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TempoLivre N.º 237 Maio 2012 Mensal 2,00 www.inatel.pt Todos os caminhos vão dar a Londres Entrevista Mário Coluna Terra Nossa Covilhã Percursos Guimarães

Tempo livre Maio 2012

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TempoLivreN.º 237Maio 2012Mensal2,00 €

www.inatel.pt

Todos oscaminhosvão dar a

Londres

Entrevista Mário ColunaTerra Nossa CovilhãPercursos Guimarães

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA,Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - RuaConsiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 140.191 exemplares

Na capaFoto: Sousa Ribeiro

40VIAGENS

Londres, um ano especialUm ano muito especial paraa capital do império, com aorganização dos JogosOlímpicos, a abertura doParque de Atracções"Making of Harry Potter", oJubileu da Rainha ElisabethII e a comemoração dobicentenário do nascimentodo escritor CharlesDickens…Uma viagempossível nos programasInatel 2012.

5 EDITORIAL

6 CARTAS E COLUNA

DO PROVEDOR

8 NOTÍCIAS

16 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

46 PAIXÕES

Campeões de Taekwondo, tal mãetal filho

50 MEMÓRIA

Ribeirinho

52 OLHO VIVO

54 A CASA NA ÁRVORE

79 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

80 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

82 CRÓNICA

António Costa Santos

57 BOA VIDA

74 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Cartaz e Novos livros

20ENTREVISTA

Mário ColunaLenda viva do futebol português,Mário Coluna (Inhaca- Moçambique,1935), evocou, em Maputo, para a TL,histórias da sua gloriosa carreira debicampeão europeu, capitão doBenfica e da Selecção Nacional. Foiconsiderado pela FIFA um dosmelhores cem jogadores de futebol doséculo XX.

26TERRA NOSSA

Covilhã: dos Lanifícios àUniversidadeA cidade serrana começou porafirmar-se como pólo industrial doslanifícios evoluindo, nas últimasdécadas, para cidade de saber e deestudantes. Da fase industrial, quedurou séculos, subsistem espaçosmuseológicos. A segunda vai fazendoo seu caminho.

32PERCURSOS

GuimarãesA Capital Europeia da Cultura merecebem uma visita em 2012 e a Inateltem viagens programadas durantetodo o ano

36DIÁSPORA

Pataniscas em Swiss CottageSílvia Luís-Gomes deixou CasteloBranco rumo a Londres à procura demelhor vida e os seus bons petiscossão já famosos na capital de SuaMajestade.

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Editorial

Vítor Ramalho

Resultados positivos

Mário Coluna, capitão durante longosanos da gloriosa equipa de futeboldo Benfica, onde quase todos osjogadores que então a integravam

eram figuras de primeiro plano do desporto-rei,não poderia deixar de merecer a curiosidade da"Tempo Livre". Daí que mereça - e justamente - serneste número a personalidade que é objecto dagrande entrevista.

Mário Coluna merece-o a vários títulos. Peloexcelente jogador de futebol profissional que foi,capitaneado uma equipa de excelência. Pelo carác-ter com que marcou a sua relação com colegas eadversários. Pela humildade com que, no palco dashonrarias e fora dele soube sempre estar à altura docidadão exemplar que foi e é. E é pelo exemplo querepresenta que o trazemos a este número, cons-ciente que neste mundo carente de valores, MárioColuna é uma referência com quem todos os des-portistas, profissionais e amadores se devem rever.

É ainda uma forma de revisitarmos a nossamemória colectiva, um pouco à semelhança daevocação de uma outra figura exemplar do espec-táculo, Ribeirinho, já desaparecido do nosso con-vívio, e cujo talento e personalidade, tambémneste número, quisemos registar.

A Inatel, como instituição representativa dopovo português que é, não se pode dissociar dosseus grandes objectivos que integram o desporto eas actividades culturais. Estes dois nomes - MárioColuna e Ribeirinho - são incontornáveis nestesdomínios. Falar deles é, de alguma forma, falarmosda enorme dimensão da diáspora lusa, bem repre-sentada também numa nossa compatriota que, emLondres, num simples espaço de um grande mer-cado popular faz jus a qualidade da gastronomia

portuguesa, onde sobressaem as célebres patanis-cas de bacalhau. Londres, cidade multissecular emulticultural é hoje - e também merecidamente -referência da capa da nossa revista por ser - e bem- um dos destinos de Verão dos percursos interna-cionais do turismo da Inatel.

Falar de Portugal e dos portugueses é sempreum grande e aliciante desafio. Desafio que se ini-ciou na cidade berço, Guimarães, referida apro-priadamente neste número, tal como a bonita cida-de da Covilhã, cujos beneficiários ao visitarem-nasnão devem deixar de se alojar nas nossas unidadesem Cerveira - esta a ser inaugurada no final destemês de Maio - e em Manteigas, aproveitando nestecaso a nova piscina termal, recentemente inaugu-rada.

Fiéis aos objectivos prosseguidos pela Fun -dação e como pode ser visto tambémneste número concebemos a prossecuçãodo Programa "Sempre em Férias" em

novos moldes, adequando a períodos mínimos detempo de quinze dias a permanência nas unidadesque integram a oferta do programa.

Por fim e em resultado do cumprimento deobrigações estatutárias o Conselho deAdministração aprovou, numa das últimas reu-niões, o Relatório e as Contas de 2011 da FundaçãoInatel, como também noutro local da revista serefere mais desenvolvidamente. Cumpre aquiregistar que, apesar da crise e dos avultados inves-timentos que foram realizados, os resultados doexercício foram os mais positivos dos últimosanos, facto que se fica a dever ao esforço conjuntode todos e à preferência dos beneficiários pelaFundação Inatel. n

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Cartas

Coluna do Provedor

Inscrições

Tentei fazer o meu registo de Associado indivi-dual no site da Inatel e, tendo todos os dadospreenchidos apareceu a mensagem "Documentode identificação inválido. Por favor verifique osdados introduzidos.". Seja com BI, Cartão deCidadão e até Passaporte, com os dados, claro,correctos, a mensagem foi sempre a mesma.Gostaria de reportar este erro para que possa sercorrigido a tempo de me poder inscrever naInatel e aproveitar a promoção de oferta da taxade inscrição.

Gonçalo V. Martins, por e-mail

Concurso de Fotografia- Abril/2012Rectificação: Na edição nº 236, de Abril último,na identificação das fotografias premiadas,onde consta nº 1 deverá ler-se nº 2 e vice-versa.Lamentamos o lapso.

50 anos na INATEL

Completaram, este mês, 50 anos de ligação àFundação Inatel os associados: Angelo AlbertoFerreira e Hélio Brás, de Carcavelos; AníbalCosta, de Barreiro; Rui Vasco Lopes, deQueluz.

NO MEIO DE VÁRIAS reclamações de associ-ados, que os serviços procuram corrigir, oGabinete do Provedor do Associado não podedeixar de assinalar a satisfação com que é rece-bida pelos utentes, a informação dos prémiosque foram atribuídos à Fundação INATEL nodesempenho das suas funções.

Os prémios que reconhecem os bons resulta-dos obtidos na gestão de segurança alimentarpressupõem dois níveis de certificação:

- Certificado Ouro que representa 80% oumais de conformidade;

- Certificado Prata que representa 70% oumais de conformidade;

Actualmente, em Portugal, existem apenas 13unidades com certificado Ouro atribuído pelaLusocristal, dos quais cinco pertencem a unida-des hoteleiras da Fundação Inatel.

"O Conselho de Administração entende queeste é mais um contributo para o reforço da cre-

dibilização da Fundação INATEL e das suasUnidades Hoteleiras no mercado, razão pelaqual se felicitam todos os trabalhadores envolvi-dos que em muito contribuíram para tais dis-tinções."

Num período em que Portugal e o resto daEuropa atravessam uma crise de grandes pro-porções, é agradável esta informação. Primeiro,porque reflecte o profissionalismo na nossaorganização, depois, porque os desabafos dosnossos associados vem dizendo que é diferente,é família!

E porque há uma ligação muito forte aos tra-balhadores, é bom recordar que foi no estádio 1ºde Maio da INATEL que se celebrou o 25 deAbril de 1974!

O estádio a cujo novo relvado - sintético - aFIFA acaba de atribuir duas estrelas, a pon-tuação máxima, possibilitando a prática de pro-vas internacionais.n

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

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Notícias

l Se tem mais de 55 anos, saiba que apartir de 550 euros poderá usufruirsozinho, com o cônjuge e/ouacompanhado, por exemplo de umneto, do programa "Sempre em Férias"e desfrutar de um interessante lequede atividades concebidas a pensar noseu bem-estar e que incluemtratamento de roupa, assistênciamédica em caso de necessidade,jantares temáticos, bailes, música aovivo e passeios que prometem fazeresquecer as preocupações com umsalutar convívio.

Convívio e animaçãoO programa "Sempre em Férias"permite, na sua génese, a

permanência de cidadãosportugueses com idade superior a 55anos, por um período de três meses,em cada unidade hoteleiraselecionadas para o efeito, dando apossibilidade de, sem interrupção,poder transitar para outra unidadeassinalada pela Fundação. Até junho do corrente ano, a InatelFoz do Arelho acolhe, com a belezada lagoa de Óbidos e a reconfortantepaisagem do oeste, interessados emestadias prolongadas ou, em novospacotes de quinze dias, prorrogáveispor períodos de igual duração atécompletar o trimestre previstonaquela unidade. Entre junho esetembro, a Inatel Manteigas e a

belíssima paisagem serrana com osencantos beirões abraçam oprograma que segue, no últimotrimestre do ano, rumo à terra dasFogaças, em Santa Maria da Feira,local para desfrutar a região entre oDouro e o Vouga.Em qualquer das opções, umanimador especializado acompanhaos participantes e assegura aeficiência das atividades previstasque vão, recorde-se, desde as lúdicasàs visitas para apreciar a belezaarquitetónica e paisagística daszonas envolventes, sem esquecer osbailes e outras iniciativas quecontribuem para a boa condiçãofísica e elevação do ânimo dosparticipantes. Desde o seu lançamento em junhodo ano transato, beneficiaram doprograma uma média/mensal decerca de quarenta seniores quepassaram por: Inatel Luso, Albufeirae Castelo de Vide. Presentemente aInatel Foz do Arelho acolhe todos osque queiram, até junho, apreciar agastronomia e os encantos do oeste.

Combater a solidão"Vivia sozinho em Santa Marta dePenaguião e aqui encontrei muitoscompanheiros para conversar epassar bons momentos", recordaDavid Carvalho que já passou porAlbufeira e Castelo de Vide e seguerumo à Foz do Arelho. "A minhafamília está em França e como sabe

Inatel Social

“Sempre em férias” 15 dias de prazer e bem-estarInvista na saúde e no bem-estar e venha conhecer a nova modalidade do "Sempre emFérias", já disponível, com interessantes e atrativas estadias com duração de quinze dias.

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que estou acompanhado fica maistranquila", confidencia osexagenário. Também DeolindaRibeiro, de 79 anos, soma com omarido nove meses de Sempre emFérias. "Por motivos de saúde estouimpossibilitada de fazer trabalhosdomésticos e a Inatel oferece umaalternativa para o meu caso,ajudando-me a ter uma vida melhore mais autónoma", sublinha aaveirense que já está inscrita para apróxima aventura.Mas, se entre os participantes háquem acompanhe a iniciativa desdeo seu lançamento em junho de 2011,outras pessoas que não tendodisponibilidade para ausências daresidência tão prolongadas optampor pacotes mais curtos, comduração de quinze dias ou mesmode um mês. " Estive 15 dias emAlbufeira e por motivos pessoais

tive de regressar a Viana, agora, voupassar nova quinzena à Foz",acrescenta com alegria José Santos,de 59 anos, um amante da naturezaque procura gozar de formadescontraída a sua aposentação. Os interessados poderão inscrever-senas agências Inatel, situadas emtodas as capitais de distrito do país,devendo fazer prova dos seusrendimentos através da declaraçãode IRS. Para a modalidade de quinzedias o valor a pagar varia entre os550 euros (associado) e os 600 euros(não associado) em caso derendimento mensal até 1300 euros.Para rendimentos superiores a 1300euros, o montante a pagar é de 600euros para associado Inatel ou 700euros para não filiados naFundação.n

Glória Lambelho (texto)Inatel social (fotos)

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Coimbra condecoraJoão Fernandes

l A Câmara Municipal de

Coimbra atribuiu a Medalha de

Mérito Cultural - grau Ouro a

João Fernandes, delegado

distrital da Fundação Inatel A

proposta, avançada pela

vereadora da Cultura e vice-

presidente do município, Maria

José Azevedo Santos,

homenageia João Fernandes, 80

anos, natural de Coimbra, onde

nasceu e onde trabalhou, mais

de quatro décadas, numa

farmácia local, travando

conhecimento com meia cidade

e uma sólida e fraterna amizade

com figuras destacadas da

cidade.

Notícias

l Já aprovado pelo Conselho deAdministração, o Relatório deActividades e Contas de 2011 daInatel vai ser remetido, após parecerdo Conselho Fiscal, para homologaçãoao Senhor Ministro da Solidariedadee da Segurança Social. Eminformação dada aos trabalhadores, oCA sublinha o facto de os resultadosdo exercício de 2011 terem sidopositivos em € 1.179.682,40 (ummilhão, cento e setenta e nove mil,seiscentos e oitenta e dois euros e

quarenta cêntimos) para uma receitaglobal de 61,5 milhões de euros euma despesa de 60,3 milhões deeuros.Estes resultados - acrescenta o CA -invertem pela primeira vez osresultados negativos existentes desdea transformação do ex-Inatel IP emFundação e que foram, à data datomada de posse do Conselho deAdministração, negativos em 3,855milhões, o que significa ainda aexistência de um défice acumulado

por efeito dos exercícios anteriores.O CA assinala, na mesma nota, que ainversão de tais resultados se devequer à dedicação de todos ostrabalhadores quer a efeitos extraoperacionais, designadamente osprotocolos estabelecidos comentidades terceiras, com rendimentosfinanceiros acompanhados decontenção geral de custos e não dasactividades operacionaispropriamente ditas prosseguidas pelaFundação.

Relatório e as contas 2012

No âmbito dos trabalhos de requalificação das unidades hoteleiras e de outros

espaços sociais da Fundação, a Inatel Cerveira reabre ainda durante o corrente mês

com significativos melhoramentos tanto a nível exterior como nos quartos e noutras

zonas interiores. Também a Inatel Porto Santo sofreu importantes obras de

beneficiação nos quartos e espaços de lazer e convívio.

Obras em Porto Santo e Cerveira

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l Ao entrar nas unidades INATELpoderá agora desfrutar do novo canalcorporativo, criado para dar aconhecer todas as actividades que aINATEL realiza e apoia de norte a suldo país. As unidades de Albufeira,Caparica, Foz do Arelho, Oeiras,Linhares, Piódão, Vila Ruiva, Castelode Vide, Santa Maria da Feira, Entre-os-rios, Luso, Manteigas e S. Pedro doSul, bem como a sede em Lisboa jácontam com este sistema. Nasunidades do Porto Santo, Flores eCerveira, a solução será instalada nasrecepções dentro dos próximosmeses. Ainda ao longo dos próximos seismeses, será instalado o novo sistemade televisão Meo em todas as

unidades hoteleiras e serãoiniciadas as emissões docanal INATEL em todos osquartos. A grelha deprogramação incluirá váriosfilmes nomeadamente"Fundação INATEL - umahistória com futuro" umdocumentário de CesárioBorga e Fernanda Bizarro; "SinfoniaImaterial", um registo das práticasmusicais de tradição oral portuguesae "Cinema de Bairro", umdocumentário realizado por jovensmoradores de bairros sociais. Serãotambém exibidos filmes sobre osprogramas "Sempre em férias" e"Turismo Júnior", bem como as visitasque poderá usufruir quando visitar o

Piódão, o Porto Santo e a Costa daCaparica. No seguimento da remodelação dasagências INATEL de Vila Real, Aveiro,Santarém e Setúbal, as montrasdispõem agora de LCDs onde poderáver todas as nossas ofertas eactividades. Está igualmente previstaa instalação deste sistema no foyer doTeatro da Trindade.

TV Corporativa INATEL

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Notícias

l O Colégio de São Francisco, nailha de S. Miguel, acolheu, de 2 a 4de Abril, um torneio de ténis de

mesa no âmbito das comemoraçõesdo 466º aniversário da cidade dePonta Delgada, com o apoio da

ANIMA - CULTURA.Participaram quinze atletas,doze dos quais emrepresentação da FundaçãoInatel. Venceu a finaldisputada em regime depoule, o atleta MarlonSilva, tendo-se classificadonos lugares seguintes, da 2ªà 6ª posição, AntónioMedeiros, Celso Teixeira,Jaime Ferreira, RubenMartins e Pedro Sousa,respetivamente.

Ténis de Mesa em Fajã de Cima

l Em homenagem ao Teatro e para

assinalar o seu dia mundial, a

Fundação Inatel apresentou no

salão nobre do Trindade, quatro

obras relacionadas com a actividade

teatral. A saber: "Manual de

Produção" e "Manual de

Dramaturgia", de Carlos Cabral;

"Manual de Figurinos de Teatro", de

Ruy de Matos; e "Manual de

Equipamentos e Materiais de

Espectáculo", de Alberto Villar.

Presente na cerimónia, Cristina

Baptista, administradora da

Fundação, realçou o contributo e o

apoio que as obras poderão dar ao

movimento associativo. Os livros

Inatel lança manuais de teatro

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l A FNAC Colombo foi palco, emAbril, do lançamento do livro"Como Formar Equipas de ElevadoDesempenho", de Rui Lança, quadrodo Departamento de Desporto daInatel. A obra foi apresentada porPedro Guerreiro, director do Jornalde Negócios, que focou aimportância das ferramentasrelacionadas com a gestão depessoas e equipas para ultrapassaras crises económicas e sociais que oPaís passa e enfrentará num futuropróximo. O livro conta com aparticipação de presidentes edirectores de empresas como a

Delta, Accenture, Deloitte, FundaçãoCalouste Gulbenkian, Carris, TSF, aMaestrina Joana Carneiro e diversostreinadores das Selecções Nacionaiscomo Paulo Bento.

“Como Formar Equipasde Elevado Desempenho”

integram a Colecção Teatro da Inatel

e podem ser adquiridos no Centro

de Documentação na sede da

Fundação. Mais informações em

www.inatel.pt.

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Page 14: Tempo livre Maio 2012

Notícias

l Por iniciativa da Associação MulherMigrante, em parceria com a Inatel, aautarquia de Espinho e a FundaçãoProfessor Fernando de Pádua tevelugar no Teatro da Trindade umaevocação-homenagem de MariaArcher (1899/1982), jornalista,escritora e opositora ao regime doEstado Novo, que viveu muitos anosno exílio no Brasil. Assinalando o 30ºaniversário da sua morte, o eventojuntou numerosos amigos,admiradores e familiares de MariaArcher, autora de mais de trêsdezenas de obras, nomeadamentesobre temas sociais e questões dacondição feminina.A iniciativa visou fazer o

reconhecimento da importância deMaria Archer no século XX portuguêse perspetivar a sua figura no mundocontemporâneo.Simultaneamente, foiinaugurada a exposição"Rostos Femininos daRepública", daresponsabilidade doMuseu Municipal deEspinho. Dina Botelho,professora e autora deestudos sobre a obra daescritora, lembrou queMaria Archer "foi daspoucas mulheres do seu tempo a tercomo profissão o jornalismo e aescrita, o que não era fácil na época".

Homenagem a Maria Archer

Fernando Pádua, sobrinho daescritora, resumiu o pensamento datia numa frase que lhe recorda: "eu

sou uma mulher igual aeles". Mário Soares e apresidente da FundaçãoPro Dignitate, MariaBarroso, lembraram ahomenageada comoalguém que "batalhouextraordinariamente pelosdireitos das mulheres echegou a sofrerpoliticamente por causadisso". E deixaram um

elogio à Associação Mulher Migrante,por "iluminar as figuras das mulheres,que são normalmente esquecidas".

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l "Acerto de Contas" (Âncora Editora) de António

de Sousa Duarte, apresentado em Abril, no Corte

Inglês, por Proença de Carvalho, narra pequenas

histórias, sobre vinte e quatro portugueses que o

antigo profissional da Lusa e "24

Horas" conheceu na sua vivência

quotidiana de jornalista e de cidadão

empenhado. Costa Gomes, Álvaro

Cunhal, Carlos Beato, Ramalho

Eanes, Salgueiro Maia, Vasco

Lourenço, Franco Nogueira, Paulo

Teixeira Pinto, Manuel Maria Carrilho,

Artur Jorge, Carlos do Carmo, Paulo

Futre, Sá Pinto, D. Manuel Martins e

D. Januário Torgal Ferreira são

alguns dos notáveis protagonistas que Sousa

Duarte conheceu e dos quais registou e agora

divulga momentos e depoimentos que importa

conhecer.

"Acerto de Contas"

Mistérios da Semana Santa em Idanhal O Museu Nacional de Arqueologia foi palco da apresentação

do livro "Mistérios da Semana Santa em Idanha", de autoria de

António Catana e Hélder Ferreira, com prefácio de D. Manuel

Clemente. Manuel Vilas Boas (TSF) apresentou e moderou a

Mesa onde, para além dos autores, estavam o presidente da

Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, Álvaro Cachucho Rocha,

Luís Raposo (ICOM-PT e Museu Nacional de Arqueologia),

Cristina Batista (Inatel), António Realinho (Adraces) e Armindo

Jacinto (vice-presidente RT Centro e Câmara Municipal de

Idanha-a-Nova). A obra - recorde-se - retrata a riqueza das

encenações, de uma enorme originalidade em termos

mundiais, que se diferenciam de freguesia para freguesia,

todas elas únicas e de grande beleza, apresentando-se num

ambiente não só de fé mas também com influências de rituais

pagãos, judaicos ou mesmo Templários.

Rastreio Cardiovascular e Diabetes tipo 2l Nos dias 15 e 16 de Maio, os associados INATEL poderão

usufruir gratuitamente de um Rastreio Cardiovascular e

Diabetes tipo 2, que permite identificar o perfil de Risco e

definir a probabilidade de desenvolver a doença coronária.

Esta iniciativa resulta de um protocolo assinado com o Life

Beat - Centro de Diagnóstico Avançado. Nestes dias, entre as

9h00 e as 12h00, basta dirigir-se ao Life Beat na Rua Mouzinho

da Silveira, 27 (perto do Marquês de Pombal), apresentar o seu

cartão de associado e fazer o seu rastreio. Para mais

informações ligue 211 922 040 ou vá a www.lifebeat.pt

Clube PT no 1º de Maiol A fase final do III Torneio Nacional de Futsal do Clube PT teve

lugar no final de Março no Parque de Jogos 1º de Maio da Inatel,

em Lisboa. O torneio - que decorreu com elevado nível

competitivo e fair-play - contou com a participação de seis

equipas masculinas, representativas das seguintes Zonas Norte,

Centro Norte, Centro Sul (2 equipas), Madeira e Açores. Sagrou-

se campeão a equipa "Zona Centro Sul-2". O Torneio, registe-se,

teve, desde a fase inicial, a participação de 39 equipas, num total

de 410 atletas. O Troféu Melhor Jogador coube a João Trancoso

(ZCS-2) e o de Melhor Marcador a Marcelo Carvalho (ZCN).

Guardo Redes menos batido: João Pedro Morgado (ZCS-2). Troféu

Disciplina: Equipa da ZCN. As novas instalações do espaço SPOT

serviram o catering do Torneio de Futsal que inaugurou, assim,

aquele espaço versátil e multiusos.

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XVI Concurso “Tempo Livre” Fotografia

16 TempoLivre | MAIO 2012

[ 1 ]

[ 1 ] Agostinho Monteiro, LisboaSócio n.º 283151

[ 2 ] Eduardo Ribeiro,MaiaSócio n.º 103583

[ 3 ] João Vasco,MassamáSócio n.º 434109 [ 3 ]

[ 2 ]

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[ a ] Sérgio Guerra, J. João do EstorilSócio n.º 204212

[ b ] Clara Rosário, LisboaSócio n.º 233162

[ c ] Carlos Amendoeira, GulpilharesSócio n.º 519773

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, um máximode 3 fotografias de formato mínimo de10x15 cm e máximo de 18x24 cm., empapel, cor ou preto e branco.

5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2012, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

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“Corri o mundograças ao futebol”

MárioColuna

Mário Coluna (Inhaca - Moçambique, 1935) é uma lenda viva do futebol português. Nasceu em Moçambiquee expressa-se sobre a sua carreirade uma forma que é um exemplo de simplicidade e humildade para quemfoi considerado pela FIFA um dos melhores cem jogadores de futeboldo século XX. Fez quase setecentos jogos pelo Benfica e 57 pela selecção nacional. O "monstro sagrado" – como o apelidavam os jornais desportivos –foi bicampeão europeu (1961 e 1962), conquistou dez títulos de campeão nacional e seis Taças de Portugal.Foi capitão da equipa portuguesa no Mundial de 1966, quando a selecção nacional chegou ao terceiro lugar.Vive actualmente em Maputo.

Entrevista

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Entrevista

Como é que o Mário Coluna entrou no mundodo futebol?Os primeiros passos foram precisamente aqui,na antiga Lourenço Marques, em 1950, noGrupo Desportivo de Lourenço Marques, queera um clube filiado no Sport Lisboa e Benfica.Eu tinha 15 anos quando comecei a jogar nosjuvenis. Depois, com o tempo, os treinadoresviram o meu desenvolvimento e aos 17 anospassei à equipa principal. Quando eu tinhadezanove anos veio cá o Sporting Clube dePortugal, a convite do Sporting Clube deLourenço Marques, que era uma filial doSporting Clube de Portugal. E um dos jogos quese realizaram foi entre uma selecção dos natu-rais da colónia de Moçambique e o Sporting.Era o tempo do Travassos, Jesus Correia,Vasques… os cinco violinos. Nesse jogo eu

joguei contra eles e parece quejoguei bem, porque no fim dojogo os dirigentes do Sportingvieram ter comigo.Marcou golos nessa partida?Já não me lembro, mas eles per-guntaram-me se não queria irjogar pelo Sporting em Portugal.Eu disse-lhes que era menor e quefalassem com o meu pai, porquepara sair daqui eu tinha que terautorização dele. Eu não sei se

eles foram falar com ele ou não, mas o meu pai,como era um benfiquista danado, um dos sóciosfundadores do Desportivo, de certeza que nãodeve ter aceite, porque depois nunca mais vieramter comigo. Nós tínhamos aqui no tempo colonialum major, que era o major Catela, que estava liga-do ao departamento de futebol do Benfica. Elemandou um SOS para o Benfica a dizer: "Há aquium jogador que está a jogar no Grupo Desportivode Lourenço Marques, que é uma nossa filial, e oSporting está interessado nele… Como é?"Responderam: "Metam esse miúdo no primeiroavião para aqui". O major Catela falou com o meupai por causa da autorização e combinaramtudo… Um contrato de cento e cinquenta contospor duas épocas e um ordenado de dois contos equinhentos…Como era para o Benfica o seu pai já disse quesim, claro….Eu acho que sim, o meu pai não pôs obstáculos,

era preciso uma autorização, eu era menornaquela altura… Meteram-me logo no avião…Era uma família de benfiquistas…O meu pai, pelo menos. O meu pai era sócio fun-dador do Desportivo de Lourenço Marques.Apanhei o avião e nessa altura não havia avião ajacto, levei quase dois dias a chegar a Portugal.Quando cheguei a Lisboa estavam à minha espe-ra os dirigentes do Benfica e o treinador OttoGlória… E um tio meu, um irmão do meu pai. OBenfica queria levar-me para a pensão onde esta-vam os outros jogadores, mas o meu tio disse quenão, que o sobrinho tinha casa em Lisboa, quenão precisava de ir para nenhuma pensão. E ca -lhou bem porque esses meus tios não tinham fi -lhos e era como se eu fosse o filho deles. Fiqueihospedado em casa dos meus tios.E como foram os primeiros tempos no futebol dacapital?Como eu não conhecia nada de Lisboa, nos pri-meiros dias dos treinos a minha tia é que melevava até aos Restauradores para apanhar o eléc-trico para o Campo Grande, para o campo doBenfica. Naquele tempo era um campo pelado,mesmo por detrás do campo do Sporting, emAlvalade. Comecei a treinar, a treinar, a treinar ecomeçamos a fazer jogos particulares aqui e ali eo Otto Glória gostou de mim. Nunca joguei nareserva.E quando aconteceu a grande estreia nos relva-dos portugueses?Já não me lembro quando foi, sei que nuncajoguei na reserva, joguei logo no primeiro team,como interior direito, porque o avançado centronessa altura era o José Águas. A partir daí vieramjogos das selecções B e A e fui sendo convoca-do…Mas não foi sempre interior direito…Interior direito, avançado centro… médio… eunão tinha um lugar fixo… O treinador via que euestava à vontade dentro do campo… A únicadiferença eram as camisolas, joguei com o núme-ro 8, 9, 10… Estava nessa altura na idade do serviço mili-tar…Sim, quando fiz 20 anos fui chamado para atropa, Lanceiros 2, na Calçada da Ajuda. Mastinha a facilidade de treinar, de manhã era arecruta no quartel, a instrução militar, e à tardetinha autorização para ir treinar no Benfica. E

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“Estive cinco anosna tropa, o que vale éque não havia guerranessa altura…”

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assim fui crescendo… estive cinco anos na tropa,o que vale é que não havia guerra nessa altura…Qual foi o treinador com quem mais gostou detrabalhar?Gostei do Otto Glória e gostei também do BelaGuttman. Eram muito diferentes?Bem, um era brasileiro e o outro era húngaro. OBela Guttman era mais disciplinador. Quanto aregulamentos, horários... Se faltássemos éramosmultados, era muito rigoroso. E foi com ele quenós ganhámos as duas taças da Europa. Perdemostrês e ganhámos duas. Fomos cinco vezes finalis-tas. Quais foram os momentos mais importantes dasua carreira, os que lhe proporcionaram maisalegria?O primeiro foi logo o primeiro campeonato na -cio nal em que eu joguei pelo Benfica e que nósganhámos, com o comando do Otto Glória, em1954/55. Outra alegria foi ter sido chamado àselecção nacional, primeiro à selecção B e depoisà selecção A.E quanto aos colegas de equipa, alguma relaçãoo marcou especialmente?Todos. Havia uma certa disciplina e havia boasrelações… Nós, os solteiros, vivíamos todos nolar do Benfica, no Bairro do Benfica. Os casadossó iam lá nos dias dos estágios. Foi uma carreira construída inteiramente noBenfica…Sempre no Benfica, até aos trinta e cinco anos,quando me fizeram uma festa de despedida.Tirei o curso de treinador e treinei na escola dejogadores do Benfica. Depois apareceu um se -nhor francês, mais um empresário, sabiam queo Benfica me tinha dispensado como jogador eachavam que eu ainda podia ser útil pelomenos mais uma época no Lyon. Eu disse-lheque ia se o Benfica me dispensasse e dependiatambém do que me pagassem. Foi o melhorcontrato que fiz. Porque no tempo em que eujogava no Benfica tive convites para jogar emItália, no Brasil, no Vasco da Gama, noFlamengo, mas o Salazar não permitia, diziaque não se podia desfalcar o desporto portu-guês, ele não deixava… Portanto, nunca saí. Sódepois de ele morrer, eu já tinha 35 anos, é quesaí… Fui para o Lyon e foi o melhor contratoque eu fiz.

Fez uma época apenas?Sim, foi uma boa época. Ficamos em segundolugar no campeonato nacional e fomos finalistasna taça de França. E conheci a França de umaponta à outra nessa altura. Íamos jogar a todos ossítios. Depois não me quiseram renovar o contra-to e eu voltei para Portugal, para treinar as esco-las do Benfica.Essa fase durou até decidir vir para Moçam -bique…Até 1975. Nessa altura tive um convite daTextáfrica, de Vila Pery, do Chimoio.Convidaram-me para treinar a equipa. Tambémfoi um bom contrato. Ainda foi antes da inde-pendência. Depois veio a independência e orga-niza-se o campeonato nacional e quem ganhaesse primeiro campeonato é o Textáfrica, treina-do pelo Mário Coluna. Entretanto, apareceram asnacionalizações, a política… e aTextáfrica não disse mais nada.Continuou a seguir no futebol dacapital…Tive depois um convite para virtreinar o Ferroviário de Maputo.O director dos Caminhos-de-ferro chamava-se AlcântaraSantos, morreu com o SamoraMachel, no acidente de aviação.Foi ele que me convidou paratreinar o Ferroviário. Eu disse-lhe que não queria um contrato como treinadorde futebol, queria um emprego nos Caminhos-de-ferro. Queria ter uma coisa segura. Um trei-nador de futebol ganha… não ganha… edepois? Ele perguntou-me "Mas onde é que agente vai pôr o Mário Coluna aqui nosCaminhos-de-ferro?". Eu respondi que sabia lere escrever e que os Caminhos-de-ferro tinhamescritórios aqui. E além disso, antes de eu irpara Portugal era mecânico de automóveis, e osCaminhos-de-ferro também tinham oficinas.Portanto eu não me importava de sujar as mãos.Eu acabei por ficar no departamento de for-mação. Comecei a trabalhar de manhã nosCaminhos-de-ferro de manhã e à tarde ia trei-nar o Ferroviário.Até se reformar?Até fazer setenta anos. Os Caminhos-de-ferro deMoçambique e o Governo fizeram-me uma festana Costa do Sol, estiveram lá o Marcelino dos

“tive convites parajogar em Itália, noBrasil, no Vasco daGama, no Flamengo,mas o Salazar nãopermitia”

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Entrevista

Santos, o Chissano, o Guebuza… e assim mereformei. Mas ainda manteve responsabilidades no fute-bol moçambicano…Sim, eu fui um dos presidentes da FederaçãoMoçambicana de Futebol. Agora estou a des-cansar, já corri o mundo graças ao futebol… Secalhar se fosse um homem rico não conheceriao mundo que eu conheço… Já andei pelosEstados Unidos, Brasil, Venezuela, Ale -manha…Acha que o mundo do futebol é hoje muito difer-ente do que era há quarenta ou cinquenta anos?Deve haver mais profissionalismo, pelo menosmais do que havia em Portugal. No meu tempoo nosso governo não autorizava o profissiona-lismo. Os próprios estatutos do Benfica nãopermitiam que jogassem jogadores estrangeiros.

Como as colónias eram conside-radas território português, nóséramos considerados portugue-ses e eles vinham buscar jogado-res a Moçambique, a Angola,Cabo Verde. Agora, não. OBenfica hoje quase que não temnenhum jogador português, sãoquase todos estrangeiros. Oclube é português, mas quemchuta a bola são os estrangeiros.Houve algum golo de que se lem-bre particularmente, de quenunca se tenha esquecido?Um deles foi numa das finais da

taça da Europa, contra o Barcelona, o segundogolo que nos deu a vitória na primeira taça daEuropa, em 1962.E naquele célebre jogo contra a Coreia?Esse foi no mundial. Eu era o capitão da equipa.Estávamos a perder na primeira parte por 3-0.Quando fomos à cabina no intervalo, o OttoGlória estava zangado e andava de um lado para ooutro. E quando viu que já estava na hora largouuma bojarda: "Porra, vocês contra os meus patrí-cios ganharam e agora contra estes minhocas….Vão lá para dentro do campo ganhar o jogo!". Ditoe feito. Começamos a correr e, por outro lado, oscoreanos já estavam cansados e deu 5-3.E o que é que fez virar dessa maneira o jogo?Bem, foi eu andar a gritar com os meus colegasdentro do campo e termos mais força do que os

adversários. Aquilo que eles correram na primei-ra parte corremos nós na segunda. Se tivesse que indicar um grande jogador defutebol hoje, quem escolheria?Eu agora mal acompanho o que se passa no fute-bol. Parece impossível, mas até com o meuBenfica... Como não é o Benfica do meu tempo,eu só vejo o resultado no dia seguinte. E só se forfavorável… Para a descansar o coração, para nãoandar a sofrer, já chega do meu coração andar abater por causa do Benfica…Mas ainda bate por causa do Benfica…

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“O Benfica hojequase que não temnenhum jogadorportuguês, são quasetodos estrangeiros. Oclube é português,mas quem chuta abola são osestrangeiros.”

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Bate, mas já não vejo os jogos directamente. Na sua carreira de desportista, o que acha quepode servir melhor como referência para osjovens desportistas ou futebolistas?A disciplina. Agora há muita liberdade com oprofissionalismo. Mas esse era outro tempo.Agora é diferente, não se pode comparar. Agorasão outros tempos.Como é que vê o futebol em Moçambique?Está mal. Não aparecem valores. Antigamentehavia no atletismo uma Lurdes Mutola, que foicampeã olímpica. Hoje não aparece ninguém.

Antigamente havia o Matateu, o Juca, o Wilson, oEusébio. Agora não há ninguém. E não há apoionenhum a nível desportivo.É só uma questão de apoios? O que é eu serianecessário para mudar?Antigamente havia empresários, os empresáriosé que apoiavam os clubes, eram os dirigentes des-portivos. Agora é gente que não tem nenhumaspossibilidades. E era preciso que o Governo dessemais apoios. Mas o Governo não liga nada. Não ésó no futebol, é também no atletismo, é um pro-blema geral. n Humberto Lopes (texto e fotos)

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Terra Nossa

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CovilhãDos Lanifíciosà UniversidadePrimeiro afirmou-se como pólo industrial eoperário, de seguida tornou-se cidade de saber eestudantes. À primeira fase, que se prolongou porséculos, ainda associamos de forma quaseautomática a Covilhã, a segunda, recente, vaifazendo o seu caminho.

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Terra Nossa

Foram os lanifícios que criaram aCovilhã. Fácil acesso à matéria-primae cursos de água que permitiram oaproveitamento da força motriznecessária foram vantagens utilizadas

desde a Idade Média para desenvolver activida-des laneiras. Depois, a intervenção do Marquêsde Pombal, com a sua política de fomento indus-trial, deu o impulso decisivo.

Vale a pena começar por aí, pelas setecentistasReal Fábrica de Panos e Real Fábrica da Veiga.Estruturas imponentes, icónicas, de graníticasolidez, atravessaram séculos, começaram comofábricas e depois disso serviram diversos fins,agora acolhem instalações da Universidade daBeira Interior e o Museu de Lanifícios.

No que ao Museu diz respeito, maquinaria,utensílios e painéis explicativos são elos de umacadeia que conduz o visitante passo a passo atra-vés do processo manufactureiro. Há espaços eequipamentos que sobressaem, como a grandecaldeira DeNayer, um colosso metálico, ou aTinturaria das Dornas, cuja recuperação avivouqualidades estéticas já existentes. Faltará aqui deforma clara a referência aos homens e mulheresque no passado operaram as máquinas, deram

vida a estas históricas fábricas, um tempo decurto horizonte para quem aqui trabalhava, e queFerreira de Castro conta em A Lã e a Neve.

O movimento de outrora não cessou nesteantigo lugar industrial e proletário, sendo o me -lhor sítio para verificar como a força da presençada universidade em poucas décadas transformoua Covilhã. Agora professores e estudantes, circu-lam, experimentam, ensinam, aprendem. E assimcomo os lanifícios foram determinantes no pas-sado (e continuam a ser, embora sem a liderançaque detiveram), a universidade e os estudantesmarcam o carácter da cidade no presente.Adiante, voltaremos aos estudantes.

Do coração da Universidadeao coração da cidade…Deixamos para trás o Pólo I, o coração daUniversidade e caminhamos em direcção aocoração da cidade, a Praça do Município.Seguindo a rua marquês D`Ávila e Bolama, deinício, e de seguida a rua Visconde daCoriscada, - um dos arruamentos da antigajudiaria - significa fazer uma grande curva, poisa orografia vigorosa torna as ruas retorcidas ecaprichosas. Pode-se abreviar caminho e optar

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Museu Arte Sacra.Nas páginasanteriores, vista dointerior do Museu deLanifícios.Página seguinte:Praça do Município eElevador de SantoAndré

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Terra Nossa

pelo elevador de Santo André, que num pulovence a encosta acentuada. Chegando ao cimosurge uma parede de blocos cinzentos de durogranito, que é o que resta de mais significativoda medieval muralha.

Não tarda estamos na Praça, mas pelocaminho surge o Patrimonivs, Museu de Arte eCultura, instalado num edifício dos inícios doséculo XX, da autoria do arquitecto ErnestoKorrodi. Foi banco e como tal possui a robustezque dantes se impunha a este tipo de estabele-cimentos, que tinham de inspirar confiançaantes de alguém entrar portas dentro. Como écomum em certo tipo de museus, reúnem-seaqui peças de proveniência muito diversifica-da, desiguais no seu valor e interesse e ondedois retratos do pintor Eduardo Malta, incon-

fundíveis no seu academismo e poder expressi-vo, causam efeito. Merece um momento deatenção o bem recheado expositor com vinhosda Adega Cooperativa da Covilhã, no pisotérreo. É feliz este entendimento de património,que destaca um produto emblemático da Covada Beira, para mais com raízes ancestrais naregião, como comprovam documentos vários.

Agora sim, a Praça. A entrada é feita sob afigura de Pêro da Covilhã, representado emvolumosa estátua. Pêro da Covilhã dá corpo àfigura do aventureiro. Dele sabemos que foidiplomata e grande viajante e que acabou osdias na Abissínia, a que chamamos hojeEtiópia. Se continuarmos em frente, pela RuaRuy Faleiro, outro nome grande das viagens dosDescobrimentos, desaguamos no JardimPúblico, ladeado pelo Museu de Arte Sacra,instalado num edifício projectado por RaulLino e pela igreja de São Francisco, que temduas capelas tumulares quinhentistas comestátuas jacentes. Se prosseguirmos até à extre-midade do Jardim avistamos o fundo vale poronde corre a ribeira da Carpinteira, desde 2009atravessado por uma elogiada ponte pedonal daautoria do arquitecto Carrilho da Graça, "umadas mais impressionantes" de entre "as novaspontes pedonais de grande altura".

…e aos estudantesA localização do Jardim Público é estratégica, tor-nando-o lugar de passagem, mas também lugar deencontro e relaxe. Iryna, Alina, Júlia e Maria sãoquatro polacas e estenderam uma manta no relva-do do Jardim, lêem e apanham sol. Dizem algumaspalavras em português, arriscam pequenas frases,mas sentem-se mais à-vontade a falar inglês. Entreelas falam polaco. Não são caso isolado, no pas-seio, caminhando em direcção à Praça doMunicípio, seguem três estudantes espanhóis. E,

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Dois Queijos e um Museu

Pela localização, repartida entre a serra da Estrela e a Cova da

Beira, o fabrico de queijo no concelho da Covilhã tem uma longa

tradição e peso económico. Dessa produção, os queijos mais

emblemáticos são o Queijo da Serra da Estrela, produto com

Denominação de Origem Protegida e o mais recente queijo kosher,

fabricado segundo os preceitos da religião judaica.

A importância da actividade conduziu à criação do Museu do

Queijo, na freguesia de Peraboa, a 16 quilómetros da sede do

concelho. Num edifício reconstruído "o visitante pode conhecer o

meio ambiente que envolvem a arte e o processo de fabrico

artesanal de Queijo da Serra", assim como ficar a par das

características do queijo de ovelha kosher elaborado em Peraboa.

Para além da componente mais didáctica, o Museu do Queijo

pretende oferecer aos visitantes diferentes experiências capazes de

impressionar os sentidos.

O Museu do Queijo pode ser visitado de terça - feira a domingo das

10h30 às 12h30 e das 14h30 às 17h30. Encerra à segunda-feira e

quinta-feira de tarde.

GUIA

INFORMAÇÕES:

Posto de Turismo, Avenida Frei

Heitor Pinto, Tel: 275 319 560

DORMIR:

A Fundação Inatel possui uma

Unidade Hoteleira na região da

serra da Estrela, em Manteigas.

Localizado no vale do Rio

Zêzere, esta unidade possui 64

quartos totalmente equipados,

uma moderna e inovadora

piscina termal, restaurante, bar,

sala de reuniões, sala de jogos,

Wi-Fi, campo de ténis e parque

de estacionamento privativo.

Tel: 275 980 300/ E-mail:

[email protected]

COMER:l Casa Forte: Rua Ruy Faleiro,

27-29; Tel: 275 333 246 l Casa da Ribeira: Rossio do

Rato; Tel: 275 334 190

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diz a página na internet daUniversidade da Beira Interior,que a maioria dos estudantesestrangeiros, que estão naCovilhã envolvidos em progra-mas de mobilidade, são polacos eespanhóis.

Deixando o jardim, umavolta mais larga leva-nos até aonovelo das ruas intra-muralhas,onde se encontram alguns edifí-cios para os quais os roteiroschamam a atenção. Por detrásdos Paços do Concelho, numponto de confluência das princi-pais ruas da Covilhã medieval,fica a Igreja de Santa MariaMaior, com a fachada azulejar, a Casa dosMagistrados, espaçoso edifício do século XVII,assim como a Casa das Morgadas, edifício sola-rengo, notável pela designada Sala dosContinentes, que apresenta o teto preenchidocom pinturas alusivas aos continentes conheci-

dos à época. A foi obra exe-cutada em 1690 por ManuelPereira, mestre de uma ofici-na da Covilhã. Prosseguindoo passeio por ruelas ondepaira um certo abandono,encontramos, de repente,casas recuperadas, paredespintadas alegremente, eassim, chegamos ao mira-douro das Portas do Sol. Edali, olhando em frente, apaisagem alonga-se até aoextremo da visão, até à linhaem que o planeta se dilui nonada.

Lembramo-nos então quea cidade trepa a montanha até os 800 metros dealtitude. E, lembramo-nos também que a Covilhãé a cidade dos lanifícios, dos estudantes, mastambém é a cidade portuguesa mais próxima doponto mais alto da serra da Estrela. n

José Luís Jorge (texto e fotos)

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Estudantes Polacas e,ao lado, estátua dePêro da Covilhã

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Percursos

GuimarãesA grande festa da CulturaCapital Europeia da Cultura em 2012, Guimarães acolhe, durante todo o ano,um grande encontro de criadores e criações - música, cinema, fotografia,artes plásticas, arquitectura, literatura, pensamento, teatro, dança e artes derua, num invulgar cruzamento de produtos artísticos que bem justificam aatenção e visita dos portugueses.

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Éo caso da Footsbarn TravellingTheatre, emblemática companhia iti-nerante internacional de figurinos,máscaras e jogos teatrais criados paraas crianças.

Em Guimarães, desde o final de Fevereiro, acompanhia organiza, até de Maio jogos teatrais,numa descoberta das artes performativas. Aindaem Maio, a companhia vai apresentar o espectá-culo "Tempestade Indiana", inspirado na"Tempestade", de William Shakespeare.

Ainda, em Abril, a cidade-mãe foi palco daestreia nacional da peça de Shakespeare "Medidapor Medida", numa encenação de Nuno Cardosoe da companhia Ao Cabo Teatro. Comédia negra

sobre o moralismo e o poder, este texto clássicode William Shakespeare conta a história de ummau juiz que acede ao trono e abusa do poder,pecando por luxúria e pela troca de favores.Depois da estreia na Capital Europeia da Cultura,a peça passará pelos palcos do TNSJ e do SãoLuiz, em Lisboa.

“O Castelo em 3 Actos”O projecto "O Castelo em 3 Actos" dos FootsbarnTravelling, comissariado por Paulo Cunha eSilva, propõe uma análise aos grandes desafiosque a Europa enfrenta actualmente. Os limitesfronteiriços, a segurança, a emigração e as dispa-ridades competitivas das várias regiões económi-

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Imagens da invasãodos Footsbarn, ouassalto ao castelo

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Percursos

cas que a compõem são algumas das questões emevidência.

A invasão dos Footsbarn, ou assalto ao caste-lo, tem início com um abraço, uma correntehumana que separa o berço de D. AfonsoHenriques do resto do mundo. Depois do cerco, ogrupo invade literalmente o Castelo para, no

final, no espaço que separa o Castelo da estátuade D. Afonso Henriques, fazer uma festa típicados invasores, que acaba com a dispersão pelacidade. A performance termina com a projecção,numa das árvores, de uma imagem fantasmáticado fundador de Portugal, concebida pelo espa -nhol Ibon Mainar.

Ao assalto seguiu-se a inauguração de umaexposição no Paço dos Duques e na Igreja de S.Miguel, que pode ser visitada até 10 de Junho. Amostra corresponde à verdadeira instalação dosassaltantes, numa reflexão sobre a capacidade daarte contemporânea como agente hiper-simbóli-co. Artistas nacionais (como Fernanda Fragateiroe Julião Sarmento) e um angolano (Yonamine)ocupam o local com obras que transformam oCastelo num espaço diferente. O momento"Assalto" inclui ainda um ciclo de cinema - quese inicia a 28 de Maio - e "(re)visitas ao Castelo(de Kafka)" - em que três escritores relêem a obrae recriam a narrativa.

Depois de em ruínas, o castelo tem de serreconstruído. Os dois momentos que se seguemao "Assalto" sugerem uma reflexão, uma dis-cussão internacional sobre o actual estado da

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Circuitos Inatel

No Programa Primavera/Verão das Viagens Inatel estão previstas

estadias na Guimarães Capital Europeia da Cultura, de 28 de Junho

a 01 de Julho (partidas de Setúbal, Lisboa, Santarém e Coimbra; e

de 12 a 15 de Julho), e de 12 a 15 de Julho (partidas de Évora,

Lisboa, Leiria e Aveiro). O preço, desde 399 euros, inclui

alojamento, refeições, autocarro, guia e seguro de viagem.

Também a partir Inatel Cerveira -que reabre, amplamente renovada,

no final deste mês - os participantes no programa "Férias em

Cerveira", períodos de quatro dias, desde 285 euros, com viagem e

estadia completa, têm previstas deslocações a Guimarães.

A Inatel organiza ainda viagens de grupo a pedido para Guimarães.

Contactos: [email protected] ou tel. 210027000.

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Europa, em particular da crise. O debate gira emtorno da migração, da deslocação, dos refugiados,da hospitalidade. Questiona-se o que fazer, quealianças estabelecer, que mundo se quer e paraonde vai a Europa. O projecto, que encerra nomês de Dezembro, inclui ainda a "Última Ceia",um jantar no castelo preparado pelo Chef JoséAvillez.

Robótica e tecnologiaNuma organização conjunta da Universidade doMinho e da SAR - Soluções de Automação eRobótica, Guimarães acolheu, no Multiusus, 121equipas de universidades e escolas secundáriasde todo o país no que foi considerado o maiorevento nacional de robótica e tecnologia, comdemonstrações e competições de robots.

Os vencedores de cada liga/competição(sénior ou júnior) representarão Portugal no cam-peonato mundial "Robocup 2012", em Junho pró-ximo, no México.

Largo Oliveira em seloUma colecção de selos alusiva à Capital Europeiada Cultura começou a circular em Abril último.

A emissão inclui quatro selos e um bloco filatéli-co, bem como os carimbos de primeiro dia nascidades de Guimarães, Porto, Lisboa, PontaDelgada e Funchal.

A cerimónia de apresentação decorreu noSalão Nobre da Câmara Municipal de Guimarãese contou com as presenças de Fernando Maia,dos CTT, António Magalhães, presidente daautarquia, e da vereadora Francisca Abreu, tam-bém administradora da Fundação Cidade deGuimarães (FCG).

Os selos têm a assinatura de design doAtelier Acácio Santos / Elizabete Fonseca. Alémdo logótipo de Guimarães 2012 em forma decoração - criado por João Campos - as peçasjuntam fotografias icónicas de Guimarães,como o Largo da Oliveira - belíssima e anti-quíssima praça com agradáveis esplanadas - oCentro Cultural Vila Flor - espaço multiusos, deexposições e auditório para espectáculos -, asFestas Nicolinas e a Pousada de Santa Marinhada Costa. O bloco filatélico inclui mais trêsimagens míticas de Guimarães: Paço dosDuques, Castelo de Guimarães e estátua de D.Afonso Henriques. n

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Da esquerdapara a direita:“O Castelo em 3Actos”, vista do LargoOliveira e pormenorda projecçãofantasmáticaconcebida peloespanhol Ibon Mainar

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Diáspora

“Um dos meus clientes habi-tuais é o Jeremy Irons…".Sílvia Luís-Gomes não pro-nuncia a frase com vaidademas com o orgulho próprio

de quem oferece uma pequena partícula do paísonde nasceu a alguém tão mediático.

O sol estilhaça os raios sobre o bonito merca-do de Cottage Swiss e apenas o nome me faz acre-ditar que estou em Londres. Os termómetrosultrapassam os 20 graus neste início de Abril, oformigueiro humano preenche os espaços verdesenvolventes, ora escutando o chilrear dos pássa-ros, ora cheirando os odores primaveris; na ban-cada onde se pousam os meus olhos, um olharfurtivo que logo se torna mais demorado, como sefosse um turista num museu, perscruto umasdezenas de pataniscas ornamentando uma tra-vessa e, depois, abarcando o espaço de umaforma global, vejo também croquetes, pastéis denata, mel, chás, tudo com etiqueta portuguesa.

“Filha da revolução”“O Jeremy Irons gosta de croquetes de espinafrescom queijo fresco, uma invenção da minha mãe".Sílvia Luís-Gomes nasceu em Castelo Branco em1974 e até aos 14 anos viveu na freguesia deOleiros. "Sou filha da revolução." Mudou-se paraum colégio, em Coimbra, estudou no Liceu JoséFalcão e num determinado momento decidiuempreender uma viagem até Lisboa. "Fiquei umano mas não gostei e decidi regressar a Coimbra."Licenciada como assistente social, teve a oportu-nidade, em 2005, de conhecer Londres, no âmbi-to de um projecto comunitário. "Trabalhar em

Londres era um sonho e de imediato me apaixo-nei pela cidade. Fiquei durante três meses e, nofinal desse período, resolvi permanecer aqui maisum tempo. Fui ficando, fui ficando e já lá vão seteanos."

O gosto pelas viagens corre-lhe pelas veias eem Londres Sílvia Luís-Gomes sentiu que maisfacilmente se poderia realizar do ponto de vistaprofissional. "Na minha área é muito gratificante,porque foi em Inglaterra que se criou o serviço deassistência social no sistema que conhecemoshoje em dia. Por outro lado, é complicado, sobretodos os aspectos, ser assistente social emPortugal. Em primeiro lugar, porque o emprega-dor é estatal e, em segundo, porque não há gran-des saídas no sector privado e as que há sãomuito mal remuneradas. Não havendo fundos,não há liberdade para exercer a profissão comodeve ser."

Sílvia Luís-Gomes ergue os olhos para o céucomo se nele se reflectisse a sua história de vidaou como se pudesse encontrar na abóboda domundo as suas memórias. "Eu vivia nesta zona,em Swiss Cottage, e passava por este mercadinhotodos os dias, a caminho do metro, para ir traba -lhar. E uma das coisas que sentia falta, além doclima, era da comida. Eu olhava as barraquinhascom um olhar curioso e tudo o que via era fast-food, tão do agrado dos ingleses."

A ideia despontou-lhe no horizonte, talvez nomesmo que agora fita preguiçosamente, em 2008."Conhecia uma portuguesa, uma senhora alenteja-na dos seus 50 anos, Elídia Carriço, que é assimuma espécie de minha segunda mãe. Foi uma sorteporque nesta área não há muitos portugueses. Mas

Uma patanisca em Londres tem um segredo português que Jeremy Irons, entre outrascelebridades, já descobriu. Tudo graças à atitude empreendedora de SílviaLuís-Gomes, uma filha da revolução que Castelo Branco viu nascer…

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como fui assistente social da mãe dela travámosconhecimento. Apercebi-me então de que confec-cionava uns salgadinhos e, um dia, ousei pergun-tar-lhe porque não o fazia para comercializar, aoque contrapôs, humildemente, que não tinha jeitoe que o inglês que falava era pobre."

Sílvia Luís-Gomes é uma mulher dinâmica,decidida, com grande capacidade empreendedo-ra. Tinha consciência de que, mais do que umnegócio, poderia mostrar um pouco de Portugal auns milhares de quilómetros de distância.Desbloqueadas as questões burocráticas, sentiu,rapidamente, que carecia de mais recursos huma-nos. "Sinto que, ao utilizar muitos dos produtosda minha zona, das Beiras, também estou a pro-mover as minhas origens. Começou por ser umacoisa pequenina mas a determinada altura, faceao interesse que os salgadinhos e os bolos tradi-cionais despertavam nas pessoas, já não podiadar conta do recado sozinha e percebi que tinhade expandir o negócio. Agora tenho cinco pesso-as a trabalhar para mim, a vender, e três a cozi -nhar, todos de origem portuguesa. Numa fase ini-cial, era apenas aos sábados. Actualmente, sãotrês vezes por semana em Swiss Cottage, aos fins-de-semana no mercado de Portobello e aosdomingos em Stratford, no sul de Londres. O quecomeçou por ser um passatempo acabou por setornar num negócio maior que também se esten-de a eventos. Já o fiz para a British HeartFoundation, para um total de 100 pessoas, e paraa Embaixada do Iémen em Londres, sempre comcomida caseira e tradicional portuguesa.

Com um trabalho a tempo inteiro, emWestminster, nos serviços centrais, Sílvia Luís-Gomes não passa tanto tempo como desejaria nosmercados. "Sempre que tenho uma oportunidadevenho à barraquinha. Adoro o contacto com aspessoas, dialogar com elas. E como aprendi ainvestigar sobre gastronomia, a origem dos pratose a influência que a comida portuguesa teve aolongo dos anos, sinto-me mais capaz de lhes

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m Swiss Cottage

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Diáspora

explicar como e de que são feitos os produtos quetemos à venda."

Com presença habitual em alguns festivaisgastronómicos, não apenas em Londres mas tam-bém nas cidades limítrofes, Sílvia Luís-Gomes jápercebeu que se dirige a clientes muito distintos."O mercado de Stratford é mais frequentado pelacomunidade africana e brasileira. Mas é curiosa aprocura que motiva entre ucranianos que traba -lharam em Portugal. É interessante verificar quetodas as pessoas que visitam o país acabam por seapaixonar pela gastronomia portuguesa. EmPortobello são mais os turistas, incluindo os por-tugueses, que não resistem a provar algo que temum sabor que lhes é familiar, enquanto em SwissCottage, o mais antigo, é uma clientela elitista.Esta é uma zona onde vivem muitos actores, pes-soas ligadas às artes - a Paula Rego mora aquiperto -, jornalistas da televisão, alguns delesmeus clientes. Mas quem eu gostaria de ver poraqui - vive a dois passos do mercado com aHelena Carter - é o Tim Burton, de quem sou fã."

Uma cultura de mercadoSílvia Luís-Gomes recebe importante feed-backdas pessoas que com ela trabalham, procurando,sempre que possível, ir ao encontro dos gostosdos clientes. "Há muitos ingleses que frequentamo mercado de Swiss Cottage e eu sei que, tendoPortugal como um dos destinos preferidos, estão

mais identificados com o Algarve e a Madeira.Por isso, também tenho queijadas da Madeira,mas feitas com requeijão, e bolos com frutas tro-picais, como maracujá e manga. É tudo feito aqui,os únicos produtos que trago de Portugal, deOleiros, são os chás e os meles orgânicos, bemcomo alguns doces caseiros, normalmente con-feccionados pela minha família. As pataniscas,talvez pela criatividade com que são feitas, sãomuito apreciadas. Crio pataniscas de tudo e maisalguma coisa e todos acham piada, apesar de porvezes pensarem que se trata de omeletes. Porisso, além dos preços, incluo sempre uma des-crição do que está exposto. Mas os croquetes tam-bém geram muitas paixões e, como lhe disse,sempre que o Jeremy Irons passa por aqui detém-se para comprar. Existe o estigma de que, mesmotendo um aspecto delicioso, é algo que engorda.Os meus croquetes são feitos com arroz, maissaudáveis e direccionados para uma vasta comu-nidade que se revê na comida vegetariana."

Nem por um momento, ao longo destes qua-tro anos - e não obstante as sugestões para ofazer -, Sílvia Luís-Gomes ponderou a hipótesede abrir uma loja na cidade. "Os mercados sãoum importante veículo de divulgação da cultu-ra e da gastronomia portuguesas. É importanteperceber que, ao contrário do que acontece emPortugal, Londres tem uma cultura de mercado.Essa é uma vertente que me fascina. A outra é amentalidade. Aqui adquiri o hábito de ir paraum parque e de comer enquanto caminho, qual-quer coisa de impensável em Portugal mas tãopopular em Londres. Gosto de ver um executi-vo, com a sua gravata, a falar descontraidamen-te e sem preconceitos com o homem do lixo. Em2008, com a crise económica, amigos meus,médicos, foram trabalhar aos fins-de-semanaem bombas de gasolina. Consegue imaginaruma situação destas em Portugal? O que fazemé esconder que vivem numa conjuntura desfa-vorável. Temos tudo de bom, o clima, as pesso-as, a natureza, a própria natureza das pessoas.Mas temos uma mentalidade pouco aberta, maismesquinha, que gosta muito de avaliar, e vive-mos das aparências."

"A vida é feita de ciclos…"A despeito da paixão que sente por Londres e domagnetismo que a cidade exerce sobre Sílvia

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Luís-Gomes, a perspectiva de um dia regressar aPortugal é real. "A vida é feita de ciclos e temosde aprender a gostar de cada um deles. Vivi a fasede estudante de Coimbra, filha única, por quemos pais faziam tudo. Fechei esse ciclo e cresci emLondres, amadureci, aprendi a fazer as coisas pormim própria, a acreditar mais em mim. Nas pri-meiras semanas, sempre que falava de Portugal,diziam-me que tinham uma empregada de lim-peza portuguesa. Acho que, seja em que trabalhofor, o emigrante português é perfeccionista - eganha o mesmo e trabalha o dobro. Felizmente,há cada vez mais portugueses que, vivendo forado país, se destacam noutras áreas, contribuindopara alterar a imagem de que Portugal é muitobom para o turismo, para comprar e vender joga-dores e treinadores, que exporta excelentesempregadas de limpeza. Sou muito feliz em

Londres, no meu trabalho e nas horas que passonos mercados mas um dia, não sei quando, querovoltar a Portugal, para viver no interior, no meiode nada."

Ao fim da tarde, quando a noite se preparapara substituir o dia e, por vezes, a lua o sol,Sílvia Luís-Gomes pousa os olhos, já cansados,no seu website (www.silmartaste.com), escreveno blog e contempla os comentários, com o orgu-lho de estar a contribuir, ainda que modestamen-te, para divulgar a cultura de um país a quemtece críticas sem deixar de amar.

O sol já desce no céu quando caminho para aestação de metro de Swiss Cottage, com umapatanisca na mão. Olho à minha volta, à esperade ver Jeremy Irons deliciando-se com um cro-quete de espinafres e queijo fresco. n

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Todos os caminhosvão dar a LondresUm ano muito especial para a capital do império, com aorganização dos Jogos Olímpicos, a abertura do Parquede Atracções "Making of Harry Potter", o Jubileu daRainha Elisabeth II e a comemoração do bicentenáriodo nascimento do escritor Charles Dickens…

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Viagens

Onevoeiro desprende-se sinuosa-mente e, como se saísse das bru-mas envolto num mistério, des-ponta o "Shard", erguendo-se noscéus àquela hora cinzentos a uma

altura de 310 metros. A torre, concebida peloarquitecto italiano Renzo Piano, deverá estar con-cluída este mês e será a mais alta da Europa,fazendo corar de vergonha e roer de inveja o edi-fício, construído em forma de bolbo, da edilidadelocal, da autoria de Norman Foster. Como doisirmãos tão diferentes, estão lado a lado, na mar-gem sul do Rio Tamisa, que corre docilmente,emitindo um murmúrio não mais audível do queum sussurro. Estas duas jóias da coroa são a novaface de uma cidade que, com natural orgulho,sempre revelou especial apetência para expor asua grandeza, um sentimento que agora exacerbapor força de viver um ano muito especial.

A organização dos Jogos Olímpicos, no Verão,é apenas o acontecimento mais mediático, pro-metendo atrair milhões de visitantes a uma capi-tal já saturada de turistas. A crise económica,sentida especialmente em 2008, parece ultrapas-sada e, ainda que de forma gradual, Londresrecupera a sua pujança, cabendo aos cidadãospagar a factura da revitalização urbana, grandeparte dela direcionada para as grandes obrasimpostas pela realização das Olimpíadas. Desdeque, em 2005, o governo apresentou o dossier aoComité Olímpico Internacional, o orçamentomais do que duplicou, passando de 4,8 milmilhões a 11,2 mil milhões de euros, financiadospelo sector público. Preocupado com a segu-rança, o governo aumentou de 10 mil para 23700o número de agentes, elevando para 642 milhõesde euros a despesa nesta área - cifra que tambémduplicou face à estimativa inicial. Mas o estadopretende apresentar espectáculos à medida doevento e só para as cerimónias de abertura e deencerramento têm previstos 98 milhões de euros,um investimento que espera ver rentabilizadoquando o pano cair sobre os Jogos Olímpicos.Para esse efeito foi criado um projecto, baptizadoPlano de Herança, que prevê a reutilização dasinstalações erguidas no bairro de Stratford, nazona leste da cidade - e seis dos oito novos equi-pamentos já têm garantidos investidores, como éo caso da companhia Qatari Diar, uma joint-ven-ture com a promotora imobiliária britânica

Delancey, que irá transformar a aldeia olímpicanum complexo de cerca de 1500 casas.

O ano do JubileuO sol começa a mostrar-se e a lançar madeixassobre a imponente Tower Bridge, inaugurada em1894 e ainda hoje um exemplo demonstrativo dotriunfo da engenharia inglesa e de distinçãoarquitectónica. Entre 2 e 5 de Junho, ainda antesdos Jogos, este será um dos cenários percorridoscom o olhar pela Rainha Elisabeth II, quandoencabeçar uma grande armada para festejar oJubileu, marcando os seus 60 anos de reinado.Enquanto os seus súbditos gozarão de uma pontede quatro dias, Elisabeth II desfrutará, no segun-do dia das celebrações, dos prazeres de um pas-seio pelo Tamisa que irá reunir mais de mil bar-cos, o maior desfile nas águas do rio desde a lide-rança de Charles II, há 350 anos.

A família real irá embarcar no "Spirit ofChartell", um barco-restaurante que efectua cruzei-ros de luxo sobre o Tamisa mas que para o efeitoserá transformado em navio do século XVI, deco-rado com estátuas em ouro, tapetes de cor púrpura,lençóis de cetim e dois tronos dossel, bem comoum grande número de ramos de flores, um traba lhotão importante que exige a presença do directorartístico Joseph Bennett e da decoradora de jardinse também famosa pelos seus programas na BBC,Rachel De Thame. Esta é uma oportunidade a nãoperder para quem estiver de visita à cidade, poden-do admirar o "Spirit of Chartwell" a conduzir umafrota tão variada e composta por canoas, navios avapor, barcos à vela e até gôndolas. No total, serãopercorridos 22 quilómetros, estimando-se umaassistência na ordem do milhão e meio de pessoasao longo das margens do Tamisa.

Diversão e leituraUma criança brinca na escadaria da Catedral deSão Paulo perante o olhar atento dos pais e tam-bém para ela e para os mais jovens Londres pro-mete novas atracções neste Verão repleto deacontecimentos. Inaugurado no último dia deMarço, em Watford, nos subúrbios de Londres, oparque consagrado a Harry Potter - o segundo dasociedade Warner Bros, depois da abertura naFlorida, nos Estados Unidos - é um espaço(14000 m2) que seguramente fará as delícias dosfãs da saga. Designado "The Making of Harry

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Viagens

Potter", implicou um investimento de 120milhões de euros (são esperados cinco mil visi-tantes por dia e os preços de entrada variam entreos 25 e os 33 euros) e enfatiza, graças a umareconstituição com uma minúcia extrema, osdécors dos filmes, como o Beco Diagonal, umarua imaginária de Londres onde se desenrolamalguns dos episódios dos filmes, o armazém dosenhor Ollivander, fabricante de varinhas mági-cas onde Harry Potter se abastece, ou o Ministérioda Magia e o escritório de Dumbledore.

Deposito um último olhar, mais demorado, nacúpula da Catedral de São Paulo (apenas a de S.Pedro, em Roma, a supera em tamanho) que

agora se recorta no céu azulado e imagino, porbreves instantes, como era a cidade nos temposde Copperfield, o livro que mais prazer deu aescrever a Charles Dickens e que faz váriasreferências à catedral construída, entre 1675 e1710, depois do Grande Incêndio. Os apaixona-dos da leitura e especialmente do grande escritoringlês, tão crítico em relação à sociedade daépoca victoriana e à miséria em que viviam asclasses populares, têm fortes razões para se des-locar a Londres este ano, quando se comemora obicentenário do seu nascimento - a 7 de Fevereirode 1812, em Portsmouth.

Para assinalar o facto, o Museu de CharlesDickens, na Doughtly Street, no Bairro deBloomsbury, acaba de reabrir as suas portas aopúblico para mostrar um pouco da vida do escri-tor e aquela que foi, durante anos, a sua residência(todas as outras, na capital, já foram demolidas)em Londres, entre 1837 e 1839, um período emque escreveu Nicholas Nickleby, uma parte dasAventuras de Mr. Pickwick (o museu contém umdos raros manuscritos) e também Oliver Twist.

Percorro agora este espaço tão acolhedor, tãoíntimo, onde o sol penetra, observando preguiço-samente alguns dos móveis que pertenceram a

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Viagens Inatel

No programa "Circuitos - Outros Destinos Europeus" da Fundação

Inatel, estão previstas viagens para a Escócia e Inglaterra com

partidas de Lisboa e Porto, de 10 a 17 de Junho, de 01 a 08 de Julho

e a 9 de Setembro. Com preços desde 1355 euros, cada viagem

inclui passagem aérea, circuitos em autocarro de turismo, guia,

sete noites de alojamento, quatro refeições e estadias em

Edimburgo e Londres.

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Charles Dickens, como a poltrona de couro ondeposou para o ilustrador George Cruikshank, ilus-trador da colecção das suas primeiras histórias"Esboços de Boz", a sua cadeira de trabalho e oseu escritório, onde contemplo, com admiração,alguns dos seus escritos originais e raras ediçõesque tão bem retratam a conjuntura de Londresem meados do século XIX.

O Museu de Londres, consagrado à história dacapital, também valoriza a obra de CharlesDickens (apenas até 10 de Junho), através darecriação da atmosfera da cidade durante a épocavictoriana, com particular ênfase nas obser-vações do novelista falecido em 1870.

Com o Cântico de Natal, obra do mesmo autor,nas minhas mãos, caminho, a meio da tarde,junto ao Tamisa, lanço um olhar ao Big Ben sus-tendo as suas quase 14 toneladas, sento-medepois num jardim e permito que os meus olhosse cravem no Palácio de Westminster, impressio-nado com a sua beleza e com os seus números:1100 salas, 100 escadarias e quase cinco quiló-metros de corredores.

Um autocarro passa por mim e parece tingirde vermelho aquelas paredes que o tempo se foiencarregando de alisar. O vermelho vai tornar-se

verde, posso ler, na parte lateral, uma referênciaàs preocupações de ordem ambiental numa cida-de com um trânsito por vezes caótico. Tambémos táxis, tradicionalmente pretos, 22 mil no totale responsáveis por 20 por cento da poluição do arda cidade, se preparam para uma mudança decor - não na pintura ou no design, praticamenteinalterado desde a saída do modelo FX4, em1958, mas porque passarão a utilizar hidrogénioem vez de gasóleo.

Com o verde na memória, estendo-me no rel-vado deixando que a luz do sol que desce no céume ilumine a face, ao mesmo tempo que ouço omurmúrio indecifrável de homens e mulheresque gozam dos prazeres oferecidos pelo discoredondo que não tardará a adquirir tonalidadesalaranjadas. O dia termina em Hyde Park, emtempos uma área de caça (como tantos outrosespaços verdes na cidade) da família real, medi-tando em tudo o que Londres oferece ao turista,que tanto pode ser um mundo revolto, de genteapressada, como o recanto onde agora me encon-tro, como se estivesse, neste espaço maior do queo Principado do Mónaco, a uma grande distânciado mundo.n

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Paixões

Campeões de Taekwondo

Tal mãe tal filhoSara Vizinho e Pedro Vizinho Lourenço são mãe e filho. Ela tem 35 anos, elenove. Em comum, para além da parecença física notória, têm o amor aoTaekwondo Songahm e sagraram-se campeões europeus em 2011.

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OTaekwondo Songahm é uma artemarcial coreana que se distinguedo Taekwondo "tradicional" - parapontuar basta tocar no adversáriosem que seja preciso derrubá-lo,

entre outras regras.O Pedro pratica a modalidade há dois anos,

Sara seguiu os passos do filho seis meses depoise entrou para a Songahm Taekwondo AcademyTânger (STAT), em Campo de Ourique, o bairro

onde moram. "No início, o espaço era um estúdiode dança e, de um dia para o outro, transformou-se num espaço com quatro sacos de boxe. Foramos sacos que chamaram a atenção do Pedro.Decidimos entrar e incentivei o Pedro a praticar",afirma Sara.

A timidez do Pedro fê-lo ficar sentado nobanco apenas a assistir durante as primeiras trêsaulas. Pedro Tânger, o professor, teve paciência enão insistiu, até que à quarta aula o Pedro deci-diu-se. "Ao princípio quis desistir, senti-me ner-voso, mas depois comecei a gostar, fui passandode cinto em cinto e agora adoro", conta.

A academia incentiva os pais a experimentare Sara não resistiu. Um ano depois tornou-secampeã europeia. "No início pensei que ela nãotivesse muito jeito mas, com a flexibilidade queganhou no ballet, conseguiu adaptar-se muitobem, até consegue encostar uma perna esticadana parede", diz Pedro com orgulho. Ciente queentrava para "o mundo do Pedro", a mãe perce-beu que a ideia não agradou muito ao filho eque este tivesse medo de que ela o superasse.Prometeu-lhe que tal nunca iria acontecer e talnunca aconteceu. "Hoje ele já tem outro enten-dimento, a questão não se coloca, até porque adiferença de cintos que nos separa é grande. Háuma hierarquia a respeitar, ali ele é meu supe-rior, uma vez que eu sou cinto azul e ele cas-tanho", afirma Sara para quem o Taekwondo,mais do que ser uma actividade física revitali-zante, dá-lhe "garra e confiança para enfrentar odia-a-dia, especialmente nos dias em que seestá mais em baixo".

A partilha da modalidade trouxe mais cum-plicidade e mais motivo de conversa entreambos. Pedro reclama até que a mãe é demasiadoexigente: "Vai o caminho todo a dizer que podiater feito isto e aquilo melhor... até chegar a casaonde pergunto: E agora podemos mudar deassunto?".

O Pedro é um coleccionador de medalhas, alista é enorme: aos oito anos ganhou a primeiraficando em terceiro lugar, sagrou-se campeão noCampeonato Europeu de Taekwondo Songahmdo ano passado, em Barcelona, está no top fivenacional, e na STAT deram-lhe ex aqueo a meda -lha de "Melhor Competidor" por, em conjuntocom a colega, ter participado em mais campeo-natos e adquirido mais medalhas, entre todos os

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Paixões

cintos. No dia que fez a festa do seu oitavo ani-versário partiu a sua primeira tábua, um ritualque significa a superação de um obstáculo.

Em 2011, rumaram os dois para Roterdão,na Holanda, para participar no campeonatoeuropeu. Pedro estreou-se a andar de avião eadorou "o grande hotel com quartos que eramcubos". "Foi um bocado puxado e na fórmula(sequência de movimentos contra um inimigoimaginário) houve um pontapé que me saiumal e fiquei em segundo lugar. Mas ainda con-quistei o terceiro lugar no sparring (luta entredois atletas). Não soube a pouco, trouxe duasmedalhas, desde que traga medalhas, fico sem-pre satisfeito".

Para Sara esse torneio foi muito especial.Tornou-se campeã europeia, teve de deixar deser tão protectora com o filho e acompanharmais à distância as provas dele. "Confesso quesou uma mãe-galinha: sou eu que lhe coloco asprotecções, estou sempre lá a dar-lhe força. NaHolanda, depois de ser chamada à atenção peloprofessor que o Pedro já não era tão pequenino(risos), deixei as protecções e o equipamentoprontos e fui para o meu torneio. Mas estivesempre de costas para as minhas pontuações,estava antes atenta à prova dele. Quando o viperder o primeiro lugar aquilo mexeu muitocomigo, e fui buscar uma garra que normal-

mente não tenho e ganhei o primeiro lugar paraos dois. Saímos de lá com três medalhas!", afir-ma satisfeita.

Mas o melhor estava ainda para vir. "Fomostrês dias para Amesterdão e corremos todos osmuseus da cidade. Foram férias autênticas, emfamília, e nem pensámos muito no torneio. Sóquando cheguei a Portugal é que realizei que eracampeã europeia".

Seguiu-se o Torneio Europeu de Barcelonaonde o Pedro conquistou outra medalha de ouroe Sara a do terceiro lugar em sparring. A seguirforam conhecer a cidade. "Vemos cada torneio noestrangeiro não apenas como uma competiçãomas também como uma oportunidade para fazer-mos férias juntos e conhecermos sítios novos".

Disciplina, autocontrolo, respeito, cortesia,perseverança e lealdade são os princípios destamodalidade que tem como objectivo o cresci-mento espiritual do atleta para além do ginásio."O meu filho cresceu, graças ao Taekwondo, per-deu a timidez, ganhou autoconfiança, é mais res-ponsável e tem um espírito maior de entreajuda.Lá dentro somos uma família, e ele, já ajuda oprofessor nas aulas dos mais pequenos". SegundoPedro, o Taekwondo está-lhe no seu coração eremata: "Lá dentro não sou tímido, quando passoa porta do ginásio entro noutra vida". n

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Memória

Ribeirinho, no entanto, não foi só umhomem do teatro. Ele foi tambémactor, realizador, autor de diálogosdo cinema português dos anos 40 e50. O público talvez não o conheça

bem do teatro, onde foi rei e senhor, mas conhe-ce-o sobretudo do cinema. Basta lembrar o Chico,aquele caixeiro humilde do "Pai Tirano" (1941),apaixonado pela Tatão (Leonor Maia), ou oRufino Fino Filho, dono de uma leitaria, tutor deum Vasco Santana sempre bêbado com quemfazia a famosa "ginástica cueca" no êxito de bi -lheteira que foi "O Pátio das Cantigas" (1942).Curiosamente, Ribeirinho foi também o realiza-dor do filme e autor, com seu irmão AntónioLopes Ribeiro, dos diálogos engraçadíssimos quehoje se ouvem na Televisão quando a RTP resol-ve exibir a comédia. Ao tempo, a crítica elogiou otrabalho de Ribeirinho no filme "O Pai Tirano".No "Diário de Lisboa", Tavares da Silva escreveu:"Não se pode representar melhor nem com maisperfeição. Para nós, ele é a grande figura dofilme."

Um alfacinha da EstrelaFrancisco Carlos Lopes Ribeiro nasceu emLisboa, no terceiro andar de um prédio daCalçada da Estrela. Era o dia 21 de Setembro de1911 e viera juntar-se a outro rapaz de 3 anoschamado António Lopes Ribeiro. Os dois irmãos,nascidos numa família dada às artes, logo mos-traram ser verdadeiro o ditado popular "filho és,pai serás, assim como fizeres, assim acharás".Francisco e António aprenderam línguas ainda

muito pequenos, familiarizaram-sedesde cedo com escritores, jornalis-tas, pintores e muita da intelectuali-dade que frequentava a casa dospais. António conta na sua biografiaque para os dois irmãos foi muitoimportante um presente chamado"Teatro de los Niños" que permitia"armar um palco de meio metro, compano de boca, proscénio e urdimen-to, de onde se suspendiam lindíssi-mos cenários". Nesse "Teatro de losNiños", conta António Lopes Ribeiro,puderam montar duas peças deShakespeare, "O Mercador deVeneza" e "A Fera Amansada". Não seestranhe, portanto, que o grandesonho de Francisco tivesse sido,desde muito pequeno, ser actor. Paraisso muito contribuiu o actor ChabyPinheiro, amigo do pai, tendo sidoaté na sua Companhia que FranciscoRibeiro (ainda não o Ribeirinho) seestreou na peça "A Maluquinha deArroios", onde interpretava o galãcómico da peça de André Brun.Tinha 18 anos e era o início de uma

carreira de mais de cinquenta anos no teatro e nocinema português.

Teatro do PovoConvidado por António Ferro aceitou dirigir oTeatro do Povo, nome que, por ordem de Salazar,foi mudado para Teatro Nacional Popular…E é

Ribeirinho,o conservatório dos actoresFoi o actor Curado Ribeiro quem, na hora da morte de Ribeirinho, disse que ele tinha sido "oconservatório da maioria dos actores da sua geração". Na verdade, ele foi decisivo naformação de actores, na revelação de grandes dramaturgos, na qualidade dos espectáculosque dirigiu. Francisco Carlos Lopes Ribeiro, o Ribeirinho da nossa saudade, pode dizer-se,foi o grande renovador do teatro português.

Em cima, os doisirmãos Ribeiro,Francisco e António.Em baixo, Ribeirinhoe Beatriz Costa narevista “Água Vai”em 1937

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assim que o público português conhece drama-turgos como Tchekov, Tolstoi, Bernard Shaw,Giraudoux e outros. Ribeirinho não fazia pormenos. Nos Comediantes de Lisboa, companhiade que o irmão era empresário, conseguiu reunirum grupo de actores dos mais prestigiados -Alves da Cunha, João Villaret, António Silva,Lucília Simões, Maria Lalande, (que viria a sersua mulher) e outros. Como encenador ou comoactor, foi sempre o melhor dando razão aos críti-cos e historiadores que o consideram "uma per-sonalidade decisiva na evolução do Teatro portu-guês". A propósito vale a pena lembrar a teimosiado encenador que, no final dos anos cinquenta,quis levar à cena a peça "O Lodo", de AlfredoCortez, proibida pela Censura. E uma vez maisfoi proibida. Quando aceitou dirigir o D. Maria II,

na época 79/80, foi precisamente "O Lodo" a abrira temporada. Era desta fibra o nosso Ribeirinho.No cinema, já vimos atrás, Ribeirinho ficou co -nhecido principalmente pelos personagens cria-dos em "O Pai Tirano" e "O Pátio das Cantigas".

“À espera de Godot”Quem em 1961 viu, no Trindade, "À espera deGodot", de Samuel Beckett, nunca mais esqueceua fabulosa encenação de Ribeirinho. Teatromoderno, interventivo, chamado teatro do absur-do, ficará bem aqui uma frase da crítica quandoescreveu que Ribeirinho pegou no SamuelBeckett e deu ao nosso telúrico provincianismoum ar de capital do espírito.

Homem de antes quebrar que torcer,Ribeirinho, em certa altura da vida prometeu quenunca mais falaria à Imprensa e cumpriu a pro-messa. Quando faleceu, em 7 de Fevereiro de1984, há 22 anos que não dava entrevistas nemfalava com jornalistas, mas nem por isso a suamorte foi menos sentida e falada em toda aImprensa. Ao funeral de Ribeirinho comparece-ram centenas de pessoas, artistas, gente do teatro,do cinema e da televisão. Com a morte deRibeirinho findavam também 55 anos de traba -lho que talvez tivessem começado quando,criança, representava com o irmão no "Teatro delos Niños" as peças de Skakespeare. Uma grandefigura este Ribeirinho. n

Maria João Duarte

À esquerda, actor de“O Grande Elias”,filme de Arthur Duarte(1950) e, á direita, emfrente do cartaz queanunciava a estreiada peça “O PaiTirano”Em baixo, o caixeirodos armazénsGrandela apaixonadopela Tatão (LeonorMaia) numa cena domesmo filme

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Olho Vivo

Menos um lagarto

A crise das espécies no Havai registou mais uma vítima: o lagarto de listascobre com cauda azul (Emoia impar) foi declarado extinto pelas autoridadesdos Estados Unidos. Outrora muito vulgar, o último espécimen foraavistado nos anos 60. Pensa-seque a invasão das formigas decabeça gigante da espéciePheidole seja responsável pelaextinção, que só agora foireconhecida, uma vez que outroslagartos parecidos confundiram oscientistas ao longo das décadas.Há exemplares do Emoia Imparnoutras ilhas do Pacífico.

Tomilho vence o acne

O tomilho pode ser mais eficaz na cura do acne juvenil do que muitoscremes vendidos nas farmácias, concluiu um estudo apresentado em

Dublin na conferência da primavera daAssociação de Microbiologia. Oscientistas da Universidade de Leedstestaram o efeito de tinturas de tomilhono combate à batéria Propionibacteriumacnes e constataram que são maiseficazes que as pomadas e os líquidos delimpeza da pele mais usados na Europa.

Porta-bactérias

A mera presença de umapessoa numa sala podeacrescentar 37 milhões debactérias por hora ao ar queos outros respiram. Estaconclusão consta de umainvestigação de engenheirosdo ambiente daUniversidade de Yale. Osinvestigadores mostram quevivemos numa sopa debactérias e micróbios, daqual o ingrediente maiscomum são os nossospróprios micro-organismose recordam que, assimsendo, não admira que 90por cento das doençascontagiosas sejamcontraídas em ambientesfechados.

O rim da mosca

Uma equipa daUniversidade de Glasgowestuda a formação depedras nos rins da mosca dafruta, com o objetivo deencontrar um tratamentoeficaz para o problema desaúde em muitos humanos.Os resultados dainvestigação foramapresentados no encontroanual da Sociedade degenética americana. Oscientistas julgam teridentificado um gene ligadoa uma proteína quetransporta o cálcio para orim da mosca. Quando essegene é modificado, asmoscas da fruta têm menoscálculos renais.

O Veado Vermelho

O Povo do Veado Vermelho é uma nova espécie humana, que terá vivido naChina há 11 mil anos. Cientistas australianos estudaram vários fósseis

destes homensprimitivos, incluindoquatro crânios, quecruzam característicasarcaicas e modernas enão os inserem emnenhuma genealogiaconhecida. Este povo daIdade da Pedra caçavaveados vermelhos, hojeextintos.

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António Costa Santos ( textos)

Ratos vikings

Os ratos domésticos colonizaram aEuropa a partir da Noruega, segundoum estudo agora divulgado numarevista britânica de biologia. Foi ainvasão viking das ilhas britânicasque trouxe o rato (Mus musculus)para sul, entre os séculos VIII e X danossa era. Os cientistas regrediram no tempo, através do estudodo ADN de ratos modernos e do primeiro milénio e concluíramque a espécie veio de dakkar por esses mares abaixo.

Muda o pio dos pardais

Os pardais das cidades mudaram de pio para se fazerem ouvir acima dobarulho do trânsito e do rugir dos motores, concluiu um estudo feito em SanFrancisco pela revista Animal behaviour. O estudo comparou trinados dos

pássaros registados em 1969com o canto de hoje, e cruzouas diferenças com o aumentodo nível geral de ruído entre1974 e 2008. Para se fazeremouvir, os pardais mudaram defrequência nos pios.

Otemperamento

das vacas

Um zootécnico alemão,Kees van Reenen,

estudou a evolução docomportamento das

vacas leiteiras daespécie Holstein-

Friesian, na passagemda fase de vitela para avida adulta, e provou

que cada animal tem oseu temperamento e

reage à sua maneira asituações de stress. No

futuro, este estudopoderá conduzir à

criação de animais maisadaptados, robustos efelizes. Van Reenen

estudou traços como atimidez, a curiosidade,

a necessidade decompanhia ou o medo

do desconhecido emediu o pulso aos

animais, bem como asdescargas hormonais

nos seus cérebros face adeterminados

estímulos.

Polícias-chimpanzés

Um estudo antropológico revela que os chimpanzés intervêm deforma imparcial em conflitos entre membros de um grupo, de formaa preservar a ordem e a tranquilidade geral. A gestão dos conflitos écrucial para a coesão do grupo. Especialistas em primatas daUniversidade de Zurique identificaram no grupo de chimpanzés dozoo de Gossau indivíduos"encarregados" de afastarmacacos que brigam, pondofim às disputas. Quanto maispartes envolvidas no confronto,mais "agentes" entram em ação.Os "polícias" são normalmenteanimais de posição elevada nahierarquia, machos ou fêmeasrespeitados pela comunidade.

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Depois de ter sobrevivido aos longos seismeses de viagem de barco, do porto deCantão, na China, até à Inglaterra, a pri-meira glicínia (Wisteria Sinensis) a che-

gar à Europa, no dia 4 de Maio de 1816, ia morren-do com "o calor e a bondade" dos britânicos.

No livro, "Gifts from the Gardens of China",2007, Jane Kilpatrick conta como a relutância emflorir (só floresce a partir dos 7 anos de idade), aoser interpretada como uma aversão ao frio, levou ocoleccionador de plantas exóticas Charles H.Turner, a quem o espécime fora oferecido, a encer -rá-la numa estufa, subindo a temperatura até aos28º C. Depois deste tratamento de choque, apequena trepadeira perdeu as folhas, quasesucumbiu a uma praga de aranhas vermelhas,

resistiu ao gelo do Inverno, até que, em Março de1819, conseguiu finalmente produzir longoscachos de flores azul-lilás, muitíssimo perfuma-dos, fazendo assim justiça ao seu nome chinês ZiTeng ("Vinha Azul") e à designação ocidental quese reporta ao aroma das flores: glicínia, provém dogrego glykys que significa "doce".

Confirmada a notável aptidão desta Fagaceae (ofruto é uma vagem aveludada) em sobreviver noexterior, e sendo lento o processo de crescimentopor semente, a propagação da espécie fez-se porestaca e com um tal entusiasmo que em 1833,excedendo o sonho de alguns representantes daHorticultural Society, era possível encontrá-la nãosó nos jardins e cottages de todos os gentlemenmas avistava-se também da rua, ornamentando acasa do cidadão comum.

Como se poderá concluir da descrição de JaneKilpatrick, se os ingleses não tivessem podado sis-tematicamente as suas glicínias, não só elas tinham"forrado a Inglaterra" de alto a baixo como estas"Titânicas" pioneiras, através de vasta descendên-cia, plantada em vários países da Europa no sécu-lo XIX e início do século XX, teriam por certo, feitodesaparecer ou reaparecer alguns dos nossosmaiores monumentos.

Essa vocação para "guarnecer muros" foi, desdecedo, reconhecida em Portugal. Num artigo de1870, publicado no "Jornal de Horticultura Prática",o articulista A. J. de Oliveira e Silva, referindo aexistência de cinco variedades de glicínias no nossopaís, destaca a espécie chinesa: "é a que geralmentese encontra nos nossos jardins; e na verdade, detodas ellas é a mais bella, e a que melhor vegeta nonosso clima, servindo magnificamente para guarne-cer muros e cobrir casas de fresco".

Em vez de retirar escala à glicínia, houve quem noséculo XIX, soubesse ajudá-la a crescer, obtendo divi-dendos da sua espectacularidade. Plantada em 1894,a glicínia de Sierra Madre, Califórnia, é nestemomento considerada pelo "Guinness Book ofRecords", como a maior planta do mundo que dá flor:com 250 toneladas de peso, atingiu cerca de meiohectare, e produz anualmente 1,5 milhões de flores.

Também no Japão, o aparato da floração das gli-cínias ("Fuji"), em particular da espécie nativa(Wisteria Floribunda) constitui uma espécie deculto, levando milhares de nipónicos a visitarem oAshikaga Flower Park, em Tochigi, onde se encon-

A vinha azulA primeira glicínia chegou à Europahá 196 anos.

A Casa na árvore

Susana Neves

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Fotos: Susana Neves

tra o único túnel de glicínias brancas do mundo oua revisitarem religiosamente o túnel gigante bicolordo Kawashi Fuji Gardens, em Kitakyusha, cuja flo-ração ocorre de meados de Abril a meados de Maio.

Representadas pelos maiores mestres da arte daestampa japonesa, personagem de uma coregrafiadançada no Teatro Kabuki ("Fuji Musume"), as gli-cínias desempenharam ainda um papel decisivona obra de Claude Monet. De facto, o pintorimpressionista francês não se limitou a plantá-lasno seu jardim em Giverny, mas segundo algunsestudiosos, a observação do "colorido suspenso"das flores modificou a sua maneira de pintar, tor-nando-a ainda mais onírica.

Árvore dos pintores, a glicínia chega à Europano início do século XIX, porque John

Reeves, funcionário da Companhia Britânicadas Índias Orientais, não era um simples inspectordo comércio do chá mas um coleccionador apaixo-nado de plantas exóticas, que reuniu mais de 2000desenhos de flora e fauna asiática. É John Reevesquem incentiva Consequa, "o homem mais simpá-tico da China" a vender glicínias ao ocidente. Ocomerciante chinês, porém, oferece, ao

Comandante Robert Welbank a primeira glicíniaque chegou à Europa há 196 anos. Transportadanum vaso chinês, a planta é oferecida pelo coman-dante do navio ao seu cunhado, Charles H. Turner,por quem iniciámos esta crónica.

Como alguns comerciantes chineses da época,Consequa morreu pobre, mas o futuro da glicíniaparece promissor na arquitectura paisagista enuma nova definição do planeamento estético dascidades, sobretudo para transformar a fealdade eobsolescência de muita da arquitectura dos últi-mos 50 anos. n

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Latada de glicíniasno Jardim doPalácio do Marquêsde Pombal, CâmaraMunicipal de Oeirase, em baixo, vagemaberta já semsementes

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l CONSUMO Lembrar, no Ano Europeu do Envelhecimento Activo e

Solidariedade entre Gerações, o importante papel dos seniores em matéria

de consumo Pág. 58 l LIVRO ABERTO Livro de estreia de Steve Sem-

Sandber, "O Imperador das Mentiras" foi já comparado ao notável "As

Benevolentes", de J.Littell, mas vai mais longe e mais fundo. Pág. 60 l ARTES

Nikias Skapinakis. Presente e Passado, 2012-1950, no Museu Colecção

Berardo, é a mais ampla e significativa antologia dedicada à obra deste

artista. Pág. 62 l MÚSICAS Um conselho: ouvir, em Maio, "O que Você Quer

Saber de Verdade", de Marisa Monte, e "Black Radio", de Robert Glasper

Experiment. Pág. 64 l NO PALCO "Onde estavas quando criei o Mundo?",

com Manuela Couto, no TNDMII, fala sobre vida e morte, sobre escolhas,

sobre as mudanças que sofremos. Pág. 66 l CINEMA

EM CASA Evocação e homenagem, com "A Poeira

do Tempo", do grande cineasta grego Theo

Angelopoulos, falecido em Janeiro ultimo. Pág.68 l

GRANDE ECRÃ Destaques para "Cosmopolis" de D.

Cronenberg e "On the Road", de Walter Salles, presentes este ano na

competição de Cannes. Pág.69 l TEMPO INFORMÁTICO No mundo da

Informática também aparecem de repente as grandes estrelas… os tablets

são a coqueluche do momento. Pág. 70 l AO VOLANTE O novo Peugeot

3008HYbrid4 conquista o prémio "Automóvel mais verde do ano"…e o seu

"irmão" 508 é eleito "Carro do ano 2012 em Portugal". Pág. 71 l SAÚDE O

período que antecede a reforma é um período crítico na vida das pessoas,

mas pode ser minorado com uma gestão positiva e inteligente do

quotidiano. Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI Que peso tem o lado emocional de

um Juiz, se tiver que avaliar a maneira como uma testemunha faz as suas

declarações em Tribunal? Pág. 73

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

Carlos Barbosa de Oliveira

“Chamar a atenção para a importância do con-tributo dos idosos para a sociedade e incen-tivar os responsáveis políticos a tomaremmedidas para criar as condições necessárias

ao envelhecimento activo e ao reforço da solidariedadeentre as gerações", foi um dos propósitos da UE aodeclarar 2012 Ano Europeu do Envelhecimento Activo eda Solidariedade Entre Gerações.

Entenda-se por envelhecimentoactivo a possibilidade de envelhecercom saúde e autonomia, continuandoa participar plenamente na sociedadeenquanto cidadão, independente-mente da idade. Trata-se, enfim, deaproveitar o potencial de cada um atéao fim da vida e consciencializar asociedade de que as capacidades doscidadãos idosos podem ser geradorasde movimentos sociais dinâmicos.

Neste contexto, há três domíniosfundamentais de promoção do enve -lhecimento activo: emprego, cidadaniae saúde.

No âmbito do emprego, à medidaque aumenta a esperança de vida e aidade da reforma, aumenta também onúmero de desempregados que, emvirtude da idade, têm reduzidasexpectativas de voltar ao mercado detrabalho, pelo que a CE reconhece anecessidade de dar melhores perspectivas de emprego aostrabalhadores mais idosos.

Cidadania: sair do mercado de trabalho não significaficar inactivo. O contributo dos mais velhos para asociedade é muitas vezes ignorado. De facto, esquecemosque são eles que cuidam frequentemente dos netos e atédos próprios pais ou do cônjuge, além de fazerem muitas

vezes um trabalho de voluntariado. Saúde: envelhecimento activo significa desenvolver a

capacidade dos idosos para manter a autonomia o máximode tempo possível. A saúde deteriora-se com a idade, masas consequências podem ser atenuadas de muitas maneiras,melhorando significativamente a vida das pessoas.

Mas se o envelhecimento activo é fundamental para aqualidade de vida dos idoso, não se pode descurar aimportância de estabelecer direitos dos consumidores alia-

dos à cidadania, específicos para estegrupo de cidadãos que nas duasdécadas finais do século XX se alcan-dorou a target group bem referenciadopelas empresas de marketing. Nadasurpreendente, se pensarmos que é umsegmento em crescimento que abrange,actualmente, cerca de 30 por cento dosconsumidores.

O consumidor sénior encara actual-mente a idade da reforma numa pers -pectiva completamente diferente de háuns anos. O reformado deixou de servisto como um velho que constitui umfardo, para emergir como consumidorautónomo, que tem os seus gostos,prazeres e consumos próprios. Seja naárea dos lazeres (com especial incidên-cia no turismo) na cultura, na cosméti-ca, ou mesmo nas clínicas especia -lizadas para manter a forma, o marke -ting orientado para os consumidoresidosos desenvolveu-se nos últimos

anos de forma muito significativa.

OS DIREITOS DOS CONSUMIDORES SENIORES

Quais são os aspectos a que é preciso dar atenção, numaperspectiva dos direitos dos consumidores seniores?

Sendo um grupo com diversas fragilidades que devere-mos incluir no grupo de consumidores vulneráveis por

Os direitos dosconsumidores senioresAssinala-se, em 2012, o Ano Europeu do Envelhecimento Activo e Solidariedade entre Gerações. Umaboa oportunidade para reequacionar o papel do idoso nas sociedades contemporâneas, onde assumeum papel preponderante em matéria de consumo

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razões diversas, é pertinente destacar a dificuldade deacesso à informação, um direito fundamental dos consu -midores.

Hoje em dia, quase toda a informação destinada aosconsumidores é disponibilizada apenas em suporte digital,o que constitui um obstáculo inultrapassável para a maio -ria dos idosos, que não está familiarizada com as novastecnologias (só um em cada três tem acesso à Internet).Este facto torna os consumidores idosos mais vulneráveisaos ardis da publicidade e às técnicas sofisticadas de ummarketing progressivamente mais agressivo.

Por outro lado, vão sendo notícia na comunicaçãosocial, casos de novos "contos do vigário", potenciadospela situação que o país atravessa, tendo por principalalvo os consumidores idosos.

Acresce que estes consumidores preenchem uma largapercentagem dos analfabetos funcionais. Se prestam poucaatenção aos rótulos dos produtos é, também, porque nageneralidade não os compreendem.

Extrapole-se a questão para outras situações do quotidi-ano e logo se conclui, sem dificuldade, ser necessário darmais atenção, por exemplo, à publicidade a produtos quelhe são especialmente destinados, como é o caso de umavasta gama de "produtos milagre", autênticas promessas deelixires de juventude capazes de operar transformaçõesmiraculosas, ou panaceias para curas de todas as doenças.

O mercado para seniores mudou radicalmente nanatureza dos serviços (saúde, reparações, acompanhamen-to, ensino, lazer e entretenimento, turismo, etc.). Esta pro-liferação de serviços deve-se, em parte, ao alargamento doconceito de cidadão sénior que, de acordo com um estudodo Eurobarómetro, oscila nos diferentes países europeusentre os 55 e os mais de 85 anos. É cada vez mais estreitaa faixa de consumidores seniores com uma vida tranquila,podendo usar a seu bel-prazer os activos financeiros. Emcontrapartida, os seniores vivem responsabilidades inter -geracionais mas não se desobrigam dos seus consumosespecíficos (capital - saúde, cosméticos e bem-estar, vidaassociativa...).

O consumidor idoso é um sujeito passivo no ciclo deprodução, na medida em que não determina nem conheceos modos de produção, os meios de distribuição e nemsequer decide pela produção deste ou aquele produto ouserviço.

Não raras vezes, o sector privado a faz uma discrimi-nação positiva, atribuindo regalias de diversa índole.

Na esfera pública, pelo contrário, esses direitos têmvindo a ser restringidos. É certo que nos transportes públi-cos há lugares reservados a idosos mas, ironicamente,esses lugares (quatro em cada carruagem de metro) são

igualmente destinados a deficientes e adultos com cri-anças de colo…

Nos serviços públicos deveria estar consagrada, deforma generalizada, a prioridade de atendimento aosidosos como acontece, por exemplo, no Brasil.

Obrigar os idosos (muitas vezes com mais de 70 ou 80anos) a ficarem horas debaixo de sol e chuva, para serematendidos em repartições públicas, não abona muito emfavor do tratamento dos mais velhos.

O Ano Europeu do Envelhecimento Activo eSolidariedade entre Gerações pretende encorajar todosos decisores políticos e outras partes interessadas adefinirem compromissos específicos em matéria deenvelhecimento activo e a agir no sentido de os con-cretizarem. Uma diferenciação dos horários de trabalhoe períodos de férias mais alargados, por exemplo, seriammedidas que dignificariam o estatuto do idoso e con-tribuiriam como incentivo ao prolongamento da suavida activa. Iludir a questão da discriminação positivado consumidor/cidadão idoso, contribui apenas paraacelerar a vontade de pedir a reforma.n

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Boavida|Livro Aberto

História, ficção e teatrocom a guerra e a crise em fundo

relevância e valor para a construção da narrativa. É tam-bém um livro sobre a memória e sobre as grandezas emisérias do ser humano, construído com fluência, talen-to e uma invulgar capacidade de prender a atenção doleitor. Livro de estreia de Steve Sem-Sandber, "OImperador das Mentiras", foi já comparado ao notável"As Benevolentes", de Jonathan Littell, mas vai maislonge e mais fundo. O autor nasceu em 1958, em Oslo.

A segunda obra em destaque que tem a II GuerraMundial em fundo é "O Dia Mais Longo-um RelatoVerídico" (Casa das Letras), de Cornelius Ryan, autor delivros como "A Última Batalha". Estamos em presençade uma narrativa factual poderosa e cativante que nosrelata a forma como cerca de três milhões de homens,11 mil aviões e quatro mil navios ajudaram a liberdadea triunfar sobre o terror e opressão. Um livro que deveráser lido atentamente também na Alemanha, sobretudopor aqueles que, mesmo sem recurso à guerra, queremmandar na Europa, através da imposição das regras quetanto satisfazem os interesses dos mercados financeiros.

José Jorge Letria

Nessa abordagem destacam-se acontecimentoscomo o Holocausto, que custou a vida a maisde seis milhões de judeus, e o desembarquetriunfante dos Aliados na Normandia.

Por isso aqui se põem em evidência duas ediçõesmuito recentes, que se impõem pela qualidade, pelorigor, pela actualidade e pelas janelas que abrem sobrefactos que nunca chegámos a conhecer na sua complexatotalidade.

Um deles é o extenso e fascinante romance "OImperador das Mentiras" (D. Quixote), de Steve Sem-Sandberg. Esta obra de quase 700 páginas é um romancesobre o gueto judaico de Lódz, que se lê como emoção egosto, por revelar, além dos factos, um profundo conhe -cimento da condição e da natureza humanas. O autorteve como base de trabalho o arquivo daquele gueto, noqual encontrou muitos factos oficiais e outros até hápouco desconhecidos e, por isso mesmo, de grande

Num mundo que evidencia crescentes sinais de crise, de uma crise que é financeira, social, moral,política e também de valores estruturais, não cessa de aumentar o interesse das editoras e dos leitorespela II Guerra Mundial, enquanto momento trágico, de ruptura e mudança na história da humanidade.

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Destaque, por outro lado, para o excelente trabalhoantológico "Uma Sociedade Funcional" (D. Quixote), quereúne alguns dos textos e reflexões mais marcantes dePeter Drucker, um dos gurus da gestão contemporânea.Um livro de leitura obrigatória para quem quiser perce-ber como está organizada e funciona a sociedade con-temporânea, seja no plano económico, seja no político eno cultural.

JONATHAN FRANZEN, classificado pela "Time" como "ogrande romancista americano", tem em "Zona deDesconforto"(D. Quixote) um brilhante livro dememórias que nos ajuda a compreender o seu fasci-nante universo ficcional e também o tempo americano aque este texto autobiográfico se refere. Franzen, que éautor de alguns dos livros mais lidos nos EstadosUnidos e no mundo na actualidade, nasceu no Illinoisem 1959 e vive e escreve em Nova Iorque. Um livro deum grande escritor, em qualquer época ou em qualquerlugar.

No que toca à ficção narrativa recentemente lançada,

já em tempo de restrições evidentes na quantidade deobras publicadas, o destaque vai para "A Vida Privadade Maxwell Sim" (D. Quixote), do britânico JonathanCoe, e para o surpreendente "Ribamar" (D.Quixote), dobrasileiro José Castello, distinguido com Prémio Jabuti2011 e que se impõe como uma poderosa narrativasobre a relação de um filho com um pai.

Baseado na série homónima apresentada pela RTP 2em 2011, "Endereço Desconhecido" (Oficina do Livro),de Tiago Salazar, é um guia singular de um viajante cos-mopolita sobre os últimos países que aderiram à UniãoEuropeia. Uma obra que confirma e reforça a populari-dade da literatura de viagens.

Autor fundamental da literatura para os mais novos,mas também dramaturgo de produção intensa e muitorepresentativa, António Torrado acaba de lançar"Atirem-se ao Ar!"(Caminho), peça de teatro sobre ahistória travessia do Atlântico Sul feita por GagoCoutinho e Sacadura Cabral, em 1922. A peça agorapublicada em livro foi levada à cena em Maio de 2003,pelo Teatro Experimental do Funchal.n

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Aexposição, comissariada por Raquel Henriquesda Silva, organiza-se em sete núcleos reveladoresda extraordinária amplitude e diversidade, bemcomo das inúmeras possibilidades formais e

expressivas do trabalho de Nikias Skapinakis, desenvolvi-do durante mais de sessenta anos. A singular capacidadede síntese na abordagem da imagem e o permanente diálo-go com a cultura ocidental, que as suas pinturas definem,torna claro o sentido e o valor do seu contributo.

De ascendência grega, Nikias Skapinakis nasceu emLisboa, onde vive. Frequentou o curso de Arquitectura,que abandonou para se dedicar à pintura. Tendo iniciadoa sua carreira com a participação, em 1948, nasExposições Gerais de Artes Plásticas, foram os seus traba -lhos como retratista de personalidades da vida culturalportuguesa (Almada Negreiros, Manuel Baptista, MariaJoão Pires, Natália Correia,entre muitos outros), eviden-ciando influência da arte pop,que começaram a dar-lhe noto-riedade.

ARTE URBANA NA GALERIA

ANTÓNIO PRATES

Entretanto, a Galeria AntónioPrates, Lisboa, concretizando o

seu objectivo de apoiar a arte nacional e os artistas jovens,apresenta no seu espaço da rua Alexandre Herculano umaexposição muito sui-generis, intitulada "Além Paredes",que segue uma das mais importantes correntes artísticasda atualidade, a Street Art ou Arte Urbana. A exposiçãoengloba obras de 10 artistas nacionais já com um extensotrabalho nesta vertente artística, Costah, Dalaiama, EL ST,± , MAR, Maria Imaginário, Pantónio, RAM, Target, eYUP- Paulo Arraiano, e conta ainda com a presença espe-cial de um artista estrangeiro, renomado no meio da

Street Art, Robert Proch.Os artistas foram convidados

a trazer a rua para dentro daGaleria, e pintar a totalidade daexposição dentro da Galeria, nassuas paredes, pelo que o espaçoestá dinamizado pelas pinturas einstalações dos artistas, às quaisnão foram impostos limites deescala ou de ocupação de espaço,

Nikias Skapinakis no CCB

Uma singularcapacidadede sínteseA exposição Nikias Skapinakis. Presente ePassado, 2012-1950, que o MuseuColeção Berardo, CCB, Lisboa, está aapresentar até ao próximo dia 19,constitui a mais ampla e significativaantologia dedicada à obra deste criadorartístico, reconhecido como um dosnomes mais relevantes da arteportuguesa na segunda metade doséculo XX.

Nikias Skapinakis, Retrato dos Criticos

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resultando num projecto de cariz instalativo e inovador.Segundo os responsáveis da Galeria, com esta atitude, pre-tendem esbater os limites entre o que estes artistas fazemna rua e o que fazem num espaço interior como umaGaleria, dando a provar ao público a verdadeira vidaprópria de que está imbuída esta forma de criação artística.

TIAGO BAPTISTA E KIKI LIMA

Por sua vez, Tiago Baptista mostra na Galeria 3+1 ARTECONTEMPORÂNEA, igualmente em Lisboa, em plenoChiado, os seus últimos trabalhos, "O que fazer com isto",um conjunto de pinturas onde a ideia de "crise ou cata-

clismo" está presentefuncionando como pre-missa para a represen-tação do fim de algo eao mesmo tempo umdesejo de recomeço.Segundo o artista, "Estaideia de crise é acentua-

da pela utilização de espaços arruinados, não lugares, ou -trora concebidos para determinada função, entretantoultrapassados e tornados inúteis face ao processo civiliza-cional. Esta falha ou interrupção do processo é exploradatambém ao nível da construção da personalidade. A falhado projecto social, político, cultural, religioso enquantopotenciadores da falha individual e da necessidade da sis-temática autoavaliação."

Por último, vale a pena assinalar o regresso do pintorcabo-verdiano Kiki Lima a Portugal, desta vez para apre-sentar a exposição Plástic-ô-Musical, a fazer jus às suasoutras capacidades além da pintura: poeta, compositor eintérprete da música tradicional caboverdiana, com doisdiscos editados.

Dono de uma fluidez cromática rara, Kiki Lima, quealcançou merecido sucesso com exposições realizadas emvários países, mostra, através das suas telas, marcadas porum expressionismo encantatório e por uma acertada lumi-nosidade, as tradições do seu povo, em cenas quotidianasde trabalho e festa, tudo com grande acento nostálgico.n

Pintura de Kiki Lima

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Aqui se aconselha, para este mês de Maio, a audição atenta dos álbuns "O que Você Quer Saber deVerdade", da brasileira Marisa Monte, e "Black Radio", do norte-americano Robert Glasper Experiment.

Vítor Ribeiro

Acantora e compositora Marisa Monte apresenta-nos 14 canções em que aborda o tradicionaltema do amor, nas modalidades da infidelidade,do desencontro, da procura, da desilusão, da

felicidade quase nunca atingida, ou momentaneamentealcançada…

Responsável também pela produção do CD, Marisa con-tou com a cumplicidade dos "velhos" companheiros de jor-nada Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, que nos ido de2002 se constituíram em "Tribalistas" e lançaram umálbum de referência da Música Popular Brasileira.

Marisa Monte integra a geração de músicos, composi-tores e cantores brasileiros surgidos no final da década de80 e durante a década de 90 do século XX, em que sedestacaram, para lá dos nomes já referidos, AdrianaCalcanhoto, Seu Jorge e Daniela Mercury entre outros.

Com pouco mais de 14 anos, Marisa, agora com 45,começou por estudar canto lírico, descobrindo e pratican-do em seguida estilos tão diversos como o rock, o blues, osamba, o jazz, a bossa nova… De todo este ecletismonasceu um estilo próprio, que faz com que a cantora seja

Boavida|Músicas

hoje um singular elo de ligação entrevárias gerações de melómanos.

"O que Você Quer Saber de Verdade" éum álbum amável, de uma compositora eintérprete amadurecida.

ROBERT GLASPER EXPERIMENT

"Black Radio" é o título genérico do maisrecente álbum do músico e compositornorte-americano Robert Glasper. Nascidoem Houston, Texas, 1978, Glasper é umpianista formado na escola do jazz, cujotrabalho de pesquisa faz convergir aquelegénero musical com o hip-hop e o R&B(rythm and blues), para dar lugar a umasonoridade de vanguarda.

A opção experimentalista do músicoreflete-se, de resto, no nome do grupo - "Robert GlasperExperiment" - e que no CD agora chegado até nós contacom a participação de Erykah Badu, yasin bey, LupeFiasco and Bilal, Ledisi, King, Lalah Hathaway, Stokley eHindi Zahra, entre outros.

Um total de 13 temas integra o álbum "Black Radio",cuja produção é igualmente assinada por Robert Glasper.Glasper fez-se acompanhar neste trabalho pelos músicosCasey Benjamin (saxofone), Derrick Hodge (baixo eléctri-co) e Chris Dave (bateria). n

MARTA HUGON EM GUIMARÃES

Marta Hugo efectua um concerto dia 11 de Maio, no Centro

Cultural Vila Flor, Guimarães, pelas 21h30. A cantora

interpretará temas do novo álbum "A Different Time".

BETHÂNIA NO PORTO E EM LISBOA

A cantora brasileira Maria Bethânia actuará no Coliseu do

Porto, dia 8 de Maio e no Coliseu de Lisboa dia 12 de Maio. Às

20h30. A artista dedicará especial atenção ao repertório de

Chico Buarque.

Da “Verdade” de Marisa Monteà música de vanguarda de Glasper

CONCERTOS

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Dora Jobim

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Boavida|No Palco

Maria Mesquita

Manuela Couto é a única actriz nesta peça cri-ada especialmente para ela, por ArturRibeiro. O autor começa logo por dizer quenão gosta de escrever textos sobre as suas

próprias criações, uma vez que a biografia e análise daspersonagens acabam por pertencer a cada espectador. Asideias vão surgindo e fluindo, e isso é o essencial.

Neste enredo, encenado por João Mota, amigo antigo daactriz, temos uma mulher que, em tribunal, se autodefende após ter despedido o advogado. O crime, aosolhos da sociedade é hediondo. Uma mãe que mata umfilho. Mas antes de haver uma condenação, tem de se co -nhecer o porquê. O que pode levar um pai/mãe a umdesespero tão grande para cometer tal acto de violência? Aresposta é estranhamente mais simples e, ao mesmotempo, tão mais complexa. O que pode levar alguém acometer este crime, poderá simplesmente ser a defesa daintegridade humana. Quando vemos alguém que amamossofrer, não nos caberá o direito de colocarmos um pontofinal ao seu sofrimento, sabendo que essa pessoa nuncapoderá recuperar? O que é a eutanásia? Será que em deter-

minados casos, não poderemos fazer de Deus (deuses) etratarmos nós mesmos do que nos parece um castigoimoral imposto por alguém ou algo, que não é de todoJusto? Durante as alegações finais, esta Mãe/Mulher vaicontando ao público, que também é confessor, juiz e jura-do, a evolução da sua vida. O que é a Maternidade, o querepresenta o Casamento, com várias alusões aos textosreligiosos do Livro de Jó e da história de Isaac. Aqui serãovárias as questões colocadas, não para responder, masacima de tudo, reflectir.FICHA TÉCNICA: de Artur Ribeiro; Versão cénica e

encenação: João Mota; Figurinos: Carlos Paulo; Desenho de

luz: José Carlos Nascimento; Sonoplastia: Hugo Franco;

Interpretação: Manuela Couto; Produção TNDM II

"MEDIDA POR MEDIDA"

Numa co-produção entre o Teatro Nacional de São João eo Teatro Municipal de S. Luiz, pode-se ver, de 5 a 13 deMaio no Porto, e de 17 a 20 Maio em Lisboa, a peça"Medida por Medida", de Shakespeare. "Algo está podreno Reino de Viena". Pelo menos é assim que este textopoderia começar. Para os estudiosos e críticos literários, apeça marca o fim das comédias "Shakespearianas", e abrecaminho aos dramas que caracterizam de forma tão bru-tal, grande parte da obra do genial autor inglês. Nesta"Medida por Medida", temos uma comédia sombria, ondeo Poder e o sexo se misturam, no antro de corrupção efavores políticos. O Duque de Viena sai de cidade comideia de descanso. Para continuar a sua acção contra acorrupção moral, pede a Ângelo que o substitua. Contudo,este juiz, que aceita o cargo, depressa percebe como é fácilutilizar o Poder em proveito próprio, acabando por gerarsituações graves. Acima de tudo, este texto serve parademonstrar até que ponto é que podemos abdicar danossa responsabilidade cívica, colocando nas mãos depseudo-ditadores, as vidas daqueles por quem somosresponsáveis.

FICHA TÉCNICA: de William Shakespeare; Tradução:

Fernando Villas-Boas; Encenação: Nuno Cardoso; Cenografia:

Fernando Ribeiro; Música original: Rui Lima, Sérgio Martins:

Da vida e da morteA Vida e a Moral humanas são postas em discussão numa peça feita para uma actriz, Manuela Couto."Onde estavas quando criei o Mundo?" fala sobre vida e morte, sobre escolhas, sobre as mudanças quesofremos. Para ver até 13 Maio na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II.

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Interpretação: Afonso Santos, Catarina Lacerda, Cláudio da

Silva, Daniel Pinto, João Melo, Luís Araújo, Paulo Calatré,

Pedro Frias, Romeu Costa e Sara Carinhas; Co-produção Ao

Cabo Teatro / Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura /

Teatro Nacional São João / São Luiz Teatro Municipal

"O ABAJUR LILÁS"

De 16 a 27 de Maio, A Escola da Noite e o CentroDramático de Évora (Cendrev) apresentam, em Coimbra,no Teatro da Cerca de São Bernardo, "O Abajur Lilás", dePlínio Marcos (1935-1999). Escrito num português amplo,

o texto é uma poderosametáfora das diferentes for-mas de reagir em contextosde opressão. Dilma, Célia eLeninha são três prostitutasque partilham o quarto ondevivem e trabalham. Giro, oproprietário, acha que elassão pouco produtivas eexerce sobre elas as formas

de pressão e de motivação que conhece, com a ajuda deOsvaldo, uma espécie de secretário musculado. Asrelações entre as cinco personagens evoluem tragicamentea partir do momento em que se quebra o abajur que ilu-minava o quarto….

A linguagem utilizada (o calão da cidade de Santos,São Paulo, de onde Plínio é natural) e a alegadaobscenidade do texto foram os argumentos avançadospela censura brasileira para, por duas vezes, proibir aestreia do espectáculo. Numa sociedade em que a violên-cia física e verbal está difundida e banalizada até ao pontoda indiferença, é essa profundidade da obra de Plínio quemais toca, quase 40 anos depois da sua escrita. Nenhumacensura consegue pôr cobro a essa reflexão; nenhumaforma de opressão - política, social ou económica, maisassumida ou mais nebulosa - lhe escapa.

FICHA TÉCNICA: O Abajur Lilás, de Plínio Marcos;

encenação: António Augusto Barros; interpretação: Ana

Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João

Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite)

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Page 68: Tempo livre Maio 2012

A POEIRA DO TEMPO

Um cineasta norte-americano

de origem grega dirige um

filme autobiográfico que se

passa em Itália, Alemanha,

Rússia, Canadá e EUA. Uma

história sobre a

sua vida e a dos

seus pais, atenta,

paralelamente,

aos acontecimen-

tos decisivos do

século passado.

Os protagonistas do filme

movem-se como num sonho e

"a poeira do tempo" baralha as

recordações. As memórias que

o realizador busca e que acaba

por viver no presente. Falecido

em Janeiro passado, quando

rodava mais uma filme,

Angelopoulos era o mais co -

nhecido cineasta grego da

actualidade. Autor de uma fil-

mografia notável - com

inesquecíveis bandas sonoras

de Eleni Karaindrou - o rea -

lizador helénico conquistou a

Palma de Ouro de Cannes "A

Eternidade e um Dia" (1998).

Foi um dos grandes rea -

lizadores europeus da sua ge -

ração, com um olhar único

sobre as questões fundamen-

tais da humanidade e da

sociedade grega e europeias

em particular, patente em ou -

tras obras marcantes como "A

Viagem dos Comediantes"

(1975, "O Olhar de Ulisses"

(1995) e "O Passo Suspenso da

Cegonha" (1991).

Título original: I Skoni Tou

Hronou; Realização:

Theodoros Angelopoulos;

Com: Willem Dafoe, Bruno

Ganz, Michel Piccoli, Iréne

Jacob; Grécia, 125m, Cor,

2008; Edição: Leopardo Filmes

A PELE ONDE EU VIVO

Em Toledo, o cientista e

cirurgião Dr.Robert Ledgard

procura, após a morte trágica

da sua mulher (que morreu

carbonizada depois de um aci-

dente de

viação), criar

uma pele sin-

tética capaz de

resistir ao fogo

e a outras

ameaças. Ele

vive isolado na sua mansão na

companhia da sua criada

Marilia e de Vera Cruz, a coba-

ia humana que está a testar a

sua experiência. Mas a

aparente tranquilidade tem os

dias contados quando um

assaltante entra dentro de casa

e viola Vera Cruz…O regresso

de Almodôvar - com um elen-

co de bons actores, liderado

por António Banderas - foi um

dos momentos marcantes da

edição de 2011 do festival de

Cannes com mais um filme

"negro" carregado de drama e

emoção, premiado em diver-

sos festivais.

Título original: La Piel Que

Habito; Realizador: Pedro

Almodôvar; Com: Antonio

Banderas, Elena Anaya,

Marisa Paredes, Jan Cornet;

Espanha, 117m, Cor,

2011;Edição: Pris

AS SERVIÇAIS

Anos 60: no Sul dos EUA

ainda impera a segregação

racial. Skeeter, uma jovem

branca que quer ser escritora,

rejeita a sociedade em que

vive e os preconceitos domi-

nantes. Ela vai tentar romper

com a situação quando decide

entrevistar as mulheres negras

que trabalham nas casas das

famílias sulistas. Apoiando-se

em Aibileen, a primeira criada

negra a querer contar a sua

história, a jovem vai iniciar

uma luta emo-

cionante que

terá um final

feliz. Adaptado

do best-seller

de Kathryn

Stockett, As Serviçais foi um

dos grandes êxitos do cinema

norte-americano em 2011,

nomeado, com inteira justiça,

para os Óscares (incluindo o

de melhor filme). Obteve o

Óscar de Melhor Actriz

Secundária para Octavia

Spencer.

Título original: The Help;

Realização: Tate Taylor; Com:

Emma Stone, Viola Davis,

Octavia Spencer, Jessica

Chastain; EUA/Índia/ EAU,

146m, cor, 2011; Edição: Zon

Lusomundo

O REGRESSO

DE JOHNNY ENGLISH

Johnny English está de volta!

Nesta aventura, o mais perigoso

agente ao serviço de Sua

Majestade vai enfrentar um gang

internacional de assassinos para

evitar que um líder mundial seja

eliminado e que o caos se

instale. Depois de um longo

treino numa região remota da

Àsia ele está de

volta para tentar

salvar o mundo

com as mais

avançadas técnicas

de espionagem e

combate. O Regresso de Johnny

English assinala o reencontro do

comediante britânico Rowan

Atkinson com o seu púbico

numa divertida comédia, ideal

para um serão bem passado em

família. Numa sátira deliciosa ao

universo da espionagem, o filme

combina um humor único com

um ritmo alucinante e sequên-

cias de acção inolvidáveis lide -

radas pelo inspirado humorista

britânico, vulgarmente conheci-

do por "Mr. Bean". Uma comédia

Divertidíssima rodada em vários

países e cidades mundiais numa

clara homenagem ao espião

mais famoso do mundo: 007!

Título original: Johnny English

Reborn; Realização: Oliver Parker;

Com: Rowan Atkinson, Gilian

Anderson, Rosamund Pike,

Dominic West; EUA/França/GB,

101m, cor, 2011; Edição: Zon

Lusomundo

Aqui se evoca e homenageia o grande cineasta grego Theo Angelopoulos, falecido em Janeiro último,com um dos seus derradeiros filmes "A Poeira do Tempo". Seguem-se três outras interessantessugestões; o surpreendente thriller de Almodôvar, A Pele onde eu vivo; o notável e dramático, AsServiçais, de Tate Taylor; e a divertida comédia, O Regresso de Johnny English, de Oliver Park. Sérgio Alves

Angelopoulos e outras fitas

Boavida|Cinema em Casa

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Boavida|Grande Ecrã

Representar o vividoComo não poderia deixar de ser, as atenções em Maio recaem nos mais aguardados: "Cosmopolis" deDavid Cronenberg e "On the Road", de Walter Salles, presentes este ano na competição de Cannes. Noutralatitude, assinalamos a estreia de "Nana" (retrato terno e doce sobre a infância),de Valerie Massadian e"Rafa" -a curta portuguesa premiada com Urso de Ouro na Berlinale deste ano -, de João Salaviza.

Joaquim Diabinho

Adaptando "Cosmópolis,um dos famosíssimos eperturbantes romancesde culto da autoria do

escritor e dramaturgo norte-ameri-cano de ascendência transalpina,Don DeLillo, Cronenberg, parece (aajuizar pelas imagens em movi-mento que circulam na net...) tersabido apropriar-se com eficáciado universo perturbante e sarcásti-co - emprestando-lhe uma cargasurrealista poucas vezes vista –,não apenas no tratamento daatmosfera urbana caótica ehumanamente bizarra das ruas deNew York mas sobretudo na fi -ligrana psicológica do protagonista. A história de EricPacker (excelentemente interpretado por Robert Pattinson),um milionário especulador, em crise de consciência("porque não constrói nada, porque não tem uma activi-dade produtiva"...), que enriqueceu à custa das flutuaçõesdos preços e das oscilações da bolsa e do iene que um diasai da sua mansão para a limousine para ir cortar o cabelo.Mais uma fábula de evidentes ressonâncias morais peloautor do poderoso "Naked Lunch".

A pertinência de "Cosmópolis" (obra literária) é ter em2002 ficcionado uma realidade próxima daquela que vive-mos na actualidade. Para mais, a odisseia (tragicómica) dePacker não lhe apazigua os tormentos, eleva-os é a umaoutra dimensão. De resto, Salman Rushdie disse deDeLillo que é "o poeta da nossa desumanização". Nãopodia ser mais certeiro.

DO BRASILEIRO WALTER SALLES, (lembram-se do emocio-nante,"Central do Brasil"?!) chega-nos -a partir de quinta,31- uma inesperada mas... previsível visita aos anos domovimento da geração beat através da adaptação inspi-radíssima da obra mítica e de culto do escritor Jack

Kerouac, "On The Road" cujadimensão intemporal e universalperpassou todas as épocas e todosos países, influenciou gerações deescritores e o próprio cinema(p.ex., "Easy Rider","ParisTexas","Thelma e Louise", entreoutros) e foi, ao mesmo tempo, umapelo vibrante à liberdade.Conhecendo o trabalho anterior deSalles não será surpresa se aepopeia de Jack Kerouac /Sal eNeal/DeanCassady tiver o efeito"mágico" de provocar no especta-dor um desejo forte de aceder aolivro. A ver vamos se sim... .

OLHARES SOBRE A INFÃNCIA E

JUVENTUDE. A frase é dejá vú esimplista mas cumpre na perfeição para o que aqui aseguir interessa:"Nana", primeira longa-metragem dafrancesa Valérie Massadian que obteve o prémio de me -lhor primeira obra em Cannes o ano passado, é a históriade uma menina de quatro anos que vive com a mãe numacasa na floresta. Um dia fica sózinha e Nana (excelenteKalyna Lecomte!) põe-se a realizar as tarefas caseirascomo a mãe fazia. A grande força do filme é a relação quea câmara estabelece com a criança e que se manifesta naliberdade de movimentos que é dada à personagem deixa-da à solta no filme. Em jeito de crónica documental – fic-cionada, Massadian dá um retrato estimulante, pleno derespeito e encanto pela criança como raras vezes se viu nocinema. O mesmo se poderá dizer de "Rafa", curta-metragem com que João Salaviza arreebatou o grandeprémio em Berlim. Para além do "fait-divers" - um jovemde treze anos descobre que a sua mãe está detida numaesquadra de policia e resolve ir visitá-la e esperar a sualibertação.Excelente fluídez narrativa, capacidade deobservação de comportamentos e, sobretudo, um talentoinvulgar de testemunhar sobre questões existenciais esociais.n

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Cenas de “Cosmópolis” e “Nana”

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Page 70: Tempo livre Maio 2012

Boavida|Tempo Informático

As estrelas da informática

Gil Montalverne [email protected]

Toda a gente, apesar da crise, deseja um tablet.Vêem os apresentadores e jornalistas da TV,comentadores, artistas e até membros do gover-no, com um deles nas mãos.

Muito práticos de facto, está lá tudo, ou quase, o quepretendemos, desde consulta da Internet ao email, escr-ever textos, ler jornais e revistas, GPS, fotografia e vídeo,logo visíveis naqueles ecrãs e muito mais. O problema éa escolha. Desde que Steve Jobs apresentou naApple o primeiro iPad, há cerca de 2 anos, nãotardou que as restantes marcas, usando o sis-tema aberto Android, apresentassem tambémos seus próprios tablets com idênticas apli-cações ou Apps. E o mercado foi inunda-do pelos tablets. Com ecrãs deiguais dimensões ou quase, pos-suem funcionalidades comuns eaté novas que existem apenas emalguns onde lhes faltam por suavez terceiras, etc.

O nosso conselho é escolherem função do que pretende fazercom o tablet e também do preçoque igualmente varia. Eis algunsexemplos, além da última versãoApple iPad 3 que tem o essencial,sem portas USB e apenas slotmicro SIM e saída de 3,5mm,uma das estrelas, sobretudo paraos adeptos dos MAC. Se pretendeaplicações ou Apps muito seme -lhantes, actuando como os diver-

No mundo da Informática também aparecem de repente as grandes estrelas. Em qualquer loja daespecialidade ou nos centros comerciais, os dispositivos à volta dos quais as pessoas se passeiam, osobservam e experimentam, são sem sombra de dúvida os tablets. São a coqueluche do momento.

sos programas ou aplicações de um PC, no sistema aber-to Android, tem muitas hipóteses. Com portas USB parauma Pen, mini USB para outros dispositivos, HDMIpara televisor, Internet 3G, cartão SD, câmara de foto evídeo posterior de 5 Megapixeis e frontal para utilizar

em chat ou video conferência, podeescolher o Toshiba AT1003G. Mas sejá usa Smartphone com cartãoInternet, pode criar um HotSpot quecapta no tablet por WiFi (todos ostablets têm WiFi) e escolhe o mode-lo igual da Toshiba, sem 3G, que é

mais barato.Os tablets possuem teclado vir-

tual por toque e podem rodar navertical ou horizontal mas outro

aspecto que pode ser importante é aexistência em alguns modelos deteclado extra onde se coloca o

tablet e se escreve comodamente,usando o tablet como monitor. É ocaso, por exemplo, do Asus Primeou EE Pad ou dos Toshiba (entre ou -tros). Mas também pode considerara hipótese de ter no tablet um sis-tema operativo tal como numportátil e opta por exemplo por umSamsung, anunciado para breve jácom o Windows 8. Para ter a melhorqualidade em Full HD nos seusvídeos escolhe o Acer Iconia A700.O peso é importante? Tem o AT200da Toshiba que é neste momento omais fininho. Em contrapartida é omais caro, não tem porta USB nempara cartão SD. Analise sempre amemória de armazenamento interna(mais memória são mais caros) e aautonomia. Pense no que é maisimportante para si no tablet, com-pare preços e só depois tome adecisão. n

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De cima para baixo:Asus Prime ou EEPad; Ipad3; Samsunggalaxy tablet;AcerIconia A700 (esq.)e Toshiba AT200(dir.)

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Boavida|Ao volante

Modelos Peugeot ganham prémiosO novo Peugeot 3008HYbrid4, acaba de ser galardoado com o prémio "Automóvel mais verde do ano",enquanto que o seu "irmão" 508 foi eleito "Carro do ano 2012 em Portugal".

Carlos Blanco

Ao lançar o primeiroveículo Full Hybriddiesel no mundo - o3008 HYbrid4 - a

Peugeot propõe uma oferta inédi-ta em matéria de liberdade e desensações de condução. Adenominação HYbrid4 designa ahibridação de um motor térmico(um 2,0 HDI de 163 cavalos) comum motor eléctrico com comuma capacidade máxima de 27KW (27 cavalos). Os motoresdiesel consomem menos que osmotores a gasolina, pelo que logi-camente este foi o tipo de energiaescolhida para a hidridação. NoCrossover 3008 a associação vir-tuosa do diesel e da electricidade permite propor: 4rodas motrizes; 200 cavalos de potência; 3,8 litros/100km, a partir de 99 g/km de CO2; e modo ZEV (ZeroEmission Vehicle).

O 3008 HYbrid4 foi concebido para seduzir clientesorientados para a tecnologia exigente, em busca de umaviatura valorizante e original. O seus trunfos residem nacapacidade de cruzar os géneros pela sua arquitecturaexterior, com uma corroçaria portadora de genes do SUV,do monovolume ou da berlina. Pelos seus elementos deestilo específicos, comparativamente com o conjuntoda gama 3008, conjugando potência e protecção, força eelegância, lazer e estatuto. Pelo seu interior inesperado etecnológico, que alia o ambiente de um coupé dotado deum equipamentos high-tech com uma modularidadepática e eficaz. E pelas suas prestações dinâmicas, jáque, graças aos conhecimentos da marca do leão e àstecnologias empregues, este veículo "monocorpo sobre-elevado" oferece qualidades dinâmicas que nada ficam adever às de uma berlina.

Ao adoptar a tecnologia HYbrid4, o Peugeot 3008 é oprimeiro automóvel de série "Full Hybrid" diesel comer-cializado em todo o mundo e, agora, distinguido com o

troféu internacional "Volante Verde/Carro Ecológico de2012".

PEUGEOT 508 "CARRO DO ANO" EM PORTUGAL

O Peugeot 508 foi o vencedor do Carro do Ano/TroféuEssilor Volante de Cristal 2012. O concurso que é o maisantigo em Portugal, visa distinguir o melhor automóvelcomercializado no nosso País e é atribuído por 18 jurados,representantes de outros tantos órgãos de comunicaçãosocial.

Para a Peugeot Portugal, este prémio representa oreconhecimento da qualidade superior do 508 que, desdea sua comercialização, tem gozado de uma grandeaceitação no mercado português, quer entre clientes par-ticulares, quer entre as empresas.

Para obter o tão desejado título de Carro do Ano de2012, o Peugeot 508 superiorizou-se aos restantes 21 mo -delos candidatos (Chevrolet Volt/Opel Ampera. CitroenDS4, Ford Focus, Hyundia i40, Kia Rio, entre outros)numa análise apurada de 31 items, que vão desde a estéti-ca, a qualidade de construção, o comportamento e a segu-rança, as performances e o conforto, até à ecologia/ambi-ente, consumos e preços, entre outro. n

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Boavida|Saúde

Preparar a reforma2012 é o ano escolhido pela Comunidade Europeiapara promover o envelhecimento activo dapopulação e para incentivar a solidariedade entregerações.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

Este ano, no grande "fórum europeu", debatem-se osproblemas do envelhecimento da população e estu-dam-se meios para melhorar a qualidade de vida e obem-estar dos mais idosos

Ao longo dos últimos anos tenho partilhado convosco pre -ferencialmente informações sobre as doenças deste grupoetário, no sentido de fazer a suaprevenção sempre que possível e,quando já não é possível prevenir,dar orientações terapêuticas atem-padas. Hoje, o que vos proponhotem tudo a ver com saúde: desafio-vos a pensar e a preparar a vidapara depois da reforma.

Conheço muitas pessoas quevivem atemorizadas com a pers -pectiva de envelhecer, dão-seconta de que a diminuição daacuidade em alguns dos sentidosafecta o seu desempenho global econfundem as limitações normaisda idade com doença. É necessáriofazer uma abordagem positiva enão confundir. Saúde não é só aausência de doenças, mas, sobretudo, um bem-estar físico epsíquico para o qual temos que trabalhar.

Muitas outras pessoas, na meia-idade, consideram que seencontram ainda longe desta situação e acham que, quandochegar a sua vez, será tudo diferente. Será de facto diferente se,enquanto tiverem força e capacidade, fizerem alguma coisapara preparar esse futuro.

Nos 27 países da União Europeia as taxas de emprego dostrabalhadores com idades entre os 55 e os 64 anos são de cercade 50% e mais de metade destes trabalhadores mais velhos,pelas mais diversas razões, deixa de trabalhar antes da idadeobrigatória para a reforma. Perante uma população envelhecidae sem ocupação regular, estudam-se cenários de melhorar eprolongar as carreiras profissionais para as adequar à maioresperança de vida de que hoje usufruímos.

Enquanto estas e outras medidas não forem tomadas, éurgente que cada um se interrogue seriamente sobre o quedesejaria fazer e como gostaria de ser tratado no dia em quenão tiver de se levantar cedo para ir trabalhar, mas em queainda se sente útil à sociedade.

Ao longo dos anos em que trabalharam, dentro e fora decasa, todos adiaram muita coisa que gostariam de fazer e nãofizeram, porque na altura não dispunham de tempo livre.Alguns, mais acautelados, defenderam um quinhão dessetempo para o seu lazer ou para um empreendimento e, afortu-nados, já possuem um ponto de partida para a ocupação doseu tempo.

Costumo perguntar aos meus doentes se têm alguma activi-dade preferida para os períodos de lazer e, frequentemente, aresposta é afirmativa. Se depois dos cinquenta anos alguém mediz que não faz nada de especial e não tem em mente qualqueriniciativa, fico preocupada, incito-o a pensar no assunto e volto

a questioná-lo mais tarde.Existem diferenças entre as pessoas que

preenchem os seus tempos de repouso com ocu-pações em que se divertem - estas podem ser asmais diversas como ler, praticar desporto ou…criar pombos - e os outros que não têm nada. Osque praticam qualquer actividade que lhe dêprazer são, em regra, mais saudáveis, não refe -rem com tanta frequência perturbações do sono,gerem melhor o stress e parecem mais prepara-dos para enfrentar as adversidades da vida.

O período que antecede a reforma é umperíodo crítico na vida das pessoas. Chegadosaos cinquentas, começam a surgir sinaisinequívocos da idade. Todos os que já por lápassaram sabem a que me refiro. Esses sinaispodem ser minorados se aprendermos a fazeruma gestão positiva e inteligente da vida.

Chamo gestão positiva e inteligente da vida quando cadaum, à sua medida, identifica as suas prioridades, acautela a suasaúde e doseia o seu esforço de acordo com ela, sem se esque-cer de reservar tempo para si próprio, para as coisas que gostade fazer. É nesta fase da vida que se prepara a reforma.

Conheço exemplos de pessoas que organizam caminhadas,outras que se juntam para ir ao ginásio, as que frequentam cur-sos que não tiveram oportunidade de fazer quando eram maisnovas e outras ainda que optaram por actividades que geramrendimento. Não é só uma questão de idade, porque nos gru-pos pode haver gente de todas as idades. É uma questão de cir-cunstância. Vivemos tempos incertos, temos necessidade denos juntarmos, de reforçar a nossa rede social de apoio estrei-tando laços e afinidades, partilhando momentos de lazer eassim prevenir a solidão e o isolamento. n

72 TempoLivre | MAIO 2012

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Page 73: Tempo livre Maio 2012

Boavida|Palavras da Lei

? Quando um Juiz faz a avaliação dos factos e das provas,

tem que ficar restringido ao que as partes carrearam

para o processo? Por outro lado, que peso tem o lado

emocional de um Juiz, se tiver que avaliar a maneira como

uma testemunha faz as suas declarações em Tribunal?

Sócia devidamente identificada - Bragança

Pedro Baptista -Bastos

Estas duas interessantes questões remetem para asquestões lógicas e de apreciação probatória daactividade do Juiz enquanto intérprete e apli-cador de normas jurídicas para a resolução de

um caso em Tribunal, e do modo como este se relacionacom as partes no processo. Regra geral do chamadoPrincípio do Dispositivo em processo civil é que sejam aspartes a iniciar um processo e a carrear para os autos osfactos e matéria de prova que pretendam que o Juiz apre-cie, não obstante este ter o poder de ampliar factos, demodo a poder fazer o bom julgamento da causa.

São as partes que "desenham", por assim dizer, a suapretensão processual, aquilo que pretendem que o Juizaprecie, avalie e interrogue, e concluem, em sede de ale-gações, esse "desenho" inicial, que é desenvolvido de acor-do com a maior capacidade que o advogado tenha em seexprimir e convencer o Juiz da pretensão do seu cliente.

No entanto, de acordo com o artigo 664º do Código deProcesso Civil, o Juiz não está sujeito a essas mesmas ale-gações, para aplicar uma norma jurídica. Ele cinge-se aoque a parte apresentou para o processo, os factos e provas,e nada mais do que isso.

Porém, a actividade jurisdicional não é mecânica e, porisso, o Juiz pode e deve usar a sua experiência, sensatez,intuição e bom senso na decisão final; no modo como in -tuiu o que ouviu das testemunhas, como ficou mais oumenos impressionado com a exposição oral de factos.Como corolário destas ideias, temos não só a possibilidadeque o artigo 349º do Código Civil permite ao Juiz, para tirarilações lógicas da matéria de facto provada, através daschamadas presunções judiciais, bem como através da total

consideração que o Juiz efectua sobre toda a prova, nostermos do artigo 515º do Código de Processo Civil, consi -deração essa que não limita a apreciação emocional queum Juiz faça de um testemunho.

Um Juiz usa a lógica formal para extrair conclusões defactos que, por vezes, podem escapar à actividade daspartes, e fá-lo em nome da verdade que pretende descobrir.

Daí o peso que uma testemunha que se expresse bem ede modo convincente tem, na decisão final do Juiz. Oimpacto subjectivo de uma excelente testemunha éenorme, sendo também função de um Advogado experi-ente saber escolher as melhores testemunhas que se ade-quem à verdade que se pretende ver decidida em Tribunal.

Nas sentenças, quando um Juiz escreve que atendeutoda a prova, também pretende dizer que a considerou demodo subjectivo, pela sua sensatez e experiência e bomsenso. Se o não fizer de modo claro e enquadrado nas nor-mas jurídicas, deve haver lugar ao imediato recurso. n

JOSÉ ALVES MAIO 2012 | TempoLivre 73

Apreciação lógica e emocional de factos e de testemunhas em sedede processo

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Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

(Horizontais): 1-VIERA; IMAN; DO; N. 2-A; RIFARAS; JOANA. 3-SUA;OPACAS; USAS. 4-CR; AGORA; UM; IVA. 5-U; ATOL; SELASSE. 6-LODOSOS; U; TE; TA. 7-HO; M; GLÓRIA; SAM. 8-O; COTO; MOD;VISO. 9-PISO; A; PAPEL; R. 10-ELO; MARCADA; OTE. 11-RE; LA; AR;ENA; OS. 12-ANO; SILEX; ALÉM. 13-MONA; SAIR; BOM.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

1

2

3

4

5

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7

8

9

10

11

12

13

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Palavras Cruzadas | por José Lattas

Horizontais: 1-Acudira; Óxido de ferro que tem a propriedade deatrair o ferro e outros metais; Clemência. 2-Roubaras; Nomefeminino. 3-Pronome possessivo feminino; Baças; Aplicas. 4-Crómio (s.q.); Já; Artigo indefinido; Imposto sobre o valoracrescentado. 5-Grupo de recifes de coral; Carimbasse. 6-Alagadiços; Pronome pessoal reflexo; Tântalo (s.q.). 7-Hólmio(s.q.); Honra; Tio americano. 8-Pedaço; Moderno (abrev.); Miro.9-Sobrado; Função. 10-Gavinha; Reservada; Sufixo nominati-vo, de sentido diminutivo. 11-Mulher acusada de um crime;Nota musical; Ambiente; Interjeição; Ósmio (s.q.). 12-Trabalhos realizados durante um período de doze meses;Pederneira; Acolá. 13-Amuo; Abandonar; Aceitável.

Verticais:1-Vassoura feita de ramos de arbustos; Aconteciam. 2-Cidade da Caldeia; Berço; Cabal. 3-Período; AliançaDemocrática (sigla); Vício; Articulação (invertido). 4-Goza;Partículas. 5-Angústias; Aceitas. 6-Parábola; Sufixo, que desig-na colectividade. 7-Agastar; Estão em sinal; Grande lago salga-do da Ásia. 8-Padiolas; Pedra de amolar (invertido); Acreditas.9-Pega; Um dos cinco continentes; Título do soberano daPérsia. 10-Meridião; Velhice. 11-Arvoredo; Cobrir de pão rala-do. 12-Embato; Conjunção condicional; Nome de letra;Alumínio (s.q.). 13-Alívio; Tulha para conservação de forra-gens verdes, para alimento de animais; Estibordo (abrev.). 14-Quilhas; Volume. 15-Agência norte-americana, para explo-ração espacial; Derriço.

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

ClubeTempoLivre > Passatempos

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 37Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

ClubeTempoLivre > Passatempos

N.º 37 SOLUÇÕES

74 TempoLivre | MAIO 2012

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ClubeTempoLivre > Cartaz

lA Orquestra Académicade Lisboa (OAM) dá nosdias 26 (21h00, Auditórioda Universidade Nova,Campus de Campolide) e27 de Maio (17h00, GrandeAuditório do CentroCultural e de Congressos deCaldas da Rainha)concertos com obras deWebern, Chostakovich -

Concerto para Violino eOrquestra n.º 1 em Lámenor, Op. 77- eMendelssohn - Sinfonia n.º4, Op. 90. A jovemviolinista RavenaMendonça (na foto), alunada Academia Superior deOrquestra, galardoada noConcurso Solistas comOAM - Prémio INATEL

2012, subirá ao palco parainterpretar o primeiro dosdois concertos para violinoque Chostakovich dedicoua David Oistrakh.

Coimbra

Música:

dia 18 às 21h30 - Combo Jazz,

Grupo de Jazz do Conservatório

de Música de Coimbra, em Côja;

dia 13 às 16h - Choral Poliphonico

de Coimbra e ForuMúsica na

Igreja de Santa Cruz em Coimbra;

dia 20 às 17h - Choral Poliphonico

de Coimbra e Coro da Capela da

Univ. de Coimbra, na Igreja de

Cantanhede; dia 26 às 21h30 -

Choral Poliphonico de Coimbra,

Coral Stellarum e Grupo Coral de

Mafra, na Igreja de S. José em

Coimbra.

Teatro:

Dia 12 às 21h30 - "Médico à

força" pela Associação

Instrução e Recreio 1º de Maio

Alfarelense em Vila Nova de

Anços; dia 19 às 21h30 - "Os

vizinhos do rés-do-chão" pela

Troupe Recreativa Brenhense

em Arzila; dia 20 às 17h -

Amor fatal", "A burra D.

Apolinária" e "A loja do Sr.

Francisco" pelo Grupo Cénico

de Ourentã em Vinha de

Rainha; dia 27 às 16h - "Farsa

de Inês Pereira" pelo grupo

Trai-la-Ró na Fundação ADFP

de Miranda do Corvo.

Etnografia:

Dia 26 às 10h - 16ª

reconstituição das "Maias,

doces e cantares" no Arco de

Almedina em Coimbra.

Sinfonia Italiana na UN

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Page 76: Tempo livre Maio 2012

ASA

VIDA ROUBADA

Jaycee Dugard

"No verão de

1991 eu era

uma criança

normal. Num

segundo, tudo

mudou.

Durante 18 anos fui

prisioneira. Fui mãe. Fui

escrava… Sobrevivi. Esta é a

minha história". Um dos

raptos mais longos da

história!

BERTAND EDITORA

AS FERAS DE JAMRACH

Carol Birch

Jaffy é

arrancado das

garras de um

tigre por

Jamrach, um

explorador de

criaturas estranhas, de quem

fica amigo. Ambos

embarcam numa missão

para capturar um certo

dragão marinho. Só que uma

catástrofe transforma a

aventura em história de

sobrevivência.

A IMPERFEIÇÃO DO

PRESÉPIO

António Manuel Marques

A história do

país no século

XX contada

através da

vida de uma

família rural

que migra para Lisboa,

revelando as dificuldades e

os laços estabelecidos nos

diferentes domínios.

CASA DAS LETRAS

INGREDIENTE SECRETO 2

Henrique Sá Pessoa

Receitas e sugestões das

mais requintadas às

económicas,

partilhadas

por um dos

mais

prestigiados

Chefs de

cozinha do país. Uma

aventura de aromas para

vencer a rotina e dar asas à

imaginação.

CONTRAPONTO

AS COISAS QUE TE CAEM

DOS OLHOS

Gabriele Picco

Ennio é um jovem tímido e

sonhador e, para fugir ao

passado,

parte para

Nova Iorque.

Certo dia

encontra o

diário de

uma

japonesa que o surpreende

com os seus fabulosos

desenhos. Empenhado em

devolver o diário à dona,

enceta um períplo que cruza

personagens tão excêntricas

quanto cativantes.

EDIÇÃO DE AUTOR

PORTUGAL NAÇÃO

PEREGRINA

Memórias de Moçambique

Carlos Figueiredo Lopes

Um livro de memórias sobre

Moçambique, local onde o

autor colaborou ativamente,

apesar dos riscos de guerra,

na "batalha da educação".

EDIÇÕES COLIBRI

DA RIVIERA PORTUGUESA

À COSTA DO SOL

João Miguel Henriques

A história de Cascais entre

1850 e 1930 e a afirmação da

estância de praia. O

enquadramento privilegiado

da Costa do

Estoril atraiu

elites e realeza,

graças ao sol,

hotéis de luxo,

casino e ao

Sud Express (em Sta

Apolónia).

O NASCIMENTO DA

MARGEM SUL

Francisco José dos Santos

Mendes

Uma análise à fundação de

paróquias, concelhos e

comendas da margem sul do

Tejo, atual área da diocese de

Setúbal, no período de 1147

a 1385.

OS MUSEUS E O

PATRIMÓNIO CULTURAL

IMATERIAL

Ana Carvalho

Uma reflexão sobre os

instrumentos que os museus

dispõem para dar visibilidade

ao seu património, que

adverte, também, para a

preservação do património

imaterial.

EDITORIAL PRESENÇA

A BATALHA DO

APOCALIPSE

Da Queda dos Anjos ao

Crepúsculo do Mundo

Eduardo Spohr

Javé adormece num sono

milenar enquanto o paraíso

celeste sofre

terríveis

insurreições.

No momento

do

Apocalipse,

Absalon é desafiado pelo

anjo mau. Uma viagem pela

história da humanidade

repleta de suspense.

O ÚLTIMO TEMPLÁRIO

Raymond Khoury

Dois acontecimentos

separados no tempo

escondem

um mistério

comum, num

thriller

histórico e

religioso que

entretece com

magistralidade as lendas do

universo dos Templários.

O PODER DE SEIS

Pittacus Lore

Os seis Garde sobreviventes

da destruição do planeta

Lorien irão misturar-se com

os humanos,

só que os olhos

dos

Mogadorianos

estão por toda

a parte e escapar-lhes parece

ser missão impossível. Terá a

número Seis força para

proteger o grupo?

LIVROS D'HOJE

OS SEGREDOS DAS

PESSOAS QUE NUNCA

FICAM DOENTES

Gene Stone

Segredos de 25 pessoas com

uma excelente saúde.

Conheça os casos reais,

hábitos e as pesquisas que

ClubeTempoLivre > Novos livros

76 TempoLivre | MAIO 2012

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Page 77: Tempo livre Maio 2012

atestam a sua veracidade na

preservação da saúde.

O MESTRE DO AMOR

Augusto Cury

O autor analisa

a mensagem de

Jesus antes da

sua morte e

revela o quanto

as atitudes podem ser

superficiais e egoístas. Uma

história de amor: amor pela

vida e pela humanidade.

LUA DE PAPEL

CABO VERDE

Tânia Sarmento e Helena

Ramos

Um guia sobre Cabo Verde

que percorre

as dez ilhas

do

arquipélago,

revelando o

que de melhor

existe a nível de hotéis,

praias, gastronomia e

património histórico e

cultural.

DOMINE O SEU

METABOLISMO

Jillian Michaels

Se quiser perder peso, ter

pele luminosa e barriga lisa

saiba que o segredo está

nas suas hormonas.

Remova as toxinas que

provocam descontrolo

hormonal e aprenda a

dominar o

metabolismo

com as

sugestões

alimentares da

guru do

"Biggest Loser".

PACTOR, grupo Lidel

ROTA DO PEREGRINO DE

FÁTIMA

Rota do peregrino

Um guia rigoroso sobre os

principais caminhos

utilizados pelos peregrinos

a Fátima. Inclui mapas,

fotos e informação

detalhada sobre locais onde

pode comer, dormir e visitar

o património histórico-

cultural das rotas

escolhidas.

VOGAIS

FILOSOFIA POLÍTICA PARA

PRINCIPIANTES

David Orrell / Borin Van Loon

De forma

sucinta

apresentam-

se as

principais

ideias e

conceitos dos pensadores

que mais nos influenciaram,

casos de Platão, Aristóteles,

Kant, Marx, Foucault ou

Habermas.

Glória Lambelho

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Como que esquecido do corpo, dorme voluptuosa-mente abandonado à macieza florida das almofadasdo sofá mais distante daquele em que, nos temposlivres, tem andado a transformar numa escultura

modernista, na qual a abundância de cavidades revela umanotória influência de Henry Moore2. Nada lhe perturba a pla-cidez do sono: nem as sirenes das ambulâncias, nem a con-versa pouco discreta dos donos da casa com os visitantes, cujotema principal é ele próprio, evidentemente; nem a voz dePasquale Arnato na área do Toureador, da Carmen, com umcoro capaz de ressuscitar defuntos.

Não gosta de toureiros e tem horror a touradas. A possibili-dade de cair nas garras daqueles bárbaros faz-lhe eriçar cadaum dos pelos da bela mancha castanha que lhe veste o dorso esentir uma profunda empatia com o touro.

Vez alguma uma imagem de tourada se mantém inadverti-damente cinco minutos no ecrã da TV sem que, por mais ocu-pado que esteja, a esculpir o sofá, a fazer companhia aos donosda casa, a fazer jogging pelos corredores ou a repousar, vá mos-trar o seu apoio ao touro ferido, acariciando-o mesmo atravésdo vidro da caixa negra.

Uma réstia de sol coada pelo cortinado inunda-o daquelecalorzinho que tanto aprecia, fá-lo rolar de prazer sobre simesmo, distender os membros e assumir a pose sensual das“Majas” de Goya.

Não querendo dar mostras de subserviência, só à terceirachamada da dona da casa muda de posição, semi-descerrandoos olhos oblíquos, de um profundo azul-cobalto, com que ficaa mirá-la, a uma distância prudente. Sabe-se adoptado, masnem por isso gosta menos deles.

Quando o adoptaram – cabia-lhes nas palmas das mãos –,tinham-lhe posto um nome ridículo, de cantora lírica: Kiri (teKanawa). O dono da casa, porém, que a si próprio se conside-ra um epicurista confesso, na actual acepção do termo, dealguém com um amor imoderado pelo luxo e pelos prazeres damesa (e não só!) e com aquela voluptuosa indolência naturalque ainda o mantém a ele entre as almofadas, reconhece exis-tir entre ambos uma espantosa identidade de caracteres e,

consciente desse facto, muda-lhe oficialmente o nome paraEpicuro. Não é muito eufónico, mas sempre é nome de filóso-fo grego, o que está mais em consonância com a sua ascen-dência divina. Melhor Epicuro do que Sibarita, pensa, apesarde ambos os termos significarem quase o mesmo.

Não obstante, os Sibaritas, habitantes da antiga cidadegrega de Sibari, no Sul de Itália, são de tal forma ricos, pregui-çosos e excessivos na procura do prazer físico que o seu nomese torna sinónimo de “depravado”. Segundo a lenda, um dia,um dos governantes proibiu mesmo que se cavasse na sua pre-sença, já que o simples facto de assistir ao trabalho o deixavafatigado.

Pelo menos, Epicurus tinha criado, em 306 aC, uma escolade filosofia, a que dera o nome de Ho Kepos (O Jardim), e emque, com os seus discípulos, levava uma vida de tranquila sim-plicidade. Embora lhes fosse permitido beber um quarto delitro de vinho por dia, a sua bebida habitual era a água e a ali-mentação consistia em pão de cevada. Durante uma época defome, tinham, inclusive, sobrevivido com uma ração diária dealguns feijões.

(Uma breve náusea mental acomete-o à ideia de um almo-ço de feijão, fígado ou peixe.)

No fundo, a filosofia ética de Epicuro era a procura do pra-zer, mas equacionado com a tranquilidade de espírito e aausência de dor, e não como o seu hospedeiro a compreendia.

É verdade que a admissão de mulheres viera adulterar, maistarde, esta filosofia, reduzindo essa noção de prazer e felicida-de a mera gratificação material e dos sentidos.

Num esforço ditado pelo pavor de se ver abraçado e afaga-do pela visita desconhecida, abandona as almofadas e a sala,ondulando voluptuosamente o dorso como só um gato e a belaMonroe saberiam fazer, e vai repousar na cama do quarto prin-cipal.

Afinal de contas, como diz Jacques Roubaud3, “quando seé gato, é-se gato.” n

1 Prémio Nobel da Poesia, 1971, Chile2 Escultor britânico3 Matemático e escritor francês.

De um gato chamado epicuro[…] Não há unidade /como ele, /não tem a lua nem a flor / tal contextura: / é uma coisa só, / como o Sol ou o topázio, / ea elástica linha do seu contorno / firme e subtil é como /a linha de proa de uma nave. /Os seus olhos amarelos / deixaramuma única / ranhura / para neles lançarem as moedas da noite. […] Pablo Neruda1, “Oda al gato”, in: Navegaciones yRegresos, Ed. Losada, Buenos Aires, 1959. Trad. MAVF

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

MAIO 2012 | TempoLivre 79

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Ocorte de comunicação resultou doexcesso das palavras. Uma banalconversa de fim de tarde, dando-seconta de como se passara o dia nos

respectivos empregos, tornou-se discussãozinhaquando ele gabou a competência da colega quetrabalhava ao seu lado. Ela disse qualquer coisasobre os reconhecidos dotes físicos da senhora einsinuou não ser pela competência que ele aapreciava tanto.

A discussãozinha cresceu para discussão rijaquando ele respondeu que também louvava acolega por ser pessoa educada, ao contrário daestúpida que tinha em casa. Ao que ela reagiuincitando-o a ir chamar estúpida à irmã dele, aca-badinha de chumbar no sexto exame de con-dução.

Incapaz de se conter, ele gritou que à irmã sófaltava jeito para conduzir, de resto deixava-a aum canto em inteligência, cultura, graciosidade,energia e mesmo elegância de pernas.

O que ela menos suportou ouvir foi a descon-sideração às pernas. Sempre as tinha elogiado,centímetro a centímetro, dos pés às virilhas.Aliás, acrescentou, bem ouvia na rua entusiásti-cas saudações aos seus membros inferiores e opróprio chefe lhe dissera que devia andar sem-pre de minissaia.

Alarve é termo demasiado insultuoso paraque ele o pudesse engolir, uivou que todos osconhecidos o consideravam homem de fino tratoe fluência, difícil era manter o nível com genteretorcida, asneirenta, teimosa, pedante, obtusa,bronca e tosca - como era o caso dela.

Fula, a visada ainda procurou resposta equita-tiva a tal enfiada de ofensas, mas nada lhe ocor -rendo de suficientemente feroz, optou pela des-truição à bomba:

- Não falas mais comigo.- Podes estar descansada - garantiu ele.Andaram desencontrados e sem palavras, de

um para outro lado da casa. Dela, nem um "boanoite" quando se retirou para dormir no quartoreservado ao filho ou filha que esperavam vir a

ter, quando Deus quisesse e eles caprichassemnisso. Dele, nem um "até amanhã" quando lhepercebeu o rumo.

Ela não estranhou o colchão do divã, nem elea ausência dela do quarto partilhado desde o mêsanterior à jornada de núpcias. Dormiram bem.

Um problema ocorreu de manhã. Ela levarao despertador comum para o quarto suplente,ele não tomara a previdência para acordar àhora do costume. Bem poderia ela ter a atençãode o desmergulhar do sono mas saiu sem umapalavra e, pela primeira vez, ele chegou tardeao trabalho.

Regressaram ao doce lar quase ao mesmotempo mas não se saudaram nem quiseramsaber como tinha corrido o dia, para ele e paraela.

Já passava um bom bocado da hora habitualdo jantar quando ele foi espreitar à cozinha e viu-a a terminar a refeição dela, retirando-se, desta.Sem um queixume, ele procurou nos tachos epanelas a sua parte, nem migalha. Então, silen-ciosamente, saiu de casa e foi à pizaria confortaro estômago. Quando voltou, já ela se tinha refu-giado no quarto número dois.

Enquanto lavava os dentes, ele pensou que elairia desistir da caturrice, regressando ao quartoque lhe cumpria, decerto pedindo desculpa eenroscando-se nele. Não aconteceu.

Ideia semelhante teve ela no seu retiro, a dife-rença foi que ele a viria tomar ao colo e levá-lapara o devido lugar, entre beijos e pedidos de des-culpa. Também não aconteceu.

Na tarde da véspera, ele pedira à colega que oensinasse a usar o telemóvel como despertador.Mas funcionou meia hora antes do desejado e aochegar à casa de banho ouviu o chuveiro a des-pejar água sobre o corpo dela. Calculou maisvinte minutos para se vestir e maquilhagem,regressou ao quarto e só de lá saiu com o ruído daporta do apartamento a fechar-se.

Correu a duchar-se e a barbear-se mas nemestas ocupações o impediam de pensar. Era sexta-feira e abeiravam-se de dois dias diferentes.

Sem palavras

80 TempoLivre | MAIO 2012

Os contos do

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Page 81: Tempo livre Maio 2012

Sábado e domingo, sem trabalho, permitiammais tempo juntos, pequenos-almoços, almoços,jantares. Decerto ela não pretenderia que elefosse comer fora, sozinho, e devia aproveitar tãoboas oportunidades para pedir desculpa e tudoacabar em bem.

Um engano, qualquer tem. Na verdade,ele não podia adivinhar que ela pro-gramara um fim-de-semana diferen-te. Mal regressou do emprego, pelo

lusco-fusco, arrumou num saco trapos e estojo detualete e saiu sem explicações.

Como ela já vinha manifestando a vontade devisitar os pais, no Alentejo, ele entendeu ser esseo destino. Lamentariam os sogros a ausência dogenro, mas paciência.

Salvo um salto ao supermercado para se abas-tecer de alimentos, ele bocejou o fim-de-semanaem casa. Pelas dez da noite do domingo, agitou-se ao ouvir uma chave rodando na Fechadura.Olhando de soslaio, confirmou que era ela devolta, de certeza agora mais sensata e disposta a

pedir desculpa. Não. Sem uma palavra, ela diri-giu-se para o quarto onde se isolara nas noitesanteriores. Ele resistiu à tentação de ir ao encon-tro dela e pedir explicações. Para mais, ela apare-ceu na sala e sentou-se no sofá preferido, esten-dendo as pernas descobertas pela generosidadeda minissaia. Mas teimosamente calada.

Exasperado, incapaz de suportar mais aagressão dos silêncios dela, ele ergueu-se de rom-pante no intuito de fazer a mala e partir definiti-vamente. Sem um adeus. No ímpeto, encalhouna mesinha da sala e estatelou-se ao comprido.

Ela riu-se. Ainda quis tapar a boca mas nãosusteve o riso que cresceu para gargalhadas. E detanto se rir do percalço dele, disse, rindo-se:

- Desculpa.Ele sorriu enquanto esfregava uma nádega

dorida e pediu:- Ajuda-me.

Ela apressou-se a auxiliá-lo, nesse momentoderam mãos, braços, o abraço.

Nessa noite já se deitaram na mesma cama eadormeceram tarde. n

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Há umas semanas, um encarregado deeducação anónimo conquistou aspáginas dos jornais, quando decidiuerguer a sua voz contra as máculas

cada vez mais extensas no pano do sistema deensino em Portugal. Especificamente, o cidadãocriticou os conteúdos ensinados às nossascrianças e teve eco. Não é normal, num país emque os pais faltam às reuniões nas escolas, os pro-fessores exigem a colaboração dos pais, mas mar-cam encontros com os directores de turma paraas 11h15 dos dias de trabalho, e os ministérios, sejá não querem saber da opinião dos professores,quanto mais dos encarregados de educação. Mas,bem, o senhor insurgiu-se e a comunicação socialfez notícia.

Sem dinheiro para quase nada e com outrasopções estratégicas, o país tem estado a cortar naEducação. Não é arte nova, a dos cortes. Já ogoverno a.T. (antes da Troika) se dedicava aodesinvestimento na área, de forma alguma com-pensado com algumas políticas meritórias comoas novas oportunidades dadas a quem, porquestões económicas ou sociais, na idade própria"não deu para os estudos", ou o incentivomagalhânico à info-alfabetização. Não se podedizer que o governo a.T. se tenha dado muito bemcom os professores, ministra após ministra, queos despedimentos consecutivos de docentes con-tratados a prazo tenham contribuído para a me -lhoria do ensino, enfim, temos hoje a sensaçãogeral de que as coisas não correram nada bem nasescolas, mesmo antes de os bancos virem dizerque andamos há muito tempo a estudar acimadas nossas possibilidades. As coisas entre ogoverno a.T. e a educação não correram lá muitobem...

Bom, se calhar nunca correram. Depois de umsalto colossal na primeira década da democracia,em que a instrução se massificou, o analfabetis-mo praticamente desapareceu (em 1972, era

comum uma vizinha da minha mãe interromper-me as futeboladas de rua para eu lhe ler umacarta do marido que estava na guerra - e era umamulher nova. E eu não vivia numa aldeia alente-jana ou transmontana, vivia na Baixa de Lisboa)e o povo foi chamado às aulas, depois desses pri-meiros anos, o ritmo abrandou e Portugal foi-seaproximando, com o motor sempre em segunda,a ranger, das médias europeias. Depois, quandose pensava que íamos acelerar, travámos e osnúmeros provam que permanecemos, em muitosíndices de formação, abaixo da zona de conforto,como agora se diz.

Portanto, se calhar, o ensino em Portugal temsido golpeado com regularidade pela faca dosorçamentos e não é só agora, com o governo a.T.,ou, de há uns meses a esta parte, com o GT(Governo com Troika), que aumenta o número dealunos nas turmas, corta nos horários, alteracurrículos para dispensar professores e o maisque se há de ver.

É por isso uma exigência que os pais e encar -regados de educação se levantem em defesa dofuturo dos seus educandos e façam ouvir a suavoz junto das autoridades escolares. Não valetudo, meus senhores!

Foi isso o que fez o notável pai de uma meni-na que frequenta um infantário da Ericeira.Queixou-se ao Ministério da educadora da filha,que deturpou a letra da cantiguinha "Atirou como Pau ao Gato", pondo os infantes a cantar "DonaChica assustou-se, batata frita, vivó Benfica", emvez de "com o berro que o gato deu", como cantaa tradição. O Futebol Clube do Porto também semanifestou, em comunicado, contra esta prática"fascista" de lavagem cerebral dos inocentes pos-tos à guarda da educadora benfiquista. A sério. Àhora em que escrevo esta crónica, as associaçõesde defesa dos animais ainda não se tinham pro-nunciado sobre a parte em que o gato leva umapaulada. Tanta desatenção, meu Deus. n

O ensino está frito

Crónica

AntónioCosta Santos

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