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tema de capa Texto Bruno Contrairás Mateus, Marta Martins Silva eVanessa Fidalgo foto capa Manuel Salvado
0s primeiros acordes falam de umamor perdido. João Carlos cerra
os olhos, põe as mãos nos bolsos,
só as tira quando as leva ao peito.Asalaestáa meia - luz, a audiên -
cia acompanha com chouriçoassado, a 7,5 euros, com cerveja,a 1,50, ou vinho, dez euros o jar-ro. Há quem feche os olhos. "A
gente lembra -se de quando era
mais pequeno e por isso chora
com o fado. O fado canta a vida
de toda a gente , toda a gente sen -te " diz Fernando Romão. Tem 82
anos, nado e criado na Travessa
da Queimada, ginga com o fado
vadio, torce as mãos, limpa as lá -
grimas, grita"Bravo!"Nopassa-do, foi ajudante de camionista,
mas agora assenta praça na Tas -ca do Chico, no Bairro Alto, em
Lisboa, com uma máquina foto-
gráfica a registar todos os que
por ali passam - profissionais ou
amadores. Não perde o fado -mesmo queofaça chorar -, por-que o fado lhe canta a vida, de di -
ficuldades e trabalho. A noite
ainda vai no início, mas hão-de
passar pelo 'palco' que nãoépal-
co, antes um cantinho improvi -
sado, as mais variadas vidas.
Não recebem cachet - "o fado
só é vadio quando não se recebe
dinheiro em troca" -, mas "o
mais importante é cantar ". Pas -sa um técnico reformado do La-boratório Nacional de Enge-nharia Civil que começou a sol-
tar o fado na guerra colonial;
uma fisioterapeuta, um soció-
logo, e até um jovem que trocou
as rimas do hip hop, só para citar
alguns. O senhor Reinado ofe-rece a todos um cartão com o
seu telefone, 'lèm 88 anos.
Do lugar onde cantou, havia
de cantar mais tarde, noite alta,
Raquel Tavares , uma das jovensfadistas mais aclamadas da ac-tualidade. Aplaude os amado-
res, toca guitarra portuguesa, na
mesma sala onde as paredestêm coladas fotografias suas.
"Olha eu ali, com 12 anos" -aponta. Vem sempre que pode."Venho beber desta inspiração,
aqui canta- se o fado sem qual-quer pretensão, as pessoas vêm
exorcizar as suas vidas." Numamesa mais recuada, está Bela,
do restaurante de Alf ama com o
mesmo nome . Veio vibrar com o
fado no Bairro Alto, reencontrar
amigos e clientes. "Nãoháriva-lidade, damo-nos todos bem."
A assistir também está o casal
de namorados, estudantes de
Direito, Inês e Afonso. Gostamdeste fado porque "é cantado
por pessoas como as que vemostodos os dias na rua" Pessoas
comuns sem aparato.Namesadetrãs,está um sur -
fista e professor de Educação Fí-sico e ainda um trompetista sue-
co, Bo Nilsson: "O fado canta
uma história triste e, embora eu
não perceba as letras, gosto mui-to." Ao lado, Luisa e Frederich,alemães a morarem em Alzejurhá oito anos: "Não entendemos
tudo, mas acho que o fado canta a
história de Portugal, que no pas -sado eram heróis do mar, e a tris -teza de terem deixado de o ser. É
isso, não é?" - pergunta Frede-rich. Fala de amor e saudade,acrescentamos. "Pois,tambémétriste." É por isso que Eduardo
Jorge, de 6o anos, tem de entrar
na personagem para cantar os
males deamor. "Tenho um casa-mento feliz, de 42 anos, por isso
não canto de experiência."Venha quem vier à Tasca do
Jaime, na Graça, é os pastéis de
bacalhau da dona Lavra que vai
provar (1,20 euros), o vinho do
Ribatejo (seis euros o jarro) e umbomfado amador. "Aos fadistas
e aos guitarristas eu não pago,
aproveito-me deles" - brinca
Jaime, o dono da tasca. "Fies é
que me pagam a mim, porque
têm de consumir. O fadista temnecessidade de cantar ; não vivedo fado." A casa é pequena.Numa mesa, está um póster de
Angelo Freire, o guitarrista deMariza - "ele começou aqui, a
tocar na minha guitarra "garan -
te Jaime, orgulhoso do instru-mento que o seu filho, de 15
anos, j á toca. Pai c filho tambémcantam o fado. Sc c amador, é
preciso é ter alma - " e ser casti -
ço". Lavra, a matriarca, faz
cumprir o silêncio com o baixardas luzes. "Eu tenho que ser
agreste, às vezes. Digo um 'xiv'
para toda a gente se calar. Nãodou porrada às pessoas."
Em Alfama, os recantos ?
"O fado cantaa vida de todaa gente epor isso fazchorar. Todaa gente sente"Fernando Romãofrequentador da Tascado Chico
? inspiram palavras e devol-vem - nas ao vento com fado. E se
for vadio, é nas ruas que se ouve .
Cecília Casal Ribeiro, empre-gada do Flor dos Arcos, diz quesó canta por brincadeira, mas
ainda à hora de almoço uns tu-ristas brasileiros a desafiaram.
"Canteinaesplanada'acapellaí'No Esquina de Alfama, mistu-
ram-se amadores com profis-sionais. Eduardo Tereso, 6lanos, já cantou 'Gaivota doente'
(Vasco Graça Moura) , entre três
temas. "Não recebo dinheiro. É
só pelo prazer de cantar " conta o
engenheiro mecânico aposen-tado. "Não se pense que é fácil
ser fadista. Há técnicas que uns
copiam e outros estudam."
Tarei de Witte e Miche Foré,um casal belga, regressam todos
os anos a Portugal, desde 2004,"especialmente pelo fado" emAlfama. Miche, 55 anos, até jáchorou. "Nãoseiporquê..."
Foi a paixão que levou Mafaldae Paulo, um jovem casal, a visi-tar este restaurante. Pelo jantar
pagaram 51 euros (vinho, dois
pratos de carne, um pires de
paio, cafés e uma aguardente).Mas foi o fado que os inspirou.Mafalda cantou duas músicas,estreando-se como 'fadista'." Sinto paz na alma com o fado."
Foi uma surpresa que o maridolhe fez. Paulo explica: "Portugal
precisa de uma Amália. E a mi-nha Amália é a minha mulher."
O Café Luso nasceu em 1927,
numa altura em que as casas de
fado eram novidade. Antes disso,
"sobretudo no século XTX, ofado
era escutado em tabernas e ou-tros locais pouco recomendá-
veis, mas também, no contra-
ponto, em meios aristocráticos.
A casa de fado apresentou -
-se como um sítio decente paraos artistas se apresentarem e fa-zeremearreira" - contextualizaa
gerência do Luso -no Bairro Alto
desde os anos 40. Por lá se vive-ram histórias que participaramna História do País e do Mundo.Na altura da II Guerra Mundial,"em virtude da posição neutral
de Portugal, Lisboa tornou-se
entreposto da espionagem inter -
nacional, tanto que entre os boé -mios do Café Luso não era raro
encontrar espiões"
Amália também era presençaassídua. Chegoumesmo a gravarum disco ao vivo no Café Luso,
em 1955. Nessa década, "ofere-
ceu aos funcionários um concer -
to. Na altura, nenhuma outra
casa de fado igualava o cachet
que o Luso lhe pagava, de 1000escudos por noite"
Mas a diva não foi a única pro -
tagonista de histórias que mar-
caram o passado desta casa. "Nadécada de 80, o embaixador do
México ficou arrebatado ao ouvir
ElsaLaboreiro(queaindahojefaz
parte do elenco) , e a embaixatriz
levantou-se, subiu ao palco, reti-rou as travessas do cabelo e quisoferecer as jóias à artista" Celes-
te Rodrigues, que hoje canta noBacalhau de Molho, tambémporlá passou. A irmã de Amália co-
meçou a cantar em 1945. Lem-bra-se de quando as casas de
fado "eram tertúlias, com famí-lias inteiras"
Na noite em que Ada de Castro
se ia estrear como fadista profis -
sional no Faia, a 13 de Março de
1960, foi impedida de entrar,
pelo porteiro, o senhor Raul, norestaurante porque vinha sozi-
nha "e naquela altura uma se-nhora sozinha não podia entrar
numa casa de fados" - conta P-edro Ramos, um dos actuais pro-prietários do Faia, no Bairro Alto.
"Ninguém o tinha avisado, e fi-couaAdadeCastroàporta,àes-pera. 0 porteiro era um homem
previdente. Tinha sempre uma
gravatinha para emprestar aos
clientes, porque naquela altura
para entrar numa casa de fados
convinha usar gravata'! Tam-bém era o senhor Raul que levava
o Carlos do Carmo à escola, ain-da rapaz de calções . Porque nes-
sa altura o Faia, que começou porser Adega da Lucília, em 1 947, erada mãe do fadista. Foi lá que C ar -los do Carmo deu os primeiros
passos na música, "numa brin-cadeira de fim de noite com os
amigos da mãe"
Mariza, quando entrou no Faia
pela primeira vez, terá mesmodito: 'Ah, este é o Faia de que o
Carlos do Carmo tanto fala'" -recorda Pedro. Por lá também
passaram Alfredo Marceneiro,Tristão da Silva e FernandoMaurício, entre tantos outros.
Para a história recente têm con -tribuído Camané, Lenita Gentil,Anita Guerreiro, Ana Marta e Ri-cardo Ribeiro. Naruadas Gáveas,
a Severa, de Júlio Banos Evange-
"As pessoasvêm com tudoe com todoscantar à Tascado Chico"João Carlosapresentador
"Sinto pazna alma como fado"Mafalda Carvalhoestreou-se a cantar ofado no restauranteEsquina de Alfama
Nas casas defado, um jantare espectáculode fado custaentre 40 e 60euros porpessoa
Das raízes af ro-brasileiras aos salões e às tascas
África, Brasil, Lisboa. Adis- ; início do século XIX". Diz ; acompanhado à viola. Nas
cussão sobre as origens do: Nery que "foi em Lisboa ; primeiras gravações, do iní-
fado não está encerrada, \ que a música foi trabalhada : cio do século XX, até pianosmas Rui Vieira Nery -musi-
;até se chegar ao fado, que \se ouvem", conta o musicó-
cólogoe presidente da co- : prosperou entre as déca- ; logo. Certo éo papel demissão científica da candi- : das de 1820-30". Quanto à : Amália na renovação lírica:
datura do fado a património ; guitarra portuguesa, não foi ¦ "Até aí. o fado fazia-se so-
imaterialdaUnesco-de- a primeira escolha. "A qui- bretudo de poetas popula-fende que nasceu "de uma tarraé uma adaptação da res.É ela quem primeiro
dança cantada afro-brasi- l guitarra inglesa, introduzi- canta eruditos como David
leira chamada fado, que ;da nos salões da aristocra- Mourão Ferreira ou Pedro
terá chegado a Lisboa no : cia. No início, o fado era Homem de Mello." j.e.m.
lista, compõe a história do fado
há 56 anos. Por lá jã passaram"todos os presidentes destepaís" E não só. Richard Nixon,presidente dos EUA entre 1069 e
1974, em visita a Lisboa, pediuparaolevaremaos fados. Aterrouna Severa. Miterrand (ex- presi-dente de França) foi outra das fi -
guras de Estado que ouviram fa -dos na Severa, que também re-cebia Amaria. A fadista "vinhacomer carapauzinhosfntosefa-vas. Antes de começar a cantar,nos dias em que queria cantar e
as pessoas lhe pediam, bebia
meia garrafa de champanhefrancês" - recorda Júlio.
Também pelo Senhor Vinho,fundado em 1975 por José Luís
Gordo, Maria da Fé e AntónioMelo Correia, passaram ao longodos anos nomes sonantes da
canção nacional. Maria Arman-da, Maria da Nazaré, Ada deCastro e Machado Soares, no
passado; Mariza, Aldina Duarte,Ana Moura, Camané, nos últi-mos anos. Também guitarristascomo José Fontes Rocha (acom -
panhou Amália) , Paquito e Pedro
Leal. "Fomos acompanhando a
modernidade, mas o fado nuncaé velho, é o mesmo de sempre,desde que cantado com senti-mento" - diz José Luís Gordo. E
em silêncio. Porque há coisas quenunca mudam. ©
"É um canto que aceleraa circulação sanguínea"
Nointervalo de
um ensaio,Mafalda Ar-nauth confes-
sa-se numaroda-viva "com tanto traba-lho" " Este é um canto diferente,
pela força e, ao mesmo tempo,contenção. É um canto que ace-
lera a circulação sanguínea" re -
vela quem acredita tero "privi-légio de viver e de construir umacarreira numa época áurea do
fado"porque isso significa tam-bém que, "passada a fase das
dúvidas, uma nova vaga de fa-distas se confirmou'!
A fadista faz uma média de 50concertos por ano, mais de me-tade em Portugal. Acha difícil
cantar o fado sem ter na filiaçãoADN português: "É precisouma sensibilidade muito parti-cular. . ." Ou, como diria o músi-co Jorge Fernando, que acom-
panhou à viola e gravou com
Amália, é preciso ter "caracte-rísticas de carácter que são só
nossas" Nem sempre o País en-tendeu isso mesmo.
Jorge Fernando lembra -se do
tempo em que o fado era "des-denhado" e visto como género
menor. "O 25 de Abril trouxe
coisas boas e algumas más. E a
elite pseudo-intelectual queatirou o fado para um patamarbaixo foi das más. Foi preciso
surgir uma nova geração de jor -
nalistas que soubesse olhá-lo
como outra música qualquer"recorda. Dos tempos que traba-
lhou com Amália, ficou -lhemuito. "Gravou-se dentro de
mim sem que eu tivesse dado
conta, e fez de mim uma pessoadiferente" confessa.
Não viveu esses tempos Katia
Guerreiro - fadista mas tambémmédica. A sua preocupação é o
futuro: "No estrangeiro surgirãomais adeptos, mas a minhamaior esperança reside em Por -
tugal. Gostaria de ver o fado a ser
explicado em escolas, a ser fala-
do com orgulho" Katia acha cu-riosa a paixão que têm pela nos -
sa música os estrangeiros quedecoram letras ou aprendemportuguês para poderem cantar.
Mas não é a mesma coisa.
"Está-nos no sangue, na forma
"A Amálianunca teve deprocurar sítiopara cantar"Estrela Carvasamiga de Amália
"Um fadistade nome podereceber 50 a100€/noite emcasa de fados"Jorge Fernandomúsico
"Comofalecimentode Amália,percebeu-seque tinha idouma granderiqueza"Pedro Moutinhofadista
Um milhão e 800 mil euros em discos vendidos
Tozé Brito, actual presiden-;
Portuguesa, em 2010 o ; da crise que a indústria mu-
te da Sociedade Portugue- i fado ocupou uma fatia de:
sical atravessa: "O público
sadeAutores, defende que :20 por cento do total das : defadonãofazdownloads",o fado é "talvez o mercado
:
vendas de discos portugue- : garante Tozé Brito. Etam-mais dinâmico e valioso" da ses.Tendoemcontaqueo ;
bém gosta de ouvir a sua
indústria musical. "0 fado: segmento nacional factu- ;
música na rádio. "A existên-
representa um terço dos rou pouco mais de nove mi- cia de estações que só pas-
espectáculos realizados in-:
Ihõesdeeuros.ofadocon- ;samfadoé um sinal deste
ternacionalmente.oqueé seguiu render cerca de um momento de ouro", acres-
óptimo".Jánoqueserefere milhão e oitocentos mil eu- :centa Tozé Brito, referindo-
aos discos, segundo dados ros. Os números do suces- ; -se a estações como a lis-
da Associação Fonográfica so têm explicação, apesar '¦ boeta Rádio Amália. v.f.
como vivemos e sentimos "
Talvez tenha sido isso quedespertou, aos 15 anos, Fábia
Rebordão para o fado: "As luzes
apagadas, o timbre das vozes
sem microfone, a tragédia naface de quem cantava. Fiqueifascinada" Passou a pertencer -
-lhe, dando-lhe "verdade"
A tal verdade dos fadistas, de
que fala também Pedro Mouti-nho: " O fado vive das palavras e
das histórias que elas contam. A
interpretação tem de ser sentida,
tem de soar a verdade." Defende
que com o falecimento de Amá-lia Rodrigues, as pessoas seaper-ceberam de que "tinham perdi-do algo de grande riqueza" e co-
meçaram a prestar-lhe mais
atenção, linha sete anos quandoentoou o seu primeiro fado
numa colectividade de Alcân-tara. Ofado,aliás,conheciabem
o caminho para chegar a Pedro
Moutinho. Já antes tinha recla-
mado a voz do seu irmão mais
velho, Camanc, que muitos
apontam como 'culpado' pelo
despontar de uma época de
ouro.Camanérecusaotítulo. "O
fado renova-se por si e semprehouve novas gerações. Agoratêm é mais visibilidade , até por -
que os portugueses ainda pen-
"Quem diriaque seria ofado a elevaro moral dosportugueses'Marco Rodriguesíadisld
sam assim: "Se lá fora gostam,então também temos de gostar."
"Feliz e satisfeito" Ricardo Ri-beiro admite orgulho pela pró-pria candidatura, "que foi dis-
tinguida por estar muito bemfeita" mas dela espera "maiorcuidado na salvaguarda deste
património" e um "olhar mais
cuidadoso sobre o futuro"Cidália Moreira pertence à ge -
ração dos mestres. Logo ela, queveio do Algarve para Lisboa ain-da menina de 17 anos para cantai
nas casas de fado. E hoje , aos 67,
aindaporláanda.Porisso,Ci- ?
Quando os aplausos ditavam o melhor fadista
Só sabia cantar seis fados. -toda a vida dedicada aos ; Casa da Imprensa. Nos
E subiu ao palco do Coliseu tapetes de Arraiolos - inter-:
anos anteriores, o público
de Lisboa para três mi! pes- : pretouToiDeusldeAmália. : "levava no farnel pastéis de
soas a ouvirem. Tinha espe- O público levantou-se, nata e coxas de frango! Até
rado a noite toda. Já nem aplaudiu com crescente en- garrafões de vinho. "Era
estava nervosa. Descon- tusiasmo. Gritava: "Ase- bairrismo, porque os vence-
traiu quando o apresenta- nhora venceu ! ", e, como o dores eram ditados pelo
dor da Grande Noite do público era soberano, foi a tempo dos aplausos- o re-
Fado disse: "Falta cantar vencedora de 1988 José La:
corde foram 5 minutos", diz.
duas pessoas, mas os yen- ! Féria organizou a Grande "Perdeu-se o espectáculo
cedores já estão escolhi- Noite do Fado entre 1996 e mais antigo do País" -co-dos." Maria Augusta Costa i 2008 (o último ano), pela meçou em 1953. b.e.m.
dália impõe respeito quandodiz que "gente a cantar o fado há
muita, fadistas há poucos'.'' ' Poucos se podem orgulhar de
ter uma cultura com esta raiz,esta força e riqueza. Não pode-mos descura - Ia e temos o dever
de a levar mais longe" afirma
Carminho, a filha da fadista Te-
resa Siqueira que, aos 12 anos,ficava sentada na mesa da "Bia"
na Taverna no Embuçado.
"Qualquer dia já se fala de
fado na escola! " aspira Ana So-
fia Varela, enquanto CucaRoseta acredita que a distinçãointernacional vai trazer "in-
vestigação e empenho na edu-
cação e na formação, maior di -
namização dos espaços onde
se canta o fado e essencial-mente a promoção e dignifica -
ção do fado e de Portugal portodo o Mundo" Mas é o jovemMarco Rodrigues que apontaas coincidências: "Quem diria
que seria o fado, conotado com
a tristeza e a melancolia, a ele -
var o moral dos portugueses,em pleno século XXI, nummomento de particular con-
tenção e dificuldades. .."
Aos 77 anos, Fernando Alvimconta que foi também daqueles
que aprenderam "o verdadeiro
fado nas casas de fado" Aos 15
anos, via tocar e pedia para tocar.
"Uns anos depois, quem mais
gostei de acompanhar à viola foi
o Carlos Paredes [durante 25
; anos]. As variações do Paredes
: eram improviso atrás de impro-viso '! Passaram todos estes anos
: e Alvim revolve a pergunta:;
"Como é que, tocando instru-
: mentos tão importantes como a
; viola ea guitarra, os guitarristas: passam sempre ao lado? Em 50: anos de carreira, dei a primeira: entrevistatelevisivahâummês."
O máximo que Alvim ganhou
:
foram 2500 euros num espectá-
culo, mas o normal eram 750 ." O; CarlosParedesganhavatrêsve-: zes mais do que eu."©
Amor e lirismo na
canção de Coimbra
Ascapas negras en-
volvem os om-bros dos fadistas.
O som das guitar-ras prende a alma.
Atarde ainda mal caiue, no cen-tro histórico de Coimbra, na ruado Quebra Costas, ouve -se o
fado numa sala bem composta.Nas paredes, as fotografias re-tratam quem faz a história da
canção de Coimbra.
João Farinha, de 35 anos (na
voz ,licenciado em gestão de em -
presas), Luís Barroso, 37 (na gui-tarra, engenheiro de minas), e
Luís Carlos Santos, 46 (na viola,
bioquímico), entregam -se ao
projecto Fado ao Centro. "Qui-semos proporcionar às pessoasfado ao vivo durante o dia. Este
projecto ê recente, mas temos
tido muita gente interessada,
principalmente estrangeiros"
explica João Farinha, um dos res -
ponsáveis pelo projecto. "Ofadode Coimbra está muito ligado à
comunidadeacadémica. Fala es-sencialmente de amor e é mais li -
rico do que o de Lisboa 1
; explica.
João Farinha encaminha- se
para a parede e olha para a foto
do pai. " Sou filho de fadista. Até
chegar à faculdade, gostava de
rock, pop, heavy metal. Foi na
universidade que nasceu esta
paixão." Luís Barroso trilhou umcaininhosemelhante. "Quando
cheguei de Lisboa para estudar
em Coimbra, trouxe a minha
guitarra eléctrica. Acabei porme apaixonar pelo fado'! O gui-tarrista guarda na memória ummomento único: "Toquei com a
Amália Rodrigues em Coimbra.
Em 1 g 97, ela veio a uma cônsul -
ta e ficou hospedada num hotelda cidade . Também numa brin-cadeira, chamaram-me, umbocado à pressa, porque a D.
Amália queria cantar fado. Foi
um momento único ".
Noutra casa, a acústica de uma
antiga capela recebe todas as
noites a voz de António Ataíde,de 43 anos, na rua Corpo de
Deus. "O projecto Quinteto de
Coimbra nasceu em 2001 para
preencher uma lacuna: faltava
um espaço dedicado à divulga-ção da canção de Coimbra" lem-
braofadista, também sócio-ge-
rentedoÀCapefla.Nas ruas estreitas da Baixa,
uma luz denuncia a entrada do
Diligência. Num ambiente aco-
lhedor, o fadista deambula pelas
mesas. Não é um espaço exclu-
sivo da canção de Coimbra, mas
desde 1972 que se compõe com
clientes regulares. 0 ambiente e
a música agradam a Sebastian
Genovard, Benito Ferrer e Aqus-tia Duran, três espanhóis de
Maiorca. "Este bar é pouco for-mal, ao contrário de outras casas
de fado" sublinha Benito. As
guitarras voltam a trinar. Silên-
cio que se vai cantar o fado. c& ©