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A CORUJA “SE O HOMEM NÃO SABE A QUE PORTO SE DIRIGE, NENHUM VENTO LHE SERÁ FAVORÁVEL” SÊNECA 2 0 0 5 - 3 3 5 8 Desde época milenar a coruja tem sido o principal símbolo da sabedoria, mas, por outro lado, também está presente em todo o mundo da feitiçaria. Três coisas sempre no cenário do mundo das feiticeiras 1 : a vassoura, o caldeirão e a coruja. Nesta palestra vamos falar sobre a coruja por se tratar mais do que um símbolo, por ter um poder sim- bólico apreciável. Trata-se de um animal xamânico por excelência e representa o equilíbrio existente no trabalho oculto. Nas culturas nativas, muitos animais animais de poder são considerados mensageiros dos deuses. Em estados especiais de percepção eles podem se apresentar à pessoa, e assim vir a se constitu- ir um “aliado”. Isso não somente no ocultismo, mas também na astrologia, tarot, runas, na alquimia, magia cerimonial, etc., mas também nas grandes religiões orientais e mesmo no Catolicismo sob a for- ma de pomba, de cordeiro etc. No xamanismo é muito importante a pessoa descobrir o seu animal de poder, ou totem, pois a pessoa tem certo grau de instinto animal que pode se refletir em suas qualidades. Não há grande misté- rio nisso; pois nos seres biológicos em geral, e no humano em particular há gens remanescentes de toda a escala evolutiva, assim sendo qualquer pessoa tem dentro de sim um tanto das distintas linhas de de- senvolvimento biológico, e que em certos momentos podem se manifestar. Assim a descoberta do ani- mal afim é muito importante, pois representa o instinto animal presente em cada pessoa; isso significa o despertar de qualidades inusitadas. O animal pessoal, portanto, diz muito da personalidade da pessoa. Cada uma tem o seu animal de poder que correspondem as características que são vantajosas, e sendo assim ela precisa desenvolver, aprender a manifestar em si em determinados momentos da vida. 1 Nesta palestra vamos nos referir a feiticeira, mas não associem com aquela imagem de uma pessoa má, com aquela ima- gem de bruxa, uma velha de pele seca e enruda, com uma verruga no nariz. Entendam como uma mulher de conhecimento, uma mulher de poder, que pode ser má, mas também boa, apenas é mais usual, neste caso, ser chamada de Fada. T E M A 1. 6 6 7

TEMA -1.667 - A CORUJA

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Tema hermético de José Laércio do Egito

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Page 1: TEMA -1.667 - A CORUJA

A CORUJA “SE O HOMEM NÃO SABE A QUE PORTO

SE DIRIGE, NENHUM VENTO LHE SERÁ

FAVORÁVEL” SÊNECA

2 0 0 5 - 3 3 5 8

Desde época milenar a coruja tem sido o principal símbolo da sabedoria, mas, por outro lado,

também está presente em todo o mundo da feitiçaria.

Três coisas sempre no cenário do mundo das feiticeiras1: a vassoura, o caldeirão e a coruja.

Nesta palestra vamos falar sobre a coruja por se tratar mais do que um símbolo, por ter um poder sim-

bólico apreciável. Trata-se de um animal xamânico por excelência e representa o equilíbrio existente no

trabalho oculto.

Nas culturas nativas, muitos animais – animais de poder – são considerados mensageiros dos

deuses. Em estados especiais de percepção eles podem se apresentar à pessoa, e assim vir a se constitu-

ir um “aliado”. Isso não somente no ocultismo, mas também na astrologia, tarot, runas, na alquimia,

magia cerimonial, etc., mas também nas grandes religiões orientais e mesmo no Catolicismo sob a for-

ma de pomba, de cordeiro etc.

No xamanismo é muito importante a pessoa descobrir o seu animal de poder, ou totem, pois a

pessoa tem certo grau de instinto animal que pode se refletir em suas qualidades. Não há grande misté-

rio nisso; pois nos seres biológicos em geral, e no humano em particular há gens remanescentes de toda

a escala evolutiva, assim sendo qualquer pessoa tem dentro de sim um tanto das distintas linhas de de-

senvolvimento biológico, e que em certos momentos podem se manifestar. Assim a descoberta do ani-

mal afim é muito importante, pois representa o instinto animal presente em cada pessoa; isso significa o

despertar de qualidades inusitadas. O animal pessoal, portanto, diz muito da personalidade da pessoa.

Cada uma tem o seu animal de poder que correspondem as características que são vantajosas, e sendo

assim ela precisa desenvolver, aprender a manifestar em si em determinados momentos da vida.

1 Nesta palestra vamos nos referir a feiticeira, mas não associem com aquela imagem de uma pessoa má, com aquela ima-

gem de bruxa, uma velha de pele seca e enruda, com uma verruga no nariz. Entendam como uma mulher de conhecimento,

uma mulher de poder, que pode ser má, mas também boa, apenas é mais usual, neste caso, ser chamada de Fada.

T E M A 1. 6 6 7

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A CORUJA – TEMA 1.667

A coruja é tida como símbolo da sabedoria não apenas ligado ao homem primitivo como tam-

bém ao erudito. O simbolismo animal e a sua representação totêmica também está presente na cultura

nativa do Brasil. Como cita Tatiana Menkaiká: “Na tradição Guarani, o Grande Espírito, Pai-Mãe

Criador, Ñamandu, manifestou-se na forma de um colibri e também na forma e uma coruja, criando a

sabedoria”.

Segundo a cultura nativa, todo ser humano possui um totem, constituído por um animal que a-

lém de emprestar algumas de suas características ao Xamã, também age como um guardião, um aliado,

e conselheiro, chamado animal de poder. Nesse contexto a coruja é tida como símbolo da sabedoria.

Como identificar o seu animal de poder? Diz a Tradição Xamânica que não é a pessoa que vai a

busca do seu animal de poder, é o inverso,é ele que vem até a pessoa em níveis especiais de percepção,

ou mesmo por afinidade e encantamento. Também porque na evolução biológica o organismo passou

por inúmeras fases de nível animal, assim a pessoa em seus gens resquícios de animais. Isso até aconte-

ce no desenvolvimento fetal, em que as fases embriogenias retratam muitos animais. Assim , perceber

um animal é perceber parte de si mesmo, sua atuação reflete o comportamento de animais.

Dependendo do animal que se manifesta, a pessoa pode adquirir certos poderes neles presentes,

como, por , ver mais longe (Águia e Gavião), enxergar inimigos ocultos (coruja), perseguir seus objeti-

vos (falcão) e assim por diante. Em suma, observando àss características do animal se pode identificar

as qualidades pessoais da pessoa com ele identificado. Depois de ser identificado o animal pessoal cabe

desenvolver em si as capacidades a ele inerentes.

A coruja é uma ave noturna, uma ave que vê no escuro. Assim, através de sua magia, a pessoa

pode ampliar muitas de seus atributos, por exemplo, ver o lado oculto das coisas. Ela se mantém quieta,

só atuando no momento preciso. Jamais age precipitadamente; procura ver sua presa, identifica-la,

mesmo que seja no escuro. Pacientemente espera até o momento preciso para entrar mem ação. Como

animal noturno, quando a maioria das outras aves estão dormindo ela está acordada ela está de sentine-

la.

Para os Índios Yonomani da Amazônia, todo homem tem um ou mais animal de poder. Para eles

os animais também podem ser espíritos de ancestrais, que vivem nas florestas.

Conectar com uma animal de poder visa o despertar de sua sabedoria, comportamento e maes-

tria;visa se conectar com a nossa própria essência e com as qualidades instintivas que existe em qual-

quer ser humano, como parte da sua natureza. É buscando esse poder animal dentro de si é que a pessoa

se prepara para as batalhas da vida e do espírito.

A coruja simboliza o “over na totalidade” porque o seu campo visual é mais vasto do que a de

todos ao outros animais, e mais que isso, é um dos poucos animais que tem os olhos na frente, e não de

lado como todas as outras aves. Assim ela, tal como o ser humano, tem binocular, pode ver em três

dimensões. Ela tem capacidade de ver na escuridão, o que significa também grande ampliação dos limi-

tes da percepção.

No campo mágico o poder da pessoa cujo animal de poder é a coruja indica a conexão de todas

as partes do seu ser, a capacidade de poder ver a si mesma como nenhuma outra, assim ela pode se co-

nhecer melhor, e conhecendo-se ela vence o temor e aprende com facilidade qualidades de consciência

de existir em todos os níveis. Sua imaginação é bem elaborada, planifica com calma, com objetividade,

e depois se lança a fim de conquistar o objetivo premeditado.

Os poderes místicos da “pessoa coruja” são: Clarividência, Projeção Astral e a Magia. Pode pa-

recer ser uma pessoa muito desconfiada, quando, na verdade, ela é apenas precavida porque vê o que os

outros não vêem.

Os Hopi tinham alto respeito pela coruja por isso ela tem sido representada por diversas Kachi-

nas.

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A CORUJA – TEMA 1.667

Ilustração 1

Kachinas Hopi

Os Hopi2 são descendentes remotos dos lemurianos e guardam algumas tradições desse povo.

Eram, entre todos os nativos da América, os mais trabalhadores, laboriosos, pacíficos e religiosos. Eles

consideravam muitos animais como representação das forças da natureza.

O poder da “Deusa Coruja” é invocado para que a pessoa desperte a capacidade de olhar para si

e de ter uma visão mais íntegra e respeito de si mesmo, ou de aspectos que ainda permanecem obscuros

e precisam ser visto.

Ilustração 2

Kachina da Deusa Coruja

Para os nativos norte-americanos, árticos e uralinanos (montes Urais) a coruja estava ligada ao

mistério. Para os Antigos Gregos, simbolizava a prosperidade ateniense e ainda a trindade: Sabodria-

Ciência-Prudência, no Egito era considerado guardiã do umbral, passagem entre a vida e a morte e

tinha estreita ligação com Osíris. Para os Aztecas, simbolizava um divindade dos do inferno, represen-

tada como gorda da morada obscura da terra.

Na Idade Média Cristã a coruja simbolizava a meditação dos monges enclausurados em suas

celas e os místicos cristãos a ligaram aos Sete Dons do Espírito Santo: Sabedoria, Inteligência, Prudên-

cia, Força, Clarividência e Clari-audiencia, Piedade e Respeito à Mãe Terra e ao Criador. As tribos sul-

americanas costumavam interpretá-la como a “guardiã do mundo dos mortos”. Os xavantes a associam

a rituais fúnebres, como forma de fazer a pessoa ver todos os mistérios do mundo do além. Atena, a

deusa da cidade de Atenas, a tinha como seu símbolo. Na realidade, a coruja é um “animal de poder”,

que muitos xamães usam, e ate mesmo simples cartomantes, por representar a sabedoria.

“Eu sou Athena, conhecida por minha sabedoria. Tenho como meu totem – a coruja – eu vejo

tudo o que se passa ao meu redor. Sou forte como o Carvalho, ou pacificador como a Oliveira”.

2 Os Hopi constitui a tribo mais religiosa e mais espiritual do sudoeste americano. Sua fé em deus deuses. Os Hopi desen-

volvem uma religião complexa pra fixar o auxílio sobrenatural em suprir suas necessidades. Esses seres sobrenaturais são

representados nas bonecas – Kachina – considerados como mensageiros dos deuses