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CENTRO UNIVERSITÁRIO ANHANGUERA DE SANTO ANDRÉ Aline Andrade de Carvalho Claudiana Silva dos Santos Mariana Pereira Guimarães Vanessa Souza Luz PSICODRAMA NA ESCOLA: Uma análise socionômica do filme “Escritores da Liberdade”

TCC Psicodrama V13 06.12.2013

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CENTRO UNIVERSITRIO ANHANGUERA DE SANTO ANDR

Aline Andrade de CarvalhoClaudiana Silva dos SantosMariana Pereira GuimaresVanessa Souza Luz

PSICODRAMA NA ESCOLA:Uma anlise socionmica do filme Escritores da Liberdade

Santo Andr2013

CENTRO UNIVERSITRIO ANHANGUERA DE SANTO ANDR

Aline Andrade de CarvalhoClaudiana Silva dos SantosMariana Pereira GuimaresVanessa Sousa Luz

PSICODRAMA NA ESCOLA: Uma anlise socionmica do filme Escritores da Liberdade

Trabalho apresentado disciplina Trabalho de Concluso de Curso - TCC II, para obter o ttulo de Psiclogo na graduao em Psicologia, do Centro Universitrio Anhanguera de Santo Andr, sob a orientao do Prof Davison Salemme

SANTO ANDR2013Aline Andrade de CarvalhoClaudiana Silva dos SantosMariana Pereira GuimaresVanessa Sousa Luz

PSICODRAMA NA ESCOLA: Uma anlise socionmica do filme Escritores da Liberdade

Santo Andr, _____ de _________________ de ________.

_____________________________________________________Davison Willians SallemeProf Orientador Especialistaem Psicodrama nos focos psicoterpico e socio-educacional

_____________________________________________________Elaine Aparecida BacilieriProf Especialista em Psicossomtica

______________________________________________________Carolina Arajo de OliveiraProf Especialista em Psicopedagogia

Dedicamos este trabalho a todos os professores e alunos que, mesmo diante das inmeras adversidades enfrentadas durante o processo de escolarizao, conseguem se desenvolver mutuamente, exercendo sua espontaneidade criatividade adequao e protagonismo, promovendo a transformao dos homens.

Agradecemos a Deus em suas diversas expresses, pois temos religies diferentes. Aos nossos pais, irmos, irms, filhos e namorados, agradecemos por todo o apoio, sustentao e pacincia ao longo de nossa formao e elaborao do TCC. Agradecemos a todos os educadores formais e informais que atravessaram nosso caminho e contriburam de alguma maneira para nossa formao enquanto seres humanos. Especialmente agradecemos ao professor Davison que instigou e apoiou nossas criaes acadmicas, principalmente o TCC. A todos os nossos amigos de caminha e anteriores a ela, agradecemos por nos incentivarem e compreenderem em nossas diversas ausncias e momentos de estresse. E principalmente agrademos o nosso encontro neste grupo, que nos proporcionou vivenciar momentos inesquecveis de inspirao, alegria e desespero, sempre nos amparando e incentivando umas as outras.

Se, na verdade, no estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transform-lo; Se no possvel muda-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para no apenas falar de minha utopia, mas participar de prticas com ela coerentes. Paulo FreireRESUMO

O presente trabalho tem por objetivo realizar uma anlise do filme Escritores da Liberdade sob a viso da teoria socionmica, de Jacob Levy Moreno, buscando identificar e discutir as aes realizadas pela professora no filme que obtiveram xito para a melhoria do processo ensino/aprendizagem dos alunos em situao socioeconmica vulnervel. Baseando-se nas aes assertivas da professora e no levantamento bibliogrfico acerca da teoria de Moreno e da demanda educacional apontada pelo brasileiro Paulo Freire e pelo francs Celstin Freinet, autores de relevncia mundial na rea, propem-se uma reflexo sobre possveis alternativas de atuao e postura dentro de sala de aula que possam melhor atender tal problemtica, apontada pelos autores citados h mais de cinco dcadas, que debilita o processo escolar e influencia negativamente o contexto social. Para tal, prope-se um vis preventivo e social de insero da psicologia na discusso sobre a demanda educacional, postura cedida ao longo da histria da disciplina, por manter no princpio um olhar clnico e curativo, a outras reas de saber, como a Pedagogia. Verifica-se que Freire, Freinet e Moreno possuem um iderio bastante semelhante e permeado de idealismo no que concerne concepo de ser humano e do papel da educao, concedendo s concepes e conduta do professor em sala de aula uma importante influencia no desenvolvimento do processo educacional, conforme foi verificado no filme.

Palavras Chaves: Escritores da Liberdade, Educao, Teoria Socionmica, Psicodrama.

ABSTRACT

This paper aims to carry out an analysis of the film "Freedom Writers" in the view of socionomic theory by Jacob Levy Moreno, seeking to identify and discuss the actions taken by the teacher in the film which successfully improves the teaching / learning process for pupils in vulnerable socioeconomic status. Based on the assertive actions of the teacher, a bibliographical survey on the Morenos theory and an educational demand pointed by the Brazilian author Paulo Freire and the French author Clestin Freinet, we propose a reflection on possible actions and stances within the classroom that can better reach out this problem, pointed out by the authors for more than five decades, which weakens the schooling process and negatively influences the social context. Thus, we propose a social and preventive inclusion of psychology in the discussions related to educational demands, courtesy throughout the history of the discipline, to maintain at the beginning a clinical and curative looking to other areas of knowledge such as Pedagogy. It seems that Freire, Freinet and Moreno have a very similar ideals and permeated with idealism regarding the conception of the human being and the role of education, granting the conceptions and teacher behavior in the classroom an important influence in the development of educational process, as was we have seen in the movie.

Key words: "Freedom Writers", Education, Socionomic Theory, Psychodrama.

LISTA DE ILUSTRAES

Figura 1 Teoria Socionmica..................................................................................13Figura 2 - Psicodrama Pedaggico............................................................................30

SUMRIO

INTRODUO10

1.SOCIONOMIA131.1.Um breve histrico sobre a criao da teoria e seu criador141.2. Algumas influncias filosficas na obra de Moreno151.3. O olhar moreniano sobre o ser humano e suas relaes161.3.1. Teoria da espontaneidade e criatividade171.3.2. Matriz de identidade191.3.3. Teoria dos papis191.4. Trs olhares da teoria socionmica201.4.1. Psicoterapia de Grupo231.4.2. Psicodrama241.4.2.1. Psicodrama Pedaggico271.4.3. Sociodrama30

2.EDUCAO322.1. Educao brasileira332.1.1. Breve histrico sobre a educao escolar brasileira e seus mtodos342.1.2. Crtica ao sistema educacional362.2. Educao popular: Mtodo Paulo Freire e Pedagogia Freinet372.2.1. Mtodo Paulo Freire382.2.2.Pedagogia Freinet40

3.METODOLOGIA44

4.ANLISE DO FILME45

5.CONCLUSO53

10

6.REFERNCIAS55INTRODUO

A obra de Moreno, mais do que uma teoria que embasa tcnicas aplicadas clnica, uma forma singular e humana de conceber e compreender a realidade. Sendo assim, sua aplicao no se limita prtica clnica, mas abrange outras esferas, como a educao e a arte (BAREICHA, 1999).Pensar a educao no binmio ensino/aprendizagem, professor/aluno seria, mais do que refletir sobre metodologias de transmisso de conhecimento, pensar a postura e o papel dos envolvidos na construo deste conhecimento (LEAL, 2007).O presente trabalho tem por objetivo analisar, sob a luz da socionomia e considerando a demanda educacional apontada por importantes tericos da rea, como Paulo Freire (1991) e Celstin Freinet (1975), o filme Escritores da Liberdade, buscando identificar possveis alternativas de atuao e postura dentro de sala de aula, que possam contribuir na reflexo de professores e educadores sobre sua prtica.O Frances Celstin Freinet, um dos mais importantes educadores e criador do Movimento da Escola Moderna, iniciou seu contato com a pedagogia em 1920 e levantou ao longo de sua obra a necessidade de repensar a dinmica escolar em seu pas e poca (PAIVA, 2002).O autor (FREINET, 1975) defende que a escola no deve separar-se da vida do aluno, deve trat-lo como sujeito criador e instig-lo a criar. A escola deve ser um espao de desenvolvimento da imaginao. Tal configurao no deve ser aceita como um dogma, mas sim a escola como continuao da famlia, desconstruindo tendncias ideolgicas e construindo um sujeito atuante para a vida. O conhecimento no deve vir pronto, muito menos o professor ser a figura central do binmio ensino-aprendizagem. O conhecimento constitudo coletivamente e o aluno como artfice deste processo deve constituir essncia da metodologia educacional (IDEM, IBIDEM).No Brasil, esta reflexo tambm foi feita por Paulo Freire desde os anos 60 (FREIRE, 1959). Importante educador brasileiro e de relevncia mundial, Freire (1991), criador da Pedagogia do Oprimido, em seu livro A educao na Cidade retoma uma discusso amadurecida por ele desde o incio de sua obra, identificando inmeras lacunas que vo desde o desrespeito das polticas pblicas para com os profissionais da educao at o sucateamento dos espaos fsicos. Para tal problemtica ele prope:

Sonhamos com uma escola pblica capaz, que se v constituindo aos poucos num espao de criatividade. Uma escola democrtica em que se pratique uma pedagogia da pergunta, em que se ensine e se aprenda com seriedade, mas que a seriedade jamais vire sisudez (FREIRE, 1991. p. 24).

Na concepo de ambos os autores o processo ensino/aprendizagem deve estimular a criatividade, a espontaneidade, o censo crtico e a participao ativa dos alunos na construo do saber, diferente do que vivenciado (FREINET, 1975; FREIRE, 1991). So estas palavras que incutem a responsabilidade de repensar os modelos educacionais em um modelo de sujeito que est em constante transformao, sujeito ativo do processo de mudana e no um sujeito deslocado historicamente e passivo em relao s mudanas inerentes construo social ou subjetiva.Como ilustrao da realidade escolar problematizada por Freire (1991) e Freinet (1975), o filme Escritores da Liberdade, de 2007, baseado em fatos reais, faz um recorte do contexto escolar dos Estados Unidos, contando a historia de uma classe de alunos estigmatizados e privados de um desenvolvimento pleno. A situao revertida com a chegada de uma professora que, ao contrrio dos demais envolvidos no processo educacional, se propem a olhar estes alunos de maneira mais humana e abrangente, tirando o foco de seus limites e vislumbrando suas possibilidades. Desta forma, a professora conduziu suas aes pautada na crena do potencial dos alunos. Por meio da anlise das condutas da professora no filme e seus consequentes resultados, o presente trabalho trata-se de uma pesquisa descritiva que, utilizando o mtodo indutivo se propem identificar quais das aes realizadas obtiveram xito na melhoria deste processo educacional e discutir tais aes sob a luz da teoria psicodramtica, visando refletir se estas poderiam servir como base para pensar novas alternativas para responder a demanda educacional, problematizada pelos autores Freire (1991) e Freinet (1975).Frente a este contexto problemtico que vem se repetindo h vrias dcadas, refletiu-se sobre a possvel contribuio da socionomia por apresentar uma concepo de sujeito e de realidade bastante semelhante ao iderio de Paulo Freire (1991) e Freinet (1975) e por se constituir uma importante ferramenta para o restabelecimento da espontaneidade e da criatividade dos sujeitos. Este estudo de importante relevncia na medida em que se prope discutir posturas e atuaes alternativas em sala de aula, o que pode contribuir para a construo da prtica dos professores e educadores de maneira que intervenham na realidade apontada por Freire (1991) e Freinet (1975) h mais de quatro dcadas. Na medida em que concebe os indivduos como capazes e incentiva-os a desenvolver papel crtico e ativo perante seu contexto, o estudo torna-se relevante tambm para a sociedade.A pesquisa tambm de suma importncia para a psicologia na medida em que se utiliza dos saberes psicolgicos para direcionar educao um olhar mais abrangente e de acordo com suas necessidades, retomando um espao de conhecimento inicialmente cedido a outras disciplinas por manter no princpio uma postura clnica diagnstica sobre a problemtica do processo ensino/aprendizagem (CRUCES, 2006).Desta forma, diante das exposies de Moreno (2011), Freire (1991) e Freinet (1975), acredita-se na insero da socionomia no apenas como uma ferramenta a ser includa no contexto educacional, mas como uma nova forma de pensar o mundo. Pensar o sujeito em sua dimensionalidade criativa, nunca como sujeito pronto ou produto definido pelo meio assumir a centelha divina que o habita e oferecer condies propcias para que ele se desenvolva, cresa e floresa.

1. SOCIONOMIA

O termo socionomia, do latim sociu (companheiro, grupo) e do grego nomos (regra, lei), nomeia o estudo do indivduo atravs de suas relaes interpessoais, grupais e sociais (FATOR, 2010; GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988). Tal cincia, idealizada por Jacob Levy Moreno, parte da concepo de que o indivduo um ser em relao, imerso em uma gama de interaes sociais e constitudo a partir destas relaes dialticas com o meio (MALAQUIAS, 2012). Para tal estudo, a socionomia foi sistematizada em trs aspectos, a sociometria, que se prope quantificar as relaes grupais por meio do teste sociomtrico, a sociodinmica, que trata de estudar o funcionamento das relaes interpessoais, e a sociatria, teraputica das relaes sociais utilizando mtodos como psicoterapia de grupo, psicodrama e sociodrama (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).

FIGURA 1. Teoria socionmica.Fonte: KAUFMAN, 1992 pg 58.

Apesar da obra mais abrangente de Moreno (2011) ser o estudo do indivduo em suas relaes sociais, considerando suas diversas facetas e complexidade, erroneamente sua teoria ficou genericamente conhecida como psicodrama, sendo o psicodrama apenas uma dentre as diversas prticas de interveno teraputica baseadas na perspectiva mais ampla de sujeito e de mundo que advm da socionomia (BUSTOS, 2005).No se faz objetivo deste trabalho aprofundar-se nos aspectos histricos e filosficos, bem como subjetivos do autor, que influenciaram a constituio da teoria. Entretanto, julgou-se importante realizar uma breve contextualizao destas influncias, afim de melhor compreender os conceitos que fundamentam sua prtica.

1.1.Um breve histrico sobre a criao da teoria e seu criador

Jacob Levy Moreno, criador da teoria socionmica, nasceu em Bucareste, na Romnia, em 1889. De origem judia, radicou-se com sua famlia em Viena, na ustria, onde se formou em medicina, estudou filosofia e iniciou sua obra a partir de experincias com teatro (GUIMARES, 2000).O jogo de Deus, brincadeira que realizou ainda criana, foi uma cena marcante que, mais tarde, na adolescncia, unida aos estudos de filosofia e seu interesse pelo teatro, fomentaria sua ideia de que o potencial criador est presente em todas as pessoas (GUIMARES, 2000; MORENO, 2011).No ano de 1909, Moreno ingressou na Universidade de Viena, primeiro como estudante de filosofia, e posteriormente de medicina. Em 1911, enquanto estudante, realizou sua primeira sesso de teatro espontneo, um teatro com crianas, e nos anos seguintes realizou trabalhos com diversos grupos, de onde concebeu algumas de suas ideias sobre psicoterapia, estruturas grupais e o efeito teraputico do grupo sobre cada um de seus indivduos (GUIMARES, 2000).Em 1922, alguns anos aps formar-se em medicina e publicar seus primeiros trabalhos abordando os conceitos iniciais do que se tornaria sua obra, desenvolveu o teatro da espontaneidade, realizando exerccios dramticos com atores, no intuito de treinar sua espontaneidade (IDEM, IBIDEM).Neste processo de treinamento acompanhou o caso Brbara que se tratava de uma jovem atriz que, no palco, sempre interpretava papis ingnuos e romnticos, o contrrio de sua postura na vida conjugal segundo seu marido. Ao passar a representar aspectos da vida familiar junto ao cnjuge em dramatizaes, conforme props Moreno, Brbara pde trazer na interpretao sua agressividade e rispidez e diminuiu estas atitudes no cotidiano (BERMDEZ, 1970).A partir desta experincia, Moreno percebeu o carter teraputico mais abrangente das dramatizaes espontneas de situaes cotidianas e, em 1924, deu origem ao teatro teraputico (GUIMARES, 2000; MORENO, 2011).Ao mudar-se para Beacon, Nova York, em 1925, Moreno j dispunha de vrios recursos tcnicos, como o setting da sesso, a inverso de papis e o duplo (tcnica de interveno psicodramtica) era o nascimento do psicodrama. Nos anos seguintes realizou sesses de psicodrama, apresentou um trabalho denominado Psicoterapia de grupo, e concebeu, atravs de um estudo com jovens delinquentes, a sociometria representada no sociograma e fundamentada no livro Quem sobreviver?, publicado em 1934 e reeditado posteriormente como Fundamentos da sociometria (GUIMARES, 2000). Em 1936 fundou um hospital psiquitrico em Beacon e em 1941, anexo a ele, o Instituto de Psicodrama de Nova York, onde passou a difundir seus conhecimentos tericos e prticos e a formar diretores de psicodrama, pessoas de diferentes nacionalidades que poderiam difundir a teoria psicodramtica em seus pases de origem (GUIMARES, 2000; BERMDEZ, 1970).Em 1954, Moreno realizou a primeira demonstrao pblica de psicodrama e continuou as publicaes sobre o tema nos anos posteriores. Faleceu em Beacon, Estados Unidos, em 1974 (GUIMARES, 2000) e legou-nos em seu projeto socionmico, a sociometria, a sociodinmica e a sociatria, que sistematiza sua prtica em psicoterapia de grupo, psicodrama e sociodrama (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).

1.2. Algumas influncias filosficas na obra de Moreno

O Hassidismo um dos grandes pilares da teoria de Moreno (GUIMARES, 2000), e significa piedade devota, devoo total do homem a servio de Deus (NUDEL, 1993, p. 44). Tratou-se de um movimento ou seita judaica do sculo XVIII, originria da Cabala, que conferiu ao judasmo um vis mstico, tornando a vida religiosa de seus seguidores mais prolixa, fazendo com que praticassem a devoo a Deus de maneira mais abrangente, em todos os momentos de sua vivncia (GUIMARES, 2000; NUDEL, 1993).Tal seita difunde a existncia de um Deus csmico, presente em todos os indivduos, influenciando Moreno na concepo de que todos os seres humanos so deuses, na medida em que possuem a centelha divina (potencial criador) dentro de si (NUDEL, 1993), bem como naturalmente espontneos e aptos a se tornarem criativos (GUIMARES, 2000). Outra grande influncia de Moreno a fenomenologia de Husserl. Derivada da palavra fenmeno (aquilo que aparece), trata-se de uma atitude filosfica de percepo do fenmeno. Para tal, Husserl postula cinco caractersticas principais que influenciaram a teoria de Moreno: - o apriopri, atitude que consiste em, frente ao fenmeno, despir-se de concepes filosficas ou cientficas, considerando apenas o objeto em si, relacionado na prtica moreniana espontaneidade tanto do paciente, ao dramatizar textos espontneos e improvisados, quanto do terapeuta, que deve isentar-se de qualquer juzo anterior no momento psicodramtico; - a evidncia apodctica, excluso de dvidas de modo absoluto e imediato, por meio de uma atitude que se assemelha a intuio, relacionada iseno interpretao teraputica de Moreno; - a intencionalidade, compreenso subjetiva do fenmeno relacionada valorizao da vivncia e representao de personagens ausentes no Psicodrama; - a lgica da contradio, que defende que o ato depende das leis do contedo e no o contrrio, como postula o behaviorismo, estando relacionada proposta de faz de conta da dramatizao; e - a intersubjetividade, que defende que a o conhecimento do fenmeno no apenas subjetivo (via de mo nica), mas se intersibjetivamente (via de mo dupla), relacionada aos conceitos de Tele e Encontro de Moreno (GUIMARES, 2000).

1.3. O olhar moreniano sobre o ser humano e suas relaes

Moreno (2011) concebe o ser humano enquanto um ser em relao, gregrio, detentor do potencial criador, capaz de promover aes espontneas e adequadas, assumindo um papel ativo e transformador frente ao meio onde se insere. Para o autor (1974 apud GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988), espontaneidade e criatividade, recursos favorveis ao desenvolvimento humano, so natos e s se frustram em funo de condies hostis provenientes do ambiente externo.Quanto s suas inter-relaes, so marcadas pela tele-sensibilidade, transferncia, empatia e encontro, sendo que a tele trata-se de um dos sentidos inatos que as crianas desenvolvem medida que comeam a distinguir objeto e pessoa sem distores a partir de atitudes desempenhadas pelas pessoas, como sorrir e retribuir, passando a compreender tais gestos (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).A transferncia trata-se, para Moreno (2011) de uma patologia das relaes na medida em que no permite ao sujeito enxergar o outro verdadeiramente, trazendo impresses pr-concebidas em funo de relaes anteriores com indivduos distintos.A empatia algo que possa sensibilizar o sujeito, pertencendo ao campo dos sentimentos e emoes. a tendncia que o sujeito sente em si mesmo de se adentrar no sentimento com o qual toma contato (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988, p. 49) que difere de encontro, um convite moreniano, uma convocao ou um apelo para que um sujeito se sensibilize com o outro. uma solicitao espontaneidade e vivncia emptica (IDEM, IBIDEM).

1.3.1. Teoria da espontaneidade e criatividade

A palavra espontaneidade originada do latim, significando por livre vontade e, para Moreno (2011), trata-se de uma resposta do indivduo a uma nova situao, ou uma nova resposta a uma situao antiga. Tal funo nata e est presente nas aes humanas ao longo de toda a sua existncia (FERREIRA, 2009; MORENO, 2011). Uma pessoa quando se torna espontnea caracterizada por uma mente aberta a novos desafios, tomando iniciativas de maneira a integrar realidade e a ao. Essa integrao chamada por Moreno (1974 apud FATOR, 2010) de adequao.Moreno (2011) utiliza o termo fator e para se referir espontaneidade e concebe os indivduos, a priori, enquanto seres livres de determinantes exteriores e interiores que possuam dificuldade de controlar, possibilitando-os enfrentar adequadamente cada situao.A conserva cultural assume importante influncia na compreenso do indivduo em relao ao fator e, desempenho da criatividade e adequao, na medida em que expressa a cultura e o contexto social (MORENO, 2011).Tal conceito definido como uma maneira de ser perante o mundo a qual, no momento de sua criao, foi espontnea, mas que se cristalizou por ser uma resposta segura, tornando-se mera reproduo de comportamentos, costumes e aes pr-estabelecidos, formando uma herana cultural (MORENO, 1974 apud FATOR, 2010; GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).Tal herana pode assumir a posio de determinante exterior ou de base para o ato criador, sendo que na posio de determinante, e na medida em que se torna permanente por meio da cultura, faz com que o indivduo se sinta confortvel e confiante, deixando de repetir seu fator e e enfraquecendo o real sentido da conserva cultural, que ser ponto de partida e dar vazo ao processo criativo (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).Entretanto, quando a conserva assume a posio de base, traz em si as convenes necessrias ao convvio em sociedade, mas tambm sofre modificao do sujeito por meio do fator e, originando a criatividade (MORENO, 2011).Assim, a criatividade se d em dissolver as conservas culturais existentes recriando novas formas e ideias, produzindo outras maneiras de atuar nas situaes vivenciais e modificando o mundo ao seu redor (IDEM, IBIDEM).Considerando que o indivduo nasce espontneo e s deixa de s-lo em funo de presses externas, a recuperao da espontaneidade e da criatividade poderia se dar na medida em que fossem quebrados os padres estereotipados de comportamento fornecidos pela conserva cultural, possibilitando aos indivduos modific-los espontnea, criativa e adequadamente sempre que se fizesse necessrio. A esta proposta deu-se o nome de revoluo criadora (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988; MORENO, 2011).Tal revoluo trata-se, na concepo de Moreno (2011), de um movimento a ser realizado pelo mundo inteiro. O caminho proposto pelo autor para tal seria a sociatria, teraputica das relaes, sendo que tal empreitada, pela amplitude do pblico a ser atingido, foi considerada a utopia moreniana (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).

1.3.2. Matriz de identidade

Desde a concepo at o nascimento, o beb ocupa uma posio passiva, quase parasitria, na qual permanece num espao fechado e escuro, limitado em seus movimentos, em estado de sono constante e recebendo alimento atravs da placenta materna (MORENO, 2011).Ao nascer sai deste estado de equilbrio, segurana e passividade e se lana ativamente atravs de sua primeira ao espontnea, o parto, a uma nova situao: um meio estranho, repleto de luminosidade e cores, marcado pela necessidade de locomoo e direo, no qual necessita participar por meio da ao de situaes bsicas que lhe garantam a vida, como a ingesto e eliminao do alimento, por exemplo (FATOR, 2010; MORENO, 2011).Entretanto, ao iniciar sua vida neste ambiente, o beb no possui ainda recursos fisiolgicos e psicolgicos suficientemente desenvolvidos para, por si s, garantir sua existncia no mundo. inserido em seu primeiro conjunto de relaes interpessoais, a famlia (MORENO, 2011), na qual ocupa um espao fsico, vivendo sob o mesmo teto que os familiares, e um espao virtual, relacionado s expectativas conexas ao papel que o beb ocupa e poder ocupar na famlia (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).Ao conjunto das primeiras interaes do sujeito que lhe propiciam ocupar um espao tanto fsico quanto virtual, se instituem o ponto de partida (lcus nascendi) da constituio de sua identidade e so responsveis por intermediar sua insero na cultura, dado o nome matriz de identidade (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988; MORENO, 2011).

1.3.3. Teoria dos papis

O termo ingls role, no portugus papel, derivado do latim rotula (MORENO, 2011) e definido como a menor unidade observvel de conduta expressa pelo o indivduo em suas diferentes maneiras de interao social e com o meio, considerando a diversidade e especificidade com que estas situaes externas se apresentam (BERMDEZ, 1970; GONALVES; WOLFF; ALMEIDA; 1988; MORENO, 2011).O indivduo desempenha papis desde o seu nascimento, j em suas primeiras relaes sociais com a me e posteriormente com o restante da famlia, sua matriz de identidade, que responsvel pela insero deste indivduo na cultura e por lhe fornecer a base para que possa adquirir e exercer novos papis ao longo de sua existncia, tais como os papis familiares, sociais e profissionais (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988). Essa gama de papis classificada em trs tipos fundamentais cabveis ao sujeito. So eles, os papis psicossomticos, atrelados s necessidades fisiolgicas indispensveis relacionadas com meio, e constituintes do desenvolvimento do eu; papis sociais, adquiridos pelo indivduo em sua relao com o grupo social; e papis psicodramticos, que expressam a atividade psicolgica do eu em sua atividade criadora, contemplando tanto os papis preexistentes quanto os da fantasia (BERMDEZ, 1970; GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).Por meio da interao desses papis fundamentais, a criana assume um ego e uma identidade que lhe classifica como indivduo, capaz de se relacionar com o meio, possibilitando uma relao tlica com outras pessoas, ou seja, o eu surge dos papis (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988; MENEGAZZO, 1994).Ao se relacionar com outras pessoas o indivduo estabelece um processo de adoo de papis denominado role taking, no qual o sujeito apenas assume um papel j existente, sem modific-lo. O processo de desempenhar papis de maneira adequada, explorando suas possibilidades de representao denomina-se role playing. Quando o indivduo atribui caractersticas enriquecedoras ao papel, desempenhando-o de forma espontnea e criativa, dado o nome de role creating (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988; MORENO, 2011).

1.4. Trs olhares da teoria socionmica

A teoria socionmica engloba trs vertentes a fim de compreender o indivduo imerso em (e atravs de) suas relaes sociais. So elas: a sociometria, a sociodinmica e a sociatria (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).A sociometria tem por objetivo medir e quantificar as relaes interpessoais (IDEM, IBIDEM), mensurando a intensidade e a expanso da corrente psicolgica por meio da investigao metdica sobre a organizao e evoluo dos grupos, bem como a posio ocupada por cada um de seus integrantes (FATOR, 2010). Alguns dos conceitos importantes que advm da sociometria so tomo social e rede sociomtrica (IDEM, IBIDEM), sendo que tomo social a configurao social das inter-relaes pessoais significativas, tanto positivas quanto negativas, permeadas pela tele-sensibilidade, como a famlia, por exemplo, e rede sociomtrica, composta por vrios tomos sociais, trata-se de um fenmeno objetivamente observvel, influenciado por variveis subjetivas e constitudo, dentre outros fatores, atravs do desempenho de papis (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988). Para tal, possui ferramentas tais como o teste sociomtrico, o teste da expansividade afetiva e o sociodrama, que evidencia a estrutura grupal, suas congruncias e incongruncias e suas relaes tlicas e transferenciais (FATOR, 2011). A sociodinmica estuda o funcionamento das relaes interpessoais, atravs da dramatizao espontnea e criativa, possibilitando a execuo e criao de outros papis (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).Segundo Hale, Sabelli e Sabelli (1994), a sociodinmica uma extenso da sociometria para considerar, alm da anlise quantitativa, a prioridade dos laos biolgicos e sociais sobre a escolha pessoal.Estes autores ps morenianos ainda do sociodinmica um vis fsico-matemtico, enfocando o fluxo de energia existente nas interaes sociais e se utilizando de mtodos geomtricos para contemplar o estudo de processos que so to complexos (IDEM, IBIDEM).A sociatria a teraputica das relaes sociais utilizando mtodos como psicoterapia de grupo, psicodrama e sociodrama. O primeiro trata as relaes interpessoais inseridas no grupo, o segundo consiste na ao dramtica individualmente e o terceiro a ao dramtica grupal (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988). Mesmo contemplando formas diversas de tratar o indivduo em suas relaes grupais, as prticas baseadas na teoria moreniana ficaram popularmente conhecidas como psicodrama, e seus terapeutas ficaram genericamente chamados de psicodramatistas, independente do modelo teraputico que praticam (IDEM, IBIDEM).A espontaneidade assume grande destaque na prtica socitrica, tida como elemento fundamental que permite vivenciar a experincia criadora, capaz de possibilitar a catarse, reflexo da atitude perante a situao de desequilbrio e problemas vivenciais. A catarse que provm do drama trata-se, por tanto, de uma catarse de ao (MORENO, 2011).A catarse tambm assume importante posio na medida em que o acontecimento que mobiliza aes e sentimentos no grupo durante a dramatizao, possibilitando aos envolvidos no processo perceberem em si mesmos situaes conflitantes e deficincias que impedem de atuar de forma adequada, desenvolvendo seus papis na sociedade (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA,1988; MORENO, 2011). O aqui e agora, outro conceito fundamental na teraputica de Moreno, define o presente enquanto momento teraputico. Segundo o autor, a mudana e o ato criador s podem ocorrer no aqui e agora, j que passado e futuro so o nada, no existem (MARTN, 1996; MORENO,2011).Uma importante ferramenta da sociatria, o objeto intermedirio, trata-se de um facilitador para que o terapeuta consiga estabelecer contato com os papis dos pacientes, evitando desencadear reaes de alarme e possibilitando a criao de vnculos (BERMDEZ, 1970).Estes objetos podem ser desenhos, fantoches/marionetes, caixa de areia, msica, mascaras entre outros materiais concretos e simblicos (RODRIGUES, 2007), utilizados para, de maneira indireta, estabelecer contato prvio comunicao interpessoal (BERMDEZ, 1970) e expresses de afetos (CASTANHO, 1995).Outra significante ferramenta o jogo dramtico definido por Monteiro (s/d, apud IDEM, IBIDEM) como toda atividade que propicia o indivduo expressar livremente seu mundo interno atravs das fantasias, representao de papis e realizao de atividades corporais.Podendo ser utilizado no aquecimento, o jogo dramtico possibilita os participantes produzirem insights no processo da dramatizao. Permitindo a aproximao do conflito interno do indivduo a ser trabalhado na sesso e no jogos de improviso ou de percepo (IDEM, IBIDEM).O jogo dramtico ento, uma atividade que visa aprendizagem e o desenvolvimento por meio das vivncias de situaes cotidianas, recriadas, problematizadas e repensadas (BELLIDO, CAPELLINI, LEPRE, 2008, p. 7).Segundo Monteiro (1994) os jogos dramticos podem ser aplicados em sesses do Psicodrama, no incio (para estabelecer vnculos), como aquecimento (para levantar materiais teraputicos), durante a sesso, em uma futura sesso (para apresentar materiais teraputicos) ou at mesmo para finalizar a sesso (relaxar os participantes).

1.4.1. Psicoterapia de Grupo

Moreno (2011) define a psicoterapia de grupo como um mtodo que trata as relaes interpessoais e problemas psquicos de vrias pessoas, sendo que cada indivduo, bem como o grupo como uma entidade prpria, se tornam agentes teraputicos dos integrantes.O autor indica o psicodrama como uma forma de psicoterapia que define a patologia do grupo baseado nas mudanas sociodinmicas estruturais, promove a catarse mental e tem como finalidade encontrar respostas para os problemas existentes, utilizando a combinao prtica de todas as abordagens grupais (IDEM, IBIDEM).Bermdez (1970) concorda com Moreno (2011) quando refere que a Psicoterapia de Grupo possui finalidades teraputicas, lidando com as patologias emergentes e sendo conhecidas por todos os integrantes, definindo o objetivo a alcanar ao longo de determinadas sesses. O nmero de integrantes de um grupo varivel e sua durao pode ser de at 120 minutos. Como os integrantes do grupo criam vnculos, necessrio abordar a elaborao do trmino do grupo e isto pode ser intermediado pelos jogos teraputicos (BUSTOS, 2005).

1.4.2. Psicodrama

O psicodrama definido por Moreno (2011) como a cincia que explora a verdade por meio da dramatizao. A espontaneidade assume grande destaque na obra do autor, tida como elemento fundamental que permite vivenciar a experincia criadora, capaz de possibilitar a catarse, reflexo da atitude perante a situao de desequilbrio e problemas vivenciais. A catarse que provm do drama trata-se, por tanto, de uma catarse de ao.A catarse assume importante posio na prtica teraputica na medida em que, no psicodrama, o acontecimento que mobiliza aes e sentimentos no grupo durante a dramatizao, possibilitando aos envolvidos no processo perceberem em si mesmos situaes conflitantes e deficincias que impedem de atuar de forma adequada, desenvolvendo seus papis na sociedade (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA,1988; MORENO, 2011). Quanto ao mtodo, existe um consenso entre o criador, Moreno (2011), e autores posteriores, como Bermdez (1970) e Gonalves, Wolff e Almeida (1988), que acabam oferecendo contribuies complementares prtica realizada por Moreno. A sesso divide-se em trs momentos, o aquecimento, a dramatizao e os comentrios, e utiliza cinco elementos principais: o palco, o sujeito ou paciente, o diretor, o staff de assistentes teraputicos ou egos auxiliares, e o pblico (BERMDEZ 1970; GONALVES; WOLFF; ALMEIDA,1988; MORENO, 2011).O palco/cenrio o local onde o sujeito ir vivenciar a realidade da vida, um espao que favorea o contato com a liberdade de expresso de sentimentos, conflitos e situaes diversificadas presentes no cotidiano (MORENO, 2011).Trata-se de um espao multidimensional mvel (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA,1988) e, preferencialmente, deve ser circular e com vrios estrados, de maneira que a distncia entre o grupo e a dramatizao seja mnima (BERMDEZ, 1970). Quanto decorao, pode ser constituda de objetos materiais necessrios para a cena, mas incentivado com maior frequncia ao protagonista que utilize a imaginao para criar os recursos (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA,1988). O sujeito/protagonista/paciente a pessoa que dramatiza e ao mesmo tempo constri o contexto das cenas representadas (IDEM, IBIDEM). o ser atuante da ao, emergente do grupo, sendo necessrio relatar um fato de sua vida livre e espontaneamente, obtendo o maior envolvimento possvel para que a atuao se torne mais prxima de sua realidade (MORENO, 2011). Sendo assim o pensamento torna-se livre e mais prximo da realidade vivenciada (BERMDEZ, 1970). O diretor/terapeuta responsvel por conduzir a ao, identificar atuaes com a realidade do sujeito e interpretar (BERMDEZ, 1970; MORENO, 2011). Ele aquece o protagonista para mostrar mais sensibilidade para a dramatizao, assim trazendo mais emoo e sentimento (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA,1988). Os egos auxiliares so extenses do diretor e paciente. Possuem a funo de atores, interpretando papis do mundo do paciente, e de agentes teraputicos, guiando o sujeito (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA,1988; MORENO, 2011) e intermediando diretor e protagonista (BERMDEZ, 1970). O pblico/auditrio o grupo que no participa da dramatizao (BERMDEZ, 1970), mas que auxilia o paciente durante sua atuao sendo utilizado em algumas tcnicas para que o sujeito perceba algumas caractersticas em si mesmo. Representa a opinio pblica, sendo facultativo aceitar e compreender o sujeito GONALVES; WOLFF; ALMEIDA,1988; MORENO, 2011).Quanto aos trs momentos da sesso psicodramtica, o aquecimento ou warming up ocorre no incio da sesso com a inteno de realizar uma atividade em comum e diminuir o estado de tenso (BERMDEZ, 1970) j que, para agir em conjunto, as pessoas precisam de um tempo de preparao (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988). nesta preparao que o grupo realiza a atividade proposta pelo diretor, manifestando a interao e observao do jogo, dando origem ao do protagonista (BERMDEZ, 1970). Tal processo se constitui uma indicao concreta e mensurvel de que a espontaneidade comea a atuar (fator E em operao) a partir da qual so disparadas provocaes voluntrias e involuntrias do organismo que podem ter origem fsica, qumica, mental e social (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).Para interagir necessrio ativar a sensibilidade, a captao do movimento, do ritmo, dos sentimentos da outra pessoa. Uma verdadeira afinao entre os agentes indispensvel para a ao efetiva (IDEM, IBIDEM, p. 76).Para aquecer-se o sujeito pode se movimentar, respirar pesadamente, fazer caretas, apertar os punhos, gritar e chorar, liberando as expresses, adotando papis, inspirao criadora e utilizando a espontaneidade para enfrentar uma situao nova (MORENO, 2011). Assim, a maneira de andar, postura corporal, respirao e relaxamento podem ser fatores presentes no processo de aquecimento para o desempenho de papis (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).Existem dois tipos de aquecimento, o inespecfico, conduzido pelo diretor com todos os integrantes do grupo. E o especfico, conduzido pelo diretor com todos os participantes e o protagonista em destaque (BERMDEZ, 1970), sendo a preparao do protagonista para a dramatizao e a manuteno do clima de envolvimento com a realidade vivida e dramatizada (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).A dramatizao ocorre na segunda fase da sesso e o momento da ao que permite observar in vivo e no aqui e agora todo o momento dramtico, alcanar um alto grau da espontaneidade, controlar a evoluo do quadro clnico atravs de realidades experimentais, transformar em atuao o material verbal trazido pelo protagonista, representar personagens diferentes sendo o prprio indivduo ou distintos do protagonista, entre outros (BERMDEZ, 1970). o caminho atravs do qual o indivduo pode entrar em contato com conflitos que at ento permaneciam em estado inconsciente e seu andamento e proveito est diretamente relacionado ao andamento do aquecimento (GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).Os comentrios (fase do compartilhar) esto presentes na ltima etapa da sesso psicodramtica e, de acordo com o material trazido no processo da dramatizao, agregam conhecimento para cada um dos participantes e contribuem para formar a opinio grupal sobre o tema dramatizado (BERMDEZ, 1970). Cada situao e desempenho passa por anlise imediatamente aps a dramatizao com a colaborao dos participantes (MORENO, 2011).Neste momento a interpretao das resistncias pode modificar a conduta do grupo. Se a situao no se modificar durante a mesma sesso, ocorrer nas prximas, dos quais os contedos rejeitados iro reaparecer. Isto ocorre porque os pacientes tomam distncia do conflito para poder elabor-lo (BUSTOS, 2005).

1.4.2.1. Psicodrama Pedaggico

Ao falar do Psicodrama na educao, Moreno (2011) chama a ateno para o papel da escola na frustrao da criatividade e espontaneidade. Nas palavras do autor:

sumamente deplorvel que at esses rudimentos de educao psicodramtica sejam separados de suas razes no instante em que a criana ingressa na escola primria e no ginsio, o jovem no colgio e na universidade, e pode ser observado que as implicaes psicodramticas do processo educacional se dissipam medida em que o aluno vai avanando em seus estudos acadmicos. O resultado um adolescente confuso em sua espontaneidade e um adulto privado dela (MORENO, 2011, p.197).

Mais do que uma teoria que embasa a prtica psicolgica clnica, o psicodrama oferece uma viso singular de mundo, mais humana e crente no potencial criador do sujeito, acreditando-o capaz de assumir papel ativo em seu contexto, e no apenas enquanto mero espectador passivo.Por tal concepo de ser humano, o psicodrama assume seu vis educacional, preventivo e educativo, que pela primeira vez na Argentina, na dcada de 60, foi traduzido no termo Psicodrama Pedaggico pela pedagoga especialista em psicodrama, Maria Alicia Romaa. Trata-se da aplicao do psicodrama educao e se divide em duas vertentes: enquanto mtodo de aprendizagem e enquanto treinamento aos professores (BAREICHA, 1999). O psicodrama concebe a aprendizagem atravs da ao e da interao com o meio, sendo a construo do conhecimento resultado da vivncia e da convivncia. Um de seus pilares sustentadores seria o conceito de espontaneidade, enquanto a capacidade do sujeito de realizar ao criativa e adequada frente a mudanas em seu contexto, apropriando-se da realidade na qual se insere, inclusive em seu processo de aprendizagem (LEAL, 2007).Segundo Leal (2007, p. 211), A prtica do psicodrama em sala de aula, no deve se encerrar em si mesma deve proporcionar desenvolvimento e despertar que levem a posturas reflexivas e questionadoras, que possibilitem uma interiorizao individual.O psicodrama como mtodo didtico garante a aquisio do conhecimento em vrias instancias, considerando no s a participao do aluno, mas tambm o grupo como uma unidade, procurando conciliar a transmisso de conhecimentos sistemticos com o reconhecimento por parte do aluno da realidade imediata e concreta que o cerca (MOREIRA, 2002). Ao ter mobilizada a espontaneidade e suas capacidades intelectuais, afetivas e sociais, o aluno tem maiores possibilidades de se colocar inteiramente no ato de aprender e estabelecer suas prprias relaes com o conhecimento, atribuindo-lhe significado (LIMA, PUTTINI, 1998).Uma pedagogia adequada a estes ideais tem que ser baseada no ato criativo, e este ato tem que ser desenvolvido para permitir que o homem crie continuamente (MORENO, 2011). O mtodo, no ensino, basicamente uma arte de perguntar, de situar o aluno diante de um problema a ser resolvido para que ele encontre a resposta adequada. A soluo do problema implica o relaxamento da tenso por conhecer (ROMAA, 1985, p. 44). Inicialmente o psicodrama foi utilizado na rea educacional para obter a resoluo dos problemas de disciplina, dificuldade entre os alunos e orientao de comportamentos (IDEM, IBIDEM).Moreno (2011), ao pensar a insero de sua teoria aplicada educao, sugere que se utilize o psicodrama enquanto tcnica desde a pr-escola at o terceiro grau, possibilitando maior compreenso da problemtica contida no processo de aprendizado e maior envolvimento dos aprendizes. As crianas geralmente possuem nas escolas tradicionais relaes com objetos inanimados e este fato causa a falta de simpatia nas relaes com os seres vivos (IDEM, IBIDEM).Romaa (1985) refere que as tcnicas didticas so importantes para que o aluno memorize o contedo abordado e facilite a aquisio do conhecimento. A experincia da autora refere que os alunos podem apresentar resistncia no incio, mas observa que ao longo do processo h maior interao entre os alunos, as opinies tornam-se mais sinceras, as crticas so aceitas com mais facilidade e o conhecimento adquirido.No Psicodrama Pedaggico, chamamos de professor, aquele que possui a funo de aproximar o aluno dos conhecimentos dentro da instituio escolar atravs dos contedos programados (IDEM, IBIDEM) utilizando, quando necessrio, jogos dramticos em sala de aula a fim de favorecer a percepo, a espontaneidade, a criatividade e a comunicao entre os envolvidos (LIMA e PUTTINI, 1998).Alm disso, tal tcnica permite ao professor verificar se o contedo foi incorporado atravs das aulas expositivas, pesquisas, leituras, tcnicas audiovisuais, entre outras e corrigir os erros que tenham produzido. Caso ocorra um erro de aprendizagem, ser observado na dramatizao (ROMAA, 1985).A presena do ego-auxiliar fundamental para Romaa (1985), necessitando dominar a matria tanto quanto o professor e ter formao de qualidade para contribuir com o aluno para que encontre o caminho do conhecimento. O processo de formao dos professores ocorre por meio da afetividade com crianas e adolescentes, sendo importante delimitar tal relao para que fique clara a prpria atuao do professor (responsabilidade em vincular o aluno e o conhecimento), e nos esteretipos de professores que foram introjetados de acordo com suas vivncias.Segundo Romaa (1985), essa metodologia no deve ser utilizada com exclusividade e sim combinada/associada com outros recursos com a inteno de atingir/obter maior grau de qualidade. Prope que o conhecimento no seja apenas de dentro para fora, mas tambm de fora para dentro.Clvis Garcia (1988 apud KAUFMAN, 1992), professor de Psicodrama Pedaggico da Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, refere que a prticapode ser dividida da seguinte maneira:

FIGURA 2. Psicodrama Pedaggico.Fonte: KAUFMAN, 1992 pg 58.Sendo que as tcnicas psicodramticas aplicadas ao ensino visam compreenso ou aprofundamento de conceitos, o role-playing preocupa-se com o desempenho do papel e possui a finalidade de o indivduo perceber os sentimentos e a atitude dos demais, que desempenham o contra papel, e o sociodrama aplicado nos trabalhos educativos com a participao da comunidade (KAUFMAN, 1992).

1.4.3. Sociodrama

O termo sociodrama, de socius (scio) e drama (ao), na obra de Moreno (2011) assume o significado de uma ao em prol do outro, onde, diferente do psicodrama, o grupo se torna protagonista do drama sendo valorizado como sujeito. Tal interveno possibilita trabalhar as relaes interpessoais representadas na dramatizao atravs do desempenho de papeis, analisando os conflitos intergrupais e promovendo a catarse coletiva (DRUMMOND; SOUZA, 2008; MORENO 2011). Moreno (2011) considera que um dos campos frteis para aplicao do sociodrama seria a questo intercultural. O autor reconhece o indivduo atravs dos papis desempenhados por ele e acredita que essa gama de papis tem forte influncia da cultura a qual pertence. Assim,indivduos pertencentes a diferentes culturas podem distorcer os papeis representativosde culturas distintas, favorecendo conflitos grupais.Nas palavras do autor (IDEM, IBDEM, p. 414),

Para o estudo das inter-relaes culturais, o procedimento sociodramtico idealmente adequado, especialmente quando duas culturas coexistem em proximidade fsica e seus membros se encontram, respectivamente, no e permuta de valores. So exemplos a situao negro-branco, ndio-americano um processo contnuo de interao a situao de todas as minorias culturais e raciais nos Estados Unidos.

A estrutura da sesso sociodramtica se assemelha a do Psicodrama (KAUFMAN,1992) na medida em que composta por aquecimento inespecifico, especifico, dramatizao e compartilhar (SOUZA; ARAJO, 1999). Quanto aos instrumentos so os mesmos, cenrio, diretor, ego- auxiliar, plateia e protagonista, porm alguns possuem funes diferentes.O protagonista da sesso sociodramtica o grupo diferente do Psicodrama, que o individuo; o diretor favorece o drama coletivo, representante da cultura na qual os integrantes se inserem, e no o drama individual; e o ego-auxiliar se torna extenso emocional no apenas de um, mas de muitos egos (KAUFMAN,1992 ; MORENO,2011).As tcnicas se assemelham as do psicodrama sendo as principais, duplo, espelho, inverso dos papis, objeto intermedirio (FREITAS; GUENZBURGER, 2009), jornal vivo e o teatro (MORENO, 2011).

2. EDUCAO

A palavra educao, derivada de e + ducare, significa dirigir (ducare) para fora (e) os valores que potencialmente preexistem nos indivduos e que norteiam suas atitudes (KAUFMAN,1992).Dermeval Saviani, filsofo, pedagogo e relevante pesquisador do tema (GADOTTI, 2000), ao realizar uma reflexo sobre o conceito, coloca que a educao aparece como realidade irredutvel desde os primrdios da configurao da sociedade humana, sendo que sua origem confunde-se com a origem do prprio homem que, desde ento tem tentado compreend-la e intervir de maneira intencional sobre tal processo (SAVIANI, 2008).Segundo o educador e antroplogo Carlos Rodrigues Brando (1993), a educao muito mais ampla do que o contexto aluno/professor/escola, sendo adquirida desde que o indivduo vem ao mundo por uma necessidade instintiva de aprender. Essa aprendizagem objetiva a insero do sujeito no contexto social, fazendo com que produza uma srie de crenas, costumes e hbitos atravs das trocas de experincias, que se constituem mais tarde em aes que norteiam sua conduta, formando a chamada cultura.O autor (IDEM, IBIDEM) entende a educao como um processo anterior escolarizao e que viabiliza a humanizao ao longo da vida em seus diversos contextos, como a famlia, o trabalho e a escola, dentre outras situaes. Intitulada nesses moldes, a educao assumiria um vis emancipador, ensinando para a vida e para o trabalho, estimulando o progresso e a mudana.Paulo Freire (1987), educador brasileiro de relevncia mundial, patrono da educao brasileira e criador da pedagogia do oprimido (BARRETO, 2004) enfatiza o papel poltico da educao que, como uma prtica libertria, possibilita a ampliao da viso das massas, incitando nos envolvidos o discurso dialgico, o pensamento crtico e a transcendncia da posio passiva perante a vida e inclusive no processo educacional (FREIRE, 1987). De acordo com Durkheim (s.d. apud KALFMAM, 1992), muito frequente a confuso entre os termos educao e pedagogia. A educao a ao exercida por pais e mestres que influencia o indivduo em sua concepo mais abrangente e constante, norteando seu modo de ser e de se colocar perante o mundo, constituindo uma educao informal e interrupta. J a pedagogia no se baseia em aes e sim em teorias, ela apenas uma reflexo da educao. Saviani (2008) tambm ressalta a forte associao dos termos educao e pedagogia, sendo a pedagogia constituda de um saber especfico, permeado por concepes filosficas e cientficas a partir da tentativa intencional de interveno no processo educacional, constituindo uma prtica educativa. Sobre tal concepo Freinet (1975), educador francs de relevncia mundial, que exerceu sua prtica na primeira metade do sculo 20 e idealizador da pedagogia do povo (ELIAS, 1997), acredita que a verdadeira pedagogia uma cincia simples e natural, contida na sabedoria popular e divulgada atravs da cultura. Para o autor a escolstica que distorce tal metodologia, tornando seus saberes nebulosos e inacessveis ao povo (FREINET, 1975).Brando (1993) acrescenta ainda que o ensino formal exercido pela pedagogia que cria mtodos e regras estabelece tempos e forma executores acaba por corromper o saber livre da educao que deixa de objetivar a emancipao, o senso crtico e a ao ativa do sujeito em seu contexto scio histrico em detrimento da dominao, controle e submisso. Este saber se torna tendencioso e, a servio das classes elitizadas, vira assunto de interesse pblico, passando a ser visto como ferramenta para impor vontades do governo ao povo. Neste ponto, Paulo Freire (1987), em sua reflexo do papel poltico do processo educacional, acredita que a pedagogia e suas metodologias podem assumir carter emancipador ou alienador dependente da concepo e dos objetivos de seus idealizadores e praticantes.

2.1. Educao brasileira

O Brasil um pas de vasta extenso, de alto ndice demogrfico e possui grandes riquezas naturais e pluralidade cultural. Sua histria marcada pela colonizao, trabalho escravo, grande imigrao de estrangeiros de diversos pases, um perodo de ditadura militar e, apesar de possuir um considervel potencial econmico, por uma constante desigualdade socioeconmica (FLEURI, 1998).Tal cenrio se configura e mantm por um sistema poltico-econmico que gera problemas e conflitos sociais nas mais variadas instncias, sendo terreno frtil para o nascimento de diversos movimentos sociais (IDEM, IBIDEM).A educao formal se insere neste contexto de maneira deficitria e desestruturada desde o perodo colonial, sob a influncia no s da trajetria histrica do pas, mas tambm fortemente comprometida pelos modelos pedaggicos adotados (STIGAR; SCHUCK, 2009) culminando em um atual sistema educacional falho para receber a demanda da sociedade (STIGAR; SCHUCK, 2009; ZIMRING, 2010).

2.1.1. Breve histrico sobre a educao escolar brasileira e seus mtodos

A educao formal brasileira surgiu no incio do sculo XVI, com a chegada dos colonizadores portugueses. Tanto no perodo colonial quanto na monarquia, a organizao social baseava-se em oligarquias e as elites se mantinham no poder pela disseminao de princpios baseados na dominao cultural, estratificao e dominao social. Por tanto (e para tal), a educao era direito de uma minoria e as teorias educacionais da poca eram importadas da Europa (STIGAR; SCHUCK, 2009).No primeiro momento, o modelo pedaggico seguia o pensamento medieval da obra dos Jesutas que, por sua base religiosa, por um lado cultivava a literatura, mas por outro, continha uma enrgica restrio contra o pensamento crtico (IDEM, IBIDEM). Aps meados do sculo XVIII, influenciadas pelo movimento iluminista que ganhava fora na Europa, as Reformas Pombalinas, encabeadas pelo Marqus de Pombal, Secretrio de Estado dos Negcios do Reino da poca, romperam com a influncia religiosa na educao, com o objetivo de lanar luzes sobre os homens, atravs do incentivo e disseminao do conhecimento cientfico (SAVIANI, 2008).No Brasil tambm eram necessrias romper algumas barreiras na educao, pois o ensino pblico era fortemente influenciado pelo poder republicano que, em suacentralizao poltica e financeira, interferia significativamente no campo educacional, vista como grande aliada as classes elitizadas, fortalecendo o trabalho escravo colocando a educao como algo inacessvel as classe populares (ROMANELLI,1991).Esse sistema poltico era responsvel por muitos conflitos sociais,amplos e profundos. Fazendo com que diante disso o povo brasileiro respondesse de vrias formas tanto individualmente quanto coletivamente. Exemplo claro disso, seria a poca da ditadura militar, na qual muitos protestos reivindicariam a luta por terras, reforma agrria, a luta do negro, movimentos de sade e de deficientes, entre outros. Se configurandoum pas que lutava por seus interesses buscando uma identidade (FLEURY, 1998).Foi mediante a esse contexto que no Brasil que surgia a luta pela Educao Popular, movimento desencadeado por grandes pensadores e educadores, que lutavam por ensino bsico a todos os cidados, iderio prescrito nas Leis de Diretrizes e Bases da Educao Nacional(LDB) (IDEM, IBIDEM).Desde 1988, a educao formal ou escolar fundamentada pela Constituio Federal instituda neste ano, abordada no artigo 205, norteada por princpios de maneira a garantir uma sociedade mais justa, o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho (BRASIL, 2012a).Tal prtica balizada e estruturada essencialmente pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LBD), documento decretado em vigor de lei pelo Governo Federal, que tem o objetivo de delimitar a responsabilidade de cada um dos envolvidos no processo escolar, como escolas, educadores e pais, dentre outras deliberaes, norteando suas aes e constituindo uma unidade nacional que transcenda a diversidade caracterstica do pas (BRASIL, 2013).O documento estabelece que a educao escolar nacional seja dividida em educao bsica (contemplando educao infantil, ensino fundamental e ensino mdio) e educao superior (IDEM, IBIDEM).Considerando a educao bsica, por sua relevncia para o presente trabalho, seus principais objetivos so possibilitar o desenvolvimento pleno dos educandos, de maneira a aprimor-los enquanto pessoas humanas, assegurando-lhes: a formao comum necessria ao exerccio de sua cidadania, sua formao tica; o fortalecimento dos laos familiares, de solidariedade humana e de tolerncia recproca; o desenvolvimento das potencialidades, por meio de aquisio de conhecimentos e habilidade; a formao de valores e atitudes; a compreenso do seu contexto fsico e social, do sistema poltico e de valores que fundamentam a sociedade; o desenvolvimento da autonomia intelectual e do senso crtico (IDEM, IBIDEM).

2.1.2. Crtica ao sistema educacional

Segundo Zimring (2010), o atual sistema educacional falho para receber a demanda da sociedade, pois utiliza um mtodo de ensino conservador e rgido desconsiderando mudanas. Paulo Freire (1987), j na dcada de 80, caracterizava a educao brasileira como um ato capitalista, classificando-a como uma educao bancaria, tratando-se de um ato de depositar o saber, uma doao dos que se julgam aptos a ensinar, onde o educador o que sabe, pensa e escolhe o contedo programtico enquanto o educando submisso, seguindo as orientaes e jamais questionado ou participando da construo dos mtodos estabelecidos.O intuito dessa educao manter uma dissociao entre os que sabem e os que no sabem: uma separao entre opressores e oprimidos, negligenciando totalmente a dialgica, discurso que estabelece relao dialtica entre educadores e educandos e caracteriza o aprendizado enquanto via de mo dupla, mantido pelas experincias vivenciadas por todos os envolvidos (IDEM, IBIDEM). Segundo o autor (IBIDEM), o ser humano precisa estar em constante dilogo para que se construa o conhecimento, baseando-se na premissa de que o conhecimento s se constri em conjunto e no sozinho.Porm na educao permeia um sistema antidialgico que acarreta uma srie de caractersticas prprias tais como: a necessidade da conquista, que seriam os mtodos e teorias que deveriam variar historicamente e no variam devido fora das elites, aprisionando o conhecimento e sucessivamente as pessoas; a necessidade da diviso, que mantm o homem cindido atravs de um leque variado de mtodos e processos; a manipulao, que se trata de mais um instrumento de aquisio originado de uma necessidade imperiosa das elites de maneira a evitar que as massas consigam se organizar e repensar sua situao; e a invaso cultural, que incide na astcia das elites que se inserem no contexto cultural do indivduo lhe colocando uma viso de mundo e privando-o de sua criatividade e liberdade de expresso (IDEM, IBIDEM).Corroborando com a colocao apresentada por Paulo Freire (IBIDEM), Celstin Freinet ao falar de educao nolivro As tcnicas Freinet da Escola Moderna, lanado no Brasil aps sua morte, em 1975, colocou que a escola no deve separar-se da vida do aluno, deve trat-lo como sujeito criador e instig-lo a criar. A escola deve ser um espao de desenvolvimento da imaginao (FREINET, 1975).Tal configurao no deve ser aceita como um dogma, mas sim a escola como continuao da famlia, desconstruindo tendncias ideolgicas e construindo um sujeito atuante para a vida. O conhecimento no deve vir pronto, muito menos o professor ser a figura central do binmio ensino-aprendizagem. O conhecimento constitudo coletivamente e o aluno como artfice deste processo deve constituir essncia da metodologia educacional (IDEM, IBIDEM).Por meio de sua crtica ao ensino pblico, Freinet (1975) percebe que existe dominao do ensino e defende a ideia de que necessrio focar na escola do povo, propondo a transformao cultural.O autor refere que o modelo tradicional no prepara o aluno para a vida e sim para o sistema capitalista (ELIAS, 1997).Ambos os autores criticam o modelo educacional, pois afirmam que o processo de aprendizagem se constitui uma ferramenta do governo para manipular o homem, inviabilizando o pensamento critico. Tendo os professores contribuintes ativos nesse processo, enquanto profissionais que repassam contedos pr estabelecidos desconsiderando a singularidade do aluno e privando de uma educao que propicia a transformao social FLEURY (1998).

2.2. Educao popular: Mtodo Paulo Freire e Pedagogia Freinet

Paulo Freire e Celstin Freinet soautores de grande relevnciaque contribuiram qualitativamente na Educao Popular. Embora contemporneos, atuaramem contextos diferentes (Frana e Brasil). Freinet se dedicou-se mais a educao escolar de crianas de 0 a 14 anos, enquanto Paulo Freire se ocupou a principio com adultos nos chamados "Crculos de Cultura", onde pretendiam justamente aniquilar escolarizao tradicional (FLEURY, 1998).Ambos em suas posturas enquanto educadores evidenciaram muitos pontos em comuns, como a ideia da impossibilidade de neutralizao da educao, a privao do pensamento critico, manipulao do homem e a crena na ao pedagogica. Neste sentido os autores do espao para que o povo falar de suavida, tendo isso como uma maneira de libertao e autonomia (IDEM, IBIDEM).Tanto Freinet quanto Freire defendem o dilogo enquanto instrumento primordial na interao entre sujeitos, pois somente atravs deste, possvel problematizar, compreender e transformar a realidade. E se Paulo Freire declara prioridade o trabalho educativo ligado ao e a organizao scio-poltica do mundo adulto, Freinet enfatiza a transformao do ambiente escolar mediante o desenvolvimento dos mtodos ativos, da organizao cooperativa e dos canais de comunicao com o meio natural e social (FLEURY,1998).

2.2.1. Mtodo Paulo Freire

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, Pernambuco, em 18 de setembro de 1921. Foi alfabetizado no quintal de sua casa, sombra de uma rvore, com palavras relacionadas ao seu contexto. Mudou-se para Jaboato (PE) e na adolescncia se dedicou aos estudos de filosofia e filosofia da linguagem, que lhe permitiram lecionar gramtica. Formou-se em direito em 1947, mas pouco atuou na rea, voltando seu trabalho para a educao (GADOTTI, 2004). Tornou-se diretor do Departamento de Educao e Cultura do SESI onde permaneceu por longos anos. Nesta poca, Paulo comeou a dialogar com os trabalhadores e a exercitar o que chamava de pensar sempre na prtica, dedicando-se posteriormente, ainda no SESI, formao de educadores, pregando uma pedagogia centrada no respeito, no dilogo e na participao ativa dos educandos (IDEM, IBIDEM) A partir dessas vivncias elaborou seu primeiro mtodo de alfabetizao exposto 1958 em um seminrio, com o nome Educao de Adultos e as Populaes Marginais. Em 1959, escreve Educao e Atualidade Brasileira dando-lhe o ttulo equivalente a de doutor, esta obra critica a educao brasileira propondo mudanas radicais (GADOTTI, 2004; BRANDO, 2005).Em 1964, Angico (RN) Paulo Freire chefiou um programa que alfabetizou 300 trabalhadores rurais em 45 dias. No ano seguinte, quando coordenava o (PNA) Plano Nacional de Alfabetizao do presidente Joo Goulart, foi surpreendido pelo golpe militar em Braslia, em funo do qual passou 70 dias na priso e terminou por ser exilado a princpio no Chile em 1968. Nesse tempo escreveu Pedagogia do Oprimido, livro de grande relevncia em sua obra, posteriormente deu aulas nos EUA e Sua, e ministrou planos de alfabetizao na frica (BRANDO, 2005).Em 1980 voltou ao Brasil lecionando em importantes universidades brasileiras e oito anos depois se tornou secretrio municipal da educao de So Paulo onde deu vida ao projeto MOVA (Movimento de Alfabetizao), que existe at hoje. Paulo Freire (1987) foi nomeado doutor honoris causa em quase 40 universidades no Brasil e em vrios pases e morreu em 1997, vtima de um infarto (GADOTTI, 2004; BRANDO, 2005). Atualmente, Paulo Freire (1987) considerado patrono da educao brasileira (BRASIL, 2012b) por pregar uma pedagogia libertadora, baseada na educao problematizadora centrada no dilogo entre educador e educando onde o educando aprende por meio das suas vivncias, ao contrrio da educao bancria, no qual o mesmo um mero receptor de informaes, considerando-se assim, uma invaso cultural ao indivduo (FREIRE, 1987). Desta forma no permissvel dentro do mtodo de Paulo Freire (IBIDEM) um programa pedaggico j estruturado viabilizando a domesticao do aluno, mas sim, o relacionamento educador e educando de forma horizontal onde ambos se colocam igualmente na prtica do conhecimento tornando-se vivel um trabalho de criticidade, conscientizao e de libertao no s cognitiva, mas essencialmente no campo social e poltico (BARRETO, s.d. apud FEITOSA, 1999).Feitosa (1999), ao analisar a obra do autor, divide seu mtodo em trs momentos: a investigao temtica, a tematizao e a problematizao. Nas palavras de Paulo Freire (1987), o primeiro trata-se da emerso do educador na vida dos educandos, percebendo-os em sua singularidade e investigando como eles vivenciam sua realidade no sentido familiar, profissional, religioso, poltico e etc. A partir deste mergulho na vida dos educandos, o educador cria subsdios para propor um tema gerador geral ao grupo, objetivando integrar o conhecimento a transformao social dos mesmos. A segunda etapa a da tematizao, momento em que o educador estabelece junto ao educandos temas e palavras geradoras, representando seu contexto, a fim de que eles busquem significados sociais e melhor compreendam suas vidas, promovendo mudanas de forma crtica. Ou seja, atravs dessas palavras, ligadas ao tema, os educando colocar sua situao existencial perante tais elementos levantados gerando debates de opinies. O terceiro momento o da problematizao, quando o educador desafia e motiva os educandos a desapegar do ponto de vista mtico e desprovido de crticas do universo que ele habita, para que possam atingir a fundamental tomada de conscincia. (IBDEM, IDEM).O mtodo criado na dcada de 60 causa grande polmica numa viso tanto positiva quanto negativa, debatido em simpsios, mesas redondas, alm de se constituir em fonte de pesquisas e estudo e tendo sua aplicao em diferentes partes no Brasil e no mundo (FEITOSA, 1999).

2.2.2.Pedagogia Freinet

Celstin Freinet nascido em 15 de outubro de 1986 em Gars, um vilarejo dos Alpes Franceses, de origem familiar camponesa simples, formou-se em Letras e desenvolveu suas teorias pedaggicas nos campos de concentrao, onde se recuperava de um ferimento no pulmo adquirido durante a Primeira Guerra Mundial e tendo como sequela dificuldade para falar. Quando criana associou o trabalho no campo com os estudos e morreu em 08 de outubro de 1966 em Vence, cidade Francesa (IMBERNN, 2012).Ao longo de sua carreira profissional buscava honrar a profisso e aprimorar a qualidade de ensino ofertada aos alunos por meio de conhecimentos cientficos, contato com outros professores, relaes interpessoais e com o mundo (ELIAS, 1997).Segundo Elias (IBIDEM), Freinet (1975) buscou tcnicas pedaggicas que pudessem envolver todas as crianas no processo de aprendizagem, respeitando seus direitos de crescer em liberdade, independente das diferenas de carter, inteligncia ou meio social. O processo de aprendizagem facilitado quando a criana possui interesse no contedo e possui necessidade de conhecimento, desta maneira estar motivada a ser inserida neste meio e livre para expressar suas ideias, sendo que esta livre expresso se d em desenhos, pinturas, poemas, descries, peas de teatro, criaes musicais (ELIAS, 1997).Freinet (1975) concluiu que a aplicao de uma nova educao somente seria possvel se na escola existisse a possibilidade de contar com material didtico que promovesse a atividade dos alunos (IMBERNN, 2012 p. 22). Devido ao fato de que o processo de aquisio da criana ocorre atravs da repetio das experincias bem sucedidas, que tendem a reproduzir-se at o automatismo para s depois dar lugar a novas aquisies. Freinet (1975 apud ELIAS, 1997) diz que o homem precisa repetir durante muito tempo o ato bem sucedido para domin-lo inteiramente. No livro As tcnicas Freinet da Escola Moderna, lanado no Brasil aps sua morte, em 1975, o autor coloca que a escola no deve separar-se da vida do aluno, deve trat-lo como sujeito criador e instig-lo a criar. A escola deve ser um espao de desenvolvimento da imaginao (FREINET, 1975).Tal configurao no deve ser aceita como um dogma, mas sim a escola como continuao da famlia, desconstruindo tendncias ideolgicas e construindo um sujeito atuante para a vida. O conhecimento no deve vir pronto, muito menos o professor ser a figura central do binmio ensino-aprendizagem. O conhecimento constitudo coletivamente e o aluno como artfice deste processo deve constituir essncia da metodologia educacional (IDEM, IBIDEM).Por meio de sua crtica ao ensino pblico, Freinet (1975) percebe que existe dominao do ensino e defende a ideia de que necessrio focar na escola do povo, propondo a transformao cultural. O autor refere que o modelo tradicional no prepara o aluno para a vida e sim para o sistema capitalista (ELIAS, 1997). Por isso, Freinet (1975) escreve em Para Uma Escola do Povo a necessidade de que a educao seja feita para toda a populao a fim de que no seja somente as pessoas providas de melhores condies financeiras e sociais, possibilitando os trabalhadores adquirirem conhecimento histrico e humano, separando a educao do capitalismo. E para o sistema educacional ter melhor qualidade, o autor diz que necessria a participao popular atravs de conselhos de classe (COSTA, 2007).No modelo escolar tradicional, os professores tinham o objetivo de educar os alunos. Freinet (1975) prope que o professor auxilie o processo de aprendizagem e no interfira de maneira direta para que no iniba a criatividade e autonomia dos alunos. Desta maneira, acredita que os conhecimentos adquiridos no processo de formao do professor no ir interferir na qualidade do profissional, mas sim a capacidade de amar, demonstrar afetividade, verificar qual a capacidade e o tempo de cada aluno aprender. Considera tambm que os deveres dos professores esto relacionados a melhorar o sistema educacional, oferecendo condies favorveis para que ocorra o desenvolvimento infantil e caso no consiga obter resultados satisfatrios devido m utilizao de tcnicas (IDEM, IBIDEM). Acredita que o objetivo da educao a formao de homens independente da sociedade e crie alunos crticos, livres, transformadores, que saibam lidar com as diferenas e injustias, tornando cidados devotos de sua ptria e responsveis pelo futuro da nao (IDEM, IBIDEM).Freinet (1975) criou tcnicas educativas como o texto livre, o jornal, a imprensa, a correspondncia, o plano de trabalho, a biblioteca da classe, o conselho cooperativo, entre outras. Por meio dessas tcnicas estruturou a prtica educativa com base na liberdade de expresso, intercmbio de idias, tateio experimental, trabalho criativo e cooperao (ELIAS, 2002).O autor acredita que o processo de aprendizagem no est restrito somente na sala de aula, mas se prolonga para outros ambientes em que a criana convive. Atravs da organizao e construo de ideias dentro da sala de aula, torna-se um ambiente de expresso e produo criando novos sentidos para o professor e aluno (IDEM, IBIDEM). Freinet (1975) tambm considera que o interesse dos alunos est mais focado fora do que dentro do ambiente escolar, por isso acredita que os passeios ou aula-passeio so vlidos e facilitadores no processo ensino-aprendizagem (COSTA, 2007).A construo de um texto livre possibilita que se tornem conscientes elementos individuais e coletivos, considerando a experincia de vida individual e representando um papel de homem ou ser humano (FREINET, 1975). Para realiz-lo necessrio um ambiente em que a criana expresse por escrito suas expresses e possa participar de um circuito de escuta, leitura e edio (ELIAS, 2002). O ambiente estar preparado se as paredes estiverem limpas, o cho encerado, as mesas arrumadas e pintadas, a mesa do professor organizada, armrios para guardar objetos e materiais, mural e lousa estiverem presentes e em conservao (FREINET, 1975). O processo da escrita proporciona a socializao do texto, aperfeioamento da escrita, impresso, difuso, dramatizao, leituras, anlise de textos de autores consagrados, anlise lingustica, estudo gramatical e realizao de atividades distintas e educativas (ELIAS, 2002).A sala de aula dividida em cantos/ espaos, sendo que cada um corresponde a um atelier de trabalho. Estes cantos/ espaos, possuem nmero limitado de vagas e funcionam simultaneamente. A criana escolhe qual atelier quer trabalhar (leitura, escrita, poesia, tiragem, ilustrao, pintura, jornal) e o material necessrio para cada espao ser disponibilizado. Possui local para exposio das respectivas produes e momentos coletivos (rodas de conversas, comunicao de textos livres, dramatizaes, discusso de resultados, elaborao do projeto do trabalho, explicaes do professor, etc). Esta organizao prope que ocorra respeito aos interesses e ritmos de cada um, possibilitando a autonomia (IDEM, IBIDEM).

3. METODOLOGIA

Para a realizao deste trabalho, foram efetuadas pesquisas utilizando livros e sites de busca, como o Google Acadmico, para verificar o que vem sendo produzido sobre os temas:psicologia, educao, teoria socionmica, psicodrama e psicodrama pedaggico.Aps este processo, os materiais foram selecionados considerando fontes cientficas seguras e confiveis, tais como Scribd, Scielo, Pepsic, BVS Psi, banco de teses e dissertaes de Universidades Federais Nacionais e o acervo Paulo Freire online.A pesquisa foi concretizada descrevendo brevemente sobre a contextualizao da teoria socionmica, sistemas educacionais e suas metodologias, segundo autores da rea, como Paulo Freire e Celstin Freinet.De acordo com esta descrio, foi possvel problematizar questes para serem avaliadas. partir disso, o filme Escritores da Liberdade foi selecionado para realizar a anlise, enfatizando as aes de uma professora americana que influenciou no processo ensino/aprendizagem de alunos marginalizados e socioeconomicamente vulnerveis.A teoria socionmica foi considerada como base para viabilizar a anlise do filme, efetuar apontamentos crticos aos sistemas educacionais, bem como avaliar a viabilidade de utilizao no processo de ensino/aprendizagem.

4. ANLISE DO FILME

Baseado em fatos reais, o filme Escritores da Liberdade conta a histria da professora Erin Gruwell no incio de sua carreira, ao lecionar lngua inglesa e literatura para a turma da sala 203, do 2 grau no Colgio Woodrow Wilson, Long Beach, Califrnia, EUA, nos anos 90. Antes do incio das aulas, em uma conversa com a coordenadora, a professora demonstrou suas motivaes e expectativas, bem como exps aspectos de suas concepes em relao educao escolar em afirmaes como O que est acontecendo aqui [se referindo ao programa de integrao voluntria que garantia o acesso de alunos em situao de vulnerabilidade social em escolas modelo] muito empolgante e eu pensava em estudar direito (...), mas a pensei: quando eu estiver defendendo um jovem no tribunal a batalha estar perdida, acho que a luta verdadeira deve acontecer aqui, na sala de aula.Tais palavras demonstram as concepes de sujeito e do papel da educao da professora, corroborando com o pensamento de Moreno (2011) no sentido em que compreende o ser humano como detentor do potencial criador, capaz de modificar seu contexto social e defende que a educao deveria preservar e instigar estas caractersticas saudveis.Estas ideias tambm se assemelham s ideias de Paulo Freire (1987) e Celstin Freinet (1975), na medida em que consideram a educao ferramenta fundamental em qualquer processo de mudana individual e social.Nesta mesma cena, em resposta professora, a coordenadora j demonstra sua postura contrria e discordncia do mtodo proposto, enfatizando as limitaes e no reconhecendo o potencial dos alunos. Isto fica evidente em comentrios como se olhar as notas deles, este vocabulrio e alguns desses livros [como] a Odissia de Homero, vai ser um pouco difcil para eles, a maioria pega trs nibus para chegar aqui, noventa minutos de ida e volta. Eu no daria muito dever de casa para eles, [pois] vai perder muito tempo revendo lies atrasadas, uma pena que no tenha chegado h dois anos (...) ns tnhamos uma das mdias acadmicas mais altas, mas desde que a integrao voluntria foi sugerida ns perdemos mais de 75% dos nossos melhores alunos e, ao comentar sobre o colar de prolas da professora, a coordenadora, em tom irnico, sugere que no o utilize em sala de aula.Esta descrena e falta de investimento nos alunos do programa de integrao se estendia tambm aos demais professores e profissionais envolvidos no processo educacional da instituio, o que pode ser percebido em dilogos como o acontecido entre a professora Gruwell e o professor Brian Beskin, no primeiro dia de aula, aps uma situao de violncia verbal e fsica entre os alunos da professora.Ao comentar tal episdio, o professor Beskin diz: no desanime, s se aplicar e em alguns anos poder lecionar no terceiro ano, eles so timos e at l a maioria dos seus garotos ter sumido (...) no final eles param de virEm outra cena com a coordenadora, Margaret Campbell, a Sra. Gruwell tem reprovaes com os mtodos que ela tenta investir nos alunos em sala de aula, como utilizar recursos da instituio.Em uma conversa com a coordenadora sobre a possibilidade de entregar livros da escola para os alunos utilizarem, a professora cogita livros como o Dirio de Anne Frank e Romeu e Julieta, ao que a coordenadora responde: eles no vo conseguir ler (...) veja as notas de leitura deles. Se der esses livros eles no vo voltar, e se devolverem vo estar estragados (...), isso o que damos pra eles [se referindo a adaptaes mal cuidadas, rasgadas e rabiscadas], Romeu e Julieta numa verso condensada. Mesmo estes, veja como esto mal cuidados. Eles desenham neles (...) [e] eu no tenho oramento para comprar livros novos todo semestre e voc no pode fazer algum querer uma educao, o melhor que pode tentar fazer que eles aprendam a obedecer e ter disciplina, essa j uma realizao enorme pra eles.Ao pedir o apoio do professor Beskin para solicitar os livros, argumentando sobre a possvel identificao dos alunos, ele irnico com ela ao dizer: claro! uma histria universal, quer dizer, Anne Frank [e] Rodney King so praticamente iguais. Meu Deus, olha o que est dizendo! Como se atreve a compar-los [os alunos] com Anne Frank? Eles no se escondem! Rodam por ai carregando armas automticas. Sou eu quem vive com medo e no posso sair de casa a noite e essa [era] uma escola modelo antes deles virem para c, vejam no que a transformaram, faz sentido que jovens que querem uma educao devam sofrer porque suas escolas viraram reformatrios.Nestas situaes a professora sempre confrontava esta postura dos demais profissionais, defendendo o potencial dos alunos e chamando a ateno para o fato de que esta descrena e falta de investimento prejudicavam o desempenho dos educandos, corroborando com o que postula Moreno (1974 apud Gonalves, Wolff e Almeida, 1988) ao dizer que condies hostis do ambiente externo acabam por frustrar recursos indispensveis ao desenvolvimento humano, como criatividade a espontaneidade.Freinet (1975) tem uma viso semelhante quando refere que a escola no deve separar-se da vida do aluno, tratando-o como sujeito criador e incitando-o a criar atravs do desenvolvimento da imaginao. Costa (2007), ao analisar a obra do autor, enfatiza que o papel do professor oferecer ambiente propcio para que os alunos tenham maior possibilidade de se desenvolver, melhorando o sistema educacional. Ainda sobre a definio deste papel, Freire (1987) acrescenta que o educador deve perceber a singularidade do educando para explorar suas potencialidades.Alm das discordncias entre a professora e a equipe pedaggica, a primeira turma para qual deu aula, assim como toda a escola e a comunidade que a cercava, era heterognea, dividida em gangues e etnias, ocorrendo muitas desavenas, brigas violentas e mortes.Essa configurao social se constitua uma tradio cultural quase sagrada, a qual era seguida pelos alunos sem cogitarem perspectiva de mudana, caracterizando o que Moreno (2011) definiu como conserva cultural cristalizada de modo que, mesmo representando um risco as suas vidas, essa situao no era modificada de forma espontnea e criativa.Deste modo, o conjunto de interaes significativas de cada aluno, denominada de rede sociomtrica (MORENO, 1974 apud GOLALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988), no era influenciado pela tele ou empatia, atributos considerados saudveis por Moreno (2011), mas sim por relaes definidas e restritas etnia, desconsiderando a essncia do outro e caracterizando relaes transferenciais (IDEM, IBIDEM). Esta configurao social se constitua importante barreira no processo ensino/aprendizagem, pois limitava um de seus principais pontos segundo Leal (2007), Lima e Puttini (1998), Moreira (2002) e Romaa (1985), a interao entre os alunos.Estes autores, ao falarem sobre aplicao do Psicodrama Pedaggico, acreditam que to importante quanto participao do aluno seria a participao do grupo como uma unidade possibilitando a comunicao, reflexo sobre o contedo trabalhado, atribuio de significado, apropriao e autonomia, de maneira que no apenas o professor, mas sim todo o grupo participe ativamente da construo do conhecimento (LEAL, 2007; LIMA E PUTTINI, 1998; MOREIRA, 2002; ROMAA, 1985).Paulo Freire (1987) e Celstin Freinet (1975) tambm acreditam nesta interao como fundamental defendendo que o conhecimento s construdo coletivamente e que o professor no deve ser a figura central da relao ensino/aprendizagem, caracterizando, segundo Freire (1987), uma educao horizontal, onde professor e aluno caminham lado a lado para incitar o debate, a reflexo e o pensamento crtico.Este contexto, permeado de diversos fatores que influenciavam negativamente o desempenho dos alunos se constituiu ponto de partida (locus nascendi), para a atuao da professora que, no incio, apesar de sustentar uma viso diferente dos demais professores, acaba imitando alguns aspectos estereotipados como ministrar contedos pr estabelecidos e fora da realidade dos alunos, por exemplo a Odissia de Homero para trabalhar literatura.Este primeiro momento de sua atuao se assemelha ao que Moreno (1974 apud GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988) definiu como role taking, ou seja, apropriar-se de um papel existente sem modific-lo, o que no surtiu efeito em funo do conflito e desarmonia do grupo.A professora estava frente a conserva cultural, mas buscou experimentar outras possibilidades de desempenhar seu papel, buscando realizar aes adequadas a sua realidade, configurando o que Moreno (1974 apud GONALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988) chama de role playing e utilizando a conserva como base impulsionadora da criao e no como algo cristalizado como os demais envolvidos no processo educacional vinham fazendo.A explorao de seu papel em busca de aes adequadas fica evidente em algumas atividades propostas como a utilizao de uma msica do gnero rap para o ensino de literatura e as tentativas de impor maior autoridade, tomando uma postura mais ativa frente os conflitos da sala, e de ampliar a rede sociomtrica dos alunos, instigando-os a expandir sua interao com os outros.Uma situao marcante foi a interrupo de uma das aulas em funo de uma caricatura desenvolvida por um dos alunos, ridicularizando caractersticas da etnia negra para zombar de outro integrante da sala. O desenho, ao ser passado de aluno para aluno, foi pego pela professora que abordou este tema durante a aula ilustrando-o com episdio semelhante, mas de maiores propores, ocorrido na Alemanha, antes da Segunda Guerra Mundial e que ajudou a promover o antissemitismo.Este desenho evidenciou para a professora o principal conflito do agrupamento de alunos e a realidade na qual se inseriam, possibilitando a reflexo e discusso dessa problemtica e a consequente sensibilizao dos alunos, caracterizando o que na sociatria denomina-se objeto intermedirio, permitindo a comunicao interpessoal e a expresso de afetos (BERMDEZ, 1970; CASTANHO, 1995). Esta atitude da Sra. Gruwell remete ao que Moreno (2011) nomeia de espontaneidade, criatividade e adequao, pois a professora, frente a uma situao insatisfatria e caracterstica da conserva cultural dos alunos, toma um nova atitude capaz de incitar a mudana de pensamento dos mesmos, o que seria o passo inicial para o rompimento da conserva. Outra atividade importante aps esta sensibilizao foi a utilizao de uma dinmica no qual a professora traou uma linha no meio da sala de aula, solicitando que os alunos se posicionassem nas laterais da linha formando duas filas, uma de frente para a outra e, na medida em que fossem feitas perguntas corriqueiras pela professora, os alunos deveriam pisar na linha caso as respostas fossem afirmativas.Essa atividade pode ser considerada um jogo dramtico que, na definio de Bermdez (1970), trata-se de uma dramatizao ou atividade corporal que possibilita a livre expresso, a aproximao do conflito, a reflexo e o insight.No caso dos alunos, o jogo permitiu que as semelhanas entre eles fossem evidenciadas, incitando a reflexo de que, apesar das diferenas tnicas, muitos deles tinham vivncias em comum.Pensando em fundamentar as discusses iniciadas com a caricatura do aluno negro e trabalhar os contedos de literatura contidos no currculo escolar, a professora disponibilizou livros com temas semelhantes ao cotidiano da turma, possibilitando a identificao e a reflexo sobre as diferenas sociais nas quais se inseriam e seus prprios comportamentos frente a essa problemtica.Estes livros tambm podem ser considerados objetos intermedirios, mas, neste momento, aplicados pela professora na tentativa de facilitar a criao de vnculos atravs da identificao e promover reflexes existenciais.Ainda abordando o tema holocausto, um desses livros foi O Dirio de Anne Frank, que trazia o relato da uma garota judia que permaneceu refugiada por dois anos com sua famlia no poro de uma casa, na poca da perseguio nazista.Aps a Sra. Gruwell abordar alguns contedos relacionados ao livro, forneceu cadernos para que os alunos escrevessem sua prpria histria considerando sentimentos, pensamentos e sonhos, conseguindo, a partir disso, compreender alguns comportamentos de determinados alunos. Estes cadernos instigaram os alunos a repensarem sua histria no momento presente ou aqui e agora, o que pode ser considerado positivo, pois, segundo Moreno (2011), somente no presente existe a possibilidade de mudana e o ato criador atravs da espontaneidade e criatividade.Simultaneamente, a professora realizou excurses para o Museu da Tolerncia e para um jantar com judeus sobreviventes da Guerra, proporcionando vivenciar novas experincias de aprendizagem e tendo como ponto forte a participao dos alunos atravs da ao na construo do conhecimento, bem como a reflexo crtica sobre a Histria.Estas experincias foram significativas uma vez que proporcionaram a aprendizagem por meio de vivncias, intensificando as oportunidades das inter-relaes aluno/aluno e aluno/professor, o que favoreceu aspectos que segundo Leal (2007), Lima e Puttini (1998), Moreira (2002) e Romaa (1985), seriam fundamentais para o aprendizado, como a interao entre os alunos e a formao de uma unidade grupal, o aperfeioamento da comunicao, reflexo sobre o contedo abordado, atribuio de significado, apropriao e autonomia, de maneira que no apenas o professor participe ativamente da construo do conhecimento, mas sim todo o grupo.Outra atividade considerada como um jogo dramtico foi o Brinde pela mudana que consistiu em cada aluno propor um brinde com taas de champagne sem lcool, pelos esteretipos que haviam conseguido romper.A professora props essa atividade com o intuito de simbolizar as mudanas que conseguiram realizar ao longo de sua vida e enfatizar o potencial que possuam para construir seus prprios caminhos de forma espontnea e criativa. A partir deste momento foi possvel identificar o rompimento da conserva cultural entre os membros da sala de aula na medida em se percebiam enquanto grupo, interagindo uns com os outros, ultrapassando os limites tnicos.Aps romperem a principal barreira em seu processo educacional e retomando a leitura do livro O Dirio de Anne Frank, a professora Gruwell solicitou que escrevessem uma carta para a Sra. Miep Gies, que havia protegido Anne Frank, relatando suas consideraes sobre a histria.A partir disso, os alunos aperfeioam a ideia pensando em realmente enviar as cartas, bem como convidar a Sra. Miep Gies para visitar a escola. Desta maneira, os prprios alunos tomaram a iniciativa para, com o auxlio da professora, arrecadar fundos e arcar com as despesas decorrentes da vinda da convidada.Neste momento pode-se perceber que os alunos foram capazes de assumir um papel ativo e transformador frente ao seu contexto, realizando aes espontneas