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TEOLOGIA c/r, nky '‘Jy icyu-o eôfci/meo'i^fo Donald Guthrie

Teologia do novo testamento donald guthrie - cultura cristã

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  • 1. TEOLOGIAc/r, nky 'Jy icyu-o efci/meo'i^fo Donald Guthrie

2. minha esperana que este livro seja uma ferramenta til nas mos de todos os estudantes srios do Novo Testamento. Espero, tambm, que ele, de algum modo, demonstre a considervel quantidade de unidade dentro do Novo Testamento e que ajude a fazer um contraponto com a tendncia predominante de destacar sua diversidade. Donald Guthrie 3. Teologia do Novo Testamento 4. njf 'SJiM -s' is. ',' a./-* Donald Guthrie 5. Teologia do Novo Testamento 2011 Editora Cultura Crist. D. Guthrie 1961, 1962, 1965, 1970, 1990. Todos os direitos so reservados. Esta traduo de New Testament Theology publicada inicialmente em 1961 foi autorizada pela InterVarsity Press, Leiscester, Inglaterra. 1 edio - 2011 - 3.000 exemplares Conselho Editorial Ado Carlos do Nascimento Ageu Cirilo de Magalhes Jr. Cludio Marra (Presidente) Fabiano de Almeida Oliveira Francisco Solano Portela Neto Heber Carlos de Campos Jr. Jer Corra Batista Jailto Lima Mauro Fernando Meister Tarczio Jos de Freitas Carvalho Valdeci da Silva Santos Produo Editorial Traduo Vagner Barbosa Reviso Ailton de Assis Dutra Wilton de Lima Sebastiana Gomes de Paula Editorao Ailton de Assis Dutra Lidia de Oliveira Dutra Capa Leia Design G9841t Guthrie, Donald Teologia do Novo Testamento / Donald Guthrie; traduo de Vagner Barbosa._ So Paulo: Cultura Crist, 2011 1080 p.: 16x23 cm Traduo de: New Testament Theology ISBN 978-85-7622-360-3 1. Estudo bblico 2. Novo Testamento 3. Teologia bblica I. Ttulo 2-277 CDU DITORfl CULTURA CRISTfl Rua Miguel Teles Jr., 394 - CEP 01540-046- So Paulo - SP Caixa Postal 15.136 - CEP 01599-970 - So Paulo - SP Fone: (11) 3207-7099 - Fax: (11) 3209-1255 Ligue grtis: 0800-0141963 www.editoraculturacrista.com.br - [email protected] Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor: Cludio Antnio Batista Marra 6. Dedicado minha esposa, Mary, e a meus filhos, Eleanor, Alistair, Rosalyn, Anthony, Adrian e Andrew. 7. Sumrio Prefcio.................................................................................................................. 17 Abreviaes............................................................................................................ 19 Introduo.............................................................................................................. 21 Umbrevepanorama do desenvolvimento da Teologiado Novo Testamento......21 A natureza e o mtodo da teologia do Novo Testamento.............................27 A distino entre teologia e religio............................................................28 A relao entre a teologia do Novo Testamento e a dogmtica...................30 A limitaes de uma abordagem puramente literria................................33 Afraqueza de uma abordagem totalmente analtica................................... 36 O lugar da personalidade na teologia do Novo Testamento.......................37 O lugar do cnon na teologia do Novo Testamento....................................40 A relao entre histria e teologia...............................................................42 Variedade e unidade dentro do Novo Testamento........................................48 A relevncia dos estudos contextuaispara a teologia do Novo Testamento.....59 Questes de autenticidade...........................................................................70 A estrutura da teologia do Novo Testamento...............................................71 1. Deus.................................................................................................................... 75 Alguns pressupostos bsicos.............................................................................75 Deus como Criador, Pai e Rei...........................................................................78 Deus como Criador..........................................................................................78 A providncia de Deus......................................................................................80 Deus como Pai..................................................................................................81 Deus como Rei e Juiz........................................................................................84 Vrios outros ttulos de Deus............................................................................88 Os atributos de Deus.........................................................................................90 A glria de Deus...........................................................................................90 A sabedoria e o conhecimento de Deus.......................................................95 A santidade de Deus.....................................................................................99 A retido e ajustia de Deus..................................................................... 100 O amor e a graa de Deus......................................................................... 104 A bondade e afidelidade de Deus.............................................................. 108 8. A singularidade de Deus............................................................................ 110 A unidade de Deus..................................................................................... 112 Resumo........................................................................................................... 115 2. O homem e seu m undo................................................................................... 117 Contexto.......................................................................................................... 117 Antigo Testamento...................................................................................... 117 Judasmo.................................................................................................... 120 Helenismo................................................................................................... 121 O mundo.........................................................................................................123 Os evangelhos sinticos.............................................................................124 A literaturajoanina....................................................................................132 Atos............................................................................................................ 136 Paulo..........................................................................................................138 Hebreus...................................................................................................... 146 O restante do Novo Testamento.................................................................. 148 Resumo das ideias a respeito do mundo criado......................................... 151 O homem em si mesmo...................................................................................151 Os evangelhos sinticos............................................................................. 152 A literaturajoanina.................................................................................... 159 Atos.............................................................................................................162 Paulo: consideraes preliminares............................................................ 165 Os termos antropolgicos de Paulo...........................................................165 Outras caractersticas da viso paulina do homem.................................. 178 Hebreus...................................................................................................... 182 O restante do Novo Testamento.................................................................. 185 Resumo das ideias a respeito do homem.................................................... 188 O homem em relao a Deus..........................................................................189 Os evangelhos sinticos............................................................................. 189 A literaturajoanina.................................................................................... 195 Atos.............................................................................................................201 Paulo..........................................................................................................202 Hebreus......................................................................................................216 O restante do Novo Testamento..................................................................218 Resumo das ideias a respeito do homem em relao a Deus.....................220 3. Cristologia....................................................................................................... 221 Introduo.......................................................................................................221 Jesus como homem.........................................................................................222 8 Teologia do Novo Testamento 9. A humanidade de Jesus...................................................................................223 Os evangelhos sinticos.............................................................................223 A literaturajoanina....................................................................................224 Atos.............................................................................................................226 Paulo..........................................................................................................226 Hebreus......................................................................................................228 As epstolas de Pedro.................................................................................229 Apocalipse..................................................................................................229 Resumo.......................................................................................................229 A impecabilidade do homem Jesus.................................................................230 Os evangelhos sinticos.............................................................................230 A literaturajoanina....................................................................................232 Atos.............................................................................................................233 Paulo..........................................................................................................233 Hebreus......................................................................................................235 As epstolas de Pedro.................................................................................235 Apocalipse..................................................................................................235 Sua importncia teolgica.........................................................................236 Os ttulos cristolgicos: comentrios introdutrios........................................238 Messias...........................................................................................................238 O contextojudaico.....................................................................................239 Os evangelhos sinticos.............................................................................241 A literaturajoanina....................................................................................246 Atos.............................................................................................................248 Paulo..........................................................................................................250 O restante do Novo testamento..................................................................252 A importncia do ttulo..............................................................................253 Filho de Davi..................................................................................................254 O contexto..................................................................................................255 Os evangelhos sinticos.............................................................................255 Joo............................................................................................................259 Atos.............................................................................................................259 Paulo..........................................................................................................260 O restante do Novo Testamento..................................................................260 Servo...............................................................................................................261 O contexto do Antigo Testamento...............................................................261 Os evangelhos sinticos.............................................................................263 Joo............................................................................................................266 Atos.............................................................................................................268 Sumrio 10. Paulo..........................................................................................................268 O restante do Novo Testamento..................................................................269 Sua importncia para a cristologia...........................................................270 Jesus como profeta e mestre...........................................................................272 Filho do homem..............................................................................................273 Os evangelhos sinticos............................................................................. T12> O Evangelho de Joo.................................................................................285 O restante do Novo Testamento..................................................................293 Senhor.............................................................................................................295 Os evangelhos sinticos.............................................................................295 A literaturajoanina....................................................................................297 Atos.............................................................................................................297 Paulo.......................................................................................................... 298 O restante do Novo Testamento..................................................................302 Concluso...................................................................................................304 Filho de Deus..................................................................................................305 O contexto..................................................................................................305 Os evangelhos sinticos.............................................................................307 A literaturajoanina....................................................................................315 Atos.............................................................................................................320 Paulo..........................................................................................................320 Hebreus......................................................................................................323 O restante do Novo Testamento..................................................................324 Logos..............................................................................................................324 A literaturajoanina....................................................................................324 O restante do Novo Testamento..................................................................333 As declaraes Eu Sou ................................................................................334 O Evangelho de Joo.................................................................................334 Apocalipse..................................................................................................336 O ltimo Ado................................................................................................336 Paulo.......................................................................................................... 336 Deus................................................................................................................341 O Evangelho de Joo.................................................................................342 Paulo.......................................................................................................... 342 Hebreus......................................................................................................344 2Pedro........................................................................................................344 Resumo.......................................................................................................344 10 Teologia do Novo Testamento 11. Resumo dos ttulos cristolgicos....................................................................346 Os hinos cristolgicos.................................................................................347 Filipenses 2.6-11........................................................................................347 Colossenses 1.15-20................................................................................... 355 1Timteo 3.16............................................................................................. 362 Hebreus 1.3 e sua percope........................................................................363 IPedro 3.18-20........................................................................................... 368 Resumo dos hinos cristolgicos.................................................................369 Os eventos cristolgicos: comentrios introdutrios......................................369 O nascimento virginal.....................................................................................369 Os evangelhos sinticos.............................................................................369 A literaturajoanina....................................................................................373 Paulo..........................................................................................................375 Concluses.................................................................................................376 A ressurreio.................................................................................................379 O contexto..................................................................................................380 A chave para a experincia crist primitiva emAtos................................381 As predies nos evangelhos sinticos...................................................... 383 O evento.....................................................................................................384 Paulo..........................................................................................................389 Hebreus......................................................................................................391 O restante do Novo testamento..................................................................393 Sua importncia cristolgica.....................................................................394 A ascenso......................................................................................................395 Os evangelhos sinticos.............................................................................396 Joo............................................................................................................ 397 Atos.............................................................................................................398 Paulo..........................................................................................................400 Hebreus......................................................................................................401 As epstolas de Pedro.................................................................................402 Apocalipse..................................................................................................402 Seu signijicado teolgico...........................................................................402 Concluso: Jesus, Deus e homem...................................................................405 4. A misso de Cristo.......................................................................................... 413 O reino............................................................................................................414 Os evangelhos sinticos.............................................................................414 A literaturajoanina....................................................................................430 Paulo..........................................................................................................431 Sumrio 11 12. O restante do Novo Testamento..................................................................433 Comentrio conclusivo..............................................................................435 A obra salvadora de Cristo; consideraes preliminares................................436 Ideias veterotestamentrias associadas ao sacrifcio................................436 A obra salvadora de Cristo; Jesus e os Evangelhos........................................440 Os evangelhos sinticos.............................................................................440 O Evangelho de Joo.................................................................................454 A obra salvadora de Cristo: desenvolvendo a compreenso...........................464 Atos.............................................................................................................465 A epstolas e Apocalipse...........................................................................467 Resumo...........................................................................................................512 5. O Esprito Santo............................................................................................. 515 O contexto..................................................................................................515 Os evangelhos sinticos.............................................................................519 A literaturajoanina....................................................................................531 Atos.............................................................................................................540 Paulo.........................................:............................................................... 554 Hebreus......................................................................................................571 O restante do Novo Testamento..................................................................572 Comentrios conclusivos...........................................................................574 6. A vida crist..................................................................................................... 577 Os primrdios.................................................................................................577 Os evangelhos sinticos.............................................................................578 A literaturajoanina....................................................................................585 Atos.............................................................................................................591 Paulo..........................................................................................................593 Hebreus......................................................................................................599 O restante das epstolas.............................................................................602 Apocalipse..................................................................................................605 Graa...............................................................................................................606 Os evangelhos sinticos.............................................................................607 A literaturajoanina....................................................................................614 Atos.............................................................................................................621 Paulo..........................................................................................................624 Hebreus......................................................................................................634 O restante do Novo Testamento..................................................................638 Concluso...................................................................................................644 12 Teologia do Novo Testamento 13. A nova vida em Cristo.....................................................................................645 Os evangelhos sinticos.............................................................................645 A literaturajoanina....................................................................................646 Atos.............................................................................................................648 Paulo..........................................................................................................648 Hebreus......................................................................................................663 O restante do Novo Testamento..................................................................664 Santificao e perfeio..................................................................................665 Os evangelhos sinticos.............................................................................665 A literaturajoanina....................................................................................668 Paulo..........................................................................................................671 O restante do Novo Testamento..................................................................676 Concluso...................................................................................................679 A lei na vida crist..........................................................................................679 Os evangelhos sinticos.............................................................................679 A literaturajoanina....................................................................................684 Atos.............................................................................................................689 Paulo..........................................................................................................691 Hebreus......................................................................................................701 Tiago........................................................................................................... 702 Concluso...................................................................................................703 7. A igreja............................................................................................................ 705 A comunidade primitiva..................................................................................706 Os evangelhos sinticos.............................................................................706 O Evangelho de Joo.................................................................................725 As epstolas de Joo...................................................................................734 Atos.............................................................................................................735 A Igreja em desenvolvimento.........................................................................746 Paulo..........................................................................................................746 Hebreus......................................................................................................781 Tiago...........................................................................................................784 As epstolas de Pedro.................................................................................786 Apocalipse..................................................................................................788 Resumo...........................................................................................................790 8. O futuro........................................................................................................... 795 A vinda futura de Cristo..................................................................................796 Os evangelhos sinticos.............................................................................796 A literaturajoanina....................................................................................803 Sumrio 13 14. Atos.............................................................................................................806 Paulo..........................................................................................................808 O restante das epstolas.............................................................................815 Apocalipse..................................................................................................817 Resumo.......................................................................................................822 A vida aps a morte........................................................................................823 Os evangelhos sinticos.............................................................................823 A literaturajoanina....................................................................................828 Atos.............................................................................................................831 Paulo..........................................................................................................832 O restante do Novo testamento..................................................................845 Resumo.......................................................................................................852 Jm'zo................................................................................................................853 Os evangelhos sinticos.............................................................................853 A literaturajoanina....................................................................................858 Atos.............................................................................................................861 Paulo..........................................................................................................861 Hebreus......................................................................................................868 0 restante das epstolas.............................................................................869 Apocalipse..................................................................................................871 Resumo.......................................................................................................878 Cu.................................................................................................................. 879 Os evangelhos sinticos.............................................................................879 A literaturajoanina....................................................................................882 Atos.............................................................................................................884 Paulo..........................................................................................................884 Hebreus......................................................................................................886 As epstolas de Tiago e Pedro....................................................................888 Apocalipse..................................................................................................889 Inferno.............................................................................................................892 Os evangelhos sinticos.............................................................................892 A literaturajoanina....................................................................................894 Paulo..........................................................................................................894 O restante do Novo Testamento..................................................................895 Resumo...........................................................................................................896 9. A abordagem do Novo testamento tica.................................................. 899 Comentrios introdutrios..............................................................................899 14 Teologia do Novo Testamento 15. tica pessoal...................................................................................................902 Os evangelhos sinticos.............................................................................902 O Evangelho de Joo.................................................................................913 Atos.............................................................................................................916 Paulo..........................................................................................................918 Hebreus......................................................................................................931 Tiago........................................................................................................... 934 As epstolas de Pedro e Judas....................................................................936 As epstolas de Joo...................................................................................938 Apocalipse..................................................................................................940 tica social......................................................................................................941 Ofundamento teolgico.............................................................................942 reas de interesse social refletidas no Novo Testamento...........................946 10. A Escritura.................................................................................................... 959 Comentrios introdutrios..............................................................................959 Os evangelhos sinticos.............................................................................961 O Evangelho de Joo.................................................................................970 Atos.............................................................................................................973 Paulo.......................................................................................................... 974 Hebreus......................................................................................................979 Tiago...........................................................................................................981 As epstolas de Pedro.................................................................................981 Judas..........................................................................................................984 As epstolas de Joo...................................................................................985 Apocalipse..................................................................................................985 Concluso...................................................................................................987 Bibliografia........................................................................................................... 989 ndice de referncias bblicas........................................................................... 1.021 ndice de autores............................................................................................... 1047 ndice de assuntos............................................................................................. 1.059 Sumrio 15 16. Prefcio Pode ser surpreendente que haja necessidade de um livro como este. Essa questo no deve existir diante de qualquer escrito sobre qualquer assunto. O mni mo que um autor pode fazer afirmar sua razo para produzir seu livro. Diante dos muitos livros acerca de teologia do Novo Testamento, alguma justificativa neces sria para que se escreva outro. Meu principal objetivo foi produzir um livro que d ateno s diferentes fontes de material dentro do Novo Testamento, mas que, ao mesmo tempo, apresente o ensino sob seus temas principais. Ele pode, portanto, servir como um manual de doutrina bblica. E minha esperana que este livro seja uma ferramenta til nas mos de todos os estudantes srios do Novo Testamento. Espero, tambm, que ele, de algum modo, de monstre a considervel quantidade de unidade dentro do Novo Testamento e que ajude a fazer um contraponto com a tendncia predominante de destacar sua diversidade. Estou em dvida, especialmente, com dois colegas do Tyndale Fellowship, a saber, Professor I. Howard Marshall, daAberdeen University, e Dr. Richard T. France, de Tyndale House, Cambridge, que cuidadosamente leram os manuscritos e deram muitas sugestes teis. No h dvida de que este livro seria pobre sem a ajuda desses colegas, mas somente eu sou responsvel por sua forma final. Desejo regis trar meu agradecimento aos meus editores, que me encorajaram desde a concepo da ideia de publicar este livro, h alguns anos. Tambm sou grato a muitos de meus alunos por sua ajuda. Sally Jiggins, B.A., Maria da Silva e Rhona Pipe, B.D., que realizaram a importante tarefa de datilografar meus manuscritos, e Brian Capper, B.A., que deu ajuda inestimvel ao preparar a bibliografia e o ndice de autores a partir de minhas notas de rodap. Donald Guthrie 17. Abreviaes AB TheAnchor Bible AT Antigo Testamento AIR Anglican Theological Review AV Authorized (King James) Version of the Bible BASOR Bulletin ofthe American Schools of Oriental Research BC Blacks New Testament Commentaries Bib Bblica BJRL Bulletin of the John Rylands University Library ofManchester BZ Biblische Zeitschrift BZNW Beihefte zur ZNW CBQ Catholic Biblical Quarterly CGTC Cambridge Greek Testament Commentary CNT Commentaire du Nouveau Testament EB tudes Bibliques EKK Evangelisch-katholischer Kommentar zum Neuen Testament EQ The Evangelical Quarterly EvT Evangelische Theologie ExT Expository Times FRIANT Forschungen zur Religion und Literatur des Alten undNeuen Testaments GNB Good News Bible HDB HastingsDictionary ofthe Bible HTKNT Herders Theologischer Kommentar zum Neuen Testament HTR Harvard Theological Review IB The Interpreter!sBible ICC The International Critical Commentary IDB The Interpreters Dictionary ofthe Bible Int Interpretao JBL Journal ofBiblical Literature JEH Journal ofEcclesiastical History JJS Journal ofJewish Studies JR Journal ofReligion JSS Journal ofSemitic Studies JTS Journal of Theological Studies KEK Kritisch-exegetischer Kommentar ber das Neuen Testament LHB Handbuch zum Neuen Testament begrndet von Hans Lietzmann LXX Septuaginta (traduo grega do AT) MNT The Moffat New Testament Commentary MS (S) Manuscrito(s) NBD The New Bible Dictionary NCB New Century Bible 18. 20 Teologia do Novo Testamento NEB New English Bible NICNT The New International Commentary ofthe New Testament NIGTC The New International Greek Testament Commentary NIDNTT New International Dictionary of the New Testament Theology NIV New International Version of the Bible NovT Novum Testamentum NT Novo Testamento NTD Das Neue Testament Deutsch NTS New Testament Studies NTT New Testament Theology Peake Peakes Commentary ofthe Bible RB Revue Biblique RHPR Revue dHistorie et de Philosophie Religieuses RScR Revue des Sciences Religieuses RSV Revised Standard Version of the Bible RThPh Revue de Thologie et de Philosophie RV Revised Version oif the Bible SJT Scottish Journal of Theology StEv Studia Evanglica Strack Billerbeck KommentarzumNeuen Testamentaus TalmudundMidrash von'R.'L. Strack undR Billerbeck StTh Studia Theologica TB Tyndale Bulletin TDNT Theological Dictionary of the New Testament (trad, por G. W. Bromiley do alemo Wrterbuch, org. por GKittel e G. Friedrich) ThB Theologische Blatter ThLZ Theologische Literaturzeitung ThZ Theologische Zeitschrift THNT Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament TNT Theology of the New Testament TNTC Tyndale New Testament Commentaries TR Textus Receptus TSFBulletin Theological Students Fellowship Bulletin YGT The Vocabulary of the Greek Testament illustratedfrom the Papyri and Other Non-literary Sources, J. H. Moulton e G Milligan Vig Chr Vigiliae Christianae Vox Ev Vox Evanglica VT Vtus Testamentum WC Westminster Commentaries WMANT Wissenschaftliche Monografien zumAlten und Neuen Testament WTJ Westminster Theological Journal ZNW Zeitschriftfr die Neutestamentliche Wissenschaft ZPEB Zondervan Pictorial Encyclopaedia of the Bible ZTK Zeitschriftr Theologie und Kirche 19. Introduo Qualquer pessoa que se dedique a escrever uma teologia do NT ir se deparar com a questo de se est tentando o impossvel, pois h aqueles que negam que exista tal coisa. Alguns preferem falar em religio a falar em teologia, enquanto outros tentam uma conciliao e falam em pensamento, em vez de teologia, te mendo que a ltima palavra esteja muito vinculada a um sistema de doutrina. Ns veremos que qualquer escritor que se dedique a essa tarefa deve deixar clara sua definio de teologia do NT e seu alcance. Deve tambm esclarecer a relao entre teologia e histria, pois a compreenso dessa relao determinar seu mtodo. Um breve panorama do desenvolvimento da teologia do Novo Testamento Antes da Reforma, havia pouco ou nenhum interesse pela teologia bblica. O foco estava totalmente sobre a dogmtica, que era dominada pelo ensino tradicional da igreja. A tradio da igreja era mais importante que a evidncia bblica, embora esta fosse usada para apoiar os dogmas tradicionais. J que nenhuma liberdade de inter pretao era permitida ao estudioso individual, a exegese no existia e o ensino ecle sistico nunca mudava. Essa abordagem alcanou sua expresso oficial nos editos do Concilio de Trento. Embora tenha valorizado a importncia dos textos bblicos, o Concilio admitiu que as tradies eclesisticas eram de igual valor. Esse no era o tipo de ambiente que pudesse encorajar o desenvolvimento de uma genuna teologia bbli ca. O catolicismo moderno, pelo menos em suas mais liberais escolas de pensamento, tem dado maior ateno ao exame dos textos bblicos. Uma das principais caractersticas do pensamento dos reformadores que eles estavam determinados a romper com a tradio eclesistica e, portanto, no sur preendente descobrir entre eles um enorme interesse na teologia bblica. Alm disso, como os reformadores substituram a autoridade da igreja pela autoridade do texto 20. bblico, a tentativa de construir um registro organizado do ensino bblico foi indis pensvel. Alm disso, a crena na origem divina do texto da Escritura fez que toda a doutrina fosse baseada em sua prpria autoridade. A erudio protestante, nessa po ca, no era cientfica em sua abordagem evidncia bblica. As interpretaes eram, geralmente, subjetivas, em vez de serem baseadas na pesquisa histrica. Contudo, a noo que os reformadores tinham da teologia lanou o fundamento de todo o interesse subsequente nos estudos de teologia bblica. Em lugar da exegese forada de grande parte do escolasticismo medieval, os reformadores defenderam um sentido claro da Escritura, que encorajou a busca de maior facilidade nas lnguas bblicas e pavimen tou o caminho para uma compreenso da Escritura independente das decises dos conclios eclesisticos ou dos conceitos dos credos. A sistematizao do pensamen to da teologia da Reforma era muito diferente das estruturas filosficas usadas pelos dogmticos anteriores. Deve ser notado, contudo, que nenhuma distino era feita entre a teologia do AT e a do NT. Todas as partes da Escritura eram igualmente vlidas para fundamentar a doutrina, e nenhuma sugesto de uma teologia especfi ca do NT apareceu nessa poca. Alm disso, durante todo o perodo ps-Reforma at o alvorecer do Racionalismo, a teologia protestante no fez proviso para uma revelao progressiva e isso condu ziu a uma compreenso da Escritura semelhante a uma mina de textos-prova para fundamentar os sistemas doutrinrios.' A ideia de uma teologia seria estranha nessa poca, j que Cristo era visto tanto no AT quanto no NT, e a unidade da Escritura impedia que a teologia do NT fosse estudada como uma entidade distinta. O que foi mais srio nesse perodo foi a falta de qualquer considerao do contexto histrico no qual a teologia crist se desenvolveu. O contexto das afirmaes escritursticas era menos importante que o seu contedo, mas a exegese era inevitavelmente dominada pelas consideraes dogmticas. Foi o surgimento do modemo perodo crtico, cobrindo os ltimos dois sculos, que fez com que o campo da teologia do NT ocupasse seu espao e, ao mesmo tempo, sofresse muitos reveses. A primeira diferena real entre dogmtica e teologia bblica foi feita em 1787, por J. R Gabier,^ que criticou a dogmtica porque ela consistia naquilo que os homens, pelo uso de sua razo, filosofavam, e estimulou que se desse ateno teologiabblicaporqueconsistiaemumadisciplinahistrica. Outrosintrpretesracionalistas da teologia do NT seguiram Gabier, embora sua obra tivesse o objetivo principal de fundamentar, a partir dos textos bblicos, os princpios da idade da razo.^ 22 Teologia do Novo Testamento ' Cf. w. G. Kmmel, The New Testament: The History of the Investigation of.its Problems (trad. 1972), p.98. O ttulo da obra de J. P. Gabler Oratio dejusto discrimine theologiae biblicae et dogmaticae regundisque recte utriusque finibus (Discurso acerca da distino prpria entre dogmtica e teologia bblica e a correta delimitao de seus limites) (1787). Kmmel faz uma extensa citao dessa obra, op. cit., p.98. Uma traduo alem do ensaio de Gabler foi includa em Das Problem der Theologiae des Neuen Testaments (org. G Strecker, 1975), pp.32-44, um reconhecimento de sua importncia no desenvolvimento do estudo da teologia do NT. Cf G. E. Ladd, TNT (1974), p.l4ss para detalhes. 21. As tentativas racionalistas primitivas abriram caminho para uma abordagem ao NT que era afetada pela filosofia de Hegel que influenciou a abordagem dos eruditos histria. Alis, isso levou a uma reconstruo to radical da histria crist primitiva que a teologia do perodo primitivo foi inevitavelmente afetada. As crticas de F. C. Baur aos textos bblicos eram baseadas nessa aceitao prvia de uma tenso primiti va entre as faces paulina e petrina, levando-o a ver o NT como uma eirenicon entre elas. Mas a teologia no pode ser baseada em uma interpretao que tenha sido imposta ao texto do NT. Alis, o resultado desse tipo de movimento foi uma nfase exagerada sobre as consideraes histricas e uma falta de interesse no pensamento do NT, exceto como reeditada de acordo com a reconstruo de Baur.*Embora sua tese tenha sido abandonada h muito tempo, a influncia de Baur sobre os estudos teolgicos do NT foi extensa. Ela contribuiu para a busca de um Jesus histrico que dominou o cenrio teolgico durante a metade de sculo que se seguiu. Esse movimento histrico encontrou um grande expoente em Holtzmann, cuja obra sobre teologia do NT pode ser considerada como a afirmao clssica do pen samento liberal.'Ele rejeitou definitivamente qualquer abordagem da teologia do NT baseada em uma estrutura dogmtica e tambm rejeitou a ideia de revelao. Usou, contudo, tpicos teolgicos para a classificao de seu material. Aposio de Holtzmann de interesse porque ele baseou sua abordagem da hteratura sobre uma anUse crti- co-histrica que no conservou a autenticidade plena dos textos. Durante esse pero do, houve, ainda, outros eruditos que edificaram sua teologia sobre bases mais con servadoras, entre os mais notveis dos quais esto Hofhiann, Tholuck, Bernard Weiss, Zahn e Feine. Todos eles se inclinaram sobre uma abordagem mais histrica do que a que os dogmticos tinham adotado, embora ainda afirmassem que o texto era o vecu lo de revelao. A obra mais destacada de um ponto de vista teolgico conservador foi New Testament Theology, de A. Schlatter, que, embora reconhecesse a necessidade de orientao histrica, mantinha um interesse dogmtico. Suas posies sero consi deradas na prxima seo. Na Amrica, uma New Testament Theology foi produzida por G B. Stevens* no fim do sculo 19. Essa obra era isenta de estruturas dogmticas e se concentrava em um registro dos vrios grupos de literatura. Introduo 23 * Cf. A. Schweitzer, Paul and His Interpreters (trad. 1912), p.l2ss., para uma discusso da abordagem de Baur teologia de Paulo. Ele mostra que Baur fala mais como um pupilo de Hegel do que como um historiador. ' R. Morgan, The Nature of New Testament Theology (1973), p.l3s., revela que a reconstruo feita por Baur falhou por no fazerjustia complexidade da histria crist primitiva. Ele tambm confundiu a cronolo gia. Mas Morgan considera que a concepo de Baur da relao entre teologia e histria encontrou seu verdadei ro sucessor em W. Wrede. Para uma avahao da obra de Holtzmann, cf. R. Morgan, op. cit., p.7s. A Theology de H. J. Holtzmann, publicada em 1897, sob o ttulo Lehrbuch der neutestamentUchen Theologie (2 vol.). C tambm a reviso que Schweitzer faz da obra de Holtzmann, op. cit., p.lOOss. W. Wrede comenta acerca disso na p.93 de seu ensaio mencionado na nota seguinte. 'A . Schlatter, Neutestamentliche Theologie (1922-3) tinha duas partes: Die Geschichte des Christus e Die Theologie der Apostel (que inclua a teologia de Paulo, Lucas e Mateus). G B. Stevens, TNT { i m ) . 22. Um grande evento na abordagem da teologia do NT foi o ensaio de Wrede sobre The Task and Methods ofNew Testament Theology (1897).^ Essa foi uma tentativa clara de defender uma abordagem histrica em contraste com a abordagem dogmtica. Wrede insistia que o NT estava interessado em reUgio, e no em teologia, tema que ser discutido na prxima seo. No h dvida de que Wrede reagiu de maneira extremada contra as consideraes dogmticas em sua abordagem ao pensamento do NT, com o resultado de que, para ele, a teologia do NT se reduziu a uma histria da reUgio crist primitiva. Contudo, a insistncia de Wrede em que a teologia deve ser estudada em seu contexto histrico exerceu uma poderosa influncia sobre os estudos subsequentes. Wrede foi um representante do movimento Religionsgeschichte'^ que era ba seado em uma abordagem histrica. O interesse em estabelecer um registro da religio crist precisava de um estudo comparativo de outras religies para abrir caminhos nos quais o primeiro era influenciado pelo segundo. O NT deixou de ser a fonte autoritativa da teologia crist primitiva, mas se tomou parte do quadro total da religio do sculo 1.** Isso, sem dvida, conduziu a uma nfase exagerada sobre a apocalptica judaica.'* Nenhuma abordagem conduziu a um verdadeiro quadro da teologia do NT, e, certamente, nenhuma satisfez as exigncias de Wrede de uma abordagem histrica, pois ambas apresentavam reconstrues que eram historicamente duvidosas. Grande parte da reao de Schweitzer foi causada por sua oposio ao movimento Jesus da histria, baseado em uma abordagem total mente no escatolgica. Um resultado adicional desses movimentos foi a tendncia de colocar o contexto helenista de Paulo contra o contexto apocalptico judaico de Jesus. Nenhuma teologia unificada do NT era possvel nessas circunstncias. Consequentemente, toda teologia do NT era obrigada a dar maior nfase ao ensino de Jesus ou ao ensino de Paulo e Joo. Como, por meio do surgimento da crtica da forma, uma atitude ctica se desenvolveu a respeito do Jesus histrico, especial mente na apresentao de Bultmann, o ensino de Jesus foi amplamente desconsiderado e a teologia do NT se concentrou nas epstolas de Paulo e no quarto Evangelho, que eram considerados fortemente helenistas. Alis, a New Testament Theology de Bultmann um exemplo clssico dessa tendncia. 24 Teologia do Novo Testamento Esse ensaio de Wrede est includo, com esse ttulo, na obra de R. Morgan, op. cit., pp.68-116. Um livro recente que d um panorama dessa abordagem D/e religionsgeschichtliche Schule (1961), de C. Colpe. " Cf. W. Bousset, Kyrios Christos (1913, trad. 1970); R. Reitzenstein, Die Hellenistischen Mysterien religionen nach Ihre Grundgedanken und Wirkungen (1927). As sbias palavras de Schlatter de advertncia contra o tratamento de todos os dados religiosos como algo unitrio foram descuidadas {cf R. Morgan, The Nature ofNew Testament Theology, p. 144): A tarefa necessria da teologia do NT permanece perdida enquanto ela balana para cima e para baixo a fronte sbia das estatsticas e da histria de todas as religies em uma tentativa de estabelecer at onde as antecipaes e analogias das ideias do NT podem ser encontradas. A. Schweitzer, The Quest ofthe Historical Jesus (1906, trad. 1954). Ele d sua prpria viso, em resposta ao The Messianic Secret in the Gospels, de Wrede, p,328ss. 23. Contudo, no seria verdadeiro dizer que a New Testament Theology de Bultmann*^ era, ou mesmo tinha o objetivo de ser, um registro puramente histrico. Ele apresen tou um elemento dogmtico que era muito diferente da antiga abordagem dogmtica tradicional. Extraindo sua inspirao da filosofia existencial, afirmava que os textos teolgicos tinham uma relevncia permanente, mas deviam ser reinterpretados constan temente. Os textos do NT sobre os quais ele baseou sua releitura tinham sido interpre tados por meio da abordagem mitolgica de sua poca, e era, portanto, essencial submet-los a um processo de demitologizao antes que as verdades eternas, que sozinhas podem nos desafiar a uma deciso, pudessem ser descobertas. Nenhuma conexo era vista entre o Jesus histrico e o Cristo da f, e isso naturalmente coloriu toda a abordagem de Bultmann teologia. Nem todos os seguidores de Bultmann so cticos com relao ao Jesus histrico. Todavia, a produo de Hans Conzelmann de An Outline ofthe Theology ofthe New Testament'^ ainda muito distante das antigas abordagens que davam peso total ao ensino de Jesus. Na apresentao de Conzelmann, Jesus se toma somente um pouco mais verossmil como figura histrica. A Theology ainda dominada pela tentativa de reinterpretar o NT em termos da filosofia existencial, e deve ser questionado seria mente em que medida essa reinterpretao pode ser legitimamente chamada de teolo gia do NT. Durante esse perodo de influncia filosfica existencial, um movimento paralelo dedicava cada vez mais ateno teologia bblica, que tinha sido negligenciada du rante o movimento do Jesus histrico. Contra a abordagem fragmentada de vrios outros movimentos, o movimento da teologia bblica se empenhou em descobriralgu ma unidade dentro da variedade do NT. O mais notvel entre os expoentes desse movimento Oscar Cullmann,'* cuja nfase principal sobre a Heilsgeschichte, a posio de que os atos de Deus, tanto quanto suas palavras, so fundamentais para a salvao - uma posio que desafia as premissas do existencialismo. A histria vista, portanto, como de grande importncia na abordagem da teologia do NT. A principal obra teolgica de Cullmann, contudo, no campo da cristologia. O mesmo Introduo 25 R. Bultmann, TNT, 2 volumes (trad. 1956). Ele considera que a teologia do NT consiste na revelao das ideias por meio das quais a f crist se certifica de seu objeto, base e conseqncia (1, p.3). Porm, no se estende acerca disso. Ele comea com o ketygma. Para ele, a mensagem de Jesus era um pressuposto para a teologia do NT, e no uma parte dela. R. Morgan, op. cit., p.37, resume a teologia de Bultmann como arraigada no homem. Ele comenta que, de acordo com essa viso, o homem o objeto da teologia. Isso, claro, faz que a teologia seja dependente da antropologia. H. Conzelmann, An Outline of the Theology of the New Testament (trad. 1969). Conzelmann inclui somente uma introduo muito pequena no seu mtodo, que cobre um breve panorama histrico (p.3ss.). O. Cullmann, Christ and Time (trad. 1951); Salvation in History (trad. 1967). Embora Cullmann no tenha produzido uma teologia do NT, escreveu uma grande obra acerca da cristologia de um ponto de vista Heilsgeschichte, isto , sua Cristology o f the New Testament (trad. 1963). 24. pode ser dito de Floyd Filson/ que adotou uma abordagem um pouco semelhante. Nenhum dos dois, porm, produziu uma teologia completa do NT. O livro de Alan Richardson, An Introduction to the Theology of the New Testament,^^ foi baseado no pressuposto de que o pensamento do NT forma uma unidade, e isso o levou a adotar uma abordagem temtica. Embora tenha dado alguma ateno ao contexto histrico, sua obra no escapou da acusao de negligenciar muito esse contexto. Ele foi criticado por falhar em distinguir entre as teologias dos diferentes autores do NT. Contudo, Richardson certamente estava mais consciente da base comum do NT que seus predecessores imediatos. A Testament Theolo gy, de E. Stauffer,^** estruturada em um padro diferente e tem um objetivo diferen te. Ele est mais interessado em exibir uma teologia da histria a partir da mentali dade do mundo do NT. A primeira parte de New Testament Theology, de J. Jeremias,^* que trata do ensino de Jesus, atribui muito mais importncia a esse ensino que Bultmann, e menos influenciada pelas consideraes dogmticas. Em sua obra, contudo, ele dedica pouca ateno discusso da metodologia da teologia do NT. Outros escritores alemes que escreveram obras nessa rea so W. G Kmmel e L. Goppelt (dois volumes), junta mente com dois telogos catlicos, M. Meinertz (dois volumes) e K. H. Schelkle (quatro volumes). KmmeP^ se concentra em Jsus, Paulo e Joo e, ao fazer isso, se expe crtica de que foi muito influenciado pela teoria das personalidades dominan tes.^ Goppelt^'* divide sua teologia em duas partes, a primeira trata das atividades de Jesus (teologicamente consideradas) e a segunda da variedade e unidade do testemu nho apostlico de Cristo. Meinertz^ apresenta sua evidncia sob as divises literrias 26 Teologia do Novo Testamento F. V. Filson, The New Testament against its Environment (1950). Filson tambm produziu uma obra acerca de cristologia, Jesus Christ, the Risen Lord (1956). A. Richardson, An Introduction to the Theology of the New Testament (1958), tem um breve prefcio explicando seu mtodo (p.9ss.). Ao considerar se certo admitir que a igreja apostlica possua uma teologia comum, Richardson afirma que a nica maneira de confirmar construir uma hiptese e test-la. Ele emprega o princpio de interpretao refletido na histria da f crist, que acredita conduzir a uma histria mais coerente e racionalmente satisfatria do que os princpios liberal-humanistas ou existenciais. R. Morgan, op. cit., p.58, considera que, em alguns aspectos, a obra de Richardson se parece com um retomo aos livros de dogmtica bblica pr-modemos, no-histricos. E. Stauffer, New Testament Theology (trad. 1955), apresenta seu material contra o pano de fundo da apocalptica. Sua obra em sua edio alem (1941) antecipou a Theology of the New Testament de Bultmaim e no foi influenciada pela filosofia existencialista. J. Jeremias, New Testament Theology I: The Proclamation o f Jesus (trad. 1971). W. G. Kmmel, The Theology of lhe New Testament: According to its Major Witnesses, Jesus - Paul - John (trad. 1974). C f E. Ksemann, The Problem of a New Testament Theology, NTS 19,1972-1973, p.238, que liga sua viso viso idealista da Histria, que refora a influncia de personalidades fortemente dominantes. A Theologie des Neuen Testaments (1975-1976) de L. Goppelt est organizada em dois volumes, Jesus Wirken in seiner theologischen Bredeutung e Vielfalt und Einheit ds apostolischen Christuszeugnisses. M. Meinertz, Die Heilige Schrift des Neuen Testaments, Ergnzungsband 1: Theologie des Neuen Testaments (2 vol., 1950). 25. do NT e seleciona seus temas de acordo com sua adequao literatura a ser conside rada, mas Schelkle^*escolhe uma abordagem temtica. O catlico romano francs J. Bonsirvetf baseia sua teologia em quatro partes - Jesus Cristo, Cristianismo primiti vo, Paulo e Cristianismo maduro -, um arranjo parecido com o de Meinertz. Em sua Theology of the New Testament, G. E. Ladd^* alega ter adotado uma abordagem histrica porque cr que a teologia do NT tem uma funo descritiva. De acordo com ele, a tarefa do telogo do NT revelar a rica variedade de pensa mento do NT, embora veja em todas as fontes um testemunho do ato redentivo de Deus em Cristo. Ele v a teologia do NT como lanando o fundamento para o telo go sistemtico.^^ A partir desse panorama, pode-se observar que no h concordncia de opi nio acerca daquilo que a teologia do NT deve realizar.A maioria prefere uma abordagem que apresente a evidncia como uma coleo de diferentes teologias, e a abordagem temtica tem sido desaprovada principalmente por medo de que diminua a coeso interna dos pensadores individuais, cujas obras literrias com pem o NT. Mais ser dito nas sees seguintes sobre as questes metodolgicas que so levantadas. Pode-se concluir, com justia, que impossvel escrever uma teologia do NT que satisfaa a todas as exigncias das vrias escolas de pensa mento. Na anlise final, todo intrprete pode fazer no mais do que produzir uma obra que d prioridade aos objetivos que ele considere mais importantes. Ele tem a obrigao, contudo, de esboar seus objetivos e dar alguma indicao das razes pelas quais os escolheu. A natureza e o mtodo da teologia do Novo Testamento At o presente, no observamos o desenvolvimento de discusses realizadas com esmero sobre a natureza da teologia neotestamentria: a ampla variedade de obras acerca desse assunto d testemunho da falta de qualquer concordncia geral sobre sua natureza e do objetivo de qualquer tentativa de se escrever uma teologia do NT. Dois importantes ensaios que apareceram no incio do sculo 20 merecem considerao Introduo 27 K. H. Schelkle, Theologie des Neuen Testaments (1968-76). As tradues inglesas de sua obra foram publicadas com o ttulo Theology ofthe New Testament. Os quatro volumes tratam das seguintes subdivises da teologia do NT: 1: Criao, mundo - tempo - homem; 2: Deus estava em Cristo; 3: Moralidade; 4: Criao e redeno. J. Bonsirven, Thologie du Nouveau Testament (1951). G E. Ladd, TNT A. M. Hunter no foi includo no texto porque ele no escreveu uma teologia do NT como tal, mas produziu, contudo, uma excelente breve introduo ao estudo do assunto em seu Introducing New Testament Theology (1957). Para um panorama dos problemas envolvidos na produo de uma teologia do NT e um sumrio de algumas grandes tentativas recentes, cf. o artigo de I. H. Marshall, New TestamentTheology, em The Theological Educator, primavera de 1979. 26. hoje porque levantam, de maneira concisa, os problemas e tenses que os modernos telogos do NT ainda esto enfrentando. O artigo de Wrede j foi mencionado, mas precisamos dar ateno a questes especficas que ele levantou. Wrede pode ser con siderado representante da escolahistrica radical. Nsj mencionamos &New Testament Theology, de Schlatter, mas seu ensaio sobre The Theology of the New Testament and Dogmatics revela os princpios sobre os quais sua teologia foi baseada. O ensaio de Schlatter teve menos impacto que o de Wrede, mas tambm merece considerao por qualquer pessoa que se dedique a escrever uma teologia do NT. Em adio aos comentrios abaixo sobre esses dois ensaios, deve-se dar ateno ao ensaio de R. Morgan, The Nature of New Testament Theology,*e ao artigo de E. Ksemann, The Problem of a New Testament Theology, no qual ele explica brevemente aquilo que ele chama de tese para regular o estudo do assunto. A distino entre teologia e religio Wrede tentou abordar o NT puramente como um historiador. Ele estava reagindo contra a antiga abordagem dogmtica da mesma maneira que Gabler, que claramente o influenciou. Estava convencido de que o vnculo entre a teologia bblica e a teologia dogmtica deveria ser cortado.- Para fazer isso, foi obrigado a afirmar que os textos bbUcos se preocupavam com a histria da religio. Isso significa o abandono virtual da teologia do NT. AUs, na edio alem original do ensaio de Wrede, ele usou a palavra sogennanten (assim-chamada) para mostrar que considerava errneo o termo teologia do NT. A busca de Wrede, contudo, implicava mais do que a recusa do termo teologia. Por religio ele se referia a uma descrio da experincia crist primitiva de um ponto de vista histrico. Nessa abordagem, a doutrina impraticvel. Ahs, parte da posio de Wrede sobre a teologia do NT que todo dogma seja rejeitado, inclusive toda ideia de carter autoritativo do texto. Com a rejeio de um texto inspirado e a substituio da teologia pela religio, Wrede no via razo para se restringir ao cnon do NT. Sua nova abordagem tinha dois desdobramentos: por um lado, ele foi seletivo com relao aos livros do NT, e, por outro, recorreu, alm de ao NT, aos escritos dos Pais subapostlicos. Sua razo para fazer isso foi que no podia encontrarjustificativa 28 Teologia do Novo Testamento Os ensaios de Wrede, Schlatter e Morgan foram publicados em R. Morgan, The Nature ofNew Testament Theology. -- Cf. Wrede, em Morgan, op. cit., p.69. Ele criticou o uso da palavra normativo em relao teologia do NT, porque via essa palavra como um predicado dogmtico que nada diz acerca das caractersticas do material como documentos. Veja a discusso posterior acerca do carter da teologia do NT. Wrede, op. cit., p.75, vai to longe a ponto de considerar o uso do nome conceito doutrinrio em relao ao NT como um crime. Sua ideia que o termo doutrina aplicvel somente quando pensamentos e ideias so desenvolvidos por causa do ensino. Ele considera que isso raramente acontece no NT, que mostra a definio estreita da palavra no uso que ele faz dela. 27. para traar uma distino entre os escritos cannicos e os no-cannicos, j que, de fato, no admitia a canonicidade (veja discusso posterior). No h dvida de que a tentativa de Wrede para fazer a distino entre teologia e religio foi salutar, pois o NT no deve ser considerado como um repositrio inerte de cujos sistemas doutrinrios podemos nos servir. Se o pulso da vida crist primitiva no for sentido na teologia, ela inquestionavelmente conduzir a uma teologizao morta. Mas Wrede foi longe demais em insistir em religio em vez de em teologia? Como geralmente compreendida, a palavra teologia mais estreita que seu conceito de reUgio, especialmente quando usada no contexto cristo. Enquanto a teologia no necessariamente restrita doutrina, ela tende a significar um sistema de crenas. Por outro lado, a concepo de religio suficientemente ampla para incluir no somente crenas rehgiosas, mas qualquer coisa que componha a vida reh- giosa das pessoas. A questo quanto um conceito amplo pode ser til, ou realmente vlido, quando trata com a teologia do NT. Ele no pode falhar por apresentar um elemento de impreciso. Uma abordagem teologia do NT apresentaria uma espcie de mistura confusa de vrias ideias desconexas que contriburam de modos diferentes para a vida reUgiosa da Igreja Primitiva. Isso no favorecia o estabelecimento de qual quer conexo entre os vrios temas, mas seria um caleidoscpio das experincias e atividades crists primitivas. Suas amplas variaes seriam, portanto, consideradas enriquecedoras. H, sem dvida, pontos atrativos nessa abordagem. Ela desobriga o investigador de se engalfinhar com muitos problemas inoportunos. Contenta-se em simplesmente apresentar um relato descritivo das experincias e atividades crists primitivas. A abordagem religio-em-lugar-da-teologia est, contudo, aberta a objees. Essa abordagem no pode fornecer um padro normativo. Pode fornecer algum mpeto se for estudada com seu valor exemplar em mente, mas no h razo para supor que possa ser relevante para cristos de sculos posteriores. Ela tem pouco mais que um interesse antiqurio no material. Certamente no pode fornecer algo que seja autoritativo. Ela no v o pensamento do NT como uma revelao de Deus e, portan to, vlido para todas as pocas. Reduz o NT a um registro da busca do homem por Deus no sculo 1-, que pode, claro, ser repetida em alguns de seus aspectos em cada sculo seguinte, mas o exegeta Uvre, de fato, para fazer sua prpria escolha. Muito diferente disso a abordagem que v o ensino do NT como uma revelao permanente de Deus, que, portanto, concentra-se sobre o que Deus tem a dizer ao homem, em vez de se concentrar nas vrias experincias rehgiosas humanas em sua procura por Deus. Se a verdade divina de um tipo autoritativo comunicada no NT, o intrprete fica circunscrito em sua tarefa. Ele no tem a liberdade de separar e escolher. Introduo 29 Ao comentar a nfase de Wrede acerca da histria das religies, R. Morgan, op. cit., p. 12s., escreve: O motivo teolgico para essa mudana de nfase nos estodos do NT foi que a antiga autoridade do texto bblico como revelao foi desintegrada luz da pesquisa histrica. 28. Devepegar tudo ounada. Deve, tambm, ver o ensino como um todo e no em fragmentos desconexos. Ele no pode se concentrar sobre um aspecto (por exemplo, a teologia de Paulo) e excluir os outros. Tambm no pode criar suas prprias ideias sobre a impor tncia comparativa de diferentes nfases."*Ele est empenhado em descobrir os fatores unificadores porque sabe que a revelao no pode ser contraditria. Deve-se notar, claro, que nem todos os que rejeitam a abordagem religio concordam que a teologia seja definitiva ou necessariamente revelao. Muitos con sideram legtimo se concentrar sobre ideias ou conceitos, mas negam toda alegao de sua unidade. Se o NT consiste em uma variedade de teologias e no em uma unidade apresentada sob diferentes aspectos, ns precisamos considerar se seu valor como revelao modificado. Pode ser dito que os intrpretes que consideram que o NT consiste em teologias colocam-se a meio caminho entre as duas abor dagens j discutidas. E evidente que a compreenso que o intrprete tem do carter do NT como revelao tem efeito profundo sobre a metodologia que ele usa. O problema da unidade do NT ser discutido mais adiante. A relao entre a teologia do Novo Testamento e a dogmtica Areaocontra a dogmtica, da qual o ensaio de Wrede foi o exemplo mais articulado, no foi representativa de todos os pontos de vista. Adolf Schlatter se dedicou questo da relao entre uma abordagem histrica ao NT e um interesse dogmtico no texto.^' bom observar, primeiro, o que Schlatter quis dizer por dogmtica em relao aos estudos do NT. Ele alega usar o termo com respeito a aquele conhecimento e f compartilhados que nos unem em uma igreja.^ Isso o distingue das opinies individuais. Sobre a fora dessa definio, ele considerou que a dogmtica olha para o presente para ns mesmos), enquanto a obra histrica olha para o passado (i.e., para a experincia de outros). Mas negava que as duas disciplinas fossem mutuamente excludentes. J que o cristianismo baseado sobre o NT, a interpretao dele imi ato que toca seus fundamentos.^*Schlatter foi ainda mais longe ao dizer que esse sistema to apropriado ao trabalho histrico quanto a dogmtica, no sentido de que nosso conhecimento da histria no limitado a observaes dispersas e contraditrias. Ele considerou que a ordem harmoniosa de 30 Teologia do Novo Testamento ~ Um intrprete existencialista como E. Fuchs no concordaria com isso. Ele considera a teologia do NT como uma abreviao de uma investigao acerca de teologia no NT, cf. The Theology of the New Testament and the Historical Jesus, em seu Studies ofthe Historical Jesus (trad. 1964), pp.167-190. Sua abordagem representativa de muitos telogos modernos do NT que defendem um cnon dentro do cnon. A prpria nfase de Fuchs sobre a f como um evento da linguagem. * O ensaio de A. Schlatter foi escrito depois de sua Neutestamentliche Theologie, mas apresenta os princ pios acerca dos quais a obra anterior foi baseada. O ensaio original foi publicado em 1909 em Theologische Bcherei, mas apareceu em uma traduo inglesa como The Theology of the New Testament and Dogmatics, em R. Morgan, The Nature of New Testament Theology, pp.117-166. Schlatter, op. cit., p. 119. */W.,p.l20. 29. Introduo 31 nossos pensamentos uma indicao de que nosso trabalho foi bem-sucedido. Essa alegao de Schlatter perdeu fora por causa de um modemo endurecimento contra todo pensamento de harmonizao,^ mas sua opinio merece ser repensada. Se o historiador do NT quiser dar sentido ao que encontra, ele no pode evitar um estudo de doutrina. Tambm no pode manter suas convices fora de questo, pois, como Schlatter observou, em nenhum ponto de nossa vida temos a tarefa de auto- aniquilao.'*Ele afirmava que o presente interage com o passado para esclarecer o passado."" Isso coloca a dogmtica e a teologia bblicas em estreita proximidade. Veremos que isso envolve uma abordagem da teologia do NT totalmente diferente das propostas de Wrede. Schlatter deu muito maior importncia revelao, ressaltan do que, se o NT for feito dependente de produtos embaados da obra humana, do farisasmo e do Helenismo, do rabinato e do Gnosticismo, em vez de depender so mente da atividade divina pode-se alegar que a origem divina e a mediao histrica so mutuamente excludentes. Mas Schlatter no aceita isso como uma anttese necessria, embora fizesse algumas advertncias perceptveis contra o apelo a outros contextos religiosos como se eles formassem um todo unitrio. A manuten o do conceito de revelao por Schlatter como um fato essencial para o entendi mento genuno da teologia do NT no recebeu o peso que merece. Ao se considerar a contribuio de Schlatter para o debate sobre a teologia do NT, existe um reconhecimento modemo de sua importncia. Ksemann chega a classificar Schlatter como um par com Bultmarm."^^ Alm disso, ele o considera como o real originador da nova busca pelo Jesus histrico. Morgan v alguma similaridade entre a nfase existencial de Bultmatm e a posio de Schlatter.*^O fato que a convocao feita por Schlatter para uma abordagem teolgica, em vez de uma abordagem puramen te histrica, tem recebido maior influncia nos ltimos anos. Morgan,"^contudo, criti cou-o por manter posies tradicionais de autoridade e por dar muito peso a personali dades particulares, mas o elogia por reconhecer desenvolvimento dentro do NT. Se quisermos continuar dando o devido peso ao NT como revelao, alguma con siderao deve ser feita sobre a importncia dos conceitos doutrinrios dentro do NT. um corolrio que no se espera que o ensino doutrinrio do NT fornea uma mistura confusa de ideias disparatadas totalmente desconectadas das convices permanentes admitido, muito frequentemente sem debate, que a harmonizao , em si mesma, um tabu intelectual. Mas isso no faz justia evidncia, pois supervaloriza a diversidade e admite que no espera concordncia de nenhum dos dois testem unhos prim itivos. Sem dvida, algumas tentativas de harmonizao por razes puramente dogmticas devem ser corretamente rejeitadas. O p.ci.,p.l25. Ibid., pA26. /W d.,p.l51. " E. Ksemann, The Problem of a New Testament Theology, iVrS 19,1972-1973, p.239. Op. cit., p.28. Ibid, p.29. 30. 32 Teologia do Novo Testamento da Igreja Crist. Reconhecer a necessidade de alguma continuidade entre a teologia do NT e as convices crists no significa, contudo, que o telogo do NT esteja autori zado a impor ao NT uma estrutura dogmtica derivada das formulaes dogmticas histricas.**Quando muito, a teologia do NT pode fomecer o material bsico para a teologia dogmtica, que, em nenhuma poca, deve ser colocada contra os conceitos do NT. Apesar disso, h grandes temas que surgem de um estudo do NT que no so impostos sobre ele pelas consideraes dogmticas, embora possam encontrar parale los em formulaes credais posteriores. Schlatter afirmava que a soberania de Deus, Cristo, pecado, justificao, amor e f estabelecem o contedo da teologia do NT.* Ele afirmava que esses temas so derivados do prprio NT. A relao entre uma teologia do NT e um interesse dogmtico se torna aguda de maneira diferente na teologia de Bultmann. Seus pressupostos existenciais virtual mente impem uma estrutura sobre sua teologia do NT que vai alm da abordagem puramente histrica. Sero feitos comentrios posteriores sobre a posio de Bultmann na seo sobre teologia e histria, mas, para nosso propsito atual, importante observar que h algum parentesco entre o conservador Schlatter e o existenciaUsta Bultmann. Ao considerar a relao entre a teologia do NT e a dogmtica, uma importante questo que surge se h algum sentido no qual a teologia do NT pode ser normativa. Se ela for considerada como unicamente descritiva, isso pode nos levar posio de que o telogo do NT pouco mais que um tipo de zelador de museu, que expe seus objetos antigos para alcanar o maior proveito possvel, mas nada pode fazer para demonstrar sua relevncia moderna. Mas essa viso da misso do telogo carece totalmente de dinamismo e no est altura da importncia contnua do NT na experincia dos cristos. A questo real at onde a teologia do NT pode ser considerada normativa. Se ela precisa ser reinterpretada em cada poca, como Bultmann afirma, os padres de pensamento do sculo 1 certamente no podem ser considerados normativos, pelo menos no de modo objetivo. Mas, se o NT apresenta uma revelao autoritativa, no haver um sentido no qual ele possa ser considerado normativo para todas as pocas? O contexto cultural humano certamente mudou desde o sculo 1-. A com preenso de seu prprio ambiente foi imensamente aumentada. Mas isso faz que o NT seja menos relevante para hoje? Isso s aconteceria se as necessidades humanas bsicas tivessem mudado. Mas o fato que, com todo o seu progresso cientfico sofisticado, o ser humano ainda enfrenta as mesmas questes sobre seu E. Kasemann, op. d., p.236, reconheceu a necessidade imperativa existente hoje de uma conexo entre pensamento analtico e sistemtico. Ele pensa que, caso no haja essa conexo, ns acabaremos totalmente isolados uns dos outros. Ele ironiza a especializao das pessoas em cavar seus prprios buracos, dos quais elas podem ver pouco do cu e do mundo ao seu redor. Op. cit., p.l61. 31. Introduo 33 relacionamento com Deus. Se a salvao fosse pelo conhecimento, seria necessrio produzir uma teologia do NT em termos muito diferentes dos conceitos originais do sculo 1. Mas o sculo 20 no demonstrou que o conhecimento do homem pode salv-lo. O fato que o problema bsico com o qual o NT lida como o homem pecador pode se aproximar de um Deus santo, e isso igual para todas as pocas. Desse modo, nossa afirmao que a teologia do NT autoritativa e, portanto, normativa na rea essencialmente espiritual da qual ela trata. Ningum admitiria que o NT normativo em sua compreenso cientfica. Embora considere a teologia do NT como normativa, deve-se tomar o cuidado de que algo mais esteja em vista do que a repetio das crenas crists primitivas, que deve ser apresentado a cada poca in toto para imitao. O carter normativo da teologia do NT repousa na imutabihdade da necessidade humana bsica de Deus, mas cada poca deve ter sua prpria conscincia da necessidade de entender o NT. Em outras palavras, para que seja reahnente normativa, a teologia do NT deve despertar os leitores do sculo 21 para a conscincia de que aquilo que se est falando tem relevncia para suas neces sidades presentes. Se, nesse aspecto, ela parece estar invadindo a rea da teologia dogmtica, somente porque no h uma linha divisria clara entre elas. igualmente verdade que o telogo do NT deve primeiro se defrontar com a relevncia daquilo que escreve. Ele no pode esperar ser relevante para outras pes soas se antes no for relevante para si mesmo. Deve realmente abordar sua misso com f, mesmo se for acusado de traz-la a uma tendncia que faa com que sua obra seja historicamente inaceitvel. A menos que o telogo se relacione com a mensagem bsica do NT, ele ser um mero antiqurio, apontando remotas opinies passadas sobre Jesus Cristo. Esse observador no seria aceitvel como historiador. Mesmo o homem modemo teme menos o risco de ser chamado de tendencioso do que de se achar em isolamento total dos demais. O presente autor, contudo, no pede desculpas por abordar a teologia do NT francamente do ponto de vista da f. As facetas da doutrina discutidas foram testadas na experincia crist e so compa rveis s histricas declaraes de f crist. Entretanto, deve-se permitir que o NT fale por si mesmo e no seja encaixotado nessas declaraes histricas. Em cada poca, incumbncia do Cristianismo histri co testar novamente a validade de suas presentes formulaes dogmticas contra as doutrinas vivas que emergem do NT. O NT , em si mesmo, a mola mestra das doutri nas da igreja e valida a misso do telogo sistemtico de organizar essas doutrinas contra o pano de fundo de consideraes histricas e culturais mais amplas. As limitaes de uma abordagem puramente literria Em parte como reao antiga abordagem puramente dogmtica Escritura, que a via como uma revelao sobrenatural divorciada de seu contexto histrico, os anti gos emditos crticos insistiam em tratar o NT como qualquer outra obra literria. No havia dvida quanto a justificativa para isso, mas esse tratamento levou a uma nfase 32. exagerada sobre a anlise literria que, em muitos casos, obscureceu a singularidade do NT. claramente importante discutir at onde o NT pode ser abordado da mesma maneira que qualquer outra literatura. Ningum negar que perfeitamente apropriado considerar as agncias humanas por trs do NT, os homens de came e sangue que escreveram suas palavras, e tentar descobrir as fontes de seu material. Portanto, algu mas comparaes devem ser feitas com os mtodos usados por outros escritores. Deve-se tomar cuidado, entretanto, para no obscurecer a caracterstica bvia no material analisado. A literatura do NT centralizada em uma pessoa que contribui como um elemento de singularidade para a literatura acerca de si mesmo. Essa singu laridade no deve ser interpretada como uma alegao para que o NT seja cercado por um muro impenetrvel contra todas as crticas, pois isso seria insustentvel. Contudo, qualquer pessoa que se aproxime da literatura sem estar consciente de seu carter nico no est em uma posio melhor do que aquele que aborda um estudo de Cristo decidido a v-lo em termos puramente humanistas. Nenhum dos dois chegar a um quadro verdadeiro. H, claro, um dilema aqui, pois o intrprete no pode abordar seu texto com a mente aberta se aceita sua singularidade como um pressuposto. Mas tambm no pode chegar a uma verdadeira compreenso de seu texto a menos que esteja prepara do para admitir que est diante de um mistrio que no pode ser resolvido em termos puramente humanos. Se ele adota uma abordagem ao texto que o restringe s ferra mentas humanas como o nico mtodo autntico,^* no ter alternativa alm de privar o texto de elementos que no se encaixam em sua compreenso (como, por exemplo, no caso da real ressurreio de Cristo). Alm disso, esse mtodo faz o texto se curvar aos pressupostos do exegeta que coloca suas prprias teorias em uma posio de maior autoridade que a do prprio texto. Se, por um lado, o exegeta do NT reconhece que nos textos com os quais est tratando existe um mistrio que no pode ser resolvido em termos puramente huma nos, ele estabelecer um limite de dependncia dos estudos literrios. Ele no pode evitar a anlise de estilos literrios, mas ser influenciado no apenas por essas anli ses, mas por uma comparao de todo o contexto do estilo do texto com o do NT. Portanto, os estilos rabnicos tm validade somente quando vistos contra as amplas diferenas existentes entre o Judasmo e o Cristianismo em suas abordagens totalizantes. Isso nos conduz a um comentrio sobre o que um erudito chamou de paraleloma- nia,**uma enfermidade literria que empurra a pesquisa excessiva em direo ao estilo. Isso surgiu somente nas escolas de pensamento que no do a devida ateno 34 Teologia do Novo Testamento Schlatter, em R. Morgan, The Nature ofthe New Testament Theology, p. 155, ressalta que a crtica hist rica nunca baseada somente sobre o fato histrico, mas sempre tem razes na crtica ao prprio dogma. Em sua opinio, nossas convices no so provenientes apenas da Histria, mas dos efeitos dessa histria em nossa experincia. * S. Sandmel, Parallelomania, JBL&l (1962), pp.2-11. 33. ao carter particular dos textos do NT. Se os estilos so usados como meios para se determinar a falta de autenticidade, como, por exemplo, na abordagem de Bultmann interpretao do NT, eles formam uma parte extremamente importante dos princpios da crtica e se tomam uma ferramenta poderosa para estabelecer a verdade.^ Mas no h justificativa para se atribuir tanta importncia ao estilo. Alguma investigao posterior necessria para determinar se h alguma conexo entre os textos a serem comparados. No suficiente, por exemplo, admitir que, como Jesus e os cristos primitivos eram judeus, legtimo usar qualquer estilo judaico como evidncia de dependncia e, portanto, de falta de autenticidade. A possibilidade do ensino judaico em questo ter influenciado os escritores do evangelho deve ser demonstrada. Em outras palavras, deve haver uma probabihdade cronolgica e geogrfica para que o estilo seja copiado. Caso contrrio, isso pode ser considerado, no mximo, como uma possibilidade hipottica. O telogo do NT precisa ter em mente que um estilo no deve ser tratado como uma fonte e no pode ser considerado como um fornecedor legtimo de um guia para a exegese. Muito frequentemente, as teorias constmdas sobre o fundamento nico de supostos estilos se mostram distorcidas. Um problema igualmente srio de grande parte da crtica literria dos textos do NT a tendncia de se enfatizar exageradamente as diferenas.' Isso tem resultado em uma multiplicao de diferentes estilos. Por essa razo, no somente a teologia paulina colocada contra os outros estilos dentro do NT, porque Paulo tem suas pr prias caractersticas, mas tambm, dentro das epstolas paulinas as diferenas so engrandecidas como inconsistncias, e a autoria pauhna de certas cartas negada. Em muitos casos, um resultado totalmente diferente seria obtido se similaridades, e no diferenas, fossem realadas.^ Mas alguns tipos de crtica literria ampliam as diferen as custa das similaridades.Uma importante ilustrao disso encontrada no cam po da cristologia, no qual as diferenas de nfase constroem diferentes cristologias. Embora algo importante possa certamente estar ligado a temas especiais, em que esses temas se distinguem do ensino geral (como, por exemplo, quando Paulo expe sua Introduo 35 'C / M. D. Hooker, On using the wrong tool. Theology, 75,1972, pp.570-581, para uma crtica poderosa desse tipo de metodologia. Cf. tambm o artigo de D. G A. Calvert, Distinguishing the Authentic Words of Jesus, WrS 18, 1971-1972, pp.209-218. '' W. Wrede, em R. Morgan, op, ci/,, p. 186, n.26, adverte contra essa tendncia: A tendncia de se enfatizar diferenas e contradies, mesmo quando elas no so importantes, , em parte, uma reao contra a harmonizao em favor da dogmtica. Isso totalmente natural, mas , em si mesmo, nada menos que um tipo de dogmatizao. R. Morgan, The Nature o f New Testament Theology, p,20, concorda que algum que aceite Efsios, Colossenses e as pastorais ter um quadro muito diferente de Paulo daquele que no aceita. Ele admite que o criticismo histrico no resulta em uma ampla concordncia crtica. Um exemplo de fragmentao radical dentro das epstolas paulinas o tratamento que J. C. ONeill d a Romanos, Pauls Letter to the Romans (1975). Mas as diferenas teolgicas tm exercido um importante papel no desafio autenticidade de muitas epstolas paulinas. Em seu recente livro Unity and Diversity in the New Testament (I911),. D. G Dunn no evitou o erro de superanalisar, embora ele no tente manter um ncleo de unidade. 34. teologia de Ado), isso nojustifica uma ampliao indiscriminada das diferenas. A crtica literria excede seus limites quando constri vrias teologias diferentes fora dos moldes encontrados em vrios livros do NT.* muito mais racional que o telo go do NT espere encontrar algum tipo de unidade bsica, e no o contrrio. Por que se deveria pelo menos pensar que diferentes lderes eclesisticos e dife rentes grupos eclesisticos devessem desenvolver linhas independentes?No mais plausvel supor que existia uma compreenso comum bsica do evangelho e que nfa ses especficas no eram desvios, mas diferentes facetas de um todo complexo? Mais ser dito acerca disso quando a base da unidade do NT for discutida. Para o momento, desejo apenas fazer uma advertncia contra a fragmentao do pensamento do NT que, ento, torna-se uma condio sine qua non para a abordagem da teologia do NT. A fraqueza de uma abordagem totalmente analtica Do ltimo ponto, surge todo um problema de metodologia analtica. uma abor dagem correta, por exemplo, fazer um estudo fragmentado dos evangelhos sinticos, do quarto Evangelho, das epstolas paulinas e de vrias outras correntes de pensamen to? Para respond