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Revisão de autores sobre até onde a televisão participa na formação de traços característicos da linguagem jovem.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAFACULDADE DE COMUNICAÇÃO
PRODUÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURADISCIPLINA: OFICINA DE COMUNICAÇÃO ESCRITA
DOCENTE: CLARISSA AMARAL
TELEVISÃO E LINGUAGEMA influência televisiva na linguagem dos adolescentes – revisão de conceitos
* CAIO AMARAL DA CRUZ
Salvador/BA2009
RESUMO
Este artigo pretende analisar e revisar conceitos sobre a televisão e a sua influência na linguagem dos adolescentes. É feita uma reunião de conceitos, trazendo estudos já realizados, separando-os em linhas de pensamentos. Com isso, realiza-se uma revisão sobre os conceitos apresentados, fazendo-se uma análise critica de tudo que foi citado e comentado sobre o assunto.
Palavras-chave: televisão; linguagem; influência
ABSTRACT
This article intends to analyse and revise concepts about the television and your influence in teenagers language. It is made a reunion of concepts, bringing studies already accomplished, separating them in lines of thoughts. With that, it happens a revision about the concepts showed before, making a critical analyse about everything that was quoted and explained in the subject.
Keywords: television; language; influence
* Graduando em Comunicação social com Habilitação em Produção em comunicação e
Cultura, primeiro
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semestre na Faculdade de comunicação da Universidade Federal da Bahia.
INTRODUÇÃO
Segundo uma pesquisa da UNESCO de 1998, adolescentes de vários países do
mundo passam pelo menos 50% de tempo a mais ligados na televisão do que em
qualquer outra atividade não-escolar. Então, pensar em como essa relação entre o
adolescente e a televisão funciona é essencial.
Em 2002, de acordo com o Fundo de Populações das Nações Unidas, a
população de adolescentes ultrapassou a marca de 1 bilhão de pessoas. E esses jovens
estão ativos e conectados com o mundo, muitas vezes, através da TV. Mas como se dá
essa recepção do público jovem com a linguagem e o conteúdo televisivo?
Esse artigo propõe estudar essa resposta, encontrada por alguns teóricos e
estudiosos, fazendo uma revisão de conceitos de como a televisão e sua linguagem
podem influenciar, diretamente ou não, no modo de falar dos adolescentes.
Começando com a definição e a descrição das características da linguagem
televisiva de vários teóricos, e passando para os questionamentos sobre os efeitos
causados pela televisão na linguagem dos adolescentes, o artigo tenta encontrar, talvez,
qual seria a melhor explicação de como se dá essa influência direta, e se ela realmente
acontece.
Reunir essas respostas e teorias encontradas em um trabalho único, pode ajudar
pesquisas futuras na mesma área, ou até mesmo situar os leitores no decorrente assunto.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para discutir e analisar sobre os efeitos causados, nos adolescentes, pela
televisão, precisa-se saber como esse determinado grupo está sendo representado na TV,
e qual a relação estabelecida entre essa linguagem audiovisual e a linguagem usada
pelos jovens.
José Outeiral, em seu livro “Adolescer – estudos revisados sobre a
adolescência”, mostra como é difícil para a televisão conquistar a cada dia a atenção dos
públicos mais jovens. Segundo ele os adolescentes são mais dispersos, e tendem a
perder o foco naquilo que não os interessa, diferente dos adultos.
Quando um adolescente liga a TV e o que está passando não chama a sua
atenção ele imediatamente muda de canal, enquanto uma pessoa mais velha esperaria
para ver se, talvez, aquele programa não a interessaria depois (OUTEIRAL, 2002 apud
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA, 2004, p.34).
“A velocidade da informação induz os adolescentes a uma percepção do tempo
muito mais rápida que a de outras gerações”, diz Outeiral em seu livro, e para tentar
fisgar essa audiência, os canais têm que inovar cada vez mais, para manter esse público
interessado e entretido.
“Se um jovem de 13 anos ligasse a televisão e não se visse representado, com
certeza ele a desligaria ou iria assistir outra coisa”, diz Germán Franco Díez, que
participou do debate Remoto Controle. Para tentar se aproximar o máximo possível da
imagem adolescente, a televisão se apropriou de estereótipos. Díez revela que a
televisão não mostra jovens comuns com uma rotina normal, mas sim, aquele
adolescente rebelde que usa piercings, tem várias tatuagens e não liga muito pra regras.
Ou exatamente o oposto, aquele adolescente certinho, super responsável e que segue as
regras.
Mas ele aponta erros nesse tipo de representação feita pela TV:
“O mal dessa atitude está no fato de que nos fixarmos na forma, no superficial. Vê-se os jovens como objeto de estudo, e a partir de uma observação, se generaliza. Este enfoque se esquece de duas coisas essenciais: estamos observando seres humanos, e não objetos de estudo e, por outro lado, ao generalizar a partir de seres mais chamativos, excluímos meninos e meninas que seguem por aí, na vida cotidiana, que muitas vezes não usam piercings ou modas estranhas.” (DÍEZ,
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2002 apud AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA, 2004, p.35)
Mas essa representação por estereótipo vem dando certo, pois, é assim que a
televisão está conseguindo chegar ao adolescente de forma mais direta (DÍEZ, 2002
apud AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA, 2004, p.36).
No debate Remoto Controle, foram feitas análises de programas destinados a
adolescentes, com representações ou não, e se constatou que a maioria dos programas
utilizava uma linguagem mais próxima da falada pelo publico jovem, com usos de gírias
em alguns casos até palavrões, e não abordavam temáticas com objetivo informacional,
e sim, com objetivo de entretenimento. É citado o caso da telenovela Malhação,
transmitida pela Rede Globo, e que nos seus primeiros anos não se interessava em
abordar temas com funções sociais, mas fazia um “culto a um corpo bonito, as paqueras
e os agitos da juventude.”
Outra característica que terminou aproximando o adolescente da televisão foi a
sua linguagem oral, que pôde se adaptar as mudanças ocorridas pelo tempo, enquanto
nos meios de comunicação escrita essa adaptação fica mais difícil.
Segundo Lyons (1982) “um dos princípios fundamentais da lingüística moderna
é o de que a língua falada é mais básica que a língua escrita.”, isso se caracteriza como a
principal diferença entre os dois tipos de linguagem.
Para justificar essa afirmação, ele se utiliza de quatro prioridades. A primeira é a
prioridade estrutural: “a estrutura de sentenças escritas depende de distinções
identificáveis na forma; a estrutura de sentenças faladas, de distinções no som.”
A prioridade histórica diz que não se tem registro de alguma comunidade que
não se utilizava recursos fonéticos para se comunicar, e que nem todos sabemos
escrever, mas todos conseguimos falar, salvo exceções por motivos de saúde (LYONS,
1982, p.31).
A prioridade funcional mostra que um dos motivos da língua falada ser mais
básica que a escrita, é porque “a língua falada é utilizada em uma gama mais ampla de
situações”, fazendo com que a língua escrita, muitas vezes, não faça parte da rotina de
cada um.
A última prioridade e a mais polêmica, segundo Lyons (1982), é a de que todo
ser humano já nasce pré-programado a falar. Toda estrutura biológica do corpo humano
é adaptada para a fala, desde os pulmões aos ouvidos, tudo é encaixado para que a
comunicação entre indivíduos seja feita através da fala (LYONS, 1982, p.32).
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Com essas prioridades, Lyons (1982) estabelece que a língua falada é mais
básica que a escrita por estar mais presente e, mesmo biologicamente, ser a principal
forma de comunicação dos seres humanos. Enquanto a escrita foi simplesmente uma
forma exterior de tentar registrar as formas de se comunicar.
Feita essa comparação entre linguagem oral e escrita, pode-se caracterizar a
linguagem da televisão e compará-la com a linguagem escrita de outros meios de
comunicação de massa, e ver porque a televisiva exerce mais força entre os
adolescentes.
Para Melo (1979), quando a televisão surgiu houve uma grande revolução na
forma de entender a recepção das massas em relação aos meios de comunicação.
Antes de meios de comunicação audiovisuais, como a televisão e o rádio,
existiam os meios escritos, como jornais e revistas, mas, esses usavam a linguagem
escrita numa sociedade onde os que sabiam ler eram pessoas da alta sociedade, e a
grande massa da população era praticamente analfabeta. Com a chegada da televisão,
esse problema acabou, pois a linguagem oral, acessível a todos, possibilitava o
entendimento da maioria (MELO, 1979, p.65).
Exemplificando com o caso do Brasil:
“Os grandes exemplos de jornais e revistas do Brasil, com circulação nacional, são feitos pela elite para a elite, afastando a grande população dos meios de comunicação escritos e sua linguagem difícil e rebuscada. No entanto, a televisão, e a sua linguagem falada e acessível, termina atraindo esse público esquecido.” (MELO, 1979, p.66)
Então, segundo Melo (1979), a linguagem da televisão se caracteriza por ser
especificamente oral, sem o uso de recursos estilísticos inacessíveis, pois ela se propõe a
atingir toda a população.
Prado (1973) diz que “a televisão tem apenas uma linguagem: a que satisfaz um
discurso inteligível e entretenedor”. Para ele a televisão, como meio de comunicação
que precisa de audiência, não pode apresentar uma linguagem aprimorada, pois assim
não atingiria o máximo de pessoas que ela precisa.
Para entreter ela precisa ter uma linguagem clara e perceptível, o que termina
deixando seu discurso simples e pobre de recursos (PRADO, 1973, p.151).
Prado (1973) ainda fala da manipulação da linguagem televisiva. Como a
televisão conseguira manter seu público, se ela não adaptasse o modo de falar de cada
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programa para atender as suas audiências especificas? Essa é a idéia que ele apresenta
para explicar o porquê da manipulação da linguagem.
Britto (1997), em seu livro “A sombra do caos”, comente sobre a linguagem
utilizada nos mídia. Para ele todos os meios de comunicação modernos como a
televisão, o rádio e outros tentam demonstrar naturalidade no modo de falar dos atores,
apresentadores, locutores e assim por diante. Esses meios ainda tentam incorporar o
vocabulário usado pelas pessoas no seu cotidiano, para manter essa aproximação com o
público. Como fica provado nessa sentença:
“televisão, rádio e imprensa escrita têm, em primeira instância, contribuído para lassear o padrão normativo, com a incorporação em seu cotidiano de registros lingüísticos informais e de diferentes segmentos sociais e de um crescente vocabulário gírio e erótico.” (BRITTO, 1997, p.187)
Com essa incorporação, feita pela televisão, o acesso a todos fica mais fácil, mas
no entanto Britto (1997) faz uma observação:
“Entretanto, ao mesmo tempo em que incorpora em sua pratica diária uma forma lingüística que garanta a comunicação e o sucesso comercial, a mídia, paradoxalmente, mantém, em nível doutrinário, a defesa de um português puro, correto, estabelecido a partir das gramáticas tradicionais, mostrando grande preconceito particularmente com as variedades populares.” (BRITTO, 1997, p.188)
Ou seja, mesmo a televisão tentando abrir o seu caminho para todos, existe
alguns preconceitos, mas isso é assunto para outros questionamentos.
Machado (2005) se refere à televisão como:
“paradoxalmente, um meio bem pouco ‘visual’ e o uso que ela faz das imagens é, salvo as exceções de honra, pouco sofisticado. Herdeira direta do rádio, ela se funda primordialmente no discurso oral e faz da palavra a sua matéria-prima principal.” (MACHADO, 2005, p.152)
Para ele, a televisão usa o discurso oral, muito mais do que as imagens, como
veículo de idéias, herança direta do rádio.
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Então, a linguagem utilizada na TV é bastante aprimorada, pois é trabalhada a
todo o momento. Como sua matéria-prima principal, a palavra é usada de todas as
formas.
Como o depoimento oral constitui a forma mais barata de transmissão e aquela
que oferece menos problemas para transmissão direta, ela se encaixa perfeitamente aos
objetivos da televisão (MACHADO, 2005, p.153).
Maria Rita Kehl, psicanalista e pesquisadora da área da comunicação e seus
efeitos, mostra que a televisão promove um culto a superioridade da linguagem oral em
detrimento da linguagem escrita. Para a TV não interessa nenhum tipo de incentivo a
escrita ou a leitura, pois o próprio formato televisivo não permite esse tipo de interação
com outros meios, e para se relacionar com o público à única forma usada, na maior
parte dos casos, é através da linguagem falada.
Esther Hamburguer, que teve participação no debate Remoto Controle, relaciona
a linguagem televisiva com o público, justificando o motivo da linguagem da TV ser do
jeito que é:
“Quanto menos racional, menos argumentativa e menos discursiva for à linguagem da televisão, melhor eficácia ela terá para estabelecer uma comunicação com o público jovem. É por isso que a linguagem televisiva não pode se basear no racional, mas no emocional.” (HAMBURGUER, 2001 apud AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA, 2004, p.132)
A linguagem utilizada na televisão é menos racional possível, para atrair o
público jovem, mas isso também se aplica para os outros grupos, e manter essa
proximidade com as pessoas.
A linguagem televisiva utiliza a narrativa não-linear, o jogo de palavras, a
velocidade, primazia da emoção e da dimensão sensorial (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS
DOS DIREITOS DA INFÂNCIA, 2004, p.136)
Babin e Kouloumdjian (1989) separaram a linguagem televisiva em diversas
características, relacionando desde a linguagem aos aspectos técnicos que compõe todo
o sistema audiovisual da televisão.
A primeira característica identificada por eles foi à mixagem, que segundo os
autores é a junção entre palavra, som e imagem. Mesmo cada um desses elementos
tendo seus aspectos individuais, todos eles juntos se torna uma linguagem. “É uma
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técnica e uma arte” conseguir juntar e nunca sobrepor nenhum deles, pois cada um
exerce sua função especifica.
Outra característica da linguagem audiovisual usada na televisão é o uso de uma
linguagem popular.
Como caracteriza Babin e Kouloumdjian (1989):
“A expressão ‘linguagem popular’ não é aqui tomada no sentido de jargão, mas no de uma linguagem que exprime uma relação primitiva, essencial, original, física entre os seres e as coisas. O audiovisual, por causa de sua ligação com o som e com a imagem, precisa de palavras mais concretas e de estilo de frases que estejam unidas à matéria. A sofisticação literária não combina bem com a língua eletrônica: não há correspondência.” (BABIN; KOULOUMDJIAN, 1989, p.43)
A próxima característica é a dramatização, pois tudo no audiovisual é aumentado
ou modificado para criar tensão, “dramatizar é dar realce e criar tensão”, e para fazer
isso, existe uma lei especificamente audiovisual da dramatização: a relação ideal entre
texto e contexto.
Essa relação é a perfeita combinação entre todos os elementos mostrados na tela,
como: cores, dimensões, texto e contexto, fundo e forma. A mensagem está no efeito
produzido por essa relação.
Outra característica da linguagem audiovisual é capacidade de trazer os
acontecimentos, pessoas importantes e conhecidas para dentro da sala de estar das
pessoas. “A percepção audiovisual, graças à capacidade da eletrônica, pode reforçar o
efeito de presença até o encantamento ou o mal-estar”.
Para falar da lógica da linguagem audiovisual, Babin e Kouloumdjian (1989)
destacam dois pontos: a composição por flashing, e a disposição pela razão de ser.
Os autores comentam sobre a composição por flashes neste trecho:
“No mais das vezes, parece-nos que é assim a composição audiovisual. Não é linear: não se desenrola como uma história regular de trás para frente. Nem é didática: não se desenrola como uma divisão da realidade em partes articuladas, com lógica. Nem sintética de vez: não parte de uma visão de conjunto para mostrar ou analisar sucessivamente os pormenores. Mas se apresenta em flashes, mostrando sucessivamente facetas que se destacam, aparentemente sem ordem, num fundo comum.” (BABIN; KOULOUMDJIAN, 1989, p.52)
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As imagens que compõem a linguagem audiovisual não são mostradas
diretamente, mas em flashes, que juntos formam a seqüência completa.
O segundo ponto é a disposição pela razão de ser, que responde a pergunta se
realmente não há ordem entre os flashes. Essa disposição é comandada por dois fatores:
realidade subjetiva, e a realidade mais coletiva.
A realidade subjetiva “é o ato criador que transmite à linguagem audiovisual
uma forma ordenada, ligada à coerência do próprio criador”. Enquanto a realidade mais
coletiva “reúne percepções humanas universais: são as diferentes formas de associações
entre os objetos e seus símbolos. Há a lua e as estrelas, o mar e o seio da mãe, o sol e a
água etc.”
TELEVISÃO: MÁ INFLUÊNCIA
Que a televisão e sua linguagem audiovisual causam efeitos no seu público não é
novidade. Analisar quais os efeitos causados na linguagem dos adolescentes, mostra que
existe uma clara divisão de resultados de pesquisas, feitas por diversos pesquisadores e
teóricos. Um grupo desses pesquisadores acredita que a televisão realmente é uma má
influência e prejudica o modo de falar das novas gerações.
Babin e Kouloumdjian (1989) são autores que criticam fielmente a contribuição
da televisão para a linguagem dos adolescentes. “Ouvir a jovem geração falar, ler os
textos que ela compõe hoje, é receber o eco deteriorado dessa linguagem audiovisual”.
Para explicar o que seria o eco deteriorado os autores dizem o seguinte:
“Duas referências fundamentais vieram-nos à mente, ao ouvir os jovens falar: os americanos e os africanos.[...] Frases breves, expressões pesadas e sonoras, onomatopéias, acentuação vigorosa e ritmos irregulares, palavras e orações inacabadas, supressões de verbos, de artigos e de pronomes.[...] Assim, confirma-se nossa afirmação geral: a linguagem audiovisual é uma linguagem que volta às raízes visuais e principalmente sonoras da língua. O som das palavras tem mais importância que o rigor conceitual; o vigor, até a acidez das expressões, sobrepuja o gosto pelas nuanças; as imagens verbais e a mímica dos gestos de acompanhamentos substituem os raciocínios e as construções explícitas bem organizadas.” (BABIN; KOULOUMDJIAN, 1989, p.61)
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Eles criticam e apontam efeitos negativos causados pela TV, usando exemplos
até preconceituosos para demonstrar essa suposta deterioração da linguagem usada
pelos adolescentes.
Segundo pesquisas citadas pelos dois autores, foi constatado que a forma dos
jovens se comunicarem não é feita apenas através da fala, mas ela é complementada por
gestos e mímicas, como se fizessem cinema ao falarem (BABIN; KOULOUMDJIAN,
1989, p. 62).
Babin e Kouloumdjian (1989) fazem uma análise de cada efeito, constatado por
eles em seu livro, causado na linguagem pelo audiovisual.
O primeiro efeito negativo apontado é a crescente redução do vocabulário,
causada segundo eles, pela falta de interesse dos adolescentes pela leitura e a falta de
curiosidade dos alunos de procurarem os significados de palavras novas e
desconhecidas nos dicionários.
Eles indicam que “as palavras não somente caem, mas se estragam: 80% dos
alunos estropiam certas palavras, ou as substituem por uma outra familiar”. Usando
exemplos de comentários de professores, alguns como: “sem sucesso, corrigimos a
pobreza, as impropriedades, os barbarimos”, ou “os alunos habituados ao choque da
imagem e à pobreza dos comentários, fazem frases curtas, reduzidas, estereotipadas, do
tipo slogan”, eles demonstram a deterioração do vocabulário.
Apontam o desprezo pela escrita causada pela televisão nos adolescentes. “A
página escrita não tem mais consistência nem permanência que um programa de
televisão”, ou seja, não se torna interessante para os jovens escreverem, e nem mesmo
escreverem corretamente, pois escrevem como falam. Uma das perguntas feita pelos
autores é: isso se dá por culpa da invasão do inglês? Porque as novas gerações não estão
procurando a palavra bem escrita ou a nuança melódica, mas o ritmo e o acento
primitivo.
A fala inacabada e a escrita descozida são outros pontos apontados como
característica da linguagem atual dos jovens. “Abreviações sugestivas, repetições,
barulhos com a língua, tudo acompanhado de gestos e até de sessões de mímica
inesperada que pontuam a frase ou suprem as palavras que faltam” são os resultados
causados por essa influência televisiva. Para descrever a fala dos jovens os autores usam
de exemplos como esse: “às vezes temos a impressão de estar escutando jovens
africanos contando uma história”... Eles apontam que essa linguagem está cada vez mais
descritiva, emocional e até física.
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Essa nova linguagem contemporânea apresenta uma passagem do texto ao
contexto:
“É quase total a ausência de conjunção, de coordenação precisa. Nada é mais esclarecedor que medir o aumento ‘Bom, bem... aí!’ na conversa. Esses termos ‘para todos os usos’ substituem cada vez mais os conectivos exatos. A figura, isto é, as frases, adquirem sentido, não pelos sinais de pontuação ou por conjunções de coordenação entre as palavras, mas no campo audiovisual [...]. A relação, a cumplicidade, o terreno comum suprem a ‘figura’. Assim, a linguagem enche-se de contexto e esvazia-se de texto.” (BABIN; KOULOUMDJIAN, 1989, p.66)
Para responder ao porque dessa linguagem, uma das conclusões chegada é a falta
de leitura. Mas os jovens lêem, só que uma leitura pobre e deformada como histórias em
quadrinhos e revistas. “Os jovens lêem de acordo com o que são.”
Aborda-se o fato da invasão do poético, evidenciado no gosto pelas canções, o
talento para o “grafite” e para as palavras-choque, a busca dos efeitos sonoros na
linguagem, enfim, a necessidade de se exprimir por poemas, são conseqüências diretas
de uma excitação dos impulsos fundamentais e da imaginação (BABIN;
KOULOUMDJIAN, 1989, p. 68).
Os autores observaram a ordem do discurso usado pelos adolescentes, e
analisaram se as conexões feitas nessa linguagem faziam algum sentido. Fizeram quatro
observações sobre o assunto.
A primeira observação é a de que os jovens vivem em um mundo onde tudo
acontece cada vez mais rápido, “na era da velocidade da luz, nos incitam a andar cada
vez mais depressa com tudo, com a cozinha, com o trabalho, mas também com a leitura,
as arestas vivas desaparecem”. A grande influência do audiovisual sobre a leitura e a
linguagem é a transformação de conceito do que é predominante, ao invés de uma visão
objetiva, predomina-se uma visão subjetiva e global.
A segunda observação é explicada assim:
“As demonstrações tendem a ser substituídas por imagens verbais e sonoras violentas, por frases de sortilégios e termos poéticos. O emissor muitas vezes é um provocador, um lançador de idéias: ele incita. [...] Nesse tipo de linguagem, prefere-se um bom estímulo inicial a uma boa explicação, um bom impulso criador a uma sólida organização do discurso. A lógica da imagem não é a do raciocínio, mas a da
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correspondência: a prova do raciocínio vem depois.” (BABIN; KOULOUMDJIAN, 1989, p.71-72)
A terceira observação mostra que as conexões da linguagem, usadas pelos
jovens, são determinadas pelas situações ou a preocupação da relação com o grupo. “O
que se procura é satisfazer uma experiência de relações humanas e da própria imagem”.
A última observação diz que o próprio jovem sente uma necessidade de criar
uma linguagem mais rápida e acessível, para adaptá-la aos dias de hoje.
Essa análise feita por Babin e Kouloumdjian (1989) sobre os efeitos negativos
da televisão na linguagem do adolescente mostra o quanto à visão, dos autores, de
língua falada ser tão ligada à língua escrita e as regras normativas da gramática, não
permite uma evolução natural do modo de falar, assim como aconteceu antes e acontece
agora. Além de utilizar exemplos preconceituosos para analisar a suposta degradação da
língua oral.
Rezende (1993) mesmo fazendo um estudo sobre televisão e criança, seus
conceitos se encaixam para os adolescentes também.
Para a autora, a linguagem utilizada na televisão talvez não tenha efeitos tão
aparentes nos adultos, mas com certeza ela teve quando crianças. Esses efeitos causados
pela exposição sem controle à televisão, provocam uma série de mudanças nas
características lingüísticas de crianças e adolescentes.
Pegando o caso dos adolescentes, Rezende (1993) faz uma pesquisa de
comportamento que analisou vários aspectos sociais, psicológicos e lingüísticos
causados pela exposição a TV. Um desses efeitos foi à economia de linguagem, que é
resultado da própria linguagem televisiva, onde não é possível um prolongamento de
diálogos ou de falas, pelo tempo curto dos programas.
Um outro aspecto observado foi o vocabulário restrito e empobrecido causado
pela apropriação de termos informais usados na língua cotidiana. “As programações
televisivas, em geral, podem oferecer estímulos à verbalização”, outro ponto ressaltado
pela autora em seu trabalho.
O conceito de efeitos negativos causados pela televisão, adotado e concluído
pela autora, resume bem as idéias dessa linha de pensamento.
Sodré (1978) demonstra a sua preocupação, principalmente, com o estimulo a
verbalização, ou seja, o declínio da escrita pela ascensão da linguagem oral.
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Sodré (1984) aponta ainda o controle imposto pela linguagem televisiva, “esse
controle da fala (...) é operado através da própria forma instituída pelo medium”. Os
próprios meios utilizados para chegar ao público terminam proporcionando este tipo de
controle. O sistema televisivo atua com a “repressão direta da fala (...) para que não haja
gratuidade na comunicação”, esse sistema termina eliminando a gratuidade do diálogo e
a liberdade de se falar.
O autor analisa os efeitos, mesmo que negativos, sobre uma ótica menos radical.
Erausquin (1983) analisando sobre a ótica dos países latino-americanos,
apresenta idéias de um modo extremo, em relação à televisão e a sua influência sobre as
massas.
O autor discorre sobre a invasão cultural que ocorre nos países de língua
espanhola, através da televisão, pelos Estados Unidos da América principalmente, ou
países de língua inglesa, e sobre esses efeitos nos jovens.
A principal preocupação é a de que ocorra a criação de um modelo de conduta,
cultural, etc, a partir de outras culturas, “pode-se ocorrer à homogeneização das futuras
gerações a partir de moldes culturais alheios”. Além dessa uniformização, fez-se uma
pesquisa onde se constatou, que adolescentes que assistem programas de TV onde a
língua falada é diferente, há a fixação de 63% dos termos em língua estrangeira, ou seja,
pode estar acontecendo uma verdadeira diglossia, um tipo particular de bilingüismo mas
relacionado à sociolingüística.
Erausquin (1983) alerta para a linguagem televisiva, pois essa está
empobrecendo a língua, tanto descaracterizando como a uniformizando.
O autor tem uma visão diferente da dos outros, pois ele analisa a má influência
da televisão a partir de outro sentido, e não apenas culpando o próprio sistema
televisivo, mas as referências que a televisão adota como padrão.
Prado (1973) quando caracteriza a linguagem televisiva com um discurso
simples e pobre de recursos, relaciona com a linguagem das pessoas e dos jovens em
geral.
Para ele toda a manipulação da linguagem que ocorre na televisão, resulta em
efeitos que fogem do próprio controle do público e da TV. Tentando atingir os mais
jovens e se apropriando da linguagem cotidiana, a televisão termina incentivando a
degradação da língua a partir de sua linguagem sem recursos estilísticos e discurso
curto, simplificado e manipulado.
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TELEVISÃO: NÃO AFETA
Outro grupo de autores chegou a resultados diferentes do primeiro, esses não
concordam que a televisão determina as mudanças na linguagem dos adolescentes, pois
o que atua diretamente sobre esse aspecto são outros fatores.
Filho (1996) aponta os efeitos que a televisão causa no público em geral, mas
também analisa sobre a visão dos jovens.
Em seu livro, ele relaciona essa linguagem televisiva com diversos efeitos sobre
a audiência dos programas de TV, por exemplo, “assistir a TV favorece uma atividade
mental passiva”, ou “há uma rejeição consciente do prolongamento dos diálogos (...)
que é antieconômico e dispersivo”.
A linguagem televisiva, segundo ele, não tem tempo nem espaço para se
prolongar ou ser prolixa, então a televisão termina passando uma linguagem rápida e
econômica, que poderia causar efeitos nos jovens ou crianças. Mas para Filho (1996), o
que determina se o individuo vai ter algum efeito na sua linguagem não é a televisão, e
sim o próprio meio em que ela vive.
“Culpar a TV pelos desvios é limitar os resultados de uma investigação (...) é a
própria cultura e todas as relações sociais que moldam os comportamentos e as
atitudes”.
O autor não acredita que a televisão tenha um papel determinante para ser uma
má influência, o que talvez seja um pouco otimista demais.
Melo (1979) também acredita que a influência da televisão e outros meios de
comunicação de massa não acontece dessa forma direta, como o outro grupo.
Para ele a televisão é uma desencadeadora e não conformadora, ou seja, a TV
não deixa as pessoas passivas ou causa efeitos negativos, mas ela promove a auto-
reflexão do público e sobre os diversos assuntos que ela aborda.
Os meios de comunicação de massa vivem em função do público, e não o
público em função deles, e os próprios meios são influenciados pelo público em geral.
TELEVISÃO: AFETA MAS NÃO É DETERMINATE
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Um terceiro grupo de pensadores e pesquisadores, os mais justos, apresentam a
idéia de que a televisão, realmente, afeta de alguma forma mas não determina nada.
Bucht e Feilitzen (2002) definem que quando uma criança ou um adolescente
assiste televisão, ele atua competentemente, “as crianças e adolescentes são vistos como
usuários de mídia mais ou menos competentes”.
Para uma mídia, uma TV no caso, influenciar depende de vários fatores como:
idade, gênero, etnicidade, estilo de vida, origem sócio-cultural, filiação grupal, contexto
de vida e da situação específica de recepção. Ou seja, depende de vários fatores, e não
só da linguagem televisiva ou da recepção.
Para as autoras existem influências benéficas e nocivas, “os conteúdos raramente
exercem uma influência direta e exclusiva sobre nossos atos”, então muito dificilmente
o público terá efeitos negativos por causa da televisão. “Mas a mídia contribui, caso
haja outros atores atuando na mesma direção”, a contribuição da televisão ou outros
meios só será efetivada se tiverem outros fatores levando para aquela direção. “O papel
da mídia pode ás vezes ter maior peso (...) quando esse ambiente não propicia a
formação de uma opinião própria”.
Schramm e Rivers (1970) também se encaixam nesse grupo, pois eles acreditam
no poder do veículo de massas “não como um maremoto, mas como um grande rio”,
então a influência não ocorre de imediato, mas sim, aos poucos e lentamente, não
diretamente.
CONCLUSÃO
Terminada a revisão de conceitos sobre a influência da televisão na linguagem
dos adolescentes, fica claro que as opiniões diferem e muitas vezes se opõem.
Mesmo se considerarmos a televisão como má influência para os adolescentes e
outros grupos, talvez fosse mais interessante pensarmos em como transformar esse
papel dado a ela, e transformá-lo em alguma coisa melhor e educativa para a nossa
juventude.
Considerar que a TV e outros meios de comunicação não afetam as nossas vidas,
talvez, represente uma idéia equivocada, pois, mesmo que eles não atuem de forma
principal ao influenciar o cotidiano dos adolescentes, com certeza eles estão presentes e
participando de alguma forma do conteúdo diário do nosso dia a dia.
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Analisando as três linhas de pensamento, talvez a que mais se encaixe na
realidade atual seja a terceira. Pensar na televisão como atuante, mas não como
determinante, mostra uma visão de que todos nós- crianças, adolescentes, adultos e etc-
temos autonomia, mesmo com os meios de comunicação a todo o momento nos
bombardear com imagens, notícias e informações, temos poder de decisão sobre o que
queremos ver ou aprender.
Cabe aos responsáveis ou os próprios adolescentes fiscalizarem o conteúdo que é
passado para eles, e se aquilo vai determinar seu modo de se vestir, de falar ou até se
comportar.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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comunicação de massa.Rio de Janeiro: Bloch, 1970.
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