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INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL SUSTENTÁVEL
TEMPERAMENTO DE BOVINOS DE CORTE: FATORES GENÉTICOS E
AMBIENTAIS
Anielly de Paula Freitas
Nova Odessa
Fevereiro – 2016
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS
INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL SUSTENTÁVEL
Temperamento de bovinos de corte: fatores genéticos e ambientais
Anielly de Paula Freitas
Orientadora: Profª. Drª. Claudia Cristina Paro de Paz
Co-orientadora: Drª. Flávia Fernanda Simili
Nova Odessa
Fevereiro – 2016
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação do Instituto de Zootecnia,
APTA/SAA, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em Produção
Animal Sustentável.
Ficha Catalográfica elaborada pelo
Núcleo de Documentação e Informação do Instituto de Zootecnia
Bibliotecária: Tatiane Helena Borges de Salles – CRB 8/8946
F866t Freitas, Anielly de Paula.
Temperamento de bovinos de corte: fatores genéticos e ambientais /
Anielly de Paula Freitas
Nova Odessa, SP: [s.n.], 2016.
85p.; il.
Dissertação (mestrado) – Instituto de Zootecnia. APTA/SAA,
Nova Odessa.
Orientadora: Dra. Claudia Cristina Paro de Paz
Co-orientadora: Dra. Flávia Fernanda Simili
1. Bem estar. 2. Comportamento 3. Manejo. 4. Parâmetros genéticos I. Paz,
Cláudia Cristina Paro de. II. Simili, Flávia Fernanda III. Título.
CDD – 636.213
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO
AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS
INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL SUSTENTÁVEL
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
TÍTULO: TEMPERAMENTO DE BOVINOS DE CORTE: FATORES
GENÉTICOS E AMBIENTAIS
AUTOR: ANIELLY DE PAULA FREITAS
Orientadora: Drª. Claudia Cristina Paro de Paz
Co-orientadora: Drª. Flávia Fernanda Simili
Aprovado como parte das exigências para obtenção de título de MESTRE em Produção
Animal Sustentável, pela Comissão Examinadora:
Drª. Claudia Cristina Paro de Paz
(Orientadora - Instituto de Zootecnia)
Drª. Maria Eugênia Zerlotti Mercadante
(Instituto de Zootecnia)
Dr. Guilherme Costa Venturini
(UNESP)
Data da realização: 01 de Fevereiro de 2016
Presidente da Comissão Examinadora
Profª. Drª. Claudia Cristina Paro de Paz
DEDICATÓRIA
Primeiramente a Deus, aos meus pais José Olavo e Shirley, ao meu irmão
Wellington, à minha “maninha” Eliana e à minha sobrinha Larissa.
AGRADECIMENTOS
À Deus, pela minha vida, por ter me presenteado com uma família e pessoas maravilhosas ao
meu lado.
Aos meus Pais, Shirley de Paula Freitas e José Olavo de Freitas, por sempre me incentivarem
a lutar pelos meus objetivos e por todo amor e carinho, ao meu irmão Wellington de Paula
Freitas, meu grande amigo, á minha “maninha” Eliana Aparecida dos Santos Freitas, por todo
carinho e incentivo e a minha princesinha Larissa. Vocês são minha referência e minha vida.
À minha orientadora Profa. Dra. Claudia Cristina Paro de Paz, pela orientação, dedicação,
paciência, pelos ensinamentos e por me conceder a oportunidade de realizar este trabalho.
Serei sempre grata pelo seu incentivo em um passo muito importante na minha profissão.
À minha co-orientadora Dra. Flávia Fernanda Simili, pela valiosa contribuição na execução
deste trabalho e sempre me ajudar com dedicação na realização deste trabalho. Muito
obrigada pelos ensinamentos e atenção dedicada.
À Dra. Maria Lucia Pereira Lima, pela paciência e pela valiosa contribuição na execução
deste trabalho, bem como os valiosos ensinamentos.
À Profa. Dra. Lenira El Faro Zadra, pela paciência, pela orientação, pelos ensinamentos e
incentivos.
Aos membros da banca Dra. Maria Eugênia Zerlotti Mercadante e o Dr. Guilherme Costa
Venturini pela disposição, pelos ensinamentos e por toda contribuição.
À minha “chefe” Elisa Junqueira Oliveira pela paciência, pelo companheirismo, amizade e
por toda a ajuda que me deu. Serei eternamente grata.
A todos os professores e pesquisadores do Instituto de Zootecnia pelos ensinamentos, carinho
e atenção pelo qual fui tratada.
À todos os funcionários, tanto do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, quanto do Centro
APTA Bovino de corte de Sertãozinho pelo companheirismo, atenção e por fornecer suporte e
infraestrutura para a realização deste trabalho.
Ao Dr. Manoel Victor Franco Lemos por me acolher durante o estágio docência, pelos
conselhos, ensinamentos, compreensão e amizade.
À todos os meus amigos e companheiros do mestrado por todos os bons momentos e risadas.
À todos que de alguma forma ajudaram direta ou indiretamente no desenvolvimento deste
trabalho.
À Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior, pela bolsa de estudos.
TEMPERAMENTO DE BOVINOS DE CORTE: FATORES GENÉTICOS
E AMBIENTAIS
RESUMO
Os objetivos do presente trabalho foram: 1) estimar os parâmetros genéticos das variáveis
utilizadas para avaliar o comportamento animal: escore de temperamento (ET) e tempo de
saída (TS), e as características peso vivo, escore de condição corporal (ECC) e altura da
garupa de bovinos da raça Nelore; 2) avaliar o efeito das raças Nelore, Caracu e Guzerá sobre
as características comportamentais: escore de entrada (EE), escore de temperamento (ET),
escore de saída (ES) e velocidade de saída (VS) durante o manejo no curral, além de avaliar o
efeito das raças e do temperamento dos animais sobre os parâmetros sanguíneos (cortisol,
glicose e lactato) e estimar a relação entre características comportamentais, parâmetros
sanguíneos e características de crescimento. Para a estimativa dos parâmetros genéticos foram
utilizadas 1872 mensurações provenientes de 905 animais, colhidas entre os anos de 2014 e
2015, de animais da raça Nelore, machos e fêmeas, nascidos entre os anos de 1998 a 2014,
com idades maiores que 250 dias. Os modelos de análise para todas as características
incluíram os efeitos fixos de grupo de contemporâneos (linha de seleção, sexo, ano de
nascimento, ano de avaliação e curral de manejo) e a covariável idade do animal (linear e
quadrática). Os componentes de covariância foram estimados por meio de inferência
estatística Bayesiana usando os pacotes THRGIBBS1F90, empregando-se um modelo animal
multicaracterística, incluindo-se, como aleatórios os efeitos genéticos aditivos direto, de
ambiente permanente direto e residual, e como efeitos fixos o grupo de contemporâneos e a
idade como covariável (efeito linear e quadrática). Para o estudo do efeito das raças sobre
características comportamentais e parâmetros sanguíneos foram colhidos dados de 119 fêmeas
da raça Nelore, 63 da raça Caracu e 33 da raça Guzerá, nascidas entre setembro e dezembro
de 2013. As análises de variância foram realizadas por meio de procedimentos GENMOD do
programa SAS. O modelo para as análises das características comportamentais incluiu apenas
o efeito da raça. Para os parâmetros sanguíneos foi usado o procedimento GLM SELECT do
programa SAS para verificar quais das variáveis comportamentais proporcionam o melhor
modelo para esses parâmetros juntamente com o efeito da raça. As correlações foram
estimadas por meio do procedimento CORR SPEARMAN do programa SAS. As estimativas
de herdabilidade para ET, TS, ECC, peso vivo e altura da garupa para animais da raça Nelore
variaram de 0,08 á 0,93. A correlação genética entre as características indicadoras de
temperamento foram altas e negativas (-0,80), indicando que quanto menor for o ET do
animal, maior será seu TS, sendo assim mais calmo ele é. O TS foi a característica com
relação genética mais favorável com o peso vivo, com o escore de condição corporal e com a
altura da garupa (0,27; 0,56 e 0,37). Esses resultados indicam que é possível obter ganho
genético se essas características comportamentais forem incluídas no processo de seleção.
Para o estudo do comportamento de bovinos de corte durante o manejo no curral foi
constatado que todas as variáveis comportamentais apresentaram efeito de raça, sendo as
raças zebuínas as mais reativas, exceto para o ET. As correlações indicam que animais com
bom temperamento apresentam menores escores comportamentais, menores velocidades de
saída, níveis mais baixos dos hormônios indicadores de estresse e ganham mais peso.
Palavras-chave: bem-estar, comportamento, manejo, parâmetros genéticos
TEMPERAMENT OF BEEF CATTLE: GENETIC AND
ENVIRONMENTAL FACTORS
ABSTRACT
The aims of this study were: 1) to estimate the genetic parameters of the variables used to
evaluate animal behavior: temperament score (TS), and exit time (ET), and traits body weight,
body condition score (BCS) and rump height of Nelore cattle. 2) evaluate the effect of races
Nellore, Caracu and Guzerat over behavioral traits: input score (IS), temperament score (TS),
exit score (ES) and flight speed (FS) during handling corral, in addition to evaluate the effect
of race and the animal temperament on the blood parameters (cortisol, glucose and lactate)
and estimate the relationship between behavioral traits, blood parameters and growth traits.
To estimate genetic parameters were used 1872 measurements collected between the years
2014 and 2015, of Nelore cattle, males and females, born between the years 1998-2014, with
greater than 250 days age. The analysis models for all traits included the fixed effects of
contemporary group (selection row, gender, year of birth, year of assessment and handling
corral) and the covariate age of the animal (Linear and quadratic). The covariance
components were estimated by means of Bayesian statistical inference using the
THRGIBBS1F90 packages, using an animal multi-trait model, including, as random the direct
additive effects, direct permanent environmental and residual, and as fixed effects the
contemporary group and age as a covariate (linear and quadratic effect). To study the effect of
the races over behavioral traits and blood parameters were collected from 119 females
Nellore, 63 of Caracu and 33 Guzerat born between September and December 2013. Analyses
of variance were conducted by means of GENMOD procedures of SAS program. The model
for the analysis of behavioral traits included only the effect of race. For blood parameters was
used GLM SELECT procedure of SAS program to check which of behavioral variables
provide the best model for these parameters together with the effect of race. Correlations were
estimated by means of CORR SPEARMAN procedure of SAS statistical program. The
heritability estimates for TS, ET, BCS, body weight and rump height for Nellore animals
varies 0.08 from 0.93. The genetic correlation between the indicator traits of temperament
were high and negative (-0.80), indicating that the smaller the animal's TS, the greater the ET,
so it calmer it is. The ET was the trait with more favorable relative to body weight, with a
BCS and the rump height (0.27; 0.56 and 0.37). These results indicate that it is possible to
obtain genetic gain if these behavioral traits are included in the selection process. For the
study of beef cattle behavior in the handling corral was found that all behavioral traits present
race effect, being the most reactive zebu breeds, except for TS. The correlations indicate that
animals with good temperament have lower behavioral scores, lower FS, lower levels of stress
hormones indicators and gain more weight.
Keywords: animal welfare, behavior, genetics parameters, handling
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................ 17
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ..................................................................... 17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 19
2.1 Bem-estar animal ...................................................................................................... 19
2.2 Temperamento dos bovinos ...................................................................................... 20
2.2.1 Raça Nelore ....................................................................................................... 21
2.2.2 Raça Caracu ....................................................................................................... 22
2.2.3 Raça Guzerá ...................................................................................................... 22
2.3 Variáveis comportamentais ....................................................................................... 23
2.4 Parâmetros genéticos ................................................................................................. 24
2.5 Fisiologia do estresse ................................................................................................ 25
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 29
CAPÍTULO 2 – PARÂMETROS GENÉTICOS, FENOTÍPICOS E
AMBIENTAIS PARA CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DE
BOVINOS DA RAÇA NELORE ................................................................................. 37
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 41
2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 43
2.1 Local e caracterização do rebanho ............................................................................ 43
2.2 Mensurações das Características ............................................................................... 44
2.3 Análise estatística e estimação dos parâmetros genéticos, fenotípicos e ambientais 45
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 49
4 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 57
CAPÍTULO 3 – INFLUÊNCIA DO TEMPERAMENTO SOBRE O BEM-
ESTAR DE BOVINOS DE CORTE ........................................................................... 63
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 67
2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 69
2.1 Local e tratamentos ................................................................................................... 69
2.2 Estrutura dos currais .................................................................................................. 69
2.3 Mensurações das Características ............................................................................... 70
2.4 Descrição das variáveis comportamentais ................................................................ 70
2.5 Análise estatística ...................................................................................................... 71
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 73
4 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 79
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 81
17
CAPÍTULO 1: CONSIDERAÇÕES GERAIS
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
O Brasil tem apresentado decréscimo na população rural e segundo o IBGE (2010),
entre 1980 e 2010 esse percentual caiu de 32,30% para 15,64%. Como consequência ocorreu
diminuição na disponibilidade de mão de obra para a lida com o gado nas fazendas. Diante
deste problema se faz necessário o desenvolvimento de sistemas de produção mais eficientes,
visando manejo que facilite o trânsito dos animais, de forma a demandar menos mão-de-obra,
além de ser mais seguro tanto para o trabalhador quanto para o gado, assegurando o bem-estar
de ambos.
Animais muito reativos são indesejáveis por apresentarem fator de risco para os
manejadores e para si próprios, podendo ainda gerar custos adicionais de produção (Fordyce
et al., 1988; Grandin, 1993), devido ao aumento do tempo de trabalho, dos riscos para o
trabalhador, aumento de acidentes de trabalho, além da ocorrência de traumas no couro e na
carne do animal (Maffei, 2009). Segundo Grandin (2014), animais com medo levam de vinte
a trinta minutos para se acalmarem, dificultando e aumentando o tempo de manejo.
A reatividade é descrita na literatura sob o termo temperamento, com definições
baseadas nas expressões comportamentais do animal frente à presença ou o manejo de seres
humanos (Ferguson e Warner, 2008; Tamioso et al., 2014). A resposta comportamental de
bovinos para contenção e manipulação é uma indicação de temperamento (Burrow e Corbet,
2000).
O temperamento dos animais está intimamente ligado a forma e a intensidade de
manejo do sistema de produção em que eles se encontram (Figueiredo et al., 2005; Argôlo et
al., 2010). O temperamento depende de situações ambientais e sociais, além de estímulos de
novidade (Grignard et al., 2000), podendo também, fornecer meios de predizer problemas
relacionados ao bem-estar animal e saúde (Boissy, 1995). Entre os fatores que afetam o
temperamento, citam-se a raça, a idade (Rech et al., 2008; Silveira et al., 2010) e as condições
de manejo (Silveira et al., 2008). Já segundo Grandin (1997), a reação dos animais é
determinada por interações complexas entre fatores genéticos e experiências prévias, sendo
assim, manejos inadequados e agressivos podem ser mais estressantes para animais com
temperamento ruim quando comparados com animais de melhor temperamento.
18
Outro aspecto importante a ser considerado é a relação entre o temperamento e o
desempenho produtivo. Em vários estudos com ruminantes é possível encontrar associações
entre medidas de temperamento e ganhos de peso, assim como qualidade da carne. Bovino
com temperamento mais agressivo tem reduzida eficiência alimentar (Petherick et al., 2002),
ganha menos peso (Gómez et al., 2010), produz menos leite (Uetake et al., 2002; Phocas et
al., 2006), produz carne de pior qualidade (Sanz et al., 1996; Silveira et al., 2006; Vann et al.,
2011), é mais susceptível às doenças (Fell et al., 1999), têm baixo desempenho reprodutivo
(Burrow et al., 1988) e pode apresentar danos em sua carcaça (Paranhos da Costa et al., 2012).
Animal com temperamento mais calmo tem melhor desempenho e ganho de peso (Burrow,
1997; Voisinet et al., 1997; Petherick et al., 2002) e maior taxa de concepção (Cooke et al.,
2011).
Segundo Maffei (2009), as raças zebuínas, conhecidas popularmente como raças
agressivas têm sido alvo da propaganda negativa, pois por terem temperamento mais reativo.
Por esse motivo já é possível encontrar programas de melhoramento genético que incluem
características de temperamento em seu critério de seleção na busca por animais menos
reativos para facilitar o manejo e que sejam mais produtivos, como o programas de
melhoramento genético para bovinos de corte da CRV Lagoa (Sumário PAINT®
Consolidado,
2015) e da Nelore Qualitas (Sumário de Touros Nelore Qualitas, 2014).
Um dos problemas encontrados para a introdução das características comportamentais
em mais programas de melhoramento genético é a falta de métodos padronizados para avaliar
o comportamento animal. Deste modo, a padronização de um método de avaliação se torna
um fator essencial na inclusão do temperamento como critério de seleção, além de tornar
possível a identificação das características responsáveis pela expressão da reatividade.
Perante a importância econômica do estudo do comportamento animal, o objetivo do
presente trabalho foi estimar as correlações genéticas, fenotípicas e ambientais, e as
herdabilidades de características comportamentais e produtivas da raça Nelore, além de
comparar características comportamentais, produtivas e parâmetros sanguíneos entre fêmeas
das raças bovinas Nelore, Caracu e Guzerá.
19
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Bem-estar animal
Desde a revolução industrial, ocorrida entre os séculos XVIII e XIX, ocorreu um
conjunto de mudanças por toda Europa, que alteraram sensivelmente as relações entre os
homens, o meio ambiente e a economia dos países europeus. A crescente demanda por
produtos industrializados e o êxodo rural exigiram a profissionalização de fazendas
produtoras de proteínas de origem animal. O antropocentrismo aliado ao desconhecimento da
senciência animal levou ao aumento da produção animal sem a aplicação do conceito de
bioética ou bem-estar animal.
Em 1964, Ruth Harrison escreveu o livro “Animal Machine” que revelou e alertou a
sociedade e aos governos para o fato de que na indústria, muitos consideravam animais de
produção como meros objetos ou máquina de produção. A autora descreveu o esforço para
obter o aumento na produtividade a qualquer custo e o desenvolvimento de práticas de manejo
consideradas “desumanas”. Como consequência da exposição das condições dos animais, a
autora tornou-se influente em vários comitês sobre bem-estar animal, sociedades de proteção
animal e grupos governamentais (Van de Weerd e Sandilands, 2008). Em 1965 foi formado o
Comitê Brambell chefiado pelo Professor F.W.R. Brambell, com a participação de
especialistas em comportamento animal, como o doutor W.H. Thorpe, da Universidade de
Cambridge. Neste comitê foi elaborado um relatório que define os princípios éticos e
biológicos básicos para a criação de animais (Brambell, 1965). Nele foram estabelecidas as
“Cinco Liberdades”. As liberdades determinam que os animais devem estar (Poletto, 2011):
1. Livres de sede, fome e má nutrição, dando acesso livre à água fresca e a uma
dieta correspondente a fase de produção que atende as necessidades nutricionais;
2. Livre de desconforto, providenciando um ambiente adequado com acesso a
abrigo e área confortável e seca para descanso;
3. Livre de dor, ferimentos e doenças através de prevenção com rápido
diagnóstico e tratamento;
4. Livre para expressar comportamento normal, dando acesso a espaço físico
suficiente, condições de moradia apropriadas e a companhia de outros animais da mesma
espécie;
20
5. Livre de medo e estresse por meio de condições e práticas de manejo que
minimizam o estresse e evitam sofrimento físico e mental.
O comitê Brambell também deu iniciativa ao desenvolvimento de normas e leis para
criação animal e estimulou a integração das áreas acadêmicas e científicas em bem-estar
animal, devido à necessidade de embasamento científico.
No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é responsável pelo
fomento de ações que garantam o bem-estar dos animais. Para tanto foi formalizada uma
comissão para cuidar especialmente das questões relativas a esse tema, a Comissão Técnica
Permanente de Bem-estar Animal – CTBEA (BRASIL, CTBEA criada pela Portaria nº 185,
de 2008). Dentre as atribuições da CTBEA estão à divulgação e a proposição de boas práticas
de manejo, o alinhamento da legislação brasileira com os avanços científicos e os critérios
estabelecidos pelos acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, bem como preparar
e estimular o setor agropecuário brasileiro para o atendimento às novas exigências dos
principais mercados importadores.
O bem-estar animal vem se tornando uma das principais discussões na pecuária.
Segundo Mobiglia et al. (2014), esse tema não é só discutido por cientistas, mas também pela
sociedade em geral. A ausência de estresse é um bom indicador do bem-estar, sendo este
termo definido como um estado que ocorre quando um animal necessita fazer ajustes
anormais tanto em termos fisiológicos como comportamentais a fim de lidar com os aspectos
negativos do ambiente e manejo (Fraser et al., 1975).
Devido a essa preocupação do consumidor com os padrões de bem-estar dos animais,
os produtores preocupados com ações que não causem alterações na produtividade, passaram
a aliar o desempenho produtivo do rebanho ao temperamento ou reatividade, o qual indica a
facilidade no manejo (Morris et al., 1994). Tanto o comportamento animal, quanto a fisiologia
estão envolvidos na resposta do animal ao estresse, por isso esses parâmetros são comumente
utilizados para avaliar o estresse animal (Broom e Johnson, 1993).
2.2 Temperamento dos bovinos
A bovinocultura de corte brasileira reconhece que um dos melhores caminhos para
atingir a competitividade desejada é continuar sua produção a pasto, e para isto tem-se
explorado a grande potencialidade produtiva dos rebanhos bovinos brasileiros compostos por
animais das raças zebuínas, animais reconhecidamente mais rústicos e melhor adaptados.
Porém, a maximização dos processos de produção deste setor só será possível se os pontos
21
fracos destas raças forem eliminados, entre eles, o temperamento mais agressivo (Maffei,
2009).
De acordo com Burrow e Dillon (1997), o manejo das raças zebuínas criadas
extensivamente é mais difícil em comparação ao manejo com raças taurinas. Segundo Silveira
et al. (2006), animais com predominância de sangue zebuíno tendem a reagir de forma mais
agressiva, prejudicando a condução dos demais animais do lote o que pode elevar o risco para
os funcionários que trabalham diretamente com esses animais.
Os bovinos são animais gregários que relutam em se separar dos companheiros de
rebanho, assim como em se misturar com animais estranhos. Quando submetidos a situações
que provocam dor, isolamento, ruídos repentinos e medo, os bovinos passam por estresse e
reagem a essas situações modificando o seu comportamento, podendo aumentar a sua agitação
e tentativas de fuga (Lanier et al., 2000).
2.2.1 Raça Nelore
A raça Nelore, ou Ongole, teve inicio quando as tribos arianas invadiram a Índia,
desde 5.000 a.C., deixando muitas raças diferentes de gado por onde passavam. As migrações
percorreram a Índia do Noroeste para o Sudeste, encerrando-se no estado de Andhra Pradesh e
foi lá que o gado Ongole veio a se desenvolver, promovendo vários cruzamentos com raças
locais. Santos (1995) relatou que o Nelore moderno é fruto da influência de 14 outras raças.
Em seu país de origem, o Nelore, por seu grande porte, foi usado como animal de tração e
produção de leite e por questões religiosas, sua carne não foi explorada.
A primeira aparição do Nelore no país teria ocorrido em 1868 quando um navio que se
destinava à Inglaterra ancorou em Salvador com um casal de animais da raça a bordo, onde
foram comercializados. Cerca de dez anos depois, em busca de animais exóticos para trazer
ao Brasil, Manoel Ubelhart Lembgruber teve contato com a raça Ongole durante uma visita ao
zoológico de Hamburgo, na Alemanha, e de lá promoveu a importação de um casal de
animais da raça. Posteriormente, outras partidas oriundas diretamente da Índia aportaram no
Rio de Janeiro. A raça Nelore foi então se expandindo aos poucos, primeiro no Rio de Janeiro
e, em seguida, São Paulo e Minas Gerais. Em 1938, com a criação do Registro Genealógico,
começaram a ser definidas as características raciais do Nelore. A raça Nelore apresenta
temperamento ativo, porém dócil se bem manejado (ACNB, 2015).
22
2.2.2 Raça Caracu
A raça Caracu é uma raça taurina originária do cruzamento não direcionado entre os
primeiros bovinos trazidos ao Brasil pelos colonizadores. Seus mais prováveis ancestrais são
animais das raças da península ibérica Transtagana, Galega ou Minhota, Barrosã, Arouquesa,
Mirandesa, Brava e Turino (Carvalho Dias, 1948). O Caracu teve sua origem principalmente
nos vales dos rios Sapucaí, São Francisco e Pardo, proveniente de rebanhos do Estado de
Minas Gerais, MG (Lima et al., 1992).
A rusticidade adquirida ao longo dos anos proporcionou à raça maior adaptabilidade
ao clima tropical, levando a raça a apresentar menor exigência alimentar, maior resistência
aos parasitas, cascos mais duros e longevidade.
O Caracu chegou a ser a raça mais criada no Brasil no início do século XX, sendo
considerado como animal para tração, leite e corte. Com a introdução do zebu na década de
40 a raça quase sumiu, porém a partir de 1980 foi iniciada uma nova fase na seleção da raça
comandada pela Associação Brasileira de Criadores de Caracu (ABCC) tendo como principais
parceiros o Instituto de Zootecnia de Sertãozinho (IZ), a Embrapa - Gado de Corte (Campo
Grande/MS) e o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). A raça Caracu é considerada
mansa e dócil, o que facilita o manejo no campo. O rebanho se espalha no campo diminuindo
a intensidade de pisoteio, possibilitando um melhor longevidade das pastagens (Anon, 1989;
ABCCaracu, 2015).
2.2.3 Raça Guzerá
A história do Guzerá ou Kankrej perde-se na origem da humanidade. Registros
arqueológicos encontrados em Mohenjo-Daro e Harappa, na Índia e Paquistão provam que o
Guzerá já era documentado pelos humanos na antiguidade por meio de desenhos em
cerâmicas e terracotas (ACGB, 2015). O hábitat do Guzerá é a região pré-desértica de Kutch,
em Gujarat, ao norte pelo deserto de Thar e pelo deserto de Sind, na Índia. Supõe-se que o
nome Guzerá tenha sido adotado pelos primeiros compradores ao adquirirem bovinos das
diversas raças como Malvi, Hissar e Tharparkar (Santiago, 1984), na província de Gujarat,
pois não existe na Índia raça com esta denominação (Duvivier, 1956). Em seu país de origem,
a raça era utilizada principalmente para tração e produção de leite, chegando a ser, em 1960,
uma das raças mais leiteiras do país, pois por motivos religiosos, a produção de sua carne não
foi explorada.
23
Exemplares da raça foram introduzidos no Brasil, por volta do século XIX, nas
cidades de Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Neste sentido, dentre as raças zebuínas trazidas,
o Guzerá vem se apresentando como uma raça de dupla aptidão (Furtado et al., 2012).
Existem alguns programas de melhoramento para o Guzerá que visam a obtenção de
produtos que atendam a produção leiteira e de carne com eficiência. Dessa maneira, o Guzerá
é uma raça que apresenta programas integrados para leite e para corte, de modo a oferecer
material genético comprovado para essas características simultaneamente (Peixoto et al.,
2013).
Na literatura não são encontrados muitos estudos que tratem das particularidades
comportamentais do Guzerá. Pires et al. (2012), ao aferirem o temperamento dos animais
observaram temperamentos que vão desde o muito dócil ao muito agressivo, e essa variação
dependia de fatores como época do ano, rebanho, condição fisiológica, peso, ordem de
entrada no brete e a idade da fêmea.
2.3 Variáveis comportamentais
Para a avaliação do temperamento dos animais podem ser utilizados parâmetros
fisiológicos ou comportamentais. Em geral, os parâmetros fisiológicos incluem a alteração das
frequências cardíacas e respiratórias dos animais (Bachmann et al., 2003), bem como
alterações hormonais como nos níveis séricos de cortisol, lactato e glicose (Boissy, 1995; Fell
et al., 1999; Curley Junior et al., 2008).
Com relação às mensurações indicadoras do comportamento, estas são realizadas com
ou sem restrição de movimento dos animais (Burrow e Corbet, 2000), podendo ser medidas
de modo objetivo, por exemplo, com o uso do equipamento “Flight Speed” que mensura o
tempo que o animal percorre uma distância conhecida após a saída da contenção, ou de modo
subjetivo por meio de escores visuais. Existe um cuidado para que as mensurações sejam
padronizadas de forma a não haver interpretação subjetiva, ou seja, qualquer observador deve
anotar corretamente a informação apenas seguindo as descrições das variáveis e,
principalmente, se estas metodologias criadas são viáveis para serem aplicadas em rebanhos
comerciais.
Existem vários métodos e adaptações realizadas para medir os indicadores
comportamentais. Em bovinos a reatividade é usualmente avaliada durante o manejo que
medem o grau de perturbação do animal quando este é submetido a pesagem ou contenção.
Entre os mais estudados estão os escores de reatividade (ER), o escore de saída (ES), o escore
24
composto (EC) e o escore de temperamento (ET). Nesses testes restritivos, os animais são
limitados fisicamente e a reatividade é classificada por meio de escores, os quais indicam
respostas de medo e estresse, sendo este um método subjetivo. Na literatura podem ser
encontradas escalas de avaliação de reatividade variando de 3 a 10 níveis (Paranhos da Costa,
2002).
A velocidade de saída da contenção ou também chamado de tempo de saída é uma
medida bastante usada para se verificar o temperamento do animal. Trata-se de uma medida
objetiva, adaptada de Burrow et al. (1988), e que leva em consideração o tempo com que os
animais levam para percorrer uma distância pré-determinada após a soltura da contenção,
sendo que valores menores tempos de fuga (ou maiores velocidades de saída) e maiores
escores de tipo de marcha foram associados com maior reatividade dos animais (Grandin,
1993; Burrow e Dillon, 1997; Silveira et al., 2008).
Vetters et al. (2013) realizaram um experimento de forma a comparar o uso da
velocidade de saída do tronco e o escore de saída do tronco como medidas para avaliar o
temperamento do animal. Em seus estudos, foi colocado na saída do tronco de contenção,
leitores infravermelho para medir a velocidade do animal (em m/s) e duas pessoas avaliaram o
escore de saída, tais como: se o animal andava, trotava ou corria. Os autores concluíram que
as duas medidas foram bastante eficazes para avaliar o temperamento do animal, podendo ser
feitas uma ou outra avaliação, distintamente ou alternadamente.
2.4 Parâmetros genéticos
Estudos sobre características de crescimento, produtivas e reprodutivas dos animais de
criação são relevantes para programas de melhoramento, os quais são elaborados com base no
conhecimento dos parâmetros genéticos de características que são diretamente associados
com rentabilidade e produtividade. Assim, a partir desse conhecimento é possível predizer as
respostas diretas e correlacionadas a essas características, propor índices de seleção mais
favoráveis ao objetivo proposto e escolher os métodos de seleção mais adequados para os
rebanhos avaliados (Sousa et al., 2006).
Existe um interesse crescente em características comportamentais associados com
bem-estar animal e facilidade de gerenciamento. Essas características de temperamento, como
medo ou agressividade são importantes, pois afetam a maneira como o animal responde às
condições de criação e de manejo na fazenda e durante os procedimentos, como o transportes
e o abate.
25
As estimativas de herdabilidade para características comportamentais encontradas para
na literatura variam conforme a metodologia usada, a raça e o tipo de manejo, podendo ir de
valores baixos a moderados, indicando que algum progresso genético pode ser feito em
programas de melhoramento genético, selecionando para essas características, além de
apresentar correlações favoráveis com outras caraterísticas relacionadas à eficiência produtiva
e até mesmo à qualidade da carne (Norris et al., 2014).
Herdabilidade para a pontuação docilidade de 0,22 foi relatada por White et al. (2014)
para novilhas Angus. Sant’anna et al. (2013), ao avaliarem escores de temperamento de
animais da raça Nelore relataram estimativa de herdabilidade de 0,15. Sant’anna et al. (2015),
ao avaliar o temperamento por escore de comportamento e o velocidade de saída, estimou
herdabilidades de 0,21 e 0,28, respectivamente, para animais da raça Nelore. Kadel et al.
(2006), avaliando uma população da raça Brahman e suas cruzas por diferentes métodos de
avaliação de temperamento (tempo de fuga, velocidade de saída e escore de tronco)
estimaram herdabilidades variando de 0,15 a 0,19. Figueiredo et al. (2005), estimaram
herdabilidade igual a 0,17, utilizando avaliação de escore de temperamento em ambiente
aberto. Já em ambiente de restrição, a herdabilidade relatada por Hearnshaw e Morris (1984)
foi de 0,46.
No melhoramento genético animal o sentido e a magnitude da relação entre as
características são importantes, isso porque a mudança decorrente do processo de seleção no
valor genético de uma característica pode causar alterações no valor genético de outras (Van
Vleck et al., 1987; Costa et al., 2009). Lucena et al. (2015) estimaram correlação genética
entre escore de temperamento e peso ao desmame de -0,33 para animais da raça Nelore.
2.5 Fisiologia do estresse
Os animais expressam medo quando expostos a situações de novidade como novos
ambientes, contato com humanos, outros animais ou até mesmo mudanças em suas estruturas
sociais. Essas alterações podem ser de ordem fisiológica e/ou comportamental (Ferguson et
al., 2006). O estresse é o principal indicador para avaliar o bem-estar animal, e pode ser
definido como a resposta biológica de um indivíduo frente a uma ameaça à sua homeostase,
provocada por um agente ou estímulos estressores, sendo que quanto maior for o estresse
passado pelo animal, pior será sua avaliação de bem-estar.
A resposta do organismo é uma tentativa de retornar a homeostase, sendo que a
primeira reação é o reconhecimento do agente estressor com a alteração do comportamento na
26
tentativa de escapar ou livra-se do estressor e a segunda reação é ativada pelo sistema nervoso
autônomo (Moberg, 2000; Pugh et al., 2011). Essa reação ocorre quando os estímulos são
conduzidos via sistema nervoso, por neurotransmissores, até o hipotálamo, onde é secretado o
hormônio liberador de corticotropina (CRH), que é transportado até a hipófise estimulando a
síntese e liberação de adrenocorticotropina (ACTH), que estimula a liberação de
glicocorticoides, como o cortisol, e catecolaminas, como adrenalina e noradrenalina, pela
glândula adrenal (Matteri et al., 2000; Pugh et al., 2011).
O cortisol é um glicocorticoide, que promove a gliconeogênese por meio de duas
ações: aumenta a liberação de aminoácidos dos tecidos periféricos e induz a síntese de
enzimas-chave para a gliconeogênese. Estimula também a lipólise, contribuindo para a
elevação da quantidade de ácidos graxos circulantes. O resultado é um aumento na
disponibilidade de glicose para o metabolismo celular que contribui para aumentar a
resistência orgânica contra os efeitos negativos do meio (Marzzoco e Torres, 1999). Além
disso, o cortisol também causa uma diminuição da taxa de utilização de glicose pelas células
do corpo, o que gera um aumento da concentração da glicose sanguínea (Matteri et al., 2000).
Em bovinos, o estresse de qualquer tipo fará com que a concentração plasmática de
cortisol aumente consideravelmente (Edwards et al., 1987) sendo que a concentração basal de
cortisol nos bovinos oscila entre 5 e 10 ng/mL (Yoshida e Nakao, 2005). A resposta do
cortisol a um estressor é quase imediata, sendo proporcional à magnitude do estressor
(Cunningham, 2004). Entretanto, se o animal sofre estresse passageiro, dentro de um curto
prazo, muitas vezes não há respostas com alteração de níveis de cortisol, mas há alteração nos
níveis de lactato e glicose (Benjamim et al., 2001).
A glicose é a principal fonte de energia em todas as células animais, e é armazenado,
no corpo só como glicogênio, que é distribuído principalmente no fígado e músculo
esquelético. Por esta razão, a maioria da glicose circulante nos ruminantes origina da
gliconeogênese e qualitativamente o precursor mais importante neste caminho é a propionato
(Cunningham, 2004). Os valores de referência utilizados para avaliar a concentração
sanguínea de glicose para espécie bovina, situam-se no intervalo de 45 e 75 mg/mL (Kaneko
et al., 2008).
O lactato constitui um bom indicador de lesão muscular. Em situações de estresse
intenso, pode ocorrer exaustão muscular levando a um aumento nas concentrações de lactato
plasmático, devido à intensa degradação do glicogênio muscular (Kaneko et al., 2008).
27
A base fisiológica para o efeito do temperamento foi alvo de vários estudos, que
mostraram que animais mais reativos apresentam um nível de cortisol mais elevado que
animais mais calmos (King et al., 2006; Cafe et al., 2011). Curley Junior et al. (2008)
estudaram essa resposta em detalhes e evidenciaram que, apesar de ter níveis basais mais
elevados, os animais mais reativos mostraram uma resposta adrenal mais elevada usada para
desafiar, comparados com animais mais calmos, indicando uma função adrenal basal mais
elevada, o que é frequentemente associada com o estresse crônico.
O estresse conduz a uma redução dos níveis de glicogênio nos músculos, que reduz os
níveis disponíveis para transformação de lactato afetando a qualidade da carne (Haskell et al.,
2014), pois baixos níveis de lactato não baixam o pH do músculo, ocasionando uma carne
mais dura (Maltin et al., 2003).
28
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37
CAPÍTULO 2 – PARÂMETROS GENÉTICOS, FENOTÍPICOS E
AMBIENTAIS PARA CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DE
BOVINOS DA RAÇA NELORE
RESUMO
O temperamento dos animais está intimamente relacionado com a forma e a intensidade de
manejo do sistema de produção. A avaliação do temperamento de bovinos é uma ferramenta
importante que pode ser utilizada pelo produtor para aperfeiçoar seu sistema de produção,
pois animais reativos são indesejáveis, devido ao fator de risco no manejo, gerando custos
adicionais. O objetivo do presente estudo foi estimar os parâmetros genéticos das variáveis
utilizadas para avaliar o comportamento animal (escore de temperamento e tempo de saída),
além das características peso vivo, escore de condição corporal e altura da garupa de bovinos
da raça Nelore. Foram utilizadas 1872 mensurações colhidas nos anos de 2014 a 2015, de 905
animais da raça Nelore, machos e fêmeas, nascidos entre os anos de 1998 a 2014, com idades
maiores que 250 dias, provenientes do Centro de Pesquisa de Bovinos de Corte do Instituto de
Zootecnia, em Sertãozinho, SP. As análises de variância foram realizadas por meio de
procedimentos GENMOD e GLM do programa estatístico SAS. Os modelos de análise para
todas as características incluíram os efeitos fixos de grupo de contemporâneos (linha de
seleção, sexo, ano de nascimento, ano de avaliação e curral de manejo) e a covariável idade
do animal (linear e quadrático). Os componentes de covariância foram estimados por meio de
inferência estatística Bayesiana usando os pacotes THRGIBBS1F90, empregando-se um
modelo animal multi-características, incluindo-se, como aleatórios os efeitos genéticos
aditivos direto, de ambiente permanente direto e residual, e como efeitos fixos o grupo de
contemporâneos e a idade como covariável (efeito linear e quadrático). As estimativas de
herdabilidade para escore de temperamento, tempo de saída, escore de condição corporal,
peso vivo e altura da garupa foram iguais a 0,08; 0,14; 0,54; 0,46 e 0,93, respectivamente. A
correlação genética entre as características indicadoras de temperamento foram altas e
negativas (-0,80), indicando que quanto menor for o escore de temperamento do animal,
maior será o tempo gasto por ele para percorrer 1,5m, sendo assim mais calmo ele é. O tempo
de saída foi a característica com relação mais favorável com peso vivo, escore de condição
corporal e altura da garupa (0,27; 0,56 e 0,37), sendo que quanto maior for o tempo de saída,
maior será o peso vivo, o escore de condição corporal e a altura da garupa do animal. Esses
resultados indicam que é possível obter ganho genético se essas características
comportamentais forem incluídas no processo de seleção.
Palavras-chave: correlações genéticas, herdabilidade, temperamento, zebuínos
38
39
CHAPTER 2 - GENETIC, PHENOTYPIC AND ENVIRONMENTAL
PARAMETERS FOR BEHAVIORAL CHARACTERISTICS OF
NELLORE CATTLE
ABSTRACT
The temperament of the animals is closely related to the form and intensity of production the
animal temperament is closely related to the form and intensity of handling of production
system. The cattle temperament evaluation is an important tool that can be used by the farmer
to perfect your production system, because reactive animals are undesirable, due to the risk
factor in the handling, generating additional costs. The aim of this study was to estimate
genetic parameters of the variables used to evaluate animal behavior (temperament score and
exit time), in addition to weight traits, body condition score and rump height of Nelore bulls.
Were used 1872 measurements collected between the years 2014 and 2015, 905 Nelore cattle,
males and females, born between the years 1998-2014, with greater than 250 days age, from
Beef Cattle Research Center of Instituto de Zootecnia in Sertãozinho, SP. Analyses of
variance were conducted by means of GENMOD and GLM procedures of statistical program
SAS. The analysis models for all traits included the fixed effects of contemporary group
(selection row, gender, year of birth, year of assessment and handling corral) and the covariate
age of the animal (Linear and quadratic). The covariance components were estimated by
means of Bayesian statistical inference using the THRGIBBS1F90 packages, using an animal
multi-trait model, including, as random the direct additive effects, direct permanent
environmental and residual, and as fixed effects the contemporary group and age as a
covariate (linear and quadratic effect). The heritability estimates for TS, ET, BCS, body
weight and rump height for Nellore animals varies 0.08 from 0.93. The genetic correlation
between the indicator traits of temperament were high and negative (-0.80), indicating that the
smaller the animal's TS, the greater the time spent by him to go 1.5m, so it calmer it is. The
ET was the trait with more favorable relative to body weight, with a BCS and the rump height
(0.27; 0.56 and 0.37), being that the greater the exit time, the greater the body weight, body
condition score and rump height the animal's. These results indicate that it is possible to
obtain genetic gain if these behavioral traits are included in the selection process.
Keywords: genetics correlations, heritability, temperament, zebu
40
41
1 INTRODUÇÃO
Os padrões de qualidade exigidos pela indústria da carne têm forçado o setor pecuário
brasileiro a investir mais no aperfeiçoamento dos sistemas, buscando a utilização de novas
tecnologias para suprir a diminuição de mão-de-obra no campo. A busca pela competitividade
é acirrada e a produção com o menor custo possível é um dos principais objetivos da pecuária.
Há um crescente interesse pelas características comportamentais associadas com bem-
estar animal e facilidade de manejo. Essas características de temperamento, como medo ou
agressividade afetam a maneira como o animal responde às condições de criação e de manejo
na fazenda. Os fatores não genéticos que influenciam o temperamento do animal são,
predominantemente, fatores de ambiente como o tipo de curral, a presença de animais
estranhos ao rebanho, barulhos excessivos, interação com seres humanos entre outros fatores
que podem ser minimizados e tem resposta quase que imediata (Maffei, 2009; Barozzo et al,
2012).
Deste modo, a avaliação do temperamento dos animais domésticos é uma ferramenta
importante a ser utilizada visando o aperfeiçoamento do sistema de produção, pois se sabe que
animais mais reativos são indesejáveis, por ganharem menos peso (Gómez et al., 2010;
Voisinet et al., 1997), apresentarem pior qualidade de carne (Silveira et al., 2006; Veissier et
al., 2008; Muchenje et al., 2009; Strappini et al., 2009); pior eficiência reprodutiva (Macedo
et al., 2012), por serem mais susceptíveis às doenças por serem mais estressados que os
animais mais calmos (Fell et al., 1999; Curley Junior, et al., 2008) e por consistirem fator de
risco para as pessoas que os manejam e para si próprios, gerando custos adicionais devido ao
aumento do tempo de manejo e da incidência de acidentes de trabalho (Fordyce et al., 1988;
Grandin, 1993; Maffei, 2009), por esse motivo a seleção de animais com melhor
temperamento pode trazer benefícios para melhora do desempenho dos animais, além de
melhorar a segurança e o bem-estar dos animais (Norris et al., 2014).
As raças zebuínas são conhecidas pelo seu comportamento mais reativo (Burrow,
2001), devido a isso é possível encontrar programas de melhoramento genético que incluem
características de temperamento em seu critério de seleção com o objetivo de buscar animais
de alto valor genético para características de interesse econômico e que sejam menos reativos
(Sumário PAINT®
Consolidado, 2015 e Sumário de Touros Nelore Qualitas, 2014).
Entretanto um dos problemas encontrados para introdução dessas características
comportamentais em mais programas de melhoramento genético é a falta de métodos
padronizados para avaliar o comportamento animal, sendo assim a padronização de um
42
método de avaliação se torna um fator essencial na inclusão do temperamento como critério
de seleção.
Vários estudos indicavam que o temperamento pode responder à seleção (Prayaga et
al., 2009; Sant’anna et al., 2013; Lucena et al., 2015). As estimativas de herdabilidade
estimadas para bovinos geralmente são de baixa a moderada magnitude, variando conforme a
metodologia, a população e a raça, permitindo inferir que é possível modificar as populações
por meio de seleção (Fordyce et al., 1982; Hoppe et al., 2010; Burdick et al., 2011).
Correlação genética favorável entre o bom temperamento e qualidade de carne e algumas
características reprodutivas foram observadas indicando que a seleção para a melhora do
temperamento ou docilidade resultará em melhorias nessas características (Hamlyn-Hill,
2014).
Diversos estudos obtiveram baixas estimativas de herdabilidade, variando de 0,11 a
0,13 para a raça Angus e de 0,17 a 0,35 para a raça Simental (Gauly et al., 2001) e estimativas
de repetibilidade de 0,20 (Morris et al., 1994) e 0,52 (Fordyce e Goddard, 1984). Sant’anna et
al. (2013), ao avaliarem escores de temperamento de animais da raça Nelore relataram
estimativa de herdabilidade de 0,15. Kadel et al. (2006), avaliando uma população da raça
Brahman e suas cruzas por diferentes métodos de avaliação de temperamento (tempo de fuga,
velocidade de saída e escore de tronco) estimaram herdabilidades variando de 0,15 a 0,19.
Ao avaliar o escore de temperamento por meio de escores de comportamento e o
tempo de saída, Piovezan et al. (2013) estimaram herdabilidades de 0,34 e 0,35
respectivamente para animais das raças Nelore, Gir, Guzerá e Caracu. Lucena et al. (2015)
estimaram herdabilidade de 0,22 para escore de temperamento e correlação genética entre
essa característica e peso ao desmame de -0,33 para animais da raça Nelore.
O objetivo do presente estudo foi estimar os parâmetros genéticos das características
indicadoras do comportamento animal e das características de crescimento de bovinos da raça
Nelore.
43
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Local e caracterização do rebanho
O experimento foi realizado no Centro de Pesquisa de Bovinos de Corte, do Instituto de
Zootecnia /APTA/SAA, localizado em Sertãozinho, SP, entre outubro de 2014 e novembro de
2015. O Centro possui três linhas de seleção da raça Nelore: Tradicional, Seleção e Controle.
Os animais participam do Programa de Melhoramento Genético da raça Nelore desde 1978, e
são avaliados na Prova de Ganho de Peso, com início pós desmame, utilizando como critérios
de seleção o peso ajustado aos 378 dias de idade nos machos, e o peso ajustado para 550 dias
de idade, nas fêmeas. No rebanho Nelore Controle (NeC), os animais foram selecionados para
a média do grupo contemporâneo, com diferencial de seleção em torno de zero, enquanto que
nos rebanhos Nelore Seleção (NeS) e Nelore Tradicional (NeT), os animais foram
selecionados para maiores pesos, ou seja, com diferencial de seleção máximo para as
características mencionadas (Mercadante et al., 2003; Piovezan et al., 2013).
Para as análises foram utilizadas 1872 mensurações de 905 animais da raça Nelore,
machos e fêmeas, nascidos entre os anos de 1998 a 2014, com idades superiores a 250 dias,
provenientes das três linhas de seleção. Dos animais analisados 317 tiveram apenas uma
observação, 339 tiveram duas observações e 249 tiveram três ou mais observações. As
informações de características comportamentais e de crescimento foram medidas e observadas
durante sete meses de experimento, enquanto os animais passavam nos currais de manejo em
função da rotina da fazenda (pesagem, vacinação, coleta de sangue entre outros). A fazenda
possui dois currais de manejo (tradicional e racional) e por essa razão, as avaliações foram
realizadas, aleatoriamente, nesses dois ambientes diferentes.
Figura 1. Gráfico de distribuição de idade.
0
50
100
150
200
250
300
Até 1 2 3 4 5 6 7 Mais de
7
Nú
mer
o d
e a
nim
ais
Idade (anos)
44
O curral tradicional foi construído com tábuas de madeira com distância de
aproximadamente 15 cm entre elas, cercas de cabo de aço e tronco de contenção de madeira.
O tronco deste curral não contém balança acoplada, e os animais precisam sair do tronco para
serem pesados na balança que fica posicionada três metros após o tronco, sendo assim, os
animais saem do tronco e em seguida passam pela balança.
O curral racional trata-se de um brete hidráulico de contenção com dois corredores
ajustáveis que complementam o curral de manejo. Esse equipamento foi construído para
facilitar o trabalho com os rebanhos, por ser mais rápido e seguro, tanto para os trabalhadores
quando para os animais. Os equipamentos foram construídos em aço de alta resistência,
possuem tecnologias que garantem adequada pressão hidráulica para conter os animais sem
machucá-los, garantindo automação no manejo. A balança eletrônica acompanha o
equipamento, facilitando o controle de peso dos animais.
2.2 Mensuração das características
A avaliação do escore de condição corporal (ECC) dos animais foi realizada por um
único observador devidamente treinado utilizando a metodologia de Nicholson e Butterworth
(1986), com escala de 1 a 9. Essa mensuração foi realizada apenas no curral tradicional. A
altura da garupa foi feita com o uso da fita métrica fixada no tronco e o peso vivo foi medido
por meio de balança digital. Ambas as mensurações foram realizadas apenas no curral
racional. As avaliações das variáveis comportamentais foram realizadas nos dois currais.
O comportamento durante a contenção chamado de escore de temperamento (ET) foi
adaptado do escore proposto por Fordyce et al. (1982), mensurado por meio de anotações de
escore variando de 1 a 5, em que foi observado se o animal permanecia: muito quieto (1)
caracterizado pelo animal apresentar leve movimento de cabeça durante a contenção; pouco
agitado (2) caracterizado pelo animal apresentar movimentos de cabeça e corpo, dando no
máximo um passo; agitado (3) quando o animal apresenta maior movimentação do corpo e
tenta andar pelo tronco; muito agitado (4) quando o animal balança a cabeça com frequência,
se movimenta muito e tenta andar pelo tronco e lutando (5) é quando o animal luta, com
movimentos bruscos, para se livrar do manejador durante o ato da contenção.
O equipamento “Flight Speed” foi instalado em uma estrutura de metal na saída do
tronco, onde foi registrado o tempo de saída (TS) do curral em segundos, em que os animais
percorreram a distância fixa de 1,50 m. A metodologia proposta por Burrow et al. (1988) é
chamada de velocidade de fuga ou de saída.
45
2.3 Análise estatística e estimação dos parâmetros genéticos, fenotípicos e ambientais
Análises estatísticas preliminares foram realizadas com a finalidade de verificar o
efeito de grupo de contemporâneo sobre as características avaliadas e para definir a melhor
forma de analisá-las. Os modelos para todas as características incluíram o efeito fixo de grupo
de contemporâneos (linha de seleção, sexo, ano de nascimento, ano de avaliação e curral de
manejo). Para todas as características foi imposto que cada grupo de contemporâneo
contivesse, no mínimo, três observações. Também foram eliminados dados inconsistentes, de
todas as características, cujos valores estivessem fora do intervalo da média ± 3,5 vezes o
desvio padrão, dentro do grupo de contemporâneos. O arquivo de genealogia continha 2644
informações de animais ativos e inativos do rebanho.
Para a analise de variância foi realizado o teste de distribuição de normalidade dos
resíduos para todas as características estudadas pelo procedimento UNIVARIATE (SAS Inst.,
Inc., Cary, NC). Para as características que apresentaram distribuição normal de frequência,
como peso e altura da garupa, as análises foram realizadas por meio de modelos lineares,
usando o procedimento GLM (SAS Inst., Inc., Cary, NC). Para as características que não
seguiram distribuição normal de frequência como o escore de temperamento, o tempo de
saída e o escore de condição corporal, as análises foram realizadas por meio de modelos
lineares generalizados usando o procedimento GENMOD (SAS Inst., Inc., Cary, NC). Dentre
os diversos critérios utilizados para escolher a distribuição de frequência que melhor se
ajustou aos dados, foi realizada uma análise comparativa dos critérios de informação de
Akaike (AIC) Akaike (1974), Akaike Corrigido (AICC) de acordo com Bozdogan (1987) e
Bayesiano (BIC), de acordo com Schwarz (1978), para cada variável estudada. As
distribuições de frequências testadas foram Poisson, Gamma, Multivariada, Normal e
Geométrica. A distribuição escolhida para todas as características foi a Gamma, pois foi a que
apresentou valores mais próximos a zero para cada critério de informação utilizado.
Os componentes de variância e covariância e os parâmetros genéticos para as
características de crescimento e comportamentais foram estimados por inferência bayesiana
usando os pacotes THRGIBBS1F90 (Misztal et al., 2002), empregando-se o modelo animal
multicaracterística, que incluiu como aleatórios os efeitos genéticos aditivos direto, de
ambiente permanente direto e o residual e como efeitos fixos, o grupo de contemporâneos
(linha de seleção, sexo, ano de nascimento, ano de avaliação e curral de manejo), e a idade do
animal como covariável (efeito linear e quadrático).
46
As análises realizadas consistiram de uma única cadeia amostral de 250.000 ciclos,
com um período de descarte inicial (“burn-in”) conservativo de 50.000 ciclos. O período de
descarte amostral foi de 25, assim 8.000 amostras foram efetivamente utilizadas para a
obtenção de parâmetros e intervalos de alta densidade. A convergência foi verificada com o
critério proposto por Geweke (1992) e por inspeção dos valores amostrados. As estimativas a
posteriori foram obtidas com a utilização do aplicativo POSTGIBBSF90 (Misztal et al., 2002)
O modelo pode ser representado na sua forma matricial por:
y = Xβ + Za + Wap + e
Em que:
y é um vetor de observações;
β é o vetor de efeitos fixos no modelo (grupo contemporâneo e idade linear e quadrático como
covariável), associados com a matriz de incidência para efeitos fixos X;
Z e W são matrizes de incidência par os efeitos aleatórios genético aditivo direto e ambiente
permanente direto;
a é o vetor dos efeitos aleatórios genético aditivo direto;
ap é o vetor do efeitos de ambiente permanente direto;
e o vetor de efeitos residuais.
As pressuposições, em relação aos componentes do modelo são:
b constante
a |G ~ NMV[0,(G ⊗ A)]
ap | P ~ NMV[0,(P ⊗ In )]
G | Sg, vg ~ IW[Sg v g, v g]
P | Sp, vp ~ IW[Sp v p, v p]
R | Sr, vr ~ IW[Sr v r, v r]
Em que: A, G, P, R, In são, respectivamente, as matrizes de coeficientes de parentesco, de
covariâncias de efeitos genéticos diretos, de ambiente permanente direto, residual e uma
matriz identidade (de ordem n); ⊗ é o produto de Kronecker; Sg e vg ; Sp e vp ; Sr e vr são os
valores "a priori" e graus de liberdade para as covariâncias aditivas diretas, de ambiente
permanente direto e residual, respectivamente.
O modelo de limiar que foi utilizado relaciona a resposta observada na escala
categórica com uma escala subjacente normal contínua. Assumindo que a escala subjacente
tem distribuição normal:
47
U | θ ~ N(Wθ, )
Em que: U é o vetor da escala base de ordem r; θ ’ = (b’, a’, ap’) é o vetor dos parâmetros de
locação de ordem s com b (definido sob um ponto de vista frequentista, como efeitos fixos), a
(como efeito aditivo aleatório), e ap (como efeito de ambiente permanente direto); W é uma
matriz de incidência conhecida de ordem r por s; I é uma matriz identidade de ordem r por r; e
é a variância residual.
De acordo com a perspectiva Bayesiana, foi assumido que as distribuições iniciais para
os efeitos genéticos, aditivo de ambiente permanente direto e os residuais seguem distribuições
normais multivariadas:
p(a | ) ~ N(0, A
p(ap | ) ~ N(0, I
p(e | ~ N(0, I
Em que: A é a matriz de parentesco com 2644 animais; é a variância genética aditiva direta;
I é a matriz identidade; é a variância de ambiente permanente direto; e
= é a variância
residual.
Após a definição dos parâmetros do modelo, o encadeamento entre as duas escalas
(categórica e contínua) pode ser estabelecido inequivocamente, com a contribuição da
probabilidade de uma observação estar na primeira categoria, sendo proporcional a:
P(yv = 0 | t, θ) = P(Uv ≤ t | t, θ) = ɸ((t - w'v θ ) / )
Em que, yv é a variável resposta para a vth
observação, tomando valores de 1 a 5 se a
observação pertence a primeira, segunda, terceira, quarta ou quinta categoria,
respectivamente; t é o valor do limiar que, por não ser estimável, é fixado um valor arbitrário;
Uv é o valor da variável subjacente para a mencionada observação; ɸ ( ) é a função de
distribuição cumulativa de uma variável normal padrão; e w'v é um vetor coluna de incidência
que une a observação vth
. Devido às observações serem condicionalmente independentes dado
θ, a função de verossimilhança é definida pelo produto das contribuições de cada registro
(Silva et al., 2003a).
48
49
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para todas as características estudadas (escore de temperamento, tempo de saída,
escore de condição corporal, peso vivo e altura da garupa), o efeito de grupo de
contemporâneos foi significativo (P<0,01). O efeito da idade do animal, tanto linear quanto
quadrático, foi significativo (P<0,01) apenas para as características escore de temperamento,
peso vivo e altura da garupa.
A média para o escore de temperamento (ET) foi de 2,01 ±1,04. Barrozo et al. (2010)
obtiveram média do escore de temperamento de 2,15 ±0,16, também para a raça Nelore.
Considerando que a escala varia de 1 a 5, o valor de 2,01 indica que, no geral, os animais
apresentam temperamento mais calmo (Tabela 1).
Tabela 1. Número de observações (n), média, mínimo, máximo, desvio-padrão (DP) e coeficiente de variação
CV (%) para escore de temperamento, tempo de saída em segundos, escore de condição corporal, peso vivo em
kg e altura da garupa em metros.
Característica n Média Mínimo Máximo DP CV (%)
Escore de temperamento 1606 2,01 1,0 5,0 1,04 51,74
Tempo de saída(s) 1552 1,35 0,14 11,53 1,16 85,92
Escore de condição corporal 1392 6,42 2,0 9,0 0,85 13,24
Peso vivo (kg) 1545 438,14 117,0 901,0 122,8 28,03
Altura da garupa (m) 1400 1,41 1,12 1,61 0,07 4,96
A média de tempo de saída (TS) foi de 1,35 segundos para percorrer a distância de
1,5m, sendo a velocidade média de 1,11 m/s. Sant’anna et al. (2015) relataram estimativa de
herdabilidade para velocidade de saída de 0,28. Nkrumah et al. (2007) observaram média de
tempo de saída de 0,93 segundos para animais da raça Charolês (2,61 m/s), 0,98 segundos
para animais Angus (2,50 m/s) e 0,99 segundos para animais cruzados (2,45 m/s), para
percorrer uma distância fixa de 2,44 m. Segundo Silveira et al. (2006) a média de tempo de
saída na primeira observação para animais cruzados Nelore x Aberdeen Angus foi de 1,34
segundos para percorrer uma distância de 2 m, ou seja, mesmo os animais sendo 50% Angus,
seu tempo de saída foi semelhante aos animais Nelore puros deste estudo. Muitos testes de
tempo de saída utilizados atualmente são adaptações do teste de velocidade de fuga proposto
por Burrow et al. (1988), com alterações da distância (Paranhos da Costa et al., 2002; Silveira
et al., 2006; Cafe et al., 2011), sendo que menores tempos de saída ou maior velocidade de
fuga foram associados com maior reatividade dos animais (Silveira et al., 2008).
Os CV (%) para as variáveis comportamentais, escore de temperamento e tempo de
saída foram de 51,74% e 85,92%, respectivamente, indicando alta variabilidade de
50
temperamento entre os animais e as características de desenvolvimento apresentaram CV (%)
variando entre 4,96 e 28,03% (Tabela 1).
Para todas as características os valores estimados para médias, medianas e modas dos
componentes de variância e parâmetros genéticos foram muito próximos, evidenciando que as
distribuições das estimativas foram relativamente simétricas e que houve convergência das
análises (Tabela 2). Para todas as características, exceto o peso vivo, a variância genética
aditiva foi maior que a de ambiente permanente, revelando que o efeito de ambiente
permanente teve menor contribuição na variabilidade dessas características.
As características comportamentais estudadas apresentam herdabilidade baixa,
variando de 0,08 a 0,14 (Tabela 2). Na literatura, diversos estudos que estimaram parâmetros
genéticos de características de temperamento em diferentes raças bovinas, estimaram
herdabilidade que variaram de baixa a moderada (0,11 a 0,67) (Fordyce et al., 1982; Gauly et
al., 2001; Prayaga et al., 2009).
Tabela 2. Média a posteriori, mediana, moda, desvio padrão (DP) e intervalos de maior densidade a posteriori
(97,5% HPD) das variâncias genética aditiva direta (σ²a), de ambiente permanente direto (σ²ap) e residual (σ²e),
herdabilidade (h²) e repetibilidade (r) para escore de temperamento, tempo de saída, escore da condição corporal,
peso vivo e altura da garupa, em análises multicaracterística.
Parâmetros Média Moda Mediana DP 97,5% HPD
Escore de temperamento
σ²a 0,08 0,10 0,08 0,02 0,05 – 0,14
σ²ap 0,03 0,03 0,03 0,01 0,02 – 0,06
σ²e 0,94 1,01 0,87 0,30 0,58 – 1,69
h² 0,08
0,08 0,03 0,04 – 0,14
r 0,11 0,08 0,11 0,03 0,06 – 0,18
Tempo de saída (s)
σ²a 0,21 0,19 0,20 0,05 0,12 – 0,32
σ²ap 0,19 0,19 0,19 0,05 0,09 – 0,29
σ²e 1,04 1,04 1,04 0,05 0,95 – 1,14
h² 0,14 0,09 0,14 0,03 0,08 – 0,22
r 0,27 0,24 0,27 0,03 0,22 – 0,32
Escore de condição corporal
σ²a 0,78 0,77 0,78 0,05 0,68 – 0,89
σ²ap 0,40 0,40 0,40 0,05 0,31 – 0,49
σ²e 0,27 0,27 0,27 0,02 0,24 – 0,31
h² 0,54 0,50 0,54 0,03 0,48 – 0,59
r 0,81 0,80 0,81 0,01 0,79 – 0,83
Peso vivo (kg)
σ²a 4329,2 4056 4302 460 3502,5 – 5305,5
σ²ap 4459,9 4417 4452 398,8 3708,5 – 5275,5
σ²e 623,1 628,8 621,7 34,7 558,5 – 696,0
h² 0,46 0,45 0,46 0,04 0,38 – 0,54
r 0,93 0,93 0,93 0,005 0,92 – 0,94
Altura da garupa (m)
σ²a 0,03 0,03 0,03 0,00 0,03 – 0,03
σ²ap 0,001 0,001 0,001 0,0001 0,001 – 0,002
σ²e 0,001 0,001 0,001 0,0005 0,001 – 0,001
h² 0,93 0,91 0,93 0,01 0,91 – 0,95
r 0,98 0,98 0,98 0,002 0,97 – 0,98
51
A herdabilidade para o efeito genético aditivo direto estimada para o ET foi de 0,08
±0,03 (Tabela 2), esse resultado foi relativamente próximo ao relatado por Gauly et al. (2001),
de 0,11 e 0,12 para animais da raça Angus. Lucena et al. (2015), Sant’anna et al. (2013),
Barrozo et al. (2012) e Figueiredo et al. (2005) estimaram herdabilidades para essa
característica de 0,26, 0,15, 0,18 e 0,17 respectivamente, em bovinos da raça Nelore.
Sant’anna et al. (2015) estimaram herdabilidade para escore de temperamento de 0,21,
entretanto no mesmo estudo, os autores estimaram a herdabilidade do escore de movimento
de 0,10, sendo este o método que mais se aproxima escore de temperamento descrito no
presente estudo, já que considera apenas a movimentação do animal durante a contenção e o
escore de temperamento descrito pelos autores considera além da movimentação, a
aproximação dos avaliadores.
O escore de temperamento é um método de aferição do comportamento que mede a
movimentação do animal quando está na balança, ao conter o animal com um cabresto ou
cordas para a realização de algum procedimento (coleta de sangue, aplicação de
medicamentos entre outros), o mesmo tem sua movimentação restringida, podendo mascarar
os resultados deste método, sendo talvez um dos motivos da baixa herdabilidade encontrada
neste estudo, já que alguns animais foram contidos com o cabresto para realização de
procedimentos de rotina da fazenda.
A estimativa de herdabilidade para a característica TS (0,14 ±0,03) foi menor que a
relatada nos estudos de Sant’anna et al. (2015) que relataram estimativa de herdabilidade para
velocidade de saída de 0,28 para animais da raça Nelore, e por Sant’Anna et al. (2013)
apresentaram estimativas de herdabilidade para velocidade de saída de 0,35.
Atualmente, o TS é uma das medidas de temperamento mais conhecidas e utilizadas
para avaliação do temperamento de bovinos de corte, validada nas mais diversas situações de
manejo e raças bovinas devido à sua objetividade e à facilidade na obtenção dos dados (Cafe
et al., 2011; Sant’Anna et al., 2013). Mesmo com a herdabilidade relativamente baixa desta
característica, esse teste é muito usado para validar outras metodologias usadas para avaliar o
temperamento como nos estudos de Schwartzkopf-Genswein et al. (2012), que correlacionou
testes eletrônicos (strain-gauge e acelerômetro) com o tempo de saída.
Por serem de baixa magnitude, as estimativas de herdabilidade para características
indicadoras do temperamento animal indicam que é mais fácil obter ganhos melhorando o
ambiente do que por meio de seleção. Entretanto, mesmo que o ganho via seleção seja menor,
isso não significa que essas características não sejam importantes, visto o impacto econômico
52
do temperamento na produção, na reprodução, na sanidade e no produto final, por isso a
seleção de animais com melhor temperamento deve ser realizada.
As herdabilidades estimadas para as características peso vivo, escore de condição
corporal e altura da garupa foram respectivamente de 0,46 (±0,04), 0,54 (±0,03) e 0,93
(±0,01), mais altas dos que os relatados em diversos estudos (Cyrillo et al., 2001; Riley et al.,
2002; Cyrillo et al., 2005; Koury Filho et al., 2009; Ferriani et al., 2013; Duitama et al.,
2015), a magnitude dos valores de herdabilidade estimados neste estudo se devem ao fato dos
animais apresentarem elevada média de idade (1294,58 ±1186,47 dias).
As características de crescimento são importantes para determinar a eficiência
econômica de qualquer sistema de produção (Laureano et al., 2011), sendo assim, o peso vivo
e o ECC destacam-se como critério de seleção, pois, além de apresentarem herdabilidades que
variam de média a alta magnitude, o que pode proporcionar maiores ganhos genéticos por
geração e são bons indicadores do potencial de crescimento dos animais em idades mais
avançadas.
As estimativas de repetibilidade foram de 0,11 e 0,27 para o ET e TS, respectivamente
(Tabela 2). Paçó et al. (2013) estimaram valores de repetibilidade para as características
escore de temperamento e tempo de saída de 0,35 e 0,20, respectivamente, para animais
Nelore. Silveira et al. (2008) relataram estimativas de repetibilidade de 0,37 e 0,40 para
escore de comportamento e TS, respectivamente. Estas estimativas podem ser consideradas de
baixa magnitude, indicando que a correlação entre essas medidas no próprio animal é baixa e
que uma única medida pode não ser suficiente como boa indicadora do temperamento do
animal, sendo necessárias mais mensurações destas características ao longo da vida do animal
para se tomar qualquer decisão sobre a permanência do animal no rebanho.
As características de crescimento: ECC, peso vivo e altura da garupa apresentaram
repetibilidade alta de 0,81; 0,93 e 0,98 respectivamente. As altas estimativas de repetibilidade
dessas características se devem ao fato de apresentarem estimativa de herdabilidade variando
entre moderada e alta, sendo o coeficiente de repetibilidade a proporção da variância
fenotípica que é devida à variância genética aditiva e de ambiente permanente e mede a
correlação entre mensurações repetidas de uma mesma característica e em um mesmo animal
medindo o grau de confiança que se deve ter na previsão de futuras produções ou
mensurações, desta forma, essas características de crescimento são boas indicadoras do
desenvolvimento animal.
53
Tabela 3. Correlações genéticas (acima da diagonal), correlações fenotípicas (abaixo da diagonal) e seus
respectivos desvios-padrões entre as características escore de temperamento, tempo de saída, escore de condição
corporal, peso vivo e altura da garupa em análises multicaracterística.
Escore de
temperamento
Tempo de
saída
Escore de
condição corporal Peso vivo
Altura da
garupa
Escore de temperamento
-0,80 ±0,06 -0,01 ±0,09 0,33 ±0,11 0,20 ±0,05
Tempo de saída (s) -0,15 ±0,04
0,56 ±0,08 0,27 ±0,10 0,37 ±0,06
Escore de condição corporal -0,03 ±0,02 0,13 ±0,03
0,74 ±0,03 0,93 ±0,02
Peso vivo (kg) 0,10 ±0,02 0,06 ±0,03 0,42 ±0,03
0,77 ±0,02
Altura da garupa (m) 0,08 ±0,01 0,13 ±0,02 0,67 ±0,02 0,53 ±0,02
Tabela 4. Correlações residuais (acima da diagonal) e seus respectivos desvios-padrões entre as características
escore de temperamento, tempo de saída, escore de condição corporal, peso vivo e altura da garupa em análises
multicaracterística.
Escore de
temperamento
Tempo de
saída
Escore de
condição corporal Peso vivo
Altura da
garupa
Escore de temperamento
-0,08 ±0,04 -0,05 ±0,04 0,15 ±0,04 0,17 ±0,04
Tempo de saída (s)
-0,05 ±0,04 -0,03 ±0,05 0,00 ±0,00
Escore de condição corporal
0,43 ±0,06 0,26 ±0,07
Peso vivo (kg)
0,64 ±0,02
A correlação genética entre o ET e o TS foi negativa e alta (-0,80) (Tabela 3), ou seja,
quanto menor o ET, maior será o TS do tronco, consequentemente, mais calmo o animal é,
corroborando com Maffei et al. (2006), que relataram sinal negativo da correlação simples
entre tempo de saída e o escore de temperamento (-0,22 e -0,41, para propriedades diferentes).
Kadel et al. (2006) também relataram correlação genética negativa entre o tempo de saída e o
escore de temperamento variando de 0,35 a 0,37, com animais Bos indicus. Esses resultados
sugerem a existência uma dependência genética entre elas. Assim, a seleção para qualquer
uma delas poderá levar a mudanças genéticas na outra.
A correlação genética entre o ET e o peso foi positiva e baixa, considerando o alto
desvio padrão (0,33), ou seja, ao fazer seleção para aumentar o peso vivo haverá a um
aumento no ET dos animais, levando a uma piora no temperamento dos mesmos (Tabela 3).
Esse resultado se difere ao relatado por Lucena et al. (2015), cuja correlação genética foi
negativa (-0,33 ±0,03) entre ET e peso à desmama de bovinos da raça Nelore, também se
difere do resultado encontrado por Sant’anna et al. (2015) que relataram correlação genética
entre escore de temperamento e ganho de peso de -0,18 ±0,03.
A correlação genética entre TS e peso vivo foi positiva e baixa, considerando o alto
desvio padrão (0,27) (Tabela 3). Ao fazer seleção para aumentar o peso vivo haverá um
aumento do TS dos animais do tronco, sendo assim, melhor será seu temperamento. Este
resultado está de acordo com Sant’anna et al. (2015) que relataram que animais mais calmos
apresentam uma maior ganho de peso. Entretanto, a correlação entre TS e peso vivo contraria
54
a correlação estimada neste estudo com a variável de ET e peso vivo, onde ao fazer seleção
para aumentar o peso vivo levará a um aumento do ET indicativo de pior temperamento.
O ET apresentou uma correlação baixa com o ECC, indicando pouca associação entra
estas características. A correlação genética entre TS e ECC foi positiva e moderada (0,56),
indicando que ao fazer seleção para o aumento do ECC haverá a um aumento no TS dos
animais melhorando o temperamento dos mesmos e esse resultado está de acordo com a
correlação genética entre TS e peso vivo (0,27) estimadas neste estudo (Tabela 3).
A correlação genética entre o peso vivo e a altura da garupa foi de 0,77 (±0,02), Silva
et al. (2003b) cita que a correlação entre essas características é positiva e moderada. Yokoo et
al. (2007), estimaram correlação genética entre altura da garupa e pesos em diversas idades
variando entre 0,59 e 0,68 um pouco abaixo dos resultados encontrados neste estudo. Cyrillo
et al. (2001) relataram estimativas de correlação genética entre o peso e a altura aos 378 dias
de idade de 0,61. Assim, a seleção para peso, pode conduzir ao aumento na estrutura dos
animais.
A estimativa de correlação genética entre o escore de condição corporal e a altura da
garupa foi de 0,93 (±0,02) e com o peso foi 0,74 (±0,03), as altas correlações entre estas
características já era esperada, uma vez que o escore de condição corporal é uma avaliação
subjetiva da área do corpo do animal, sendo que essa área é influenciada pelo peso e altura do
animal. Koury Filho et al. (2009) estimaram a correlação genética entre o peso ao sobreano e
o estrutura corporal de 0,83.
As correlações fenotípicas e residuais entre as características comportamentais
variaram de baixa a moderada magnitudes de 0,0 a 0,67 (Tabelas 3 e 4) e no mesmo sentido
que as correlações genéticas, indicando pouca influência do ambiente temporário sobre estas
características. Já as correlações fenotípicas e residuais entre as características de crescimento
foram moderadas entre si, também no mesmo sentido que as correlações genéticas, indicando
uma maior influência do efeito de ambiente temporário.
55
4 CONCLUSÃO
O tempo de saída é um importante indicador de temperamento de bovinos e é uma
característica que apresenta variabilidade genética e pode ser usada com critérios de seleção
para temperamento de bovinos da raça Nelore.
A seleção para peso vivo pode estar atuando concomitantemente com o tempo de saída
devido a sua resposta geneticamente correlacionada.
Apesar do escore de temperamento apresentar variabilidade genética é necessário
cuidado ao utiliza-la, pois como essa característica mensura a movimentação do animal na
balança, o mesmo não pode ser contido de modo que perca sua livre movimentação dentro da
balança para que não ocorram erros na mensuração.
56
57
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63
CAPÍTULO 3 - INFLUÊNCIA DO TEMPERAMENTO SOBRE O BEM-
ESTAR DE BOVINOS DE CORTE
RESUMO
A melhoria na qualidade de vida em uma propriedade rural, para atingir o bem-estar, passa
por todos os processos do meio produtivo gerando efeito direto na qualidade da produção
animal e em seu preço final, agregando valor ao mesmo. Assim, os objetivos deste estudo
foram avaliar o efeito das raças Nelore, Caracu e Guzerá sobre as características
comportamentais: escore de entrada (EE), escore de temperamento (ET), escore de saída (ES)
e velocidade de saída (VS) durante o manejo no curral, além de avaliar o efeito das raças e do
temperamento dos animais sobre os parâmetros sanguíneos (cortisol, glicose e lactato) e
estimar a relação entre características comportamentais, parâmetros sanguíneos e
características de crescimento. Foram colhidos dados de 119 fêmeas da raça Nelore, 63 da
raça Caracu e 33 da raça Guzerá, nascidas entre setembro e dezembro de 2013. As análises de
variância foram realizadas por meio de procedimentos GENMOD do programa estatístico
SAS. O modelo para as análises das características comportamentais, mensuradas em cada
curral incluiu apenas o efeito da raça. Para os parâmetros sanguíneos foi realizado o
procedimento GLM SELECT do programa estatístico SAS para verificar as variáveis
comportamentais que melhor explicam a variação dessas características juntamente com o
efeito da raça. As correlações foram realizadas por meio do procedimento CORR
SPEARMAN do programa estatístico SAS. Foi observado que todas as variáveis
comportamentais apresentaram efeito de raça, sendo as raças zebuínas as mais reativas, exceto
para o ET. Todos os parâmetros sanguíneos apresentaram efeito de raça. As correlações
indicam que animais com bom temperamento apresentam menores escores comportamentais,
menores velocidades de saída, níveis mais baixos dos hormônios indicadores de estresse e
ganham mais peso. Os resultados indicam que a raça e o manejo no curral podem influenciar
no comportamento e nos parâmetros sanguíneos dos bovinos, sendo considerado um evento
estressante e o estudo do temperamento pode ser útil para adequação do manejo evitando o
estresse animal e perdas na produção.
Palavras-chave: bem-estar, estresse, temperamento, reatividade, taurinos, zebuínos
64
65
CHAPTER 3 - TEMPERAMENT INFLUENCE ON THE WELFARE OF
BEEF CATTLE
ABSTRACT
Improving the quality of life on a farm, to achieve well-being, goes through all the processes
of the production means generating direct effect on the quality of animal production and its
final price, adding value to it. Thus, the aims of this study were evaluate the effect of races
Nellore, Caracu and Guzerat over behavioral traits: input score (IS), temperament score (TS),
exit score (ES) and flight speed (FS) during handling corral, in addition to evaluate the effect
of race and the animal temperament on the blood parameters (cortisol, glucose and lactate)
and estimate the relationship between behavioral traits, blood parameters and growth traits.
Data were collected from 119 females Nellore, 63 of Caracu and 33 Guzerat born between
September and December 2013. Analyses of variance were conducted by means of GENMOD
procedures of SAS program. The model for the analysis of behavioral traits included only the
effect of race. For blood parameters was used GLM SELECT procedure of SAS program to
check which of behavioral variables provide the best model for these parameters together with
the effect of race. Correlations were estimated by means of CORR SPEARMAN procedure of
SAS statistical program. Was observed that all behavioral traits present race effect, being the
most reactive zebu breeds, except for TS. All blood parameters have an effect of race. The
correlations indicate that animals with good temperament have lower behavioral scores, lower
FS, lower levels of stress hormones indicators and gain more weight. The results indicate that
race and the handling corral may affect behavior and blood parameters of cattle, being
considered a stressful event and the study of temperament can be useful to adequate handling
avoiding the animal stress and losses in production
Keywords: reactivity, stress, taurine, temperament, welfare, zebu
66
67
1 INTRODUÇÃO
Os efeitos negativos causados pelo estresse animal durante o manejo de rotina de uma
propriedade pode representar problemas econômicos devido ao aumento dos custos, pois
animais mais reativos ganharem menos peso (Voisinet et al., 1997; Gómez et al., 2010; Cafe
et al., 2011), apresentarem pior qualidade de carne (Nkrumah et al., 2007; Muchenje et al.,
2009; Strappini et al., 2009; Vann et al., 2011); pior eficiência reprodutiva (Cooke et al.,
2011; Macedo et al., 2012), por serem mais susceptíveis às doenças por serem mais
estressados que os animais mais calmos (Curley Junior, et al., 2008), e esses custos serão
suportados pelo produtor e pelo consumidor (Burdick et al., 2011).
O bem-estar animal envolve a aplicação de práticas de criação animal sensatas e
sensíveis aos animais na fazenda (Ndou et al., 2011). A busca por alternativas que reduzam o
estresse dos animais durante o manejo sem alterar a produtividade, vem crescendo a cada ano.
Para se adaptar ao mercado internacional, o Brasil passou a desenvolver regulamentações
oficiais sobre o bem-estar dos animais de produção (BRASIL, CTBEA criada pela Portaria nº
185, de 2008), e códigos de boas práticas de manejo, o que impulsionou estudos sobre o
temperamento animal na pecuária de corte nacional.
Segundo Grandin e Dessing (2008) os currais de manejo devem ser desenhados
respeitando os movimentos naturais dos bovinos, para tanto, é necessário aprofundar o
conhecimento sobre a biologia das espécies relacionadas (Berber et al., 2014). Grandin (2010)
usa como princípio básico, na construção do curral, o instinto que o animal tem de retornar ao
local seguro de onde vieram. A autora descreve também o medo dos animais de entrar em
ambientes escuros, escorregadios ou até mesmo o medo causado por pessoas ou outros
animais próximos a sua zona de fuga, desta forma, os currais de manejo devem visar o bem-
estar dos bovinos, respeitando suas limitações e utilizando-se de movimentos instintivos que
ajudam no deslocamento do animal dentro das instalações, evitando a lentidão do manejo.
Segundo Paranhos da Costa et al. (2012), animais que sofrem com gerenciamento
inadequado, com lotação indevida de currais ou que são forçados a passar por instalações
inapropriadas provocam lesões traumáticas e ferimentos nos animais, que levam a danos nas
carcaças.
Sempre que existe estresse, o bem-estar torna-se pobre (Broom e Molento, 2004) e
quando o indivíduo está sobestado de estresse, ele é incapaz de manter sua homeostase
(Moberg, 2000) e um dos principais efeitos do estresse é a elevação da concentração
sanguínea de cortisol (Curley Junior et al., 2008), que atua aumentando a disponibilidade de
68
glicose para o metabolismo celular, sendo assim alterações nos níveis de cortisol, glicose,
lactato e até do pH da carne, são medidas usadas para verificar a ocorrência de estresse
(Paranhos da Costa et al., 2012). Quando há um estresse por parte do manejo, há alterações
dos padrões fisiológicos e estes quando alterados refletem negativamente na produção e no
bem-estar (Perissinotto et al., 2006).
Moraes Junior et al. (2010) afirmaram que o manejo racional rotineiro aumenta o peso
dos bezerros ao desmame, o que reduz o período de recria dos animais e antecipa a
terminação dos machos para abate, além de menor idade à puberdade para fêmeas e aumento
de sua vida produtiva.
Para uma avaliação confiável do estresse animal uma combinação de diferentes
mensurações fisiológicas e comportamentais deve ser considerada. Como diferentes aspectos
do comportamento animal pode ser medido por diferentes métodos de avaliação é possível
que um combinado entre múltiplas avaliações seja uma forma mais acurada de avaliar o
temperamento (Curley Junior et al., 2006; Burdick et al., 2011).
É possível desenvolver práticas racionais no manejo dos animais, principalmente no
momento da passagem pelos currais, que assegurem o bem-estar dos animais e dos
funcionários, bons índices de produtividade e facilidade de manejo. Além do desenvolvimento
de práticas racionais, a construção ou adaptação dos currais de manejo, respeitando a biologia
e o comportamento dos animais é importante para facilitar e acelerar o manejo dos animais.
Assim, os objetivos deste estudo foram avaliar o efeito das raças Nelore, Caracu e Guzerá
sobre as características comportamentais durante o manejo no curral, além de avaliar o efeito
das raças e do temperamento dos animais sobre os parâmetros sanguíneos e avaliar a relação
entre características comportamentais, parâmetros sanguíneos e características de
crescimento.
69
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Local e tratamentos
O experimento foi realizado no Centro de Pesquisa de Bovinos de Corte, do Instituto
de Zootecnia /APTA/SAA, localizado em Sertãozinho, SP, em dezembro de 2014. Foram
colhidos dados de 119 fêmeas da raça Nelore, 63 da raça Caracu e 33 da raça Guzerá,
nascidas entre setembro e dezembro de 2013. Os animais foram manejados apenas uma vez.
2.2 Estrutura do curral
O curral de manejo trata-se de um brete hidráulico de contenção com dois corredores
ajustáveis que complementaram o curral de manejo. Esse equipamento facilita o trabalho com
os rebanhos, por ser mais rápido e seguro, tanto para os trabalhadores quando para os animais.
Os equipamentos são construídos em aço de alta resistência, possuem tecnologias que
garantem adequada pressão hidráulica para conter os animais sem machucá-los, garantindo
total automação no manejo. O chão é de concreto, sem acúmulo de lama, bem drenados e com
carpetes de borracha antiderrapante. Uma balança eletrônica acompanha o equipamento,
facilitando o controle de peso dos animais (Figura 1). Este curral de manejo passou a ser
utilizado no ano de 2014 e por se tratar de uma construção nova, os animais do experimento
não tiveram contato prévio com o curral antes da coleta de dados, sendo este um ambiente
novo para eles. Este curral foi desenvolvido seguindo alguns princípios de bem-estar animal
descritos por Grandin (2010).
Figura 1 - Curral e tronco racional do Instituto de Zootecnia de Sertãozinho.
70
2.3 Mensuração das características
Os parâmetros sanguíneos avaliados foram cortisol, glicose e lactato. Para isso,
durante os procedimentos no curral foi realizada a coleta de sangue e observados as variáveis
comportamentais. A avaliação do escore de condição corporal dos animais foi realizada por
um único observador devidamente treinado e foi utilizada a metodologia de Nicholson e
Butterworth (1986) com escala de 1 a 9. O peso vivo foi medido por meio de balança digital.
Para a coleta de sangue, foi realizado punção na veia jugular utilizando sistema de
coleta em tubos a vácuo para obtenção de soro. As amostras de sangue foram mantidas
resfriadas até o final do procedimento de coleta. No laboratório, os tubos foram centrifugados
a 1000x por 5 minutos para separar o soro das células componentes do sangue. A porção
sobrenadante (soro) foi transferida para um eppendorf de 1,5 mL e armazenada a -20ºC para
posterior análise de cortisol, glicose e lactato.
Os níveis plasmáticos de cortisol foram mensurados por métodos imunoenzimáticos
(EIA) utilizando kits comerciais da Diagnostic Systems Laboratories (Enzo, USA). Para as
dosagens de glicose e lactato foi utilizada metodologia enzimática usando kits comercias
da Laborlab para mensuração de glicose ou lactato. As leituras dos resultados dos kits foram
realizadas no leitor de microplacas de ELISA alocado no Laboratório de Fisiologia Animal,
da FZEA/USP, onde as análises foram realizadas.
As variáveis de comportamento estudadas foram: escore de entrada (EE) do animal no
tronco, escore de temperamento (ET) durante a contenção, escore na saída (ES) do tronco e o
velocidade de saída (VS) do tronco.
2.4 Descrição das variáveis comportamentais
O escore de entrada no tronco (EE) é um sistema visual utilizado para avaliar se o
animal anda (1), trota (2) ou corre (3) ao entrar no tronco caracterizado pelo ato voluntário
usado para o animal se locomover. Andar se caracteriza pelo movimento com quatro tempos,
marcado pela progressão dos membros laterais alternados, ou seja, cada casco toca o chão
distintamente. Trotar se caracteriza pelo movimento, em dois tempos, no qual o animal apoia
os cascos dos membros em diagonal. Correr se caracteriza por tocar os cascos dianteiros no
chão, um seguido do outro de forma rápida, seguidos pelos dois traseiros.
O comportamento durante a contenção chamado de escore de temperamento (ET) ou
escore de esmagamento (Grandin, 1993) foi baseado no escore proposto por Fordyce et al.
71
(1982), mensurado por meio de escore variando de 1 a 5, em que foi observado se o animal
permanecia: muito quieto (1) caracterizado pelo animal apresentar leve movimento de cabeça
durante a contenção; pouco agitado (2) caracterizado pelo animal apresentar movimentos de
cabeça e corpo, dando no máximo um passo; agitado (3) quando o animal apresenta maior
movimentação do corpo e tenta andar pelo tronco; muito agitado (4) quando o animal balança
a cabeça com frequência, se movimenta muito e tenta andar pelo tronco e lutando (5) é
quando o animal luta, com movimentos bruscos, para se livrar do manejador durante o ato da
contenção.
O escore de saída (ES) do tronco ou escore de tipo de marcha ou ainda escore de
velocidade de saída é uma provável adaptação do método velocidade de saída (Burrow et al.,
1988). É um sistema visual que analisa se o animal ao sair da contenção andando (1), trotando
(2) ou correndo ou saltando (3) (Grandin e Swanson, 2009).
O equipamento “Flight Speed” foi instalado em uma estrutura de metal na saída do
tronco, onde foi registrado o tempo de saída (VS) do curral em segundos, em que os animais
percorreram a distância fixa de 1,50 m e calculado a velocidade de saída (Burrow et al.,
1988).
2.5 Análise estatística
O teste de distribuição normal dos resíduos foi realizado para todas as variáveis
comportamentais e para os parâmetros sanguíneos pelo procedimento UNIVARIATE (SAS
Inst., Inc., Cary, NC). Para nenhuma das variáveis estudas a distribuição dos resíduos seguiu a
distribuição normal, desta forma as análises de variâncias foram realizadas por meio de
modelos lineares generalizados usando o procedimento GENMOD (SAS Inst., Inc., Cary,
NC).
Dentre as diversas metodologias utilizadas para escolher o melhor modelo, ou seja,
aquele que se ajusta melhor para explicar os fenômenos estudados, foi realizado uma análise
comparativa dos critérios de informação de Akaike (AIC) Akaike (1974), Akaike Corrigido
(AICC) Bozdogan (1987) e Bayesiano (BIC) Schwarz (1978), para cada variável estudada. Os
modelos utilizados foram Poisson, Gamma, Multivariado, Normal e Geométrico. O modelo
mais adequado para cada característica foi o que apresentou valores próximos de zero para
cada critério de informação (Tabela 1).
72
Tabela 1. Modelo mais adequado para cada característica escolhido por meio dos critérios de informação AIC,
AICC e BIC.
Características Poisson Gamma Multivariado Normal Geométrico
AIC 528,23 300,48 327,68 366,05 705,05
Escore de entrada AICC 528,34 300,67 327,88 366,24 705,16
BIC 538,33 313,94 341,15 379,51 715,15
AIC 575,03 441,90 451,91 492,99 750,99
Escore de temperamento AICC 575,15 442,09 452,20 493,18 751,10
BIC 585,09 455,30 468,67 506,39 761,04
AIC 550,60 377,17 NC 429,48 735,28
Escore de saída AICC 550,72 377,37 NC 429,67 735,40
BIC 560,60 390,50 NC 442,81 745,28
AIC 476,78 428,26 1437,85 470,76 619,35
Velocidade de saída (m/s) AICC 476,94 428,53 1709,37 471,04 619,52
BIC 485,79 440,27 1705,20 482,78 628,36
AIC 2982,59 1769,62 2289,77 1717,66 1921,46
Cortisol (ng/mL) AICC 2982,92 1770,08 11701,77 1718,12 1921,79
BIC 2998,80 1789,07 2876,52 1737,11 1937,67
AIC 1398,66 1392,35 2039,29 1394,72 1954,94
Glicose (mg/mL) AICC 1398,98 1392,81 2806,57 1395,19 1955,27
BIC 1414,87 1411,80 2486,65 1414,18 1971,15
AIC 1784,88 1432,96 NC 1487,54 1656,27
Lactato (mg/mL) AICC 1786,12 1434,46 NC 1489,04 1657,50
BIC 1817,30 1468,62 NC 1523,20 1688,68
NC = Não convergiu.
Os modelos para as análises das características comportamentais (EE, ET, ES e TS)
incluíram apenas o efeito da raça, pois os animais são todos da mesma estação de monta com
idade média de 431,81 ±24,55 dias. Para analisar os parâmetros sanguíneos e verificar as
variáveis comportamentais que melhor explicam a variação dessas características foi utilizado
o procedimento GLM SELECT (SAS Inst., Inc., Cary, NC). Para o cortisol o modelo incluiu
os efeitos de raça e escore de saída, para a glicose o modelo incluiu os mesmos efeitos do
cortisol (raça e escore de saída) e para o lactato o modelo incluiu os efeitos de raça, escore de
entrada, escore de temperamento e escore de saída.
A análise de correlação de Spearman entre todas as características comportamentais,
de crescimento e os parâmetros sanguíneos das três raças estudadas foi realizada por meio do
procedimento CORR spearman (SAS Inst., Inc., Cary, NC). Foram consideradas significativas
correlações com P<0,05.
73
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
As análises de variância para todas as características comportamentais estudadas (EE,
ET, ES e VS) indicaram efeito significativo da raça para todas as características estudadas: EE
(P<0,01), ET (P<0,05), ES (P<0,01) e VS (P<0,01) (Tabela 2). A média do EE para os
animais das raças Guzerá e Nelore foram 1,56 ±0,04 e 1,52 ±0,02, respectivamente e sem
diferença estatística entre si, seguida pela média, significativamente menor dos animais da
raça Caracu com média de 1,13 ±0,04. Baszczak et al. (2006) relataram média de escore de
velocidade de entrada de animais de raças britânicas e Continentais de 1,4, sendo mais baixa
que os valores encontrados para zebuínos e mais elevado do que a média encontrada para o
taurino Caracu. Estes resultados indicam que os animais das raças zebuínas apresentam pior
temperamento que animais taurinos (Burrow, 2001; Piovezan et al., 2013).
Tabela 2. Análise de variância das variáveis: escore de entrada, escore de temperamento, escore de saída e
velocidade de saída em m/s para as raças Nelore, Caracu e Guzerá.
Características Nelore Caracu Guzerá
Escore de entrada 1,52 (0,02) A 1,13 (0,04) B 1,56 (0,04) A
Escore de temperamento 1,57 (0,02) B 1,76 (0,03) AB 1,90 (0,04) A
Escore de saída 1,95 (0,02) A 1,14 (0,04) B 1,87 (0,04) A
Velocidade de saída (m/s) 2,84 (0,02) A 1,57 (0,05) B 2,36 (0,04) A
Médias seguidas por letras diferentes na linha diferem entre si pelo teste de Tukey (5%).
Para o ET foi observada diferença significativa apenas entre as médias das raças
Guzerá e Nelore (1,90 ±0,04 e 1,57 ±0,02, respectivamente). A média do ET para os animais
da raça Caracu não apresentou diferença significativa das médias das outras duas raças
zebuínas, com média de 1,76 ±0,03 (Tabela 2). Foi observado que animais da raça Caracu
apresentam ficam mais impacientes quando estão contidos, embora não tenha sido
estatisticamente diferente das demais raças (Tabela 2). Piovezan et al. (2013) em estudos
sobre o temperamento animal com animais das raças Guzerá, Gir, Caracu e Nelore do
Instituto de Zootecnia, encontraram que as raças mais reativas foram a Guzerá e a Gir,
seguida pela raça Nelore e por ultimo os animais da raça Caracu.
As médias do ES para os animais das raças Nelore e Guzerá foram de 1,95 ±0,02, 1,87
±0,04, respectivamente e sem diferença estatística entre si, seguida pela média,
significativamente menor dos animais da raça Caracu com média de 1,14 ±0,04 (Tabela 2).
Baszczak et al. (2006) relataram média de escore de velocidade de saída de 1,9 para animais
de raças britânicas e Continentais, valor próximo ao encontrado para as raças Nelore e Guzerá
e mais elevado que animais Caracu.
74
A média da VS para os animais da raça Caracu foi inferior (1,57 ±0,05), a média dos
animais das raças Nelore (2,84 ±0,02) e Guzerá (2,36 ±0,04), indicando que os animais da
raça Caracu foram mais devagar que os animais zebuínos deste estudo apresentando
temperamento mais calmo que as demais raças. Burrow et al. (1991) classificou animais com
velocidade de saída superior a 2,4 m/s como animais reativos e animais com menos de 1,9 m/s
como animais com temperamento mais calmo, isso indica que os animais da raça Nelore são
considerados reativos e os animais da raça Caracu são considerados calmos.
Quando o animal está sob estresse, ele necessita fazer ajustes anormais tanto
fisiológicos quanto comportamentais a fim de lidar com os agentes estressores e a resposta
fisiológica vai induzir a secreção de hormônios (Mobiglia et al., 2014). O cortisol é
responsável por grande parte do comportamento da resposta ao estresse em bovinos,
representando a resposta imediata ao estresse.
A análise de variância indicou que houve efeito significativo da raça e do ES (P<0,01)
sobre o nível de cortisol sanguíneo (Tabela 3). A média do nível sérico de cortisol de animais
da raça Caracu foi a maior (73,37 ±3,59 ng/mL), seguida pelas médias dos animais das raças
Nelore e Guzerá (56,96 ±2,18 ng/mL e 52,70 ±4,40 ng/mL, respectivamente). Estes resultados
indicam que ao serem contidos os animais da raça Caracu se apresentaram mais impacientes,
comprovado tanto pela elevada média do escore de temperamento, quanto pelos níveis mais
elevados de cortisol sanguíneo, hormônio que representa a resposta aguda ao estresse.
O ES apresentou médias crescentes dos níveis séricos de cortisol de acordo com o
escore, ou seja, a média do escore 1 foi de 51,23 ±2,59 ng/mL, do escore 2 foi de 59,46 ±3,10
ng/mL e a do escore 3 foi 72,36 ±4,20 ng/mL (Tabela 3). Cafe et al. (2011) e King et al.
(2006) também relataram em seus estudos que animais mais reativos apresentam nível de
cortisol mais elevado que animais mais calmos. Os níveis séricos de cortisol são superiores
aos valores de referência de 5 a 10 ng/mL (Yoshida e Nakao, 2005) para a espécie bovina,
indicando que manejo no curral para coleta de sangue é considerado um evento estressante
para os animais.
75
Tabela 3. Análises de variância para níveis séricos médios de cortisol sanguíneo (ng/mL), glicose sanguínea
(mg/mL) e lactato (mg/mL) para bovinos das raças Nelore, Caracu e Guzerá.
Cortisol (ng/mL) Glicose (mg/mL) Lactato (mg/mL)
Raça
Nelore 56,96 (2,18) B
67,21 (0,92) A
35,98 (2,21) A
Caracu 73,37 (3,59) A
53,71 (1,53) B
21,93 (2,74) B
Guzerá 52,70 (4,40) B
69,21 (1,87) A
31,14 (3,00) A
Escore de entrada
Escore 1 NA
NA
27,19 (1,91)
Escore 2 NA
NA
28,98 (2,15)
Escore 3 NA
NA
29,20 (4,53)
Escore de temperamento
Escore 1 NA
NA
28,44 (1,96) A
Escore 2 NA
NA
23,54 (2,10) B
Escore 3 NA
NA
28,33 (2,67) A
Escore 4 NA
NA
35,25 (6,05) A
Escore 5 NA
NA
-
Escore de saída
Escore 1 51,23 (2,59) C
61,21 (1,10)
25,57 (2,43) B
Escore 2 59,46 (3,10) B
62,35 (1,32)
28,76 (2,58) AB
Escore 3 72,36 (4,20) A 64,57 (1,79) 31,61 (2,76) A
Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (5%); NA = Não se aplica.
Após o aumento dos níveis de cortisol sanguíneo, o mesmo promoverá a
gliconeogênese que resulta no aumento da disponibilidade de glicose para o metabolismo
celular, além de reduzir a taxa de utilização da glicose pelo organismo resultando no aumento
do nível de glicose sanguínea (Marzzoco e Torres, 1999; Matteri et al., 2000).
A análise indicou efeito apenas da raça sobre o nível de glicose sanguínea (P<0,01),
sendo que as médias de glicose sanguínea de animais das raças Guzerá e Nelore (69,61 ±1,87
mg/mL e 67,21 ±0,92 mg/mL, respectivamente) foram mais elevadas que a média de glicose
sanguínea de animais da raça Caracu (53,71 ±1,53 mg/mL) (Tabela 3). E o escore de saída
não apresentou efeito significativo sobre os níveis de glicose sanguínea. As médias dos níveis
de glicose sanguínea para todas as raças foi inferior aos valores considerados referência para
espécie bovina, citado por Kaneko et al. (2008), que situam-se no intervalo de 45 e 75
mg/mL. Curley Junior et al. (2008) evidenciaram que, apesar de ter níveis basais mais
elevados, os animais mais reativos mostraram uma resposta adrenal mais elevada usada para
responder ao agente estressor, comparados com animais mais calmos, indicando uma função
adrenal basal mais elevada.
O lactato é um bom indicador de lesão muscular. Em situações de estresse intenso e/ou
contusões podem ocorrer exaustão muscular levando ao aumento nas concentrações de lactato
no sangue, devido à intensa degradação do glicogênio muscular.
A análise de variância indicou efeito da raça (P<0,01), do ET (P<0,01) e do ES
(P<0,05) sobre os níveis de lactato (Tabela 3). As médias dos níveis de lactato sanguíneo de
76
animais das raças Nelore e Guzerá foram superiores (35,97 ±2,21 mg/mL e 31,14 ±3,00
mg/mL, respectivamente) a média dos animais da raça Caracu (21,93 ±2,74 mg/mL). Para a
característica escore de temperamento, a média do nível de lactato sanguíneo do escore 2 foi a
menor (23,54 ±2,10 mg/mL) em comparação aos demais escores, que não apresentaram
diferença significativa entre elas (Tabela 3). O ES apresentou uma média crescente dos níveis
de lactato de acordo com o escore, ou seja, a média do nível de lactato sanguíneo no escore 1
foi de 25,57 ±2,43 mg/mL, no escore 2 a média foi de 28,76 ±2,58 mg/mL e o escore 3 a
média foi de 31,61 ±2,76 mg/mL, sendo que não houve diferença significativa entre os
escores1 e 2 e entre os escores 2 e 3 (Tabela 3). O escore de entrada não apresentou efeito
significativo sobre os níveis de lactato sanguíneo (Tabela 3).
O manejo nos currais pode ser considerado um evento estressante para os bovinos das
três raças, evidenciado pelos altos níveis de cortisol sanguíneo obtidos neste estudo, e por esse
motivo a mensuração dos parâmetros sanguíneos e características comportamentais se torna
uma ferramenta importante e precisa para a tomada de decisões quanto à mudanças e
adequações no manejo e nas estruturas dos currais para reduzir o estresse animal e
consequentemente melhorar o temperamento do rebanho.
Entre as variáveis comportamentais ocorreu correlação significativa apenas entre: EE e
ES (r=0,31; P<0,01); EE e VS (r=0,18; P<0,05) e ES e VS (r=0,75; P<0,01) (Tabela 4). Esses
resultados indicam que há mecanismos comuns entre as características, também encontrado
por Silveira et al., (2006).
Entre os parâmetros sanguíneos, houve correlação significativa entre o cortisol e o
lactato (r=0,22; P<0,01) e a glicose e o lactato (r=0,42; P<0,01) (Tabela 4). O cortisol
representa a resposta imediata ao estresse, entretanto permanecendo o estresse, o aumento do
nível cortisol promoverá a gliconeogênese que resulta no aumento da disponibilidade de
glicose no sangue e animais com altos níveis de cortisol se debatem mais para se livrar do
agente estressor levando à exaustão muscular, que por sua vez aumenta os níveis de lactato.
Entre as características comportamentais e os parâmetros sanguíneos ocorreu
correlação significativa entre: EE e glicose (r=0,31; P<0,01), EE e lactato (r=0,29; P<0,01),
ES e glicose (r=0,32; P<0,01) e ES e lactato (r=0,41; P<0,01); e por fim a VS e glicose
(r=0,32; P<0,01) e VS e lactato (r=0,37; P<0,01). Estes resultados indicam que animais sob
estresse apresentam pior temperamento, com escores comportamentais, velocidade de saída e
níveis de glicose e lactato mais elevados. Este estudo explorou diferentes aspectos do
comportamento animal mensurados por diferentes métodos de avaliação, por esse motivo a
77
combinação entre essas características e os parâmetros sanguíneos pode representar uma
forma acurada de avaliar o temperamento. Curley Junior et al. (2006) e King et al. (2006)
relataram correlação significativa (r=0,26; P<0,05) entre velocidade de saída e níveis de
cortisol, o que não foi observado neste estudo.
Tabela 4. Correlação de Spearman entre as variáveis: escore de entrada (EE), escore de temperamento (ET),
escore de saída (ES), velocidade de saída (VS) em m/s, cortisol em ng/mL, glicose em mg/mL, lactato em
mg/mL, escore de condição corporal (ECC) e peso vivo em kg.
ET ES VS Cortisol Glicose Lactato ECC Peso
EE 0,11NS
0,31**
0,18* 0,06
NS 0,31
** 0,29
** 0,04
NS -0,11
NS
ET 1 0,06NS
0,07NS
-0,02NS
0,01NS
-0,08NS
-0,08NS
-0,06NS
ES
1 0,75**
0,13NS
0,32**
0,41**
0,02NS
-0,35**
VS
1 0,02NS
0,32**
-0,37**
-0,00NS
-0,36**
Cortisol
1 -0,02NS
0,22**
0,01NS
-0,06NS
Glicose
1 0,42**
-0,05NS
-0,22**
Lactato 1 0,00NS
-0,22**
**(P<0,01); *(P<0,05); NS: não significativo.
As correlações entre as características comportamentais e de crescimento foram
significativas apenas para: ES e peso vivo (r=-0,35; P<0,01) e VS e peso vivo (r=-0,36;
P<0,01) indicando que animais mais pesados, apresentarão menor escore de saída e menor
velocidade de saída consequentemente terão melhor temperamento. Estes resultados estão de
acordo com os autores Cafe et al. (2011), Curley Junior et al. (2008) e Petherick et al. (2003)
que também encontraram associação entre animais de piores temperamentos e valores
menores de peso ao final.
Entre os parâmetros sanguíneos e as características de crescimento houve correlação
significativa entre os níveis de glicose e peso vivo (r=-0,22; P<0,01), indicando que quanto
mais pesado for o animal, menor será seu nível de glicose sanguínea. O mesmo ocorreu com
os níveis de lactato, que também apresentaram correlação significativa com o peso vivo (r=-
0,22; P<0,01).
A correlação entre as variáveis comportamentais, os parâmetros sanguíneos e as
características de crescimento indicam que animais com bom temperamento apresentam
níveis mais baixos dos hormônios indicadores de estresse (cortisol, glicose e lactato), escores
comportamentais mais baixos, menor velocidade de saída do tronco e maior ganho de peso,
conforme encontrado na literatura (Burrow, 1997; Petherick et al., 2003; King et al., 2006;
Hoppe et al., 2010; Burdick et al., 2011).
78
79
4 CONCLUSÃO
O manejo nos currais pode ser considerado um evento estressante para os bovinos,
principalmente para os zebuínos, por essa razão a mensuração do temperamento se torna uma
ferramenta útil para auxiliar o produtor na adequação do seu manejo diminuindo o estresse
animal e consequentemente melhorando seu temperamento.
É possível desenvolver instalações e práticas de manejo que respeitem a biologia e o
comportamento dos animais, assegurando o bem-estar dos animais, dos funcionários, bons
índices de produtividade e facilidade de manejo, e consequentemente maior viabilidade
econômica.
80
81
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