99
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Departamento de Relações Internacionais O POSICIONAMENTO POLÍTICO DO BRASIL NO REGIME DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS: uma discussão de dois níveis Marcela Costa Pinto Reggiani Belo Horizonte 2008

TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Departamento de Relações Internacionais

O POSICIONAMENTO POLÍTICO DO BRASIL NO REGIME DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS:

uma discussão de dois níveis

Marcela Costa Pinto Reggiani

Belo Horizonte 2008

Page 2: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

1

Marcela Costa Pinto Reggiani

O POSICIONAMENTO POLÍTICO DO BRASIL NO REGIME DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS:

uma discussão de dois níveis

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Orientadora: Matilde de Souza

Belo Horizonte

2008

Page 3: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

2

Marcela Costa Pinto Reggiani

O Posicionamento Político do Brasil no Regime de Mudanças Climáticas: uma discussão

de dois níveis

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

Matilde de Souza (Orientadora) – PUC Minas

Danny Zahreddine – PUC Minas

Rodrigo Corrêa Teixeira – PUC Minas

Belo Horizonte, 26 de Novembro de 2008

Page 4: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

3

A meus pais

pelo amor, atenção e incentivo aos estudos,

à minha avó,

por me apresentar à sede do conhecimento.

Page 5: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

4

AGRADECIMENTOS

A FAPEMIG, pelo financiamento a essa pesquisa que tornou possível a realização do

meu trabalho.

A PUC Minas pela infra-estrutura de trabalho e possibilidade de expandir meus

conhecimentos.

A minha orientadora, professora Matilde de Souza, pela paciência, carinho, atenção e

direção da pesquisa.

A minha família e amigos que com sua paciência e apoio me ajudaram a ter fé e

perseverança na busca pelo conhecimento.

Page 6: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

5

“Don’t blow it – Good planets are hard to

find.” (Time)

Page 7: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

6

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo estudar o posicionamento político atual do Brasil sobre a

questão das mudanças climáticas. Esse posicionamento será analisado em dois níveis: o

doméstico e o internacional. No âmbito doméstico será observado o posicionamento e a

coordenação dos ministérios brasileiros, responsáveis pela formulação e implementação das

políticas referentes às mudanças do clima no âmbito doméstico e internacional.

Adicionalmente, será observada a influência dos stakeholders brasileiros no processo de

decisão e implementação das políticas para o clima. Essas duas variáveis influenciam a

projeção do Brasil nas negociações atuais do Regime de Mudanças Climáticas. A metodologia

adotada na pesquisa foi levantamento e análise de documentos e declarações oficiais. Além

disso, foram utilizadas as técnicas de análise dos stakeholders (stakeholder analysis) e a

análise de dados primários sobre cenários de emissões do Brasil. Por fim, conclui-se que há

uma falta de coordenação entre as instituições políticas do Brasil no sentido de formular e

implementar uma política do clima, responsável por reduzir as emissões de gases de efeito

estufa no país e mitigar as mudanças climáticas. Logo, essa falta de coordenação, juntamente

com a atuação de grupos de interesse (stakeholders) influenciam a projeção do país no

Regime de Mudanças Climáticas.

Palavras-Chave: Regime de Mudanças Climáticas; Política Ambiental Brasileira; Jogos de

Dois Níveis.

Page 8: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

7

ABSTRACT

This paper aims to study the Brazil’s political positioning about climate change. This

positioning will be analyzed taking into account two levels: domestic and international. In

domestic level it will be observed the positioning and coordination of brazilian ministries

responsible for the formulation and implementation of climate change politics in both

domestic and international levels Additionally, it will be observed the influence of brazilian

stakeholders on the decision making and implementation processes of climate change politics.

These two variables affect Brazil’s projection on the currently Climate Change Regime

negotiations. The methodology used here will be official documents and declarations

analysis. Besides, it will be used stakeholders analysis and primary data about Brazil’s GHG

emissions. Finally, we conclude that there is a lack of coordination between Brazil’s political

institutions concerning the formulation and implementation of climate change politics’,

responsible for reducing GHG emissions and mitigate climate change. In addition, we have

non-governmental stakeholders influencing on the formulation of climate change politics in

domestic level. These variables will affect Brazil’s positioning on the Climate Change

Regime.

Key-words: Climate Change Regime; Brazilian Environmental Politics; Two-Level Games.

Page 9: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

FIGURA 1 – Esquema Explicativo do Efeito Estufa..................................................... 18

FIGURA 2 – Quadro Resumo da Hipótese.................................................................... 20

FIGURA 3 – Emissões Mundiais de GEE por País em 2000........................................ 39

FIGURA 4 – Emissões Totais de GEE em 2000........................................................... 40

FIGURA 5 – Mapa da Expansão da Fronteira Agrícola na Amazônia Legal................ 52

FIGURA 6 – Mapa da Fronteira de Exploração da Madeira e da Atividade da Pecuária na Amazônia Legal..........................................................................................

54

FIGURA 7 – Mapa da Mudança dos Sistemas Físicos e Biológicos e na Temperatura da Superfície entre 1970 e 2004.....................................................................................

57

FIGURA 8 – Fluxograma Resumo da Pesquisa............................................................. 85

GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Emissões Antrópicas Globais de GEE.................................................. 37

GRÁFICO 2 – Contribuições Agregadas dos Países Maiores Emissores de GEE........ 38

GRÁFICO 3 – Perfil das Emissões Brasileiras por Setor – 1994.................................. 41

GRÁFICO 4 – Perfil da Produção Energética – Brasil e Mundo.................................. 42

GRÁFICO 5 – Taxa de Desmatamento Anual da Amazônia Legal.............................. 44

GRÁFICO 6 – Total de Atividades de Projetos de MDL no Mundo............................ 45

GRÁFICO 7 – Número de Projetos Brasileiro de MDL por Escopo Setorial............... 46

GRÁFICO 8 – Emissões a serem Reduzidas durante o 1º Período de Obtenção de

Créditos dos Projetos Registrados..................................................................................

47

GRÁFICO 9 – Reduções Mundiais de Emissões Anuais.............................................. 48

GRÁFICO 10 – Crescimento Projetado das Emissões Mundiais até o ano de 2025..... 49

GRÁFICO 11 – Produção de milho em grão dos seis maiores municípios produtores

do país – 2000-2007.......................................................................................................

51

GRÁFICO 12 – Produção de soja em grão dos seis maiores municípios produtores

do país – 2000-2007.......................................................................................................

51

GRÁFICO 13 – Distribuição da Participação da CNA nas Reuniões Legislativas

Federais por Temáticas – 1º a 4 de Setembro de 2008..................................................

76

Page 10: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

9

GRÁFICO 14 – Distribuição da Participação da CNA nas Reuniões Legislativas

Federais por Temáticas – 9 a 11 de Setembro de 2008..................................................

76

GRÁFICO 15 – Distribuição por Área Temáticas da Participação Semanal da CNA

nas Reuniões Legislativas – 1º a 11 de Setembro de 2008............................................

77

GRÁFICO 16 – Parecer da CNA nas Reuniões Legislativas sobre Meio Ambiente e

Amazônia.......................................................................................................................

78

GRÁFICO 17 – Proposições em Tramitação no Congresso Nacional.......................... 79

Page 11: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

10

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Distribuição das Atividades de Projeto no Brasil por tipo de projeto..... 46

TABELA 2 – Distribuição das Terras no Brasil............................................................ 53

TABELA 3 – Grupos de Unidades de Conservação...................................................... 64

TABELA 4 – Anexo IX da Lei 10.165 de 27 de dezembro de 2000........................... 65

TABELA 5 – Identificação dos Stakeholders................................................................ 69

TABELA 6 – Delimitação dos Interesses dos Stakeholders.......................................... 71

Page 12: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

11

LISTA DE ABREVIATURAS

BAU – Business-as-usual

CH4 – Gás Metano

CO2 – Gás Carbônico

GEE – Gases causadores do Efeito Estufa

HFC – Hidrofluorcarbonetos

MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

MtCO2 - Milhões de toneladas de CO2

N2O – Óxido Nitroso

ONG – Organização não-governamental

PFC – Perfluorcarbonetos

RCE – Reduções Certificadas de Emissões

SF6 – Hexafluoreto de enxofre

PIB – Produto Interno Bruto

Page 13: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

12

LISTA DE SIGLAS

ABIMCI – Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente

AIMEX – Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará

CAIT – Climate Analysis Indicators Tool

CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

CONABIO – Comissão Nacional da Biodiversidade

CONACER – Comissão Nacional do Programa Cerrado Sustentável

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

COP – Conferência das Partes da Convenção Quadro das Mudanças Climáticas Globais da

Organização das Nações Unidas

CPCRH – Coordenação do Clima e Recursos Hídricos do INPA

CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do INPE

DETER – Detecção do Desmatamento em Tempo Real

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

G77 – Grupo dos 77 nas Nações Unidas

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística

IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPCC – Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

Page 14: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

13

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MME – Ministério das Minas e Energia

MSG – Modelos de Circulação Geral

NAE – Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República

OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico

ONU – Organização das Nações Unidas

PAEG – Plano de Ação Econômica do Governo

PAS – Plano Amazônia Sustentável

PróÁLCOOL – Programa Brasileiro de Álcool

PRODES – Projeto de Estimativa do Desflorestamento da Amazônia

PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia

SAAP – Sistema de Acompanhamento de Atividades Parlamentares

SIPAM – Sistema de Proteção da Amazônia

SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente

SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia

SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação

TCFA – Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental

UNCED – Conferência para o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações

Unidas

UNEP – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

UNFCCC - Convenção Quadro das Mudanças Climáticas Globais da Organização das Nações

Unidas

WRI – World Resources Institute

Page 15: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

14

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 16

2. O AMBIENTE INTERNACIONAL: O REGIME DAS MUDANÇAS DO

CLIMA..........................................................................................................................

22

3. O BRASIL E O REGIME DE MUDANÇA DO CLIMA.....................................

3.1. A teoria de Putnam dos níveis de análise............................................................

3.2. O Posicionamento do Brasil no nível internacional...........................................

3.2.1 O Desmatamento da Amazônia no âmbito do Regime.......................................

3.3. O Cenário de Emissões Brasileiro.......................................................................

3.3.1. O Desmatamento da Amazônia..........................................................................

3.3.1.1. Agricultura: Soja e Milho...............................................................................

3.3.1.2. Pecuária e Madeireiras...................................................................................

3.4. Vulnerabilidade do Brasil frente às mudanças climáticas................................

3.5. A política doméstica para as mudanças climáticas............................................

3.5.1. A Legislação Ambiental Brasileira relacionada às mudanças climáticas........

3.5.2.1. O Código Florestal..........................................................................................

3.5.2.2. Lei dos Incentivos ao Florestamento e Reflorestamento.............................

3.5.2.4. Lei sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

3.5.2.5. Lei da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA).......................

3.5.2.6. Lei sobre a Gestão de Florestas Públicas......................................................

28

28

30

36

37

49

50

53

55

59

61

61

63

63

64

65

4. PROBLEMAS DE COORDENAÇÃO ENTRE OS STAKEHOLDERS.............

4.1. Stakeholders analysis.............................................................................................

4.1.1. Delimitação dos stakeholders.............................................................................

4.2. Os problemas de coordenação entre os stakeholders.........................................

4.2.1. Instituições Governamentais e Congresso Brasileiro........................................

4.2.2. Os Stakeholders do tipo 2....................................................................................

4.2.2.1. Agropecuária e Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil..........

4.2.2.2. Madeireiras......................................................................................................

4.2.2.3. ONGs “Verdes”...............................................................................................

67

67

68

70

71

74

75

80

81

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 84

REFERÊNCIAS........................................................................................................... 89

ANEXO I - Quadro 1 – Linha do Tempo sobre as discussões das Mudanças

Page 16: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

15

Climáticas Globais.......................................................................................................

ANEXO II - Quadro 2 – Os Mecanismos de Flexibilização do Protocolo de

Quioto............................................................................................................................

96

98

Page 17: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

16

1. INTRODUÇÃO

“O aquecimento do sistema climático é inequívoco, como

está agora evidente nas observações dos aumentos das

temperaturas médias globais do ar e do oceano, do

derretimento generalizado da neve e do gelo e da elevação

do nível global médio do mar.” (IPCC, 2007(a)).

Em 2007 o IPCC lançou mais um alerta à comunidade internacional: o clima está

aquecendo. É sobre esse crescente problema, que se manifesta tanto no âmbito internacional,

como no doméstico e é percebido também pelos indivíduos, que este trabalho se reporta. Tal

problema pode ser caracterizado como um problema de cooperação, coordenação e

vulnerabilidade, considerando os níveis internacional, doméstico e individual,

respectivamente. Nenhum de nós, sejamos ricos, pobres ou emergentes está aquém desse

fenômeno. O aquecimento é global, os impactos são globais, bem como seus efeitos. É nesse

sentido que se indaga sobre como o Brasil se posiciona nas negociações do regime que regula

as mudanças do clima, a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas.

O Brasil, um dos países que, provavelmente, sofrerá sérias conseqüências em função

desse crescente fenômeno climático, é um membro ativo das Nações Unidas em relação às

mudanças do clima. Entretanto, em termos relativos, as responsabilidades do Brasil junto a

sociedade internacional e no que se refere ao fenômeno específico do aquecimento global não

são quantificadas. Então, será a atuação do Brasil no âmbito doméstico e internacional

contribuição suficiente para ajudar a conter o aquecimento global? Serão suas contribuições

para o Protocolo de Quioto, para o desenvolvimento sustentável suficientes para conter as

futuras conseqüências à sociedade, economia e política mundiais? Essa pesquisa se iniciou

tendo em vista essas indagações e levando em consideração os dados das emissões de gases

de efeito estufa, que colocam o Brasil no ranking dos maiores emissores mundiais.

Num cenário internacional caracterizado pelas diferenças e similaridades cada vez

mais marcantes entre os países, economias, sociedades e povos; e pela interdependência dos

atores internacionais, onde a ação de um afeta direta ou indiretamente o outro, é que o

problema das mudanças climáticas está inserido. Logo, precisamos compreender o que seria o

problema das mudanças climáticas. O evento da mudança do clima são evidências percebidas

pela comunidade científica internacional e mostram que o clima mundial está esquentando. O

que significa que a temperatura média global está aumentando, tanto a temperatura do ar

quanto a dos oceanos.

Page 18: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

17

Contudo, as mudanças climáticas são fenômenos ambientais comuns ao sistema

climático do planeta. Logo, o aquecimento global é um fenômeno natural normal, o problema

é o ritmo que essas mudanças estão acontecendo atualmente. Onze de um período de doze

anos (1995-2006) analisado pelo IPCC estão no ranking dos doze anos mais quentes desde

1850, quando se começou a registrar instrumentalmente a temperatura da superfície global.

Desde 1850, estima-se que o aumento da temperatura total tenha sido de 0,76°C. Isso, em

termos de temperatura média pode parecer pouco, mas como uma mudança constante, afeta as

geleiras, as áreas cobertas por neve, a temperatura dos oceanos, entre outras mudanças, que,

por sua vez, afetam vários sistemas ambientais e, conseqüentemente, afetam os seres humanos

em geral.

De acordo com os relatórios do IPCC, essa aceleração se deve em parte às ações dos

seres humanos. Através da exploração constante e irremediável dos recursos naturais para

alimentar os sistemas econômicos de todo o mundo, os países estão liberando na atmosfera

gases que causam o aumento do efeito estufa. Antes da exploração, esses compostos químicos

estavam armazenados nos recursos naturais e inofensivos, tanto em sua forma final, quanto

em formas primárias, que ao serem submetidas a processos de mudança químicos ou físicos

são liberados na atmosfera e formam uma camada que reflete parte da radiação solar, o

chamado efeito estufa. O efeito estufa é um fenômeno natural comum, que ajuda a manter a

temperatura na terra, o que permite a existência de todo o tipo de seres vivos. O problema é

que o aumento da acumulação desses gases reflete maior quantidade da radiação solar, o que

aumenta a temperatura da superfície em níveis além do usual.

A figura 1 demonstra como esse efeito se dá e descreve em seis passos como isso

ocorre. (1) A radiação solar passa pela atmosfera limpa, cerca de 343 watt/m²; (2) A radiação

penetra a camada dos gases de efeito estufa a 240 watt/m², radiação filtrada pela camada dos

gases; (3) Alguma radiação é refletida pela atmosfera e pela superfície da terra (103 watt/m²);

(4) A energia solar é absorvida pela superfície terrestre e a aquece (168 watt/m²). Ao mesmo

tempo, essa energia é convertida em calor causando a emissão de radiação infravermelha

(raios vermelhos na figura)de volta para a atmosfera; (5) Certa radiação infravermelha é

absorvida e emitida novamente pela camada dos gases de efeito estufa causando o

aquecimento da superfície terrestre e da troposfera, assim, a superfície aquece ainda mais e a

radiação infra-vermelha é emitida; (6) Alguns raios infravermelhos passam pela atmosfera e

são perdidos no espaço (240 watt/m2).

Page 19: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

18

Figura 1 – Esquema Explicativo do Efeito Estufa Fonte: UNEP, 2002. <http://maps.grida.no/go/graphic/greenhouse-effect>

As mudanças climáticas nos atingem diretamente. Isso porque, a temperatura média

global afeta diretamente os sistemas climáticos como um todo: ciclos de chuva, ocorrências

de furacões, tornados, etc. Além disso, afeta diretamente os biomas, já que altera correntes

marítimas e de ar, e ainda, o aumento da variação climática (altas e baixas temperaturas) tem

ligação direta com os ciclos de vida de diversos seres vivos, afetando desde cadeias

alimentares até provocando mutações em espécies dos seres vivos. Afetando diretamente o

meio ambiente, afeta a nossa vida econômica, política e social. Além disso, os ciclos de

produção mundiais podem ser alterados, isso porque as matérias-primas são recursos naturais.

Esses são poucos de muitos efeitos das mudanças do clima, efeitos específicos para cada

região do mundo, para cada bioma, para cada sistema ambiental, para cada país, cada

indústria, cada ser humano, cada ser vivo.

Percebida a emergência do problema mundial, esforços efetivos e eficazes para o

controle dessas alterações são cada vez mais necessários. É para esse fim que a Convenção

Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas surge em 1992, no Rio de Janeiro,

Page 20: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

19

onde líderes mundiais perceberam a necessidade de uma ação conjunta e criaram um regime

para regular essas alterações. No âmbito desse regime ocorreram diversas reuniões das

partes1, onde foi decidida a criação de um Protocolo que regulasse as emissões de gases de

efeito estufa, estabelecendo metas de redução de emissões desses aos países do Anexo I2 a

serem implementadas a partir do ano de 2008 e cumpridas até o ano de 2012. Esse Protocolo,

como será explicitado nas seções subseqüentes, só entrou em vigor em 2005 devido a diversos

problemas na negociação entre os países.

É nesse cenário da emergência do fenômeno das mudanças climáticas globais que o

Brasil participa desse regime e desse protocolo. Porém, o Brasil, que está entre os países não-

Anexo I3, não possui metas quantificadas de redução de GEE4. Contudo, realiza esforços para

a redução dessas emissões, mas não obrigatoriamente. Além disso, o Brasil é um país que

participa ativamente das negociações do regime e do protocolo, seja fazendo propostas e

alternativas para alcançar o objetivo maior do regime ou defendendo os interesses dos países

menos desenvolvidos.

O núcleo do nosso questionamento reside na possibilidade do Brasil passar a ter

compromissos de redução quantificados no âmbito do Protocolo de Quioto. Isso porque, os

países, após os relatórios do IPCC, estão cada vez mais cientes da necessidade de uma ação de

mitigação conjunta por parte de todos os países do mundo a fim de estabilizar os níveis de

concentração desses gases na atmosfera. Principalmente a partir da 12ª reunião das partes do

Regime, que começou a discutir os termos do segundo período de compromisso do Protocolo

de Quioto, em Nairóbi no ano de 2006, os países tem dado atenção a essa necessidade. E têm,

cada vez mais, discutido sobre maneiras dos países em desenvolvimento mitigarem as

mudanças climáticas promovendo o seu desenvolvimento de maneira sustentável.

A partir de todas essas evidências, indaga-se exatamente sobre a situação do Brasil

nesse segundo período de compromisso. Inicialmente, pretendia-se discutir de que maneira as

ações políticas domésticas do Brasil sobre as mudanças do clima afetariam o posicionamento

do país nesse período, se há uma possibilidade maior de serem estabelecidas metas para o

país, como ficaria sua credibilidade como negociador internacional entre outros. Contudo, 1 Ver Anexo I. 2 Países do Anexo I consistem nos países desenvolvidos e países da ex-URSS que aderiram ao Protocolo de Quioto. 3 Países não Anexo I são todos os países em desenvolvimento que assinaram e ratificaram o Protocolo de Quioto, contudo não possuem metas quantitativas de redução de emissões de GEE no primeiro período de compromisso (2008-2012). 4 São os Gases de Efeito Estufa considerados no âmbito do Protocolo de Quioto e pelo IPCC: CH4, CO2, HFCs, N2O, PFCs, SF6.

Page 21: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

20

durante a pesquisa os objetivos se tornaram inviáveis por limitação das informações

necessárias para traçar esse cenário político internacional. Logo, objetiva-se com essa

pesquisa apontar os contrastes entre os cenários internacional e doméstico, que acreditamos

nos proporcionar um caminho para uma análise desse período e dos fatos que propomos.

Para responder às essas indagações será analisado como o país se posiciona

internacional e domesticamente sobre essas questões climáticas: quais são suas políticas,

quem são os atores que influenciam esse processo, como influenciam e qual o resultado desse

processo.

De acordo com a teoria de Putnam (1988), as decisões tomadas no ambiente

internacional, classificado por ele como nível I, têm que ser implementadas no ambiente

doméstico ou nacional, classificado como nível II, e essas decisões, que seriam

implementadas em forma de políticas públicas, são influenciadas por atores nacionais

relevantes (instituições governamentais, atores privados e não-governamentais). E que a

influência negativa ou positiva desses resultariam em um ambiente doméstico tal que se

refletiria no ambiente internacional (nível I).

Figura 2 - Quadro Resumo da Hipótese Fonte: Formulação própria.

Para o teste da hipótese serão delineados cenários do Brasil em relação às mudanças

do clima, em perspectiva internacional e doméstica. Serão discutidas as teorias para a análise,

tomando como referência analítica o jogo do Chicken estendido a n jogadores (ORENSTEIN,

1998) e os jogos de dois níveis do Putnam (1988).

No capítulo 3 será feita a discussão sobre a questão crucial em relação às emissões de

GEE para o Brasil e os cenários de emissões mundial e brasileiro, apresentando o perfil das

emissões do país para o qual é crucial o desmatamento, principalmente aquele que acontece

Atuação do Brasil no Regime de Mudanças do Clima

Grupos de interesse

Instituições Brasileiras

Posição vulnerável do Brasil no segundo período de compromisso e subseqüentes

NÍVEL I NÍVEL II NÍVEL I

Page 22: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

21

na Amazônia Legal. Será, também, apresentado o perfil do desmatamento nessa região,

levando em conta as atividades agropecuárias, que ajuda a identificar quais são os atores

relevantes para a análise, a ser feita posteriormente. Na subseção 3.2 é apresentado o cenário

de vulnerabilidades do país em relação às mudanças do clima global e às políticas domésticas

para a contenção e mitigação desse fenômeno, momento em que será descrita a legislação

pertinente.

O capítulo 4 discutirá os problemas de coordenação entre os stakeholders (atores

relevantes, privados, governamentais e não-governamentais). Para isso, e de acordo com a

metodologia de análise dos stakehoders do Banco Mundial (2006), serão especificados os

atores a serem analisados e identificados os seus interesses. E por fim, o foco será nos

interesses de cada stakeholder escolhido (ministérios brasileiros, congresso nacional,

representantes do agronegócio e da indústria madeireira e ONGs ambientalistas preocupadas

com o problema da Amazônia), analisando mais profundamente cada caso. As considerações

finais serão desenvolvidas no capítulo 5.

Page 23: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

22

2. O AMBIENTE INTERNACIONAL: O REGIME DAS MUDANÇAS DO CLIMA

O ambiente internacional, onde os Estados interagem de maneira estratégica, é

marcado pela anarquia5 e pela interdependência, definida por Keohane (1977, p.7, tradução

nossa) como “[...] situações caracterizadas por efeitos recíprocos entre os países ou entre

atores em diferentes países” 6. Logo, a ação de um Estado influencia direta ou indiretamente a

de outro(s) Estado(s), podendo gerar falhas de mercado.

É nesse ambiente de interação estratégica e de interdependência que o problema das

mudanças do clima é inserido. Contudo, a temática é recente na agenda política dos Estados.

As questões ambientais começaram a ter maior relevância nos fóruns multilaterais a partir da

Conferência de Estocolmo em 1972. No entanto, acreditava-se naquele momento que a

preocupação com o meio ambiente seria um condicionante do modelo tradicional de

crescimento econômico.

A Conferência de Estocolmo foi seguida de duas outras conferências sobre o clima,

uma em 1979 e outra em 19907. Com a publicação do Relatório Bruntland, “Nosso Futuro

Comum”, em 1987, elaborado pela CNUMAD, uma nova noção de desenvolvimento é

apresentada. O estudo de Gro Bruntland e sua comissão aborda a questão ambiental de

maneira holística, admitindo que os problemas ambientais são globais e fortemente ligados

aos processos de desenvolvimento econômico e social.

A partir do conceito de Desenvolvimento Sustentável apresentado pelo relatório, a

palavra de ordem era incorporar a variável ambiental à noção de desenvolvimento, para evitar

o esgotamento dos recursos naturais e também suas conseqüências previsíveis tais como

problemas sociais, econômicos, dentre outros. Adicionalmente houve a criação do IPCC,

Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima, em 1988, o que gerou condições

institucionais para a intensificação das pesquisas em torno das mudanças climáticas, com a

observação de possíveis causas antrópicas no aumento da temperatura. Assim, a temática

ambiental, especialmente as mudanças climáticas se inserem mais fortemente na agenda

política dos Estados. Essa maior preocupação se confirmou durante a Cúpula da Terra, a Rio-

92.

5 A anarquia do sistema é entendida como a falta de uma autoridade central reguladora do comportamento e da interação dos Estados. 6 “[...] situations characterized by reciprocal effects among countries or among actors in different countries”. 7 Ver Anexo 1 – Quadro 1.

Page 24: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

23

Em 1992 os Estados se encontraram na Rio-92, com o objetivo de discutir opções

para um desenvolvimento sustentável. Durante essa conferência foi negociada e instituída a

Convenção Quadro das Mudanças Climáticas Globais, em resposta às diversas evidências

encontradas através de extensas pesquisas, que a mudança climática global estaria sendo

causada, em grande parte, por ações antrópicas. Ou seja, verificou-se que a intervenção

humana no meio ambiente mais especificamente as emissões de gases causadores do efeito

estufa (GEE) seria responsável por parte dessa mudança.

Apesar de ainda não se conseguir mensurar os impactos da ação humana, é fato

comprovado que essas afetam o clima mundial8. Pelo fato de que esses GEE são lançados e

dissipados na atmosfera, suas conseqüências são difusas, afetando outros países. A

Convenção foi criada porque a emissão dos gases de efeito estufa por um país afeta

diretamente a outro, já que são altamente poluentes e dissipáveis na atmosfera, e geram

externalidades negativas cujos efeitos são coletivos.

Então, a partir dessa Convenção iniciou-se um processo de discussão das partes, as

COP9, sobre uma possível regulamentação das emissões de gases de efeito estufa, a principal

causa de caráter antrópico das mudanças climáticas. A COP1, que aconteceu em Berlim,

marcou o início das discussões sobre o problema. Contudo, foi durante a COP3, em Quioto,

no ano de 1997, que o Protocolo de Quioto foi criado, com o objetivo de regular as emissões

desses gases. Dentre outras questões, o Protocolo estabeleceu metas de redução aos países, de

acordo com seu nível de desenvolvimento e níveis de emissões, separando assim os países do

Anexo I e os países não-Anexo I.

Com a intenção de sanar as falhas de mercado, esse Protocolo, parte do Regime de

Mudança do Clima, possui mecanismos para prover informação aos Estados e estabelecer

condições para a transparência sobre as emissões mundiais de GEE, como os documentos de

comunicação dos Estados sobre suas respectivas emissões de GEE por período. E assim,

promover a cooperação entre os mesmos, incentivando e estabelecendo a redução de emissões

a partir do princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada.

Após intensas negociações entre os países membros da UNFCCC durante as COPs

subseqüentes, o Protocolo entrou em vigor em 2005, prevendo um primeiro período de

compromisso sobre a redução de emissões que começou em 2008 e se estenderá até 2012.

Assim, ficou estabelecido que os países do Anexo I teriam metas de redução de emissões

nesse primeiro período de compromisso, enquanto os países não-Anexo I, bloco onde se

8 IPCC, 2007. 9 Para informações dos acontecimentos específicos de cada reunião vide Anexo 1.

Page 25: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

24

encontram os países em desenvolvimento e menos desenvolvidos, não tem metas concretas de

redução de emissões.

Entretanto, a cooperação entre os Estados depende da estrutura de interação entre os

mesmos. Essa estrutura pode ser caracterizada por relações que se fundamentam na assimetria

de payoffs10, o que afeta a possibilidade de cooperação11, que neste trabalho se expressa

através de compromissos e ações efetivas para a redução de emissões de GEE. A questão da

cooperação no âmbito do Protocolo de Quioto e, conseqüentemente, no Regime de Mudanças

Climáticas, pode ser pensada através do modelo do “jogo do Chicken” estendido a N

jogadores.

Como se sabe, o modelo do Chicken para dois atores indica uma estrutura de payoff na

qual a deserção unilateral é a melhor alternativa, seguida da cooperação mútua. A matriz

sugere claramente um jogo de colaboração, mas como há duas estratégias de equilíbrio e

ambas são Pareto Ótimo – Desertar/Cooperar e Cooperar/Desertar – problemas de

coordenação também se colocam. Nessa perspectiva, e buscando discutir alternativas teóricas

para a solução de problemas de cooperação e/ou coordenação sem a necessidade do aporte

externo de capacidade coercitiva, como sugerido por Olson, Orenstein experimenta a extensão

do modelo para um número “n” de atores.

Assim, sugere uma diferença entre o bem coletivo discreto e o bem coletivo contínuo,

este último se caracterizando pela necessidade de provisão constante do bem, o que demanda

esforço cooperativo continuado para a sua manutenção. Nesses casos, um número mínimo de

cooperadores seria sempre necessário para a provisão do bem, além do que seria permitida

uma cota de não cooperadores – o bem seria provido a partir de uma cota “n” de

colaboradores e mesmo com a presença de um número “x” de não cooperadores. Desse modo:

“[c]ada jogador prefere a cooperação universal à deserção universal mas prefere ainda mais a deserção unilateral com cooperação para os N-1 (n menos 1) outros jogadores. A cooperação unilateral é preferível à deserção universal e continua a ser preferida até que o valor crítico de K cooperadores tenha sido alcançado: a partir daí o indivíduo prefere ser um free rider12.” (ORENSTEIN, 1998, p.31).

10 Assimetria de payoffs é a diferença do que cada Estado irá ganhar em relação ao outro, baseada no curso de ação adotado. 11 Isso porque a relação entre assimetria de payoffs e deserção é diretamente proporcional, logo a relação assimetria de payoffs e cooperação é inversamente proporcional: quando os bônus para cooperação são baixos, os atores tendem a desertar; os modelos teóricos admitem que a alteração desse comportamento esperado do ator depende da alteração nos ganhos de cooperação. 12 “[Free riders são jogadores que se] beneficia[m] do bem coletivo ao menor custo possível. [São agentes racionais superinformados, que] sabe[m] previamente que o grupo ao qual pertence enquanto população relevante proverá o bem coletivo independente da sua deserção.”

Page 26: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

25

O problema que se coloca nesse caso é o de assegurar um número “X” de

cooperadores. Em tese, todos os atores preferem cooperar quando o número de cooperadores é

baixo e preferem desertar quando esse número alcança a quantidade necessária para a

provisão do bem coletivo em questão. Desse modo, entende-se que no caso do Regime de

Mudanças Climáticas, mais precisamente o Protocolo de Quioto, os países Anexo I13 seriam

os cooperadores que arcariam com os custos da cooperação e, conseqüentemente, da

diminuição da emissão de GEE, seja por meio de políticas próprias ou através dos

mecanismos de flexibilização do Protocolo.

Para incentivar a cooperação e promover a redução mundial dos GEE, o Protocolo

prevê três mecanismos de flexibilização14: Mecanismo de Implementação Conjunta, Emissões

Comerciáveis e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os dois primeiros são

permitidos apenas entre os países do Anexo I, e versam basicamente sobre a possibilidade de

implementar medidas de redução conjuntamente e comercializar o excesso da porcentagem de

redução gerado15. O último mecanismo de flexibilização, o MDL, tem o objetivo de promover

o desenvolvimento limpo nos países em desenvolvimento através de investimentos de países

desenvolvidos, permitindo a divisão dos créditos de redução (RCEs) gerados através do

projeto MDL em questão.

As reduções de emissões, no âmbito do Protocolo de Quioto, foram direcionadas aos

países do Anexo I, e são fruto das discussões da COP3 e, de acordo com Klabin (2000),

somam cerca de 5% das emissões totais. E, dentro do contexto do Protocolo de Quioto, os free

riders seriam aqueles que não o assinaram e/ou não o ratificaram. Dado que se pode admitir

que os mecanismos de flexibilização adotados pelo protocolo alteraram os payoffs para

cooperação, uma vez obtido o número “X” de cooperadores – um número de países que,

somados, representem 50% do total das emissões de GEE – o comportamento free-rider passa

a ser a alternativa adotada pelos demais16.

13 Países pertencentes ao Anexo I: países-membros da OECD e países do ex-bloco comunista do x Leste Europeu. 14 Ver Anexo 2- Quadro 2. 15 As emissões comerciáveis é um mecanismo de mercado que permite um país vender a porcentagem excedente de sua redução. Ou seja, se o país reduziu além da meta colocada pelo Protocolo, ele tem o direito de vender seu excedente a outro país do Anexo I. Há hoje uma discussão sobre a comercialização do hot air, que é o excedente gerado pelos países da ex-URSS, que em 1990, ao fim da guerra fria, desacelerou seu processo produtivo, e consequentemente, as emissões de GEE. Isso porque as metas do Protocolo de Quioto foram calculadas com base nas responsabilidades históricas, tomando o ano de 1990 como base. 16 Admite-se, hipoteticamente, que há intensas discussões no âmbito do Regime, no sentido de alterar a estrutura de interação de um modelo do “Chicken estendido” para um jogo do seguro (assurance game), modelo no qual a cooperação é estratégia dominante. Contudo, admite-se também por hipótese que a condição dessa alteração está relacionada à adesão de grandes emissores de GEE, mais notadamente os Estados Unidos. Essa temática, embora presente nas considerações que esta pesquisa terá necessariamente de fazer, não constitui a sua matéria central.

Page 27: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

26

Para os países não-Anexo I, os países em desenvolvimento, dentre eles o Brasil, o

Protocolo não prevê metas de redução de GEE. Isso porque o desenvolvimento desses países

está, em grande medida, associado ao processo produtivo desses. Logo, países em

desenvolvimento têm por base o uso de fontes de energia essencialmente poluentes17. Apesar

disso, o Protocolo afirma a necessidade de todos os países, sem exceção, diminuírem suas

emissões de gases de efeito estufa. Essa afirmação não tem gerado efeitos reais e o que se tem

verificado é um aumento das emissões por parte de países não-Anexo I, sobretudo aqueles

cujas economias são bastante robustas, como é o caso de China, Índia e Brasil, por exemplo.

A Convenção sobre as Mudanças Climáticas e o Protocolo de Quioto vieram em

resposta à situação publicada pelo IPCC em seu primeiro relatório sobre as Mudanças do

Clima em 1990 e seu suplemento em 1992 (IPCC First Assessment Report e The

Supplementary Report). Os relatórios do IPCC são extensos, compostos por diversos volumes

separados por cada um de seus grupos de trabalho, versam sobre questões científicas, técnicas

e sócio-econômicas relativas às mudanças do clima e são publicados, geralmente, de 6 em 6

anos. O último foi o Quarto Relatório do IPCC, lançado em novembro de 2007.

Este último relatório levantou questões sobre os impactos das mudanças climáticas,

que se mostraram cada vez mais alarmantes. E ainda chegou à conclusão de que as ações

antrópicas causam mudanças no clima global. Esse relatório enfatizou que as conseqüências

das mudanças do clima serão devastadoras em médio e longo prazo, necessitando medidas de

adaptação urgentes em todo o mundo. E ainda que, apesar da existência de vasta gama de

ações de adaptação, essas necessitam ser mais amplas para reduzir a vulnerabilidade em

relação às futuras mudanças no clima mundial. Concluiu também que as barreiras, os limites e

os custos existentes a essas ações ainda não são completamente conhecidos.

Além de ações de adaptação, o relatório concluiu que as ações de mitigação ajudarão a

evitar, reduzir ou adiar muitos dos impactos gerados pelo fenômeno. O relatório também

levantou uma questão polêmica, tratada pelos países no âmbito da Convenção, relacionada ao

problema das emissões de GEE resultantes do desmatamento. Esse fato é alarmante no

sentido de ser responsável por grande parte das emissões de carbono do mundo, feitas,

principalmente, pelo Brasil. Revelou-se que o potencial das florestas do mundo caiu

consideravelmente e que esse desmatamento por meio de queimadas é prejudicial tanto por

emitir GEE, mas também por acabar com as reservas de carbono e o bioma das florestas,

responsáveis em grande parte pela definição do clima na região dos trópicos.

17 Como no caso da China, onde o desenvolvimento é baseado num processo produtivo fundamentado na energia do carvão mineral.

Page 28: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

27

Foi a partir desse relatório e dessas conclusões que as discussões sobre o segundo

período de compromisso do Protocolo de Quioto no âmbito da Convenção são pautadas

atualmente. A partir da COP12, durante o ano de 2006 em Nairóbi, iniciaram-se as discussões

sobre esse período. Durante essa reunião os negociadores concluíram que havia grande

necessidade de ações de adaptação e mitigação das mudanças do clima por parte de todos os

países. E ainda, a proposta de metas de redução de emissões de GEE para o primeiro período

de compromisso do Protocolo de Quioto deveria ser reavaliada, no sentido de incluir esforços

dos países em desenvolvimento para a mitigação das mudanças climáticas. Questões sobre

medidas de adaptação e transferência de tecnologia foram levantadas, reafirmando ainda mais

a necessidade de uma ação conjunta entre todos os países.

A COP13 em Bali, Indonésia, deu continuidade a essas discussões e ainda enfatizou o

problema do desmatamento, apresentado pelo 4° Relatório do IPCC, e o papel dos países em

desenvolvimento no aumento da concentração de GEE na atmosfera. Durante essa reunião, os

atores discutiram sobre a decisão do novo período de compromisso, sobre medidas de

adaptação e um fundo de adaptação às mudanças do clima, medidas de transferência de

tecnologia entre os países desenvolvidos e os menos desenvolvidos e mecanismos para

reduzir a vulnerabilidade de todos às mudanças climáticas. Foi decidido, com o Bali

Roadmap, que até 2009 deveriam ser apresentadas e aprovadas propostas de redução de

emissões, divisão de metas e os termos do segundo período de compromisso do Protocolo de

Quioto, a ser colocado em prática a partir de 2013.

A delimitação do segundo período de compromisso deverá envolver, inicialmente,

consenso sobre o prazo e a intensidade da mitigação, para, em seguida, negociar as metas, o

esforço de cada país, medidas de compensação, mecanismos de mercado, etc. Tendo em vista

esse cenário das decisões, o Brasil como país em desenvolvimento, responsável por grande

parte das emissões de GEE mundiais deve se posicionar doméstica e internacionalmente em

relação à redução de emissões. Na próxima seção será discutida a participação do Brasil nas

negociações desse Regime, bem como o ambiente doméstico de implementação das medidas

adotadas no âmbito desse.

Page 29: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

28

3. O BRASIL E O REGIME DE MUDANÇA DO CLIMA

Essa seção apresentará o posicionamento do Brasil em relação às mudanças do clima,

tanto no âmbito internacional quanto no cenário doméstico. Inicialmente será caracterizado o

sistema de decisões e de implementação de políticas para as mudanças climáticas dos países, a

partir da teoria dos jogos de dois níveis de Putnam (1988). Em seguida, discute-se a

participação oficial do Brasil nas reuniões internacionais sobre as mudanças do clima, no

intuito de demonstrar a evolução do posicionamento político do país sobre as questões

ambientais e as questões climáticas frente às suas tradições políticas e posição de liderança.

Neste ponto do texto também se descreverá como é tratada, no âmbito internacional, a questão

mais crítica do país em relação às mudanças do clima: o desmatamento da Amazônia.

Apresentado o problema crucial do Brasil em relação às mudanças do clima, será feita

uma caracterização do cenário doméstico de emissões de GEE e a discussão sobre a

vulnerabilidade do país em relação ao fenômeno climático. Atenção às políticas domésticas e

à legislação ambiental brasileira terá lugar, com foco no que concerne o problema das

mudanças climáticas, enfatizando o problema do desmatamento. Assim, a próxima seção terá

o cenário geral de posicionamento político internacional e doméstico, que ajudará a explicitar

os conflitos domésticos de implementação das políticas nacionais.

3.1. A teoria de Putnam dos níveis de análise

Apesar da inclusão da temática ambiental e da mudança climática na agenda política

internacional, o processo de negociação internacional está submetido à possível

implementação de políticas domésticas favoráveis às decisões acordadas no ambiente

internacional. Isso pode ser mais bem explicitado pela lógica dos jogos de dois níveis de

Putnam (1988). As decisões dos stakeholders18

domésticos são decisivas na efetividade do

compromisso dos países no âmbito do Protocolo de Quioto, já que, de acordo com a lógica

dos jogos de dois níveis de Putnam,

18 Stakeholders podem ser indivíduos, grupos ou instituições interessados em um determinado projeto ou programa. (MONTGOMERY, 1996, p.3).

Page 30: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

29

“No nível nacional, os grupos domésticos perseguem seus interesses pressionando o governo a adotar políticas favoráveis, e os políticos buscam poder através da construção de coalizões entre esses grupos domésticos. No nível internacional, os governos nacionais buscam maximizar sua habilidade de satisfazer as pressões domésticas, enquanto minimizam as conseqüências adversas do desenvolvimento externo” (PUTNAM, R. 1988, p.434, tradução nossa). 19

E ainda, define os dois níveis no qual o jogo se realiza: “1. barganha entre os

negociadores, buscando uma tentativa de acordo: chamamos isso de Nível I. 2. discussões

separadas entre cada grupo de constituintes sobre quando ratificar o acordo: chamamos isso

de Nível II.” (PUTNAM, 1988, p.436, tradução nossa)20. Ou seja, o nível I representaria o

processo de negociação no nível internacional e o nível II o processo de negociação e

ratificação no nível doméstico. Assim, um processo de negociação começa no nível

internacional, no âmbito do Regime de Mudanças do Clima, e depois passa para o nível

doméstico, podendo as decisões no nível internacional serem implementadas ou não no nível

doméstico.

Ainda de acordo com Putnam (1988), as chances de sucesso da negociação (aceitação

e/ou implementação no nível doméstico) dependem de três fatores: 1) da distribuição de

poder, das preferências e as possíveis coalizões entre os atores domésticos; 2) da força e da

autonomia das instituições políticas domésticas; 3) e das estratégias dos negociadores do nível

I adotadas no nível II. Então, o acordo estabelecido no nível internacional é viabilizado

através de políticas no nível doméstico.

Dessa maneira, por hipótese, poder-se-ia inferir que o Brasil se posiciona

internacionalmente nas rodadas de negociação do Protocolo de Quioto de acordo com o que é

implementado, ou decidido pelos atores domésticos sobre a política doméstica de redução de

emissões. Segundo Putnam, seria esperado que o posicionamento internacional informa o

posicionamento do governo na elaboração de políticas domésticas, que, por sua vez, são

negociadas com os stakeholders no âmbito doméstico.

Nesta pesquisa será observado como as decisões tomadas no âmbito do Regime de

Mudanças Climáticas são implementadas ou não no cenário doméstico. Assim, tentaremos

delinear a projeção do Brasil num futuro momento do Regime de Mudanças do Clima, o

segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto.

19

“At the national level, domestic groups pursue their interest by pressuring the government to adopt favorable

policies, and politicians seek power by constructing coalitions among these groups. At the international level, national governments seek to maximize their own ability to satisfy domestic pressures, while minimizing the

adverse consequences of foreign developments.” 20

“1. bargaining between the negotiators, leading to a tentative agreement: call that Level I. 2. separate

discussions within each group of constituents about whether to ratify the agreement: call that Level II.”

Page 31: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

30

3.2. O Posicionamento do Brasil no nível internacional

A posição do Brasil na arena de negociação sobre as questões ambientais sofreu

mudanças durante o período de 1972 até 1990. Em 1972, a Conferência de Estocolmo inseriu

a temática ambiental na agenda política internacional, correspondendo ao modelo tradicional

de crescimento econômico. Isso porque o Brasil acreditava que a “[...] principal poluição era a

pobreza, e a proteção ambiental deveria vir apenas depois de um desenvolvimento dramático

da economia do país e de um crescimento da renda per capita aos níveis dos países

desenvolvidos” (VIOLA, 2004, p.30, tradução nossa21).

Além disso, o modelo de crescimento econômico vigente na época era baseado,

principalmente, na exploração dos recursos naturais disponíveis, considerados infinitos na

concepção em voga naquele momento. Esse modelo era também baseado em mão-de-obra

barata e desqualificada e em indústrias extremamente poluentes, tanto nacionais quanto

multinacionais. Essas empresas multinacionais eram advindas dos países desenvolvidos que,

na época, começaram a desenvolver uma consciência ambiental e migraram suas indústrias

poluentes para os países em desenvolvimento (VIOLA, 2002). E, paralelo ao avanço das

corporações transnacionais, ocorria a expansão das empresas nacionais e de valores

nacionalistas dentro do país (VIOLA, 2004).

Assim, durante a Conferência de Estocolmo, o Brasil não reconheceu a importância da

discussão sobre os problemas ambientais, e, juntamente com a China, liderou a aliança dos

países periféricos defendendo a posição baseada em três princípios básicos:

“[...] defesa da soberania nacional irrestrita em relação ao uso dos recursos naturais; a proteção ambiental deveria vir apenas depois de alcançado uma alta renda per capita; e o fardo do pagamento pela proteção ambiental global deveria ser uma responsabilidade exclusiva dos países desenvolvidos.” (VIOLA, 2004, p. 30, tradução nossa22)

Em 1980 o país enfrentava a mudança do modelo de produção mundial, que deixava

de depender essencialmente da mão-de-obra barata e desqualificada e dos recursos naturais,

para se apoiar em informação e tecnologia. O Brasil via diminuir substantivamente suas

21 “[…] the main pollution was poverty, and environmental protection should come only after a dramatic

development of the country’s economy and an increase of the per capita income to the same level of developed countries.” 22 “[…]defense of unrestricted national sovereignty in relation to the use of natural resources; environmental

protection should come only after reaching high per capita income; and the burden of paying for global

environment protection should be an exclusive responsibility of developed countries.”

Page 32: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

31

vantagens comparativas nos negócios internacionais. Sua mão-de-obra era desqualificada,

incapaz de operar os novos sistemas produtivos; os recursos naturais já não eram decisivos na

produção; e, por fim, a consciência ambiental se expandia mundialmente, o que significava

baixa tolerância a processos produtivos extremamente poluentes. Esses fatores desencadearam

a crise do modelo de desenvolvimento do país na década de 1980. (VIOLA, 2002). Essa crise

fez com que o Brasil atentasse para a necessidade de se adaptar às novas necessidades de

mercado, dentre elas, a adaptação a processos produtivos menos poluentes.

Em 1981 é instaurada no Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente. Tal política

sinalizou, principalmente, a mudança da posição do Brasil frente à temática do meio ambiente

decorrente da crise do modelo econômico. Essa mudança pôde ser percebida, principalmente,

durante o governo Collor, em 1990. Nessa época, o Brasil começa a se aproximar cada vez

mais dos países ocidentais a partir, principalmente, da abertura da sua economia ao mercado

internacional (VIOLA, 2004). Então, o país se mostrou mais ativo nos principais fóruns

multilaterais sobre meio ambiente desde a nomeação de José Lutzenberger como Secretário

do meio ambiente em 1990. Isso sinalizou uma nova responsabilidade ambiental do país, com

o objetivo de ganhar credibilidade dos países desenvolvidos, chamando a atenção para o

programa econômico neoliberal do governo. De maneira concreta, essa nova responsabilidade

trouxe ao Brasil a UNCED-92 (mais tarde denominada Rio-92) (VIOLA, 2002).

A mudança da visão do Brasil sobre os problemas ambientais foi percebida não só pela

realização da UNCED-92 no país, mas também pela posição que o mesmo adotou no

ambiente internacional, já que o país facilitou o acordo da UNFCCC, se mobilizou a favor do

desenvolvimento sustentável na Agenda 21 e ajudou a redigir sobre os resultados da

Convenção da Biodiversidade. Isso sinalizou os princípios sob os quais o país se pautava

durante a realização da Rio-92: primeiro, o Brasil acreditava que os problemas ambientais

eram de extrema importância e que a comunidade internacional deveria tratá-los de maneira

prioritária; segundo, a responsabilidade pelos problemas ambientais, tanto em função de suas

causas quanto pela solução dos problemas, deveria ser diferenciada.

As mudanças na política externa, iniciadas durante o governo Collor, foram

reafirmadas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O alinhamento a países da

União Européia, aos EUA e ao Japão tanto econômico, quanto em questões de direitos

humanos e propriedade intelectual, marcou a política externa desses governos. Apesar desse

alinhamento, o Itamaraty preservou a filiação ao bloco G77.

Contudo, o sucesso internacional dessa posição mais ambientalista foi diferenciado.

De um lado, durante a reunião da Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU, o

Page 33: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

32

Brasil sugeriu propostas favoráveis ao Regime de Mudanças Climáticas; e em contrapartida, o

país não conseguiu incluir princípios de desenvolvimento sustentável durante a negociação da

integração do Mercosul (VIOLA, 2002).

Ainda durante o governo Cardoso iniciou-se o processo de assinatura e ratificação da

UNFCCC, aqui entendida como o Regime de Mudanças Climáticas. Em 1995, os países que

assinaram e ratificaram essa Convenção se encontraram na COP1, em Berlim, na Alemanha,

onde se propôs o estabelecimento de um protocolo que regulasse as emissões de GEE e

colocasse em prática as obrigações da Convenção. Durante essa reunião o Brasil teve

participação importante ao defender que os países em desenvolvimento não deveriam, num

primeiro momento, receber metas de redução de emissões (NAE, 2005).

Durante as reuniões subseqüentes, o país continuou defendendo a idéia de que os

países em desenvolvimento não deveriam ter, ainda, metas a serem cumpridas. Seja porque

isso afetaria o modelo de desenvolvimento, ou porque as responsabilidades das mudanças

climáticas atuais são, majoritariamente, dos países desenvolvidos e dos respectivos modelos

de desenvolvimento do início do século XX. (VIOLA, 2002)

De acordo com o Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o

Brasil defendeu que

“[...] a questão da mudança dos padrões de produção e consumo nos países ricos se torna cada vez mais grave diante da dificuldade de se obter progresso na área da mudança do clima – pela demora na entrada em vigor do Protocolo de Quioto e pela ausência dos Estados Unidos no instrumento – e por não terem sido dirigidos aos países em desenvolvimento, em condições preferenciais, recursos financeiros e tecnológicos.” (NAE, 2005, p.58).

Durante as negociações do Protocolo de Quioto, no período de 1996 a 2001, o Brasil

pautava a sua atuação de acordo com quatro dimensões principais do seu interesse:

“1) afirmar o direito de desenvolvimento como um componente fundamental da ordem mundial, dando continuidade à política externa brasileira; 2) promover uma visão do desenvolvimento associada com a sustentabilidade ambiental, em correspondência com o grande crescimento da consciência ambiental no país e sua tradução em políticas públicas nacionais e estaduais; 3) promover uma posição de liderança do Brasil no mundo, em correspondência com o crescimento do prestígio internacional do país durante o governo Cardoso; e 4) evitar que o uso das florestas seja objeto de regulação internacional para não correr riscos de que os outros países possam questionar o uso econômico da Amazônia.” (VIOLA, 2002, p.38)

Pautado por esses interesses, o Brasil posicionou-se de maneira ativa nas negociações

do Protocolo de Quioto, fazendo propostas importantes para o avanço das discussões,

principalmente sobre a divisão de metas e posição dos países menos desenvolvidos nesse

Page 34: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

33

protocolo. As propostas brasileiras feitas ao Protocolo de Quioto foram o Fundo de

Desenvolvimento Limpo e a chamada “Proposta Brasileira” de divisão de metas de redução

de emissões de GEE, que foi baseada num mecanismo semelhante já utilizado pelos EUA

para resolver os problemas da chuva ácida, o Cap-and-Trade System.

O Fundo de Desenvolvimento Limpo foi proposto em junho de 1997 no âmbito da

UNFCCC. Seu principal objetivo era prover ajuda financeira dos países desenvolvidos aos

países não-Anexo I, com o comprometimento dos últimos utilizarem tecnologias mais

“limpas” de desenvolvimento. Além disso, a proposta original do Brasil previa mecanismos

de punição àqueles países do Anexo I que não reduzissem as emissões de GEE nos

parâmetros estabelecidos pelo Protocolo de Quioto. De acordo com Eduardo Viola (2004),

essa proposta demonstrou uma posição diferente da que o Brasil tinha adotado frente ao

Regime do Clima. O autor acredita que era uma posição mais ambientalista, preocupada com

a mitigação das mudanças climáticas e à adaptação dos países em desenvolvimento a esse

fenômeno.

Contudo, nos faz questionar até que ponto esse posicionamento não seria confortável

para o país. Isso porque, de acordo com a Proposta apresentada, os países desenvolvidos

arcariam com custos de mitigação e adaptação para promover o desenvolvimento dos países

em desenvolvimento, enquanto os países em desenvolvimento e menos desenvolvidos

continuariam a emitir GEE em nome do desenvolvimento. Essa posição confortável se deve

ao fato de que, naquele momento, o país não tinha como arcar com os custos de alterações

substantivas na matriz energética no sentido de diminuir suas emissões de GEE ou de se

comprometer a conter e mitigar o desmatamento da Amazônia. Logo, adotando essa posição,

o país acaba por liderar os países em desenvolvimento, adquirindo credibilidade nesse grupo e

adicionalmente consegue a atenção financeira necessária para promover o seu próprio

desenvolvimento.

Essa proposta encontrou a oposição de todos os países desenvolvidos e o apoio das

economias emergentes e dos países pobre. Por causa disso, a proposta brasileira original não

foi aceita, sendo modificada num esforço conjunto de Brasil e EUA em outubro de 1997. A

proposta modificada foi chamada de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que é

um dos três mecanismos de flexibilização do Protocolo de Quioto, já apresentado na seção

anterior. (VIOLA, 2004)

Já a “Proposta Brasileira” veio em resposta à primeira conferência das partes da

UNFCCC em Berlim, que versava sobre a divisão de metas de redução de emissão de GEE.

Essa proposta foi apresentada durante a COP3 pelo G77+China. Em sua versão original, o

Page 35: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

34

documento propunha o estabelecimento de metas de emissões aos países do Anexo I, e que, se

não as cumprissem seriam punidos em forma de multas, que gerariam recursos financeiros ao

FDL.

As multas seriam baseadas em tetos de emissões estabelecidos de acordo com a

responsabilidade do país em relação aos índices de concentração de GEE na atmosfera e,

conseqüentemente, à contribuição desse para o aumento da temperatura média global. Essa

contribuição seria calculada de acordo com um modelo simplificado baseado nos Modelos de

Circulação Geral (MSG). (NAE, 2005)

Esse modelo quantificaria as responsabilidades dos países de acordo com os níveis de

emissões num determinado período de tempo. Assim, o modelo estabelecia que as

responsabilidades dos países desenvolvidos seriam maiores, visto que a contribuição para o

aumento da temperatura média global por causa de emissões de GEE dos países

desenvolvidos crescia e, paralelamente, a dos países em desenvolvimento decrescia. De

acordo com o relatório de 1992 do IPCC as responsabilidades dos países em desenvolvimento

e dos desenvolvidos, se mantidas constantes os cenários de emissões, seriam igualadas apenas

no ano de 2147 (NAE, 2005).

Sendo assim, a Proposta Brasileira pode se dividir em dois princípios básicos: 1) A

aplicação dos princípios da responsabilidade comum, porém diferenciada, da responsabilidade

histórica pelas mudanças climáticas globais e do poluidor pagador. Ou seja, contabilizando as

emissões de GEE passadas, iria se estabelecer uma responsabilidade historicamente

proporcional, fazendo com que o país pagasse por essas emissões passadas. 2) O Fundo de

Desenvolvimento Limpo e seus mecanismos de financiamento (NAE, 2005). Essa proposta

ainda continua a ser discutida entre os países membros da Conferência.

Essa participação efetiva do país no Protocolo de Quioto demonstra a posição adotada

pelo Brasil no Regime de Mudanças Climáticas, que

“[...] continua a ser a de reiterar que a questão da mudança dos padrões de produção e consumo nos países ricos se torna cada vez mais grave diante da dificuldade de se obter progresso na área de mudança do clima – pela demora na entrada em vigor do Protocolo de Quioto e pela ausência dos Estados Unidos no instrumento – e por não terem sido dirigidos aos países em desenvolvimento, em condições preferenciais, recursos financeiros e tecnológicos.” (NAE, 2005, p.58).

E assim, o país continua a política adotada no governo de Fernando Henrique Cardoso

durante a negociação do Protocolo de Quioto, enfatizando a necessidade da mitigação das

mudanças climáticas por todos os países, sejam eles desenvolvidos ou em desenvolvimento. E

Page 36: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

35

ainda, que os países desenvolvidos devem ter suas metas de redução de emissões vide as

emissões passadas.

Durante o governo Lula, o Brasil continuou a se posicionar de maneira a defender a

importância da mitigação das mudanças climáticas principalmente pelos países desenvolvidos

(lógica do poluidor-pagador), reiterando a necessidade da criação de mecanismos de

adaptação às mudanças do clima aos países menos desenvolvidos e a necessidade da

transferência de tecnologia. Esse posicionamento ficou ainda mais claro durante a COP13, em

Bali.

Contudo, a posição sobre as responsabilidades dos países em desenvolvimento tem

mudado. Num primeiro momento das negociações do Protocolo de Quioto o país não admitia

que os países em desenvolvimento devessem pagar pela mitigação das mudanças climáticas.

Hoje, principalmente a partir da Conferência de Bali (COP13), o Brasil enfatiza a necessidade

da criação de mecanismos de adaptação, financiamento e de transferência de tecnologia aos

países em desenvolvimento para que esses tenham condições de participar da mitigação das

mudanças do clima no segundo período de compromisso.

Atualmente, no âmbito do Regime, o Brasil possui uma posição de credibilidade no

processo de negociação. Isso se deve à participação efetiva do país nas discussões, tendo uma

posição de diálogo aberto com todos os interessados. O país é membro do G77+China, assim,

tem ajudado a defender os interesses desse grupo, principalmente aqueles relativos à

adaptação dos países menos desenvolvidos (países africanos e pequenos estados insulares).

Além disso, o país conta com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) e faz diversos investimentos nesse

centro. Logo, com um centro tecnológico capaz de fornecer informações sobre as mudanças

climáticas de maneira eficiente, o país pode oferecer ajuda técnica aos países em

desenvolvimento. Assim, o Brasil se firma como um dos líderes na defesa dos interesses dos

países em desenvolvimento e dos menos desenvolvidos, ocupando um lugar de destaque nas

reuniões sobre as mudanças do clima.

Além desses interesses, o Brasil ajuda “ainda no relacionamento com os países

exportadores de petróleo que buscam uma compensação pela perda de receitas de exportação

como resultado de medidas de mitigação.” (NAE, 2005, p.96). De acordo com o NAE (2005),

em relação ao desenho de compromissos no pós-2012, o Brasil deve coordenar seu

posicionamento na negociação com países como China, Índia, África do Sul, México e Coréia

do Sul (os últimos são membros da OCDE), que serão destaque nas negociações desse

segundo período de compromisso.

Page 37: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

36

Em termos da sua posição como líder no Mercosul, o Brasil deve aumentar o nível de

integração regional no que concerne às questões energéticas e procurar arranjos com os países

desse bloco e outros países da América do Sul no sentido de estabelecer projetos de mitigação

conjuntos. E ainda, o país deve manter relações abertas com os países amazônicos, sejam em

desenvolvimento ou industrializados. (NAE, 2005).

3.2.1 O desmatamento da Amazônia no âmbito do Regime

A questão do desmatamento no Brasil ocupa lugares de destaque nas reuniões sobre o

clima desde o 4° Relatório do IPCC. Apesar do desmatamento atingir todos os biomas, como

o cerrado, mata atlântica e os pampas, o desmatamento na Amazônia Legal é o que repercute

com maior intensidade nos fóruns multilaterais sobre o meio ambiente. Isso se deve

essencialmente à porção do desmatamento que atinge esse bioma, que já perdeu cerca de 17%

da sua ocupação original por meio do desflorestamento.

O Brasil, durante as negociações do Protocolo, juntamente com a União Européia, se

posicionou contra a inclusão das propostas sobre o ciclo de carbono (relativos aos sumidouros

de carbono). Isso porque foi percebido pelos negociadores brasileiros que não se conseguiria

conter o desmatamento da floresta amazônica no Brasil de modo significativo, e, num futuro

no qual houvesse o estabelecimento de compromissos para os países emergentes esse fato se

tornaria um problema de escala mundial.

Os países com capacidade de controle do desmatamento (EUA, Canadá, Austrália,

Rússia, Japão e Costa Rica) queriam incluir os sumidouros de carbono (carbon sinks) na

contabilidade das emissões. Ou seja, queriam contabilizar o carbono que é resgatado pelas

florestas e pelo desmatamento evitado (avoided deforestation). Como resultado, o Protocolo

incluiu a questão dos sumidouros de carbono, contudo não permitiu que o desflorestamento

evitado gerasse créditos no âmbito do MDL. (VIOLA, 2002).

Essa decisão torna agora mais complicada a posição do Brasil, já que o país é um

grande emissor de carbono devido, primordialmente, ao desmatamento na Amazônia. O

cenário completo de emissões do Brasil é apresentado na subseção a seguir e ajudará a

comprovar essa posição do Brasil nas negociações atuais do Regime de Mudanças do Clima e

do segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto.

Page 38: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

37

3.3. O Cenário de Emissões Brasileiro

A participação do Brasil no Regime de Mudança do Clima deve ser considerada a

partir de seu cenário de emissões de GEE, uma vez que esse ajudaria a pautar seu

posicionamento. Será demonstrado o cenário de emissões de GEE mundial e, posteriormente,

detalhes do cenário brasileiro de emissões, suas fontes, padrões etc.

De acordo com os gráficos abaixo, 56,6% das emissões de GEE mundiais são

provenientes do uso de energia fóssil e 17,3% são provenientes de desmatamento e mau uso

da terra.

Gráfico 1 - Emissões antrópicas globais de GEE Fonte: Climate Change 2007: Synthesis Report, IPCC, 2007.

No gráfico 1, o gráfico de barra (a) informa sobre as emissões globais anuais de GEE,

de 1970 a 2004. O gráfico mostra que de 1970 a 2004 houve um aumento de 20.3 toneladas

equivalentes de CO2 nas emissões anuais. Dentre os gases representados, encontram-se as

emissões de CO2 resultantes do desflorestamento, decomposição e turfa23, que pode ser

identificado no gráfico de pizza (b) das emissões equivalentes de CO2 no ano de 2004.

Nesse gráfico percebe-se que em 2004 cerca de 17% das emissões de GEE mundiais

foram resultados do desflorestamento, decomposição de biomassa etc, em contraposição aos

56,6% provenientes do uso de combustíveis fósseis. Já o segundo gráfico de pizza (c)

23 Turfa é um composto de origem vegetal decomposto.

Page 39: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

38

representa a distribuição das emissões equivalentes de CO2 no ano de 2004 por setor. Nota-se

que 17,4% das emissões foram atribuídas a ações florestais (forestry), que inclui o

desmatamento.

Já o gráfico 2, abaixo, demonstra a contribuição agregada dos países a emissões de

GEE no ano de 2000. O que significa que nove, dos 188 países contabilizados, emitiram em

conjunto, durante o ano de 2000, cerca de 70% dos gases de efeito estufa totais. São eles:

Estados Unidos, UE-25 (bloco dos países da União Européia)24, China, Rússia, Índia, Japão,

Brasil, Canadá e Coréia do Sul.

Gráfico 2 - Contribuições Agregadas dos países maiores emissores de GEE Fonte: CAIT, WRI. Disponível em: <http://www.wri.org/chart/aggregate-contributions-major-ghg-emitting-countries>. Acesso em: 01 out. 2008.

Pode-se ver na figura 325, abaixo, composição desses aproximados 70% de emissões

acumuladas. Essa tabela foi confeccionada no sentido de promover uma análise comparativa

entre todos os países26 do mundo em relação às emissões de GEE totais do ano de 2000,

incluindo mudanças no uso da terra. Note que o Brasil ocupa a quinta posição de emissões de

24 Para a base de dados CAIT-WRI, os dados do bloco UE-25 são contabilizados como um dado individual, equivalente a unidades dos países. 25 As Figuras 3 e 4 foram resultado da ferramenta CAIT do World Resources Institute, que permite o cruzamento de diversos dados. 26 Apenas 35 países foram contabilizados nessa tabela, dentre os quais países em vermelho são os do Anexo I, os em preto não-Anexo I.

Page 40: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

39

GEE mundiais, incluindo mudanças no uso da terra, com 5,34% das emissões mundiais no

ano de 2000.

Figura 3 – Emissões Mundiais de GEE por país em 2000 (incluindo mudanças no uso da terra) Fonte: Climate Analysis Indicators Tool (CAIT) Versão 5.0, Washington, DC:WRI, 2008. Disponível em: <http://cait.wri.org/>. Acesso em: 01 out. 2008.

A figura 4 mostra, dentre um conjunto de informações, as emissões de GEE de 35

países, dentre eles o Brasil. Contudo, essa nova tabela não inclui as emissões de GEE

provenientes das mudanças no uso da terra. Comparando as figuras 3 e 4, pode-se notar que a

porcentagem das emissões mundiais caiu de 5,34% mostrado na figura 3 para 2,65% na figura

4. Isso significa que 59,09% das emissões de GEE do Brasil no ano de 2000, 1372.1MtCO2,

foram provenientes de mudanças no uso da terra (desmatamento, desflorestamento,

decomposição de biomassa).

Page 41: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

40

Figura 4 - Emissões Totais de GEE em 2000 (excluindo as mudanças no uso da terra) Fonte: Climate Analysis Indicators Tool (CAIT) Versão 5.0, Washington, DC:WRI, 2008. Disponível em: <http://cait.wri.org/>. Acesso em: 01 out. 2008.

Pode-se inferir, então, que o Brasil caracteriza-se por ser um grande emissor de GEE

principalmente pelas mudanças no uso da terra que incluem desmatamento e decomposição de

material vegetal. Além das emissões do uso da terra pode-se verificar cerca de 41%

proveniente de combustíveis fósseis, indústria etc. Isso pode ser confirmado a partir do

gráfico 3. É importante verificar que o gráfico 3 são dados do ano de 1994 e as tabelas do ano

de 2000 o que representa uma das limitações dessa pesquisa, falta de informações e dados

oficiais atualizados. Contudo, os dados de 1994 são considerados até hoje pelo governo

federal, como observamos no Relatório Parcial da Comissão Mista Especial para Mudanças

Climáticas, que será discutido a seguir.

Page 42: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

41

Gráfico 3 – Perfil das Emissões de CO2 Brasileiras por setor – 1994 Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2006.

O gráfico 3 demonstra como em 1994, 75% das emissões antrópicas de CO2 no Brasil

eram provenientes de mudanças no uso da terra e florestas, e apenas 23% de uso de

combustíveis fósseis. Isso se deve, principalmente, pelos altos índices de desmatamento da

Amazônia e outros biomas e pela matriz energética do Brasil ser considerada limpa.

Isso é resultado de diversas medidas tomadas pelo país no sentido de diminuir o

consumo de energia fóssil em resposta ao aumento da demanda por um desenvolvimento

sustentável. Medidas como o Pró-álcool e diversos projetos MDL foram adotados no Brasil e

investem, em sua grande maioria, no desenvolvimento e produção de energias renováveis.

Além disso, o país investiu em projetos e programas para desenvolvimento e produção de

energias renováveis, como o PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de

Energia), objetivando vantagens competitivas no mercado energético mundial.

De acordo com dados compilados pelo Ministério das Minas e Energia tem-se o

gráfico 4, abaixo.

Page 43: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

42

Gráfico 4 – Perfil da produção energética – Brasil e Mundo Fonte: Ministério das Minas e Energia, 2008.

Em comparação com os dados da OCDE, verificamos que a parcela do petróleo na

produção energética do Brasil é bem próxima a dos países da OCDE, mas há que se

considerar que, em termos dos outros tipos de fonte de energia, o Brasil utiliza uma maior

parcela de fontes renováveis do que esses países. Isso porque, a maior diferença entre os dois,

é a utilização de carvão mineral, uma fonte de energia extremamente poluente, que é bastante

utilizada pelos países da OCDE e pelo resto do mundo, se diferenciando do portfólio de

produção de energia no Brasil. Logo, 45,1% da produção energética do Brasil é considerada

renovável, composta por energia de biomassa e hidráulica, ou seja, energias menos poluentes

em termos de emissões de GEE. Estima-se que o consumo de etanol no Brasil evite a emissão

de 25,8 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano. (VARGAS, 2008)

Dados informam que o perfil de emissões de GEE do Brasil não mudou

consideravelmente e ainda é diferente do resto do mundo, sendo que 25% de suas emissões

totais são provenientes do uso de combustíveis fósseis, e 75% são provenientes de mudanças

do uso da terra, principalmente, o desmatamento. (CONGRESSO NACIONAL, 2007 (b)). De

acordo com notícia do INPE, dados do DETER27 mostraram um crescimento relativo do

27 DETER é o sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Page 44: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

43

desmatamento da Amazônia no início do ano de 2008 em relação ao mesmo período do ano

de 2007.

Apesar desse crescimento, de acordo com o PRODES28 do INPE, no período

compreendido entre 2006-2007 foi observada uma queda de 20% do desmatamento da região

em relação ao período 2005-2006. Isso significou cerca de 11.224 km² de desmatamento da

região amazônica, uma taxa pequena se considerada às anteriores, porém ainda muito alta em

termos de redução das emissões de GEE provenientes dessa atividade. Em termos absolutos, o

índice do desmatamento tem caído nos últimos três anos, mas quando se trata de um período

de 10 anos (1997-2007), os índices do desmatamento da Amazônia Legal estão se igualando.

Ou seja, apesar de todos os esforços contínuos para conter o desmatamento na

Amazônia Legal ainda há muito o que reduzir e estabilizar, para que, assim, as emissões

provenientes do desmatamento sejam, de fato, substancialmente reduzidas. Comparando esses

dados do gráfico 5 ao gráfico 3, pode-se perceber que, em 1994, o índice do desmatamento

estava relativamente estabilizado. Contudo, em 1995, a taxa de desmatamento cresce quase

100%. Não podemos afirmar se houve um crescimento em termos de emissões de GEE

durante esse período por falta de disponibilidade de dados oficiais, mas o problema do

desmatamento está diretamente ligado às emissões de GEE.

28 PRODES é o Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia Legal do INPE.

Page 45: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

44

Gráfico 5 – Taxa de Desmatamento Anual da Amazônia Legal Fonte: INPE, 2006.

Logo, torna-se extremamente relevante analisar como as agências governamentais se

portam frente ao desmatamento. As altas taxas do desmatamento levam a indagar sobre

mecanismos e políticas para sua contenção e mitigação. Durante a COP12 em Nairóbi, a

Ministra Maria Silva declarou que

“da mesma forma que mudar a matriz energética requer uma mudança de um modelo econômico fundamentado em padrões inaceitáveis de produção e consumo, reduzir taxas de desmatamento requer mudanças fundamentais no modelo econômico de países em desenvolvimento cujas florestas, tradicionalmente, valem mais derrubadas do que em pé. Precisamos atacar as causas desse desmatamento, os vetores econômicos que a ele induzem, e propor alternativas de desenvolvimento econômico e social que contemplem as preocupações e necessidades de todos os atores envolvidos nesse processo”.(Marina Silva apud VARGAS, 2008, p. 50)

Assim, de acordo com Vargas (2008, p.50), “[r]eduzir o desmatamento é mais difícil

do que cortar emissões no setor industrial”. E ainda há que se considerar que a Convenção não

prevê mecanismos de mercado para tratar a questão do desmatamento. Há, no âmbito da

Convenção, uma discussão recente sobre créditos de carbono gerados por avoided

deforestation, ou seja, pelo percentual de desmatamento evitado pelo país em questão. Assim,

Page 46: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

45

é difícil oferecer incentivos para a cooperação aos países em desenvolvimento29 no sentido de

reduzir as emissões provenientes do desmatamento.

Apesar do MDL não permitir créditos gerados por avoided deforestation, como

apresentado anteriormente, é um mecanismo de flexibilização do Protocolo de Quioto que

permite a comercialização de parte dos créditos (RCEs) gerados por projetos em países em

desenvolvimento. No Brasil, o MDL é um mecanismo de uso crescente, e apesar de não

ajudar o país nas emissões provenientes do desmatamento, auxilia na redução de emissões em

outras áreas, gerando um potencial de redução.

O gráfico 6 demonstra o total de atividades de projeto de MDL no mundo, mostrando

que o Brasil retém cerca de 8% dessas atividades (aproximadamente 284 projetos em MDL),

ficando atrás da China e Índia. Isso ocorre, principalmente pelo fato de que a regulação dos

projetos MDL fica a cargo, primeiramente, dos governos dos países, passando para a

comissão internacional.

Gráfico 6 – Total de Atividades de Projeto do MDL no Mundo Fonte: MCT, 2008. O gráfico 7 representa o total de projetos MDL no Brasil por escopo setorial,

verificando-se o fato de que não há projetos para a obtenção de créditos para o

desflorestamento evitado. Na área de florestas, apenas são permitidos créditos para

reflorestamento, que, na maioria das vezes, não se trata de reflorestamento por espécies

nativas. Nota-se que projetos na área de energia renovável são maioria, ajudando a afirmar

que a matriz energética brasileira é cada vez mais limpa.

29Consideramos os países em desenvolvimento já que as emissões mais significantes provenientes do desmatamento são originadas desses.

Page 47: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

46

Gráfico 7: Números de Projetos Brasileiros por Escopo Setorial Fonte: MCT, 2008. Na tabela 1, verifica-se, como no gráfico acima, o percentual de projetos de MDL por

escopo setorial, mas a tabela traz informação adicional sobre o potencial de redução anual

pelo tipo de projeto. E ainda, a redução de emissão para o primeiro período de obtenção de

crédito. Logo, verifica-se que o potencial de redução é maior no conjunto de projetos na área

de energia renovável.

Tabela 1 – Distribuição das atividades de projeto no Brasil por tipo de projeto

Projeto em Validação/ Aprovação

Número de

Projetos

Redução Anual de Emissão

Redução de Emissão no 1º

Período de Obtenção de

Crédito

Número de

projetos

Redução anual de emissão

Redução de emissão no 1º

período de obtenção de

crédito Energia

renovável 141 15.852.405 111.082.169 48% 39% 36%

Suinocultura 47 2.337.920 22.364.190 16% 6% 7% Aterro Sanitário 26 9.004.069 66.626.748 9% 22% 22%

Processos Industriais

6 802.926 5.921.452 2% 2% 2%

Eficiência Energética

19 1.455.732 14.289.895 6% 4% 5%

Resíduos 10 1.160.797 9.360.545 3% 3% 3% Redução de

N2O 5 6.373.896 44.617.272 2% 16% 15%

Troca de combustível

fóssil

39 2.907.977 24.284.745 13% 7% 8%

Emissões fugitivas

1 34.685 242.795 0% 0% 0%

Reflorestamento 1 262.352 7.870.560 0% 1% 3% Fonte: MCT, 2008.

Page 48: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

47

O gráfico 8 informa que esse potencial total de emissões a serem reduzidas mostrado

na tabela anterior significa cerca de 10% do potencial total mundial, que significa cerca de 40

192 759 t CO2 eq por ano no Brasil, de acordo com os dados do gráfico 9.

Gráfico 8 – Emissões a serem Reduzidas durante o 1º período de Obtenção de créditos dos Projetos Registrados (1.810 MtCO2 eq) Fonte: MCT, 2008.

Page 49: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

48

Gráfico 9 – Reduções Mundiais de Emissões Anuais (CO2 eq) Fonte: MCT, 2008.

A partir dos dados apresentados, pode-se inferir que o perfil de emissões do Brasil é

diferente do resto do mundo, sendo essencialmente proveniente do desflorestamento e

decomposição de biomassa. E ainda, que o potencial de redução de emissões via projetos

MDL, que se concentram em projetos de energias renováveis, ainda é pouco explorado,

quando observado em relação aos demais países emergentes mais poluidores. Ou seja, o

Protocolo de Quioto e seus mecanismos de flexibilização não fornecem meios eficazes para a

redução efetiva das emissões do país, já que essas se concentram no desmatamento e o MDL

não prevê a criação de créditos (RCE) a partir do desmatamento evitado, apenas a partir de

reflorestamento, que não é necessariamente de mata nativa e que ainda não compensam as

emissões geradas pelas queimadas das florestas nativas.

Há que se retomar a posição do Brasil frente ao desmatamento evitado, que foi

contrário à implantação desse tipo de recurso no âmbito do Protocolo de Quioto. Essa posição

se deve ao fato do Brasil ter percebido que o país não conseguiria reduzir ou conter o

desmatamento da floresta amazônica, acarretando num problema futuro para a redução das

emissões, quando os países em desenvolvimento tivessem metas quantificadas.

O último gráfico, para completar o nosso cenário de emissões do Brasil, é o gráfico do

crescimento projetado das emissões mundiais até o ano de 2025. O gráfico 10 mostra uma

projeção do WRI que compara com as emissões de GEE do ano de 2000 e o possível cenário

de emissões dos países no ano de 2025. Ele mostra que até o ano de 2025 o Brasil aumentará

suas emissões de GEE em cerca de 68%.

Page 50: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

49

Gráfico 10 – Crescimento projetado das emissões mundiais até o ano de 2025 Fonte: CAIT. WRI, 2005.

Existem diversas projeções baseadas em técnicas de previsão distintas. Como por

exemplo a projeção feita pelo Ministério das Minas e Energia. Essa projeção mostra que em

2030 prevê-se que o Brasil emitirá cerca de 610MtCO2/ano30, cerca de 1,4% das emissões

mundiais projetadas para esse período. Em comparação com as emissões de CO2 medidas no

ano de 2003, 348MtCO2, o aumento seria cerca de 75% nas emissões anuais até o ano de

2030. Para fins da nossa análise é importante observar mais do que o valor absoluto do

crescimento das emissões em cada projeção, mas o crescimento per se, que sinaliza que se

nada for feito, as mudanças climáticas tendem a ser mais evidentes e seus impactos mais

fortes e presentes.

3.3.1. O Desmatamento da Amazônia

Como mostrado na subseção anterior, o desmatamento é a maior causa das emissões

antrópicas de CO2 no Brasil. Esse dado indica a importância de se conhecer melhor sobre o

desmatamento na Amazônia Legal, área mais intensamente afetada por esse problema no

30 MtCO2/ano: Milhões de toneladas equivalentes de CO2 por ano.

Page 51: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

50

Brasil, e as atividades produtivas que mais contribuem para isso: soja, milho, pecuária e

madeireiras.

A floresta amazônica se estende para além do território brasileiro. Para fins dessa

análise serão utilizados apenas dados da Amazônia Legal. Ou seja, das partes da floresta

amazônica que se encontram em território brasileiro. A Amazônia Legal compreende cerca de

85% do total da floresta amazônica e, em termos administrativos brasileiros, é composta por

partes e/ou todo de nove estados da federação: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e

Roraima, e partes dos estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.31 Em relação à área

total, a Amazônia Legal representa 41% do território nacional. (MAPA, 2008). Nesta vasta

região a atividade agrícola é bastante intensa, como demonstram as informações a seguir.

3.3.1.1. Agricultura: Soja e Milho

As atividades agrícolas são responsáveis por grande parte do desmatamento da

Amazônia. Destacam-se principalmente culturas como da soja e do milho. A soja é

representada pela parte verde dos gráficos em pizza da Figura 5. Segundo o IBGE, a colheita

da soja no ano de 2007 somou aproximadamente 58 milhões de toneladas, sendo 10,6% maior

que a do ano de 2006 e correspondendo a 26,3% do total nacional da produção de grãos do

Brasil. Ainda em 2007, a área colhida dessa cultura na região Amazônica foi 6,5% menor do

que no ano anterior, somando 5.075.079 ha, equivalente a 25% da área de colheita total de

soja do país. Isso se deve, entre outros fatores, à Moratória da Soja, que estabeleceu que, a

partir de 24 de julho de 2006, a soja produzida no Bioma Amazônia em áreas desmatadas não

poderia ser comercializada dentro ou fora do país.

Já a cultura do milho se concentra em primeiro lugar no sul do país. Contudo, o

segundo estado que mais produz milho no Brasil é Mato Grosso. Isso corresponde a 51, 8

milhões de toneladas no ano de 2007, 11,8% do total nacional, produzidos numa área de

13.820.864 ha. (IBGE, 2008).

Dos cinco principais municípios produtores de soja, quatro são do estado do Mato

Grosso, que são, em ordem de decrescente de produção: 1º) Sorriso, 2º) Sapezal, 3º) Nova

Mutum e 4º) Campo Novo dos Parecis. Já dos 5 principais municípios produtores de milho, 4

são do Mato Grosso: 1º) Sorriso, 2º) Lucas do Rio Verde, 4º) Nova Mutum, 5º) Sapezal. O 31 De acordo com SIVAM.

Page 52: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

51

município de Sorriso lidera a produção nacional desses dois grãos e está sinalizado no mapa

com uma seta branca adicionada por nós. Note que os principais locais produtores de soja e

milho no estado do Mato Grosso compreendem a área onde se encontram mais focos de calor

(representados pela legenda amarelo com pontos vermelhos, como demonstra a Figura 3).

(IBGE, 2008). Os gráficos 11 e 12 representam a produção desses grãos por município, no

período de 2000 a 2007.

Gráfico 11 – Produção de milho em grão dos seis maiores municípios produtores do país – 2000-2007 Fonte: IBGE, 2007.

Gráfico 12 – Produção de soja em grãos dos seis maiores municípios produtores do país – 2000-2007 Fonte: IBGE, 2007.

Page 53: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

52

Figura 5 – Mapa da Expansão da Fronteira Agrícola na Amazônia Legal Fonte: IBGE,2005.

Page 54: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

53

3.3.1.2. Pecuária e Madeireiras

A Figura 6 representa a expansão da fronteira das atividades pecuária e madeireira na

áreas da Amazônia Legal. Conforme a legenda do mapa, os círculos amarelos representam a

ação das madeireiras e os quadrados pretos a atividade da pecuária. Nota-se que a pecuária se

estende pelos estados de Rondônia, Mato Grosso, Pará e parte do Maranhão.

Já a atividade madeireira se concentra em sua maioria no estado do Pará, tendo

algumas grandes ocorrências também nos estados de Rondônia e Mato Grosso. De acordo

com Lentini, Veríssimo e Pereira (2005) o Pará é o maior produtor nacional de madeira, com

45% do total, seguido por Mato Grosso e seus 33% do total nacional e, em terceiro lugar, a

parcela de 15% da produção nacional do estado de Rondônia.

A estimativa de Dias-Filho e Andrade (2006), mostra que no ano de 2004 cerca de 63

milhões de ha pastagens ocupavam a área da Amazônia Legal. A área de pastagens

degradadas e não degradadas representa 26% do território nacional. Então, desses 26%,

aproximadamente 28% seriam de pastagens localizadas na Amazônia Legal.

Tabela 2 - Distribuição das terras do Brasil

Área Distribuição

(milhões de hectares) % do território nacional

Amazônia 350 41,0

Pastagens: - Degradadas 40 4,7

- Não-Degradadas 180 21,3

Áreas Protegidas 55 6,0

Culturas anuais 47 5,5

Culturas permanentes 15 1,8

Cidades, rios, lagos, estradas, etc.

20 2,2

Florestas Plantadas 5 0,5

Outros usos da terra 38 4,0

Área não-explorada (disponível para a agricultura)

106 13,0

Total 856 100 Fonte: IBGE e CONAB, adaptação MAPA, 2008.

Page 55: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

54 Figura 6 – Mapa da Fronteira das Madeireiras e Pecuária na Amazônia Legal Fonte: IBGE, 2006.

Page 56: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

55

A partir da nossa análise das figuras 5 e 6 percebe-se que o desmatamento da

Amazônia Legal coincide com a expansão da fronteira agrícola, principalmente no Mato

Grosso e no Pará, sendo os principais atores desse fenômeno a cultura de soja, milho, pecuária

e a extração de madeira. Isso nos ajudará a delinear os principais atores do desmatamento da

Amazônia Legal e, conseqüentemente, os grupos de interesse privados que atuam direta ou

indiretamente na formulação de políticas para a contenção do desmatamento.

Na próxima subseção discutiremos as vulnerabilidades do país frente às mudanças

climáticas, que atingem, principalmente, as mesmas atividades econômicas que promovem

parte das emissões de CO2 no Brasil, as atividades agropecuárias. Saber qual serão as

conseqüências das mudanças climáticas para o Brasil poderá ser decisivo para incentivar

políticas para as mudanças climáticas.

3.4. Vulnerabilidade do Brasil frente às mudanças climáticas

O problema das mudanças climáticas não atinge o Brasil somente de forma a resultar

numa possibilidade de estabelecimento de compromissos quantificados. O Brasil, como os

países de clima tropical e os países abaixo da linha do Equador, os chamados países menos

desenvolvidos, sofrerão as conseqüências das crescentes emissões antrópicas de GEE. O

Quarto Relatório do IPCC afirmou que as emissões antrópicas de GEE influenciam, sim, no

clima global. Estima-se que entre 1970 e 2004 as mudanças na temperatura global, nível dos

oceanos, dos sistemas físicos e biológicos foram observadas.

A Figura 7, abaixo, demonstra as mudanças na temperatura da superfície global e dos

sistemas físicos e biológicos. Observa-se que, em média, a temperatura global aumentou 1°C

e que a maioria dos sistemas biológicos e físicos alterados estão concentrados no hemisfério

Norte.

Contudo, verifica-se que na América Latina 53 sistemas físicos e 5 sistemas biológicos

foram alterados ao longo do período observado. E ainda, 98% das alterações observadas nos

sistemas físicos da América Latina são consistentes com a variabilidade da temperatura e

100% das alterações dos sistemas biológicos dessa região são consistentes com a

variabilidade da temperatura (IPCC, 2007). Ou seja, a variabilidade da temperatura nesse

período foi capaz de alterar os sistemas físicos e biológicos do mundo e pode continuar

alterando-os, inclusive os do hemisfério sul, atingindo o Brasil.

Page 57: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

56

O que preocupa a comunidade internacional, além do impacto ambiental, é que essas

mudanças no clima mundial podem e vão afetar a economia. O Relatório Stern, um estudo

realizado pelo economista Sir Nicholas Stern encomendado pelo governo britânico – portanto,

guarda independência em relação ao Relatório do IPCC –, chegou a essa conclusão. Esse

relatório, publicado em outubro de 2006, versa sobre os impactos negativos das mudanças

climáticas na economia mundial. De acordo com o relatório, “o custo final de um descontrole

climático pode, segundo o economista britânico, ficar entre 5% e 20% do PIB mundial anual.”

(CONGRESSO NACIONAL, 2007(c), pp.10-11). E ainda, com o investimento de 1% do PIB

mundial para a mitigação das mudanças climáticas, pode-se evitar a perda de 20% desse PIB

resultante das vulnerabilidades do mundo às mudanças climáticas num período de 50 anos.

Logo, faz-se necessário descrever quais seriam as vulnerabilidades do Brasil relativas

às mudanças climáticas para saber quais seriam os incentivos diretos ao país para realizar

esforços de mitigação do fenômeno. O relatório síntese do IPCC, lançado em 2007, fala sobre

essas vulnerabilidades. Por vulnerabilidade o IPCC entende como

“o grau de suscetibilidade de um sistema aos efeitos adversos da mudança climática, ou sua incapacidade de administrar esses efeitos, incluindo variabilidade climática ou extremos. Vulnerabilidade é função do caráter da dimensão e da taxa de variação climática ao qual um sistema é exposto, sua sensibilidade e capacidade de adaptação.” (IPCC Third Assessment Report, Working Group II, 2001 apud NAE, 2005).

Page 58: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

57

Figura 7 – Mapa da mudança dos sistemas físicos e biológicos e na temperatura da superfície entre 1970 e 2004 Fonte: IPCC, Climate Change 2007: Synthesis Report, 2007.

As vulnerabilidades descritas pelo 4º Relatório do IPCC são:

(a) Disponibilidade de água doce em regiões áridas e semi-áridas: Diminuição dos recursos

hídricos em regiões como o Nordeste brasileiro. Aumentará a variabilidade da precipitação. A

recarga de águas superficiais diminuirá. Isso devido ao rápido aumento da população, da

demanda de água doce e das mudanças do clima mundial;

(b) Mudanças na precipitação: Aumento da precipitação no Sudeste brasileiro, que impacta

diretamente na agricultura e uso da terra e no aumento das enchentes. Aumento na

temperatura de 0.5°C no país. Diminuição da precipitação em regiões áridas e semi-áridas;

Page 59: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

58

(c) Risco de extinção de espécies da flora e fauna na América Latina tropical: Savanização

das florestas tropicais e substituição da vegetação semi-árida por árida na região Nordeste do

país. Desertificação e salinização das terras agricultáveis em até 50% ao final da década de

2050. Perda de habitat de espécies endêmicas;

(d) Vulnerabilidade das áreas costeiras: Aumento do nível do mar (1 a 2-3 mm por ano nos

últimos 10-20 anos) e variabilidade climática. Impactos em áreas costeiras de baixa

declividade, construções e turismo costeiro, morfologia costeira, manguezais e

disponibilidade de água doce, recifes de corais. (CONAMA, 2008).

Observa-se que as alterações da temperatura global e regional, o aumento do nível dos

mares, variabilidades da precipitação em todas as regiões do país e desertificação/savanização

das florestas e áreas agricultáveis interferem diretamente sobre as condições da economia e da

saúde da população do país.

Essas mudanças repercutem diretamente em todo o sistema hidrológico, biológico e

agrícola. Pode haver reflexos no equilíbrio químico do solo, resultando em impactos na

fertilidade e potencial produtivo. Além disso, pode haver mudanças e adaptações das espécies

de plantas, devido às mudanças da concentração de carbono na atmosfera e no solo. A

escassez de água doce, causada tanto pelo aumento do nível dos mares, quanto pela

diminuição da recarga de águas superficiais pode prejudicar as produções agrícolas. O

desequilíbrio nos biomas pode causar surgimento de novas pragas, devido à influência da

temperatura na sobrevivência, desenvolvimento, reprodução e movimentos migratórios dos

insetos. Conseqüências fitopatológicas também serão possíveis, como o desenvolvimento de

fungos e bactérias nocivas à produção agrícola. (DE SIQUEIRA, STEINMETZ, DE SALLES,

FERNANDES, 2001)32.

Como mostrado, as mudanças climáticas atingem o Brasil de diversas formas, o que

torna ainda mais urgente e imprescindível políticas para sua mitigação, independentemente do

país não possuir compromissos quantificados de redução de GEE (metas de redução). Na

próxima subseção o foco será na política doméstica para as mudanças climáticas,

principalmente as referentes ao desmatamento.

32 Uma análise completa sobre as vulnerabilidades do país pode ser encontrada no Cadernos NAE de 2005.

Page 60: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

59

3.5. A política doméstica para as mudanças climáticas

A temática ambiental não fez parte da agenda política do Brasil durante muito tempo.

Contudo, como observado anteriormente, com a crise do modelo de crescimento econômico

na década de 1980, o país passa a incluir na agenda as preocupações com o meio ambiente.

Assim, durante o ano de 1981 é instaurada no Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente

através da Lei 6.938/81 que visava “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade

ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento

socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida

humana” (Lei Federal 6.938/81, 1981). A Política Nacional do Meio Ambiente também criou

o SISNAMA, Sistema Nacional do Meio Ambiente, composto pela Secretaria do Meio

Ambiente (atual Ministério do Meio Ambiente), pelo CONAMA e por vários órgãos

regionais.

Durante o governo Cardoso, em julho de 1999, em outra ação preocupada com o meio

ambiente, mais especificamente a questão das mudanças climáticas, foi criada a Comissão

Interministerial de Mudança Global do Clima. Essa comissão se encontra de maneira irregular

e atualmente é composta pelos Ministérios das Relações Exteriores; do Meio Ambiente; da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento; de Minas e Energia; da Ciência e Tecnologia, dos

Transportes, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; do Planejamento;

Orçamento e Gestão; das Cidades; da Fazenda; e de representantes da Casa Civil (Portaria n°

482, de 14 de julho de 2003).

Essa comissão tem por objetivo “emitir pareceres sobre propostas de políticas

setoriais, instrumentos legais e normas relevantes para o tema, subsidiar a posição

negociadora do governo em questões climáticas e definir critérios de elegibilidade; além

disso, sua função é decidir sobre projetos individuais.” (DUTSCHKE, 2000, p.23).

Além dessa Comissão, foi criado o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas em

junho de 2000, no qual participam representantes do governo, bem como representantes da

sociedade civil e outros convidados. Adicionalmente foram criados alguns Fóruns Estaduais

de Mudanças Climáticas, como o Fórum Mineiro de Mudanças Climáticas. Contudo,

atualmente esse mecanismo de discussão e debate sobre a temática está quase inativo.

A preocupação com as mudanças climáticas tem crescido de maneira a mobilizar cada

vez mais órgãos governamentais a discutir e tratar sobre esse assunto. O que pode ser

indicado pela criação, em 28 de fevereiro de 2007, durante o governo Lula, da Comissão

Page 61: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

60

Mista Especial sobre Mudanças Climáticas, através do Ato Conjunto n°1 de 2007. Numa

iniciativa conjunta das duas Casas do Congresso Brasileiro, essa comissão foi criada no

intuito de “acompanhar, monitorar e fiscalizar as ações referentes às mudanças climáticas no

Brasil” (CONGRESSO NACIONAL, 2007(a), p.1).

A Comissão deveria tratar sobre o assunto nas diversas reuniões durante o ano de

2007, emitindo um relatório de suas atividades ao final desse mesmo ano. Outros órgãos

essenciais para a mitigação das mudanças climáticas, especialmente para a contenção,

monitoramento e mitigação do desmatamento da Amazônia foram criados. Atualmente, o

SIVAM/SIPAM, o IBAMA, o INPA, o INPE e seus projetos PRODES e o DETER atuam de

maneira a monitorar, fiscalizar, proteger e levantar dados sobre o desmatamento da

Amazônia.

O SIVAM/SIPAM é uma rede de coleta de dados e de processamento de informações

para que os vários órgãos do governo que atuem na Amazônia Legal não realizem o mesmo

trabalho, e assim, otimizar os gastos públicos com o levantamento de dados e formulação de

informações sobre a Amazônia. São feitos trabalhos de sensoriamento remoto da região da

Amazônia Legal para a obtenção de dados de caráter geográfico, índices metereológicos,

entre outros.

O IBAMA é o órgão que cuida da fiscalização sobre os recursos naturais da

Amazônia. É ele quem aplica a legislação ambiental e combate a degradação do meio

ambiente. Em termos da Amazônia, o IBAMA tem por competência fiscalizar os imóveis

rurais, se eles seguem a legislação das áreas de proteção, se estão degradando áreas protegidas

etc. Atualmente o IBAMA disponibilizou em seu sítio eletrônico a consulta pública sobre as

áreas embargadas, dentre elas, áreas dentro da Amazônia Legal.

O INPA é o instituto que cuida das pesquisas científicas ambientais e sociais da

Amazônia Legal. Possui diversas coordenações de pesquisas, entre elas se encontram a

Coordenação de Pesquisas sobre Clima e Recursos Hídricos (CPCRH). Por fim, o INPE é o

instituto de pesquisa e processamento de dados espaciais, ou seja, através do PRODES e do

DETER, o instituto fornece informações sobre o avanço do desmatamento e focos de

queimada.

Todos esses órgãos têm como objetivo atuar para a contenção e mitigação do

desmatamento da Amazônia, dentro de suas próprias especificidades. Há que se ponderar

sobre os problemas de coordenação que certamente envolvem a atuação desses órgãos, bem

como as dificuldades de realizar suas atividades, tendo em vista a grandiosidade do território

sob a responsabilidade desses órgãos, dificuldades de acesso e, ainda, interesses de setores

Page 62: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

61

econômicos que porventura possam interferir tanto na regulação quanto na fiscalização por

parte desses órgãos públicos federais. Por fim, apresentaremos, então, a atual legislação

ambiental brasileira relativa ao desmatamento da Amazônia que, como já observado, é

desrespeitada de diversas maneiras.

3.4.2. A Legislação Ambiental Brasileira relacionada às mudanças climáticas

Para fins dessa pesquisa, será descrita a legislação ambiental que ampara o problema

central apresentado aqui: o desmatamento da Amazônia. Para isso apresentaremos desde a

legislação mais geral para a mais específica e recente.

3.4.2.1. O Código Florestal

Em 15 de Setembro de 1965 foi instituído o Código Florestal que visava regular a

utilização e a exploração das florestas brasileiras já entendidas como bens de interesse comum

a todos os habitantes do país. A lei federal nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, apresenta

emendas feitas até o ano de 2006, em vista de atualizar o código florestal. Esse código

delibera sobre sanções e punições aos indivíduos que façam uso nocivo das florestas e demais

formas de vegetação, que pode também ser caracterizado como desmatamento de áreas de

preservação e reservas legais. A medida provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001,

incluiu os conceitos de reserva legal e áreas de preservação permanente ao código florestal.

Então, por áreas de preservação permanente entende-se

“área protegida nos termos dos arts. 2o e 3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1965, Art.1º §2º-II)

E por reserva legal pode-se entender a

“área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1965, Art.1º §2º-III)

Page 63: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

62

O código ainda prevê a possibilidade de autorização, pelo órgão ambiental

competente, da supressão de áreas de preservação permanente em casos de utilidade pública.

E define que na área de florestas da Amazônia Legal, todas as propriedades rurais que não são

de preservação permanente devem manter 80% do seu território total como área de reserva

legal e 35% do território das propriedades rurais localizadas em áreas de cerrado na Amazônia

Legal, podendo ser 20% dentro da propriedade e 15% em outras áreas na forma de

compensação, desde que dentro da mesma microbacia, sendo essas porcentagens passíveis de

diminuição ou aumento a critério do órgão ambiental competente.

O código ainda classifica como passíveis de punição uma série de ações dentro dessas

áreas, principalmente relacionadas a extração de lenha e madeira e comércio de plantas vivas

das florestas. Sendo que qualquer atividade extrativa nas áreas de reserva legal e preservação

permanente deve ser reportada e autorizada pelo órgão ambiental competente. São crimes

passíveis de pena: queimadas; extração de lenha, madeira, minerais e/ou espécies da fauna e

flora da floresta; entre outros.

A Constituição Federal dedicou todo o seu Capítulo IV ao Meio Ambiente, devido à

sua importância para o país. O art. 225 da constituição fala sobre o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado e ao dever de todos de preservá-lo em sua totalidade, sendo

regulado pela lei dos Sistemas Nacionais de Unidades de Conservação da Natureza, a ser

tratada a seguir, e pela lei dos crimes ambientais, a de nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.

Os artigos 38 a 46 dessa Lei tratam de crimes contra as florestas e reservas (unidades de

conservação de proteção integral), tais como extração de madeira e queimadas, que são

punidos com penas de detenção ou reclusão de seis meses a seis anos, passíveis ou não de

multas. O artigo 50-A, da mesma Lei trata exclusivamente sobre o desmatamento

“Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente: Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. § 1o Não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua família. § 2o Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), a pena será aumentada de 1 (um) ano por milhar de hectare.” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1998, Art. 50-A)

Page 64: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

63

3.4.2.2. Lei dos Incentivos ao Florestamento e Reflorestamento

A Lei nº 5.106, de 2 de setembro de 1966, trata sobre incentivos tributários aos

indivíduos, pessoa física ou jurídica, que empreguem importâncias monetárias em projetos de

florestamento e reflorestamento, desde que seu projeto seja aprovado previamente pelo

Ministério da Agricultura e compreenda um programa de plantio anual de, no mínimo, 10 mil

árvores. As importâncias monetárias poderão ser abatidas ou descontadas da declaração de

rendimentos das pessoas físicas ou jurídicas, residentes no Brasil.

3.4.2.3. Lei sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades

de Conservação da Natureza, a qual define:

“unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2000(a), Art. 2º-I)

As unidades de conservação teriam o objetivo de conservar e regular o uso dos

recursos naturais de uma determinada área designada como unidade de conservação pelo

governo. Elas são reguladas pelo CONAMA, MMA e Instituto Chico Mendes. O Sistema

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza é composto “pelo conjunto de unidades de

conservação federais, estaduais e municipais, de acordo com o disposto nesta Lei.”

(PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2000(a), Art. 3º.). Segue abaixo a tabela 3 que

sistematiza os grupos de unidades de conservação dispostos por essa lei.

Page 65: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

64

Tabela 3 – Grupos de Unidades de Conservação do SNUC

Grupos das Unidades de Conservação integrantes do SNUC

Objetivo Básico33 Subgrupos

Unidades de Proteção Integral

“preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei.”

I - Estação Ecológica; II - Reserva Biológica; III - Parque Nacional; IV - Monumento Natural; V - Refúgio de Vida Silvestre.

Unidades de Uso Sustentável

“compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.”

I - Área de Proteção Ambiental; II - Área de Relevante Interesse Ecológico; III - Floresta Nacional; IV - Reserva Extrativista; V - Reserva de Fauna; VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Fonte: Adaptação Art. 7º, 8º e 14º da Lei 9.985/ 18 julho de 2000, formulação própria.

3.4.2.4. Lei da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA)

A Lei nº 10.165, de 27 de dezembro de 2000, dispõe sobre um sistema de taxação e

fiscalização ambiental a ser aplicado às pessoas físicas e jurídicas que exploram recursos

ambientais. Essa taxação teria como destino financiar as atividades de controle e fiscalização

ambiental do IBAMA. Além disso, determina que as pessoas físicas ou jurídicas a quem tal lei

se aplica deve entregar no dia 31 de março de cada ano um relatório das atividades exercidas

no ano anterior para colaborar com a fiscalização e o controle do IBAMA.

A taxação segue uma tabela que dispõe sobre o tamanho do empreendimento que

explora recursos naturais, bem como o ramo de atividade econômica desse empreendimento.

A taxa deverá ser paga no último dia útil de cada trimestre, sendo que indivíduos que

pratiquem agricultura de subsistência, entidades públicas, populações tradicionais e entidades

filantrópicas estão isentos da taxa. O Anexo VIII dessa Lei dispõe sobre os ramos da atividade

econômica classificando-os com pequeno, médio e grande, segundo seu potencial de poluição

e seu grau de utilização dos recursos naturais. As atividades que nos interessa são: a indústria

de madeira; a indústria de produtos alimentares e bebidas; e o uso de recursos naturais, como

exploração econômica da madeira de florestas, importação e exportação de fauna e flora etc.

Esses três tipos de atividades são considerados de médio impacto e são taxadas de acordo com

a tabela abaixo.

33 Art. 7º, §1º e §2º da Lei 9.985/ 18 julho de 2000.

Page 66: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

65

Tabela 4 – Anexo IX da Lei 10.165 de 27 de dezembro de 2000

VALORES, EM REAIS, DEVIDOS A TÍTULOS DE TCFA POR ESTABELECIMENTO POR TRIMESTRE

Potencial de Poluição,Grau de utilização de Recursos Naturais

Pessoa Física Microempresa Empresa de Pequeno Porte

Empresa de Médio Porte

Empresa de Grande Porte

Pequeno - - 112,50 225,00 450,00 Médio - - 180,00 360,00 900,00 Alto - 50,00 225,00 450,00 2.250,00

Fonte: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2000(b).

Para fins dessa lei entende-se que

“"I – microempresa e empresa de pequeno porte, as pessoas jurídicas que se enquadrem, respectivamente, nas descrições dos incisos I e II do caput do art. 2o da Lei no 9.841, de 5 de outubro de 1999;" (AC) "II – empresa de médio porte, a pessoa jurídica que tiver receita bruta anual superior a R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) e igual ou inferior a R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais);" (AC) "III – empresa de grande porte, a pessoa jurídica que tiver receita bruta anual superior a R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais)." (AC)” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2000(b), Art. 1º-I, II e III)

Dentro dessa denominação pode-se determinar qual seria o valor a ser pago

trimestralmente por propriedade rural com o objetivo de financiar atividades de controle e

fiscalização do IBAMA das atividades relativas ao nosso problema central, o desmatamento.

Logo, pode-se perceber que a remuneração para fins de fiscalização é pouca quando se trata

da importância do tema e da necessidade de ações efetivas e eficazes de controle e

fiscalização.

3.4.2.5. Lei sobre a Gestão de Florestas Públicas

Complementarmente ao Código Florestal, a Lei nº 11.284, de 2 de março de 2006,

regulamenta a utilização das florestas públicas. Essa lei cria o sistema de concessões de

exploração das florestas públicas, a acontecer de maneira descentralizada, regulada pelas

unidades da federação. As concessões prevêem apenas a exploração das florestas de domínio

Page 67: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

66

público, não a venda. Ou seja, serão concedidas licenças sobre o uso dos recursos florestais e

será mantido o domínio público da floresta.

As concessões são dadas num sistema de licitação pública a ser decidido por cada

região a que as áreas pertencem. A gestão das florestas públicas federais ficará a cargo da

união e a das estaduais ficará a cargo dos estados. As licitações irão ocorrer na forma de

“melhor preço, melhor técnica e benefício local” e cada concessionária poderá ter no máximo

dois contratos de concessões. Além disso, fica estabelecido que, em cada área de concessão,

deverá ter lotes para pequenos, médios e grandes produtores.

Delineado todo o cenário legislativo para o meio ambiente e mudanças climáticas

(desmatamento), percebemos que a legislação ambiental brasileira é bastante abrangente,

prevendo penas específicas para os mais diversos tipos de crimes. Apesar disso, o problema

que o Brasil enfrenta atualmente está relacionado diretamente com a implementação dessa

legislação, colocar em prática, seja através de ações punitivas e/ou coercitivas. As ações de

implementação da legislação, aplicação de suas diretrizes, fiscalização e punição esbarram

num conjunto de problemas institucionais, de coordenação e de interesses dos principais

atores que serão apresentados no próximo capítulo. Portanto, o problema do desmatamento

da Amazônia não se dá por falta de um aparato legislativo capaz de atingir as principais

causas desse problema. Apesar de sempre se questionar a qualidade das regras formuladas, o

problema reside, basicamente, nas dificuldades durante a implementação da legislação

vigente. Isso porque os stakeholders do tipo 2 (a serem apresentados a seguir) têm

basicamente dois meios de influenciar e pressionar a formulação de políticas para o meio

ambiente: através das pressões ao legislativo e através das resoluções do CONAMA. Esses

fatos serão mais bem trabalhados na seção seguinte.

Logo, deveremos responder ás seguintes questões no próximo capítulo: Quem formula

e reformula as leis? Quem executa as leis? Qual é o processo de aprovação da lei? Durante

esse processo, existe influência de atores não-governamentais? Para responder a essas

perguntas, faremos no próximo capítulo a delimitação dos atores envolvidos no problema do

desmatamento da Amazônia, tanto governamentais quanto privados. Depois disporemos como

funciona o sistema burocrático brasileiro. E por fim, apresentaremos os problemas que

influenciam a formulação, delimitação e execução das leis referentes ao desmatamento da

Amazônia Legal, para, então, relacionarmos o nível doméstico com o nível internacional.

Page 68: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

67

4. PROBLEMAS DE COORDENAÇÃO ENTRE OS STAKEHOLDERS

Esse capítulo se refere à nossa análise qualitativa sobre os problemas de coordenação

entre os stakeholders, a serem delineados aqui. Como apresentado anteriormente,

stakeholders podem ser entendidos como atores relevantes, que podem ser indivíduos,

organizações, grupos e/ou instituições públicos ou privados. Para tanto, será apresentada a

metodologia que permite estudar a escolha desses atores. Em seguida, apresentaremos os

interesses delineados de cada ator e os indicadores referentes aos problemas de coordenação

entre os atores escolhidos. Sistematizaremos os resultados colhidos a partir da classificação

dos stakeholders.

4.1. Stakeholders analysis

A análise da ação dos stakeholders foi descrita pelo Banco Mundial, numa compilação

de informações feita pelo mesmo. No documento Stakeholder Analysis, o Banco Mundial

apresenta uma metodologia que permite fazer essa análise. O autor propõe que se respondam

a 8 perguntas básicas que norteiam a determinação de quem participa, o quanto participa e

quando participa: (1) qual o papel do stakeholder para que o projeto/política seja bem

sucedido? (2) esses pressupostos são realistas? (3) quais as respostas positivas esperadas? (4)

qual seria o impacto da ausência dessas respostas? (5) o que pode ser feito para encorajar o

apoio dos stakeholders? (6) quais as respostas negativas esperadas? (7) qual seria o impacto

dessas respostas? (8) o que pode ser feito para mitigar as respostas negativas? Respondidas

essas perguntas passa-se para o método em si. O método é constituído de quatro passos

básicos: (1) identificar os stakeholders; (2) determinar os interesses dos stakeholders; (3)

determinar o poder e influência dos stakeholders; (4) formular uma estratégia de participação

desses stakeholders.

Para identificar os stakeholders deve-se gerar uma lista de possíveis atores

respondendo às seguintes perguntas: (a) quem são os principais beneficiários? (b) quem pode

ser atingido de maneira negativa? (c) existem grupos vulneráveis? (d) foram identificados

grupos que apóiam e os grupos oponentes? (d) qual é o relacionamento entre os stakeholders?

Page 69: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

68

Assim, é possível identificar quem contribui, quem são os beneficiários, os grupos afetados e

outros grupos de interesse. Determinados quem são os stakeholders, passa-se para a

identificação dos interesses dos mesmos. Cada grupo identificado deve ser enquadrado de

acordo com essas questões: (a) quais as expectativas em relação ao projeto/política? (b) quais

os prováveis benefícios? (c) quais interesses conflitam com os objetivos do projeto/política?

(d) quais os recursos que podem ser mobilizados pelo stakeholder? Logo, o terceiro passo é

de determinar o poder e a influência do stakeholder. As questões feitas devem ser no sentido

de ajudar a organizar as informações sobre questões políticas, sociais, de autoridade e

controle, bem como o status legal daquele ator. Deve-se questionar: (a) qual é o

relacionamento entre os vários atores? Quem tem poder sobre quem? Quem depende de

quem? (b) quais são os stakeholders que estão organizados? Como essa organização pode

influenciar? (c) quem tem o controle sob os recursos? Quem controla a informação? Por fim,

há que se formular a estratégia da participação do stakeholder levando em consideração os

interesses, influência e poder desse. (BANCO MUNDIAL, 2007(b))

4.1.1. Delimitação dos stakeholders

Além da metodologia apresentada pelo Banco Mundial, os stakeholders serão

divididos de acordo com a classificação de Montgomery (1996). Segundo esse autor, há três

tipos de stakeholders: os primários, os secundários e os key stakeholders. Os primários são

aqueles afetados diretamente, tanto negativa quanto positivamente. Os secundários são

aqueles intermediários, tanto beneficiados quanto não beneficiados, incluídos ou excluídos do

processo de decision-making. Por fim, os key stakeholders são aqueles que influenciam

significantemente ou são importantes para o sucesso do determinado projeto.

(MONTGOMERY, 1996, p.3).

Para essa pesquisa, será utilizada apenas a classificação key stakeholders, dividida em

duas subclassificações: (1) aqueles que formulam e implementam as políticas e projetos; (2)

aqueles que influenciam indiretamente no processo de formulação e implementação do

projeto. Para o objeto maior desta pesquisa foram indentificados alguns tipos de stakeholders

apresentados na Tabela 5 abaixo.

Page 70: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

69

Tabela 5 – Identificação dos stakeholders

TIPO E DENOMINAÇÃO PARA FINS DA PESQUISA

DENOMINAÇÃO ATUAÇÃO EM RELAÇÃO AO DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA LEGAL

REPRESENTAÇÃO NACIONAL

INFLUÊNCIA PERCEBIDA NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS

1(a) Instituições Governamentais

Decisão, formulação, implementação e monitoramento das políticas relativas ao desmatamento e às Mudanças Climáticas.

a)Executivo: Ministérios e Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima; b)Agências reguladoras: IBAMA, CONAMA, Secretarias estaduais do Meio Ambiente.

Direta

1(b) Congresso Brasileiro

Formulação da legislação brasileira relativa ao desmatamento

Comissões Temáticas: Comissão Agricultura (CAPADR), Meio Ambiente (CMADS), Amazônia (CAINDR), Comissão Mista Especial para as Mudanças Climáticas

Direta

2(a) Agricultores e pecuaristas

Expansão da fronteira agrícola

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA.

Direta e Indireta

2(b) Madeireiras Expansão da fronteira agrícola

Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente – ABIMCI; Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará – AIMEX.

Não verificada

2(c) ONGs “Verdes” Proteção da Amazônia Legal e Recursos Naturais

Imazon; Greenpeace. Não verificada

Fonte:Formulação própria.

Os atores apresentados na tabela acima foram identificados a partir dos dados

apresentados em seções anteriores34 e da metodologia de análise dos stakeholders.

Consideramos, por parte do governo, parte do executivo e legislativo que tratam sobre as

questões que propomos aqui, já que os stakeholders podem ser tanto atores privados quanto

públicos.

Já os atores não governamentais foram identificados de acordo com as principais

atividades econômicas que se relacionam ao desmatamento na Amazônia Legal como 34 A partir dos dados sobre o perfil de emissões do Brasil, sobre o desmatamento da Amazônia Legal nas figuras 5 e 6 e sobre o cenário doméstico e internacional de negociações para as Mudanças do Clima.

Page 71: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

70

mostrado pelos mapas do IBGE em seção anterior (Figuras número 5 e 6). Esses atores,

diretamente ligados ao problema do desmatamento, se organizam nacional e estadualmente,

sendo as principais representatividades o foco da nossa análise.

Sua influência nos processos de formulação de políticas pode ser considerada direta e

indireta. Direta porque há representantes dessas classes no congresso nacional, nas

Assembléias Legislativas e câmaras municipais; e indireta porque há a influência das opiniões

da classe nas políticas formuladas pelo governo, já que se tratam de classes econômicas que

representam grande parte do PIB nacional. Já os atores não governamentais ambientalistas

(tipo 2(c)), foram identificados a partir de sua atuação social no movimento ambientalista,

cujo foco dessa atuação dá especial atenção à Amazônia. Nas subseções abaixo serão

apresentados seus respectivos interesses.

4.2. Os problemas de coordenação entre os stakeholders

A tabela 6, abaixo, mostra a composição dos interesses de cada ator analisado por esse

trabalho. A tabela foi confeccionada a partir de dados colhidos durante a pesquisa. Os

interesses dos stakeholders do tipo 1 não podem ser considerados como conflitantes ou não

com a política vigente, já que esses atores atuam diretamente na formulação dessas mesmas

políticas, sejam de cunho econômico ou ambiental. Já os dados dos stakeholders do tipo 2

foram colhidos a partir de informações oficiais fornecidas por seus principais representantes.

Esses interesses ficarão mais claros quando for discutida a atuação de cada ator nos itens a

seguir.

Page 72: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

71

Tabela 6 – Delimitação dos interesses dos stakeholders

DENOMINAÇÃO EXPECTATIVAS EM RELAÇÃO ÀS POLÍTICAS PARA O DESMATAMENTO

INTERESSES CONFLITANTES

COM A POLÍTICA VIGENTE

1(a)Instituições Governamentais

Duas linhas principais dos interesses no âmbito doméstico: * Proteção e preservação da Amazônia Legal; * Favorecimento da Indústria Agropecuária.

_

1(b)Congresso Brasileiro

Duas linhas principais dos interesses no âmbito doméstico: * Proteção e preservação da Amazônia Legal; * Favorecimento da Indústria Agropecuária.

_

2(a)Agricultores e pecuaristas

*Reformulação do Código Florestal e Unidades de Conservação; *Remuneração por preservação ambiental; *Flexibilização dos projetos MDL.

SIM

2(b)Madeireiras * Licenciamento da exploração de áreas públicas

SIM

2(c)ONGs “Verdes”

* Preservação da Amazônia SIM

Fonte: Formulação própria.

4.3.1. Instituições Governamentais e Congresso Brasileiro

Como apresentado anteriormente, é necessário analisar os casos dos ministérios

brasileiros e do congresso nacional. No âmbito dos ministérios nacionais, em maio desse ano

de 2008, a então Ministra do Meio Ambiente Marina Silva pediu demissão ao Presidente da

República. Isso levantou a polêmica em torno de divergências entre os Ministérios acerca da

prevenção e luta contra o desmatamento, principal temática defendida pela Ministra.

Sua carta de demissão ao presidente foi divulgada na íntegra pela Biblioteca da

Floresta Marina Silva, e ressaltava que, apesar da importância dos problemas ambientais, os

desafios impostos ao Ministério do Meio Ambiente durante seu mandato foram muitos,

partindo tanto do governo quanto da sociedade. Além disso, ela ressaltou que continuaria

trabalhando, como Senadora, em função dos problemas ambientais com o objetivo de

continuar a implementação da política ambiental.

Page 73: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

72

A ministra foi substituída pelo deputado estadual Carlos Minc, ex-secretário do Meio

Ambiente do Rio de Janeiro, que diz continuar o trabalho contra o desmatamento da

Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Durante o mandato de Carlos Minc, foram divulgados

vários processos de combate ao desmatamento da Amazônia, tornando cada vez mais público

esse problema. Ações como o Plano Nacional para as Mudanças do Clima e a divulgação da

lista dos 100 maiores desmatadores do país se concretizaram após a saída de Marina Silva.

Espera-se que dê continuidade aos programas implementados durante o mandato Marina Silva

e que, chamando a atenção da sociedade civil, a temática tenha melhor tratamento no âmbito

do legislativo e do executivo.

No âmbito do executivo, apesar da existência da Comissão Interministerial de

Mudança Global do Clima, a posição dos ministérios tem um caráter essencialmente

autônomo sobre a questão. Dutschke aponta isso como uma das fraquezas dessa comissão. E

ainda,

“Dificilmente seus representantes na Comissão irão adotar decisões independentes, mas simplesmente executar o ponto de vista de cada um dos ministérios envolvidos. Além do mais, a Comissão se reúne de forma irregular e suas decisões, em conseqüência, passam por um processo lento e penoso.” (DUTSCHKE, 2000, p.23)

Além disso, a delegação brasileira nas COPs sempre foi liderada pelo Ministério da

Ciência e Tecnologia nos aspectos substantivos e pelo Ministério das Relações Exteriores nos

aspectos da negociação. Assim, o Ministério do Meio Ambiente, principal responsável pela

agenda ambiental brasileira naquilo que se refere à ação do poder executivo, e referência

quando se trata de desmatamento no Brasil do processo de decisão no ambiente internacional,

ficou em segundo plano.

Para a disputa doméstica, vê-se claramente as divergências entre MMA e MAPA e os

bancos oficiais. De um lado, o MMA tenta efetivar ações de combate ao desmatamento, até

porque tem compromissos quanto a elaboração de relatórios para agências internacionais, e de

outro os bancos oficiais e a Agricultura oferecem cada vez mais subsídios sem exigir a

preservação da floresta ou restringir a derrubada da mesma. (FRANCO, 2008).

E ainda, há que se considerar a atuação do MCT no que concerne aos Fundos

Setoriais. Os fundos setoriais são recursos para pesquisa provenientes do MCT e são

administrados pelo FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), dos quais alguns são

destinados à pesquisa em áreas que concernem às mudanças climáticas. De acordo com o

Relatório Parcial da Comissão Mista Especial sobre Mudanças Climáticas (2007, p.48), o

fundo setorial da Amazônia, “área fundamental no combate do aquecimento global, não foi

Page 74: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

73

tão privilegiado quanto outros fundos.” E ainda, “[e]m termos percentuais, o Fundo Setorial

da Amazônia ficou com apenas 1,78% do somatório de todos os fundos. Novamente trazemos

à tona a falta de recursos destinados à pesquisa para preservar a floresta e, por conseqüência,

mitigar os efeitos das alterações climáticas.” (CONGRESSO NACIONAL, 2007 (b), p. 48).

No âmbito do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas foi elaborado o “Plano de

Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas” com o objetivo de:

“Organizar, em esfera nacional, todas ações referentes às questões do Aquecimento Global e seus desdobramentos Sociais, Econômicos e Ambientais que vem sendo promovido pelo governo brasileiro além de propor iniciativas coordenadas com as já existentes e que somem esforços para alcance do objetivo fim que é mitigar, adaptar e reduzir o impacto dos desdobramentos das mudanças climáticas.” (FÓRUM BRASILEIRO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS, 2007, p.5)

A proposta gira em torno de três eixos: i) Ações Coordenadas de Governo; ii) Criação

da Rede Nacional de Pesquisa sobre Mudança do Clima; iii) Criação de um Organismo

Nacional de Política Climática. Logo, há uma necessidade reconhecida pelo governo de maior

coordenação das ações dos Ministérios no sentido de atingir um resultado favorável à redução

das emissões brasileiras concernentes, principalmente, ao desmatamento da Amazônia. Esse

projeto começou a ser concretizado a partir de uma versão preliminar divulgada pelo MMA

em Setembro de 2008, com o objetivo de disponibilizá-lo para consultas e opinião públicas.

Estima-se que esse Plano Nacional sobre Mudança do Clima seja implementado até 2009 e

objetiva

“-Fomentar aumentos de eficiência no desempenho dos setores produtivos na busca constante do alcance das melhores práticas. [...] -Buscar manter elevada a participação de energia renovável na matriz elétrica, preservando posição de destaque que o Brasil sempre ocupou no cenário internacional. [...] -Fomentar o aumento sustentável da participação de biocombustíveis na matriz de transportes nacional e, ainda, atuar com vistas à estruturação de um mercado internacional de biocombustíveis sustentáveis. [...] -Buscar a redução sustentada das taxas de desmatamento, em sua média quadrienal, em todos os biomas brasileiros, até que se atinja o desmatamento ilegal zero. [...] -Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal no Brasil, até 2015. [...] -Procurar identificar os impactos ambientais decorrentes da mudança do clima e fomentar o desenvolvimento de pesquisas científicas para que se possa traçar uma estratégia que minimize os custos sócio-econômicos de adaptação do País.” (COMITÊ INTERMINISTERIAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA, 2008, pp. 7-11)

O Plano prioriza ações de cunho técnico e científico que valorizem as florestas, além

de conscientização coletiva sobre os problemas ambientais e ações específicas para cada

região do país. Esse plano visa sua implementação em fases, sendo a primeira fase

Page 75: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

74

operacional e as outras marcadas por mecanismos de avaliação de desempenho e resultados.

Assim, visa ser um plano dinâmico, capaz de se adaptar às mudanças e aos novos problemas

que surgirem.

Além disso, o plano está estruturado e dividido por seções que tratam sobre diversas

oportunidades de mitigação; os impactos, vulnerabilidades e a capacidade de adaptação às

mudanças do clima; a pesquisa e o desenvolvimento técnico-científico sobre a temática;

capacitação técnica e educação ambiental para a divulgação de uma nova consciência

ambiental coletiva; e por fim, instrumentos de implementação, acompanhamento e avaliação

das ações propostas. A atual versão, até a conclusão dessa pesquisa, ainda está em vias de

análise e consulta pública e recebe constantes críticas de movimentos e organizações

ambientalistas sobre suas metas e propostas, como o Greenpeace. Algumas dessas

organizações argumentam que o foco do plano não está voltado para o grande problema do

Brasil, o desmatamento, principalmente, da floresta amazônica.

4.3.2. Os Stakeholders do tipo 2

Os stakeholders do segundo tipo, analisados neste trabalho são aqueles cujos

interesses mais diretos são relativos ao desmatamento da Amazônia, como já explicitado

anteriormente. A partir dos dados do IBGE e outros dados apresentados ao longo da pesquisa,

é visível que agricultores, pecuaristas e madeireiros são os grandes responsáveis pelo

desmatamento da Amazônia Legal. Isso também pode ser percebido em lista das propriedades

rurais embargadas pelo governo, disponível para consulta pública no site do IBAMA35. Logo,

será analisado o posicionamento dos maiores representantes de cada um desses responsáveis

em relação às políticas de contenção e mitigação do desmatamento da Amazônia Legal, a

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e as organizações da classe madeireira no

Brasil (federal e regional), ABIMCI e AIMEX.

35 http://siscom.ibama.gov.br/geo_sicafi/.

Page 76: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

75

4.3.2.1. Agropecuária e Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

Um dos mecanismos utilizados para delinear os interesses da comunidade

agropecuária em geral foi um novo tipo de comunicação que a Confederação disponibilizou

em seu site na internet, a agenda legislativa semanal do Congresso Nacional. Através dessa

agenda pode-se saber os assuntos de cada reunião na qual a CNA participa no âmbito do

Congresso Nacional, se tem interesse na agenda do Legislativo e qual é esse interesse.

Contudo, apenas as reuniões das semanas de 1º a 4 de setembro e de 9 a 11 de setembro estão

disponíveis no site. Foi feito um levantamento das reuniões sobre diversos temas: questões

indígenas, políticas fundiárias, infra-estrutura, crédito rural, entre outros. Tem-se clareza da

limitação das informações, tanto pelo fato de serem restritas aos períodos assinalados quanto

por serem publicadas pelos próprios interessados, o que pode comprometer em alguma

medida o grau de confiabilidade da informação. Contudo, optou-se por considerá-las, apesar

desses elementos, em função das dificuldades pontuais de se localizar informações

complementares. Além disso, houve limitações na adoção de outras estratégias para coleta de

informações, como por exemplo, a realização de entrevistas.

Os gráficos abaixo demonstram a porcentagem da participação da CNA por período

nas reuniões legislativas federais por temática. O gráfico 13 demonstra que 18% das reuniões

nas quais a CNA participou e tinha um parecer sobre suas propostas eram sobre meio

ambiente. O gráfico 14 demonstra que na segunda semana essa fatia cresceu para 27%. Na

análise do período (duas semanas, apenas) integralmente no gráfico 15, 22% das reuniões que

a CNA participou e tinha um parecer eram sobre Meio Ambiente, o que nos atenta para a

relevância da temática para o setor (agricultura e pecuária). Dentre a temática do meio

ambiente se encontram diversos outros temas além do problema do desmatamento e das

mudanças climáticas, como questões de venda de terras públicas, questões energéticas e sobre

a fauna e flora silvestres, que representam apenas três reuniões das 17 reuniões contabilizadas

(17,64% do total de reuniões sobre o meio ambiente).

Page 77: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

76

Gráfico 13 – Distribuição da Participação da CNA nas Reuniões Legislativas Federais por Temáticas - 1º a 4 de Setembro de 2008 (em %) Fonte: Formulação própria (adaptação dados da CNA).

Gráfico 14 - Distribuição da Participação da CNA nas Reuniões Legislativas Federais por Temáticas - 9 a 11 de Setembro de 2008 (em %) Fonte: Formulação própria (adaptação dados CNA).

Page 78: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

77

Gráfico 15 – Distribuição por Área Temática da Participação Semanal da CNA nas Reuniões Legislativas – 1º a 11 de Setembro de 2008. (em %) Fonte: Formulação própria (adaptação dados CNA).

De acordo com o gráfico 16, desses 22% ou dezessete reuniões no congresso federal,

que abordavam a temática, em sete reuniões (41%) a CNA tinha um parecer favorável, quatro

reuniões (24%) tinha parecer contrário, cinco reuniões (29%) de parecer não especificado e

apenas uma reunião (6%) ficou pendente de parecer. Entre as reuniões do primeiro período

analisado (1º a 4 de setembro de 2008) cinco tinham parecer favorável da CNA. Dessas, duas

resultaram em não deliberação (sem resolução) e três em retirada de pauta. Três tinham

parecer contrário, duas com resultado não deliberado e uma aprovada. Das outras quatro

reuniões, três não tinham parecer especificado e uma estava pendente de parecer, das três

primeiras, duas foram aprovados e uma não deliberada. A reunião pendente de parecer foi não

deliberada.

Page 79: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

78

Gráfico 16 – Parecer da CNA nas Reuniões Legislativas sobre Meio Ambiente e Amazônia Fonte: Formulação própria (adaptação dados CNA).

A participação da CNA no campo normativo, mais especificamente no Congresso

Nacional pode ser caracterizada por

“- Participação e acompanhamento de audiências públicas e reuniões, na Câmara dos Deputados e Senado Federal relativas aos projetos de lei, na área ambiental, recursos hídricos, florestal, mudanças climáticas e outras de interesse do setor agropecuário; - Elaboração de pareceres/posicionamentos no SAAP – Sistema de Acompanhamento de Atividades Parlamentares, sobre os projetos de lei.” (DE BRITO, 2008, p.5)

Em Março de 2008, em apresentação da Superintendência Técnica da CNA, o SAAP

possuía 1879 proposições, dessas, 904 se encontravam em processo de tramitação, sendo que

a CNA era contrária a 372 dessas e favorável a 353. Das proposições em tramitação, 154 são

sobre Meio Ambiente, cerca de 17% (vide gráfico 17 abaixo). Dessas 154 proposições,

“60 Convergentes (39%): normas e mecanismos de preservação ambiental adequados para a realidade do campo (factível); 75 Divergentes (49%): inadequação de normas e preocupações ambientais com a realidade do campo (não factível); 19 com ressalvas (12%): com alterações, podem se tornar favoráveis ao setor agropecuário.” (CNA, 2008(c), grifo no original)

Page 80: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

79

Gráfico 17 – Proposições em Tramitação no Congresso Nacional Fonte: CNA, 2008(c).

Além do congresso nacional, a CNA também participa de outras instituições no campo

normativo, Conselhos e Comissões Nacionais sobre o Meio Ambiente: CONAMA, CNRH,

CONABIO e CONACER. No CONAMA, a CNA está presente em 8 Câmaras Técnicas das

11 existentes, e ainda, é Conselheira Titular em duas delas: CT da Biodiversidade, Fauna e

Recursos Pesqueiros; e CT de Assuntos Jurídicos. Além disso, participa ativamente de 7

grupos de trabalho dos 13 que acompanha no CONAMA. No CNRH participa de 5 Câmaras

Técnicas.

A análise da participação dos representantes da agricultura e pecuária do Brasil na

formulação de políticas ambientais ainda é inicial e apresenta poucos dados, sendo

impossibilitada uma conclusão mais concreta. Contudo, esses dados permitem dizer que

existe, sim, a participação desse grupo de interesse na formulação de políticas, seja através

das audiências públicas e convites a participação das reuniões, seja através dos congressistas

que são membros da CNA.

Dentre os interesses defendidos pela CNA está a reformulação do Código Florestal,

com a justificativa de que esse código tornou-se obsoleto para as necessidades atuais do país e

Page 81: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

80

que passou por diversas emendas e alterações, modificando conceitos e princípios

consolidados. Além disso, a CNA também reivindica uma remuneração para a conservação

ambiental e a flexibilização da aprovação das metodologias de comprovação por parte do

MCT do escopo dos projetos MDL, já que apenas projetos relacionados a biodigestores têm

sido aprovados.

Para além da representação da CNA no Congresso, existe um outro indicador que

robustece a hipótese de que proprietários rurais agem a favor do desmatamento. Como citado

anteriormente, o IBAMA lançou a ferramenta de consulta às áreas embargadas no país.

Somente no estado do Mato Grosso, 1223 propriedades rurais foram embargadas, dentre elas

algumas são propriedades de políticos brasileiros. O governador do estado do Mato Grosso,

Blairo Maggi, os deputados estaduais (MT) Ademir Brunetto e Dilceu Dal Bosco figuram

nessa lista. Esse último ainda é presidente da comissão do Meio Ambiente da Câmara

Estadual e vice-presidente da Assembléia Legislativa do estado do Mato Grosso. (DE BRITO,

2008)

Depois da disponibilização dessa ferramenta, o MMA lançou a lista dos 100 maiores

desmatadores do país, entre eles, no topo da lista, figurava o INCRA – Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária – cujo desmatamento ocorria em terras do governo ou de

assentamentos de pequenos proprietários coordenados pelo órgão36. Logo, fica claro o conflito

de interesses no âmbito do Congresso Nacional e instituições nacionais no sentido de

preservação da Amazônia Legal.

4.3.2.2. Madeireiras

Diferentemente da agricultura e pecuária, as madeireiras não possuem um órgão

federal que defina claramente seus interesses, objetivos e participação no executivo e/ou

legislativo brasileiro. Para fins dessa pesquisa serão utilizadas algumas informações colhidas

na ABIMCI e na AIMEX. A comunicação e as informações disponíveis para consulta pública

são escassas, mas se tentará fazer o melhor uso possível das informações disponíveis, no

36 Vale ressaltar, nesse caso, que os dados foram divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente e dois dias depois da divulgação o Ministro Carlos Minc veio a público afirmar que ocorrera equívocos na compilação dos dados. Esse fato pode demonstrar tanto a falta de coordenação entre órgãos do governo, como também a pressão interna à burocracia estatal no sentido ou de proteger interesses do próprio governo ou de proteger da visibilidade pública divergências internas no governo.

Page 82: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

81

sentido de delinear os interesses dessa classe em relação ao meio ambiente, especificamente à

Amazônia Legal.

Um informativo do setor produtivo Florestal do estado do Pará, a Folha da Mata, no

ano de 2006, informou sobre a descentralização da gestão das florestas públicas em

conseqüência da Lei nº 11.284/2006. O informativo discorria sobre as vantagens da

descentralização dos processos de concessão da gestão das florestas públicas estaduais e

municipais, antes eram geridos pelo governo federal. Esperava-se que essa nova lei agilizasse,

legalizasse e fornecesse transparência ao processo de concessão de exploração de áreas

públicas. A lei recebeu, em passagem pelo Senado, uma emenda sobre a necessidade de

aprovação prévia do congresso a pedidos de concessões que excedessem o limite de 2.500 ha.

Isso significa para o setor uma ferramenta que inviabilizaria concessões no sentido de ser um

processo burocrático complexo e incerto, já que a sustentabilidade dos projetos florestais têm

que cumprir períodos de 30 anos, necessitando maiores áreas para o manejo florestal

sustentável.

Apesar dos dados relativos à participação das madeireiras no processo legislativo do

Brasil não terem sido encontrados, o setor possui diversas organizações industriais capazes de

influenciar de uma maneira ou outra esse processo. A tentativa nessa pesquisa foi de delinear

os principais interesses de cada setor. Contudo, as informações disponíveis em relação a esse

setor não são bem definidas, atuais e organizadas como as obtidas sobre agricultura e

pecuária. Acredita-se que o setor madeireiro por si se preocupa com a rigidez da legislação

para o manejo florestal que é conseqüência das atividades madeireiras ilegais, mas não foram

encontrados indicadores bem construídos para afirmar a influência supracitada. Neste sentido,

considera-se que esta parte da pesquisa, por carecer de maiores informações, poderá ser mais

bem desenvolvida em outros trabalhos no futuro e que essa lacuna não compromete a validade

das hipóteses aqui discutidas.

4.3.2.3. ONGs “Verdes”

As ONGs “Verdes” ou ambientalistas não foram o foco dessa pesquisa, porém não é

possível falar de desmatamento da Amazônia sem identificar as principais preocupações

dessas organizações. Em função do grande número de organizações não-governamentais

atuando sobre a temática da Amazônia e do meio ambiente, observaram-se apenas grandes

Page 83: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

82

organizações não-governamentais: Greenpeace e Imazon. Os interesses explícitos por essas

organizações são relativos a suas ações quanto à preservação da Amazônia e mitigação do

desmatamento e a acesso a informações e dados relevantes sobre o tema.

O Greenpeace publicou em seu site um documento avaliando o recém-lançado Plano

Nacional sobre Mudança do Clima. Esse documento salienta diversos pontos considerados

como negativos pela organização, ressaltando que o plano não responde aos desafios atuais. E

ainda de acordo com a organização, o relatório de 2007 da Comissão Mista Especial para as

Mudanças Climáticas, o qual fazia 51 propostas concretas para o combate às mudanças

climáticas e que contou com a participação da sociedade civil e consultores técnicos, foi

ignorado pelos responsáveis pelo Plano supracitado. Esse plano foi colocado para consulta

pública, e qualquer membro da sociedade civil pode fazer comentários sobre seus itens. A

organização, que fez um documento expressando suas opiniões sobre os pontos do plano,

manifestou que iria participar desse processo de consulta pública, sendo este um mecanismo

de influenciar a formulação final do mesmo.

Por outro lado, tem-se o Imazon, o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da

Amazônia, que também se preocupa com o avanço do desmatamento e fronteira agrícola.

Contudo, dá um novo foco a esse problema, relacionando-o aos problemas de

desenvolvimento humano da Amazônia, como assassinatos rurais e trabalho escravo. Entre os

programas propostos pelo Instituto, encontra-se o de política e economia.

“O objetivo deste programa é avaliar e subsidiar políticas públicas florestais a partir de uma análise minuciosa da evolução, da dinâmica e das tendências socioeconômicas do setor florestal na Amazônia. O programa também se propõe a investigar e propor instrumentos econômicos de apoio à adoção do manejo florestal e de compensação pelos serviços ambientais providos pela floresta, incluindo o mercado de produtos florestais.” (IMAZON, 2008)

Logo, as diversas ações do instituto levam a acreditar que existe uma influência direta

deste em relação às políticas para o meio ambiente, em destaque às florestais. Apesar de não

ter sido encontrado o relato dessa participação em documentos oficiais, o Instituto também é

um pólo de produção científica sobre a Amazônia Legal, proporcionando aos órgãos oficiais

uma alternativa e acesso viável às informações produzidas por este instituto.

Para além dos interesses de cada organização não-governamental apresentada aqui,

sabe-se que existem mecanismos para a participação direta dessas e de outras organizações

ambientais por meio de licitações de financiamento de projetos ambientais do Ministério do

Meio Ambiente. Esse tipo de participação não pode ser considerada como uma participação

Page 84: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

83

direta ou indireta na formulação de políticas para o desmatamento, mas possibilita a sociedade

civil colocar em prática projetos elaborados por ela, implementando políticas públicas de

maneira indireta (ou seja, feita por um órgão não-governamental). Logo, pode-se considerar

que essas organizações de uma maneira ou de outra, apesar dos poucos indicadores,

participam publicamente em relação às políticas ambientais.

Feitas todas as considerações ao longo desse trabalho, partiremos para a próxima seção

onde faremos considerações finais sobre o problema apresentado aqui, retomando dados e

embasando os argumentos.

Page 85: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

84

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa tinha como objetivo maior delinear um cenário de implementação das

decisões do Protocolo de Quioto e do Regime de Mudanças Climáticas e de posicionamento

político do Brasil nesse cenário. Para isso, nos valemos da teoria dos jogos de dois níveis do

Putnam, onde as decisões tomadas no Nível I devem ser implementadas no Nível II, e o

sucesso ou não da implementação dessas decisões afetaria a posição do ator nas negociações

internacionais. A figura abaixo resume o rumo tomado pela pesquisa dentro da nossa hipótese

de trabalho e será explicada nos passos a seguir.

Page 86: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

85

KEY STAKEHOLDERS

TIPO 1 TIPO 2

Políticas de contenção e mitigação do desmatamento da Amazônia pouco eficientes + Difícil fiscalização e monitoramento.

Aumento da emissão de CO2 proveniente do desmatamento contínuo.

Discussões sobre o Segundo Período de Compromisso do Protocolo de Quioto + Repercussão do 4º Relatório do IPCC, principalmente sobre as emissões dos países em desenvolvimento.

Possibilidade de definição de compromissos quantificados aos países em desenvolvimento, crescentes emissores (incluindo o Brasil) + Perda da credibilidade de negociador internacional devido aos problemas domésticos.

+

=

Mudança na visão do Brasil sobre problemas ambientais.

Posição de diálogo aberto e líder dos países menos desenvolvidos.

Implementação das decisões tomadas Nível I no Nível II

1. Mudança do modelo de crescimento econômico 2. 1981: Política Nacional do Meio Ambiente 3. Mudança do governo em 1990 4. Realização UNCED-92 (Rio-92) 5. Alinhamento UE, Japão e EUA em diversas questões. 6. Preservação da filiação G77. 7. Assinatura e ratificação UNFCCC e Protocolo de Quioto. 8. Propostas Brasileiras

1. Liderança MCT nas COPs 2. Divergência MMA e Min. Agricultura 3. Fundos Setoriais 4. Demissão Ministra Marina da Silva

1. Participação constante da CNA nas reuniões do congresso 2. Representação da CNA no Congresso = agricultores influenciando no congresso 3. Interesses das madeireiras

Figura 8 – Fluxograma resumo da Pesquisa

Fonte: Formulação própria.

Page 87: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

86

Delineamos como as decisões foram tomadas no nível I por parte do Brasil.

Descrevemos os processos de negociações próprios dos países ao se constatar o problema das

mudanças climáticas e a tentativa de regular uma das causas desse problema, as emissões de

GEE pelo ser humano. Essa negociação segue um modelo do Chicken estendido a n

jogadores. Esse jogo, como apresentado anteriormente, coloca que a cooperação universal é

preferida à deserção universal, mas além disso, a deserção unilateral é preferida à cooperação

universal uma vez que um número X de atores cooperarem e arcarem com os custos da

cooperação.

É nesse cenário que as negociações internacionais sobre as mudanças climáticas se

dão. Apesar do Brasil não possuir metas de redução de emissões e não poder ser alocado

como cooperador e/ou desertor, é mostrado na pesquisa que a atuação do Brasil tem sido

cooperativa ao longo dos anos, no sentido de concordar com o objetivo maior que é de mitigar

as mudanças climáticas. O país, que segue a linha de negociação a partir de alguns princípios

básicos (assegurar o desenvolvimento dos países menos desenvolvidos, etc), tem participado

ativamente das reuniões, o que mostra um comprometimento com a causa.

Contudo, o problema pode ser percebido no ambiente doméstico, nível II, onde as

decisões tomadas no âmbito do Regime de Mudanças Climáticas deveriam ser

implementadas. Para o objetivo maior, o Brasil possui um arcabouço legislativo que estaria de

acordo com a mitigação das mudanças climáticas. Entretanto, o problema se dá justamente no

processo de implementação dessa legislação, no qual falta fiscalização, monitoramento e

controle.

Logo, a causa maior das emissões de GEE brasileiras, o desmatamento da Amazônia

Legal, possui um arcabouço legal que dá conta do problema, mas sua implementação é fraca.

O motivo dessa implementação ser fraca é a pressão dos stakeholders tanto no processo de

formulação de políticas como no de implementação. Para tanto, mostramos como os

stakeholders dentro da tipologia apresentada se porta frente ao problema das mudanças

climáticas e do aparato legislativo e executivo.

Os problemas domésticos são causados tanto pelo governo quanto pelos agentes

privados e não governamentais. O governo se mostra desarticulado em relação aos interesses

e decisões face ao problema das mudanças climáticas. Tentamos mostrar esse ambiente de

desarticulação, porém a disponibilidade dos dados relativos aos interesses dos atores

governamentais é difusa e complicada. Essa mesma limitação do trabalho se faz um indicador

de falta de coordenação entre os agentes.

Page 88: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

87

Para além dos fatos apresentados aqui, como a demissão da ministra Marina da Silva e

a desarticulação entre os ministérios, tem-se o fato de que o legislativo (representado pela

Comissão Mista Especial para as Mudanças Climáticas) vê a necessidade de uma maior

coordenação entre os atores governamentais afim de resolver o problema proposto, contenção

e mitigação do desmatamento, em sua grande maioria.

Além disso, a posição do Brasil no cenário internacional (nível I), antes delineada é

homogênea e unificada uma vez que o Ministério da Ciência e Tecnologia toma as decisões

cabíveis sobre a temática no ambiente internacional. Ou seja, apenas a opinião de um membro

do executivo brasileiro que, apesar de ter um órgão com o objetivo de debater e uniformizar

as ações frente a esse problema, a Comissão Interministerial para a Mudança do Clima, é o

formulador oficial das políticas internacionais do clima.

Esses tantos fatos nos levam à constatação que as políticas para a contenção e

mitigação do desmatamento da Amazônia Legal são fracas. Aliado a isso, tem-se que há uma

tendência de crescimento nas emissões de GEE, tanto pelo Brasil quanto pelo resto do mundo

e que, as discussões sobre o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto estão

ocorrendo. Ou seja, baseado nos cenários alarmantes futuros, o mundo tem cada vez mais

percebido a necessidade de esforços conjuntos para mitigar a mudança do clima, sem

discriminação de países.

Os dados demonstrados durante toda a pesquisa e os fatos narrados, para nós,

demonstra um cenário complicado para o Brasil, já que as regras do jogo internacional podem

ser mudadas e os países, que atualmente não possuem compromissos quantificados de redução

de emissões, podem vir a ter que se comprometer. É nesse sentido que, para além dos fatos e

indicadores, pensamos que num futuro próximo, o Brasil, devido a problemas internos, pode

vir a ter que se comprometer e essas metas seriam um fator complicador, tanto pra economia

quanto para a política nacionais, levando ao país ter uma posição vulnerável nas negociações

para o clima.

A pesquisa se baseou em fatos empíricos e dados oficiais com o objetivo de delinear

um cenário doméstico problemático, que afetaria por sua vez o posicionamento do país no

cenário internacional. No entanto, como dito anteriormente, ao longo da pesquisa percebeu-se

diversas dificuldades no sentido de colher informações sobre o ambiente doméstico e o

internacional.

Os dados aqui apresentados sobre o ambiente doméstico são iniciais e tentam

demonstrar um ambiente doméstico problemático no sentido da implementação das decisões

tomadas no âmbito do Protocolo de Quioto dentro do país. Admite-se que essas informações

Page 89: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

88

não são suficientes para delinear o ambiente doméstico, uma vez que se trata de informações

sobre interesses de tomadores de decisão e de grupos de pressão fora do governo. Mas, para

além dessa limitação, tentamos utilizar as informações que tivemos acesso para esse fim.

Para além do ambiente doméstico, o objetivo inicial era avaliar a posição do Brasil no

atual cenário de negociações do Protocolo de Quioto e Regime de Mudanças Climáticas.

Assume-se, porém, que a disponibilidade de dados tão recentes e capazes de demonstrar um

cenário internacional desfavorável para o país é pouca e quase nula. Admite-se as lacunas

apresentadas acima e é sugerida uma continuação para essa pesquisa num momento posterior,

quando os dados sobre esse período estiverem mais consolidados afim de fazer assunções

mais precisas e afirmações embasadas sobre a vulnerabilidade do Brasil nesse segundo

período de compromisso.

Page 90: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

89

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Edilson. REDAÇÃO DO 24HORASNEWS. Ibama embarga mais de 1.200 propriedades em MT por atividade ilegal. 04 de Abril de 2008. Disponível em: <http://www.24horasnews.com.br/index.php?mat=250402>. Acesso em: 27 out. 2008.

ARAUJO, Maria Silvia M. de. Relatório de análise do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo COPPE, UFRJ. 2006. Disponível em: <http://www.ivig.coppe.ufrj.br/doc/r1parte2d.pdf>. Acesso em: 30 maio 2007. BANCO MUNDIAL. Stakeholder Analysis. World Bank: Washington DC. 2007(a). Disponível:<http://www1.worldbank.org/publicsector/anticorrupt/PoliticalEconomy/stakeholderanalysis.htm> Acesso em: 12 out. 2007. BANCO MUNDIAL. Stakeholder Analysis Method. World Bank: Washington DC. 2007(b).Disponível:<http://lnweb18.worldbank.org/ESSD/sdvext.nsf/PrintFriendly/5D6F8994382CE31D85256D4E0059FE73?Opendocument> Acesso em: 12 out. 2007. BEIERLE, Thomas C. The Quality of Stakeholder-Based Decisions. Risk Analysis, Vol.22, n°4, 2002, pp. 739-749. DE BRITO, Rodrigo Justus. CNA. Meio Ambiente. Março 2008. Apresentação de powerpoint. 2008. Disponível em: <http://www.cna.org.br/cna/publicacao/down_anexo.wsp?tmp.arquivo=E15_19204PALESTRA_Curitiba-final-REVISADA.pdf>. Acesso em: 27 out. 2008.

CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL. Agenda Legislativa Semanal. Período de 2 a 4 de Setembro de 2008. Apresentação de powerpoint. 2008(a). Disponível em: <http://www.cna.org.br/site/down_anexo.php?q=E22_18107resultados0109_0509.pdf>. Acesso em: 27 out. 2008.

CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL. Agenda Legislativa Semanal. Senado Federal. Período de 9 a 11 de Setembro de 2008. Apresentação de powerpoint. 2008(b). Disponível em: <http://www.cna.org.br/site/down_anexo.php?q=E22_181070809_1209.pdf>. Acesso em: 27 out. 2008. CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL. SUPERINTENDÊNCIA TÉCNICA. Principais Atuações da Área Técnica da CNA. Março

Page 91: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

90

2008. Apresentação de powerpoint. 2008(c). Disponível em: <http://www.cna.org.br/cna/publicacao/down_anexo.wsp?tmp.arquivo=E15_19204ParanaCNA.pdf> Acesso em: 27 out. 2008. CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL. SUPERINTENDÊNCIA TÉCNICA. Balanço e Perspectivas da Agropecuária Brasileira - Meio Ambiente 2007 e 2008. Apresentação de powerpoint. 2008(d). http://www.cna.org.br/cna/publicacao/down_anexo.wsp?tmp.arquivo=E15_18458Apresentação. Balanço e Perspectivas 2007-08.MeioAmbiente(CNA).pdf CONAMA – MMA. Relatório Final – Grupo de Trabalho Impactos das Mudanças Climáticas no Brasil e o Papel do CONAMA na Adoção de Medidas de Adaptação. Brasília: 07 de Abril 2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/B92F43DF/RelatorioGTClimaEcaminhadoCT070408.pdf>. Acesso em: 30 set. 2008. CONGRESSO NACIONAL. J.4 – Ato Conjunto n° 1, de 2007. Brasília: Fev. 2007(a) Disponível:<http://www.senado.gov.br/Relatorios_SGM/RelPresi/2007/RelPresi2007_1028a1032.pdf>. Acesso em: 12 abril 2008. CONGRESSO NACIONAL. Comissão Mista Especial sobre Mudanças Climáticas – Relatório Parcial da Comissão Mista Especial sobre Mudanças Climáticas. Brasília: Maio 2007(b). Disponível em: <http://www.rollemberg.com.br/mudancas-climaticas/relatorio-parcial-da-comissao-mista-sobre-mudancas-climaticas/Relatorio%20parcial%20.doc/view >. Acesso em: 12 abril 2008. CONGRESSO NACIONAL. Comissão Mista Especial sobre Mudanças Climáticas – Relatório das atividades de 2007. Brasília: Dez. 2007(c) Disponível:<http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/98732> Acesso em: 12 abril 2008. CORDEIRO, Jorge. Os pontos fracos do Plano Nacional sobre Mudanças do Clima. 25 set. 2008. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/raw/content/brasil/documentos/clima/os-pontos-fracos-do-plano-naci.pdf>. Acesso em: 27 out. 2008. DIAS-FILHO, Moacyr Bernardino; DE ANDRADE, Carlos Maurício Soares. Pastagens no Trópico Úmido. EMBRAPA. Belém, PA: Novembro de 2006. Disponível em: <http://www.diasfilho.com.br/Pastagens_no_tropico_umido.pdf> Acesso em: 27 out. 2008 DUTSCHKE, Michael. O Brasil como ator no processo da política climática. Cadernos do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. São Paulo: outubro de 2000.

Page 92: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

91

Disponível em: <http://home.wtal.de/dutschke/Publications/O_Brasil_como_ator.PDF> Acesso em: 27 abril 2008. FRANCO, Bernardo Mello. Desmatamento é recorde após três anos de queda. O Globo In: ABIN – Notícias. 24 jan. 2008. Disponível em: <http://www.abin.gov.br/modules/articles/article.php?id=1838 >. Acesso em: 12 abril 2008. FÓRUM BRASILEIRO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Proposta do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas para o Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas. Julho 2007. Disponível em: <http://www.forumclima.org.br/arquivos/Proposta%20do%20FBMC%20para%20o%20Plano%20de%20A%C3%A7%C3%A3o%20Nacional...(3).pdf>.Acesso em: 12 abril 2008. GOLDEMBERG, José; COELHO, Suani T.; LUCON, Oswaldo. How to adequate policies can push renewables. Energy Policy, 32, 2004, pgs. 1141-1146. GREENPEACE.Plano de mudanças climáticas do governo é fraco. 25 set. 2008. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/brasil/greenpeace-brasil-clima/noticias/plano-de-mudan-as-climaticas-d>. Acesso em: 27 out. 2008. HERMANN, Jennifer. Reformas, Endividamento Externo e o “Milagre” Econômico (1964-1973). In: Giambiagi, Fábio [et al]. Economia Brasileira Contemporânea (1945-2000). Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. IBGE, Mapa Amazônia Legal – Fronteira Agrícola. 2005. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/tematicos/integrado_zee_amazonia_legal/Amazonia_Fronteira_Agricola.pdf> Acesso em: 27 out. 2008. IBGE. Mapa Amazônia Legal – Fronteira Pecuária e Madeira. 2006. Disponível em : <ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/tematicos/integrado_zee_amazonia_legal/Amazonia_Pecuaria_Madeira.pdf> Acesso em: 27 out. 2008. IBGE. Comentários. Produção Agrícola Municipal – Cerais, Leguminosas e Oleaginosas. 2007. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pamclo/2007/comentario.pdf>. Acesso em: 27 out. 2008. IMAZON. VERÍSSIMO, Adalberto (coord.). Programas > Política e Economia. 2008. Disponível em: <http://www.imazon.org.br/novo2008/programas_ler.php?idpub=17>. Acesso em: 27 out. 2008.

Page 93: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

92

INPE. Estimativa de desmatamento da Amazônia no período 2006-2007. Belém. 06 de dez. 2006. Disponível em: <www.inpe.br/noticias/arquivos/prodes_apresentacao_dez_2007.pps> Acesso em: 16 nov. 2008. IPCC. Contribuição do Grupo de Trabalho I ao Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima. Sumário para os formuladores de política. Paris: Fevereiro, 2007. 2007(a). Disponível em: <http://www.ipcc.ch/pdf/reports-nonUN-translations/portuguese/ar4-wg1-spm.pdf> Acesso em: 27 out. 2008. IPCC. Climate Change 2007: Synthesis Report. XXVII Plenário do IPCC. Valença, Espanha. 12-17 novembro. 2007.(b) Disponível em: <http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/syr/ar4_syr.pdf>. Acesso em: 12 abril 2008. KEOHANE, Robert O.; NYE, Joseph S. Power and interdependence. 3rd ed. New York: Longman, 2001.

KLABIN, Israel. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e as Oportunidades Brasileiras. Meio Ambiente e Desenvolvimento, Parcerias Estratégicas, n°9, Out. 2000. Disponível em: <http://ftp.mct.gov.br/CEE/revista/Parcerias9/05revist9klabin.PDF>. Acesso em: 30 maio 2007.

LENTINI, Marco; VERÍSSIMO, Adalberto; PEREIRA, Denys. A expansão Madeireira na Amazônia. O Estado da Amazônia. IMAZON, Maio de 2005. Disponível em: <http://www.imazon.org.br/upload/ea_2p.pdf> Acesso em: 27 out. 2008. LUTERBACHER, Urs; SPRINZ, Detlef F (org.). International Relations and Global Climate Change. Cambridge, Massachussets: The MIT Press, 2001.

MACHADO F., Haroldo. Brazilian efforts towards reducing greenhouse gas emission in the transport sector and in the energy intensive industry. Apresentado no “Workshop on Good Practices in Policies and Measures”, 8-10 October 2001, Copenhagen. Disponível:<http://unfccc.int/files/meetings/workshops/other_meetings/application/pdf/filho.pdf>. Acesso em: 30 maio 2007. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Quadros da Agroenergia no Brasil e no Mundo. 2008. Apresentação de powerpoint. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/PORTAL_MAPA/GAB.pdf>. Acesso em: 27 out. 2008.

Page 94: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

93

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA. Primeiro Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa – Relatórios de referência. 2006. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/3881.html>. Acesso em: 06 jun. 2007. MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA. Status atual das atividades de projeto no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil e no mundo. Maio de 2007. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/upd_blob/0014/14996.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2007. MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA. Balanço Energético Nacional 2006 – Ano base 2005. Disponível em: <http://www.ben.epe.gov.br/downloads/BEN2006_Cap01.pdf> Acesso em: 30 maio 2007. MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA. Matrizes Energéticas – Brasil. 2008. Disponível em: <http://www.mme.gov.br/download.do?attachmentId=15546&download>. Acesso em: 27 out. 2008. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Lista dos 100 maiores desmatadores de floresta do país. 29 de Set. 2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/imprensa/_arquivos/96_29092008045336.pdf>. Acesso em: 27 out. 2008. MONTGOMERY, Richard. Resources in Social Development Practice Volume 3: Short Guidance note on How to do Stakeholder Analysis of Aid Projects and Programmes. Swansea: CDS, Março 1996. Disponível em: <http://www.swan.ac.uk/cds/devres/pubs/rsdp3.htm> Acesso em: 12 out. 2007. NAE. NÚCLEO DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Cadernos NAE – Processos Estratégicos de longo prazo. Mudança do Clima. n°3. Brasília: Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, 2005. ORENSTEIN, Luiz. A estratégia da ação coletiva. Rio de Janeiro: Revan: UCAM, IUPERJ, 1998. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. LEI Nº4.771, DE SETEMBRO DE 1965. Brasília:1965. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4771.htm> Acesso em: 08 out. 2008.

Page 95: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

94

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. CONSITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. CAPÍTULO VI. Brasília:1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 08 out. 2008. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. LEI Nº9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000. Brasília:2000(a) Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm> Acesso em: 08 out. 2008. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. LEI No 10.165, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2000. Brasília:2000(b). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10165.htm>. Acesso em:08 out. 2008. PRESIDÊNCIA DE REPÚBLICA. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Medida Provisória nº 2.166-67. Brasília:2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2166-67.htm#art1> Acesso em: 08 out. 2008. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. LEI Nº 11.284, DE 2 DE MARÇO DE 2006. Brasília:2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11284.htm>. Acesso em: 08 out. 2008. PUTNAM, Robert D. Diplomacy and domestic politics: the logic of two-level games. International Organization, summer 1988, v.42, n.3, MIT Press. SENADO FEDERAL. Subsecretaria de Informações. LEI Nº5.106, DE 2 DE SETEMBRO DE 1966. Brasília:1966. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=116684>.Acesso em: 08out. 2008 DE SIQUEIRA, Otávio João W.; STEINMETZ, Sílvio; DE SALLES, Luiz Antônio Benincá; FERNANDES, José Maurício. Efeitos Potenciais das Mudanças Climáticas na Agricultura. In: Mudanças Climáticas Globais e a Agropecuária Brasileira. Org.: Magda Aparecida de Lima, Oswaldo Machado Rodrigues Cabral, José Domingos Gonzalez Miguez – Jaguariúna, SP: EMBRAPA Meio Ambiente, 2001. SKLO, Alexandre; SCHAEFFER, Roberto; SCHULLER, Márcio E.; CHANDLER, William. Brazilian energy policies side-effects on CO2 emissions reduction. Energy Policy 33 (2005), pg. 349-364.

Page 96: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

95

UNEP. The Greenhouse Effect. (picture). 2002. Disponível em: <http://maps.grida.no/go/graphic/greenhouse-effect>. Acesso em: 27 out. 2008. UNFCCC. Text of the United Nations Framework Convention on Climate Change. Disponível em: <http://unfccc.int/essential_background/convention/background/items/1349.php> Acesso em: 30 maio 2007. UNFCCC. Text of the Kyoto Protocol. Disponível em: <http://unfccc.int/resource/docs/convkp/kpeng.html> Acesso em: 30 maio 2007. VARGAS, Everton Vieira. A Mudança do Clima na Perspectiva do Brasil. Interesse Nacional. Abril/Junho 2008.

VIOLA, Eduardo. A Globalização da política ambiental no Brasil, 1990-1998. In: O agronegócio do Mercosul e sua Inserção na Economia Mundial, 1999, Foz do Iguaçu. 37° Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Curitiba : Universidade Federal de Paraná, 1999. p. 83-97. Disponível em: < http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/lasa98/Viola.pdf>. Acesso em: 30 maio 2007. VIOLA, Eduardo. O Regime Internacional de Mudança Climática e o Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, V.17, n°50, 2002. VIOLA, Eduardo.The international regime on climate change and Brazil. Revista brasileira de Ciências Sociais, Out. 2002, vol.17, no.50, p.25-46. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S010269092002000300003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt> Acesso em: 30 maio 2007. VIOLA, Eduardo. Brazil in the context of Global Governance Politics and Climate Change, 1989-2003. Ambiente & Sociedade – Vol. VII, n°1 jan/jun. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/asoc/v7n1/23535.pdf> Acesso em: 30 maio 2007.

Page 97: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

96

ANEXOS

ANEXO 1: Quadro 1 – Linha do Tempo sobre as discussões das Mudanças Climáticas Globais

Ano/Local Nome Escopo Organização 1979/ Genebra, Suíça

Primeira Conferência

Mundial sobre a Mudança Climática

Alertar a comunidade internacional para entender as mudanças climáticas globais, os sistemas climáticos e a mitigação dos seus efeitos negativos. A conferência levou a criarem o IPCC, comunidade epistêmica que discute os efeitos e projeções das mudanças climáticas globais.

Organização Mundial de Metereologia – WMO

1988/ Genebra, Suíça

IPCC Foi criado com o objetivo de prover informações científicas sobre as mudanças climáticas independentes das organizações da ONU e dos governos nacionais. Ele deve formular, preparar e avaliar informações científicas sobre o tema, compilando em relatórios que analisariam todos os aspectos relevantes das mudanças do clima e seus impactos. Além disso, deve formular opções e estratégias reais para o problema das mudanças climáticas.

WMO e PNUMA

1990/ Genebra, Suíça

Segunda Conferência

Mundial sobre a Mudança Climática

Reafirmar a Primeira Conferência Mundial e continuar a discutir sobre a preocupação com as mudanças climáticas globais. Essa conferência resultou no melhor entendimento desse problema, levando a criarem a UNFCCC, em 1992.

WMO

1992/ Rio de Janeiro, Brasil

Convenção Quadro para as

Mudanças Climáticas das

Nações Unidas - UNFCCC

A UNCED-92 visava discutir os novos padrões de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável, preocupando-se ainda mais com as questões ambientais. Resultou na criação da Agenda 21 e na criação da UNFCCC, que visa discutir o problema das mudanças climáticas globais em âmbito internacional.

PNUMA

1995/ Berlim, Alemanha

COP1 O objetivo da COP 1 foi tentar estabelecer compromissos legais de redução de emissões de GEE.

PNUMA

1996/ Genebra, Suíça

COP2 A tentativa de estabelecimento de metas legais de redução de emissões a níveis de 1990 falhou durante a COP1 e essa reunião, já que UE, EUA e vários países desenvolvidos se opuseram aos componentes da tentativa de declaração.

PNUMA

1997/ Quioto, Japão

COP3 Depois das diversas dificuldades de negociação de metas, foi estabelecido o Protocolo de Quioto, que norteou as próximas COPs com discussões sobre seu modo de ação e compromissos estabelecidos. O Protocolo só entrou em vigor em fevereiro de 2005, estabelecendo o primeiro período de compromisso de reduções (2008 a 2012).

PNUMA

1998/ Bueno Aires, Argentina

COP4 Durante essa reunião foram discutidos os aspectos operacionais do Protocolo de Quioto para que esse entrasse em vigor, contudo não conseguiram concluir a discussão de todos os mecanismos.

PNUMA

1999/ Bonn, Alemanha

COP5 Durante a COP5 foram adotadas 32 pré-decisões e conclusões prévias, finalizando os trabalhos antes do previsto. Isso fez com que aumentasse a possibilidade do protocolo entrar em vigor em 2002.

PNUMA

2000/ Haia, Holanda

COP6 Durante essa reunião as negociações falharam, principalmente por causa do conflito entre UE e EUA. Logo depois daquela reunião o presidente George W.

PNUMA

Page 98: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

97

Bush declarou que os EUA não ratificariam o Protocolo. 2001/ Bonn, Alemanha

COP6 Bis Por causa do fracasso da reunião anterior, o alto secretariado da UNFCCC convocou uma reunião exrtraordinária que aconteceu no início do ano de 2001 em Bonn, sendo uma reunião bem sucedida em termos de decisões sobre o Protocolo de Quioto e seus aspectos operacionais.

PNUMA

2001/ Marraqueche, Marrocos

COP7 Essa reunião marcou um processo de concordância dos países na maioria das questões discutidas.

PNUMA

2002/ Nova Delhi, Índia

COP8 Em Nova Delhi foi enfatizada a necessidade de iniciativas para conter e limitar as mudanças climáticas.

PNUMA

2003/ Milão, Itália

COP9 Aspectos técnicos, como metodologia de cálculo e aspectos quantitativos e qualitativos dos mecanismos de flexibilização.

PNUMA

2004/ Buenos Aires, Argentina

COP10 A reunião de Buenos Aires cunhou soluções técnicas ao Protocolo de Quioto, para que esse entrasse em vigor. Ainda durante essa reunião, iniciou-se o processo de discussão informal do período pós-2012.

PNUMA

2005/ Montreal, Canadá

COP11 Durante essa reunião ficou acordado que as discussões sobre as mudanças climáticas não deveriam acabar depois de 2012, mas que deveriam ser sobre o futuro a longo prazo, estabelecendo um Segundo período de compromisso entre as partes do Protocolo de Quioto, incluindo países em desenvolvimento, industrializados e EUA.

PNUMA

2006/ Nairobi, Quênia

COP12 Foi reafirmado a necessidade de iniciar o processo de negociação do Segundo período de compromisso.

PNUMA

2007/ Bali, Indonésia

COP13 Em Bali, após o 4º relatório do IPCC foram enfatizadas diversas temáticas para o Segundo período de compromisso: problema do desmatamento, mecanismos de adaptação e transferência de tecnologia e a necessidade de todos os países contribuírem para a estabilização dos níveis de carbono na atmosfera, reduzindo as emissões aos níveis de 1990. Estabeleceu-se, também, que até 2009, na Conferência de Copenhagen fossem estabelecidas as regras e metas do segundo período de compromisso a ser implementado a partir de 2013.

PNUMA

2008/ Genebra, Suíça

Terceira Conferência

Mundial sobre a Mudança Climática

A Terceira Conferência abordará questões de como a humanidade pode se beneficiar com mecanismos de adaptação e previsão das mudanças climáticas. Além disso, a Conferência ajudará a delimitar os compromissos do Segundo período do Protocolo de Quioto a ser discutido na COP15. Preocupando-se especialmente no desenvolvimento de maneira sustentável, garantindo energia, alimentação a todos.

WMO

2008/ Poznan, Polônia

COP14 Seguindo o Roadmap de Bali, a conferência deverá discutir efetivamente sobre o Segundo Período de Compromisso do Protocolo de Quioto, a ser apresentado na COP15, em Copenhagen.

PNUMA

2009/ Copenhagen, Dinamarca

COP15 Apresentação dos resultados das reuniões das partes, bem como as reuniões dos grupos de trabalho e reuniões preparatórias com o objetivo de definir o Segundo Período de Compromisso do Protocolo de Quioto, que deverá rever a distribuição das metas quantificadas de redução de emissões e o período para essa redução, a começar em 2013.

PNUMA

Fonte: Formulação própria

Page 99: TCC Marcela C P Reggiani - 2º-2008

98

ANEXO 2 - Quadro 2 – Os Mecanismos de Flexibilização do Protocolo de Quioto Mecanismo de Flexibilização Artigo do Protocolo de Quioto

Implementação Conjunta

Definido pelo Artigo 6 que versa sobre um mecanismo de transferência unidades de redução de emissões resultantes de projetos que visam a redução de emissões antropogênicas de GEE em qualquer setor da economia. Essa transferência só pode ocorrer entre membros do Anexo I do Protocolo e a aquisição dessas unidades de redução deve ser complementar a projetos domésticos de redução, não sendo a fonte primária da redução de emissões dos GEE.

Emissões Comerciáveis

O Artigo 17 define que as partes do Anexo B participarão da comercialização das unidades de redução de emissões.

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

Esse mecanismo é definido pelo Artigo 12 do Protocolo, com o objetivo de promover a transferência de tecnologia e promover o desenvolvimento sustentável em países menos desenvolvidos. Esse mecanismo prevê que projetos de redução de emissões de carbono serão implementados nos países em desenvolvimento (não-Anexo I) com o financiamento das partes do Anexo I. Assim, países desenvolvidos financiam projetos de desenvolvimento limpo e recebem parte das RCEs (Reduções Certificadas de Emissões) para usar como crédito em suas metas quantificadas.

Fonte: Formulação própria.