Aroeira (1996), a expresso grfica da criana inicia-se por volta

    de um ano e meio, a fase das garatujas; depois passa pela fase pr-esquemtica e

    a seguir, pela fase esquemtica. Na fase das garatujas, os rabiscos so projetados

    como um ato de busca pelo prazer do gesto. Seguidamente, ele se torna um ato de

  • 38

    prazer pelo efeito que o lpis, o pincel ou a caneta realiza no papel, na parede, no

    quadro etc.

    A fase das garatujas estende-se at, mais ou menos, trs anos e meio,

    quando a criana comea a dar nomes aos rabiscos. Aos poucos, os rabiscos

    ganham forma e se tornam figuras e formas reconhecveis.

    Figura 2 Garatujas (Guilherme Riquito 1 ano)

    Fonte: Site: http:// www.prof2000.pt/users/hjco/viseuweb/gravasco/sentir.htm

    Figura 3 Garatujas (Marta Riquito 2 anos)

    Fonte: Site: http://www.prof2000.pt/users/hjco/viseuweb/gravasco/sentir.htm

  • 39

    Figura 4 Garatujas com formas reconhecveis (Beatriz Riquito 3 anos)

    Fonte: Site: http://www.prof2000.pt/users/hjco/viseuweb/gravasco/sentir.htm

    Segundo Aroeira (1996), na fase pr-esquemtica, em geral, o primeiro

    smbolo que a criana desenha a figura de uma pessoa, esta, com o tempo, vai

    evoluindo, tornando-se mais complexa. Antes, o que era apenas um crculo com

    duas retas, representando cabea e corpo, vai recebendo novos componentes:

    rosto, cabelo, roupas etc. A representao da figura humana associa-se, muitas

    vezes, s pessoas da famlia, principalmente ao pai e me.

    Neste processo de evoluo do desenho, o uso da cor muito importante.

    As cores representam a diferenciao entre as figuras e novamente exibiro as

    experincias vividas pelas crianas. No desenho de algumas crianas, as cores

    utilizadas podem ser as reais, as dos objetos e das pessoas, mas, em outros

    desenhos, o professor poder notar, por exemplo, que a rvore no verde e

    marrom, como se costuma pintar. Nestes casos, importante no interferir, exigindo

    que a criana pinte da outra forma, at porque, quando o ip est florido, por

    exemplo, as copas das rvores ganham cores diferentes, ou seja, as folhas verdes

    so substitudas pelas flores brancas, amarelas, roxas etc. preciso que a criana

    atue livremente no desenho, pois atravs dele ela est desenvolvendo suas

    percepes e as representando.

    Nessa fase, os desenhos da criana aparecem de forma aleatria, sem

    nenhuma noo de espao. Em relao ao espao do corpo, a criana no se

    preocupa em representar o tamanho e as propores convenientes das coisas, ao

    invs disso, o tamanho dos desenhos, entre si, so determinados por imperativos

    afetivos, ou seja, aquilo que tem maior significado para a criana, no momento,

    aparece maior no desenho.

  • 40

    Figura 5 Fase Pr-esquemtica (Beatriz Riquito 4 anos)

    Fonte: www.prof2000.pt/users/hjco/viseuweb/gravasco/sentir.htm

    Figura 6 Fase Pr-esquemtica (Sebastio Machado 5 anos)

    Fonte: www.prof2000.pt/users/hjco/viseuweb/gravasco/sentir.htm

    A fase esquemtica revela que a criana, na fase dos 7 aos 9 anos de idade,

    utiliza a ordem das relaes espaciais, ou seja, os componentes so colocados

    numa linha de base e o espao da folha preenchido com componentes que

    representam o cu, nuvens, neve etc.

  • 41

    Figura 7 Fase Esquemtica (Helena 2 ano)

    Fonte: www.prof2000.pt/users/hjco/viseuweb/gravasco/sentir.htm

    Figura 8 Fase esquemtica (Filipa 3 ano)

    Fonte: www.prof2000.pt/users/hjco/viseuweb/gravasco/sentir.htm

    Figura 9 Fase esquemtica (Mnica 4 ano)

    Fonte: www.prof2000.pt/users/hjco/viseuweb/gravasco/sentir.htm

  • 42

    O desenho a atividade artstica que a criana mais realiza. Atravs dele, a

    criana desenvolve habilidades motoras, expressivas e cognitivas e representa as

    experincias vividas e apreendidas no seu dia-a-dia. Segundo Aroeira (1996), neste

    momento a interveno do professor importante no sentido de orientar e

    acompanhar o desenvolvimento da criana. O professor tem a oportunidade, nessas

    atividades, de se aproximar de seus alunos e compartilhar experincias, buscando

    saber o que a criana representou e o que aquele desenho significa para ela. O

    desenho, assim, possibilita uma conexo entre o real e as representaes, o que

    contribui para a elevao da criao. Desse modo, a criana passa a buscar novas

    possibilidades expressivas atravs do desenho.

    No trabalho com desenhos, preciso estar atento aos modos mecnicos de

    sua realizao. Segundo Aroeira (1996), se o professor prope criana que copie

    uma figura ou que preencha os pontilhados, por exemplo, estar reforando o modo

    mecnico e no estimulando a expresso prpria da criana. Copiar desenhos

    prontos no aconselhvel, mas a repetio de atividades importante. As crianas

    gostam de realizar as mesmas atividades e, segundo Reily (1993), a repetio faz

    com elas relembrem as tcnicas que utilizaram, o que facilita a elevao do nvel de

    sua construo artstica.

    Quando a criana produz de modo livre, ela est construindo, em si,

    segurana, est demonstrando a ela mesma que capaz de inventar, explorar,

    combinar, criar e, ao mesmo tempo, passa a entender que, como qualquer pessoa,

    ela pode errar, no acertar sempre. De acordo com Reily (1993), nas atividades

    livres, no se deve, simplesmente, oferecer materiais, de modo aleatrio, s

    crianas. O professor deve, ao propor uma atividade espontnea, sugerir as

    possibilidades de utilizao dos materiais oferecidos, de modo que a criana possa

    escolher dentre as diversas opes.

    Mesmo que o professor apresente um tema comum para todos, importante

    que as crianas criem o seu prprio desenho, a partir de suas concepes de

    imagem, de suas vivncias e experincias anteriores. importante, tambm, que as

    crianas trabalhem de modo livre e que o professor no apresente modelos prontos,

    mas permita que elas inventem.

    O desenho da criana expressa a sua subjetividade, carrega sentimentos,

    sentidos, por isso importante que o professor propicie momentos para que as

    crianas expressem, pela fala, o que pretendem dizer atravs do desenho. Assim,

  • 43

    elas compreendero que fazer arte expressar sentimentos, opinies,

    conhecimento. Neste sentido, Dias comenta:

    Permitir que as crianas aps realizao do desenho possam coment-lo, descrever suas caractersticas, suas intenes, alm de perceber detalhes, assim como so capazes de perceb-los em outras situaes: a preferncia pela utilizao de determinadas cores, a temtica desenvolvida, a ocupao do espao da folha; conhecer a produo do outro que alimenta o acervo de imagem de todo grupo (DIAS, 1999, p. 193-194).

    Como ressalta a autora, momentos assim levaro as crianas a apreciar

    tambm o trabalho do outro e a conhecer outras formas de produzir, novas

    possibilidades de criao, o que propicia o desenvolvimento de atitudes de respeito

    pela subjetividade de seus companheiros de turma e pela diferena.

    3.1.4 Ateli

    Segundo Aroeira (1996), atividades com artes exigem que um espao seja

    preparado pelo professor, pois preciso organizar os materiais, como pincis, tintas,

    lpis de cor e de cera, canetinhas, papis de vrios tamanhos e cores, alm de cola,

    tesouras, barbante, tecidos diversos, sucata, entre vrios outros materiais que

    podem ser usados na elaborao de trabalhos artsticos. importante que as

    crianas conheam os materiais, familiarizem-se com eles, com as cores, com as

    texturas e com as diversas possibilidades de uso dos mesmos.

    O Projeto IBM KIDSMART BRASIL (s/d) apresenta a proposta dos Cantos

    de Atividades Diversificadas, para que as atividades artsticas sejam realizadas em

    um espao prprio. Assim, no Canto das Artes Visuais, recomenda-se a organizao

    dos materiais necessrios para: modelagem, pintura, desenho, recorte e colagem,

    alm de recursos imagticos, como: fotos, imagens de obras de arte, de animais e

    objetos que as crianas podem utilizar como referncia para suas produes. Deve-

    se, tambm valorizar o trabalho do aluno, por meio da exposio de suas produes,

    que podem ser apresentadas na sala de aula ou em outros espaos da escola.

    Nas atividades de modelagem, assim como no desenho e na pintura, as

    crianas apresentam uma evoluo de representao. No incio, no tm muito

    controle, depois, elas comeam a manifestar o desejo de fazer bolinhas e cobrinhas

  • 44

    e, assim, a massinha vai ganhando formas que mesmo irreconhecveis para o

    adulto, so a representao do real, dentro das possibilidades da criana (DIAS,

    1999).

    As atividades de recorte e colagem, como rasgar, picar, recortar e colar

    exigem que a criana manuseie tesouras e use a cola, o que propicia o

    desenvolvimento de habilidades motoras. Tais atividades podem ser realizadas de

    modo mais livre por crianas maiores, porm, as crianas menores precisam do

    auxlio e da superviso do professor quando foram usar tesouras e colas (DIAS,

    1999).

    3.1.5 Teatro

    Para trabalhar teatro com as crianas de 0 a 6 anos, os jogos de faz-de-

    conta so grandes aliados. Em brincadeiras dessa natureza, as crianas tm a

    possibilidade de expressar-se com a voz e o corpo, incorporando emoes e

    sentimentos a essas manifestaes. Nas atividades de faz-de-conta, as crianas

    assumem papis, incorporam personagens e interagem em uma dinmica de

    comunicao e improvisao.

    Segundo Oliveira (2007), este trabalho se torna possvel em propostas de

    dramatizaes, em que, de incio, faz-se necessrio organizar cenrios como

    casinhas, mercados, lojas, sala de aula, entre outros, que so temas prximos do

    cotidiano das crianas, ou at mesmo cenrios do fantstico, ou seja, de contos de

    fadas, com princesas, monstros e animais que falam.

    Em uma creche, as crianas de 3, 4 e 5 anos gostavam de ficar por muito tempo em uma rea onde foi montado um supermercado em miniatura, classificando elementos no caso, produtos naturais (como frutas e vegetais) e produtos industrializados (de limpeza, de higiene, de alimentao)... Em outras duas reas da creche foram organizadas casinhas, uma delas permitia que as crianas assumissem papis de membros de uma famlia humana. Sendo elas os prprios personagens dos enredos, utilizavam-se do corpo, alm da voz, como recurso expressivo-comunicativo. Na outra eram dramatizados episdios da vida fantstica de uma famlia de ursinhos. Nessas situaes as crianas podiam manipular os bonecos-personagens, emprestando-lhes a voz (OLIVEIRA, 2007, p. 232).

  • 45

    Nestes ambientes, as crianas assumem personagens com diferentes

    caractersticas fsicas, de comportamentos e de personalidade. As atividades podem

    ser enriquecidas com fantasias e vestimentas, maquiagem, acessrios e mscaras

    que caracterizam os diferentes personagens. Nesse contexto, o papel do professor

    supervisionar as dramatizaes e dar apoio e condies para o avano nas

    interpretaes. J em outros:

    [...] supervisionam dramatizaes realizadas pelas crianas para faz-las avanar na construo de enredos mais longos, seja os criados por elas prprias, seja os tirados de histrias infantis ou contos de fada, levando-as a caracterizar de forma cada vez melhor os personagens com respeito a postura, voz, indumentrias, cenrios e cenas. A interveno do professor deve basear-se em uma anlise das situaes de jogo produzidas pelas crianas, em relao tanto a seu contedo (temas, personagens, clima emocional, etc.) como a seus aspectos externos ou formais (normas, uso dos materiais, organizao do espao, modos de desempenhar os papis como protagonista ou no, e outros) (OLIVEIRA, 2007, p. 234).

    Moreno e Paschoal (2008) aconselham que se deixe disposio das

    crianas um ba, uma caixa ou uma arara, com roupas e calados diversos, que

    podem ser de adultos, e fantasias industrializadas de personagens de contos de

    fada e super-heris, de modo que possam ser utilizadas para a criao de enredos

    para representaes teatrais. Cria-se, assim, o canto da fantasia.

    O teatro de fantoches tambm uma importante atividade de representao,

    pois possibilita a criao de personagens, por meio da manipulao dos bonecos e

    do desenvolvimento de falas para eles, assim, exercita-se tambm a oralidade.

    Neste tipo de atividade pode-se usar, tambm, a msica. Os fantoches possibilitam

    a produo de textos orais e a sincronia entre os movimentos dos bonecos e as

    falas. As prprias crianas podem construir histrias e cont-las atravs dos

    fantoches. Nesta atividade, as crianas iro inventar, improvisar, expressar-se e criar

    (NOVA ESCOLA, 2006).

    Moreno e Paschoal sugerem:

  • 46

    Uma caixa, uma sacola, ou mesmo uma mala, mais uma vez servem para estimular a criatividade e o faz-de-conta das crianas, quando nessas encontram-se vrios bonecos que ganham vida em nossas mos, isto , os fantoches e marionetes, to fascinantes aos olhos e nas mos infantis (MORENO e PASCHOAL, 2008, p. 129).

    O teatro de fantoches alia a tcnica de manipulao de bonecos

    representao oral de textos, portanto, uma atividade que pode ser explorada nos

    anos iniciais do Ensino Fundamental, a partir do 1 ano, como mostra o artigo

    Personagens na palma da mo da Revista Nova Escola Edio Especia