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Defesa em Setor: uma nova técnica defensiva para a Doutrina Militar Terrestre Brasileira ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Cav CARLOS ANDRÉ MACIEL LEVY Rio de Janeiro 2014

TCC Maj Levy - Versão Final

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Defesa em Setor: uma nova técnica defensiva para a Doutrina Militar Terrestre Brasileira

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(INTENCIONALMENTE EM BRANCO)

Defesa em Setor: uma nova técnica defensiva

para a Doutrina Militar Terrestre Brasileira

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Cav CARLOS ANDRÉ MACIEL LEVY

Rio de Janeiro

2014

Page 2: TCC Maj Levy - Versão Final

Maj Cav CARLOS ANDRÉ MACIEL LEVY

Defesa em Setor: uma nova técnica defensiva

para a Doutrina Militar Terrestre Brasileira

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Ciências Militares.

Orientador: Ten Cel Cav ROVIAN ALEXANDRE JANJAR

Rio de Janeiro 2014

Page 3: TCC Maj Levy - Versão Final

L 668d Levy, Carlos André Maciel.

Defesa em Setor: uma nova técnica defensiva para a Doutrina Militar Terrestre Brasileira./ Carlos André Maciel Levy. 2014

60 f. : il ; 30cm.

Trabalho de Conclusão de Curso – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2014.

Bibliografia: f.58-60

1. Defesa em Setor. 2. Brigadas Blindadas. 3. Brigadas Mecanizadas. I. Autor. II. Título.

CDD 355.4

Page 4: TCC Maj Levy - Versão Final

Maj Cav CARLOS ANDRÉ MACIEL LEVY

Defesa em Setor: uma nova técnica defensiva

para a Doutrina Militar Terrestre Brasileira

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Ciências Militares.

Aprovado em: _______________

COMISSÃO AVALIADORA

___________________________________________________ ROVIAN ALEXANDRE JANJAR – Ten Cel Cav – Presidente

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_____________________________________________________ JORGE FRANCISCO DE SOUZA JÚNIOR – Maj Cav – Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

____________________________________________ ANDRÉ BOU-KHATER PIRES – Maj Cav – Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

Page 5: TCC Maj Levy - Versão Final

À minha esposa Andréa e minhas

filhas Taíse, Júlia e Manuela. Uma sincera

homenagem pelo carinho e compreensão

demonstrados durante a realização deste

trabalho.

Page 6: TCC Maj Levy - Versão Final

AGRADECIMENTOS

Os mais sinceros agradecimentos ao meu orientador, Ten Cel Cav Rovian Alexandre

Janjar, pelo apoio prestado em todas as etapas deste trabalho, cujas observações

sempre contribuíram para o aprimoramento do mesmo.

Aos meus camaradas oficiais-alunos do Curso de Comando e Estado-Maior da

ECEME 2013/2014 pela colaboração, troca de experiências, intercâmbio de material

e desenvolvimento de ideias.

Page 7: TCC Maj Levy - Versão Final

“So the defensive form of war is not a simple shield, but a shield made up of well-directed blows.” [Assim, a forma de guerra defensiva não é um simples escudo, mas sim um escudo composto por golpes bem dirigidos.] (Carl von Clausewitz, On War, 1832)

Page 8: TCC Maj Levy - Versão Final

RESUMO Este trabalho teve por objetivo analisar a técnica de Defesa em Setor, utilizada pelo

Exército dos Estados Unidos da América (EUA), verificando se ela pode ser inserida

na Doutrina Militar Terrestre Brasileira (DMTB). Contou com um amplo estudo

bibliográfico e documental, a fim de elucidar algumas questões de estudo, como:

quais as características da técnica de Defesa em Setor; quais os ensinamentos e

soluções advindas desta nova técnica; se ela pode ser enquadrada pelos

fundamentos das Operações Defensivas; e se ela pode ser adotada pelo Exército

Brasileiro (EB). Para isso, o estudo comparou a doutrina defensiva brasileira com a

norte-americana. Verificou-se, também, a organização das Brigadas Blindadas e

Mecanizadas dos dois países, a fim de uma breve comparação de meios, para,

enfim, chegar-se a conclusão de que a técnica é pertinente e traz novos

conhecimentos para a DMTB.

Palavras-chave: Defesa em Setor, Brigada Blindada, Brigada Mecanizada.

Page 9: TCC Maj Levy - Versão Final

ABSTRACT

This study aimed to analyze the technique of Defense in Sector, used by the Army of

the United States of America (USA), making sure it can be inserted in the Brazilian

Terrestrial Military Doctrine (DMTB). The work included a literature and documentary

review, to elucidate some study questions such as: what are the technical

characteristics of the Defense in Sector; what are the teachings and solutions coming

from this new technique; if it can be framed by the fundamentals of Defensive

Operations; and whether it can be adopted by the Brazilian Army (EB). For this, the

study compared the Brazilian defensive doctrine with the American. This study

describe, also, the organization of armored and mechanized brigades of the two

countries to a brief comparison of military means, to finally arrive at the conclusion

that the technique is relevant and brings new knowledge to DMTB.

Key Words: Defense in Sector, Armored Brigade, Mechanized Brigade.

Page 10: TCC Maj Levy - Versão Final

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

AC - Anticarro

ADA - Área de Defesa Avançada

ADP - Army Doctrine Publication

AE - Área de Engajamento

AOC - Área Operacional do Continente

A Op - Área de Operações

Av Ex - Aviação do Exército

BCT - Brigade Combat Team

Bda - Brigada

BIB - Batalhão de Infantaria Blindado

Bld - Blindado

Btl - Batalhão

C² - Comando e controle

CAF - Coordenador do Apoio de Fogo

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CC - Carro de combate

DAAe - Defesa Antiaérea

Def A - Defesa de Área

Def Mv - Defesa Móvel

Def Pos - Defesa em Posição

Def St - Defesa em Setor

DMTB - Doutrina Militar Terrestre Brasileira

Dout - Doutrina

EB - Exército Brasileiro

ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

EM - Estado-Maior

EME - Estado-Maior do Exército

Eng - Engenharia

EsAO - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

EUA - Estados Unidos da América

Page 11: TCC Maj Levy - Versão Final

Ex - Exército

FA - Forças Armadas

FDI - Forças de Defesa de Israel

FEB - Força Expedicionária Brasileira

FM - Field Manual (Manual de Campanha)

FT - Força-Tarefa

FTC - Força Terrestre Componente

F Ter - Força Terrestre

GM - Guerra Mundial

GU - Grande Unidade

LAADA - Limite Anterior da Área de Defesa Avançada

L Ct - Linha de Controle

MD - Ministério da Defesa

Mdd Coor Ct - Medida de Coordenação e Controle

Mec - Mecanizado

Mvt Rtg - Movimento Retrógrado

OM - Organização Militar

Op Def - Operação Defensiva

Op Ofs - Operação Ofensiva

OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte

P Atq F - Posição de Ataque pelo Fogo

P Blq - Posição de Bloqueio

PRA - Ponto de Referência de Alvo

QO - Quadro de Organização

QOEs - Quadro de Organização Escolar

RCC - Regimento de Carros de Combate

SU - Subunidade

TO - Teatro de Operações

U - Unidade

VBC - Viatura Blindada de Combate

VBTP-MR - Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Média de Rodas

Vtr - Viatura

Z Aç - Zona de Ação

Page 12: TCC Maj Levy - Versão Final

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Defesa por Setores do Exército Argentino .............................. 14

FIGURA 2 - Exemplo de uma Defesa em Profundidade ........................... 28

FIGURA 3 - Estrutura da Brigada de Infantaria Blindada do EB................... 30

FIGURA 4 - Estrutura da Brigada de Cavalaria Blindada do EB................... 31

FIGURA 5 - Estrutura da Brigada de Cavalaria Mecanizada do EB.............. 32

FIGURA 6 - VBTP-MR Guarani ................................................................. 33

FIGURA 7 - Estrutura da Brigada de Infantaria Mecanizada do EB.............. 34

FIGURA 8 - Tipos de Brigada do Exército dos EUA .................................. 35

FIGURA 9 - Brigadas Blindada, de Infantaria e Stryker dos EUA ............... 36

FIGURA 10 - Brigada Stryker dos EUA ……………..................................... 37

FIGURA 11 - Unidade Mecanizada dos EUA.................................................. 37

FIGURA 12 - Unidade Blindada dos EUA …………...................................... 37

FIGURA 13 - Quadro com armamento de dotação de SU Inf Mec dos EUA.. 38

FIGURA 14 - Brigada usando a técnica de Defesa em Setor ..................... 40

FIGURA 15 - Ataque Sírio nas Colinas de Golan ....................................... 42

FIGURA 16 - Esquema de manobra de brigada na Defesa em Setor ........... 47

FIGURA 17 - Área de Engajamento de uma FT valor U ............................. 49

FIGURA 18 - Medidas de coordenação e controle na Defesa em Setor ..... 50

FIGURA 19 - Medidas de coordenação e controle para uma AE ................... 52

FIGURA 20 - Sistema de obstáculos para uma Área de Engajamento .......... 54

Page 13: TCC Maj Levy - Versão Final

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 12

1.1 O TEMA................................................................................................ 15

1.2 O PROBLEMA...................................................................................... 15

1.2.1 Antecedentes do problema.............................................................. 15

1.2.2 O problema………............................................................................. 16

1.2.3 Alcances e Limites............................................................................ 16

1.2.4 Justificativas....................................................................................... 16

1.3 OBJETIVOS......................................................................................... 17

1.3.1 Objetivo Geral……............................................................................ 17

1.3.2 Objetivos Específicos........................................................................ 17

1.3.3 Questões de Estudo........................................................................... 17

1.4 METODOLOGIA……………………………………………………..……. 18

1.4.1 Tipos de Pesquisa…………............................................................... 18

1.4.2 Coleta de Dados…............................................................................ 19

1.4.3 Tratamento dos Dados...................................................................... 19

1.4.4 Limitações do Método....................................................................... 20

2 OPERAÇÕES DEFENSIVAS.............................................................. 21

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................... 21

2.2 A DOUTRINA BRASILEIRA................................................................. 22

2.2.1 Formas de Manobra………............................................................... 23

2.2.2 Táticas e Técnicas Especiais na Defensiva.................................... 24

2.3 A DOUTRINA NORTE-AMERICANA................................................... 24

2.3.1 Fundamentos das Op Def................................................................ 25

2.3.2 Finalidade das Op Def...................................................................... 26

2.3.3 Tipos de Op Def................................................................................ 27

2.3.4 Técnicas Defensivas......................................................................... 27

2.4 CONCLUSÃO PARCIAL...................................................................... 29

3 BRIGADAS BLINDADAS E MECANIZADAS..................................... 30

3.1 COMPOSIÇÃO DAS BRIGADAS DO EB…………............................. 30

3.1.1 Brigada de Infantaria Blindada......................................................... 30

3.1.2 Brigada de Cavalaria Blindada......................................................... 31

Page 14: TCC Maj Levy - Versão Final

3.1.3 Brigada de Cavalaria Mecanizada.................................................... 32

3.1.4 Brigada de Infantaria Mecanizada.................................................... 33

3.2 COMPOSIÇÃO DAS U E BDA NORTE-AMERICANAS.................... 35

3.2.1 Escalão Brigada............................................................................... 35

3.2.2 Escalões Unidade e Subunidade...................................................... 37

3.3 COMPARAÇÃO ENTRE OS MEIOS.................................................. 38

3.4 CONCLUSÃO PARCIAL...................................................................... 39

4 DEFESA EM SETOR........................................................................... 40

4.1 GENERALIDADES…..……………………........................................... 40

4.2 CASO HISTÓRICO............................................................................ 41

4.3 FATORES DA DECISÃO..................................................................... 42

4.3.1 Missão............................................................................................... 42

4.3.2 Inimigo............................................................................................... 43

4.3.3 Terreno e Condições Meteorológicas............................................. 42

4.3.4 Meios................................................................................................. 44

4.3.5 Tempo................................................................................................ 44

4.3.6 Considerações Civis......................................................................... 45

4.4 ORGANIZAÇÃO DA DEFESA............................................................. 45

4.5 ÁREA DE ENGAJAMENTO................................................................. 48

4.6 MEDIDAS DE COORDENAÇÃO E CONTROLE................................. 49

4.6.1 Linhas de Controle............................................................................. 49

4.6.2 Áreas de Engajamento....................................................................... 50

4.6.3 Posições de Bloqueio....................................................................... 50

4.6.4 Linhas de Obstáculos...................................................................... 51

4.6.5 Pontos de Referência de Alvo......................................................... 51

4.6.6 Setores de Tiro................................................................................. 51

4.6.7 Posição de Ataque pelo Fogo......................................................... 51

4.6.8 Eixo de Progressão para deslocamento da reserva...................... 51

4.6.9 Linhas de Acionamento.................................................................... 52

4.6.10 Prioridade de engajamento dos fogos........................................... 53

4.7 APOIO AO COMBATE......................................................................... 53

4.7.1 Apoio de Fogo................................................................................... 53

4.7.2 Apoio de Engenharia........................................................................ 54

Page 15: TCC Maj Levy - Versão Final

4.7.3 Demais Apoios................................................................................... 55

4.8 CONCLUSÃO PARCIAL...................................................................... 55

5 CONCLUSÃO...................................................................................... 56

REFERÊNCIAS.................................................................................... 58

Page 16: TCC Maj Levy - Versão Final

12

1 INTRODUÇÃO

Os conflitos do Século XXI estão calcados em novos paradigmas. O avanço da

ciência e da tecnologia no mundo atual tem transformado a forma com que se

desenvolvem os conflitos. Conforme a visão de SCHUURMAN (2011, p. 47), “os

teóricos da nova guerra já provaram que as forças armadas do Ocidente precisam

alterar definitivamente a forma como encaram os conflitos armados e como se

preparam para eles.” Dessa forma, a “nova guerra” exigirá uma atualização

constante da doutrina das forças armadas, a fim de que possam estar em melhores

condições de conquistar a vitória.

Neste contexto, pode-se observar que o Exército (Ex) dos Estados Unidos da

América (EUA) tem procurado desenvolver uma doutrina (Dout) atualizada, pois,

como superpotência unipolar no cenário mundial, necessita estar preparado para

atuar nos mais remotos conflitos.

O Exército Brasileiro (EB), por outro lado, tem tido dificuldade em manter a sua

doutrina atualizada, uma vez que não participa de uma guerra desde a 2ª Guerra

Mundial, quando enviou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) para o Teatro de

Operações (TO) Europeu.

“Na visão militar, o homem só aprende pela experiência. Se tem pouca

oportunidade de aprender pela própria experiência terá então de aprender pela

experiência dos outros. Daí o gosto do militar pelo estudo da História."

(HUNTINGTON, apud DARÓZ, 2013)

Dessa forma, estudar a evolução da Doutrina Militar Norte-Americana pode ser

útil para a atualização da Doutrina Militar Terrestre Brasileira (DMTB).

Segundo CLAUSEWITZ (1832, p.191), “os exemplos históricos tornam tudo

claro e ainda proporcionam o melhor tipo de prova nas ciências empíricas. Isto é

verdadeiro principalmente na arte da guerra”.

Com o objetivo de atualizar a sua doutrina militar, o Estado-Maior do Exército

(EME) Brasileiro lançou, no início de 2013, um novo conceito operacional para o

emprego da Força Terrestre (F Ter): as Operações no Amplo Espectro.

Neste novo conceito operacional, as forças a serem empregadas devem estar

aptas a conduzir operações combinando atitudes, simultânea ou sucessivamente,

em operações ofensivas, defensivas, de pacificação e de apoio a órgãos

Page 17: TCC Maj Levy - Versão Final

13

governamentais, tudo isso em um ambiente conjunto e interagências e, por vezes,

multinacional (BRASIL, EB 20-MF-10.102, 2014, p. 1-2).

De acordo com NASCIMENTO (2013, p.8), visualizam-se três momentos

marcantes na evolução do EB ao longo dos últimos trinta anos:

o primeiro, por ocasião da FT 90, com os reflexos iniciais já no ano de 1986, talvez um dos esforços de transformação de curto prazo de maior impacto na Força (criação dos Grandes Comandos Militares, mecanização de diversas Unidades, aquisição e repotencialização de blindados, implantação da Aviação do Exército, ampliação das escolas militares, etc.); um segundo momento quando da adoção da Doutrina Delta, na metade da década de 90, rompendo com consagrados conceitos ainda decorrentes da Segunda Guerra Mundial; e o momento atual, ocasião em que o Estado-Maior do Exército (EME) conduz mais um ambicioso Processo de Transformação da Força, ao mesmo tempo que apresenta um novo conceito doutrinário para seu emprego, intitulado Operações no Amplo Espectro.

O primeiro momento citado, o da FT 90, levou à reformulação do Manual de

Campanha de Operações, no ano de 1988 (BRASIL, C 100-5, 2ª ed., 1988).

O segundo momento, com a adoção da Doutrina Delta (BRASIL, IP 100-1,

1996), modificou substancialmente a Dout anterior, levando à reformulação dos

principais manuais de campanha do EB, entre eles novamente o de Operações

(BRASIL, C 100-5, 3ª ed.,1997).

A Doutrina Delta, de forma geral, privilegiou as Operações Ofensivas (Op Ofs).

Entretanto, sentia-se a necessidade do Exército também evoluir no tocante às

Operações Defensivas (Op Def). Autores como Ribeiro, Diniz e Rosa, entre outros,

já levantaram a necessidade de atualização da DMTB voltada para o estudo da

defensiva.

Segundo RIBEIRO (2007, p. 131):

Em relação à doutrina adotada pelo Exército dos EUA, a doutrina em vigor no EB é menos agressiva nos escalões brigada e inferiores, explora menos a iniciativa dos escalões subordinados, e, embora enfatize o máximo de emprego de ações ofensivas, prioriza a manutenção do terreno e explora com menos ênfase o conceito de armas combinadas na defesa.

A doutrina defensiva do Ex Norte-Americano, por sua vez, conta com uma

gama maior de opções para que um Estado-Maior possa planejar a sua defesa.

Como exemplo, dentro da Defesa de Área (Def A), eles podem utilizar duas formas

de manobra: a Defesa Avançada (Forward Defense) ou a Defesa em Profundidade

(Defense in Depth) (EUA, FM 3-90.6: Brigade Combat Team, 2010, p. 3-13).

A partir de 2013, surgiu o terceiro momento citado por Nascimento, com o novo

Conceito Operativo do EB de Operações no Amplo Espectro. Com base nele, estão

Page 18: TCC Maj Levy - Versão Final

14

sendo editados diversos manuais pelo EME, incluindo o novo manual de Operações

(BRASIL, EB 20-MF-10.103, 4ª ed., 2014).

As Operações no Amplo Espectro são o cerne da DMTB, por descrever, em

sua essência, como as forças terrestres devem se amoldar para atender às

necessidades específicas das operações terrestres como parte de uma Força

Conjunta (BRASIL, EB 20-MF-10.103, 2014, p. 3-3).

Mesmo após a edição de novos manuais, como o da Força Terrestre

Componente (BRASIL, EB 20-MC-10.202, 2014), e o de Operações (BRASIL, EB

20-MF-10.103, 2014), observa-se que a base da doutrina defensiva brasileira não foi

alterada, havendo espaço para a inserção de novas táticas e técnicas de defesa.

No ano de 2011, a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e a Escola

de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) realizaram estudos acerca do

tema: “as Op Def no contexto da Doutrina Delta”. Com base nesses estudos,

sugeriram a adoção da técnica de “Defesa em Setor” (Def St) na doutrina brasileira

(BRASIL, EsAO, 2011).

Figura 1 - Defesa por Setores do Exército Argentino. Fonte: ARGENTINA, ROB 00-01, 2007.

A Defesa em Setor é uma técnica defensiva que é empregada em diversos

exércitos no mundo, entre eles o dos EUA e o da Argentina (ver figura 1). Nela a

tropa utiliza a profundidade da zona de ação para derrotar o inimigo dentro de seus

PA

LACPC

Res

Res

M

M

M

M

Res

Page 19: TCC Maj Levy - Versão Final

15

limites, mantendo a segurança do flanco e garantindo a unidade de esforços. Os

setores dão aos comandantes subordinados a liberdade de descentralizar o

planejamento dos fogos e permitem que os mesmos aloquem suas forças para se

adequar ao terreno e se desdobrem em profundidade (EUA, FM 17-95, 1996).

1.1 O TEMA

Este trabalho teve por tema a análise de uma nova técnica defensiva, possível

de ser adotada pela DMTB, denominada de “Defesa em Setor”.

1.2 O PROBLEMA

1.2.1 Antecedentes do Problema

Após a Guerra do Yom Kippur, ocorrida em outubro de 1973, entre Israel e a a

coligação Egito-Síria, os EUA sentiram a necessidade de reformular as suas Forças

Armadas (FA) (SCHUBERT e KRAUS, 1998, p. 68-72).

Com base em estudos sobre a doutrina ofensiva da então União Soviética, o Ex

dos EUA ficou, por vários anos, obsessivo em como repulsaria o ataque de uma

possível força do Pacto de Varsóvia através da fronteira da Alemanha. Os planos

defensivos eram baseados na presunção de que o Pacto de Varsóvia excederia

demasiadamente as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)

(DINIZ, 2005).

Segundo Ribeiro (2007, p. 24), no ano de 1982, os EUA lançaram uma nova

doutrina de defesa, conhecida por “Batalha Ar-Terra”. Para o Exército Norte-

Americano, esta nova doutrina foi traduzida no manual FM 100-5 Operações. Uma

das inovações do referido manual foi a introdução de uma técnica defensiva usada

na Defesa em Posição (Def Pos), denominada de “Defesa em Setor”. Seu objetivo

foi tornar a defesa mais dinâmica, delegando mais iniciativa aos escalões

subordinados, de modo a permitir que realizassem um desgaste nas forças inimigas,

por meio de pequenas ações ofensivas, sem, contudo, caracterizar uma Defesa

Móvel (Def Mv), que é empregada pelo escalão divisão e superiores.

Conforme relata Diniz (2005, p. 22), a Defesa em Setor pode ser conduzida do

escalão Corpo de Exército até o escalão Unidade, tendo sido experimentada durante

a Guerra do Golfo, no ano de 1991, sendo que as subunidades e pelotões

participariam da defesa inseridos na manobra de suas unidades enquadrantes.

Page 20: TCC Maj Levy - Versão Final

16

O fator primordial para o desenvolvimento desta técnica defensiva, baseava-se na possibilidade do inimigo dispor de uma faixa do terreno muito grande para mobiliar suas vias de acesso, aliado ao fato dos EUA não disporem de forças suficientes para efetuar uma defesa linear em toda frente do campo de batalha, o que exigiria a mobilização de um exército muito maior do que o existente na Europa. Assim sendo, se for verificado o que prescreve a Doutrina Delta para o combate convencional, em Área Operacional do Continente (AOC), a qual pressupõe uma guerra de movimento em grandes distâncias, com carências de recursos e informações, com grande dispersão de Unidades, em ambiente de combate continuado e não linear, poder-se-ia supor a possibilidade do EB adotar a técnica defensiva da Defesa em Setor, dentro de uma operação defensiva ou numa parada temporária em curso de uma operação ofensiva. (DINIZ, 2005, p. 22)

1.2.2 O Problema

Sabendo-se da dificuldade do EB de conseguir manter-se atualizado, e tendo

ciência de que o Exército dos EUA está no ápice da doutrina mundial, não seria o

caso de estudar a doutrina de emprego deles em Operações Defensivas?

Quais seriam as principais diferenças doutrinárias no tocante às Op Def entre

os dois exércitos? Há táticas e técnicas que podemos aproveitar em nossa doutrina?

Diante do exposto, o problema foi assim enunciado:

- A técnica de Defesa em Setor, empregada pelo Exército dos Estados Unidos,

é relevante e pode ser implementada na DMTB?

1.2.3 Alcances e Limites do Estudo

O estudo foi voltado para a análise da técnica de Defesa em Setor, existente na

doutrina do Ex dos EUA, dando-se ênfase para o nível Brigada (Bda). Dentre os

diversos tipos de Bda existentes, o trabalho se concentrou nas Bda Blindadas (Bld) e

Mecanizadas (Mec).

Não se pretendeu discutir sobre adequação de quadros de organização (QO) a

ser adotado pelas organizações militares (OM) e pelas grandes unidades (GU) para

emprego da técnica. O estudo em questão fez apenas referências sobre o material e

pessoal empregados por ambos os exércitos. Caso o autor o fizesse, correria o risco

de mudar o foco de seu trabalho, ampliando inadequadamente sua análise.

Por tratar-se de uma pesquisa bibliográfica, e carecer de uma experimentação

de campo, a investigação foi limitada pela impossibilidade de se generalizar os

resultados ao ambiente real de combate.

1.2.4 Justificativas

Page 21: TCC Maj Levy - Versão Final

17

A pesquisa espera contribuir para a atualização da doutrina de emprego do EB,

em particular nas Op Def. Pretende apresentar uma nova técnica defensiva – a

Defesa em Setor – possível de ser empregada pelas Bda Bld e Mec. Pretende,

ainda, levantar dados importantes para a formulação de novas táticas, técnicas e

procedimentos a serem adotados no campo de batalha, em especial por forças

blindadas e mecanizadas.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Verificar se a técnica de Defesa em Setor, existente na doutrina do Exército

dos EUA, pode ser empregada pelo EB.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) descrever a técnica de Defesa em Setor existente na doutrina norte-

americana;

b) identificar se ela traz novos ensinamentos e soluções para o emprego de

tropas blindadas (Bld) e mecanizadas (Mec) em Op Def;

c) identificar se ela é adequada e se pode ser enquadrada pelos fundamentos

da defensiva da DMTB; e

d) sugerir mudanças na DMTB.

1.3.3 Questões de Estudo

Conforme Neves e Domingues (2007, p. 48), em trabalhos cujo objetivo geral é

descrever um evento ou um processo, normalmente utiliza-se questões de estudo

para nortear o desenvolvimento da pesquisa. Elas são o ponto de partida para

encontrar um caminho que leve ao melhor conhecimento acerca do problema, e são

fundamentais para chegar a uma solução. A adoção das questões de estudo se dá

em substituição ao processo de formulação de hipóteses.

No presente trabalho foram levantadas as seguintes questões de estudo:

a) a técnica de Defesa em Setor traz novos ensinamentos e soluções para o

emprego de tropas Bld e Mec em Op Def?

Page 22: TCC Maj Levy - Versão Final

18

b) ela é adequada e pode ser enquadrada pelos fundamentos da defensiva da

DMTB?

c) o EB poderá adotar a referida técnica desde já, ou terá que realizar

adaptações em sua estrutura ou meios militares?

1.4 METODOLOGIA

A seguir, estão evidenciados os tipos de pesquisa que foram utilizados no

presente trabalho, em relação aos objetivos específicos propostos e aos meios

empregados. Seguindo as taxionomias de Vergara (1998) e de Neves e Domingues

(2007), foram utilizados os seguintes tipos de pesquisa: aplicada, qualitativa,

descritiva, documental e bibliográfica.

1.4.1 Tipos de Pesquisa

Quanto à natureza, o presente estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa do

tipo aplicada, pois tem por objetivo a geração de conhecimentos para aplicação

prática, voltados à implementação de uma nova técnica de combate para ser

utilizada em Op Def. Para tal, utiliza-se do método indutivo como forma de viabilizar

a tomada de decisões acerca do alcance da investigação, das regras de explicação

dos fatos e da validade de suas generalizações (NEVES e DOMINGUES, 2007).

Quanto à forma de abordagem, a pesquisa é considerada qualitativa, uma vez

que contemplou a subjetividade, sendo influenciada pela visão particular do

pesquisador, seguindo um procedimento reflexivo e crítico na busca de respostas

para o problema apresentado. Seu planejamento e execução fizeram parte de um

processo sistematizado que compreende várias etapas detalhadas, seguindo as

normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, NBR 15287:2005), na

qual consta o item “metodologia”.

Com base em Vergara (1998), pode-se afirmar que ela também é uma

pesquisa descritiva, porque pretende descrever as características da técnica de

Defesa em Setor. Enquadra-se também como pesquisa bibliográfica, porque tem

sua fundamentação teórico-metodológica na investigação sobre assuntos de

desenvolvimento de doutrina militar disponíveis em livros, manuais e artigos de

acesso livre ao público em geral. Por fim, ainda é documental, uma vez que se utiliza

Page 23: TCC Maj Levy - Versão Final

19

de documentos de trabalhos, notas de aula e relatórios do EB e do Exército dos

EUA, não disponíveis para consultas públicas.

1.4.2 Coleta de Dados

O estudo teve início com uma pesquisa bibliográfica na literatura (livros,

manuais, revistas especializadas, jornais, artigos, internet, monografias, teses e

dissertações), buscando informações sobre operações defensivas, doutrinas,

estratégias militares, táticas, técnicas e procedimentos pertinentes ao assunto.

Nessa oportunidade, foram levantados os fundamentos das Op Def e algumas

características da técnica de Defesa em Setor.

A seleção das fontes de pesquisa foi baseada em publicações de autores de

reconhecida importância no meio acadêmico e em artigos veiculados em periódicos

indexados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) ou em similares internacionais, como a Military Review.

Em prosseguimento, utilizou-se a pesquisa documental nos arquivos do EB,

mais especificamente do Estado-Maior do Exército (EME), órgão responsável pelo

desenvolvimento da doutrina militar terrestre no Brasil, e em fontes do Exército dos

EUA, como CDs e DVDs de cursos realizados por oficiais brasileiros naquele país. O

objetivo principal foi o de levantar informações em documentos não publicados,

como relatórios, pareceres, despachos em processos, notas de aula e palestras,

entre outros.

As conclusões decorrentes das pesquisas bibliográfica e documental

permitiram verificar se o EB poderá adotar a técnica de Defesa em Setor, a

semelhança do Exército Norte-Americano.

1.4.3 Tratamento dos Dados

Foi utilizado o método de análise de conteúdo, que, para VERGARA (1998, p.

56), é “uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo

dito a respeito de determinado tema”. Dessa forma, foram identificados os

fundamentos e o estágio atual do desenvolvimento da doutrina militar em Op Def no

Brasil e nos EUA.

Page 24: TCC Maj Levy - Versão Final

20

1.4.4 Limitações do Método

A metodologia escolhida para esta pesquisa apresenta algumas dificuldades e

limitações em relação à coleta e ao tratamento dos dados.

Quanto à coleta de dados, o método estará limitado ao acesso aos manuais de

campanha do Exército dos EUA. Da mesma forma, o acesso a alguns documentos

doutrinários internos norte-americanos foram vetados ou limitados.

Outro fator que influenciou neste tratamento foi a própria condição de militar

deste pesquisador, mesmo sabendo da necessidade de se manter certo

distanciamento nas interpretações dos dados coletados.

Page 25: TCC Maj Levy - Versão Final

21

2 OPERAÇÕES DEFENSIVAS

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As Operações no Amplo Espectro são o Conceito Operativo do Exército, que

interpreta a atuação dos elementos da Força Terrestre para obter e manter

resultados decisivos nas operações, mediante a combinação de Operações

Ofensivas, Defensivas, de Pacificação e de Apoio a Órgãos Governamentais,

simultânea ou sucessivamente, prevenindo ameaças, gerenciando crises e

solucionando conflitos armados, em situações de Guerra e de Não Guerra (BRASIL,

EB 20-MF-10.103, 2014, p. 3-6).

Nesse contexto, as Op Def são operações terrestres realizadas, normalmente,

sob condições adversas, como inferioridade de meios ou limitada liberdade de ação,

em que se procura utilizar integralmente o terreno e as capacidades disponíveis para

impedir, resistir ou destruir um ataque inimigo, inflingindo-lhe o máximo de desgaste

e desorganização, buscando criar condições favoráveis para a retomada da ofensiva

(BRASIL, EB 20-MF-10.103, 2014, p. 4-9).

Normalmente, a defesa por si só não gera resultados decisivos. Quando

obrigado à defensiva, o comandante deve, por todos os meios, reverter a situação e

retomar a ofensiva o mais rápido possível, possibilitando às forças terrestres

reassumir a iniciativa das ações. No entanto, mesmo em atitude defensiva as ações

dinâmicas da defesa devem ser maximizadas, pela intensiva utilização de contra-

ataques e outras manobras.

As Op Def constituem-se em atitudes temporárias adotadas pela força

terrestre até que, criadas condições favoráveis, possa tomar ou retomar a ofensiva.

No quadro 1, pode-se verificar as principais tarefas e finalidades das Op Def:

Operações Defensivas

Principais Tarefas

- Realizar Defesa em Posição - Realizar Movimento Retrógrado

Finalidades

- Criar condições mais favoráveis para Op subsequentes - Impedir o acesso do inimigo à determinada área - Reduzir a capacidade de combate do inimigo - Economizar força, em proveito de uma ação decisiva em outra área - Ganhar tempo - Produzir conhecimento necessário ao processo decisório - Proteger a população, ativos e infraestruturas críticas.

Quadro 1 – Principais tarefas e finalidades das Op Def Fonte: BRASIL, EB 20-MF-10.103 - Operações, 2014, p. 3-7.

Page 26: TCC Maj Levy - Versão Final

22

2.2 A DOUTRINA BRASILEIRA

Em 26 de setembro de 2013, o EME aprovou as Bases para a Transformação

da Doutrina Militar Terrestre Brasileira, que estabeleceram o Conceito Operativo de

Operações no Amplo Espectro.

A partir deste documento, diversos manuais foram revisados, dando origem a

grandes mudanças doutrinárias. Apesar da doutrina anterior (Doutrina Delta) ter sido

revogada, grande parte dos conceitos doutrinários não foram alterados.

Observa-se no quadro 2, os tipos de Op Def previstas na Doutrina Delta:

Quadro 2 – Tipos de Op Def Fonte: BRASIL, C 100-5, 1997, p. 6-19.

O novo manual de Operações, editado em 2014, manteve os mesmos tipos e

formas de manobra das Op Def, descritos no quadro 2 (BRASIL, EB20-MF-10.103,

2014, p. 4-12).

Segundo Trovizo (2011), a doutrina brasileira deixa pouca flexibilidade para o

planejador, quando em postura defensiva, pois o mesmo não teria muitas opções de

formas de manobra para utilizar na Def Pos.

Dentre as principais fontes que balizam a doutrina para as operações

defensivas no EB, podem-se destacar os seguintes manuais: Força Terrestre

Componente (FTC) (EB20-MC-10.202, 2014), Operações (EB20-MF-10.103, 2014),

A FTC nas Operações (EB20-MC-10.301, 2014), A Divisão de Exército (C 61-100,

1990), Brigada de Cavalaria Mecanizada (C 2-30, 2000), Forças-Tarefas Blindadas

(C 17-20, 2002), Regimento de Cavalaria Mecanizado (C 2-20, 2002), Batalhões de

Infantaria (C 7-20, 2003), Estado-Maior e Ordens (C 101-5, 2003) e Brigada de

Aviação do Exército (IP 1-30, 2003).

Page 27: TCC Maj Levy - Versão Final

23

Ainda, segundo TROVIZO (2011):

Do estudo do arcabouço doutrinário em vigor, pode-se resumir que o ideário brasileiro que orienta os planejamentos dos escalões táticos terrestres define a defensiva como uma postura temporária, cuja meta é criar as melhores condições para a decisão do combate. A mesma literatura já consolidou também a atitude ofensiva como a chave para o sucesso defensivo, em qualquer situação.

2.2.1 Formas de Manobra

Nas operações defensivas, o comandante pode empregar cinco formas de

manobra tática defensiva: defesa de área e defesa móvel (na defesa em posição),

retraimento, ação retardadora e retirada (no movimento retrógrado).

A defesa de área (Def A) tem por objetivo a manutenção ou o controle de uma

determinada região específica, por um determinado período de tempo. É a forma de

manobra defensiva que tira o máximo de proveito dos obstáculos existentes, reduz a

possibilidade do ataque noturno ou da infiltração e força o atacante a empregar o

máximo poder de combate para romper a posição defensiva (BRASIL, C 2-30,

2000).

Quando for imperativa a manutenção de determinada faixa do terreno, o

comandante toma por base, principalmente, a capacidade dos fogos e das forças

empregadas na Área de Defesa Avançada (ADA), para engajar e repelir o atacante.

Adota-se uma Def A, normalmente, quando as forças terrestres disponíveis não

reúnem as características ou estrutura adequada para a adoção de outras formas de

manobra defensiva ou estão em áreas de terreno que não se prestam para a

realização da defesa móvel ou o movimento retrógrado (Mvt Rtg) (BRASIL, EB20-

MF-10.103, 2014, p. 4-12).

A Defesa Móvel (Def Mv) emprega uma combinação de ações ofensivas,

defensivas e retardadoras. Nessa forma de manobra tática defensiva, o comandante

emprega um menor poder de combate à frente, na área da ADA, e vale-se da

manobra, dos fogos e da organização do terreno para recuperar a iniciativa. A

defesa móvel visa à destruição das forças inimigas e, para isso, apoia-se no

emprego de forças ofensivas dotadas de elevada mobilidade e poder de choque

(BRASIL, EB20-MF-10.103, 2014, p. 4-12).

Para o Movimento Retrógrado temos as seguintes formas de manobra:

Page 28: TCC Maj Levy - Versão Final

24

a. Ação retardadora - É o Mvt Rtg no qual uma força, sob pressão, troca espaço por tempo, procurando infligir ao inimigo o máximo de retardamento e o maior desgaste possível, sem se engajar decisivamente no combate. Na execução de uma ação retardadora, o mínimo de espaço é trocado pelo máximode tempo. Normalmente, o retardamento é conseguido tanto nas posições como entre elas. A força de retardamento mantém o contato permanente com o inimigo e o retarda continuamente. Uma ação retardadora é conduzida, normalmente, em mais de uma posição. Neste caso, pode empregar a técnica do retardamento em posições sucessivas ou do retardamento em posições alternadas, ou ainda, utilizar uma adequada combinação de ambos. b. Retraimento - É um Mvt Rtg por meio do qual o grosso de uma força engajada rompe o contato com o inimigo, de acordo com a decisão do Esc Sp. Alguns elementos permanecem em contato, para evitar que o inimigo persiga o grosso das forças amigas e para infligir-lhe danos, pelo fogo e pela manobra. c. Retirada - É um Mvt Rtg no qual uma força, que não está em contato com o inimigo, desloca-se para longe dele, segundo um plano bem definido, visando evitar um combate decisivo, em face da situação existente. Normalmen-te, é executada para permitir que as operações futuras de combate sejam conduzidas sob condições mais favoráveis ou em local, ou oportunidade, mais convenientes. (BRASIL, C 2-30, 2000, p. 6-43)

2.2.2 Táticas e Técnicas Especiais na Defensiva

Segundo o manual de Operações, as ações defensivas não se limitam aos

tipos e formas de manobra clássicas. Valendo-se de táticas e técnicas diversas,

outras ações podem ser executadas visando à condução do combate continuado e

não linear, com ênfase nas manobras que apliquem a mobilidade e o poder de

choque, tais como: Ações Dinâmicas da Defesa, Dispositivo de Expectativa, Defesa

Avançada, Defesa Elástica, Defesa em Contraencosta, Defesa em Posição de

Combate, Defesa em Ponto Forte, Defesa Circular, Defesa Contrareconhecimento,

Defesa Contra Tropa Aeroterrestre e Assalto Aeromóvel, Defesa Linear e Defesa

Não Linear (BRASIL, EB20-MF-10.103, 2014, p. 4-14).

Dentre todas as táticas e técnicas defensivas citadas no novo manual de

Operações, não é citada a técnica da Defesa em Setor. Apesar de ser uma técnica

difundida em diversos exércitos no mundo, ela ainda não foi inserida na DMTB.

2.3 A DOUTRINA NORTE-AMERICANA

Conforme relata Ribeiro (2007, p.43), grande parte da doutrina de Op Def

atualmente em vigor no Ex dos EUA foi introduzida por meio da edição de 1982, do

manual FM 100-5 - Operações. Este manual ficou conhecido por haver introduzido,

naquele exército, a doutrina conhecida como “Batalha Ar-Terra”.

Page 29: TCC Maj Levy - Versão Final

25

O casal Alvin e Heidi Toffler, em seu livro Guerra e Anti-Guerra (1993),

descreve em detalhes, no seu capítulo 7, como os generais Donn Starry e Donald

Morelli, principais mentores desta nova doutrina, perceberam a necessidade de

repensar a doutrina dos EUA então vigente.

Essa doutrina foi inspirada na Guerra do Yom Kippur (1973), na qual houve

um ataque maciço de blindados sírios e egípcios, usando a tática concebida pela

doutrina russa, contra as forças de Israel. Apesar da esmagadora vantagem dos

oponentes, Israel venceu a guerra. Starry fora enviado para a região, onde

pesquisou cada metro quadrado das Colinas de Golan, além de entrevistar diversos

oficiais que participaram dos combates. De seu trabalho extraiu duas grandes lições:

A lição primordial, para Starry, foi que os “coeficientes iniciais” não determinam o resultado. “Não faz diferença quem está em vantagem ou desvantagem numérica”. A outra inconfundível lição foi que quem tomar a iniciativa, “quer esteja em desvantagem ou em vantagem numérica, quer esteja atacando, quer defendendo, vai ganhar”. (TOFFLER, 1995, p. 66)

Desde sua primeira aparição, a doutrina da Batalha Ar-Terra tem sido

atualizada, refinada e rebatizada. O manual FM 100-5 - Operações, foi atualizado no

ano de 2001 e passou a se chamar FM 3-0, Operations.

Sob uma nova iniciativa conhecida como Doutrina do Exército 2015, os

manuais fundamentais (capstone) passaram a ser designados por Publicações

Doutrinárias do Exército (Army Doctrinal Publications — ADP). O manual ADP 3-0 -

Operações Terrestres Unificadas (Unified Land Operations) representa o primeiro

manual publicado sob esse conceito (EUA, ADP 3-0, 2011).

Apesar das mudanças táticas e técnicas introduzidas pela adoção de novos

meios militares, as novas versões do manual de Operações, atualmente o ADP 3-0,

de 2011, ainda tem no seu cerne a doutrina criada pela dupla Starry-Morelli e sua

equipe (EUA, ADP 3-0, 2011).

A seguir, serão explanados os principais fundamentos e princípios

doutrinários que orientam o emprego do Ex dos EUA em Op Def.

2.3.1 Fundamentos das Op Def

Conforme o manual ADP 3-0 (2011, p. 5), as operações defensivas são

operações realizadas para deter um ataque inimigo, ganhar tempo, economizar

forças, e/ou criar condições favoráveis para passar às operações ofensivas ou de

Page 30: TCC Maj Levy - Versão Final

26

estabilidade. Estas operações incluem a defesa móvel, a defesa de área e os

movimentos retrógrados.

Segundo o manual ADP 3-90, Ofensiva e Defensiva (2012, p. 10), apesar de

a ofensiva ser o tipo mais decisivo de operação de combate, a defesa é o tipo mais

forte. A sua força inerente provém da habilidade do defensor ocupar suas posições

antes do ataque e usar o tempo disponível para preparar suas defesas. As

preparações só terminam quando o defensor retrair ou começa a lutar. O defensor

pode estudar o terreno e selecionar as posições defensivas, a fim de concentrar os

efeitos dos fogos nas prováveis vias de acesso. Combina os efeitos dos obstáculos

naturais e artificiais para canalizar a força atacante para suas áreas de engajamento.

Coordena e ensaia o plano defensivo enquanto adquire familiaridade com o terreno.

O defensor não espera ser atacado passivamente. Ele busca modos de atingir

agressivamente e debilitar as forças inimigas atacantes antes da iniciação do

combate aproximado. Ele manobra para colocar o inimigo numa posição de

desvantagem e o ataca em toda oportunidade, por meio de fogos diretos e indiretos.

Usa uma combinação de elementos móveis e estáticos para privar o inimigo da

iniciativa. Ele detém o inimigo buscando uma oportunidade para fazer a transição

para a ofensiva (EUA, ADP 3-90, 2012).

As Op Def, por si só, não ganham a guerra. O seu propósito é criar condições

para uma contraofensiva que permita às Forças Terrestres recuperarem a iniciativa.

Embora operações ofensivas sejam sempre vitais para se alcançar resultados

decisivos, é frequentemente necessário, até mesmo aconselhável, às vezes

defender. Defende-se para ganhar tempo, assegurar a posse de acidentes capitais,

facilitar operações futuras, manter contato com o inimigo ou degradar seu poder de

combate (EUA, ADP 3-90, 2012).

2.3.2 Finalidade das Op Def

De acordo com o manual FM 3-0 (2008, p. 3-10), as Op Def têm por

finalidade deter o ataque inimigo. As forças defensoras esperam o momento exato

de surpreender o inimigo e barram o seu movimento. A espera do ataque inimigo

não é uma atividade passiva. As forças inimigas devem ser procuradas para ser

atacadas e enfraquecidas antes mesmo do combate começar.

Page 31: TCC Maj Levy - Versão Final

27

2.3.3 Tipos de Op Def

Os três tipos de Op Def realizadas pelo Ex dos EUA são a defesa móvel (Def

Mv), a defesa de área (Def A) e os movimentos retrógrados (Mvt Rtg), conforme

quadro abaixo:

Defensive Operations

Primary Tasks Purposes

•Mobile defense •Area defense •Retrograde

•Deter or defeat enemy offensive operations •Gain time •Achieve economy of force •Retain key terrain •Protect the populace, critical assets, and infrastructure •Develop intelligence

Quadro 3 – Tipos de Op Def do Ex EUA Fonte: EUA, FM 3-0 C1, 2011, p. 3-6.

A Def Mv visa à destruição das forças atacantes, depois de permitir-lhes que

avancem para uma posição que os exponha a um forte contra-ataque. Na Def A o

defensor se concentra em negar às forças inimigas acesso a um determinado

terreno, por um tempo específico, limitando a sua liberdade de manobra e

canalizando-as para uma área de fogos ajustados para ser destruído pelo fogo. Os

Mvt Rtg retiram forças amigas para longe do inimigo para ganhar tempo, preservar

forças, colocar o inimigo em posição desfavorável, ou evitar o combate em

condições desfavoráveis. Os comandantes na defensiva combinam os três tipos de

Op Def para enfrentar a situação (EUA, FM 3-0 C1, 2011, p. 3-9).

Interessante notar que os comandantes têm a liberdade de optar e combinar

quaisquer dos tipos, de acordo com a situação tática que se apresente. A ênfase é

dada na oportunidade de se realizar a transição da defensiva para a ofensiva, em

qualquer dos escalões. Todos os três tipos de operações usam elementos móveis e

estáticos.

2.3.4 Técnicas defensivas

Segundo o manual FM 3-90.5 (2005, p. 6-47), há cinco técnicas básicas de

defesa para as Bda Bld e Mec: a Defesa em Setor, a Defesa em Posição de

Page 32: TCC Maj Levy - Versão Final

28

Bloqueio, a Defesa de Perímetro, a Defesa em Contra Encosta e a Defesa em Ponto

Forte.

A Defesa em Setor é uma técnica utilizada para realizar a defesa em

profundidade do campo de batalha (ver figura 2). Setor é o nome que se dá para a

Área de Operações (A Op) em uma missão defensiva. Os escalões Bda e Unidade

(U) designam setores a defender para seus subordinados.

Segundo o manual dos EUA FM 3-90.6: Brigade Combat Team (2010, p. 71), a

defesa em profundidade é a forma preferida de manobra para as Brigadas de

Combate Pesadas e para as Brigadas Stryker, porque ela reduz o risco da força

inimiga atacar rapidamente e quebrar a continuidade defensiva. O inimigo não é

capaz de explorar uma penetração por causa de outras posições defensivas

empregadas em profundidade. Dessa forma, ela proporciona mais espaço e tempo

para derrotar o ataque inimigo. Ela visa essencialmente a destruição do inimigo, não

estando tão apegada à manutenção do terreno.

Figura 2 – Exemplo de uma Defesa em Profundidade. Fonte: EUA, FM 3-90.2, 2003, p. 6-10.

Page 33: TCC Maj Levy - Versão Final

29

Conforme relata Ribeiro (2007, p. 54), a Defesa em Setor é, das técnicas

defensivas, a que proporciona o maior grau de liberdade de manobra e

planejamento de fogos ao escalão subordinado numa determinada Zona de Ação (Z

Aç). É a técnica mais usada quando a Bda dispõe de espaço para manobrar, tanto

em largura quanto em profundidade na sua Z Aç, e deseja evitar o engajamento

decisivo prematuramente.

Para usar a técnica, entretanto, são necessários alguns condicionantes

operacionais e táticos. São eles: mobilidade tática, superioridade aérea local,

comando e controle (C²) eficazes, um apoio de engenharia que permita o

lançamento de obstáculos em curto prazo e um apoio de fogo de longo alcance.

Quando do emprego da técnica, as Forças-Tarefas (FT) defendem como

unidades taticamente semiautônomas, com grande alerta situacional e com eficiente

apoio de fogo e de inteligência. Nesta situação, ainda, dificilmente terão contato

umas com as outras, apesar de envolvidas na mesma operação. Para tanto, deverão

dispor do apoio imediato de uma reserva do escalão enquadrante.

A técnica da Defesa em Setor, por ser o alvo principal desta monografia,

será estudada com maiores detalhes no Capítulo 4 do presente trabalho.

2.4 CONCLUSÃO PARCIAL

Comparando-se a doutrina defensiva do EB com a do Ex EUA, observa-se

que a doutrina brasileira é menos agressiva no escalão brigada, explorando em

menor grau a iniciativa dos escalões subordinados. Apesar de dar ênfase ao

emprego de ações ofensivas, a nossa doutrina defensiva continua priorizando a

manutenção do terreno, em detrimento de focar as ações do inimigo e a elas se

contrapor da melhor forma.

Cabe salientar que, apesar das recentes modificações no manual de

Operações do EB, verificou-se que a técnica de Defesa em Setor ainda não foi

absorvida pela doutrina brasileira.

Dessa forma, conclui-se, parcialmente, que a técnica de Defesa em Setor

poderia tornar a nossa doutrina mais dinâmica.

Page 34: TCC Maj Levy - Versão Final

30

3 BRIGADAS BLINDADAS E MECANIZADAS

Neste capítulo será apresentada a organização das brigadas blindadas (Bda

Bld) e mecanizadas (Bda Mec) do EB e do Ex dos EUA.

Como já explanado, não se pretendeu discutir sobre adequação de quadros de

organização (QO) a ser adotado pelas organizações militares (OM) e pelas grandes

unidades (GU) para o emprego da técnica de Defesa em Setor. O estudo em

questão fez apenas referências sobre o material e pessoal empregados por ambos

os exércitos, a fim de servir de base para algumas conclusões e comparações que

serão realizadas no decorrer do trabalho.

3.1 COMPOSIÇÃO DAS BRIGADAS DO EB

Atualmente o EB conta com os seguintes tipos de Bda Bld e Mec: Bda Inf Bld,

Bda C Bld, Bda Inf Mec e Bda C Mec. Veremos a composição de meios de cada

uma delas.

3.1.1 Brigada de Infantaria Blindada

As Bda Bld constituem-se em forças altamente móveis e potentes, equipadas e

adestradas para conduzir o combate embarcado. Seu poder de combate repousa no

emprego combinado dos carros de combate e dos fuzileiros blindados.

Em princípio, as Bda Bld organizam suas peças de manobra para o combate

sob a forma de forças-tarefas (FT): FT RCC e FT BIB.

A Bda Inf Bld conta com a seguinte estrutura:

Figura 3 – Estrutura da Bda Inf Bld do EB. Fonte: ECEME, QOEs 100-1, 2014.

Page 35: TCC Maj Levy - Versão Final

31

Segundo o manual Quadro de Organização Escolar (QOEs) 100-1, da ECEME

(2014, p. 25), a Bda Inf Bld tem as seguintes quantidades de viaturas blindadas:

Tipo de Bld Qtde

VBTP 216

VBC CC 132

VBC OAP 24

VBC L Msl 9

VBR 7

Quadro 4 – Vtr Bld da Bda Inf Bld do EB. Fonte: ECEME, QOEs 100-1, 2014.

3.1.2 Brigada de Cavalaria Blindada

Muito semelhante à Bda Inf Bld, a Bda C Bld conta com a seguinte estrutura:

Figura 4 – Estrutura da Bda C Bld do EB. Fonte: ECEME, QOEs 100-1, 2014.

Segundo o manual escolar QOEs 100-1, da ECEME (2014, p. 25), a Bda C

Bld tem as seguintes quantidades de viaturas blindadas:

Tipo de Bld Qtde

VBTP 216

VBC CC 132

VBC OAP 24

VBC L Msl 9

VBR 7

Quadro 5 – Vtr Bld da Bda C Bld do EB. Fonte: ECEME, QOEs 100-1, 2014.

Page 36: TCC Maj Levy - Versão Final

32

3.1.3 Brigada de Cavalaria Mecanizada

A Bda C Mec é uma Grande Unidade (GU) básica de combinação de armas,

constituída por unidades de combate, apoio ao combate e de apoio logístico, com

capacidade de atuação operacional independente e de durar na ação. Dependendo

da missão, organizações adicionais de combate, apoio ao combate e apoio logístico

podem ser dadas em reforço à Bda (BRASIL, C 2-30, 2000).

A Bda C Mec é tática e logisticamente autônoma, o que lhe permite operar

isoladamente, embora por tempo limitado, como uma força blindada leve. O

prolongamento de sua participação em operações depende de um apoio logístico

(Ap Log) adequado e oportuno.

A Bda C Mec conta com a seguinte estrutura:

Figura 5 – Estrutura da Bda C Mec do EB. Fonte: ECEME, QOEs 100-1, 2014.

Segundo o manual escolar QOEs 100-1, da ECEME (2014, p. 26), a Bda C

Mec tem as seguintes quantidades de viaturas blindadas:

Tipo de Bld Qtde

VBTP 81

VBR 46

VBC CC 28

VBC OAP 18

VBC L Msl 9

Quadro 6 – Vtr Bld da Bda Inf Mec do EB. Fonte: ECEME, QOEs 100-1, 2014.

Page 37: TCC Maj Levy - Versão Final

33

3.1.4 Brigada de Infantaria Mecanizada

Segundo Deus (2013, p. 38), o Estado-Maior do Exército (EME) aprovou, em

2010, as bases doutrinárias da Brigada de Infantaria Mecanizada (Bda Inf Mec) e do

Batalhão de Infantaria Mecanizado, e estabeleceu as diretrizes para a implantação,

em caráter experimental, da base doutrinária da Bda Inf Mec. A concepção básica

destas diretrizes prevê a implantação da doutrina de combate da Infantaria

Mecanizada sendo executada de forma progressiva.

Para que isso seja possível, foi criado o Projeto GUARANI, que tem por objetivo

transformar as Organizações Militares de Infantaria Motorizada em Mecanizada e

modernizar as Organizações Militares de Cavalaria Mecanizada. No bojo do projeto

estão sendo desenvolvidas novas famílias de Viaturas Blindadas de Rodas, a fim de

dotar o EB de meios para incrementar a dissuasão e a defesa do território nacional.

A primeira viatura desenvolvida foi a Viatura Blindada para Transporte de Tropa

Média de Rodas Guarani (ver figura 6), possibilitando a substituição das viaturas

URUTU, fabricadas pela ENGESA, que estão em uso há mais de 40 anos.

Figura 6 – VBTP-MR Guarani. Fonte: TECNOLOGIA E DEFESA, 2014.

No contexto do Processo de Transformação do EB, a 15ª Brigada de Infantaria

Motorizada foi escolhida para ser primeira Grande Unidade de Infantaria do Exército

Brasileiro a ser contemplada com veículos blindados sobre rodas, sendo

Page 38: TCC Maj Levy - Versão Final

34

transformada em 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada, pela Portaria nº 142, do

Comandante do Exército, em 13 de março de 2013.

O Centro de Instrução de Blindados, localizado em Santa Maria (RS), e a 15ª

Brigada de Infantaria Mecanizada, situada em Cascavel (PR), foram as primeiras

OM a receber a VBTP-MR Guarani, sendo os locais onde serão realizadas as

experimentações doutrinárias (DEFESANET, 2014).

Segundo o QOEs 100-1, da ECEME (2014, p. 26), a Bda Inf Mec conta com a

seguinte estrutura:

Figura 7 – Estrutura da Bda Inf Mec do EB. Fonte: ECEME, QOEs 100-1, 2014.

De acordo com o mesmo manual escolar, a Bda Inf Mec tem as seguintes

quantidades de viaturas blindadas:

Tipo de Bld Qtde

VBTP 210

VBC CC (S/R) 54

VBC OAP 24

VBC L Msl 9

VBR 7

Quadro 7 – Vtr Bld da Bda Inf Mec do EB. Fonte: ECEME, QOEs 100-1, 2014.

Page 39: TCC Maj Levy - Versão Final

35

3.2 COMPOSIÇÃO DAS UNIDADES E BRIGADAS NORTE-AMERICANAS

3.2.1 Escalão Brigada

A Bda é a maior organização do Exército definido pela combinação de armas,

além de ser a força de combate corpo a corpo primária. Para as operações de

combate, o componente terrestre das forças-tarefas conjuntas é construído em torno

da Brigade Combat Team (BCT) (ver figura 7).

Figura 8 – Tipos de Bda do Ex dos EUA. Fonte: EUA, Site oficial do Ex EUA, 2014.

A BCT inclui unidades e capacidades de cada função bélica. Ela é organizada

em tarefas para atender às exigências da missão específica. Atualmente, existem

três tipos de BCTs. Eles são a Equipe de Combate da Brigada Blindada (Armored

BCT), a Equipe de Combate da Brigada de Infantaria (Infantry BCT), e a Equipe de

Combate da Brigada Stryker (Stryker BCT).

Segundo o manual FM 3-90.6, Brigade Combat Team, de 2010, as Bda do Ex

dos EUA tem as seguintes estruturas:

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36

Figura 9 – Brigada Blindada, Brigada de Infantaria e Brigada Stryker dos EUA. Fonte: EUA, FM 3-90.6, 2010, p. 1-10.

Todos os BCTs incluem elementos de manobra, fogos, reconhecimento,

apoio logístico, inteligência militar, polícia militar, comunicações e engenharia (ver

figura 8). O escalão superior pode acrescentar elementos aos BCTs para uma

missão específica, com recursos não orgânicos da estrutura BCT. O acréscimo pode

incluir elementos de aviação, blindados, canhões ou foguetes de artilharia, defesa

antiaérea, polícia militar, assuntos civis, elementos de apoio à informação,

engenheiros de combate, químicos, biológicos, radiológicos e nucleares, e/ou

sistemas adicionais de inteligência. Esta flexibilidade organizacional permite aos

BCTs funcionar em todo o espectro do conflito (EUA, FM 3-90.6, 2010, p. 1-6).

A figura 9 exemplifica a constituição de uma Bda Stryker.

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37

Figura 10 – Brigada Stryker dos EUA. Fonte: EUA, FM 3-90.6, 2010, p. 1-13.

3.2.2 Escalões Unidade e Subunidade

As unidades atuam geralmente integrando FT. Recebem elementos de

Artilharia Antiaérea (até uma Bia), Engenharia (até uma SU), Artilharia de Campanha

(até uma Bia) e outros apoios necessários (RIBEIRO, 2007, p. 60). As figuras 11 e

12 dão uma boa noção da organização de U mecanizadas e blindadas:

Figura 11 - Unidade Mecanizada. Figura 12 – Unidade Blindada.

Figura 11 - Unidade Mecanizada. Figura 12 – Unidade Blindada. Fonte: EUA, FM 3-90.2, 2002, p. 2-2. Fonte: EUA, FM 3-90.2, 2002, p. 2-3.

Page 42: TCC Maj Levy - Versão Final

38

As unidades Bld e Mec do Ex dos EUA possuem grande capacidade de

destruição, especialmente contra tropas mecanizadas e blindadas, fruto de seu

armamento de dotação. Para se ter uma ideia, observa-se a grande quantidade de

meios AC de que dispõe uma única FT SU Inf Mec (ver figura 13): são um total de

52 mísseis, com alcance entre 2500 e 3750 m, além de cinco metralhadoras 12,7

mm (munição perfurante), de 10 canhões de 25 mm (com munição AC) e de quatro

canhões de 120 mm, com razoável capacidade de estocagem de munição

(RIBEIRO, 2007, p. 62).

Figura 13 – Quadro com armamento de dotação de uma SU Inf Mec dos EUA. Fonte: RIBEIRO, 2007, p. 63.

3.3 COMPARAÇÃO ENTRE OS MEIOS

Existe uma certa similaridade quanto aos efetivos e organização das frações

Bld e Mec entre o EB e o Ex dos EUA, seja quanto aos cargos, seja quanto às

funções previstas.

Entretanto, comparando-se os meios previstos para as tropas Bld e Mec do

EB com as do Ex dos EUA, verifica-se a grande superioridade dos EUA em relação

aos armamentos AC.

Uma FT SU Inf Bld brasileira atua com os canhões de suas VBC e mais cinco

canhões/foguetes AC (com alcance inferior a 1000 m), enquanto uma FT SU dos

EUA conta, além dos canhões de suas VBC, com os canhões de 25 mm das VBTP e

com 52 mísseis AC, com alcance entre 2500 e 3750 m (RIBEIRO, 2007, p. 87).

Page 43: TCC Maj Levy - Versão Final

39

3.4 CONCLUSÃO PARCIAL

Comparando-se a organização para o combate das Bda Bld e Mec do EB com

a do Ex dos EUA, observa-se que elas tem estruturas semelhantes. Entretanto, o EB

ainda está realizando a experimentação doutrinária de sua Bda Inf Mec, visando um

aprimoramento de seu Quadro de Organização, enquanto o Ex norte-americano já

possui uma larga experiência em combate no emprego de suas tropas, o que facilita

a sua consolidação doutrinária.

Concordando com Diniz (2005, p. 88), observo que a utilização das Bda Bld

brasileiras na condução da Defesa em Setor poderia se dar da mesma forma que no

exército dos EUA, tendo em vista que a organização básica da Bda Bld pouco difere.

Apresenta algumas diferenças no tocante aos equipamentos utilizados, tais como

viaturas blindadas e armamentos, entretanto, ambas tem grande mobilidade, poder

de fogo e potência de choque, igualando-se em natureza, onde todas as peças de

manobra são dotadas de viaturas de combate sobre lagartas, quer sejam de

transporte de pessoal, carros de combate e de apoio de fogo.

Nesse contexto, o grande diferenciador entre as Bda Bld brasileiras e norte-

americanas, seria a capacidade do poder de fogo direto norte-americano ser bem

maior que o brasileiro, haja vista o armamento principal dos seus CC (M1 – Abrams

com canhão de 120mm) e das suas VCI (M2 ou M3 – Bradley com canhão de 25mm

e Msl AC TOW), o que lhes proporcionaria um maior poder de destruição nas forças

inimigas. Além disso, o Ex dos EUA possui uma quantidade bem maior de armas AC

no nível FT SU.

Dessa forma, seria interessante que houvesse um incremento em armas AC

nos Quadros de Dotação de Material das Bda Bld e Mec do EB, a fim de melhorar a

Defesa contra Blindados de nossas tropas, além de possibilitar uma gama maior de

Pos Def aos Cmt a partir do nível SU.

Page 44: TCC Maj Levy - Versão Final

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4 DEFESA EM SETOR

4.1 GENERALIDADES

A Defesa em Setor é a técnica defensiva que proporciona o maior grau de

liberdade de manobra ao elemento subordinado em uma determinada Z Aç (ver

figura 14), sendo particularmente adequada para tropas blindadas e mecanizadas.

Figura 14 – Brigada usando a técnica de Defesa em Setor. Fonte: EUA, FM 3.90-3, 2001, p. 6-19.

A Defesa em Setor está baseada em uma doutrina de emprego defensivo

onde as tropas ocupam posições subsequentes no interior de áreas destinadas a

realização de ações de desgaste e destruição do inimigo (Setor), estabelecendo

Áreas de Engajamento (AE) e posições de bloqueio, procurando desgastar o

inimigo, canalizá-Io e contê-Io, preparando os contra-ataques de destruição em

profundidade. A manobra passa a ser conduzida em maior profundidade do que na

Defesa de Área, mesclando-se os conceitos de Defesa em Posição com os de

Movimentos Retrógrados (EsAO, 2011, p.8).

Page 45: TCC Maj Levy - Versão Final

41

4.2 CASO HISTÓRICO

Traços de uma defesa em setor podem ser verificados quando se estuda as

batalhas árabes-israelenses. Ao findar a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967,

as Forças de Defesa de Israel (FDI) conquistaram as Colinas de Golan, que

pertenciam à Síria. A reconquista destas colinas foi a causa da guerra seguinte,

conhecida como a Guerra do Yom Kippur, no ano de 1973 (LIMA, 2000, p. 28).

A “Linha Púrpura”, linha de cessar fogo estabelecida entre a Síria e Israel,

em 10 de junho de 1967, foi palco de um dos maiores feitos militares das FDI.

Quando do início do conflito, encontravam-se mobiliando aquela linha a 7ª Brigada

Blindada, ao norte, e a Brigada BARAK, ao sul. Os feitos heroicos da 7ª Brigada

Blindada foram narrados no livro de Chaim Herzog, “A Guerra do Yom Kippur”, em

seu capítulo oitavo (HERZOG, 1977, p.148).

A 7ª Bda Bld combateu em uma área de 18 Km de largura com cerca de

3.200 m de profundidade e foi capaz de resistir aos maciços ataques sírios

(HERZOG, 1977, p.161). Além dos atos de heroísmo e do adestramento das FDI,

duas decisões de seu comandante, o General Avigdor, contribuíram

significativamente para o resultado final. A de ter à mão uma reserva, quaisquer que

fossem as circunstâncias, e a de manter três batalhões, em posição, nas alturas

dominantes do terreno e desdobrados em profundidade. Dessa forma, conseguiu

estabelecer excelentes áreas de engajamento, onde boa parte das forças inimigas

foram destruídas (ver Figura 15).

Nessa ocasião, a 7ª Bda Bld e a Bda BARAK resistiram, com cerca de 150

carros de combate, ao ataque de cinco Divisões Sírias, escalonadas em

profundidade, com mais de 1400 blindados (REIS, 2013, p. 4). Apesar da

desproporção dos meios, as tropas israelenses conseguiram deter o ataque sírio,

até a chegada dos reforços que foram mobilizados.

Conforme relata HERZOG, os carros de combate (CC) israelenses que

estavam posicionados na linha de frente permaneceram em suas posições

avançadas até que as forças sírias se aproximavam a tal ponto que eles seriam

destruídos. Nesse momento, retraíam para posições a retaguarda, que tinham sido

preparadas anteriormente e que eram bem conhecidas da guarnição, de onde

continuavam defendendo. Dessa forma, foi possível resistir ao ataque Sírio nas

Colinas de Golan (HERZOG, 1977).

Page 46: TCC Maj Levy - Versão Final

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Figura 15 – Ataque Sírio nas Colinas de Golan. Fonte: REIS, 2013, p. 5.

Pode-se considerar que as técnicas defensivas utilizadas pela 7ª Bda Bld

Israelense nas Colinas de Golan serviram de base para a formulação da Defesa em

Setor, que seria adotada pelo exército norte-americano a partir de 1982.

4.3 FATORES DA DECISÃO

Durante o Exame de Situação, metodologia concebida para a solução de um

problema militar, em qualquer nível, o comandante deve realizar o estudo dos

Fatores da Decisão, a fim de optar por como irá cumprir a sua missão.

Conforme o novo manual de Operações do EB (BRASIL, EB 20-MC-10.103,

2014, p. 3-11), os principais Fatores da Decisão a considerar são: MISSÃO,

INIMIGO, TERRENO e CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS, MEIOS, TEMPO e

CONSIDERAÇÕES CIVIS.

A seguir, veremos quando o comandante deve optar por realizar a Defesa em

Setor, com base nos Fatores da Decisão.

Page 47: TCC Maj Levy - Versão Final

43

4.3.1 Missão

Segundo o manual de Operações, 2014, “a missão é prescrita pelo escalão

superior, contendo aspectos considerados no contexto da manobra por ele

idealizada”. A Defesa em Setor é uma técnica que pode ser utilizada em diversas

formas de manobra e situações de combate.

Considerando o fator missão, o comandante de uma Bda Bld ou Mec poderá

optar pela Defesa em Setor quando:

- for determinado pelo escalão superior por meio de ordem direta ou intenção;

- a situação impuser a destruição do inimigo;

- visualizar que poderá obter grande surpresa e êxito com tal técnica;

- os demais fatores da decisão indicarem.

4.3.2 Inimigo

O aspecto mais importante que deve ser considerado é o estudo da matriz

doutrinária do inimigo. Estudando-a desde os tempos de paz, busca-se conhecer

as suas formas de atuação nos diversos ambientes operacionais.

Ao se determinar as vulnerabilidades do inimigo, deve-se levar em

consideração para a decisão por uma Defesa em Setor:

- o grau de mobilidade deste inimigo;

- o valor e a natureza das forças possíveis de serem empregadas dentro da

zona de ação da Bda;

- o valor dos seus multiplicadores do poder de combate, como, por exemplo,

os apoios de fogo e de engenharia.

4.3.3 Terreno e Condições Meteorológicas

O terreno é um dos fatores mais decisivos para a adoção da técnica de

Defesa em Setor por uma brigada. Os aspectos que devem ser considerados no

terreno para a escolha dessa técnica defensiva, entre outros, são:

- possuir boa rasância para as armas de tiro tenso;

- apresentar regiões que favoreçam a instalação de núcleos defensivos em

profundidade e nos flancos;

- quando o terreno não possuir boa região de bloqueio junto ao Limite Anterior

da Área de Defesa Avançada (LAADA);

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44

- quando for demasiado desfavorável defender junto ao LAADA, em razão do

terreno de posse do inimigo exercer grande dominância sobre toda área adjacente

ao contato;

- quando o terreno dificulta repelir o ataque inimigo à frente do LAADA;

- quando o terreno permitir o estabelecimento de áreas de engajamento.

4.3.4 Meios

Embora a Defesa em Setor possa ser realizada por todos os tipos de brigada

e escalões subordinados, são as Bda Bld e Mec, com as suas FT U, as mais aptas a

empregar esta técnica defensiva, principalmente, devido ao seu grau de mobilidade,

poder de fogo e à sua maior diversidade em armas e calibres.

É importante levar em consideração que, quando se opta por uma Defesa em

Setor, se deve dispor de maciço apoio de fogo, especialmente anticarro (AC), para

realizar a destruição do inimigo pelo fogo.

Deve-se raciocinar que, em princípio, o atacante dispõe de superioridade de

meios em relação ao defensor, porém, ao se realizar a Defesa em Setor, o poder

relativo de combate no tocante a apoio de fogo deverá ser superior ao do adversário

nas AE previstas.

4.3.5 Tempo

O combate moderno potencializou a importância do fator tempo, embora o

mesmo já estivesse presente nos estudos de situação e nas considerações para a

tomada de decisão. A correta administração do tempo tornou-se, então,

imprescindível para que se consiga a sincronização das ações nos momentos e

locais decisivos. Para a Defesa em Setor a sincronização das ações deverá buscar o

máximo benefício dos meios empregados, particularmente quando atuando nas AE.

Nas operações defensivas, por exemplo, o tempo é fator fundamental na

ocupação da posição, na organização do terreno, na instalação de obstáculos, na

criação de áreas de engajamento, no planejamento dos fogos, no escalonamento da

defesa em profundidade e nos treinamentos de contra-ataques. A fim de ganhar o

tempo mínimo necessário para tais ações, os escalões mais elevados valem-se de

forças de segurança (BRASIL, EB 20-MC-10.103, 2014, p. 3-13).

As Bda Bld e Mec, empregando a Defesa em Setor, podem conduzir uma Def

A com uma frente bem maior do que se conduzissem uma defesa tradicional, devido

ao fato de que, na defesa tradicional, não há tempo ou espaço para reposicionar as

Page 49: TCC Maj Levy - Versão Final

45

forças. A defesa em profundidade permite que as forças de segurança e forças da

área de defesa avançada identifiquem a operação decisiva do inimigo e controlem a

profundidade da penetração inimiga na área de defesa avançada. Devido às suas

ações defensivas, é conseguido o tempo necessário para reagir às ações do inimigo

e permitir a tomada de ações ofensivas para eliminar as opções inimigas, como, por

exemplo, conduzir contra-ataques nos flancos e retaguarda do inimigo (RIBEIRO,

2007, p. 47).

4.3.6 Considerações Civis

As Considerações Civis tornaram-se mandatórias como um dos fatores

preponderantes da decisão. A importância que as operações no nível tático têm

recebido no “Espaço de Batalha”, mesmo as empreendidas por frações elementares,

deve-se à imediata repercussão que essas ações podem produzir nas sociedades e,

consequentemente, na Expressão Política de um país (EB 20-MF-10.103, 2014, p.

3-14).

As Considerações Civis podem ser traduzidas pela influência das instituições

civis, das atitudes e atividades das lideranças civis, da população, da opinião

pública, do meio ambiente, de infraestruturas construídas pelo homem, das agências

civis, com capacidade de influir e formar opiniões entre os nacionais ou

internacionais, no Espaço de Batalha.

Dessa forma, na escolha da técnica de Defesa em Setor, deve-se considerar

todos os efeitos colaterais que as ações acarretarão sobre a população da área de

operações.

4.4 ORGANIZAÇÃO DA DEFESA

De maneira geral, a organização da Defesa em Setor se assemelha a uma

defesa de área tradicional, compreendendo:

- área de segurança;

- área de defesa avançada; e

- área de reserva.

Na Defesa em Setor, a tropa defende em profundidade para derrotar as forças

inimigas. Esta defesa é diferente da Def A tradicional, que visa a retenção do

terreno. Agora a missão se concentra na força inimiga. O terreno dentro do setor é

usado para obter uma vantagem, mas a retenção do mesmo não é o objetivo da

Page 50: TCC Maj Levy - Versão Final

46

defesa. O foco está no desgaste do inimigo através da profundidade do campo de

batalha. Como defensor, a tropa mantém alguma iniciativa no sentido de que não

aceita o engajamento decisivo em uma linha especificada. Ele vai aceitar o combate

decisivo apenas quando e onde ele consiga a destruição da força inimiga (EUA, FM

71-100.2, 1993).

Para isso, são estabelecidas linhas de desengajamento. Elas são linhas

facilmente identificáveis no terreno que, quando atravessadas pelo inimigo, indicam

ao defensor que é hora de ocupar a sua próxima posição. O comandante pode

utilizar essas linhas tanto na ação retardadora, quanto na defesa em posição,

sempre que se queira evitar um engajamento decisivo (ver figura 16). Devem ser

estabelecidos critérios para o retraimento, como, por exemplo, um determinado

número de blindados inimigos ter ultrapassado a linha de desengajamento, ou ter

sido atingido um determinado percentual de perdas amigas (EUA, ADRP 3-90, 2012,

p. 4-5).

Salienta-se também o aumento de importância da Força de Cobertura em

uma ação de defesa em setor. Se ela passar a agir de forma mais ativa e agressiva,

procurando atingir os pontos decisivos do inimigo, cedendo o terreno somente onde

for pressionada, estará cumprindo suas atribuições, que são de canalizar,

desorganizar forças inimigas e degradar seu poder de combate de forma mais eficaz

(EsAO, 2011, p.8).

A Defesa em Setor tem muitos pontos em comum com uma ação

retardadora (movimento retrógrado). As forças são posicionadas para negar

acidentes capitais ao inimigo, para observá-lo desde o mais longe, e atingi-lo com

fogos longínquos, preservando ao máximo a liberdade de manobra. A diferença está

na atitude a tomar quando sob pressão: ao invés de simplesmente retrair, as forças

avançam e se posicionam lateralmente, só recuando quando o inimigo perder seus

meios ou efetivamente conquistar terreno (RIBEIRO, 2007, p.53).

No planejamento das ações, o comandante considera as vias de acesso

para as tropas blindadas e mecanizadas inimigas, estima o tamanho da força

atacante empregada e o tempo que o alvo estará exposto. Determina onde os

blindados podem ser destruídos e onde as armas anticarro podem ser posicionadas

para destrui-los nas AE (EsAO, 2011, p.8).

Para cumprir a missão de defesa do setor, o comandante pode usar

quaisquer das técnicas defensivas previstas, tais como: núcleos defensivos, pontos

Page 51: TCC Maj Levy - Versão Final

47

fortes ou posições de bloqueio. O que se busca é o resultado: é esperado que o

inimigo designado pelo escalão superior (seja ele uma vanguarda, ou a tropa de

reconhecimento, ou outra qualquer) seja derrotado dentro do setor designado, ou

sejam infligidos danos suficientes para que ele perca sua capacidade ofensiva.

Observa-se que é uma técnica defensiva essencialmente orientada ao inimigo.

Figura 16 – Esquema de Manobra de Bda na Defesa em Setor. Fonte: EUA, FM 3-90.2, 2003, p. 6-11.

O relatório da EsAO, versando sobre a Doutrina Delta e as Op Def, em 2011,

considera a Defesa em Setor como uma forma de manobra eficaz de desgastar ou

destruir as forças inimigas onde realiza seu ataque principal (EsAO, 2011, p. 18).

O uso de setores permite flexibilidade e previne que o inimigo concentre um

poder de fogo superior contra a maior parte das forças que defendem. O terreno é

dividido em setores, sob a responsabilidade de uma fração, selecionados pelo

defensor, onde a tropa inimiga terá a sua mobilidade restringida pelos sistemas de

fogos e de barreiras dentro de áreas de engajamento. Nesses locais, sofrerá a ação

Page 52: TCC Maj Levy - Versão Final

48

de fogos ajustados de posições de bloqueio e de contra-ataques, que visarão o

desgaste ou a destruição do inimigo, quebrando a impulsão do seu ataque (EUA, FM

3-90.2, 2003).

As ações dinâmicas de defesa crescem de importância com o emprego da

Def St, pois terão por finalidade minimizar os "riscos" no dispositivo flexível da tropa

que conduz este tipo de ação. Nesse contexto, o maior escalão em presença na

defesa deve adotar todas as medidas a fim de evitar um possível desbordamento

por parte do inimigo (EsAO, 2011, p.18).

Segundo Goulart (2008, p. 4), a essência do emprego de forças blindadas na

defensiva consiste em realizar uma defesa dinâmica, sendo que, para isso, essas

forças devem utilizar a profundidade da zona de ação para manobrar, alternando

entre ações de bloqueio do inimigo, de retardamento e de contra-ataque.

Na Def St o dispositivo defensivo permite flexibilidade, pois a defesa é

posicionada conforme o movimento da tropa atacante. Há uma grande liberdade de

ação ao elemento subordinado, que recebe a missão pela finalidade e planeja a

organização da posição defensiva de forma que possa explorar da melhor forma

todos os seus meios disponíveis (EsAO, 2011, p. 18).

4.5 ÁREA DE ENGAJAMENTO

De acordo com o Manual C 7-20 (2003, p. 5-19):

Chama-se área de engajamento (AE) a região selecionada pelo defensor, onde a tropa inimiga, com seu movimento canalizado e sua mobilidade restringida por um eficiente sistema de barreiras (com obstáculos naturais e artificiais), é engajada pelo fogo ajustado, simultâneo e concentrado de todas as armas de defesa. Tem a finalidade de causar o máximo de destruição, especialmente nos blindados inimigos, e de provocar o choque mental e físico pela violência, surpresa e letalidade dos fogos aplicados.

A AE deve possuir dimensões compatíveis com a força inimiga a ser

destruída e a eficácia das armas integrantes dos núcleos de defesa. No escalão U,

normalmente o valor do inimigo na área de engajamento corresponde ao escalão de

ataque, ou até todas as peças de manobra de duas companhias inimigas. Quando a

AE for valor SU, admitirá, no interior da área, o escalão de ataque de uma

subunidade ou todas as suas peças de manobra (ver Figura 17).

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49

Figura 17 – Área de Engajamento de uma FT valor U. Fonte: BRASIL, C 17-20, 2002, p. 6-37.

4.6 MEDIDAS DE COORDENAÇÃO E CONTROLE

Para uma defesa ser coesa, sabe-se que os elementos de manobra não

podem dispor de total liberdade, sob o risco de fratricídio e de comprometer a

manobra do escalão enquadrante como um todo. Para proporcionar a coordenação

e a sincronização das ações, são estabelecidas medidas de coordenação e controle

(Mdd Coor Ct), tais como (RIBEIRO, 2007, p. 53):

4.6.1 Linha de controle (Phase Line, em inglês)

Linha de controle (L Ct) é uma linha balizada por acidentes nítidos do terreno,

facilmente identificável, utilizada para controlar ou coordenar a progressão de uma

ou mais unidades ou fasear uma operação e facilitar a adoção de plano alternativo

(C 20-1, 2003, p. L-3). Na Def St ela é traçada com a finalidade de regular a

progressão das frações, durante os retraimentos para posições em profundidade na

Z Aç (ver figura 18).

Page 54: TCC Maj Levy - Versão Final

50

4.6.2 Áreas de Engajamento (Engagement Areas, em inglês)

Como observado no item 4.5, as AE são consideradas Mdd Coor Ct

importantes na organização da Def St. Dentro das AE serão desenvolvidos os

esforços principais voltados para a destruição das forças inimigas.

Figura 18 – Medidas de Coordenação e Controle na Defesa em Setor. Fonte: Estados Unidos (FM 3.90-3, 2001, p. 6-19) (Adaptado pelo autor)

4.6.3 Posições de Bloqueio (P Blq)

A P Blq é uma posição no terreno ocupada por uma tropa com o objetivo de

bloquear uma via de acesso, e deve, sempre que possível, ter as seguintes

características (C 2-20, 2002, p. 5-5 e 7-29):

1) domínio sobre as principais penetrantes do inimigo;

2) aproveitamento do terreno com boas características defensivas;

3) bons campos de tiro sobre as áreas de engajamento;

4) itinerários desenfiados para deslocamentos (retraimentos e rocadas); e

5) condições de transitabilidade através campo.

Page 55: TCC Maj Levy - Versão Final

51

4.6.4 Linhas de Obstáculos

Os obstáculos táticos e os fogos manipulam o inimigo, dirigindo-o para a área

desejada, conforme a concepção da manobra e a intenção do comandante. Os

efeitos desejados dos obstáculos sobre o inimigo podem ser a dissociação, a

canalização, a fixação e o bloqueio, conforme se vê na figura 20 (C 7-20, 2003, p.5-

23).

4.6.5 Pontos de referência de alvos (PRA)

São pontos nítidos do terreno, naturais ou artificiais (preparados ou não pela

tropa), designados pelo defensor para definir alvos e facilitar a definição dos setores

de tiro dos núcleos defensivos e das armas de apoio de tiros diretos ou indiretos.

Podem ser usados para delimitar uma AE (ver figura 19). São numerados pelo

Coordenador de Apoio de Fogo da U, visando facilitar a identificação e rápida

designação dos mesmos (C 7-20, 2003, p.5-24).

4.6.6 Setores de tiro

Devem ser designados para os núcleos da defesa que atuarão na orla das AE

e para as armas de apoio (ver figura 19). São estabelecidos um setor principal e um

secundário, a ser empregado mediante ordem (C 7-20, 2003, p.5-24).

4.6.7 Posição de Ataque pelo Fogo (P Atq F)

Posição preparada ou não, a ser ocupada temporariamente, de onde são

realizados fogos diretos para destruir o inimigo a distância (ver figura 19). Visando

empregar o máximo volume possível de fogos para bater o inimigo no interior da

área de engajamento, poderá ser utilizado poder de fogo da reserva, principalmente

dos carros. Deve ser prevista uma posição da qual a reserva, ou suas frações,

possam atacar, pelo fogo, o inimigo que penetrou na AE, cooperando com sua

destruição (C 7-20, 2003, p.5-24).

4.6.8 Eixo de progressão para deslocamento da reserva

O deslocamento da reserva ou de suas frações para uma P Atq F será feito

em um eixo de progressão, uma vez que o deslocamento será com as frações

desdobradas no terreno, visando diminuir a eficiência da ação do inimigo,

principalmente com seus fogos de artilharia e ataques aéreos (ver figura 19). O

Page 56: TCC Maj Levy - Versão Final

52

momento ideal para o início do deslocamento para a posição será determinado

através de linhas de acionamento (C 7-20, 2003, p.5-24).

Figura 19 – Medidas de Coordenação e Controle para uma Área de Engajamento. Fonte: BRASIL, C 7-20, 2003, p. 5-25.

4.6.9 Linhas de acionamento

São linhas estabelecidas no terreno para controlar o desencadeamento dos

fogos nas AE, conforme se vê na figura 19 (acima). São marcadas tomando-se por

base o alcance de utilização das diversas armas empregadas e a influência do

terreno e dos obstáculos existentes nos fogos dessas armas (C 7-20, 2003, p.5-24).

LEGENDA:

- A - Simbologia de Posição de Ataque pelo Fogo (P Atq F).

- B - Simbologia de um Ponto de Referência de Alvos (PRA).

- C - Linhas de Acionamento.

- D - Delimitação de setores de tiro principal e secundário, utilizando-se PRA.

No caso, demonstrado os St de 2 Pel Fzo e da fração de carros da reserva, na P

Atq F.

- E - E Prog para deslocamento da reserva.

Page 57: TCC Maj Levy - Versão Final

53

4.6.10 Prioridade de engajamento dos fogos

Deve ser realizada uma hierarquização na seleção da arma a ser

empregada, considerando a natureza e localização do alvo inimigo, alcance eficaz

das armas e o efeito desejado (C 7-20, 2003, p.5-24).

4.7 O APOIO AO COMBATE

Segundo Ribeiro (2007, p. 55), o emprego dos apoios de forma integrada e

sincronizada com a manobra é considerado crítico e essencial na Defesa em Setor.

A mentalidade de armas combinadas deve ser aprimorada na DMTB, a fim de tornar-

se uma realidade presente em todos os escalões da força.

O comandante tático é o responsável pelo planejamento de emprego dos

apoios. A decisão conta com o assessoramento técnico do elemento que presta o

apoio, mas é o elemento de manobra que define os efeitos desejados. Os apoios

devem participar de todo o processo de tomada de decisão, para que as linhas de

ação sejam formuladas de forma integrada. Cada detalhe é acertado e consolidado

em matrizes de sincronização, que devem ser exaustivamente ensaiadas.

4.7.1 Apoio de Fogo

Para o Ex dos EUA, o escalão U, normalmente, é o menor escalão que

elabora um conceito para os fogos na defensiva. Aos escalões inferiores cabe a

execução e as solicitações de apoio. Para tanto, a partir deste escalão, há um oficial

de ligação de artilharia e sua equipe designada, para coordenar e operacionalizar o

apoio de fogo. Além do oficial de ligação, as U recebem equipes para trabalharem

junto às SU (RIBEIRO, 2007, p. 55).

Estas equipes são compostas pelo Observador Avançado e auxiliares (num

total de aproximadamente seis elementos), que se deslocam numa Vtr Bld com

equipamentos especiais para a condução do tiro. Esta equipe deve ser preparada

para a solicitação de fogos da Força Aérea Componente, da Força Naval

Componente, da Aviação do Exército (Av Ex) ou de qualquer outro apoio de fogo

suplementar (RIBEIRO, 2007, p. 55).

É o comandante tático, por meio de uma diretriz de fogos, que determina como será prestado o apoio. Ele determina, ainda, quem será responsável pela condução das concentrações, determina seu tipo e o efeito desejado, em cada fase da operação (RIBEIRO, 2007, p. 55).

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4.7.2 Apoio de Engenharia

É, normalmente, a partir do escalão U que se determina o emprego dos meios de engenharia, com uma concepção geral sobre os trabalhos a serem executados. Para se chegar a esta concepção, o Cmt tático é informado, previamente, sobre quais meios e que quantidade de pessoal disporá para a operação. Assessorado por um Oficial de Engenharia (Eng), o Cmt tático decidirá de que forma empregará os meios de que dispõe (RIBEIRO, 2007, p. 56).

Fazendo-se um comparativo com as necessidades de apoio de Eng para

a realização de uma Defesa Elástica, observa-se que, assim como na Defesa em

Setor, cresce de importância a preparação das áreas de engajamento selecionadas,

onde a tropa inimiga, com a sua mobilidade restringida pelo terreno e pelo sistema

de barreiras, é engajada pelo fogo ajustado, simultâneo e concentrado de todas as

armas. Para isso, o sistema de barreiras, o posicionamento dos núcleos defensivos

e a ação das forças de segurança devem ser orientados para canalizar as forças

inimigas para o interior das áreas de engajamento, conforme se vê na figura 20

(BARBOSA, 2003, p. 5).

Figura 20 – Sistema de obstáculos para uma Área de Engajamento. Fonte: BRASIL, C 7-20, 2003, p. 5-23.

Cabe salientar ainda o apoio de Eng na construção de obstáculos AC no

interior das AE. O sucesso da operação depende da separação dos blindados

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inimigos da infantaria que os acompanha e protege, permitindo batê-los por partes.

Dessa forma, o êxito da Defesa em Setor dependerá de uma excelente integração

entre todos os meios AC, sejam eles obstáculos ou os diversos tipos de armas AC

disponíveis.

4.7.3 Demais apoios

Os planejamentos de Defesa Antiaérea (DAAe); Defesa Química, Biológica e

Nuclear; Comando e Controle (C²); Guerra Eletrônica e Logística são, igualmente,

coordenados e sincronizados com a manobra do comandante tático. Nenhum apoio,

mesmo proporcionado pelo escalão superior, pode realizar deslocamentos ou

interferir, de alguma forma, na manobra executada no interior de determinada Área

de Operações sem o conhecimento do comandante tático responsável por ela. Estes

detalhes são revistos na fase de confecção da matriz de sincronização e

devidamente esclarecidos no decorrer dos ensaios (RIBEIRO, 2007, p. 56).

4.8 CONCLUSÃO PARCIAL

As brigadas blindadas e mecanizadas contam atualmente com uma ampla

variedade de técnicas e táticas defensivas, que procuram se contrapor a um maior

número de situações possíveis criadas pelo atacante no campo de batalha moderno.

No presente capítulo, observou-se que a Defesa em Setor, apesar de ainda não

ter sido contemplado pela DMTB, é uma técnica defensiva que dá grande

flexibilidade ao comandante, permitindo que ele possa conduzir uma defesa em

profundidade em sua zona de ação.

Além disso, a técnica favorece a iniciativa do defensor, que não fica estático,

aguardando os golpes do atacante. Ao contrário, quem defende em setor está

sempre em movimento, procurando o melhor local para abater o seu adversário.

Dessa forma, conclui-se parcialmente que a Defesa em Setor é uma técnica

defensiva essencialmente orientada ao inimigo, não tendo como foco a manutenção

do terreno. Por isso, acredita-se que ela possa ser especialmente útil para a DMTB,

sendo particularmente adequada para tropas blindadas e mecanizadas.

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5 CONCLUSÃO

O presente trabalho teve por objetivo analisar a técnica de Defesa em Setor,

verificando se a mesma pode ser adotada pela DMTB, particularmente nas Bda Bld

e Mec do EB.

Conforme visto no Capítulo 1, apesar do EME estar reformulando a doutrina

brasileira, a partir do Processo de Transformação do EB, iniciado em 2010, verificou-

se que o novo Conceito Operativo do Exército de Operações no Amplo Espectro não

abarcou, até o presente momento, a técnica da Defesa em Setor.

Dessa forma, pretendeu-se responder as seguintes questões de estudo:

a) a técnica de Defesa em Setor traz novos ensinamentos e soluções para o

emprego de tropas Bld e Mec em Op Def?

b) ela é adequada e pode ser enquadrada pelos fundamentos da defensiva da

DMTB?

c) o EB poderá adotar a referida técnica desde já, ou terá que realizar

adaptações em sua estrutura ou meios militares?

Bem, inicialmente, iremos discutir a primeira questão.

Conforme o estudo apresentado, a técnica de Defesa em Setor vem ao

encontro do processo de modernização de nossa doutrina militar, tornando a defesa

mais dinâmica e flexível, pois proporciona maior liberdade de ação aos escalões

subordinados, ao mesmo tempo em que exige maior sincronização dos sistemas

operacionais até o nível SU. Além disso, a Def St desvia o foco da defensiva da

manutenção do terreno, vocacionando a defesa mais para as atitudes do inimigo,

buscando a neutralização de suas ações e a retomada da iniciativa do combate.

No tocante à segunda questão, pode-se concluir que a Defesa em Setor é

adequada e pode ser enquadrada pelos fundamentos da defensiva da DMTB, uma

vez que supre as seguintes demandas: apropriada utilização do terreno; segurança;

apoio mútuo; defesa em todas as direções; defesa em profundidade; flexibilidade;

máximo emprego de ações ofensivas; dispersão; utilização do tempo disponível; e

integração e coordenação das medidas de defesa.

Em relação à questão: se o EB poderá adotar a referida técnica desde já, ou

terá que realizar adaptações em sua estrutura ou meios militares, cabe algumas

observações:

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a) o EB ainda está realizando a experimentação doutrinária em sua Bda Inf

Mec, o quê permitirá um aprimoramento natural em seu Quadro de Organização;

b) seria interessante que houvesse um incremento em armas AC nos Quadros

de Dotação de Material das Bda Bld e Mec do EB, a fim de melhorar a Defesa contra

Blindados de nossas tropas, além de possibilitar uma gama maior de Pos Def ao

comandante tático; e

c) há a necessidade de um forte apoio de Eng para a execução do Plano de

Barreiras na Defesa em Setor, uma vez que a tropa irá atuar em uma Z Aç mais

profunda, em que são previstas diversas Áreas de Engajamento ao longo da

mesma.

Após essas pequenas considerações apresentadas, afirma-se que sim, o EB

poderá adotar a Defesa em Setor em sua doutrina desde já, pois a adoção da

técnica não vai requerer grandes mudanças nos quadros de organização das

unidades, além de representar um grande avanço rumo à modernização doutrinária.

As Operações Defensivas devem ser planejadas para se contraporem a forças

inimigas cada vez mais móveis e com maior poder de fogo. Para isso, o defensor

deve ter um variado leque de opções, a fim de adotar a manobra mais vantajosa

para o cumprimento de sua missão. Dessa forma, a Defesa em Setor pode ser mais

opção para o emprego em Op Def na doutrina brasileira.

CARLOS ANDRÉ MACIEL LEVY – Maj Cav

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