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O Ministro Conciliador 1

Tenente Brigadeiro Moreira Lima o ministro conciliador (INCAER)

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  • O Ministro Conciliador 1

  • Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima2

    dfdasf

  • O Ministro Conciliador 3

    Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima

    O Ministro Conciliador

    INSTITUTO HISTRICO-CULTURAL DA AERONUTICA

    Rio de Janeiro

    2014

  • Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima4

    FICHA TCNICA

    Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima O Ministro Conciliador

    EdioInstituto Histrico-Cultural da Aeronutica

    Editor ResponsvelMaj Brig R1 Jos Roberto Scheer

    Organizadores2 Ten His Daniel Evangelho Gonalves

    2 Ten His Bruna Melo dos Santos

    Projeto Grfico

    Seo de Tecnologia da Informao do INCAER

    Capa3S Tiago de Oliveira e Souza

    ImpressoINGRAFOTO Produes Grficas

    Rio de Janeiro

    2014

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    Apresentao

    Maj Brig R1 Jos Roberto ScheerSubdiretor de Cultura do INCAER

    Em 1979, recm promovido ao posto de Capito, eu servia no 1 Grupo de Transpor-te de Tropa (1 GTT).

    No dia 8 de novembro daquele ano, re-alizei um voo no C-115 2357 (Bfalo), du-rante a Operao SACI, em conjunto com o Exrcito Brasileiro, no trecho Afonsos/Maca/Afonsos, tendo ao meu lado o ento Brig Moreira Lima, Comandante da V Fora Area de Transporte Areo (V FATA).

    Fui escalado para a misso, pois normal a presena de um instrutor em funo, quan-do o outro piloto no tem como manter uma constncia da atividade area, principalmen-te em razo das suas inmeras atribuies no cargo que ocupa.

    Essa misso requeria um pouso de mxi-ma performance (pouso de assalto), pelas con-dies precrias da pista, agravadas pela chu-va que havia degradado o piso naqueles dias.

    Duas apreenses me acompanhavam: a companhia do Brigadeiro (pela primeira vez eu voaria com um oficial general), e o pouso, nas condies descritas, a ser realizado por ele, em Maca.

    A curta viagem foi agradabilssima e o pouso conduzido com a maestria de quem parecia estar operando a aeronave todos os dias.

    Dias depois, fui novamente brindado em voar para Manaus, num mesmo Bfalo, ten-do novamente como companheiro de nacele o Comandante da V FATA.

    A viagem transcorreu de forma serena, com o Brigadeiro Moreira Lima, mostrando os detalhes do voo sobre a selva, os contra-fortes da Serra do Cachimbo, a navegao utilizando as curvas dos rios e os mace-tes da Amaznia, tudo sendo transmitido

    com muita naturalidade, fruto da sua expe-rincia e vivncia como piloto e oficial da Fora Area.

    E eu ali, absorvendo conhecimento, par-ticipando, aprendendo, sorrindo.

    Ida e volta do mesmo jeito. Pacientemente ele conversando, contan-

    do histrias, num ambiente de perfeita har-monia entre os tripulantes, o avio e o indes-critvel cenrio abaixo de ns.

    Que estranha brincadeira era aquela! Fui escalado como instrutor, e quem re-

    cebia instruo era eu, o aprendiz.Trinta e um anos depois, em 2010, tive a

    honra e o privilgio de novamente ser co-mandado diretamente pelo Ten Brig Morei-ra Lima, agora como Diretor do INCAER.

    Nos poucos meses que convivemos nes-ta Casa de Cultura Aeronutica, pude, mais uma vez, me deleitar ouvindo suas fascinan-tes histrias, merc de cultivada memria, sorvendo toda uma existncia eivada de ex-perincias alegres e tristes, de uma vida de-dicada a nossa FAB.

    Ao nosso mestre e instrutor, Ten Brig Moreira Lima, os eternos agradecimentos, pelo exemplo, amizade, companheirismo, humildade e altrusmo. Por saber ouvir e res-peitar os mais jovens, e em dividir com aque-le Capito, nacos da sua larga experincia.

    Esperamos que o trabalho produzido e divulgado nesta publicao, embora peque-na em tamanho, reflita o digno resumo de uma rica histria de vida e seja merecedora da sua aprovao, a sentado nas mais altas nuvens, ao lado dos seus amigos-pilotos que hoje voam mais alto e que continuam, silen-ciosamente, a apontar o melhor caminho para conduzirmos os nossos voos.

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    A Aeronutica Brasileira, pelo seu glorioso passado, pelo seu dinmico presente e pelo futuro

    grandioso continuar sendo a bela estrela fulgurante, iluminando o firmamento de nossa nao.

    O Tenente-Brigadeiro do Ar Oct-

    vio Jlio Moreira Lima nasceu no Rio de Janeiro, ento Distrito Federal, no dia 11 de agosto de 1926, filho do General Felipe Moreira Lima e da Sra. Media de Morais Moreira Lima.

    Desde muito cedo, esteve ligado ao militarismo e poltica, seja por fora da formao educacional, que foi toda ela no Colgio Militar, na Tijuca, seja pela influncia da famlia. Certamente, teve grande incentivo dos tios - Silvino, Loureno e Arthur - que ingressaram na antiga Escola Militar de Realengo, mas no prosseguiram na carreira.

    O av materno, Antnio Mendes de Morais, tambm seguiu a carreira,

    2 Ten His Daniel Evangelho Gonalves 2 Ten His Bruna Melo dos Santos

    atingindo a patente de Marechal. Mas, sem dvidas, a motivao maior para seguir o militarismo partiu do pai, que participou de momentos importan-tes da histria do Brasil, tais como as Revoltas Tenentistas de 1922 e 1924, sendo inclusive preso por ter se rebe-lado contra o governo vigente.

    As primeiras memrias de Mo-reira Lima remontam a poca da Repblica Oligrquica, durante o governo do ento Presidente Ar-thur Bernardes, cujo rigor pde ser sentido nas formas de punio aos militares que se manifestavam con-tra sua administrao, dentre elas o isolamento na priso da Ilha Gran-de, no Rio de Janeiro.

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    Como dentre os revoltosos do ms de julho de 1924 estava seu pai, a pri-meira infncia de Moreira Lima foi viver isolado com a famlia em barra-ces, na prpria Ilha Grande, devido a este contexto poltico.

    A paixo pela aviao unia a fam-lia. O tio materno, General ngelo Mendes de Moraes, foi aviador mili-tar; o irmo mais velho, Felipe Mo-reira Lima, estudou na Escola Militar de Realengo, formou-se oficial avia-dor e entusiasmou ainda mais Morei-ra Lima a seguir carreira na aviao. Estudou com o irmo e, sem ajuda de outros cursos, conseguiu xito nas provas. Fez exame para Escola Militar, mas, quando foi aprovado na FAB, no seguiu as outras etapas daquele concurso, pois seu corao estava na Fora Area.

    Lamentavelmente, esse seu irmo faleceu no ano de 1943, em misso oficial, ao patrulhar o Atlntico Sul durante a 2 Guerra Mundial, para salvaguardar os navios brasileiros dos submarinos do Eixo que os atacavam. O avio que pilotava, armado com bombas, chocou-se numa serra perto de Santa Cruz, bairro da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.

    A dor da perda de Felipe fez com que a famlia o pressionasse a aban-donar a carreira de aviador, mas a de-

    terminao de servir Fora Area Brasileira o fez seguir em frente.

    Sua esposa, Anna Guasque, acredi-tava que as tramas do inconsciente de Moreira Lima o levavam a se prome-ter fazer o que seu irmo e pai no conseguiram, alcanando os mais al-tos postos na FAB e oferecendo uma vida confortvel para sua famlia.

    Em 1943, j estava matriculado no 1 ano do Curso de Formao de Ofi-ciais Aviadores da Escola de Aeronu-tica. Ainda como Cadete, em 1945, no 3 ano do Curso, foi designado para representar a Escola na comemorao do 09 de julho, Independncia Ar-gentina, em Buenos Aires. Logo em sua primeira misso no exterior, teve uma excelente atuao, recebendo o primeiro elogio individual, do Major Perdigo Coelho, registrado no Hist-rico Militar:

    [pela] correo e disciplina, tornando-se merecedor dos melhores louvores pela maneira eficiente com que se desincum-biu a misso que lhe havia sido confiada, demonstrando assim

    uma noo exata do cumpri-mento do dever e uma elevada dose de aptido profissional, fa-zendo com que a representao da nossa FAB se tornasse digna

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    Formatura com futura esposa Anna Guasque

    dos maiores encmios por parte das autoridades civis e militares da Repblica irm (Histrico Militar 1945).

    Os anos de estudo no foram f-ceis, pois era um perodo de guerra. Ele queria ir para a Royal Air Force, uma vez que tinha muito desejo de participar do combate. Sua turma foi formada num tempo curto, devido provvel necessidade de servir no de-correr do conflito, e ele estava devi-damente preparado. Contudo, aps a declarao do Aspirantado, o destino de Moreira Lima foi diferente, pois o confronto terminou.

    O perodo discente na Escola de Aeronutica tambm foi crucial para a construo da prpria vida pessoal, alicerce para sua ascenso militar, de-vido ao compartilhamento de ideais morais e ticos. Conheceu sua futura esposa Anna, na rua Aguiar, no tradi-cional bairro da Tijuca, localizado no Rio de Janeiro, ambos com dez anos de idade. Moreira Lima se tornou amigo do irmo de Anna, pois jogava futebol com o mesmo e, com o cresci-mento da amizade, passou a frequen-tar constantemente sua casa. Ele teve de estudar muito e morar afastado de alguns irmos, por isso se aproximou da famlia Guasque.

    Ao ingressar na Escola de Aero-nutica, Moreira Lima se ausentou um pouco dessa convivncia, regres-sando apenas quando cursava o se-gundo ano, j com 16 anos de idade. Neste momento, nasceu a paixo en-tre o casal. Contudo, o namoro se fir-mou somente quando Moreira Lima se formou como Aspirante a Oficial, com 19 anos.

    O namoro durou at o casal com-pletar 21 anos, quando vieram a se ca-sar. A criao elucidada e aberta da famlia Guasque permitiu uma gran-de cultura para a esposa e os dilogos com a mesma foram fundamentais para avanarem durante a vida.

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    Moreira Lima aos 19 anos, como aspirante-a-oficial, em fotografia de Rembrandt, feita no Rio de Janeiro no ano de 1945. [Acervo de Anna

    Guasque Moreira Lima]

    Bolacha do 2 Grupo de Aviao de Caa

    Anna Guasque teve enorme impor-tncia em sua vida, pois era a pessoa que lhe dava apoio, conselhos e con-forto emocional desde seus tempos de mocidade.

    Devido infncia difcil, tendo o pai deixado parcos recursos, a me teve de morar com ele e a irm em uma penso, distanciando-o dos ou-tros irmos. Moreira Lima admirava seu irmo Felipe, pois o mesmo con-tribua para o sustento da famlia, gra-as a sua carreira na FAB, outra mo-tivao para no desistir da carreira militar. Aps a tragdia de seu irmo, Moreira Lima ainda teve de enfrentar a perda da me muito jovem.

    Em 18 de dezembro de 1945, foi declarado Aspirante a Oficial Aviador. O dia de sua formatura deveria ser um momento de grande alegria. Contudo, o jovem Aspirante teve de dividir sua felicidade com o infortnio da ainda recente morte da me, que faleceu de cncer em outubro de 1945.

    Como Aspirante, apresentou-se no 1 Regimento de Aviao da Base A-rea de Santa Cruz, sendo designado para o 2 Grupo de Aviao de Caa (2 GAVCA).

    Essa Unidade Area foi criada em 17 de agosto de 1944, na Base Area de Natal, e transferida em 5 de outu-bro do mesmo ano para a Base Area de Santa Cruz, onde passou a integrar o 1 Regimento de Aviao.

    Alguns dos veteranos do 1 Grupo de Aviao de Caa, que atuaram na Campanha da Itlia (1944-1945), fo-ram transferidos para o 2 GAVCA, que passou a operar, alm da aeronave P-40, tambm o avio Republic P-47.

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    Em 28/08/1946, foi promovido a 2 Tenente Aviador, pilotando avies de caa como o P-47, considerado pelos jovens aviadores da poca como o nir-vana da Aviao.

    Neste perodo, recebeu elogios do Presidente da Repblica, do Ministro da Aeronutica e do Comandante da 3 Zona Area pela perfeio e brilhantismo com que conduziu a demonstrao area ocorrida no dia 11/10/1946, no 1 Regimento de Aviao; e, ainda, conforme ressaltou o Tenente-Coronel Avia-dor Armando Perdigo, pelo alto grau de disciplina, grande capacidade profis-sional, amor ao trabalho e perfeito conhecimento de seus deveres, qualidades que muito tem facilitado a tarefa deste comando (Histrico Militar 1946).

    P-47

    A paixo por voar era tamanha que Moreira Lima quebrou a barreira do som quando Ministro, fato ocorrido durante as comemoraes do Dia da Aviao de Caa, na Base Area de Santa Cruz.

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    Medalha de Campanha no Atlntico Sul

    No dia 29/09/1947, foi promovido a 1 Tenente Aviador, sendo designa-do para o Agrupamento de Ensino da Escola de Aeronutica, para a funo de instrutor da 3 Seo de Estgio Primrio. sobejamente conhecido que, aps a 2 Guerra Mundial, a For-a Area Brasileira vivenciou o reequi-pamento da frota, adquirindo avies oriundos da Guerra, tais como: B-25, Ventura, Catalina e C-47. Posterior-mente, em 1953, adveio a compra dos Glosters, que representaram uma ver-dadeira modernizao, consolidando o poderio e a importncia da aviao no Brasil.

    O Tenente-Brigadeiro Moreira Lima vivenciou toda a modernizao da FAB e contribuiu para a formao dos pilotos durante muitos anos, na funo de instrutor de voo, que exer-cia com grande esprito de coopera-o, sendo diversas vezes elogiado pelo sucesso com que conduzia os trabalhos, demonstrando ser possui-dor de exata noo de cumprimento do dever a par de acentuado esprito militar e de esmerada educao civil (Histrico Militar 1957).

    O profissionalismo e o compro-metimento com os ideais da Fora Area foram constantes na carreira de Moreira Lima, que, muito modes-tamente, julgou ter tido uma carrei-ra normal, pois, como todo militar,

    galgou os postos de acordo com os regulamentos e a legislao. Essa uma caracterstica que enfatizava, a respeito da transparncia do processo de seleo da FAB, pois, na carreira militar, existe um processo de seleo meritocrtico, no qual o militar vai realizando cursos de aperfeioamen-to e, assim, galgando os degraus em funo do mrito e valor profissional, e no por favorecimento.

    Dessa forma transparente e disci-plinada, o Tenente Octvio Jlio Mo-reira Lima foi promovido ao posto de Capito Aviador em 12/10/1950, quando foi agraciado com a Medalha da Campanha do Atlntico Sul, con-cedida aos militares que contriburam

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    com a vigilncia do litoral, no trans-porte areo de pessoal e material ne-cessrio ao sucesso da campanha, nos servios relativos segurana de voo e eficincia das operaes dos avi-es comerciais e militares executadas no perodo de 1942 a 1945.

    Em 1953, foi transferido para a Base Area de Natal, onde ocupou a funo de Chefe de Servios. No ano seguinte, em 1954, foi designa-do para ser o Chefe de Operaes. No ano de 1955, foi transferido para a Base Area de Belm, onde se tor-nou Chefe da Diviso de Instruo Especializada.

    Em 28/01/1957, foi promovido a Major Aviador e transferido nova-mente, desta vez para o Rio de Janei-ro, passando a servir como Coman-dante do Esquadro de Comando e, posteriormente, Comandante do Es-quadro de Material, ambas funes na Base Area do Galeo, cargos que desempenhou com brilhantismo e de-dicao.

    Nesses idos, j completava 10 anos de servio, sendo condecorado com a Medalha Militar de Bronze e Passa-dor de Bronze. Ao longo desse tem-po, j havia desempenhado diversas funes, realizado vrias viagens e acumulado algumas transferncias de Organizaes.

    Para um militar, cada transferncia significa muitas mudanas que acabam envolvendo toda a famlia. Durante a Assemblia Nacional Constituinte de 1985, esse foi um dos pontos que Mo-reira Lima, j no cargo de Ministro da Aeronutica, ressaltou para diferen-ciar o funcionalismo militar do fun-cionalismo pblico em geral. O civil tem uma carreira estvel, no est su-jeito a transferncias; j o militar tem dedicao integral, ele no tem hor-rio, e isso inclui estar pronto para mo-vimentaes sempre que necessrio. Conclua, ento, que esses fatores de-monstram que a carreira militar uma carreira diferente das outras. No melhor, nem pior. apenas diferente (Lima, 2001, p. 126).

    DeDicao e eficincia no comanDo De TransporTe areo

    Ainda no posto de Major Aviador, esteve lotado no Comando de Trans-porte Areo, de 1959 a 1961, onde ocupou o cargo de Fiscal Administra-tivo, demonstrando grande capacida-de profissional e esprito militar bem formado.

    Em 20 de abril de 1961, apresentou-se na Base Area dos Afonsos para as-sumir o cargo de Comandante do Es-quadro de Comando. Nesse mesmo ano, o cenrio poltico brasileiro ficou

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    bastante conturbado devido renn-cia de Jnio Quadros, ocorrida em 25 de agosto de 1961.

    Na ocasio, Moreira Lima foi elo-giado pelo Comandante da Base A-rea dos Afonsos pela conduta leal, disciplinada, revestida de acentuado esprito de corpo, vivida em todos os tumultuados momentos dos dias e noites que se seguiram aos recentes acontecimentos decorrentes da renn-cia do Exmo. Sr. Presidente da Rep-blica (Histrico Militar 1961).

    a criao Do projeTo DacTa (cinDacTa)

    Aps diplomar-se no Curso de Comando e Estado-Maior, em 1962, foi promovido a Tenente-Coronel, em janeiro de 1963. Nessa poca, foi designado para a Escola de Coman-do e Estado-Maior da Aeronutica (ECEMAR), onde exercia a funo de instrutor de Defesa Area, cumprindo a misso com maestria e honrando o nome da Fora Area Brasileira.

    O Brigadeiro Moreira Lima sem-pre falava com orgulho de sua par-ticipao, juntamente com o grupo da Escola de Comando e Estado-Maior, na criao do Projeto Defesa Area e Controle do Trafego Areo (DACTA) em 1967. Hoje, este Pro-jeto concretiza-se nos Centros Inte-

    grados de Defesa Area e Controle de Trafego Areo (CINDACTA), elos permanentes do Sistema de Controle do Espao Areo (SISCEAB) e do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), prestando servios de gerenciamento de trfego areo, defesa area, informaes ae-ronuticas, meteorologia aeronutica, telecomunicaes aeronuticas e bus-ca e salvamento.

    Num momento da histria de nosso pas, quando pouco havia em termos de Defesa Area, o que nos tornava extremamente vulnerveis, tendo em vista o aumento do nmero de pas-sageiros e de aeronaves no novo mer-cado de transporte areo, era extre-mamente necessria a formulao de um grande sistema, porm, os custos desta tecnologia so extremamente al-tos, e o pas no dispunha de recursos para gastar excessivamente.

    O Controle de Trfego Areo civil ocupa 98% de seu funcionamento, seja com o controle dos planos de voo re-petitivos ou simultneos, ou a anlise dos dados enviados pelos modernos radares, estabelecendo a comunicao em tempo real entre as aeronaves e os rgos de controle. Esta ocupao do sistema em tempo real deixa ape-nas 2% de seu funcionamento para a parte militar, restrito a treinamentos e interceptaes. Entretanto, se houver

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    um grave problema, uma necessidade de vigilncia area para a proteo do espao areo brasileiro, com a utiliza-o de aeronaves militares, o sistema, automaticamente, est apto a assumir todas essas operaes.

    Ao aliar a Defesa Area com o Controle de Trfego Areo houve uma reduo dos custos pela metade. nico no mundo, o sistema se tornou alvo de elogios das maiores naes. Enquanto os outros sistemas so du-plicados, aqui no Brasil usam-se os mesmos radares e os mesmos siste-mas de comunicao, com a exceo de alguns canais militares, restritos por medida de segurana. Segundo as palavras do Brigadeiro: ns no inventamos a roda, mas a aperfeioa-mos. Ns no inventamos nada, mas criamos algo que no havia no mun-do (Lima, 2001, p. 64).

    A afeio do Brigadeiro ao projeto pode ser realada em sua orao: eu recebi, durante a minha gesto, vrias visitas do Comandante da Fora Area dos Estados Unidos, da Unio Sovitica, de todo mundo. E, o DACTA o nosso carto de visitas. uma beleza, primeiro mundo (Lima, 2001, p. 66).

    A primeira atuao de Moreira Lima na ECEMAR encerrou-se em 1965, quando foi desligado do quadro efe-

    tivo da Escola, para assumir a funo de Oficial de Gabinete do Ministro da Aeronutica, no sem antes receber os costumeiros elogios pela excepcional colaborao prestada e rdua tarefa de ministrar os currculos de Defesa A-rea e de Operaes Aeroestratgicas.

    aTuanDo como oficial Do GabineTe Do minisTro

    A funo desempenhada no Gabi-nete do Ministro Tenente-Brigadeiro Eduardo Gomes considerado por Moreira Lima um grande lder dentro da Aeronutica teve incio em junho de 1965 e trmino em maio de 1966. Durante esse perodo, foi designado para realizar cursos na Air Command and Staff School, da Air University, nos Estados Unidos da Amrica, cuja misso preparar o militar para de-senvolver, empregar comandos im-portantes no ar e no espao, atuando em operaes conjuntas, multinacio-nais e interagncias.

    Para Moreira Lima, o tempo em que serviu no Gabinete do Ministro Eduar-do Gomes foi de grande aprendizado, pois como o prprio afirmava via nele um exemplo para tudo. Admirava o seu posicionamento poltico pelo fato de ter sido companheiro de luta do seu pai durante a Revolta Tenentista de 1924, e por ter participado de impor-

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    O Ten Cel Octvio Jlio Moreira Lima recebendo certificado de concluso de curso da Air Command and Staff School, em

    Montgomery, Alabama (Estados Unidos), no ano de 1966. [Acervo de Anna Guasque Moreira Lima]

    tantes episdios polticos e militares que marcaram a trajetria nacional.

    O Marechal-do-Ar Eduardo Gomes foi um exemplo de liderana, firme-za e idealismo. Com determinao e profissionalismo, enfrentou o desafio do Correio Areo Nacional (CAN), agente incontestvel da integrao do pas. Pela dignidade, lealdade, inaba-lvel f nos valores morais e absolu-ta crena no iderio democrtico, foi, com muito merecimento, distinguido com o ttulo de Patrono da Fora A-rea Brasileira.

    Em pronunciamento no dia 12/06/1989, o Ministro Moreira Lima enfatizou a importncia do CAN, que possibilitou a materializa-o do sonho da verdadeira afirma-o da nacionalidade. Os desafios das extensas e distantes rotas foram sobrepujados pelos persistentes in-tegrantes que contriburam, sobre-tudo, para que diferentes faces do Brasil se unissem no mesmo sorriso que via chegar o apoio mdico, os livros, o alimento, a salvao para inmeras vidas.

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    Durante a atuao no Correio A-reo Nacional, h inmeras histrias que relatam as experincias de Mo-reira Lima. A senhora Anna Guasque Moreira Lima relatou, em agradvel entrevista concedida ao INCAER, que as tempestades tropicais do tra-jeto amaznico, os pousos de emer-gncia, dormir na delegacia precria onde os morcegos eram os aviadores noturnos do local sem teto, foram al-gumas das situaes experimentadas (Lima, 2014).

    De dezembro de 1971 a outubro de 1972, Moreira Lima assumiu a Subche-fia do Gabinete do Ministro Tenente-Brigadeiro do Ar Joelmir Campos de Araripe Macedo, a quem considerava um excelente administrador, timo tcnico e possuidor de simplicidade extraordinria. Durante essa gesto frente do Ministrio, a Fora Area passou por grandes investimentos, tanto na Aviao Militar, com a com-pra de inmeros avies de caa, como na Aviao Civil, adotando tcnicas e mtodos empresariais para a adminis-trao dos aeroportos brasileiros.

    Moreira Lima ficou menos de um ano na Subchefia, mas o suficiente para deixar um aprecivel acervo de realizaes, graas a uma perfeita ad-ministrao e sadio emprego dos bens a ele confiados. Essas e outras quali-dades foram ressaltadas pelo Chefe

    do Gabinete, Brigadeiro Joaquim Ves-pasiano Ramos, que, por justia e por merecimento, proferiu o elogio ao en-to Cel Moreira Lima, para que ficasse gravado nas suas folhas de alteraes.

    Sobre o Ministrio de Araripe, chegou a afirmar que sem desme-recer os demais, talvez tenha sido o melhor Ministro que a Aeronutica teve (Lima, 2001, p.59). Aps o seu falecimento, em 12 de abril de 1993, o nome do Ten Brig Araripe foi, de imediato, objeto de indicao pelo INCAER e aprovao pelo Ministro Llio Viana Lobo, tornando-se um dos Patronos do Instituto, em 28 de julho de 1993, Cadeira n 15, atual-mente ocupada pelo prprio Tenen-te-Brigadeiro Lobo.

    DeleGaDo Da orGanizao De aviao civil inTernacional

    (oaci)

    Moreira Lima foi designado, por ne-cessidade de servio, para fazer parte da Organizao de Aviao Civil In-ternacional, como Delegado represen-tante do Brasil, entre os anos de 1972 a 1975, em Montreal, no Canad. A sua escolha para to destacado cargo, de elevadas responsabilidades, tradu-zem bem o seu alto valor profissional e pessoal. A sua privilegiada intelign-cia, reconhecida combatividade em

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    o reTorno ao TransporTe areo

    No ano de 1975, j promovido ao posto de Brigadeiro, deixou o cargo de Delegado para assumir a funo de Chefe do Estado-Maior do Comando-Geral do Ar (COMGAR), que tinha como comandante o Tenente-Brigadei-ro Dlio Jardim de Mattos. Dois anos aps, em 26/04/1977, foi designado para a funo de Comandante da Quin-ta Fora Area de Transporte Areo (V FATA), no Campo dos Afonsos.

    A V FATA era subordinada ao Comando de Transporte Areo (COMTA), que abrangia todas as Uni-dades de Transporte de Tropa e as de Transporte Areo, inclusive o Correio Areo Nacional. As principais incum-bncias da Unidade consistiam em gerenciar os assuntos referentes ao transporte da tropa e ao reabasteci-mento em voo.

    Durante o exerccio do cargo, foi enaltecido pelo Major-Brigadeiro do Ar Rodolfo Becker Reifschneider, Co-mandante do COMTA, pelas qualida-des brilhantes de Chefe, pela opor-tunidade de amizade solidificada no trato dirio e, sobretudo, pela maneira franca, leal e amiga de conduzir o re-lacionamento de seu Estado-Maior e de suas Unidades Areas (Histrico Militar 1980).

    argumentar, capacidade de trabalho e marcante personalidade de oficial ca-paz e ntegro, antecipava a certeza do sucesso que conduziria a misso.

    Essa Organizao foi criada em 1944, com a assinatura da Conveno da Aviao Civil Internacional - cha-mada de Conveno de Chicago e, em 1947, tornou-se uma Agncia da Organizao das Naes Unidas (ONU), com sede em Montreal e es-critrios regionais em Bangkok, Cairo, Dakar, Lima, Mxico e Paris.

    A principal atividade da OACI promover a padronizao internacio-nal das prticas e recomendaes a se-rem observadas pelos pases nos pro-cedimentos tcnicos da aviao civil, na qualificao e habilitao do pes-soal navegante e de terra, nas regras de circulao no espao areo, meteo-rologia, mapas aeronuticos, unidades de medidas, operao de aeronaves, nacionalidade e registro de aeronaves, certificados de navegabilidade, comu-nicaes aeronuticas, trfego areo, busca de salvamento, investigao e preveno de acidentes, rudo e segu-rana. Prticas importantes no jogo poltico entre as Foras Armadas e o mundo civil, mantendo o Brasil atuali-zado e participante dentro do cenrio internacional.

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    Ainda nessa funo, presidiu a Co-misso Coordenadora das Comemo-raes do Cinqentenrio do Correio Areo Nacional.

    Em 1980, j promovido a Major-Brigadeiro do Ar, assumiu o COMTA, conduzindo-o com dedicao e efi-cincia. A competncia no cargo foi reconhecida e louvada pelo Tenente-Brigadeiro do Ar Alfredo Henrique de Berenguer Cesar, Comandante do Comando-Geral do Ar (COMGAR), nos seguintes termos:

    No momento em que o Ten Brig Octvio Jlio Morei-ra Lima encerra a sua partici-pao no Comando de Trans-porte Areo, aludimos sobre a sua importante atuao nesses dois anos e meio de exerccio. Durante esse perodo, S Ex, dispondo dos meios areos da nossa fora de transporte, deu provas de sua inteligncia de grande cultura geral e pro-fissional, propiciando a iden-tificao clara e simples dos objetivos para o cumprimento da misso do COMTA. Con-siderando da melhor forma os dados e os meios dispon-veis, pode S Ex traduzir uma perfeita harmonia das aes, alinhando-as com o preparo e

    emprego da nossa Fora Area, facilitando assim, e de modo especial, a realizao das tare-fas no Comando-Geral do Ar (Histrico Militar 1982).

    a escolha pela neuTraliDaDe e conciliao o minisTrio Do briGaDeiro moreira lima

    Em 1982, foi designado para as-sumir o Comando-Geral de Apoio (COMGAP), rgo de Direo Seto-rial, que tem por finalidade assegurar

    a consecuo dos objetivos da Poltica Aeroespacial Nacional, no mbito do apoio logstico de material e servios, permitindo o funcionamento das di-ferentes Organizaes do Comando da Aeronutica, bem como a opera-o efetiva do COMGAR.

    O COMGAP, em outras palavras, um rgo vital para que a Fora Area consiga cumprir sua misso maior, que : manter a soberania no espao areo brasileiro, com vistas defesa da Ptria.

    Esse cargo foi exercido, mais uma vez, com maestria, concretizando im-portantes aes para elevar ainda mais a grandeza da Aeronutica. O Briga-deiro deixou o cargo para se tornar Ministro da Aeronutica, a convite do Presidente Tancredo Neves.

  • O Ministro Conciliador 19

    A dcada de 1980 foi uma poca de abertura poltica, lenta e gradual, em que o antigo sistema bipartidrio j se ramificara em diversos partidos, com ideologias heterogneas, indo alm de governo e oposio.

    A partir de 1982, os governadores voltaram a ser eleitos de maneira dire-ta representando as legendas de seus partidos. Restava apenas a eleio para Presidente da Repblica.

    Cabe mencionar a Emenda Dante de Oliveira, que propunha a realizao de eleies diretas para Presidente da Repblica, j em 1985, o que gerou a campanha pelas Diretas J, contan-do com apoio macio da populao. Apesar disso, a Emenda no passou no Congresso, e o supracitado plei-to foi realizado de maneira indireta, consagrando Tancredo Neves como vencedor, em 15 de janeiro de 1985, e encerrando o ciclo de vinte e um anos de governo militares.

    Entretanto, o Presidente eleito esta-va muito adoentado. Seu quadro m-dico evoluiu para uma infeco gene-ralizada, e ele veio a falecer no dia 21 de abril. Sarney, seu vice, tomou posse no dia 15 de maro de 1985, cumprin-do todos os pontos da agenda de go-verno de Tancredo, a comear pelas eleies diretas para todos os cargos, legalizao dos partidos e convocao da Assembleia Constituinte.

    A escolha de Moreira Lima como Ministro, aos 58 anos de idade, se deu por uma srie de motivos, desta-cando-se a incontestvel honestidade, fidelidade ptria, e lealdade Fora. ntegro e elogiado por onde passou, primava, rigorosamente, pela discipli-na e hierarquia (pilares das Foras Ar-madas), como dizia: um dos pontos bsicos da vida militar a hierarquia. E essa no pode ser quebrada, porque a o caos. a degradao completa do servio militar, da instituio militar, da rea militar (Lima, 2001, p.103).

    A deciso por Moreira Lima tam-bm havia sido justificada por Tancre-do pela trajetria militar impecvel, conhecimento profundo da Fora e, ainda, o fato de ter sido o primei-ro ministro formado integralmente na Aeronutica, desde os primeiros postos. Tancredo acreditava ser mais justo e conveniente nomear ministros militares que pertencessem aos seus respectivos Altos-Comandos.

    O Alto-Comando da Aeronutica o rgo encarregado de assessorar o Comandante da Aeronutica nos pro-blemas relativos definio da Poltica Aeroespacial Nacional, nas suas altas atribuies e em outros assuntos de relevncia - em particular de organi-zao, administrao e logstica - para a formulao da orientao bsica das atividades da Fora Area.

  • Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima20

    Quando foi feita a escolha, Moreira Lima e esposa foram chamados a Bra-slia pelo presidente eleito, comunica-do feito por intermdio do Tenente-Brigadeiro Deoclcio, que se mostrou muito feliz com a escolha: foi exce-lente. No poderia ter sido melhor. Ele meu amigo, torceu por mim at o ltimo momento e foi como se ti-vesse escolhido a mim (Jornal do Brasil, fev. 1985).

    A primeira vez em que Moreira Lima falou pessoalmente com Tancre-do Neves foi quando recebeu o con-vite para assumir o Ministrio da Ae-ronutica. Segundo o Brigadeiro, Tan-credo explicou que a predileo pelo seu nome, mesmo sabendo do apoio que dava ao amigo Deoclcio, o mais cotado para assumir o cargo, se deu pelo seguinte motivo: Brigadeiro, eu escolhi seu nome, dentre alguns que estavam disponveis, porque eu no queria algum que j estivesse como ministro do STM; queria algum que viesse da tropa, tivesse um comando (Lima, 2001, p.88).

    Moreira Lima ficou verdadeira-mente surpreso com sua escolha, a qual no esperava, mas o convite foi aceito de prontido. Neste mesmo encontro, j foram traadas linhas e

    metas para a sua gesto, onde o foco era um governo sem vinditas, onde imperava a conciliao nacional, con-sequentemente, conciliao dentro das Foras Armadas.

    Ao assumir o Ministrio, uma das primeiras medidas foi formar uma equipe de trabalho com profissionais especializados, experientes, com com-provada competncia e, acima de tudo, leais. A lealdade de seus subordinados era fundamental para Moreira Lima, mas uma lealdade consciente, at o ponto em que os pensamentos de seu lder no venham a ferir sua tica nem seus princpios, diferentemente do que ele chamava de lealdade ca-nina, em que o subordinado vai atrs do dono, e faz tudo o que ele man-dar sem refletir. Inclusive, era prefer-vel para o Brigadeiro ter comandados que falassem suas opinies sinceras, quando questionados.

    Mesmo como Ministro, sempre mostrou humildade, companheirismo e reconheceu a importncia do tra-balho em equipe e de cada militar no cumprimento de suas misses, no im-portando a patente, como costumava dizer: um homem sozinho no con-segue fazer nada, somente o faz quan-do cercado de sua equipe motivada.1

    1 Disponvel em http://www.fab.mil.br/noticias/mostra/7198/FAB-despede-se-do-ex-ministro-Oct%C3A1vio-J%C3%BAlio-Moreira-Lima.Acessado em 28/03/2014

  • O Ministro Conciliador 21

    Outros fatores contribuintes para a nomeao do Brigadeiro Morei-ra Lima foram o seu carisma e tom apaziguador. Sua capacidade de fazer amigos por onde passou e de conci-liar interesses, tomando as decises mais corretas possveis para todos os envolvidos, fizeram-no ser conheci-do entre seus pares como Tancredo de farda.

    Assim que assumiu o Ministrio, em sua poltica conciliadora, Moreira

    Lima procurou resolver as contendas que existiam. Logo, concluiu que a conturbao com o Ministrio ante-rior resumiu-se s divergncias polti-cas. Sobre isso, o Brigadeiro proferiu que embora ns tivssemos discor-dncia na rea poltica, voc convive com a pessoa 40, 50 anos, e acaba existindo afinidade profissional. As divergncias, a gente tem, moment-neas, principalmente na rea poltica. Mas, foi isso o que ocorreu (Lima, 2001, p.100).

    O Ten Brig Ar Octvio Jlio Moreira Lima lendo o discurso de posse como Ministro da Aeronutica, na Base Area de Braslia, em 15 de maro de 1985. De terno e gravata, Dlio

    Jardim de Mattos. [Acervo de Anna Guasque Moreira Lima]

  • Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima22

    aTuao como minisTro

    Sua gesto foi marcada pela pouca ocorrncia de conflitos, pela atuao em defesa da Aeronutica na elabo-rao da Constituio da Repblica, pelo investimento em reequipar a Fora Area com novas aeronaves, e pelos investimentos em tecnologia, dentro do oramento possvel. Com relao ao convvio, o Presidente Jos Sarney, segundo o prprio Moreira Lima, sempre foi pautado pela deli-cadeza, gentileza e irrestrita confiana nos Ministros Militares.

    A tranquilidade e a disciplina trans-correram sem problemas durante o seu mandato. O prprio Brigadeiro costumava dizer que, nos cinco anos como Ministro, nunca houve uma prontido, na Aeronutica. Nunca houve nada. Indisciplina, nada. Tive uma gesto maravilhosa, sob esse as-pecto disciplinar. A tropa impecvel. Os nicos problemas que eu poderia citar foram os problemas na aviao civil. Quando eu fiz a interveno na Nordeste e na Transbrasil (Lima, 2001, p.103).

    Poucas intervenes oficiais tive-ram de ser feitas ao longo de seu man-dato. O caso em que teve de impor sua autoridade com mais afinco foi na crise financeira da Transbrasil. Con-tudo, a longa e slida experincia do

    ento Major-Brigadeiro Moreira Lima no Comando de Transporte Areo lhe deu a sabedoria para intervir de forma positiva nesse evento ocorrido durante o seu Ministrio. Na ocasio, a administrao da Companhia Area Transbrasil estava passando por srios problemas e precisava de uma gran-de quantia para sanar as dvidas que se acumulavam. O empresrio Omar Fontana, dono da empresa, solicitou que o Ministrio fizesse a interveno, pois essa era a nica forma de evitar que a empresa falisse.

    O Ministro levou a situao at o Presidente Sarney, que autorizou um emprstimo junto ao Banco do Bra-sil para sanar a dvida da Companhia Area. Com essa interveno, ajudou a Transbrasil a se reerguer, evitando que 5 mil pessoas, funcionrios da Empresa, ficassem desempregados. Situaes como essa reforavam ainda mais a convico do Ministro de que o controle da Aviao Civil deveria permanecer no mbito do Ministrio da Aeronutica.

    Em seu mandato, manteve-se sem-pre atuante no contato com as lide-ranas no Congresso e exerceu grande influncia na elaborao da Constitui-o da Repblica de 1988, em defesa da Aeronutica e dos valores por ela defendidos, devido ao seu bom rela-cionamento e simpatia natural. En-

  • O Ministro Conciliador 23

    tretanto, havia pontos controversos, como o embate com grupos que que-riam reduzir a importncia do papel das Foras Armadas dentro da socie-dade brasileira. Nos pontos mais po-lmicos, teve de atuar prximo s li-deranas do poder legislativo naquele momento decisivo para a elaborao da nova Constituio.

    O tema mais relevante quanto atuao do Brigadeiro Moreira Lima durante a Constituinte foi, sem dvi-da, o problema da aviao civil. Havia um grupo de parlamentares que pro-curava, por meio de uma incluso na Constituio, retirar a aviao civil do mbito do Ministrio da Aeronutica e migrar para outro ministrio. O ar-gumento deste grupo e do Sindicato dos Aeronautas era que a aviao civil necessitava de mais liberdade. Acredi-tavam que os militares limitavam uma ao maior da categoria e, por isso, estavam prejudicados. Manifestavam-se tambm a favor da cabotagem com empresas estrangeiras que pretendiam fazer voos nacionais, prtica rechaa-da pelo Ministro Moreira Lima, pois, em sua opinio, colocaria a aviao do Brasil em risco.

    O Ministro Moreira Lima proi-biu essa prtica, pois sabia que, caso isso ocorresse, as empresas brasileiras iriam falncia, uma vez que no ha-veria como concorrer com empresas

    americanas, por exemplo, que com-pravam aeronaves com juros baixos e ainda tinham o diferencial do preo do combustvel, que era e ainda muito mais barato. Em 1972, como Coronel, foi membro do Conselho Nacional de Petrleo. Por isso, sabia administrar e justificar os altos custos do combust-vel areo brasileiro.

    Moreira Lima ressaltava o domnio tcnico da FAB na aviao, assim como a segurana e estabilidade que a Insti-tuio transmitia s companhias areas, que, por sua vez, no demonstravam nenhum tipo de interesse em deixar o Ministrio da Aeronutica, cujo nico objetivo atender a contento o pas, sem influncia de ideais polticos.

    A infraestrutura oferecida pela Aeronutica quanto administra-o dos aeroportos e da proteo ao voo, assim como a reduo de custos numa rea extremamente tecnolgica e muito onerosa, j justificaria a ma-nuteno do controle militar sobre a aviao civil. A administrao tcnica provida pela instituio militar geral-mente gere, com eficcia, suas deman-das, por no ter seu foco desviado pelos interesses diversos, naturais no meio poltico. Alm de cada ministro militar, assim como sua equipe, ser ca-pacitado para cada funo especfica, depois de ter acumulado anos de ex-perincia na rea.

  • Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima24

    Com isso, depois de defender com afinco a posio da Aeronutica, o Brigadeiro Moreira Lima conseguiu assegurar, aps uma apertada votao, o controle da aviao civil para melhor servir ao pas, mantendo uma poltica, como dizia o Ministro: que segue pro-curando atender aos interesses do pas, ou seja, do usurio, da populao.

    Quando assumiu o Ministrio, havia dois programas sob administrao da Aeronutica, porm com oramento prprio, ou seja, diretamente financia-dos pela Presidncia da Repblica: o Programa Nuclear, que lidava com os processos de beneficiamento de ur-nio; e o Programa Espacial, com vis de lanamento de foguetes e satlites.

    Devido escassez de recursos fi-nanceiros que o Brasil enfrentava, os dois programas no tiveram mais apoio direto da Presidncia. Com isso, o Programa Nuclear foi reduzi-do ao mnimo, contemplando apenas pesquisas, para que a Aeronutica pudesse dar nfase aquisio de no-vos equipamentos.

    Com relao ao Programa Es-pacial, este renderia mais frutos ao progresso brasileiro. Portanto, duran-te seu mandato, o Ministro Moreira Lima procurou prosseguir com a im-plantao do Centro de Lanamento de Alcntara (CLA), no Maranho,

    rea privilegiada para esta atividade, devido proximidade com a linha do Equador, gerando grande economia no combustvel dos foguetes, poden-do atingir um patamar entre 13% e 31% superior a do mesmo veculo, se lanado de outros centros localizados em latitudes mais elevadas.

    Hoje, o Brasil mantm diversos acordos comerciais, angariando fun-dos monetrios com o aluguel do es-pao e da estrutura do Centro de Lan-amento para diversos pases. Fora a construo da prpria tecnologia e o lanamento dos prprios satlites, to necessrios para o desenvolvimento, economizando milhes dos cofres pblicos.

    Na ocasio, havia o Centro de Lanamento da Barreira do Inferno (CLBI), situado na cidade de Natal - RN, que, apesar de possuir vrias caractersticas vantajosas, experincia acumulada e qualidade comprovada, apresentava importantes restries para lanamentos de veculos maio-res, do porte do atual VLS-1 e supe-riores. Ademais, sua rea operacional tornara-se mais restrita, devido ao crescimento urbano em seu entorno. Por isso, a criao do CLA foi pro-posta, depois de uma criteriosa avalia-o dos possveis locais, atendendo s necessidades econmicas e de cresci-mento futuro.

  • O Ministro Conciliador 25

    Os sucessos obtidos no CLA muito orgulhavam o Ministro Moreira Lima que chegou a proferir em seu discurso no dia do lanamento:

    Projeto ambicioso, que co-loca o Brasil no restrito grupo de pases que possuem seus prprios programas espaciais [...] Foram anos de trabalho, de dedicao e de sacrifcio. Podemos agora admirar os re-sultados que so, fundamental-mente, fruto da orientao do Governo Federal, atravs do Ministrio da Aeronutica, em procurar, com perseverana e objetividade, o desenvolvimen-to cientfico e tecnolgico de suas organizaes, consciente de estar participando, de forma significativa para o desenvolvi-mento do pas.

    Embora o CLA tenha obtido gran-des avanos durante sua gesto, mes-mo com as dificuldades financeiras do pas, o Ministro teve que dividir sua ateno, tambm se preocupando em reequipar a Fora, sendo esta a marca de sua gesto.

    Quanto a esse reequipamento, adqui-riu e recebeu um considervel nmero de aeronaves, entre avies de transpor-te, treinamento e caa, para equipar e recompor as Unidades Areas.

    Ao longo de sua gesto, Moreira Lima deu segmento a um importante projeto que, em sua opinio, era fun-damental para o desenvolvimento tec-nolgico da aviao brasileira e de sua autonomia perante as outras naes. Tratava-se do projeto AMX, que for-taleceu a EMBRAER com a produo de tecnologia prpria, inclusive com o desenvolvimento de materiais com-postos de fibra de carbono, o mais moderno ento utilizado, a ponto de vender peas para a fabricao de ae-ronaves americanas, representando um grande avano tecnolgico para a Fora Area.

    Segundo o site do Centro Histri-co EMBRAER2, em 1978, foi criado o programa do caa subsnico AMX (A de Aeritlia, M de Macchi e X de experimental) onde, aps um perodo de suspenso dos trabalhos, em 1980, autoridades aeronuticas brasileiras anunciaram a deciso de participar do

    2 Disponvel em http://www.centrohistoricoembraer.com.br/pt-BR/HistoriaAeronaves/Paginas/AMX.aspx.Acessado em 28/03/2014

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    programa italiano, deciso oficializada quase um ano depois, em 27 de mar-o de 1981, quando foi assinado um acordo entre os dois pases. As em-presas italianas ficaram responsveis por cerca de 70% do programa e a Embraer pelos 30% restantes. Coube EMBRAER o desenvolvimento e a fabricao das asas, tomadas de ar do motor, estabilizadores horizontais, pi-lones subalares (cabides de armas) e tanques de combustvel. Depois ha-veria uma troca dos componentes e da tecnologia para a fabricao dos avies em seus respectivos pases.

    O AMX foi concebido como avio monomotor, monoposto, especiali-zado para misses de ataque, privile-giando robustez e confiabilidade para misses de alta exposio, com longo alcance (compatvel com as dimenses continentais de nosso pas, incluindo capacidade de reabastecimento em voo), e a incorporao de tecnologias avanadas de sistemas de computao, navegao e ataque e contramedidas eletrnicas. Sendo um avio de caa e ataque, apresentava menor custo que seus concorrentes.

    A apresentao oficial do avio ocorreu na Itlia, em maio de 1985, e o primeiro prottipo do AMX construdo no Brasil fez seu primeiro voo oficial em outubro daquele ano. Em 1988, o primeiro AMX de

    fabricao seriada voou na Itlia e a primeira entrega FAB ocorreu em outubro de 1989, que adquiriu um total de 54 aeronaves.

    na Direo Do insTiTuTo hisTrico-culTural Da aeronuTica (incaer)

    Ao deixar o cargo de Ministro, o Tenente-Brigadeiro Moreira Lima ressaltou, em seu discurso de despedi-da, que, durante quarenta e sete anos, pertenceu mesma Instituio, a qual deixava com o misto de saudade, mas tambm de alegria por ter a certeza do dever cumprido.

    Com orgulho, exaltou que a Aero-nutica lhe proporcionou, ao cortar dos ventos, pairando sobre campos e mares, desempenhar o papel de servo, e, ao mesmo tempo, ser o protagonis-ta aplicado de insondveis desgnios

  • O Ministro Conciliador 27

    dos cus, privilgio dos aviadores (Lima, 1990, p.85-88).

    Ao proferir o discurso, no ima-ginava que sua misso na FAB ainda no tinha chegado ao fim. Em setem-bro de 1992, foi convidado para inte-grar o Conselho Superior do Instituto Histrico-Cultural da Aeronutica, ocupando a Cadeira n 4, cujo Patro-no o Sr. Eduardo Pacheco Chaves, considerado o 3 Aviador do Brasil.

    O Conselho formado por pro-fissionais de diversas reas que con-

    tribuem, de algum modo, para a pre-servao da Cultura e Memria da Aviao brasileira, alm de possurem comprovada capacidade intelectual e gozarem de reconhecido valor no seio da aviao brasileira.

    Em novembro seguinte, cerca de dois anos aps ter ido para a reserva, recebeu o convite do Ministro Llio Viana Lbo para assumir a Direo do INCAER, onde permaneceu por 17 anos, completando assim 64 anos de dedicao Fora Area Brasileira.

    Solenidade de transmisso da direo do INCAER, realizada no Salo Nobre do Clube de Aeronutica, na noite de 18 de novembro de 1992. Da esquerda para a direita: Ten Brig Ar R1 Octvio Jlio Moreira Lima (recebendo a direo do instituto), Ten Brig Ar Llio Viana Lobo

    (Ministro da Aeronutica) e Ten Brig Ar R1 Deoclcio Lima de Siqueira (deixando a direo do instituto). [Instituto Histrico-Cultural da Aeronutica]

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    A proposta de criao do Instituto Histrico-Cultural da Aeronutica tor-nou-se realidade no dia 27 de junho de 1986, durante o Ministrio do Tenen-te-Brigadeiro Moreira Lima. mister ressaltar que o grande idealizador do Instituto foi o Tenente-Brigadeiro do Ar Deoclcio Lima de Siqueira, que, por merecimento, foi designado para ser o primeiro Diretor do INCAER. A escolha pelo nome do Brigadeiro Deoclcio traduz bem a preocupao do Ministro Moreira Lima em cercar-se, no s de amigos, mas tambm de bons profissionais.

    A convivncia diria acaba criando vnculos que vo alm do ambiente de trabalho. Essa, certamente, era a relao afetuosa que mantinha com o Brigadeiro Deoclcio. Os laos de amizade e companheirismo vinham desde a poca em que esteve a servio da ECEMAR, onde ocupava o cargo de Chefia do Departamento de Ensi-no, cujo Comandante era Deoclcio, ainda no posto de Major-Brigadeiro.

    Na ocasio da passagem de Co-mando da Escola, o Major-Brigadeiro Deoclcio Lima de Siqueira exaltou as qualidades do, ainda, Coronel Oct-vio Julio Moreira Lima que, com sua inteligncia, capacidade a servio do idealismo e amor corporao, este-ve sempre presente na conduo das tarefas de ensino, permitindo, assim,

    que as atividades didticas chegassem a bom termo, e, do mesmo modo, teve sensibilidade para compreender as dificuldades e transpor os obstcu-los surgidos.

    Como se observa, havia uma admi-rao mtua entre os amigos e compa-nheiros de Fora Area. Dessa forma, ao assumir a Direo do INCAER, mostrou-se exultante em dar conti-nuidade s atividades conduzidas, por mais de seis anos, pelo competente Tenente-Brigadeiro Deoclcio, que, dentre outros projetos, coordenou a elaborao dos trs primeiros volu-mes da obra Histria Geral da Aero-nutica Brasileira.

    Durante a Direo do Brigadeiro Moreira Lima, outros projetos vie-ram somar e engrandecer ainda mais a misso do INCAER de pesquisar, de-senvolver, preservar e estimular a me-mria e a cultura da Aeronutica. O Brigadeiro afirmava, com justificado orgulho, que o INCAER soube con-quistar a admirao e o respeito da fa-mlia aeronutica, sendo reconhecido como um frum de debates do mais alto nvel, resultado de um trabalho criativo, criterioso e competente de uma equipe de militares e civis alta-mente capacitada.

    Sabedor da importncia da His-tria como fonte inesgotvel de co-nhecimento, colocava como a grande

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    tarefa afeta ao INCAER o dever de transmitir s geraes futuras um retrato fiel da evoluo histrica da Aeronutica Brasileira, relatando seus feitos hericos e os estoicismos dos seus pioneiros que deram uma extra-ordinria contribuio para a estrutu-ra desta grande Nao (Lima, 1992). Em consonncia com esse dever, foi criado, no ano de 1993, o Pr-mio Santos Dumont de Jornalismo, cujo objetivo premiar os melhores trabalhos com temtica aeronutica publicados na imprensa brasileira, le-vando-se em conta, principalmente, a contribuio destes para o desenvol-vimento e a divulgao da atividade aeronutica no Brasil.

    No mesmo passo, foi criado, em 2008, o Projeto Memria, que tem como objetivo precpuo colher o de-poimento das mais destacadas per-sonalidades da aeronutica brasileira, narrando suas lembranas de momen-tos relevantes que vivenciaram. O Bri-gadeiro Moreira Lima destacou que os depoimentos constituem uma precio-sidade e um manancial de riqussimos conhecimentos, que servem de para-digma e farol orientador para futuras geraes no sentido de bem servir FAB e Ptria.

    O idealizador do projeto no po-deria deixar de narrar suas mem-rias e perpetuar suas experincias de

    mais de meio sculo de Fora Area Brasileira. No ano de 2008, como o primeiro entrevistado do projeto, deu o depoimento expondo brevemente os principais cargos que ocupou e, sobretudo, ressaltando as melhorias ocorridas na Aeronutica durante o seu Ministrio.

    Enfim, por todas as tarefas desen-volvidas, o Brigadeiro Moreira Lima destacou que o INCAER, com alto grau de profissionalismo, vem assegu-rando, com reconhecida competncia, o resgate de um retrato fiel da evolu-o histrica da Aviao Brasileira. E, ainda, enfatizou que a aprovao do Sistema de Patrimnio Histrico e Cultural do Comando da Aeronutica (SISCULT) representa o reconheci-mento e a justa recompensa concedi-da ao trabalho realizado na rea hist-rico-cultural da Organizao.

  • Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima30

    No dia 19 de agosto de 2010, passou a Direo do INCAER ao Tenente-Brigadeiro do Ar Paulo Roberto Cardoso Vilarinho. No discurso de despedida, o Tenente-Brigadeiro Moreira Lima expressou seu mais profundo reconheci-mento aos amigos e muitos companheiros civis e militares de todos os postos e graduaes, que lhe ajudaram na longa jornada de servir FAB e ao Pas.

    Como pai, av e marido zeloso, destacou a famlia como o mais importan-te patrimnio da sua vida. Agradeceu, com carinho especial, esposa Anna, companheira determinada ao longo de uma unio de 63 anos, marcada pelo apoio e solidariedade, mantendo, assim, a unio fraterna de uma famlia bem estruturada.

    Anna Mestrinho Guasque e o 1 Ten Octvio Jlio Moreira Lima na casa de Victoria Mestrinho Guasque me de Anna Mestrinho Guasque , situada na rua Flix da Cunha 23, na Tijuca

    (Rio de Janeiro), em 15 de novembro de 1947. [Acervo de Anna Guasque Moreira Lima]

  • O Ministro Conciliador 31

    Segundo sua esposa, tinha um dilogo aberto com os filhos e os agradecia por terem despertado nele a faculdade de saber ouvir. No era um homem de demonstrar carinho publicamente, mas o convvio familiar era extremamente agradvel, com ironias prprias, e o tom de gozao e brincadeira flua natural-mente em casa. O ex-Ministro da Aeronutica se derretia abertamente apenas com sua neta Ana Cristina, o xod, com quem era extremante carinhoso.

    No dia 23 de maio de 2011, o Tenente-Brigadeiro do Ar Octvio Julio Moreira Lima, aos 84 anos, despediu-se da vida que conduziu com entusiasmo e idealismo. O toque de silncio na corneta do soldado significa o ponto final da trajetria de idealismo e dedicao de um aviador militar na rota do eterno, assim escreveu a poetisa e esposa apaixonada, Anna Guasque Moreira Lima.

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    a biblioTeca Do incaer homenaGeia a memria Do Ten briG ocTvio julio moreira lima

    biblioteca, alm de sua funo bsica de preservar, organizar e disseminar o conhecimento, , fundamentalmente, um lugar de memria. Registrada sob a forma de documento, neces-srio que essa memria seja organiza-da e disponibilizada em suportes que possibilitem seu acesso.

    Conservar a biblioteca to im-portante quanto preservar qualquer tipo de monumento, pois, por meio de seu acervo, resgata-se a memria de determinado grupo. Essa prtica possibilita que as geraes futuras re-cuperem os acontecimentos do pas-sado, conferindo, ao mesmo tempo, o sentido de identidade atravs da no-o de continuidade.

    Sendo assim, a eterna lembrana da ilustre personalidade, que durante 64 anos serviu Fora Area Brasileira, a qual considerava parte integrante e companheira inseparvel de sua vida, ser resgatada e imortalizada na ho-menagem ora prestada, ao apor o seu nome Biblioteca do INCAER Bi-blioteca Ten Brig Moreira Lima.

    O Tenente-Brigadeiro Moreira Lima, homem de carter ntegro, comprometido e competente, primava sempre pelo cumprimento das normas,

    Homem culto e ciente da relevn-cia do saber histrico para despertar e valorizar o acervo cultural da Ae-ronutica Brasileira, Moreira Lima elaborou, durante sua Direo no INCAER, projetos para resgatar do esquecimento os principais aconteci-mentos e personalidades notveis, que contriburam de forma efetiva para o engrandecimento da FAB.

    No momento de reorganizao e modernizao da Biblioteca do INCAER, o Brigadeiro Moreira Lima, por suas iniciativas de disseminao da cultura da Aeronutica, recebe uma justa homenagem e passa a ter sua memria atrelada memria do prprio Instituto.

    O INCAER possui uma Biblioteca que rene cerca de nove mil volumes da literatura aeronutica brasileira e estrangeira alguns deles raros, ou pela data de edio, ou por estarem esgotados no mercado livreiro. A maioria deles proveniente de doa-es de entidades civis e militares, de familiares de militares ou de entusias-tas da Aviao.

    Longe de ser definida como dep-sito ou cofre para guarda e preser-vao de livros, documentos, etc., a

  • O Ministro Conciliador 33

    priorizando a moral e a tica no trato entre seus pares e subordinados, dirigindo-se a todos com o devido respeito, independentemente da funo que poderiam ocupar. Serve de exemplo para toda a Fora Area.

    Conduziu sua carreira militar com idealismo, ressaltando que mais im-portante que priorizar o sucesso era servir Ptria com devoo, buscan-do o sentimento de dever cumprido.

    Fica aqui apenas um breve relato de alguns dos feitos deste grande lder que ainda inspira a todos em contato com sua histria. Apaixonado pela aviao e

    pela vida, que levava com leveza e bom humor, deixa um legado de devoo s Foras Armadas, sem esquecer-se da importncia da histria e da cultura para o enriquecimento da Fora Area e dos militares que a compem.

    Nossas palavras finais, que refletem seus ensinamentos, repetem aquelas deixadas pelo Ministro Moreira Lima em seus poemas: Quando singrares a noite escura sob o manto das estre-laslembra-te, cavaleiro do espao, que tua misso a construo do fu-turo. Lembra-te de que s mensageiro de esperana e de amor.

    O 2 Ten His Daniel Evangelho Gonalves pertence ao efetivo deste Instituto e integra a equipe do SISCULT.

    A 2 Ten His Bruna Melo dos Santos pertence ao efetivo deste Instituto e integra a equipe do SISCULT.

  • Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima34

    Referncias

    BARATIN, M.; JACOB,C. O poder das bibliotecas: a memria dos livros no Ocidente. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.

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    Lima, Anna Guasque Moreira. Otvio Julio Moreira Lima. Entrevista concedida a Bruna Melo e Daniel Gonalves. Rio de Janeiro: [S.d.], 2014.

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    Conectando o passado, o presente e o futuro da cultura aeronutica

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