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Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos Mundo da Cano e Scratch Magazine
Irene Leite
Mestrado em Multimdia da Universidade do Porto
Orientadora: Professora Doutora Paula Guerra (FLUP)
Coorientador: Professor Doutor Pedro Tavares (FLUP)
Junho de 2017
Irene Leite, 2017
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos Mundo da Cano e Scratch Magazine
Irene Leite
Mestrado em Multimdia da Universidade do Porto
Aprovado em provas pblicas pelo Jri:
Presidente: Professor Doutor Bruno Giesteira (FBAUP)
Vogal Externo: Professor Doutor Fernando Zamitth (FLUP)
Orientador: Professora Doutora Paula Guerra (FLUP)
Resumo
O jornalismo musical em Portugal contemporneo da abertura do pas ao exterior efetivada no
mbito da Primavera Marcelista. Assim, a par de outras manifestaes culturais, artsticas,
musicais e profissionais, decorre da tardia implantao da indstria musical massiva escala
portuguesa. nesta diacronia que vamos explicar e compreender as suas dinmicas de
funcionamento, atores e estratgias de afirmao at contemporaneidade. Assim, a revista
Mundo da Cano surgida em 1969 bem emblemtica da emergncia desta alterao.
Depois, com o boom do rock portugus, em plena dcada de 1980, destacaram-se um conjunto
de publicaes que abordavam a cultura efervescente da cano, do rocknroll e do pop rock
em geral. So exemplos o jornal se7e, o Blitz ou a revista Musica & Som. Depois desta febre,
muitas publicaes dissiparam-se na dcada de 1990. Com o boom da web 2.0, nasceram um
conjunto de cibermeios a divulgar o que de mais recente a cultura musical alternativa
proporciona. Assim, propomos uma abordagem diacrnica da emergncia, consolidao e
pulverizao do jornalismo musical portugus, considerando que este acompanha o prprio
devir da indstria musical e seus eixos de afirmao. Norteiam-nos algumas interrogaes:
Como evoluiu o jornalismo musical em Portugal, tendo em conta as duas publicaes (Mundo
da Cano e Scratch Magazine)? Existe espao para a investigao e o esprito crtico? Trata-se
de uma evoluo na continuidade? Ou o jornalismo de agenda no ambiente 2.0 vence? Atravs
de um dispositivo metodolgico focado na abordagem de dois estudos de caso alargados
(Mundo da Cano e Scratch Magazine), propomos um mix de tcnicas de recolha e tratamento
de dados capaz de dar conta das dinmicas evolutivas e caracterizadoras do jornalismo musical
desde finais dos anos 1960 at atualidade.
Palavras-chave: jornalismo musical, Web 2.0, indstria musical, cenas musicais, processos de
legitimao musical.
Abstract
The musical journalism in Portugal is contemporary of the opening of the country to the outside
realized within the ambit of the Primavera Marcelista. Thus, along with other cultural, artistic,
musical and professional manifestations, it stems from the late implantation of a Portuguese-
scale music industry. It is in this diachrony that we will explain and understand the dynamics of
functioning, actors and strategies of affirmation of musical journalism up to the present time.
Thus, the magazine World of Song [Mundo da Cano] - emerged in 1969 - is very
emblematic of the emergence of this change. Then, with the Portuguese rock boom, in the mid-
1980s, a group of publications focused on the effervescent culture of song, rock'n'roll and pop
rock in general. Examples are the se7e, the Blitz or the Music & Sound [Musica & Som]
magazines. After this fever many publications dissipated in the 1990s. With the web 2.0
boom, a group of cybermids was born to spread what the latest alternative music culture
provides. Thus, we propose a diachronic approach to the emergence, consolidation and
pulverization of Portuguese musical journalism, considering that it accompanies the very turn of
the music industry and its strategies of affirmation. We were asked some questions: How did
musical journalism evolve in Portugal, taking into account the two publications (Mundo da
Cano and Scratch Magazine)? Is there room for research and critical thinking? Evolution in
continuity? Or does calendar journalism in the 2.0 environment win? Through a methodological
device focused on the approach of two broad case studies (World of Song and Scratch
Magazine), we propose a mix of data collection and processing techniques capable of
accounting for the evolutionary and characterizing dynamics of musical journalism since the
end of the years 1960 to the present.
Key words: musical journalism, Web 2.0, musical industry, musical scenes, processes of
musical legitimation.
Agradecimentos
Aos meus orientadores, Professora Doutora Paula Guerra e Professor Doutor Pedro Tavares,
agradeo profundamente pelo incansvel apoio e estmulo
Ao meu companheiro, Vtor Costa, o meu muito obrigada pelo amor e dedicao
Ao meu amigo, Ricardo Costa, agradeo o apoio na reviso ortogrfica e estmulo ao longo
deste ano.
minha amiga Teresa Sousa, agradeo pelo apoio e conselhos.
minha me, um obrigado muito especial por nunca ter abandonado o apoio deste projeto
A todos os meus companheiros do Som Letra/Scratch Magazine, gratulo por nunca terem
deixado de acreditar em mim.
O Sucesso ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo. Winston Churchill
O extremismo na arte o corolrio da tecnologia artstica, e, por isso, mais do que uma
expresso de atitude rebelde. Frank Zappa
Nothing is impossible; the word itself says 'I'm possible'! Audrey Hepburn
Fizemos histria e a culpa da msica. Antnio Jorge (radialista e cronista na Scratch Magazine)
ndice
1. Introduo ................................................................................................................. 1
1.1 - Motivao.......................................................................................................... 2
1.2 - Problemas, Hipteses e Objectivos de Investigao... 2
1.3 - Metodologia de Investigao.. 3
1.4 - Estrutura da Dissertao. 3
2 - Estado da Arte 5
2.1 - Introduo. 5
2.2 - A musica popular na esfera pblica...... 7
2.3 - O Jornalismo Musical e a Indstria discogrfica. 9
2.4 - Jornalismo Digital no plano Internacional.... 10
2.5 - Jornalismo cultural em Portugal: do papel ciber.. 11
3 - Os casos de estudo....... 15
3.1 - Mundo da Cano : O contexto..... 15
3.2 - O papel do facebook na solidificao da marca Som Letra.... 24
3.3 - Algumas consideraes. 39
3.4 - A anlise de contedo 43
4 - Media digitais e modelos de negcio: o dilema.. 61
Concluso ............................................................. 69
Referncias .......................................................... 71
Anexos .................................................................. 74
Lista de Figuras
Ilustrao 1 -Cronograma...................................................................................................... 2
Ilustrao 2-A revista Mundo da Cano ............................................................................ 15
Ilustrao 3-A Scratch Magazine ........................................................................................ 18
Ilustrao 4-O site da Scratch Magazine (www.scratchmag.org) ....................................... 19
Ilustrao 5-O primeiro website do Som Letra, idealizado pelo designer Diogo Machado
..................................................................................................................................................... 21
Ilustrao 6-As emisses preparadas em parceria com os leitores ...................................... 23
Ilustrao 7- Um media em construo com os leitores ..................................................... 24
Ilustrao 8- Estatstica de post views na pgina do facebool desde novembro de 2010 ... 25
Ilustrao 9-O Primeiro logtipo ........................................................................................ 26
Ilustrao 10-O segundo logtipo, ainda com a clave do sol .............................................. 26
Ilustrao 11- Um logtipo tipogrfico, desenvolvido por Joana Quintela ........................ 26
Ilustrao 12-Terceiro e definitivo logtipo ....................................................................... 27
Ilustrao 13- Inicialmente, o endereo do Som Letra era um blogue, muito pobre em
design, mas que foi evoluindo paulatinamente ........................................................................... 27
Ilustrao 14- O segundo blogue e casa do Som Letra ................................................. 27
Ilustrao 15- Em 2013 foi movido todo o arquivo para esta plataforma wordpress,
desenvolvendo futuramente o design casa vez mais simples e direto ......................................... 27
Ilustrao 16- O primeiro website da Som FM ................................................................... 28
Ilustrao 17 Publicidade Som FM .................................................................................. 28
Ilustrao 18- Logtipo desenvolvido por Irene Leite ........................................................ 30
Ilustrao 19- Logtipo do Som Cvico desenvolvido por Irene Leite ............................... 30
Ilustrao 20- Logtipo da associao IncluSom ................................................................ 33
Ilustrao 21-Panfleto do evento planeado em Dezembro de 2013, que acabou por no se
realizar. Mas foi um primeiro esforo. ........................................................................................ 36
Ilustrao 22- Certificado de participao no concurso Acredita Portugal ......................... 37
Ilustrao 23- Os quizzes..................................................................................................... 38
Ilustrao 24- Nocturnal Dust Productions (parceria) ....................................................... 38
Ilustrao 25- A edio digital do Som Letra ................................................................... 39
Ilustrao 26-Logotipo desenvolvido por Irene Leite ......................................................... 39
Ilustrao 27-Panfleto da Scratch Magazine ....................................................................... 40
Ilustrao 28- Panfleto da festa dos 6 anos da Scratch Magazine ....................................... 41
Ilustrao 29- Panfleto da festa dos 7 anos da Scratch Magazine ....................................... 42
Ilustrao 30-Panfleto do programa Subrbio na AVFM................................................ 42
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x
Ilustrao 31- Anlise do Ano I _SM e MC (entrevistas) ................................................. 116
Ilustrao 32-Anlise do Ano I SM e MC (criticas concertos) ........................................ 117
Ilustrao 33- As crnicas do MC e SM Ano I ................................................................. 120
Ilustrao 34- Reportagens MC e SM Ano I ..................................................................... 120
Ilustrao 35-Crticas a lbuns Ano II SM e MC .............................................................. 121
Ilustrao 36- Ano II SM e MC (crtica a concertos) ........................................................ 122
Ilustrao 37- Crnicas Ano II SM e MC ......................................................................... 126
Ilustrao 38-Reportagens Ano II ..................................................................................... 127
Ilustrao 39- Entrevistas Ano II SM e MC...................................................................... 128
file:///C:/Users/W7/Documents/Irene%20+%20Vitor/Tese%20Correes/mm-dissertacao-modelo-Irene%20Leite_27%2007%202017%202.docx%23_Toc488959061file:///C:/Users/W7/Documents/Irene%20+%20Vitor/Tese%20Correes/mm-dissertacao-modelo-Irene%20Leite_27%2007%202017%202.docx%23_Toc488959067
xi
Lista de Tabelas
Tabela 1-Jornalismo de hard news e de msica comparados por Forde (citado por Lima,
2011:18) ........................................................................................................................................ 8
Tabela 2- A programao provisria da Som FM ............................................................... 29
Tabela 3 Instrumentos de ao da IncluSom.................................................................... 33
Tabela 4- Crnicas Ano I SM e MC ................................................................................... 46
Tabela 5-Reportagens Ano I SM e MC .............................................................................. 47
Tabela 6-Crticas a Concertos Ano I SM e MC .................................................................. 48
Tabela 7-Entrevistas Ano I SM e MC ................................................................................. 49
file:///C:/Users/W7/Documents/Irene%20+%20Vitor/Tese%20Correes/mm-dissertacao-modelo-Irene%20Leite_27%2007%202017%202.docx%23_Toc488959070
ndice de Grficos
Grfico 1-Anlise das capas do Mundo da Cano ............................................................ 50
Grfico 2-Comparao Quantitativa das Crticas a lbuns MC e Som Letra Ano I ......... 51
Grfico 3-Comparao Quantitativa das Crticas a lbuns MC e Som Letra Ano II-
..................................................................................................................................................... 52
Grfico 4--Comparao Quantitativa das crticas a concertos MC e Som Letra Ano I ... 53
Grfico 5-Comparao Quantitativa das Crticas a concertos MC e Som Letra Ano II .. 54
Grfico 6--Comparao Quantitativa das Crnicas MC e Som Letra Ano II .................. 55
Grfico 7-Comparao Quantitativa das Crnicas MC e Som Letra Ano II .................... 56
Grfico 8-Comparao Quantitativa das entrevistas MC e Som letra Ano I ........... 57
Grfico 9-Comparao Quantitativa das entrevistas MC e Som Letra Ano II ................. 58
Grfico 10-Comparao Quantitativa das Reportagens MC e Som Letra Ano I .... 59
Grfico 11-Comparao Quantitativa das Reportagens MC e Som Letra Ano II ............ 60
file:///C:/Users/W7/Documents/Irene%20+%20Vitor/Tese%20Correes/mm-dissertacao-modelo-Irene%20Leite_27%2007%202017%202.docx%23_Toc488959076
xiv
Abreviaturas e Smbolos
MC Mundo da Cano
SM Scratch Magazine
www World Wide Web
1
1. Introduo
O jornalismo musical em Portugal enferma pela quase ausncia de estudos aprofundados.
Cabe presente investigao colmatar esta situao na vertente do jornalismo cultural. J so
quase 50 anos de histria, inaugurados em 1969 pela revista Mundo da Cano. Avelino
Tavares, da revista Mundo da Cano, em conversa com a Scratch Magazine referiu mesmo
que o jornalismo musical era o parente pobre do jornalismo cultural1. De facto, ao mencionar
a histria do jornalismo musical em Portugal, denota-se que h um considervel nmero de
publicaes musicais, caracterizadas, contudo, por um carter marcadamente efmero e
enquadradas maioritariamente num perodo especfico (Guerra, 2010 e 2015): os anos 80 e o
boom do rock portugus. So desta fase exemplo publicaes como o jornal se7e, Msica &
Som, Musicalissimo ou o avant gard Rock Week, este ltimo j em finais da dcada de 80
(1988).
No entanto, Nunes refere que podemos falar de um jornalismo pop rock em Portugal a
partir da primeira publicao musical, em 1969, da revista Mundo da Cano, lanada em plena
Primavera Marcelista. A afirmao de um jornalismo musical centrado no pop rock tem a sua
gnese em finais da dcada de 60 e conhece trs fases, que embora no sendo completamente
distintas, se podem diferenciar por alguns critrios (contedos, linha editorial, circulao e
organizao profissional) (Nunes, 2009:1694). Sucintamente a primeira fase marcada pelo
nascimento da pioneira publicao Mundo da Cano. A cano diferente a que se refere
Avelino Tavares, responsvel at aos dias de hoje pela marca. A segunda etapa, comea na
segunda fase da dcada de 70, com o aparecimento de revistas especializadas, sobretudo no
gnero pop/rock (Musicalissimo, Musica & Som) financeiramente sustentveis por grupos
empresariais e que tem na fundao do semanrio Blitz em 1984 um momento chave na sua
evoluo (Nunes, 2009:1695). J a terceira fase comea na primeira metade da dcada de 90
com a profissionalizao do Blitz e no surgimento da imprensa generalista, de suplementos ora
especializados em msica ora de artes e espetculos, onde a msica pop rock assume uma
importncia fundamental em termos de cobertura. (Nunes:1695). Por outro lado, a internet com
o seu largo espectro de alcane tem permitido o nascimento de um conjunto de publicaes ,
no necessariamente piratas. a Democracia em Rede, onde publicaes como a Scratch
Magazine (www.scratchmag.org) convivem pacificamente entre si.
1 conversa com .Avelino Tavares (Mundo da cano)
https://scratchmag.org/2016/10/13/a-conversa-com-avelino-tavares-mundo-da-cancao/, in
Scratch Magazine, 2015.
https://scratchmag.org/2016/10/13/a-conversa-com-avelino-tavares-mundo-da-cancao/
2
1.1 Motivao
A autora da presente investigao desenvolveu desde Setembro de 2009 o prottipo de um
media digital. Inicialmente intitulado Som Letra foi sendo desenvolvido ao longo dos anos
seguintes at aos dias de hoje. Torna-se portanto sistematizar todo o processo de
desenvolvimento do projeto at sua formalizao junto da ERC e consequente mudana de
marca.
Ao longo dos meses seguintes foi feita uma reviso da literatura, cruzando todos os dados
e tornando o estudo ecltico nas ideias a sistematizar indo de encontro a uma motivao pessoal
e profissional condensada no amor pela msica traduzidos nos eptomes que abrem esta
Dissertao. Sistematizamos a reunio do arquivo dos primeiros dois anos da Scratch Magazine.
Ilustrao 1 -Cronograma
As revistas Mundo da Cano tambm foram adquiridas e analisadas. A partir de fevereiro
do corrente ano, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas a importantes atores do
jornalismo musical em Portugal, pretendendo abrir um caminho para a reflexo.
1.2 Problemas, Hipteses e Objetivos de Investigao
A presente investigao tem como objetivo central analisar a evoluo do jornalismo
musical em Portugal tendo em conta as duas publicaes em anlise (Mundo da Cano e
Scratch Magazine) considerando a prpria scio-histria da sociedade portuguesa
contempornea e a consequente implantao da indstria musical e sua consolidao. De
acrescentar que tambm tencionamos avaliar a importncia das duas publicaes estudos de
caso no tocante afirmao de uma rea de legitimao crtica e de canonizao do mundo do
pop rock em geral e das criaes musicais independentes em particular em torno dos seguintes
eixos hipotticos.
Existe uma tendncia de notria fragilidade no jornalismo musical portugus decorrente da
prpria incipincia da indstria musical portuguesa.
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
3
O espao de afirmao das publicaes jornalsticas de pendor mais alternativo mais
elevado no momento presente, dados os recursos e meios digitais que opera.
A perspetiva de independncia na abordagem e canonizao musical materializada de
forma mais intensa no maior esprito crtico dos legacy papers do que nos nativos digitais.
A crescente proliferao de notcias baseada no crescimento desmesurado da sociedade da
informao ocasiona uma banalizao dos contedos e consequentemente fragmenta e esvazia o
papel do jornalista musical como cerne de tendncias, de gostos, de cnones e de valores.
1.3 Metodologia de Investigao
A metodologia adotada no presente estudo tem como base o que foi levado a cabo no
mbito de tratamento de dados no estudo, "O jornalismo Especializado em Msica Extrema em
Portugal-revistas e fanzines" (Lima, 2011). Tanto o Mundo da Cano como a Scratch
Magazine sero analisados primeiramente em funo da estrutura das publicaes, contedos e
processo do trabalho. Foi tambm efetuada uma anlise de contedo quantitativa. em termos de
estrutura de contedos e destaques de primeira pgina. Para alm de entrevistas, crticas de
lbuns e crtica de concertos. Segundo Quivy e Campenhoudt (citados por Lima: 2011:48) a
anlise quantitativa consiste na..."frequncia do aparecimento de certas caractersticas do
contedo ou da correlao entre elas". Sero analisados os Anos I e II das publicaes.
Existe tambm a aposta nas entrevistas semi-estruturadas, de carter exploratrio. Segundo
Quivy e Campenhoudt (2011:48) as entrevistas "tm como funo principal revelar
determinados aspetos do fenmeno estudado em que o investigador no tira espontaneamente
pensado por si mesmo, assim completar as pistas de trabalho sugeridas pelas suas leituras". A
combinao de entrevistas exploratrias e semi-estruturadas permite, tal como refere Lima
(2011), aliar a explorao inicial do tpico a uma abordagem qualitativa, de forma a aprofund-
lo e consolid-lo.
1.4 Estrutura da Dissertao
Para alm da introduo, esta dissertao contm mais dois captulos, depois de uma
abordagem preliminar ao tema central da tese, aliando importantes factores como a motivao, o
cronograma de atividades ou as hipteses de investigao. O captulo 2 refere-se reviso da
literatura, onde se sistematizam as trs primeiras fases do jornalismo musical em Portugal.
Outros importantes tpicos so abordados como a msica popular na esfera pblica, ou o
jornalismo musical e a indstria discogrfica.
4
No captulo 3 so apresentados os casos de estudo (Mundo da Cano e Scratch
Magazine). Aqui reflectimos sobre o contexto do lanamento das publicaes, a sua estrutura,
periodicidade e uma anlise de contedo das mesmas com reforo atravs de entrevistas
exploratrias e semi-estruturadas. Posteriormente so apresentadas as concluses do estudo,
bem como as referncias bibliogrficas e anexos.
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
5
2. Estado da Arte
2.1 Introduo
O jornalismo de artes engloba distintas vertentes, desde a msica literatura, passando pelo
cinema e teatro. Assim sendo, o jornalismo de artes, num contexto de Imprensa generalista,
constitui um segmento ele prprio segmentado. (Lima, 2011: 16). Poucos estudos acadmicos
foram produzidos acerca do jornalismo musical em Portugal, o que pode ser atribudo a trs
fatores de acordo com Pedro Nunes (2004): a invisibilidade, pois os estudos baseiam-se
sobretudo em etnomusicologia; as caractersticas do mercado perifrico portugus em termos de
indstria global da msica comparativamente por exemplo ao Reino Unido. (citado por Lima,
2011: 19).
Forde (2004) considera que os jornalistas de msica so jornalistas diferentes, devendo ser
considerados como caso nico. Forde salienta a relevncia de compreender a estrutura
organizacional e financeira em que se inserem as revistas de msica (citado por Lima, 2011:
16). A afirmao de um jornalismo musical centrado no pop/rock tem a sua gnese em finais
dos anos 60 e conhece trs fases que, embora no sendo completamente distintas, se podem
diferenciar por alguns critrios (contedos, linha editorial, circulao e organizao
profissional). (Nunes, 2004: 62-63).
A primeira fase:
"Uma primeira fase que se inicia em finais da dcada de 60 com o surgimento da primeira
publicao especializada na msica popular, a revista Mundo da Cano." (Nunes, 2004: 78-
86). Trata-se de um perodo ainda embrionrio da escrita jornalstica sobre pop/rock em
Portugal. Na revista Mundo da Cano (1969-1985) e no jornal A Memria do Elefante (1971-
1974) publicam-se os primeiros textos sobre o gnero.
A Memria do Elefante excelente. Acho que foi uma publicao especial.
Como sabe, foi publicado no Porto. Mas acabou por chegar a Lisboa pois houve
alguma gente em Lisboa que se interessou pelo fenmeno. Porque naquela poca era
uma manifestao, aquilo a que se chamava "Contracultura". Foi um fenmeno que
existiu com o Maio de 68 em Frana. E, por outro lado, levava muito em conta
teorias filosficas e at polticas em alguns casos. (Nunes, David:2017).
No entanto, segundo Pedro Nunes (2009), sobretudo no Mundo da Cano o pop rock
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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secundrio em relao msica portuguesa, sobretudo a nova msica portuguesa dos cantores
de protesto. Para agravar, a circulao da revista muito condicionada temporal e
espacialmente, quer pelo poder poltico da altura, quer pela escassez de recursos para a sua
distribuio. Surge tambm neste perodo o jornal quinzenal Disco, Msica e Moda e o
suplemento Top Ten do Dirio Popular.
A segunda fase:
"Uma segunda fase, que comea na segunda metade da dcada de 70, com o aparecimento de
revistas especializadas, sobretudo no gnero pop rock (Musicalssimo e Msica & Som)
financeiramente sustentveis por grupos empresariais e que tem na fundao do Semanrio Blitz
em 1984 um momento chave na sua evoluo". (Nunes, 2004: 62-63).
A Msica & Som comeou entre 1975, 1976. Com aquele formato inicial ainda
durou uns 10 anos. Depois alargou para um formato que abarcava o video. Depois
evoluiu para video, Musica e Som. A partir da j no estava to relacionado com a
publicao.(Nunes, David: 2017)
A Msica & Som nasceu, basicamente e acima de tudo, pela iniciativa de uma
pessoa, o Artur Duarte Ramos, que foi o proprietrio da Msica & Som e que antes
tinha estado numa outra revista pequenina de bolso que existiu e que se chamava
Telesemana. A Telesemana foi dirigida durante muitos anos pelo Pedro Rolo
Duarte. Uma pequena revista onde apareciam vrias coisas ligadas msica. O
Artur Duarte Ramos tinha um interesse especial pela histria da msica, teve uma
conversa com meia dzia de pessoas a propsito do projeto da Msica & Som . Hoje
em dia sempre engraado rever artigos e reportagens que l foram publicados e
que de alguma maneira so o espelho daquela poca. Eu posso recordar, entre as
pessoas que trabalharam l: Jaime Fernandes, que tambm era meu colega na rdio e
Bernardo Brito e Cunha que um jornalista que atravessa de forma transversal
vrias publicaes. Esse que verdadeiramente um jornalista musical. Estava l
muita gente com experincia de rdio, o Antnio Srgio, por exemplo que tambm
acabou por entrar para a Msica & Som. O Joo Menezes Ferreira que fazia um
programa comigo na Comercial a determinada altura que se chamava a Idade do
Rock e fazia de meu parceiro na anlise de lbuns. O David Ferreira tambm
passou por l, que me lembre. Foi uma escola para grandes profissionais. (Ibidem)
Como refere Pedro Nunes: Com o surgimento do jornal (mais tarde revista) Musicalssimo
(1978-1982) e da revista Msica & Som (1977-1989), ao qual devemos juntar no mesmo
perodo, a fundao do semanrio de espectculos, o Se7e (1977-1995), o jornalismo centrado
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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no pop-rock adquire uma visibilidade regular no espao jornalstico Portugus. Esta ser a
segunda fase do jornalismo pop-rock. O suporte financeiro maior do que em tentativas
anteriores, o que permite que estas publicaes tenham uma boa tiragem e circulao, e
subsistam por mais do que um par de anos. Dentro desta fase, a fundao do Blitz (1984-) um
momento-chave, dado tratar-se do primeiro e nico semanrio especializado em msica, sendo
tambm a publicao mais bem-sucedida dentro do gnero. nesta fase que se destaca uma
gerao de jornalistas e crticos que se dedicam escrita sobre o pop-rock. o caso de Lus
Maio, Joo Lisboa, Ricardo Sal, Rui Monteiro, Antnio Pires e Miguel Esteves Cardoso, entre
outros (Nunes, 2004: 78-86).
Terceira fase:
"A terceira fase marcada, por um lado, pela profissionalizao dos quadros do Blitz em
1992, que acompanha a sua aquisio por um grupo meditico (Impresa). Por outro, pela
presena dos suplementos de msica e de artes e espectculos onde a msica popular assume
sempre grande destaque na linha editorial. o caso dos suplementos Pop/Rock (1990-1997) e
Sons (1997-2000) ambos do dirio Pblico e do DN+ (1998-) do Dirio de Notcias. Com estas
transformaes, o jornalismo pop-rock ganha maior visibilidade na imprensa, ao mesmo tempo
que a sua integrao numa lgica de mercado traz algumas alteraes no estilo e na definio de
uma linha editorial. A esta fase tambm corresponde a afirmao de uma nova gerao de
jornalistas e crticos, embora a anterior se mantenha no activo. Dela fazem parte, entre outros,
Nuno Galopim, Miguel Francisco Cadete, Fernando Magalhes (j falecido) e Vtor
Belanciano". (Nunes, 2004: 78-86).
Torna-se importante reiterar os suplementos que abordam msica, como o caso do Y
(Pblico), DN+ (Dirio de Noticias). Segundo Nunes (citado por Lima, 2011: 20) ganharam
peso falta de competitividade do mercado, constituindo um instrumento decisivo na
manuteno da cultura da leitura sobre a msica popular. Conseguiram recrutar alguns dos
jornalistas mais reconhecidos da rea, principalmente do Blitz, e alargaram o campo do interesse
do pblico ao inserirem a cobertura e crtica de msica popular na imprensa generalista. Ainda
segundo Nunes (citado por Lima, 2011: 21), o jornalismo musical portugus evoluiu durante os
ltimos 20 anos, de uma espcie de jornalismo militante ideolgico para um jornalismo mais
em linha com a noo de guia de consumo, ou seja, passou-se de um jornalismo formativo,
educativo do cidado, para um jornalismo prestador de servio, guia ao cidado.
2.2. A msica popular na esfera pblica
A msica popular apresenta dificuldades a ser debatida no espao pblico. Para alm de
que a msica popular pode ter um sentido poltico (Nunes, 2004:17). Prova dessa afirmao
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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est na importncia que a msica popular teve nos movimentos contra-cultura como, o
movimento de plenos direitos, o movimento contra a guerra [do Vietname] que emergiram
precisamente dos festivais de rock, mais notavelmente no Woodstock e Isle of Wight. (Nunes,
2004:17,18)
O jornalismo musical em Portugal opera, por sua vez, numa escala decisivamente mais
pequena.
Este melhor descrito numa dimenso cultural do que no campo especfico do jornalismo.
Apesar destas limitaes, o jornalismo de msica popular tem a sua prpria histria e
importncia no contexto da pequena escala do jornalismo musical portugus. (Nunes,
2004:103).
A sria cobertura da msica popular acontece unicamente no nico ttulo portugus
especializado (Blitz) e tambm nos suplementos dos jornais generalistas. (Nunes, 2004:104)
Tabela 1-Jornalismo de hard news e de msica comparados por Forde (citado por
Lima, 2011:18)
Jornaiismo de Hard News Jornalismo de Msica
Requer qualificao profissional reconhecida No requer formao jornalstica formal,
exceto no caso de editores de notcias.
Editores consideram a formao jornalstica
formal um obstculo
Lida sobretudo com a anlise de informao
fatual
Lida sobretudo com interpretao textual
nfase da objetividade nfase na subjetividade
Direccionado para a informao Direccionado para o produto
Descritivo Avaliativo
Reprteres Crticos
Percurso profissional de longo termo Percurso profissional de curto termo, levando
mudana de colaboradores
Nvel elevado de estabilidade profissional Nvel elevado de instabilidade profissional
Vida profissional e social tendem a ser
separadas
Vida profissional e social inseparveis
Leitura demogrfica abrangente Leitura demogrfica baseada em nichos
Leitores tendem a ser leitores para a vida Leitores tendem a permanecer com o ttulo
por um perodo finito de tempo, determinado
pela idade
Tpicos poli-temticos e de longa cobertura Tpicos mono-temticos e de estreita
cobertura
A idade no representa necessariamente um
factor-chave para assegurar a proximidade
cultural com os leitores
A idade representa um fator chave para
assegurar proximidade cultural com os
leitores
No escrevem necessariamente para os
leitores ideais dos ttulos
Escrevem para os leitores ideais dos ttulos
Trabalham para uma nica publicao Tendem a trabalhar para revistas que so parte
de ttulos mais abrangentes
Podem trabalhar para vrios ttulos (por vezes No podem, na generalidade trabalhar para
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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rivais) ttulos/editores rivais
Relativa estabilidade demogrfica dos leitores
desejados
Reviso demogrfica contnua de leitores
desejados
Distncia profissional da maioria das fontes e
temas vistos como essenciais para o seu
trabalho
Falta de distncia profissional das fontes e
temas vistos como essenciais para o seu
trabalho
2.3. O Jornalismo Musical e a Indstria discogrfica
Segundo Nunes (2009:1696), no que concerne indstria musical, o "jornalismo musical surge
numa posio duplamente ambivalente".
"Por um lado, os jornalistas dentro da sua esfera profissional esto numa posio de
dependncia: em relao s editoras, que lhes permitem ou facilitam o acesso s fontes de
informao (artistas, discos, concertos); e em relao aos leitores que asseguram as vendas da
publicao. Por outro lado, os jornalistas pela sua posio enquanto mediadores/produtores
culturais, tm que articular essa tenso quando escrevem sobre msica, gerindo da melhor forma
a relao entre a sua dimenso comercial e artstica. margem da sua relao com a indstria
musical, o jornalista pertence em outra instncia a outra indstria - a imprensa - e a uma
organizao profissional-a publicao para a qual escreve.
Segundo Negus (citado por Nunes, 2009:1698)
" semelhana do que sucede com o staff da promoo, o promotor da imprensa tenta
sensibilizar uma comunidade de jornalistas para um artista ou evento. Quando o produto
artistico est pronto para ser lanado no mercado, o promotor de imprensa j saber quem gosta
de determinado artista e quem poder escrever a crtica ou a pea mais interessante e influente".
Esta relao de dependncia tambm pode ser vista pela importncia de publicidade no
jornalismo musical.
De facto, Nunes (2009:1699) refere que a publicidade assegura a viabilidade financeira da
publicao, ao mesmo tempo que contribui para "segurar"determinada fatia de pblico. Neste
sentido, as publicaes sobre msica tornaram-se em guias de consumo e de estilos de vida.
A relao entre publicidade e crtica jornalistica assim muito complexa.
Certos autores propem uma viso mais prxima da sociologia do gosto proposta por Bourdieu
(1984), o que faz com que o critico de msica atue enquanto gatekeeper do (bom) gosto.
Tal ideia vai de encontro s ideias veiculadas por Harley e Botsman, ou Frith:
A funo do jornalismo musical no residir tanto na prestao de um servio ao consumidor
de msica, nem no facto de ele tornar a msica popular intelgivel para o pblico, mas na
criao de uma comunidade seletiva e conhecedora.
A crtica musical, aponta Nunes, (2009:1700) selecciona ao mesmo tempo que informa o seu
pblico.
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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Segundo Shuker, os crticos de msica constroem a sua verso da diviso entre cultura elevada e
cultura baixa, regra geral, atravs de integridade artstica, autenticidade e da natureza comercial
da msica.
2.4. Jornalismo digital no plano internacional
O jornalismo nas redes digitais e especificamente na internet um fenmeno
relativamente recente, que se disseminou aproximadamente em 1994 em
paralelo com a World Wide Web. O estudo deste fenmeno comunicativo
comeou simultaneamente em diversos pases.
Tal situao foi ajudada pelas novas possibilidades de comunicao entre
acadmicos -email ou world wide web foram e so uma das mais usadas
ferramentas da comunidade acadmica.
O alcance destas novas formas de comunicao global ajudou a elevar a
ateno de grupos de pesquisa, tornando possvel solidificar a rede de
contactos. (Palacios, Noci, 2011:11)
Em Janeiro de 1994 constava na web o primeiro exemplar digital do Palo Alto Weekly,
nos EUA. Uma publicao que ficou na histria do ciberjornalismo por ter sido o
primeiro media escrito a ser publicado de maneira regular na web. (Bastos, 2011:153).
Nos EUA, neste perodo, investiu-se em massa nos recursos humanos, financeiros e
recursos simblicos, nos seus empreendimentos no impressos, com uma intensidade
que a indstria nunca tinha visto antes. (Boczkowski citado por Bastos, 2011:154).
Valcarce e Marcos (2004) distinguem vrias etapas por ordem cronolgica na evoluo
da imprensa digital. Na primeira fase, entre 1985 e 1992, desenvolvem-se as primeiras
experincias eletrnicas em diferentes suportes (teletexto, fax, videotexto, prottipos
difundidos atravs de fibra tica). A esta fase os autores denominam gerao zero.
Entre 1992 e 1994 registam-se as primeiras incurses da imprensa em redes comerciais
pagas, como a American Online (AOL), com a transposio das edies tradicionais
marcadas por uma grande carncia dos elementos grficos. A terceira fase, a partir de
1995 marcada pela ecloso da web e a generalizao dos dirios online gratuitos. A
princpio reproduzem quase na ntegra as verses de papel, mas depois foram
desenvolvendo novos formatos e contedos prprios. Seguiu-se uma fase caracterizada
por um jornalismo contnuo, em permanente atualizao. Os media digitais comearam
a tornar-se mais parecidos com portais, incorporando na sua oferta novos servios. Por
fim, a partir de 2002, estalou a onda de contedos ou servios pagos: a informao,
sobretudo a especializada, comeava a deixar de ser grtis. (citado por Bastos,
2011:155).
Desde 1994 at atualidade o ciberjornalismo cultural a nvel mundial tem evoludo de
forma crescente. Publicaes como o New Musical Express, Wired ou Spin apresentam
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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links para subscrio, fotogaleria, vdeo, estabelecendo ainda ponte entre a publicao
impressa e digital.
A imprensa escrita comea a decrescer nas vendas, dando lugar a uma aposta no online.
H dcadas que os jornais comearam a experienciar quebras na circulao. Os
jornais dirios caram 30% na circulao em 20 anos (de 62, 3 milhes em 1990
para 43,4 milhes em 2010).
(Graves et al 2011:8)
A difuso das notcias em dispositivos mveis como o ipad, j uma realidade em
publicaes como a Wired e a Time Inc.
A Wired vendeu 100,000 cpias atravs do Ipad em Junho de 2010, mas o nmero
desceu para 22,000 em outubro. Em 2011 as vendas por ipad atingiram 30,000 por
edio. A circulao mensal da Wired ronda 800,000 cpias, baseadas em subscries,
essencialmente. S um pequeno nmero vendido como PDF (Graves e tal, 2011:57)
O vdeo tambm entrou em fora no vocabulrio jornalstico americano.
O vdeo tornou-se num elemento essencial da experincia digital. Segundo a
Comscore, cerca de 89 milhes de pessoas nos EUA, viam pelo menos um vdeo
online, ou publicidade, diariamente pelo final do ano de 2010 (Graves et al, 2011:59).
2.5. Jornalismo cultural em Portugal: do papel ao ciber
Para Mark Poster (1995), os media sustentam, na sua essncia, uma transformao
profunda da identidade cultural, ao reconfigurarem os tradicionais mecanismos de
expresso (palavras, sons e imagens), fragmentando-se esta em formas
significativamente diferentes umas das outras, opostas ao conceito de identidade na
modernidade (citado por Silva, 2009:92).
O jornalismo cultural em Portugal enferma, contudo, da enorme falta de estudos e dados
sobre o assunto.
Sabe-se, ainda assim, que a primeira revista de carcter cultural a Gazeta Literria ou
Notcias Exactas dos principais Escritos Modernos, editada em 1761, no Porto.
At segunda metade do sculo XIX dominou a noo de cultura clssica ligada ao
erudito e s artes superiores, tendncia que ainda se verifica em alguns media culturais,
com a emergncia da sociedade de massas, duas grandes concees se articularam uma
emergente do pensamento marxista e outra liberal- com diferentes vises sobre a cultura
de massas (Silva, 2009: 92).
Adorno e Horkheimer criam o conceito de indstria cultural, que marca o fim da
separao entre as esferas de arte superior e inferior, e os cultural studies que rompem
com a distino entre cultura de elite e cultura popular.
Nos sculos XIX e XX foram abundantes e efmeras as revistas de cultura e
pensamento. Durante a ditadura, publicaes como o Tempo e o Modo ou a Vrtice,
constituam veculos de tertlias, cineclubes e movimentos literrios que existiam
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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margem da ditadura. Durante este perodo, a oferta baseava-se na revista Flama e no
Sculo Ilustrado, suplemento semanal do dirio O Sculo, que dava espao cultura e
ao espectculo. (Silva, 2009: 94).
Com o 25 de Abril de 1974, d-se a exploso das manifestaes culturais at a
reprimidas, naquilo que configurou o nascimento das indstrias culturais no pas. Havia
um teatro em cada esquina e uma corrida vida aos cinemas, que agora passavam tudo o
que at a se via apenas l fora2.
Nos anos ps-revoluo muitos ttulos desapareceram (Repblica, Jornal Novo, A Luta,
O Tempo, O Jornal) observando-se uma tendncia de segmentao e especializao
cada vez maiores que far com que, na dcada de 80, comecem a aparecer jornais e
revistas especificamente dedicados cultura3.
Nesta altura surgem dois semanrios exclusivamente dedicados rea da cultura e
espetculos: o Se7e e o Blitz, publicao que se mantm at aos dias de hoje. Ambos
iam bem para l do jornalismo cultural, sendo responsveis por uma vivificao da cena
artstica portuguesa, no s porque a acompanhavam exaustivamente como tambm
porque criavam tendncias e vanguardas, premiadas todos os anos nas sesses dos
Se7es de Ouro e Prmios Blitz4.
As indstrias criativas, por outro lado, geraram novas audincias, que foram apropriadas
rapidamente pelos media. A informao cultural alargou-se aos jornais generalistas que
criaram seces para a cultura, a partir dos anos 80.
No entanto, a hegemonia televisiva acabaria por afetar a imprensa. De um panorama
equilibrado de matutinos e vespertinos, no ficou um nico vespertino ( Dirio de
Lisboa, Dirio Popular, Repblica ou A Capital , entretanto vrias vezes ressuscitada e
defunta). Temos hoje apenas trs dirios de referncia: Dirio de Notcias,
Pblico e Jornal de Notcias5.
O fenmeno televisivo deu origem multiplicao de revistas de vida social, que se
centram na vida das celebridades, muitas delas desencadeadas pelas televises e os
seus reality shows.
O Jornal de Letras, Artes e Ideias resiste desde 1981, agora com uma tiragem residual e
periodicidade quinzenal.
Hoje a conceo do jornalismo cultural no unnime nos media mundiais e
portugueses. Algumas publicaes optam por uma vertente mais clssica outras, por
uma vertente mais alargada aos produtos das indstrias culturais e criativas.
Para Rivera (2003) o jornalismo cultural torna-se assim: uma zona muito complexa e
heterognea de meios, gneros e produtos que abordam com objetivos criativos,
reprodutivos e informativos os terrenos das belas-artes, belas-letras, as correntes de
pensamento, as cincias sociais e humanas, a chamada cultural e muitos outros aspetos
2 Carmo, Maio, in Evoluo portuguesa do jornalismo cultural, disponvel em
http://www.janusonline.pt/2006/2006_2_2_9.html 3 ibidem 4 ibidem 5 ibidem
http://www.janusonline.pt/2006/2006_2_2_9.html
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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que tm a ver com a produo, circulao e consumo de bens simblicos, sem importar
a sua origem e o seu destino (citado por Silva, 2009:94)
Por outro lado, "no se pode dizer que o jornalismo cultural ocupe um lugar importante
na imprensa portuguesa, comparativamente com outros pases, em particular o Brasil, a
Espanha e o Reino Unido" (Silva, 2009:95).
Nos jornais dirios existem suplementos dedicados s artes e cultura, o Pblico com o
Ipsilon e o caderno P2, publicando ao sbado o suplemento Fugas.
O Dirio de Notcias apresenta diariamente as seces artes e media, o suplemento IN
ao sbado e a revista Notcias Magazine, ao Domingo. O Correio da Manh e o Jornal
de Notcias debruam-se sobre um jornalismo cultural popular, dedicado em grande
parte s celebridades.
No que diz respeito aos semanrios, o Expresso apresenta um suplemento, o Atual
dedicado cultura, e o Sol aposta mais numa cultura de lazer, tanto nas pginas do
jornal, quer na revista Tabu. J as newsmagazines, como a Sbado ou a Viso apostam
cada vez mais na divulgao de cultura.
Segundo Dora Santos Silva, hoje assiste-se a duas tendncias do jornalismo cultural
em Portugal: ao mesmo tempo que a cultura aparece normalizada subordinada agenda
de eventos e ao mercado das indstrias culturais, surgem novas instncias de
legitimao da cultura em revistas alternativas, que conseguem fidelizar pblicos com
propostas estimulantes e originais. So os casos da Egosta, a NEO2, a N &Style, a DIF,
a Parq e muito recentemente, a Time Out (Silva, 2009:95)
No que ao ciber diz respeito, a abordagem histrica dos primeiros 12 anos do
ciberjornalismo em Portugal pode ser dividida globalmente em trs fases: a da
implementao (1995-1998), a da expanso ou boom (1999-2000) e a da depresso
seguida da estagnao, a partir de 2001 (Bastos, 2011:158).
Segundo Antnio Granado (2005), a RTP foi o primeiro rgo de comunicao social
portugus a registar domnio na internet (rtp.pt) em Maio de 1993 (citado por Zamith,
2008:13). Mas, segundo Bastos (2000), s a 26 de Julho de 1995 um media portugus, o
Jornal de Notcias, comeou a transpor o contedo para a internet.
Em 5 de Janeiro de 1998 o semanrio Setbal na Rede torna-se o primeiro jornal
exclusivamente online em Portugal (Zamith, 2008:13). Em 2000 seguem outros ttulos
s online como o Mais Futebol (05 de Junho), Portugal Dirio (14 de Julho), Agncia
Financeira (08 de Setembro) e Dinheiro Digital (12 de Dezembro). (ibidem).
A primeira fase traduz-se no shovelware: os jornais abrem os respetivos sites para neles
reproduzirem os contedos produzidos para a verso de papel, as rdios transmitem na
web sinal hertziano, as televises os seus telejornais. A fase do boom marcada pelo
aparecimento dos primeiros jornais generalistas exclusivamente online, como o Dirio
Digital e o Portugal Dirio. A fase da depresso marcada pelo encerramento dos sites,
cortes em pessoal e reduo das despesas. A bolha digital rebentara e o investimento
publicitrio decara. Seguir-se-ia um perodo de estagnao generalizado, de reduzido
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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investimento a todos os nveis, pontuado por alguns investimentos em contracorrente".
(Bastos, 2010:159)
O ano de 2001 marca, assim, o fim do boom dos sites noticiosos portugueses, com o
aparecimento dos primeiros sinais de recesso, devido aos baixos resultados
econmicos. Modelo de negcio precisa-se.
No esquecer, contudo, que desde 2008, os media tradicionais j olham de outra forma
para o digital. O grupo Impresa apostou na integrao multimdia dos sites do jornal
Expresso e da revista Viso, o grupo Global Notcias/Controlinveste renovou os seus
sites generalistas nacionais Jornal de Notcias, TSF e Dirio de Notcias e lanou
um site noticioso especializado em economia Dinheiro Vivo , o grupo Cofina
(Correio da Manh, Jornal de Negcios, Record e Sbado) tambm reforou o online, e
a introduo do vdeo generalizou-se, com destaque para as experincias dos dirios
Pblico, A Bola, Jornal de Negcios e Dirio Econmico e da Rdio Renascena
(Zamith, 2011:53).
De qualquer das formas, independentemente das fases, com o advento do
ciberjornalismo, iniciou-se um novo paradigma, que apesar de no apresentar um ritmo
to acelerado comparado escala internacional, o facto que progressivamente
publicaes como a Viso, a Sbado a Blitz j apresentam contedos especficos para a
internet. J para no falar nas publicaes que nasceram nos ltimos tempos na internet,
como o caso da Punch Magazine6, da Rdio Alternativa 21
7 ou Bodyspace.net8.
O provrbio chins_Talvez viva em tempos interessantes_est
presente na nossa realidade. Estamos perante uma nova revoluo,
repleta de avanos na internet e tecnologia. Diariamente existe uma
abundncia de informao e o tamanho da interao social atingiu uma
escala colossal. O acesso informao atingiu um novo paradigma.
Passou da escassez para a abundncia.9.
6 http://punchmagazine.net/ 7 http://www.radioalternativa21.com/ 8 http://bodyspace.net/ 9 Remoreras, Glenn, Forecast 2020: web 3.0 and collective intelligence, disponivel em
http://glennremoreras.com/2010/07/28/forecast2020/
http://punchmagazine.net/http://www.radioalternativa21.com/http://bodyspace.net/http://glennremoreras.com/2010/07/28/forecast2020/
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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3. Os casos de Estudo
3.1. Mundo da Cano: o Contexto
Entre o Nacional-Canonetismo e a Cano de Protesto
O Mundo da
Cano surgiu em
Portugal num
contexto scio,
politco e econmico
delicado.
Um pas de certa
forma atrasado nos
mais diversos niveis
(como o cultural)
vivendo sob a tutela
do Estado Novo, com
contudo, alguma
lufada de ar fresco: a
Primavera
Marcelista. Mas era
sempre necessrio
"fintar" o lpis azul, sempre atento a qualquer ousadia.
Nos anos 60 e 70 encontramos duas mudanas musicais: entre o nacional
canonetismo e a msica de protesto e as movimentaes preliminares do rock em
Portugal.
Recorrendo a Joo Lisboa (citado por Guerra, 2010: 195) podemos desde logo
comear por problematizar a expresso "msica popular portuguesa", na medida em que
esta pode assumir vrias conotaes que vo desde a msica que o povo gosta, a msica
do povo ou a msica derivada das razes e tradies populares.
Sistematizando, a msica popular portuguesa provm de quatro registos musicais
fundamentais: o fado, a cano de protesto, o folclore e o nacional canonetismo.
Segundo Costa (citado por Guerra, 2010:196) o fado representado
generalizadamente como uma forma cultural e musical tipicamente portuguesa, sendo
uma fora importante na definio da identidade nacional em campanhas tursticas, nas
Ilustrao 2-A revista Mundo da Cano
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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vivncias emigrantes na historicidade das zonas especficas das cidades,
designadamente de Lisboa e de Coimbra.
A cano de protesto, por sua vez, nasceu nos anos 60 do sculo XX no nosso pas
e est ligada oposio da ditadura.
Segundo Duarte (citado por Guerra, 2010:196) podemos incluir os baladeiros, estilo
muito associado a uma evoluo do fado de Coimbra. As letras das "baladas" dirigiam-
se a problemas sociais e eram acompanhadas por uma viola acstica. Destacam-se os
nomes de Jos Afonso e Adriano Correia de Oliveira.
Segundo Pina Cabral (citado por Guerra, 2010: 197) o folclore foi tambm uma
expresso popular relevante, pois enquanto produo cultural parece assumir um
significado de pertena a um determinado grupo de pessoas e uma produo sistemtica
de artefactos revivificadores dessa pertena.
J o nacional-canonetismo recobre as canes e sonoridade promovidas pelo
Estado Novo e largamente definidas na rdio e tv. So disso exemplo artistas como
Madalena Iglsias, Simone de Oliveira, Artur Garcia e Antnio Calvrio.
Segundo Monteiro (citado por Guerra, 2010: 197) coube ao nacional-canonetismo
ajudar a reproduzir uma srie de esteretipos do nosso senso comum mtico "sobre
Portugal, entre ele a figura do portugus "pobre mas honrado" e da "casa portuguesa
com certeza".
A histria da publicao Mundo da Cano assaz curiosa. Sabemos que em 1969
o contexto era um pouco mais "aberto", marcado por uma srie de acontecimentos
sociais, polticos e culturais, nomeadamente a Primavera Marcelista, o Woodstock, o
Maio de 68 ou o programa Zip Zip.
O meu av tinha uma grfica. Depois houve uma fase da minha vida particular,
politica... estava cheio disto. Tinha uma correspondente em Frana que um dia no
Vero veio c. Eram duas famlias. Sabia mais do Porto e de Portugal do que eu. Eu
senti-me atrapalhado porque, foi a primeira vez que visitei muita coisa. Ela estava a
estudar para engenharia quimica. Desci com eles at Nazar, Coimbra, mas...fomos
para a esquadra. Ateno que isto muito importante. Ento eles disseram: voc
no pode andar, a lei no permite. Todos ficaram muito chateados, perguntaram-me
o porqu da situao. Isto h 50 e tal anos. Eramos quatro e l fomos para a esquadra
Depois falei com a famlia e perguntei: quanto que me podem dispensar? (...)
Vou ganhar uma bolsa e tal... E, assim, eu parti para Frana. Foi a melhor coisa que
fiz na minha vida: sair daqui. Estive trs anos fora e vi muito. (Tavares
Avelino:2017)
O primeiro exemplar da revista Mundo da Cano, que tem como capa Padre
Fanhais apresenta na parte final a Jane Birkin com Serge Gainsbourg. Portanto
impregnava-se no papel experincias vividas, a cano francesa, a experincia de um
mundo novo l fora. O espirito de liberdade, acima de tudo.
Mas havia um propsito. O propsito do Mundo da cano....uns percebem logo ,
outros so mais lentos porque no sabem muito bem a realidade que vivemos.
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
17
Sobretudo os de fora, no percebem. Aquilo uma mistura. Se pegarem nos
primeiros nmeros, vem coisas muito importantes. Porqu o Padre Fanhais? Porque
vinha em destaque no programa zip zip por onde passaram os baladeiros todos. E ele
foi o que teve mais impacto. A histria da msica em Portugal muito interessante,
apesar de ser, de todas as histrias, a mais abandonada. Primeiro ser o teatro, o
cinema,-A msica vem provavelmente em quarto lugar. (Ibidem)
Deu voz a programas mticos da rdio em portugal como o "Em rbita". Fundador do FM
Stereo da Rdio Comercial, Joo David Nunes um nome incontornvel na histria da
divulgao musical em Portugal e tambm se recorda bem do impacto do Mundo da Cano na
sociedade portuguesa do Estado Novo, onde nem todos se calavam.
Foi uma publicao que deu ateno msica de vanguarda. Mas paralelamente
existiam revistas extremamente populares que divulgavam a chamada msica
mainstream que se ia fazendo na altura, que era a Plateia, mais ligada aos
espetculos, ao cinema. Mas tambm dedicava ateno msica. Houve outra do
Rdio Clube Portugus que se chamava Antena. E nos jornais havia alguma seco
dedicada msica. Mais tarde, com o fenmeno punk, aconteceu algo muito
engraado e que merecia ser estudado que tambm corresponde a um nicho tal como
a Memria do Elefante: as fanzines. Eu lembro-me que o Antnio Srgio tinha uma
(Nunes, David:2017)
Eu nunca exerci verdadeiramente jornalismo musical. Eu como era uma pessoa
atenta ao mundo musical, e como ouvia, passava e divulgava muita msica, achei
natural quando me convidaram para fazer o que fiz na Msica & Som. Por outro
lado, tive colaboraes dispersas com artigos, ou anlises de discos, entrevistas....No
que diz respeito a coisas publicadas. Claro que em rdio fiz outras coisas. (Ibidem)
Comecei a comprar a revista Mundo da Cano quando ela iniciou a publicao, a
por volta de 1969, embora no tenha apanhado o primeiro nmero, consegui o
comprar o segundo e adquiri-a ininterruptamente desde a. Aquilo o que transmitia
era sobretudo uma opinio, uma discusso aberta e acesa sobre as tendncias da
msica (...) Porque a msica no era apenas para se ouvir, descartar e deitar para
fora; era algo sobre o qual se pensava. Uma das coisas em que o Mundo da Cano
nos ajudou muito foi precisamente a pensar a msica (Pacheco, Nuno: 2017)
Foi aquele perodo do nacional canonetismo, por um lado, e por outro a
emergncia da nova msica portuguesa, e a Mundo da Cano ajudou a difundir,
entre outros, o Zeca Afonso ou o Adriano Correia de Oliveira, todos eles passaram
pelas pginas do Mundo da Cano como a nvel internacional. (ibidem)
O Mundo da Cano conseguiu, pelo menos at 1973, colocar-se sempre a salvo da
censura, escrevendo nas entrelinhas.
Um bocadinho, claro que sim... era normal. O mximo que se arriscava era a revista
ser apreendida rapidamente, e isso no era do interesse de ningum. evidente que
ns tambm comemos a ter naquela altura algumas posies contra o regime, tudo
aquilo que descobramos e achvamos que era do contra amos a correr ver: o Jos
Mrio Branco, o Srgio Godinho... (ibidem)
O trabalho era feito de forma subreptcia embora no estivesse na imprensa, sei
disto porque conhecia pessoas que trabalhavam nos jornais -, inclusivamente nos
jornais: quando se queria que uma notcia fosse lida no se utilizavam palavras que a
censura iria de certeza cortar, mas sim palavras em cdigo que os leitores
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
18
reconheciam. E o que se fazia nessas revistas, assim como em outras, como a
Memria de Elefante... (ibidem)
As crticas eram uma constante.
Mas naquela altura j era um bocadinho frente, j se fazia a crtica quele jazz
como sendo algo um pouco ultrapassado... Mas a revista ajudou-nos muito a formar
opinio. E mesmo quando no concordvamos com o que lamos, aquilo incitava-
nos ao debate e ajudou-nos a ter um olhar muito crtico sobre a msica. No se
tratava apenas de ouvir, consumir e deitar fora... (ibidem)
Torna-se, assim, pertinente questionar o que mudou no jornalismo musical desde a
publicao Mundo da Cano.
A Mundo da Cano tem todo um patrimnio e uma histria que falam por si,
desde a censura at organizao de concertos de enorme valor cultural e histrico,
as publicaes (Galveias, Lino:2017)
A Scratch Magazine: Da origem ao contexto atual
Ilustrao 3-A Scratch Magazine
A Scratch Magazine um media online temtico focado nas artes, com especial enfoque na
msica. Ancorado numa poltica de vintage e vanguardismo, a webzine diria e de mbito
nacional.
Pretende-se informar, ensinar, entreter e ajudar, atravs dos artigos, mas tambm promoo de
eventos. A webzine apresenta responsabilidade social.
O media Scratch Magazine formalizou-se em setembro de 2015, mas o inicio da sua histria
remete para 18 de setembro de 2009, quando Irene Leite, a autora da presente investigao,
decidiu criar um jornal online. Na altura no havia meios tcnicos nem econmico-financeiros.
Apenas uma manifesta vontade de concretizar o projeto. O nome do media em construo era
Som Letra, uma continuidade do prottipo de um jornal lanado para a disciplina de
imprensa, entre setembro de 2008 e janeiro de 2009.
Havia nome, havia blogue, havia uma jornalista com muita vontade de trabalhar.
Diariamente comearam a ser publicadas noticias,e uma ou outra reportagem. Em dezembro de
2009, Irene Leite comeou a olhar para as potencialidades da rede social facebook e
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
19
paulatinamente o pblico foi aderindo s publicaes noticiosas e no s (msicas). Tudo foi
acontecendo naturalmente e criou-se um microcosmos internauta. De dezenas de leitores
passou-se para centenas. De centenas para milhares, at hoje. E a equipa foi aparecendo.
Normalmente leitores que se tornaram fs da publicao. Assim, na presente reflexo
contabiliza-se o incio da publicao a partir do dia 18 de setembro de 2009.
Contudo, algumas questes impem-se:
O que deve significar desempenho dos media?
Lucro ou interesse pblico?
Irene Leite iniciou toda esta aventura jornalstica naturalmente. Movida talvez por muitos
conceitos hoje tidos como utopias, como liberdade de informao, criatividade e
sustentabilidade criou o velhinho blogue intitulado Som Letra.
No entanto, o caminho no foi fcil. No simples conciliar conceitos como interesse pblico e
interesse do pblico. Por vezes existem divergncias nestes dois conceitos. Sabemos que a
reaco do pblico sempre imprevisivel. Nem sempre a qualidade dos contedos jornalisticos
vence. O entretenimento leva a carta branca. A prova desta realidade o sucesso da TVI com os
seus eternos (never ending story) reality shows como o Big Brother, Quinta das Celebridades,
ou Secret Story. a sociedade do espetculo no seu esplendor.
O enquadramento legal da Scratch Magazine
Ilustrao 4-O site da Scratch Magazine (www.scratchmag.org)
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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engraado. Nunca pensei que uma teimosia saudvel pudesse chegar aos sete anos. Mas
chegou. E sabem que mais? como aquelas paixes loucas que aparecem. Mas ateno, aqui
no falamos de paixo s. Falamos acima de tudo de um caso srio de amor. Oh, dja vu.
Entrar no mundo da economia de bits no foi fcil. Com efeito, neste editorial voltamos a bater
(um pouquinho, ok?) na tecla da nossa histria, apenas porque o fim de mais um ciclo.
[A Scratch] merece subir de escalo. No foi por acaso que a sua publicao para carter
irregular aconteceu. Tive que encontrar outro trabalho para poder desenvolver este sonho,
para que este no se torne numa utopia, ou pior, num pesadelo.
Se h coisa que descobri que tenho perseverana. Porque adoro a minha formao base como
jornalista. J falhei, claro. Mas retomei o percurso. E acredito muito no nosso trabalho. que
ao longo destes sete anos passaram por esta casa tremendos jornalistas. ~
E todos estes fatores so determinantes para os prximos desenvolvimentos. O ano que se
aproxima ser muy profcuo e mais uma vez contamos convosco.
Boas festas e
Hasta la victoria siempre, dizia algum. Quem fala assim no gago10
.
Mais uma vez no foi fcil chegar ao estatuto atual de legalizao na ERC. No havia capital. O
contexto scio-econmico mordaz, sobretudo para os mais jovens. Estgios no remunerados
ou mal remunerados so o prato do dia no sculo XXI. Finalmente com alguma estabilidade
financeira foi posssivel entrar com o processo de legalizao junto da entidade reguladora para a
comunicao social. A marca inicial do projeto era Som Letra. Ciberjornal. No entanto, a
marca Som Letra no era indita. Entra aqui uma questo muito importante na rea da
internet e dos novos media: a questo dos direitos de autor. O Som no era da autora da autora
da presente investigao. Tinha-se, por mais que custasse,que abandonar essa marca para seguir
com um caminho transparente.
Em semanas foi ponderado um novo rumo editorial para o projeto, mais voltado para a cultura
dj rock n roll. Nasce assim a Scratch Magazine, com o lema O teu Som, uma forma de
eternizar o velhinho Som Letra, nome que nunca foi nosso. A est um perigo da internet
que foi ultrapassado. A tica e deontologia norteia a atividade jornalstica, facto que foi tido
sempre em conta. Esta a melhor fase do projeto. Apesar de no reunir ainda muito capital
social para avanar para outro patamar, a nivel de contedos no poderia estar mais slido. Para
a equipa o mais importante.
10 Leite,Irene, Amour, Amour, https://scratchmag.org/2016/12/01/amour-amour/, In Scratch Magazine
https://scratchmag.org/2016/12/01/amour-amour/
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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Nas origens
Estudo de caso: O Som Letra
A 18 de Setembro de 200911
nascia um ciberjornal cultural, especialmente
orientado para a rea musical, criado pela autora da presente investigao12
.Um projeto
em crescimento, pretendendo solidificar-se como uma marca independente, baseada na
qualidade dos contedos, no prazer pela atividade, esprito de entreajuda, contnua
aprendizagem e forte responsabilidade social13
.
Trata-se de um ciberjornal que foi idealizado h nove anos. A sua origem remonta a
finais de 2008, quando surgiu como projeto de final de curso para imprensa. Na altura
desenvolveu-se um jornal14
e a vontade de expandir o projeto ficou.
Aps terminar uma srie de estgios olhou-se para um blogue e decidiu-se
transform-lo num jornal online. No havia equipa, rbricas, estatuto editorial, nem
audiovisuais para tratar do desenvolvimento grfico do projeto. De centenas passou-se a
milhares de seguidores do blogspot. Nesse espao de tempo encontrou-se equipa e
juntamente com os leitores criaram-se rubricas para o ciberjornal.
Todos os empreendores comeam em trs categorias: os seus gostos e habilidades;
o que sabem, a sua educao, experincia; quem conhecem e os seus contactos na rede.
Usando estes instrumentos, os empreendedores comeam a imaginar e a implementar os
11 L 12 L 13 Ibidem 14 https://issuu.com/illuminatumm/docs/edicao_0_som____letra
Ilustrao 5-O primeiro website do Som Letra, idealizado pelo designer Diogo Machado
https://issuu.com/illuminatumm/docs/edicao_0_som____letra
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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possveis efeitos que podem ser criados com as suas aces. Normalmente comeam
pequeno, evoluindo para planos mais elaborados (Sarasvathy, 2001:2)
Em finais de 2009, j com a ideia de construir o cibermeio de forma cada vez mais
solidificada, nasceu o primeiro acerca de ns do Som Letra sob o mote Teimosia
saudvel, desenvolvido pela autora da presente investigao.
A vida um palco e ns somos os actores diz (e muito bem) Willliam Shakespeare.
De facto, a vida demasiado curta para nos cingirmos a uma experincia profissional.
No. H que variar e sobretudo aprender com esses novos desafios. No entanto, cabe-
nos ns construir esse percurso (o que nem sempre fcil), tendo em conta os nossos
sonhos e ambies, sempre com cautela, para que esses desejos no se tornem utpicos.
Em poca de crise at sonhar torna-se complicado, pelo que torna-se importante
concretizar cada ideia, de forma a no dar origem a contnuos sonhos/idealizaes que
desembocam em frustrao. E ningum quer isso, certo? Por isso, aprender,
trabalhando o que espero deste projeto de vida, sempre fundindo com os
conhecimentos tericos adquiridos aquando da vida acadmica (que futuramente ser
retomada com um mestrado em Multimdia). Porque, como diz Kurt Lewin, nada h
mais prtico que uma boa teoria.
Chama-se Som Letra este meu projeto de vida. Mas o que o Som Letra? Trata-se
de uma teimosia levada a cabo por uma jornalista com muita vontade de trabalhar e
sobretudo aprender. um blogue que procura exercer jornalismo cultural atravs da
elaborao de entrevistas, reportagens, artigos, etc. Um projeto em crescimento, que
espera um dia abandonar o blogue (daqui a dois anos, mais concretamente) e
solidificar-se como uma marca independente.
Podem chamar-me chata, ansiosa, sonhadora, iludida ou utpica (no pior dos
cenrios). Eu at nem discordo (pelo menos dos trs primeiros) destes apelidos. Mas
como estou a gostar cada vez de um discurso sinttico, prefiro resumir estes adjetivos a
duas palavras: Teimosia Saudvel.
Uma teimosia que foi levada at ao fim, com a formalizao do media, a 18 de
Setembro de 2015, data do seu sexto aniversrio como ciberjornal.
Diariamente so editados os contedos da equipa, para alm de se tratar da
divulgao do projeto junto das promotoras de eventos, e iniciar todo um conjunto de
parcerias estratgicas com projetos semelhantes, como a publicao Bandcom, ou a
Elenco Produes. Trata-se ainda da presena do media nas redes sociais e inicia-se
diariamente o processo de interaes com os leitores.
A equipa15
, que, para j, colabora em regime de voluntariado proveniente de reas
diversificadas: sociologia, relaes internacionais, psicologia, cinema, jornalismo e
audiovisual. Cada um complementa-se entre si numa escrita que se pretende viva para
um jornalismo musical de qualidade.
15Leite, Irene , Equipa, disponvel em http://somaletra.wordpress.com/contactos-2/equipa/
http://somaletra.wordpress.com/contactos-2/equipa/
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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Nos primeiros dois meses de vida do media, os contedos foram apresentados e
trabalhados sem qualquer auxlio de redes sociais, at ao dia em que se julgou pertinente
criar um facebook para o projeto, que ficou operacional em Novembro de 2009. No
entanto, a utilizao na altura era bastante redutora, com o link de um ou outro post. No
entanto, a partir de Janeiro, com outro olhar sobre a ferramenta e das possveis
vantagens que poderia vir a ter no trabalho, e na rede de contactos e novos pblicos, a
colocao de posts passou a ser regular e num espao de trs meses o Som Letra
comea a criar o seu microcosmos internauta: centenas de pessoas comearam a
seguir o blogue.
A audincia comeou a comunicar regularmente atravs da rede social do facebook
e as rubricas do ciberjornal foram sendo construdas em conjunto.
Um dos aspetos da web 2.0 o aproveitamento da inteligncia coletiva para gerar
novos contedos. No Som Letra o ciberjornal foi sendo construdo com as dicas dos
leitores (figura 1 e 2).
A participao dos cidados nesta cultura de convergncia faz com que o fluxo de
contedo que passa por mltiplas plataformas de meios estabelea uma cooperao
entre mltiplas industrias e um comportamento migratrio da audincia dos meios de
comunicao disposta em quase qualquer lugar em busca do tipo de experincias, seja
lazer ou informao especializada que o leitor precise. (Vivar, 2011:161)
Ilustrao 6-As emisses preparadas em parceria com os leitores
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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3.2. O papel do facebook na solidificao da marca Som Letra
Sims (2009) identifica novos players no mercado da informao jornalstica: os
agregadores, como o The Huffington Post; as micro-plataformas que abrigam
contedos informativos como o Facebook e o Blogger; e os agregadores como o
Google News, o dailyLife, entre outros. um conjunto de players que atua em cadeia e
conduz, em ltima instncia, audincia para um website jornalstico vinculado a uma
grande marca (citado por Corra e Lima, 2010:11).
Trata-se de um novo caminho que o consumidor de informao percorre, no qual
vai agregando informao e conhecimento, formando opinio, at chegar com viso
prpria e critica ao website que, no modelo 1.0 era a fonte nica e direta de informao.
Assim, modificam-se os indicadores de competitividade nas empresas informativas
da Web 2.0, que em termos quantitativos pela quantidade de fontes de agregao ao
contedo disponibilizado sob a marca informativa; e em termos qualitativos pela
profundidade no tratamento da informao. Tudo isso passa pela reorganizao do
processo redaccional, reorganizao da prpria disponibilizao da informao no
website, enfatizando a participao dos agregadores e dos usurios, considerando o
prprio website como uma comunidade e no como um espao comercial (Corra e
Lima, 2010:11).
Ilustrao 7- Um media em construo com os leitores
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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A identidade grfica16
foi sendo trabalhada ao longo dos ltimos oito anos pelo
designer Diogo Machado e Ctia Cruz. A regra chave do design do Som Letra Keep
it simple. Inicialmente o logtipo do projeto idealizado pela mentora do media, Irene
Leite, abrangia uma clave de sol. No entanto, o aspeto era amador e precisava de ser
alterado.
Numa fase seguinte ainda se tentou manter esta caracterstica, mas logo constatou-
se que seria prejudicial para os pilares que foram sendo construdos: simplicidade,
usabilidade, jovialidade. Assim, optou-se por um logtipo tipogrfico.
Fogg (2009) constata que o problema que acontece em muitos projetos o facto de
serem muito ambiciosos, e estes esto destinados ao falhano (Fogg, 2009:1).
No caso do Som Letra, o projeto foi fluindo naturalmente, sem grandes
ornamentaes. O mesmo aconteceu com o design, que, com o tempo tornou-se mais
profissional e com princpios. Primeiro aconselhvel comear em pequena escala, e
depois alargar os objetivos. Uma forma de evitar frustraes (Fogg, 2009:2).
Fogg (2009) identifica oito passos no processo de desenvolvimento do design:
escolha de um simples comportamento para moldar; escolha de uma audincia recetiva;
encontrar o que est na origem do comportamento do target; escolher um canal
tecnolgico familiar; encontrar exemplos relevantes de tecnologia persuasiva; imitar
casos de sucesso; testar as experincias persuasivas.
Com efeito, no se deve comear pela complexidade. No Som Letra, ao contrrio
do que aconteceu com os contedos (que foram involuntariamente ter com o pblico) no
design h que escolher um target.
Atingir pequenos objetivos pode trazer mais benefcios a longo prazo; pequenas
intervenes levam a uma ambio construda com o tempo (Fogg, 2009:2)
importante que a audincia seja recetiva, e caso surjam barreiras tentar encontrar
as razes para entender por que motivo a comunicao no foi bem-sucedida.
A familiaridade com a tecnologia basilar, ainda para mais num contexto de
ciberjornal.
16 http://www.behance.net/gallery/SOM-A-LETRA/1107021#.T2YGqnyRGec.facebook
Ilustrao 8- Estatstica de post views na pgina do facebool desde novembro de 2010
http://www.behance.net/gallery/SOM-A-LETRA/1107021#.T2YGqnyRGec.facebook
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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Os aventureiros podem ser um bom target. muito mais fcil uma audincia
familiarizada com as tecnologias e que goste de experimentar coisas novas (Fogg,
2009:2).
Ilustrao 9-O Primeiro logtipo
Ilustrao 10-O segundo logtipo, ainda com a clave do sol
Ilustrao 11- Um logtipo tipogrfico, desenvolvido por Joana Quintela
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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Ilustrao 12-Terceiro e definitivo logtipo
Ilustrao 13- Inicialmente, o
endereo do Som Letra era um
blogue, muito pobre em design, mas
que foi evoluindo paulatinamente
Ilustrao 14- O segundo blogue e
casa do Som Letra
Ilustrao 15- Em 2013 foi
movido todo o arquivo para
esta plataforma wordpress,
desenvolvendo futuramente o
design casa vez mais simples e
direto
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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As vertentes do Som Letra
A Som Fm
A Som Fm, primeiro projeto de rdio idealizado, uma webrdio pautada pela
qualidade dos contedos. Assume-se como divulgadora de som fresco c dentro e l
fora, sem esquecer os velhos clssicos. No que toca aos gneros, abraa a new wave,
pop alternativa, todas as variantes do rock, e ainda punk, blues, jazz, country.
Apresenta programas de autor (msica, literatura, teatro, cinema), rbricas de
humor, passatempos, radionovela. A webrdio rege-se pela mincia, qualidade e
responsabilidade.
So objetivos da webrdio: a promoo e divulgao da msica nacional (cerca de
50%); A promoo e divulgao de todas as formas de expresso cultural, tanto a nvel
nacional, como internacional; A organizao, a promoo e a realizao de festas
temticas. Ser inclusive recuperado o conceito de festa de garagem; Conceo,
organizao e implementao de programas culturais e artsticos.
Ilustrao 16- O primeiro website da Som FM
Ilustrao 17 Publicidade Som FM
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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O projeto j apresenta equipa e programas que vo constar da grelha oficial:
Devaneios (Irene Leite), Back on Track (Ricardo Vieira e Paulo Martins), Progressive
Head (Irene Leite e Andr Lucas), Num filme sempre electropop (Irene Leite), ou De
Sons s Costas (Lino Galveias). A webrdio j apresenta indicativo e grelha de
programao provisria. Jorge Brando a voz dos spots da rdio, que tambm se
assume como comunitria.
J comeou tambm a ser desenvolvido o website do projeto, que neste momento se
encontra muito bsico, mas j com preocupao em interagir com o pblico, no s
atravs das redes sociais, mas tambm atravs de sondagens.
Tabela 2- A programao provisria da Som FM
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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A Som TV
Trata-se de uma web tv dedicada arte de vanguarda, abraando a comunidade.
Videoarte, msica, teatro, humor, responsabilidade social o que esperamos da Som
TV. Sempre em constante mutao numa sociedade que deambula cada vez mais entre o
virtual e o real, a web tv rege-se pela mincia, qualidade e vanguarda.
So objetivos da Som TV a promoo e divulgao de arte de vanguarda; a
promoo e divulgao de todas as formas de expresso cultural
a promoo do civismo; a promoo de eventos temticos: sesses de filmes,
videoclipes de novas bandas; conceo, organizao, apoio a programas culturais e
artsticos.
Som Cvico
O Som Letra assume-se como um media cvico, atento s necessidades da
comunidade.
Por cada evento que organizar, far uma reportagem sobre a respetiva
organizao, divulgando a sua origem, percurso e necessidades, tal como aconteceu com
a Santa Casa da Misericrdia17
e Acreditar18
(eventos que ainda esto a ser
planificados).
17 Galveias, Lino, Santa Casa da Misericrdia, disponvel em http://somaletra.wordpress.com/2013/02/16/santa-casa-da-
misericordia-do-porto/ 18 Leite, Irene, Acreditar, disponvel em http://somaletra.wordpress.com/2013/02/15/acreditar/
Ilustrao 18- Logtipo desenvolvido por Irene Leite
Ilustrao 19- Logtipo do Som Cvico desenvolvido por Irene Leite
http://somaletra.wordpress.com/2013/02/16/santa-casa-da-misericordia-do-porto/http://somaletra.wordpress.com/2013/02/16/santa-casa-da-misericordia-do-porto/http://somaletra.wordpress.com/2013/02/15/acreditar/
Tempos, espaos e atores do jornalismo musical em Portugal: Os casos do Mundo da Cano e da Scratch Magazine
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O enfoque na primeira fase (2013) foram as crianas, mas futuramente ser
alargado o pblico, promovendo aes solidrias, nem sempre musicais, mas debates,
almoos, em parceria com outras organizaes.
O Som Cvico refere-se vertente de responsabilidade social do ciberjornal Som
Letra.
A equipa estar sempre ativa na sua atividade, no s na procura de novas
entidades, mas tambm atendendo s sugestes dos ouvintes e leitores.
Ajudar, informar, alegrar o grande lema do Som Cvico.
So objetivos do Som Cvico: Solidariedade; Humanitarismo; Respeito pelo
indivduo; tica profissional; Qualidade.
No incio de 2013 a equipa do Som Cvico proporcionou a membros da
APPACDM, atravs de uma parceria com a Elenco Produes, uma tarde de animao a
membros da instituio, que trabalha pela melhoria das condies de vida e de sade
dos utentes com vantagens especficas na mobilidade.19
Os membros da APPACDM