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TEOLOGIA SISTEMÁTICA Itermo vem a significar todas as doutrinas cristãs, não apenas a doutrina específica de Deus, mas também as doutrinas que se referem às relações que Deus

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Doutrina de Deus

2 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Sumário

Apresentação

Definição de Teologia

Teologia e Religião

A necessidade da Teologia

Divisões da Teologia

Revelação de Deus

A doutrina de Deus

A existência de Deus

O conhecimento de Deus

O ser de Deus

O caráter de Deus: Nomes e Atributos

A Trindade: Triunidade

A criação do universo

Significado teológico da criação

A paternidade de Deus

Angeologia: doutrina dos Anjos

Satanás e seus Demônios

Bibliografia

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Doutrina de Deus

3 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Apresentação

O que é teologia? Por que precisamos dela? A palavra teologia nem sempre é bem aceita

entre algumas pessoas. Existe uma grande confusão relacionada a ela. Há quem diga que a

teologia é um mal à fé cristã. Outros dizem que ela esfria a fé. A verdade é que muitas pessoas,

por falta de conhecimento ou até mesmo de esclarecimento, desenvolveram uma concepção de

que teologia é uma coisa má, portanto, desnecessária ao cristão. Mas, ao analisarmos mais de

perto o conceito de teologia, perceberemos que ela sempre esteve presente na vida de todas as

pessoas, quer sejam elas crente ou não; não importa a religião ou crença, ou se é ateu, na

verdade, de uma maneira ou de outra, todo ser humano tem pensado sobre Deus, sobre sua

relação com o universo. E esse pensar ou refletir a respeito de Deus e de sua relação com o

universo demonstra que independentemente de ser acadêmico ou não, o ser humano pensa

teologicamente. Basta observarmos as explicações que comumente as pessoas dão para certos

fenômenos, por exemplo: quando alguém fala que determinada coisa é pecado e relativamente

outra não é; quando acontece uma catástrofe e é atribuída a ação de Deus; quando alguém diz

que determinada coisa que aconteceu foi da vontade de Deus; explicações como estas revelam o

pensar teológico inerente ao ser humano. Mas, por que algumas pessoas ainda resistem à

teologia? Alguns a consideram como algo vazio e sem sentido; outros, a evitam por temer que

seus conceitos errados a respeito de Deus e do Cristianismo sejam lançados por terra; outros, por

orgulho, acham que já sabem tudo e não precisam de mais nada, ou por preferir apenas algumas

experiências religiosas abstratas.

"Em certo sentido, até compreendo por que algumas pessoas se sentem desconcertadas

ou até incomodadas pela Teologia. Lembro-me de certa ocasião em que dava uma palestra para

os pilotos da R.A.F. e um oficial velho e rijo levantou-se e disse: 'Nada disso tem serventia para

mim. Mas saiba que também sou um homem religioso. Sei que existe um Deus. Sozinho no

deserto, à noite, já senti a presença dele: o tremendo mistério. E é exatamente por isso que não

acredito em todas essas fórmulas e esses dogmas a respeito dele. Para qualquer um que tenha

conhecido a realidade, todos eles parecem mesquinhos, pedantes e irreais.'

Ora, num sentido, até concordo com esse homem. Creio que ele provavelmente teve uma

experiência real de Deus no deserto. Quando se voltou da experiência para o credo cristão,

acho que realmente passou de algo real para algo menos real. Da mesma maneira, um homem

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Doutrina de Deus

4 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

que já viu o Atlântico da praia e depois olha um mapa do Atlântico também está trocando a

coisa real pela menos real: troca as ondas de verdade por um pedaço de papel colorido. Mas é

exatamente essa a questão. Admito que o mapa não passa de uma folha de papel colorido, mas

há duas coisas que devemos lembrar a seu respeito. Em primeiro lugar, ele se baseia nas

experiências de centenas ou milhares de pessoas que navegaram pelas águas do verdadeiro

oceano Atlântico. Em segundo lugar, se você quer ir para algum lugar, o mapa é absolutamente

necessário.

A Teologia é como o mapa. O simples ato de aprender e pensar sobre as doutrinas

cristãs, considerado em si mesmo, é sem dúvida menos real e menos instigante do que o tipo de

experiência que meu amigo teve no deserto. As doutrinas não são Deus, são como um mapa.

Esse mapa, porém, é baseado nas experiências de centenas de pessoas que realmente tiveram

contato com Deus — experiências diante das quais os pequenos frêmitos e sentimentos piedosos

que você e eu podemos ter não passam de coisas elementares e bastante confusas. Além disso, se

você quiser progredir, precisará desse mapa. Note que o que aconteceu com aquele homem no

deserto pode ter sido real e certamente foi emocionante, mas não deu em nada. Não levou a

lugar nenhum. Não há nada que possamos fazer. Na verdade, é justamente por isso que uma

religiosidade vaga — sentir Deus na natureza e assim por diante — é tão atraente. Ela é toda

baseada em sensações e não dá trabalho algum: é como mirar as ondas da praia. Você jamais

alcançará o Novo Mundo simplesmente estudando o Atlântico dessa maneira, e jamais

alcançará a vida eterna sentindo a presença de Deus nas flores ou na música. Também não che-

gará a lugar algum se ficar examinando os mapas sem fazer-se ao mar. E, se fizer-se ao mar

sem um mapa, não estará seguro.

Em outras palavras, a Teologia é uma questão prática, especialmente hoje em dia. No

passado, quando havia menos instrução formal e menos discussões, talvez fosse possível passar

com algumas poucas idéias simples sobre Deus. Hoje não é mais assim. Todo mundo lê, todo

mundo presta atenção a discussões. Conseqüentemente, se você não der atenção à Teologia, isso

não significa que não terá idéia alguma sobre Deus. Significa que terá, isto sim, uma porção de

idéias erradas — idéias más, confusas, obsoletas. A imensa maioria das idéias que são

disseminadas como novidades hoje em dia são as que os verdadeiros teólogos testaram vários

séculos atrás e rejeitaram. Acreditar na religião popular moderna da Inglaterra é a mesma

coisa que acreditar que a Terra é plana — um retrocesso". (C.S. Liwes. Cristianismo puro e

simples)

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Doutrina de Deus

5 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Essa matéria tem como objetivo oferecer ao aluno uma introdução à Teologia

Sistemática, ou seja, fornecer um alicerce para a fé e prática no cotidiano. A Teologia

Sistemática busca sistematizar as doutrinas centrais do cristianismo, tais como: a doutrina sobre

Deus, sobre a Trindade, anjos e demônios, sobre o homem, sobre Cristo e o Espírito Santo, sobre

a salvação, sobre a igreja e a segunda vinda de Cristo.

A teologia Sistemática também possibilita ao estudante o diálogo entre as várias

correntes doutrinárias existentes no meio evangélico, examinando cuidadosamente cada uma

delas e selecionando-as em conformidade com o que a Bíblia ensina. Com isso, a Teologia

Sistemática procura resolver também as incoerências doutrinárias muito comuns no meio cristão.

Após o estudo dessa matéria o aluno será capaz de discutir a respeito das doutrinas

centrais do cristianismo, refletindo sobre a relação entre doutrina e prática cristãs. Será capaz de

fazer uma análise crítica dos conceitos doutrinários predominantes no meio evangélico.

Compreender e explicar as doutrinas centrais do cristianismo visando o crescimento e a

edificação da igreja.

Para um melhor aproveitamento dessa matéria, é fundamental o estudo da Bíblia. Mesmo

que a Teologia Sistemática faça uso da filosofia, da História e outros elementos, a sua base

principal é a Bíblia. A própria palavra "Sistemática" indica organização, portanto, a Teologia

Sistemática organiza em tópicos os principais assuntos doutrinários que aparecem na Bíblia.

Logo, é fundamental que o estudante tenha um prévio conhecimento geral da Bíblia. Além disso,

é necessário conferir as referências bíblicas que dão base às argumentações presentes em cada

tópico estudado.

Procure estudar cuidadosamente a apostila, lendo todas as passagens bíblicas, tenha

também à disposição: Bíblia de estudo, dicionário bíblico e também da língua portuguesa.

Depois que você tiver uma visão geral do conteúdo dessa apostila, para isso, é necessário ler pelo

menos três vezes, a partir daí é que você vai responder às avaliações.

Adriano Miranda

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Doutrina de Deus

6 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

1. DEFINIÇÃO DO TERMO TEOLOGIA

O termo teologia deriva-se de duas palavras gregas: Theos e Logos, sendo que a primeira

significa “Deus” e a segunda “discurso, doutrina, ciência”. No sentido mais restrito, portanto,

“teologia” pode ser definida como sendo a doutrina de Deus. Mas no sentido mais comum, o

termo vem a significar todas as doutrinas cristãs, não apenas a doutrina específica de Deus, mas

também as doutrinas que se referem às relações que Deus mantém com o universo. Neste sentido

amplo, podemos, portanto, definir teologia “como a ciência de Deus e Suas relações com o

universo”.

O dicionário Aurélio assim define teologia: “Estudo das questões referentes ao

conhecimento da divindade, de seus atributos e relações com o mundo e com os homens”.

Teologia, portanto, é o estudo ou a reflexão sobre Deus e Suas relações com o universo.

1.1. Doutrina – O termo doutrina é cunhado por algumas pessoas de maneira

equivocada, em geral confundem doutrina com usos e costumes. Para algumas igrejas, doutrina

está relacionada com a maneira de se vestir, o tamanho do cabelo das mulheres, etc. Uma análise

cuidadosa do termo, nos revela que doutrina nada tem a ver com questões de usos e costumes.

O Dicionário Luft assim define Doutrina: É o conjunto de princípios norteadores de um

sistema religioso, filosófico, político. Tudo o que é objeto de ensino.

A doutrina cristã é apenas a declaração das crenças mais fundamentais do cristianismo:

crenças sobre a natureza de Deus; sobre a sua ação; sobre nós que somos suas criaturas; e

sobre o que Deus faz para nos trazes à comunhão dom Ele. Longe de serem áridas ou supérfluas,

elas são respostas às questões fundamentais da vida, exemplos: Quem sou eu? Qual é o sentido

último do universo? Para onde vou? A doutrina cristã, portanto, constitui-se das respostas que o

cristão dá àquelas perguntas que todos os seres humanos fazem.

2. TEOLOGIA E RELIGIÃO

A Teologia está relacionada com a religião, assim como a botânica com a vida das

plantas. Sem a vida das plantas não haveria botânica. Sem os astros seria impossível a

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astronomia. De igual maneira é impossível a existência da teologia sem a religião; aquela é uma

conseqüência desta. É, portanto, necessário uma idéia clara de religião, pois dela depende a

teologia. Do mesmo modo é fundamental que a nossa teologia tenha como a base a Bíblia, pois,

do contrário, nossa religião será extra bíblica.

“A Bíblia é a constituição da fé cristã: ela específica em que se deve crer e o que se deve

fazer”.

O homem é um ser religioso. A prova mais evidente de que o homem é por natureza

religioso está em não haver jamais, alguém encontrado uma tribo, a mais selvagem, que fosse

totalmente destituída de qualquer culto ou idéia religiosa. A religião é tão natural ao homem

como a fome, a sede, a saudade, etc. A História Universal não nos fala de um só povo sem

religião, nem ainda os mais atrasados fazem exceção a essa regra. Pelo contrário, os povos mais

ignorantes, mais falhos em cultura, são, em geral, os mais religiosos. Este fato bastante notável

serve para demonstrar e provar que, quando o indivíduo chegar a sondar a alma, sempre encontra

nela a necessidade de religião, de uma relação com o ser Supremo - Deus. Sem dúvida nenhuma,

o coração humano é como um altar onde arde o fogo sagrado da religião. A religião no homem

manifesta-se nos poderes de o mesmo pensar, sentir e querer. É, essencialmente, uma função do

coração, reforçado pela vontade e iluminado pelo raciocínio. Sendo assim, chegamos à conclusão

de que a idéia fundamental da religião, é uma vida em Deus, uma vida em comunhão íntima com

o Criador. Uma vida debaixo da orientação e domínio do Espírito Santo. O Apóstolo Paulo

esclareceu essa verdade dizendo: "Porque nele vivemos, e nos movemos e existimos" (At 17.28).

A relação entre teologia e religião é a de efeitos, em esferas diferentes, produzidos pelas

mesmas causas. No campo do pensamento sistemático, os fatos que se refere a Deus e Suas

relações com o universo levam à teologia. Um homem organiza seus pensamentos com

referência a Deus e o universo, e na religião ele expressa, em atitudes e ações, os efeitos que

esses pensamentos produzem nele.

2.1. Religião – É comumente definida como o ato de religar o homem a Deus. Essa

definição está baseada no termo latim “religare”. Sendo assim, num sentido genérico, todas

religiões levam o homem a Deus, isto tem sido muito divulgado em nossos dias. Mas diante das

Escrituras Sagradas isto é inadmissível.

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Uma definição mais adequada de religião é nos dada por Strong, vejamos:

“Religião em sua idéia essencial é uma vida em Deus, uma vida vivida em conhecimento

de Deus, em comunhão com Deus e sob o controle do Espírito Santo que habita no crente”.

Neste caso, somente o cristianismo é a religião verdadeira.

3. A NECESSIDADE DA TEOLOGIA

Mesmo as pessoas que se recusam a formular suas crenças teológicas possuem idéias

bem definidas com relação aos principais assuntos da teologia. Há, de fato, uma necessidade de

estudar teologia? Para que serve a teologia? Há várias razões para estudarmos a doutrina cristã:

3.1. Crenças doutrinárias corretas são essenciais no relacionamento entre o cristão e

Deus. É necessário saber quem é Deus (Hb. 11:6). Também importante para um relacionamento

adequado com Deus é a crença na humanidade de Jesus (I Jo. 4:2).

3.2. A doutrina é importante por causa da ligação entre a verdade e a experiência.

Nossa época atribui altíssimo valor à experiência imediata. O simples relacionamento agradável

em relação a Jesus não pode ser divorciado da necessidade de saber se ele é genuinamente o filho

de Deus. Sendo a Bíblia nossa regra de fé, é ela quem determina em que se deve crer e o que se

deve fazer. A experiência não substitui a doutrina.

3.3. A compreensão correta da doutrina é importante porque hoje há muitos

sistemas de pensamentos religiosos e seculares que disputam nossa devoção. Abundam

filosofias e psicologias populares de auto-ajuda. Entre as opções religiosas, há grande número de

seitas e cultos, além de enorme variedade de denominações cristãs. E religiões alternativas são

encontradas não só em outros países, mas também possui significativo de adeptos em nosso país.

3.4. O desenvolvimento de um caráter cristão inteligente (Mt. 22:29; Hb. 5:11-14; II

Pe. 3:15-18). A fé cristã é uma fé inteligente. A ideia que muitas pessoas têm a respeito dos

crentes é a de um povo fanático, louco, ignorante e sem cultura. Em alguns casos, podemos até

mesmo ver a falta de alguns desses elementos, pois alguns cristãos orgulhosos acham que não

precisam estudar e acabam tomando atitudes vergonhosas, atitudes insanas. Se desejamos

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Doutrina de Deus

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desenvolver um caráter cristão inteligente é fundamental nos aplicarmos ao estudo das

Escrituras, bem como a tudo aquilo que está relacionado à fé cristã e à igreja.

3.5. Condições para o serviço cristão eficaz. Há em muitas igrejas hoje em dia uma

aversão à pregação doutrinária. O pastor sente que as pessoas exigem algo que seja oratório, que

suscite emoções que levam à ação imediata, e que não requeira concentração de pensamento.

Infelizmente, algumas congregações são assim; mas Cristo e os apóstolos pregavam doutrina

(Mc. 4:2; At. 2:42; II Tm. 3:10), e somos exortados a pregar a doutrina (II Tm. 4:2; Tt. 1:9).

Pregação eloquente pode prender a congregação ao pregador, mas quando o pregador for

embora, o povo vai também, caso não houver um ensino genuíno do evangelho de Cristo.

4. DIVISÕES DA TEOLOGIA

4.1. Em primeiro lugar, a teologia é bíblica. Ela toma seu conteúdo principal das

Escrituras do AT e NTa. Embora seja possível obter informações a partir do estudo da criação de

Deus ou do que às vezes como o livro da obra de Deus, é primeiramente a Palavra de Deus que

constitui o conteúdo da teologia. Portanto, o estudante da teologia sistemática precisa conhecer a

Bíblia.

4.2. Teologia Exegética – inclui o estudo das línguas bíblicas (hebraico, aramaico e

grego), a arqueologia, história, hermenêutica, etc. A teologia exegética estuda cada livro da

Bíblia separado, tanto o AT como o NT. É um estudo mais acadêmico.

4.3. Teologia Sistemática – Toma o material fornecido pela teologia exegética e o

arranja em ordem lógica sob os grandes títulos do estudo teológico. Ela não examina cada livro

da Bíblia separadamente, mas procura juntar em um todo coerente o que toda a Escritura afirma

sobre dado tópico, tal como o pecado do homem, a salvação, a Trindade, etc. É a organização da

doutrina cristã em tópicos.

4.4. A teologia prática – trata da aplicação da teologia na santificação, edificação,

educação e serviço dos homens.

a OBS: AT é abreviação de Antigo Testamento e NT de Novo Testamento

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4.5. A teologia é contemporânea – o alvo do labor teológico é reconceituar verdades

bíblicas atemporais de forma que sejam compreensíveis às pessoas que vivem hoje. É

contextualizar as doutrinas bíblicas e a mensagem cristã.

5. A POSSIBILIDADE DA TEOLOGIA

A possibilidade da teologia advém de duas coisas: a revelação de Deus e os dons dos

homens.

5.1. Revelação de Deus – Com revelação de Deus queremos dizer o ato de Deus pelo

qual Ele se mostra ou comunica a verdade à mente humana e manifesta às Suas criaturas aquilo

que não pode ser conhecido de outra maneira. A revelação pode ocorrer através de um ato único,

instantâneo ou pode estender por um longo período.

5.2. A revelação universal de Deus.

5.2.1. A natureza da revelação. Sendo os seres humanos finitos e Deus, infinito,

não podemos conhecer a Deus, a menos que Ele se revele para nós, ou seja, a menos que

ele se manifeste aos homens de tal forma que estes possam conhecê-lo e ter comunhão

com ele.

5.2.2. Os meios de revelação geral. Revelação geral refere-se a auto-

manifestação de Deus por meio da natureza, da história e da personalidade do homem.

A natureza – a própria Escritura propõe que existe um conhecimento de Deus a que se

chega por meio da ordem física criada (Sl. 19:1; Rm. 1:20).

A História – um exemplo muito citado de revelação de Deus na história é a preservação

do povo de Israel.

A personalidade do homem – Deus se revela por meio da consciência do homem (Rm.

2:14-16). Romanos 1-2 é uma passagem importante que trata da revelação geral; (1:18-

32) destaca a revelação de Deus na natureza, enquanto 2:14-16, parece discorrer

especialmente sobre a revelação geral na personalidade humana. Deus nos deu uma

revelação objetiva, válida e racional acerca de si mesmo por meio da natureza, da história

e da personalidade humana. Ela é acessível a todas as pessoas que queiram observá-la.

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Doutrina de Deus

11 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

5.3. A revelação especial de Deus.

Entendemos por revelação especial a auto-manifestação de Deus para certas pessoas em

tempos e lugares definidos, permitindo que tais pessoas entre num relacionamento redentor com

Ele. A palavra hebraica para revelar é “gõlãh”, e a grega é “apocalypto”, ambas expressam a

idéia de desvendar ou revelar o que está encoberto. São aqueles atos de Deus pelos quais Ele dá a

conhecer a Si próprio e a sua verdade em momentos específicos.

Por que a revelação era necessária? A resposta está no fato de que os homens perderam o

relacionamento de favor com Deus, que possuíam antes da queda. Era lhes necessário que

viessem a conhecê-lo de maneira mais plena para que pudessem voltar a preencher as condições

para a comunhão.

5.4. O estilo da revelação especial.

5.4.1. A natureza pessoal da revelação especial. Ela é, sobretudo, pessoal. Um

Deus pessoal apresenta-se a pessoas. Isto é visto de várias formas. Deus se revela

anunciando o próprio nome. Nada é mais pessoal que o nome. Quando Moisés perguntou

a Javé o que diria para identificar a pessoa que o enviava ao povo de Israel, Javé

respondeu dizendo o seu nome (Êx 3:14). Além disso, Deus firmou alianças pessoais com

indivíduos (Noé, Abraão) e com a nação de Israel.

5.4.2. A natureza antrópicab da revelação especial. Mas o Deus revelado é um

ser transcendental. Ele está fora de nossa experiência sensorial. Ele é ilimitado em seu

conhecimento e poder, ele não se sujeita a fronteiras do espaço e do tempo. Não podemos

subir até Deus para investigá-lo e, mesmo que pudéssemos, não conseguiríamos entendê-

lo. Assim, Deus se revela por meio de uma revelação em forma antrópica. Não se deve

pensar que isso seja um antropomorfismoc como tal, mas simplesmente que a revelação

vem em linguagem humana e em categorias humanas de pensamento e ação.

b Antrópico deriva do grego antropos (homem), antrópico significa aquilo que é relativo ao homem. Em outras

palavras, relativos às características humanas. c Antropomorfismo vem de duas palavras gregas: anthropos (homem) e morphe (forma). Portanto, um

antropomorfismo é quando Deus aparece ou Se manifesta para nós em forma humana ou mesmo em características

humanas atribuídas a Ele mesmo.

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Doutrina de Deus

12 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Esse caráter antrópico importa no uso de linguagens comuns da época. A revelação é

antrópica no sentido de que em geral vem em forma humana, que fazem parte da experiência

comum, cotidiana dos homens. Os sonhos, por exemplo, era um meio que Deus usava com

freqüência para se revelar.

5.5. Os meios de revelação especial.

5.5.1. Os eventos históricos – A chamada de Abraão, a provisão divina de

Isaque, e outros eventos ou milagres.

5.5.2. O discurso divino (a profecia). O segundo grande meio de revelação é o

discurso divino. Uma expressão muito comum na Bíblia e, em especial, no AT, é a

declaração: “veio a mim a palavra do Senhor, dizendo...”, (e.g., Jr. 18:1; Ez.

12:1,8,17,26; Os. 1:1; Jl. 1:1; Am. 3:1); Os profetas tinham a consciência de que a

mensagem deles não era de criação própria, mas de Deus. Ao escrever o livro de

Apocalipse, João estava tentando comunicar a mensagem que Deus lhe havia dado. O

autor de Hebreus notou que Deus havia falado muitas vezes no passado, e que agora

falava especialmente por meio de seu Filho (Hb. 1:1-2). Não é só por meio de suas ações

que Deus demonstra o que é; ele também fala, discorrendo acerca de si mesmo, de seus

planos e de sua vontade.

5.5.3. A encarnação. O meio mais completo de revelação é a encarnação. O

argumento aqui é que a vida e o discurso de Jesus era uma revelação especial de Deus. A

Escritura afirma especificamente que Deus falou em Seu filho ou por intermédio dele.

Hebreus 1:1-2 contrasta isso com as formas anteriores de revelação, salientando que a

encarnação é superior.

Aqui ocorre o exemplo mais acabado de revelação por meio de um evento. O ápice dos

atos de Deus deve ser encontrado na vida de Jesus. Os milagres, sua morte e ressurreição são a

história da redenção em sua forma mais condensada e concentrada. Aqui também existe a

revelação como um discurso divino, pois a mensagem de Jesus ultrapassa a dos profetas e

apóstolos. Jesus até ousa colocar sua mensagem acima do que estava registrado na Escritura do

AT, não para contradizê-la, mas para ir além dela ou cumpri-la (Mt. 5:17). Quando os profetas

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Doutrina de Deus

13 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

falavam, eram portadores de uma mensagem de Deus, e sobre Deus. Quando Jesus falava, era

Deus em pessoa falando.

A revelação também ocorreu em sua máxima perfeição no caráter de Jesus. Nele, Deus

de fato vivia entre os homens, exibindo-lhes seus atributos. As ações, atitudes e emoções de

Jesus não apenas refletiam o Pai. Mostravam que, de fato, Deus estava vivendo na terra. Aqui, a

revelação como um ato junta-se à revelação como palavra. Jesus tanto falou a Palavra do Pai

como demonstrou os atributos dEle. Ele foi a revelação mais completa de Deus, porque Ele era

Deus (João 1:1-4;14; 14:9; I Jo. 1:1).

5.5.4. A Escritura como revelação. “A revelação especial é tanto pessoal como

proposicionald: Deus se revela dizendo-nos algo a respeito de Si”. Se a revelação inclui

verdades proposicionais, então ela é de natureza tal que pode ser preservada. Ela pode ser

anotada ou escrita. E esse documento escrito, à medida que é uma reprodução fiel da

revelação original, é também revelação derivada, tendo o direito de ser considerada como

tal. "Toda a Escritura é divinamente inspirada" (II Tm 3.16).

6. OS DONS DOS HOMENS

A revelação de Deus não seria absorvida pelo homem se ele não recebesse de Deus esses

dons.

6.1. Seus dons mentais. Queremos dizer não simplesmente os poderes da lógica do

homem ou sua capacidade de raciocinar, mas seus poderes cognitivos – sua capacidade de

perceber, julgar e organizar. Deus dotou o homem com a razão e o que é errado não é o uso dela,

mas sim, o abuso.

6.2. Seus dons espirituais. Esses dons habilitam os cristãos observarem a revelação de

Deus e desenvolver uma teologia coerente com esta revelação (veja as listas de dons espirituais

em I Co. 12; Rm. 13; esses dons são concedidos aos cristãos pelo Espírito Santo).

d Expressão em que se afirma ou se nega alguma coisa de um sujeito.

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Doutrina de Deus

14 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

A DOUTRINA DE DEUS

A doutrina de Deus é o ponto central de grande parte do restante da teologia. Pode-se até

considerar que o conceito de Deus adotado por uma pessoa fornece toda a estrutura dentro da

qual ela constrói sua teologia e vive sua vida. Sendo assim é relevante conhecer o Deus que

servimos através de Sua revelação preservada nas Escrituras. Começamos falando a respeito de

Deus porque tudo começa nele.

1. A EXISTÊNCIA DE DEUS

Segundo Agostinho, "nenhum homem diz 'Deus não existe', a não ser aquele que tem

interesse em que ele não exista". Para ele, negar a existência de Deus está relacionada a uma

questão ética do que intelectual. Muitas pessoas recusam a acreditarem na existência de Deus

não porque seja um absurdo intelectual, ou uma ofensa à sua inteligência, mas, simplesmente

porque não quer crer. Crer na existência de Deus tem implicações éticas. A negação da

existência de Deus é mais moral do que intelectual. O maior problema da humanidade é como

lidar com o pecado. Uma vez que declaramos que a Bíblia é a Palavra de Deus, reconhecemos a

sua autoridade; logo, estamos também reconhecendo a existência de um Ser superior, Deus. Se a

Bíblia é a Palavra de Deus e ela determina o que é certo e errado, o que fazer com pecado? A

solução mais simples para alguns é negar a existência de Deus. Deus não existe, logo não existe

pecado e a Bíblia não tem nenhuma autoridade para determinar o que é certo ou errado. Portanto,

crer ou não na existência de Deus é mais uma questão ética do que intelectual.

Dentro dessa perspectiva, é importante citarmos o pensamento de alguns intelectuais

ateus que mais influenciou a humanidade. Não trataremos o assunto de uma forma exaustiva,

falaremos resumidamente, pois esse não é o nosso foco nesse estudo. Entre eles podemos citar:

Karl Marx (1818-1883), filósofo e cientista político. A corrente teórica mais usada para

estudar a Humanidade, História, Política, Filosofia, deriva de seu nome: o "marxismo",

corrente teórica que tem como base o materialismo histórico. Para ele, é a economia que move

o mundo. Para entender a humanidade é necessário estudar a economia. Pois a forma como os

homens se organizam para produzir o necessário para a sua subsistência determina a sua

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Doutrina de Deus

15 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

organização política, cultural e religiosa. Daí ele defender que todas as religiões são filhas de

seu tempo, são filhas da economia. Para ele, a religião é fruto da alienação socioeconômica.

Para Marx a religião não passa de um mero reflexo do mundo real. A religião, diz o

escritor alemão, "é apenas um sol fictício, em torno do qual o homem parece gravitar, até que

este perceba que é ele mesmo que é o centro de seu próprio movimento". Em outras palavras,

Marx está afirmando que Deus é simplesmente uma projeção dos anseios humanos. Os seres

humanos buscam por um ser sobrenatural na realidade fantasiosa do céu, onde encontram nada

mais do que seus reflexos. O homem cria a religião; não é religião que cria o homem. Marx foi

um dos ateus mais críticos do cristianismo. São dele as ideias do socialismo e comunismo. Daí

decorre antagonismo do comunismo e a religião. Nos países em que houve a revolução

comunista, houve também uma grande perseguição contra os cristãos. Na Rússia, por exemplo,

muitos cristãos foram mortos e igrejas foram destruídas.

Sigmund Freud (1856-1939), descendente de família israelita, é considerado o pai da

psicanálisee. Para ele os conceitos religiosos eram ilusões, a mera satisfação dos desejos mais

primitivos, mais poderosos e mais prementes do ser humano. Em outras palavras, a religião

representava a perpetuação de parte do comportamento infantil na idade adulta, sendo nada

mais do que uma resposta imatura à sensação humana de abandono e desamparo, por meio de

um retrocesso às experiências de cuidado paternal na infância: "Meu pai me protegerá; ele está

no controle de tudo". Sob esta ótica, a crença em um Deus pessoal não passa, portanto, de uma

fantasia infantil. Assim, Freud vê a religião como uma espécie criada pelo homem, uma fantasia

que pode facilmente se degenerar em alguma forma de desordem patológicaf. (McGrath pp. 607-

8)

Citamos esses dois pensadores pela grande influência de seus escritos sobre a

humanidade, mais existem muitos outros que tem ideias semelhantes. Lembremos da frase de

Agostinho: "nenhum homem diz 'Deus não existe', a não ser aquele que tem interesse em que ele

não exista". Lembremos também que as ideias dele em nada altera o ensinamento bíblico, Deus

continua sendo Deus. O fato de algumas pessoas não acreditarem na existência de Deus reafirma

o ensino bíblico: "Diz o loco no seu coração: Não há Deus" (Sl 14.1a).

e Sistema de psicologia e método de tratamento de desordens mentais e nervosas. f Relativo a patologia. Ciência que estuda a origem, os sintomas e a natureza das doenças.

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Doutrina de Deus

16 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

1.1. Crenças errôneas a respeito de Deus

Existem outras ideias extra bíblicas acerca de Deus. Destas, algumas se originam em

verdades exageradas, ou na falta da verdade. Algumas são deficientes, outras invertidas ou

torcidas. Veremos resumidamente algumas delas.

1.1.1. O agnosticismo. Expressão originada por duas palavras gregas que

significam "não saber". Nega a capacidade humana de conhecer a Deus. Agnosticismo é

a crença de que a existência de Deus é impossível de ser conhecida ou provada.

Agnosticismo é uma forma mais intelectualmente honesta do ateísmo. O ateísmo afirma

que Deus não existe – uma posição que não pode ser provada. O agnosticismo argumenta

que a existência de Deus não pode ser provada ou deixar de ser provada – que é

impossível saber se Deus existe. Neste conceito, o agnosticismo está certo. A existência

de Deus não pode ser provada ou deixar de ser provada empiricamenteg.

A Bíblia nos diz que nós devemos aceitar por fé que Deus existe. Hebreus 11:6 diz: “De

fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de

Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”. Deus é espírito (João

4:24), então ele não pode ser visto ou tocado. A menos que Deus decida revelar a Si próprio, Ele

é essencialmente invisível aos nossos sentidos (Rm 1:20). A Bíblia ensina que a existência de

Deus pode ser claramente vista no universo (Sl 19:1-4), percebida na natureza (Rm 1:18-22) e

confirmada nos nossos próprios corações (Ec 3:11).

O agnosticimo é essencialmente a falta de vontade de tomar uma decisão a favor ou

contra a existência de Deus. É a posição mais “em cima do muro” que existe. Teístas acreditam

que Deus existe. Ateus acreditam que Deus não existe. Agnósticos acreditam que nós não

deveríamos acreditar ou desacreditar na existência de Deus – porque é impossível conhecê-la.

1.1.2. O politeísmo. Culto a muitos deuses. Era característico das religiões

antigas e pratica-se ainda hoje em muitas terras pagãs. Baseia na crença que o Universo é

governado por várias forças juntas, desta maneira tendo um deus da água, um deus do

fogo, um deus das montanhas, um deus da guerra, etc.

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Doutrina de Deus

17 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

1.1.3. O panteísmo. Essa palavra vem do grego, pan, que significa "tudo", +

Theós, que significa "deus", dando a entender que tudo é Deus. De acordo com o

panteísmo, Deus é o cabeça da totalidade, e o mundo é o seu corpo. É o sistema de

pensamento que identifica Deus com o universo. Árvores e pedras, pássaros, terra e água,

répteis e homens - todos são declarados partes de Deus, e Deus vive e se expressa a si

mesmo através das substâncias e força como a alma se expressa através do corpo.

1.1.4. O deísmo. Admite que haja um Deus Pessoal, que criou o mundo, mas

insiste em que, depois da criação Deus o entregou para ser governado pelas leis naturais.

Em outras palavras, Ele deu corda ao mundo como quem dá corda a um relógio e o

deixou, sem mais cuidado à sua própria sorte. Desta maneira não seria possível haver

nenhuma revelação e nenhum milagre.

O que a Bíblia tem a dizer a respeito da existência de Deus? Como sabemos que Ele

existe?

1.2. Através da íntima intuiçãoh humana de Deus. Todas as pessoas de qualquer lugar

têm uma profunda intuição íntima de que Deus existe, de que são criaturas de Deus; até mesmo

os descrentes têm conhecimento de Deus (Rm 1:18-25).

A Bíblia também diz que algumas pessoas negam essa intuição (cf. Sl. 14:1 = 53:1; 10:3-

4). Esses textos indicam que o pecado leva as pessoas a pensarem irracionalmente e a negar a

existência de Deus.

1.3. Crendo nas Escrituras. As provas de que Deus existe encontram-se, logicamente,

disseminadas por toda a Bíblia, desde o primeiro versículo (Gn. 1:1). É interessante que a Bíblia

em nenhum lugar procura provar a existência de Deus. Jamais ocorreu a qualquer profeta ou

escritor procurar provar a existência de dEle. Fazer isso poderia perfeitamente ser considerado

absurdo. A Bíblia inicia-se falando de um Deus criador. Ele é a base de todas as coisas. Além

disso, a existência de Deus jamais é questionada. O conhecimento dEle, no sentido de realidade

divina, deve ser encontrado em todas as partes. O mundo inteiro conhece a Deus. A natureza foi

g Relativo ou pertencente ao empirismo. Baseado na experiência. h Conhecimento imediato e claro, sem recorrer ao raciocínio.

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Doutrina de Deus

18 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

criada para proclamar seu poder (Sl. 148:9-13). Mesmo o pecado proclama a existência de Deus

por contraste.

1.4. A imagem de Deus no homem. O próprio homem foi criado à imagem de Deus, que

fartamente dá testemunho da existência dEle.

2. O CONHECIMENTO DE DEUS

Se pretendemos conhecer a Deus, antes é necessário que ele se revele a nós (Mt. 11:27).

Esse tipo de conhecimento de Deus não se encontra por meio da sabedoria e esforço humanos. O

mundo não o conheceu por sua própria sabedoria (I Co. 1:21; cf. 2:14; João 1:18).

A necessidade de Deus revelar-se a nós também se percebe no fato de que o pecador

interpreta erroneamente a revelação de Deus encontrada na natureza (Rm. 1:18, 21-25). O

conhecimento correto a respeito de Deus depende dEle mesmo se revelar a nós. Sobre o

conhecimento de Deus, é necessário esclarecer dois princípios:

2.1. Jamais poderemos compreender plenamente a Deus. Como Deus é infinito, e nós,

finitos e limitados, jamais poderemos compreender completamente a Deus (Sl. 145:3; 147:5;

139:6, 17; I Co. 2:10-12; Rm. 11:33). Podemos sim, conhecer algo do amor, do poder, da

sabedoria de Deus, mas não de forma exaustiva. Isto significa que jamais seremos capazes de

conhecer “demais” sobre Deus, pois jamais nos faltarão coisas para aprender sobre Ele.

2.2. Podemos, porém, conhecer a Deus de modo verdadeiro. Embora não possamos

conhecer exaustivamente a Deus, podemos conhecer coisas verdadeiras sobre Ele. De fato, tudo

o que as Escrituras nos falam sobre Deus é verdadeiro.

3. O SER DE DEUS

Quem é Deus? Qual é a sua natureza? Todas essas perguntas podem ter muito sentido

para o teólogo, mas a questão que se eleva sobre todas elas é a seguinte: quais as implicações da

existência de Deus para nossa vida? A vida de um crente será determinada pelo seu conceito

sobre Deus. E muitos dos problemas da igreja contemporânea decorrem daqui: um conceito

muito baixo de Deus, que é visto como um coadjuvante, ou alguém que está à nossa disposição

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19 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

para resolver todos os nossos problemas. Daí o fascínio de querer mandar em Deus; exigir dele

alguma coisa, e quando não recebe O despreza. Uma compreensão correta de quem é Deus é

fundamental para a nossa vida.

O Deus revelado na Bíblia é um Ser Pessoal, auto-existente, auto-consciente, Criador do

universo, Fonte de vida e bênção. Seu Ser, seu Caráter e vontade são os temas que ocupam os

pensamentos de todos os escritores bíblicos.

Fica igualmente claro pelas Escrituras que Deus é um Espírito Pessoal, racional,

inconsciente, auto-determinado, um agente moral inteligente. O catecismo de Westminster

declara:

“Deus é espírito, infinito, eterno, imutável, em seu ser, sabedoria, poder,

santidade, bondade, verdade”.

“Deus é um espírito (João 4:24). Sendo Espírito, Ele se revela em primeiro lugar

como o Senhor, porém, não apenas o Senhor que se mantém distinto e separado

do mundo, mas amor eterno, que reconcilia o mundo consigo mesmo (I Jo. 4:16)”.

“Deus é um Espírito absoluto, pessoal e santo, infinito e eterno em seu ser e

atributos, a razão e a causa do universo”.

“Deus é Espírito infinito e perfeito em que todas as coisas têm a sua fonte, apoio a

fim”. Strong.

3.1. A Imanência e a Transcendência de Deus. A Bíblia ensina tanto a imanência de

Deus em Sua criação quanto a Sua transcendência em relação a ela. Ambas as verdades são

enfatizadas nas Escrituras. Jeremias 23:24, por exemplo, destaca a presença de Deus em todas as

partes do universo; nesse mesmo contexto, entretanto, tanto a imanência como a transcendência

aparecem juntas (v. 23). Paulo ao falar no areópagoi para os filósofos enfatiza também a

i Nome de um monte rochoso e estéril, a noroeste da Acrópole na antiga Atenas, indicando que o monte era

dedicado a Ares, o deus da guerra (Marte para os romanos) e, por isso, traduzido por “Monte de Marte” (At 17:22).

A cordilheira de pedra calcária, elevando-se a cerca de 15 a 18 metros acima do vale onde se situam o Areópago e a

Acrópole, situa-se a 113 metros acima do mar. Na altura em que era um reino, foi sede da corte suprema de justiça,

que tinha jurisdição para julgar certos crimes, incluindo ofensas religiosas. O estatuto legal e a autoridade deste

Conselho do Areópago nem sempre foi o mesmo em toda a história de Atenas mas, sob administração romana,

tornou-se mais poderoso do que alguma vez o fora. Entre os poderes que tinha, encontravam-se o licenciamento de professores e o controlo da educação. Manteve-se em exercício até ao ano 400 DC. O tribunal procedia aos

julgamentos em Stoa Basileios, no agora, o “mercado”. Era esta a sua sede oficial e era ali que se situavam as suas

repartições administrativas. As sentenças, contudo, eram pronunciadas a partir do monte, para onde e com esse

propósito o tribunal adiava as suas sessões.

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Doutrina de Deus

20 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

imanência de Deus (At. 17:27-28). Por outro lado, lemos em Isaías 55:8-9 que os pensamentos e

os caminhos de Deus transcendem os nossos.

3.1.1. Imanência. O significado de imanência é que Deus estar presente e ativo

dentro de Sua criação e dentro da raça humana. É a presença de Deus na criação e na

história da humanidade. Sua influência está em toda parte. Ele age nos processos naturais

e por meio deles. Imanência é a presença difundida de Deus e de Seu poder dentro da

criação. Deus não fica apartado do mundo, como se fosse mero espectador das obras de

Suas mãos. Ele não é um com a criação, mas Ele a sustenta e a controla. A imanência

não significa panteísmo (ideia segundo a qual Deus e a natureza são uma coisa só), mas

significa a ideia de Deus no mundo.

3.1.2. Transcendência. O significado de transcendência é que Deus não é uma

mera qualidade da natureza ou da humanidade. Ele não é simplesmente o mais elevado

dos seres humanos. Ele não é limitado à nossa capacidade de compreendê-lo. Sua

santidade e bondade vão muito além, infinitamente além das nossas, e isso também é

verdade em relação ao seu conhecimento e poder. Quando dizemos que Deus é

transcendente, queremos dizer que Ele está separado de toda a Sua criação, Ele está

acima dela e não pode ser confundido com ela. Ele é um ser independente e auto-

existente, não está limitado pela natureza, mas existe infinitamente exaltado sobre ela. A

transcendência trata de Deus totalmente Outro, aquele que “habita em luz inacessível”. A

transcendência é a afirmação de que Deus, embora presente e perpassando tudo, não pode

ser retido nas malhas de nenhuma presença concreta. A transcendência diz que Deus está

no mundo, mas também fora dele. Deus está no mundo, mas não é o mundo. Deus

abrange o todo, mas é mais do que o todo.

Em Isaías 57:15 temos uma expressão da transcendência de Deus: o Alto, o Sublime, que

habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo; bem como sua imanência como aquele que

habita também com o contrito e abatido de espírito.

Deus não é apenas transcendente e imanente. É também transparente, ensina Leonardo

Boff: “Transparência significa a presença da transcendência dentro da imanência. Em outras

palavras, significa a presença de Deus dentro do mundo e do mundo dentro de Deus. Conforme

se expressou Paulo, em Efésios 4:6: há um só Deus e Pai de todos, que está acima de tudo

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Doutrina de Deus

21 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

(transcendência), por tudo (transparência) e em tudo (imanência)”. (citado por Ed. René Kivitz,

Vivendo com propósitos p. 52).

4. A VONTADE DE DEUS

A vontade de Deus expressa primariamente Seu atributo de autodeterminação mediante a

qual Ele age em conformidade com Seu eterno poder e sabedoria. Embora não se possa dizer que

a vontade de Deus está limitada seja em que sentido for, Suas perfeições asseguram que Ele

nunca desejará qualquer coisa incompatível com Sua natureza.

Os teólogos distinguem entre a vontade decretiva de Deus, pela qual Ele decreta tudo

quando deve acontecer, e Sua vontade preceptivaj, mediante a qual Ele ordena às Suas criaturas

os deveres que lhes pertencem. À luz dessa definição, pode-se compreender que a vontade

decretiva é sempre realizada, enquanto que a vontade preceptiva é frequentemente desobedecida.

Quando imaginamos o alcance soberano da vontade divina, reconhecemos que ela apresenta

Deus como o fundamento final de toda a existência e de tudo quanto acontece, ou fazendo

ativamente cada coisa suceder, ou passivamente permitindo que certas coisas aconteçam. Assim

é que a entrada do pecado no mundo é atribuída à vontade permissiva de Deus.

5. O CARÁTER DE DEUS: NOME E ATRIBUTOS

Se Deus é um ser Pessoal, então Ele é um agente moral que possui caráter. Assim sendo,

podemos falar sobre os atributos de Deus, referindo-nos às qualidades que podemos atribuir ao

caráter divino. Embora não exista atributo que possa expressar adequadamente o Ser de Deus,

contudo muitos dos atributos apresentados nas Escrituras servem ao propósito de transmitir uma

digna impressão tanto de Sua transcendência como de Sua imanência.

5.1. Nomes de Deus na Bíblia. Na Bíblia, o nome de uma pessoa é uma descrição do seu

caráter. Da mesma forma, os nomes bíblicos de Deus são diversas descrições do seu caráter. Ao

considerarmos os vários nomes, títulos ou descrições de Deus, no AT, surgem três palavras de

importância básica – ‘el, ‘elohim e Yahweh (Jeová), vejamos cada um deles separadamente:

j Preceptiva – normativa, ensinamento.

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Doutrina de Deus

22 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

a) El (‘el) – em nossa versão portuguesa Deus ou deus, tem forma cognatas em outras

línguas semíticas, e significa um deus no sentido mais lato, verdadeiro ou falso, ou

mesmo uma imagem que é tratada como um deus (Gn. 35:2). Por causa desse caráter

geral, a palavra é frequentemente associada com um adjetivo ou predicado definidor. Por

exemplo, em Dt. 5:9, lemos: porque eu, o Senhor (Yahweh), teu Deus (‘elohim) sou

Deus (‘el) zeloso, ou em Gn. 31:13: Eu sou o Deus (‘el) de Betel.

b) El Elyon – “ó Deus Altíssimo”, era o título de Deus conforme adorado por

Melquisedeque; Elyon se encontra em Nm. 24:16 e noutros lugares. Em Sl. 7:17 em

combinação com Yahweh.

c) Elohim – embora seja forma plural (‘elohim), pode ser tratado como singular, no qual

caso significa a grande e suprema divindade, que nossa versão portuguesa traduz por

“Deus”. Tal como seu equivalente português, gramaticalmente considerado é um

substantivo comum, e transmite a noção de tudo quanto pertence ao conceito de deidade,

fazendo contraste como o conceito de homem (Nm. 23:19) e de outros seres criados. É

vocábulo apropriado para dar a entender a relação cósmica e mundial (Gn. 1:1), visto que

existe um único supremo e verdadeiro Deus, e Ele é uma Pessoa; aproxima-se do caráter

de um substantivo próprio, ainda que não perca sua qualidade abstrata e conceitual.

d) Jeová – o termo hebraico Yahweh é em nossa versão portuguesa usualmente

traduzida como “Senhor”. Algumas versões transliteraram-no por “Jeová”. Esse último

nome originou-se como segue. O texto original hebraico não contava com letras vogais.

Com o tempo o “tetragramatonk” YHWH foi considerado por demais sagrado para ser

pronunciado; daí por diante ‘adhõnay (meu Senhor) passou a substituí-lo na leitura, e as

vogais desse nome foram combinadas com as consoantes YHWH formando o nome que

em português tem sido transliterado por ‘Jeová’, uma forma que comprovadamente

começou a aparecer no início do séc. XII d.C.

e) El-shaddai – O que satisfaz, o Deus todo poderoso (Gn. 17:1).

k O Tetragrama YHVH refere-se ao nome do Deus de Israel em forma escrita já transliterada e, pois, latinizada,

como de uso corrente na maioria das culturas atuais.

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Doutrina de Deus

23 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

f) Jeová-Jireh – O Senhor da provisão (Gn. 22:13-14).

g) Jeová-Raphah – O Senhor que sara (Ex. 15:26).

h) Jeová-Tsidkenu – O Senhor é a nossa justiça (Jr. 23:6; 33:16). Esse era o nome pelo

qual o Messias seria conhecido.

i) Jeová-Shammah – Deus Presente (Ez. 48:35).

j) Jeová-Raah – O Senhor é o meu Pastor (Sl. 23:1).

5.2. Os Atributos de Deus. Para compreendermos a relação entre Deus e a criação, é

importante compreender Sua natureza. Quando falamos de atributos de Deus, estamos nos

referindo àquelas qualidades de Deus que constituem o que Ele é. São as próprias características

de sua natureza. Os atributos são qualidades permanentes. Não podem ser adquiridos ou

perdidos. São intrínsecos. Os atributos de Deus são dimensões essenciais e inerentes de sua

própria natureza. Eles podem ser classificados em incomunicáveis e comunicáveis.

5.2.1. Atributos incomunicáveis. São aquelas perfeições divinas que não

encontra analogia (semelhança) no caráter humano, ou seja, não podem ser

compartilhadas com os humanos, tais como:

a) Auto-existência – Com esse atributo queremos dizer que Deus baseia Sua

existência em Si mesmo. Nós temos a base de nossa existência fora de nós mesmos, mas

Deus não depende de coisa alguma além de Si mesmo para existir (Ex. 3:14; Jó 41:11;

At. 17:24-25).

b) Imensidão – Queremos dizer Sua infinidade em relação ao espaço. Deus não é

limitado ou circunscrito pelo espaço. Ele não ocupa um lugar no espaço. Ao contrário,

todo o espaço finito é dependente dEle (Sl. 139:7; Is. 66:1). Deus é infinito. Isso significa

não apenas que Deus é ilimitado, mas que é ilimitável. Deus é ilimitado e ilimitável

quanto ao espaço, tempo, conhecimento e poder.

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Doutrina de Deus

24 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Qual o sentido de se apontar este atributo? É o de dizer que não há limites para a ação e

presença de Deus. Que sua ação é infinita e a possibilidade de sua presença também é infinita.

Segundo Berkhof: A infinidade de Deus é aquela perfeição sua por meio da qual ele fica livre de

todas as limitações. Ao atribui-la a Deus negamos que haja ou possa haver algumas limitações

para o Ser Divino ou para seus atributos. Na infinidade se entende que Deus não pode estar

limitado pelo universo, pelo tempo-espaço do mundo, ou confinado a uma localidade. (Luis

Berkhof Teologia Sistemática)

c) Eternidade – Deus não tem princípio e nem fim nem sucessão de momentos

no seu próprio Ser, e percebe todo o tempo como igual realismo. Ele, porém, percebe os

acontecimentos no tempo e age no tempo. Ele está livre de toda a passagem do tempo, ele

mesmo é a causa do tempo (Gn. 1:1; 21:33; Ex. 3:14; Jó 36:26; Is. 57:15; Jo. 8:58; I Co.

8:6; Cl. 1:16; Hb.1:2; I Tm. 1:17).

O fato de Deus não ser limitado pelo tempo significa que o tempo não se aplica a Ele. Ele

existia antes de começar o tempo. A pergunta, qual a idade de Deus? É simplesmente imprópria.

Ele não é mais velho hoje do que um ano atrás, pois o infinito mais um não é mais que infinito.

Deus é aquele que sempre é. Ele foi, é, e será (Jd. 25).

d) Imutabilidade – Deus é imutável em seu Ser, nas suas perfeições, nos seus

propósitos e nas suas promessas. Porém, Deus age e sente emoções, e age e sente de

modos diversos diante de situações diferentes (Sl. 102:25-27; Ml. 3:6; Ef. 1:4; II Tm.

2:19; Tg. 1:17). Essa imutabilidade divina abrange vários aspectos:

Em primeiro lugar, não existe mudança quantitativa. Deus não pode crescer em

nada, porque já é perfeição. Também não pode decrescer, pois caso o fizesse,

deixaria de ser Deus.

Em segundo lugar, não há mudança qualitativa. A natureza de Deus não sofre

modificação, ou seja, não há mudança em sua essência e seu caráter.

Em terceiro lugar, imutabilidade não deve ser confundida com imobilidade. Deus

é ativo quando se trata de aplicar seu julgamento justo ao mundo, quando este está

agindo fora de seus santos propósitos. Mas seu tratamento com o homem pode ser

modificado conforme a situação, e é claro que Deus faz isto na história. Quando

sua declaração de juízo não se concretiza, como em Jonas 3.4 e 10, por exemplo,

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Doutrina de Deus

25 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

isto não é uma contradição em sua imutabilidade. Significa, simplesmente, que

Deus adaptou sua ação à situação humana que mudou.

Deus é imutável, como dito anteriormente, porque não muda seu caráter. Ele não muda

seu plano geral para a humanidade, embora mude planos particulares quando vê arrependimento

de homens e nações sob juízo, por exemplo. Tiago nos diz que em Deus "não há mudança nem

sombra de variação" (Tg 1.17). Ele não pode melhorar, pois não há como ele vir a ser melhor,

posto que já é absolutamente perfeito. E não pode decair porque é absolutamente santo. Sua

perfeição absoluta faz com que ele não tenha para onde subir, moralmente falando. E também faz

com que ele não tenha como descer, moralmente falando. Ele não pode ser mais santo do que é.

Nem pode deixar de ser menos santo do que é.

Ele não muda seu amor, por exemplo: "Pois eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó

filhos de Jacó, não sois consumidos" (Ml 3.6). Não temos um Deus em evolução ou

aperfeiçoamento, que está melhorando com o tempo, “aprendendo” a ser Deus, nem mesmo um

Deus que, com o tempo, poderá entrar em decadência física ou mental. Temos um Deus de quem

diz a Escritura: "Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão,

e qual um manto os enrolarás, e como roupa se mudarão; mas tu és o mesmo e os teus anos não

acabarão" (Hb 1.11-12).

Se Deus é imutável, como harmonizar os textos bíblicos que dizem que Deus não se

arrepende (Nm. 23:19; I Sm. 15:29; Sl. 110:4), com outras passagens que O mostra se

arrependendo (Gn. 6:6; Ex. 32:14; II Sm. 24:16)?

A imutabilidade de Deus não é como a da pedra que não reage às mudanças à sua volta,

mas como a de uma coluna de mercúrio que sobe e desce conforme a mudança de temperatura.

Sua imutabilidade consiste em sempre fazer o que é certo e em adaptar o tratamento de suas

criaturas às variações de seu caráter e conduta. Essas passagens que dizem que Deus se

arrependeu ou mudou a idéia, devem ser entendidas como uma figura de linguagem – em termos

técnicos, são antropopatismosl – expressões que explicam Deus em termos normalmente usados

l ANTROPOPATISMO - [Do gr. antropos, homem; do gr. pathos, sentimento] Atribuição de sentimentos humanos a

Deus. Nas Sagradas Escrituras, encontramos várias expressões como esta: a ira de Deus, o arrependimento de Deus,

o amor de Deus, etc (Nm 22.22; Jn 03.10; Jo 03.16). Estas expressões foram usadas para que viéssimos a entender a

ação divina na história; são uma forma dos autores sagrados realçarem que o Criador não é indiferente ao que

acontece no Universo. Deus age e reage de acordo com a sua justiça e de conformidade com os planos que, em sua

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Doutrina de Deus

26 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

para expressar as emoções humanas. São simples descrições das ações e dos sentimentos de

Deus em termos humanos e do ponto de vista humano.

Não significa que Deus arrependeu-se ou mudou de idéia, significa em linguagem

bíblica, que Ele agora passa a agir de forma diferente que tinha sugerido como possibilidade. O

que parece mudança de pensamento pode ser uma nova etapa de concretização do plano de Deus.

Algumas mudanças aparentes de idéias são mudanças de orientação que resulta de um

relacionamento diferente com Deus. Deus não mudou quando Adão pecou, antes, a raça humana

caminhou rumo a seu desfavor. Isso também aconteceu no sentido inverso. Um exemplo é o caso

de Nínive, Deus disse: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida, a menos que se

arrependa”. Nínive se arrependeu e foi poupada. Os humanos é que mudaram, não o plano de

Deus.

e) Onipresença – Assim como Deus é ilimitado e infinito com respeito ao tempo,

também é ilimitado com respeito ao espaço. Deus não tem tamanho e nem dimensões

espaciais e está presente em todo o lugar (Jr. 23:23-24; Sl. 139:7-10; At. 17:28; Cl. 1:17).

Deus não tem dimensões espaciais (I Rs. 8:27; Is. 66:12); e Ele está presente para punir

(Am. 9:1-4); para sustentar (Cl. 1:17; Hb. 1:3), para abençoar (Sl. 16:11).

Ao falarmos da onipresença de Deus é necessário tomarmos cuidado para não nos

equivocarmos. Quando afirmamos que Deus está em todos os lugares, queremos dizer que ele

não está limitado ao espaço. Não existe espaço para Deus. Ninguém o impede nem O limita.

Alguém poderia perguntar: se Deus está em todos os lugares, Ele está também no inferno? A

essa pergunta respondemos que não. Pois uma das características do inferno é a ausência de

Deus, e isso fica evidente nas palavras de Jesus em Mateus 25.41. Deus não está no inferno,

assim como ele também não está dentro do armário, no congelador e em outros lugares deste

gênero. A onipresença de Deus está relacionada à sua capacidade de agir com a mesma

facilidade que pensa e deseja, sem limitação de lugar. Ele não precisa ir a um lugar para agir,

pois não há distância para ele. Ele pode agir instantaneamente em qualquer lugar do mundo e em

mais de um lugar simultaneamente. Saber que Deus é onipresente traz segurança para o crente,

pois onde quer que seja necessária a Sua presença, lá Ele está com toda a Sua personalidade. Ele

não está preso a um prédio que nós chamamos de igreja, ou a determinados lugares sagrados. Ele

sabedoria e inexplicável amor, traçou visando o bem-estar des suas criaturas morais. Ele não é um ser destituido de

sentimentos; nEle, todos os sentimentos são infinitamente perfeitos.

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Doutrina de Deus

27 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

pode ser encontrado em qualquer lugar. Portanto, podemos orar e ter comunhão com Ele em

qualquer hora e em qualquer lugar.

5.2.2. Atributos Comunicáveis. Estes podem ser compartilhados conosco. E

subdividem-se em atributos mentais e atributos morais.

(1) Atributos Mentais

a) Onisciência (conhecimento) – Com onisciência de Deus queremos dizer que Ele

conhece a Si próprio e todas as outras coisas, que sejam reais ou apenas possíveis, quer sejam

passadas, presentes ou futuras, e que Ele conhece perfeitamente e por toda a eternidade. Ele

conhece as coisas imediatas simultâneas, completa e verdadeiramente. Ele conhece também as

melhores maneiras de chegar aos fins desejados (Jó 37:16; Sl. 139:1, 2, 4; Hb. 4:13; I Jo. 3:20;

Mt. 10:29-30).

Ele é onipresente e onisciente porque presencia tudo. Não há lugar onde alguém se possa

esconder dele. Ele vê tudo. "E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as

coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas" (Hb 4.13).

Porque vê tudo, ele sabe tudo: "Porque vosso Pai celestial sabe o que vos é necessário, antes de

vós lho pedirdes" (Mt 6.8). Deus sabe tudo e não algumas coisas e sabe tudo completamente e

não um pouco de cada coisa.

A onisciência quer dizer que Deus não aprende por observação ou por experiência, mas

que simplesmente sabe. Ele não aprende porque não tem o que aprender e ninguém lhe ensina

nada. Ele simplesmente sabe. "Todo o presente, todo o passado e todo o futuro estão diante dele.

O que Deus sabe, não o soube em tempo algum, visto que para ele não existe tempo; não há

passado nem futuro: tudo lhe é presente". Ele simplesmente sabe.

Alguém pode objetar que pelo o fato de Deus se esquecer de todos os nossos pecados (Is.

43:25), Ele não é onisciente. Porém, essa passagem pode ser interpretada assim: “Deus jamais

deixará novamente que o conhecimento desses pecados exerça alguma influência no modo como

Ele se relaciona conosco – irá esquecê-los no seu relacionamento conosco”.

b) Sabedoria – Dizer que Deus tem sabedoria significa dizer que Ele sempre escolhe as

melhores metas e os melhores meios para alcançá-las. Ele é chamado de Deus único e sábio

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Doutrina de Deus

28 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

(Rm. 16:27) Jó diz que Deus é sábio de coração (Jó 9:4). A sabedoria de Deus se revela na

criação (Sl. 104:24) e no plano redentor (I Co. 1:24, 30). Paulo sabia que aquilo que hoje

consideramos como simples mensagem evangélica, compreensível aos homens, reflete um

espantoso plano divino, que nas suas profundezas de sabedoria ultrapassa qualquer coisa que o

homem jamais poderia imaginar (Rm. 11:33; Ef. 3:6, 9, 10).

A sabedoria de Deus também se revela na vida de cada um de nós (Rm. 8:28-29; II Co.

12:8-12). A sabedoria de Deus, logicamente, em parte nos é comunicável (Tg. 1:5; Sl. 19:17, cf.

Dt. 4:6, 8). O temor do Senhor é princípio da sabedoria (Sl. 111:10; Pv. 1:7; 9:10). Porém, a

sabedoria de Deus não é comunicável na sua totalidade: jamais poderemos participar plenamente

da sabedoria de Deus.

c) Onipotência (poder soberania) – Onipotência é o atributo de Deus que lhe permite

fazer tudo o que for da sua santa vontade (Ef. 3:20). O terno onipotência vem do latim – omni

que significa “todo”, e pontes que significa poder, poderoso, onipotente, quer dizer que pode

todas as coisas. Deus pode fazer o que desejar, mas como sua vontade é limitada por Sua

natureza, isto significa que Ele pode faze qualquer coisa que esteja em harmonia com Suas

perfeições.

A onipotência de Deus traz consigo dois significados:

A onipotência moral significa que Deus é tão poderosamente moral que não pode

pecar. Samuel assim declarou: "Também aquele que é a Força de Israel não

mente..." (1Sm 15.29). Até mesmo o curioso Balaão declarou: "Deus não é

homem, para que minta.." (Nm 23.19). Ele não pode mentir ou pecar (Hb 6.18; Tg

1.13).

A onipotência física está relacionada com seu poder criador. "Pela palavra do

Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo sopro da sua boca" (Sl

33.6). Ele é o criador do universo o que mostra ter ele um poder incomensurável.

O universo é grandioso, mas quem o fez, evidentemente, é maior do que ele, pois

o artífice é maior do que a sua obra (Hb 3.3). Mas ele não é apenas o Criador, é

também o sustentador do universo. Hebreus 1.3, embora falando do Filho, diz que

ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder. E a ordem do universo é

uma evidência do seu poder absoluto.

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Doutrina de Deus

29 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

A onipotência de Deus deve ser entendida também como tendo conexão com a história

dos homens e com a vitória final sobre o mal. Para uma igreja que estava morrendo sob a

perseguição do Império Romano, o Apocalipse, mesmo reconhecendo que ela sofreria ainda

mais do que estava padecendo (2.10), pode trazer o brado de triunfo: "O reino do mundo passou

a ser do nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (11.15). É a

onipotência divina que nos faz crer no triunfo final do reino de Jesus e na vitória de Deus sobre o

poder do mal: "Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver

destruído todo domínio, e toda autoridade e todo poder. Pois é necessário que ele reine até que

haja posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. Ora, o último inimigo a ser destruído é a

morte" (1Co 15.24-26). Esta declaração de Paulo significa que o mundo tem um propósito que é

controlado por Deus e que tudo terminará em Deus. Esta atuação de Deus na história

evidenciando seu poder absoluto pode ser, entre muitos outros episódios bíblicos bem ilustrada

com Jeremias 32.17: "Ah! Senhor Deus! És tu que fizeste os céus e a terra com o teu grande

poder, e com o teu braço estendido! Nada há que te seja demasiado difícil!". A propósito de quê,

Jeremias fez tal observação? A propósito da declaração de Iahweh de que Judá, que estava

deserta, destruída diante do poder caldeu, ainda seria reconstruída. Quem iria comprar terra em

uma nação destruída, em um país abandonado com seu povo tendo sido levado para cativeiro?

Deus manda Jeremias comprar terra, um símbolo de que a nação vai viver. Ele podia fazer a

nação reviver. Mais tarde, o próprio Deus declarará ao profeta: "Eis que eu sou o Senhor, o Deus

de toda a carne; acaso há alguma coisa demasiado difícil para mim?" (Jr 32.27).

Não temos poder infinito ou onipotência, assim também não temos liberdade infinita dos

outros atributos divinos em um grau infinito. Mas, embora não tenhamos onipotência, Deus nos

deu poder para gerar resultados. Poder físico e também de outros tipos: mental e espiritual.

(2) Atributos morais. Por pureza moral referimo-nos à isenção absoluta de Deus em

relação a tudo que seja perverso ou mau.

a) Santidade – Com santidade de Deus queremos dizer que ele é absolutamente separado

de todas as Suas criaturas e exaltado sobre elas, e que ele é igualmente separado da iniqüidade

moral e do pecado (veja, Êx. 15:11; Is. 6:1-4).

A santidade ocupa o primeiro lugar entre os atributos de Deus. É o atributo pelo qual

Deus queria ser conhecido nos tempos do AT (cf. Lv. 11:44-45; Js. 24:19; I Sm. 6:20; Sl. 22:3;

Is. 40:23). A santidade de Deus traça o parâmetro que seu povo deve imitar (Lv. 19:2; 20:26; I

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30 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Pe. 1:16; Hb. 12:10, 14). A perfeição de Deus é o modelo para o nosso caráter moral e motivação

para a prática religiosa.

b) Retidão – A segunda dimensão da pureza moral de Deus é sua retidão. Isso é algo

como a santidade de Deus aplicada a seu relacionamento com outros seres. A retidão de Deus

significa, acima de tudo, que a lei de Deus, sendo expressão fiel de sua natureza, é tão perfeita

quanto Ele (veja Sl. 19:7-9). Ela é fase da santidade de Deus que é vista em seu tratamento com a

criatura (Sl. 89:14; Is. 45:21; Jo. 17:25; II Tm. 4:8; Ap. 16:15). A retidão de Deus também

significa que seus atos estão de acordo com a lei que Ele mesmo estabeleceu. Assim, em suas

ações Deus é descrito como alguém que faz o que é certo (Gn. 18:25).

c) Justiça – Dizer que a justiça é um dos atributos divinos é dizer que Deus sempre age

segundo o que é justo, e que Ele mesmo é o parâmetro definitivo do que é justo (Dt. 32:4; Sl.

19:8; Is. 45:19). Sua justiça é sua retidão oficial, sua exigência de que outros agentes morais

obedeçam igualmente aos mesmos padrões. Em outras palavras, Deus é como um juiz que segue

pessoalmente a lei da sociedade e, em sua função oficial, promove a mesma lei aplicando-a aos

outros. A justiça de Deus significa que ele é justo na aplicação de sua lei. Ele não mostra

favoritismo ou parcialidade. Não importa quem somos; o que fazemos ou deixamos de fazer é a

única consideração na atribuição de conseqüências ou recompensas.

Como consequência da justiça de Deus, Ele trata a todos sem nenhuma parcialidade.

Assim, é necessário que Deus puna o pecado, pois ele não merece recompensa (Rm. 3:25-26).

Assim como no caso da santidade, Deus espera que seus seguidores procurem igualar-se a ele em

retidão e justiça. Precisamos adotar suas leis e preceitos como nosso padrão. Precisamos tratar os

outros com justiça e imparcialidade (Am. 5:15, 24; Tg. 2:9) porque isso é o que Deus faz.

A justiça de Deus é mais do que o ato de trazer castigo aos maus e a aprovação aos bons.

É a certeza de que ele sempre fará o que é certo. Isto é necessário afirmar porque, para muitos,

justiça e amor são incompatíveis. Um Deus justo, que aja como juiz, pensam alguns, não pode

ser amor. O equívoco decorre, primeiro, de se pensar em justiça em termos de tribunal. E depois,

de presumir que amor significa indulgência. Amor e frouxidão não são a mesma coisa. Um justo

tem que ser feroz, pensam alguns. E o amor, pensam ainda, tem que ser bonachão,

inconseqüente, passando sempre a mão sobre a cabeça das pessoas erradas. Esta é uma

concepção muito equivocada dos dois termos. Para os escritores bíblicos, justiça e bondade não

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Doutrina de Deus

31 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

significaram conceitos opostos. Lemos no Salmo 145.17: "Justo é o Senhor em todos os seus

caminhos, e benigno em todas as suas obras". Justiça e benignidade estão caminhando juntas. Os

dois termos hebraicos são tsedaqah (justiça) e hesed (amor imutável eterno, o amor do pacto). A

retidão de Iahweh está caminhando lado a lado com a sua mais profunda forma de amar. São

conceitos paralelos e não se contradizem.

É necessário ter isto em mente porque, no pensamento de Paulo, exatamente por ser justo

é que Deus justificará os homens: "para que ele seja justo e também justificador daquele que tem

fé em Jesus" (Rm 3.26). Paulo não apresenta o amor como a fonte da justificação daquele que

crê, mas a justiça de Deus. Porque ele é justo, ele justifica. Ele quer tornar os homens, em

caráter, iguais a ele.

d) Integridade – A integridade está relacionada com a verdade. A verdade se manifesta

em três dimensões:

Genuinidade – ser verdadeiro;

Verdade – dizer a verdade;

Fidelidade – provar-se verdadeiro.

e) Genuinidade – A dimensão básica da integridade é a genuinidade de Deus. Em

contraste com muitos deuses falsos, o Deus de Israel é o Deus verdadeiro. Em Jeremias 10, o

profeta faz um contraste entre o Deus vivo e os deuses fabricados por mãos humanas. Em João

17:3, Jesus dirige-se ao Pai como único Deus verdadeiro (cf. I Ts. 1:9; I Jo. 5:20; Ap. 3:7; 6:10).

Deus é real, não é fabricado, não é construído, nem é imitação, como são todos os outros que se

alegam deuses.

f) Veracidade – A veracidade divina implica que Ele é o Deus verdadeiro, e que todo o

Seu conhecimento e todas as suas palavras são ao mesmo tempo verdadeiras e o parâmetro

definitivo da verdade. Ele apresenta as coisas como de fato são, pois a Glória de Israel não mente

e nem se arrepende (I Sm. 15:29). Paulo fala do Deus que não pode mentir (Tt. 1:2; veja também

Hb. 6:18). Devemos notar que essas passagens não afirmam somente que Deus não mentirá.

Deus não pode mentir. A mentira é contrária à sua própria natureza.

A veracidade de Deus é também comunicável, pois podemos em parte imitá-la, buscando

alcançar verdadeiro conhecimento de Deus e do mundo (Cl. 3:9-10; Ef. 4:25). Deus pede que seu

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Doutrina de Deus

32 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

povo seja honesto em todas as situações. Seu povo deve ser verdadeiro tanto no que afirma

formalmente quanto no que deixa explícito. Assim, por exemplo, os israelitas só deviam ter um

conjunto de peso na bolsa (Dt. 25:13-15). O povo de Deus deve ser totalmente honesto também

na apresentação da mensagem do evangelho (II Co. 2:17; 4:2). Um Deus da verdade é mais bem

servido pela apresentação da verdade.

g) Fidelidade – se a genuinidade de Deus diz respeito ao fato de ser ele verdadeiro e sua

veracidade, ao fato de dizer a verdade, então a sua fidelidade significa que ele se prova

verdadeiro. Deus mantém todas as promessas. Ele nunca precisa revisar sua palavra ou renegar

uma promessa (Nm. 23:19; I Ts. 5:24; I Co. 1:18-22; II Tm. 2:13; I Pe. 4:19).

Assim como no caso de outros atributos morais, o Senhor espera que os crentes espelhem

sua fidelidade. O povo de Deus não deve dar sua palavra impensadamente. E, tendo dado a

palavra, deve permanecer fiel a ela (Ec. 5:4-5). Deve manter não somente as promessas feitas a

Deus (Sl. 61:5,8; 66:13), mas também as promessas feitas a seus companheiros humanos (Js.

9:16-21).

h) Bondade – A bondade de Deus implica que Ele é o parâmetro definitivo do que é

bom, e que tudo o que Deus é e faz é digno de aprovação (Lc. 18:19; Sl. 100:5; 106:1; 107:1).

Assim, tudo o que Deus criou é bom (Gn. 1:31). A bondade de Deus está intimamente ligada a

várias outras características:

i) Amor - Dizer que Deus tem amor como atributo é dizer que Ele se doa eternamente

aos outros. Essa definição interpreta o amor como uma doação de si mesmo em benefício de

outros. João diz que Deus é amor (I Jo. 4:8-10; cf. Rm. 5:8; Jo. 3:16; Gl. 2:20). O amor de Deus

pode ser entendido como sua doação ou seu partilhar eterno de si mesmo. É aquela perfeição da

natureza divina pela qual Ele é continuamente impelido a se comunicar. É, entretanto, não um

impulso emocional, mas uma afeição racional e voluntária, sendo fundamentada na verdade e

santidade e no exercício da livre escolha.

Como tal, o amor sempre esteve presente entre os membros da Trindade (Jo. 14:31). A

triunidade de Deus significa que há um exercício eterno do amor de Deus, mesmo antes da

existência de qualquer ser criado.

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Doutrina de Deus

33 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Este atributo é tão forte que, na maior parte das vezes, é o que mais vem à mente das

pessoas quando se fala de Deus. "Deus é amor" é uma das primeiras declarações que nossas

crianças aprendem em nossas igrejas. Deus é amor e não apenas tem amor pelos homens. Isto é

fundamental. E seu amor não é de palavras, mas de atos. Ele manifestou seu amor: "Deus prova

o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós sendo nós ainda pecadores" (Rm 5.8).

Seu amor é dadivoso, ou seja, se manifesta em dádiva e não em dádivas de segunda categoria,

como bênçãos materiais, mas a dádiva de seu Filho (Jo 3.16). É um amor que é dado aos homens

sem que estes mereçam, como lemos em Deuteronômio 7.7: "O Senhor não tomou prazer em vós

nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que todos os outros povos, pois éreis menos

em número do que qualquer outro povo". Ele nos amou e nos ama porque quer. Não é que

sejamos merecedores. Não é o nosso mérito. É a vontade dele.

Imitamos esse atributo comunicável de Deus, antes de tudo, amando a Deus e aos outros

assim como Deus nos ama (Mt. 22:37-39; I Jo. 5:3). De fato, nosso amor pelos outros dentro da

comunhão dos crentes é uma imitação de Cristo tão evidente que por ele o mundo nos conhecerá

como cristãos (Jo. 13:35; cf. 15:13).

j) Graça – Por graça queremos dizer que Deus, ao lidar com seu povo, não se baseia nos

méritos ou merecimento das pessoas, mas em suas necessidades. Em outras palavras: lida com

elas baseando-se em sua própria bondade e generosidade. Graça é bondade divina para com os

que só merecem castigo. É a bondade de Deus manifestada para com os imerecedores (Rm. 3:23-

24; 4:16; Ef. 2:8-10; Tt. 2:11; 3:4-7).

k) Misericórdia – É sua compaixão terna e amor por seu povo. É seu coração afetuoso

para com o necessitado. Se a graça vê os homens pecadores e condenados, a misericórdia os vê

miseráveis e necessitados (veja Sl. 103:13; 57:10; 86:5; Dt. 5:10). O atributo da misericórdia é

visto na compaixão que Jesus sentia pelas pessoas doentes (Mc. 1:41; 9:36). Misericórdia é a

bondade divina para com os angustiados e aflitos (Êx. 20:2; Is. 55:7; Lc. 1:50; Rm. 11:30-31; Ef.

2:4; Tg. 5:11).

l) Paciência – É a bondade divina no sustar a punição daqueles que persistem no pecado

por determinado tempo (Êx. 34:6; Nm. 14:18; Sl. 89:15; Rm. 2:4; 9:22; I Pe. 3:20; II Pe. 3:15).

Em todos esses versículos retrata-se Deus adiando o julgamento e continuando a oferecer

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Doutrina de Deus

34 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

salvação e graça por longos períodos. Cada um de nós deve também imitar a paciência de Deus

(Tg. 1:19; I Pe. 2:20; Ef. 4:2; Gl. 5:22-23).

A TRINDADE DE DEUS: A TRIUNIDADE

A Trindade é uma das doutrinas que de fato distinguem o cristianismo. Entre as religiões

do mundo, a fé cristã é sem igual ao alegar que Deus é um, mas que, ao mesmo tempo, Ele existe

eternamente em três pessoas.

O termo Trindade não pode ser encontrado na Bíblia e, embora tivesse sido empregado

por Tertuliano na última década do segundo século de nossa era, não encontrou lugar formal na

teologia da igreja senão no quarto século. Trata-se, entretanto, da doutrina distintiva e toda

inclusiva da fé cristã e reúne, na forma de uma única grande generalização, com respeito ao ser e

à atividade de Deus, todos os principais aspectos da atividade cristã. Mas, ainda que o termo

Trindade não se encontre na Bíblia, a idéia da palavra é ensinada em muitos trechos da Bíblia. A

doutrina da Trindade é revelada progressivamente nas Escrituras.

1. A importância da doutrina da Trindade para o cristianismo

A questão da trindade não é apenas complicada, como também demanda grande

reverência em seu estudo. Simplificá-la é não atentar para sua grandeza e profundidade e negá-la

somente porque é complexa é uma atitude de pouca sensatez. A crítica mais comumente feita à

doutrina da trindade, e elaborada pelos testemunhas de Jeová, é que a palavra não se encontra na

Bíblia. É verdade. No entanto, a expressão "salão do reino" também não se encontra na Bíblia e

os jeovistas a usam, assim mesmo. Uma coisa é uma determinada palavra não estar na Bíblia.

Outra coisa é um conceito estar presente na Bíblia e não haver uma palavra bíblica para mostrá-

lo.

"A doutrina da Trindade é crucial para o cristianismo. Ela se ocupa em definir quem é

Deus, como ele é, como trabalha e a forma pela qual se tem acesso a ele. Além disso, a questão

da Divindade de Jesus Cristo, que historicamente tem sido ponto de grande tensão, está muito

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Doutrina de Deus

35 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

ligada com o conceito de Trindade. A posição que adotamos em relação à Trindade exerce

profunda influência em nossa cristologiam". (ERICKSON, p. 128)

Nessas palavras, descobrimos que para nutrirmos um conceito correto sobre a pessoa de

Jesus Cristo, precisamos ter uma boa compreensão da trindade. Na realidade, um conceito

adequado da trindade também nos permitirá ter uma pneumatologian correta. Muitos equívocos

sobre a pessoa do Espírito Santo sucedem porque ele tem deixado de ser visto como Deus.

Torna-se uma espécie de fio desencapado, dando choque nas pessoas. Ou uma gasolina espiritual

para o tanque da fé. No entendimento de alguns, é um sub-Deus. Sem uma conceituação correta

da trindade cairemos no unitarianismo, doutrina que ensina que Deus é uma pessoa, apenas. E se

assim suceder, teremos que nos descartar da pessoa de Jesus Cristo e não poderemos ter uma

cristologia, mas apenas, como faz a teologia da libertaçãoo, uma "jesuologia", ou seja, um ensino

sobre uma pessoa humana chamada Jesus, mas que não é Deus, apenas uma pessoa que se tornou

um modelo de vida. E também nossa fé perderá todo seu sentido. Nós não cremos numa pessoa

humana que foi um modelo de vida. O que cremos sobre Jesus fica bem claro em 1Coríntios

15.3-4. Todo o capítulo 15 de 1Coríntios, ao tratar da morte e da ressurreição dos homens aponta

para Jesus Ressuscitado como garantia de nossa fé. 1Coríntios 15.13-19 mostram que se nossa fé

é no Jesus desta vida, apenas, no homem Jesus , nossa fé é inútil. Deve ser no Cristo que venceu

a morte, que é mais que um modelo. É o Senhor da vida e da morte. (Isaltino Gomes Filho,

apostila de teologia Sistemática).

m Cristologia é o estudo da Doutrina de Cristo segundo as Escrituras. n Grego Pneuma que significa espírito e logod que significa ciência. Pneumatologia é a doutrina do Espírito Santo,

ou estudo sobre o Espírito Santo. o A teologia da libertação é uma corrente teológica desenvolvida no Terceiro Mundo ou nas periferias pobres do

Primeiro Mundo a partir dos anos 70 do século XX, baseadas na opção pelos pobres contra a pobreza e pela sua libertação. Desenvolveu-se inicialmente na América Latina.

Esta teologia utiliza como ponto de partida de sua reflexão a situação de pobreza e exclusão social à luz da fé cristã.

Esta situação é interpretada como produto de estruturas econômicas e sociais injustas, influenciada pela visão das

ciências sociais, sobretudo a Teoria da Dependência na América Latina, que possui inspiração marxista.

A situação de pobreza é denunciada como pecado estrutural e estas teologias propõem o engajamento político dos

cristãos na construção de uma sociedade mais justa e solidária, cujo projeto identifica-se com ideais da esquerda.

Uma característica da Teologia da Libertação é considerar o pobre, não um objeto de caridade, mas sujeito de sua

própria libertação. Assim, seus teólogos propõem uma pastoral baseada nas comunidades eclesiais de base, nas quais

os cristãos das classes populares se reúnem para articular fé e vida, e juntos se organizam em busca de melhorias de

suas condições sociais, através da militância no movimento social ou através da política, tornando-se protagonistas

do processo de libertação. Além disto, apresentam as Comunidades Eclesiais de Base como uma nova forma de ser

igreja, com forte vivência comunitária, solidária e participativa. Por seu método e opções políticas, trata-se de uma teologia extremamente controversa, tanto pelas suas implicações nas igrejas quanto na sociedade. A partir dos anos

1980, com a redemocratização das sociedades latino-americanas e a queda do muro de Berlim com conseqüente

crise das esquerdas e as transformações sociais e econômicas provocadas pela globalização e o avanço do

neoliberalismo esta teologia perdeu parte de sua combatividade política e social. (Wikipédia enciclopédia livre)

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Doutrina de Deus

36 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

2. Uma definição - Quando falamos de trindade queremos dizer que Deus existe como

três pessoas em uma essência ou, ainda, que Deus existe como três pessoas de uma mesma

natureza em um relacionamento profundo e dinâmico.

2.1. A unidade de Deus – Só existe um Deus, e a natureza divina é uma unidade

indivisível. O fato de haver um só Deus é o tema principal do AT (Dt. 4:35, 39; I Rs.

8:60; Is. 45:5-6; Zc. 14:9). A unidade de Deus foi revelada a Israel em muitas ocasiões

diferentes e de várias maneiras; nos dez mandamentos que declara que há um só Deus e

proíbe a idolatria (Êx. 20:2-4). Uma indicação mais clara de unidade de Deus é o Shemap

de Deuteronômio 6:4-5.

Essa mesma verdade é também frequentemente ensinada no NT (cf. Mc. 12:29-32; Jo.

17:3, I Co. 8:4-6;. I Tm. 2:5). Isso foi necessário devido à persistente tendência Israel para a

idolatria. No entanto, Deus existe em três pessoas – em tri unidade. Deus existe eternamente

como três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – e cada pessoa é plenamente Deus, e existe um

só Deus. Trindade é a palavra usada para resumir ensinamento bíblico de que Deus é três

pessoas, porém um só Deus.

3. A revelação parcial da Trindade no Antigo Testamento. Embora a doutrina da

Trindade não se ache explicitamente no AT, várias passagens dão a entender ou até implicam

que Deus existe como mais de uma pessoa (Gn. 1:26; 3:22; 11:7; Is. 6:8; Sl. 45:6-7; Hb. 1:8). Os

primeiros prenúncios estão contidos na narrativa da criação, onde Elohim é visto a criar por meio

da Palavra e do Espírito (Gn. 1:3). É nesses primeiros versículos da Bíblia que nos é apresentada

a Palavra que atua como um poder pessoal e Criador, enquanto que o Espírito aparece como

aquele que transmite vida e ordem à criação.

4. A revelação mais completa da Trindade no Novo Testamento. No NT a doutrina da

Trindade está mais explícita. No batismo de Jesus vemos uma alusão à Trindade (Mt. 3:16-17),

aqui, ao mesmo tempo, temos os três membros da Trindade realizando três ações distintas. Deus

Pai fala de lá do céu, Deus Filho é batizado, e o Espírito Santo desce do céu. Em Mateus 28:19,

as três pessoas aparecem juntas na forma batismal. Batizar “em nome” é uma expressão própria

do hebraico e não do grego, e inclui em si aquilo que parece ser um completo rompimento com o

p Expressão hebraica que significa “ouça”, “ouvir”.

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Doutrina de Deus

37 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

judaísmo, pois inclui num nome no singular algo feito não só em nome do Pai, mas também do

Filho e do Espírito Santo, veja também I Co. 12:4-6; II Co. 13:13; Ef. 4:4-6; I Jo. 5:7.

5. Três declarações que resumem o ensino bíblico. Em certo sentido a doutrina da

Trindade é um mistério que jamais seremos capazes de entender plenamente. Podemos, todavia,

entender parte da sua verdade resumindo o ensinamento das Escrituras em três declarações:

a) Deus é três pessoas;

b) Cada pessoa é plenamente Deus;

c) Há um só Deus.

5.1. O Pai é reconhecido como Deus. (Jo. 6:27; Rm. 1:7; Gl. 1:1-12).

5.2 – O Filho é reconhecido como Deus – atributos divinos são atribuídos a ele e

manifestados por ele:

a) Ele é eterno (Jo. 1:1; 6:27; 8:58; 17:24; Hb. 1:11; Is. 9:6);

b) Ele é onipresente e onisciente (Mt. 18:20; 28:20; Jo. 2:24-25; 3:13; 16:30; 21:17);

c) Ele é onipotente (Mt. 28:18; Hb. 1:3; Ap. 1:8);

d) Ele é imutável (Hb. 1:12; 13:8);

e) Ele é criador (Jo. 1:3; Cl. 1:16; Hb. 1:10);

f) Ele é chamado de Deus (Jo. 1:1, 18; 20:28; I Tm. 3:16; Tt. 2:13; Hb. 1:8; II Pe. 1:1; I

Jo. 5:20).

5.3 – O Espírito Santo também é chamado de Deus – uma vez que entendamos que

Deus Pai e Deus Filho são plenamente Deus, então as expressões trinitárias em passagens com

Mateus 28:19 e outras se revestem de relevância para a doutrina do Espírito Santo, pois mostram

que o Espírito Santo está classificado no mesmo nível do Pai e do Filho. O Espírito Santo é uma

pessoa divina. Isso é evidenciado por diversas coisas:

Em primeiro lugar, atributos divinos são afirmados a seu respeito, tais como:

a) Eternidade (Hb. 9:14);

b) Onisciência (Jo. 14:16; 16:12-13; I Co. 2:10-11);

c) Onipotência (Lc. 1:35);

d) Onipresença (Sl. 139:7-10);

e) Ele é chamado de Deus (At. 5:3-4).

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Doutrina de Deus

38 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Em segundo lugar, obras da divindade lhe são atribuídas, tais como a criação (Sl.

104:30; Gn. 1:2; Jó 33:4).

Em terceiro lugar, as palavras, as obras do Espírito Santo são consideradas como

as palavras e as obras de Deus (veja Is. 6:8-10; At. 28:25-27; Sl. 95:8-11; Hb. 3:7-

9).

6. Deus existe eterna e necessariamente como Trindade. Quando o universo foi criado,

Deus Pai proferiu as potentes palavras criadoras que o geraram; Deus Filho foi o agente divino

que executou essas palavras (Jo. 1:3; I Co. 8:6; Cl. 1:16; Hb. 1:2) e o Deus Espírito Santo

pairava sobre as águas (Gn. 1:2). Se os três membros da Trindade são iguais e plenamente

divinos, então todos eles existem desde a eternidade, e Deus sempre existiu eternamente como

Trindade (Jo. 17:5, 24). Além disso, Deus não pode ser diferente do que é, porque é imutável.

7. Qual a relação entre as três pessoas e o ser de Deus? Antes, devemos

necessariamente dizer que a pessoa do Pai possui em Si todo o Ser de Deus. Do mesmo modo, o

Filho possui em Si todo o ser de Deus, e o Espírito Santo também possui em Si todo o ser de

Deus. Quando falamos conjuntamente do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não estamos falando

de um ser maior do que quando falamos do Pai, ou somente do Filho, ou somente do Espírito

Santo. O Pai é todo o ser divino, o Filho é também todo o ser divino, e o Espírito Santo é todo o

ser divino.

Declaração de fé do Concílio de Nicéia, realizado em 325, quando a questão foi definida.

"Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis;

e em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, da

substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro, gerado, não feito, de uma só

substância com o Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão

na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu e se encarnou e se fez homem e

sofreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente deve vir para julgar os vivos e os

mortos; e no Espírito Santo".

A declaração do credo de Nicéia ressalta a unicidade de Deus, a existência eterna de

Jesus, que é Criador de todas as coisas e afirma, mesmo sem detalhes, o Espírito Santo. "Em sua

triunidade, o eterno Deus se revela como Pai, Filho e Espírito Santo, pessoas distintas, mas sem

divisão em sua essência". O termo triunidade também é muito correto e devemos aprender o

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Doutrina de Deus

39 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

significado dele: são três pessoas unidas. Elas nunca podem ser separadas uma das outras. Desta

maneira, não se pode receber a Jesus hoje e ao Espírito Santo amanhã. Quando Cristo entra em

nossa vida, toda a trindade entra. Quem tem Jesus na sua vida tem o Espírito Santo na sua vida.

A CRIAÇÃO: POR QUE, COMO E QUANDO DEUS CRIOU O

UNIVERSO?

Como Deus criou o universo? Será que Ele criou diretamente cada espécie distinta de

planta e animal ou será que ele usou algum tipo de processo evolutivo, orientando o

desenvolvimento das coisas vivas, da mais simples à mais complexa? Em quanto tempo Deus

realizou a Criação? Será que tudo foi concluído dentro de seis dias de vinte e quatro horas ou

será que usou milhares ou milhões de anos? Qual a idade da terra, e qual a idade da raça

humana?

Segundo Gruden “Deus criou todo o universo do nada; este era originalmente muito

bom, e ele o criou para glorificar a si mesmo”.

1. DEUS CRIOU O UNIVERSO DO NADA

1.1. Provas bíblicas da criação a partir do nada. A Bíblia declara que Deus criou o

universo do nada (latim ex nihilo, do nada). Isso significa que antes de Deus iniciar a criação do

universo, nada existia além dEle mesmo. Essa é a implicação de Gênesis 1:1, que diz: No

princípio, criou Deus os céus e a terra. A frase “céus e terra” abarca todo o universo. (Veja

também Sl. 33:6, 9; 90.2; Jo. 1:3; At. 17:24; Rm. 4:17; Cl. 1:16; Hb. 11:3).

Isso nos lembra que Deus rege todo o universo e que nada na criação deve ser adorado

em lugar de Deus, ou além dEle.

Se negarmos a criação a partir do nada, teríamos de afirmar que alguma matéria já existia

e que é eterna como Deus. Tal idéia desafiaria a independência de Deus, sua soberania, e o fato

de que só a Ele devemos culto.

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Doutrina de Deus

40 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

O lado positivo do fato de ter Deus criado o universo do nada é que ele tem sentido e

propósito. Deus, na sua soberania, o criou para algum fim. Devemos tentar compreender este fim

e usar a criação de modo que se conforme a esse fim, que é glorificar o próprio Deus.

1.2. A criação do universo espiritual. A criação de todo o universo abarca a criação de

um reino invisível e espiritual: Deus criou os anjos e outros tipos de seres celestiais, além dos

animais e do homem. A criação do reino espiritual está inequivocamente implícita na Bíblia

(veja Ap. 10:6; cf. At. 4:24; Ne. 9:6; Sl. 103:21; 148:2; Cl. 1:16).

1.3. A criação direta de Adão e Eva. A Bíblia também ensina que Deus criou Adão e

Eva de um modo especial e pessoal (Gn. 2:7, 21-23).

1.4. A criação do tempo. Outro aspecto da criação divina é a criação do tempo. Quando

falamos da existência de Deus antes da criação do mundo, não devemos pensar que Deus

existisse ao longo de uma infindável extensão de tempo. Antes, a eternidade de Deus implica que

ele vive uma espécie diferente de existência, uma existência sem passagem de tempo, uma

espécie de existência que para nós é até difícil de imaginar (ver Jó. 36:26; Sl. 90:2,4; Jo. 8:58; II

Pe. 3:8; Ap. 1:8). O fato de Deus ter criado o tempo nos lembra sua soberania sobre ele e nossa

obrigação de usá-lo com vista à glória divina.

2. A CRIAÇÃO É DISTINTA DE DEUS, PORÉM SEMPRE DELE DEPENDE

O ensino bíblico a respeito do relacionamento entre Deus e a Sua criação é o único entre

as religiões do mundo. A Bíblia ensina que Deus é distinto da sua criação. Não faz parte dela,

porque Ele a fez e a governa. Vemos aqui a transcendência de Deus. Ele é maior do que a criação

e está acima dela.

Deus está sobremaneira envolvido na criação, já que ela continuamente depende dEle

para existir e manter-se em atividade; vemos aqui a imanência de Deus. O Deus da Bíblia não é

uma divindade abstrata distante e desinteressada da sua criação. A Bíblia é a história do

envolvimento de Deus com a criação, especialmente com as pessoas (Jó 12:10; At. 17:25, 28; Ef.

4:6; cl. 1:17).

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Doutrina de Deus

41 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

2.1. A explicação bíblica da relação de Deus com sua criação também distingue do

panteísmo. A palavra grega pan significa “tudo”, panteísmo é a idéia de que tudo, ou todo o

universo é Deus, ou faz parte de Deus. O panteísmo nega várias características do caráter de

Deus. Se todo o universo é Deus, então, o Senhor não tem personalidade distinta. Deus já não é

imutável, pois quando o universo muda, Deus também muda. Ele já não é santo, uma vez que o

mal do mundo também faz parte dEle. Outra dificuldade é que, em última análise, a maioria dos

sistemas panteístas (como o budismo e muitas outras religiões orientais) acaba negando a

importância das personalidades humanas: como tudo é Deus, a meta da pessoa deve-se fundir ao

universo e cada vez mais unir-se a ele, perdendo assim a sua individualidade.

Qualquer filosofia que interprete a criação como “emanação” de Deus (ou seja, algo que

procede de Deus, mas permanece parte de Deus, inseparável dele) seria semelhante ao panteísmo

na maioria ou mesmo em todos nos quais os aspectos do caráter divino são negados.

2.2. A explicação bíblica também afasta a hipótese do dualismo. É a idéia que Deus e

matéria existem eternamente lado a lado. Assim, existem duas forças supremas no universo:

Deus e a matéria. O problema do dualismo é que ele sugere um conflito eterno entre Deus e os

aspectos malignos do universo material.

2.3. A visão cristã da criação também difere do ponto de vista do deísmo. Deísmo é a

idéia de que Deus não está envolvido diretamente na criação. O deísmo geralmente defende que

Deus criou o universo e é bem maior do que ele (transcendente); mas negam que Deus esteja

atualmente envolvido no mundo, eliminando assim a imanência dEle na ordem criada. Antes,

Deus é encarado como um relojoeiro divino que dá corda ao relógio da criação no início, mas

depois deixa que ele funcione sozinho.

2.4. Deus criou o Universo para revelar a Sua glória. Toda a criação tem por meta

revelar a glória de Deus (Is. 43:7; Sl. 19:1-2).

2.5. O universo que Deus criou era muito Bom. Se Deus criou o universo para revelar a

Sua glória, então é de esperar que o universo cumpra o fim para o qual foi criado. De fato,

quando Ele concluiu sua obra de criação, deleitou-se com ela. Ao final de cada estágio da

criação, Deus via que o que fizera era muito bom (Gn. 1:4, 10, 12, 18, 21, 25, 31).

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Doutrina de Deus

42 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Mesmo que hoje haja pecado no mundo, a criação material ainda é boa aos olhos de Deus

e deve também por nós ser tida como boa. Esse conhecimento nos liberta de um falso ascetismo

que considera errado o uso e o deleite da criação (veja I Tm. 4:1-5).

3. SÍNTESE DOS DIAS DA CRIAÇÃO

Gênesis 1 afirma que Deus criou (hb barâ), sem nenhum esforço, todo o universo e tudo o

que nele há. O primeiro versículo de Gênesis deve ser compreendido como uma declaração

sucinta de tudo o que descreve nos versículos seguintes.

O terno barâ é uma palavra hebraica sem igual que significa “ele criou”. Barâ é usada

onze vezes em Gênesis (1:1, 21, 27; 2:3, 4; 5:1-2). Quando barâ é empregada no sentido de criar,

o sujeito é sempre Deus. Falar de um ser humano criando, com o uso de barâ soaria blasfemo no

AT. Essa palavra é usada para revelar o ato de Deus criar o universo do nada.

3.1. O primeiro dia. Depois da declaração sucinta de Gênesis 1.1 e do retrato verbal do

estado primeiro do mundo em 1.2, a criação é descrita como obra de Deus realizada em seis dias

sucessivos, seguidos pelo restante do sétimo dia. O primeiro dia testemunhou a criação da luz

(1:3-5). Antes da luz, tudo era escuro e sombrio. Aqui, a luz está relacionada às trevas e não aos

luzeiros (sol, lua e estrelas).

3.2. O segundo dia. No segundo dia (1:6-8), Deus fez o “firmamento”, entendido como

uma abóbada ou domo metálico que cruzava os céus. O firmamento separou as águas dos céus

das águas sobre a terra. A palavra fez é aqui empregada para designar a atividade criadora de

Deus, em lugar da palavra criou. Não se diz que o firmamento é bom.

3.3. O terceiro dia. O terceiro dia da criação (1:9-13) testemunha outra separação entre

as águas sobre a terra e a parte seca. O conjunto de águas sobre a terra é denominada “mares”.

De novo, o ato de dar nome reflete a soberania de Deus sobre as águas. A terra seca, por sua vez,

recebe ordens de produzir vegetação em forma de grama, ervas e árvores frutíferas. O relato

reconhece que as plantas têm capacidade de se reproduzir, ainda que não se diga que sejam

viventes no sentido pleno. De novo, Deus viu que sua obra era boa.

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Doutrina de Deus

43 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

3.4. O quarto dia (1:14-19). Fala da criação dos dois grandes luzeiros e das estrelas no

firmamento. A mensagem inegável é que o sol, a lua e as estrelas são criações de Deus. Não são

deuses, como acreditava os vizinhos de Israel. Eles não devem ser cultuados. Eles não têm poder,

exceto o que Deus lhes deu: o de reger o dia, a noite e as estações.

3.5. O quinto dia (1:20-23). Testemunhou a criação da vida animal no mar e nos ares.

Ainda que as plantas tenham sido criadas no terceiro dia, não possuíam nephesh, “vida”, como

os animais. Os animais são divididos em três grupos:

(1) Os enxames nas águas – provavelmente cardumes de peixes, pequenos animais

marítimos e rastejadores, talvez répteis;

(2) As aves que voam no céu;

(3) Os grandes animais marinhos.

Quando Gênesis 1:21 diz que Deus criou os monstros marinhos (heb.Tannin), significa

que Deus criou e controla tudo o que há no universo, mesmo que o que outros povos

consideravam símbolos do mal. As pessoas nada tinham a temer no mundo. Ele os fez e deu

nome. Dois aspectos dessa passagem são significativos:

(1) A palavra “barâ”, “criou”, só aparece na segunda parte do capítulo. A razão provável

é que a vida animal fosse considerada em degrau acima do restante da criação até aquele

momento.

(2) A palavra “bênção” é usada pela primeira vez nesse capítulo (1:22). Bênção aqui

inclui o poder de propagar a espécie. Este é o significado básico da palavra bênção: o poder de

ser fértil. É evidente que a vida do ser vivente, seja do homem, seja do animal, inclui a

capacidade de propagação. Sem isso não seria uma vida real.

3.6. O sexto dia (1:24-31). Testemunha a criação dos animais terrestres e do homem com

uma diferença notável na descrição da origem dos dois. Os animais terrestres vêm da terra (v.

24). Mas o homem é objeto íntimo e direto da obra criadora de Deus: façamos o homem à nossa

imagem (v. 26). A palavra “bara”, “criar”, ocorre três vezes no versículo 27 para deixar claro que

o ponto culminante e alvo da criação divina são atingidos na criação dos seres humanos. As

pessoas e os animais foram criados no mesmo dia e ambos são chamados distintamente nephesh

hayã, “seres viventes”. Cada um possui a capacidade de propagação de espécie. Ainda assim, os

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Doutrina de Deus

44 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

homens destacam-se como seres ímpares, feitos à imagem de Deus. Eles recebem domínio sobre

todos os outros seres criados.

3.7. Sétimo dia (2:1-3). Deus terminou sua obra de criação. Ele abençoou e santificou o

sétimo dia porque nele descansou de sua obra de criação. O sétimo dia da criação é especial,

diferente dos seis dias de trabalhos anteriores. As palavras “acabar” e “terminar” em 2:1-2

indicam que o universo está completo, terminado, sendo tudo o que Deus pretendia que fosse.

Deus estabeleceu o sétimo dia à parte dos outros dias. A palavra traduzida por “descansar” é

shabat base da palavra sábado.

O segundo relato da criação (2:4b-25) é em geral considerado mais antigo que o primeiro

(1:2-2:4a). Conforme se apresenta hoje, suplementa e amplia o quadro do primeiro relato da

criação. O primeiro relato começa com a criação do universo e faz da humanidade o degrau

máximo da pirâmide cosmológicaq. O segundo relato começa com a humanidade como o centro

e objetivo da criação. A humanidade é feita por Deus a partir do pó. A vida é o resultado do

sopro de Deus no homem. Esse sopro de Deus não pertence a nenhuma outra criatura. (Ralph

Smith)

O SIGNIFICADO TEOLÓGICO DA DOUTRINA DA CRIAÇÃO

A doutrina da criação é, primeira e obviamente, uma afirmação de que tudo o que não é

Deus derivou sua existência dEle. Em outras palavras, a idéia de que existe alguma

realidade última, diferente de Deus, é rejeitada.

O ato original da criação divina é singular. É diferente dos atos criadores dos homens,

que envolvem modelagem com o uso de materiais disponíveis.

A doutrina da criação também significa que nada que foi feito é intrinsecamente mau.

Tudo veio de Deus, e a narrativa da criação afirma cinco vezes que ele a viu e a

considerou boa (Gn. 1:10,12,18,21,25). Depois, relata-se que quando completou a criação

do homem, Deus viu tudo o que havia feito e o considerou muito bom (v. 31). Não havia

nada de mau na criação.

q Relativo ao cosmo, expressão grega para mundo

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Doutrina de Deus

45 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

A doutrina da criação também impõe uma responsabilidade sobre a raça humana. Não

podemos justificar nosso comportamento culpando a malignidade da esfera material. O

mundo material não é inerentemente mau. Nosso pecado deve ser um exercício de nossa

liberdade.

A doutrina da criação também evita que se deprecie a encarnação de Cristo. Se o mundo

material fosse de alguma forma inerentemente mau, seria muito difícil aceitar o fato de

que a Segunda Pessoa da Trindade assumiu a forma humana, incluindo o corpo material.

A doutrina da criação também nos ajuda a evitar o ascetismo. A crença na idéia de que a

natureza física é má tem levado alguns, inclusive cristãos, a se esquivar do corpo e de

qualquer tipo de satisfação física. (ERICKSON, pp. 162-3)

A PATERNIDADE DE DEUS

Nosso ponto de partida para conhecer o Pai deve ser a revelação de Jesus. Ele ensinou os

fiéis a chamarem a Deus de "Pai". Quando os discípulos lhe pediram que lhes ensinasse a orar, a

primeira palavra dita por ele foi "Pai". Ele chamava a Deus de "Pai". Ele nos ensinou a

chamarmos a Deus de Pai. É por causa dele que Deus é nosso Pai. Lemos em Mateus 11.27:

"Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho,

senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o

quiser revelar". Ele nos trouxe a idéia de Deus como Pai e ele nos descortina o Pai.

A primeira pessoa da trindade não é o Grande Arquiteto do Universo, nem o Grande

Espírito, nem a Força, nem o Pai das Luzes, como os espíritas o chamam (embora o termo seja

bíblico, como Tiago usa). Ele é nosso Pai. Em excelente obra sobre como conhecer a Deus,

Packer faz a seguinte observação: "O que é um cristão? A pergunta pode ser respondida de

muitas maneiras, mas a melhor resposta que conheço é que um cristão é alguém que tem Deus

como Pai".

Este é o grande privilégio do cristão, daquele que pôs sua fé em Jesus Cristo: Deus é seu

Pai. Como nos diz João 1. 12: " Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome,

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Doutrina de Deus

46 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus". Só aquele que nasceu de novo pode usar esta

expressão em toda a sua plenitude e com plenos direitos. É fato que Deus é Pai de todos os

homens porque gerou a todos, porém no sentido de adoção, o termo é restrito aos que crêem.

Todo homem é, potencialmente, filho de Deus. Ou, pelo menos, o é em termos de filho por

criação. Contudo é na aceitação de Cristo que esta potencialidade se concretiza e o homem

reencontra a dignidade da filiação ao Pai celestial. É por causa de Jesus que aprendemos que

Deus é nosso Pai.

1. A paternidade de Deus no Antigo Testamento - No Antigo Testamento, este

conceito da paternidade de Deus é um pouco restrito. Deus é Pai de Israel: "Então dirás a Faraó:

Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito; e eu te tenho dito: Deixa ir: meu filho,

para que me sirva. mas tu recusaste deixá-lo ir; eis que eu matarei o teu filho, o teu

primogênito" (Êx 4.22-23). Lemos também em Oséias 11.1: "Quando Israel era menino, eu o

amei, e do Egito chamei a meu filho". A nação, como um todo, era filha de Deus. Primeiramente

porque devia sua existência a ele e, em grau menor, porque fora adotada por ele. Mas isso é

declarado de forma objetiva apenas nestas duas vezes e em Jeremias 3.19 e 31.9. Há mais dez

outras citações, porém que não são tão claras assim como estas e a paternidade é mais inferente

do que declarada. Assim mesmo, a idéia aparece muito mais por que a nação devia a ele sua

origem, do que por ter sido adotada por ele.

Deus não é chamado de "Pai" dos fiéis israelitas, como indivíduos, embora haja esta

insinuação: "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles

que o temem" (Sl 103.13). É, no entanto, uma declaração que mostra mais seu sentimento em

relação ao fiel necessitado do que seu padrão contínuo de relacionamento com os homens. Esta

postura do Antigo Testamento pode ser entendida à luz do fato de que a sua ênfase é na

santidade de Deus, comentam alguns teólogos. Pode ser esta uma das razões, entretanto não creio

que seja a mais forte. A mais forte, me parece, reside no fato de que no Antigo Testamento temos

uma ênfase comunitária, em que o trato de Deus é com a comunidade, com o povo, com raça. A

ênfase no trato individual é profetizada por Ezequiel, ao falar da nova aliança, e concretizada em

Cristo. Aparece de forma mais clara no Novo Testamento. A diferença de trato nos dois pactos, o

do Antigo e o do Novo Testamentos, deve ser observada neste contexto.

2. A paternidade de Deus no Novo Testamento - É aqui que está a base da doutrina. É

a idéia central do Novo Testamento. Logo no sermão do monte, por dezessete vezes, Jesus

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Doutrina de Deus

47 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

chama a Deus de "Pai". E por 250 vezes no Novo Testamento, em todos os seus livros, com a

única exceção de 3João, o termo está presente. Esta é grandeza do cristianismo sobre todas as

demais religiões: ele é a única religião que apresenta o Criador, o maior poder do universo, como

Pai. E isso é possível graças a Jesus, que assim o chama por cinqüenta vezes nos evangelhos.

Uma expressão de Conner nos trará mais luzes nesta observação: Jesus chamou a Deus de Pai.

Este foi seu termo predileto. O Senhor creu na soberania de Deus, porém é significativo que

encontrou seu termo favorito para Deus dentro da idéia de família. Ninguém, até o tempo de

Jesus dera um conceito tão claro e definido de Deus como Pai como Jesus o fez. Na literatura

grega, Zeus é mencionado, de maneira geral, como pai dos deuses e dos homens. Outras religiões

haviam usado o termo, também. Mas Jesus fez três coisas que ninguém mais havia feito: tornou a

paternidade a idéia dominante na relação entre Deus e os homens; pôs seu ensino ético na idéia

da paternidade aplicada a Deus; e tornou este conceito como algo bem vivo na relação entre o

adorador e Deus. (Walter Conner).

Isso suscitará uma questão: em que sentido Jesus é Filho e o Pai é Pai? Afinal de contas,

os dois têm a mesma idade! Melhor dizendo, os dois têm a mesma não-idade, posto que ambos

nunca nasceram. Os dois são eternos: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o

Verbo era Deus" (Jo 1.1). Nem mesmo se pode alegar que Verbo se tornou o Filho quando

aceitou um corpo físico e nasceu. Ela já existia antes de assumir forma humana. A Igreja sempre

entendeu Jesus como o Filho eterno de Deus. Vamos precisar retornar um pouco à idéia da

trindade para tentar lançar um pouco mais de luz sobre a questão. E, mais uma vez, ficamos com

as palavras de Hammett:

Eu creio que Jesus sempre tem sido o filho de Deus e que a filiação de Jesus e a

paternidade de Deus retratam um relacionamento eterno dentro da Trindade, uma distinção

entre a primeira pessoa e a segunda pessoa. Então, a diferença entre as pessoas da Trindade

não são as funções diferentes de cada pessoa, contudo o relacionamento de cada uma à outras

duas. O Pai sempre tem sido o pai, porque esta é a sua natureza. Dentro da Trindade, ele é o

Pai. Jesus é o filho, porque esta é a sua natureza. Ele sempre tem tido este relacionamento com

o Pai. O papel do Espírito não é tão óbvio. Alguns teólogos enfatizara, a santidade do Espírito e

chamaram o espírito o poder santificante na Trindade, entretanto eu prefiro a idéia de que o

Espírito é o vínculo de amor entre o Pai e o Filho.

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Doutrina de Deus

48 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

A idéia de Hammett é que a distinção é relacional, não funcional nem hierárquica. Ou

seja, a distinção é de relação, nunca de mando ou de domínio. Seguindo, então, por esta linha,

façamo-nos uma pergunta: quais as relações entre o Pai e o Filho? Afinal, os próprios termos

indicam uma noção de mando e subordinação, de cuidado e dependência, de um ser o primeiro e

o outro ser o segundo. Mas devemos evitar o hierarquismo. Cautela e reverência nos ajudarão

muito no bom entendimento teológico. O texto de João 5.16-23 pode nos orientar nesta questão:

"Por isso os judeus perseguiram a Jesus, porque fazia estas coisas no sábado. Mas Jesus lhes

respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda

mais procuravam matá-lo, porque não só violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu

próprio Pai, fazendo-se igual a Deus. Disse-lhes, pois, Jesus: Em verdade, em verdade vos digo

que o Filho de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele

faz, o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama ao Filho, e mostra-lhe tudo o que ele mesmo

faz; e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. Pois, assim como o

Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer. Porque o

Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento, para que todos honrem o Filho, assim

como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou".

Nesse texto, alguns dos elementos deste relacionamento são mostrados. Vejamo-los.

O primeiro é a igualdade, como o v. 18 nos mostra. Jesus se fazia igual a Deus, de quem

dizia ser seu Pai. Com isso, descobrimos que ambos partilham da mesma natureza. Então, um

não é superior ao outro. Quando duas pessoas são iguais, nenhuma é superior ou inferior.

O segundo é a autoridade do Pai, como v. 19 nos mostra. O Filho só pode fazer o que o

Pai faz. Por si mesmo, ele, o Filho, nada pode fazer. Em João 6.38, o Filho diz que veio para

fazer a vontade do Pai. Em João 15.10 ele diz que guarda os mandamentos do Pai. No nosso

entendimento, como humanos que somos, o conceito de autoridade está ligado a domínio e

mando. Todavia no relacionamento trinitariano e na postura do Pai, sua autoridade sobre o Filho

não significa imposição de uma pessoa sobre a outra. Jesus foi um homem completamente livre

e, ao mesmo tempo, completamente submisso ao Pai. O Pai não é superior às outras pessoas da

trindade, contudo tem papéis diferentes dentro da mesma trindade. A autoridade do Pai não é de

mando, mas é de relação.

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Doutrina de Deus

49 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

O terceiro é amor, como o v. 20 nos mostra. O Pai ama o Filho. Temos que voltar a este

ponto: o atributo de amor do Pai deve ser ressaltado para se evitar o dualismo entre o Pai

carrasco e iracundo e o Filho bonzinho e aplacador da cólera do Pai. O Pai ama aos homens, no

entanto ama ao Filho. Ter entregue o Filho para morrer na cruz não foi um ato de sadismo, nem

um gesto tresloucado, mas, sim, um ato de amor entre as duas pessoas da trindade e também um

ato de amor para com a humanidade. Isso mostra como a trindade nos ama! O Pai oferece o Filho

que ele ama. E o Filho aceita ser separado do pai que ele ama! E o Espírito faz a obra no nosso

coração para crermos no amor deles por nós.

A quarta é comunhão, como lemos no v. 23. Quem não honra ao Filho não honra ao Pai.

Isto porque o Pai só pode ser corretamente entendido no Filho, pois o Filho é " imagem do Deus

invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e

na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam

potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem

todas as coisas" (Cl 1.15-17). O Pai não é uma figura abstrata, um conceito, porém tem sua

expressão exata no Filho. Quem deseja saber como é o Pai deve olhar para Jesus, o Filho, porque

nele o Pai se revelou. Aliás, se olhássemos mais para Jesus , para sua mansidão e seu jeito

amoroso de tratar os pecadores, deixaríamos de ver o Pai como alguém zangado e nossas igrejas

mesmas tratariam melhor os pecadores. Porque Jesus tratava bem aos pecadores.

3. Aspectos práticos da paternidade de Deus - Mas do ponto de vista prático, quais são

as implicações, para nossa vida, da paternidade de Deus? Isto não na relação dele com o Filho,

mas na relação dele conosco. Em que ela nos diz respeito, além do que foi rapidamente

pincelado nas linhas anteriores? Em que nos afeta?

3.1. A primeira e maior implicação é a nossa adoção. Num sentido lato, amplo, toda a

humanidade é filha de Deus, pois toda a raça veio de um só Criador, a quem deve a vida. É o que

lemos em Atos 17.26: "e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a

face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação".

A Bíblia ensina o monogenismo, isto é, que todas as raças remontam a um homem (um casal,

melhor dizendo), criado por Deus. Mas no sentido de adoção, não apenas de geração e de dever a

vida, entretanto no sentido de dever a vida eterna, filhos de Deus são os que adotam a fé em

Jesus Cristo e assim tem este direito. Num sentido restrito, portanto, o conceito de adoção é bem

menor. Lemos em João 1.12: "Mas, a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome,

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Doutrina de Deus

50 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus". Lemos, também, em Gálatas 4.5: "para resgatar

os que estavam debaixo de lei, a fim de recebermos a adoção de filhos". Fiquemos, ainda, com

Efésios 1.5: "e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,

segundo o beneplácito de sua vontade". Deus é Pai, mas adotivo. Adotou-nos, porque tínhamos

outro pai. Éramos filhos da ira, ou seja, filhos do juízo. Assim nos diz Efésios 2.3: "Entre os

quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da

carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais". Em

Cristo, nós mudamos de Pai. O homem sem Cristo tem o Diabo por pai (Jo 8.44). Assim éramos,

todavia nossa vida mudou.

3.2. A segunda, decorrente da primeira, alude ao caráter que o cristão deve ter. A

base para a doutrina da santificação não deve repousar sobre mandamentos ou sobre a busca de

poder espiritual, como se vê em muitos ensinos (“precisamos de poder”) mas, sim, sobre a

questão do caráter que devemos cultivar. Numa de suas polêmicas com os fariseus, Jesus os

acusou com muita dureza, declarando-os como filhos do Diabo. Começou a declaração : "vós

fazeis o que também ouvistes de vosso pai" (Jo 8.38) e concluiu com 8.44: "Vós tendes por pai o

Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se

firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é

próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira". O princípio que se pode inferir daqui, dessa

declaração de Jesus, é o filho herda a natureza do pai e faz o que vê o pai fazer. O cristão,

adotado pelo Pai, passa a ter como sua preocupação maior exibir o caráter do Pai na sua vida. A

vida cristã se torna, então, mais que questão de sentimentos ou de emoções. Torna-se uma busca

de imitação do caráter do Pai: "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial"

(Mt 5.48). A paternidade adotiva de Deus é uma exortação à maturidade do fiel, que deve buscar

ter o caráter do Pai, agora. Não é um incentivo ao relaxamento, mas à santidade.

(Isaltino Gomes Filho, Apostila de Teologia Sistemática).

ANGEOLOGIA: A DOUTRINA DOS ANJOS

Os anjos estão presentes por toda a Bíblia, tanto Antigo quanto no Novo Testamento. Ela

está repleta de histórias de pessoas que viram ou foram auxiliados por eles. De acordo com a

Bíblia, eles são enviados para trazer uma mensagem de Deus ao homem, para socorrer alguém

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Doutrina de Deus

51 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

ou para punir. Figuras misteriosas e carismáticas aparecem em todas as culturas, são temas de

filmes, livros, músicas e romance.

1. O QUE SÃO OS ANJOS?

1.1 – Definição – A palavra anjo tanto no hebraico (mal’ak), como no grego (angelos)

significa “mensageiro”. Anjos, portanto, são seres espirituais criados, dotados de juízo moral e

alta inteligência, mas desprovidos de corpos físicos.

1.1.1. Seres espirituais criados. Os anjos não existem desde sempre, ou seja, eles

não são eternos como Deus é; eles fazem parte do universo que Deus criou, (Ne. 9:6; Sl.

148:2,5; Cl. 1:16). Deus criou esses seres acima da humanidade, alguns dos quais

permaneceram obedientes a Ele e realiza sua vontade, enquanto outros O desobedeceram

e perderam a sua condição santa e agora se opõe à sua obra e a dificultam.

1.1.2. Dotados de juízo moral. O fato de que os anjos exercem juízo moral se

percebe no fato de alguns terem pecado e caído dos seus postos (II Pe. 2:4; Jd. 6).

1.1.3 – Sua elevada inteligência se revela quando, ao longo da Bíblia, falam às

pessoas (Mt. 28:5; At.: 12:5-11) e cantam louvores a Deus (Ap. 4:11; 5:11).

1.1.4. Não possuem corpos físicos. Como os anjos são espíritos (Hb. 1:14),

normalmente não tem corpos físicos (Lc. 24:39). Portanto, não podemos vê-los, a menos

que Deus nos dê a capacidade de enxergá-los (Nm. 22:31; II Rs. 6:17; Lc. 2:13). São

invisíveis nas suas atividades normais de nos guardar e proteger (Sl. 34:7; 91:11; Hb.

1:14).

1.2. Outros nomes para anjos. As Escrituras por vezes usam outros termos para

denominar os anjos, como “filhos de Deus” (Jó 1:6; 2:1), “santos” (Sl. 89:5, 7), “espíritos” (hb.

1:14), “vigilantes” (Dn. 4:13, 17, 23), “tronos, soberanias, principados, potestades” (Cl. 1:16) e

poderes (Ef. 1:21).

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Doutrina de Deus

52 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

2. A CLASSIFICAÇÃO DOS ANJOS

2.1. Querubins. Os querubins receberam a tarefa de guardar a entrada do jardim do Éden

(Gn. 3:24), e diz-se frequentemente que o próprio Deus está entronizado acima dos querubins.

Querubins eram também tecidos na textura da cortina interna do tabernáculo e do véu. Pelo fato

de guardarem a entrada do paraíso, de serem mostrado como sustentando o trono de Deus (Sl.

18:9-10; 80:1; 99:1), de que como os seres viventes no livro de Apocalipse aparecem cercando o

trono de Deus (Ap. 4:6), concluímos que eles são, principalmente, os guardiões do trono de

Deus. Satanás pode ter sido um dos querubins antes de sua queda (Ez. 28:14-16).

2.2. Serafins. São mencionados somente em Is. 6:2-7, onde continuamente adoram o

Senhor. Eles lideram o céu na adoração ao Deus Todo-Poderoso e purificam os servos de Deus

para o culto e serviço aceitáveis. Os serafins são uma categoria bem superior de anjos. No

hebraico serafim significa "queimando", "exaltado, alto". Eles ardem, em sua imensa dedicação

ao Senhor. Esta devoção fervorosa a Deus pode ter sido resultado da elevada e exaltada posição

no Trono. O que parece é que os serafins supervisionam o louvor a Deus. Eles proclamam sua

santidade.

2.3. Hierarquia dos Anjos. As Escrituras indicam que existe uma hierarquia e ordem

entre os anjos. Um deles, Miguel é dito “arcanjo” em Jd. 9, título que indica soberania ou

autoridade sobre os outros anjos. É chamado um dos “primeiros príncipes” em Dn. 10:13, 21.

Miguel também parece ser o líder do exército angélico (Ap. 12:7-8). E Paulo nos diz que o

Senhor, ouvida a voz do arcanjo (I Ts. 4:16), descerá do céu. As Escrituras, porém, não nos

dizem se isso significa que Miguel é o único arcanjo ou se há outros. Só dois nomes de anjos

aparecem na Bíblia, Miguel mencionado acima, e Gabriel que é conhecido como mensageiro de

Deus (Dn. 8:16; 9:21; Lc. 1:19, 26-27).

2.4. Quantos anjos existem? Embora as Escrituras não nos dêem o número de anjos que

Deus criou, é aparentemente um grande número (Dt. 33:2, Sl. 68:7; Hb. 12:22; Ap. 5:11).

2.5. As pessoas têm anjos da guarda individuais? As Escrituras claramente nos dizem

que Deus deu anjos para nos proteger (Sl. 91:11-12); não parece haver, portanto, fundamento

convincente para a idéia de anjo da guarda individual no texto das Escrituras.

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Doutrina de Deus

53 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Embora Jesus mencione uma atividade dos anjos relacionada aos homens, "cuidado para não

desprezarem nenhum destes pequeninos. Eu afirmo que os anjos deles estão sempre na presença

do meu Pai que está no céu" (Mt 18. 10, NVI). Aqui Jesus fala do cuidado vigilante de Deus

pelos "pequeninos ', através dos anjos. A quem Jesus se refere por pequeninos" tem sido debatido

pelos estudiosos, já que o termo pode ser tomado literalmente (crianças) ou figuradamente (os

discípulos). Talvez a última possibilidade deva ser a preferida, já que Jesus usa regularmente

“pequeninos" para se referir aos discípulos, cf Mt 10.42; 18.6; Mc 9.42; Lc 17.2. Qualquer que

seja a interpretação, a passagem não está ensinando que cada crente ou criança tem seu próprio

"anjo da guarda", como era crido popularmente entre os judeus na época da igreja primitiva.

Fazia parte desta crença que o “anjo guardião” poderia tomar a forma do seu protegido (cf. At

12.15). Jesus está ensinando nesta passagem que Deus envia seus anjos para assistir aos

"pequeninos", e que, portanto, nós não devemos desprezar estes "pequeninos". Esse ministério

angélico para com os "pequeninos" faz parte do cuidado geral que os anjos desempenham, pelo

povo de Deus (cf. SI 9 1.11; Hb 1. 14; Lc 16.22). A passagem, portanto, não deve ser tomada

como suporte á crença popular em "anjos da guarda".

2.6. O poder dos anjos. Os anjos aparentemente têm grande poder. São chamados

valorosos em poder (Sl. 103:20). São aparentemente maiores em força do que os homens

rebeldes (II Pe. 2:11; cf. Mt. 28:2). Pelo menos durante sua existência terrena, o homem é menor

do que os anjos (Hb. 2:7). Embora o poder dos anjos seja grande, certamente não é infinito, mas

é usado na luta contra os poderes demoníacos controlados por Satanás (Dn. 10:13; Ap. 12:7-8;

20:1-3). Porém, quando o Senhor voltar, seremos alçados a uma posição superior à dos anjos.

2.7. Quem é o anjo do Senhor? Várias passagens bíblicas, especialmente no AT, falam

do Anjo do Senhor de um modo que sugere que é o próprio Deus revestido de forma humana

quem aparece rapidamente a várias pessoas; esse fenômeno é chamado de Teofonia, (veja Gn.

16:10-13; 22:12; 31:11-13; Êx. 3:2,6).

3. Quando os anjos foram criados? Todos os anjos devem ter sido criados antes do

sétimo dia da criação, pois lemos: “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu

exército” (Gn. 2:1, interpretando exército como as criaturas celestiais que habitam o universo de

Deus). Antes de Satanás ter tentado Eva no jardim (Gn. 3:1), certo número de anjos pecou e se

rebelou contra Deus (II Pe. 2:4; Jd. 6). Esse evento ocorreu aparentemente depois do sexto dia da

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Doutrina de Deus

54 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

criação, quando viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom (Gn. 1:31), mas fora disso

a Bíblia nada mais nos revela.

4. NOSSA RELAÇÃO COM OS ANJOS

4.1. Devemos ter consciência dos anjos no dia-a-dia. As Escrituras deixam claro que

Deus quer que nos mantenhamos conscientes da existência dos anjos e da natureza de suas

atividades. Não devemos, portanto, supor que a doutrina bíblica sobre os anjos não tem

absolutamente nada a ver conosco hoje. Antes, as vidas dos cristãos se enriquecem em vários

aspectos pela consciência da existência e do ministério deles no mundo de hoje, como foi no

passado (cf. Dn. 6:22; At. 5:19-20; 12:7-11).

4.2. Preocupações a tomar na nossa relação com os anjos:

Recuse-se a receber doutrinas de anjos. A Bíblia nos alerta para o perigo de

receber falsas doutrinas de supostos anjos (Gl. 1:8), Satanás também pode

transformar-se em anjo de luz (II Co. 11:14).

Não adore anjos, nem lhes dirija oração, nem os procure. O culto de anjos

(Cl. 2:18) era uma das falsas doutrinas ensinadas em Colossos. Além disso, o anjo

que falou a João no livro de Apocalipse exortou o apóstolo a não adorá-lo (Ap.

19:10). Devemos também tomar cuidado para não cair no erro de querer dar

ordem a anjos; é Deus que os ordena.

5. AS ATIVIDADES DOS ANJOS

5.1. Os anjos louvam e glorificam continuamente a Deus (Jó 38:7; Sl. 103:20; 148:2; Ap.

5:11, 22; 7:11; 8:1-4).

5.2. Os anjos revelam e comunicam mensagem de Deus para os homens (At. 7:53; Gl.

3:19; Hb. 2:22), estavam envolvidos na transmissão da lei (cf. Dt. 33:2); trouxe a mensagem de

Deus a Zacarias (Lc. 1:13-20), a Maria (Lc. 1:26-38); falou a Filipe (At. 8:26); a Cornélio (At.

10:3-7), a Pedro (At. 1:13; 22:7-11), a Paulo (At. 27:23). Ainda assim devemos tomar muito

cuidado com supostos recados de anjos dados à igreja, quem fala, quem cura, é o Espírito Santo

e não anjos.

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Doutrina de Deus

55 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

5.3. Os anjos ministram aos crentes, protegendo e guardando, servindo-os em suas

necessidades (Hb. 1:14).

5.4. Os anjos executam julgamento sobre os inimigos de Deus (II Rs. 19:35; II Sm.

24:26;. At. 12:23). No livro de Apocalipse, há várias profecias a respeito de julgamentos que

serão executados por anjos (8:6-9, 21; 16:1-17; 19:11-14).

5.5. Os anjos estarão envolvidos na segunda vinda de Cristo (Mt. 13:19-42; 24:31; 25:31;

I Ts. 4:16-17).

SATANÁS E OS DEMÔNIOS

Satanás e os demônios são anjos maus que um dia foram como os bons, contudo pecaram

e perderam o privilégio de servir a Deus. Assim como os anjos, também são seres espirituais

criados, dotados de discernimento moral e elevada inteligência, porém desprovidos de corpos

físicos. “Demônios” são anjos maus que pecaram contra Deus e hoje continuamente praticam o

mal no mundo.

1. A ORIGEM DE SATANÁS E OS DEMÔNIOS

Quando criou o mundo, “viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era bom” (Gn. 1:31).

Isso significa que mesmo o mundo angélico que Deus criou não tinha anjos maus ou demônios

naquele momento. Mas já em Gn. 3 vemos que Satanás, na forma de uma serpente, tentava Eva

ao pecado (Gn. 3:1-3). Portanto, em algum momento entre os eventos de Gn. 1:31 e 3:1 deve ter

havido uma rebelião no mundo angélico, na qual muitos anjos se voltaram contra Deus e se

tornaram maus (veja Is. 14:12-15; Ez. 28:11-19; I Pe. 2:4; Jd. 6).

A queda dos anjos se deu devido à sua revolta deliberada e autodeterminada contra Deus.

Foi a escolha de si próprio e de seus interesses em lugar de escolherem a Deus e Seus interesses.

1.1. Satanás como chefe dos demônios. A palavra Satanás vem do hebraico Satan –

grego Satanas e significa adversário. Satanás é o nome do chefe dos demônios. Esse nome é

mencionado em Jó 1:6; 2:7. Aqui, ele aparece como inimigo do Senhor, que impõe severas

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Doutrina de Deus

56 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

tentações a Jó. Levantou-se contra Israel e incitou a Davi (I Cr. 21:1; cf. II Sm. 24:1). Zacarias

teve uma visão dele ao lado do sumo sacerdote para lhe opor (Zc. 3:1).

A Bíblia também usa outros nomes para Satanás. Ele é chamado de “diabo” gregoa

diabolos – caluniador, acusador, faz acusações com intenção hostil (Mt. 4:1; 13:39; ap. 12:9;

20:2); “Serpente” (Gn. 3:1; II Co. 11:3; ap. 12:9; 20:2), “Belzebu” (o deus das moscas ou fezes)

(Mt. 10:25; 12:24,27; Lc. 11:15), “príncipe deste mundo” (Jo. 12:31; 14:30; 16:11), “maligno”

(Mt. 13:19; I JO. 2:13).

2. A ATIVIDADE DE SATANÁS E DOS DEMÔNIOS

2.1. Satanás originou o pecado. Ele pecou antes que qualquer ser humano (Gn. 3:1-6; II

Co. 11:3; Jo. 8:44; I JO 3:8).

2.2. Os demônios se opõem a toda obra de Deus, tentando destruí-la. Assim, levou

Eva e Adão a pecarem contra Deus (Gn. 3), também tentou fazer Jesus pecar e assim falhar na

sua missão (Mt. 4:1-11). As táticas que Satanás e seus demônios usam pela impedir a obra de

Deus e levar os homens a pecarem são: a “mentira” (Jo. 8:44), o “engano” (Ap. 12:9), o

“homicídio” (Sl. 106:37-39; Jo. 8:44), e todo e qualquer tipo de ação destrutiva no intuito de

fazer as pessoas se afastarem de Deus, rumo à destruição.

Os demônios lançam mão de qualquer artifício para cegar as pessoas para que não

entendam o evangelho (II Co. 4:4) e mantê-las presas a coisas que as impedem de aproximar-se

de Deus (Gl. 4:8). Também procura usar a tentação, a dúvida, a culpa, o medo, a confusão, a

doença, a inveja, o orgulho, a calúnia, (devemos ressaltar que o diabo usa dessas coisas para se

opor à obra de Deus, mas tudo isso se encontra dentro do coração humano, veja Gl 5.19-21; Tg.

1:13-14) ou qualquer outro meio para obstruir o testemunho e a utilidade do cristão.

2.3. Contudo, os demônios estão limitados pelo controle de Deus e têm poder

restrito. A história de Jó deixa claro que Satanás podia fazer só o que Deus lhe permitia, e nada

mais (Jó 1:12; 2:6). Os demônios são mantidos em algemas eternas (Jd. 6), e os cristãos podem

muito bem resistir-lhes por intermédio da autoridade recebida de Cristo (Tg. 4:7; Ef. 4:27).

Entretanto, ele só pode ser colocado em fuga, não por nossa força, mas pelo poder de Deus.

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Doutrina de Deus

57 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

3. OS DIFERENTES ESTÁGIOS DA ATIVIDADE DEMONÍACA NA HISTÓRIA

DA REDENÇÃO

3.1. No Antigo Testamento. Como no AT a palavra demônio não é usada com

freqüência, de início podemos ter a impressão de que há pouca indicação de atividade

demoníaca. Todavia, o povo de Israel frequentemente pecava servindo a falsos deuses, e quando

nos damos conta de que esses falsos deuses eram na verdade forças demoníacas compreendemos

que muitas passagens do AT de fato se referem a demônios (cf. Dt. 32:16-17; Sl. 106:35-37).

Essas referências demonstram que o culto aos ídolos de todas as nações que cercavam

Israel era na verdade culto a Satanás (veja I Co. 10:20). Coerente com o propósito satânico de

destruir todas as obras de Deus, o culto pagão dos ídolos demoníacos se caracterizavam por

práticas destrutivas, como sacrifícios de crianças (Sl. 106:35-37), a autoflagelação (I Rs. 18:28;

Dt. 14:1) e a prostituição cultual (Dt. 23:17; I Rs. 14:24; Os. 4:14). O culto a demônios leva

comumente a práticas imorais ou autodestrutivas.

3.2. No ministério de Jesus. Jesus tinha autoridade absoluta sobre os demônios, dava

ordem e eles saiam das pessoas, a ponto de as pessoas admirarem de sua autoridade. Ele derrotou

Satanás no deserto (Mt. 4:1-11). Jesus explica que seu poder sobre os demônios é uma marca

distintiva do seu ministério, inaugurando o domínio do reino de Deus na humanidade de uma

maneira nova e potente (Mt. 12:28-29; Mc. 1:27).

3.3. Na era da nova aliança. Essa autoridade sobre as forças demoníacas não se limitava

apenas a Jesus, pois ele concedeu autoridade a seus discípulos (Mt. 10:8; Mc. 3:15; Lc. 10:17-

18), e também à igreja em geral (At. 8:7; 16:8; Tg. 5:8-9).

3.4. No Milênio. Durante o milênio, o futuro reinado de mil anos de Cristo na terra (Ap.

20), a atividade de Satanás e dos demônios ficará ainda mais restrita (Ap. 20:1-3).

3.5. No juízo final. Ao final do milênio, Satanás será solto e reunirá as nações para a

batalha final, mas é definitivamente derrotado e lançado para dentro do lago de fogo (Ap. 20:10).

Então o juízo de Satanás e seus demônios será completo.

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4. NOSSA RELAÇÃO COM OS DEMÔNIOS

4.1. O mal e o pecado vêm, em parte (mas não totalmente) de Satanás e dos

demônios. Quando refletimos sobre a ênfase global das epístolas do NT, percebemos que se dá

pouco espaço à discussão da atividade demoníaca na vida dos crentes, ou aos métodos de resistir

e fazer frente a essa atividade. A ênfase está em exortar os crentes a não pecar, levando uma vida

de justiça (I Co. 1:10; 5:1-5; 6:1-8; 11:28-33). Paulo não manda expulsar demônio de divisão, de

incesto, de egoísmo, de prostituição, etc., mas que os cristãos devem ter responsabilidade e

reconhecer seus pecados.

4.2. Portanto, embora o NT nitidamente reconheça a influência da atividade demoníaca

no mundo, e até, na vida dos crentes (devemos ressaltar que o crente pode ser até influenciado

pelo demônio, mas não possuído por ele), a ênfase principal concernente a evangelização e ao

crescimento cristão recai sobre as decisões e atitudes tomada pelas pessoas (cf. Gl. 5:16-26; Ef.

4:1-9; Cl. 3:1-4, 6).

4.3. Do mesmo modo, essa deve ser a ênfase principal dos nossos esforços com vista a

crescer em santidade e fé, a superar os desejos e os atos pecaminosos em nossas vidas (Rm. 6:1-

23) e também a superar as tentações com que nos assalta este mundo descrente (I Co. 10:13).

4.4. No entanto, várias passagens mostram que os autores do NT estavam, sem dúvida

nenhuma, cientes da presente influência demoníaca no mundo e na vida dos próprios cristãos (I

Co. 10:20; I Tm. 4:1; I Jo. 3:8, 10). Na vida dos cristãos como já observamos acima, a ênfase do

NT não recai sobre a influência dos demônios, mas sobre o pecado que persiste no crente.

Todavia, devemos reconhecer que o pecado (mesmo dos cristãos) de fato dá sustentação a algum

tipo de influência demoníaca em suas vidas (Ef. 4:26-27; 6:10-14). Embora o cristão nascido de

novo ou regenerado, que é templo do Espírito Santo (I Co. 3:16), não fica endemoninhado, no

entanto, pode sofrer influência e ataque dos demônios (cf. I Pe. 5:8-9).

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5. POSSESSÕES DEMONÍACAS

Incidentes de possessões demoníacas recebem atenção especial nos relatos bíblicos. A

expressão técnica é “ter um demônio” ou estar “endemoninhado”. Às vezes, encontramos

expressões como “espíritos imundos” (At. 8:7) ou “espíritos malignos” (At. 19:12).

5.1. A pessoa possessa pode ter força incomum (Mc. 5:2-4), pode agir de forma estranha,

não usando roupas e vivendo em túmulos (Lc. 8:27), ou pode adotar um comportamento

autodestrutivo (Mt. 17:15; Mc. 5:5). É evidente que há graus de gravidade, já que Jesus falou do

espírito maligno que vai e leva consigo sete espíritos piores do que ele (Mt. 12:45). Em todos os

casos existe o elemento comum: “o fato de que a pessoa afetada está sendo destruída no campo

físico, emocional ou espiritual”.

5.2. Vale notar que os autores bíblicos não atribuíam todas as doenças à possessão

demoníaca. Lucas relata que Jesus fazia distinção entre dois tipos de cura: expulsar demônios e

curar enfermidades (Lc. 13:32). E a epilepsia não foi confundida com possessão demoníaca.

Lemos em Mt. 17:15-18 que Jesus expulsou um demônio de um epiléptico, mas em Mt. 4:42, os

epilépticos (assim como os paralíticos) são distinguidos dos endemoninhados. Em numerosos

casos de curas, não se faz menção de demônios (cf. Mt. 8:5-13; 9:19-20).

5.3. Jesus expulsou demônios sem pronunciar uma forma elaborada. Ele apenas ordenou

que saíssem (Mc. 1:25; 9:25), ele atribuiu essa expulsão ao Espírito Santo ou ao dedo de Deus

(Mt. 12:28; Lc. 11:20).

5.4. Em anos recentes, tem havido uma explosão de interesse no fenômeno da possessão

demoníaca. Por conseguinte, alguns cristãos podem passar a considerar que essa seja a principal

manifestação das forças malignas. Na realidade, Satanás, o grande enganador, pode estar

incentivando o interesse pela possessão demoníaca na esperança de que os cristãos deixem de se

preocupar com outras formas sutis de influência empregadas por ele.

6. CRITÉRIOS BÍBLICOS PARA DISCERNIR OS ESPÍRITOS

6.1. Os espíritos são criaturas; portanto, não são onipotentes, oniscientes,

onipresentes, etc. Isso fica bem claro a partir do livro de Jó cap. 1:6-7, 12; 2:2,6; Satanás não é

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60 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

onipresente porque precisa rodear a terra para saber o que está acontecendo. Seu poder é limitado

porque só pode fazer o que Deus permitiu, e assim também são os demônios.

6.2. A essência de Satanás e seu exército é dupla: mentira e homicídio (Jo. 8:44).

Logo, não podemos aceitar as aulas dos demônios que vão sendo exorcizados por aí. Eles só

sabem falar mentiras e só sabem produzir morte espiritual. Portanto, construir doutrinas a partir

das falas de demônios é um erro absurdo e tremendamente prejudicial para a igreja de Cristo.

6.3. Nos conflitos contra as potências espirituais, não podemos ser zombeteiros ou

ofensivos. Práticas hoje generalizadas de xingar e humilhar demônios durante exorcismos negam

a Palavra de Deus. São frutos de pessoas que não conhecem ao Senhor, conforme adverte Judas

(Jd. 8-10). Não podemos construir doutrina a partir de experiências, nem das doutrinas de outras

religiões. O fundamento da verdade é a Escritura. Ai de nós! Se seguirmos as modas e costumes

humanos infiéis a Deus na batalha espiritual. Seremos destruídos pelo próprio falso saber que

construirmos.

6.4. Os inimigos de nossa luta já são inimigos derrotados (Mc. 3:20-35). Por serem

derrotados, os inimigos de nossa luta não são menos perigosos. Podem, porém ser vencidos plena

e facilmente. A vitória não depende de nosso esforço, de nossas técnicas, ou de fórmulas

mágicas. A vitória é o conhecimento de Deus (I Jo. 4:4-6), a fé manifestada pelo amor de Deus (I

Jo. 5:3-5), e pelo amor aos irmãos (I Jo. 2:9-11; 4:11-18). Se nos revestimos da armadura de

Deus, podemos resistir no dia mau e não seremos derrotados (Ef. 6:10-20). Note, porém, que

revestir a armadura de Deus não se reduz a uma experiência mística. É a caminhada de toda a

vida cristã.

6.5. Não podemos atribuir os males individuais à atuação direta de demônios, a não

ser que haja provas definitivas para tanto. As doenças, os temores, as alucinações, etc., são

conseqüências da queda, ou seja, da pecaminosidade da natureza humana, e não de pecados

individuais das pessoas.

Precisamos aprender a viver na tensão escatológicar do Reino de Deus, já inaugurado,

mas ainda não consumado. A vitória sobre o mal já foi ganha, porém ainda não consumada. Os

inimigos já foram derrotados, contudo há ainda um tempo, antes da concretização final de nossa

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61 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

libertação. Fomos salvos em esperança. Cuidado, pois, para não querermos viver já o que só

poderá ser vivido após a consumação dos séculos (Rm. 8:18-38, I Co. 15:20-28). A presença de

doenças, pobreza, incredulidade, sofrimento, etc., entre os cristãos, não é necessariamente sinal

de atividade demoníaca direta, entretanto sinal de que ainda não está consumado o Reino de

Deus.

6.6. Os sintomas de opressão, influência e possessão demoníacas são ambíguos.

Podemos ser facilmente enganados, quanto a tais sintomas. Problemas psicológicos comuns

podem parecer aos olhos de pessoas sem discernimento, ação demoníaca. Embora o

discernimento seja tarefa de todos os cristãos, no caso do discernimento dos espíritos há, também

um dom específico (I Co. 12:10).

6.7. Quem vence os poderes espirituais é o próprio Deus, e não nós. Isso não quer

dizer que podemos esquecer-nos da batalha espiritual. Ao contrário, devemos estar vigilantes –

mas sem medo, traumas ou paranóiass. Onde houver medo, ali o Espírito de Deus não estará

presente. Devemos sempre depender do Senhor, pois é dele que vem a nossa vitória.

6.8. O discernimento dos espíritos possui íntima ligação com o discernimento do

poder. Algumas pessoas são vítimas da tentação do poder absoluto. Seremos reprovados no

discernimento de espíritos sempre que nos tornamos orgulhosos, ou fizermos das pessoas que

ajudamos dependentes de nós e não do Senhor. Sempre que tiramos proveito pessoal do nosso

trabalho no Senhor. Precisamos exercer o poder espiritual conforme o modelo de Cristo – poder

para servir e amar (Mc. 10:45), não para dominar e tirar vantagens.

Em última análise, a vitória sobre Satanás e os demônios é baseada não em poder, mas

em amor! Pois o poder de Deus é o poder do amor. Como, então, discernir espíritos com uma

mentalidade militarista e guerreira? Sem ingenuidade, sem romantismo, porém firmes no amor,

venceremos as hostes espirituais da maldade. Ou não foi na cruz que Cristo despojou os

inimigos.

r Escatologia: doutrina bíblica que lida com as “ultimas coisas” (do grego eschatos - “último”, logos - estudo). s Psicose caracterizada por um conceito exagerado de si mesmo e idéias de perseguição, reivindicação e grandeza,

que se desenvolvem progressivamente, sem alucinações.

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Doutrina de Deus

62 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

Referências Bibliográficas:

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BARRO, Jorg H. e ZABATIERO, Julio. Discernimento Espiritual. Ed. Abba Press.

GOMES FILHO, Isaltino. Apostila de Teolgia Sistemática - A doutrina de Deus.

MACGRATH, Alister E. Teologia: sistemática, histórica e filosófica. Shedd Publicações