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1 Técnicas de conversação

Técnicas de Conversação

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    Tcnicas de conversao

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    Iniciando uma Conversa

    Iniciar uma conversa com um estranho, para muitos um acto causador de um elevado nvel de stress, mas, com alguma prtica, pode-se tornar em algo natural para qualquer um.

    O primeiro passo procurar algum que parea receptivo a iniciar uma conversa. A grande maioria das pessoas ficaro encantadas por conhecer pessoas novas e qualquer pessoa que esteja sozinha e no parea atarefada, um potencial novo conhecimento.

    Um sorriso, um segundo olhar ou linguagem gestual indiciadora de interesse (braos e pernas sem estar cruzados, ou pernas cruzadas no nosso sentido), so sinais de uma possvel abertura para um contacto.

    O passo seguinte, quando se pretende iniciar uma conversa, sorrir, fazer contacto com os olhos e falar. Praticamente qualquer coisa serve! Apesar da maioria das pessoas ficar sentada a pensar quais so as palavras mais adequadas, pesquisas tm indicado que as primeiras palavras so irrelevantes. Devem-se contudo evitar expresses negativas, como por exemplo "No suporto o volume desta msica".

    Geralmente, aps as primeiras palavras, o nosso interlocutor, se estiver de facto interessado em iniciar uma conversa, ir dar-nos alguma informao que nos permita continuar. Boas aberturas esto normalmente relacionadas com a situao, com as outras pessoas ou connosco e s podem ser expressas atravs de uma pergunta, de uma opinio ou de um facto.

    O nosso objectivo deve resumir-se a mostrar interesse ou a envolver a outra pessoa, pelo que geralmente a melhor forma para comear colocar uma questo.

    Iniciar uma conversa falando sobre a situao em que ambos se encontram habitualmente a melhor das trs opes referidas anteriormente (Garner, 1997), pois, no provoca a ansiedade de levar o outro a falar de si mesmo e promove um maior envolvimento de que falarmos de ns prprios. Para encontrar um bom motivo para a abordagem, basta olharmos nossa volta e procurarmos assuntos que nos suscitem algum interesse e que tenham alguma probabilidade de tambm ser do agrado da nova potencial amizade. De seguida, devemos prestar ateno informao gratuita e desenvolver a conversa a partir da.

    Falar sobre a outra pessoa, pode no entanto tambm ser uma das opes, pois a maior parte dos indivduos gosta de falar de si prprios. Antes de iniciarmos a conversa devemos observar o que o nosso interlocutor est a fazer, a vestir, a dizer ou a ler e pensar sobre o que gostaramos de saber mais (ex: "Tens um casaco interessante. O que quer dizer esse smbolo?").

    Falar sobre ns mesmos, uma tcnica comum, usada especialmente por pessoas solitrias, raramente um bom estmulo para o incio de uma conversao, pois as pessoas gostam mais de falar de si prprias e dependendo do tipo de informao transmitida, podem ficar mesmo com uma m impresso de quem inicia a conversa.

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    Tcnicas de Conversao

    Snia e Lus esto a regressar a casa aps terem ido ao cinema. Lus est a conduzir e ambos esto em silncio, quando ocorre a seguinte troca de palavras:

    Snia: Ests com fome?

    Lus: No. (breve pausa)

    Snia: S pensas em ti!

    Lus: O qu? De que que ests a falar?

    Snia: Estou esfomeada e tu ests-te borrifando!

    Lus: Claro que no! Se tu querias parar para comer, porque que no me disseste?

    Snia: Eu disse-te! Porque que nunca ouves o que digo?

    Lus: Existe um bom restaurante Italiano numa rua aqui ao p. Vamos l jantar.

    Snia: No vale a pena! J no tenho fome. Leva-me para casa.

    Adaptado de Pearce, 1994

    Este dilogo parece-lhe familiar? Geralmente, quando se apresenta esta discusso, a reaco tpica masculina esboar um sorriso, por se reconhecer na situao. A das mulheres fazer comentrios em como se identificam com a frustrao da Snia.

    O dilogo apresentado representa uma interaco comum no dia-a-dia e uma falha nessa interaco, falha essa que tambm, infelizmente, demasiado habitual. este facto que o torna num bom exemplo de como saber conversar e compreender os outros to importante para o nosso dia-a-dia.

    A maioria de ns pensa que alguns nascem com o dom de saber conversar e outros no. No entanto, estudos tm revelado que no existe esse dom. O que existem so pessoas que aprenderam durante a sua vida, tcnicas que lhes permitem conversar melhor e pessoas que as no aprenderam. possvel a qualquer um aprender e aplicar tcnicas bsicas de conversao que o ajudaro a manter dilogos estimulantes com os outros.

    Estas tcnicas possibilitam-nos transmitir aos outros melhor aquilo que queremos, fazem senti-los melhor por aquilo que nos dizem e ao fazer isto, contribuem para que tenhamos interaces mais produtivas e interessantes.

    Mas, saber conversar no apenas saber o que dizer, tambm tentarmos compreender melhor as necessidades e formas de pensar daqueles com quem conversamos, esforando-nos para perceber o que est por detrs das palavras que ouvimos.

    Conversar igualmente perceber o que os outros nos dizem com os seus gestos. Existe uma grande quantidade de informao, transmitida na maior parte das vezes de uma forma inconsciente, que transmitida gestualmente. Com a particularidade, por ser inconsciente, de ser mais fivel. Esta informao pode dar-nos pistas para o que vai realmente na cabea daqueles com quem conversamos e permite-nos reagir e corrigir o rumo da nossa conversa, se assim for necessrio.

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    Realizando Convites

    A maioria das pessoas responde de uma forma reactiva aos outros. Espera que os outros faam contacto visual primeiro, que sorriam primeiro, que iniciem a conversa primeiro, que convidem primeiro. Dado que a maior parte das pessoas que encontram pela vida tambm tm o mesmo posicionamento, a frustrao nas relaes humanas um sentimento demasiado habitual.

    A generalidade dos indivduos bem sucedidos trabalha para trazer outros para as suas vidas. Sendo dois dos mais importantes factores para o seu sucesso, a sua capacidade para iniciar a conversao e a sua proactividade em realizar convites s pessoas que querem conhecer melhor.

    Alguns "segredos" para se realizar convites bem sucedidos so segundo Garner (1997):

    Ter uma dupla perspectiva: importante que o nosso convite abranja algo que ns gostamos de fazer, mas igualmente importante que convidemos o outro para fazer algo que gosta. Devemos consequentemente, antes de efectuar o convite, perguntar ao futuro convidado que actividades gosta de fazer;

    Ser directo: uma boa ideia ter um compromisso da outra pessoa em voltar a encontrar-se connosco antes do fim da primeira conversa. A melhor forma dizer exactamente o que temos em mente, o dia, hora e local e porque achamos que o convidado ir divertir-se. Se por algum motivo o convidado no puder nessa data especfica, ir concerteza dar a entender que poder ser noutra altura;

    Comear com pouco: Quanto menos pedirmos, melhor a hiptese de conseguirmos algo. Consequentemente, se acabmos de conhecer algum, melhor convidarmos essa pessoa para um caf do que para um jantar seguido de cinema;

    Ser casual: Um convite que apele simplesmente possibilidade de a pessoa vir a divertir-se muito mais apelativo, que um convite que parea uma questo de vida ou morte;

    Se recebermos um no: Por vezes um no, no significa rejeio. Pode ser que o convidado tenha simplesmente algo para essa data ou que no goste da actividade. Se assim for, natural que explique essa situao ou que diga que possvel combinar outra data. Caso nos d um no sem qualquer explicao adicional, sempre til sugerir uma segunda data e actividade. Se mesmo assim a resposta continuar a ser um no simples, o melhor a fazer deixar um contacto e dizer algo no gnero de "Que pena que no d para nos encontrarmos".

    Copyright (c) 2002 por Miguel Duarte. Consulte os termos da licena.

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    Colocando Questes Abertas

    Quantas vezes j tivemos a sensao, durante uma conversa, de estarmos a ser interrogados pela polcia? Provavelmente j cometemos o mesmo erro com outros, s para verificar no fim que o outro se afastou, ou que no conseguimos continuar a conversa.

    Este tipo de situaes acontece geralmente quando colocamos questes fechadas s outras pessoas, no lhes dando uma oportunidade de desenvolverem a conversa. Alguns exemplos de questes fechadas so:

    Quantos anos tem?

    Em que cidade nasceu?

    Em que universidade te formaste?

    Este tipo de questes no permite o normal desenvolvimento da conversa, pois uma vez dada uma resposta rpida questo, o mais provvel vermo-nos forados a realizar uma nova questo. certo que algumas pessoas podero responder a esta questo fechada com uma resposta alongada, mas este no o procedimento habitual. A soluo realizar um esforo para colocar questes abertas, que permitam respostas mais prolongadas e interessantes, por exemplo:

    O que que gostaste mais nas tuas frias no Brasil?

    Como que decidiste tirar o curso de Engenharia Informtica?

    O que pensas do que se est a passar em Israel?

    Estas questes no s fazem os nossos companheiros de conversa sentirem-se mais felizes, pois tm mais hiptese de mostrar as suas ideias e sentem que algum se est a interessar por eles, como tambm promovem a continuao da conversa.

    Colocar questes tem uma grande vantagem, pois permite evitar conversas enfadonhas, dado que ao sermos ns a controlar as questes, acabamos por controlar tambm os assuntos conversados. Devemos no entanto ser cuidadosos, por forma a evitar colocar questes que soem a falso, relativamente ao nosso interesse em saber mais acerca da pessoa com quem conversamos.

    Os erros mais comuns, quando se colocam questes so:

    Colocar questes demasiado amplas (ex: "Como tens passado?"), que por serem to amplas, induzem o questionado a s responder com uma frase curta e a no dar uma resposta complexa. Estas questes s fazem sentido se forem utilizadas como um pequeno interldio que precede a conversa propriamente dita;Iniciar a conversa com questes demasiado difceis, por exemplo, um mediador deveria comear a conversa com uma pergunta sobre a casa em que vivemos agora e no perguntar directamente aquilo que procuramos;

    Realizar perguntas com uma resposta j definida (ex: "No pensas que eles tm razo, pois no?");

    Mostrar o nosso desacordo relativamente a um assunto, sem antes perguntar pessoa as razes porque pensa dessa forma.

    Copyright (c) 2002 por Miguel Duarte. Consulte os termos da licena.

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    Recompensando Comportamentos Positivos

    Est no corredor e algum faz-lhe um elogio, passados uns segundos, enquanto conversa com essa pessoa, algum passa no corredor e d-lhe um encontro.

    A reaco tpica ser reagirmos mais rapidamente a quem nos deu o encontro, do que a quem nos teceu o elogio, mesmo se quem nos deu o encontro nos pedir desculpa imediatamente. Na generalidade dos indivduos, o humor mais facilmente alterado por um acontecimento negativo, do que por um positivo (Anderson, 2002).

    Se observarmos o comportamento da maioria das pessoas, elas so rpidas a criticar quando algum faz um erro e raras vezes do os parabns a algum quando verificam que essa pessoa fez algo bem feito. Esta no entanto a pior forma de lidar com seres humanos.

    De facto, diversos estudos na rea comportamental chegaram concluso que os seres humanos reagem melhor a incentivos que a crticas. Aces que so recompensadas tendem a aumentar e aces que so ignoradas tendem a diminuir. Aces que so punidas iro diminuir, a no ser nos casos em que a outra pessoa esteja a querer chamar a ateno (um comportamento muito comum nas crianas).

    Quando conversamos com uma pessoa que frequentemente tem conversas que consideramos extremamente maadoras, deveramos ter este tipo de comportamento em mente. possvel levar essas pessoas a falar sobre temas mais agradveis, ignorando-as quando esto a abordar temas que nos irritam particularmente e mostrando interesse quando abordam temas ou tm comportamentos que nos so agradveis.

    Se ns formos das poucas pessoas na vida dos outros, que satisfazem o seu ego, dando-lhes valor, iremos muito provavelmente ser encarados como algum com quem interessante estar. Um estudo sobre o comportamento de casais descobriu que quando os casais deixavam de se elogiar um ao outro, comeavam a ver-se mutuamente como menos atractivos.

    Uma outra razo para privilegiarmos a crtica positiva, deve-se a que esta constitui um incentivo para que o outro se esforce a alcanar um determinado resultado, ao contrrio da crtica negativa, que muitas vezes, alm de no funcionar, acaba por ser prejudicial. As pessoas que apenas recebem crticas negativas tendem a ficar demasiado cautelosas, a sentir-se como falhadas e a no sentir contentamento quando alcanam um sucesso. Aps algum tempo acabam simplesmente por desistir.

    Uma das formas mais comuns de expressar admirao fazer uma apreciao directa. Com este tipo de cumprimento, transmitimos s pessoas o que mais apreciamos no seu comportamento, aparncia ou objecto que possuem. Por exemplo:

    Voc um bom professor.

    Tens um corte-de-cabelo muito giro!

    Gosto desses teus sapatos novos.

    Este tipo de apreciaes podem ser melhorados, se aumentarmos o detalhe da afirmao (ex: "Voc um bom professor, pois consegue tornar as aulas muito interessantes."), ou se introduzirmos o nome da pessoa quando estamos a fazer o elogio (a grande maioria das pessoas, inconscientemente, presta mais ateno s frases em que o seu nome surge).

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    Algumas vezes, porm, aps fazermos um elogio, a outra pessoa vai simplesmente diminuir o valor do elogio:

    Pai: "Parabns pelas excelentes notas que tiveste neste perodo!"

    Filho: "No foram assim to boas, tive dois 13."

    Isto pode acontecer por simples modstia, ou porque essa pessoa no sabe responder ao elogio que lhe foi feito, o que pode acabar por ter o efeito negativo de nos desincentivar de a elogiar no futuro. A melhor forma de evitar este tipo de reaco colocar uma questo aberta logo aps o elogio:

    Pai: "Parabns pelas excelentes notas que tiveste neste perodo!"

    Pai: "Em que que mudaste os teus mtodos de estudo?"

    J quando necessitamos de criticar algum, devemos tentar encontrar uma forma de transformar a crtica negativa, que provavelmente iria recair sobre algo que a prpria pessoa j tem conscincia que tem que aperfeioar, em algo positivo, por exemplo:

    Em contraposio a: "Mais uma vez voltaste a no conseguir."

    Usar: "Parabns, hoje conseguiste avanar mais um pouco!"

    Devemos tambm procurar recompensar a pessoa pelos comportamentos positivos, por muito pequenos que sejam, em vez de criticar o comportamento negativo, por exemplo:

    Em contraposio a: "Deixaste novamente a cozinha por limpar! Deve ser a trigsima vez que te peo para a limpares depois de cozinhares!"

    Usar: "Obrigado por teres empilhado a loia junto ao lava loia. Estas pequenas coisas que fazes so uma grande ajuda para mim."

    Quando a pessoa nunca tem o comportamento que pretendemos, podemos elogiar em alternativa comportamentos de outros que tenham esse comportamento (sem exagerar, claro est). Podemos tambm dizer aquilo que pretendemos e agradecer de antemo pela aco que pedimos.

    Convm no entanto sermos cuidadosos com as apreciaes directas que fazemos. Mudanas demasiado sbitas nos nossos comportamentos iro ser estranhadas. Demasiadas apreciaes, ou apreciaes por coisas que no fazem sentido, iro ser vistas como falsas. Fazer um elogio somente quando pretendemos algo do outro tambm no evidentemente boa poltica.

    Outro tipo de apreciaes positivas que poderemos usar so:

    Apreciaes a terceiros, quando a pessoa que queremos elogiar pode ouvir;

    Passar elogios de terceiros pessoa a quem se destinam;

    Elogios indirectos, pedindo, por exemplo, conselhos pessoa.

    Provavelmente, ao aumentarmos a quantidade de elogios que fazemos aos outros, estes tambm passaro a elogiar-nos mais. Devemos portanto tambm estar preparados para responder a um elogio. Se a pessoa aps o elogio nos coloca uma questo, s temos que agradecer, sorrir e responder, se a pessoa nada fez, a soluo agradecer, sorrir e de seguida expressar como o elogio nos fez sentir melhor.

    Copyright (c) 2002 por Miguel Duarte. Consulte os termos da licena.

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    Realizando Escuta Activa

    A escuta activa encoraja os outros a continuar a falar, ao mesmo tempo que d a quem a pratica a certeza de estar a compreender o que estes esto a dizer.

    Sathr, Olson e Whitney afirmaram que ouvimos metade do que dito, prestamos ateno a metade do que ouvimos e lembramo-nos apenas de metade do que prestmos ateno. De facto, temos a tendncia para ouvir o que queremos ouvir e ver o que queremos ver. Derivado deste facto, a mensagem percebida por ns muitas vezes completamente diferente daquela que o emissor desejava transmitir.

    A escuta activa consiste no receptor transmitir ao emissor a sua compreenso da mensagem. Desta forma, o emissor sabe se est a conseguir passar a mensagem correcta.

    Um exemplo tpico de escuta activa:

    Joana: Estou cansada!

    Joo: Queres ir para casa? (Escuta Activa)

    Joana: Nem por isso, mas se calhar melhor descansarmos um pouco.

    Joo: Ento queres sentar-te um pouco? (Escuta Activa)

    Joana: Sim!

    As melhores ocasies para se recorrer escuta activa, so quando no estamos certos de ter compreendido o emissor ou quando transmitida uma mensagem fortemente emocional (ou seja, quando o emissor de alguma forma indica que a mensagem importante).

    Quando utilizamos a escuta activa, estamos a enviar um sinal ao emissor de que confiamos nele, de que damos importncia s suas palavras e de que o estamos a ouvir. Isto faz com que em troca, o emissor se sinta mais confiante e tenha prazer em estar com o receptor.

    A escuta activa encoraja os outros a conversar, pois ao sentirem que temos interesse pelas suas palavras e que no os criticamos, ficam mais vontade para continuar a abrir-se perante ns.

    Existem contudo erros que devem ser evitados quando realizamos escuta activa:

    Refrasear: Simplesmente repetir por outras palavras a frase do outro;

    No prestar ateno ao sentimentos do outro: "J: Estou deprimida!", "M: O tempo

    est a pr-te em baixo?"

    Finalmente, uma situao til onde se pode usar a escuta activa, quando estamos diante de uma discusso e pretendemos ter a certeza que o outro compreendeu a nossa mensagem. Numa situao destas, podemos combinar com a pessoa com quem estamos a discutir, que qualquer um de ns deve, aps o outro falar, dizer o que compreendeu da mensagem transmitida. Desta forma, possvel ultrapassar as falhas de comunicao que muitas vezes surgem quando as discusses esto ao rubro.

    Copyright (c) 2002 por Miguel Duarte. Consulte os termos da licena.

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    Usando a Informao Gratuita

    Por vezes, acontece que aps alguns bons minutos de conversa, sentimos que j dissemos tudo e ficamos embaraados a olhar para o nosso companheiro de conversa, at que um desiste, arranja uma desculpa e se vai embora.

    Durante a conversa, existe geralmente muita troca de "informao gratuita", informao adicional relativamente quela que era pedida ou esperada. Se fizermos uso desta informao, atravs de afirmaes ou questes relacionadas com a mesma, acabaremos por encontrar a oportunidade de direccionar a conversa em direco a outros assuntos interessantes.

    Vejamos o seguinte exemplo adaptado de Garner:

    Lus: Danas muito bem Raquel! Tiveste lies de dana?

    Raquel: Na realidade esta a minha primeira vez aqui em Lisboa, mas era habitual para mim danar quando vivia no Porto.

    Neste caso, a Raquel deu ao Lus uma pista valiosa de que tinha vivido no Porto, dando-lhe a oportunidade de direccionar a conversao para assuntos como a razo da vinda dela a Lisboa, a sua opinio sobre Lisboa, o mundo da dana no Porto, entre muitos outros possveis assuntos.

    Quando conversamos, devemos segundo Lowndes, comportarmo-nos como verdadeiros detectives de palavras, procurando possveis pistas para novos assuntos e para possveis interesses do nosso interlocutor.

    Se consideramos que a pista que nos foi dada interessante, altura para a seguir. No s tal perfeitamente razovel, como normal usar esta informao para se mudar a conversao para outros tpicos, pois muito raro as conversas sociais manterem-se mais do que alguns minutos no mesmo tpico. Para se tirar proveito deste informao, basta colocar uma questo aberta sobre a mesma.

    Muitas vezes a informao nem est nas palavras da pessoa, est numa T-Shirt que usa ou em impresses gerais que estamos a ter da pessoa (ex: que est a gostar de danar).

    Copyright (c) 2002 por Miguel Duarte. Consulte os termos da licena.

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    Linguagem Gestual

    Menos de 10% das mensagens que comunicamos, quando estamos frente a frente com outra pessoa, ocorrem atravs do uso das palavras. De facto, o tom da voz responsvel por praticamente 40% da mensagem que transmitimos e a nossa postura e gestos por 50% (Ribbens e Thopson, 2000).

    A linguagem a expresso dos nossos pensamentos, ideias e sentimentos e a sua funo permitir que exista comunicao. Linguagem no tem necessariamente que tomar a forma de palavras, desde que a mensagem possa ser compreendida.

    A importncia dos sinais no verbais de tal ordem, que por vezes as mesmas palavras tomam significados completamente diferentes, conforme as expresses que fazemos (ex: "s to desastrado!", a sorrir ou com um ar srio).

    A nossa face permite aos outros saberem que emoes estamos a experimentar, enquanto que o resto do corpo revela a intensidade das nossas emoes (Garner, 1997).

    Por vezes, as posturas que tomamos so importantes ao ponto de levar as pessoas a afastar-se de ns, pelo simples facto de estarmos a dizer uma coisa com as nossas palavras e a deixar transparecer outra pela linguagem gestual. Quantas vezes, j no sentimos que uma pessoa no estava a ser sincera nas palavras que pronuncia?

    Segundo Garner (1997), existem seis reas problemticas tpicas: espao pessoal, postura, toque, contacto visual, sorriso e movimentos com a cabea.

    Espao Pessoal

    Tal como tentamos marcar a nossa posse sobre objectos e pessoas, tambm muitas vezes defendemos o espao que nos rodeia.

    As zonas espaciais que nos rodeiam foram divididas por alguns especialistas na rea em cinco zonas (Lambert, 1999):

    Zona muito ntima: Que varia entre os 0 cm e os 15 cm e que se destina a algum com quem a pessoa tenha uma relao amorosa ou a um amigo prximo. Uma invaso deste espao pode motivar reaces muito adversas por parte das pessoas em causa.

    Zona ntima: Variando entre os 15 cm e os 45 cm e estando habitualmente apenas aberta a pessoas com proximidade pessoa em causa. Quando algum desconhecido entra neste zona, a reaco geralmente de desconforto.

    Zona pessoal: Entre os 45 cm e os 1,2 m. Sendo esta a distncia normal a que as pessoas conversam no mundo ocidental.

    Zona social: Que varia entre os 1,2 m e os 3,6 m. usada essencialmente em lojas ou na rua, quando os clientes falam com lojistas ou com vendedores.

    Zona pblica: Acima dos 3,6 m. utilizada, por exemplo, quando se faz um discurso para uma grande audincia.

    Devemos no entanto ter em conta que a necessidade de espao varia conforme a cultura e estado emocional da pessoa em causa. Por exemplo, os povos Latinos tendem a sentir-se confortveis em territrios bastante mais pequenos que os Norte Americanos. Mas a importncia do espao pessoal fundamental, pois muitas vezes a razo para a pessoa com quem estamos a falar se estar a sentir mal, pode ser simplesmente derivada do facto de no lhe estarmos a dar espao pessoal suficiente.

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    Postura

    A forma como nos posicionamos, transmite aos outros se estamos interessados em estabelecer contacto ou se estamos interessados no que eles tm para dizer. Por exemplo, quando cruzamos os nossos braos ou cruzamos as nossas pernas para longe do outro, estamos a transmitir uma mensagem de desinteresse, mas quando temos uma postura corporal aberta, com os braos e pernas abertas, estamos a enviar uma mensagem de relaxamento e a demonstrar interesse em ter um contacto mais prximo com os outros.

    Toque

    O toque uma forma silenciosa de dizer que estamos interessados em algum. Por vezes o toque transmite emoes que as palavras no conseguem transmitir. Na melhoria das nossas relaes com os outros, h que dar particular ateno aos abraos e aos apertos de mo.

    Um aperto de mo transmite aos outros o que sentimos por eles e como nos sentimos. Enquanto um aperto de mo fraco transmite insegurana e desinteresse, um aperto de mo firme indica fora de esprito e interesse pelo outro.

    J o abrao, muitas vezes intimida, pelo medo de no se ser correspondido. Garner (1997) aconselha a resolver este problema atravs de um aperto de mo, onde colocamos a nossa mo esquerda no ombro direito da pessoa a quem apertamos a mo. Segundo a experincia deste especialista, na grande maioria das vezes, enquanto nos dirigimos para o ombro da pessoa, esta ir estender o seu brao esquerdo para ns e abraar-nos.

    Contacto Visual

    O contacto visual algo de extremamente potente. A ausncia de contacto visual entendida como um sinal de desonestidade, ansiedade ou desinteresse. A sua ausncia da nossa parte, tambm uma oportunidade perdida, pois no conseguimos apercebermo-nos das reaces do outro. Em contrapartida, quando fazemos contacto visual com o outro, estamos a transmitir uma mensagem de interesse.

    Olhar os outros nos olhos tambm nos permite, atravs das suas pupilas, saber do seu interesse em ns ou em algo que esto a observar (partindo do princpio que no existe pouca luz), pois pupilas expandidas so um sinal de interesse.

    Acenar com a Cabea

    Acenar com a cabea permite-nos transmitir aos outros que estamos a compreender o que esto a dizer e incentiva-os a continuar. Existem algumas pessoas que no utilizam esta linguagem gestual, transmitindo devido a isso uma mensagem de discordncia, desinteresse ou confuso relativamente ao assunto.

    Sorrir

    So necessrios 23 msculos para um sorriso verdadeiro. E com um sorriso transmitimos uma potente mensagem positiva aos outros. Os trs principais tipos de sorriso, segundo Lambert so:

    Sorriso simples, com os lbios fechados e para cima nos cantos, que quando a pessoa sorri para si mesma;

    Sorriso para cima, com os lbios para cima nos cantos e aberto, usado geralmente quando sorrimos para outra pessoa;

    Sorriso largo, com os lbios para cima e com os dentes claramente mostra, usado geralmente quando nos estamos a divertir.

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    Copyright (c) 2002 por Miguel Duarte. Consulte os termos da licena.

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    Revelando-nos aos Outros

    At aqui referi tcnicas que encorajam os outros a falar e a gostar de ns. Mas no abordei ainda, a necessidade de nos darmos a conhecer aos outros. Quando estamos envolvidos numa conversa devemos deixar os outros falar, falar muito, pois todos os seres humanos sentem prazer em falar de si. Mas tambm devemos deix-los entrar no nosso mundo, inclusivamente para que possam decidir que tipo de relao pretendem ter connosco.

    Na realidade, saber abrirmo-nos perante os outros extremamente positivo, pois quanto mais nos dermos a conhecer, mais ou outro vai sentir confiana connosco, sentir que nos conhece e fazer exactamente o mesmo, melhorando assim a relao.

    Geralmente este processo de abertura simtrico, ou seja, as pessoas do-se a conhecer mesma velocidade. rara a situao em que um dos companheiros de conversa se d a conhecer muito mais que o outro.

    Para promovermos este processo, devemos esforarmo-nos por ligar as respostas que recebemos s nossas perguntas, com as nossas prprias experincias e conhecimento, o que far muito provavelmente que nos peam mais informao sobre a informao que libertmos.

    Outra forma de promovermos esta troca positiva de informao orientar as respostas que pretendemos. Podemos, por exemplo, obter o nome da pessoa dizendo o nosso nome e questionando de seguida o nome dela. Desta forma, ao sermos o primeiro a libertar informao, mostramos que o que est a ocorrer uma troca de informao e no uma entrevista.

    Segundo Garner, uma conversa passa por quatro fases:

    Clichs, que ocorrem para abrir uma conversa e se resumem a frases feitas (ex: "O tempo est horrvel!");

    Factos, (ex: "Hoje fui praia");

    Opinies, as opinies do aos outros a nossa viso pessoal relativamente a determinados tpicos e podem permitir-lhes iniciar uma conversa interessante connosco (ex: "O meu compositor clssico preferido Mozart.");

    Sentimentos, nesta fase damos a conhecer as nossas emoes relativamente aos assuntos a serem discutidos, dando-nos assim a conhecer profundamente (ex: "Senti-me to frustrado quando tive 12 no exame.").

    Dar-nos a conhecer de uma forma interessante para os outros requer que no nos limitemos apenas aos factos, quando descrevemos algo, mas que expressemos como nos sentimos relativamente a esses factos, que pintemos o nosso discurso. Por exemplo:

    Como no fazer: "Hoje fui praia e s regressei noite."

    Como fazer: "Hoje fui praia e senti-me mesmo bem! Estava um sol esplndido, a gua estava ptima, transparente e adorei conversar com os meus amigos. Entusiasmei-me tanto que s regressei depois de anoitecer."

    Problemas mais comuns quando nos tentamos dar a conhecer:

    Projectar uma falsa imagem, exagerando as nossas virtudes, diminuindo os nossos defeitos ou tentando passar a imagem que pensamos que o outro procura. Isto pode levar a uma desiluso futura, ou simplesmente a que a outra pessoa nos ache demasiado perfeitos;

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    No acreditarem em ns, por vezes os outros podem no acreditar no que dizemos, para evitar isto devemos acrescentar locais e datas relativamente exactas s nossas descries;

    No sermos donos das nossas afirmaes, este erro acontece quando expressamos sentimentos usando "tu" em vez de "eu" (ex: "Sabes como quando tu chegas a casa estoirado do trabalho" quando o que queremos dizer "No me apetece mesmo fazer nada quando chego a casa estoirado do trabalho"). Outras vezes, particularmente nas mulheres, so comuns expresses como "No achas que isto demasiado caro?", que levam a respostas to simples como um "No.", quando o que pretendem dizer efectivamente "Acho este artigo demasiado caro.";

    Contermo-nos por medo de estarmos a incomodar, o que geralmente completamente errado, pois na sociedade em que vivemos as pessoas costumam estar desejosas de contacto humano, devido ao pouco que tm habitualmente.

    Copyright (c) 2002 por Miguel Duarte. Consulte os termos da licena.

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    Concluso

    Conversar e conhecer pessoas algo que, apesar de sermos um animal social, exige aprendizagem. As tcnicas de conversao referidas ao longo deste artigo do uma viso geral sobre o tema, mas este um mundo muito complexo, onde existe sempre mais alguma coisa para aprender e no existem verdades absolutas, dado que cada ser humano um caso e cada cultura tem as suas especificidades.

    A nica soluo para quem sente dificuldades nesta rea praticar incansavelmente e fazer um forte esforo para superar os seus medos. Raras so as pessoas que no gostam de receber ateno por parte dos outros. Consequentemente, usando as tcnicas adequadas, possvel ganhar o interesse e a simpatia de praticamente qualquer um. Muitos so aqueles que por terem medo de ser rejeitados, acabam por passar toda a sua vida a deixar escapar oportunidades de fazer amizades interessantes. evidente, que quem se arrisca a travar conhecimento com os outros, muitas vezes ir receber reaces menos positivas, mas tambm verdade que na maioria das vezes, vai ser recebido de uma forma entusistica pelos outros.

    A melhor forma de aplicar estas e outras tcnicas aplicando-as passo a passo, captulo a captulo, por forma a introduzi-las de uma forma natural no nosso comportamento.

    Para todos aqueles que desejarem conhecer mais, existe excelente bibliografia sobre o tema, quer sob o ponto de vista das tcnicas de conversao propriamente ditas, quer sob o ponto de vista da linguagem gestual.

    Copyright (c) 2002 por Miguel Duarte. Consulte os termos da licena.