Tempo Do Maravilhoso

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  • 7/30/2019 Tempo Do Maravilhoso

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    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARTETERAPIACLNICA POMAR & ISEPE

    OFICINA DE CONTOSProf. Eliana Ribeiro

    TEMPO DO MARAVILHOSO

    A palavra instaura o mundo. Na tradio judaico-crist No

    princpio era o Verbo _ a divindade fala e cria todas as coisas.

    Temos, no Gnesis, Deus concedendo ao primeiro humano o poder

    de nomear todas as coisas. Dar nome tomar posse; poder chamar

    as coisas sua presena, sua realidade. Embora nossa espcietenha mais de 150.000 anos, registra as palavras h apenas 6.000

    anos. A memria desta fora da narrativa oral pode ser percebida, na

    atualidade, por exemplo, a cada Abra-te Ssamo !de Ali Bab ou

    Eu tenho a Fora!, de He Man.

    A narrativa mtica

    Na aurora da humanidade, a questo que se colocava,primordialmente, era o poder se manter vivo em um mundo adverso,

    com grandes desestabilizaes naturais. Essas desestabilizaes , ao

    mesmo tempo em que geram temor, estabelecem o mistrio que,

    pouco a pouco, vai se elaborar no sagrado ( o que est separado, o

    que no se mistura, o que est distinto do resto). O Homem busca o

    entendimento com este mistrio, com o sagrado e, como forma de

    respeito e submisso s foras maiores, estabelece o rito.Alm do ritual, era necessrio guardar a memria desse mesmo

    ritual; guardar a frmula. Temos, ento, o mito.

    O mito uma memria da perplexidade, o mistrio, aquilo

    que no se sabe explicar (pois nem sempre os deuses se mostram

    aplacados). O mito narra a experincia (aquilo que, de fora EX,

    atravessa PER, o Ser ENTE) da qual Homem no d conta e que a

    coletividade precisa aprender para no cometer os mesmos erros dosancestrais. A narrativa mtica, por falar do mistrio, usa a linguagem

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    simblica, que a linguagem do maravilhamento. O universo que a

    palavra mtica abarca o da experincia da coletividade. As imagens

    dessas narrativas so calcadas na coletividade que as criou.

    Imagem e sonoridade requerem uma sensibilidade que no

    demanda a razo, embora a filosofia esteja presente. Imagem,

    sonoridade e ritmo so mnemnicos _ trazem a memria, evocam a

    memria afetiva. A palavra mtica evocadora,potica.

    A oralidade primeira evocava o mundo da minharealidade; a

    memria era a memria da experincia da coletividade. Em cima

    dessa memria que o mundo (aquele ao alcance do brao) era

    lembrado, reconhecido.

    A narrativa dos Contos Maravilhosos

    A medida que a coletividade primitiva se esgara e seus

    integrantes comeam a se distanciar, esse maravilhoso deixa de ser

    partilhado coletivamente e se estabelece no plano existencial (que

    diferente do individual, estabelecido h apenas 400 anos). Embora

    permanea a vivncia do mistrio, este ser experienciado na

    dimenso da existncia humana. A narrativa ser focalizada na

    perspectiva de uma grande personagem de vida; teremos, ento o

    Conto Maravilhoso.

    Dentro dos Contos Maravilhosos; um grupo de narrativas

    apresentam, em comum, a existncia de uma personagem tutora,

    que ajuda ou impede a realizao dos desejos. Tais narrativas so os

    Contos de Fadas pois, tanto a fada quanto a bruxa so personagens

    tutoras, fornecem dons ou os retiram. Os Contos de Fadas

    apresentam, portanto, uma figura protetora ou um guia.

    Fantasia: uma forma de narrar o mundo

    Aquilo que chamamos pejorativamente de fantasia, tem a ver

    com a viso do mistrio do mundo. A fantasia simblica, aponta

    para o que no bvio. uma forma de expressar o mundo. uma

    forma narrativa mais aberta, plural; lida com a existncia potencial,

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    narra o mundo com toda a potncia do desejo e, por isso, uma

    linguagem mais difcil de controlar.

    A realidade uma conveno sobre o real.

    A realidade vlida para o convvio coletivo, mas o real o

    lugar do mistrio. A fantasia fala mais perto do real, fala de instncias

    que a realidade no pode traduzir, que so evocadas ( chamadas pela

    voz, pela palavra que convoca o mistrio) com a msica, com a

    poesia. O que convencionamos como realidade no d conta do real.

    A palavra chamada de fantasia, de mgica, a palavra que traz

    as formas de possibilidade do mundo. O universo do maravilhoso fala

    do desejo. Todas as experincias do desejo se do no espao/tempo,

    se do sob uma forma cultural.

    Durante muito tempo, a palavra serviu como etiqueta do

    mundo, para tomar posse de todas as coisas. Contemporneamente,

    a palavra tem sempre uma histria, uma memria. A realidade, hoje,

    passa por uma srie de experincias e referncias. A palavra, na

    atualidade, apaga essas mltiplas experincias; esse o princpio da

    colonizao estabelecer um sentido nico s mltiplas experincias.

    Assim, cada narrativa de um conto maravilhoso faz parte da

    totalidade humana atravs dos tempos e das circunstncias histricas

    sob as quais esta narrativa foi sistematizada.

    RIBEIRO, ElianaAnotaes da palestra TEMPUS MIRABILIS,

    Proferida pela prof. Dra. Eliana Yunes .RJ: Museu do Folclore Edison Carneiro

    14 de julho de 2008

    Filmografia complementar:

    Peixe Grande e suas histrias maravilhosas, de Tim Burton

    Narradores de Jav, de Eliane Caff